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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PSICOPEDAGOGIA A IMPORTÂNCIA DAS SALAS DE LEITURA DAS ESCOLAS PÚBLICAS por: Sheila Rosa Paiva do Valle Orientador Prof: Celso Sanches Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PSICOPEDAGOGIA

A IMPORTÂNCIA DAS SALAS DE LEITURA DAS

ESCOLAS PÚBLICAS

por: Sheila Rosa Paiva do Valle

Orientador

Prof: Celso Sanches

Rio de Janeiro

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PSICOPEDAGOGIA

A IMPORTÂNCIA DAS SALAS DE LEITURA DAS

ESCOLAS PÚBLICAS

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes, como condição prévia para a conclusão do Curso de Psicopedagogia ao Instituto A Vez do Mestre, como requisito para obtenção do título de especialidade.

Orientador professor: Celso Sanches

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores que passaram pela

minha vida, testemunhando o meu desenvolvimento e

muito contribuindo para a minha formação acadêmica.

Agradeço também, a minha amiga Gláucia que esteve

comigo na graduação e pós-graduação, dividindo

momentos de angústia e de alegria.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos amores de minha vida: meu

marido Gilberto e minhas filhas Juliene e Lorena. Pela

paciência e apoio que me dedicaram, durante todo o

curso.

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EPÍGRAFE

" Oh ! Bendito o que semeia

Livros...Livros à mão cheia....

E manda o povo pensar!

O livro caindo n'alma

é gérmen que faz palma

é chuva que faz o mar."

Castro Alves

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RESUMO

A IMPORTÂNCIA DAS SALAS DE LEITURA DAS

ESCOLAS PÚBLICAS

Este presente estudo visa pesquisar a existência de incentivo ao hábito

da leitura nas escolas municipais, mais precisamente sobre o trabalho

realizado em suas salas de leitura investigando idéias e práticas exercidas

neste espaço, o perfil do professor da sala de leitura, o seu acervo, principais

tipos de leitura e os fatores que exercem influência sobre o hábito de leitura.

Sabendo da importância deste espaço, constatamos que para a formação de

um leitor competente é preciso criar o hábito da leitura e promover a prática

social relacionada com essa atividade desde a mais tenra idade.

Nesta reflexão, é primordial analisar os fatores que impedem a formação

de sujeitos leitores, para que se possa apresentar novos caminhos de

renovação e qualificação na prática pedagógica relativa a leitura.

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METODOLOGIA

A princípio realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre a importância

social do hábito da leitura para a vida dos jovens alunos.

Depois foi realizada uma pesquisa de campo com a intenção de analisar

a importância da sala de leitura na escola, foram investigadas nove escolas

municipais da área da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), onde foi

realizado uma pesquisa qualitativa que nos permitiu uma maior proximidade

com o objeto de estudo, tornando possível o entendimento de suas funções.

O instrumento utilizado na pesquisa de campo foi a entrevista (gravada),

que nos permitiu interagir ativamente com o entrevistado. Neste instrumento de

pesquisa como afirma, André e Lüdke (1986, p. 33), "a relação que se cria é de

interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta

e quem responde”.

Não imaginando encontrar dificuldades na realização da pesquisa,

iniciamos o processo visitando as escolas que pretendíamos pesquisar.

Entretanto, fomos avisados pela direção das várias escolas visitadas, que

precisaríamos de uma autorização da Coordenadoria Regional de Educação

(CRE). Nos dirigimos, então, à 8ª CRE onde obtivemos a informação que a

autorização para pesquisa só poderia ser obtida no Departamento Geral de

Educação (DGE), situado na Secretaria Municipal de Educação. Informamos

aos funcionários que seria uma pesquisa para monografia. Não adiantou. Foi

preciso ir duas vezes seguidas à SME, ter o projeto de pesquisa analisado,

para só depois conseguirmos a autorização (em anexo) para que a pesquisa

nas salas de leitura municipais pudesse ser realizada. Antes, ainda foi

necessário voltar à 8ª CRE para relacionar as escolas onde ocorreriam as

pesquisas e, só então, darmos início a nossa pesquisa de campo.

As entrevistas foram dirigidas aos professores regentes das salas de

leitura, com o objetivo de saber como se dá o funcionamento e como atuam as

mesmas. Pedimos autorização para que a entrevista fosse gravada, embora

algumas educadoras se mostrassem um pouco tímidas ao verem o gravador,

tudo saiu a contento.

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Dividimos a entrevista (em anexo) em tópicos, sendo eles: I-Informações

sobre a escola (tempo da escola, tipo de escola, número de dependências,

localidade); II-perfil do professor responsável pelo espaço (sua formação,

experiência, quantos anos de magistério, se possuí algum interesse especial

pela literatura...); III-sobre o acervo da sala de leitura (que materiais a compõe,

quantos livros têm catalogado, sobre a sua diversidade, sobre o espaço físico);

IV- sobre o empréstimo de livros (se há o hábito de se emprestar livros, a quem

se empresta livros, se há interesse espontâneo dos alunos pelos livros); V-

sobre o perfil do leitor (se existem dados sobre quem mais lê e qual a série; se

são meninos ou meninas e qual o tipo de leitura que mais agrada aos alunos);

VI- sobre os objetivos da sala de leitura ( quais são e se estão sendo

alcançados; se existe algum projeto de incentivo à leitura; sobre as atividades

desenvolvidas pela sala de leitura); VII- sobre a integração do espaço com

outros segmentos da Unidade Escolar (se há envolvimento dos outros

professores com a sala de leitura e; VIII- sobre o funcionamento do espaço

(dias e horário que os alunos possam visitá-la).

Todas as nove escolas pesquisadas são municipais, sendo que cinco

são consideradas pequenas (6 salas), uma média (16 salas) e três podem ser

consideradas grandes, com mais de 20 salas.

Todas as escolas ficam localizadas na zona oeste do município do Rio

de Janeiro, na área da 8ª CRE: cinco ficam no bairro de Bangu, três no bairro

de Senador Camará e uma em Padre Miguel. Quanto ao tempo de existência

destas escolas, varia de onze a setenta e oito anos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................10

CAPÍTULO I - O Hábito de ler...........................................................................12

CAPÍTULO II - Um breve histórico sobre a evolução do conceito de infância

e da literatura infantil......................................................................................... 21

CAPÍTULO III – O valor social das salas de leitura das escolas

Municipais..................................................................................................... 27

CONCLUSÃO....................................................................................................33

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 36

ÍNDICE.............................................................................................................. 38

ANEXOS........................................................................................................... 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................................. 47

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INTRODUÇÃO

De acordo com o jornal dos Professores (2002, p.2) o nosso

país foi o último do ranking entre os países participantes do projeto PISA 2000,

"que teve como objetivo avaliar a compreensão leitora dos jovens estudantes, o

Brasil ficou no nível 1 de uma escala de 1 à 5, significando que os nossos

alunos são analfabetos funcionais, capazes de decodificar as letras, as

palavras, porém, não de compreender o seu significado."

Podemos observar, nos jovens de nosso convívio, que geralmente eles

não gostam de ler, não sentem prazer neste ato. Os livros lidos por eles, são

na maioria das vezes, os indicados pelos professores, e os jovens estudantes o

lêem por obrigação, porque terão que fazer prova ou apresentar trabalho sobre

o mesmo. Sem nenhum prazer neste ato. O interesse em pesquisar sobre

como se dá o incentivo ao hábito da leitura nas escolas surgiu na graduação,

no entanto, sentimos a necessidade de continuar essa pesquisa.

