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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO USP INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS ESTUDO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO MATERIAL PARTICULADO FINO (MP 2,5 ) EM PORTO ALEGRE E BELO HORIZONTE Dissertação de Mestrado DÉBORA RUIZ BRUM ORIENTADOR: PROFª. DRª. ADALGIZA FORNARO São Paulo Agosto 2010

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

ESTUDO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO MATERIAL PARTICULADO FINO

(MP2,5) EM PORTO ALEGRE E BELO HORIZONTE

Dissertação de Mestrado

DÉBORA RUIZ BRUM

ORIENTADOR: PROFª. DRª. ADALGIZA FORNARO

São Paulo Agosto 2010

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DÉBORA RUIZ BRUM

ESTUDO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO MATERIAL PARTICULADO FINO (MP2,5) EM PORTO ALEGRE E BELO HORIZONTE

Dissertação apresentada ao Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Atmosféricas.

Área de concentração: Meteorologia Orientadora: Profa. Dra. Adalgiza Fornaro

São Paulo Agosto 2010

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Aos meus queridos pais, Carpes e Rosane

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Agradecimentos

A Deus em primeiro lugar, por ter me dado condições de desenvolver este trabalho. Aos

meus pais, pelo carinho e incentivo constante, o que foi essencial e não permitiu meu

esmorecimento durante todo este processo. Ao Cláudio pela paciência, compreensão e o

apoio na execução final desta tarefa e ao Davi pelas longas tardes de sono, que permitiram

a finalização deste trabalho.

Em especial, à Professora Adalgiza Fornaro, pela orientação, paciência e principalmente

pelo apoio e confiança ao longo destes anos, o que foi primordial para o desenvolvimento e

conclusão deste trabalho.

A todos os professores e funcionário do Departamento de Ciências Atmosféricas - IAG/USP,

pela disponibilidade e ajuda sempre que solicitados por mim.

Às queridas amigas Rosana e Regina, responsáveis pelas análises realizadas no LAPAt,

pela amizade, carinho e essencial ajuda no desenvolvimento deste trabalho.

Às grandes amigas, Vanessa e Carol, que sempre estiveram me dando força nos momentos

mais difíceis e pela agradável companhia nos momentos alegres. Em especial, a Vanessa,

pela paciência e ajuda na correção de relatórios, monografia e alguns capítulos deste

trabalho.

Aos meus grandes amigos do Sul, Ivan, Felipe, Pinheirinho (Luiz Fernando), pelo

companheirismo nas horas de descontrações e pelo carinho nas horas tristes longe de casa.

Em especial, ao Diego, pela paciência em muitos momentos de estresse e pela amizade

que foi muito importante durante a estadia em São Paulo.

Aos meus companheiros e amigos de pensão, Carmen e Maicon, Pá e Olavo, pelos grandes

momentos que vivenciamos juntos.

Aos meteorologistas, Éliton do CPPMet de Pelotas, e o Flávio Wiegand da FEPAM pela

ajuda com dúvidas relacionada a meteorologia.

À CAPES pelo apoio financeiro (bolsa), sem o qual este trabalho não teria sido realizado.

Ao Prof. Dr. Paulo Saldiva (FM/USP), coordenador do projeto “AVALIAÇÃO AMBIENTAL,

SAÚDE E SÓCIO-ECONÔMICA DO PROCONVE EM 6 REGIÔES METROPOLITANAS”,

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financiado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Fundação Hewlett, que possibilitou

toda a infra-estrutura para a realização das amostragens.

A todos que, contribuíram direta ou indiretamente, para o desenvolvimento e conclusão

deste trabalho.

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Sumário Resumo ................................................................................................................................ 7

Abstract ................................................................................................................................ 8

1. Introdução ........................................................................................................................ 9

2. Revisão Bibliográfica .................................................................................................... 10 2.1 Breve Histórico da Poluição do Ar......................................................................... 10

2.2 Aerossol Atmosférico .............................................................................................. 12

2.2.1 Propriedades Físicas do Aerossol ................................................................. 13 2.2.2 Composição Química do Aerossol ................................................................. 15

2.3 Padrões de Qualidade do Ar.................................................................................. 16

2.4 Efeitos do Material Particulado na Saúde ............................................................ 17

2.5 Efeitos do Material Particulado no Clima .............................................................. 18 2.6 A Influência de Fatores Meteorológicos nos Níveis de Poluição ....................... 19

3. Caracterização das Regiões de Estudo ..................................................................... 20

3.1 Região Metropolitana de Porto Alegre - RMPA ................................................... 20 3.1.1 Características Climatológicas da RMPA – Rio Grande do Sul .................. 24

3.1.2 Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar................................................ 25

3.2 Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH .............................................. 26

3.2.1 Características Climatológicas da RMBH – Minas Gerais ........................... 31 3.2.2 Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar................................................ 32

4. Metodologia ................................................................................................................... 33

4.1 Locais de Amostragem ........................................................................................... 33 4.3 Métodos Analíticos.................................................................................................. 35

4.3.1 Gravimetria - Massa ........................................................................................ 35

4.3.2 Refletância - Black Carbon ............................................................................. 36

4.3.3 Florescência de Raios- X por Dispersão de Energia – Análise Elementar 37 4.3.4 Cromatografia de Íons - Cátions e Ânions Solúveis ..................................... 38

4.4 Índice de Fisher ....................................................................................................... 39

4.5 Dados Meteorológicos ............................................................................................ 40 5. Resultados e Discussões ............................................................................................. 40

5.1 Comportamento Médio de Acordo com o Dia da semana .................................. 53

5.2 Variabilidade sazonal ............................................................................................. 55

5.3 Análise dos Resultados da Composição Elementar ........................................... 57 5.4 Variabilidade Temporal das Concentrações Elementares ................................. 62

5.5 Análise dos Resultados da Composição Iônica ................................................... 66

6. Considerações Finais ................................................................................................... 69

7. Sugestões Para Trabalhos Futuros ............................................................................ 71 8. Referências Bibliográficas............................................................................................ 72

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Resumo O material particulado fino (MP2,5) tem sido considerado um dos poluentes

atmosféricos mais agressivos à saúde humana, principalmente para crianças e idosos. A

presente dissertação foi desenvolvida no âmbito do projeto com característica

multidisciplinar “AVALIAÇÃO AMBIENTAL, SAÚDE E SÓCIO-ECONÔMICA DO

PROCONVE EM 6 REGIÔES METROPOLITANAS”. O trabalho aqui apresentado estudou a

influência de fontes de emissões locais e condições meteorológicas nas concentrações de

massa, Black Carbon (BC) e composição elementar e iônica do MP2,5 de duas regiões

Metropolitanas: Belo Horizonte (15/05/2007 a 28/07/2008) e Porto Alegre (02/06/2007 a

31/08/2008). Apesar das duas cidades apresentaram características do ponto de

amostragem muito semelhantes (região central com intenso trafego de ônibus e veículos

leves), as condições meteorológicas foram bastante distintas entre si, com chuvas

igualmente distribuídas ao longo do ano em Porto Alegre, enquanto que em Belo Horizonte

observou-se período chuvoso de outubro a março. A concentração média de massa de

MP2,5 em Belo horizonte foi de 14,9 ±7,74 e em Porto Alegre de 14,6 ±13,2 µg.m-3, para o

Black Carbon foi de 4,68 ±3,41 e 4,07 ±4,55 µg.m-3, respectivamente. Nas duas regiões

verificou-se máximos de concentrações de MP2,5 e Black Carbon associados a períodos de

ausência de precipitação de até mais de 20 dias em Belo Horizonte e a ocorrência de

inversões térmicas abaixo de 500 m em Porto Alegre. Comparando-se os resultados nas

duas capitais, as concentrações de SO42- e NH4

+ foram praticamente iguais, enquanto que

os íons Na+ e Cl- apresentaram concentrações mais altas em Porto Alegre, devido maior

proximidade com o Oceano Atlântico. Porém, em relação aos elementos em Belo Horizonte

destacaram-se Mn, Si, Fe e Ca, associados à presença de intensa atividade de mineração

nas proximidades desta capital.

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Abstract The fine particle material (PM2.5) has been considered one of the most aggressive

atmospheric pollutants to the human health, mostly children and senior citizens. The present

dissertation was developed in the scope of the multidisciplinary project “AVALIAÇÃO

AMBIENTAL, SAÚDE E SÓCIO-ECONÔMICA DO PROCONVE EM 6 REGIÔES

METROPOLITANAS”, focusing the local sources and meteorological influences on the PM2.5

mass and Black Carbon (BC) concentrations, elementar and ionic composition in the two

metropolitan regions: Belo Horizonte (05/15/2007 to 07/28/2008) and Porto Alegre

(06/02/2007 to 08/31/2008). Despite the fact that these two cities presented very similar

sampling point characteristics, buses and light vehicles intense traffic in the downtown area,

the meteorological conditions were very different from each other. Porto Alegre presented

yearly rainfalls equally distributed, while Belo Horizonte showed rainy periods from October

to March. The average mass and BC concentrations were 14.9±7.7 and 4.68±3.41 µg.m-3,

respectively in Belo Horizonte and 14.6±13,2 and 4.07±4.55 µg.m-3 in Porto Alegre. The

maximum PM2,5 and BC concentrations were observed after some days without rain events

in Belo Horizonte, and during lower (500m) boundary layer situations in Porto Alegre. The

similar SO42- and NH4

+ concentrations were observed in both regions, while Na+ and Cl-

showed higher levels in Porto Alegre, since it is closer to the Atlantic Ocean. On the other

hands, in Belo Horizonte the Mn, Si, Fe and Ca concentrations were higher due to the mining

activities nearby.

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1 Introdução

Acredita-se que o ar limpo seja um requisito básico da saúde e bem estar dos seres

humanos. No entanto, sua contaminação segue representando uma ameaça importante a

saúde no mundo todo (WHO, 2005). O impacto sobre o meio ambiente e os efeitos

negativos sobre a saúde humana devido à má qualidade do ar, tem sido foco principal de

programas de regulamentações ambientais.

Nas últimas décadas, os esforços para controlar a poluição do ar têm atingido alguns

efeitos positivos. No entanto, a poluição atmosférica continua a ser um grande problema, e

controles mais rígidos de emissão estão sendo executada por muitos governos.

Recentemente, partículas atmosféricas têm recebido atenção especial, visto que

equipamentos utilizados em muitos tipos de indústrias às vezes não controlam eficazmente

partículas muito finas. Além disso, há a contribuição das emissões de partículas emitidas por

queima de combustíveis por veículos a diesel ou mesmo gasolina.

O monitoramento da qualidade do ar é um mecanismo terminante nas políticas de

controle ambiental, devido ao fato de permitir a determinação do nível de concentração de

poluentes no ar e, conseqüentemente, viabilizar o acompanhamento sistemático da

qualidade do ar de determinada região, fornecendo subsídios para a avaliação e

implantação de estratégias de controle (DAMILANO, 2006).

Durante as décadas de 80 e 90, o governo brasileiro, preocupado com a ocorrência

de episódios de poluição do ar, decretou programas e leis que controlavam tanto os limites

de concentração e de emissão de gases poluentes quanto estabelecia metas para o controle

de emissões no futuro. Dentre estes, pode-se destacar o Programa de Controle da Poluição

do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE, criado pelo CONAMA em 1986, e a

Resolução CONAMA 03/90, que estabeleceu padrões de qualidade do ar para diversos

poluentes atmosféricos (CETESB, 2007).

Baseado na experiência internacional dos países desenvolvidos, o PROCONVE

exige que os veículos e motores novos atendam a limites máximos de emissão, em ensaios

padronizados e com combustíveis de referência. De maneira simplificada, o programa foi

desenvolvido com a aplicação de tecnologias e sistemas que otimizassem o funcionamento

dos motores para proporcionar uma queima perfeita de combustível e conseqüente redução

das emissões, bem como do consumo de combustível. Em 16 anos, a emissão média de

monóxido de carbono (CO) por veículo leve, que era de 54 g/km, foi reduzida a 0,4 g/km

(CETESB, 2007). O significativo aumento da frota de veículos automotores, no Brasil, fez

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com que estes resultados se tornassem ainda mais expressivos sobre a poluição

atmosférica em grandes centros urbanos.

Apesar da legislação ambiental vigente e de programas de controle da qualidade do

ar no Brasil, ainda é alta a concentração de gases tóxicos e material particulado nos

grandes centros urbanos, entre os quais as regiões metropolitanas de Porto Alegre e Belo

Horizonte (LANDMANN, 2004).

Recentes estudos epidemiológicos têm estabelecido uma associação entre as

concentrações de partículas atmosféricas e efeitos adversos a saúde humana (DOCKERY

et al., 1993; KELSALL et al., 1997; PAGANO et al., 1998). De acordo com SALDIVA (1994),

partículas finas apresentam uma característica importante que é a de transportar gases

adsorvidos em sua superfície até as porções mais distais das vias aéreas, onde ocorrem as

trocas de gases no pulmão. Além disto, os aerossóis interferem nas propriedades radiativas

da atmosfera, podendo atuar como núcleos de condensação de nuvens o que pode alterar

as condições climáticas locais (MARTINS, 1999; ANDRADE E DIAS, 1999).

Visto que o desenvolvimento urbano e industrial tem atingido cada vez mais outras

regiões do Brasil, além dos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, este trabalho

tem como objetivo avaliar efeitos locais e das condições meteorológicas na variabilidade da

concentração em massa e composição química do material particulado (MP2,5) coletado em

duas outras importantes regiões metropolitanas brasileiras: Belo Horizonte e Porto Alegre.

2 Revisão Bibliográfica

2.1 Breve Histórico da Poluição do Ar

Embora a poluição do ar esteja intimamente relacionada ao processo de urbanização

e industrialização, ela não é apenas um problema atual. Provavelmente começou com a

descoberta do fogo e sua utilização pelo homem, para cozinhar seus alimentos, aquecer-se

e proteger-se de animais selvagens. Com o desmatamento e a urbanização houve uma

diminuição significativa da madeira, o que provocou a descoberta do potencial energético do

carvão (CARVALHO, 2006; VIERA, 2009).

