Upload
giuligp
View
246
Download
8
Tags:
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Especificidade do portugues
Citation preview
tórirna Oliveiro (ftUP)
MOENS, M' (1987), Tense, Aspect and Temporal Reference'
Doutoramento'
IvÍONTAGUE, R. (19?4), Formal Philosophy' Nerv Haven' Yale U ty Press.
MOURELATOS' A. (1978), Events'. Processes' and
PhilosoPhY' Vol' 2, PP' 415-34'
OLIVEIRA, F. (1991). FungÒes Discursivas de Alguns T
d, H;;;;;;;^ a Ó'cor LoPes' Porto'/APL. PP. 165-185'
(1992), Algumas Questòes
Edimbur T'ese de
Linguistics and
do Passado, in EnconlroEng. António Almeida e
Tempo e AsPecto, in Cadernos de
{andAspect in Portuguese, in Thieroff'
:jstem in EuroPean Languages' Vol'
subatontic
Portuguese,
& A. LOPES (1994), TBalhveg (orgs.), I,Niemeyer Verlag ( relo).
PARSONS, T. (1990), Events, he Semantics of English: a stufr in
semantics, , Mass., The MIT Press'
PERES, J. (1994), Tow an Integrated Vieu' of the Expression of Time in
os de Semóntica, no 14'
R.&J.ll. Ma.r
Cornell Universit-v
SCOTT. D. (I9
SMITH, C 991\, The Parameter of Aspect, Dordrecht, Klurver Academic Press'
Advice in Modal Logic, in Lambert' K' (org')' Philosophical';;
;; Logic, Dordrecht, Reidel, p' 143'171'
VENDI,.ÉR' z. (t967\,Press.
Lingttistics in PhilosoPhY, Nova
*
t90(ongresso lnternctionol sobre 0 Portuguèt
(ongresso lnlernodonol sobre o Poiluguèr
ESPECIFICIDADE DO PORTUGUES
Paul Teyssier
Qual é a especificidade do portugués entre as vórias línguas do mundo?
Para responder cabalmente a esta pergunta seria necessàrio esbogar uma
tipologia do sistema linguístico portugués. A minha ambigào, hoje, é mais
modesta. Queria simplesmente definir certos dos tragos originais pelos
quais o portugués se distingue dos outros idiomas romànicos. Tratar-se-ó,portanto, duma tipologia parcial. Examinarei sucessivamente très níveis
da língua: a fonética, o léxico e a morfo-sintaxe.
*
l. A fonética
Do ponto de vista fonético, e interessante observar que o porluguès éhoje muito mais parecido com o catalào e ate com os dialectos
occitànicos do sul de Franga, do que com o castelhano, seu vizinhoimediato. Numa época muito remota, que se situa na pré-historia das
línguas ibéricas, havia uma continuidade entre os falares do ocidente da
Península e os do levante, entre, digarnos assim para simplificar, a àrea
do futuro portugués e a do futuro catalào. Toda a metade meridional da
Península estava ocupada por falares neo-latinos aos quais, na falta de
uma melhor designagào, se dó o nome de mogarabesl. Esses falares
continuaram a ser praticados pelos cristàos submetidos aos mouros.
Pouco sabemos deles, mas o que sabemos é suficiente para podermos
afirmar que formavam um continuunr entre o Atlàntico e o
Mediterràneo.
Essa primitiva unidade foi quebrada pelo avango do casteliiuno que,
vindo do norte, penetrou como uma cunha na Espanha central e
I Os moqórabes nlo sào, como muita gente imagina, uma categoria de órabes: a palavra
ntogórabe significa "arabizado" (ntusta'rab\. no sentido de "submetido aos àrabes", e
designava essa parte da populagào que se manteve fiel à fe crista durante a ocupagào
mugulmana.
