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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAO
GISELE ROSNER CHOUIN
INTERAES, SIGNIFICADOS E PRTICAS DO VEGETARIANISMO NA MDIA SOCIAL: UM ESTUDO NETNOGRFICO
RIO DE JANEIRO
2013
GISELE ROSNER CHOUIN
INTERAES, SIGNIFICADOS E PRTICAS DO VEGETARIANISMO NA MDIA SOCIAL: UM ESTUDO NETNOGRFICO
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps Graduao em Administrao, Instituto COPPEAD de Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Administrao.
Orientadores: Leticia Moreira Casotti e
Celso Funcia Lemme
Rio de Janeiro
2013
Chouin, Gisele Rosner
Interaes, significados e prticas do vegetarianismo na mdia social: u
estudo netnogrfico./ Gisele Rosner Chouin. Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.
162 f.: Il; 30 cm.
Orientadores: Leticia Moreira Casotti e Celso Funcia Lemme
Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto
COPPEAD de Administrao, 2013.
1. Comportamento do consumidor. 2. Consumo tico. 3. Administrao
Teses. I. Casotti, Leticia Moreira. II. Lemme, Celso Funcia. III. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administrao. IV. Ttulo.
GISELE ROSNER CHOUIN
INTERAES, SIGNIFICADOS E PRTICAS DO VEGETARIANISMO NA MDIA SOCIAL: UM ESTUDO NETNOGRFICO
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps Graduao em Administrao, Instituto COPPEAD de Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Administrao.
Aprovada em:
_______________________________________________________
Profa. Letcia Moreira Casotti, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)
_______________________________________________________
Prof. Celso Funcia Lemme, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)
_______________________________________________________
Profa. Maribel Carvalho Suarez, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)
_______________________________________________________
Profa. Ceclia Lima de Queirs Mattoso, D.Sc. (UNESA)
minha me, Roselee, sempre ao meu lado, oferecendo amor, carinho, pacincia e
conforto.
AGRADECIMENTOS
minha me e minha av, pelo apoio e incentivo em todos os sentidos
possveis, pelo amor incondicional, por cada orao e por me ensinarem a perseguir
as ideias e os ideais com coragem e dedicao.
Aos professores Coppead pela qualidade e valor das aulas. Em especial,
aos professores Letcia e Celso, por me adotar e me guiar com excelncia, cuidado
e dedicao neste caminho. A vocs, minhas sinceras manifestaes de
admirao, respeito e carinho.
s melhores amigas, Ilana e Marcia, por suportar pacientemente os
desabafos, por comemorar comigo as vitrias e pelos incentivos nos momentos de
cansao e fraqueza.
Aos quase irmos Vincius Pereira, Rebecca, Glauce, Vitor, Joo Guilherme e
Luciana Alves, com quem compartilhei momentos de angstia e alegria.
Aos novos amigos de infncia Leo Sert, Debora, Lucianinha e J, por tornar
este processo mais suave e divertido.
A todos os meus amigos, por compreender a longa ausncia.
Aos funcionrios Coppead, sempre prestativos e dedicados.
Aos colegas de turma, pelo rico intercmbio de experincias e contribuies
proveitosas.
Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no
que voc no conhece, como eu mergulhei.
Pergunte, sem querer, a resposta, como
estou perguntando. No se preocupe em
entender. Viver ultrapassa todo o
entendimento.
(Clarice Lispector)
RESUMO Chouin, Gisele Rosner. Interaes, Significados e Prticas do Vegetarianismo na Mdia Social: Um Estudo Netnogrfico. Rio de Janeiro, 2013. Dissertao (Mestrado em Administrao) Instituto de Ps Graduao e Pesquisa em Administrao, COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.
O presente trabalho qualitativo e exploratrio tem por objetivo principal
explorar como o vegetarianismo compartilhado em trs comunidades das redes
sociais construdas em torno desse tema, apontando riscos e oportunidades para as
organizaes ligadas indstria alimentcia. O estudo buscou compreender
diferentes aspectos do comportamento do consumidor vegetariano tais como
significados atribudos, associaes com a prtica cotidiana, influncias e grupos de
referncia e utilizou como mtodo de coleta de dados a netnografia.
A literatura de apoio foi estruturada em dois pilares: o primeiro relacionando o
vegetarianismo como resultado dos conceitos de sustentabilidade no
comportamento de consumo; e o segundo, trazendo os conceitos de marketing que
permeiam o tema e o ambiente virtual, incluindo os tipos de comunidades
(subculturas de consumo e comunidades virtuais), identidade, grupos de referncia,
lderes de opinio e comunicao boca a boca.
Os resultados sugerem diferentes abordagens para a subcultura dos
vegetarianos, mas as trs comunidades apresentam o mesmo valor de ligao
quando defendem a vida dos animais e o no consumo de carne ou derivados. As
mensagens vo alm da dieta alimentar e caracterizam o vegetarianismo como
filosofia de vida, modelo de vida ou estilo de vida. Essa ampliao do que
significa ser vegetariano leva a questionamentos ao consumo de outras categorias
de produto. No foram encontradas associaes entre a defesa da dieta vegetariana
e a defesa do bem estar animal, j que essa ltima no defende a vida.
Palavras-chave: Consumo, Vegetarianismo, Comunidades virtuais, Netnografia
ABSTRACT
Chouin, Gisele Rosner. Interaes, Significados e Prticas do Vegetarianismo na Mdia Social: Um Estudo Netnogrfico. Rio de Janeiro, 2013. Dissertao (Mestrado em Administrao) Instituto de Ps Graduao e Pesquisa em Administrao, COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.
This exploratory and qualitative study aims primarily to explore how
vegetarianism is shared in three communities of social networks built around this
theme, pointing out risks and opportunities for the companies linked to the food
industry. The study sought to understand different aspects of consumer behavior
such as vegetarian meanings, associations with daily practice, influences and
reference groups and used as a method of data collection the netnography.
The supporting literature was structured on two pillars: the first relating to
vegetarianism as a result of sustainability concepts in consumer behavior; and the
second, bringing the marketing concepts that permeate the theme and the virtual
environment, including the types of communities (subcultures of consumption and
virtual communities), identity, reference groups, opinion leaders and word of mouth.
The results suggest different approaches to the subculture of vegetarians, but
the three communities share the same linking value when defend the lives of animals
and not eating meat or derivatives. The messages go beyond the diet and
characterize the vegetarianism as "philosophy of life", "life model" or "lifestyle". This
expansion of what means being a vegetarian leads to questions about the
consumption of other product categories. No associations were found between
advocating vegetarianism and animal welfare advocacy, since the latter does not
defend life.
Keywords: Consumption, Vegetarianism, Virtual Communities, Netnography
LISTA DE ILUSTRAES
FIGURAS
Figura 1 - Diagrama - sntese da reviso de literatura ................................................................. 19 Figura 2 - Modelo das motivaes, tenses, mecanismos para administrao da situao e implicaes de consumo do vegetariano ........................................................................................ 24 Figura 3 - Modelo de influncia orgnica entre consumidores ................................................... 47 Figura 4 - Modelo de influncia linear do profissional do marketing .......................................... 48 Figura 5 - Modelo de coproduo em rede .................................................................................... 48 Figura 6 - Elementos do modelo da coproduo em rede influenciando a expresso das narrativas do BAB ............................................................................................................................... 50 Figura 7- Resumo do mtodo ........................................................................................................... 54 Figura 8 - Ilustrao da imagem do vegetariano ........................................................................... 67 Figura 9 - Interpretao da imagem do vegetariano ..................................................................... 68 Figura 10 - Extremismo ..................................................................................................................... 69 Figura 11 - Apresentao .................................................................................................................. 70 Figura 12 - Comparao de preos de produtos no supermercado ........................................... 71 Figura 13 - Unio pelo ideal .............................................................................................................. 76 Figura 14 - Questionamentos de no vegetarianos ...................................................................... 82 Figura 15 - Imagem dos no vegetarianos ..................................................................................... 85 Figura 16 - Vegetarianismo como tradio .................................................................................... 90 Figura 17 - Improviso da blogueira .................................................................................................. 95 Figura 18 - Vaca Louca ................................................................................................................... 115 Figura 19 - Imagem para chocar .................................................................................................... 117 Figura 20 - Imagem para sensibilizar ............................................................................................ 119 Figura 21 - Touradas ....................................................................................................................... 122
QUADROS
Quadro 1 - Tipos de Vegetarianismo .............................................................................................. 13 Quadro 2 - Comparao entre os hbitos de consumo entre os gneros ................................ 16 Quadro 3 - Estratgias organizacionais diante dos mecanismos para administrao das situaes de tenso do vegetariano ................................................................................................ 26 Quadro 4- Comparao das comunidades .................................................................................. 133
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Mercado de alimentos sem carne no Reino Unido ................................................... 15
file:///C:/Users/gisele/Desktop/Dissertao/DISSERT/Tese%20Gisele%20-%2025%20OUT%2013.docx%23_Toc370464957file:///C:/Users/gisele/Desktop/Dissertao/DISSERT/Tese%20Gisele%20-%2025%20OUT%2013.docx%23_Toc370464957