A utilização do carvão nas principais atividades econômicas, no começo da era

cristã, deu início aos problemas de poluição do ar para as comunidades e para a vizinhança

destas atividades. As primeiras reclamações que se tem registro datam de 351 a.C., feitas

pelo filósofo grego Theophrastos, que se referia à queima de combustíveis fósseis, cujo

cheiro era incômodo e desagradável. O poeta Horácio, em 65 a.C., comenta o

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enegrecimento dos templos pela fumaça da queima de combustíveis. O filósofo romano

Sêneca, no ano 61, também relatava o mal estar que o ar pesado de Roma lhe causava

(STERN, 1984)

No reinado de Eduardo I (1272-1307), devido às reclamações por parte da nobreza,

o Parlamento Britânico proibiu o uso do carvão em Londres quando o rei estivesse na

cidade. Uma pessoa foi executada, no Reinado de Eduardo II, por violar este decreto e

poluir o ar com odores pestilentos devido à queima de carvão. Nos reinados de Ricardo III

(1377-1399), e mais tarde, no de Henrique IV (1413-1422) a Inglaterra tentou regulamentar

e restringir o uso do carvão. Porém, a falta de alternativas econômicas para substituir o

carvão permitiu que este continuasse a ser utilizado em Londres e em toda Grã-Bretanha

(VIEIRA, 2009)

Com o desenvolvimento industrial, o uso do carvão como combustível continuou

aumentando mesmo com a manifestação de populares contra a fumaça produzida destas

atividades. Pouco foi feito para controlar a queima de carvão com o passar do tempo, e a

ocorrência de graves episódios de contaminação atmosférica na primeira metade do século

XX contribuíram para estabelecer a poluição do ar como uma ameaça real á saúde pública

(VIEIRA, 2009; CARVALHO, 2004).

De acordo com STERN (1984), um dos primeiros episódios de poluição atmosférica

de que se tem registro ocorreu no vale industrial de Meuse Valley na Bélgica, quando

condições meteorológicas desfavoráveis, tais como ausência de ventos e de precipitação,

impediram a dispersão de poluentes. Uma intensa névoa de poluição perdurou durante os

primeiros cinco dias de dezembro de 1930, ocasionando um aumento no número de

doenças respiratórias e a morte de cerca de 60 pessoas.

Outro episódio semelhante ocorreu em 1948, em Donora, na Pensilvânia (EUA). A

ocorrência de inversões térmicas responsáveis por condições de estagnação atmosférica

promoveu a ocorrência de 400 hospitalizações, 20 óbitos e o adoecimento de

aproximadamente cinco mil moradores, cerca de 40% da população (AHRENS, 2000).

Contudo, o mais grave dos episódios acerca dos efeitos deletérios dos poluentes do

ar ocorreu em Londres. Durante o inverno de 1952, um episódio de inversão térmica

impediu a dispersão de poluentes, gerados então pelas indústrias e pelos aquecedores

domiciliares que utilizavam carvão como combustível. Nesta época, devido aos problemas

econômicos no pós-guerra, o carvão de melhor qualidade era exportado e os londrinos

faziam uso de um carvão de menor qualidade, ricos em enxofre, o que agravou muito o

problema. Uma massa de ar frio composta principalmente de dióxido de enxofre e material

particulado, permaneceu estacionada sobre a cidade por aproximadamente três dias,

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levando a um aumento de 4.000 mortes em relação à média de óbitos em períodos

semelhantes (FINLAYSON-PITTS e PITTS, 2000; SALDIVA, 2002).

A partir destas ocorrências, houve um crescimento nas investigações em busca de

soluções para este problema. Diversos estudos têm sido desenvolvidos, nas últimas

décadas, buscando a compreensão dos mecanismos responsáveis pela poluição do ar,

como seus efeitos na saúde humana (CARVALHO, 2004).

2.2 Aerossol Atmosférico

O aerossol atmosférico é formado de partículas sólidas ou líquidas em suspensão na

atmosfera, podendo variar de alguns nanômetros a dezenas de micrômetros. São

constituídos por uma mistura de partículas que pode ser de origem primária (emissão direta

da fonte) ou secundária (transformação gás-partícula).

Em relação a sua origem, o material particulado pode ser originado de fontes

naturais ou antropogênicas. Os processos naturais estão relacionados a poeiras carregadas

pelo vento, spray marinho e emissões biológicas. Em geral, estes processos dão origem ao

aerossol primário. O aerossol antropogênico é aquele originado das atividades humanas,

através de processos industriais e de queima de combustíveis, que em geral levam a

emissões de gases que na atmosfera se convertem para a fase particulada, sendo, portanto

esse aerossol de origem secundária.

O material particulado atmosférico é dividido em dois grupos de diferentes tamanho:

a moda das partículas finas, menores que 2,5 µm de diâmetro aerodinâmico e a moda das

partículas grossas, maiores que 2,5 µm. Isto é conveniente, pois as frações de tamanhos

possuem diferentes propriedades físicas e químicas, diferentes processos de emissão e de

remoção da atmosfera (SEINFELD E PANDIS, 1998).

O particulado possui, em geral, tempo de permanência de dias a semanas na

atmosfera. Entretanto, ele pode ser transportado a longas distâncias por correntes de ar

favoráveis, interferindo na química e física da atmosfera não somente em escala local, mas

também em escala regional e até global.

De acordo com EPA2.1, estudos na área da saúde têm mostrado uma associação

significativa entre a exposição às partículas finas e morte prematura por doenças cardíacas

______________

2.1EPA: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

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ou pulmonares. As partículas finas podem agravar doenças cardiovasculares e pulmonares

e têm sido associadas a efeitos tais como: sintomas cardiovasculares, arritmias cardíacas,

ataques cardíacos, respiratórios, asma e bronquite.

2.2.1 Propriedades Físicas do Aerossol

As propriedades físicas e químicas dos aerossóis são fortemente dependentes do

tamanho da partícula, e isto exigiu uma caracterização mais detalhada da distribuição de

tamanhos por meios estatísticos. A representação das distribuições por tamanhos em

gráficos com eixos logarítmicos possibilitaram estabelecer o significado da distribuição de

tamanho em termos de origem, características químicas e processos de remoção dos

grupos de partículas de tamanhos diferentes (WHITBY et al., 1972a, 1972b; HUSAR et al.,

1972). Foram observados três grupos distintos de partículas: com diâmetro aerodinâmico

maior que 2,5μm, denominadas de partículas grossas e aquelas com diâmetro aerodinâmico

menor que 2,5μm, denominadas de partículas finas. Sendo que a moda das partículas finas

pode ser dividida em dois grupos: partículas com diâmetro aerodinâmico entre 0,08 e 1 a

2μm, como moda de acumulação, e aquelas com diâmetro aerodinâmico entre 0,01 e

0,08μm, chamadas de moda de núcleos de Aitken (FINLAYSON-PITTS e PITTS, 2000).

A Figura 2.1 apresenta o esquema da distribuição de tamanho do aerossol

atmosférico com as quatro modas adaptado por FINLAYSON-PITTS e PITTS (2000), sendo

que a linha sólida representa a hipótese original com três modas de WHITBY. A quarta

moda (das partículas ultrafinas), assim como os dois picos observados na moda de

acumulação, é representada pela linha pontilhada.

Como pode ser observado, o gráfico de distribuição de partículas (Figura 2.1) indica

que as concentrações de aerossol urbano são multimodais. Até recentemente, era

amplamente aceito que o aerossol atmosférico era constituído por três modos distintos de

partículas. Com o aumento da atenção científica em relação às partículas ultrafinas

(diâmetro menor que 0,01 mm), as partículas atmosféricas passaram a ser descritas em

quatro modos distintos.

A Figura 2.1 também apresenta as principais fontes e processos de remoção de

partículas para cada modo. Nota-se que os aerossóis estão divididos em duas frações

principais, esses modos de partículas ou frações são diferentes em relação a sua origem,

como eles são afetados por processos atmosféricos, composição química, processos de

remoção, propriedades ópticas e capacidade de dispersão da luz e de deposição no trato

respiratório humano. A fração de partículas finas inclui três dos quatro modos ilustrados, o

modo das partículas ultrafinas, os núcleos de Aitken e o modo de acumulação.

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A maioria das partículas atmosféricas está na fração fina, ou seja, correspondem a

um terço da massa de partículas encontradas em áreas não urbanas, e metade em áreas

urbanas. As partículas correspondentes ao modo ultrafino são provenientes de processos de

conversão de gás-partícula. Ainda que pouco contribua para massa de partículas, elas

freqüentemente estão presentes em grande número.

Os núcleos de Aitken são produzidos na atmosfera ambiente por conversão gás-

partícula, assim como pelos processos de combustão em que os vapores quentes,

supersaturados são formados e passam à condensação. Eles também servem como

núcleos de condensação de substâncias com baixa pressão de vapor em fase gasosa.

Representam apenas uma pequena percentagem de massa de partículas do ar, devido a

suas dimensões reduzidas. Além disso, diminuem rapidamente a medida que coagulam

entre si para formarem partículas maiores.

Partículas do modo de acumulação são formadas a partir da coagulação das

partículas do núcleo de Aitken e a condensação de vapores de partículas existentes. Sua

taxa de crescimento depende do número de partículas presentes, de sua velocidade e de

sua área de superfície. O termo modo de acumulação é utilizado devido aos processos de

remoção ser ineficientes nesta faixa de tamanho, resultando em partículas de “acumulação”.

Correspondem a aproximadamente 50% da massa dos aerossóis (GODISH, 2004).

Em relação à moda grossa, estas são geralmente produzidas por processos

mecânicos, como mencionado anteriormente, possuindo baixas concentrações em número e

maiores diâmetros aerodinâmico. Devido a estas condições, estas partículas primárias

normalmente não coagulam entre si, mas outras espécies podem se misturar a elas por

meio de troca de massa com a fase gasosa. Em função de seu tamanho estas partículas

grossas são rapidamente retiradas da atmosfera pelos processos de formação de nuvens e

precipitação. Sua composição química reflete a sua origem, predominando os compostos

inorgânicos como poeira e sal marinho. A maioria das partículas biológicas como esporos e

pólen também tendem a se encontrar na moda grossa (FINLAYSON-PITTS E PITTS, 2000)

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Figura 2.1: Esquema da distribuição de tamanho do aerossol atmosférico. A linha sólida é a

clássica hipótese de Whitby e colaboradores, e a moda mais à esquerda representada pela

linha pontilhada é referente à quarta moda, a moda das partículas ultrafinas (adaptado de

FINLAYSON-PITTS E PITTS, 2000).

2.2.2 Composição Química do Aerossol

Partículas de aerossóis atmosféricos variam em sua composição química. Refletindo

a sua origem, como foram inicialmente produzidas, e sua historia atmosférica subseqüente.

Devido ao grande número de fontes de partículas primárias, a formação de partículas

secundárias, o crescimento de algumas partículas atmosféricas e absorção de outras

substâncias na fase gasosa, partículas em suspensão na atmosfera contêm centenas de

espécies químicas diferentes.

Os sulfatos, nitratos, Black Carbon (ou carbono elementar), compostos orgânicos,

carbono orgânico (OC), em geral apresentam concentrações relativamente altas em

amostras de material particulado. A composição química varia em função do tamanho das

partículas, também relacionado ao processo de origem (SEINFELD E PANDIS, 1998).

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Partículas ultrafinas produzidas por nucleação homogênea contêm espécies como

compostos orgânicos, além de sulfato e amônio. Partículas na faixa de Aitken são

produzidas por combustão, coagulação das partículas menores, e condensação dos

produtos de reações na fase gasosa. Essas partículas, bem como as partículas do modo de

acumulação, tendem a conter Black Carbon, metais característicos da combustão, sulfatos,

nitratos (GODISH, 2004)

Compostos de sulfatos em amostras de MP2,5 incluem sulfato de amônio [(NH4)2SO4]

e /ou hidrogenosulfato de amônio (NH4HSO4), além de outros sais em menor quantidade. No

contexto global, concentrações de aerossóis de sulfato estão na faixa de 1 a 2 μg.m-3 em

áreas remotas, menores que 10 μg.m-3 em áreas rurais, e maiores que 10 μg.m-3 nas áreas

sob a influência urbana e antropica (GODISH, 2004).

De acordo com RAES et al.(2000), o Black Carbon consiste de pequenas partículas

de carbono emitidas diretamente por processos de combustão incompleta. Ao serem

formadas, estas partículas têm diâmetros entre 5 e 20nm, entretanto elas coagulam

rapidamente, formando estruturas mais compactas e atingindo diâmetros de várias dezenas

de nanômetros. Enquanto que o carbono orgânico (ou material orgânico) pode ser tanto

emitido diretamente da fonte (carbono orgânico primário) quanto ser formado pela

condensação (carbono orgânico secundário) de produtos de baixa volatilidade oriundos da

foto-oxidação de hidrocarbonetos. No entanto, devido à complexidade de amostragem e

análise destes compostos, a partição entre carbono orgânico primário e secundário ainda

sofre de grandes incertezas. Certamente com a evolução dos procedimentos analíticos

haverá uma melhoria do conhecimento científico sobre esses compostos (SEINFELD E

PANDIS, 1998).

2.3 Padrões de Qualidade do Ar

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os padrões de qualidade do ar,

variam de acordo com a abordagem adotada para balancear riscos à saúde, viabilidade

técnica, considerações econômicas e vários outros fatores políticos e sociais, que por sua

vez dependem, dentre outras coisas, do nível de desenvolvimento e da capacidade nacional

de gerenciar a qualidade do ar. As diretrizes recomendadas pela OMS levam em conta esta

heterogeneidade e, em particular, reconhecem que, ao formularem políticas de qualidade do

ar, os governos devem considerar cuidadosamente suas circunstâncias locais antes de

adotarem os valores propostos como padrões nacionais (CETESB, 2008).

No Brasil, os padrões de qualidade do ar que definem legalmente o limite máximo

para a concentração de um poluente, que garanta a proteção da saúde e do bem estar da

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população em geral foram estabelecidos pela Resolução CONAMA 03/90. Estes podem ser

divididos em padrões primários e secundários de qualidade do ar.

Correspondem aos padrões primários de qualidade do ar, as concentrações de

poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Podem ser entendidos

como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes. Enquanto que, padrões

secundários de qualidade do ar equivalem as concentrações de poluentes atmosféricos

abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar da população, assim

como o mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem

ser entendidos como níveis desejados de concentração de poluentes, constituindo-se em

meta de longo prazo (CETESB, 2008).

Os parâmetros regulamentados pela Resolução CONAMA 03/90 são as partículas

totais em suspensão (PTS), fumaça, partículas inaláveis (MP10), dióxido de enxofre (SO2),

monóxido de carbono (CO), ozônio (O3) e dióxido de nitrogênio (NO2).

Como se pode notar, a legislação brasileira não estipula padrões de qualidade do ar

para MP2,5. Decorrente disto será utilizado neste estudo como valor de referência o padrão

de qualidade do ar estabelecido pela EPA, que estabelece para 24 horas o valor de

concentração padrão de 35 µg m-3 e para média anual o valor de 15 µg m-3.

2.4 Efeitos do Material Particulado na Saúde

Estudos mostram que os atuais níveis de poluição atmosférica nas cidades de muitos

países desenvolvidos e em desenvolvimento, estão associados com o aumento das taxas

de mortalidade e morbidade. Isto tem aumentado a preocupação de que a poluição

atmosférica continua a representar uma ameaça para a saúde pública.