t9t
Poul Ìeyssier
meridional durante os séculos da Reconquista, destruindo por completo
o antigo mogórabe e deixando só subsistir (prescindindo do leonés, do
asturiano, do aragonés, etc., que se mantiveram no norte) duas óreas
separadas a oeste e a leste, ocupadas respectivamente pelo galego-
-portugués e pelo catalào. Ramon Menéndez Pidal dedicou grande
parte da sua obra à descrigào dessa lenta conquista de toda a Espanha
central e meridional pelo castelhano. E esse fenómeno adquiriu uma
importància particular pelo facto de o castelhano ser, do ponto de
vista fonético, o mais original, direi mesmo o mais revolucionório de
todos os falares neo-latinos da Península lbérica. Essa originalidade
aparece em fenómenos como a substituigào de "f: inicial por h-, e a
completa síncope desta consoante na língua moderna, ex.: FARINA >
harina, ao lado do portuguèsfarinha e do catalào farina. Além disso a
verdadeira "revolugào fonética" sofrida pelo espanhol durante os
séculos XVI e XVII veio agravar ainda essa situagào, afastando cada
vez mais essa língua do portugués e do catalào. Foi durante esses dois
séculos, com efeito, que as constritivas dentais, alveolares e palatais
perderam em espanhol o trago distintivo de sonoridade. Todas as
sonoras passaram a surdas, confundindo-se por exemplo o -z' de hazer
com o -Q- de cabega, o -s- de rosa com o -Js- de passo, o -g- de agente
com -x- de dexar. O por.tugués e o catalào, pelo contrório,
conservaram as sonoras, como o italiano, o occitano e todas as outras
línguas romànicas, inclusive o francés e o romeno. Além disso os trés
fonemas que resultaram dessa evolugào afastaram-se uns dos outros: a
predorso-dental única, oriunda do antigo -z- de hazer e do antigo -9- de
cabeza, palavras escritas em espanhol moderno hacer e cabeza,
"deslocou-se para a frente", tornando-se interdental em pUrO
castelhano; e a palatal única, proveniente do antigo -x- de dexar
(escrita agora ,- em dejar) e do -g- de agente (que conservou a sua
grafia tradicional), "deslocou-se para trós", passando a ser uma
constritiva velar surda igual a ch alemào de lachen.
Estas modificagóes alteraram de tal maneira a pronúncia do espanhol
contemporàneo que essa língua e o portugués pertencem
verdadeiramente, hoje em dia, a dois "universos fonéticos"
profundamente diferentes. Em contrapartida o catalào, que n6o
192 (ongresso lnternocionol sobre o Portugu3r(ongresro lnternocionol sobre o Porluguès t93
[sprclnqolDr Do ponrucuis
acompanhou essas evolugóes, dà a um ouvido portugués uma impressàoacústica familiar.
observa-se, além disso, que essa oposigào fonética é particularmenteacentuada entre as duas normas oficiais destas línguas, que privitegiama pronúncia de castera para o espanhor e a do centio-sur (o eixocoimbra-Lisboa) para o portugués. Existem em portugarparticularidades fonéticas que aparecem à medida que se vai subindopara o norte, e que apagam certas das diferengas indicadas acima.Assim a "troca do b pero y", isto é, a neutrarizagào da oposigàofonológica entre /b/ e lv/, trago característico dos faíares portuguesesdo norte, é de regra em espanhol. Este fenómeno, ariós, aparecetambém em catarào. o garego, que podemos considerar como umaforma extrema de portugués nortenho, conhece, por sua parte, como oespanhol moderno, a pronúncia surda das constritivas dentais e palatais(dizendo por exemplo xente em vez de gente). Existe assim, do pontode vista fonético, um vivo contraste entre o castelhano e o ponugués.Pela sua pronúncia, o portugués, sobretudo na sua forma de rínguapadrào, afasta-se hoje radicalmente do castelhano, aproximando_se,como disse, do catarào e dos farares do sur de Franga.
a2. O léxico
o caso do léxico é bem diferente. uma parte importante das palavrasportuguesas' quer sejam populares, quer sejam eruditas, upur..r, nasoutras línguas romànicas numa forma que os sujeitos farantesreconhecem sem dificuldade. Limitando-nos a comparar o portuguéscom o espanhol, o italiano e o francés, poderíamos .ìtu, umainfinidade de convergéncias deste tipo, por exemplo:
portugués:
parte
branco
ver
espanhol: italiano:
parte parte
blanco bianco
ver vedere
francés:
part
blanc
voir
Poul Teyssier
As mudangas fonéticas deturparam de vez em quando as formas
primitivas, tornando-as quase irreconhecíveis. Mas a, linguística
histórica sabe identificar, por baixo das diferengas da superfície, as
identidades fundamentais. Exemplo:
No entanto, as palavras das quatro línguas podem também divergir, em
totalidade ou em parte, pela sua origem. Neste caso, o portugués e oespanhol formam frequentemente um grupo unido em frente das outras
línguas. Eis alguns exemplos desta'ounidade ibérica":
portugués:
cheio
érvore
olho
portugu€s:
comer
faltar
irmào
mesa
subir
esquerdo
vezes
espanhol:
lleno
órbol
ojo
espanhol:
comer
faltar
hermano
mesa
subir
izquierdo
veces
italiano: francès:
pieno plein
albero arbre
occhio cil
italiano: francès:
mangiare manger
mancare manquer
fratello frère
tavola table
salire monter
sinistro gauche
volte fois
scarpe soulierssapatos zapatos
Nào sei se alguém jamais tentou, deste ponto de vista, fazet um
levantamento da totalidade do quatros léxicos, ou pelo menos de
secgóes importantes deles. As numerosas sondagens parciais que se tém
efectuado mostram que a situag6o que acabómos de assinalar é muito
frequente. É um facto que existe uma unidade dos dois vocabulórios, o
espanhol e o porfugués. Em contrapartida o léxico do catalào diverge
consideravelmente do espanhol, aproximando-se do occitano e do
francés.
t94 (ongrerso lnternadonol sobre o Porlugu6r (ongresso lnlernotionol sobre o Porluguès t95
lsprcRcnlDl Do poRTucuÈs
chegamos, pois, no que diz respeito ao léxico, a uma conclusàodiametralmente oposta à conclusào relativa à fonética. Hó uma grandeunidade, deste ponto de vista, entre o portugués e o castelhano. Averdadeira o'fronteira lexical" que divide a Península Ibérica em duaspartes é que separa o espanhol do catalào.
tt?'
