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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A REINCIDENCIA GESTACIONAL EM ADOLESCENTES:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Por: Bianca Dargam Gomes Vieira
Orientador
Profa. Narcisa Castilho Melo
Rio de Janeiro
2015
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A REINCIDENCIA GESTACIONAL EM ADOLESCENTES:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Sexualidade.
Por: Bianca Dargam Gomes Vieira.
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RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo analisar o conhecimento científico brasileiro
produzido sobre a reincidência gestacional em adolescentes. Estudo bibliográfico,
descritivo usando o método da revisão integrativa da literatura, quando os dados foram
coletados em setembro de 2014 utilizando as bases de dados do Medical Literature on
Line, Literatura da América Latina e Caribe, Base de Dados de Enfermagem, em
conformidade com critérios de inclusão previamente estabelecidos.
O capítulo 1 apresentou a as políticas públicas sobre a saúde do adolescente e a
relação com a saúde sexual e reprodutiva dos mesmos, enquanto direitos humanos. O
capítulo 2 trouxe as questões frente a gravidez na adolescência e a reincidência
gestacional nesta mesma fase. O capítulo 3 abordando o resultado e discussão do estudo
demonstrou que a amostra final foi constituída por cinco estudos nacionais, indicando
que a reincidência gestacional em adolescentes é investigada em maternidades, mas que
entretanto prevalecem pesquisas em unidades básicas de saúde. A abordagem utilizada
predominantemente foi a quantitativa.
Portanto conclui-se que os estudos recomendam a necessidade de orientações
direcionadas para a população jovem acerca do processo reprodutivo e do planejamento
familiar, como também a existência, preparo e organização de serviços de saúde de
qualidade, bem como dos profissionais, principalmente de Enfermagem, preparados
para esse público.
Palavras-chave: gravidez na adolescência; reincidência gestacional; planejamento
familiar.
6
METODOLOGIA
Estudo bibliográfico de caráter descritivo que utilizou o método da revisão
integrativa da literatura para coleta e análise dos dados.
A revisão integrativa consiste num método de pesquisa que permite estabelecer
uma síntese e conclusões gerais a respeito de uma área de estudo em particular,
realizada de maneira sistemática e ordenada, com o objetivo de contribuir para o
conhecimento investigado (GANONG, 1987; WHITTEMORE E KNAFL, 2005).
Para tanto, foram observadas as seguintes etapas: elaboração da pergunta
norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos
estudos incluídos; discussão dos resultados e apresentação da revisão/síntese do
conhecimento (SOUZA, SILVA e CARVALHO, 2010).
A primeira etapa consistiu na identificação do tema e seleção da questão de
pesquisa, que se desenvolveu a partir da temática adolescente puérpera acerca da
prevenção da gravidez. Assim, foi delimitada a seguinte pergunta norteadora: qual o
conhecimento científico produzido sobre a reincidência gestacional em adolescentes?
Na segunda etapa, foi utilizada a seleção dos Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS): Saúde do Adolescente; Período Pós-Parto; Planejamento Familiar e
Anticoncepção. Quando serão combinados das seguintes formas: Saúde do Adolescente
AND Período Pós-Parto; Período Pós-Parto AND Planejamento Familiar; Período Pós-
Parto AND Anticoncepção.
Ainda nesta etapa foram delimitados os critérios para busca na literatura por
meio da seleção dos estudos indexados nas bases de dados: pesquisas publicadas
abordando a temática/descritores no título e/ou resumo onde o sujeito investigado era a
adolescente, em forma de artigo completo, não sendo revisão de literatura, em
periódicos nacionais e internacionais, em português, inglês e espanhol; publicadas no
período de 2009 a 2014, disponível eletronicamente durante o mês de setembro de 2014.
7
Foram localizados 58 artigos, sendo que apenas 5 atenderam aos critérios de
inclusão.
Na terceira etapa desta revisão integrativa, procedeu-se à coleta dos dados nos
estudos selecionados. Essas informações foram catalogadas em um instrumento
elaborado que contemplou: base de dados, idioma, categoria profissional dos autores,
ano de publicação, características metodológicas, principais resultados, e as
recomendações/sugestões de novas pesquisas.
Para atender a quarta e quinta etapas, foi realizada uma análise crítica dos
estudos selecionados, observados os aspectos metodológicos e as confluências e
divergências entre os artigos encontrados, seguida da discussão dos mesmos.
Na sexta e última etapa da revisão integrativa, foi elaborada a apresentação da
revisão/síntese do conhecimento das evidências disponíveis, sendo organizada em
temas, gerando as categorias.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................... 09
CAPÍTULO 1 - Políticas públicas que assistem a adolescência na perspectiva da sexualidade ............................... 17
CAPÍTULO 2 - Gravidez e sua reincidência na adolescência ............................... 21
CAPÍTULO 3 - Resultado e discussão ............................... 25
CONCLUSÃO ............................... 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................... 34
9
INTRODUÇÃO
Considerações Iniciais
O objeto de estudo desse trabalho é o conhecimento científico produzido sobre a
reincidência gestacional em adolescentes.
Durante a minha trajetória profissional, ou seja, da minha prática assistencial nas
maternidades e unidades básicas de saúde às adolescentes durante as orientações sobre
prevenção da gravidez, a problemática desse estudo emergiu.