Segundo a EPA, o tamanho das partículas atmosféricas está diretamente ligado ao

seu potencial em causar problemas de saúde. As partículas finas apresentam os maiores

problemas, pois estas podem chegar a regiões mais distais das vias aéreas e algumas

podem até mesmo entrar na corrente sanguínea.

DOCKERY et al (1993), realizou um importante estudo em seis cidades americanas,

com dados coletados de 1974 até meados dos anos 80, no qual ele relacionou a taxa de

mortalidade com o valor médio do nível de MP2,5. De acordo com o coeficiente de correlação

obtido (r=0.986), o índice MP2,5 explica 97% da variação das taxas de mortalidade

encontradas nas seis cidades para indivíduos do sexo masculino e feminino combinados.

Os efeitos adversos da poluição na saúde são mais notados em crianças, idosos e

em pessoas que sofrem de doenças respiratórias e cardiovasculares. Nestas pessoas, os

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poluentes levam a um agravamento nas doenças de base, promovendo infecções mais

graves como bronquites, pneumonia, asma, câncer, chegando até a morte (SEINFELD,

1986; CASTANHO, 1999; BRAGA et al., 2002; SALDIVA et al., 1994;).

Ainda, segundo a OMS, há evidências que relacionam os poluentes a gravidezes

más sucedidas e a mortes de bebês prematuros, porém a existência destas não permite

uma identificação precisa dos específicos poluentes e do tempo de exposição dos mesmos.

No entanto, as evidências são suficientes para expor a poluição do ar como causa aos

efeitos adversos no desenvolvimento dos pulmões. Estudos indicam que a exposição, tanto

no período intra-uterino ou de pós-nascimento podem prejudicar o crescimento do pulmão e

na idade adulta causar dificuldades no cumprimento das funções deste. O aumento das

crises de asma, tosse e bronquite está intimamente ligado a poluição, podendo-se observar

que indivíduos que vivem próximos a local de trânsito intenso, manifestam com freqüências

os sintomas da asma.

Além dos efeitos deletérios causados a saúde humana por particulados atmosféricos,

vale ressaltar também a interferência destes na visibilidade e no clima.

2.5 Efeitos do Material Particulado no Clima

A degradação da visibilidade resulta da dispersão e da absorção de luz por partículas

e gases atmosféricos. Os principais aerossóis que contribuem para reduzir a visibilidade são

os que envolvem compostos de sulfatos, nitratos, compostos orgânicos, carbono elementar

e poeira do solo. Partículas com diâmetros entre 0,1 e 1 μm são as que mais contribuem

para a redução da visibilidade (MIRANDA, 2001).

Por espalharem e absorverem a radiação solar incidente na atmosfera, as partículas

podem ocasionar uma diminuição na radiação que chega a superfície. Caso a partícula

tenha propriedades absorvedoras, pode causar o aquecimento da atmosfera como, por

exemplo, o Black Carbon que é um forte absorvedor da luz visível, ou partículas derivadas

dos minerais, os quais absorvem energia no comprimento de onda longa (infravermelho).

Entretanto, se houver espalhamento, parte da radiação é refletida de volta para o espaço,

provocando assim resfriamento na superfície da Terra. Partículas finas são efetivas no

espalhamento da radiação solar. A composição química do aerossol e seu tamanho

determinam o tipo de interação característica entre o material particulado e a radiação

(ALBUQUERQUE, 2003).

Os aerossóis podem também influenciar no crescimento de nuvens e na formação de

chuva. Muitos são eficientes como núcleos de condensação de nuvens (NCN), mas também

podem ser afetados pelas nuvens, ocorrendo condensação de vapor d’ água em partículas,

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ou incorporação de partículas por gotas. Se houver precipitação, o aerossol é removido; se

a água evapora, o aerossol é regenerado, entretanto seu tamanho e composição terão sido

modificados. Ainda alguns gases podem reagir na atmosfera e formar partículas, as quais

são incorporadas em nuvens, onde servem também como NCN. Um exemplo clássico é a

incorporação das partículas de sulfato numa nuvem de chuva e sua deposição na água de

chuva (MIRANDA, 2001).

Segundo (CCOYLLO e ANDRADE, 2002), cerca de 80% dos núcleos de

condensação de nuvens gerados globalmente provêm de aerossóis marinhos, o que os

torna muito importantes no balanço de radiação. Os núcleos de condensação de nuvens

podem estar alterando o regime de chuvas na região de São Paulo (ANDRADE e DIAS,

1999).

2.6 A Influência de Fatores Meteorológicos nos Níveis de Poluição

A meteorologia é um fator decisivo na determinação da qualidade do ar, através de

diversos processos atmosféricos que controlam ou influenciam fortemente a evolução das

emissões, das espécies químicas, dos aerossóis e do material particulado. As condições

meteorológicas que afetam uma determinada localidade em um determinado instante é

resultado de numerosos processos que agem em várias escalas (macroescala, mesoescala

e microescala) (SALDANHA, 2005).

Os processos atmosféricos e a circulação associada aos grandes centros de pressão

determinam e afetam o estado do tempo sobre os continentes e grandes oceanos do globo.

Os centros de altas pressões, denominados de anticiclones, estão associados a condições

de tempo caracterizadas por grande estabilidade com pouca mistura vertical e, portanto

fraca dispersão dos poluentes. Enquanto que condições de instabilidade e de grande

turbulência estão ligadas a sistemas de baixa pressão, ou ciclones, o que favorece a

dispersão de poluentes. Quando estas situações perduram por um tempo mais longo, em

condições desfavoráveis à dispersão, podem levar a episódios de altas concentrações de

poluentes.

A estabilidade atmosférica é quem determina a capacidade do poluente de se

expandir verticalmente. Como mencionado acima, situações de estabilidade dificultam a

dispersão de poluentes, enquanto que, condições instáveis geram movimentos ascendentes

que facilitam a dispersão destes poluentes para níveis mais altos da atmosfera. É na

condição estável que acontece o fenômeno conhecido como inversão térmica, que

associada à poluição atmosférica pode gerar grandes concentrações de poluentes.

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Normalmente, a temperatura do ar tende a diminuir com a altura, assim o ar mais

próximo a superfície é mais quente. Por ser mais leve, este ar quente pode facilmente

ascender a camadas mais altas. Quando há um rápido resfriamento do solo ou um rápido

aquecimento das camadas atmosféricas superiores, o ar quente se sobrepõe acamada de ar

frio, passando a funcionar como uma “tampa” e impedindo os movimentos verticais de

convecção. Assim, o ar frio próximo ao solo não sobe porque é mais denso e o ar quente

não desce por ser menos denso, fazendo com que os poluentes se mantenham próximos da

superfície. Situações de inversões térmicas ocorrem durante o ano todo, porém no inverno

elas são observadas em camadas mais baixas, principalmente no período noturno

(DAMILANO, 2006; TORRES e MARTINS, 2005; CETESB, 2008).

Levando em conta que as condições meteorológicas estão diretamente ligadas ao

transporte e dispersão de poluentes, vários trabalhos têm sido realizados com a intenção de

analisarem as relações entre sistemas sinótico-meteorológicos e índices de poluição do ar.

No Brasil, estudos clássicos tais como, SETZER et al. (1980), ABREU (1984),

MANFREDINI (1988), realizados na Região Metropolitana de São Paulo, mostraram que

episódios de altas concentrações de poluentes atmosféricos, ocorrem principalmente na

presença de um sistema de alta pressão (anticiclone) semi-estacionário sobre a região. Esta

situação provoca condição meteorológica desfavorável à dispersão dos poluentes, com a

atuação de ventos fracos e a formação de inversões térmicas próximas à superfície, entre

outros fenômenos observados. A mudança desta situação de estagnação ocorre

normalmente quando um sistema frontal atinge a região, causando instabilidade da

atmosfera e aumentando a ventilação, o que favorece a dispersão dos poluentes.

3 Caracterização das Regiões de Estudo

3.1 Região Metropolitana de Porto Alegre - RMPA

A Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) é composta por 31 municípios, onde

vive aproximadamente quatro milhões de habitantes, o correspondente a 61% da população

total do Estado do Rio Grande do Sul (IBGE, 2007). Ao sul, a RMPA é banhada pela Lagoa

dos Patos (Figura 3.1); a leste, encontra-se a planície costeira e o Oceano Atlântico (de 80 a

100 km de distância); ao norte, a Serra Geral e uma região de planalto, que declina

moderadamente em direção ao sul e abruptamente em direção a leste; a oeste há a

Depressão Central. Dessa forma, destacam-se altitudes inferiores a 20m, ao sul da RMPA,

e, ao norte, superiores a 300m.

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Figura 3.1: Localização do Município de Porto Alegre - Rio Grande do Sul, Brasil.

O Rio Grande do Sul conta com elevado número de indústrias de tipologias bem

distintas cujo licenciamento é outorgado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental

(FEPAM). Dentre estas, cerca de 6600 indústrias são de alto e médio potencial poluidor.

Alguns ramos em particular têm maior potencial de poluição atmosférica como às indústrias

metalúrgicas, mecânicas, químicas, petroquímicas, petrolíferas e de papel e celulose.

Em relação à emissão de poluentes atmosféricos, pode-se destacar, dentro da

RMPA, a região industrial que se estende desde o Município de Guaíba, localizado na

direção sudeste do Município de Porto Alegre, em direção ao norte, passando pela capital e

atingindo os municípios de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, até o vale coureiro calçadista

do Rio dos Sinos. É na direção norte, seguindo pelo importante eixo rodoviário representado

pela BR-116, que se encontra a periferia da Região Metropolitana (FEPAM, 2002).

A área industrial da região metropolitana possui vários empreendimentos de grande

porte, com alto potencial poluidor (observar Figura 3.2). Dentre estes, destaca-se a refinaria

de petróleo Alberto Pasqualini, a indústria de celulose (Grupo Aracruz celulose), duas

fábricas de aço (Siderúrgica Riograndense e Gerdau S.A Aços Finos Piratini), um complexo

industrial petroquímico (III Complexo Industrial Petroquímico), o Complexo Automotivo de

Gravataí, duas usinas termelétricas a carvão (Termelétrica de Charqueadas-TERMOCHAR,

Usina Termelétrica de São Jerônimo – UTSJ) e uma usina termelétrica a óleo, em Alegrete

(BRAGA et al., 2005).

Fonte: Google Earth

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No que se refere aos veículos em uso na RMPA, segundo a FEPAM, 20% do total

dos 3,1 milhões de veículos do estado circulam na cidade de Porto Alegre, sendo uma das

principais fontes de emissão de poluentes atmosféricos na região.

A distribuição dos veículos da frota quanto aos combustíveis utilizados era de 79 %

movidos a gasolina, 9 % a diesel e 8% a álcool, no ano de 2001. O emprego de outros

combustíveis ou de formas alternativas de energia representa 4% do total. Destaca-se,

particularmente, uma tendência de crescimento mais acentuada nos veículos que utilizam

gasolina/gás natural (FEPAM, 2002).

Atualmente, existem cadastradas no Detran (RS) 24, 30 e 27 empresas conversoras

de motores para o uso de gás natural veicular no interior do estado, na RMPA e em Porto

Alegre, respectivamente. Entre os anos de 1997 e 2002, a frota de veículos apresentou um

crescimento médio de 5% ao ano. Com base nesta taxa de crescimento, em 2010, a frota

deverá estar em torno de cinco milhões de veículos.

De forma geral, quanto à concentração industrial e veicular, merecem destaque

Gravataí, Cachoeirinha, Canoas, Porto Alegre, Novo Hamburgo e São Leopoldo, todos

integrantes da RMPA.

Porto Alegre, capital do Estado (localizada em 30º01’59” S 51º13’48” W) e uma das

cidades onde foi realizado o monitoramento das concentrações material particulado fino

analisado por este estudo, abrange uma área de 495,53 km² (IBGE, 2007), onde 44,45 km²

destes estão distribuídos nas 16 ilhas do Guaíba sob jurisdição do município. Concentra

uma população de 1,42 milhões de pessoas (IBGE, 2007) e uma frota de 705.951 veículos.

Possui um relevo montanhoso na região mais ao sul no qual está localizado o Morro de

Santana, 310 m acima do nível do mar. Os pontos mais baixos situam-se, na área

continental, no Aeroporto Salgado Filho, com 1,1 m e, no Arquipélago, na Ilha das Flores,

aonde chega a apenas 0,1 m. O município é limitado ao sul e oeste pelo Lago Guaíba, a

leste, pelos municípios de Alvorada e Viamão e ao norte pelo rio Gravataí.

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Figura 3.2: Mapa da Região Metropolitana de Porto Alegre composta por 31 municípios e a localização das principais atividades industriais

desenvolvida na região. O local de amostragem está localizado ao centro-norte de Porto Alegre (estrela, ao lado do Hospital São Lucas - 8).

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3.1.1 Características Climatológicas da RMPA – Rio Grande do Sul

Em relação às características climáticas da região, alguns fenômenos atmosféricos

de grande e mesoescala são determinantes nos índices de precipitação e na temperatura do

ar. Dentre os mais importantes, destacam-se a passagem de sistemas frontais,

responsáveis por grande parte da pluviometria, os cavados invertidos, El Niño-Oscilação Sul

(ENOS), sistemas convectivos de mesoescala, vórtices ciclônicos, ciclogêneses e

frontogêneses. Em média, ocorrem cerca de 60 ciclogêneses sobre a Região Sul a cada ano

(BARBIERI, 2007).

No Rio Grande do Sul, a localização latitudinal e as características geográficas

favorecem a atuação sucessiva de sistemas meteorológicos característicos das latitudes

médias, principalmente das massas de ar Tropical Atlântica e Polar Marítima. A atuação

destas massas de ar, principalmente durante o verão, é associada à ocorrência de

temperaturas mais altas, ventos predominantes do quadrante leste e chuvas decorrentes do

aquecimento da superfície.

Entre o outono e a primavera, o estado é atingido com mais freqüência pelas massas

de ar frias polares, com maior influência durante o inverno, quando ocorrem os máximos de

precipitação, geada e até mesmo neve é registrada em algumas localidades. Esta

variabilidade na precipitação se deve às frentes estacionárias e ao fato de o Rio Grande do

Sul fazer parte de uma região denominada de frontogenética (BRITTO et. al., 2006). Estas

massas de ar frio são bastante estáveis, com uma camada de inversão térmica bem

definida, e ventos fracos. Estas características geram estagnação atmosférica, o que é uma

condição desfavorável para a dispersão de poluentes, levando a ocorrência de picos de

concentração de poluentes.

