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A conceituação da elaboração visual partiu da analogia de estudo, elaboração de pesquisas e artigos por meio de um método com as características visuais de textos antigos medievais e da composição gráfica daquela época. Período em que houve grande desenvolvimento de pesquisas e estudos em mosteiros. Visualmente me pareceu remeter a idéia de estudo, organização, concentração e seriedade. Os arabescos, carregados no início, mas cuidadosamente tratados dentro do material, e a organização do texto na página, é o que dá conta de remeter as catacterísticas visuais de estudo (fazendo alusão à composição de páginas medievais)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTONúcleo de Educação Aberta e a Distância
Raphael Góes Furtado
V i t ó r i a
2009
Seminários Integradosde Pesquisa e Extensão i
LDI coordenaçãoHeliana Pacheco, José Otavio Lobo Name, Hugo Cristo
GerênciaVerônica Salvador Vieira
EditoraçãoWeberth Freitas
CapaJuliana Colli
ImpressãoGM Gráfica e Editora
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
_____________________________________________________________
Furtado, Raphael Góes, 1973-Seminários integrados de pesquisa e extensão I / Raphael Góes
Furtado. - Vitória, ES : UFES, Núcleo de Educação Aberta e àDistância, 2009.
70 p.
Inclui bibliografia.ISBN:
1. Pesquisa. 2. Projetos de pesquisa. 3. Física - Estudo e ensino.4. Extensão universitária. I. Título.
CDU: 001.891:53
F992s
Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva
Ministro da EducaçãoFernando Haddad
Universidade Aberta do BrasilCelso Costa Universidade Federaldo Espírito Santo
ReitorRubens Sergio Rasseli
Vice-Reitor e DiretorPresidente do Ne@adReinaldo Centoducatte
Pró-Reitora de GraduaçãoIsabel Cristina Novaes
Pró-Reitor de Pesquisae Pós-GraduaçãoFrancisco Guilherme Emmerich
Pró-Reitor de ExtensãoAparecido José Cirillo
Diretora Administrativa doNe@ad e Coordenadora UABMaria José Campos Rodrigues
Diretor Pedagógico do Ne@adJúlio Francelino Ferreira Filho
Coordenadora do Curso Angela Emilia de Almeida Pinto
Revisor de ConteúdoAntônio Canal Neto.
Revisor de LinguagemSantinho Ferreira de Souza
Design GráficoLDI - Laboratório de DesignInstrucional
Ne@adAv. Fernando Ferrari, n.514 -CEP 29075-910, Goiabeiras -Vitória - ES4009 2208
¡Que vivan los estudiantes,jardín de las alegrías!Son aves que no se asustande animal ni policía,y no le asustan las balasni el ladrar de la jauría.Caramba y zamba la cosa,¡que viva la astronomía!
¡Que vivan los estudiantesque rugen como los vientoscuando les meten al oídosotanas o regimientos.Pajarillos libertarios,igual que los elementos.Caramba y zamba la cosa¡vivan los experimentos!
Me gustan los estudiantesporque son la levaduradel pan que saldrá del hornocon toda su sabrosura,para la boca del pobreque come con amargura.Caramba y zamba la cosa¡viva la literatura!
Me gustan los estudiantesporque levantan el pechocuando le dicen harinasabiéndose que es afrecho,y no hacen el sordomudocuando se presenta el hecho.Caramba y zamba la cosa¡el código del derecho!
Me gustan los estudiantesque marchan sobre la ruina.Con las banderas en altova toda la estudiantina:son químicos y doctores,cirujanos y dentistas.Caramba y zamba la cosa¡vivan los especialistas!
Me gustan los estudiantesque van al laboratorio,descubren lo que se escondeadentro del confesorio.Ya tienen un gran carritoque llegó hasta el PurgatorioCaramba y zamba la cosa¡los libros explicatorios!
Me gustan los estudiantesque con muy clara elocuenciaa la bolsa negra sacrale bajó las indulgencias.Porque, ¿hasta cuándo nos duraseñores, la penitencia?Caramba y zamba la cosa¡Qué viva toda la ciencia!
(Violeta Parra)
Me gustan los estud iantes bB
bB
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Apresentação 7
I Antes mesmo de começar 9O primeiro artigo 12
O segundo artigo 17
O terceiro artigo 21
II Explorando um pouco mais 25
III Começando a pesquisa: a escolha do tema 29Além da escolha do tema: o projeto de pesquisa 32
IV Exemplo de projeto de pesquisa 35Para revisão teórica 40
Para coleta de dados 42
Quais são os seus referenciais? 46
V Desenvolvimento da pesquisa 49Entrevista oral 50
O questionário escrito 52
VI Análise dos dados 55
VII A redação do trabalho 57
VIII A apresentação oral do trabalho 59
IX A questão da extensão 63
X Inconclusão 67
Referências biliográficas 69
Sumário
ApreSentAção
Prezados estudantes, como espero ter deixado claro
na epígrafe, através das belíssimas palavras de Violeta
Parra, imortalizadas na voz inesquecível de Merce-
des Sosa, eu gosto dos estudantes. Até por que nunca
deixei de sê-lo. Mas, quando digo estudante, não
quero dizer aluno, aquele que está simplesmente ma-
triculado em uma disciplina, e sim estudante mesmo:
aquele que estuda, busca e ama o conhecimento, re-
constrói os saberes já acumulados pela humanidade,
questiona-os, ressignifica-os, almeja ir além, tem a
mente aberta e disposta a novas aventuras.
Estudantes são mentes inquietas e mentes inquietas
são a única esperança de superação dos problemas
da humanidade. Com este curso, intenciono abrir
para você, estudante, algumas portas novas na área
de pesquisa em Ensino de Física. Espero que vocês
entrem por estas portas e desbravem este universo.
Estou dando algumas pistas sobre o caminho, mas a
caminhada é individual. Sempre é.
Desejo a vocês muitas horas de produtivo e pra-
zeroso estudo e que obtenham como resultado um
aprendizado consistente. Não poderia desejar mais.
Raphael Góes Furtado
ZXzx
ZXzx
Contem conosco neste percurso.
Um grande abraço,
Antes de começar uma pesquisa em qualquer
área, é preciso um tema. Mas não se escolhe
um tema do nada. Antes de escolher o tema, é
preciso que o pretendente a pesquisador tenha
uma boa visão sobre quais são os temas sobre o
qual se pesquisa na sua área. Ou seja, é preciso
conhecer as pesquisas já feitas e em desenvol-
vimento em Ensino de Física. Além disto, um
profissional da área de Ensino de Física precisa
estar sintonizado com as novidades da Física,
mesmo que ainda, neste estágio do curso, em
caráter de Divulgação Científica.
Vamos então indicar a você duas fontes fun-
damentais de pesquisa em Ensino de Física em
português do Brasil, e que são um excelente co-
meço para você tomar contato com o que está
sendo feito nesta área.
antes MesMode coMeçar
g I h
Estas duas publicações são a referência na área
de Ensino de Física em nosso país, mas não são
as únicas. Existem vários sítios na internet com
bom material de pesquisa na área. Vale muito a
pena dar uma procurada. Existem ótimos blogs
de ciência em português e inglês com discussões
verdadeiramente enriquecedoras e instigantes.
Mas aqui é importante uma recomendação:
A propósito, a Wikipedia, embora possa até ser
útil em alguns casos, não é uma fonte de pesquisa
científica, pois não há ninguém que responda
pela adequação das informações lá contidas.
A primeira é a Revista Brasileira de Ensino de
Física, publicada pela Sociedade Brasileira de
Física (sbf ) e disponível no site.
A outra fonte sine qua non para a pesquisa em
Ensino de Física é o Caderno Brasileiro de Ensino
de Física (antigo Caderno Catarinense de Ensino
de Física), publicado pela Universidade Federal
de Santa Catarina, que você encontra no site.
