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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA
CENTRO DE HUMANIDADES OSMAR DE AQUINO
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA E HISTRIA
CURSO DE ESPECIALIZAO EM GEOGRAFIA E TERRITRIO:
PLANEJAMENTO URBANO, RURAL E AMBIENTAL
Linha De Pesquisa: PLANEJAMENTO DO MEIO FSICO/AMBIENTAL
JOAB TALO DA SILVA FERREIRA
ANLISE GEOMORFOLGICA COM ENFOQUES AO PLANEJAMENTO
AMBIENTAL NA SERRA DO ESPINHO, PILES PB
GUARABIRA/PB
2012
JOAB TALO DA SILVA FERREIRA
ANLISE GEOMORFOLGICA COM ENFOQUES AO PLANEJAMENTO
AMBIENTAL NA SERRA DO ESPINHO, PILES PB
Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Geografia e Territrio: Planejamento urbano, rural e ambiental da Universidade Estadual da Paraba, Centro de Humanidades, Guarabira-PB, em cumprimento s exigncias para o grau de especialista.
Orientador: Prof. Dr Lanusse Salim Rocha Tuma
GUARABIRA/PB 2012
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA SETORIAL DE
GUARABIRA/UEPB
F383a Ferreira, Joab talo da Silva
Anlise geomorfolgica com enfoques ao planejamento
ambiental na Serra do Espinho, Piles-PB / Joab talo da Silva
Ferreira. Guarabira: UEPB, 2012.
38f.: il. Color.
Monografia (Especializao em Geografia e Territrio:
Planejamento Urbano, Rural e Ambiental) Universidade
Estadual da Paraba.
Orientao Prof. Dr. Lanusse Salim Rocha Tuma.
1. Geomorfologia 2. Planejamento 3. Ambiente I. Ttulo.
22.ed. CDD 551.4
DEDICATRIA
Com sinceros sentimentos de gratido, dedico esse trabalho a meus pais: Joo Lucas e Dalva da Silva, aos amigos e professores da Universidade Estadual da Paraba- Campus III.
AGRADECIMENTOS
A Deus, ser supremo, dono da vida e detentor de infinita sabedoria.
Aos meus pais e familiares pela compreenso e apoio inconteste nos momentos de
dificuldades.
A minha irm, por ensinar-me os valores supremos da vida e famlia.
Aos colaboradores da Universidade Estadual da Paraba, em especial aos professores
Lanusse Tuma e Luciene Vieira Arruda, pelo apoio inconteste durante o decurso de nossa
Ps- Graduao.
Aos companheiros do curso de Especializao em Geografia, em especial a
Mariclia, Ivanildo, e Monique.
Aos companheiros da Companhia de gua e Esgotos da Paraba pelo incentivo.
Agradeo tambm a Rita de Cssia e Gilberto pelo companheirismo e escuta nas
horas difceis.
Ao Governo do Estado da Paraba que tem proporcionado incentivos a um ensino de
qualidade durante a Ps-Graduao.
Ao Programa de Ps-Graduao em Geografia, por acreditar em nossa proposta no
decorrer do curso.
A todos meus sinceros agradecimentos
O primeiro passo da anlise consiste em decompor a complexidade de tudo quanto existe na rea.
