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Roberto Jos Cabuo
Riscos ocupacionais no bloco operatrio:
acidentes com materiais de natureza
biolgica e qumica
Dissertao de Mestrado
Mestrado em Engenharia Humana
Trabalho efetuado sob a orientao de
Professora Doutora Paula Machado de Sousa Carneiro e
de
Professora Doutora Ana Cristina da Silva Braga
Julho de 2017
iii
AGRADECIMENTOS
A concretizao deste projeto no teria sido possvel sem o apoio fundamental de um
conjunto de pessoas que, pessoal e profissionalmente, colaborou para que chegasse a bom
porto. Mais do que um trabalho unicamente pessoal, este um trabalho coletivo e, por isso
mesmo, no poderia deixar de agradecer:
Professora Doutora Paula Carneiro e Professora Doutora Ana Cristina Braga, pela valiosa
orientao e pelo encorajamento em todas as fases constituintes do projeto, sobretudo
perante as maiores dificuldades. A sua experincia e valiosos conhecimentos encaminharam-
me na realizao de todas as tarefas;
Ao meu amigo Enfermeiro Filipe Freitas, por me referenciar o curso de Engenharia Humana e
pelo permanente apoio moral, tambm ele essencial consecuo desta formao;
Ao Corpo Diretivo do Hospital, aos Diretores e aos enfermeiros chefes do Bloco Operatrio,
do servio de anestesiologia e do servio de cirurgia geral, assim como todos os funcionrios
do bloco operatrio onde foi realizado o presente trabalho, de onde destaco mdicos,
enfermeiros, assistentes operacionais e secretrias, cuja pronta colaborao me merece as
melhores palavras e referncias.
De modo geral, espero que cada elemento que direta ou indiretamente colaborara para o
meu processo formativo e sobretudo para a presente investigao, representativa de uma
conquista para mim, se reveja nesta pgina, onde expresso a minha mais sincera gratido.
v
RESUMO
Apesar do progresso que a tecnologia e a medicina tm acompanhado, certos profissionais da
sade continuam a constituir grupos de risco no que concerne suscetibilidade de sofrer
acidentes de trabalho decorrentes sobretudo de riscos biolgicos e qumicos.
O bloco operatrio justamente um dos locais das unidades hospitalares onde este tipo de
incidentes ocorre com mais frequncia, estando na sua origem, por exemplo, o contacto com
produtos orgnicos contaminados ou com os prprios instrumentos cirrgicos. Contudo h
um conjunto de medidas de preveno que os profissionais podem e devem adotar, no
sentido de diminuir os riscos. A responsabilidade pela sua segurana cabe, por isso mesmo,
no apenas ao hospital, mas tambm aos profissionais, a quem no basta a formao. Devem
inclusivamente p-la em prtica e entender, com a responsabilidade que a profisso lhes
merece, as consequncias da ocorrncia de acidentes decorrentes desses riscos.
A presente dissertao abordar, justamente, a problemtica dos riscos associados ao bloco
operatrio, tendo essencialmente como objetivo identificar e analisar os riscos biolgicos e
qumicos a ele inerentes, bem como as atitudes dos profissionais relativamente aos mesmos.
De forma a cumprir tais propsitos, apresentar-se-o os possveis riscos dentro de um bloco
operatrio, analisando-se os resultados de um estudo descritivo, analtico e transversal da
realidade vivida numa unidade hospitalar no norte de Portugal, para o qual colaborou uma
amostra de 86 profissionais, atravs do preenchimento de um questionrio.
Os resultados obtidos revelaram a ocorrncia de determinados acidentes, no entanto verifica-
se que as normas de segurana e o uso conveniente de EPI nem sempre so
irrepreensivelmente respeitados. Alm disso, pde confirmar-se que nem todos os
profissionais possuem formao ao nvel dos riscos ocupacionais, embora esse parea ser um
fator, a par do tempo de servio e da idade, sem diferenas estatisticamente significativas
associadas ocorrncia de acidentes.
Face aos resultados encontrados, sugere-se que os profissionais e a prpria instituio se
envolvam mais na preveno de riscos e sobretudo na promoo de um ambiente laboral
seguro.
Palavras-Chave: Riscos biolgicos; Riscos qumicos; Bloco operatrio.
vii
ABSTRACT
Despite the progress made by technology and medicine, certain health professionals continue
to be at risk groups in terms of susceptibility to work-related accidents, mainly due to
biological and chemical risks. The operating room is precisely one of the hospital places where
this type of incident occurs more frequently, being in its origin, for example the contact with
contaminated organic products or the contact with the surgical instruments. However, there
is a set of prevention measures that professionals can and should adopt in order to reduce
risks. Responsibility for their safety lies, therefore, not only on the hospital, but also on the
professionals, for whom the occupational training is not enough. They must even put
vocational training into practice and understand, with the responsibility that the profession
deserves, the consequences of the occurrence of accidents resulting from these risks.
This dissertation will address the problematic of the risks associated with the operating room,
essentially aiming to identify and analyze the biological and chemical risks inherent to it, as
well as the professionals' attitudes towards them. In order to fulfill these purposes, the
possible risks at an operating room will be presented, analyzing the results of a descriptive,
analytical and transversal study of the reality lived in a hospital unit of northern Portugal.
Eighty six professionals participated into the study through the completion of a questionnaire.
The results obtained have revealed the occurrence of certain accidents, however it is verified
that the safety standards and the convenient use of individual protection equipment are not
always completely respected. In addition, it can be confirmed that not all professionals are
trained in occupational risks, although this appears to be a factor, along with seniority and
age, with no statistically significant differences associated with the occurrence of accidents.
Given the results, it is suggested that professionals and the institution itself become more
involved in risk prevention and, above all, in promoting a safe working environment.
KEYWORDS: Biological risks; Chemical risks; Operating room.
ix
NDICE
Agradecimentos ........................................................................................................................ iii
Resumo ....................................................................................................................................... v
Abstract .................................................................................................................................... vii
Lista de Figuras .......................................................................................................................... xi
Lista de Tabelas ........................................................................................................................ xiii
Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrnimos .................................................................................xv
1. Introduo e Objetivos ....................................................................................................... 1
1.1 Motivao .................................................................................................................... 1
1.2 Objetivos ...................................................................................................................... 3
1.3 Estrutura da dissertao .............................................................................................. 4
2. Reviso de Literatura .......................................................................................................... 7
2.2 Comportamentos de segurana .................................................................................. 8
2.3 Bloco operatrio ........................................................................................................ 10
2.3.1. Conceito ............................................................................................................. 10
2.3.2. Caraterizao tcnica ......................................................................................... 10
2.3.3. Gesto administrativa ........................................................................................ 12
2.3.4. Riscos de natureza biolgica .............................................................................. 16
2.3.5. Riscos de natureza qumica ................................................................................ 22
2.3.6. Riscos psicossociais ............................................................................................ 24
2.3.7. Riscos ergonmicos ............................................................................................ 25
2.3.8. Riscos de natureza fsica .................................................................................... 26
2.3.9. Equipamentos de proteo individual (EPI) em contexto especfico ................ 29
3. Metodologia ...................................................................................................................... 37
3.1 Metodologia aplicada investigao ........................................................................ 37
3.2 Local de realizao do estudo ................................................................................... 38
3.3 Populao-alvo e caraterizao da amostra ............................................................. 40
3.4 Mtodos utilizados para a recolha de informao .................................................... 40
3.5 Descrio do questionrio ......................................................................................... 41
3.6 Tratamento estatstico e anlise dos dados .............................................................. 42
x
4. Resultados ......................................................................................................................... 43
4.1 Apresentao dos resultados do questionrio .......................................................... 43
4.2 Resultados das associaes estatsticas .................................................................... 56
4.2.1. Avaliao da associao entre a formao e ocorrncia de acidente ............... 56
4.2.2. Avaliao da associao entre a formao e utilizao de EPI e medidas ps-
acidente 57
4.2.3. Avaliao da associao entre a categoria profissional e ocorrncia de acidente
58
4.2.4. Avaliao das caractersticas tempo de servio e idade .................................... 59
5. Anlise e Discusso dos Resultados .................................................................................. 63
6. Concluses e Recomendaes .......................................................................................... 67
Bibliografia ............................................................................................................................... 70
Anexo I Questionrio utilizado para recolha de dados ......................................................... 78
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Percentagem de participantes por categoria profissional. ...................................... 43
Figura 2 - Percentagem de participantes por gnero. ............................................................. 44
Figura 3 - Percentagem de participantes em funo de possurem outra atividade profissional
fora do hospital. ....................................................................................................................... 44
Figura 4 - Percentagem de participantes que obtiveram formao sobre riscos de natureza
fsica, ergonmica, qumica e biolgica. .................................................................................. 45
Figura 5 Percentagem de participantes vacinados contra a Hepatite B. .............................. 47
Figura 6 - Percentagem de participantes que sofreu algum acidente envolvendo material
biolgico durante o horrio de trabalho no BO. ...................................................................... 47
Figura 7 - Nmero de acidentes biolgicos por participantes. ................................................ 50
Figura 8 - Percentagem de participantes em funo da utilizao de EPI no momento do
acidente. ................................................................................................................................... 51
Figura 9 - Percentagem de condutas tomadas aps o acidente envolvendo material biolgico.
.................................................................................................................................................. 52
Figura 10 Percentagem de participantes que sofreram algum acidente envolvendo material
qumico durante o horrio de trabalho no BO. ........................................................................ 52
Figura 11 Nmero de acidentes qumicos ocorridos no BO.................................................. 53
Figura 12 - Percentagem de participantes em funo dos efeitos da exposio aos agentes
qumicos. .................................................................................................................................. 54
Figura 13 - Percentagem de participantes de acordo com a utilizao de equipamentos de
proteo que utilizavam no momento do acidente. ............................................................... 55
Figura 14 - Percentagem de participantes em funo das condutas tomadas aps o acidente.
