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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA MECNICA
COMISSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA
Anlise de Ciclo de Vida Aplicada ao Processo Produtivo de Cermica Estrutural Tendo Como Insumo Energtico Capim Elefante
(Pennisetum Purpureum Schaum)
Autor: Omar Seye
Orientador: Lus Augusto Barbosa Cortez
89/06
i
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA MECNICA
COMISSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ENERGTICOS
Anlise de Ciclo de Vida Aplicada ao Processo Produtivo de Cermica Estrutural Tendo Como Insumo Energtico Capim Elefante
(Pennisetum Purpureum Schaum) Autor: Omar Seye
Orientador: Lus Augusto Barbosa Cortez
Curso: em Planejamento de Sistemas Energticos. Tese de doutorado apresentada Comisso de Ps-Graduao da Faculdade de Engenharia Mecnica, como requisito para a obteno do ttulo de Doutor em Planejamento de Sistemas Energticos.
Campinas, 2003 S.P. Brasil
ii
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA REA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE - UNICAMP
Se93a
Seye, Omar Anlise de ciclo de vida aplicada ao processo produtivo de cermica estrutural tendo como insumo energtico capim elefante (Pennisetum Purpureum Schaum) / Omar Seye.--Campinas, SP: [s.n.], 2003. Orientador: Lus Augusto Barbosa Cortez Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Mecnica. 1. Capim elefante. 2. Cermica Industria Meio ambiente. 3. Meio ambiente Desenvolvimento sustentvel. I. Cortez, Lus Augusto Barbosa. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Mecnica. III. Ttulo.
Titulo em Ingls: Life cycle assessment applied to the productive process of
structural ceramic tends as input energy elephant grass (Pennisetum Purpureum Schaum)
Palavras-chave em Ingls: Life cycle assessment, Elephant grass, Ceramics industry, Environment, Sustainable development
rea de concentrao: Titulao: Doutor em Planejamento de Sistemas Energticos Banca examinadora: Carlos Alberto Luengo, Electo Eduardo Silva Lora, Guilherme
Bezzon, Jos Dlcio Rocha Data da defesa: 22/10/2003
iv
Dedicatria:
A todos que influenciaram em minha formao social e acadmica,
em especial minha esposa, Astou Ndiaye Diaw
e meus filhos Makha Seye e Issaka Diaw Seye
v
Agradecimentos
Este trabalho no poderia ser terminado sem a ajuda de diversas pessoas s quais presto
minha homenagem:
Aos meus pais, pelo incentivo em todos os momentos da minha vida. Ao meu orientador, que me mostrou os caminhos a serem seguidos. A todos os professores, colegas e funcionrios que ajudaram de forma direta e
indireta na concluso deste trabalho.
vi
Aux mes bien nes la valeur nattend
point le nombre des annes
vii
Resumo Seye, Omar, Anlise de Ciclo de Vida Aplicada ao Processo Produtivo de Cermica Estrutural
tendo como Insumo Energtico Capim Elefante (Pennisetum Purpureum Schaum),
Campinas, Faculdade de Engenharia Mecnica, Universidade Estadual de Campinas, 2003.
147 p. Tese (Doutorado)
Para alcanar o desenvolvimento sustentvel a energia tem um papel chave, sendo
responsvel por boa parte da poluio em todas as atividades humanas. O uso de energias
renovveis altamente desejvel quando se quer reduzir ou eliminar essa poluio sem perder a
oportunidade de desenvolvimento de uma atividade produtiva qualquer. No presente trabalho
delimitou-se a atividade alvo como sendo o processo produtivo de cermica estrutural conhecida
como cermica vermelha. A indstria de cermica vermelha, em seus aspectos atuais, est
associada idia de degradao ambiental. Esta decorrente de impactos observados durante o seu
processo produtivo, pois, os seus produtos do-se com o uso de recursos naturais a argila
principal matria-prima e a lenha principal insumo energtico. Do ponto de visto econmico
o insumo energtico representa cerca de 35% do total dos gastos mensais para a produo dos
produtos cermicos. Estudou-se a alternativa de utilizar o Capim Elefante como insumo
energtico para atender as condies de sustentabilidade econmica e ambiental. A utilizao do
Capim Elefante em indstria de cermica vermelha tem caractersticas e dificuldades peculiares
que foram analisadas com cuidados para oferecer a melhor alternativa do ponto de vista tcnico,
econmico e ambiental. O Capim Elefante tem sido identificado como uma espcie altamente
eficiente para converter a energia solar incidente em energia qumica estocada nas plantas (ciclo
viii
fotossinttico C4), resultando num potencial para produo de matria seca. Sendo assim,
visando proporcionar uma anlise comparativa das diferentes etapas do processo produtivo de
cermica estrutural, mas, que tenha como insumo energtico o Capim Elefante, a metodologia de
anlise de ciclo de vida tem sido utilizada. O insumo energtico avaliado possui um considervel
potencial energtico e pode ser produzido de forma sustentvel. Com a anlise de impactos,
verificou-se que os poluentes gerados nas diferentes etapas do processo produtivo esto ligados,
principalmente, a seis impactos ambientais, sendo eles a chuva cida (kg SO2 eq.kg), toxidade
humana (kg 1-4 DCB eq./kg), oznio a baixa altitude (kg CFC 11 eq./kg), eutroficao (kg
PO43 eq /kg), aquecimento global (kg CO2 eq/ kg) e consumo de energia (GJ).
Palavras Chave
Anlise do Ciclo de Vida, Capim Elefante, Cermica Estrutural, Meio Ambiente,
Desenvolvimento Sustentvel.
ix
Abstract Seye, Omar, Life Cycle Assessment Applied to the Productive Process of Structural Ceramic
tends as Input Energy Elephant Grass (Pennisetum Purpureum Schaum), Campinas,
Faculdade de Engenharia Mecnica, Universidade Estadual de Campinas, 2003. 147 p.)
Doctoral Thesis
In order to meet the sustainable development, energy plays a significant role. The majority
of pollution in human activities is related to it. Renewable energies uses desired to reduce or
even eliminate the pollution without limiting the development of any industrial/business
opportunity. In the present work the activity objective was defined as being the productive
process of structural ceramic known as red ceramic. The industry of red ceramic, in its current
aspects, it is associated to the idea of environmental degradation. This due to impacts observed
during its productive process, because, its products are given with the use of natural resources the
clay - main raw material - and the firewood - main energy input. Of the economic aspect the
energy input represents about 35% of the total of the monthly expenses for the production of the
ceramic products. It was studied the alternative of using the elephant grass as energy input to
assist the conditions of economic and environmental sustainable. The use of the elephant grass in
industry of red ceramic has characteristics and peculiar difficulties that were analyzed with cares
to offer the best alternative of the technical, economic and environmental aspect. The elephant
grass has been identified highly as a species efficient to convert the incident solar energy in
chemical energy keeping in the plants (cycle photosynthesis C4), resulting in a potential for
production of dry matter. Being like this, seeking to provide a comparative analysis of the
x
different stages of the productive process of structural ceramic, but, that he/she has as energy
input the elephant grass, the methodology of life cycle assessment has been used. The appraised
energy input possesses a considerable energy potential and it can be produced in a maintainable
way. With the analysis of impacts, it was verified that the pollution generated in the different
stages of the productive process is tied up, mainly, to six environmental impacts, being them the
acid rain (kg SO2 eq.kg), human toxic (kg 1-4 DCB eq. /kg), ozone the low altitude (kg CFC - 11
eq. /kg), eutrofication (kg PO43 eq /kg), global heating (kg CO2 eq / kg) and consumption of
energy (GJ).
