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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA EVERSON FERREIRA FERNANDES A PEDAGOGIA DE PROJETOS E O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA DA CIDADE DE NATAL/RN NATAL/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

EVERSON FERREIRA FERNANDES

A PEDAGOGIA DE PROJETOS E O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO

BÁSICA DA CIDADE DE NATAL/RN

NATAL/RN

2016

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EVERSON FERREIRA FERNANDES

A PEDAGOGIA DE PROJETOS E O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO

BÁSICA DA CIDADE DE NATAL/RN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Música da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN – linha de pesquisa,

Processos e dimensões da formação em música

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Música.

Orientadora: Profa. Dra. Valéria Lázaro de

Carvalho.

NATAL/RN

2016

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AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre abençoa o esforço da busca, por ter me sustentado e me feito chegar até

aqui.

A minha mãe, Josefa Ferreira, a quem dedico este trabalho, por ser o meu arrimo, alicerce,

apoio em todos os momentos e o meu maior exemplo de amor, simplicidade e perseverança. Te amo

mãe! E a minha irmã, Hérika, pelas suas orações e por sempre torcer pelo meu sucesso e pela minha

felicidade.

Aos meus filhos Pedro Davi e Miguel, dois grandes presentes que a vida me deu. Com vocês

aprendo a ser melhor a cada dia.

A minha orientadora, professora Valéria Carvalho, pela dedicação, carinho e doçura com que

me orienta desde a graduação no Grupo de pesquisa em música, na Especialização e durante o

mestrado. Sempre me incentivando e apoiando com sabedoria e paciência. Muito obrigado

professora, a senhora contribuiu muito em toda a minha trajetória de formação acadêmica.

Ao professor Manoca Barreto (in memoriam) pelas conversas e conselhos, pelo incentivo e

pelo exemplo profissional e humano. Muitas de suas palavras e de suas músicas ecoaram em meu

pensamento e me fizeram prosseguir no caminho da música. Muito obrigado mestre!

Aos professores do Programa de Pós-graduação em música-PPGMUS/UFRN, Jean Joubert,

Amélia Dias, Agostinho Jorge e Adriano Giesteira, por terem contribuído com a minha formação

durante esse período do curso de mestrado. E a Dejardiere, secretária do PPGMUS, pela atenção e

solicitude de sempre.

Às professoras Maristela Mosca, Christianne Medeiros ao professor Agostinho Jorge pela

leitura atenta e por todas as contribuições dadas ao trabalho na banca de qualificação. Às professoras

Elione Severiano e Márcia Mitchell, pelas correções.

Aos meus colegas de turma mestrandos cooperativos, Magnaldo Araújo, Flávia Maiara,

Gislene Araújo, Artur Porpino, Emerson Carpegiane, Anne Saraiva, Edbergon Varela e Leandro

Rocha, por termos compartilhado tantos momentos importantes nos incentivado nessa árdua

caminhada, sempre repetindo a frase “vai dar tudo certo!”.

Aos educadores musicais que responderam os questionários e aos dois professores que

permitiram que eu realizasse observações em suas aulas. A todos os alunos, coordenadores,

professores e funcionários das escolas nas quais realizei a pesquisa de campo. Muito obrigado pela

atenção e generosidade que certamente contribuíram para essa pesquisa e consequentemente para o

desenvolvimento da educação musical.

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Enfim, a todas as pessoas que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização de

mais uma etapa da minha formação profissional, torcendo e acreditando em mim.

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RESUMO

A presente pesquisa investiga a utilização da Pedagogia de Projetos como metodologia para

o ensino de música nas escolas de Educação Básica da cidade de Natal-RN. Tem como

principal objetivo analisar de que forma essa metodologia é utilizada nas aulas de música no

contexto escolar e quais as suas implicações para o processo de ensino-aprendizagem musical. Como

objetivos específicos buscou-se: fazer um levantamento para identificar os professores de música na

educação básica que declaram utilizar a Pedagogia de Projetos como metodologia para suas aulas;

identificar as correspondências entre a teoria da Pedagogia de Projetos e suas práticas nas aulas de

música nas escolas pesquisadas e analisar as contribuições da Pedagogia de Projetos para o

desenvolvimento do ensino-aprendizagem de música na escola. As principais bases teóricas

adotadas como referência para este trabalho são de autores das áreas da Educação - Boutinet

(2002), Hernández (1998; 200), Antunes (2001), Cavalcante (2009) - e da Educação Musical-

Penna (2008), Fonterrada (2008), Queiroz (2012), com o intuito de identificar as relações e

fundamentar as discussões e possibilidades da associação entre a Pedagogia de Projetos e a

atual situação da música como parte do currículo escolar brasileiro. Para a coleta de dados,

foram utilizadas estratégias metodológicas mista, de abordagens qualitativa e quantitativa que

se complementaram para melhor responder as necessidades da pesquisa. Através da aplicação

de um questionário, buscou-se identificar quais as escolas e professores de música que

declaravam trabalhar com a Pedagogia de Projetos. A partir desses resultados, foram escolhidas

duas escolas, uma escola da rede particular e outra da rede pública para a realização de

observação participante. Os resultados desse trabalho evidenciam que a Pedagogia de

Projetos é uma metodologia bastante utilizada pelos professores de música de Natal/RN, que

contribui para a integração de conteúdos e disciplinas que envolve os alunos nas atividades

despertando interesse e contribuindo para o desenvolvimento da educação musical escolar.

Porém, foi identificado que muitas das concepções dos professores sobre projetos são

confusas, por ambiguidades provenientes da utilização do termo em diversos âmbitos e sob

diversas perspectivas teóricas, bem como, pela carência de publicações que abordem o ensino

de música através da Pedagogia de Projetos. Espera-se que esse estudo fomente discussões e

pesquisas a respeito da Pedagogia de Projetos aplicada ao ensino de música na Educação

Básica.

Palavras-chave: Educação Básica. Pedagogia de Projetos. Música na escola.

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ABSTRACT

This research aims to investigate the use of Project based learning as a method for

teaching music in Elementary Schools located in Natal, RN. Its main objective is to analyze

how this method is used during the classes of music at school context and which are its

implications to the process of music learning acquirement. The specific objectives comprise:

gathering the music teachers in preschool that work with project based learning as a method for

their classes; identifying how the theory meets their practice; and analyzing how project based

learning contributes to the learning process of music within schools. The main scholars adopted

as theoretical reference were Boutinet (2002), Hernández (1998; 200), Antunes (2001),

Cavalcante (2009), from Education area; and Penna (2008), Fonterrada (2008), Queiroz (2012),

regarding Musical Education. Such choice was made in views of identifying the relationship

and how project based pedagogy associates to the current Brazil school curriculum. For data

collection, mixed methodological strategies were used, of qualitative and quantitative

approaches that are complementary for better meeting the research needs. By applying a

questionnaire, it was sought to identify the music schools and teachers who reported working

with project based learning. Based on these results were selected two schools, one private

school and one public school to perform a participant observation in two groups following the

development of music classes based on project based learning, and the information were

recorded in a diary of audio and video recordings. The results of this work show that the Project

Education is a methodology frequently used by music teachers from Natal/ RN contributing to

the integration of content and subjects and engages students in activities awakening interest and

contributing to the development of music education at school. However, it was identified that

many of the conceptions of the teachers about projects are confused by ambiguities from the

use of the term in different areas and in various theoretical perspectives as well as the lack of

publications that address the music education through the project based learning. It is hoped

that this study provides discussions and research about the project based learning applied to

music education in elementary school.

Palavras-chave: Elementary School. Project based learning. Music at school.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Revisão de literatura ......................................................................................... 39

Gráfico 2 – Demanda dos professores ................................................................................. 68

Gráfico 3- Faixa etária dos professores ............................................................................... 81

Gráfico 4 - Formação inicial dos professores de música ..................................................... 81

Gráfico 5 - Respostas pergunta: você conhece a Pedagogia de Projetos? ........................... 90

Gráfico 6 - Frequência de utilização da Pedagogia de Projetos .......................................... 91

Gráfico 7 - Duração dos Projetos ........................................................................................ 95

Gráfico 8 - Instrumentos de avaliação dos alunos .............................................................. 100

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Quatro níveis de projetos como prática pedagógica e de formação ..................... 31

Figura 2 - Procedimentos da pesquisa .................................................................................... 66

Figura 3 - Mapa com divisão administrativa da cidade de Natal/RN .................................... 70

Figura 4 - Mapa da zona administrativa oeste ....................................................................... 71

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Sala de aula da turma ................................................................................... 113

Fotografia 2 - Sala de vídeo ................................................................................................ 113

Fotografia 3 – Biblioteca ..................................................................................................... 114

Fotografia 4 - Alunos utilizando o celular para aprenderam a música ................................ 117

Fotografia 5 - Exibição do video das entrevistas com professores e funcionários sobre os

gêneros musicais ................................................................................................................... 118

Fotografia 6 - Apresentação musical ................................................................................... 120

Fotografia 7 - Instrumento de avaliação “guia de aprendizagem” ....................................... 120

Fotografia 8 - Sala utilizada para as aulas de música .......................................................... 127

Fotografia 9 - Sala de aula da turma .................................................................................... 127

Fotografia 10 - Imagens dos artistas estudados no projeto “música potiguar na escola ...... 130

Fotografia 11 - Imagens da aula sobre o Caboco-linho ....................................................... 131

Fotografia 12 - Desenhos produzidos pelos alunos a partir da música “Batacotô” ............. 132

Fotografia 13 - Exposição dos desenhos feitos na aula de Ensino Religioso ...................... 133

Fotografia 14 - Espaço cultural “Música Potiguar na Escola”............................................. 134

Fotografia 15 - Desenho a partir da canção “Esse Rio” ...................................................... 136

Fotografia 16 - Confecção de um tambor utilizando materiais recicláveis ......................... 136

Fotografia 17 - Divulgação da aula espetáculo com Galvão Filho ...................................... 137

Fotografia 18 - Aula espetáculo ........................................................................................... 137

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Pontos em comum entre os métodos ativos ........................................................... 27

Tabela 2 - Nível de escolaridade dos professores de Música ................................................. 82

Tabela 3 - Nível de ensino que os professores lecionam ....................................................... 83

Tabela 4 - Referencias utilizadas pelos educadores musicais ................................................ 84

Tabela 5 - Principais atividades musicais realizadas nas aulas de música ............................. 86

Tabela 6 - Recursos utilizados para as aulas de música ......................................................... 86

Tabela 7 - A Pedagogia do Projeto e suas etapas essenciais .................................................. 92

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resumo das principais denominações das metodologias que utilizam o termo

Projeto .................................................................................................................................... 32

Quadro 2 - Resumo das fases do projeto ............................................................................... 36

Quadro 3 - Documentos oficias que tratam da Arte/Música na Educação Básica Brasileira. 44

Quadro 4 - Parâmetros do modelo TECLA ............................................................................ 58

Quadro 5 - Datas das observações .......................................................................................... 76

Quadro 6 - Principais conteúdos abordados nas aulas de música ........................................... 85

Quadro 7 - Tipo de Projetos e suas características de abordagem de conteúdo e

operacionalização .................................................................................................................... 89

Quadro 8 - Exemplos de etapas/fases no desenvolvimento de Projetos por professores de

música da cidade de Natal/RN .................................................................................................. 93

Quadro 9 - Como é feita a escolha do tema ............................................................................ 96

Quadro 10 - Resumo dos Pontos positivos e negativos nos Projetos na fala dos professores

respondentes ......................................................................................................................... 102

Quadro 11 - Resumo das fases e características do projeto “gêneros musicais” ................ 122

Quadro 12 - Resumo das fases e características do projeto “Música Potiguar na escola –

Galvão Filho” ...................................................................................................................... 139

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEM- Associação Brasileira de Educação Musical

CC – Caderno de Campo

CNE - Conselho Nacional de Educação

GRUMUS - Grupo de estudos e pesquisa em música da UFRN

LDB - Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional

MG – Minas Gerais

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

PIBID - Programa Institucional Bolsa de Iniciação à Docência

RCAN - Referenciais curriculares para os anos inicias se finais do ensino fundamental: artes

RCNEI - Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

RN - Rio Grande do Norte

RS - Rio Grande do Sul

SEMURB - Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Urbanismo

TECLA – Técnica, Execução, Composição, Literatura, Apreciação

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 17

2 A PEDAGOGIA DE PROJETOS E O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO

BÁSICA .......................................................................................................................... 21

2.1 Percurso histórico ......................................................................................................... 22

2.2 Projetos na contemporaneidade: denominações e aplicações .................................. 28

2.3 Desenvolvimento de projetos: princípios, fases e características ............................. 33

2.4 Pedagogia de Projetos e música: produções brasileiras. ........................................... 36

3 MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA ......................................................................... 42

3.1 MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA: ASPECTOS HISTÓRICOS

E LEGISLAÇÃO ...................................................................................................... 42

3.2 Cultura, arte e música na legislação atual .................................................................. 49

3.3 Currículo, objetivos e conteúdos para o ensino de música na educação básica ..... 52

3.4 A música como componente curricular na cidade de natal/rn ................................. 59

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 63

4.1 Os métodos mistos ........................................................................................................ 63

4.2 Espaços e sujeitos .......................................................................................................... 68

4.3 Instrumentos de coleta de dados ................................................................................. 72

4.3.1 Questionário ................................................................................................................... 72

4.3.2 Entrevista ........................................................................................................................ 73

4.3.3 Observação participante ................................................................................................. 74

4.3.4 Registro áudio visual ...................................................................................................... 76

4.4 Catalogação e análise de dados ................................................................................... 76

5 CULMINÂNCIA .......................................................................................................... 79

5.1 Pedagogia de Projetos e música nas escolas de Natal/RN ........................................ 79

5.1.1 Formação e atuação dos professores ............................................................................. 79

5.1.2 Conteúdos, materiais e referenciais utilizados nas aulas de música .............................. 83

5.1.3 Características da pedagogia de projetos como metodologia para o ensino de música na

escola ............................................................................................................................ 87

6 PROJETOS E MÚSICA NA ESCOLA: UM OLHAR A PARTIR DE DOIS

EXEMPLOS .............................................................................................................. 107

6.1 A escola particular ..................................................................................................... 107

6.1.1 Conhecendo o professor e suas concepções sobre música e projetos na escola .......... 108

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6.1.2 Desenvolvimento do projeto: “Gêneros musicais” ..................................................... 112

6.1.2.1 A escola e a turma ...................................................................................................... 112

6.1.2.2 Fases e características ................................................................................................. 114

6.2 A escola pública ........................................................................................................ 123

6.2.1 Conhecendo o professor e suas concepções sobre projetos e música na escola ......... 123

6.2.2 Desenvolvimento do projeto música: “Música Potiguar na Escola- Galvão filho” ... 126

6.2.2.1 A escola e a turma ...................................................................................................... 126

6.2.2.2 Fases e características ................................................................................................ 128

7 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 140

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 144

APÊNDICE A - Termo de livre consentimento e esclarecimento direção ............... 151

APÊNDICE B - Termo de livre consentimento e esclarecimento professor............. 152

APÊNDICE C - Questionário ................................................................................... 153

APÊNDICE D - Roteiro de entrevista semiestruturada ............................................ 157

ANEXO A - Conteúdos de música dos Referenciais Curriculares Artes para o ensino

fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Natal. .................................... 158

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1 INTRODUÇÃO

Todos trazemos lembranças de vivências que marcaram nosso cotidiano e construíram

nossa identidade pessoal e profissional. Nesse sentido, lembrar e narrar acontecimentos

importantes da formação, oportuniza refletir sobre o vivido, estabelecendo relações,

construindo e reconstruindo caminhos. É com esse objetivo que no início deste trabalho,

discorro sobre as aprendizagens que construí ao longo da minha trajetória de formação

profissional e me levaram a escolha do tema dessa pesquisa.

Músico, estudante do curso de licenciatura em Música, segundo período, vivenciei uma

oportunidade de lecionar música para alunos do ensino fundamental em uma escola da rede

privada da cidade de Natal (RN). Sabia tocar, já havia atuado como professor de violão em

aulas particulares, tinha em mãos alguns materiais para o ensino de música com crianças, mas

na prática, não havia clareza no caminho a seguir, não sabia bem, como proceder, o que fazer,

como fazer e onde chegar. Não tinha livro didático e nenhuma definição ou imposição de

conteúdos que deveria abordar. Fiz uma pequena pesquisa com os materiais que dispunha na

época: livros, Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), repertório e metodologias para ensinar

música na escola.

Lembrei-me de uma fala de Paulo Freire que tinha ouvido em uma das disciplinas do

curso de licenciatura: “Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas, criar as possibilidades

para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p.47), e tive a ideia de

conversar com os alunos, perguntando quais seriam seus interesses, expectativas e anseios em

relação a aula de música. Na conversa, os alunos falaram a respeito das músicas que gostavam

de ouvir, alguns já tinham aulas de música, outros ainda não tinham essa experiência. Uns

mostraram-se interessados e empolgados, outros nem tanto.

Mesmo que ainda inseguro, fui caminhando como quem caminha em terreno

desconhecido, buscando explorá-lo e conhecê-lo melhor. Percebi que em uma turma com alunos

da mesma idade cada indivíduo demonstrava suas preferências e seus interesses, mas, apesar

dessa heterogeneidade de “Mundos musicais” (ARROYO, 2002) também percebi pontos de

interesse em comum. Pesquisei materiais e conteúdos musicais que poderiam ser abordados em

sala e, em conjunto com os alunos, escolhemos um tema que fosse importante, significativo e

interessante para todos os envolvidos nesse processo.

Propus que registrassem o que já conheciam sobre o tema. Esse registro foi

compartilhado com toda a turma e realizado coletivamente. Já tinham bastante informações,

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mas só essas não bastavam. Então, foram em busca de mais informações em diversas fontes:

livros, revistas, internet, vídeos, músicas, etc. Elas poderiam vir de qualquer área de

conhecimento.

Os alunos conseguiram muitas outras informações, que foram trazidas para a sala,

compartilhadas, organizadas e discutidas. Essa organização foi feita de várias formas: em

cartazes com textos e gravuras, em CDs com vídeos e arquivos diversos, em forma de paródia

com melodias de músicas conhecidas, gravando vídeos com seus celulares. Organizadas, as

informações foram apresentadas e compartilhadas com a turma.

As informações começavam a tornar-se conhecimento, e eles aprendiam não só o

conteúdo, mas também o processo de aprender, pesquisando, selecionando, organizando e

apresentando seus estudos.

O caminho foi se fazendo e agora já pisava mais firme e andava com mais segurança,

pois conhecia melhor os alunos, estabeleceu-se assim, uma atmosfera de parceria ao invés de

imposição. Nesse caminho, trilhado com a parceria entre professor–aluno, eles também

aprenderam a caminhar.

No decorrer do curso de graduação, em meio a leituras e experiências com aulas de

música para turmas da educação básica, conheci a Pedagogia de Projetos e percebi que esse

caminho metodológico tinha muito em comum com o caminho que trilhava de forma

espontânea e procurei aprofundar os estudos sobre essa metodologia através de autores da área

da Educação como: HERNÁNDEZ (1998); HERNÁNDEZ e VENTURA (2000); ANTUNES

(2001); NOGUEIRA (2001), dentre outros que falam sobre essa metodologia e passei a utilizá-

la com maior propriedade em minhas aulas. Esses estudos e relatos de experiências da minha

prática culminaram na produção da monografia, trabalho de conclusão do curso de licenciatura

em Música na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Nesse período, no ano de 2007, tramitava no congresso um projeto de lei que tornaria a

Música um componente curricular obrigatório nas escolas de educação básica. Esse projeto, se

tornou a Lei 11.769/20081 e desde a sua aprovação, muitas discussões e ações foram e ainda

são realizadas com o intuito de implementar de forma efetiva o ensino de música como

conteúdo obrigatório na escola. Dentre essas discussões e ações, estão as relacionadas ao

currículo, conteúdos e metodologias para o ensino de música na escola.

A minha experiência com a adoção da Pedagogia de Projetos para o ensino de música

na escola trouxe vários resultados positivos, o que me fez querer continuar a investigar de forma

1 A lei 11.769/2008, altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para

dispor sobre a obrigatoriedade da música como conteúdo obrigatório na Educação Básica.

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mais aprofundada essa metodologia. Nesse momento no qual a área da educação musical busca

efetivar o ensino de música nas escolas, pude observar que vários colegas professores de música

também trabalhavam com a Pedagogia de Projetos em suas aulas. A partir dessa observação e

do desejo de não ficar limitado a minha prática, mas conhecer melhor as práticas dos meus

colegas e aprofundar os estudos teóricos sobre o tema nasceram vários questionamentos que

motivaram a realização desta pesquisa: como a Pedagogia de Projetos está sendo utilizada para

o ensino de música nas escolas de Natal? Quais as implicações, pontos positivos e negativos,

da utilização da Pedagogia de Projetos para o ensino de música nesse contexto? É possível

conciliar a prática de projetos com os conteúdos de um currículo definido?

Portanto, esse trabalho tem como objetivo principal analisar de que forma a Pedagogia de

Projetos é utilizada nas aulas de música no contexto escolar e quais as suas implicações para o processo

de ensino-aprendizagem musical nas escolas de Educação Básica da cidade de Natal-RN,

buscando contribuir com as discussões e ações para a implementação da Lei 11.769/2008.

Como objetivos específicos buscou-se: fazer um levantamento para identificar os professores

de música na Educação Básica que declaram utilizar a Pedagogia de Projetos como metodologia

para suas aulas, bem como as características de formação e atuação desses profissionais;

identificar as correspondências entre a teoria da Pedagogia de Projetos e sua prática nas aulas

de música nas escolas pesquisadas; analisar as contribuições da Pedagogia de Projetos para o

desenvolvimento do ensino-aprendizagem de música na escola.

A pesquisa é realizada em três etapas. Na primeira, levantamento e análise bibliográfica

dos temas: música na Educação Básica e Pedagogia de Projetos. Na segunda, aplicação de um

questionário aos professores de música das escolas da cidade de Natal, com o objetivo de

identificar quais trabalham com projetos, como esse trabalho é realizado e quais as teorias que

fundamentam essa prática. Na terceira, a realização de observação participante, em duas turmas

da Educação Básica. Uma escola da rede privada e outra rede pública acompanhando o

desenvolvimento de aulas de música baseadas na Pedagogia de Projetos e registrando os dados em

diário de campo e gravações de áudio e vídeo.

No segundo capítulo, apresento o estudo sobre a Pedagogia de Projetos, traçando o

percurso histórico e refletindo sobre a relação do contexto social e o nascimento dessa

metodologia e apresentando os principais autores e ideias que a embasaram. A palavra “Projeto”

pode adquirir diversos sentidos dependendo do contexto em que for utilizada, e na educação

tem diversos sentidos e denominações que são esclarecidas. Defino o conceito utilizado para

este trabalho baseado em Boutinet (2002) e Hernandéz (1998, 2000), e adaptado para o termo

Pedagogia de Projetos. Trato do desenvolvimento e execução de Projetos, de forma mais

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técnica, discutindo as fases e passos percorridos relacionando ao ensino de música na escola.

Ao final desse capítulo faço uma revisão de literatura que abrange as principais produções

brasileiras a respeito da Pedagogia de Projetos relacionadas ao ensino de música.

No terceiro capítulo, faço uma revisão da presença da música na escola brasileira,

refletindo sobre a legislação ao longo da história até chegar a mais atual, a Lei 11.769/08 que

altera o artigo 26 da Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional (LDB)

definindo a música como “conteúdo obrigatório, mas não exclusivo” do componente Arte

(BRASIL, 2008). Uma importante discussão apresentada por autores da área de Educação

musical como Fonterrada (2008); Queiroz (2012); Penna (2008), está relacionada ao campo do

currículo (o que ensinar) e de como ensinar (metodologia). Esta questão está intimamente ligada

a utilização da Pedagogia de Projetos como metodologia para ensino de música na escola, por

isso, faço uma revisão das orientações curriculares presentes nos documentos oficiais como os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). No final do capítulo discorro sobre o contexto da

música na Educação Básica da cidade de Natal/RN.

No quarto capítulo discorro sobre os caminhos metodológicos escolhidos para a

realização dessa pesquisa, detalhando a abordagem e as fases percorridas, bem como os

instrumentos de coleta, organização e análise de dados.

No quinto, apresento e discuto os resultados dos dados colhidos através dos

questionários aplicados aos professores de música da cidade de Natal/RN, com caráter mais

quantitativo. Essa fase objetivou conhecer o perfil de formação e atuação dos educadores

musicais de Natal/RN e suas concepções sobre o ensino de música da escola e a Pedagogia de

Projetos como também selecionar dois professores que estavam desenvolvendo projetos, um na

escola particular e outro na escola pública.

Acompanhei o desenvolvimento desses projetos através da observação participante e os

dados das observações dos projetos “Gêneros musicais” na escola particular e “Música Potiguar

na escola: Galvão Filho”, na escola pública, que apresento, analiso e discuto no sexto capítulo.

Descrevo as fases, forma de operacionalização e abordagem de conteúdos observando as

atividades musicais realizadas e analiso-as a luz da literatura estudada.

Através desse estudo, acredito poder fomentar as discussões e pesquisas em torno de

metodologias para o ensino-aprendizagem musical no contexto escolar e trazer referências para

os professores que utilizam ou desejam utilizar a Pedagogia de Projetos como metodologia para

suas aulas de música.

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2 A PEDAGOGIA DE PROJETOS E O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO

BÁSICA

Nesse capítulo discorro sobre o tema central dessa pesquisa, a Pedagogia de Projetos,

traçando primeiramente um percurso histórico e apresentando os autores e as ideias que deram

origem ao então chamado “Método de Projetos”. Ao longo da história, diversas denominações

e concepções a respeito do termo Projeto são utilizadas dentro do meio educacional, fator que

gera uma certa confusão teórica. Apresento algumas das principais denominações, seus autores,

ideias e características. Apoio-me na definição de Boutinet (2002), que considera a “Pedagogia

do Projeto” como sendo um caminho metodológico que articula os tempos iniciais e finais do

projeto. Adaptei a nomenclatura e utilizei um termo mais genérico, Pedagogia de Projetos, por

observar ser mais usual entre os professores, coordenadores e gestores das escolas e por

considerá-lo mais didático ao discutir as múltiplas concepções em torno do termo Projeto.

Penso que ao tratar dessas múltiplas concepções dentro deste trabalho, devo me referir ao termo

de forma plural, assim como são plurais as ideias, concepções, autores, fundamentos e formas

de execução.

Essa pluralidade já demonstra um traço da natureza dessa metodologia que é a adaptação

aos contextos nos quais ela é utilizada. No entanto, a adaptabilidade e a pluralidade de

concepções podem ser consideradas uma “faca de dois gumes”2 pois, se usadas sem

fundamentos, definições e consciência podem se tornar práticas confusas. Por esse motivo se

faz necessário que neste trabalho sejam abordadas as diferentes concepções em torno do termo

Projeto, com o intuito de diminuir as confusões e tornar as discussões mais claras e conscientes.

Também se fez necessário a apresentação dos princípios, fases e características do

Projeto de forma mais técnica, a partir da visão de vários autores. A execução de projetos pode

ter diversas variações em suas fases e formas de abordagem de conteúdo e isso fica evidenciado

nas diversas formas de operacionalização apresentadas pelos diferentes autores. Porém, elas

seguem princípios muito parecidos.

Trabalhos envolvendo o ensino de música através da Pedagogia de Projetos veem sendo

realizados, no entanto ainda são considerados escassos e carecem de aprofundamento. Na

revisão de literatura, apresento o resultado de uma pesquisa sobre o tema, realizada nas

principais publicações da área de Educação Musical e nos principais bancos de teses e

dissertações brasileiras.

2 Dito popular utilizado para dizer que algo potencialmente bom, pode ter um efeito negativo.

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2.1 Percurso histórico

A sociedade é dinâmica e está sempre passando por mudanças e transformações nos

seus mais diversos âmbitos. Essas mudanças não acontecem de forma isolada em cada âmbito,

pois estes estão interligados, de forma que mudanças nas partes, influenciam mudanças no todo.

Como uma máquina na qual o funcionamento de uma peça compromete o funcionamento dela

inteira, na sociedade, mudanças no âmbito econômico e tecnológico por exemplo, podem

influenciar o âmbito social e comportamental. A educação, como parte da sociedade, também

é influenciada por mudanças ocorridas nos mais diversos aspectos.

O período entre o final do século XIX e início do século XX foi marcado por diversas

transformações nos âmbitos social, cultural e científico que impactaram no modo de pensar e

de viver da sociedade ocidental. Mudanças como a criação de partidos, legislação trabalhista,

ideias de liberdade, igualdade e democracia, influenciaram mudanças no campo educacional

que resultaram na criação do movimento intitulado “Escola Nova” ou “Escola Ativa”. Esse

movimento negava as ideias e os métodos educacionais tradicionais que tinham dentre outras

características o aprendizado através da repetição e memorização, o professor como detentor

do conhecimento, a elitização, currículo disciplinar e fragmentado. Baseados nos ideais de

liberdade e igualdade descendentes da revolução francesa e diante das mudanças em diversos

âmbitos, a educação deveria adaptar ideias e métodos para a formação e preparação dos sujeitos

para essa nova realidade. Conforme Menezes e Cruz (2007, p. 112):

Assim, ao velho armazenamento da multiplicidade de matérias de estudo,

isoladas umas das outras, fragmentadas, baseadas na repetição, deveria ser

adicionado novos métodos e novas técnicas, novos conhecimentos e novas

habilidades, visando transformar a escola num ambiente onde se deve “viver

o verdadeiro viver”, e assim preparar a criança para enfrentar situações que a

sociedade em mudança estava a exigir.

O movimento “Escola Nova” ou “Escola Ativa” baseia-se nos princípios de aprender

através da experiência (da ação), levar em conta os interesses dos alunos, trabalhos manuais,

conhecimento funcional (o conhecimento com utilidade) valoriza os conteúdos procedimentais

e a importância de aprender a aprender, não só aprender conteúdos. A escola não deveria se

dissociar da vida cotidiana, mas sim, estar em consonância e atender as exigências e mudanças

da vida em sociedade.

Um dos principais pensadores desse movimento foi o filósofo norte-americano John

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Dewey (1859-1952) que em seu livro “Vida e educação” defendia a ideia de uma escola

democrática e uma educação indissociada da vida. Criticava a fragmentação dos conteúdos

através das disciplinas e defendia uma educação baseada na experiência na qual “O verdadeiro

desenvolvimento é o desenvolvimento da experiência, pela experiência. E isto será impossível,

se não providenciarmos um meio educativo que permita o funcionamento dos interesses e forças

que forem selecionados como mais úteis” (DEWEY, 1959, p. 66). O “meio educativo” deveria

propiciar o despertar de interesses que consequentemente desperta esforço da parte do aluno

para aprender determinado assunto. O sentido de “aprender a aprender”, é colocado como uma

forma de desenvolver a capacidade de autonomia para um aprendizado amplo e

contextualizado, com sentido e significatividade a partir do interesse e através da experiência e

não só um aprendizado teórico, forçado de conteúdos impostos sem reflexão.

As ideias de Dewey também influenciaram o ensino de arte na escola, pois valorizavam

os trabalhos manuais e a educação estética. Segundo ele, as atividades manuais e artísticas

consistiam em trabalhos a serem realizados na escola quando exigiam um esforço consciente

para serem realizadas, “Pintura, desenho, modelagem, canto, desde que exista atenção

consciente nos meios, - na técnica de execução, estão aí incluídos” (DEWEY, 1959, p. 152).

As contribuições de Dewey para o desenvolvimento do ensino de arte na escola também são

apontadas por Fonterrada (2008) ao afirmar que: “Dewey colocara a arte no centro da sala de

aula, tirando-a do pedestal em que se encontrava desde o século XIX” (FONTERRADA, 2008,

p. 103). Segundo a autora, as ideias de Dewey tiveram uma grande influência na educação

brasileira graças a seu discípulo Anísio Teixeira (1900-1971), que traduziu duas de suas obras

e ocupou diversos cargos de chefia no sistema educacional brasileiro.

O início do século XX também marca o surgimento dos “Métodos ativos” de Educação

musical que tinham como pressupostos ideias muito parecidas com as do movimento Escola

nova. Os métodos ativos de educação musical, criticavam o ensino de música puramente

tecnicista, baseado somente na repetição e, como o próprio nome já diz, propunham um ensino

de música ativo no qual o educando aprendesse música de forma envolvente, desenvolvendo a

musicalidade. Os principais nomes de educadores musicais da chamada “primeira geração” dos

métodos ativos são: Émile-Jaques Dalcroze, Edgar Willems, Zoltán Kodály, Carl Off e Shinichi

Suzuki. Cada método apresenta sua especificidade, mas um ponto em comum a todos é que eles

“descartam a aproximação da criança com a música como procedimento técnico ou teórico,

preferindo que entre em contato com ela como experiência de vida” (FONTERRADA, 2008,

p. 177).

Os métodos ativos de educação musical e o movimento Escola Nova, tem muito em

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comum pois surgiram no mesmo período e influenciados por contextos sociais parecidos que

resultou em pressupostos comuns como por exemplo: aprendizagem a partir da experiência,

democratização do ensino, ensino significativo, crítica aos métodos tradicionais baseados na

repetição e fragmentação de conteúdos. Muitos desses métodos tiveram grande influência no

ensino de música brasileiro.

Diante de tantas mudanças nas concepções de educação, se fazia necessário a busca de

soluções práticas para questões de reorganização escolar e elaboração de metodologias que

contribuíssem para o desenvolvimento de uma prática educativa que efetivamente quebrasse

paradigmas. É nesse contexto e baseado nas ideias do movimento Escola Nova que se inicia a

utilização e sistematização do então chamado “Método de Projetos” a partir da concepção de

que:

A escola seria uma reprodução da sociedade - uma miniatura que deveria

mostrar o mundo de forma simplificada e organizada, ensinando à criança a

viver no mundo sem conflitos. Foram esses pensamentos que pautaram a nova

concepção de ensino e de escola, a qual foi denominada genericamente de

Escola Nova, sistematizadora do Método de Projetos. (CAVALCANTE,

2009, p. 41)

As experiências que deram início a sistematização do “Método de Projetos” foram

realizadas por Dewey na escola primária da Universidade de Chicago em 1896, a partir de

estudos que buscavam “definir o papel dos impulsos da ação ou função dos interesses” baseado

na psicologia funcional (MENEZES; CRUZ, 2007, p. 114). Baseado nos estudos, ideias e

experiências de Dewey, seu discípulo, o matemático e físico norte-americano William Heard

Kilpatrick (1871-1965), sistematizou o “Método de Projetos”. Em seu livro “Educação para

uma civilização em mudança”, Kilpatrick discorre sobre as adaptações que a escola deveria

fazer para acompanhar as mudanças de sua época destacando como principal tendência o

“pensamento baseado na experimentação” a partir do qual nascem: “uma nova atitude mental,

diante da vida; a industrialização; a democracia” (KILPATRICK, 1972, p. 20).

Kilpatrick defendia que a escola deveria ser penetrada de um “Viver real”, ambiente

propicio as atividades dos alunos “onde seus empreendimentos formem unidades típicas de

aprendizagem” e ter professores que “nutram simpatia pela infância e pela juventude” e “vejam

e saibam que o desenvolvimento só pode ser considerado como verdadeiro quando propicie

elementos de autocontrole sempre crescente” (KILPATRICK, 1972, p. 77). Dessa forma a

escola seria um ambiente no qual os professores seriam colaboradores do desenvolvimento dos

alunos que aprenderiam a partir de experiências da “vida real” organizadas no ambiente escolar

em forma de projetos que podem ser definidos tomando como base o interesse dos alunos. O

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aprendizado se dá da forma mais completa e eficaz quando é movido não por imposições dos

professores, mas, por interesse dos próprios alunos.

Os projetos não seguiam as divisões e fragmentações disciplinares, partindo de uma

situação prática poderia se trabalhar conteúdos de diversas disciplina, do todo para as partes,

pois para ele qualquer aprendizagem deve priorizar à utilidade ao invés de uma divisão lógica

de matérias. Dessa forma se constrói um caráter de personalidade e o aluno pode sentir-se parte

do projeto pois trabalham juntos com o professor para a resolução de problemas, elaborando

seu próprio programa de aprendizado, tornando assim o conhecimento “funcional” agregando

sentido e intensidade.

O termo “Projeto” começara a ser utilizado no meio educacional a partir dessas ideias e

experiências iniciadas por Dewey e Kilpatrick para responder as demandas da época e do

contexto em que viveram. No entanto, outras metodologias e concepções com ideias e práticas

similares foram surgindo com o intuito de responder as demandas e especificidades de outros

contextos como é o caso dos Centros de Interesses, Projetos de trabalho, Tema gerador, e

Trabalho por temas. Como corrobora Boutinet (2002, p. 182),

Essa intenção de transformar o aluno de objeto em sujeito de sua própria

formação, será, por outro lado, mais ou menos contemporânea dos esforços

despendidos em contextos diferentes pelos defensores da Educação Nova:

primeiramente C. Freinet, mas também M. Montessori, O. Decroly e A.S.

Makarenko, quatro autores que valorizam a liberdade da criança, suas

necessidades de atividades, em suma, a escola ligada à vida – as experiências

que o próprio aluno realiza em um meio educativo apropriado são os fatores

de aprendizagem.