Nessas ações cotidianas inquietava-me o fato de que a maioria dessas
adolescentes desconhecia informações sobre o sexo seguro e responsável, opções e
negociações entre os parceiros dos métodos contraceptivos, as consequências de uma
gravidez não planejada e das doenças sexualmente transmissíveis, e que nesses espaços,
por muitas vezes na maternidade, onde as mesmas necessitam também receber
orientações sobre prevenção da gravidez, por estarem em puerpério, o mesmo não
acontecia por falta de preparo dos profissionais sobre ações de educação em saúde, e
principalmente pela inadequada abordagem e falta de entendimento as questões
relativas à adolescência, como também as questões relativas à gravidez, puerpério e
prevenção da gravidez para a própria adolescente em seu momento.
Visto que a prevenção da gravidez é importante e necessária principalmente quando a
adolescente já possui um outro filho, e por estar muitas das vezes em risco frente à uma nova
gravidez indesejada nesta etapa da vida, e por consequência à mercê de possíveis
complicações advindas de um reduzido intervalo interpartal, podendo caracterizar gestações
de alto risco contribuindo para aumentar os índices de óbitos materno.
Problematização
10
A palavra adolescência deriva do latim adolescere, que significa “crescer”. A
Organização Mundial da Saúde (OMS), como o Programa de Saúde do Adolescente
(PROSAD) define adolescência como a faixa etária entre 10 e 19 anos, e o Estatuto da
Criança e Adolescência (ECA) - Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, entre a faixa etária
de 12 e 18 anos (BRASIL,1990).
A adolescência corresponde ao período da vida no qual ocorre profundas
mudanças, caracterizadas, principalmente, por crescimento rápido, surgimento das
características sexuais secundárias, conscientização da sexualidade, estruturação da
personalidade, adaptação ambiental e integração social (YAZLLE, 2006).
A adolescência e a juventude são etapas fundamentais do desenvolvimento
humano, como são também as demais fases da vida. Trata-se de uma etapa de
descobertas e desafios, de vivências e expectativas sociais diversas, presentes e
concretas. (BRASIL, 2006).
O adolescente, jovem e adulto devem ter autonomia e liberdade sobre seus
corpos frente às questões sexuais, como dimensão fundamental da saúde, a reprodução e
sexualidade, assegurando o direito de escolha como princípio de cidadania.
A Organização Mundial da Saúde em 1988 na Conferência do Cairo definiu o
conceito de saúde reprodutiva como:
um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não de mera ausência de doença ou enfermidade, em todos os aspectos relacionados ao sistema reprodutivo, suas funções e processos (BRASIL, 2006, p.34).
Os direitos reprodutivos incluem adolescentes, jovens e adultos do sexo
feminino e masculino nas políticas públicas voltadas para a saúde sexual e saúde
reprodutiva, sem distinção de raça, etnia, aspectos sociais, culturais, morais, físicos e
orientação sexual (BRASIL, 2006).
As estratégias de ações em saúde devem ser elaboradas e executadas nos três
entes federativos (Federal, Estadual e Municipal) visando à redução de riscos, ao qual
11
esse segmento populacional encontra-se mais exposto, como: a gravidez precoce, aborto
induzido e as doenças sexualmente transmissíveis, além do uso de drogas, os acidentes e
as diferentes formas de violência (BRASIL, 2006).
A gravidez precoce neste grupo populacional é considerada, em alguns países
incluindo o Brasil, um problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar
complicações obstétricas, com repercussões para a mãe e o recém-nascido, bem como
problemas psicossociais e econômicos. (YAZLLE, 2006).
Coates e Sant`Anna, (2001) relatam que, nos últimos 20 anos, a modificação dos
padrões da sexualidade repercutiu no aumento da incidência da gravidez na
adolescência, particularmente nos países em desenvolvimento. Embora a ocorrência da
gestação na adolescência seja frequente em todos os níveis sociais, a maior incidência
ocorre nas populações de baixa renda e nas adolescentes mais jovens, pois fatores
biológicos, como o início cada vez mais precoce da puberdade e da idade da menarca,
têm acarretado uma antecipação da iniciação sexual, associada com a baixa
escolaridade.
Outros fatores podem ter contribuído para o número de gestações em
adolescentes: sexualidade considerada tabu, menarca precoce, deficiência na educação
sexual, estilo de vida urbana e quase total ausência de serviços de saúde especializados
voltados para adolescentes (SIMÕES, et. al., 2003).
A gestação na adolescência é considerada uma situação de risco biológico tanto
para as adolescentes como para os recém-nascidos. Alguns autores observaram que
características fisiológicas e psicológicas da adolescência fariam com que uma gestação
nesse período se caracterizasse como uma gestação de risco. Há evidências de que
gestantes adolescentes podem sofrer mais intercorrências médicas durante a gravidez e
mesmo após esse evento do que gestantes de outras faixas etárias. Algumas
complicações como tentativas de abortamento, anemia, desnutrição, sobrepeso,
hipertensão, pré-eclâmpsia e eclampsia, desproporção céfalo-pélvica e depressão pós-
12
parto estão associadas à experiência de gravidez na adolescência (BELARMINO,
MOURA, OLIVEIRA, FREITAS, 2009)
Assegurado pela Constituição Federal de 1988 e também pela Lei no 9.263, de
1996, o planejamento familiar é definido como um conjunto de ações que auxiliam as
pessoas que pretendem ter filhos e também quem prefere adiar o crescimento da família.
No Brasil, a Política Nacional de Planejamento Familiar foi criada em 2007,
incluindo a oferta de métodos (procedimentos, substâncias ou dispositivos)
contraceptivos gratuitos e também a venda de anticoncepcionais à preços reduzidos na
rede de Farmácias Populares.
Entende-se que a prevenção da gravidez parta dos profissionais de saúde para as
adolescentes como uma ação baseada na orientação específica para esse grupo sobre o
sexo seguro e responsável, opções e negociações entre os parceiros dos métodos
contraceptivos, sensibilização sobre as consequências de uma gravidez não planejada e
das doenças sexualmente transmissíveis.