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade de vegetarianos nos EUA em 2009 ........................................................ 15 Tabela 2 - Comunidades selecionadas: .......................................................................................... 58 Tabela 3 - Estatstica das postagens - Vegetariano da Depresso ........................................... 60 Tabela 4- Estatstica das postagens - Vegetarianos Pensam Melhor ....................................... 62
SUMARIO
1. INTRODUAO ................................................................................................................................ 11
1.1 CONTEXTO ................................................................................................................................. 11
1.1.1 Um Grupo em Ascenso ....................................................................................................... 13
1.1.2 Impactos na economia ......................................................................................................... 16
1.2 PERGUNTAS DE PESQUISA ........................................................................................................ 18
2. REVISO DE LITERATURA ............................................................................................................. 19
2.1 COMPORTAMENTO DE CONSUMO E SUSTENTABILIDADE ....................................................... 20
2.2 SUSTENTABILIDADE E O VEGETARIANISMO .............................................................................. 23
2.2.1 Preocupao com os direitos dos animais ........................................................................... 27
2.2.2 Razes espirituais ................................................................................................................. 29
2.2.3 Razes de sade ................................................................................................................... 32
2.2.4 Ativismo Poltico ................................................................................................................... 34
2.2.5 Ambientalismo...................................................................................................................... 34
2.2.6 No gostar de carne .............................................................................................................. 36
2.3 IDENTIDADE E COMUNIDADE ................................................................................................... 37
2.4 GRUPOS E INFLUNCIA .............................................................................................................. 42
2.5 INTERNET E BOCA A BOCA ........................................................................................................ 44
3. METODOLOGIA ............................................................................................................................. 53
3.1 DELIMITAO DA PESQUISA ..................................................................................................... 53
3.2 ESCOLHA DO MTODO .............................................................................................................. 54
3.3 NETNOGRAFIA ........................................................................................................................... 54
3.3.1 Comunidades Selecionadas .................................................................................................. 57
3.3.2 Entrada Cultural .................................................................................................................... 62
3.3.3 Coleta e Anlise de Dados .................................................................................................... 63
3.4 LIMITAES DA PESQUISA .............................................................................................................. 63
4. DESCRIO E ANLISE DOS ACHADOS DA PESQUISA ................................................................... 65
4.1 VEGETARIANO DA DEPRESSO ................................................................................................. 65
4.2 PAPACAPIM ............................................................................................................................... 91
4.3 VEGETARIANOS PENSAM MELHOR ......................................................................................... 112
5. DISCUSSO FINAL ....................................................................................................................... 131
5.1 DIFERENAS GERAIS DAS TRS COMUNIDADES ........................................................................... 131
5.2 OS SIGNIFICADOS DO VEGETARIANISMO...................................................................................... 133
5.3 AS PRTICAS VEGETARIANAS ........................................................................................................ 137
5.4 INTERAES E CONEXES ............................................................................................................. 139
5.5 COMENTRIOS FINAIS ................................................................................................................... 141
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................................... 143
APNDICE ............................................................................................................................................ 150
ANEXO ................................................................................................................................................. 160
11
1. INTRODUAO
O presente trabalho tem por objetivo principal explorar como o vegetarianismo
compartilhado em contedos que poderiam ser tambm chamados de dirios
virtuais de trs comunidades das redes sociais construdas em torno desse tema e
que foram acompanhadas durante um ms. Mais especificamente, o estudo buscou
compreender diferentes aspectos do comportamento do consumidor vegetariano tais
como significados atribudos, associaes com a prtica cotidiana, influncias e
grupos de referncia. De forma a buscar essas informaes, este estudo qualitativo
e exploratrio utilizou como mtodo de coleta de dados a netnografia seguindo as
orientaes de Kozinets (1998; 1999; 2002; 2006). Por meio desta tcnica,
possvel observar, com relativo distanciamento, a interao entre diferentes
participantes. A dinmica virtual, por ser caracteristicamente livre, tende a mostrar
opinies e ideias livres de julgamento. A rede mundial possibilita, tambm, a
interconexo entre pessoas de diferentes pontos geogrficos, diferentes valores
sociais ou religiosos, possibilitando, portanto, uma discusso mais rica e proveitosa.
Na literatura pesquisada de comportamento do consumidor foram
encontrados poucos estudos em torno do vegetarianismo em que predominavam a
busca por entender motivaes que levam ao no consumo da carne (TWIGG, 1979;
KLEINE; HUBBERT, 1993; JANDA; TROCCHIA, 2001; RUBY, 2011; FESSLER ET
AL, 2003; KUBBEROD ET AL, 2006).
1.1 CONTEXTO
O termo vegetariano tem origem na palavra grega vegetus, que significa
fresco, so, ntegro, segundo o site especializado em vegetarianismo Vegetarian
Society (2012). Foi cunhado em 30 de setembro de 1847, na primeira reunio
realizada pela Sociedade Vegetariana do Reino Unido em Kent, Inglaterra. At
ento, os indivduos que no ingeriam carne eram denominados pitagricos ou
seguidores do sistema pitagrico, em decorrncia da prtica de alimentao
restritiva do matemtico grego Pitgoras (VEGETARIAN SOCIETY, 2012).
Singer (1995) explica que, para os pitagricos, a confeco do prato deveria
ser completada sem nenhuma participao animal, em virtude da crena de que os
homens e animais partilhavam a mesma alma, que estaria presa ao corpo. O
12
consumo de carne seria, ento, um ato selvagem, que resultaria em uma punio
maior e uma elevao menor das almas. Inmeros nomes da antiguidade so
citados por defender o estilo de vida sob a ideia da imortalidade da alma e a
responsabilidade dos indivduos para com ela durante a vida: Empdocles, Plutarco,
Porfrio, Plotino e Plato so exemplos. Por outro lado, as pessoas que ingeriam
carne justificavam o consumo por meio da superioridade humana sobre os animais.
No sculo XIX, o argumento espiritual deu lugar ao que defendia o tratamento
humanizado dos animais e de sade. Razes ticas, como o direito dos animais,
compunham a principal defesa para o no consumo de carne de acordo com autores
como George Shaw, Henry Salt, Percy Shelley e Artur Schopenhauer. No sculo
seguinte, marcado pela popularizao da preocupao com a questo ecolgica, a
discusso foi ampliada, com a adio de tais valores em defesa da prtica de no
ingesto de produtos de origem animal (SINGER, 1995).
De acordo com o site Vegetarian Society (2012), o vegetariano se alimenta de
gros, leguminosas, frutas oleaginosas (como castanhas, nozes, avels e
amndoas), sementes, vegetais e frutas, podendo ingerir ovos, leite e derivados ou
no. O indivduo, contudo, se abstm de carne bovina, carne suna, aves, peixes,
mariscos ou quaisquer subprodutos do abate.
Dentre os pertencentes ao grupo descrito acima, distinguem-se ainda os que
consomem ovos, leite e derivados, conhecidos como ovolactovegetarianos (o tipo
mais comum de vegetariano); os lactovegetarianos, que evitam os ovos; os veganos
(vegans ou vegetarianos puros), que alm de no consumirem produtos de origem
animal, no usam artigos de l, couro e seda, ou cosmticos cujos compostos
incluam derivados ou que tenham sido testados em animais. Os crudvoros admitem
a ingesto de alimentos crus ou aquecidos a no mximo 42C e os frugvoros,
apenas frutos, como pode ser observado no Quadro 1.
13
Quadro 1 - Tipos de Vegetarianismo
*Admite-se parcialmente a ingesto destes alimentos. Fonte: Compilado pela autora a partir de dados coletados em Vegetarian Society (2012), Centro Vegetariano (2012) e Crudivorismo (2012).
1.1.1 Um Grupo em Ascenso
O crescimento do volume de pessoas que seguem a dieta vegetariana pode
ser verificado a partir de indcios como o crescimento na oferta de produtos e
servios voltados para seus integrantes e o aumento de publicaes sobre o
assunto. Itens comuns a esta dieta so encontrados em mais pontos de vendas e
no somente em lojas especializadas. Adicionalmente, restaurantes e hotis so
abertos para o atendimento restrito a este grupo de pessoas, enquanto cresce o
volume de livros com dietas baseadas no vegetarianismo e documentrios acerca do
tema (VEGETARIAN MEANS BUSINESS, 2011).
A cidade de Haia, na Holanda, abriga o primeiro aougue vegetariano desde
outubro de 2010, comercializando substitutos para carnes (PEQUENAS EMPRESAS
& GRANDES NEGOCIOS, 2010). Em fevereiro de 2011, foi inaugurado o primeiro
supermercado vegan em Dortmund, na Alemanha (WANDEL, 2011). Em 2003, a
Perdigo, um dos grandes participantes em alimentos frigorficos, investiu R$ 2,5
milhes para o lanamento de uma linha vegetal com cinco produtos a base de
protena de soja (salsicha, hambrguer, mini quibe, cordon verde recheado e
patitas), tendo em vista um mercado de protenas vegetais e alimentos funcionais
em crescimento de 10% a 20% ao ano (PORTAL DO AGRONEGOCIO, 2003).
