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1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS GIUSEPPE BRUNO NETO UMA BREVE VISÃO SOBRE A AFETIVIDADE NAS TEORIAS DE WALLON, VYGOTSKY E PIAGET São Paulo 2012

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Vygotsky e Piaget” no presente trabalho deve-se principalmente ao fato de termos necessidade de garantir um aprendizado com

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIECENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

GIUSEPPE BRUNO NETO

UMA BREVE VISÃO SOBRE A AFETIVIDADE NAS TEORIAS DE WALLON, VYGOTSKY E PIAGET

São Paulo2012

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GIUSEPPE BRUNO NETO

UMA BREVE VISÃO SOBRE A AFETIVIDADE NAS TEORIAS DE WALLON, VYGOTSKY E PIAGET

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas

Orientador: Prof. Dr. Claudio Bastidas Martinez

São Paulo

2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado esta oportunidade.

Ao meu Pai, Giuseppe Bruno Filho e a toda minha família pelo apoio, por

estarem ao meu lado em todos os momentos deste trabalho não deixando que eu

desistisse.

Aos meus queridos amigos da faculdade que também estiveram presentes

me dando dicas e apoio, mesmo que eu estivesse sem tempo para eles.

Ao meu orientador Professor Doutor Claudio Bastidas Martinez por aceitar me

orientar, mesmo tendo outros compromissos com o curso de Psicologia.

À Professora Doutora Patrícia Fiorino, e ao Professor Doutor Adriano

Monteiro de Castro por aceitarem o convite para participação em minha banca

avaliadora.

4

RESUMO

O presente trabalho expõe as visões de três importantes autores no campo da

Psicologia, Jean Piaget, Lev S. Vygotsky e Henry Wallon, apresentando, em linhas

gerais, as concepções dos mesmos sobre a afetividade. As questões relacionadas

com o papel do afeto no desenvolvimento do indivíduo, bem como sobre a relação

afetiva entre professor e aluno são muito complexas e objeto de debates. A reflexão

sobre a afetividade torna-se um tema importante para o pesquisador do

desenvolvimento humano e para o educador. O trabalho conclui relacionando as

idéias dos autores e levantando hipóteses sobre concordâncias e discordâncias

entre esses autores.

ABSTRACT

5

This paper presents the views of three important authors in the field of psycology,

Jean Piaget, Lev S. Vygotsky and Henry Wallon that, in general, show their

conceptions about affection. Issues related to the role of affect in the development of

the individual as well as on the emotional relationship between teacher and student

are very complex and subject of debate. The reflection about affection becomes an

important issue for the researcher in human development and for the teacher. The

paper concludes by relating the ideas of the authors and raising hypotheses about

agreement and disagreement between these authors.

SUMÁRIO

6

1.0 Introdução.................................................................................... 7

2.0 Referencial Teórico...................................................................... 8

2.1 A teoria da afetividade de Piaget............................................ 9

2.2 A teoria da afetividade de Vygotsky...................................... 16

2.3 A teoria da afetividade de Wallon........................................... 21

3.0 Procedimentos metodológicos 24

4.0 Análise e discussão...................................................................... 25

5.0 Considerações finais................................................................... 27

Referências........................................................................................ 28

1.0 INTRODUÇÂO

7

A escolha do tema “Uma breve visão sobre a afetividade nas teorias de Wallon,

Vygotsky e Piaget” no presente trabalho deve-se principalmente ao fato de termos

necessidade de garantir um aprendizado com um maior nível de qualidade no país,

com isso a investigação do trabalho é verificar se existem meios mais adequados

para lecionar nas escolas de forma que os discentes realmente entendam a matéria

a fim de poderem discutir sobre o assunto, sem decorar o conteúdo exposto.

Nota-se que muitos alunos apenas decoram, memorizam o que será abordado nas

provas e outras avaliações, de forma que eles esquecem após o termino das

mesmas. Observa-se também durante os estágios obrigatórios do curso de

licenciatura que muitos alunos apenas pensam em copiar a matéria que o professor

expõe na lousa, de forma a reclamar caso o docente não decida escrever e apenas

explicar o conteúdo com as próprias palavras.

Assim se verifica uma grande necessidade de estudar métodos que possam auxiliar

no processo de ensino e aprendizagem, como analisar o papel da afetividade

estabelecida entre o professor e seus educandos no processo de ensino e

aprendizagem, de uma maneira que o aluno realmente entenda o que ele escreve

sobre a matéria, de maneira que ele interaja com o professor e com o conteúdo

abordado podendo até correlaciona-lo com o seu cotidiano. Tendo em vista este

problema resolveu-se analisar a forma como os professores e alunos podem

desenvolver a afetividade para que possam construir o conhecimento.

A análise será realizada de forma a relacionar cada teoria proposta pelos autores,

identificando semelhanças e diferenças a fim de organizar uma ideia sobre a

influência que a afetividade possui nas interações entre professor, aluno e objeto de

estudo e com isso permitir que o aluno desenvolva seus conhecimentos, permitir que

ele questione e realmente reflita sobre o conteúdo e assim tenha um aprendizado

bem qualificado.

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2.0 REFERENCIAL TEÓRICO

Muitos fatores podem influenciar o processo de ensino e aprendizagem, temos

diferentes abordagens de ensino preconizadas por autores como Becker (1993),

Pozo e Echeverría (2001), Mauri (2001) e Rosa (2007) em seu livro construtivismo e

mudança. Uma vez que cada professor possui um modo de pensar diferente, assim

como uma personalidade e um modo de reagir às diversas situações na vida escolar

existem diversos meios de se abordar os conteúdos curriculares. Um destes fatores

é a relação afetiva que o professor e o aluno podem ter entre si.