Para Mandú (2001), sobre as questões sexuais dos adolescentes, aponta que:
as práticas sexuais esporádicas e não programadas, a delegação do cuidado com a própria vida ao outro, a submissão aos desejos do outro, a excessiva preocupação com o ato e desempenho sexual, a inibição para conversar e negociar com o parceiro o uso de camisinha ou outro método contraceptivo, são preocupações que dificultam o lidar com experiências saudáveis na sexualidade e reprodução.
Um estudo com adolescentes em reincidência gestacional constatou que 66,67%
delas referiram não ter planejado a primeira gestação e 77,78% não planejaram a atual.
O intervalo interginésico para a metade delas foi de 6 a 12 meses, e 11,11%
apresentaram nova gestação em um intervalo menor que seis meses. (PERSONA,
SHIMO e TARALLO, 2004).
A reincidência da gestação na adolescência ocasiona maior probabilidade de
problemas gestacionais e maternos como ausência de pré-natal, doenças da gestação
como hipertensão gestacional, infecção urinária, anemia além de possíveis
13
complicações advindas do pequeno intervalo interpartal (SILVA et al., 2013), como
partos prematuros, aborto espontâneo, acretismo placentário, placenta prévia, ruptura
uterina, maior prevalência de cesarianas e infecções sendo, inclusive, uma das
principais causas de morbimortalidade entre adolescentes em diversos países do mundo.
(SURITA et al., 2011)
Segundo especialistas, quando o intervalo interpartal é menor que 06 meses, as
mães têm maior probabilidade de sofrer de sangramento vaginal, ruptura prematura de
placenta, endometrite puerperal e anemia. Além disso, antes de 24 meses há maior
tendência a um ganho de peso que ultrapasse 15 quilos e maiores chances de diabete
gestacional (OLIVEIRA, 2012).
Questão norteadora
Neste intuito, se considera fundamental para o encaminhamento dessa pesquisa,
a seguinte questão norteadora:
ü Qual é o conhecimento científico brasileiro produzido sobre a reincidência
gestacional em adolescentes?
Objetivos
A partir do questionamento anteriormente citado, se elaborou os seguintes
objetivos para nortear esse estudo:
Geral:
ü Analisar o conhecimento científico brasileiro produzido sobre a reincidência
gestacional em adolescentes.
Específicos:
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ü Identificar o conhecimento científico brasileiro produzido sobre a reincidência
gestacional em adolescentes;
ü Descrever o conhecimento científico brasileiro produzido sobre a reincidência
gestacional em adolescentes;
ü Apresentar esse conhecimento científico produzido sobre a reincidência
gestacional em adolescentes.
Justificativa
Minha inquietação com a temática emergiu da prática assistencial nas
maternidades às adolescentes puérperas, em reincidência da gravidez, durante os
cuidados com as mesmas e as orientações sobre planejamento reprodutivo.
Nessas ações cotidianas foi quando se identificou, empiricamente, que a maioria
dessas adolescentes desconhecia os vários tipos de métodos contraceptivos, suas
indicações e limitações, e que na unidade hospitalar, espaço onde as mesmas necessitam
também receber orientações sobre planejamento familiar, o mesmo não acontecia por
falta de preparo dos profissionais sobre ações de educação em saúde, e principalmente
pela inadequada abordagem e falta de entendimento as questões relativas à
adolescência.
A partir desse momento por aprofundamento na literatura científica de livros e
manuais do Ministério da Saúde, se percebeu que somente a gravidez na adolescência
era abordada, e não a sua reincidência, que por analogia deveria trazer transtornos
emocionais, biológicos, sociais e econômicos reincidentes e redobrados somados a
primeira prenhez.
Desta forma esse assunto é importante para ser estudado devido ao fato de a
gravidez na adolescência, e a sua reincidência ser uma questão de saúde pública
15
nacional, afetando a adolescente, o bebê, as famílias envolvidas e a sociedade, mas
também sendo reflexo e refletindo as ações dos gestores e das políticas públicas de
saúde do País, representando ainda uma lacuna assistencial.
O estudo se justifica ainda por ser pautado nas políticas de Atenção à Saúde do
Adolescente e da Mulher frente às questões da Saúde Sexual e Reprodutiva, em prol da
qualidade e da integralidade da assistência à saúde sexual, ginecológica e obstétrica
junto ao Sistema Único de Saúde, como também no fortalecimento das pesquisas
científicas em relação a essa temática, para embasar as práticas de atenção no serviço da
Enfermagem e da Equipe Multidisciplinar, e no fomento às discussões na academia e na
pós-graduação.
Além de coadunar com a proposta da Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher, de 2004, que estimula a pesquisa na referente área, tendo como
finalidade a ampliação das oportunidades de discussão sobre essas questões,
objetivando a melhoria da assistência nos serviços de saúde à mulher adolescente frente
à saúde sexual e reprodutiva. Encontra-se também dentro das necessidades da Agência
Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde que incentiva pesquisas que versam
sobre a gravidez na adolescência.
Contribuição do estudo
Este estudo tem como contribuições para a assistência à saúde, possibilidades
para a construção e o desenvolvimento de novas estratégias em prol das adolescentes
em relação à reincidência da gravidez.
Para o ensino, apontando a necessidade de inclusão de abordagens diferenciadas
sobre planejamento familiar para as mulheres nessa fase da vida; e a possibilidade de
apontar caminhos na formação que atendam as necessidades de assistência à saúde da
mulher preconizada pela Política de Assistência Integral à Saúde da Mulher.