É importante saber separar o joio do trigo: existe
muita informação não confiável na internet,
muitas vezes com aparência científica. Procure
sempre por informação em sites ligados a ór-
gãos com tradição em pesquisa, como universi-
dades e sociedades científicas reconhecidas.
www.sbfisica.org.br/rbef/
www.periodicos.ufsc.br/index.php/fisica
Vejaem
Vejaem
Acesse as duas revistas indicadas acima, consulte
alguns volumes e dê uma olhada nos títulos dos ar-
tigos. Isto vai lhe dar uma noção do que se pesquisa
na área. Além disto, dos títulos que lhe chamarem a
atenção, leia também o resumo.
Com isto você vai saber melhor do que trata o artigo.
Após ler os resumos de vários artigos, faça o download
de pelo menos um artigo, aquele que lhe chamou mais
a atenção. Leia-o atentamente, mesmo que você não
consiga entender tudo. Olhe como o artigo está constru-
ído: você perceberá que a estrutura, em geral, é sempre
muito parecida.
Primeiro, vem a apresentação do problema propriamente
dito, depois as técnicas e métodos utilizados, uma descri-
ção do processo da pesquisa, os resultados e uma conclu-
são, analisando os resultados e perspectivas do trabalho.
Ao fim, são listadas as fontes e referências bibliográficas.
Acesse o volume 31, nº 1 da rbef , de 2009. Ao olhar o
índice, você verá vários artigos. Digamos que os seguin-
tes artigos lhe chamem a atenção:
Mulheres na física: poder e preconceito nos países em
desenvolvimento (D.A. Agrello e R. Garg)
Ensino-aprendizagem de física no nível médio: o estado da arte da
produção acadêmica no século xxi (F. Rezende, F. Ostermann, G. Ferraz)
Autilização da filmadora digital para o estudo do movimento dos corpos
(B.N. Sismanoglu, J.S.E. Germano, J. Amorim e R. Caetano)
Ativ idAdeS
b
b
b
Vamos analisá-los rapidamente: Antes mesmo de ler
os resumos, pode-se perceber que tratam-se de temas
muito diversificados.
O primeiro parece ser uma análise sociológica do exer-
cício da profissão de físico, sobre o viés do gênero; o
título do segundo sugere tratar-se de um levantamento
das pesquisas mais atuais na área de Ensino de Física,
enquanto que o terceiro aborda uma determinada téc-
nica para ser usada em laboratórios didáticos.
Leia agora os três (interessantes) artigos e depois con-
tinuaremos a discussão.
Vamos agora analisar a estrutura de cada um
deles e o que podemos aprender com isto.
O primeiro artigo
Sempre é bom saber quem são os autores de
um artigo. Para autores brasileiros, basta ir ao
site do cnpq e procurar pelo currículo Lattes do
pesquisador:
Neste caso, vemos que são duas pesquisadoras
(o gênero, no caso deste artigo, é especialmente
importante) com bastante experiência na área
de pesquisa e ensino de física.
Ao ler o artigo, vemos que as autoras introduzem
diretamente a problematização com duas perguntas:
http://lattes.cnpq.br/
Aproveite a visita e
saiba mais sobre a
plataforma Lattes
e sobre o prof.
César Lattes!
Vejaem
“Por que existem tão poucas mulheres na física ?”
e
“Isso é realmente um problema ?”
A partir daí elas iniciam a sua argumentação,
tomando como ponto de partida um caso que
foi um escândalo na comunidade acadêmica:
a declaração do (na época) reitor de Harvard
de que as mulheres teriam menos capacidade
intelectual do que os homens para a física e a
matemática. Se você quer saber mais sobre esta
declaração, vá nas referências bibliográficas do
artigo que você encontrará tudo.
Se as autoras concordassem com o ex-reitor
de Harvard, a primeira das questões que abre
o artigo já estaria respondida: Existem poucas
mulheres na física porque as mulheres não são
boas em física.
Evidentemente que as autoras (assim como eu)
pensam de maneira totalmente diversa e usaram
esta declaração exatamente para apontar em
outra direção, o que é o objetivo do seu trabalho.
A seguir elas partem para apresentar de forma
objetiva o problema, mostrando uma série de
dados relevantes, coletados no Brasil e na Índia,
principalmente. Observe os tipos de dados que
foram escolhidos, as diferentes comparações
que foram feitas. Tudo isto é importante para
construir a argumentação do raciocínio.
Como você vê, muitas vezes a leitura de um
artigo lhe dá boas idéias de um caminho a seguir,
seja dando continuidade as pesquisas iniciadas,
seja analisando um caso particular ou seja mesmo
combatendo as posições defendidas no artigo.
No começo da seção 2 do artigo, as autoras
apresentam o fato que lhes instigou a começar
esta pesquisa:
“Em 2007, o resultado das ‘Olimpíadas de Física’,
realizadas em Brasília, chamou-nos a atenção:
havia apenas uma mulher entre os 16 premiados.
Isso nos levou a investigar as causas
deste acontecimento.”
UUU UU UU UU U QWWWWWWWW
Se o assunto lhe interessou, você pode aqui
já pensar em desdobramentos da pesquisa,
que você poderia fazer:
Levantamento de dados sobre a participação
das mulheres entre os alunos do bacharelado
e da licenciatura em física (presencial e a dis-
tância) na Ufes. A quantidade de alunas que
entraram e que se formaram no curso de Fí-
sica da Ufes desde a sua fundação. O mesmo
para os programas de mestrado e doutorado
em Física. Na pós-graduação, qual a distri-
buição das mulheres por área de pesquisa ?
UUU UU UU UU U Q
qWWWWWWWWE
Isto é muito importante. Muitas vezes um fato
que você observa, uma notícia de jornal ou um
programa de televisão podem lhe dar o “insight”
para um tema de pesquisa.
Voltando ao artigo, levantados os dados, é ne-
cessário analisá-los. Pelo que foi mostrado pelas
autoras, fica bem claro que, de fato, o número
de mulheres na física é bem menor que o de ho-
mens, em particular no caso do Brasil. Uma vez
que a questão está bem posta (pois não adianta-
ria discutir sobre um problema que não existe),
as autoras podem agora apresentar suas respos-
tas às perguntas colocadas no início do artigo.
E o fazem dizendo:
“Não há incentivo específico para as mulheres
estudarem ou trabalharem em ciência e tecnologia
no Brasil. Ao longo de sua formação e de sua
carreira profissional, a maior parte das físicas
recebe pouco apoio da sociedade e dependem
extensivamente de seu empenho pessoal.”
Sobre a Índia, país de origem e formação de
uma das autoras, acrescentam ainda:
“Algumas regiões registram uma razão de 80
meninas para 100 meninos, atribuída à
difusão da prática do
aborto seletivo. Meninos são mais valorizados
na sociedade indiana que meninas e, como
consequência, muitos casais optam por ter
outros filhos depois do nascimento de uma
menina, na expectativa de produzir um varão. Em
casos onde a família já tenha
uma ou duas meninas, a
probabilidade de opção pelo aborto do sexo
feminino é significativamente alta.(...)
O trabalho infantil muitas vezes complementa a
renda familiar e meninas são frequentemente
impedidas de estudar, para auxiliarem
no trabalho doméstico e cuidarem dos irmãos
mais novos, enquanto os pais trabalham.”
Neste ponto, surge outra possibilidade de des-
dobramento do trabalho, que não foi feito neste
artigo: cruzar os dados da participação das mu-
lheres nos cursos de Física com outros dados
da desigualdade entre homens e mulheres, que
podem ser obtidos, por exemplo, no site do i bge .