Com especial atenção aos trabalhos de Rosa (2007), uma de suas teorias chama-se

interacionista a qual menciona o processo de interação entre o professor e o aluno,

em que o aluno poderá construir seu conhecimento discutindo as ideias com o

professor. Isto pode remeter a ideia de afetividade que pode existir entre o professor

e o aluno, afetividade que pode ou não influenciar o processo de ensino e

aprendizagem de acordo com visões de autores bem conhecidos do campo da

psicologia.

Levando em consideração o assunto de afetividade no ambiente escolar no presente

trabalho serão citadas ideias vindas dos seguintes autores: Vygotsky, Wallon e

Piaget de acordo com Yves de La Taille, Martha Kohl e Heloísa Dantas (1992) e

outros autores, que explicam suas visões na relação da afetividade entre professor e

aluno no processo de ensino e aprendizagem.

Piaget escreveu em seu livro “Biologie et Connaissance” que os seres humanos para

desenvolverem sua inteligência deveriam interagir com outros indivíduos da

sociedade, mas segundo Yves de La Taille (1992), Piaget não discorreu muito sobre

o assunto da interatividade social como influência no desenvolvimento da

inteligência humana, mas o que escreveu foi muito importante para o tema e para

sua teoria.

Conforme disse Yves de La Taille (1992), Piaget menciona que o ser humano que

não se socializa com seus semelhantes não existe. O ser humano é por natureza

9

social. Mesmo com esta afirmação não se pode criar uma teoria de como ser social

com seus semelhantes influencia as capacidades da inteligência.

Para entender melhor o tema da afetividade é crucial ter conhecimento da definição

do que é “ser social” e precisa-se verificar como os fatores sociais influenciam no

intelecto humano.

2.1 A teoria da afetividade de Piaget

Para Arantes (2002), Piaget diz que não existe uma ação de forma afetiva sem antes

o individuo utilizar a cognição, ou seja, o individuo precisa por meio de sua

inteligência entender a situação pela qual ele passa, para poder agir afetivamente

em acordo com o estímulo que sofrer. Também é mencionado por Piaget, segundo

Arantes (2002) que para haver a assimilação de algum conteúdo, seja ele teórico, ou

prático, seja em uma instituição de ensino ou em um laboratório deve haver uma

interação afetiva entre quem explica o conceito e quem recebe a informação. Isso se

dá, pois é por meio da interação que surge o interesse pelo objeto. É proposto por

Arantes (2002) que Piaget utiliza uma metáfora entre o motor de um carro e a

gasolina da seguinte forma: “a afetividade seria como a gasolina, que ativa o motor

de um carro, mas não modifica sua estrutura” (ibidem.,p.5).

Resumindo pelo que temos explicitado acima, pode-se dizer que sem a afetividade

não existe um pensamento, pois o aluno não irá interagir com o objeto de estudo, ou

com o professor, no caso de uma escola, e assim não existirão pensamentos que

construam um conhecimento de acordo com o que foi abordado em sala de aula.

Para entendermos melhor o ser humano como sendo um ser sociável, que interage

com outros da mesma espécie temos abaixo o que Piaget escreve:

“O homem normal não é social da mesma maneira aos seis meses ou aos vinte anos de

idade, e, por conseguinte, sua individualidade não pode ser da mesma qualidade nesses

dois diferentes níveis.” (1992 p 12).

Para Yves de La Taille (1992), Piaget descreve o “ser social” como sendo o ser

humano que ao se relacionar com seus semelhantes de forma a garantir um

equilíbrio na conversa, ou seja, o homem deverá pensar e raciocinar com o mesmo

grau de desenvolvimento de ideias que o indivíduo com quem ele conversa. Uma

pessoa de dezesseis anos de idade não possui o mesmo nível de raciocínio de um

10

indivíduo de trinta, assim como a maneira de uma criança de cinco anos de idade se

expressar diferirá muito com relação aos outros indivíduos citados, pois esta criança

nem mesmo consegue ser social com outras pessoas a ponto de trocar ideias

construtivas e com isso manter uma conversa intelectual.

O nível de pensamento e de raciocínio das pessoas, na visão piagetiana de acordo

com Yves de La Taille (1992), difere muito com a idade, conforme ficam maduras

elas adotam outras maneiras de utilizar determinados conhecimentos já adquiridos

durante a infância ou durante a adolescência e com isso são capazes de argumentar

de formas mais variadas a fim de manter uma conversa intelectual com indivíduos

da mesma faixa etária.

Ao saber que os indivíduos possuem diferentes graus de socialização, de acordo

com sua faixa etária, utilizando o que já têm de conhecimento para argumentar e

acompanhar o raciocínio das ideias trocadas na conversa é necessário perguntar se

as interações sociais possuem algum tipo de influência no desenvolvimento da

pessoa como um todo.

De acordo com o que diz De La Taille (1992), na visão de Piaget o processo de

desenvolvimento com outras pessoas possui em sua essência as interações do

indivíduo sobre objetos, uma vez que é por meio do manejo e da interação com este

objeto que o conhecimento é primeiramente construído.

Vejamos um exemplo; A demanda social pelo conhecimento, na pesquisa,

publicação de artigos, em provas e vestibulares que abrangem matérias sobre as

atualidades obriga a todos nós, seres humanos, a construir novos conhecimentos e

teorias, nos obriga a pesquisar mais, e tirar as dúvidas que surgem a cada dia de

novos descobrimentos. Sempre há novos caminhos a serem seguidos como, por

exemplo, mesmo ao descobrir curas para doenças que surgem hoje no futuro

doenças que são mais resistentes aos antibióticos e soros da atualidade poderão

surgir e causar epidemias, com base nisso os profissionais que se encontram na

área da saúde pesquisando novos meios de melhorar a vida dos seres humanos

deverão obter novos conhecimentos de como combater as novas ameaças. Após o

alcance de um novo conhecimento como, por exemplo, o aprimoramento de uma

vacina os indivíduos que trabalharam arduamente deverão publicar este

conhecimento, ou seja, transmitir este conhecimento aos outros.