A demanda latente por tais produtos livres de derivados animais observada
ao se acompanhar o nascimento e crescimento de grandes marcas de fast food com
o cardpio voltado ao atendimento de dietas restritivas, como por exemplo, Maoz
Vegetarian, Real Food Daily, The Veggie Grill e Native Foods. Jennings (2011) cita a
Dieta
Carne
vermelha e
suna
Carne branca Ovos Laticnios Mel e
gelatinaFrutos Verduras Cereais
Semivegetarianismo No Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Ovolactovegetarianismo No No Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Lactovegetarianismo No No No Sim Sim Sim Sim Sim
Ovovegetarianismo No No Sim No Sim Sim Sim Sim
Vegetarianismo semiestrito No No No No Sim Sim Sim Sim
Vegetarianismo estrito (vegan) No No No No No Sim Sim Sim
Crudvoros No Sim * No Sim * Sim Sim Sim Sim
Frugvoros No No No No No Sim Sim * Sim *
14
criao dos flexitarians, que evitam o consumo de carne esporadicamente, sem
comprometimento com uma dieta especfica de longo prazo e aponta tendncia de
crescimento deste grupo. A jornalista menciona ainda a atuao da Vegan
Mainstream, uma agncia de marketing especializada em atingir o segmento de
vegetarianos, confirmando mais um indcio da perspectiva de crescimento e de
relevncia deste grupo.
Outro exemplo da crescente importncia que este pblico vem adquirindo
pode ser observado a partir da aderncia da Sodexo empresa que atua no
segmento de alimentao em mbito mundial ao projeto Segundas Sem Carnes,
desde 2011, nos Estados Unidos (SODEXO, 2011). A iniciativa faz parte do projeto
institucional Plano para um Amanh Melhor (Better Tomorrow Plan),
empreendimento de responsabilidade social da companhia. Na fase inicial do
projeto, a Sodexo forneceu entradas vegetarianas para os 900 hospitais que atende,
e, logo aps, comeou a oferecer opes sem carne para as 2.000 empresas, 175
escritrios governamentais, 650 campi de faculdade, 500 escolas pblicas e 150
escolas particulares com quem possui contrato. O impacto desta iniciativa seria de
520 milhes de refeies sem carne ao ano, caso todos os 10 milhes de clientes da
Sodexo participem da Segunda Sem Carne.
A empresa de anlise de mercados britnica Mintel divulgou resultados da
pesquisa Meat Free Foods UK, realizada em 2010, que mostram que trs em cada
cinco adultos fazem refeies sem carne regularmente, apesar de apenas 6% dos
indivduos de autoclassificarem como vegetarianos (VEGETARIAN SOCIETY, 2012).
A mesma pesquisa traz a evoluo do valor de mercado de produtos alimentares
sem origem animal desde 333 milhes em 1996, at 739 milhes em 2008,
conforme mostrado na Tabela 1.
15
Grfico 1 - Mercado de alimentos sem carne no Reino Unido
Fonte: Anlise de mercado Meat Free Food realizada pela Mintel em Dezembro de 2010 (VEGETARIAN SOCIETY, 2012).
As ltimas pesquisas da Cultivate Research empresa especializada em
pesquisa de mercado de comidas vegetarianas em 2009 (sugerem que de 4 a 6%
dos adultos americanos, o que representa cerca de 8 a 13 milhes de indivduos, se
intitulam vegetarianos (VEGETARIANS COUNT, 2009). Contudo, conforme mostra a
Tabela 2, a anlise da pesquisa revela um percentual menor, diante de respostas a
perguntas mais especficas com relao s refeies. Apenas 1 a 3% dos adultos
respondentes confirma no ingerir nenhum tipo de carne diariamente.
Tabela 1 - Quantidade de vegetarianos nos EUA em 2009
Adultos (acima de 18 anos) Jovens (de 8 a 17 anos)
% Absoluto % Absoluto
Vegetarianos e Veganos 1 - 3% 2 - 6 milhes 2 - 3% 1 - 1,5 milhes
Autoclassificados como vegetarianos 4 - 6% 8 - 13 milhes N/A N/A Fonte: Pesquisa realizada pela Cultivate Research nos EUA (VEGETARIANS COUNT, 2009).
Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinio Publica e Pesquisa
(IBOPE, 2011), 9% da populao brasileira autodenomina-se vegetariana. Este
percentual representa cerca de 17,5 milhes de pessoas, com tendncia de
crescimento conforme apontam as expectativas do instituto no estudo. A pesquisa foi
realizada entre agosto de 2009 e julho de 2010, e promoveu comparao entre
hbitos de consumo entre os gneros feminino e masculino, conforme demonstra o
Quadro 2.
333
548626
739
0
200
400
600
800
1000
1996 2001 2004 2008
milhes
16
Quadro 2 - Comparao entre os hbitos de consumo entre os gneros
Fonte: IBOPE, 2011.
1.1.2 Impactos na economia
Em 1996, o frango foi eleito o heri nacional pelo ento presidente Fernando
Henrique Cardoso. Aps a instaurao do instrumento de estabilizao da economia
brasileira o Plano Real -, o alimento foi apontado como representante da elevao
do poder de compra da populao. Na medida em que o preo da protena animal
decaa, o seu consumo se elevava at atingir a mdia de 44 kg per capita em 2010,
o dobro da mdia observada em 1996 (RUA, 2012). Tambm apontada como uma
das principais razes para a escalada no consumo desta protena a substituio das
carnes vermelhas pelas carnes brancas em virtude de uma busca por uma dieta
mais saudvel. Este exemplo de mudana nos hbitos alimentares pontua um
Filtro: 18 anos ou maisAmostra
totalMasculino Feminino
importante manter a forma fsica 79% 78% 80%
Eu pagaria qualquer preo por minha sade 78% 77% 79%
Estou de acordo com as restries aos fumantes 70% 67% 72%
Em algumas ocasies me dou o prazer de ingerir
comidas que no so boas para a sade 62% 59% 65%
Eu me informo bem antes de comprar novos
produtos alimentcios 60% 55% 65%
Tenho que estar realmente doente para ir ao
mdico 62% 64% 59%
Confio na medicina homeoptica/medicina caseira 53% 49% 56%
Eu procuro ter uma dieta bem balanceada 52% 47% 56%
Devido minha vida pessoal to agitada, no me
cuido como deveria 53% 52% 53%
Uso preservativos em todo novo relacionamento 52% 55% 49%
S utilizo servios pblicos de sade 45% 43% 47%
Eu sempre escolho meu mdico por indicao 42% 37% 46%
Quase sempre estou tratando de perder quilos 35% 29% 40%
Sempre verifico o contedo nutricional dos
alimentos 34% 29% 39%
Eu no tenho tempo para preparar refeies
saudveis 37% 40% 35%
Eu pratico esportes ou exerccios pelo menos uma
vez por semana 38% 43% 34%
Sempre procuro as verses diet/light dos alimentos
e bebidas 23% 20% 26%
Sou vegetariano 9% 10% 9%
17
momento histrico em que a economia influenciou o cardpio de muitas pessoas no
pas.
O regime alimentar apresenta claras implicaes nas indstrias de carnes e
agricultura. A comercializao de carnes (de frango, bovina, suna e outras)
representa mais de 19% do saldo da balana comercial brasileira, desde 2005
(PERIN, 2012). Dentre as exportaes que o pas promove, o segmento de carnes
responsvel por 6,6% do montante total (CONAB, 2012). Desta parcela, destacam-
se as participaes de 47% do frango e 34% do setor de carne bovina.
A importncia da atividade pecuarista no Brasil traduzida a partir das
estatsticas de produo e de movimentao do comrcio mundial. Os nmeros
mostram que o pas o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo,
segundo maior em carne bovina e ocupa o quarto lugar no caso da suinocultura
(USDA, 2012), o tipo de carne mais consumido no mundo (ABIPECS, 2012). No
mercado externo, as carnes de frango e bovina brasileiras so as mais demandadas
pelos pases consumidores, enquanto a carne suna brasileira ocupa o quarto lugar
nas exportaes mundiais (USDA, 2012). Alm disso, o mercado interno absorve
cerca de 69% da produo avcola de corte, 82% da produo de gado de corte e
83% de carne suna (CONAB, 2012).
O setor agrcola responde por 30% do total de produtos exportados em 2010
(CONAB, 2012). Os produtos deste setor atendem a dois distintos pblicos:
consumo humano e consumo animal. No que tange ao vegetarianismo,
interessante verificar a relao de consumo de gros pelos animais em comparao
ao volume absorvido pelas pessoas. Segundo os clculos de Greif (2002), o
consumo de matria vegetal pelos animais dez vezes superior ao consumo
humano.
O mesmo autor cita tambm outras consequncias para o ecossistema a
partir do consumo carnvoro. Greif (2002) afirma que uma dieta centrada em carne
requer terrenos de 35 acres de terra por pessoa, ao passo que a dieta vegetariana
demanda um quinto de acre por pessoa, alm de contribuir para a desertificao,
eroso e esgotamento do solo. A prtica tambm apresenta diferenas no consumo
de gua por pessoa por dia: 4.200 gales/pessoa/dia so contabilizados para uma
dieta nos padres ocidentais, enquanto a dieta a base de vegetais demanda 300
gales/pessoa/dia. As principais diferenas esto nas prticas de irrigao dos
campos que fornecem alimentos aos animais, na quantidade de gua necessria
18
para o consumo dos animais, no processamento e na lavagem das carcaas e na
preparao do alimento final.
1.2 PERGUNTAS DE PESQUISA
Diante dos objetivos aps a contextualizao, foi estabelecida a seguinte
pergunta principal de pesquisa:
Que aspectos do comportamento do consumidor vegetariano so compartilhados
atravs da internet?
Perguntas secundrias que apoiam a pergunta principal esto listadas abaixo:
Como o vegetariano descrito e caracterizado nos discursos compartilhados
na web?
De que forma o prazer/sabor dos alimentos e as questes econmicas
aparecem no discurso dos vegetarianos?
