Tcc - Historia Da Nutrição

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  • 7/24/2019 Tcc - Historia Da Nutrio

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    Universidade de BrasliaCentro de Excelncia em Turismo

    NUTRICIONISTA:

    UM HISTRICO DA PROFISSO AT OS DIAS ATUAIS

    Daniela Cervo de Toloza

    Orientador: Raquel Assuno BotelhoCo-orientador: Rita de Cssia Akutsu

    Monografia apresentada ao Centro deExcelncia em Turismo da Universidade

    de Braslia como requisito parcial para aobteno do certificado de Especialista emQualidade dos Alimentos

    Braslia, janeiro de 2003.

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    Universidade de BrasliaCentro de Excelncia em Turismo

    NUTRICIONISTA:

    UM HISTRICO DA PROFISSO AT OS DIAS ATUAIS

    Daniela Cervo de Toloza

    Orientador: Raquel Assuno BotelhoCo-orientador: Rita de Cssia Akutsu

    Braslia, janeiro de 2003.

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    Toloza, Daniela Cervo deNutricionista: um histrico da profisso at os dias atuais/ Daniela

    Cervo de Toloza.57 f.Monografia (especializao) Universidade de Braslia. Centro de

    Excelncia em Turismo. Braslia, 2003.rea de concentrao: Nutrio.Orientadoras: Raquel Assuno Botelho e Rita de Cssia Akutsu.

    1. Histria da Nutrio 2. Nutricionista 3. reas de atuao

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    UNIVERSIDADE DE BRASLIACentro de Excelncia em Turismo

    Curso de Especializao em Qualidade em Alimentos

    NUTRICIONISTA:

    UM HISTRICO DA PROFISSO AT OS DIAS ATUAIS

    Daniela Cervo de Toloza

    Banca examinadora:

    Profa. Ms. Raquel Assuno BotelhoOrientadora

    Profa rika Barbosa CamargoNutricionista

    Braslia, 10 de fevereiro de 2003.

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    DANIELA CERVO DE TOLOZA

    Nutricionista: um histrico da profisso at os dias atuais

    Comisso Avaliadora

    Profa. Ms. Raquel Assuno BotelhoOrientadora

    Profa rika Barbosa CamargoNutricionista

    Braslia, 10 de fevereiro de 2003.

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    DEDICATRIA

    A Deus por esse presente que a vida...

    A minha me Sandra, a quem devo tudo o que sou...

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    Criada num momento em que alguma estratgia

    deveria ser apontada para o alvio da fome,

    a nutrio surgiu como um facho de luz que

    deveria ser o incio de uma longa caminhada.

    O improviso veio do fato de ningum atentar

    para um detalhe: nem toda a fome tecnicamente

    curada, nem todo o po tem suplemento.

    Mais do que dar a farinha, ensinar a preparar,

    armazenar e consumir o po, necessrio defender

    que todo o homem saiba como conseguir este po,

    mais do que isso, necessrio que se faa saber que

    as migalhas que sobram de uns no podem ser

    a nica fonte de outros milhares.

    Juliana Pereira Casemiro (nutricionista)

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    RESUMO

    O presente trabalho pretende realizar um resgate histrico do processo de

    emergncia e evoluo da profisso de nutricionista no Brasil e em diversos pases do

    mundo. A metodologia utilizada se baseou em reviso da literatura sobre a temtica

    abordada. Para tanto, dividiu-se o trabalho em quatro captulos, nos quais parte-se de uma

    retrospectiva sobre a emergncia do campo da Nutrio no mundo. Em seguida, realiza-se

    um histrico do surgimento do nutricionista no Brasil, continuando com um resgate dos

    eventos e estudos brasileiros e latino-americanos sobre a formao do profissional e em

    seu ltimo captulo, identifica as reas de atuao e as perspectivas no mercado de

    trabalho. O trabalho termina apontando as mudanas que podem ser visualizadas para a

    prtica profissional do nutricionista no decorrer do sculo XXI.

    Palavras-chave: histria da nutrio, nutricionista, reas de atuao.

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    ABSTRACT

    The objective of this work is to carry out a historical ransom of the process that

    established the origin and evolution of the nutritionist in Brazil and in other countries. Themethodology was based on a literature review of the subject. For that, the work was

    divided in sections, which the first part is dedicated to the origin of Nutrition in the world.

    Next, it produces a historical of the nutritionists origin in Brazil, it continues with a

    review of Brazilian and Latino-American events and studies about the formation of this

    professional and in the last chapter, it identifies the areas of the insertion of nutritionist and

    the perspectives of the professional practice. The work ends with the changes that can be

    visualized for the nutritionist during the XXI century.

    Keywords: history of nutrition, nutritionist, professional occupations.

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    SUMRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................01

    INTRODUO ........................................................................................................02

    CAPTULO 1- A HISTRIA DA NUTRIO: AS ORIGENS DOPROFISSIONAL DIETISTA/ NUTRICIONISTA NO MUNDO ........................04

    1.1. . DIETTICA X NUTRIO .................................................................................... 041.2. O SURGIMENTO DO PROFISSIONAL DIETISTA/ NUTRICIONISTA ............... 05

    CAPTULO 2 - O NASCIMENTO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTANO BRASIL: ASPECTOS HISTRICOS ............................................................08

    2.1. A EMERGNCIA DA PROFISSO ......................................................................... 082.2. O PROCESSO DE FORMAO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA........... 10

    2.3. A CONSOLIDAO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA.............................. 132.4. O RECONHECIMENTO DO CURSO DE NUTRIO COMO DE NVEL

    SUPERIOR E A EXPANSO DOS CURSOS NO PAS..................................................... 15

    CAPTULO 3 - A EVOLUO CURRICULAR DOS CURSOS DE NUTRIO,O PERFIL DA CATEGORIA E RECOMENDAES CURRICULARES .....18

    3.1. EVOLUO CURRICULAR DOS CURSOS DE NUTRIO EPERFIL DA CATEGORIA.................................................................................................... 18

    3.2. DISCUSSO DOS PROBLEMAS SOBRE A FORMAO DOPROFISSIONAL E RECOMENDAES CURRICULARES ........................................... 22

    3.3. O CURRCULO ATUAL ........................................................................................... 25

    CAPTULO 4 - A TRAJETRIA PROFISSIONAL DO NUTRICIONISTA:O EXERCCIO DA PROFISSO, REAS DE ATUAOE PERSPECTIVAS ..................................................................................................27

    4.1. A ESCOLHA DA PROFISSO DE NUTRICIONISTA ........................................... 274.2. O EXERCCIO PROFISSIONAL: UM BREVE RETROSPECTO........................... 284.3. REAS DE ATUAO............................................................................................. 30

    4.3.1.Principais reas de atuao dos nutricionistas....................................................... 304.3.2.Outras reas de atuao: Perspectivas. .................................................................. 36

    CONSIDERAES FINAIS...................................................................................39

    ANEXOS ...................................................................................................................42

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................53

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    LISTA DE ABREVIATURAS

    ABN - Associao Brasileira de Nutricionistas

    ADA - Associao Americana de DietticaASBRAN - Associao Brasileira de Nutrio

    CEPANDAL -Comisso de Estudos para Programas Acadmicos de Nutrio para a

    Amrica Latina

    CFE - Conselho Federal de Educao

    CFN - Conselho Federal de Nutricionistas

    CIPA - Centro Integrado de Preveno de Acidentes

    CONBRAN - Congresso Brasileiro de NutrioCRN - Conselho Regional de Nutricionistas

    ENEN - Encontro Nacional de Entidades de Nutricionistas

    FAO - Organizao para Agricultura e Alimentao

    FEBRAN - Federao Brasileira das Associaes de Nutricionistas

    IAPI - Instituto de Aposentadorias e Penses dos Industririos

    INAN - Instituto Nacional de Alimentao e Nutrio

    MEC - Ministrio da Educao e CulturaOMS - Organizao Mundial de Sade

    ONU - Organizao das Naes Unidas

    OPAS - Organizao Pan-Americana de Sade

    OSLN - Organizao de Sade da Liga das Naes

    PAT - Programa de Alimentao do Trabalhador

    PRONAN - Programa Nacional de Alimentao e Nutrio

    SAPS - Servio de Alimentao da Previdncia Social

    SBN - Sociedade Brasileira de Nutrio

    UAN - Unidade de Alimentao e Nutrio

    UNICEF - United Nations International Childrens Emergency Fund

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    INTRODUO

    No cenrio mundial, pode-se afirmar que a emergncia da Nutrio, como campo

    especfico de saber cientfico, um fenmeno relativamente recente, caracterstico do

    incio do sculo XX (VASCONCELOS, 2002). Tambm se pode sustentar que as

    condies histricas para a constituio desse campo foram estimuladas com o advento da

    Revoluo Industrial europia, ocorrida no sculo XVIII (VASCONCELOS, 2001a,

    2001b).

    No Brasil, a origem do campo da Nutrio, seja como disciplina, poltica e/ou

    profisso, tem sido contextualizada no bojo das transformaes econmico-poltico-sociais

    e culturais que o pas vivenciou no decorrer dos anos 1930-1940. Ou seja, a nutrio surge

    quando o pas consolida sua opo pelo modelo capitalista industrial, no chamado Estado

    Novo de Getlio Vargas, perodo marcado por preocupaes polticas no sentido de atender

    aos anseios prioritrios da populao. Acompanhando esse momento, nasce a preocupao

    nacionalista por parte do Estado, como forma de embasamento social para sua manuteno

    no poder. Alm disso, a Segunda Guerra Mundial tambm contribuiu para o processo de

    industrializao do pas e da conseqente formao do operrio, a quem se dirigiam s

    polticas sociais governamentais de cunho assistencialista. Pois exatamente nessemomento que os cursos de Nutrio comeam a ganhar corpo, impulsionando a categoria,

    dentro da proposta governamental de proteo ao trabalhador.(YPIRANGA, 1981;

    BARBOSA 1983; YPIRANGA e GIL, 1987: apud PRADO e ABREU, 1991 e apud

    COSTA, 1996).

    At a dcada de setenta (do sculo XX), a formao do nutricionista manteve-se

    restrita, com apenas sete cursos, passando a partir da, com a reforma universitria, por um

    intenso crescimento, e um conseqente aumento do nmero de vagas e criao de novoscursos de Nutrio. Houve, ento, uma formao macia de nutricionistas a partir da

    dcada referida, comparada s dcadas anteriores.

    As discusses sobre a formao acadmica do nutricionista tm seu incio ao final

    da dcada de sessenta (do sculo XX), na Amrica Latina, e surgem no Brasil na dcada de

    setenta, principalmente com a realizao do I Diagnstico dos Cursos de Nutrio, em

    1975. A evoluo na reflexo acerca desse profissional continua ao longo dos anos, sendo

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    que os maiores avanos efetuados aconteceram na dcada de oitenta, quando discusses

    foram feitas sobre os aspectos conceituais, estruturais e metodolgicos dos cursos de

    Nutrio, bem como a insero da categoria no contexto mais abrangente dos profissionais

    de sade e a construo do perfil do nutricionista que se desejaria formar.