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A transmissão destes novos conhecimentos, não deixa de ser uma relação entre

indivíduos, enquanto uma pessoa estará transmitindo o conteúdo haverá aquelas

que a ouvem e a avaliam. Diante disso, Piaget preconiza que existem dois tipos de

relação social: a coação e a cooperação.

Sobre a coação, De La Taille (1992) cita o que Piaget preconiza:

“A relação de coação, como seu nome indica, é uma relação assimétrica, na qual um dos

pólos impõe ao outro suas formas de pensar, seus critérios, suas verdades. Em uma

palavra, é uma relação onde não existe reciprocidade.” (1992, p-58).

Entende-se por coação de acordo com Piaget a relação entre dois ou mais

indivíduos em que um destes exerce papel autoritário ou papel prestigiador. Como

exemplo é proposto o caso em que o professor afirma ao aluno determinado

conceito e o aluno sem questionar acredita no que o professor fala, pois este

estudante prestigia o professor, por ele ser de uma universidade famosa, ou por ser

bem conhecido, não exigindo nem mesmo a consulta de outras fontes como artigos

ou revistas científicas para confirmar se é verdade o que foi afirmado.

Neste caso o professor e o aluno não possuem uma interação muito aparente, pois o

aluno nem mesmo participa de uma discussão, o estudante nem mesmo questiona o

seu mestre para ter certeza se as fontes de onde foi tirado o conteúdo exposto em

questão são confiáveis. Por não estar presente a interação entre os indivíduos

segundo De La Taille (1992), a coação empobrece as relações sociais.

Quanto à cooperação, Yves de La Taille (1992) cita o que Piaget diz:

“As relações de cooperação são simétricas; portanto, regidas pela reciprocidade. São

relações constituintes, que pedem, pois, mútuos acordos entre os participantes, uma vez

que as regras não são dadas de antemão. Somente com a cooperação, o desenvolvimento

intelectual e moral pode ocorrer, pois ele exige que os sujeitos descentrem para poder

compreender o ponto de vista alheio.” (Piaget,1992,apud Taille,1992, p- 59).

O que se pode compreender pela relação de cooperação é que existe uma

discussão na formulação do conhecimento do aluno. Como o próprio nome diz há

uma participação dos dois indivíduos em questão, professor e aluno, na construção

do conhecimento, não existe a simples transmissão do conteúdo pelo professor e a

crença do aluno no que foi dito. Assim o aluno poderá discutir com o professor sobre

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o seu ponto de vista com relação à definições e explicações do conteúdo. Existe

uma relação social explicita entre o professor e aluno.

Tendo em mente que de acordo com Yves de La Taille (1992), Piaget diz que a

afetividade é interpretada como uma espécie de ”energia” que motiva o ser humano

a realizar ações, pode-se dizer que na relação de cooperação ao haver maior

discussão, maior participação do professor e do aluno juntos na construção do

conhecimento, existe um fator que motiva o estudante a procurar a resposta das

situações-problema. Este fator motivacional pode ser descrito como afetividade.

De acordo com Piaget (1999) durante os dois primeiros anos de vida o bebê passa

por uma revolução em seu intelecto que é caracterizada por processos

fundamentais, tais como: as construções de categorias do objeto e do espaço, no

sentido de que o bebê está em um processo de conhecimento dos objetos inseridos

no mundo onde vive e do espaço onde constrói as relações com estes objetos.

Outros processos citados também são o da causalidade e do tempo, de modo que o

bebê não tem a noção do tempo percorrido durante estes primeiros anos de vida.

No início de sua vida, o bebê toma a si mesmo como o centro do mundo que o

cerca, num processo que não tem consciência e é chamado de “egocentrismo”. O

esquema do objeto está voltado ao plano, em que o lactante não tem uma

percepção dos objetos tal como a do adulto. O bebê não nota as propriedades dos

objetos como peso, forma, volume e outras características.

Piaget também afirma que o bebê reconhece as pessoas que se encontram à sua

volta, aquelas que constantemente convivem com ele, mas não é provado que o

bebê tenha em mente que as mesmas pessoas que estão à sua volta realmente

existam quando elas vão embora saindo do seu campo de visão. Exemplificando

melhor temos uma citação de Piaget que diz: “Reconhece em particular as pessoas

e sabe que, gritando, fará retornar sua mãe.” (Piaget, 1999, p.21) Podemos entender

que as pessoas que visitam a casa de alguém que possui um bebê, por exemplo, ao

brincarem com o bebê, interagindo com ele de diferentes as formas, este bebê

perceberá sua existência, porém ao irem embora daquela casa, o bebê não se dará

conta de que aquelas pessoas realmente existem fora desse espaço físico até que

ele as reencontre outra vez.

13

Somente por volta do fim do primeiro ano ocorre o que podemos chamar de

exteriorização do mundo material, pois o bebê passa a ter o desejo de procurar

pelos objetos, mesmo que estes não estejam em seu campo de visão. Devido a esta

exteriorização o bebê logo irá passar a procurar as pessoas que não se encontram

em seu campo de visão e assim desenvolve interações afetivas, quando o bebê

procura alguém, seja sua mãe ou seu pai ele passa a mostrar interesse na interação

com aquela pessoa, a afetividade no caso não está separada da inteligência.