Richard Rartshorne
FERREIRA, Joab I. S. F. ANLISE GEOMORFOLGICA COM ENFOQUES AO PLANEJAMENTO AMBIENTAL NA SERRA DO ESPINHO, PILES PB (Monografia, Especializao em Geografia e Territrio: Planejamento Urbano, Rural e Ambiental UEPB) 2012, 38 p. BANCA EXAMINADORA: Profo Dr. Lanusse Salim Rocha Tuma Prof MSc. Rafael Fernandes da Silva Prof MSc. Damio Carlos F. de Azevedo
RESUMO
A ideia central desse estudo est voltada para o Planejamento Ambiental a partir de uma
abordagem geomorfolgica na Serra do Espinho, localizada no municpio de Piles-PB, onde
se procurou investigar a evoluo do relevo e locais onde a movimentao de massa impe
risco populao. Como objetivo geral pretendeu-se analisar alm dos aspectos
geomorfolgicos locais, as formas de uso e ocupao das reas rural e urbana como tambm
os eventuais riscos que o movimento do regolito pode causar, procurando compreender o
desenvolvimento dos fenmenos fsicos e humanos que contribuem para a formao do
territrio, bem como as consequentes alteraes no ambiente decorrente dessas aes. A partir
da diretriz metodolgica foi possvel observar estrutura, fisiologia e funcionalidade do relevo
em questo. Constatou-se, ento, que o substrato rochoso que compe o arcabouo estrutural
da Serra do Espinho apresenta uma estrutura homognea e compacta marcada em alguns
afloramentos por significantes planos de fraturas, diclases e pequenas dobras. Nas encostas
visitadas ocorrem uma srie de intervenes de risco de morte, onde anualmente so
depositados uma grande quantidade de material rochoso decorrente de deslizamentos
planares. H tambm um processo de uso e ocupao do espao da encosta para constrio de
moradias. Esta regio por apresentar beleza cnica e diversas quedas dgua atrai pequenos
grupos de pessoas que buscam praticar turismo ecolgico, porm de forma no planejada
agredindo assim o ambiente natural da rea, se apresentando enfim como mais um ponto
preocupante.
Palavras-chave: Geomorfologia, planejamento, ambiente.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Localizao da rea de Pesquisa .................................................................... 20
FIGURA 2 - Localizao do municpio de Piles em relao ao clima................................ 21
FIGURA 3 - Perfil de solo nas margens da estrada PB 077 ............................................... 23
FIGURA 4 - Localizao aproximada do municpio de Piles/PB em relao vegetao da Paraba ................................................................................................................................. 24
FIGURA 5 - Viso geral da Serra do Espinho ..................................................................... 27
FIGURA 6 - Aspecto morfoescultural da Serra do Espinho ................................................. 27
FIGURA 7 - Formao de Ravinas em rea de pastagem (A) e rea de emprstimo (B)....... 29
FIGURA 8 - Processo de eroso hdrica. ............................................................................. 29
FIGURA 9 - Escorregamento planar em margem de estrada ................................................ 30
FIGURA 10 Processo de urbanizao em rea de encosta....................................................31
LISTA DE GRFICOS
GRFICO 1 - Porcentagem de captao de gua subterrnea em Piles- PB........................22
GRFICO 2 - Porcentagem entre poos paralisados e em operao, Piles PB.................23
LISTA DE SIGLAS
AESA Agncia Executiva das guas
CPRM Companhia de Produo de Recursos Minerais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
SUDEMA Superintendncia de Desenvolvimento do Meio Ambiente
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TERICO .......................................................................................... 14
2.1 Aplicabilidades da Geomorfologia ................................................................................. 14
2.2 Desenvolvimento do Arcabouo Estrutural, Regional e Local ........................................ 17
3. CARACTERIZAO GEOAMBIENTAL .................................................................. 19
3.1 Localizao Geogrfica .................................................................................................. 19
3.2 Aspectos Climticos e Hidrogrficos .............................................................................. 21
3.3. Aspectos Pedolgicos e Vegetao ................................................................................ 23
4 METODOLOGIA UTILIZADA .................................................................................... 25
5. RESULTADOS E DISCUSSES .................................................................................. 27
6. CONCLUSES .............................................................................................................. 33
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 35
ANEXO.................................................................................................................................. 36
12
1 INTRODUO
A maneira pela qual o homem usa e apropria-se dos bens naturais necessita ser
repensada e planejada uma vez que a ausncia de planejamentos ambientais tem ocasionado
srias consequncias ao ambiente rural e urbano. No decorrer do tempo grande parte das
intervenes causadas ao ambiente natural provm de atividades humanas, onde o homem
extrai da natureza a matria prima para seus modos de produo e moradia.
O relevo o lugar onde esto concentradas as mais variadas atividades humanas.
