68
ano 3 número 28 - fevereiro 2010 © 1997-2010 www.guiarioclaro.com.br - 20.000 exemplares - distribuição gratuita ano 3 número 28 - fevereiro 2010

TELMO KEIM

Embed Size (px)

DESCRIPTION

fashion art PORTRAITS

Citation preview

Page 1: TELMO KEIM

ano 3 número 28 - fevereiro 2010

© 19

97-2

010

ww

w.gu

iario

clar

o.co

m.b

r - 2

0.00

0 ex

empl

ares

- d

istrib

uiçã

o gr

atui

ta

ano 3 número 28 - fevereiro 2010

Page 2: TELMO KEIM

Vivendo....

Page 3: TELMO KEIM
Page 4: TELMO KEIM

Editor-executivo: Carlos Marques

MTB 56.683 [email protected]

Editora-assistente: Lilian Cruz

[email protected]

Redação: Daniel Marcolino, Gilson Santulo,

Marcos Abreu e Rafael Moraes [email protected]

Criação: Leonardo Hutter e Silvia Helena [email protected]

Atendimento: Angela Amaral

[email protected]

Tecnologia da Informação: Elton Hilsdorf Neves

[email protected]

Financeiro: Neliane Favaretto

[email protected]

Cadastro: Jair Senne

[email protected]

Edição e Produção: enfase - assessoria & comunicação

Avenida Sete, 540 - Andar Superior 13500-370 - Rio Claro/SP

Fone: 19 2111.5057

Impressão: Gráfica Mundo www.graficamundo.com.br

Tiragem: 20.000 exemplares

Distribuição gratuita nas cidades de Rio Claro, Araras, Piracicaba, Santa

Gertrudes e Cordeirópolis.

E-mails

“Quero parabenizar a equipe pela decisão de incluir na Seção Contraponto o artigo “Quando o Céu Casa com a Terra”, de Leonardo Boff. A inserção de temas espirituais com essa qualidade e competência contribui muito para o processo educacional dos leitores e só faz valorizar e enriquecer a revista.”Roberto Arantes – Rio Claro

“Vocês da Drops têm conseguido quebrar a monotonia de uma edição para outra ao manter as editorias mas também buscar um tema subjacente a elas, e isso é muito bom. Principalmente porque fica cada vez mais claro que o cliente da Drops é seu leitor. Tenho certeza: devem ser muitos!”Marina Lamberti – Araras

“A princípio, pensei que fosse apenas mais uma dessas ‘revistas’ que mais se parecem com catálogos de tanto anúncio a incomodar no escaninho do condomínio. Após receber pelo terceiro mês consecutivo, posso afirmar que existe uma proposta editorial muito interessante na Drops. Parabéns pelo belo trabalho até aqui.”Alípio Rodrigues Filho - Piracicaba

“Quando os olhos vem leveza até nas pedras, um outro sentido pode ser percebido na luz. Muito bom o ensaio fotográfico na pedreira. Surpreendeu pela beleza dos modelos, pela qualidade das fotografias e pela proposta da edição.”Marco Antonio Lemes – Rio Claro

Escreva para a Drops. Envie sugestões para novas pautas e temas para as próximas edições. Queremos uma revista com a sua cara: [email protected]

4

Page 5: TELMO KEIM
Page 6: TELMO KEIM
Page 7: TELMO KEIM

Editorial

Tiago Leifert em sessão de fotos para a entrevista.

Foto: Telmo Keim

Estamos conversadosNão posso afirmar que pertenço a apenas uma gera-

ção. Como dizem, nasci no último ano da geração ba-by-boomers (1964) – prenúncio dos céticos da geração X – e cresci sem entender a guerra fria enquanto can-tava os hinos da ditadura e via o homem pisar na lua. Hoje, trabalho no desenvolvimento de produtos para a Internet, ferramenta por excelência da geração Y.

Ao assistir o que parecia sólido se desmanchar no virtual, percebi que também assisto à derrocada da Educação. Prova mais cabal dessa afirmação é a menor nota de corte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2009) pertencer exatamente aos cursos de licenciatura, isto é, cursos que formam professores. Pelo jeito, continuamos a viver em um país que insiste em perder gerações, não em ganhá-las.

Ensinar a pensar, que antes parecia ser a finalidade da escola, ocupa lugar irrelevante em apostilas que ensejam transmitir apenas conteúdos informativos, um tipo de commodity em tempos de Internet, sem que suas finalidades sejam claras. No horizonte desse saber surge outra necessidade, a busca atenta e inces-sante por especialização.

Num mundo de mídias sociais, inovar parece ser condição fundamental para prender atenções. Em co-mum, essas mídias parecem também não ter claro sua finalidade senão a atenção que cada um dá a si mes-mo. De tempos em tempos, a reificação desse mesmo necessita de uma roupagem nova, de nova alegoria.

Em meio a essa turbulência, a Drops conversou com personagens de duas dessas gerações, uma que emerge e outra que finda na segunda década do século 21. Por caminhos diferentes, tocamos em tecnologias que permitirão acesso mais fácil, e bara-to, a saberes restritos às bibliotecas e encontramos valores que nos fez perceber como novo o que há pouco parecia velho.

Como não se pode entrar no mesmo rio duas vezes, também não há como saber sua opinião sobre esta edição até que você leia. Então, estamos conversados. Boa leitura.

Carlos Marques

SumárioBazar ................................................8

Entrevista ...................................12Comportamento ..................20Saber .............................................24Tradição ................................... 28

SPFW .................................34 a 41

Tecnologia .............................. 42Cultura ..................................... 47Casa & Cia .............................. 52

Turismo .................................... 56Gastronomia ......................... 60Meu bicho .............................. 64Contraponto .......................... 66

7

Page 8: TELMO KEIM

A tábua de Jobs

BazarPara os antenados da era dos grandes avanços tecnológicos, os últimos lançamentos são apenas prenúncios dos próximos modelos que ainda estão por vir. Confira o que hoje é novo e, porque não, indispensável.

O Milestone, smartphone com sistema operacional Android 2.0 da Google, é fabricado pela Motorola e foi consagrado “Gadget do Ano” em 2009 pela revista Time. Próprio para quem quer um celular robusto e com todos os recursos tecnológicos que o mercado oferece.

Preço a partir de R$ 1.899,00 (Desbloqueado)www.submarino.com.br

Quadrado do momento

O iPad, o tablet da Apple, chega ao mercado com a proposta de revolucionar a tecnologia dos computadores portáteis. Alia

funções dos e-readers, netbooks, smartphones e, de quebra, oferece todo o status e o hype dos produtos Apple.

Preço a partir de US$ 499,00Apple Store – www.apple.com

8

Page 9: TELMO KEIM

Brinquedo de gente grande

Capaz de despertar paixões, a construção do aeromodelo é uma etapa fundamental da brincadeira. O kit Biplano NieuPort é para iniciantes, com passo a passo e lona para finalizar a proeza.

Preço R$ 80,00

Águia Hobby - 19 3557.7442

Page 10: TELMO KEIM

Bazar

Feita em genuíno couro, a pasta carteiro carrega o laptop em todas as ocasiões. Com garantia de durabilidade, tem repartições para organizar documentos que insistem em se exibir como papel.

Preço R$ 199,90Le Postiche 19 3532.2469

O Nintendo Dsi Blue Console é um game portátil multifuncional. Com tela táctil, permite experiências únicas de jogo, tira fotos, edita, envia, toca músicas e navega na Internet.

Preço R$ 999,99 Livraria Nobel Piracicaba 19 3403.2727

Para intensificar a luz do Kindle, o Kandle é feito de plástico e funciona com 2 LEDs. Compatível com o Kindle 1, 2, DX e Sony Reader, além de outros e-readers.

Preço US$ 24,95 pela Amazon.com

Candelabro high tech

Wait Mr. Postman

Poderoso portátil

10

Page 11: TELMO KEIM
Page 12: TELMO KEIM

Em frente ao prédio da TV Globo em São Paulo, Tiago é a síntese do perfil do novo apresentador de esporte: técnica na linguagem do bate-papo informal

Entrevista

Page 13: TELMO KEIM

Na era da Internet, em que a reprise do gol não tem muito sentido no dia seguinte, Tiago Leifert aparece como alternativa à mesmice do noticiário esportivo. Com pouco mais de um ano à frente da edição e das câmeras do Globo Esporte, o jovem nascido em 1980 causou revolução no formato do programa, no ar desde 1978

Com Tiago, o teleprompter perdeu a utilidade; as conversas passaram a seguir uma linha de improvi-so e as gafes, ironizadas no ar. Ousado, adicionou o videogame na paleta de esportes e substituiu o ter-no e a gravata pelo jeans e camiseta. Lutou contra o estigma de ser filho de um dos diretores da emissora e passou a ser reconhecido como o suposto filho do técnico Mano Menezes ou irmão da atriz Mariana Ximenes, por semelhanças na aparência.Mas foi na linguagem que o jornalista surpreendeu. Ao mesclar humor, hits musicais e cenas de arquivo, as reportagens esportivas ficaram parecidas com vídeo-clipes, ágeis e atuais. O programa passou a usar bordões difundidos na voz de Zagallo e cam-panhas com pseudos galãs, que preenchem lacunas e dividem opiniões. Há quem critique o excesso de descontração e escassez de informações. Tiago se defende ao afirmar que não tem pretensão de agra-dar a todos. Líder de audiência no horário, Tiago é retrato de di-versos profissionais de seu tempo que, multifuncio-nais, quebram paradigmas e inovam ao testar iné-ditos formatos em plataformas que antes pareciam imutáveis. Por aceitar novos desafios, o apresentador abraça, além de homens que gostam de esporte, mu-lheres e crianças diante dos televisores na hora do almoço, assim como os leitores da Drops que acom-panham esse bate-papo exclusivo.

