Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    1/75

    CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEAR

    FACULDADE CEARENSE

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO

    SERVIO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DEEXPERINCIA DE ESTGIO

    FORTALEZA2014

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    2/75

    CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO

    SERVIO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DEEXPERINCIA DE ESTGIO

    Monografia submetida aprovao do Cursode Servio Social do Centro de Ensino Superiordo Cear Faculdade Cearense - FaC, como

    requisito parcial para obteno do grau deGraduao.

    Orientadora: Ms. Lara Denise Oliveira Silva.

    FORTALEZA2014

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    3/75

    Bibliotecrio Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

    L437s Leandro, Chayanee de Souza

    Servio Social e acolhimento institucional: relato deexperincia de estgio /Chayanee de Souza Leandro. Fortaleza -

    2014

    74f. Il.

    Orientador: Prof. Ms. Lara Denise Oliveira Silva.

    Trabalho de Concluso de curso (graduao) Faculdade

    Cearense, Curso de Servio Social, 2014.

    1. Institucionalizao. 2. Acolhimento institucional. 3.AdolescnciaServio Social. I. Silva, Lara Denise Oliveira. II.

    Ttulo

    CDU 364

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    4/75

    CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO

    SERVIO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DEEXPERINCIA DE ESTGIO

    Monografia apresentada como pr-requisitopara obteno do ttulo de Bacharel em ServioSocial, outorgado pela Faculdade Cearense FaC, tendo sido aprovada pela bancaexaminadora composta pelos professores.Data de aprovao: ____/ ____/____

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________________________Professora Ms. Lara Denise Oliveira Silva

    (orientadora)

    ____________________________________________________________Professora Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos

    (1 examinadora)

    ____________________________________________________________Professora Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

    (2 examinador)

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    5/75

    Dedico este trabalho a minha famlia eamigos, os quais ao longo dessacaminhada me apoiaram e me ajudaram

    como puderam.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    6/75

    AGRADECIMENTOS

    Confesso que em alguns momentos pensei que no iria conseguir, pois no

    decorrer dessa caminhada de monografar me deparei com alguns problemaspessoais. Portanto quero agradecer a Deus e a Nossa Senhora de Ftima por nuncame deixarem perder a esperana.

    Aos meus pais, em especial minha me Francisca Vanda, no qual sempre meapoiou e ajudou como pode ao longo desses quatros anos.

    Aos meus familiares sempre na torcida por essa conquista, em especialminha tia-madrinha Zita no qual custeou meus estudos, alm do incentivo e apoioque deu durante essa jornada, deixo ento registrada minha gratido.

    Como j mencionado, em alguns momentos passei por algumas dificuldades,portanto agradeo a todos os amigos que deram fora, ajudaram, apoiaram dealguma forma para eu no desistir. Em especial, Kelma Souza, Luciana Furtado. Ascompanheiras de turma, no qual se tornaram amigas especiais, Juliane Menezesque um anjo na minha vida, Catarina Braga, Juliana Cndido.

    Aos participantes dessa pesquisa e a Instituio de Acolhimento Nova Vidaque permitiu a elaborao deste estudo. Obrigada a todos.

    A todos os professores que fizeram parte da minha vida durante esses quatroanos. A minha orientadora Lara Silva, pela pacincia e dedicao.

    As professoras Emmanuele Alves e Talitta Albuquerque que aceitaramcompor minha banca de defesa.

    Portanto agradeo a todos que contriburam de alguma maneira, cada umcom seu para a realizao dessa conquista.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    7/75

    RESUMO

    Sendo assegurados pelo Estatuto da Criana e Adolescente (ECA), medidas deproteo so tomadas quando qualquer criana ou adolescente tenham seus direitosbsicos violados. Atitude provisria e excepcional, utilizada como forma dereintegrao familiar, o acolhimento institucional visa garantir os direitos dascrianas e adolescentes. Durante o processo da medida, o Servio Socialdesempenha o papel de acompanhar as crianas e adolescentes a fim de zelar egarantir os direitos dos mesmos. Com a durao de cinco meses este estudo tevecomo foco analisar e compreender, de acordo com a viso das adolescentes que seencontram na Unidade de Acolhimento Nova Vida, o que elas entendem pelo papeldo assistente social e como ocorre a relao entre elas e este profissional.Assimbusco apresentar o que as meninas entendem do trabalho do servio social,

    identificar qual a relao existente e avaliar qual imagem as acolhidas tem desseprofissional.A natureza da pesquisa qualitativa, para a construo do presentetrabalho, utilizou-se como procedimentos metodolgicos a aplicao de questionriocom a assistente social que trabalha na unidade, observao direta, pesquisa decampo, entrevistas com as adolescentes, anlise de dados documentais, alm depesquisas bibliogrficas. O trabalho composto por trs captulos o primeiro:Adolescentes em uma realidade de institucionalizao, o segundo: Unidade deAcolhimento Nova Vida e o terceiro: Resultados da pesquisa. A pesquisa revelouque existe uma relao boa entre as meninas acolhidas e a assistente social daunidade, justificado pelo fato de as meninas viverem em situao de acolhimento epela proximidade que tem diariamente com a profissional. Por essa razo, as

    adolescentes demonstraram ter, minimamente, ideia do papel desempenhado pelaassistente social.

    Palavras-chave: Institucionalizao. Acolhimento institucional. Adolescncia.ServioSocial.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    8/75

    ABSTRACT

    Being provided by the Child and Adolescent (ECA), protective measures are takenwhen any child or teen to have their basic rights violated. Provisional and exceptionalattitude, used as a form of family reintegration, institutional care aims to ensure therights of children and adolescents. During the measurement process, the SocialService plays the role of monitor children and adolescents in order to ensure andguarantee the rights of same. This study focused on analyzing and understanding,according to the view of teenagers who are on the Unit Home New Life, which theyunderstand the role of the social worker and as the relationship between them andthis occurs professional. So I try to present the girls understand the work of socialservices, which identify the relationship and evaluate what the image has welcomedthis professional. To conduct the survey , we used as instruments to a questionnairewith the social worker who works in the unit , field observations , interviews with the

    teenagers , analysis of documents , and literature searches . The work consists ofthree chapters the first: Teens in a reality of institutionalization, the second Unit ofHospitality New Life and the third: Search Results. The research revealed that thereis a good relationship between the social worker and the girls welcomed the unit,justified by the fact that girls living in the host state and the proximity that has dailyand professional. Therefore, adolescents have demonstrated minimally idea of therole played by the social worker.

    .

    Keywords:Institutionalization, Institutional care, Adolescence, Social Service.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    9/75

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CAPS Centro de Ateno Psicossocial

    CF Constituio Federal

    CFESS Conselho Federal de Servio Social

    CRAS Centro de Referncia de Assistncia Social

    CREAS Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social

    CRESS Conselho Regional de Servio Social

    ECA Estatuto da Criana e do AdolescenteFUNABEM Fundao Nacional do Bem - Estar do Menor

    IAPS Instituto de Apoio e Proteo Social

    LOAS Lei Orgnica de Assistncia

    PNBM Poltica Nacional do Bem - Estar Social

    SAM Servio de Assistncia ao Menor

    STDS Secretria de Trabalho e Desenvolvimento Social

    ONG Organizao No Governamental

    PNCFC Plano Nacional de Convivncia Familiar e Comunitria

    UECE Universidade Estadual do Cear

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    10/75

    SUMRIO

    INTRODUO................................................................................................10

    1. ADOLESCENTES EM UMA REALIDADEDE INSTITUCIONALIZAO..........................................................................191.1 Contexto histrico da institucionalizao de crianas eadolescentes no Brasil.....................................................................................191.2 O que define adolescncia.........................................................................281.3 Adolescentes em situao de acolhimento institucional e o servio socialnesse contexto.................................................................................................32

    2. UNIDADE DE ACOLHIMENTO NOVA VIDA................................................41

    2.1 A unidade e seus marcos legais.................................................................412.2 Localizao e espao fsico........................................................................472.3 Perfil das usurias.......................................................................................512.4 O papel do servio social dentro da unidade..............................................53

    3. PERCEPES E RELAES ENTRE AS ADOLESCENTESE A ASSISTENTE SOCIAL...............................................................................563.1 Relao entre as adolescentes e a assistente social..................................563.2 Percepes das adolescentes a respeito da profissional do

    servio social.....................................................................................................583.3 Cotidiano e fortalecimento de vnculos........................................................63

    CONSIDERAES FINAIS...............................................................................67

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................70

    APNDICE.........................................................................................................74

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    11/75

    10

    INTRODUO

    A institucionalizao de crianas e adolescentes abandonadas est presente

    no Brasil h muito tempo. Sendo possvel, segundo Siqueira (2006), constatar que a

    institucionalizao dos mesmos uma prtica que est arraigada na cultura

    brasileira no que tange ao cuidado a este segmento da populao. A prtica do

    acolhimento institucional de crianas e adolescentes uma medida aplicada como

    forma de proteo desses sujeitos que tiveram seus direitos ameaados ou violados

    de algum modo.

    O Estatuto da Criana e Adolescente ECA veio para romper com asamarras histricas onde os mesmos no tinham seus direitos garantidos, colocando

    a proteo integral como direito a ser assegurado. Discutir a questo do adolescente

    em situao de acolhimento institucional de fundamental importncia, pois a

    integrao das polticas pblicas e articulao com o poder judicirio contribuem

    para obter melhores resultados frente a essa demanda.

    O artigo n. 98 do ECA estabelece que as medidas de proteo devem seraplicadas com o intuito principal de proteger a criana e o adolescente de qualquer

    violao ou ameaa em quaisquer dos direitos, seja por ao ou omisso do Estado,

    falta, omisso ou abuso dos pais ou responsveis, seja por razo da prpria

    conduta. As medidas de proteo referem-se :

    I. encaminhamento aos pais ou responsvel, mediante termo de

    responsabilidade;II. orientao, apoio e acompanhamento temporrios;

    III. matrcula e frequncia obrigatrias em estabelecimento oficial de ensino

    fundamental;

    IV. incluso em programa comunitrio ou oficial de auxlio famlia, criana

    e ao adolescente;

    V. requisio de tratamento mdico, psicolgico ou psiquitrico, em regime

    hospitalar ou ambulatorial;

    VI. incluso em programa oficial ou comunitrio de auxlio, orientao e

    tratamento a alcolatras e toxicmanos;

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    12/75

    11

    VII. abrigo em entidade;

    VIII. colocao em famlia substituta.

    No que se refere medida sete, foco deste estudo, o pargrafo nico diz:

    Pargrafo nicoO abrigo medida provisria e excepcional, utilizvel como

    forma de transio para a colocao em famlia substituta, no implicando em

    privao de liberdade. Ou seja, o acolhimento institucional uma medida de

    proteo s crianas e adolescentes que tiveram seus direitos violados e necessitam

    se afastar temporariamente do mbito familiar, sendo um recurso que precisa ser

    aplicado quando outras formas de proteo so esgotadas.

