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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU MARKETING ESTUDO DE CASO: MIX DE MARKETING DO LINUX Marcos André dos Santos Freitas RIO DE JANEIRO FEVEREIRO DE 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDESPÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU

MARKETING

ESTUDO DE CASO:MIX DE MARKETING DO LINUX

Marcos André dos Santos Freitas

RIO DE JANEIROFEVEREIRO DE 2003

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Marcos André dos Santos Freitas

ESTUDO DE CASO:MIX DE MARKETING DO LINUX

Trabalho apresentado como exigênciafinal do curso de Pós graduação “LatoSensu" em Marketing.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDESRIO DE JANEIRO

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Este trabalho é dedicado aos meus pais.Obrigado por terem me proporcionado oprazer de ser criado por vocês. E a Renata.Por fazer minha vida mais feliz.

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Agradecimentos

A meu sogro por me orientar na elaboraçãodo projeto.A Marcus Vinicius por me fazer "serguir ocoelho branco".A Andre Luis por fazer parte da caminhada.

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O mundo não será dos mais fortes nem dosmais inteligentes, e sim dos que melhor seadaptarem as novas mudanças.

Charles Darwin

Nem tudo que se enfrenta pode sermodificado. Mas nada pode ser modificadoaté que seja enfrentado.

James Baldwin

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SUMÁRIO

1. Introdução......................................................................62. Administração de marketing..........................................73. Mix de marketing...........................................................93.1. Análise do mix de marketing – produto....................103.2. Análise do mix de marketing – preço........................113.3. Análise do mix de marketing – praça........................123.4. Análise do mix marketing – promoção......................144. Linux.............................................................................174.1. Nascimento do Linux – produto.................................184.2. Licenciamento do Linux – preço................................224.3. Distribuição do Linux – praça....................................254.4. Divulgação do Linux – promoção..............................324.5. Dados do mercado Linux...........................................365. Conclusão.....................................................................38Referência Bibliográfica....................................................40

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1Introdução

Vivemos em uma era capitalista, onde os maiores valores medidos em um homem são osseus bens e a sua posição hierárquica dentro do seu trabalho. O caminho para se chegar aesses objetivos são agressivos.

Estamos vivendo uma era de negócios. Negotium em latim, significa ausência de lazer etripalium, palavra que deu origem a trabalho, era um aparelho de tortura. Trabalho e lazer,são palavras que, juntas não combinam com o cenário capitalista atual, onde o objetivo maioré se obter mais riquezas e mais lucros, deixando de lado o lazer, vivendo em constantelabuta.

Para atingir os lucros por meio do trabalho, existe um conjunto de regras a serem seguidaspara que os objetivos sejam alcançados. O conjunto de regras, ou lições de sucesso emnegócios, cria uma ciência capaz de estudar o comportamento do mercado e suascaracterísticas com os consumidores ou clientes. A essa ciência dá-se o nome de marketing.

O objetivo do Marketing, é a obtenção de mais clientes e aumento dos lucros. Esta é adefinição dos estudiosos de marketing sobre o seu objetivo principal. Segundo esesestudiosos, todos os produtos ou serviços para serem bem sucedidos, necessitam de umaestratégia de marketing.

Um conjunto de regras básicas do marketing, chamada de "administração de marketing", aqual destaca-se o "mix de marketing", também conhecido como "quatro Ps", demonstra comoo mercado espera que um produto ou serviço comporte-se no cenário capitalista.

Enquanto isso, um jovem de 21 anos sentado em frente a um computador em Helsinque, naFinlândia, digita uma mensagem para um grupo de discussão na Internet, sobre um sistemaoperacional livre que ele estaria criando, segundo ele somente por diversão. O nome dorapaz era Linus Torvalds, e o que ele lançou ao mundo naquela noite transformaria todo opanorama do uso de computadores. Desde criança, Torvalds tinha como ídolo AlbertEinstein, a personificação do grande cientista comprometido em compartilhar suas idéiascom a humanidade. Assim ele lançou o seu sistema operacional batizado de "Linux".

Hoje o Linux possui a colaboração de empresas como NASA, Intel, IBM, e é utilizado pelaOTAN, Governos do México, Estados Unidos, China, França, Brasil e vários outros países,e apresenta um desafio crescente ao domínio da Microsoft.

Este trabalho visa a demonstração de como o Linux foi criado, desenvolvido, distribuído edivulgado, utilizando como analogia o "mix de marketing" ou "quatro Ps" de marketing.

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2Administração de marketing

Marketing, palavra que deriva de market (mercado) ao longo dos tempos cada vez mais temo seu significado evoluído. Uma das primeiras definições utilizadas foi a de que Marketingera um conjunto de instrumentos que contribuíam para aumentar a produtividade e arentabilidade das empresas. Mas hoje possui um espectro mais amplo de atuação, buscandoa realização de trocas no meio ambiente visando os objetivos da organização e a conquistare manter clientes, conciliando suas necessidades com as da empresa.

Segundo Kotler1, marketing é a tarefa assumida pelos gerentes, de avaliar necessidades,medir sua extensão e intensidade e determinar se existem oportunidades para lucros. Após avenda, o marketing continua por toda a vida do produto tentando encontrar novos clientes,melhorando o poder de atração e o desempenho do produto. O objetivo dos profissionais demarketing é descobrir necessidades dos clientes e tentar atendê-las.

O proceso de administração do marketing é dividido em cinco estágios:

• Pesquisa de mercado

• Segmentação

• Mix de marketing (quatro Ps)2

• Implementação

• Controle

A pesquisa de mercado pode ser definida como o processo pelo qual a empresa descobreoportunidades e prepara estimativas de viabilidade de venda do produto ou serviço. Apesquisa é realizada para o reconhecimento de que, pessoas diferem em suasnecessidades, percepções e preferências e querem coisas diferentes, portanto um produtoou serviço não pode ser desenvolvido sem que aja um levantamento desses dados. Sem apesquisa de mercado, as necessidades não podem ser mensuradas ou quantificadas e oproduto ou solução certa não poderão ser avaliados.

A segmentação separa quais pessoas vão ser atendidas por esse produto ou serviço e paraquem ele deve ser vendido. Ou seja, é a separação do público-alvo de acordo com as suaspreferências, faixa etária, poder aquisitivo, localização geográfica e outros fatores resultantesde uma estatística realizada na pesquisa de mercado.

Os quatro Ps fornecem a visão de como será o produto, sua embalagem, tamanho, nome damarca, serviços ofertados e garantias. O preço do produto determina a política de preços e

1 Professor de marketing internacional da Kellogg Graduate School of Management, autor e co-autor de 15 livros.2 Produto, preço, praça, promoção.

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as condições de pagamento. A praça determina onde o produto ou serviço deve estardisponível aos consumidores e a promoção é o meio de comunicar e promover os produtosou serviços ao mercado segmentado.

Implementação é o processo realizado após o mix de marketing estar definido, ou seja é afase de ação e colocação em prática do que foi levantado anteriormente.

Controle é a etapa final onde se avaliam os resultados e efetuam correções referentes aodesempenho. Uma organização que não esteja alcançando suas metas projetadas podedescobrir que a falha esteja em um dos quatro Ps ou até mesmo na segmentação e definiçãodo público-alvo ou na pesquisa de mercado.

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3Mix de marketing

O mix de marketing foi proposto pelo professor Jerome McCarthy3 no início da década de 60e consiste em quatro Ps: produto, preço, praça e promoção. Cada P por sua vez, abrangevárias atividades como visto na figura 1.

Figura 3.1. Mix de marketingMix de marketing

Produto Preço Praça PromoçãoVariedade Preço nominal Canais Promoção de vendasQualidade Descontos Cobertura PropagandaCaracterísticas Concessões Variedade Força de vendasNome da marca Prazo para pagamento Estoque Relações públicasGarantia Crédito Transporte Marketing direto

Assim como os economistas usam dois conceitos centrais para sua estrutura de análise,demanda e oferta, o profissional de marketing vê os quatro Ps como base para o seuplanejamento de marketing. O conceito de quatro Ps vê o mercado do ponto de vista dovendedor, e não do comprador. Um comprador ao avaliar um produto ou serviço, pode nãovê-lo da mesma maneira que o vendedor. Os quatro Ps podem ser descritos do ponto devista do comprador, como quatro Cs.4 comparados aos quatro Ps conforme figura 2.

Figura 3.2. Quatro Ps versus quatro Cs.Quatro Ps Quatro CsProduto ClientePreço CustoPraça ConveniênciaPromoção Comunicação

Na visão do consumidor, o produto corresponde às suas necessidades e aos seus desejos; opreço representa quanto o produto custa para ele, ou seja, quanto terá que gastar paraadquiri-lo. A boa distribuição é a possibilidade do cliente encontrar o produto em qualquerlugar. E a promoção é apresentar o produto ou serviço para os consumidores.

Enquanto os profissionais de marketing se vêem como vendedores, os clientes se vêemcomo compradores de um valor ou da solução de um problema. Os consumidores desejamos produtos adequados as suas necessidades, com o menor preço, o mais disponívelpossível e não desejam uma comunicação por meio de promoções, desejam uma via demão-dupla, onde eles possam criticar ou sugerir novas mudanças ao produto ou serviço sem

3 Professor da Michigan State University4 Robert Lautenborn. “New marketing litany:4 Ps passé; C-words take over”, Advertising Age, 1 de outubro de 1990,

p.26.

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esperar por uma pesquisa de mercado para poder fazê-lo.3.1Análise do mix de marketing – Produto

A base de qualquer negócio é um produto ou serviço. Uma empresa tem por objetivooferecer algo de maneira diferente e melhor, para que o mercado venha a preferí-lo. Odesafio dos profissionais de marketing está em criar uma diferenciação relevante que podese basear em:

• Diferenças físicas, características, desempenho, adequação, durabilidade, embalagem,etc.

• Diferenças de disponibilidade, serviços de entrega, disponível nas lojas, encomendávelpor fax, telefone ou Internet.

• Diferenças de serviços, entrega, instalação, treinamento, consultoria, manutenção egarantia.

• Diferenças de preços.

• Diferenças de imagem, símbolos, eventos ou meios usados.

Dois diferenciais físicos eficazes são as características e o design. Novas característicasproporcionam uma forma rápida e visível de demonstrar um benefício a mais, além disso,muitas características novas podem ser protegidas por patentes. O design pode diferenciarvisivelmente um produto ou embalagem. Embora um concorrente possa copiar o design, opioneiro desfrutará no mínimo de uma liderança de curto prazo.