3. A morfo-sintaxe
com a morfo-sintaxe chegamos à parte fundamental, ao àmago dalíngua. A morfologia e a sintaxe pertencem, paÍa usar a terminologiado meu mestre Martinet, à "primeira articulagào" da linguagemhumana. As regras morfológicas e sintócticas permitem a cada línguaorganizar em estruturas inteligíveis as unidades significativas do léxico(as "palavras"). Mas estas regras sào muito diversas, e contribuem de
um modo decisivo para dar a cada língua a sua personalidade própria,para definir a sua especificidade ou, como se dizia antigamente, o seu
'ogénio". o estudo desta especificidade das línguas, a determinagào dosvórios 'otipos" que elas realizam, é o que se chama a 'Étipologia".Vamos, pois, esbogar uma tipologia do portugués, limitando-nos a
estabelecer uma comparagào entre o portugués e trés das línguas quepertencem como ele à família romànica: o espanhol, o italiano e o
' francés, tendo sempre presente, naturalmente, a fonte comum que é olatim.
A um nível elementar, costuma-se opor as línguas sintéticas, como olatim, às línguas analíticas, como o portuguès. As primeirasconcentrani em poucas palavras as unidades significativas que as
segundas distribuem por meio de muitas palavras isoladas. Assim, porexemplo, ao latim "librum Petro do" corresponde o portugu€s "dou olivro a Pedro". Hó trés palavras em latim e cinco em portugués. o quetornou maior, mais analítica, a nossa frase portuguesa foi oaparecimento do artigo ("librum" ) "o livro") e a perda da declinagào("Petro" ) ooa Pedro"). O espanhol ("doy el libro a pedro") e oitaliano ("do il libro a Petro") estào numa situagào idéntica. Mas ofrancés precisa de mais uma palavra: "Je donne le livre à pierre".Deste exemplo muito simples parece poder concluir-se que as quatro
Poul Teyssier
línguas romànicas se distinguem pelo carócter analítico, oposto ao
carócter sintético do latim, sendo uma delas, o francés, ainda mais
analítica que as outras trés.
O nosso exemplo é muito elementar, muito superficial. Para realizar
uma anàlise tipológica do portugués que seja realmente fina,precisamos de instrumentos mais elaborados. Por minha parte
encontrei em Eugenio Coseriu2 o ponto de partida de uma reflexào que
me parece, a esse respeito, particularmente fecunda. É esta reflexàoque eu vou tentar resumir agora.
3.1. O portuguès, o espanhol e o italiano como "línguas romànicas do
sul", situadas a meio caminho entre o latim e o francés:
Tanto em latim como nas línguas romànicas cada nome tem um
género e um número. Este género e este número pertencem ao
nome independentemente do papel que este desempenha na frase:
liber em latim e livro em portugués sào nomes masculinos
empregados no singular. Diremos, pois, que as fungóes de género e
de número, que nào dependem do contexto, sào fungóes internas(incluídas, por assim dizer, na palavra). Mas fungào gramatical de
caso (o emprego do nome como sujeito, ou complemento de
objecto directo, ou complemento de outro nome, etc...)"depende
evidentemente do papel que lhe é atribuído na frase, isto é, {ocontexto: diremos, pois, que a fungào de caso é externa.
No exemplo anterior, a frase latina "librum Petro do" mostra que
as fungóes internas de género e de número se exprimem por meio
de marcas também internas: para quem sabe o latim "librum" é um
nome masculino emprego no singular, e "Petro", nome próprio, é
2 Yer em particular Eugenio Coseriu: "Der Sinn der Sprachtypologie", in "Typologie
and Genetics of Language''. Travaux du cercle linguistique de Copenhague.W (1980), .
pp. 157-170. -''Le latin vulgaire et le type linguistique roman", in Latin vulgaire - latin
tardif, actes du l* colloque international sur le latin vulgaire et tardif, Pécs. 2'5,
septembre 1985, Niemeyer, Túbingen, 1987, pp. 53-64.
l9ó (ongresso lnlernocional sobre o Poilugu6r (ongresso lnlernodonol sobre o Poilugu0s lq7
[sprclncrolDr Do poRTUGUis
também masculino e singular. Quanto à fungào externa de caso,
ela também se exprime por meio de marcas internas, que sào as
desinèncias da declinagào, isto é o acusativo "librum" e o dativo"Petro".