Os Centros de Interesse surgiram na Bélgica no mesmo período do método de projetos,

final do século XIX e início do século XX, sistematizado por Ovide Decroly (1971-1932). O

trabalho era organizado em grupos segundo os interesses e a faixa de idade dos estudantes e

seguia as fases de: observação, associação e expressão.

O Trabalho por temas proposto por Jerome Bruner (1915), surgiu no contexto da cidade

de Nova York, na década de 1960, em meio a chamada “Revolução cognitiva”. Busca

desenvolver conceitos-chave a partir das estruturas das disciplinas propondo um currículo em

espiral.

O Tema Gerador surge no Brasil com o Movimento de reorientação curricular do

município de São Paulo na década de 1990 com base no texto de Paulo Freire (1921-1997)

“Pedagogia do oprimido” e se caracteriza pelos seguintes momentos pedagógicos: organização

da realidade, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento.

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Os Projetos de trabalho nasceram na Espanha através de experiências em escolas do

Ensino Fundamental de Barcelona realizadas principalmente pelo educador Fernando

Hernández e das discussões do construtivismo. Retoma as ideias e concepções de métodos

anteriores e do movimento construtivista, adaptando-as as necessidades e mudanças

contemporâneas.

É importante destacar que os estudos e pensamentos pedagógicos foram evoluindo e em

cada época transformando a escola e os métodos nela empregados, com o objetivo de superar

práticas que do ponto de vista dos “inovadores” não eram mais convenientes às mudanças e

avanços sociais, pois se baseavam em ideias e práticas “ultrapassadas”. Percebemos que embora

cada metodologia apresente suas especificidades, influenciadas pelas adaptações e necessidades

de cada contexto e apresentadas sob denominações diferentes, um fio condutor perpassa todas

elas: A ideia de aprender através da experiência. Partir do interesse dos alunos e trabalhar em

torno de um tema de forma cooperativa, buscando diluir a fragmentação disciplinar e dando

ênfase a todo o processo de aprendizagem também são características comuns.

Outros pontos em comum entre essas metodologias e concepções foram identificados

por Rêgo e Pernambuco (2001)3, ao analisar as metodologias Tema Gerador, centro de

interesses, tema de pesquisa e projeto de trabalho. A saber:

Dialogicidade: aprendizado através da interação coletiva e participação de todos os

envolvidos no processo;

Conhecimentos prévios dos alunos: Deixar os alunos falarem de suas experiências e

conhecimentos do cotidiano e a partir disso conduzir a prática pedagógica;

Interdisciplinaridade: diálogo entre áreas de conhecimento;

Nível de desenvolvimento dos alunos: levar em conta as características das fases de

desenvolvimento humano, nos aspectos, cognitivo, motor, social considerando os “interesses

e possibilidades como ponto de partida para novas aquisições”;

Dialeticidade: O planejamento é flexível e adaptado segundo as necessidades que vão

surgindo no processo;

Indissociabilidade entre conteúdos e metodologias: processo de construção do

conhecimento é dinâmico e não se baseia em lista de conteúdos rígidos;

Conhecimentos científicos, sociais, conceituais, culturais e atitudinais: proporciona uma

formação mais ampla dos sujeitos permitindo uma melhor “leitura de mundo”;

3 Documento não publicado

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Construção de um projeto coletivo de escola: “democratização das relações internas” da

escola, conviver e respeitar as diferenças, participação de todos os envolvidos no ambiente

escolar.

Cada proposta foi pensada e desenvolvida para atender as exigências postas pelo

contexto em que foram criadas, contudo, essas propostas não nasceram “do nada”. Elas foram

sendo reinterpretadas, reinventadas e adaptadas, a novos contextos, que apresentaram novas

exigências, tomando como exemplo experiências do passado e ideias do passado.

Hernandez (1998, p. 80) explicita pontos em comum entre essas metodologias que

fazem parte de “uma tradição na escolaridade favorecedora da pesquisa da realidade e do

trabalho ativo por parte do aluno”. O autor elenca essas as características e pontos em comum

entre essas estratégias ativas de ensino.

Tabela 1- pontos em comum entre os métodos ativos.

-Vão além dos limites curriculares (tanto das áreas como dos conteúdos)

-Implicam a realização de atividades práticas

-Os temas selecionados são apropriados aos interesses e ao estado de desenvolvimento

dos alunos

-São realizadas experiências de primeira mão como visitas, presença de convidados na

sala de aula etc.

-Deve ser feito algum tipo de pesquisa

-Necessita-se trabalhar estratégias de busca, ordenação e estudo de diferentes fontes de

informação

-Implicam atividades individuais, grupais e de classe, em relação com as diferentes

habilidades e conceitos que são aprendidos

Fonte: Hernandez (1998, p. 80)

Cabe a nós, educadores contemporâneos, aprender com as experiências e os exemplos

do passado e adaptá-las as necessidades e transformações do nosso contexto, marcado

principalmente pela globalização e o acesso rápido a informações proporcionado pelo

desenvolvimento tecnológico e a internet.

Esses avanços possibilitaram o acesso a informações do mundo inteiro literalmente “na

palma da mão” de forma instantânea, através de tablets e smartphones, fator que altera

significativamente o papel da escola e do professor, pois, cabe a estes não mais o papel de

transmitir informações, mas de selecioná-las, tratá-las de forma que, para os alunos se

transformem em conhecimento. É possível conhecer músicas de diversas partes do mundo, de

várias épocas, e ter acesso a informações sobre história, instrumentos, compositores, letras de

canções dentre outros aspectos de contexto e linguagem musical. Vídeo-aulas são amplamente

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divulgadas no meio virtual possibilitando um aprendizado autônomo.

Destacamos a proposta do educador Espanhol Fernando Hernández intitulada por ele de

“Projetos de trabalho” por sua relevância no atual contexto escolar. A partir das propostas

metodológicas anteriores, principalmente o método de projetos e os centros de interesses, de

suas experiências com projetos em escolas de Barcelona e dos avanços educacionais e ideias

construtivistas, Hernández buscou ressignificar a organização escolar e os processos de ensino-

aprendizagem. Embora esse autor tenha se baseado em princípios educativos do movimento

escola nova, o mesmo deixa claro que sua proposta não é uma recuperação da maneira de

organizar os conhecimentos escolares propostos por autores de períodos anteriores, mas uma

reinterpretação e uma adaptação de velhas ideias e novas ideias ao contexto atual marcado por

outras transformações que geram necessidades diferentes das décadas passadas. Uma das

características do trabalho com projetos é a utilização de diversas fontes de informações e a

grande flexibilidade e adaptação a diversos conteúdos e disciplinas. Conforme destacado por

Meneses e Cruz (2007, p. 116).

Na perspectiva de como se ensina e de como se aprende, outros pontos se

destacam como relevantes, marcados pela visão construtivista: a

aprendizagem e a construção do novo conhecimento, a importância do

contexto em que se dá a aprendizagem e a participação e a interação entre os

alunos.

No contexto brasileiro essas metodologias vêm ganhando espaço e sendo aplicadas de

diversas formas e sob diversas denominações e interpretações o que pode resultar em práticas

confusas se não forem bem fundamentadas. Por isso é necessário um esclarecimento a respeito

das nomenclaturas e de como se dá na prática a realização do trabalho através da Pedagogia de

Projetos.

Diante do breve histórico apresentado acima a respeito dos projetos e de metodologias

que se assemelham a essa proposta, e da exposição de algumas questões referentes a

contemporaneidade, no próximo tópico do trabalho apresento algumas das diversas

interpretações e denominações dadas aos projetos no contexto escolar.

2.2 Projetos na contemporaneidade: denominações e aplicações

Projetar faz parte do cotidiano humano mesmo que de maneira informal. Ao pensarmos

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em um objetivo ou uma tarefa cotidiana, inconscientemente traçamos um percurso para alcançá-

lo, criando estratégias e metas para atingi-lo. Segundo o dicionário de filosofia Abbagnano

(2007) Projeto significa:

Em geral, a antecipação de possibilidades: qualquer previsão, predição,

predisposição, plano, ordenação, predeterminação, etc, bem como o modo de

ser ou de agir próprio de quem recorre a possibilidades” (ABBAGNANO,

2007, p. 800)

Sendo assim, nesse contexto projetar é maneira de ser constitutiva do homem como

forma de ordenar e planejar suas ações. No âmbito da vida pessoal os projetos ocorrem de

maneira mais intuitiva e empírica, enquanto que no coletivo na maioria das vezes são

imprescindíveis e exigem técnica de elaboração e execução.

A palavra “Projeto” pode ser aplicada a diversos contextos: social, político, econômico,

acadêmico, profissional, dentre outros. E em áreas de conhecimento, adquirindo significados e

funções especificas de acordo com a forma e o contexto em que é empregada. Na arquitetura,

administração de empresas, na área cultural, no marketing, na pesquisa acadêmica, na

Educação, o “Projeto” apresenta especificidades técnicas na elaboração e execução. Boutinet

(2002) apresenta as diversas modalidades de projetos voltados a práticas profissionais: práticas

arquiteturais e de ordenamento, práticas pedagógicas e de formação; práticas de gestão

organizacional e tecnológica. Elaborar um projeto consiste em organizar ideias e ações tais

como: Prever e ordenar ações, justificar determinados empreendimentos, traçar cronogramas e

metas, prever gastos e fazer orçamentos, e pode incluir outros itens de acordo com as

características técnicas de determinadas áreas. Sobre a função do projeto na atualidade,

Cavalcante (2009, p. 52) afirma que:

Atualmente, tem-se pensado a elaboração de projetos como aporte crucial para

a resolução dos mais variados problemas, nas mais variadas situações, crendo

ser esta a saída para a eficiência e eficácia de instituições e pessoas dentro de

uma visão estratégica de trabalho.

Como prática pedagógica e de formação, o projeto vem sendo utilizado com muita

frequência no meio educacional atribuindo-se diferentes sentidos e especificidades técnicas na

elaboração, dependendo da forma e do objetivo que for empregada. Dentre as diversas

utilizações dessa palavra apresentamos como exemplo os termos: “Projeto de pesquisa” que se

refere a um documento elaborado segundo especificações técnicas e deve conter todos os itens

predeterminados para a realização de uma pesquisa acadêmica. “Projeto político pedagógico”

é um documento elaborado geralmente por uma equipe, no qual constam diretrizes para a

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organização administrativa e pedagógica de uma determinada unidade escolar. “Projeto

extracurricular” muito comum na rede municipal de educação de Natal/RN, são atividades

educativas, culturais ou esportivas que acontecem fora do horário de aula, geralmente no contra

turno. Para Hernández (1998) o termo “Projeto” aplicado ao contexto educacional faz referência

ao sentido usado por outras áreas de conhecimento:

Refiro-me ao uso que arquitetos, designers, artistas... fazem de “projeto”,

como um procedimento de trabalho que diz respeito ao processo de dar forma

a uma ideia que está no horizonte, mas que admite modificações, está em

diálogo permanente com o contexto, com as circunstâncias e com os

indivíduos que, de uma maneira ou de outra, vão contribuir para esse

processo. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 22)

Boutinet (2002) caracteriza quatro níveis de projeto no âmbito da prática pedagógica e

formação: O Projeto educacional, é mais abrangente, evolvendo diversos ambientes e atores

e objetivando a inserção social, cultural e profissional dos indivíduos. O Projeto pedagógico,

se limita ao campo escolar envolvendo professores e alunos e tem como parâmetros essenciais

a negociação pedagógica, os processos de articulação entre os projetos individuais e os projetos

pedagógicos, determinação de objetivos pertinentes e realizáveis, e o horizonte do projeto e sua

avaliação. O Projeto de escola, diz respeito a revitalização de um estabelecimento escolar já

existente, pretende dar coerência às políticas educacionais localmente implantadas, suscitar

dinamismo em equipes pedagógicas, combater o fracasso escolar e inserir o jovem em seu papel

de adulto; tem como “motor central” o conselho escolar. O Projeto de formação, contempla o

projeto individual de formação (aperfeiçoamento); projeto organizacional de formação

(implementa um dispositivo de formação para um determinado grupo) e o projeto de uma ação

de formação (projeto método para desenvolvimento de inovações).

A Pedagogia do projeto se caracteriza como um caminho metodológico que pode

perpassar os níveis descritivos de projeto (projeto educacional, projeto pedagógico e projeto de

escola) e se caracteriza pela articulação dos tempos de início e final do projeto. As etapas

essências do início do projeto são: Diagnóstico da situação pedagógica, negociação de um

objetivo de ação, determinação de meios e programação das sequências. O final do projeto é

composto pelas seguintes etapas: planejamento das atividades, realização e controle, avaliação

final (BOUTINET, 2002). Os níveis, educacional, pedagógico e de escola, podem se

desenvolver sem a presença da pedagogia do projeto ou até mesmo acontecer de forma contrária

a ela. Na figura 1, represento os quatro níveis de projeto apontados por Boutinet, colocando a

“Pedagogia do Projeto” como possibilidade metodológica que pode perpassar os outros três

níveis:

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Figura- 1: quatro níveis de projetos como prática pedagógica e de formação

Fonte: Elaborado pelo autor a partir das ideias de Boutinet (2002)

O Projeto como caminho metodológico que pode ser utilizado para o ensino-

aprendizagem de diversos conteúdos e disciplinas, em vários contextos, no decorrer da história

passou por diversas adaptações e transformações resultando em uma multiplicidade de

denominações e interpretações dadas a Pedagogia do projeto. Essa variedade de denominações

causa uma certa confusão no meio educacional e por vezes é utilizada de maneira

indiscriminada referindo-se a práticas que não correspondem às ideias fundamentais que

deveriam alicerçar e conduzir essa metodologia. Segundo Hernández (1998), já em 1934, um

autor americano registrava ao menos 17 interpretações diferentes do método de projetos

(MARTÍ, 1934, apud HERNÁNDEZ, 1998).

Estudos recentes demonstram a multiplicidade de denominações dadas a pedagogia do

projeto. Cavalcante (2009, p. 70-74) construiu um quadro apresentando as características das

denominações que considerou as mais usuais: Pedagogia de Projetos ou Projetos Pedagógicos,

Método de projetos, Projeto escolar de pesquisa ou investigativos, Projetos de trabalho, Projetos

Projeto educacional

Projeto de escola

Projeto pedagógico

Pedagogia do projeto

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de Ensino, Projetos didáticos, Projetos de aprendizagem. Leitão (2011, p. 47-51) expõe

diversas nomenclaturas explicitando os principais elementos e autores de cada uma delas.

Baseado nesses estudos elaborei um quadro (quaro 1), contendo as principais e mais usuais

denominações, com seus autores e características, objetivando organizar melhor as informações

e facilitar assim a visualização e compreensão.

Quadro 1: resumo das principais denominações das metodologias que utilizam o termo Projeto

Denominação Principais autores Características

Método de projetos

William Kilpatrick e

John Dewey

Primeiras experiências com projetos,

baseado no pensamento do movimento

Escola Nova; Fundamentado na ideia de

Aprender através da experiência.

Pedagogia de projetos

Josete Jolibert e

Lúcia Helena Alvares

Leite Cunha

Atividades inseridas em aulas

cooperativas com o objetivo de

ressignificar o espaço escolar; Tipos de

projetos: referentes a vida cotidiana, de

empreendimentos e de aprendizado.

Projetos de trabalho

Fernando Hernández

Visão de um currículo transdisciplinar;

Reorganização do espaço escolar;

utilização de diversas fontes de

informação; tema negociado com a turma

Projeto temático

Nilbo Nogueira

Ferramenta que possibilitam trabalhar os

velhos conteúdos de maneira mais atrativa

e focada no aluno; não precisa ser

desconectado da programação acadêmica.

Trabalho por projetos

José Augusto

Pachêco

Trabalho coletivo realizado em

colaboração a partir do envolvimento e

contribuições de todos os envolvidos

Trabalho com projetos

Eduardo Chaves;

Celso Antunes

Complemento aos elementos sistemáticos

das disciplinas; Pesquisa aprofundada

sobre um tema que se deseja conhecer.

Projetos

Pedagógicos/Didáticos

Maria Carmem

Silveira Barbosa;

Maria da Graça

Souza Horn

Modo de organizar a prática pedagógica;

Partem da realidade dos alunos; conteúdos

e procedimentos construídos em parceria

com professores e alunos

Projetos de Ensino Professor tem o controle; ênfase no ensino

e nos conteúdos do currículo; trabalhos

individuais ou articulados com outras

disciplinas Fonte: elaborado pelo autor a partir dos trabalhos de Cavalcante (2009) e Leitão (2011)

Cada uma dessas nomenclaturas apresenta especificidades que foram adaptadas pelos

autores e atores desses processos de ensino-aprendizagem, ao contexto no qual aconteceram.

Observando as informações do quadro acima podemos constatar que muitas vezes o que

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diferencia uma proposta da outra são detalhes mínimos. A maioria delas comungam dos

mesmos princípios e se propõe a atingir objetivos parecidos. A questão que se coloca como

fundamental diante dessa diversidade é a necessidade de definir com clareza e consciência, os

princípios da metodologia que será utilizada, do contrário, corre-se o risco de chamar de

Projeto, qualquer prática superficial e vazia.

Para este trabalho escolhi o termo Pedagogia de Projetos como uma adaptação do

termo “Pedagogia do Projeto” utilizado por Boutinet, como um termo genérico que engloba

essa pluralidade de metodologias que articulam os tempos iniciais e finais do projeto, cada uma

com suas especificidades, mas que apresentam diversos princípios em comum. No próximo

tópico aprofundaremos as questões referentes as características e ao desenvolvimento da

Pedagogia de Projetos, no intuito de entender de que maneiras essa metodologia pode ser

aplicada para o ensino de música na Educação Básica.

2.3 Desenvolvimento de projetos: princípios, fases e características

A Pedagogia de Projetos é pensada como uma forma de aproximar as transformações

do mundo contemporâneo ao ambiente escolar, fazendo com que os alunos aprendam através

da experiência. Nessa metodologia o professor não é mais um transmissor de informações, mas

junto aos alunos busca resolução de problemas, ajudando-os a selecionar e a tratar as

informações provenientes de diversas fontes.

Segundo Hernández e Ventura (2000), os “Projetos de trabalho” tem como bases

teóricas os seguintes princípios:

Aprendizagem significativa: Parte do conhecimento prévio dos alunos e de suas hipóteses

sobre o tema abordado e conecta a isto novas informações;

Atitude favorável para o conhecimento: O professor busca despertar nos alunos o

interesse sobre o tema abordado;

Previsão de uma estrutura lógica e sequencial dos conteúdos: Organização dos

conteúdos de maneira que facilite a compreensão por parte dos alunos;

Funcionalidade: consciência da funcionalidade do que tem de ser aprendido;

Memorização compreensiva: valorizar a memorização compreensiva de aspectos que

serão importantes para o aprendizado de outros aspectos;

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Avaliação do processo: é preciso avaliar o processo e as inter-relações criadas na

aprendizagem.

Os princípios apresentados acima estão em consonância com conceitos evidenciados

nas concepções contemporâneas de educação, nas quais o professor não é mais o detentor do

saber que deposita conhecimento em cabeças vazias, mas, busca partir do conhecimento prévio

dos alunos. Sendo assim, eles devem assumir uma postura ativa diante do conhecimento como

bem explicita Nogueira (2001) em sua fala referindo-se à proposta da Pedagogia de Projetos:

Sua proposta reflete e muito alguns conceitos já mencionados no

construtivismo, pois para iniciar um projeto, o aluno já deverá possuir algum

tipo de conhecimento do tema proposto, levando em consideração que este

partiu de seu foco de interesse; portanto poderemos dizer que até o momento

esse aluno já possui “esquemas” que deverão ser mudados no decorrer do

projeto. (NOGUEIRA, 2001 p.93)

Outros conceitos como a multidiscipinaridade, pluridisciplinaridade,

interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade que são abordados nos projetos, buscam

desfragmentar o conhecimento escolar, gerando integração entre disciplinas e conteúdos, mas,

muitas vezes são confundidos e utilizados de uma maneira equivocada. Se faz necessário um

breve esclarecimento destes conceitos, sem a pretensão de abordá-los de forma aprofundada.

A multidisciplinaridade é a integração de diferentes conteúdos de uma mesma disciplina

ou a justaposição de diferentes conteúdos de disciplinas distintas. Na pluridisciplinaridade, um

mesmo assunto é abordado por diferentes disciplinas, mas cada disciplina preserva seu objetivo

específico. Na interdisciplinaridade é realizado um trabalho em conjunto com diferentes

disciplinas em torno de um mesmo objetivo ou tema, na tentativa de integrá-las, para que o

aluno possa estabelecer relações entre elas. A transdisciplinaridade é a quebra da barreira

disciplinar. Segundo Hernández (1998, p. 46) “A cooperação, nesse caso, dirige-se para a

resolução de problemas e se cria a transdisciplinaridade pela construção de um novo modelo de

aproximação da realidade do fenômeno que é objeto de estudo”.

Hernández e Ventura (2000) abordam ainda dois aspectos fundamentais que se plasmam

nos projetos: globalização (conhecimento globalizado) e significatividade. No conhecimento

globalizado a aprendizagem acontece através do estabelecimento de relações entre diferentes

fontes e procedimentos a partir de conhecimentos que já possuem e não através da acumulação

de conhecimento. Os autores apontam as diferenças entre o conhecimento globalizado e a

interdisciplinaridade:

A globalização, no nosso ponto de vista, implica a possibilidade de que os

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alunos possam estabelecer inferências e relações por si mesmos, enquanto que,

geralmente, a interdisciplinaridade responda a atitude organizativa de quem

ensina. (HERNÁNDEZ; VENTURA, 2000, p. 56)

O trabalho por Projetos tem sempre este caráter de integração entre conteúdos e

disciplinas, mas somente “em algumas poucas escolas do mundo os projetos substituem as

disciplinas convencionais” (ANTUNES, 2001, p.16). Os projetos não descartam os conteúdos

da programação escolar, eles podem estar presentes no ano letivo de uma maneira que venha

somar e se tornar um “complemento aos elementos sistemáticos de uma ou algumas

disciplinas”. Segundo Nogueira:

Um projeto temático não precisa ser desconecto da programação acadêmica.

Ele pode e até deve ser programado e proposto juntamente com os alunos, de

tal forma a intensificar o processo de aprendizagem dos conteúdos e,

principalmente, possibilitar diversificação de ações, formas e vivências que

venham ainda propiciar uma amplitude de desenvolvimento das diferentes

competências. (NOGUEIRA, 2001 p.94)

Os projetos seguem uma estrutura básica, composta por ações que, postas em prática,

levarão a turma a concretização dos objetivos do projeto. Observamos que cada autor apresenta

a organização dos projetos de uma forma própria, mas que respeita os mesmos princípios. Cada

autor apresenta uma particularidade, o que nos faz perceber que os projetos não são “receitas

fechadas” ou “fórmulas”, mas são flexíveis e adaptáveis as diversas realidades. Antunes (2001)

divide os projetos em três fases:

Fase um- Abertura do projeto: Momento de seleção de perguntas e definição do eixo

temático central que será investigado e elaboração de um mapa conceitual onde conste o

tema principal e temas importantes relacionados a ele;

Fase dois- O trabalho prático: A verdadeira “alma” do Projeto Busca, organização,

análise e interpretação de informações provenientes de diversas fontes;

Fase três- A culminância- apresentação: Apresentar os resultados das investigações que

pode ser realizado através de diversos meios como: apresentações musicais, cartazes,

vídeos, teatro, dança, exposição, dentre outras formas de apresentação que se adequem as

especificidades do Projeto.

Já Nogueira (2001), divide os Projetos em 6 etapas a saber: Sonhos, utopias, desejos e

necessidades; planejamento; execução e realização; depuração; apresentação e exposição;

avaliação e críticas. Cada projeto pode ter organização e duração própria, definida de acordo

com o tema e as atividades planejadas. Com base nos estudos realizados em diversos autores e

através da observação empiricamente da prática de Projetos no decorrer da minha carreira

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docente, apresento abaixo, um quadro (quadro 2), contendo um resumo dessas fases ou etapas,

e as atividades realizadas pelos professores e alunos envolvidos.

Quadro 2: Resumo das fases do projeto.

FASES DO PROJETO ATIVIDADES DO

PROFESSOR

ATIVIDADES DO

ALUNO

Escolha do tema

Questionar os alunos sobre

os temas sugeridos, buscar

relacionar os temas aos

conteúdos acadêmicos,

realizar avaliação inicial.

Sugerir temas de seu

interesse, argumentar a

relevância do tema

sugerido.

Planejamento

Fazer uma previsão dos

conteúdos e objetivos,

busca de materiais em

diversas fontes de

informação.

Realização do índice,

buscar informações sobre o

tema.

Execução

Busca envolver e orientar

todos os participantes em

todas as tarefas.

Tratamento da informação,

realização das atividades.

Apresentação

Orientação e avaliação das

apresentações.

Apresentar o resultado do

projeto.

Avaliação

Análise da participação dos

alunos durante todo o

projeto.

Autoavaliação e avaliação

do grupo através dos

instrumentos avaliativos. Fonte: O autor (2015)

Nos Projetos, as fases além de serem uma forma de planejar e organizar o trabalho, são

meios para o desenvolvimento de habilidades relacionadas a organização de informações e

apropriação das mesmas para que se transformem em conhecimento, colaborando com a ideia

de “aprender a aprender”. Ideias que se afinam com os métodos ativos de educação musical e

com as tendências educacionais contemporâneas e com as orientações oficiais contidas nos

Parâmetros Curriculares Nacionais, que sugerem o trabalho integrado da música às diversas

áreas de conhecimento por meio de Projetos4.

4 Esse assunto será discutido de forma mais aprofundada do capitulo 3, tópico 2.3, p. 40.

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37

2.4 Pedagogia de projetos e música: produções brasileiras.

Na atualidade, diversas são as pesquisas que abordam temas relacionados à educação

musical no contexto escolar: currículo, legislação, objetivos, metodologias, cognição musical

são alguns dos temas mais abordados. Também é crescente a produção de materiais didáticos e

recursos para as aulas de música na educação básica. Esses materiais são produzidos com o

intuito de dar suporte à prática pedagógica e desenvolver metodologias, orientar práticas e

vivências musicais. No entanto, encontramos poucas pesquisas e materiais que tratem da

Pedagogia de Projetos voltada para o ensino de música na escola. Nesses estudos, e na educação

básica de forma geral, apesar da palavra projeto ser bastante utilizada, muitas vezes serve para

denominar práticas que não correspondem aos princípios e as fases da Pedagogia de Projetos

ou se apropriam somente de alguns aspectos inerentes a essa metodologia. A palavra “projeto”

pode ser utilizada para denominar diversas práticas que por vezes não são realmente baseadas

na Pedagogia de Projetos.

Na revisão da literatura pesquisei diversas publicações de temas relacionados a

Pedagogia de Projetos e mais especificamente a utilização dessa metodologia para o ensino de

música no contexto escolar5. As principais fontes de pesquisa foram: livros, revistas e

periódicos da área de educação musical, teses e dissertações, anais de congressos e encontros

acadêmicos. Identifiquei que as produções abordando a Pedagogia de Projetos focalizam o

desenvolvimento dessa metodologia em diversos contextos e as categorizei da seguinte forma:

Pedagogia de Projetos e o ensino de música; Pedagogia de Projetos e educação básica;

Pedagogia de Projetos e ensino técnico-profissional; Pedagogia de Projetos e formação de

professores e gestores.

A busca nos principais bancos virtuais de teses e dissertações (Banco de teses e

dissertações da CAPES, Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações-BDTD, Scielo,

repositórios de algumas universidades) se deu a partir da palavra-chave “Pedagogia de

Projetos”. Dos trabalhos encontrados, foram selecionados os que continham as palavra-chave

no título e/ou no resumo, e depois feita uma leitura dos resumos.

Realizando a busca nas principais revistas e periódicos das áreas de Educação Musical

(Revista da ABEM, Música em perspectiva, Música Hodie, OPUS, Permusi, Em Pauta) sobre

5 A palavra contexto, bastante utilizada durante todo o trabalho, se refere ao conjunto de circunstâncias (culturais,

pessoais, profissionais, etc.) que envolvem determinado local, situação, pessoa. Nesse caso a escola envolve pais,

alunos, professores, espaço físico, cultura local etc.

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o tema Pedagogia de Projetos só foi encontrada uma publicação que trata de ideias para projetos

integrados com música dentro da escola a partir do tema “Trem”.

Então passei a buscar publicações nos anais de encontros e congressos da Associação

Brasileira de Educação Musical (ABEM) que são um dos principais meios de divulgação da

produção acadêmica da área de Educação Musical e uma importante fonte para a construção

das referências em estudos da área. Das produções nos Anais entre os anos de 2000 a 2015,

referentes ao tema desta pesquisa a partir das palavras-chave “Pedagogia de Projetos” encontrei

cinco artigos relacionados diretamente a este tema, dos quais, três tratam do ensino de música

na Educação Básica. Analisei esses artigos a partir da leitura integral dos mesmos.

Encontrei poucos livros que abordam a Pedagogia de Projetos relacionada ao ensino de

música. PONSO (2008) aborda práticas interdisciplinares na educação infantil, fundamentada

em autores como Fernando Hernandez e Howard Gardner, faz uma breve discussão sobre os

princípios da Pedagogia de Projetos e em seguida demonstra relatos de experiências na

Educação Infantil a partir de trabalhos realizados através da Pedagogia de Projetos buscando

ações interdisciplinares. Alguns trabalhos fazem relatos de experiências de projetos

desenvolvidos em diferentes níveis da Educação Básica. Como exemplo o trabalho organizado

por SOUZA (2011), que apresenta relatos de experiências de alguns projetos desenvolvidos na

rede de ensino da cidade de Gramado-RS.

Resumi o resultado das buscas das teses e dissertações e dos artigos de periódicos e

congressos no gráfico abaixo (gráfico1), objetivando uma melhor visualização da categorização

dos dados:

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39

Gráfico 1: Revisão de literatura

Fonte: O autor (2015)

Os trabalhos com foco na Pedagogia de Projetos e o ensino de música na escola são

bastante escassos. O único trabalho encontrado a nível de pós-graduação é o artigo de Menezes

e Silva (2013), que trata de uma pesquisa de doutorado em andamento. Neste trabalho, o autor

objetiva investigar “se, e como a Pedagogia de Projetos poderia contribuir na implementação

das práticas pedagógico-musicais nas escolas de ensino básico”. Os trabalhos de Oliveira

(2003), Lanzillotti e Machado (2010) e Domingues (2014) são relatos de experiências da

utilização da Pedagogia de Projetos para o ensino de música na Educação Básica e o trabalho

de Morato (2003) também é um relato de experiência, mas com uma turma do ensino superior.

A revista “Música na Educação Básica” da ABEM, contém uma publicação de autoria

de Penna (2014), que trata sobre a possibilidade de realização de Projetos integrados ou

interdisciplinares em turmas da Educação Básica, a partir de músicas com o tema “Trem”.

Nesse artigo a autora aponta formas de execução de Projetos interdisciplinares envolvendo a

música, bem como, conteúdos de diversas áreas de conhecimento. No mais recente congresso

Nacional da ABEM ocorrido em 2015 na cidade de Nata/RN, foram publicados mais dois

artigos em formato de relato de experiência. O artigo de Neves (2015) trata de uma experiência

realizada com alunos de 2 a 5 anos de idade em uma escola de Educação Infantil na qual se

realizou um trabalho interdisciplinar envolvendo com as turmas de música. Trajano (2015)

descreve um relato de experiência com turmas do ensino médio do Instituto Federal do

8

9

17

0

2

0

2

9

PP E FORMAÇÕES DE PROFESSORES E GESTORES

PP E O ENSINO TÉCNICO-PROFISSIONAL

PP E EDUCAÇÃO BÁSICA

PP E ENSINO DE MÚSICA

REVISÃO DE LITERATURA

Teses e dissertações Artigos de congressos e periódicos

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Maranhão, na qual também se realizou um Projeto interdisciplinar envolvendo música, teatro,

dança e artes visuais que resultou na produção e apresentação de um musical. Os resultados

desses trabalhos evidenciam a possibilidade da realização de aulas de música na educação

através da Pedagogia de Projetos, no entanto, o pouco número de publicações encontradas,

demonstram a necessidade de realização de pesquisas nessa área.

Diversos trabalhos abordam a Pedagogia de Projetos no contexto da educação básica

sem focar em uma disciplina específica, a exemplo dos trabalhos de Nasser (2012), Cavalcante

(2009), Monteiro (2012), Soares (2005), Martins (2007), Domingues (2006). Outros, o ensino

de disciplinas específicas, como é o caso dos trabalhos de Goulard (2011), Carolino (2007),

Ceccon (2010), Jesus (2014) que focalizam no ensino de geografia e educação ambiental;

Cordeiro (2011) Gomes (2011), Chaves (2011), Gerra (2011), no ensino de química e ciências;

Costa (2005), Oliveira (2011), Espíndola (2005), física e matemática. Alguns desses trabalhos

abordam aspectos específicos da aplicação dessa metodologia para o ensino de determinada

disciplina, fato que muitas vezes vai de encontro ao caráter interdisciplinar da Pedagogia de

Projetos, mas ao mesmo tempo demonstra a possibilidade do trabalho sem necessariamente

integrar diferentes professores de diferentes disciplinas.

Sobre o Ensino Técnico Profissional encontrei os trabalhos de, Vilela (2011), Oliveira

(2011), Chaves (2011), Souto (2012), Coelho (2010), Colombo (2006), Alves (2008), Bento

(2011), Nehme (2004). Esses trabalhos demonstram a flexibilidade de adaptação da Pedagogia

de Projetos a diversas faixas etárias e níveis de ensino e a abordam aspectos como a utilização

de projetos em feira de ciências e para o ensino de disciplinas técnicas.

A Pedagogia de Projetos também é aplicada no contexto da formação de professores e

gestores. É com esse enfoque que os trabalhos de Paula (2011), Almeida (2007), Castro (2008),

Carvalho (2006), Zanolla (2008), Santos (2006), Leitão (2011), discorrem sobre a utilização

desta metodologia em diversas experiências para a formação inicial e continuada de

professores.

Diante da diversidade de produções acadêmicas sobre a Pedagogia de Projetos,

identifico que há uma lacuna nas produções sobre esse tema relacionado ao ensino de música,

apesar de, na prática e através da observação informal, perceber que o termo “Projeto” é muito

utilizado na prática do ensino de música, tanto de uma maneira geral, em diversos ambientes,

quanto nas escolas de Educação Básica. A presente pesquisa, visa contribuir para o

preenchimento dessa lacuna identificada e ao mesmo tempo servir de base para pesquisas

futuras.

Esse levantamento objetivou identificar as pesquisas e publicações acadêmicas em torno

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do tema, para possibilitar uma visão mais ampliada e contextualizada dessas produções e obter

referências que contribuíssem com a construção teórica e metodológica da presente pesquisa.

Os conceitos e fundamentos teóricos apresentados acima a respeito do tema Pedagogia

de Projetos, alicerçam a construção desse trabalho. O próximo capítulo objetiva adentrar nas

discussões e referenciais que fundamentam o ensino de música na Educação Básica,

visualizando o contexto histórico e as diretrizes atuais para a prática do ensino de música na

escola, com o intuito de melhor refletir a respeito das implicações da utilização da Pedagogia

de Projetos nesse contexto.

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42

3 MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A escola está inserida e é parte de um contexto social e político amplo, no qual as

mudanças interferem diretamente nas tendências e concepções do contexto educacional. Nos

diversos períodos da história ocidental, os processos de transmissão musical foram

diversificados de acordo com a época e todo o contexto que envolviam esses processos. O valor

atribuído a música esteve ligado a questões religiosas ou políticas que influenciaram as

metodologias e os processos de ensino-aprendizagem musical, tornando a música muitas vezes,

um acessório para ideologias diversas. A música e a educação andam juntas em diversos

períodos, desde a Grécia antiga, berço da cultura ocidental, onde a música era considerada parte

do sistema educacional pois acreditava-se que ela contribuía para a formação dos cidadãos.

No Brasil, a música é oficialmente instituída no Império, através do Decreto nº 1.331, e

desde então até os dias atuais, passa por várias mudanças na legislação que regulamenta e

organiza a educação através de diversos documentos nos quais constam definições para o ensino

de música e artes na escola.

Neste capítulo, apresento alguns aspectos históricos da legislação para o ensino de

música na escola brasileira abordando questões referentes ao campo do currículo (o que

ensinar). Nesse trabalho, não é pretensão, fazer análises detalhadas e aprofundadas, mas

apresentar dados históricos e documentos oficiais com o intuito de subsidiar discussões a

respeito de questões metodológicas e refletir sobre a utilização da Pedagogia de Projetos como

possibilidade metodológica para o ensino de música na escola. Faço uma breve

contextualização da presença da música na Educação Básica e das discussões atuais sobre

aspectos da legislação e do currículo para o ensino de música na escola. Considero essas

discussões importantes, sobretudo diante do momento histórico atual, no qual se busca a

efetivação e a consolidação do ensino de música na Educação Básica.

