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Revista produzida por alunos da oficina de jornalismo do Espaço Tear, de São Miguel do Gostoso (RN).
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Ponto de Cultura Tear - Tecendo Cultura, Cidadania e Direitos Humanos Ano I - Número 2 - Setembro de 2010
Juventude, organização social e políticas públicas
Como vão nossos meninos
e meninas?
Agricultura Familiar • Futebol em Gostoso • Pai da Noite • Bombaço • Poesia e Arte
Rev
ista
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jiru
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E D I TO R I A L
Gostoso é crescimento coletivo
uando recebi o convite (ou a convocação)
para fazer parte da família Tear, não pensei
duas vezes e aceitei sem hesitar. Tinha noção que
diante de mim se apresentava um desafio. Seria
legal organizar meus conhecimentos e tentar
passá-los às pessoas com vontade de aprender.
Algumas coisas aumentavam minha respon-
sabilidade, os quilômetros de ida e volta a São
Miguel, a boa base dada aos alunos pelos profes-
sores anteriores, o desejo deles de aprenderem
algo novo. No final, tudo isso virou um grande
estímulo para continuar.
A vontade e interesse desses jovens desper-
taram em mim um sentimento, até então desco-
nhecido (ou adormecido), o senso de responsa-
bilidade social. De que adianta guardar nossos
conhecimentos e aptidões apenas para nós? Por
que não ampliar as alternativas da população
oferecendo o que de mais valioso temos? Nosso
conhecimento e experiência.
Confesso que deu certo trabalho fazer al-
guns alunos produzirem. Tive que usar recursos
extraclasse. O desafio se tornava cada vez mais
interessante. As aulas de fotografia revelaram o
olhar apurado e naturalmente talentoso dessa
gente. Foram meses de teoria e prática, exercí-
cios e análises.
O resultado desse nosso momento está es-
tampado nas páginas seguintes. O esforço re-
compensado em um material realmente “Gosto-
so” de se ver, e ler. Todas as pautas e assuntos
dessa edição surgiram dos debates em sala de
aula.
Esperamos que goste da sua revista, ela foi
feita com carinho. Se quiser envie-nos suas opi-
niões, sugestões, idéias e comentários. O Tear,
assim como a Revista Guajiru, é feito por muitas
mãos, com trabalho coletivo e união de ideais.
Participe conosco, afinal, você também faz parte
da família Tear.
Namastê!
Alessandro AmaralEditor
Q
Foto
: Ale
ssan
dro
Am
aral
Rev
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S U M Á R I OE X P E D I E N T E
Diretoria Do CDHeC
CoorDenaDor
Ariclenes França da Silva
tesoureira
Anne-Dominique Losch Pastore
seCretário
Alessandro Magnus Xavier do Amaral
ConselHo FisCal
titular
Osair VasconcelosFilippo Rodrigo Rabelo dos SantosJoão Roberto Scomparim
suplente
Carlos Antônio PeixotoClaribel ScomparimPatricia Caetano de Oliveira
revista Guajiru nº 2 – 2010Publicação do Espaço Tear – São Miguel do Gostoso
eDitor Geral
Alessandro Amaral
DiaGramação
Alessandro Amaral, Ariclenes França da Silva, Ricardo Silva, Heldene da Silva Santos
reDação Alexsandro Barbosa Santos, Andreza Fernandes da Silva, Andriele Torres da Silva, Ariclenes França da Silva, Francimara Alves da Silva, Francisco dos Anjos Cardoso, Heldene da Silva Santos, Janicleide Dones, Joelma de Souza Silva, Luzia Ferreira de Oliveira, Maria Lucivânia Menezes Silva, Mikarlla Cavalcante da Silva, Ricardo André R. C. da Silva, Wellington França da Silva.
FotoGraFia Alessandro Amaral, Andreza Fernandes da Silva, Ariclenes França da Silva, Francisco dos Anjos Cardoso, Heldene Santos, Janicleide Dones, Maria Lucivânia Menezes Silva, Wellington França da Silva
ComerCial Ariclenes França da Silva, Wellington França da Silva, Francisco dos Anjos Cardoso
revisão
Alessandro Amaral, Heldene da Silva Santos
Colaboração Anne-Dominique Losch Pastore, Filippo Rodrigo
GráFiCa: Quatro Cores
tiraGem: 2.500 exemplares
http://tearcultura.blogspot.com
5 palavra Do leitor
6 entrevista
Isabel Neri: “Meu sonho é ver a casa paroquial pronta!”
8 perFil
Bombaço: “refazer a vida é uma questão de tempo”
9 jornalismo
Aula, pizzas e cinema: Estudantes visitam jornal diário em Natal
11 poesia e arte
19 espaço tear
Pingue-Pongue com padre Fábio
24 Cultura
Gostoso respira e transpira cultura popular durante Escambo
28 noviDaDes
32 esporte
O Futebol em São Miguel do Gostoso
34 lenDa
O Pai da Noite
36 DiCas
37 espaço tear
Galeria de Fotos
38 artiGo
Não somos PIPA... nem seremos!
16 memória
Caravana dos Direitos Humanos e Cidadania do RN
20 matéria De Capa
Juventude, organização social e políticas públicas
12 espaço tear
Que projeto é esse que faz tanta diferença em São Miguel?
30 ComuniDaDe
Agricultura Familiar Valoriza o trabalho
coletivo, o produto e a comunidade
MINISTÉRIO DA CULTURA
CDHECBanco do BrasilAgência: 3525-4
C/C.: 27.021-0
IBAN : 001352540000270210
SWIFT: BRASBRRJSDRDados bancários do projeto Tear
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PA L AV R A D O L E I TO R
A Revista Guajiru apresenta diversos aspectos de nossa
cultura. Mostra para todos o valor de um povo cheio de
saberes popular. Saberes estes que vem sendo repassado
de geração para geração através da oralidade e que agora
começa ser escrito. Hoje temos a oportunidade de registrar
esses conhecimentos. Isto é importante para nossa gente
que se sente valorizada, respeitada na sua diversidade social
e cultural e o que é mais gostoso é relembrar de nossa
cidadezinha tão cheia de graça, onde cresci com tanta
liberdade e pureza. Quando li a Revista Guajiru, lembrei
muito de como ela era e vendo hoje as transformações de
nossa cidade, de nossas praias, o meu coração se encheu de
alegria de lembrar o tempo em que nadava na lagoa, depois
corria para o mar, subia as dunas altas que tinham na beira
da lagoa e descia deslizando em um cavalete. O prazer de
vivenciar novamente estes momentos felizes de criança é
muito gostoso. Imagino quantas pessoas não sentiram a
mesma coisa! Daí a importância dessa revista que traz para
nós uma leitura de mundo de muito gosto e prazer.
Ana Célia Gomes Neri, professoraSão Miguel do Gostoso
Já ouvi muitas histórias de São Miguel do Gostoso, lendas, causos,
contos. Já vi muita arte e muitas vezes pensei como isso poderia
ser preservado. Uma resposta me veio quando li a Revista Guajiru.
Estavam lá lendas como a do Fogo do Batatão, informações sobre o
pastoril e o boi de rei, perfis de pessoas interessantes da comunidade
que a gente dificilmente pararia para prestar atenção. Pronto. As
coisas começavam a ser escritas e gravadas para todo povo. Muito
importante esse trabalho.
Fabiano Garcia, músicoSão Miguel do Gostoso
Eu li e gostei muito da Revista
Guajiru. É um veículo importante
de preservação da cultura da
nossa cidade e assim tão bem
elaborada, gostosa de ler,
melhor ainda. É uma forma
bastante interessante, inclusive
de estar mostrando lá fora o que
é que Gostoso tem. De chamar
a atenção da população local
para os seus próprios valores,
e do Brasil que Gostoso tem
muito mais além de praias, que
por sinal são lindas mesmo,
e pousadas. Parabéns a toda
equipe pelo trabalho. Tenho
certeza que logo teremos a
próxima edição ainda melhor.
Neilson Gomes da Silva, universitário
São Miguel do Gostoso
Ai que coisa mais linda! Amei a primeira edição da Revista Guajiru.
Fiquei até com saudades de Gostoso. Parabéns a equipe da revista
pelo trabalho. Um projeto como este enriquece muito a cultura
local, tanto pela divulgação dessa cultura lá fora como também
por contribuir para que a própria população local perceba o valor
das coisas que tem, e que por estar tão perto, está sujeito a passar
despercebida. Parabéns! Lindo trabalho. Estou ansiosa pela próxima.
Eliene Rodrigues, universitáriaBrusque – SC
Ganhei a Revista Guajiru
de um amigo gostosense.
Fiquei feliz pelo
presente, é claro, mas
simplesmente guardei.
Uns três meses depois
a peguei por acaso e
comecei folhear e fui
achando interessante.
Adorei a revista. Que
tantas histórias bonitas,
de cultura bonita, de
gente bonita. Espero
que alguém lembre de
me presentear com a
próxima edição. Com
certeza estarei lendo
imediatamente. É uma
iniciativa linda esta. São
Miguel do Gostoso está
de parabéns.
Ana Cecília Pontes, socióloga
Portugal
Envie sua opinião, crítica ou sugestão para [email protected]
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sabel Teixeira Neri, carinhosamente apelidada Dona Bebé,
até oito anos de idade viveu na fazenda chamada Limão,
em João Câmara. Com a triste perda de seu pai, Manoel
Teixeira da Silva, sua mãe, Olímpia Teixeira da Silva, não teve
escolha e decidiu morar novamente com seus pais. Passaram
então a viver em São Miguel de Touros. Pela carência do mu-
nicípio, com quase nada de estudos, tornou-se a primeira pro-
fessora pelo Estado.
A competência e capacidade de seu marido, Nilo Ribeiro
Neri – falecido há cinco anos – o fizeram tornar-se o primeiro
enfermeiro de São Miguel e comunidades vizinhas, gerando
de seus trabalhos a farmácia que está em atividade até os
dias atuais.
E N T R E V I S TA
Isabel Neri:“Meu sonho é ver a casa paroquial pronta!”
Isabel começou a dedicar-se a Igreja Católica desde a in-
fância e ainda hoje reza o terço com suas amigas todas as
noites na Igreja de São Miguel Arcanjo. Foi fundadora do mo-
vimento Legião de Maria, do Apostolado do Sagrado Coração
de Jesus e foi catequista de jovens e crianças. Também esteve
responsável pela administração da Igreja durante longo perí-
odo (hoje esta atividade é feita pelo sacerdote, pois a comu-
nidade está prestes a tornar-se paróquia). Mantém um bazar
em benefício da casa paroquial e dedica-se integralmente a
Igreja. Diz ainda que seu sonho é ver a casa pronta. Isabel
participa assiduamente de movimentos e eventos religiosos
em São Miguel do Gostoso. Conversamos com Dona Bebé em
sua casa, confira agora um pouco desse bate-papo.
I
Como foi sua infância?Nasci em 1929 numa fazenda chamada
Limão, nos arredores de João Câmara.
Minha mãe, Olímpia Teixeira da Silva,
casou com meu pai, Manoel Teixeira da
Silva, sendo uma boa mãe para seus fi-
lhos. Porque quando ele casou já tinha
filhos com outra mulher. Eram eles:
Torquato, José e Elias. Quando eu tinha
oito anos de idade, meu pai faleceu.
Com a morte dele, decidimos morar
em São Miguel de Touros. Minha mãe
vendeu a fazenda para pagar as dívidas
que ele deixou.
Ao chegar a São Miguel de Touros onde passaram a morar?Nós chegamos em 1938 e passamos a
morar na casa dos meus avós mater-
nos, Isabel e Bento Ambrosio Santana.
A família cresceu. Trabalhávamos todos
juntos na agricultura, acordando cedo,
indo a pé ao roçado, apanhando feijão
verde, seco, rapávamos mandioca, entre
outras coisas. Nos juntávamos todos na
sala para debulhar feijão e minha avó
contava muitas histórias de Troncoso.
Como foi sua formação escolar? Eu aprendi a ler e escrever em casa,
com minha mãe. Ela resolveu não me
matricular na escola, pois não concor-
dava com a doutrina muito permissiva
da professora local. Nem sequer tinha
renda suficiente para pagar uma escola
particular.
Como começou seu trabalho na co-munidade de Gostoso?Aos 12 anos, dei aulas particulares na
casa onde morava. Na época ganhava
muito pouco. Aos 15 anos passei a en-
sinar, sendo a primeira professora da
comunidade contratada pelo Estado.
Naquele tempo fui a Touros a cavalo
para ajeitar os papeis nos seis primei-
ro meses e não consegui receber meu
salário. Consegui ajuda de uma procu-
radora, mesmo assim perdi a remunera-
ção desses meses de trabalho. A partir
daí passaram a me pagar corretamente.
