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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Educação Física RICARDO MANOEL DE OLIVEIRA ZAMBELLI VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ACERCA DAS ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL EM CAMPINAS-SP CAMPINAS 2019

VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

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Page 1: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação Física

RICARDO MANOEL DE OLIVEIRA ZAMBELLI

VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE

PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ACERCA DAS

ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL EM CAMPINAS-SP

CAMPINAS

2019

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RICARDO MANOEL DE OLIVEIRA ZAMBELLI

VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE

PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ACERCA DAS

ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL EM CAMPINAS-SP

Dissertação apresentada à Faculdade de Educação

Física da Universidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a obtenção do

título de Mestre em EDUCAÇÃO FÍSICA, na Área

de EDUCAÇÃO FÍSICA E SOCIEDADE.

Orientadora: PROF.ª DRA. ELAINE PRODÓCIMO

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO

ALUNO RICARDO MANOEL DE OLIVEIRA

ZAMBELLI E ORIENTADA PELA PROF.ª DRA.

ELAINE PRODÓCIMO.

CAMPINAS

2019

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3

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4

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________

Prof.ª Dra. Elaine Prodócimo

Orientadora

__________________________________

Prof.ª Dra. Olívia Cristina Ferreira Ribeiro

Membro Titular

__________________________________

Prof.ª Dra. Eliana Ayoub

Membro Titular

ATA DA DEFESA COM AS RESPECTIVAS

ASSINATURAS DOS MEMBROS ENCONTRA-SE NO

SIGA/SISTEMA DE FLUXO DE DISSERTAÇÃO/TESE E

NA SECRETARIA DO PROGRAMA DA UNIDADE.

Page 5: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

5

DEDICATÓRIA

Às amorinhas doces, brincam felizes e alegram o nosso pomar;

Às estrelas brilhantes, iluminam os céus e nos fazem sonhar;

Aos encontros de cada dia, esperança, paz, luz e sabedoria.

Page 6: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

6

AGRADECIMENTOS

Primeiro, agradeço a Deus por iluminar meus passos nessa caminhada e a Nossa

Senhora Aparecida por mais essa graça alcançada.

A minha família e amigos/as, fonte de vida, força e mansidão, pelo suporte nesses

tempos corridos, com muito carinho e compreensão.

A companheira amada, com toda a alegria espalhada pela casa, por escrever essa

história comigo, com abraços apertados e cheios de sorrisos.

A inspiração para os meus dias, elo professor-estudante, palavras e movimentos soltos

pela escola, pensamentos errantes.

A orientadora Elaine Prodócimo, pela dedicação em compartilhar conhecimentos e

experiências ao longo de toda a minha formação.

Page 7: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

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RESUMO

A ampliação da jornada escolar é um tema em destaque para a educação básica

brasileira, haja vista o crescente número de Escolas de Tempo Integral (ETIs) em todas

as regiões do país. Na esteira do Plano Nacional de Educação (PNE), para o decênio

2014-2024, a Prefeitura de Campinas criou, em 2014, o Projeto Piloto ―Escola de

Educação Integral – EEI‖, implantado em seis escolas da rede pública municipal de

ensino fundamental. O presente estudo buscou compreender como a violência escolar é

percebida e problematizada pelos/as professores/as de Educação Física em seus

diferentes contextos de atuação no cotidiano escolar das ETIs. A pesquisa de natureza

qualitativa teve como fonte entrevistas semiestruturadas com quatro professoras e dois

professores de Educação Física, sendo um/a voluntário/a de cada ETI. As conversas

foram gravadas e posteriormente transcritas na íntegra. As informações foram

analisadas a partir do método de Análise de Conteúdo. Entre os resultados encontrados,

destacam-se as diferentes perspectivas dos/as professores/as acerca dos conceitos de

violência e violência escolar; os relatos de casos, os contextos e os aspectos que

possivelmente influenciam a incidência desse fenômeno nas ETIs; as relações de

convivência entre os membros das comunidades escolares; as linhas de convergência

entre a ampliação do tempo de permanência dos/as estudantes nas escolas e o aumento

dos casos de violência; e as ações pedagógicas e os projetos desenvolvidos nessas

instituições de ensino para lidar com a violência escolar. As tensões e contradições

apresentadas no estudo retratam a realidade de grande parte das escolas públicas

brasileiras, sejam elas de tempo parcial ou integral.

Palavras-chave: Escola de Tempo Integral, Educação Física Escolar, Violência

Escolar.

Page 8: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

8

ABSTRACT

The extension of the school day is a prominent theme for Brazilian basic education,

with a view to the growing number of full time schools in all regions of the country. In

the wake of the National Education Plan, for the 2014-2024 decade, a Campinas city

hall created in 2014 the Pilot Project ―School of Integral Education‖, implemented in

six schools of the municipal public elementary school. The present study sought to

understand how school violence is perceived and problematized by Physical Education

teachers in their different contexts of action in the full time schools. The qualitative

research had as source semi-structured interviews with four female and two male

Physical Education teachers, being one volunteer from each full time school. The

conversations were recorded and later transcribed in full. The information was analyzed

using the Content Analysis method. Among the results found, highlighted the different

perspectives of teachers on the concepts of violence and school violence; the cases,

contexts and aspects that possibly influence the incidence of this phenomenon in full

time school; coexistence relations between the members of the school communities;

lines of convergence between the increase of students' length of stay in schools and the

increase in cases of violence; and pedagogical actions and projects subject to teaching

practices to deal with school violence. The reflections and contradictions presented in

the study, they portray the reality of most Brazilian public schools, whether part time or

full time.

Key words: Full Time School, School Physical Education, School Violence.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Infográfico Atlas da Violência 2018..................................................... 35

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Comparação entre o aumento de tempo e a educação integral............ 21

Page 11: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

EEI Escola de Educação Integral

ETI Escola de Tempo Integral

EMEF Escola Municipal de Educação Fundamental

FCM Faculdade de Ciências Médicas

FE Faculdade de Educação

FEF Faculdade de Educação Física

PMC Prefeitura Municipal de Campinas

RMEC Rede Municipal de Ensino de Campinas

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

Apresentação.................................................................................................... 14

Introdução........................................................................................................ 19

1. Metodologia................................................................................................ 27

Caracterização dos/as professores/as........................................................... 31

2. Tensões e contradições............................................................................. 34

2.1. Perspectivas sobre a violência e a violência escolar

Violência.......................................................................................... 34

Violência escolar.............................................................................. 38

2.2. Manifestações da violência escolar nas ETIs

Casos, contextos e possíveis influências.......................................... 44

Relações de convivência.................................................................. 53

Linhas de convergência.................................................................... 63

2.3. Estratégias para lidar com a violência escolar nas ETIs

Ações pedagógicas e projetos das escolas....................................... 67

3. Considerações Finais................................................................................. 76

Referências...................................................................................................... 79

Apêndice I: Termo de consentimento livre e esclarecido............................... 84

Apêndice II: Carta de autorização para realização da pesquisa...................... 86

Page 13: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

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Bola de gude, bola de meia.

Há um menino, há um moleque

Orando sempre no meu coração

Toda vez que o adulto balança

Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente

O sol bem quente lá no meu quintal

Toda vez que a bruxa me assombra

O menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que

Eu acredito que não deixarão de existir

Amizade, palavra, respeito

Caráter, bondade, alegria e amor

Pois não posso, não devo

Não quero viver como toda essa gente insiste em viver

Não posso aceitar sossegado

Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude

O solidário não quer solidão

Toda vez que a tristeza me

Alcança o menino me dá a mão.

Fernando Brant, Milton Nascimento.

Page 14: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

14

APRESENTAÇÃO

No alto da Torre do Castelo1 observo a Rosa dos Ventos, instrumento de

navegação utilizado para auxiliar a localização de determinado corpo ou objeto em

relação a outro. Entre diversos caminhos, direções e sentidos, escolhas importantes me

trouxeram aqui. E quem é o sujeito que sou?

Primeiro rumo ao norte e agradeço a Deus pelo dom da vida, sigo na

caminhada com fé, esperança e amor. Mais adiante, nessa mesma direção, encontro a

minha família, onde sou neto, filho, sobrinho, primo, padrinho, irmão, companheiro e

amigo. Conversamos alto, rimos com carinho, lembramos nossa infância e nos

abraçamos sempre. E o menino que ora no meu coração, também é curioso, sonha e

resiste.

Nascido e criado na periferia de Campinas, eu tive a oportunidade de

estudar, cantar, tocar, brincar, jogar, nadar e lutar ao abrigo das asas de uma grande

guerreira, obrigado mãe! Anos mais tarde, incentivado pela experiência de ensinar

Karate em um projeto social na escola pública, escolhi cursar Educação Física e avistei

novos caminhos na Universidade Estadual de Campinas (FEF-Unicamp).

Em minha trajetória acadêmica e profissional, colaborei nos projetos de

extensão em Lutas (Escolinha de Lutas e Karate-FEF), participei dos grupos de estudo e

pesquisa sobre violências (GEPEVs), Educação Física escolar (EscolaR) e Escolas de

Tempo Integral (ETI). Em meio a esse cenário, estudei a relação entre a violência

escolar e a prática de Lutas na escola. Trabalhei em clubes e academias, mas encontrei

na escola o meu espaço para atuar. Hoje, me reconheço como um professor-estudante

no processo de ensino e aprendizado, na construção e reconstrução do conhecimento, do

pensar certo, da curiosidade crítica que me motiva a compreender outras perspectivas

acerca do fenômeno da violência escolar.

A questão inicial — Quem é o sujeito que sou? — aponta para um

pensamento que me acompanha há algum tempo. Essa reflexão, de certa forma,

aproxima as forças que entrecruzam a minha existência e as relações de poder às quais

1 A ―Torre do Castelo‖ é um dos patrimônios históricos de Campinas. Com 27 metros de altura e

capacidade para 250 mil litros de água, o ―Castelo d‘água‖ foi construído na década de 1930 para

abastecer os bairros na região norte da cidade. As seis janelas do mirante proporcionam uma visão em

360 graus do município.

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estou submetido. Ao inferir que o significado de uma palavra não está nela própria,

entendo que a ação de me apresentar, manifestar minhas ideias e convicções ou expor

meus sentimentos, por exemplo, também não se encerra em mim, está sempre em

relação com o outro. Trata-se de uma ação extremamente complexa em que,

dependendo do contexto em que estou inserido ou das pessoas com quem me relaciono,

são atribuídas diferentes atitudes. E isso está ligado à ideia de normalidade, ou seja, do

que se espera de mim em relação ao lugar que ocupo.

Portanto, falar de mim compreende falar da minha origem afrodescendente,

minha família, minha crença religiosa, meu estado civil, minhas experiências na

Universidade Estadual de Campinas onde cursei a graduação e a pós-graduação, a

pesquisa que desenvolvo na área de Educação Física e Sociedade, a profissão de

professor, a classe social menos favorecida a qual pertenço, os trabalhadores, os

partidos e os políticos que me representam, entre tantas outras infinitas variáveis às

quais estou sujeitado. E, ao me identificar como sujeito, entendo que estou sempre em

relação com o outro e que o exercício de poder consiste em conduzir condutas, as

minhas ações sobre as ações dos outros e as ações dos outros sobre as minhas ações.

