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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATISOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATIMESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
DAIRTON DA SILVA VIEIRAJANAINE CARDOSO ROCHA
ESPIRITUALIDADE NO CUIDADO HUMANIZADO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
TERESINA/PI2017
DAIRTON DA SILVA VIEIRAJANAINE CARDOSO ROCHA
ESPIRITUALIDADE NO CUIDADO HUMANIZADO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.
Orientador: Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira
TERESINA/PI2017
DAIRTON DA SILVA VIEIRAJANAINE CARDOSO ROCHA
ESPIRITUALIDADE NO CUIDADO HUMANIZADO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.
Orientador: Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira
Aprovada em: ___/___/2017
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________Edilson Gomes de Oliveira
Presidente (Orientador)
__________________________________________________Examinador 1
____________________________________________________Examinador 2
TERESINA/PI2017
RESUMO
A espiritualidade tem se tornando um tema de grande relevância à medida em que
estudos tem comprovado cada dia mais sua influência positiva para os pacientes
que necessitam de cuidados paliativos, que estão em situação de UTI. Para tanto, é
necessário entender o cuidado além da técnica, percebendo o paciente mais que um
ser biológico, é preciso dar um cuidado integral tornando a assistência digna a ponto
de tornar o cuidado algo efetivo. Este estudo objetivou determinar, baseado nas
produções cientificas na literatura brasileira disponível, como se vivencia a
espiritualidade na Unidade de Terapia Intensiva, além de avaliar como esses
aspectos repercutem em paciente, família e profissionais envolvidos neste processo.
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A questão utilizada para nortear o
trabalho foi: Quais as evidências científicas disponíveis sobre a espiritualidade e o cuidado ao paciente na Unidade de Terapia Intensiva? Para elaboração do
estudo foi realizada uma busca nas bases de dados em saúde. Selecionaram-se
estudos publicados no período de 2003 a 2016. Os descritores utilizados foram:
“Espiritualidade”, “Unidade de Terapia Intensiva”, “Cuidado”. Foram encontrados 46
artigos dos quais apenas 09 estavam em conformidade com os objetivos da
pesquisa. O estudo revelou que o paciente busca a religião como forma de
enfrentamento para sua doença. A família usufrui de maior confiança e aceitação
quando consegue exprimir através da fé suas perspectivas e alivia a ansiedade. Os
profissionais da equipe multiprofissional que atuam na UTI devem proporcionar o
cuidado de forma mais integral buscando favorecer a espiritualidade, além de
conhecer as várias formas de avaliação para uma assistência, de fato, humanizada.
Palavras chave: Espiritualidade. Unidade de Terapia Intensiva. Cuidado.
ABSTRACT
Spirituality has become a subject of great relevance as studies have increasingly proven their positive influence for patients who need palliative care, who are in an ICU situation. For this, it is necessary to understand the care beyond the technique, perceiving the patient more than a biological being, it is necessary to give an integral care rendering the care worthy to make the care something effective. This study aimed to determine, based on the scientific productions in the Brazilian literature available, how spirituality is experienced in the Intensive Care Unit, as well as to evaluate how these aspects affect the patient, family and professionals involved in this process. It is an integrative review of the literature. The question used to guide the work was: What scientific evidence is available about spirituality and patient care in the Intensive Care Unit? For the elaboration of the study a search in the health databases was carried out. We selected studies published in the period from 2003 to 2016. The descriptors used were: "Spirituality", "Intensive Care Unit", "Care". We found 46 articles of which only 09 were in accordance with the research objectives. The study revealed that the patient seeks religion as a way to cope with his illness. The family enjoys greater confidence and acceptance when it manages to express its perspectives through faith and relieves anxiety. The professionals of the multiprofessional team that work in the ICU should provide the care in a more integral way seeking to favor spirituality, besides knowing the various forms of evaluation for a care, in fact, humanized.
Keywords: Spirituality. Intensive care unit. Caution.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................10
2.1 Espiritualidade e seus aspectos históricos.......................................................10
2.2 Espiritualidade e sua relação com a saúde......................................................12
2.3 Especificidades no cuidado de pacientes de UTI.............................................15
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS...........................................................................17
4 RESULTADOS.......................................................................................................20
5 DISCUSSÃO...........................................................................................................22
5.1 Abordagem temática I – O significado da espiritualidade para o paciente na UTI..........................................................................................................................22
5.2 Abordagem temática II – O significado da espiritualidade para a família do paciente na UTI;.....................................................................................................24
5.3 Abordagem Temática III- A assistência espiritual proporcionada pelos profissionais da UTI................................................................................................26
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................33
REFERÊNCIAS.........................................................................................................35
7
1 INTRODUÇÃO
A espiritualidade tem se tornando um tema de grande relevância à medida em
que estudos tem comprovado cada dia mais sua influência positiva para os
pacientes que necessitam de cuidados paliativos, que estão em situação de
enfretamento de câncer ou qualquer outra doença terminal ou confinados em uma
UTI.
Gomes (2010) considera a espiritualidade como uma força dinâmica que se
move no interior dos indivíduos e os coloca a caminho para dar significado à sua
vida pessoal, sua história e sua realidade e pode estar relacionada a uma força
transcendental, a uma realidade e a Deus. Trata-se de um percurso para
compreender a si mesmo como ser humano ou para lidar com o próprio sofrimento.
Também pode representar uma forma de se transmitir a quem sofre a esperança de
continuar a viver e a lidar com a consciência da finitude.
Negligenciar a dimensão espiritual é como ignorar o ambiente social de um
paciente ou seu estado psicológico, e resulta em falha ao tratar a pessoa
“integralmente”. Os cientistas estão se tornando cada vez mais conscientes dos
caminhos biológicos pelos quais fatores sociais e psicológicos influenciam a saúde
física e a suscetibilidade às doenças, e influências similares podem ser logo
identificadas também por fatores espirituais (SAAD, 2010).
Para conceituar o termo Espiritualidade, é preciso diferenciá-lo de Religião.
Segundo Koenig (2012, p.5) a Religião é “um sistema de crenças e práticas
observado por uma comunidade, apoiado por rituais que reconhecem, idolatram,
comunicam-se ou aproximam-se do Sagrado, do Divino, de Deus, (culturas
ocidentais) da Verdade absoluta, da Realidade ou da nirvana (culturas orientais)”.
Ele ainda afirma que a religião tem como base escrituras e ensinamentos que
explicam o propósito do mundo o lugar do indivíduo nele, as responsabilidades uns
com os outros e o que acontece após a morte.
Já a Espiritualidade, segundo Goldim et.al. (2007), não é possuir fé específica
em uma determinada divindade, mas a capacidade de autoconsciência e de refletir
sobre si mesmo, e por possuir essa capacidade, o ser humano é um ser espiritual.
No Brasil, a maioria da população possui crenças religiosas e espirituais,
chegando a 90% a taxa de brasileiros que declaram ir a igrejas, cultos ou serviços
religiosos (SCHLEDER et al., 2013).
8
A UTI é um local marcado pela complexidade de cuidados, envolto de
certezas e incertezas acerca da situação de saúde/doença do paciente internado,
onde o paciente torna-se alheio a sua situação sociofamiliar (ABRÃO et al., 2014).