Na RMPA, o clima é temperado, subtropical úmido, com verões quentes e invernos

frios e chuvosos. Segundo as Normais Climatológicas do INMET, como pode ser observado

na Figura 3.3, há uma queda de temperatura bastante acentuada no mês de junho e, a partir

deste mês um aumento significativo na precipitação, o que caracteriza o período de chuva

na região (de junho a outubro). A umidade relativa, pelo contrário, não sofre variação muito

acentuada ao longo do ano e quanto à temperatura, apresentando um sutil aumento nos

meses de maio a julho.

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Figura 3.3: Perfil mensal de temperatura, precipitação e umidade relativa de Porto Alegre,

segundo as Normais Climatológicas (1961-1990). Fonte: INMET, 1992.

3.1.2 Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar

O estado possui uma rede manual de monitoramento, a qual compreende doze

estações localizadas na RMPA. São realizadas coletas de 24 horas, de seis em seis dias,

cujas amostras são analisadas nos laboratórios da Fundação Estadual de Proteção

Ambiental (FEPAM). Os métodos de medição utilizados estão de acordo com as normas

recomendadas (ABNT, EPA); e os poluentes monitorados são: material particulado (PM10),

partículas totais em suspensão (PTS) e dióxido de enxofre (SO2). Estas estações manuais

fornecem médias diárias dos poluentes atmosféricos.

Com base nos dados obtidos pela rede manual de monitoramento, em relação ao

material particulado, o padrão secundário médio anual de partículas totais em suspensão foi

ultrapassado tanto em 2001 como em 2002 em diferentes locais de monitoramento, com

episódios de qualidade Regular, possivelmente associado a passagens de frentes frias,

ventos fracos e inversão térmica, que provocaram acúmulo de MP. De acordo com o

Relatório de Qualidade do Ar de 2001-2002 (FEPAM, 2002), o material particulado pode ter

sido proveniente de atividades industriais e veiculares, devido à localização das estações de

monitoramento.

A região também possui uma rede de Monitoramento Automático da Qualidade do

Ar, instalada em locais estratégicos, como na RMPA, formada por oito estações de

monitoramento, sete fixas e uma móvel, interligadas a uma central de recebimento e

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gerenciamento de dados. São gerados os dados de concentração de PM10, SO2, óxidos de

nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO) e ozônio (O3), os quais são enviados

periodicamente à central, permitindo o acompanhamento da qualidade do ar nos locais

monitorados.

A partir do levantamento dos dados da rede automática de monitoramento da

qualidade do ar para 2001 e 2002, pode ser observada uma tendência sazonal para alguns

poluentes. Para o PM10, principalmente no inverno, além de episódios de qualidade Regular,

foram verificados dois episódios com qualidade do ar inadequada (ultrapassagem do padrão

de qualidade de curto período - média de 24 horas- que é de 150 g m-3).

3.2 Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH

A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) está localizada a 450 km de

distância do Oceano Atlântico. Com 34 municípios, possui população aproximada de cinco

milhões de habitantes. A RMBH constitui atualmente um dos maiores aglomerados urbanos

do país. O forte desenvolvimento industrial da região deve-se, em primeira linha, à presença

de consideráveis jazidas de minerais metálicos, particularmente o ferro, e à sua privilegiada

localização, próxima a grandes centros consumidores e aos principais corredores de

exportação do país

A RMBH localiza-se na região Metalúrgica do Estado de Minas Gerais (Figura 3.4) e

é responsável por 66% da atividade mineradora do Estado. Também estão instaladas na

região, indústrias de grande porte ligadas ao setor siderúrgico, de minerais não metálicos

(cimento e cal), de petróleo e a indústria automobilística. Somente 4% da população

economicamente ativa se dedicada à agropecuária, em geral, com produtos

hortifrutigranjeiros (FEAM, 2006).

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Figura 3.4: Localização do Município de Belo Horizonte em Minas Gerais.

Segundo relatório técnico da Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais

(FEAM, 2001), até o presente momento havia sido realizado apenas um inventário no

estado, com o objetivo de coletar dados sobre todas as indústrias localizadas na RMBH,

para identificar aquelas de maior potencial poluidor do ar e das águas.

De acordo com o inventário que utilizou dados obtidos em três anos de

monitoramento (1980 a 1983), as indústrias com maior percentual poluidor eram as

indústrias metalúrgica e de minerais não metálicos que correspondiam a mais de 90% das

emissões de material particulado, CO e NOx e cerca de 65% das emissões de SOx,

enquanto as indústrias química e têxtil complementavam as emissões de NOx e SOx.

Em julho de 2003 um novo inventário de fontes emissoras foi publicado, onde ao

todo foram identificadas e inventariadas 834 fontes emissoras significativas na RMBH,

sendo 618 fontes fixas e 216 fontes móveis. Conforme a Figura 3.5 (Fonte: Fundação João

Pinheiro), pode-se observar a distribuição de atividades industriais na RMBH, onde a região

noroeste é caracterizada, principalmente, pela mineração de calcário, dado pela localização

de fábricas de cal e cimento, como também alguns distritos industriais. Na região sudeste,

há o predomínio da mineração de ferro, inclusive algumas indústrias siderúrgicas. Ao S/SO

de Belo Horizonte estão localizadas duas termelétricas, como também indústrias

siderúrgicas e, ainda ao Sul uma refinaria de petróleo.

Segundo a FEAM (2001), Minas Gerais apresenta o segundo lugar em número de

veículos no país, na qual a maior concentração em número de veículos corresponde à área

Fonte: Google Earth

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que vai do Triângulo Mineiro em direção a região sul, coincidindo com áreas de maior

desenvolvimento sócio econômico.

Na RMBH, encontram-se registrada cerca de 30% da frota do Estado sendo

determinante, para esse total, a contribuição de Belo Horizonte, Contagem e Betim. De

acordo com a FEAM (2001), em 2001, a Figura 3.4 apresenta a evolução anual das frotas

de veículos, de 1985 a 2000, da região conurbada e do restante da RMBH. Verificou-se para

a primeira um crescimento bem mais acentuado, de quase quatro vezes no período,

enquanto que na região restante da RMBH apenas duplicou.

Figura 3.4: Evolução das frotas da Região Conurbada e do Restante da RMBH. Fonte:

Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM.

Outra característica distinta foi verificada entre as duas regiões, em relação à idade

da frota, onde a região conurbada apresentou uma frota bem mais nova em relação àquela

correspondente a do restante da RMBH, pois apenas 27% dos veículos em circulação em

Belo Horizonte/Contagem/Betim são anteriores a 1985 e cerca de 50% anteriores a 1993.

No caso da frota correspondente ao restante da RMBH, estas porcentagens atingem 48% e

72%, respectivamente. Este fato é justificado pelas taxas de crescimento das duas frotas,

embora do período anterior a 1985 até 1992, ambas tenham registrado praticamente o

mesmo crescimento, em torno de 17%, a partir de 1992 até 2000, a frota de Belo

Horizonte/Contagem/Betim cresceu 54%, enquanto a do restante da RMBH cresceu 31% no

período.

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Figura 3.5: Mapa da Região Metropolitana de Belo Horizonte composta por 34 municípios, com a localização das principais atividades

industriais desenvolvida na região. O local de amostragem está localizado na região central de Belo Horizonte (estrela).

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Em relação à composição das frotas dos três municípios por tipo de veículo e

combustível utilizado, a frota de Belo Horizonte distingue-se das de Contagem e Betim

devido à maior participação de veículos a álcool, cerca de 20% do total de veículos em

circulação na capital. Em compensação a participação dos veículos a diesel em Belo

Horizonte é menor do que em Contagem e Betim que apresentaram 11 e 8%,

respectivamente. Quanto aos automóveis movidos a gasolina, Betim apresentou a maior

quantidade de veículos que utilizam este combustível, cerca de 80%.

Os resultados finais do inventário de fontes móveis mostraram que, no ano 2000, a

frota de veículos de Belo Horizonte/Contagem/Betim emitiu uma quantidade aproximada de

264.000 toneladas de poluentes para a atmosfera. O gráfico da Figura 3.6 apresenta, em

porcentagem do total emitido, as contribuições relativas dos tipos de combustíveis para esta

poluição. Conforme se pode constatar, à exceção do CO cuja maior parcela é originária dos

veículos à gasolina, a frota a diesel é responsável pela grande maioria das emissões de

material particulado e de óxidos de nitrogênio e enxofre para a atmosfera da Região

Conurbada. Com relação à porcentagem do total emitido, pode-se constatar que as

contribuições relativas dos tipos de combustíveis para esta poluição, a frota à diesel é

responsável pela grande maioria das emissões de material particulado e de óxidos de

nitrogênio e enxofre para a atmosfera da região Conurbada.

Figura 3.6: Contribuição da frota de Belo Horizonte/Contagem/Betim, para a poluição

atmosférica por tipo de combustível. Fonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEAM

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Capital do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte está localizada em 19°55’57” S e

46°56’32” W, a 850 metros acima do nível do mar. Sua população, estimada pelo IBGE em

2007, foi de 2.424.295 habitantes e sua frota veicular era em torno de 979.580 veículos

(COMAQ). Segundo a FEAM, houve um crescimento de 8,2% em 2006 em relação a 2005 e

de 4,2% no 1º semestre de 2007 em relação ao ano de 2006.

Atualmente, é considerado o quinto município mais populoso do Brasil, com

aproximadamente 2,4 milhões habitantes. Belo Horizonte é circundada pelas montanhas da

Serra do Curral e é o principal centro de distribuição e processamento de uma região com

importantes atividades de agricultura e mineração, bem como um importante pólo industrial.

3.2.1 Características Climatológicas da RMBH – Minas Gerais

Com relação às características climáticas da RMBH, de acordo com NIMER (1979), a

região central de Minas Gerais encontra-se em uma área classificada como zona de

transição entre os climas quentes das latitudes baixas e os climas mesotérmicos de tipo

temperado das latitudes médias. O traço mais marcante do clima nas latitudes baixas (zona

tropical) é definido por duas estações: a chuvosa e a seca. Segundo NIMER (1979), o

caráter de transição climática da Região Sudeste inclina-se mais para o clima tropical do

que o temperado.

O estado de Minas Gerais encontra-se, durante todo o ano sob o domínio da

circulação do anticiclone subtropical do Atlântico Sul, e se caracteriza por ventos

predominantes do quadrante nordeste/este, próximo a superfície. A umidade da região é

proveniente do Oceano Atlântico e transportada pelos ventos de Nordeste. As serras do

Espinhaço e da Mantiqueira representam um anteparo físico e dinâmico ao transporte de

umidade disponível na atmosfera, a sotavento. Durante os meses de maior atividade

convectiva, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é um dos principais fenômenos

que influenciam no regime de chuvas dessas Regiões (QUADRO E ABREU, 1994).

Belo Horizonte possui um clima característico de regiões tropicais de altitude, tendo

verões amenos e invernos relativamente frios. Suas quatro estações do ano não

apresentam grandes diferenças entre si, exibindo características apenas de verão ou

inverno. O inverno é seco e os fenômenos que atuam são a Frente Polar Atlântica (FPA) e o

Anticiclone Subtropical do Atlântico. Devido à atuação predominante do Anticiclone

Subtropical do Atlântico Sul, onde a subsidência traz altas pressões para a região, as taxas

de umidade e, conseqüentemente, as chuvas, são baixas. Observando-se as Normais

Climatológicas do INMET (Figura 3.7), a temperatura não apresenta uma variação muito

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brusca ao longo do ano. Os menores valores de temperatura são observados durante o

inverno ficando em torno de 20ºC. Em relação a precipitação, pode-se observar uma

diferença significativa entre a estação seca (inverno) e a estação chuvosa (demais meses

do ano).

Figura 3.7: Perfil mensal de temperatura, precipitação e umidade relativa de Belo Horizonte,

segundo as Normais Climatológicas (1961-1990). Fonte INMET, 1992.

3.2.2 Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar

A RMBH possui uma Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar

constituída de nove estações automáticas. Todos os equipamentos que compõem a rede

são de origem francesa, fornecidos pela ENVIRONNEMENT S.A. Os poluentes monitorados

são: as partículas inaláveis (MP10), o dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO),

ozônio (O3) e o NOx, além dos parâmetros meteorológicos (FEAM, 2006).

Com base no monitoramento da qualidade do ar realizado pela FEAM, em 2005, na

Região Metropolitana de Belo Horizonte, deve-se destacar a freqüência cada vez mais alta

do poluente O3 na determinação da qualidade do ar como Regular em todos os municípios

em que esse poluente é monitorado. As concentrações de MP10 apresentam uma tendência

de queda nos últimos anos. Os níveis de SO2 e CO são, em geral, muito baixos, não sendo

determinantes para a classificação da qualidade do ar.

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4. Metodologia

Os dados utilizados neste trabalho resultam de uma colaboração com a Faculdade

de Medicina da USP, na execução do projeto: “Avaliação Ambiental, Saúde e Sócio-

Econômica, do PROCONVE (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos

Automotores) em Seis Regiões Metropolitanas”, com recursos da Fundação Hewllet e que

tem como coordenador geral o prof. Dr. Paulo Saldiva. Foram coletados dados diários de

material particulado, aproximadamente todo ciclo diário coberto, com diâmetro aerodinâmico

menor que 2,5 μm (MP2,5) em seis diferentes capitais (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo

Horizonte, Recife, Curitiba e Porto Alegre). As amostras utilizadas neste trabalho referem-se

as cidades de Porto Alegre e Belo Horizonte. Detalhes dos locais de amostragens e técnica

utilizada serão descritos no item 4.1.

4.1 Locais de Amostragem

Em Porto Alegre, as amostragens de MP2,5 foram realizadas no prédio da Fundação

Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, localizada na região central de

Porto Alegre. O ponto de amostragem localiza-se a cerca de 100 metros de distância de vias

de tráfego veicular intenso. Na Figura 4.1 podem ser observadas características locais em

torno da área do edifício onde estava o amostrador, região sob forte influência urbana como

também uma área verde nas proximidades, assim como o Rio Guaíba.

Figura 4.1: Edifício da Faculdade de Ciências Médicas de Porto Alegre, local de

amostragem.

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Na RMBH, as amostragens de MP2,5 foram realizadas no prédio do Hospital da

Universidade Federal de Minas Gerais, localizado na região central de Belo Horizonte e

próximo a vias de tráfego intenso (cerca de 20 metros). Conforme pode ser observado na

Figura 4.2, a região em torno do local de amostragem caracteriza-se por ser área urbana

central, com presença de áreas vegetadas nas proximidades.

Figura 4.2: Edifício do Hospital da Universidade Federal de Minas Gerais, localizado em

região central de Belo Horizonte, onde as amostragem de MP2,5 foram realizadas.