Qualquer diferenciação bem sucedida tenderá a atrair imitadores. Quando esses lançamnovas versões dos produtos, frequentemente a um preço mais baixo, exercem pressão sobreo pioneiro, que tem três alternativas:

• Baixar os preços para proteger sua participaçãode mercado e se conformar com lucrosmenores.

• Manter o preço e perder uma certa participação do mercado e lucros.

• Encontrar uma nova base para diferenciar seu produto e manter o preço.

Os consumidores buscam um produto ou serviço por diferentes níveis de necessidade. Cadabenefício agregado é visto como um nível do produto ou serviço, e a estratégia de vendasdependerá de qual nível de produto o cliente está buscando.

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Figura 3.3. Níveis de um produto.

Produto potencial

Produto ampliado

Produto esperado

Produto genérico

Benefício núcleo

Tomando como base um curso de Pós graduação, o benefício núcleo é o benefícofundamental que o consumidor está realmente comprando em um curso de Pós graduação: oconhecimento. Em segundo lugar, o consumidor busca o produto genérico, a versão básicado produto, que poderia ser um prédio com salas de aula. O produto esperado seria oconjunto de atributos e condições que os compradores esperam: salas limpas, iluminação ecadeiras em bom estado. O produto ampliado corresponde aos benefícios adicionais, quedistinguem a oferta da empresa da oferta dos concorrentes. Por exemplo, salas com ar-condicionado, classes com poucos alunos e professores com alto nível de instrução. Porúltimo o produto potencial indica as transformações que o produto deveria sofrer no futuro:substituição das aulas normais por aulas em videoconferência e na Internet, workshops eatividades no mercado.

3.2Análise do mix de marketing – Preço

O preço representa custo monetário do produto, a quantidade de dinheiro que osconsumidores têm de pagar para adquiri-lo. Para o profissional de vendas, o preço permiteexpressar o valor do produto e gerar receita. Já para o consumidor, o preço é um padrão demedida usado para julgar o valor e potencial de satisfação.

Entretanto, o preço não é o único custo incorrido pelo consumidor. Há outros custosembutidos no valor do produto, como oportunidade, conveniência e risco. O preço deve sersempre baseado em critérios de lucratividade atual ou futura e no retorno sobre oinvestimento. O preço de um produto novo a ser lançado no mercado é dos fatores maisdifíceis de se calcular, pois não se tem base de comparação com a concorrência. Além dissoo preço estipulado pela empresa servirá de referência para os futuros concorrentes.

Os profissionais de marketing tendem a dar grande importância ao preço que faz parte domix de marketing, pois uma variação pode tanto inibir como estimular as vendas. Nemsempre uma redução nos preços é positiva, dependendo do caso, ela pode prejudicar aimagem e o prestígio do produto, enfurecer os consumidores que pagaram mais caro e nãoser economicamente viável ( o custo é maior do que o preço cobrado).

O preço difere dos três outros elementos do mix de marketing no sentido em que gerareceita; os demais geram custos. Consequentemente as empresas tentam arduamente

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elevar os seus preços até onde o nível de diferenciação permite. Ao mesmo tempo,reconhecem que devem levar em conta o impacto do preço sobre o volume. A empresaprocura o nível de receita (preço versus volume) que uma vez subtraídos os custos, resulteem lucros mais elevados.

As empresas tentam estimar o impacto sobre os lucros de um preço mais alto. Se os preçosde alguns produtos fossem acrescidos de mais um dólar por unidade, seus lucrosaumentariam em alguns milhões de dólares presumindo-se que o volume mantenha-seconstante.5

Figura 3.4. Crescimento nos lucrosEmpresa Crescimento nos lucrosCoca-cola 6,4%Fuji Photo 16,7%Nestlé 17,5%Ford 26,0%Philips 28,7%

Ao definir seus preços, muitas empresas acrescentam um markup a seus custos estimados.A essa prática dá-se o nome de definição de preço baseada em custo. Na área de serviços,as consultorias fixam seus valores/hora em duas vezes o que lhes custa o tempo, devido aoraciocínio de que isso lhes cobrirá todos os custo e lhes garantirá uma margem de lucroatraente. Outras empresas praticam a definição de preço baseada em valor. Elas estimam ovalor máximo que o cliente pagaria pelo produto ou serviço. Não cobram esse valor, pois ocomprador poderia resistir à compra, mas um pouco menos para deixar o cliente com umavantagem de consumidor. O profissional de marketing espera que os seus custos sejam bemmenores que o preço de valor, caso em que o vendedor aufere um bom lucro. Se os custosdesse vendedor fossem próximos ou excedessem o preço de valor, o vendedorprovavelmente jamais ofereceria tal produto ou serviço. O preço baseado em valor aparecetambém em exemplos práticos como o pagamento mais caro por lugares privilegiados naplatéia de um teatro, nos cinemas, que custam mais aos sábados do que nos dias desemana e o pagamentos mais caros por serviços de médicos e consultores mais experientes.

Profissionais de marketing inteligentes acrescentam a seus produtos benefícios adicionais eatribuem preço a oferta como um todo. Podem criar diversos pacotes e dar ao cliente aopção da escolha. Contudo a empresa deseja motivar o cliente a optar pelo pacote completo.Isso é realizado oferecendo ao cliente um preço total pela oferta do que ele pagaria secomprasse todos os itens separadamente. Um banco, por exemplo, mantém tabelas depreços diferentes para cada produto, O banco em um esforço de vender vários serviços,podeoferecer um preço especial se o cliente adquirir o pacote completo de serviços. Os bancoschamam essa prática de preços de relacionamento.

5 Robert J. Dolan. “Power pricing policies”, palestra na Harvard Business School, em 17 de junho de 1997.

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3.3Análise do mix de marketing – Praça

A palavra praça pode assumir dois sentidos. O primeiro está diretamente ligado aoplanejamento de marketing, ou seja, qual é a melhor forma para que o consumidor tenhaacesso aos produtos e serviços da empresa. A segunda diz respeito a movimentação earmazenagem de cargas dentro de uma empresa e envolve decisões do tipo: qual a melhorforma de movimentar estoques; qual é o transporte mais adequado para fazer asmercadorias chegarem ao seu destino e qual a melhor forma de operacionalizar essesfatores. Ao conjunto dessas atividades que estejam envolvidas com a movimentação deprodutos e serviços dá-se o nome de logística.

Cada fornecedor deve decidir como tornar suas mercadorias disponíveis ao mercado-alvo.As duas escolhas são vender os bens diretamente ou vendê-los por meios de intermediários,a essa prática dá-se o nome de canais de distrbuição.

No mercado consumidor, está havendo uma intensa batalha entre varejistas (pequenosvarejistas versus grandes varejistas). Além disso, uma outra disputa está surgindo entrecompras feitas de casa e compras feitas na loja. Os consumidores, hoje, conseguemcomprar uma variedade maior de mercadorias a partir de sua própria casa, em vez de tirar ocarro da garagem e enfrentar o trânsito. Hoje os consumidores podem comprar sem sair decasa através dos seguintes canais:

• Catálogo.

• Mala direta.

• Ofertas em revistas, jornais e rádios.

• Programas de compra pela TV.

• Telemarketing.

• Internet.

Quanto mais as pessoas se vêem pressionadas pelo tempo, maior a tendência deaumentarem as compras feitas de casa, em detrimento daquelas feitas na loja.

A maioria dos fabricantes de microcomputadores norte-americanos, como a IBM, a Hewlett-Packard e a Compaq, vende seus Pcs6 através de varejistas. Isso lhes proporciona umarápida distribuição em todo o território norte-americano a um custo mais baixo do que sevendessem sozinhos. Michael Dell7 reconheceu que um número substancial deconsumidores potenciais estariam dispostos a comprar seus computadores pelo telefone,

6 Personal Computer.7 Fundador da Dell Computer.

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sem contato pessoal com o vendedor. A Dell Computer aumentou a sua participação demercado em uma proporção tal que os fabricantes que dependiam exclusivamente devarejistas foram forçados a repensar a sua estratégia de distribuição. A Compaq, a IBM eoutras empresas do ramo foram remodelando o seu canal de distribuição e passaram arealizar uma estratégia conhecida como distribuição dual, pela qual vendem tanto através devarejistas como diretamente.

A distribuição apresenta vários desafios. As empresas reconhecem que suas escolhas dedistribuição estabelecem um compromisso longo com o qual terão que conviver mesmo seaparecerem canais novos e mais atraentes. Por exemplo, fabricantes de automóveistradicionalmente vendem seus carros por concessionárias. Contudo, as pessoas relatammuitas experiências desagradáveis na compra de um carro pelos vendedores quepressionam a compra de maneira grosseira, usando mentiras e outros artifícios. Um númerocada vez maior de compradores pode querer comprar automóveis de maneira diferente,talvez em lojas operadas pelo próprio fabricante, em lojas que ofereçam várias marcas oupela Internet. Mas os fabricantes, ante os seus contratos com as concessionárias, sofremrestrições quanto a suas escolhas de outros canais de distribuição.

3.4Análise do mix de marketing – Promoção

Promoção refere-se a informar, persuadir e influenciar as pessoas na escolha de produtos,conceitos ou idéias. O composto promocional envolve propaganda, promoção de venda.

Propaganda é a técnica de criar opinião pública favorável a determinado produto, serviço,instituição ou idéia, visando orientar o comportamento humano das massas num determinadosentido.8

A propaganda é a ferramenta mais poderosa para promover a conscientização das pessoassobre uma empresa, um produto, um serviço ou uma idéia. Em termos de custo por milhar depessoas atingidas, a propaganda dificilmente é superada. Se os anúncios forem criativos,uma campanha publicitária pode construir a imagem da marca e até possibilitar suaaceitação, se não um certo grau de preferência.

Podemos destacar cinco tipos diferentes de ferramentas de comunicação e seus exemplos:

• Propaganda

• Anúncios impressos e eletrônicos• Programação visual da embalagem• Encartes• Panfletos• Pôsteres e cartazes

8 Definição da ABAP – Associação Brasileira de Agências de Publicidade. (www.abap.org.br)

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• Catálogos telefônicos• Reprodução de anúncios• Outdoor• Sinalização• Displays• Material Audiovisual• Símbolos e logos• Vídeo

• Promoção de vendas

• Concursos, jogos ou sorteios• Brindes e prêmios• Amostras• Feiras e convenções• Exposições• Demonstrações• Cupons• Descontos• Financiamentos• Entretenimento• Concessões de atualização de produto antigo• Programas de vantagens• Venda casada

• Relações públicas

• Palestras• Seminários• Relatórios anuais• Doações filantrópicas• Patrocínios• Publicações• Relações na comunidade• Revista da empresa• Eventos

• Força de vendas

• Apresentações• Reuniões• Programas de incentivo• Amostras• Feiras e convenções

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• Marketing direto

• Catálogos• Mala direta• Telemarketing• Compras pelo computador• Compras pela TV• Fax• E-mail• Correio de voz

A propaganda é mais eficaz quando o seu alvo é restrito. Anúncios têm maior impacto seveiculados em ferramentas direcionadas ao público-alvo.