3.1 Música na Educação Básica brasileira: aspectos históricos e legislação

A presença da música como componente curricular na escola brasileira é marcada por

várias mudanças e transformações que ao longo da história dificultaram a consolidação do

ensino-aprendizagem de música nesse contexto. Se comparada às outras disciplinas, a música

e as artes em geral apresentam em seu percurso histórico dentro do contexto educacional,

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43

mudanças que muitas vezes impediram que se estabelecessem de forma efetiva. Sacristán (2000

p. 61), fala dos diferentes valores atribuídos aos conteúdos e disciplinas do currículo escolar

estabelecidos de diferentes maneiras de acordo com as “valorizações sociais diversas” que

diferenciam áreas e disciplinas como fundamentais e secundárias, priorizando geralmente áreas

das ciências e matemática e secundarizando áreas como a das experiências estéticas e manuais.

Observando o no nosso contexto brasileiro, percebe-se que, muitas vezes a presença da música

como componente curricular na escola também é secundarizada e desvalorizada em detrimento

de disciplinas consideradas mais importantes.

Como reflexo de uma cultura consumista e utilitarista na qual se dá demasiado valor a

um conhecimento que tenha utilidades práticas ou sirva para passar em concursos com boa

remuneração, essa tendência é evidenciada pelo maior incentivo da parte de órgãos públicos e

privados para as áreas tecnológicas. Aliado ao fato de que muitas vezes, a disciplina de música

e de artes ainda é vista pelo senso comum como uma disciplina de menor valor pois “não cai

no vestibular ou em grande parte dos concursos públicos”. Sendo assim, a música como

disciplina escolar muitas vezes é colocada em “segundo plano” pois seus benefícios são por

vezes subjetivos e não demonstram uma utilidade prática ou financeira.

Essa “desvalorização” do senso comum pode ser fortalecida pelas ambiguidades da

legislação referente ao ensino de música na escola brasileira e pela forma como esse ensino foi

operacionalizado, gerando uma certa inconstância da presença dessa linguagem artística como

um componente curricular. Essa falta de clareza histórica produziu dúvidas acerca de definições

dos objetivos, métodos, conteúdos, currículos, e operacionalização, que são aspectos

fundamentais para o estabelecimento da música como um componente curricular.

Ao longo da história, várias iniciativas foram tomadas através de diversos documentos

oficiais que regulamentaram o ensino da Arte e da Música na escola. Alguns desses

documentos, redigidos e determinados pelos poderes públicos, tratam da organização e de

reformas do sistema educacional como um todo com impacto direto no ensino de arte/música

na escola brasileira. Não há como analisar o histórico e a legislação para o ensino de música na

escola de forma isolada das reformas educacionais e da legislação para o ensino de arte.

Segundo Maura Penna:

A legislação educacional estabelece, há mais de trinta anos, um espaço para a

arte, em suas diversas linguagens, nas escolas regulares de educação básica.

No entanto esta presença da arte no currículo escolar tem sido marcada por

indefinições, ambiguidade e multiplicidade. (PENNA, 2008, p. 120)

Diversos estudos da área da Educação Musical, analisam a legislação para o ensino de

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música na escola de forma mais completa e aprofundada. Baseados em alguns desses estudos:

Fonterrada (2008); Queiroz (2012); Penna (2008); Quadros e Quiles (2012); Souza et al. (2002)

elaborei um quadro com a sequência cronológica de documentos oficias de maior relevância e

abrangência no contexto educacional brasileiro, com o intuito de apresentar uma visão histórica

panorâmica dessa trajetória. Organizei o quadro por períodos da história do Brasil: Império

(1822-1889); República velha (1889-1930); Era Vargas (1930-1945); República nova (1945-

1964); Regime militar (1964-1985); Nova república (1985-presente). No quadro, destaco

aspectos importantes de cada documento como: nomenclatura, as definições que tal documento

determinavam e as principais características.

Quadro 3: Documentos oficias que tratam da Arte/Música na Educação Básica brasileira.

Período/

Ano

Nomenclatura Definições Principais características

Impér

io 1854 Decreto n°1.331 Institui o ensino de música nas

escolas do Município da corte

(Rio de Janeiro)

Divisão da disciplina em:

“noções de música” e

“exercícios de canto”.

Rep

ubli

ca v

elha 1890 Decreto n° 981

“Reforma

Benjamim

Constant”

Pontua conteúdos de música

para o ensino primário e

secundário;

Professor específico de música.

Conteúdos baseados na

música erudita, solfejos e

leitura e escrita musical.

Era

Var

gas

1931 Decreto n° 19.890

“Reforma

Francisco

Campos”

Marca o retorno da música ao

ensino secundário;

Três primeiros anos do curso

fundamental.

Foco na prática do canto

orfeônico;

Fundação da

Superintendência de

Educação Musical e Artística

(SEMA)

1934 Decreto n° 24.794 Determina o ensino do canto

orfeônico para todos os

estabelecimentos dependentes

do Ministério da Educação e da

Saúde.

Criação do Curso Normal de

Canto Orfeônico.

Canto orfeônico como meio

de “formação moral e

intelectual” e de

desenvolvimento do

“sentimento patriótico do

povo”

1942 Decreto n° 4.993 Criação do Conservatório

Nacional de Canto Orfeônico;

Tem abrangência nacional.

Formação de profissionais

para atuação com o canto

orfeônico.

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45

Rep

ub

lica

no

va

populi

sta

1946 “Leis orgânicas”

Decreto-Lei n°

8.529

Mantem a obrigatoriedade do

canto orfeônico para o ensino

primário.

Ensino primário (7 a 12 ano) e

ensino supletivo (adolescentes

e adultos)

1946 Decreto-Lei n°

8.530

Ensino Normal (Formação de

docentes para as escolas

primárias);

Dividido em: Regente de

primário e professor de

primário.

Música presente em todas as

séries do Ensino Normal nas

disciplinas de “canto

orfeônico” e “música e canto”

1946 Decreto-Lei n°

9.494

Curso de especialização para

ministrar a disciplina de canto

orfeônico.

Cursos de preparação e cursos

de músico-artífice.

Curso com duração de 2 anos

realizados nos conservatórios

de canto orfeônico em vários

lugares do país.

1961 Decreto n° 51.215 Normas para a educação

musical nos jardins de infância,

escolas pré-primárias,

primárias, secundárias e

normais

Abrangência nacional;

Música presente em todas as

séries;

Fornecimento de matérias

bibliográficos e instrumentos

musicais.

1961 Lei: 4.024

1ª Lei de

Diretrizes e Bases

da Educação

Nacional.

Generaliza o ensino de artes

como “atividade complementar

de iniciação artística;

Abrange todos os níveis de

ensino.

Muitas vezes é confundida

como a lei que substituiu o

canto orfeônico pela educação

musical;

Primeira Lei de alcance

nacional.

Reg

ime

mil

itar

1971 Lei: 5692/71

Estabelece a Educação Artística

como obrigatória;

Voltada para o ensino de 1° e 2°

grau, altera determinações da

LDB de 1961.

Ensino de arte polivalente,

contemplando Artes Plásticas,

Música e Artes Cênicas.

Oferecimento do ensino

público gratuito por 8 anos.

1973 Parecer CFE n°

1284/73

Resolução CFE

n° 23/73

Institui o curso de Licenciatura

em Educação Artística;

Estabelece normas para este

curso.

Licenciatura de 1° grau (curta)

e licenciatura plena com

habilitação em Artes Cênicas,

Artes Plásticas, Música e

Desenho.

1977 Parecer CFE n°

540/77

Trata da prática da Educação

Artística na escola centrada em

aspectos subjetivos;

Menciona a Música entre as

linguagens artísticas.

Comenta que o ensino da

música limitado ao canto e a

teoria musical não atendem as

expectativas do novo contexto

da Educação Artística.

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46

Nova

Rep

úbli

ca

1996 LDB 9.394/ 96 Definições sobre organização e

diversos aspectos em todos os

níveis da Educação Básica;

“Ensino de Arte” como

componente curricular

obrigatório nos diversos níveis

da Educação Básica.

Continua garantindo o espaço

das artes na escola de forma

ambígua e aberta a diversas

interpretações.

1997

1998

1999

Parâmetros

Curriculares

Nacionais (PCN)

Orientações curriculares para as

diversas áreas de conhecimento

presentes na Educação Básica;

Não têm caráter obrigatório;

Divididos por níveis de ensino:

Educação Infantil (RCNEI),

Ensino Fundamental (PCN) E

Ensino médio (PCN).

Aborda objetivos e conteúdos,

critérios e orientações de

avaliação e orientações

didáticas;

A Arte está presente nos

documentos de todos os

Níveis de Ensino através das

diversas linguagens: Teatro,

Artes Visuais, Música e

Dança.

2004 Diretrizes

Curriculares

Nacionais do

Curso de

Graduação em

Música.

Transformação das

licenciaturas plenas em

Educação artística com

habilitação em música para a

licenciatura em música.

Formação específica que

contribui para uma abordagem

mais aprofundada dos

objetivos e conteúdos.

2008 Lei 11.769/08 A música como conteúdo

obrigatório, mas não exclusivo

do “Ensino de Arte”.

Conquista da área de música

ainda em fase de implantação

e consolidação;

Cada sistema educacional

2016 Diretrizes

nacionais para a

operacionalização

do ensino de

música na

Educação Básica

Orientações às instituições

educacionais quanto a

operacionalização do ensino de

música na Educação Básica.

Homologada dia 05 de maio

de 2016.

Fonte: O autor (2015)

Ao observar o quadro apresentado acima, percebe-se que a presença da música na

escola, nos diversos períodos da história do Brasil, foi amparada por documentos oficiais que

regulamentaram as práticas do ensino de artes e música. No entanto, tantas mudanças causaram

“ambiguidades” que dificultaram e dificultam até os dias atuais, o estabelecimento da música

como uma disciplina obrigatória no contexto escolar. Dos anos 1930 à aproximadamente os

anos 1960, o ensino de música esteve presente na escola em todas as séries do nível de ensino

correspondente ao que atualmente é chamado de Educação Básica, através do canto orfeônico

de forma muito massiva, mas foi perdendo força a partir de 1961 com as definições da 1ª Lei

de Diretrizes e Bases n° 4.024/61 e principalmente em 1971 com a Lei 5692/71 que estabelece

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o ensino de arte de forma polivalente denominada de “Educação Artística”.

Diferentemente dos cursos de formação docente do canto orfeônico, que tinham duração

de dois anos e eram realizados no conservatório de canto orfeônico, no qual os professores eram

formados para ministrar uma disciplina especifica, os cursos de licenciatura curta e plena em

educação artística com habilitação em uma linguagem artística proporcionavam uma formação

superficial para o professor. Os resultados dessa polivalência para o ensino de música na escola

foram evidenciados pelas autoras Souza et al. (2002, p.20), em um passado recente ao

afirmarem que:

A situação da aula de música nas escolas brasileiras tem sido frequentemente

descrita como catastrófica, quando não, ausente. Desde a implementação, em

1971, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n° 5692/71), fala-se no

desaparecimento da aula de música nas escolas regulares. Quase não existiria

mais a aula de música e, consequentemente, o professor de música com

habilitação específica.

As mudanças para essa situação começam a acontecer no ano de 2004 com as Diretrizes

Nacionais do Curso de Graduação em Música (BRASIL, 2004) que estabelece a licenciatura

específica em música. A nova licenciatura em música, curso no qual eu fui formado na UFRN,

tem duração de oito semestres e abrange disciplinas pedagógicas, linguagem e estruturação

musical, práticas de ensino de música, prática instrumental dentre outras com o objetivo de

proporcionar uma formação pedagógico-musical muita mais consistente e aprofundada. Os

egressos desse curso poderão atuar em diversos contextos do ensino-aprendizagem musical

como ONGs, escolas de música especializadas e poderão ser um grande diferencial para a

transformação do ensino de música na Educação Básica.

A LDB após passar por diversas transformações relacionadas ao ensino de artes, em

2008 o ensino de música na escola brasileira é oficialmente regulamentado através da Lei

11.769/08 que altera o artigo 26 da LDB definindo a música como “conteúdo obrigatório, mas

não exclusivo” do componente Arte (BRASIL, 2008). A referida Lei foi o resultado de

articulações de diversas instituições e associações de músicos, educadores e pesquisadores que

através de ações impulsionaram a elaboração e aprovação da mesma, alcançando uma grande

conquista para a área. No entanto, o caminho para a consolidação e implementação efetiva dessa

Lei é lento, e carece de adequações e adaptações tendo em vista a pluralidade sociocultural do

nosso país, a autonomia dos municípios na construção dos currículos, a falta de professores

formados, dentre outras questões. Por esses e outros motivos, é preciso atentar para o fato de

que a Lei, por si só, não basta, pois,

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O fato de perspectivas para o ensino de música na escola estarem inseridas em

documentos oficiais da legislação nacional desde, pelo menos, 1854,

evidenciam que definições de leis, decretos e outros documentos normativos

não são suficientes para uma implementação da educação musical na escola

como componente curricular. Se assim o fosse, já teríamos no Brasil, desde

muito tempo, uma legitimação da música nos currículos escolares. Esse

indicativo é um importante elemento para refletirmos acerca da inserção da

música na escola, principalmente a partir das definições da LDB estabelecidas

pela Lei 11.769/2008. QUEIROZ (2012, p. 34)

Para a efetiva implementação da dessa Lei, se faz necessário diversas iniciativas

acadêmicas, sociais e políticas que objetivem a implementação da música como componente

curricular de forma democrática (MENDES; CARVALHO, 2012). Mesmo sabendo que entre

a aprovação de uma Lei e sua implementação na prática há uma grande distância,

principalmente na realidade brasileira, na atualidade, aspectos como a produção de materiais

didáticos, articulações de associações, intervenções políticas, pesquisas, dentre outras ações,

são realizadas com o intuito de ajudar a fortalecer as justificativas para a presença da música na

escola e quebrar esse paradigma estabelecido pelo senso comum e por essas indefinições

causadas por tantas mudanças na legislação.

Como exemplo dessas ações, foram elaboradas as Diretrizes Nacionais para a

operacionalização do ensino de Música na Educação Básica (BRASIL/CNE, 2013) pelo

Conselho Nacional de Educação (CNE) em ação conjunta com diversos órgãos, universidades

e associações através de eventos como simpósios, audiências públicas e reuniões técnicas. O

documento que se encontra em espera para homologação, objetiva

[...]orientar as escolas, as Secretarias de Educação, as instituições formadoras

de profissionais e docentes de música, o Ministério da Educação e os

Conselhos de Educação para a operacionalização do ensino de Música na

Educação Básica, conforme definido pela Lei n° 11.769/2008, em suas

diversas etapas e modalidades. (BRASIL, 2013, p. 9)

A elaboração e a possível homologação desse documento serão mais um elemento de

fortalecimento para a implementação do ensino de Música na Educação Básica.

A realização do Encontro do Fórum permanente de ensino de música nas escolas de

educação básica, promovido pela ABEM que em 2014 aconteceu na cidade de Recife, e em

2015 na cidade de Macapá, objetivando discutir conteúdos, métodos, currículos e concepções

sobre o ensino de música na educação básica é mais um exemplo dessas iniciativas em prol do

desenvolvimento do ensino de Música na Educação Básica.

Apesar dos desafios e das dificuldades para o desenvolvimento da educação percebe-se

diversos avanços com relação a implementação do ensino de música na escola. Alguns Estados

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e Municípios já abriram editais com vagas especificas para professores licenciados em música

que atuarão na educação básica, como é o caso dos municípios de Natal/RN e João Pessoa/PB.

Apresentei acima um cronograma dos documentos oficiais que trataram do ensino de

Arte/Música na educação básica destacando as definições contidas em cada um e suas principais

características. Atualmente a LDB 9.394/96 e a Lei 11.769/08 são os documentos que tratam

do ensino de música na Educação Básica que estão em vigência. No tópico seguinte, farei uma

análise mais aprofundada das definições relacionadas ao ensino de arte/música contidas nesses

documentos, com o objetivo de fundamentar as discussões e análises a respeito do tema central

dessa pesquisa: a Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de música na escola.

3.2 Cultura, arte e música na legislação atual

No Brasil, a Educação Básica é obrigatória e gratuita para todos os cidadãos dos quatro

aos dezessete anos de idade e composta por três níveis de ensino: Educação Infantil, Ensino

Fundamental e Ensino Médio. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), é um

documento de abrangência nacional que regulamenta todos os níveis de ensino e estabelece

diretrizes que devem ser seguidas em todos os sistemas educacionais do país. Segundo a LDB

9.394/96, artigo 22, “A Educação Básica, tem por finalidades desenvolver o educando,

assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe

meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1996). A manutenção

desses níveis de ensino é de responsabilidade da União, dos Estados e Municípios em regime

de colaboração. Cada Estado e Munícipio tem autonomia quanto a organização de diversos

aspectos relacionados ao sistema de ensino desde que observem as determinações da referida

Lei.

É dever do Estado garantir a todos os cidadãos brasileiros uma Educação Básica da

qualidade, com o objetivo de formar o sujeito como um todo, e não só a mão de obra qualificada

para o trabalho. Nesse contexto, a presença e a importância da cultura na educação brasileira

está explicita na LDB 9.394/96 desde seu artigo primeiro ao afirmar que:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida

familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e

pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais. (BRASIL, 1996)

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A cultura, campo de estudo da antropologia e um dos principais conceitos das ciências

humanas, que ao longo da história adquiriu diferentes definições, mas apesar dessas diferenças,

“[...] parece ser consenso entre os estudiosos da área que a cultura é um fator determinante na

vida do homem e, portanto, ponto crucial para entendimento do mesmo e suas relações em

geral” (Queiroz, 2004, p.100). A cultura é composta por diversos elementos que caracterizam

produções materiais e imateriais da humanidade tais como: costumes, crenças, artes,

conhecimentos, habilidades, comportamentos, dentre outras.

A arte, é em conceito abstrato, que muda de acordo com a cultura, tempo e espaço, e

vem sendo definida de várias formas ao longo da história de acordo com a perspectiva de análise

A Arte é uma constante na história da humanidade. Todas as culturas possuem

Arte, mas sua diversidade torna difícil sua definição. No pensamento ocidental

a Arte á a tradução material da beleza. [...] Mas essa noção de belo varia de

acordo com o tempo, o espaço e a cultura, ou seja, o belo é relativo: o que é

belo para nós, não é para um indivíduo de outra cultura (SILVA, 2009, p. 27).

Não cabe aqui uma discussão aprofundada sobre o conceito de arte, mas considera-la

como uma manifestação cultural constituída de diversas técnicas, materiais e estilísticas que

são construídos de acordo com a época e a cultura. A arte é uma forma de manifestação cultural,

portanto, como previsto no artigo primeiro da LDB 9.394/96, faz parte dos processos formativos

que a Educação abrange. De acordo com a mesma Lei, em seu artigo 26, inciso 2°

O ensino de arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá

componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de

forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, 1996).

O ensino de arte nas escolas de Educação Básica está diretamente ligado a cultura e

desempenha um papel importante na formação do cidadão, pois a arte é uma das formas de

expressão humana e, portanto, uma manifestação cultural.

A música, uma das formas de linguagem e expressão artística, está presente em diversas

culturas e faz parte do cotidiano da maioria das pessoas na atualidade. Seja em rituais religiosos,

momentos de lazer e diversão, estudo e reflexão, os seres humanos se relacionam com a música

de várias formas e em vários momentos seja ouvindo, apreciando, executando um instrumento

musical, cantando ou dançando, interpretando, fazendo e criando. Segundo Penna (2008, p. 18)

A arte de modo geral – e a música aí compreendida – é uma atividade

essencialmente humana, através da qual o homem constrói significações na

sua relação com o mundo. O fazer arte é uma atividade intencional, uma

atividade criativa, uma construção – construção de formas significativas. E

aqui o termo “forma” tem um sentido amplo: construção de formas sonoras,

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no caso da música; de formas visuais, nas artes plásticas; e daí por diante.

Vários estudiosos da área da Antropologia e da Etnomusicologia, a exemplo dos autores:

Jonh Blaking (1928-1990), Ruth Finnegan (1933), Alan Merriam (1923-1980) que têm como

foco a relação do homem, da sociedade, e das culturas com a música, demonstram a importância

da música em diversas culturas. Portanto considerar a música como uma “forma” e linguagem

artística que é parte da cultura humana, e consequentemente um elemento fundamental na

educação e na formação dos indivíduos é fundamental para as discussões desse trabalho.

Na Educação Básica brasileira a música é definida como “um conteúdo obrigatório, mas

não exclusivo” do componente Arte a partir da Lei 11.769/08 (BRASIL, 2008). Diversos

estudos e discussões a respeito da presença da música na Educação Básica brasileira vêm sendo

realizados pela área de Educação Musical. Segundo o estudo de Pires e Dalban (2013), das

publicações da revista da ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical) entre 1992 e

2011, do total de 75 artigos analisados, 27, ou seja, 36% da produção, tem como foco de

interesse “Políticas públicas e a música no contexto escolar”. Esses estudos abrangem aspectos

relacionados ao histórico, legislação, formação de professores, metodologias, currículo e

avaliação, dentre outros temas que objetivam um melhor entendimento de questões

relacionadas ao ensino-aprendizagem musical nesse contexto. Após análise dos artigos, as

autoras atentam para a necessidade de “[...] avolumar pesquisas que aprofundem conhecimentos

sobre/dos alunos, trazendo elementos para se pensar a prática pedagógica em contextos

escolares”.

Com a convicção da importância da formação cultural e da presença das artes e da

música para a formação dos sujeitos e com o amparo da LDB 9.394/08 que rege o sistema

educacional do país, este trabalho tem como campo de pesquisa a música na Educação Básica

e como foco mais especifico, o estudo de metodologias para o ensino-aprendizado de música

nesse contexto. Pois

Cabe a educação musical o papel de possibilitar caminhos para que a relação

entre o homem e a música se efetive de forma significativa, contextualizada

com os objetivos de cada indivíduo e com sua realidade sociocultural

(QUEIROZ, 2004, p. 106)

Com a implementação efetiva do ensino de música na escola, se faz necessário

discussões a respeito dos conteúdos e metodologias que se adequem aos objetivos da música

nesse contexto e que possam tornar as aulas significativas, promovendo o desenvolvimento do

educando como um todo a partir do trabalho com a música. É nesse sentido que se justifica a

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importância da realização dessa pesquisa que buscou entender quais as contribuições da

Pedagogia de Projetos para o ensino de música na escola, partindo da análise da utilização dessa

metodologia nas escolas da cidade de Natal-RN.

No tópico seguinte abordaremos questões relacionadas ao currículo, aos objetivos,

conteúdos e metodologias para o ensino de música na escola a partir das orientações contidas

nos referenciais curriculares e amparados por textos de autores da área da educação e da

educação musical.

3.3 Currículo, objetivos e conteúdos para o ensino de música na Educação Básica

Em relação a outras disciplinas consolidadas há muito tempo no sistema educacional

brasileiro, a música ainda apresenta uma característica de maior liberdade e flexibilidade na

escolha de conteúdos e metodologias para as aulas na escola. Essa liberdade e flexibilidade

pode ser positiva ou negativa. É necessário seguir um norte baseado em fundamentos da

educação musical. Questões como: “o que ensinar” e “como ensinar” devem ser pensadas e

adaptadas a cada contexto. Ou seja, o currículo e a metodologia devem estar claros e definidos.

Não cabe nesse trabalho, um estudo aprofundado sobre currículos e metodologias para o ensino

de música na educação básica, porém, esses assuntos estão diretamente ligados ao tema central

desse trabalho pois ao falar da Pedagogia de Projetos, fala-se de uma forma de organização e

abordagem de conteúdos. O intuito é apresentar e discutir o que está posto com relação aos

conteúdos e metodologias para o ensino de música na educação básica para poder refletir sobre

a inserção e a utilização da Pedagogia de Projetos nesse contexto.

O ensino-aprendizagem de música acontece em vários contextos, tanto dentro de escolas

e conservatórios especializados com currículo definido e documentos que regulamentam sua

prática, como também em espaços fora desses ambientes. A área de educação musical

demonstra atenção para com os contextos não escolares através de estudos que contemplam a

música no cotidiano através de diversas mídias (SOUZA, 2009) a educação musical familiar

passada de geração em geração (GOMES, 2011), a educação musical dos grupos de tradição

oral (SANDRONI, 2000), ensino-aprendizagem musical em contextos não formais e informais

(ARROYO, 2000) dentre outros autores que tem se preocupado em compreender a educação

musical considerando esses diversos contextos nos quais acontecem processos de transmissão

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musical.

Diversos são os espaços extraescolares onde acontecem o ensino-aprendizagem de

música: ONGS, bandas de música, grupos de tradição oral, centros comunitários e sociais,

escolas livres de música, igrejas, dentre outros. Nesses ambientes, o ensino aparentemente se

dá de forma mais espontânea pois, muitas vezes, não existe uma organização curricular dentro

de padrões convencionados pela nossa cultura. De acordo com Sandroni (2000) não existe

educação espontânea pois embora esses processos de ensino-aprendizagem musical

aparentemente sejam descomprometidos, apresentam características de organização de ensino

peculiares a cada grupo, o que os torna particularmente sistemático. Essa sistematização das

práticas de grupos de tradição oral (cavalo marinho, boi de reis, congado, dentre outros) embora

muitas vezes não seja escrita e documentada pelos próprios agentes, é passada de geração em

geração e incorpora processos de transmissão. Segundo o autor, são formas de ensino–

aprendizagem não explícitos. Nesses casos pode-se observar que o aprendizado se dá junto com

a prática em situações de performance nas quais o indivíduo é inserido no fazer musical onde

se aprende e ensina “modos de fazer”.

Segundo Arroyo (2000) o que define a educação como formal, informal ou não formal,

não é o espaço físico no qual acontecem os processos de transmissão musical e sim a forma

como esse processo é organizado. Para ser considerado formal deve apresentar organização

curricular e intencionalidade. A autora utiliza os termos não formal e informal para denominar

os processos que acontecem fora do ambiente escolar não oficial, porém, destaca que a área de

educação musical ainda está à procura de termos mais precisos para denominar questões tão

diversas.

Cada contexto apresenta suas características e peculiaridades, bem como objetivos

específicos a serem alcançados. Os objetivos, conteúdos e metodologias para um determinado

contexto, certamente não funcionarão se forem migrados para um contexto diferente. Desde a

chegada dos portugueses ao Brasil, principalmente com a vinda da corte, o ensino de música

foi muito influenciado pelo modelo conservatorial6, no qual se privilegiava o desenvolvimento

da técnica instrumental ou vocal através da repetição, com o estudo do repertório europeu

(música de concerto) com uma visão bastante etnocentrista7. Por esses e outros motivos é

importante conhecer a herança histórica dos conteúdos, métodos e objetivos do ensino de

6 Ver Fonterrada (2008). 7 Segundo Silva (2009, p. 129), o etnocentrismo pode ser definido como “uma visão de mundo fundamentada

rigidamente nos valores e modelos de uma dada cultura; por ele o indivíduo julga e atribui valor à cultura do outro

a partir de sua própria cultura”

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música na escola e refletir sobre o atual momento e as perspectivas relacionadas aos mesmos.

Nesse sentido é importante destacar que já em 1890 através do decreto de lei nº 981

(BRASIL, 1890) um documento oficial aborda os conteúdos musicais curriculares a serem

trabalhados na escola primária e secundária. Esses conteúdos e abordagens são influenciados

pelo momento histórico e refletem propostas de ensino baseadas em concepções do ensino de

música dos conservatórios. Solfejos, notação musical tradicional, ditados e cantos são alguns

dos conteúdos mencionados nesse decreto. Embora essas definições “não tenham ganhado

respaldo suficiente para garantir a presença da música na realidade das escolas brasileiras”

(QUEIROZ, 2012, p. 28), são importantes para o entendimento do histórico da presença da

música na escola brasileira.

Um dos períodos mais marcantes do ensino de música na escola brasileira foi o

movimento chamado “Canto orfeônico” que a partir dos 1930 tomou proporção nacional e foi

oficializado através do decreto n° 19.890 de 18 de abril de 1931 (BRASIL, 1931). O canto

orfeônico foi um grande marco para a educação musical na escola brasileira, e teve como

principal mentor o compositor Heitor Villa-Lobos baseado nos métodos ativos de educação

musical, principalmente em características do método Kodály como: “o uso de material

folclórico e popular da própria terra; a ênfase no ensino de música por meio do canto coral,

[...]o uso da manossolfa”. (FONTERRADA, 2008, p. 212). Outra característica do canto

orfeônico é a ligação com as ideias nacionalistas que refletem o momento histórico no qual se

encontrava o país. Segundo Fonterrada (2008) o método privilegiava mais os aspectos

quantitativos do que qualitativos pois não era aplicado com tanto “rigor”, muitas vezes

agrupando grandes grupos de coralistas e alimentado ideologias políticas.

A prática do canto coral, baseada no repertório folclórico, caracterizaram os conteúdos

e a manossolfa - notas musicais através de sinais e gestos com as mãos, caracterizou a

metodologia utilizada para essas práticas. Os métodos, conteúdos e práticas do conto orfeônico

são questionados por estudiosos da atualidade, principalmente no que se refere ao estreito

envolvimento com as ideias políticas da época.

Com enfraquecimento do canto orfeônico e a o advento da Educação artística

polivalente, os objetivos, conteúdos e métodos para o ensino de música ficaram cada vez menos

claros e definidos e forma se diluindo com o decorrer do tempo. Definições sobre currículo e

conteúdos são encontradas em documentos oficiais somente em 1997 nos Parâmetros

Curriculares Nacionais - (PCN) (BRASIL, 1997,1998,1999), que não tem caráter obrigatório

mas apresentam orientações sobre conteúdos e métodos para diversas disciplinas incluindo a

Arte. Nesse documento, os conteúdos referentes ao ensino de arte são divididos nas linguagens:

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teatro, música, artes visuais e dança.

Diante do momento de implementação da lei 11.769/2008, uma das questões que são

recorrentes diz respeito a definição de um currículo de música obrigatório e comum para a

educação básica. A Definição de um currículo comum obrigatório pode ser uma forma rígida

de organização dos conteúdos de música para a educação básica, se for elaborado sem levar em

consideração as particularidades de cada contexto cultural, principalmente na realidade do

Brasil que é um país extenso e plural. De acordo com Sacristán (2000)

A cultura comum do currículo obrigatório é mais um objetivo de chegada, por

quê, frente a qualquer proposta, as probabilidades dos alunos procedentes de

meios sociais diversos para aprender e obter êxito acadêmico são diferentes”

(SACRISTÁN, 2000, p. 61).

Se faz necessária a compreensão de objetivos claros bem como seguir princípios e

fundamentos que levem a concretização desses objetivos. Para isso a elaboração de currículos

de música que sejam significativos, que levem em consideração a realidade do aluno, e torne

os conteúdos significativos para eles é de fundamental importância. Segundo Ribeiro (2003)

As aspirações do curso de música, os objetivos da avaliação e escolarização

bem como os princípios pedagógicos musicais nascem no contexto social do

campo das práticas culturais. Partindo desse pressuposto, também o processo

de produção do currículo precisa ser avaliado como culturalmente construído.

(RIBEIRO, 2003, p 39)

A construção de um currículo pode não garantir sua aplicação na prática, mas a não

existência do mesmo pode dar margem para realização de práticas sem fundamentos e sem

norte, sem objetivos claros. Nesse sentido, França (2007) alerta para a importância da

elaboração da matriz curricular para a área de música ao afirmar que:

A matriz curricular consiste de uma sistematização tecnicamente complexa,

quase uma provação para quem prefere a dinâmica da sala de aula. Ela

representa um exercício necessário no processo de consolidação da música na

escola, pois, através dela, dá-se a explicitação do corpus de conteúdos a ser

trabalhado e das habilidades cognitivas a serem desenvolvidas – expressas

através de verbos como “identificar”, “relacionar”, “analisar”, “criar” e outros.

A música possui conteúdos, procedimentos, técnicas e produtos específicos

como qualquer outra disciplina já consolidada, e a explicitação destes pode

contribuir para a construção da sua identidade epistemológica. Do contrário,

continuaremos a implorar pelo justo espaço da música no currículo alegando

que ela desenvolve habilidades matemáticas e outras não musicais.

(FRANÇA, 2007, p. 85)

Alguns estudos foram realizados para avaliar e refletir as questões relacionadas aos

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currículos de música no Brasil, dentre eles os de Ribeiro (2003), Kleber (2003), Fernandes

(2004) e França (2007). Em termos Legais cada Município tem autonomia para elaboração de

currículos e definição de disciplinas que adotará em seu sistema educacional: “portanto,

respeitada a autonomia estabelecida na Constituição Federal e na própria LDB, cada sistema de

ensino definirá as disciplinas que compõem a estrutura curricular de suas escolas e isso se aplica

a todas as áreas de conhecimento”. (QUEIROZ, 2012, p 34).

O município de Natal/RN, elabora em 2008, os Referenciais curriculares para os anos

inicias se finais do ensino fundamental: artes- (RCAN), (Natal, 2008). Esse documento

apresenta orientações e metodológicas e conteúdos das linguagens artísticas (dança, teatro,

música, artes visuais e história da arte) direcionadas para a rede de ensino do município e foi

elaborado pela Secretaria Municipal de Educação com a participação dos professores de arte da

rede através de questionários e encontros.

O Referencial Curricular Artes-Natal, é composto pelos seguintes tópicos:

Apresentação

Introdução

Artes na educação

Pressupostos teóricos

Objetivos

A linguagem da alfabetização artística e estético cultural

o A linguagem das artes visuais

o A linguagem da música

o A linguagem da dança

o A linguagem do teatro

o História da arte

Orientações metodológicas

o Organização pedagógica

o Avaliação escolar

No tópico “A linguagem da alfabetização artística e estético cultural” apresenta os as

bases teóricas, citando nome de autores e suas propostas, objetivos gerais, objetivos específicos

e conteúdos de cada série, do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, de cada linguagem artística

(anexo1).

A utilização da Pedagogia de Projetos não descarta os conteúdos do currículo mas

propõe aborda-los de uma forma flexível e não exclusiva, na qual os objetivos não são somente

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os conteúdos acadêmicos, mas os procedimentais e atitudinais partindo de temas escolhidos em

conjunto. Como consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), “um projeto caracteriza-

se por ser uma proposta que favorece a aprendizagem significativa, pois a estrutura de

funcionamento dos projetos cria muita motivação nos alunos e oportunidade de trabalho com

autonomia” (BRASIL, 1998, p. 76) orientações para a realização de trabalhos por projetos

envolvendo o ensino de artes na escola, como uma modalidade de trabalho desenvolvido de

forma interdisciplinar, ou mesmo referente a uma das formas de linguagem artística.

Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998)

também trazem orientações para a realização de Projetos numa perspectiva de integração da

música com outras áreas de conhecimento:

Deve ser considerado o aspecto de integração do trabalho musical às outras

áreas, já que, por um lado, a música mantém contato estreito e direto com as

demais linguagens expressivas (movimento, expressão, cênica, artes visuais

etc.), e, por outro, torna possível a realização de projetos integrados. É preciso

cuidar, no entanto, para que não se deixe de lado o exercício das questões

especificamente musicais. (BRASIL, 1998, p.49)

É importante estar atentos para o propósito da presença das aulas de música na escola.

Quais são os objetivos? Os conteúdos e metodologias deveriam ser pensados a partir de uma

definição clara desses objetivos. Para Hentschke e Del Ben (2003,p.181) “... o principal

propósito da educação musical nas escolas seria desenvolver a capacidade dos nossos alunos

de vivenciar música, ampliando e aprofundando suas relações com ela”. Penna (2008, p.41)

concebe a musicalização como um processo educacional orientado que se destina a todos que,

na situação escolar, necessitam desenvolver ou aprimorar seus esquemas de apreensão da

linguagem musical, mesmo que sejam adolescentes ou adultos. Para a autora: “musicalizar é

desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível

à música, apreendê-la, recebendo o material sonoro-musical como significativo”. A autora

destaca também que, a educação musical escolar, não visa à formação do musico profissional,

nem é, tão somente, uma preparação para um estudo de música mais amplo de caráter técnico

ou profissionalizante.

De acordo com as afirmações acima, é perceptível que a concepção dos objetivos da

educação musical escolar na atualidade difere muito daquele conceito herdado dos

conservatórios musicais que relacionava o ensino musical ao ensino do instrumento. De acordo

com os objetivos apresentados acima, precisamos, “desenvolver a capacidade (instrumentos de

percepção) dos nossos alunos de vivenciar e ser sensível a música”. Mas como desenvolver esta

capacidade? Como desenvolver esses “instrumentos de percepção”, tornando a música mais

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significativa e fazendo com que os alunos vivenciem a música! A partir da clareza dos objetivos

essas perguntas deveriam ser respondidas, buscando em primeiro lugar, meios para contemplem

a realização desse objetivo.

Segundo Green (2012) a sala de aula deveria ser um espaço de ressignificação da

experiência musical, no qual, os alunos sejam cada vez mais familiarizados com diversos tipos

de música em seus aspectos inerentes (aspectos estritamente musicais, referentes a organização

dos sons) e delineados (aspectos extramusicais, contextuais) para que essa experiência se torne

cada vez mais significativa para os alunos.

Para realizar esse trabalho de musicalização é importante promover experiências que

possibilitem a esses sujeitos, um contato cada vez maior com a música através de experiências.