    Todas as entidades que oferecem acolhimento institucional independente da

    modalidade de atendimento, devem atender aos pressupostos do ECA. Tais

    servios devem estar localizados em reas residenciais, sem distanciar-se

    excessivamente do ponto de vista geogrfico da realidade de origem das crianas e

    adolescentes acolhidos; promover a preservao do vnculo e do contato da criana

    e adolescente com a sua famlia de origem, salvo determinao judicial em contrrio;

    manter permanente comunicao com a Justia da Infncia e da Juventude,informando autoridade judiciria sobre a situao das crianas e adolescentes

    atendidos e de sua famlia; trabalhar pela organizao de um ambiente favorvel ao

    desenvolvimento da criana e do adolescente. (BRASIL, 2009)

    Assim, devem ser oferecidos servios de assistncia integral criana e ao

    adolescente. Para isso o Estado fica responsvel por prover rgos de apoio como

    as instituies de acolhimento para as quais so encaminhadas crianas eadolescentes que esto expostos a vrios tipos de abuso, negligncia, explorao,

    vulnerabilidade e outras formas de violncia.

    O Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), como a Lei Orgnica de

    Assistncia Social (LOAS), foram resultado de um processo de movimentos sociais,

    onde o Servio Social, por meio de seus profissionais e entidades representativas,

    como o Conselho Federal de Servio Social (CFESS) e o Conselho Regional de

    Servio Social (CRESS), atuou junto aos setores da sociedade civil e do Poder

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    13/75

    12

    Pblico, na luta pela implementao da poltica de proteo a infncia e

    adolescncia (CFESS, 2010).

    As entidades de acolhimento sejam do mbito governamental ou no so

    responsveis por zelar pela integridade fsica e emocional de crianas e

    adolescentes que necessita temporariamente se afastar do convvio familiar. neste

    contexto que atua o assistente social, profissional esse que tem um carter

    interventivo frente ao acolher e acompanhar constantemente as crianas e

    adolescentes acolhidos e suas famlias.

    Os (as) assistentes sociais brasileiros vm lutando em diferentes frentes e dediversas formas para defender e reafirmar direitos no campo das polticas sociais.

    Inseridos em um projeto societrio mais amplo, buscam condies econmicas,

    sociais e polticas para construir as vias de equidade, num processo que no se

    esgota na garantia da cidadania. O projeto tico poltico do servio social bem

    claro quanto aos seus compromissos. Ele:

    tem em seu ncleo o reconhecimento da liberdade como valor tico central -a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entrealternativas concretas; da um compromisso com a autonomia, aemancipao e a plena expanso dos indivduos sociais.Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societrioque prope a construo de uma nova ordem social, sem dominao e/ouexplorao de classe, etnia e gnero. (NETTO, 1999, p.104-5)

    O Servio Social vem se legitimando como uma prtica necessria no

    contexto das polticas de proteo a infncia e adolescncia. O assistente social nas

    entidades de acolhimento tem um compromisso em assegurar os direitosfundamentais das crianas e adolescentes e suas famlias. Ou seja, o servio social

    deve instrumentalizar uma prtica institucional que compreenda a criana e o

    adolescente como sujeitos de direitos.

    O objeto aqui a questo social. ela em suas mltiplas expresses, queprovoca a necessidade da ao profissional, junto com a criana eadolescente [...] Essas expresses da questo social so a matria primaou o objeto do trabalho profissional do Servio Social. (IAMAMOTO, 2009,p.62)

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    14/75

    13

    Portanto, o assistente social deve atuar para favorecer a autonomia, o

    fortalecimento dos vnculos familiares, promover uma articulao entre as polticas

    de acesso existente ao adolescente em nossa legislao para com o usurio.

    Segundo Faleiros (2007), os (as) assistentes sociais possuem o compromisso

    com a qualidade dos servios prestados, posicionamento em favor da universalidade

    do acesso aos bens e servios, relativos aos programas e polticas sociais pblicas,

    em defesa da gesto democrtica e na luta pela garantia e ampliao dos direitos

    sociais relativos criana e ao adolescente.

    O cotidiano em uma unidade de acolhimento permeado por histrias,acontecimentos, sentimentos, desejos, solicitaes que fazem com que todos os

    sujeitos que ali vivem lidem com sensaes que podem ser agradveis ou no.

    Dessa forma quase impossvel no ser criado umarelao entre os que

    esto acolhidos e os assistentes sociais. Com base nisso, estabeleci como pergunta

    principal a ser respondida por este estudo como realmente a relao da assistente

    social com as adolescentes que vivem em situao de acolhimento?

    Entretanto, busco a resposta atravs das percepes das adolescentes. O

    estudo apresentado teve como objetivo buscar compreender, de acordo com as

    adolescentes abrigadas na Unidade de Acolhimento Nova Vida, como elas

    enxergam a assistente social e a relao existente entre as partes, j que este

    profissional exerce um trabalho dirio com essas meninas, ou seja, existe um

    vnculo que construdo cotidianamente.

    Alm do interesse que sempre tive com o assunto, a escolha de trabalhar com

    o tema adolescente em situao de acolhimento institucional foi motivado por conta

    da minha experincia de estgio curricular do curso de Servio Social da Faculdade

    Cearense (FAC).

    Meu estgio aconteceu na Unidade de Acolhimento Nova Vida, instituio

    essa que acolhe adolescentes do sexo feminino na faixa de 12 a 18 anos, tendo

    inicio em maro de 2012 e fim em agosto de 2013. Considerando que o estgio

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    15/75

    14

    supervisionado compreende uma atividade educativa de aproximao com a

    realidade profissional e apreenso dos conhecimentos tericos-metodolgicos, as

    vivncias do estgio me possibilitaram uma reflexo sobre a realidade da instituio

    no qual estava inserida, acompanhar a realizao dos trabalhos exercidos pela

    assistente social, onde enquadra-se construo de relatrios, visitas domiciliares,

    atendimentos individuais, fortalecimento dos vnculos familiares para que as

    adolescentes possam voltar para o seio familiar e quando no possvel, a colocao

    em uma famlia substituta etc.

    No momento das aes exercidas pelo profissional, no qual estava presente

    sempre me atentava ao comportamento das meninas com relao a assistentesocial, portanto o despertar para o interesse da pesquisa.

    Ao final do perodo do estgio, inicieiminhas atividades como pesquisadora na

    Unidade, passando ento a visit-la uma vez por semana em dias aleatrios, por

    exemplo, em uma semana a visita ocorria em uma segunda-feira na prxima j seria

    uma tera. Dessa forma poderia conhecer como eram todos os dias da semana na

    unidade. Gil (1999, p.45), conceitua pesquisa como:

    procedimento racional e sistemtico que tem como objetivo proporcionarrespostas aos problemas que so propostos. (...) A pesquisa desenvolvidamediante o concurso dos conhecimentos disponveis e a utilizaocuidadosa de mtodos, tcnicas e outros procedimento cientficos (...) aolongo de um processo que envolve inmeras fases, desde a adequadaformulao do problema at a satisfatria apresentao dos resultados.(GIL, 1999, p.45).

    Para desenvolver a investigao, optei por uma metodologia de naturezaqualitativa, na busca de melhor detalhar as informaes coletadas. Assim, me detive

    no universo de significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas, dos valores

    e das atitudes (MINAYO, 2011, p.21).

    Para o conhecimento e anlise dos resultados, utilizei de vrias tcnicas.

    Iniciei realizando uma pesquisa bibliogrfica, utilizada para destrinchar a histria da

    institucionalizao das crianas e adolescentes no Brasil e para levantar todo o

    aporte terico-metodolgico. Dessa forma, trabalhei com livros, teses e artigos

    publicados. Boa parte da bibliografia,mencionados no decorrer deste trabalho,

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    16/75

    15

    compostas por textos produzidos por escritores que aprofundam a histria da

    proteo infncia e adolescncia e as demais categorias, tais como: Servio

    Social, Institucionalizao, Acolhimento Institucional e adolescente.

    A tcnica de anlise documental foi utilizada para verificar nos pronturios das

    adolescentes, especificamente, as guias com a ordem de acolhimento e os relatrios

    que acompanham as mesmas. Esses documentos foram de extrema importncia

    para confrontar algumas informaes relatadas pelas adolescentes durante a

    entrevista.

    Oliveira (2007) faz uma importante distino entre essas modalidades depesquisa. Para essa autora, a pesquisa bibliogrfica uma modalidade de estudo e

    anlise de documentos de domnio cientfico tais como livros, peridicos,

    enciclopdias, ensaios crticos, dicionrios e artigos cientficos. Como caracterstica

    diferenciadora ela pontua que um tipo de estudo direto em fontes cientficas, sem

    precisar recorrer diretamente aos fatos/fenmenos da realidade emprica (p. 69).

    Argumenta a autora que a principal finalidade da pesquisa bibliogrfica

    proporcionar aos pesquisadores e pesquisadoras o contato direto com obras, artigosou documentos que tratem do tema em estudo: o mais importante para quem faz

    opo pela pesquisa bibliogrfica ter a certeza de que as fontes a serem

    pesquisadas j so reconhecidamente do domnio cientfico (p. 69). Ela se

    posiciona sobre a pesquisa documental:

    a documental caracteriza-se pela busca de informaes em documentosque no receberam nenhum tratamento cientfico, como relatrios,

    reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravaes, fotografias, entreoutras matrias de divulgao (OLIVEIRA, 2007, p. 69).