Quanto a mensagem, ela é moldada pelas decisões anteriores sobre o mercado alvo e aproposta de valor da marca. O desafio é apresentar a proposta de valor de maneira criativa,e aí as habilidades do profissional de marketing são requisitadas. O projeto da mensagem,interage com a decisão sobre o veículo. Embora a mesma mensagem deva ser disseminadacoerentemente por toda a mídia, sua execução vai depender do meio específico, seja jornal,revista, rádio, TV, outdoors, mala direta ou telefone e os meios chamados da nova mídia,como e-mail, fax e sites na Internet.

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4Linux

Em 1991, aos 21 anos de idade, Linus Torvalds, estudante de ciência da computação naUniversidade de Helsinque, na Finlândia, acabara de comprar seu primeiro microcomputadore, insatisfeito com o MS-DOS9 , decidiu criar um sistema alternativo, uma versão do Unix10,que funcionasse bem em sua máquina. Após meses de obstinado trabalho, começava a sedelinear o sistema operacional consagrado como Linux e que teria um crescimentoespantoso no mercado de computadores. Em 1999, Linus Torvalds projetava-se como o gururevolucionário de um numeroso grupo de usuários de computador entusiasmados com onovo sistema operacional.

Na euforia dos anos finais do século XX, uma revolução aconteceu no meio de tantas outras.Aparentemente, da noite para o dia, o sistema operacional Linux, ganhou a atenção domundo. Ele explodiria do pequeno quarto do seu criador, para atrair milhões de fiéisseguidores. De repente ele começava a se infiltrar nas poderosas corporações que controlamo planeta. De um partido de uma pessoa só, o sistema operacional agora somava milhões deusuários em todos os continentes. Não apenas o sistema operacional estava sendoexecutado na maioria dos computadores servidores que ofereciam o seu conteúdo pelaInternet, como o seu modelo de desenvolvimento, uma rede de centenas de milhares deprogramadores voluntários, crescera de tal forma, que se tornaria o maior projetocolaborativo da história do mundo. A filosofia por trás disso era simples: a informação ou asinstruções básicas por trás do sistema operacional, deveria ser livre e livremente distribuídapara quem tivesse interesse em melhorar o projeto. Mas as melhorias também deveriam serpartilhadas com liberdade. O mesmo conceito acompanhara milhares de descobertascientíficas.

O Linux não utiliza código proprietário11 de qualquer espécie, sendo a maior parte de seudesenvolvimento feito sobre o projeto GPL12 .

O Linux é desenvolvido por milhares de colaboradores pessoais, universidades, empresas desoftware e distribuidores ao redor do mundo, isso permite o contato direto com osdesenvolvedores e atualizadores do programa através da Internet. Alguns grandes grupos dedesenvolvedores podem ser destacados:

• Meio acadêmico: onde o Linux nasceu e continua sendo ativamente desenvolvido. O Linuxe outros inúmeros programas de livre distribuição são objeto de esforços de graduandos,mestrandos, pós graduandos e doutorandos localizados em centenas de universidades aoredor do mundo, sendo utilizado como ferramenta de aprendizado e de projeção da

9 Sistema Operacional desenvolvido pela Microsoft.10 Sistema Operacional desenvolvido pela AT&T e pela Universidade de Berkeley.11 Código fonte de programa de computador feito por uma empresa que detém a patente sobre ele e proibe a sua utilização

sem licenças de uso.12 Projeto General Public License da Free Software Foundation que determina que o código deve ser distribuído

livremente.

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capacitação desses centros de ensino.

• Voluntários: programadores, entusiastas e defensores do modelo de software livre,auxiliam no desenvolvimento de milhares de softwares, da China ao Brasil, da África doSul à Índia, criando uma comunidade independente de objetivos estritamente econômicos,mas sim um conjunto que busca criar modelos de tecnologia e provar o seufuncionamento.

• Organizações de alta tecnologia: diversos organismos, como empresas públicas,laboratórios, grandes empresas privadas, governos, etc. Utilizam o Linux como ferramentade atendimento a alguma demanda específica. Após efetuarem diversas implementaçõese de acordo com as licenças de software de livre distribuição, disponibilizam os códigos-fonte para uso da comunidade. Alguns exemplos podem ser encontrados como o projetoBeowulf desenvolvido pela NASA, o qual permite o processamento cooperativo entrediversos equipamentos Linux ou o GRASS, um software de geoprocessamentodesenvolvido pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.

• Empresas de informática: diversos nomes do mercado de informática passaram a portarprodutos comerciais para Linux, fornecer suporte, auxiliar no seu desenvolvimento einvestir em empresas especializadas em Linux.

• Distribuições Linux: empresas especializadas em desenvolver, testar e empacotar o Linuxe diversos aplicativos. Como existem diversos grupos motivados pelas mais variadasrazões e desenvolvem milhares de softwares para Linux, objetivando promover o uso dosoftware de livre distribuição, algumas empresas se especializaram em testar e suportar oLinux a partir de desenvolvimentos de terceiros, funcionando assim como um catalizadorde ferramentas, aplicativos testados e homologados em seus laboratórios eimplementando melhorias voltadas para o seu mercado de atuação, atuando comoelementos fomentadores da disseminação do sistema.

4.1Nascimento do Linux - Produto

Em meados de 1986, antes da proliferação dos Pcs, os sistemas operacionais eram defabricação da própria empresa que fabricava o computador. Dependendo do computador, eletinha um formato mais rudimentar ou um pouco mais avançado. Nessa época não haviapadrões e muitas empresas queriam controlar o mercado. Linus Torvalds passava o tempoentendendo como esses sistemas operacionais funcionavam e em pouco tempo os estavare-escrevendo. Ele desenvolvia ferramentas de programação e nesse processo encontravaerros nos sistemas operacionais e os consertava para o seu próprio uso.

Em 1990, Torvalds estava matriculado no curso de Ciência da Computação na Universidadede Helsinque e se inscrevia para todos os cursos de férias de programação e sistemasoperacionais. Um dos cursos que ele aguardava com o maior interesse era o de Unix.Antecipando-se ao curso ele comprou um livro sobre o sistema operacional Unix escrito porAndrew Tanenbaum, professor universitário em Amsterdã.

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A Universidade de Helsinque havia comprado um computador novo chamado MicroVax queexecutava o Ultrix, versão da Digital Equipment Corp. do Unix. Após ler a introdução eentender a filosofia do Unix, Torvalds estava ansioso para trabalhar com ele e testar osconhecimentos aprendidos nas 719 páginas do livro de Tanenbaum. Como todos os alunos,o professor não tinha experiência com o Unix, e ele era obrigado a ler o capítulo do livroantes dos alunos, às vezes os alunos se adiantavam 3 capítulos a frente, o que parecia umjogo em que os alunos tentavam passar a frente do professor fazendo perguntas que diziamrespeito ao que estariam aprendendo três capítulos adiante, só para ver se ele lera até lá.Eram todos ignorantes em matéria de Unix, e o curso ia se formando a medida queavançavam. No entanto o que ficava evidente no curso era que havia uma filosofia única portrás do Unix, ela era dominada na primeira hora do curso. O resto era explicação dosdetalhes. O que mais chamava atenção no Unix era o fato de que sistemas operacionaiseram feitos com interfaces especiais para cada coisa que você faz, sendo que o Unix faziaao contrário, ele fornecia um bloco de construção que era suficiente para fazer tudo. Issosignificava uma concepção descomplicada. A mesma coisa pode ser percebida com osidiomas, o inglês possui 26 letras, e é possível fazer tudo a partir delas, enquanto o chinêspossui uma letra para cada coisa que se possa pensar. Nesse modelo parte-se dacomplexidade e pode combiná-la em formas limitadas. O Unix possuía a filosofia desimplicidade e os seus conjuntos de blocos de construção eram simples e básicos e podiamser combinados para formar alguma coisa que permite uma complexidade infinita deexpressão. Esse é o propósito da Física, tentamos encontrar as regras fundamentais quedevem ser muito simples. A complexidade vem das interações que conseguimos dessasregras simples, não de qualquer complexidades inerentes da regra em si.

O projeto original do Unix surgiu na AT&T por Dennis Richie e Ken Thompson como umprojeto pessoal para a criação de um jogo. Nessa época a AT&Tnão pensou no sistemaoperacional como um negócio comercial. De fato a empresa era um monopólio regulado euma das coisas que não podia fazer era vender computadores. Assim as pessoas que ocriaram disponibilizaram livremente, junto com as licenças de código-fonte, sobretudo paraas universidades. Tudo isso levou o projeto a se transformar em um grande projetoacadêmico. Em 1984 quando a AT&T obteve permissão para entrar no negócio decomputadores, os cientistas da computação em universidades, em particular na Universidadede Berkeley na Califórnia, vinham trabalhando e aperfeiçoando o Unix a anos.

No início da década de 1990, o sistema operacional Unix se tornava o número um para todosos supercomputadores. Era um negócio e um mercado imenso. O problema era que havia,na ocasião, uma grande quantidade de versões concorrentes. Algumas derivavam dos limitesmais controlados na base de código da AT&T, enquanto outras se originavam na base docódigo BSD (Berkeley Software Distribution) da Universidade de Berkeley. Outros eram aindaa mistura dos dois. A versão BSD obteve maior aceitação no mundo Unix e isso levou aAT&T a processar a Universidade de Berkeley. O código original tinha sido da AT&T, mas amaior parte do trabalho subsequente fora feito em Berkeley. Os dirigentes da universidadesustentaram que tinham o direito de distribuir ou vender a uma taxa nominal sua versão doUnix, e demonstraram que o seu trabalho havia sido tão grande que haviam quase refeito oque a AT&T havia disponibilizado. A ação foi encerrada depois que a Novell Inc. comprou oUnix da AT&T.

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Em 1991, Torvalds, com 21 anos consegue dinheiro suficiente para comprar um computadornovo com mais recursos suficientes para que ele pudesse instalar e testar o Unix em suacasa. Torvalds compra o Minix, uma variante do Unix e dedica o fim de semana a seacostumar com o novo sistema. Aprendeu o que gostava sobre ele e principalmente o quenão gostava. Ele tentou compensar as deficiências fazendo o download13 dos programas aque estava acostumado do computador da Universidade de Helsinque. Após um mêsfazendo do Minix o seu próprio sistema, Torvalds teve um desapontamento com o programaque ele usava para se conectar ao computador da universidade. Assim ele inicou o projetode criar o seu próprio programa em um nível mais simples possível.

