42
1 UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM FARMÁCIA Jhonnathã Rérold Henrique Eduardo de Almeida Vendramini CARACTERIZAÇÃO FARMACOGNÓSTICA DA DROGA VEGETAL CAULES DE Diclidanthera laurifolia Mart. (jabuticabeira-de-cipó) São Paulo – 2014

UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO PROGRAMA … · UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO ... professor e incentivador pela ... Esse desenvolvimento industrial e comercial levou

Embed Size (px)

Citation preview

1

UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM FARMÁCIA

Jhonnathã Rérold Henrique Eduardo de Almeida Vendramini

CARACTERIZAÇÃO FARMACOGNÓSTICA DA DROGA VEGETAL CAULES DE

Diclidanthera laurifolia Mart. (jabuticabeira-de-cipó)

São Paulo – 2014

2

UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM FARMÁCIA

Jhonnathã Rérold Henrique Eduardo de Almeida Vendramini

CARACTERIZAÇÃO FARMACOGNÓSTICA DA DROGA VEGETAL CAULES DE

Diclidanthera laurifolia Mart. (jabuticabeira-de-cipó)

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Farmácia da

Universidade Anhanguera de São Paulo, como

requisito parcial para a obtenção do Título de

Mestre

Orientador: Prof. Dr. Luis Carlos Marques

São Paulo – 2014

3

Lista de figuras

Figura 1. Cartuchos antigo e atual do produto joão-da-costa e associações, do

laboratório Belém Jardim – MG .................................................................. pág 13

Figura 2. Reação positiva para presença de flavonoides: fluorescência azul-

esverdeada ................................................................................................ pág 18

Figura 3. Exemplar de Diclidanthera laurifólia Mart. .................................. pág 25

Figura 4. Rótulo de um dos produtos adquiridos no comércio varejista de São

Paulo, ofertados como joão-da-costa (Echites peltata) .............................. pág 26

Figura 5. Fotos de pedaços da droga vegetal, inteira ou em lascas, de amostras

comerciais .................................................................................................. pág 27

Figura 6. Microscopia em aumento de 100X. Cambio com repetição ....... pág 28

Figura 7. Microscopia em aumento de 400X. Células achatadas no córtex, células

pétreas, floema típico ................................................................................. pág 29

Figura 8. Resultado de analise de identificação de flavonoides pelo método de

reação com cloreto de alumínio ................................................................. pág 30

Figura 9. Curva de quantificação de teor de saponinas do extrato de joão-da-costa

................................................................................................................... pág 31

Figura 10. Curva de quantificação de teor de flavonoides do extrato de joão-da-

costa ........................................................................................................... pág 32

Figura 11. Curva de atividade antioxidante do extrato de joão-da-costa ... pág 35

Figura 12. Curva de atividade antitumoral do extrato de joão-da-costa .... pág 36

4

Lista de tabelas

Tabela 1. Testes físico-químicos na droga vegetal joão-da-costa ............... pág 29

Tabela 2. Screening fitoquímico na droga vegetal joão-da-costa ................ pág 30

Tabela 3. Evolução ponderal dos animais do teste de screening farmacológico

..................................................................................................................... pág 33

Tabela 4. Peso relativo órgão/ camundongo (rim esquerdo, rim direito e baço)

..................................................................................................................... pág 34

Tabela 5. Peso relativo órgão/ camundongo (fígado e coração) ................. pág 34

Tabela 6. Avaliação de atividade antioxidantes de espécies vegetais ......... pág 35

Tabela 7. Especificações da droga vegetal joão-da-costa ........................... pág 37 e

38

5

Abreviaturas

IBOT-SP: Instituto Botânico de São Paulo

Neg: Negativo

ip: Intraperitoneal

Min: Minutos

CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico

Fapemig: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais

6

Agradecimentos

A minha mãe Sandra Regina de Almeida, por todo o suporte necessário em minha

vida.

Ao Prof. Dr. Luis Carlos Marques, orientador, professor e incentivador pela

paciência e estimulo, por muitas vezes uma palavra fez mudar todo um cenário

desfavorável.

A Attivos Magisttrais e seus presidentes Sr. Fernando Luna e Dra. Silvana Cassino

por me proporcionar a oportunidade de realização deste projeto.

Ao colega Renaldo Rocha Silva, por cobrir minhas ausências na empresa e assim

proporcionar minha presença na Universidade e realização deste trabalho.

Aos amigos de sempre Flávio Seki, Juliana Gusmão, Leonardo Pergo pelo

incentivo e apoio nas horas mais difíceis.

Aos meus familiares, em especial ao meu primo Paulo Willi, que mesmo sem

saber, muitas vezes veio com a palavra certa, na hora certa.

A Maria Cristina Santos, Ivair Donizeti Gonçalves e Fernando Munhoz pelo suporte

no desenvolvimento deste trabalho.

Aos Professores Dra. Maria Cristina Marcucci Ribeiro, Dr. Niraldo Paulino, Dr.

Paulo Pardi, Dr. José Quincoces Suarez, Dra. Susana Nogueira Diniz, Dra. Regina Mara

Silva Pereira. Dra. Claudete Valduga, por dividir seus conhecimentos.

À profa. Dra. Berta Villagra pela ajuda neste trabalho, principalmente na coleta e

identificação do material botânico.

7

RESUMO

O comércio de medicamentos “naturais” levou ao aumento de problemas com a

qualidade, como a existência de drogas vegetais comercializadas apenas com nomes

populares ou com citações científicas equivocadas. Nesta pesquisa, decidiu-se avaliar

caules comercializados como ‘joão-da-costa’ e identificados como Echites peltata L.

(Apocynaceae), cujas especificações técnicas inexistem. Realizou-se coleta na mata

nativa do Instituto Botânico de São Paulo, avaliação do material por especialista, estudo

farmacobotânico, farmacognóstico e screenning farmacológico da droga vegetal.

Confirmou-se serem caules oriundos de Diclidanthera laurifolia Mart. (Polygalaceae). Os

caules não apresentam sabor marcante, exalam um leve aroma de madeira, mostram fino

súber granuloso de coloração marrom-escuro com áreas de coloração bege ou cinza

claro, com inúmeras fendas medianas dispostas principalmente no sentido longitudinal;

região medular extensa, amarelada e com tecidos dispostos em camadas concêntricas,

frouxas entre si. Na microscopia apresenta súber espesso de 5 a 10 camadas de células

alongadas e de paredes espessadas. Córtex apresenta aproximadamente 10 camadas de

células levemente achatadas. Apresenta crescimento anômalo e câmbio com repetição,

apresenta esta característica possivelmente por se tratar de uma trepadeira e necessitar

de certa mobilidade para crescimento. É possível visualizar células pétreas com cerca de

3 a 6 camadas formando uma espécie de parede. Nas camadas mais basais, observa-se

de 4 a 7 camadas achatadas de floema típico. Presença de grãos de amidos isolados e

arredondados distribuídos aleatoriamente na casca em quantidade rara. Foram realizados

testes físico-quimicos e fitoquimícos, encontrando os valores de umidade de

11,36±0,38%; cinzas totais 3,11±0,29%; cinzas insolúveis em ácido 0,44±0,27% e teor de

extrativos 4,50±0,00%. O screening fitoquimico aponta para a presença de saponinas,

flavonoides, cumarinas e taninos, ausência de alcaloides e antraquinonas, sendo que

foram avaliados os teores de flavonoides e saponinas. Os valores para teor de

flavonoides encontrados foram de 0,51±0,08% e os valores encontrados para teor de

saponinas foram de 0,75±0,10%. O screening farmacológico indica a ausência de

toxicidade e nenhum efeito farmacológico agudo.

Palavras-chaves: Diclidanthera laurifolia, João-da-Costa, controle de qualidade,

fitoterápicos.

8

ABSTRACT

Trade in medicinal products "natural" led to increased problems with the quality, as

the existence of vegetable drugs marketed only with popular names or with erroneous

scientific citations. In this research, it was decided to evaluate stems marketed as ' João-

da-Costa ' and identified as Echites peltata L. (Apocynaceae), whose technical

specifications are nonexistent. Collection was conducted in the native forest of the

Botanical Institute of São Paulo, evaluation of material by expert, study

pharmacobotanical, pharmacognostic and pharmacological drug screnning vegetable.