Onde ensinava não era uma escola,
usávamos uma antiga casa, onde hoje
se encontra a pousada Mar de Estrelas.
Lá não tinha bancos, quadro nem giz.
Texto: Alexsandro Barbosa
e Andreza Fernandes
Fotos: Andreza Fernandes
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Conte-nos como foi seu primeiro na-moro?Pedro Gomes da Rocha, meu primo,
queria namorar comigo. Dizia ele que
eu tinha um bom procedimento, uma
boa conduta e seria uma ótima esposa.
Eu não queria muito esse namoro, mas
tanto minha mãe quanto a dele que-
riam. Por obediência, aceitei.
Ele trabalhava em um comércio em
Umburana – Macau. Devido a idade foi
servir ao exército em Natal e nas férias
vinha a São Miguel de Touros. Aos 15
anos noivamos. Minha mãe, com toda
simplicidade, preparou o enxoval. Ele já
tinha casa em Natal. Com poucos dias
para o casamento soube que arranjara
uma namorada, chamada Letícia. Ime-
diatamente terminei o relacionamento,
devolvendo os presentes e as alianças.
Menos de 15 dias após termos termina-
do, casou-se com ela.
Como conheceu seu esposo?Miguel Ribeiro Neri, meu sogro, tinha
uma mercearia onde hoje é a papelaria
Santa Isabel, e resolveu ir morar em Tou-
ros. Escreveu para Nilo, seu filho, que
viesse tomar conta do estabelecimen-
to. Ele era do exército, fazia curso para
sargento, era auxiliar de médico e den-
tista. Atendendo ao pedido do pai, deu
“baixa” e veio morar em São Miguel de
Touros. Ele simpatizou comigo e logo
passamos a namorar, poucos meses de-
pois noivamos.
Nesse namoro, também não foi di-
ferente. Viajei a Natal durante o perío-
do do carnaval. Ao voltar, ele confessou
ter uma namorada chamada Lurdinha.
De imediato devolvi os presentes e as
alianças. Em menos de um mês come-
çou a se aproximar de mim novamente,
me pastorando ao sair do trabalho, da
Igreja. As pessoas diziam que eu canta-
va muito bem, que tinha uma bela voz.
Para me conquistar me oferecia coco
verde e eu os jogava fora. Mandava-me
cartas, eu as devolvia mesmo sem ler.
Nilo chegou a dizer “Isabel e muito or-
gulhosa”.
Procurou-me confessando está mui-
to triste e arrependido. Tentou de varias
formas me fazer voltar pra ele. Confusa,
sem saber se perdoava ou se valeria a
pena, pedi a Deus e a Maria santíssima
que me desse um sinal. Na noite se-
guinte tive um sonho, aparentemente
bom, e interpretei que deveria aceitá-lo.
Conversamos e reatamos o noivado, de
imediato providenciaram tudo para o
casamento. Casei no dia 18 de março
de 1948 em João Câmara, na igreja e no
cartório.
Como surgiu a ideia da farmácia?Nilo, por experiência de vender remédio
na mercearia, atendia todas as pessoas
que o procuravam. Atendia os arredores
de São Miguel do Gostoso. Muitas ges-
tantes foram salvas por ele, daí se cons-
truiu a farmácia.
O que motiva essa dedicação integral à igreja? É uma missão. Aos oito anos já caminha-
va para a igreja, indo toda noite rezar na
capela de São Miguel Arcanjo, que foi
fundada por Miguel Félix Martins no dia
29 de setembro de 1899. Sendo muito
católico e devoto do arcanjo, fez uma
promessa e alcançou a graça. Então fez
o que havia prometido, construiu uma
capela em sua honra.
A missão religiosa começou com
Miguel, passou para José Italiano e sua
esposa. Com o passar dos anos, eles se
mudaram e Dona Sabina dos Santos Tor-
res assumiu a responsabilidade. Em se-
guida minha mãe, passando então para
mim e hoje tendo como responsável,
Angelina Santana, secretaria paroquial.
Eu acolhia padres, freiras e bispos
em casa. Na época, o padre vinha a ca-
valo. Eu chegava a perder a missa indo
pedir auxílio para ele. Dedico-me até
hoje, investindo na pintura, algumas
reformas, não deixando morrer a festa
tradicional da igreja. Chegou também
aos cuidados de Isabel de Matos que
contribui até hoje na evangelização.
Você sente-se realizada? Sim. Meu sonho também é ver a casa
paroquial pronta, antes de morrer. Es-
crever um livro contando toda historia
da minha vida. Tenho um bazar em be-
nefício às obras da casa paroquial. Em
meu aniversário faço questão dos meus
presentes serem em dinheiro para doá-
los a construção. Sonho também em
construir uma creche.
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Bombaço: “refazer a vida é uma questão de tempo”Ex-empresário bem sucedido busca reconstruir sua vida e ter novamente sua própria casa
Nascido e criado em São Miguel do
Gostoso, Bombaço, como é mais co-
nhecido, é referência por sua figura e
sua história. Seu apelido teve origem
nos chutes fortes, “os bombaços”, que
quando garoto aplicava nos jogos de
futebol. José Ceará de Souza, 53 anos,
já foi um dos homens mais ricos da re-
gião, hoje, com muito esforço e ajuda
de outras pessoas está conseguindo
construir sua casa.
Bombaço foi menino de pé no chão,
conta que calçou os pés pela primeira
vez, aos 13 anos, usando um par de san-
dálias comprado com dinheiro da venda
de peixes. Do mesmo modo a roupa, se-
gundo ele. “Naquele tempo não tinha
esse negócio de comprar roupa não”,
revela. “Era arranjado uns sacos de açú-
car feito de pano e mandava fazer os
‘calção’ e camisa”.
Teve uma juventude movimentada,
participou de grupos de jovens, boi de
reis, e de muitas festas. Tinha, inclusive,
a fama de gostar de armar confusões,
mas conta que apenas reagia às coisas
que não gostava. Como exemplo, diz
que certa vez estava numa festa e viu
sua irmã ser insultada por um rapaz que
queria forçá-la a dançar. Chateado, bateu
no rapaz. Em seguida foi abordado pela
polícia, como não achava certo que de-
veria ser preso também “deu uns pau na
polícia”, confessa, e fugiu.
Começou trabalhar aos cinco anos
de idade com seu pai. Nunca estudou.
Conta que na sua época havia o ensino,
mas era através do rádio. “A pessoa dava
aula lá de Natal”, diz ele, “e assim eu
não gostava”. Com habilidades para a
agricultura, pescaria, carpintaria e muita
disposição para trabalhar, Bombaço tor-
nou-se um grande empresário, proprietá-
rio de casas, comércios e embarcações.
Já chegou a ser dono de uma frota de
16 embarcações, parte delas construída
por ele mesmo. Até emprestava dinhei-
ro para outros empresários da região, há
alguns desses que, segundo conta, nun-
ca pagaram seus empréstimos.
Diante do empresário bem sucedido,
a sorte e a vaidade não foram favoráveis.
Em 1992, com uma inflação sempre em
alta e propostas ambiciosas dos bancos,
o empresário vendeu seus bens e apli-
cou quase todo o dinheiro no BANDERN
(Banco do Estado do Rio Grande do Nor-
te) que logo em seguida foi fechado por
providências do Governo Federal, liderado
pelo então presidente da república, Fer-
nando Collor de Melo. Bombaço, como
muitos que acreditaram nas propostas
do banco aplicando seu dinheiro, perdeu
tudo. Ou quase tudo. “Também gastei
uma ‘partezinha’ com bebedeiras... E com
mulheres”, diz ele.
Depois dessa maré, seu Bombaço,
volta para a agricultura, a pesca e a car-
pintaria. Ainda hoje ganha um dinhei-
rinho construindo alguma embarcação
por encomenda e com a pescaria. Sor-
rindo, ele diz: “Caí uma vez e me levan-
tei. Caí de novo e, novamente, vou me
levantar. Refazer a vida é uma questão
de tempo”.
Foi menino de pé
no chão, conta
que calçou os
pés pela primeira
vez aos 13 anos,
usando um par
de sandálias
comprado com
dinheiro da venda
de peixes
P E R F I L
por Heldene Santose Maria Lucivânia Silva
Foto
: Mar
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J O R N A L I S M O
Aula, pizzas e cinema:
Estudantes visitam jornal diário em Natal
A idéia seria visitar a redação de um
grande jornal diário da capital e sabati-
nar profissionais do jornalismo em seu
lócus cotidiano. Através de contato pré-
vio com Carlos Peixoto, diretor de reda-
ção da Tribuna do Norte, foi agendado
a visita técnica que teve início às 15h.
Recebidos por Cibele Ribeiro, do Depar-
tamento de Marketing, os alunos pude-
ram conhecer um pouco da história do
veículo e suas instalações.
Na sala de fotografia, a editora Ana Sil-
va, contou histórias pitorescas e revelou
segredos do mundo da fotografia jorna-
lística. O chefe do setor de diagramação,
Carlos Bezerra, apresentou a forma que o
jornal é formatado e como se dá a intera-
ção entre jornalistas, fotógrafos e diagra-
madores na composição das páginas.
Ao final todos ganharam exemplar
do livro comemorativo aos 60 anos do
jornal e puderam relaxar num dos maio-
res shopping centers da capital. Após a
maratona no jornal, a turma se emocio-
nou ao assistir o filme Nosso Lar, basea-
do na obra de Chico Xavier, e degustou
pizzas ao termino da sessão. “Hoje foi
um dos melhores dias da minha vida”,
confessou Alexsandro Barbosa dos San-
tos, aluno do projeto.
Da redação à oficina de impressão,
passando pelos setores intermediários
na produção de um jornal até chegar às
conhecimento teórico traz novas perspectivas à
vida profissional e acadêmica de cada estudante.
Mas como fazer para vivenciar esse conhecimento na
prática? Idéias surgem e planos são traçados com o ob-
jetivo de suprir essa necessidade. Nesse intuito, a turma
da Oficina de Jornalismo do Tear seguiu viagem até Na-
tal, para conhecer a redação do jornal Tribuna do Norte,
no dia 15 de setembro. Uma aula diferente e um dia es-
pecial onde todos aprenderam e divertiram-se bastante.
O
bancas de revistas, os alunos da oficina
de Jornalismo do Tear puderam acom-
panhar de perto o processo do fazer jor-
nalístico. A visualização da teoria sendo
aplicada na prática é algo de grande im-
portância no aprendizado de uma nova
profissão. O Tear agradece ao jornalista
Carlos Peixoto por proporcionar essa pri-
meira oportunidade aos nossos alunos.
A editora do caderno Natal, Yara
Okubo, também esteve com os aprendi-
zes e tirou todas as dúvidas relacionadas
à prática diária do jornalismo. Encantada
com a correria da redação, a turma bom-
bardeou a jornalista com muitas pergun-
tas, todas atenciosamente respondidas.
Cada setor despertou um interesse a
parte em cada participante, gerando um
clima de aprendizado e diversão.
Yara esclareceu as dúvidas dos alunos
Cibele apresentou as instalações do jornal
Ana revelou alguns segredos do fotojornalismo para a turma
Carlos conta como são formatadas as páginas diariamente
A turma da oficina de Jornalismo do Espaço Tear reunida em frente ao prédio da Tribuna do Norte
Texto e fotos: Alessandro Amaral
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Não é só o vento, sol, praias e belas mulheres que caracterizam a cidade de São Miguel do Gostoso. Há também muita responsabilidade socio-ambiental em nossa comunidade. Esse trabalho é realizado com muito amor e dedicação pelos agentes sociais locais e incentivo importante de parceiros engajados na promoção dos direitos humanos e cidadania. Para manutenção e realização desse projeto, contamos com sua participação. Venha fazer parte da família Tear e ajude a incentivar o desenvolvimento e a diversidade cultural do nosso país. Seja bem-vindo!
Dados bancários CDHECBanco do Brasil: Agência 3525-4 - C/C. 27.021-0
IBAN: 001352540000270210
SWIFT: BRASBRRJSDR
Foto
: Ale
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aral
Andar com veículos na praia é um atentado às pessoas de nossa comunidade e turistas, bem como um crime ambiental
FEITO JOIO E TRIGO
Mas que podre é o Mundo!Pessoas interessantes, classes divididas,Filé mignom, bife do oião.Que se danem!Ó Mundo ridículo.Ridículo no sentido de ser ridículo;Como a educação no Brasil;Como as paredes magnéticas que criam nas raças, etnias, classe social.Ridículo como o verso que escrevo.- Preciso ser ridículo para participar das coisas do Mundo?...Mas as coisas do Mundo também são ridículas.