As Unidades de terapia intensiva (UTIs) destinam-se ao atendimento de pacientes
graves, com necessidades de assistência permanente e que correm o risco de
morrer. Esses locais são caracterizados, muitas vezes, como geradores de
sentimentos como o medo, bem como causadores de ansiedade e estresse no
paciente (SCHLEDER et al., 2013).
Mesmo sendo considerado este o melhor ambiente para recuperação dos
pacientes em estado crítico ou grave, o ambiente de UTI é visto como frio, agressivo
e traumatizante envolvendo o paciente, a família deste e também a equipe
multiprofissional. Neste sentido, vale ressaltar que a estrutura altamente
tecnologizada das unidades de terapia intensiva em muito favorecem a manutenção
das funções vitais e do equilíbrio fisiológico para a manutenção e sobrevida dos
pacientes (LUCENA, 2004).
Tais recursos tecnológicos conduzem os profissionais a ter ações e posturas
mecanizadas, fazendo-os esquecer que há um ser humano necessitando de trocas,
de comunicação, seja ela verbal ou não, direcionada com atitudes simples, como
uma palavra de conforto, um sorriso ou mesmo um apertar de mãos, o que pode
conferir sentido de segurança e confiança ao paciente.
Tendo em vista que o cenário que compõe a UTI é repleto de tecnologias
duras, surgem sempre preocupações sobre a questão da humanização. Geralmente,
as discussões sobre as práticas de desumanização na assistência estão associadas
às alusões ao convívio humano com alto desenvolvimento tecnológico, em que
ocorre predominância da máquina e dos dados objetivos encontrados por ela, em
detrimento dos procedimentos ligados ao cuidado direto aos usuários e da
subjetividade implicada nas relações humanas. Desse modo, a relação do ser
cuidado e de quem cuida é considerada eventualmente suplementar, dispensável ou
até mesmo, ausente (SANCHES et al., 2016).
A preocupação com todas essas questões relacionadas ao atendimento à
população, visando a melhoria na qualidade da assistência com um olhar humanista
aos pacientes, foi lançada em 2003, pelo Ministério da Saúde, a Política Nacional de
Humanização (PNH). A PNH propõe um atendimento de qualidade, articulando os
9
avanços tecnológicos com o acolhimento, promovendo a melhoria dos ambientes de
cuidado e das condições de trabalho dos profissionais (MELLO, 2016).
Para tanto, é necessário entender o cuidado além da técnica, percebendo o
paciente mais que um ser biológico, é preciso dar um cuidado integral tornando a
assistência digna a ponto de tornar-se efetivo o cuidado ao paciente. Portanto,
conhecer os sentimentos dos pacientes relacionados à sua permanência em UTI e
sua relação com a espiritualidade, torna-se relevante para os profissionais que lidam
com essas pessoas por haver uma contribuição de caráter reflexivo-humanístico
deles acerca de um cuidado integral e singular ao paciente (PENHA, SILVA;2012).
Na busca por respostas, está a aplicabilidade desta pesquisa, pois seria
importante que o profissional envolvido no cuidado em UTI conseguisse identificar
as necessidades espirituais do paciente e família para então iniciar o planejamento
de sua assistência, (re)pensar a assistência de uma forma ampliada, buscando
incluir a espiritualidade, como elemento inerente ao tratamento e inserindo os
familiares nesse contexto.
Dar assistência espiritual pode ser algo complexo, portanto, já ao se
identificar as necessidades espirituais e encaminhar aos líderes religiosos presentes
nos hospitais pode ser um primeiro passo à assistência individualizada e
humanizada desses familiares. Reconhecer a fé e a dimensão espiritual no processo
de recuperação e enfrentamento da doença formarão um novo paradigma social e
cultural na assistência de enfermagem (RIBEIRO, 2011).
O estudo foi motivado pela observação durante vivências na área hospitalar e
em docência na supervisão de estágios não somente em setores de UTI como nos
demais setores de prestação de cuidados. Verificou-se o oferecimento de uma
assistência dicotomizada aos pacientes sem a preocupação devida com a dimensão
espiritual em um momento em que mais se necessita de um apoio nesta área como
uma forma de avanço e sucesso no tratamento da doença em curso. Outra
motivação foi a vivência cristã dos próprios autores deste trabalho ao considerarem
a espiritualidade como um ponto essencial em suas vidas.
Este estudo objetivou determinar, baseado nas produções cientificas na
literatura brasileira disponível, como se vivencia a espiritualidade na Unidade de
Terapia Intensiva, além de avaliar como esses aspectos repercutem em paciente,
família e profissionais envolvidos neste processo.
10
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Espiritualidade e seus aspectos históricos
A religião sempre fez parte da humanidade e mesmo assim, por muitos anos
enfrentou um grande preconceito, pois é comum que as pessoas sintam receio em
dizer que pertencem a uma doutrina, tendo como um dos principais motivos ser alvo
de piadas e gozações. (GERONASSO; COELHO, 2012).
Embora a medicina, desde sua remota história, intuísse a interação dos
fatores espirituais na saúde, somente agora eles estão sendo estudados
cientificamente e com seriedade.
Pesquisas históricas que foram realizadas nesses últimos anos mostram as
relações entre religião e ciência ao longo da história. Desmistificaram mitos
existentes e ainda persistentes na atualidade, onde mostrou que suas relações
foram ainda mais intensas e mais frutíferas do que se imaginava. Descobriu-se que
a igreja católica, dentre todas as instituições, foi a que mais promoveu ciência ao
longo de toda a história. (KOENING, 2005; MOREIRA-ALMEIDA, 2009).
Antes do século IV os doentes que não contavam com a assistência de
médicos particulares, família ou amigos encontravam-se desamparados, pois não
havia hospitais como se conhece atualmente. Em 370 A.D, cristãos ortodoxos
fundaram o primeiro hospital em Caesarea, atual Turquia. Nos 1.200 anos seguintes
a igreja católica construiu e equipou hospitais por toda a Inglaterra e a Europa, e por
boa parte desse tempo comandou as principais universidades, no treinamento e
credenciamento médico. Esse controle diminuiu apenas no século XVI, em
detrimento do governo. Após o Iluminismo sua influência decaiu drasticamente e
quase desapareceu em decorrência da Revolução Francesa, sobretudo até os dias
atuais existem hospitais ligado às instituições religiosas. (KOENIG, 2005).
O termo Espiritualidade é um conceito moderno utilizado a partir do século
XIX como resultado da flexibilidade do termo Spiritualitas, emergente nos textos
filosóficos a partir do século XII. Contudo, aparentemente a espiritualidade pareceu
possuir maior relevância nas correntes filosóficas a partir do século VXI, quando as
linhas espiritualistas estavam em ascensão (GERONASSO; COELHO, 2012).
11
No Brasil, a primeira publicação científica, de artigos que tratam do tema
espiritualidade, data de 1947 (SÁ; PEREIRA, 2007), porém ela começou a se
intensificar apenas a partir da década de 80 e vêm evoluindo, em quantidade e
qualidade, desde então. Apesar de ser difícil mensurar e quantificar o real impacto
de experiências religiosas e espirituais, quando bem desenvolvida a espiritualidade é
apontada como fator de proteção para sofrimentos físicos e mentais (SAAD;
MEDEIROS, 2008; STOPPA; MOREIRA-ALMEIDA, 2008).
