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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ANTONINO FONTENELLE BARROS JUNIOR ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS, MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA SÍNTESE DE FISCHER-TROPSCH EM REATOR TUBULAR DE LEITO FIXO COM CATALISADOR DE COBALTO FORTALEZA 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ … · SÍNTESE DE FISCHER-TROPSCH EM REATOR TUBULAR DE ... synthesis gas, ... O procedimento consiste em transformar o gás natural

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

ANTONINO FONTENELLE BARROS JUNIOR

ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS, MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA

SÍNTESE DE FISCHER-TROPSCH EM REATOR TUBULAR DE

LEITO FIXO COM CATALISADOR DE COBALTO

FORTALEZA

2013

ANTONINO FONTENELLE BARROS JUNIOR

ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS, MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA

SÍNTESE DE FISCHER-TROPSCH EM REATOR TUBULAR DE LEITO

FIXO COM CATALISADOR DE COBALTO

Tese submetida à Coordenação do Curso de Pós-

Graduação em Engenharia Química, da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do grau de Doutor em

Engenharia Química.

Orientador: Prof. Dr. Fabiano André Narciso

Fernandes

FORTALEZA

2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Pós-Graduação em Engenharia - BPGE

B274e Barros Junior, Antonino Fontenelle. Estimação de parâmetros, modelagem e simulação da síntese de Fischer-Tropsch em reator

tubular de leito fixo com catalisador de cobalto / Antonino Fontenelle Barros Junior. – 2013

116 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Departamento de

Engenharia Química, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Fortaleza, 2013.

Área de Concentração: Processos químicos e Bioquímicos.

Orientação: Prof. Dr. Fabiano André Narciso Fernandes.

1. Engenharia Quimica. 2. Catalisadores. I. Título.

CDD 660

ANTONINO FONTENELLE BARROS JUNIOR

ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS, MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA

SÍNTESE DE FISCHER-TROPSCH EM REATOR TUBULAR DE LEITO

FIXO COM CATALISADOR DE COBALTO

Tese submetida à Coordenação do Curso de Pós-

Graduação em Engenharia Química, da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial para a obtenção do grau de Doutor em

Engenharia Química.

Aprovada em 01/03/2013

BANCA EXAMINADORA

À Luiza Helena, minha mãe.

AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Luiza Helena, pelo estabelecimento de princípios éticos e morais, e

pela dedicação, apoio e ensinamentos fornecidos durante toda a minha vida.

À minha mulher, Fabyane, e às minhas filhas Melissa e Marcela, pelo carinho e

compreensão dispensados nos momentos de elaboração deste trabalho.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Fabiano André Narciso Fernandes, por toda atenção

dispensada e pelas críticas e sugestões que contribuíram para o aprimoramento desta

dissertação.

A todos os amigos e professores que direta ou indiretamente auxiliaram na

conclusão deste trabalho.

RESUMO

A reação de síntese de Fischer-Tropsch, que pode ser compreendida como uma

polimerização entre os gases monóxido de carbono e hidrogênio, mistura conhecida por gás

de síntese, com a formação de hidrocarbonetos parafínicos e olefínicos, ocorre na presença de

catalisadores heterogêneos, onde aqueles de cobalto aparecem como os mais promissores

quando se deseja produzir frações de hidrocarbonetos comercialmente mais favoráveis, como

gasolina, diesel e graxas. A reação já é encarada como alternativa ao petróleo, pois o gás de

síntese é gerado a partir de outras fontes, notadamente o gás natural. O conhecimento da

reação ainda é fundamentalmente experimental, e não existem mecanismos específicos que

expliquem com exatidão a formação dos produtos e sua distribuição ao longo de uma faixa de

hidrocarbonetos. Esse trabalho realiza inicialmente uma estimação de parâmetros,

enquadrados em uma modelagem cinética, que procuram explicar o desenvolvimento da

reação e a formação das parafinas e olefinas em reatores tubulares de leito fixo com

catalisadores de cobalto. De posse dos parâmetros, procurou-se um modelo matemático mais

adequado à operação do reator tubular, com a utilização de equações para a transferência de

massa e de calor. Essas simulações foram submetidas posteriormente a uma análise estatística

para a determinação de variáveis mais significativas para a reação.

Palavras-chave: Reação de Fischer-Tropsch. Reator de leito fixo. Modelagem. Simulação.

Catalisador de cobalto.

ABSTRACT

In this work, the reaction of the Fischer-Tropsch synthesis, which may be understood as a

polymerization between the gases carbon monoxide and hydrogen, mixture known as

synthesis gas, with the formation of paraffinic and olefinic hydrocarbons, occurs under

heterogeneous catalysis, where those of cobalt appear as the most promising when you want

to produce hydrocarbon fractions commercially more favorable, such as gasoline, diesel and

waxes. The reaction is already perceived as an alternative to petroleum, since the synthesis

gas is generated from other sources, notably natural gas. The knowledge of the reaction is still

essentially experimental, and there are no specific mechanisms that explain precisely the

formation of the products and their distribution over a range of hydrocarbons. This work

performs initial parameter estimation, framed in a kinetic modeling, which seek to explain the

development of the reaction and the formation of paraffins and olefins in tubular fixed bed

reactors with cobalt catalyst. In possession of the parameters, we tried to one better suited to

reality modeling of reactor operation, with the use of equations for mass transfer and heat.

These simulations were later subjected to a statistical analysis to determine the most

significant variables for the reaction.

Key-words: Fischer-Tropsch synthesis. Fixed-bed reactor. Modeling. Simulation. Cobalt

catalyst.

LISTA DE SÍMBOLOS

A Área da seção do reator (m

2)

AL Área lateral do reator (m2)

Ci Concentração da espécie i (mol.m-3

)

C G

i Concentração da espécie i na fase gasosa (mol.m

-3)

C L

i Concentração da espécie i na fase líquida (mol.m

-3)

Cp Capacidade calorífica em pressão constante (J.mol-1

.K-1

)

Di Coeficiente de difusividade da espécie i (m2.h

-1)

dh Diâmetro hidráulico (em m)

E Energia total (J.mol-1

)

H Entalpia molar (J.mol-1

)

J Fluxo molar (mol.h-1

)

kads Constante para readsorção de olefinas via mecanismo alquila (h-1

)

'

ik Iniciação do mecanismo alquila (g.m-3

.MPa0.5

)

k '

i2 Iniciação do mecanismo alquenila (g.mol-1

)

kM Coeficiente de transferência de massa gás-líquido (h-1

)

k '

met Terminação em metila (h-1.MPa

0.5)

kolef Terminação em olefina para mecanismo parafina (h-1

)

k '

olef2 Terminação em olefina para mecanismo olefínico (h-1

.MPa0.5

)

kO2 Terminação em etileno (g2.h.mol

-1.m

-3)

k'

p1 Propagação do mecanismo alquila para metil (g.mol-1

)

k'

p Propagação do mecanismo alquila para n > 1 (g.mol-1

)

k'

p2 Propagação do mecanismo alquenila para vinila (m3.mol

-1. h

-1)

k"'

p2 Propagação do mecanismo alquenila para vinila nas equações de propenila

(g.mol-1)

k"

p2 Propagação do mecanismo alquenila para n > 3 (g.mol-1)

k'

par Terminação em parafina (h-1

.MPa0.5

)

L Comprimento do reator (m)

PCO Pressão parcial de CO na mistura gasosa (MPa)

PH2 Pressão parcial de H2 na mistura gasosa (MPa)

P(n) Alcano com n carbonos

P=(n) Olefina com n carbonos

.

Q Fluxo de calor no reator (J.h-1

)

R Constante universal dos gases (8,314 J.mol-1

.K-1

)

RSFT Taxa de reação de síntese de Fischer-Tropsch (mol.g-1

.h-1

)

R(n) Grupo alquila de n carbonos

R”(n) Grupo alquenila de n carbonos

'

Ar Taxa de desaparecimento de espécie A por massa do catalisador (mol.g-1

.h-1

)

Re Número adimensional de Reynolds

Sc Número adimensional de Schmidt

Ta Temperatura do fluido de troca de calor (K)

U Coeficiente global de transferência de calor (J.m-2

.h-1

.K-1

)

We Número adimensional de Weber

.

WS Fluxo de trabalho de eixo no reator (J.h-1

)

XG Razão adimensional de Lockhart-Martinelli

ap Densidade aparente do catalisador (g.m-3

)

ν Velocidade de escoamento no leito reacional (m.h-1

)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................

2.1. Síntese de Fischer-Trosch ..............................................................................

2.1.1. Histórico............................................................................................

2.1.2. Aspectos físico-químicos ..................................................................

2.1.3. Conversão do gás natural via síntese de Fischer-Tropsch..............

2.1.4. A questão ambiental.........................................................................

2.2. Gás natural.....................................................................................................

2.2.1. Oferta, uso e transporte do gás natural...........................................

2.3. Biomassa.........................................................................................................

2.4. Tipos de reatores.............................................................................................

2.4.1. Reator de leito fixo...........................................................................

2.4.2. Simulação em reatores de leito fixo.................................................

2.4.2.1. Método de diferenças finitas..............................................

2.5. Catalisadores..................................................................................................

2.5.1. Catalisadores de ferro......................................................................

2.5.2. Catalisadores de cobalto..................................................................

2.5.3. Catalisadores de rutênio..................................................................

2.6. Mecanismo da síntese de Fischer-Tropsch.....................................................

2.6.1. Formação de espécies de metileno: geração do monômero............

2.6.2. Mecanismo alquil para formação e propagação da cadeia............

2.6.3. Mecanismo alquenil para formação e propagação da cadeia........

2.6.4. Readsorção de olefinas.....................................................................

3. ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS E MODELAGEM PARA A REAÇÃO DE

SÍNTESE DE FISCHER-TROPSCH...............................................................................

3.1. Modelo matemático........................................................................................

3.2. Cálculos referentes ao modelo cinético adotado............................................

3.3. Resultados.......................................................................................................

3.3.1. Análise estatística..............................................................................

3.3.2. Validação do modelo........................................................................

4. MODELAGEM DINÂMICA PARA O REATOR DE LEITO FIXO........................

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4.1. Discretização do reator...................................................................................

4.1.1. Discretização do reator com transferência de massa......................

4.1.2. Discretização do reator com transferência de massa e de calor.....

4.2. Simulações computacionais............................................................................

4.3. Discussão dos resultados.................................................................................

4.3.1. Simulações com o modelo simplificado............................................

4.3.1.1. Análise para as frações gases leves, gasolina e querosene

4.3.1.2. Análise para as frações diesel e graxa................................

4.3.1.3. Análise para a conversão em hidrocarbonetos.................

4.3.2. Simulações com o modelo com transferência de massa

interfásico......................................................................................................

4.3.2.1. Análise para as frações gases leves, gasolina e querosene

4.3.2.2. Análise para as frações diesel e graxa................................

4.3.2.3. Análise para a conversão em hidrocarbonetos.................

4.3.2.4. Comparação com a modelagem sem transferência de

massa..................................................................................................

4.3.3. Simulações com o modelo com transferência de calor....................

4.3.3.1. Análise para as frações gases leves, gasolina e querosene

4.3.3.2. Análise para as frações diesel e graxa................................

4.3.3.3. Análise para a conversão em hidrocarbonetos.................

4.3.3.4. Análise para a variável temperatura.................................

4.3.3.5. Comparação com a modelagem sem transferência de

calor....................................................................................................

5. CONCLUSÃO..................................................................................................................

6. REFERÊNCIAS...............................................................................................................

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1. INTRODUÇÃO

A reação de síntese de Fischer-Tropsch (SFT) é conhecida desde o início do

século XX, mais precisamente na década de 1920. O ponto de partida ocorreu quando, em

1920, os cientistas alemães Franz Fischer e Hans Tropsch desenvolveram o processo de

conversão do gás de síntese, produzido a partir do carvão, em combustíveis líquidos. Após o

marco inicial, a reação de SFT só foi utilizada em escala comercial na Alemanha, durante a 2ª

Guerra Mundial, nos Estados Unidos na década de 1950 e na África do Sul a partir da década

de 1950 (Stranges, 1997).

A reação principal da síntese de Fisher-Tropsch (SFT) pode ser descrita pela

Equação (1.1):

CO + (1 + m/2n)H2 (1/n)CnHm + H2O (1.1)

onde n e m são números inteiros que relacionam a estequiometria de um alcano (o

número de átomos de hidrogênio é igual ao dobro mais duas unidades do número de átomos

de carbono) ou de um alceno (o número de átomos de hidrogênio é igual ao dobro do número

de átomos de carbono). Com a necessidade e a pressão da sociedade em relação a

combustíveis com menores capacidades poluentes, principalmente no tocante ao teor de

enxofre contido nos combustíveis fósseis, vem à tona a síntese de Fischer-Tropsch, que utiliza

gás de síntese produzido por uma rota que pode ser levada a minimizar o teor de enxofre a um

menor custo. O procedimento consiste em transformar o gás natural (associado ou não-

associado ao petróleo e praticamente isento de enxofre) em gás de síntese. Assim, o produto

final, o combustível líquido, alcançaria menor teor de enxofre e de compostos nitrogenados

(NOx).

O estudo da reação de SFT está incluso em uma abordagem mais ampla,

englobado pelas tecnologias gas to liquid, representada simplesmente por GTL, e biomass to

liquid (BTL). Pode significar a abertura de novas fronteiras para a utilização do gás natural e

da biomassa, agregando valor comercial ao converter gases reagentes em combustíveis

líquidos ou em parafinas, produtos mais valorizados na economia globalizada e em alta

demanda por fontes de energia. Outra possibilidade para a reação de SFT está relacionada ao

fato de se evitar o transporte de combustíveis em fase gasosa, que necessita de operações de

elevado custo quando o centro consumidor se situa a grande distância do centro produtor.

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Assim, a transformação desses gases combustíveis em combustíveis líquidos, ou seja, o uso

da tecnologia GTL, pode baratear e facilitar o transporte do produto gerado. A utilização

dessa tecnologia, associada ao uso cada vez mais discutido de biocombustíveis, pode

simbolizar o esforço mundial em estabelecer fontes de energia renováveis e livres de toda a

geopolítica que cerca o comércio de petróleo (Barros Junior e Fernandes, 2011).

Verifica-se que empresas e universidades têm buscado a otimização constante

para os processos já existentes. Trabalhos recentes como os de Zennaro et al. (2000) e

Visconti et al. (2007), foram elaborados visando criar modelos matemáticos apropriados para

explicar a formação de produtos na reação de SFT. No entanto, devido ao elevado número de

variáveis existentes para a estimação de parâmetros e simulação da reação, muitos autores

optam por não abordá-los no total, ou por fornecer os resultados expressos apenas em termos

de conversão de CO em hidrocarbonetos, que pode omitir o fato que grande parte do

monóxido consumido se transforma em metano, de menor interesse comercial que produtos

mais pesados.

Nesse contexto, a pesquisa baseada em simulação se torna de grande importância,

pois estimula a descoberta de procedimentos teóricos que tenham por objetivo tornar

economicamente mais viável a reação de SFT, de acordo com os tipos de reatores em

operação e leitos catalíticos utilizados. A otimização dos processos via simulação ainda traz

as seguintes vantagens: pode-se prever antecipadamente determinados caminhos reacionais

mais adequados para se alcançar certos rendimentos com catalisadores e reatores específicos;

podem-se analisar ideias originais sem necessidade de alto investimento em equipamentos e

reagentes; e podem-se determinar caminhos teoricamente aceitáveis para a reação de SFT cuja

operação se baseia apenas em dados empíricos.

Esse trabalho foi elaborado com o intuito de se realizar uma modelagem dinâmica

para o reator de leito fixo, onde a quantidade de produtos formados pode ser estimada em

relação ao tempo de operação do reator e do estágio de discretização utilizado no reator. É

uma abordagem inovadora em comparação a outras existentes na literatura, que não utilizam o

tratamento dinâmico para a reação de SFT em reator de leito fixo. Foi desenvolvido um

modelo cinético para a reação de SFT e outro para o reator tubular de leito fixo. Os principais

objetivos estabelecidos para essa tese foram:

Desenvolvimento de modelo matemático para a descrição da reação de síntese de

Fischer-Tropsch (SFT) com cinética de reação adequada aos catalisadores de cobalto,

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de acordo com padrões estatísticos em intervalos de confiança previamente

estabelecidos.

Estudo do processo de simulação de uma reação de síntese de SFT em reator de leito

fixo, para análise da importância estatística das variáveis independentes adotadas.

Análise das melhores condições de operação do reator em função dos resultados

obtidos para frações específicas e comercialmente mais atraentes, como diesel,

gasolina e graxas.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Síntese de Fischer-Tropsch

2.1.1. Histórico

A reação de polimerização entre monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H2),

produzindo água e hidrocarbonetos dos mais variados tamanhos de cadeia carbônica, é

chamada de síntese de Fischer-Tropsch (SFT) (Davis, 2003). Na verdade, a referida reação já

é conhecida há cerca de 80 anos, ao se considerar que os primeiros experimentos de Franz

Fischer datam do ano de 1925, em seu laboratório no Kaiser Wilhelm Institute for Coal

Research (atualmente Instituto Max Planck) (Schulz, 1999).

A reação em si é uma idéia bem-sucedida de uma catálise heterogênea, em que se

utilizam catalisadores sólidos de ferro, cobalto ou raramente rutênio, normalmente suportados

em sílica. Os reagentes iniciais são gases (CO e H2) e durante a reação são formados

hidrocarbonetos parafínicos e olefínicos, tanto gasosos quanto líquidos, e até mesmo sólidos,

dependendo do crescimento da cadeia do hidrocarboneto, o que mostra a necessidade de um

estudo apurado e cuidadoso para que se tenha certeza em se trabalhar com as melhores

condições de operação para obtenção de determinado produto.

A ideia de produção de combustíveis líquidos a partir do gás de síntese (uma

mistura de monóxido de carbono e hidrogênio) é útil não só pela atual conjuntura macro-

econômica, mas também como forma de melhorar o custo do transporte dos materiais, já que

o transporte de gases tem se mostrado mais caro e complicado que o de líquidos. No período

de 1925 a 1945, o estudo da síntese de Fischer-Tropsch transcendeu um pouco o aspecto

econômico. A necessidade de novas tecnologias para o processamento do carvão era o foco

para novas iniciativas, novas pesquisas e plantas industriais, principalmente na Alemanha.

No período de 1955 a 1970, o cenário mundial de energia estava baseado na

produção plena, barata e farta de petróleo, o que fez o interesse pela SFT restringir-se a um

nível acadêmico e de pesquisa, com exceção da África do Sul, devido ao aspecto político-

econômico de restrição à importação de petróleo e à disposição de carvão extremamente

barato. Nos anos 70 e 80, o interesse em SFT retomou o fôlego, principalmente devido ao

boicote dos países produtores de petróleo em relação à demanda mundial. Novas pesquisas

foram implementadas e novas plantas construídas visando uma menor dependência do

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petróleo, majoritariamente financiadas pelos Estados Unidos da América, Japão e Europa, em

especial a Alemanha. Inovações surgiram nesse período, como plantas de processamento de

óleo pesado e carvão, com unidades integradas de gaseificação e purificação do gás de síntese

(Schulz, 1999).

Quando da descoberta de grandes campos de petróleo na Arábia Saudita, no

Alasca e no Mar do Norte, na década de 90, o preço do petróleo caiu e a produção de

combustíveis líquidos a partir do gás de síntese mostrou-se muito cara diante das matérias-

primas existentes na época. Mais uma vez a SFT poderia ser descartada como fonte de

energia, mas seu estudo atualmente está acima do aspecto econômico. Com a necessidade e a

pressão da sociedade em relação a combustíveis com menores capacidades poluentes,

principalmente no tocante ao teor de enxofre contido nos combustíveis fósseis, novamente

vem à tona a síntese de Fischer-Tropsch, que utiliza gás de síntese (mistura de monóxido de

carbono e hidrogênio) produzido por uma rota que pode ser levada a minimizar o teor de

enxofre a um menor custo. A ideia consiste em transformar o gás natural (associado ou não-

associado ao petróleo e praticamente isento de enxofre, conforme veremos mais adiante) em

gás de síntese. Assim, o produto final, o combustível líquido, alcançaria menor teor de

enxofre e de compostos nitrogenados (NOx) (Fernandes, 2007).

2.1.2. Aspectos físico-químicos

A reação principal da síntese de Fisher Tropsch (SFT) pode ser condensada por

(Fernandes, 2006):

CO + (1 + m/2n)H2 (1/n)CnHm + H2O (2.1)

onde n e m são números inteiros que relacionam a estequiometria de um alcano (o número de

átomos de hidrogênio é igual ao dobro mais duas unidades do número de átomos de carbono)

ou de um alceno (o número de átomos de hidrogênio é igual ao dobro do número de átomos

de carbono). Anteriormente, Anderson (1984) havia proposto um esquema reacional

semelhante, embora um pouco mais complexo:

nCO + (2n +1) H2 CnH2n+2 + nH2O (2.2)

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onde n é definido como /(1 - ), enquanto é uma relação entre as taxas de terminação e de

propagação da cadeia.

Um aspecto importante da SFT a ser analisado é o uso de catalisadores

heterogêneos. Por exemplo: o uso de catalisadores de ferro suportados em sílica promove uma

reação secundária, conhecida por water gas shift (WGS). Nessa reação, o monóxido de

carbono, que deveria reagir com o hidrogênio, se combina com a água formada na reação

principal, gerando dióxido de carbono (CO2) e hidrogênio (H2). A estequiometria da reação de

WGS é dada por:

CO + H2O CO2 + H2 (2.3)

A ocorrência de uma reação secundária inibe a reação principal e diminui o

rendimento do processo. Portanto, um dos fatores que requerem análise mais cuidadosa,

quando se utiliza catalisadores de ferro, é a taxa com a qual a reação de WGS ocorre. O uso

de catalisadores de cobalto, também suportados, atenua o efeito da reação de WGS e

maximiza a produção de hidrocarbonetos.