Janicleide Dones
GOSTOSO ENCANTO
Canto dos deuses, que GostosoPedaço de um Brasil formosoDe belo ceu azul anil
Que belas praias, que vontade De ver da lua a claridadeDo sol a luz acontecer
Tem o mar um azul que nosdominaUm por do sol que nos fascinaMais um lual até o amanhecer
Cheguemos a Praia do MarcoBuscando a historia, o passadoPois o Brasil nasceu aqui
Praias da Xepa, do Cardeirodo Santo Cristo, os coqueirosos maceiós, os jangadeiros
Rico folclore o povo cantaVem ver da fauna e a floraa dançaA voz do vento ao coração
Felicidades ao relentoPodemos ver a todo momentoTerras férteis, plantações
Sol, dias quentes, noites friasVegetação rara, queria Esse bom vento do litoral
Belo reduto, morros tantoAmor bonito que exclamo:- Gostoso paraíso feliz!
Então recito um belo cantoDa bela moça o encantoDe um pedaçinho do Brasil
Heldene da Silva Santos
VIRGÍNIA
Desde muito pequena A labuta a conheceuE jamais a abandonouEla, desde cedo, responsávelCuidou de casa, gado e roçadoConta dos irmãos tomouTrabalho?! Nunca rejeitou
Ô mulher de língua afiada!Não agüenta nada caladaTambém de nada tinha medo
Montou em burro brabo,Jumento desembestadoPegava em cobra coráEm brasa e o que aparecessePra ela tudo era possívelE dizia: “Se o medo existeeu não conheço.”
No seu tempo de meninaAté mulher muito novaTransporte não existiaIa a pé onde fosse
De Galinhos a GostosoTaipu a Baixa VerdeTouros ao BoqueirãoFosse perto ou distantePra visitar seus parentes Não tinha medo de chão
Mulher pequena e franzinaAparentemente frágilMas frágil só na aparência- Forte e determinada!Em toda a sua vidaSó não atirou de espingardaPorque a arma de fogoEla não apreciava
Firme como uma rochaCom muita admiração“Voinha”! Queria ser como elaE ainda peço de DeusQue lhe dê muita benção.
Sandra Cristina de Melo (uma homenagem a Virgínia,
sua avó, 91 anos)
P O E S I A E A RT E por Janicleide Dones
Labirinto feito por D. Paulinha
Paulina Martins da Silva, mais conhecida como
“Dona Paulinha” mora em São Miguel do Gostoso
desde o ano em que nasceu. Atualmente com 72
anos, a artesã persiste em fazer seu trabalho –
labirinto (tipo de renda produzida com agulha, e tem
como característica o fio desfiado preliminamente).
Guajirú: Com que idade aprendeu a fazer labirinto?D. Paulinha: Aos oito anos de idade.
Guajiru: como e com quem aprendeu?D.Paulinha: minha mãe fazia labirinto, eu sempre a
olhava e foi com ela que aprendi.
Guajirú: Por que quis aprender?
D. Paulinha: Na época não existia trabalho, o
que tínhamos era o roçado (sitio de plantações).
Trabalhávamos limpando mato e eu não queria,
então tive que aprender a fazer labirinto. Minha mãe
sempre me batia para eu poder aprender e ajudá-la.
Guajirú: Você considera seu trabalho valorizado?D. Paulinha: Claro que sim. Mas só tem um defeito,
não da direito a aposentadoria. Sou aposentada
como marisqueira, por que aos 22 anos trabalhei
com caçoeira (tipo de rede de pesca), depois parei
e continuei com labirinto e só deixo depois que eu
morrer (risos).
Guajirú: Seu trabalho serve também como fonte de renda?D. Paulinha: Sim. Tem meses que vendo bem e
ajuda muito com as despesas de casa. Depende
muito da estação, se a cidade tem muitos turistas,
se as peças que faço os agradam, etc.
Guajirú: Qual a peça que é mais procurada?D. Pailinha: Toalhinhas com o nome da cidade,
panos de prato, e as vezes roupas.
Guajirú: Para os visitantes que estão conhecendo a cidade o que você diria á eles?D. Paulinha: Que sejam bem-vindos, aproveitem
bastante e não deixe de conhecer meu trabalho. E
de comprar também (risos).
Paulina Martins da SilvaIdade: 72 anos
Profissão: Labirinteira
ARTESANATO LOCAL
Foto
: Jan
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E S PA Ç O T E A R
Que projeto é esse que faz ta nta diferença em São Miguel?
Foto
: Ace
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TEA
R
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13
CDHEC (Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia,
Cultura e Cidadania) foi fundado em 2003 por mi-
litantes de Direitos Humanos, jornalistas e agen-
tes de cultura, com a finalidade de promover, proteger e
reparar os Direitos Humanos, Civis, Políticos, Sociais, Cultu-
rais e Ambientais. Com a transferência do CDHEC de Natal
para São Miguel do Gostoso no ano de 2007, o coordena-
dor Fabio dos Santos, em parceria com a Igreja Católica e
colaboração de Gustavo Tittoto, que disponibilizou o local,
abriu para uso da comunidade o Espaço Tear.
O Tear é um projeto do CDHEC que tem por objetivo
a realização de atividades direcionadas ao público jovem
e infantil da comunidade. Difundir, valorizar e preservar
as expressões culturais e manifestações sociais, visando à
construção de novos valores de cooperação e solidarieda-
de; transformar os jovens em grandes atores sociais para
promoção da dignidade humana e efetivação da cidadania;
são algumas metas do projeto.
A primeira atividade a ser implementada no espaço foi
a oficina de teatro popular de rua, ministrada pelos arte-
educadores Filippo Rodrigo e Patrícia Caetano, integrantes
do Bando La Trupe e coordenadores do Escambo Popular
de Rua – movimento cultural que propaga tais manifesta-
ções por onde passa.
Logo em seguida surgiu o grupo infantil de Pastoril, uma
valiosa vertente da cultura popular, sob a responsabilidade
de Maria Teixeira e Maria do Carmo, experientes dançarinas
do grupo de Pastoril da Melhor Idade da comunidade.
Em 2008 veio a oficina de Jornalismo, que contou com a
participação de reconhecidos profissionais dos veículos de
comunicação de Natal. O resultado foi a publicação da re-
vista Guajiru, que descreve a cultura local, turismo, esporte,
agricultura familiar e participação social na comunidade.
O Espaço Tear também disponibilizou à população de
São Miguel cursos profissionalizantes de eletricista, bom-
beiro hidráulico, pedreiro, informática, oficinas de recicla-
gem, palestras sobre ética, cidadania e meio ambiente.
O principal apoio para a realização dos cursos e ofici-
nas no Espaço Tear chegou através de amigos, parceiros de
Fabio e Dominique Pastore, em Natal, no Rio de Janeiro,
Suíça, Alemanha e Itália. Esse apoio ainda é efetivo hoje.
Após se inscrever em edital do Ministério da Cultura,
o CDHEC passou a ser Ponto de Cultura, o que garantiu
recursos durante três anos para manter os projetos já reali-
zados pelo Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura
e Cidadania no Espaço Tear. Conheça um pouco mais das
atividades do nosso ponto na página seguinte:
O
por Francimara Alves, Mikarlla Cavalcante
e Andriele Torres
Que projeto é esse que faz ta nta diferença em São Miguel?
Turma da oficina de artesanato com materiais recicláveis ministrada por
Cláudio e Arlanza (RJ), oferecida pelo Tear
Rev
ista
Gua
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O pastoril é erguido com garra e disposição por duas
grandes mulheres, Dona Maria Teixeira e Maria Du-
carmo, incentivadas por padre Fabio, que sempre
transmitiu determinação, vontade e muita cultura no
sangue. Do grupo pastoril participam 17 meninas que
ensaiam todos os sábados das 9h às 10h. Já são três
anos de música no “gogó” e ritmo no pé. As meninas
do pastoril deixam sempre bem claro o que querem
passar ao seu público. Usam sempre músicas religio-
sas, principalmente nas datas comemorativas, espe-
cialmente em homenagem a Jesus. “Tudo começou
com uma brincadeira de senhoras que gostavam de
relembrar sua adolescência. Hoje estou aqui dando
aula de Pastoril. É sempre importante ter Jesus no co-
ração e alegria de viver”, disse Maria Teixeira.
Pastoril
Em atividade há apenas seis meses, a oficina de Boi
de Reis conta com 12 participantes e acontece todas
as quintas-feiras gratuitamente, a partir das 14h. O
grupo possui dois mestres, José Marciano Gomes e
Luiz Tenório, que transmitem a cultura popular a essa
turma formada por garotos de 5 a 10 anos. “Tenho pra-
zer em fazer o que faço, porque gosto e acho bonito.
A minha intenção é passar o que sei às próximas ge-
rações. Não tem quem não se encante com algo tão
colorido e divertido como é o Boi de Reis”, declarou
José Marciano.
Boi de Reis
Esse é o nome do grupo de teatro formado a partir das
oficinas oferecidas pelo Espaço Tear. A trupe possui
20 integrantes, que seguem as orientações da arte-
educadora Patrícia Caetano de Oliveira. Com diversas
apresentações realizadas em pousadas, escolas e
eventos, o grupo se destaca pela maneira que passa o
conhecimento e informação através do entretenimen-
to e humor do teatro de rua. Entre as peças encenadas
recentemente estão “Os sete constituintes”, “Vento do
Gostoso” e “Hoje meu boi não sai”. Para a integrante
Suanes da Silva Ricardo, 17 anos, o grupo é uma opor-
tunidade de crescimento social e intelectual. “O teatro
me fez mudar, me tornar uma pessoa mais feliz. Gos-
to do que faço, pois tenho planos. Quem sabe um dia
serei atriz”, afirmou. Os ensaios acontecem sempre às
segundas-feiras, das 19h às 20h, gratuitamente.
Nos na Rua
A oficina de jornalismo forma novos escritores e re-
pórteres amadores na comunidade. Em sala de aula
são vistas técnicas de jornalismo, como redação, en-
trevista, reportagem, apuração de fatos, fotografia,
projeto gráfico e editorial, diagramação e noções de
design. Os alunos se reúnem todo domingo, das 10h
às 12h, em aulas gratuitas no Espaço Tear.
Em torno de 17 jovens participam da oficina sob a
batuta do jornalista, diagramador e fotógrafo, Alessan-
dro Amaral. O curso existe há aproximadamente dois
anos e teve como professores: Osair Vasconcelos, Car-
los Peixoto e Yuri Borges. Os três mestres foram res-
ponsáveis pela primeira edição da revista Guajiru.
Oficina de Jornalismo
AGRADECIMENTOS
As atividades do Tear só são possíveis graças ao incentivo
do Governo Federal e de doações voluntárias, que ajudam
a minimizar as despesas de manutenção do projeto. Entre
nossos grandes parceiros estão: Prefeitura de São Miguel
do Gostoso, Gustavo Tittoto, Wellington Mendes (MG.Net),
Elisabeth Marinho Dias, Dona Mergène Revel, Christiane Do-
vat, as paróquias de Montreux e Villeneuve (Suiça), paróquia
de Pestello Montevarchi (Itália), amigos da Europa e Brasil.
Foto
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Rev
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M E M Ó R I A
eu envolvimento com o pessoal que trabalha com Direitos Humanos já vem
de certo tempo. Lembro que 2008 foi um ano agitado devido ao aniversário
dos 60 anos da Declaração Universal da ONU – documento importante na garantia
desses direitos. Apesar do tempo, jamais havia participado de uma Caravana de
Direitos Humanos e o convite veio justamente em junho daquele ano. Dia 18, São
Miguel do Gostoso (RN) se transformou na Cidade Universal dos Direitos Humanos,
marcando o calendário nacional no incentivo a cidadania plena.
Após 100 km de rodovia vindo de Natal,
encontro um lugar aprazível, de brisa gostosa
e gente hospitaleira. Gostoso me surpreendeu
naquela ocasião, não por suas tradicionais be-
lezas naturais, mas sim pelo envolvimento da
população na promoção dos direitos básicos
das pessoas. Foi um dia inteiro de atividades,
cortejos, apresentações teatrais, entregas de
kits, exposição, reuniões, debates, eventos
culturais, entre outros. Tudo para celebrar e
promover os Direitos Humanos.
A energia do povo contagia e dá forças
para seguir a maratona. Além das ativida-
des previstas na programação, teve muito
suor nos bastidores. Lembro de me depen-
durar nos caibros do Centro de Múltiplo Uso
amarrando banners, correr feito louco foto-
grafando os detalhes da caravana, até subi
uma tremula escada com mais de 3 metros
para registrar o cortejo chegando ao Centro
de Multiplo Uso. Todo esforço em nome da
cidadania e garantia dos nossos direitos.