Confirmed to be stems from Diclidanthera laurifolia Mart. (Polygalaceae), popularly called '

jaboticaba-de-cipó '. The stems do not have outstanding flavor, exude a faint aroma of

wood, shows thin bark grainy dark brown colouring with beige color areas or light grey,

with numerous crevices medians arranged mainly lengthwise; Medullary region extensive,

yellowish and with tissues arranged in concentric layers, loose among themselves. On

microscopy presents thick Bark 5 to 10 layers of cells elongated and thickened walls.

Cortex offers approximately 10 layers of slightly flattened cells. Presents anomalous

growth and cambio with repetition, presents this feature possibly because it is a Creeper

and require certain mobility for growth. You can view immutable cells with about 3 to 6

layers forming a kind of wall. In the basal layers, of 4 to 7 flattened layers of phloem

typical. Presence of isolated starches and rounded grains randomly scattered in the bark

in rare amount. Physical-chemical tests were performed and phytochemicals, finding the

values of 0.38 ± 11.36% humidity; total ash 3.11 ± 0.29%; ashes insoluble in acid 0.44 ±

0.27% and extractive content 4.50 ± 0.00%. The screening phytochemical points to the

presence of saponins, flavonoids, coumarins, tannins and absence of alkaloids and

anthraquinones, which assessed the levels of flavonoids and saponins. The values for

content of flavonoids found were of 0.51% ± 0.08 and values found for content of saponins

were 0.75 ± 0.10%. The pharmacological screening indicates the absence of toxicity and

no acute pharmacological effect.

Keywords: Diclidanthera laurifolia, João-da-Costa, quality control, phytotherapy.

9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9

2. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 11

2.1 Obtenção do material botânico ......................................................................... 11

2.2 Análise organoléptica, macroscópica e microscópica ....................................... 12

2.3 Testes físico-químicos ...................................................................................... 12

2.3.1 Perda por dessecação ................................................................................... 12

2.3.2 Cinzas totais ................................................................................................... 13

2.3.3 Cinzas insolúveis em ácido ............................................................................ 13

2.3.4 Teor de extrativos .......................................................................................... 13

2.4 Testes fitoquímicos preliminares ....................................................................... 14

2.4.1 Teste de intumescimento ............................................................................... 14

2.4.2 Flavonóides .................................................................................................... 14

2.4.3 Taninos .......................................................................................................... 14

2.4.4 Antraquinonas ................................................................................................ 15

2.4.5 Alcalóides ....................................................................................................... 16

2.4.6 Cumarinas ...................................................................................................... 16

2.4.7 Esteróides e/ou triterpenos ............................................................................ 17

2.5 Doseamento de classes fitoquímicas ................................................................ 17

2.5.1 Doseamento de saponinas............................................................................. 17

2.5.2 Doseamento de flavonoides ........................................................................... 18

2.6 Testes biológicos .............................................................................................. 19

2.6.1 Screening farmacológico ................................................................................ 19

2.6.1.1 Preparo do extrato ...................................................................................... 19

2.6.1.2 Protocolo .................................................................................................... 19

2.6.2 Teste de atividade antioxidante ...................................................................... 20

2.6.3 Teste de atividade antitumoral ...................................................................... 20

10

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 21

3.1 Obtenção e identificação do material botânico.................................................. 21

3.2 Obtenção e identificação do material botânico comercial ................................. 22

3.3 Descrição organoléptica e macroscópica .......................................................... 23

3.4 Descrição microscópica .................................................................................... 24

3.5 Testes físico-químicos ...................................................................................... 24

3.6 Testes fitoquímicos preliminares ....................................................................... 25

3.7 Doseamentos .................................................................................................... 26

3.8 Screening farmacológico ................................................................................... 27

3.9 Atividade antioxidante ....................................................................................... 29

3.10 Atividade antitumoral ...................................................................................... 30

4. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 31

5. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 31

11

1 INTRODUÇÃO

A procura por hábitos mais saudáveis nas últimas décadas tem levado as

populações à busca de alimentos e medicamentos “naturais”. Essa tendência tem

promovido um aumento progressivo na produção e consumo de medicamentos

fitoterápicos e produtos afins, como plantas destinadas a chás, complementos alimentares

e “produtos naturais’, nem sempre nas condições adequadas (MARQUES, 1999; TOBIAS

et al., 2007).

Esse desenvolvimento industrial e comercial levou ao aumento paralelo de

problemas com a qualidade, pois são conhecidas há bastante tempo as características

desse segmento no sentido de apresentarem adulterações e falsificações frequentes

(SILVA, 1966). Esses problemas vêm se mantendo ao longo dos anos, envolvendo

diversos segmentos em várias regiões do país (ZAMBONI et ali., 1991; BARA et al., 1995;

FERRAZ et al, 2008), sem que se vislumbre soluções dos mesmos a curto prazo.

A ausência de normas legais contribuiu a esse contexto problemático em termos de

qualidade. Visando reverter essa situação, o Ministério da Saúde tem editado nos últimos

dezenove anos, várias normas e regulamentos sanitários com o objetivo regulamentar o

segmento dos fitoterápicos e procurando dar-lhe o padrão adequado em termos de

segurança, eficácia e qualidade (BRASIL, 1995; BRASIL, 2000; BRASIL, 2010).

Apesar das normas que regulam o segmento industrial e comercial, os problemas

de qualidade persistem por vários motivos, e ensejam esforços institucionais para sua

diminuição. Exemplo disso ocorre atualmente nos Estados Unidos da América, onde mais

de 100 instituições diversas como universidades, empresas e entidades civis se juntaram

e montaram um programa de monitoramento da qualidade de drogas vegetais ofertadas

ao mercado daquele país, o ‘The ABC-AHP-NCNPR Botanical Adulterants Program’

<http://abc.herbalgram.org/site/PageServer?pagename=Adulterants 28/11/2013>.

Nesse cenário de problemas, um aspecto destaca-se no Brasil por sua

particularidade: a existência de vários casos de drogas vegetais comercializadas apenas

com nomes populares ou com citações científicas equivocadas, sobre as quais inexistem

especificações de qualidade, seja em monografias farmacopêicas ou em artigos

científicos indexados, o que inviabiliza qualquer conferência de sua identidade e

qualidade em termos farmacêuticos.

Em pesquisa realizada na universidade Anhanguera de São Paulo – UNIAN-SP

buscou-se avaliar espécies vegetais comercializadas na cidade de São Paulo, incluindo-

12

se nesse objetivo as drogas vegetais jasmim, nó-de-cachorro e joão-da-costa. Os dados

referentes ao jasmim mostraram que o material comercializado no Brasil, oriundo da

China, não se refere à espécie citada em rótulo, Jasminum officinale L., nem é possível

sua identificação sem acesso a exsicatas completas (ALPIOVEZZA et al., 2013); já os

dados do nó-de-cachorro mostraram que a espécie com essa denominação original -

raízes de Heteropteris aphrodisiaca O.Mach. (Malpiguiaceae) - tem sido substituída

comercialmente por rizomas de Vernonia cognata Less. (Asteraceae), espécie daninha

muito pouco estudada em termos químicos e farmacológicos (PINTO, 2012).

Já o material comercial citado como joão-da-costa corresponde a pedaços de

caules, inteiros ou desfiados, rotulado com o nome de Echites peltata L., sendo

recomendado para artrites, cólicas, corrimentos, dores menstruais, orquite, inflamação do

aparelho urogenital, inflamações dos ovários, reumatismos, úlcera crônica e aumento da

fertilidade <http://www.chaecia.com.br/loja/produto-111058-1255-joao_da_costa__erva_

_santa___echites_peltata_lockhart_ex_g_don_100_grg acesso em 28/11/2013>. Porém

esforços iniciais de identificação desse material com base na literatura de Hyakutake

(1967) mostraram tratar-se de outra espécie, distinta da rotulada e sem qualquer indício

de qual efetivamente se tratava.

Essa espécie compõe um medicamento fitoterápico industrial denominado ‘joão-da-

costa e associações®’, produzido pela empresa Laboratório Belém Jardim, de Belo

Horizonte – MG, formulado conjuntamente com as espécies Chondrodendron platiphyllum

(A.St.-Hil.) Miers, Plumeria lancifolia Müll. Arg., Rosmarinus officinalis L. e Gossypium

herbaceum L. (Figura 1), e recomendado para o tratamento de dores ovarianas

intermitentes e anomalias na menstruação, como amenorréia, dismenorréia, metrorragia,

inflamação uterina e inflamações crônicas de útero e ovário

<http://www.belemjardim.com.br/catalogo-on-line/ - acesso em 28/11/13>.