De que forma os aspectos relativos sade aparecem nos discursos de
vegetarianos na web?
Que valores ticos e aspectos dos direitos dos animais aparecem nos
discursos compartilhados na web?
Quais grupos de referncia podem ser identificados nas informaes
compartilhadas pelos vegetarianos na web?
Que diferentes lgicas de pertencimento ao grupo podem ser identificadas? O
que proibido e o que incentivado nas discusses analisadas?
Que aspectos podem ser identificados no processo de formao de escolha
pelo caminho da dieta restritiva, na web.
19
2. REVISO DE LITERATURA
Este captulo tem por objetivo fornecer o suporte terico para a pesquisa
realizada no presente trabalho. So abordados primeiramente os argumentos que
constroem a ideologia tica do consumidor e a consequente evoluo desta
conscincia como forma de influncia direta nas prticas de consumo. Em seguida,
so apresentados os conceitos definidos pelo marketing pertinentes compreenso
das pessoas que praticam o vegetarianismo, por meio do estudo de tribos ou
subculturas de consumo e a anlise do consumo como reflexo da identidade.
Adicionalmente, buscou-se, na literatura de apoio, a base para a formao de um
grupo de referncia, reforando a relevncia da internet como cenrio do estudo. Em
seguida, foi analisado o tipo de comunicao que se pretende explorar no ambiente
virtual, chamado boca a boca, responsvel pela caracterstica viral da exposio das
ideias e dilogo com o consumidor. A Figura 1 mostra a sntese das relaes entre
os tpicos que compem a reviso de literatura.
Figura 1 - Diagrama - sntese da reviso de literatura
Fonte: Prpria autora.
20
2.1 COMPORTAMENTO DE CONSUMO E SUSTENTABILIDADE
A pesquisa na literatura sobre o comportamento do consumidor, no que tange
sustentabilidade, traz tona distintos termos de referenciao, tais como: consumo
tico (NEWHOLM; SHAW, 2007; CHERRIER, 2007), consumo verde (PEATTIE,
2001), consumo socialmente consciente (KINNEAR; TAYLOR; AHMED, 1974),
consumo verde (MCDONALD ET AL, 2009) consumo sustentvel, entre outros (ver
APNDICE A). Newholm e Shaw (2007) argumentam que, a seu modo e em
diferentes graus de extenso, os termos esto relacionados a projetos individuais de
consumo tico. Um exemplo o termo consumo verde, que reflete preocupao
quanto ao meio ambiente. Contudo, apesar de apresentarem aspectos diferentes em
seus significados, para efeito da presente pesquisa, optou-se por utilizar o termo
Consumo tico, que transparece a incorporao da cultura individualizada no padro
de consumo e exprime o ato de enfrentar as consequncias das escolhas por parte
do consumidor.
A ideia por trs do consumo tico a de que as pessoas tm a esperana de
alterar o mundo a partir do ato de consumo, representante do contexto microssocial.
Kinnear, Taylor e Ahmed (1974) ressaltam o dilema a que os consumidores se
impem ao adquirir este tipo de conscincia, ao se darem conta da magnitude do
impacto na deteriorao do meio ambiente.
Especialmente desde a dcada de 1960, o tema ambiental se faz presente na
pauta mundial de discusso de problemas. De acordo com Kassarjian (1971), este
perodo foi marcado pelo incio da percepo da relao de custo-benefcio imbuda
em cada ato de consumo. A sociedade passou a compreender o dilema que envolve
o seu estilo de vida, o que deu origem a uma revoluo cultural, a que se chamou
ambientalismo. Peattie (2001) ilustra tal revoluo a partir de acidentes cujo impacto
no meio ambiente foram devastadores, como o acidente nuclear de Chernobyl na
Ucrnia, o derramamento de leo do petroleiro Exxon-Valdez no Alasca e o grande
incndio em uma indstria de pesticidas em Severo, na Itlia.
Estes acidentes chamaram a ateno para a responsabilidade das empresas
perante a sociedade como um todo. Os conceitos de desenvolvimento sustentvel e
consumo sustentvel ganharam contexto mundial e o ativismo foi reforado por meio
de iniciativas como o Dia da Terra em 1970, criado pelo senador americano Gaylord
Nelson como um ato de protesto ambiental (PEATTIE, 2001).
21
A preocupao com os problemas ambientais decorrentes dos processos de
crescimento e desenvolvimento deu-se de forma diferenciada entre os mais diversos
segmentos da sociedade, de governos, organizaes e outros agentes. Gonalves
(1989) afirma que praticamente todos os problemas sociais se tornaram problemas
ambientais e vice-versa. Questes como exploso demogrfica, fome e pobreza,
qualidade de vida, agrotxicos, produo alimentar e outros temas podem ser
abordados com enfoque tanto ambiental quanto social. Um exemplo de movimento
recente, que imprime esta insatisfao com as estruturas socioeconmicas vigentes
o Occupy Wall Street. A manifestao tem como alvo especfico o setor financeiro,
mas a reflexo pretende ponderar relaes desiguais sociais, econmicas e polticas
(THISTLETHWAITE, 2012).
A mobilizao no se deu apenas a partir de ativistas. A Organizao das
Naes Unidas (ONU) organizou a sua primeira conferncia em 1972, com a agenda
dedicada exclusivamente aos impactos da degradao da natureza, exaltando a
necessidade de medidas de controle. Nos Estados Unidos, tambm foram
formuladas as primeiras regulaes ambientais nesta mesma poca, como o Clean
Air Act e o Clean Water Act em 1970 e 1972, respectivamente (PEATTIE, 2001).
A iniciativa privada enxergou neste movimento de carter ideolgico uma
oportunidade lucrativa. Nascia um consumidor com novas caractersticas e critrios
de deciso, no atendido, com forte tendncia de crescimento, segundo Peattie
(2001). Uma peculiaridade importante deste consumidor a homogeneidade,
independente de barreiras culturais. O objetivo comum e interessante aos
indivduos de todos os pases, todas as faixas etrias, todas as religies e ambos os
gneros e depende apenas da vontade individual do consumidor, segundo o autor.
Esta homogeneidade ideolgica pode se traduzir nas decises de consumo
no mbito particular, sentindo-se confortveis para consumir bens e servios ticos
que reflitam quem so ou quem gostariam de ser, deixando de comprar produtos
como forma de protesto contra explorao da fora de trabalho ou comprando itens
como caf negociado de maneira justa. O movimento de resistncia ao consumo
pode ser originado diante de diferentes vises. Cherrier (2009) identificou um
comportamento de consumo marcado pelo autossacrifcio e comprometimento com
um estilo de consumo politicamente correto voltado para a justia, a igualdade e a
participao, personificado pela identidade do heri, em contraste a outro
comportamento de consumo que busca combater o consumismo e o culto
22
individualidade, por meio de um consumo criativo, questionando o senso de
identidade gerado pelo consumo de bens materiais.
A pesquisa de Iyer e Muncy (2009) trouxe quatro perfis, cuja distino se
baseia nas motivaes e nas formas de atuao: os Global Impact Consumers so
aqueles que desejam reduzir seu nvel de consumo para beneficiar a sociedade e o
planeta; os Simplifiers objetivam se mover de uma sociedade de grande consumo
para uma sociedade menos orientada para o consumo, com um estilo de vida mais
simples; os Market activists so aqueles que classificam marcas ou produtos como
causadores de problemas sociais e tentam utilizar o poder do consumidor para
causar um impacto na sociedade; e os Anti-loyal consumers se comportam de forma
oposta aos consumidores leais, deixando de comprar marcas ou produtos devido a
experincias negativas ou percepo de que a empresa inferior ou tem um
produto inferior.
Cherrier (2007) adiciona outro perfil de consumidor tico baseado na escolha
intencional de trabalhar menos, querer menos, gastar menos e ser mais feliz,
compondo o movimento The Voluntary Simplicity. O estudo deste movimento reflete
uma mudana no estilo de vida dos consumidores em direo a uma vida mais
harmoniosa e com propsito. O conceito da simplicidade voluntria pretende romper
a cultura de consumo compulsivo (quanto mais, melhor), reafirmando valores como
humanidade, localidade, comunidade e respeito pela vida e pela natureza.
A escolha por aderir este movimento pode ter origem voluntria, a partir da
tica e motivao internas; ou pode ser imposta por fatores externos sociais,
ambientais e econmicos. O movimento caracterizado como social a partir da
pluralidade de ideias, e reflete valores e identidades coletivas. Alm disso, nele o
consumo no demonizado, mas prega-se que deva ser direcionado. Em suma, o
consumidor tico compartilha emoes, paixes e estilo de vida e apresentado
como um ser em constante transio. O estudo da identidade tica, portanto,
tambm deve levar este processo de construo em considerao (CHERRIER,
2007). Este um desafio para este consumidor neoliberal, uma vez que possui
independncia e liberdade para promover aspectos ticos da sua identidade atravs
de escolhas personalizadas no mercado, o que representa uma busca de
significados para a vida. Significados estes que sero continuamente renegociados
internamente, de acordo com Cherrier (2007). As caractersticas de integrao e
conhecimento do mercado e racionalidade na deciso por adquirir, consumir e
23
descartar produtos ticos que projete a identidade desejada compem a definio de
consumidor neoliberal, por Cherrier (p. 322, 2007).