Aí sim... um cara em Ypor Lilian Cruz | fotos Telmo Keim

13

Page 14: TELMO KEIM

Entrevista

Você começou Jornalismo em São Paulo e depois passou por Psicologia. Como surgiu essa escolha pelo estudo nos EUA? Comecei no jornalismo porque sempre foi o que quis fazer, sempre, sempre. Então, entrei na PUC-SP pra fazer jornalismo, mas não me adaptei. Era muito palanque, muita ideologia, e eu queria algo mais técnico. Vi que nos EUA eles eram ultratécnicos e lá, além da formação em jornalismo é preciso escolher outro curso. Optei por Psicologia porque também sempre gostei e, no dia-a-dia, uso muita psicologia pra entender os entrevistados, as pessoas que trabalham com a gente e pra me entender. Isso é muito importante, porque na comunicação, principalmente em TV, fico exposto a muitos elogios e críticas, e a psicologia ensina a lidar com isso.

Nos EUA, em algum momento se fala em diploma para jornalistas?Nas universidades dos EUA não se discute

diploma, porque a primeira emenda da constituição norte-americana fala da liberdade de expressão. Lá a comunicação é aberta a qualquer pessoa, se querem alguém pra falar de medicina, escolhem um médico que saiba escrever, e por aí vai. Penso que no jornalismo uma formação adicional serve para se diferenciar no mercado, mas não é preciso diploma de jornalismo e sim talento, capacidade técnica e vontade.

No Vanguarda Mix você trabalhou na produção, edição, foi repórter e apresentador. Depois passou pela SporTV como repórter de campo. O que, de tudo isso, foi mais desafiador? Buscar as fontes, coordenar os bastidores ou enfrentar as câmeras?O desafio maior, de longe, foi o Globo Esporte. O Vanguarda Mix teve seus desafios, estreei em maio de 2004 ao lado da Geovanna Tominaga (que está hoje no Vídeo Show) em algo novo, um programa inédito na região. Na SporTV era legal, e lá fazia trabalhos para a Globo, ambas ficam no mesmo prédio. Mas, o desafio maior foi quando estreei no Globo Esporte, em janeiro de 2009, porque o programa já estava há 30 anos no ar. Não cheguei a perder o sono ou roer unhas, mas no começo do Globo Esporte dormia muito tarde e acordava cedo demais para dar conta de tudo que tinha que fazer.

Há um ano a frente do GE, você inovou a linguagem com humor e videogame, de Deus do Amor a funk ao vivo. A equipe teria lançado mão desses recursos devido ao horário, quando crianças e mulheres também disputam o controle remoto com os homens?Minhas ideias eram de 2006 e sem dúvida nenhuma eram focadas no horário que o GE vai ao ar, às 12h45, um horário que realmente crianças e mulheres dividem a sala com os

“Penso que no jornalismo uma formação adicional serve para se diferenciar no

mercado, mas não é preciso diploma de jornalismo e sim talento, capacidade

técnica e vontade.”

14

Page 15: TELMO KEIM

15

Page 16: TELMO KEIM

homens. E, naquele momento, nada incluía a mulher e a criança na conversa. Já havia a ideia do vídeogame, mas o projeto era tratar o esporte de forma menos séria, como se fosse uma conversa entre amigos, como quando as pessoas se encontram e batem papo. Eu queria aproximar a linguagem de TV da linguagem de um bate-papo de rua. Mas, em 2006 ainda não era hora. A hora veio em 2009, com a mudança de cenário, porque tudo era sério demais para o assunto.

No início, você recebeu críticas contrárias ao novo formato? O que os críticos lhe pediam? Olha, fiz uma estatística e por ter estudado psicologia dou atenção às estatísticas. Recebi tantas críticas quantos elogios. Se ponderar, acho que um anula o outro. Sempre penso que as pessoas que se dão ao trabalho de escrever um e-mail, de crítica ou de elogio, não fazem parte da média, não é o grande público. Geralmente, as pessoas não se manifestam. Os radicais sim se manifestam, principalmente aqueles que estranharam o formato. Foi absolutamente natural. Afinal, o programa já estava no ar há muitos anos com um formato cristalizado. Seria impossível agradar todo mundo. Mas, respeitosamente eu estava ali apresentando uma nova proposta e as estatísticas de audiência mostraram que deu certo.

Os números do Ibope balizam seu comportamento? Sente pressão nisso?Ah, a gente olha com frequência. Nosso diretor tem acesso em tempo real, mas a média diária engana também. Eu olho o Ibope, olho sim. Mas não mudo de postura de acordo com as oscilações, porque isso pode ser uma armadilha. Estamos em um horário traiçoeiro, hora do almoço e o hábito das pessoas muda. Não é porque um dia teve queda que alteramos a programação no dia seguinte. Mas olho e avalio com muita atenção os números de um mês, seis meses. Penso até como um time de futebol que ganha dez partidas seguidas e, se na 11ª perde, dá uma falseada, é sinal que tudo tem que mudar? Então, avalio os números para

posicionar matérias, por exemplo, no começo do programa. Logo quando estreamos, eu não poderia colocar uma matéria de vídeogame no primeiro bloco. Com o público mais fiel, já posso ousar. Hoje, nosso público já está mais consolidado.

“Não é porque o cara usa terno e gravata que ele está falando a verdade. Credibilidade é você fazer o seu melhor

para apurar os fatos, passar a sua verdade, do seu melhor jeito.”

16

Page 17: TELMO KEIM

Entrevista

Há planos de mudar novamente? Projetos de novo formato para o programa ou apresentar outros programas?Me preocupo em não deixar o novo formato morrer, tenho ‘semancol’ e me questiono quanto a isso, mas ainda é muito cedo para mudar o formato. A gente está com essa nova cara e está indo bem. E principalmente em 2010, ano de Copa do Mundo, o Globo Esporte vai ficar cerca de um mês fora do ar, porque os jogos serão no mesmo horário. Os esforços agora estão todos voltados para a Copa.

Você estará na África do Sul? Está se preparando profissionalmente de alguma maneira especial? Ainda não saiu a lista de quem vai, mas acho que não vou, porque alguns são escalados para irem e outros precisam ficar. Temos que

aproveitar o momento para buscar conteúdo por aqui também. A Copa é um evento importante, assim como as Olimpíadas, para todos na Globo, porque chegam para todas as equipes materiais para leitura

sobre os países sede, informações culturais e históricas, assistimos a palestras e isso é muito legal. Em 2008, ficamos experts

em China, pois meses antes do início das Olimpíadas já estávamos estudando o país.

Quais suas expectativas para com o Brasil na Copa?Acho que esta é a Copa mais importante dos últimos tempos. Porque o país entra como favorito e tem tudo para ganhar, pois é uma seleção focada, trabalhadora. Tem tudo para bater no peito e ganhar a Copa. Não gosto daquele mito chato que diz que o país que entra como favorito sempre perde. Não! É trabalho, foco e esse é o momento.

Você noticia fatos da Liga dos Campeões da Europa, acompanha jogos e noticiários esportivos. Quando vê o negócio lucrativo que é o futebol europeu, que atrai tantos craques brasileiros, além da moeda forte, o que você acha que falta ao Brasil para manter talentos?Ah, dá para fazer do futebol brasileiro um grande

negócio. A venda de ingressos antecipados já está ocorrendo – para o São Paulo, Corinthians e Flamengo – e isso é comum na Europa há tempos. Porém, o que vejo como problema básico do futebol brasileiro é a falta de punições mais rigorosas em caso de brigas de torcidas que, na verdade, não são brigas de torcidas, são brigas de bandidos, o que é uma outra modalidade e tem que ser tratada dessa forma. Com esse tipo de gente não tem melhora, só cadeia mesmo. Pensando em mercado, o Brasil precisa de uma nova lei que proíba menores de 21 anos de saírem do país para o futebol estrangeiro. Isso seria bom para o povo brasileiro, por acompanhar seus talentos, e para os meninos também, que estão cada vez mais cedo indo pra fora, longe da família, longe da identidade. Tem cara que saiu do Brasil muito novo, a gente nunca ouviu falar e estoura na Europa, como o Hulk, jogador do Porto de Portugal e convocado por Dunga em amistosos de 2009.

Pedro Bial, em entrevista à Drops, disse que à frente do BBB não se preocupa com sua credibilidade ao misturar jornalismo e entretenimento. Ele, durante todos os anos de carreira, disse que sempre foi nos lugares e deu seu testemunho e pronto. E você, segue algum preceito quanto aos limites da descontração em estúdio?Sou fã do Pedro Bial, fã mesmo. Vejo que no Brasil criou-se uma coisa e que nos Estados Unidos é diferente. A credibilidade não é igual a ser sério, usar terno e gravata. Não é porque o cara usa terno e gravata que ele está falando a verdade. E não há nada que comprove cientificamente que ser sério e usar roupa formal seja sinal de credibilidade. Credibilidade é você fazer o seu melhor para apurar, passar a sua verdade, do seu melhor jeito. Credibilidade tem a ver com autenticidade e o Pedro Bial é uma prova disso, ele é autêntico à frente do BBB e, se estourar uma guerra lá do outro lado do mundo, ele vai cobrir com a mesma credibilidade. Ele foi um dos escolhidos para cobrir a eleição norte-americana e acho – é um chute – que o brasileiro está preparado para perceber isso. Uso o bom senso para saber

17

Page 18: TELMO KEIM

Entrevista

18

Page 19: TELMO KEIM

os limites da descontração no estúdio e tem funcionado.

Também na Drops, levantamos informações sobre a geração Y, cuja principal característica desses jovens é serem acelerados, porém sabem equilibrar melhor trabalho com lazer. E você, como parte da geração Y, vê-se assim ou acha o momento oportuno para mergulhar na labuta?Aprendi uma frase que uso sempre, é do escritor norte-americano Hugh Mcleod, que diz que você não pode fazer do seu trabalho o seu hobby, porque um dia, se você perder o trabalho, perde seu hobby, seu prazer, perde tudo. Mas eu falo da boca pra fora. Eu trabalho demais, não tenho escolha. Trabalho de domingo, porque tem jogo, corrida, tem esporte. Trabalho de quarta e sábado à noite porque tem jogos. Não lamento e não acho que deva ser diferente porque este seria o meu momento na Globo. Quando estive na Vanguarda, achava que era o meu momento e trabalhava demais, quando estive na SporTV também trabalhava demais. Não mudou.

