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Trabalho V encontro
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Anais do V Encontro Internacional de Ensino e Pesquisa em Ciências na Amazônia
Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/Universidade do Estado do Amazonas
Tabatinga/AM, 05-09 de dezembro de 2015
ISBN: XXXX-XXXX
As relações de saber na construção de práticas docentes em Matemática
1 Universidade do Estado do Amazonas (UEA), 2 Universidade do Estado do Amazonas (UEA), 3 Centro Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (CEFET/AM)
INTRODUÇÃO O professor, nas últimas décadas passou a ser visto, como um profissional de ensino e
não mais apenas como um profissional de outras profissões atuando no ensino. Esta mudança
de papel insere-se num recente movimento mundial de profissionalização do professor. Daí o
expressivo desenvolvimento, em nível mundial, de pesquisas buscando propor repertórios de
conhecimentos profissionais capazes de garantir a formação docente. É, portanto, a partir do
movimento de profissionalização que a questão do conhecimento/saberes do professor passou
a tomar importância e desenvolver-se como tema de estudo.
A maioria das investigações recentes sobre formação docente apontam como questão
essencial o fato de que os professores desempenham uma atividade teórico-prática, tornando
difícil pensar na possibilidade de formar fora de uma situação concreta e de uma realidade
definida. A profissão docente precisa combinar sistematicamente elementos teóricos com
situações práticas reais. Por esta razão, a ênfase na prática é um dos aspectos centrais e que traz
consequências decisivas para a formação do professor.
Essa proposta é defendida por vários pesquisadores americanos, europeus e brasileiros,
destacando-se, entre outros: Shön (1992); Nóvoa (1992); Pimenta (1996); Perrenoud (1999);
Mizukami (2002) e Imbernón (2009); os quais dão ênfase ao valor da experiência, partindo do
pressuposto que o ensino efetivo começa pela reflexão do docente sobre a sua própria prática.
Compartilham do conceito de reflexão na ação, considerando o exercício do magistério a ocasião
em que a própria prática conduz à produção de um conhecimento específico, o qual só pode ser
construído na prática pedagógica vivenciada.
Desse modo, conforme a tendência atual, a prática docente é considerada uma instância
de produção de competências profissionais Perrenoud (2002) ou saberes profissionais Tardif
(2002). Estudar as representações ou as crenças que os docentes possuem de sua própria prática
insere-se no movimento de busca de compreensão da profissão docente e dos processos de
formação docente, a partir da ótica dos próprios sujeitos nela envolvidos.
Nesse contexto, considerando nossa inquietação acerca do desenvolvimento do
trabalho pedagógico dos professores de Matemática e percebendo uma lacuna sobre esse
estudo, visto que existem muitas questões que ainda não foram devidamente esclarecidas,
centralizamos nosso foco de investigação em torno de uma pesquisa focada nas relações de saber
na construção de práticas docentes em Matemática em Parintins/AM. Nesse cenário, nos parece
importante perguntar: Como se dá a relações do saber docente na construção das práticas dos
professores na Matemática que atuam tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio?
BELTRÃO et al., 2015
V Encontro Internacional de Ensino e Pesquisa em Ciências na Amazônia
METODOLOGIA
Em busca de uma abordagem que atendesse os objetivos propostos, centramo-nos na
pesquisa qualitativa, com enfoque narrativo. A História Oral foi utilizada como metodologia da
pesquisa qualitativa por nos permitir acesso aos relatos dos entrevistados sobre o assunto
especifico e estabelecido – narrativas sobre as relações do saber docente na construção das
práticas dos professores na Matemática em Parintins/AM, considerando que a História Oral
segundo Queiroz (1988, p. 23), “é termo amplo que recobre uma quantidade de relatos a respeito
de fatos não registrados por outro tipo de documentação”.
A História Oral abrange muitas possiblidades de estar com o entrevistador norteando as
perguntas e colocando ele como o centro de seus relatos, segundo Garnica (2007, p.12-13) por
meio da História Oral podemos “investigar o dito, o não dito, e muitas vezes, de tangenciar o
indizível são seus motivos e, portanto, de investigar os regimes de verdades que cada uma das
versões registradas cria e faz valer, como o que se torna possível transcodificar”.
O percurso metodológico iniciou com o mapeamento dos professores de Matemática que
atuam no Ensino Fundamental e/ou Médio em Parintins/AM. A partir do mapeamento foram
selecionados, aleatoriamente, cinco professores. Devido se buscar uma realidade não
documentada, as entrevistas tiveram roteiro planejado, porém semiestruturadas, de forma a dar
aos sujeitos da pesquisa a possibilidade de seguirem seus próprios rumos narrativos. Como as
fontes orais são constituídas a partir de entrevistas, elaboramos um roteiro, que foram utilizados
nas entrevistas, visando legitimar os documentos produzidos.
Dessa forma nosso roteiro teve caráter temático e não se restringiu apenas a trajetória
de vida de nossos entrevistados e sim ao saber docente na construção das práticas dos
professores na Matemática. Portanto, foram considerados estritamente as narrativas dos
entrevistados ligadas ao tema de nosso estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao dar voz aos sujeitos, obtivemos relatos significativos sobre práticas docentes em
Matemática. Os professores destacaram a colaboração recebida de seus colegas, nas falas
pudemos observar que em seus discursos existem traços de uma retórica de cooperação que
parece ser boa. O professor “A” se reporta ao seu cotidiano docente narrando: “nos finais de
semana nos reunimos, pesquisamos, estudamos e preparamos as atividades, buscando novas
técnicas para ensinar os conteúdos da matemática aos alunos”.