Segundo a visão piagetiana, com o surgimento da linguagem, o comportamento da

criança é totalmente modificado em seu aspecto afetivo e intelectual. Ela passa a

realizar novas ações como reconstituir o seu passado, e elaborar planos para seu

futuro por meio da representação verbal. Assim a criança desenvolve suas

características mentais e passa a se socializar com outras pessoas, ela passa a

interiorizar o que ela diz ou irá dizer e aqui se forma o pensamento propriamente

dito.

Do ponto de vista afetivo ocorrem transformações paralelas ao desenvolvimento

intelectual, a criança passa a desenvolver seus sentimentos, como: antipatia,

simpatia, respeito e outros. Por meio deste desenvolvimento as relações entre os

seres humanos passam a se tornar mais complexas de forma que com a formação

de sentimentos pelas pessoas elas passam a julgar se gostam ou não umas das

outras, podendo estabelecer relações mais amistosas levando em consideração a

afinidade que possuem entre si ou podendo estabelecer conflitos. (PIAGET, 1999)

Conforme avança em seu desenvolvimento, a criança cria valores e interesses que

estão relacionados com a afetividade como os sentimentos de autovalorização, de

forma que ela poderá julgar a si mesma por meio dos sentimentos de inferioridade e

superioridade. A cada sucesso ou fracasso o individuo irá ter sentimentos de

superioridade ou inferioridade podendo interferir no grau de ansiedade do sujeito.

Ao aplicarmos esses conceitos na reflexão sobre relação entre o professor e o aluno

no processo de ensino e aprendizagem, podemos verificar que o aluno, ao ter

sucesso ou fracasso em uma avaliação feita pelo professor ou até na idéia de um

conceito quando discute com o docente, o aluno pode se avaliar de acordo com o

14

resultado que obteve: se foi satisfatório, ele se super-valoriza se sentindo superior a

outros alunos que não conseguiram alcançar o mesmo resultado que ele. O mesmo

acontece quando ele se sente inferior por ter ido mal numa prova, o lado afetivo do

aluno sofre influências.

Da mesma maneira que o aluno utiliza a linguagem e o intelecto para se comunicar

com outros indivíduos havendo uma troca de informações e conhecimentos também

pode-se existir uma troca entre os ideais de cada individuo e com isso os surgem os

sentimentos das pessoas, sejam eles bons ou ruins.

Um sentimento que nasce na criança com o passar do tempo convivendo com os

pais é o respeito, entendido por Piaget (1999) como sendo uma mistura de afeição e

temor. A primeira moral da criança é a moral da obediência aos pais, por meio de

regras.

Assim, a obediência está relacionada ao respeito, ou seja, a criança passa a

respeitar o pai e a mãe e assim ela acata às suas ordens, aqui não vemos os pais

observando e mediando o que a criança faz por meio de ações que despertam o

interesse na criança ou por meio de ações negativas para avisá-las de que

determinado ato praticado por ela não é permitido.

Do mesmo modo, podemos dizer que entre discente e o docente também existem

estas relações de obediência. Nas escolas, a obediência do aluno caminha junto

com o respeito pelo professor. Em certos casos, nem todos os discentes têm

respeito podendo haver intercorrências durante as aulas e uma parte dos alunos

pode temer o professor, que se impõe por meio de ameaças com relação a notas

baixas.

Período em que se desenvolve a autonomia para dar explicações sobre as

ocorrências observadas em experimentos. É citado um experimento em que se

coloca em um copo com água dois cubos de açúcar e uma série de perguntas é feita

à criança como é mostrado a seguir:

“Pergunta-se, então, enquanto o açúcar se dissolve: 1º se, uma vez dissolvido,

ainda ficará alguma coisa na água coisa na água; 2º, se o peso ficará maior ou igual

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ao da água clara e pura; 3º se o nível da água açucarada abaixará até se igualar

com o do outro.”

Para crianças de sete anos de acordo com o que é descrito no livro: “Para certos

sujeitos, se transforma em água ou se liquefaz em um xarope que se mistura à

água.” (1999, p.56 )

Podemos observar que existe a autonomia em explicar por si mesma o ocorrido, e a

cooperação pode ser observada quando se observa o experimento junto de seus

colegas, a criança falará a hipótese que ela possui e seus colegas discutem a

respeito formulando hipóteses também sobre o que ocorreu com os cubos de açúcar

e qual sua relação com o volume da água e o peso do copo. É por meio desta

discussão que vemos a construção do conhecimento.

No que diz respeito ao desenvolvimento da vontade nas crianças, Piaget afirma que

muitos confundem a vontade com o ato intencional e exemplifica com uma situação

em que o aluno possui um dever de casa para ser feito, o que seria a obrigação dele

mas também possui uma tendência a brincar em vez de fazer o dever. É aqui que o

autor menciona a vontade como sendo a atitude que o aluno toma em fazer o dever

mesmo tendo desejos mais fortes como brincar. Aqui ressaltamos no processo de

ensino e aprendizagem a vontade dos alunos em aprenderem, a vontade dos alunos

em buscarem o significado do conceito estudado em aula, ao invés de fazerem algo

que lhes pareça mais prazeroso.

Com a progressão do desenvolvimento, os indivíduos passando da adolescência à

fase adulta, Piaget (1999) afirma, fazendo uma conclusão, que é por meio da

afetividade que ao passar pelas fases da vida, desde a infância até a fase adulta, o

indivíduo obtém consciência de valores morais. Com uma grande participação do

lado afetivo realizando as atividades durante seu desenvolvimento, como os

trabalhos em grupo ou individuais na escola, podemos dizer que o indivíduo após

aprender sobre cooperação por meio da socialização e das relações entre os

colegas e professores, e após aprender sobre a autonomia para tomar decisões

interagindo de acordo com a situação a qual se encontra o adolescente atinge a fase

adulta e tem a sua personalidade formada.