.................................................................................................................................................. 56
Figura 15 - Distribuio da formao em RB segundo o procedimento lavar com gua e sabo.
.................................................................................................................................................. 58
Figura 16 - Distribuio da ocorrncia de acidente envolvendo material biolgico segundo a
categoria profissional. .............................................................................................................. 59
Figura 17 - Distribuio do tempo de servio segundo a ocorrncia de acidente envolvendo
material qumico. ..................................................................................................................... 59
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xii
Figura 18 - Distribuio da idade dos profissionais segundo a ocorrncia de acidente
envolvendo material qumico. ................................................................................................. 60
Figura 19 - Distribuio do tempo de servio segundo a ocorrncia de acidente envolvendo
material biolgico. .................................................................................................................... 61
Figura 20 - Distribuio da idade dos profissionais segundo a ocorrncia de acidente
envolvendo material biolgico. ................................................................................................ 61
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Mnimo, mximo, mdia e desvio-padro relativamente ao tempo de formao em
riscos de natureza biolgica. .................................................................................................... 45
Tabela 2 - Percentagem de participantes que obtiveram formao sobre riscos de natureza
biolgica. .................................................................................................................................. 46
Tabela 3 Mnimo, mximo, mdia e desvio-padro relativamente ao tempo de formao em
riscos de natureza qumica. ...................................................................................................... 46
Tabela 4 Frequncia e percentagem relativamente ao local de obteno da formao com
riscos de natureza qumica. ...................................................................................................... 46
Tabela 5 Frequncia e percentagem relativamente participao de acidentes. ............... 48
Tabela 6 Frequncia e percentagem relativamente s razes que levaram os profissionais a
no participar da ocorrncia. ................................................................................................... 48
Tabela 7 Frequncia e percentagem relativamente perceo dos riscos por parte dos
profissionais. ............................................................................................................................ 48
Tabela 8 Frequncia e percentagem relativamente ao contexto de ocorrncia de acidentes.
.................................................................................................................................................. 49
Tabela 9 Frequncia e percentagem relativamente ao nvel a que ocorreram acidentes. .. 49
Tabela 10 Frequncia e percentagem relativamente aos objetos envolvidos em acidentes.
.................................................................................................................................................. 49
Tabela 11 Frequncia e percentagem relativamente atividade exercida pelos profissionais
no momento dos acidentes...................................................................................................... 50
xv
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRNIMOS
ACSS Administrao Central do Sistema de Sade
AgHBs - Antgeno de superfcie da Hepatite B
AT- Acidente de Trabalho
AVAC Aquecimento, Ventilao e Ar Condicionado
BO Bloco Operatrio
CDC - Centers for disease control and prevention
DGS - Direo Geral de Sade
EPE Entidade Pblica Empresarial
EPI Equipamento de Proteo Individual
GTBO Grupo de Trabalho do Bloco Operatrio
NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health
OSHA Occupation Safety and Health Administration
SSO- Servio de Sade Ocupacional
SIDA Sndrome de Imunodeficincia Adquirida
TP Tuberculose Pulmonar
UCPA- Unidade de Cuidados Ps-Anestsicos
1
1. INTRODUO E OBJETIVOS
Neste captulo introdutrio da dissertao ser abordado o motivo que levou ao
desenvolvimento desta dissertao, ser referido o principal objetivo da mesma, assim como
sero elencados os objetivos especficos que ajudaro a alcanar o objetivo principal. Ser
tambm descrita, ainda que sucintamente, a organizao e estrutura da dissertao.
1.1 Motivao
O setor da sade emprega diferentes tipos de profissionais que enfrentam uma grande
diversidade de riscos ocupacionais. Nos EUA, o setor da sade emprega mais de doze milhes
de trabalhadores, sendo que cerca de 80% so do sexo feminino (NIOSH, 2009). Na Europa,
este setor emprega aproximadamente 10% dos trabalhadores, com uma proporo
significativa de profissionais a trabalhar em hospitais (European Union, 2011). Em Portugal,
em 2015, o nmero de profissionais de sade pertencentes ao Ministrio da Sade sofreu um
aumento de 2,2% relativamente ao ano de 2014, sendo atualmente cerca de 120 mil (Governo
de Portugal, 2015).
As taxas de acidentes de trabalho relativas aos profissionais de sade tm aumentado ao
longo da ltima dcada (NIOSH, 2009). Alguns dos principais problemas enfrentados pelos
profissionais de sade so os acidentes com agulhas, as leses musculoesquelticas, as
alergias ao ltex, a violncia e o stresse. Embora seja possvel evitar ou reduzir a exposio
dos trabalhadores a esses riscos, a quantidade de casos de acidentes de trabalho no fatais e
de doenas entre os trabalhadores da sade das maiores de todos os setores da indstria
(NIOSH, 2009).
Os hospitais, com toda sua complexidade operacional, tanto clnica quanto administrativa,
constituem locais de trabalho onde se podem encontrar os mais variados tipos de riscos que
se abordam no contexto da segurana ocupacional (Pereira, 2012). No caso mais especfico
do bloco operatrio (BO), possvel existir simultaneamente exposio a riscos biolgicos,
qumicos, fsicos, ergonmicos e psicossociais. Tal conjugao de tipo de riscos
particularmente notria em salas de cirurgia (Morgan, 2006).
2
O pessoal colaborador do BO est em risco de exposio a fontes diretas e indiretas de
radiao ionizante e no ionizante; est exposto a gases anestsicos e a outros produtos
qumicos; est exposto a rudo de fundo provocado por aspiradores, brocas, serras, msica e
conversas; riscos de contrair infees dos pacientes e do resto do pessoal (Barash et al., 2014).
Os profissionais esto igualmente sujeitos a riscos de eletrocusso pelo uso de equipamento
eltrico (Morgan, 2006).
Os riscos expem os colaboradores do BO ocorrncia de graves acidentes de trabalho com
srias repercusses pessoais e institucionais. Exemplos so os acidentes com as agulhas,
alergias ao latex das luvas de proteo, exposio a gases anestsicos, exposio a vapores
txicos e fumos (NIOSH, 2009).
Com base nas descries anteriores, o bloco operatrio , pois, uma estrutura operacional
complexa, com conjugao de vrios fatores de risco, definindo-se assim como uma rea de
risco elevado.
Diversos estudos identificaram o conjunto de riscos ocupacionais (biolgicos, qumicos, fsicos,
mecnico, entre outros) a que esto sujeitos os profissionais de sade, particularmente
aqueles que desempenham a sua atividade em blocos operatrios. Tais riscos podem ter
consequncias de gravidade varivel que, no limite, podem conduzir morte do profissional
(Perdigoto, 2012).
Segundo Sen & Sen (2013), a existncia de planos bem concebidos e a formao dos
colaboradores ir prepar-los para a reduo da probabilidade de acidentes indesejados,
assim como controlar melhor os riscos presentes no BO.
Num estudo realizado em Portugal, em contexto hospitalar, Perdigoto (2012) detetou diversos
comportamentos de risco por parte de profissionais afetos ao BO, no que diz respeito
exposio a material biolgico e qumico. Tais comportamentos de risco incluam uma baixa
adeso, tanto aos culos de proteo/mscara com viseira, como utilizao de calado
adequado. Todos, ou quase todos, os profissionais observados utilizavam uniforme de bloco
e mscara simples. Segundo o mesmo estudo, os profissionais possuam as protees
adequadas s situaes com que se deparavam, mas nem sempre as utilizavam
adequadamente, ou seja, de acordo com as indicaes dos fabricantes dos equipamentos.
Pelo que foi sendo referido e dada a relevncia do tema, pretende-se com este estudo
aprofundar e alargar o estudo dos riscos ocupacionais em BO de unidades hospitalares
portuguesas, neste caso de uma unidade hospitalar do norte do pas. O foco so os acidentes
3
com materiais de natureza biolgica e com materiais de natureza qumica ocorridos no Bloco
Operatrio. Distante dos prejuzos financeiros, do absentismo laboral e de outras situaes
que possam advir da ocorrncia de acidentes/incidentes de trabalho, que muito preocuparia
determinados setores hospitalares, este estudo debrua-se, acima de tudo, sobre o impacto
fsico e/ou psicolgico que os acidentes possam ter sobre o elemento humano (trabalhador).
A populao alvo deste estudo ser constituda por colaboradores diretos e indiretos,
nomeadamente mdicos de vrias especialidades com interveno no bloco operatrio,
enfermeiros, tcnicos de radiologia e auxiliares afetos ao bloco operatrio da referida unidade
hospitalar.
1.2 Objetivos
O objetivo principal desta dissertao caracterizar o bloco operatrio de uma unidade
hospitalar quanto aos riscos ocupacionais que os diferentes profissionais a enfrentam,
particularmente os de natureza biolgica e os de natureza qumica. Pretende-se igualmente
verificar se a sua formao acerca dos riscos que correm, tem alguma influncia sobre os
comportamentos que adotam em termos de segurana e se a adoo de comportamentos
seguros est associada a um menor nmero de ocorrncia de acidentes com materiais de
natureza biolgica e qumica.
Estes objetivos principais envolvem os seguintes objetivos especficos:
Caraterizar o local de trabalho e tambm as tarefas a realizadas;
Caraterizar os riscos ocupacionais presentes no BO, identificando os principais fatores
de risco de acidentes;
Verificar quais so as condutas tomadas pelos profissionais face aos diferentes riscos;
Analisar os principais acidentes de trabalho ocorridos com profissionais que tenham
adotado comportamentos seguros e aferir possveis causas;
Identificar oportunidades de melhoria nos procedimentos ou na organizao do
trabalho e elaborar propostas tendentes a reduzir os riscos ocupacionais no BO,
garantindo um ambiente cada vez mais seguro.
4
1.3 Estrutura da dissertao
O presente trabalho encontra-se estruturalmente dividido em seis captulos, havendo, por
isso, cinco outros captulos para alm do introdutrio.