Tal produto foi avaliado em um projeto de pesquisa patrocinado pelo CNPq e

Fapemig sob coordenação da Universidade Federal de Minas Gerais, contando com

parceria da Universidade Estadual de Maringá. O projeto gerou duas publicações, uma

em controle de qualidade e toxicologia e farmacologia agudas que evidenciou um

pequeno efeito antinociceptivo no modelo da formalina (BRANDÃO et al., 2010) e outra

de toxicologia crônica em cães da raça Beagle (MAGRI et al., 2012) que não evidenciou

riscos nesse modelo animal, bem como demonstrou que os animais tratados com o

produto comercial apresentaram uma menor incidência de anormalidades clínicas frente

ao grupo controle.

13

Figura 1 Cartuchos antigo e atual do produto João-da-Costa e Associações®, do laboratório Belém Jardim – MG.

Fonte: http://institutobioquimico.com.br/loja/joao-da-costa-belem-jardim-150-ml/ http://www.belemjardim.com.br/fitoterapico/joao-da-costa/

A Pelastes peltatus é uma das espécies da família Apocynaceae. É encontrada no

Brasil, nos Estados de Pernambuco, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Minas

Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Entre seus usos, podemos

destacar a utilização dos seus ramos e folhas no tratamento de inflamações e úlceras

(QUINET; ANDREATA, 2005).

Desse modo, tendo em vista a clara presença comercial de material vegetal

comercializado como Echites peltata e o fato de suas características não conferirem com

os dados da literatura, desenvolveu-se este trabalho na busca da correta identificação

botânica da espécie bem como na geração das especificações farmacognósticas da

droga vegetal respectiva (caules), cujos dados poderão permitir a efetiva avaliação de

qualidade do material comercial.

Complementarmente, buscou-se realizar algumas avaliações biológicas bem como

um screening farmacológico que indique preliminarmente dados de segurança e potencial

farmacológico da espécie em questão.

14

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Obtenção do material botânico

O material utilizado foi constituído de caules inteiros cortados obliquamente

encontrados comercialmente no mercado varejista de drogas vegetais de São Paulo e

rotulado como Echites peltata.

Na busca de auxílio para conferência da identidade botânica, contou-se com

orientação da botânica taxonomista profa. Dra. Berta Vilagra, sendo realizada coleta da

droga vegetal verdadeira na mata do Instituto Botânico de São Paulo (IBOT-SP). A autora

utilizou espécimes marcados de identificação prévia feita em seu trabalho de

doutoramento.

Esta coleta foi autorizada pelo IBOT por intermédio da Sra. Maria de Fátima Scaf,

diretora do núcleo de pesquisa da Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba

e Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (Anexo I).

2.2 Análise organoléptica, macroscópica e microscópica

A avaliação organoléptica e macroscópica foi realizada com as duas formas

ofertadas comercialmente, caules inteiros ou desfiados e com a amostra coletada no

IBOT-SP após secagem, anotando-se todas as características que expressem a cor, odor,

sabor e textura do material, conforme preconizado na Farmacopeia Brasileira V (2010)

A avaliação microscópica da casca foi realizada com auxílio de lâmina de barbear

comum obtendo-se seções transversais que sofreram clarificação com hipoclorito de

sódio comercial (2,5%) e lavadas em seguida com água destilada. Em seguida as

amostras foram coradas pelo sistema safranina - azul de Astra e observadas em

microscópio Binocular Nikon Modelo SC, bem como foram realizadas fotografias

empregando-se maquina fotográfica comum de marca Canon, modelo Power Shot A495.

2.3 Testes físico-químicos

2.3.1 Perda por dessecação

Reduziu-se a droga vegetal a pó fino. Pesou-se, exatamente, cerca de 1 a 2 g e

15

transferiu-se para pesa-filtro chato previamente tarado nas mesmas condições a serem

empregadas na determinação. Após resfriamento em dessecador, pesou-se o pesa-filtro,

tampado, contendo a amostra. Colocou-se o pesa-filtro na estufa. Secou-se a amostra a

105 º C e por 2 horas. Esfriou-se até temperatura ambiente em dessecador. Pesou-se.

Repetiu-se a operação até peso constante (FARMACOPEIA BRASILEIRA V, 2010).

A porcentagem de perda por dessecação é dada pela equação

Pu-Ps X 100

Pa

em que: Pa = peso da amostra

Pu = peso do pesa-filtro contendo a amostra antes da dessecação

Ps = peso do pesa-filtro contendo a amostra após a dessecação

2.3.2 Cinzas totais

Pesou-se, exatamente, cerca de 3 g da amostra pulverizada, transferiu-se para

cadinho de silício previamente tarado. Distribuiu-se a amostra uniformemente no cadinho

e incinerou-se em mufla (Quimis) aumentando, gradativamente, a temperatura até, no

máximo, 600 ± 25 oC, até que todo o carvão fosse eliminado. Resfriou-se em dessecador

e pesou-se. Calculou-se a porcentagem de cinzas em relação à droga seca ao ar

(FARMACOPEIA BRASILEIRA V, 2010).

2.3.3 Cinzas insolúveis em ácido

Ferveu-se o resíduo obtido na determinação de cinzas totais durante 5 minutos

com 25 mL de ácido clorídrico a 7% (P/V) em cadinho coberto com vidro de relógio.

Lavou-se o vidro de relógio com 5 mL de água quente, juntando a água de lavagem ao

cadinho. Recolheu-se o resíduo, insolúvel em ácido, sobre papel de filtro, isento de cinza,

lavando-o com água quente até que o filtrado se mostrasse neutro. Transferiu-se o papel

de filtro contendo o resíduo para o cadinho original, secou-se sobre chapa quente e

incinerou-se a cerca de 500º C até peso constante. Calculou-se a porcentagem de cinzas

insolúveis em ácido em relação à droga seca ao ar (FARMACOPEIA BRASILEIRA V,

2010).

16

2.3.4 Teor de Extrativos

Pesou-se precisamente cerca de 4,0g de pó da droga vegetal em um frasco de

vidro cônico. Adicionou-se 100 mL de água e pesou-se. Misturou-se bem e deixou em

repouso por 1 hora. Refluxou-se por uma hora, esfriou-se e pesou-se. Ajustou-se o peso

ao peso inicial com água. Misturou-se bem e filtrou-se rapidamente. Transferiu 25 mL do

filtrado para cápsula e evaporou em banho-maria. Secou a 105°C por 6 horas, esfriou em

dessecador por 30 minutos, e pesou. Calculou-se o conteúdo de matéria extrativa em mg

por g de material seco (WORD HEALTH ORGANIZATION, 1998).

2.4 Testes fitoquímicos preliminares

2.4.1 Teste de intumescimento (mucilagens)

Pesou-se, exatamente, 1 g da droga vegetal pulverizada e colocou-se em proveta

de 25 mL com tampa esmerilhada. O comprimento da parte graduada foi de,

aproximadamente, 125 mm e o diâmetro, interno, próximo a 16 mm, subdividido em 0,2

mL, marcado de 0 a 25 mL, de forma ascendente. Adicionou-se 25 mL de água, e agitou-

se a cada 10 minutos, por uma hora. Deixou-se a mistura repousar por 3 horas, à

temperatura ambiente. Mediu-se o volume, em mililitros, ocupado pelo material vegetal

acrescido da mucilagem ou qualquer outro material aderido subtraído do volume inicial da

droga. Quando o teste apresenta resultado positivo, o volume intumescido é expresso

semi-quantitativamente como índice de intumescimento (FARMACOPEIA BRASILEIRA V,

2010).

2.4.2 Flavonóides

Reação de Shinoda

Aqueceu-se, sob refluxo, cerca de 3 g da droga pulverizada com 60 mL de água

destilada durante 15 minutos. Esfriou-se e filtrou-se, a 5 mL deste extrato, adicionar

pequenos fragmentos de magnésio metálico e 1 mL de ácido clorídrico. O aparecimento

de coloração vermelha indica a presença de agliconas flavonoídicas (FARMACOPEIA

BRASILEIRA V, 2010; SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA, 2013)

17

Reação com cloreto de alumínio

Umedeceram-se áreas diferentes de uma tira de papel de filtro com o extrato

alcoólico obtido através de aquecimento da droga vegetal 5 gramas em solução

hidroalcoólica 70% (100 mL). Colocou-se sobre uma das regiões uma gota de solução de

cloreto de alumínio a 5% e comparou a fluorescência sob luz ultravioleta (ondas longas).

O aparecimento da intensificação de fluorescência, com mudança de cor para verde

amarelado, indica a presença de flavonóides.