Por outro lado, no momento de compra, outros fatores so relevantes e
podem ser decisivos para o consumo, como tempo e dinheiro. McDonald et al (2009)
e Newholm e Shaw (2007) trazem luz estes dilemas entre a racionalidade
financeira e a influncia do contexto cultural, como parte das incongruncias do
comportamento de compra individuais.
2.2 SUSTENTABILIDADE E O VEGETARIANISMO
O dicionrio Michaelis (2012) define alimento como toda substncia que,
introduzida no organismo, serve para nutrio dos tecidos e para produo de calor.
O ato de comer, todavia, muitas vezes relacionado a outros sentidos que no o de
combustvel do corpo. Casotti (2004) reflete sobre as sensaes de compensao
do estresse e da ansiedade da vida moderna, preenchimento do vazio ou desejo
emocional e do prazer e angstia causados pela alimentao e os seus excessos.
De acordo com a autora, o ato de comer tambm um evento social e
influenciado pelo contexto cultural: os americanos so obcecados por sade; os
franceses, por variedade; e os brasileiros, influenciados pela construo da histria.
Ackerman (1992, apud Casotti, 2004, p. 547) oferece o conceito de que o alimento
uma grande fonte de prazer, que traz satisfao tanto fsica quanto emocional. A
alimentao pode marcar uma situao, ao mesmo tempo em que transmite um
significado, alm de poder ser vista como uma espcie de cdigo (Barthes, 1961
apud Casotti, 2004, p. 546).
De acordo com Kleine & Hubbert (1993), padres de consumo alimentares
esto associados a significados simblicos que refletem padres sociais. Os autores
enumeram as possveis motivaes para um indivduo tornar-se vegetariano: (1)
Preocupao com os direitos dos animais; (2) Razes espirituais; (3) Razes de
sade; (4) Ativismo poltico; (5) Ambientalismo; e (6) No gostar de carne. Tais
alternativas sero explicadas em mais detalhes nas subsees seguintes.
Janda e Trocchia (2001), em sua pesquisa, observaram as mesmas causas,
excludas as razes religiosas e ligadas prtica militante. Os autores desenharam
um modelo com os principais motivos que levaram os respondentes a dar inicio
24
dieta restritiva e seus desdobramentos, que os autores chamaram de O Modelo de
Marketing do Vegetarianismo (vide Figura 2).
Figura 2 - Modelo das motivaes, tenses, mecanismos para administrao da situao e implicaes de consumo do vegetariano
Fonte: Janda & Trocchia, 2001, p. 1209.
O modelo, resultado do processo de interpretao hermenutica das
entrevistas em profundidade, sugere que os vegetarianos adotam a dieta a partir de
motivos como manuteno da sade, preocupao com os direitos dos animais, pelo
paladar da carne e por influncia de grupos de referncia. Uma vez iniciada a
prtica, uma variedade de tenses cognitivas desenvolvida, tais como
pragmatismo versus integridade, o bem estar animal em contraposio ao bem estar
prprio, a liberdade individual contrapondo ao sentimento de pertencimento ao
grupo, e a abstinncia versus o prazer que alguns alimentos proporcionam. Estas
tenses so reduzidas ou exacerbadas por condies intervenientes, tais como a
influncia da famlia ou a disponibilidade dos alimentos (JANDA; TROCCHIA, 2001).
Motivaes
Preocupaes ticas
Sade
Sensorial
Influncia do grupo de referncia
Tenses
Pragmatismo x integridade
Bem estar animal x prprio bem estar
Liberdade individual x pertencimento social
Abstinncia x prazer
Mecanismos de enfrentamento
Foco no problema
Foco na emoo
Concesses
Condies intervenientes
Disponibilidade de alternativas alimentares
Influncia da famlia
Presena de crianas
Preocupaes com a sade
Preferncias e gosto individual
Condies em casa
Implicaes Estratgicas
(Quadro 3)
25
Os participantes do experimento relataram a concepo de estratgias para
melhor lidar com a tenso criada, baseadas na erradicao da fonte do problema
(foco no problema); no gerenciamento do distress emocional associado situao
(foco na emoo); e a estratgia baseada em concesses, que se d por meio da
reduo da fonte da tenso e depois pela racionalizao da escolha do
comportamento, conforme exposto no Quadro 3 (JANDA; TROCCHIA, 2001).
26
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Quadro 3 - Estratgias organizacionais diante dos mecanismos para administrao das situaes de tenso do vegetariano
27
Fonte: Extrado de Janda & Trocchia, 2001, p. 1209.
2.2.1 Preocupao com os direitos dos animais
Dois grandes subtemas emergem deste item: preocupao com a qualidade
de vida dos animais e o sentimento de culpa associado morte dos animais
(JANDA; TROCCHIA, 2001). O primeiro subtema citado remete preocupao com
o bem estar do animal (BEA) em seus criadouros, enquanto o segundo aparece
relacionado motivao de no gostar de carne, como influncia psicolgica.
De acordo com a Associao Brasileira da Indstria Produtora e Exportadora
de Carne Suna (ABIPECS, 2012), o sistema intensivo de produo de animais teve
incio aps a Segunda Guerra Mundial, quando ocorreu uma grande escassez de
alimentos na Europa e o modelo de produo industrial em larga escala atingiu
todos os setores da economia, inclusive o pecurio.
Em 1964, a jornalista inglesa Ruth Harrison lanou um livro chamado Animal
Machines, inaugurando o debate sobre a tica da produo animal na agricultura. O
livro denunciava os maus tratos e a crueldade cometidos contra os animais
confinados na Gr-Bretanha. Esta publicao gerou grande impacto na sociedade
britnica, o que culminou na criao pelo Parlamento ingls de um comit, composto
por pesquisadores da rea, batizado de Brambell, que tinha por objetivo investigar
as acusaes expostas no livro (ABIPECS, 2012).
Com o propsito de avaliar as diversas variveis que impactam a vida dos
animais, o comit Brambell props o conceito das Cinco Liberdades mnimas que
todo animal deveria ter: liberdade nutricional, referindo-se s necessidades
fisiolgicas de fome e sede; ligada ao conforto ambiental; relativo expresso do
comportamento natural do animal; que os animais fossem mantidos livres de dor,
injrias ou doenas; e liberdade psicolgica, concernentes aos sentimentos de medo
e distresse. Posteriormente, o Farm Animal Welfare Council FAWC (Conselho de
Bem-Estar na Produo Animal) do Reino Unido adaptou a lista para a realidade dos
animais de produo e sintetizou as Cinco Liberdades em quatro princpios: boa
alimentao, boas instalaes, boa sade e comportamento apropriado (ABIPECS,
2012).
28
O comit definiu bem estar pela primeira vez como um termo amplo que
inclui tanto o estado fsico quanto o mental do animal. Por isso, qualquer tentativa
para avaliar o bem-estar animal deve levar em conta a evidncia cientfica existente
relativa aos sentimentos dos animais. Esta evidncia dever descrever e
compreender a estrutura, funo e formas comportamentais que expressam o que o
animal sente. Pela primeira vez na histria, os sentimentos dos animais foram
considerados (ABIPECS, 2012). a definio de Broom (1986), contudo, que mais
se destaca junto comunidade cientfica: bem estar de um indivduo seu estado
em relao s suas tentativas de se adaptar ao seu ambiente.
Segundo esta definio, o bem-estar depende das aes da empresa criadora
na tentativa de fazer com que o animal consiga adaptar-se ao ambiente e do grau de
sucesso desta empreitada. O bem estar pode, assim, variar entre muito ruim e
muito bom e pode ser avaliado cientificamente a partir do estado biolgico do
animal e de suas preferncias (BROOM, 1986). Logo, taxas de produtividade, de
sucesso reprodutivo e de mortalidade, comportamentos anmalos, severidade de
danos fsicos, aumento da atividade adrenal, imunidade baixa ou incidncia de
doenas, so fatores que podem ser medidos para avaliar o grau de bem estar dos
animais (BROOM, 1991). O autor destaca que a ausncia de sofrimento no
significa presena de bem estar.
Segundo Da Costa et al (2002), as empresas do setor buscam a mxima
eficincia e produtividade atravs de investimentos nas reas de nutrio,
melhoramento gentico e reproduo dos animais de corte, enquanto cuidados com
os aspectos fisiolgicos e comportamentais dos animais so desconsiderados.
Prticas como amputao de rabos, bicos e dentes, o confinamento intensivo e
outros maus tratos so rotinas que aceleram a produtividade, porm infligem aos
animais dor e estresse intensos (COX, 2007). O Apndice B enumera algumas das
principais prticas de maus tratos impostas aos animais de produo na pecuria
industrial.
Apesar deste quadro, pesquisas como a de McEachern e Schroder (2004)
indicam que os consumidores no esto propensos a relacionar o consumo de
produtos derivados da indstria animal - de couros, calados, rao e txtil -, a
problemas ambientais ou ticos. Ao contrrio, as pessoas sentem-se
desconfortveis com a conexo entre os assuntos crueldade com animais e
consumo de carne, tendendo a evitar este confronto de ideias.