Key Words
Life Cycle Assessment, Elephant Grass, Ceramics Industry; Environment; Sustainable Development
xi
ndice Lista de Figuras xv Lista de Tabelas xiii 1 - Introduo 1
1.1 Caracterizao da indstria de cermica estrutural 2
1.2 Objetivos do trabalho 9
1.3 A tese 10
1.4 Contribuio cientfica 11
2 A Biomassa como Fonte Alternativa de Energia 13
2.1 Definio 13
2.2 Contexto histrico 13
2.3 As motivaes para se considerar a biomassa como uma fonte de energia 14
2.4 Potencial da biomassa 19
2.5 Tecnologias de converso para uso moderno da biomassa 23
2.5.1 Combusto da biomassa 24
2.5.1.1 Definio e fundamentos 24
2.5.1.2 Influncia das propriedades do combustvel 27
2.5.1.3 Poluio do ar por produtos de combusto 28
3 Anlise de Ciclo de Vida (ACV) 33
3.1 Contexto geral 33
3.2 Evoluo histrica da ACV 36
3.3 Metodologias de anlise ambiental 38
xii
3.4 Objetivos de uma ACV 39
3.5 Metodologia de anlise de ciclo de vida 41
3.5.1 Definio dos objetivos e do escopo 42
3.5.1.1 Funo e unidade funcional 42
3.5.2 Anlise do Inventrio 43
3.5.2.1 Coleta e qualidade dos dados 44
3.5.2.2 Alocao 46
3.5.3 Anlise de impactos 47
3.5.3.1 Classificao 48
3.5.3.2 Caracterizao, normalizao e avaliao 49
3.5.4 Interpretao ou anlise de melhorias 49
3.5.4.1 Consistncia 50
3.5.4.2 Perfeio 50
3.5.4.3 Anlise de contribuio 51
3.5.4.4 Anlise de perturbao 51
3.5.4.5 Anlise de sensibilidade e incerteza 51
3.6 Limitaes 52
4 Experincias de Queima de Capim Elefante para a produo de tijolos 53
4.1 Caracterizao do Capim Elefante 54
4.1.1 Densidade a granel 54
4.1.2 Anlise qumica imediata 55
4.1.3 Anlise qumica elementar 56
4.1.4 Anlise do teor de lignina 56
4.1.5 Poder calorfico superior 57
4.1.6 Anlise termogravimtrica 58
4.2 Resultados dos testes de alimentao usando-se cavacos de madeira
e Capim Elefante 63
4.3 Testes de queima em forno de olaria 69
4.3.1 Caractersticas construtivas e de operao do forno 69
4.3.2 Resultados dos testes de queima com Capim Elefante 71
5 Aplicaes da Metodologia de Anlise de Ciclo de Vida em Processo Produtivo
xiii
de Cermica Estrutural tendo como Insumo Energtico o Capim Elefante 74
5.1 Definio dos objetivos e do escopo 74
5.1.1 Unidade funcional 75
5.1.2 Delimitao das fronteiras do sistema estudado 75
5.2 Anlise do inventrio 77
5.2.1 Produo e processamento do capim elefante 77
5.2.2 Balano energtico para um hectare de Capim Elefante 81
5.2.3 Extrao de argila 85
5.2.4 Transporte 87
5.2.5 Processo produtivo de cermica estrutural 88
5.3 Avaliao dos impactos 90
5.3.1 Classificao dos impactos 90
5.3.2 Indicadores de impacto 96
5.3.3 Quantificao das contribuies aos impactos 102
5.3.3.1 Plantio de capim 102
5.3.3.2 Extrao de argila 104
5.3.3.3 Transporte 106
5.3.3.4 Combusto 106
5.3.3.5 Clculo dos impactos 110
5.3.4 Interpretao dos resultados e resposta aos objetivos estabelecidos 113
5.3.4.1 Extrao da argila in natura 113
5.3.4.2 Produo do capim elefante 115
5.3.4.3 Anlise energtica 115
5.3.4.4 Processo de queima ou de produo 116
6 Anlise Tcnico - Econmica do Processo Produtivo de Cermica Estrutural
usando Capim Elefante como Insumo Energtico 117
7 Concluses e consideraes finais 127
7.1 Introduo 127
7.2 Extrao de argila 127
7.3 Transporte 128
7.4 Produo do capim elefante 129
xiv
7.5 produo e Queima de Tijolos 129
7.6 Anlise econmica 130
Referncias Bibliogrficas 131
Anexo 138
xv
Lista de figuras
1.1 Participao do Gs Natural e Gs Liquefeito de Petrleo no consumo de
energticos na indstria de cermica no ano 2003 6
1.2 Mdio percentual dos custos na Indstria Cermica 6
2.1 Consumo Mundial de Energia por Fonte 20
2.2 Oferta Mundial de Energia por Fonte 21
3.1 Etapas de um sistema de produo 35
3.2 Etapas de uma ACV e suas principais aplicaes 41
4.1 Curvas TG para diferentes condies e espcies (100k/min) 60
4.2 Curvas DTG para diferentes condies e espcies (100k/min) 60
4.3 Curvas TG para diferentes condies e espcies (60k/min) 61
4.4 Curvas DTG para diferentes condies e espcies (60k/min) 61
4.5 Curvas TG para diferentes condies e espcies (20k/min) 62
4.7 Comportamento do capim elefante no silo de alimentao 68
4.8 Seo transversal do forno 70
4.9 Seo transversal do forno mostrando o posicionamento dos termopares 70
4.10 Comportamento trmico das misturas testadas 72
5.1 Estrutura geral do sistema estudado 74
5.2 Fardos de capim elefante 79
5.3 Extrao de argila 84
5.4 Transporte de argila 86
xvi
5.5 Transporte de tijolos 87
5.6 Impactos totais no normalizados 111
5.7 reas degradadas 114
6.1 Planta dos galpes 119
xvii
Lista de Tabelas
1.1 A indstria da Cermica Vermelha no Brasil 2
1.2 Evoluo do consumo energtico no segmento cermico (Unidade: mil tep*) 3
1.3 Participao dos tipos de combustveis no consumo de energticos
do segmento cermico (unidade: %) 4
2.1 Reaes estequiomtricas de combusto 24
2.2 Resultados de anlises de cinzas do capim elefante produzido
no projeto PIB e de outras biomassas selecionadas na literatura 27
3.1 Indicadores de qualidade de dados em ACV 46
4.1 Resultados da anlise imediata para o capim elefante, bagao
e palha da cana-de-acar 55
4.2 Composio qumica do capim elefante comparado com bagao
e palha de cana-de-acar 56
4.3 Resultados do teor de lignina no capim elefante e na palha de
cana-de-acar 57
4.4 Anlise estatstica das variveis estudadas Cavaco de madeira 64
4.5 Anlise estatstica da varivel vazo mssica para capim elefante
e com velocidade de rotao da rosca-sem-fim de 2 r.p.m 65
4.6 Anlise estatstica da varivel vazo mssica para capim elefante
e com velocidade de rotao da rosca-sem-fim de 4 r.p.m 66
4.7 Propores de mistura, vazes e temperaturas mdias 71
5.1 Caractersticas fsico-qumicas do solo das duas regies 77
xviii
5.2 Energia de entrada Input energy 83
5.3 Nveis de energia 83
5.4 Classificao dos impactos 94
5.5 Indicadores relativos ao esgotamento das reservas 97
5.6 Fatores de emisses relativos emisso instantnea de 1 kg de gs 98
5.7 ODP ( Potencial de Deteriorao da camada de oznio) 99
5.8 Potencial de acidificao (AP) das principais substncias cidas 100
5.9 Potencial de eutroficao (NP) das principais substncias
base de azoto e fsforo 100
5.10 Resumo dos fatores de equivalncias ambientais 101
5.11 Estimativa das emisses devido ao plantio de capim elefante 102
5.12 Emisso de CH4 devido atividade de extrao de argila 104
5.13 Fatores de emisses para mquinas de minerao retroescavadeira 104
5.14 Quantificao das emisses devido ao consumo de combustvel
na atividade de escavao 104
5.15 Fatores de emisses para veculos de carga com consumo de 13,3 l/100 km 105
5.16 Quantificao das emisses na etapa de transporte da argila
e do capim elefante 105
5.17 Fatores de emisses para combusto da biomassa e resduos agro florestais 106
5.18 Quantificao das emisses na etapa da queima dos produtos cermicos 106
5.19 Clculo das emisses de CO2 devido a combusto do
capim elefante para a produo de 1 milheiro de tijolo 107
5.20 Planilha de inventrio da anlise de ciclo de vida do processo
produtivo de cermica estrutural em relao a um milheiro de tijolos 109
5.21 Impactos totais no normalizados 110
5.22 Impactos totais no normalizados expressos em porcentagens 110
5.23 Fatores para normalizao de impactos 112
5.24 Impactos ambientais normalizados 113
1
Captulo 1
Introduo
A relao entre o setor industrial e o meio ambiente nem sempre tem sido fcil. Com
efeito, a atividade industrial encontra-se, inevitavelmente, associada certa degradao da
qualidade do ambiente, uma vez que no existem processos de produo que sejam totalmente
limpos. Os impactos ambientais decorrentes das emisses industriais variam com o tipo de
indstria, matrias-primas utilizadas, produtos fabricados, substncias produzidas e dos prprios
processos de produo.
A indstria de cermica vermelha, em seus aspectos atuais, est associada idia de
degradao ambiental. Esta degradao decorre de impactos observados durante o processo
produtivo, pois, os produtos so obtidos com o uso de recursos naturais: a argila principal
matria-prima e a lenha principal insumo energtico.
Existe uma tendncia mundial, que se iniciou na Europa e na Amrica do Norte, do
consumidor propor-se a pagar mais por um produto ambientalmente correto e a no comprar
produtos que provoquem danos ao meio ambiente. Esta realidade coloca as empresas que operam
nos setores crticos - aquelas que esto em contato direto e indissolvel com o meio ambiente
num fogo cerrado tanto do pblico alvo quanto do organismo fiscalizador.
As relaes entre o meio ambiente e o desenvolvimento devem deixar de ser conflitante
para tornar-se uma relao de parceria. Segundo o World Business Council for Sustainable
Development, para que seja possvel conciliar o crescimento econmico com o ambiente, as
2
relaes entre a atividade das empresas industriais e os fatores ambientais devem assentar no
conceito de eco-eficincia, tal como foi definida por este organismo internacional em 1993: a
eco-eficincia atingida atravs da produo de bens e servios a preos competitivos que
satisfaam as necessidades humanas, melhorem a qualidade de vida e, progressivamente,
reduzam os impactos ecolgicos e a intensidade de utilizao de recurso ao longo do ciclo de
vida desses bens, at o nvel compatvel com a capacidade de carga estimada do planeta.
Percebe-se, ento, que a eco-eficincia est relacionada auto-sustenbilidade ambiental
do processo e sendo assim, o desenvolvimento da atividade industrial cermica atual requer
determinadas observaes em relao s formas de utilizao de recursos naturais (lenha e argila)
e suas conseqncias socioambientais.
1.1 - Caracterizao da indstria de cermica estrutural
Presente em todas as regies do Brasil a indstria de cermica estrutural ou vermelha tem
um papel importante na economia brasileira. Nmeros levantados pela Associao Brasileira de
Cermica, junto com associaes de diversos segmentos cermicos esto na tabela 1.1.
Tabela 1.1 A Indstria da Cermica Vermelha no Brasil
Nmero de Unidade Produtora (empresas)
7.000 (90% microempresas familiares; 10% mais de 100; 30% entre 50 e 1000; 50% entre 20 e 50 e 10%
menos de 20) Nmeros de Peas / Ano (bloco) 25.224.000 Nmeros de Peas / Ano (telha) 4.644.000 Quantidade Produzida (em massa t/ano) 64.164.000 Matria-prima (t argila) 82.260.000 Nmero de empregados diretos 210.000 Faturamento (R$ bilhes) 4,2 Consumo trmico mdio 900 kcal/1000 peas (90% lenha)
Fonte: Anurio Associao Brasileira de Cermica, 2004.
Apesar disso, o segmento de cermica estrutural ou vermelha considerado o primo-
pobre da indstria de cermica em comparao com a cermica branca ou cermica de
3
revestimento onde as exigncias, e conseqentemente o padro de qualidade, so maiores. Este
cenrio resulta, em parte, das caractersticas explcitas da prpria indstria de cermica vermelha
que:
Possui processos de grande consumo energtico
O perfil energtico do sistema industrial brasileiro est baseado em setores que exigem
grandes consumos de energia com determinada qualidade. Entre esses setores, est o cermico,
grande consumidor de energia trmica, hoje suprida basicamente pela combusto de fontes de
energia primrias e secundrias, como por exemplo, lenha, eletricidade, leo combustvel e gs
natural, o que mostramos nas tabelas 1.2 e 1.3. A cermica estrutural ou vermelha produzida
utilizando processos tradicionais e tendo a queima da lenha como principal fonte de calor em
fornos com baixa eficincia o que significa dizer que o uso de energia trmica no setor cermico
vermelho feito de forma muito ineficiente. Uma anlise do balano energtico nacional permite
verificar que no ano de 2003, a lenha foi responsvel por quase metade (49,1 %) do consumo
total de energia no setor cermico, sendo que o principal consumidor deste tipo de insumo, neste
setor, o segmento de cermica vermelha onde a lenha representa cerca de 98 % dos energticos
utilizados contra 1 a 2% de leo combustvel.