No Twitter, você desejou boa prova aos vestibulandos da Fuvest, lançou slogans como

‘eu acredito’ para apoiar os times paulistas na final do Brasileirão e divulgou seu funk sobre Val Baiano. Como você vê essa ferramenta de aproximação com o público?Pra mim é um grande prazer, porque consigo conversar com as pessoas como elas são. O que mais me choca na Internet é o anonimato, o e-mail, por exemplo, pode ser anônimo, é uma comunicação meio debilitada. Mas quando uma pessoa fala no Twitter, vejo a foto dela ali. Quando percebo que é fake, bloqueio e acabou. Gosto quando um jogador entra no Twitter e diz que preciso falar do time dele. Consigo pautas nesse contato. Não sou neurótico nas disputas de seguidores, tenho mais de 61 mil e não faço promoção, não quero que ninguém me siga só por seguir.

Embora você tenha blog, ele tem acesso restrito a convidados. É difícil preservar a vida pessoal e até suas opiniões quando se torna um personagem conhecido nacionalmente? Eu escrevia coisas sobre a vida neste blog, não só esporte. Hoje, ele não cabe mais ser aberto, mesmo que eu não use a Internet para falar de vida pessoal. Antes da TV, tinha apenas 12 visitas no blog, eram só alguns amigos que o visitavam. Mas, como apresentador, passei a ser uma pessoa jurídica. Não quero ficar ‘filosofando’ no blog, minhas opiniões ganhariam outras proporções, poderiam ser mal interpretadas e a Globo também tem regras que regulam o uso de mídias sociais. Vejo no Twitter uma ferramenta aliada.

Prestes a chegar aos 30 anos. A vida tem sido boa pra você?Ah, estou entrando nos trinta anos! Não acredito em inferno astral, mas estou na descida da curva da idade. Não tenho nada para reclamar da vida, nem uma coisa ruim foi tão difícil que eu não pude carregar, tive sempre muita sorte. Sou muito feliz com meu caminho.

“Eu queria aproximar a linguagem da TV com a linguagem

de um bate-papo de rua.”

Entrevista

19

Page 20: TELMO KEIM

Comportamento

Todo negócio pede um Y por Lilian Cruz e Rafael Moraes | fotos Telmo Keim

O acesso às novas formas de comunicação, aliado às quantidades homéricas de informações, são premissas daqueles que o RG ainda não registra 30 anos de idade. Questionador, esse jovem tem energia para buscar me-tas. Ansioso, procura respostas e resultados rápidos.

O perfil, porventura comum aos nascidos no início da década de 80, revela o novo profissional em ativida-

de no mercado, com boa formação técnica – não no sentido de ter conceitos decorados, mas no sentido de capacidade de transpô-los para a prá-tica – e com potencial para trabalhar em rede e lidar com autoridades como se fosse um colega de turma. Porém, quando ganha autoestima, não se sujeita às atividades que não fazem sentido.

A psicóloga e autora do livro “Virando gente grande – como orientar jovens em início de car-reira” (Editora Gente), Sofia Esteves, pondera o imediatismo da geração Y. “A principal caracte-rística dos nascidos na década de 80 é a pressa, porém, não a mais importante. Embora esse jovem tenha visão de curto prazo e urgência para satis-

Quem é quem

Tradicionais (até 1945)

É a geração que enfrentou uma grande guerra e passou pela Grande Depressão. Com os países arrasados, precisaram reconstruir o mundo e sobreviver. São práticos, dedicados, gostam de hierarquias rígidas, ficam bastante tempo na mesma empresa e sacrificam-se para alcançar seus objetivos.

Eles cresceram na década de 1980, na dinâmica de um novo mundo Pós-Guerra Fria, com educação focada e acesso à Internet. Adultos, formam uma geração que

ganha cada vez mais espaço no mercado de trabalho do século 21

20

Page 21: TELMO KEIM

fazer suas necessidades, ele valoriza a qualidade de vida e cobra equilíbrio entre trabalho e prazer”, descreve.

Malabaristas de termos inexistentes no vocabulário de outras gerações, os Y representam o período em que foi hasteada a ban-deira da preocupação com o futuro do planeta, portanto, ecolo-gia, reciclagem e sustentabilidade saíram do papel sob seus olhos e com a colaboração destes jovens. Com expertise em tecnologia, tendem a remodelar processos, tornando-os menos burocráticos, mais transparentes e seguros.

Com dedos ágeis, dominam a tecnologia rapidamente e pensam de forma diferenciada das gerações anteriores ainda atuantes no mercado de trabalho, formadas pelos filhos do pós-guerra deno-minados de baby-boomers (1946 a 1964) e os céticos X (1965 a 1979). “Os Y não são adeptos da competição, procuram respeitar os pontos de vista dos outros e evitam conflitos, principalmente quando esses pontos de vista diferem dos seus”, enumera a psicóloga Sofia.

No convívio do trabalho, a mescla de gerações é de-fendida pela gerente geral de Recursos Humanos da Whirlpool Latin América, Úrsula Angeli, que aponta o equilíbrio como fator essencial para o negócio. “A ge-ração X traz muitas referências, consistência, experiên-cia e maturidade. A Y contribui estrategicamente com formação diferenciada, agilidade de informações e fácil adaptação à mudança. Na convivência entre gerações, os Y percebem que nem tudo pode ser feito de forma tão rápida e os X se reinventam”.

Baby-boomers (1946 a 1964)

São os filhos do pós-guerra que romperam padrões e lutaram pela paz. Já não conheceram o mundo destruído e, mais otimistas, puderam pensar em valores pessoais e na boa educação dos filhos. Têm relações de amor e ódio com os superiores, são focados e preferem agir em consenso com os outros.

Geração X (1965 a 1979)

Nesse período, as condições materiais do planeta permitiam pensar em qualidade de vida, liberdade no trabalho e nas relações. Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação foi possível tentar equilibrar vida pessoal e trabalho. Mas, como enfrentaram crises violentas, como a do desemprego na década de 80, também se tornaram céticos e superprotetores.

próx

ima

pági

na

Page 22: TELMO KEIM

Comportamento

Geração Y (de 1980 a 1998)

Com o mundo relativamente estável, eles cresceram em uma década de valorização intensa da infância, com Internet, computador e educação mais sofisticada que as gerações anteriores. Ganharam autoestima e não se sujeitam a atividades que não fazem sentido no longo prazo. Sabem trabalhar em rede e lidam com autoridades como se eles fossem um colega de turma.

Geração W (a partir de 1999)

Ainda não há estudos concluídos sobre a geração nascida na era da revolução digital e das curas da medicina. Entretanto, desastres naturais de grande impacto tendem a solidificar os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental. Nesta eração, verifica-se omportamentos singulares na busca de serviços customizados, valorização de ambientes informais, adeptos do home office e horizontalização de hierarquias. Talvez com maior dificuldade de relacionamento, já que o virtual tornou-se acessível e prático.

O jargão do mundo coorporativo se encai-xa aos Y com suas vastas listas de contatos nas redes sociais. Se há descontentamento em um emprego, raros argumentos impedem a busca de uma outra vaga. “Vejo a rotativi-dade de emprego de alguns amigos meus, devido insatisfação do plano de carreira ou falta de novos desafios. Passar a vida toda numa só empresa definitivamente não é o sonho dessa geração”, relata Marcelo Araú-jo, especialista em sistemas que começou a trabalhar em desenvolvimento para WEB na Enfase - Assessoria e Comunicação ainda cursando a faculdade, onde permaneceu por quatro anos. Passou pela Riclan, Samsung e hoje atua na Bosch Alemanha.

A instabilidade de carreira remete à te-oria do sociólogo polonês Zygmunt Bau-man, responsável por cunhar o termo “modernidade líquida”, no qual o mundo seria percebido a partir de conceitos mais abrangentes e onde tudo se torna mais volátil. Preocupadas com a retenção de talentos, empresas multinacionais se ape-gam a ferramentas desnecessárias até dé-cadas atrás, como comitês de calibração de objetivos, monitoramento de performance,

avaliação 360º e planos de carreira em Y.Embora o estudo de gerações não anule a

existência da individualidade de cada jovem, o despertar de características semelhantes ocorre no contexto sócio-econômico-cul-tural que compartilham, pois os indivíduos passam por experiências semelhantes e vi-vem as mesmas mudanças tecnológicas e suas influências. E se a palavra de ordem no mundo dos negócios é diversidade, o rótulo Y não passa desapercebido nas avaliações.

Marcelo Araújo, 30 anos. Experiência em grandes corporações e posição internacional. Emprega redes sociais como ferramentas para encurtar distâncias

Networking

Page 23: TELMO KEIM
Page 24: TELMO KEIM

Saber

Que a educação continuada é uma chan-ce para expandir conhecimentos e fator de exigência no mercado de trabalho atual não resta dúvida. Porém, para os recém-formados emerge a incerteza de qual curso escolher quando a graduação chega ao fim.

Para o assessor da Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Pedro Arcanjo Matos, a escolha dos aspirantes depende muito da opção de cada um e para amparar essa decisão a compreensão das di-ferenças entre um programa e outro se torna alternativa indispensável.

No Brasil, há dois tipos de pós-graduação: Lato sensu e Stricto sensu. Os cursos de Lato sensu (sentido amplo, extenso em Latin) são conhecidos como especialização ou MBA e o diploma de Stricto sensu (sentido restrito) abrange os cursos de mestrado e doutorado.