Na frase portuguesa o'dou o livro a Pedro" as fungóes internas de
género e número também se exprimem por marcas internas:"livro" só pode ser um nome masculino (os nomes terminados em-o ótono sào todos masculinos, salvo algumas pouquíssimas
excepgóes como "tribo"); nào tendo a marca do plural (-s),"livro" também só pode ser singular; o artigo o confirma estas
características, mas neste caso o falante nào precisa dele paraidentificar o género e o número. Da mesma maneira "Pedro",nome próprio, é obrigatoriamente masculino e singular. Mas as
fungóes externas de caso precisam de marcas externas a
colocagào das palavras na frase para "o livro'o e o uso da
preposigào "e" para "a Pedro". O seguinte quadro resume estas
conclusóes:
Fungiio: Marca:
Em latim interna (género e número) interna
externa (caso) interna
Em portuguès interna (género e número) interna
externa (caso) externa
Uma anólise ràpida mostra que o espanhol e o italiano estào na
situagào do portugués. Mas o francés? Basta estudar outra vez onosso exemplo para verificar que em "le livre", contrariamente ao
portugués "o livro", o artigo é absolutamente necessório paraindicar o género: em francés, numa palavra deste tipo, nenhumelemento formal caracteriza o género. A situagào é idéntica para
o número: o -s do plural mantém-se em francés na língua escritapor tradigào erudita, mas desapareceu hó vórios séculos na língua
falada: hoje em "le livre" e "les livres" a identidade fonética entre
Poul Teyssier
o singular e o plural do nome é absoluta, e só o artigo (marca
externa) é que exprime a fungào de número.
Podemos agora completar e resumir o nosso quadro:
latim:
portugués, espanhol e italiano
francés
Neste ponto da nossa exposigào, cumpre fazer uma observagào
importante. As indicag6es deste. quadro resumem tend6ncias
gerais, e nào regras absolutas. O latim, por exemplo, ao lado das
desinéncias das declinagóes (marcas internas), possui preposigóes
(marcas externas), mas nem por isso podemos deixar de afirmarque nesta língua os paradigmas da declinagào dominam a expressào
do "caso". Da mesma maneira em portugués (e também em'
espanhol e italiano), se o número se deixa sempre, ou quase
sempre, identificar por meio de uma desinéncia, a situagào é muito
diferente para o género: em muitos casos nenhuma particularidado
formal permite saber se um nome é masculino ou feminino. E no
que diz respeito ao francès, temos também excepgóes às regras
formuladas no nosso quadro: para certos nomes a fungào de
género exprime-se por meio de desinéncias, marcas internas (ex.:
directeur, direcftice), e os plurais excepcionais do tipo cheval,
chevaux ou eil, yeux contradizem a regra relativa ao número.
As regras o'tipológicas" enunciadas acima devem, pois, ser
consideradas como tendéncias gerais. Mas nestes limites podem
ajudar-nos a definir certas'oespecificidades" das línguas rom6nicas.
Em contrapartida é de esperar que as orientagÓes que imprimem a
cada língua se manifestem de mil maneiras, e tenham
consequéncias importantes em todos os domínios e a todos os
níveis do sistema linguístico.
Fungilo:
interna e externa
interna
externa
ínterna e externa
Marca:
interna
interna
externa
externa
t98 (ongrerso lnternocionol sobre o Portugu0r(ongresso lnternodonol sobre o Portuguèr t99
[sprcrrKlolDt Do poRTuou[s
Tomemos um exemplo. Uma das diferengas que afastam o francés
do portugués (e também do espanhol e do italiano) diz respeito ao
artigo indefinido; utn em portugués e un em francés. Emportugués um só existe no singular: o plural de "tenho um livro" é
simplesmente "tenho livros" ("uns livros" também se diz, mas o
sentido é bastante diferente). O francés, pelo contràrio, diz 'J'aiun lívre" e 'J'ai des livres": ao singular un corresponde o plural
des. Num enunciado negativo temos em portugués "nào tenholivros" e em francés 'Je n'ai pas de livres". Em todos os casos o
francès, que na sua forma oral nào faz diferenga entre livre e
Iivres, precisa de uma marca externa para exprimir o plural de
"un livre", ao passo que o portugués, em conformidade com a sua
natureza profunda (o seu 'ogénio", o seu "tipo") pode contentar-secom uma marca interna (a desinència -s).