Esta reflexão teve como objetivo pesquisar a importância da formação

de leitores na nossa sociedade, surgindo posteriormente a necessidade de

investigar o trabalho das salas de leitura de escolas municipais do Rio de

Janeiro, investigando idéias e práticas exercidas neste espaço, o perfil do

professor da sala de leitura, o seu acervo, principais tipos de leitura e os fatores

que exercem influência sobre o hábito de leitura.

Partindo do pressuposto que investir na formação de leitores é uma

tarefa urgente, percebemos que para que este trabalho de formação de leitores

obtenha sucesso é necessário fazer com que os jovens leitores em potencial

vejam o livro como um objeto quase mágico, que os envolvem em aventuras e

experiências fascinantes, que ampliam seu entendimento de mundo e de si

mesmo. É necessário abordar tipos diversificados de textos e propostas de

ações inovadoras que possam levar as crianças a se tornarem leitores

competentes.

Entretanto, a descoberta do valor dos livros só acontece por meio do

contato com textos literários, é através do convívio com livros, do

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seu manuseio, do ouvir histórias, do ato de ler, que essa descoberta poderá

ocorrer.

Daí a necessidade crescente de educadores, teóricos e órgãos

governamentais darem devida importância à literatura, considerando que é por

essa arte que se desenvolvem sujeitos críticos e conscientes do seu papel

social. É preciso disponibilizar o acesso aos livros, proporcionando assim a

criação do hábito da leitura.

Portanto, as salas de leitura das escolas municipais têm um importante

papel a desempenhar, já que por motivos econômicos e sociais a maioria de

nossa população não tem o hábito de ler. Desta maneira, a escola tornou-se o

lugar mais provável, embora não o ideal, onde se pode desenvolver nas

crianças esse hábito.

Este trabalho iniciou-se com a definição do hábito de ler, dando ênfase

ao papel da escola e da família na formação deste hábito, além de mostrar a

contribuição da leitura para o desenvolvimento cognitivo da criança.

No segundo capítulo, faremos um breve histórico sobre a evolução do

conceito da criança e da literatura infantil.

Já o capítulo três é todo dedicado ao estudo das salas de leitura das

escolas municipais e ao resultado da pesquisa de campo realizada nestes

espaços escolares.

Todo o trabalho é permeado pela questão imprescindível de

compreender e enfrentar a questão da formação de leitores, para que o Brasil

possa se desenvolver como sociedade, permitindo que haja uma mudança na

situação de desigualdade social em que se encontra.

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CAPÍTULO I

O HÁBITO DE LER

Desde o nascimento há em nós um impulso imprescindível, que nos

impulsiona na direção das descobertas sobre tudo que nos cerca. E, mesmo

sem, saber isso já é uma forma de leitura, "leitura de mundo". Como disse,

magnificamente, Paulo Freire (1996, p.11): "A leitura do mundo precede a

leitura da palavra". A literatura é, por sua vez, a possibilidade de fazer o

encontro entre as duas leituras: a do mundo e da arte. O ato de ler é mais que

a leitura de um texto escrito. Lemos o mundo ao nosso redor, registrando

detalhes percebido pelos nossos sentidos e que ficam guardados em nossa

mente.

Á exemplo de Machado e Sandroni (1998, p.09), investigamos a palavra

"ler", no Mini dicionário Aurélio (2001, p.423), surgiram algumas definições

como: "é percorrer com a vista (o que está escrito), proferindo ou não as

palavras, mas conhecendo-as", "Interpretar por meio de leitura", "Decifrar e

interpretar o sentido de".

Jolibert (1994, p.67) conceitua o ato de ler muito bem: "Ler é atribuir

diretamente sentido a algo escrito, é questionar algo como tal a partir de uma

expectativa real, é ler escritos reais, que vão desde um nome de uma placa até

um livro, passando por um cartaz, uma embalagem, um jornal, um planfeto, é

lendo de verdade, desde o início, que alguém se torna leitor e não aprendendo

primeiro a ler”.

Gadotti (1994, p.16) afirma que: "O ato de ler implica, a existência de um

leitor, de um código e de um autor. Por meio de um código lingüístico, o autor

comunica-se, em qualquer tempo e espaço, com o leitor.”

Tornar-se leitor é descobrir as possibilidades de prazer, desenvolvimento

e libertação escondidos entre páginas desse objeto que ganha vida justamente

quando o lemos e, a partir de nossa visão de mundo, dialogamos com ele. O

educador deve refletir sobre o tipo de leitor que deseja formar, e, a partir dessa

reflexão, elaborar um planejamento para alcançar seus objetivos.

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Sabendo-se o que é ler e o que é leitor, consultamos novamente o Mini

dicionário Aurélio (2001, p.359) para descobrir o que é hábito. Encontramos a

seguinte definição: "Disposição adquirida pela repetição freqüente dum ato,

uso, costume". Percebe-se que se fala em adquirir, portanto devemos concluir

que não existe em nosso código genético um gene responsável pelo gosto da

leitura, sendo este um hábito que precisa ser adquirido com uso constante.

Machado (2001, p. 10), defende bem este ponto, "como não se trata de

um ato instintivo, mas, pelo contrário, de um hábito a ser gradativamente

adquirido, é preciso que se dê desde o início ao aprendiz da leitura o objeto a

ser lido (livro, revista ou jornal), respeitando o seu nível de aprendizado."

No entanto, a leitura deve ser uma fonte de prazer e nunca uma

atividade obrigatória, cercada de ameaças e castigos. É preciso gostar de ler,

para se tornar um leitor assíduo.

De acordo com Bamberger (2002, p.7), a capacidade de ler é essencial

à realização pessoal, e o progresso social e econômico de um país depende

do acesso que o povo tem aos livros. O fim do analfabetismo, o incentivo ao

hábito da leitura e a provisão de livros devem ser objetivos do governo. O autor

afirma que, mesmo após ser alfabetizada, uma criança pode perder essa

habilidade se a leitura não fizer parte do seu ambiente cultural. Leitores

iniciantes poderão ficar desencorajados se não mantiverem contato com os

livros afinados com seu gosto.

Mesmo nos países mais ricos, o pesquisador garante que, grande

parte da população não são leitores habituais. Portanto, ele afirma que é

importante que se descubra novos métodos que assegurem que a leitura seja

ao mesmo tempo uma experiência agradável e uma fonte de conhecimento.

Mais adiante Bamberger (2002, p.09) esclarece que todas autoridades

do Estado, da comunidade e da escola, educadores e pais precisam estar

seriamente convencidos da importância da leitura e transmitirem essa

convicção aos pequenos, de modo apropriado ao seu desenvolvimento. Todos

têm direito de ler, afirma o autor, oferecendo igualdade no desenvolvimento de

potencialidades intelectuais e espirituais, aprender e progredir.

Quando a criança desde a mais tenra idade é estimulada à pratica de

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leitura através de motivação dos pais ou educadores, quando tem a sua

disposição livros interessantes à sua faixa etária, as probabilidades de se

tornar um leitor apto a julgar o que lê ou o que vê na televisão ou nos jornais ou

mesmo na escola serão muito maiores. Ela, sem dúvida, terá uma maior

intimidade com material escrito, acionando conhecimentos prévios, invocando

atitudes muito importantes na prática da leitura. Daí a importância de se voltar

a atenção para o desenvolvimento do gosto pela leitura.