2.4.3 Taninos

Aqueceu-se sob refluxo cerca de 3 g da droga vegetal moída com 60 mL de água,

durante 15 minutos, filtrando-se após resfriamento e distribuindo-se o decocto em alguns

tubos de ensaio. Em seguida foram realizados os testes gerais para a classe de taninos:

a) A 2 mL do extrato adicionou-se duas gotas de ácido clorídrico e gotejou-se

gelatina até precipitação. O aparecimento de precipitado nítido indica reação positiva para

taninos totais.

b) A 2 mL do extrato, adicionou-se 10 mL de água e duas a quatro gotas de

solução de cloreto férrico a 1% (p/V) em metanol. O desenvolvimento de coloração cinza-

escura indica reação positiva para taninos totais.

c) A 2 mL do extrato, adicionou 10 mL de ácido acético 2 M e 5 mL de acetato de

chumbo solução reagente. O aparecimento de precipitado esbranquiçado indica presença

de taninos (FARMACOPEIA BRASILEIRA V, 2010).

2.4.4 Antraquinonas

Antraquinonas livres

Extraiu-se 500 mg da droga pulverizada com 5 mL de éter etílico. Deixou-se

decantar e transferiu-se o sobrenadante para um tubo de ensaio. Repetiu-se o

procedimento novamente e reuniu-se os extratos etéreos. Não desprezou-se a droga.

Adicionou-se à solução etérea cerca de 1 mL de solução aquosa de hidróxido de amônio

a 10% agitando-se. Uma coloração rósea ou vermelha na camada aquosa indica a

presença de antraquinonas livres (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA,

2013).

18

O-heterosídeos

Adicionou-se 40 mL de água destilada ao resíduo da droga obtido no item anterior

e aqueceu-se até a fervura mantendo em aquecimento brando por 10 minutos,

completou-se o volume com água destilada. Esfriou-se e filtrou-se em algodão em funil

para um erlenmeyer. Adicionou-se 5 mL de ácido clorídrico concentrado e levou-se a

ebulição, mantendo-a por 10 minutos. Esfriou-se e filtrou-se em papel de filtro para funil

de separação. Extraiu-se a solução aquosa ácida com 3 porções (10 mL cada) de éter

etílico (não desprezou-se a camada aquosa ácida). Agitou-se 5 mL da solução etérea

com 2 mL de solução hidróxido de amônio a 10%. Uma coloração avermelhada na fase

alcalina aquosa indica a presença de O-heterosídeos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

FARMACOGNOSIA, 2013).

C-heterosídeos

Adicionou-se 5 mL de solução de cloreto de ferro a 25% à solução aquosa ácida

obtida no item anterior. Levou-se à ebulição branda por 15 minutos. Adicionou-se mais

água para completar o volume. Esperou-se esfriar e transferiu-se a solução para funil de

separação. Efetuou-se partição com 20 mL de clorofórmio. Separou-se a fase orgânica e

lavou-se com 2 porções, de 10 mL cada, de água destilada. Adicionou-se 2 mL de

solução de hidróxido de amônio a 10% à 5 mL da fração clorofórmica. Uma coloração

avermelhada da fase aquosa indica a presença de C-heterosídeos (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA, 2013).

2.4.5 Alcalóides

Teste direto

Aqueceu-se à fervura, cerca de 5 g da droga vegetal (moída) em teste, e 30 mL de

ácido clorídrico diluído. Filtrou-se e dividiu-se o filtrado em 3 tubos de ensaio. Em 3 tubos

acrescentou-se três gotas dos reagentes de Dragendorff, Mayer e Bertrand,

respectivamente. Observou-se a formação de turvação e/ou precipitado (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA, 2013).

Teste confirmatório

Aqueceu-se à fervura, cerca de 5 g da droga vegetal grosseiramente pulverizada e

50 mL de ácido clorídrico diluído. Deixou-se resfriar a temperatura ambiente e filtrou-se.

Alcalinizou-se o meio com hidróxido de amônio diluído e verificou-se o pH até pH 8 a 9.

19

Adicionou-se o filtrado em funil de separação. Acrescentou-se 50 mL de clorofórmio.

Separou-se a fração que contém o alcaloide. Acrescentou-se 20 mL de ácido clorídrico

diluído e agitou-se. Separou-se a fase ácida em 4 tudos de ensaios em quantidades

equivalentes. Adicionou-se em cada tubo, e gotas dos reagentes Dragendorff, Mayer e

Bertand. Observou-se a formação de turvação e/ou precipitado (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA, 2013).

2.4.6 Cumarinas

Aqueceu-se em chapa-quente, durante cerca de 10 min, o pó da droga vegetal em

uma câmara de microssublimação (o sublimado apresenta-se sob a forma de gotas

incolores ou cristais aciculares). Dissolveu-se o sublimado obtido com 0,5 mL de metanol.

Lançou-se cinco gotas, concentrando-se num único ponto, de modo a obter duas

manchas de 1 cm de diâmetro em uma folha de papel filtro e secou-se; juntou depois de

seco, uma gota de solução alcoólica de hidróxido de potássio ou sódio 10% e secou-se.

Cobriu-se uma das manchas com papel preto e expôs às radiações ultravioletas

(lâmpada UV com λ de 254 a 366 nm); a mancha exposta adquire, pouco a pouco,

fluorescência verde, já aparente ao final do primeiro minuto. Descubriu-se depois a outra

e verificou-se que, de início, esta não possui fluorescência, mas também adquire por

idêntica exposição às radiações ultravioletas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

FARMACOGNOSIA, 2013).

Figura 2: Reação positiva para presença de flavonóides: fluorescência azul-

esverdeada. Fonte: SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA, 2013

2.4.7 Esteroides e/ou triterpenos

Ferveu-se sob refluxo, durante 10 minutos, 5 g da droga vegetal com 30 mL de

etanol a 50%, deixou-se decantar e filtrou-se através de algodão. Repetiu-se o processo

de extração por mais duas vezes. Juntou-se 30 mL de solução de acetato de chumbo

20

neutro a 10%, deixou-se esfriar e filtrou-se. Adicionou-se 20 mL de água, transferiu-se

para funil de separação. Extraiu-se com três porções de 10 mL de clorofórmio. Deixou-se

em repouso até a completa separação das fases. Filtrou-se e evaporou-se em cápsula de

porcelana em banho Maria até resíduo. Adicionou-se ao resíduo, 1 mL de anidrido acético

e em seguida 1 mL de ácido sulfúrico concentrado. Observou-se o aparecimento de

coloração.

2.4.8 Saponinas (teste de espuma)

Pesou-se cerca de 2 g do material vegetal reduzido a pó fino e transferiu para

erlenmeyer contendo 50 mL de água fervente. Manteve-se sob fervura moderada durante

30 minutos. Resfriou, filtrou e distribuiu-se o decocto obtido em tubos de ensaio. Tampou-

se os tubos e agitou-se com movimentos verticais por 15 segundos, com duas agitações

por segundo. Deixou-se em repouso por 15 minutos e verificou-se a presença de espuma

persistente, resistente à adição de gotas de ácido diluído (FARMACOPEIA BRASILEIRA

V, 2010).

2.5 DOSEAMENTOS

2.5.1 Saponinas totais

a) Por espectrofotometria

Curva padrão

Foi preparada uma solução mãe de 1 mg/mL, em triplicata, empregando-se a

saponina padrão SIGMA-Quilaia. A partir desta preparou-se as concentrações de 0,08;

0,12; 0,16; 0,20 e 0,28 mg/mL e para cada concentração foram realizadas cinco leituras

em espectrofotômetro (FEMTO) em 284 nm, calculando-se a média aritmética.

Amostra teste

Desengordurou-se 1,0 g da droga em refluxo com hexano por 2 h, filtrou-se e

secou-se o pó em estufa. Pesou-se 0,2g desta droga desengordurada e realizou-se

extração sob refluxo com três alíquotas de 20 mL de metanol-água (4:1) por 30 minutos.

Filtrou-se o extrato metanólico e concentrou-se. Extraiu-se com três porções de n-butanol

saturado com água. Recolheu-se a fração butanólica e concentrou-se esta até a secura.

Dissolveu-se o resíduo em 100 mL de água. A uma alíquota de 1 mL desta solução foram

adicionados 1 mL de cloreto de cobalto 0,2% e 1 mL de ácido sulfúrico concentrado.

21

Realizou-se a leitura da solução em 284 nm para verificar a absorbância da amostra em

espectrofotômetro (FEMTO).