Observe que as autoras subsidiam suas opini-
ões com base em outros estudos sobre o tema,
encontrados na literatura internacional e citados
ao final do artigo. Esta referência a outros traba-
lhos na área é importante, pois nunca se começa
um trabalho totalmente do zero e é importante
relacionar o que você está fazendo com o que
já foi ou está sendo, feito por outros. Além disto,
não dá pra fazer afirmações vagas como por
www.ibge.gov.br
Vejaem
exemplo “uma vez eu li numa revista...” ou “me
disseram que na Inglaterra...”. Se você fizer refe-
rência a uma afirmação de alguém, cite a fonte.
Assim os leitores do seu trabalho poderão con-
frontar a fonte original com as suas afirmações.
Para concluir o artigo, as autoras dão sua res-
posta à segunda questão inicial, respondendo
afirmativamente à segunda questão e apresen-
tando seus argumentos para isto. Você também
deve ter isto em mente: não é possível escrever
um artigo com o objetivo de responder uma per-
gunta e chegar ao final sem uma resposta, pelo
menos parcial ou provisória, para a mesma.
Além das respostas às questões propostas, as
autoras apresentam propostas, ou seja, o tra-
balho delas tem um desdobramento. A partir
da constatação feita, há uma continuidade, um
desenrolar da ação que, no caso, tem menos a
ver com um próximo trabalho de pesquisa e
sim com uma intervenção na realidade de tra-
balho das físicas, no Brasil e no mundo. Mui-
tos trabalhos na área de educação em Física
também terminam propondo ações, tais como
mudanças de políticas educacionais e tecno-
lógicas. Pense nisto: se o objetivo do seu tra-
balho é criticar uma determinada situação, é
importante apresentar também propostas para
a superação dela.
O segundo artigo
Neste artigo, que intencionalmente tem caracte-
rísticas totalmente distintas do primeiro, vamos
analisar outros aspectos, embora muito do que
ressaltamos antes continue valendo aqui.
O artigo é uma revisão do que foi publicado em
português em 7 periódicos da área de ensino de
ciências (os principais do Brasil) entre 2000 e 2007,
relativo ao Ensino de Física para o nível médio.
A primeira coisa que você deve perceber aqui é
que todo trabalho tem uma delimitação. Aqui as
autoras escolheram várias: o período (2000-2007),
as fontes a serem analisadas (os 7 periódicos), o
idioma em que foram escritos (apenas os traba-
lhos em português) e o tema (Ensino de Física
em nível médio). Todo trabalho tem uma delimi-
tação e você deve ter claro quais são os limites
do seu trabalho antes mesmo de iniciá-lo, além
de deixar isto bem claro na redação do artigo. É
um erro grave não explicitar a generalidade e a
abrangência da sua pesquisa.
Outra coisa interessante que você vai obter com
este artigo são 5 novas referências de periódicos
na área de ensino de ciências (além dos dois já
citados aqui). E também vai descobrir como é
feita a divisão das áreas de pesquisa em Ensino
de Física pelos estudiosos da área. Isto vai lhe dar
um panorama muito melhor de quais são os te-
mas que você pode escolher para a sua pesquisa.
Segundo o artigo, as áreas são:
“Ensino-aprendizagem de física;
Formação do professor de física;
Filosofia, história e sociologia da ciência no ensino de física;
Educação em espaços não-formais e divulgação científica;
Ciência, tecnologia e sociedade;
Alfabetização científica e tecnológica e ensino de física;
Currículo e inovação educacional;
Políticas educacionais;
Interdisciplinariedade e ensino de física;
Arte, cultura e educação científica;
Linguagem e cognição no ensino de física; e
Ensino de física para portadores de necessidades especiais.”
Outro dado que você deve ficar atento: Esta
classificação foi baseada na divisão de temáti-
cas utilizadas nas últimas edições dos dois prin-
cipais eventos da área de Ensino de Física, o En-
contro de Pesquisa em Ensino de Física (epef ) e
o Simpósio Nacional de Ensino de Física (snef ).
Estes eventos tem páginas na internet e, é claro,
você deve dar uma olhada:
As autoras ainda refinaram a classificação, di-
vidindo a temática “Ensino-aprendizagem de
física” nas seguintes subtemáticas, que podem
auxiliar você a entender melhor a amplitude
do assunto:
xi epef : www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/epef/xi/resumo.shtml
xvi i snef : //snef2009.org/
Vejaem
“Referenciais teóricos para o ensino e aprendizagem;
Resolução de problemas;
Metodologias/ Estratégias de ensino;
Levantamento de concepções/ dificuldades conceituais;
Avaliação da aprendizagem; Recursos didáticos;
Laboratório didático; Conteúdos reelaborados
para o ensino médio.”
Além de um grande índice da área de ensino,
ao ler o artigo você toma contato com diversos
termos e autores da área de ensino. Cada um de-
les sugere, pelo menos, um trabalho de revisão
teórica. Destacamos aqui:
Análise de conteúdo (Bardin);
Mudança Conceitual;
Modelos mentais (Johnson-Laird);
Campos conceituais (Vergnaud);
Construtivismo (Piaget);
Inatisno (Chomsky);
Transposição Didática (Chevallard);
Vê epistemológico (Gowin);
Ciclo de experiência (Kelly);
Invariantes operatórios (Vergnaud);
Parâmetros Curriculares Nacionais.
No texto você tem uma referência para se situar
sobre cada um destes temas, que são bastante
correntes no jargão da área de Ensino de Ciências.
Como uma atividade imediata, proponho a você agora,
seguindo as referências do artigo de Ostermann et al.,
obter uma breve definição sobre cada um destes ter-
mos, bem como sobre quem são os autores citados.
Com certeza isto será bem útil para a sua caminhada.
Nas considerações finais, as autoras fazem uma
análise da distribuição da produção científica
por assunto, chegando a uma conclusão clara:
“a produção se concentra na temática
ensino-aprendizagem.”
A partir daí, interpretam este resultado:
“Pode-se interpretar esta tendência como a expressão
de uma visão instrumentalista da pesquisa em
ensino e muitas vezes tecnicista do processo
educativo, que visa basicamente ao fornecimento
de subsídios ao professor para melhorar o
desenvolvimento do aluno.”
Fica claro que as autoras consideram este re-
sultado como negativo e tecem ao final do ar-
tigo uma dura polêmica com as escolhas temá-
ticas da maior parte dos pesquisadores. Nosso
objetivo aqui não é discutir estas opiniões, mas
Ativ idAdeS
sim ver o que se pode depreender da estrutura
do artigo e as ramificações de assuntos que a
leitura do mesmo oferece ao estudante.
O terceiro artigo
O terceiro artigo se enquadra na categoria que
as autoras do artigo anterior identificam como
predominante na produção nacional recente:
a descrição de um experimento de laboratório,
construído com material de baixo custo.
A estrutura deste tipo de trabalho é bem sim-
ples: Após motivar a experiência, é feita uma
descrição da teoria envolvida. No caso, trata-se
de conteúdo equivalente a um curso de Física
Básica em nível universitário, pois é necessário
conhecimento de Cálculo Diferencial e Integral
para entender a dedução das expressões.
Feito isto, o próximo passo é uma descrição
detalhada da experiência, descrevendo o equipa-
mento (inclusive com fotos), software utilizado,
gráficos obtidos, etc...
Ao fim, é feita uma análise do resultado físico
(confrontação entre modelo teórico e experi-
mento) e também do resultado didático:
“Deste modo, a aprendizagem efetiva
torna-se mais ativa, com a participação
efetiva do grupo de alunos, devido ao
fato de que estes se sentem motivados
a estudarem o fenômeno através
da captura da imagem do
seu movimento pela filmadora”
Com certeza, um artigo deste tipo lhe fornece
muitas idéias de procedimentos semelhantes
para você desenvolver seu próprio trabalho
nesta linha. O algoritmo para isto está pronto. É
só botar a mão na massa.