29
Em contrapartida, outras pesquisas demonstram mudanas no
comportamento de alguns grupos sociais, no que se refere ao consumo de produtos
de origem animal. No Brasil, destaca-se o estudo de Souza (2011), que vislumbra o
comportamento do consumidor de carne. A pesquisa demonstra, por meio de anlise
qualitativa e quantitativa, a falta de informao sobre o tema por parte dos
consumidores. Ao tomarem conhecimento dos padres de manejo dos animais de
produo por meio de um vdeo, os entrevistados apresentaram sentimentos de
revolta e culpa inexistentes nas respostas antecedentes ao vdeo, evidenciando a
ignorncia quanto ao assunto. Outro achado da pesquisa remete sensibilidade na
disposio a pagar pelo produto com prticas certificadas do trato animal que, por
ventura, exijam incremento no preo. A pesquisadora verificou um aumento
considervel tanto de pessoas dispostas a pagar mais caro por tais produtos, quanto
no percentual do acrscimo no valor, aps a exibio do vdeo.
Sob a tica empresarial, observa-se a discusso pertinente ao processo
decisrio quanto viabilidade econmica da manuteno de prticas que excluem
maus tratos aos animais em seus procedimentos (PERIN, 2012). Perin (2012)
analisou 28 empresas pertencentes indstria de protena animal instaladas no
Brasil, classificadas entre os grupos: Fast-Food, Bens de Consumo, Supermercados
e Produo Agropecuria. A autora promoveu uma classificao das empresas por
meio de uma qualificao por pontos, de acordo com as declaraes das
organizaes sobre a preocupao com a prtica do bem estar animal. O resultado
mostrou que metade das empresas no trata do tema de bem estar animal e apenas
seis delas apresentaram notas acima de trs, ou seja, demonstravam interesse e
preocupao com a questo. O desconhecimento do consumidor como uma das
principais razes pelas quais tais prticas no so plenamente difundidas no setor
corroborado, uma vez que os elos mais fracos da cadeia produtiva so as categorias
de Supermercados e Fast-Food. Estes subgrupos so os que travam contato
diretamente com o pblico final e apresentaram as mais baixas notas mdias.
2.2.2 Razes espirituais
A prtica do vegetarianismo est entrelaada profundamente com tradies
religiosas transcendentais (TWIGG, 1979). Quando os seguidores de Maom o
pediram para definir a f, Ele respondeu: Para oferecer alimento e dar a saudao
30
de paz. O Coro menciona os atos de comer e beber com excepcional frequncia,
sustentando que so uns dos principais sinais da existncia divina (FEELEY-
HARNIK, 1995).
A fome biolgica distingue-se dos apetites, expresses dos variveis desejos humanos e cuja satisfao no obedece apenas ao curto trajeto que vai do prato boca, mas se materializa em hbitos, costumes, rituais, etiquetas. [...] O que se come to importante quanto quando se come, onde se come e com quem se come. (CARNEIRO, 2003, p. 1-2)
No tocante s religies, a alimentao tem papel fundamental no cotidiano de
seus adeptos: permisses, proibies e jejuns so regulaes religiosas simblicas
constantemente exercidas. As regras alimentares so disciplinares, representando
tcnicas de autocontrole perante as tentaes. Tais regras disciplinares podem ser
anti-hedonistas, evitando o prazer proporcionado pela alimentao, ou podem ser
pragmticas, evitando alimentos considerados passionais (CARNEIRO, 2003).
Influenciadas pela histria e evoluo, as religies desenvolveram padres
alimentares prprios, conforme descrio:
No Jainismo, cuja origem data do sculo IV a.C., propagada a ideia de no
causar danos a outros seres vivos baseado em um sentimento de compaixo.
Chamada de ahimsa, a argumentao fundamenta-se na crena da existncia de
uma cadeia de encarnaes, sendo o pice na forma de ser humano, quando
alcanado o nirvana ou a iluminao. Sob esta ideologia, ao alimentar-se de carne, o
indivduo corre o risco de ingerir familiares e atrair karma negativo, retardando o
atingimento da iluminao. Adicionalmente, a religio condena a prtica de sacrifcio
animal, intimamente ligada ao consumo de carne e prega o contato com o deus
interior por meio da conquista dos instintos animais, que levam a atos de violncia e
autoindulgncia, incluindo o consumo de carne (KRECH III; MCNEILL; MERCHANT,
2004).
No Budismo, o princpio bsico no maltratar os animais. Seria um pecado
at beber a gua que contivesse larvas, pois uma forma de vida. Aos monges
ensinado que todos devem amar e respeitar qualquer espcie de animal. Esse
sentimento chamado de Metta e, por isso, os budistas so vegetarianos. Os
preceitos da crena indicam que Buda condenava o sacrifcio de animais. A histria
contada pelos monges sugere que a proibio do consumo de carne determinou os
hbitos dos japoneses durante dez sculos. Somente no sculo XVI, com a chegada
31
dos missionrios portugueses e de outros europeus ao Japo, que foi
reintroduzido paulatinamente o hbito de comer carne (SOCIEDADE BUDISTA DO
BRASIL, 2012).
No Hindusmo, so venerados como animais sagrados a serpente e a vaca. A
imagem do bovino, como divindade principal, est presente em todos os templos e
na maioria dos lares, representando a fecundidade da terra e a da Humanidade. Os
praticantes no podem comer carne de vaca e nem contrariar os hbitos deste
animal venerado. Alm disso, o sacrifcio das vacas nas cerimnias religiosas foi
proibido, ajudando a estender a repulsa da populao para o consumo de todos os
tipos de carne semelhantes bovina (CLOVEGARDEN, 2012).
No Tor, o livro Levtico prescreve com detalhes o tipo de carne que pode ser
consumida e o que no pode, classificando os animais em duas categorias: os puros
e os impuros. A principal caracterstica do animal puro ter rgos de locomoo
prpria, o casco fendido e ser ruminante. Segundo o capitulo 11 do livro, o suno
proscrito, pois apesar de ter o casco fendido, partido em duas unhas, no rumina.
Acredita-se, porm, que o verdadeiro motivo desta proibio era o de proteger o
povo judeu da contaminao com a triquinose, provocada pela Trichinella spiralis,
conhecida popularmente como 'solitria'. Os peixes para serem considerados puros,
deviam ter barbatanas e escamas. A carne bovina pode ser consumida e para isso
deve ser proveniente de um animal que tenha sido abatido pelo ritual Kosher, que
envolve a eliminao total do sangue (BONFIM, 2004).
O ritual de abate iniciado com a degola por uma espcie de aougueiro
denominado schochet, que recebe treinamento por um longo perodo. A proposta
do ritual o corte da artria cartida e veias jugulares rapidamente. O instrumento
cortante utilizado para essa operao chamado de chalaf, o qual afiado de
forma eficiente e examinado aps cada utilizao. Cada seo do ritual precedida
por uma prece especial denominada beracha. Somente os quartos dianteiros, as
costelas e a carne de cabea dos animais podem ser consumidos. Os produtos
kosher apresentam um selo que indica a garantia de um rigoroso processo de
fiscalizao, que investiga mais profundamente a origem e o estado dos animais.
Estes mtodos tm sido criticados, todavia, tanto pela crueldade como tambm pela
falta de cuidados quanto aos aspectos higinico-sanitrios (BONFIM, 2004).
No islamismo, o ritual de abate de bovinos similar ao ritual judaico, sendo
denominado Dhabiha. Durante o ritual a pessoa autorizada pelo im o lder da
32
comunidade islmica - deve fazer uma orao consagrando o animal como
propriedade de Al. Cada animal deve ser abatido por vez, no sendo permitido ser
observado por outros animais. Diferentemente dos judeus, todas as partes do animal
podem ser consumidas sem nenhuma restrio (SIREGAR, 1981).
A Igreja Adventista do Stimo Dia defende uma dieta ovo-lacto-vegetariana,
incluindo quantidades moderadas de produtos de baixo teor de gordura, evitando o
consumo de carne, peixe, aves, caf, ch, lcool e tabaco (embora estes no sejam
estritamente proibidos). Tais crenas se baseiam nas palavras da Bblia, de acordo
com a Seventh-Day Adventist Dietetic Association (SDADA, 2012).
Webster (1994) ironiza que o porco, no auge da sua inteligncia, persuadiu
quatro das maiores religies do mundo a no com-lo por diferentes razes, diante
da vaca, sagrada na ndia e do cavalo, sagrado na Inglaterra.
2.2.3 Razes de sade
H, atualmente, uma maior quantidade de informaes disponveis
relacionando o regime alimentar sade. Uma vez que esta relao j foi fortemente
estabelecida pela mdia de massa, as atenes se voltam para recomendaes
sobre quais alteraes nos padres de consumo de alimentos devem ser feitas, a
fim de promover uma vida saudvel (HASLAM ET al, 2000). De acordo com
pesquisa realizada pelos autores com 421 indivduos, as duas razes mais comuns
para alguma mudana no regime alimentar foram: perder peso e uma maior
conscincia sobre alimentao saudvel.
Ruby (2011) afirma que vegetarianos que optam pela dieta restrita por
motivos de sade o fazem por preocuparem-se com potenciais doenas e
concentram-se principalmente nos vrios benefcios e barreiras mudana da dieta.
O autor assevera ainda que eles tendem a eliminar a carne gradualmente e
apresentam menor probabilidade de transio para o veganismo, em contraste aos
indivduos cuja motivao tem origem nos princpios ticos da preocupao com o
bem estar animal. Este grupo tende a alterar a sua base alimentar abruptamente,
diante da carga emocional envolvida.
Outra caracterstica divergente entre estes dois grupos est no foco: enquanto
o primeiro concentra-se nas preocupaes principalmente internas, compreendendo
questes concernentes sua sade pessoal, o grupo cuja origem reflete
33
consideraes morais exibe um foco especialmente externo, envolvendo as
preocupaes sobre animais no-humanos (RUBY, 2011).
