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Órgão Oficial da Irmandade de São Bento da Porta Aberta · Rio Caldo Junho 2014 Ano LV . n.º 618 0,50(IVA INCLUIDO) SÃO BENTO da PORTA ABERTA

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Órgão Oficial da Irmandade de São Bento da Porta Aberta · Rio Caldo

Junho 2014Ano LV . n.º 618

0,50€ (IVA InCLuIdO)

SÃO BENTOdaPORTA ABERTA

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Jubi

lar

1964-2014

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EditorialCarlos aguiar gomes

Estamos em pleno ANO JUBILAR neste san-tuário tão amado dos portugueses: S. Ben-to da Porta Aberta . E já estamos a preparar o grande acontecimento que vai ser a cele-

bração dos 400 anos do “ nascimento” deste recan-to sagrado dedicado ao Pai e Padroeiro da Europa e Pai do monaquismo ocidental, um dos “ pulmões” da Europa como lhe chamou S. João Paulo II. Quer um quer outro destes acontecimentos celebrativos tem um única finalidade : agradecer a Deus, por S. Bento, a herança deste monge nascido em Núrsia em 480 e que deu um carácter muito próprio a esta Europa, velha e decadente, tal como estava quando S. Bento nasceu. E S. Bento deu “ a volta” dando nascença a um modelo verdadeira e profundamen-te cristão de vida em comum: os mosteiros. Estes formaram a Europa, permitiram a transmissão do saber greco-romano, desenvolveram as Artes, dina-mizaram e enriqueceram a Agricultura e, sobretu-do, cada mosteiro, tal como S. Bento os tinha ideali-zado, tornou-se um autêntica “ escola de Deus “.

Vir a S. Bento da Porta Aberta é caminhar pela via de encontro com o Senhor Jesus. Os crentes che-gam para pedir ou agradecer a S. Bento uma graça, um remédio para os males da vida, do corpo ou da alma. Os indiferentes deixam-se encantar pelas be-lezas naturais que cercam o santuário.

Quem chega a S. Bento da Porta Aberta vem com objectivos bem definidos.

Quem parte, parte com a sua vida mais conforme ao Evangelho?

O grande período de férias está à porta. Muitos de-votos de S. Bento aproveitam esse tempo para vir até junto da imagem do Santo Patriarca e dialogar com ele como só se faz com um bom amigo. Por

que não aproveitar alguns minutos para lerem, por exemplo, o excelente livro “ S. Bento e a Vida Fami-liar” de Dom Massimo Lapponi e que a Irmandade editou recentemente? Um livro de leitura muito agradável e que se pode ler devagarinho e ao ritmo das nossas disponibilidades de tempo. Experimen-te, caro leitor, fixar-se um pouco nesta obra de Dom Massimo ( monge italiano , do mosteiro de Santa Maria de Farfa, Itália ) . Vai ver que valeu a pena despender um pouco do seu tempo.

Desafios CruzaDos

Celebrou-se o Dia iNTerNaCioNal Da CriaN-Ça, 1 de Junho. E vai haver muito ruído à vol-ta desta efeméride. Infelizmente, esse ruído e outras interferências, vão distrair-nos da

triste realidade em que se encontram as crianças um pouco por todo o mundo. De Norte a Sul. A Oriente ou no Ocidente. Nos países ricos ou nos mais pobres do mundo, as crianças são vítimas, as principais ví-timas do egoísmo dos adultos. Em algumas regiões milhares de crianças morrem de fome ou de sede. Outras, muitos milhares, também, morrem por doen-ças facilmente tratáveis. Um número excessivamente elevado, são usados em guerras fratricidas. Quantas centenas de milhar fazem parte de “ trabalhadores” escravos, sem direitos, nem comida nem segurança nem escolaridade? Quantas centenas de milhar são assassinadas ainda antes de nascerem, com cobertu-ra da lei?

“Hoje (…) as crianças são um sinal. sinal de espe-rança, sinal de vida, mas também sinal de “ diagnós-tico” para compreender o estado de saúde de uma família, de uma sociedade, do mundo inteiro. Quando as crianças são acolhidas, amadas, defendidas, prote-gidas nos seus direitos, a família é saudável, a socieda-de melhor, o mundo é mais humano. “ (Papa Francisco, 25.V.2014)

Que sinal damos nós, os adultos, às crianças de todo o mundo?