16
E para a pesquisa, no sentido de agregar, divulgar e ampliar novos espaços para
a investigação do conhecimento sobre a saúde sexual e reprodutiva desses sujeitos.
Desta forma, o estudo se apresenta em capítulos: de Fundamentação Teórica que
discorre e fundamenta a pesquisa, abordando a saúde do adolescente; os direitos
humanos: sexuais e reprodutivos; gravidez na adolescência e reincidência gestacional na
adolescência; de Metodologia, quando apresenta a abordagem, métodos e instrumentos
de pesquisa para atender aos objetivos da mesma; o de Resultado e Discussão, momento
em que os dados obtidos são analisados e discutidos sob à luz de referências literárias
pertinentes e atualizadas; e encerrando as Considerações Finais, indicando se o trabalho
atingiu aos objetivos e apontando caminhos em prol da saúde do adolescente embasados
na temática em questão.
17
CAPÍTULO 1 –
POLÍTICAS PÚBLICAS QUE ASSISTEM A
ADOLESCÊNCIA NA PERSPECTIVA DA SEXUALIDADE
Esse capítulo tem a intenção de estimular a reflexão sobre as
políticas públicas sobre a saúde do adolescente e a relação com a saúde
sexual e reprodutiva dos mesmos, enquanto direitos humanos.
1.1 Saúde do Adolescente
Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1986) e o Ministério da
Saúde, a adolescência compreende a fase da vida que vai dos 10 aos 19 anos, sendo que
a OMS subdivide em dois subperíodos: 10 a 14 anos e de 15 a 19 anos.
O Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), Lei 8.069 de 13 de julho de
1990, estabelece a faixa etária de 12 a 18 anos. (BRASIL, 1990)
Entretanto é preciso levar em conta, além da divisão cronológica, as
características das três fases da adolescência, que são consideradas atualmente como:
adolescência inicial (10 a 14 anos), adolescência média (15 a 17 anos) e adolescência
final (17 a 20 anos). (OUTEIRAL, 2008)
Então para salvaguardar esse grupo etário o Ministério da Saúde, por meio da
Portaria 980, de 21 de dezembro de 1989, cria o Programa de Saúde do Adolescente
(PROSAD), fundamentado em uma política de promoção à saúde, identificação de
grupos de risco, detecção precoce de agravos, tratamento adequado e reabilitação, com
as práticas educativas, permeando todas as ações, respeitando as diretrizes do Sistema
Único de Saúde, garantidas pela Constituição Brasileira de 1988. Entre as áreas
prioritárias deste Programa, encontram-se a sexualidade e a saúde reprodutiva.
(BRASIL, 1989)
18
O PROSAD tem a finalidade de promover, integrar, apoiar e incentivar práticas
em prol da saúde do adolescente nos estados, municípios, universidades, organizações
não-governamentais e outras instituições, devendo interagir com outros setores no
sentido da qualidade da assistência dos indivíduos dessa faixa etária, sempre de forma
integral, multisetorial e interdisciplinar. (BRASIL, 1989)
No ano de 1990, por meio da Lei no. 8.069 de 13 de julho de 1990 é criado o
Estatuto da Criança e Adolescência (ECA), sendo este um conjunto de normas do
jurídico brasileiro objetivando a proteção integral da criança e do adolescente.
(BRASIL, 1990)
Neste âmbito, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 4º, aponta que
é de responsabilidade da família, comunidade, sociedade em geral e poder público,
assegurar a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização,
cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar/comunitária. (BRASIL,
1990)
Em 1994, na cidade do Cairo, aconteceu um grande evento: a IV Conferência
Internacional sobre População e Desenvolvimento. Organizada pelo Fundo de
População das Nações Unidas, discutiram-se várias questões. Uma delas dizia respeito
ao direito de adolescentes e jovens à educação, à informação sobre sexualidade e saúde
reprodutiva, e à facilidade de utilização dos recursos indispensáveis para fazer as
escolhas de modo eficiente e seguro. (BRASIL, 2006)
O Brasil não apenas esteve presente na conferência, como assinou documento se
comprometendo a seguir as recomendações pactuadas durante o encontro. Havia
também uma questão referente aos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da
Educação, que explicita a inclusão de conteúdos relativos à sexualidade e saúde
reprodutiva como estratégia de valorização de direitos sexuais e reprodutivos, visando à
ampliação de direitos sociais. (BRASIL, 2006)
19
1.2 Direitos Humanos: Sexuais e Reprodutivos
Para que uma pessoa possa se encaixar na definição de saúde em qualquer
aspecto, ela precisa ter seus direitos reconhecidos e defendidos por uma legislação e um
órgão competente. (BRASIL, 2010)
A legislação é baseada na Constituição da República Federal, de 1988, Art.
196, e o órgão brasileiro responsável pela estruturação e efetividade desses direitos é o
Ministério da Saúde, sendo ele responsável pelos programas, pesquisas, formação de
parâmetros, conferindo também a este órgão, a superação das dificuldades na
implementação, entre outros.