O segundo captulo abarca um enquadramento terico das vrias temticas aqui abordadas,
desenvolvendo conceitos de extrema importncia para os profissionais que trabalham em
contexto hospitalar e que, por isso mesmo, se encontram sujeitos a riscos que as suas
atividades laborais e o local onde as exercem comportam. Neste sentido, este captulo
fundamentalmente terico, assentando tambm na descrio de comportamentos de
segurana que no devem ser descurados pelas entidades empregadoras, e muito menos
pelos profissionais que em muitos casos, em virtude do bem-estar dos pacientes, ou at da
prpria preguia, desvalorizam os riscos em que incorrem, mesmo tendo conhecimento das
suas consequncias. ainda neste captulo que se caracteriza com mais detalhe o bloco
operatrio, bem como o processo de gesto administrativa do mesmo, que implica a gesto
de recursos humanos e materiais que podem condicionar o bom funcionamento e a
efetividade de uma unidade. Neste sentido, alm da descrio das condies e dos recursos
necessrios e indispensveis a dever estar presentes num bloco operatrio, dos quais fazem
parte determinados materiais e equipamentos, relatam-se as funes de cada operacional na
interveno a um doente e ainda a estimativa dos custos considerados ideais para se atingir
nveis produtivos e satisfatrios. Por fim, o segundo captulo destina-se explanao
minuciosa e descrio dos riscos de natureza biolgica, qumica, psicossocial, ergonmica e
fsica a que os trabalhadores esto expostos, que se associam ao desenvolvimento de graves
doenas que podem inclusivamente comprometer vidas.
Por sua vez, o terceiro captulo centra-se na descrio do estudo propriamente dito e da
metodologia adotada para o levar a cabo. nesta parte da dissertao que se descreve
detalhadamente o local onde a pesquisa foi levada a cabo, com especial destaque para os
profissionais presentes, para os materiais que constam na sala e ainda para os procedimentos
adotados desde que termina a interveno cirrgica, at ao momento em que o doente
transportado para o recobro. Da mesma forma, este o captulo dedicado caracterizao da
populao-alvo e da amostra que colaborou no estudo.
Neste captulo, consta o relato do tratamento estatstico dos dados em que se incluem as
respetivas associaes, cuja discusso permite construir pontes com o enquadramento
5
terico previamente feito. Com recurso grfico a figuras e tabelas, no quarto captulo que
se revelam os resultados obtidos por meio da metodologia descrita. No quinto captulo
procede-se anlise e discusso dos resultados, atravs dos quais se parte para a concluso,
que , por fim, o sexto captulo. Nesta parte final da dissertao, alm de se dar resposta aos
objetivos que se esperam ver cumpridos, enumeram-se as limitaes do estudo e esboam-
se, em suma, recomendaes para estudos futuros.
7
2. REVISO DE LITERATURA
2.1 Riscos em meio hospitalar
Na Europa, o setor da sade emprega aproximadamente 10% dos trabalhadores, com uma
proporo significativa de profissionais a trabalhar em hospitais (European Union, 2011).
O Hospital pode ser definido como um estabelecimento de sade que presta cuidados de
sade curativos e de reabilitao em internamento e ambulatrio, podendo colaborar na
preveno da doena, no ensino e na investigao cientfica (DGS, 2016a). uma unidade de
tratamento mdico capaz de prestar cuidados em regime de internamento, com pessoal e
equipamento adequados para oferecer servios de diagnstico e teraputica, bem como
servios de apoio necessrios para desempenhar a sua misso e as funes atribudas. (DOD,
2015).
As organizaes hospitalares so sistemas complexos compostos por diversos departamentos
e profisses, tornando-as, sobretudo, numa organizao de pessoas confrontadas com
situaes emocionalmente intensas, tais como vida, doena e morte, as quais causam
ansiedade e tenso fsica e emocional (Faria, 2008). Como locais de trabalho, os hospitais
aglomeram um vasto nmero de profissionais que operam nas reas clnica, administrativa e
tcnica, utilizando no seu dia-a-dia diferentes instrumentos e meios que se configuram
perigosos. Destes, so exemplos os diferentes tipos de materiais perfuro-cortantes, gases de
uso medicinal, equipamentos de radiao, frmacos, produtos de higiene, entre outros. Os
mesmos profissionais esto permanentemente expostos ao perigo de contrair doenas e
agresses verbais e fsicas por parte dos utentes e dos seus acompanhantes. De uma maneira
geral, o trabalho hospitalar desenvolve-se num ambiente psicossocial stressante entre
pacientes e profissionais, muitas vezes ruidoso, algumas vezes termicamente desajustado, por
vezes competindo tambm por uma iluminao local que seja adequada para os diferentes
profissionais envolvidos, como acontece em cirurgias endoscpicas e noutros procedimentos
de diagnstico ou de teraputica que exigem baixa iluminao.
Os hospitais, com toda sua complexidade operacional clnica, administrativa e tcnica,
constituem locais de trabalho onde se podem encontrar os mais variados tipos de riscos
abordados no contexto da segurana ocupacional. Alguns dos principais problemas
8
enfrentados so os acidentes com agulhas, as leses musculosquelticas, as alergias ao latex,
a violncia, o stresse e a fadiga fsica e psicolgica (NIOSH, 2009).
Segundo a Direo Geral de Sade (DGS, 2014), a entidade empregadora (hospital)
responsvel pela sade e segurana de todos os seus trabalhadores, devendo assegurar
adequadas condies de trabalho e implementar as necessrias medidas de preveno dos
riscos profissionais e de promoo da sade, atravs de medidas que garantam adequada
implementao do regime jurdico da promoo da segurana e sade do trabalho e demais
legislao, designadamente a cobertura de cuidados de sade ocupacional aos trabalhadores.
2.2 Comportamentos de segurana
As atitudes e os comportamentos dos trabalhadores perante os riscos laborais podem ser
variveis de indivduo para indivduo. O prprio trabalhador pode apresentar
comportamentos distintos perante a mesma situao de risco, em momentos diferentes da
sua carreira (Areosa, 2007).
Areosa (2011) centrou-se num estudo de caso num hospital portugus, tendo indicado que as
percees de riscos podem influenciar os comportamentos e as atitudes. Assim, quanto maior
for o conhecimento e as percees de riscos dos trabalhadores, melhor poder ser o
desempenho na preveno de riscos e por consequncia na preveno de acidentes de
trabalho ou de doenas profissionais.
Segundo Areosa (2013), a vida pessoal dos trabalhadores pode influenciar, quer positiva quer
negativamente, os nveis de perceo de risco no trabalho. Fatores relacionados com
problemas familiares, a qualidade do sono, a ansiedade, problemas do foro econmico, o
consumo de lcool ou drogas podem condicionar fortemente os nveis momentneos das
percees do risco dos trabalhadores e, consequentemente, a maior ou menor probabilidade
de sofrerem um acidente de trabalho.
Para Arezes (2002), a perceo individual do risco constitui uma varivel de natureza
multifatorial e a sua avaliao depender, essencialmente, do tipo de risco associado.
Os profissionais de sade so treinados para exercer as suas atividades centradas no paciente.
Isso faz com que muitas vezes ignorem a sua prpria sade e o seu bem-estar em prol do
doente (Moore et al., 2013). Num estudo realizado com mdicos dentistas, Carneiro (2005)
referiu que estes se preocupam com o bem-estar dos pacientes e com o conforto dos mesmos
9
na cadeira pois, frequentemente, para conseguir melhorar a viso para o interior da boca do
paciente, o mdico acaba por adotar posturas penosas, justamente para no ter de pedir aos
pacientes que saiam da sua posio de conforto.
Segundo Gonalves et al., citado em Areosa (2011), a exposio continuada e prolongada a
situaes de risco laboral pode originar uma normalizao das ameaas por parte do
profissional exposto e, por consequncia, tornar diminuto o seu empenho em
comportamentos de proteo e de segurana laboral.
Perante as referncias acima expostas, oportuna a colocao de algumas questes para
reflexo, como por exemplo Por que razo um enfermeiro ou um mdico teria de encapsular
uma agulha j utilizada num dado doente?, ou Sentir-se- tecnicamente superior em relao
aos demais, um profissional que em pleno gozo da sua sabedoria manuseie conscientemente
situaes de risco sem que, no entanto, faa uso de EPI?
Talvez determinados elementos, como a falta de cultura de segurana, o desconhecimento de
causa ou o acreditar que determinados acidentes apenas acontecem aos outros esteja na
gnese destes comportamentos de (in)segurana. Pacheco (2012) explica que caso a
segurana fizesse parte da nossa natureza, irracionalmente, ou melhor, por instinto, o ser
humano na sua plena conscincia e sade mental jamais desrespeitaria algo que pudesse
causar leso a si mesmo. Seria uma resposta instintiva a essa contingncia. O mesmo autor
acrescenta que no se pode confundir o instinto de sobrevivncia com o processo educativo
de segurana e preveno, uma vez que o aspeto segurana deve ser entendido como racional
e parte de um processo educativo e, por isso, de experincias sociais. O instinto faz parte da
nossa natureza e ajuda-nos diante de situaes desconhecidas ou de extrema exposio
colocando os nossos sentidos em alerta mximo. Do ponto de vista fisiolgico, isto
corresponde a uma reao de luta ou fuga.
A cultura de segurana de extrema importncia em todas as organizaes, e medida que
a complexidade de uma organizao aumenta, este aspeto torna-se cada vez mais influente
na preveno de acidentes. A cultura de segurana deve imanar sempre da gesto de topo de
uma organizao e esta deve demonstrar que coloca os objetivos de segurana acima dos
prprios objetivos de gesto (Silva, 2010).
Determinados autores citados em Pacheco (2012) consideram que a perceo do risco diz
respeito capacidade que a pessoa tem em identificar os perigos e reconhecer os riscos,
atribuindo-lhes significado, seja no trabalho, no trnsito, ou no lar. No entanto, entender a
10
alta perceo do risco apenas a base para que o trabalhador se comporte de forma segura,
pois existem casos em que os indivduos identificam os perigos, reconhecem os riscos e,
mesmo assim, optam por violar regras e procedimentos, em virtude da pessoa, da preguia
ou at mesmo do desconforto, ou seja, alm de conhecer muito bem tcnica e
operacionalmente a sua atividade, os riscos devero ser sempre compreendidos.