Uma última sugestão: este artigo fala de um sof-
tware de edição de vídeo, de código aberto, o Vir-
tualDub. Existem outros, como o Avidemux. Se
você tem interesse na utilização deste tipo de tec-
nologia, vale a pena dar uma pesquisada na rede.
Ao fazer as atividades do capítulo anterior, com
certeza você abriu bastante os seus horizontes
e já tem muito mais claro o que iremos fazer
aqui. Espero que você tenha incorporado em
seus hábitos acadêmicos a leitura dos periódicos
apresentados lá. Iremos aqui acrescentar outros
hábitos de leitura para você: as revistas de di-
vulgação científica e os blogs de ciência. Como
professor de Física você vai precisar estar sem-
pre atualizado sobre as novidades da pesquisa
em Física e deve buscá-las em fontes confiáveis.
Existem várias revistas e jornais de circulação
em massa que discutem os avanços da pesquisa
científica, mas em geral elas não são rigorosas e
não contam com um corpo editorial que domine
o assunto, cedendo muitas vezes ao sensaciona-
lismo. Vou indicar aqui três publicações muito
sérias que você pode ler sem medo.
explorando uMpouco Mais
g II h
Aliás, deve ler:
Scientific American Brasil- Versão brasileira da
mais antiga revista de divulgação científica do
mundo, com mais de 150 anos;
Ciência Hoje- Publicação da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (sbpc ). É a mais tra-
dicional revista de divulgação científica do país.
Pesquisa fapesp- Publicação da Fundação de Am-
paro à Pesquisa do Estado de São Paulo (fapesp ).
Além destas revistas, existem blogs de ciência
muito bons em português e inglês. Vale sempre a
pena dar uma olhada neles. Você mesmo, explo-
rando a rede, descobrirá vários blogs interessan-
tes. Mas tenha sempre em mente: Quem escreve?
Não confie em blogs de anônimos.
Escolha sempre os de pesquisadores ativos ou
então de divulgadores da ciência sérios. Fuja
//cienciahoje.uol.com.br/
//revistapesquisa.fapesp.br/
Vejaem
1 Leia
math.ucr.edu/home/baez/crackpot.html
Lá você encontrará um método perfeito para descobrir se alguém é um
crackpot ou quack. Outras boas páginas sobre o assunto são:
insti.physics.sunysb.edu/~siegel/quack.html
blogs.discovermagazine.com/cosmicvariance/2007/06/19/the-alterna
tive-science-respectability-checklist/
A propósito, você conhece o prêmio IgNobel ? Pesquise sobre isto na
Internet e discuta o que você acha da iniciativa.
dos excêntricos (crackpots1 ) que pululam na
internet. Você não vai querer fazer um trabalho
“comprovando” que o homem não foi a Lua2 ou
que o lhc pode criar um buraco negro que vai
destruir o mundo3 .
A seguir vão algumas sugestões minhas:
Os três primeiros são em português e os quatro
últimos em inglês. Todos valem várias horas de
leitura. Muitos deles são bastante divertidos. En-
tão, mãos a obra: faça uma boa leitura e depois
continuamos. Se você tem dificuldades com o
inglês, neste primeiro momento você pode até
abrir mão de ler o material em inglês, mas colo-
que desde já em suas prioridades que você precisa
saber ler literatura técnica em inglês. Sim ou sim.
dragaodagaragem.blogspot.com/
projetoockham.org/index.php
www.hsw.uol.com.br/
blogs.discovermagazine.com/cosmicvariance/
twistedphysics.typepad.com/
asymptotia.com/
blogs.discovermagazine.com/badastronomy/
Vejaem
3Para mim esta página é a contestação definitiva desta teoria da conspiração:
www.badastronomy.com/bad/tv/foxapollo.html
4O próprio cern tem uma rápida explicação didática:
lhc-machine-outreach.web.cern.ch/lhc-machine-outreach/lhc-machine-outreach-faq.htm
Muito bem: depois de tudo o que você leu, você
deve estar cheio de idéias para produzir o seu tra-
balho de pesquisa. Vamos agora ajudar você a es-
colher um bom assunto. Existem algumas coisas
que você deve ter em mente ao escolher um tema.
coMeçando a pesquisa:a escolha do teMa
g III h
está a seu alcance , hoje , d iscut ir adequadaMente este assunto ?
Por exemplo: o paradoxo da não-conservação da
informação em buracos negros é um tema interes-
santíssimo. Está na fronteira da discussão científica
hoje e é um ótimo tema para um trabalho de Inicia-
ção Científica para alunos que já conhecem teoria
da relatividade, têm noções de mecânica quântica,
física estatística, etc... Se você leu um artigo sobre
isto na Scientific American e se interessou pelo
assunto, muito bom! Que isto seja um elemento
motivador para você avançar nos seus estudos de
física, para poder entender melhor este assunto.
Porém, no ponto onde você esta agora, se você for
preparar um seminário sobre buracos negros, você
vai simplesmente repetir mecanicamente informa-
ções que estão na fonte pesquisada sem conseguir
entender a maior parte do que está lá.
Por isto, tenha calma. Se você quiser, você vai
chegar lá, mas vamos começar do começo. Escolha
um tema que você possa, durante o tempo da pes-
quisa, adquirir os conhecimentos necessários para
desenvolvê-lo de forma adequada.
Além disto, pode ser que o assunto esteja ao seu
alcance do ponto de vista da compreensão, mas
não do ponto de vista da realização. Se para con-
cretizar seu trabalho adequadamente é necessária
uma estrutura maior do que aquela da qual você
pode dispor no momento, então guarde sua idéia
para um outro momento.
qual a contr ibu ição do seu trabalho ?
Existem trabalhos com diferentes fins: além de
um resultado realmente novo, você pode fazer
uma revisão da literatura, discutir em mais de-
talhe algum tópico geralmente secundarizado,
discutir um determinado tópico de uma maneira
mais pedagógica, etc... De qualquer forma, você
sempre deve fazer um trabalho científico pen-
sando em que aquilo interessa para algum pú-
blico dentro da comunidade acadêmica.
Fazer um estudo detalhado, para obter um re-
sultado parcial sobre o por quê das cortinas do
box se curvarem para dentro durante o banho,
provavelmente não será uma boa escolha. A
questão da contribuição, utilidade, relevância
de uma determinada pesquisa científica é com-
plexa e controversa e não queremos aqui dizer
o que é ou não é pertinente como trabalho de
pesquisa. Mas você tem que ter estas questões
em mente e uma posição a respeito disto.
qual a del iM itação do seu teMa ?
Ou seja: Você se interessou por “Energia”. Exce-
lente escolha! Mas sobre qual aspecto você vai
pesquisar? O tema é praticamente inesgotável e
não dá pra abordá-lo completamente. Sobre o
que você quer pesquisar exatamente? Energia
e aquecimento global? Energias alternativas?
Energia Nuclear? Novas tecnologias? Sobre qual
aspecto? Eficiência, custo econômico, custo so-
cial, risco ambiental? A qual universo você vai
restringir seus estudos? Ao planeta inteiro, ao
Brasil, ao Espírito Santo ou “apenas” à sua cidade?
Além da escolha do tema: o projeto de pesquisa
Qual a natureza do seu trabalho ?
Você vai fazer uma revisão teórica? Um conjunto
de entrevistas? Uma experiência? Uma análise de
livros-texto? Vai propor uma nova prática didá-
tica? Vai comentar algum artigo?
Qual a metodologia a ser utilizada ?