O programa era utilizado com frequencia para se conectar com o computador dauniversidade para ler e-mails ou participar das discussões dos newsgroups14 do Minix. A cadadia Torvalds acrescentava novas funcionalidades ao seu programa e aos poucos ele deixoude ser apenas um programa para se conectar ao computador da universidade, e passou aganhar vulto de um sistema operacional independente.

Após uma mensagem no newsgroup do Minix, Ari Lemke, professor assistente daUniversidade de Tecnologia de Helsinque ofereceu-se para criar um acesso ao computadorda universidade para que Torvalds postasse ali o seu sistema operacional pronto.

Quando Torvalds decidiu que era a hora de compartilhar o seu sistema operacional com osintegrantes do newsgroup do Minix, tentou encontrar um nome para o seu sistema e pensouinicialmente em Freax (uma analogia a Freaks, do inglês, fanáticos). E chegou a conclusãode que o nome seria Linux, uma brincadeira com a junção de Linus com Unix. Pensando queo nome soaria muito egocêntrico, Torvalds pensou em trocá-lo, mas segundo ele, o nomenaquela altura dos acontecimentos era o de menos, afinal o sistema operacional não estavasendo lançado para nada e para ninguém.

Em 25 de Agosto de 1991, Torvalds envia uma mensagem no newsgroup do Minix entitulada“pequena pesquisa para meu novo sistema operacional”:

– “Olá, todo o pessoal que usa Minix. Estou fazendo um sistema operacional (livre,apenas um hobby, não será grande e profissional quanto o Unix). Ele está sendofermentado desde abril e está quase pronto. Gostaria de receber feedback sobre oque as pessoas gostam e não gostam no Minix, uma vez que o meu sistemaoperacional se parece um pouco com ele.” ... “Quaisquer sugestões são bemvindas, mas não prometo implementá-las.”

Os mais obstinados entusiastas do sistema operacional dentro da multidão Unix seanimaram. Muitas pessoas enviaram sugestões e fizeram várias perguntas e algumaspessoas se ofereceram para serem os beta-testers15.

13 Processo de cópia de um arquivo ou programa a partir de outro computador ligado em rede.14 Listas de discussão on-line onde os participantes trocam idéias ou discutem sobre um deterninado assunto.15 Pessoa que se habilita para realizar testes com determinado produto inacabado em condições reais de ambiente de

produção.

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Em 17 de setembro de 1991, Torvalds se sentiu preparado para deixar o mundo ver o seusistema operacional. Existe um protocolo para se enumerar versões de programas que estãoprontos para serem lançados. Quando se acredita que uma versão está realmente pronta,ela é enumerada com versão 1.0. Com isso em mente Torvalds enumerou a sua versãoenviada a Universidade de Helsinque como versão 0.01, isso segundo ele, diria a todos queela ainda não estava pronta para muita coisa.

Ari Lemke, que havia disponibilizado um diretório para hospedar os arquivos de Torvalds nocomputador da universidade, odiou o nome Freax e sugeriu que o outro nome Linux eramelhor. Torvalds não lutou contra, contudo havia sido uma escolha de Ari, assim Torvaldsnão poderia se sentir egocêntrico. A escolha não havia sido dele, e assim ele sempre poderiaresponsabilizar alguém por isso.

– “Você suspira pelos dias em que os homens eram homens e escreviam seuspróprios programas?”

Esse foi o título do anúncio de Torvalds sobre a postagem da versão 0.02 do Linux.

A cada dia Torvalds recebia mais e-mails e a comunidade de usuários Linux passou a seexpandir. Torvalds recebia e-mails de lugares que ele sonhava visitar, como Austrália eEstados Unidos. Para a família de Torvalds ele apenas estava no computador conectado alinha telefônica no seu modem.

– ”Para mim, significava sobretudo que a linha telefônica estava ocupada e queninguém conseguia nos ligar... Em um determinado momento, começaram a chegarcartões postais de diferentes cantos do globo. Suponho então que percebi que aspessoas no mundo real estavam de fato usando o que ele criara.

Essas foram as palavras de Sara Torvalds, irmã de Torvalds, quando percebeu apopularidade do irmão.

Torvalds recebia e-mails de pessoas que perguntavam se podiam lhe enviar 30 dólares, oucoisa assim. Como a maior ocupação de sua vida era o Linux, sobrava pouco tempo paraoutras coisas, embora pudesse usar o dinheiro para comprar acessórios de computador. Aoinvés de dinheiro Torvalds estava mais interessado em saber onde as pessoas estavamusando o Linux. Em vez de dinheiro preferiu cartões-postais. Os cartões-postais chegavamàs centenas e esse foi o primeiro indício de que estava fazendo algo útil para outraspessoas.

Quando Torvalds postou o Linux para a Internet, sentia que estava seguindo os passos decentenas de cientistas e outros acadêmicos que construiram seu trabalho apoiando-se emoutros - "nos ombros de gigantes."16

16 Citação de Isacc Newton.

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3.2Licenciamento do Linux - Preço

Torvalds não estava apenas partilhando o seu trabalho para que outros pudessem achá-loútil, estava coletando feedbacks, e não via razão para cobrar de pessoas que podiam ajudá-lo a melhorar o seu trabalho.

Ele não queria vender o Linux, e não queria que ninguém o fizesse, e deixou isso claro napolítica de direitos autorais incluída no arquivo da versão 1.0.

Segundo a convenção de Berna na Europa no século XIX, você detém os direitos autorais dequalquer coisa que cria, a não ser que venda esses direitos. Como proprietário, Torvaldspassou a criar regras em que você podia usar o sistema operacional gratuitamente, contantoque não o venda, e se fizer alguma mudança ou aperfeiçoamento, precisa disponibilizá-lapara todos. Se alguém não concordasse com as regras, não teria o direito a copiar o códigodo programa ou fazer qualquer coisa com ele.

Embora Torvalds não tivesse interessado em pedir dinheiro, outras pessoas não sentiamvergonha em solicitar doações sempre que davam a alguém uma cópia do sistemaoperacional que haviam carregado em disquete. Torvalds participava de encontros deusuários do Unix e pessoas, com uma cópia do Linux em disquete, perguntavam se podiamvender por 5 dólares para cobrir o custo com o disquete e o tempo gasto. O problema eraque isso era uma violação dos seus direitos autorais. Era hora de Torvalds repensar a suapostura de que o Linux não deveria ser vendido.

Torvalds achava que a essa altura ninguém poderia pegar o Linux e sumir com ele, o que erao seu maior temor. Se uma pessoa tentasse transformá-lo em um projeto comercial, teriainiciado uma enorme reação negativa em todas as pessoas no mundo inteiro que partilhavamas mudanças sugeridas e acompanhavam o desenvolvimento do Linux.

Sentindo que o Linux estava se tornando o melhor sistema operacional criado no mercado eque não podia se desviar de sua trajetória, Torvalds decidiu que era a hora de repensar asua postura e o seu direito autoral e permitir que as pessoas o vendessem. Para permitir que o sistema se tornasse utilizável, foram usadas muitas ferramentasdistribuídas livremente pela Internet – O Linux havia se apoiado no ombro de gigantes. Omais importante desses programas de software livre foi um tipo de programa compiladorchamado GCC. Seus direitos autorais estavam garantidos pela General Public License oulicença GPL ( Licença Pública Geral, traduzida do inglês para o português).

O modo mais simples de tornar um programa livre é colocá-lo em domínio público, semcopyright17. Isto permite que as pessoas compartilhem o programa e suas melhorias, se elasestiverem dispostas a tal. Mas isto também permite que pessoas não-cooperativastransformem o programa em software proprietário. Eles podem fazer modificações, poucas

17 Licenciamento privado que limita o uso de determinado produto as condições impostas pelo proprietário.

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ou muitas, e distribuir o resultado como um produto proprietário. As pessoas que receberemesta forma modificada do programa não tem a liberdade que o autor original havia lhes dado,o intermediário eliminou estas liberdades.

No projeto GPL, o objetivo é dar a todos os usuários a liberdade de redistribuir e modificar osoftware. Se algum intermediário fosse capaz de retirar a liberdade, haveriam muitosusuários, mas esses usuários não teriam liberdade. Então, em vez de colocar o software emdomínio público, ele foi transformado em copyleft18. O copyleft diz que qualquer um quedistribui o software, com ou sem modificações, tem que passar adiante a liberdade de copiare modificar novamente o programa. O copyleft também fornece um incentivo para que outrosprogramadores contribuam com o software livre.

O copyleft também ajuda os programadores que desejam contribuir com melhorias para osoftware livre a obterem permissão de fazer isto. Esses programadores frequentementetrabalham para empresas ou universidades que fariam qualquer coisa para ganhar maisdinheiro. Um programador pode desejar contribuir suas modificações para a comunidade,mas seu empregador pode desejar transformar as mudanças em um produto de softwareproprietário.

Para tornar um programa copyleft, primeiro ele é registrado como copyright; então éadicionado termos de distribuição, que são um instrumento legal que garante a qualquerpessoa os direitos de usar, modificar, e redistribuir o programa ou qualquer programaderivado dele, se e somente se, os termos de distribuição não forem modificados. Destaforma, o programa e as liberdades se tornam legalmente inseparáveis.

A licença GPL foi criada por Richard Stallman, pesquisador do Laboratório de InteligênciaArtificial do MIT (Massachussetts Institute of Technology) em 1985, para garantir a liberdadede distribuição de cópias de softwares de livre distribuição (e cobrar por isso caso seja dointeresse do distribuidor), o qual pode ser alterado ou utilizado em parte em novosprogramas. Para assegurar os direitos dos desenvolvedores, algumas restrições foram feitas,proibindo a todas as pessoas a negação desses direitos ou a solicitação de sua abdicação.

As principais características da Licença GPL são:

• O código fonte do Programa, da forma como foi recebido, pode ser copiado e distribuído,em qualquer mídia, desde que seja providenciada um aviso adequado sobre oscopyrights.

• A cobrança de taxas pelo ato físico de transferência ou gravação de cópias é permitida, e

18"Copyleft" é um trocadilho com o termo "copyright". Traduzindo literalmente, "copyleft" significa "deixamos copiar.

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podem ser dadas garantias e suporte em troca da cobrança de valores.