Já Lajolo (2002, p.11), constata que, a literatura tanto gera

comportamentos e atitudes, quanto “prevendo-os, dirige-os, reforça-os, matiza-

os, atenua-os, pode-se reverte-los ou alterá-los” comprovando-se como fator

importante na imagem da criança e do jovem. A autora valoriza intensamente

a literatura quando afirma: “Se, por não sei que excesso de socialismo ou

barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto

uma, é a disciplina literária que devia ser salva, pois todas as ciências estão

presentes no monumento literário”.

Segundo Piletti (2003, p.87), a marginalização dos pobres vem desde os

mais remotos tempos. Na época do absolutismo (1453/1758), este

discriminação era considerada normal, o primeiro-ministro de Luís XIII,

afirmava que o conhecimento das letras não poderia ser um direito de todos,

pois, "Assim como um corpo que tivesse olhos em todas as suas partes seria

monstruoso, da mesma forma um Estado o seria, se todos os súditos fossem

sábios; ver-se-ia aí tão pouca obediência, quanto o orgulho e a presunção

seriam comuns". Para ele a educação para todos acabaria com o sossego

público.

Portanto, o privilégio da leitura para todos é historicamente recente. Só

depois da invenção da imprensa a literatura ficou acessível a população, assim

mesmo atingiu primeiro uma pequena parcela da população, a elite culta. Só há

algumas décadas, com o grande desenvolvimento tecnológico e econômico,

houve a necessidade de uma contribuição intelectual maior das pessoas. Surge

então a dúvida: Como fazer da leitura um direito de todos?

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1.1- O papel da escola na formação do jovem leitor

O trabalho de leitura na escola deveria ter como objetivo levar o aluno à

análise e à compreensão das idéias dos autores, buscando suas próprias

idéias, formando cidadãos que sejam sujeitos da própria história, e não apenas

repetidores de padrões e fórmulas.

Para tanto, tornar-se necessário desenvolver projetos que permitam,

com certa rapidez, facilitar o acesso ao livro nas escolas e aperfeiçoar a

formação do professor. Entretanto, é preciso ficar claro que o professor que

não é usuário da leitura e da escrita, não fará com competência o seu uso na

prática escolar, sendo assim, não despertará em seus alunos o gosto por essas

atividades, porque grande parte da aprendizagem humana ocorre através da

observação do comportamento de outras pessoas.

A autora de livros infanto-juvenis Ana Maria Machado (2001, p.103)

afirma que ninguém contrata um instrutor de natação que não saiba nadar.

Porém, as escolas brasileiras estão cheias de professores que, apesar de não

terem o hábito da leitura, tentam impingir aos seus alunos textos literários,

esperando que os mesmos se interessem. É uma situação totalmente

contraditória, já que a formação que estes educadores recebem não dá ênfase

a esta questão.

Silva (2002, p.14), discorre sobre este mesmo ponto:

Para orientar a leitura, o professor tem que ser leitor, com paixão por determinados textos ou autores e ódio por outros. O importante é não marcar passo esperando por uma política oficial que nunca vem, é não deixar de buscar soluções sérias e caseiras, evitando o assassinato do potencial de leitura de milhares de crianças e jovens.

Outro ponto importante a ser discutido, segundo Cunha (2002, p.9), é a

queixa geral dos educadores contra o crescente desinteresse dos estudantes

por todos os graus de leitura. Há muitas razões para este fato: descuido

familiar, decadência do ensino, excesso de facilidades na vida escolar, apelos

sociais com muitas formas de diversões, entre outras. Esses comportamentos

das pessoas em geral, demonstram um fato que precisamos admitir: o livro,

muitas vezes, assume um papel secundário e pouco agradável em nossas

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vidas. O livro precisa ter valor real para o indivíduo, porém, a maioria dos

educadores quer impor a leitura aos seus alunos como um remédio que tem

gosto ruim, mas sara.

Adiante, o autor defende o livro como fonte, principalmente, de lazer,

além do desenvolvimento cognitivo de forma saudável, sem tortura, dando ao

aluno a escolha de gostar ou não do livro indicado para leitura, de tentar outra

leitura se aquela não o agradou e não ler até o fim um livro que esta

detestando.

Lajolo (2002, p.11) concorda com Cunha (2002, p. 53) quando diz que

os educadores transmitem o ato de ler como obrigação, não dando aos alunos

o direito de não ler um livro que por acaso não lhe agradar, já que o conteúdo

do mesmo será cobrado mais tarde pelo mestre. O ato de ler deve ser

prazeroso, não devemos obrigar o aluno a ler um livro que não é do seu

agrado.

A autora cita Fernando Pessoa (apud Lajolo, 2002) que em sua

sabedoria se solidariza com "os rebeldes”, proclamando seu tédio diante de

qualquer texto que seja imposto a alguém:

Ai que prazer. Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não o fazer! Ler é maçada. Estudar é nada O sol doira Sem literatura. O rio corre, bem ou mal sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como tem tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está Indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Entretanto, é preciso estar atento a um aspecto de extrema importância:

a escolha dos livros. Que deve respeitar a faixa etária e o gosto do jovem leitor.

Só um livro bem escolhido lhes prenderá a atenção e os tornará leitores felizes;

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porque, a leitura só desperta interesse quando interage com o leitor, quando

faz sentido e traz conceitos que se articulam com as informações que já se

tem.

Coelho (2003, p.25), acredita ainda ser a escola um espaço privilegiado

para "o encontro entre o leitor e o livro". Na escola deverá ser lançada a base

para a formação do indivíduo. E nesse espaço devemos dar preferência aos

textos literários, pois eles estimulam o exercício da mente, a percepção do real;

dinamizam o estudo e o conhecimento da língua e da expressão verbal

significativa.

No que diz respeito às atividades com a literatura, a autora diz que a

escola deve apresentar dois ambientes básicos: o de estudos programados

(sala de aula, bibliotecas,...) e o de atividades livres (sala de leitura, recanto de

invenções, oficina da palavra, entre outros).

1.2- A família e a formação do hábito da leitura

Assim como o professor, a família é de grande importância neste

despertar do gosto pela leitura nas crianças. No entanto, a sociedade brasileira

não é uma sociedade usuária da leitura e da escrita, sendo este um dos fatores

determinantes para que muitas de nossas crianças cheguem à escola sem que

esta atividade tenha o valor social necessário, aumentando assim a

responsabilidade dos educadores, já que, na maioria das vezes, será sua a

função de "apresentar-lhes" o livro.

Hoje, o governo federal, ciente desta carência em nossa sociedade, já

faz grandes campanhas publicitárias com o objetivo de chamar a atenção da

família para a necessidade de se ler para e com os filhos. É importante que se

leia para os filhos desde a mais tenra idade, quanto mais cedo melhor, pois

além de fonte de conhecimento, é também fonte de prazer. Pois este é um

momento de troca, de estarmos juntos, pais e filhos. a criança associará a

leitura a momentos de intensa satisfação. Os pais que estimulam a leitura

passam ensinamentos valiosos os filhos, tais como: reconhecerem o ambiente

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onde vivem, saber selecionarem as informações que recebem através da

mídia, tornando-os indivíduos mais críticos, ao mesmo tempo em que

enriquecem o seu vocabulário.

Para Bandura (Apud: Moreira, 1985, p.48) a aprendizagem social ocorre

por meio da observação ou exemplo, reforçando a idéia da criança precisar de

modelos a ser seguido. O processo de socialização e educação pelo qual

passamos em nossa infância é o responsável direto pelo desenvolvimento de

nossas atitudes e comportamentos. Por isto, os pais juntamente com os

professores, geralmente idolatrados pelas crianças, que gostam de imitar-lhes

em tudo, precisam estar atentos à questão do bom exemplo. Porquê não

mostrar ao jovem aprendiz, como pode ser gostoso ler um bom livro. Pois, uma

criança que descobre junto daqueles que ama o gosto pela leitura, dificilmente

deixará de ser um bom leitor.