Depois de ouvir os anseios das pessoas,
discutir possíveis soluções, mostrar seus di-
reitos, apresentar propostas e levar seguran-
ça para a população da cidade, a caravana se
Caravana dos Direitos Humanos e Cidadania do RN
São Miguel do GostosoCidade Universal dos Direitos HumanosTexto e fotos:Alessandro Amaral M
Foi um dia
inteiro de
atividades,
tudo para
celebrar e
promover
os Direitos
Humanos
Padre Fabio no comando da caravana
Rev
ista
Gua
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17
encerrou com apresentações de cultura popular
e a esperança de que a semente plantada na-
quele dia germinasse bons frutos. De lá para
cá os projetos sociais se desenvolveram ainda
mais e as oportunidades foram ampliadas, assim
como a capacidade de dar suporte à população
local.
Esse evento aconteceu através do esforço
conjunto do Espaço Tear, CDHMP, Prefeitura Mu-
nicipal, Câmara dos Vereadores, Fórum Popular
de Participação de Políticas Públicas, Sindicato
dos Trabalhadores Rurais, da Educação e da Pes-
ca, Assembléia de Deus, Igreja Católica e pousa-
das locais.
Perseguir sonhos e construir redes
As Caravanas de Direitos Humanos e Cidadania
do RN foram desenvolvidas pelo CDHMP (Centro
de Direitos Humanos e Memória Popular) e já
percorreram cidades como Macau, Caicó, Car-
naubais, Ceará-Mirim, Mossoró, Pau dos Ferros e
São Miguel do Gostoso. A intenção é promover
e garantir os Direitos Humanos diante das viola-
ções, e assim consolidar o verdadeiro Estado De-
mocrático de Direito. Ouvir solicitações, reclama-
ções, denúncias por onde passa e encaminhá-las
para serem resolvidas, promover debates sociais
e ajudar a construir uma consciência cidadã tam-
bém fazem parte dos objetivos das caravanas.
Uma vasta programação foi montada para
celebrar o aniversário da Declaração Universal
da ONU em São Miguel e isso começou cedo.
Logo pela manhã um cortejo percorreu as ruas
do município com faixas, cartazes, batuques e
palavras de ordem, promovendo intervenções
teatrais a cada parada. A caminhada terminou no
Centro de Múltiplo Uso, local onde se encontra-
vam, entre o grande público, diversas lideranças
locais. Lá foram entregues kits-biblioteca conten-
do livros e CDs-Rom sobre Direitos Humanos às
entidades sociais. Uma exposição dos 30 artigos
da Declaração com belas imagens foi montada
no local.
A cada parada, um artigo da Declaração era lido para o público
Chegada do cortejo ao Centro de
Multiplo Uso
Rev
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18
A tarde houve reunião entre os membros da
caravana e líderes locais, representantes da so-
ciedade civil organizada, órgãos públicos, igre-
jas e iniciativa privada, para discutir assuntos de
interesse coletivo. A noite começou com uma
caminhada com velas acesas pelas ruas da cida-
de. Chamado de “Via sacra luminosa”, o cortejo
parou em pontos estratégicos onde eram lidos
artigos da Declaração Universal. O encerramen-
to se deu no Ginásio Esportivo da cidade com
discurso das autoridades e apresentações cultu-
rais do Boi de Reis e Pastoril.
As resoluções e propostas, surgidas dos deba-
tes com a população, foram encaminhadas para
serem discutidas e ampliar a Rede Estadual de Di-
reitos Humanos. A aplicação do “Curso Agentes
da Cidadania” e a criação do Conselho Municipal
de Direitos Humanos também foram planejadas
na ocasião, entre outras idéias construtivas. Per-
seguindo sonhos e construindo redes, sempre!
Crianças, jovens e adultos participaram efetivamente da caravana
Roberto Monte (CDHMP), Graça Lucas (Movimento Negro) e Ana Amélia (Canal Futura)
A Via Sacra Luminosa trouxe bilho às ruas de São Miguel do Gostoso
Entrega dos kits-biblioteca às entidades no Centro de Multiplo Uso
Apresentação do Pastoril animou o público que compareceu ao ginásio
O público acompanhou atentamente cada leitura de artigo da Declaração
Rev
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19
O que é o CDHEC?
O Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania é uma
instituição nascida do sentimento de um grupo de jornalistas, advo-
gados, médicos, educadores e profissionais liberais, que, já vivendo
esse compromisso, quis se engajar como um grupo em 2003 na cida-
de do Natal. Desde 2007, com a minha vinda, foi decidida em assem-
bléia a transferência para Gostoso a fim de que, com o protagonismo
de uma comunidade atuante, a gente pudesse desenvolver melhor
nosso objetivo.
Qual a finalidade dessa instituição?
O CDHEC, como está em nosso Estatuto, tem por finalidade a: (I) Pro-
moção da ética, da justiça, da paz, da cidadania e dos direitos huma-
nos; (II) Promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico; (III) Promoção, defesa, preservação e conserva-
ção do meio ambiente e promoção do meio ambiente sustentável;
(IV) Promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Acredito que nestes anos em São Miguel do Gostoso estamos num
processo cuidadoso, envolvente e participativo procurando cumprir
nossa missão institucional tentando, assim, uma coerência entre o
que se diz e o que se faz.
O que é o Tear e qual a sua relação com o CDHEC?
O CDHEC é a instituição. O Tear é o espaço onde são desenvolvidas
as atividades socioculturais. Hoje é um lugar não só da instituição,
mas de toda comunidade que também usa o Espaço Tear para outras
atividades que visam o bem-estar de Gostoso. Percebe-se muito bem
o sentimento de pertença e empoderamento das pessoas em relação
ao Tear. Ele não é de fulano ou beltrano. O Tear é nosso. O Tear é de
São Miguel do Gostoso. E isso não é por acaso.
Como nasceu o TEAR?
Este espaço nasce como resultado de um pequeno trabalho desenvol-
vido pelos grandes artistas de Teatro de Rua, o casal Filippo e Patrícia,
respeitados nacionalmente nesta área do teatro popular, que sob a
coordenação minha e de Dominique, começa com a galera a traba-
lhar a memória e a identidade de São Miguel de Gostoso. Por isso as
pessoas se identificam com o Tear.
Como surgiu a idéia do Ponto de Cultura?
Nós somos Ponto de Cultura, esse importante programa do Ministério
da Cultura, porque na verdade a gente já era um “Ponto de Cultura”.
Quando Gustavo Titotto cedeu o salão, Fátima Dantas durante três
meses recolheu dos comerciantes da cidade o pró-labore para pagar
Pingue-P nguecom padre Fabio
o Filippo e a Patrícia. A Prefeitura nesse tempo pagava as refeições
dos dois e sempre ajudou a gente nos translado para Natal e outras
cidades onde os grupos iam participar de fóruns e eventos culturais.
Depois, eu e Dominique, com os nossos familiares e amigos em Na-
tal, no Rio de Janeiro e na Europa, conseguimos recursos substancio-
sos e pudemos dar um salto enorme com as oficinas.
Como foi a articulação com a comunidade para a criação do
projeto do Ponto de Cultura?
O Espaço Tear –CDHEC tem uma relação muito boa com o Poder Pú-
blico Local e a chamada Sociedade Civil Organizada, como as ONG’s,
os sindicatos e fóruns, e as Igrejas da cidade. Prova disso foi a realiza-
ção do evento “São Miguel do Gostoso, Cidade Universal dos Direitos
Humanos”, no ano de 2008 em alusão aos 60 anos da Declaração
da ONU. Todos, mas todos mesmo, estavam envolvidos. Igualmente,
quando por ocasião do Edital, conversamos com todos esses atores
sociais que referendaram o Projeto e enviaram cartas de recomenda-
ção. Já antes do Ponto de Cultura, todas essas instituições participa-
vam e continuam a participar das oficinas e atividades atuais. Isso é
extremamente positivo.
Quem contribuiu para a aprovação do Ponto de Cultura?
O Ponto de Cultura é resultado de uma seleção no edital da Fundação
José Augusto (FJA) com recursos oriundos, dois terços do Ministério
da Cultura e um terço do Governo do Estado. Assim sendo, deste
ponto de vista, a aprovação do nosso Ponto é um mérito da equipe
do Espaço Tear-CDHEC, depois de criteriosamente analisado pela co-
missão da FJA.
Na sua opinião, o que significa o Ponto de Cultura para esta
comunidade?
Para mim, o maior significado é que neste Governo Federal, mais do
que nunca, o Artigo 215 da nossa Constituição (“O Estado garantirá
a todos o pleno exercício dos Direitos Culturais e acesso às fontes
da cultura nacional, apoiará e incentivará a valorização e a difusão
das manifestações culturais”), está cada vez mais saindo do papel e
tornando-se realidade. Imagina só! São Miguel do Gostoso é parte
viva do Programa Mais Cultura junto com outros dois mil municípios
brasileiros dos mais de 5.500 existentes no país.
Isso significa que somos uma cidade que valoriza, promove, prote-
ge, repara e difunde a nossa cultura. Isso significa que temos auto-
estima, memória e identidade. Seu Gostoso deve está dando boas
risadas e contando lá no céu o que está se passando aqui na terra
de São Miguel.
E S PA Ç O T E A R
por Heldene Santos
Foto
ced
ida
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jiru
20
de uma metodologia organizacional baseada
em projetos e programas e, finalmente, é na
realidade do município que são executadas as
políticas públicas (educação, saúde, habitação,
segurança, etc).
As principais políticas públicas são hoje vol-
tadas para assegurar os direitos da criança e do
adolescente, em especial à educação, saúde e
assistência social, além disso, existe a interven-
ção dos programas e projetos sociais, que visam
atender determinado público ou combater pro-
blemas específicos, como, por exemplo, o traba-
lho infantil ou a prostituição. Hoje, os principais
programas existentes no país são desenvolvidos
e subsidiados pelo Governo Federal e tem con-
trapartida e execução por parte dos municípios.
“Considerando as características de cada uma
dessas cidades, essa contrapartida pode superar
e muito o subsídio do Governo Federal”, revelou
Anna Karolynne, secretária de trabalho, habita-
ção e assistência social do município.
No caso de São Miguel do Gostoso, aos
programas já existentes – PETI, ProJovem e
Bolsa Família – são atrelados projetos próprios
que visam dinamizar e garantir a participação
do público infanto-juvenil e oferecer o contra-
turno, ou seja, um período na escola e outro
na atividade sócioeducativa. Podemos destacar,
entre esses projetos, os Grupos de dança Elo
Contemporâneo e Ballet Corpus, o grupo mu-
sical Batuque do Gostoso, a Escola de Música/
Orquestra Filarmônica, a Escolinha de Futebol
do Parma, e as Aulas de Reforço, projeto da AS-
CDEG em parceria com a Prefeitura Municipal.
Além disso, as crianças e adolescentes envolvi-
das nesses projetos, bem como suas famílias,
são acompanhadas pelo Centro de Referência
em Assistência Social (CRAS) – Casa das Famí-
lias, com atendimento especializado de peda-
gogos, psicólogo e assistente social.
Dois grandes problemas desafiam qualquer
gestão pública hoje: o primeiro é integrar os
Vamos dar uma volta na cidade de São Mi-
guel do Gostoso/RN e ver que tem muita gente
de olho nesses problemas e botando a “mão na
massa” para mudar essa realidade. Através de
ações do Poder Público Municipal e da socieda-
de civil organizada, a comunidade se mobiliza
para enfrentar e buscar soluções para prevenir-
se desses problemas.
Jeitos diferentes de trabalhar, mas um objetivo em comum
O grande objetivo é garantir que cada criança possa viver sua infância e cada jovem possa viver sua juventude com paz, saude e dignidade.
O poder público e as políticas públicas para crianças e jovens
Para se falar hoje sobre políticas públicas para
a criança e o adolescente ou políticas públicas
para juventude, temos que observar três fato-
res:
Primeiramente, a nossa Constituição Fe-
deral prevê no seu art. 227, que: “É dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com ABSOLUTA PRIO-
RIDADE, o direito à vida, à saude, à alimenta-
ção, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.”
Segundo, cada vez mais a gestão pública
tem alicerçado suas ações estratégicas através
Juventude, organização social
e políticas públicasComo vão nossos meninos e meninas?
M AT É R I A D E C A PA
O grande
objetivo é
garantir que
cada criança
possa viver
sua infância
e cada jovem
possa viver sua
juventude com
paz, saude e
dignidade
iante de tantas adversidades da vida moderna que ameaçam
nossas crianças e adolescentes, como a violência, as drogas,
as doenças sexualmente transmissíveis, o desemprego e a falta de
perspectivas, nós nos perguntamos: “o que fazer?” e infelizmente
muitas vezes dizemos que ninguém está fazendo nada para mudar
essa realidade.