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O autor também menciona que conforme o adolescente é exposto diante de diversas

responsabilidades, exigindo que ele se torne cada vez mais autônomo ou em

algumas situações exigindo que ele saiba como trabalhar em grupo socializando

com outros colegas ele vai perdendo algumas formas como ele agia anteriormente

como adolescente, amadurecendo.

2.2. A teoria da afetividade de Vygotsky

Outro autor importante na questão da teoria sobre a afetividade é Lev S. Vygotsky,

que discute sobre fatores biológicos e sociais no processo de formação do ser

humano. Dentre as visões de Vygotsky propostas por Marta Kohl (1992) no processo

de formação de conceitos e na construção de significados poderemos relacionar o

papel do professor na escola na transmissão do conteúdo de cunho conceitual, ou

seja, que não é aprendido no dia-a-dia.

Para Martha Kohl (1992), Vygotsky menciona que a mente humana não possui

estruturas que desde o nascimento contém conhecimento. É por meio da vivência na

sociedade e nas relações com outros seres humanos que a pessoa construirá novos

conhecimentos e novas relações entre os objetos de estudo. O aluno não nasce com

o conteúdo internalizado em sua mente, o conteúdo deve ser transmitido pelo

professor, mas somente transmiti-lo não é o bastante, a socialização com o

professor, a discussão e troca de ideias é fundamental para que o conteúdo se fixe

de forma que o discente elabore com suas próprias palavras o que foi aprendido.

De acordo com sua obra, Vygotsky (2001), também menciona a importância dos

conhecimentos construídos a partir da vivência do aluno, citado no parágrafo

anterior, no sentido de que as experiências pelos quais ele passa no seu cotidiano,

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por meio destas não somente se lembrará de determinados conceitos na hora dos

estudos, mas também entenderá a origem do conceito, entenderá a justificativa de

existir aquele conceito.

Como descreve Martha Kohl (1992), Vygotsky menciona a linguagem como

instrumento fundamental para a socialização entre os indivíduos e os objetos de

estudo, possui duas funções básicas: a primeira é a de intercâmbio social e a

segunda a de pensamento generalizante.

A função de intercâmbio Social, como o próprio nome sugere, é a função da

comunicação de indivíduo para indivíduo de forma a estabelecer contato e transmitir

o conhecimento.

Quanto ao que se diz da função de pensamento generalizante é mencionada por

Vygotsky (2002) como sendo uma função que generaliza os conceitos aprendidos

durante a experiência vivida pela pessoa de forma a simplificar o conteúdo e fixar

somente o que é importante.

Com estas duas funções definidas um exemplo pode ser citado para melhor

compreensão de ambas. Exemplo: Ao transmitir um determinado conteúdo para os

seus alunos o professor utiliza a linguagem como meio de intercâmbio social para se

comunicar com os alunos e discutir a respeito do conteúdo. Os alunos, então, após a

socialização do conteúdo com o professor, de modo a expor seus pontos de vista

reterá a parte importante daquele conteúdo simplificando-o.

Para se formar um dado conceito um fator principal é o modo como ele se formará,

uma vez que para que o indivíduo assimile o conteúdo, ou seja, a matéria que o

docente quer que o aluno aprenda, é necessário um compartilhamento por parte do

aluno e do professor dos conhecimentos possuídos pelos dois com a finalidade de

transformar o conhecimento prévio do aluno em um conceito mais aceito pela

ciência. Desta maneira com a discussão e indagação o aluno fixará o conteúdo de

forma a lembrar do processo de raciocínio para alcançar o conceito aprendido.

Levi Vygotsky (2006) explicita a idéia evidenciando que a linguagem possui um

papel muito importante na comunicação entre os seres humanos, cujo componente

principal é a palavra. De acordo com o autor a palavra não somente serve como um

símbolo que identifica algo com o que o individuo tem uma interação, ela é algo

18

inerente e possui um significado imutável. Para a criança em determinada fase de

seu desenvolvimento elabora significados para as palavras que mudam conforme

ela se desenvolve, por receber novos conhecimentos ao decorrer de sua vida.

Segundo Morato (2000) é por meio das palavras que se dá a relação entre o

pensamento e a linguagem para Vygotsky, o que contribui para a formação de novos

conceitos ao pensar e refletir sobre o conteúdo ou significado aprendido.

Para o ser humano analisar a informação recebida por meio da linguagem

explicitada no parágrafo anterior, e comunicar-se com outro a fim de responder

àquela informação é necessário que o indivíduo utilize o que, de acordo com Martha

Kohl (1992), Vygotsky denomina “funções mentais elementares” como: “atenção

involuntária”. (1992 p-76), e “funções mentais superiores”, como sendo: “atenção

voluntária e memória lógica” (1992 p-76).

Estas últimas funções seriam prestar atenção voluntariamente e utilizar a memória

lógica. Ao utilizar estas funções mentais o individuo deve estar consciente de onde

ele se encontra e o que está fazendo. No caso do aluno em sala de aula, utilizar

suas funções mentais superiores seria estar consciente e saber o que ele faz na sala

de aula de modo que responda de acordo com o que é discutido entre ele e o

professor.