A primeira opção, o Lato sensu, visa o do-mínio científico e técnico de uma certa e li-mitada área do saber ou do trabalho. Basica-mente formatado para delinear uma carreira especializada, é chamado de especialização e conta com carga horária média de 360 horas/aula e, ao final deste período, o aluno deve apresentar uma monografia. Na maioria das vezes o estudante recebe um certificado de especialista com histórico escolar detalhado no verso e de validade nacional.

Ainda na grade Lato sensu está o MBA (Master in Business Administration) ou Mes-trado em Administração de Negócios. Carac-terizado como um curso de gestão, tem como

objetivo preparar o profissional para assumir posições de liderança e cargos es-tratégicos. Os MBAs têm a opção de serem realizados por módulos e em universidade de outros países, com carga horária que pode atingir 600 horas/aula e metodologia base-ada em estudos de casos, os célebres cases. São cursos pagos que podem ou não exigir monografia.

No cenário após a graduação também está o Stricto sensu e seu ciclo de cursos regulares com foco na pesquisa. Tem como objetivo essencial a formação de professores universitários e pesquisadores especializa-dos. Dependendo do projeto e do tempo de dedicação do aluno, pode ser remunerado por um órgão governamental de fomento à pesquisa.

Sua formação segue uma hierarquia de conhecimentos: mestrado acadêmico, ou profissionalizante, e doutorado, que, embo-ra representem um escalonamento na pós-graduação, esses cursos podem ser conside-rados autônomos. De acordo com a CAPES,

A matrícula após a graduaçãopor Lilian Cruz

Mestrado, especialização, MBA ou extensão. Entenda os tipos de pós-graduação e porque fazê-los

24

Page 25: TELMO KEIM

o mestrado não constitui obrigatoriamente requisito prévio para inscrição em um curso de doutorado. Alguns profissionais vão além e seguem para o pós-doutorado.

O mestrado leva em média dois anos e o doutorado, quatro. A admissão em cada um deles depende do

desempenho do candidato em prova escrita específica, aprova-

ção do projeto de pesquisa proposto e a avaliação de currículo no modelo

Lattes, do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-

co), muito diferente dos modelos usados na busca de empregos. Devido à necessidade do uso frequente de artigos internacionais e bi-bliografia estrangeira, é desejável, ainda, que o candidato tenha o domínio de pelo menos uma língua estrangeira no mestrado – geral-mente o inglês – e, em alguns casos, duas no doutorado.

25

Page 26: TELMO KEIM

Esporte

Força da União

Alavanca para qualidade de vidaA curiosidade em relação a como e porquê

tudo à nossa volta se comporta da maneira como observamos foi a força motriz para a carreira acadêmica de Daniel Luiz da Silva, 30 anos. Graduado em Física pela Unesp de Rio Claro, mestre e doutor em Física aplica-da pela USP de São Carlos, atualmente fa-zendo pós-doutorado no Instituto de Física da USP, onde é membro do grupo de Física Molecular e Modelagem, sua trajetória não pode ser resumida em diplomas.

É na forma de refletir que Daniel aponta os efeitos transformadores do conhecimen-to. “A principal mudança foi ter tornado o conceito de qualidade de vida mais abran-gente. Antes, esse conceito estava apenas atrelado a uma perspectiva financeira, ao passo que hoje penso que ele está também associado às experiências que vivemos en-quanto indivíduos. O estudo é capaz de au-mentar perspectivas salariais, mas também amplia nossa visão e aprimora o senso críti-co, fortalecendo assim – se não muita vezes alterando – nossas opiniões”, pondera.

Diante de muitas horas de esforço, está-gio de um ano na Polônia e participação em simpósios e congressos em diversos países,

Page 27: TELMO KEIM

Saber

Daniel lamenta que o mercado de trabalho no Brasil para mestres e doutores em áre-as de conhecimento básico, como Física, Matemática, Química e Biologia ainda se restrinja às universidades públicas, onde se concentra grande parte da pesquisa reali-zada no país. Este quadro é bem diferente daquele observado em países como os Estados Unidos e Alemanha, por exemplo. Entretanto, o físico afirma que o nú-mero de contratações desses profissionais tem aumentado nos últimos anos com a criação de novas universidades pú-blicas e maior incentivo à pesquisa.

Tome nota

• Pesquisa coordenada pelo professor Marcelo Negri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), revelou que o salário dos profissionais com alguma pós-graduação são, em média, 66% mais altos do que os que têm somente o diploma de graduação e cada ano de estudo equivale, em média, a um aumento de 15% do salário.

• A turma de pós-graduação é uma ótima fonte de networking já que atuam em áreas afins. Fazer parte das listas de contatos pode ser um passo para uma colocação no mercado.

• Instituições públicas ou privadas podem acrescentar entrevista como requisito de seleção dos candidatos. Nesse momento, avaliam-se dados do projeto e motivação para a nova etapa de conhecimento.

• No site www.capes.gov.br/cursos-recomendados estão disponíveis análises da capacidade técnica de professores, infraestrutura e laboratórios de universidades para cursos Stricto sensu.

27

Page 28: TELMO KEIM

Alguns restaurantes estrelados por guias de gastronomia exibem no menu um selo com a letra K. Em comum, cardápios de fes-tas, docerias, refinarias de óleo de cozinha e abatedouros de animais também destacam o selo junto à identificação de seus produ-tos. A letra mencionada se refere aos termos kosher, casher ou cashrut - derivados do hebraico e do dialeto judaico yidish – e cor-respondem ao mesmo conceito: o produto está apropriado para o consumo de judeus ortodoxos.

Para os praticantes do judaísmo, o alimen-to, quando preparado dentro de determina-das regras, é fonte de purificação do corpo e da alma. Para quem não é adepto da religião judaica, as orientações da cozinha kosher são garantias de asseio e qualidade na prepara-ção de alimentos. O rabino Elyahu Baruch Valt explica que a função do selo não é ex-clusivamente atestar higiene nos processos. “Não somos fiscais sanitários, averiguamos nas empresas de alimentos e restauran-tes se o preparo dos produtos ocorrem dentro dos preceitos da lei judaica”, descreve quem há 27 anos avalia es-tabelecimentos de todo o país.

A concessão do certificado deve ocorrer obrigatoriamente com a supervisão de um rabino e somente quando todos os requisitos da Tora – o livro sagrado dos judeus – são

praticados nos processos de manuseio dos alimentos, como na escolha seletiva dos utensílios – os que estiveram em contato com a carne não podem ser empregados nos derivados do leite, e vice-versa. É preciso ter panelas, talheres, louças e até mesmo pias se-paradas para manusear cada um deles. Assim como à mesa a carne não pode ser ingerida junto com o leite.

No abate de animais, todo sangue deve ser drenado da carne. Porém, certos animais não podem ser consumidos de forma alguma, como porcos e crustáceos, além de que algu-mas partes dos animais permitidos também são vetadas da dieta. Na limpeza de todos os utensílios e ingredientes, atenção especial é dada aos vegetais e grãos, que devem ser rigorosamente supervisionados sob potentes luzes para que não haja vermes ou insetos.

K de qualidadepor Lilian Cruz | fotos Telmo Keim

O preparo de alimentos baseados na religião judaica alcança o mundo dos negócios e imprime princípios e cuidados especiais

Page 29: TELMO KEIM

Tradição

Nas linhas de produção das indústrias alimentícias, os rabinos devem supervisio-nar os equipamentos, como aponta Valt. “Quando entramos em uma firma, observa-mos os insumos na produção, fazemos uma vistoria de todos os produtos feitos no local e pedimos informações para uma visão ge-ral da empresa. Checamos quais ingredien-tes são usados em cada forno, misturador ou filtro”, descreve.

Mundialmente reconhecido e atribuído como sinônimo de controle máximo de qualidade, o selo é concedido pelo período de um ano e deve ser renovado após uma nova visita do rabino ao estabelecimento. Embora o processo de certificação tenha custo, o rabino Valt afirma que o valor é proporcional ao tamanho da empresa e a especificidade do processo. “Não são cobra-dos valores que possam onerar o custo final dos produtos. Os montantes são correspon-dentes ao deslocamento do rabino ao local e demais serviços”, descreve o religioso ao evitar exatidão de cifras.

Para a diretora geral do Apiários Lambertucci, instalado em Rio Claro desde 1983, e presidente da Associação Brasileira dos Exporta-dores de Mel, Joelma Lambertucci

de Brito, o selo Kosher é uma das diversas certificações de qualidade que o merca-do de mel exige. “Cerca de 15% de nossos clientes nacionais exigem o selo Kosher nos produtos. Nossa clientela utiliza o mel como matéria-prima para produção de ali-mentos”, afirma a profissional à frente do apiário.

Meticulosa, a cozinha Kosher também é aplicável às bebidas. Refrigerantes à base de uva (fruta valorizada pela cultura judaica) industrializados em processos obscuros de preparo não são adequados ao consumo sob o olhar Kosher. Quanto às alcoólicas, todas as que tiverem base na uva devem ser submetidas aos métodos de purificação e a um rigoroso crivo de limpeza, aplicáveis na produção de vinhos, proseccos, marti-nes e vinagre balsâmico.

Cadeia alimentícia

Mais informações em www.chabad.org.br

29

Page 30: TELMO KEIM

Adrenalina em miniaturapor Rafael Moraes e Gilson Santulo | fotos Telmo Keim

À primeira vista parecem brinquedos de gente grande, mas o automodelismo é, além de hobby, um esporte. Exige dedicação,

concentração e tempo. O prêmio de quem escolhe essa aventura é um misto de adrenalina, diversão e novas amizades

Esportes

Velocidade é o principal quesito. Seja na terra ou no as-falto, a coordenação motora, a concen-tração e a habilidade do piloto são fatores essenciais para uma boa corrida. A compe-tição é sempre amigável e imprescindível.