Cada uma de sua poro revela uma srie de fenmenos morfogenticos e evolutivos que,
acrescidos pela interveno humana, podem ser modificados e ampliados. Tal interferncia
resulta uma srie de benefcios e certo grau de risco ambiental e social.
A relao sociedade-natureza tem ocupado lugar de destaque no discurso geogrfico,
uma vez que tal disciplina apresenta subsdios tericos que prope ao entendimento das
variadas formas de desenvolvimento da sociedade e sua relao com a natureza (ROSS,
2008). Esta relao permite o dilogo com uma srie de cincias naturais, dentre elas a
Geologia, Geomorfologia, Botnica, Ecologia, Pedologia, Climatologia, denotando subsdios
para planejar o uso racional dos recursos naturais e prognosticar eventuais falhas a cerca da
apropriao da superfcie terrestre.
As pesquisas em Geomorfologia tiveram incio desde o fim do sculo XIX e comeo
do sculo XX na Europa, vistos como disciplina autnoma no campo da Geografia Fsica.
Nesta poca os pesquisadores buscavam o entendimento dos fenmenos internos e externos
ligados na formao do relevo terrestre, bem como na morfodinmica atual das paisagens.
Nos Estados Unidos o terico W. M. Davis criou o mtodo da anlise cclica das paisagens,
baseando-se na evoluo do modelado terrestre, denominando de ciclo de eroso
(PENTEADO, 1980).
De acordo com Penteado (1980), a cincia geomorfolgica torna-se complexa na
medida em que busca o entendimento dos fenmenos envolvidos na esculturao da
superfcie da Terra, explicando a complexa relao entre os aspectos estticos e dinmicos
formadores das paisagens.
A partir da dcada de 1970 a comunidade cientfica props o termo Geomorfologia
Ambiental reconhecendo o homem como um importante agente modificador das formas do
relevo terrestre. Nessa poca a cincia geomorfolgica buscou o aprimoramento de tcnicas
13
adequadas para o uso racional dos recursos naturais sem a quebra do balano natural dos
ecossistemas. Dessa forma passou a auxiliar no planejamento de obras de engenharia,
mudanas em canais fluviomtricos, e demais intervenes de pequena e grande escala nas
paisagens.
Como destaca Guerra e Maral (2006), o entendimento da Geomorfologia Ambiental
auxilia no prognstico e diagnstico dos danos ambientais causados pela explorao dos
recursos naturais, bem como na ocorrncia de mudanas nos ecossistemas terrestres
provocadas pela ao humana ou natural. Neste sentido a instabilidade dos ambientes fsicos
torna-se consequncia da explorao dos recursos naturais de forma no planejada.
A abordagem geomorfolgica nesta pesquisa est voltada ao planejamento ambiental
com enfoques aos aspectos de ocupao territorial nas reas rurais e urbanas no municpio de
Piles PB, onde a transformao do territrio no est vinculada somente aos elementos
fsicos intrnsecos na paisagem. Decorre tambm das prticas de ocupao e apropriao do
solo realizada pelo homem e suas aes, modificando dessa forma a dinmica processual dos
aspectos fisiogrficos do relevo.
O Objetivo geral consiste em analisar a Geomorfologia Ambiental dando nfase ao
planejamento territorial em reas marcadas pelo contnuo uso e apropriao do relevo na Serra
do Espinho, Piles PB.
Entre os objetivos especficos analisar a compartimentao topogrfica da encosta
bem como os aspectos edafoclimticos e hidro-climatolgicos responsveis por sua formao,
e tambm analisar o desenvolvimento dos fenmenos fsicos e humanos que contribuem para
a formao do territrio, bem como as consequentes alteraes no ambiente decorrente dessas
aes.
De forma que este trabalho torna-se importante por obervar a paisagem a partir de
uma viso associada entre Geografia e Geomorfologia Ambiental, onde os aspectos fsicos e
humanos so elementos indissociveis na configurao do modelado terrestre. Alm disso,
contribui para o desenvolvimento e planejamento territorial rural na Serra do Espinho, onde
existe grande necessidade para a preservao dos recursos provindos do ambiente.