Neste movimento histórico, Moreira-Almeida (2009) identifica ainda que as
formas de expressão religiosa assumiram basicamente duas grandes vertentes: a
expressão explícita, encontrada na manifestação Clerical através das vestes, textos
e orações programadas e a expressão implícita, cujas formas de manifestação estão
opacamente significadas na icnografia, gestos ritualísticos, entre outros.
O formalismo religioso instituiu a vida espiritual, uma vez que esta era regida
por um corpus doutrinário formalmente estabelecido. Esta estrutura foi
particularmente forte do século VIII ao século X, quando a essência cultural dos
reinos bárbaros definitivamente ascenderam sobre o então Império Romano
(PENHA; SILVA, 2012).
Por outro lado, boa parte do conhecimento originário da filosofia clássica
ocidental permanecera implícitos na cultura de povos denominados primitivos, que
buscavam na natureza uma justificativa para a essência da vida e o destino dos
homens e das coisas (MOREIRA-ALMEIDA, 2009).
Na sociedade contemporânea é possível observar essas influências históricas
nitidamente. Ao rebuscar a literatura, em conversas formais ou informais sobre a
essência da vida, crenças religiosas, enfim, encontramos discursos paralelos que se
complementam, mas com terminologias diferenciadas. Alguns citam Deus – termo
amplamente divulgado por correntes estabelecidas a partir de um corpus doutrinário
– e outros se remetem a Força Maior/Poder Maior – cuja origem filosófica
espiritualista e em alguns pensadores existencialistas é característico (SÁ;
PEREIRA, 2007).
Perpassar brevemente pela história da espiritualidade nos permite ainda
atentar para a filosofia mais contemporânea, onde a busca pela reaproximação do
Homem com as questões da espiritualidade tem sido intensificadas. A crença em um
Deus imanente no universo é questionada e a construção de um Deus presente é
foco das discussões. Filósofos existencialistas como Kierkegaard, Buber e Tillich.
12
Outro grande pensador, escamoteado pelo pensamento moderno por rejeitar o
dogmatismo religioso, mas que nunca negou a espiritualidade humana, foi Friederick
Nietzscheb (PENHA; SILVA, 2012).
2.2 Espiritualidade e sua relação com a saúde
Uma das transformações culturais mais importantes do século XXI, segundo
Boff (2001), seria a volta da dimensão espiritual da vida humana, já que o ser
humano não é só corpo nem apenas psique. O ser humano é também espírito,
aquele momento da consciência no qual ele se sente parcela do todo, ligado e
religado a todas as coisas, e é próprio do espírito colocar questões sobre nossa
origem e nosso destino e se perguntar nosso lugar e nossa missão no conjunto dos
seres do universo.
Conforme o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2012), o termo
Espiritualidade é uma flexão da palavra Espiritual (espiritual + I + dade) e data no
Latim Moderno a partir do século XV e assume conceito de a qualidade do que é
espiritual; característica ou qualidade do que tem ou revela intensa atividade
religiosa ou mística; tudo o que tem por objetivo a vida espiritual.
Do ponto de vista legal, a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso VII,
garante, “nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis
e militares de internação coletiva”. Desta forma, a assistência religiosa está
assegurada nos hospitais pela Carta Magna (SANTO, 2013).
A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde do Conselho Nacional de Saúde
assegura ao paciente o respeito “aos seus valores éticos, culturais e religiosos”
(artigo 4º, inciso III, d), bem como o “recebimento de visita de religiosos de qualquer
credo, sem que isso acarrete mudança da rotina de tratamento e do estabelecimento
e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos outros” (artigo 4º, inciso XIV).
Este dispositivo legal, portanto, tanto garante a assistência religiosa como faz
ressalvas em relação à segurança e à manutenção da rotina do serviço hospitalar.
Orientação mais específica encontra-se na Lei nº 9.982/2000 que, em seu
artigo 1º, diz: “Aos religiosos de todas as confissões assegura-se o acesso aos
hospitais […] para dar atendimento religioso aos internados […]”. Assim, o paciente
tem direito legal a assistência religiosa, e aos religiosos foi concedida a garantia de
acesso aos hospitais para a respectiva prestação.
13
Embora o Código de Ética Médica brasileiro não trate explicitamente do
assunto, a Resolução CFM 1.805/2006 assegura o direito ético do paciente a
assistência espiritual e considera dever do médico facilitá-la. O artigo 2º diz: “O
doente continuará a receber todos os cuidados necessários para aliviar os sintomas
que levam ao sofrimento, assegurada a assistência integral, o conforto físico,
psíquico, social e espiritual, inclusive assegurando-lhe o direito da alta hospitalar”.
Um grupo de psicólogos, após pesquisarem as diferenças e semelhanças
conceituais sobre Espiritualidade e Religiosidade, advertem que deve se ter cautela
para não polarizar os conceitos, ou seja, tratar a Religião como ruim e a
Espiritualidade como algo bom e vice-versa, haja vistas que os limites éticos que
permeiam estas discussões são demasiadamente sutis e os profissionais, de um
modo geral, carecem de desenvolver cautela ao lidarem com estas questões,
despindo-se de preconceitos religiosos (LACERDA; COSTENARO, 2013)
Por afetar as respostas humanas em relação às doenças, a espiritualidade
tem relevância na prestação de cuidados aos pacientes e seus familiares (BORBA,
2009). Para realizar esses cuidados, o autoconhecimento, uma das expressões da
espiritualidade, proporciona ao cuidador que se coloque no lugar do cliente/familiar e
busque recursos dentro de si para cuidar do outro (DEZORZI, 2006). A
espiritualidade possui uma ligação intrínseca com os atos do cuidador, estando
presente na coerência entre as ações, pensamentos e compaixão pelo ser que se
cuida (SÁ, 2009).
A comprovação da utilização de aspectos espirituais e religiosos como
suporte terapêutico e determinação de desfechos positivos em diversas doenças
tem constituído emblemático desafio para a ciência médica. Em se considerando as
limitações éticas e de método, demonstra-se o quão dificultoso se faz mensurar e
quantificar o impacto de experiências religiosas e espirituais pelos métodos
científicos tradicionais (GUIMARÃES; AVEZUM, 2007).
Fleck (2003, p. 446) afirma que “a espiritualidade e a religiosidade são
totalmente distintas e opostas e ainda se sobressaem no âmbito da ciência e tende a
rebaixar tudo aquilo que não possa ser mensurada vista e controlada pela tecnologia
e razão”. Desta forma o fato de se acreditar em um “Deus”, de seguir uma doutrina
religiosa poderá influenciar indiretamente no quadro de melhora do câncer ou
qualquer outra enfermidade, não poderá ser usada como método terapêutico, no
14
entanto o fato de acreditar que vai melhorar o ajudar a enfrentara a patologia com
positividade.
Existem evidências quantitativas de forte associação estatística entre o
envolvimento religioso e a melhoria de situações de doença, prevenção de
complicações e bem-estar. Esta associação está correlacionada com o esforço a
comportamentos saudáveis, alívio do estresse, inspiração de emoções positivas,
estimulação do sistema endócrino e imunológico, incentivos a crenças e estilos de
personalidade adequados ao enfrentamento de situações de crise e de
fortalecimento de redes sociais de apoio mútuo (VASCONCELOS, 2006).