Adrenalina, mãos suadas pela execução

de movimentos na direção. Práticas que soam como fundamentos para um piloto de corrida, mas não no sentido convencional, já que o assunto é automodelismo, hobby que exige proficiência de seus praticantes e

30

Page 31: TELMO KEIM

Adrenalina em miniaturapor Rafael Moraes e Gilson Santulo | fotos Telmo Keim

muita dedicação, tanto na pilotagem quan-to na manutenção dos modelos.

O automodelismo é a prática de modelis-mo em automóveis, que podem ser de con-trole remoto ou estáticos e são encontrados em diversos tamanhos. Mas neste caso es-pecífico trataremos dos controlados por rá-dio controle, que respeitam a proporção de 1/8 ou 1/10 do tamanho real do veículo.

Dividido em vários tipos de competições – regionais, estaduais, nacionais e internacio-nais – o esporte também é classificado pela motorização, peso e tamanho dos modelos, além das modalidades on-road (asfalto) e

off-road (terra). A nomenclatura dos mo-tores vai de 12 a 21, ou seja, 0.12 polega-das cúbicas e 0.21 polegadas cúbicas.

“Dentro dessas categorias, se é livre para modificar o modelo com a finali-

dade de melhorar seu desempenho, seja através da redução de peso, intervenção no

motor ou na suspensão. Os fatores limitantes dos modelos são seus tamanhos, já que as dimensões não devem ser alteradas”, deixa claro Core Leonardo Borge, 30 anos, prati-cante e proprietário de loja de modelismo.

Os motores funcionam em dois tempos, assim como em algumas motos, em ciclos termodinâmicos que se completam a cada volta do eixo, compreendendo as etapas de admissão, compressão, transferência de

calor e exaustão. Essa característica permi-te que o próprio pistão atue como válvula, abrindo e fechando as janelas na parede da câmara de combustão.

O combustível utilizado é composto de uma mistura de metanol, nitrometano e óleo sintético e óleo mineral. Nos modelos compostos por motor e suspensão, a car-roceria é toda em alumínio e a tração é quatro por quatro. Como parte do modelo, um receptor para receber o sinal do rádio-controle. Existem modelos de partida elétri-ca e manual, ou recoil, no mesmo principio da partida de lanchas.

Comandados por rádios-controle, ge-ralmente compostos por duas unidades onde uma controla aceleração e frenagem e outra a direção, entre esquerda e direita. Atualmente, os mais utilizados são mode-los com tecnologia DSM e frequência de 2.4 GHz, que podem conter mais de 40 fre- quências distintas, o que significa que até 40 carros podem correr simultaneamente sem concorrer por banda.

Além do automodelismo, outras catego-rias merecem destaque como o aeromo-delismo, montagem e pilotagem de aviões em pequena escala, o helimodelismo, que representa a técnica de pilotar helicópte-ros em miniatura e o nautimodelismo, com seus barcos e lanchas.

Page 32: TELMO KEIM

Em Rio Claro, os entusiastas encontram local específico para a prática do esporte. Idealizada por Borge, a pista localizada na Avenida 30 com a Rua 1 oferece espaço mais que suficiente para os ‘pegas’ de final de semana, além de conter diversos obstáculos que transformam a prática off-road em um verdadeiro show de manobras.

Mas para concretizar os planos de uma instalação ainda mais apropriada para o automodelismo, Borge comenta que a partir de março de 2010 a pista deverá ter novo endereço, próximo ao estádio municipal Dr. Augusto Schmidt Filho. Ao ser redesenhada, a nova pista manterá as características para a prática off-road.

Os principais modelos que aceleram e saltam nessa modalidade são os buggys e os monstertrucks. O primeiro se assemelha às gaiolas, bem próximas ao chão, o que permite

imprimir grandes velocidades; já o segundo, é inspirado nas grandes caminhonetes, suas grandes rodas e suspensão alta e ficam mais afastados do chão.

Ao todo, 28 pessoas costumam frequentar a pista da Vila Aparecida. Deste total, 14 são associados e pagam mensalidade pelo uso da pista, os demais contribuem quando vão pôr suas habilidades à prova. Com o novo projeto, Borge pretende a adesão de todos os praticantes e associados para poder concretizar uma pista oficial de off-road, que deve ter 150m de comprimento linear, retas de quatro metros e seis metros nas curvas.

Esportes

Serviço Kit Monstertruck 1/8 – modelo Revo 3.3/ Traxxas, a partir de R$ 2.400,00 Kit Boggy 1/8 – modelo EB4/ThunderTiger, a partir de R$ 1.700,00

Onde praticar

32

Page 33: TELMO KEIM

33

Page 34: TELMO KEIM

SP Fashion Week fotos Telmo Keim

A Drops foi ao line-up do São Paulo Fashion Week, edição de janeiro. Com direito ao PIT e na companhia de fotógrafos do mundo todo,

confira a diversidade criativa que inspirará as ruas este ano

34

Page 35: TELMO KEIM

Música

A busca pela tecnologia e a mistura de elementos direcionaram o fio condutor da coleção Animale. Silhuetas sequinhas, cintura marcada e nos pés, os inusitados ankle boots com meia pata e salto esculpido.

Page 36: TELMO KEIM

Música

36

Page 37: TELMO KEIM

37

Page 38: TELMO KEIM

Sombria e clássica, a coleção 2nd Floor segue rastros de Sherlock Holmes e aposta no trench coat como peça coringa. A blusa de lã de pontos largos foi alvo do material que é a cara do inverno.

Page 39: TELMO KEIM

39

Page 40: TELMO KEIM

Das pedras ao PIT SPFW, o fotógrafo Telmo Keim registrou looks dos desfiles para a Drops

Page 41: TELMO KEIM

O caçador e sua presa servem de inspiração para a coleção da Neon. A clássica saia lápis em cores e estampas selvagens compõem looks com salto fino.

41

Page 42: TELMO KEIM

A biblioteca de bolsopor Rafael Moraes | fotos Telmo Keim

A mobilidade dos aparelhos eletrônicos alcança novos patamares e é a vez dos livros tomarem conta dos gadgets e entrarem de vez na era digital, vide o e-reader

da Amazon.com, a sensação Kindle

Tecnologia

Da criação da tecnologia pelos mesopo-tâmios que hoje conhecemos por escrita, há aproximadamente em 4.000 a.C, até a concepção dos tipos móveis por Johannes Gutenberg, no século XV, mecanismo que possibilitou a impressão em escala de livros e, posteriormente, a criação dos jornais, é verdadeiro afirmar que a invenção da escrita foi a principal revolução na história do ho-mem, até porque permitiu o registro de todas as outras.

A importância da palavra escrita só pode ser mensurada se considerar a infinita pro-dução de conteúdo intelectual registrado e de outras formas de comunicação baseadas nela, como livros, jornais, revistas, placas, documentos, Internet, e uma das últimas invenções a se juntar às fileiras desses “pro-pagadores de conhecimento”, os leitores de textos digitais.

Dentre os diversos gadgets eletrônicos desenvolvidos exclusivamente para a visu-

alização dos e-books, o Kindle, idealiza-do pela Amazon.com, uma das maiores companhias de vendas de livros on line

do mundo, é o que mais

42

Page 43: TELMO KEIM

ganha mercado graças ao grande número de títulos (em inglês) disponibilizados para visualização: um montante que ultrapas-sa os 400.000 títulos. Contudo, para os usuários brasileiros essa variedade supera a marca de 345.000 livros. Apesar do ca-tálogo em português não exceder os 160 tomos, é possível encontrar as obras com-pletas de Paulo Coelho e diversas títulos de Machado de Assis.

Além de livros, o equipamento também permite a leitura dos principais jornais e re-vistas do mundo, entre eles o The New York Times e Le Monde. Edições brasileiras de O Globo, Zero Hora e Diário Catarinense tam-bém já entraram nesse universo.

Para quem pretende retomar leituras em inglês, uma funcionalidade de extrema im-portância é o dicionário New Oxford Ameri-can Dictionary, com mais de 250.000 defi-nições que aparecem instantaneamente ao pé da página.

Page 44: TELMO KEIM

Tecnologia

Nas entranhas, o leitor

Como uma ‘estante virtual’ capaz de arma-zenar até 1.500 livros, o Kindle seduz pela prati-cidade. O diretor geral do Colégio Koelle, Gunar Koelle, 72 anos, é usuá-rio de um Kindle. Com o equipamento em mãos, conta que “não é uma ferramenta complicada, é muito fácil de trans-portar e possibilita a leitura de múltiplos li-vros ao mesmo tempo, sem ter que carregar por aí diversos exemplares”, ao comparar a tradicional forma de leitura.

O aparelho consiste em um display de seis polegadas de menos de 1cm de espessura e peso de 289 gramas; suas bordas são arre-dondadas e pode ser recarregado em toma-das comuns ou conectados às portas USB. A tela, apesar de não ser colorida, oferece 16 tonalidades de cinza, o que aproxima ler no Kindle à experiência de ler um livro impresso.

O visor se adapta à luminosidade por meio da tecnologia chamada papel digital, como salienta Gunar. “Por não ter luz de fundo, o Kindle não cansa a vista como outros dispo-sitivos que também são e-readers. Portanto, a ausência dessa luz é benéfica para se ler por longos períodos, além da regulagem no tamanho da letra, que facilita a leitura”.

O e-reader conta com alto-falantes em sua parte de trás e uma entrada para fones de ouvido de 3,5mm, usados para ouvir os áudios-livros. Em alguns livros há a possibili-dade de usar a função “Text To Speech”, para quem preferir ouvir ao invés de ler. Entre outras funções, o Kindle é tocador de MP3 e capaz de visualizar arquivos PDF.

A conexão do leitor é feita pela rede 3G, dispo-nível em diversos países e a recepção de documen-tos pessoais por meio das redes wireless, quando é possível enviar, receber e ler documentos pessoais nos mais variados for-matos. Também é possí-vel acesso à Wikipédia e à Web, mas esse serviço

não está disponível em todas as áreas.A funcionalidade sustentável do ‘novo li-

vro’ fica eminente quando o assunto é corte de árvores. O consumo de energia elétrica também ressalta uma característica positiva, uma vez que, de acordo com o fabricante, o display de papel eletrônico do Kindle conso-me pouca energia.