Acolhemo-las como um dom ou como um objecto para nossa satisfação?

Respeitamo-las nos seus direitos em que o primeiro e mais importante é o direito à vida e o de serem ama-das pelo Pai e pela Mãe, de saberem que podem ter um colo, um afago e um beijo de ternura?

Há um longo caminho a percorrer: inverter, urgen-temente, o sinal que “lemos” em cada criança. Pois cada uma delas terá de ser: sinal de esperança, sinal de vida e sinal “diagnóstico” de uma família sã numa sociedade melhor!

Carlos aguiar gomes

SÃO BEnTO da PORTA ABERTA . JunhO 2014

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s. João Gualberto – 12 De Julho

Um dos grandes vultos da Idade Média, um Homem do Perdão. Um reflorestador. Um exemplo a imitar. Filho espiritual de S. Bento, João Gualberto morre aos 73 anos, em 1073, em Passignano, Itália. O Papa Celestino III canoniza-o e Pio XII declara-o Padroeiro dos agentes florestais.

Amável, caridoso, austero para consigo, assim foi S. João Gualberto.A sua memória é recordada em 12 de Julho, logo a seguir a S. Bento.Como seria interessante que este Homem de Deus, filho espiritual de S. Bento fosse declarado padroeiro do

nosso Parque Nacional da Peneda-Gerês! Aqui fica o voto.

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D. Massimo Lapponi O.S.B.

Irmandade de S. Bento da Porta Aberta / 2014

Uma leitura original da Regra beneditina

São Bento e a vida familiar

Monge beneditino da Abadia de Santa Maria de Farfa

Dom Massimo – curriculum vitae

Dom Massimo Lapponi, OSB, nasceu em Roma em 1950. É monge beneditino da Abadia de Santa Maria de Farfa ( Itália ). Professou em 1973 e foi ordenado Sacerdote em 1977.è Pro-fessor de Ética de Filosofia da Religião no Ate-neu Pontifício de Santo Anselmo em Roma.

Entre outras publicações de carácter académi-co, tem escrito obras de narrativa e de composição musical.

Desde 2011 que se ocupa, alguns meses por ano , de uma fundação beneditina no Sri Lanka.

Em Itália também se ocupa na pastoral fa-miliar e em actividades formativas de jovens es-tudantes.

É autor do livro “ S. Bento e a vida familiar”, editado em 2009 em Itália, obra já traduzida para inglês , francês e português ( 2014 ). Esta obra é um sucesso e tem merecido críticas muito favoráveis e entusiásticas.

Pretende-se com esta edição, facultar aos devotos de S. Bento, que às centenas de milhar demandam o santuário que lhe é particularmen-te dedicado, e aos simples turistas fascinados pela beleza natural onde está implantado, um contributo sério e actual para se adendrarem ainda mais na figura e, sobretudo, na herança fabulosa que nos legou e que não perde vigor nem frescura.

Fazemos votos que a leitura destes notá-veis documentos papais possa ajudar quem os (re)ler a fazer da sua vida uma verdadeira “ pe-regrinatio pro Christo” e a tornar-se, a exem-plo de S. Bento, um miles ,”decidido a alargar cá em baixo as fronteiras do Reino de Deus”.

Retirado do prefácio do livro “S. BentoPai e Padroeiro da Europa”

Convidamos todos os nossos leitores a lerem os livros que foram, recentemente, publicados.

livros… (S. BEnto)Novos

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“s. Bento e a vida familiar “ de Dom Massimo Lapponi, monge benedi-tino italiano , é uma obra muito “ sui generis”, em que o tema é uma

abordagem curiosa da Regra de S. Bento , escrita para monges no século VI , para as famílias do século XXI!

Quando se lê a Regra do Santo Patriarca não se fica com a ideia que possa extrapolar-se a sua apli-cação para leigos, casados, com filhos, deste nosso século eivado de materialismos e de onde Deus tem sido sistematicamente afastado, mesmo dos ambien-tes onde tal não parece ser normal ter Deus ausente da vida quotidiana. Ambiente social e cultural que apagou Deus mesmo de expressões coloquiais tão simples como o nosso “ até amanhã, se Deus quiser” que os ditos ateus chegavam a usar na linguagem descomplexada do dia-a-dia.