Outro exemplo: o uso dos diminutivos (e também dos
aumentativos, mas para abreviar limitar-me-ei aqui aos
diminutivos). As nossas trés línguas romànicas "do sul", que sào oportugués, o espanhol e o italiano, possuem um jogo complexo de
sufixos diminutivos, de que fazem largo uso. A mais rica de todas,
a esse respeito, é o italiano. Encontramos nessa língua
diminutivos em -ello, -ella Qtovero - poverello), em -eîto, -etta(giardino-giardinetto, stanza- stanzetta), em -ino, -ina, (tavola --tovolìna), e muitos outros ainda, que se combinam entre si de milmaneiras. O espanhol é muito semelhante ao italiano. Possui
diminutivos em -ito, -ita (híjo - hijito, caja - cajita), em -illo, -illa$ardin-jardinillo), em -ico, -ica (mula-mulica), em -uelo, -uela(mozo - mozuelo), etc.. Daí derivagóes complexas, que a língua
familiar forja todos os dias com a maior liberdade, dizendo porexemplo, a partir de chico: chiquito, chiquillo, chiquete,
chiquitillo, chiquillin, etc.3. Em portugués os sufixos produtivos
sàro -inho, -inha, -zinho, -zinha (bolo - bolinho, mdo - mciozinha,
3 Ver por exemplo Amado. Alonso: "Noción, emoción, acción y fantasía en los
diminutivos", in llolkstum, Yfll (1935), reproduzido ern Esnrdios lingiiístícos, Temas
espaftoles, Gredos, Madrid. 1954. pp. 195-229.
Poul Teyssíer
etc.), aos quais correspondem form4s em -ito, -ita, -zito, -zita. Aílíngua familiar, nas suas formas mais espontàneas, emprega este's
sufixos diminutivos com extrema abundància.
E o francés? Até o século XVI, esta língua possuía um jogo de
sufixos diminutivos (e também aumentativos) de que fazia omesmo uso que o espanhol, o italiano e o portugués. Mas napassagem do século XVI para o século XVII tudo muda. O francès
deixa de forjar espontaneamente derivados diminutivos, a nào ser
em certos casos muito limitados, como por exemplo os derivadosfemininos em -ette: encontrei recentemente num jornal a palavra
gendarmette, paru designar uma dessas mulheres que servem desde
hó pouco tempo na polícia francesa. Mas -ette é o único sufixoainda produtivo em francés. Todos os outros jó desapareceram da
língua, mesmo nas suas formas .mais familiares. E os antigosdiminutivos que sobrevivem em francés moderno nào sào
interpretados como tais. Um moineau, por exemplo, é um
"pardal", nada mais, e ninguém sabe, a nào ser os filólogosprofissionais, que esta palavra representa o antigo diminutivo em
-eau de moine ("frade"). Hó aqui uma imagem inspirada pela corparda das penas desse póssaro, que lembra o burel de que andavamvestidos os frades: um moin-eau. era um "fradinho"! E é
engragado observar que o nome do pardal portuguès tem a mesma
Qtardo > pardal), mas sem o toque anticlerical.
Essa perda dos diminutivos vai privar o francés de um precioso
meio de expressào. Como poderó a língua a compensar este
empobrecimento? A solugào que ela encontrou é de uma grande
simplicidade: em vez dos sufixos diminutivos o francés usa certos
adjectivos; aos quais dó um significado diminutivo. O mais comum,
como era de prever, e petit. "[Jma velhinha" é "une petite vieille"."um livrinho de nada" é o'un petit livre de rien". Da mesma
maneira "vm poucochinho" é "un petit p€u", e mesmo "un toutpetit peti'. Mas outros podem servir. Por exemplo o nosso
"petit livre de rien" pode ser "um méchant livre de rien". "LJma
mulherzinha" ser6 "une bonne femme". E uma solugào do mesmo
tipo permite remediar o desaparecimento dos aumentativos: "um
200 (ongresso lnlernodonal sobre o Portugu6r (ongresso lnlernodonol sobre o Portugu6s 20t
,,.<ii.t t:+-tr- ;ts;l
.. "1:
.3J, .r-$j
::rl:tr
',:Y
.:f:,
'. llr*l
-:={:{
.: ii:':,:
[sprcrnclolDE Do PoRTuGuis
palavrdo", por exemplo, é em francés "ul'l gros ntot". E nào
venha ninguém dizer que estes adjectivos nào correspondem aos
diminutivos (ou aumentativos) do portugués. A maior parte do
conteúdo semàntico de "uma velhinha" estó presente, com Os seus
vérios matizes e conotagóes, no francés "une petite vieille", e
traduzir "une petite vieille" por "uma pequenq velhq" seria
deturpar gravemente o sentido. Nào, "une petite vieille" é mesmo
"uma velhinha".
Esta eliminagào dos diminutivos em francés moderno e a sua
substituigào por certos adjectivos é um caso de evolugào
"tipológica" particularmente nítida. E fécil interpretó-la à luz do
que foi dito acima. A fungào de diminutivo é interna: trata-se,
com efeito, de modificar o sentido de uma determinada palavra. O
portugués, o espanhol e o italiano vào naturalmente exprimir esta
fungào interna por uma marca interna: um sufixo colocado no fimda palavra, que portanto faz parte dela. O francés moderno, em
conformidade com o seu "génio" (o seu "tipo"), usa uma marca
externa: um adjectivo separado, colocado antes da mesma palavra.