Lindeman e Stark (1999) compilam pesquisas sobre a relao entre a escolha
da alimentao, a personalidade e o bem estar, referentes ao controle do peso. Os
autores revelam que h forte relao entre estes fatores e a m imagem do prprio
corpo, baixa autoestima e depresso. O estudo mostrou a existncia de seis grupos
distintos no que se refere escolha da alimentao: gourmets, indiferentes,
mantenedoras da sade, portadoras de ideologias, as que fazem dietas pela sade
e as que fazem dietas pelo corpo. Cada um dos grupos foi avaliado sob a
perspectiva das motivaes para a escolha: sade, controle de peso, prazer e
razes ideolgicas.
Enquanto os subgrupos gourmets e portadores de ideologia escolhiam
seus produtos alimentares visando o prazer que a alimentao lhes proporciona e
seus princpios ideolgicos, respectivamente, o subgrupo de pessoas que fazia dieta
com vistas sade se diferenciava dos demais pela preocupao com a aparncia e
apreo ao prazer da alimentao ao mesmo tempo. O subconjunto de pessoas que
mantinham uma dieta para manter a forma fsica no via deleite nesta atividade.
Este grupo caracterizava-se por mulheres insatisfeitas com a sua aparncia e peso,
cuja presso exercida pela cultura da magreza era forte, levando-as a apresentar
sintomas de distrbios alimentares, baixa autoestima e maior incidncia de
depresso (LINDEMAN; STARK, 1999).
Dentre todos os grupos, a motivao de escolha do padro alimentar entre as
mulheres mais encontrada foi a de deciso por uma vida saudvel, sozinha ou
acompanhada do prazer proporcionado com a degustao dos alimentos
(LINDEMAN; STARK, 1999).
A pesquisa de Moon, Balasubramanian e Rimal (2011) confirma que o uso de
alegaes de sade e outras reivindicaes relacionadas aos produtos alimentares
tm aumentado ao longo do tempo. Neste sentido, os esforos de marketing da
indstria alimentcia tornam-se um tema central para o setor, com o propsito de se
relacionar com as pessoas que valorizam fortemente a preocupao com a sade, a
ponto de mudar a sua alimentao com base neste pressuposto. Os autores
mostram evidncias de que a oferta proativa de dados que estes consumidores
estejam interessados em absorver poder induzir as pessoas a confiar nas
informaes apresentadas. Em alguns casos, as reivindicaes podem at gerar um
34
efeito de prestgio (avaliar melhor o produto por atributos no mencionados) ou um
efeito de varinha mgica (atribuir benefcios inadequados ao produto).
2.2.4 Ativismo Poltico
Newholm e Shaw (2007) trazem um debate sobre o boicote. O ato definido
como uma ao do consumidor arquetpica semiorganizada. Os autores consideram
que o consumo tico como projeto poltico frequentemente rejeitado por ser
considerado um conjunto de aes muito individualizadas e no atingirem a
conscincia coletiva. Apesar do comportamento ser apontado como um veculo para
a autorrealizao moral, a coletividade valorizada pelo consumidor tico pelo poder
que capaz de oferecer, tanto para o caso de consumo como para o de
anticonsumo.
A pesquisa realizada por Kleine e Hubbert (1993), no entanto, trouxe tona
um participante cuja mudana na alimentao deu-se a partir de engajamento
poltico. A preocupao e ativa participao em um projeto sobre a pesca ilegal de
atum estimulou a busca por informaes sobre ambientalismo e direitos dos animais
e consequente extino das carnes na alimentao. Pode-se considerar, contudo,
que a prtica militante foi o fator detonador para que outros pontos motivadores
influenciassem a conduo da transformao do hbito alimentar.
2.2.5 Ambientalismo
De acordo com o Worldwatch Institute, que acompanha questes ambientais
ao redor do globo, a questo do consumo individual de carne tornou-se central no
debate acerca de sustentabilidade.
medida que a cincia ambiental avanou, ficou evidente que o apetite humano por carne animal uma fora impulsionadora por trs de praticamente todas as grandes categorias de danos ambientais que atualmente ameaam o futuro da humanidade: desflorestamento, eroso, escassez de gua potvel, poluio do ar e da gua, mudanas climticas, perda da biodiversidade, injustia social, desestabilizao de comunidades e propagao de doenas (SINGER; MASON, 2007, p. 261).
De acordo com pesquisa do IBOPE (2007), a populao brasileira est
desenvolvendo uma conscincia ambiental. A pesquisa revelou que 85% dos
35
cidados entrevistados esto dispostos a pagar um preo diferenciado por produtos
que no agridam o meio ambiente. Adicionalmente, mais da metade dos
consumidores afirmou comprar apenas produtos de fabricantes que no agridam o
meio ambiente, ainda que sejam caros. Deste modo, conforme Roberts (1995)
afirma, os indivduos alteram no somente suas rotinas, incorporando atividades em
prol do ambiente, como a separao do lixo e a no utilizao de sacos plsticos,
como modificam seu comportamento de consumo.
Ottman (1994) confirma que esta sensibilidade crescente da sociedade
perante as causas ambientais levou gerao de uma demanda por produtos
verdes ou com apelo ecolgico e o consequente atendimento a esta fatia de
consumidores por parte da oferta. A tendncia abraada amplamente em todas as
reas das organizaes. Com isso, destaca-se a definio de Marketing Verde por
Peattie (2001):
O termo Marketing Verde tem sido usado para descrever o conjunto de atividades de marketing voltadas para minimizar impactos ambientais e sociais causados por produtos e sistemas de produo existentes, e que promovem produtos e servios menos danosos (PEATTIE, 2001, p. 129).
Peattie (2001) destaca as principais consequncias advindas desta orientao
verde:
(1) O tratamento globalizado de questes como o aquecimento global gerando
uma discusso mais generalizada e sem barreiras geogrficas sobre a
sustentabilidade, evocando o trabalho em conjunto;
(2) Novos segmentos de mercado foram criados a partir de produtos e servios
especializados ou com apelo socialmente responsvel;
(3) Oportunidade de desenvolvimento de novos produtos ligados a temtica
ambiental e/ou social;
(4) Novos desafios para o mercado publicitrio, tendo em vista os novos valores
adicionados imagem das empresas;
(5) O foco dado cadeia produtiva, vista como ponto de vantagem competitiva e
diferenciao perante os concorrentes;
36
(6) As embalagens dos produtos ganharam uma importncia crescente tanto
como potencial item de minimizao de custos, com a reduo dos materiais
utilizados, como publicidade da imagem da companhia;
(7) Novas parcerias com agncias ambientais ou outras instituies que
pudessem agregar valor imagem das organizaes tambm observaram
seu prestgio acrescido;
(8) Percepo de valor, por parte das corporaes, de que vale a pena no
apenas participar da tendncia, mas ser pioneira e ir alm do cumprimento s
regulaes;
(9) Avidez por captar e exibir novas informaes. H uma forte demanda pela
transparncia com relao aos dados pertinentes aos produtos, bem como
matrias-primas, a cadeia produtiva, a conduta dos fornecedores, o descarte
etc.
Do outro lado, o consumidor verde conhecido pela sua lgica menos
individualista e mais coletivista, considerando a minimizao do seu impacto no meio
ambiente em seu processo de tomada de deciso no momento da compra, segundo
Ottman (1994).
2.2.6 No gostar de carne
O desgosto ou nojo definido como um desejo de se afastar de um objeto
que 'estragado, tem um gosto ruim e que deixa um gosto ruim na boca. Alm
disso, as sensaes de desconforto oral e nuseas so discutidas como
componentes crticos no sentimento de repulsa. De todos os alimentos consumidos,
os de origem animal parecem ocupar um lugar especial na dieta humana. Carne
inspira ambivalncia devido s associaes com animais vivos, sangue, agresso,
violncia e os efeitos deletrios na sade humana (KUBBEROD ET al, 2006).
Kubberod et al (2006) apresentam trs pontos fundamentais por detrs do
sentimento de desgosto: o primeiro refere-se natureza do alimento, o indivduo se
questiona de onde vem o alimento e o que vem em seguida (processamento); o
segundo relaciona preocupaes com o aspecto sensorial, qualificando
propriedades relacionadas aparncia, textura, cheiro ou gosto; e o terceiro motivo
37
faz referncia antecipao das consequncias negativas aps a ingesto do
alimento.
A partir de ento, os autores propuseram e confirmaram seis construtos sobre
a rejeio carne vermelha, incluindo pessoas que no se intitulam vegetarianas. A
primeira hiptese relaciona-se com as preocupaes morais associadas ao consumo
tico em defesa do bem estar animal, que apresenta grande potencial de suscitar
fortes sentimentos como o nojo. Na segunda hiptese, os autores observaram a
perspectiva sensorial-afetiva, especialmente demarcada pelo aspecto de textura
firme e difcil de mastigar da carne no processada. Quanto maior a lembrana do
animal vivo, maior a probabilidade de incidncia do nojo. O sangue e a aparncia de
carne crua, portanto, repercutiro de forma negativa na opinio do consumidor
(TWIGG, 1979; FESSLER ET al, 2003). A quarta questo reflete a precipitao das
consequncias negativas aps o consumo da carne, como as sensaes de
plenitude, de lentido e sonolncia. Caractersticas relacionadas ao indivduo como
a autoestima, tambm podem promover reaes emocionais diretamente.