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1998)
Na referida Constituição, § 7º do art. 226, é definido o conceito de Planejamento
Familiar, e as ações do governo para garantir a sua efetividade, e desta forma,
apontando que o Sistema Único de Saúde (SUS), em todos os seu níveis, estão
articulados a ofertar atenção integral à saúde, que inclua a assistência à concepção e à
contracepção. (BRASIL, 2010)
Entendendo que os direitos reprodutivos apontam o poder dos indivíduos em
decidir por si mesmo se querem ou não ter filhos, em qual momento de suas vidas,
assim como o direito a ter acesso à informação, meios e técnicas para conseguir
viabilizar sua decisão, a exercer a sua sexualidade e a reprodução livre de
discriminação, imposição e violência. (BRASIL, 2010)
E os direitos sexuais na escolha do indivíduo de viver e expressar de maneira
livre a própria sexualidade, sem discriminação e exclusão. Direito ainda de escolher o
20
parceiro sexual e viver a sexualidade livre de vergonha, culpa e falsas crenças
independente de estado civil, idade ou condição física; de escolher se quer o ou não ter
relação sexual e ter a relação independente de reprodução; de expressar sua orientação
sexual, seja ela qual for; ao sexo seguro para a prevenção de Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST), Human Immunodeficiency Virus (HIV) e Acquired Immune
Deficiency Syndrome (AIDS); assim como o direito de ter acesso os serviços de saúde
que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e à informação e à
educação sexual e reprodutiva. (BRASIL, 2010)
21
CAPÍTULO 2 –
GRAVIDEZ E SUA REINCIDÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA
Este capítulo traz as questões frente a gravidez na adolescência e a
reincidência gestacional nesta mesma fase.
2.1 Gravidez na adolescência
O exercício da sexualidade é um direito do ser humano, e os adolescentes, ao
optarem por exercê-la, devem ser conscientizados das implicações de uma gravidez não
planejada, pois a maternidade e a paternidade não envolvem somente a capacidade
física para exercê-las, mas, sim, o momento de auto-avaliação, considerando o encaixe
dessas funções dentro do projeto de vida de cada um. (BIÉ, DIÓGENES e MOURA,
2006)
De acordo com Bee (1996), segundo (NEINSTEIN, 1991) o momento de maior
risco para a ocorrência da gravidez é aproximadamente o primeiro ano depois do inicio
da atividade sexual, período no qual é menos provável que as adolescentes busquem
informações contraceptivas.
No que se refere à freqüência de adolescentes na procura do Serviço de
Planejamento Familiar, estudos têm revelado que, ao iniciar a vida sexual, as
adolescentes não se preocupam em acompanhar um serviço específico, a fim de receber
orientações e quando fazem, é de forma irregular culminando com a ausência da
anticoncepção, vindo muitas vezes a engravidar de forma precoce e não-planejada.
(ROMERO,1992; SANTOS JUNIOR, 1999)
A desinformação sobre os métodos anticoncepcionais entre os jovens pode
contribuir para o aumento de gravidezes, acarretando muitas complicações, que recairão
22
não somente sobre os adolescentes, mas especialmente sobre a mulher, bem como sobre
a criança, a família e a sociedade. (GUIMARÃES, VIEIRA e PALMEIRA, 2004)
Estudos realizados em diferentes países e grupos sociais demonstram aumento
da taxa de fecundidade nas adolescentes, em confronto com a diminuição dessas taxas
na população geral. No Brasil, essa realidade vem sendo constatada pelo crescente
número de adolescentes nos serviços de pré-natal e maternidade, sua maior incidência
nas populações de baixa renda e a associação entre alta fecundidade e baixa
escolaridade. (BRASIL, 2005)
2.2 Reincidência gestacional na adolescência
Anualmente, no Brasil, cerca de um milhão de jovens, entre 10 e 19 anos de
idade, tornam-se mães, e por vezes tal condição acaba sendo reincidente ainda nesta
fase de vida. (SCHIRO et al., 2012)
Uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Ceará demonstrou
percentuais de reincidência gestacional em níveis superiores, ao redor de duas vezes o
percentual encontrado no sul do Brasil. Nessa pesquisa realizada no nordeste, os autores
referiram que a gestação na adolescência repete-se muitas vezes, ainda nessa faixa
etária, chegando a 50%a taxa de reincidência no segundo ano pós-parto. Em serviços
especializados para mães adolescentes, ocorre em até 39% das vezes, nos dois anos
subsequentes à gravidez juvenil. (SANTOS et al., 2009)
As mulheres que se tornam mães na adolescência tendem a ter um maior número
de filhos durante toda a sua vida reprodutiva. Na maioria dos casos, a primeira gravidez
não é planejada, e algumas vezes até indesejada, chegando a 50% sua taxa de
reincidência, no segundo ano pós-parto (DUARTE e SIMÕES, 1998). Assim, a
probabilidade de as gestações seguintes adquirirem o caráter não desejado da primeira
torna-se altíssima. (VELHO et al, 2014)
23
Desta forma com o aumento do número de gestantes adolescentes surgem
grandes desafios para a atenção à saúde da mulher, em face à imaturidade do corpo
feminino, que pode sofrer algum tipo de comprometimento. (SANTOS et al, 2009)
Entre as mulheres com idade entre 15 a 19 anos a chance de ocorrência de morte
é duas vezes mais elevada que as maiores de 20 anos, e entre as menores de 15 anos é
ainda cinco vezes maior. (REDE FEMINISTA DE SAÚDE, 2004)
A repetição da gravidez nas adolescentes é considerada como agravante ao
problema, uma vez que o período gestacional ideal, ou seja o intervalo interpatal, para o
organismo feminino é desrespeitado, situação que pode conduzir a condições maternas e
perinatais desfavoráveis. (MAUCH et al , 2005)
O intervalo interpartal, segundo o Ministério da Saúde (2000), é definido como o
espaço de tempo entre o nascimento do último filho para o atual, sendo um intervalo
inadequado o período menor que dois anos ou maior que cinco, constituindo, desta forma, um
fator de risco na história reprodutiva da mulher.