1.3-O hábito de ler e o desenvolvimento cognitivo

A princípio procuraremos definir o que é inteligência e como se dá esse

processo. Segundo Piaget (1970, p.93) inteligência é o mecanismo de

adaptação do organismo a uma nova situação, implicando na construção de

novas estruturas. O desenvolvimento intelectual se dá a partir de exercícios e

estímulos oferecidos pelo meio que o cercam. Piaget aborda a inteligência

como algo dinâmico, que decorre da construção de estruturas de conhecimento

que, enquanto vão sendo construídas, vão se instalando no cérebro. Portanto,

a inteligência segundo Piaget, não aumenta por acréscimo e sim por

reorganização. Para ele o desenvolvimento da inteligência é explicado pela

relação recíproca existente com a gênese da inteligência e do conhecimento.

Piaget criou um modelo epistemológico com base na interação sujeito e objeto.

Pelo modelo epistemológico o conhecimento não está nem no sujeito, nem no

objeto mas na interação entre ambos.

Para Howard Gardner (1996, p.78) criador da teoria das inteligências

múltiplas, inteligência é a habilidade para resolver problemas ou adaptar e criar

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soluções, que serão importantes em um ou mais contextos culturais. O

teórico afirma que todos nascemos inteligentes, porém com estímulos

adequados em momentos convenientes a estrutura da inteligência pode ser

aumentada, principalmente nos primeiros anos de vida, embora as regras

desse aumento sejam estipuladas por restrições genéticas. E excetuando-se os

casos de lesões, todos nascem com o potencial das várias inteligências. A

partir das relações com o ambiente, incluindo os estímulos culturais,

desenvolvemos mais algumas e deixamos de aprimorar outras. Isso dá a cada

pessoa um perfil particular de inteligências.

Segundo Antunes, estudioso da obra de Gardner: (2003, p.12)

A inteligência é, pois, um fluxo cerebral que nos leva a escolher a melhor opção para solucionar uma dificuldade e que se complementa como uma faculdade para compreender, entre opções, qual a melhor, ela também nos ajuda a resolver problemas ou até mesmo criar produtos válidos para a cultura que nos envolve.

Bamberger (2002, p.38) informa que o ato de ler, em si mesmo, é um

processo mental de vários níveis, que muito contribui para o desenvolvimento

do intelecto. O ato de ler exige grande atividade do cérebro, ao transformar

símbolos gráficos em conceitos intelectuais, colocando um grande número de

células cerebrais em atividade. Ler é a combinação de unidades de

pensamento em sentenças e estruturas maiores de linguagem, constituindo,

concomitantemente, a processo cognitivo e a processo de linguagem. A leitura

contínua é um treinamento cognitivo especial, tornando-se uma forma exemplar

de aprendizagem e um removedor de barreiras educacionais, oferecendo

oportunidades mais justas na área educacional, promovendo o

desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual. Consequentemente

ao fazer com que a criança tenha de maneira sistemática uma boa relação com

a linguagem escrita, não permitindo que os meios eletrônicos ocupem todo o

seu tempo, estaremos promovendo seu desenvolvimento como ser humano,

além de não permitir o seu empobrecimento lingüístico.

Ainda segundo Bamberger (2002, p.09) pesquisas realizadas em Viena,

onde psicólogos descobriram que, devido ao crescimento da tecnologia, que

oferece diversas formas de entretenimento, a aptidão das crianças vienenses

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para a linguagem retrocedeu, ao passo que aumentou seu talento tecnológico.

Do ponto de vista da educação geral isso deve nos inquietar, já que isso

significa que o elemento humanitário e a capacidade de compartilhar uma

experiência estão diminuindo. Se conseguirmos que o jovem tenha uma

experiência positiva com os livros, antes que a tecnologia tome conta dela,

estaremos contribuindo para o seu desenvolvimento como ser humano.

Na mesma página, o autor nos fala que os livros não têm importância

menor hoje do que tiveram no passado e continuam sendo o que sempre

foram: portadores de conhecimento de uma geração para outra. Para os jovens

leitores, os bons livros correspondem às suas necessidades internas de

modelos e idéias, de amor, segurança e convicção. Ajudam a dominar

problemas éticos, morais e sóciopolíticos da vida, auxiliam na formulação de

perguntas e respostas. Para os educadores a leitura é de grande ajuda para

atingir a meta educacional, ajudando os jovens a estabelecer um conceito

global do mundo.

Uma das conclusões fundamentais da pesquisa de Bamberger (2002,

p.13) sobre a leitura é que todo bom leitor é um bom aprendiz, ou seja, um bom

leitor é um bom aluno em qualquer disciplina. Esse fato é importante tanto na

escola quanto na vida, quando precisamos estar preparados para nos

adaptarmos a novas circunstâncias.

Coelho (2003, p.15) nos diz que a verdadeira evolução de um povo se

faz ao nível da mente, ao nível da consciência de mundo que cada um assimila

desde a infância, e que o caminho para se chegar a esse nível é a palavra, ou

melhor, a literatura - "verdadeiro microcosmo da vida real, transfigurada em

arte". A autora (p.16) não tem dúvida sobre o papel da literatura, especialmente

a infanto-juvenil, nesta sociedade em transformação: servir como agente de

formação da consciência de mundo das crianças e dos jovens. “Sendo que

nenhuma outra forma de ler o mundo dos homens é tão eficaz e prazerosa

quanto a literatura”.

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22

CAPÍTULO II

UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A EVOLUÇÃO DO

CONCEITO DE CRIANÇA E DA LITERATURA INFANTIL

A história da literatura infantil é bem recente. De acordo com Cunha

(2002, p. 22), começa a delinear-se no início do século XVIII, a partir do

momento em que a criança deixa de ser vista como um adulto em miniatura,

com necessidades e características próprias. Jean-Jacques Rousseau (Piletti-

p.90) teve forte influência no campo educacional, sendo o primeiro a pensar na

criança como um ser com características próprias e não um mini adulto. Antes

disso, a criança, acompanhava a vida social do adulto e consequentemente,

sua literatura.

Sobre o mesmo tema Zilberman (1967, p.15) discorre:

Antes da constituição deste modelo familiar burguês, inexistia uma consideração especial para com a infância. Essa faixa etária não era percebida como um tempo diferente, nem o mundo da criança como um espaço separado. Pequenos e grandes compartilhavam dos mesmos eventos, porém nenhum laço amoroso especial os aproximava. A nova valorização da infância gerou maior união familiar, mais igualmente os meios de controle do desenvolvimento intelectual da criança e manipulação de suas emoções. Literatura infantil e escola, inventada a primeira e reformada a segunda, são convocadas para cumprir esta missão.

Cunha (2002, p.10) distinguiu dois tipos de crianças, com acesso a uma

literatura muito diferente. A criança da nobreza, orientada por preceptores, lia

geralmente os grandes clássicos, enquanto que a criança das classes menos

favorecidas lia ou ouvia histórias de cavalaria, de aventuras. As lendas e

contos folclóricos formavam uma literatura de cordel de grande interesse das

classes populares.

Cunha (2002, p.23) explica que ao longo dos tempos, surgiram duas

tendências próximas destas já existentes: dos clássicos, fizeram-se

adaptações; do folclore, houve a apropriação dos contos de fadas, até então

quase nunca voltados especificamente para a criança.