    Por saber a importncia do olhar durante uma pesquisa, outra tcnica

    trabalhada foi a de observao de campo. Chizzotti (1991, p.90) aponta a seguir as

    caractersticas e cuidados necessrios para a realizao da tcnica de observao

    direta:

    A observao direta ou participante obtida por meio do contato direto dopesquisador com o fenmeno observado, para recolher as aes dos atoresem seu contexto natural. O observador participa em interao constante emtodas as situaes, espontneas e formais, acompanhando as aes

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    17/75

    16

    cotidianas e habituais, as circunstncias e sentido dessas aes, einterrogando sobre as razes e significados dos seus atos. Essaobservao exige, porm cuidados e um registro adequado para garantir afiabilidade e pertinncia dos dados e para eliminar impresses meramenteemotivas, deformaes subjetivas e interpretaes fluidas, sem dados

    comprobatrios.(CHIZZOTTI, 1991, p.90).

    Para coleta dos dados, as tcnicas utilizadas foram questionrios e

    entrevistas semi-estruturadas. O questionrio segundo Gil, (1999, p.28) pode ser

    definido:

    como a tcnica de investigao composta por um nmero mais ou menoselevado de questes apresentadas por escrito pessoas, tendo por objetivoo conhecimento de opinies, crenas, sentimentos, interesses, expectativas,

    situaes vivenciadas etc. (GIL, 1999, p.28).

    Essa tcnica foi utilizada para entrevistar a assistente social da unidade a fim

    de confrontar as informaes expostas pela profissional com a das adolescentes,

    sujeito central do estudo. No ocorreu critrio de escolha nesse caso, j que na

    unidade s existe uma assistente social. Optei por entregar a folha com as

    perguntas para a assistente social, pois pelas atribuies que a profissional tem na

    unidade ela preferiu responder pela forma de questionrio, tanto que ela levou as

    perguntas para casa e posteriormente me mandou por e-mail.

    Tambm utilizei a tcnica de entrevista semi-estruturada pois a mesma

    fornece dados objetivos e subjetivos referentes a comportamentos, crenas, idias,

    opinies, dentre outros os quais possibilitam mais liberdade para captar contedos

    do pensamento que sero posteriormente interpretados. Essa tcnica foi utilizada

    para entrevistar as adolescentes, o critrio de escolha das meninas foram seis

    meninas de 12 a 18 anos que estivessem acolhidas na unidade h seis meses ou

    mais, pois com esse tempo imagina-se que as adolescentes j tenham algo a mais

    para falar. Entretanto, as mais novas da unidade no queriam participar ou

    brincavam e no respondiam as perguntas que eram realizadas, ressalto esse

    momento como uma dificuldade encontrada. Diante disso, resolvo ento mudar a

    idade das entrevistadas, passando a serem meninas de 14 a 18 anos.

    Ribeiro, (2008, p.141) trata a entrevista como:

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    18/75

    17

    A tcnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informaes a

    respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos

    e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir

    alm das descries das aes, incorporando novas fontes para a

    interpretao dos resultados pelos prprios entrevistadores.

    Para Gil (1999), a entrevista seguramente a mais flexvel de todas as

    tcnicas de coleta de dados de que dispem as cincias sociais. A entrevista

    realizada na pesquisa em questo aconteceu em dois dias, pois decidi dividir as seis

    adolescentes para as mesmas no se apressarem em responder, ou seja, que elas

    no se preocupassem com o tempo e tambm foi a maneira encontrada para desviar

    dos imprevistos encontrados na unidade, pois em algumas vezes acontecia demarcar e no dia ocorrer de ter passeio ou as adolescentes terem que sair. Portanto,

    em conversa com a coordenadora ficaram trs meninas para cada dia. As

    entrevistas foram individuais, chamava uma a uma, explicava o motivo daquelas

    perguntas, dizia que ia ser gravado, caso concordassem ento iniciava.

    As adolescentes que participaram da entrevista, se mostraram inicialmente

    preocupadas em relatar as suas situaes de vida. Para preservar suas identidadesno apresentarei seus nomes, usarei nomes fictcios. Assim ficou: Flor, Bela, Estrela,

    Lys, Mel, Sol.

    Como as entrevistas foram gravadas, aps a transcrio das falas das

    adolescentes, realizei leituras do material, buscando destacar os pontos ligados ao

    objetivo central de anlise desta pesquisa.

    No primeiro captulo, fao uma contextualizao sobre adolescentes em uma

    realidade de institucionalizao a partir de trs itens: no primeiro destaco o contexto

    histrico, procuro destrinchar a histria da institucionalizao de crianas e

    adolescentes no Brasil at o modelo atual, dessa forma possvel entender como

    surgiu, a interferncia da religio, as leis que foram criadas, ou seja, a inteno

    desse percurso histrico verificar as mudanas ocorridas no tema. Nesse tpico,

    os estudos importantes como os de Rizzini e Rizzini (2004), Marcilio (1997), dentre

    outros so citados. No segundo item apresento a definio de adolescncia com a

    qual trabalhei, uma vez quesujeitos da pesquisa so adolescentes. Procurei dialogar

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    19/75

    18

    com os autores que discutem essa categoria, tais como: Tiba (1986), Becker (1994),

    Georges (2008) etc. No ltimo item falo sobre adolescentes em situao de

    acolhimento propriamente dito e o papel do servio social nessa realidade, onde cito

    Goffman (2007), Rizzini e Rizzini (2004), ECA (1990), Martinelli (1999) dentre outros.

    Apresento o segundo captulo atravs de quatro tpicos. Inicio falando sobre

    a unidade e seus marcos legais, descrevendo no segundo tpico sobre a localizao

    e espao fsico, o surgimento, e seu quadro de funcionrios. No terceiro tpico falo

    sobre o perfil das meninas eno ltimo o sobre o trabalho do servio social na

    unidade, expondo como atua a assistente social na instituio. Ou seja, nesse

    captulo o objetivo que o leitor conhea as caractersticas da unidade pesquisada.

    No terceiro captulo trato dos resultados da pesquisa, inicio demonstrando o

    perfil das adolescentes entrevistadas. No segundo tpico, mostro a viso das

    adolescentes entrevistadas sobre o papel do servio social, ou seja, o que elas

    acham que o assistente social faz, continuo apresentando as informaes obtidas

    pelo questionrio que foi aplicado a profissional da unidade e no ultimo tpico

    exponho o resultado da entrevista realizada com as adolescentes onde o objetivo dapesquisa relatado.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    20/75

    19

    1. ADOLESCENTES EM UMA REALIDADE DE INSTITUCIONALIZAO

    Por no ser um assunto recente e ter sofrido vrias mudanas como mostrarei

    a seguir, a problemtica da institucionalizao na infncia e na adolescncia

    representa uma dimenso importante de estudo na atualidade, por estar presente na

    realidade de muitas famlias que encontram-se em condies socioeconmicas

    desfavorecidas o que dificulta que cumpram seus pais de guardis da infncia e da

    adolescncia.

    1.1 CONTEXTO HISTRICO DA INSTITUCIONALIZAO DE CRIANAS E

    ADOLESCENTES NO BRASIL

    O Brasil possui uma longa tradio de internao de crianas e jovens em

    instituies. Desde o perodo colonial, foram sendo criados no pas colgios

    internos, seminrios, asilos, escolas de aprendizes de artificies, educandrios,

    reformatrios, dentre outras modalidades institucionais surgidas ao sabor das

    tendncias educacionais de cada poca (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.22).

    Essa tradio teve inicio em 1549, com a Congregao Religiosa Companhia

    de Jesus, no qual investiu todo o seu trabalho apostlico em territrio brasileiro na

    converso dos nativos. O otimismo do comeo das atividades se transformou em

    desafio, j que os padres foram percebendo a dificuldade na evangelizao dos

    nativos adultos. Diante disso a prioridade passou a ser o ensino das crianas.

    Consolidava-se a convico de que os meninos ndios no somente se convertiam

    mais facilmente, como tambm seriam o grande meio para a converso dos adultos.Outras ordens como a dos Frades Menores, se ocuparam da converso no sculo

    XVI, e tambm do ensino dos portugueses (CHAMBOULEYRON, 2004, p.56).

    Entretanto, os jesutas ocuparam um papel central nesse processo.

    Azzi (1992, p.11) retrata que Os jesutas criaram colgios nas principais vilas

    e cidades dos primeiros tempos da colonizao: Salvador, Porto Seguro, Vitria, So

    Vicente, So Paulo, Rio de Janeiro, Olinda, e, no sculo XVII, Recife, So Lus do

    Maranho e Belm do Gro-Par, constituindo-se assim os principais agentes

    educacionais no Brasil, at serem expulsos pelo Marqus de Pombal, em 1759.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    21/75

    20

    Em 1550 e 1553, para auxiliar nesse processo de converso, foram criadas

    as Casas dos Muchachos, custeadas pela Coroa portuguesa, onde abrigavam os

    curumins ou meninos da terra e se constituam em um posto avanado de

    transmisso e inculcao dos valores do invasor aos invadidos no processo de

    colonizao portuguesa (Janice Theodora da SILVA 1984 apud SPOSATI, 1988,

    p.62).

    De acordo com Arruda (2006), posteriormente estas casas foram tambm

    ocupadas por rfos e enjeitados de Portugal:

    Os castigos eram frequentes nas Casas, principalmente queles que fugiamdelas. Entretanto, os padres no tinham o costume de aplicar pessoalmenteos castigos delegando a algum de fora da Companhia essa tarefa, (p.20).

    Isso ocorreu devido aos problemas com os meninos que chegavam

    puberdade, como a prpria dificuldade na evangelizao dos adultos, levaram os

    padres a utilizar o temor e a sujeio para converter, estruturando, assim, um

    sistema rgido de disciplina, vigilncia e castigos corporais, salienta a autora.

    Na poca da escravido, em tempos de grandes desembarques dos negros

    que vinham da frica, as crianas representavam apenas dois entre dez adultos

    (homens e mulheres) no havia um mercado propriamente dito de crianas cativas:

    As transaes se faziam com frequncia nas etapas finais da infncia (Arruda,

    2006, p.22). Ou seja, o principal objetivo de investimento senhorial eram as mes e

    no seus filhos. Segundo Ges e Florentino (2004, p.177), As crianas que as

    fazendas compravam no eram o principal objeto de investimento senhorial, mas

    sim as suas mes, que com eles se agregavam aos cafezais, plantaes de cana de

    acar e demais.