Cada língua é perfeitamente coerente consigo mesma.
O uso dos comparativos e superlativos proporciona outroexemplo dessa coeréncia das línguas, dessa maneira que elas tém de
se manterem fiéis ao seu tipo. A fungào de comparativo é, por
definigào, externa: só se podem comparar duas realidades
separadas. O latim, como é de prever, exprime essa fungào exter-
na por meio de marcas internas: de altus ("alto") forma-se altior("mais alto"). O portugués, como todas as línguas romànicas,
seguindo as exigéncias do seu "tipo", dà a esta fungào externa uma
marca também externa: "ntqis alto". Mas o caso do superlativo é
mais complexo. Altissimus por exemplo pode significar em latimduas coisas muito diferentes. Quando digo "haec turris altissima
est", o sentido é "esta torre é nnttto alta": temos aqui um
superlativo absoluto, que nào implica nenhuma comparagào. Mas
quando digo "haec turris ahissima est omnium" entende-se "esta
torre é a mais altq de todas": o superlativo é entào relativo, o que
significa que se trata de uma fungào extèrna. Nos dois casos o
Poul Teyssier
latim, seguindo o pendor do seu tipo, tem o derivado altissima,.iformado com o sufixo, marca interna. Mas quando essas formas.do latim clóssico foram reintroduzidas em portugués por via*i,erudita, só foram empregadas no sentido relativo, como exige a,,.j
tipologia da língua. Posso dizer em portugués "esta torre é'.altíssima", mas nào ooesta torre é *a altíssima de todas". A língui;lmanteve-se perfeitamente coerente consigo mesma.
Mas o francés tentou também restaurar os superlativos em-issimus do latim clóssico. Alguns deles sobreviveram, como por i
exemplo richissime. Mas este, e os poucos outros que se,":l
encontram (por exemplo révérendissime) pertencem a certas,'icategorias de estilo: tém um carócter artificial. Assim o francés,
em conformidade com o seu o'génio", recusou estas formaseruditas, mesmo quando tém um sentido absoluto (fungào interna),porque nào pode admitir marcas internas.
Muitas outras particularidades vém confirmar a nossa anélise. O,
portugués pertence ao mesmo "tipo" que o espanhol e o italiano.Do ponto de vista tipológico estas très línguas romànicas "do sul"formam um grupo estreitamente unido, opondo-se ao francés, que
aparece isolado na família romànica. Levados pela deriva do
latim, o portugués, o espanhol e o italiano chegaram a um certonível, mas ló ficaram. O francès continuou a evoluir.
Observemos por exemplo a curiosa pobreza do francés em matériade derivagóes espontàneas, que faz contraste com a extremariqueza do portugués, do espanhol e do italiano. Passando ontempor uma rua de Lisboa, reparei, num cartaz publicitério, a palavrapaisagístico. Este derivado de paisagem nào tem nada de
extraordinório em portugués, ao passo que em francés seria
absolutamente impossível forjar o adjectivo paysagistique a partirde paysage. Arazào desta timidez é muito clara: o francés recusa
estes neologismos porque resultam do uso de marcas internas(os sufixos). E a mesma explicagào que no caso dos diminutivos.
Outro exemplo: o vocabulório das profissóes. A nossa épocaassistiu a uma transformagào social que fez surgir um curioso
202 (ongresso lnternorionol soble o Portuguès (ongresso lnlernoríonol sobre o Porlugu6s 203
[sptqnclolDt Do poRTucuEs
problema gramatical: muitas fungóes reservadas antigamente aos
homens estào agora abertas às mulheres. Daí a necessidade de dar
um feminino aos nomes que designam as pessoas que exercem
estas fungóes. Esta operagào realiza-se em portuguès sem
dificuldade nenhuma: diz-se director - directora, doutor - doutora,professor - professora, ministro - ministra, etc., como jó se dizia
forneiro - forneira. A mesma liberdade existe em espanhol e em
italiano. Daí resulta a possibilidade de dizer, por exemplo,"a senhora professore", "a senhora ntínistra". Mas o francés, QU€
antigamente forjava femininos deste tipo (por exemploboulanger - boulqngère), recusa esta liberdade para as profissóesnovamente abertas às mulheres: assim, numa época em que as
mulheres representam a maior parte do pessoal docente dos liceusfranceses, a palavra professeur nào tem feminino! Diz-se, porexemplo, "Mme. Martin est mon professeur". Designa-se a
mesma senhora pelas palavras "Madame Ie professeur". Resultadesta situagào uma dessas absurdidades insolúveis que os gregos
chamavam aporias. A razào desta situagào parece simples: fiel aoseu "génio", ao seu "tipo", o francés nào tolera novas formasfemininas porque se recusa a empregar as marcas internas que sào
as desinéncias do feminino. O portugués, em que pese a Descartes,é mais lógico. E mais galante.