Como desdobramento deste teste, evaporou-se o hexano por completo e verificou-

se o percentual de gordura da amostra.

b) Pelo índice de espuma

Pesou-se, exatamente, 5 g do material vegetal reduzido a pó fino e transferiu para

erlenmeyer contendo 50 mL de água fervente. Manteve-se sob fervura moderada durante

30 minutos. Resfriou, filtrou para balão volumétrico de 100 mL. Completou-se o volume,

através do filtro, até 100 mL.

Distribuiu-se o decocto obtido, em 10 tubos de ensaio, em série sucessiva de 1, 2,

3, até 10 mL, e ajustou-se o volume do líquido em cada tubo a 10 mL com água. Tampou-

se os tubos e agitou-se com movimentos verticais por 15 segundos, com duas agitações

por segundo. Deixou-se em repouso por 15 minutos e mediu a altura da espuma

calculando o índice de espuma como a diluição com espuma na altura de 1 cm e referida

a 1 g da droga vegetal. (FARMACOPEIA BRASILEIRA V, 2010).

2.5.2 Flavonóides totais

Dois mil microlitros do extrato etanólico de joão-da-costa a 0,468% foram

transferidos para balão volumétrico de 10 mL, cujo volume foi acrescido de 200 µL de

solução de cloreto de alumínio a 5%. A seguir, adicionou-se cerca de 5 mL de metanol no

balão, que foi colocado sob temperatura de 0 °C, durante 30 minutos. Após este período,

o volume do balão foi completado em 10mL com metanol. O procedimento foi realizado

em triplicata.

A absorbância dos três balões foi lida três vezes em espectrofotômetro (Varian

modelo Cary 50 Probe) num comprimento de onda de 425nm. Os resultados foram

analisados usando como referência a curva de calibração para o cálculo de flavonóides

totais expresso em quercetina.

22

2.6 TESTES BIOLÓGICOS

2.6.1 Screening farmacológico

O screening farmacológico foi realizado segundo a literatura (CARLINI, 1972).

2.6.1.1 Preparo do extrato

O extrato foi preparado utilizando-se 20% da droga vegetal em pó em solução

hidroalcoólica a 30%. Preparou-se a mistura e foi colocada em shaker por 48 horas, de

modo a extrair a maior quantidade de ativos da droga. Após as 48 horas, o extrato foi

armazenado em geladeira para posterior filtragem. Este extrato foi filtrado em funil comum

com a utilização de algodão como filtro. O sobrenadante foi levado a rotaevaporação para

retirada de todo o álcool e congelado a -8°C em freezer para posterior liofilização.

O extrato congelado foi deixado em nitrogênio liquido para atingir a temperatura de

-30°C e levado ao liofilizador. Após o processo de liofilização o pó foi armazenado em

geladeira para utilização no screening farmacológico.

2.6.1.2 Protocolo do Screening Farmacológico

Foram aplicadas nos camundongos as dosagens e vias de administração segundo

protocolo a seguir:

O alimento das gaiolas dos animais foi retirados e aguardados 2 horas antes do

teste; os animais foram pesados individualmente, buscando um valor médio e marcados

cada um com caneta de retroprojetor ou similar; as gaiolas foram colocadas na bancada e

identificadas por grupo (7 grupos: 1; 10; 100; 500 e 1000 mg/kg ip e 500 e 2000 mg/kg

oral); colocou-se um cronometro por gaiola. Preparou-se o extrato solubilizando o

liofilizado em água com auxilio de bastão de vidro; foram preparadas cada uma das doses

a serem aplicadas nos animais; administrou-se os extratos aos animais pelas vias

indicadas, prevendo o volume de 0,1 mL para cada 10 g de peso do animal; administrou-

se os extratos ao primeiro grupo e acionou-se o cronômetro; administrou-se os extratos

aos grupos restantes e acionou-se o cronômetro respectivo. Os animais foram

observados nos tempos de 5 minutos, 15 minutos, 1 hora, 4 horas e posteriormente 24-48

horas. Utilizou-se uma ficha para anotações das ocorrências e suas graduações (ex.:

movimentação - ; ou contorções + + +; etc.); avaliou-se a possível mortalidade ao longo

de 14 dias após o tratamento e ao final repetiu-se a pesagem dos animais;

Este estudo e protocolo foram aprovados em comitê de ética conforme anexo 2.

23

2.6.2 Atividade antioxidante (BRAND-WILLIANS; CURELIER; BERSET, 1995)

Foi utilizado o extrato etanólico da amostra a 0,01% para fracionamento de 10

soluções em diferentes concentrações, além de uma solução sem adição do extrato de

joão-da-costa, considerada controle. Foi adicionado volume de 1000 µL de DPPH (2,2-

difenil-1-picrilhidrazila) a todas as soluções. Este teste foi realizado em triplicata e em

ambiente de baixa luminosidade.

Após 30 minutos de preparo, a absorbância das 11 soluções foi lida três vezes no

espectrofotômetro (FEMTO), de mesma especificação, num comprimento de onda de

517nm. Os resultados foram analisados comparando-se a absorbância obtida das

amostras com as concentrações das soluções.

2.6.3 Atividade Antitumoral

Para a realização do experimento de citotoxicidade as células da linhagem tumoral

de melanoma murino “B16F10” foram cultivadas em placas de 96 poços com RPMI

completo, composto por RPMI-1640, enriquecido com glutamina 2 mM, tamponado com

bicarbonato de sódio 24 mM, HEPES 20 mM, 10% de soro fetal bovino (SFB) e

antibióticos (10000 U/mL de penicilina e 10000 µg/mL de estreptomicina) e Garamicina 30

mg/mL (Schering-Plough) na concentração de 1,0 x104/poço e tratadas com diversas

concentrações do extrato hidroalcóolico de joão-da-costa (a partir da solução estoque de

10mg/mL), ou com somente o veículo alcoólico a 50%, por 24 h. Os controles não foram

tratados com o extrato.

Após esse período, a proliferação foi avaliada pelo método do “MTT” brometo de

(3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazolo, da Sigma-Aldrich), que utiliza tetrazolio bio-

reduzido pelas células gerando um produto colorido chamado de formazona. Nos poços

contendo as células tratadas ou não com os compostos, foram adicionado 50µL de solução

de MTT (5mg/mL) e incubados por 4h. Após esse período, o sobrenadante foi retirado e as

células foram lisadas com 200µL DMSO (dimetilsulfóxido, Aldrich). A absorbância foi medida

a 540 nm em espectrofotômetro (FEMTO), e a medida da formazona formada correlaciona

diretamente com o número de células viáveis na cultura.

24

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Coleta e identificação botânica

Na busca da identificação da droga vegetal comercializada realizou-se contato com

o distribuidor (Nutri Ervas, por intermédio da farmacêutica Luciana F. F. Santos)

solicitando-se auxílio na obtenção de partes aéreas floridas da espécie, que permitissem

a identificação botânica. O distribuidor auxiliou nessa tarefa e conseguiu, do coletor

primário, alguns galhos da planta, os quais porém não estavam floridos.

Buscou-se, então, especialista botânico que pudesse auxiliar na tarefa de

identificação desse material vegetativo, chegando-se à Dra. Berta Villagra, à época

doutoranda do Instituto Botânico de São Paulo e trabalhando com espécies trepadeiras

da mata atlântica. A verificação do material pela botânica indicou, por características

macroscópicas, não tratar-se de Peltastes peltatus, nome atualizado da anteriormente

denominada Echites peltata, e referindo semelhança com caules da jabuticabeira-de-cipó

Diclidanthera laurifolia Mart. – Polygalaceae.

Como ambas faziam parte do trabalho de doutorado da especialista, realizou-se

coleta na mata existente na área do Instituto Botânico de São Paulo seguindo-se

marcações prévias dos exemplares na mata Figura 3), coletando-se material constituído

de caules frescos que foram, então, comparados com as amostras comerciais, as quais

mostraram-se totalmente compatíveis com a amostra padrão de coleta.

Desse modo, com base na orientação de coleta e identificação da Dra. Berta

Villagra, adota-se para esta pesquisa os dados de exsicata e incorporação em herbário

realizados por ela em seu doutoramento e referidas de forma conclusiva como sendo

Diclidanthera laurifolia Mart. – Polygalaceae (Exsicata 27-IX-2007).

25

Figura 3 Foto de exemplar de Diclidanthera laurifolia Mart.

Fonte: Arquivo pessoal.