2.3 Bloco operatrio
2.3.1. Conceito
O Bloco Operatrio (BO) pode ser definido como unidade orgnico-funcional de um
estabelecimento de sade, com espao fsico prprio e meios tcnicos e humanos
qualificados, destinados prestao de tratamento cirrgico ou realizao de exames que
requeiram elevado nvel de assepsia e/ou anestesia (DGS, 2016a).
O BO um servio de grande diferenciao e de utilizao transversal pelas diversas
especialidades cirrgicas.
neste local que se podem realizar intervenes cirrgicas programadas ou urgentes,
chegando os utentes atravs das urgncias, do internamento ou de servios ambulatrios.
Podem tambm realizar-se exames e outros procedimentos que requeiram um elevado nvel
de cuidados de assepsia e/ou anestesia (Lopes, 2012).
2.3.2. Caraterizao tcnica
De acordo com a Administrao Central do Sistema de Sade, IP (ACSS, 2011), o BO um
servio com grandes exigncias tcnicas, tanto ao nvel das instalaes como dos
procedimentos e dos tcnicos que os executam. Independentemente da localizao, deve ser
sempre resguardado de forma a no ser atravessado nem devassado por qualquer tipo de
circulao que lhe seja estranha, devendo ser consideradas trs zonas de acesso distinto,
interiores ao BO, nomeadamente:
11
rea livre - onde se pode circular com roupa de exterior. Comporta a receo, a sala de espera,
o gabinete de coordenao, a biblioteca, reunies, instalaes sanitrias de pessoal, espera
de acompanhantes, instalaes sanitrias de acompanhantes, admisso de doentes pr-
operatrio vindos do exterior e do internamento, controlo de entradas (a principal funo o
controlo entre a zona livre e a zona semi-restrita, podendo tambm controlar-se a entrada no
servio).
rea semi-restrita - na qual obrigatria a utilizao de roupa do BO, incluindo touca. Esta
rea serve tambm para manuteno e reparao de equipamentos internos do BO por
pessoal exterior ao servio.
rea restrita - nela obrigatria a utilizao de roupa do BO, incluindo touca e mscara.
Corresponde sala de preparao, sala de anestesia, rea de desinfeo do pessoal, sala
de operaes, sala de sujos, ao recobro ou unidade de cuidados ps-anestsicos e ao piso
tcnico.
Sala de operaes o local que d continuidade sala de preparao e ao espao de limpeza
e embalagem de sujos. O pavimento deve ser antiesttico condutivo e respeitar as regras
tcnicas das instalaes eltricas de baixa tenso. Com respeito iluminao, recomenda-se
um nvel mdio de iluminncia de 1000 lux, com um ndice de restituio cromtica mnimo
de 90%. Deve ser considerada a regulao do fluxo luminoso. A iluminao operatria (sem
sombra) deve ser alimentada por uma fonte com autonomia mnima de 1 hora. As portas das
salas de operaes devem ser mecnicas, pelo que a sua abertura deve ser possvel a partir
de contacto com a anca e o seu fecho deve ser automatizado. A climatizao obedece o
disposto nas especificaes tcnicas para instalaes de AVAC ET 06/2008 para
compartimentos do bloco operatrio: sala de operaes. Os gases medicinais e aspirao
obedecem o disposto nas especificaes tcnicas para gases medicinais e aspirao ET
03/2006, anexo I, para compartimentos do bloco operatrio: sala de operaes.
A tendncia atual para a criao de salas hbridas, onde se realizam intervenes de maior
ou menor intruso, mas com fortes recursos de imagem e de equipamentos robotizados. Pela
sua grande complexidade e especificidade, estas salas tm dimenses e configuraes
fortemente condicionantes, devendo ser polivalentes e podendo servir a vrias
especialidades: hemodinmica, cardiologia, entre outras.
As salas hbridas devem ser projetadas de forma a possibilitar a troca ou a sada de
equipamentos de grande dimenso e peso.
12
2.3.3. Gesto administrativa
De uma maneira geral, os princpios de gesto das organizaes so normalmente
considerados universais, pois visam utilizar os recursos para atingir os seus objetivos com o
melhor desempenho.
O tradicional processo de gesto considera quatro funes de gesto: planear, organizar,
liderar e controlar. A funo planear consiste na definio dos objetivos a atingir e na
identificao da melhor forma de os alcanar; a funo organizar o modo como a autoridade
distribuda na organizao, como que se repartem os recursos e o trabalho pelos diferentes
membros de modo a que se possam atingir os objetivos; a moderna conceo da gesto
entende que se deve designar a funo dirigir por liderar. Deste modo, liderar significa
influenciar e motivar os indivduos de uma equipa a realizar as tarefas essenciais para se
atingirem os objetivos. A funo controlar consiste na verificao do cumprimento ou no dos
objetivos definidos (Sotomayor et al., 2013).
Associado ao conceito de organizao, de que exemplo o BO, esto trs caractersticas
principais:
1. Recursos materiais, os quais constituem o conjunto do capital e dos equipamentos
necessrios prossecuo dos objetivos da organizao;
2. Recursos humanos, que so o elemento que desenvolve o trabalho e transforma os
recursos materiais em bens e ou servios. Eles so a potencial fonte de obteno de
vantagens.
3. Forma organizativa, a qual consiste no modo como a organizao combina os recursos
humanos e materiais e se organiza internamente.
A gesto de um BO considerada difcil e complexa pela variabilidade dos recursos envolvidos
e pela constante inovao tecnolgica, estando envolvidas no apenas a gesto de recursos
materiais e humanos, mas tambm a importantssima gesto de tempos, que permitir
elaborar e cumprir a programao ou o planeamento das intervenes a realizar (Lopes,
2012).
Cada bloco operatrio tem o seu funcionamento prprio, o seu modelo de gesto e os seus
mtodos de organizao. No entanto, existem blocos que podem ou podero ser mais
rentveis e mais producentes do que outros, no sentido de que do uma resposta mais rpida
procura que se faz do servio, isto , fazendo um bom uso dos recursos e uma boa gesto,
13
atestam ser possvel produzir mais e melhor, aumentando a rentabilidade e a satisfao dos
profissionais e dos utentes (Pegado, 2010).
Lamiri et al. (2007) considera que o BO representa o maior custo de uma instituio hospitalar
e estima esse custo em mais de 40% das despesas totais. O BO reportado por vrios autores,
nacionais e internacionais, como sendo um dos mais dispendiosos servios dentro do hospital,
com custos que rondam entre 10 a 15% do oramento hospitalar. Para Barash et al (2014), os
gastos relacionados com frmacos anestsicos representam uma pequena parte dos custos
perioperatrios totais, porm o grande nmero de doses que se aplica contribui muito para o
aumento do custo total da instituio. Por exemplo, em termos de anestesia geral, a reduo
de fluxo de gs fresco de 5 para 2 litros por minuto sempre que seja possvel representa uma
poupana de cerca de 100 milhes de dlares por ano nos Estados Unidos da Amrica (Barash
et al., 2014). O emprego de tcnicas e frmacos mais caros podem reduzir os custos indiretos.
O Propofol, por exemplo, uma infuso muito cara, mas reduz o tempo mdio na Unidade de
Cuidados Ps-anestsicos (UCPA), assim como as nuseas e vmitos ps-operatrio.
Por outro lado, importante frisar que o BO tambm o servio que gera as maiores receitas
e quase sempre confere a imagem meditica do Hospital.
Um estudo intitulado Gesto do Bloco Operatrio, realizado no ento Centro Hospitalar do
Alto Ave, EPE (Lopes, 2012) fez incidir a sua investigao sobre os principais problemas do BO,
gesto da informao e criao de uma fatura de ato cirrgico, tendo concludo que os
problemas de gesto do BO so complexos e interdependentes, motivados pelas equipas que
constituem os seus recursos humanos, as suas expetativas e pelos materiais de que o servio
necessita.
Num outro estudo, Pegado (2010) criou uma grelha de observao para vrios modelos de
gesto de BO, destacando alguns elementos principais e de diferenciao. O referido autor
concluiu o seu estudo considerando que, em face dos vrios modelos de gesto por si
observados, os gestores devem ponderar a existncia das componentes mais importantes de
cada modelo. Considera tambm que, decerto, no existe um modelo de gesto que seja mais
efetivo para o BO de um hospital.
Para Pereira (2014), a proposta de construo de um modelo conceptual de gesto do BO
seria um contributo importante, no s para a melhoria da qualidade e do desempenho dos
servios prestados, mas tambm para melhoria das polticas de gesto e do desempenho do
servio, e consequentemente para toda estratgia da instituio de sade. importante
14
identificar indicadores de desempenho do BO, avaliar a sua correlao com a performance
global do BO e rentabilizar os recursos, com o intuito de aumentar consideravelmente a
eficincia, a produo e a qualidade e de eliminar os desperdcios que no acrescentam
qualquer valor, nem para o doente, nem para a instituio.
O Grupo de Trabalho do Bloco Operatrio (GTBO, 2015) considera que todos os BO tm o seu
modelo de gesto, algumas vezes intuitivamente organizado, mas outras estruturalmente
estudado e pensado para aumentar a rentabilidade e eficincia, com vista na mxima
utilizao dos recursos existentes. Porm, verificou que 27% dos BO no possuem qualquer
sistema de controlo de gesto, recomendando assim a criao de um modelo que v ao
encontro das orientaes expressas na lei de gesto hospitalar de 2002, no que respeita
estimulao do desempenho dos profissionais e autonomia dos servios. So caractersticas
basilares do modelo proposto, a rigorosa definio dos servios da responsabilidade do BO e
os objetivos a que est acometido, sendo que a direo do BO deve poder controlar as
variveis subjacentes.