Como uma teia que nos captura de diversas formas e, independente dos caminhos que

escolhemos trilhar, sempre estaremos conectados uns aos outros.

Caminhos submetidos ao acesso e às oportunidades, caminhos que podem

ou não ser trilhados, escolhas que dependem do direcionamento e da influência do

outro. Refletindo sobre esse ponto, outro questionamento me ocorre — seria possível

mapear os caminhos, decifrar as escolhas, descobrir aquilo que faz com que

determinado sujeito pense de determinada forma, o que o torna quem ele é? Pensando

na minha trajetória acadêmica e profissional, por que escolhi Licenciatura em Educação

Física? Por que cursar a pós-graduação? O que me faz querer estudar a violência

escolar? O que me motiva a trabalhar em uma Escola de Tempo Integral? Em uma

breve analogia com a Matemática, me parece uma complexa soma de vetores difícil de

ser resolvida, pois cada vetor não se encerra em si mesmo, é como se fosse o vetor

resultante de uma soma anterior.

Nessa caminhada de professor-estudante, escolhi estudar as perspectivas de

outros/as professores/as de Educação Física sobre a violência escolar nas Escolas de

Tempo Integral, pois busco compreender como esse fenômeno é percebido e

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problematizado em suas práticas pedagógicas, nos diferentes contextos do cotidiano

escolar. Nessa pesquisa, os dados foram construídos por meio de entrevistas

semiestruturadas, e os discursos pedagógicos chamam a atenção para as diversas formas

como a violência escolar se manifesta nas ETIs, em relação à sua estrutura, a

implementação do projeto e as relações sociais entre os sujeitos da comunidade escolar.

Eis o desafio, conhecer e interpretar esses discursos pedagógicos, entender o contexto

em que eles estão inseridos, decifrar as forças que os atravessam e perceber as relações

de poder que existem dentro e fora do ambiente escolar.

Devaneios sobre uma ampulheta

Ampulheta ou relógio de areia é um dos instrumentos mais antigos para

medir uma fração de tempo. Constituída por duas âmbulas cônicas transparentes que se

comunicam por um pequeno orifício no vértice, certa quantidade de areia passa

lentamente de um compartimento para o outro.

Em seu diário, o dramaturgo francês Jules Renard (1864-1910) usou como

figura de linguagem o movimento da areia na ampulheta para expressar o jogo entre a

razão e a emoção, ―O amor mata a inteligência. O cérebro faz de ampulheta com o

coração. Um só se enche para esvaziar o outro‖. Para o autor, o cérebro se esvazia a

medida que o coração se enche, matando portanto a inteligência. Nessa parte da

apresentação, utilizarei a imagem da ampulheta para ilustrar algumas reflexões,

devaneios a partir de/sobre um instrumento de controle com características específicas,

constituído por uma dinâmica marcada por disputas e finalidades bem delineadas.

Comecemos pelas extremidades. Duas circunferências de diâmetro amplo,

que se alternam constantemente nas posições de topo e base. Imagine que o topo seja o

―início‖ para o movimento da areia, melhor dizendo, para milhares de partículas

originadas dos mais variados minerais por meio de longos processos de fragmentação

das rochas, por ação do vento, da água ou da erosão do solo. Diante dessa diversidade,

note que os grânulos começam suas jornadas em lugares diferentes. Alguns estão mais

próximos do orifício, enquanto outros iniciam de um ponto mais afastado. Parte deles

segue pelo centro, mais próximos do vértice, já outros percorrem o caminho pelas

periferias. E ainda, mais rente ao vidro, há uma parcela que interrompe a trajetória e

Page 17: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

17

deixa a parede empoeirada. Perceba também que, mesmo com uma porta de entrada

ampla, o universo das areias é infinitamente maior do que a quantidade de ampulhetas

disponíveis. Considerando a capacidade de carga que cada uma delas pode suportar,

existe um limite, uma quantidade ideal de areia para que o instrumento funcione

―perfeitamente‖.

Olhemos agora para a outra extremidade, a base como ponto de chegada das

areias, o ―final‖ do percurso. Conforme o tempo passa, as partículas se estreitam para

passar pelo orifício no vértice e se amontoam na âmbula inferior. A disputa por um

lugar no chão da ampulheta é constante, a pressão aumenta e novos arranjos são

estabelecidos, mas não o suficiente para romper a estrutura de vidro. O movimento das

areias perde força e estagna. Para reiniciar o movimento das areias, o recurso pós-trajeto

é a reviravolta na ampulheta, geralmente motivada por forças externas. Dessa forma, a

ação continuada torna o movimento e a disputa constantes.

Vamos ao ponto central, o vértice, o devaneio. Primeiro, entendo que ele

seja um dos elementos estruturais para que o instrumento possa cumprir com sua

função, a de marcar uma fração de tempo. Ao estreitar a passagem das areias, o pequeno

orifício normaliza o ritmo da descida e assujeita cada partícula ao único caminho

existente. E quais são as forças que forjam esse canal? O tensionamento dessa estrutura

decorre de (macro) influências externas? O que molda essas ampolas? O que

conseguimos observar no rearranjo das areias ao se relacionarem e se friccionarem

constantemente nessa estrutura? Uma ampulheta maior representa uma cópia integral da

estrutura comum? Existem outras possibilidades de movimento para que essas areias

deixem outras marcas no tempo?

Por fim, muito distante de uma escrita conclusiva e cada vez mais capturado

pelo movimento incessante do eu-areia, reflito se inserido no giro constante da minha

ampulheta seria possível compreender, com certa nitidez, o que se passa na ampulheta

do outro?

A partir da fundamentação teórica retratada na introdução, apresentamos

assuntos pertinentes ao estudo, como o contexto histórico da implementação das ETIs

no Brasil e no Município de Campinas-SP e os conceitos sobre violência e violência

escolar, que são retomados ao longo do texto. Ainda, justificamos a relevância dessa

pesquisa e estabelecemos seu objetivo. No primeiro capítulo delineamos a metodologia

Page 18: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

18

de pesquisa empregada e caracterizamos os/as professores/as entrevistados/as. No

segundo capítulo, discutimos os resultados obtidos a partir dessas entrevistas, os dados

são apresentados de acordo com as categorias e subcategorias analisadas. Para

concluirmos a dissertação, trazemos a síntese das ideias aqui apresentadas, além de

reflexões sobre a possibilidade de novas pesquisas na área.

Page 19: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

19

INTRODUÇÃO

A ampliação de tempos, espaços e oportunidades educativas é um tema

relevante no contexto político-pedagógico brasileiro, visto o crescente número de

escolas que se organizam para atuar como Escolas de Tempo Integral (ETI). Em todas

as regiões do país, Estados e Municípios buscam implementar políticas educacionais

para atender à Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprovou o Plano

Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2014-2024. A meta número 6 do PNE

estabelece a oferta de educação em tempo integral, no mínimo, em 50% das escolas

públicas de forma a atender, pelo menos, 25% dos/as estudantes da Educação Básica

(BRASIL, 2014).

O debate em torno da educação integral no Brasil tem como referência o

movimento liberal reformador da Escola Nova, do início do século XX. A corrente

pedagógica escolanovista relacionava a reformulação da escola com a valorização da

atividade ou experiência em sua prática cotidiana. Nesse sentido, os movimentos que a

formaram tinham como base o entendimento da educação como vida, e não como

preparação para a vida (CAVALIERE, 2002). O movimento escolanovista teve grande

influência na educação brasileira por meio de educadores e intelectuais liderados por

Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, intitulados por Afrânio

Peixoto como os ―Três Cardeais da Educação Brasileira‖ (LEMME, 2004).

De acordo com Cavalieri (2010), a defesa de uma escola com funções

ampliadas, visível nas reformas dos anos 1920, se aprofundou entre os intelectuais

reformistas. Em 1932, 26 intelectuais escreveram o Manifesto dos Pioneiros da

Educação Nova, documento intitulado ―A reconstrução educacional no Brasil, ao povo e

ao governo‖ que propunha a reforma educacional no país. Segundo a autora, a ideia de

educação integral presente no manifesto é a do direito do indivíduo a uma educação

pública que alcançasse diversas dimensões de sua formação.

Ações como a ampliação da jornada escolar e da duração do ano letivo,

além da organização de escolas-classe e escolas-parque estavam presentes nos textos de

Anísio Teixeira desde 1930. Em 1950, com a criação do Centro Educacional Carneiro

Ribeiro em Salvador, essas ideias se concretizaram (CAVALIERE, 2010). Ainda, em

Page 20: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

20

consonância com os pensamentos de Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro criou os Centros

Integrados de Educação Pública (CIEP) no Rio de Janeiro, nos anos 1980.

Nesse período, a discussão sobre a educação básica pública foi ampliada e

refletiu na Constituição Federal de 1988; Lei n°. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto

da Criança e do Adolescente – ECA); Lei n°. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB). No tocante a escola de tempo

integral, a Lei n°. 11.494, de 20 de junho de 2007 (Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação –

FUNDEB) regulamenta a distribuição e a aplicação de recursos financeiros para cada

tipo de estabelecimento de ensino; o Decreto n°. 7.083, de 27 de janeiro de 2010

(Programa Mais Educação – PME) trata da ampliação do tempo de permanência dos/as

estudantes na escola, mediante oferta de educação básica em tempo integral; e a Lei

Federal nº. 13.005, de 25 de junho de 2014 (Plano Nacional da Educação – PNE)

estabelece metas para a implementação de ETIs.

Nessa esteira, a Prefeitura Municipal de Campinas (PMC) instituiu por meio

do Decreto Nº 18.242, de 24 de Janeiro de 2014 e da Resolução 05/2014, de 10 de

Março de 2014 o Projeto Piloto das ―Escolas de Educação Integral – EEI2‖, implantado

inicialmente em duas escolas da rede e, posteriormente, em mais quatro, no total de seis

escolas participantes. Nesse documento, a concepção de Educação Integral propõe que o

aumento da jornada escolar represente a ampliação de oportunidades e situações de

aprendizado significativas, considerando o sujeito em sua condição multidimensional:

Apenas o tempo qualificado, que articula atividades educativas numa

dinâmica interdisciplinar, que considera os diversos espaços como

igualmente educativos, pode efetivamente contribuir para a formação

integral do aluno, para a superação da fragmentação e do

estreitamento curricular e da lógica educativa demarcada por espaços

físicos e tempos delimitados rigidamente (CAMPINAS, 2014 p.8).

A estrutura educacional apresentada no projeto aponta para reflexões

necessárias quanto à prática pedagógica, no que diz respeito à criação de projetos, aulas,

estratégias e formas de avaliação dos/as estudantes, articuladas e sustentadas pelo

2 Denominação proposta pela Prefeitura Municipal de Campinas na concepção do Projeto Piloto das

"Escolas de Educação Integral - EEI".

Page 21: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

21

planejamento e trabalho coletivo dos/as profissionais das escolas, bem como a

importância da formação continuada.

