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Criação e produção de animais transgênicos e nocautes Eliana Saul Furquim Werneck Abdelhay SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros ANDRADE, A., PINTO, SC., and OLIVEIRA, RS., orgs. Animais de Laboratório: criação e experimentação [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002. 388 p. ISBN: 85-7541-015-6. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Trangênicos e Nocautes

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Trangenicos e Nocautes

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  • Criao e produo de animais transgnicos e nocautes

    Eliana Saul Furquim Werneck Abdelhay

    SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros ANDRADE, A., PINTO, SC., and OLIVEIRA, RS., orgs. Animais de Laboratrio: criao e experimentao [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002. 388 p. ISBN: 85-7541-015-6. Available from SciELO Books .

    All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

    Todo o contedo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, publicado sob a licena Creative Commons Atribuio - Uso No Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 No adaptada.

    Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, est bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

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    Criao e produo de animais transgnicos e nocautes

    C riao e Produo de Animais Transgnicose Nocautes

    Eliana Saul Furquim Werneck Abdelhay

    INTRODUOAnimais transgnicos so aqueles cujo genoma foi modificado pela introduo de seqncias de DNA de

    outro organismo. Muitas vezes tais seqncias so manipuladas por engenharia gentica de tal forma queconstituem uma mistura de pedaos de DNA vindo de diversas origens.

    No caso de animais nocautes, a modificao gentica introduzida capaz de interromper ou anular umgene que, ento, no mais se expressa, sendo denominado de nocauteado.

    A idia de se introduzir material gentico em um embrio data da dcada de 70 do sculo XX quando atecnologia de DNA recombinante se tornou uma realidade. As primeiras tentativas se valeram da infeco porvrus que carreavam em seu interior pedaos de DNA exgenos, mas logo as tcnicas de microinjeorevolucionaram a capacidade de se introduzir um gene clonado no interior do ncleo do embrio.

    Hoje em dia algumas metodologias so utilizadas na produo de um camundongo transgnico, como:

    MICROINJEO NO PR-NUCLEO MASCULINO

    A microinjeo no pr-nucleo consiste na introduo de uma soluo de DNA diretamente no pr-nucleo de um ocito recm-fecundado. Em cerca de 30% dos ocitos assim manipulados, o DNA exgeno vaise integrar no genoma e embries transgnicos sero produzidos.

    OBS.: animal nocaute um animal que nulo para um determinado gene, ou seja, esse gene teve seusalelos modificados geneticamente de modo a no mais produzirem uma protena ativa.

    Figura 1 Esquema de microinjeo pr-nuclear

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    ANIMAIS DE LABORATRIO

    A) Introduo da agulha de microinjeo no pr-ncleo masculino do ovo fertilizado.B) Aps a injeo, verifica-se o aumento do pr-ncleo. Em ambos os casos o ovo est mantido em

    posio por uma pipeta de sustentao (Hogan et al., 1994).

    TRANSGNESE MEDIADA POR CLULAS ES

    Uma maneira diferente de se introduzir genes exgenos em uma linhagem de camundongo pelatransformao inicial de clulas-tronco embrionrias e posterior introduo dessas clulas no embrio em fasede mrula ou blastocisto. As clulas totipotentes utilizadas nesses experimentos so as clulas ES (EmbryonicStem Cell). Clulas ES so clulas obtidas da massa interna de um blastocisto e que so mantidas em sua formaindiferenciada, podendo gerar toda e qualquer clula do organismo. Em geral o transgene contm, alm doDNA a ser estudado, um gene de resistncia a drogas (neomicina) e um gene-reprter como o gene Lac Z deEscherichia coli ou GFP. Esse transgene transferido para as clulas ES por eletroporao e 1% destas tero deuma a vrias cpias do DNA exgeno integrado. Aps a eletroporao, aquelas que contm o transgene seroselecionadas pela presena do antibitico no meio de cultura. As clulas transformadas sero ento injetadaspara a formao de um embrio quimrico, isto , formado por clulas ES transformadas e clulas do embriorecipiente.

    Essa tcnica a nica que pode ser utilizada para fazer o nocaute de um gene, uma vez que a troca do genenormal pelo DNA exgeno que ir anular o gene ocorre por recombinao homloga e esse fenmeno aconteceem maior freqncia nas clulas ES.

    Figura 2 Modificao gentica introduzida em um lcus

    Fonte: modificado de Stephane Viville em Houdebine (1997).

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    Criao e produo de animais transgnicos e nocautes

    A) Modificao por troca do DNA no lcus.B) Modificao do lcus pela insero de um fragmento de DNA.

    INFECO POR RETROVRUS

    Neste caso, o DNA exgeno deve ser inserido num vetor retroviral que ser, ento, injetado diretamenteno ocito fertilizado.