14
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 APLICABILIDADES DA GEOMORFOLOGIA
A Geomorfologia surgiu enquanto cincia ao final do sculo XIX e incio do sculo
XX, onde nesta poca os pesquisadores estavam preocupados em conhecer a seqncia dos
processos morfodinmicos que resultaram na elaborao do relevo terrestre e
consequentemente na formao das paisagens (GUERRA e MARAL, 2006). De acordo com
Penteado (1980), alguns estudos desenvolvidos no campo da Geologia no final do sculo
XVIII, serviram de base aos conhecimentos geomorfolgicos na medida em que abordaram os
aspectos da natureza de maneira sistemtica, coesa e racional.
Nos dias atuais o campo de estudo da Geomorfologia volta-se ao entendimento dos
aspectos morfolgicos do relevo atravs dos princpios da causalidade, extenso e localizao.
Essa forma de abordagem permite ao pesquisador a compreenso da dinmica interna e
externa do relevo, contribuindo desta forma para o planejamento e interveno a serem
aplicados atravs de mtodos e tcnicas especficas. Desta forma o estudo e a anlise dos
fenmenos geomorfolgicos devem ser elaborados numa perspectiva que considere os
aspectos estticos e dinmicos do relevo.
Parafraseando as ideias de Guerra e Maral (2006) o conhecimento geomorfolgico
aplicado com grande relevncia na elaborao de relatrios e diagnsticos que podem
diagnosticar o grau de alterao dos sistemas ambientais fsicos e humanos, eles ainda
afirmam:
A Geomorfologia est cada vez mais empenhada com a questo ambiental e desenvolve-se a partir de uma demanda crescente da sociedade, com relao necessidade de se buscarem conhecimentos que apontem na direo das inmeras possibilidades de solues ou amenizaes que os impactos ambientais exercem, tento em reas urbanas como rurais (GUERRA E MARAL, 2006, p. 15).
Nesta tica os estudos relacionados ao relevo terrestre revestem-se de um carter
geogrfico, uma vez que um elemento essencial na natureza atuando como fornecedor vital
de recursos e palco das diversas manifestaes humanas e de seus modos de produo.
15
Na viso de Ross (2001 p. 18) (...) o entendimento da dinmica do relevo interessa
diretamente ao homem como ser social, passa a ser tambm parte integrante da geografia.
Onde a compreenso dos elementos que compem o estrato geogrfico torna-se
imprescindvel ao entendimento da dinmica ambiental de uma rea.
Outros autores como Casseti (2009) discutem o uso e apropriao do relevo
afirmando que (...) assume importncia fundamental no processo de ocupao do espao,
fator que inclui as propriedades de suporte ou recurso, cujas formas ou modalidades de
apropriao respondem pelo comportamento da paisagem e suas consequncias.
No decorrer do tempo as atividades humanas em determinado territrio tem alterado
a dinmica processual dos aspectos fisiogrficos do relevo colocando em evidncia o homem
como um importante agente geomorfolgico. Nesta tica o funcionamento e dinmica do
sistema ambiental fsico esto intimamente ligados a este campo de interaes e depende da
aplicao de planejamentos. Autores como Christofoletti (2001, p. 417) abordam essas
questes reafirmando que (...) o planejamento sempre envolve a questo da espacialidade,
pois incide na implementao de atividades em determinado territrio. Constitui um processo
que repercute nas caractersticas, funcionamento e dinmica das organizaes espaciais.
Parafraseando Santos (2004, p. 78), o planejamento ambiental de uma rea permite a
interpretao de questes voltadas condio superficial do terreno, onde a acomodao dos
ncleos ou aglomerados humanos depende tambm das limitaes do relevo local. A autora
ainda afirma que (...) Sempre se espera que o planejamento apresente um conjunto de
medidas que devam ser administradas num espao definido, por limites claramente
determinados.
A Geomorfologia oferece arcabouo terico-conceitual para os trabalhos voltados ao
planejamento ambiental, uma vez que contribui para a diminuio dos impactos negativos
causados pelo crescimento urbano e rural das cidades. Sua aplicabilidade est inserida
sistematicamente no prognstico e diagnstico das condies naturais de uma rea, atuando
como importante instrumento de planejamento territorial que visa um adequado assentamento
e alocao das atividades humanas (CHRISTOFOLETTI, 2001, p. 416).