Tratar da temática do aumento da jornada escolar abrange fatores diversos,

pois envolve mudanças na estrutura física, curricular e também humana. Não basta

aumentar o número de horas do estudante na escola descuidando da organização

escolar. Com base nessa reflexão, o quadro abaixo, retirado do texto oficial da

prefeitura, traz uma comparação entre as principais características da ampliação da

jornada escolar e da educação integral compreendida no projeto piloto:

Quadro 1: Comparação entre o Aumento do Tempo e a Educação Integral.

AUMENTO DO TEMPO EDUCAÇÃO INTEGRAL

Ampliação do tempo de permanência dos

alunos com acréscimo de algumas

disciplinas ou atividades complementares

como dança, música, esporte ou mesmo

reforço.

Reformulação da escola, alterando e

ampliando a oferta de conhecimentos

articulados entre si e com a compreensão

da realidade.

Divisão em turnos – alunos pensando

separadamente, de manhã aulas e a tarde

atividades complementares.

Possibilidade de uma formação mais

completa para o aluno enquanto ser

humano e não apenas como estudante,

conciliando os conteúdos didáticos com

outros aspectos da vida.

Hiperescolarização: oferecer mais do

mesmo.

Reorganização dos tempos, espaços e

conteúdos para desenvolver os alunos de

forma completa, em sua totalidade.

Forma de dar ocupação aos alunos.

Cuidado para promover um trabalho que

persiga a formação e o desenvolvimento

humano mais amplo e múltiplo possível.

Aumenta-se o tempo, mas não existe um

esforço em garantir a qualidade desse

tempo ofertado aos alunos.

As crianças e os adolescentes são

incentivados a desenvolver diferentes

formas de expressão, como a artística,

física, intelectual, digital e social. Fonte: Projeto Piloto para as Escolas de Educação Integral (CAMPINAS, 2014).

Ao refletirmos sobre esses argumentos, é possível perceber o objetivo do

projeto do município de, não apenas aumentar a permanência do estudante nas escolas,

mas garantir uma educação de qualidade, que seja tão integral quanto o tempo de

permanência na escola. Contudo, nas reuniões dos Grupos de Estudos e Pesquisas em

Educação Física Escolar e Escolas de Tempo Integral (EscolaR-ETI), da Faculdade de

Educação Física da Unicamp (FEF-Unicamp), defendemos que todas as escolas devem

Page 22: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

22

oferecer educação integral e de qualidade para os/as estudantes, independente da forma

com que se organizam, seja com atendimento em tempo parcial ou mesmo com a

ampliação da jornada escolar. Dessa forma, em consonância com o referencial teórico

mais abrangente sobre as Escolas de Tempo Integral, optamos por utilizar a sigla ETI

nesse estudo.

Na resolução 05/2014, a organização do funcionamento e do trabalho

pedagógico proposto para essas ETIs, com base na perspectiva de educação integral e

nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica da Rede Municipal de Ensino de

Campinas (RMEC), pauta-se nos princípios de valorização das experiências

extraescolares dos/das estudantes, promoção de uma postura investigativa, apropriação

e produção de cultura, articulação com o mundo do trabalho e a tematização das

questões de classe, gênero, sexualidade e étnico-raciais. Além disso, tem como

objetivos educacionais a formação humana integral do estudante, o enriquecimento do

seu universo de referências e o oferecimento de estrutura adequada e possibilidade

concreta de produção de conhecimento e de trabalho educativo à comunidade escolar

(CAMPINAS, 2014).

Frente aos princípios e objetivos estabelecidos no projeto da prefeitura, as

diretrizes para a organização curricular dessas ETIs buscam ampliar o diálogo entre os

saberes escolares, a cultura, as novas tecnologias, os conhecimentos sociais e toda a

diversidade de aprendizado, a partir de uma estrutura diferenciada dos espaços, tempos

e atribuições pedagógicas. Pautado na não fragmentação e não hierarquização dos

componentes curriculares, o ensino e os estudos dos conteúdos escolares devem ser

tratados de forma integrada e interdisciplinar com base em eixos de trabalho.

Esses eixos de trabalho compreendem a articulação entre os componentes

curriculares e as práticas sociais, no sentido de promover o desenvolvimento cognitivo,

motor, social e afetivo dos/as estudantes. Eles proporcionam a construção e a

mobilização do conhecimento em diversas áreas, além de sua contextualização na

compreensão da realidade. Nessa forma de organização curricular, os processos

pedagógicos fundamentam-se na integração entre as turmas, os componentes

curriculares, as áreas e os ciclos, bem como no planejamento longitudinal, realizado de

maneira coletiva, em equipes multidisciplinares.

Page 23: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

23

Ao considerarmos a ressignificação dos tempos pedagógicos e dos espaços

escolares, o caráter interdisciplinar dos componentes curriculares e o processo de ensino

e aprendizado mediado por estratégias diversificadas e práticas inovadoras, refletimos

sobre a convivência escolar nessas ETIs. Nesse contexto, discorreremos a respeito da

dinâmica das relações de convivência entre professores/as, estudantes, suas famílias,

equipe gestora e funcionários mediante a rotina de estudo e trabalho dessas escolas,

especificamente acerca da percepção e problematização da violência escolar na

perspectiva de professores/as de Educação Física.

Violência e violência escolar

Ao propormos a discussão sobre a violência escolar, consideramos o

entendimento deste fenômeno a partir da definição dos conceitos de agressividade e

violência. Freud (1996), em seu trabalho intitulado ―O mal-estar na civilização‖,

inicialmente publicado em 1930, afirma que a agressividade é inata ao ser humano. O

autor explica que a existência deste potencial está relacionada a um impulso que pode

ser direcionado para atos de violência/destruição, ou para atividades ligadas à

criação/construção. De acordo com o autor, a civilização tem o papel de organizar e

controlar as forças instintivas do homem, gerando, portanto um mal-estar representado

pela substituição de parte da felicidade presente na satisfação dos instintos, por uma

parte de segurança garantida pela vida social. Assim, este impulso pode ser educado de

acordo com o que é determinado culturalmente, ou seja, direcionado para atitudes

aceitas socialmente.

Sobre a correlação entre agressividade e violência, Costa (1984) evidencia

que, a ação agressiva ganha o sentido de ação violenta quando é percebida no sujeito

violentador, na vítima ou no observador a intenção de causar dano ao outro. Com isso,

quando se trata da pura expressão do instinto, ou quando não traduz um desejo de

destruição, não é considerada como uma ação violenta. Assim, a agressividade que

causa dano, denominada violência, advém do mesmo impulso que expressa o instinto

criativo. Considera-se, portanto, a mesma agressividade, ―[...] o que mudou foi como o

meio acolheu este gesto, que de criativo passou a ser reativo‖ (VILHENA e MAIA,

2002, p. 42).

Page 24: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

24

Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde – OMS (2002, p. 5) refere-

se à violência como:

[...] uso intencional de força física ou poder, em forma de ameaça ou

praticada, contra si mesmo, contra outra pessoa, ou contra um grupo

ou comunidade que resulta ou tem uma grande possibilidade de

ocasionar ferimentos, morte, consequências psicológicas negativas,

mau desenvolvimento ou privação.

Na definição proposta por Yves Michaud (1978, p. 20):

Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores

agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando

danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua

integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou

em suas participações simbólicas e culturais (apud MICHAUD, 1989,

p. 11).

A partir desses conceitos, entendemos a violência como um fenômeno social

dinâmico, mutável de acordo com o momento histórico, a localidade e o contexto

cultural. Seus significados, suas dimensões e representações passam por adaptações à

medida que as sociedades se transformam (ABRAMOVAY, 2006). No que tange à

violência escolar, Blaya (2006) considera ainda não haver uma definição consensual

sobre o tema, em vista disso, com o intuito de delinearmos o objeto de estudo dessa

pesquisa, apresentamos diferentes concepções de autores que versaram especificamente

sobre esse fenômeno.

A classificação descrita por Charlot (2002) compreende três tipos de

violência escolar: a violência na escola, como aquela caracterizada por ações violentas

que ocorrem dentro do ambiente escolar, mas não tem nenhuma relação com a

instituição de ensino; a violência da escola, composta por ações, normas e posturas

violentas contra os/as estudantes ou agentes escolar, típicas desse contexto; e a violência

à escola que ocorre quando os/as estudantes agem de forma violenta contra a instituição

de ensino e seus representantes.

O autor também considera que a violência escolar pode ocorrer em três

níveis diferentes: a violência física, sexual, roubos, crimes e vandalismo; as

incivilidades, que contradizem regras de boa convivência, a exemplo de palavras

grosseiras e falta de respeito; e a violência simbólica ou institucional, em que se

Page 25: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

25

manifestam ações, normas e posturas violentas nas relações de força em meio ao

ambiente escolar (CHARLOT, 2002; CHARLOT; ÉMIN, 1997).

Debarbieux (2006) utiliza o termo microviolências para se referir às

incivilidades — resultado de pequenas delinquências, pequenas infrações e agressões

contra as pessoas — e ao bullying, entendido pelo autor como assédio entre pares.

Destacamos, também, o bullying e o cyberbullying como duas formas

específicas de violência escolar relevantes ao presente estudo. O termo bullying

originou-se na década de 1970, a partir dos estudos do pesquisador Dan Olweus, na

Noruega. A expressão em inglês não possui tradução literal em português, mas refere-se

a situações de violência cometidas de forma recorrente ao longo de um período de

tempo, por um ou mais estudantes, com a intenção de causar danos físicos ou

psicológicos à outra criança ou adolescente incapaz de se defender, em uma relação

desigual de poder e com a presença de espectadores (CEREZO, 2009).

Esse fenômeno possui características específicas e, para categorizar os atos

violentos como bullying, é fundamental observar cinco condicionantes: relação de poder

assimétrica, na qual um estudante ou grupo de estudantes com maior poder físico ou

social abusa de outro em condição inferior; ocorre entre estudantes, de modo que casos

de violência entre estudantes e professores, por exemplo, não se enquadram como

bullying; presença de espectadores que observam e até mesmo incitam os atos violentos;

recorrência das situações de violência ao longo de um período de tempo (ALMEIDA,

2016).

Nos casos de cyberbullying, os atos violentos ocorrem de maneira virtual,

por meio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como em redes sociais,

aplicativos de mensagens, e-mails e páginas web. Esse fenômeno, além de apresentar

características semelhantes às do bullying, possui algumas particularidades, tais como a

continuidade das situações de violência fora do ambiente escolar; maior alcance,

audiência e duração por meio de sucessivos compartilhamentos na internet; capacidade

para gerar exclusão das vítimas; e o aparente anonimato do agressor (GIMENÉZ et al.,

2018).

Apesar de não ser considerada como uma violência, a indisciplina é outro

tema recorrente no cotidiano escolar. De acordo com Aquino (2003) trata-se de um

fenômeno caracterizado por condutas disruptivas, atitudes e comportamentos contrários

Page 26: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

26

às regras do regimento escolar ―afronta – declarada ou não – aos códigos normativos em

vigor naquela instituição, sejam eles razoáveis, justos, recíprocos, ou não‖ (p. 9).

Nesse contexto, a partir da revisão de literatura, percebemos que a violência

e a violência escolar podem ser discutidas por diferentes prismas teóricos. Nesse estudo,

também buscamos compreender quais concepções melhor representam as perspectivas

docentes acerca desse fenômeno.