Sendo um monge, na espiritualidade fundada em S. Bento, um verdadeiro “ Buscador de Deus” e um mos-teiro uma “ escola do serviço do Senhor”, como, pois, aplicar este estilo de vida aos leigos e, como se lê neste notável livro de Dom Massimo Lapponi, monge do mos-teiro de Santa Maria de Farfa, a leigos em Família, com Família?

Dom Massimo Lapponi, sendo um teólogo, não usa a profundidade do seu saber em linguagem somente acessível a alguns. Não! Este monge italiano, filho es-piritual do “ Santo Homem”, S. Bento, como o designa amiudadas vezes o seu primeiro biógrafo, S. Gregório Magno, neste seu livro tem a preocupação de manejar a língua escrita de forma profundamente simples e sim-plesmente profunda como só os sábios o sabem fazer, tornando a leitura agradável e facilmente compreensí-vel por todos os que, na simplicidade do seu coração, querem beber na Regra de S. Bento uma água pura que dessedente a aridez de vidas familiares tantas vezes complexas e tormentosas, tornando-as mais de acordo com o projecto de Deus para cada casal e para cada fa-mília. Vidas onde deve ter primazia o Amor ( eros, ága-pe e filia!) e os pais sejam verdadeiros “Abba”, como S. Bento define o Abade de cada mosteiro e em que ,à semelhança de um mosteiro, uma Família seja , a seu modo e neste tempo, uma autêntica “ escola do servi-ço do Senhor”. Famílias onde é urgente e “ necessário que a formação na via pulchritudinis esteja inserida na

S. BEnto E a viDa faMiliar– uM livro a Não perDer -

transmissão da fé.” ( Papa Francisco, “ Evangelii Gau-dium”, nº 168 ) .Dom Massimo Lapponi, nas páginas deste livro , aponta-nos essa via, para a transmissão e vivência da Fé.

“s. Bento e a vida familiar “, que já conhece edi-ções noutras línguas e com grande sucesso, apresen-ta-se agora na língua de Camões, num momento im-portante da Europa, cuja civilização S. Bento ajudou a forjar e que parece sofrer de uma forte amnésia quanto às suas origens cristãs delapidando, sem re-morso, a sua herança como herdeira perdulária e que caminha para o suicídio cultural ( cf. João Paulo II, in “ Ecclesia in Europa “).No ocaso civilizacional , em que, como nunca a Família é fortemente abalada, o livro de Dom Massimo Lapponi é um oásis repousante de onde jorram ideias e projectos que podem e devem ajudar a reerguer as famílias para que reerguidas pos-sam restaurar a Europa e nela Portugal e os portugue-ses a quem esta versão é dedicada.

A Mesa da Irmandade de S. Bento da Porta Aberta, neste ANO JUBILAR, em que se comemora o 50º aniver-sário do Breve de Paulo VI, “ PACIS NUNTIUS”, que pro-clama S. Bento Padroeiro da Europa, agradece a Dom Massimo a disponibilidade para facilitar a edição deste seu livro.

Esta edição, tradução primorosa do italiano de Luísa Jacquinet, merece e exige uma grande divulgação.

Carlos aguiar gomes

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Segunda Romaria do Ano em Honra de São Bento da Porta Aberta

CELEBRA-SE SÃO BENTO PADROEIRO DA EUROPADias 10, 11 e 12 de JULHO

N.B: Das 08H30 ao 12H00 estarão presentes Sacerdotes para atender os fiéis no Sacramento da reconciliação (confissões).

Dia 15 de cada mês

Vamos rezar com e pelas famíliasEm sintonia com o Papa Francisco

A IRMANDADE DE SÃO BENTO DA PORTA ABERTA CONVIDA-O A ASSOCIAR-SE AO PAPA!

REZE CONNOSCO PELAS FAMÍLIAS!“Queridas famílias, a vossa oração (…) será um tesouro precioso

que enriquecerá a Igreja”

Papa Francisco, Cartas às Famílias, 2. Fev. 2014

10 de Julho10H30 _Celebração da Eucaristia21H00 _Hora Santa

11 de Julho07H30 _Eucaristia;09H30 _Eucaristia11H30 _Solene Eucaristia e Procissão em honra de São Bento. Terminamos com a bênção de Santo Lenho.17H00 _Concerto Musical pela orquestra da Banda Musical da Branca

12 de Julho10H30 _Eucaristia15H30 _Rosário16H00 _Eucaristia pela Paz17H00 _Espectáculo musical orien-tado pelo P. Albano Nogueira.