O estudo cientfico da gesto considera que os modelos nos fornecem previses que
comparamos com a realidade, com o intuito de validarmos as teorias (Sotomayor et al., 2013).
A gesto dos tempos de sala um dos aspetos primordiais que contribuem para a eficincia
do BO. O tempo de sala corresponde ao perodo que decorre entre a entrada do doente em
sala e o momento em que a sala fica em condies para outro doente entrar. Tem um valor
de referncia estimado em 120 minutos para uma cirurgia padro.
Os custos horrios de sala so muito elevados, pelo que se torna necessrio fazer todos os
esforos possveis para reduzir ao mximo o desperdcio.
O custo mdio de sala operatria, segundo o Hospital de Santa Marta, estudado por GTBO
(2015), corresponde a valores que se situam entre 7 e 12 /minuto, o que equivale a 420 a
660 /hora.
O tempo mdio de preparao de sala (perodo que decorre entre a sada do doente e a sala
estar preparada para receber novo utente, em minutos) tem um valor mnimo recomendado
de 20 minutos, para permitir uma higienizao adequada e o assentamento de poeiras, sendo
que, em situaes especiais, estes tempos podem ser excedidos. Importa realar que tempos
mdios inferiores a 10 minutos podem significar um cuidado insuficiente nos processos de
higienizao, devendo ser auditados estes casos (ACSS, 2011).
15
Perdigoto (2012), no seu estudo, avalia os acidentes de trabalho no bloco operatrio pelo
impacto que estes causam ou podem causar na gesto das unidades hospitalares.
Um dos elementos a ter em conta na gesto dos servios do BO so os recursos humanos.
Estes revelam-se cada vez mais importantes, se atendermos a que as pessoas so o fator-
chave de sucesso das organizaes. Esta relevncia est patente na prpria evoluo do
conceito: gesto de pessoal, gesto de recursos humanos e gesto de pessoas (e do capital
humano), e no facto de que a utilizao do BO deriva em muito do equilbrio entre diferentes
classes profissionais, visto que o deficit em qualquer deles pode comprometer a rentabilidade
de um bloco e as horas afetas por outras especialidades.
Quanto aos recursos humanos, o nmero de profissionais que compem a equipa cirrgica
depende do tamanho do hospital e da carga de casos cirrgicos. A equipa cirrgica que
trabalha em cada sala cirrgica constituda, em geral, por 1 cirurgio principal (snior), 2
cirurgies ajudantes, 1 anestesista, 1 enfermeiro instrumentista, 1 enfermeiro circulante e 1
enfermeiro anestesista. No caso de existirem protocolos de formao com Universidades nas
licenciaturas em Medicina e em Cincias de Enfermagem, poder haver mdicos e
enfermeiros em formao em cada sala cirrgica (Lopes, 2012).
O Cirurgio realiza intervenes cirrgicas, tendo em vista a correo de leses adquiridas ou
congnitas, o tratamento de ferimentos e a preveno de doenas, promovendo a melhoria
das funes orgnicas no mbito da cirurgia eletiva e de urgncia.
A American Society of Anesthesiologists (ASA, 2011) refere que o anestesiologista trata a dor,
controla o nvel de conscincia, assegura o conforto, o bem-estar e as funes vitais do doente
durante as intervenes cirrgicas, os exames complementares de diagnstico e a execuo
de outras tcnicas invasivas. Por outras palavras, o anestesiologista lida com todos os aspetos
no cirrgicos do cuidado ao paciente no perioperatrio, no ficando o exerccio da sua
atividade apenas confinado s salas de cirurgia, uma vez que no se limita a tornar os
pacientes insensveis dor.
Durante a cirurgia utilizada tecnologia avanada para a monitorizao dos sinais vitais, fruto
da inovao e do desenvolvimento das novas tecnologias, e nesse aspeto o anestesiologista
interpreta tambm a informao oferecida pelos monitores.
No bloco operatrio, as responsabilidades da equipa de enfermagem aumentam de acordo
com as funes que desempenham como enfermeiro de anestesia, enfermeiro circulante e
enfermeiro instrumentista. Segundo a Ordem dos Enfermeiros, nas Orientaes Relativas s
16
Atribuies do Enfermeiro Circulante, este profissional, tem como atribuies especficas a
diminuio da exposio do doente aos riscos inerentes aos cuidados prestados no Bloco
Operatrio, pela promoo da segurana do doente e dos restantes profissionais e o suporte
necessrio qualidade do ato cirrgico no que ao ambiente diz respeito (Ordem dos
Enfermeiros, 2004).
O Enfermeiro Chefe o responsvel pela gesto dos recursos humanos de todos os
enfermeiros, estando a seu cargo decidir sobre a afetao dos meios, nomeadamente atravs
da elaborao de horrios e de planos de trabalho e de frias, pela gesto funcional dos
assistentes operacionais e pela logstica do bloco operatrio, assegurando a informao que
caracteriza o nvel de produo, desde o agendamento cirrgico aos recursos materiais
necessrios para as todas cirurgias (Lopes, 2012).
2.3.4. Riscos de natureza biolgica
Os acidentes que envolvem a exposio a fludos orgnicos contaminados tm merecido
especial ateno por parte dos servios de segurana e sade no trabalho. Neste mbito, o
Decreto-Lei n. 121/2013, de 22 de agosto, relativo preveno de feridas provocadas por
dispositivos mdicos corto-perfurantes que constituam equipamentos de trabalho nos
setores hospitalar e da prestao de cuidados de sade, visa reforar e harmonizar as boas
prticas j existentes, com vista na sua implementao em todos os servios de sade pblicos
e privados a nvel nacional.
No contexto da exposio aos agentes biolgicos, em particular aos microrganismos, as
potenciais e principais fontes deste risco so o contacto pessoal com os doentes e o
manuseamento de produtos biolgicos: sangue e seus componentes, fezes, urina, exsudados,
secrees e vmitos, bem como os materiais contaminados por estes (Lima, 2008).
So considerados agentes biolgicos todos os microrganismos, incluindo os geneticamente
modificados, as culturas de clulas e os endoparasitas humanos suscetveis de provocar
efeitos negativos na sade dos trabalhadores quando a eles esto expostos, nomeadamente
infees, alergias ou intoxicaes. Os principais agentes biolgicos so os vrus, as bactrias,
os parasitas, os fungos e os organismos geneticamente modificados (Freitas, 2011).
Um microrganismo qualquer entidade microbiolgica, celular ou no, dotada de capacidade
de reproduo ou de transferncia do material gentico (Freitas, 2011).
17
As possveis vias de entrada, com risco de exposio, a agentes biolgicos so a respiratria,
a digestiva, a pele e membranas mucosas e a via percutnea, que se manifesta atravs de
leses produzidas por objetos cortantes e/ou perfurantes para alm das picadas e/ou
mordeduras (Gomz, 2012).
Atravs das vias respiratrias podem ser transmitidos aerossis de pequenas ou grandes
partculas, relevantes em doenas virais tais como o sarampo, infees por vrus influenza e
por vrus sincitial respiratrio humano, assim como em doenas bacterianas, como a
tuberculose pulmonar e a doena do legionrio (Barash et al., 2014). So exemplos de
procedimentos geradores de aerossis, entre outros, a intubao endotraqueal, a aspirao
traqueobrnquica, os cuidados de traqueostomia, a ressuscitao cardiopulmonar, a induo
de expetorao, a broncoscopia, a administrao aerossolizada de medicamentos e serras de
osso (CDC, 2015).
Os agentes biolgicos, para os quais a via de transmisso fecal-oral se torna mais vivel, so
os vrus da hepatite A e as bactrias como a helicobacter pylori e a salmonela (Lima, 2008). A
Hepatite A quase sempre uma doena autolimitada, no existindo estado de portador
crnico.
As superfcies cutneas e mucosas podem estar expostas aos diferentes agentes biolgicos,
resultando em doenas como o herpes, varicela e micoses cutneas. A infeo primria pelo
vrus herpes simples tipo 1 (VHS-1) quase sempre assintomtica, mas pode causar leses
bucais graves, febre e adenopatia (Barash et al., 2014).
Por via percutnea, destaca-se a transmisso dos vrus da Hepatite B, Hepatite C e o vrus da
imunodeficincia humana (VIH), sendo passvel o contacto com estes agentes quando se
efetuam, dentre outras tarefas, a obteno de acessos venosos e arteriais, procedimentos
meramente cirrgicos tais como inciso, corte e sutura, recolha de amostras de produtos
biolgicos para anlise laboratorial, recolha e acondicionamento de perfuro-cortantes e de
lixo hospitalar.
Em funo do acima exposto, vrios autores citados em Canalli (2012) afirmam que
numerosos estudos realizados com profissionais de sade destacam a equipa de enfermagem
como aquela que mais acidentes tem durante a prtica profissional, tendo como maior fator
de risco o contacto com o material perfuro-cortante e o material biolgico potencialmente
contaminado.
18
Atualmente, as doenas apontadas na maioria dos estudos sobre acidentes com material
biolgico potencialmente contaminado e de maior repercusso na sade dos trabalhadores
so causadas por patgenos veiculados pelo sangue, tais como o vrus da Hepatite B, o vrus
da Hepatite C e o vrus da imunodeficincia humana (Canalli, 2012).
HEPATITE B
O Vrus da hepatite B (VHB) constitui um perigo laboral significativo para os anestesiologistas
e outro pessoal mdico sem imunidade ao vrus. O risco de infeo resulta do contacto
percutneo ou mucoso acidental com sangue ou outros lquidos corporais de pacientes
infetados. A infeo aguda pelo VHB pode ser assintomtica e quase sempre se resolve sem
leso heptica significativa (menos do que 1% de pacientes com infeo aguda desenvolve
hepatite fulminante). Cerca de 10% convertem-se em portadores crnicos do VHB (evidncia
serolgica durante mais de 6 meses). Em dois anos, metade dos portadores crnicos resolve
a infeo sem leso heptica residual. A hepatite crnica ativa pode evoluir para cirrose
heptica e para o carcinoma hepatocelular, sendo estes desfechos frequentes em pessoas
com infeo viral crnica durante mais de 2 anos (Barash et al., 2014).