Dessa forma, consideramos a relevância do presente estudo em razão do

número reduzido de publicações que tratam da violência escolar sob a perspectiva de

professores/as, especialmente do componente curricular Educação Física; da iminente

preocupação com a incidência desse fenômeno no cotidiano das ETIs, onde a

convivência e as relações sociais são intensificadas a partir do aumento do tempo de

permanência na escola; e por se tratar de um projeto novo, implementado recentemente,

que necessita ser estudado em suas diferentes vertentes.

Com isso, questionamos em que medida a ampliação da jornada escolar

influencia na manifestação da violência escolar na perspectiva dos professores de

Educação Física? Quais são as ações das instituições de ensino e dos atores escolares no

sentido de esclarecer e conscientizar sobre esse assunto? As estratégias de ensino e as

práticas pedagógicas orientam e promovem relações sociais respeitosas? Nesse interim,

entendemos que a atuação dos/as professores/as assume um papel importante no

enfrentamento da violência escolar, portanto, compreender suas percepções sobre essa

temática é fundamental para nossa pesquisa. Com esse estudo buscamos compreender

como a violência escolar é percebida e problematizada pelos/as professores/as de

Educação Física em seus diferentes contextos de atuação no cotidiano escolar das ETIs.

Page 27: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

27

1. METODOLOGIA

A realização dessa pesquisa está fundamentada na metodologia qualitativa,

pois tem como objetivos: observar, compreender e significar os fenômenos que são

objetos de estudo; entendendo a dinâmica dos pesquisados em seu local de atuação e de

que forma os elementos do ambiente se combinam para configurar uma complexa rede

de relações. De acordo com Thomas e Nelson (2002, p. 322):

A pesquisa qualitativa tem como foco a ―essência‖ do fenômeno. […]

Os objetivos são primeiramente a descrição, a compreensão e o

significado. O pesquisador não manipula as variáveis por meio de

tratamentos experimentais, mas se interessa mais pelo processo do que

pelo produto. O pesquisador observa e coleta os dados no campo, isto

é, no ambiente natural.

Com o intuito de considerarmos os diferentes pontos de vista entre as

pessoas envolvidas com a pesquisa, utilizamos como fonte de informação a entrevista

semiestruturada, entendendo que este instrumento metodológico, segundo Triviños

(1987, p. 146):

[…] parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e

hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem

amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão

surgindo à medida que se recebem as respostas do informante.

Esse mesmo autor ensina que a entrevista semiestruturada ―[...] favorece não

só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de

sua totalidade [...]‖ (Ibid., 1987, p. 152). Dessa forma, as entrevistas tiveram um roteiro

previamente elaborado, baseado nas questões norteadoras da pesquisa, sendo que as

particularidades de cada situação de entrevista suscitaram novos questionamentos e

direcionamentos, porém, sem fugir do tema principal.

O roteiro da entrevista foi organizado em quatro blocos de perguntas, que

poderiam ser alterados de acordo com seu encaminhamento. O primeiro sobre

informações pessoais, profissionais e acadêmicas mantendo o anonimato dos/as

professores/as; o segundo relacionado ao seu entendimento sobre o fenômeno da

violência escolar; o terceiro no tocante às suas percepções sobre a violência escolar na

Page 28: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

28

ETI em que atuam a partir do relato de casos; e o quarto sobre a problematização do

tema nos seus diferentes contextos de atuação no cotidiano escolar:

Bloco 1: Idade, gênero, tempo de formação, local de formação, formação

complementar, tempo de atuação na rede, tempo de atuação em ETI, outras

experiências profissionais, atuação em outra rede, qual, e para quais turmas

leciona.

Bloco 2: O que você entende por violência e por violência escolar?

Bloco 3: Ocorrem manifestações de violência na escola que você atua? Que

tipos de violência ocorrem? Em que contextos ocorrem manifestações de

violência na escola? Na sua percepção, o aumento do tempo de permanência

do estudante na escola interfere na questão da violência? Quais fatores você

acha que influenciam na violência? Como você descreve as relações

pessoais na sua escola? Levando em conta essa temática da violência, como

você descreveria sua escola?

Bloco 4: Como você atua em relação às manifestações de violência? Você

tem dificuldades de lidar com o assunto? E como a escola lida com a

questão da violência? Há algum trabalho feito pela escola ou pela secretaria

de educação com os/as professores/as sobre o tema?

Ao encontro do exposto e legitimando essa metodologia no campo da

pesquisa social, Boni e Quaresma (2005, p. 75) explicam que a entrevista

semiestruturada possibilita:

[…] uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e

entrevistado, o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais

complexos e delicados, ou seja, quanto menos estruturada a entrevista

maior será o favorecimento de uma troca mais afetiva entre as duas

partes. Desse modo, estes tipos de entrevista colaboram muito na

investigação dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes que

determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos.

As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que

Page 29: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

29

estes têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador

que poderão ser de grande utilidade em sua pesquisa.

Para a realização do estudo foi entregue uma Carta de Autorização à equipe

gestora de cada uma das seis Escolas de Educação Integral (EEI) da Rede Municipal de

Ensino de Campinas (RMEC). Posteriormente convidamos todos/as os/as dezessete

professores/as de Educação Física que atuam nessas escolas para participarem como

voluntários/as na pesquisa. A relação completa de nomes foi levantada por meio da lista

de classificação funcional da Secretaria Municipal de Educação 2017/2018 e os contatos

foram obtidos durante as visitas às EEIs. O fato de sermos colegas de trabalho facilitou

a aproximação com os participantes.

O critério inicial para a seleção foi incluir no estudo um/uma professor/a de

cada ETI. Realizamos um sorteio a fim de definir os/as seis a serem inicialmente

entrevistados. Caso necessário, outros/as professores/as poderiam ser incluídos/as na

pesquisa, pois foi adotado o critério de saturação para o levantamento dos dados. Dessa

maneira, foram selecionados dois professores e quatro professoras que concordaram em

participar da pesquisa, sem que houvesse a necessidade de substituição.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob o parecer número 2.475.055. As

seis entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho de cada participante, entre

os meses de abril e maio de 2018, em data e horário previamente combinados que não

interferissem na rotina escolar. Foi entregue o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) para os/as professores/as. As entrevistas tiveram, em média, a

duração de 45 minutos cada, todas as conversas foram gravadas e posteriormente

transcritas na íntegra. Após as transcrições, os textos foram devolvidos aos participantes

que puderam sugerir correções em suas respostas, porém eles/as não as indicaram,

mantendo o texto original obtido nas próprias entrevistas.

A organização e a análise dos dados foram realizadas por meio da Análise

de Conteúdo descrita por Laville e Dione (1999), que consiste em fragmentar a estrutura

e os elementos do material construído, para identificar suas diferentes características e

extrair sua significação. Dessa forma, partimos do princípio de que:

Mesmo organizado, o material continua bruto e não permite ainda

extrair tendências claras e, ainda menos, chegar a uma conclusão. Será

Page 30: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

30

preciso para isso empreender um estudo minucioso de seu conteúdo,

das palavras e frases que o compõem, procurar-lhes o sentido captar-

lhes as intenções, comparar, avaliar, descartar o acessório, reconhecer

o essencial e selecioná-lo em torno das ideias principais... É este o

princípio da análise de conteúdo: consiste em desmontar a estrutura e

os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes

características e extrair sua significação. (LAVILLE; DIONNE, 1999,

p.214).

Esse tipo de análise de conteúdo contém fases para sua concretização, quais

sejam:

O recorte de conteúdos: seleção de elementos que aparecem com frequência

nas falas das entrevistas; formação de unidades significativas de acordo com

o contexto da pesquisa;

A definição das categorias analíticas: escolha de temas aos quais os

elementos que foram recortados e que tem significados semelhantes se

agruparão. Esse processo pode ser realizado por meio do modelo aberto

(categorias surgem durante a análise), fechado (as categorias são definidas

inicialmente, embasadas no campo teórico) ou misto (as categorias são

definidas inicialmente, mas modificam-se devido às análises).

A categorização final das unidades de análise: uma apreciação mais

profunda das relações entre os elementos e os temas, além de possíveis

reagrupamentos destes nas categorias delimitadas.

É importante atentar para o fato de que as duas primeiras fases são

complementares e não existe uma regra específica quanto à ordem de desenvolvimento

de cada uma. Isto é:

Nenhuma regra obriga a proceder em primeiro lugar ao recorte: pode-

se fixar inicialmente as categorias para, em seguida, recortar os

conteúdos. Aliás, como veremos, as duas operações de escolha das

categorias e de recorte dos conteúdos são conduzidas de maneira

paralela e se enriquecem mutuamente: os conteúdos sugerem novas

categorias, que levam, por sua vez, a uma leitura mais profunda do

discurso. (Ibid., 1999, p. 217).

Page 31: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

31

Com base no exposto, a presente pesquisa se utilizou do modelo aberto, e

foram definidas as seguintes categorias e subcategorias analíticas:

Perspectivas dos/as professores/as de Educação Física sobre os conceitos de

violência e violência escolar;

Manifestações da violência escolar nas ETIs: Relatos de casos de violência

escolar, os contextos em que eles ocorrem e os aspectos que possivelmente

os influenciam; As relações de convivência entre os atores da comunidade

escolar; e A correlação entre a implementação das ETIs e o fenômeno da

violência escolar;

Estratégias para lidar com a violência escolar nas ETIs: As ações

pedagógicas e os projetos da escola.

Caracterização dos/as professores/as

Nesse estudo, com o intuito de preservarmos a identidade dos/as

professores/as entrevistados/as, foram escolhidos nomes fictícios para eles/as e para as

escolas onde atuam. Suas idades foram aproximadas e informações específicas que

poderiam levar à identificação dos/as participantes sobre a trajetória acadêmica e

profissional também foram omitidas.

No tocante à organização das ETIs pesquisadas, uma delas oferece a

Educação de Jovens e Adultos/anos finais do ensino fundamental (EJA) para estudantes

em situação de vulnerabilidade socioeconômica, desproteção e violação de direitos e em

cumprimento de liberdade assistida; duas atendem somente os anos iniciais do ensino

fundamental (turmas de 1º ao 5º ano); e três atendem os anos iniciais e finais do ensino

fundamental (turmas de 1º ao 9º ano).

André tem entre 45 e 50 anos, formou-se em Educação Física por uma

Universidade Pública Estadual, no final dos anos 1990. Especializou-se na área do

treinamento físico e trabalhou em academias por mais de dez anos. Na mesma época, foi

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32

professor em uma rede estadual de ensino e exerceu a função de coordenador de um

programa de ampliação da jornada escolar. Há menos de cinco anos, ingressou na Rede

Municipal de Ensino de Campinas (RMEC), na ETI Cajueiro, onde leciona para turmas

dos anos finais do ensino fundamental.

Clara tem entre 45 e 50 anos, formou-se em Educação Física por uma

Universidade Privada, no início dos anos 1990. Cursou duas especializações na área

educacional, entre 2005 e 2010. Foi professora em uma rede estadual de ensino, entre as

décadas de 1990 e 2000. Ingressou na RMEC no início dos anos 90 e, há mais de dez

anos, removeu-se para a ETI Manacá, onde leciona para turmas dos anos finais do

ensino fundamental.