A influência da religiosidade tem demonstrado um grande impacto sobre a
saúde física, definindo-se como possível fator de prevenção ao desenvolvimento de
doenças na população sadia e eventual redução de óbito ou impacto de diversas
doenças. As evidências têm se direcionado de forma mais firme e consistente para o
cenário de prevenção; estudos independentes, em sua maioria de grande número de
voluntários e representativos da população, determinaram que a prática regular de
atividades religiosas tem reduzido o risco de óbito em cerca de 30% e, após ajustes
para fatores de confusão, em até 25% (PENHA; SILVA, 2012)
Há relação entre envolvimento espiritual e vários aspectos da saúde mental.
Pessoas religiosas são fisicamente mais sadias, têm estilos de vida mais saudáveis
e precisam menos assistência de saúde. Existe uma associação entre
espiritualidade e saúde que provavelmente é válida e possivelmente causal. É
plenamente reconhecido que a saúde de indivíduos é determinada pela interação de
fatores físicos, mentais, sociais e espirituais (SAAD; MASIERO; BATTISTELLA,
2010).
De acordo com a literatura, durante doenças crônicas ou terminais, pacientes
e familiares frequentemente se apoiam em crenças religiosas ou espirituais como
forma de encarar as dificuldades, encontrar conforto, esperança e força.
Enfatiza-se ainda a importância da capelania no preparo do paciente.
Historicamente o termo "capelania" foi criado na França, em 1700. Quando havia
guerra o rei costumava mandar para os acampamentos militares, uma relíquia
dentro de um oratório, que recebia o nome de "Capela". Essa capela ficava sob a
responsabilidade do sacerdote, conselheiro dos militares. Quando a guerra acabava
a capela voltava para o reino, ainda sob a responsabilidade do sacerdote, que
continuava como líder espiritual do rei, e assim ficou conhecido por capelão. Com o
15
tempo, o serviço de capelania se estendeu aos parlamentos, colégios, cemitérios e
prisões. (ISMAEL, 2006)
Ao abordar Espiritualidade/Religiosidade e Saúde é importante trazer também
à pesquisa o conceito de capelania hospitalar, pois é uma prestação de serviço
religioso em hospitais da rede pública ou privada, garantido por lei federal e leis
estaduais, como previsto na Constituição Brasileira de 1988 (SAAD; MASIERO;
BATTISTELLA, 2010).
A espiritualidade é algo pessoal mas que ao mesmo tempo envolve as
pessoas que estão ao redor do indivíduo e é importância estudar como ela influencia
a vida dos pacientes na enfermidade física ou mental, trazendo uma discussão de
como essa questão é abordada e quais são benefícios e malefícios dela na atenção
em saúde em geral (GOLDIM et.al., 2007)
2.3 Especificidades no cuidado de pacientes de UTI
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um setor com várias particularidades,
pois representa um ambiente de alta complexidade dentro do hospital, dotada de
monitorização contínua, e admite pacientes potencialmente graves ou
descompensados de um ou mais sistemas orgânicos.
Fornece ainda suporte e tratamento intensivo, monitorização contínua,
vigilância nas 24 horas, assistência multidisciplinar integrais, equipamentos
específicos e área física e aparelhagem específicas, capazes de manter a fisiologia
vital, bem como a sobrevida do paciente além de tecnologias destinadas ao
diagnóstico e tratamento terapêutico, sendo necessária atenção contínua da equipe
aos pacientes (CHEREGATTI; AMORIM, 2010).
O paciente de UTI é especial, pois se encontra fragilizado por sua
enfermidade ou por seu estado físico incapacitante, seja momentâneo ou
permanente. Encontram-se acamados, debilitados, em um ambiente estranho, com
pessoas que não conhecem e sem a presença constante da família. Muitos
pacientes estão entubados e a maioria necessita de aparelhos especiais.
Caracteriza-se pela necessidade de cuidados de uma equipe multiprofissional
dentro do sistema hospitalar prestando uma assistência aos pacientes
proporcionando cuidado direto e intensivo, humanizado, de qualidade e livre de
riscos. Em algumas instituições, conta-se com a presença de capelães, com uma
16
visão mais transcendental do ser dentro de uma assistência, apresentando uma
visão mais holística do cuidado ao ser humano (STUMM et al, 2008).
O cuidado na UTI requer não só um cuidado técnico, voltado apenas para a
dimensão biológica, mas um cuidado integral com os pacientes, tratando-os como
seres humanos, com respeito, afetividade e dedicação, consolando-os quando
necessário.
Nesse sentido os profissionais devem se atentar para as questões
concernentes à dimensão espiritual que podem ser executadas no sentido de
mostrar a importância do compreender e respeitar as crenças do ser que necessita
de cuidados e, sobretudo, não colocar as próprias convicções se sobrepondo às do
paciente, evitando severas complicações éticas na vinculação entre espiritualidade e
religiosidade (PINTO et al, 2008).
A espiritualidade pode ser um aspecto importante para quem vivencia uma
doença grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou está próximo da morte, visto
que auxilia no enfrentamento e na aceitação da dor e do sofrimento, ao imprimir
algum significado a eles. Um bom relacionamento com Deus ou a crença em um
poder superior permite ao doente e sua família o entendimento e a aceitação do
sofrimento humano, independente da crença religiosa professada (SOUSA,
CHAVES, SILVA, 2006).
17
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, método de pesquisa de
abordagem ampla considerando os diferentes tipos de revisão, por permitir a
inclusão de trabalhos experimentais e não experimentais. Desta forma, promove a
síntese da evidência de múltiplos estudos científicos publicados e possibilita
conclusões gerais a respeito de um tema, além de contribuir para o desenvolvimento
do conhecimento (BUBLITZ, et al, 2012; SOUSA, SILVA, CARVALHO,2010).
Para elaboração desta revisão integrativa adotaram-se seis etapas, sendo
elas: 1) definição do tema em forma de revisão; 2) seleção da amostra, descrevendo
os critérios de inclusão e exclusão; 3) caraterização dos estudos construção de um
quadro; 4) análise dos resultados; 5) interpretação dos resultados encontrados 6)
revisão e síntese do conhecimento (MENDES et al., 2008).
Diante do objetivo deste estudo formulou-se a seguinte questão que norteou
esta investigação: Quais as evidências científicas disponíveis sobre a espiritualidade e o cuidado ao paciente na Unidade de Terapia Intensiva? Para
a condução e elaboração do estudo foi realizada uma busca nas seguintes bases de
dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Base de Dados de Enfermagem (BDENF), IBECS (Índice Bibliográfico Espanhol em
Ciências da Saúde) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scientific Eletronic
Library Online (SciELO).
Para a primeira etapa realizou-se a escolha da temática de pesquisa e a
delimitação da questão que norteou a revisão integrativa. Na segunda etapa
elegeram-se os critérios de inclusão e exclusão. O processo de seleção foi
realizada, inicialmente, pela leitura dos títulos e resumos, com base nos critérios de
seleção.
Para compor a amostra do estudo selecionaram-se estudos primários que
abordassem a temática espiritualidade e o cuidado ao paciente em Unidades de
Terapia Intensiva; estudos disponíveis na íntegra no idioma português; livre acesso
on-line; publicados no período de 2003 a 2016. Como critérios de exclusão foram
considerados os estudos em duplicidade, em formatos de editoriais, revisões,
estudos de caso, estudos epidemiológicos, dissertações, teses e comentários.
18
A busca foi integrada por meio do operador booleano AND, utilizando-se a
combinação dos descritores controlados obtidos nos Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS) em português: “Espiritualidade”, “Unidade de Terapia Intensiva”,
“Cuidado”.