De acordo com o modelo proposto por Swanwick (1979) denominado (T)EC(L)A, é possível

vivenciar música de três maneiras: compondo, executando ou apreciando. Estas três atividades

relacionam o indivíduo diretamente com a música. A técnica e a literatura são consideradas

atividades complementares que fundamentam e propiciam o contato direto com a música, como

explica o autor em entrevista à revista Nova Escola,

O fundamental é que os conteúdos sejam trabalhados de maneira integrada.

Nos anos 1970, resumi essa ideia na expressão inglesa clasp. Além de ser uma

sigla, um dos sentidos dessa palavra em português é "agregar". Proponho que

há três atividades principais na música, que são compor (a letra C,

de composition), ouvir música (A, de audition) e tocar (P, de performance).

Essas três atividades, que formam o CAP, devem ser entremeadas pelo estudo

da história da música (L, de literature studies) e pela aquisição de

habilidades (S, de skill aquisition).(No Brasil, esse processo ficou conhecido

como TECLA: T de técnica, E de execução, C de composição, L de literatura

e A de apreciação.) (REVISTA NOVA ESCOLA, 2010)8

Fernandes (2004), em sua pesquisa sobre os currículos oficiais de música nos Estados

brasileiros analisa os documentos com base nos parâmetros do modelo (T)EC(L)A. O autor nos

apresenta um quadro com as atividades do modelo:

Quadro 4: Parâmetros do modelo (T)EC(L)A

(T) Técnicas auditiva, instrumental, notacional

E Comunicação da música como “presença”

C Formulação de uma idéia musical, construir uma idéia musical

(L) Literatura da música e sobre a música

A Audição sensível como apreciação

Fonte: Fernandes (2004)

8 Documento online não paginado

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Através desses estudos foram feitas reflexões a respeito da definição de um currículo

fechado para os conteúdos de música na escola em comparação a abordagem apresentada pela

utilização da Pedagogia de Projetos. Os conteúdo do currículo não necessariamente precisam

ser descartados, mas, na abordagem baseada em Projetos, não devem ser seguidos de forma

rígida. É possível conciliar a prática de projetos com os conteúdos definidos em um currículo

de música? Através de Projetos é possível realizar atividades que proporcionem experiências

musicais como as apresentadas no modelo (T)EC(L)A? Os professores seguem esses conteúdos

à risca? Quais as implicações, pontos positivos e negativos da utilização da Pedagogia de

Projetos para o ensino de música nesse contexto? Espero refletir e encontrar algumas respostas

para essas questões no decorrer do trabalho.

3.4 A música como componente curricular na cidade de Natal/RN

Como apresentado acima, de acordo com a legislação brasileira cada Estado e Município

tem autonomia para elaboração de seus currículos para a educação básica desde que sigam as

orientações contidas nos documentos de abrangência nacional. Observando a realidade do

contexto da Educação Básica brasileira, percebe-se que cada Estado e Município tem

implementado o ensino de música à sua maneira. Nesse tópico, apresento uma contextualização

do atual cenário do ensino de música na educação básica na cidade de Natal-RN, no qual estive

inserido como estudante de licenciatura, professor em escolas da rede privada e pública e como

pesquisador.

Um passo importante para a transformação do ensino da arte na Educação Básica foi

dado em 2004 com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Música

(BRASIL, 2004) ao determinar a transformação das licenciaturas plenas em educação artística

em licenciaturas em música, favorecendo uma formação específica e consequentemente mais

sólida e profunda. Em 2005, a primeira turma de licenciatura em música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte dá início a um novo curso de graduação no qual a formação é

específica na linguagem artística da música, e substitui os até então, antigos cursos de artes com

habilitação nas linguagens (teatro, música, dança e artes visuais) nos quais o currículo

contemplava essas diversas linguagens formando um professor polivalente. A partir dessa

mudança de nomenclatura e de estrutura curricular diversas mudanças aconteceram na

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formação dos professores e consequentemente na atuação dos mesmos.

O início da minha formação como professor de música no ano de 2006 (segunda turma

do curso de licenciatura em música da UFRN) se deu nesse período de mudanças e adaptações

desse novo curso que objetiva formar o professor para lecionar especificamente a linguagem

artística da música. Essa mudança favoreceu uma formação mais aprofundada, pois, enquanto

que no curso de artes o currículo que abrangia diversas linguagens em oito semestres, no curso

de licenciatura em música, com a mesma duração, o currículo enfoca de forma mais

aprofundada linguagem artística especifica da música. Essa mudança foi um dos primeiros

passos concretos que resultariam em mudanças que impactaram de forma significativa a

presença da música na educação básica na cidade de Natal-RN pois uma das grandes

dificuldades para a efetivação e consolidação da Lei 11.769/2008 é a falta de professores

formados para atuarem com o ensino específico de música nesse contexto.

Em 2010 foi realizado o primeiro concurso público para professores específicos das

áreas de música, teatro, dança e artes visuais, através do edital 001/2010 (NATAL, 2010), do

qual eu participei e fui aprovado. A convocação aconteceu no ano de 2011, no qual comecei a

atuar como professor de música em escolas municipais. Esse foi um grande passo para

implementação do ensino de música nas escolas de Natal-RN que inicialmente ficou

determinado que aconteceria no 3° e 7° anos do ensino fundamental. Mendes e Carvalho (2012),

que descrevem diversas ações para a implementação do ensino de música na Educação Básica,

relatam o processo que levou a mudança do Edital da Secretaria Municipal de Educação de

Natal.

Ao tomarmos conhecimento de um Edital de Concurso em vias de ser

publicado com perfil polivalente, ou seja, para o professor habilitado em

Educação Artística, fomos, como representantes dos cursos de Licenciatura

em Música e demais linguagens artísticas da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte-UFRN, até a Secretaria de Educação, que, diante dos nossos

argumentos, suspendeu o Edital e designou uma comissão para efetuar uma

reforma curricular na área de Artes para escolas municipais e apresentá-la ao

Conselho Municipal de Educação. (MENDES; CARVALHO, 2012, p. 121).

Na cidade de Natal-RN a implementação da referida Lei vem se realizando através de

iniciativas nos níveis acadêmicos, políticos e práticos como apresentam os referidos autores.

Ao descreverem o processo de implementação do ensino de música na cidade, os autores

destacam algumas dessas ações que vem sendo realizadas a exemplo do PAIDEIA- núcleo de

formação continuada para professores de Arte e Educação Física, criado por professores da

UFRN que produziu e distribuiu nas escolas do Estado e do Município, materiais de formação

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para professores entre 2004 e 2007. Destacam outra ação importante que foi a criação do

GRUMUS- Grupo de estudos e pesquisa em música da UFRN, e a pesquisa realizada em 2009

sobre a situação do ensino de música nas escolas de Natal, da qual eu participei como

colaborador, que teve um papel importantíssimo para a implementação do ensino de artes por

linguagens especificas. Ações de formação como o “Escambo de saberes”, “Programa

continuuo”, e o “Curso de especialização em Educação musical na educação básica” a criação

do curso de mestrado em música da UFRN, e o Programa Institucional Bolsa de Iniciação à

Docência (PIBID) música, são algumas delas.

Com relação a escola da rede privada, não existe nenhum órgão regulamentador que

forneça informações ou pesquisa que trate da atual situação do ensino de música nesse contexto.

Em pesquisa sobre o ensino de música na educação infantil nas escolas de Natal-RN, (GOMES,

2011) fez um levantamento através de contato telefônico com duzentos e oito escolas com o

intuito de saber quais possuíam professores de música. De acordo com a pesquisadora das 208

escolas privadas somente 24 contam com educadores musicais atuando na educação infantil e

observa que: “Assim, verifico que o contexto do ensino de música na escola privada da cidade

de Natal apresenta-se com uma demanda para aulas de música na educação infantil nas

instituições que possuem esse nível de ensino” (GOMES, 2011. p. 78).

Na minha experiência como professor de música na educação básica na cidade de Natal-

RN, tive a oportunidade de atuar nas duas realidades das escolas públicas e privadas e vivenciar

as questões especificas de cada contexto. Essa experiência de trabalhar em dois extremos das

classes sociais me fez refletir a respeito de diversos aspectos das aulas de música na escola

observando que, em cada contexto os alunos vão apresentar sua cultura, influenciados pelo

ambiente em que vivem e as pessoas com as quais se relacionam. De acordo com Queiroz

(2013), a cultura é um “conjunto de saberes, conceitos, comportamentos e habilidades

adquiridos pelos sujeitos nas interações com a sociedade” e deve ser levada em consideração

pois a escola está inserida nesse contexto cultural e exerce um papel fundamental de

consolidação e crescimento dessa cultura.

Em uma mesma cidade percebe-se diferenças tão grandes no contexto cultural entre

escola pública e privada, destacando-se a diversidade e a pluralidade, conceitos apresentados

por Queiroz (2013). O autor considera esses conceitos de grande importância para a realização

de uma educação musical significativa que se adapte aos diversos contextos levando em

consideração a realidade do aluno, mas, expandindo os horizontes e possibilitando experiência

musicais diversas. Partindo dessas experiências pessoais decidi realizar a pesquisa

contemplando o universo da escola particular e da escola pública, com o intuito de perceber e

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apresentar as especificidades desses contextos.

A Pedagogia de Projetos tem como uma de suas principias caraterísticas, o diálogo com

os alunos objetivando partir de seus interesses e tornar o aprendizado mais significativo. Por

esse motivo penso que essa metodologia se adapta a diversos contextos culturais e sociais.

Apresentei acima uma visão do contexto do ensino de música nas escolas de educação básica

de Natal/RN, bem como as ações de pesquisa, formação inicial e continuada para professores

de música na cidade com o intuito de que o leitor conheça um pouco da realidade na qual a

pesquisa foi realizada. A seguir descrevo os procedimentos metodológicos utilizados para a

realização da pesquisa.

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os caminhos metodológicos trilhados para a realização deste trabalho foram sendo

adaptados com o intuito de melhor responder as questões e objetivos da pesquisa, e revisados a

partir das necessidades apresentadas pelo contexto. A pesquisa tem como principal objetivo

principal analisar de que forma a Pedagogia de Projetos é utilizada nas aulas de música no contexto

escolar e quais as suas implicações para o processo de ensino-aprendizagem musical nas escolas de

Educação Básica da cidade de Natal-RN. Utilizei como caminhos metodológicos para o estudo

do objeto em questão, diversos instrumentos de coleta de dados de características quantitativas

e qualitativas, buscando integra-los em torno do objetivo da pesquisa, assim como na prática da

Pedagogia de Projetos que tem como uma de suas bases a integração de conteúdos, disciplinas

e métodos.

4.1 Os métodos mistos

As principais abordagens metodológicas na pesquisa científica são as de caráter

qualitativo e quantitativo e a junção delas é chamada de métodos mistos. Cada uma dessas

abordagens se caracteriza por especificidades de objetivos, coleta de dados, escrita,

interpretação e análise que devem ser adaptados aos objetivos do pesquisador. A abordagem

qualitativa é utilizada frequentemente nas ciências sociais nas quais, geralmente os dados são

mais subjetivos e colhidos no ambiente do participante, através de entrevistas, observações e

estudos de casos. A quantitativa, geralmente empregada para a realização de levantamentos e

testes, tem como principias instrumentos de coleta de dados os questionários e surveys, dentre

outros que buscam abranger um auto número de participantes e realizando estatísticas e

generalizando resultados. Essas duas abordagens caracterizam visões e paradigmas científicos

pois,

Pensar em pesquisa quantitativa e em pesquisa qualitativa significa,

sobretudo, pensar em duas correntes paradigmáticas que têm norteado a

pesquisa científica no decorrer de sua história. Tais correntes se caracterizam

por duas visões centrais que alicerçam as definições metodológicas da

pesquisa em ciências humanas nos últimos tempos. São elas: a visão

realista/objetivista (quantitativa) e a visão idealista/subjetivista (qualitativa)

(QUEIROZ, 2006, p. 92)

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Essas duas abordagens podem ser integradas em uma determinada pesquisa,

caracterizando a pesquisa de métodos mistos que é a junção dessas duas abordagens, como

definido por Creswell (2010, p. 27),

A pesquisas de métodos mistos é uma abordagem da investigação que

combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições

filosóficas, ou uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura das

duas abordagens em um estudo. Por isso é mais que uma simples coleta e

análise dos dois tipos de dados; envolve também o uso das duas abordagens

em conjunto, de modo que a força geral de um estudo seja maior do que a da

pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada.

A combinação das abordagens qualitativas e quantitativas, deve ser adaptada aos

objetivos da pesquisa integrando os dados provenientes dessas diferentes abordagens, mas que

podem se complementar como afirma Queiroz (2006, p. 92) “[...]os métodos quantitativos e

qualitativos, na verdade, se complementam, e a escolha de uma ou outra abordagem está

associada diretamente aos objetivos e finalidades de cada pesquisa”.

Existem várias formas de integração de abordagens qualitativas e quantitativas Flick

(2009), baseado em Miles e Heberman (1994) explicita quatro formas de plano de pesquisa

integrando essas abordagens. No primeiro, as duas estratégias são adotadas paralelamente em

coleta contínua dos dois tipos de dados. No segundo, é realizada uma observação contínua que

fornece base na qual as várias oscilações são elaboradas e moldadas. No terceiro, o estudo se

inicia com a utilização de métodos qualitativos (entrevista semiestruturada) seguido por um

estudo de questionário como etapa intermediária, seguida por uma segunda fase qualitativa. No

quarto plano, à primeira etapa quantitativa (levantamento), acrescenta-se uma etapa qualitativa

(estudo de campo), sendo seguida por uma intervenção experimental para a utilização dos

resultados das duas primeiras etapas.

Ainda segundo o autor, essas abordagens podem ser sequenciadas em fases diferentes

do estudo, “sem concentrar-se necessariamente na redução de uma delas a uma categoria

inferior ou em definir a outra como sendo a verdadeira abordagem da pesquisa” (FLICK, 2009,

p. 43). Como também pode-se realizar uma triangulação entre os métodos qualitativos e

quantitativos:

Neste caso, as diferentes perspectivas metodológicas complementam-se para

a análise de um tema, sendo este processo compreendido como a compensação

complementar das deficiências e dos pontos obscuros de cada método isolado

(FLICK, 2009, p. 43).

Na triangulação os métodos são utilizados de forma autônoma, simultaneamente ou

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sequencialmente. O que mais importa é que desempenham papéis em forma de igualdade e não

são vistos como superior ou preliminar um em relação ao outro. Essa integração de abordagens

qualitativas e quantitativas vem sendo utilizada em estudos de diversas áreas, pois os dados

provenientes das duas abordagens podem se complementar e contribuir para o entendimento

das questões da pesquisa.

Creswell, (2010) define quatro fatores importantes para a realização de uma pesquisa de

métodos mistos, a saber: a Distribuição do tempo na coleta de dados qualitativos e

quantitativos será realizada sequencialmente ou concomitantemente; a Atribuição: peso

atribuído as abordagens qualitativas ou quantitativas; Combinação, dos dados, questão de

pesquisa, filosofia e interpretação da abordagem qualitativa e quantitativa. Baseado nesses

pontos, apresenta seis estratégias de métodos mistos: Explanatória sequencial, exploratória

sequencial, transformativa sequencial triangulação concomitante, incorporada concomitante e

transformativa concomitante. Não cabe aqui uma explicação detalhada de todas essas

estratégias, mas a definição da estratégia na qual os procedimentos dessa pesquisa mais se

enquadram: a Estratégia Explanatória sequencial, que,

É caracterizada pela coleta e pela análise de dados quantitativos em uma

primeira fase da pesquisa, seguidas de coleta e análise de dados qualitativos

em uma segunda fase que é desenvolvida sobre os resultados quantitativos

inicias. O peso maior é tipicamente atribuído aos dados quantitativos, e a

combinação dos dados ocorre quando os resultados quantitativos iniciais

conduzem a coleta de dados qualitativos secundária. Assim, as duas formas

de dados estão separadas, porém conectadas (CRESWELL, 2010. p. 247).

Nesta pesquisa, a primeira fase de coleta de dados empíricos foi feita através de

questionários aplicados aos professores de música da cidade de Natal/RN e partir dos dados

quantitativos dos questionários foram selecionados dois casos para a realização de entrevistas

e observação participante de caráter qualitativo. As etapas da pesquisa foram resumidas na

figura 2.

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Figura 2: Procedimentos da pesquisa

Fonte: O autor (2015).

Antes da coleta de dados empíricos e durante todo o desenrolar da pesquisa, realizei

uma pesquisa bibliográfica e documental utilizando os diversos tipos de literatura apontadas

por Flick (2009), a saber: Literatura teórica sobre o campo de estudo; empírica sobre pesquisas

anteriores na área de estudo ou em áreas similares; metodológica sobre como realizar a pesquisa

e utilizar os métodos escolhidos; teórica e empírica para a contextualização, a comparação e a

generalização das descobertas. As fontes de pesquisa foram9: documentos oficias (leis,

decretos, portarias, parâmetros curriculares), trabalhos acadêmicos (teses e dissertações),

artigos de publicações em revistas e anais de congressos e livros. E os principais temas

pesquisados foram: Métodos educacionais, Educação musical, Ensino de Arte na Escola,

Música na Educação Básica, Pedagogia de Projetos, Métodos de pesquisa. O levantamento da

literatura é de fundamental importância para a pesquisa pois,

Aqui, a literatura existente torna-se relevante para a fundamentação da

argumentação do pesquisador, no sentido de demonstrar que suas descobertas

estão de acordo com as pesquisas existentes e que essas descobertas, ou

ultrapassam, ou contradizem as pesquisas anteriores (FLICK, 2009, p. 66).

A coleta de dados empíricos, de campo, se deu em duas fases que se complementaram.

A primeira, de caráter mais quantitativo, objetivando o conhecimento da questão de pesquisa

em um campo mais macro e a segunda, de caráter mais qualitativo, objetivando o conhecimento

de questões mais particulares e especificas do objeto em estudo. A primeira fase está totalmente

ligada a segunda, no entanto cada abordagem apresenta características distintas de acordo com

a natureza desses dados pois,

9 Melhor especificado na revisão de literatura na página 35.

Pesquisa bibliografica:

Revisão de literatura

Pesquisa Quantitativa:

Questionários

Pesquisa Qualitativa:

Entrevista semiestruturada,

observação participante

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[...] dados quantitativos frequentemente envolvem amostragem aleatória, de

forma que cada indivíduo tem igual probabilidade de ser selecionado, e a

amostra pode ser generalizada para a população mais ampla. Na coleta de

dados qualitativos, é utilizada a amostragem intencional, e os indivíduos são

selecionados porque experimentam o fenômeno principal (CRESWELL,

2010, p. 256)

Nessa pesquisa, os dados quantitativos colhidos através de questionários, objetivaram a

identificação e levantamento da situação dos professores de música na Educação Básica da

cidade de Natal/RN em relação ao conhecimento e prática da Pedagogia de Projetos em suas

aulas, possibilitando uma visão mais abrangente da questão.

A coleta de dados qualitativa, se deu através de entrevistas com professores de música

e da observação participante em duas turmas da Educação Básica, uma em escola privada e

outra em escola pública, que realizaram projetos nas aulas de música. Nesse sentido, essa etapa

da pesquisa se identifica com as características da pesquisa qualitativa apresentadas por Bresler

(2007), ao afirmar que:

Nós usamos pesquisa qualitativa como um termo geral que se refere a várias

estratégias de pesquisa que compartilham certas características: 1) descrição

detalhada do contexto de pessoas e eventos; 2) observação em ambientes

naturais que, comparada com abordagens tradicionais experimentais,

apresenta pouca intervenção; 3) ênfase na interpretação gerada por

perspectivas múltiplas que apresentam questões relacionadas aos participantes

e questões relacionadas ao pesquisador; e 4) validação da informação através

de processos de triangulação. (BRESLER, 2007, p. 8)

A integração das abordagens qualitativas e quantitativas foi adequada à presente

pesquisa pois possibilitou uma visão ampla da utilização de Pedagogia de Projetos para o ensino

de música na educação básica da cidade do Natal/RN através dos dados quantitativos e ao

mesmo tempo, uma visão detalhada de concepções e práticas de professores e das turmas in

loco, através da abordagem qualitativa por meio de entrevistas e observação participante em

dois exemplos de realização de projetos com música na Educação Básica. Os dados da fase

quantitativa conduziram a coleta de dados qualitativa, e as duas abordagens se complementaram

de forma a valorizar as características de cada abordagem. De acordo com Queiroz (2006) essa

integração e valorização das características e peculiaridades de cada abordagem é

enriquecedora para a pesquisa em música,

Percebendo a importância de procedimentos metodológicos quantitativos,

bem como a fundamental necessidade de utilizarmos as abordagens

qualitativas para a compreensão do fenômeno musical, não podemos acreditar

em uma dicotomia incompatível entre pesquisa quantitativa e pesquisa

qualitativa. Precisamos considerar que é preciso lidar com a interpretação e

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compreensão particularizada de um fenômeno musical, tomando com critério

fundamental os seus aspectos qualitativos, sem abrir mão da sistematização,

objetividade e clareza que a quantificação de determinadas informações sobre

esse fenômeno, incluindo aí os aspectos quantitativos do registro musical,

podem trazer para a pesquisa (QUEIROZ, 2006, p. 97)

A seguir, explicarei mais detalhadamente o espaço, os sujeitos e instrumentos utilizados

para a coleta de dados.

4.2 Espaços e sujeitos

Os questionários foram destinados aos professores de música de escolas (municipais,

estaduais e privadas) de Educação Básica da cidade de Natal/RN. O critério utilizado para a

escolha dos respondentes foi simplesmente estar ministrando aulas de música em turmas

regulares de qualquer nível de ensino da Educação Básica. Não predeterminei o número de

respondentes, mas busquei até o final da pesquisa, o maior número possível de professores

contactados através de contato pessoal, e-mails, redes sociais e visitas às reuniões de formação

continuada.

A rede municipal de ensino da cidade de Natal, é composta por 144 escolas distribuídas

nas quatro zonas administrativas10. Em pesquisa realizada em 2014, que contemplou 72 escolas

da rede municipal, foi levantada a porcentagem de professores de música atuantes no quadro

efetivo, que corresponde a 33,9%, como mostrado no gráfico 2.

Gráfico 2: demanda dos professores

10 Ver http://www.natal.rn.gov.br/sme/paginas/ctd-421.html.

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Fonte: Carvalho (2014)

As escolas e professores selecionados para a realização da entrevista e observação

participante foram escolhidos primeiramente a partir dos seguintes critérios: utilizar a

Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de música; localização acessível e o

mais próximo possível da minha residência. Através dos dados dos questionários, pude

identificar professores que realizavam essa prática e assim entrar em contato com os mesmos,

via contato telefônico. Após diálogo com os professores para sondagem da possibilidade da

realização de observação, fiz uma visita à escola, apresentando-me como pesquisador e pedindo

a autorização para a realização da pesquisa através do Termo de Livre Consentimento e

Esclarecimento (TLCE) (Apêndice A e B). As duas escolas foram bastante receptivas, me

deixando muito à vontade para realizar as observações. Um ponto que favoreceu a realização

das observações foi o fato de que eu já conhecia os professores, isso contribuiu de forma

positiva pois todos ficaram se estabeleceu um clima de confiança e espontaneidade.

As escolas escolhidas foram, uma pública e uma particular localizadas na mesma zona

administrativa da cidade de Natal-RN (zona oeste) em bairros vizinhos (Felipe Camarão e

Cidade da Esperança). Na redação do trabalho, as escolas serão denominadas respectivamente

como Escola pública e Escola particular. As turmas escolhidas foram: 3º ano do fundamental

I (escola pública) e 9º ano do fundamental II (escola particular). Optei por essas escolas e essas

turmas com o objetivo de explorar realidades socioeconômicas distintas pois, embora as escolas

estejam localizadas em bairros vizinhos em uma mesma zona administrativa da cidade,

considerada como uma zona periférica, a clientela das duas escolas é visivelmente de diferente

poder aquisitivo. A faixa etária também é distinta, o que possibilita a visão da utilização da

Pedagogia de Projetos para aulas de música em diferentes níveis da Educação Básica e a

possibilidade de adaptação a realidades socioculturais distintas.

Na Pedagogia de Projetos é comum a busca de conteúdos de diversas disciplinas em

torno de um tema. Partindo dessa ideia recorro a conteúdos da geografia com o intuito de ilustrar

melhor a localização espacial das escolas, favorecendo a visualização dos espaços geográficos.

Para isso anexei abaixo alguns mapas tirados do site da Secretaria Municipal do Meio Ambiente

e Urbanismo (SEMURB). O primeiro mapa (figura 3) ilustra a divisão das zonas administrativas

da cidade de Natal/RN, bem como demonstra os limites da capital com os municípios vizinhos

que compõem a Grande Natal11. As duas escolas nas quais foram realizadas as observações,

11 Região Metropolitana de Natal, conhecida como “grande Natal”, formada pela capital pelos municípios que fazem limite com a mesma: Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Macaíba.

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estão localizadas na zona oeste da capital (destacada no mapa com a cor azul).

Figura 3: Mapa com divisão administrativa da cidade de Natal/RN.

Fonte: SEMURB

O segundo mapa (figura 4) mostra mais especificamente a região administrativa oeste,

formada por 10 bairros, dentre eles, os dois vizinhos onde estão localizadas as duas escolas nas

quais foram realizadas as observações: Cidade da Esperança (Escola particular) e Felipe

Camarão (Escola pública).

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Figura 4: Mapa da zona administrativa oeste.

Fonte: SEMURB.

A região na qual, em alguns bairros, há incidência de favelas, assentamentos, bem como

índices elevados de criminalidade e tráfico de drogas. Os bairros de Cidade da Esperança e

Felipe Camarão além de estarem localizados na mesma região, são vizinhos, o que torna a

localidade geográfica, um ponto em comum entre as duas escolas, sendo uma particular e a

outra pública. Vislumbro que através das observações será possível, identificar um pouco das

diferenças, em termo de recursos, espaço físico, clientela, e quais as influencias desses fatores

no desenvolvimento dos Projetos nas aulas de música.

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A seguir, descrevo de forma mais detalhada os instrumentos utilizados para a coleta de

dados junto aos sujeitos, nos espaços descritos.

4.3 Instrumentos de coleta de dados

4.3.1 Questionário

O questionário faz parte do enfoque quantitativo da pesquisa abrangendo um contexto

mais macro da questão de estudo. Objetivou fazer um levantamento dos professores de música

que declaram conhecer e utilizar a Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de

música em escolas de Educação Básica, através de perguntas que buscam conhecer como essa

prática é realizada e a partir de quais fundamentos. As respostas foram colhidas durante o

processo de realização da pesquisa buscando atingir o maior número possível de professores de

música atuantes nas escolas de Natal, seja da rede pública (municipal e estadual) ou da rede

privada de ensino. O período de aplicação do questionário foi entre os meses de abril a agosto

de 2015, enviando 48 questionários, obtive o total de 32 retornos com o questionário

respondido.

Os questionários e as entrevistas são ferramentas e meios de coletas de dados com os

quais o pesquisador busca fazer levantamentos, avaliações, e conhecer de forma mais

aprofundada a realidade do seu objeto de pesquisa. Se caracterizam como um instrumento de

que pode ser aplicado a uma população numerosa com o objetivo de fazer um levantamento

mais abrangente do contexto a ser pesquisado. Segundo as autoras Elliot, Hildenbrand e

Berenger (2012), esse instrumento é valioso para a coleta de dados para a pesquisa e a avaliação.

Embora o questionário pareça uma simples lista de perguntas, é necessário a atenção a vários

aspectos relacionados ao seu planejamento, aplicação e avaliação, pois, a partir desses aspectos

a coleta de dados pode ser bem ou malsucedida e consequentemente pode comprometer o

resultado da pesquisa. Esse processo de pergunta-resposta que é espontâneo e natural nas

relações humanas e na pesquisa deve ser realizado de forma cuidadosa e sistemática na relação

entre o pesquisador e o respondente nesse processo de troca de informações.

Utilizei três versões para aplicação de questionários: impresso, digital em formato docx,

e online como formulário no google docs, com o intuito de adaptar os meios e facilitar a

obtenção de respostas dos sujeitos, que, ao responderem se identificavam de forma opcional.

Dar aos respondentes a opção de identificar-se ou não, é uma forma de respeitar as questões

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éticas com relação a privacidade dos mesmos.

Os questionários impressos (Apêndice C) foram utilizados, principalmente para serem

entregues aos professores de música da Secretaria Municipal de Educação de Natal, da qual

faço parte. Fiz uma visita na reunião de formação continuada dos professores de artes, me

apresentei como pesquisador, explicando os objetivos da pesquisa e entregando os

questionários aos professores que voluntariamente se dispuseram a responde-lo. A versão

impressa também foi entregue a alguns professores com os quais foi possível o contato através

de encontro marcado, visita à escola, ou encontro casual. A versão em docx foi enviada e

recebida por e-mail. O questionário no formato online, feito como formulário do google docs,

foi enviado enviado através de link por e-mail ou através de mensagens no aplicativo WhatsApp.

Esse formato permite que o respondente tenha acesso ao questionário através de um link e ao

término das respostas os resultados são salvos e apresentados através de gráficos, fato que

contribui para a organização e armazenamento dos dados. Ao conhecer melhor essa ferramenta

do google docs, transferi os resultados dos questionários em formato impresso e docx, para a

versão online, o que facilitou a catalogação e organização desses dados.

4.3.2 Entrevista

A partir dos resultados obtidos através dos questionários selecionei dois professores que

declararam trabalhar com Pedagogia de Projetos como metodologia para suas aulas de música,

para a realização de entrevistas e observação participante em suas aulas. As entrevistas

objetivaram a obtenção de um conhecimento mais aprofundado a respeito da formação,

concepções, fundamentações e pensamentos do professor a respeito de suas práticas

relacionando música e Pedagogia de Projetos.

A entrevista é uma forma bastante pessoal de coleta de dados, na qual se estabelece uma

relação entre entrevistador e entrevistado que permite formas de expressão e observação além

da verbal, pois, pessoalmente pode-se observar detalhes minuciosos de reações e expressões

que não poderiam ser observados senão pessoalmente, no diálogo. São as informações “não

ditas”. Nesse diálogo há uma troca de informações e segundo Silva (2012) é uma “conversação

com propósito”. Ser um bom observador, saber perguntar de forma clara, saber ouvir e

observar pois segundo Silva (2012) “cada entrevistado é um universo distinto que traz consigo

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sua história, sentimentos, costumes, crenças, hábitos e toda uma bagagem que deve ser

respeitada e levada em consideração”.

As entrevistas podem ser organizadas de acordo com o propósito da pesquisa e adaptada

aos entrevistados. De acordo com Gray (2012), podem ser divididas em cinco categorias:

estruturadas, semiestruturadas, não diretivas, direcionadas e com conversas informais. Essa

organização diz respeito ao nível de estruturação e padronização das perguntas e ao propósito

da entrevista.

Escolhi para essa pesquisa o modelo de entrevista semiestruturada pois a mesma permite

a criação de um roteiro de perguntas não padronizadas, é mais flexível e podem ser mudadas e

acrescentadas de acordo com necessidades apresentadas no momento da entrevista e são

utilizadas para análise de dados qualitativos. Para Manzini (2004),

[...]a entrevista semiestruturada é uma das formas para coletar dados. Ela se

insere em um espectro conceitual maior que é a interação propriamente dita

que se dá no momento da coleta. Nesse sentido, para nós, a entrevista pode ser

concebida como um processo de interação social, verbal e não verbal, que

ocorre face a face, entre um pesquisador, que tem um objetivo previamente

definido, e um entrevistado que, supostamente, possui a informação que

possibilita estudar o fenômeno em pauta, e cuja mediação ocorre,

principalmente, por meio da linguagem (MANZINI, 2004, p. 9).

Elaborei um roteiro de entrevista semiestruturada (Apêndice D) dividido em três blocos

de perguntas. O primeiro, composto por perguntas referentes a formação e atuação profissional

do professor, objetivando conhecer melhor a trajetória de formação, a atual realidade na qual o

professor atua. No segundo, as perguntas focaram nas opções e fundamentação teórico-

metodológicas do professor em relação ao ensino aprendizagem de música e a Pedagogia de

Projetos. No terceiro bloco, as perguntas foram específicas sobre a sistematização e

desenvolvimento de projetos.

As entrevistas foram registradas através da gravação de áudio e transcritas logo em

seguida. A transcrição é uma fase importante para o registro e análise das informações obtidas.

Para facilitar a análise, as respostas foram enquadradas em categorias e subcategorias de acordo

com a divisão dos blocos de perguntas temáticos do roteiro de entrevista.

4.3.3 Observação participante

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Realizei observação participante em duas turmas da Educação Básica que

desenvolveram aulas de música através da Pedagogia de Projetos. Uma delas em uma escola

particular e outra em uma escola pública. Essas observações objetivaram o registro da prática

da Pedagogia de Projetos para o ensino de música in loco, em todas as suas fases, nas quais,

registrei as interações e reações entre professor e alunos no desenvolvimento do projeto. Como

observador também interagi com professores, funcionários e alunos, participante das atividades

e auxiliando os professores em algumas tarefas como: ajudar os alunos, acompanhar execução

de música ao violão, organizar material junto com o professor, auxiliar ensaios, afinar

instrumentos etc.

A observação participante se caracteriza como um modo de pesquisar que coloca o

pesquisador no meio da comunidade em que ele está estudando e ele assume o papel de um

membro do grupo (ANGROSINO, 2009). O autor fala que a observação participante não deve

ser considerada um método de pesquisa, mas uma forma de coletar dados que surgiu da junção

do papel do pesquisador como participante de um determinado contexto com uma técnica de

coleta de dados que é a observação. Segundo Gold (1958, apud ANGROSINO, 2009, p. 75)

existem quatro categorias de observador que identificam o papel adotado pelo pesquisador:

observador invisível, observador-como-participante, participante como observador e

participante totalmente envolvido. Cada um desses papéis estabelecerá um grau de

envolvimento entre o pesquisador e a comunidade observada e por menor que seja essa

interação o observador precisa ter algumas qualidades como: habilidades linguísticas,

consciência explícita, boa memória, ingenuidade cultivada e habilidade para escrever. A

observação participante precisa respeitar questões éticas e cuidar para que os resultados sejam

confiáveis e validos, para isso precisa seguir registro sistemático, análise de dados e repetição

regular da observação.

Nessa pesquisa assumi a posição de “observador como participante” na qual “o

pesquisador é conhecido e reconhecido, mas relaciona-se com os sujeitos da pesquisa, apenas

como pesquisador” (ANGROSINO, 2009, p. 75).

As observações foram registradas em Caderno de Campo (CC), no qual, também foram

escritas minhas reflexões a respeito dos acontecimentos e práticas observadas. Depois de todos

os registros feitos, digitalizei as anotações e as salvei em arquivo digital PDF. Também realizei

registro através da gravação de áudio, registro fotográfico e gravação de vídeo, para facilitar a

análise futura. Os registros foram organizados em pastas virtuais, salvos em HD e plataformas

online.

As datas das observações foram organizadas no quadro abaixo (quadro 5).

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Quadro 5: datas das observações

ESCOLA Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4 Aula 5 Aula 6

Escola

particular

21/05/2015 27/05/2015 03/06/2015 10/06/2015 17/06/2015 01/07/2015

Escola

pública

21/10/2015 11/11/2015 18/11/2015 25/11/2015 09/12/2015 16/12/2015

Fonte: O autor (2015)

4.3.4 Registro áudio visual

O registro audiovisual objetivou a obtenção de dados para posterior análise. Para a

gravação de áudio utilizei o gravador digital stereo modelo Zoom H1, utilizado para registrar

as entrevistas e algumas aulas na observação participante. Algumas aulas e apresentações no

decorrer do projeto também foram registradas em fotografia e vídeos, observando questões

éticas e só foram publicadas imagens com que não identificassem os participantes. Para o

registro de foto e vídeo utilizei uma câmara modelo Nikon D3100 e armazenei os arquivos em

pastas virtuais.

A utilização do registro áudio visual é muito frequente na pesquisa qualitativa,

principalmente na observação participante, como uma forma de registrar detalhes de momentos

que poderão ser de extrema importância para futura análise.

4.4 Catalogação e análise de dados

A análise de dados dos métodos mistos é realizada de acordo com a natureza dos dados

e das estratégias de pesquisa escolhidas para um determinado estudo, como afirma Creswell

(2010)

A análise de dados na pesquisa de métodos mistos está relacionada ao tipo de

estratégia de pesquisa utilizada para os procedimentos. Assim, em uma

proposta, os procedimentos precisam estar identificados com o projeto.

Entretanto, a análise ocorre tanto na abordagem quantitativa (análise numérica

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descritiva e inferencial) quanto na qualitativa (descrição e análise temática de

texto ou imagem) e frequentemente entre as duas abordagens (CRESWELL,

2010, p. 257)

Nesta pesquisa, os dados quantitativos foram colhidos através do questionário e

catalogados com utilização do aplicativo online do formulário do Google docs. Transferi os

dados das versões do questionário impresso e do formato docx, para o aplicativo e

automaticamente ele realizou a organização das respostas em planilhas e gráficos. Algumas

perguntas do questionário eram de caráter aberto com respostas em forma de texto, outras,

fechadas com uma opção de uma resposta ou múltiplas respostas. Foram criadas categorias a

partir da leitura desses dados cruzados com a literatura utilizada na pesquisa e os 4 blocos de

perguntas do questionário, a saber: informações sobre o professor; informações sobre a escola

e as turmas; informações sobre o conteúdo; informações sobre a metodologia (ver apêndice C).