Com o intuito de reverter esta situação de gravidez, muitas adolescentes
recorrem à prática de aborto clandestino. (VELHO et al, 2014)
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), dos quatro milhões
de abortos realizados no Brasil, por ano, em torno de 25% deles ocorrem em
adolescentes. Como complicação dessa prática, não legalizada e insegura, muitas
mulheres tornam-se estéreis e cerca de 200.000 morrem, sendo esta a maior causa de
morte entre adolescentes femininas no país. (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA
DA SAÚDE, 2010)
Observa-se, também, nessa condição, a presença e a influência de fatores
sociodemográficos, dentre os quais se destacam a pobreza e a educação (SILVA et al.,
2013), como também os psíquicos, com repercussões de longo prazo.
24
Tais aspectos, frequentemente, são mais difíceis de serem corrigidos e/ou
reconduzidos: a efetivação de uma educação escolar completa e a qualificação
profissional deficitária que geram dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, bem
como maiores índices de instabilidade conjugal com mais separações e divórcios.
(MOCCELLIN et al., 2010)
Da mesma forma, há relatos de que a imaturidade emocional da mãe adolescente
pode repercutir negativamente no estabelecimento de relações afetivas com o filho,
gerando, inclusive, uma maior incidência de maus tratos às crianças. (PAIVA;
CALDAS; CUNHA, 1998)
Todos os fatores relacionados concorrem para um aumento do risco de agravos à
saúde física e emocional da adolescente e de seu filho. (VELHO et al, 2014)
Mesmo com taxas de gravidez na adolescência alarmantes, ainda existem, no
Brasil, poucos programas governamentais voltados preventivamente para este aspecto e,
quase nenhum suporte financeiro ou preparatório para o trabalho é oferecido pelas
esferas oficiais, às meninas que se tornaram mães precocemente. (PARIZ;
MENGARDA e FRIZZO, 2012)
Seriam necessários programas governamentais de ajuda, prevenção e
reintegração das jovens e/ou seus companheiros ao meio social, por meio de
oportunidades educacionais e profissionais, além de auxílio financeiro aos filhos.
(VELHO et al, 2014)
Os serviços de saúde devem aportar condições de auxiliar a educação dos
jovens. É relevante ressaltar a integração da perspectiva de gênero nesta abordagem
educativa, principalmente na área afetivo-sexual, pois auxiliar na aquisição das
possibilidades e potencialidades das mulheres pode, em primeira instância, auxiliar a
postergar uma gravidez. Entende-se que essa é uma mudança fundamental e que,
portanto, deve se fazer presente nos serviços de educação e saúde. É preciso ir além da
mera informação reprodutiva ou anticonceptiva. (VELHO et al, 2014)
25
CAPÍTULO 3 –
RESULTADO E DISCUSSÃO
Este capítulo de resultado e discussão aclara a revisão integrativa
realizada trazendo os estudos encontrados sobre a temática em questão.
Portanto esta revisão integrativa foi constituída por cinco estudos em português,
que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, das seguintes bases
de dados: um da BDENF e quatro do LILACS.
A apresentação dos dados e discussão dos resultados foi feita de forma descritiva
e comparativa apoiando-se em literatura pertinente do assunto visando atender ao
objetivo do estudo.
Em relação à categoria profissional dos autores ressalta-se que todas as
publicações selecionadas são de autoria de enfermeiros sendo que em dois estudos
(CAMINHA et al, 2012; VILARINHO, NOGUEIRA e NAGAHAMA, 2012) observou-
se a participação de graduandos em Enfermagem.
Quanto ao ano de publicação, três estudos foram publicados no ano de 2013
(CAMINHA et al, 2012; VILARINHO, NOGUEIRA e NAGAHAMA, 2012;
DUARTE, HOLANDA e MEDEIROS, 2012), um estudo em 2011 (BARATIERI,
CAZETTA e MARCON, 2011) e o último em 2009 (SANTOS et al, 2011).
A abordagem utilizada predominantemente foi a quantitativa (CAMINHA et al,
2012; VILARINHO, NOGUEIRA e NAGAHAMA, 2012; DUARTE, HOLANDAe
MEDEIROS, 2012; SANTOS et al, 2011) e a qualitativa (BARATIERI, CAZETTA e
MARCON, 2011) aparece em apenas um estudo.
O desenvolvimento dos artigos apontou para um estudo de corte transversal
descritivo (CAMINHA et al, 2012), uma pesquisa avaliativa, com delineamento
26
transversal (VILARINHO, NOGUEIRA e NAGAHAMA, 2012), um de caráter
descritivo (DUARTE, HOLANDA e MEDEIROS, 2012) e dois estudos descritivo-
exploratório (BARATIERI, CAZETTA e MARCON, 2011; SANTOS et al, 2011).
No que tange aos contextos onde os estudos foram desenvolvidos: dois em
maternidades (CAMINHA et al, 2012; VILARINHO, NOGUEIRA e NAGAHAMA,
2012) e três em unidades básica de saúde (DUARTE, HOLANDA e MEDEIROS, 2012;
BARATIERI, CAZETTA e MARCON, 2011; SANTOS et al, 2011).
Dos estudos um foi desenvolvido na região nordeste, no estado do Ceará
(CAMINHA et al, 2012), um na região norte, no estado do Piauí (VILARINHO,
NOGUEIRA e NAGAHAMA, 2012), um na região centro-oeste, no Distrito Federal
(DUARTE, HOLANDA e MEDEIROS, 2012), um na região sul, no Paraná
(BARATIERI, CAZETTA e MARCON, 2011), e um na região sudeste, em São Paulo
(SANTOS et al, 2011).