• Caso o programa modificado seja executado de forma interativa, é obrigatório, no início desua execução, apresentar a informação de copyright e da ausência de garantias (ou deque a garantia corre por conta de terceiros), e que os usuários podem redistribuir oprograma sob estas condições, indicando ao usuário como acessar esta licença na suaíntegra.

Para Stallman, a idéia principal, é que se você gosta de um programa, deve compartilhá-locom outras pessoas que gostem dele. Vendedores de software querem dividir os usuários econquistá-los, fazendo com que cada usuário concorde em não compartilhar com os outros.Stallman se recusava a quebrar a solidariedade com os outros usuários deste modo.

Ele não podia, com a consciência limpa, assinar um termo de compromisso de não-divulgação de informações ou um contrato de licença de software. Por anos, Stallmantrabalhou no Laboratório de Inteligência Artificial do MIT para resistir a estas tendências eoutras inanimosidades, mas eventualmente elas foram longe demais: e ele não podiapermanecer em uma instituição onde tais coisas eram feitas contra a sua vontade, portanto,de modo que ele pudesse continuar a usar computadores sem ferir a sua honra, dedidiujuntar uma quantidade de software suficiente para que pudesse continuar sem nenhumsoftware que não seja livre, e se demitiu do Laboratório de IA19 para impedir que o MIT tenhaqualquer desculpa legal para impedí-lo de fornecer o software GPL livremente.

Stallman encontrou muitos outros programadores que estavam excitados quanto a licençaGPL, e queriam ajudar. Muitos programadores estavam descontentes quanto àcomercialização de software. Ela poderia trazê-los dinheiro, mas requer que eles seconsiderem em conflito com outros programadores de maneira geral, em vez de considerá-los como amigos. O ato fundamental da amizade entre programadores é o compartilhamentode programas; acordos comerciais usados hoje em dia tipicamente proíbem programadoresde se tratarem uns aos outros como amigos. O comprador de software tem que escolherentre a amizade ou obeder à lei. Naturalmente, muitos decidem que a amizade é maisimportante. Mas aqueles que acreditam na lei frequentemente não se sentem à vontade comnenhuma das escolhas. Eles se tornam céticos e passam a considerar que a programação éapenas uma maneira de ganhar dinheiro.

Trabalhando com e usando softwares com a licença GPL em vez de programas proprietários,as pessoas poderiam ser hospitaleiras para todos e obedecerem a lei. Além disso, GPLserviria como um exemplo para inspirar e um chamariz para trazer outros para juntarem-seao grupo e compartilhar programas.

Isto poderia trazer um sentimento de harmonia que é impossível se utilizassem softwareproprietário. Para aproximadamente metade dos programadores com quem Stallman tinharelacionamento, esta era uma imporante alegria que dinheiro não podia substituir.

19 Inteligência artificial.

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Para Stallman, uma vez que a GPL estivesse pronta, todos poderiam obter um bom softwaregratuitamente, assim como o ar. Este esforço poderia ser utilizado em avançar ao estado-da-arte. O código-fonte completo do software estaria disponível para todos. Como resultado, umusuário que necessitasse de modificações no sistema seria sempre livre para realizá-las elemesmo, ou para contratar qualquer programador disponível ou empresa para realizá-las. Osusuários não estariam mais à mercê do programador ou empresa, que é dono dos códigos-fonte e é o único que poderia realizar mudanças.

O Laboratório de Computadores de Harvard tinha como política não instalar nenhumprograma se os seus códigos-fonte não estivessem disponíveis ao público, e esta posição foisustentada quando o laboratório se recusou a instalar certos programas.

Algumas pessoas achavam que ninguém utilizaria o software se ele fosse gratuito, porqueisto significava que não poderiam contar com nenhum suporte.

Stallman defendia que se as pessoas pudessem em vez disso pagar pelos serviços ao invésde obter software proprietário, uma empresa cujo objetivo fosse somente fornecer serviçospara as pessoas que obteram o software gratuitamente, seria altamente rentável.

Há uma diferença entre o suporte na forma de verdadeiro trabalho de programação e simplesajuda. O primeiro é algo que ninguém poderia realmente contar em receber do vendedor desoftware. Se o problema não fosse o mesmo de muitas outras pessoas, o vendedor iriaignorá-lo. Se negócio necessitasse contar com suporte, a única garantia era ter todos ossoftwares. Então a empresa poderia contratar qualquer pessoa disponível para resolver oproblema; não haveria dependência. Este tipo de serviço poderia ser fornecido por empresasque vendem somente serviços de ajuda e reparos. Se fosse verdade que os usuáriospreferissem gastar dinheiro e obter o produto com serviço, eles também estariam dispostos àcomprar o serviço tendo obtido o produto de graça. As empresas de serviços competiriam empreço e qualidade, enquanto os usuários não estariam amarrados a nenhuma delas emparticular, podendo utilizar softwares livres.

Linus Torvalds se desfez de seus antigos direitos autorais e adotou a licença GPL comolicenciamento oficial do Linux. Os novos direitos autorais foram incluídos na versão 0.12.

4.3Distribuição do Linux - Praça

Em 1992, Torvalds foi nomeado professor-assistente do Departamento de Ciências daComputação da Universidade de Helsinque e mais tarde promovido a pesquisador-

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assistente. As pessoas ao seu redor sabiam da existência do Linux, mas a maioria dosusuários do sistema que se envolviam com ele eram de fora da Finlândia. Torvalds percebeuque um grande número de pessoas dependia do Linux como algo mais do que um sistemaoperacional e que deixava de ser uma brincadeira para ser fundamental para a vida daspessoas, para o seu sustento e para o mercado.

Em Março de 1994, a versão 1.0 do Linux foi lançada oficialmente e o Linux agora possuíaum newsgroup próprio.

Segundo estatísticas mensais da Internet Cabal20 , o newsgroup do Linux fazia parte dosquarenta newsgroups mais populares e em algum momento de 1994 passou a fazer partedos cinco mais acessados.

Torvalds estava sendo forçado a tomar decisões rápidas com relação a acertos e upgrades21,do Linux e, a cada decisão, ele se sentia mais a vontade no seu papel de líder de umacomunidade que continuava a crescer. Nunca havia aceitado qualquer coisa a não ser o queacreditasse ser a melhor solução técnica apresentada. A base da confiança inspirada emTorvalds começou quando ele postou o Linux para a Internet e o abriu para quem quisesseparticipar dele e acrescentar funções e detalhes de que gostasses, ficando para ele a tomadade decisões finais no que dizia respeito à essência do sistema operacional.

Em algum momento um grupo básico de cinco desenvolvedores começou a gerar a maiorparte da atividade nas áreas essenciais de desenvolvimento. Fazia sentido para elesservirem de filtro e assumirem a responsabilidade de manter aquelas áreas.

Torvalds aprendeu que a melhor e mais eficaz forma de liderar é deixar qua as pessoasfaçam as coisas porque querem fazê-las, não por que ele queria que elas fizessem.

Segundo o próprio Torvalds, o sucesso do modelo de desenvolvimento do Linux foi atribuídoas suas próprias falhas de personalidade:

– "Sou preguiçoso e gosto de receber o crédito pelo trabalho dos outros."

Caso contrário, Torvalds achava que o modelo de desenvolvimento estaria limitado a trocade e-mails diários entre meia-dúzia de desenvolvedores e não nos centenas de milhares departicipantes que contam com listas de discussão, convenções de desenvolvedores epatrocínio de empresas em mais de quatro mil projetos que acontecem a todo momento. Notopo, arbitrando disputas que surjam sobre o Linux, estava um líder cujo instinto foi o de nãoliderar.

As pessoas que trabalham com Linux e outros projetos de software livre, adoramprogramação e adoram fazer parte de um esforço global colaborativo. O Linux é o maiorprojeto colaborativo do mundo e se dedica a construir a melhor e a mais bela tecnologia

20 Grupo de pessoas que controlavam a Internet e mantinham estatísticas extra-oficiais mensais sobre quantos leitorescada newsgroup possuía.

21 Lançamento de versão nova contendo geralmente alguma melhoria com relação a versão mais antiga.

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disponível a quem desejar. Os programadores têm os seus nomes associados a suascontribuições na forma de listas de créditos ou arquivos de histórico que são anexados acada projeto. Os colaboradores mais prolíferos atraem a atenção de empregadores quevasculham o código, na esperança de localizar e contratar os melhores programadores. Osprogramadores também são motivados pela estima que recebem de seus companheiros aofazerem contribuições relevantes.

Erik Raymond22 analisou o projeto bem sucedido de código livre e algumas teoriassurpreendentes sobre a tecnologia de programação sugerida pela história do Linux.Raymonddiscutiu estas teorias nos termos de dois estilos fundamentais diferentes dedesenvolvimento, o modelo "catedral'' da maior parte do mundo comercial contra o modelo"bazar'' do mundo do Linux. Ele mostrou que estes modelos derivam de suposições opostassobre a natureza da tarefa de desenvolver o software. Fazendo então um argumentosustentado na experiência do Linux para a proposição que "dados bastante olhos, todos oserros são triviais'', ele sugeriu analogias produtivas com outros sistemas auto-corrigíveis deagentes egoístas, e concluiu com alguma exploração as implicações desta introspeção parao futuro do software.

Quem pensaria mesmo há cinco anos atrás que um sistema operacional de classe mundialpoderia surgir como que por mágica pelo tempo livre de milhares de colaboradoresespalhados por todo o planeta, conectado somente pelos tênues cordões da Internet?Raymond acreditava que os softwares mais importantes (sistemas operacionais eferramentas realmente grandes) necessitavam ser construídos como as catedrais,habilmente criados com cuidado por mágicos ou pequenos grupos de magos trabalhando emesplêndido isolamento, com nenhum beta23 para ser liberado antes de seu tempo. O estilo deLinus Torvalds de desenvolvimento - libere cedo e freqüentemente, delegue tudo que vocêpossa, esteja aberto ao ponto da promiscuidade - veio como uma surpresa. Nenhumacatedral calma e respeitosa aqui, ao invés, a comunidade Linux pareceu assemelhar-se a umgrande e barulhento bazar de diferentes agendas e aproximações de onde um sistemacoerente e estável poderia aparentemente emergir somente por uma sucessão de milagres.

O fato de que este estilo bazar pareceu funcionar, e funcionar bem, veio como um distintochoque. O mundo do Linux não somente não se dividiu em confusão mas parecia aumentara sua força a uma velocidade quase inacreditável para os construtores de catedrais.