Ao mencionar a interface entre a geomorfologia e o planejamento Guerra e Maral
(2006) afirmam:
(...) bastante instigante, e o geomorflogo pode fornecer tcnicas de pesquisa e conhecimentos sobre a superfcie da Terra, relacionados s formas de relevo e aos processos associados, de tal maneira que essas informaes sejam vitais para o Planejamento, no sentido de prevenir contra a ocorrncia de catstrofes e danos ambientais generalizados (GUERRA E MARAL, 2006, p. 37).
16
Na concepo do professor Jurandyr Ross (2001, p. 16) o custo para a preveno de
acidentes naturais torna-se bem menor em relao demanda de dinheiro investido em obras
para conteno de danos ambientais generalizados, onde (...) recursos naturais uma vez mal
utilizados ou deteriorados tornam-se irrecuperveis. Neste aspecto a realizao de
prognsticos ambientais surge como uma importante ferramenta ao planejamento de forma
que possvel estabelecer diretrizes de uso dos recursos naturais do modo mais racional
possvel, minimizando a deteriorao da qualidade ambiental.
17
2.2 DESENVOLVIMENTO DO ARCABOUO ESTRUTURAL, REGIONAL E LOCAL
O arcabouo estrutural brasileiro est inserido totalmente na Plataforma Sul-
Americana, originada a cerca de 2.600 B.A., com estruturas do tipo gneas, sedimentares e
metamrficas, originadas no Arqueozico, Proterozico e Fanerozoco para as coberturas
sedimentares (GONZALES; ARAJO, 1997, p 23).
A morfologia do relevo brasileiro reaperfeioada constantemente devido ao intenso
retrabalhamento do processo erosivo que ocorreu ao longo do tempo e ainda acontece nos dias
atuais.
Neste aspecto:
(...) as estruturas e as formaes litolgicas so antigas, mas as formas do relevo so recentes. Estas foram produzidas pelos desgastes erosivos que sempre ocorreram e continuam ocorrendo, e com isso esto permanentemente sendo reafeioadas (ROSS, 2008, p.45).
O termo Provncia da Borborema foi introduzido inicialmente por Almeida (1997
apud MONTEIRO, 2000) ao referir-se poro oriental da regio nordeste da Plataforma Sul-
Americana. Representa uma rea onde ocorreram importantes movimentos orogenticos
ocorridos no Ciclo Brasiliano durante o Pr-Cambriano. Possui uma rea superior a 450.000
km, distribudo transversalmente entre os estados do Rio Grande do Norte, Paraba,
Pernambuco, e Alagoas.
Para Monteiro (2000, p 57) qualquer aproximao para descrever a histria da
Provncia Borborema deve comear com os eventos arqueanos, cujas rochas afloram na
maioria das exposies do embasamento desta provncia.
Outros autores como AbSber (1969), ao referir-se a Provncia Borborema e seus
depsitos correlativos afirma:
A posio topogrfica dos testemunhos dessa superfcie aplainada, a despeito de predominantemente corresponder ao topo de pequenos macios ou cristas alinhadas (indistintamente denominadas serras na topomnia regional), varia de regio para regio, devido ao de fatos litolgicos e interferncia de fatores morfoclimticos (ABSABER, 1969, p. 41).
Com relao aos processos morfoclimticos a frente escarpada da Borborema faz
barlavento em relao s massas de ar mido provindas do litoral, esse fenmeno potencializa
a ocorrncia de chuvas orogrficas bem como um clima mido diferencial das reas do
18
entorno desde os arredores de Campina Grande, Areia e adjacncias. Em decorrncia desses
processos o sistema hidrolgico local mantm certa perenidade nos canais fluviais e nascentes
que ali se originam.