    Com pouco mais de sessenta anos de existncia no Brasil, a profisso de

    nutricionista vem passando por marcantes transformaes, determinadas em grande parte,

    pelo modelo de desenvolvimento adotado pelo pas ao final dos anos trinta, pelas polticas

    governamentais para a Sade e pelas intensas discusses sobre a formao acadmica da

    categoria at os dias atuais. Tais transformaes configuraram mudanas no mercado de

    trabalho, em que oportunidades antes restritas s tradicionais reas de atuao

    (Alimentao Institucional, Nutrio Clnica e Nutrio em Sade Pblica), se estenderama outras reas, constituindo-se em um desafio para o profissional.

    A importncia da revisita realizada sobre a Histria da Nutrio - por este trabalho-

    reside no fato de que nela ocorreram eventos que ao serem analisados, trazem a

    constatao de que cada passo dado na evoluo da profisso de nutricionista um

    resultado de processos contraditrios, de avanos e retrocessos, de lutas e interesses

    (COSTA, 1999). o histrico da profisso que deve ser conhecido por todos os estudantes

    e profissionais desta rea para que reflitam sobre o caminhar da categoria.Neste trabalho, procurou-se realizar um resgate histrico do processo de surgimento

    e evoluo da profisso de nutricionista no Brasil e em outros pases, bem como se

    buscaram informaes acerca da trajetria profissional e seus novos desafios no pas. A

    metodologia utilizada no presente trabalho consistiu de um levantamento e reviso

    bibliogrfica sobre esta temtica. Como critrios de anlise foram estabelecidos os

    seguintes cortes metodolgicos: o Captulo 1 faz um resgate da histria da Nutrio e a

    origem do profissional dietista/nutricionista no mundo; o Captulo 2 apresenta um histricodo surgimento do nutricionista no Brasil e sua consolidao como profissional de nvel

    superior; o Captulo 3 versa sobre o currculo dos cursos de Nutrio e traa o perfil da

    categoria que se deseja formar e; o Captulo 4 faz um retrospecto sobre o exerccio

    profissional, alm de identificar as principais reas de atuao e o novo mercado de

    trabalho. Por fim, nas consideraes finais deste trabalho procura-se apontar as mudanas

    que podem ser visualizadas para a prtica profissional do nutricionista no decorrer do

    sculo XXI.

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    CAPTULO 1: A HISTRIA DA NUTRIO: AS ORIGENS DO

    PROFISSIONAL DIETISTA/ NUTRICIONISTA NO MUNDO.

    Este captulo apresenta um breve esclarecimento sobre nutrio e diettica, alm de

    traar as origens do profissional dietista/ nutricionista em alguns pases do mundo.

    1.1. DIETTICA X NUTRIO

    Ao se falar em nutrio deve-se primeiro tentar esclarecer as diferenas que podem

    existir entre nutrio e diettica. Em escritos anteriores, incluindo os atribudos a

    Hipcrates, a palavra dieta aparecia freqentemente. Nutrio, por outro lado, uma

    palavra nova. At o final de 1890 a palavra nutrio no era muito utilizada. Os

    fisiologistas falavam preferencialmente de metabolismo (TODHUNTER, 1965).

    Algum esclarecimento a essa terminologia pode ser obtido aceitando-se a definio

    dada por Mary Swartz ROSE, em 1935 (apud TODHUNTER, 1965): a nutrio lida com

    as leis cientficas que governam... os requerimentos dos seres humanos para a sua

    manuteno, crescimento, atividade, reproduo e lactao; j a diettica lida com a

    aplicao prtica a indivduos, grupos sadios ou enfermos.

    Os estudos quantitativos da necessidade calrica feitos por Lavoisier estabeleceram

    o clculo dos requerimentos alimentares humanos e a fundao da nutrio como cincia.

    Avanos em fisiologia, e mais especificamente, o desenvolvimento da qumica fisiolgica

    no sculo XIX possibilitaram a aceitao da nutrio como cincia no sculo XX, mas o

    interesse na dieta e na diettica comeou sculos antes deste (TODHUNTER, 1965).

    A definio de ROSE (TODHUNTER, 1965) ainda aceita por alguns

    pesquisadores da rea. Contudo, bvio, que nutrio e diettica esto intimamenterelacionados e to entrelaados para serem separados. Ambos concernem alimentos de

    modo a promover no s a recuperao, mas tambm a preveno e a manuteno da sade

    do indivduo.

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    1.2. O SURGIMENTO DO PROFISSIONAL DIETISTA/ NUTRICIONISTA.

    Ao se tentar traar as razes da profisso de Dietista/Nutricionista no mundo,

    surgem vrias vertentes. O registro mais antigo em Nutrio feito no Canad, levantado

    no "Centro de Classificao Profissional e Ocupaes Tcnicas" em que aponta a atuao

    de Irms da Ordem de Ursulinas em Quebec (1670), depois em Ontrio (1867), no ensino

    da Economia Domstica. O primeiro curso universitrio de formao de dietistas data de

    1902 na Universidade de Toronto. A primeira dietista profissional foi nomeada no Canad

    em 1907 para o Hospital da Criana Doente, em Toronto (CRN-4, 2002a).

    Segundo TODHUNTER (1965), Florence Nightingale, considerada fundadora da

    enfermagem moderna, poderia ser tambm chamada de primeira dietista hospitalar, peloseu desempenho admirvel na assistncia aos feridos da Guerra da Crimia (1854) em

    Scutari, onde instalou cozinhas funcionais, para fornecer-lhes alimentao adequada e

    preparar dietas indicadas a enfermos graves. Entretanto, j em 1742, na Royal Infirmary,

    hospital de Edimburgo (Esccia), se preparavam dietas para casos especiais (CRN-4,

    2002a). Pode-se afirmar, portanto, que o exerccio pioneiro de diettica deu-se nas clnicas

    de antigas universidades europias, ao tempo do surgimento da cincia da nutrio.

    Renomados professores mdicos, interessados em estudos especficos, instruamenfermeiras, que eram treinadas nas cozinhas do hospital no preparo de dietas especiais.

    O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, em 1890, no John Hopkins Hospital e

    depois, em 1893, no Hospital Presbiteriano da Filadlfia, quando a designao Dietista

    foi aplicada para este tipo de atividade (CRN-4, 2002a).

    Outras vertentes se voltam para a importncia dada ao tratamento racional do

    alimento, como fator econmico, em decorrncia da 1 Guerra Mundial (1914), quando a

    proviso alimentar dos exrcitos e de outras coletividades se constituiu em grandesproblemas, incentivando estudos cientficos e cursos especficos relativos ao conhecimento

    de nutrio (CRN-4, 2002a).

    Na Alemanha, pesquisas colocaram em evidncia a necessidade do emprego do

    alimento de forma balanceada. Trabalhos relativos a alimentos foram publicados em 1914

    na Itlia e na Inglaterra. Em 1915, a Sociedade Cientfica de Higiene Alimentar de Paris foi

    declarada de utilidade pblica, tendo seus estatutos reformulados, incluindo uma comisso

    internacional de abastecimento. Essas medidas incentivaram a criao dos cursos de

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    Economia Domstica e Cincias Sociais com enfoque em conhecimentos de nutrio

    (CRN-4, 2002a).

    Em 1915, foi criado no Japo o Centro de Estudos de Alimentao, iniciando, em

    1919, um curso de Diettica.

    Em outubro de 1917, em Cleveland (EUA), um grupo de 58 pioneiros que

    desejavam colaborar com seu pas no programa alimentar de guerra, reuniu-se para

    constituir a primeira Associao Profissional de Dietistas: a Associao Americana de

    Diettica (A.D.A.). Seus integrantes possuam dois anos de curso com conhecimentos de

    Nutrio e Administrao de Servios de Alimentao para Coletividades. Seu lema era

    "Quam plurins prodesse"(Beneficiar tantos quantos possvel). Seus objetivos constituam

    em melhorar a nutrio do ser humano; desenvolver a cincia da Nutrio e Diettica;promover educao em nutrio e reas afins (CRN-4, 2002a).

    No perodo de 1917 a 1918, foi criado o "State Seminary for Home Economics" na

    Sucia, objetivando treinar profissionais para dietistas, que se encontravam empregados em

    Servios de Alimentao de larga escala e em hospitais, sendo que, em 1924, tambm as

    Foras Armadas do pas passaram a empregar dietistas (CRN-4, 2002a).

    Em 23 de abril de 1923, foi criada na Dinamarca, durante Congresso realizado em

    Conpenhagen, a Associao de Dietistas Administrativas. Criada no mesmo ano, aOrganizao de Sade da Liga das Naes (OSLN) estabeleceu centros em Moscou e, em

    1929, a URSS organizaram o 1 Instituto Cientfico de Odessa e outros similares em

    Rostov, Krakov, Kiev, Leningrado, com investigadores dedicados ao estudo de Nutrio,

    onde colaboraram mdicos, economistas e engenheiros dando um enfoque cientfico,

    econmico e industrial ao assunto. O Instituto de Odessa possua cozinha experimental e

    dietoterpica e um setor dedicado conservao e valor nutritivo dos alimentos (CRN-4,

    2002a).A OSLN organizou, vinte anos depois, a Organizao das Naes Unidas (ONU) na

    Conferncia de So Francisco (1945) e, sob a sua erige, a Organizao para Agricultura e

    Alimentao (FAO), com sede em Roma e, a Organizao Mundial de Sade (OMS) em

    1946, instalada no Palcio das Naes Unidas, em Genebra (CRN-4, 2002a). Essas

    organizaes muito contribuem para a divulgao e execuo de programas especficos

    ligados produo, distribuio e estudos sobre alimentos, patrocinando cursos e

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    incentivando a formao e aperfeioamento do profissional nutricionista e de outros

    integrantes da equipe de sade.

    Em 1927, foi aprovado o 1 Programa de Estgio Prtico nos Estados Unidos e, em

    1930, houve um Congresso de Dietistas em Toronto (Canad), onde compareceram 2000

    profissionais. O 1 Congresso Internacional de Diettica foi realizado em Amsterd

    (Holanda), em 1952. As associaes ali representadas no congresso revelaram formao

    profissional muito heterognea em durao de cursos, disciplinas e reas de atuao, ainda

    que visando primordialmente assuntos de diettica, e mantendo-se dentro de um critrio

    institucionalizado. Retrataram tambm, momentos do surgimento e etapas da evoluo da

    profisso nos pases de origem, bem como se registraram a criao de cursos na ndia,

    China, frica do Sul e outros pases da frica, Austrlia, Indonsia, Israel, Lbano, Coria,Filipinas, Mxico, Amrica Central e Amrica do Sul. Isto indicava a difuso e interesse

    mundial em assuntos da Nutrio, principalmente aps a II Guerra Mundial (CRN-4,

    2002a).