Segundo Raymond, o estilo bazar do Linux se baseia nos seguintes conceitos:

• Todo bom trabalho de software começa colocando o dedo na ferida de um programador:Talvez isto deveria ter sido óbvio (um antigo provérbio diz que "necessidade é a mãe dainvenção'') mas muitas vezes os programadores gastam seus dias buscando retorno emprogramas que eles não necessitam nem gostam. Mas não no mundo do Linux - o quepode explicar porque a qualidade média do software originada na comunidade de Linux étão alta.

22 RAYMOND, E. S. The cathedral & the bazar: musings on Linux and open source by an accidental revolutionay.Sebastopol, California: O´Reilly, 2001.

23 Versão inacabada de um produto utilizada como teste em ambiente real de produção.

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• Os programadores bons sabem o que escrever. O grandes sabem o que re-escrever (e re-

usar): Uma importante característica dos grandes é a preguiça construtiva. Eles sabemque você ganha um "A" não por esforço, mas por resultados, e é quase sempre mais fácilpartir de uma boa solução parcial do que do nada. Torvalds, não tentou realmenteescrever o Linux do nada. Ao contrário, ele começou re-usando código e idéias do Minix,um pequeno sistema operacional. Eventualmente todo o código Minix se foi ou nãocompletamente rescrito, mas quando estava lá, forneceu as bases para o infante que setransformaria no Linux.

• Planeje jogar algo fora, você irá, de qualquer maneira.24: Ou, colocando de outra forma,você freqüentemente não entende realmente o problema até depois da primeira vez quevocê implementa uma solução. Na segunda vez, talvez você saiba o suficiente para fazercorretamente. Então se você quer fazer algo certo, esteja preparado para começar tudonovamente pelo menos uma vez.

• Se você tem a atitude certa, problemas interessantes irão encontrá-lo.

• Quando você perde interesse em um programa, sua última obrigação a fazer com ele éentregá-lo a um sucessor competente.

• Tratar seus usuários como co-desenvolvedores é seu caminho mais fácil para umamelhora do programa: O poder deste efeito é fácil de se subestimar. De fato, todos osprogramadores do mundo do código aberto subestimam drasticamente como isto iráincrementar o número de usuários e diminuir a complexidade do sistema, até que LinusTorvalds mostrou de outra forma. De fato, Raymond acredita que a engenhosidade deLinus Torvalds e a maior parte do que desenvolveu não foi a construção do Linux em si,mas sim a sua invenção do modelo de desenvolvimento do Linux.

• Libere cedo, libere freqüentemente: Liberações novas e freqüentes são uma parte críticado modelo de desenvolvimento do Linux. A maioria dos desenvolvedores costumaacreditar que esta era uma má política para projetos maiores que os triviais, porqueversões novas são quase por definição cheias de erros e os progrmadores não queremacabar com a paciência dos seus usuários. Esta crença reforçou o compromisso de todoscom o estilo de desenvolvimento catedral. Se o principal objetivo era o de usuários veremmenos erros quanto possível, por que então um lançamento só acontecia em cada seismeses (ou freqüentemente menos), e trabalha-se exaustivamente resolvendo problemasdestas liberações? A política de desenvolvimento aberta de Torvalds era exatamente ooposto do modelo de desenvolvimento catedral. E tudo isto foi guiado por uma freqüênciadesconhecida de liberações do código do Linux. Torvalds estava tratando seus usuárioscomo co-desenvolvedores na maneira mais eficaz possível.

• Ouça seus fregueses: Isso não era muito a inovação de Torvalds (algo como isso estavasendo a tradição do mundo Unix por um longo tempo), mas em elevar isto até um grau deintensidade que alcançava a complexidade do que ele estava desenvolvendo. Nestes

24 BROOKS, Fred. The Mythical Man-Month.Addison-wesley, 1975.

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primórdios tempos (por volta de 1991) não era estranho liberar uma nova versão do Linuxmais de uma vez por dia. E, porque ele cultivava sua base de co-desenvolvedores eincitava fortemente a Internet por colaboração como nenhum outro, isto funcionou. Mascomo isto funcionou? E era isto algo que pode-se duplicar, ou era algo que dependia dagenialidade única de Linus Torvalds? Ao contrário, para Raymond, Linus parecia ser umgênio da engenharia, com um sexto sentido em evitar erros e desenvolvimentos quelevassem a um beco sem saída e uma verdadeira habilidade para achar o caminho domenor esforço do ponto "A" ao ponto "B". De fato, todo o projeto do Linux exalava estaqualidade e espelhava a abordagem conservadora e simplificada de planejamento deTorvalds. Então, se liberações rápidas e influenciar a Internet a todo custo não fossemacidentes mas partes integrantes da perspicácia do gênio de engenharia de Torvalds parao caminho do menor esforço, o que ele estava enfatizando? O que ele estavamaquinando? Posto desta forma, a questão responde a si mesma. Torvalds estavamantendo seus usuários/desenvolvedores constantemente estimulados e recompensados.Estimulados pela perspectiva de estar tendo um pouco de ação satisfatória do ego,recompensados pela visão do constante (até mesmo diário) melhoramento do seutrabalho. Torvalds estava diretamente direcionado a maximizar o número de pessoas-horadedicadas a depuração e ao desenvolvimento, mesmo com o possível custo dainstabilidade no código e extinção da base de usuários se qualquer erro sério provasse serintratável.

• Dada uma base grande o suficiente de beta-testers e co-desenvolvedores, praticamentetodo problema será caracterizado rapidamente e a solução será óbvia para alguém: Ou,menos formalmente, "dados olhos suficientes, todos os erros são triviais.'' Raymondformulou que todo problema "era transparente para alguém''. Torvalds objetou que apessoa que entende e conserta o problema não é necessariamente ou mesmofreqüentemente a pessoa que primeiro o caracterizou. "Alguém acha o problema,'' ele diz,"e uma outra pessoa o entende." Mas o ponto é que ambas as coisas tendem a acontecerrapidamente. Aqui, é o centro da diferença fundamental entre os estilos bazar e catedral.Na visão catedral de programação, erros e problemas de desenvolvimento são difíceis,insidiosos, um fenômeno profundo. Leva meses de exame minucioso por poucas pessoasdedicadas para desenvolver confiança de que você se livrou de todos eles. Porconseguinte os longos intervalos de liberação, e o inevitável desapontamento quando asliberações por tanto tempo esperadas não são perfeitas. Na visão bazar, por outro lado,você assume que erros são geralmente um fenômeno trivial, ou pelo menos, eles setornam triviais muito rapidamente quando expostos para centenas de ávidos co-desenvolvedores triturando cada nova liberação. Consequentemente a liberaçãofreqüentemente teria mais correções, e como um benéfico efeito colateral teria menos aperder se um erro ocasional aparece. Segundo Raymond, se este modelo fosse falso,então qualquer sistema tão complexo como o Linux, sendo programado por tantas mãosquantas o programam, deveria a um certo ponto ter tido um colapso sob o peso deinterações imprevisíveis e erros "profundos'' não descobertos. Se isto fosse verdade, poroutro lado, é suficiente para explicar a relativa falta de erros do Linux. Anos atrás,sociologistas descobriram que a opinião média de uma massa de observadoresespecialistas (ou igualmente ignorantes) é um indicador mais seguro que o de um únicoobservador escolhido aleatoriamente. Parece que o que o Linux tem mostrado é que isto

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se aplica até mesmo para depurar um sistema operacional, e que podemos suavizar acomplexidade do desenvolvimento até mesmo em nível de complexidade de um sistemaoperacional. Na prática, a perda teórica de eficiência devido a duplicação de trabalho pordesenvolvedores quase nunca parece ser um problema no mundo do Linux. Um efeito da"política libere cedo e freqüentemente'', é minimizar esta duplicação propagandoconsertos rapidamente. Caso haja erros sérios, as versões do Linux são numeradas deforma que usuários em potencial podem fazer a escolha de executar a última versãodesignada "estável'' ou correr o risco de encontrar erros para obter novas características.

• Se você tratar seus beta testers como seu recurso mais valioso, eles irão respondertornando-se seu mais valioso recurso.

• A melhor coisa depois de ter boas idéias é reconhecer boas idéias dos seus usuários:Para Raymond, às vezes a última era a melhor.

• Freqüentemente, as soluções mais impressionantes e inovadoras surgem ao se perceberque o seu conceito do problema estava errado.

• A perfeição (em projetar) é alcançada não quando não há mais nada a adicionar, masquando não há nada para jogar fora.25

• Qualquer ferramenta deve ser útil da maneira esperada, mas uma ferramentaverdadeiramente boa leva ela própria a usos que nunca esperamos.

Os primeiros leitores destes conceitos seguidamente levantaram questões sobre as pré-condições para o desenvolvimento bem-sucedido do estilo bazar, incluindo as qualificaçõesdo líder do projeto e o estado do código ao tempo em que se torna público e começa a tentarconstruir uma comunidade de co-desenvolvedores. Estava claro que ninguém poderiacodificar desde o início no estilo bazar. Alguém pode testar, achar erros e aperfeiçoar noestilo bazar, mas seria muito difícil originar um projeto no estilo bazar. Torvalds não tentouisto. A sua comunidade nascente de desenvolvedores precisava ter algo executável epassível de testes para utilizar. Quando se começa a construção de uma comunidade, o quese precisa ter é a capacidade de apresentar. O programa não precisava funcionarparticularmente bem. Ele podia ser grosseiro, cheio de erros, incompleto, e pobrementedocumentado. O que não podia se deixar de fazer é convencer co-desenvolvedores empotencial de que ele podia evoluir para algo realmente elegante em um futuro próximo. OLinux se tornou público com projetos básicos fortes e atraentes.

Muitas pessoas pensando sobre o modelo bazar, concluíram a partir disso que um alto graude intuição e inteligência no líder do projeto é indispensável. Mas Linus Torvalds obteve seuplano do Unix. Então é necessário realmente para o líder/coordenador de um empenho noestilo bazar, ter um talento excepcional para planejamento, ou ele pode conseguir o mesmoefeito coordenando o talento de planejamento de outras pessoas. Raymond conclui que nãoé crítico que o coordenador seja capaz de originar projetos de excepcional brilho, mas eraabsolutamente crítico que o coordenador fosse capaz de reconhecer boas idéias de projetos

25 Antoine de Saint-Exupéry ( aviador e projetista de aviões quando não estava sendo o autor de livros clássicos infantis).

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de outras pessoas.