A reação de SFT é bastante exotérmica e o processo deve ser cuidadosamente

estudado para que sejam alcançados projetos cada vez mais econômicos e financeiramente

rentáveis. O aumento da temperatura, além de inibir a ação catalítica pela produção de

carbono (principalmente com catalisador de ferro), pode causar o aumento da produção

seletiva de gás metano (Schulz, 1999). Isso se deve ao aumento das velocidades das reações

de propagação e terminação da cadeia carbônica com o aumento da temperatura. A partir de

resultados experimentais, conclui-se que as reações de terminação da cadeia sejam mais

favorecidas em maiores temperaturas, formando produtos de massa molecular mais baixa.

Esse aspecto referente à diminuição do comprimento da cadeia carbônica dos produtos

formados com o aumento de temperatura está diretamente relacionado com a rentabilidade do

processo, uma vez que se deseja obter frações mais pesadas que possam, por sua vez, serem

submetidas a processos de craqueamento para aumentar as conversões em diesel e gasolina,

frações comercialmente mais aceitas. Assim, deve-se tratar o aumento da taxa de reação de

SFT com o aumento da temperatura com cautela, para que não se perca rendimento em

produtos economicamente mais favoráveis, como os de maior cadeia (Vosloo, 2001).

Quando resultados experimentais ou de simulação para as reações de SFT são

encontrados na literatura, observa-se, como tendência geral, que a conversão total da reação é

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expressa como simplesmente a transformação de monóxido de carbono em hidrocarbonetos,

sem detalhar o tamanho da cadeia do produto gerado. Essa análise superficial pode esconder

alguns pontos importantes, como a formação de grande quantidade de metano em detrimento

de frações mais importantes do ponto de vista econômico, como gasolina, diesel ou graxa. Em

relação à análise de resultados em simulação, a conversão total em hidrocarbonetos não deve

ser utilizada isoladamente como referência para a eficiência da reação ou do processo de

simulação.

A característica exotérmica da reação de SFT e a necessidade de troca de calor

abrem uma possibilidade de associação entre uma planta de SFT com outra que utilize o calor

liberado pela primeira. Essa integração entre plantas é útil tanto do ponto de vista econômico

quanto em termos de rendimento em frações mais rentáveis, pois, ao se utilizar o calor

liberado pela reação de SFT em outras finalidades, ocorre uma minimização do aumento da

temperatura do reator, e, por consequência, são esperadas maiores conversões em frações

mais pesadas. Algumas mudanças no setor de reforma podem ser efetuadas de forma a

aumentar a eficiência térmica do processo, tais como:

O uso de um reformador por troca de calor associado a outro reformador autotérmico.

É muito similar a uma reforma combinada, onde a maior diferença reside no fato de

que a energia do reformador a vapor não é suprida por um aquecedor a fogo, e sim

pelo gás de saída do reformador autotérmico. Esse procedimento gera uma economia

de 30% no consumo de oxigênio e melhora a eficiência térmica da planta em 4%

(Vosloo, 2001). Deve-se atentar para o problema técnico ocasionado pelo resíduo

metálico proveniente do reformador;

O uso da alimentação/produto do trocador de calor para a recuperação energética da

saída do reformador. Nesse caso, mesmo acarretando o mesmo impasse técnico

anterior, o consumo de oxigênio pode ser diminuído em 3,5% e o aumento da

produção de combustíveis líquidos pode aumentar em até 2,5% (Vosloo, 2001) com a

utilização no reformador de gás natural pré-aquecido.

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2.1.3. Conversão do gás natural via Síntese de Fischer-Tropsch

A reação de SFT necessita de gás de síntese em diferentes proporções molares,

que podem ser obtidas a partir do carvão ou do gás natural. Essa última opção parece ser a de

maior interesse ambiental atualmente, embora em experiências anteriores, conforme

mencionado, tenha-se utilizado bastante o carvão. O processo para a conversão do gás natural

em produto líquido (GTL) via síntese de Fischer-Tropsch pode ser dividido em três etapas:

Geração do gás de síntese;

Conversão do gás de síntese (reação de SFT);

Hidroprocessamento (hidrocraqueamento).

Segundo Vosloo (2001), o uso combinado dessas três etapas, apesar de bem

estabelecidas e comercialmente viáveis, foi pouco utilizado no passado. Atualmente, sabe-se

que as plantas mais modernas de SFT já superam essa limitação e conseguem fazer o uso das

três etapas de forma a obter custos efetivos mais baixos. No entanto, para se fazer a tecnologia

GTL cada vez mais competitiva, o desafio vai além da otimização dos aspectos mais

conhecidos desta tecnologia, incluindo aspectos como desenvolvimento de catalisadores e

mecanismo de reação. Nesse contexto, a importância da simulação é percebida.

A Figura 2.1 mostra de forma sucinta todas as etapas do processo Fischer-Tropsch

desde a obtenção do gás natural até a fase final de hidrotratamento dos produtos.

Figura 2.1– Etapas do Processo de Fischer-Tropsch (Farias, 2007).

Gás NaturalReforma

do MetanoCOH2

SinteseFischer-Tropsch

Gases Leves

Separação GasolinaDiesel

HidrocraqueamentoHidroisomerização

GasolinaDiesel

Graxas

FraçãoLeve

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2.1.4. A questão ambiental

A tecnologia de conversão de biomassa em combustíveis líquidos é outra opção

de fontes de energia potencialmente menos poluidoras. Os restos de madeira não

aproveitados, ou para citar um exemplo brasileiro, de bagaço da cana, que atualmente é

queimado para a produção de energia para caldeiras, podem ser convertidos em monóxido ou

dióxido de carbono e reaproveitado via SFT para a geração de combustíveis líquidos, ou

outras formas de hidrocarbonetos.

Novas concepções ambientais e novos regulamentos para combustíveis líquidos

que entraram em vigor em 2008 na Europa e nos Estados Unidos, trazem a necessidade do uso

de combustíveis líquidos “verdes”, que diminuem a emissão de óxidos de enxofre (SOx) e de

nitrogênio (NOx) (Fernandes, 2007). Diante desse fato, o custo para adequar os combustíveis

utilizados hoje em dia fará com que o combustível líquido (diesel principalmente) tenha custo

comparável ao obtido através da SFT.

2.2. Gás natural

2.2.1. Oferta, uso e transporte do gás natural

A oferta mundial de gás natural é crescente e atualmente parte deste é queimada

em flare. Esperam-se novas tecnologias que visem um melhor aproveitamento e uma mais

eficiente conversão do gás natural, ainda que diretamente nos campos de extração. O principal

problema em relação à utilização do gás natural é a grande distância existente entre os campos

de produção e os mercados consumidores de combustíveis, que gera um custo adicional em

relação ao transporte do gás.

Os grandes usuários de gás natural no mundo são as usinas termelétricas,

termelétricas de cogeração, as grandes indústrias e setores de comércio, serviços e o setor

domiciliar. As usinas termelétricas poderão reforçar a geração em centros de consumo já

saturados ou para atender áreas ainda sem rede de energia elétrica de origem hídrica. As

termelétricas de cogeração, por fornecerem energia elétrica a vapor com maior eficiência e

confiabilidade, permitirão reduzir os custos das refinarias e contribuir para o incremento do

consumo do gás natural (Farias, 2007).

22

O gás natural é tradicionalmente visto como uma fonte de combustível fóssil

abundante e menos poluidora para a geração de energia térmica e elétrica. Atualmente, 90%

do seu consumo global se destinam ao uso combustível ou energético e apenas 10% à

produção de amônia ou metanol cujos mercados têm tamanho limitado e consomem apenas

uma fração de todo gás natural disponível.

Recentemente foram descobertas várias reservas de gás natural em regiões

remotas, de difícil acesso e submarinas. A boa notícia é que, mesmo sendo extremamente

distantes, o tamanho destas reservas compensa o aproveitamento do gás natural nelas

contidas. Infelizmente, não é economicamente viável a construção de gasodutos ligando estas

reservas aos principais locais consumidores deste gás. É de se esperar que uma melhor

solução para o impasse a respeito do aproveitamento destas reservas seja a conversão do gás

em produtos líquidos de maior valor agregado e que tenham melhor facilidade de transporte.

Diante desses fatos, os processos de conversão do gás em combustíveis líquidos,

através da tecnologia GTL (gas to liquid), mostram-se como tendência natural a ser adotada,

porque além de econômica e financeiramente atraentes, são atividades que amenizam a

agressão ao meio ambiente.

Os produtos derivados da tecnologia GTL apresentam vantagens econômicas,

dentre as quais se podem citar:

O custo de transporte é menor do que o do gás natural, sendo que o gás natural

liquefeito (GNL) possui uma densidade energética bastante significativa (cerca de 600

vezes maior que o gás natural em condições padrões de temperatura e pressão (25ºC e

1atm), sendo transportado uma maior quantidade de massa num menor espaço;

Os produtos obtidos a partir desta tecnologia apresentam vantagens ambientais

importantes em relação aos produtos tradicionais, dentre os quais pode-se destacar: os

derivados gerados apresentam um teor de enxofre bem menor e não há presença de

óxidos de nitrogênio (genericamente representados por NOx), que poderiam ocasionar

problemas de ordem ambiental bastante severos.

Por estas razões, a participação mundial do gás natural na matriz energética

mundial (hoje em 22%) está crescendo a taxas superiores do que os dos derivados do petróleo

(Davis, 2002)

23

Apesar das diversas vantagens, o gás natural apresenta uma característica

desvantajosa bem destacada – o elevado custo no transporte – devido à dificuldade em se

armazenar e transportar sob pressão gases em recipientes fechados. Atualmente existem duas

alternativas práticas para o transporte de gás natural, o que o torna bem menos versátil, do

ponto de vista industrial, que o petróleo. Estas duas formas de transporte são através de

gasodutos ou mediante tanques metaneiros (também conhecidos como navios criogênicos).

Ambas as formas de transporte requerem tecnologia específica e geralmente de alto custo. Por

exemplo, em tanques criogênicos, apresenta-se como uma tecnologia muito cara por requerer

estações de liquefação e regaseificação nos pontos de envio e recepção, respectivamente

(Figura 2.2).

Figura 2.2 – Fluxograma da tecnologia GNL mediante tanques metaneiros (Farias, 2007).

2.3. Biomassa

Biocombustíveis têm sido uma fonte de energia para os seres humanos desde os

tempos mais antigos. O interesse na geração de energia a partir de biocombustíveis tem

aumentado atualmente devido à produção de gases “verdes”, abrindo novas possibilidades de

emprego e de independência energética. A utilização de biocombustíveis pode inclusive

minimizar a agressão ao meio ambiente causada pela queima de seus similares fósseis.

Estação de Liqüefação

Terminal e Regasificação

Cia.Distribuidora de Gás (LDC)

Térmica

Cia.Distribuidora de Energia Elétrica

Transporte do Gas

Produção de Gás

24

Biocombustíveis podem ser preparados a partir da biomassa por processos

bioquímicos ou termoquímicos. Dentre esses processos, destaca-se a reação de SFT. A

transformação da biomassa em combustíveis líquidos está englobada no que se chama

tecnologia BTL (biomass to liquid).

Atualmente, além dos combustíveis líquidos propriamente ditos, a conversão BTL

vem sendo utilizada para a produção de frações mais pesadas de hidrocarbonetos, como a

parafina. Empresas norte americanas, como a Rentech Incorporation (em Denver, Colorado),

estão se especializando na conversão de biomassa, como restos de madeira, em parafinas para

uso industrial.

As fontes de biomassa podem ser usadas para a geração de energia de diversas

formas. Uma distinção pode ser feita entre resíduos primários, secundários e terciários, que já

estão disponíveis como subprodutos de outras atividades ou como biomassa cultivada para

uso especificamente de geração de energia (Hoogwijk et al., 2003):

Resíduos primários são gerados durante a produção de culturas para alimentação e

produtos florestais, como por exemplo, desbastes de florestas comerciais e palha. Essa

biomassa está normalmente disponível no campo e necessita ser coletada para uso

posterior;

Resíduos secundários são produzidos durante o processamento da biomassa para a

produção de produtos alimentícios e produtos derivados de biomassa, e estão

tipicamente disponíveis em indústrias de comida e bebida, de papel, de beneficiamento

de cana de açúcar, etc;

Resíduos terciários se tornam disponíveis quando um derivado de biomassa já foi

utilizado, o que torna essa categoria uma diversidade de rejeitos, desde a fração

orgânica do resíduo sólido municipal, dos rejeitos de madeira e de madeira de

demolição, de lamas, etc.

Em geral, os resíduos de biomassa estão interligados com vários mercados.

Muitos rejeitos têm utilização como forragem, fertilizantes e acumuladores de solo, matérias-

prima para, por exemplo, papel reciclado e aglomerados tipo MDF. A avaliação dos preços

desses resíduos depende da demanda dos mercados local e internacional, bem como do

25

mercado internacional de matérias-prima e do tipo de tecnologia de tratamento desenvolvida

para o material remanescente (Faaij, 2004).

2.4. Tipos de reatores

A reação de síntese de Fischer-Tropsch (SFT) emprega reatores multifásicos ou

multipropósitos, já que duas ou mais fases são necessárias para promover a reação. No caso

específico da reação de SFT, a maioria dos reatores envolve fase líquida e gasosa em contato

com uma fase sólida, normalmente o catalisador.

Um dos tipos de reatores multifásicos muito utilizados atualmente são os reatores

de leito de lama (slurry beds) e os de leito fluidizado (fluidized beds), que têm sido

largamente usados na síntese de Fischer-Tropsch. Essa espécie de reator trifásico, que

promove o contato de dois reagentes gasosos com uma fase líquida inerte onde se encontra

disperso um catalisador sólido, é utilizado não só para a reação de SFT, como também em

outras aplicações recentes, como: remoção de gases poluentes (SO2 e H

2S) por oxidação numa

lama contendo carbono como catalisador; hidrogenação de acetileno; oxidação de etileno a

óxido de etileno (Ramachandran e Chaudhari, 1983). O reator tubular de leito fixo (fixed bed

tubular reactor), detalhado adiante por se tratar do reator escolhido para a execução do

processo de simulação matemática nesta tese, apresenta a vantagem de possuir maior controle

de variáveis, como temperatura, e menores custos de manutenção.

2.4.1. Reator de leito fixo

Um dos primeiros reatores projetados para a reação de SFT foi o reator tubular de

leito fixo. Após anos de desenvolvimento, foi refinado o conceito para o reator se tornar útil

para esse tipo de reação. Ele tem sido utilizado desde as primeiras operações da indústria

Sasol I. Os reatores da empresa Sasol contêm 2000 tubos preenchidos com catalisador de

ferro imersos em água para a remoção do calor (Spath e Dayton, 2003). O gás de síntese é

introduzido pelo topo do reator, flui através dos tubos, e os produtos e reagentes em excesso

são removidos pelo fundo do reator. As graxas constituem cerca de 50% em massa dos

produtos, e a taxa de conversão pode alcançar até 70% (em relação ao número de mol de

monóxido de carbono inicial). O reator opera numa faixa de pressão entre 20 e 30 bar e a

faixa de temperatura oscilava entre 220°C e 260°C. Um controle de temperatura adicional

26

pode ser obtido pelo uso de altas velocidades de escoamento gasoso, bem como a utilização

de reciclo. O gás reciclado é cerca de 2,5 vezes maior que a quantidade de gás alimentado

originalmente no reator. A vida do catalisador é estimada em 70 a 100 dias e sua remoção é

complicada.

A Figura 2.3 representa uma esquematização generalizada de um reator tubular de

leito fixo.

Figura 2.3 - Reator de leito fixo (Farias, 2007)

Uma descrição, de um modo mais geral, do reator tubular de leito fixo utilizado na

síntese de Fischer-Tropsch é importante nesse momento. O sistema que compõe o reator

consiste de um reator multitubular que é alimentado pela parte superior do mesmo e atravessa

o leito catalítico no interior dos tubos. O gás de síntese passa através do aparelho em regime

empistonado, e é necessária a utilização de água para resfriamento na casca do reator para que

se remova o calor liberado pela reação de SFT, para que a operação completa ocorra em

condições isotérmicas dentro do reator (Spath e Dayton, 2003). A natureza exotérmica da

reação de SFT combinada com a alta atividade de catalisadores que utilizam em sua matriz o

cobalto pode causar uma mudança de temperatura no reator de crucial importância, podendo

levar à desativação do catalisador. No caso do reator de leito fixo tubular, isto se torna ainda

mais problemático devido ao perfil de temperatura dentro do tubo. Este problema é então

contornado encontrando-se a estabilidade entre o diâmetro do tubo e o uso de resfriamento,

assim como a reciclagem de inertes. Esse tipo de reator, sendo uma das tecnologias de maior

competitividade atualmente, ocupa uma posição especial nas práticas industriais da reação de

27

SFT, como mostrado sistematicamente em operações comerciais em larga escala da empresa

Sasol (Dry, 2002) e da Shell (Sie, 1991).

As principais vantagens de um reator de leito fixo para a reação de SFT são:

Melhor controle de temperatura, pelo fato de apresentar melhor eficiência na

transferência de calor;

Menor custo operacional, por não apresentar partes móveis no reator;

Possibilidade de formação de cadeias maiores, que não ocorre em reatores de leito

fluidizado;

Não há necessidade de separação entre catalisador e produtos ao final da reação, como

nos reatores de leito de lama.

Processos industriais típicos para a SFT utilizando reatores de leito fixo produzem

uma vasta mistura de hidrocarbonetos, do metano até as graxas (Wang et al., 2003). Para

aumentar a área superficial e facilitar a remoção do calor, as partículas catalíticas são de

tamanho extremamente reduzido (geralmente poucos milímetros), o que ocasiona a existência

de limitações por difusão em macroporos intraparticular, já que a reação de SFT requer a

utilização dos microporos do catalisador, devido à necessidade de crescimento da cadeia.

Assim, nos poros da partícula catalítica pode ocorrer condensação por capilaridade e

frequentemente se forma uma camada estagnada de hidrocarbonetos pesados (graxas).

Entretanto, o modelo de um reator de leito fixo para reações de SFT pode ter sua modelagem

aproximada a partir de descrições quantitativas entre as interações da complexa cinética

química e do singular fenômeno de transporte envolvido.

28

2.4.2. Simulação em reatores de leito fixo

Ao contrário da reação de SFT em reator de leito de lama, a literatura em

modelagem para a reação de SFT em reator de leito fixo é muito limitada (Jess e Kern, 2009).

Os estudos para a simulação com a utilização de reatores em leito fixo possuem seus

específicos pontos de partida, como considerar desprezíveis a transferência radial de calor e a

transferência de massa no poro do catalisador. O problema maior reside, no entanto, em não

procurar uma abordagem dinâmica para o reator, avaliando a formação de produtos e a

evolução da temperatura ao longo do reator e do tempo de operação.

Moutsoglou e Sunkara (2011) também realizaram a simulação de um reator de

leito fixo, mas com a utilização de ferro como catalisador. Fizeram a opção por uma

abordagem unidimensional, desconsiderando os efeitos de difusão radial de temperatura e de

reagentes, e a difusão no poro do catalisador.

Wu et al. (2010) realizaram outra simulação, desta vez bidimensional (com a

utilização de difusão no poro do catalisador para justificar sua inovação) para a reação de SFT

em reator de leito fixo. Foi utilizado o catalisador de cobalto, o mesmo usado nessa tese. A

modelagem matemática adotou o método de colocações ortogonais para a resolução das

equações.

2.4.2.1. Método de diferenças finitas

Com a necessidade de uma abordagem dinâmica para a reação de SFT em reator

tubular, capaz de avaliar a formação de produtos e evolução de temperatura ao longo do reator

e do tempo de operação do mesmo, foi preciso que métodos matemáticos apropriados fossem

utilizados para a resolução das equações propostas.

O método de diferenças finitas é uma das várias técnicas para a diferenciação de

uma função discreta, ou seja, um conjunto discreto de valores da variável dependente em

pontos conhecidos da variável independente. O cálculo do declive nada mais é que o cálculo

discreto de dy/dx num dado ponto x0.

Dessa forma o método se baseia na discretização de uma variável, por exemplo, o

comprimento de um reator, em pontos, onde é realizada uma diferenciação aproximada da

função. Quanto maior o número de pontos de discretização, melhor a aproximação da

diferenciação, mas, em contrapartida, maior o esforço computacional envolvido.

29

Normalmente adota-se uma divisão que seja útil em termos de resultados em simulação, como

seccionar o reator tubular em 10 pontos, além dos pontos inicial e final. Nessa metodologia, o

erro do procedimento é calculado através de diferenciações em graus cada vez maiores,

dependendo da precisão requerida.

Fujiwara (1989) já utilizou o método de diferenças finitas para a modelagem de

reatores de leito fixo, embora não o tenha feito para a reação de SFT.

2.5. Catalisadores

Os catalisadores para a reação de SFT geralmente são preparados por processos

como precipitação, impregnação ou troca iônica, que ocasionam a deposição de um precursor

do metal sobre a superfície do meio de suporte. A partir de então, o catalisador é submetido à

secagem, seguido de calcinação e depois, submetido à ativação com fluxo de gás, que pode

ser o hidrogênio, monóxido de carbono ou gás de síntese (mistura de monóxido de carbono e

hidrogênio), o que gera a fase metálica ativa. Assim, as correspondências entre as condições

da reação de SFT e a composição do catalisador determinam a seletividade e a atividade para

um dado conjunto de processos e parâmetros reacionais. A escolha do catalisador mais

eficiente é determinante para o sucesso prático da reação de SFT (Adesina, 1996).