Esta frente escarpada da Borborema configura a paisagem ora como espores em
contato direto com a depresso sub-litornea e em seguida definem-se na paisagem de uma
maneira bastante articulada com as formas do planalto em direo as cotas altimtricas mais
elevadas. Atualmente a sua gnese bastante discutida, na medida em que alguns
pesquisadores como Matsumoto (1974) considera o aspecto linear dessas vertentes como
consequncia de uma movimentao tectnica, afirmando:
Todavia, a possibilidade de uma origem tectnica para as escarpas, no pode ser abandonada, porque, em algumas partes, h alguns escarpamentos lineares que no parecem ser explicados somente por processos de eroso (MATSUMOTO, 1974, p. 20).
Nesta hiptese a interferncia indireta dos processos orogenticos explicaria a
denominao dessas vertentes como escarpa de falha.
Na concepo de Guerra e Guerra (2008, p. 242) para definir um relevo onde uma
falha responsvel pelo fator topogrfico, necessrio observar o escarpamento abrupto
onde (...) os escarpamentos de falhas, quando antigos j se acham mais trabalhados pela
eroso, que ocasiona uma dissecao no espelho da antiga falha. Deve-se considerar tambm
que numa determinada escala espao-temporal a intensidade dos processos erosivos pode
variar em decorrncia do controle exercido pela erodibilidade e erosividade, resultando numa
topografia com recuos e rebaixamentos da superfcie.
A influncia mtua de uma gama de fatores biticos, abiticos e humanos
influenciam diretamente no desencadeamento dos processos erosivo-deposicionais no relevo.
Na opinio de Coelho Netto (2001, p. 95) alteraes nas composies desses fatores podem
induzir a modificaes significativas na dinmica espao-temporal dos processos hidrolgicos
atuantes nas encostas.
Vale ressaltar que a cobertura vegetal e a manta orgnica exercem um importante
papel de controle para dissipar a energia das gotas das chuvas, onde tal fora cintica inicia
um processo erosivo. Porm o balano hidrolgico das reas brejadas sofre influencia positiva
em virtude da cobertura florestal existente em pequenos ncleos nas pores mais elevadas do
relevo, onde esta alcana bom ndice de conservao.
19
3 CARACTERIZAO GEOAMBIENTAL
3.1 LOCALIZAO GEOGRFICA
O municpio de Piles est localizado na mesorregio do Agreste e microrregio do
Brejo paraibano, de acordo com o IBGE 2010 est sob as coordenadas 64339 Lat. Sul e
353657Long. Oeste, possuindo uma rea de 64 Km e uma populao estimada em 7.068
habitantes, a sede municipal est a 480 metros de altitude. O acesso a partir da capital Joo
Pessoa se d pela BR 230 e as rodovias PB-073, 075 e 077, totalizando um percurso de
aproximadamente 110 Km.
A Serra do Espinho localiza-se no municpio de Piles numa rea de transio entre a
Microrregio de Guarabira para o Brejo paraibano, ambas localizadas na Mesorregio do
Agreste (fig.1). De acordo com o mapa geomorfolgico elaborado pela Agncia Executiva
das guas (AESA), este compartimento da Borborema apresenta uma orientao NW-SE e
cotas topogrficas que variam entre 480 e 500 metros, e formas aguadas e convexas.
20
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21
3.2 ASPECTOS CLIMTICOS E HIDROGRFICOS
O estado da Paraba apresenta importantes variaes climticas decorrentes da
particularidade de cada ambiente geogrfico, desta forma no cordo litorneo a maritimidade
e os ventos alsios do sudeste propiciam um clima mais mido. Na medida em se afasta da
zona costeira em direo ao interior do continente o clima torna-se menos mido.
O clima do municpio de Piles classificado segundo Kppen ao considerar a
distribuio mdia da precipitao e a temperatura, ele classificou como quente e mido do
tipo As. O maior ndice pluviomtrico ocorre entre os meses de maro e agosto, e o perodo
de estiagem entre setembro e fevereiro (fig. 2).