    Considerando as condies precrias vivenciadas nessa poca, essas

    crianas que escapavam da morte, muito cedo perdiam seus pais, seja por morte,

    mudana de local de trabalho ou pela sua doao. Entretanto, existia uma rede de

    relaes escravas, em especifico as de tipo parental. Os pais quase sempre

    providenciavam um padrinho ou madrinha logo ao nascimento da criana, para a

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    22/75

    21

    mesma no correr o risco de abandono. De acordo com Rizzini e Rizzini (2004,

    p.28),

    no se descobriu at hoje a existncia de qualquer instituio que tenhaatendido exclusivamente a filhos de escravas ou ingnuos. Estes estavamsubmetidos ao domnio dos senhores. Os proprietrios eram responsveispor alimentar, vestir, preparar para o trabalho e disciplinar os escravos etambm os ingnuos, se assim o preferissem, pois a Lei do Ventre Livre(1871) permitia aos senhores manterem seus ingnuos at os 21, com ocompromisso de educa-los.

    No sculo XVIII, surgem as primeiras instituies exclusivas para proteo

    criana desvalida no Brasil. Foram elas as Rodas dos Expostos e os Recolhimentos

    para Menores Pobres. Relatado por Arruda (2006), a roda dos expostos tinha por

    finalidade dar proteo aos bebs abandonados. Criado na Europa medieval

    procurava manter o anonimato dos expositores, desta forma defendiam a honra das

    famlias cujas filhas engravidaram antes do casamento.

    Realizado pela Santa Casa de Misericrdia, a roda tinha uma forma cilndrica,

    dividida ao meio por uma divisria, e era fixada no muro ou na janela de uma

    instituio. Esses cilindros rotatrios de madeira originaram-se nos monteiros econventos medievais, no qual eram utilizados como meios para receber objetos,

    alimentos e mensagens para os residentes, ainda ressalta a autora.

    De acordo com Arruda (2006), no Brasil, a Roda do Expostos foi uma das

    instituies de maior durao: na Colnia, perpassou e multiplicou-se no perodo

    imperial, conseguiu manter-se durante a Repblica e s foi extinta definitivamente na

    recente dcada de 1950!.

    A roda evitou que centenas de crianas fossem abandonadas nas ruas,

    porm sua existncia trazia consigo uma forma de incentivo ao abandono devido

    facilidade em deixar a criana para que esta fosse cuidada pela instituio. Este

    modelo de atendimento perdurou no Brasil at o perodo da Repblica quando

    houve a organizao da assistncia infncia no pas e tambm com a interferncia

    da ao normativa do Estado. (RIZZINI, 1993).

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    23/75

    22

    Entretanto, como era impossvel dar conta de todas as crianas

    abandonadas, pois o trabalho era uma tarefa pesada, demorada e difcil, muitas

    destas crianas acabavam por perambular pelas ruas, prostituindo-se ou vivendo de

    esmolas e pequenos furtos. Pois as Santas Casas de Misericrdia que eram

    responsveis no tinham mais condies de cuid-las.

    Em 1700, um rico comerciante deixou toda sua herana para a Santa Casa de

    Misericrdia da Bahia, para a fundao do primeiro Recolhimento destinado ao

    amparo das meninas pobres. Sobre recolhimentos de menores, relata Arruda (2006),

    estes seriam complementares a roda, tendo como objetivo principal proteger a honra

    das meninas, oferecer instruo, treinamento pessoal e fornecer um dote para o seufuturo casamento.

    Marcilio (1998, p.164) aponta que o termo recolhimento, era usado para

    identificar instituies femininas de recluso, erguido com fins devocionais,

    caritativos ou educacionais. O segundo Recolhimento para meninas foi criado em

    1739 no Rio de Janeiro. Porm era possvel verificar divisores raciais dentro dos

    recolhimentos. Desta forma para rfs brancas era oferecida a formao religiosa,moral e prtica de boas empregadas domsticas e donas-de-casa, para as meninas

    de cor era oferecida a formao de empregadas domsticas e semelhantes (Irma

    RIZZINI 1993 apud RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.27).

    Em 1825 foi criado o Seminrio da Gloria, recolhimento para meninas em So

    Paulo. Em tais abrigos, exercia-se um intenso controle sobre a sexualidade. Birolli

    (2000, p. 170) afirma que:

    Havia uma seleo para saber para onde as meninas deveriam serencaminhadas: quando virgens poderiam ir, para os mais diversosrecolhimentos, caso contrrio, eram enviadas ao Asilo Bom Pastor que foicriado 1985, e era a nica instituio que se propunha ao trabalho derecuperar as meninas perdidas. Neste asilo havia uma seo especialonde as meninas que eram ali recolhidas vinham mandadas pelos tutores eat pelos prprios pais, quer seja para castiga-las, quer seja por vergonhadiante da perda da virgindade das filhas.

    Com relao aos meninos, se tornava mais problemtico, devido ao fato deno haver uma preocupao com honra e virtude. Informa Marcilio (1998, p.178)

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    24/75

    23

    Como eles no eram alvo das mesmas preocupaes com a honra e virtude, como

    no caso das meninas, raras foram as instituies criadas para proteg-los, antes

    meados do sculo XIX. Ainda menciona o autor, a primeira instituio para cuidar

    dos meninos abandonados foi a Casa Pia e o Seminrio de So Joaquim, na cidade

    de Salvador. A segunda foi criada em So Paulo em 1824, seminrio de Santana.

    Posteriormente surgiram as Companhias de Aprendizes Marinheiros e as

    Companhias de Aprendizes do Arsenal da Guerra, onde os meninos podiam

    permanecer por nove anos ou at atingir a maioridade. Aps aprenderem o oficio,

    eram encaminhados aos navios de guerra, conforme Nascimento (1999, p.75) as

    Companhias de Aprendizes Marinheiros, por exemplo, forneceram, entre 1840 e1888, 8.589 meninos aptos para o servio nos navios de guerra, contra 6.271

    homens recrutados fora e 460 voluntrios.

    Nos ltimos anos do Imprio, foram criadas vrias instituies para atender os

    imigrantes, considerando o grande fluxo migratrio naquele perodo. Como exemplo,

    aparece o Orfanato Cristvo Colombo, em 1895, que estava voltado ao amparo e

    educao de filhos de imigrantes italianos.

    Ainda segundo Arruda (2006), devido necessidade de desenvolver novos

    hbitos produtivos em substituio mo-de-obra escrava liberta, surgiram novas

    formas assistenciais em So Paulo.

    Galvo (2005) ressalta que a infncia desponta como parte da questo social

    no final do sculo XIX, a partir da adoo do modelo republicano, marcado pelaindustrializao e pelo crescimento de duas grandes cidades, Rio de Janeiro e So

    Paulo, pela abolio da escravatura, pela criao da fora de trabalho livre urbana e

    forte onda de imigrao do estrangeiro (p.10). Completa Sposati (1988, p.103),

    entre o sculo XIX e o inicio do sculo XX varias instituies foram criadas. Tendo

    como consequncia um novo olhar sobre a assistncia infncia no Brasil.

    Se a grande questo do Imprio brasileiro repousou na ilustrao do povo,

    sob a perspectiva da formao da fora do trabalho, da colonizao do pase da conteno das massas desvalidas, no perodo republicano a tnicacentrou-se na identificao e no estudo das categorias necessitadas de

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    25/75

    24

    proteo e reforma, visando ao melhor aparelhamento institucional capaz desalvar a infncia brasileira no sculo XX. (RIZZINI, 2004, p.28).

    Desta forma, afirma Arruda (2006), tanto o processo de industrializao, bemcomo o crescimento demogrfico, a concentrao urbana das populaes e o

    aumento dos ndices de pobreza colocaram em evidncia a criana e o adolescente

    abandonado e/ou infrator. Isto levou a uma exigncia de respostas do Estado

    questo que vinha se configurando, pois as instituies filantrpicas j existentes

    que atendiam adolescentes, no queriam acolher jovens incriminados

    judicialmente.

    Salienta a autora, diante de tantas presses, o Estado cria vrias instituies

    de regime prisional para o atendimento destes menores no Brasil. Em 1902 surge o

    Instituto Disciplinar de So Paulo, posteriormente chamado de Reformatrio Modelo,

    esse instituto se deu em regime prisional com o objetivo de recuperar o jovem

    infrator.

    O movimento para elaborao de leis que protegessem e assistissem a

    infncia culmina no Rio de Janeiro, com a criao do primeiro Juzo de Menores do

    pas, na poca como foi chamado e na aprovao do Cdigo de Menores, em 1927,

    idealizado por Mello Mattos, que foi o primeiro juiz de menores do Brasil.

    O referido Cdigo baseava-se no direito do juiz em tutelar o menor emsituao irregular, configurando-se como objeto de medidas [...] o controlesocial dos menores em situao irregular quase sempre era estabelecidoatravs do internato provisrio, medida aplicada pelo juiz justificada pelaincapacidade dos pais em mant-los financeiramente o que no tivesse

    tempo e condies de faz-lo [...] (AZEVEDO, 2004, p.98).

    Segundo Galvo (2005), decorrente a criao do primeiro Cdigo de

    Menores, crianas e adolescentes passam a ser foco de polticas pblicas, deixando

    de ser objetos de caridade. O Cdigo trazia o iderio higienista, propondo-se a

    difundir as noes elementares de higiene infantil entre as famlias pobres,

    destacando-se a necessidade de vacinao e de proteo s crianas, aos doentes

    e aos moralmente abandonados (Vieira, 2003 apud Galvo, 2005, p.09).

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    26/75

    25

    Rizzini e Rizzini (2004) retratam o teor preconceituoso acerca do modo como

    eram rotulados os menores:

    A produo discursiva de todo o perodo da forte presena do Estado no

    internamento de menores fascinante, pelo grau de certeza cientfica com

    que as famlias populares e seus filhos eram rotulados de incapazes,

    insensveis, e uma infinidade de rtulos. (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.31)

    Assim, a preocupao com a infncia pobre era de que a mesma futuramente

    constitui-se uma classe perigosa.