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23

Alguns contos como os de Perraut e irmãos Grimm, colecionadores de

histórias folclóricas, teve seus contos republicados e adaptados uma infinidade

de vezes, a tal ponto que hoje tais relatos se apresentam demasiadamente

modificados.

Em cada país, além dessa literatura universal, vão aos poucos surgindo

diferentes obras literárias infantis. No Brasil, a literatura infantil tem início com

obras pedagógicas e sobretudo adaptadas de produções portuguesas,

demonstrando a dependência típica das colônias. Essa fase da literatura infantil

brasileira é representada em especial por Carlos Jansen com, “Contos seletos

das mil e uma noites”, “Robinson Crusoé” e “As viagens de Gulliver a terras

desconhecidas”; Figueiredo Pimentel com “Contos da carochinha”; Coelho Neto

e Olavo Bilac (“Contos pátrios”) e Tales de Andrade com “Saudade”. Ainda

segundo Cunha (2002, p.24), a verdadeira literatura infantil brasileira tem início

com Monteiro Lobato.

Já Coelho (2003, p.30) afirma que os primeiros textos infantis resultaram

da adaptação de textos escritos para adultos, retirando as dificuldades de

linguagem, as reflexões que estariam acima da compreensão das crianças, as

situações não exemplares e realçando o caráter de aventura, a autora define

como misterioso o processo que transformou a literatura em literatura para os

pequenos. Ela chegou a conclusão que em todas essas obras havia a intenção

de passar determinados valores ou padrões a serem respeitados pela

comunidade. A autora atribui a isto o fato da literatura infantil ter sido encarada

pela crítica, até bem pouco tempo, como um gênero secundário, e vista pelo

adulto como um brinquedo, que mantivesse a criança entretida e quieta.

Para Lajolo (2002, p. 23), é fundamental que se entenda que a noção de

criança altera-se com o tempo, ela traduz a historicidade da noção de criança:

a criança da qual falava Rousseau não é a mesma para qual escrevia Perrault; e que esta por sua vez, não é a criança para qual Edmond de Aamicis escreveu Cuore; a qual, a seu turno, é diferente do pimpolho para o qual Collodi escreveu Pinocchio.

Lajolo (2002, p.24) afirma que tanto a criança à qual se destina a

literatura infantil, quanto o jovem ao qual se destina a literatura juvenil são

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construções sociais, já que tais categorias nem sempre existiram.

Lajolo (2002, p.26) esclarece que a construção de criança ocorreu no

século XVIII, na mesma época da Revolução industrial, com o passar do tempo

foi surgindo a construção da imagem do jovem ou adolescente.

Considerar infância e adolescência como construções sociais não

significa, entretanto, que elas não existam, com seus comportamentos, atitudes

e sentimentos.

2.1- A importância da literatura infantil

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil,

Documento Introdutório:

as instituições de educação infantil cumprem hoje, mais do que nunca, um objetivo primordial na formação de crianças que estejam aptas para viver em uma sociedade plural, democrática e em constante mudança (...) Ela deve intervir com intencionalidade educativa de modo eficiente visando a possibilitar uma aprendizagem significativa e favorecer um desenvolvimento pleno, de forma a tornar essas crianças cidadãs numa sociedade democrática.

(MED/SEF, 1998).

Portanto, segundo Blanc (2000), fonoaudióloga e mestre em lingüística,

torna-se necessário estimular cada vez mais o interesse da criança para que,

carregado de significados, o aprendizado não se perca no curso do tempo. "A

criança aprende se desenvolvendo e se desenvolve aprendendo". Ao

relacionar os aspectos envolvidos na aquisição da escrita com a relevância de

oportunidades que a prática de leitura de histórias infantis pode oferecer,

pretende-se expor algumas sugestões práticas que podem ser desenvolvidas

no ambiente escolar, de forma a atenuar as respostas para esse desafio.

Blanc (2000) afirma que contar histórias a uma criança é uma atividade

bastante corriqueira, nas mais diversas culturas do mundo e em várias

situações, tanto no âmbito familiar como no escolar. Como se sabe, essa

prática vem se reproduzindo através dos tempos de maneira quase intuitiva.

Contudo, alguns estudos já demonstraram o importante papel que as histórias

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desempenham nos processos de aquisição e desenvolvimento da linguagem

humana.

As histórias infantis são utilizadas geralmente pelos adultos (sejam pais,

professores ou terapeutas) como forma de entretenimento ou distração; já que,

pelo senso comum, freqüentemente a criança demonstra um interesse especial

por elas, seja qual for a classe social à qual pertença. No entanto, para

Machado (1998 p.10), na ficção a criança encontra não só diversão. Pesquisas

já demonstraram que os pequenos se identificam com algumas personagens

ou situações já vivenciadas por elas, ajudando-as a resolverem seus próprios

problemas.

Especificamente em se tratando da aquisição da leitura e da escrita,

essas histórias podem oferecer muito mais do que o universo de ficção que

desvelam a importância cultural que carregam como transmissoras de valores

sociais. Essa forma de contato com a linguagem escrita, por outro lado,

também oferece, ainda que subliminarmente, informações sobre um dos papéis

funcionais que ela pode desempenhar dentro da comunicação.

Existe uma acentuada diferença entre as histórias contadas e as

histórias lidas para uma criança, já que a linguagem se reveste de qualidade

estética quando escrita, e essa diferença já pode ser percebida por ela.

Bettelheim (1997, p.41) já afirmava que:

ao ouvir histórias, a criança vai construindo seu conhecimento da linguagem escrita, que não se limita ao conhecimento das marcas gráficas a produzir ou a interpretar, mas envolve gênero, estrutura textual, funções, formas e recursos lingüísticos. Ouvindo histórias, a criança aprende pela experiência a satisfação que uma história provoca; aprende a estrutura da história, passando a ter consideração pela unidade e seqüência do texto; associações convencionais que dirigem as nossas expectativas ao ouvir histórias; o papel esperado de um lobo, de um leão, de uma raposa, de um príncipe; delimitadores iniciais e finais ('era uma vez... e viveram felizes para sempre') e estruturas lingüísticas mais elaboradas, típicas da linguagem literária. Aprende pela experiência o som de um texto escrito lido em voz alta.

Do ponto de vista psicológico, podemos refletir sobre o impacto e a

fascinação que as histórias exercem sobre a criança, de qualquer raça, faixa

etária ou inserção social, tanto normal quanto portadora de algum distúrbio (de

origem física, psíquica ou funcional). As histórias são um denominador comum

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a todas as crianças.

Entretanto, Coelho (2003, p. 36) esclarece que, a partir da década de 80,

era da Pós - modernidade, a tecnologia invade nossas vidas, o mundo passa

por muitas transformações e nós dentro dele vivemos as nossas. No setor

educacional houveram debates, propostas e experiências em favor de reformas

educacionais, principalmente no âmbito da Língua e da Literatura, com ênfase

na área da Literatura Infantil, que tem a tarefa de servir como agente de

formação. Segundo a autora, a assimilação da consciência de mundo acontece

desde a infância, sendo que a verdadeira evolução de um povo se faz ao nível

da mente e o caminho para chegar a esse nível é a literatura, "verdadeiro

microcosmo da vida real, transfigurada em arte", atribuindo ao livro a

responsabilidade na formação da consciência de mundo das crianças e dos

jovens, tornando-lhes competentes para pensar, se socializar e ter uma postura

analítica e crítica do mundo.