Em relao aos aspectos hidrolgicos, o municpio de Piles est inserido no alto
curso da Bacia Hidrogrfica do Rio Mamanguape tendo como principais afluentes os rios
Araagi e Araagi-Mirim. Este curso da bacia possui um padro dentrtico e semi-perene que
registram importantes oscilaes entre os perodos seco e chuvoso. Atualmente os recursos
Fonte: Adaptado de SUDEMA (2010).
Figura 2 Localizao do municpio de Piles em relao ao clima.
22
hdricos disponveis em Piles esto destinados para diversos fins, tais como: consumo
humano, agricultura, consumo animal e outros.
Historicamente a questo hdrica um tema bastante discutido na regio nordestina
desde a poca das oligarquias, onde o controle da gua simbolizava o poder sobre uma
sociedade em estado de misria.
Somente no ano de 1996 o estado da Paraba assinou a Lei n 6.308 instituindo a
poltica de recursos hdricos, estabelecendo critrios tcnicos e princpios organizacionais
baseados nas disposies das constituies e legislaes Federal e Estadual, bem como a
Poltica Nacional do Meio Ambiente e de Recursos Hdricos.
No ano seguinte foi assinado o decreto N 19.260 garantindo que a gua deve ser
utilizada para os bens econmicos e sociais com o intuito de melhorar a qualidade de vida,
bem como combater os contrastes regionais de pobreza. Assegura tambm que o uso da gua
deve acontecer com padres de qualidade e quantidade suficientes para as geraes atuais e
futuras, sendo compatvel com as polticas de desenvolvimento urbano e rural dos municpios.
Durante diagnstico elaborado pelo CPRM (2005), foram verificadas algumas
contradies em relao ao uso e distribuio da gua no municpio de Piles, onde se
constatou que apenas 36% da gua captada no lenol fretico esto sob domnio pblico, ou
seja, existe certa acessibilidade populao e este recurso. Enquanto que os 64% restantes
esto restritos a propriedades particulares locais (grfico 1).
Alm disso, a CPRM (2005) constatou uma demanda considervel de poos
perfurados sem operao e paralisados em virtude da ausncia de infra-estrutura bsica para o
ideal funcionamento. Essa porcentagem chega a 35% do total de poos existentes no
municpio (grfico 2).
Grfico 1: Porcentagem de captao de gua subterrnea
Fonte: CPRM (2005).
23
Vale ressaltar que grande parte dos problemas relacionados a distribuio de gua no
municpio de Piles esto localizados na rea rural, onde a populao carece com a infra-
estrutura e logstica insuficiente para obter o acesso a esse importante recurso.
3.3. ASPECTOS PEDOLGICOS E VEGETAO
De acordo com a Companhia de Produo de Recursos Minerais (CPRM, 2005), em
locais onde a topografia apresenta um perfil suave ondulada a ondulado, correm solos do tipo
Planossolos fortemente drenados, cidos a moderadamente cidos e de fertilidade mdia.
Nestes locais ocorrem tambm os do tipo Argissolos (antigos Podzlicos) com textura
argilosa e fertilidade mdia a alta (fig.3).
Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2007
Figura 3: Perfil de solo nas margens da estrada PB 077.
Fonte: CPRM (2005).
Grfico 2: Porcentagem entre poos paralisados e em
24
No vale dos rios h ocorrncia de Planossolos pouco drenados com textura
mdia/argilosa, moderadamente cidos e altas taxas de fertilidade natural.
Quanto aos aspectos vegetacionais dessas zonas brejadas condicionada fortemente
pela influncia dos ventos midos que sopram pelos corredores formadores da bacia do
Mamanguape, proporcionando a essas reas condies privilegiados quanto temperatura,
umidade do solo e do ar. De acordo Tabarelli e Santos (2004):
A hiptese mais aceita sobre a origem vegetacional dos brejos de altitude est associada s variaes climticas ocorridas no Pleistoceno (ltimos 2 milhes 10.000 anos), as quais permitiram que a floresta Atlntica penetrasse nos domnios da caatinga.
Atualmente, de acordo com a Superintendncia de Administrao do Meio Ambiente
do Estado da Paraba (SUDEMA/PB, 2010), pode ser encontrada uma vegetao do tipo
Latifoliada Pereniflia de Altitude (fig. 4).