Tabela 1.2 Evoluo do consumo energtico no segmento cermico (Unidade: mil tep*)
IDENTIFICAO 1994 1995 1996 1997 1998 1999 200 2001 2002 2003 Gs Natural 104 114 90 102 134 156 260 430 706 788 Carvo Vapor 84 68 61 66 47 21 34 42 28 46 Lenha 1.494 1.405 1.545 1.592 1.607 1.632 1.629 1.564 1.486 1.534 Outras Recuperaes 45 48 54 35 10 39 40 40 39 30 leo Diesel 7 7 7 6 7 6 5 5 7 8 leo Combustvel 488 506 532 547 577 528 468 390 348 287 Gs Liquefeito de Petrleo
136 192 219 302 288 318 357 236 152 139
Outros resduos energticos do Petrleo
0 0 9 0 47 29 41 52 52 48
Gs Canalizado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Eletricidade 162 173 187 222 231 233 234 229 238 245 Outras Fontes no especificadas
8 8 9 11 1 1 1 1 0 0
Total 2.528 2.521 2.711 2.883 2.949 2.962 3.068 2.989 3.057 3.125
Fonte: Ministrio de Minas e Energia Secretaria de Energia
* toneladas equivalentes de petrleo
4
Apesar de ter-se, nestes ltimos anos, observado uma reduo percentual da participao
da lenha de 59,1 % do total de energia consumida neste setor em 1994 para 49,1% em 2003, no
se pode dizer o mesmo para a participao quantitativa da lenha.
Tabela 1.3 - Participao dos tipos de combustveis no consumo de energticos do segmento
cermico (unidade: %)
IDENTIFICAO 1994 1995 1996 1997 1998 1999 200 2001 2002 2003 Lenha 59,1 55,7 57 55,2 54,5 55,1 53,1 52,3 48,6 49,1 Gs Natural 4,1 4,5 3,3 3,5 4,5 5,3 8,5 14,4 23,1 25,2 leo Combustvel 19,3 20,1 19,6 19 19,6 17,8 15,3 13,1 11,4 9,2 Eletricidade 6,4 6,9 6,9 7,7 7,8 7,9 7,6 7,7 7,8 7,8 Outros combustveis 11,1 12,8 13,2 14,6 13,6 14 15,5 12,6 9,1 8,7 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Ministrio de Minas e Energia Secretaria de Energia
As tabelas 1.2 e 1.3 mostram claramente que uma reduo percentual da participao da
lenha no se traduz automaticamente em reduo quantitativa do uso da lenha. No mesmo
perodo avaliado, houve aumento de consumo de outros energticos como a eletricidade e o gs
natural. Um dos motivos desta estagnao no uso da lenha diante do crescimento da demanda por
energticos na indstria de cermica pode ser explicado pela dificuldade de obteno desta. J
que as matas nativas esto cada vez mais escassas, o controle ambiental mais rigoroso e as
distncias de transporte at a indstria aumentaram e, por conseqncia, tambm os custos
envolvidos e o preo de mercado.
Dentro das novas fontes energticas utilizadas na indstria de cermica, as que tm mais
penetrao quantitativas so o gs natural e o gs liquefeito de petrleo. A figura 1.1 mostra
as porcentagens de participao do gs natural e do gs liquefeito de petrleo no consumo total
de energtico no ano de 2003. importante ressaltar que o uso do gs no setor cermico fica mais
por conta do segmento de cermico de revestimento onde so observados os processos
tecnolgicos mais avanados. O uso do gs como principal fonte de energia trmica nas
indstrias de cermica vermelha exige uma readaptao dos fornos, isto , novos investimentos.
Com o estado tecnolgico dos atuais fornos utilizados isso se torna praticamente invivel.
5
Lenha 49,1 %
Outras 33,9 %
leo Combustvel
9,2 %Eltricidade 7,8 %
Outras 18,39 %
Gs Natural 44,04 %
Gs Liquefeito de Petrleo 37,57 %
Figura 1.1 - Participao do Gs Natural e Gs Liquefeito de Petrleo no consumo de energticos
na indstria de cermica no ano 2003.
Fonte: Ministrio de Minas e Energia Secretaria de Energia - Elaborao prpria.
Impactos scio-ambientais muito grandes
Como se v o consumo de lenha ainda substancialmente elevado. Como no h
reflorestamento, o problema do desmatamento, sem nenhum critrio, de reas vitais torna-se
muito grande, alimentando cada vez mais e de forma decisiva a desertificao de regies. O
desmatamento constitui, em nvel global, a segunda maior fonte emissora de dixido de carbono.
Com o corte das rvores para uso agrcola da terra ou para outros fins, a maior parte do carbono
queimada ou decomposta e liberada para a atmosfera. Existe uma grande incerteza sobre as
emisses de CO2 geradas no processo de desmatamento, mas estima-se que 0,6 a 2,6 x 109
toneladas de carbono so liberadas globalmente todos os anos.
O elevado consumo de lenha empregada como combustvel nos fornos, alm de contribuir
fortemente para o desmatamento, representa cerca de 25% do total de gastos mensais para a
produo dos produtos cermicos.
6
Matria-prima (argila)
9%
gua1%
Energia eltrica
18%
Manuteno12%
Administrao /
Comercializao
5%Lenha
(insumo energtico)
25%
Pessoal 30%
Figura 1.2 Mdio percentual dos custos na Indstria Cermica
Fonte: Elaborao prpria
A lenha comercializada a valores relativamente altos, em preo mdio nacional de R$
14,60/m3 para lenha de reflorestamento e R$13,30/m3 para lenha de mata nativa. Com isso, os
custos envolvidos e o preo de comercializao dos produtos cermicos aumentam
consideravelmente, tornando cada vez maior a necessidade de um energtico alternativo ou a
busca pela reduo do preo da lenha cultivada.
Atraso tecnolgico
A busca de tecnologias de transformao e uso da energia mais eficiente, associada ao uso
de combustveis renovveis, e a equipamentos com menores emisses de gases poluentes tem se
intensificado a partir da dcada de 90. No caso de equipamentos como forno, a busca de
equipamentos mais eficientes implica na reduo do consumo e emisso de poluentes para a
realizao de uma mesma tarefa. Particularmente quando se utiliza lenha como combustvel, tem-
se a reduo tanto da presso sobre as reservas florestais quanto da emisso de gases de efeito
estufa.
7
A maioria dos fornos cermicos, utilizados na produo de telhas e tijolos, de baixa
eficincia trmica devido no recuperao da energia disponvel nos gases de escape. De fato,
como a carga de argila em processo requer temperaturas elevadas, e por no haver sistemas de
recuperao de calor, os gases de combusto saem para a atmosfera ainda com muita energia
trmica, desperdiando calor til, (Nogueira et al., 2000).
Impactos associados a minerao
A questo energtica no o nico problema da indstria de cermica estrutural. Os
argilo-minerais utilizados no fabrico de cermica vermelha tm como caracterstica fundamental
o baixo valor comercial, exigindo uma lavra a cu aberto e prximo aos centros consumidores,
visando minimizar os custos de transporte. Mas, freqentemente, em face da extenso da rea
minerada tal atividade apresenta um alto potencial de impacto ambiental, interferindo no meio
fsico, bitico e antrpico. O movimento de matrias-primas por ano estimado em mais de 80
milhes de toneladas com reflexos nas vias de transportes e no meio ambiente. A minerao
(extrao de argila), evidentemente, causa impacto ambiental considervel que at ento no foi
devidamente analisado no caso do segmento de cermica estrutural (Soares et al., 2002). No
obstante, a atividade de extrao mineral implica em alteraes ambientais, pelo fato do impacto
ser muito denso e pouco extenso. Reconhece-se que a minerao altera intensamente tanto a rea
minerada quanto circunvizinhana, e os depsitos. Os impactos ambientais decorrentes da
minerao podem ocorrer em nvel local ou regional, dependendo do porte do empreendimento,
de sua localizao e das caractersticas da jazida.
Com efeito, dentro desses contextos, o estudo da problemtica ambiental associada a
projetos de desenvolvimento sustentvel que procura formas de aliviar o uso da lenha atravs de
solues de curto e mdio prazo, mas compatveis com as exigncias da indstria de cermica
estrutural, torna-se conveniente adotar uma metodologia que possa facilitar a anlise dos
problemas e permitir a busca de solues adequadas. At porque, qualquer que seja o processo
utilizado na produo de produtos cermicos, haver sempre a possibilidade de gerar subprodutos
e resduos, cuja quantidade e qualidade dependero, naturalmente, da forma de explorao das
jazidas, do tipo de biomassa e tambm da tecnologia de queima empregada.
8
As peculiaridades levantadas acima mostram que a problemtica do processo produtivo da
indstria de cermica estrutural define-se claramente em duas situaes vivenciadas: a
necessidade de uma melhor utilizao de recursos naturais no renovveis e a racionalizao do
consumo de fontes energticas esgotveis ou a busca de alternativas energticas. Ambas as
situaes, porm, apresentam necessidades comuns, sendo a principal delas, a necessidade de
mais pesquisas que possam justificar a viabilidade tcnica e econmica de uma ou outra opo.
A necessidade de pesquisa pode ser justificada no apenas pelos impactos ambientais
associados ao processo industrial ou pelo consumo de matrias-primas e insumos energticos,
mas tambm pela importncia da considerao desses parmetros no desenvolvimento de novos
modelos de produo. Dessa forma, o problema central abordado neste trabalho est direcionado
para a busca de informaes que possam proporcionar a adoo de novos modelos de gesto e de
produo na indstria de cermica vermelha de modo a proporcionar melhorias no setor cermico
atravs do uso eficiente da energia trmica, da escolha e da preparao da biomassa para uma
combusto eficiente.
A Anlise do Ciclo de Vida ACV um processo que objetiva avaliar os encargos
ambientais, associados a um produto, a um processo ou a uma atividade, pela identificao e
quantificao da energia e materiais utilizados, bem como resduos produzidos, visando assim
avaliar o impacto dessa utilizao liberao ao ambiente e implementar melhorias. O uso da
ferramenta de ACV permite ainda: (i) estabelecer uma base de informaes sobre as necessidades
totais de recursos, consumo de energia e emisses; (ii) identificar aspectos em algum processo ou
produto onde sejam possveis redues nas necessidades de recursos e emisses; (iii) auxiliar no
desenvolvimento de novos produtos, processos ou atividades que reduzam, efetivamente, as
necessidades de recursos e/ou emisses.