As concentrações de MP2,5 foram amostradas diariamente, em Belo Horizonte no

período entre 15 de maio de 2007 e 06 de agosto de 2008 e, em Porto Alegre a amostragem

foi entre 02 de junho de 2007 a 04 de setembro de 2008. Ao todo, foram realizadas 374 e

332 amostras, respectivamente. O período de coleta para cada amostra foi de 24 horas,

sendo que as trocas dos filtros foram realizadas no período da manhã.

O material particulado foi amostrado em membranas de policarbonato (Millipore) com

poro de 0,8 m. O Impactador tipo Harvard foi utilizado para amostragem nas duas regiões,

sendo o corte de entrada para partículas menores que 2,5 m (MP2,5) e fluxo de ar de 10

litros por minuto. É importante destacar que o monitoramento através do Harvard tem sido

amplamente realizado em diversas partes do mundo para a realização de diagnósticos da

qualidade do ar (Chile e Colômbia), coleta de informações para estudos na área da saúde

(México) (O'NEILL et al., 2002) e caracterização de partículas (Grécia) (THOMAIDIS et al.,

2003). O equipamento tem sido aferido com outros obtendo como resultado uma boa

correlação em equipamentos do tipo Hi-Vol (amostradores de grandes volumes tipicamente

utilizados nas redes de monitoramento manual).

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4.3 Métodos Analíticos

4.3.1 Gravimetria - Massa

Os filtros de policarbonato foram submetidos à análise gravimétrica, a qual consiste

na pesagem por diferença, ou seja, pesam-se os filtros antes e depois de amostrados. Neste

procedimento os filtros são acondicionados em sala apropriada com temperatura

aproximada de 22°C e umidade relativa de 45%. Para esta pesagem foi utilizada balança

analítica Mettler Toledo com precisão de seis casas decimais (µg), em que foram feitas três

pesagens. Uma vez determinadas as massas e conhecido o volume total amostrado, foram

calculadas as concentrações em massa depositadas subtraindo-se os valores dos filtros

“brancos de controle”, isto é, não amostrados. Estes filtros não amostrados são utilizados

para determinar uma possível contaminação, durante o processo de transporte, manuseio e

realização dos experimentos.

Como pode ser observado na Figura 4.3, após a amostragem os filtros adquirem

diferentes tipos de tonalidades, devido à deposição do material particulado. Filtros com

maiores concentrações de material particulado tendem a apresentarem tonalidade preta

escura, enquanto que menores concentrações apresentam-se em tons mais claros. Essa

diferença pode ser rapidamente percebida quando comparado ao filtro branco.

Figura 4.3: Comparação entre filtros brancos e amostrados (diferentes tons de preto), com

diferentes concentrações de MP2,5.

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4.3.2 Refletância - Black Carbon

Para medir a concentração de carbono elementar presente em cada amostra, o

método empregado consistiu na determinação da refletância. Para isso, foi utilizadoo

Refletômetro, marca “Diffusion Systems Ltd.” modelo “Smoke Stain Reflectometer-Model 43”

(YAMASOE, 1994; LONGO, 1999; CCYOLLO, 2002), pertencente ao LFA do Instituto de

Física da USP.

Por ser um produto resultante da queima de combustíveis fósseis, o carbono

elementar pode funcionar como traçador de emissão veicular, particularmente de veículos a

diesel. Por esta razão, em vários trabalhos, são realizadas medidas de BC em regiões

urbanas para identificação da contribuição das fontes veiculares (WATSON et al., 2002).

A técnica de refletância consiste na incidência de luz de uma lâmpada de Tungstênio

no filtro amostrado, o qual reflete uma intensidade inversamente proporcional à quantidade

de BC presente (YAMASOE, 1994). Como as partículas de BC são boas absorvedoras de

luz, quanto maior a concentração no filtro (meio), menor a intensidade de luz refletida pelo

filtro e, consequentemente, menor a detectada pelo fotosensor. A curva de calibração da luz

refletida pela quantidade de carbono elementar adsorvida empiricamente para o

equipamento utilizado segue a definida por LOUREIRO et al. (1994) e, posteriormente,

utilizada por CASTANHO (1999), CCYOLLO (2002) e ALBUQUERQUE (2005). A equação

4.1, indica como, a partir da refletância medida, é possível determinar a concentração de BC

presente na atmosfera (CASTANHO, 1999).

V

ARRBC 2log43,15log832,71953,81 Equação 4.1

Onde:

R: refletância (%);

A: área do filtro (cm-2);

V: volume de ar amostrado (m-3)

Após a análise de refletância, os filtros foram cortados sendo ¼ do recorte utilizado

na análise do EDX e ¾ submetidos à cromatografia.

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4.3.3 Florescência de Raios- X por Dispersão de Energia – Análise Elementar

Para a determinação da análise elementar dos compostos foi utilizada a técnica de

fluorescência de raios-X, que vem sendo utilizada principalmente para amostras sólidas,

permitindo a determinação simultânea da concentração de vários elementos, sem a

destruição da amostra, ou seja, não necessitando de nenhum tratamento químico prévio.

Entre as vantagens da fluorescência de raios-X para a análise química de elementos

pode-se citar: (a) adaptabilidade para automação, (b) análise rápida multielementar, muito

importante devido a interdependência entre os micronutrientes nos sistemas biológicos, (c)

preparação simplificada da amostra e (d) limite de detectabilidade dentro do exigido por

muitas amostras biológicas (FILHO,1999).

O princípio básico desta técnica pode ser descrito da seguinte forma: os raios-X

emitidos excitam os elétrons dos elementos que emitem linhas espectrais com energias

características de cada elemento e cujas intensidades estão relacionadas com a

concentração dos mesmos na amostra. De forma resumida, a análise por fluorescência de

raios-X consiste de três fases: excitação dos elétrons dos elementos que constituem a

amostra, dispersão dos raios-X característicos emitidos pela amostra e detecção destes.

A determinação da composição elementar do material particulado coletado em filtros

requer a análise de um filtro não exposto (filtro branco), cujo resultado é utilizado para se

obter os valores dos elementos constituintes do filtro. Os valores dos brancos são

descontados dos valores encontrados nas amostras. Os resultados da análise de

fluorescência de raios-X são representados através da média do percentual de cada

elemento em relação à área total varrida para todos os filtros analisados (FILHO, 1999).

Neste trabalho foi utilizado o modelo ED-X 700 HS “Energy Dispersive X-Ray

Spectrometer” da Shimadzu que permite a análise dos seguintes elementos: Mg, Al, Si, P, S,

Cl, K, Ca, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Ni, Cu, Zn, Br e Pb. Os resultados obtidos dessa análise foram

convertidos às concentrações de cada elemento identificado pelo programa WinQXAS

(Windows Quantitative X-ray Analysis System), por meio de ajuste de linhas espectrais.Na

Figura 4.4 pode ser observado o exemplo de espectro de uma amostra de MP2,5 de Belo

Horizonte.

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Figura 4.4: Exemplo de espectro de pulsos de raios X de uma amostra de MP2,5 de Belo

Horizonte, obtido por dispersão de energia.

4.3.4 Cromatografia de Íons - Cátions e Ânions Solúveis

Antes da análise por cromatografia iônica foi realizada a extração aquosa dos íons

presentes nas amostras coletadas. Após o corte realizado nos filtros, ¾ do recorte foram

colocados em recipiente apropriado, sendo as espécies solúveis do material particulado

extraídas por processo de agitação mecânica em água ultrapura (Sistema Gehaka – Master

System). A solução resultante foi agitada durante uma hora sendo logo após filtrada em filtro

Millex com 0,22 μm de diâmetro de poro da marca Millipore. Uma vez concluída esta etapa,

a solução encontra-se em condições de ser analisada por cromatografia.

A técnica de cromatográfica líquida baseia-se em mecanismos de troca e supressão

de íons, com detecção condutométrica para separação e determinação de cátions e ânions.

Em geral, são utilizadas duas colunas, uma separadora e outra supressora, sendo a última

instalada entre a coluna separadora e o detector condutométrico. A coluna supressora tem

como função: (a) diminuir quimicamente a condutividade dos íons do eluente (supressão do

sinal 35 de fundo) que saem da coluna separadora e (b) converter, simultaneamente, as

espécies de interesse numa forma mais condutora, como ácidos ou bases, que são então

monitorados pela célula condutométrica.

Esta técnica apresenta-se como um método versátil, seletivo e sensível sendo

aplicado em diversas áreas envolvendo análises iônicas para amostras clínicas, industriais,

farmacêuticas, alimentares e do meio ambiente. No presente estudo, para as análises dos

cátions (Na+, K+, Ca2+, Mg2+ e NH4 +) e dos ânions (SO4

2-, NO3-, Cl-, F-), foi utilizado o

cromatógrafo Metrohm modelo 761, com detecção condutométrica. Na Figura 4.5 pode ser

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observado o exemplo de cromatograma de ânions de uma amostra de MP2,5 de Belo

Horizonte.

Figura 4.5: Exemplo de cromatograma de ânions de uma amostra de MP2,5 de Belo

Horizonte, obtido por cromatografia de íons.

Para estas análises as condições analíticas utilizadas foram, para a coluna aniônica

Metrosep A-Supp5, solução eluente de Na2CO3 4,0 mmol L-1 / NaHCO3 1,0 mmol L-1; vazão

de 0,7 mL min-1; coluna supressora Metrohm e regenerante solução de H2SO4 50 mmol L-1 -

água desionizada sob vazão de 0,8 mL min-1. Para determinação dos cátions (Na+, NH4+, K+,

Ca2+ e Mg2+), as condições analíticas foram: coluna catiônica Metrosep modelo C2 150 da

Metrohm, solução eluente de ácido tartárico 4 mmol L-1 /ácido dipicolínico 0,75 mmol L-1,

volume de amostra de 100 L, fluxo 1,0 mL min-1 e sistema de supressão eletrônico

Metrohm. As determinações analíticas foram feitas utilizando-se a curva analítica de

calibração na faixa de concentração de 5 a 50 mol L-1.

4.4 Índice de Fisher

Para a avaliação das concentrações médias de MP2,5 de acordo com o dia da

semana, foi utilizado o Índice de Fisher (WILKS, 2006). O índice de Fisher é uma

combinação linear de características originais que produz a separação máxima entre duas

populações. Neste caso, foi utilizado como variáveis as concentrações médias de MP2,5 nos

finais de semana e as concentrações médias de MP2,5 para os dias da semana. Quanto

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maior o Índice de Fisher, mais discrepante são os valores encontrados para finais de

semana dos valores encontrados para os demais dias da semana.

m1= concentração média nos dias da semana

m2= concentração média nos finais de semana

S21= variância das concentrações nos dias de semana

S22= variância das concentrações nos finais de semana

4.5 Dados Meteorológicos

As variáveis meteorológicas analisadas neste trabalho foram obtidas do Instituto

Nacional de Meteorologia (INMET), as quais incluem: temperatura do ar (ºC), umidade

relativa (%), pressão (hPa), velocidade. Os dados diários de vento utilizados, direção e

velocidade (m.s-1 - graus), obtidos por meio do METAR do Aeroporto de Belo Horizonte/

Pampulha e do Aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre. Para a construção das rosas de

vento, foi utilizado o processador meteorológico WRPLOT View versão 6.5.1, desenvolvido

pela empresa canadense Lakes Environment Consultants.

As posições dos anticiclones e das frentes foram determinadas através das cartas

sinóticas de superfície, elaboradas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério

da Marinha – DNM (http://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm), e com

imagens de satélite obtidas através do CPTEC - INPE (http://satelite.cptec.inpe.br/home/).

5. Resultados e Discussões Analisando as concentrações médias anuais de MP2,5 (Tabela 5.1) nota-se que não

houve uma diferença muito significativa entre as concentrações médias de massa de Porto

Alegre em relação as de Belo Horizonte, sendo 14,6 e 14,9 µg.m-3, respectivamente. Isso

acontece também nas concentrações de Black Carbon, onde a diferença entre as médias

das duas cidades foi de apenas 0,62 µg.m-3. O fato de o desvio padrão de MP2,5 (13,2 µg.m-

3) e BC (4,6 µg.m-3) ter sido mais acentuado em Porto Alegre, inclusive supera a média de

Equação 4.2

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BC (4,1 µg.m-3), se deve a existência de grande variabilidade tanto destas concentrações

como de massa de MP2,5 nas amostras obtidas nesta localidade.

Tabela 5.1: Concentrações médias e desvio padrão de MP2,5 e BC, em µg.m-3, em Porto

Alegre e Belo Horizonte.

Cidade N° de amostras Massa BC

X Ѕ X Ѕ

Belo Horizonte 374 14,9 7,74 4,68 3,41

Porto Alegre 332 14,6 13,2 4,07 4,55

X : Média aritmética simples da população amostral. Ѕ: Desvio padrão amostral

Avaliando o perfil de variação diária das concentrações de material particulado pode-

se observar que as duas capitais apresentaram comportamento bastante próximo. Embora

Belo Horizonte (Figura 5.7) tenha indicado uma concentração média de massa de MP2,5

sutilmente superior a Porto Alegre (Figura 5.1), esta apresentou uma amplitude de oscilação

bem mais acentuado do que o observado em Belo Horizonte. Conforme o valor de

referência utilizado neste trabalho para concentração média diária de 35 µg.m-3 para 24

horas, Porto Alegre apresentou 25 picos de concentração superior a este valor, 6 destas

ultrapassagens ocorreram no mês de setembro. Em Belo Horizonte foram registradas 8

ultrapassagens ao valor de 35 µg.m-3.

Em Porto Alegre, em 2007, os máximos de concentração de PM2,5 foram registradas

no período de junho a começo de outubro. Após este período, verifica-se a diminuição nas

concentrações deste poluente até o começo de março de 2008, voltando a ocorrer novos

picos de concentração no início do outono de 2008. De junho a agosto do novamente

observa-se uma diminuição nas concentrações deste poluente. O perfil diário de BC também

apresentou o mesmo comportamento do MP2,5, as maiores concentrações ocorreram de

junho a outubro de 2007 e de março a início de junho de 2008, enquanto que as menores

corresponderam no período de outubro de 2007 a março de 2008 e de junho a agosto de

2008.

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Figura 5.1: Variação diária da concentração de MP2,5 e Black Carbon em Porto Alegre, no

período de maio de 2007 a agosto de 2008.

A diferença de variabilidade de concentração de massa do MP2,5 entre o inverno de

2007 e 2008 pode estar relacionada com a direção e a velocidade do vento em Porto Alegre.