D
por Heldene Santos e Ricardo André Silva
Rev
ista
Gua
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21
Juventude, organização social
e políticas públicas
Marcos Aurélio,
15 anos, é bene-
ficiário do Progra-
ma Bolsa Família
e participante do
ProJovem Adoles-
cente.
“Tem muitos grupos (programas) em
Gostoso, dança, teatro, o batuque, o
PETI, o Projovem ... É bom participar
porque ajudam a gente a aprender,
e o teatro e a dança ajudam em
como perder a vergonha e dominar
o medo.”
diversos programas e projetos, tanto da sua es-
trutura quanto da sociedade civil; o segundo, é
inserir nessa estrutura de serviços e proteção so-
cial os jovens que mais precisam de integração
e cuidado. O primeiro é facilmente percebido
quando paramos para pensar em que progra-
mas e projetos são oferecidos, e nos deparamos
com o quanto não sabemos sobre o trabalho de
nossos colegas. Uma metodologia interessante
utilizada para superar esse problema é a adotada
pelo Selo Unicef, que unifica as ações voltadas
para a criança e o adolescente dentro da esfera
municipal através da presença de um articulador,
o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente - CMDCA e uma comissão mista
de gestão e avaliação das atividades. O segundo
problema é enfrentado por todos aqueles que
trabalham com atividades sócio-educativas, que
é exatamente atingir o público-alvo, já que essa
clientela, segundo Viviane Araujo, Coordenado-
ra do CRAS, rejeita a abordagem dos profissio-
nais envolvidos e alguns projetos sofrem com a
evasão de seus participantes.
A sociedade civil também participa da construção da cidadania
É uma característica marcante da comunidade
de São Miguel do Gostoso a organização formal
da sociedade civil. Em 2008, segundo dados
do Conselho Municipal de Assistência Social, o
município contava com 64 associações instituí-
das e em funcionamento. Em pesquisa realiza-
da pela AMJUS (Associação de Meio Ambiente,
Cultura e Justiça Social), constatou-se que, em
2009, havia organizado 26 grupos de jovens,
existentes em torno de atividades culturais, so-
ciais, religiosas ou ambientais. Ainda, segundo
dados da AMJUS, no mesmo ano, existiam em
torno de 27 times de futebol, alguns destes
com atividades ainda associadas a outras áreas
além de esportiva como ações direcionadas às
questões ambientais.
Arthur Pedro, 13 anos (Gru-
po de Teatro do Tear)
“É bom participar do tea-
tro. A gente se diverte e
a gente aprende. É... e se
não deu para entrar num
outro canto... entrei aqui.
E estou participando, é bom e isso é que
importa”.
Kelle Cristina Mo-
desto dos Santos,
13 anos (Partici-
pante do EMA)
“Eu participei do
EMA e foi muito
bom. Se tivesse
mais eu participaria mais. Uma coisa
que eu achei muito interessante foi
porque no EMA as coisas eram discu-
tidas com a gente que a gente nem
percebia. Assim, percebia, mas era
através do teatro, da dança... tinha
música. Bem legal”.
Flaviana Pereira, 15
anos, é beneficiária do
Programa Bolsa Família
Inscrita no ProJovem
Adolescente, porém,
não participa efetiva-
mente do programa.
“Tem muitas atividades em Gostoso, mas
tem dia que eu não vou, eu só gosto de ir
quando a gente vai pro ginásio! Tem algu-
mas coisas pra fazer no ProJovem, vídeo,
dinâmicas, palestras, só coisa pra criança,
prefiro ficar em casa... Agora quando eu sei
que vão discutir sobre sexualidade, drogas
e outros assuntos é que vai ser chato! É coi-
sa que a gente já sabe, que fala direto na
escola, na igreja, na televisão. Eu acho que
pra melhorar deveriam perguntar do que a
gente gosta.”
Percebe-se, portanto, que há sempre uma
tendência da população a estar se organizando
de algum modo, seja com fins de entretenimen-
to ou de ações sociais. Essa sociedade organi-
zada tem como grande parcela de sustentação
as juventudes e adolescentes, principalmente
nas comunidades do campo. Segundo Neilson
Gomes, componente da equipe de pesquisa da
AMJUS, essa organização social tem como base
a atuação de jovens que pensam politicamente
e agem na perspectiva de mudanças.
Além da presença de ONGs com sede em
outras localidades que sempre se fazem presen-
tes, destaca-se, com sede na cidade São Miguel
Depoimentos
Foto
: Ale
ssan
dro
Am
aral
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22
do Gostoso, o Coletivo de Direitos Humanos,
Cultura, Ecologia e Cidadania – CDHEC, a Asso-
ciação Sócio-Cultural e Desportiva Gostosense
– ASCDEG e a, já citada, Associação de Meio
Ambiente, Cultura e Justiça Social – AMJUS.
No município tornou-se conhecida uma
rede de trabalho sócioambiental e cultural que
sedimentou e ainda sedimenta as bases para
uma juventude consciente e cidadã. Em 2001,
foi fundada a Associação Sócio-Cultural e De-
portiva Gostosense (ASCDEG), através da qual
foi dado início a todo um trabalho de imple-
mentação de projetos de limpeza urbana, alfa-
betização e incentivo de práticas esportivas (fu-
tebol e capoeira) para crianças e adolescentes
e de promoção da arte (música). Atualmente,
a ASCDEG também recebe apoio da Prefeitura,
dos governos do Estado e Federal e de alguns
empresários da cidade.
O Espaço TEAR, um projeto do CDHEC cria-
do em 2007 por iniciativa do Padre Fabio dos
Santos, trouxe novo fôlego para a divulgação e
resgate da cultura popular em Gostoso. Segun-
do Anne-Dominique Losch Pastore, uma das
coordenadoras do programa, o projeto ajudou
na criação de um grupo de teatro popular e ofe-
rece outras oficinas culturais, como a oficina do
Boi de Reis, Pastoril, música, dança, produção
de textos jornalísticos, artesanatos etc., além de
alguns cursos profissionalizantes como de pe-
dreiro, encanador e eletricista.
Para Ariclenes França da Silva, coordenador
do CDHEC, o trabalho das organizações se com-
pletam. Acrescenta que “a cultura e o esporte
são alternativas à droga e ao álcool para crian-
ças e adolescentes. Ambos são importantes ins-
trumentos para a promoção da cidadania, por
que além de educar, são atividades que interes-
sam aos jovens”.
A AMJUS, fundada em janeiro de 2009,
como foi dito por Nanda em seu artigo “Plantar
a semente funciona: um exemplo de solidarie-
dade em Gostoso” no site www.suficiente.org,
é a terceira geração de projetos nessa linha-
gem. A entidade promove pesquisas e a produ-
ção de material e publicações sobre educação e
cultura. Em outubro do mesmo ano coordenou
a realização do III Encontro Municipal de Ado-
lescentes, evento realizado em parceria com o
TEAR, ASCDEG e Prefeitura Municipal, que reu-
niu mais de 130 adolescentes e tratou de temas
como saúde sexual e reprodutiva, drogas e dro-
gadição, justiça socioambiental, entre outros.
Eventos acontecidos em São Miguel
Encontro Municipal de Adolescentes
O EMA é um even-
to de mobilização
juvenil, promovido
pela AMJUS em par-
ceria com algumas
instituições como
o TEAR e Prefeitura,
entre outras, que
reune jovens de todo município com o objetivo de promover o diá-
logo entre as juventudes, a participação na sociedade e a integração
dos grupos sociais da comunidade.
Festival de Arte Popular de São Miguel do Gostoso
O Festival de Arte Popular de São Miguel do Gostoso é um movi-
mento que reune todos os grupos da cidade que atuam no setor
cultural. O evento tem em sua composição grande número de ado-
lescentes e jovens. É uma iniciativa lançada em 2003 pelos artistas
populares do município,
e adotada pela gestão
pública municipal em
2005, agregando o even-
to as comemorações da
Festa de Emancipação
Política de São Miguel
do Gostoso, que ocorre
na segunda semana de
julho.
Auto de Natal em GostosoO espetáculo que retrata o nascimento do Menino Jesus e conta
a história de Gostoso
e do seu povo, ocorre
na Praia da Xêpa na úl-
tima semana do ano.
O Auto reúne crian-
ças, adolescentes e
idosos envolvidos em
programas sociais go-
vernamentais e não-
governamentais. Tem
produção executiva
da Secretaria de Turis-
mo, Comunicação e
Meio Ambiente e di-
reção da Secretaria de
Trabalho, Habitação e
Assistência Social.
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• ASCDEG
ascdeg.blosgspot.com
• AMJUS
www.amjus.org.br
• TEAR
tearcultura.blogspot.com
• Ricardo André
avelm.blogspot.com
• Praia do Gostoso
www.praiadogostoso.com
Segundo Tiago Luciano, diretor da ONG, a insti-
tuição ainda desenvolve pesquisas com fins de
traçar o perfil dos adolescentes de Gostoso e
suas formas de organização, e trabalha com os
antigos moradores para resgatar e registrar ou-
tros aspectos da cultura popular do município
não trabalhados pelas outras organizações. Kel-
le Araujo, cordenadora de projetos da AMJUS,
diz que também é uma das preocupações da
entidade as metodologias de trabalho com ado-
lescentes e jovens, e a elaboração de indicado-
res sociais para a realização de projetos direcio-
nados a esse público no município.
As ações dessas organizações sociais soma-
das as iniciativas do poder público resultam em
um quadro bastante ampliado de espaços de di-
reito. Um grande ponto positivo neste contexto
é o estabelecimento de uma boa relação entre
o poder público e a sociedade civil organizada,
de modo que suas ações são pensadas, plane-
jadas, executadas e avaliadas em uma situação
de parceria e coletividade, garantindo que os
espaços de inclusão e participação da socieda-
de cresçam entre a juventude e o público caren-
te dessa demanda no município de São Miguel
do Gostoso.
Selo UnicefO Selo UNICEF Município Apro-
vado é uma iniciativa que for-
talece a caminhada do País
rumo aos Objetivos de Desen-
volvimento do Milênio (ODM),
buscando garantir para cada
criança e cada adolescente o
direito de sobreviver e se de-
senvolver, aprender, protejer(-
se) do HIV/AIDS, crescer sem
violência e ser prioridade nas
Políticas Públicas. O UNICEF
certifica e reconhece os esforços de municípios que alcançam os
maiores avanços na melhoria de vida da infância e adolescência.
São Miguel do Gostoso foi um dos 40 municípios aprovados na
edição 2008, pelos resultados alcançados na melhoria da qualida-
de de vida de seus jovens. A vitória da última edição se deu grande
parte a uma nova postura organizacional dos programas e projetos
da sociedade civil e poder público, sob a orientação da articulado-
ra do prêmio, Elba Alves Silva Teixeira, o Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente e a Comissão Pró-Selo. Vale
lembrar que o município de São Miguel do Gostoso está entre as
165 cidades do RN que concorrem ao Selo UNICEF Edição 2009-2012.
• ProJovem Adolescente - Prefeitura de
São Miguel do Gostoso – SEMTHAS
• PETI – Programa de Erradicação do
Trabalho Infântil - Prefeitura de São
Miguel do Gostoso - SEMTHAS
• ProJovem Campo - Governo Federal
e Prefeitura de Gostoso/SMEC
• Jovem Empreendedor – Governo do
RN e Prefeitura de São Miguel do
Gostoso - SMEC
• Batuque do Gostoso - Prefeitura de
São Miguel do Gostoso – SMEC e
SEMTHAS
• Grupo de Dança Elo Contemporâ-neo - Prefeitura de São Miguel do
Gostoso - SEMTHAS
• Grupo de Ballet Corpus - Prefeitura de
São Miguel do Gostoso - SEMTHAS
• Escola de Música de Gostoso - ASCDEG
• Escolinha de Futebol - ASCDEG e
Parma Futebol Clube
• Capoeira e Maculelê - ASCDEG
• Grupo de Teatro Nós na Rua -
CDHEC/Espaço Tear
• Pastoril Infantil - CDHEC/Espaço
Tear
• Boi de Reis Infantil - CDHEC/Espaço
Tear
• Escotismo na Escola - Governo do
RN e Escoteiros do Brasil
• Pastoral da Criança - CNBB e Área
Pastoral de São Miguel Arcanjo.
• Projeto Ecoar Atitudes - partidipa-
ção social de adolescentes - AMJUS
Programas e projetos realizados em São Miguel do Gostoso
Quer saber mais?
Grupo de capoeira e maculelê
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Gostoso respira e transpira cultura popular durante Escambo
A cidade se vestiu de arte e o ar ficou mais
colorido. A alegria se estampou no rosto do me-
nino e as senhoras vieram para a calçada saber
que tanto barulho era aquele. O Escambo Popu-
lar Livre de Rua aportava em São Miguel trazen-
do consigo grupos de Teatro de Rua de todo Rio
Grande do Norte, além de “escambistas” (termo
criado pelo movimento para participantes do
evento) de boa parte do Nordeste. Ao todo, mais
de 200 artistas estiveram na cidade.