Sabe-se também que para entender e organizar o conteúdo explicitado em seus

pensamentos o aluno precisará ter ciência dos significados de muitas palavras,

palavras específicas quanto à matéria que ele está aprendendo e após receber as

informações necessárias para a construção do conhecimento dependerá de cada

aluno construir o próprio conhecimento a respeito do que foi exposto. Explicando de

uma maneira melhor pode-se dizer que todas as pessoas são diferentes umas das

outras, pensam de forma diferente uma da outra e com isso elaboram

conhecimentos com significados que podem diferir um do outro a menos que um

grupo de pessoas entre em um consenso e com isso ocorre a padronização do

conceito. É proposto por Levi Vygotsky que para cada pessoa um determinado

objeto tem um significado diferente, para alguns o carro pode ter um significado mais

importante como um instrumento de trabalho para o motorista de táxi, para um aluno

jovem pode significar um meio de diversão por ele gostar de sair com os amigos

(Kohl, 1992, p-81).

19

Como foi observado anteriormente, cada pessoa pode atribuir um significado

diferente para um mesmo objeto. Assim no que diz respeito à aprendizagem no

ambiente escolar, cada aluno por pensar diferente um do outro pode elaborar o

conhecimento de forma diferente. Mesmo que o professor explique o conteúdo de

uma única forma os alunos são diferentes, pensam de maneiras desiguais.

Durante as situações do dia-a-dia os processos passados pelo intelecto e pelo afeto

ao se desenvolverem estão interligados entre si diz Vygotsky, (Kohl, 1992). Para a

autora, Vygotsky questiona a divisão entre as duas dimensões: afetiva e cognitiva.

Enfatizando o aspecto afetivo no individuo humano existem dois pressupostos na

teoria de Vygotsky que descrevem o lugar da afetividade na pessoa.

A primeira é a perspectiva declaradamente monista, que vai contra a qualquer

divisão da dimensão humana como, por exemplo: corpo/alma, mente/alma,

material/não material. A segunda é a Abordagem globalizante ou holista, esta

evidencia o estudo das partes que unem uma totalidade. Explicando de forma mais

clara estas duas abordagens, tanto na abordagem monista como na abordagem

globalizante, é evidenciada a procura de um indivíduo como um todo, ou seja, busca

a consciência da pessoa em sua totalidade não separando o lado cognitivo, que

analisa as informações recebidas com a finalidade de responder às diversas

situações pelas quais o ser humano passa do lado afetivo que representa o lado de

sentimento humano capaz de reagir de acordo com os diferentes estímulos

recebidos das relações existentes entre dois seres humanos. Neste caso podemos

citar o aluno e o professor como participantes das relações anteriormente

mencionadas.

Kohl (1992) menciona que Vygotsky propõe que a formação do pensamento do

indivíduo é intrínseca à zona da motivação, o ser humano deve ter alguma

motivação seja ela uma necessidade de realizar algo, como um compromisso, seja

um interesse, como, por exemplo, quando estamos interessados em entender como

o corpo humano funciona ou qualquer outro interesse não necessariamente

acadêmico. Outros fatores motivacionais também colocados por Vygotsky de são:

impulsos, o afeto e a emoção, o pensamento também é formado a partir destes

fatores uma vez que eles motivam o ser humano por meio do sentimento quanto aos

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dois últimos fatores e no sentido de respondermos rapidamente a uma situação de

surpresa no caso do impulso.

Para elaborarmos respostas a cada um destes fatores que motivam o ser humano

existe uma necessidade de agir intelectualmente, refletindo e agindo de acordo com

o que sente. No espaço físico acadêmico podemos citar novamente os alunos

interessados na aula, como mencionado. Damos o exemplo do interesse ao

aprender sobre o corpo humano, porém não somente o fator interesse existe na sala

de aula, mas também o afeto no sentido do modo como o professor expõe o

conteúdo que pode variar com o seu humor, o modo como os alunos respondem

quando o docente os questiona e a emoção evidenciada nos discentes ao tirarem

uma boa nota ou então uma nota não satisfatória.

Vygotsky entende que a base do pensamento é afetivo-volitiva, ou seja, existe uma

relação muito grande do afeto que os discentes têm pela matéria e/ou pelo professor

com a nossa vontade, vontade esta de aprender, de entender o que é lecionado. Se

não se sentirem bem com o professor e/ou com a matéria que ele leciona não

estarão aptos o suficiente para entender a matéria, para raciocinar de forma

construtiva. Esta ideia da ligação entre os estudos com a vontade de estudar pode

ser direcionada ao interesse dos educandos mencionado anteriormente, é esta

vontade que mostra o interesse, é esta vontade de crescer, aprender, de buscar

respostas com o docente ou através de outros meios que faz o aluno estar apto a

entender o conteúdo.

É por meio do processo de ensino e aprendizagem em que o afeto é vinculado ao

interesse em que ocorrem as transformações do conhecimento antigo para o

conhecimento novo, atualizado. Ao final deste processo o aluno obterá como

resultado uma consciência do conteúdo que aprendeu e estando consciente daquilo

que compreendeu ele poderá elaborar textos sobre conteúdo explicito com as

próprias palavras e conforme o estudo mais detalhado sobre aquele determinado

assunto ocorre que o educando passa a ter uma visão mais crítica daquilo que

escreveu ou entendeu no passado, o que o motiva a procurar por mais respostas às

perguntas que surgem com o tempo (Kohl, 1992, p 81).

Kohl (1992) menciona que Vygotsky também escreveu textos relacionados com a

questão da emoção e afetividade, e um longo manuscrito cujo tema foi relacionado à

21

emoção foi publicado em 1984. Comentou muito sobre psicanálise, um tema

explorado por um de seus colaboradores A. R. Luria que estudou aspectos da

afetividade.