Conforme a natureza do trabalho, será diferente
a metodologia. Uma vez escolhido o que vai ser
feito, você tem que decidir como vai ser feito. Você
também tem que se perguntar aqui se você domina
as técnicas a serem utilizadas. Não dá pra você
entrar em um trabalho que demanda uma análise
estatística mais sofisticada dos dados se você não
tem nem noção do assunto.
Quais são seus referenciais ?
Como já dissemos, um trabalho nunca começa do
zero. Ao elaborar um projeto de trabalho você tem
que escolher uma literatura básica que será utilizada
no processo de pesquisa. Essas fontes precisam fazer
parte do seu projeto, para que quem for analisá-lo saiba
que você tem noção do que está se propondo a fazer.
Tudo isto que foi discutido não vai ser útil se não for
posto em prática. Por isto, você agora deve executar
a seguinte atividade:
Elaboração de um projeto de pesquisa
Proponha um tema de pesquisa, delimite-o, justifi-
que sua relevância e descreva como você pretende
abordá-lo. Isto é: Elabore um projeto de pesquisa para
ser submetido a um comitê de avaliação, que será
formado pelos tutores e pelo professor do curso. Com
isto vamos saber como você está indo até agora.
Para lhe ajudar, vamos exemplificar a elaboração de
um projeto de pesquisa, detalhando passo a passo
cada um dos itens necessários.
Ativ idAdeS
Digamos que você ficou sabendo que a escola
onde você trabalha está participando das Olim-
píadas Brasileiras de Física. Vamos pensar sobre
este tema:
exeMplo de projeto de pesqu isa
g IV h
É adequado ao seu nível atual de conhecimento ?
Sim! Este não é um assunto complexo, você com
certeza entende plenamente do que se trata e
poderá trabalhar adequadamente nele. Além
disto, não vai ser necessária nenhuma estrutura
especial de pesquisa, você poderá desenvolver
seu trabalho com o que já está a sua mão.
Este trabalho é interessante academicamente ?
Ora, as Olimpíadas de Física são um evento im-
portante no calendário dos professores de Física
de 1º e 2º grau. Ou seja, o objeto da pesquisa é
relevante para muita gente. Não se encontra na
literatura em língua portuguesa muita elabora-
ção a este respeito e, em particular sobre a etapa
capixaba, não existe nenhuma produção teórica.
Sem dúvida existe trabalho a ser feito nesta área.
Então, com certeza, existe sim muito interesse
em se fazer pesquisa nesta área.
Qual a delimitação que utilizaremos para o tema ?
Bom, você vai encontrar aí muitas possibilidades
de recortes para o assunto. Mas uma primeira de-
limitação me parece interessante: restringir-se à
etapa capixaba da Olimpíada. Aliás, você pode-
ria restringir-se ainda mais e fazer um trabalho
mais aprofundado sobre a obf no seu município.
b
b
b
Como se sabe (e, se não se sabe, é fácil desco-
brir) existem três níveis nas provas da Olimpí-
ada: alunos do 9º ano (antiga 8ª série) do ensino
fundamental, alunos do 1º e do 2º anos do en-
sino médio e, o nível mais alto, alunos do 3º ano
do ensino médio. Você poderia analisar todos
os níveis, mas seria mais realista se restringir
inicialmente a apenas um nível. Vamos dizer,
então, que você escolheu analisar as provas do
9º ano do ensino fundamental.
Resolvido isto, ainda resta decidir quais as-
pectos da prova analisar, afinal existem várias
questões relevantes. Quantos estudantes parti-
ciparam da mesma a cada ano? Como foram os
resultados deles? Além disto, para analisar os
resultados, existem diversos critérios: as notas;
a comparação das notas com a média nacio-
nal; a evolução temporal das notas; o quanto
do conteúdo das provas corresponde à realidade
das salas de aula do es, qual o impacto que a
Olimpíada trouxe para o ensino de Física no 9º
ano, etc... Ou seja, muitas perguntas interessan-
tes. Muitas abordagens possíveis.
Digamos que, após refletir bastante sobre o as-
sunto, você propôs o seguinte recorte: avaliação
dos resultados dos estudantes do município x
nas Olimpíadas Brasileiras de Física desde a 1ª
edição, com ênfase nos seguintes pontos:
Quantos alunos participaram de cada etapa,
em cada ano?
Como foi a distribuição das notas dos alunos
do município x em relação às notas do Espírito
Santo e do Brasil?
Existe uma evolução temporal destas notas?
Como fica a divisão escola pública versus es-
cola particular nesta questão?
Qual a opinião dos professores e alunos par-
ticipantes sobre as Olimpíadas?
Como está a adequação, no município x, en-
tre o conteúdo efetivamente trabalhado em sala
de aula e o que é avaliado nas Olimpíadas?
Você revê estes pontos e conclui que o conte-
údo está bastante interessante. Mas, digamos que
neste instante você tem outra idéia: que tal ava-
liar se os professores que estão ministrando a dis-
ciplina de Física no município x sairiam-se bem
caso fossem submetidos à prova da Olimpíada?
Sem dúvida é uma questão importante e, talvez
você tenha inclusive um palpite sobre a resposta.
No entanto, após uma reflexão mais cuidadosa,
você percebe que seria muito difícil implemen-
tar esta idéia. Você conclui que provavelmente
você não teria colaboração dos professores, os
quais se sentiriam desafiados em suas compe-
tências e até ameaçados com a sua pesquisa.
Assim, mesmo lamentando, você acha melhor
deixar de lado, pelo menos por hora, este tópico.
Com isto, você já tem bem mais claro o que
quer fazer. Mas faltam alguns elementos sobre
como fazer para completar o seu projeto.
Qual é a natureza do trabalho que você está propondo?
Bom, com certeza envolve coleta e análise de da-
dos. Ou seja, tem uma parte de campo e uma parte
de tratamento estatístico dos dados. Sem dúvida é
necessário fazer uma discussão introdutória sobre o
que é uma Olimpíada de Física, falar da sua histó-
ria, dos seus objetivos, etc... Para isto, é necessário
fazer uma breve revisão teórica sobre o assunto. Por
outro lado, você já sabe que neste trabalho não será
realizada nenhuma experiência, nem você irá propor
nenhuma técnica nova.
Assim, podemos concluir que o seu trabalho é emi-
nentemente prático embora, como sempre, alguma
teoria seja necessária. Além disto, como a obf é um
grande projeto de extensão (discutiremos isto mais a
frente), e a sua pesquisa deve contribuir para se com-
preender melhor os impactos da obf , o seu projeto
também tem uma característica extensionista.
Qual a metodologia que você vai utilizar?
Agora vamos detalhar mais a questão do como em
nosso hipotético trabalho. Já temos claro que haverá
uma revisão teórica e uma coleta de dados. Mas como
fazê-las? A seguir estão alguns pontos que você deve
levar em conta.
Para a revisão teórica
Sejamos claros: para fazer uma boa revisão te-
órica é preciso ler a maior quantidade possível
de material sobre o assunto. No nosso caso, a
referência inicial óbvia é a página da obf , no site
da sbf . Leia tudo que você achar relevante. Após
isto, faça a sua síntese. A idéia é, essencialmente:
“conte a história dos outros, mas com as suas
palavras”. Claro que, se houver algum pequeno
trecho que você julgar importante, você pode e
deve reproduzí-lo no seu trabalho, entre aspas e
citando a fonte. No mais, por mais difícil que seja
a princípio, a questão imperativa é: não copie!
Nem cogite de fazer
uma pesquisa no
famigerado estilo
“copy-paste”.
Isto é plágio.
E plágio é crime!