Quando tal procedimento integrado de forma industrial, quer dizer, acoplado anlise
de viabilidade econmica num esquema de melhoria ou de deciso, a anlise de ciclo de vida
pode permitir a concepo, a melhoria ou o desenvolvimento de produto ou processo timo do
ponto de vista ambiental, tcnico e econmico.
9
1.2 - Objetivos do trabalho
Este trabalho tem por objetivo o uso da ferramenta de anlise de ciclo de vida para
realizar diagnstico de impactos ambientais e oferecer indicadores que possam medir a eficincia
energtica na indstria e permitir a avaliao da substituio de um insumo energtico. Em
virtude deste objetivo foi escolhido um segmento da indstria brasileira que como j foi discutido
apresenta peculiaridades energticas. O segmento escolhido, para anlise, o da indstria de
cermica vermelha ou estrutural. Em relao ao insumo energtico alternativo o escolhido o
capim elefante.
As metas e os objetivos especficos deste estudo so as seguintes:
- Realizar diagnstico de impactos ambientais visando substituio de um insumo
energtico tradicional (lenha) utilizado de forma no sustentvel no processo de queima dos
produtos cermicos - por um insumo energtico alternativo que pode vir a ser cultivado de forma
sustentvel (capim elefante);
- Realizar a anlise de ciclo de vida para criar oportunidades identificao de solues
para os problemas ambientais das indstrias de cermica estrutural atravs do estudo e da
avaliao de seus processos produtivos e dos impactos ambientais associados aos mesmos;
- Aperfeioar a gesto dos processos da indstria cermica estrutural, objetivando a
utilizao do Capim Elefante como uma fonte alternativa de energia;
- Avaliar economicamente o impacto do uso do capim elefante em processo produtivo
cermico;
- consolidar e difundir a metodologia de anlise de ciclo de vida, ferramenta capaz de gerar
dados qualitativos e quantitativos para a anlise e a hierarquizao de impactos ambientais na
indstria de cermica estrutural.
10
1.3 - A tese
Os problemas ambientais e econmicos no podem ser abordados isoladamente, visto que
so aspectos que interagem entre si, sendo dependentes uns dos outros. Na tese, ora apresentada,
argumenta-se que a introduo do capim elefante como insumo energtico alternativo para
gerao de calor pode representar uma importante fonte de energia sustentvel a nvel local e
regional. As razes para a tese esto caladas nos seguintes argumentos:
O capim elefante como cultivo energtico, alm de todas as vantagens que a substituio
de outras fontes energticas pode representar, apresenta vrios aspectos que podem ser
considerados de especial importncia para a conservao do meio ambiente, tais como:
o Trata-se de cultivo que, geralmente, requer condies de cultivo menos exigentes,
o que se traduz em menores necessidades de fertilizantes, herbicidas ou pesticidas,
evitando, por uma parte, o possvel impacto gerado em sua produo e, por outra,
os perigos de contaminao do meio natural;
o Grande alcance social pela gerao de empregos em reas carentes. A
capincultura pode ser praticada em solos pobres e degradados e deve ser uma
atividade intensiva em mo-de-obra. Isso lhe confere a vantagem ambiental de
recuperao de reas degradadas de regies e de conter o fluxo migratrio das
populaes rurais para os centros urbanos em busca de oportunidades de trabalho.
o Dado que a cultura do capim elefante como insumo energtico, deve ser planejado
dentro de projeto que, na maioria dos casos, desenvolvem-se dentro de um entorno
regional, evita-se o impacto representado pela realizao de novas infra-estruturas
para o transporte dos recursos energticos ou da energia produzida (ao contrrio
do que ocorre com os gasodutos e oleodutos, por exemplo);
o Por ser uma cultura de rotao curta, permite o corte em 90 dias aps o plantio,
contra, por exemplo, sete anos da floresta de eucalipto;
o Produo de biomassa seca expressa em toneladas por hectares/ano cerca de 5
vezes superior ao da floresta de eucalipto.
11
Existe uma demanda habitacional reprimida (dficit) estimada em cerca de 10 milhes de
unidades no Brasil, por outro lado, a procura por habitao est diretamente relacionada ao preo
do tijolo (material bsico na construo). Supondo que uma unidade habitacional popular digna,
tenha que ter, em mdia, 60 m2 de rea construda, a demanda em material cermico tem que
aumentar consideravelmente em curto e em mdio prazo, conseqentemente, a demanda por
insumo energtico tambm. Na medida em que o preo e o custo do tijolo caiam em funo do
uso de um recurso energtico de menor custo, aumenta proporcionalmente a procura por tijolo.
1.4 - Contribuio cientfica
A tendncia mais recente tem sido o uso do termo engenharia ambiental para englobar
um amplo campo de pesquisa. Dentro da engenharia ambiental aplicada a processos produtivos, o
consumo de energia e os impactos gerados so temas de grande relevncia. Um estudo que
possibilite disponibilizar:
Informaes que permitam focalizar os principais pontos do processo onde o consumo de
energia e os impactos so mais acentuados, bem como, propor solues;
Dados sobre o capim elefante como fonte alternativa de insumo energtico;
Dados experimentais sobre a queima do capim elefante em forno de olaria e;
A comparao do uso do capim elefante, com os combustveis convencionais, tm um
carter indito quando se trata principalmente de um segmento do setor industrial, at
agora considerado como o primo pobre do setor cermico brasileiro.
Esta pesquisa buscou obter uma resposta embasada, utilizando uma ferramenta de anlise
de ponta, parcialmente desenvolvida e testada na realidade dos processos produtivos de cermica
estrutural.
O trabalho foi desenvolvido em seis captulos, incluindo esta introduo. A proposta do
segundo captulo discutir o estado da arte das tecnologias de converso da biomassa, dando
nfase s tecnologias de converso termoqumica e, particularmente, na tecnologia de combusto
e nos tipos de poluio atmosfricos resultantes.
12
No terceiro captulo foi realizada uma descrio da metodologia de anlise de ciclo de
vida e discutido os referenciais tericos sobre a aplicao desta ferramenta mostrando seus pontos
favorveis e deficincias.
O quarto captulo apresenta os resultados das experincias de queima do capim elefante
em indstria de cermica vermelha.
O quinto captulo refere-se ao estudo de caso onde a metodologia de anlise de ciclo de
vida aplicada a um processo produtivo de cermica estrutural, tendo como insumo energtico o
capim elefante.
No sexto captulo discutida a viabilidade econmica da introduo do capim elefante na
indstria de cermica vermelha.
O stimo captulo refere-se s concluses deste estudo e a apresentao da necessidade de
futuras atividades para a complementao do mesmo.
13
Captulo 2
A Biomassa como fonte alternativa de energia
2.1 - Definio
O termo biomassa foi inventado por volta de 1975 para descrever os materiais que podem
ser utilizados como combustvel. Ela inclui toda matria orgnica de origem vegetal ou animal,
inclusive os materiais procedentes de sua transformao natural ou artificial. No seu conceito
mais amplo, inclui toda a matria existente num dado momento na terra. Do ponto de vista
energtico, biomassa toda matria orgnica (de origem animal ou vegetal) que pode ser
utilizada na produo de energia. O termo biomassa utilizado tambm no campo da Ecologia
para expressar a matria orgnica total presente em um determinado ecossistema e no campo da
Microbiologia Industrial com referncia quantidade de microrganismos presentes em um
fermentador ou produzidos em um cultivo. Na atualidade, se aceita o termo biomassa para
denominar o grupo de produtos energticos e matrias-primas tipo renovvel originados a
partir da matria orgnica formada por via biolgica. Ficam excludos deste conceito, os
combustveis fsseis e os produtos orgnicos deles derivados, embora tambm tivessem uma
origem biolgica em pocas remotas.
2.2 - Contexto histrico
A biomassa, juntamente com a energia solar, representam as nicas fontes de energia
utilizadas pelo homem durante a maior parte da histria da humanidade. Antigamente, a madeira
era o combustvel mais amplamente utilizado para cobrir as necessidades de calor e de
14
iluminao, tanto no mbito domstico quanto nas distintas aplicaes indstriais existentes at o
presente momento. Do mesmo modo, grande parte das atividades realizadas pelo homem e pelos
animais exigiam um consumo de biomassa que, posteriormente se transformava em trabalho
muscular. Entretanto, a partir da era industrial, seu uso foi relegado a segundo plano devido
extino das florestas dos pases desenvolvidos (os detentores da tecnologia) e a converso dos
sistemas trmicos aos combustveis fsseis.
Nos ltimos anos, principalmente no final da dcada de 70, por causa da crise do petrleo,
tomou-se conscincia da necessidade da utilizao de outras formas de energia diferentes dos
combustveis fsseis. A partir de ento a biomassa comeou a ser considerada como uma
potencial fonte de energia. No transcurso destes anos, ocorreu uma srie de profundas mudanas
nos setores energticos, agrcolas e ambientais, os quais motivaram aquilo que at ento se
vislumbrava como uma possibilidade a se apresentar hoje como uma alternativa real para um
futuro mais ou menos imediato.
2.3 - As motivaes para se considerar a biomassa como uma fonte de energia
A biomassa uma fonte de energia renovvel que apresenta um potencial de explorao
para as zonas rurais. De acordo com a localidade, ela pode oferecer diferentes vantagens na
explorao de recursos locais, pois assim estaria contribuindo para melhorar a situao
econmica dessas comunidades atravs da exportao de energia ou na diminuio do
aprovisionamento externo ou, ainda, na criao de emprego qualificado e na diminuio dos
impactos ambientais.
Reduo da dependncia energtica
A dependncia vis--vis das importaes de energia, particularmente de petrleo que
provm de regies pouco estveis, comporta freqentes riscos geopolticos. A segurana do
abastecimento de energia deve merecer ento uma ateno redobrada. As fontes renovveis de
energia podem contribuir para reduzir a dependncia em relao s importaes e incrementar a
segurana no aprovisionamento de energia. O desenvolvimento das fontes renovveis de energia
pode aumentar a criao de emprego, principalmente nas pequenas e mdias empresas que
15
representam a maioria dessa categoria nos diferentes setores das energias renovveis. A
massificao das fontes de energia renovvel pode se tornar um dos motores do desenvolvimento
regional levando para uma forte coeso social e econmica.