Ester tem entre 50 e 55 anos, formou-se em Educação Física por uma

Universidade Privada, no início dos anos 1990. Fez cursos de formação nas áreas

terapêutica, educacional e do treinamento físico. Trabalhou em academias por mais de

dez anos e, atualmente dedica-se ao treinamento personalizado concomitante à docência

na escola. Ingressou na RMEC no início dos anos 2000 e, há menos de cinco anos,

removeu-se para a ETI Araucária, onde leciona para turmas dos anos finais do ensino

fundamental.

Juliana tem entre 35 e 40 anos, formou-se em Educação Física por uma

Universidade Pública Estadual, no final dos anos 1990. Concluiu o mestrado em uma

Universidade Pública Estadual e especializou-se na área da dança. Ingressou na RMEC

no início dos anos 2000 e, há mais de cinco anos, removeu-se para a ETI Pitangueira,

onde leciona para turmas dos anos iniciais do ensino fundamental. No início dos anos

2010, também atuou como articuladora de um programa de ampliação da jornada

escolar, nessa mesma escola.

Rogério tem entre 55 e 60 anos, formou-se em Educação Física por uma

Universidade Pública Estadual, no final dos anos 1980. Especializou-se nas áreas de

jornalismo esportivo e formação docente. Foi professor em uma rede estadual de ensino

Page 33: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

33

no início dos anos 2000. Há mais de 15 anos, ingressou na RMEC na ETI Jequitibá,

onde leciona para os anos iniciais do ensino fundamental.

Laura tem entre 30 e 35 anos, formou-se em Educação Física por uma

Universidade Pública Estadual, em meados dos anos 2000. Especializou-se nas áreas do

treinamento físico e educação física escolar. Foi professora em escolas privadas e,

atualmente dedica-se à arbitragem esportiva concomitante à docência na escola.

Ingressou na RMEC no início dos anos 2010 e, há mais de cinco anos, removeu-se para

a ETI Ipê, onde leciona para turmas dos anos iniciais do ensino fundamental.

No capítulo seguinte, discutiremos os resultados do estudo a partir das

categorias levantadas trazendo trechos das entrevistas realizadas com esses/as

professores/as.

Page 34: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

34

2. TENSÕES E CONTRADIÇÕES

Ao refletirmos sobre os discursos dos/as professores/as de Educação Física

acerca da violência escolar nas ETIs, estabelecemos relações entre os diversos pontos de

vista e a fundamentação teórica específica sobre o tema. Por um lado, reconhecemos o

desafio de analisar os discursos pedagógicos e compreender os contextos em que estão

inseridos, por outro, percebemos a dimensão do fenômeno que nos propomos a discutir

nesse estudo.

A partir dessas entrevistas, como apontado anteriormente, levantamos os

seguintes temas para análise: na categoria Perspectivas sobre a violência e a violência

escolar, discutiremos os diferentes pontos de vista dos/as professores/as de Educação

Física acerca dos conceitos de violência e violência escolar. Em seguida, na categoria

Manifestações da violência escolar nas ETIs trataremos dos relatos de casos de

violência escolar, bem como os contextos em que eles ocorrem e os aspectos que

possivelmente os influenciam; as relações de convivência entre os atores da comunidade

escolar e a correlação entre a implementação das ETIs e o fenômeno da violência

escolar. Por fim, na categoria Estratégias para lidar com a violência escolar nas ETIs,

refletiremos sobre os projetos desenvolvidos pelas escolas e as ações pedagógicas

dos/as professores/as.

2.1. Perspectivas sobre a violência e a violência escolar

Violência

A violência e a violência escolar constituem o assunto principal desse

estudo, decorrente da nossa preocupação com a grande incidência desses fenômenos no

cotidiano escolar e no contexto social em que vivemos. No Brasil, índices alarmantes de

violência chamam atenção para esse problema, conforme aponta o último levantamento

realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro

de Segurança Pública (FBSP), divulgado no Atlas da Violência de 2018.

Page 35: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

35

Figura 2: Infográfico Atlas da Violência 2018

Fonte: www.forumseguranca.org.br.

Os dados apontam para um crescimento considerável das taxas de

homicídios e feminicídios nos últimos anos, principalmente entre jovens e negros/as.

Além disso, destacam que dos 62.517 homicídios em 2016, 71% foram praticados com

arma de fogo. Outra questão bastante preocupante diz respeito aos casos de estupro,

cuja soma dos registros policiais e do sistema de saúde ultrapassaram o número de 70

mil ocorrências. Ainda, a pesquisa revela que em 50,9% dos casos as vítimas são

crianças de até 13 anos, dos quais 30% dos agressores são familiares próximos, como

pais, irmãos e padrastos. (BRASIL, 2018).

Com o objetivo de compreendermos como esse fenômeno é percebido e

problematizado pelos/as professores/as de Educação Física, em seus diferentes

contextos de atuação no cotidiano escolar das ETIs, destacamos trechos das entrevistas

que retratam os seus diferentes pontos de vista acerca dessa temática. Especificamente

sobre a violência, Laura afirmou o seguinte:

―[...] acho que a violência abrange muitas coisas. Acho que qualquer

ato que fira a integridade física ou a integridade moral – eu não sei se

Page 36: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

36

chama assim ―integridade moral‖ – mas que fira uma pessoa

emocionalmente, ou fisicamente, ela pode ser considerada um ato de

violência. E aí a gente tem uma gama muito grande, se a gente fosse

classificar os tipos de violência‖ (Laura).

A professora compreende a violência a partir da intencionalidade do ato, por

causar danos físicos, morais ou emocionais à outra pessoa, concordando com as

definições de violência apresentadas no presente estudo (COSTA, 1984; MICHAUD,

1989; OMS, 2002), não leva em conta a ação em si, mas a intenção, o que é esperado

para uma compreensão adequada sobre o fenômeno segundo a literatura sobre o tema.

Mais um ponto que nos chama atenção em sua fala é o fato dela também

considerar o aspecto psicológico da violência, pois existe uma tendência em

evidenciarmos a violência física como mais grave, provavelmente por causar danos

evidentes, visíveis, contudo, a violência psicológica pode causar tanto ou ainda mais

danos que a física.

Outra questão interessante diz respeito à classificação dos tipos de violência,

em que ela reconhece existir diferentes formas desse fenômeno se manifestar

(CHARLOT, 2002), embora não elenque em sua fala a quais tipos se refere.

Em outra perspectiva, Clara e Ester discorrem sobre a definição de violência

a partir das possíveis causas desse fenômeno, como os fatores familiares e sociais

(BLAYA, 2006):

―A violência, ela vem do ambiente familiar primeiro, não adianta. Ela

só é reproduzida devido ao ambiente familiar, ela se reproduz na

sociedade e aqui não é diferente. A violência é aquela do trato, do

respeito pelo ser humano, seja ele qual for, se ele é pequenininho, o

ser humano como ser humano.‖ (Clara).

―A violência em geral, o que eu vejo em nossos alunos e sociedade...

Eles reproduzem exatamente aquilo que eles aprenderam. Aquela tal

história ‗quem agride, agredido é‘ é real. Então, quando a gente fala

de um aluno, de um adolescente ‗nossa, como esse cara é maldoso‘,

‗nossa, esse cara tinha que ser expulso‘, ‗ah, esse não tem mais jeito

não‘, mas a hora que você começa a conhecer o aluno [...] você fala

‗nossa senhora, esse rapaz é um sobrevivente.‘‖ (Ester).

A respeito desse tema, o professor Bernard Charlot (2006) faz uma

discussão importante, no prefácio do livro intitulado ―Cotidiano das escolas: entre

violências‖, coordenado pela pesquisadora Miriam Abramovay:

Page 37: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

37

O ato violento sempre ocorre em uma situação psicológica ou

socialmente tensa. Portanto, sempre se pode dizer que a própria

situação é violenta [...] Contudo, por mais tensa que seja, uma situação

não produz automaticamente atos violentos [...] É um erro

desconhecer a importância da pobreza e das estruturas sociais no

nascimento e desenrolamento dos atos violentos, mas é também um

erro supor que o peso desses elementos macrossociais seja sempre

igual e é um abuso transformar elementos da situação em

determinantes, muito mais em determinantes de ‗a‘ violência, como se

houvesse uma espécie genérica, ‗a‘ violência, cujos fenômenos

agrupados sob essa etiqueta fossem apenas variedades‖

(ABRAMOVAY, 2006, p. 22).

O autor cita o exemplo da relação de causalidade entre pobreza e violência

como um erro metodológico. Ele explica que, o raciocínio de causa e efeito não é

pertinente para essa análise, pois se trata de um fenômeno construído por processos, em

que a pobreza pode interferir junto a outros fatores.

Os/as demais professores/as ampliaram suas considerações acerca da

violência, ao observarem o fenômeno por outros prismas:

―Violência é um conceito muito complexo de se falar, porque a

violência ela tem tantos aspectos, tantas motivações, tantas origens e

é difícil a gente conceituar a violência. Mas, o que eu entendo por

violência... Eu vejo o que está estabelecido aí na sociedade como um

todo, o que é violência na sociedade atualmente. Aquelas violências

que são institucionalizadas, que estão no código penal, que estão nas

leis ou aquelas violências que são brandas – brandas não, porque não

são brandas – são aquelas violências que a gente sabe que acontecem

e que são motivos de violências. Elas desencadeiam a violência, mas

nem sempre estão nas leis de violência, como as sociais, a

discriminação social, a discriminação por gênero, por etnia, enfim, as

minorias que são oprimidas. E nem às vezes são as minorias, são as

maiorias porque a população pobre no Brasil é a maioria e é

oprimida pela questão social que vive, que foi colocada ao longo da

história. Então isso também gera uma grande quantidade de

violências no nosso dia a dia, a violência de roubos, de assaltos, de

morte e de... Enfim, tem um monte de tipos de violência que são... E

muitas têm origem na questão social no Brasil e no Mundo.‖ (André).

―[...] existem essas violências do cotidiano, das relações humanas

que também estão permeadas por essa estrutura social de

desigualdade. De que um lá se sente melhor que o outro, com relação

às questões étnicas ou religiosas, porque tem um grupo que acha que

o dele é melhor e é mais importante que do outro... E aí que vão

aparecendo as desqualificações do outro.‖ (Juliana).

―A questão de gênero, a questão do racismo, que eles (estudantes)

apontam muito, é uma questão muito presente na nossa realidade, na

Page 38: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

38

nossa sociedade, no Brasil. Haja vista, os números e a diferença de

mortalidade entre brancos e negros, essas estatísticas todas que fazem

esse retrato nosso. E isso aparece na escola, a escola é um pedaço da

sociedade que está aqui.‖ (Rogério).

André, Juliana e Rogério, ao refletirem sobre a incidência da violência em

nosso cotidiano, levantam argumentos referentes à desigualdade social, ao preconceito

racial e às discriminações étnica, religiosa e de gênero evidentes no Brasil. Nessa

esteira, entre as diferentes opiniões dos/as professores/as, considerarmos a violência

como um fenômeno social amplo e complexo, que se manifesta de diversas formas e

pode ser influenciado por um conjunto de fatores. A respeito da definição da violência,

Charlot propõe:

―‗Violência‘ é o nome que se dá a um ato, uma palavra, uma situação,

etc., em que um ser humano é tratado como um objeto, sendo negados

seus direitos e sua dignidade de ser humano, de membro de uma

sociedade, de sujeito insubstituível. Assim definida, a violência é o

exato contrário da educação, que ajuda a advir o ser humano, o

membro da sociedade, o sujeito singular‖ (ABRAMOVAY, 2006, 25).