Hoje em dia, vários metais podem ser utilizados com eficácia comprovada como

catalisadores para a reação de SFT. Destacam-se os de ferro, cobalto e rutênio. Dentre esses, o

catalisador de rutênio tem aplicações bem mais limitadas que os demais devido ao seu

elevado preço.

Presumivelmente, os catalisadores baseados em ferro e cobalto são aqueles mais

largamente utilizados em processos industriais. A principal diferença entre estes catalisadores

é na formação de produtos oxigenados durante o processo. No catalisador de cobalto, esses

derivados oxigenados são obtidos como subprodutos a partir da reação com o cobalto, e no

caso do catalisador de ferro, o subproduto formado é o dióxido de carbono e a água (Davis,

2003).

A análise da influência da temperatura na distribuição dos produtos da reação de

síntese de Fischer-Tropsch traz o mesmo resultado para todos os tipos de catalisadores

estudados. Logo, com o aumento da temperatura de operação do reator, espera-se uma

modificação na seletividade da formação de produtos, mostrando uma maior tendência à

30

geração de hidrocarbonetos de menor massa molecular, e, ao mesmo tempo, o conteúdo de

álcoois nos produtos diminui (Davis, 2003).

2.5.1. Catalisadores de ferro

Os catalisadores de ferro, visando alcançar maiores atividade e estabilidade, são

combinados a um promotor alcalino (metal do grupo I) (Schulz, 1999). Focando na produção

de hidrocarbonetos, esses catalisadores admitem duas rotas de seletividade. A de baixa

temperatura (240ºC), que permite utilizar o catalisador de ferro e obter boa atividade

catalítica, mesmo com o uso de baixas temperaturas reacionais, onde muitos dos

hidrocarbonetos produzidos se encontram na fase líquida nestas condições. A principal fração

do produto obtido é a parafina, onde esta é refinada para fins comerciais (Schulz e Cronjé,

1977). Porém, é experimentalmente comprovado que quando se deseja obter diesel de alta

qualidade, esta rota pode se tornar bastante seletiva para o hidrocraqueamento na produção do

combustível líquido. A outra rota, a de alta temperatura (270ºC), é voltada para a produção de

hidrocarbonetos olefínicos com baixo peso molecular, conforme esperado quando se utiliza

reatores de leito fluidizado (Sasol Synthol Process). Graças à temperatura de reação

proporcionalmente elevada, são obtidos produtos com altas frações em hidrocarbonetos de

baixa massa molecular média.

2.5.2. Catalisadores de cobalto

Os catalisadores de cobalto foram aplicados na primeira planta de Fischer-

Tropsch pela empresa alemã Ruhrchemie, companhia de exploração de carvão, em 1935

(Pichler et al.,1957). O desenvolvimento de catalisadores de cobalto de alto desempenho foi

descrito por Fischer e Meyer (1931) e Fischer e Koch (1932) como sendo bastante inovador.

Atualmente, os catalisadores de cobalto são utilizados para a produção de diesel

por Fischer-Tropsch a partir do gás natural proporcionando a máxima produção de graxas que

posteriormente passam por um processo de hidrocraqueamento. Essa combinação da reação

de SFT com hidrocraqueamento estabelece uma produção de diesel onde a conversão se

aproxima de 80% (Eisenberg et al., 1998).

A partir de corridas de até 400 horas, investigaram a estabilidade dos catalisadores

de cobalto para a SFT em reator tubular (Wu et al., 2010), demonstrando que reações

31

indesejáveis, como a de water-gas-shift (WGS), comum em catalisadores de ferro, é

inexistente. Também perceberam que o catalisador de cobalto suportado em sílica é somente

ativo em sua superfície, pois sua camada mais interna se encontra em um estado oxidado

inativo graças à produção de água.

Essa descoberta facilita a modelagem quando mostra não ser mais necessária a

difusão das partículas reagentes no sítio catalítico, uma vez que a reação (já em fase líquida)

necessita apenas da transferência de massa na superfície do catalisador.

Outro aspecto relevante na utilização dos catalisadores de cobalto para a reação de

SFT é a readsorção de olefinas (analisada com mais detalhes no item 2.6.4). Sabe-se que a

reação de SFT produz parafinas e olefinas com a insaturação no primeiro carbono, chamada

de α-olefinas. Com catalisadores de cobalto, essas olefinas sofrem readsorção na superfície

catalítica e se transformam em parafinas. Assim, esse efeito aumenta o rendimento em

parafinas, reduz em olefinas e aumenta a conversão em frações mais rentáveis

economicamente, como gasolina, diesel e graxas.

Nessa tese, essas informações foram decisivas para que a modelagem tenha sido

escolhida com o catalisador de cobalto. A menor difusão no poro catalítico, a inexistência de

reação de WGS e a readsorção de olefinas tornam o catalisador de cobalto mais atraente sob o

ponto de vista financeiro.

2.5.3. Catalisadores de rutênio

Estes catalisadores são bastante ativos (Vannice, 1975), pois trabalham a baixa

temperatura e produzem hidrocarbonetos de alto peso molecular (síntese de polimetileno). O

rutênio atua como catalisador na forma de metal puro (sem promotores). Isto provê um

sistema catalítico simples para a síntese de Fischer-Tropsch, no qual as conclusões do

mecanismo devem ser mais fáceis. Devido ao seu elevado preço e reservas mundiais

limitadas, este catalisador torna-se inviável para aplicações industriais. Um estudo sistemático

do mecanismo deste catalisador poderia contribuir substancialmente para uma maior

exploração dos fundamentos da síntese de Fischer-Tropsch (Schulz, 1999).

32

2.6. Mecanismo da síntese de Fischer-Tropsch

Tendo em vista a importância do potencial econômico da química de Fischer-

Tropsch, uma compreensão detalhada do mecanismo do processo é desejável. Tal

entendimento poderia possibilitar aplicações mais eficientes nas operações industriais

(Overett et al., 2000).

O mecanismo de reação da reação de síntese de Fischer-Tropsch (SFT) consiste

de uma polimerização de CO que leva a uma distribuição dos produtos com diferentes pesos

moleculares (Anderson, 1956), chamada distribuição Anderson-Schulz-Flory (ASF):

12)1( n

n nF (2.4)

Na Equação (2.4), o termo Fn se refere à fração de átomos de carbono livre dentro

de uma cadeia contendo n átomos de carbono e determina a distribuição do número de

carbono total dos produtos da reação de SFT. Esta distribuição determina uma relação entre o

rendimento do produto e o número de carbonos, mostrando uma seletividade de gases até

graxas.

Considerando o seguinte mecanismo de crescimento de cadeia apresentado na

Figura 2.4, tem-se:

11 *** n

r

n

r

n CCC PP

rt

nC

Figura 2.4 – Mecanismo de terminação e propagação de cadeia. (Schulz, 1999).

Nessa esquematização, o termo *Cn é um intermediário da reação, Cn é um

produto resultante de *Cn por uma reação de terminação (não envolvendo crescimento de

cadeia), no qual *Cn-1 é um precursor da reação.

Utilizando a aproximação de estado estacionário, pode-se escrever:

[*Cn ] = cte, (2.5)

33

Observe que o termo *Cn é formado na propagação da cadeia a partir do precursor

*Cn-1 e é consumido em dois caminhos competitivos, correspondendo às velocidades de

propagação da cadeia com n átomos de carbono e terminação da cadeia com n átomos de

carbono. Assim, o acúmulo do intermediário será nulo:

1

[* ][ ] ( )[* ] 0

dt

np n p t n

d Cr C r r C (2.6)

Rearranjando a Equação (2.6), obtem-se a seguinte relação:

1

[* ]

[ ]

pn

n p t

rC

C r r

(2.7)

Nestas relações [*Cn] é a concentração do intermediário cuja cadeia admite n

átomos de carbono, e rp e rt são pseudo-constantes de taxa de primeira ordem para as reações

de propagação e terminação da cadeia, respectivamente.

Deste modo, pode-se definir a constante como:

tP

P

rr

r

(2.8)

Esta razão nos mostra a probabilidade de haver propagação da cadeia em relação a

todas as possibilidades existentes (a cadeia, em regime estacionário, ou se propaga ou se

finda). Se o valor de é elevado, a propagação da cadeia prevalece, e produtos de maior

massa molecular devem ser esperados, como visto na Figura 2.5. O valor numérico de varia

entre 0 e 1. A relação da distribuição das frações mássicas dos hidrocarbonetos formados na

reação de SFT (eixo y) em função de (fator de probabilidade de crescimento da cadeia) é

mostrada na Figura 2.5.

Como os valores de dependem das condições operacionais da reação e do tipo

de catalisador utilizado, o conhecimento de leva a uma possibilidade de otimização do

processo visando produtos comercialmente mais desejados (van der Laan, 1999). Por

exemplo, com o objetivo de priorizar a produção de hidrocarbonetos líquidos (gasolina,

querosene e diesel) na reação de SFT, é necessária uma mudança na configuração das

34

condições de operação. Uma possibilidade de se realizar essa modificação é através do

conhecimento dos efeitos dos promotores estruturais, levando a um aumento da taxa de

propagação (rp) e a uma diminuição da taxa de terminação (rt) (aumentando o valor de ), o

que acabaria por reduzir a quantidade dos compostos leves por restrições geométricas

provocadas pela textura de poros dos catalisadores, evitando assim o crescimento da cadeia

carbônica, de acordo com o estudo de polimerização baseado na distribuição de Anderson-

Schulz-Flory (Sapag et al., 2001).

Embora a síntese de Fischer-Tropsch seja conhecida há mais de 75 anos, seu

mecanismo de reação ainda não é inteiramente compreendido (Davis, 2003). Recentemente,

alguns pesquisadores têm utilizado a química de coordenação, através de técnicas de ciência

de superfície, para esclarecer os mecanismos das reações de Fischer-Tropsch (Overett et al.,

2000).

2.6.1. Formação de espécies de metileno: geração do “monômero”

Uma nova etapa a ser superada no conhecimento da reação de SFT é a proposição

de um ou mais mecanismos plausíveis para explicar a formação de produtos encontrada. Já é

de conhecimento amplo que a maioria dos produtos da reação de SFT são hidrocarbonetos

lineares, parafínicos ou alquenílicos, e que a reação se desenvolve a partir de uma

polimerização de unidades monoméricas de metileno, um grupo orgânico de apenas um

carbono com duas valências livres (-CH2-), chamada de mecanismo de carbeno, como

Fra

ção m

ássi

ca d

e hid

roca

rbo

net

os

α – Probabilidade de crescimento da cadeia

Figura 2.5 – Gráfico da distribuição de hidrocarbonetos em função do fator de probabilidade de

crescimento da cadeia () (van der Laan, 1999).

35

originalmente proposto por Fischer e Tropsch em 1926. Durante vários anos, diversos outros

mecanismos foram propostos, onde se destacam aqueles que envolvem espécies de

hidroxicarbeno (=CHOH) (Kummer e Emmet, 1953) e inserção de CO (Henrici-Olive e

Olive, 1976). A Figura 2.6 mostra uma representação esquemática desses três mecanismos

utilizados na reação de SFT:

CARBENO HIDROXICARBENO INSERÇÃO DE CO

Figura 2.6 – Representação esquemática de três mecanismos básicos de reação de Fischer-Tropsch: mecanismo

de carbeno, mecanismo de hidroxicarbeno e mecanismo de inserção de CO (Anderson, 1984).

Com a observação empírica de que a maioria dos catalisadores utilizados para a

reação de SFT também dissocia o monóxido de carbono (CO), pode-se concluir que na

temperatura utilizada para a reação, quando a molécula é adsorvida na área superficial ativa

dos catalisadores, os mecanismos de inserção do CO e hidroxicarbeno para crescimento de

cadeia (inserções de CO sucessivas e hidrogenações das espécies acil resultantes) tornaram-se

menos aplicados (Brodén et al., 1976). No entanto, para efeito de terminação de cadeia, a

etapa de inserção de CO ainda é usada com frequência para considerar a formação das

pequenas frações de produtos oxigenados. Esse mecanismo, baseado na adsorção e posterior

dissociação de moléculas de CO na superfície do catalisador, é apoiado por evidências

experimentais e estudos teóricos (Hoffmann e Sung, 1985). Ainda não está totalmente claro

como o H2 se dissocia na superfície de catalisador. Contudo, a maioria dos pesquisadores

aceita a dissociação do H2 para formar espécies híbridas na superfície. Reações de hidrogênio

4 H(ads)

36

com átomos de carbono na superfície (carboneto) levam consequentemente à formação de

grupos metino (CH) e metileno (=CH2). As unidades de metileno assim formadas são

unidades de monômero para a reação de polimerização global.

2.6.2. Mecanismo alquil para propagação e terminação de cadeia

Em 1980, os pesquisadores Brady e Pettit observaram que quando o diazometano

é passado sobre catalisadores como Ni, Pd, Fe, Co, Ru ou Cu, o produto primário obtido era o

etileno. Porém, quando H2 era misturado com diazometano na presença de um desses

catalisadores, uma vasta faixa de hidrocarbonetos similar à distribuição de produtos da reação

de SFT era obtida. Eles concluíram que existiria uma reação entre o metileno e o hidrogênio

superficial formando um metil na superfície do catalisador, e o crescimento da cadeia se daria

por sucessivas inserções de metileno na ligação metal-alquil. Diante dessas previsões, foi

proposto o mecanismo alquil para a reação de Fischer-Tropsch (Figura 2.7).

A etapa de terminação do crescimento da cadeia leva a uma eliminação do -

hidreto para formar -olefinas ou através de uma redução com hidreto superficial para formar

alcanos (parafinas). Observe a esquematização na Figura 2.8.

Figura 2.7 – Mecanismo alquil para iniciação e crescimento de cadeia na reação de Fischer-Tropsch (Overett et

al., 2000).

37

Figura 2.8 – Término do mecanismo alquil. a) Formação de alcanos através de uma redução com hidrogênio

superficial. b) Formação de -olefina através de uma reação de eliminação (Overett et al., 2000).

2.6.3. Mecanismo alquenil para propagação e terminação de cadeia

O mecanismo de alquenil foi proposto por Maitlis (1989), como uma alternativa

ao mecanismo alquil. Este mecanismo propõe que a reação de SFT ocorra como uma

polimerização de espécies metileno na superfície do catalisador, que por sua vez seriam

formadas pela quimisorção dissociativa do gás de síntese com a subsequente hidrogenação

das espécies carboneto na superfície do catalisador. A reação é iniciada pela formação da

espécie vinil na superfície (-CH=CH2) através da reação de uma espécie metino de superfície

(CH) e um metileno de superfície (=CH2). O crescimento da cadeia ocorre pela reação da

espécie vinílica com um metileno superficial para formar uma espécie alil (CH2CH=CH2). A

espécie alil sofre isomerização para então formar uma espécie alquenil (CH=CHCH3) que

posteriormente pode reagir. Essa isomerização que resulta na migração da dupla ligação para

a posição é ainda observada à medida que a cadeia cresce com a inserção de grupos

metileno. A etapa de terminação ocorre quando a espécie alquenil é reduzida pela reação com

um hidrogênio superficial formando uma -olefina. Note que esse mecanismo não explica a

formação de espécies parafínicas (hidrocarbonetos saturados). Observe o mecanismo

alquenila desenhado graficamente na Figura 2.9.

38

O problema sobre a produção de etileno (eteno) deve ser tratado separadamente. O

mecanismo alquil não forma etileno porque a propagação das espécies que poderiam formar

etileno, como o grupo etil (-CH2CH3), possui um grupo metil estável no final da cadeia que

não tem a tendência em doar hidrogênio para gerar a dupla ligação. Essa circunstância não

afeta grupos alquil de cadeias mais longas, como por exemplo, o grupo propil, -CH2CH2CH3,

que possui um -CH2- intermediário menos estável que pode facilmente doar seu hidrogênio

para formar a dupla ligação, resultando em uma olefina.

Figura 2.9 – Mecanismo alquenil para a reação de Fischer-Tropsch. (Overett et al, 2000).

O mecanismo alquenila também não forma etileno porque, se isso ocorresse,

haveria a reação entre a cadeia iniciada, -CH=CH2, e um hidrogênio de superfície. No entanto,

tal fato não ocorre, pois a cadeia carbônica do grupo vinil adsorvido ao metal possui uma

interação quimisortiva de elevada intensidade, praticamente anulando a tendência à redução

com hidrogênio de superfície, e assim nenhum etileno pode ser formado (Fernandes, 2005).

Da mesma forma que o mecanismo alquil, o alquenil só produz olefinas com número de

carbonos superior a 2. Assim, a produção de etileno fica restrita a um mecanismo diferente,

em que ocorre a reação entre dois grupos metileno. Devido a essa restrição e a

impossibilidade de produzi-lo por mecanismos alquil ou alquenil, se justifica a baixa fração

molar de etileno na distribuição de produtos.

39

2.6.4. Readsorção de Olefinas

O modelo de readsorção de olefinas baseia-se na reversibilidade para a desorção

(readsorção) em sítios ativos. O fato experimental que desencadeou essa nova forma de

observar o mecanismo da reação de SFT ocorreu quando se percebeu que olefinas, quando

adicionadas ao gás de síntese, poderiam iniciar o crescimento de cadeia (Claeys, et al., 1997;

Schulz e Claeys, 1999). Matematicamente, a reversibilidade de desorção de olefinas foi

incluída em modelos cinéticos de síntese de Fischer-Tropsch por Schulz e Claeys (1999). De

forma interessante e até certo ponto surpreendente, o efeito causa uma diminuição no

conteúdo de olefinas nos produtos de reação com aumento no número de carbonos na cadeia

carbônica do produto parafínico (Figura 2.10). Dessa forma, a reversibilidade de desorção de

olefinas modifica as equações de estado estacionário para o intermediário *Cn de reação. Já

que o mesmo passa a ser formado a partir do precursor *Cn-1, ele pode ser finalizado como

parafina Cn ou como olefina Cn, mas também prosseguir com o crescimento da cadeia,

gerando a espécie *Cn+1, ou ainda ser regenerado na reação reversível com a olefina. Assim, é

de se prever que haja uma maior probabilidade de aumento das cadeias carbônicas e aumento

da massa molecular média dos produtos. Este é um efeito vantajoso quando a reação é

direcionada para um máximo rendimento na produção de combustível diesel em processos

que incluem o hidrocraqueamento. Esse mecanismo de readsorção de olefinas é uma

característica dos catalisadores de cobalto, e não é observado em catalisadores de ferro.

*Cn*Cn-1

*Cn+1

kt,parkt,olef

ka

kp

CO/H2

(Cn) Parafinas (Cn) -Olefinas

Figura 2.10 – Esquema de reação do modelo de distribuição do produto para readsorção de olefinas (Van deer Laan, 1999).

40

3. ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS E MODELAGEM PARA A REAÇÃO DE

SÍNTESE DE FISCHER-TROPSCH

Um modelo matemático tem sido desenvolvido e implementado com o objetivo de

descrever o comportamento do reator para a reação de síntese de

Fischer-Tropsch. Os parâmetros relativos à cinética dessa reação foram estimados para que

um estudo abrangente do processo seja realizado avaliando as condições operacionais do

reator.

A presente seção será dividida em três etapas:

a modelagem matemática e cinética;

o desenvolvimento matemático (cálculos relacionados ao modelo);

discussão de resultados.

3.1. Modelo matemático

O modelo matemático abordado nesse estudo assume que:

o reator em que ocorre a reação de síntese de Fischer-Tropsch (SFT) opera em

condições isotérmicas, alcançada com uma eficiente troca de calor;

o gás atravessa o reator em regime empistonado, devido a um perfil constante de

velocidade;

a reação ocorre em estado estacionário;

Ainda são consideradas etapas cinéticas próprias dos catalisadores de cobalto da

reação de SFT, como o processo de adsorção de olefinas. Além disso, as fases sólida e líquida

estão em equilíbrio na saída do reator (característica de modelagem para reatores em estado

estacionário), e foram tomadas como desprezíveis as seguintes situações que poderiam

influenciar o modelo (Fernandes, 2005):

Resistência para a transferência de massa e calor entre a fase gasosa e o catalisador,

pois não há a formação de um filme muito viscoso ao redor do catalisador, tornando as

resistências às transferências de massa e calor negligenciáveis;

41

Gradiente radial de concentração e de temperatura no interior dos tubos do reator,

pois, para a alta velocidade de escoamento gasoso em que se opera o reator o seu

diâmetro é relativamente pequeno;

Gradiente radial de concentração e de temperatura no interior dos poros do catalisador,

já que o catalisador apresenta macroporos de pequeno diâmetro;

Perda de carga no reator referente ao leito fixo, porque o comprimento do reator

associado à velocidade de escoamento gasoso fazem com que o leito catalítico tenha

perda de carga muito pequena.

As características anteriores, inclusive a perda de carga, foram negligenciadas

tanto teórica quanto experimentalmente, pelo uso de um reator diferencial, onde o reator de

leito fixo é simplificado para as condições propostas considerando um comprimento

diferencial do reator. Contudo, trabalhos anteriores de simulação (Barros Junior, 2008)

demonstram que a influência da perda de carga nas frações de produtos obtidas é pequena.

Após análise da literatura, o modelo cinético adotado para as reações de síntese de

Fischer-Tropsch (SFT) com readsorção de olefinas e uso de catalisadores de cobalto, foi

aquele sugerido por Zennaro et al. (2000) e expresso na Equação (3.1), pois é o que apresenta

resultados que mais se aproximam de seus valores experimentais.