A Diclidanthera laurifólia é conhecida popularmente como jabuticabeira-de-cipó, é

uma espécie trepadeira lenhosa, escandente, de ramos cilíndricos, folhas simples

alternas, estreitamente obovadas, de ápice agudo, obtuso a arredondado, às vezes

acuminado, de margem inteira e base aguda a longamente cuneada; apresenta

inflorescências em racemos terminais ou axilares e flores alvas ou alvo-amareladas. Seus

frutos tipo bagas globosas pretas ou quase pretas assemelham-se à uva na cor, polpa e

no sabor, além de serem produzidos em cachos; a casca é grossa e a polpa

extremamente doce e existe semelhança deste fruto com a uva. É uma espécie de

interesse florestal, ocorrente na mata atlântica de São Paulo (VILLAGRA; ROMANIUC

NETO, 2011).

Sua avaliação em termos farmacêuticos é mínima, encontrando-se apenas um

estudo farmacognóstico com resultados preliminares utilizando para o estudo as raízes de

Diclidanthera laurifólia Mart. e encontrou-se como principal ativo as saponinas, com teor

de 2,1%. As saponinas foram purificadas e foram realizados testes de absorção no

ultravioleta e absorção no infravermelho. Não encontrou-se agentes cromóforos na

saponinas quando realizado o teste de absorção no ultravioleta. O teste de absorção do

infravermelho indicou a hipótese de se tratar de um triterpeno, para comprovação, foi

realizada a pesquisa de carboxila e o resultado encontrado levou o autor a concluir que

seja muito provavelmente um triterpeno. (PECKOLT; SIQUEIRA-JACCOUD, 1971).

26

A família Polygalaceae, vem sendo alvo de diversos estudos fitoquimicos, algumas

de suas espécies têm importância medicinal pela presença de salicilato de metila em seu

cortéx, utilizado na indústria farmacêutica para o tratamento de contusões e dores

musculares em medicamentos de uso tópico (SILVEIRA et al., 1995; OLIVEIRA et al.,

2000; PIZZOLATTI et al., 2004; MARQUES, 1996).

3.2 Obtenção e identificação do material botânico comercial

As amostras comerciais foram adquiridas no comércio varejista de drogas vegetais

do bairro do Brás, na cidade de São Paulo, selecionando-se aleatoriamente pacotes do

material oriundos da empresa Nippon Flora, de São Paulo (Figura 4). Tais produtos são

rotulados como ‘isentos de registro’, conforme a RDC nº 23 (BRASIL, 2000), uma norma

relativa a alimentos exclusivamente. Essa norma instrui sobre o registro e isenção de

registros de alimentos. Em um dos seus anexos verifica-se que entre os alimentos isentos

de registros estão os chás, razão pela qual as empresas declaram que essa droga

vegetal é isenta de registro alegando se tratar de um chá.

Figura 4 Rótulo de um dos produtos adquiridos no comércio varejista de São Paulo,

ofertados como joão-da-costa (Echites peltata)

27

3.3 Descrição organoléptica e macroscópica

O material vegetal era constituído de caules inteiros ofertados comercialmente em

pedaços cortados obliquamente, medindo de 5 a 10 cm de comprimento por 1,5 a 4,5 cm

de largura. Além dessa forma, havia material cortado em lâminas longitudinais, com 2,0 a

4,5 cm de comprimento, por 0,2 a 0,5 cm de largura.

A parte mais externa dos caules (súber) mostra coloração marrom escuro,

passando pelo bege e cinza claro. O aspecto do súber é granuloso, com inúmeras fendas

largas dispostas principalmente no sentido longitudinal e em menor número, também no

sentido transversal.

O lenho possui na região medular extensa de coloração amarela de intensidade

moderada, cujos tecidos estão dispostos em camadas concêntricas, provavelmente

correspondendo aos anéis de crescimento, camadas estas que se destacam umas das

outras. A observação longitudinal da região interna evidencia apenas tecido vascular de

coloração amarela, fibroso e disposto em camadas que também se destacam.

A amostra no formato de lascas evidencia inúmeros segmentos fibrosos, de

coloração bege-amarelado, e raros pedaços de súber, de coloração cinza escuro e

ausência de materiais estranhos.

Em termos organolépticos, os caules e mesmo as cascas, ou lascas, isoladamente

não apresentam qualquer odor ou sabor. As lascas apresentam leve aroma lembrando a

madeira.

Figura 5 Foto de pedaços e lascas da droga vegetal, de amostras comerciais.

Fonte: Arquivo Pessoal

28

Essas características conferem com o levantamento prévio de Vilagra e Romaniuc

(2011) <http://fm2.fieldmuseum.org/plantguides/guide_pdfs/307-04.pdf> sobre a

macroanatomia do lenho espécies vegetais trepadeiras ocorrentes no Parque Estadual

Fontes do Ipiranga, mesmo local onde se realizou a coleta deste trabalho.

3.4 Descrição microscópica

Na observação microscópica, em corte transversal da casca encontram-se súber

espesso de 5 a 10 camadas de células alongadas e de paredes espessadas.

O córtex apresenta aproximadamente 10 camadas de células levemente

achatadas. Apresenta crescimento anômalo e cambio com repetição, apresenta esta

característica possivelmente por se tratar de uma trepadeira e necessitar de certa

mobilidade para crescimento. É possível visualizar células pétreas com cerca de 3 a 6

camadas formando uma espécie de parede. Nas camadas mais basais, observa-se de 4 a

7 camadas achatadas de floema típico. Presença de grãos de amidos isolados e

arredondados distribuídos aleatoriamente na casca em quantidade rara.

Na microscopia do lenho, os cortes transversais das lascas mostram apenas faixas

contínuas de vasos de xilema, distribuídos principalmente em vasos de pequeno calibre

numerosos, intercalados por grandes vasos, com dimensão equivalente a 20 vezes a dos

menores vasos.

Figura 6 Microscopia em aumento de 100x Câmbio com repetição

29

Figura 7 Microscopia com aumento de 400X – Células achatadas no córtex,

células pétreas, floema tipico

3.5 Testes físico-químicos

Os resultados das avaliações físico-químicas, umidade, cinzas totais, cinzas

insolúveis em ácido e teor de extrativos, estão expressos na Tabela 1

Tabela 1 Testes físico-químicos da droga vegetal joão-da-costa.

Testes N Resultado CV

Perda por dessecação 3 11,36±0,38% 3,34

Cinzas totais 3 3,11±0,29% 9,32

Cinzas insolúveis em ácido 3 0,44±0,27% 61,36

Teor de extrativos 3 4,50±0,00% 0,00

Onde N é o numero de amostras e CV o coeficiente de variação. O resultado expresso é a

média aritmética de 3 determinações

Tais resultados são compatíveis com espécies onde a droga vegetal é o caule, a

Farmacopeia Brasileira apresenta em sua 5ª edição, a monografia da Carqueja –

Baccharis trimera, suas características físico-química, são parecidas com as encontradas

neste trabalho. O percentual de água descrito em farmacopeia é de no máximo 12,0%, e

o de cinzas totais, no máximo 8,0%, valores que condizem com os encontrados nos

experimentos realizados.

30

3.6 Screening fitoquímico

Os resultados das avaliações fitoquímicas preliminares estão expressos na tabela

2, onde se encontram os resultados de identificação das principais classes de substâncias

químicas geralmente presentes nas drogas vegetais. Cada teste foi devidamente

acompanhado de avaliação com amostra padrão.

Tabela 2 Screening fitoquímico da droga vegetal joão-da-costa.

Testes Resultado

Saponinas +

Flavonóides +

Taninos +

subtipo condensado +

Cumarinas +

Alcalóides Neg

Antraquinonas Neg

Esteróides/ triterpenos +

Onde Neg significa negativo

Figura 8 Resultado da análise de Identificação de flavonóides pelo método

de reação com cloreto de alumínio.

Fonte: Arquivo pessoal

Os resultados encontrados neste Screening fitoquimico corroboram com os dados

encontrados na literatura para espécies da família Polygaceae. Estudos anteriores nas

Positivo

31

ultimas 3 décadas, revelam um vasto espectro de metabólitos nesta família, que inclui:

saponinas, esteroides, flavonoides livres e glicosilados, cumarinas, ésteres de ácidos

cinâmicos com oligossacarídeos e polissacarídeos, dihidroestiril-2-pironas e estéril-2-

pironas. (JUNIOR, 2002).