Algumas comunidades próximas foram visi-
tadas por grupos que levaram bom humor ao co-
tidiano local. Na Escola Estadual Olímpia Teixei-
ra, onde os participantes ficaram hospedados,
foram realizadas várias oficinas e apresentações
teatrais durante três dias, abertas ao público. As
atividades envolveram cortejos, intervenções
com grafite, teatro de rua, dança, teatro de bo-
necos, poesia, música e percussão, bem como
oficinas, rodas de conversação, exibições de ví-
deos, entre outras formas de conhecer e viver
em comunidade.
A troca de experiências e o contato com outros
artistas é um dos pontos básicos do evento. “Vim
para o Escambo pelo intercâmbio, pela vivência, por-
que prezo a educação libertadora. E mesmo perce-
bendo que o encontro não fala sobre ela, ele aponta
para essa perspectiva, essa disposição de construir
uma intervenção, uma transformação conjunta, não
só aqui, mais no cotidiano. E ai está o grande di-
ferencial do Escambo, o fazer conjunto”, declarou
André Luiz Gomes, 44 anos, do grupo Ciclo Vida.
Em apenas 30 dias os grupos de teatro Nós
Na Rua e o Bando La Trupe, com a parceria do
Ponto de Cultura Tear e sob a coordenação de
Filippo Rodrigo, organizaram o Escambo de São
Miguel. Entre os artistas que se apresentaram
estavam o Boi de Reis do Mestre Zé Marciano
e Luís Pequeno, e o Pastoril das mestras Maria
do Carmo e Maria. O movimento passou pela ci-
dade e deixou um rastro de cultura viva, repleto
de migalhas artísticas que podem e devem ser
seguidas para o alcance de uma sociedade mais
justa e que sabe valorizar a arte popular.
C U LT U R A
ão Miguel do Gostoso (distante 100 km de Natal) foi tomado por artistas populares
durante o XXV Escambo Popular Livre de Rua, que aconteceu entre os dias 15 e 18
de janeiro deste ano. O encontro reuniu estudantes, professores, artistas, músicos,
aficionados pela arte e quem saiu ganhando foi a comunidade, que teve a oportunidade
de vivenciar quatro dias de pura cultura transitando pelas ruas do município.
SO cortejo percorreu as ruas de São Miguel e arrastou as pessoas com sua alegria
Texto e fotos:
Alessandro Amaral
A cidade se
vestiu de arte
e o ar ficou
mais colorido.
O Escambo
Popular
Livre de Rua
aportava em
São Miguel
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Movimento Popular Escambo Livre de Rua
O Escambo Livre de Rua é um movimen-
to popular de irradiação cultural que
reúne grupos de teatro de rua, dança,
capoeira, artistas plásticos e visuais,
poetas, músicos e artistas populares do
Brasil e Argentina com o intuito de so-
cializar suas experiências artísticas, cul-
turais, políticas e comunitárias. Segundo
Ray Lima, “uma experiência coletiva de
mobilização e organização social e de
atuação política em termos regional e
local. Um espaço livre de produção de
conhecimento e de inclusão social; de
inserção do cidadão comum”.
A palavra Escambo significa a troca
de um bem material ou serviço por ou-
tro, sem uso de dinheiro. Essa prática
era muito comum no Brasil colonial, no
início do século XVI, quando os portu-
gueses davam bugigangas (apitos, espe-
lhos, chocalhos) para os indígenas em
troca de trabalho, onde deveriam cortar
as árvores de pau-brasil e carregar os
troncos até as caravelas portuguesas.
O Escambo Popular Livre de Rua,
como explica Aryclenes França, membro
do Tear, é um movimento realizado em
alguns Estados do Nordeste brasileiro
desde 1991, concretizado por vários gru-
pos culturais de dança, capoeira, teatro,
música, entre outros. O movimento Es-
cambo é uma ação multicultural com
grande alcance popular, seus espetácu-
los, exposições e espaços de vivência
são gratuitos e acontecem nos locais
públicos das cidades. Geralmente, o
evento ocupa praças, ruas, circos, igre-
jas, calçadões, e tantos outros lugares
de acesso livre disponíveis em cada lu-
gar onde se realiza.
O Movimento Livre Escambo de Rua
aconteceu pela primeira vez em São
Miguel do Gostoso entre os dias 15 e
18 de janeiro de 2010 e, segundo Junio
Santos, um dos líderes do movimento,
“existe nele um grau e uma capacidade
de renovação incrível. Seja renovação
dos conhecimentos, seja na renovação
e aperfeiçoamento das práticas artísti-
cas. A cada Escambo realizado, os artis-
tas renovam suas linguagens, seus sa-
beres e suas práticas. O fato de ser um
encontro de celebração e intercâmbio
intenso, os escambistas aprendem, se
deixam aprender e apreendem o outro,
levando para seus lugares de origem a
cachola repleta de saberes e práticas re-
novadas e enriquecidas. Esta riqueza de
aprendizagens em alta proporção, quali-
dade e velocidade faz da pedagogia do
escambo, um mundo de possibilidades,
um centro móvel e dinâmico de constru-
ção coletiva de saberes diversos e carre-
gados de significados”.
por Heldene Santos
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“Vamos contar a nossa história
A nossa história vamos cantar
Eu conto uma, canto duas, conto três
E agora é sua vez da história vim contar.”
Embalados pelas cantigas popula-
res, os artistas do Movimento Popular
Escambo Livre de Rua desfilaram pela
cidade de São Miguel do Gostoso. Pa-
lhaços, acrobatas, poetas, músicos,
atores com seus apetrechos cênicos,
conduziam a comunidade para o espa-
ço de apresentações, começaria ali pela
primeira vez na cidade o XXV Escambo
Popular Livre de Rua.
– Peraí! Começaria ali? Não! O Es-
cambo de São Miguel já tinha começa-
do um mês antes. Como? Então vamos
por partes. Vamos voltar a fita.
Em dezembro foi acordado que o
XXV Escambo seria em Gostoso. Tínha-
mos um prazo de quase 30 dias para
colocar tudo em ordem. A comissão
organizadora foi formada pelo Bando
La Trupe, que passou a residir na cida-
de durante o período de preparação do
evento, e o grupo local Nós Na Rua.
Todos os dias a equipe se reunia e se
articulava para sair às ruas conversando
com a população, visitando pousadas e
comércios. Produziram material gráfico
de divulgação e fichas de inscrições,
contataram os demais escambistas,
conseguiram local para hospedagem,
transportes para os artistas, passagens
aéreas, alimentação, carro de som. Ufa!
Uma correria, né?
Durante todo o Escambo, tivemos
vários momentos marcantes. A começar
pela recepção que tivemos da população
de Gostoso antes e durante o evento,
contribuindo, lotando as rodas de apre-
sentações e participando de toda pro-
gramação. Os Escambares (programação
noturna do encontro) também merecem
destaque. O primeiro foi no bar de Dedé
de Tico, grande parceiro do movimento.
Os seguintes, com a turma do espaço
Talismã, que juntos ajudaram a fazer um
Escambar gostoso, com muita poesia,
música, mostra de vídeos, danças e ma-
nifestações artísticas espontâneas.
Um Escambo Gostoso Texto: Filippo Rodrigo
Fotos: Alessandro Amaral
Um fato que merece ressaltar é a
parceria firmada com diversas entidades
em prol do evento. O Ponto de Cultura
Tear e a ONG CDHEC, que são parceiros
do Grupo Nós Na Rua desde sua cria-
ção, e a Prefeitura de Gostoso, através
de Ricardo André (que já participara de
um Escambo e sabia da importância do
evento se fazer na sua cidade, indo, por
muitas vezes, de frente com quem não
creditava na realização do encontro),
deram uma grande força.
Por falar em não acreditar... “nem tudo é um mar de ro-
sas”. Tivemos algumas dificuldades, principalmente com os
donos de algumas pousadas que nem nos atendiam direito
e alguns ainda debochavam dos meninos do Nós Na Rua,
dizendo que aquilo que eles falavam não iria acontecer.
Por outro lado, comerciantes nos paravam na rua querendo
contribuir com o Escambo e outras pousadas reconheciam
a importância do encontro para a cidade e se tornaram par-
ceiros. Em especial a Pousada dos Ponteiros, que cedeu a
hospedagem para Amir Haddad.
O Escambo de Gostoso foi uma gran-
de festa. Pudemos brincar com a cidade
durante os dias de encontro. Pudemos
trazer os escambistas para conhecerem
a casa do grupo Nós Na Rua, esse grupo
formado por meninos e meninas que
estão crescendo e se desenvolvendo
com arte, com essa arte livre no qual
nos tornamos mais sensíveis ao próxi-
mo e conscientes de que possamos mu-
dar, senão o mundo, pelo menos nos
transformar.
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N O V I D A D E S
Os melhores alunos da rede pública de São Miguel do Gos-
toso receberam no dia 17 de abril o título de Aluno Nota 10,
oferecido pela Prefeitura Municipal em cerimônia no ginásio
poliesportivo da cidade. O evento tem a finalidade de incen-
tivar os aprendizes a melhorarem seu desempenho escolar
através de uma competição saudável. Nesta primeira edição,
contou com a participação de cerca de 1.700 pessoas, entre
expectadores e estudantes. Os vencedores deste ano foram
Mateus do Santos da Silva (distrito de Novo Horizonte), que
ganhou uma casa; Dalila dos Santos da Silva (Novo Horizon-
te), um computador; e Brena Eduarda Barbosa de São Miguel
do Gostoso, uma bicicleta. Um quarto prêmio ainda foi sor-
teado entre 24 gostosenses alunos do IFRN e a vencedora
foi Francimara Alves da Silva, que ganhou um micro compu-
tador.
Aluno nota 10
São Miguel do Gostoso está promovendo
inclusão digital através do Telecentro Co-
munitário. É um projeto do Governo Federal
em parceria com o município, que consiste
em espaço público provido de computa-
dores conectados a internet banda larga.
Ali realizam-se atividades por meio das
TICs (Tecnologias da Informação e Comu-
nicação). O objetivo é promover o desen-
volvimento e reduzir a exclusão digital. O
projeto iniciou dia 10 de maio de 2010 e
funciona das 8h às 22h. O acesso é livre
e gratuito. Saiba mais no www.mc.gov.br/
inclusao-digital-mc/telecentros/
Telecentro Comunitário
Evento de Turismo e Selo de Qualidade
São Miguel do Gostoso participou de um dos mais impor-
tantes eventos do país, o 5º Salão de Turismo – Roteiros
do Brasil, realizado em São Paulo entre os dias 26 e 30
de maio. O objetivo principal do salão é apresentar ao
grande público e agências de turismo os melhores rotei-
ros nacionais.
Esse ano São Miguel foi destaque com suas qualifica-
ções específicas e belezas naturais, como o selo Turismo
Melhor – Qualidade em Serviços Turísticos, concebido
pelo SEBRAE/RN às empresas da cidade. A delegação de
Gostoso contou com a participação de 11 pessoas, entre
elas empresários do ramo de hotelaria, secretários e pre-
feito da cidade. O evento foi realizado pelo Ministério do
Turismo.
Estande do Rio Grande do Norte na Feira de Turismo
por Francimara Alves, Mikarlla Cavalcante
e Andriele Torres
O diretor José Jailton recebe das mãos do prefeito, Miguel Teixeira, premiação do aluno de sua escola
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Aspectos Físicos, Geográficos, Históricos, Sociais e Culturais
www.minhacomunidade.net
Site de São Miguel do Gostoso
Idealizado por um grupo de jovens estudantes da própria comunidade
Associação Sócio-cultural Desportiva Gostosense-ASCDEG tem o objetivo de incentivar e estimular a participação dos Jovens na vida comunitária, através de atividades sócio-culturais (música, capoeira, escolinha de futebol e aula de alfabetização). Ações que favorecem a auto-estima e a inclusão social.
São Miguel do Gostoso/RN - Brasil
CNPJ:11.111.001/0001-20
Nossa missão é con-
tribuir com o desenvol-
vimento social e humano
de crianças, adolescentes e
jovens, utilizando estratégias de
educação, cultura e comunicação.
www.amjus.org.br
Associação de Meio Ambiente, Cultura e Justiça Social
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Para o fortalecimento desses
grupos formados por famílias das
comunidades e assentamentos de
São Miguel do Gostoso, com intuito
de melhorar, expandir e valorizar o
trabalho e o produto comercializado,
surgiu o núcleo da rede Xiquexi-
que composta pelos grupos que
trabalham com agricultura familiar,
articulada por Maria Katiana Barbosa
da Silva de 23 anos. A rede é uma
forma de reunir as famílias e fazer
um trabalho de acompanhamento,
proporcionar capacitações e troca
de vivências entre elas através de
encontros e intercâmbios. O núcleo
se articula com outros espaços
de discussões como o Fórum de
Participação Popular nas Políticas
Publicas – FOPP, a Marcha Mundial
das Mulheres – MMM, Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
– STTR, como instituições parceiras,
e a Associação de Apoio as Comuni-
dades do Campo – AACC/RN.