De acordo com Bardin (2011) a análise de dados qualitativos é caracterizada pela frequência da

aparição de determinados elementos da mensagem; dados descritivos por meio de um método

estatístico e análise mais objetiva, mais fiel e mais exata, visto que a observação é mais bem

controlada.

Os dados foram apresentados em forma de gráficos e tabelas e discutidos a partir da

literatura e permitiu uma visualização da realidade mais abrangente do objeto da pesquisa. De

acordo com o número de questionários analisados a pesquisa se tornou abrangente, o que pode

permitir a generalização dos resultados. A intenção dessa etapa foi justamente obter uma visão

mais geral da utilização a Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de música na

escola.

A natureza dos dados qualitativos difere da natureza dos dados quantitativos, o que

necessariamente requer uma forma de analise diferente. Segundo Bardin (2011) essa análise

deve levar em conta procedimentos mais intuitivos, mais maleáveis e adaptáveis a índices não

previstos ou a evolução de hipóteses. É válida sobretudo na elaboração de deduções específicas

sobre um acontecimento ou uma variável de inferência precisa, e não em inferências gerais. Na

presente pesquisa, os dados qualitativos forma colhidos através de entrevista e observação

participante.

Os dados colhidos nas entrevistas foram gravados, transcritos e organizados em pastas

com suas respectivas datas. A categorização dos dados seguiu a divisão do bloco de perguntas

do roteiro da entrevista semiestruturada: 1. Formação e atuação profissional; 2. Opção e

fundamentação teórico-metodológica; 3. Sistematização e desenvolvimento de Projetos em

aulas de música. A análise dos dados das entrevistas será feita a partir da análise qualitativa de

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conteúdo. Flick (2004) apresenta procedimentos dessa análise de conteúdo desenvolvidas por

Mayring. Na primeira etapa faz-se a definição do material e seleção das entrevistas ou das partes

mais relevantes. Na segunda etapa faz-se a análise da situação da coleta de dados. Na terceira,

caracterização formal do material. Na quarta, procura-se o que de fato se quer interpretar e

define a direção da análise para os textos selecionados. Na quinta, questão de pesquisa

diferenciada com base em teorias e definição de unidades analíticas (MAYRING, 2000,2004,

apud FLICK, 2004, p. 291-292).

As observações participantes foram registradas em caderno de campo, gravação de

áudio e vídeo. Esses registros foram organizados em pastas para posterior análise. Na

categorização das observações busquei identificar os tipos de projetos segundo

operacionalização e abordagem de conteúdos: unidisciplinares, multidisciplinares,

pliridisciplinares e interdisciplinares, categorias que foram surgindo a partir de dados da

literatura trianguladas com os dados dos questionários.

As fases de seguidas nos projetos foram outra forma de categorizar e analisar os dados

das observações. Ao acompanhar os projetos pude identificar as fases e as características de

cada uma delas e enquadrá-las em cinco fases de acordo com a literatura estudada: Escolha do

tema/Diagnóstico inicial; Planejamento das atividades; Execução/realização;

Culminância/apresentação; Avaliação.

Os parâmetros do modelo TECLA, foram utilizados para analisar as atividades musicais

realizadas em cada fase do projeto.

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5 CULMINÂNCIA

A culminância é um termo utilizado na Pedagogia de Projetos para a fase de

apresentação dos resultados. Essa apresentação pode acontecer em forma de apresentação

musical, exposição artística, produção e exposição fotográfica e áudio visual, ou de diversas

outras formas de acordo com o material produzido durante o projeto. Essa fase é importante

pois socializa a produção de conhecimento para toda a comunidade, ao mesmo tempo que

desenvolve nos alunos a capacidade de sintetizar e apresentar o que aprenderam e produziram.

5.1 Pedagogia de Projetos e música nas escolas de Natal/RN

A primeira parte da apresentação e análise dos resultados se refere aos dados

quantitativos, provenientes dos questionários e que abrangem um campo mais macro do tema

pesquisado. A apresentação foi feita baseada nos blocos temáticos de perguntas dos

questionários: Formação e atuação dos professores; conteúdos, materiais e referenciais

utilizados nas aulas de música; Características da Pedagogia de Projetos como metodologia para

o ensino de música na escola.

5.1.1 Formação e atuação dos professores

Um dos princípios da Pedagogia de Projetos é a utilização de diversas fontes de

informação, provenientes de diversas disciplinas em torno de um determinado tema e a

integração das mesmas em busca da resolução de problemas. As fontes de informação podem

ser teóricas, encontradas em livros, artigos, revistas, internet, escritas ou registradas através de

vídeo, áudio, fotografia, etc. Como também, informações provenientes da prática, da

experiência própria, ou da experiência de outros, como apontado por Hernández e Ventura

(2000)

Mas também lhes leva e envolve outras pessoas na busca de informação, o que

significa considerar que não se aprende só na escola, e que o aprender é um

ato comunicativo, já que necessitam da informação que os outros trazem. [...]

Indubitavelmente, nem tudo passa pelos livros. Há temas em que têm mais

valor as referências trazidas por um informante do que as de qualquer fonte

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escrita ou visual. Informantes válidos podem ser encontrados em todos os

tipos de contextos (HERNÁNDEZ; VENTURA, 2000, p. 75).

Nesse sentido, busquei informações a respeito do meu tema, colhendo informações

daqueles que tem a experiência prática das aulas de música na Educação Básica, objetivando

conhecer o perfil, formação, atuação, fundamentos teóricos que alicerçam suas práticas e mais

especificamente fazer um levantamento dos professores de música que declaram conhecer e

utilizar a Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de música em escolas de

Educação Básica, através de perguntas que buscam conhecer como essa prática é realizada e a

partir de quais fundamentos

Utilizei um questionário com questões fechadas e abertas (Apêndice C) em três versões:

impresso, formato doc enviado por e-mail, e versão online de um formulário do Google docs.

Obtive o total de 32 respostas dos 48 questionários aplicados que foram todas digitalizadas para

o formulário do Google docs. O critério de aplicação do questionário foi o de estar lecionando

música na Educação Básica em alguma escola da cidade de Natal, seja de rede pública (estatual

ou municipal) ou da rede privada. Embora os questionários sejam de caráter

predominantemente quantitativo, as questões abertas deram margem para interpretações das

formas de execução e fundamentação teórica dos professores referentes a realização de

Projetos. O questionário também possibilitou a identificação e seleção dos dois professores com

os quais realizei as observações.

O perfil dos respondentes variou entre 50% do sexo feminino, e 50% do sexo masculino,

sendo 16 respondentes de cada gênero. Essa proporção não foi intencional, mas, aconteceu de

forma espontânea. Dos 32 respondentes, 24 revelaram a idade, exposta no gráfico abaixo, no

qual, observamos uma oscilação de 22 anos de idade a 50 anos de idade, e média de 33 anos de

idade.

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Gráfico 3- faixa etária dos professores

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

Com relação a formação inicial dos sujeitos pesquisados, os dados revelam que 25 dos

professores, que corresponde a 78,1%, fizeram o curso de licenciatura em música, e 7, que

corresponde a 21,9%, fizeram o curso de Artes com habilitação em música (Gráfico 4). Esses

dados mostram presença e atuação dos licenciandos e licenciados em música nas salas de aula

da Educação Básica. Provavelmente isso se deva ao concurso da Secretaria Municipal de

Educação de Natal realizado em 2010 através do Edital 001/2010 (NATAL, 2010), que

absorveu muitos egressos da primeira e da segunda turma do curso de licenciatura em música

da UFRN. Como já foi discutido no Capítulo 2, esse foi o primeiro concurso para professores

com formação específica nas linguagens artísticas de Teatro, Música, Dança e Artes Visuais.

Gráfico 4- formação inicial dos professores de música

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

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A maioria desses professores investiram na formação continuada pois os dados

demonstram que 46,9% são especialistas, egressos do curso de Especialização em Ensino de

Música na Educação Básica oferecido pelo PPGMUS da UFRN. Esse curso já formou 3 turmas

e iniciou uma nova no ano de 2015. Isso demonstra a grande importância do PPMUS para a

formação de professores que atuam na Educação Básica da cidade de Natal, pois, ao se

(re)formarem, os mesmos tendem repensar e modificar suas práticas, e isso contribui de forma

significativa para o desenvolvimento do ensino de música. É no campo de trabalho, diante das

questões tão subjetivas do cotidiano escolar que o professor desenvolve saberes práticos. O

professor não deixa de ser formado, o processo de formação nunca estará totalmente completo.

Esse processo de formação continuo acontece no decorrer da vida profissional e se constituí

como dinâmica na formação inicial e continuada. Bellochio e Garbosa (2010, p.250) afirmam

que a formação continuada “...objetiva o desenvolvimento e a ampliação de conhecimentos, a

superação de limites e o atendimento às exigências cada vez maiores e mais complexas...”.

Outra contribuição do PPGMUS que pode ser observada nos dados, é a participação de 6 desses

professores (18,8%) em curso de mestrado acadêmico criado em 2013. A mesma quantidade de

professores que ainda estão em formação inicial no curso de Licenciatura em música (tabela 2).

Tabela 2- Nível de escolaridade dos professores de Música

Superior incompleto 6 18.8%

Superior completo 4 12.5%

Especialização incompleta 1 3.1%

Especialização completa 15 46.9%

Mestrado incompleto 6 18.8%

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

Como consta na LDB, a Educação Básica deve ser obrigatória e gratuita dos 4 aos 17

anos de idade e composta pelos seguintes níveis: Educação Infantil (Educação Infantil, até os 5

anos de idade), Ensino Fundamental (Dividido em Fundamental I, do 1º ao 5º ano, e

Fundamental II, do 6º ao 9º ano), Ensino Médio (do 1º ao 3º ano), e a modalidade de Ensino de

Jovens e Adultos- EJA. No questionário, a pergunta referente aos níveis de ensino nos quais

lecionam os professores de música, foi de múltipla escolha, visto que alguns professores

trabalham em dois níveis de ensino. Na tabela abaixo (tabela 3) constam os níveis da Educação

Básica, nos quais os professores lecionam.

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Tabela 3: Nível de ensino que os professores lecionam

Educação infantil 14 43.8%

Ensino Fund. I 19 59.4%

Ensino Fund. II 10 31.3%

Ensino Médio 5 15.6%

EJA 2 6.3%

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

De acordo com os dados, as turmas em que os professores atuam é de no mínimo 15 e

no máximo 35 alunos, mas a média é de 26 alunos por turma. A carga horária das aulas de

música varia muito de acordo com cada escola, não permitindo estabelecer um valor médio.

Essa primeira parte do questionário, objetivou o conhecimento do perfil, formação e atuação

dos sujeitos pesquisados, acreditando que esses fatores influenciam diretamente nas concepções

e práticas dos mesmos. Foi possível perceber através dos dados acima, que a maioria dos

professores são licenciados em música e uma parcela significativa investe em formação

complementar e continuada e em cursos de pós-graduação. Uma vez traçado esse perfil dos

educadores musicais atuantes na Educação Básica de Natal, a segunda parte do questionário

objetivou conhecer quais são os conteúdos, materiais e referenciais utilizados por esses

professores nas aulas de música.

5.1.2 Conteúdos, materiais e referenciais utilizados nas aulas de música

Considero os conteúdos, materiais e referenciais como meios para um fim: o objetivo

das aulas de música na escola concebido de acordo com Penna (2008)

[...] como um processo educacional orientado que se destina a todos que, na

situação escolar, necessitam desenvolver ou aprimorar seus esquemas de

apreensão da linguagem musical- mesmo que sejam adolescentes ou adultos.

(PENNA, 2008, p. 41)

Compreender como os professores as utilizam é de fundamental importância para essa

pesquisa, uma vez que a Pedagogia de Projetos tem uma perspectiva muito particular da

abordagem desses elementos na qual, os conteúdos, materiais e referenciais, são meios para

compreender melhor um determinado tema, e não um fim em si mesmos. Diferente da vertente

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educacional mais tradicionalista que foca o aprendizado de conteúdos muitas vezes de forma

imposta e descontextualizada. No entanto, conhecer os meios, pode ajudar na compreensão do

fim, ou seja, entender os conteúdos, materiais e referencias utilizados pelos professores de

música, pode ajudar na compreensão de metodologias e objetivos das aulas de música, uma vez

que esses elementos são interligados, e exercem influência sobre o outro.

Com o intuito de investigar os referenciais utilizados pelos professores, o questionário

continha uma pergunta de múltiplas respostas na qual constava os referencias oficiais, mas não

obrigatórios, para o Ensino de Arte e música: Referenciais Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil (RCNEI), Referenciais Curriculares para os anos inicias se finais do ensino

fundamental Natal/RN: Artes (RCAN) os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e um

campo aberto para outros referencias. Nesse campo os professores citaram, diversos livros,

internet e revistas da ABEM. A maioria dos educadores, afirma utilizar os PCN e os RCAN

como sua principal referencia como demonstrado na tabela 4.

Tabela 4: Referencias utilizadas pelos educadores musicais

RCNEI 6 20%

PCN 13 43.3%

Parâmetros Curriculares para o ensino da Arte da Prefeitura de Natal 12 40%

Outros 11 36.7% Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

Embora os Referenciais Curriculares sejam documentos elaborados por órgãos oficiais,

eles não têm caráter de obrigatoriedade, portanto, os conteúdos podem ser escolhidos e

abordados de acordo com os critérios de cada contexto. Em comparação com outras disciplinas

como por exemplo, Língua Portuguesa, Matemática, Física etc., que tem conteúdos

programáticos bem definidos para cada série, as Artes, e a música de forma mais específica, se

caracteriza por uma maior liberdade e flexibilidade na escolha de conteúdos, o que muitas

vezes, pode ser um fator positivo ou negativo. Segundo Penna (2008) “a extrema liberdade

encontrada na área de Arte permite, na verdade, todo tipo de prática educativa”, por vezes

descontextualizada e descompromissada, ou seguindo modelos que muitas vezes não

contribuem de forma significativa para o desenvolvimento de uma prática pedagógica eficaz e

significativa.

Diante dessa realidade, os dados mostram um quadro muito diversificado com relação

aos conteúdos abordados em sala, nas aulas de música. Em pergunta aberta, os professores

apontaram os principais conteúdos abordados em usas aulas. Selecionei os conteúdos que foram

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mais citados e organizei o quadro abaixo com as seguintes categoria: Propriedades do som,

Instrumentos musicais, História da música, Apreciação musical, Ritmos e Gêneros musicais,

Linguagem/teoria musical (quadro 6).

Quadro 6- Principais conteúdos abordados nas aulas de música

PRINCIPAIS CONTEÚDOS CITAÇÕES

Propriedades do som 19

Instrumentos musicais 16

História da música 12

Apreciação/percepção musical 16

Ritmos/Gêneros musicais 16

Linguagem/teoria musical 16

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

Observando os dados acima, percebe-se um equilíbrio entre os conteúdos abordados

pelos professores. Fica claro a relação entre os referenciais utilizados e os conteúdos abordados,

apesar de os referenciais não terem caráter de obrigatoriedade, esses conteúdos aparecem com

frequência nas orientações contidas nesses documentos. Vale destacar que a pergunta sobre os

principais conteúdos abordados foi aberta, por esse motivo, os conteúdos foram citados de

forma livre e não induzida.

Outro ponto a ser observado com relação a música na Educação Básica, diz respeito a

utilização do livro didático. Sabemos que outras disciplinas mais consolidadas utilizam esse

recurso há muito tempo e dispõem de uma infinidade de publicações. Na área de música os

educadores dispõem de poucas publicações e a utilização desse recurso ainda não é encontrada

com tanta frequência nas escolas de Educação Básica da Cidade de Natal. Dos professores

respondentes, 20 afirmam não utilizar livros didáticos, enquanto 12, dizem utilizá-los. Dos 12

que afirmam utilizar, a maioria, na verdade, os utiliza como mais uma referência e não como

um recurso de posse dos alunos. Foram citados livros como: Batuque Batuta12, Livros da

coleção de Elvira Drummond13, Caminhos musicais14, Arte em interação15, Livros da Dom

Bosco.

Além dos conteúdos as atividades musicais realizadas nas aulas, apontadas pelos

12 Disponível em: http://hotsites.editorasaraiva.com.br/batuquebatuta/. 13 Disponível em: http://www.elviradrummond.com.br/edmusical.html. 14 Disponível em: https://cristianeotutumi.com/caminhos-musicais/. 15 Disponível em: http://www.editoraibep.com.br/ibep2010/htdocs/script/catalogo.asp?isbn=9788534230995.

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professores são as seguintes: Canto em grupo, percussão corporal, apreciação musical,

construção de instrumentos, percussão em grupo, composição e o campo “outros”, no qual são

citados a utilização de jogo de copos, flauta doce, teatro musical, desenho musical, cultura

popular e aulas de violão.

Tabela 5: Principais atividades musicais realizadas nas aulas de música

Canto em grupo 27 87.1%

Percussão corporal 27 87.1%

Apreciação musical 26 83.9%

Construção de instrumentos 13 41.9%

Percussão em grupo 14 45.2%

Composição 10 32.3%

Outros 10 32.3%

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

Os recursos mais utilizados para a realização das aulas são apresentados na tabela 6.

Embora, no questionário não constem perguntas sobre se esses materiais são disponibilizados

pelas escolas ou são dos próprios professores, afirmo através de observação empírica, na

qualidade de professor de música atuante em escolas de Educação Básica da cidade, que muitas

escolas, principalmente as públicas, não dispõem de materiais específicos para aulas de música

como instrumentos musicais, e que por isso, os professores levam seus próprios para serem

utilizados nas aulas. Muitos dos professores que conheço pessoalmente, investem em materiais

para serem utilizados em suas aulas.

Tabela 6: Recursos utilizados para as aulas de música

Instrumentos de percussão 23 71.9%

Violão 24 75%

Teclado/piano 10 31.3%

Aparelho de som 25 78.1%

TV e reprodutor de vídeos 23 71.9%

Outros 15 46.9%

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários (2015)

Os elementos apresentados acima possibilitam o entendimento das atividades realizadas

no âmbito pedagógico-musical da população pesquisada. É interessante perceber os reflexos da

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formação dos professores que aparecem nos conteúdos e atividades musicais desenvolvidas nas

aulas. A maioria dos professores investigados tem formação especifica em música e 15 (46,

9%) possuem especialização completa. Os referenciais utilizados e conteúdos abordados estão

de acordo com as orientações contidas nos documentos oficiais que balizam o ensino da Arte

na Educação Básica e com tendências positivas de acordo com algumas das atuais discussões

sobre o ensino de música na escola.

Essas afirmações foram colhidas através de questionário respondido pelos professores

atuantes em escolas de Educação Básica da cidade de Natal- RN, e demonstram um avanço para

área, proveniente, dentre outras coisas das consequências da Lei 11.769/08, e dos esforços da

UFRN refletidos na formação desses profissionais. Se esses dados forem comparados com

pesquisa em escolas da grande João Pessoa, por exemplo, na qual foram observadas doze turmas

em várias escolas estaduais, e os dados demonstram que conteúdos musicais foram abordados

apenas uma vez por um professor com habilitação em Artes Cênicas, (PENNA, 2008). Embora

a pesquisa citada tenha acontecido nos anos de 2001 e 2002, podemos perceber os avanços

proporcionados pela força da Lei através de ações de formação e intervenção nas políticas

públicas educacionais.

A partir dessa visão mais ampla sobre os sujeitos investigados, agora interessa saber se

diante dessa realidade esses professores conhecem e utilizam a Pedagogia de Projetos e se a

resposta for afirmativa, de que forma isso acontece.

5.1.3 Características da Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de música na

escola

Como abordado no capitulo I, a Pedagogia de Projetos é concebida de diversas formas

a partir da visão particular de cada contexto e de cada autor. Utilizo o termo “Pedagogia de

Projetos” como um termo genérico que engloba essas metodologias não me apegando a uma

denominação apenas, mas abordando os vários pontos de vista, que na verdade apresentam

princípios bem comuns, principalmente como abordado por Boutinet, a articulação entre os

tempos inicial e final, mas com suas devidas especificidades. É notório que quando se fala de

Projetos, cada professor expressa uma concepção diferente do que entende e vivencia a esse

respeito.

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88

Dentre as diversas formas de conceber os Projetos, alguns entendem por Projeto, o

trabalho extracurricular que é realizado em algumas escolas do município de Natal, outros

entendem como o trabalho realizado de forma interdisciplinar. Ao conhecer melhor os dados

do questionário e cruzá-los com a literatura estudada, e da minha experiência como educador,

pude identificar alguns tipos de Projetos desenvolvidos por professores de música nas escolas

de Natal, e assim, criar as seguintes categorias de análise. A categorização levou em conta a

forma de operacionalização dos Projetos e a abordagem de conteúdos.

Projeto Unidisciplinar- Realizado pelo professor de música, sem a participação de

professores de outras disciplinas, abordando conteúdos e realizando atividades estritamente da

área de música. Por exemplo: a escolha do tema é realizada pelo professor em seu planejamento

individual partindo da observação do contexto dos alunos, ou de um assunto que julgue

necessário e importante para os alunos naquele determinado momento, ou em conjunto com os

alunos em sala de aula. Realiza o planejamento das atividades sem a preocupação de integrar

atividades e conteúdos de música às outras áreas de conhecimento. A duração é definida de

acordo com a necessidade e ao final do Projeto geralmente se realiza uma culminância em forma

de apresentação musical ou exposição, para mostrar os resultados a comunidade escolar. A

avaliação é feita pelo professor através da observação da participação dos alunos e realização

das atividades.

Projeto multidisciplinar - Realizado pelo professor de música sem a participação de

professores de outras disciplinas, mas abordando conteúdos musicais e buscando relacioná-los

aos de outras disciplinas a partir do tema escolhido. Por exemplo: o tema é escolhido pelo

professor individualmente, pelos alunos ou em parceria entre professor e alunos. A partir desse

tema, as atividades serão desenvolvidas com foco nos conteúdos musicais, mas abordando

conteúdos de geografia, história, língua portuguesa e de qualquer outra disciplina que possa ser

relacionada ao tema. Em um Projeto cujo o tema seja “Gêneros musicais”, os envolvidos

(professor e alunos) podem abordar conteúdos da disciplina de história para compreenderem

melhor o período histórico no qual um determinado gênero nasceu e se desenvolveu; conteúdos

de geografia, buscando mapas para localizar os lugares nos quais os gêneros tem maior

incidência na atualidade. Dessa forma os participantes do projeto integram conteúdos em torno

de um determinado tema, com o objetivo de compreende-lo melhor e desenvolverem uma visão

mais ampla de um assunto, sem se prender aos conteúdos específicos de uma ou de outra

disciplina.

Projeto pluridisciplinar: O planejamento é feito pela coordenação, e/ou um conjunto

de professores. Os professores abordam os conteúdos específicos de suas disciplinas a partir de

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um mesmo tema, preservando os objetivos específicos de cada uma, e sem necessariamente

realizar um trabalho de execução em conjunto com as outras áreas.

Projeto interdisciplinar- Realizado em parceria com professores de duas ou mais

disciplinas traçando tema, objetivos, cronogramas e todo o desenvolvimento do Projeto em

comum acordo e integração. Por exemplo: em um projeto com o tema “Música dos anos 80”, o

professor de música abordaria os ritmos e as diversas questões referentes aos aspectos musicais

característicos desse período e realizaria práticas a partir desses conteúdos. O professor de

história abordaria conteúdos referentes ao contexto no qual se deram os fatos. O professor de

língua portuguesa abordaria aspectos de letra de canções desse período e assim cada

profissional estuda o tema focando nos conteúdos específicos de sua disciplina. A avaliação é

feita pelos professores de cada disciplina a partir das atividades realizadas pelos alunos no

desenvolvimento e aprendizado de conteúdos específicos das mesmas, bem como a avaliação

do projeto em si é feita pelo conjunto de professores envolvidos. Nos projetos interdisciplinares

o planejamento e algumas atividades são realizadas em conjunto com professores e turmas de

disciplinas diferentes, por esse motivo, esse tipo de projeto exige uma forma de organização

específica para que haja integração de conteúdos, materiais, objetivos e cronogramas. Os

aspectos discutidos anteriormente foram resumidos e apresentados no quadro 7.

Quadro 7: Tipo de Projetos e suas características de abordagem de conteúdo e operacionalização

Tipo de Projetos Abordagem de

conteúdos

Operacionalização Escolha do

tema

Unidisciplinar Aborda conteúdos

específicos de uma

determinada área de

conhecimento em torno

de um tema

Realizado pelo

professor e alunos

de uma ou mais

turmas de uma

disciplina

específica

Professor e

alunos de uma

disciplina

específica

Multidisciplinar Aborda diversos

conteúdos de uma ou

mais disciplinas em

torno de um

determinado tema

Realizado pelo

professor e alunos

de uma ou mais

turmas de uma

disciplina

específica com ou

sem a participação

de outras

disciplinas

Professor e

alunos de uma

disciplina

específica

Pluridisciplinar Um tema é abordado

por diferentes

disciplinas

preservando-se os

Realizado por um

grupo de

professores de

disciplinas distintas

Pela

coordenação ou

grupo de

professores, com

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90

objetivos e conteúdos

específico de cada uma

envolvendo uma ou

mais turmas

ou sem a

participação dos

alunos

Interdisciplinar Conteúdos de diversas

disciplinas em torno de

um tema com objetivos

em comum a todos os

envolvidos em um

trabalho conjunto

Realizado por um

grupo de

professores de

disciplinas

diferentes que

compartilham de

um mesmo

objetivo, podendo

envolver diversas

turmas

Pela

coordenação ou

grupo de

professores, com

ou sem a

participação dos

alunos

Fonte: O autor (2015)

Os dados serão analisados a luz dessa categorização, buscando identificar nas falas e

práticas dos professores as características e implicações desses diversos tipos de Projetos. Com

relação a abordagem de conteúdos musicais, tomarei como referência e categoria de análise, os

parâmetros do modelo TECLA, buscando perceber quais e de que forma esses parâmetros

podem ser comtemplados quando da realização de Projetos na disciplina da música na Escola

de Educação Básica.

A primeira pergunta relacionada ao foco da pesquisa objetivou saber a quantidade de

professores que conheciam a Pedagogia de Projetos. Observando o Gráfico 4, pode se constatar

que 11 (34,4%) dos professores não conhecem a Pedagogia de Projetos, enquanto 21 (65,6%)

a conhecem.

Gráfico 5: respostas pergunta: você conhece a Pedagogia de Projetos?

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários

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Desses professores que afirmam conhecer a Pedagogia de Projetos, a forma e frequência

de utilização é bastante variável pois, 3 (15%) já trabalharam, 4 (20%) utilizam

esporadicamente, 7 (35%) utilizam com frequência, 5 (25%) sempre utilizam e 1 (5%)

respondeu que está trabalhando atualmente. Destaco que esse professor que afirma “estar

trabalhando atualmente” do grupo que afirma “sempre utilizar” pois pode ser que o mesmo

esteja utilizando no momento, mas não seja uma prática frequente ou constante. Com relação

aos que afirmam “sempre utilizar” ou “utilizar com frequência”, pode-se presumir que os

mesmos estejam trabalhando atualmente. Os dados são melhor resumidos e apresentados no

gráfico 6.

Gráfico 6: Frequência de utilização da Pedagogia de Projetos

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dados dos questionários.

A partir desses dados que permitiram uma visualização dessa parcela significativa dos

professores que declaram conhecer e utilizar a Pedagogia de Projetos respondendo à pergunta

“Quais e quantos professores de música afirmam conhecer e trabalhar com a Pedagogia de

Projetos”, as perguntas seguintes, em sua maioria abertas, objetivaram responder parcialmente

a seguinte pergunta: “ Como o trabalho é realizado”. Através das observações e entrevistas essa

pergunta será respondida de maneira mais consistente e a partir de dados mais qualitativos.

Como apresentado no capítulo 1, no quadro 2, os Projetos são organizado em fases,

como passos a seguir em busca de atingir os objetivos do estudo em torno de um determinado

tema. Esses passos são de fundamental importância pois favorecem o desenvolvimento de

habilidades procedimentais como a busca e organização de informações provenientes de

diversas fontes, autonomia e autoavaliação. Segundo aponta Boutinet (2002), uma das

principais características da Pedagogia de Projetos é a articulação dos tempos final e inicial de

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Projeto, conectando todas as fases de maneira coerente. Hernández (1998) também corrobora

com essa noção de conexão entre os tempos (fases) característicos da forma de organização dos

Projetos ao afirmar que

[...] método de projetos não é uma sucessão de atos desconexos, e sim uma

atividade coerentemente ordenada, na qual, um passo prepara a necessidade

do seguinte, e na qual, cada um deles se acrescenta ao que já se fez e o

transcende de um modo cumulativo (HERNÁNDEZ, 1998, p. 68).

É importante destacar que cada autor apresenta esses passos de uma forma diferente,

mudando muitas vezes somente algumas palavras, omitindo ou acrescentando alguns passos,

mas geralmente preservando a mesma sequência e sentido guiados pela ideia que Boutinet

(2002) categoriza como tempos final e inicial, como demonstrado na tabela 7.

Tabela 7: A Pedagogia do Projeto e suas etapas essenciais.

Início do Projeto Final do Projeto

-diagnóstico da situação pedagógica; -planejamento das atividades;

-negociação de um objetivo de ação; -realização e controle;

-determinação dos meios e programação

das sequências;

-avaliação final.

Fonte: Boutinet (2002, p. 199)

Nessa etapa do questionário, o objetivo foi conhecer e analisar as etapas seguidas pelos

os docentes, identificando as articulações dos momentos inicial e final nos Projetos. Ao serem

questionados sobre a etapas percorridas no desenvolvimento de Projetos, do total de 17

respostas, 2 afirmaram não dividir o Projeto em etapas, enquanto 15 especificaram as etapas

seguidas na sua prática. Embora apareça grandes diferenças na forma de redigir as respostas,

percebe-se que as sequências e intenções dos educadores se identificam em diversos pontos

com as etapas final e inicial do Projetos definidos por Boutinet.

A maioria das respostas apresentadas pelos professores como sendo uma primeira etapa

dos Projetos realizados, se enquadram na categoria de diagnóstico da situação pedagógica,

como evidenciado nas seguintes respostas: “construção das ideias”; “apanhado do

conhecimento prévio dos alunos”16; “debate sobre o tema do projeto, interlocução sobre

16 As respostas dos professores ao questionário foram feitas por escrito e de forma anônima (sem identificação).

Ao serem citadas de forma o texto foi preservado e redigido em itálico. Por se tratar de um grande número de

respondentes, as falas não serão identificadas nem atribuído pseudônimos aos mesmos.

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experiência prévias”; “brainstorm de ideias”; “Escolha do Tema pela turma”; “Escolha do

tema com os alunos”; “Apresentação e discussão do tema com os alunos (conceitos e elementos

que se conectam com o tema geral do projeto)”. Desses, a maioria continua seguindo como

segunda etapa a organização de um objetivo de ação, de acordo com as respostas: “objetivos

gerais e específicos”; “formulação dos objetivos e metodologia”; “em seguida faço o

planejamento de como irei abordar os conteúdos de música dentro do tema proposto”;

“levantamento de materiais e recursos”; Alguns professores omitem a primeira etapa e já

iniciem seus Projetos a partir do que seria considerada como segunda, considerando como

primeira fase as seguintes respostas: “traçar objetivos”; “concepção do tema, objetivos,

justificativa, metodologia”; “Contextualização”; “planejamento”; “Articulando com os

saberes musicais, o Tema de Pesquisa é trazido para as aulas de música, quando as crianças

têm a autonomia de escolher os temas que desejam aprender, organizando os momentos

pedagógico-musicais, consolidando os processos criativos de ensino e aprendizagem musicais.

Como uma terceira fase demonstrada nas respostas, pode-se identificar relações com a

determinação dos meios e programação das sequências, e o planejamento de atividades,

através de diversos exemplos de respostas: “as etapas metodológicas”; “desenvolver”;

“planejamento das aulas”. Como uma quarta fase de realização e controle, se identifica com

as seguintes respostas: “realização das atividades”; “desenvolvimento do Projeto”; “Os

alunos realizam pesquisas orientadas sobre o tema e trazem suas idéias e materiais

pesquisados”; dentre as respostas obtidas, identificou-se a atividade “apresentação” ou

“culminância”, como uma atividade muito presente. Na maioria das respostas consta a fase de

avaliação ao final do Projeto.

Para ilustrar melhor as fases seguidas nos Projetos pelos professores de Música,

organizei um quadro com alguns exemplos das sequenciais apresentadas nas respostas do

questionário. A maioria das respostas são referentes as fases de desenvolvimento de Projetos

de uma maneira geral, independente do tema, mas, três respondentes coloraram as fases de um

Projeto executado ou em execução, citando exemplos dentro de um determinado tema (quadro

8).

Quadro 8: Exemplos de etapas/fases no desenvolvimento de Projetos por professores de música da

cidade de Natal/RN.

Exemplo 1 1. construção das ideias 2. objetivos gerais e específicos 3. as etapas metodológicas

4. atividades 5. avaliação das atividades e reflexão do que está sendo feito

Exemplo 2 1. apanhado do conhecimento prévio dos alunos 2. formulação dos objetivos e

metodologia 3. desenvolvimento do projeto 4. Culminância

Exemplo 3 1) Escolha do Tema pela turma; 2) em seguida faço o planejamento de como irei

abordar os conteúdos de música dentro do tema proposto; 3) Os alunos realizam

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pesquisas orientadas sobre o tema e trazem suas ideias e materiais pesquisados; 4)

acontece apresentações das pesquisas realizadas; 5) Surge, as possibilidades de

apresentação do projeto; aqui discutimos como iremos apresentar o projeto a

comunidade escolar; 6) Ensaios, criação de roteiro e apresentação; 7) Avaliação

pela turma dos resultados.

Exemplo 4 1. concepção do tema, objetivos, justificativa, metodologia 2. Levantamento de

materiais e recursos 3. Planejamento das aulas 4. execução 5. Culminância

Exemplo 5 1. debate sobre o tema do projeto, interlocução sobre experiência prévias, 2.

brainstorm de ideias: realizando um rascunho de uma letra de música. 3.

organizando a letra da música (poesia em conjunto) 4. discutindo sobre

ritmo/gênero musical da composição. 5. composição propriamente dita: unindo a

poesia do gênero escolhido. 6. debate sobre os resultados da composição 7.

entrelaçando as artes: apreciação e representação da composição em desenhos. 8.

gravando a composição

Exemplo 6 1. Apresentação e discussão do tema com os alunos (conceitos e elementos que se

conectam com o tema geral do projeto) 2. Elaboração e execução de atividades 3.

Ensaios e preparação para a culminância ( objetivo geral do projeto) em forma de

avaliação escrita, ou apresentação para a comunidade escolar, ou produção de

material para p próprio aluno (portfólio, etc)

Exemplo 7 1.Contextualização do momento histórico 2. Apreciação das músicas. 3. Construção

de detalhes do projeto junto aos alunos e professores envolvidos. 4. Confecção de

cenário e ensaios. 5. Culminância do projeto.

Exemplo 8 1. traçar objetivos 2. planejar 3. desenvolver 4. executar 5. Apresentar

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários.

De acordo com as respostas percebe-se que embora muitas vezes as fases se fundam,

sejam redigidas de forma diferente, ou por vezes, uma ou outra sejam omitidas, pode-se

constatar que a maioria dos professores seguem uma sequência com fases muito parecidas.

Essas fases são articuladas e se realizadas de forma consciente e com a participação dos alunos

na construção de todas elas, podem ser uma ótima ferramenta para o desenvolvimento de

habilidades de organização do conhecimento através do planejamento, busca de informações,

tratamento dessas informações, apresentação e avaliação no qual o educando é sujeito e agente

que constrói junto com o professor e seus colegas o seu próprio processo de aprendizagem.

Dessa forma o objetivo das aulas não está centrado somente nos conteúdos, mas valoriza todo

o processo de construção do conhecimento fazendo com que os alunos incorporem essas

estratégias por isso,

Os procedimentos são utilizados na escola para que os estudantes vão

incorporando novas estratégias de aprendizagem que, estando inseridas no

processo de construção do Projeto e derivando-se dele, podem ser

compreendidas pelos alunos e utilizadas e outras situações. (HERNÁNDEZ;

VENTURA, 2000, p. 77)

A duração dos Projetos e consequentemente a duração de cada fase, podem ser

adaptadas ao contexto e necessidade nos quais é realizado, de acordo com a programação

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escolar e o tema do Projeto. A maioria dos professores afirmam realizar Projetos com duração

de 1 trimestre 6 (que corresponde a 31,6%), seguido de 5 (26,3%) com duração de 1 bimestre,

4 (21,1%) um mês, 3 (15,8%) um ano e 1 (5,3%) um semestre, como detalhado no gráfico 7.

Gráfico 7: duração dos Projetos.

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários.