Revitalizao do mundo rural
As energias renovveis adotam-se particularmente bem ao mundo rural. Podemos dizer que
a promoo de sua explorao deveria gerar perspectivas interessantes para o emprego rural e,
por conseqncia, a atividade econmica.
Incentivo ao desenvolvimento do uso das fontes alternativas de energia: Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo, Certificao e mercado de energia verde.
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, certificado verde, tarifa verde, mercado de energia
verde, etc, muitos so os conceitos que caracterizam hoje o desenvolvimento de energia
produzida a partir de fontes renovveis, particularmente, da biomassa. Esses conceitos
testemunham uma evoluo observada nos ltimos anos, ou seja, que o desenvolvimento das
fontes renovveis passe de mais em mais pelo mercado, e, assim, justifiquem a necessidade de
obter-se um preo competitivo da energia da biomassa em relao ao preo da energia produzida
a partir de fontes convencionais, isto , um preo que possa refletir todos os custos sociais de
produo e de uso. A priori, isto dever reduzir a desvantagem competitiva que as fontes
renovveis sofrem.
O protocolo de Kyoto (Dezembro de 1997) estabelece objetivos de redues de emisses
dos gases de efeito estufa para os pases desenvolvidos (anexo 1 do protocolo), nomeadamente
redues de 8 % na Unio Europia e na Sua, 7 % nos Estados Unidos, 6 % no Canad,
Hungria, Japo e Polnia. Rssia, Nova Zelndia e Ucrnia devero estabilizar ao mesmo nvel
de 1990, enquanto a Noruega pode aumentar cerca de 1 %, a Austrlia 8 % e a Islndia 10 %. A
estabilizao das emisses de cada pas dever ser obtida num prazo de 5 anos, iniciando em
2008 e terminando em 2012. Os pases tm uma certa flexibilidade na forma como podero
reduzir as emisses. Alm do desenvolvimento de polticas e medidas domsticas, o protocolo
prev trs tipos de mecanismos:
16
Comrcio Internacional de Emisses: Os Signatrios do Protocolo de Kyoto,
doravante denominados Partes, os quais reduzirem as emisses de gases de efeito
estufa abaixo dos valores estabelecidos, podero vender cotas s outras Partes, ou,
se suas emisses estiverem acima do permitido, podero comprar cotas de emisses
extras.
Implementao Conjunta: trata-se de uma forma especfica de comrcio de
emisses, mas ao nvel de projeto (isto , substituio de combustveis) com outras
Partes do Anexo 1, resultando numa reduo adicional de emisso no pas onde o
projeto est localizado. Aquela reduo pode ser usada para aumentar a permisso
de emitir da parte financiadora do projeto, enquanto a permisso de emitir da parte
onde o projeto est sendo desenvolvido reduzida correspondentemente.
Mecanismo de Desenvolvimento limpo: assenta-se numa base de projeto, mas as
Partes onde os projetos so localizados e as redues alcanadas no esto sujeitos a
obrigaes de redues. No entanto, as redues de emisses resultantes podem ser
certificadas por agentes independentes. Esse mecanismo permite aos pases
industrializados financiar projetos de reduo nos pases em desenvolvimento e
receber crditos por isso.
Mas, como foi referenciado no trabalho Acordos Internacionais Sobre Mudanas
Climticas (MUYLAERT, 2000), muitos estudiosos criticaram o mecanismo AIJ Atividades
Implementadas Conjuntamente entre pases Anexo I e no-Anexo I. Tais crticas viriam a
estender-se ao Mecanismo de Desenvolvimento limpo. O que se observa , a formao de um
mercado, chamado de mercado do direito de poluir, o qual favorece as grandes naes. Estas,
estariam escoltando-se nos pases em desenvolvimento para cumprir seus compromissos de
reduo de emisso de gases de efeito estufa. Esta uma crtica que, de certa maneira, apresenta
redundncia. Por definio, exatamente isto: mercado do direito de poluir. Em poucas palavras,
o Protocolo diferencia dois lados: pases que so obrigados a reduzir suas emisses de gases e
pases que no precisam reduzir suas emisses de gases (estes devem somente reduzir sua taxa
crescente de emisses). E, ao mesmo tempo, o protocolo (cujas regras no esto ainda definidas)
17
oferece mecanismos de negociaes entre naes, bastante propensos a contradies, segundo
tais mecanismos, os pases que so obrigados a reduzir suas emisses de gases de efeito estufa
poderiam contabilizar suas obrigaes de abatimento de gases em outros pases, no reduzindo
suas emisses em seus prprios territrios. Chama-se isso de direito de poluir porque se
presume que um pas poderia continuar mantendo seu modelo de desenvolvimento anterior, ou
seja, poluente.
Certificao e mercado de energia verde
Os sistemas de certificao verdes so mecanismos contveis, flexveis, transparentes e
eficazes que permitem negociar, separadamente, a vantagem ambiental e a quantidade fsica (os
kWh ou GJ) da energia verde. Tais sistemas, em si mesmos, no so medidas que estimulam o
mercado. Elas vm como complemento s quotas de energia verde impostas aos atores do
sistema energtico: produtores, fornecedores ou consumidores, e poder pblico. Trata-se
claramente de uma nova aproximao para sustentar o desenvolvimento das energias renovveis
que se cala em mecanismos de mercado. Esses sistemas conhecem hoje um certo
desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos e chama a ateno dos atores industriais, mas
tambm do poder pblico.
o O sistema holands dos certificados verdes. Este sistema tem por objetivo
permitir s dezenove empresas holandesas de distribuio de eletricidade atingir, a um
custo menor, o objetivo de fornecer eletricidade de origem renovvel aos consumidores
residenciais e do setor tercirio. Cada produtor recebe um certificado para uma produo
de 10 MWh de eletricidade verde, o que garante sua origem. Em seguida, o produtor
valoriza sua eletricidade vendendo-a rede (na base do preo de atacado) e vendendo os
certificados aos distribuidores que precisam deles. So os distribuidores que devem se
subscrever a uma quota mnima de eletricidade verde dentro do objetivo coletivo que
era de 1,7 TWh no ano de 2000. Esse sistema permite igualmente certificar a origem de
toda energia produzida a partir das fontes renovveis de energia, produzida para satisfazer
este objetivo coletivo ou para responder demanda dos consumidores que se subscrevem
aos programas de tarifao verde, isto , que aceitam pagar mais caro para a energia,
mas tendo a garantia que ela seja produzida, totalmente ou em parte, a partir das energias
18
renovveis. Regras, procedimentos e instituies foram instauradas para permitir o bom
funcionamento e verificao do mercado: atribuio e acompanhamento dos certificados,
controle das transaes e verificao das contas de cada ator do mercado. Sanes so
igualmente previstas em casos de fraudes ou de no respeito aos objetivos traados.
Com o sistema de certificados verdes, atualmente em vigor na Holanda, o produtor
holands de eletricidade verde valoriza seu kWh de duas maneiras distintas, no mnimo:
Pela venda da eletricidade companhia distribuidora local;
Pela venda dos certificados verdes correspondentes quantidade de
eletricidade produzida.
Nenhuma informao foi oficialmente publicada acerca do preo dos certificados
verdes. Essas informaes so consideradas confidenciais para cada um dos operadores do
mercado e na bolsa de valores.
No Brasil, a regulamentao desse mecanismo desperta enorme ateno e, segundo o
documento Efeito Estufa e Convenes sobre a Mudana do Clima produzido pelo Ministrio de
Cincia e Tecnologia e Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (MCT/BNDES,
2000), h uma expectativa de que novos mercados e instrumentos financeiros venham a ser
criados para viabilizar as transaes de crdito de emisso de gases causadores do efeito estufa.
Para Silva et al. (2000), isso prova que o Protocolo visto pelo mundo como uma espcie de
salvao, tanto para o meio ambiental, como para os pases desenvolvidos e em desenvolvimento,
os quais podem montar uma rede de colaborao para diminuir, significativamente, as emisses
naturais. Para o Centro de Referncia em Biomassa (CENBIO), o Brasil, alm de possuir
tecnologia disponvel tanto para realizar plantios de florestas como para otimizar o uso do lcool
como combustvel, tambm possui a biomassa como fonte renovvel de calor e de energia
eltrica (CENBIO NOTCIAS, n7,1999). Vale salientar que, ao implementar a Lei 10.438 de
2002 que regulamenta o Programa de Incentivos s Fontes Alternativas de Energia (Proinfa) o
Brasil acompanha a mais moderna legislao j adotada pelos pases mais desenvolvidos do
mundo. Para a Associao Brasileira dos Pequenos e Mdios Produtores de Energia Eltrica
APMPE, a idia de inserir fontes alternativas e renovveis na matriz energtica brasileira prepara
19
o Brasil para o futuro, onde a gerao de energia se coloca de forma estratgica como caminho
para garantir um desenvolvimento contnuo, seguro e ecologicamente responsvel.
2.4 - Potencial da biomassa
De acordo com as estimativas do Banco Mundial, a biomassa , atualmente, a principal
fonte de energia para cerca de 2,25 bilhes de pessoas no mundo. O contedo calorfico da
biomassa produzida anualmente em toda a biosfera, graas aos processos de fotossntese,
estimado em 68,08 Gtep. Esse valor supera amplamente a demanda energtica da humanidade
que, segundo estimativa da Agncia Internacional da Energia, era de 9,9 Gtep em 2002. O
potencial energtico global do acrscimo de biomassa ainda seis a sete vezes maior que o
consumo mundial de energia.
A parte de energia primria provida pela biomassa em pases industrializados ainda
pequena e estimada em cerca de 3 % (HALL e HOUSE, 1995). Entretanto, o uso da biomassa,
como fonte de energia, varia consideravelmente dependendo de fatores como a disponibilidade de
recursos e as polticas governamentais (BAUEN, 1999).
Em pases em desenvolvimento, a realidade outra. Nesses pases, a biomassa representa
mais de um tero do consumo de energia primria, variando em torno de 90 % em pases
africanos menos desenvolvidos, para cerca de 45 % na ndia, 28 % na China e no Brasil e 10 a 15
% no Mxico e frica do Sul respectivamente (HALL et al., 1999).
Nos paises em desenvolvimento a biomassa utilizada de forma tradicional,
principalmente para coco e aquecimento. Essa forma tradicional de utilizao da biomassa
bastante ineficiente e , freqentemente, uma fonte de preocupao ambiental, em particular com
respeito sade devido exposio s emisses de gases durante a combusto da biomassa. A
eficincia de converso da biomassa baixa, tipicamente 10 a 15 % em aplicaes domsticas e
15 a 20 % em aplicaes industriais.