Quanto às vertentes estudadas, identificou-se um estudo sobre o perfil das
puérperas adolescentes atendidas em uma maternidade (CAMINHA et al, 2012), um
acerca da avaliação da qualidade da atenção à saúde das adolescentes no pré-natal e
puerpério (VILARINHO, NOGUEIRA e NAGAHAMA, 2012), um relacionado à
avaliação do conhecimento contraceptivo entre as adolescentes grávidas (DUARTE,
HOLANDA e MEDEIROS, 2012), um a respeito da percepção da jovem mãe sobre a
reincidência gestacional na adolescência (BARATIERI, CAZETTA e MARCON,
2011), e um com referência ao perfil das adolescentes com reincidência de gravidez
(SANTOS et al, 2011).
Da apresentação da revisão/síntese do conhecimento das evidências disponíveis,
dos artigos selecionados, emergiram temas que foram organizados, gerando as
categorias: adolescentes em puerpério e a adolescente em reincidência da gravidez.
Adolescentes em puerpério
27
No estudo quanto ao perfil das puérperas adolescentes atendidas em uma
maternidade (CAMINHA et al, 2012) pôde-se inferir que o perfil das adolescentes
grávidas são mulheres de 15 a 19 anos, que têm baixa escolaridade e que estão unidas
consensualmente ao parceiro.
Vale destacar uma sensível adesão das adolescentes aos métodos anticonceptivos
antes de vivenciarem a gestação. No entanto, pode-se inferir o provável uso inadequado
dos métodos.
Evidenciou-se também o desejo de engravidar entre as jovens; mesmo não tendo
planejado uma gravidez, consideraram-na bem-vinda, o que indica aceitação do
processo gestacional.
Em relação aos riscos envolvidos em uma gravidez precoce, percebeu-se que a
maioria não necessitou de internação hospitalar durante o processo gestacional, apesar
de vivenciarem os sinais e sintomas comuns à gestação.
O estudo recomenda a necessidade de orientações direcionadas para a população
jovem, em linguagem clara e acessível, acerca do processo reprodutivo e do
planejamento familiar, destacando-se os tipos de métodos contraceptivos e seu uso de
forma adequada, possibilitando um maior conhecimento e empoderamento quanto à
tomada de decisão na adoção de um comportamento sexual saudável.
Destaca-se a importância do enfermeiro como um verdadeiro educador em saúde
e sua inserção no mundo escolar com o objetivo de realizar um acompanhamento dos
adolescentes, utilizando variadas estratégias de educação em saúde que visem capacitá-
los e torná-los autônomos na sua promoção da saúde, evitando, dessa forma, os
principais problemas que atingem essa faixa etária, como a gravidez não planejada e as
doenças sexualmente transmissíveis.
Quanto ao estudo sobre a avaliação da qualidade da atenção à saúde das
adolescentes no pré-natal e puerpério (VILARINHO, NOGUEIRA e NAGAHAMA,
2012), os resultados apontam a necessidade de melhorar a organização dos serviços de
28
saúde para o acolhimento e acompanhamento das adolescentes desde o pré-natal até o
puerpério por uma equipe multidisciplinar. E recomenda captar precocemente as
gestantes adolescentes, sensibilizá-las sobre a relevância do retorno ao serviço para
revisão puerperal, educar permanentemente os profissionais de saúde que assistem estas
adolescentes e criar estratégias e campanhas educativas que facilitem o acesso das
adolescentes aos serviços de saúde, com objetivo de informá-las, garantir acesso aos
métodos contraceptivos, prevenir agravos à saúde e evitar a reincidência da gravidez na
adolescência.
A adolescente em reincidência da gravidez
Em relação ao artigo sobre a avaliação do conhecimento contraceptivo entre as
adolescentes grávidas (DUARTE, HOLANDA e MEDEIROS, 2012), o estudo apontou
que as adolescentes demonstraram conhecimento inadequado em relação a alguns
métodos contraceptivos, baixa frequência e uso indevido desses métodos.
Recomendando a necessidade da existência, preparo e organização de serviços
de saúde de qualidade, bem como dos profissionais de enfermagem para que busquem
aperfeiçoamento constante, no intuito de otimizar a relação entre os adolescentes e a
equipe de saúde, melhorando a qualidade da assistência, captando essas jovens, e
criando uma relação de confiança, apoio, compromisso e respeito a fim de identificar as
reais necessidades dessas jovens, ajudando-as a fazer escolhas conscientes. Como
também a investigação dos fatores sociais, econômicos, culturais e institucionais que
permeiam a gravidez precoce.
O artigo que trata do perfil das adolescentes com reincidência de gravidez
(SANTOS et al, 2011) traz a crença que existe uma influência multifatorial que leva à
repetição de gravidez na adolescência, como a ideia pré-concebida de que nada de ruim
pode lhe acontecer, o uso incorreto dos métodos contraceptivos disponíveis e até mesmo
o desejo de uma nova gestação.
29
Com relação ao perfil sociodemográfico das adolescentes com reincidência de
gestação, evidenciou-se que estas possuem baixo nível de escolaridade e alto índice de
evasão escolar, assim como uma situação financeira de baixa renda.
Dados relacionados à situação marital das gestantes demonstraram que a maioria
possui um parceiro fixo juntos por meio de uma união estável.
O perfil ginecológico e obstétrico evidenciou que a média da idade na menarca
foi de 12,25 anos, ocorrendo no início da adolescência assim como a idade na primeira
relação sexual cuja média foi de 13,5 anos.
Observou-se que a primeira gestação ocorreu entre um e dois anos após a
primeira relação sexual.
Todas as adolescentes participantes do estudo relatavam ter conhecimento sobre
anticoncepcional oral e preservativo masculino, entretanto estas informações não foram
suficientes para que estas evitassem a gravidez.