São diversas funções, que complementam um único objetivo: facilitar a vida do leitor e tornar o ato de ler ainda mais prazeroso. Para aqueles que questionam se o acesso à Internet sacramentará o fim das publicações impressas, assim como os diversos leitores digitais que continuam a surgir, o Kindle con-tribui para tornar sombrio o futuro do papel.

Dica Drops Para quem gostaria de conhecer o Kindle, mas não quer desembolsar US$ 259,00, as opções são as versões do leitor para outros dispositivos, como para iPhone e para PC. Usuários de Mac e do Blackberry terão uma versão em breve, como informa o site da Amazon.com

Gunar Koelle, entusiasta da nova tecnologia

44

Page 45: TELMO KEIM

45

Page 46: TELMO KEIM

46

Page 47: TELMO KEIM

O Aleph por Carlos Marques

* Na literatura-fantástica, ponto do espaço que abarca toda a realidade do universo.

São muitas as semelhanças entre o bibliófilo José Mindlin e o escritor argentino. Não por também estar ficando cego. Aliás, isso não o assusta nem um pouco. Lamenta pelo fato de não poder mais ler. Como Borges, Mindlin encontrou seu Aleph* e passou a enxergar para além da escuridão.

O desejo de quem visita sua biblioteca com mais de 38 mil títulos é nunca mais sair desse engarrafamento de livros, conhecimento e, sobretudo, alegria. São muitas as suas histórias. Aos 95 anos, tem vivas as lembranças das amizades com gênios da literatura nacional, como Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e muitos outros.

Prova dessa paixão pelo livro é a doação de sua rara biblioteca para a Universidade de São Paulo sob condição de torná-la digital e que muitas, mas muitas pessoas possam conviver com quase um século de pesquisa, paixão e, acima de tudo, respeito pela inteligência.

Essa conversa aconteceu há mais de um ano, quando Mindlin recebeu a Drops em sua casa-biblioteca, mas permanece fresca na memória. Afinal, não é todo dia que se tem a oportunidade de segurar nas mãos um exemplar da primeira edição de Os Lusíadas, obra que consolidou o idioma Português e impressa em 1572. Confira trechos da conversa...

Quando escreveu a Biblioteca de Babel, Jorge Luis Borges não poderia imaginar que aquele Universo – que muitos simplesmente chamam de ‘A Biblioteca’ – existe. E fica no Brasil

Cultura

47

Page 48: TELMO KEIM

Quando e de que maneira começou esta paixão pelos livros e pela leitura?De certa maneira, poderia dizer que nasci com o livro na mão. Desde que me conheço como gente, sempre gostei de ler. Nasci em um ambiente intelectual, o que foi uma sorte. Comecei a frequentar os sebos de São Paulo aos 12 ou 13 anos. E daí a paixão continuou pelo resto da vida. Até hoje, apesar dos meus problemas de visão, muitas vezes não resisto à tentação de comprar livros. Os amigos leem para mim.

Quer dizer que agora o senhor também “ouve” livros?Curiosamente há livros que tenho a sensação de que foram escritos para serem lidos em voz alta. Especialmente os do Guimarães Rosa. É de uma musicalidade divina. Poesia então, nem se fale. Vejo a poesia, de um modo geral, como uma partitura musical. Sempre gostei de ler poesia em voz alta e tive sorte que a Guita (Mindlin, sua esposa) preferia ouvir a ler. Infelizmente ela morreu em 2006.

O senhor recebeu indicação para a Academia Brasileira de Letras e três dias depois sua esposa faleceu. Como foi lidar com duas emoções tão diferentes?Emoção mesmo foi a perda de minha esposa. Em relação à Academia, não posso dizer que fiquei emocionado.

Qual papel ela teve em sua vida? Como lida hoje com a ausência?Foi de parceria total (Mindlin fita o vazio). Lido com esta ausência como se lida com coisas irremediáveis. Isto representa para mim permanentemente uma falta. Moramos nesta casa desde 1948. E, até 2006, a Guita foi uma companheira total. Íamos completar 69 anos de casados.

A biblioteca está sempre crescendo. O senhor tem uma estimativa de quantos volumes ela tem hoje?Volumes eu não sei. Há uns três anos, a bibliotecária verificou que tínhamos catalogado 38 mil títulos. O título pode ser desde de um folheto até uma coleção de centenas de

volumes, como os Anais da Biblioteca Nacional, por exemplo.

Esta casa foi frequentada pela intelectualidade brasileira. Dos escritores com quem o senhor conviveu, quais lhe marcaram mais e lhe dão mais saudades?Minha amizade com o Carlos Drummond de Andrade foi muito bonita. Eu conheci o

Cultura

“Quando garoto, passava férias em Rio Claro. Havia uma chácara perto da cidade que se chamava Cuiciçana. Isso

foi por volta dos anos vinte. Íamos todos para lá e nos divertíamos

muito mesmo.”

Cultura

48

Page 49: TELMO KEIM

49

Page 50: TELMO KEIM

Drummond como se fosse durante a sobremesa de um bom jantar. Nos encontramos em 1977. Frequentava a casa do Plínio Doyle, que organizava reuniões com intelectuais. Estas reuniões ficaram conhecidas como “Sabadoyles”. E o Drummond ia sistematicamente a elas. Eu disse ao Plínio que gostaria de fazer uma edição de arte com textos do Drummond, mas que queria ter um texto inédito. Resolvi, então, falar com o Drummond e ele recebeu a sugestão com muito prazer, mas me disse que não tinha nenhum texto inédito disponível naquele momento. Disse apenas que estava trabalhando em um poema sobre a visita que o Mário de Andrade fez em Mariana ao poeta Alphonsus de Guimarães. Garantiu-me que se terminasse o poema me mandaria. O poema se chamava A Visita. Meses depois recebo pelo correio um pacote com um bilhete escrito “Promessa cumprida” e o texto. Na elaboração da edição especial de A Visita, tínhamos muitos encontros e ele acompanhou toda a parte gráfica. Eu dizia a ele: ‘Drummond, esta linha está grande demais. Teria de fazer uma linha quebrada e não gosto.’ Assim ele fez várias modificações no texto. Foi uma linda edição de 120 exemplares e dela surgiu uma amizade que se prolongou de 1977 a 1986, quando ele faleceu.

E o Guimarães Rosa?Conheci Guimarães Rosa em Paris, em 1946. Ele era muito amigo de meu irmão e de minha cunhada, que moravam no Rio de Janeiro. Eu o procurei pela primeira vez durante

a Conferência da Paz. Rosa fazia parte da delegação brasileira. Fizemos de imediato uma ótima camaradagem. Como os trabalhos da conferência começavam apenas à tarde, de manhã nos encontrávamos e ficávamos flanando pelas ruas do centro de Paris, falando sobre Deus e o mundo.

Como ele era na intimidade? Dizem que era um pouco arrogante.Não era arrogante não. Posso dizer que ele era um homem com dupla personalidade. De um lado o gênio literário, do outro uma certa vaidade. Andava sempre muito bem arrumado. Mas, surpreendentemente, não me deu nenhuma indicação de que era escritor. Sempre com um bom papo. Durante aquele mês em Paris, nossa relação foi bem superficial. Quando voltei ao Brasil, Sagarana tinha sido publicado com grande sucesso. Mas vi o livro e, lembrando da pessoa do Guimarães pensei ‘não vou ler esse livro, não deve ser muito bom’. Anos mais tarde, quando saiu Corpo de Baile e, depois, Grande Sertão: Veredas, um amigo insistiu para que lesse. Foi aí que descobri o gênio Guimarães Rosa. Depois disso, encontrei-o muitas vezes no Rio e tivemos uma amizade muito boa.

O senhor sempre diz que “trocaria dois terços da sua biblioteca por metade da idade para começar tudo de novo”. Aos 95 anos, como o senhor se sente em relação à vida? E a morte?Eu não penso na morte, a não ser ocasionalmente achando que é uma coisa

Cultura

50

Page 51: TELMO KEIM

Cultura

injusta. Quando você está com pleno uso de suas faculdades mentais, de interesses intelectuais, de repente você corre o risco de ter isto cortado inesperadamente. O único atenuante é que

quando isso acontece, a gente não percebe.

Esta formação predominantemente humanista que o senhor tem em algum momento se chocou com a atividade empresarial? Não. Há um preconceito que afirma incompatibilidade entre a atividade empresarial e a intelectual. É puro preconceito. A pessoa que tem os dois interesses não sente problema algum. Há muitos que conheço que são como eu. Acho até que a formação humanista, intelectualmente falando, ajuda você a se tornar um empresário melhor.

E a Academia Brasileira de Letras? O que representa para o senhor ser um imortal?Nunca me preocupei com repercussões. Apenas faz parte de minha vida e pronto. Estas coisas são produto de egoísmo. Tudo que faço, faço com alegria.

O ato de ler, buscar conhecimento, é um ato solitário?É solitário e ao mesmo tempo comunicativo. A ideia da gente é transmitir aos outros o entusiasmo por um texto que agradou muito.

“Não penso na morte, a não ser ocasionalmente achando que é uma

coisa injusta. Quando se está em pleno uso das faculdades mentais, você corre

o risco de ter isto cortado.”

51

Page 52: TELMO KEIM

Até finais da década de 60, a região nor-te do Paraná era tomada por fazendas de cafés. Nelas, centenas de casas de madei-ra abrigavam colonos ávidos pelo trabalho entre terreiros e tuias e no beneficiamento dos grãos que movimentavam a economia da região.

Com o excesso de produção e a queda brusca do preço do café, as lavouras foram aos poucos substituídas por soja, milho e, por fim, pela cana-de-açúcar. Frente à nova cultura agrícola, a história de vida dos co-lonos tomou outros rumos e provocou a debandada dos trabalhadores do campo, o abandono de suas casas e a depreciação do patrimônio.