Darei um último exemplo, que diz respeito ao estilo. O portugués,como o espanhol e o italiano, gosta de poupar os determinantes,como por exemplo os artigos, os demonstrativos, os possessivos.
O francés tem a preocupagào contrória. Diz-se por exemplo emportugués "4 nobreza e antiguidade da cidade de Lisboa", e emfrancés "la noblesse et I'antiquité de la ville de Lisbonne". Numafrase como esta a repetigào do artigo é praticamente obrigatóriaem francés moderno. Parece-me claro que este uso resulta da
vontade de realgar a presenga do artigo, marca externa, como o
exige o "génio" da língua, o seu o'tipo".
Poul Teyrsier
3.2. A especificidade do portugués dentro das línguas romànicas
"do sul":
Vamos agora, usando o mesmo método de anólise, estudar a
tipologia do portugués dentro do grupo das línguas romànicas "dosul", de que faz parte com o espanhol e o italiano. Notou-se que
até aqui nào tratei a morfo-sintaxe do verbo. Reservei-a para mais
tarde, justamente, porque é no sistema do verbo que aoriginalidade do porÍugués dentro das "línguas do sul" se manifestaprincipalmente.
Na "deriva" que transformou o verbo latino em verbo romànicoobserva-se a evolugào geral que estudómos hó pouco no caso do
nome. A marca da pessoa, por exemplo, interna em latim(as desinèncias das pessoas), conservou-se interna nas très línguas
do sul. Mas em francés, como era de prever, generalizou-se, para
indicar a pessoa, o uso dos pronomes, que sào marcas externas.
Temos assim:
Em latim; cant-a.. ............n'tarca interna
Em portugués, espanhol e italiano: cant-o marca interna
Em francès: je chante marca externa
A substituigào das formas simples por formas compostas é outrailustragào da mesma deriva. Mas aqui cumpre matizar o quadro. E
é a respeito deste fenómeno que a originalidade do portugués
dentro das línguas romànicas "do sul" vai aparecer em plena luz.
A expressào da anterioridade implica a comparagào entre dois
momentos. Temos aqui, portanto, uma fungào externa. É normalque em latim a expressào desta fungào externa seja interna, pois
tal é o "génio" desta língua. E efectivamente o latim tem, porexemplo, o mais-que-perfeito fecerat, forma simples. Pelo
contrório o portugués, muito logicamente, pelo menos na sua
variedade falada mais espontànea, possui neste caso uma forma
composta (expressào externa): tínha feito, como também o
244 (ongresso lnternodonul sobre o Porlugu0s (ongresso lnlernodonal sobre o Portugu6s 205
[spmrrcrolDr Do ponruouis
espanhol (había hecho), o italiano (aveva fatto) e, naturalmente,o francés (il avait fait). Mas ao lado de tinha feita, forma normalda língua falada, o portuguès conserva na língua escrita tradicionalo antigo mais-que-perfeito simples fizera. O espanhol, que
também possuía antigamente o mesmo tempo (haciera) jó nào ousa hoje no sentido temporal, mantendo-o simplesmente nosentido modal, como uma variante do imperfeito do conjuntivohiciese. Em italiano, hó muito tempo que desapareceram todos osvestígios de fecerat. Parece claro, nestas condigóes, QU€ fizera, emportugués, nào passa de uma sobrevivéncia arcaica: a línguamanteve em parte, por conservantismo morfológico, um tempoque estava normalmente condenado a desaparecer. A "deriva,' foisimplesmente mais lenta em portugués do que em espanhol, emitaliano e em francés. Temos uma confirmagào complementardesta interpretagào na existéncia em portugués de duas formascompostas: havía feito e tínha feito. O espanhol só conhece, nostempos compostos, o auxiliar haver: había hecho, como o italia-no aveva fatto e o francés il avait faif. Explica-se essa diferenga, a
meu ver, pelo atraso com que o fenómeno se deu em portuguès:tinha feito apareceu numa data em que haver, na maior parte dosseus empregos, jó tinha sido largamente substituído poî ter.