2

0,743

CO H

SFT 2

CO

1,1.10 .P . PR

1 0,040.P

(3.1)

onde o termo RSFT (expressa em mol.g-1

.h-1

) se refere à velocidade em que ocorrem as reações

de SFT em regime estacionário. A Equação (3.1) foi proposta para catalisadores em reatores

de leito fixo diferenciais com catalisadores de cobalto suportados em dióxido de titânio a 20

atm de pressão, para uma faixa de temperatura na faixa de 180°C a 240°C, proporção H2/CO

igual a 2,1 e velocidade espacial de 5000 h-1

. Os dados estão resumidos na Tabela 3.1:

42

Tabela 3.1. Condições de operação e parâmetros do reator. (Zennaro et al., 2000)

Condição de operação Valor/ intervalo

Temperatura (°C) 180 – 240

Pressão total (MPa) 2,0 MPa

Proporção H2/CO 2,1

Velocidade espacial 5000 h-1

O modelo cinético utilizado para realizar a simulação da reação de SFT em reator

tubular foi baseado na polimerização do grupo metileno (-CH2-), o qual se forma a partir do

monóxido de carbono e do hidrogênio adsorvidos na superfície do catalisador (mecanismo

carbeno), com a distribuição de produtos mostrando que os mecanismos alquil e alquenil

atuam juntos.

Na notação para a proposta de mecanismo que será discutida a seguir, o termo

R(n) designa um grupo alquil com n carbonos, P(n) determina o alcano (parafina) com n

átomos de carbono, R”(n) se refere ao grupo alquenil com n carbonos, enquanto P=(n) está

relacionado com a -olefina com n átomos de carbono. Logo, de acordo com a notação

adotada, R(1) é o grupo metil e P=(2) seria o etileno (eteno). O mecanismo alquila pode ser

representado pelas seguintes etapas:

2CH + H ikR(1) etapa de iniciação

R(1) + 2CH 1pkR(2) etapa de propagação do grupo metila

R(n) + 2CH pkR(n+1) etapa de propagação de um grupo qualquer

R(n) + H parkP(n) formação de parafina pelo hidrogênio de superfície

R(n) olefk P

=(n) formação de -olefina pela eliminação de -hidreto

P=(n) adsk

R(n) readsorção de olefinas (para o catalisador de cobalto)

O balanço molar para as espécies de propagação (R(n), onde n é o número de

carbonos na cadeia do grupo alquila) é afetada pela propagação da cadeia e pela terminação

por eliminação de -hidreto (para a formação de olefinas) e por redução (para a formação de

parafinas). Uma espécie de propagação, R(n), é formada a partir de uma espécie R(n – 1), e

consumida pela sua própria propagação formando espécies R(n + 1) e para formar uma

parafina (P(n)) ou uma olefina (P=(n)), com n átomos de carbono em sua cadeia. Assim, a taxa

de acúmulo das espécies de propagação R(n) é dada na Equação (3.2):

43

p 2 ads p 2 par olef

dk . CH . R(n 1) + k . P (n) k . CH . R(n) k . H . R(n) k . R(n)

dt

R(n)

(3.2)

Os balanços molares para os grupos metila e etila são diferenciados e aparecem

como expresso nas Equações (3.3) e (3.4):

i 2 p1 2 met

dk . CH . H k . CH . R(1) k . H . R(1)

dt

R(1) (3.3)

p1 2 ads p 2 par

dk . CH . R(1) + k . P (2) k . CH . R(2) k . H . R(2)

dt

R(2)

(3.4)

Em um processo de polimerização com a síntese de Fischer-Tropsch, o tempo de

vida das espécies em propagação com n carbonos (R(n)) é muito curto, e estas espécies são

formadas e consumidas constantemente. Essa característica conduz a uma concentração

praticamente constante de R(n), e a sua concentração pode ser considerada constante como

proposta de modelagem (teoria de estado quasi-estacionário). Se o estado quasi-estacionário é

aplicado a todas as espécies de propagação, sua taxa de acúmulo (Equação (3.2)) é nula e a

concentração das espécies de propagação, para o mecanismo alquil, é dada pela Equação

(3.5):

p 2 ads

p 2 par olef

k . CH . + k .R(n) =

k . CH k . H k

R(n 1) P (n)

(3.5)

Aplicando a condição de estado quasi-estacionário ao grupo metila, é obtida a

Equação (3.6):

i 2

p1 2 met

k . CH . HR(1) =

k . CH k . H

(3.6)

Para o grupo etila, tem-se a Equação (3.7):

44

p1 2 ads

p 2 par

k . CH . + k .R(2) =

k . CH k . H

R(1) P (2)

(3.7)

O balanço de massa para parafinas e olefinas produzidas é afetado somente pela

terminação de suas cadeias em propagação, chegando às Equações (3.8) e (3.9):

par

dk . H . R(n)

dt

P(n) (3.8)

olef ads

dk . R(n) k . P (n)

dt

P (n)

(3.9)

O mecanismo alquenila, pode ser representado pelas equações seguintes, onde

ocorre a reação inicial de metileno com metino, com as posteriores inserções de metileno e

isomerizações:

2CH + CH 2ik R”(2) etapa de iniciação

R”(2) + 2CH '

2pkR”(3) etapa de propagação de vinila

R”(n) + 2CH 2pkR”(n+1) etapa de propagação de grupo qualquer

R”(n) + H 2olefkP

=(n) formação de olefinas por redução

P=(n) adsk

R(n) readsorção de olefinas (para o catalisador de cobalto)

O balanço de massa, segundo o mecanismo alquenila, para as espécies de

propagação R”(n), é dependente de propagação das espécies e da terminação por redução.

Uma espécie de propagação, R”(n), é formada a partir de uma espécie R”(n – 1), e consumida

pela sua própria propagação formando espécies R”(n + 1) e para formar uma olefina (P=(n)),

com n átomos de carbono em sua cadeia. Assim, a taxa de acúmulo das espécies de

propagação R”(n) é dada por (Fernandes, 2005):

p2 2 p2 2 olef2

dk . CH . R"(n 1) k . CH . R"(n) k . H . R"(n)

dt

R"(n) (3.10)

45

Quando se aplica o estado quasi-estacionário, a termo diferencial fornecido pela

Equação (3.10) se anula e a concentração das espécies de propagação é dada pela Equação

(3.11):

p2 2

p2 2 olef2

k . CH .R"(n) =

k . CH k . H

R"(n 1)

(3.11)

A formação de espécies de propagação (que corresponde à etapa de iniciação para

o mecanismo alquenil) ocorre pela reação de um grupo metileno com uma espécie metino de

superfície, que é seguido pela sua propagação. Sua taxa de acúmulo é fornecida na Equação

(3.12):

'

i2 2 p2 2

dk . CH .[ CH] k . CH . R"(2)

dt

R"(2) (3.12)

Aplicando a condição de estado quasi-estacionário à etapa de iniciação, a Equação

(3.13) é encontrada:

i2 2 i2

' '

p2 2 p2

k . CH . CH k . CHR"(2) =

k . CH k

(3.13)

Para o grupo propenila, a equação de acúmulo também é diferenciada e é dada

pela Equação (3.14):

'

p2 2 p2 2 olef2

dk . CH . R"(2) k . CH . R"(3) k . H . R"(3)

dt

R"(3) (3.14)

Aplicando a condição de estado quasi-estacionário à etapa de iniciação, a Equação

(3.15) é encontrada:

'

p2 2

p2 2 olef2

k . CH .R"(3) =

k . CH k . H

R"(2)

(3.15)

46

O balanço de massa para as olefinas produzidas pelo mecanismo alquenil é

afetado somente pela terminação de suas cadeias em propagação, expresso na Equação (3.16):

olef2 ads

dk . H . R"(n) k

dt

P (n). P (n)

(3.16)

Metano, etano e eteno são formados por reações diferentes daquelas estudadas

para parafinas e olefinas superiores. Suas reações são as seguintes:

R(1) + H metkP(1) formação de metano por redução com hidreto de superfície

R(2) + H etkP(2) formação de etano por redução com hidreto de superfície

2CH + 2CH 1OkP

=(2) etapa de terminação de metileno

A modelagem consiste em um conjunto de equações diferenciais bem como de

equações algébricas baseadas em balanços de massa (Fernandes, 2005). Metano, etano e eteno

são formados por reações que não envolvem espécies em propagação e têm, portanto,

equações diferentes em seus balanços. Metano é formado pela reação de terminação entre a

espécie metila 3CH , anteriormente chamado R(1), que reage com o hidrogênio superficial

em velocidade superior à de terminação da espécie R(n) quando n > 2. De forma similar

ocorre para o etano (que no caso seria o produto P(2) originário do grupo R(2)). O eteno é

formado pela reação entre duas espécies metileno em preferência à terminação de espécies

R(2) ou R”(2), que não ocorrem. Assim, para o reator tubular, tem-se as Equações (3.17) a

(3.19):

met

dk . H . R(1)

dt

P(1) (3.17)

et

dk . H . R(2)

dt

P(2) (3.18)

O1 2 2

dk . CH . CH

dt

P (2)

(3.19)

47

3.2. Cálculos referentes ao modelo cinético adotado

Algumas concentrações utilizadas no modelo são de espécies intermediárias,

como H , CH e 2CH , o que dificulta suas estimativas e não estão diretamente

disponíveis como condições de operações reacionais. Entretanto, uma boa estratégia consiste

em substituir algebricamente essas concentrações por outras de maior facilidade de medição,

como as pressões parciais dos componentes presentes no meio reacional. Quando possível, a

taxa de reação global de SFT foi utilizada no lugar das concentrações das espécies

intermediárias, já que essa taxa é conhecida para muitos catalisadores e depende das pressões

parciais dos componentes. Para o catalisador de cobalto, foi usada a Equação (3.1).

A taxa global de reação (RSFT) reflete principalmente a velocidade de propagação

da cadeia de hidrocarbonetos, correspondendo à velocidade de consumo da espécie 2CH .

Esse comportamento se manifesta na Equação (3.20):

SFT p 2 ap

n 1

R k . CH . R(n) .(1/ρ )

(3.20)

onde ρap se refere à densidade aparente do catalisador. Assumindo a condição de estado

estacionário, o termo R(n) pode ser considerado constante e RSFT deve ser proporcional à

concentração de metileno no sistema, o que representa a velocidade de formação de 2CH .

Daí chega-se à conclusão que a concentração das espécies 2CH é proporcional à velocidade

de reação global.

A concentração das espécies H , de acordo com o mecanismo de adsorção de H2

ao catalisador, é proporcional à raiz quadrada da sua taxa de adsorção, ou seja, proporcional à

raiz quadrada da sua pressão parcial no meio reacional. Assim, é possível alcançar as

Equações (3.21) até (3.23) a seguir:

SFT p 2 ap SFT1 2

n 1

R k . CH . R(n) .(1/ρ ) k . CH

(3.21)

SFT2

SFT1

RCH

k (3.22)

2

0.5

HH k'. P (3.23)

48

onde os termos k’ e SFT1k se referem a constantes de proporcionalidade que expressam,

respectivamente, a dependência da pressão parcial de H2 e da velocidade de reação para a

concentração de cada intermediário.

A partir dos balanços de massa para a reação de SFT, com as mudanças referentes

à substituição das espécies intermediárias com base na aproximação do estado estacionário e

em cinética de polimerização, obtemos as equações a seguir. Substituindo as Equações (3.22)

e (3.23) na Equação (3.6), e chamando k '

i = i SFT1k'.k / k , k

'

p1 = p1 SFT1k /k e k '

met = metk'.k

obtém-se a Equação (3.24):

2

2

' 0.5

i SFT H

' ' 0.5

p1 SFT met H

k .R .PR(1) =

k .R k .P (3.24)

A equação final para o grupo etila, R(2), via mecanismo alquila, é obtido a partir

da Equação (4.7). Observe que o grupo R(2) não forma etileno, e, portanto não há terminação

em olefina. Substituindo os valores referentes às Equações (3.22) e (3.23), e chamando k'

p =

p SFT1k / k e k'

par = park'.k , é obtida a Equação (3.25):

2

p SFT ads

0.5

p SFT par H

=k' .R . + k .

R(2) = k' .R k' .P

R(1) P (2)

(3.25)

Considerando que a taxa de formação de metino de superfície, CH , seja

semelhante à de formação de grupo metileno no mecanismo alquenila, 2CH , substituindo a

Equação (3.22) na Equação (3.13), e denominando k '

i2 = i2 SFT1k / k , pode-se deduzir a

Equação (3.26) a seguir:

SFT

'

p2

'

i2k .RR"(2)

k (3.26)

Substituindo as Equações (3.22) e (3.23) na Equação (3.15) e denominando k"'

p2 =

'

p2 SFT1k / k , k"

p2 = p2 SFT1k / k e k '

olef2 = olef2k'.k , pode-se deduzir a Equação (3.27) a seguir:

49

2

"'

p2 SFT

" 0.5

p2 SFT olef2 H

k .RR"(3) . R"(2)

k .R k' .P

(3.27)

Tomando a Equação (3.5), substituindo os valores referentes às Equações (3.22) e

(3.23), e chamando k'

p = p SFT1k / k e k'

par = park'.k , é obtida a Equação (3.28):

2

p SFT ads

0.5

p SFT par H olef

=k' .R . k .

R(n)k' .R k' .P k

R(n 1) P (n)

(3.28)

Agora, observando a Equação (3.12), substituindo os valores referentes às

Equações (3.22) e (3.23), e chamando k"

p2 = p2 SFT1k / k e k '

olef2 = olef2k'.k , é obtida a Equação

(3.29):

2

"

p2 SFT

" 0.5

p2 SFT olef2 H

k .RR"(n) . R"(n 1)

k .R k' .P

(3.29)

As equações diferenciais para os produtos formados, divididas de acordo com o

número de carbonos de cada hidrocarboneto, são fornecidas a seguir. Ao se substituir as

relações obtidas na Equação (3.23) na Equação (3.17), e chamando k '

met = metk'.k , pode-se

chegar à Equação (3.30):

2

0.5

met H

dk' .P . R(1)

dt

P(1) (3.30)

Quando a Equação (3.22) é substituída na Equação (3.19), e se denomina k O2 =

2

O1 SFT1k / k , se obtém a Equação (3.31):

2

O2 SFT

dk .R

dt

P (2)

(3.31)

Substituindo a Equação (3.23) na Equação (3.8), e realizando a operação k'

par =

park'.k , pode-se obter a Equação (3.32), para n > 1:

50

2

0.5

par H

dk' .P . R(n)

dt

P(n) (3.32)

Finalmente, ao substituir as Equações (3.22) e (3.23) no somatório das Equações

(3.10) e (3.16), que corresponde à formação de olefinas via mecanismos alquila e alquenila,

respectivamente, e escrevendo k '

olef2 = olef2k'.k , se deduz a Equação (3.33):

2

0.5 =

olef olef2 H ads

d P (n)k . R(n) k' .P . R"(n) k . P (n)

dt

(3.33)

O programa, executado em linguagem Fortran, muito eficiente em simulações que

necessitem de cálculos matemáticos simultâneos, é iniciado com a leitura dos dados

experimentais e a introdução dos valores iniciais dos parâmetros. A seguir, o método de

Levenberg-Maquardt executa testes em função de valores de tolerância (estabelecidos em

função da margem de erro tolerada) para as equações descritas para o modelo cinético da

reação de SFT voltado para o reator tubular. Caso o erro se encontre dentro de intervalos

aceitáveis, a sub-rotina não é mais executada e o programa imprime os resultados. Caso

contrário, o programa sugere novos valores de parâmetros e reinicia o procedimento. Esse

procedimento cíclico é repetido até que os parâmetros se adequem à tolerância utilizada. A

cada teste para um conjunto de parâmetros, a programação verifica se os valores obtidos estão

descrevendo corretamente o comportamento do reator tubular de leito fixo onde ocorre a

reação de SFT. Para essa finalidade, foram utilizados os dados experimentais obtidos por

Visconti et al. (2007). Ao final, os parâmetros são impressos. Um resumo do procedimento

adotado para a execução do programa de simulação é mostrado no algoritmo a seguir (Figura

3.1):

Figura 3.1 – Algoritmo para o programa de estimação de parâmetros

Leitura e entrada

de dados

Estimativa de

parâmetros do

modelo usando o

método de

Levenberg-

Maquardt

Impressão dos

resultados

51

A Figura 3.2 mostra um fluxograma estrutural para o procedimento descrito.

Foram usadas na programação as Equações (3.24) até (3.33), onde se buscou a estimação dos

parâmetros listados na Tabela 3.3.

Figura 3.2 – Fluxograma estrutural para o programa de simulação

Determinação de

novos parâmetros via

método de

Levenberg-Maquardt

Sim

Fim

Execução da sub-rotina para

resolução do modelo proposto

Se

erro < tolerância

Não

Início

Entrada dos valores iniciais para os parâmetros

Comparação entre

dados

experimentais e

simulados

52

A estimação de parâmetros baseou-se na função objetivo que calcula minimiza a

diferença entre o valor simulado e o valor observado (min(Ysim – Yobs)). Foi utilizado o

método numérico dos mínimos quadrados para a resolução do modelo. A inicialização das

equações foi realizada adotando-se as seguintes condições:

De z = 0 até z = L, em t = 0: as concentrações de CO e H2 são iguais às

concentrações iniciais.

Em z = 0 para t qualquer: as concentrações de CO e H2 são iguais às

concentrações iniciais.

3.3. Resultados

O modelo matemático foi avaliado estatisticamente e comparado aos dados

experimentais (Visconti et al., 2007). Os dados foram gerados em um reator diferencial, que

consiste de um reator tubular em que os efeitos de dispersão axial e radial, bem como efeitos

de perda de carga, podem ser desprezados.

A distribuição de produtos em termos de fração mássica em uma reação de síntese

de Fischer-Tropsch (SFT) gera uma curva de formato característico, conforme apresentado na

Figura 3.3. A maior parte do monóxido reagente é convertida em gás metano (CH4), e ocorre

uma menor conversão em hidrocarbonetos com 2 carbonos, graças à terminação em olefinas

ser tratada de forma diferenciada. Para o número de carbonos n > 2, a fração mássica diminui

gradativamente com o aumento da cadeia carbônica, gerando os produtos de maior apelo

comercial. O uso do catalisador de cobalto, com a existência da readsorção de olefinas,

diminui a conversão em olefinas, favorecendo a produção de parafinas. A Figura 3.3 compara

os resultados obtidos no modelo matemático com os valores obtidos por Visconti et al.

(2007).

53

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

-8

-6

-4

-2

Experimental

Simulaçãoln

(Xn/n

)

número de carbonos

O trabalho de Visconti et al. (2007), de onde foram retirados os dados

experimentais, consistiu na realização de medidas cinéticas em um procedimento

completamente automatizado, onde um microrreator tubular de leito fixo (reator diferencial)

foi carregado com catalisador de Co suportado em alumina (Al2O3) em forma pulverizada

(diâmetro médio de 75 m). As condições experimentais adotadas estão na Tabela 3.2. Em

particular, 5 experimentos foram realizados em estado estacionário seguindo um planejamento

experimental. Cada condição experimental foi replicada várias vezes para verificar a precisão

e reprodutibilidade dos resultados. Além disso, o ponto central (pressão de 20 bar,

temperatura de 230°C, proporção de alimentação H2/CO = 2,1 e velocidade espacial de 5000

h-1

) foi replicado 12 vezes. Os resultados dos experimentos foram apresentados em forma de

gráficos mostrando a distribuição mássica dos produtos (obtida via cromatografia) e foram

utilizados nessa tese.

Tabela 3.2. Condições experimentais adotadas por Visconti et al. (2007)

Variáveis Condições experimentais

Pressão (bar) 8 – 25

Temperatura (°C) 210 – 235

Proporção H2/CO 1,8 – 2,5

Velocidade espacial (h-1

) 4000 – 5000

Figura 3.3. Comparação entre dados experimentais (235°C, 20 bar, H2/CO = 2,1, velocidade

espacial de 5000 h-1) para hidrocarbonetos de Visconti et al. (2007) com os resultados obtidos

em simulação.

54

Os parâmetros cinéticos foram estimados por um programa computacional

elaborado em linguagem Fortran que fez uso do método de Levenberg-Marquardt para

minimizar as somas dos quadrados dos desvios, de acordo com os conceitos em análise

estatística apropriados. Os parâmetros estão apresentados na Tabela 3.3:

Tabela 3.3. Parâmetros cinéticos para polimerização de CO em catalisador de cobalto

Parâmetros Estimativas

k'

i 0,0656 (g.m-3

.MPa0.5

)

k'

i2 35,815 (g.mol

-1)

k'

p1 1,318.10-4 (g.mol

-1)

k'

p 1,506.10-4 (g.mol

-1)

k"

p2 509,64 (g.mol-1

)

k'

p2 470,33 (m3.mol

-1.h

-1)

k"'

p2 521,52 (g.mol-1

)

k'

met 1.8.10-7 (h

-1.MPa

0.5)

kO2 1,500 (g2.h.mol

-1.m

-3)

kolef 2,74.10-9 (h

-1)

k'

olef2 0,1913 (h-1

.MPa0.5

)

k'

par 8.67.10-9

(h-1

.MPa0.5

)

kads 7,500.10-4

(h-1

)

3.3.1. Análise estatística

Os testes estatísticos do modelo adotado com os parâmetros apresentados para os

dados experimentais presentes na literatura (Visconti et al. (2007)) estão na Tabela 3.4.