Chegados os anos 2000, arquitetos e de-coradores dedicaram um novo olhar para as, até então, despretensiosas criações de artesãos que usavam as ‘casinhas de pau’ paranaenses como matéria-prima. Surgia

Da demolição à decoraçãopor Lilian Cruz | fotos Telmo Keim

Casa & Cia

Casas derrubadas e sobras de construções encontram sobrevida com

a nova tendência em decoração de ambientes, os móveis-demolição

52

Page 53: TELMO KEIM

uma nova tendência de decoração apresen-tada com o título de móveis-demolição.

A peroba rosa, madeira nobre, outrora descartada como lenha para fornos, hoje é elevada a matéria-prima. Considerada a op-ção de reciclagem mais sustentável para a madeira, a transformação de ripas e caibros das casas derrubadas em mesas, cadeiras e estantes compõem uma nova vertente da decoração rústica.

A rota Arapongas-Passos de Minas é fre-quente há oito anos para a empresária da

As casas de peroba rosa, típicas da região norte do

Paraná, abrigavam colonos nas fazendas de café

53

Page 54: TELMO KEIM

Casa & Cia

Sustentabilidade criativatransformação de madeira, Eugélia Cunha. “A peroba rosa usada nas casas do Paraná é perfeita para móveis por-que é dura e amarga, por isso não atrai cupim. Sua resistência é tanta que as casas do campo ou da cidade tem mais de 50 anos e mesmo assim po-dem dar origem a móveis que vão durar outros 50 anos”, descreve a empreendedora que abastece reven-das na região sudeste do Brasil e ex-porta itens para diversos países como Israel e Inglaterra.

O conceito inclui material que apre-sente marcas de pregos, parafusos, tintas e verniz, pois a madeira registra as ações do homem e, mesmo assim, o móvel mantém a aparência rústica com um certo aspecto de aconchego con-temporâneo. “O aumento da demanda está evidente, porque aliamos estilo a uma verdadeira atitude de preservação do meio ambiente, uma vez que não desmatamos e sim, reciclamos”, com-pleta Eugélia.

Mesmo na região sudeste, no final das obras de construção civil ou no desmanche de cômodos, a madeira geralmente tem um destino cruel: a caçamba de entulho. Porém, a consciência ambiental aliada à criatividade pode renovar tábuas e ripas, dando-lhes a chance de presenciarem novas épocas, com o mínimo de respeito pela finitude dos recursos naturais.

Uma prateleira feita de madeira antiga pode ser inusitada e útil na biblioteca, painéis decorativos com lascas podem complementar ambientes e, banquinhos ou baús proporcionam aconchego e organização ao lugar. Para a confecção, não há a necessidade de selecionar tábuas extremamente regulares, pois nódulos e espessuras desniveladas são naturais e, quando bem explorados, traduzem um charme diferenciado à peça.

Até mesmo a história da madeira pode ser evidenciada com a preservação das cores originais realçadas com verniz ou aplicação de efeitos pátina e laqueados. O que vale é que o resultado, mesmo intrínseco ao modismo, é positivo para a natureza. Afinal, mais árvores sobrevivem diante do reaproveitamento de algo fadado ao descarte.

54

Page 55: TELMO KEIM

55

Page 56: TELMO KEIM

Um país de contrastes, o Brasil oferece tantas opções de turismo e lazer que às ve-zes fica difícil escolher o destino. De Norte a Sul, apesar da influência portuguesa ser uma constante, fica evidente que outros povos fincaram suas raízes nas mais diver-sas cidades, imprimindo uma diversidade cultural que pode ser vista e vivida por todo o país.

Assim como a cultura africana se faz pre-sente no sudeste e Nordeste do Brasil, os alemães e italianos deixaram suas marcas no Sul, mais especificamente no estado do Rio Grande do Sul, cuja capital Porto Alegre se mostra reflexo dessas culturas ao exibir suas obras arquitetônicas situadas na re-gião central da cidade. Para o jornalista Mário de Faria Junior,

39 anos, Porto Alegre é um destino que impressiona ao primeiro olhar, seja por sua arquitetura ou suas belezas naturais. “Mar-

Um chimarrão, para começarpor Rafael Moraes | fotos Telmo Keim

Unir o velho ao novo, arquitetura com badalação, cultura com gastronomia. Tchê, Porto Alegre é terra dos gaúchos,

do churrasco e muito mais

Turismo

Monumento a Júlio de Castilhos, localizado na Praça da Matriz, centro de Porto Alegre

Monumento aos Açorianos e, ao fundo, prédio do Centro Administrativo do Estado do Rio Grande do Sul

56

Page 57: TELMO KEIM

geada pelo imponente Lago Guaíba, com prédios de arquitetura colonial, ruas largas e arborizadas e suas muitas praças, Porto Alegre também é um local que encanta pela atmosfera que emana de um povo que sente muito orgulho e admiração por sua cidade”.

As construções históricas, entre parques e espaços culturais fazem de Porto, como é carinhosamente chamada por seus ha-bitantes, um grande museu a céu aberto. Entre os diversos pontos da capital gaúcha, alguns merecem destaque, como o Parque Farroupilha, o Jardim Botânico e o Centro Cultural Usina do Gasômetro, assim como seus teatros.

O jornalista, que atualmente reside em Rio Claro, vê em Porto Alegre a sua segunda casa. “É o lugar onde vivem meus pais, um irmão e um sobrinho. Apesar de ter nascido em Santo André, residi na capital gaúcha de 1978 a 1995”, acrescenta e deixa a dica: ”Você pode começar um passeio pelo cen-tro da cidade, caminhando pelo calçadão da Rua da Praia e suas lojas, passar pela Praça da Alfândega e chegar a ‘Casa de Cul-tura Mário Quintana’, antiga casa do poeta, transformada em centro cultural”.

Porto Alegre é uma das cidades mais arborizadas do mundo, com mais de um milhão de árvores espalhadas pela urbe

Para todas as tribosPorto Alegre reúne o melhor do velho e

do novo mundo. A vida noturna da cidade é muito agitada e repleta de boas opções em bares, pubs, cafés e casas noturnas em diversos bairros. De estilos musicais diver-sos, a capital gaucha é um grande berçário de bandas musicais. Só para citar algumas, como Cachorro Grande, Comunidade Nin-Jitsu, Chimarruts, Bidê ou Balde, Ultramen, Engenheiros do Hawaii, Fresno, Nenhum de Nós, entre outras.

Mas a diversão não para por ai. Existe um leque de opções extenso: para quem prefere a boemia, em seu lado mais cult e alterna-tivo, a Cidade Baixa é a pedida certa com seus bares, botecos e pubs, perfeitos para o happy hour, que podem ser encontrados nas ruas Lima e Silva, República, José do Patrocínio e João Alfredo; para aqueles que não abrem mão do requinte, o roteiro deve ter passagem obrigatória pelas ruas Padre Chagas, Hilário Ribeiro, Luciana de Abreu e Dinarte Ribeiro, juntas formam a "Calçada da Fama".

O jornalista Mario de Faria, que vê em Porto Alegre sua segunda casa

Page 58: TELMO KEIM

É claro que Porto Alegre não é só ba-dalação. Na zona sul, as atrações são os restaurantes típicos da culinária italiana, pizzarias, grelhados e frutos do mar, encon-trados nos bairros próximos à orla do Lago Guaíba, como no Tristeza e Assunção. Mas ir à terra do ‘tchê’ e não saborear um au-têntico churrasco (com muita ênfase na pronúncia do r) é quase um pecado. O Gal-pão Crioulo, anexo ao CTG 35, na Avenida Ipiranga é o lugar que reúne o churrasco gaudério e a apresentação de danças fol-clóricas, como a chula, a dança dos facões e o Malambo, um sapateado típico argentino incorporado à tradição gaúcha.

Dentre todas as tradições gastronômicas da cidade, Mário ressalta uma que dificil-mente será encontrada em guias de viagem ou indicada pelos gourmets de plantão. “O legal é subir a Avenida Independência e fa-zer uma parada para saborear um símbolo da gastronomia de Porto Alegre: o ‘Cachor-rinho do Rosário’, um carrinho que vende o mais famoso cachorro-quente do Rio Gran-de do Sul, instalado há décadas em frente à Igreja do Rosário, ao lado do Colégio e que faz parte da tradição da cidade. A qualquer hora do dia ou da noite você enfrenta fila, mas compensa esperar.”

Com tantas opções de lazer pela cidade,

como se locomover com mais eficiência? Além de contar com um sistema de metrô, a capital é referência por sua frota de ônibus e por ter um dos melhores transporte público do país. Se a mobilidade exigir um táxi, Porto oferece quase quatro mil à disposição. Vale citar que a cidade conta com um aeroporto internacional, o Salgado Filho.

Depois de idas e vindas, a atração imper-dível é o fim de tarde no calçadão de Ipane-ma, às margens do Guaíba, com música ao vivo e o inconfundível pôr-do-sol de Porto Alegre.

Com opções em diversão, restaurantes, boa infraestrutura e cultura envolvente, de-finitivamente Porto Alegre faz jus ao nome.

Turismo

Casa de Cultura Mário Quintana

Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora

58

Page 59: TELMO KEIM

59

Page 60: TELMO KEIM

Gastronomia

Há tempos comer tornou uma forma de prazer, um acontecimento social e um meio de contemplar o alimento como um disseminador cultural. Nos últimos anos, os restaurantes se multiplicaram e se especia-lizam para oferecer pratos das mais diversas cozinhas e com os mais variados sabores.

Dentro desse contexto também se situa a região de Rio Claro, Piracicaba e Araras ao apresentar sua variedade gastronômica, comprovando que existe mercado a ser ex-plorado no interior do Estado, pronto para integrar os mais diversos cardápios com

preparações inusitadas, clássicas, temáticas e diferenciadas.