Na terceira etapa os dados obtidos foram organizados em variáveis como
título do artigo, base de dados, autor, ano de publicação e periódico. Conforme
exposto, foram encontrados 46 artigos entre os anos de 2003 a 2016 nos bancos de
dados, depois da aplicação dos critérios de seleção 13 artigos foram pré-
selecionados, após análise dos resumos, resultados e conclusões selecionou 10
artigos em conformidade com os objetivos da pesquisa para compor a amostra
desse estudo.
Na quarta etapa foi realizada a avaliação dos estudos incluídos na revisão
integrativa, que foram analisados criticamente e elencou-se três abordagens
temáticas para a discussão. Já na quinta etapa foi realizada a interpretação dos
resultados. Nesta etapa, ocorreu à discussão dos resultados da pesquisa, o que
exigiu a comparação dos estudos realizados com o conhecimento teórico.
Na sexta e última etapa foi apresentada a revisão/síntese do conhecimento.
Essa etapa consistiu na elaboração do documento que deve conter as etapas
percorridas pelo revisor para o alcance dos resultados. Cabe ressaltar que a quinta e
sexta etapas foram cumpridas ao longo do corpo textual.
A Figura 01 apresenta o fluxograma utilizado na estratégia para a
identificação e seleção dos estudos que compõem a amostra desta pesquisa
realizada nas diferentes bases de dados com o mesmo conjunto de descritores,
segundo descrição metodológica.
Figura 01: Fluxograma de busca e seleção dos artigos, Teresina, 2017
19
Fonte: Pesquisa elaborada pelos autores, 2017
Quanto aos aspectos éticos, foram respeitados e considerados os direitos
autorais dos artigos utilizados neste estudo.
20
4 RESULTADOS
A partir da leitura na íntegra dos artigos analisados após filtração sobre a luz
dos critérios de inclusão e exclusão, elaborou-se um quadro sinóptico (Quadro 1)
que detalha as informações resgatadas nos artigos selecionados.
Quadro 1 – Relação dos artigos selecionados segundo título, autor, revista ou periódico, ano de publicação e base de dados
Título Autor Revista Ano Fonte
Vida e morte na UTI: a ética no fio da navalha
PESSINI, L. Revita Bioé. (Impressa)
2016 LILACS
Vivências de mães de bebês prematuros no contexto da espiritualidade
VIEIRA, J. M. F. Rev. pesqui. cuid. fundam.
2015 BDENF
Ser enfermeiro em Unidade de Terapia Intensiva: a espiritualidade no cuidado de Enfermagem
SANTOS, N. D. Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Tese)
2014 LILACS
Espiritualidade na iminência da morte: estratégia adotada para humanizar o cuidar em enfermagem
BRITO, F. M. et al;
Rev. enferm. UERJ 2013 LILACS
21
Espiritualidade dos familiares de pacientes internados em unidade de terapia intensiva
SCHLEDER, L. P.;
Acta paul. enferm; 2013 LILACS
Percepções maternas sobre o nascimento de um filho prematuro e cuidados após a alta
ANJOS, L. S. et al.;
Rev Bras Enferm 2012 BDENF
Sentimentos paternos relacionados à hospitalização do filho em unidade de terapia intensiva neonatal
ROCHA, L. Rev. enferm. UFSM 2012 BDENF
Rede e apoio social de pais de prematuros hospitalizados na unidade de terapia intensiva neonatal
SANTOS, L. M., Rev. pesqui. cuid. fundam. (Online);
2012 BDENF
A espiritualidade no cuidado de si para profissionais de enfermagem em terapia intensiva
DEZORZI, L. W.; CROSSETTI, M.G. O.
Rev Lat Am Enfermagem;
2008 LILACS
Cuidando da família de pacientes em situação de terminalidade internados na unidade de terapia intensiva
SOARES, M. Rev. bras. ter. intensiva;
2007 LILACS
22
5 DISCUSSÃO
Após leituras sucessivas dos estudos selecionados para a presente revisão e
o agrupamento de informações, foi possível construir três abordagens temáticas:
Abordagem temática I – O significado da espiritualidade para o paciente na UTI;
Abordagem temática II – O significado da espiritualidade para a família do paciente
na UTI; Abordagem temática III – A assistência espiritual proporcionada pelos
profissionais da UTI.
5.1 Abordagem temática I – O significado da espiritualidade para o paciente na UTI
Frequentemente as pessoas buscam a religião quando experimentam
situações limites, como doenças, vícios, desemprego, desarmonia familiar, dentre
outros. No sofrimento mental, ao se depararem com as dificuldades de acesso aos
serviços de saúde, ou por não encontrarem nestes as respostas esperadas,
recorrem à religiosidade em busca de apoio para enfrentarem o sofrimento em que
vivem (DALGALARRONDO, 2008)
A cada dia tem-se observado que pacientes em situações críticas de
adoecimento, como doenças terminais ou crônicas, comumente se voltem para sua
espiritualidade não só encontrando nela apoio para lidar com a situação mas
também para ter mais qualidade de vida (GUERRERO et al., 2011). A utilização da
espiritualidade como uma forma estratégica de enfrentamento é construída pela
atribuição de significado a seu processo saúde-doença, em busca de sobrevivência,
com apego à fé, para minimizar seu sofrimento ou para obter esperança de cura
durante o tratamento (BONAGUIDI et al., 2010).
A espiritualidade e a religiosidade têm se mostrado como importantes
ferramentas utilizadas no enfrentamento da dor, principalmente da dor crônica. O
benefício da espiritualidade e da religiosidade na diminuição da percepção dolorosa
pode estar relacionado com uma maior eficiência e interatividade do sistema
hipotálamo-pituitária-adrenal, em resposta ao estímulo doloroso e à liberação de
23
mediadores importantes (gaba, serotonina, dopamina) no sistema nervoso central
(LAGO-RIZZARDI; TEIXEIRA; SIQUEIRA, 2010).
Sob esse prisma, a espiritualidade é um recurso de enfrentamento importante,
diante de situações consideradas difíceis. No caso de pacientes sob cuidados
paliativos ou em Unidade de Terapia Intensiva, ela se configura como um caminho
para que possam lidar com o sofrimento, sem angústia, reduzindo a ansiedade de
longos dias internados na UTI. Nesse sentido, pode funcionar como um manto, um
palium, para que os pacientes com doenças terminais possam se sentir mais
amados, cobertos pelo manto da acolhida, e buscar na fé ou em algo transcendental
a melhoria de sua qualidade de sua vida (EVANGELISTA et al., 2016).
O paciente pode buscar a espiritualidade como forma de enfrentamento de
doenças, com a finalidade de minimizar o sofrimento decorrente das dificuldades
encontradas ou para obter maior esperança de cura com o tratamento (GUERRERO
et al., 2011).
Cumpre assinalar que as crenças religiosas e espirituais e a realização de
práticas espirituais como meditação e oração, por exemplo, podem reduzir a
ansiedade e o estresse causados pela doença terminal, por proporcionarem o
relaxamento da mente desses pacientes (PERES et al., 2007).
A espiritualidade presente no cuidado com o indivíduo internado não invade
sua opção, mas ajuda-o a ter menos sofrimento, maior segurança e aceitação dos
momentos difíceis, contribuindo para que tanto ele quanto seus familiares tenham
melhor qualidade de vida (SILVEIRA et al., 2005).