O mercado interno da comunidade de software aberto, por reputação, exerce uma sutillpressão nas pessoas para que não lancem esforço de desenvolvimento que não sejamcompetentes para manter. Até agora isto parece ter funcionado muito bem. Há outro tipo dehabilidade que não é normalmente associada com o desenvolvimento de software, quesegundo Raymond é tão importante quanto a engenhosidade em planejar projetos no estilobazar. Um coordenador ou líder de um projeto no estilo bazar deveria ter boa habilidade decomunicação e relacionamento. Isto deve parecer óbvio. Para construir uma comunidade dedesenvolvimento, precisava atrair pessoas, fazer com que se interessem no que está sendofeito, e mantê-las alegres sobre a quantidade de trabalho que estão fazendo. O entusiasmotécnico constitui uma boa parte para atingir isto, mas está longe de ser toda história.

Os melhores programas começam como soluções pessoais para os problemas diários doautor, e se espalham porque o problema se torna típico para uma grande classe de usuários.

Em "The Mythical Man-Month'', Fred Brooks observou que o tempo de um programador nãoé acumulativo; adicionar desenvolvedores em um projeto atrasado de software faz com queele se torne mais atrasado. Ele expôs que a complexidade e custos de comunicação de umprojeto crescem com o quadrado do número de desenvolvedores, enquanto o trabalho feitocresce somente linearmente. Esta afirmação é desde então conhecida como "A Lei deBrooks'' e é largamente considerada como correta. Mas se a Lei de Brooks fosse tudo a serlevado em consideração, o Linux seria impossível. O clássico "The Psychology Of ComputerProgramming'', de Gerald Weinberg26, sustentou o que, em retrospectiva, nós podemos vercomo uma correção essencial ao Brooks. Em sua discussão sobre "programação sem ego'',Weinberg observou que nos lugares onde desenvolvedores não são territoriais sobre seucódigo, e encorajam outras pessoas a procurar por erros e melhorias potenciais nele, asmelhorias acontecem dramaticamente mais rápidas que em qualquer outro lugar. A escolhada terminologia de Weinberg talvez tenha prevenido sua análise de ganhar a aceitação quemerecia. O desenvolvedor que utiliza apenas a capacidade cerebral dele mesmo em umprojeto fechado irá ficar atrás de desenvolvedores que saibam como criar um contexto abertoe evolutivo no qual a visualização de erros e melhorias sejam feitas por centenas depessoas. Mas o mundo tradicional do Unix foi impedido de seguir completamente estemétodo por vários fatores. Alguns deles foram os aspectos legais de várias licenças,segredos de comércio e interesses comerciais. Outro, foi que a Internet ainda não estava boao suficiente. Antes de a Internet baratear, haviam algumas comunidades geograficamentepequenas aonde a cultura motivava a programação "sem ego" de Weinberg, e aonde umdesenvolvedor poderia facilmente atrair muitos co-desenvolvedores habilidosos.

AT&T, o MIT, Universidade de Berkeley se tornaram a origem de inovações que sãolendárias e ainda fortes. Linux foi o primeiro projeto a fazer um esforço consciente e bem-sucedido a utilizar o mundo inteiro como sua reserva de talentos.

Raymond não achava que fosse uma coincidência que o período de gestação do Linux tenhacoincidido com o nascimento da Internet, e que o Linux tenha deixado a sua infância durante

26 WEINBERG, Gerald M. The Psychology of computer programming. New York: Dorset House Publishing, 1971.

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o mesmo período (em 1993/1994) que viu a expansão da indústria de provedores de acessoa Internet.

Linus Torvalds foi a primeira pessoa que aprendeu como jogar com as novas regras que aonipresente Internet fez possível. Embora uma Internet barata fosse uma condiçãonecessária para que o modelo do Linux evoluísse, esta não foi uma condição por si sósuficiente. Outro fator vital foi o desenvolvimento de um estilo de liderança e conjunto deformalidades cooperativas que permitiria aos desenvolvedores atrair co-desenvolvedores eobter o máximo suporte do ambiente.

Este estilo de liderança e estas formalidades não podem estar baseados em relações depoder, e mesmo que pudessem, a liderança por coerção não produziria os resultados quevemos. Weinberg cita a autobiografia do anarquista do século 19 chamado Pyotr AlexeyvichKropotkin, "Memórias de um Revolucionista'' para demonstrar o efeito neste assunto:

– "Tendo sido criado em uma família possuidora de vassalos, eu entrei a vida ativa,como todos os jovens homens da minha idade, com uma grande confidência nanecessidade de comandar, ordenar, repreender, punir e etc. Mas quando cedo tiveque conduzir empreendimentos sérios e lidar com homens (livres), e quando cadaerro levaria de uma vez a sérias conseqüências, eu comecei a apreciar a diferençaentre atuar segundo o princípio de comando e disciplina e atuar segundo o princípioda compreensão comum. O primeiro funciona de forma admirável em uma paradamilitar, mas de nada vale aonde a vida real é considerada, e o objetivo pode seratingido somente pelo esforço severo de muitos propósitos convergentes.''

O "esforço severo de muitos propósitos convergentes'' é precisamente o que um projetocomo o Linux requer, e o "princípio de comando'' é efetivamente impossível de ser aplicadoentre voluntários no paraíso anarquista que nós chamamos de Internet. Para operar ecompetir efetivamente, desenvolvedores que querem liderar projetos colaborativos têm queaprender como recrutar e energizar comunidades eficazes com interesse no modovagamente sugerido pelo "princípio de compreensão'' sugerido por Kropotkin.

O mundo do Linux se comporta em vários aspectos como um mercado livre ou uma ecologia,uma coleção de agentes autônomos tentando maximizar um empreendimento que noprocesso produz uma ordem espontânea auto-evolutiva mais elaborada e eficiente quequalquer quantidade de planejamento central poderia ter alcançado.

A função empreendedora que os desenvolvedores do Linux estão maximizando não éeconomia clássica, mas é a intangível satisfação do seu próprio ego e reputação entre outrosdesenvolvedores. (Alguém pode chamar a sua motivação de "altruísta'', mas isso ignora ofato que altruísmo é em si mesmo uma forma de satisfação do ego para um altruísta).

4.4Divulgação do Linux – Promoção

O nascimento da versão 1.0 representou algo novo para o Linux: a necessidade de relações

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públicas. Linus Torvalds gostaria de apresentar a versão do mesmo modo que haviaapresentado as versões anteriores ao mundo, escrevendo alguma coisa no newsgroupavisando que estava disponível a versão 1.0. Muitas outras pessoas imaginavam que elarepresentava bem mais do que isso. Empresas comerciais que estavam vendendo o Linuxqueriam a versão 1.0 por motivos de marketing.

As empresas e o público queriam colocá-la na rua porque representava um marco na históriados programas e porque vender um sistema operacional na versão 0.9 não era um bomnegócio.

Torvalds necessitada de uma estratégia de relações públicas, mas não estava interessadoem distribuir notas para a imprensa ou fazer declarações. Outros pensavam que olançamento deveria ser feito dessa forma, por isso se ofereceram para divulgar a notícia. Foiassim que o Linux foi criado e assim também seria divulgado.

A Universidade seria o lugar mais adequado para o evento. Segundo Torvalds, o seu quartoseria pequeno demais e fazer o anúncio em um site comercial abriria um precedenteincorreto. A Universidade de Helsinque estava mais do que feliz em oferecer o principalauditório do departamento de ciências da computação para o lançamento do Linux versão1.0. Esta seria a primeira vez que Torvalds apareceria na televisão.

O anúncio lançou o Linux para a crista da onda na Finlândia e começou a gerar publicidadeem todos os outros lugares também. Muitas das primeiras manchetes apareceram porquealguns jornais se entusiasmaram com ele. Do ponto de vista comercial, a versão 1.0 nuncahavia sido um grande desafio para nenhum dos envolvidos. O Linux estava conquistando omercado que havia sido do Minix. Jornalistas, quase todos de publicações de negócios,começaram a bater na porta de Torvalds.

Sites de fãs começaram a aparecer na Internet, e não apenas jornalistas começavam amostrar intersse, pessoas com grandes movimentações financeiras queriam conhecerTorvalds para falar sobre tecnologia. Há muito tempo o Unix era visto como um sistemaoperacional com vasto potencial, sobretudo por suas capacidades multitarefas. Por isso, asempresas que se interessavam por ele começaram a ficar de olho no Linux.

Em 1998, a Netscape anunciou que abriria o código-fonte para sua tecnologia de browser27,em um projeto chamado Mozilla.

Um mês após o lançamento da Netscape, a Sun Microsystens informou que se tornaria oprimeiro grande fornecedor de hardware a unir-se ao projeto de Linux. Ela daria suporte aosistema em seus computadores.

Com a Sun Microsystens a bordo do projeto de software livre as discussões da Internet setransferiram das discussões da Internet para a imprensa corporativa.

A IBM era conhecida como muito conservadora, por isso pegou todo mundo de surpresa

27 Ferramenta de navegação na Internet.

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quando anunciou em junho que venderia e daria suporte ao Linux usado para servidoresInternet. Estavam agindo de acordo com o feedbak recebido dos clientes, que diziam quecomprariam máquinas IBM, mas pretendiam rodar o Linux como sistema operacional.É bastante fácil instalar o Linux em um computador. No entanto, para a maior parte dasempresas, um dos maiores problemas foi o suporte. A IBM achou que seria uma vantagempsicológica para os clientes saber que a IBM estaria disponível para ajudá-los. Comoresultado disto a IBM anunciou que gastaria um bilhão com o sistema Linux.

Em julho de 1998, a Informix anunciou que portaria suas bases de dados para o sistema,querendo dizer que, ainda que usasse o Linux para operar o seu computador, seria possívelrodar um banco de dados Informix. Em poucas semanas, a Oracle, maior empresa de bancode dados do mercado, seguiu o mesmo exemplo.

Como acontecera com o anúncio da IBM anteriormente, o grande avanço da Oracle foisentido não apenas pela comunidade Linux, mas também pelo pessoal que costuma serchamado de administradores que tomam as decisões gerenciais. Eles não teriam maiscondições de dizer que não podiam usar o sistema porque os seus negócios dependiam debanco de dados.

O pessoal técnico que conhecia o Linux a mais tempo estava sendo abordado pelos líderesde suas empresas que tinham visto artigos na imprensa especializada ou ouvido falar sobreele. A situação se repetia em departamentos de tecnologia da informação em todo o mundo.Raramente a decisão era baseada no não-custo do sistema, o que levava os executivos a sedecidirem eram os argumentos técnicos simples: o Linux era mais forte do que osconcorrentes, que se resumiam ao sistema operacional da Microsoft ou o Unix. É importantemencionar também que as pessoas não gostam de ter que fazer as coisas do jeito que aMicrosoft ou qualquer outra empresa ordene que seja feito. Com o Linux consegue-se fazercoisas com o sistema que não se consegue fazer com os concorrentes.