Juntamente com Coelho (2003, p.42), chegamos à conclusão que

mesmo nessa era de comunicação instantânea, a verdade é que o livro

contínua mais vivo que nunca, ficando claro que "nenhuma outra forma de ler o

mundo dos homens é tão eficaz e rica quanto a que a literatura permite."

Por tudo o que foi dito sobre o importante papel da literatura como

agente formador do sujeito crítico, ela se torna indispensável em nossas

escolas, assumindo um importante papel na formação intelectual, social e

política dos jovens estudantes. Portanto, Lajolo (2002, p.17) destaca a

importância da literatura infanto - juvenil como disciplina a ser incluída no

currículo de formação do professor.

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CAPÍTULO III

O VALOR SOCIAL DAS SALAS DE LEITURA NAS

ESCOLAS MUNICIPAIS

Como sabemos, devido a vários fatores, como a existência de

numerosos pais analfabetos ou semi-analfabetos, famílias dependendo do

trabalho infantil para poder sobreviver, pessoas morando em casas ou sem

espaço ou iluminação adequados para a leitura, o preço do livro inacessível

para a maioria da população, o pequeno número de bibliotecas públicas fora

dos grandes centros e o contato das crianças com adultos (pais e professores)

que, apesar de alfabetizados, não são leitores, é na escola que a maioria das

crianças brasileiras vai ter seu primeiro contato com o livro. Nas camadas

sociais mais baixas, a situação é bastante grave. Crianças pobres só têm

acesso quase que exclusivamente aos livros didáticos, fornecidos

gratuitamente pelas escolas públicas.

Portanto, cresce o valor deste espaço, que oportuniza o encontro das

crianças de famílias de baixa renda, onde a maioria dos pais não dispõe de

poder aquisitivo para adquirir um livro, que tem um papel muito especial na

"construção" do indivíduo e sua visão de mundo.

Oferecer aos futuros leitores um lugar de encontro e descobertas, onde

as crianças têm acesso aos livros, constitui-se em algo de alto valor

pedagógico, indo familiarizar a criança com o mundo da literatura. Na

concepção de Zoltz (1988, p.87), se realmente buscamos construir uma

sociedade justa, onde todos tenham as mesmas oportunidades de crescer

como ser humano, não se pode negar a ninguém, mesmo por omissão, esse

direito.

A biblioteca ou sala de leitura, em se tratando de escolas do município

do Rio de Janeiro, deve cumprir seu dever de agente dinamizador da

informação, fomentando o hábito de ler, provocando e estimulando a escolha

individual de novas leituras e proporcionando aos alunos condições de buscar

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informações, tornando-os competentes para pensar e se socializar,

potencializando as oportunidades de se tornarem cidadãos críticos.

3.1- Salas de leitura segundo a Secretária Municipal de

Educação do Rio de Janeiro

Segundo o Site oficial da Secretaria Municipal de Educação (SME):

A Rede Municipal de Ensino conta com um espaço voltado para a promoção da leitura e a formação de leitores nas escolas, as Salas de Leitura. Os Professores Regentes de Sala de Leitura dinamizam acervos de literatura infantil e juvenil, livros para professores, vídeos, CD-rooms e outras mídias impressas ou digitais, inserindo as diversas práticas leitoras no cotidiano escolar, a partir da compreensão de que o texto, nas suas diferentes possibilidades, é o ponto de partida e de chegada para a formação de leitores críticos, criativos, capazes de ler e escrever sua própria história. Compreendidas no contexto do Projeto Político Pedagógico de cada unidade escolar, a Sala de Leitura busca desenvolver ações integradas à sala de aula, atendendo também a toda a comunidade escolar através de atividades tais como empréstimos dos acervos disponíveis, rodas de leitura, oficinas, encontros com autores e mostras de trabalhos, entre outras. Atualmente, são 30 Salas de Leitura Pólo, que funcionam como estruturas de suporte, com um núcleo de mídia educação (equipamentos para o trabalho com TV, rádio, jornal, fotografia e internet), além de uma equipe de professores multiplicadores de práticas pedagógicas e das orientações para o trabalho oriundas da Divisão de Mídia- Educação, para as demais Salas de Leitura, denominadas Satélites, que totalizam aproximadamente 1004 unidades.

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3.1.1- Salas de leitura polos: CRE Escola Endereço Telefone

Mário Cláudio R: Hadock Lobo,148 25025887 1ª Vicente Licínio R.Edgard Gordilho,61 25165942 México R: Da Matriz, 67 25379187 George Pfisterer Pça N. Sra Auxiliadora, s/n 25125551

22598971

Rep. Argentina Boulevard 28 de Setembro,125 22040664

Rio G. do Sul Rua Adolfo Bergamine, 201 2596-6626 Ceará R: Dona Emília, 161 25965551

George Summer R: Ana Neri, 2028 25816370 Bahia Av. Guilherme Maxwell, 243 25642563 Leonel Azevedo R: Luís Sá, s/n 3393-2550

24624397 Conde de Agrolongo R: Conde de Agrolongo, 1246 25649691

São Paulo R: Tailândia, 160 24851031 Mário de Paulo de Brito R: São Leornado, 51 33611841 França R: P. Manuel da Nóbrega, 725 25965007

Mozart Lago R: José Carvalho Salgado, s/n 2452-2719 33573516

Dr Adão Pereira Nunes Av. Brasil, s/n 3371-2370 6ª Rose Klabin R: Reginópolis, 135 2450-3777

359-1205 25 de Abril R: Mamoré, 78 3392-3975

24253998 Carlos D. de Andrade R: Candido Benício, s/n 3350-0666 Com. Vargem Grande R: Manhuaçu, s/nº 2428-2070

Tristão de Athayde R: Bráulio E. Muller, 405 2438-2392 2438-2773

Rubem Berta R: do Magistrado s/n 3331-3174 3325-5970 3332-5970

Rosa da Fonseca Pça Mal Hermes, 30 2457-4318

Presidente Médici R: Tibagi, 316 3331-2609 Gastão Penalva R: Profº Almerinda Castro, 191 2411-3405

2411-3402 Gilberto Bento da Silva R: Francisco Mota, 850 3394-4233

Alte Saldanha da Gama Av. Cesário de Melo, 4180 2413-4775 3394-6742

Gandhi R: 15, s/n0 2413-6507 Mal. Pedro Cavalcanti R: Porto Firme, s/n 2409-7338

10ª

Bertha Lutz R: Gabriel M. Machado, s/n 2417-2121

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3.2- Resultados da pesquisa

A pesquisa de campo realizada nas salas de leitura de nove escolas do

município do Rio de Janeiro, sobre o incentivo ao hábito da leitura, mais

precisamente sobre o trabalho realizado nas salas de leitura, é muito

importante nos dias atuais, pois sabemos que para a formação de um leitor

competente é preciso criar o hábito e promover a prática social relacionada

com essa atividade desde a mais tenra idade.

100% dos entrevistados são do sexo feminino. Sete possuem o 3º grau,

sendo que cinco cursaram Pedagogia e duas o curso de Letras. O tempo em

que lecionam profissionalmente varia de 12 anos a 28 anos. Todas afirmam já

terem uma afinidade com os livros antes de serem indicadas para serem

professoras regentes da sala de leitura. Seis delas atribuíram a este fato à sua

indicação para tal cargo.

Todas as educadoras entrevistadas afirmam não terem feito nenhum

curso específico para assumir a função, entretanto há reuniões periódicas, cuja

finalidade é ensinar a utilizar e conservar o acervo. Entretanto, observamos

uma paixão maior pelo trabalho exercido, em algumas professoras do que em

outras.