No cuidado terapêutico, pacientes e familiares devem ser respeitados em sua
individualidade, seus direitos e valores. O paciente precisa ser reconhecido como
um ser integrante de uma família, por isso algumas considerações e cuidados
devem ser centrados nela, propiciando, assim, um clima acolhedor, humanizado,
espiritualizado e de proximidade.
Sinsem e Crossetti (2004) ressaltam que a espiritualidade, a fé, a espera de
um milagre e a crença numa força maior se faz presente no mundo da UTI. O
reconhecimento da espiritualidade como parte do paciente é revelada como
essência do ser.
Para Cintra et al. (2003), pacientes com atitudes psicológicas que revelam
otimismo, vontade de vencer, podem responder mais positivamente que os outros à
terapia. Portanto, os profissionais da área de enfermagem precisam aprender novas
24
formas de desenvolver seu conhecimento interior, a intuição, a prudência, o bom
senso, a sensatez e a disciplina, que são atitudes que os fazem crescer como seres
humanos e, assim, podem contribuir com o bem-estar dos outros, em especial
daqueles que requerem seus cuidados.
Silveira et al. (2005) mostram em seu estudo que a espiritualidade no homem
não se relaciona apenas a momentos específicos de sua vida, por exemplo, o
momento de morrer, mas interfere e envolve um posicionamento e uma reflexão
pessoal sobre o próprio significado da vida.
A natureza crítica dos pacientes internados em UTI pode levá-los a um
processo de sensação maior de vulnerabilidade, isolamento e alienação, que
facultam ainda mais a necessidade de assistência integral, no que tange aos
cuidados espirituais. A abordagem da espiritualidade, enquanto área de assistência
da enfermagem pode ocasionar benefícios diretos aos pacientes críticos (CORRÊA,
2013).
5.2 Abordagem temática II – O significado da espiritualidade para a família do paciente na UTI;
As crenças existenciais, espirituais ou religiosas, contribuem para que os
eventos da vida sejam interpretados positivamente e enfrentados de forma mais
eficaz. Ao participar de uma comunidade religiosa, os cuidadores passam a receber
variadas formas de apoio, sejam elas espirituais, emocionais e sociais (ROCHA;
VIEIRA; SENA, 2008).
As práticas espirituais e religiosas servem não apenas como suporte nas
situações enfrentadas, mas abre uma possibilidade para o diálogo sobre a
espiritualidade no ambiente hospitalar. Foi possível, também, refletir que, em
situações de morte, a dimensão religiosa do familiar contribui para a elaboração do
luto e a aceitação deste contexto, bem como de sua própria finitude, diminuindo a
angústia e a ansiedade (VÉRAS; VIEIRA; MORAIS, 2010).
O familiar, diante do adoecimento de um ente, passa a conviver com
situações de sofrimento e desequilíbrio e é neste sentido que a espiritualidade
emerge, dando suporte para o enfrentamento do problema (PIZZIGNACCO; MELLO;
LIMA, 2011). Mesmo sendo difícil cuidar de um familiar doente, o cuidado passa a
ser parte da dimensão espiritual, dando a sensação de conformidade com as
25
mudanças que o próprio cuidado lhe propicia. Além disso, este cuidado, mesmo
apreendido como sobrecarregado, gera no cuidador um sentimento de estar
cumprindo com sua obrigação, tornando-o gratificante (BRONDANI et al., 2010).
Religião e espiritualidade podem estar presentes no momento de uma
situação de hospitalização em uma UTI em razão do medo do desconhecido e do
desfecho. Os mecanismos utilizados no enfrentamento podem se manifestar por
meio de gestos, palavras ou acessórios religiosos, tais como: o terço e a bíblia. No
entanto, surgem dúvidas quanto ao aspecto positivo ou negativo utilizado nesse
processo, ou seja, familiares usam a religião/espiritualidade como forma de apoio ou
a culpa pelo que está acontecendo? (GUERRERO et al., 2011)
O autor descreve também que o processo de enfrentamento ou coping pode
ser descrito como um processo situacional, um conjunto de estratégias utilizadas por
pessoas para se adaptarem a circunstâncias adversas ou estressantes.
A resposta ao estresse é qualquer resposta envolvendo uma reação
emocional ou comportamental espontânea. O objetivo do coping constitui- se na
intenção de uma resposta, geralmente, orientada para a redução do estresse
(PANZINI; BANDEIRA, 2005).
O coping religioso/espiritual (CRE) é definido como sendo o uso de crenças e
comportamentos religiosos que buscam facilitar a solução de problemas, prevenir ou
aliviar as consequências emocionais negativas. Quatro pressupostos sustentam
esse conceito: existência de ameaça, dano ou desafio; avaliação que a pessoa faz
da situação; recursos disponíveis para lidar com o estresse e responsabilidade ao
lidar com determinada experiência (MELLAGI, 2009).
A qualidade de vida dos indivíduos é afetada diretamente pelo coping
religioso espiritual de modo positivo (CREP) ou negativo (CREN). Quando abrange
estratégias que proporcionem efeito benéfico e positivo ao praticante, pode envolver
uma expressão de espiritualidade, segurança no relacionamento com Deus e
conexão espiritual com outros e, consequentemente, resultar em melhor qualidade
de vida. Ao passo que o CREN reflete em estratégias que geram consequências
prejudiciais ao individuo, como por exemplo, questionar a existência, amor ou atos
de Deus, delegar a Deus a resolução dos problemas, sentir insatisfação ou
descontentamento em relação a Deus ou frequentadores e membros de instituição
religiosa, redefinir o estressor como punição divina ou forças do mal, trazendo como
26
consequência índices mais baixos de qualidade de vida (PANZINI; BANDEIRA,
2005).
Em relação às práticas espirituais, uma que merece destaque é a oração.
Mesmo quando não plenamente atendidos em suas preces, os cuidadores são
gratos pelas graças concedidas por Deus (PAULA; NASCIMENTO; ROCHA, 2009).
5.3 Abordagem Temática III- A assistência espiritual proporcionada pelos profissionais da UTI.
Os profissionais da área da saúde, com embasamento científico e
individualizado, deveriam preocupar-se com a inserção real da assistência espiritual
na rotina de cuidados, permitindo que as discussões acadêmicas incrementem a
clínica, objetivando o bem estar daqueles que nesse momento necessitam de
cuidado, lembrando que, nesse contexto, a família é parte integrante e importante na
recuperação do paciente (SPÍNDOLA; DO VALLE; BELLO, 2010)
A importância do reconhecimento da espiritualidade como estratégia de
enfrentamento e a identificação das necessidades do paciente favorecem que os
profissionais de saúde da UTI possam planejar uma assistência de qualidade e
atender o paciente de forma integral (GUERRERO et al., 2011).
Ressalte-se, no entanto, que embora o atendimento espiritual seja um recurso
terapêutico de grande relevância na assistência a esses pacientes, sua realização
permanece relegada pelos profissionais de saúde, devido à falta de preparo e à
dificuldade de atender às necessidades espirituais do paciente, o que expressa a
carência de conhecimento e informações a respeito do tema (LAGO-RIZZARDI;
TEIXEIRA; SIQUEIRA, 2010). Isso significa que novas investigações a respeito da
temática devem ser feitas, no sentido de contribuir para a construção de
conhecimentos sobre os cuidados paliativos e a espiritualidade de modo a gerar
subsídios para que os profissionais de saúde possam se sentir mais seguros para
atender o paciente terminal.