Figura 4 Localizao aproximada do municpio de Piles/PB em relao vegetao da Paraba (crculo vermelho).
Fonte: SUDEMA (2010).
25
4 METODOLOGIA UTILIZADA
A diretriz metodolgica adotada nesta pesquisa est pautada nos escritos
pressupostos por AbSber (1969), onde considera o estudo geomorfolgico em trs nveis de
abordagem a partir das macroestruturas at a descrio dos aspectos fisiogrficos atuais.
Em primeiro plano possvel compartimentar e compreender as caractersticas de
cada domnio morfolgico, onde se faz necessrio considerar o processo evolutivo de cada um
e sua ligao aos processos morfogenticos que aconteceram ao longo do tempo.
O segundo nvel considera a dinmica da estrutura superficial da paisagem, onde os
demais processos morfodinmicos esto correlacionados s demais propriedades do relevo.
Nesta fase se faz necessrio considerar tambm o processo evolutivo e estrutural, pois os
mesmos esto interligados aos processos morfogenticos que aconteceram ao longo do tempo.
O terceiro nvel refere-se aos elementos morfoclimticos e pedogenticos que
ocorrem no dia a dia. Onde de acordo com Casseti (2009) o relevo compreendido como
(...) fruto das relaes morfodinmicas resultantes da consonncia entre os fatores intrnsecos
[...] e os fatores extrnsecos, dando nfase ao uso e ocupao do modelado enquanto interface
das foras antagnicas.
Ainda de acordo com o referido autor embora (...) toda superfcie tenha sido
apropriada de alguma forma pelo homem, o referido nvel necessariamente incorpora as
transformaes produzidas e consequentes intervenes nos mecanismos morfodinmicos.
De forma que este nvel de abordagem tambm fundamental para abordar o discurso voltado
ao planejamento territorial, onde a ao humana surge como um elemento substancial para
explicar a atual morfodinmica de uma rea.
Para uma maior fidedignidade metodologia proposta foi realizada uma srie de
pesquisas de gabinete, campo e ps-campo.
Na fase inicial foi realizada uma ampla pesquisa bibliogrfica em fontes que
pudessem dar subsdios tericos a proposta de estudo, como tambm bases cartogrficas e
auxlio de SIGs (Sistema de Informaes Geogrficas).
No inicio dos trabalhos de campo fez-se necessrio o uso de materiais e tcnicas
necessrias para uma maior fidedignidade da pesquisa geomorfolgica. Foi utilizado mapa
geolgico e carta topogrfica onde foi possvel nortear e traar com mais fidelidade o roteiro a
ser seguido, como tambm comparar in loco os elementos descritos na carta com a situao
real do relevo. Utilizou-se tambm para complementar nossa base cartogrfica, imagens de
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satlite, e software (Global Mapper version 9.03), no qual possibilitou uma viso em 3D das
formas de relevo.
Foram realizadas uma srie de visitas Serra do Espinho, onde no primeiro contato
com a rea percorreu-se a margem do rio Araagi, porm baseado na interpretao da carta
topogrfica da rea e com o uso de imagens de satlite, reconheceu-se a rea e confrontaram-
se algumas informaes que estavam nos mapas com o que havia na paisagem local.
Em seguida foi realizado o cadastramento de pontos visitados atravs da ficha de
campo (em anexo) padronizada, com o auxlio do orientador. Conseguiu-se entender a
dinmica geomorfolgica da Serra do Espinho, bem como ver in loco o material rochoso que
sofreu movimentao ao longo do tempo. Nos afloramentos e reas de emprstimo foi
necessrio coletar amostras do material rochoso para possvel anlise. Para coletar tais
amostras utilizou-se de martelo geolgico e sacolas plsticas para armazenagem e transporte
dos pequenos blocos de rocha at o laboratrio.
Vale ressaltar que, no decorrer das trilhas foi possvel abordar com alguns moradores
locais, como tambm registrar a forte ligao entre os recursos naturais e os meios de vida
desses pequenos contingentes populacionais.