    Na Amrica Latina, a emergncia da Nutrio foi fortemente influenciada pelo

    mdico argentino Pedro Escudero, que aps acompanhar os avanos da cincia da Nutrio

    em outros pases, notadamente nos Estados Unidos, criou o Instituto Nacional de Nutrio,

    em 1926, a Escola Nacional de Dietistas em 1933, e o curso de mdicos dietlogos daUniversidade de Buenos Aires. As concepes de Escudero sobre este campo do saber

    foram difundidas em toda a Amrica Latina, em funo, inclusive, da concesso anual a

    cada pas latino-americano de bolsas de estudos para a realizao de cursos de Diettica no

    referido instituto. Assim, entre os primeiros brasileiros a estagiarem ou realizarem cursos

    promovidos por Escudero na Argentina, destacam-se: Jos Joo Barbosa, e Sylvio Soares

    de Mendona (curso de dietlogos); Firmina SantAnna e Lieselotte Hoeschl Ornellas

    (curso de dietistas), e Josu de Castro, que fez um estgio (BOOG e col, 1988;ASSOCIAO BRASILEIRA DE NUTRIO, 1991; VASCONCELOS, 2002).

    Portanto, pode-se afirmar que o interesse pela nutrio no Brasil deveu-se em

    grande parte, pelos trabalhos de Pedro Escudero e a profisso de Nutricionista se originou

    no pas, ao final da dcada de trinta, como ser descrito no captulo a seguir.

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    CAPTULO 2: O NASCIMENTO DO PROFISSIONAL

    NUTRICIONISTA NO BRASIL: ASPECTOS HISTRICOS.

    Este captulo versa sobre o surgimento do profissional nutricionista no Brasil, bem

    como relata o processo de formao da categoria, sua consolidao e reconhecimento como

    profissional de nvel superior no Brasil.

    2.1. A EMERGNCIA DA PROFISSO.

    No Brasil, segundo apontam alguns autores (COIMBRA e col,1982; L ABBATE,

    1988; VASCONCELOS, 1988; LIMA, 1997; e MAGALHES, 1997: apud

    VASCONCELOS, 2002; YPIRANGA, 1981; BARBOSA 1983; YPIRANGA e GIL, 1987

    apud PRADO e ABREU, 1991 e apud COSTA, 1996), a Nutrio teria emergido no

    decorrer dos anos 1930-1940, como parte integrante do projeto de modernizao da

    economia brasileira, conduzido pelo chamado Estado Nacional Populista ou Estado Novo

    (governo Vargas), cujo contexto histrico delimitou a implantao das bases para a

    consolidao de uma sociedade capitalista urbano-industrial no pas.

    Entretanto, preciso registrar, que, desde a segunda metade do sculo XIX, o saber

    sobre alimentao da populao brasileira comeou a despontar de forma mais

    sistematizada, dentro do campo de conhecimento mdico, atravs das teses apresentadas s

    duas faculdades de Medicina (Bahia e Rio de Janeiro) (VASCONCELOS, 2001a). Portanto

    so um pouco divergentes as origens da Nutrio brasileira. Alguns autores mencionam o

    livro de Eduardo Magalhes, Higiene Alimentar, publicado em 1908, outros apontam os

    estudos desenvolvidos, a partir de 1906, por lvaro Osrio de Almeida no campo da

    Fisiologia da Alimentao. Contudo, a existncia de pesquisas anteriores a respeito de

    doenas carenciais relacionadas alimentao e hbitos alimentares da populao

    brasileira, tais como, os desenvolvidos pelos mdicos Gama Lobo sobre avitaminose A e

    Nina Rodrigues sobre o consumo de farinha de mandioca, atestam ser mais remoto o

    interesse por esta temtica. (VASCONCELOS, 2002).

    Segundo MAURCIO (1964), COIMBRA e col 1982) e L ABBATE (1988), nos

    primeiros anos da dcada de 30, tanto no Rio de Janeiro como em So Paulo e,

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    posteriormente, em Salvador e Recife, duas correntes bem definidas e distintas do saber

    mdico confluram para a constituio do campo da Nutrio (apud VASCONCELOS,

    2001a). De um lado, encontravam-se os partidrios da corrente da perspectiva biolgica,

    preocupados com aspectos clnico-fisiolgicos relacionados ao consumo e utilizao

    biolgica dos nutrientes e influenciados por concepes das Escolas de Nutrio e Diettica

    norte-americanas e europias. Os mdicos integrantes desta corrente biolgica tinham

    atuao voltada para o individual, o doente, a clnica, a fisiologia e o laboratrio

    (VASCONCELOS, 2002). A partir de 1940, esta vertente deu origem Nutrio Clnica

    (Dietoterapia), considerada a especializao matriz do campo da Nutrio dentro do

    contexto mundial, direcionada para a prtica de aes, de carter individual, centradas no

    alimento como agente de tratamento (YPIRANGA e GIL, 1989), bem como originou aNutrio Bsica e Experimental, uma outra especializao, voltada ao desenvolvimento de

    pesquisas bsicas de carter experimental e laboratorial.

    Do outro lado, encontravam-se os adeptos da corrente de perspectiva social,

    preocupados com aspectos relacionados produo, distribuio e ao consumo de

    alimentos pela populao brasileira e influenciados, principalmente, pelas concepes do

    pioneiro da Nutrio na Amrica Latina, Pedro Escudero. A partir da dcada de 40, esta

    vertente deu origem Alimentao Institucional (Alimentao Coletiva), tambmconsiderada como uma especializao matriz do campo da Nutrio, direcionada para a

    administrao no sentido de racionalizao da alimentao (YPIRANGA e GIL, 1989)

    de coletividades sadias e enfermas, bem como, nos anos entre 1950 e 1960, originou a

    Nutrio em Sade Pblica, uma outra especializao, voltada ao desenvolvimento de

    aes de carter coletivo no sentido de contribuir para garantir que a produo e

    distribuio de alimentos sejam adequadas e acessveis a todos os indivduos da sociedade

    (YPIRANGA e GIL, 1989).Em sntese, ao longo da dcada de 30, estas duas concepes se uniram no processo

    de consolidao do campo de Nutrio no Brasil. Os primeiros nutrlogos brasileiros logo

    iniciaram o processo de produo e difuso de estudos e pesquisas sobre composio

    qumica dos alimentos e valor nutricional dos mesmos, sobre o consumo e hbitos

    alimentares da populao brasileira, procurando, assim, garantir especificidade e

    legitimidade desta nova rea do saber cientfico que se constitua no pas. Da mesma forma,

    sobretudo a partir da segunda metade dos anos 1930, passaram a formular, atravs do

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    chamado Estado Populista, as primeiras medidas e instrumentos de Poltica Social de

    Alimentao e Nutrio, os quais comearam a ser implementados no Brasil.

    Simultaneamente, trataram de criar os mecanismos e espaos institucionais necessrios

    formao dos seus novos agentes, seja atravs de estgios, cursos no exterior, ou atravs da

    criao dos primeiros cursos para formao de profissionais em Alimentao e Nutrio,

    estabelecendo a demarcao das fronteiras definidoras dos limites de competncia, de

    autonomia e de poder entre as distintas especialidades profissionais integrantes do

    complexo e interdisciplinar campo da Nutrio que surgia (COIMBRA e col, 1982;

    LABBATE, 1988 apud VASCONCELOS, 2002).

    2.2. O PROCESSO DE FORMAO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA

    A formao do nutricionista se confunde com a formao de profissionais para o

    mercado de trabalho em sade, constituindo uma etapa da formao do mercado capitalista

    de um modo geral. A prtica do nutricionista, na sua origem, foi estruturada a partir da

    diettica, como parte de uma prtica da enfermagem nos cuidados do paciente. (VIANA,

    1996 apud AKUTSU, 2001). Entretanto, deve-se ressaltar que a emergncia e o

    desenvolvimento da profisso no Brasil esteve, desde o seu nascimento, vinculada spolticas do Estado, entre as quais, destacam-se, respectivamente, duas que marcaram o

    processo de criao e consolidao da profisso: a criao, em 1940, do Servio de

    Alimentao da Previdncia Social (SAPS), e a implementao do Programa de

    Alimentao do Trabalhador (PAT), em 1976 (AKUTSU, 2001).

    Com isso, o processo de formao do nutricionista brasileiro, idealizado pela

    primeira gerao de mdicos nutrlogos, teve seu incio na dcada de 1940, quando foram

    criados os quatro primeiros cursos do pas. O primeiro curso para a formao denutricionistas foi criado, em 1939, no Instituto de Higiene de So Paulo (atual Curso de

    Graduao de Nutrio da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo). Em

    1940, tiveram incio os cursos tcnicos do Servio Central de Alimentao do Instituto de

    Aposentadorias e Penses dos Industririos (IAPI), os quais deram origem, no mesmo ano,

    ao Servio de Alimentao da Previdncia Social (SAPS).

    O SAPS, criado em 5 de agosto de 1940 no Ministrio do Trabalho, da Indstria e

    Comrcio, durante a vigncia do Estado Novo de Vargas, foi o primeiro rgo de poltica

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    de alimentao institudo no Estado brasileiro. Sua criao foi precedida de duas medidas

    governamentais: o Decreto-Lei no.1.228 de 2 de maio de 1939, estabelecendo a

    obrigatoriedade para as empresas com mais de quinhentos empregados instalar refeitrios

    para os trabalhadores e, sobretudo, a criao, em 25 de outubro do mesmo ano, do Servio

    Central de Alimentao, no IAPI (LABBATE, 1988). O objetivo do SAPS consistia em

    assegurar condies favorveis e higinicas alimentao dos segurados dos Institutos de

    Caixas de Aposentadoria e Penses, subordinados ao respectivo Ministrio (LABATTE,

    1982, apudBOOG e col, 1988).

    A necessidade de promover a educao alimentar da populao, bem como de

    contar com tcnicos para a execuo das vrias atividades necessrias ao setor, esbarrava

    com a falta de pessoal. Por isso, o SAPS, formava a primeira turma de nutricionistas em1943, e nesse mesmo ano, pelo Decreto-Lei no. 5.443 de 30 de abril, criavam-se cursos

    tcnicos e profissionais da rea de nutrio, bem como pessoal para executar as tarefas de

    copa e cozinha (LABBATE, 1988).

    Em 1944, foi criado o Curso de Nutricionistas da Escola Tcnica de Assistncia

    Social Cecy Dodsworth (atual Curso de Graduao em Nutrio do Instituto de Nutrio

    da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) (COSTA, 1953; MAURCIO, 1964

    apud VASCONCELOS, 2002; ASSOCIAO..., 1991).As poucas anlises realizadas sobre esse processo, apontam caractersticas

    histricas bastante especficas, apesar das influncias externas sofridas, tanto das escolas

    norte-americanas e europias, como tambm da escola argentina de Pedro Escudero.

    Conforme YPIRANGA e GIL (1989) assinalam, o profissional surge dentro do setor

    sade, tendo como objeto de trabalho a alimentao do homem no seu plano individual e

    coletivo. Porm, outros relatos indicam o surgimento simultneo do nutricionista no setor

    de administrao de servios de alimentao do trabalhador (nos restaurantes populares doSAPS), por vontade governamental, em momento de busca de legitimao social,

    constituindo-se em instrumento de alvio de tenses sociais (YPIRANGA e GIL, 1989). O

    mesmo disse SANTOS (1988): a profisso teve razes... na preocupao nacionalista por

    parte do Estado, como forma de embasamento social para a sua manuteno no poder

    (apud COSTA, 1999). Isso quer dizer que, a nfase do processo de formao do

    nutricionista, neste primeiro momento, foi capacitao de um profissional de sade para a

    atuao tanto em Nutrio Clnica, como em Nutrio Institucional.