Uma das características mais marcantes na Pedagogia de Projetos é a articulação entre

os tempos inicial e final do Projeto como apontado por Boutinet (2002). As etapas essências do

início do projeto são: Diagnóstico da situação pedagógica, negociação de um objetivo de ação,

determinação de meios e programação das sequências. No “diagnóstico da situação

pedagógica” é o momento de levantamento de informações e interesses dos alunos, através do

diálogo ou da observação, etapa muito importante para o desenvolvimento de todo o Projeto

pois é nela que haverá a definição de um tema que busca ser significativo e motivador para os

envolvidos no processo. Esse tema pode surgir do currículo oficial, de um fato marcante da

atualidade, de questões, dúvidas e interesses apontadas pelos alunos, de forma que haja uma

conciliação entre a realidade e necessidade dos alunos e a visão do que o docente considera

importante ensinar.

Como afirma Antunes (2001) “O ideal é o meio-termo entre os temas que os alunos

sugerem e sua possibilidade de inserção e contextualização nos conteúdos e habilidades

estabelecidos pelos professores como necessários e adequados à faixa etária” (ANTUNES,

2001, p. 22). Essa fase de escolha do tema reflete princípios da Escola Ativa pois nesse

momento, pode-se escolher e construir o conhecimento de forma democrática, dando espaço

para que os alunos manifestem suas opiniões, interesses e conhecimentos prévios a respeito do

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tema a ser estudado. O que, segundo Hernàndez e Ventura (2000) “não impede que os docentes

também possam, e devam, propor aqueles temas que consideram necessários, sempre e quando

mantenham uma atitude explicativa similar à que se exige dos alunos” (HERNÁNDEZ;

VENTURA, 2000, p. 68).

Os dados obtidos a partir dos questionários, revelam que a escolha do tema é realizada

das seguintes formas: Pela coordenação, pelo professor de uma determinada disciplina, entre

professores de disciplinas diferentes, pelos alunos em conjunto com o professor e por vezes

mesclando essas categorias, como apresentado em uma das respostas “por todos os envolvidos,

nem sempre todos estão, mas todos participam”. Alguns respondentes assinalaram duas ou mais

formas de escolha do tema, o que demonstra que essa fase é adaptável de acordo com a escola,

equipe pedagógica e alunos envolvidos no Projeto. Os dados foram resumidos e apresentados

no quadro 9.

Quadro 9: Como é feita a escolha do tema.

Escolha do tema N° de Porcentagem

Pelos alunos 9 45%

Pelo professor 8 40%

Entre professores de diferentes disciplinas 6 30%

Pela coordenação 6 30%

Outros 2 10%

Total de 20 respostas Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários.

Interessante observar que em 45% dos casos, a escolha do tema é realizada pelos alunos

ou em conjunto com eles, fato que corrobora com uma das ideias principais dos Projetos, que é

uma visão democrática, que leve em consideração a opinião dos alunos. Em contrapartida, em

40% dos casos, a escolha é feita pelo professor, o que demonstra um equilíbrio na conciliação

dos interesses envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Essa ideia de levar em

consideração o que os alunos trazem, a bagagem cultural, como também suas opiniões e

conhecimentos é expressa nos PCN.

É necessário procurar e repensar caminhos que nos ajudem a desenvolver uma

educação musical que considere o mundo contemporâneo em suas

características e possibilidades culturais. Uma educação musical que parta do

conhecimento e das experiências que o jovem traz de seu cotidiano, de seu

meio sociocultural e que saiba contribuir para a humanização de seus alunos.

(BRASIL, 1998, p.79)

A escolha feita pela coordenação e por grupo de professores, representam, cada um,

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30% dos casos e o campo “outros” 10%, apresentam variações de resposta que se enquadram

nesses dois campos, envolvendo os diversos participantes do ambiente escolar na escolha dos

temas do Projeto. É importante observar esse aspecto de integração, não só entre conteúdos e

disciplinas, mas entre as pessoas envolvidas no ambiente escolar, que a é facilitada através da

realização de Projetos.

Outro aspecto importante a ser destacado, é a forma como o Projeto é realizado e a

abordagem dos conteúdos em torno do tema escolhido levando em conta que a integração entre

disciplinas e conteúdos é uma característica fundamental para o seu desenvolvimento. Para que

esse trabalho de integração seja realizado, se faz necessário uma organização do tempo e dos

espaços e, dependendo das características, como no caso dos projetos interdisciplinares e

pluridisciplinares, o envolvimento de diversos professores. No caso projetos dos

Unidisciplinares e Multidisciplinares, o trabalho pode ser organizado de forma mais

independente, uma vez que não envolve necessitante, professores de outras disciplinas.

De acordo com os dados, 15 (75%) dos professores, realizam Projetos em conjunto com

outras disciplinas, enquanto 5 (25%) o fazem na sua disciplina sem a participação de outros

professores. Se 75% dos professores realizam trabalho em conjunto com professores de outras

disciplinas, podemos afirmar que a maioria dos projetos realizados são de caráter

interdisciplinar. Mas se faz necessário observar, se, na prática dos professores que realizam os

Projetos sem a participação de outros professores, há alguma forma de integração de conteúdos.

Com relação a abordagem de conteúdos os dados mostram que 2 (10%), abordam

conteúdos especificamente da área de música, caracterizando Projetos unidisciplinares.

Enquanto 14 (70%) dos professores, realizam Projetos de caráter interdisciplinar e

multidisciplinar, pois, afirmam integrar conteúdos de diversas áreas disciplinas. Os 4 (20%)

que apresentam respostas variadas como por exemplo: “o professor de música tenta adaptar os

conteúdos de música ao tema do projeto” corrobora com a definição de Projeto pluridisciplinar,

no qual, o tema e a duração do projeto é predeterminado pela coordenação ou por um grupo de

professores e os conteúdos de cada disciplina são adaptados a esse tema predefinido. Em uma

outra resposta o professor diz “costumo contextualizar o projeto com a realidade dos alunos,

abordo, geografia, história, português”, que denota características de um projeto

multidisciplinar, assim como a afirmação desse educador musical: “procuramos entrar em

concordância e fazer com que a multidisciplinaridade aconteça sempre que possível nas nossas

aulas”. Em uma outra resposta o professor afirma que aborda conteúdos “específicos da área

de música mas articulados com as diversas áreas e outras disciplinas”. São diversas

possibilidades de realização que buscam a integração entre conteúdos, disciplinas e pessoas.

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Após a escolha do tema e a definição da forma de operacionalização e abordagem de

conteúdos, as atividades que se seguem na realização dos Projetos deverão ser planejadas e

executadas de forma conjunta envolvendo professores, alunos, possivelmente pais, comunidade

do entorno escolar, informantes, artistas, atletas e outros profissionais poderão ser convidados,

levando em consideração, o tema, contexto, recursos, duração dentre outros aspectos

específicos de cada contexto. A pesquisa é uma atividade fundamental na realização dos

Projetos pois através dessa prática, os educandos aprendem a buscar informações em diversas

fontes, selecioná-las e analisa-las. Alguns instrumentos de organização de informações

comumente utilizados são os portfolios (registro das produções), índices (organização de

conceitos, questões e atividades, em forma de tópicos), seminários (pesquisa e apresentações

em grupo), gravação de vídeos, dentre outras estratégias. No caso de Projetos envolvendo

música, pode-se lançar mão dos recursos e procedimentos específicos como ensaios, gravações,

audição e apreciação, e diversos outros necessários as necessidades especificas do Projeto ou

tema estudado.

Desses instrumentos apresentados, alguns autores dão maior destaque a um que é

proveniente da área das Artes, o portfólio, utilizado como uma forma de registro das atividades

e instrumento avaliativo que tem como principais funções facilitar a organização e reelaboração

do processo e é definido como

[...]um continente de diferentes classes de documentos (notas pessoais,

experiências de aulas, trabalhos pontuais, controles de aprendizagem,

conexões com outros temas fora da escola, representações visuais e etc.) que

proporciona evidencias do conhecimento que foi sendo construído, das

estratégias utilizadas para aprender e da disposição de quem o elabora em

continuar aprendendo (HERNÁNDEZ, 1998, p. 100).

Esses instrumentos de organização das informações estão diretamente ligados a forma

de avaliação dos Projetos que levam em conta toda a participação no desenvolvimento do

Projeto e é pensada a partir dessa ideia da importância dada a todo o processo de aprendizagem

no qual se deve acompanhar o desenvolvimento dos alunos e contribuir com sua evolução.

Nogueira (2001), utiliza fichas de avaliação de grupo e individuais com o objetivo de registrar

e acompanhar e avaliar o desenvolvimento dos Projetos de maneira geral e a participação e

desenvolvimento de cada aluno durante as fases do Projeto também através de um

“processofólio” contendo o registro de todas as atividades e comentários realizados durante o

Projeto.

Hernández (1998) aborda três momentos ligadas a função e a forma da avaliação nos

Projetos: Inicial (conhecimentos que os alunos já possuem a respeito de um determinado tema),

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formativa (visão de ajudar os alunos a progredir durante o processo) e recapitulativa (processo

de síntese de um tema). Na visão desse autor, “Entende-se por avaliação a realização de um

conjunto de ações encaminhadas para recolher uma série de dados em torno de uma pessoa,

fato, situação ou fenômeno, com o fim de emitir um juízo sobre o mesmo” (Hernández, 1998,

p.94). Não se descarta a utilização de provas escritas, testes e trabalhos que avaliem conteúdos

mais teóricos e conceituais, mas, não se deve perder de vista o processo como um todo.

É importante considerar dois tipos de avaliação: avaliar o Projeto como um todo (etapas,

desenvolvimento, participação, culminância...) e uma avaliação mais individualizada, focada

na participação e aprendizagem de cada aluno em particular. Para investigar como a avaliação

dos Projetos acontecem, elaborei uma pergunta referente a como os professores avaliam os

Projetos como um todo, e outra pergunta referente a como se dá a avaliação dos alunos dentro

dos Projetos. De acordo com os dados do questionário, de 19 respostas as palavras mais citadas

são as seguintes: avaliação contínua (citada 7 vezes) e através da observação (citada 5 vezes).

A maioria das respostas envolvem a observação contínua da participação e produção dos alunos

no decorrer do Projeto, a exemplo das seguintes respostas: “Através da observação e registro,

visando o desenvolvimento das turmas diante das atividades propostas no decorrer do

desenvolvimento do projeto”; “avaliação continuada, observando o desenvolvimento, a

participação a produção dos alunos no decorrer das aulas”, nas quais os professores

explicitam que a forma de avaliação nos Projetos acontece levando em consideração o processo.

Alguns professores afirmam avaliar através dos resultados: “através dos resultados

obtidos e os desdobramentos. Debates entre educadores”; “através da produção dos alunos e

sua aprendizagem construída”; “através de atividades propostas aos alunos e analisando os

resultados”; “através da produção dos alunos e sua aprendizagem construída”. Geralmente

ao final do Projeto, os resultados são apresentados a comunidade escolar no momento chamado

por muitos professores de “culminância”. Esse momento é importante para compartilhar os

conhecimentos e produções dos alunos durante o Projeto e também serve como instrumento de

avaliação.

Os resultados dos questionários mostram que das 20 respostas, todos os professores

realizam apresentações ao final do Projeto, seja em forma de “exposições e de apresentações

de Recitais Musicais”, ou “apresentação de musical, sarau, apresentações públicas do

projeto”, “Em forma de portfólio e concerto para a comunidade escolar”. As apresentações

são realizadas para os “pais e familiares dos alunos” ou “apenas aos alunos e a coordenação

da escola”, “para toda a escola durante a mostra cultural e MARCO”; muitas vezes

envolvendo, a comunidades escolar os pais e até mesmo um público externo. Dois dos

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respondentes afirmam que não necessariamente realizam apresentações (culminância) mas na

maioria das vezes o fazem.

Além da avaliação do Projeto como um todo, os alunos participantes também são

avaliados individualmente. A pergunta de múltiplas respostas buscou identificar os

instrumentos de avaliação e formas de avaliar os alunos no Projeto. Os instrumentos destacados

foram: através e portfólio, através de provas escritas, por meio de relatórios, 6, outros. No

campo “outros” foram citadas as seguintes formas de avaliação: “diálogo com os alunos e

avaliação oral”, “através da conversa informal com eles”, “por interesse e resultados

obtidos”, “produção e apresentação artística”. Para melhor visualização os resultados foram

organizados na gráfico 8.

Gráfico 8: instrumentos de avaliação dos alunos

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários.

É importante destacar que as atividades avaliativas no decorrer do Projeto (que

corresponde a 65%) podem ser diversas, como por exemplo, seminários, pesquisas, produção

de textos, composições musicais, interpretação de músicas, dentre outras, de acordo com a

necessidade do Projetos e o tema estudado. Os relatórios (30%) e os portfólios (15%), também

são utilizados. Como apresentado no gráfico acima, as provas escritas (0%) não são utilizadas

para avaliar os alunos, fato marcante, pois vai de encontro a um dos principais instrumentos de

avaliação utilizado em um sistema educacional com traços mais tradicionalistas por meio do

qual, se “mede” o conhecimento sem levar em conta o processo de aprendizagem.

Essa constatação reflete os motivos e intenções que impulsionaram a criação da primeira

ideia do chamado método de Projetos no início do século XX por Dewey e Kilpatrick que

0

2

4

6

8

10

12

14

Através e portfólio Através de provasescritas

Por meio derelatórios

Através deatividades

avaliativas nodecorrer do

Projeto

Outros

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levaram a um rompimento com as ideias dos métodos tradicionais e buscavam focar no

aprendizado através da experiência, valorizando todo o processo. Penso que esse tipo de

avaliação é bastante coerente com os objetivos da música na Educação Básica, pois esta, busca

não só desenvolver conceitos que podem ser avaliados de forma escrita através de provas, mas

busca desenvolver habilidades práticas de interpretação, audição e criação que devem ser

avaliadas de forma mais qualitativa principalmente través da observação e registro. O que

também não descarta totalmente a utilização de provas escritas quando necessário de acordo

com o tema trabalhado.

A Pedagogia de Projetos é uma alternativa metodológica que em meios a tantas outras

possuem suas especificidades e que, como já foi abordado no capítulo 1, possui diversas

interpretações e denominações, fato que muitas vezes causa uma certa confusão. Além disso

pode apresentar outros pontos negativos, principalmente se o termo for utilizado para justificar

práticas sem muito fundamento como adverte Boutinet:

Para alguns a pedagogia do projeto é a única via para a autogestão pedagógica

(Le Grain, 1980); para outros é a metodologia apropriada para valorizar o

respeito ao aluno, sua expressão no âmbito de uma formação individualizada;

para outros, ainda, trata-se de um meio judicioso para conduzir o reformismo

a escola. Quem seria então contrário a pedagogia do projeto? Todos encontram

nessa pedagogia, por enquanto, meios próprios para assentar suas próprias

justificativas: o burocrata da educação pensa que uma pinçada de criatividade

em um sistema rígido só pode vir a reforçar a eficácia e a pertinência desse

sistema; o libertário vê enfim abrirem-se as portas da experimentação

sonhada; o defensor de uma educação privatizada louva o recuo do Estado e

de sua imposição. Mas afinal, todos esses projetos ainda são aqueles dos

alunos? Que relação têm com essa intuição inicial que o projeto supostamente

encarnava, segundo a qual a criança se constrói agindo? (BOUTINET, 2002,

p. 181).

A partir dessa fala de Boutinet fica a reflexão de que o termo “Projeto”, inicialmente

concebido com a intenção de tornar o aluno sujeito de sua própria aprendizagem e de certa,

pode servir como desculpa para a realização de práticas que muitas vezes podem até ir de

encontro a essa ideologia. Além desse ponto negativo podem existir outros que aparecem na

prática. Através do questionário forma revelados os pontos positivos e negativos apontados

pelos professores, a partir de suas experiências. É importante identificar esses pontos (positivos

e negativos) principalmente através da fala dos próprios agentes, por isso organizei um quadro

para apresentar esses pontos (quadro 10).

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Quadro 10: resumo dos Pontos positivos e negativos nos Projetos na fala dos professores respondentes PONTOS POSITIVOS PONTOS NEGATIVOS

sentido de conectar e dar sentido a todo o

aprendizado do aluno com todas as

disciplinas

mas as vezes nos deixa engessados para ousar

outras possibilidades que surgem durante o

dia a dia com os alunos

ver a real aprendizagem artística da criança quando há imprevistos (como falta de

material ou não poder executar o

planejamento como substituir professor

maior participação dos alunos, maior

empenho dos docentes envolvidos

aumento do trabalho

os alunos compreendem melhor o significado

das atividades; se envolvem mais com a aula

e com o conteúdo a equipe da escola também

incentiva e valoriza essa prática

limitações e falta de ajuda por parte da SME

abrange e oportuniza a criança a ampliar

seus conhecimentos

muitas vezes nos limita a não explorar mais o

nosso conteúdo

a definição de um objetivo e a finalização do

mesmo

geralmente no decorrer do processo de

construção dos projetos ocorre a alteração

dos objetivos

o trabalho em grupo (várias disciplinas)

favorece um melhor entendimento do tema

proposto. Ajuda o aluno a compreender

melhor o assunto

o professor não tem tanta liberdade para

desenvolver melhor os conteúdos da sua

disciplina

a motivação dos alunos aliada querer

aprender música, ou mais precisamente o

instrumento, no caso, o violão

não há pontos negativos, a não ser uma ou

outra falta de comportamento

poder interagir e dialogar com outras áreas limitar-se ao tema proposto

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados dos questionários.

De acordo com as respostas, os principais pontos positivos são a possibilidade de

integração entre conteúdos e disciplinas, e maior envolvimento dos alunos nas atividades. Dos

pontos negativos mais citados aparecem a limitação de abordar menos os conteúdos da própria

área de música, o que acaba sendo a identificação de uma contradição pois ao mesmo tempo

que citam a possibilidade de integração de conteúdos como um ponto positivo, colocam esse

fator como um ponto negativo se isso limitar ou comprometer a abordagem de conteúdos da

área especifica. Essa possibilidade de integração de conteúdos na prática dos educadores

musicais é evidenciada em diversas falas referentes ao caráter de integração de conteúdos e

disciplinas próprios dos Projetos e reconhecida na literatura e até nos documentos oficiais como

no PCN que ao tratar dos projetos como uma alternativa pedagógica para o ensino de artes na

escola, destaca a possibilidade da realização de trabalhos conjuntos com diversas disciplinas

levando em consideração o caráter de integração mas com cuidado para que “não se deixe de

lado o exercício das questões especificamente musicais” (BRASIL, 1998, p. 49).

A última pergunta do questionário, buscou saber a opinião dos professores sobre as

contribuições da Pedagogia de Projetos para o ensino de música na escola. Em uma das

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respostas o professor afirma que a “Surge como uma possibilidade de tentar suprir a falta de

continuidade de conteúdos nas séries. Com os projetos podemos abordar diversos conteúdos

musicais, sem limitar o que aquela série/ano viu ou não”. Essa fala corrobora com a

possibilidade da utilização da Pedagogia de Projetos como uma alternativa para a resolução de

uma das questões apontadas como problemática na realidade atual do ensino de música nas

escolas brasileiras que é a ausência do ensino de música em diversas escolas ou em turmas de

uma escola. Dessa forma fica inviável programar e aplicar um conteúdo sequencial para vários

níveis da Educação Básica, se não há música há aula de música em todas as turmas e em todas

as escolas não é possível dar continuidade aos conteúdos definidos para cada nível,

principalmente se os conteúdos forem cumulativos ou pré-requisitos para o desenvolvimento

de outros.

Essa alternativa de realizar um trabalho sistemático dentro de um período determinado

a partir de um tema desenvolvendo conteúdos que não são necessariamente organizados na

maneira sequencial tradicional. Domingues (2015) reflete sobre a questão da não linearidade

dos conteúdos de música apresentando como se dá de forma prática no de desenvolvimento de

Projetos:

Outra questão importante de se ressaltar numa Educação Musical nesse

contexto é a presença forte de uma não linearidade dos conteúdos.

Geralmente, como professores de Música, primamos por um ensino de Música

no qual o desenrolar dos conteúdos aconteça de modo subsequente. No caso

de um trabalho com projetos, a noção de sequência perde, em alguma medida,

sua força. No meu caso, os conteúdos não seguiram uma ordem lógica e

consecutiva por conta do desenvolvimento também das atividades do projeto,

que no tema de “Festas populares” foi o desenvolvimento da Festa de São João

e das quadrilhas e o ensaio das músicas do tema; e no tema de “Dorival

Caymmi”, sua biografia, os diferentes momentos de sua obra. (DOMINGUES,

2014)17

Alguns professores apontam a participação, envolvimento e expressão dos alunos nos

Projetos como uma contribuição dessa metodologia para o ensino de música na escola pois,

“torna a disciplina mais acessível, permite a participação e expressão dos alunos e estimula o

professor” e ainda “acima de tudo, desperta a criatividade e o interesse em ser músico, ou

desenvolver atividades artísticas correlatas”. Nos Projetos, os alunos devem participar de

forma ativa aprendendo através da experiência e expressando suas ideias e sentimentos, dessa

forma a ideia de “democracia” e respeito a “voz” dos alunos pode ser efetivada como

evidenciado na seguinte fala:

17 Documento não paginado.

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[...]pois cada aluno pode expressar suas emoções e compartilhar o

conhecimento com toda a turma e comunidade. É um momento em que se

observa, na prática, a construção dos saberes, principalmente quando existe

a interdisciplinaridade ligada ao projeto inicial (DADOS DO

QUESTIONÁRIO, 2015)

A participação da comunidade escolar também é destacada como uma contribuição,

“trabalhei durante 9 anos com projetos, eles movimentam a escola, atrai os alunos e desperta

o interesse pela arte e sensibiliza toda a comunidade para valores implícitos durante o

processo”. Essa fala demonstra uma das ideias principais que impulsionaram os Projetos que é

a aproximação da escola com a “vida real” dos alunos, que é facilitada através da participação

da comunidade nos Projetos. O favorecimento da aproximação da escola a realidade dos alunos

também é reforçado por outro professor ao afirmar que “para mim, trabalhar com projetos

propicia uma experiência musical mais aprofundada para os alunos, devido as conexões com

o contexto dos alunos e com a escola”.

Outra contribuição apontada nas falas é a realização de um trabalho integrado as

diversas áreas e disciplinas. Característica muito especifica das aulas de música no contexto

escolar pois, nele há convivência de diversas disciplinas e áreas de conhecimento,

diferentemente de uma escola especializada em música, por exemplo. A seguinte fala, destaca

essa integração entre as áreas como uma das contribuições dessa metodologia, dentre outras

como o envolvimento dos alunos:

A forma de dialogar com outras áreas além da música, interdisciplinaridade,

o incentivo à pesquisa relacionado aos temas, e principalmente a autonomia

que é dada às crianças ao poderem escolher os temas a serem estudados, pois

havendo possibilidade de escolha e flexibilidade no ambiente de sala de aula,

proporcionaremos maior envolvimento nas tarefas, maior interesse dos

alunos por estarem estudando o que eles escolheram e maior competência ao

realizarem as atividades propostas, ou seja, motivação autônoma. (DADOS

DOS QUESTIONÁRIOS, 2015).

O trabalho interdisciplinar favorece a integração da equipe escolar e a conexão de

saberes de diversas áreas possibilitando o desenvolvimento de um saber mais significativo e

integrado e não fragmentado e sem sentido. Nas palavras dos professores, “os projetos

aproximam a prática pedagógica de resultados significativos. Eles demonstram que o

conhecimento de mundo podem ser (e devem ser) conectados” e ainda, “Permite conectar o

conhecimento musical com todo o conjunto de saberes do aluno; possibilita organização e

sugere metas a serem alcançadas pelo aluno; permite diferentes formas de avaliação durante

o processo; integra toda a equipe de professores”. Uma reflexão importante a ser feita é o fato

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de que, na atualidade, o acesso a informação é cada vez mais facilitado por diversos veículos

de comunicação, o que implica na necessidade cada vez maior do desenvolvimento da

capacidade de selecionar, tratar, organizar e se apropriar dessas informações. É nesse contexto

que a Pedagogia de Projetos pode contribuir como uma forma de desenvolver essa habilidade

através do processo de elaboração e execução e da ideia de integração entre conteúdos e

disciplinas. Segundo Penna,

Os projetos integrados têm sido muito valorizados para a renovação das

práticas pedagógicas, especialmente dentro de projetos de educação integral,

que visam não apenas à ampliação da jornada escolar, mas à formação global

dos alunos. Neste sentido, buscam articular saberes cotidianos e

conhecimentos escolares, objetivando ultrapassar o caráter linear e

fragmentado que costuma caracterizar os currículos (PENNA, 2014, p. 116)

A utilização da Pedagogia de Projetos como metodologia para as aulas de música na

Educação Infantil é evidenciado em alguns trabalhos principalmente em formato de relatos de

experiência (NEVES, 2015; PONSO, 2008) como também na fala dos professores ao

responderem sobre as contribuições dessa metodologia para o ensino de música, “creio que sim,

que possa ser uma boa opção, pois não há uma "metodologia" específica e na educação infantil

esse trabalho não metódica é pertinente em se tratando de conteúdos musicais”. Outro

respondente afirma que “Sim, principalmente no âmbito da educação infantil, pois torna o

aprendizado mais dinâmico, dentro da sequência de início, meio e fim, realizando o fechamento

do conteúdo e avaliando a aprendizagem”. Há diversas possibilidades de realização de Projetos

Na Educação Infantil, e nesse contexto segundo a fala do professor, “Favorece a aplicação da

música, já quem os projetos pedagógicos a borda temas dos mais variados assuntos. Ele nos

dá a oportunidade de diversificarmos e nossa atuação”.

Uma das respostas destoa das demais ao afirmar que a proposta dos Projetos “na minha

opinião é muito fraca. Não acho que eles realmente oferecem subsídios necessários para meu

trabalho na escola”. Essa resposta vai de encontro a maioria das outras que veem nos Projetos

uma boa alternativa metodológica para o trabalho com música na escola. De toda forma há de

se levar em conta que a diversidade de ideias, experiências e princípios metodológicos deve ser

respeitada, mas ao mesmo tempo refletida e criticada. A Pedagogia de Projetos, na maioria das

respostas foi vista como uma experiência positiva, no entanto, também pode apresentar aspectos

negativos, principalmente se realizada de forma infundada e descompromissada. A confusão da

utilização do termo “Projeto” pode dar abertura para que seja utilizado para denominar e

justificar diversas práticas que muitas vezes podem não corresponder com as ideias, princípios

que norteiam essa metodologia. Boutinet (2002) atenta para o cuidado com essa confusão em

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torno do termo, afirmando que diversos perfis ideológicos e profissionais encontraram “meios

próprios para assentar suas próprias justificativas”.

Através do estudo e reflexão da literatura sobre a Pedagogia de Projetos e dos dados

coletados através dos questionários pode-se identificar diversas características pertinentes para

o momento atual da presença da música na Educação Básica e considera-la como uma dentre

as diversas práticas, que buscam desenvolver o processo de ensino aprendizagem musical

escolar. O próprio momento histórico e base filosófica no qual a Pedagogia de Projetos se

desenvolve tem uma conexão com os métodos ativos de educação musical pois compartilham

da ideia de “aprender através da experiência”. No momento atual, no qual a música vai se

consolidando como disciplina da Educação Básica brasileira, se faz importante pensar quais as

contribuições dessa metodologia para que a música se torne de fato uma disciplina consolidada

não só quantitativamente, mas qualitativamente. Na opinião de um dos educadores musicais

respondentes do questionário reflete a possibilidade do desenvolvimento de uma educação

musical consistente e significativa através da Pedagogia de Projetos.

Bom, a Pedagogia de Projetos não é só uma boa opção como também, uma

forma concreta de trabalhar os conteúdos de música. Os projetos do qual

realizamos, procuramos sempre trazer para os alunos experiências que eles

não estão acostumados a viver no cotidiano escolar. Com isso instigamos os

alunos a selecionar informações importantes e necessárias para o

desenvolvimento do projeto, os colocamos diante de situações em que

precisam tomar decisões, aprender a trabalhar em grupo, gerenciar atitudes

dos que fazem parte dos grupos, trabalhando e mediando as suas atitudes

diante das diversas dificuldades encontradas pelos mesmos. Os conteúdos de

música podem ser exaustivamente trabalhados na Pedagogia de Projetos,

pois é uma das formas de expressão artística que temos uma aceitação

significativa (DADOS DOS QUESTIONÁRIOS, 2015).

Uma das questões abordadas por diversos autores da área de Educação Musical é a

extensão territorial do Brasil e sua multiplicidade cultural e diante disso o estabelecimento de

um currículo com conteúdos musicais determinados para todo o território brasileiro. Outra

questão é a dificuldade de dar sequência aos conteúdos de um nível escolar para outro já que

na maioria das escolas brasileiras ainda não há aulas de música em todas as séries e a maior

liberdade na escolha de conteúdos em relação a disciplinas como português, matemática,

biologia etc... Diante dessas questões a Pedagogia de Projetos pode ser uma alternativa

metodológica pois trabalha diversos conteúdos de diversas disciplinas a partir de um tema

geralmente escolhido em conjunto com os alunos objetivando partir dos conhecimentos prévios

que eles já possuem e despertar o interesse através de atividades práticas. Algumas dessas

questões foram evidenciadas através das respostas do questionário que buscou justamente

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identificar de uma forma mais ampla e quantitativa, quantos e quais os professores de música

atuantes nas escolas de Natal-RN afirmam trabalhar com a Pedagogia de Projetos e como esse

trabalho é desenvolvido.

Esses dados me permitiram conhecer a realidade da utilização da Pedagogia de Projetos

por professores de música das escolas da cidade e identificar dois professores que se

enquadraram nos critérios estabelecidos para a realização das observações e entrevistas, que se

configuram como a parte qualitativa da pesquisa, objetivando conhecer práticas da Pedagogia

de Projetos para o ensino de música no contexto de sua realização. Para isso acompanhei dois

Projetos observando as etapas e todas as questões envolvidas no desenrolar do trabalho.

6 PROJETOS E MÚSICA NA ESCOLA: UM OLHAR A PARTIR DE DOIS

EXEMPLOS

Os dados dos questionários possibilitaram uma visualização ampla da utilização da

Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de música na Educação Básica. A partir

das respostas foi possível identificar diversos aspectos relacionados a formação e atuação dos

professores, características das escolas e das turmas que lecionam, conteúdos e materiais que

utilizam e mais especificamente, informações sobre a utilização da Pedagogia de Projetos, foco

da pesquisa. Mesmo com tantas informações relevantes para a compreensão do tema, se fez

necessário a observação de práticas, a partir de um enfoque mais qualitativo, objetivando um

maior aprofundamento e detalhamento das questões que envolvem a prática de Projetos e o

ensino de música na escola. Levando em conta ideias fundamentais dessa metodologia,

“aprender através da experiência”, acompanhei duas experiências de Projetos, em duas turmas:

9º ano (escola particular) e 3º ano (escola pública).

6.1 A escola particular

As observações na escola particular foram realizadas durante 6 aulas acompanhando o

desenvolvimento do projeto “Gêneros musicais”. Os detalhes dessas observações serão

relatados a seguir.

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6.1.1 Conhecendo o professor e suas concepções sobre música e projetos na escola

Diversos fatores influenciam no resultado do trabalho educacional. A trajetória de

formação está intimamente ligada às práticas desenvolvidas em qualquer profissão. Para se

compreender melhor as práticas dos professores, e sua opção pela utilização da Pedagogia de

Projetos como metodologia para as aulas de música, se fez necessário conhecer o perfil

profissional dos mesmos. O professor da escola particular que foi denominado com o

pseudônimo Jorge, é formado pelo curso técnico em música (habilitação guitarra elétrica) pela

UFRN e está em fase de conclusão do curso de licenciatura em música, na mesma instituição,

faltando somente a entrega e apresentação de sua monografia. Atua como professor de música

da educação básica desde o ano 2011, tendo passado por outras escolas, começou a trabalhar

na instituição na qual fiz as observações em 2012, ou seja, há quatro anos leciona nessa escola

onde, atualmente leciona nas turmas do sexto ao nono ano do fundamental 2 e no primeiro ano

do ensino médio.

Ao falar sobre sua experiência como professor de música na Educação Básica, Jorge diz

que precisou conquistar o espaço e aceitação por parte dos alunos, da música como disciplina

pois alguns ainda tinham a visão de que a aula de artes deveria estar relacionada às artes visuais,

principalmente ao desenho.

Tanto aqui, nas três escolas que eu já lecionei, sempre teve essa... esse

momento de adequação que é... trazer pro aluno, mostrar por aluno, que é...

as linguagens artística não “tão” ligadas apenas as.. artes plásticas que é

uma coisa meio que já... de... tradição, né? que vem sendo levada. Então, teve

essa adaptação que ela de certa forma ainda acontece, né, mas com mais

facilidade do que no início, né? Então os alunos já compreendem melhor, já

tem uma aceitação muito melhor, mas no início era... era bem complicado

porque os alunos perguntavam porque não tinha desenho (JORGE, 2015)18

Essa afirmação demonstra de forma real os reflexos das “ambiguidades” da legislação

referente ao ensino de Artes, o que ocasionou um certo “condicionamento” nos alunos, pois

ficaram acostumados a ponto de relacionarem a aula de arte somente com as artes visuais. Jorge

afirma ainda, que, nos dias atuais, alguns alunos ainda resistem à aula de música, mas aos

18 As informações verbais obtidas por meio de entrevista com o professor Jorge, realizada no dia 12/08/15 na

biblioteca da escola particular foram gravadas e depois transcritas. Ao serem citadas serão destacadas em itálico.

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poucos ele vai mostrando que a música na escola é importante porque desenvolve diversas

habilidades e tenta desmistificar a ideia de que a prática musical é possível apenas para quem

tem o “dom” e de que fazer música só é possível se tocar um instrumento musical.

Então a música também exige isso, né? De você ter se que organizar, porque

você vai ter que se apresentar, ou... você tem que prestar.. Respeito aquela

apresentação, daquele artista que vai tá ali na frente s apresentando, então

não é só a questão cognitiva, não é só a parte da linguagem musical que é

trabalhada e que eu trabalho, mas, eu tento trazer pro aluno essa noção de

que a música ela é muito mais abrangente do que tocar um instrumento, né?

Do que apenas tocar o instrumento, e pronto, ou cantar né? Porque ainda há

essa mística. (JORGE, 2015)

Nas primeiras experiências como professor de música na escola, Jorge conheceu a Pedagogia

de Projetos, e passou a identificar-se bastante com essa metodologia, pois a mesma, se mostrou como

uma alternativa para a resolução de um problema que ele enfrentou logo no início de sua carreira docente

quando entrou em uma escola no decorrer do segundo semestre letivo e não havia um direcionamento,

nem orientações de como era o trabalho do antigo professor de artes.

A primeira coisa que me apresentaram foi o projeto da escola, que, é... a

escola trazia sempre um projeto geral, né? Pra trabalhar, não só o conteúdo,

mas trabalhar também, dentro do conteúdo a questão das cidadania. Então

era possível, e foi-me apresentado que era possível criar projetos pra que

esses projetos fossem apresentados, com os alunos desenvolvidos com os

alunos, e isso foi muito legal porque, é... a gente pensa num projeto pra

desenvolver e dentro desse projeto você começa a ver várias possibilidades

que você pode trabalhar com a música. (JORGE, 2015)

A partir de então, o professor começou a pesquisar mais sobre Projetos e com a

orientação de coordenação da escola criou quatro projetos para serem desenvolvidos com

turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental 2. O resultado foi muito satisfatório e

apresentou diversos pontos positivos que os motivou a continuar trabalhando por meio de

Projetos.

Foi muito bom o resultado disso né? Dos alunos, de ver os alunos todos

trabalhando. Não ter aquela aula, é... tradicional, aquela aula palestra.

Então, na maioria das aulas eu tento ao máximo buscar que os alunos

eles sejam, o protagonista, ou seja, os alunos eles... se desenvolvam, e

a partir do que eles estão desenvolvendo eu vou apenas, é,

monitorando, dizendo o que seria melhor, a forma como seria

desenvolvido, a melhor forma de se trabalhar, se tem dificuldades né?

Eu vou orientando outras possibilidades e... e isso foi muito

enriquecedor logo no início. (JORGE, 2015)

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A partir dessa fala, pode-se identificar alguns pontos antagônicos entre os métodos mais

tradicionalistas e a Pedagogia de Projetos, notados pelo professor no início de sua atuação

docente, destacando-se o próprio papel do professor que passa a ser um orientador e não

somente um “transmissor de conhecimento” ou um “palestrante”. Os alunos passam a ser

protagonistas de seu próprio aprendizado e não somente um depósito de informações. Essa

concepção é bem visível ao observar a prática, pois, na maioria das aulas observadas, o

professor não ficava somente falando de conteúdos, mas sim, orientava as atividades que

deveriam ser realizadas, e os alunos não eram meros expectadores, pesquisadores e

realizadores, favorecendo o desenvolvimento da autonomia, ideia que corrobora com as

afirmações de Paulo Freire “Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar

possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 47).

Outro ponto característico dessa metodologia é a forma de abordagem dos conteúdos

que geralmente não seguem um cronograma imposto e totalmente preestabelecido. Os

conteúdos vão tomando forma a partir do tema escolhido e na maioria das vezes envolve

conteúdos de diversas disciplinas. Essa característica também é apontada pelo professor como

sendo positivo na sua prática.