Outras drogas vegetais utilizadas com o mesmo fim medicinal, como Angelica

sinensis apresentam como constituintes principais cumarinas e fitoesteróides, ativos que

foram encontrados na droga vegetal pesquisada, porém não é possível afirmar que estes

sejam os responsáveis pela ação farmacológica de seu uso popular.

3.7 Avaliações Quantitativas

3.7.1 Saponinas

Os seguintes resultados foram obtidos considerando a curva de calibração para o

cálculo de saponinas, foi obtida a concentração média de saponinas de 0,75%±0,10 nas

amostras analisadas.

Figura 9 Curva de calibração para quantificação de teor de saponinas do extrato

de joão-da-costa. Padrão: Quilaia

Os valores de teor de saponinas encontrados são considerados baixos frente a

outras drogas vegetais como a Quilaia, que possuí em torno de 8,5% - 16,4% de

saponinas e o Alcaçuz, que contém em torno de 6% (glicirrizina). Em trabalho anterior

realizado com as raízes de Diclidanthera laurifólia Mart., os valores encontrados para o

y = 1,4303x + 0,1555R² = 0,9579

% A

bs

em 0

,284

nm

Concentração (mg/mL)

Curva de Calibração - Saponinas

32

teor de saponinas foram de 2,1%. Esse resultados demonstram que possivelmente a

parte utilizada nesta droga vegetal não deveria ser o caule, mas sim as raízes que

possuem maior concentração ativos.

3.7.2 Flavonóides

Os seguintes resultados foram obtidos considerando a curva de calibração (Figura

8) para o cálculo de flavonóides totais expresso em quercetina, foi obtida a concentração

média de flavonóides de 0, 239 + 0,037 µg/mL ou 0,512 ± 0,080 % (m/m) nas amostras

analisadas.

Figura 10 Curva de calibração para quantificação de teor de flavonóides do extrato

de joão-da-costa.

Entre as drogas vegetais presentes na farmacopeia com valores de flavonoides

expressos em quercetina é possível localizar as drogas Pitangueira, Sabugueiro e

Sabugueiro do Brasil, que apresentam como valores de teor de flavonoides 1,0%; 2,0% e

1,5%, respectivamente. Os valores encontrados no presente estudo e apresentados

acima são baixos comparados com estas drogas, apresentando só a metade dos valores

encontrados na droga com a menor concentração de flavonoides expressos em

quercetina.

3.8 Screening farmacológico

Não foram observadas alterações comportamentais nos animais, com exceção do

grupo 1000 mg (via i.p.). Neste grupo os animais diminuíram consideravelmente sua

y = 0,0776x - 0,0064R2 = 0,9982

0,000

0,200

0,400

0,600

0,800

1,000

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00

Concentração mcg/mL

33

movimentação nas gaiolas, desde o momento da administração do extrato até 4 horas de

observação. Após 4 dias da administração, todos os animais morreram, sendo essa dose

considerada letal. O grupo tratado com 500 mg (via i.p.) apresentou 2 mortes após 4 dias

de administração, sendo assim, restaram apenas 3 animais desse grupo para avaliação.

As tabelas 3, 4 e 5 demonstram os resultados obtidos com os camundongos após

a administração de liofilizado da droga vegetal joão-da-costa.

Verificou-se os pesos dos mesmos anteriores à administração e nos dias 7 e 14

após a administração (tabela 3).

Tabela 3 Evolução ponderal (peso em gramas) dos animais do teste de screening

farmacológico (N= 5 por grupo)

Grupos inicial 7 dias 14 dias

Controle 31,6±1,14 34,0±2,45 35,2±2,77

1 mg/kg ip 30,8±2,17 32,4±1,95 32,8±2,77

10 mg/kg ip 30,0±3,16 31,6±2,41 32,8±2,59

100 mg/kg ip 32,4±1,14 33,8±1,79 35,2±2,05

500 mg/kg ip 32,6±2,79 33,3±4,51 35,6±5,13

1000 mg/kg ip 34,0±2,12 morte morte

500 mg/kg oral 34,0±3,00 35,4±2,88 36,0±2,45

2000 mg/kg oral 33,6±1,67 35,6±2,79 36,0±2,55

Anova não significante. P< 0,05

A evolução ponderal (peso em gramas) dos animais, não sofreu alterações

significantes, exceção feita ao grupo 1000 mg/Kg ip, onde constatou-se a morte de todos

os animais , sendo dois destes após 2 dias de administração e o restante após 4 dias de

administração. Observou-se que no grupo 500 mg/Kg ip ocorreu a morte de 2 animais

após 4 dias de administração. Tais doses administradas onde ocorreram a morte dos

animais são doses altas e apresentaram uma toxicidade retardada. Os animais que

receberam tratamento via oral, não apresentaram sintomas que indiquem uma possível

toxicidade aguda na droga vegetal, mesmo em dosagem altas.

As Tabelas 4, 5 e 6 demonstram os pesos dos órgãos dos camundongos após

eutanásia e o percentual (órgão/ peso).

34

Tabela 4 Peso relativo órgão/camundongo (rim esquerdo, rim direito e baço).

Grupos Percentual orgão/camundongo (em %)

Baço Rim E Rim D

Controle 0,30±0,05 0,64±0,05 0,61±0,06

1 mg/kg ip 0,30±0,03 0,63±0,04 0,60±0,03

10 mg/kg ip 0,54±0,27 0,66±0,05 0,70±0,05

100 mg/kg ip 0,31±0,08 0,60±0,03 0,64±0,04

500 mg/kg ip 0,51±0,07 0,68±0,17 0,68±0,19

1000 mg/kg ip morte morte morte

500 mg/kg oral 0,36±0,13 0,62±0,05 0,66±0,04

2000 mg/kg oral 0,36±0,18 0,59±0,05 0,61±0,06 Anova não significante. P< 0,05

Tabela 5 Peso relativo Órgão/Camundongo (Fígado e Coração).

Grupos Percentual Orgão/Camundongo (em %)

Fígado Coração

Controle 4,98±0,37 0,52±0,07

1 mg/kg ip 5,25±0,10 0,52±0,08

10 mg/kg ip 5,88±0,14 0,54±0,04

100 mg/kg ip 5,10±0,36 0,52±0,12

500 mg/kg ip 6,12±1,93 0,57±0,18

1000 mg/kg ip - -

500 mg/kg oral 5,37±0,17 0,52±0,05

2000 mg/kg oral 4,94±0,36 0,53±0,06

Anova não significante. P< 0,05

Os resultados apresentados mostram que o aumento das doses não interfere no

peso relativo órgão/camundongo em nenhuma das doses aplicadas e em nenhum dos

órgãos avaliados, o que corrobora com a abordagem inicial da ausência de toxicidade

aguda desta droga vegetal.

35

3.9 Atividade Antioxidante

A estimativa de atividade antioxidante, estimativa da CE50 (dose que elimina 50%

dos radicais livres), foi de 71,24 µg/mL.

Figura 11 Curva da atividade antioxidante do extrato de joão-da-costa.

Os valores encontrados apontam para uma possível utilização como antioxidante.

Em comparação com outras drogas vegetais, o IC 50 apresentado é baixo. Abaixo tabela

com outras drogas vegetais e IC50. Possivelmente a responsabilidade da atividade

antioxidante apresentada esta ligada a presença dos flavonoides.

Tabela 6 Avaliação de antioxidantes de espécies vegetais

Espécie IC50 (mg/ml)

Carduus marianus (Padrão) 0,77±0,016

Cupressus sempervirens 1,00±0,054

Maytenus ilicifolia 1,08±0,062

Mangifera indica 2,09±0,068

Annona muricata 0,92±0,025

Aloe vera 2,53±0,071

Plantago sp. 1,28±0,066

Adiantium sp. 0,71±0,035

Fontes: Lima, W. Q. F, et. Al 2012

y = -0,68x + 98,444

R² = 0,8849

% D

PP

H r

est

an

te

Concentração (ug/mL)

Atividade antioxidante-João da Costa

36

3.10 Atividade antitumoral

Com respeito à atividade antitumoral, o cálculo da medida de IC50, que é a

concentração inibitória do composto onde é observada uma inibição de 50% da viabilidade

celular comparada com 100% de viabilidade dos poços controle (sem o tratamento), ou seja,

é a concentração do composto onde teremos um efeito tóxico para 50% das células

adicionadas nos poços com os compostos foi realizados nas culturas e nossos resultados

demonstraram uma capacidade antitumoral do extrato hidroalcoolico de João da Costa

com um valor de IC50 = 1421,68 ug/ml.