Os grupos são formados na sua
maioria por mulheres que, conhe-
cendo seus direitos, sentem-se livres
para o trabalho, como nos relata Dona
Maria do Socorro, 52 anos, da Agrovila
Paraíso, que com mais três mulheres
cultivam hortaliças, produz bolos e do-
ces. “O nosso trabalho é importante
pela liberdade, foi aqui que conhece-
mos a liberdade de mulher.”
Os produtos são comercializados
pelos próprios produtores na comu-
nidade e em cidades vizinhas. Algu-
mas famílias participam do projeto
Compra Direta da EMATER - Instituto
de Assistência Técnica e Extensão
Rural/RN, onde todos os meses são
comprados uma quantia de produtos
alimentícios a essas famílias para
repassar as escolas de São Miguel
do Gostoso como merenda escolar.
No dia 28 de agosto de 2006,
surgiu a feira Agroecológica e de
Economia Solidária em São Miguel
do Gostoso com a proposta de ser
diferente da feira convencional, pois
tem por objetivo valorizar o trabalho
dos agricultores e agricultoras com
relação a venda de seus produtos,
garantindo um valor mais justo. As
famílias agrupam-se para produzir
e comercializar produtos agroecoló-
gicos, com o intuito de melhorar a
Valoriza o trabalho coletivo, o produto e a comunidade
qualidade de vida para seus familia-
res como também para a sociedade
que consome. O lema é não usar
nenhum tipo de produto químico,
é tudo natural, isso é amplamente
discutido nas capacitações.
Pode-se constatar que nas comu-
nidades de Tabua, Reduto, Canto da
Ilha, Arizona, Antônio Conselheiro,
Mundo Novo, Novo Horizonte e Pa-
raíso, tem-se um trabalho riquíssimo
com produtos agroecológicos, valori-
zando o esforço coletivo, o produto,
a comunidade, sem prejudicar o
meio ambiente.
Tabua
Visitamos a comunidade de Tabua para verificar quais trabalhos relacionados à agricultura familiar são desenvolvi-dos. Chegando lá conhecemos Dona Maria Ducarmo Silva de Araújo e Maria Iracema Barbosa de Almeida, que há oito anos trabalham com hortas orgâ-nicas e Maria Anunciada Barbosa de Araújo, que junto com seu esposo, faz o mesmo trabalho na comunidade. Na horta são cultivados diversas hortali-ças como: alface, coentro, cebolinha, rúcula, cenoura e pimentão.
C O M U N I D A D E
Agricultura Familiargricultura familiar é a forma pela qual um grupo de pessoas
tira seu sustento através da produção e comercialização de
um produto. Esse trabalho é feito com hortaliças, apicultura, arte-
sanato, frutas, criação de aves, suínos e caprinos, beneficiamento
de castanhas, produção de bolos, salgados e doces, entre outros.
Valorizando assim tanto a produção de qualidade em conformida-
de com ambiente, quanto a venda pelos próprios produtores.
A
Feira Agroecológica em São Miguel do Gostoso
Maria do Socorro e Cleonice Gomes da Silva
Texto e fotos:Ariclenes França da Silva e
Luzia Ferreira de Oliveira
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As verduras são comercializadas na própria comunidade e trazidas para a feira agroecológica em São Miguel do Gostoso, todas as segundas-feiras. Todos eles são integrantes da rede Xiquexique, participando ativamente para adquirir conhecimento e aprimo-rar a produção.
Na comunidade podemos verificar outro trabalho utilizando a fibra da Car-naúba feito por Ana Maria Barbosa da
Silva, na criação de tapetes, bol-sas e chapéus. Os produtos são comercializados nas cidades de São Miguel do Gostoso, Touros, Carnaubinha e Parazinho.
Caminhando um pouco mais pela comunida-de encontramos Geane Cruz de
Souza Silva que usa a palha da Carnaú-ba na confecção de diversos modelos de bolsas e porta-joias, entre outros adereços, juntamente com mais cinco jovens da comunidade. Esse trabalho é feito em sua própria casa. Os produtos são vendidos na feira em São Miguel do Gostoso.
Arizona
No Arizona encontramos Maria Matias de Souza, 47 anos, do grupo de Mu-
mais de oito anos, e participaram de diversas reuniões, capacitações, na qual os três primeiro anos foram de muito aprendizado, o restante trabalho, produção e comercialização. Atualmente cultivam hortaliças, criam porcos e galinhas, porém, pretendem acrescentar o cultivo de banana, mamão e maracujá.
Esse grupo foi o primeiro do Rio Grande do Norte a ganhar o prêmio “Valores do Brasil” do Banco do Brasil. Prêmio esse de 50 mil reais, dividido com AACC – Associação de Apoio as Comunidades do Campo, a Instituição que desenvolveu e acompanhou o projeto, sendo 60% para as mulheres e 40% para a instituição, destinados a compra de materiais, infra-estrutura e acompanhamento de outros trabalhos.
lheres. Maria, co-nhecida por todos como Dadá, um grande exemplo de persistência, nos relatou que o trabalho iniciou com a participa-ção de 12 mu-lheres cultivando hortaliças, depois houve a desistên-cia do grupo, per-manecendo apenas ela. “O trabalho é demorado e trabalhoso, mas tem que se acreditar”, disse. Hoje o grupo do Arizona conta com a participação de três mulheres, que cultivam hortaliças e criam galinhas. Dadá participa de todas as reuniões e capacitações da
rede Xiquexique em São Miguel do Gostoso, além de viagens para eventos em outros Estados do Brasil, apri-morando seus conhecimentos no cultivo e trabalho agroe-cológico.
Novo Horizonte
O grupo de Apicultura Delícia das Abelhas, do Novo Horizonte, existe há cinco anos. Atualmente é composto por seis pessoas, entre elas Maria das Dores Cardoso de Melo, 33 anos, Joa-na Darc Menezes da Silva, 35, e Sônia Maria Pereira Tenório, 39. A colheita do mel é feita uma vez por mês, caso o inverno seja bom. A produ-ção é vendida para a pousada Mar de Estrelas e na feira agroecológica em São Miguel do Gostoso.
Paraíso
O grupo Juntas Venceremos, de Paraíso, é formado por cinco mulheres. Existe há
Maria Ducarmo Araújo e Maria Iracema Almeida, da comunidade Tabua
Maria Anunciada Araújo, Tabua
Sonia Maria Tenôrio Gomes, moradora da comunidade
Novo Horizonte
Geane Cruz Silva, Tabua
Ana Maria Barbosa da Silva, Tabua
Joana Darc da Silva e Maria das Dores Melo, Novo Horizonte
Maria Matias de Souza, da comunidade Arizona
O grupo tem uma organização peculiar e plausível. Para um melhor desenvolvimento e rendimento do tra-balho, elas organizaram uma caixinha que no final de cada mês colocam 10% do valor arrecadado com as ven-das, para as despesas, os outros 90% é dividido entre elas.
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O Futebol em São Miguel do
Gostoso futebol é o esporte mais praticado
em São Miguel do Gostoso, inclusive
por homens, mulheres e crianças. É
praticado nos campos, na praia, no ginásio po-
liesportivo, na quadra de esportes, em diversos
locais desde que seja propício a essa atividade.
Antigamente o futebol era praticado no campo
de areia, de terça a sexta-feira e os jovens parti-
cipavam com muita força de vontade, sendo sua
única atividade de lazer e integração. Esses jo-
vens guerreiros participavam de vários campeo-
natos regionais, onde jogavam em diversos clu-
bes locais, como: Parma, Grêmio, Força Jovem,
Internacional e SMEC, inclusive, esse último não
existe mais. Recentemente surgiram os clubes
Esporte e o São Miguel. Segundo o treinador Eri-
marcio e o veterano Laudelino, hoje em dia exis-
te um campo de futebol estruturado, tendo em
vista que os campos do passado eram de areia
ou barro. Mesmo assim, os jovens atualmente
não participam com a mesma força de vontade
e intensidade dos seus pais, tios e avós.
Atualmente em São Miguel do Gostoso exis-
te um projeto de incentivo ao esporte local,
principalmente ao futebol, com turmas infanto-
juvenil, sub-17 e sub-20, se expandindo para o
futebol veterano e o feminino. William Batista
de Souto é quem foi o responsável por trazer o
projeto Comercial Esporte Clube para o municí-
pio, e junto a ONG ASCDEG, em parceria com a
Prefeitura Municipal de São Miguel do Gostoso,
realizam um trabalho de resgate do futebol lo-
cal.
O projeto trabalha com crianças, jovens e
adultos, com o objetivo de tirá-los das ruas e
conseqüentemente das drogas, prostituição e
da marginalidade. Os professores foram capaci-
tados na Federação Norte Rio-grandense de Fu-
tebol em Natal (RN), no curso de Capacitação de
Técnico de Futebol. São eles: Erimarcio Correia
Vieira, Raimundo Nonato Alves e William Batis-
ta de Souto, com o apoio do professor Renato
César, ex-atleta do Vasco da Gama (RJ), com
passagem pelo Flamengo (RJ), Ceará (CE), São
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Alunos e monitores do Projeto Comercial Esporte Clube desenvolvido em São Miguel do Gostoso
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por Joelma de Souza
e Maria Lucivânia Menezes
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O Futebol em São Miguel do
Gostoso
Paulo (SP), entre outros tantos clubes brasileiros
de futebol.
Para participarem do projeto, as crianças
e os jovens devem estar na escola, inclusive é
solicitada a participação na programação da AS-
CDEG, como em mutirões de limpeza das praias
locais e das ruas visando à preservação, e das
palestras educativas cujos temas falam de dro-
gas, prostituição, meio ambiente e saúde. Um
incentivo a mais para se tornarem cidadãos de
bem no futuro. Através desse projeto, os times
de sub-17 e sub-20 participaram de campeona-
tos oficiais, bem como amistosos com o ABC e
o AMÉRICA de Natal. Nessas partidas houveram
a presença de olheiros, que intencionam en-
contrar bons jogadores para os grandes clubes
nacionais. Nisso já foram revelados vários joga-
dores do município, jovens que partiram para o
futebol paulista e mineiro.
O principal objetivo do projeto é dar opor-
tunidade a todos que participam do esporte em
São Miguel do Gostoso, mas principalmente o
futebol, reavivando o time de veteranos e o fu-
tebol feminino. Em ano de copa do mundo, o
projeto vai receber um apoio de força, a partici-
pação do ex-jogador da seleção brasileira Mauro
Silva. Na cidade era realizado, todos os anos, o
campeonato municipal, onde todos os clubes
eram convidados a participarem, porém no ano
passado não aconteceu. Houve a realização do
campeonato Caju-Gostoso com duração de três
meses e recentemente realizou-se a Copa Ser-
ra do Mel, em homenagem a Senhora Andree
Anne Loïse Raboud, natural da Suíça, membro
da Fundação Serra do Mel e fundadora da AS-
CDEG.
Alguns desses jovens foram revelados no pro-
jeto e outros através de olheiros, que assistiram
jogos realizados nos campos da cidade, e que
ao observarem os talentos de jogadores de fu-
tebol, os escolheram para representarem alguns
clubes pelo país. Com isso surgiu em cada um
deles o sonho de se profissionalizar, almejando
um futuro promissor no futebol brasileiro.
Alguns exemplos de talentos revelados no
município podem ser citados, como: Adalberto
Soares dos Santos “Sequinho”, atleta que joga
no América de Natal; Ivanilson Fernandes da Sil-
va “Uego”, que foi atleta do Alecrim e América,
do Araripina da Paraíba (PB), e atualmente joga
no Potiguar de Mossoró (RN); Edvan, que está
no Megacenter em São Paulo (SP); e o jovem
Manoel Araujo da Silva “Luilson”, residente no
distrito da Tabua, que está se preparando para
participar também do Megacenter (local onde
se preparam os atletas para os grandes clubes
paulistas de futebol). Com uma breve participa-
ção no futebol mineiro, os jovens Evandro da
Silva Menezes e Julio Cesar, também podem ser
citados como representantes da cidade.Vanilson Fernandes da Silva “Uego” jogando no Alecrim
Futebol Clube de Natal (à dir.)