O acervo das salas, de acordo com todas as entrevistadas e confirmado

por nós, é bastante diversificado, composto de livros de literatura infantil e

infanto juvenil, de artes, filosofia, religião, educação, biografias, livros didáticos,

literatura brasileira e estrangeira, enciclopédias, jornais, revistas e revistas em

quadrinhos.

Além de livros, as salas são equipadas com: televisão, videocassete,

aparelho de som, fitas cassetes, cds, cd-rom, jogos, mapas. Apenas uma sala

não possuiu estes equipamentos, devido à falta de segurança, pois se encontra

em um anexo um pouco afastado da escola e suas paredes são de vidro. O

computador foi citado três vezes como um item importante que falta para

compor o espaço.

Das nove escolas pesquisadas, duas estão sem professor de sala de

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leitura. E em uma, a professora esta substituindo uma outra de licença, em

outras duas as professoras alegam terem assumido recentemente, estando em

fase de reestruturação.

Portanto, apenas quatro salas mantêm o livro tombo atualizado: uma

possui 5.128 livros, na segunda são 4.065 livros catalogados, a terceira 3.927

livros e a quarta tem 1.943 livros catalogados em seu livro tombo. Os livros que

compõe os acervos, em sua maioria, são fornecidos pela SME e alguns foram

comprados pela escola com verbas do Governo Federal, na Bienal do Livro ou

no Salão do Livro. Das duas professoras que assumiram o cargo há pouco

tempo, uma ainda não viu o livro tombo e a outra diz que, por não haver

responsável pelo espaço há muito tempo, o livro tombo está totalmente

desatualizado. E nas três últimas salas pesquisadas as coordenadoras

pedagógicas estão realizando esta tarefa na “medida do possível”, apesar do

grande volume de livros que falta ser catalogado.

Não existem dados sobre o perfil do leitor, no entanto duas professoras

notaram que as 3ª e 4ª séries demonstram um interesse maior, enquanto

outras duas afirmam ser a Educação Infantil a demonstrar um interesse maior.

Os livros mais procurados pelos alunos são os contos de fada para os alunos

da educação infantil e as histórias de aventura e de bruxas para as séries

iniciais do 1º segmento do ensino fundamental.

Quanto ao objetivo do espaço, todas concordam ser o de criar o hábito e

o gosto pela leitura. No entanto podemos observar que das quatro salas de

leitura atuantes, só três desenvolvem projetos próprios, promovendo atividades

variadas que proporcionam o despertar do interesse pelos livros, criando o

hábito, e consequentemente formando novos leitores.

São exemplos de alguns projetos de sucesso: o "Bolsa Literária", no

qual os livros são colocados em uma sacola de plástico ou tecido que é

enfeitada com motivos literários e levados para casa, juntamente com uma

ficha que deverá ser preenchida pelos pais, contendo suas impressões sobre

os livros que deverão ser lidos junto com os filhos. Este projeto está em seu

segundo ano e, após alguma resistência por parte dos pais, tem alcançado

êxito, promovendo o encontro com os livros não só nos alunos, mas também

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em seus familiares.

Outro projeto de sucesso foi realizado nesta mesma escola e vem

rendendo frutos ate hoje: toda a escola trabalhou os livros da escritora infantil

Sônia Rosa. Foram desenvolvidas pela escola várias atividades envolvendo

sua obra e como culminância do projeto a autora foi convidada a comparecer

na instituição escolar, onde teve a oportunidade de assistir as apresentações

das crianças que dramatizaram algumas de suas obras. O êxito foi total.

Ainda nesta mesma escola encontramos outros projetos como "Correio

Poético", que incentiva não só a leitura de poesias mas também a escrita.

Para os alunos da educação infantil e do ciclo (composto pelas turmas da

classe de alfabetização, 1ª e 2ª séries) existe "A Hora do Conto", que exige

toda uma dramatização com utilização de fantoches ou não, despertando

rapidamente o interesse pelo conto.

Em uma segunda unidade escolar, percebemos a satisfação da

educadora ao afirmar que conseguiu implantar o hábito da leitura, utilizando

várias estratégias, entre elas uma denominada "O Clube do Leitor", que premia

com livros no final do ano os leitores mais assíduos. Na terceira escola

pesquisada há o projeto “Grandes Autores”, que trabalha em consonância com

o PPP da escola, onde cada turma desenvolve atividades relacionadas a um

autor.

A responsável pela quarta e última sala em funcionamento analisada,

tem algumas funções diferenciadas, se envolvendo ativamente e quase que

exclusivamente com o Projeto Político Pedagógico da unidade escolar,

promovendo uma série de atividades que proporcionem adequar o acervo da

sala de leitura ao PPP ou utilizando o espaço para aulas de reforço. A

educadora responsável pela sala de leitura ainda auxilia a equipe de

coordenação pedagógica na elaboração e desenvolvimento dos projetos

desenvolvidos pela escola. Desviando-se, assim, do objetivo maior, que é

incentivar o hábito da leitura contribuindo na formação de jovens leitores.

Quanto ao horário de funcionamento do referido espaço, nos foi

informado que as educadoras se encontram na escola de 2ª à 6ª feira, porém

em horários alternados, prestigiando os dois turnos.

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Observamos que o empréstimo de livros é uma atividade constante nas

quatro salas atuantes, acontecendo semanalmente de forma organizada. Nas

outras cinco, o empréstimo acontece esporadicamente de acordo com o

esforço das professoras de turma e da coordenação. Sendo usado como

estratégia deixar alguns livros em sala de aula para que os alunos possam ler.

Só duas escolas têm o hábito de emprestar livros à comunidade, enquanto nas

sete restantes o empréstimo fica restrito aos alunos e educadores da unidade

escolar.

Todas dizem que há um interesse espontâneo por parte dos alunos pela

literatura. Segundo elas, todas as crianças adoram ouvir histórias, ler os livros,

e mesmo as que não foram ainda alfabetizadas, gostam de folhear e olhar as

figuras dos livros.

As salas de leitura não ficam isoladas do resto da escola. Há o

envolvimento com outros educadores, o acervo é colocado à disposição como

subsídio aos temas a serem trabalhados na sala de aula.

Seis entre as nove salas de leitura não têm o espaço físico adequado, já

que na maioria das vezes não foram projetadas com esta finalidade. Das três

salas que possuem o espaço físico ideal para o seu bom funcionamento, uma

encontra-se em um CIEP, que segundo a sua responsável "é maravilhosa". Foi

projetada com esta finalidade, sendo bem grande e afastada do barulho do

resto da escola. Mas não longe o suficiente para dificultar o acesso dos alunos.

Suas paredes são de vidro, proporcionando um ambiente claro e convidativo.

Em evidente contraste em outra unidade escolar, podemos ver uma sala de

leitura que funciona em um antigo depósito, um lugar escuro e muito pequeno,

com mais ou menos, dois metros de largura por três de comprimento, só

havendo espaço para uma mesinha com quatro cadeiras e algumas estantes

onde os livros ficam amontoados.

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CONCLUSÕES

Concluímos que a literatura é essencial para a formação das pessoas.

Que falar de literatura exprime fantasiar, dar asas a imaginação, ao mesmo

tempo em que nos aproxima da realidade. Ler estimula a inteligência.

Literatura é sinônimo de enriquecimento lingüistico. Significa possibilitar a

contextualização de conflitos, ter subsídios para criticar, duvidar. Enfim deixar

de ser "vaquinha de presépio".