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    Segundo BAZ (1977), a partir da dcada de 50, o dietista na Amrica Latina

    passou a ser designado de nutricionista-dietista, como uma adaptao da terminologia

    usada nos Estados Unidos, pas em que eram formados os dois profissionais, o dietista e o

    nutricionista, com funes independentes e delimitadas (apud COSTA, 1999).

    O Brasil, entretanto, adotou a terminologia nutricionista. Isso se deve ao fato de

    que, nesta fase inicial, o profissional era formado dentro de um curso tcnico de nvel

    mdio e era chamado de dietista ou auxiliar de nutrio. Aos poucos, os cursos brasileiros

    foram sofrendo alteraes, aproximando-se das caractersticas do curso do Instituto

    Nacional de Nutrio da Argentina, formando um profissional de nvel universitrio, com

    conhecimentos especficos de Nutrio, com funes e responsabilidades prprias de

    ateno diettica ao indivduo sadio ou enfermo, de forma individual ou coletiva (BOSI,1996; ICAZA, 1991, apudVASCONCELOS, 2002;).

    Por outro lado, de acordo com outras publicaes da poca, no apenas as

    denominaes, mas tambm os limites de competncia de cada profissional vinculado ao

    ento emergente campo da Nutrio, encontravam-se demarcados no projeto dos primeiros

    mdicos nutrlogos brasileiros. COSTA (1953), por exemplo, idealizador dos cursos

    desenvolvidos pela SAPS para nutrlogos, nutricionistas e demais profissionais desta rea,

    concebia os mdicos nutrlogos como especialistas na moderna Nutrologia, dotados deconhecimentos e viso bem mais amplos que os antigos dietistas, que sempre os ouve,

    enquanto as nutricionistas seriam as auxiliares diretas daqueles mdicos. MAURCIO

    (1964), permanecia argumentando que cabe(ria) ao nutrlogo a orientao clnica e

    dietoterpica em relao ao enfermo, cabendo-lhe outrossim a parte mdica e fisiolgica da

    profisso em face de sua formao especializada.Ao mesmo tempo, afirmava que o papel

    da nutricionista, (era), sobretudo, relevante quer como executante da prescrio mdica,

    quer exercendo funes de auxiliar de chefia de servios dietticos (apudVASCONCELOS, 2002).

    interessante observar que era comum a referncia do profissional de nutrio

    como a nutricionista. De fato, nesse perodo, a profisso era tida como exclusivamente

    feminina, conforme atestam alguns documentos que divulgaram a profisso como um

    novo campo profissional e de magnficas oportunidades abertas s moas deste pas. A

    profisso era tida como jovem e promissora, pelo surgimento da preocupao com o

    problema alimentar e nutricional da populao brasileira e pela emergncia da medicina

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    comunitria, que utilizava o trabalho de outras categorias profissionais complementares ao

    ato mdico (COSTA, 1999). A educao alimentar era considerada, ento, como

    ferramenta necessria para libertar a sociedade humana da doena e da fome (SANTOS,

    1988 apud COSTA, 1999).

    Alm da criao dos primeiros cursos de nutrio no Brasil, entre os anos de 1939 a

    1949, importantes eventos precisam ser ressaltados. Na rea da Poltica Social de

    Alimentao e Nutrio destaca-se a criao do Servio de Alimentao da Previdncia

    Social (SAPS), em 1940, j anteriormente citado, que se transformaria em um dos

    principais centros de formao de recursos humanos na rea de Nutrio, bem como um

    dos principais campos de trabalho para nutricionistas (VASCONCELOS, 2002).

    Na rea do desenvolvimento cientfico-tecnolgico e de organizao dosprofissionais do campo de Nutrio, devem ser enfatizadas: a fundao em 1940, da

    Sociedade Brasileira de Nutrio (SBN), entidade de carter tcnico-cientfico e cultural

    que passaria a defender os interesses dos profissionais do setor; a criao dos Arquivos

    Brasileiros de Nutrio, em maio de 1944, primeira revista cientfica brasileira neste campo

    especfico de conhecimento; a fundao da Associao Brasileira de Nutricionistas (ABN),

    em 31 de agosto de 1949, primeira entidade brasileira criada com intuito de defender e

    representar os interesses dos nutricionistas/dietistas, bem como desenvolver pesquisas noramo da Nutrio. Em funo disso, a partir de ento, a data de 31 de agosto passou a ser

    comemorada como o dia do nutricionista (CFN, 1999, apud VASCONCELOS, 2002).

    2.3. A CONSOLIDAO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA.

    Nos anos 50, foram criados mais dois cursos para formao de nutricionistas e no

    final da dcada de 60 existiam sete cursos no Brasil. A partir dos anos 60, passou-se adiscutir na comunidade latino-americana de Nutrio, a formao de um profissional de

    nvel universitrio, qualificado por formao e experincia, para atuar nos servios de

    sade Pblica com o fim de melhorar a nutrio humana, essencial para a manuteno do

    mais alto nvel de sade (YPIRANGA e GIL. 1989). A partir dessas constataes ento, o

    processo de formao dos nutricionistas no Brasil, passou a sofrer transformaes. Este

    fato se constituiu em um dos eventos sinalizadores do processo de instituio do campo da

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    Nutrio em Sade Pblica dentro do contexto internacional e, principalmente, no interior

    dos pases latino-americanos.

    Alguns autores como COIMBRA e col (1982) e L ABBATE (1988), apontam,

    entretanto, que eventos anteriores a essa discusso indicavam a emergncia do campo da

    Nutrio em Sade Pblica. Segundo os mesmos, no ps-Segunda Guerra Mundial, uma

    nova ordem poltico-econmica comeou a ser estabelecida no plano internacional e com

    isso, em 1946, teve incio a Guerra Fria entre os pases capitalistas industrializados do

    hemisfrio norte, liderados pelos EUA, e os pases socialistas da Europa Oriental e da sia,

    liderados pela Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS). Neste contexto, o

    campo da Nutrio encontrou espaos institucionais adequados para a sua ampliao e

    consolidao. Assim, pode-se dizer, que o campo da Nutrio em Sade Pblica surgiu,dentro do contexto internacional, no interior de agncias especializadas da Organizao das

    Naes Unidas (ONU), tais como o United Nations International Childrens Emergency

    Fund (UNICEF), a Organizao para Agricultura e Alimentao (FAO) e a Organizao

    Pan-Americana de Sade (OPAS) (apud VASCONCELOS, 2002).

    Segundo VASCONCELOS (2002), a preocupao com a questo da alimentao e

    nutrio da populao (dentro de uma abordagem do coletivo) teve incio com o desenrolar

    da Segunda Guerra Mundial. Um primeiro indcio desta preocupao foi a realizao, em1942, da National Nutrition Conference for Defense (conhecida como a Conferncia de

    Washington). O passo seguinte foi realizao, em 1943, da Conferncia de Alimentao

    deHot Springs, Virgnia, e que teve a participao de representantes de 44 pases, onde foi

    proposta a criao de um rgo internacional especializado em alimentao. Esta

    conferncia de 1943 deu origem criao, em 1946, tanto da FAO, entidade da ONU

    responsvel pela questo da alimentao e nutrio mundial, como do UNICEF, entidade

    com fins humanitrios de assistncia s crianas europias vtimas dos efeitos da SegundaGuerra Mundial. Em 1948, em Montevidu, Uruguai, realizou-se a 1a. Conferncia Latino-

    Americana da FAO, sendo este o primeiro evento cientfico da FAO a recomendar o

    desenvolvimento de atividades especficas no campo da Nutrio em Sade Pblica, dentro

    do contexto internacional.

    No caso do Brasil, a emergncia do processo de institucionalizao do campo da

    Nutrio em Sade Pblica tem sido associada fundao, em 1957, do Curso de

    Nutricionistas do ento Instituto de Fisiologia e Nutrio da Faculdade de Medicina de

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    Recife, apontado como o primeiro curso brasileiro a formar profissionais voltados para a

    atuao no campo da Nutrio em Sade Pblica (VASCONCELOS, 2002).

    2.4. O RECONHECIMENTO DO CURSO DE NUTRIO COMO DE NVEL

    SUPERIOR E A EXPANSO DOS CURSOS NO PAS.

    A luta pelo reconhecimento do curso de nutricionista como sendo de nvel superior

    teve seu incio por volta de 1952, quando no s os cursos at ento existentes como

    tambm a ABN, comearam a encaminhar ao Ministrio da Educao os primeiros pedidos

    de reconhecimento. Aps dez anos, atravs do Parecer no. 265, de 19 de outubro de 1962, o

    ento Conselho Federal de Educao (CFE) reconheceu os Cursos de Nutricionistas comode nvel superior, estabeleceu o primeiro currculo mnimo e fixou a durao de trs anos

    para a formao de nutricionistas, a nvel nacional (ASSOCIAO...; 1991, CFN, 1999

    apudVASCONCELOS, 2002).

    A luta pela regulamentao da profisso, por sua vez, teve seu desfecho positivo

    apenas em 24 de abril de 1967, quando foi sancionada a Lei no. 5.276 (anexo I), dispondo

    sobre a profisso de nutricionista, regulamentando o seu exerccio e dando outras

    providncias - instrumento legal que vigorou at 1991, quando foi revogada por uma novalegislao (ASSOCIAO..., 1991, CFN, 1999 apudVASCONCELOS, 2002). Assim, o

    nutricionista foi enquadrado pela Portaria Ministerial 3.425 do Ministrio do Trabalho,

    como profissional liberal autnomo, absorvendo na carreira todos os que j haviam sido

    diplomados como nutricionistas ou dietistas (BOSI, 1996).

    A partir da dcada de 70, sobretudo em 1976, com a criao do Programa de

    Alimentao do Trabalhador (PAT) que, por sua vez, foi concebido como parte do II

    Programa Nacional de Alimentao e Nutrio (II PRONAN) desenvolvido sob acoordenao do ento Instituto Nacional de Alimentao e Nutrio (INAN), verificou-se

    um acelerado processo de criao de novos cursos para a formao de nutricionistas no

    Brasil (PRADO e ABREU, 1991). Com o objetivo de melhorar as condies nutricionais

    dos operrios, prioritariamente os de baixa renda (at 5 salrios mnimos), um novo campo

    de atuao dos nutricionistas surgiria (AKUTSU, 2001). Neste sentido, como uma das

    diretrizes do II PRONAN consistia em estimular o processo de formao e capacitao de

    recursos humanos em Nutrio, dada a insero do nutricionista no PAT, entre 1975 a

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    1981, expandiu-se assustadoramente, de 7 para 30 o nmero de cursos de Nutrio

    existentes no pas (VASCONCELOS, 2002). Esse explosivo aumento do ensino superior

    no pas deu-se a partir da Reforma Universitria instituda pela Lei no. 5.540 de 1968, a

    qual incrementou a formao profissional em todos os cursos da rea de sade (COSTA,

    1999). Com isso, observou-se um aumento expressivo do nmero de vagas para estes, que

    passou de 570, em 1975, para 1592 em 1980, representando um aumento de 279 %. Alm

    disso, a partir deste perodo teve incio o processo de criao dos cursos do setor privado,

    os quais em 1980, correspondiam a 30% do total existente e eram responsveis por 48% do

    total de vagas oferecidas no pas (BOSI, 1988).