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Dia 17 De maio – O encontro dos convívios frater-nos da Arquidiocese em convívio/ reflexão. Eram 36 convivas. Participaram na eucaristia que animaram, e na recitação do rosário. Celebrou o Padre Mateus Aconi.

Vida no Santuário

bêNção Das faMílias

lista De assiNaNtes que paGaraM assiNatura eNtre 01/Mai/14 e 31/Mai/14.Vila VerDe: Mª Lurdes Reis Pereira, Rosa Rocha; FamaliCÃo: Amélia Silva Rego Cunha; esPoseNDe: Manuel Lima Silva; guimarÃes: José Eduardo Gonçalves Maia, Mª Arminda Fernandes Guimarães, Armindo Pereira, Mª Oliveira Mota, José Sousa, Mª Rosa Cunha Ribeiro; Braga: José da Mota Carvalho, Domingos José Correia Ma-chado, João Carvalho Rodrigues, Manuel Fernandes Martins, Mª Helena Peixoto Martins, Mª Joaquina Rodrigues Maciel, Baltazar Costa Peixoto; CHaVes: Américo Teixeira; Vila NoVa De gaia: Mª Inácia Campos Pereira; Brasil: Armandina Oliveira Silva; BarCelos: Domingos Sousa Costa.

ofertas De valores a são beNto reCebiDas por CorreioLisboa: Mª Gabriela Silva Gaspar Martins / 20.00€USA: Maria Cerqueira / 100.00D(Liliana Barbosa) 30-Maio-2014.

bêNção Das CriaNças

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AE – Quando um peregrino chega ao santuário de São Bento da Porta Aberta a que locais é que se dirige?

CAG – Normalmente o peregrino chega e tem um objetivo que é ir a São Bento, desabafar com um ami-go. É muito interessante ver isso porque aos sábados, domingos, durante o período do verão são dezenas, mi-lhares de pessoas que todo o dia fluem para tocar na imagem de São Bento. Tenho constatado que os pere-grinos param mesmo e sente-se que estas pessoas es-tão em diálogo. Depois de dialogarem com São Bento é muito frequente fazerem a sua oração. Provavelmente devia ser ao contrário e primeiro visitar-se “o dono da casa” mas Deus Nosso Senhor que é rico em misericór-dia compreende a fé dos simples e tudo perdoa e tudo compreende. Foram ganhar forças junto de São Bento para depois puderem fazer uma oração mais profunda. De facto neste santuário o objetivo de quem aqui chega é visitar, é comunicar, estar e dialogar com São Bento e há cenas muito bonitas de peregrinos que param como quem para junto da fotografia da mãe ou do pai que já faleceram e diante daquela estátua eles conversam interiormente e nós sentimos isso, que é já um caminho para encontrar Deus que no fundo é o que nos interes-sa. Um monge deve fazer da sua vida uma peregrinação por Cristo e os peregrinos devem ser como os monges, devem peregrinar para Cristo.

AE – Olhando para essas pessoas nota-se a emotividade presente no momento. Há pessoas que olham e tocam para a imagem. Isso acontece muitas vezes?

CAG – Acontece muitas e muitas vezes. Posso contar dois episódios que me marcaram muito recen-temente. O primeiro episódio é o de um homem de meia-idade que entrou, tocou na imagem, afastou-se para não impedir a passagem de outros devotos e es-teve em silêncio 5 a 10 minutos e eu pressenti que ele estava num diálogo muito forte com São Bento. Estava a confidenciar com ele, provavelmente sobre os seus problemas, a agradecer-lhe qualquer graça que por seu intermédio Deus lhe concedeu. Foi uma cena muito bo-nita. O segundo episódio que me tocou profundamente foi a de um homem novo que fazia a volta ao santuário de joelhos amparado por duas meninas que pareciam