Apesar da crescente popularidade como sistema operacional para servidores Internet, oLinux não ocupava realmente um nicho. Os computadores mainframe formavam um nicho, oUnix em geral formava uma série de nichos, mas o Linux penetra em tudo o que possainteressar. O Linux não tem apenas um nicho. É pequeno e flexível e encontra seu caminhopara muitos lugares. Em supercomputadores, no governo dos Estados Unidos ou na NASA.

Após o grande anúncio da IBM, foi seguido de anúncios similares de todos os principaisdistribuidores de hardware. Em agosto de 1998, a revista Forbes havia descoberto o mundoLinux e colocou uma foto de Linus Torvalds na capa com as palavras "Paz, amor e software."

A imprensa dava destaque à diferença entre os idealistas e os pragmatistas no meio decentenas de milhares de usuários do Linux. Nessa divisão, quem temia que os ideais dosistema fossem incompatíveis com os objetivos do capitalismo, fez o papel de idealistas. MasTorvalds considerou essa análise um absurdo jornalístico, segundo ele, uma atitudesimplista de encaixar tudo de modo sistemático em um mundo de preto e branco.

Para Torvalds, o Linux era nada mais do que aperfeiçoar a tecnologia que as empresas

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criam, e talvez torná-las menos gananciosas.

Em meados de 1996, na lista de discussão do Linux, o assunto era a criação de um logo oumascote para o Linux. Foram muitas as sugestões, algumas envolvendo paródias de logosde outros sistemas operacionais ou eram animais fortes e ferozes tais como tubarões ouáguias. Em algum momento, Linus Torvalds mencionou que era afeiçoado por pingüins eentão o debate se encerrou. Depois de diversas tentativas de desenhar pingüins em váriasposes, alguém sugeriu que fosse adotado um pingüim forte segurando o mundo. SegundoTorvalds, o pingüim não era realmente forte o bastante para manter levantado o mundo, paraele, o mundo o esmagaria. Torvalds enviou um e-mail para o newsgroup informando:

- "Esse não é um logo muito bom. Agora quando você pensa sobre pingüins, pensenele esperto, atraente e alimentado. Agora trabalhando nesse ângulo, quando vocêpensa em um pingüim, você deve imaginar um pingüim levemente acima do peso,relaxando após ter comido vários peixes e arrotado. Está sentado lá com um sorriso epensando em como o mundo é um lugar bom pra se viver, e está refletindo enquantoaguarda outro arroto vir. Ele não é gordo, você deve perceber que ele está sentado echeio, por ter se alimentado bem. Se vocês tiverem problemas com peixes, pensemem chocolate ou algo que vocês gostem muito, e comecem a idéia daí. Assim que nósdevemos pensar, em um pingüim adorável, satisfeito, sentado, após ter se alimentado.Agora vem a parte difícil, com essa imagem gravada em suas mentes, esbocem odesenho, sem detalhes, apenas em tons de preto. Isso requer talento. Dêem ao povoo esboço e eles deverão dizer com uma voz doce: "Ooh, que pingüim adorável." Entãocrianças bem alimentadas gritarão para suas mães: "Mãe, posso ter um pra mim?"Então nós podemos fazer uma versão com algum detalhamento maior. Não queremos dar a imagem do pingüim macho que levanta o mundo.

Após diversas tentativas, Larry Ewing, vencedor do concurso do desenho do pingüim,agradeceu à Linus Torvalds, pois sem essa descrição, ele estaria tentando fazer um triângulocom o nome Linux escrito dentro dele.

Figura 4.1. Pinguim desenhado por Larry Ewing.

Linus Torvalds explicou mais tarde o porque da sua escolha pelo pinguim como o símbolo doLinux:

- "Não tenho nada a acrescentar, eu gosto de pingüins. Quando eu estava emCanberra alguns anos atrás, fomos a um Zoológico local e lá havia um pingüim ferozque me mordeu e me infectou com uma doença chamada Pinguinite. Pinguinite fazvocê permanecer acordado de noite pensando apenas sobre pinguins. Assim, quandoeu pensei em um mascote, a primeira coisa que me veio a cabeça foi um pingüim.

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Brincadeira... Sim eu fui mordido por um pingüim, mas ele não era realmente feroz.Era um pingüim pigmeu de aproximadamente 6 polegadas que me deu uma tímidamordidela no dedo, acho que pensou que meu dedo era um peixe pequeno ou algoparecido. A respeito por que do uso do pingüim como logo? Nenhuma razão boa,realmente. A associação é que conta. Eu posso pensar em pingüins de vários tipos.Ter um pingüim como logo, dá mais liberdade para quem quer usar o Linux do queassociado a um logo específico, como um triângulo ou uma coisa abstrata. Usar algocomo um pingüim dá ao povo a possibilidade de fazer modificações que ainda nãoforam feitas de acordo com o que você quiser. Assim você pode ter um pingüim vivo,real com uma característica pessoal por exemplo, e as pessoas começarão aassociação. Ou você pode ter um pingüim que faça algo específico, como um pingüimdigitando no Word Perfect, para o desenho da capa do CD do Word Perfect paraLinux. O que você quiser, o pingüim pode fazer. Agora compare isso à um logo maisabstrato, como o logo do Windows da Microsoft . Você não pode realmente fazermuita coisa com ele, ele apenas é!

4.5Dados do mercado Linux

Segundo os dados do site The Linux Counter (counter.li.org), o número de usuários Linuxregistrados é de 133.385 (cento e trinta e três mil trezentos e oitenta e cinco).

Figura 4.2. Serviços utilizadosServidores PorcentagemServidores Domain Name Service 10%Servidor de Arquivos 3%Firewall 14%Servidor FTP 4%Estudo 15%Servidor de e-mail 10%Outros servidores 11%Programação 33%Fonte: counter.li.org/reports/machines.html

A empresa de consultoria Reasoning realizou um estudo em que analisa e compara asimplementações do protocolo TCP/IP, de diversos sistemas operacionais, e descobriu que oLinux apresentava uma qualidade maior do que os seus concorrentes fechados. O estudochegou a conclusão de que o Linux apresentava o menor número de erros, com uma taxa de8 erros encontrados nas 81.852 linhas de código do Linux. Segundo a empresa em notaoficial, o Linux demonstrava claramente uma qualidade de código superior asimplementações comerciais encontradas em sistemas operacionais de propósito geral.28

De acordo com o CNET News, o número de servidores Linux vendido nos Estados Unidos no

28 Reasoning Releases New Study showing open source model produces high quality software.(www.reasoning.com/news/pr/02_11_03.html)

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último ano cresceu cerca de 90% em ralação a 2001.

O total movimentado pelos servidores Linux em 2000 foi cerca de US$ 384,6 milhões,enquanto que em 2001 o valor foi de US$ 202,2 milhões.29

Se for realizada uma pesquisa no site de busca Google (www.google.com) pelas palavrasLinux e Microsoft, o resultado será:

• Linux – 53.300.000 ocorrências

• Microsoft – 37.100.000 ocorrências

A empresa Netcraft possui uma ferramenta de pesquisa, onde coleta os dados de váriaspáginas na Internet. Até fevereiro de 2003, a ferramenta coletou respostas de 35.863.952sites.30

• 22.045.420 sites estão rodando o software livre Apache.

• 9.739.590 sites estão rodando o software proprietário Microsoft.

• 4.078.942 sites estão rodando outros softwares.

Segundo pesquisa realizada pelo IDC, o mercado de computadores está atualmente divididocom a seguinte proporção31:

• Windows – 41%

• Linux – 27%

• Netware – 17%

• Unix – 13%

• Outros – 2%

29 Sales increase for U.S Linux servers (news.com/2100-1001-984010.html).30 Market share for top servers across all domains – February 2003 (www.netcraft.com/survey).31 KUSNETZKY, Dan & GILLEN, Al. Linux: A journey into the enterprise. Framingham, 2000.

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5Conclusão

A liberdade do software é uma questão de liberdade, não de preço. Para entender oconceito, devemos pensar em "liberdade de expressão", não em "cerveja grátis". Software livre se refere à liberdade dos usuários executarem, copiarem, distribuírem,estudarem, modificarem e aperfeiçoarem o software. Mais precisamente, ele se refere aquatro tipos de liberdade, para os usuários do software:

• A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito.

• A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suasnecessidades.

• A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo.

• A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo quetoda a comunidade se beneficie.

Copyleft , apresentado de forma bem simples, é a regra de que, quando redistribuindo umprograma, você não pode adicionar restrições para negar para outras pessoas as liberdadesprincipais. Esta regra não entra em conflito com as liberdades, na verdade, ela as protege.Regras sobre como empacotar uma versão modificada são aceitáveis, se elas não acabambloqueando a sua liberdade de liberar versões modificadas.

Competição faz com que as coisas sejam feitas melhor. O paradigma da competição é umacorrida: recompensando o vencedor. O Linux encora todos a correr mais rápido. Quando ocapitalismo realmente funciona deste modo, ele faz um bom trabalho; mas os defensoresestão errados em assumir que as coisas sempre funcionam desta forma. Se os corredores seesquecem do porque a recompensa é oferecida e buscarem vencer, não importa como, elespodem encontrar outras estratégias, como, por exemplo, atacar os outros corredores. Se oscorredores se envolverem em uma luta corpo-a-corpo, todos eles chegarão mais tarde.

Segundo Weber32, o maior bem das pessoas é ganhar cada vez mais dinheiro, e se oindivíduo encara o dinheiro como o seu objetivo maior, o valor do trabalho em si não importamuito.

O modelo de desenvolvimento do Linux resgata alguns valores que vão contra as regras docapitalismo. Enquanto as empresas detém o seu diferencial competitivo mantendo segredosdos seus produtos, o Linux encontra na livre distribuição o seu maior aliado.

32 Weber, Max. The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. Londres: Routledge, 1992.

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Na filosofia de trabalho do Linux, as pessoas se divertem ajudando umas as outras e derepente tudo isso vira um produto, competindo com produtos de mercado.

Fazendo uma comparação ao modelo de marketing dos quatro Ps, podemos afirmar que oLinux seguiu a mesma regra adotada por todas as empresas, mas utilizando ferramentasdiferentes.

Figura 5.1. Mix de marketing do Linux.Linux

Produto Linus Torvalds desenvolve um sistema operacional como hobby e obtém ajuda deoutros desenvolvedores na Internet.

Preço Linux é caracterizado como software livre e está baseado na licença GPL Praça O Linux é desenvolvido e distribuído na Internet com a ajuda de colaboradores. A

abrangência é mundial.Promoção O Linux é promovido por desenvolvedores, voluntários, empresas privadas,

instituições de ensino e instituições governamentais.

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