    A expanso do nmero de cursos e de profissionais no pas, por sua vez, forjou a

    ampliao e diversificao do mercado de trabalho, bem como o processo de organizao,mobilizao e luta desta categoria profissional pelos seus interesses e necessidades. Assim

    alguns aspectos ocorridos no perodo de 1970 a 1984 devem ser mencionados.

    Em primeiro lugar, destaca-se a fixao pelo CFE, em 1974, do segundo currculo

    mnimo, o qual estabelecia uma carga total de 2880 horas, a ser integralizada com uma

    durao de quatro anos de curso; e a realizao dos I e II Diagnsticos dos Cursos de

    Nutrio, realizados em 1975 e 1980, respectivamente, com objetivos de avaliar a formao

    do nutricionista em todo o pas (BOSI, 1988).Em segundo lugar, destaca-se a aprovao da Lei no. 6.583, de 20 de outubro de

    1978, o qual cria os Conselhos Federal e Regionais de Nutricionistas, regula seu

    funcionamento, e d outras providncias. Com a aprovao desta lei, os nutricionistas

    brasileiros, at ento sob a responsabilidade dos rgos regionais de fiscalizao da

    Medicina, passam a dispor de um rgo especfico (CFN, 1999 apud VASCONCELOS,

    2002).

    Finalmente, verifica-se a atuao da Federao Brasileira das Associaes deNutricionistas (FEBRAN), entidade de carter tcnico-cientfico e cultural, criada em 1972,

    que passou a assumir as funes da sua antecessora, a ABN, congregando as inmeras

    associaes estaduais de nutricionistas. Ainda neste perodo, teve incio o processo de

    criao das associaes profissionais, que deram origem aos Sindicatos de Nutricionistas

    em vrios Estados brasileiros (ASSOCIAO..., 1991).

    Em relao aos Cursos de Nutrio existentes no pas, verificou-se nos ltimos

    dezessete anos, um contnuo processo de expanso, inclusive muito mais intenso do que no

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    perodo entre 1940 e 1981. De acordo com dados recentes do Conselho Federal de

    Nutricionistas at outubro de 2002, existiam cerca de 166 cursos de graduao em Nutrio

    no pas. Em relao distribuio dos destes cursos por Regio e Estado do pas, deste

    total, 100 cursos (60,2%) localizam-se na Regio Sudeste; 35 cursos (21,1%), na Regio

    Sul; 13 (7,8%), na Regio Nordeste; 10 (6,1%), na Regio Centro-Oeste; e 8 (4,8%), na

    Regio Norte. Alm disso, verifica-se que o Estado de So Paulo lidera a relao com total

    de 59 cursos (35,5%), seguido pelos Estados de Minas Gerais, Paran e Rio de Janeiro, que

    apresentam respectivamente, 20 (12%), 20 (12%) e 17 (10,2%).

    Atravs da anlise destes dados, verifica-se que, com os acelerados aumentos dos

    nmeros de cursos, e conseqentemente, aumento do nmero de vagas, observa-se a

    ampliao quantitativa de nutricionistas no pas.Alm destes fatos, eventos importantes ocorridos entre os anos de 1985 e 2002,

    merecem ser citados, entre eles, o crescente processo de mobilizao e politizao da

    categoria, que resultou na realizao de importantes eventos cientficos e sindicais e na

    criao da Associao Brasileira de Nutrio (ASBRAN), em 8 de junho de 1990, em

    substituio a FEBRAN, a aprovao da Lei no. 8.234, de 17 de setembro de 1991

    (publicada no Dirio Oficial da Unio de 18 de setembro de 1991) (anexo II), a qual

    regulamenta a profisso de nutricionista e determina outras providncias revogando a Leino. 5.276/1967 (ASSOCIAO..., 1991; CFN..., 1999 apud VASCONCELOS, 2002) e

    finalmente, a instituio das novas Diretrizes Curriculares para os cursos de graduao em

    Nutrio, aprovado em 2001 pelo Conselho Nacional de Educao.

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    CAPTULO 3: A EVOLUO CURRICULAR DOS CURSOS DE

    NUTRIO, O PERFIL DA CATEGORIA E RECOMENDAES

    CURRICULARES.

    Esse captulo apresenta um breve histrico sobre o currculo dos cursos de Nutrio

    do pas, traa o perfil da categoria que se deseja formar como profissional Nutricionista e

    apresenta as recomendaes feitas sobre a reformulao acadmica dos cursos.

    3.1. EVOLUO CURRICULAR DOS CURSOS DE NUTRIO E PERFIL DA

    CATEGORIA

    Desde a sua criao at o ano de 1964, os cursos de Nutricionistas-Dietistas tinham

    durao de at um ano no Brasil (ABN, 1991 apud BOSI, 1996). Entretanto, j nos

    primeiros congressos da rea, reivindicava-se a extenso do curso. No I Congresso

    Brasileiro de Nutrio, realizado no Rio de Janeiro, em 1954, foi apresentada moo ao

    ministro da Educao, para a criao de cursos de formao de nvel universitrio, com

    durao mnima de trs anos. Mas somente uma dcada mais tarde, pela portaria 514/64, o

    Ministrio da Educao e Cultura (MEC) viria a fixar o primeiro currculo, determinando

    durao mnima de trs anos para todos os cursos de nutricionistas do pas (BOSI, 1996).

    Na dcada de 60, os currculos adotados pelos diferentes cursos apresentavam uma

    grande diversidade estrutural, o que ocasionou a necessidade de uniformizao curricular.

    Nesta poca, o alvo principal das reunies sobre a formao do nutricionista se encontrava

    no esclarecimento das atribuies da categoria, recomendando-se que este fosse formado

    como profissional polivalente, ou seja, com habilidade para atuar no campo hospitalar, da

    sade pblica, em educao e ensino (ASSOCIAO..., 1991apudCOSTA, 1999).

    De acordo com BOOG e col (1988a), os currculos dos cursos foram estudados com

    profundidade a partir de 1966, quando houve a realizao da 1a. Conferncia sobre

    Formao Acadmica de Nutricionistas-Dietistas na Amrica Latina (tambm chamado de

    I Conferncia de Adestramento de Nutricionistas-Dietistas COSTA, 1999), em Caracas,

    Venezuela, sob os auspcios da Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS). Esta

    conferncia teve por objetivos estabelecer recomendaes prticas para orientar a formao

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    do nutricionista. Elas versavam sobre questes administrativas, como os requisitos

    mnimos para admisso no curso, a durao, o nmero de alunos, a qualificao do pessoal

    docente, os recursos materiais e institucionais necessrios. Especificavam tambm as

    normas tcnicas de ensino para a formao do nutricionista, com a descrio de aspectos

    considerados essenciais para a organizao dos programas de ensino (ORGANIZACIN

    PANAMERICANA DE LA SALUD, 1977 apudCOSTA, 1999).

    Neste momento, ficaram definidas as cinco reas gerais de ensino em Nutrio:

    Cincias Bsicas, Cincias Sociais e Econmicas, Cincias Pedaggicas, Cincias da Sade

    Pblica e Cincias da Alimentao e Nutrio. Quanto s reas de estudo, estabeleceram-se

    os contedos e a intensidade das mesmas, ou seja, as disciplinas componentes de cada rea

    e a contribuio de cada uma ao currculo, em relao carga horria (COSTA, 1999).Em 1973, constituiu-se em Bogot, Colmbia, a Comisso de Estudos para

    Programas Acadmicos de Nutrio para a Amrica Latina (CEPANDAL), que estabeleceu

    recomendaes quanto carga horria por rea de disciplinas, ao contedo e contratao

    de docentes. Ainda em 1973, foi realizada em So Paulo a 2a. Conferncia sobre

    Formao Acadmica de Nutricionistas-Dietistas na Amrica Latina. Dessa vez, j com

    uma proposta bem mais avanada de analisar e comparar os programas de ensino das vrias

    escolas de vrios pases, atualizar e definir funes e definir o papel do pessoal auxiliar.(BOOG e col, 1988). Esta conferncia reconheceu a atuao do nutricionista-dietista como

    integrante de uma equipe em diferentes nveis de setores pblicos e privados, segundo as

    necessidades de cada pas. Suas funes seriam: planejamento de dietas e ateno

    diettica, administrao de programas de Nutrio e Diettica, educao e treinamento,

    investigao, assessoria e consultoria (ORGANIZACIN..., 1977 apud COSTA, 1999)

    (grifo meu).

    No Brasil, a preocupao com a formao dos nutricionistas continuou na dcada desetenta, com a realizao em 1972, da I Reunio Brasileira sobre a Formao do

    Nutricionista, que recomendou que a reviso do currculo mnimo dos cursos de graduao

    em Nutrio atendesse atual realidade brasileira. Realidade colocada, segundo COSTA

    (1999), como a do desenvolvimento tcnico e cientfico, que vem se processando em

    ritmo mais acelerado, ampliando assim, o campo do conhecimento que o nutricionista tem

    por obrigao dominar.

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    Em 1974, a 2a. CEPANDAL, reunida em Washington, considerou que o xito

    alcanado na preparao e exerccio profissional tem sido limitado devido escassa

    capacitao em nutrio dos outros profissionais da equipe de Sade. Nesta reunio,

    estudou-se a preparao de outros profissionais em nutrio, ps-graduao para

    nutricionistas, ps-graduao para outros profissionais e normas para os estgios (BOOG e

    col, 1988a).

    No mesmo ano (1974), o Conselho Federal de Educao fixou o currculo mnimo

    dos Cursos de Graduao atravs da Resoluo CFE 36/74. Desse currculo constam

    matrias bsicas: Biologia, Cincias Morfolgicas, Cincias Fisiolgicas, Patologia,

    Cincias da Sade Pblica e Cincias Sociais e Econmicas; como matrias

    profissionais: Bromatologia, Tecnologia dos Alimentos, Cincias da Nutrio eAlimentao, Nutrio Aplicada e Administrao dos Servios de Alimentao

    (BOOG e col, 1988a).

    Com a deteriorao ocorrida na educao na dcada de 70, em todos os nveis

    escolares, os cursos de Nutrio tambm sofreram sensvel piora na qualidade do ensino,

    sendo que a expanso das faculdades particulares com turmas excessivamente numerosas

    contribuiu para este fato, alm da relao de novos cursos, que no apresentavam tradio

    acadmica, bibliografia adequada e corpo docente qualificado.Em 1976, realizou-se o VIII Congresso Brasileiro de Nutricionistas e V Congresso

    Brasileiro de Nutrio (CONBRAN), em que foram elaboradas vrias recomendaes

    quanto ao ensino de Nutrio, destacando-se as de que fosse obedecido o currculo mnimo

    estabelecido em 1974, pelo CFE, e as recomendaes do CEPANDAL (anexo III).

    (ASSOCIAO..., 1991). A Resoluo n. 6 de 23/12/74 do CFE, preconizava uma carga

    horria mnima de 2.280h, que deveria ser integralizada em um tempo mnimo de trs e

    mximo de seis anos, com durao mdia de quatro anos, incluindo atividades e trabalhosde campo com mnimo de 300h de estgio supervisionado (COSTA, 1999).