Dessa forma, notamos que os/as participantes da pesquisa levantaram

pontos que coincidem com a literatura, ao considerarem a intencionalidade do ato

violento, o aspecto psicológico da violência, as diferentes formas como esse fenômeno

se manifesta e a influência de fatores familiares e sociais em sua incidência. A seguir,

discorreremos a respeito das perspectivas dos/as professores/as acerca da violência

escolar.

Violência escolar

No tocante à violência escolar, notícias recentes veiculadas na mídia

também mostram um cenário lamentável para a educação brasileira. O portal do

Observatório da Violência, organizado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial

do Estado de São Paulo (APEOESP), destacou alguns dos casos ocorridos em 2019,

como o ataque à Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano-SP, no dia 13 de

março, onde dois atiradores, ex-alunos da escola, vitimaram um lojista, cinco

estudantes, duas funcionárias e depois se suicidaram. A depredação de uma sala de aula

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39

na Escola Estadual Maria de Lourdes Teixeira, em Carapicuíba, na Região

Metropolitana de São Paulo, no dia 30 de maio, onde estudantes agrediram fisicamente

uma professora. E de vídeos divulgados em redes sociais que exibem cenas de violência

física entre estudantes no banheiro de uma escola em Campinas, no dia 13 de maio e na

sala de aula de uma escola em Mogi Mirim, no dia 10 de junho (APEOESP, 2019).

Ao refletirem sobre o tema, os/as professores/as apresentaram diferentes

perspectivas para definir a violência escolar:

―A escola está no contexto da sociedade, não tem como a gente

separar a escola disso, ela está inserida nos territórios onde as

pessoas moram, ela também é um reflexo do que a sociedade vive.

Então se a gente vive uma situação de violência grande estabelecida

no Brasil, como a que a gente vive agora, nesse momento que é um

momento muito delicado em que a gente está vendo índices

alarmantes de violência, a gente vê também nas escolas esse tipo de

violência. Porque ela se reflete não só na relação entre os professores

e os alunos, entre os alunos e seus pares, mas também entre famílias,

entre a comunidade como um todo, entre a administração, o executivo

e as pessoas que operam a educação, os servidores públicos no caso

da escola pública.‖ (André).

―A violência é uma violência devido ao meio, só que eles não sabem

outra forma a não ser você falar com firmeza, mas com respeito, com

firmeza, mas com amor. Se não tiver um olhar profundo, você não fica

aqui.‖ (Clara).

―A questão de gênero... A questão do racismo que eles (estudantes)

apontam é uma questão muito presente na nossa realidade, na nossa

sociedade, no Brasil, haja vista os números e a diferença de

mortalidade entre brancos e negros, essas estatísticas todas que fazem

esse retrato nosso, isso aparece na escola. A escola é um pedaço da

sociedade que está aqui.‖ (Rogério).

André, Clara e Rogério direcionam o foco do problema para a sociedade e

argumentam sobre a inserção da escola no contexto social, de modo que as violências

do cotidiano são reproduzidas no ambiente escolar. Segundo Abramovay (2012, p. 45)

―É corrente, entre alguns professores, a percepção de que existem violências na

comunidade que ‗invadem‘ a vida da escola [...]‖. Em contrapartida, Juliana e Ester

levantaram outras questões relacionadas ao fenômeno, conforme citado abaixo:

―Eu acho muito complexo falar disso, porque eu acho que a violência

escolar têm várias dimensões. E acho que é mais comum pensar que a

violência está ligada a isso da convivência dentro da escola, entre as

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40

crianças, ou do professor com a criança, da gestão, mas eu acho que

as politicas públicas impactam muito nisso. Eu acho que quando a

gente vê tantas perdas e desinvestimento na educação, quem está mais

conectado em acompanhar esses movimentos das políticas públicas,

eu acho isso um ato muito agressivo, por exemplo, que talvez as

crianças não tenham a consciência disso, mas para o professor isso é

muito agressivo, então acho que tem uma violência ali.‖ (Juliana).

―A violência escolar, eu acho que ela advém de uma confusão, de

interpretação mesmo das coisas. [...] De modo geral, a violência

escolar começa muitas vezes com um foco pequeno, mas que toma

proporções grandes. Consequências danosas que não resolvem o

problema, mas que causam uma revolta, que geram tensão, que

geram opressão e que realmente não resolvem e só pioram. [...] Eu

vejo que, na maioria das vezes, ela é tratada assim, uma coisa que é

pequenininha se torna grande e, às vezes, uma coisa que é grande não

é vista com atenção e passa despercebido, mas é uma coisa grave.

Então, por falta de tempo, por falta de habilidade, por falta de

formação, enfim, ou se exagera na mão, na dose com uma coisa

pequena ou uma coisa que era grande, que era para ter uma atenção

maior não teve, por ‗n‘ questões da prefeitura e pelos profissionais,

lógico.‖ (Ester).

Ao refletirem sobre o tema, percebemos que os olhares das professoras

estão mais voltados para o sistema educacional do que para a sociedade, como se

referiram os/as participantes anteriormente citados. Em sua fala, Juliana considera a

violência presente nas relações de convivência entre os atores da comunidade escolar, o

que nos remete a aspectos inerentes ao clima escolar, como a qualidade das relações

interpessoais, o respeito entre os indivíduos, o sentido atribuído ao processo de ensino e

aprendizado e o sentimento de pertencimento ao ambiente educacional. De acordo com

Blaya (2006, p. 18) ―A qualidade da vida escolar contribui para o sentimento de bem-

estar geral e favorece a prevenção de violência‖.

A professora também enfatiza o impacto das políticas públicas na qualidade

do ensino e na atuação docente, os desinvestimentos na área da educação acarretam

consequências como, a falta de estrutura física e de recursos didáticos adequados nas

escolas, quantidade excessiva de estudantes por sala, equipes de profissionais

incompletas, péssimas condições de trabalho, baixas remunerações e atrasos nos

pagamentos. Esses aspectos desencadeiam sentimentos de insatisfação, revolta e

insegurança que interferem no clima geral das instituições de ensino.

Por sua vez, Ester aponta a maneira equivocada como os profissionais da

educação atuam frente às situações de violência na escola e argumenta sobre a falta de

Page 41: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

41

conhecimento para lidarem com o tema. Por se tratar de um fenômeno social amplo e

complexo, entendemos que a mediação dos casos de violência na escola requer bastante

atenção e cuidado, pois medidas punitivas desproporcionais podem gerar sentimentos de

injustiça e frustração, romper com os vínculos de confiança e interferir nas relações de

convivência e na qualidade do clima escolar. Portanto, acreditamos que investir em

formações específicas sobre o assunto pode ser uma das estratégias para tratar das

situações de violência no ambiente escolar. Mais adiante, na categoria Ações

pedagógicas e projetos das escolas, voltaremos a discutir essa temática.

Nessa esteira, compreendemos que as políticas públicas mal implementadas

e os desinvestimentos na área da educação são fatores que interferem na prática

pedagógica dos docentes e na vida acadêmica dos/as estudantes, com isso, a falta de

estrutura e de condições básicas para o desenvolvimento do processo de ensino e

aprendizado operam relações de poder que são em si e também produzem violência. Por

esse ângulo, corroboramos com a ideia de que ―a escola não apenas reproduz as

violências correntes na sociedade, mas produz formas próprias, de diversas ordens, tipos

e escalas, que refletem as especificidades de seu cotidiano.‖ (ABRAMOVAY, 2012, p.

46).

A respeito das diversas manifestações da violência escolar, os/as

professores/as identificaram os seguintes tipos:

―A gente vê uma série de tipos de violências, violências sociais vindas

de várias direções e caem na escola também. A gente vê a violência

na escola, a gente percebe que na escola tem vários tipos de

violência. Há vezes em que ocorrem entre os alunos, por exemplo,

existem violências de bullying, aquelas humilhações repetitivas que

acontecem entre os alunos, que eles fazem sistematicamente entre

eles. Acontecem violências entre professores e alunos, de baixo para

cima e de cima para baixo também, em relações que ocorrem em sala

de aula. E ocorrem violências entre gestão e professores, entre

prefeitura, governo do estado, entre servidores. Então existem vários

tipos de violência que recaem sobre a escola. [...] A escola também é

o lugar onde acontece o tráfico de drogas, é o lugar onde acontecem,

às vezes, até assassinatos...‖ (André).

―[...] violência escolar, eu acho que a gente tem um pouco desses dois

lados, dessa violência física, dos tapas, de bater, brigas mesmo que

envolve, quanto esse outro lado que fere mais a questão emocional,

da criança se sentir humilhada, ou se sentir inferior, ou não se sentir

aceita, de tirar sarro. [...] Ou ainda dessa outra parte da criança não

se desenvolver como ela poderia, de repente ela tem uma dificuldade

Page 42: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

42

e ela se sente inferior, não porque alguém esteja falando com ela

diretamente, mas por não proporcionar um ambiente em que ela se

sinta bem consigo mesma, dela aceitar tipo ‗eu não sei, mas eu estou

sendo acolhida e estão aqui dispostos a me ensinar e tudo bem eu ter

essa dificuldade mas eu posso aprender‘, um ambiente assim em que

ela se sinta segura e respeitada nas suas ―n‖ diferenças... [...] De ela

se sentir acuada, não se sentir competente, dela não se sentir capaz de

fazer alguma coisa e com isso ela se retrai, ou ela se sente menos...‖

(Laura).

Ao comentarem sobre as situações violentas que ocorrem dentro do

ambiente escolar, como as brigas, o tráfico de drogas e os assassinatos, percebemos

certa aproximação entre os discursos de André e Laura com o conceito de violência na

escola. No que diz respeito aos sentimentos dos/as estudantes em relação às instituições

de ensino, suas falas evidenciaram o conceito de violência da escola, caracterizada por

ações, normas ou posturas violentas contra os/as discentes (CHARLOT, 2002). Ainda,

os/as professores/as destacaram a incidência das situações de bullying, nas quais a

vítima sofre com ofensas e agressões repetitivas, se sente excluída e inferiorizada

(DEBARBIEUX, 2006; CEREZO, 2009).