Em Portugal, a vacina da hepatite B (que como em qualquer pas a principal estratgia para
prevenir a transmisso laboral do VHB), est includa no Programa Nacional de Vacinao
desde o ano 2000, e estima-se que a prevalncia do VHB possa rondar 1%. Em relao ao
tratamento, apesar de se ter comprovado elevado benefcio em termos clnicos (reduo da
infecciosidade, regresso da cirrose e diminuio do risco de carcinoma hepatocelular), a
teraputica no curativa, j que ainda no est bem definido a suspenso do tratamento
(Pedroto et al.,2016).
HEPATITE C
A infeo crnica pelo vrus da hepatite C (VHC) pode evoluir, ao longo dos anos, para quadros
clnicos e anatomopatolgicos de fibrose avanada, cirrose, falncia heptica e carcinoma
hepatocelular que aumentam a morbilidade e reduzem a qualidade de vida e a sobrevivncia
dos infetados. Em consequncia, o tratamento deste vrus deve ser considerado para todos
os infetados por VHC (nvel de evidncia A, grau de recomendao I), exceto para os casos em
que a esperana de vida estimada, de acordo com comorbidades no associadas com a doena
heptica, seja inferior a 12 meses. No so includos nos termos da presente Norma, os
19
doentes para tratamento da hepatite C crnica causada pelos gentipos 5 e 6 do VHC, por no
se considerar existir informao cientfica suficientemente robusta (DGS, 2016).
Ainda de acordo com a DGS (2016), o objetivo imediato do tratamento do VHC a obteno
de uma resposta virolgica sustentada que se traduz por ARN-VHC indetetvel (< 15 UI/ml),
12 ou 24 semanas aps a suspenso do tratamento. Este resultado considerado pela
comunidade cientfica como equivalente cura (nvel de evidncia A, grau de recomendao
I).
Estatsticas internacionais estimam que Portugal se situa na zona europeia em que a
prevalncia do VHC ronda os 1,0 - 1,2%. Vrios autores estimam que o nmero de mortes em
Portugal relacionadas com a hepatite C (cirrose heptica, carcinoma hepatocelular, mortes
associadas ao VIH) possa atingir um nmero prximo dos 1000 por ano. Anjos et al. (sem data)
citados por Pedroto et al. (2016), estimaram que os custos relacionados com a hepatite C
possam rondar os 61 milhes de Euros por ano.
INFECO POR VIH/SIDA
A infeo por VIH uma pandemia. As estimativas apontam para 33.3 milhes de pessoas
infetadas em todo mundo, 1.1 milhes nos Estados Unidos da Amrica, dos quais cerca de
21% desconhecem que esto infetados (Barash et al., 2014).
Antes do conhecimento da infeo pelo VIH, responsvel pelo desenvolvimento da sndrome
de imunodeficincia adquirida (SIDA), acidentes envolvendo objetos perfuro-cortantes eram
subestimados, bem como o risco de transmisso de patgenos atravs do sangue, como o
vrus da hepatite B e C (Canalli, 2012).
A primeira referncia de um caso comprovado de infeo pelo vrus da imunodeficincia
humana ps exposio laboral em trabalhador de sade foi documentada em 1984 no jornal
ingls The Lancet. A partir daquele momento, foram-se sucedendo inmeras referncias na
literatura mdica mundial sobre o assunto (Boaventura, 1997).
Para Boaventura (1997), o risco de infeo ps exposio laboral pelo vrus da
imunodeficincia humana (VIH) de 0,3%, contra 15 a 20% do risco de infeo pelo vrus da
hepatite B. Esta diferena resulta do grau de virmia, que muito superior no caso do VHB,
que de 10/ml, pelo que bastam 0,00004 ml de sangue para ter poder infetante. No caso do
VIH, a virmia de 10 /ml, sendo necessrio 0,1 ml de sangue para ser contaminante. Dentre
20
as diferentes vias de contaminao, a via percutnea a mais frequente, representando entre
75 a 90% de todos os acidentes.
A preveno de ferimentos por perfuro-cortantes inclui medidas para o seu manuseamento
em segurana, de forma a evitar ferimentos ao utilizador e a outras pessoas que possam
encontrar o dispositivo durante ou aps um procedimento. Em 1991, a OSHA publicou pela
primeira vez o padro de patgenos transmitidos pelo sangue com vista a proteger os
profissionais de sade, cujo objetivo foi a implementao de uma hierarquia de medidas de
controlo que incluiu focar a ateno na remoo de perigos de objetos cortantes atravs do
desenvolvimento e uso de medidas de controlo de engenharia (Siegel et al., 2007).
Um estudo levado a cabo pelo ministrio da Sade do Kuwait, durante o ano de 2010, concluiu
que nesse ano, o ferimento por agulha tinha sido o tipo mais comum de exposio (75,9%),
tendo-se observado em situaes de insero ou remoo das mesmas a partir de pacientes
(35,4%) e durante a execuo de intervenes cirrgicas (22,6%). As exposies ocorreram
principalmente nas enfermarias e nas salas de cirurgia, sendo que os enfermeiros foram o
grupo profissional mais afetado, logo seguido pelo grupo dos mdicos (Omar, 2014).
TUBERCULOSE PULMONAR
Os casos de tuberculose pulmonar (TP) ativa (doena) entre os profissionais de sade devem
ser considerados como doenas profissionais com origem provvel no local de trabalho. As
principais fontes de transmisso so os doentes com tuberculose pulmonar ou larngea. A
avaliao do risco nos locais de trabalho est fortemente associada s tarefas executadas e
aos meios de proteo utilizados. So consideradas atividades de risco elevado aquelas que
envolvem procedimentos como a induo de tosse (laringoscopias/broncoscopias, aspirao
de secrees, entubao e nebulizao) quando efetuadas sem proteo adequada (DGS,
2014).
A avaliao e gesto do risco de TB nos profissionais de sade realizada por tcnicos
qualificados de Sade Ocupacional/Sade e Segurana do Trabalho de cada estabelecimento
de sade. A colaborao com a Comisso de Controlo de Infeo e com os servios de cada
estabelecimento deve ser fomentada, de modo a que todos os casos de tuberculose sejam
reportados (DGS, 2014).
21
O programa de controlo de TB deve basar-se numa hierarquia com trs nveis de medidas que
incluem medidas administrativas, controlo ambiental e uso de equipamentos de proteo
respiratria (Siegel et al., 2007).
DOENA POR PRIES
Os pries so responsveis pela transmisso de encefalopatias espongiformes transmissveis
(encefalopatia espongiforme bovina ou doena das vacas loucas, no gado, e doena de
Creutzfeldt-Jakob em humanos). No existe tratamento e todas as formas desta doena so
mortais (Barash et al., 2014).
uma doena neurodegenerativa humana, rara e fatal, classificada como Encefalopatia
Espongiforme Transmissvel devido sua capacidade de ser transmissvel e por causar
degenerao esponjosa do crebro. Em contexto laboral, pode resultar da transmisso
acidental atravs de equipamento cirrgico contaminado com sangue ou seus derivados
(WHO, 2012).
CAUSALIDADE DE ACIDENTES COM MATERIAIS DE NATUREZA BIOLGICA
As agulhas de sutura com pontas cortantes so a fonte principal de leses percutneas nos
cirurgies, causando entre 51% e 77% destes acidentes, que ocorrem frequentemente
quando estes realizam suturas de msculos e fscias, quando passam a agulha de mo em
mo e quando deixam as agulhas no campo operatrio. Esta ltima causa, associada
colocao ou reposio da agulha no porta-agulhas, representa a causa principal de leses
nos instrumentistas. Para esse efeito, a OSHA identifica e recomenda o uso de agulhas com
pontas rombas, como exemplo de medidas de engenharia, para suturar tecidos menos densos
como so, por exemplo, os msculos e as fscias, permitindo utilizar agulhas convencionais
para suturar estruturas como a pele, os intestinos e os vasos sanguneos (CDC, 2008).
Outra situao que responsvel por um grande nmero de casos a tentativa errada de
revestir as agulhas com a cpsula aps utilizao (Boaventura, 1997).
A OSHA e o NIOSH recomendam energicamente o uso de agulhas de sutura com pontas
rombas sempre que seja vivel e apropriado, para diminuir leses percutneas no pessoal
cirrgico, pois o uso clnico e os estudos cientficos tm demonstrado a efetividade destas
agulhas em diminuir os riscos de leses percutneas (CDC, 2008).
22
O fumo cirrgico um exemplo de um contaminante do ar encontrado nas salas de operao
que comumente incorporam laser e procedimentos eletrocirrgicos. Vrias organizaes
profissionais e agncias governamentais recomendam o uso de ventilao de exausto local
(LEV) como principal meio de controlo cirrgico para o fumo. A falta de proteo respiratria
adequada e de LEV reforam a necessidade de criao de programas de educao e formao
dos trabalhadores em matria de controlo apropriado para exposio fumaa cirrgica (The
Joint Commission, 2014).
Mltiplas abordagens so necessrias para a preveno e controle de infees. As medidas de
preveno e controlo de infees visam reduzir a disseminao da doena entre pacientes,
profissionais de sade e visitantes. Exemplos de medidas de controlo de infeo incluem a
vacinao de funcionrios, a higienizao das mos, a substituio ou limpeza, desinfeo e
esterilizao de instrumentos cirrgicos, dispositivos de cuidados ao paciente, uniformes e
equipamentos de proteo individual (EPI) (CDC, 2015).