Uma clarificação do conceito de espiritualidade é necessária e poderá ajudar
os profissionais da Saúde a reconhecer quais os aspectos dessa dimensão são
importantes para abordagem durante a consulta do paciente em cuidados paliativos,
o que permite uma assistência com enfoque na espiritualidade que seja mais
abrangente e efetiva, no sentido de atender às necessidades espirituais do paciente.
27
No entanto, para que se tenha um atendimento espiritual de qualidade, é necessário
também considerar os valores e as crenças pessoais dos próprios profissionais de
saúde, uma vez que essas influenciam o cuidado prestado; no entanto, as vontades
e os desejos dos pacientes necessitam ser atendidos, independentemente das
crenças pessoais dos profissionais (PILGER et al., 2014).
O autor corrobora ainda que cumpre assinalar que a assistência oferecida aos
pacientes graves está pautada na influência das próprias crenças espirituais e
religiosas dos profissionais de saúde e também na valorização da espiritualidade e
religiosidade dos pacientes. A utilização de crenças religiosas por esses
profissionais os auxilia diante das dificuldades encontradas durante a assistência a
pacientes graves e influencia fortemente a percepção e a atitude que têm em
relação ao paciente. Assim, torna-se necessário conhecer as diversas
compreensões relacionadas a doença e morte que são compartilhadas por diversas
religiões, para que possam ter sensibilidade durante o atendimento espiritual do
paciente.
Silveira et al. (2009) comenta como é fundamental, em um processo de
interação, o compromisso emocional dos profissionais com aqueles que requerem
ajuda para serem cuidados e como é importante o enfermeiro desenvolver a
capacidade de enfrentar diferentes situações em um ambiente como a UTI, o que
contribui para que toda a equipe de enfermagem, os pacientes e familiares trilhem
caminhos que possam reduzir o sofrimento.
Lucena e Crossetti (2004) afirmam que cuidar na UTI desvela-se por envolver
a expressividade do ser humano, por meio da presença, da preocupação, da
solidariedade e da afetividade de quem cuida para quem é cuidado. O cultivo da
espiritualidade na equipe de profissionais da UTI deve servir como apoio e direção
para o preparo da equipe diante do sofrimento e morte do paciente e, ao mesmo
tempo, servir de subsídio para o familiar que está sofrendo pela perda do ente
querido.
A humanização da equipe de enfermagem no tocante ao cuidado terapêutico
e à relação interpessoal da equipe por meio de segurança, conforto, respeito,
compreensão, paciência, além de preparo espiritual, físico e mental, podem ser
sugestões para implementar o cuidado espiritual no ambiente de trabalho.
Silveira et al. (2009) confirmam que, num envolvimento com o outro,
precisamos entender a necessidade do reconhecimento e da aceitação de nós
28
mesmos como pessoas distintas e termos a capacidade de perceber os outros como
únicos, o que requer conhecimento, introspecção, autodisciplina, franqueza e
liberdade para nos revelarmos como seres humanos dotados de emoções e
sentimentos.
Os estudos ao longo destes anos revelaram algumas importantes
informações quanto a este assunto. Um deles indica o uso de escalas que avaliam o
cuidado da espiritualidade dos pacientes. Percebe-se também através dos estudos,
a necessidade de os profissionais se apropriarem desses instrumentos para
avaliação do cuidado da espiritualidade, o que permitiria aos profissionais novas
atitudes com relação ao paciente e familiares, além de contribuir para o bom
andamento do serviço enquanto profissionais.
Uma das questões fundamentais para o desenvolvimento de escalas para
avaliar espiritualidade é que, partindo da perspectiva de avaliação da qualidade de
vida (QV), ter uma crença profunda religiosa ou não, poderia dar um significado
transcendental à vida e às atividades do dia-a-dia, funcionando como uma estratégia
para conseguir lidar com o sofrimento humano e os dilemas existenciais (ROCHA;
FLECK, 2011).
As principais escalas existentes sobre o assunto seguem neste quadro:
IDENTIFICAÇÃO AUTORES CARACTERÍSTICAS World Health Organization Quality of Life Spirituality, Religiousness and Personal Beliefs (WHOQOL-SRPB)
ROCHA e FLECK, (2011); FLECK e SKEVINGTON (2007); TAUILY et al., (2012); MANDHOUJ et al., (2012).
Instrumento transcultural autoaplicável (OMS) avalia a religiosidade, a espiritualidade e as crenças pessoais relacionadas à QV usando oito facetas: conexão com um ser ou força espiritual, paz interior, serenidade, harmonia, sentido da vida, admiração, totalidade, integração, forca espiritual, fé e esperança, otimismo
Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-Spiritual Well-Being Scale (FACIT-SP)
MONOD et al., (2012); BEKELMAN et al., (2011); CANADA (2008); GUAY et al (2011); 2007 PANZINI et al., (2007)
Instrumento composto por 12 itens e três subdomínios de bem-estar espiritual, utiliza-se de uma escala do tipo Likert de cinco pontos
29
para medir a espiritualidade relatada pelo paciente.
Duke Religion Index (DUKE DUREL)
VALCANTI et al., (2012); LUCCHETTI et al., (2012); DUARTE e WANDERLEY (2011); TAUILY et al., (2012).
Escala de cinco itens, que captura três principais dimensões da religiosidade: as organizacionais, não organizacional e religiosidade intrínseca.
Escala de Saúde Espiritual (SHS)
DHAR et al., (2011). Instrumento indiano estruturado em três domínios: auto evolução; auto realização e transcendência.
SWB Escala de Bem Estar Espiritual
GOW, (2011); SHORKEY, UEBEL, e WINDSOR, (2008); CHAVES et al., (2011);
Medida geral de bem-estar espiritual não associada a conceitos teológicos. Escala de 20 itens tipo Likert. Utiliza uma dimensão religiosa e outra existencial.
Escala de Auto Avaliação de Espiritualidade (SSRS)
GONÇALVES e PILLON (2009); SHORKEY, UEBEL e WINDSOR, (2008)
Avalia a espiritualidade para indivíduos na recuperação de álcool drogas. Escala de 5 pontos do tipo Likert.
Ironson-Woods Spirituality/ Religiousness Index (IW)
BEKELMAN et al., (2011)
Utiliza de quatro fatores para mensurar a espiritualidade: fé em Deus, o sentido de paz, o comportamento religioso, e vista compassiva do outro.
Escala de Angústia Espiritual(SDS)
KU, KUO e YAO, (2010); SHORKEY, UEBEL e WINDSOR, (2008).
Composta por quatro domínios: relações com o auto, relações com os outros, as relações com Deus, e atitude para a morte.
Escala de coping religioso/ espiritual (CRE)
MARTINS et al., (2012); VITORINO e VIANNA , (2012); PANZINI e BANDEIRA, (2007)
Formada por aspectos do coping religioso/espiritual positivo e negativo. Avalia o enfrentamento do indivíduo.
Escala de Perspectiva Espiritual (SPS)
VÉLEZ et al., (2005); DAILEY et al., (2007); SUK et al., (2012)
Composta por 10 itens onde a espiritualidade é referida como um
30
conhecimento de si mesmo, um sentido de conexão com um ser supremo
Escala de Integração Espiritual (Reidhead, versão SI-31)
ROGERS et al., (2010); Utilizada na saúde mental e composta por 41 itens e questionário do tipo Likert.