De acordo com Tardif e Lessard, (2005, p. 135) “muitas vezes os professores se ocupam
com diversas atividades ligadas ao seu trabalho: preparam aulas, deveres de casa,
documentação, material pedagógico e as provas”. Os professores também assumem ao mesmo
tempo, a correção dos trabalhos dos alunos, dessa forma constroem os saberes da prática.
Em relação a esses procedimentos da atividade docente, segundo Tardif e Lessard (2005,
p. 228), “[...] se desdobra concretamente numa rede de interações com outras pessoas, num
contexto em que o elemento humano é determinante, [...]”. Essas interações são mediadas por
diversos canais: discursos, comportamentos, maneiras de ser, etc. Elas exigem dos professores
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V Encontro Internacional de Ensino e Pesquisa em Ciências na Amazônia
uma capacidade de se comportar enquanto sujeito, ator, e de ser uma pessoa em interação com
outras pessoas.
As narrativas evidenciaram mudanças significativas ocorridas nos desdobramentos das
práticas docentes na Matemática em Parintins/AM. Atribuímos às mudanças de paradigmas
estabelecidos nas práticas docentes, à implantação de universidades, a saber, Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Centro Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (CEFET/AM), assim como diversas universidades
privadas que se instalaram no município na última década.
O acesso à informação, a internet com a distribuição de notebook por parte dos governos
estadual e municipal também contribuiu para o acesso a novos recursos didáticos, e a
ressignificar saberes docentes nas práticas dos professores de Matemática em Parintins/AM.
Portanto, o acesso à rede de informações aliado a implantação das instituições de ensino
superior, certamente contribuiu para fomentar nos professores a busca pela formação contínua,
ressignificar saberes docentes e certamente amenizar dificuldades inerentes a vida em uma ilha
no interior do Amazonas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente nossa intenção foi de investigar as relações do saber docente na construção
das práticas dos professores de Matemática, através das narrativas dos professores que atuam
em Parintins/AM, tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio. Podemos dizer que
essas relações com o saber em alguns momentos podem ser entendidas como relações
epistêmicas, pessoais e sociais com o ensino, com o saber (disciplinar) e com a aprendizagem dos
alunos, no contexto da Matemática.
Podemos ainda considerar que não percebemos diferença significativa entre as relações
de saber nas suas três dimensões, com a Matemática (saber disciplinar), com o ensino e com a
aprendizagem dos alunos, no que diz respeito aos professores em início de carreira no magistério
se comparados as narrativas daqueles que já atuam há mais tempo no exercício da docência.
Observamos que, estiveram presentes com maior frequência nas falas dos professores, a
relação com o ensinar. Além disso, grande parcela das falas dos sujeitos está relacionada a uma
preocupação excessiva com os conteúdos disciplinares. A concentração das falas nas relações
epistêmicas com o ensino nos indica que os professores mostraram uma considerável
preocupação em compreender o ensino por eles praticado durante a atuação na docência.
Em relação às preocupações voltadas para o ensinar, não podemos deixar de enfatizar
que, para os professores em fase inicial na carreira do magistério, a aprendizagem dos alunos foi
citada em vários depoimentos, enquanto que nos pareceres dos professores que já atuavam
como há mais tempo, não tivemos falas expressivas que mencionassem preocupações com as
relações de saber com a aprendizagem dos alunos.
Diante do exposto, consideramos que ainda se faz necessário investigar sobre as relações
de saber na construção de práticas docentes em Matemática, visto que com essa pesquisa
BELTRÃO et al., 2015
V Encontro Internacional de Ensino e Pesquisa em Ciências na Amazônia
estamos longe de esgotar as possibilidades de investigação sobre o tema, mas podemos afirmar
que um passo foi dado nessa direção.
AGRADECIMENTOS À Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Amazonas (FAPEAM), pelo apoio concedido.
REFERÊNCIAS
GARNICA, Antonio Vicente Marafioti. História Oral em Educação Matemática. Guarapuava: SBH. Mat, 2007. IMBERNÓN, Francisco. Formação permanente do professorado: Novas tendências. São Paulo: Cortez, 2009. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti et al. Escola e aprendizagem da docência: processos de investigação e formação. São Carlos: UFSCar, 2002. NÓVOA, Antonio (Org). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. PERRENOUD, Philippe. A prática reflexiva no oficio de professor: Profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002. ______. Os dez não ditos ou face escondida da profissão docente, 1999. Disponível em:<http://www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php1999.html>. Acesso em: 20 de set. 2015. PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores: saberes da docência e identidade do professor. Revista da Faculdade de Educação da USP, V. 22, n. 2, p. 72-89, 1996. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Relatos orais: do indizível ao dizível. Experimentos com histórias de vida. Simson, Olga (org.), São Paulo. Revista dos Tribunais, 1988. SCHÖN, Donald A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote,1992. TARDIF, Maurice. Os professores enquanto sujeitos do conhecimento: subjetividade, prática e saberes no magistério. In: CANDAU, V.M.(org). Didática, currículo e saberes escolares. p.112-128, DP&A, Rio de Janeiro,2000. ______. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
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