Outro caso interessante é o da conservagào, em portuguésmoderno, do pretérito simples, por exemplo, fi2. Este tempo saidirectamente do latim: feci. Correspondem-lhe hice em espanhol,
fecci em italiano e je y's em francés. Nessas trés línguas existemtambém as formaS compostas: he hecho em espanhol, ho fatto emitaliano, j'ai fait em francés. Mas o sentido original era diferente:hice era um pretérito puro, ao passo que a forma composta era umperfectum; he hecho significava exactamente o'tenho (actual-mente) a experiència de ter feito (no passado)". Aconteceu que
esta forma composta perdeu pouco a pouco este significado,passando a ser um simples pretérito. Em francés esta evolugào jóestó terminada hóL muito tempo: por isso o pretérito perfeitosimples (que chamamos "passé simple") je _fis só existe hoje navariedade escrita do francès: a língua falada conhece unicamentej'ai fait, e emprega este tempo como simples pretérito. Em
Poul Teyssier
246
espanhol e em italiano a substituigào de hice por he hecho e de r:
feci por ho fatto estó em curso. A deriva vai no sentido do francès,'oì
mas com um certo atraso. Na perspectiva da nossa an{lise,';
tipológica diremos que he hecho, que corresponde originaria- ''--
mente a uma visào externa (o passado visto a partir do presente),'.
passou a significar um puro e simples pretérito (ponto de vista-",.1
interno). Mas nem por isso deixou de ser um forma composta. -,
Assim o espanhol e o italiano jó se antecipam na evolugào das 'a
línguas "do sul", acelerando a deriva que os vai aproximando do'
francés. O portugués, pelo contrório, aparece como mais
tradicional, mais arcaico. Nào só mantém rigorosamente, em
todos os níveis de língua, o pretérito perfeito simples com o seu
significado primitivo, como também dó à forma composta do
mesmo tempo (tenho feito) um' valor bem diferente do de he
hecho, ho fatto e j'ai fait nas outras très línguas. Tenho feitoexprime a permanència no presente de uma experiéncia do
passado (por exemplo, "tenho feito muitas leituras nestes últimos
tempos"), o que é uma visào nitidamente externa.
Outros casos de conservantismo no sistema do verbo portugués
poderiam ser citados aqui. Limitar-me-ei a lembrar um dos mais
característicos: a presenga do futuro do conjuntivo, que existia em
espanhol antigo mas jó desapareceu hó muito tempo nessa língua.
Estas reflexóes tipológicas permitem definir até um certo ponto a
especificidade do portugués entre as línguas romànicas. O
portugués vai evoluindo no mesmo sentido que o espanhol, o
italiano e o francés, em conformidade com uma deriva secular que
interessa,toda a família neo-latina. Nesta lenta transformagào o
francés é a língua mais adiantada, a mais diferente de todas as
outras. Depois vem o grupo das trés línguas'odo sul", de que o por-
tugués faz parte. Muito diferente do espanhol pela sua fonética, o
portugués é muito próximo dele pelo seu léxico. Enfim, a anélise
da morfo-sintaxe das trés línguas do sul projecta uma viva luz
sobre a especificidade de cada uma delas. O portugués, encarado
(ongresso lnternotionol sobre o Porluguèr (ongrerso lnternodonol sobre o Porlugu6r 207
[sp:qnclolDl Do ponTucufs
nesta perspectiva, aparece, por certos caracteres do seu sistemaverbal, como a mais conservadora de todas.
A pesquisa que acabo de expor nào pode deixar de sugerir uma
pergunta fundamental. Qual é a causa desta "deriva"? Qual é a
forga que produz estas transformagóes tào coerentes na sua
diversidade? Uma explicagào simples vai buscar a origem de tudodo lado da fonética. Os locutores, levados pela lei do mínimoesforgo a pouparem o trabalho exigido pela articulagào dos
fonemas, vào reduzindo os morfemas a unidades cada vez
menores. Deturpam-se assim as desinéncias e os sufixos, e torna--se necessório substitui-los por outras unidades significativas, que
nào podem deixar de ser palavras novas vindas de fora, as "marcasexternas" das nossas anólises. Assim é que a deterioragào das
vogais ótonas em latim tornou inaudíveis a maior parte das
desinéncias casuais, o que explica o desaparecimento da
declinagào. Da mesma maneira a distància que separa o francés das
línguas romànicas "do sul" resulta, segundo esta teoria, de uma
maior deturpagào dos fonemas: quando o -s do plural se perdeu
tornou-se necessório dar um plural ao artigo un: daí "un livre","des livres". Da mesma maneira a queda das consoantes finais das
sufixos diminutivos -et, -ot, etc. teve como resultado o empregode petit, etc.. Mas esta explicagào tem o defeito de ser demasiado
simples. Talvez a verdade seja mais complicada. Opondo-se à
deturpagào fonética, que resulta da lei do mínimo esforgo, existetambém nas línguas uma tensào permanente que luta parapreservar as unidades inteligíveis. Da forga relativa de cada uma
destas duas tendéncias contrórias é que depende o tipo de cada
língua. Segundo esta perspectiva a "deriva" das línguas resulta de
um esforgo permanente para estabelecer um equilíbrio entre a
expressào fonética e o sentido inteligível, entre a forma e o
conteúdo, entre a matéria e o espírito.
t?'