2.3.5. Riscos de natureza qumica
Alguns dos fatores de risco qumico referenciados ao nvel internacional devem-se
manipulao de drogas citostticas, exposio a gases anestsicos, exposio a agentes
qumicos, em geral, a reaes alrgicas s luvas, exposio ao cimento sseo, tambm
designado de cimento de metil-metacrilato, entre outros (Xelegati, 2003, citado em Faria,
2008).
Neste contexto, os riscos da exposio laboral ao metil-metacrilato incluem queimaduras
cutneas, reaes alrgicas, asma, irritao ocular (inclui possvel ulcerao corneal), cefaleia
e sinais neurolgicos. A OSHA recomenda o uso de dispositivos de eliminao para manter a
exposio ao metil-metacrilato em 8 horas em mdia ponderada por tempo em 100 ppm
(Barash et al., 2014).
O latex presente nas luvas cirrgicas e nas luvas de procedimentos tem se convertido na causa
principal de reaes alrgicas entre o pessoal cirrgico. Estas reaes intensificam-se pela
presena de talco que aumenta a possibilidade de as partculas de latex se dispersarem em
aerossol e se disseminarem ao sistema respiratrio do pessoal e s superfcies ambientais
durante o processo de calar ou retirar as luvas, podendo resultar em dermatite de contacto
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por irritao, reaes de hipersensibilidade tardia (Tipo IV), reaes de hipersensibilidade
imediata (Tipo I), urticria localizada por contacto e reao generalizada (Barash et al., 2014).
Nos hospitais, o formaldedo utiliza-se em grande escala para conservar as amostras de
tecidos orgnicos. tambm utilizado como desinfetante nas salas operatrias e nos
processos de esterilizao de instrumentos cirrgicos. uma substncia irritante para os olhos
e para as vias respiratrias, provocando importantes alteraes neurocomportamentais.
Recentemente, foi sugerido que a exposio ao formaldedo pode aumentar o risco de cancros
nasossinusais, em particular adenocarcinomas. A Agncia Internacional de Investigao sobre
o Cancro concluiu que existe apenas uma pequena evidncia epidemiolgica de que o
formaldedo possa causar cancro nasal em humanos (Sandvik et al., 2014). Estes autores
descreveram o caso de um auxiliar de enfermagem que, aps vrios anos de trabalho no BO
e de exposio continuada ao formaldedo, desenvolveu carcinoma adenoide qustico no seio
maxilar esquerdo.
Os anestsicos inalatrios so os frmacos mais utilizados para manuteno da anestesia
geral. A popularidade desses medicamentos baseada numa gama de atrativos, como
facilidade de administrao, previsibilidade dos seus efeitos, baixo custo e extenso treino dos
anestesistas.
Os anestsicos volteis mais conhecidos na prtica clnica so o xido nitroso, o halotano, o
enflurano, o isoflurano, o sevoflurano e o desflurano. O halotano o menos utilizado devido
s suas propriedades negativas especficas, das quais ressalta a hepatite por halotano
complicao extremamente rara (1 para cada 35.000 casos) (Morgan, 2006).
Os efeitos reprodutivos so a principal preocupao relativamente exposio ocupacional
aos agentes anestsicos, particularmente o risco de abortamento espontneo e a
teratogenicidade, nomeadamente associada exposio ao xido nitroso (Norton, 2015).
A maioria das alteraes psicomotoras e cognitivas mensurveis (letargia e fadiga) resultantes
de exposies breves aos anestsicos inalatrios so transitrias e desaparecem 5 minutos
aps terminada a exposio (Barash et al., 2014).
No bloco operatrio existem mltiplas fontes potenciais de fuga de gs anestsico para a
atmosfera incluindo as vlvulas de escape, conexes no circuito ventilatrio, defeitos nas
traqueias de plstico, nos bales de insuflao, nos foles do ventilador ou conector em Y. A
tcnica anestsica selecionada, o tipo de material utilizado e prticas inadequadas, podem
tambm contribuir para a fuga de anestsicos inalatrios para o ambiente (Norton, 2015).
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Os medicamentos citostticos so utilizados para prevenir a proliferao de clulas tumorais
por meio de vrios mecanismos. As diversas substncias ativas presentes no mercado atuam
de forma txica sobre as clulas e produzem vrios efeitos nos seres humanos.
Os trabalhadores do servio de sade podem entrar em contacto com medicamentos
citostticos em diversas circunstncias. Uma vez que as substncias ativas se acumulam na
pele dos doentes ou noutras superfcies humedecidas, os trabalhadores podem estar
expostos, por exemplo, quando lavam os doentes.
As propriedades j conhecidas deste tipo de medicamentos cancergenos, mutagnicos e
txicos justificam a aplicao de medidas de proteo dos trabalhadores que com eles
contactam. O uso de equipamentos de proteo individual adequados tambm evita a
exposio dos trabalhadores. Neles se incluem, em particular, o uso de luvas de proteo
adequadas sempre que necessrio, com punhos. H luvas especiais de proteo contra os
citostticos e, por vezes, recomendado o uso de dois pares (luvas duplas) e de uma bata de
laboratrio abotoada at ao pescoo com mangas compridas e punhos ajustados.
2.3.6. Riscos psicossociais
Os enfermeiros e os mdicos ocupam reconhecidamente o topo das profisses geradoras de
stresse. Estes profissionais, que mantm durante muito tempo uma relao de ajuda e
interao com os outros, esto mais sujeitos a desenvolver problemas de sade mental. Para
alm disso, os mdicos revelam maior conflitualidade familiar e divorciam-se vinte vezes mais
do que a populao geral (Gabbard & Menninger, 1988, citado em Machado, 2013).
Para Gomes et al. (2009), os estudos tm vindo a evidenciar que os enfermeiros representam
uma classe profissional particularmente exposta a elevados nveis de presso e stresse.
Adicionalmente, devem ainda ser referidos os perigos para a prpria sade do profissional,
uma vez que algumas das patologias dos doentes so de natureza infeciosa, como por
exemplo a SIDA, colocando desafios constantes e presso ao exerccio dessa profisso.
A sala de operaes impe um nvel basal de stresse crnico ligeiro. Os fatores stressantes
especficos referidos pelos anestesiologistas incluem o carter imprevisvel do trabalho, a
necessidade de vigilncia mantida por intervalos prolongados, a presso sobre a produo, as
relaes interpessoais difceis e as incertezas econmicas (Barash et al., 2014).
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Gomes (2014), num estudo comparativo sobre stresse ocupacional em mdicos e enfermeiros
a trabalharem em instituies hospitalares e centros de sade da regio norte de Portugal,
obteve resultados que apontaram avaliaes gerais de stresse mais elevadas nos mdicos do
que nos enfermeiros, valores de burnout semelhantes em ambas as classes e maior
insatisfao pessoal e profissional nos enfermeiros.
Uma das possveis consequncias da multiplicidade de exigncias laborais o surgimento do
burnout (esgotamento). De acordo com Shirom e Melamed (2006), citado em Machado,
(2013), o fenmeno de burnout deve ser entendido como um estado afetivo caracterizado
pela exausto emocional, fadiga fsica e fadiga cognitiva.
A Organizao Mundial de Sade (OMS) considera a sndrome de burnout como um dos
problemas de sade mais graves da atualidade, no s pela significativa prevalncia do
fenmeno em profissionais de sade, como tambm pelas repercusses negativas na
qualidade dos servios prestados, na satisfao dos pacientes e ainda na adeso ao
tratamento (Machado, 2013).
Relativamente ao suicdio, Barash et al (2014), apontam o stresse e o abuso de substncias
entre o pessoal de anestesia como possveis causas para o aumento das respetivas taxas de
burnout.
2.3.7. Riscos ergonmicos
Os riscos ergonmicos tambm esto presentes em meio hospitalar, estando principalmente
associados movimentao e ao transporte de doentes, ao manuseamento e transporte de
equipamentos e materiais, s posturas prolongadas e inadequadas nos diferentes postos de
trabalho, ao tipo de mobilirio, aos movimentos repetitivos, alm das deslocaes frequentes
e desnecessrias realizadas durante a jornada de trabalho e da existncia de doentes com
graus de dependncia mltipla. Tudo isto contribui para aumentar, de forma exponencial, a
ocorrncia de leses musculoesquelticas que afetam os ossos, os msculos e os tendes,
devido sobrecarga ou m utilizao dessas estruturas (Silva, 2014).
No BO podem existir dificuldades derivadas do mau dimensionamento de mobilirio e
equipamentos. Por exemplo, o aparelho de anestesia algumas vezes est mal posicionado,
com frequncia os monitores esto colocados de tal maneira, que a ateno do mdico se
desvia do paciente e do campo cirrgico. A capacidade para realizar tarefas complexas de
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ateno, como a manuteno da vigilncia e a resposta a incidentes crticos vulnervel
distrao gerada pelo desenho ou pela colocao incorreta e inadequada do equipamento
(Barash et al., 2014).
2.3.8. Riscos de natureza fsica
Os riscos de natureza fsica em meio hospitalar esto representados pelas radiaes ionizantes
e no ionizantes, ambiente trmico, iluminao, rudo e vibraes que contribuem de forma
decisiva para a ocorrncia de diversas doenas profissionais e acidentes de trabalho. H ainda
a acrescentar o risco de incndio e exploso intraoperatria.
A radiao ionizante inclui a radiao eletromagntica (raios x e raios gama), assim como a
radiao corpuscular de partculas subatmicas: protes, neutres, eletres. Tanto a radiao
eletromagntica como a corpuscular, ao entrarem em contacto com a matria, tm a
capacidade de induzir ionizaes e excitao dos tomos, podendo levar rutura de ligaes
moleculares na cadeia de ADN (efeito direto) e formao de radicais livres que vo reagir
quimicamente (efeito indireto), resultando em danos celulares, tecidulares e orgnicos (DGS,
2016b).
Os dados na literatura revelam que estes riscos esto presentes em reas onde se utilizam
equipamentos de imagens mdicas em tempo real, como acontece nos blocos operatrios,
laboratrio de cateterismo cardaco e outras salas de radiologia de interveno.