Observa-se inicialmente o teste estatístico chi-quadrado (2) para os experimentos 1 a 4:

55

Tabela 3.4. Dados estatísticos para os experimentos 1 a 4

Experimento Hidrocarbonetos (2) Graus de liberdade p

1 Parafinas 0,0355 29 0,0000

Olefinas 0,0093 12 0,0000

2 Parafinas 0,0304 29 0,0000

Olefinas 0,0266 12 0,0000

3 Parafinas 0,0294 29 0,0000

Olefinas 0,0225 12 0,0000

4 Parafinas 0,0197 29 0,0000

Olefinas 0,0687 12 0,0000

O teste de hipótese (teste p) mostra o percentual de confiança do modelo em

relação aos dados experimentais, obtidos de Visconti et al. (2007). O resultado é um modelo

que se aproxima de 100% de confiança, ou seja, é capaz de retratar com fidelidade estatística

o desempenho dos reatores de leito fixo que operam nas condições estabelecidas

anteriormente.

As Figuras 3.4 a 3.7, mostradas a seguir, retratam a fidelidade do modelo com os

dados experimentais apresentados por Visconti et al. (2007). Foram analisados os dados de

quatro experimentos dos pesquisadores citados acima. Cada gráfico mostra o logaritmo

natural da razão entre fração mássica dos produtos obtidos em relação ao número de carbonos

(eixo y) em função do número de carbonos presentes na cadeia de hidrocarbonetos (eixo x),

que podem ser parafínicos ou olefínicos.

Figura 3.4. Comparação entre dados experimentais (230°C, 20 bar, H2/CO = 2,1, velocidade

espacial de 5000 h-1) para parafinas (a) e olefinas (b) de Visconti et al. (2007) com os

resultados obtidos em simulação.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

-8

-6

-4

-2

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos 2 4 6 8 10

-6

-4

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos

(a) (b)

56

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

-8

-6

-4

-2

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos

2 4 6 8 10

-6

-4

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos

(a) (b)

Figura 3.5. Comparação entre dados experimentais (235°C, 20 bar, H2/CO = 2,1, velocidade

espacial de 5000 h-1) para parafinas (a) e olefinas (b) de Visconti et al. (2007) com os

resultados obtidos em simulação.

0 5 10 15 20 25 30

-8

-7

-6

-5

-4

-3

-2

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos

2 4 6 8 10

-7

-6

-5

-4

-3

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos (a) (b)

Figura 3.6. Comparação entre dados experimentais (230°C, 20 bar, H2/CO = 2,7, velocidade

espacial de 5000 h-1) para parafinas (a) e olefinas (b) de Visconti et al. (2007) com os

resultados obtidos em simulação.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

-8

-6

-4

-2

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos 2 4 6 8 10

-6

-4

Experimental

Simulação

ln(X

n/n

)

número de carbonos

Figura 3.7. Comparação entre dados experimentais (230°C, 25 bar, H2/CO = 2,1, velocidade

espacial de 5000 h-1) para parafinas (a) e olefinas (b) de Visconti et al. (2007) com os

resultados obtidos em simulação.

(a) (b)

57

3.3.2. Validação do modelo

Utilizando dados experimentais distintos daqueles usados para a estimação de

parâmetros, foi realizada uma simulação para a comparação desses dados experimentais com

o modelo desenvolvido: executou-se um programa em Fortran com os parâmetros obtidos e

obteve-se uma distribuição de produtos, onde foram calculadas as frações mássicas por

carbono. Esse resultado obtido com os parâmetros do modelo foi comparado aos dados

experimentais obtidos por Visconti et al. (2007) nas condições descritas para a operação do

reator tubular diferencial. A estatística que concerne ao comparativo entre valores

experimentais e teóricos (obtidos por simulação com os parâmetros adotados) está resumida

na Tabela 3.4 e na Figura 3.8:

Tabela 3.4. Dados estatísticos para o experimento (230°C, 20 bar, H2/CO = 2,1, 4000 h-1)

Hidrocarbonetos (

2)

(chi-quadrado) Graus de liberdade p

Parafinas 0,0354 29 0,0000

Olefinas 0,0130 12 0,0000

A validação do modelo é verificada em outro teste quando, de acordo com os

dados apresentados na Tabela 3.5, é feita uma comparação entre os valores chi-quadrado (2)

experimental e tabelado para 95% de confiança no modelo:

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

-8

-6

-4

-2

Simulação

Experimental

ln(X

n/n

)

número de carbonos

0 2 4 6 8 10

-6

-4

Simulação

Experimental

ln(X

n/n

)

número de carbonos

(a) (b)

Figura 3.8. Comparação entre dados experimentais (230°C, 20 bar, H2/CO = 2,1, velocidade

espacial de 4000 h-1) para parafinas (a) e olefinas (b) de Visconti et al (2007) com os

resultados obtidos em programação.

58

Tabela 3.5. Comparação entre os testes chi-quadrado (2) experimental e tabelado:

Hidrocarbonetos (2) (experimental) (

2) (tabelado)

Parafinas 0,0354 17,706

Olefinas 0,0130 3,940

O valor de 2 experimental bastante inferior ao tabelado garante que o modelo

simulado esteja dentro do intervalo de confiança estabelecido.

59

4. MODELAGEM DINÂMICA PARA O REATOR DE LEITO FIXO

Foi desenvolvido um modelo matemático para um reator tubular de leito fixo para

a reação de síntese de Fischer-Tropsch (SFT). Devido à necessidade de integração numérica

do tempo de processamento e da posição no reator, foi desenvolvido um modelo dinâmico

com a utilização da técnica de discretização de diferenças finitos, para reduzir o modelo

matemático de equações diferenciais parciais para equações diferenciais ordinárias.

A modelagem sugerida é inovadora porque avalia o comportamento dinâmico do

reator em função das variáveis tempo e comprimento do reator. Assim, pode-se obter as

frações mássicas de saída para as variáveis dependentes em função do tempo decorrido para a

reação e do comprimento do reator.

O objetivo final é obter um modelo matemático que represente o reator, avaliando

a necessidade de se considerar os fenômenos de transferência de massa gás-líquido e a

transferência de calor no reator, e suas influências na distribuição final de produtos.

4.1. Discretização do reator

Seja o elemento de volume dV (Ac.dz) em um reator tubular mostrado na Figura

4.1:

Figura 4.1 – Esquematização para discretização do reator.

O balanço molar para o reagente H2 no segmento de reator entre z e (z + z) na

Figura 4.1, em função do fluxo molar J e da taxa de acúmulo da espécie H2 no elemento de

volume, é:

2

2 2 2

H'

H H c cz

CJ J . . A .Δz . A .Δz

tH ap

z zr

(4.1)

z z + z

60

Dividindo a Equação (4.1) por cA .Δz e adotando o limite para z 0, a equação

anterior adquire a forma:

2 2

2

H H'C C

. .z t

H apv r

(4.2)

Usando o mesmo procedimento para o reagente CO, a equação diferencial é:

'CO COC C. .

z tCO apv r

(4.3)

Em relação à formação de produtos, a equação diferencial para a água gerada na

reação é:

2 2

2

H O H O'

H O

C C. .

z tapv r

(4.4)

Em relação aos hidrocarbonetos produzidos, genericamente representados por

P(n), para as parafinas, e P=(n), para as olefinas, onde n simboliza o número de carbonos na

cadeia linear do hidrocarboneto formado:

P(n) P(n)'

P(n)

C C. .

z tapv r

, para 1 ≤ n ≤ 30 (4.5)

P (n) P (n)'

P (n)

C C. .

z tapv r

, para 2 ≤ n ≤ 30 (4.6)

Decidiu-se discretizar a coordenada espacial (z) do reator em 10 pontos (o uso de

um número maior de pontos mostrou a obtenção de resultados semelhantes) para estudar o

comportamento do reator, de acordo com a Figura 4.2:

61

Figura 4.2 – Discretização do reator tubular em 10 pontos.

Ao se aplicar o método de diferenças finitas para discretização do reator em

relação ao comprimento z, em 10 subdivisões, para as espécies j, sejam reagentes ou produtos.

O ponto inicial, correspondente ao valor i = 0, é o ponto de entrada do reator, e o valor de i =

10 corresponde à saída do reator. São obtidas as equações seguintes:

ponto inicial: j j,1 j,0

0

C C C

z Δzi

(4.7)

pontos centrais: j j,2 j,0

1

C C C

z 2.Δzi

(4.8)

j j,3 j,1

2

C C C

z 2.Δzi

(4.9)

j j,4 j,2

3

C C C

z 2.Δzi

(4.10)

j j,5 j,3

4

C C C

z 2.Δzi

(4.11)

j j,6 j,4

5

C C C

z 2.Δzi

(4.12)

j j,7 j,5

6

C C C

z 2.Δzi

(4.13)

j j,8 j,6

7

C C C

z 2.Δzi

(4.14)

j j,9 j,7

8

C C C

z 2.Δzi

(4.15)

j j,10 j,8

9

C C C

z 2.Δzi

(4.16)

i = 0 i = 1 i = 2 i = 3 i = 4 i = 5 i = 6 i = 7 i = 8 i = 9 i = 10

62

ponto final: j j,10 j,9

10

C C C

z Δzi

(4.17)

Quando é realizada a discretização do reator em relação ao comprimento, também

se realiza uma diferenciação em relação ao tempo simultaneamente. Assim, pode-se afirmar

que, para o componente j no ponto inicial do reator (i = 0):

j

0

C0

zi

(4.18)

As condições inicial e de contorno para as espécies são, respectivamente:

De z = 0 até z = L, em t = 0: os valores de Cj são iguais às concentrações

iniciais.

Em z = 0 para t qualquer: os valores de Cj são iguais às concentrações iniciais.

Quando se analisa o primeiro ponto central (i = 1), a taxa de acúmulo da espécie j

é:

j j '

1 1

C C. .

t zj ap

i i

v r

(4.19)

Na Equação (4.19) o termo j

1

C

zi

é fornecido pelas equações de discretização em

relação ao comprimento.

Com argumento semelhante, é possível prever equações similares para os outros

pontos centrais e para o ponto final do reator.

O termo '

jr se refere à taxa de reação, em relação à espécie j, em mol por hora

pela massa de catalisador. Em relação ao consumo de CO, a velocidade pode ser expressa, em

cada ponto i de discretização do reator (Zennaro et al., 2000), por:

2

0,743

CO H

SFT 2

CO

1,1.10 . C ( ).R.T . C ( ).R.TR ( )

1 0,040. C ( ).R.T

i ii

i

(4.20)

63

Na Equação (4.20) o termo R se refere à constante universal dos gases e T é a

temperatura de operação do reator.

Conforme relatado, a reação de síntese de Fischer-Tropsch é dada, de forma geral,

pela Equação (2.1):

CO + (1 + m/2n)H2 (1/n)CnHm + H2O (2.1)

Assim, a taxa de reação ('

SFTr ) é dada em função do consumo de CO ('

COr ). A

partir da proporção estequiométrica, a taxa de consumo de H2 (2

'

Hr ) é, aproximadamente, o

dobro da de consumo de CO, e a taxa de formação de água é idêntica à de consumo de CO.

4.1.1. Discretização do reator com transferência de massa

Com a implementação dos fenômenos de transferência de massa no leito

reacional, considerou-se que a reação de polimerização de Fischer-Tropsch ocorre apenas em

fase líquida, apesar de os reagentes (H2 e CO) serem alimentados em fase gasosa. É

necessário que a transferência de massa entre as fases gasosa e líquida seja considerada para

os gases hidrogênio e monóxido de carbono. Portanto, a equação anterior deve ser

desmembrada em duas novas equações: uma para a fase líquida e outra para a fase gasosa,

expressas pelas Equações (4.21) e (4.22).

Em relação ao gás hidrogênio, tem-se:

Para a fase gasosa: 2 2

2 2

G G

H HG L

H H

C C. . C C

z tMv k

(4.21)

Para a fase líquida: 2 2

2 2 2

L L

H HG L '

H H

C C. . C C .

z tLM apH

v k r

(4.22)

As Equações (4.21) e (4.22), bem como as Equações (4.23) até (4.29), utilizam a

compreensão matemática do conceito de balanço molar: o acúmulo do componente em

relação ao tempo é obtido pela adição do termo de fluxo molar entre as fases (representado

pelo 2º termo da equação) com o que estabelece a transferência de massa propriamente dita.

64

Nas equações em fase líquida, o termo de consumo devido à reação química também consta

dos balanços molares (representado pelo 3º termo da equação).

Usando o mesmo procedimento para o reagente CO, as equações diferenciais são

dadas pelas Equações (4.23) e (4.24):

Para a fase gasosa: G G

G LCO COCO CO

C C. . C C

z tMv k

(4.23)

Para a fase líquida: L

L LG L 'CO COCO CO CO

C C. . C C .

z tM apv k r

(4.24)

Em relação à formação dos produtos orgânicos (parafinas e olefinas) e água

(produtos da reação de polimerização de Fischer-Tropsch), considera-se que sua geração

ocorre em fase líquida para todas as frações de produtos, sem a necessidade de transferência

de massa entre as fases líquida e gasosa. Assim, a equação diferencial para a água gerada na

reação se refere apenas ao balanço molar obtido inicialmente na Equação (4.4).

Em relação aos hidrocarbonetos produzidos, genericamente representados por

P(n), para as parafinas, e P=(n), para as olefinas, onde n simboliza o número de carbonos na

cadeia linear do hidrocarboneto formado também não será considerada a transferência de

massa entre fase líquida e gasosa, uma vez que os produtos orgânicos já são obtidos em fase

líquida, e serão repetidas as Equações (4.5) e (4.6).

A aplicação do método de diferenças finitas para a discretização do reator segue o

mesmo procedimento utilizado nas Equações (4.7) até (4.18).

Quando se analisa o primeiro ponto central (i = 1), a taxa de acúmulo da espécie j

em relação ao tempo é fornecida pelas Equações (4.25) até (4.29):

para o hidrogênio em fase gasosa: 2 2

2 2

G G

H H G L

M H H

1 1

C C. . C C

t zi i

v k

(4.25)

para o hidrogênio em fase líquida: 2 2

2 2 2

L L

H H G L '

M H H

1 1

C C. . C C .

t zL apH

i i

v k r

(4.26)

para CO em fase gasosa: G G

G LCO COM CO CO

1 1

C C. . C C

t zi i

v k

(4.27)

65

para CO em fase líquida: L

L LG L 'CO CO

M CO CO CO

1 1

C C. . C C .

t zap

i i

v k r

(4.28)

para os produtos (água e hidrocarbonetos): j j '

1 1

C C. .

t zj ap

i i

v r

(4.29)

Nas Equações (4.25) até (4.29) o termo j

1

C

zi

é fornecido pelas equações de

discretização em relação ao comprimento. Com argumento semelhante, é possível prever

equações similares para os outros pontos centrais e para o ponto final do reator.

O coeficiente de transferência de massa gás-líquido kM, tanto para CO quanto para

H2, usados nas Equações (4.21) até (4.28), foram estimados por interação a partir da Equação

(4.30), proposta por Guettel e Turek (2008):

0,38

0,2 0,25 0,3iL L G L2

h

D0,091. . Re .We . 6.X .Sc

dMk

(4.30)

Na expressão da Equação (4.30), são utilizados os números adimensionais de

Reynolds (ReL), de Weber (WeL) e de Schmidt (ScL), além da razão adimensional de

Lockhart-Martinelli (XG). O termo dh (nesse trabalho utilizou-se 4,6 cm) se refere ao diâmetro

hidráulico do reator, calculado em função do diâmetro interno do reator e de sua porosidade.

O termo Di se refere ao coeficiente de difusividade de H2 ou de CO, disponíveis na Tabela

4.1:

Tabela 4.1 – Coeficientes de difusividade para CO e H2 (Guettel e Turek, 2008)

Difusividade de H2 Difusividade de CO

45,5.10-9

m2.s

-1 17,2.10

-9 m

2.s

-1

As equações para a taxa de reação ( '

jr se refere à velocidade de reação, em relação

à espécie j, em mol por hora pela massa de catalisador) em relação ao consumo de CO e, por

consequência, em relação aos demais componentes da reação de SFT continua seguindo a

Equação (4.20) (Zennaro et al., 2000), modificada para o uso de reagentes apenas em fase

líquida, em cada ponto i de discretização do reator, conforme aparece na Equação (4.31):

66

2

0,743 L L

CO H

SFT 2L

CO

1,1.10 . C ( ).R.T . C ( ).R.TR ( )

1 0,040. C ( ).R.T

i ii

i

(4.31)

Na Equação (4.31), assim como na Equação (4.20), o termo R é a constante

universal dos gases e T é a temperatura de operação do reator.

4.1.2. Discretização do reator com transferência de massa e de calor

A troca de calor é incluída no estudo da extensão da reação de SFT a partir da

Equação (4.32), que mostra o balanço de energia para uma reação em um reator:

. .SIST

j0 j0 j j

dEQ W J .H J .H

dt

n n

S

j j

(4.32)

Na Equação (4.32) acima os termos . .

Q e WS indicam os fluxos de calor e de

trabalho de eixo com o tempo, j0 j0J .H mostra o produto do fluxo molar com a entalpia

(inicialmente) e SISTdE

dt traduz a variação da energia dos componentes em relação com o

tempo.

O desenvolvimento das equações posteriores baseou-se nas Equações (4.21) a

(4.31), incluídas na seção 4.1.1, onde já abordavam a utilização do conceito de transferência

de massa. Dessa forma, percebe-se que a transferência de calor se constitui em uma melhoria

para a modelagem do reator em busca de respostas estatísticas mais próximas do

comportamento real.

Sabe-se que, para o reator tubular em estudo, o termo .

WS é nulo, pois não há uso

de agitadores ou turbinas, ou algo que possa transformar energia em trabalho de eixo.

Substituindo .

Q por L aU.A . T T , em que U é o coeficiente global de transferência de calor,

AL é a área lateral do reator, aqui considerada constante, e Ta é a temperatura do fluido

utilizado como trocador de calor, e conhecendo os termos de fluxo e entalpia em função da

velocidade de reação e da capacidade calorífica média, a Equação (4.32) é reescrita na forma

da Equação (4.33):

67

'

L a R FTS ap i i i

dTU.A . T T H . .V.ρ J .Cp . T Cp .

dt

n n

i i

r (4.33)

Na Equação (4.33), '

FTSr é a taxa de reação de SFT, expressa em mol por tempo

pela massa de catalisador. Como '

FTSr está expresso em função da massa de catalisador, é

necessário o termo de elemento de volume (A.dz, onde A é a área seccional do reator,

considerada constante, e dz o comprimento do elemento de volume relacionado à Figura 4.1)

seja multiplicado pela densidade aparente do leito catalítico, com a finalidade de tornar a

Equação (4.33) dimensionalmente coerente e fisicamente compreensível. O elemento de

volume é dado pela discretização do reator como L/10 (um décimo do comprimento do

reator).

Para avaliar a evolução da temperatura ao longo do eixo do reator e ao longo do

tempo de reação, que caracteriza a natureza dinâmica da proposta de modelagem abordada

nessa tese, é necessário o uso da discretização do reator já mencionada. Assim, usando a

Equação (4.33) para H2, CO, H2O e produtos orgânicos, e adotando-se que Ji é o produto da

concentração pela área e pela velocidade de escoamento (Ji = Ci.A.), tem-se a Equação

(4.34):

'

L a R FTS ap i i i

dT dTU.A . T T H . .A. L/10 .ρ C . .Cp . Cp .

dz dt

n n

i i

r (4.34)

4.2. Simulações computacionais

Foram selecionadas três variáveis independentes para que, em função delas, se

avaliasse a fração mássica para as variáveis dependentes no tempo final de operação e no

estágio final do reator. A escolha das variáveis independentes ocorreu por serem de

importância destacada em projetos de reatores tubulares de leito fixo para a reação de SFT em

escala industrial. São elas:

Proporção molar H2/CO na entrada do reator

Pressão total dos gases na entrada do reator

Velocidade inicial de escoamento do gás.

68

Cada fator selecionado pode variar de acordo com o planejamento experimental

estatístico sugerido, dentro de valores estabelecidos. As variações estão listadas na Tabela 4.2:

Tabela 4.2 – Faixa estudada de cada fator analisado para a simulação

Variável independente Valor mínimo Valor máximo

Proporção molar H2/CO 1,2 2,0

Pressão total dos gases 15 atm 35 atm

Velocidade de escoamento 0,45 m.s-1

0,65 m.s-1

As variáveis dependentes, cujas frações mássicas (e percentuais no caso da

conversão) são obtidas como respostas para a programação em Fortran, estão listadas na

Tabela 4.3:

Tabela 4.3 – Respostas para o programa de simulação

Respostas na simulação

Conversão em hidrocarbonetos

Gases leves

Gasolina

Querosene

Diesel

Graxas

A conversão total em hidrocarbonetos, calculada em função da quantidade de

matéria de carbono que entra no reator, na forma de CO, subtraindo-se da quantidade de

matéria que sai do reator, também na forma de CO, é calculada através da Equação 4.36:

inicial final

inicial

CO CO

CO

n nconversão em hidrocarbonetos =

n

(4.36)

Nesse cálculo, as conversões de CO em outras espécies que não sejam

hidrocarbonetos, como a transformação até carbeto e compostos oxigenados, foram

desprezadas, pois as quantidades em questão são negligenciáveis.

Um planejamento experimental tipo composto central teve 8 corridas diferentes,

com valores máximos e mínimos das variáveis independentes pré-estabelecidos na Tabela 4.2,

69

somadas a outras 6 corridas em planejamento estrela e mais 2 em torno do ponto central.

Assim, seriam obtidas as 16 corridas teóricas. Contudo, como se trata de uma simulação

computacional, não faz sentido que se execute o ponto central em duplicata, procedimento

comum em laboratório. Assim, ficou-se com 15 corridas. A Tabela 4.4 mostra o planejamento

experimental executado.