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O Pai daNoite
L E N D A
m ser sinistro que se faz presente no imaginário de São Miguel do Gostoso, assim con-
ta a estória. O Pai da Noite é um lendário personagem que, segundo os moradores,
vaga pelas madrugadas nas ruas e arredores da cidade. Quando aparece, tem a forma
de um animal pequeno e, enquanto persegue a pessoa, vai crescendo até virar um gigante
sem forma definida. Uns afirmam ser uma sombra branca no formato de um homem, outros
dizem ser escura com chapéu pontudo, mas no geral, sempre são formas estranhas.
Entre tantos causos narrados por populares de Gostoso, relatamos aqui o encontro de
Neném de Lala, como é mais conhecida, com o lendário Pai da Noite. Nascida e criada na
comunidade, filha de pescador, hoje com 54 anos, Francisca Gomes Pinheiro conta sobre um
dos momentos mais interessante da sua vida.
U
Por volta das onze horas da noite, Neném e
mais duas amigas, Maria e Verônica, saíram para
a praia do Maceió. Como era de costume, foram
à praia esperar seu pai que estava para chegar do
mar. As pessoas, como ainda hoje, tinham o hábito
de esperar na praia a chegada de peixe fresco. Era
uma espécie de diversão para os moradores. E lá
foram elas. Próximo a praia existiam muitas plan-
tações de gameleiras, todos na vila comentavam
que ali era mal assombrado, diziam que coisas
estranhas aconteciam lá. Passaram pelas árvores e
continuaram a viagem. O vento soprava muito forte
aquela noite, o mar estava agitado, o barulho das
ondas contrastava com o vazio que estava na praia.
Mesmo acostumadas a passar por lá, morriam de
medo das histórias de assombração. Seguiram an-
dando assim mesmo, apavoradas, pareciam sentir
que algo iria acontecer. Neném olhava de um lado
para o outro, envolvida pelo clima sinistro, quando
de repente virou-se para trás e teve aquela visão:
era uma sombra branca, que parecia com um ho-
mem, e vinha crescendo, crescendo, ficando tão
alto quanto um coqueiro. Ela estava em estado de
choque, não conseguia mover-se, apenas olhou
para as amigas e disse:
– Meninas, têm uma coisa estranha atrás de nós.
As garotas se viraram e olhando para trás depa-
ram-se com o ser que vinha se aproximando. Ele
por Francisco dos Anjos
e Wellinton Silva
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tomava formas estranhas, não se sabia mais se era
homem ou bicho. As três saíram correndo desespe-
radas sem saber para que lado irem.
Era aquele pega e não pega, pega e não pega,
quanto mais corriam, mais perto o bicho chegava.
Ele corria cada vez mais rápido tentando cair so-
bre elas com seu corpo, como se fosse abraçá-las.
Quando finalmente alcançaram o local onde costu-
mavam esperar a chegada dos pescadores, olharam
para trás na esperança que ele tivesse sumido, mas
não, o bicho continuava as perseguindo. Depois de
muito tempo correndo sem direção certa, pensaram
em voltar para a vila. A procura de um esconderijo,
passaram por um lago conhecido como lagoa de Chi-
co Néri. Sobre o lago existia uma cerca de arames
enorme. Sem pensar em se cortar, passaram pela
cerca as pressas. Ao chegar à vila, entraram por trás
da primeira casa que viram. Neném desmaiou em se-
guida. Os moradores da casa acordaram e foram até
a cozinha onde as três estavam. Por sorte a dona da
casa era comadre de Neném, então passaram a noite
ali mesmo, já que estavam muito assustadas com o
que acontecera. Pela manhã o pai de Neném havia
retornado do mar e as procurou por toda vila com
outros moradores. Depois de algumas horas procu-
rando, encontraram-nas na casa da comadre Totó de
Manuel Guerra.
Na época os moradores disseram que foi o Pai
da Noite quem correu atrás delas e que por sorte
passaram por uma cerca de arames. Ao atraves-
sar a cerca formaram uma cruz e o bicho sumiu
na noite. Diz a lenda que ao conjurar uma cruz
diante dele ou rezar o ofício de Nossa Senhora, o
Pai da Noite volta para a escuridão onde habita.
Ele é o senhor das noites e todo dia ao escurecer
ele espera por alguém para cobrir com seu corpo,
levando-o para as trevas.
Outro relatoA senhora Maria Teixeira de Souza, moradora de
São Miguel do Gostoso, 63 anos, afirma que seu
tio, Antonio Teixeira do Nascimento, presenciou
a aparição do “Pai da Noite” quando criança. Se-
gundo Dona Maria, seu tio viajava tarde da noite,
vindo de praias vizinhas, quando olhou para fren-
te e viu um vulto. Era uma sombra que crescia
cada vez mais. A escuridão ía caindo sobre ele
quando as palavras do Ofício de Nossa Senho-
ra vieram em sua mente: Deus te salve relógio.
Foi essas palavras que fez a sombra diminuir e
desaparecer. Dona Maria Teixeira diz que o Pai
da Noite sumiu porque as palavras do Ofício de
Nossa Senhora têm muito poder.
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Uma deliciosa Peixada ao molho de
coco, acompanhada de arroz, pirão
e ovos cozidos. Para almoço, jantar
e aquele momento especial com
amigos e família ouvindo uma mú-
sica agradável num ambiente areja-
do e charmoso.
Restaurante MacambiraEndereço: Avenida dos Arrecifes,
s/n (esquina da Praia do Maceió)
Fones: (84) 3263-4004 / 9124-1005
Organização: Isaias
Peixe a BrasileiraLoja de artesanato muito charmosa.
Oferece bolsas, acessórios e moda
praia. Atendimento especial e óti-
mos preços.
Loja Maria MaréEndereço: Avenida dos Arrecifes,
Nº 1924
Fone: (84) 9191-7626
Organização: Maria Almira
Maria Maré
Peixe frito inteiro acompanhado de
salada, farofa, macaxeira ou batata
frita em porções para duas pessoas,
com valor médio de R$ 30,00 a ser
apreciado num ambiente aconche-
gante, situado a beira-mar.
Bar do TicoEndereço: Rua Enseada das Baleias,
Nº 869, Praia do Cardeiro.
Fones: (84) 9120-8348 / 9165 / 4467
Organização: Dedé de Tico e Família
Cioba de frente para o mar
Uma ótima dica do Mak Tub - Bar e
Pizzaria é a pizza com recheio duplo
de Portuguesa e Marguerita, com as
bordas recheadas com catupiry. Os
preços variam em torno de R$ 25,00.
Um ambiente bonito, boa música e
atendimento receptivo.
Mak Tub – Bar e PizzariaEndereço: Entrada Praia do Cardeiro,
Nº 970 (esq. com Av. dos Arrecifes)
Fones: (84) 3263-4374 / 9129-0187
Organização: Johnnes e Lucilene
Pizza com recheio duplo
Gostoso é degustar um petisco de
filet de peixe grelhado acompanha-
do de salada e macaxeira frita, em
um espaço agradável, ouvindo uma
boa música e olhando a paisagem
do mar.
Sheik’s Bar e Restaurante Endereço: Avenida Enseada das
baleias
Fones: (84) 9162-1105 / 3263-4153
E-mail: [email protected]
Organização: Jonathas e Mazé
Filet de Peixe
Madame Chita
Excelente espaço com vista para o
mar. Deliciosos crepes, caipirinha,
caipifrutas, boa música, loja com
moda praia, acessórios e artesana-
tos. Uma ótima dica para qualquer
ocasião.
Loja Madame chitaEndereço: Rua Enseada das Baleias,
Nº 1947, Praia do Maceió
Telefone: (84) 3263-4235
E-mail: [email protected]
Site: vwww.praiadogostoso.com/
madamechita
Organização: Rosana e Eliana
D I C A S
Texto e fotos: Francisco dos Anjos
e Wellington SilvaVale a pena conferir!
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Galeria de fotosE S PA Ç O T E A R
Participantes da oficina de Jornalismo,
após sessão de cinema em Natal
Aula de diagramação durante a Oficina de Jornalismo
Ari, Dominique e Alessandro, durante visita a Tribuna do Norte
Após um dia intenso,
hora da diversão
Entrega dos certificados na casa de Dominique
Alexsandro, Francisco
e a pizza
Equipe de vendas fechando a parceria
com Edson, da Urca do Tubarão
Francisco e Wellington antes de escreverem a sessão de
Dicas
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Não somos PIPA... nem seremos!
e tem uma coisa que eu não suporto é quando dizem:
“Gostoso é a nova Pipa!”. Sacanagem! Quer dizer que
nós somos os próximos alvos de uma invasão alieníge-
na no melhor estilo Guerra dos Mundos? Os cidadãos de
Gostoso ficarão assistindo seu paraíso ser transformado
em uma terra árida e estranha? Ou simplesmente o capi-
talismo irá cumprir o seu papel de aniquilador de estru-
turas sociais?
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na se-
gunda-feira, 07/06/2010, durante o lançamento do Plano
Agrícola e Pecuário 2010/2011, que o Brasil deve começar
a discutir a regulamentação da venda de
terras brasileiras a estrangeiros. “Essa é
uma coisa que teremos que discutir para
saber como vamos fazer para não permi-
tir que haja abuso da compra de terra por
estrangeiros”, disse o presidente. Talvez,
como sempre, estejamos um pouquinho
atrasados, se observarmos casos como os
de Pipa ou outras localidades brasileiras
rateadas entre grupos estrangeiros, sem
nenhum tipo de controle, nem mesmo
por parte de instâncias governamentais
poderosas como Patrimônio da União, Po-
lícia Federal e Receita Federal, o que de-
monstra o tamanho da nossa fragilidade
diante da questão.
Já que o presidente Lula abriu o deba-
te, estamos oficialmente autorizados a fazer os nossos
comentários. Se observarmos a curta história de Gostoso,
vemos que, no período entre 2000 e 2008, os imóveis
situados, sobretudo, na Avenida dos Arrecifes e Enseada
das Baleias sofreram uma supervalorização causada pelo
robusto valor do Euro na época, atraindo compradores es-
trangeiros, principalmente os europeus. Essa supervalori-
zação se alastrou ao oeste, nos terrenos da orla marítima
na comunidade de Reduto e a leste do centro da cidade
nas comunidades vizinhas, de Monte Alegre e São José,
pertencentes ao município de Touros (RN). Os donos des-
sas propriedades logo aproveitaram a oportunidade pro-
movida pela especulação imobiliária internacional para
faturar. Rapidamente a configuração das propriedades
mudou e iniciou-se o troca-troca de proprietários, girando
esses investimentos interesseiros até a crise financeira de
2009 que brecou o capital especulativo de outros países.
Que legal!
O fato é que em um curto espaço de tempo as pro-
priedades mais valorizadas do município passaram para
a mão de estrangeiros. E não só o valor dos terrenos da
orla marítima sofreu uma forte alta, mais também os das
ruas paralelas e áreas periféricas. Vale lembrar que muitas
dessas operações ocorrem sem o pagamento de nenhum
único centavo de impostos aos cofres públicos, e outros
tantos imóveis nem escritura possuíam. Graças a essa fei-
ra livre de imóveis superfaturados é possí-
vel encontrar hoje terrenos vendidos por
até R$ 410,00 o metro quadrado, e não
é difícil encontrar na Av. dos Arrecifes as
placas de For Sale (Vende-se), indicando
o tipo de comprador desejado.
Outro fato é que estamos sobrevi-
vendo bem a “invasão”. O município se
beneficiou da presença de instituições
como IDEMA, UFRN, CNPq e Secretaria
de Patrimônio da União (SPU), que jun-
tamente com a Prefeitura Municipal de
São Miguel do Gostoso e a comunidade,
elaboraram o Plano Diretor em dezem-
bro de 2008. No mesmo período, muitas
famílias se mudaram para Gostoso, bus-
cando um estilo de vida mais tranquilo,
bem como os diversos pequenos comerciantes, proprie-
tários de pousadas e restaurantes, que se estabeleceram
de maneira séria no município e garantem, durante todo
o ano, um conjunto expressivo de serviços frequentados
não só pelos turistas, mas também
pelos nativos e pessoas da região do
Mato Grande e região Metropolitana
de Natal.
Vale apena lembrar: Não somos
Pipa! Nem seremos!
A RT I G O
O fato é que
em um curto
espaço de tempo
as propriedades
mais valorizadas
do município
passaram para
a mão de
estrangeiros
S
Ricardo André R. C. da Silva é formado em
Matemática (UERN), e pós-graduando em
Gestão Pública Municipal (UFRN)
Foto
: Ale
ssan
dro
Am
aral
Charme e bom gosto a beira mar
www.enseadadosamores.com.br
Rua Principal, nº 7 – Praia de São José – Paraíso do Gostoso - Touros - RNTel.: (84) 3693-2027 / 3693-2070 – [email protected]
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