Então pra mim foi muito bom, trabalhar com projetos porque é... cria-se

conteúdos né? E coisas que a gente pode explorar, mais do que apenas seguir

um cronograma. Aquele cronograma que é imposto. Não que isso não seja

bom, mas oh... o trabalho com projetos ele traz uma... uma... dinâmica melhor

porque você passa pro aluno uma responsabilidade e junto com o aluno você

desenvolve, né? Ou seja, nós temos um objetivo e a gente, tem que conseguir

chegar a esse objetivo, juntos, e com o trabalho de projetos a gente tem essa

facilidade né? Porque, se tudo der errado, né, alguma coisa aconteceu de

errado. Comigo, com eles... se tudo der certo foi tudo bom porque todos

participaram e a gente pode fazer uma analise disso. Então, tanto dando

errado, quanto dando certo, a gente pode fazer uma análise pra fazer melhor,

pra ver o que é que a gente pode melhorar. (JORGE, 2015)

Esses conteúdos podem ser abordados de forma uni, multi, pluri ou interdisciplinar

integrando-os em torno de um tema e envolvendo quando possível, uma equipe de professores

que pode trabalhar em conjunto. Jorge afirma que muitas vezes os projetos são realizados de

forma interdisciplinar, envolvendo a coordenação e uma equipe de professores de diversas

disciplinas que planejam e realizam as atividades de forma integrada objetivando uma melhor

compreensão por parte dos alunos e tornando as informações mais significativas para eles, como

explicita na seguinte fala:

Então no ano passado a gente fez três projetos, em três turmas do nono ano.

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Eu, o professor de história e a professora de língua portuguesa que foi projeto

que envolvia bossa nova, pra uma turma de nono ano. Aí tinha a turma do

nono ano B, que a gente trabalhou o tema jovem guarda, e teve a turma do

nono ano C onde a gente trabalhou o projeto de tropicalismo, música de

protesto, e casou muito bem com o tema que o professor estava trabalhando

na sala. Então quando eu entrava pra dar aula sobre, é... o período da

ditadura militar, que envolvia a jovem guarda, as vezes eles tinha acabado de

ter aula com o professor de história muitas vezes, na mesma semana sobre

ditadura militar. Então acabava se tornando uma coisa onde eles falavam

mais do que eu. E aí a gente viu que isso era bom. Tanto eu, como o professor

de história, de língua portuguesa também. A gente viu que era bom e

conseguimos trabalhar, assim. Ter um... fazer um bom trabalho. (JORGE,

2015)

Ele considera a Pedagogia de Projetos “a melhor forma” de trabalhar os conteúdos

musicais no contexto escolar, visto que não dispõem de livros didáticos e que os conteúdos não

são totalmente definidos e rígidos como em outras disciplinas. Destaca que dessa forma busca

despertar a motivação e a autonomia dos alunos através de aulas “ativas”, “então, em minhas

aulas eu poucas vezes escrevo no quadro, porque muita coisa a gente desenvolve através dos

projetos”. Essa dinâmica permite um maior envolvimento dos alunos nas atividades e a

utilização de diversas fontes de informação que não só o livro didático, fazendo que os

educandos desenvolvam uma atitude de pesquisas e não somente de repetição.

Com essa questão da prática tradicional, os alunos estão cansados, estão

enfadonhos disso. Então é visível... a gente quando entra na sala que vai

trabalhar com projeto eles prestam atenção em tudo que a gente vai falar,

porque é uma coisa nova, não tá escrito no livro. Então eles tem que prestar

atenção naquilo que nós vamos apresentar pra eles, no vídeo que eles vão

assistir, pra... pra desenvolver é... a ideia que tem, que eles vão ter que

pesquisar porque não tá escrito no livro, não tá arrumadinho pra eles pra

depois eles pegarem do texto e depois eles tirarem e copiarem e relacionarem

com o texto. Não que isso não seja bom, mas, é... o projeto... trabalhar com

projeto, dá essa dinâmica maior (JORGE, 2015)

Em muitos dos projetos, os alunos superam a expectativa do professor ao criarem e

pesquisarem sobre os assuntos. Para ele, o desenvolvimento de Projetos também está

diretamente ligado com questões da vida cotidiana como conflitos, responsabilidades, atitude,

organização etc... e busca desenvolver essa questões em seu trabalho, aproximando a escola da

vida. Assim como Dewey e Kilpatrick, idealizadores das primeiras experiências com o método

de projetos buscavam “aproximar a escola da vida real” e “aprender através da experiência”. É

interessante notar que essa ideia desenvolvida no início do século XX, tanto carece de ser

colocada em prática na realidade das escolas brasileiras que muitas vezes, ainda nos dias atuais,

é confrontada com características decorrentes de métodos tradicionalistas enraizadas nos

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professores e alunos e refletidas em práticas descontextualizadas, repetitivas, baseadas na

memorização de conteúdos e no aprendizado real e significativo.

Com relação ao ensino de música na escola é preciso atentar com cuidado para a

reprodução de modelos de métodos de ensino de música mais tradicionalistas, provenientes de

conservatórios. Uma vez que a educação musical passa por um momento de consolidação na

Educação Básica é importante pensar em metodologias que sejam adequadas aos objetivos do

ensino de música nesse contexto. Essas metodologias, ideias e experiências sobre educação

musical podem ser encontradas em diversas publicações da área da educação musical e da

educação. É por esse motivo que se justifica a relevância de pesquisas e publicações na área.

Como referencias teóricos para a prática de Projetos, Jorge afirma utilizar principalmente o

autor Fernando Hernández e diversos textos sobre educação musical de publicações da ABEM,

livros recentes e relatos de experiência do PIBID que o ajudam a refletir sobre sua prática e

torna-la mais consistente.

Conhecendo melhor o professor e suas concepções, o passo seguinte é a discussão sobre

as observações do Projeto sobre os gêneros musicais, a partir de um olhar de observador

participante.

6.1.2 Desenvolvimento do projeto: “Gêneros musicais”

6.1.2.1 A escola e a turma

O Projeto sobre os Gêneros musicais foi realizado em uma turma do nono ano do ensino

fundamental 2 de uma escola particular localizada no bairro Cidade da Esperança na zona oeste

da cidade de Natal-RN. A turma era composta por 47 alunos com idade entre 14 e 15 anos,

provenientes das localidades no entorno da escola. Acompanhei o desenvolvimento desse

projeto durante 6 aulas seguidas através da observação participante, participando das aulas e

interagindo com o professor e os alunos.

No decorrer do projeto as aulas foram realizadas em diversos espaços da escola: a sala

da turma (fotografia 1), sala de vídeo (fotografia 2) e a biblioteca (fotografia 3). A sala da turma

era climatizada e dispunha de projetor e equipamento multimídia instalados, em frente a lousa

havia um espaço mais elevado, como um palco, para que o professor pudesse ser melhor visto

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e ouvido por todos.

Fotografia 1: sala de aula da turma (escola particular).

Fonte: o autor - dados das observações (2015)

Fotografia 2: sala de vídeo

Fonte: o autor- dados das observações (2015)

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Fotografia 3: biblioteca

Fonte: o autor- dados das observações (2015)

Durante as observações pude perceber que a escola dispõe de uma ótima infraestrutura:

salas climatizadas e com equipamentos multimídia, ambientes bem organizados e acolhedores.

Com relação aos equipamentos específicos de música, possui instrumentos de percussão

(infantil e de banda marcial) e alguns instrumentos de sopro de banda marcial (corneta e

trompete). Alguns instrumentos musicais usados no decorrer do projeto (violão, cajon, guitarra,

pedaleira multiefeitos e alguns equipamentos de som) foram trazidos pelo professor e pelos

próprios alunos.

6.1.2.2 Fases e características

O Projeto Gêneros musicais teve a duração de aproximadamente um bimestre e

envolveu conteúdos e professores de diversas disciplinas nas atividades. Porém a forma de

operacionalização pode ser caracterizada como multidisciplinar, uma vez que foi planejado e

realizado pelo professor de música em uma turma, abordando conteúdos de diversas áreas de

conhecimento em torno do tema, mas preservando os objetivos particulares da disciplina. A

participação dos outros professores se deu apenas em algumas atividades, mas o projeto como

um todo foi realizado na disciplina de música.

O tema foi escolhido pelo professor a partir do diálogo e observação da realidade dos

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alunos e em conjunto com professores de outras disciplinas. Nesse Projeto, a escolha do tema

e a realização de todo o trabalho, aconteceu de forma mais independente na disciplina de

música, no entanto, a ideia inicial do professor é de futuramente dar continuidade, envolvendo

outros professores. Jorge afirma que o tema pode ser escolhido de diversas formas, depende da

disponibilidade da equipe e das necessidades dos alunos.

Então, é... pode ser uma ideia minha, porque eu tenho algo que eu vou

trabalhar com meus alunos relacionado a música, e eu ir procurar outros

professores que é geralmente na maioria das vezes é assim que eu faço. Só

quando é... dificilmente eu faço os projetos isolados, a não ser que seja porque

os outros professores tem um livro né, a seguir. Tem a questão do conteúdo.

Então, teve um projeto que eu desenvolvi com o nono ano onde eu não

procurei nenhum outro professor. Desenvolvi o projeto sozinho, foi

trabalhando os gêneros musicais dos alunos, é, e aí o que eu queria, o meu

objetivo era uma espécie de laboratório com eles pra o que eu viria a fazer

depois, né? Que vai ser um projeto maior que é... pequenas exposições, a

partir dos gêneros, né, que foi o projeto do nono ano. Dos gêneros musicais

que os alunos mesmo gostam. Então, foi uma espécie de laboratório. Foi

numa sala onde eles fizeram apresentação é, é, pra uma turma só, e depois eu

vou fazer com outra turma sendo outras duas turmas assistindo e, e o projeto

maior que aí é um musical. Aí eu vou envolver outras disciplinas e aí eu coloco

o tema né, então essa é uma ideia que eu tenho. Dessa ideia que eu tenho, eu

tô partindo de um ponto até chegar o objetivo que é esse, essa apresentação,

mas também muita coisa vem dos outros professores. (JORGE, 2015)

Como diagnóstico da situação pedagógica e levantamento de informações e preferencias

dos alunos sobre esse tema, o professor pergunta quais os gêneros/ritmos/estilos musicais que

eles conhecem e vai anotando na lousa: “funk, forró, rock nacional, rock internacional, reggae,

eletrônica, sertanejo, gospel, pagode, jazz, blues, clássica e MPB” (CC, 2015). Depois desse

levantamento, cada aluno vai ao quadro e escreve seu nome abaixo de três de seus gêneros

musicais preferidos atribuindo um número de 1 a 3 para cada gênero em ordem de preferência.

Os grupos são formados a partir dos números atribuídos pelos alunos ao gênero musical de sua

preferência e para equilibrar o número de participantes em cada grupo, o professor vai

organizando e pede que cada grupo eleja um representante. Como observador inserido no

contexto das aulas, pude perceber um clima descontraído e participativo no qual os alunos

estavam construindo a aula junto com o professor, com a oportunidade de escolher o subtema

(estilo/ritmo musical) que iriam estudar.

Depois dessa primeira fase, o professor encaminha os alunos para a realização do

planejamento e execução das atividades do projeto, combinando um possível cronograma. A

primeira atividade a ser realizada é a pesquisa em grupo, para isso os seguintes

encaminhamentos são escritos na lousa:

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PESQUISA

- História do gênero

- Características

- Precursor (artista ou banda)

- Breve história

- Análise crítica de cada integrante do grupo

- Letra das duas músicas para apresentação.

SEMINÁRIO

- Conteúdo da pesquisa

- Artista ou banda (individual)

APRESENTAÇÃO

- Escolher duas músicas para serem apresentadas (CC, 2015)19

O professor expõe os critérios para a pesquisa e apresentação do seminário orienta como

devem pesquisar e apresentar os trabalhos: não colocando textos grandes nos slides, explorando

imagens e palavras que lembrem o conteúdo a ser apresentado. Isso acontece em forma de

diálogo e os alunos vão tirando as dúvidas e dando ideias de como realizar a pesquisa. Essa

postura de diálogo e negociação muito presente entre o professor e os alunos, é característica

em todas as aulas observadas. O professor motiva os alunos falando das expectativas que ele

tem com relação ao Projeto dizendo que espera um trabalho de “excelência” já que eles estarão

estudando e falando sobre um assunto que eles escolheram e que eles gostam. Faz um relato de

uma experiência pessoal de um trabalho que fez na graduação sobre um tema que ele gostava

muito, e por isso fez um trabalho que foi bastante elogiado pelo professor da disciplina e pelos

colegas de turma.

No decorrer das aulas, os alunos se reúnem em grupos para a organização dos seminários

e o professor vai passando em cada grupo para orientar os alunos, dando dicas de formatação

do trabalho, indicando materiais e fontes de informação. Nesse processo de realização das

atividades destaca-se o papel do professor como um orientador dos alunos e não como um

“palestrante”, dessa forma eles demonstram autonomia e desenvolvimento de habilidades de

organização de informações, relacionamento interpessoal, liderança, dentre outras que podem

ser desenvolvidas quando se vivencia e valoriza todo esse processo. Através dessas atividades

os alunos também vivenciam diversos parâmetros do modelo TECLA. As vezes de forma

independente (somente um dos parâmetros em uma determinada atividade), e as vezes de forma

concomitante (dois ou mais parâmetros em uma mesma atividade).

Após a coleta de diversas informações, provenientes de diversas fontes (internet, livros,

revistas, CDs e DVDs) e da organização dessas informações, inicia-se as apresentações dos

seminários de cada grupo abordando seus respectivos gêneros musicais. Na apresentação, os

19 Anotação em Caderno de Campo na observação do dia 21/05/2015.

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alunos falam sobre o gênero musical que foi estudado pelo grupo destacando aspectos

históricos, principais artistas representantes, e demonstram exemplos de músicas através da

reprodução do áudio. Enquanto um grupo apresenta, os outros que estão assistindo vão

elaborando perguntas sobre o tema apresentado que depois serão feitas ao grupo, ou seja, todos

participam de forma ativa pois a elaboração de perguntas por parte dos alunos que estão

assistindo é parte da avaliação. Durante essas atividades de pesquisa e apresentação de

seminário, os alunos vivenciam concomitantemente os parâmetros de Literatura (ao

pesquisarem sobre história, artistas e características do gênero musical), Apreciação (ao

ouvirem os exemplos musicais reproduzidos nas apresentações dos seminários.

Passada as apresentações dos seminários inicia-se a preparação das músicas que cada

grupo escolheu no seu respectivo gênero musical. Os ensaios acontecem na sala de vídeo e parte

da biblioteca em horário reservado pelo professor. Alguns alunos tocam instrumentos musicais,

mas dois alunos tocando cajon e violão (fotografia 4), formam uma base que acompanha todos

os grupos.

Fotografia 4: Grupo ensaiando com o duo (violão e cajon) base.

Fonte: o autor - dados das observações (2015)

Durante os ensaios pude perceber que os alunos fizeram uso do aparelho celular para

ouvirem as músicas e lerem as letras, fato que demonstra que esse aparelho tão utilizado pela

maioria das pessoas nos dias atuais, no ambiente escolar, pode servir de instrumento de busca

de informações e aprendizagem (fotografia 5). A influência e as relações entre música e

aparelho celular na juventude foi discutido por Bozzetto (2009). A autora afirmar que uma das

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funções do celular que se tornou mais popular foi a de tocador de músicas, possibilitando aos

usuários uma proximidade e portabilidade em relação a música, colocando a música

literalmente “na palma da mão” das pessoas que o portam. No caso da juventude “o aparelho

celular tornou-se muito mais que um telefone, virando um item definidor de sua personalidade

e do grupo social ao qual pertencem”. (BOZZETTO, 2009, p. 64). A possibilidade de utilização

do celular como um meio de aprendizado em sala de aula demonstra uma conexão com a vida

cotidiana dos alunos, que ouvem e compartilham músicas e vídeos frequentemente através

desse aparelho.

Fotografia 5: alunos utilizando o celular para aprenderam a música

Fonte: o autor - dados das observações (2015)

Durante os ensaios pude perceber bastante interesse por parte dos alunos. Pelo fato das

músicas terem sido escolhidas pelos componentes do grupo através de uma negociação entre

eles, todos gostavam bastante da música e se dedicavam a aprender e ensaiar, chegando até a

marcarem encontros fora do horário de aula. Nessa etapa o professor atuava apenas como um

orientador, dando dicas de como tocar e cantar as músicas. Ao mesmo tempo, cada componente

tinha a oportunidade de ouvir e entrar em contato com o gênero musical dos outros grupos e

assim conhecer a diversidade desses gêneros. Através dessa atividade os alunos executaram as

músicas vivenciando assim, o parâmetro da Execução e puderam desenvolver a o canto, bem

como da execução de instrumentos para os que tocaram, vivenciando o parâmetro da Técnica,

e a Criação, ao criarem arranjos para as músicas escolhidas.

Outra atividade realizada no projeto foi a gravação de um vídeo no qual um aluno fazia

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entrevistas com os professores e funcionários da escola sobre os gêneros musicais, artistas,

grupos e uma música de preferência do entrevistado. Essa atividade foi realizada fora do horário

de aula, de forma bem descontraída, e o vídeo foi produzido com ajuda do professor e editado

pelos próprios alunos, o que demonstra uma a utilização de diversas ferramentas tecnológicas

para produção de material. O contato com os equipamentos tecnológicos faz parte do cotidiano

de muitos desses alunos e nesse caso, a “intimidade” dos alunos com esses equipamentos foi

utilizada em prol do projeto, tornando o processo de ensino-aprendizagem atual e dinâmico.

Como culminância do Projeto foi realizada uma apresentação com a participação de

outras duas turmas da escola e de alguns professores e funcionários que puderam assistir. Nessa

apresentação foram expostos os resultados do que os alunos produziram durante o projeto com

exibição do vídeo (fotografia 6) e as apresentações musicais (fotografia 7) dos grupos. De

acordo com o professor Jorge, essa é uma fase muito importante em todos os projetos que

realiza.

Todos os projetos têm a culminância, e essa culminância, geralmente ela vai

para uma exposição. Essa exposição pode ser feita apenas na sala, com os

alunos, ou ela pode ser a convite, eu posso convidar uma outra turma para

assistir ou fazer uma exposição para escola toda. (JORGE, 2015)

Para isso foi montado um pequeno palco e estrutura com projetor, iluminação e

sonorização em uma sala bem ampla. Durante a apresentação cada grupo subia ao palco para

apresentar as músicas que haviam ensaiado enquanto a turma convidada e os componentes dos

outros grupos assistiam de forma bem participativa, cantando e dançando na maioria das

músicas. É notável nos alunos uma grande satisfação na realização dessa atividade, se

transformando um momento muito prazeroso.

Fotografia 6: exibição do video das entrevistas com professores e funcionários sobre os generos

musicais.

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Fonte: o autor - dados da observação participante (2015).

Fotografia 7: apresentação musical

Fonte: o autor - dados da observação (2015)

A avaliação da participação dos alunos nas atividades do Projeto, acontece durante todas

as fases. A avaliação do Projeto como um todo acontece ao final, após a culminância em forma

de reunião e diálogo entre professores e alunos. Na conversa o professor pergunta a cada aluno

o que ele achou do projeto como um todo e da sua participação nas atividades, proporcionando

um momento de reflexão e auto avaliação como descrito na seguinte fala.

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Faço essa avaliação com alguns critérios, escolhendo critérios como

participação, é.... de organização do trabalho, isso, claro, depende muito dos

envolvidos. Então se é um seminário, por exemplo, então tem a avaliação do

seminário, tem os critérios do seminário que vão ser desenvolvidos. Se é uma

apresentação, então tem que ter a participação, tem que ver o envolvimento

do aluno, tem que ver a questão do diálogo que há entre eles, para eles

solucionarem os problemas, então há esse aspecto de ver a integração do

aluno em relação ao que a gente tá fazendo. Então, quando não há isso, é... a

gente vai pra uma.. Para segunda parte que é o confronto, a gente chama de

confronto, que é a auto avaliação, onde eles vão dizer o que é que foi bom, e

o que é que foi ruim. Como ele se sentiu, quais foram as sensações que ele

teve, pra, apresentar, pra fazer uma encenação, ou fazer uma apresentação

musical, ou, enfim... como foi que ele se sentiu. Da junção dessas duas aí eu

atribuo uma nota, né, então são duas formas de avaliação. (JORGE, 2015)

O professor utiliza um “guia de aprendizagem” (figura 12) para registrar os critérios de

avaliação e a avaliação dos seminários.

Figura 12: instrumento de avaliação “guia de aprendizagem”

Fonte: Professor Jorge - dados das observações (2015).

Percebe-se que a avaliação não se baseia somente nos conteúdos teóricos conceituais,

mas em vários aspectos procedimentais, a saber: se a postura foi adequada, (gesto,

movimentação, voz), se os recursos didáticos (imagem e texto) foram usados de maneira

correta, dentre outros que envolvem a prática e a demonstração de organização e assimilação

do conteúdo, diferentemente da avaliação restrita à prova escrita. Outro aspecto importante é a

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elaboração de perguntas durante a apresentação, pois motiva a participação de todos os alunos,

não somente dos que estão apresentando.

Apresentei acima o desenvolvimento do projeto sobre os gêneros musicais. No quadro

a seguir (quadro 11) faço um resumo das fases, destacando as atividades realizadas em cada

uma delas, e os aspectos do modelo TECLA que foram contemplados nessas atividades.

Quadro 11: resumo das fases e características do projeto “gêneros musicais”

Fases Atividades realizadas Parâmetros do TECLA

Escolha do tema

Diagnóstico inicial

Diálogo com os alunos sobre

os gêneros musicais que eles

conhecem; formação dos

grupos a partir das

preferências musicais dos

alunos

Literatura

Apreciação

Planejamento das atividades Organização dos grupos por

temas, definição dos critérios

para os seminários;

preparação dos seminários e

definição do cronograma de

apresentações; preparação da

entrevista e vídeo

Apreciação

Literatura

Execução/realização Pesquisa; apresentação dos

seminários; ensaios das

músicas; gravação do vídeo

com as entrevistas

Execução

Apreciação

Literatura

Técnica

Composição

Culminância/apresentação Apresentação musical;

exibição do vídeo com as

entrevistas

Técnica

Apreciação

Execução

Literatura

Avaliação Guia de aprendizagem;

conversa com os alunos a

respeito do projeto e auto

avaliação

Fonte: o autor (2015)

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6.2 A escola pública

As observações na escola pública foram realizadas durante 6 aulas acompanhando o

desenvolvimento do projeto “Música potiguar na Escola”. Os detalhes dessas observações serão

relatados a seguir.

6.2.1- Conhecendo o professor e suas concepções sobre projetos e música na escola

O professor da escola pública, denominado com o pseudônimo André, começou sua

formação musical ainda na infância, quando participou do Curso de iniciação artística da escola

de música da UFRN, por influência do seu pai que é músico profissional. Durante a

adolescência tocava em bandas e na juventude optou por seguir a profissão de músico. Ao

ingressar no curso de licenciatura em música da UFRN, não sabia exatamente se queria ser

professor de música, mas ao longo do curso foi se identificando com o trabalho docente

proporcionadas pelo estágio e pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-

PIBID, “Eu nunca me imaginei como professor de início não também. Mas aí o curso vai

mudando você pelas experiências que você vai passando, os estágios. Aí fiz esse concurso,

passei, fui bolsista do PIBID, na graduação”20. Logo em seguida, ao terminar a graduação,

ingressou na especialização em música na educação básica e já atuava como professor de

música em uma em uma escola particular e após nomeação no ano de 2011, iniciou o trabalho

como professor de música nas escolas da Prefeitura Municipal de Natal.

Atualmente trabalha em todos os níveis da educação básica, da educação infantil ao

ensino médio, atuando em duas escolas, uma particular e uma pública. Na pública, local onde

ocorreu o projeto observado, leciona para turmas do ensino fundamental I. Para ele, o ensino

de música na escola vai além da formação estritamente musical, mas busca ser uma prática

política

Ensinar música pra mim hoje em dia é um ato político também de ideologia,

você está lidando com uma coisa que liberta a mente. E eu aprendi a enxergar

isso e ter consciência disso na minha prática profissional entendeu, pra onde

eu vou, eu tento levar isso pra os alunos (ANDRÉ, 2015).

20 Informações verbais concedidas por meio de entrevista, realizadas no dia 04/12/15 na residência do André,

foram gravadas e depois transcritas. Ao serem citadas serão destacadas em itálico.

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Esse pensamento corrobora com o princípio contido na Pedagogia de Projetos de que a

escola faz parte de um todo que é a sociedade e, portanto, deve abordar questões inerentes a

realidade na qual esteja inserida e desenvolver cidadãos. A quebra de paradigmas estabelecidos

por práticas de ensino tradicionais como, aulas expositivas, nas quais os alunos estão

acostumados a copiar, também é apontada na fala de André que vê, na aula de música, um

caminho para o desenvolvimento de uma educação mais ativa, através de práticas que envolvam

o corpo de forma ativa e busquem desenvolver a criatividade dos alunos

O ensino de música na escola ele está ali pra quebrar todos os conceitos, os

padrões de ensino que eles passam no dia a dia, que é aquela coisa de sentar

na sala, de aula copiar o dever do quadro e fazer o dever, reproduzindo bem

direitinho as coisas assim. Eu levo mais pro lado da criatividade, do

dinamismo, uso mais o corpo. Eu falo muito pra eles assim, que o caderno na

aula de música... que eles ficam querendo, “ai professor vamos fazer

atividade, vamos copiar alguma coisa, você não usa o quadro” eu falo: o

caderno são os seus ouvidos, anote, preste atenção com seus olhos com seu

corpo, seu lápis é o corpo. Vou falando essas coisas pra eles olharem pra

dentro, perceberem que é outro tipo de educação que está acontecendo. E isso

quebra, e isso choca eles e tudo no cotidiano deles, e assim eles vão se

entregando, e quando a pessoa se entrega a pessoa entende (ANDRÉ, 2015)

O professor acredita que através desse trabalho mais dinâmico e criativo proporcionado

pelas aulas de música na escola, pode-se mudar a maneira de educar dentro do ambiente escolar.

Com relação utilização da Pedagogia de Projetos como metodologia para suas aulas de música,

André afirma que conheceu e começou a trabalhar dessa forma de maneira bem natural, no

decorrer de sua experiência como professor, ao buscar formas criativas de planejar suas aulas,

pois não gosta de seguir métodos e nem de utilizar materiais prontos. Por isso encontrou na

prática dos Projetos, uma forma de desenvolver aulas mais criativas partindo de um tema atual

e que, partindo da realidade dos alunos, ele julgue importante. Como destaca nos exemplos dos

primeiros projetos que realizou

E aí essa ideia de projeto veio bem natural, quando começou assim... quando

foi na época do centenário da morte de Luiz Gonzaga né? Que começou a

homenagear o músico e tudo e aí eu comecei a trabalhar com isso. Com a

temática explorando as músicas dele e tudo. Depois no ano seguinte fiz com

Dorival Caymmi e aí, com o tempo passando né... Mas que me levou mesmo

a ter essa ideia foi procurar outras formas de planejar, de criar mesmo a aula.

Eu gosto dessa perspectiva construtivista de você jogar um tema e de, dele,

destrinchar em outras coisas assim. (ANDRÉ, 2015)

A principais diferenças entre a Pedagogia de Projetos e as formas mais tradicionais de

ensino de música apontadas pelo professor são a forma de planejar, avaliar, e abordar os

conteúdos partindo de um tema. O trabalho em parceria com outras disciplinas também é

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apontado como uma diferença marcante. Segundo ele, nem sempre é possível realizar o trabalho

de forma interdisciplinar, mas em todos os projetos realizados busca parcerias com outros

professores, quando isso é possível os professores participantes combinam entre si as atividades

que serão realizadas. Na maioria das vezes o projeto conta com a participação das professoras

pedagogas polivalentes, responsáveis pela turma e a duração varia de acordo com o tema e o

calendário escolar, mas em média, duram de três a seis meses.

De acordo com os dados do questionário, 75% dos professores respondentes afirmaram

realizar projetos em conjunto com outras disciplinas, no entanto, é importante perceber que,

para que isso aconteça, é necessário a articulação e envolvimento da coordenação e da equipe

de professores, o que nem sempre é possível em algumas escolas, pois demanda tempo para

reuniões de planejamento e para execução de algumas atividades em conjunto. Quando a equipe

se dispõe a participar, o trabalho interdisciplinar pode ser de fato concretizado, mas para que

isso aconteça é necessário o apoio da escola. Essa possibilidade de realização do trabalho

interdisciplinar nos projetos, é um positivo destacados por André. Ele acredita que o trabalho

com projetos favorece o envolvimento dos alunos e o diálogo com o cotidiano deles, pois,

Você consegue envolver mais, pelo menos pra mim, consigo envolver melhor,

me envolver melhor, com o cotidiano dos alunos, assim, ver o contexto deles,

me adaptar melhor a essa questão que é essencial pra educar. Você formar

os links né? Você tocar um aluno e a questão de desenvolver a criatividade.

Você começa a pensar de outra forma mesmo, de educar pra dar aula, que é

uma coisa que eu não tive muito contato aqui na graduação, assim, na minha

formação. E aí isso me estimula mais a pensar, eu me sinto melhor, me dá

mais autonomia no seu... na forma de projetar suas ideias mesmo, suas

próprias ideias entendeu? Eu acho isso um ponto positivo forte de trabalhar

com projeto. Porque você aplica uma ideia sua não é? Uma perspectiva sua

a partir de coisa que você identifica (ANDRÉ, 2015).

Os pontos negativos também são destacados sendo, a falta de apoio (material, tempo,

espaço), uma das principais dificuldades para a realização dos projetos. Apresentado o perfil

do professor André e algumas de suas concepções sobre projetos e música na escola, percebe-

se que ele vê o ensino de música na escola como um ato político e de transformação da própria

escola e da maneira de ensinar e aprender dentro dela. Segundo suas falas, o trabalho com

Projetos favorece essa visão de democracia, na qual os alunos também têm “vez e voz”,

participando de todo o processo de forma ativa e criativa.

O desenvolvimento do projeto e todas as atividades e interações que aconteceram no

decorrer, foram observadas e registradas e serão apresentadas a seguir.

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6.2.2 Desenvolvimento do projeto música: “Música Potiguar na Escola- Galvão filho”

6.2.2.1 A escola e a turma

O referido Projeto, aconteceu no segundo semestre de 2015, na escola pública

(municipal) localizada no bairro de Felipe Camarão, zona oeste da cidade de Natal-RN atende

alunos do Ensino Fundamental I, Apesar de o projeto ter envolvido diversas turmas, as

observações foram realizadas em uma turma do 3° ano do ensino fundamental I, com 25 alunos

de 8 a 9 anos de idade. Acompanhei o total de seis aulas com duração de duas horas cada.

O bairro de Felipe Camarão é bastante conhecido por dois fatores: riqueza cultural altos

índices de violência. As riquezas culturais, pois lá, nasceram diversas manifestações como o

Auto do Boi de Reis (Mestre Manoel Marinheiro), Teatro de Bonecos João Redondo (Mestre

Chico Daniel), Rabequeiros (Mestre Cícero da Rabeca), capoeira (Mestre Marcos). Essas

manifestações são fomentadas por um projeto intitulado “Conexão Felipe Camarão” da

Associação Companhia Terramar21 que realiza um trabalho de preservação do patrimônio

imaterial local com ações que integram os moradores do bairro. O alto índice de violência, pois

foi considerado o segundo bairro com maior número de homicídios no ano de 2015. A escola

está situada dentro desse contexto de contradições sociais e os alunos são parte dessa

comunidade com toda certeza é afetada influenciada tanto elo lado negativo da violência quanto

pelo lado positivo da forte incidência de manifestações culturais.

A escola é espaçosa e além das salas de aula conta com um pátio, biblioteca, parque e

quadra, porém, como na maioria das escolas públicas, a estrutura física carece de manutenção

e cuidados. As aulas foram realizadas em uma sala primordialmente utilizada para guardar

livros, mas que também serve como uma sala de música, local onde aconteceram a maioria das

aulas observadas. O professor fala que embora não seja um espaço ideal, é o que a escola dispõe

para que ele guarde ao material de música e utilize para suas aulas, (fotografia 8). Somente uma

aula aconteceu na sala de aula da turma (fotografia 9).

21 Mais informações no site: http://www.conexaofelipecamarao.com.br/

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Fotografia 8: sala utilizada para as aulas de música

Fonte: dados das observações participantes (2015)

Fotografia 9: sala de aula da turma

Fonte: o autor – dados das observações (2015)

Os materiais mais utilizados nas aulas foram o projetor multimídia com caixa de som

da escola e o notebook e o violão pertencentes ao professor. Outros materiais como latas, sacos

plásticos e fitas adesivas, foram utilizados somente em uma das aulas observadas. A confecção

de um banner e de uma placa com o tema do projeto foi realizada com recursos próprios do

professor.

O professor André conta com a participação dos licenciandos bolsistas do Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID, da área de música, que participam das

aulas auxiliando o professor em diversas turmas. Foi nesse espaço onde aconteceu o Projeto

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intitulado “Música Potiguar na Escola” que nasceu da necessidade observada pelo professor,

de os alunos conhecerem melhor a diversidade cultural local. Essa é a segunda edição do projeto

que manteve o mesmo nome da primeira, mudando somente o artista. Na primeira edição o

artista estudado foi o músico, cantor e compositor potiguar Carlinhos Zens e na segunda (na

qual realizei as observações), o multiartista22 potiguar Galvão Filho.

No tópico seguinte descreverei de forma mais detalhada as fases e processos

vivenciados no Projeto, buscando analisar e refletir sobre esses processos, quais os conteúdos

e a forma como foram abordados, bem como as relações com os parâmetros do modelo TECLA.

6.2.2.2- Fases e características

O Projeto “Musica Potiguar na escola- Galvão Filho” foi idealizado e desenvolvido pelo

professor André dentro da disciplina de música, mas abordou diversos conteúdos de outras áreas

durante o desenvolvimento. Durou aproximadamente um trimestre explorando a vida e a obra

do multiartista potiguar Galvão Filho. Os temas de algumas canções foram amplamente

discutidos a partir de uma abordagem multidisciplinar, o que gerou subtemas dentro do tema

geral do Projeto, como por exemplo os temas: cultura afro-brasileira, cultura indígena, história

do bairro de Felipe Camarão e poluição e meio ambiente. O tema também foi abordado em

algumas atividades da disciplina de ensino religioso que a partir de uma canção do compositor,

trabalhou os instrumentos musicais da cultura afro-brasileira. Portanto o projeto teve uma

abordagem de conteúdos de perspectiva multidisciplinar em todas as fases, porem em um

momento foi realizada uma atividade pluridisciplinar envolvendo o professor de ensino

religioso.

A escolha do tema do Projeto foi realizada através do diálogo entre o professor e os

alunos, de forma participativa. As atividades também foram realizadas em parceria, de forma

que a construção das ideias, do planejamento e a realização das atividades vão sendo executadas

de maneira “aberta”, como afirma o professor

Eu fiz foi no diálogo, entre eu e os alunos. Eu problematizei essa questão de

eles não conhecerem suficiente a diversidade da cultura local e propus esse

projeto pra eles e eles acharam interessante. Eles são super abertos ao que é

diferente... ao que é novidade. Expliquei a proposta pra eles direitinho, e

22 Artista que domina diversas linguagens artísticas. No caso de Galvão Filho, teatro, escultura, música e

literatura.

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durante as atividades eles mesmos vão propondo assim... vão dando

dinâmicas dentro do planejamento, dentro das atividades que eu levo que eu

proponho e deixo eles livres também pra eles poderem ter dinâmica nos

resultados deles. Não procuro fechar muito. (ANDRÉ, 2015)

Esse processo colaborativo se alinha com a visão do professor ao afirmar que vê o ensino

de música na escola como um ato político, de transformação e desenvolvimento da cidadania e

mudança nos processos de ensino aprendizagem dentro da escola. As influencias desse

pensamento também são percebidas nos inicios das aulas, ao fazer a chamada, o professor inicia

com um diálogo com cada um dos alunos através de uma dinâmica, na qual ele desenha uma

escola com números de 0 a 10 e com carinhas (também conhecidas como emotions23)

representando o humor das crianças: 0 = muito triste; 2 = triste; 4 = um pouco triste; 6 =

tranquilo; 8 = alegre; 10 = muito feliz. Ao serem chamadas, as crianças respondem com um

número correspondente ao seu humor no momento e justificam o porquê de estarem se sentindo

dessa forma. Esse diálogo inicial gera uma certa proximidade entre os alunos, uma vez que

todos podem expressar os seus sentimentos e saberem como os colegas estão se sentindo.