    Na dcada de oitenta, as discusses sobre o perfil profissional intensificaram-se e,

    no II Seminrio de Avaliao, em 1987, ficou mais clara a percepo do tipo de

    profissional que se queria formar. Eis o conceito da FEBRAN (1989) O Nutricionista

    um profissional de sade, com formao ou carter generalista e com uma percepo da

    realidade (conscincia social, econmica, cultural e poltica), dentro de reas prprias de

    atuao. (apudLASCH, 1993; apudBOSI, 1996; apudCOSTA, 1999).

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    Para uma melhor definio do perfil profissional, foram elaborados vrios

    conceitos, entre elas a relacionada com o objeto de trabalho do nutricionista: O

    Nutricionista um profissional surgido no setor sade, cujo objeto de trabalho tem sido a

    alimentao do homem, em seu plano individual e coletivo (FEBRAN, 1989 apud

    YPIRANGA, 1989).

    O II ENEN, em 1989, definiu o nutricionista como ... um profissional generalista,

    de sade, de nvel superior, com formao em Nutrio e Diettica, que desenvolve uma

    viso crtica da realidade e comprometido com as transformaes da sociedade.O objeto

    de ao do nutricionista definido neste evento foi a sade do homem, inserido numa forma

    de organizao social, tendo como seu eixo de formao o homem e o alimento no seu

    contexto social (ASSOCIAO..., 1991).Por vrias vezes, nesse processo de discusso, tem sido colocada a necessidade de

    ser formado um profissional generalista, com viso crtica da sociedade, comprometido

    com as transformaes sociais (FEBRAN, 1987b apudPRADO e ABREU, 1991), capaz

    de atuar em todos os setores onde a questo Sade se faz presente, exercendo a Cincia da

    Nutrio (...) atravs de uma prisma multiprofissional e multicausal, de forma a propiciar

    intervenes conseqentes e eficazes nos fatores causais (SEMINRIO NACIONAL...,

    1988 apud PRADO e ABREU, 1991), em contraposio ao nutricionista que hoje formado, um profissional genrico,com informaes compartimentalizadas e superficiais

    (...) atuando apenas em reas hospitalares, industriais e de sade pblica (SEMINRIO

    NACIONAL..., 1987 apud PRADO e ABREU, 1991) (grifo meu).

    De fato, desde o advento da Nutrio, em 1939, o nutricionista tem sido formado

    para atuar apenas em reas hospitalares, industriais e de sade pblica. Felizmente, em

    agosto de 2001, o Conselho Nacional de Educao atravs da Minuta de Resoluo

    CNE/CES no. 1.133 de 7 de agosto de 2001 instituiu as Diretrizes Curriculares para oCurso de Nutrio (anexo IV), ampliando as competncias e habilidades deste profissional,

    e dando a categoria a possibilidade de uma construo de identidade profissional atravs

    uma formao dinmica e holstica, voltada para atender as necessidades da sociedade.

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    3.2. DISCUSSO DOS PROBLEMAS SOBRE A FORMAO DO PROFISSIONAL E

    RECOMENDAES CURRICULARES.

    Como dito anteriormente, ao final da dcada de setenta, com esvaziamento das

    reunies latino-americanas sobre a formao do nutricionista, observa-se no Brasil, a

    emergncia de estudos e eventos que discutiram a formao profissional, demonstrando o

    incio do reconhecimento de que as mudanas ocorridas na sociedade transformavam e

    exigiam o repensar da profisso. Os anos oitenta foram o perodo em que apareceu na

    Brasil a preocupao com a avaliao dos cursos de Nutrio.

    O I Diagnstico Nacional dos Cursos de Nutrio foi desenvolvido pelo INAN, em

    1975, e apresentado no I Seminrio Brasileiro dos Cursos de Graduao em Nutrio, nomesmo ano (BOSI, 1996). Como resultado desse evento, surgiu a recomendao de que

    fosse incrementada a formao do nutricionista, atravs do aumento do nmero de cursos

    existentes (ASSOCIAO, 1991 apudCOSTA, 1999).

    Em 1981, o MEC, contando com o apoio do INAN e da Federao Brasileira de

    Nutrio (FEBRAN), realizou o II Diagnstico Nacional dos Cursos de Nutrio. Os

    resultados deste ltimo foram discutidos no s regionalmente, como nacionalmente, no I

    Seminrio Nacional de Avaliao do Ensino de Nutrio, promovido pelo MEC, emBraslia, no ano de 1982 (CUNHA e GIL, 1989 apudBOSI, 1996). Segundo BOOG e col

    (1988a), esse trabalho consistiu na anlise e avaliao dos Cursos sob o trplice aspecto de

    sua evoluo, corpo docente e currculo. Este I Seminrio foi considerado o evento mais

    importante da dcada de oitenta, em relao profisso: a parada para a reflexo, para

    rever os conceitos, repensar a atuao, rever os contedos, para formar o nutricionista do

    ano 2000 til ao Brasil (COSTA, 1999).

    A anlise sobre os aspectos conceituais, estruturais e metodolgicos dos cursos deNutrio realizada nessa ocasio, levou constatao de que a expectativa de formao

    centrava-se no profissional generalista (COSTA, 1999). O desejo unnime de reformular a

    formao em Nutrio, entretanto, ficou evidenciado pelo descontentamento expresso com

    o currculo adotado pelos cursos e principalmente pela deteco de um hiato entre o

    biolgico e o social e com o descompasso entre a teoria e prtica. Segundo BOSI (1988)

    a maior nfase ao contedo biolgico em detrimento do social, dificulta ao acadmico o

    aprofundamento de conhecimentos que permitiriam ter uma melhor compreenso dos

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    determinantes dos problemas nutricionais. Por sua vez, essa dicotomia entre teoria e

    prtica vem ao encontro da argumentao de FVERO (1993) (apud AMORIM e col,

    2001). de que os cursos de graduao deveriam trabalhar a questo teoria/prtica

    dialeticamente, isto , de forma integrada, buscando a articulao durante toda a formao

    profissional.

    Assim, foram elaboradas recomendaes visando reorganizao da formao,

    relacionadas aos objetivos, expectativas, compromissos e composies curriculares e s

    disciplinas do ciclo profissional. Enfatiza-se nelas, o carter generalista da formao, a

    integrao teoria-prtica, a necessidade do desenvolvimento da percepo crtica por parte

    do aluno, alm da necessidade de articulao dos conhecimentos biolgicos, econmicos,

    polticos e sociais dentro das disciplinas e do curso com um todo. Continuaram, por outrolado, as recomendaes acerca dos aspectos formais do currculo, ou seja, da necessidade

    de que a carga horria dos cursos fosse revista, tentando adequ-las a CEPANDAL/73

    (BRASIL, 1983, apudCOSTA, 1999).

    A II Reunio Brasileira sobre a Formao do Nutricionista, promovida pela

    FEBRAN, em 1985, durante X CONBRAN, recomendou a realizao de um levantamento

    entre os cursos de Nutrio, com intuito de verificarem as mudanas ocorridas a partir dos

    resultados do Diagnstico de 1981 e do Seminrio Nacional de 1982 (ASSOCIAO...,1991). Ocorreu neste evento, reunio com participantes das entidades de classe: Conselho

    Federal de Nutricionistas (CFN), Conselhos Regionais de Nutricionistas (CRNs),

    Associaes e Sindicatos, quando foi considerada necessria uma discusso nacional sobre

    assuntos referentes categoria profissional dos nutricionistas. Surgiu, ento a proposta de

    realizao do I Encontro Nacional de Entidades de Nutricionistas (I ENEN), ocorrido em

    1986. No encontro discutiram-se temas relacionados ao perfil profissional e ao mercado de

    trabalho, dentre outros de interesse dos nutricionistas, como piso salarial e jornada detrabalho (ASSOCIAO..., 1991).

    Em 1987, por iniciativa da FEBRAN, teve lugar o III Diagnstico Nacional, com o

    objetivo de subsidiar o II Seminrio sobre Formao em Nutrio no Brasil nfase na

    Graduao, que integrou o XI Congresso Brasileiro de Nutrio, realizado no mesmo ano

    na cidade de Salvador, Bahia. (BOSI, 1996). Foram estudadas naquele evento as

    condies do currculo de graduao em Nutrio, ou seja, os currculos dos cursos

    brasileiros, tendo como parmetro s recomendaes da CEDANPAL/73 (anexo III)

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    (CUNHA e GIL, 1989, apud COSTA, 1999). Procurou-se, concomitantemente, o

    aprofundamento da discusso sobre o perfil profissional do nutricionista, quando se buscou

    a identificao do seu objeto de trabalho. O avano se deu, teoricamente, na explicitao do

    objetivo de formar um nutricionista comprometido com as necessidades nutricionais da

    populao brasileira. Foram obtidas, ento, as vrias definies pretendidas: do profissional

    que se almejava formar frente s necessidades da populao, do objeto de trabalho do

    profissional, das reas de atuao e das aes desenvolvidas pelo nutricionista

    (FEDERAO..., 1989 apud COSTA, 1999). Esse Seminrio no foi, contudo bem

    sucedido, e no se chegou a qualquer concluso, quer documentada, quer no (BOOG e

    col, 1988).

    Em 1988, o II Encontro Nacional de Nutricionistas (II ENEN), continuou o debatesobre o perfil profissional do nutricionista e seu mercado de trabalho. A preocupao

    central era se residia na especificidade da ao profissional, isto , na definio das

    atribuies especficas do nutricionista, como busca de justificativas para a existncia do

    profissional (COSTA, 1999).

    A CEDANPAL ficou praticamente desativada durante toda a dcada de oitenta e

    voltou cena em sua quarta reunio, em 1991, tendo como justificativa a necessidade de

    atualizao dos dados referentes aos cursos de Nutrio da Amrica Latina (COSTA,1999).

    O tema A formao atual do nutricionista-dietista na Amrica Latina e sua

    projeo para o ano 2000 foi o que direcionou o encontro, do qual participaram vrios

    pases latino-americanos que oferecem cursos de Nutrio. Os debates se situaram em torno

    dos problemas atuais na formao do profissional, das estratgias para dar soluo a esses

    problemas e das recomendaes que poderiam fortalecer a formao e projeo desse

    profissional (COSTA, 1999).Segundo YPIRANGA (1991b), a concluso do evento foi a de que h um

    descompasso entre a teoria e a prtica na formao do profissional nutricionista. Verifica-

    se, portanto, que a mesma concluso das discusses ocorridas na dcada de oitenta, no

    Brasil, foi evidenciada no incio dos anos noventa na Amrica Latina (apud COSTA,

    1999).

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    As concluses e recomendaes da quarta CEPANDAL apontaram a necessidade de

    elaborao de um Plano de Desenvolvimento Integral com eixo na avaliao sistemtica

    dos currculos, adequando-os s necessidades de cada pas.

    Com isso, ressalta-se mais uma vez que foram colocadas as recomendaes, o

    deve ser, e apesar de vrias discusses terem sido realizadas acerca da formao

    acadmica do profissional Nutricionista, no houve indicativos de um

    avano/desenvolvimento na perspectiva terico-metodolgica da anlise do trabalho

    realizado pelo profissional, confirmando o contnuo distanciamento da temtica mais

    abrangente do trabalho como categoria de anlise (COSTA, 1999).