    Ressalta Arruda (2006), em 1941, no Rio de Janeiro, implantado pelo

    governo de Getlio Vargas o Servio de Assistncia ao Menor (SAM). Neste

    perodo, era preciso intervir junto ao menor em nome da defesa nacional. Segundo a

    autora, o SAM criou fama de fabricar criminosos. A passagem pelo SAM tornava o

    jovem temido e rotulado. Eram feitas vrias denncias em relao a esse servio.

    Em So Paulo, a partir da dcada de 40, a situao dos menores institucionalizados

    tornou-se foco de discusses, principalmente devido violncia nos internatos.

    Atravs destas discusses, o Juizado de Menores de So Paulo instituiu,

    atravs da Lei de Colocao Familiar, o Servio de Colocao Familiar, em 1949.

    Tinha por objetivo evitar a internao dos jovens, garantindo-lhes o direito a um

    ambiente familiar e com recursos materiais possibilitadores de atendimento s suas

    necessidades naturais de crescimento e desenvolvimento (Arruda, 2006, p.30).

    Essa lei permitia ento, alm da ao de colocao em lar substituto, o atendimento

    do menor em seu prprio meio familiar.

    A famlialevanta a autora, passa a ser defendida como valor universal e nica

    soluo para atingir o bem-estar do menor. Portanto, recai sobre a famlia a

    responsabilidade pelo abandono e delinquncia. Assim, punia-se com a perda do

    poder familiar os pais que no tivessem possibilidade de prover as necessidades

    bsicas das crianas e adolescentes.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    27/75

    26

    Em 1964, ocorre com o golpe Militar, desponta um governo marcado pela

    restrio de direitos. instituda, neste regime, a Poltica Nacional do Bem Estar

    do Menor (PNBM) e, como agente executora desta poltica, surge a Fundao

    Nacional do BemEstar do Menor (FUNABEM). Desta forma, a questo do menor

    inserida nos aspectos psicossociais da poltica de segurana, uma vez que

    problemas sociais tais como o abandono e corrupo de menores poderiam

    desencadear uma desestabilizao da ordem vigente (GALVO, 2005).

    Entretanto, segundo Arruda (2006), apesar da tnica de no internao, a

    censura e o silncio auxiliavam poderosamente os oficiais a manterem a poltica de

    internao nas piores condies que fossem, longe dos olhos e ouvidos dapopulao (p.31).

    Rizzini e Rizzini (2004) informam que:

    De 1967 a 1972, havia-se recolhido das ruas, na cidade do Rio de Janeiro,cerca de 53 mil crianas. Em so Paulo, eram 33 mil internos, valorizandoassim, a ao institucional pela demonstrao da gravidade do problemados menores.(RIZZINI E RIZZINI 2004, p.37)

    Na cidade de So Paulo, era comum enviar crianas para internatos no

    interior. Assim, afastava-se a criana da famlia, realizando uma limpeza nas ruas

    da cidade. As crianas eram internadas onde houvesse vagas, independente do

    local da moradia da famlia.

    De acordo com Azevedo (2004), Em 1979 foi instaurado o Novo Cdigo de

    Menores. Nele o Estado isento da responsabilidade de manter a subsistncia de

    crianas e adolescentes, sendo esta repassada aos pais. Dessa maneira, a lei no

    levava em considerao as condies de vida precrias de grande parte das famlias

    brasileiras. Os pais que no cumprissem seu dever eram punidos, podendo at

    perder os filhos. Dessa forma:

    [...]O menor passou a ser definido como em situao irregular quandoprivado, ainda que temporariamente, de condies essenciais a sua

    subsistncia, sade e instruo. Essa nova lgica continuava atribuindo aospais ou responsveis o encargo pelas privaes da menoridade (SANTOS,2004, p.122).

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    28/75

    27

    Somando todas essas aes em favor da criana e do adolescente, a partir

    da dcada de 1980, a historia da institucionalizao de crianas e adolescentes

    toma outros caminhos. Outras questes tambm comeavam a mobilizar mudanas:o fortalecimento da cultura democrtica; a presso dos movimentos sociais; vrios

    estudos que demonstravam os prejuzos da institucionalizao para o

    desenvolvimento das crianas e adolescentes (RIZZINI e RIZZINI, 2004, P.64). Em

    1987 ocorre a instalao do SOS Criana, que agiu como uma central de triagem e

    encaminhamento de crianas e adolescentes para um abrigamento.

    J em 1990, levanta Arruda (2006), includo o artigo 227 na Constituio

    Federal:

    Art.227 dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar crianae ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria,alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao,explorao, crueldade e opresso. (Brasil Constituio da RepblicaFederativa do Brasil; 2001: 135,136).

    A Constituio Cidad reafirmou os direitos j garantidos pela Declarao

    Universal dos Direitos do Homem e pela Declarao dos Direitos da Criana, ambas

    elaboradas pela ONU e tambm ressaltou a importncia do direito de crianas e

    adolescentes convivncia familiar e comunitria.

    Ainda no mesmo ano, institudo o Estatuto da Criana e do Adolescente

    (ECA). Trata-se de um marco para os direitos da populao infanto-juvenil brasileira.

    Desta forma, instala-se o paradigma de direitos e proteo integral criana e ao

    adolescente. Portanto, determinada uma nova forma de gesto participativa entre

    Estado e Sociedade. A partir do ECA, afirma Galvo (2005), passa-se a exigir um

    novo padro de atuao do Poder Pblico. Houve uma descentralizao, uma

    ampliao das responsabilidades do poder local, assim como um desenvolvimento

    da poltica social. Criando assim, os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacionais

    da Criana e Adolescente. Em relao sociedade civil, foi conferido o direito de

    participao na definio de diretrizes e acompanhamento do programa atravs doConselho de Direitos e Conselho Tutelar.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    29/75

    28

    O Estatuto refora a proposta da desinstitucionalizao, que j vinha

    ganhando fora atravs dos movimentos sociais da poca buscando romper com as

    antigas prticas de institucionalizao. Portanto o ECA traz em seu contedo um

    captulo exclusivamente voltado para o direito convivncia familiar e comunitria e

    ressalta em seu artigo 19 que toda criana ou adolescente tem direito a ser criado

    no seio de sua famlia. (Brasil, 1990) O Estatuto prioriza o direito convivncia

    familiar e comunitria, entendendo que a famlia a estrutura vital para o

    desenvolvimento das pessoas e a base social do Estado. A partir deste

    entendimento prev que o acolhimento institucional e/ou a internao devem ser

    utilizados em ltima instncia, quando todas as alternativas possveis forem

    esgotadas.

    Concomitante a criao do ECA, ocorre tambm a aprovao da Lei Orgnica

    da Assistncia Social em 07 de dezembro de 1993, com a finalidade de reforar a

    necessidade de se continuar avanando na estruturao de servios de qualidade

    na rea da infncia e da adolescncia em situao de abandono, encontrando-se

    em vigor at os dias atuais.

    Assim, conclui-se que as mudanas constitucionais que dizem respeito a

    proteo de criana e adolescentes, permitiu que as mesmas fossem reconhecidas

    como pessoas em peculiar estgio de desenvolvimento necessitando assim de

    proteo integral e especial da famlia, da sociedade e do Estado, sendo este ltimo

    responsvel pela criao e execuo de polticas pblicas especficas para a

    garantia dos direitos fundamentais deste grupo.

    1.2 O QUE DEFINE ADOLESCNCIA

    Sendo os sujeitos da pesquisa adolescentes em situao de acolhimento

    institucional, se torna necessrio entender como se define essa fase, conceituar

    adolescncia se torna um desafio visto que um termo repleto de anlises. O

    perodo da adolescncia a fase de vida do ser humano em que o sistema biolgico

    de transio sai da infncia e entra na vida adulta. De acordo com a psicanalista

    argentina Aberastury (1981, p.89). [...] a criana, queira ou no, v -se obrigada a

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    30/75

    29

    entrar no mundo adulto, essa expresso resume notoriamente este momento

    singular, pelo qual todo sujeito vivencia.

    Uma palavra com dupla origem etimolgica caracteriza muito bem as

    peculiaridades desta etapa da vida. Ela vem do latim ad (a, para) e olecer (crescer),

    significando a condio de processo de crescimento. Em resumo, o individuo apto

    para crescer. A adolescncia tambm deriva do adolescer, origem da palavra

    adoecer, temos assim, nesta dupla origem etimolgica, um elemento para pensar

    esta etapa da vida: aptido para crescer no apenas no sentido fsico mais tambm

    psquico e para adoecer em termos de sofrimento emocional, com a s

    transformaes biolgicas e mentais que operam nesta faixa da vida (OUTEIRAL,1994 P.06).

    De acordo com Tiba (1986), a palavra adolescncia vem do latim adolescer

    e seu significado crescer, tornar-se maior, desenvolver-se e por fim atingir a

    maioridade. Sendo que, a adolescncia um processo em que o ser humano passa

    por um desenvolvimento, uma fase importantssima na vida de qualquer individuo,

    fase ativa que ocorre s mudanas biolgicas e psicolgicas para formao daidentidade, estando tambm relacionadas aos fatores socioeconmicos, histrico e

    cultural existente no meio familiar, na sociedade etc., ou seja, no meio em que vive.

    Para Becker (1994), adolescncia esta numa fase conflituosa de mudana

    de identidade e da personalidade sendo o adolescente encarado pelos adultos como

    um ser em desenvolvimento e conflito. Fase ocorrida depois da infncia, a

    adolescncia vista como uma pedra no caminho para a entrada na vida social,havendo uma separao escolar devido pressa em chegar a vida adulta como

    explica o autor:

    Com ascenso da burguesia como classe dominante, houve mudanas naestrutura escolar, surgindo formao primria e secundria. Assim, aidade, classe escolar e adolescncia passou a ser melhor distinguida(Becker, 1994, p.58).

    Assim, sendo a adolescncia um perodo em que o sujeito se v a frente h

    muitos desafios, descobertas, frustaes e conquistas. um momento de

    transformaes biopsicossociais que fazem parte do referido perodo. Cada vez

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    31/75

    30

    mais os adolescentes procuram sua autonomia e independncia, principalmente a

    financeira, em relao aos pais ou aos adultos em geral. Procuram se diferenciar

    dos moldes j existentes e buscam novas formas de construir sua identidade.