20
No provvel que o uso tradicional da biomassa diminua num futuro prximo.
Entretanto, os programas de pesquisas que apostam em melhorias nos usos tradicionais da
biomassa e no gerenciamento eficiente de recursos da biomassa tm aumentando.
O uso comercial e no comercial da biomassa representa, atualmente, cerca de 14 % do
consumo primrio de energia no mundo, ou seja, aproximadamente 55 EJ (HALL et al., 1999).
Aproveitando aproximadamente 1 % do total da radiao solar incidente sobre a terra, estima-se
que, anualmente, sejam produzidas, pelo processo de fotossntese, cerca de 220 x109 toneladas de
biomassa (base seca), o que equivale a uma energia de 2 x1015 MJ, ou seja, 10 vezes a energia
global consumida por ano no nosso planeta (SMIL, 1985). Existe ainda uma grande margem para
se melhorar e aumentar o uso da biomassa no mundo. As figuras 2.1 e 2.2 ilustram essa realidade
com ano de referncia de 2000.
Petrleo 42,7%
Gs 16,1%
Energias renovveis
13,8%
Eletricidade 15,8%
Outras 3,7%
Carvo mineral 7,9%
2000: 6905x106 tep
Figura 2.1 - Consumo Mundial de Energia por Fonte
Fonte: Ministrio de Minas e Energia Secretaria de Energia - Elaborao prpria.
21
Carvo mineral23,5%
Energias renovveis
11,0%
Hidraulica 2,3%Nuclear
6,8%Gs21,1%
Petrleo34,9%
Outras 0,5%
'
2000: 9963x106 tep
Figura 2.2 - Oferta Mundial de Energia por Fonte
Fonte: Ministrio de Minas e Energia Secretaria de Energia - Elaborao prpria.
difcil estimar o potencial da biomassa com preciso. Para a Unio Europia, BAUEN e
KALTSCHMITT (1999a) estimaram o potencial de resduos lenhosos provenientes da agricultura
e da silvicultura como tambm os resduos herbceos provenientes da agricultura e chegaram a
um valor de cerca de 4,2 EJ em comparao com o uso atual de cerca de 1,8 EJ. Nos EUA, o
potencial de biomassa estimado em cerca de 15 EJ dos quais os resduos lenhosos da
silvicultura e da agricultura e os resduos herbceos representam aproximadamente 2,38 EJ
(KLASS, 1995; OVEREND e COSTELLO, 1998). Na frica, sia e Amrica Latina & Caribe, o
potencial de biomassa tem sido estimada em 11 EJ, 20 EJ e 13 EJ, respectivamente. (BAUEN e
KALTSCHMITT, 1999 b).
Vrios cenrios, especialmente o global, foram publicados nos ltimos anos e em todos se
espera da biomassa um papel dos mais importantes para a proviso de energia no futuro. Calcula-
se que a contribuio da biomassa pode alcanar entre 60 e 145 EJ em 2025 e entre 130 e 320 EJ
em 2010, dependendo das suposies feitas na demanda de energia primria e das presses
ambientais, isto , dos limites de emisses de CO2 (HALL et al.,1999).
Nas discusses atuais sobre polticas energtica e ambiental atribuda uma grande
importncia s energias renovveis. Espera-se delas uma contribuio significativa para a soluo
22
de muitos dos problemas atuais e futuros, como reduzir o uso das energias convencionais como
petrleo, carvo mineral e gs natural, evitar um aumento de gases, com efeito, estufa na
atmosfera e oferecer novas alternativas de rendimento na agricultura.
Relativamente avaliao de produtos e processos, exige-se, muitas vezes, um balano
ambiental ou ecolgico. A promoo de energias renovveis sobretudo justificada pelas
mltiplas vantagens ambientais. O valor ambiental dos biocombustveis determinado em
comparao com o dos combustveis comerciais (carvo mineral, petrleo, gs natural). sempre
mencionado que os biocombustveis no aumentam o teor de CO2 na atmosfera e com isso
contribuem para a proteo do clima. Na combusto de biocombustveis (biomassa) a quantidade
de emisso de CO2 equivale quantidade que foi retirada do ar durante o crescimento da
biomassa.
Os cultivos energticos so aqueles cultivos agrcolas ou florestais, realizados com fins de
aproveitamento puramente energticos. Como tais devem cumprir duas condies fundamentais:
Do ponto de vista energtico se estabelece a necessidade de oferecer um balano
energtico positivo. Deve-se produzir elevados rendimentos em biomassa
coletvel, e com um mnimo de inputs energticos. Conseqentemente, os cultivos
energticos devem ser direcionados para grandes produes por unidade de
superfcie em curtos perodos de tempo, com o fim de compensar o menos valor
agregado dos usos energticos frente aos alimentares e por unidade de produto.
Do ponto de vista econmico se estabelece a necessidade de obter um balano
positivo. Para que a produo seja economicamente rentvel, devem ser
alcanados elevados rendimentos em biomassa com baixo custo na produo, na
colheita, no armazenamento e no processamento para sua transformao.
23
2.5 - Tecnologias de converso para uso moderno da biomassa
As molculas orgnicas da biomassa contm energia acumulada em suas ligaes,
suscetvel de ser liberada nos processos de converso. A matria orgnica integrante da biomassa
pode proporcionar sua energia de forma direta, por combusto, ou ainda atravs de compostos
originados por transformao da biomassa primria (lcoois e hidrocarbonetos), que tambm
devolvem a energia contida em suas ligaes ao serem oxidados em motores de exploso ou em
queimadores projetados para tal fim.
A concepo moderna da utilizao da biomassa para fins energticos significa a
aplicao dos conhecimentos cientficos e tcnicos que se possui na atualidade visando
aperfeioar o processo de captao e de acumulao da energia solar atravs da fotossntese, e o
desenvolvimento de procedimentos, em nvel industrial, que sejam capazes de transformar
economicamente a biomassa em um combustvel facilmente utilizvel.
A transformao da energia solar em energia til, em termos de aproveitamento da
biomassa, sucede nos passos da produo de matria-prima, na colheita, no processamento e no
armazenamento. O espectro de aproveitamento energtico de biomassa muito vasto. Os
processos de converso da biomassa seguem, de modo geral, dois caminhos principais de acordo
com o estado fsico da matria vegetal a ser utilizada:
Termoqumica, mais adaptada aos materiais secos tal como a madeira, o bagao e o
Capim Elefante;
Bioqumica, mais conveniente aos produtos midos.
Os processos termoqumicos incluem principalmente:
Combusto;
Gaseificao;
Pirlise (Convencional, Rpida e "Flash") e;
Liquefao.
24
No contexto desse trabalho, por ser a tecnologia utilizada na queima dos produtos
cermicos em forno de olaria, focaliza-se a combusto.
2.5.1 - Combusto da biomassa
2.5.1.1 - Definio e Fundamentos
A combusto um processo de degradao trmica consistindo numa seqncia de
processos trmico e termoqumico na qual o carbono presente na biomassa totalmente
convertido em vapores quentes e, tendo como resduo slido, as cinzas.
O processo de combusto da biomassa pode ser esquematizado em seis fases ou etapas:
secagem, emisso de volteis, ignio dos volteis, queima dos volteis em chama, extino da
chama dos volteis e combusto do resduo de carbono. A tabela 2.1 ilustra as diferentes reaes
estequiomtricas que ocorram durante a combusto. So as reaes de combusto dos
componentes elementares do combustvel com o oxignio. O calor liberado nas mesmas
representado por Qi.
Tabela 2.1 Reaes estequiomtricas de combusto
Fonte: CORTEZ e LORA, 1997
A queima de biomassa para produo de calor pode ser feita em modernas caldeiras em
pequena escala ou em fornos tradicionais. J para produo de eletricidade ou produo
combinada de calor e eletricidade, a queima feita em caldeiras maiores e em larga escala. A
maioria dos processos de gerao de eletricidade est baseada no ciclo Rankine no qual a
biomassa queimada em uma caldeira para produzir vapor pressurizado que, em seguida,
expandido numa turbina a vapor para fazer funcionar um gerador eltrico.
Reaes Qi. C + O2 CO2 + Q1 S + O2 SO2 + Q2 2H2 + O2 2H2O + Q3 C + O2 CO + Q4
CO2 : (Q1)298,15 k = -353,146 0,046 KJ/mol H2O : (Q3)298,15 k = -241,595 0,046 KJ/mol CO : (Q4)298,15 k = -110,436 0,167 KJ/mol
25
Os processos de combusto da biomassa podem ser classificados de acordo com o tipo de
fornalha utilizado. A tecnologia utilizada influencia em muito o pr-tratamento do combustvel
(biomassa) e as atividades de limpeza dos gases resultantes do processo de combusto.
De acordo com LORA e HAPP (1997), as fornalhas podem ser classificadas de duas
maneiras, a primeira depende da maneira com que realizada a combusto e a segunda atende s
caractersticas construtivas da mesma.
Em funo do modo de combusto:
Fornalhas de queima em deposio (em camada sobre uma grelha), o caso da combusto
do capim elefante em forno de cermica estrutural;
Fornalha de queima em suspenso (o combustvel queimado em todo o volume da
cmara de combusto).
Alguns sistemas combinam os dois modos de combusto, ou seja, uma frao do
combustvel queimada na grelha e a frao restante queimada em suspenso no volume da
cmara de combusto.
Em funo das caractersticas construtivas:
Fornalhas celulares;
Fornalhas de grelha estacionria (caso das grelhas em fornos de cermica
estrutural) que podem ser de grelha horizontal ou grelha inclinada;
Fornalhas de grelha mvel que podem ser mecnica ou rotativa;
Fornalha ciclnica;
Fornalha de leito fluidizado;
Fornalha de queima em suspenso.
Na seleo do tipo de fornalha a ser utilizada para uma determinada aplicao industrial,
visando o uso da biomassa como combustvel, deve-se levar em conta os seguintes fatores:
o Tipo e grau de preparao prvia da biomassa;
o Quantidade e parmetros (presso e temperatura) do vapor a ser produzido;
26
o Disponibilidade de capital.
Na combusto em camada deve-se observar que a espessura da camada altera o
mecanismo de queima. Quando se tem combusto em camada grossa, existe uma zona de reduo
onde o carbono reage com o CO2, produto da combusto formando CO. Deste modo acima da
camada, a chama produzida pela queima dos volteis e do CO gerado na zona de reduo. O
oxignio do ar consumido totalmente na zona de oxidao, o que provoca o aparecimento da
zona de reduo.