    Contudo, com a aprovao das novas Diretrizes Curriculares para vrios cursos de

    graduao, pelo Conselho Nacional de Educao, os cursos de Nutrio devem passar porreformulaes que iro dar novas perspectivas para discusses e subsidiar melhorias na

    formao dessa categoria.

    3.3. O CURRCULO ATUAL

    A formao de profissionais que lidam com a sade e com a vida de pessoas, tem

    em seus cursos de graduao a prtica pedaggica inspirada no modelo mecanicista deDescartes. Um dos preceitos desse modelo dividir o objeto de estudo ou as dificuldades

    surgidas em tantas parcelas quantas necessrias para resolv-las, o que provoca a diviso

    do conhecimento em reas cada vez mais especializadas (AMORIM e col, 2001). Descartes

    e sua teoria promoveram a diviso entre corpo e mente, reduzindo o ser humano a uma

    mquina, cujo funcionamento depende do estado de operao em que se encontra seu

    mecanismo biolgico. A partir de ento, as cincias mdicas, inclusive a Nutrio, tm

    investigado o funcionamento biolgico at o nvel molecular, enquanto que as influnciasde outros fatores como o psico-emocional e o scio-ambiental no processo sade-doena

    deixaram de ser consideradas (CAPRA, 1982; OKAY e MANISSADJIAN, 1991 apud

    AMORIM e col, 2001).

    Essa nfase biologista aparece desde o incio da formao dos nutricionistas, e pode

    ser notada como uma das orientaes em relao ao currculo no Brasil, recomendadas no

    IV Congresso Brasileiro de Nutricionistas em 1967: a formao deve ser orientada

    considerando a importncia das caractersticas do meio, especialmente as tradies e os

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    costumes, incutindo desde cedo a noo de que a doena s acontece pela interao de

    vrios fatores representados, pelo paciente, pelo agente etiolgico e pelo ambiente

    (ASSOCIAO..., 1991).

    Na dcada de oitenta, os eventos reafirmavam o predomnio do biologicismo: a

    formao do profissional na rea de nutrio sendo feita a partir de uma viso do mundo

    fragmentadora e biologicista que ao abordar a sade e a doena como processos naturais e

    individuais, no forma um profissional realmente comprometido com uma prtica voltada

    para a transformao dos processos sociais e biolgicos que determinam a fome e a

    desnutrio (ASSOCIAO..., 1991).

    O estudo realizado pelo MEC/Sesu em 1983, sobre os currculos de nutrio relata

    que: a composio horria do currculo demonstra uma hipertrofia das matrias das reasde Cincias Bsicas e Multidisciplinar, em detrimento das matrias especificas

    formao profissional do Nutricionista: Cincias da Nutrio e Alimentao, que lhes

    confere identidade(...). Essa distoro na rea bsica devida, essencialmente, grande

    proporo de carga horria dedicada ao setor de Biologia em detrimento aos setores

    Qumica e Matemtica (BOSI, 1996).

    Essa mesma constatao figura nos resultados apontados pelo diagnstico realizado

    pela FEBRAN em 1987: quanto distribuio de carga horria por rea de estudo deacordo com as recomendaes da CEPANDAL, a maioria dos cursos no apresenta a

    proporo entre as reas segundo o parmetro estudado (FEBRAN, 1989 apud BOSI,

    1996).

    Em 1988, no II ENEN, constatou-se e denunciou-se que: a prtica atual do

    Nutricionista de manuteno e reproduo das relaes sociais vigentes; e considerado

    tambm, que o perfil desejado fica atrelado conscincia amadurecida da real posio do

    nutricionista e da nutrio no pas (ASSOCIAO..., 1991).Verifica-se, portanto, a percepo da atuao do profissional nutricionista no

    processo de constituio da sociedade capitalista brasileira. Constata-se inclusive que o

    currculo dos cursos de Nutrio ainda tem contribudo para a manuteno das relaes

    vigentes (BOSI, 1988).

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    CAPTULO 4: A TRAJETRIA PROFISSIONAL DO

    NUTRICIONISTA: O EXERCCIO DA PROFISSO, REAS DE

    ATUAO E PERSPECTIVAS.

    Este captulo faz um breve retrospecto a despeito da escolha da profisso e do

    exerccio profissional do nutricionista, alm de identificar as reas especficas de atuao,

    ramificaes e desdobramentos do mercado de trabalho.

    4.1. A ESCOLHA DA PROFISSO DE NUTRICIONISTA

    Sabe-se que mltiplos fatores influenciam a opo por uma ocupao especfica.

    Essa escolha decorre de uma dinmica complexa que conjuga uma srie de fatores

    individuais e sociais (BOSI, 1996). FRENK (1994) (apud BOSI, 1996) aponta duas

    alternativas para explicar as preferncias por uma profisso: a perspectiva sociolgica e a

    perspectiva econmica.

    Partindo dessa premissa, uma anlise dos motivos que levam os nutricionistas a

    buscarem essa opo profissional desperta o surgimento de estudos sobre a situao e o

    perfil da categoria. Estudos como os realizados por BOOG e col (1988; 1989); PRADO e

    ABREU (1991); ROTTEMBERG e PRADO (1991); BOSI (1996); (COSTA, 1996) e

    (GAMBARDELLA, 2000), dentre outros, propiciam subsdios importantes para se realizar

    uma anlise profunda da profisso, e identificam o que estes profissionais tm em comum,

    em suas histrias de vida no que tange Nutrio como rea de formao e utilizao do

    saber na universidade, quanto ao exerccio profissional, as dificuldades da profisso, suas

    angstias, frustraes, conquistas, condies de trabalho e perspectivas, dentre vrios

    outros itens.

    Em estudos realizados por ROTTEMBERG e PRADO (1991) e BOSI (1996)

    constataram que a busca do novo, do desconhecido foi um dos motivos mencionados para a

    escolha da profisso. Dentre vrias leituras e interpretaes dos estudos, destaca-se que a

    escolha pela Nutrio aproxima-se mais da casualidade do que de uma escolha claramente

    construda. Alimento e alimentao trazem a idia de fome, de falta de alguma coisa, de

    carncia. Assim, a busca da Nutrio pode ser traduzida pela busca de um fortalecimento,

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    de conhecimento e reconhecimento, de ser respeitado e de construo de uma identidade

    profissional(ROTTEMBERG e PRADO, 1991).

    A condio feminina da profisso traz tona aspectos relativos formao da

    mulher. O papel profissional muitas vezes fica obscurecido, confundindo com o papel da

    mulher na sociedade, que a de administrar um lar. Na ausncia de papis bem definidos,

    vm a confuso, a angstia e o sentimento de no se sentirem profissionais (BOSI,

    1996).

    Esses sentimentos so agravados pela fragilidade da graduao, que no

    instrumentaliza suficientemente o profissional para o mercado de trabalho. E exatamente

    este ponto em que todos os estudos anteriormente citados tm em comum: as dificuldades

    encontradas pelos egressos no exerccio profissional guardam estreita relao com as falhasna formao acadmica recebida, ressaltando-se a falta de experincia prtica e a

    dissociao entre a teoria e prtica. Em outros termos, todas as discusses realizadas e

    citadas no captulo 3, quanto preocupao em se traar um perfil profissional e

    caracterizar o currculo acadmico e a profisso, se refletem negativamente nos estudos

    sobre o nutricionista.

    Estudos da categoria evidenciam a importncia da tomada de conscincia

    por parte dos nutricionistas, especialmente os que no se sentem realizados na profisso, edaqueles que ainda iro se formar e ingressar no concorrido mercado de trabalho. Esses

    profissionais devem superar obstculos para que seu trabalho profissional seja reconhecido,

    porque o que hoje cobrado, muitas vezes distante do seu ncleo especfico de formao.

    Cabe a eles ampliarem a concepo do seu local de trabalho quanto ao seu papel, e definir

    os limites de sua prpria prtica. Antes, porm, importante a compreenso do seu objeto

    de trabalho e a busca de um saber que o contemple (BOSI, 1996).

    4.2. O EXERCCIO PROFISSIONAL: UM BREVE RETROSPECTO.

    Como anteriormente foi dito, a formao do profissional nutricionista no Brasil data

    da dcada de quarenta, em que foram absorvidos, primeiramente, pelos hospitais e rgos

    pblicos de fornecimento de refeies a trabalhadores, como o SAPS. (YPIRANGA, 1981;

    GIL, 1986; BARBOSA 1993: apudCOSTA, 1996; BOSI, 1996). Isso implica em dizer

    que, foram duas as funes originais: elaborao e orientao diettica (Nutrio Clnica)

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    como elemento de ateno Sade e Administrao dos Servios de Alimentao

    (Nutrio Institucional) (BOSI, 1996).

    A despeito da evoluo do nutricionista brasileiro, YPIRANGA (1989) destaca que

    sua origem no se prende ao setor sade e aos determinantes comuns de outros pases. A

    profisso, surgindo como uma vontade governamental em um momento de busca da

    legitimao social de um governo, constitui-se num instrumento de alvio de tenses

    sociais, caracterizando-se, assim, seu mais forte determinante histrico. (apud BOSI,

    1996). Dessa forma, temos, por um lado, o administrador de dietas ou raes alimentares

    dirigidas a minorar os efeitos das ms condies de vida dos trabalhadores (BOSI,

    1996).

    Finalmente, em 1967, o nutricionista tem seu exerccio profissional regulamentado,por meio da Lei no. 5.276, de 24 de abril de 1967, que fixou atividades privativas da

    categoria (ver anexo I, Art. 5o.), bem como atividades de carter no privativo (ver anexo I,

    Art 6o.) (BOSI, 1996).

    Embora, do ponto de vista de um estudo sobre profissionalizao, a regulamentao

    conseguida em 1967 representasse um marco na histria da profisso, analisando-se a lei,

    v-se que a mesma contm alguns elementos limitantes do exerccio profissional.

    Conforme Santos (1988) assinala os termos orientao e execuo colocam limites prtica do profissional no sentido do planejamento de suas aes. Esta funo s ficou

    garantida a rea da administrao dos servios de alimentao, que caracterizava o

    profissional desde a criao do SAPS... no caso da clnica, a lei apenas ratifica a hegemonia

    histrica do mdico sobre o dietista/nutricionista... Na pesquisa e na sade pblica, o termo

    participao por demais geral... (apudBOSI, 1996).

    Conforme BOSI (1996) analisa, a categoria tem demonstrado insatisfao com sua

    prtica atual. Tanto que, aps um longo processo de luta, conquistou, em 1991, uma novaregulamentao profissional, atravs da Lei no. 8.234, de 17.9.91 (ver anexo II) sendo a

    anterior revogada.

    No h dvida de que a nova lei engloba e ultrapassa as atividades fixadas pela lei

    anterior, delimitando novas atividades privativas. Porm, cabe refletir que os direitos so

    histricos e, nas palavras de BOBBIO (1992) uma coisa proclamar esse direito, outra

    desfrut-lo efetivamente. A linguagem dos direitos tem indubitavelmente uma grande

    funo prtica que emprestar uma fora particular s reivindicaes dos movimentos que

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    demandam para si e para os outros a satisfao de novos carecimentos (...), mas ela se torna

    enganadora se obscurecer ou ocultar a diferena entre o direito reivindicado e o direito

    reconhecido e protegido (apudBOSI, 1996).