Através de rosas dos ventos, gerada com dados de direção e velocidade do vento obtidos

através do METAR do aeroporto Salgado Filho, pode-se observar esta diferença na Figura

5.2. Embora nos dois períodos seja observada maior influência de vento da direção ESE,

em 2007 há uma contribuição significativa de ventos de E e W, enquanto que em 2008 nota-

se apenas uma ligeira contribuição de ventos de E. Em relação à velocidade do vento, em

2008 pode-se observar menor ocorrência de ventos calmos (7,6%) em relação a 2007

(11%), como também maior contribuição de ventos mais intensos entre 2,1 e 3,6 (10%) e 3,6

– 5,7 m.s-1 (4%). Nota-se que ventos desta magnitude não são observados de junho a

agosto de 2007, isto juntamente com o fato de ocorrerem mais situações de calmaria e a

contribuição de ventos do quadrante W pode ter contribuindo dificultando a dispersão de

poluentes como também advectando poluição desta direção, visto que nesta região estão

localizados indústrias como, complexo petroquímico, usina a carvão e fábrica de aço.

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Junho – Agosto/2007

Junho – Agosto/2008

Figura 5.2: Rosa dos Ventos de 2007 e 2008 de Porto Alegre.

Na Figura 5.3 são apresentadas as rosas de vento do período de outubro a

dezembro de 2007 e de janeiro e fevereiro de 2008, período em que foi observado

diminuição nas concentrações de massa de MP2,5. Através desta, torna-se claro que, a

diminuição das concentrações de MP2,5 coincide com a menor ocorrência de vento calmos e

maior predominância de vento ESE. No último trimestre de 2007 a ocorrência de condições

de calmaria e a contribuição de ventos de E e SE assim como a predominância de ventos de

ESE (45%) ainda pode ser observada. Em janeiro e fevereiro de 2008 a contribuição de

ventos da direção E e SE diminuem significativamente, enquanto que a de ESE chega a

70%. Neste período, aproximadamente 24% dos ventos têm velocidade entre 3,6 e 5,7m.s -1

e nenhuma condição de calmaria é observada.

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Outubro – Dezembro/2007

Janeiro – Fevereiro/2008

Figura 5.3: Rosa dos Ventos de Porto Alegre.

Conforme citado anteriormente, Porto Alegre apresentou 25 ultrapassagens do limite

considerado por este estudo como referência para o padrão do material particulado fino.

Embora o registro de picos de máxima concentração de MP2,5, seja mais freqüente na

estação chuvosa em Porto Alegre, em aproximadamente 50% dos casos de ultrapassagem,

foi identificada a ausência de precipitação por um período superior a seis dias. Por exemplo,

não houve ocorrência de precipitação entre os dias 04 e 17 de setembro, sendo que neste

período foram registrados seis picos de máximas concentrações chegando a 74,2 µg.m-3 no

dia 17. Depois deste período foi verificado uma diminuição nas concentrações de MP2,5

devido há um frente fria que permaneceu estacionária entre os dias 19 e 23, a qual foi

responsável por volumes significativos de chuva. De acordo com informações divulgadas

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pelo site da Metsul(5.1), foi registrado no centro de Porto Alegre 154 milímetros de

precipitação em cinco dias.

Foi verificada a ocorrência de inversões térmicas abaixo de 500 m em 80% das

ultrapassagens, condição esta que contribui para a deterioração da qualidade do ar. A

temperatura passa a aumentar com a altura, inversamente ao que ocorre em condições

normais, com temperatura mais baixa próxima da superfície do que em níveis

imediatamente acima na atmosfera. A camada de ar quente sobreposta à camada menos

quente impede a mistura da atmosfera em ascensão vertical e os poluentes se acumulam

junto à superfície. A inversão térmica pode dar origem ao nevoeiro que ocorre justamente no

começo da manhã, um dos momentos de maior presença de automóveis nas ruas. Foram

identificados pelo menos quatro episódios de ultrapassagens em que houve a ocorrência de

nevoeiro ou neblina no início da manhã. Na grande maioria dos casos analisados, também

foi identificada a atuação de sistemas de alta pressão e em cerca de 70 % dos casos de

ultrapassagens foram identificadas condições pré-frontais.

Como exemplo, será apresentada a análise sinótica do dia 08 de agosto de 2007 no

qual foi registrado em Porto Alegre, o pico de concentração de MP2,5 de aproximadamente

80 µg.m-3. Neste dia o Estado estava sob a influência de uma massa de ar frio,

acompanhada de uma camada de inversão e ventos de calmos a fracos, que ocasionou

estagnação atmosférica, o que pode justificar o alto valor de concentração registrado neste

dia.

Através das cartas sinóticas da 00 e 12Z (Figura 5.4), pode-se observar a perda de

intensidade de um sistema de alta pressão que as 00Z se encontrava sobre a região Sul do

país e as 12 Z nota-se o deslocamento desta para o oceano. O sistema de alta pressão atua

gerando movimento de subsidência de ar seco e frio, resultando em céu claro, sem nuvens

e fortes inversões térmicas, principalmente à noite.

______________ 5.1 Metsul: Empresa de consultoria e previsão do tempo e clima com atuação no Brasil e Conesul.

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46

.

Figura 5.4: Cartas sinóticas referente a 00 e 12Z de Porto Alegre do dia 08 de agosto de

2008.

De acordo com a imagem de satélite das 09:15Z (Figura 5.5a), nota-se a ausência de

nebulosidade sobre a maior parte do país. Esta situação favoreceu a ocorrência de inversão

térmica, o que pode ser observado na radiossondagem (Figura 5.5b) das 12Z. Em relação

às variáveis atmosféricas atuantes neste dia em Porto Alegre, a temperatura média foi

relativamente baixa (7,5 °C), pressão atmosférica de 1021 hPa com predomínio de ventos

fracos (velocidade menor que 2 m.s-1). Como pode ser visto na Figura 5.6, a direção do

vento neste dia é de W, ou seja, vento proveniente da região de Charqueadas e São

Jerônimo onde estão localizadas as usinas termelétricas a carvão, TERMOCHAR

(Charqueadas) e Usina Termelétrica de São Jerônimo – UTSJ.

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47

Figura 5.5: a) Imagens do satélite GOES-10, no canal Infravermelho colorido às 09:15Z; b)

Radiossondagem atmosférica às 12Z, do dia 08 de agosto de 2008 de Porto Alegre.

Figura 5.6: Rosa dos Ventos referente ao dia 08 de agosto de 2008 de Porto Alegre.

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Em relação ao perfil diário de concentração de massa de MP2,5 e Black Carbon em

Belo Horizonte (Figura 5.7), observa-se picos mais elevados de concentrações de MP2,5

ocorreram de maio a começo de novembro de 2007, sendo 5 das 6 ultrapassagens ao valor

de 35 µg.m-3, registradas em 2007 ocorreram entre final de agosto e começo de novembro.

A partir da segunda metade do mês de agosto, pode-se notar uma diminuição significativa

nas concentrações de material particulado na atmosfera de Belo Horizonte. De acordo com

o gráfico, no final de março e começo de abril de 2008 as concentrações voltam a aumentar

novamente. Mesmo com a diminuição das concentrações de MP2,5 o teor de BC nas

amostras de Belo Horizonte não demonstra variação significativa, o que não é observado

nas amostras de Porto Alegre.

Figura 5.7: Variação diária da concentração de MP2,5 e Black Carbon em Belo Horizonte, no

período de maio de 2007 a agosto de 2008.

Em Belo Horizonte, os meses mais quentes (outubro-março) coincidem com a

estação chuvosa, correspondendo a 88% da precipitação total anual, sendo que novembro,

dezembro e janeiro são os meses mais chuvosos. De todos os eventos de precipitação, 43%

ocorrem em janeiro, isto somado a dezembro e novembro totaliza 80% das ocorrências de

todo estação chuvosa. Os meses mais frios (abril-setembro) correspondem ao período de

seca. Comparando a Figura 5.8 com a Figura 5.7 pode-se observar claramente a relação

inversa entre a precipitação e a concentração de massa do MP2,5. Mesmo com o registro de

ocorrência de precipitação, no mês de outubro, ainda pode-se observar episódios de altas

concentrações de MP2,5. Nota-se que o volume de chuva acumulado em 24 horas não foi

suficiente para que houvesse a remoção de poluentes da atmosfera. Vale ressaltar também,

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o número de dias com chuva, que em outubro e novembro foram registrados apenas 14 dias

com chuva, enquanto que em janeiro e fevereiro foram registrados 29 dias. Novamente, a

partir de abril a precipitação volta a diminuir, o que pode ter contribuído para novos registros

de máximos de concentração de MP2,5.

Figura 5.8: Variação diária da precipitação acumulada em 24 horas, no período de maio de

2007 a julho de 2008 em Belo Horizonte.

O comportamento do vento nos períodos de ocorrência de máximas e mínimas

concentrações de MP2,5 também apresentaram alguma variação. Nota-se, a partir da Figura

5.9, que os máximos de concentração de material particulado coincidiram com períodos em

que a direção do vento predominante foi de ESE e E, com 53% em condições de calmaria e

apenas 1,3% de ocorrência de ventos com velocidade entre 2,1 e 3,6 m.s-1. No entanto,

períodos em que foram registrado diminuição nas concentrações de MP2,5, o vento

predominante foi de direção E, com ligeira contribuição de ventos da direção ESE. Em

relação a velocidade do vento, condições de calmaria são observadas em apenas 10% de

freqüência, enquanto que 82% foram ventos fracos de 0,5 a 2,1 m.s-1, 7% de 2,1 a 3,6 e

cerca de 2% foram ventos de 3,6 a 5,7 m.s-1.

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50

Maio – Agosto/2007

Dezembro/07 - Março/2008

Figura 5.9: Rosa dos Ventos de Belo Horizonte.

Em relação aos dias em que houve ultrapassagem ao valor de referência utilizado

neste trabalho, das oito ultrapassagens, metade delas apresentou condições de calmaria,

enquanto que a outra metade apresentou ventos fracos (de 0,5 a 2,1 m.s-1) com direção de

E. Devido à ausência de radiossondagens atmosféricas em Belo Horizonte, para os dias em

que ocorreram os picos máximos de concentração de material particulado fino, não pode ser

verificado se houve ocorrência de inversões térmicas nestes casos. Porém, os dias em que

estas ultrapassagens foram registradas, apresentaram condições atmosféricas pré-frontais

(CLIMANÁLISE, 2007), o que também pode ter contribuído para a ocorrência destes picos

máximos. Foi observada a ausência de precipitação por um período maior que 15 dias em

quatro das cinco ultrapassagens ocorridas em Belo Horizonte, em casos extremos como a

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ultrapassagem do dia 17 de julho de 2007, foram 57 dias sem registros de precipitação

antes da entrada de uma frente fria no dia 19 do referido mês.

De acordo com a literatura, resultados similares a estes foram observados tanto em

Belo Horizonte como em Porto Alegre. ORSINI et al. (1986) coletou amostras de MP2,5 em

algumas cidades brasileiras de 1982 a 1985, inclusive Porto Alegre e Belo Horizonte. A

concentração média de MP2,5 obtida em 33 amostras de Porto Alegre foi de 15,9 μg.m-3,

enquanto que para as 8 amostras coletadas em Belo Horizonte a concentração média de

massa de MP2,5 foi de 15,8 μg.m-3. Também em BRAGA et al. (2005) e DALLAROSA et al.

(2008) foi verificada para a Região Metropolitana de Porto Alegre, concentrações médias de

MP2,5 de aproximadamente 15 μg.m-3 na zona urbana e de 7 μg.m-3 na zona rural. Segundo

BRAGA et al. (2005), foi verificada a concentração média de MP2,5 para um período de

amostragem de abril a dezembro de 2002, em um total de 176 amostras foi obtida 15 μg.m-3

de concentração média deste poluente, sendo que a concentração máxima foi de 44 μg.m -3

e a mínima de 1 μg.m-3.

Em estudos realizados na Europa, concentrações de MP2,5 em zonas rurais em geral

aparecem bastante uniforme, entre 11 μg.m-3 e 13 μg.m-3, consideravelmente mais baixos

do que as concentrações urbanas (cerca de 15-20 μg.m-3), que por sua vez são mais baixas

do que as médias anuais de MP2,5 em regiões de maior tráfego (20-30 μg.m-3). Na Ásia

partículas finas são responsáveis pela maior parte dos problemas de visibilidade, recentes

medições no centro de Pequim mostram as concentrações médias de MP2,5 foram

superiores a 100 μg.m-3. As concentrações médias mensais variaram entre 61 μg.m-3 e 139

μg.m-3, enquanto que durante episódios de poluição atmosférica a média diária pode chegar

a 300 μg.m-3 (WHO, 2005).

Considerando apenas a porcentagem de Black Carbon presente nas amostras de

MP2,5, pode-se verificar que este ficou em torno de 26 e 31% em Porto Alegre e Belo

Horizonte, respectivamente. Estes valores estão bem acima dos valores tipicamente

esperados para áreas urbanas pela EPA (10% da massa do MP2,5). De acordo com o perfil

de variação da porcentagem de carbono elementar em Porto Alegre (Figura 5.10), nota-se

que a fração de BC se manteve em torno de 10 a 40% do material particulado fino.

Enquanto que em Belo Horizonte, apenas duas das amostras revelaram porcentagens

abaixo de 10%, como pode ser observado na Figura 5.11. Com exceção dos valores

extremos, a presença de BC em Belo Horizonte oscilou entre o intervalo 15 a 60% do

material particulado.

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Figura 5.10: Variação diária da porcentagem de Black Carbon presente nas amostras de

MP2,5 em Porto Alegre.

Em relação ao gráfico que corresponde a variação da porcentagem de carbono

elementar presente no MP2,5 em Belo Horizonte (Figura 5.11), vale a pena ressaltar a

significativa diminuição nas concentrações no período entre o final de agosto ao começo de

dezembro de 2007. Isto pode estar relacionado ao início do período de chuvas na região.

Figura 5.11: Variação diária da porcentagem de Black Carbon presente nas amostras de

MP2,5 em Belo Horizonte.

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Por ser produzido principalmente pela queima de biomassa e de combustíveis

fósseis usado em indústrias e veículos, o Black Carbon é bastante utilizado como elemento

traçador em estudos de transporte de poluentes atmosféricos devido a sua origem

estritamente antropogênica. Isto pode vir a explicar a maior porcentagem de carbono

elementar nas amostras de MP2,5 obtidas em Belo Horizonte, visto que é uma região

fortemente industrializada e com um frota veicular de quase um milhão de veículos.

Segundo MAHMOUD et al. (2008), foi verificado para a cidade do Cairo no outono de

2004 e a primavera de 2005, que as concentrações médias horárias de Black Carbon são

significativamente maiores no outono em relação à primavera (9,9 ± 6,6 e 6,9 ± 4,8 μg.m-3,

respectivamente) e bastante variável em curta escala de tempo (diurno). Utilizando um

modelo simples, foi constatado que o tráfego é de longe a principal fonte do BC no Cairo,

durante o dia e no outono, quando além da influência do tráfego ainda há a queima de

biomassa na região do delta do Nilo.