Uma parcela pouco significativa das garotas desejava a gravidez e a maioria
ficou grávida inesperadamente.
O principal motivo alegado para a recente gestação foi o uso irregular dos
métodos anticoncepcionais, principalmente por sentir-se mal com o uso de
anticoncepcional oral e não gostar do uso do preservativo masculino.
O estudo recomenda uma ação de reeducação sexual e campanha de adesão aos
métodos anticoncepcionais; avaliando caso a caso e adequando o método mais indicado
a cada adolescente.
E quanto ao estudo sobre a percepção da jovem mãe sobre a reincidência
gestacional na adolescência (BARATIERI, CAZETTA e MARCON, 2011), emergiu o
conhecimento das mesmas sobre o uso adequado dos métodos contraceptivos, porém
30
não o utilizando, apesar de apontarem desvantagens consistentes em relação a ter filhos
na adolescência, principalmente sobre o abandono escolar, perda da liberdade e
aumento da responsabilidade.
A ocorrência da reincidência gestacional evidenciou-se principalmente pelas
expressões: “descuido” e “aconteceu”, o que remeteu aos autores a confirmação de que
as adolescentes têm consciência, porém não tem maturidade para tomar atitudes
responsáveis de prevenção da gestação.
Portanto o estudo recomenda que as políticas de atenção aos adolescentes sejam
cada vez mais enfáticas nas questões do planejamento familiar, necessitando para isso
profissionais especialmente enfermeiros, adequadamente preparados, a fim de evitar
reincidências de gestação nessa fase, além da disponibilidade de métodos contraceptivos
diferenciados, viabilizando escolhas por parte dos adolescentes.
31
CONCLUSÃO
Esta pesquisa originou-se da necessidade de analisar o conhecimento científico
brasileiro produzido sobre a reincidência gestacional em adolescentes, objeto desse
estudo, no intuito de compreender as implicações para a assistência nos serviços de
saúde no atendimento à jovens em uma nova gravidez, visto que a prenhez nessa faixa
etária, em nosso País, é considerada um problema de saúde púbica, que por si, tendência
à complicações, riscos e desordens fisiológicas, emocionais, sociais e econômicas, não
somente para a moça e seu bebê, mas também para os outros sujeitos envolvidos,
advindos justamente da imaturidade biológica e psicológicas pertinentes desta etapa da
vida, mas que em sua recorrência pode agregar aborto espontâneo ou provocado e ainda
gestação de alto risco.
A decisão de utilizar como referencial teórico as Políticas Públicas nacionais e
conceitos sobre a saúde do adolescente, direitos sexuais e reprodutivos, gravidez na
adolescência e reincidência gestacional na adolescência foi fundamental para
aprofundar as reflexões e oferecer suporte para as discussões e análises sobre a questão
de estudo.
O caminho metodológico da investigação pautou-se numa abordagem
qualitativa, e como método estudo bibliográfico, descritivo usando a revisão integrativa
da literatura.
Para a análise dos resultados, utilizou-se como base as informações pertinentes
dos artigos científicos selecionados, classificando-os através das categorias. Em
seguida, estabeleceu-se articulações entre os dados coletados, as Políticas Públicas de
Saúde, e o pensamento de outros autores sobre a temática, que possibilitou sustentar a
análise científica e alcançar o objetivo proposto na presente pesquisa.
A revisão integrativa dos cinco estudos selecionados identificou que a categoria
profissional na maioria de todas as publicações foi de autoria de enfermeiros, quanto ao
32
ano de publicação predominância de artigos de 2013, a abordagem utilizada foi a
quantitativa, e o contexto mais desenvolvido foi em unidades básicas de saúde.
Foram duas as categorias que emergiram das informações dos resultados da
pesquisa, a saber: adolescentes em puerpério e a adolescente em reincidência da
gravidez.
A categoria “adolescentes em puerpério” identifica o perfil destas, atendidas em
uma maternidade, como mulheres de 15 a 19 anos, que têm baixa escolaridade e que
estão unidas consensualmente ao parceiro, com uso inadequado dos métodos
anticonceptivos, com aceitação positiva do processo gravídico e sem intercorrências
gestacionais, e aponta a necessidade de melhorar a organização dos serviços de saúde
para o acolhimento e acompanhamento das adolescentes por uma equipe
multidisciplinar durante o ciclo gravídico-puerperal.
Entretanto a categoria “a adolescente em reincidência da gravidez” apresenta
estas com baixo nível de escolaridade e uma situação financeira dificultosa, sendo a
maioria possuidora de um parceiro em união estável. O perfil ginecológico e obstétrico
evidenciado quanto a idade na primeira relação sexual foi em média de 13,5 anos, e a
primigesta ocorreu entre um e dois anos após a sexarca, inesperadamente. Aponta ainda
que as jovens demonstram conhecimento e uso inadequados em relação a alguns
métodos contraceptivos, a percepção das desvantagens em relação a ter filhos nessa
faixa etária, a perda da liberdade e aumento de responsabilidade. Alegam que a recente
gravidez se deu por uso irregular dos métodos contraceptivos, contudo os autores
indicam que a reincidência gestacional pode ser advinda de influencias multifatoriais.
Desta forma a pesquisa atendeu aos objetivos estabelecidos, encontrando como
limitação a escassez de estudos nacionais sobre a temática.
Portanto conclui-se que os artigos selecionados e analisados recomendam a
necessidade de orientações direcionadas para a população jovem acerca do processo
reprodutivo e do planejamento familiar, como também a existência, preparo e
33
organização de serviços de saúde de qualidade, bem como dos profissionais,
principalmente de Enfermagem, preparados para esse público.
34
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