Tabela 4.4 – Planejamento experimental tipo composto central

Corrida proporção H2/CO velocidade (m.s-1

) Pressão (bar)

1 1,2 0,45 15

2 1,2 0,45 35

3 2 0,45 15

4 2 0,45 35

5 1,2 0,65 15

6 1,2 0,65 35

7 2 0,65 15

8 2 0,65 35

9 1,6 0,38 25

10 1,6 0,72 25

11 0,93 0,55 25

12 2,27 0,55 25

13 1,6 0,55 8,18

14 1,6 0,55 41,82

15 1,6 0,55 25

As simulações basearam-se em um reator de uso estabelecido em plantas

industriais e projetos de leito fixo. Suas condições estão na Tabela 4.5. As simulações

utilizaram os dados cinéticos obtidos no Capítulo 3.

Tabela 4.5 – Dados do reator e do leito reacional

Diâmetro (cm) 4,6

Comprimento (m) 12,0

Porosidade do leito 0,65

70

As variáveis dependentes obtidas como resposta na programação para a simulação

dinâmica do reator tubular são mostradas na Tabela 4.6.

Tabela 4.6: Convenções sobre cada fração-resposta no programa de simulação

Respostas na simulação Explicação

Conversão em hidrocarbonetos Conversão do CO inserido em

hidrocarbonetos apenas

Gases leves Conversão do CO inserido em

hidrocarbonetos entre 1 e 5 carbonos

Gasolina Conversão do CO inserido em

hidrocarbonetos de 6 a 8 carbonos

Querosene Conversão do CO inserido em

hidrocarbonetos de 9 a 11 carbonos

Diesel Conversão do CO inserido em

hidrocarbonetos de 12 a 20 carbonos

Graxas Conversão do CO inserido em

hidrocarbonetos de 21 a 30 carbonos

As Equações (4.2) a (4.20), em associação ao modelo cinético desenvolvido no

Capítulo 3, foram resolvidas com o uso de programação em Fortran através de integração

numérica com a utilização do método de Runge-Kutta de 5ª ordem. Foram obtidas as frações

mássicas de cada variável dependente em função do tempo de reação e do estágio do reator.

Mais uma vez, executou-se um programa em linguagem Fortran para realizar as

simulações, sejam com o uso ou não de transferências de massa e de calor. Na programação

em Fortran, a variável tempo já é intrínseca ao programa. Só é necessário que se defina a

variável comprimento do reator. Assim, se consegue calcular as frações mássicas dos

produtos em relação ao tempo de operação e ao estágio do reator. Um resumo do

procedimento adotado para a execução do programa de simulação é mostrado no algoritmo a

seguir (Figura 4.3):

71

Figura 4.3 – Algoritmo para o programa de simulação

A Figura 4.4 mostra um fluxograma estrutural para o procedimento descrito. O

termo L descreve o passo correspondente a cada metro do reator tubular:

Leitura de parâmetros

e entrada de dados

Execução da sub-rotina para

os cálculos correspondentes

às equações do modelo

(podendo ou não utilizar as equações de transferência de

massa e/ou de calor)

Impressão dos

resultados para o valor

correspondente de L

(comprimento do reator)

Atualização do valor de L até que se

alcance o final do reator

72

Figura 4.4 – Fluxograma estrutural para o programa de simulação

Início

L = 0

L = L + 1

Enquanto L < comprimento

do reator

Sim

Não

Fim

Impressão das

frações mássicas

de P(n) e P=(n),

para n de 1 até 30

Execução da sub-rotina com o

modelo cinético (podendo ou não

utilizar equações de transferência de

massa e/ou de calor)

Entrada de parâmetros e valores iniciais de pressões parciais, comprimento

do reator, velocidade de escoamento e proporção H2/CO

73

4.3. Discussão de resultados

Um perfil característico das pressões de cada gás reagente em função do

comprimento do reator para o tempo final de operação do reator é apresentada na Figura 4.5.

Observa-se que o consumo de gás hidrogênio é praticamente completo ao final do reator, para

o tempo final de operação na simulação. Verifica-se ainda que o consumo de gás hidrogênio,

cuja concentração se reflete diretamente nas taxas de terminação da cadeia, é mais expressivo

que o de CO, como esperado pela estequiometria da reação.

Observa-se na Figura 4.5 que a proporção H2/CO muda ao longo do reator e esta

relação afeta a taxa de reação de SFT. Sabe-se uma maior proporção sugere maior taxa de

terminação de cadeias e favorece a formação de produtos mais leves. Assim, com a redução

da razão H2/CO ao longo do reator, espera-se uma alteração na taxa de reação e percebe-se a

importância do estudo dessa proporção em função do estágio do reator.

Figura 4.5 – Pressão dos reagentes, em MPa, em função do estágio do reator.

A Figura 4.6 mostra a distribuição das pressões dos gases reagentes em função do

tempo de operação, para o ponto final do reator (em função de configurações industriais o

comprimento do reator foi estabelecido como L = 12 metros). A Figura 4.6 ilustra um

comportamento característico de uma reação de polimerização, como a de síntese de Fischer-

Tropsch (SFT). As pressões de saída oscilantes em torno de um valor definido, quando o

reator alcança seu estado estacionário, podem ser explicadas pela característica de uma reação

de polimerização: à medida que ocorre o crescimento da cadeia e há consumo daquele

reagente, há também a ocupação do poro do catalisador. Com o sítio ocupado a taxa de reação

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

CO

H2

Pre

ssã

o (

MP

a)

Estágio do reator (X/L)

74

cai e o reagente passa a ser menos consumido, retornando a valores mais elevados. A

concentração dos reagentes volta a diminuir quando a taxa de reação volta a aumentar.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

CO

H2

Pre

ssã

o (

MP

a)

tempo (h)

Figura 4.6 – Pressão de saída dos reagentes, em MPa, em função do tempo de reação para o

estágio final do reator.

4.3.1. Simulações com o modelo simplificado

Esta seção corresponde à simulação utilizando o modelo matemático simplificado,

em que não se considera a transferência de calor no reator e se negligencia a transferência de

massa entre as fases gás e líquido.

A análise estatística foi realizada com o emprego de software Statistica 10, onde

os dados de entrada para essa análise foram obtidos a partir das respostas das simulações para

a reação de síntese de Fischer-Tropsch (SFT) em reator tubular com catalisador de cobalto,

utilizando a discretização do reator para avaliar as frações mássicas de saída ao final do reator

no tempo final, listadas na Tabela 4.7.

75

Tabela 4.7: Frações mássicas para a reação de SFT no programa de simulação

Corrida Leves Gasolina Querosene Diesel Graxa Conversão

1 50,28 10,65 9,13 20,70 18,35 0,598

2 26,46 9,20 10,16 27,10 37,23 0,616

3 50,90 8,35 6,51 15,39 25,34 0,886

4 34,87 10,23 10,50 26,21 28,67 0,940

5 47,57 10,51 9,20 21,34 20,56 0,578

6 23,80 8,68 9,88 26,81 40,69 0,615

7 60,62 9,36 7,20 15,45 14,56 0,835

8 32,13 9,74 10,07 25,14 32,97 0,915

9 41,62 10,83 10,37 24,43 23,10 0,807

10 36,28 9,70 9,98 25,93 28,07 0,774

11 30,59 9,95 10,51 27,05 32,38 0,482

12 46,56 10,30 9,02 21,47 21,65 0,942

13 56,76 5,00 3,62 9,13 29,09 0,707

14 24,45 8,87 10,13 27,22 39,53 0,802

15 39,49 9,93 10,46 24,85 25,72 0,793

4.3.1.1. Análise para as frações gases leves, gasolina e querosene

São apresentados os gráficos de superfície para cada fração de hidrocarbonetos

produzida ao final do reator no tempo final de operação. Os fatores que apresentam relevância

significativa do ponto de vista estatístico para as frações gases leves, gasolina e querosene,

são:

Pressão

Proporção H2/CO

O valor p é um teste de hipótese e fornece a probabilidade de a hipótese nula ser

rejeitada. São considerados significantes os fatores (variáveis) cujos valores de p são

inferiores ao valor aceito como limite para erro tipo I (rejeitar a hipótese nula), que foi

adotado como 5% (ou 0,05) nessa tese. A análise de efeitos para a fração gases leves está na

Tabela 4.8.

76

Tabela 4.8 – Análise de efeitos para a fração gases leves

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pad

rão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Valo

r p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(95%

)

Velocidade (linear) -1,079 1,743 -0,619 0,563 -0,563 3,403

Velocidade (quadrática) 0,394 2,619 0,150 0,886 -6,339 7,129

Proporção H2/CO (linear) 8,384 1,743 4,808 0,005 3,901 12,87

Proporção H2/CO (quadrática) 0,126 2,619 0,048 0,963 -6,607 6,860

Pressão (linear) -21,44 1,743 12,30 6.10-5

-25,93 -16,96

Pressão (quadrática) 1,564 2,619 0,597 0,576 -5,169 8,298

As maiores porcentagens mássicas em leves (faixa que abrange os

hidrocarbonetos parafínicos e olefínicos de 1 a 5 carbonos) são formadas em condições de alta

proporção H2/CO e pressões menores. Em condições de maior proporção H2/CO, têm-se

maiores taxas de terminação de cadeia, o que aumenta o percentual em leves, já que a cadeia

em polimerização não alcança alto número de carbonos. Em condições de pressões mais

baixas têm-se menores concentrações de reagentes e menores velocidades de conversão de

monóxido de carbono e hidrogênio em hidrocarbonetos. Portanto, a operação em condições de

mais baixas pressões não permite crescimento de cadeia em velocidade apreciável que,

associado às maiores taxas de terminação da cadeia, aumenta a fração mássica em leves. A

Figura 4.7 mostra a dependência da fração leve em função da pressão e da proporção H2/CO.

77

Figura 4.7 – Fração gases leves em função da pressão total e da proporção H2/CO.

A Figura 4.8 ilustra a dependência da fração gasolina com os fatores que são

relevantes estatisticamente: pressão e proporção H2/CO. A produção de gasolina (fração que

compreende os hidrocarbonetos de 6 a 8 carbonos) se concentra em condições de operação de

baixa proporção H2/CO e pressão intermediária. A baixa proporção explica o motivo de se

alcançar um maior crescimento de cadeia na reação de polimerização de Fischer-Tropsch, em

relação aos gases leves, enquanto que a pressão intermediária mostra uma concentração de

reagentes mediana, o que proporciona velocidade de reação de polimerização intermediária,

favorecendo a formação de cadeias de tamanho um pouco maior que a da fração de gases

leves. Observa-se também um aumento na produção de gasolina em condições de operação

bem diferentes da descrita anteriormente. A porcentagem em gasolina também aumenta em

maiores proporções H2/CO e maiores pressões. Isoladamente pode parecer contraditório, mas

a análise em conjunto mostra que o aumento na proporção H2/CO (que aumenta a taxa de

terminação de cadeia e facilita a formação de cadeias menores), associado ao aumento da

pressão (que implica em aumento de velocidade de reação) sugere um resultado final

semelhante.

Fitted Surface; Variable: Var1

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=10,38257

DV: Var1

> 70 < 70 < 60 < 50 < 40 < 30 < 20

78

Figura 4.8 – Fração gasolina em função da pressão total e da proporção H2/CO.

A fração querosene, que abrange os hidrocarbonetos parafínicos e olefínicos de 9

a 11 carbonos, tem sustentação teórica semelhante à da fração gasolina, embora a cadeia seja,

em média, um pouco maior. Portanto, poderia se esperar uma maior conversão em querosene

em condições de operações reacionais de pressões intermediárias, que sugere um valor

intermediário para a concentração dos reagentes e, por consequência, uma mediana

velocidade de reação de crescimento de cadeia, associado às proporções H2/CO reduzidas. À

medida que a proporção cresce, haverá um consequente aumento na taxa de terminação da

cadeia que precisa ser compensado por aumento gradual na pressão de operação do reator.

Nesse caso a dependência da proporção é superior à da gasolina para a mesma variável, fato

que se justifica devido à maior cadeia carbônica apresentada pela fração querosene. Ou seja,

em proporções H2/CO de menor valor, há mais possibilidade de crescimento da cadeia

carbônica. Essas situações estão mostradas na Figura 4.9.

Generalizando, pode-se dizer que as frações gases leves, gasolina e querosene se

beneficiam de condições de operação em pressão intermediária e maiores valores de

proporção H2/CO. O aumento da pressão só reduz significativamente a produção de leves, o

que pode ser favorável comercialmente, enquanto que o aumento gradual da proporção

aumenta a produção de leves e desfavorece o querosene, de maior cadeia.

Fitted Surface; Variable: Var2

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=1,376026

DV: Var2

> 10 < 10 < 8 < 6 < 4

79

Figura 4.9 – Fração querosene em função da pressão total e da proporção H2/CO.

4.3.1.2. Análise para as frações diesel e graxa

As frações diesel e graxa, que reúnem os hidrocarbonetos de 12 a 20, e de 21 a 30

carbonos, respectivamente, sejam parafínicos ou olefínicos, dependem significativamente dos

seguintes fatores:

Pressão

Proporção H2/CO

Percebe-se um aumento da relevância estatística da proporção H2/CO à medida

que a cadeia aumenta, desde a fração gasolina até a fração diesel. É um resultado esperado em

função do crescimento da cadeia carbônica observado nessas frações, uma vez que o aumento

dessa proporção aumenta a velocidade de terminação de cadeias carbônicas, favorecendo,

isoladamente, a formação de cadeias menores.

As variáveis estatisticamente relevantes foram selecionadas de acordo com o teste

de hipótese p da Tabela 4.9. Valores de p inferiores ao percentual estabelecido para a rejeição

da hipótese nula (0,05) mostram variáveis de significância estatística (apresentadas em negrito

na Tabela 4.9). Como as tabelas de efeitos estatísticos para diesel e graxa são bastante

semelhantes, optou-se por mostrar apenas a de diesel, para evitar repetições.

Fitted Surface; Variable: Var3

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=,5604172

DV: Var3

> 10 < 10 < 8 < 6 < 4 < 2

80

Tabela 4.9 – Análise de efeitos para a fração diesel

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pad

rão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Valo

r p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(95%

)

Velocidade (linear) 0,273 0,634 0,431 0,684 -1,356 1,903

Velocidade (quadrática) 0,166 0,952 0,174 0,868 -2,282 2,613

Proporção H2/CO (linear) -3,391 0,634 -5,349 0,003 -5,020 1,761

Proporção H2/CO (quadrática) -0,482 0,952 -0,506 0,634 -2,929 1,966

Pressão (linear) -9,198 0,634 14,51 3.10-5

7,569 10,83

Pressão (quadrática) -4,787 0,952 -5,028 0,004

-7,235 -2,340

A Figura 4.10 traz informações da fração diesel em função da proporção H2/CO e

da pressão de operação do reator.

Figura 4.10 – Fração diesel em função da pressão total e da proporção H2/CO.

A formação de diesel apresenta maiores percentuais em massa de acordo com a

previsão anterior: em baixas proporções H2/CO, porque com baixas velocidades de

terminação de cadeia é mais provável que a cadeia carbônica possa crescer, e em pressões

elevadas, com altas concentrações de reagentes e altas taxas de reação de polimerização de

Fischer-Tropsch, espera-se um crescimento em frações mais pesadas.

Fitted Surface; Variable: Var4

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=1,372001

DV: Var4

> 25 < 25 < 20 < 15 < 10 < 5

81

A fração graxa, que apresenta a mesma significância estatística que a fração

diesel, tem sua dependência mostrada graficamente na Figura 4.11, cujo gráfico de superfície

apresenta a variação da fração de graxas no produto final com as variáveis citadas:

Figura 4.11 – Fração graxa em função da pressão total e da proporção H2/CO.

Na verdade, a formação de graxas será mais favorecida em altas pressões e

menores valores de proporção H2/CO. Não se observou a tendência de aumento da relevância

estatística à medida que a cadeia cresce para a variável proporção H2/CO, apesar de que essa

variável ainda seja bastante importante. Na verdade, como a modelagem é realizada para

explicar o crescimento da cadeia de hidrocarboneto, independente de seu tamanho, essas

oscilações são aceitáveis.

O efeito, como esperado, é mais evidente nessa fração graxa que na fração

anterior (diesel), pois a cadeia carbônica maior exige velocidade de reação mais alta, o que é

alcançado pela pressão elevada, e baixa taxa de terminação de cadeia, que garante a formação

de cadeias maiores, favorecida pela pequena proporção H2/CO.

Generalizando, pode-se dizer que as variáveis diesel e graxas se beneficiam de

condições de operação em pressão elevada e menores valores de proporção H2/CO, embora a

influência da pressão seja dominante, principalmente em relação à formação de graxas.

Fitted Surface; Variable: Var5

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=23,1007

DV: Var5

> 60 < 60 < 50 < 40 < 30

82

4.3.1.3. Análise para a conversão em hidrocarbonetos

A conversão total em hidrocarbonetos avalia a transformação de todo o carbono

na forma CO em hidrocarboneto, independente do tamanho alcançado pela cadeia carbônica.

Como esperado, essa variável é a única a sofrer influência direta da velocidade de

escoamento. Ocorre que, como a conversão não diferencia cadeias grandes ou pequenas,

quanto maior o tempo de residência dos reagentes no reator maior a possibilidade de

conversão em hidrocarbonetos. As frações avaliadas individualmente praticamente não

apresentam dependência estatística da velocidade, pois o percentual alcançado por cada fração

depende do crescimento da cadeia no leito catalítico, e, por representar uma porcentagem, é

expressa como uma fração em relação à conversão total. A dependência da proporção já era

esperada, pois em proporções H2/CO em valores ou muito elevados ou muito baixos, o

reagente limitante inibe a sequência reacional e o consequente crescimento das cadeias. Nota-

se a influência expressiva da pressão na conversão total, pois se observa forte dependência

estatística desse fator. Assim, são relevantes estatisticamente todos os fatores em estudo:

Pressão

Proporção H2/CO

Velocidade de escoamento

A Tabela 4.10 mostra a análise de efeitos e o fator p, cujo valor inferior a 0,05

mostra as variáveis significantes:

Tabela 4.10 – Análise de efeitos para a conversão total

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pad

rão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Valo

r p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(95%

)

Velocidade (linear) -0,023 0,005 -4,847 0,005 -0,035 -0,011

Velocidade (quadrática) -0,003 0,007 -0,423 0,690 -0,021 0,015

Proporção H2/CO (linear) 0,284 0,005 59,42 0,000 0,271 0,296

Proporção H2/CO (quadrática) -0,059 0,007 -8,192 4.10-4

-0,077 -0,040

Pressão (linear) 0,050 0,005 10,56 1.10-4

0,038 0,063

Pressão (quadrática) -0,028 0,007 -3,939 0,011

-0,047 -0,010

83

Percebe-se pela Figura 4.12 para a conversão total de CO em hidrocarbonetos em

função da proporção H2/CO e da pressão que conversões mais altas são alcançadas em

maiores valores de pressão e de proporção H2/CO:

Figura 4.12 – Conversão total em função da pressão total e da proporção H2/CO.

A partir do gráfico da Figura 4.13, que mostra a dependência da conversão em

função da pressão e da velocidade de escoamento, nota-se que maiores valores de conversão

serão estabelecidos em baixas velocidades e altas pressões.

De fato, para menores velocidades de escoamento, com maior tempo de residência

espera-se alcançar conversões maiores, uma vez que o tempo de residência maior provoca um

maior possibilidade de transformação de CO em hidrocarboneto, independente do tamanho

alcançado pela cadeia. Percebe-se ainda que a conversão é favorecida em situações de

pressões elevadas. Esse efeito é esperado, pois em condição de mais alta pressão tem-se maior

concentração dos reagentes e maiores valores de velocidade de reação, que, sem levar em

consideração se a cadeia será curta ou longa, aumenta a conversão de CO em hidrocarbonetos,

como é ilustrado na Figura 4.13:

Fitted Surface; Variable: NewVar

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=,0000778

DV: NewVar

> 0,9 < 0,9 < 0,8 < 0,7 < 0,6 < 0,5 < 0,4

84

Figura 4.13 – Conversão total em função da pressão total e da velocidade de escoamento.

4.3.2. Simulações com o modelo com transferência de massa interfásico

A implementação dos fenômenos do conceito de transferência de massa na

modelagem do reator para a reação de SFT é uma tentativa de se buscar um modelo cada vez

mais realista. Usou-se inicialmente uma modelagem dinâmica, onde as frações são analisadas

em relação ao tempo e ao longo do reator. Essa abordagem inicial foi mantida, com a adição

da discussão sobre transferência de massa.

É esperado que a transferência de massa implementada no modelo reduza a taxa

aparente de reação, devido ao fato de se considerar a passagem de reagentes da fase gasosa à

fase líquida e sua consequente resistência à transferência de massa. Dessa forma os resultados

obtidos na simulação devem ser diferentes do modelo que desconsiderava essa característica

do leito reacional e a fração de produtos obtidos deve ser inferior à anterior.

De acordo com a descrição realizada na Seção 4.2, a análise estatística foi

realizada com o emprego de software apropriado, onde os dados de entrada para essa análise

foram obtidos a partir da programação em Fortran, em simulação para a reação de síntese de

Fischer-Tropsch (SFT) em reator tubular com catalisador de cobalto, utilizando a

discretização do reator para avaliar as frações mássicas de saída ao final do reator no tempo

final, listadas na Tabela 4.11.