Consequentemente, observa-se a correlao e sequenciamento dos fatores:
importncia de sentir-se magra, expresso da insatisfao com o prprio corpo,
intensificao da dieta com a supresso da carne e desgosto para com o alimento. A
sexta e ltima hiptese depe que a carne vermelha apontada como mais
associada a atributos que podem levar rejeio do que as carnes brancas, atravs
da mdia. Sendo assim, so as primeiras a serem excludas da dieta de carnes.
Dentre as classes de rejeio carne que Fessler et al (2003) identificaram,
esto as pessoas que evitam a carne pelo sabor, excluindo apenas os itens de que
no gostam. Os outros dois grupos que compem a tripartite detectada pelos
autores so os indivduos motivados pelas questes tica e ambiental, que comem o
mnimo de carne ou nenhuma e o grupo motivado pela sade, que come pouca
carne vermelha, mas substanciais quantidades de carne branca.
2.3 IDENTIDADE E COMUNIDADE
Hall (2005) afirma que a identidade de uma pessoa formada atravs de sua
participao em relaes sociais mais extensas, adicionado o seu prprio papel na
constituio dos processos. Pode-se considerar, ento, a ocorrncia de uma
38
interiorizao do mundo externo ao indivduo e uma exteriorizao do seu interior,
por meio da sua ao no mundo social.
Na concepo de Castells (1997) e Hall (2005), a identidade formada e
transformada continuamente, num estado permanente de em processo de
construo, constituda ao longo do tempo. De acordo com Goffman (1959), a
negociao em que os indivduos envolvem a si prprios durante o processo de
constituio da identidade visa projetar uma impresso desejada.
A identidade de uma pessoa expressa na forma de consumo (SCHAU;
MUNIZ, 2002). A partir da, McCracken (2003) afirma que as sociedades capitalistas
centradas no consumo levam os indivduos a adquirir itens no pela funcionalidade,
mas pelo seu valor simblico. Sendo assim, o padro de consumo define uma
pessoa perante a sociedade e a busca do seu lugar em grupos.
Mittal (2006) defende a existncia de uma tenso entre como o indivduo
define sua identidade e como os outros a veem. Aps diferenciar os termos entre
como a pessoa se v (eu) e como a pessoa acredita que os outros a veem (mim), o
autor prope trs modos de minimizar este conflito: mudar o grupo de referncia,
buscando outras pessoas que corroborem sua verso; educar os outros, mostrando-
lhes a sua identidade; ou mudar o consumo.
Solomon (2008) relaciona o autoconceito s crenas de um indivduo sobre
seus prprios atributos e o modo como ele os avalia. A partir da, as marcas,
produtos e atividades escolhidas e exercidas pelos consumidores tm significado e
ajudam a comunicar e tangibilizar a sua identidade (SCHAU; GILLY, 2003). Solomon
(2008) apresenta ainda duas teorias que ajudam a explicar este comportamento: (1)
Modelo de congruncia da autoimagem, no qual as pessoas buscam produtos cujos
atributos combinem com algum aspecto do seu eu; (2) Teoria da
autocomplementaao simblica, que engloba indivduos que tendem a completar
sua identidade adquirindo e expondo smbolos associados a ela, devido a uma
autodefinio incompleta.
A construo do conceito do indivduo envolve seis componentes: (1) seus
corpos; (2) seus valores e carter; (3) sua competncia e seu sucesso na vida; (4)
seus papis sociais; (5) seus traos de personalidade subjetiva; e (6) suas posses.
O arranjo de prioridades dos atributos varia de pessoa para pessoa, assim como a
proporo de cada um dos elementos (MITTAL, 2006).
39
Ao exercer diversos papeis sociais, um indivduo utiliza diversos acessrios e
frequenta distintos ambientes, que se tornam extenses do eu do consumidor
(SOLOMON, 2008). Segundo Mittal (2006), Seis so os mecanismos pelos quais
passam as pessoas na transformao da posse na extenso de suas identidades,:
(1) pela escolha dos produtos ou atividades baseada em seu eu, ou seja, deve
refletir identificao e autonomia; (2) pelo recurso (dinheiro, tempo, energia)
investido na compra do produto; (3) pelo recurso (dinheiro, tempo, esforo) investido
no uso do produto; (4) pelo vnculo criado aps a compra e reforado pelo uso do
produto; (5) atravs de uma coleo, mediante o tempo e esforo investidos na
aquisio da mesma (BELK, 1988); e (6) atravs de memrias produtos que foram
recebidos como presente de algum ou que estejam associados a uma ocasio
especial.
Contudo, nem todos os produtos podem ser qualificados como posse e nem
todas as posses constituem parte da identidade de um indivduo. Este tipo de bem
consumvel pode apenas servir de instrumento para a promoo de algum
componente do autoconceito. Um aficionado pelo elemento corpo pode ser
escravizado pela academia de ginstica ou cremes antirrugas. Estes instrumentos
criam envolvimento, mas no se tornam parte do eu. O centralismo dos bens como
composio da extenso da identidade pode ser medido por trs reflexes: (1) os
bens so centrais identidade o senso de quem a pessoa ; (2) os produtos que
um indivduo possui e usa ocupam um lugar especial em sua vida; (3) a pessoa julga
as outras pelos bens que estas possuem (MITTAL, 2006).
O eu estendido se manifesta no somente no plano individual do
consumidor, mas tambm no plano coletivo, envolvendo a famlia, comunidades,
grupos e subculturas (BELK, 1988).
Uma comunidade criada a partir do compartilhamento de interesses e de um
valor de ligao. Deste modo, no somente o senso de pertencimento preservado,
como tambm o sentimento de identidade comum (FISCHER; BRISTOR; GAINER,
1996). A busca por estes dois sentimentos est cada vez mais frequente,
extrapolando os limites das redes fsicas, levando os consumidores a pesquisar a
opinio de outros consumidores tambm na rede virtual (KOZINETS, 1999). Em uma
comunidade virtual, no entanto, nem todos os dados apresentados so verossmeis,
bem como a identidade digital apresentada pelos usurios (SCHAU; GILLY, 2003).
40
Schau e Gilly (2003) verificaram que os consumidores desejam expressar seu
eu ou seu conjunto de eus em suas pginas pessoais. Os autores enumeram as
possveis motivaes que levam uma pessoa a criar uma pgina pessoal: (1) um
fato gerador, como, por exemplo, uma mudana significativa na vida pessoal ou
profissional, ou uma orientao externa; (2) um anseio pelo crescimento pessoal,
que pode ser no campo educacional, uma tentativa de se autopromover
pessoalmente ou profissionalmente, ou um exerccio de autoconhecimento; (3)
advogar por uma causa social.
Em sua pesquisa qualitativa, os autores encontraram quatro estratgias
relacionadas com a apresentao digital nessas pginas: (1) Construo da
identidade digital, onde cada elemento do site escolhido pelo seu potencial
semitico; (2) Projeo de uma imagem digital, que a referncia explcita do corpo
fsico real ou ideal, podendo ser uma foto, um desenho estilizado ou um avatar; (3)
Associao digital, que se refere s relaes com objetos, locais, marcas, assim por
diante, para expressar significado; (4) Reorganizao da estrutura narrativa linear, a
partir do uso de hiperlinks. O hiperlink oferece ao leitor o acesso a detalhes da
histria, suprimindo a necessidade de seguir um fluxo linear de narrativa com incio,
meio e fim (SCHAU; GILLY, 2003).
Por fim, Bagozzi and Dholakia (2002, p. 4) propem que uma pessoa atinge
uma identidade social (na comunidade) atravs da autoconscincia de sua
participao em um grupo e o significado emocional e avaliativo desta associao.
Uma comunidade ou subcultura de consumo definida como um subgrupo
distinto da sociedade cujos membros selecionam a si mesmos com base no
compromisso compartilhado em relao a uma classe de produto, marca ou
atividade de consumo especfica (HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007, p.
73). Solomon (2008) inclui grupos de pessoas que compartilham um estilo de vida e
se identificam devido lealdade a uma mesma atividade ou produto. Maffesoli
(2000) complementa com a ideia de que a constituio destes microgrupos se deve
ao sentimento de pertencimento, de uma tica especfica e dispondo de uma rede
de comunicao.
A posse do produto ou a prtica da atividade no torna uma pessoa membro
da tribo, contudo. O pertencimento requer a internalizao dos valores, crenas,
linguagem e rituais pelo indivduo, ou seja, exige comprometimento (HAWKINS;
MOTHERSBAUGH; BEST, 2007). Segundo Maffesoli (2000), a ligao entre os
41
integrantes de uma subcultura de consumo reforada mediante as emoes e
paixes compartilhadas e no fatores demogrficos como idade, sexo e classe
social.
As pessoas buscam conexes sociais (COVA, 1997), um porto seguro e
identificao umas com as outras (BAUMAN, 2003). Esta busca leva criao de
mltiplos e efmeros grupos, cuja importncia superior ao pertencimento
determinada classe ou segmento social (COVA; COVA, 2002).
Cova e Cova (2002) explicam a efemeridade por meio do valor atribudo ao
elemento de ligao da tribo, ao invs da comunidade em si. O link mais
importante que a coisa (COVA, 1997, p. 307). Com isso, observada a participao
de um indivduo simultaneamente em diversos subgr