    Figura 3 Construo retroviral para transferncia de um transgene

    Outras metodologias tm sido tentadas alternativamente, mas com menor eficincia.Em todos os casos o primeiro passo dessa tecnologia consiste na obteno de ocitos fertilizados ou

    embries no incio do desenvolvimento. Tendo em vista que cada fmea de camundongo produz, por ciclo,cerca de 8 a 12 ovos que sero liberados naturalmente, torna-se necessrio encontrar maneiras de se aumentaro nmero de ovos obtidos. Isso possvel estimulando as fmeas com um regime hormonal; este consiste nainjeo de 5UI de PMS (pregnant mare serum) e 46 horas aps 5UI de HCG (human chorionic gonadotrophin).

    O acasalamento das fmeas logo aps a ltima injeo pode levar obteno de 30 a 60 ovos de cada fmeadependendo da linhagem utilizada. Desses ovos, aqueles que estiverem fertilizados podero ser, ento, utilizadospara microinjeo. No caso de se estar trabalhando com a transgnese via clulas ES, os ovos s devero serrecuperados nos estgios de mrula ou blastocisto (2,5 ou 3,5 dias ps-coito) quando sero injetados com asclulas ES transgnicas. Nos dois casos, os ovos ou embries injetados devero ser reimplantados em camundongasbarriga de aluguel. Estas so pseudogrvidas obtidas pelo cruzamento de fmeas no perodo de estrus commachos vasectomizados. A implantao se dar na ampola do oviduto, para os ocitos fertilizados; no ovidutopara as mrulas, e no tero para os blastocistos.

    SEQNCIAS VIRAIS

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    ANIMAIS DE LABORATRIO

    Figura 4 Esquema geral da obteno de um fundador portando um transgene

    Portanto, um aspecto importante para se produzir animais transgnicos o acesso a um biotrio dequalidade que fornea uma quantidade razovel de camundongos de idades e linhagens determinadas.

    PSEUDOGRVIDA

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    Criao e produo de animais transgnicos e nocautes

    O BIOTRIO IDEAL PARA SE CRIAR ANIMAIS TRANSGNICOSIdealmente todo animal de experimentao deve ser mantido num ambiente livre de patgenos como

    vrus, bactrias e parasitas que podem alterar os resultados de um experimento. No caso de animaistransgnicos ainda mais importante a qualidade do biotrio, tendo em vista que eles so mais frgeisdevido manipulao gentica. Portanto, um biotrio projetado especialmente o ideal quando se desejaproduzir ou criar animais transgnicos.

    Nos casos mais restritos, como quando se estabelecem colnias de camundongos nocautes para genesimunolgicos, barreiras devem ser criadas para se aumentar o isolamento da colnia. Nesses casos, os bioteristase pesquisadores devem tomar uma ducha e trocarem toda a vestimenta ao entrar no biotrio. Todo o materialde consumo como gua, comida, maravalha, suplementos, gaiolas etc. devem ser autoclavados antes de penetrarno ambiente. Os animais vindos de outros laboratrios ou fornecedores devem passar por uma quarentena eserem testados para diferentes patgenos. Em casos em que a imunidade dos animais no est em questo,barreiras menos rgidas so exigidas. Por exemplo, o banho dos que adentram o biotrio pode ser eliminado.No entanto, quando os animais so extremamente frgeis, o melhor manter a colnia pequena e dentro deisoladores. O mesmo deve ser feito quando o problema for a sade do experimentador e no a do animal.

    Um aspecto importante a climatizao do biotrio. Biotrios com patgenos controlados, geralmente,tm de manter as salas de animais com presso positiva para que os germes tenham dificuldade de entrar.Porm, biotrios que mantenham animais geneticamente modificados devem, por lei, manter uma pressonegativa em relao ao meio ambiente, uma vez que o que deseja conter so os animais modificados. Assimsendo, num projeto de biotrio em que se mantenham animais do tipo selvagem e aqueles geneticamentemodificados deve-se pensar em ter salas com presso positiva e filtros esterilizantes para se manter as colniasselvagens e os animais imunologicamente deficientes. Entretanto, animais modificados que possam representarum risco para o meio ambiente ou para o homem devem ser mantidos em salas com presso negativa. Obiotrio como um todo por sua vez deve ser mantido em presso negativa em relao ao meio externo.

    Um desenho que pode ser tomado como modelo para um biotrio desse tipo pode ser visto na figura a seguir.

    Figura 5 Planta de um biotrio de transgnicos

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    ANIMAIS DE LABORATRIO

    QUE ANIMAIS DEVEM SER UTILIZADOS NA PRODUO DE TRANSGNICOSO background gentico parece ter influncia na penetrao de um fentipo nocauteado; portanto, muitas

    vezes linhagens especficas tm de ser utilizadas.Em princpio, qualquer linhagem de camundongo pode ser modificada geneticamente, mas algumas

    apresentam vantagens experimentais. Linhagens inbred ou hbridas F1 variam em relao ao nmero de ovosque produzem aps superovulao. Geralmente, elas podem ser divididas em duas categorias, as que so boassuperovuladoras (colocam 40 a 60 ovos por camundonga) e aquelas que superovulam mal (15 ou menos ovospor camundonga). Como o nmero de ovos obtidos sempre um fator limitante num experimento de transgnese,deve-se escolher uma linhagem boa superovuladora para trabalhar. Entre estas podemos citar a C57BL/6J, aBALB/cByJ, a 129/SvJ ou ainda hbridas de C57BL/6J com CBA/CaJ, DBA/2J ou BALB/cByJ.