ser gémeas, com 5 ou 6 anos. Deu-me a sensação que aquele homem era o pai dessas meninas. Apesar do granito estar polido não é nada fácil andar de joelhos à volta do perímetro do santuário. E recordo-me de que aquelas meninas durante o percurso que aquele ho-mem foi fazendo foram-no amparado como se fossem muletas. Achei aquele momento de uma ternura fabu-losa, é uma imagem que nunca vou esquecer. Vi uma cena idêntica num quadro de José Malhoa num quadro que ele tem no museu que lhe é dedicado nas Caldas da Rainha, de uma mulher do campo também de joelhos a cumprir uma promessa enquanto é amparada por duas mulheres que lhe vão dando força. Penso que aqui há esse sentimento de devoção. Às vezes há um certo inte-lectualismo que não entende esta devoção dos simples, aqui há uns anos li um livro de um autor protestante que referindo-se à Idade Média e aos peregrinos des-se tempo dizia o quanto admirava “os peregrinos que rezavam com os seus pés”, uma expressão que não es-queci. O Papa Francisco na sua exortação apostólica ‘A Alegria do Evangelho’ fala na devoção nos santuários, na devoção dos simples, na devoção que às vezes uma pessoa muito intelectual, muito nas nuvens não é capaz de ter, porque esta fé é a fé que brota dos simples e só os simples conseguem comunicar com Deus.

AE – A chamada religiosidade popular tem algo a dizer à sociedade?

CAG – É um património que tem de ser nalguns casos purificado obviamente mas que não pode ser combatido de todo, tem de ser estimulado e temos de pegar em devoções chamadas de piedade popular que podem ser caminhos para irmos mais longe. Toda a Igreja e os batizados devem ter esta preocupação de tentar fazer a pedagogia do gesto simples, dos simples. Por exemplo, a água benta é da religiosidade popular é um sacramental. Hoje podemos fazer a pedagogia da água benta, dizer que cada vez que pegamos na água benta podemos recordar o nosso batismo. Portanto cada vez que se entra numa igreja, onde deveria haver sempre água benta, as pessoas podem benzer-se com água benta e recordar que esse é o sinal que revela a entrada na igreja pelo batismo.

LS

são beNto, uMa porta aberta para a europa e para o MuNDoCarloS aguiar gomES, mEmBro da mESa adminiStrativa da irmandadE dE São BEnto da Porta aBErta, fala do faSCínio quE o Santo PadroEiro da EuroPa Continua a ExErCEr E da imPortânCia do Santuário Situado na arquidioCESE dE Braga(EntrEviSta da agênCia ECClESia ao dirEtor do BolEtim)

CoNtiNuação Da eNtrevista PuBliCada no

BolEtim dEmaio

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Em Belém, na terra onde nasceu Jesus, a taxa de desemprego é enorme e os cristãos vivem ape-nas das peças de artesanato que produzem. Vic-tor Tabash acredita que os terços que faz em casa

são um instrumento para a paz no mundo.

O Papa Francisco esteve na Terra Santa e foi a Be-lém, a cidade onde vive Victor Tabash. Belém, onde Je-sus nasceu, faz hoje parte da Cisjordânia, território da Palestina. Por uma questão de segurança, Israel cons-truiu um muro gigantesco de cimento, com oito metros de altura, que isola a Cisjordânia.

Por causa desse muro, não se pode circular livre-mente. As autoridades israelitas são muito rigorosas. As autorizações de passagem são válidas apenas entre as 6 horas da manhã e as 7 da tarde. Isto é para todos. Os cristãos não são excepção. Victor Tabash acredita que a viagem do Santo Padre à Terra Santa poderá contribuir para aliviar a tensão que se vive na região. “Vivemos a 5 minutos de Jerusalém mas não podemos entrar! Não é uma vida fácil. Somos tratados como terroristas!”

Há cada vez menos cristãos na Terra Santa. São me-nos de 2 % da população geral. A maioria, como Victor, são pequenos artesãos. Com a madeira das oliveiras, fazem presépios, terços, recordações. Muitas vezes, esse é o seu único sustento. Vivem disso. “Tenho ago-ra 24 famílias que trabalham connosco. Trabalham em casa, fazendo os rosários, polindo-os e pondo-lhes o fio. A maioria deles é muito pobre. Neste momento, dependemos dos pedidos que nos chegam através da Fundação AIS”.