    Segundo o ECA no seu art. 2, adolescente aquela pessoa que tem entre 12

    anos completos e 18 anos incompletos de idade, mas em casos expressos em lei,

    aplica-se excepcionalmente este Estatuto as pessoas entre dezoito e vinte e um

    anos de idade. Reconhecendo que o adolescente para o pleno e harmonioso

    desenvolvimento de sua personalidade, em virtude da sua ausncia de maturidade,

    necessita de proteo e cuidados especiais, inclusive a devida proteo legal, tanto

    antes quanto aps o nascimento. (ECA, 1990).

    Para Georges (2008), a adolescncia um processo de crescimento e

    transformao que leva o jovem a chegar at a maioridade, tornando-se adulto, ou

    seja, a adolescncia sucede na passagem da fase da criana para a adulta, sendo o

    momento em que a pessoa sofre modificaes e transformaes no comportamento,

    portanto podemos afirmar que adolescente aquele individuo em transformao.

    durante a adolescncia que se observa, com mais nitidez, a relao entre

    as necessidades biolgicas e as necessidades culturais, que Vygotsky (1996),

    descreve por interesses. Assim, com o amadurecimento e apario de novas

    atraes e necessidades internas: o que antes no despertava interesse pode se

    converter em objeto fundamental.

    Portanto, para Vygotsky (1996), possvel dizer sobre as etapas daadolescncia como um processo na formao da personalidade, onde h um

    movimento dinmico, com diferentes fases e etapas distintas de desenvolvimento de

    novos interesses. Estas etapas coincidem com o ritmo de amadurecimento biolgico.

    Para o autor russo, so precisamente descritas trs fases da adolescncia: o

    crescimento (processo de desenvolvimento do organismo); a crise (processos

    crticos e novos de mudanas violentas); e amadurecimento (processos que vo

    configurar os elementos internos do adulto). Estas fases determinaro

    fundamentalmente o estado de amadurecimento sexual, caracterizado atravs de

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    32/75

    31

    um novo sistema de atraes orgnicas, onde aparecem novas necessidades e

    impulsos, que constituiro a base de todo o sistema de interesse do adolescente.

    A adolescncia caracterizada por uma gama de sentimentos diversos,

    indescritveis e inexplicveis. Os desejos e as aes dos jovens so imprevisveis, o

    que bom hoje, pode no ser amanh.

    Uma das tarefas essenciais da adolescncia a estruturao da identidade.Embora comece a ser construda desde o inicio da vida do indivduo, naadolescncia que ela se define se encaminha para um perfil tornando estaexperincia um dos elementos principais do processo adolescente(OUTEIRAL, 1994, p.71).

    Para Groppo (2000, p. 12), a importncia do aprofundamento dessa categoria

    social se d para o entendimento de diversas caractersticas das sociedades

    modernas, o funcionamento delas e suas transformaes. Para a maior parte dos

    estudiosos do desenvolvimento humano, ser adolescente viver um perodo de

    mudanas fsicas, cognitivas e sociais que, juntas, ajudam a traar o perfil da

    populao.

    A adolescncia , portanto, o perodo situado entre a infncia e a vidaadulta e vai se configurar basicamente numa srie de mudanas em todosos nveis dos ser, adicionada da experimentao de das essas novidadesfsicas, hormonais, intelectuais, culturais, emocionais, familiares, sociais,morais, etc. (PIGOZZI, 2002, p. 26).

    Ressalta Teixeira (2003), que a adolescncia adquiriu diferentes

    configuraes na histria das civilizaes. At o sec. XVIII, o indivduo passava da

    infncia para a fase adulta, onde ele convivia e aprendia com os adultos sobre a vida

    e como deveria se comportar socialmente. Somente no sculo XIX, que aadolescncia passou a ser definida com caractersticas especficas, que

    diferenciavam-na da infncia e da idade adulta. Dessa forma a adolescncia e a

    juventude, provavelmente, diferem-se pelo fato da primeira estar mais prxima

    infncia e a segunda vida adulta, maturidade.

    Na etapa da adolescncia, o jovem depara com grandes mudanas, adquire

    novas habilidades e enfrenta diversos desafios (Steinberg, 1999). A realidade da

    institucionalizao pode ser uma destas grandes mudanas.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    33/75

    32

    1.3 ADOLESCENTES EM SITUAO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E

    O SERVIO SOCIAL NESSE CONEXTO

    Goffman (2007, p.11), em suas pesquisas sobre modelos institucionais,

    priorizou as chamadas instituies totais. Caracterizando instituio total como um

    local de residncia e trabalho onde um determinado nmero de indivduos com

    situao semelhante, separados da sociedade mais ampla por considervel perodo

    de tempo levam uma vida fechada e administrada. Destacando que todas as

    instituies tm tendncias ao fechamento:

    Quando resenhamos as diferentes instituies de nossa sociedadeocidental, verificamos que algumas so muito mais fechadas do que outras.Seu fechamento ou seu carter total simbolizado pela barreira emrelao com o mundo externo e por proibies sada que muitas vezesesto includas no esquema fsico [...]. A tais estabelecimentos dou o nomede instituies totais [...]. (GOFFMAN, 2007, p.16).

    Nesse contexto o autor as elenca em cinco tipos de instituies totais:

    1. Para cuidar de pessoas incapazes e inofensivas (rfos, indigentes).

    2. Para cuidar de pessoas incapazes de cuidar de si e que ameaam a sociedade,

    embora no

    intencionalmente (doentes mentais, leprosos, tuberculosos).

    3. Proteger a comunidade de perigos intencionais (cadeias, penitenciarias).

    4. Realizar de modo mais adequado uma tarefa de trabalho (quartis, internatos,

    colnias)

    5. Refugiar-se do mundo, locais de instruo religiosos (conventos, mosteiros).

    Segundo Rizzini e Rizzini (2004), a institucionalizao faz parte de uma longa

    realidade histrica do pas. Por isso o fato continua eminente e provocando debates

    com objetivo de alternativas urgentes para essa situao. As autoras tambm

    ressaltam que na atualidade o tema apresenta maior conscientizao da

    necessidade de focar a ateno para as causas dos problemas que tm levado a

    abrigagem, termo como era utilizado antigamente a questo do acolhimento de

    crianas e adolescentes e a eminncia de buscar formas de apoiar e possibilitar a

    permanncia dos mesmos junto s suas famlias e comunidades.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    34/75

    33

    Segundo Ferreira (1995), abrigo no contexto de institucionalizao definido

    como: 1- lugar que abriga; refgio; moradia; abrigada; abrigadouro. 2- cobertura,

    teto. 3. casa de assistncia social onde se recolhem pobres, velhos, rfos ou

    desamparados.4- local que oferece proteo contra os rigores do sol, da chuva, do

    mar ou do vento. 5- tnel, caverna ou construo subterrnea usada como refgio e

    para proteo durante ataques areos. 6- agasalho, em geral, impermevel, usado

    em ocasio de mau tempo. 7- asilo, amparo, socorro, proteo.

    O termo abrigo nasceu com a discusso do ECA, na dcada de 80. De

    acordo com a histria, eram instituies que tinham como objetivo separar do

    espao pblico aquilo que provocava desordem social e ia contra a dignidadehumana, neste caso o abandono e maus-tratos de crianas. Durante sculos, essa

    opinio influenciou a formulao de polticas de proteo aos pobres, rfos e

    abandonados. Colaborou para conservar a ideia de que o acolhimento de crianas

    em instituies a medida social mais ajustada em situaes de risco.

    O acolhimento institucional um atendimento voltado s crianas e

    adolescentes que, de alguma maneira, tiveram seus direitos ameaados ou violados,por isso necessitaram ser afastados do convvio familiar de modo temporrio. Essa

    medida est prevista no Estatuto da Criana e do Adolescente, sendo que o termo

    abrigamento, que antes definia a situao, foi substitudo (com a Lei 12.010/09

    Lei da adoo) pela terminologia acolhimentoinstitucional.

    O desenvolvimento dos abrigos surge primeiramente com objetivos

    higienistas e correcionais. Aps a promulgao da Constituio Brasileira de 1988 edo Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), os abrigos passam a figurar como

    uma medida de proteo provisria. Artigo (92 e 100) do estatuto: a

    excepcionalidade e a brevidade do programa de Acolhimento Institucional, obrigando

    que se assegure a preservao dos vnculos familiares e a integrao em famlia

    substituta quando esgotados todos os recursos de manuteno na famlia de

    origem

    O ECA estabelece que o abrigo deve ser uma medida protetiva, excepcional

    e provisria, que visa, em um primeiro momento, retirar a criana ou o adolescente

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    35/75

    34

    da situao de risco em que se encontra (ABAID 2008, p.50).Desta forma, tem por

    funo atender as necessidades diversas do individuo em desenvolvimento.

    Entretanto, tal medida dever ser temporria at que a famlia biolgica esteja

    preparada para receber a criana ou o adolescente novamente ou acontea a

    insero destas em outro lar autorizado judicialmente.

    A medida aplicada a qualquer criana e adolescente, violados ou

    ameaados em seus direitos bsicos, pela ao ou omisso do Estado, omisso ou

    abuso dos responsveis, ou tambm em razo de sua prpria conduta, quando

    considerada inadequada (FERNANDES, SANTOS, e GOTIJO, 2007).

    De acordo com Cavalcante, Magalhes e Pontes (2007), a separao

    involuntria dos pais, bem como a exposio explorao, violncia e abuso, tanto

    dentro do prprio lar como externamente, servem como justificativas para a longa

    permanncia de crianas e adolescentes em instituies abertas ou fechadas, como

    abrigos, orfanatos, internatos, hospitais e unidades psiquitricas.

    Azevedo e Guerra (2000) descrevem que nos abrigos pode ser encontradoum perfil de crianas e jovens que incluir: as mal amadas, que sofrem as mais

    variadas formas de abusos afetivos; as mrtires, que acabam sucumbindo s vrias

    formas de violncia; as abandonadas, que foram atingidas pela negligncia e

    desamparo; as comercializadas, que foram transformadas em mercadorias na rede

    de prostituio e crime organizado; as trabalhadoras, que se tornaram

    mantenedoras da prpria famlia; e as marginais, que encontraram no furto uma

    forma de subsistncia.