Fitted Surface; Variable: NewVar

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=,0000778

DV: NewVar

> 0,9 < 0,9 < 0,8

85

Tabela 4.11: Frações mássicas para a reação de SFT no programa de simulação

Corrida Leves Gasolina Querosene Diesel Graxa Conversão

1 78,84 6,996 3,923 7,391 6,764 0,758

2 44,45 11,15 10,31 24,20 20,18 0,792

3 83,95 5,016 2,492 4,779 6,247 0,832

4 59,39 10,94 9,071 10,87 12,78 0,900

5 76,77 7,537 4,349 8,262 7,422 0,727

6 42,38 11,05 10,39 24,69 21,85 0,776

7 81,95 5,627 2,877 5,514 6,902 0,784

8 53,13 11,18 9,493 21,12 14,56 0,863

9 67,83 10,15 7,292 16,64 7,364 0,854

10 62,86 10,88 8,202 16,92 9,325 0,794

11 54,60 11,36 9,424 10,56 13,46 0,721

12 72,58 9,338 6,243 12,12 5,947 0,871

13 77,36 2,208 1,657 5,004 15,42 0,723

14 41,55 10,81 10,28 24,70 22,91 0,854

15 64,98 10,56 7,808 15,95 8,497 0,822

4.3.2.1. Análise para as frações gases leves, gasolina e querosene

A formação de gases leves, gasolina e querosene analisada em uma modelagem

que utiliza a transferência de massa para explicar o comportamento da reação de SFT em

reator tubular, têm significância estatística dos fatores a seguir:

proporção H2/CO

pressão

A dependência da proporção H2/CO se explica por causa do pequeno tamanho de

cadeia considerada nos gases leves (engloba os hidrocarbonetos de 1 a 5 carbonos, tanto como

alcanos quanto alcenos): em maiores valores de proporção H2/CO esperam-se taxas de

terminação de cadeia maiores, o que não permite grande progresso para a reação de

polimerização de SFT já que cadeias pequenas estão continuamente sendo terminadas e

formadas. Logo, maiores percentuais ponderais para cadeias de pequeno tamanho, como as

86

dos gases leves, é esperado diante dessa situação. A descrição realizada pode ser observada na

Figura 4.14.

De forma análoga, a dependência com a pressão também se explica pela análise

de crescimento de cadeias de reduzido tamanho, como as dos gases leves. De fato, em

maiores pressões a concentração dos reagentes aumenta e a taxa de reação, agora com

transferência de massa, também aumenta. Maiores valores em velocidade de reação devem

formar cadeias maiores, mesmo com a influência significativa da proporção H2/CO. Portanto,

a fração em massa de gases cresce em menores valores de pressão exercida sobre os gases

reagentes. Mais uma vez, a Figura 4.14 ilustra as informações anteriores:

Figura 4.14 – Fração gases leves em função da pressão total e da proporção H2/CO.

A fração gasolina, que engloba os hidrocarbonetos de 6 a 8 átomos de carbono,

apresenta comportamento estatístico semelhante ao da fração de leves, citada anteriormente,

com relevância estatística dos mesmos fatores.

Esses resultados foram obtidos a partir de dados da Tabela 4.12, onde é mostrada

a tabela de efeitos estatísticos para a fração gasolina:

Fitted Surface; Variable: Var1

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=18,87783

DV: Var1

> 80 < 80 < 70 < 60 < 50 < 40 < 30 < 20

87

Tabela 4.12 – Análise de efeitos para a fração gasolina

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pad

rão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Valo

r p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(95%

)

Velocidade (linear) 0,369 0,177 2,088 0,091 -0,085 0,823

Velocidade (quadrática) -2,218 0,265 -0,820 0,449 -0,900 0,465

Proporção H2/CO (linear) -1,079 0,177 -6,107 0,002 -1,533 -0,625

Proporção H2/CO (quadrática) -0,335 0,265 -1,262 0,262 -1,017 0,347

Pressão (linear) 4,922 0,177 27,85 1.10-6

4,468 5,376

Pressão (quadrática) -3,050 0,265 11,49 8,8.10-5

-3,733 -2,368

São considerados significantes os fatores (variáveis) cujos valores de p são

inferiores ao valor aceito como limite para erro tipo I (rejeitar a hipótese nula), que foi

adotado como 5% (ou 0,05) nessa tese. Os fatores relevantes estatisticamente para a fração

graxa estão em negrito na Tabela 4.12.

A explicação para a dependência em relação à proporção H2/CO segue mesmo

raciocínio já analisado: cadeias menores (como as de gases leves e de gasolina) têm sua

formação favorecida em condições de maiores proporções H2/CO, para aumentar a taxa de

terminação das cadeias. Além disso, a dependência da pressão para a fração gasolina é ainda

mais significativa que para os gases leves, o que se justifica pelo fato de a cadeia da fração

gasolina, em média, ser maior que a da fração gases leves. Observa-se que o aumento de

pressão provoca o crescimento das cadeias para a fração gasolina, mas não para leves. De

fato, para cadeias maiores que as dos leves, como as da gasolina e as do querosene, fração que

será analisada adiante, o aumento da pressão, que aumenta a velocidade de reação, favorece a

formação de cadeias maiores. Contudo, observa-se que a Figura 4.15 possui um máximo para

a fração gasolina, o que mostra que a cadeia é um pouco maior que as dos leves, mas não é

tão extensa para que se aumente a pressão sem prejuízo na conversão. A Figura 4.15 ilustra

essas informações.

88

Figura 4.15 – Fração gasolina em função da pressão total e da proporção H2/CO.

A fração querosene, que abrange os hidrocarbonetos parafínicos e olefínicos de 9

a 11 carbonos, apresenta como variáveis independentes mais relevantes sob o ponto de vista

estatístico as mesmas citadas para a fração gasolina e para a fração de leves:

proporção H2/CO

pressão

A explicação para as dependências em relação à proporção H2/CO e à pressão

segue a mesma tendência observada para a fração gasolina. O gráfico que mostra a influência

desses fatores, apresentado na Figura 4.16, possui, inclusive, aspecto semelhante ao da fração

gasolina. Apenas a curvatura da superfície diferencia os dois gráficos.

Fitted Surface; Variable: Var2

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=,1066644

DV: Var2

> 10 < 10 < 8 < 6 < 4 < 2

89

Figura 4.16 – Fração querosene em função da pressão total e da proporção H2/CO.

4.3.2.2. Análise para as frações diesel e graxas

A fração diesel, englobando os alcanos e alcenos de 12 a 20 carbonos, e a fração

graxa, com os hidrocarbonetos de 20 a 30 átomos de carbonos apresentam dependência

estatística semelhante, como esperado pela necessidade de maior crescimento de cadeia.

Os fatores em análise são:

proporção H2/CO

pressão

A Tabela 4.13 mostra os parâmetros estatísticos para a fração graxa:

Fitted Surface; Variable: Var3

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=,5271037

DV: Var3

> 10 < 10 < 8 < 6 < 4 < 2

90

Tabela 4.13 – Análise de efeitos para a fração graxa

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pad

rão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Valo

r p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(95%

)

Velocidade (linear) 1,180 1,360 0,868 0,425 -2,316 4,677

Velocidade (quadrática) -0,401 2,043 -1,987 0,852 -5,654 4,850

Proporção H2/CO (linear) -4,554 1,360 -3,054 0,028 -7,650 -0,657

Proporção H2/CO (quadrática) 0,559 2,043 0,274 0,795 -4,692 5,811

Pressão (linear) 8,000 1,360 5,882 0,002 4,504 11,497

Pressão (quadrática) 7,250 2,043 3,548 0,016 1,998 12,501

A Figura 4.17 mostra a variação da pressão com a proporção H2/CO, em

velocidade de 0,55 m/s, para a variável dependente diesel:

Figura 4.17 – Fração diesel em função da pressão total e da proporção H2/CO.

Como esperado para o processo de polimerização da reação de SFT, a fração

diesel, de cadeia mais longa, necessita de maiores pressões para que sejam obtidas maiores

conversões, pois associado ao aumento de pressão há o aumento da concentração de reagentes

e aumento da velocidade de reação, facilitando o crescimento da cadeia. A proporção H2/CO,

apesar de exercer menor influência estatística sobre a fração diesel, também obedece ao

previsto para a reação de SFT: em maiores valores de proporção H2/CO, têm-se maiores taxas

Fitted Surface; Variable: Var4

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=6,141179

DV: Var4

> 25 < 25 < 20 < 15 < 10 < 5

91

de terminação de cadeia e menores conversões em frações de cadeia mais longa, como o

diesel em questão. O comportamento descrito é observado na Figura 4.18.

Para a variável graxa, cujo comportamento estatístico foi ilustrado na Tabela 4.13,

o gráfico correspondente está ilustrado na Figura 4.18. Da mesma forma que a fração diesel, a

fração graxa assume valores máximos em condições de alta pressão e baixa proporção H2/CO.

No entanto, apesar de depender de fatores semelhantes aos da fração diesel e apresentar

conversões máximas em situações operacionais semelhantes, a fração graxa possui uma

concavidade invertida em relação ao gráfico da Figura 4.17. O resultado é explicado como

consequência do aumento da cadeia esperado para as graxas (de 20 a 30 carbonos). A

necessidade de crescimento maior da cadeia aumenta muito a influência estatística da variável

proporção H2/CO, enquanto a fração diesel apresenta mais dependência da pressão. As

regiões assinaladas em vermelho nos gráficos das Figuras 4.17 e 4.18 ilustram essa tendência.

Figura 4.18 – Fração graxa em função da pressão total e da proporção H2/CO.

4.3.2.3. Análise para a conversão em hidrocarbonetos

A conversão retrata a transformação do CO em hidrocarboneto independente do

tamanho da cadeia carbônica e é a única variável que depende significativamente da

velocidade de escoamento dos reagentes, como descrito na Seção 4.3.1.3. Os fatores

estatisticamente significativos são:

Fitted Surface; Variable: Var5

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=6,316403

DV: Var5

> 40

< 36

< 26

< 16

< 6 0,81,01,21,41,61,82,02,22,4proporção H2/CO51015202530354045pressão01020304050graxa

92

proporção H2/CO

pressão

velocidade de escoamento

Esses fatores são relevantes do ponto de vista estatístico pelo fato de possuírem

um valor de teste de hipótese p inferior a 0,05 (limite do intervalo de confiança), como

mostrado na Tabela 4.14 (os fatores relevantes estão em negrito):

Tabela 4.14 – Análise de efeitos para a conversão total em hidrocarbonetos

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pa

drão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Va

lor

p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(9

5%

)

Velocidade (linear) -0,034 0,005 -6,889 9,8.10-4

-0,047 0,021

Velocidade (quadrática) 0,003 0,007 0,361 0,734 -0,016 0,022

Proporção H2/CO (linear) 0,085 0,005 17,14 1,2.10-5

0,072 0,097

Proporção H2/CO (quadrática) -0,017 0,007 -2,302 0,069 -0,036 0,002

Pressão (linear) 0,066 0,005 13,33 4,3.10-5

0,053 0,078

Pressão (quadrática) -0,022 0,007 2,974 0,031 0,041 -0,003

O gráfico de superfície mostrado na Figura 4.19 apresenta a dependência da

conversão em hidrocarbonetos em função da velocidade de escoamento e da pressão. Adotou-

se uma proporção H2/CO de 2,0 para obter o gráfico. O resultado apresentado ressalta que

serão obtidos maiores valores de conversão para elevadas pressões e baixas velocidades de

escoamento. De fato, essas condições, associadas à proporção H2/CO, aumentam o tempo de

residência dos reagentes no reator e aumentam a conversão independente do tamanho

alcançado pela cadeia carbônica.

93

Figura 4.19 – Conversão em função da pressão total e da velocidade de escoamento.

A introdução do conceito de transferência de massa, apesar de diminuir a

velocidade para a reação de SFT por utilizar um conceito que introduz uma resistência ao

fluxo de reagentes, pouco modifica o aspecto gráfico para as pressões de CO e H2 em função

do estágio do reator no tempo final. Obtêm-se curvas similares àquelas mostradas na Figura

4.5, embora seja esperado que os valores das pressões de H2 e de CO sejam relativamente

menores que aqueles usados na comparação.

De fato, a curva que relaciona a pressão dos gases reagentes em função do tempo

no ponto final do reator também é praticamente idêntica àquela apresentada na Figura 4.6.

Sob o ponto de vista estatístico, a introdução do fenômeno de transferência de

massa provoca uma menor dependência da proporção entre os gases reagentes H2 e CO para a

produção das frações resposta estudadas, no ponto final do reator. A explicação reside na

menor concentração de reagentes disponível em fase líquida, devido à dificuldade imposta

pela transferência de massa. A pressão continua como a variável independente de maior

importância estatística. Mesmo assim, assumindo o intervalo de confiança adotado, as

variáveis pressão e proporção H2/CO são aquelas que exercem maior relevância estatística

para a formação de produtos.

4.3.2.4. Comparação com a modelagem sem transferência de massa

A introdução das equações de transferência de massa no desenvolvimento do

modelo resultou na redução da taxa de reação de polimerização de SFT, mostrando a

influência da resistência à difusão dos reagentes da fase gasosa para a fase líquida. Com uma

Fitted Surface; Variable: Var6

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=,0000834

DV: Var6

> 0,9

< 0,88

< 0,83

< 0,78

< 0,73

< 0,68 0,350,400,450,500,550,600,650,700,75velocidade51015202530354045pressão0,650,700,750,800,850,900,95conversão

94

menor concentração de reagentes, tem-se menor adsorção de reagentes nos sítios catalíticos e

uma menor taxa de formação de produtos.

De acordo com as Tabelas 4.8 e 4.12, a introdução das equações de transferência

de massa na modelagem aumenta a proporção de leves no produto final do reator em seu

estágio final. O aumento da fração de leves aumenta também a conversão total em

hidrocarbonetos, um fato aparentemente contraditório, já que a transferência de massa diminui

a taxa de reação. No entanto, o cálculo da conversão não diferencia cadeias maiores de

menores, e o aumento na conversão em leves, principalmente metano, pode causar a ilusão de

que a conversão está maior, quando, na verdade, a conversão em frações comercialmente mais

procuradas, como gasolina, diesel e graxas, foi reduzida, conforme esperado.

A conversão total em hidrocarbonetos tem sua análise de efeitos mostrados nas

Tabelas 4.10 e 4.14. Evidencia-se que a velocidade de escoamento passa a exercer maior

influência estatística com a transferência de massa sendo levada em consideração, além da

pressão e da proporção H2/CO. Esse resultado está em sintonia com a discussão anterior. Para

que a conversão em leves aumente é preciso uma maior taxa de terminação de cadeias para

impedir que a cadeia cresça e alcance maiores tamanhos. Menores valores de velocidade

resultam em maiores tempos de residência e favorecem maiores cadeias carbônicas. Assim, é

compreensível que a variável velocidade de escoamento passe a exercer maior influência

estatística para a transferência de massa.

Em relação às frações de maior interesse comercial, como gasolina, diesel e

graxas, analisadas separadamente, a utilização das equações de transferência de massa na

modelagem aumenta a dependência estatística da pressão para o resultado final obtido. Da

mesma forma, percebe-se que a dependência da proporção H2/CO diminui, embora essa

redução ainda se encontre dentro do intervalo de confiança estabelecido. Esta conclusão pode

ser percebida a partir da análise das Tabelas 4.8, 4.9, 4.12 e 4.13. A dependência estatística da

velocidade de escoamento mantém-se em patamares pouco significantes sob o ponto de vista

estatístico.

A dependência da pressão continua a mais importante estatisticamente, uma vez

que pressões maiores resultam em maiores taxas de reação, e o aumento da pressão compensa

em parte a utilização das equações de transferência de massa. Por sua vez, o aumento da

proporção H2/CO aumenta a taxa de terminação das cadeias carbônicas, que justifica o fato de

que, sob o ponto de vista estatístico, exerça uma menor influência com a utilização da

transferência de massa na modelagem. A própria transferência de massa já aumenta a fração

95

em produtos mais leves, o que reduz a importância da proporção H2/CO. Essa redução, como

já comentado, não modifica a relevância da variável, pois a mesma ainda se encontra dentro

do intervalo de confiança adotado (95%).

4.3.3. Simulações com o modelo com transferência de calor

A análise estatística seguiu o mesmo procedimento adotado na Seção 4.2, com a

utilização das mesmas variáveis dependentes e independentes, descritas nas Tabelas 4.2 e 4.4,

bem como com a utilização do planejamento experimental mostrado na Tabela 4.3. A

novidade reside em incluir a variável temperatura como uma variável dependente das

condições experimentais.

Os dados termodinâmicos usados para a transferência de calor estão na Tabela

4.15. A capacidade calorífica a pressão constante (Cp) foi considerada praticamente inalterada

diante das mudanças da composição no leito reacional ao longo do comprimento do reator e

do tempo. Essa simplificação é procedente diante da pouca diferença de composição,

principalmente em relação aos produtos orgânicos, de um estágio para outro.

Tabela 4.15: Dados termodinâmicos utilizados na simulação do reator para a reação de SFT para a

temperatura de 240°C

H (kJ.mol-1

) – 165

Coeficiente global de transferência de calor

(U, em J.m-2

.s-1

.K-1

) 1,31.10

6

Área seccional do reator (cm2) 66,44

área de troca de calor por unidade de volume (cm-1

) 0,425

capacidade calorífica média a pressão constante

(Cp, em J.mol-1

.K-1

) 0,424

Executou-se a simulação sugerida para um reator tubular operando nas condições

descritas, com a utilização das equações para a transferência de massa e de calor. A variável

temperatura, tanto a do leito reacional como a do líquido trocador de calor, ambas tratadas

como variáveis dependentes, foi analisada de acordo com a Tabela 4.16:

96

Tabela 4.16: Dados de temperatura para a simulação

Variável Variação

Temperatura do leito 240°C (entrada)

Temperatura do fluido de troca de calor 200ºC até 240ºC

A fração de produtos obtida foi analisada com o software Statistica 10 e, de

acordo a tabela de efeitos e testes p de hipótese, chegou-se aos fatores mais relevantes do

ponto de vista estatístico para cada fração de produtos, para a conversão total e para a

temperatura.

Conforme descrição na Seção 4.2, a análise estatística foi realizada com o

emprego de software apropriado, onde os dados de entrada para essa análise foram obtidos a

partir da programação em Fortran, em simulação para a reação de síntese de Fischer-Tropsch

(SFT) em reator tubular com catalisador de cobalto, utilizando a discretização do reator para

avaliar as frações mássicas de saída ao final do reator no tempo final, listadas na Tabela 4.17.

Tabela 4.17: Frações mássicas para a reação de SFT no programa de simulação

Corrida Leves Gasolina Querosene Diesel Graxa Conversão Temperatura

1 78,81 6,99 3,92 7,39 6,79 0,758 505,11

2 44,46 11,15 10,31 24,20 20,17 0,792 504,96

3 84,01 5,01 2,49 4,76 6,20 0,832 505,50

4 56,40 10,94 9,07 19,87 12,77 0,900 507,36

5 76,78 7,53 4,34 8,26 7,42 0,727 506,72

6 37,21 10,69 10,57 25,98 26,10 0,704 504,95

7 68,21 8,84 5,93 11,74 11,19 0,618 504,13

8 33,89 10,18 10,60 20,63 29,08 0,624 503,09

9 52,53 11,56 9,76 21,47 14,41 0,654 503,03

10 48,86 11,41 10,00 22,64 17,08 0,651 504,75

11 57,24 11,24 9,06 19,46 12,04 0,752 506,07

12 48,38 11,46 10,07 22,80 17,35 0,607 503,05

13 77,04 2,17 1,66 5,07 15,71 0,723 504,88

14 41,56 10,81 10,28 24,70 22,90 0,854 509,13

15 64,98 10,56 7,80 15,94 8,50 0,822 507,68

97

4.3.3.1. Análise para as frações gases leves, gasolina e querosene

Em relação à fração gases leves são mais significativas sob o rigor estatístico as

seguintes variáveis:

velocidade de escoamento

pressão

Essa dependência pode ser observada na tabela de efeitos estatísticos expressa na

Tabela 4.18:

Tabela 4.18 – Tabela de efeitos para a fração gases leves

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pa

drã

o

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Va

lor

p

lim

ite

de c

on

fia

nça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fia

nça

sup

(9

5%

)

Velocidade (linear) -7,875 4,713 -1,670 0,155 -19,99 4,240

Velocidade (quadrática) -6,729 7,079 0,950 0,385 -24,42 11,47

Proporção H2/CO (linear) -1,414 4,713 0,300 0,776 -15,53 10,70

Proporção H2/CO (quadrática) -5,233 7,079 -0,739 0,492 -23,43 12,96

Pressão (linear) -28,63 4,713 -6,074 1,74.10-3

-40,74 -16,51

Pressão (quadrática) -0,642 7,079 -0,090 0,931 -18,84 17,55

Ambos os aspectos são compreensíveis se analisados teoricamente. A velocidade

de escoamento, embora não apresente uma importância estatística tão relevante quanto à da

pressão, sobressai dentre os demais fatores, pois está em discussão a formação de cadeias de

pequeno tamanho, já que a fração gases leves compreende parafinas e olefinas de 1 a 5

carbonos. O aumento da velocidade de escoamento diminui o tempo de residência dos

reagentes em contato com o catalisador e provoca o pequeno crescimento de cadeias. Seria de

se esperar, portanto, que cadeias menores fossem geradas em condições de menores

velocidades de escoamento. A Figura 4.20 procura relacionar a velocidade de escoamento

com a pressão exercida sobre os gases reagentes:

Verifica-se, a partir da Figura 4.20, o comentário anterior: em menores

velocidades de escoamento obtém-se maiores frações de gases leves. Contudo, deve-se

98

acrescentar a influência da pressão nessa análise, uma vez que essa variável apresenta efeito

estatístico até mais importante para os gases leves.

Figura 4.20 – Fração gases leves em função da pressão total e da velocidade.