Segundo a Lei n. 102/2009, de 10 de setembro e suas alteraes, as atividades que impliquem
exposio a radiaes ionizantes so consideradas de risco elevado e suscetveis de implicar
riscos para o patrimnio gentico. Os ovrios e os testculos so rgos que podem apresentar
graves comprometimentos funcionais. Medula ssea, tecido linftico e cristalino so outros
tecidos igualmente radiossensveis. O cancro e as anomalias genticas hereditrias so dois
efeitos que ocorrem a longo-prazo e que so normalmente considerados fenmenos sem
limiar de dose. Os trabalhadores que estiveram expostos radiao ionizante em alguma fase
da sua vida profissional e que, posteriormente, desenvolveram cancro devem ser objeto de
uma cuidadosa avaliao de risco profissional que identifique o nexo de causalidade podendo
determinar, a qualquer momento, a participao de doena profissional (DGS, 2016).
Segundo Carvalho (2009), a exposio a radiaes ionizantes durante um certo perodo de
tempo, dose correspondente ao limite de dose ocupacional para radiaes ionizantes (20
27
mSv durante 1 ano), implica um risco de morte por cancro 10 vezes superior que se
verificaria se se tratasse de uma exposio ao amianto durante o mesmo perodo de tempo.
Apesar disso, atualmente so raros os trabalhadores que esto expostos a doses de radiao
prximas dos 20 mSv por ano.
As radiaes no ionizantes possuem baixa energia e, ao incidirem sobre a matria biolgica,
no conseguem provocar uma ionizao. Este tipo de radiaes proveniente de raios laser,
campos magnticos e rdio frequncias. Teoricamente, os riscos para a sade so
considerados pouco relevantes, mas a utilizao dos raios laser no ser de todo isenta de
riscos (Perdigoto, 2012).
A luz de laser (light amplification by stimulated emission of radiation) difere da luz comum sob
3 aspetos: monocromtica (i.e., possui um s comprimento de onda), coerente (oscila na
mesma fase) e colimada (existe como um feixe paralelo estreito) (Miguel, 2014).
Estas caratersticas oferecem ao cirurgio excelente preciso e hemostasia com mnimo
edema ou dor ps-operatria. As precaues gerais incluem a evacuao dos fumos txicos
(pluma do laser) produzidos a partir da vaporizao dos tecidos. Estes podem ter potencial de
transmitir doenas bacterianas. As queimaduras e as leses oculares dependero do
comprimento de onda do laser que estiver a ser utilizado, pelo que todo pessoal na sala de
cirurgia deve usar proteo para os olhos, incluindo o doente. No caso de cirurgia da via area
com laser, o maior temor o incndio no tubo endotraqueal (Morgan, 2006).
Outras precaues relacionadas com a utilizao de laser so as seguintes: as paredes das
salas devem ter cores baas e no refletoras, as janelas devem ser de vidro fosco, deve haver
um sistema de ventilao e aspirao de fumos, a sinalizao de portas onde se utiliza o laser
obrigatria, deve-se utilizar instrumental cirrgico de superfcies baas, deve-se utilizar
protees oculares especficas, fazer vigilncia oftalmolgica peridica, proibir de utilizao
de adornos ou placas metlicas, fazer uma manuteno preventiva do equipamento por
pessoal competente e cumprir as normas de segurana preconizadas (Pettersson et al., 2000;
Graa, 2009; Campos & Pinheiro, 1997, citados em Perdigoto, 2012).
Com relao ao ruido na sala operatria, os ventiladores, aspiradores, msica e conversas
geram um rudo de fundo de 75 a 90 dB(A), o que interfere com a capacidade para ouvir os
alarmes. A eficcia mental, a memria de curto prazo e a capacidade para realizar tarefas
mltiplas e psicomotoras complexas diminuem (Barash et al., 2014).
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Morgan (2006) refere que o rudo das salas de cirurgia tem sido medido revelando nveis de
70 a 80 dB(A), com picos sonoros frequentemente excedendo os 80 dB(A) dependendo do
sistema de ventilao (por exemplo fluxo laminar) e instrumentos cirrgicos (por exemplo
brocas e serras) que esto a ser utilizados.
Sobre esse aspeto, Bonavides (2000), citado em Faria, (2008), afirma que nos servios de
cirurgia so recomendados nveis de ruido entre 35 e os 40 dB(A).
Relativamente iluminao, os diferentes tipos de utilizadores e as diversas atividades
realizadas no hospital requerem cuidados particulares e especializados, no sentido de ser
proporcionado o adequado bem-estar visual. Assim, a questo da iluminao, deve ter em
conta as salas de cirurgia dos blocos operatrios, as salas de trabalho de enfermagem, as
enfermarias e os laboratrios. A iluminao insuficiente nestes casos pode dar origem a
consequncias graves quer para o profissional quer para o doente (Silva, 2014).
Segundo a ACSS (2011), com respeito iluminao, recomenda-se para as salas de cirurgia um
nvel mdio de iluminncia de 1000 lux, com um ndice de restituio cromtico mnimo de
90%. Deve ser considerada a regulao do fluxo luminoso. A iluminao operatria (sem
sombra) deve ser alimentada por uma fonte com autonomia mnima de 1 hora.
O ambiente trmico consiste na relao conforto/desconforto relativo temperatura
corporal. H conforto trmico quando existe um equilbrio entre a produo de calor e
humidade pela atividade metablica do organismo, e a dissipao proporcional deste mesmo
calor e humidade para o ambiente (Silva, 2014).
A norma ISO 7730:2005 considera que um espao apresenta condies de conforto trmico
quando no mais do que 10% dos seus ocupantes se sintam desconfortveis.
Os sistemas de ventilao e de distribuio de ar em salas operatrias devem garantir o
conforto trmico do utente e da equipa cirrgica durante a cirurgia, o que muitas das vezes
fica em segundo plano. Condies trmicas confortveis ajudam a equipa cirrgica a operar
melhor e previnem possveis problemas ao paciente (Fernandes, 2014).
Fernandes (2014), num estudo por si realizado, observou que os parmetros fsicos do
ambiente trmico, ou seja, temperatura do ar, humidade relativa, temperatura do globo e
velocidade do ar se encontram dentro dos valores recomendados pela literatura
internacional, no que se refere aos utilizadores do BO. Constatou igualmente valores dentro
do recomendado, no que diz respeito ao isolamento do vesturio e ao metabolismo. O autor
29
tambm notou que houve uma tendncia dos inquiridos para considerarem as salas
operatrias ligeiramente mais frias.
A temperatura, na maioria das salas de cirurgia, parece ser desconfortavelmente fria para
muitos pacientes conscientes e, tambm para os anestesiologistas. Por outro lado, ficar em
p com roupas cirrgicas durante horas sob as luzes da sala de cirurgia pode ser um teste de
resistncia para muitos instrumentistas e cirurgies. Como princpio geral, o conforto do
pessoal da sala de cirurgia deve ser conciliado com as necessidades do paciente. Por exemplo,
crianas pequenas e pacientes com grandes superfcies expostas (como aqueles com
queimaduras trmicas) constituem indicaes especficas para uma sala de cirurgia com
temperatura de 24 C ou mais, j que estes pacientes perdem calor rapidamente e tm
capacidade limitada de termognese (Morgan, 2006).
O risco de incndio e exploso intraoperatria derivam da presena de um agente
extremamente oxidante, no caso, o oxignio, o xido nitroso e o ar. Os materiais da sala de
cirurgia que podem ser combustveis incluem cnulas endotraqueais, cateteres de oxignio,
campos cirrgicos e solues alcolicas. As fontes de ignio mais modernas incluem
equipamento eltrico como a unidade eletrocirrgica, laser e fibra tica com luz. O uso de
diatermia perto de uma ala intestinal distendida ou o laser prximo de cnulas endotraqueais
fornece-nos suspeita de perigo de exploso intraoperatria. Os resultados de incndios em
salas de cirurgia so invariavelmente trgicos (Morgan, 2006; Barash et al., 2014).
2.3.9. Equipamentos de proteo individual (EPI) em contexto especfico
Embora parea algo novo, a preocupao com a segurana remonta aos anos em que os
homens viviam em cavernas, ou seja, h sensivelmente quatro milhes de anos, os homens j
deveriam proceder de acordo com regras de segurana, pois, segundo Freitas (2011), caso
contrrio, a espcie teria sido dizimada.
O controlo dos riscos dentro de limites aceitveis pressupe quatro processos, em que o
primeiro prev limitar ou eliminar o perigo e o segundo envolver o perigo; o controlo destes
dois processos envolve medidas que atuam sobre os meios de trabalho, designadamente
medidas construtivas ou de engenharia. O terceiro processo de controlo do risco consiste em
afastar o homem do perigo mediante conceo de medidas organizacionais, as quais atuam
no sistema homem-mquina-ambiente. O quarto processo prev a proteo do homem
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atravs de medidas individuais ou de proteo individual, que devem ser usadas apenas na
impossibilidade de adoo de medidas de ordem geral. A adoo de medidas construtivas
constitui o mtodo mais desejvel e eficaz e deve ser tido em conta, preferencialmente, na
fase de conceo ou de projeto (Miguel, 2014).
O EPI todo o equipamento, complemento ou acessrio a ser utilizado para proteo contra
os riscos para a Segurana e Sade no Trabalho, quando estes no podem ser eliminados por
meios de proteo coletiva ou por medidas, mtodos ou processos de organizao de trabalho
(Freitas, 2011). De acordo com o mesmo autor, os EPI so classificados em funo do tipo de
agente agressor, a parte do corpo a proteger e o tipo de risco.
O regulamento (UE) 2016/425 do Parlamento Europeu e do Conselho da Unio Europeia
revoga a diretiva 89/686/CEE, estabelecendo requisitos para a conceo e fabrico de
equipamentos de proteo individual destinados a ser disponibilizados no mercado, a fim de
assegurar a proteo da sade e a segurana dos utilizadores e de