Rumores de guerra

Recentemente, o Patriarca Latino de Jerusalém, D. Fouad Twal, esteve em Portugal e falou de um mundo particularmente “explosivo” no Médio Oriente, do fa-natismo religioso de “grupos islamitas e de judeus ex-tremistas”, dos ‘checkpoints’ dos “militares israelitas que impedem a livre circulação dos habitantes”, das “centenas de milhar de refugiados”, e falou ainda dos rumores de guerra. Os tempos estão difíceis, sim, mas é preciso nunca desistir. Os cristãos da Terra Santa po-

dem ser a chave para o apaziguamento das tensões na região. Fazer pontes é o contrário de construir muros. Victor Tabash tem um sonho. Ele acredita que as coisas vão melhorar. Principalmente agora, depois da visita do Papa Francisco e do convite – já aceite – aos presi-dentes da Autoridade Palestiniana e de Israel para uma oração pela paz no Vaticano. Os cristãos da Terra Santa são uma minoria, é verdade, mas podem ser os cons-trutores das pontes que evitam as guerras.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

belÉM: o soNho De viCtor tabasha paz Na poNta Dos DeDos

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O evangelista S. Mateus começa o Evangelho recordando que aquele Jesus, cuja história ele irá contar, é o “Deus connosco”, o “Ema-nuel” (cf. Mt 1, 23). E conclui o texto do seu

Evangelho referindo as palavras de Jesus, quando Ele promete que ficará para sempre connosco, mesmo de-pois de ter voltado para o Céu. Até ao fim dos tempos, Ele será o “Deus connosco”.

Jesus dirigiu estas palavras aos seus discípulos, depois de lhes ter confiado a tarefa de levarem a Sua mensagem ao mundo inteiro. Ele bem sabia que os en-viava como ovelhas para o meio dos lobos e que iriam sofrer contrariedades e perseguições (cf. Mt 10, 16-22). Por esse motivo, não queria deixá-los sozinhos em tal missão. Então, precisamente no momento em que se ia embora, promete ficar! Já não O poderiam ver com os olhos, não poderiam ouvir a Sua voz, nunca mais po-deriam tocar-Lhe... Mas Ele estaria presente no meio deles, como antes, e ainda mais do que antes. De facto, se até ali a Sua presença se limitava só a um determi-nado lugar – Cafarnaum, o lago, o monte, Jerusalém –, daí em diante Ele iria estar onde estivessem os seus discípulos.

Jesus estava a pensar também em todos nós, que iríamos viver no meio da vida complicada de todos os dias. Sendo o Amor que se fez homem, deve ter pensa-do: «Gostaria de estar sempre com todos eles, gostaria de os ajudar nas suas preocupações, de os aconselhar, de ir com eles pelas ruas, entrar nas casas, reavivar, com a Minha presença, a alegria deles».

Foi por isso que quis ficar connosco e fazer com que sentíssemos a Sua proximidade, a Sua força, o Seu amor.

O Evangelho de S. Lucas conta que, depois de O

terem visto subir ao Céu, os discípulos «voltaram para Jerusalém com grande alegria» (Lc 24, 52). Como é que isso era possível? É que tinham experimentado que as Suas palavras se realizavam.

Também nós ficaremos cheios de alegria se acredi-tarmos realmente na promessa de Jesus:

«Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos».

Estas palavras – as últimas que Jesus dirigiu aos discípulos – assinalam o fim da sua vida terrena e, ao mesmo tempo, o início da vida da Igreja, na qual Ele está presente de muitas maneiras: na Eucaristia, na Sua Palavra, nos seus ministros (os bispos, os sacerdotes), nos pobres, nos pequenos, nos marginalizados…, em todos os próximos.

Mas nós gostamos de frisar aquela presença espe-cial de Jesus, que – no Evangelho de S. Mateus – Ele mesmo nos indicou: «Onde estiverem dois ou três reu-nidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (cf. Mt 18, 20). Desta maneira, Ele quer poder ficar em toda a parte.

Se vivermos aquilo que Ele nos recomenda – espe-cialmente o Seu mandamento novo –, podemos experi-mentar esta Sua presença até fora das igrejas, no meio de toda a gente, nos lugares onde vivemos, em toda a parte.