―Eu acho que tem uma violência que vem da forma com que a escola

historicamente se constituiu. Se a gente for pensar todos os saberes

que a gente trabalha dentro da escola ou que são consolidados como

os próprios da escola, eles vêm de uma ideia, de uma ideologia que é

dominante e que muitas vezes desconsidera os saberes da comunidade

local. E precisa ter uma gestão e um grupo de professores muito

disposto a enfrentar isso, para pensar em um currículo mais dialógico

ou não, acho que o próprio currículo é uma forma de violência

quando ele é imposto. Aí tem essas violências, eu acho que ela entra

na dimensão da violência simbólica, de um currículo que é feito cada

vez mais para as crianças servirem a um sistema, que eles não vão ter

consciência disso e que muitos professores também não têm, porque

acham que é isso mesmo e que vão colaborar para reproduzir isso, a

gente colabora para a reprodução desses sistemas. Então eu acho que

esse é um ato de violência, que a gente não consegue superar, fazer

uma transformação social a partir da escola. [...] E tem essas

violências do cotidiano, das relações humanas que também estão

permeadas por essa estrutura social, de desigualdade, de que um lá se

sente melhor que o outro, com relação às questões étnicas e as

religiosas, porque tem um grupo que acha que o dele é melhor e é o

mais importante que o do outro e aí que vão aparecendo as

desqualificações do outro. Então tem desde as ofensas pequenas, tipo

‗a mãe‘, a mãe está sempre no meio...‖ (Juliana).

A dimensão simbólica refere-se aos mecanismos sutis de dominação e

exclusão social, marcados pela violência nas relações de força, uma ―violência suave,

Page 43: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

43

insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias

puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento [...]‖ (BOURDIEU, 2002

p.5). A escola, enquanto agente no processo de reprodução social, sustenta os

determinismos sociais ditados pelas classes superiores. Nesse sentido, a ação

pedagógica constitui-se como uma violência simbólica com a imposição de certas

significações em detrimento a outras, o arbítrio cultural (BOURDIEU; PASSERON,

1982).

Em meio aos diferentes pontos de vista acerca da violência, Ester alerta

sobre a importância em percebermos as diversas maneiras como o fenômeno se

manifesta no ambiente escolar:

―[...] a gente tem que separar o que é violência, o que é violência

branda, que a gente fala, a violência grave, o que é indisciplina, para

não cair nessa coisa da justiça comum, que é o que a gente está

acostumado, que independente do tipo de coisa, se foi indisciplina ou

se foi uma agressão física ou se foi um crime, sei lá, tudo gera uma

suspensão. Mas, as coisas são diferentes, com pesos diferentes.‖

(Ester).

Ao lidar com essas situações, a professora afirma existir uma tendência em

desconsiderar as circunstâncias das atitudes dos/as estudantes, as quais são aplicadas

sansões, por vezes, descabidas. Nesse sentido, a literatura nos traz as noções de

microviolências, caracterizadas por pequenos delitos, infrações e incivilidades, que

perturbam a ordem e a convivência (BLAYA, 2006; DEBARBIEUX, 2006;

CHARLOT; ÉMIN, 1997), bem como a indisciplina, representada por condutas

disruptivas, atitudes e comportamentos contrários às regras do regimento escolar, no

sentido de afrontar os códigos normativos da instituição de ensino. (AQUINO, 2003).

Dessa forma, percebemos que a violência escolar é um tema que divide

opiniões entre os/as professores. Parte deles/as considera a inserção da escola no

contexto social, de modo que as violências do cotidiano são reproduzidas no ambiente

escolar, enquanto outros/as compreendem que a escola também produz violências, nas

relações de convivência no cotidiano escolar, políticas públicas mal implementadas e

desinvestimentos na área da educação. No tocante as manifestações de violência

escolar, notamos características referentes aos conceitos de violência na escola e da

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44

escola, as noções de microviolências e indisciplina, além das situações de bullying e de

violência simbólica.

Com isso, consideramos um ponto fundamental para o nosso estudo

compreendermos como os/as professores/as percebem as manifestações de violência

escolar nas ETIs. Na próxima categoria analítica, apresentaremos passagens das

entrevistas em que os/as participantes abordaram essa temática, a partir dos relatos de

caso, dos contextos em que as situações de violência ocorrem e da reflexão acerca dos

aspectos que possivelmente as influenciam. Mais adiante, veremos como eles/as

descreveram as relações de convivência nas escolas em que atuam e, posteriormente,

discutiremos as aproximações entre a implementação das Escolas de Tempo Integral e o

fenômeno da violência escolar.

2.2. Manifestações da violência escolar nas ETIs

Casos, contextos e possíveis influências

Os casos de violência escolar compõem um tema relevante para o nosso

estudo e, a partir dos relatos dos/as professores/as, buscamos compreender como esse

fenômeno se manifesta no cotidiano das ETIs. Com isso, destacamos trechos das

entrevistas em que eles/as retrataram essa realidade:

―[...] A gente tem alguns casos sim de agressão, às vezes é um tapa,

ou uma briga, mas é muito pouco, são casos isolados e na verdade eu

poderia dizer que é de uma turma que é recorrente, em uma turma a

gente tem alguns casos semanais, de um bateu no outro, um brigou

com o outro, ontem a gente teve uma mordida.‖ (Laura).

―Aqui eles provocam para que haja briga [...], então eles já chegam

com agressividade, seja qual for a agressividade eles vão melhorando

com os anos. Não são todos, mas esse grupo que tem é um grupo que

atrapalha muito em sala de aula, em todas as atividades, seja qual for

a atividade da escola.‖ (Clara).

―Claro que ainda acontece vandalismo, bullying, agressões físicas

entre os alunos, o tráfico de drogas [...] alunos envolvidos com o

tráfico de drogas que trazem as drogas para dentro da escola, trazem

para os colegas, não só as drogas ilícitas, mas também as drogas

lícitas que fazem mal para a saúde, como bebida alcoólica, cigarro e

outras drogas ilícitas também.‖ (André).

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45

Estudos recentes, que consideraram a percepção dos/as professores/as sobre

a violência escolar, evidenciaram a ocorrência de violências física e verbal entre os/as

estudantes, violência verbal entre docentes e estudantes, além de atos de intimidação e

de depredação do patrimônio escolar. Ainda, apontaram a indisciplina por parte dos/as

estudantes em práticas relacionadas ao desrespeito às regras, como conversas paralelas

em sala de aula, tumultos, confusões, protestos e o uso indevido de aparelhos celulares

(GIORDANI, J. P.; SEFFNER, F.; DELL'AGLIO, 2017; BOTLER, 2016;

CARVALHO; OLIVERA; CARITA, 2015).

―Às vezes acontece com professor também, existe sim! Porque a todo

o momento aparece lá uma situação mais tensa e, logicamente, é com

professor e aluno. O professor que está exigindo do aluno algumas

coisas em relação à área pedagógica e esse aluno não consegue

entender, não consegue fazer, ele tem dificuldade de ter disciplina,

tem dificuldade de entendimento cognitivo mesmo, ele não vê valor

para aquilo, não vê sentido para aquilo, então aí vêm os conflitos. Ao

mesmo tempo em que a gente cobra, a gente relaxa, a gente vai, a

gente volta, essa linha não pode ser muito esticada, tem hora que

estica e tem hora que tem que afrouxar. Então as tensões acontecem a

todo o momento, seja entre os pares, entre eles, ou com o professor e

até a própria direção.‖ (Ester).

Nessa esteira, Charlot (2002) esclarece que as transgressões caracterizadas

por comportamentos contrários ao regimento escolar, e as incivilidades, como as

atitudes que contradizem as regras de boa convivência, estão interligadas com a questão

da violência escolar, e assim, configuram um mosaico no cotidiano das escolas.

―[...] Mas a gente tem outras tantas formas de violência. Eu acho que

a educação escolar, essa questão de uma hierarquia, de que o

professor tem que saber e tem que dar conta de uma demanda de

conteúdo, tem gente que é muito preocupada com isso, então há uma

imposição grande do que tem que ser feito pelas crianças e acho que,

muitas das formas como elas reagem têm a ver com isso, de uma não

aceitação daquilo. Em especial as professoras de Xº e Yº ano, elas têm

uma preocupação muito grande de que as crianças precisam saber ler

e escrever. Então, negociar com o horário de brincar das crianças é

bem frequente, ‗porque se você não faz isso, você não brinca depois‘,

então isso são formas de violência também...‖ (Juliana).

―[...] O que é mais cultural, que a gente vive mais é a coisa do

futebol. Tem vários campinhos de futebol aqui nos bairros, mas outras

modalidades a gente encontra mais lá no ‗Clube Municipal‘. Então

eles não conhecem e a gente, a princípio, encontrou certa resistência

em relação a outros tipos de atividade. Muitos alunos, que não se

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46

identificam, por exemplo, com a questão do futebol ou até são

discriminados porque eles não jogam bem, eles não tinham outra

opção de prática que fosse mais conhecida aqui, que eles pudessem

estar... Então eles se sentiam inferiorizados [...].‖ (Rogério).

De acordo com Aquino (2003), o discurso pedagógico acerca da indisciplina

e da violência escolar fundamenta-se em argumentos que tendem a culpabilizar os/as

estudantes e a abranger fatores externos às instituições de ensino. Para o autor, parte

dos/das professores/as entende que esses problemas têm origem em distúrbios

psicológicos e psiquiátricos, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade

(TDAH), além de aspectos de ordem socioeconômica, como condições de

vulnerabilidade social ou de famílias desagregadas. Corroboramos com o autor a

respeito da importância de superar essas hipóteses e refletir sobre a responsabilidade da

escola e dos/as professores/as frente a esses fenômenos, no sentido de discutir e efetivar

práticas pedagógicas que consolidem relações sociais democráticas e respeitosas entre

os sujeitos da comunidade escolar, em detrimento às violências simbólica e institucional

da escola.

Em uma perspectiva winnicottiana, ao considerarmos a escola como o

ambiente onde o mundo afetivo da criança se amplia, compreendemos características

necessárias para que o processo de adaptação, acolhimento e possibilidades de ajuda

emocional também se ampliem, como o fortalecimento de vínculos de confiança e

manifestações de simpatia e empatia pelos/as estudantes. Assim, refletimos sobre

práticas pedagógicas e ações preventivas voltadas para um ambiente coerente, confiável

e justo, onde os/as estudantes encontrem limites e referência adulta (LABRUNETI,

2014).

Outro tema importante para a nossa discussão é a incidência dos casos de

bullying nas ETIs. Pesquisas pioneiras sobre o tema surgiram na década de 1970,

realizadas pelo psicólogo Dr. Dan Olweus, na Noruega. Os primeiros estudos brasileiros

foram desenvolvidos pela professora Cleo Fante, no inicio dos anos 2000. Desde então,

outras investigações ampliaram o debate sobre o tema, no sentido de compreender a

ocorrência do bullying, os perfis dos envolvidos, as consequências para as vítimas e de

orientações para enfrentar o problema (FANTE, 2012). Ao refletir sobre o tema,

André destacou o seguinte:

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47

―[...] Essa relação tensa que acontece na escola — que é um pouco

tensa a relação que eles têm — a gente percebe muito o bullying

principalmente... Quero dizer, o bullying chega pra gente de uma

forma bem disfarçada, porque o bullying acontece entre os alunos e

eles têm uma forma de agir que às vezes a gente não percebe, porque

acontece tudo entre eles, uma relação que está entre eles. E o aluno

que sofre bullying, muitas vezes não deixa isso claro para as pessoas

que não estão naquele círculo de amizades deles, não deixa passar

para os professores, para a gestão, fica só entre eles, então ele sofre o

bullying e não passa a diante.‖ (André).