5.1 Comportamento Médio de Acordo com o Dia da semana

Considerando a concentração media de MP2,5 e BC para cada dia da semana, pode

ser observado que as concentrações mais baixas, em Porto Alegre (Figura 5.12), foram

encontradas nos finais de semana, o que pode ser explicado pela diminuição das atividades

industrias como também menor circulação de veículos. Nos demais dias da semana é

verificado um aumento nas concentrações, ficando em torno de 15 μg.m-3, exceto na terça-

feira quando é identificado um pico nas concentrações de 17,4 μg.m-3. Na sexta-feira as

concentrações voltam a diminuir ficando na média de 13 μg.m-3 de sexta a domingo. Em

relação ao comportamento do Black Carbon ao longo da semana, este apresentou perfil

similar ao MP2,5, diminuindo as concentrações deste poluente a partir da sexta-feira e

voltando a aumentar na segunda-feira. Assim como o MP2,5 o pico nas concentrações no

decorrer da semana ocorre na terça-feira.

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Figura 5.12: Concentração média por dia da semana de MP2.5 e Black Carbon (μg m-3), para

o período amostrado em Porto Alegre.

O mesmo comportamento não foi verificado para Belo Horizonte (Figura 5.13), pois

apenas aos domingos (14,34 μg.m-3) é observada menor concentração média de massa de

MP2,5 que o restante dos dias da semana. Dois picos de altas concentrações ocorrem no

decorrer da semana, na segunda-feira e no sábado, sendo os dois superiores a 15 μg.m-3.

Nos demais dias da semana, de terça a sexta-feira, as concentrações ficam em torno de

14,70 μg.m-3. Como o observado em Porto Alegre, o perfil de variação nas concentrações de

carbono elementar em Belo Horizonte é bem próximo ao do MP2,5, ou seja, aos domingos

foram registradas, embora sutilmente, menores quantidades de Black Carbon no material

particulado amostrado.

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Figura 5.13: Concentração média por dia da semana de MP2.5 e Black Carbon (μg m-3),

para o período amostrado em Belo Horizonte.

Para melhor interpretação destas concentrações médias de MP2,5 para cada dia da

semana, foi utilizado o Índice de Fisher (WILKS, 2006). Neste caso foi utilizado como

variáveis os as concentrações médias de MP2,5 nos finais de semana e as concentrações

médias de MP2,5 para os dias da semana. Quanto maior o Índice de Fisher mais discrepante

são os valores encontrados para finais de semana dos valores encontrados para os demais

dias da semana. De acordo com a Equação 4.2 foi encontrado para Belo Horizonte índice

igual a 0,05, enquanto que para Porto Alegre 0,53, o que vem a confirmar que as

concentrações médias correspondente aos finais de semana em Porto Alegre se distingue

das concentrações médias de MP2,5 encontradas nos demais dias da semana.

5.2 Variabilidade sazonal

Em relação ao comportamento sazonal do MP2,5, o perfil de variação foi bastante

próxima nas duas capitais, embora cada uma delas apresente características climáticas

distintas. Nos gráficos das Figuras 5.14 e 5.15 pode-se observar a sazonalidade bem

definida tanto em Porto Alegre como em Belo Horizonte, onde a concentração média de

MP2,5, apresenta-se mais elevada nos meses de inverno (jun/jul/ago) em relação aos meses

de verão (dez/jan/fev).

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Figura 5.14: Variação média sazonal de MP2,5 e de Black Carbon em Porto Alegre.

De acordo com a Figura 5.15, observa-se que Belo Horizonte apresenta maior

concentração média de massa de MP2,5 tanto no inverno (16,7 µg.m-3) como no verão (9,0

µg.m-3), quando comparada as médias obtidas em Porto Alegre (Figura 5.14) que foi de 14,2

µg.m-3 no inverno e 7,4 µg.m-3 no verão.

Dentre os resultados obtidos, verifica-se que o Black Carbon apresenta perfil de

variação sazonal similar a concentração média de massa de MP2,5, onde Belo Horizonte

registrou concentração média de 5,6 µg.m-3 no inverno e 3,1 µg.m-3 no verão, enquanto que

para Porto Alegre foi de 4,3 µg.m-3 no trimestre de junho-julho-agosto e de 1,8 µg.m-3 no

verão.

Figura 5.15: Variação média sazonal de MP2,5 e de Black Carbon em Belo Horizonte.

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Resultados semelhantes a estes podem ser encontrados na literatura (CASTANHO E

ARTAXO, 2001; MIRANDA et al, 2002; FENG, Y. et al, 2009), onde são verificadas maiores

concentrações de MP na atmosfera nos meses de inverno em relação ao verão. Isto pode

ser explicado pelo fato de que o inverno que são observadas as condições meteorológicas

adversas à dispersão de poluentes no ar, tais como: ausência de precipitação, aumento da

ocorrência de inversões térmicas mais próximas a superfície e condições de calmarias.

5.3 Análise dos Resultados da Composição Elementar

As partículas da atmosfera compreendem uma complexa mistura de diversos

elementos e compostos, sendo constituídos basicamente de sulfatos, nitratos, amônia,

compostos orgânicos, sais marinhos, elementos do solo (Al, Si, Ti, Ca, Fe), metais pesados

(Pb, Zn, Ni, Cu, V, Cr, Cd, e outros). A partir da composição química destas partículas

atmosféricas pode-se inferir sobre as principais fontes de emissão de poluentes em uma

determinada localidade. Com isto, através da Figura 5.16 é possível verificar a influência de

atividade locais ao comparar a composição elementar das amostras de MP2,5 obtidas em

Belo Horizonte e em Porto Alegre.

Como mencionado anteriormente, a Região Metropolitana de Belo Horizonte é

responsável por 66% da atividade mineradora do estado de Minas Gerais além do que está

localizada na região metalúrgica do estado com indústrias de grande porte ligadas ao setor

siderúrgico, de minerais não metálicos (cimento e cal), de petróleo e a indústria

automobilística. O desenvolvimento de tais atividades pode ser responsável pelas maiores

concentrações de Mg, Al, Si, Ca, Mn e Fe no MP2,5 do que as encontradas em Porto Alegre.

Elementos metálicos provenientes de diferentes fontes antropogênicas estão

associados com partículas de diferentes frações. Aquelas emitidas durante a queima de

combustíveis fósseis (V, Co, Pb, Ni and Cr) estão associadas em sua maioria à partículas

menores que 2,5 μm de diâmetro. Indústrias metalúrgicas liberam na atmosfera As, Cr, Cu,

Mn e Zn, a poluição devido ao tráfego veicular incluem as emissões de elementos como o

Fe, Pb, Cu, Zn e Cd, que podem estar associado a partículas finas e grossas (QUEROL et

al., 2002; ALASTUEY et al., 2006, BIRMILI et al., 2006).

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Figura 5.16: Concentração média dos elementos presentes nas amostras de MP2,5 de Belo

Horizonte e Porto Alegre.

BRAGA (2005), verificou para três regiões distintas da Região Metropolitana de Porto

Alegre, a presença de Si, S, Cl, K, Ca, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Ni, Zn e Cu no MP10 e MP2,5 e

através de análises estatísticas obteve a caracterização de diferentes fontes: usinas

siderúrgicas, queima de resíduos hospitalares, carvão em centrais elétricas, fontes

veiculares, industriais e naturais, bem como sal marinho de massas de ar oceânicas . De

acordo com este estudo, o elemento Vanádio estaria associado a tráfego de veículos

pesados a diesel, enquanto que o Ni e o Zn estariam associados a emissões industriais e

veículos movidos a gasolina.

De acordo com a análise estatística o V, Cr, Zn, Ni, Mn e Fe demonstram a

significativa influência de atividades industriais como as emissões da usina termelétrica a

carvão TERMOCHAR e usinas siderúrgicas localizadas em Charqueadas, um dos pontos de

amostragem. Em outro ponto de amostragem, caracterizado pela contribuição de partículas

devido à queima de resíduos hospitalares, o Zn esteve relacionado a esta fonte assim como

o Cl e o S, no entanto não se pode excluir a contribuição marinha para o Cl. Foi observado

também, que os elementos S, Cr, Ni, Cu e Zn apresentaram concentrações mais elevadas

nas partículas finas o que pode ser devido a queima de carvão.

A caracterização química de elementos presente no material particulado tem tornado

possível a identificação de possíveis fontes de emissões de poluentes em localidades

bastante distintas. Na Tabela 5.2, pode-se observar os resultados de análises químicas

elementares obtidas neste trabalho em comparação a resultados obtidos por outros autores

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em regiões urbanas (São Paulo e Bern) como também em área rural (Chaumont). Os

resultados evidenciam as concentrações de elementos traços emitidos principalmente por

processos antropogênicos, como o K, Ca, V, Mn, Fe, Cu e o Pb, os quais se apresentam em

maiores concentrações em regiões urbanas (Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e

Bern) em relação ao meio rural (Chaumont) (ALBUQUERQUE, 2005; HUEGLIN et al.,

2005).

De acordo com estudos realizados anteriormente em Belo Horizonte em Porto

Alegre, é possível verificar uma variação nas concentrações média de alguns elementos

presente no MP2,5 de algumas décadas para cá. Conforme os resultados obtidos por ORSINI

et al. (1986), em comparação com os resultados aqui encontrados (Tabela 5.3), para Porto

Alegre nota-se que houve uma diminuição nas concentrações de Mg, Si, S, Ti, V, Cr, Ni, Zn

do anos 80 em relação aos últimos anos. Enquanto que, pode-se observar também aumento

sutil nas concentrações de Ca e Mn, e aumento significativo (mais de 50%) nas

concentrações de Cl, K e Fe. Em Belo Horizonte, vale ressaltar que, ao contrário de Porto

Alegre o Fe apresentou diminuição nas concentrações, enquanto que o S, o Cr e o Zn

demonstraram um aumento nas concentrações nas últimas décadas. HUEGLIN (2005),

também verificou que as concentrações de V, Mn, Cd e Pb tem sido decrescente em

comparação a dados disponíveis em meados dos anos 80 na Suíça.

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Tabela 5.2: Composição química elementar do MP2,5 (concentração média) obtida no

presente estudo em comparação com outros autores em diferentes locais de amostragem (valores em ng.m-3).

* Região urbana (Bern) e rural (Chaumont) Suíça, respectivamente a Presente estudo.

b ALBUQUERQUE, 2005. c HUEGLIN et al., 2005.

Variáveis Porto Alegre a

2007-2008

Belo Horizonte a

2007-2008

São Paulo b

2003

Suíça c*

1998-1999

Na 122,9 51,3 84 - 68

Mg 10,7 22,4 13 - 10

Al 43,2 52,7 26 - 34

Si 80,9 199,8 169,4

P 10,1 6,60

S 354,2 366,7 1116,3

Cl 97,5 10,3

K 271,6 192,5 275,6 186 - 68

Ca 37,1 97,1 58,8 106 - 46

Ti 4,15 5,03 12,0 0,05 - 0,01

V 0,88 1,58 2,9 1,4 - 0,8

Cr 1,01 0,65

Mn 4,5 39,9 8,7 4,4 - 0,8

Fe 80,2 129,3 247,8 204 - 26

Ni 1,91 0,83 3,0 1,3 - 1,3

Cu 3,57 3,14 22,1 8,7 - 6,0

Zn 16,7 14,7 121,8

Se 1,02 0,38 5,1 0,21 - 0,22

Br 2,91 2,43

Pb 7,34 5,39 51,0 30 - 4,7

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Tabela 5.3: Comparação entre resultados de composição química elementar obtidos no

presente trabalho, para Belo Horizonte e Porto Alegre e resultados obtidos por ORSINI (1986), concentração média em μg m-3).

* Valores hachurados apresentaram diminuição nas concentrações. aORSINI et al., 1986. bPresente estudo.

Variáveis Porto Alegre a

1983

Porto Alegre b

2008

Belo Horizonte a

1984

Belo Horizonte b

2008

Na 122,9 51,3

Mg 57,28 10,7* 25,41 22,4

Al 43,2 52,7

Si 146,76 80,9 234,42 199,8

P 10,1 6,60

S 458,04 354,2 297,17 366,7

Cl 18,25 97,5 10,30 10,3

K 93,71 271,6 103,28 192,5

Ca 31,31 37,1 31,41 97,1

Ti 5,10 4,15 5,26 5,03

V 6,07 0,88 3,66 1,58

Cr 2,59 1,01 0,24 0,65

Mn 3,08 4,5 4,14 39,9

Fe 39,13 80,2 188,36 129,3

Ni 2,30 1,91 2,69 0,83

Cu 3,30 3,57 5,51 3,14

Zn 26,76 16,7 9,89 14,7

Se 1,02 20,09 0,38

Br 2,91 2,43

Pb 7,34 5,39

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5.4 Variabilidade Temporal das Concentrações Elementares

De acordo com a Figura 5.17 pode-se avaliar o comportamento das concentrações

(ng.m-3) dos elementos Mg, Al, Si, S, K, Ca, Mn, Fe nas amostras de MP2,5 de Porto Alegre

de acordo com as seguintes situações: a)dias com e sem precipitação, b) com o dia da

semana e c) variação sazonal.

A Figura 5.17a mostra as médias das concentrações elementares para dias com e

sem precipitação. Pode-se notar que os dias sem precipitação apresentaram maiores

concentrações de quase todos os elementos, com exceção do potássio e o ferro que

apresentou uma concentração ligeiramente maior mesmo com a ocorrência de precipitação.

O fato do processo de remoção úmida ser eficiente para a remoção de partículas finas em

suspensas na atmosfera pode explicar esta diminuição nas concentrações.

De acordo com o perfil de variação das concentrações médias elementares de

acordo com o dia da semana (Figura 5.17b), torna-se claro a contribuição de emissões de

origem veicular e industrial, visto que todos os elementos, com exceção do Mn,

apresentaram maiores concentrações durante a semana quando comparadas as

concentrações médias dos finais de semana. Vale ressaltar a diferença significativa entre as

concentrações médias de enxofre, que durante a semana foi de 388 ng.m -3 e no final de

semana foi de 224 ng.m-3. O Si e o Fe, tiveram suas concentrações reduzidas quase 50%

nos finais de semana, cerca de 50 e 48 ng. m-3, respectivamente. Isto pode estar

relacionado à diminuição das atividades industriais nos finais de semana, visto que estes

elementos são provenientes de fontes desta tipologia.

É apresentada na Figura 5.17c, a variação das concentrações médias elementares

para diferentes estações do ano. Nota-se que, quase todos os elementos apresentaram

maiores concentrações no inverno de 2008, com exceção do K, que apresentou maior

concentração média no inverno de 2007 e do S que apresentou máximo de concentração no

verão. Vale ressaltar o comportamento do elemento Mg, que não esteve presente nas

amostras de MP2,5 obtidas tanto no inverno de 2007 como no outono de 2008.