UUU UU UU UU U QWWWWWWWW
Uma observação importante: quando você
for fazer um trabalho sobre um determinado
autor, leia preferencialmente o autor, ao invés
de ler sobre o autor. Quando você lê sobre um
autor, você está tendo contato com a opinião
de outra pessoa sobre o autor que você está
lendo. Você estará lendo informações filtradas
pela ótica de terceiros, o que, não raramente,
descaracteriza completamente o pensamento
original do autor. Evite intermediários e vá
direto à fonte primária. Se você quer ser
um especialista em Piaget, leia Piaget! Pelo
mesmo motivo, se possível, leia os textos no
original. Ou seja: leia Piaget em francês!
UUU UU UU UU U Q
qWWWWWWWWE
Outra coisa: escrever trabalhos acadêmicos
exige fluência na redação e domínio da forma
culta da língua escrita. No entanto, caso você
tenha dificuldades com isto, não se desespere:
é possível superar estas dificuldades, desde que
você coloque isto entre as suas prioridades. Com
algum tempo de dedicação séria você vai conse-
guir escrever bem e corretamente. De agora em
diante você vai precisar disto, cada vez mais. E
seus trabalhos acadêmicos serão avaliados tam-
bém neste quesito. Sobre isto, vale lembrar que:
nenhum corretor ortográfico de nenhum editor
de texto resolve o problema de se escrever corre-
tamente. Se você pensa em usar estas ferramen-
tas como muletas, simplesmente desista.
Sobre a questão da língua inglesa, aqui vai
mais um alerta: embora por enquanto você
possa avançar nas suas pesquisas e estudos sem
conhecimentos de inglês, em nossa área este
avanço será curto. Simplesmente a quase tota-
lidade da literatura em Física só está disponível
em inglês. Apesar dos fascículos do nosso curso
estarem todos escritos em português, a partir de
um certo ponto do curso a bibliografia auxiliar
vai estar principalmente em inglês. As principais
revistas são todas em inglês. Até mesmo a sbf
edita o Brazilian Journal of Physics:
Como já discutimos, também na internet, al-
guns dos melhores sites e blogs de Física são
escritos em inglês. Por isto, não adianta ficar
www.sbfisica.org.br/bjp/
Vejaem
se lamentando. Ao invés disto, coloque também
desde já em sua lista de “tenho que” que você
tem que ser capaz de ler em inglês textos técnicos
de física e ensino de física, sem dificuldades. No
começo é difícil, mas depois você não vai nem
perceber que o texto está em inglês. Observe que
a necessidade é de ler textos técnicos. Ler lite-
ratura em geral, escrever e falar em inglês são
coisas bastante úteis, mas não indispensáveis
para você, pelo menos durante a sua graduação.
Para a coleta de dados
Alguns dos dados que precisamos coletar são
bastante objetivos: número de participantes,
média das notas, etc... Para coletar estas in-
formações é preciso descobrir onde elas po-
dem estar arquivadas. A primeira fonte óbvia
para você procurar é o responsável pela obf no
es . Provavelmente você vai encontrar seu e-
mail no site da obf . Então contacte-o e peça os
dados que você precisa. Você provavelmente
conseguirá, com esta única fonte, todos os re-
gistros necessários.
Mas nosso trabalho requer mais informações
do que apenas estes registros. Algumas informa-
ções não estão escritas em lugar nenhum e você
vai ter que construí-las. No nosso caso existem
duas questões deste tipo:
Qual a opinião dos professores e alunos par-
ticipantes sobre as Olimpíadas?
Como está a adequação, no município x, en-
tre o conteúdo efetivamente trabalhado em sala
de aula e o que é avaliado nas Olimpíadas?
Para saber a opinião dos alunos e professo-
res, você terá que perguntar a eles. Mas a quais
professores e quais alunos? A primeira resposta,
aparentemente a mais óbvia, é: vamos perguntar
a todos que participaram! Mas, se você pensar
mais um pouco, vai ver que esta proposta é im-
praticável. Deve haver mais de 500 alunos que
já fizeram a obf neste nível em seu município,
algumas dezenas de professores ministraram fí-
sica neste nível ao longo destes anos. É, pois, to-
talmente impraticável. É, além disto, totalmente
desnecessário. Com uma boa amostragem, uma
pequena fração do contingente total pode for-
necer informações mais do que suficientes para
o seu trabalho.
Não vamos aqui discutir as técnicas estatísti-
cas para estabelecer o melhor espaço amostral
para sua pesquisa. Estas discussões ficarão para
a disciplina de Seminários i i , mas você tem que
ter critérios lógicos para fazer sua amostragem.
Por exemplo: Vamos nos restringir aos alunos
que fizeram a olimpíada no ano de 2009. De
quais escolas eles são? Como podemos classifi-
car estas escolas?
Os dados obtidos na primeira parte da pesquisa
vão ser de grande valia nesta fase. Digamos que
você descobriu que existem seis escolas partici-
pando na obf em 2009 no seu município: duas
escolas privadas e quatro públicas. Das três pú-
blicas, digamos que três sejam urbanas e uma
na zona rural. Digamos que, das escolas públi-
cas urbanas, duas são na região mais central da
cidade e uma em um bairro mais periférico, de
população mais carente e mais violento.
Provavelmente, as opiniões coletadas nas duas
escolas públicas mais centrais serão parecidas.
O mesmo pode-se dizer das opiniões coleta-
das nas duas escolas particulares. Assim, uma
amostra interessante poderia ser formada por
alunos e professores de uma das escolas parti-
culares, de uma das escolas centrais, da escola
periférica e da escola rural. É lógico que deci-
sões deste tipo só podem ser tomadas a partir
de um conhecimento da realidade do município
que você deve ter previamente ao trabalho, ou
adquirir durante o mesmo.
Muito bem: escolhemos as escolas. Mas quan-
tos ouvir dentro de cada escola? Em relação aos
professores, provavelmente em cada escola ha-
verá apenas um professor ministrando a disci-
plina de Física para o 9º ano. Então é este mesmo
que você vai entrevistar. Com relação aos alunos,
a questão é: Quantos participaram? Digamos
que todos os alunos tenham participado (muitos
professores atribuem nota à participação), então
você terá em uma escola, por exemplo, 100 par-
ticipantes, divididos em 3 turmas. Escolha uma
turma. Nesta turma distribua um questionário
simples com perguntas sobre a participação deles
na obf. Além disto, escolha (entre os alunos das
três turmas) alguns em função da nota: alunos
que foram acima da média da escola, alunos que
estiveram na média e alunos que estiveram muito
abaixo da média. Entreviste-os individualmente.
Para a outra questão (relação entre o conteúdo
da prova e o que é trabalhado em sala de aula),
você deve ir além da opinião dos estudantes e
professores. Faça um levantamento de todas as
provas da obf para o 9º ano e também do que é
ministrado usualmente em cada uma das escolas.
Para terminar, confronte o que você obtiver desta
comparação com a opinião dos entrevistados.
Mais adiante discutiremos um pouco sobre
como elaborar um questionário e fazer uma
entrevista. O que importa aqui é que estas fo-
ram as estratégias escolhidas para este trabalho.
Lembre-se, no entanto, que cada caso é um caso
e pede uma estratégia apropriada. Muitas das
questões discutidas aqui têm grande generali-
dade e podem ser adaptadas a diversas situa-
ções, mas ao botar em prática o seu projeto de
pesquisa será necessário que você escolha (e jus-
tifique) a estratégia mais adequada a ser imple-
mentada no problema que você está abordando.
Quais são os seus referenciais?