Na busca de impressões aprazíveis ao paladar, a Drops foi buscar em Araras uma nova fonte de inspiração. Um espaço volta-do à apreciação da boa mesa, com ambiente

Antigos sabores, novas roupagenspor Rafael Moraes | fotos Telmo Keim

Na busca de roteiros gastronômicos, a Drops se depara em Araras. O Rovigo Ristorante encontra na cozinha italiana inspiração para criar seus

pratos e propiciar experiências singulares

Couvert com geleia de pimenta

60

Page 61: TELMO KEIM

Combinação de saboresPara iniciar a noite, uma tradicional en-

trada italiana composta pela massa achata-da, a focaccia, acompanhada de mousse de gorgonzola, cremoso e fresco; uma capo-natta de legumes assados, bem temperada e delicada, que encontra na berinjela sua ‘alma’ e uma combinação inusitada, mas sublime, de presunto Parma com geleia de pimenta, agridoce a princípio, mas que em seguida incorpora a ardência da pimenta e finaliza com o salgado do presunto.

Depois do antipasti, como primeiro pra-to uma salada de folhas verdes com peras

aconchegante e bem estruturado, o Rovigo Ristorante.

Comandado por Marcelo Menegolli, a casa está situada em uma das áreas nobres da ci-dade e oferece culinária inspirada na cozinha italiana, porém sem se restringir a ela. No cardápio é possível encontrar pratos como o Ceviche, de origem peruana, além de prepa-rações com inspiração oriental.

grelhadas, morangos, peito de peru defu-mado e pimenta rosa, tudo regado com azeite de baunilha. Uma combinação de sabores e sensações, o doce da pera, o aze-dinho do morango, o salgado do peito de peru, a rúcula picante e o amargo da endívia resumem a aventura, perfazendo todos os pormenores do paladar e que termina com o delicioso aroma da pimenta rosa.

Ao ‘explorar’ o paladar com sabores, tex-turas e aromas contrastantes, temos no pri-meiro prato quente uma nova surpresa. Um confit de coxa e sobrecoxa de pato tempe-rado e cozido primorosamente, que desman-cha ao contato da colher. Para complementar, um risoto de gorgonzola e uvas rosada que, além de dar um toque adocicado à receita,

Stinco de cordeiro

Confit de pato

Salada de folhas verdes

Page 62: TELMO KEIM

Gastronomia

Tradição italianaUm dos doces mais característicos da cozinha italiana, o Tiramisù, uma espécie de pavê que leva em sua base queijo mascarpone, café e vinho marsalla, é servido em copo, tornando-se uma maneira diferente e inusitada de apresentação. A sobremesa equilibrada alia a cremosidade do queijo levemente adocicado

entremeado de camadas de bolachas champanhe. Decorado com chocolate amargo e canela, atrai olhares.

Antes do fim, outra sobremesa, exclusiva do Rovigo, é colocada à prova. Uma taça de frutas da época, flambadas com zabaglione de avelãs, se torna uma salada de frutas quente, seguida de um caldo aveludado. Um verdadeiro arco-íris de cores, sabores e aromas coroado com o sabor insuperável do chocolate.

também confere uma leve acidez ao preparo, função executada pela casca da fruta.

Seguindo a linha de carnes diferenciadas, o segundo prato quente oferece o Stinco de carneiro. A panturilha é preparada de forma que apenas o osso da canela fique à mostra. Devido ao sabor pungente e característico do carneiro, é servido em conjunto com um fettuccine ao molho de ervas, bem leve e de sabor delicado.

O último prato da noite é o medalhão de filé mignon selado com presunto Parma para conservar os sucos da carne intactos em seu interior rosado. O filé chega à mesa acompanhado de um ravióli de abóbora e redução de aceto balsâmico. A consistên-cia da massa, cozida com perfeição, con-

serva o sabor suave da abóbora de seu re-cheio, acentuado pelo aceto e que perdura no paladar.

Medalhão de mignon

Tiramisù

Salada de frutas

62

Page 63: TELMO KEIM
Page 64: TELMO KEIM

Meu Bicho

Naná, a cadela rabicóConheça a história da cadela Naná, adotada por uma

inveterada admiradora de animais.

por Daniel Marcolino | fotos Telmo Keim

Não foi tão difícil atingir seus objetivos. “No começo era apenas um. Depois, nota-mos que este estava solitário e precisava de companhia. E assim foi sucessivamen-te, sem nem mesmo perceber. Hoje, temos a pastora belga Hãsna, o boxer Bimba e a vira-lata Naná, a personagem principal da minha história”, ressalta.

A cachorra Naná – sem raça identifica-da – surgiu despretensiosamente na rua da casa de Daniele. Não pedia nada, estava ape-nas de passagem. Com aquele andar vago e sem pressa que é típico dos cães que não têm destino certo. “Quando Naná apontou na es-quina, não imaginava que se tratava de um ‘cão sem dono’, pois já se apresentava muito bonita e simpática”, destaca a Daniele.

Há quem diga que é o cão quem escolhe

seu próprio dono. Naná, cadela sagaz e cheia de artimanhas, resolveu bater no portão de uma nova dona. Talvez fosse cansaço, já que fazia muito sol naquele dia e não havia água por perto. Talvez fosse simplesmente vontade de pertencer a algum lugar, pois a falta de vínculos incomoda até mesmo aos animais.

Contudo, Naná teve que dar um duro para ser adotada. Primeiro, fez campana em frente à casa que poderia vir a ser sua. De-pois, insistentemente, tentou obter a acei-tação de Hãsna e Bimba. O fato é que a es-tratégia deu certo. “Em pouco tempo, meus cachorros se acostumaram com a presença dela, que se alimentava e dormia no nosso portão. Disfarçadamente, ela passou a en-trar e ficar à vontade”, relembra a dona.

Que ela sempre havia sido a melhor amiga dos cães, era um fato conhecido por toda a família. Habituada aos deveres domésticos, desde muito pequena a fatu-rista Daniele Franzoni ficou encarregada de cuidar dos bichos. Isso em nada lhe desagradava, pelo contrário, mesmo depois de adulta continuou com o propósito inalterado de ter uma casa com muitos cachorros.

64

Page 65: TELMO KEIM

Naná, a cadela rabicó

Seu bicho dá uma história? Envie e-mail com foto, curiosidades e estripulias dele para [email protected]

A peregrinação havia acabado. Para o forneiro Luiz André Franzoni, pai de Daniele, a chegada de Naná foi um marco par toda a família. “Pensávamos que já havia muitos bichos de estimação em casa, mas faltava esta cachorrinha para completar a trupe. Já faz dois anos que a adotamos e não me arrependo de ter aberto às portas. Aliás, foi Naná quem se convidou a entrar”, destaca.

Não se pode dizer, por exemplo, que todos foram felizes para sempre, pois não é assim que ocorre. De vez em quando ocorrem uns “arranca-rabos” entre os três (como toda família) porque de outro modo tudo seria muito monótono. Mas o que predomina sempre é o amor e o afeto pelos animais que nada cobram além de um pouco de atenção e amizade, de humanos mesmo.

Page 66: TELMO KEIM

Contraponto

Dez pontos para um líder no mundo atualpor Jorge Forbes

1. Um líder hoje é diferente de ontem. Hoje estamos em uma sociedade em rede, uma sociedade plana, não vertical, o líder não pode se apresentar como um modelo a ser imitado ou louvado como um ideal. Acabou a era dos líderes imperiais, mistu-ra de sabedoria e poder.

2. Um líder hoje tem que ter algo de caris-mático. Lembremos que os carismáticos eram os que tinham acesso à Deus sem intermediação, razão de sua perseguição pela Igreja. O carismático tem um com-promisso com sua paixão acima da von-tade de ser compreendido pelo outro. Por essa postura, seduz, tem o algama, como diria Sócrates.

3. Um líder hoje tem que estar pronto a su-portar o mal-entendido. No mundo-mix não há uma razão maior unificante, que universalize (versão do um), que conven-ça plenamente pela razão. Mais do que nunca vale o conselho: “Não se explique, nem se justifique”.

4. Um líder hoje deve dar maior importân-cia ao ressoar que ao raciocinar, “tá li-gado”? Essa expressão dos jovens atuais aponta a um novo tipo de laço social que não é baseado na compreensão, como até pouco tempo, mas na multiplicida-de de estimulações. Só assim podemos compreender uma Techno-parade com dois milhões de pessoas que estão jun-tas no exercício de suas diferenças, não de uma igualdade.

5. Um líder hoje deve ter uma história para contar, mas, sobretudo, deve ter criativi-dade para inová-la. A sua história mais vale pela paixão vivida que pelo exemplo moral do sofrimento. A ética do desejo é diferente da moral dos costumes.

6. Um líder hoje deve adotar o Princípio Responsabilidade, não a utopia, nem o medo. O Princípio Responsabilidade exige dois movimentos: inventar uma solução e, em seguida, ser capaz de inscrevê-la no mundo.

7. Um líder hoje não deve se preocupar com nenhum figurino prêt-à-porter, mas com a convicção do seu gesto. Não haverá um líder igual a outro, acabou a pessoa com cara de líder.

8. Um líder hoje deve preferir a razão sensível à razão ascética. Lógica com subjetivida-de será mais convincente que lógica com números. Números não emocionam.

9. Um líder hoje deve saber que a cauda da distribuição de preferências é longa e que mais valem os detalhes do pouco a pou-co, a atenção com as janelas quebradas, que propostas monumentais.

10. Um líder hoje deve saber que na socie-dade da comunicação o que mais vale é a própria comunicação, a interface, o con-tato, além de qualquer bem material: o lí-der deve ser a expressão de uma cultura.

Jorge Forbes é psicanalista e médico-psiquiatra. Preside o Instituto da Psicanálise Lacaniana e dirige a Clínica de Psicanálise do Genoma Humano da USP

66

Page 67: TELMO KEIM

67

Page 68: TELMO KEIM