2.3. A teoria da afetividade de Wallon

Outro autor muito importante na discussão da afetividade em relação com o ensino e

aprendizagem é Henry Wallon, ele elabora uma teoria psicogenética para explicar a

sua visão sobre a afetividade no processo de desenvolvimento cognitivo do ser

humano.

No ponto de vista de Wallon, a construção do sujeito e do objeto com a qual ele

construirá seu conhecimento depende da alternância entre afetividade, ou seja, com

o modo como o indivíduo vai relacionar o objeto de estudo com o seu cotidiano,

discutindo ativamente com o professor, estabelecendo relações mais íntimas com o

professor, e a inteligência caracterizada pelo processo de cognição do aluno

(Dantas, 1992).

De acordo com Wallon na primeira etapa de desenvolvimento, que é correspondente

ao primeiro ano de vida do ser humano, o que predomina é a relação com o meio, a

afetividade com outros indivíduos, a parte da inteligência ainda não está explicita e o

22

bebê entende por meio de observação, e ainda não é evidenciada a linguagem

(Dantas, 1992, p- 35 a 44).

Pode-se dizer que de acordo com Almeida (1993), a afetividade vem antes da

formação de diversas sensações da criança, não somente com o pensamento mais

sincrético que possui no início de sua vida, mas também diversos outros tipos de

pensamentos que a criança possui possuem a afetividade totalmente presente.

A afetividade ajuda a criança a sair do subjetivismo, tornando-se mais objetiva no

que faz, tornando-se cada vez mais concentrada naquilo que faz conforme se

desenvolve.

Após algum tempo o ser humano desenvolve a linguagem, a criança passa a se

comunicar com outros adultos estabelecendo uma nova forma de se relacionar com

o meio em que vive. O ato da fala ainda é pouco desenvolvido aos dois anos de

idade, a criança ainda utiliza gestos para construir as frases, mas com o passar do

tempo a linguagem da criança se desenvolve e ela começa a elaborar o seu

pensamento de modo mais complexo.

O conteúdo teórico pode ampliar o conhecimento e a compreensão do professor

sobre novas condições de ensino que favoreçam a aprendizagem de alunos, tanto

de novos comportamentos, teorias e novos valores. Conforme avança sobre o

conhecimento da teoria psicogenética, discussões podem ser feitas a respeito do

entendimento da mesma a fim de aumentar a produtividade do ensino e da

aprendizagem. Assim o professor pode armazenar os meios aprendidos para colocar

em prática na sala de aula.

Mahoney (2005), diz que nesta teoria, Wallon menciona o professor como tendo

uma oportunidade de aprendizado de novos métodos a serem utilizados em sala de

aula para solucionar as diversas situações durante o ensino e aprendizagem durante

a gestão de sua aula.

Mahoney (2005), afirma que Wallon também menciona que a teoria ajuda o

professor a prever os acontecimentos de sua rotina, como as situações problema

que pode enfrentar em sala de aula assim como possibilita que o professor

questione tirando suas dúvidas sobre a prática da aula e até mesmo de conceitos

teóricos para melhor aproveitamento das aulas que aplicar aos discentes.

23

Para Mahoney (2005) na teoria psicogenética de Wallon, a integração é muito

importante para o desenvolvimento do indivíduo, e possui dois sentidos: Integração

organismo-meio e integração cognitivo-afetiva, afetivo-motora.

Esta teoria parte da interação genética da espécie com os fatores externos

provenientes do meio ambiente. Em seu foco de estudo, a interação da criança com

o meio.

As habilidades herdadas geneticamente são dependentes das condições do meio

em que a pessoa se encontra. As determinações genotípicas podem ser

influenciadas também por um fator social, com quem a criança se relaciona. O modo

como os pais e as outras pessoas se relacionam com aquela criança também

influencia nas habilidades que ela terá (Mahoney ; Ramalho, 2005).

Muitos podem reagir positivamente ou negativamente dependendo do que a criança

está acostumada a fazer, se for algo que os adultos não gostariam que ela

aprendesse, por exemplo, o ato de aprender a falar palavrões, talvez a criança

possa, parar de falar essas palavras ou então pode continuar a fazer para chamar

atenção.

Wallon enfatiza a questão do meio na formação do ser humano. O modo como o ser

humano reagirá a determinadas situações de afeto ou quaisquer que sejam as

situações pela qual passar, dependerá muito do meio. Uma vez que o meio molda a

personalidade humana.

Neste caso o fato do aluno vir a despertar o lado afetivo no professor ou vice e versa

também dependerá do meio em que eles se encontram, ou seja, da escola em geral.

Poderemos observar mudanças na relação de aprendizagem entre alunos e

professores de uma escola para outra, o grau de afetividade entre o discente e seu

aprendiz poderá variar também.

Ao explicar esta interação, Wallon menciona três conjuntos de acordo com Mahoney

; Ramalho, 2005:

O conjunto afetivo como sendo o grupo caracterizado pelas emoções humanas,

pelos sentimentos, o conjunto do ato motor refere-se ao deslocamento do indivíduo

ao reagir com determinadas emoções e situações e o conjunto cognitivo que é

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caracterizado pela obtenção de conhecimento através de transmissões da

informação necessária para adquiri-lo, ou seja, por meio de imagens, ou vídeos, ou

sons.

De certa forma, pode-se entender pelo que Wallon menciona que esta interação

afetiva cognitiva motora também está entrelaçada na interação com o meio, uma vez

que o indivíduo se desloca, e reage de certa forma aos estímulos que recebe tanto

do ambiente como das outras pessoas nele inseridas.