Aqui você vai dizer em que você se baseou,
quais são os seus pressupostos teóricos. Tam-
bém vai expressar com quais outros resultados
você compara os seus, qual é o balizamento dos
seus resultados. No caso em questão não existe,
surpreendentemente, quase nenhuma literatura
sobre Olimpíadas de Física do ponto de vista
da área de Ensino de Física. Isto por si só leva
a uma série de questionamentos. Afinal, se os
pesquisadores da área de ensino são a favor das
Olimpíadas, deveria haver uma série de artigos
analisando as virtudes da mesma. Por outro
lado, se um setor significativo dos pesquisado-
res da área de ensino de Física é contrário às
Olimpíadas, deveria haver, então, uma série de
artigos criticando os males da mesma. No en-
tanto, quase não existem trabalhos de pesquisa
acadêmica sobre as Olimpíadas, nem mesmo em
revistas internacionais como o tradicionalíssimo
American Journal of Physics. Para mim, a pre-
sença dessa ausência na literatura acadêmica é
algo muito significativo e deve ter algum signi-
ficado profundo. Isto, por si só, já renderia um
trabalho muito interessante. Neste caso, o maior
referencial teórico é, justamente, a falta de um
referencial teórico!
Com tudo o que foi dito, você tem todos os elemen-
tos para lhe orientar na elaboração do seu projeto
de pesquisa. Como mais um exemplo, na página
web da nossa disciplina você encontrará dois pro-
jetos de Iniciação Científica que submeti em 2009
à prppg-ufes . Lá, os projetos seguem a estrutura
proposta pela prppg, mas você pode encontrar
implícitos todos os elementos discutidos acima.
Pois bem, desenvolvido o projeto, é hora de
arregaçar as mangas e começar o seu trabalho
de pesquisa. Cada trabalho a ser desenvolvido
demanda uma metodologia própria e não ire-
mos aqui tentar fazer uma discussão exaustiva
de diferentes possibilidades de abordagem. Ao
desenvolver o seu trabalho você sem dúvida irá
se fazer uma série de perguntas e nós (tutores
e professor) iremos trabalhar com você sobre
estas perguntas, individualmente.
No entanto, alguns procedimentos são tão re-
correntes na atividade de pesquisa que iremos
aqui discuti-los, com base em alguns exemplos:
desenvolv iMentoda pesqu isa
g V h
A Entrevista Oral
Em nosso exemplo de projeto de pesquisa nós
propusemos a realização de entrevistas com
professores e alunos. Encontramos na literatura
um artigo bastante interessante [4] onde é feito
uso desta técnica.
Antes de continuar, acesse e leia o artigo citado acima
no site do Caderno Brasileiro de Ensino de Física.
Como você observou, as autoras entrevistaram
18 professores de 8 escolas da rede pública, em
diferentes bairros do município do Rio de Ja-
neiro. Nestas entrevistas elas se utilizaram de
duas questões abertas:
Como você avalia sua prática didática?
Como você avalia a aprendizagem de seus alunos?
Perguntas abertas dão origem a diversas possi-
bilidades de respostas. Para extrair informação
quantificável destas entrevistas, as autoras usa-
ram o método da análise de conteúdo (Bardin),
que você já conhece de nossa primeira atividade.
O que para nós aqui é mais importante: as entre-
vistas foram todas gravadas e depois transcritas.
Isto é muito importante no processo de pesquisa.
Ativ idAdeS
A transcrição deve repetir exatamente o que foi dito
pelo entrevistado, inclusive com erros de portu-
guês, se for o caso. Você não pode alterar a fala dele.
Além disto, na publicação do trabalho, deve ser
mantido o anonimato do entrevistado. Refira-se a eles
como professor 1, aluno b, ou utilize nomes fictícios.
Se você deseja obter informações sobre um as-
sunto mais específico, então utilize perguntas mais
fechadas. No artigo em questão, as autoras deman-
daram explicitamente aos entrevistados que, em
suas respostas, abordassem dois tópicos: as inova-
ções curriculares e o uso pedagógico da ti e da tc.
Um outro trabalho usando entrevistas, agora
em diversos momentos da evolução de duas tur-
mas de alunos de engenharia durante o desen-
volvimento da disciplina Física Geral I é [5]. Leia
este artigo e observe três coisas:
A apresentação de um referencial teórico (os
modelos mentais de Johnson-Laird);
A utilização de uma ferramenta que ainda não
havíamos discutido (mapas conceituais);
A maneira como foram catalogadas as respos-
tas dos alunos.
Não interfira na resposta do entrevistado. Você
quer saber a opinião dele, não convencê-lo ou
induzi-lo a responder o que você quer ouvir. In-
fluenciar os resultados de uma entrevista equivale
a falsificar dados experimentais. É uma atitude an-
tiética, tenha consciência disto!
O Questionário Escrito
Outra ferramenta que constava de nosso projeto
era o questionário, a ser aplicado a uma turma
de alunos. Vamos discutir esta ferramenta mais
uma vez através de um exemplo da literatura.
Leia agora o (interessantíssimo) artigo [6]. Você per-
ceberá que este artigo é instrutivo de diversas ma-
neiras: historicamente, metodologicamente e pela
preocupação em aproximar a atividade de pesquisa
em ensino de Física do cotidiano das salas de aula.
Como você pôde observar, os autores utiliza-
ram o seguinte questionário:
Ativ idAdeS
“Uma caixa de fósforos está em cima
de uma mesa. Se você dá um ‘peteleco’
nela, a caixa de fósforos entra
em movimento e depois de um
certo tempo pára.
a) Porque (sic) ela pára se ninguém faz ela parar?
b) Quais são as forças que estão agindo na caixa de
fósforos durante o tempo em que ela está em movimento?
c) Desenhe, na figura , as forças que estão agindo na
caixa de fósforos durante o movimento dela
e indique o que cada uma delas representa.”
Os autores
esclarecem que no
questionário havia
a figura de um
retângulo, com os
dizeres “caixa de
fósforos” escritos
em seu interior.
É evidente que são questões de naturezas bem
diferentes. Cada uma delas dá origem a um tipo
de resposta (explicação, enumeração e desenho)
e no artigo é explicado um método de catalo-
gação das diferentes respostas obtidas a cada
tipo de questão. Observe que é muito mais difícil
catalogar respostas deste tipo do que respostas
a um questionário com alternativas de múltipla
escolha. Por outro lado, naquele você tem mais
acesso à forma como os entrevistados realmente
enxergam as questões.
Para exemplificar um trabalho onde é feito o
uso de questões de múltipla escolha, leia [7]. A
leitura deste trabalho também será muito útil
por outras razões: o mesmo faz parte de uma
No departamento de Física da Ufes existe um
grupo de pesquisa sobre modelagem compu-
tacional. Aproveite o ensejo e faça agora uma
visita ao site do Modelab:
www.modelab.ufes.br
Uma variação das ferramentas acima (entre-
vista e questionário) pode ser a filmagem de
uma atividade didática para posterior análise
das atitudes dos estudantes. Como exemplo
desta técnica, citamos [8] , onde foi filmada uma
atividade de modelagem computacional feita
com alunos de engenharia. Leia este artigo para
saber como utilizar esta ferramenta.
Vejaem
Esta é uma das partes mais difíceis, senão a
mais difícil do trabalho. Como o objeto da pes-
quisa em ensino de física é, em geral, bastante
subjetivo, não há um jeito óbvio de analisar os
dados. Existem diferentes abordagens e referen-
ciais na busca da captura da informação a partir
dos materiais coletados (questionários, grava-
ções de entrevistas, vídeos, etc...)
As leituras que você fez ao longo deste estudo
devem ter lhe fornecido uma noção da ampli-
tude do assunto. Não pretendemos que você
seja capaz de, já nesta primeira disciplina de
pesquisa, fazer uso rigoroso destes referenciais.
Esperamos, no entanto, que você tome conhe-
cimento da existência deles e que o tratamento
dos dados que você fizer no seu trabalho reflita
estas novas leituras.