    No interior de um quadro de extrema pobreza vivida pela famlia, muitascrianas acabam indo para um abrigo, so abandonadas ou entregues emadoo. So crianas que tm a violncia social como cenrio de circulaomesmo antes do seu nascimento, perodo em que as mes no tiveramacesso a servios apropriados para o atendimento pr e perinatal [...](FVERO, 2007, p. 16).

    As medidas de proteo como o abrigamento so consideradas necessrias

    quando, de acordo com Siqueira e DellAglio (2006), a famlia no desempenha o

    seu papel de apoio e proteo, tornando-se um fator de risco tanto para o

    desenvolvimento como bem-estar de crianas e adolescentes.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    36/75

    35

    As autoras Rizzini, Rizzini, Naif e Baptista (2006), referem como principais

    causas do afastamento de crianas e adolescentes de suas famlias, situaes

    classificadas como violaes de direitos da criana e do adolescente (ECA, 1990),

    caso da violncia intra-familiar, como abuso fsico, negligncia, abuso sexual, entre

    outros. As autoras salientam ainda que quando h possibilidades de superao

    desses problemas, a situao de pobreza, que se mantm, acaba sendo outro

    obstculo, por essa condio poder refletir em ameaas aos direitos da criana e

    adolescentes.

    Segundo Azevedo e Guerra (2000), as crianas institucionalizas so aquelas

    que na maioria foram vtimas de uma violncia marcada pela dominao de classese desigualdade social, que requerem a proteo do Estado. Uma violncia dita como

    estrutural, caracterstica do sistema econmico e poltico que atinge principalmente

    as camadas menos favorecidas. De acordo com as autoras, estas crianas e

    adolescentes so consideradas de alto-risco, pois foram violados seus direitos

    humanos mais elementares, como a vida, alimentao, sade, educao,

    segurana, lazer, moradia etc.

    De acordo com Cavalcante, Magalhes e Pontes (2007), a separao

    involuntria dos pais, bem como a exposio explorao, violncia e abuso, tanto

    dentro do prprio lar como externamente, servem como justificativas para a longa

    permanncia de crianas e adolescentes em instituies abertas ou fechadas, como

    abrigos, orfanatos, internatos, hospitais e unidades psiquitricas.

    Como j mencionado, no ECA o acolhimento definido como uma medida deproteo. Desse modo, as unidades de acolhimento so como uma moradia

    alternativa, onde os acolhidos ali permanecem at o retorno para sua famlia ou a

    colocao em famlia substituta, no qual um novo lar, um novo ambiente no qual o

    adolescente em questo ser encaminhado.Historicamente, crianas e adolescentes

    recebiam o mesmo tipo de atendimento, independente da situao em que se

    encontrassem. A legislao j no permite mais essa prtica, visto que, dividiu as

    formas de proteo em modalidades diversas. Ocorre assim a distino entre

    medida protetiva e medida socioeducativa.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    37/75

    36

    As medidas socioeducativas no so aplicveis s crianas, mas apenas aos

    adolescentes, ou seja, aqueles entre doze e dezoito anos de idade. Para aqueles

    que possuem idade inferior, apenas as medidas de proteo lhe so encaminhadas,

    qualquer que seja sua ao.

    [...] a criana tambm pratica ato infracional, mas a ela no so aplicveismedidas socioeducativas, apenas medidas de proteo [...] ao adolescente,podem ser aplicadas medidas scio-educativas ou medidas de proteo(BARROS, 2010, p. 143).

    A aplicao dessas medidas so modos de responsabilizar o adolescente

    infrator, sendo que as caractersticas da infrao so consideradas, assim como a

    situao do delito e a capacidade do adolescente em cumprir a medida.

    Ao contrario das medidas socioeducativas, as de proteo abrangem crianas

    e adolescentes. Seu foco a proteo dos sujeitos que tiveram ameaados ou

    violados seus direitos (por ao ou omisso do estado; por falta, omisso ou abuso

    dos pais ou responsvel; ou em razo de sua condutaartigo 98 do ECA) previstos

    na legislao protetiva, tais como vida, sade, educao, lazer, entre outros, e,

    desse modo, precisam afastar-se da convivncia com a famlia. As medidassocioeducativas tambm so para proteo, entretanto so aplicadas devido ao

    comportamento do adolescente, mas em termos legais no so vistas como

    punio.

    Para a realizao do acolhimento, o mesmo realizado atravs de Guia de

    Acolhimento onde esta solicitao feita por deciso da Justia da Infncia e da

    Juventude ou Conselho Tutelar, Defensoria Pblica e CREAS. De acordo com o 3

    pargrafo do artigo 101, no Guia de Acolhimento deve conter identificao dos pais

    ou responsveis; o endereo com ponto de referncia; os nomes de parentes ou

    terceiros interessados em ter a guarda do abrigado e, por fim, os motivos para a

    retirada ou no reintegrao ao convvio familiar.

    Cada criana e adolescente, possui suas peculiaridades, por isso o trabalho

    dos abrigos e juizados volta-se para conhecer cada caso em suas particularidades,

    agindo assim nas causas do acolhimento. Devido a essas questes o Estatuto prev

    a necessidade de existir um plano individual de atendimento.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    38/75

    37

    Assim que a criana ou adolescente chegar ao servio de acolhimento, aequipe tcnica do servio, que, onde houver, poder contar com acontribuio da equipe responsvel pela superviso dos servios deacolhimento (ligada ao rgo gestor da Assistncia Social) para elaborar umPlano de Atendimento Individual e Familiar, no qual constem objetivos,

    estratgias e aes a serem desenvolvidos tendo em vista a superao dosmotivos que levaram ao afastamento do convvio e o atendimento dasnecessidades especficas de cada situao [...]. Tal Plano dever partir dassituaes identificadas no estudo diagnstico inicial que embasou oafastamento do convvio familiar (BRASIL, 2009, p. 33).

    Ao falar de acolhimento institucional fica invivel no fazer referncia ao

    Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e

    Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria PNCFC (2006). Este plano

    visa romper com a cultura da institucionalizao de crianas e adolescentes efortalecer a concepo de proteo integral e preservao dos vnculos familiares e

    comunitrios preconizados pelo Estatuto da Criana e do Adolescente. O documento

    ressalta que:

    A importncia da convivncia familiar e comunitria para a criana e oadolescente est reconhecida na Constituio Federal e no ECA, bem comoem outras legislaes e normativas nacionais e internacionais. Subjacente aeste reconhecimento est a ideia de que a convivncia familiar e

    comunitria fundamental para o desenvolvimento da criana e doadolescente, os quais no podem ser concebidos de modo dissociado desua famlia, do contexto scio-cultural e de todo o seu contexto de vida(BRASIL, 2006, p. 29).

    Para Simes (2006) a famlia constitui a instncia bsica, na qual o

    sentimento de pertencimento e identidade social desenvolvido e mantido e,

    tambm transmitidos os valores e condutas pessoais. Gradualmente Sarti (2004)

    nos afirma que ao se pensar e trabalhar com a famlia imprescindvel que se

    compreenda que no estudamos os indivduos em si, mas enfocamos todas as

    relaes que envolvem o contexto familiar.

    Desta forma, no possvel falar da atuao dos abrigos sem destacar que a

    famlia pea fundamental no trabalho de proteo integral a crianas e

    adolescentes. Quando h necessidade de afastamento do lar, os esforos voltam-se

    para que a reintegrao se d no menor tempo possvel e, especialmente, para que

    as referncias familiares no sejam perdidas. Para isso, buscar o fortalecimento e a

    manuteno dos vnculos afetivos entre os educandos e suas famlias essencial

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    39/75

    38

    nesse contexto. Somente quando no possvel, ocorre a reinsero em famlia

    substituta.

    Outro fator importante discutir o trabalho da rede social no enfrentamento da

    questo do Acolhimento Institucional de Adolescentes. A rede de que se fala

    aquela que articula diferentes polticas sociais bsicas em especial a sade,

    assistncia social e a educao, e ainda do envolvimento de polticas como

    habitao, lazer, trabalho, esporte e cultura; programas executores de proteo e de

    auxlio, orientao e promoo da famlia e aos recursos da comunidade que

    contribuem pra oferecer um rpido e eficaz atendimento s crianas e adolescentes.

    Para Rizzini (2004) os trabalhos em rede so:

    [...] linhas de aes ou trabalhos conjuntos para melhor atender snecessidades da vida social, cultural, material e afetiva. As redes soformaes dinmicas e flexveis, com continuada renovao dosparticipantes, o que requer certos cuidados para a sua continuidade. Asredes devem estar atentas ao movimento dos grupos e das organizaessociais (RIZZINI, 2004,p. 112).

    Destacamos assim nesse contexto, a interveno do(a) assistente social, pois

    esse profissional tem um importante papel no processo de constituio de uma rede

    social articulada e na gesto da mesma para que seja capaz de fazer o

    enfrentamento das situaes de vulnerabilidade e riscos sociais a que essas famlias

    esto submetidas e neste sentido atuar para o fortalecimento social dos membros.

    a interveno que d forma, caracteriza e determina o modo do fazerprofissional, desvelando a especificidade do Servio Social no campo dascincias sociais aplicadas. [...] desenvolve-se por um conjunto de aes

    com o usurio, com a equipe, nas diversas instncias institucionais e locais,espaos em que se manifestam as relaes objetivas e subjetivas. Nestesentido atravs da interveno que se operam os significados, os rumos,as mediaes, a intencionalidade da ao profissional, revelando, assim, osvalores morais, ticos e polticos. (RODRIGUES, 1999, p. 15).

    O trabalho profissional do Servio Social sempre foi uma das dimenses

    exaustivamente discutidas pela profisso, seja em espaos de formao acadmica

    ou de organizao da categoria. Essa discusso est ligada ao fato de que a

    profisso historicamente tem sido chamada a interveno na realidade. De acordo

    com Iamamoto e Carvalho (2011), o Servio Social nasceu no bojo da sociedade

    capitalista, na dcada de 1930, expressando o controle do Estado interventor com

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    40/75

    39

    as reinvindicaes da classe trabalhadora por melhores condies de trabalho e de

    vida. Nesse sentido, o Servio Social volta suas aes para o enfrentamento das

    expresses latentes da questo social que afetam a sociedade at os dias atuais.