Ao receber a informação do professor é demonstrada a interação afetiva pelo modo

como o professor transmite o conhecimento, mediando os conceitos e conversando

com os alunos na sala de aula. O conjunto cognitivo será responsável por receber as

informações que o professor transmite para elaborar uma resposta e entender os

conceitos.

3.0 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Como o objetivo do presente trabalho foi analisar a questão da afetividade no

processo de ensino e aprendizagem segundo Henri Paul Hyacinthe Wallon, Jean

Piaget e Levi Semionovith Vigotski, optou-se pela pesquisa bibliográfica devido à

importância destes três autores na área da psicologia do desenvolvimento humano

bem como na sua relação afetiva e cognitiva.

Primeiramente para delinear o pensamento teórico deste trabalho pesquisamos

revistas na lista Qualis A1, na área de Educação e Psicologia, por se tratarem de

assuntos muito específicos as revistas da área de psicologia que não direcionavam

os assuntos abordados para a educação foram descartadas da pesquisa. A busca

foi realizada de acordo com a classificação da Capes (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), as palavras chave utilizadas foram:

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“Afetividade e educação”, “Afetividade no ensino”, “influências da afetividade no

ensino” entre outras.

Dentre algumas das revistas consideradas interessantes encontramos a revista:

“Psicologia: Reflexão e Crítica“ e alguns artigos foram retirados dela.

Outro local de pesquisa para encontrarmos a base teórica para este trabalho foi no

site da Universidade de São Paulo (USP), na área de dissertações e teses. Também

para este trabalho foi encontrado um livro chamado “Piaget, Vygotsky, Wallon:

teorias psicogenéticas em discussão”, que chamou a atenção para o estudo da

afetividade em relação com o desenvolvimento humano.

Para a análise de dados será realizada uma comparação das visões que cada um

dos autores possuem sobre a relação que a afetividade tem com o desenvolvimento

humano e o processo de ensino e aprendizagem discutindo cada comparação.

4.0 ANÁLISE E DISCUSSÂO

A partir do que apresentamos sobre as teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon, apesar

de cada um desses autores entenderem a afetividade de modo particular, podemos

observar algumas semelhanças entre essas diferentes teorias.

Quando Piaget menciona a sua idéia de cooperação, que entende que a

comunicação entre o professor e o aluno é importante para que o educando entenda

os conteúdos expostos durante a aula, isso guarda alguma semelhança com a teoria

de intercâmbio social de Vygotsky, que também atribui importância à comunicação

entre o professor e o aluno, que contém um componente afetivo pois o aluno ao

discutir com o professor se sente mais à vontade para expor suas ideias uma vez

que ambos participam e compreendem um ao outro no processo de ensino e

aprendizagem.

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A concepção das “faculdades mentais superiores”, de Vygotsky, cuja característica é

a atenção do aluno voltada para o que ele este fazendo, seu interesse aqui é voltado

para o objeto de estudo. Assim também é possível observar uma outra aproximação

com a idéia de Piaget abordada no parágrafo anterior pois, uma vez que o aluno

estabelece a relação de cooperação com o professor, discutindo o assunto exposto

em sala de aula, o seu interesse cresce, funcionando como um fator motivacional e

prendendo o interesse do estudante.

Pode-se perceber que a teoria piagetiana guarda certa semelhança com a visão de

Wallon sobre o aprendizado do aluno relacionado com o modo como o sujeito se

relaciona com o objeto de estudo e com o professor, estabelecendo contato,

discutindo sobre seus pontos de vista, questionando e conhecendo melhor o modo

de pensar do docente.

É possível encontrar aproximações entre as teorias de Wallon e de Vygotsky no que

diz respeito à cognição, que estaria diretamente ligada com a afetividade. Na

situação de sala de aula, quando o discente estabelece uma boa relação afetiva com

seu professor, discutindo e expondo suas idéias, isso construirá o conhecimento.

As teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon são muito complexas e exigem estudos

prolongados. De maneira ainda inicial, verificamos que entre essas teorias existem

grandes diferenças. Porém, podemos afirmar que esses três importantes autores da

Psicologia entendem que a cognição não está desligada da afetividade. Desse

modo, ao pensarmos as relações entre professor e aluno, o papel da afetividade não

pode ser desprezado. A afetividade, funcionando como um fator que propulsiona a

vontade de aprender permite que os alunos aprendam acima de tudo a entender o

que foi exposto em sala de aula, garantindo uma aprendizagem de qualidade e não

apenas memorização mecânica do conteúdo. Podemos concluir que o professor

deve aprofundar seus estudos sobre o tema da afetividade, para contribuir para a

construção do conhecimento.

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5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino em nosso país está prejudicado, possui muitas falhas e é necessário

encontrarmos meios de elimina-las, ou então, reduzi-las ao máximo. Sempre houve

contribuições por parte do processo de ensino-aprendizagem para a formação das

pessoas, pois é este processo que transforma o pensamento das pessoas fazendo

nascerem inovadoras ideias. É através das resoluções de problemas que o ser

humano desenvolve sua inteligência, ao pensar e usar o raciocínio descobre novos

meios de viver melhor, como é o caso de muitas descobertas que vivenciamos.

O ensino proporciona a muitas pessoas, o desenvolvimento de potenciais, potenciais

estes que permitiram e ainda permitem o avanço tecnológico e a melhoria de vida

dos indivíduos dando-lhes mais conforto. Porém o que se percebe muito nas escolas

é que o ensino é apenas transmitido e não entendido pelos estudantes. E para

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existir uma aprendizagem de fato é necessário que os alunos entendam os

conteúdos das diversas disciplinas e a relação que eles têm não somente um com o

outro, mas também com o cotidiano nos trabalhos que realiza. Refletir sobre a

afetividade pode auxiliar nesse processo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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