Sabendo de tudo isso, nos perguntamos o que falta para encararmos o

desafio de seduzir a criança para a leitura. Sabendo ser este o principal

objetivo das salas de leitura, perguntamos por que não existem cursos de

capacitação para os educadores que atuam neste espaço, visando

instrumentá-los para desenvolvimento do seu trabalho? Os únicos cursos

oferecidos pela Secretaria Municipal de Educação têm como objetivo

demonstrar como inventariar, catalogar e conservar o acervo, quando na

verdade os cursos e palestras deveriam ter como objetivo capacitar o educador

informando a respeito de uma nova perspectiva na formação do leitor.

Um exemplo disto é a falta de elementos que possam identificar o perfil

dos alunos usuários deste espaço. As educadoras não possuem o hábito (por

falta de tempo ou por não saber de sua importância) de fazer anotações

coletando dados sobre a quem se empresta mais livros, que tipo de livros são

mais freqüentemente emprestados ou se há diferença entre meninos e

meninas, delineando assim o perfil deste leitor, dando prioridade ao leitor e

abordando a literatura como fonte de uma leitura prazerosa.

Podemos constatar que os acervos são bem diversificados, com um

grande número de livros, tornando-se um grande atrativo para as crianças,

porém sozinhos, esquecidos dentro de armários ou entulhados uns sobre os

outros em estantes, não formam leitores. É preciso que o aceso a esses livros

seja disponibilizado. Uma educadora se confessou triste ao ver os livros dentro

do armário por não haver espaço disponível para sua exposição, ela tem o seu

trabalho aumentado por precisar mudar o material exposto de acordo com as

turmas que vêm visitar a Sala. Daí a grande importância do espaço físico,

sendo esta a maior queixa das entrevistadas.

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Apesar do farto acervo à disposição das crianças, será que elas por livre

e espontânea vontade vão até a Sala ler esses livros sem que sejam

estimuladas a realizar tal tarefa? As educadoras afirmaram que há o interesse

espontâneo das crianças pelos livros e histórias contadas. Mas será que este

interesse sozinho é suficiente para plantar nas crianças a semente do interesse

pela literatura? Acreditamos que na maioria dos casos a resposta é negativa.

Por esta razão enaltecemos os projetos elaborados por algumas

educadoras de sala de leitura. Há alguns projetos que nos chamaram muito a

atenção, como, por exemplo, um intitulado "Bolsa Literária" que envolve a

família do aluno, entendendo que ela, a família, tem grande responsabilidade

na formação do gosto pela leitura em seus filhos, pois sabemos que grande

parte do conhecimento humano ocorre através da observação do

comportamento de outras pessoas. Conclui-se, então, que o exemplo é o meio

mais eficaz de influência comportamental. Vimos que se houver o estímulo

desde cedo (não só pela escola, mas também pela família) o gosto da leitura

estará plantado e pronto para se tornar realidade. Sendo que a escola entra

como parceira criando oportunidades. Outro projeto interessante é o de levar

as crianças a entrarem em contato direto com os autores dos livros, pois as

crianças, na maioria das vezes, sentem-se muito distantes do texto. Isto talvez

ocorra porque acreditam que o autor de um livro é alguém extremamente

especial, com uma inteligência inigualável. Notou-se que ao levar as crianças a

entrarem em contato com a autora dos livros que estavam lendo, fez-se com

que elas percebessem que os autores de livros são pessoas comuns, como

elas. Segundo a professora da sala de Leitura após a visita da autora de livros

infantis Sônia Rosa, houve um interesse maciço dos alunos por suas obras.

Assim, percebe-se, visivelmente, o importante papel do educador nesse

processo de despertar o gosto pela leitura, ao criar estratégias cujo objetivo

seja auxiliar os alunos a encontrarem o prazer no ato de ler.

Em outra unidade escolar pesquisada, a professora da sala de leitura se

envolve ativamente com o projeto político pedagógico e outros projetos da

escola, promovendo uma série de atividades que se utilizam de variadas fontes

e recursos de mídia. Não acreditamos que este procedimento esteja incorreto,

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no entanto, não se pode esquecer o objetivo principal da sala de leitura, que é

formar leitores.

Concluímos que hoje, de um modo geral, existe um envolvimento maior

por parte de educadores e órgãos governamentais com relação à formação de

leitores. Apesar disto, não há fórmulas capazes de resolver o problema a curto

prazo. No entanto, falta um empenho maior por parte dos órgãos educacionais

do município do Rio de Janeiro, com a intenção de viabilizar o bom

funcionamento das salas de leitura, disponibilizando pessoal para trabalhar em

espaços físicos condizentes com o objetivo do trabalho, com o oferecimento de

cursos de capacitação, permitindo que o espaço seja devidamente aproveitado

como um meio para circulação de cultura e para o incentivo da leitura.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2002.

BLANC, Vera Lúcia. Histórias Infantis e a Aquisição da Escrita. 2000. São

Paulo em perspectiva.

BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fada.. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1997.

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Paulo: Moderna, 2003.

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Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

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GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. São Paulo: Cortez. 1994.

GARDNER, Inteligências Múltiplas-A teoria na Prática. Porto Alegre. Artes

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JOLIBERT, Josette. Formando Crianças Leitoras. São Paulo: Moderna, 1994.

LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo. São Paulo:

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MACHADO, Ana Maria. Contracorrente - Conversas Sobre Leitura e política.

São Paulo: Ática, 2001.

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estímulo à Leitura. São Paulo: Ática, 1998.

MOREIRA, M. A. Ensino e Aprendizagem. São Paulo: Moraes, 1985.

PIAGET, Jean. O Nascimento da Inteligência na Criança. Rio de Janeiro: Zoar,

1970.

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PILETTI, Nelson Piletti e Claudino Pileti. História da Educação. São Paulo:

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O que é pisa? Jornal do Professor. São Paulo: Moderna, 2002. P. 2.

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SILVA, Ezequiel Teodoro. A Produção da Leitura na Escola - Pesquisas x

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ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global, 1985.

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ÍNDICE

RESUMO.............................................................................................................6

METODOLOGIA .................................................................................................7

SUMÁRIO ...........................................................................................................9

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10

CAPÍTULO I - O Hábito de ler...........................................................................12

1.1 – O papel da escola na formação do jovem leitor ..................................... 15

1.2 – A família e a formação do hábito da leitura............................................. 17

1.3 – O hábito de ler e o desenvolvimento cognitivo....................................... 18

CAPÍTULO II -Um breve histórico sobre a evolução do conceito de infância

e da literatura infantil ........................................................................................21

2.1 –A importância da literatura infantil..............................................................23

CAPÍTULO III – O valor social das salas de leitura das escolas municipais.....26

3.1 – Salas de leitura segundo a Secretaria Municipal de Educação do Rio de

Janeiro...............................................................................................................27

3.1.1 Salas de leitura pólo................................................................................28

3.2 – Resultados da pesquisa........................................................................... 29

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.......................................................................36

ÍNDICE.............................................................................................................. 38

ANEXO........................................................................................................... 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................47

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ANEXOS

ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1: Autorização

Anexo 2 Entrevistas; Anexo 3: Reportagens; Anexo 4: Atividades Culturais

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Anexo 1

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Anexo 2

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Anexo 3

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Anexo 4

Atividades Culturais

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PSICOPEDAGOGIA

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DAS SALAS DE

LEITURA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

Autor: Sheila Rosa Paiva do Valle

Data da entrega: ___ / 07 / 2005

Avaliado por: Conceito:

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