    A deciso de qual dessas linhagens utilizar levam em conta se a cor do plo ser um indicador da transgnese.Isso ocorre nos experimentos de nocaute em que o camundongo gerado uma quimera formada por clulasdo blastocisto e por clulas ES transformadas. Para se ter uma noo de quanto as clulas ES transgnicascontriburam no desenvolvimento do animal, basta utilizar, por exemplo, clulas de um camundongo de plomarrom num blastocisto obtido de camundongo de plo preto. A quimera resultante apresentar o plo deduas cores, como pode ser visto na figura a seguir.

    Figura 6 Esquema geral de obteno de quimeras

    Fonte: modificado de Stephane Viville em Houdebine (1997).

    Na F1 verificamos que filhotestransmitiram a modificao gentica

    camundongo selvagemProle quimrica com plosde duas cores

    implantao doblastocisto

    Blastocistos socolocados em cultura para

    gerar linhagens ES

    As clulas manipuladasso injetadas de volta

    em novos blastocistos,agora obtidos de fmea

    de plo preto

    OBTENO DE BLASTOCISTO3,5 dias aps a cpula, por

    lavagem dos teros da fmeade plo branco

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    Criao e produo de animais transgnicos e nocautes

    Para se maximizar o nmero de ovos obtidos de camundonga superovulada, deve-se cruz-la com machosque tenham uma alta contagem de esperma e uma boa capacidade de cpula. Esses machos so mantidos emgaiolas separadamente.

    Portanto, o biotrio de transgnicos dever manter camundongos, para diversas finalidades, que podemser de linhagens diferentes como listado a seguir:

    FMEAS JOVENS PARA PRODUO DE OVOS FERTILIZADOS

    Como dissemos anteriormente, vrias linhagens inbred ou hbridas podem ser utilizadas nessa etapa. Parase produzir o nmero necessrio de fmeas jovens ( 3 semanas) para superovulao, necessrio um nmerode 20 gaiolas contendo um macho e uma fmea que iro produzir uma prognie de cerca de 20 fmeas porsemana para experimentao.

    MACHOS FRTEIS

    Cerca de 20 gaiolas contendo machos jovens e frteis de pelo menos 8 semanas devem ser mantidas nobiotrio de transgnese. Esses machos sero utilizados para cpula com as camundongas superovuladas. Elespodem ser hbridos como estas ou inbred de uma das linhagens utilizadas para a produo das hbridas.

    MACHOS VASECTOMIZADOS

    Machos estreis so necessrios para gerao de camundongas pseudogrvidas. Eles so vasectomizadose qualquer linhagem com boa capacidade de cpula pode ser utilizada. Aps a vasectomia, eles devemser testados para sua esterilidade antes de serem utilizados para experimentos. Para se obter 4 a 8 fmeaspseudogrvidas 5 dias por semana, so necessrios cerca de 20 machos estreis a serem mantidos emgaiolas separadas.

    FMEAS PARA SERVIREM COMO RECIPIENTES

    Fmeas pseudogrvidas so preparadas pelo acoplamento de fmeas em estrus natural com machosvasectomizados. As fmeas devem ter, no mnimo, 6 semanas e pesar ao menos 20 g sem serem muito gordas.Fmeas de algumas linhagens apresentam vantagens como recipientes. Por exemplo, camundongos CD1 (CharlesRiver Laboratories) tm ampolas muito largas que ajudam na transferncia para os ovidutos e hbridas F1(B6x x CBA) so timas mes e so capazes de manter ninhadas to pequenas como dois filhotes.

    Como, em geral, cada fmea entra em estrus e ovula a cada 4 a 5 dias, numa colnia 20% a 25% das fmeasestar em estrus a cada dia. Desse modo, so necessrias pelo menos 50 fmeas de idade entre 2 a 5 meses paraa produo de cerca de 20 plugs por semana.

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    ANIMAIS DE LABORATRIO

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICASHOGAN, B. et al. Manipulating the Mouse Embryo. 2nd ed. New York: Cold Spring Harbor Laboratory Press, 1994.

    HOUDEBINE, L. M. (Ed.). Transgenic Animals generation and use. Amsterdam: Harwood Academic Publishers,1997.

    BIBLIOGRAFIAJOYNER, A. L. Gene Targeting a pratical approach. Oxford: IRL Press, 1995. (The Pratical Approach Series)