A combusto em camada fina caracterizada pela ausncia da zona de reduo o que
acarreta chama ser produto apenas da queima dos volteis.
Portanto, para se garantir a queima total do combustvel, preciso introduzir uma frao
do ar de combusto acima da cmara de combusto, o que chamada de ar secundrio. O ar
primrio aquele introduzido abaixo da grelha.
O pr-aquecimento do ar um fator importante para a intensificao da combusto
estando a temperatura mxima do ar limitada pela resistncia mecnica da grelha. Para
combustvel com alto teor de volteis (como o caso da biomassa) a temperatura do ar
recomendada da ordem de 200 a 250 C. No caso de no se utilizar o pr-aquecimento do ar,
uma parte do calor gerado na combusto ser consumida para elevar a temperatura do mesmo,
diminuindo a eficincia da caldeira ou forno de combusto.
Ocasionalmente, observa-se que plantas para combusto de biomassa so projetadas em
termos de volumes da caldeira e rea superficial da grelha e avaliadas para uma determinada
capacidade, mas sabe-se que alm da energia liberada pela combusto, a taxa de combusto
tambm importante para o dimensionamento de um sistema de combusto. As taxas de
combusto com as quais a biomassa queima-se dependem de vrios parmetros fsicos
(KANURY,1994). Dois fatores predominantes so as taxas de transferncia de calor e as taxas
cinticas das reaes.
27
2.5.1.2 - Influncia das propriedades do combustvel
O tamanho das partculas, isto , a granulomtrica da biomassa influencia a transferncia
de calor. O alto teor de umidade da biomassa um fator limitante no processo de combusto e
influencia o balano trmico e o rendimento da combusto. Nos processos de combusto, a
umidade evaporada consome parte da energia liberada, a qual tecnicamente difcil de recuperar,
alm do que dificulta a ignio do combustvel e diminui a temperatura de combusto. Assim, na
maioria dos sistemas de combusto, requerido que o combustvel tenha menos de 50 60% de
umidade (base mida), uma vez que, do ponto de vista da reduo do consumo da biomassa,
quanto menor for a umidade, melhor a reduo.
O baixo teor de cinza melhora o balano trmico, reduz a ocluso e a perda de carbono no
resduo e, ainda, reduz os problemas operacionais devido sinterizao. A sinterizao funo
da temperatura de combusto e, no caso da biomassa, est relacionada presena de dixido de
silcio (SiO2) que possui o mais baixo ponto de fuso entre os componentes da cinza. A tabela 2.2
mostra uma comparao da anlise das cinzas do capim elefante utilizado neste estudo, bem
como, os resultados de anlise de capim elefante e de madeira tirado da literatura e todas as
biomassas calcinadas a 900C.
Tabela 2.2 - Resultados de anlises de cinzas do capim elefante produzido no projeto PIB e de
outras biomassas selecionadas da literatura.
% em peso de cinza (JENKINS, 1998) Componentes Capim
elefante em estudo
Capim elefante Bagao de cana-de-acar
Madeira
SiO2 Al2O3 TiO2 Fe2O3 CaO MgO SO3 Na2O K2O P2O5
44,4 2,09 0,26 16,2 7,3
10,1 0,99
- 10,2 4,6
65,18 4,51 0,24 2,03 5,60 3,00 0,44 0,58
11,60 4,50
46,61 17,69 2,63
14,14 4,47 3,33 2,08 0,79 0,15 2,72
2,35 1,41 0,05 0,73 41,20 2,47 1,83 0,94 15,00 7,40
28
2.5.1.3 - Poluio do ar por produtos de combusto
A poluio atmosfrica consiste em gases, lquidos ou slidos, presentes na atmosfera em
nveis elevados o suficiente para causar danos ao ser humano, animais, plantas e materiais.
Quando se discute a origem da poluio atmosfrica, uma distino deve ser feita com relao
aos processos envolvidos na formao dos poluentes. Os poluentes atmosfricos resultam ou de
processo natural ou de processo antropognico que possam liberar ou emitir matria ou energia
para a atmosfera, tornando-o contaminado ou poludo. So exemplos de fontes antropognicas de
poluio atmosfrica, os diversos processos e operaes industriais e a queima de combustvel,
entre outros.
Em condies ideais, a combusto de material hidrocarboneto deve resultar somente em
dixido de carbono (CO2). Qualquer outra substncia alm do CO2 produto da combusto
incompleta.
Criticamente relacionadas s propriedades da biomassa so as emisses de poluentes
geradas pela combusto. As emisses primrias, isto , aquelas emisses lanadas diretamente na
atmosfera, como resultado do processo de combusto da biomassa so os materiais particulados,
o monxido de carbono, os hidrocarbonetos, os xidos de nitrognio (NOx, principalmente NO e
NO2) e xidos de enxofre (SOx, principalmente SO2). Tambm podem ser emitidos gases cidos,
como HCl e outros metais pesados. O CO e os hidrocarbonetos, incluindo os compostos
orgnicos volteis (COVS) e hidrocarbonetos aromticos so produtos da combusto incompleta.
Formao de xido de nitrognio
Segundo BUSANI et al. (1995), os xidos de nitrognio (NO, NO2) so considerados
como os poluentes atmosfricos mais comuns. Em todos os processos de combusto, quanto mais
elevada for a temperatura, maior ser a liberao destes poluentes. O nitrognio do ar ou o
contido no combustvel pode reagir com o oxignio, porm em quantidades muito reduzidas com
relao s substncias em questo. A conseqncia disso a presena dos xidos de nitrognio
(NOx) nos produtos da combusto. A presena do xido de nitrognio em produtos de combusto
foi descoberta em meados do sculo XIX, porm s no final da dcada de 50 que comearam as
29
primeiras investigaes sobre o processo de gerao de NOx em fornos (LORA, 2000). Nas
fornalhas, forma-se principalmente o xido de nitrognio (NO). Este, por sua vez, pode se formar
a partir do nitrognio do ar.
Formao dos xidos de enxofre (SOx)
De acordo com BUSANI et al. (1995), o xido sulfrico (SO2) e xido sulfuroso (SO3) se
apresentam como fontes de emisso mais significativas nos processos de combusto que utilizam
combustveis fsseis. As emisses de SOx podem tambm ser devidas a contedos de enxofre nas
matrias-primas. A formao e, portanto sua presena nas emisses gasosas, conseqncia da
oxidao de tais compostos durante a queima. Portanto, so as emisses quentes dos fornos de
queima, aquelas potencialmente relacionadas aos poluentes em questo. Tambm os xidos de
enxofre tm seu fator de emisso relacionado no exclusivamente ao contedo de enxofre das
matrias-primas, mas tambm aos parmetros operacionais de queima.
Formao do monxido de carbono (CO)
Gs emitido na maioria dos processos de combusto, no caso pela combusto incompleta.
O monxido de carbono foi um dos primeiros produtos de combusto a ser reconhecido como
poluente. O CO formado como uma espcie intermediria da oxidao do carbono dos
combustveis.
Dixido de carbono (CO2)
Segundo ROSA et al. (2001), o CO2, dixido de carbono ou gs carbnico o gs mais
liberado dentre as emisses de origem antrpica, alm de ser o gs mais importante no sentido de
regulao do efeito estufa. Os volumes de CO2 despejados na atmosfera pelas atividades humanas
da dcada de 90 foram de 6 a 12 vezes superiores aos volumes emitidos de CH4 e N2O
(CQNUMC, 2001), respectivamente, apesar de ser o gs com o menor poder de aquecimento
global entre os trs. Segundo o Manual de Inventrios de Gases de Efeito Estufa do IPCC (IPCC,
1996), considera-se que, no presente, o gs carbnico de origem antrpica principalmente
emitido:
30
Pela combusto de combustveis fsseis (carvo, petrleo e gs natural) e seus
processos industriais,
Pela queima de combustveis renovveis (lcool, bagao de cana, leos vegetais,
etc.),
Por processos industriais (produo de cimento e cal, uso de pedra calcria,
produo e uso do carbonato de sdio, amnia, carbonetos, ao, ferro, alumnio e
magnsio),
Mudana no uso do solo e da silvicultura (o CO2 o gs mais importante nesta
atividade).
Na indstria cermica, esse gs est presente em todas as emisses quentes das fases de
secagem e queima. No caso das massas (misturas) contendo carbonatos (e tambm substncias
orgnicas) so consideradas, tambm como contribuio, as emisses de CO2 fornecidas pela
decomposio e combusto, respectivamente, dessas substncias.
Compostos de amnia
Freqentemente, a matria-prima para o suporte de produtos cermicos, em particular a
argila, contm traos de substncias nitrogenadas. Durante a queima, uma parte liberada,
explicando a presena destes compostos (NH4+) nas emisses gasosas. Tais compostos, a
exemplo do cloreto de amnia (NH4Cl), podem condensar-se e solidificar-se ao longo das
paredes das tubulaes, dando origem a incrustaes.
Compostos de cloro
Nas emisses gasosas dos fornos de queima relevante a presena de compostos de cloro
(em particular, cloretos). A origem desses compostos devida, principalmente, decomposio,
durante a queima, dos compostos de cloro contidos na matria-prima do suporte (argila).
31
Flor
De todas as emisses gasosas, uma das mais preocupantes, atualmente, a de compostos
inorgnicos fluorados, resultantes da decomposio trmica das matrias-primas, com maior
incidncia nos subsetores da cermica estrutural e de pavimento e revestimento.
O flor presente nas massas cermicas , em sua maior parte, proveniente dos ons
fluoreto (F) presentes na estrutura dos minerais argilosos, que substituem os ons hidroxila (OH),
pelo fato de terem tamanhos similares e a mesma valncia. Dessa forma, os minerais argilosos
possuem concentraes de flor especialmente elevadas.
So verificadas variaes nos teores de flor nas argilas, em funo do posicionamento
estratigrfico das jazidas, da composio mineral e textura. Quando os materiais cermicos so
queimados, ocorre a destruio estrutural de alguns minerais ocorrendo a liberao do flor sob a
forma de ons fluoreto. Este reage com o vapor de gua da atmosfera do forno, formando cido
fluordrico (HF), que posteriormente arrastado pelo fluxo gasoso at a chamin. No entanto, o
flor tambm pode ser liberado sob forma de cido fluorsilcico ou tetrafluoreto de silcio, na sua
forma gasosa, enquanto na fase particulada pode surgir fluoreto de clcio (CaF).