    Resta, portanto, saber o que os nutricionistas vm e continuaro fazendo no sentido

    de encurtar entre o legal e o de fato. Ainda nas palavras de BOBBIO (1992) o problema

    fundamental em relao aos direitos (...) hoje (...) no tanto justific-los, mas proteg-los.

    Trata-se de um problema no filosfico, mas poltico (apudBOSI, 1996).

    Contrariamente aos que vem a nova lei como uma conquista que expressa uma

    situao materializada, BOSI (1996) considera este momento apenas o incio de um

    processo, mais ou menos longo, cujos resultados ainda no podem ser visualizados, ou seja,

    no lhe permite uma clara identidade profissional, bem como o monoplio e autonomia deuma tcnica no desempenho de certas atividades.

    4.3. REAS DE ATUAO

    Tradicionalmente, as atividades do nutricionista so subdivididas em quatro grandes

    reas: Alimentao Institucional (tambm chamada de Produo), Nutrio Clnica

    (Dietoterapia), Nutrio em Sade Pblica (Nutrio Social) e Docncia (em algumasdessas reas) (PRADO e ABREU, 1991; BOSI, 1996).

    Em termos especficos, por sua vez, Alimentao Institucional, Nutrio Clnica e

    Nutrio em Sade Pblica so hoje as trs reas principais, e tambm os eixos orgnicos

    do currculo de formao (disciplinas e estgios prticos) (BOSI, 1996). Deve-se ressaltar

    que essa diviso em reas de atuao do nutricionista permite o cumprimento das normas

    de definio de atribuies principais e especficas desse profissional.

    4.3.1. Principais reas de atuao dos nutricionistas.

    Alimentao Institucional (Alimentao Coletiva, Produo).

    Uma das reas onde a atuao do nutricionista brasileiro tem sido freqentemente

    requerida a de produo de refeies para atendimento do trabalhador da indstria

    (Refeio Convnio- PAT (Programa de Alimentao do Trabalhador), Unidades de

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    Alimentao e Nutrio - UAN), do comrcio (restaurantes comerciais) e do setor de

    servios (creches, escolas, hotis...) (BOOG e col, 1988). Seja em servio prprio, seja em

    produo terceirizada, o trabalho se constitui de atividades administrativas em que se

    destacam o planejamento, a coordenao, o controle e a superviso de processo de

    transformao de matrias-primas, com marcante participao do elemento humano em

    todas as etapas (ANSOLINI, 1999).

    Como atribuio bsica do nutricionista nessa rea destaca-se a harmonizao de

    trabalhadores, materiais e recursos financeiros no planejamento e na produo de refeies

    com satisfatrio padro de qualidade, tanto em seus aspectos sensoriais quanto em relao

    queles nutricionais, microbiolgicos e financeiros. (ANSOLINI, 1999).

    De acordo com o CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS-4 (2002b),como atribuies especficas do nutricionista, por local de trabalho, pode-se ressaltar:

    1) Restaurantes comerciais e Unidades de Alimentao e Nutrio

    (UAN): planejamento dos recursos econmico-financeiros e da execuo de

    projetos de estrutura fsica da UAN; planejamento da adequao de

    equipamentos; compra de veculos para transporte de alimentos; compra e

    armazenamento de alimentos; coordenao dos clculos de valor nutritivo e

    do custo das refeies; superviso das atividades de pr-preparo e preparo(alm de avali-las tecnicamente); desenvolvimento de manuais tcnicos;

    controle peridico do resto - ingesto; implantao de atividades de

    higienizao de ambientes e mtodos de controle de qualidade de alimentos;

    participao do recrutamento e execuo de programas de treinamento de

    recursos humanos; integrao a equipe de ateno sade ocupacional;

    participao dos trabalhos da CIPA (Centro Integrado de Preveno de

    Acidentes); execuo de atividades referentes a informaes nutricionais etcnicas de atendimento direto aos clientes; promoo de programas de

    educao alimentar para os clientes; realizao de relatrios sobre as

    condies da UAN impeditivas da boa prtica profissional; colaborao

    com as autoridades de fiscalizao profissional e/ou sanitria,

    desenvolvimento de pesquisas e estudos relacionados rea de atuao;

    colaborao na formao de profissionais na rea da sade e controle

    peridico dos trabalhos executados.

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    2) Creches e escolas: promoo da avaliao nutricional das crianas;

    realizao de programas de educao alimentar; adequao alimentar por

    faixa etria; realizao de atendimento individualizado de pais e alunos;

    integrao a equipe multidisciplinar; planejamento, implantao e

    coordenao da UAN de acordo com as atribuies estabelecidas para a

    rea de Alimentao Institucional.

    3) Refeies convnio:cumprimento da legislao do PAT; integrao da

    equipe responsvel pelo cadastro dos clientes; coordenao das equipes de

    informao ao usurio final; participao no descredenciamento dos

    estabelecimentos sem condies higinico-sanitrias; colaborao com as

    autoridades de fiscalizao profissional e/ou sanitria; integrao da equipede controle de qualidade e de educao para o consumo; promoo de

    programas de educao alimentar para clientes; planejamento de eventos

    para a conscientizao dos empresrios da rea quanto ao papel do

    nutricionista na sade coletiva; atuao visando melhoria e ampliao da

    rede credenciada; desenvolvimento de pesquisas e estudos relacionados

    rea de atuao; colaborar na formao de profissionais na rea da sade e

    efetuar controle peridico dos trabalhos executados.4) Empresas de comrcio de cesta bsica: cumprimento da legislao do

    PAT; participao da seleo de fornecedores de alimentos, coordenao a

    adequao da composio da cesta bsica s necessidades nutricionais da

    clientela e as atividades de informao ao cliente quanto ao valor nutritivo e

    ao manejo/preparo dos alimentos; promoo de programas de educao

    alimentar para clientes; planejamento de eventos para a conscientizao dos

    empresrios da rea quanto papel do nutricionista na sade coletiva;colaborao com as autoridades de fiscalizao profissional e/ou sanitria;

    desenvolvimento de pesquisas e estudos relacionados rea de atuao;

    colaborao na formao de profissionais na rea da sade e controle

    peridico dos trabalhos executados.

    As atribuies acima citadas podem ser encontradas nos incisos II, VI e VII do

    Art.3o; incisos II, IV, IX e X e pargrafo nico do Art. 4o da Lei no 8234/91 (CRN-4,

    2002b).

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    Nutrio Clnica

    Esta rea, tambm chamada de Dietoterapia, designa uma prtica cujo foco central

    o hospital (clnicas, bancos de leite, lactrios) ou ambulatrio; volta-se para o atendimento

    a pacientes internos ou externos. Atualmente a prtica da rea clnica tambm abrange

    consultrios particulares e spas.

    Conforme o CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS (2002b) que

    define, as atribuies principais do nutricionista nesta rea so: a assistncia dietoterpica

    hospitalar; ambulatorial e em consultrios de nutrio e diettica, prescrevendo,

    planejando, analisando, supervisionando e avaliando dietas para enfermos.

    O profissional nutricionista tem, nos seguintes locais de trabalho, como atribuiesprincipais:

    1)Hospitais, clnicas, spas, ambulatrios e consultrios: avaliao das

    atividades de assistncia nutricional aos pacientes; avaliao do estado

    nutricional do paciente a partir de diagnstico clnico; definio da dieta;

    solicitao de exames complementares para acompanhamento da evoluo

    nutricional do paciente; discusso com outros profissionais a respeito do

    caso do paciente e/ou solicitao de laudos tcnicos especializados;prescrio de complementos nutricionais quando necessrio; registro dirio

    da prescrio dietoterpica para avaliao da evoluo nutricional do

    paciente; alta do paciente em nutrio; promoo de programas de educao

    alimentar para pacientes e familiares: integrao da equipe multidisciplinar;

    desenvolvimento de pesquisas e estudos relacionados rea de atuao;

    colaborao na formao de profissionais na rea da sade e controle

    peridico dos trabalhos executados; em hospitais e clnicas:desenvolvimento de manual de especificaes de dietas; previso do

    consumo peridico de gneros alimentcios; orientao do preparo,

    rotulagem, estocagem, distribuio e administrao de dietas; em hospitais,

    clnicas e spas: planejamento, implantao e coordenao da UAN de

    acordo com as atribuies estabelecidas para a rea de Alimentao

    Institucional.

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    2) Bancos de leite: incentivo ao aleitamento materno; promoo de

    campanhas para captar doadoras de leite humano; garantia da qualidade

    higinico-sanitria do leite humano; controle quantitativo do leite humano;

    orientao, educao e assistncia alimentar e nutricional s mes, famlia

    e comunidade; participao no planejamento e na execuo de

    treinamento, orientao, superviso e avaliao de pessoal tcnico e

    auxiliar; integrao da equipe multidisciplinar; colaborao com as

    autoridades de fiscalizao profissional e/ou sanitria; desenvolvimento de

    pesquisas e estudos relacionados rea; colaborao na formao de

    profissionais na rea da sade e controle peridico dos trabalhos

    executados.3) Lactrios: planejamento, direo e controle dos cuidados dietticos e

    higinico-sanitrios do servio; orientao ao responsvel pela criana

    quanto ao preparo e diluio das refeies no momento da alta e dos

    retornos programados; prescrio de complementos nutricionais quando

    necessrio; promoo de programas de educao alimentar para pacientes e

    familiares; integrao da equipe multidisciplinar; colaborao com as

    autoridades de fiscalizao profissional e/ou sanitria; desenvolvimento depesquisas e estudos relacionados rea; colaborao na formao de

    profissionais na rea da sade e controle peridico dos trabalhos

    executados; planejamento, implantao e coordenao da UAN de acordo

    com as atribuies estabelecidas para a rea de Alimentao Institucional.

    As atribuies citadas podem ser encontradas no inciso VIII do Art. 3o e incisos III,

    IV, VII e VIII do Art. 4o da Lei no 8234/91 (CRN-4, 2002b).

    Nutrio em Sade Pblica.

    Esta rea tambm conhecida como Nutrio Comunitria, Nutrio Aplicada ou

    Nutrio Social e traduz-se em prticas levadas a cabo nas instituies pblicas envolvidas

    nas aes em Sade Pblica, tais como creches comunitrias sustentadas pela assistncia

    social, centros ou unidades de sade e Vigilncia Sanitria (BOSI, 1996).

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    Conforme o CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS (2002b) define, o

    nutricionista atuante nesta rea tem como principais atribuies: a educao, orientao e

    assistncia nutricional a coletividades, para a ateno primria em sade.

    Em ateno primria sade, realizada principalmente em centros de sade, bem

    como em instituies como creches, o nutricionista pode integrar a equipe multidisciplinar;

    elaborar e revisar legislao prpria da rea; contribuir no planejamento, execuo e anlise

    de inquritos e estudos epidemiolgicos; desenvolver pesquisas e estudos relacionados

    sua rea de atuao; realizar vigilncias alimentar e nutricional; int