    As aes profissionais do Servio Social no podem ser reduzidas a

    intervenes pontuais na realidade, mesmo que essas sejam necessrias, a

    construo terica da realidade no pode estar desvinculada do trabalho

    profissional. O espao de trabalho para o assistente social atualmente contempla a

    execuo de medidas socioeducativas, seja no mbito municipal, como a liberdade

    assistida e a prestao de servios comunidade, seja no estadual, como a

    semiliberdade e internao.

    O profissional de Servio Social deve sempre ter claro que o compromisso

    fundamental com a populao atendida, Martinelli destaca:

    No obstante estejamos trabalhando em profisses que so eminentementesociais, nem sempre percebemos exatamente quem esse outro com oqual trabalhamos. Nem sempre temos claro que sujeito esse. Em quantosmomentos esse outro visto de forma vulgarizada, banalizada, como se o

    centro de referncia da prtica fosse o profissional que a realiza e no osujeito que a constri conosco. [...] H ento uma inverso total de valores.As instituies existem para responder as demandas da populao.(MARTINELLI, 1999, P.13)

    O CFESS prope algumas normativas acerca das atribuies do assistente

    social na perspectiva da poltica de atendimento dos direitos da criana e

    adolescente (CFESS, 2010).

    - Lutar pela ampliao dos espaos de participao poltica do Servio Social

    com a finalidade de qualificar as discusses e o controle da efetivao dos direitos

    da criana e do adolescente;

    - Garantir subsdios categoria profissional e sociedade por meio de

    pareceres, notas e manifestaes referentes a temas e assuntos, inclusive matrias

    legislativas, que impliquem diretamente na garantia de direitos e/ou violao de

    direitos de crianas e adolescentes (reduo maioridade penal, ato infracional e

    reduo do tempo de internao, trabalho infantil, abuso e explorao sexual,metodologia de inquirio, entre outros);

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    41/75

    40

    - Promover debates que fomentem reflexes crticas e posicionamento das/os

    assistentes sociais em nome da garantia da prioridade absoluta e da proteo

    integral de crianas e adolescentes;

    - articula-se com entidades e movimentos sociais e populares em defesa de

    uma poltica integral, contrariando o carter das intervenes e medidas focalistas,

    seletivas e desconectadas das demais polticas pblicas e sociais;

    Portanto o profissional de Servio Social nas unidades de acolhimento precisa

    comprometer-se com a efetividade do atendimento realmente socioeducativo,

    situando seu trabalho na perspectiva da garantia de direitos. Logo aps a entrada do

    adolescente em unidades de acolhimento, faz-se necessrio, elaborar os objetivosda interveno junto ao mesmo, j que preciso considerar a particularidade de

    cada um. Trata-se do Plano Individual de Atendimento (PIA). A partir desse

    momento, podemos observar o trabalho do assistente social em trs dimenses que

    possuem interlocuo entre si: atendimento ao adolescente, famlia, por

    participao na unidade de acolhimento.

    Ao adolescente, pois a perspectiva deve ser a ateno integral do mesmo,busca-se nesses espaos de acolhimento orientar em relao a seus projetos de

    vida, necessidade de profissionalizao, escolarizao. Procura-se ainda nestes

    atendimentos trabalhar questes familiares, questes relacionadas ao dia a dia na

    unidade, sempre respeitando a disposio do mesmo para o dilogo. famlia por

    ser considerada alvo da interveno, j que tambm so participantes no processo

    socioeducativo, visto que o meio familiar , em geral, para onde o adolescente volta

    aps o acolhimento.

    Percebe-se que o acolhimento institucional o recurso recorrido em ltima

    instncia no caso de crianas e adolescentes em situao de risco e vulnerabilidade

    social, usado quando as outras opes foram esgotadas ou mostram-se ineficientes.

    A convivncia familiar priorizada assim como um atendimento individualizado em

    cada caso. A partir ento da peculiaridade de cada famlia, o profissional de

    desenvolver junto ao adolescente, estratgias para o fortalecimento dos vnculos.

    Participao na unidade de acolhimento, pelo fato do conhecimento da rotina da

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    42/75

    41

    unidade, da realidade institucional so fundamentais para que se alcance o que est

    sendo proposto.

    2. UNIDADE DE ACOLHIMENTO NOVA VIDA

    Segundo o ECA, acolhimento institucional uma medida de proteo, ou

    seja, tem como foco a proteo dos sujeitos que tiveram ameaados ou violados

    seus direitos por ao ou omisso do estado; por falta, omisso ou abuso dos pais

    ou responsvel; ou em razo de sua conduta artigo 98 do ECA previstos na

    legislao protetiva, tais como vida, sade, educao, lazer, entre outros, e, desse

    modo, precisam afastar-se da convivncia com a famlia. (ECA, 1990).

    2.1 A UNIDADE E SEUS MARCOS LEGAIS

    O Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), Lei Complementar n 8069,

    de 13 de Julho de 1990, juntamente com a Constituio Brasileira de 1988 so

    enfticos ao exigirem prioridade absoluta por parte da famlia, da sociedade e do

    Estado s necessidades das crianas e adolescentes. Pela Constituio Brasileira,

    meninos e meninas deixaram de ser propriedades de seus pais, passando a

    condies de sujeitos de direitos ou portadores de direitos especiais que precisam

    ser protegidos por causa de sua condio de pessoa humana em desenvolvimento

    fsico, moral e psicolgico.

    Mello e Silva (2004) reforam a responsabilidade do poder pblico no

    atendimento aos direitos da criana e do adolescente:

    Isso demonstra que as entidades no governamentais so atores relevantesna implementao das polticas de proteo especial infncia e adolescncia. A predominncia desse tipo de entidade na prestao deservios de abrigo refora ainda mais a responsabilidade do poder pblico federal, estadual e municipal no cumprimento de seu papel de coordenarum sistema, com vistas efetiva implementao de uma politica deproteo especial conforme prevista no ECA [...]. (MELLO E SILVA, 2004,P.75).

    Nesse sentido, as polticas servem para concretizar aquilo que assegurado

    em lei, compreendendo que no mbito de acolhimento institucional de crianas e

    adolescentes, o Estado e os demais rgos responsveis poderJudiciario, Ministerio

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    43/75

    42

    Pblico, Conselho Municipal dos Direitos da Criana e adolescente e Conselho

    Tutelar devem exigir tal cumprimento e o direcionamento da politica de atendimento

    no mbito da garantia de direitos s crianas e aos adolescentes, como preconiza a

    lei. Outro fator importante a mencionar da contribuio do setor privado que

    justificada no sentido de tambm agente responsvel pelo desenvolvimento dessa

    questo.

    A Unidade de Acolhimento Nova Vida, espao deste estudo, atua no

    acolhimento de adolescentes do sexo feminino que so encaminhadas pelas

    comarcas do Estado do Cear. De acordo com a coordenadora da casa, existia o

    Moacir Bezerra, um abrigo misto que na poca trabalhava com meninos e meninas.O mesmo fechou e em consequncia ocorreu a redistribuio de seus internos que

    foram encaminhados para outros locais de acolhimento. O Instituto de Assistncia e

    Proteo Social (IAPS) ficou responsvel pelas meninas que faziam parte do abrigo

    Moacir Bezerra, surgindo, dessa forma, a Unidade de Acolhimento Nova Vida,

    inaugurada no dia 17 de Junho de 2006.

    A Unidade gerenciada e mantida pelo IAPS uma ONG que tem gestocompartilhada com a Secretaria do Trabalho e desenvolvimento Social (STDS) do

    Governo do Estado, o local tambm conta com colaboradores so eles: Ao

    Cearense, empresa destinada a comercializar ferro para construo e derivados,

    realiza doaes em dinheiro para a casa, Projeto Vira Vida, um programa criado pelo

    SESI para dar oportunidade para adolescentes iniciarem sua carreira profissional,

    Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com palestras e aes fornecidas pelos alunos

    do curso de medicina, enfermagem, dentre outros, Igreja do Aviamento, localizadaprximo da casa que disponibiliza de um espao de lazer com piscina, cedido todas

    as quintas a instituio para o entretenimento das adolescentes.

    A Unidade de Acolhimento Nova Vida, trabalha com o acolhimento de

    adolescentes do sexo feminino, com faixa etria de 12 a 18 anos, em situao de

    negligncia familiar, maus tratos, abandono dentre outros motivoscomo preceitua o

    Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA). So meninas encaminhadas pelas

    Comarcas do Estado do Cear, a maioria das adolescentes acolhidas de

    comarcas com at mais de 400 km de distncia da capital.

  • 7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio

    44/75

    43

    A Unidade tem como objetivo geral prestar atendimento excepcional e

    transitrio para adolescentes do sexo feminino que se encontram em situao de

    risco pessoal e social com famlias temporariamente impossibilitadas de cumprir sua

    funo de proteo. Como objetivos especficos, a unidade trabalha no sentido de

    levantar o mximo de informaes dos familiares das adolescentes, manter aes

    destinadas ao no rompimento familiar e promover intervenes consistentes para

    que as relaes da famlia para com as adolescentes, quando possvel, sejam

    melhoradas. A cidadania e a autonomia das adolescentes tambm so trabalhadas

    pela instituio que procura preencher o tempo delas com atividades pedaggicas,

    cursos profissionalizantes e oficinas.

    Estando a criana e o adolescente em instituies de acolhimento, os artigos

    92 e 94 do ECA determinam:

    Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de abrigo devero adotar

    os seguintes princpios:

    Ipreservao dos vnculos familiares;

    II- integrao em famlia substituta, quando esgotados os recursos de

    manuteno na famlia de origem;III- atendimento personalizado e em pequenos grupos;

    IV- desenvolvimento de atividades em regime de co-educao;

    V- no desmembramento do grupo de irmos;

    VI- evitar, sempre que possvel, a transferncia para outras entidades de

    crianas e adolescentes abrigados;

    VII- participao na vida da comunidade local;

    VIII- preparao gradativa para o desligamento;IX- participao de pessoas da comunidade no processo educativo.

    Pargrafo nico. O dirigente de entidade de abrigo equiparado ao guardio,

    para todos os efeitos de direito.

    O artigo 94, tambm de fundamental importncia no que diz respeito ao

    trabalho em abrigo, em especifico:

    IV- preservar a identidade