Para BUSANI et al. (1995), a quantidade de flor liberada para a atmosfera no , no
entanto, determinada exclusivamente pelo contedo de flor na matria-prima, mas tambm por
outros parmetros. Um dos principais a temperatura da queima, sendo que quanto mais alta a
temperatura, maior a quantidade de flor liberada, que tende a diminuir tambm quando se passa
de queima lenta queima rpida. O contedo de carbonato alcalino terroso na massa tambm
influencia, de modo que quanto maior sua concentrao, menor a liberao de flor.
Sabe-se que as emisses de fluoretos so responsveis por doenas respiratrias, corroso
de materiais, perda do brilho de vidros, toxidade para plantas com implicaes na cadeia
alimentar humana e chuvas cidas.
32
A emisso de fluoretos produzidos durante a queima de materiais cermicos tradicionais
tem basicamente duas solues possveis: o controle do processo e a instalao de filtros.
De acordo com ALMEIDA et al. (2001), as tecnologias mais utilizadas no tratamento das
emisses gasosas com fluoretos consistem, fundamentalmente, em medidas de fim de linha,
englobadas em trs tipos de processos de depurao: por via seca (o mais utilizado na Europa),
por via semi-seca e por via mida. Esses processos baseiam-se na reao do poluente do efluente
gasoso a ser tratado, que entra em contato com o meio (slido ou lquido), capaz de reagir,
quimicamente, com o poluente. Os reagentes mais utilizados na depurao so: o carbonato de
clcio, o bicarbonato de sdio, o carbonato de sdio, o hidrxido de sdio e o xido de clcio.
Atualmente os altos nveis de degradao ambiental fazem com que a preocupao por
este tema seja cada vez maior. Neste sentido, todo esforo realizado pelo setor cermico visando
a minimizao dos impactos ambientais de relevante importncia, seja atravs de medidas de
economia energtica ou de emprego de equipamentos e processos mais eficientes.
Como etapa fundamental para este processo de construo de um modelo de produo que
permita a preservao do meio ambiente torna-se necessrio um melhor conhecimento do mesmo.
E isso que este trabalho se prope.
33
Captulo 3
Anlise de Ciclo de Vida (ACV)
Neste captulo, apresenta-se o estado da arte da metodologia de anlise de ciclo de vida. A
evoluo histrica de seu desenvolvimento, seus objetivos, aplicaes e dificuldades associadas a
sua aplicao (limitaes).
3.1. Contexto geral
O futuro energtico do planeta tornou-se um dos mais importantes desafios da
humanidade. Em meio a discusses de problemas ambientais, gerados pela utilizao em larga
escala de combustveis fsseis, a Comisso Brundtland em 1987, formalizou o conceito de
desenvolvimento sustentvel3.1 e o definiu nos seguintes termos:
3.1 A questo da sustentabilidade discutida desde a dcada de 60, mas nos anos 70, com a publicao do livro de Dennis e Donella Meadow, Limits to Growth, que consegue despertar a opinio pblica para esse problema. Nessa obra so descritas as conseqncias para o planeta, o aumento demogrfico e da atividade industrial, caso as tendncias de crescimento mantenham-se inalterveis. Segundo os autores, a terra atingira o seu limite de crescimento em menos de 100 anos, o que se traduzir numa diminuio significativa da atividade industrial (devido escassez dos recursos naturais) e num declnio da populao em algumas dcadas mais tarde. Em 1980, publicado mais um documento importante em matria de ambiente. Trata-se do WCS World Conservation Strategy, publicado pela Unio Internacional para a Conservao da Natureza (IUCN). Nesse documento mencionado, pela primeira vez, o conceito de desenvolvimento sustentvel, o qual definido como a gesto da utilizao humana da biosfera, de forma a proporcionar o maior benefcio sustentvel s geraes presentes, mantendo a sua capacidade de satisfao das necessidades e aspiraes das geraes futuras, pois ns no herdamos a terra dos nossos pais, mas pedimo-la emprestada aos nossos filhos (FERRO, 1998). Essas publicaes originaram um interessante confronto de idias, nomeadamente nas sociedades mais industrializadas, e nos finais dos anos 70, incios dos anos 80, as Naes Unidas decidiram nomear trs comisses independentes, com o objetivo de estudarem os aspectos relacionados com os desequilbrios entre os pases mais pobres e os mais ricos, assim como as questes referentes aos problemas ambientais globais. Destas trs comisses, a Comisso Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (WCED World Comission on Environment and Development) que, de forma mais ou menos significativa, marcou um ponto de virada na mentalidade com que as
34
O desenvolvimento sustentvel o desenvolvimento que permite dar resposta s necessidades
do presente, sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras darem resposta s delas
(WCED, 1987).
Assim sendo, o desenvolvimento sustentvel constitui o futuro de qualquer atividade
humana devendo ser economicamente vivel, socialmente benfico e ambientalmente adequado.
A sustentabilidade exige uma viso global de uma atividade, viso essa que deve ser to tcnica e
objetiva quanto possvel, sendo estruturada sob forma de metodologias abrangentes e
sistemticas. Implicitamente, o conceito implica uma obrigao de interessar-se ao
desenvolvimento de novas fontes de energia e de minimizar os impactos sobre o meio ambiente.
Na vertente ambiental do desenvolvimento sustentvel, a avaliao do ciclo de vida um
dos instrumentos abrangentes, fazendo parte integrante do sistema de gesto ambiental
consagrado pela srie de normas ISO 14000.
A Norma ISO 14040 define a Avaliao do Ciclo de Vida (ACV) como a compilao dos
fluxos de entradas e sadas e avaliao dos impactos ambientais associados a um produto ao
longo do seu Ciclo de Vida, ou seja, o conjunto de estados consecutivos e interligados de um
produto, desde a extrao de matrias-primas ou transformao de recursos naturais, at
deposio final do produto na natureza.
A avaliao do ciclo de vida tambm denominada de ecobalano ou anlise do bero
ao tmulo uma ferramenta concebida com o objetivo de avaliar as incidncias ambientais
associados a um produto, processo ou atividade, atravs da identificao e quantificao dos
recursos utilizados e, das emisses e resduos produzidos durante a atividade, da avaliao dos
impactos ambientais e da avaliao de oportunidades de melhorias na perspectiva ambiental.
A anlise abrange o ciclo de vida completo do produto, processo ou atividade, sendo de
destacar as seguintes: extrao dos recursos da natureza, processamento das matrias-primas;
polticas de desenvolvimento devem ser encaradas. A WCED publica, em 1987, um relatrio intitulado Our Common Future (tambm conhecido como Relatrio de Brundtland, devido ao fato da comisso ter sido dirigida pela Primeira Ministra da Noruega, a Sra. Gro Harlem Brundtland) onde escrito a famosa definio do termo desenvolvimento sustentvel.
35
produo, transporte e distribuio; utilizao, reutilizao e manuteno; reciclagem e descarte
final. A reutilizao pode ter como finalidade prolongar a vida til do produto visando mesma
finalidade para o qual elaborado, ou no. J a reciclagem, consiste no reaproveitamento do
material, no do produto. Caso o material venha a constituir o mesmo produto, denomina-se
reciclagem fechada. Do contrrio, reciclagem aberta (HEIJUNGS et al., 1992).
O termo produto aqui considerado no seu sentido mais amplo, ou seja, incluindo bens
fsicos como bens de servios, bens e servios a nvel operacionais e estratgicos (GUINE J., et
al., 2001). A figura 3.1 um fluxograma simplificado que ilustra o inventrio do ciclo de vida de
um produto genrico e onde evidenciado em cada etapa do ciclo de vida de um produto ou
processo h consumo de insumo ou energia e gerao de um certo impacto ou resduo. Sendo que
o fluxograma deve ser detalhado para cada opo de produto ou atividade, resultando numa
considerao completa e sistemtica de todos os impactos ambientais associados a cada
alternativa e etapa da seqncia entre o bero e o tmulo.
Figura 3.1 Fluxograma do ciclo de vida de um produto
Figura 3.1 Etapas de um sistema de produo
Fonte: CURRAM. M.A. (1996), Adaptao do autor.
Impacto
Reutilizao
Impacto Impacto Impacto
Energia Energia Energia Energia Energia
Extrao
recursos
Proces-
samento
Matria-
prima
Produo Transporte Distribuio
Utilizao Descarte final Reciclagem Reutilizao
Reciclagem
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3.2 Evoluo histrica da ACV
Historicamente, a origem do uso da metodologia de ACV se reporta ao incio da dcada
de setenta (MIETTINEN & HAMALAINEN, 1997), perodo em que questes ambientais como
eficincia energtica, consumo de matrias-primas escassas e destino final de resduos slidos
tornaram-se preocupao geral.
Inicialmente, os estudos foram simples e eram, principalmente, direcionados a clculos de
entrada de energia e liberao de resduos slidos nos sistemas e com pouca ateno dada
avaliao de potencial impacto ambiental.
No final da dcada de oitenta vrios estudos usando ACV foram realizados,
principalmente por empresas privadas na Sucia, na Sua e nos Estados Unidos (HUPPES, 1996;
UDO de HAES, 1993). Porm, muitos desses estudos usavam mtodos diferentes e foram
executados sem a adoo de uma ferramenta terica comum. Por conseguinte os resultados entre
estudos, que por sinal tinham o mesmo objetivo, freqentemente diferenciavam
consideravelmente, e impediam que a ACV se tornasse uma tcnica analtica mais aceitvel
(UDO de HAES, 1993; UNEP, 1996).
No incio da dcada de noventa, verificou-se o envolvimento progressivo de numerosas
organizaes no governamentais no debate sobre importncia e metodologia de anlise de ciclo
de vida. Iniciou-se ento uma aproximao entre metodologia de anlise de ciclo de vida e seu
possvel uso para avaliar os impactos decorrentes do uso de recursos e da emisso de alguns
gases. Foi assim que efeitos como o aquecimento global e a acidificao comearam a ser
investigados por meio de anlise de ciclo de vida. Na mesma poca, foram feitas tentativas no
sentido de desenvolver e unificar a metodologia de anlise de ciclo de vida sob a coordenao da
Sociedade de Toxicologia Ambiental e Qumica - SETAC, tendo os seus progressos e resultados
sido apresentados em numerosas conferncias internacionais.
O debate internacional acerca da anlise de ciclo de vida atingiu presentemente grande
intensidade devido participao de numerosas representaes das diferentes esferas
37
governamentais, institucionais (SETAC, ISO e UNEP), acadmicas, no-governamentais,