Figura 12 Curva da atividade antitumoral do extrato de joão-da-costa.

% de ABS

[ ] JC

37

4 CONCLUSÃO

Com os dados apresentados no presente trabalho é possível produzir uma

especificação nos moldes da farmacopeia (tabela 7), possibilitando um controle de

qualidade farmacognóstico da droga vegetal em questão. É importante ressaltar a

necessidade de um controle botânico desta droga vegetal, uma vez que são encontradas

facilmente amostras no mercado desta droga com identificação botânica incorreta, este

sendo um problema comum e já conhecido do mercado fitoterápico, cabendo as

autoridades sanitárias um controle mais rigoroso e intenso.

Tabela 7 – Especificações da droga vegetal joão-da-costa

Especificação Resultado

Descrição Macroscópica

Caules inteiros em pedaços cortados

obliquamente, medindo de 5 a 10 cm de comprimento

por 1,5 a 4,5 cm de largura. A parte mais externa dos

caules (súber) mostra coloração marrom escuro,

passando pelo bege e cinza claro. O aspecto do súber

é granuloso, com inúmeras fendas largas dispostas

principalmente no sentido longitudinal e em menor

número, também no sentido transversal. O lenho

possui na região medular extensa de coloração

amarela de intensidade moderada, cujos tecidos estão

dispostos em camadas concêntricas, provavelmente

correspondendo aos anéis de crescimento, camadas

estas que se destacam umas das outras. A

observação longitudinal da região interna evidencia

apenas tecido vascular de coloração amarela, fibroso

e disposto em camadas que também se destacam.

Em termos organolépticos, os caules e mesmo as

cascas, ou lascas, isoladamente não apresentam

qualquer odor ou sabor. As lascas apresentam leve

aroma lembrando a madeira.

38

Descrição Microscópica

Súber espesso de 5 a 10 camadas de células

alongadas e de paredes espessadas. Córtex

apresenta aproximadamente 10 camadas de células

levemente achatadas. Apresenta crescimento

anômalo e cambio com repetição, apresenta esta

característica possivelmente por se tratar de uma

trepadeira e necessitar de certa mobilidade para

crescimento. É possível visualizar células pétreas com

cerca de 3 a 6 camadas formando uma espécie de

parede. Nas camadas mais basais, observa-se de 4 a

7 camadas achatadas de floema típico. Presença de

grãos de amidos isolados e arredondados distribuídos

aleatoriamente na casca em quantidade rara.

Perda por dessecação 11,36±0,38%

Cinzas totais 3,11±0,29%

Cinzas insolúveis em

ácido 0,44±0,27%

Teor de extrativos 4,50±0,00%

Flavonóides +

Saponinas +

Flavonóides +

Taninos +

subtipo condensado +

Cumarinas +

Alcalóides Neg

Antraquinonas Neg

Esteróides/ triterpenos +

Saponinas (%) 0,751±0,10%

Flavonoides (%) 0,512±0,080%

Em termos fItoquímicos foi possível concluir que a droga vegetal apresenta como

possíveis marcadores: saponinas, flavonoides, cumarinas e taninos, não sendo

detectadas as presenças de alcaloides e antraquinonas.

39

Os dados do screening farmacologico mostram que a droga vegetal possui uma

toxicidade retardada, uma vez que foi possível observar a morte de todos os animais do

grupo 1000mg/Kg ip, sendo dois destes após 2 dias da administração e o restante após 4

dias da administração. Observou-se também a morte de 2 animais do grupo 500 mg/Kg ip

após 4 dias de administração, sendo necessários maiores estudos farmacológicos afim de

concluir o motivo do óbito destes animais.

Os dados de atividade antitumoral e antioxidante sinalizam para possíveis

atividades biológicas de interesse para esta droga vegetal, sendo necessários estudos

farmacológicos direcionados a patologias específicas, a partir dos indícios obtidos neste

trabalho.

40

BIBLIOGRAFIA

ALICE, C.B., DE SIQUEIRA, N.C.S., MENTZ, L.A., SILVA, G.A.A.B., JOSÉ, K.F.D.

Plantas medicinais de uso popular: atlas farmacognóstico. Porto Alegre, Ulbra, 1995.

BARA, M.T.F., TELES, M.F.B., BARBOSA, N.L. Avaliação da qualidade de plantas

medicinais comercializadas em Goiânia – GO. In: CONGRESSO PAULISTA DE

FARMACÊUTICOS, 9º. Anais. São Paulo, CRF, 1995.

BRAND-WILLIANS, W., CURELIER, M. E. e BERSET, C. Use of a free radical method to

evaluate antioxidant activity. Lebensm-Wiss. u. Technol, v.28, p. 25-30, 1995

BRANDÃO, M.G.L.; COSENZA, G.P.; CESAR, I.C.; TAGLIATI, C.A.; MARQUES, L.C.

Influence of the preparation method on the low efficacy of multi-herb commercial products:

the example of João da Costa e Associações®. Rev. Bras. Farmacogn. v.20, n.2, p.250-

255, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 14 de 2010. Aprova o Regulamento Técnico, em anexo, visando normatizar o registro

de medicamentos fitoterápicos junto ao Sistema de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da

União, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 33 de 19.04.00. Aprova regulamentos técnicos para as farmácias de manipulação.

Diário Oficial da União, 20.04.2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 06 de 1995

CARLINI, E.A. Screening farmacológico de plantas brasileiras. Revista Brasileira de

Biologia, v.32, n.2, p. 65-274, 1972.

FARMACOPÉIA BRASILEIRA. 5ª ed. Brasília: Anvisa, 2010.

GILG, E., BRANDT, W., SCHÜRHOFF, P.N. Farmacognosia: materia farmacéutica

vegetal y animal. Barcelona. Editorial Labor, 1942.

HYAKUTAKE. S. Contribuição ao estudo morfológico e anatômico da espécie Peltastes

peltatus (Vell.) Woodson (Echites peltata Vell.) Apocynaceae. Rev. Fac. Farm. Bioquim.

Univ. S. Paulo, v.5. n.1, p.77-91, 1967.

41

MAGRI, E.G.; NEVES, F.T.A; KANESHIMA, E.N.; SILVA, J.C.; ANTUNES, V.S.; COSTA,

F.P.; ROCHA, O.A.; TAGLIATI, C.A.; MARQUES, L.C.. Toxicological evaluation of the

João da Costa e Associações® on Beagle dogs. Rev. bras. farmacogn. v.22, n.1, p.109-

114, 2012.

MARQUES, L.C. Legislação de fitoterápicos: para onde iremos? Revista Racine, v.9,

n.50, p.18-20, 1999.

MATOS, F.J.A. Introdução à fitoquímica experimental. Fortaleza, UFC, 1988.

PECKOLT, O., SIQUEIRA-JACCOUD, R.J. de. Estudo farmacognóstico da Diclidanthera

laurifolia Martius. Rev. Bras. Farm., v.52, n.1, p.1-13, 1971.

SILVA, J.B. Algumas falsificações e adulterações de drogas encontradas em material

comercial. Revista da Faculdade de Farmácia e Bioquímica S. Paulo, v.4, n.1, p. 71-

84, 1966.

TOBIAS, M.L., OLIVEIRA, F., OLIVEIRA, K.P., MARQUES, L.C. Controle de qualidade de

drogas vegetais de farmácias de manipulação de Maringá (Paraná, Brasil). Revista

Eletrônica da Faculdade de Farmácia, v.14, p. 95-103, 2007.

VILLAGRA, B.L.P., ROMANIUC NETO, S. Plantas trepadeiras do Parque Estadual das

Fontes do Ipiranga (São Paulo, Brasil). Hoehnea v.38, n.3, p. 325-384, 46 fig., 2011.

WAGNER, H., BLADT, S. Plant drug analysis: a thin layer chromatography atlas.

Berlin: Springer-Verlag, 1996.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Quality control methods for medicinal plant

materials. Geneva: 1998.

ZAMBONI, C.Q., ALVES, H.I., RODRIGUES, R.M.M.S., SPITERI, N., ATUI, M.B.,

SANTOS, M.C. Fraudes e sujidades em condimentos comercializados na cidade de São

Paulo. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v.51, n.1/2, p.19-22, 1991.

http://abc.herbalgram.org/site/PageServer?pagename=Adulterants - acesso em 28/11/13

http://www.belemjardim.com.br/catalogo-on-line/ - acesso em 28/11/13

_____________________________________________________________

42

ANEXO

1. autorização de coleta

2. autorização ética animal