Escala Diário de Experiências Espirituais (DES )
CURRIER et al., (2012); SHORKEY, UEBEL e WINDSOR, (2008); KALKSTEIN e TOWER, (2008).
Mensura a relação da pessoa com o transcendente através de Deus, divino, beleza da criação. Utiliza uma escala do tipo Likert de seis pontos.
Escala de enfrentamento breve (Brief COPE)
MARVIN, et al., (2011). Mensura as estratégias de enfrentamento religioso/espiritual de formatação breve.
Religious Coping Index BORRAS et al., (2007). Escala que utiliza o enfrentamento religioso/espiritual
Questionário de espiritualidade e religiosidade (Sp Reuk)
BÜSSING, MATTHIESSEN e OSTERMANN, (2005).
Foi projetado para diferenciar espiritualidade, religiosidade, existencialismo e práticas filosóficas
Escala de Envolvimento e Crenças Espirituais (SIBS )
ATKINSON et al., (2004).
Autoaplicável, do tipo Likert, 26 itens que medem quatro dimensões: externa, interna, existencial e humildade
Escala de Espiritualidade de Pinto e Pais Ribeiro
CHAVES et al., (2011). Constituída por cinco itens centrados em duas dimensões associadas: a vertical à crença e a horizontal à esperança/otimismo. Escala do tipo Likert
INSPIRIT-R VERONEZ et al., (2011); SHORKEY , UEBEL e WINDSOR, (2008)
Questiona o interlocutor sobre a percepção quanto a existência de Deus.
Inventário de Saúde Espiritual (SHI)
SHORKEY , UEBEL e WINDSOR, (2008).
Escala tipo Likert. Utilizada para três dimensões: Conexão com o poder superior; harmonia de vida; sorte
31
e destino. Índice de Orientação para Religiosidade e Espiritualidade
SHORKEY, UEBEL e WINDSOR, (2008).
Escala baseada na Escala intrínseca /extrínseca da Feagin. Questiona quantas vezes o indivíduo participou de encontros religiosos e espirituais. Tipo Likert.
Escala de Espiritualidade
SHORKEY, UEBEL e WINDSOR, (2008).
Escala de Espiritualidade para medir a espiritualidade de uma perspectiva cultural afro americana. Tipo Likert.
Escala de Tratamento de Espiritualidade/ religiosidade
LILLIS et al, (2007) Utilizada em pacientes com abuso de substâncias.
Escala de Sentido da Vida bem estar espiritual. (MILS-SP)
FERRER et al., (2012) Aborda perspectiva de vida, propósito, paz. Utiliza um questionário de sentido de vida.
Fonte: MELLO, A. O. Escalas para avaliação do cuidado da espiritualidade na saúde: revisão
integrativa da literatura. Porto Alegre, 2013.
Tais instrumentos propiciam, por atuarem de forma generalista, que pessoas
que não se considerem religiosas ou espiritualizadas respondam aos questionários
de forma imparcial, qualificando-os ainda mais para serem utilizados pelos
indivíduos no geral.
Alguns estudos mostraram que a relação das crenças pessoais com a
dimensão não material da vida é altamente complexo e que, muitas vezes, podem
trazer confusão na mensuração dessas dimensões trazendo à tona a necessidade
de estudos longitudinais para melhor elucidação dessas questões (ROCHA; FLECK,
2011).
A crescente demanda por estudos sobre espiritualidade comprova uma
mudança de paradigma nos cuidados de saúde através de uma abordagem mais
holística e menos focada na ótica fisiologicista.
Na avaliação da espiritualidade do paciente, deve-se buscar conhecer as
necessidades espirituais, e qual o impacto que esta causa sobre os resultados e
decisões médicas. Esta avaliação pode ser realizada por meio de questões abertas,
que abordam o conhecimento acerca das práticas espirituais familiares, as
32
mudanças quanto as experiências religiosas e a crença espiritual atual (KOENIG,
2012).
É importante a equipe de enfermagem atender também às necessidades
espirituais dos pacientes, desse modo, deveriam direcionar seus esforços para o
desenvolvimento de atitudes de cuidado pautados no sentido espiritual. Os
pacientes, quando hospitalizados, podem estar isolados de sua comunidade
religiosa e, como às necessidades espirituais normalmente surgem durante estes
momentos, os profissionais de saúde necessitam reconhecer, encaminhar e suprir
tais necessidades (CORRÊA, 2013).
34
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados evidenciaram que os artigos examinados sobre Espiritualidade
e o cuidado ao paciente na UTI mostraram ser a dimensão espiritual um
componente indispensável para a assistência aos pacientes nesse setor tão
complexo por promover melhoria do bem-estar, mediante o alívio da dor, além de
produzir esperança de recuperação.
Diante da temática proposta, observou-se a espiritualidade como sendo uma
importante dimensão na vida das pessoas. Mesmo diante da complexidade do
assunto, percebeu-se um crescente reconhecimento e atenção por parte dos
pesquisadores e constantes esforços para integrá-la na prática clínica.
A vivência da espiritualidade favorece o cuidado humanizado, holístico,
acolhedor e a compreensão do paciente, familiares e profissionais, para o
enfrentamento da doença, das possibilidades terapêuticas e da terminalidade além
de produzir sentimentos como amor, perdão, minimizando ou eliminando
ressentimentos, mágoas,culpa e medo.
É necessário o desenvolvimento de novas pesquisas, principalmente no
âmbito nacional, para se respaldar o atendimento espiritual por parte dos
profissionais que assistem os pacientes na UTI.
Quando se aborda a dimensão do cuidado, principalmente pela equipe
multiprofissional que atua na UTI, percebe-se o quanto se necessita de profissionais
capacitados, que valorizem a prática humanizada e que prezem pela assistência
integral aos pacientes e familiares. Esta assistência quando prestada em UTI exige
do profissional, como mostra nos resultados desta pesquisa, atenção especial, pois
os pacientes utilizam de estratégias de enfrentamento relacionadas à espiritualidade
para dar sentido a sua vida.
Faz-se necessário permitir a expressão da religiosidade dos pacientes, por
meio da realização de ritos religiosos, maior apego a sua religião, com orações,
cânticos, necessidade da presença de líderes espirituais como pastores e padres.
Outro ponto notado pelos estudos em questão foi que os familiares utilizam
estratégias positivas de espiritualidade durante o processo de hospitalização de um
familiar em UTI sendo que a maioria acredita que a espiritualidade pode ajudar a
enfrentar o estresse da hospitalização e que estes buscam também nos profissionais
o apoio para que exerçam com liberdade suas religiosidades.
35
A equipe multiprofissional da UTI também deve compor-se de ações de
sensibilidade, aceitação e sintonia para saber quando, como e com quem deve
abordar e incentivar o lado espiritual e religioso, uma vez que a forma em que o
paciente enxerga a espiritualidade e a religiosidade, quando expostos a particulares
situações, pode interferir de forma positiva ou negativa no prognostico do paciente.
Sendo assim, o estudo espera criar e incentivar também a possibilidade de
novas pesquisas que salientam a indispensabilidade de mais capacitação de
profissionais com preparação para lidar com assuntos como
religiosidade/espiritualidade e UTI.
36
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37
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