Em relação a Belo Horizonte, é apresentado na Figura 5.18 o perfil de variação das

concentrações médias (ng. m-3) dos elementos Mg, Al, Si, S, K, Ca, Mn, Fe nas amostras de

MP2,5 de acordo com as seguintes situações: a)dias com e sem precipitação, b) com o dia

da semana e c) variação sazonal.

Avaliando o perfil de variação das concentrações elementares médias para dias com

e sem precipitação, foi observado (Figura 5.18a) que, com exceção do Ca, todos os demais

elementos apresentaram maiores concentrações em dias sem precipitação. Isto demonstra

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a eficiência da precipitação na remoção de partículas atmosféricas em Belo Horizonte, ainda

mais que nesta capital o período seco é bem definido.

No que se refere à variação das concentrações médias elementares de acordo com

o dia da semana (Figura 5.18b), pode-se observar que, com exceção do Mg, as

concentrações médias não apresentaram uma diferença significativa entre os dias de

semana e os finais de semana. O Al, S, Ca e Fe, apresentaram concentração média nos

dias de semana sutilmente maior que nos finais de semana, enquanto que o Si e o K

apresentaram concentração média levemente menor no dias de semana e o Mn não

apresentou diferença entre as concentrações médias de final de semana e dia de semana.

É apresentada na Figura 5.18c, a variação das concentrações médias elementares

para diferentes estações do ano. Nota-se que, quase todos os elementos apresentaram

maiores concentrações na primavera de 07, com exceção do Si e do Mn que apresentaram

maiores concentrações médias no inverno de 2007 e outono de 08, respectivamente. Vale

ressaltar o comportamento do elemento Mg, que esteve presente,mesmo em concentrações

médias baixas, apenas no inverno de 08 e no verão.

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a) Dias com chuva e sem chuva b) Dias da semana e finais de semana

c) Variação Sazonal

Figura 5.17: Variação das concentrações médias (em ng. m-3) dos elementos Mg, Al, Si, S, K, Ca, Mn, Fe em Porto Alegre (a) para dias com e sem

precipitação, (b) durante a semana e os finais de semana e (c) por estações do ano.

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a) Dias com chuva e sem chuva b) Dias da semana e finais de semana

c) Variação Sazonal

Figura 5.18: Variação das concentrações médias (em ng. m-3) dos elementos Mg, Al, Si, S, K, Ca, Mn, Fe em Belo Horizonte (a) para dias com e

sem precipitação, (b) durante a semana e os finais de semana e (c) por estações do ano.

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5.5 Análise dos Resultados da Composição Iônica

O perfil de variação das concentrações médias dos íons Cl-, NO3-, SO4

2-, Na+, NH4+,

K+, Ca2+ (ng.m-3) obtidos por cromatografia iônica para Porto Alegre e Belo Horizonte são

apresentados na Figura 5.19. Torna-se claro que algumas espécies iônicas solúveis em

água estiveram em maior quantidade nas amostras obtidas nas duas capitais, como os

ânions SO42- e NO3

-, e os cátions NH4+ e K+. É importante ressaltar, a contribuição

significativa do sulfato no material particulado das duas capitais, que chega a ser três vezes

maior que os demais íons.

Também é possível identificar a contribuição mais significativa dos íons Cl- e o Na+

estavam nas amostras de Porto Alegre, o que pode ser justificado pela proximidade desta

cidade ao mar. Em Belo Horizonte, o cátion Ca2+ apresentou maior concentração média do

que em Porto Alegre, o que pode ser decorrente das atividades minerados desenvolvidas na

região. Com exceção deste elemento, todos os demais íons estiveram em maiores

quantidades no MP2,5 de Porto Alegre, em relação as amostras de Belo Horizonte. Vale

ressaltar a diferença entre as concentrações médias de nitrato presente no MP2,5 das duas

capitais, a qual foi cerca de 60% maior em Porto Alegre em relação a Belo Horizonte.

Figura 5.19: Variação da concentração média dos íons Cl-, NO3-, SO4

2-, Na+, NH4+, K+, Ca2+

presentes no MP2,5 de Belo Horizonte e Porto Alegre.

Estudos realizados em outras cidades, também apresentaram o mesmo perfil de

variação no que diz respeito à composição iônica do MP2,5. De acordo com a Tabela 5.4, em

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diferentes estudos, os íons NO3-, SO4

2- e o NH4+ estiveram presentes em maiores

quantidades no material particulado fino em relação aos demais. Isto se deve ao fato de que

estes compostos são característicos de fontes antropogênicas. ALMEIDA et al. (2002), em

estudo realizado em Portugal, comenta que características de zonas urbana/industriais

fazem com que estas espécies sejam majoritárias no material particulado. No entanto, os

teores destes componentes observados em Lisboa são inferiores aos verificados em outras

áreas urbanas européias, o que se deve possivelmente à proximidade de Portugal em

relação ao oceano, que promove uma maior dispersão de poluentes. Vale ressaltar as altas

concentrações médias de todos os íons em Shangai em relação a Porto Alegre, Belo

Horizonte, Rio de Janeiro e Lisboa, o que pode evidenciar o alto nível de poluição nas

megacidades (SOLURI et al., 2007; ALMEIDA et al., 2002; WANG et al., 2006).

Tabela 5.4: Composição química iônica do MP2,5 (concentração média) obtida no presente estudo em comparação com outros autores em diferentes locais de amostragem.

Íons Porto

Alegrea Belo

Horizontea Rio de

Janeirob Lisboac Shangaid

ng m-3

Cl- 148,7 42,2 290 250 3000

NO3- 431,6 190,5 2400 1300 6230

SO42- 1167,8 1152,8 2700 3900 10390

Na+ 187,4 78,5 450 400 570

NH4+ 346,0 338,4 900 1300 3780

K+ 323,8 210,9 450 130 630

Ca2+ 37,1 107,3 - 380 1250

a Presente estudo. bSOLURI et al., 2007.

cALMEIDA et al., 2002. dWANG et al., 2006.

Investigações detalhadas das características químicas de partículas na atmosfera

são importantes tanto para elucidar a toxidade das partículas como o seu papel nas

mudanças climáticas. TAO (2007), correlacionou a visibilidade com a composição química

de 28 amostras de MP2,5 em Guangzhou, na China em abril de 2007. Os resultados obtidos

mostraram que o sulfato foi a espécie dominante, que afetou tanto a dispersão de luz quanto

e visibilidade. A contribuição percentual média de espécie degradante da visibilidade e

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coeficiente de dispersão da luz foi de 40% para o sulfato, 16% para o nitrato, 22% para

produtos orgânicos, e 22% de carbono elementar.

A significativa correlação observada (Figuras 5.20 e 5.21) entre as concentrações de

enxofre (analisado por Fluorescência de Raios-X) e o sulfato (analisado por cromatografia

de íons), indica que o enxofre encontra-se, predominantemente na forma de sulfato no

material particulado fino das duas regiões estudadas.

Figura 5.20: Variação da concentração do enxofre do sulfato de amostras analisadas de

Porto Alegre e respectivo coeficiente de linearidade.

Figura 5.21: Variação da concentração do enxofre do sulfato de amostras analisadas de

Belo Horizonte e respectivo coeficiente de linearidade.

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6. Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo estudar a composição química do material

particulado fino (MP2,5) de duas capitais brasileiras: Belo Horizonte e Porto Alegre. Além

disto, foi estudada a influência das condições meteorológicas na variação diária das

concentrações de massa do MP2,5.

Em relação à análise das concentrações diárias de MP2,5 e BC pode-se afirmar que

as maiores concentrações ocorreram no período de inverno, tanto em Belo Horizonte quanto

em Porto Alegre, porém ocasionadas por condições meteorológicas distintas em cada

capital. Em Belo Horizonte, por exemplo, a principal causa da ocorrência de altas

concentrações está diretamente ligada à ausência de precipitação no período de inverno,

visto que a precipitação é um importante processo de remoção de poluentes da atmosfera.

Enquanto que em Porto Alegre, vários fatores meteorológicos influenciaram as altas

concentrações no inverno, como as inversões térmicas em camadas próximas a superfície

como também a predominância de ventos de direção E e W, transportando poluentes de

regiões onde são desenvolvidas diversas atividades industriais.

Em relação ao Black Carbon, foi observado perfil similar as concentrações de massa

de MP2,5, o qual apresentou uma diminuição nas concentrações no período de inverno e

maiores concentrações no verão. Além disso, vale ressaltar a porcentagem de BC presente

nas amostras de MP2,5, que ficou em torno de 26 e 31% em Porto Alegre e Belo Horizonte,

respectivamente, bem acima dos valores tipicamente observados para áreas urbanas pela

EPA (10% da massa do MP2,5). Em Porto Alegre a fração de BC se manteve em torno de 10

a 40% do material particulado fino, enquanto que em Belo Horizonte, apenas duas das

amostras revelaram porcentagens abaixo de 10%, com exceção dos valores extremos, a

presença de BC em Belo Horizonte oscilou entre o intervalo 15 a 60% do total da massa do

material particulado.

A avaliação do perfil médio das concentrações MP2,5 e BC de acordo com o dia da

semana, revelou que as concentrações mais baixas, em Porto Alegre foram encontradas

nos finais de semana, o que pode ser explicado pela diminuição das atividades industriais

como também menor circulação de veículos. O mesmo comportamento não foi verificado

para Belo Horizonte, pois apenas aos domingos foi observada menor concentração média

de massa de MP2,5 que o restante dos dias da semana. Dois picos de altas concentrações

ocorreram no decorrer da semana, na segunda-feira e no sábado. Como o observado em

Porto Alegre, o perfil de variação nas concentrações de Black Carbon em Belo Horizonte é

bem próximo ao do MP2,5, ou seja, menores quantidades foram registradas aos domingos.

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70

Em relação ao comportamento sazonal do MP2,5, o perfil de variação foi bastante

próxima nas duas capitais, embora cada uma delas apresente características climáticas

distintas. Pode ser observada a sazonalidade bem definida tanto em Porto Alegre como em

Belo Horizonte, onde a concentração média de MP2,5, apresenta-se mais elevada nos meses

de inverno (jun/jul/ago) em relação aos meses de verão (dez/jan/fev).

Em relação à análise elementar, o Si, S, K e o Fe, foram os elementos que

apresentaram maiores concentrações no MP2,5 tanto em Belo Horizonte como em Porto

Alegre. As concentrações de Mg, Al, Si, Ca, Mn e Fe no MP2,5 de Belo Horizonte, foram

maiores que em Porto Alegre, isto pode ser devido ao desenvolvimento de atividades

industriais indústrias de grande porte ligadas ao setor siderúrgico, de minerais não metálicos

(cimento e cal), de petróleo e a indústria automobilística em Belo Horizonte.

De acordo com o comportamento das concentrações elementares em relação aos

dias com e sem precipitação, foi observado, em Porto Alegre, que os dias sem precipitação

apresentaram maiores concentrações de quase todos os elementos, com exceção do

potássio e o ferro que apresentou uma concentração ligeiramente maior mesmo com a

ocorrência de precipitação. Enquanto que em Belo horizonte, com exceção do Ca, todos os

demais elementos apresentaram maiores concentrações em dias sem precipitação. O fato

do processo de remoção úmida ser eficiente para a remoção de partículas em suspensão na

atmosfera pode explicar esta diminuição nas concentrações.

Da análise do perfil de variação das concentrações médias elementares de acordo

com o dia da semana, em porto Alegre, ficou bem caracterizada a contribuição de emissões

de origem veicular e industrial, visto que todos os elementos, com exceção do Mn,

apresentaram maiores concentrações durante a semana quando comparadas as

concentrações médias dos finais de semana. Entretanto, em Belo Horizonte, as

concentrações médias não apresentaram uma diferença significativa entre os dias de

semana e os finais de semana, com exceção do Mg. Vale ressaltar que o Si e o K

apresentaram concentração média levemente menor no dias de semana e o Mn não

apresentou diferença entre as concentrações médias de final de semana e dia de semana.

Com relação à variabilidade sazonal das concentrações elementares, foi notado que

em Porto Alegre quase todos os elementos apresentaram maiores concentrações no inverno

de 2008, com exceção do K, que apresentou maior concentração média no inverno de 2007

e do S que apresentou máximo de concentração no verão. Em Belo Horizonte, quase todos

os elementos apresentaram maiores concentrações na primavera de 07, com exceção do Si

e do Mn que apresentaram maiores concentrações médias no inverno de 2007 e outono de

08, respectivamente.

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Em relação à composição iônica das amostras de MP2,5 torna-se claro que algumas

espécies solúveis em água estiveram em maior quantidade nas amostras obtidas nas duas

capitais, como os ânions SO42- e NO3

-, e os cátions NH4+ e K+. É importante ressaltar, a

contribuição significativa do sulfato no material particulado das duas capitais, que chega a

ser três vezes maior que os demais íons. Também foi possível identificar a contribuição mais

significativa dos íons Cl- e o Na+ nas amostras de Porto Alegre, o que pode ser justificado

pela proximidade desta cidade ao mar. Em Belo Horizonte, o cátion Ca2+ apresentou maior

concentração média do que em Porto Alegre, o que pode ser decorrente de atividades

mineradoras desenvolvidas na região. Com exceção deste elemento, todos os demais íons

estiveram em maiores quantidades no MP2,5 de Porto Alegre. Vale ressaltar a diferença

entre as concentrações médias de nitrato presente no MP2,5 das duas capitais, a qual foi

cerca de 60% maior em Porto Alegre.

Os resultados de amostragem simultânea de MP2,5 em duas importantes regiões

metropolitanas do Brasil possibilitaram a avaliação da variabilidade de massa e composição

química do material particulado fino, melhorando o conhecimento sobre o aerossol

atmosférico nestas regiões. Além disto, foi observada a importância das condições

meteorológicas atuantes, contribuindo para o aumento dos níveis de poluição.

Finalmente, é importante destacar que no Brasil não há padrão de qualidade do ar

para MP2,5 e considerando as diretrizes da OMS para este poluente (10 g m-3 média anual

e 25 g m-3 média 24h) as duas regiões estudadas apresentaram problemas de qualidade

do ar com riscos à saúde da população.

7. Sugestões Para Trabalhos Futuros

Entre as possíveis sugestões de trabalhos futuros pode-se destacar a própria

continuidade das amostragens e análises. Porém também com atenção para campanhas

periódicas com mais pontos de amostragem em uma mesma região metropolitana,

principalmente nos períodos em que se observaram concentrações mais altas. Assim se

poderia conhecer com mais detalhes a distribuição do MP2,5 em diferentes áreas das

capitais estudadas.

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