Na disciplina de Seminários i i , a cobrança será
maior, pois a maturidade acadêmica de vocês
também o será. Ao fim do curso, quando vocês
escreverem o tcc , espera-se que os trabalhos te-
nham qualidade acadêmica para ser publicados.
a anál ise dos dados
g VI h
Acredito que não há muito mais a falar sobre isto.
Com os artigos que vocês leram, vocês já sabem
como deve ser a estrutura final de um trabalho
escrito de pesquisa. Além disto, as normas da
abnt fornecem um referencial seguro para a for-
matação adequada de um trabalho acadêmico.
Para uma rápida referência, veja [9], unidade 4.
a redação do trabalho
g VII h
Esta parte será melhor desenvolvida através
das atividades realizadas na plataforma Moo-
dle, mas vamos desde já ressaltar alguns pontos
importantes:
a apresentaçãooral do trabalho
g VIII h
As apresentações serão de 15 minutos. Este é o
tempo médio de uma comunicação oral curta nos
congressos de nossa área e é tempo mais do que
suficiente para mostrar o que você fez. Destes 15
minutos, 10 são para a sua apresentação e os 5
minutos finais são reservados para responder a
perguntas da platéia;
Antes de tudo, vamos deixar uma coisa clara: você
tem que conhecer bem o assunto que você está apre-
sentando. Você tem que saber mais, muito mais, do
que aquilo que vai apresentar. Por isto estude, es-
tude muito para estar bem preparado. Não é aceitá-
vel apresentar um trabalho que você não entende.
Nem é inteligente, já que você correrá o risco de ser,
literalmente, destroçado na hora das perguntas!
Se isto acontecer em uma apresentação de tcc,
defesa de dissertação de mestrado ou de tese de
doutorado, prepare-se: é reprovação na certa.
Se acontecer em uma apresentação de congresso,
é vexame certo;
A sua apresentação tem que ser interessante de
ser assistida. Faça com que as pessoas para quem
você irá mostrar o seu trabalho tirem proveito de
assisti-lo. Não adianta discutir tecnicalidades que
não poderão ser compreendidas no curto tempo da
sua apresentação. Isto só tornará sua apresentação
entediante. Não faça a sua platéia dormir! Mante-
nha-a atenta e interessada em sua apresentação;
Use as ferramentas que estão ao seu alcance para
fazer a apresentação o mais interessante e dinâ-
mica possível, mas não deixe o foco no conteúdo
se perca. Não estamos interessados em pirotecnias,
mas em uma boa apresentação;
Fale claramente, olhando para o público, sem ficar
lendo. Ensaie antes para que sua apresentação caiba
confortavelmente dentro do tempo estipulado.
Pois bem, estamos chegando ao final da dis-
ciplina de “Seminários Integrados de Pesquisa
e Extensão I” e ainda praticamente ainda não
falamos de extensão. Para compensar esta au-
sência, vamos direto à Constituição Federal, que
no caput do seu artigo 207 estabelece:
“As universidades gozam de autonomia
didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial, e obedecerão ao
princípio de indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão.”
a questão daextensão
g IX h
Vejam só: a própria Constituição determina que,
nas universidades, ensino, pesquisa e extensão
são indissociáveis, e concede a esta indissocia-
bilidade o status de princípio. Este fato é mais do
que suficiente para se perceber a importância da
extensão universitária. Mas, o que vem a ser isto?
No site da pró-reitoria de extensão (proex) da
Ufes encontramos uma definição de extensão:
segundo o Fórum Nacional de Pró-reitores de
Extensão, extensão universitária é um
“processo educativo, cultural e científico, articulado de
forma indissociável ao ensino e à pesquisa e que
viabiliza uma relação transformadora entre
a universidade e a sociedade”
Traduzindo para uma linguagem mais clara,
extensão é uma intervenção direta da univer-
sidade na sociedade, com o objetivo explícito
de transformar positivamente uma determinada
realidade. Alguns exemplos de atividades de ex-
tensão na área de Física e Ensino de Física são: o
Observatório Astronômico da Ufes, o Planetário
de Vitória e a Olimpíada Brasileira de Física.
O site da proex fornece uma série de informações
importantes sobre o que é extensão, suas dire-
www.proex.ufes.br
Vejaem
trizes, abrangência, etc... Vale a penar fazer uma
visita cuidadosa e ler as informações contidas lá.
A extensão universitária, diferentemente da
pesquisa, não tem como principal foco a pro-
dução de conhecimento, mas sim a utilização
do conhecimento que a universidade já dispõe
em benefício da sociedade como um todo. No
entanto, um projeto de extensão pode também
ser fonte para o desenvolvimento de pesquisas,
contemplando o princípio da indissociabilidade
discutido acima.No que diz respeito aos proje-
tos que estamos desenvolvendo em nossa disci-
plina, a extensão se materializa quando estes
projetos apontam “o que fazer” para melhorar o
Ensino de Física e este “o que fazer” é, de fato,
implementado, não apenas proposto.
Nesta primeira disciplina não se espera que se-
jam implementados projetos de extensão pelos
alunos, mas é bastante interessante que os pro-
jetos desenvolvidos aqui não percam o foco da
sua aplicabilidade em sala de aula. É bastante
desejável que nossos alunos já sejam capazes de,
com sua pesquisa, propor práticas extensionis-
tas concretas, passíveis de ser implementadas na
realidade em que vivem e lecionam.
Não estamos restringindo nosso enfoque e di-
zendo que só é válida a pesquisa em Ensino de
Física que proponha uma prática de ensino para
ser imediatamente aplicada. Isto seria uma vi-
são estreita. Sabemos que existem “n” linhas
de pesquisa mais teóricas, muito importantes,
e que só a longo prazo poderão se materializar
(ou não) em práticas didáticas. O que não se
pode perder de vista é que, a razão primeira
e última de se pesquisar sobre Ensino de Fí-
sica é, simplesmente, ensinar Física melhor. E
o objetivo de nosso curso de Licenciatura em
Física é, sem dúvida, promover uma revolução
no ensino de Física em nosso estado.
inconclusão
Não, nosso curso definitivamente não termina
aqui. Esta é, tão somente, a parte inicial de uma
disciplina que não se pretende a ser mais do que
um primeiro passo no percurso de pesquisa e
extensão que deve ser a rotina dos Professores
de Física que precisamos. Mas quem é o sujeito
deste “precisamos”, quem é este “nós” que está
subentendido na sentença anterior ? Nós somos
os alunos, os cientistas, as escolas, as empresas,
o estado, o país, o meio-ambiente, o mundo, a
sociedade como um todo. E que Professor de
Física é este, que nós precisamos?
g X h
Nossa expectativa com esta disciplina é ajudar
a despertar o pesquisador que está em estado
latente dentro de cada um de vocês. Esperamos,
efetivamente, que após serem realizadas todas
as atividades propostas em nosso curso, vocês
vejam a nossa área com outros olhos.
E, para quem tem os olhos educados para ver, a
paisagem é linda. Desafiadoramente linda.
Até a disciplina de Seminários i i !
Raphael Góes Furtado
Nós precisamos de Professores de Física dispostos
a transformar o mundo através da difusão e da
produção do conhecimento científico, aula a aula,
aluno a aluno, experiência a experiência, lei a lei,
teorema a teorema!
[1] D. A. Agrello e R. Garg, “Mulheres na física:
poder e preconceito nos países em desenvolvi-
mento”, Rev. Bras. Ens. Fís., v. 41 (2009), n. 1.
[2] F. Rezende, F. Ostermann e G. Ferraz, “Ensino-
aprendizagem de física no nível médio: o estado
da arte da produção acadêmica no século xxi”,
Rev. Bras. Ens. Fís., v. 41 (2009), n. 1.
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