Após essa chamada com dialogo, na maioria das aulas, se seguia uma atividade de

dinâmica de interação e cumprimento entre os colegas, envolvendo movimento corporal e

canto. Na primeira aula, acontece uma recapitulação do Projeto anterior sobre o músico, cantor

e compositor Carlinhos Zens, na qual o professor mostra as fotos e registros de diversas

atividades realizadas como: o espaço cultural, desenhos feitos pelos alunos a partir de uma

canção, visita do artista e apresentação musical na escola. Dando início ao novo tema, o estudo

sobre o multiartista potiguar Galvão Filho, o professor pergunta aos alunos se eles já ouviram

falar ou conhecem alguma música desse artista, iniciando uma fase de levantamento de

informações a respeito do tema como um “diagnóstico inicial”, e já começa a apresentar uma

canção chamada aos alunos ao mesmo tempo que passa imagens do artista (fotografia 10) e

outras relacionadas a letra da canção. Enquanto a música é reproduzida, o professor pede que

os alunos façam uma escuta atenta e observem quais são os instrumentos que estão sendo

tocados na gravação e do que trata a letra da canção.

23 Símbolos comumente utilizados em conversas via mensagem de texto, para expressar emoções.

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Fotografia 10: imagens dos artistas estudados no projeto “música potiguar na escola

Fonte: o autor - dados das observações (2015).

Nesse processo de escuta atenta, os alunos vão fazendo algumas assimilando a letra e

espontaneamente cantando partes do refrão da canção chamada “Caboco-linho”. A partir desse

trabalho de apreciação musical e das imagens e discussões da letra da canção, emerge um

subtema “Cultura indígena” que foi bastante explorado pelo professor abordando conteúdos de

história e geografia. O Cabolo-linho ou Cabloclinho é uma dança de origem indígena e a letra

da canção da canção aborda esse contexto dos hábitos e costumes dos índios.

Caboco-linho guerreiro, acende a fogueira nos olhos, pisa esse chão brasileiro

que o povo carece de admirar.

No caldeirão potiguar, a mistura certa, certamente vingará. No caldeirão

potiguar, a mistura é certa

Grito guerreiro no chão Tupiniquin, tem tambores, tacapes, tem flecha no ar.

Espalha a certeza de um novo amanhã. No som do tacape a tribo é quem lança.

Caboco-linho guerreiro acende a fogueira nos olhos, pisa esse chão brasileiro

que o povo carece de admirar. No caldeirão potiguar, a mistura certa.

Certamente vingará. No caldeirão potiguar, a mistura certa.

Caboco-linho, precisa de rede, caboco-linho pra se balançar. Caboco-linho, no

verde da mata, caboco-linho, da água e do ar (CC, 2015)24

Do diálogo sobre o que fala a letra da canção, surge a discussão sobre a cultura indígena

a partir de alguns questionamentos feitos pelo professor “o que os índios têm a ver com a gente?

Será que ainda existe índios? Qual o nome do bairro que vocês moram? Felipe Camarão era

o quê? ” e de imagens que são passadas enquanto a canção está sendo reproduzida (fotografia

11). As imagens foram apreciadas e diversos aspectos foram observados pelos alunos:

vestimentas, ambiente em que viviam, armas, comidas, hábitos, dentre outros aspectos

específicos de cada imagem.

24 Letra da canção “Caboco-linho” do compositor Galvão Filho, copiada em caderno de campo na aula do dia

21/10/2015.

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Fotografia 11: imagens da aula sobre o Caboco-linho

Fonte: o autor - dados das observações (2015)

Da discussão em torno da cultura indígena, nasce história do bairro que leva o nome de

um índio potiguar “Filipe Camarão” que foi um grande combatente que participou de várias

batalhas destacando-se na “Batalha dos Guararapes” em 1648. Ao falar sobre os índios, o

professor discute a colonização brasileira, aspectos geográficos do bairro. Outra estratégia

utilizada é a exposição de um vídeo de uma apresentação de um grupo folclórico da cidade de

Ceará Mirim/RN dançando a dança do caboclinho, para que os alunos conheçam a música,

dança e vestimentas. Destaca a utilização de um instrumento em forma de flecha e pede que os

alunos batam palmas no momento em que a flecha for tocada durante o vídeo. Esse exercício

contribuiu para que os alunos vivenciassem a apreciação musical de uma forma mais ativa,

incorporando o ritmo da canção enquanto ouviam.

As aulas vão sendo conduzidas a partir das obras do multiartista Galvão Filho e

conectadas a outros temas, como por exemplo, o tema da cultura afro-brasileira que é explorado

a partir da letra da canção “Batacotô” e se torna ainda mais significativa por estar sendo

estudada no mês de novembro que é o mês do Dia Nacional da Consciência Negra25. Essa

canção é explorada de diversas formas: através da audição reflexiva (buscando identificar o que

fala a letra da canção, quais os instrumentos musicais que estão sendo tocados, etc.); marcando

25 O Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil (dia 20 de novembro), foi criado em 2003 e instituído em âmbito

nacional mediante a lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011.

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a pulsação da canção, primeiramente com palmas e depois batendo os pés no chão explorando

o conteúdo musical do pulso. Como estratégia para vivencia da pulsação o professor propõe a

realização de uma brincadeira de “escada”, na qual os degraus imaginários são os calçados das

crianças. Nessa brincadeira, os alunos vão pulando de “degrau” em “degrau”, acompanhando a

pulsação da música.

A letra da canção é explorada de maneira bastante minuciosa através da audição e

diálogo com os alunos sobre o que eles entenderam da letra da canção. Os alunos copiam a letra

e marcam as palavras que não conhecem o significado para poderem pesquisar e discutir em

sala de aula. Copiei abaixo a letra da canção “Batacotô” do compositor Galvão Filho, que trata

de costumes e personagens da cultura afro-brasileira.

Rompou na mata um batacotô, olha o tiro, olha a flecha, olha a lança

Rompou na mata um batacotô, olha a pesca, olha a caça. Olha a dança

Ibualama é quem diz. Oxum Pandá me avisa, Logunedé é feliz

Se orgulha de ser caçador, majestoso na beleza, traz couraça, capanga, Iová

Logunedé conhece a mata, e o segredo de um Babalaô (CC, 2015)26.

Diversas imagens relacionadas a letra da canção são apreciadas e discutidas em sala de

aula, para que os alunos conheçam vários elementos da cultura afro-brasileira, abordando

conteúdos como, religião, escravidão, quilombos, lutas, danças moradia, dentre outros hábitos

característicos. A partir da escuta da canção e observação das imagens, cada aluno produziu um

desenho representando o que mais o marcou na apreciação da música e nas discussões

realizadas durante as aulas anteriores (fotografia 12).

Fotografia 12: desenhos produzidos pelos alunos a partir da música “Batacotô”

Fonte: o autor - dados da observação (2015)

26 Letra da canção “Batacotô” de Galvão Filho, copiada em Caderno de Campo na aula do dia 11/11/2015.

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Essa canção também foi utilizada pelo professor de ensino religioso para abordar o tema

das religiões afro-brasileiras e os instrumentos musicais característicos dessas religiões e como

parte das atividades os alunos também produziram desenhos sobre os instrumentos musicais

utilizados nos ritos religiosos (fotografia 13).

Fotografia 13: exposição dos desenhos feitos na aula de Ensino Religioso

Fonte: o autor - dados das observações (2015)

O envolvimento do professor de ensino religioso, aconteceu de forma espontânea e o

trabalho foi realizado a partir da canção utilizada na aula de música, mas abordada a partir de

outra perspectiva e com os objetivos específicos da disciplina, caracterizando uma atividade

pluridisciplinar dentro do projeto. É importante diferenciar e destacar esse aspecto, pois o

projeto foi realizado envolvendo basicamente a disciplina de música de forma multidisciplinar,

pois dentro das aulas eram abordados conteúdos de outras disciplinas, mas houve uma atividade

realizada de forma pluridisciplinar, em parceria com o professor de ensino religioso, o que

demonstra que um projeto com uma característica de abordagem de conteúdos predominante,

pode realizar atividades variando ou integrando outras formas de abordagem. Nesse caso, o

projeto foi predominantemente multidisciplinar, mas integrou uma atividade pluridisciplinar.

Os conteúdos abordados partir das duas canções (Caboco-linho e Batacotô) envolvendo

cultura indígena e afro-brasileira, são destacados como obrigatórios a partir da Lei n°

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11.645/2008, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira- LDB, para incluir

no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade da temática “História e cultura Afro-

Brasileira e Indígena”, devendo ser abordados principalmente nas disciplinas de “educação

artística e literatura e de história brasileiras”.

Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e

privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e

indígena.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos

aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população

brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história

da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a

cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da

sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,

econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos

indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar,

em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.

(BRASIL, 2008)27

O “Espaço Cultural- Música Potiguar na Escola” (fotografia 14), espaço ao lado da

biblioteca da escola criado pelo professor André com o intuito de expor os trabalhos produzidos

durante o projeto e servir como um espaço de relaxamento e apreciação musical e artística.

Sendo um espaço que permanece ativo durante todo o projeto, e no horário de recreio funciona

também como um local de relaxamento e apreciação, contribuindo assim para divulgação das

produções e serve como um local de encontro e apreciação musical e artística.

Fotografia 14: espaço cultural “Música Potiguar na Escola”

Fonte: o autor – dados das observações (2015)

27 Documento online não paginado.

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Os desenhos feitos pelos alunos foram expostos nesse espaço, dessa forma, toda a

comunidade escolar pode se inteirar dos assuntos estudados através das atividades realizadas e

possibilitar a todos os alunos, o contato com as canções do artista Galvão Filho. Esse contato

vai tornando as músicas mais conhecidas e os alunos vão se familiarizando e aos poucos

começam a cantar as músicas de forma espontânea, como pude perceber nas aulas. Dessa forma

o professor não precisou pedir que os alunos ficassem repetindo a canção e aprendendo de

maneira forçada, mas o processo de aprendizagem da canção se deu de maneira espontânea

através da audição e o espaço cultural contribuiu bastante para isso.

A canção “Esse Rio” foi mais uma canção do compositor Galvão Filho, abordada nas

aulas, a partir da qual foram conectados conteúdos referentes ao meio ambiente e mais

especificamente, o desastre ambiental, considerado o maior do Brasil, ocorrido na cidade de

Mariana-MG, provocado pelo desabamento de uma barragem da mineradora pertencente a

empresa Samarco. O desastre causou uma grande devastação ambiental e recentemente essas

notícias estiveram em destaque em vários noticiários, sendo um dos temas atuais mais

comentados pela mídia. O professor reproduz um vídeo com algumas imagens desse desastre

para que os alunos tomem conhecimento. Para melhor entendimento, escrevi abaixo a letra da

canção “Esse Rio”, na qual, o autor fala sobre o Rio Potengi sua atuação situação de poluição

provocada pela ganancia humana.

Esse rio esse rio, que banhou meu corpo nú

Hoje vejo maltratado, me sinto vazio

Quem manchou seu mando azul não sabe a nobreza de um rio

Nem a grandeza desse sol que deita em seu cio

Não se vê mais uma rede, na beira do rio, não se pode ter mais cede, nas margens do

rio

Calei diante do olhar de um nativo pescador, quando falou que a ganância é causa de

tanta dor ( CC, 2015)28

Baseado no vídeo e na audição da canção, o professor faz questionamentos sobre como

os alunos veem o Rio Potengi que é localizado bem próximo ao bairro (ver mapa x) que pela

proximidade eles podem ver e visitar a qualquer momento. Nessa discussão, diversas questões

sobre poluição e meio ambiente são levantadas e como atividade de registro, os alunos fazem

desenhos representando graficamente o que aprenderam (fotografia 15).

28 Letra da canção copiada em caderno de Campo na aula do dia 09/12/2015.

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Fotografia 15: desenho a partir da canção “Esse Rio”

Fonte: o autor – dados das observações (2015)

Como mais uma atividade partindo das reflexões sobre a poluição e o meio ambiente, e

como atitude de reciclagem e contribuição para a preservação, a turma constrói tambores

utilizando latas, sacos plásticos e fita adesiva (fotografia 16). Ao realizar essa atividade, os

alunos puderam explorar timbres e desenvolver a criatividade, experimentando várias

possibilidades de construção, ao arrochar e folgar a “pele” feita de saco, ao explorar as

sonoridades da lata aberta fechada.

Fotografia 16: confecção de um tambor utilizando materiais recicláveis

Fonte: o autor – dados das observações (2015)

A culminância aconteceu na última semana de aula, na qual os trabalhos continuaram

expostos no Espaço Cultural- Música Potiguar na Escola, e no dia 16/12/2015, a escola recebeu

a visita de Galvão Filho, acompanhado de seu irmão, também músico e compositor chamado

Babal, e de um amigo percussionista, e juntos realizaram uma apresentação musical para todos

os alunos e professores da escola. Na apresentação, várias das músicas estudadas em sala de

aula foram executadas ao vivo pelo próprio Galvão, que também contou várias histórias de sua

carreira artística e de suas composições. Os alunos puderam interagir fazer perguntas, cantando,

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participando de brincadeiras tendo como prêmio o CD “Forró de verdade e pra valer”29

distribuído pelo autor que ao final da apresentação fez uma visita ao Espaço Cultural onde

conversou com professores e alunos e autografou CDs. A apresentação, que aconteceu no pátio

da escola, (fotografia 17) também foi divulgada e aberta a comunidade (fotografia 18).

Fotografia 17: divulgação da aula espetáculo com Galvão Filho

Fonte: Professor André - dados das observações (2015)

Fotografia 18: aula espetáculo

Fonte: o autor - dados da observação (2015)

As atividades realizadas fizeram parte do desenvolvimento do projeto e possibilitaram

vivencias diversificadas de conteúdos e atividades musicais que foram conectadas a conteúdos

de outras áreas de conhecimento como história e geografia principalmente cultura indígena e

afro-brasileira e meio ambiente, de forma multidisciplinar. Uma atividade dentro do projeto foi

realizada de forma pluridisciplinar, em parceria com o professor de Ensino Religioso a partir

29 CD promocional gravado em 2012.

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da obra musical do multiartista Galvão Filho. De acordo com o professor André o projeto foi

pensado e desenvolvido em sete etapas:

A primeira é esse contato com o artista que eu faço formalmente pra ver a

disponibilidade e interesse dele. A segunda é o encontro com o artista pra

entrevistar ele, ver disponibilidade, ver datas, colher material, pegar CD,

músicas, imagens, divulgação. Que tudo isso eu uso em sala pra fazer banner,

essas coisas. O terceiro eu faço um... eu separo essas músicas, organizo um

espaço na escola que é o espaço cultural que é onde os alunos sentam e ficam

lá. É um espaço com música. Eu boto um som com as músicas do artista

tocando pra eles poderem ouvir né? Assim durante o recreio ou durante uma

atividade e leitura uma coisa assim... pra eles terem o contato com a

diversidade no cotidiano deles aí eu faço isso todos os dias. Vou lá, boto o

som, boto uma música. Aí lá naquele espaço, organizo o material, o desenho

deles, deixo também espaço pros outros professores colocarem, exporem o

que quiserem também ali. E organizo, assim, de uma maneira que eles possam

relaxar, como um espaço de relaxamento onde eles possam sentar, escutar

música na hora do recreio entendeu? E aí, outra etapa é planejamento das

atividades que aí eu vou, em posse desse material do artista, dessa conversa

com ele e tudo, eu planejo algumas atividades. Escuto algumas músicas,

separo músicas aí vejo o que dá pra trabalhar com uma e com outra,

entendeu? Vou criando possibilidades, vou buscando possibilidades de

desenvolver musicalização a partir daquele trabalho e aí conto a vida do

artista também. Como ele foi criado, como é o olhar do artista daqui de Natal

pras coisa né? Também é importante. E depois a execução que são as aulas,

acontecem. Depois é a culminância que aí o artista vem na escola passado

esse tempo, geralmente um semestre ou um bimestre, um trimestre. Esse ano

eu fiz um semestre e agora no final um bimestre. E aí o artista vem. E a última

etapa seria uma avaliação onde eu converso com os alunos, os bolsistas, com

o artista, pra ver o que todo mundo achou. Colho aqueles resultados assim,

aquela conversa geral pra ver as impressões de cada um, pra ter pra mim o

respaldo como é que foi, um feedback. Pronto são sete. (ANDRÉ, 2015)

Como descrito por André, a avaliação é feita através da observação e do diálogo entre

os diversos participantes envolvidos no projeto, favorecendo uma atitude de auto avaliação e

ao mesmo tempo de parceria entre os participantes. O envolvimento dos alunos no projeto é

notável e aconteceu de maneira espontânea através das diversas atividades realizadas. Os alunos

passaram conhecer o artista Galvão Filho e a partir de sua obra, conectar conteúdos de diversas

áreas de conhecimento. O contato pessoal com o artista foi um momento muito rico e

significativo pois a comunidade escolar pode interagir com tema o que foi estudado durante

todo o período de realização do projeto.

Resumo no quadro 12, as fases e características do Projeto “Música Potiguar na Escola”,

assim como feito anteriormente com relação ao projeto “Gêneros musicais”.

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139

Quadro 12: resumo das fases e características do projeto “Música Potiguar na escola – Galvão Filho”

Fases Atividades realizadas Parâmetros do TECLA

Escolha do tema

Diagnóstico inicial

Contato e encontro com o

artista; pesquisa e

levantamento do material;

diálogo com os alunos.

Literatura

Apreciação

Planejamento das atividades

Organização do “Espaço

Cultural- Música Potiguar na

Escola”; preparação do

material e planejamento das

atividades; escolha do

repertório;

Apreciação

Literatura

Execução/realização

Atividades das canções de

Galvão Filho abordando

diversos conteúdos com a

utilização de recursos de

áudio, vídeo e imagens;

produção de desenhos;

confecção dos tambores com

materiais recicláveis;

atividade realizada pela

turma junto ao professor de

ensino religioso;

Execução

Apreciação

Literatura

Técnica

Composição

Culminância/apresentação

Exposição dos desenhos e

reprodução das canções no

Espaço Cultural; aula

espetáculo com a presença de

Galvão.

Técnica

Apreciação

Execução

Literatura

Avaliação Através do diálogo com todos

os envolvidos no Projeto

Fonte: o autor (2015)

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7 CONCLUSÃO

Nesta pesquisa, investiguei a utilização da Pedagogia de Projetos como metodologia

para o ensino de música na Educação Básica da cidade de Natal-RN. Para isso, utilizei

estratégias de pesquisa de métodos mistos, mesclando abordagens quantitativas e qualitativas.

A abordagem quantitativa teve como principal instrumento de coleta de dados, o questionário

aplicado junto aos professores de música na Educação Básica da cidade e os seus resultados

permitiram uma visão mais abrangente da utilização da Pedagogia de Projetos. Também

permitiram identificar aspectos relacionados à formação e atuação dos professores, conteúdos,

objetivos e materiais usados nas aulas de música e a identificação de como se dá a utilização da

Pedagogia de Projetos para o ensino de música pelos professores investigados.

Os dados dessa primeira fase de enfoque quantitativo, demonstraram diversos aspectos

e concepções dos professores de música que afirmaram conhecer e utilizar a Pedagogia de

Projetos como metodologia para o ensino de música. Foram identificados quatro tipos de

abordagem de conteúdos e forma de operacionalização nos projetos (unidisciplinar,

multidisciplinar, pluridisciplinar e interdisciplinar) bem como o trabalho organizado a partir de

um tema e dividido em fases. Os principais pontos positivos (integração entre conteúdos e

disciplinas, maior envolvimento dos alunos nas atividades) e negativos (falta de tempo para

abordar os conteúdos da disciplina de música, aumento do trabalho) dessa metodologia foram

evidenciados através das falas dos professores. Nesse ponto identifiquei uma contradição

relacionada ao trabalho de integração entre disciplinas pois a maioria dos educadores musicais

afirmam realizar projetos em parceria com outras disciplinas, mas, esse caráter de integração é

citado como positivo e também como negativo quando limita a exploração de conteúdos

musicais em detrimento do trabalho interdisciplinar.

A partir desses dados também foi possível identificar e selecionar dois professores de

música que utilizam a Pedagogia de Projetos em suas aulas de música, para a observação da

prática de realização dos projetos em duas escolas: uma particular e uma pública. Essa fase de

abordagem qualitativa, permitiu registrar e refletir sobre as fases e características desses

projetos, observando os processos de ensino-aprendizagem e identificando, com base na

literatura estudada, as fases, tipos de abordagem de conteúdo, parâmetros do modelo TECLA

vivenciados através das atividades realizadas, dentre outros aspectos que se mostraram

relevantes no decorrer das observações. A entrevista também permitiu um conhecimento mais

aprofundado sobre as concepções desses dois professores sobre a Pedagogia de Projetos e o

ensino de música na escola.

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Os dados dessa fase qualitativa, provenientes da observação dos projetos “Gêneros

musicais” e “Música Potiguar na Escola” desenvolvidos na escola particular e na escola pública

evidenciaram vários aspectos importantes para a compreensão da realização de projetos no

contexto do ensino-aprendizagem de música na escola. A questão da pluralidade cultural pode

ser contemplada através da escolha do tema que na maioria das vezes é definido em parceria

entre professores e alunos, o que também favorece o “levar em conta o interesse dos alunos”.

Ao realizar o diagnóstico inicial o professor faz um levantamento do que os alunos já conhecem

a respeito do tema a ser pesquisado. O planejamento e execução das atividades favorecem o

desenvolvimento de conteúdos procedimentais, habilidades de pesquisa e organização de

conhecimento. Diversos conteúdos de várias disciplinas podem ser abordados através da música

e integrados de acordo com o tema, a forma de operacionalização sem necessariamente seguir

conteúdos sequenciais, o que favorece a adaptação principalmente em contextos nos quais os

alunos não tiveram a disciplina de música em anos anteriores.

No decorrer das fases e atividades realizadas nos projetos, foi possível identificar o

desenvolvimento de conteúdos e atividades musicais de apreciação, execução/interpretação,

criação/composição, técnica e literatura, parâmetros do modelo TECLA. Essas atividades de

cunho especificamente musical foram conectadas a conteúdos de outras disciplinas em torno

do tema estudado, de maneira multidisciplinar e com algumas atividades interdisciplinares e

pluridisciplinares, fato que demonstra que o caráter de integração pode ser explorado de

diversas formas em um mesmo projeto, adaptando-se a turma e a equipe escolar envolvida.

A culminância tem um caráter de exposição dos resultados do projeto em foram de

apresentação musical, exposição, gravação e reprodução de vídeos, aula espetáculo, dentre

outras formas de expor e integrar toda a comunidade escolar, possibilitando a todos o acesso as

produções, favorecendo a socialização e motivando os participantes.

A avaliação em ambos os projetos teve um caráter de diálogo e observação continua do

envolvimento dos alunos em todas as atividades contemplando não somente conteúdos teóricos,

mas habilidades e conhecimentos, relações interpessoais, dentre outros aspectos inerentes a

todo o processo.

Na atualidade, a Pedagogia de Projetos é utilizada no meio educacional sob diversas

perspectivas e denominações, o que muitas vezes torna sua teoria e prática ambíguas e confusas.

O termo “Projeto” é utilizado no meio escolar em diversos âmbitos, como Projeto Político

Pedagógico, Projeto Extracurricular, Projeto Educacional, dentre outros, o que muitas vezes

aumenta a confusão em torno da utilização do termo, que dessa forma pode ser utilizado para

justificar práticas infundadas e incoerentes com o sentido e os princípios apontados pelos

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autores estudiosos e idealizadores dessa metodologia. A flexibilidade e adaptabilidade

metodológicas características da Pedagogia de Projetos não devem ser confundidas com

práticas sem fundamento e sem consciência.

Algumas das falas dos professores respondentes dos questionários demonstram

confusões com relação ao sentido e fundamentos da Pedagogia de Projetos apontados na

literatura estudada. Identificar essas confusões e ambiguidades e apresentar definições baseadas

em autores é uma possível contribuição dessa pesquisa para a área de educação musical, uma

vez que as publicações encontradas na revisão de literatura em periódicos, anais de encontros e

congressos, bancos de teses e dissertações, foram bastante escassas e em sua maioria artigos

publicados em anais de congressos e encontros sobre relatos de experiência. A partir da

constatação da carência de trabalhos acadêmicos que discorram sobre a Pedagogia de Projetos

no contexto da educação musical, fica evidenciada a necessidade da realização de pesquisas

que abordem esse tema de forma mais aprofundada contemplando estudos em contextos formais

e informais.

No atual momento, em que a aula de música vem se consolidando como prática dentro

do contexto escolar, creio que pesquisas sobre metodologias para o ensino-aprendizagem

musical nesse contexto sejam de fundamental importância para repensar e readaptar esses

processos que, ao longo da história, sofreram variações decorrentes das inconstâncias

provocadas por diversas mudanças na legislação. A Pedagogia de Projetos é uma metodologia

que pode ser utilizada para o ensino de diversas disciplinas e adaptada as mudanças sociais,

econômicas e culturais dos contextos nos quais seja utilizada. No caso do Brasil, em que a

extensão territorial e pluralidade cultural é evidente, trabalhar com a Pedagogia de Projetos

pode ser forma de contemplar adaptar-se a essa pluralidade e tornar as aulas de música cada

vez mais significativas a partir do estudo de temas que são escolhidos em parceria com alunos

e conectados a conteúdos e disciplinas de diversas áreas de conhecimento.

Através desse estudo, pode-se concluir que a Pedagogia de Projetos é uma metodologia

bastante utilizada por professores de música nas escolas de Educação Básica da cidade de

Natal/RN. É apontada pelos professores como uma metodologia que favorece o trabalho de

integração entre conteúdos e disciplinas, dinamiza e motiva os processos de ensino-

aprendizagem musical, mas que apresenta diversas variações e por vezes confusões

relacionadas aos sentidos, princípios, fases, elaboração e execução.

Considero que alguns dos resultados apresentados nesse estudo podem ser aplicados no

âmbito mais abrangente do ensino de música na escola brasileira, uma vez que essa metodologia

tem um caráter de alta adaptabilidade aos diversos cntextos socioculturais em que for aplicada,

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pois o tema e os conteúdos são escolhidos em parceria entre professores e alunos.

A partir dos resultados apresentados, espera-se contribuir para identificação das

características da utilização da Pedagogia de Projetos para as aulas de música na escola, visando

o estabelecimento de práticas educativas cada vez mais conscientes e significativas, como

também, fomentar pesquisas e discussões sobre a utilização dessa metodologia.

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per/viewFile/1268/399>. Acesso em: 30 dez. 2015.

WILLE, Regina. As vivências musicais, formais, não formais e informais dos adolescentes:

três estudos de caso. Dissertação de mestrado- UFRGS, RGS, 2003

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APÊNDICE A- Termo de livre consentimento e esclarecimento direção

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TERMO CONSENTIMENTO E LIVRE ESCLARECIMENTO

Na qualidade de Diretor(a) da escola __________________________________

autorizo o mestrando Everson Ferreira Fernandes do Programa de Pós-graduação em Música

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte a realizar trabalhos de pesquisa nesta

instituição coletando dados a partir da observação e registro das aulas de música conforme os

seguintes termos:

Os professores decidirão livremente se querem participar da pesquisa através do termo

de livre consentimento e esclarecimento;

Os nomes dos professores e alunos envolvidos não serão divulgados, garantindo o

anonimato dos participantes;

Possivelmente serão realizadas fotografias e filmagens como registro e material de

pesquisa, quando autorizado pelo professor;

A eventual divulgação e publicação dessas imagens (parada ou/e em movimento) só

serão realizadas a partir de autorização por escrito de todos os participantes diretamente

envolvidos;

A realização do trabalho não implicará qualquer mudança nas atividades regulares da

escola;

O trabalho não trará qualquer ônus financeiro para a escola.

Natal, _____de _________________________de__________

____________________________ ________________________

Diretor da escola Everson Ferreira Fernandes¹

Escola ___________________ PPGMUS/UFRN

¹ Mestrando em Música no Programa de Pós Graduação em Música da UFRN e professor de Arte - Música na

Prefeitura Municial de Natal/RN. Contato: (84)9932-8324 ; Email: [email protected]

Orientadora: Prof. Dra. Valéria Lazaro Carvalho do Programa de Pós Graduação em Música da UFRN.

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APÊNDICE B- Termo de livre consentimento e esclarecimento professor.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TERMO CONSENTIMENTO E LIVRE ESCLARECIMENTO

Como professor da escola __________________________________ disponho-me

voluntariamente a participar da pesquisa desenvolvida pelo mestrando Everson Ferreira

Fernandes do Programa de Pós-graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte intitulada “A Pedagogia de Projetos e o Ensino da Música na Educação Básica da

cidade de Natal/RN” que tem como objetivo “conhecer e analisar a prática da Pedagogia de Projetos

como metodologia para o ensino de música nas escolas de Natal-RN”. Assim, autorizo a coleta de

dados a partir de entrevista e observações de minhas aulas.

• O meu nome, bem como o dos alunos e o da escola envolvidos no trabalho, não serão

mencionados em qualquer meio de divulgação, garantindo-se o anonimato dos

participantes;

• A realização do trabalho não implicará qualquer mudança nas atividades regulares das

aulas por mim ministradas;

• O trabalho realizado não trará qualquer ônus financeiro para a escola;

• Autorizo a realização de fotografias e filmagens como recurso para o registro das aulas

e como material de pesquisa ( );

• Permito a eventual divulgação e publicação dessas imagens (paradas e/ou em

movimento), a partir de autorização por escrito de todos os participantes diretamente

envolvidos ( ).

Natal, _____de _________________________de__________

____________________________ _____________________________

Professor da escola Everson Ferreira Fernandes¹

Escola ___________________ PPGMUS/UFRN

¹ Mestrando em Música no Programa de Pós Graduação em Música da UFRN e professor de Arte - Música na

Prefeitura Municial de Natal/RN. Contato: (84)9932-8324 ; Email: [email protected]

Orientadora: Prof. Dra. Valéria Lazaro Carvalho do Programa de Pós Graduação em Música da UFRN.

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APÊNDICE C- Questionário

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

A Pedagogia de projetos e o ensino de música na

Educação Básica da cidade de Natal

INFORMAÇÕES GERAIS

Este questionário faz parte da pesquisa que está sendo desenvolvida pela Universidade Federal

do Rio Grande do Norte em nível de mestrado sob orientação da professora Dra. Valéria Lázaro

Carvalho do Programa de pós-graduação em música da (UFRN). O estudo pretende conhecer e analisar

a prática da Pedagogia de Projetos como metodologia para o ensino de música nas escolas de Natal-RN.

Sua participação, de caráter voluntário e não identificado, certamente irá contribuir para essa

pesquisa e consequentemente para o desenvolvimento da educação musical.

Caso queira receber os resultados desta pesquisa, escreva seu e-mail abaixo:

E-mail: ________________________________________________________

Desde já, agradecemos sua participação.

Everson Ferreira Fernandes

Mestrando do Programa de Pós-graduação em Música-UFRN

Mat. 2014101439

1- INFORMAÇÕES SOBRE O PROFESSOR

1.1-Idade: 1.2-Sexo: ( )Masculino ( ) Feminino 1.3-Tempo de docência em música:

1.4-Escolaridade:

( )Ensino médio completo ( )Superior incompleto ( )Especialização incompleta ( )Mestrado incompleto

( )Superior completo ( )Especialização completa ( ) Mestrado/doutorado

Área _________________ Área _______________

1.5-Formação:

( ) Música – Licenciatura ( ) Educação artística – Música ( ) Outro _________________________

( ) Música – Bacharelado ( ) Pedagogia ______________________________

2- INFORMAÇÕES SOBRE A ESCOLA E AS TURMAS

2.2-Escola(s) em que leciona:

Escola 1: _______________________________________________

Escola 2: _______________________________________________

Escola 3: _______________________________________________

2.3-Leciona em quais níveis de ensino? (Pergunta de múltiplas respostas)

Escola 1: ( )Educação infantil ( )Ensino Fund. I ( )Ensino Fund. II ( )Ensino Médio ( )EJA

Escola 2: ( )Educação infantil ( )Ensino Fund. I ( )Ensino Fund. II ( )Ensino Médio ( )EJA

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Escola 3: ( )Educação infantil ( )Ensino Fund. I ( )Ensino Fund. II ( )Ensino Médio ( )EJA

2.4-Média da carga horária semanal por turma:

Turma:_______ ( )1 aula ( )2 aulas ( )3 aulas ( )4 aulas ou mais Duração de cada aula: ______ min.

Turma:_______ ( )1 aula ( )2 aulas ( )3 aulas ( )4 aulas ou mais Duração de cada aula: ______ min.

Turma:_______ ( )1 aula ( )2 aulas ( )3 aulas ( )4 aulas ou mais Duração de cada aula: ______ min.

Turma:_______ ( )1 aula ( )2 aulas ( )3 aulas ( )4 aulas ou mais Duração de cada aula: ______ min.

Turma:_______ ( )1 aula ( )2 aulas ( )3 aulas ( )4 aulas ou mais Duração de cada aula: ______ min.

2.5-Quantidade média de alunos por turma: ______________________________________________

3- INFORMAÇÕES SOBRE CONTEÚDO

3.1-Quais são os referenciais utilizados para a seleção de conteúdos? (Pergunta de múltiplas respostas)

( ) RCNEI ( ) Parâmetros curriculares para o ensino da arte da prefeitura de Natal

( ) PCN ( )Outros ___________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

3.2-Quais são os principais conteúdos abordados nas aulas?

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

3.3-Quais são as principais atividades musicais realizadas? (Pergunta de múltiplas respostas)

( ) Canto em grupo ( ) Apreciação musical ( ) Percussão em grupo

( ) Percussão corporal ( ) Construção de instrumentos ( ) Composição

( ) Outros _____________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

3.4-Você utiliza livros didáticos? ( )sim ( )não

Quais? _______________________________________________________________________________

3.5-Quais recursos você utiliza para as suas aulas? (Pergunta de múltiplas respostas)

( )Instrumentos de percussão ( )Aparelho de som

( )Violão ( )TV e reprodutor de vídeos

( )Teclado/piano ( )Outros _______________________________________

______________________________________________________________________________________

4- INFORMAÇÕES SOBRE METODOLOGIA

4.1-Você conhece a Pedagogia de Projetos?

( )Sim ( )Não

4.2-Você já trabalhou ou trabalha por meio de projetos em sala de aula?

( ) Já trabalhei ( ) Utilizo esporadicamente ( ) Utilizo com frequência ( ) Sempre utilizo

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4.3-Na sua prática com Pedagogia de Projetos, como é feita a escolha do tema? (Pergunta de múltiplas

respostas) ( ) Entre professores de disciplinas diferentes ( ) Pelos alunos

( ) Pela coordenação ( ) Pelo professor

Outros: ________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

4.2-Como os projetos são realizados?

( ) Em conjunto com outras disciplinas ( ) Na sua disciplina sem a participação de outras

4.3-Os conteúdos abordados nos projetos são:

( ) Especificamente da área de música ( ) De diversas áreas e disciplinas

Comente: ______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

4.4-Na sua prática, os projetos são divididos em etapas? ( )sim ( )não

Se sim, enumere-as

1_____________________________________________________________________________________

2______________________________________________________________________________________

3______________________________________________________________________________________

4______________________________________________________________________________________

5______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

4.5-Qual a duração dos projetos

( ) 1 mês ( ) 1 trimestre ( ) 1 ano

( ) 1 bimestre ( ) 1 semestre ( ) outros ______________________________

4.6-Como é feita a avaliação dos projetos?

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

4.7-Como é feita a avaliação dos alunos na participação e apreensão dos conteúdos do projeto?

( ) Através de portfólio ( ) Por meio de relatórios

( ) Através de provas escritas ( )Através de atividades avaliativas no decorrer do projeto

( ) Outras ______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

4.8-Ao final do projeto, como os resultados são apresentados?

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

4.9-Quais são os referenciais teóricos para sua prática com projetos?

______________________________________________________________________________________

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______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

4.10-Na sua prática, quais os pontos positivos e negativos do trabalho com Pedagogia de Projetos?

Negativos _____________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

Positivos ______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

4.11- Na sua opinião, quais as contribuições do trabalho com Pedagogia de Projetos para o ensino de

música na Educação Básica?

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

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APÊNDICE D- Roteiro de entrevista semiestruturada

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

A Pedagogia de Projetos e o ensino de música na

Educação Básica da cidade de Natal

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Professor: _______________________________________________________________

Escola: _________________________________________________________________

1. SOBRE FORMAÇÃO E ATUAÇÃO

a. Fale um pouco sobre sua formação e trajetória profissional.

b. Há quanto tempo trabalha com aulas de música na Educação Básica?

c. Em quais turmas você atua?

d. Fale um pouco sobre a sua experiência como professor de música na EB.

e. De quais recursos você dispõe para as aulas de música.

2. SOBRE A OPÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLOGICA

a. Quando você conheceu e começou a trabalhar com projetos em suas aulas de música?

b. Você segue se baseia em algum autor ou referencial para a sua prática com projetos?

c. Na sua opinião e partir da sua experiência, quais as diferenças da Pedagogia de Projetos

em relação as aulas com metodologias mais “tradicionais”?

d. Destaque pontos positivos e pontos negativos da Pedagogia de Projetos para o ensino

de música na EB.

3. SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS PROJETOS

a. Como esses projetos são planejados?

b. Como os temas são escolhidos? Quem escolhe?

c. Qual a média de duração dos projetos?

d. Você segue conteúdos de algum currículo pré-determinado?

e. Os projetos são divididos em etapas? Quais?

f. Como se dá a avaliação dos alunos nesses projetos?

g. Os projetos são realizados em colaboração com professores de outras disciplinas?

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ANEXO A- Conteúdos de música dos Referenciais Curriculares Artes para o ensino

fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Natal.

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