Uma menor pressão implica em menores concentrações de reagentes e menores

valores de velocidade de reação, o que, associado a uma baixa velocidade de escoamento, se

traduz em condições essenciais para que cadeias de pequeno tamanho tenham condições de se

formar no poro do catalisador.

A fração gasolina, que compreende cadeias de parafinas e olefinas de 6 a 8

carbonos, apresenta como fatores mais relevantes no tocante à estatística àqueles mesmos

obtidos para as cadeias de gases leves, pois, afinal, os tamanhos de cadeia não são tão

diferentes. Assim, em relação à fração gasolina são relevantes as mesmas variáveis usadas

para a fração de leves.

Apesar de os fatores serem os mesmos, a influência da pressão nesse caso é ainda

mais importante, o que se justifica pelo maior tamanho que a cadeia precisa alcançar para

integrar essa categoria de classificação. Uma maior pressão, que gera maior velocidade de

reação, proporciona maiores cadeias, embora esse fator só possa ser alcançado em conjunto

com a velocidade de escoamento. A Figura 4.21 mostra que o maior rendimento em gasolina é

Fitted Surface; Variable: Var1

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=75,84829

DV: Var1

> 80 < 80 < 60 < 40 < 20

99

alcançado em valores intermediários de pressão e que a velocidade de escoamento realmente

exerce influência menor, conforme a concavidade do gráfico de superfície.

Figura 4.21 – Fração gasolina em função da pressão total e da velocidade.

Com o gráfico de superfície da Figura 4.21, comprova-se o comentário anterior:

maiores frações em gasolina são obtidas em maiores valores de pressão, necessário para o

crescimento da cadeia. Contudo, percebe-se que um aumento excessivo da pressão produz

uma redução na fração gasolina. Na verdade, pressões muito altas favorecem maiores cadeias,

e, para que o crescimento de moléculas no poro do catalisador forme gasolina, é preciso que a

pressão se encontre em valores intermediários, nem tão elevados nem tão reduzidos.

A fração querosene, que reúne os hidrocarbonetos de 9 a 11 átomos de carbono,

sejam parafínicos ou olefínicos, possui como variáveis relevantes do ponto de vista estatístico

aquelas que também favoreceram os leves e a gasolina.

Cadeias da dimensão das de querosene sofrem menos influência da velocidade de

escoamento e nesse caso, a influência da pressão domina quase completamente o efeito

estatístico. Um gráfico de superfície semelhante ao obtido para a fração gasolina pode ser

observado na Figura 4.22. A grande influência da pressão é explicada de forma semelhante ao

já realizado com a fração gasolina: maiores valores de pressão implicam em maiores

velocidades de reação e maiores condições para o crescimento da cadeia no poro do

Fitted Surface; Variable: Var2

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=1,193479

DV: Var2

> 12 < 12 < 10 < 8 < 6 < 4 < 2

100

catalisador. No entanto, acima de determinados valores, a pressão passa a favorecer cadeias

ainda maiores, além da classificação atribuída à fração querosene (de 9 a 11 carbonos),

embora essa situação seja menos evidente que na fração gasolina, já que querosene possui

cadeia mais longa. A Figura 4.22 procura traduzir essa característica:

Figura 4.22 – Fração querosene em função da pressão total e da velocidade.

4.3.3.2. Análise para as frações diesel e graxas

A fração diesel, mais ampla que as anteriores, pois engloba os hidrocarbonetos

parafínicos e olefínicos de 12 a 20 carbonos, apresenta, como fatores estatisticamente mais

relevantes:

velocidade de escoamento

pressão

A expressiva influência da pressão já era esperada, já que o aumento da pressão

aumenta a concentração dos reagentes e, consequentemente, a velocidade da reação. Essa

condição é essencial para que se alcance o crescimento de cadeia que classifica o

hidrocarboneto como diesel.

Fitted Surface; Variable: Var3

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=1,777964

DV: Var3

> 12 < 12 < 10 < 8 < 6 < 4 < 2

101

O fator velocidade de escoamento aparece na avaliação estatística com menos

importância que a pressão. De fato, conforme a Figura 4.23, altas velocidades de escoamento

podem formar cadeias maiores, mesmo com a redução do tempo de residência no reator,

bastando, para isso, a utilização de pressões mais elevadas. Note que a influência da pressão é

tão mais expresssiva que, independente dos valores das velocidades, têm-se razoáveis

conversões em diesel.

A Figura 4.23 ilustra o comentário anterior:

Figura 4.23 – Fração diesel em função da pressão total e da velocidade.

A baixa dependência estatística da variável proporção H2/CO se reflete no gráfico

da Figura 4.24. Nota-se que a conversão em diesel praticamente não se altera com o aumento

da proporção, fato que não se observa quando se analisa o eixo das pressões.

As principais variáveis para a fração graxa, sob o ponto de vista estatístico, são as

mesmas que se obteve para a fração diesel. Os fatores de relevância estatística para a fração

graxa estão na tabela de efeitos expressos na Tabela 4.19.

Fitted Surface; Variable: Var4

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=14,01634

DV: Var4

> 30 < 30 < 20 < 10

102

Figura 4.24 – Fração diesel em função da pressão total e da proporção H2/CO.

Tabela 4.19 – Tabela de efeitos para a fração graxas

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pa

drã

o

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Va

lor

p

lim

ite

de c

on

fia

nça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fia

nça

sup

(9

5%

)

Velocidade (linear) 4,736 2,790 1,697 0,150 -2,436 11,90

Velocidade (quadrática) 4,006 4,191 0,955 0,383 -6,767 14,78

Proporção H2/CO (linear) 1,126 2,790 0,406 0,703 -6,046 8,299

Proporção H2/CO (quadrática) 3,260 4,191 0,777 0,471 -7,513 14,03

Pressão (linear) 10,04 2,790 3,601 0,015 2,875 17,22

Pressão (quadrática) 6,523 4,191 1,556 0,180 -4,251 17,29

Na verdade, a dependência da pressão já era esperada, uma vez que a fração graxa

reúne os hidrocarbonetos parafínicos e olefínicos de 21 a 30 carbonos, bem semelhante em

termos de condições de crescimento de cadeia à fração diesel. Assim, para que a reação de

SFT consiga formar cadeias maiores é preciso que as condições estabelecidas para a fração

diesel ocorram novamente, embora, nesse caso, a velocidade de escoamento passe a ter uma

relevância um pouco maior. O aumento da pressão, como discutido anteriormente, aumenta a

concentração de reagentes e aumenta a taxa de conversão de reagentes em produtos. Em

associação à velocidade de escoamento, tem-se uma possibilidade de crescimento de cadeia

contínuo, visto que ocorre um fluxo de reagentes continuamente possibilitando o crescimento

Fitted Surface; Variable: Var4

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=14,01634

DV: Var4

> 30 < 30 < 25 < 20 < 15 < 10 < 5

103

da cadeia. Embora o fator velocidade de escoamento não se apresente ainda com a relevância

estatística tal como a pressão, é na fração graxa que sua importância é mais acentuada.

A Figura 4.25 traz o gráfico de superfície que expõe a ideia discutida:

Figura 4.25 – Fração graxa em função da pressão total e da proporção H2/CO.

4.3.3.3. Análise para a conversão em hidrocarbonetos

A conversão total em hidrocarbonetos avalia o total de moléculas de CO que se

transformaram em hidrocarbonetos, sejam parafínicos ou olefínicos, independente do tamanho

da cadeia formada. Assim, fatores de influência considerável como a pressão, extremamente

relevantes para cada fração analisada separadamente, se tornam de importância secundária

para a variável em estudo (conversão total), em relação à velocidade de escoamento dos gases

reagentes e até mesmo à proporção H2/CO nos gases de entrada. Logo, resumidamente, tem-

se como mais relevantes os seguintes fatores:

velocidade de escoamento

proporção H2/CO

Fitted Surface; Variable: Var5

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=26,58351

DV: Var5

> 50 < 50 < 40 < 30 < 20 < 10

104

A Tabela 4.20 mostra os efeitos estatísticos relativos à variável conversão em

hidrocarbonetos:

Tabela 4.20 – Tabela de efeitos para a conversão em hidrocarbonetos

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pad

rão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Valo

r p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(95%

)

Velocidade (linear) -0,090 0,044 -2,026 0,098 -0,204 0,024

Velocidade (quadrática) -0,096 0,066 -1,442 0,208 -0,267 0,075

Proporção H2/CO (linear) -0,036 0,044 -0,821 0,448 -0,150 0,077

Proporção H2/CO (quadrática) 0,077 0,066 -1,154 0,300 -0,248 0,094

Pressão (linear) 0,044 0,044 1,002 0,361 -0,069 0,158

Pressão (quadrática) 0,000 0,066 0,003 0,997 -0,171 0,171

Na verdade, espera-se que, em velocidades maiores, independente do tamanho da

cadeia, a conversão de reagentes em produtos em geral dependa do tempo de residência dos

reagentes no reator. Assim, altas velocidades de escoamento levam a menores valores de

conversão total, independente do tamanho de cadeia que se forma. Por outro lado, se a

velocidade se torna baixa demais a taxa de reação é comprometida e surge, portanto, um valor

intermediário como ideal para se maximizar a variável conversão total.

A variável que analisa a proporção H2/CO, embora de importância estatística

menos expressiva que a velocidade de escoamento dos gases reagentes, foi escolhida para, em

um gráfico de superfície, mostrar a dependência da conversão total com a velocidade. De fato,

espera-se que a relevância estatística da proporção H2/CO seja inferior, porque nesse

momento não se analisa o quanto a cadeia do hidrocarboneto conseguiu crescer, e sim se

houve a conversão de CO em hidrocarboneto, seja de cadeia longa ou curta. Mesmo assim,

em proporções muito baixas, que dificultam a terminação de cadeias, e em proporções muito

altas, que aumentam as taxas de terminação de cadeia, o consumo quase que completo de um

dos reagentes compromete, ainda que em menor escala, a conversão de reagentes em

hidrocarbonetos.

A Figura 4.26 mostra a tendência analisada anteriormente:

105

Figura 4.26 – Conversão total em função da velocidade e da proporção H2/CO.

4.3.3.4. Análise para a variável temperatura

A variável temperatura não depende significativamente de nenhum dos fatores

apresentados, dentro do intervalo de confiança estabelecido (com 95% de confiança).

Ampliando um pouco mais o intervalo de confiança (para 85% aproximadamente) pode-se

perceber duas variáveis aparecendo com relevância estatística. Mesmo assim, a pressão, muito

importante para a análise individual dos efeitos de cada fração, pouca influência exerce nessa

variável. Com essa margem ampliada, a partir da Tabela 4.21 (de efeitos), considera-se que

são mais importantes os seguintes fatores:

velocidade de escoamento

proporção H2/CO

Fitted Surface; Variable: Var6

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=,0067436

DV: Var6

> 0,8 < 0,8 < 0,7 < 0,6 < 0,5 < 0,4 < 0,3 < 0,2

106

Tabela 4.21 – Tabela de efeitos para a temperatura

Efe

ito

prin

cip

al

Erro

pad

rão

Test

e t

de

Stu

den

t (5

)

Valo

r p

lim

ite

de c

on

fian

ça

inf

(95%

)

lim

ite

de c

on

fian

ça

sup

(95%

)

Velocidade (linear) -0,168 0,834 -0,201 0,848 -2,312 1,976

Velocidade (quadrática) -2,558 1,252 -2,041 0,096 -5,779 0,662

Proporção H2/CO (linear) -0,986 0,834 -1,183 0,289 -3,131 1,157

Proporção H2/CO (quadrática) -2,084 1,252 -1,663 0,157 -5,305 1,136

Pressão (linear) 0,885 0,834 1,061 0,336 -1,258 3,029

Pressão (quadrática) -0,355 1,252 -0,283 0,787 -3,576 2,865

Portanto, a temperatura depende mais fortemente da velocidade de escoamento, o

que era esperado, e da proporção H2/CO, mas fator algum consegue traduzir completamente a

dependência da temperatura no reator. Na verdade, a temperatura reflete a velocidade de

reação e em condições de mais alta velocidade de reação e maior conversão de reagentes em

produtos, espera-se que a reação de SFT, reconhecidamente exotérmica, alcance valores mais

altos de temperatura. Logo, o gráfico de superfície para a variável temperatura deve

apresentar aspecto semelhante ao da curva de conversão total, pois ambos crescem nas

mesmas condições. Assim, para a temperatura deve-se esperar valores mais elevados em

condições de velocidades intermediárias e proporções também em valores intermediários.

Se a velocidade é muito alta, há pouco tempo de residência e haverá pouca

conversão de reagentes em produtos, liberando pouca quantidade de calor. Se a velocidade é

mais reduzida, a taxa de reação é muito baixa e, mais uma vez, tem-se menores valores de

conversão e as temperaturas alcançadas são mais baixas. Em valores de proporção H2/CO

mais elevados há maiores taxas para a reação de terminação de cadeias, e para proporções

inferiores, têm-se menores velocidades de terminação de cadeia. Em ambos os casos, quando

há um extremo de um dos reagentes iniciais a conversão em hidrocarbonetos fica

comprometida pelo reagente limitante, e a temperatura alcançada no reator pela reação de

SFT será mais baixa.

No entanto, para a conversão total, a dependência com os fatores apresentados,

como velocidade de escoamento e proporção H2/CO, é mais significativa que para a

temperatura. Esse fato indica que a temperatura apresenta menos dependência em relação a

esses fatores, embora sejam os que mais podem exercer influência sobre a variável

apresentada.

107

A Figura 4.27 a seguir mostra essa tendência:

Figura 4.27 – Temperatura em função da velocidade e da proporção H2/CO.

Outro aspecto relevante para a análise da variável temperatura é o fato de se

prever a variação de temperatura, no tempo final de reação, ao longo do reator. O reator foi

considerado com 12 metros e sua discretização foi realizada em 10 estágios. Portanto, uma

compreensão da dependência da temperatura ao longo do reator pode diminuir custos de

operação do reator por se conhecer os pontos de maior aquecimento ao longo do reator. A

Figura 4.28 mostra a temperatura em função do estágio do reator e em função da temperatura

do fluido de troca de calor. Espera-se que menores temperaturas do fluido reduzam de forma

mais eficiente a temperatura do leito reacional, que está sendo submetido a uma reação

exotérmica. No entanto, a diminuição excessiva da temperatura pode comprometer a taxa de

reação. Procura-se, portanto, um ponto de equilíbrio entre temperatura do fluido de troca de

calor e velocidade de reação.

Usando-se como referência a corrida em ponto central e a temperatura inicial do

leito reacional sendo de 513K, pode-se construir a Figura 4.28.

Fitted Surface; Variable: Var7

3 factors, 1 Blocks, 15 Runs; MS Residual=2,375538

DV: Var7

> 506 < 506 < 504 < 502 < 500 < 498 < 496 < 494

108

Figura 4.28 – Temperatura do reator em função do estágio do reator e da temperatura do fluido de

troca de calor.

4.3.3.5. Comparação com a modelagem sem transferência de calor

A introdução das equações de transferência de calor no desenvolvimento do

modelo deveria resultar em aumento da taxa de reação com o consequente aumento de

temperatura imposto pela reação exotérmica. De fato, a liberação de calor pela reação provoca

o aquecimento do sistema e gera um aumento de velocidade de reação, aumentando a taxa de

propagação e terminação de cadeias. Contudo, esse efeito não é observado de forma direta nas

tabelas de efeitos estatísticos.

De acordo com as Tabelas 4.11 e 4.17, a introdução das equações de transferência

de calor na modelagem, além das de transferência de massa, aumenta a proporção de pesados,

como graxa e diesel, no produto final do reator em seu estágio final, para algumas corridas, o

que sugere aumento da taxa de propagação de cadeias, em detrimento do aumento das taxas

de terminação de cadeias. Essa seletividade deve estar associada à quantidade de H2 presente,

que prioriza a terminação de cadeias. Novamente, percebe-se que à medida que mais variáveis

são analisadas na modelagem, mais difícil se torna a análise independente de diversos fatores.

Para a maioria das corridas a proporção mássica das frações ou pouco se altera ou permanece

constante do ponto de vista prático.

A conversão total em hidrocarbonetos tem suas análises de efeitos mostradas nas

Tabelas 4.14 e 4.20. Verifica-se que o uso das equações de transferência de calor reduz a

relevância estatística da velocidade de escoamento, da proporção H2/CO e principalmente da

0 2 4 6 8 10

475

480

485

490

495

500

505

510

515

520

525

530

535

540

545

550 473 K

483 K

493 K

503 K

513 K

tem

pe

ratu

ra n

o r

ea

tor

(K)

estágio do reator

temperatura do fluido

109

pressão. Percebe-se que a introdução de novas equações torna o modelo mais dependente da

velocidade e da proporção, embora em menor escala que antes. Essa situação reflete o

comportamento mais realista da modelagem do reator, onde a conversão é muito mais

dependente do tempo de residência dos reagentes e de suas concentrações em sítios

catalíticos, a partir de certos valores para a pressão exercida.

Em relação às frações de maior interesse comercial, como gasolina, diesel e

graxas, analisadas separadamente, a utilização das equações de transferência de calor na

modelagem aumenta a dependência estatística da pressão para o resultado final obtido, uma

vez que as outras variáveis analisadas (velocidade e proporção H2/CO) perdem relevância na

análise de efeitos. Esse resultado mostra que, ao se analisar separadamente cada fração de

produto obtida, a dependência da pressão apresenta a tendência a ser aquela que mais exercerá

influência na produção da fração em estudo. Esta conclusão pode ser percebida a partir da

análise das Tabelas 4.12, 4.13, 4.18 e 4.19.

A proporção H2/CO foi a variável que mais perdeu importância estatística com a

consideração dos efeitos de transferência de calor. A velocidade de escoamento dos gases

reagentes já não apresentava alta dependência sem a transferência de calor. Uma vez que o

aumento da proporção H2/CO aumenta a taxa de terminação das cadeias carbônicas, que

justifica o fato de que, sob o ponto de vista estatístico, exerça uma menor influência com a

utilização da transferência de calor nas equações da modelagem. A própria transferência de

calor, que ocasiona ganho na taxa de reação e proporciona maiores taxas de crescimento de

cadeias carbônicas, já aumenta a fração em produtos mais pesados, o que reduz a importância

da proporção H2/CO, fazendo com a mesma não se mantenha no intervalo de confiança

adotado (95%).

110

5. CONCLUSÃO

Neste trabalho, o objetivo principal foi a realização de uma modelagem

matemática, com posterior estimação de parâmetros e simulação para a reação de SFT em

reator tubular de leito fixo utilizando catalisador de cobalto. O procedimento inovador na

simulação consistiu em tratar o reator de forma dinâmica, uma vez que a simulação procurou

calcular a concentração dos componentes da reação, sejam produtos ou reagentes, ao longo do

reator e em função do tempo de operação do reator.

A modelagem cinética para a reação de SFT foi realizada para ser a mais geral

possível, podendo ser utilizada tanto para catalisadores à base de cobalto, quanto para

catalisadores à base de ferro. O modelo mostrou-se muito eficaz na representação de

catalisadores à base de cobalto.

A estimativa de parâmetros foi obtida para a cinética de reação prevista na

modelagem matemática, ou seja, pode ser utilizada tanto para reações com catalisadores à

base de cobalto, quanto para outros à base de ferro. Novamente, a representação para

catalisadores à base de cobalto mostrou-se muito boa.

Na busca por uma modelagem mais realista foram utilizadas equações que

avaliassem a transferência de massa no reator. Houve uma mudança significativa em relação

ao resultado obtido sem o uso dessas equações. As simulações realizadas mostraram que é

essencial se considerar a transferência de massa entre as fases gás e líquido, e que a

consideração de uma fase pseudo-homogênea não pode ser aplicada para reatores utilizados

para SFT.

Percebeu-se uma redução nas taxas de reação e uma maior formação de leves.

Nessa situação o estudo por simulação se torna mais importante visando a maximização dos

produtos de maior relevância econômica, como gasolina, diesel e graxas.

A utilização de equações de transferência de calor pouco modificou o resultado

obtido sem sua utilização. Concluiu-se que a transferência de calor, em associação a um

eficiente fluido para troca de calor, pouco influencia no estudo para a modelagem da reação e

do reator.

Utilizando os resultados obtidos para as simulações mediante planejamento

experimental estabelecido, pode-se sintetizar condições de operação do reator tubular de leito

fixo com catalisador de cobalto, para maior produção das frações economicamente mais

rentáveis:

110

Para maior rendimento percentual em massa de gasolina, o reator deve operar em

condições de proporções H2/CO moderadas (entre 1,5:1 e 2:1), relativamente altas

velocidades de escoamento (superiores a 0,55 m.s-1

), e para compensar os menores

tempos de residência, alta pressão gasosa total à entrada do reator (próximo a 40 atm),

que aumenta a concentração dos reagentes e facilita a colisão entre as espécies

reagentes responsáveis pelo crescimento da cadeia.

Para maior rendimento percentual em massa de diesel deve-se operar o reator de leito

fixo em condições de pressão elevada (próximo a 40 atm), com velocidade de

escoamento dos gases reagentes não muito reduzidas (abaixo de 0,55 m.s-1

), para

aumentar o tempo de residência e favorecer o crescimento da cadeia, com a proporção

H2/CO suficiente para manter a reação sustentável.

Para maior rendimento percentual em graxas o reator deve operar em condições

semelhantes às indicadas para a busca por maiores rendimentos em diesel, ou seja,

condições de pressão elevada (próximo a 40 atm), com velocidade de escoamento dos

gases reagentes abaixo de 0,55 m.s-1

, para aumentar o tempo de residência e favorecer

o crescimento da cadeia, e com a proporção H2/CO suficiente para manter a reação

sustentável.

111

112

6. REFERÊNCIAS

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