Só nos é pedido o amor recíproco, de serviço, de compreensão, de participação nos sofrimentos, nas preocupações e nas alegrias dos nossos irmãos. Um amor que tudo cobre, que tudo perdoa, típico do cristianismo.

Vivamos assim, para que todos tenham a possibili-dade de se encontrar com Ele já nesta Terra.

«eu estarei seMpre CoNvosCo atÉ ao fiM Dos teMpos» (Mt 28,20)

1) Publicada em Cidade Nova N.º 3/2002, p. 21.

PalaVra De ViDa CHiara luBiCH

JuNHo DE 20141

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CírCulo“shahbaz

bhatti”(Csb)

“A França condena a decisão da justiça sudanesa de infligir a pena de morte a uma

jovem mulher por apostasia.A nossa embaixada em Cartum se-

guiu o processo e assistiu ao veredicto. Continuaremos a seguir com a maior atenção o seguimento do processo ju-diciário.

Esta decisão que fere as consciên-cias. Suscita uma emoção legítima no seio da comunidade internacional.

A França apela às autoridades sudanesas para garantir a liberda-de religiosa ou de convicção (…)” (Nota do Ministério dos Negócios estrangeiros de França, 16 de maio de 2014).

Obviamente que apoiamos in-condicionalmente esta Nota. Lamen-tamos profundamente que se não diga expressamente que esta jovem

mártir do islamismo foi condenada à morte por se ter convertido ao cristia-

nismo. Esta Nota é bem o exemplo de um laicismo fanático que grassa por toda

a Europa e que se recusa a reconhecer as suas raízes, as nega e esconde. Lamentavel-

mente.O nosso Círculo está solidário pela oração

com esta jovem mãe que tem um filho de 20 me-ses e está grávida de 8 meses!

Estamos solidários com as jovens vítimas de rapto na Nigéria, a maioria esmagadora são cristãs.

A nossa solidariedade vai, igualmente para os mártires cristãos da Síria. E do Paquistão.Onde houver um cristão perseguido pela sua e nossa Fé,

nós sentimos a sua dor como nossa. Rezemos por todos os már-tires de hoje.

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HorÁrio Do CulTo saNTuÁrio De sÃo BeNTo

Ficha Técnica

Propriedade: Irmandade de São Bento da Porta Aberta (c/aprovação eclesiástica) Rua 1, São Bento, n.º 91/97, 4845-026 Rio Caldo Gerês Tel. 253 390 180 Fax 253 390 181 Presidente: Cónego Fernando Monteiro Reitor de S. Bento da Porta Aberta: Adelino Costa e Sousa director: Carlos Aguiar Gomes Concepção gráfica e produção: Empresa do diário do Minho, Lda. Assinatura anual: Portugal 7,5 euros; Estrangeiro 20 euros

Periodicidade mensal depósito legal n.º 1695/83 Registo ERC: Isento ao Abrigo do decreto Regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12.º, n.º 1, alínea a.

aviso Informam-se todos os interessados que o HoTel De s. BeNTo Da PorTa aBerTa já abriu. A Mesa

1.ª Quinta de cada mês na capela da adoração, das 15h-17h.

2.º domingo de cada mês no santuário das 15-16h.

sacramento da reconciliação (confissões), todos os dias, antes e depois da eucaristia.

Fins-de-semana: 9h -12h e 15h-16 h.

Em cada dia 7 do mês, rezar-se-á pelos mártires cristãos contemporâneos e,

no dia 15, pelas famílias.

EUCARISTIAS DOMINICAIS

7:30; 9:30; 11:30; 16H

15:30 – Rosário

VESPERTINAS

16H – Eucaristia estatutária

15:30 – Rosário

N.B – Nos dias de todos os Santos (1 de Novembro), Natal e Páscoa, não há eucaristia às 16H.

Durante a semana às 10:30 eucaristia ou celebração da Palavra.

redescobrir a identidade cristã

Dar-te-ei tesouros enterrados e riquezas escondidas; para que

saibas que Eu sou o Senhor.

ExPoSiÇão do SantiSSimo SaCramEnto 50.o aniversário da declaração de S. Bento

Padroeiro da Europa, pelo Papa Paulo VI

Vamos celebrar!

400.o aniversário do nosso Santuário

Vamos comemorar!

1615-2015

1964-2014

SÃO BEnTO da PORTA ABERTA . JunhO 2014

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