Um estudo realizado por Silva et al. (2018), buscou compreender a

percepção de professores/as e estudantes sobre o bullying. Um dos resultados

encontrados apontou que, mesmo com casos recorrentes de bullying na escola

pesquisada, parte dos/as docentes afirmou nunca ter presenciado tal situação, revelando

certa neutralidade em relação a essas práticas que, para eles/as, pareciam ser

irrelevantes. Nesse interim, Laura comentou:

―[...] Às vezes o que a gente tem é o bullying, que eles gostam de falar

que tudo é bullying, mas de uma coisa mais de xingar, mas ainda não

são xingamentos fortes — se é que a gente pode dividir xingamentos

fortes e fracos — não é nada assim, situações muito violentas não. A

gente tem episódios de crianças se estranharem ‗Ah seu gordo!‘, ‗Ah

seu burro!‘, ‗Ai seu...‘, coisas mais assim. Ou da criança não se sentir

bem aceita por tirarem sarro dela, a gente tem um pouco, mas são

casos mais isolados.‖ (Laura).

Na perspectiva da professora, os casos de bullying ocorrem de maneira

eventual na ETI Ipê, apesar das crianças utilizarem o termo de forma generalizada. A

respeito da violência verbal, Roselli-Cruz (2011) discute o uso de palavrões e

xingamentos nas escolas, alerta sobre o sofrimento causado por essas ofensas e o

aumento da violência por meio de respostas agressivas. Ainda, argumenta sobre

propostas pedagógicas que problematizem temas que envolvam agressividade3,

sexualidade e homofobia com os/as estudantes.

Cerezo (2009) alerta que nos casos de bullying, os insultos, humilhações e

atos violentos ocorrem apenas entre os/as estudantes, em momentos com pouca

3 Nessa perspectiva, compreendemos o termo agressividade como impulso direcionado para atos de

violência ou destruição (FREUD, 1996), pois consideramos que a ação agressiva ganha o sentido de ação

violenta quando é percebida no sujeito violentador, na vítima ou no observador a intenção de causar dano

ao outro (COSTA, 1984).

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supervisão ou quando não há pessoas adultas por perto, o que dificulta os/as

professores/as tomar conhecimento das situações. Em vista das graves consequências

que o bullying causa, principalmente para as vítimas, e da complexidade das questões

que abrangem o tema, Almeida et al. (2018) apontam a necessidade de mais

investigações acerca desse fenômeno. As pesquisadoras argumentam sobre a dificuldade

em realizar estudos comparativos, por conta dos diferentes critérios metodológicos

adotados, como em relação ao tempo e à frequência com que o bullying ocorre.

A partir desses relatos, compreendemos as diferentes percepções dos/as

professores/as acerca da violência escolar nas ETIs. Com o intuito de ilustrarmos outras

linhas desse panorama, os trechos a seguir apresentam os contextos em que esses casos

acontecem. Sobre esse tema, Ester comentou:

―Não, não tem (inspetores) e, normalmente, a maior parte das

confusões acontece no banheiro, tanto de coisas ilícitas quanto de

briga. Ilícita que eu estou falando são as drogas, cigarro e acontece

no banheiro, só que não tem gente para ficar no banheiro. A

professora não pode entrar no banheiro masculino, o professor não

pode entrar no banheiro feminino e, às vezes na hora que acontece, é

alguém que está ali e não pode entrar. E, mesmo entrando, você

sozinho ali naquela situação, são situações perigosas e delicadas.‖

(Ester).

Ela explica que os casos de violência física e de uso de drogas acontecem

com frequência dentro do banheiro, por ser um local reservado e de difícil acesso dos/as

professores/as. Também argumenta sobre a falta de inspetores/as na escola e destaca o

risco de mediar sozinha os conflitos, em vista da gravidade das situações. Mais uma

vez, questões relacionadas às politicas públicas mal implementadas e aos

desinvestimentos na área da educação refletem o descaso com as instituições de ensino.

A partir dessa fala, percebemos que a falta de profissionais de apoio interfere

sobremaneira as relações de convivência no cotidiano das ETIs.

Em sua fala, André ponderou a respeito das violências que acontecem nas

aulas de Educação Física:

―Tanto nas aulas, quando acontece alguma coisa, eu que trabalho

com Educação Física... No esporte, às vezes acontecem situações de

conflito porque alguns alunos confundem o conflito do esporte, da

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disputa pela hegemonia do jogo, com outras questões que estão fora e

eles trazem para dentro do jogo, pessoais inclusive.‖ (André).

Nesse exemplo, percebemos que a disputa inerente aos jogos competitivos

suscita conflitos que ultrapassam as linhas da quadra. No ponto de vista do professor,

fatores externos às práticas corporais influenciam as situações de violência entre os/as

estudantes. De acordo com os dados da pesquisa realizada por Correa et al. (2018), com

1192 estudantes de 17 escolas municipais do Rio de Janeiro, 58% deles/as percebem a

ocorrência de brigas nas aulas de Educação Física, enquanto 29% afirmam já terem

brigado com colegas durante as aulas. Esses resultados apontaram que as brigas e

discussões são tratadas de forma banal pelos/as estudantes, já que 84% considera seu

relacionamento com a turma bom ou excelente.

Por sua vez, Laura apresentou novos elementos para essa discussão:

―[...] Eu acho que não tem um momento específico, às vezes acontece

na aula de Educação Física de eles se estranharem, por algum

motivo, às vezes é quando eles estão brincando no parque, às vezes é

em alguma atividade em sala... Não tem algo que a gente tenha

identificado ―esse é o resultado‖, ou ―é por causa disso‖, a gente vê

essa turma que é do Xº ano, que é fora da curva, o tempo todo você

está apagando um incêndio ali dentro, é um que está fazendo a fofoca,

o outro que não consegue lidar com o corpo e não para quieto, o que

está subindo em tal coisa, um que está correndo e esbarra em outro

que ao invés de conversar já bate, já embola o campo ali, é uma

situação mais assim‖ (Laura).

Em seu relato, notamos que as microviolências (BLAYA, 2006), a

indisciplina (AQUINO, 2003) e as situações de violência na escola (CHARLOT, 2002)

ocorrem constantemente entre os/as estudantes da sala apontada, em diferentes

situações, tanto nas aulas como nos momentos não dirigidos. A professora destaca não

terem identificado quais fatores motivam essas atitudes, no entanto citou exemplos em

que as crianças apresentam comportamentos considerados inadequados, além de

dificuldades para resolver seus conflitos por meio do diálogo.

Dessa forma, compreendemos que as crianças sentem necessidade de

brincar, se movimentar e se relacionar com o outro, entretanto as instituições de ensino,

preocupadas com a formação acadêmica dos/das estudantes, utilizam-se de mecanismos

de controle disciplinar que cerceiam suas possibilidades de manifestação corporal nos

diferentes tempos e espaços escolares (MORAES, 2005).

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No tocante ao desenvolvimento das relações de convivência na escola,

Vinha et al. (2017) afirmam que ―É necessário construir na escola um lugar de diálogo e

de transformação tanto pessoal quanto coletiva, a fim de orientar os professores e os

alunos para que saibam pensar e agir em situações de conflito de valores.‖ (p. 149).

Em meio a esses cenários, percebemos certa preocupação dos/as professores

em elucidar o que tem motivado os casos de violência nas escolas. A seguir,

apresentaremos diferentes pontos de vista acerca de aspectos que possivelmente

influenciam a incidência desse fenômeno nas ETIs.

Um ponto importante levantado nas entrevistas, diz respeito às famílias

dos/as estudantes. As professoras Clara e Laura refletiram sobre esse tema da seguinte

maneira:

―A violência, ela vem do ambiente familiar primeiro, não adianta. Ela

só é reproduzida devido ao ambiente familiar, ela se reproduz na

sociedade e aqui não é diferente. A violência é aquela do trato, do

respeito pelo ser humano, seja ele qual for, se ele é pequenininho, o

ser humano como ser humano. Porque houve aquele tempo em que a

criança não valia nada, nem a mulher. E agora, alguns lugares ainda

mantém essa estrutura, mesmo que ela tenha sido de séculos atrás

[...]. E aqui a gente tenta quebrar isso constantemente. Como essa

violência acontece? Ela é verbal, ela é física e é assim, uma forma

que eles têm de se mostrar e se impor.‖ (Clara).

―A gente vê a família como um fator muito preponderante, que

deveria ser um facilitador para o trabalho, mas não é... É um

‗dificultador‘! São famílias desestruturadas, famílias que não estão

nem aí, famílias que não tem uma noção de bom senso, de valores, de

saber o que é respeitar o outro, saber que vir na escola, valorizar a

escola enquanto um espaço de conhecimento, um espaço de fazer

amizades, um espaço que eu preciso ter uma responsabilidade, eu

preciso trazer meu material, organizar o meu material, fazer uma

lição, acompanhar o desenvolvimento do meu filho. A gente tem

família que não tem isso, largam na escola e a escola que se vire‖

(Laura).

Na perspectiva de Clara, a violência é compreendida como um fenômeno

social que se manifesta no ambiente familiar e se reproduz na escola, por meio de atos

violentos que marcam as relações de poder entre os/as estudantes. Nessa direção, Laura

defende que as famílias deveriam ensinar valores, acompanhar o desenvolvimento

educacional dos/as estudantes e reconhecer o ambiente escolar, entretanto ela considera

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que a falta de estrutura familiar e o distanciamento dos/as responsáveis em relação à

escola, dificulta a ação pedagógica.

A partir dos argumentos defendidos nessas falas, percebemos que o discurso

pedagógico tende a responsabilizar as famílias pelas posturas inadequadas que os/as

estudantes assumem na escola, como a indisciplina em relação às regras estabelecidas,

desinteresse pelos estudos, além do fracasso escolar (ABRAMOVAY; RUA, 2002;

PEDROSA et al., 2016; SANTOS, 2017).

Em um estudo intitulado ―Acoso escolar: variables sociofamiliares como

factores de riesgo o de protección‖4 (PRODÓCIMO; FUENSANTA; ARENSE, 2014),

investigou-se as diferenças na situação sociofamiliar entre estudantes envolvidos e não

envolvidos com bullying e sua relação como fatores de risco ou de proteção para a

dinâmica desse fenômeno. Entre os/as 2793 estudantes que participaram da pesquisa,

em 17 escolas públicas brasileiras, 31,3% estavam envolvidos com bullying, os quais

apresentaram maior probabilidade de pertencerem a famílias extensas e não biparentais.

Como fatores de proteção, os/as pesquisadores/as encontraram: pertencer a uma família

biparental, ter poucos irmãos, que o pai tenha cursado o ensino fundamental e a mãe

tenha nascido no estado em que a família mora. A partir desses resultados, os/as

autores/as alertam sobre o cuidado com os estereótipos, no sentido de não estabelecer

relação de causalidade entre o bullying e a situação sociofamiliar dos/as estudantes,

assim como discutido anteriormente no tocante a relação da violência com a pobreza.

Ao considerarem outros aspectos, os/as professores/as comentaram sobre a

qualidade das relações sociais entre os/as estudantes:

―[...] Aluno novo que entrou e então teve um pouquinho de problema

para se adaptar, ou que veio de uma vivência diferente, um estado

diferente, uma maneira de lidar diferente, acostumados com uma

idade, com crianças mais velhas e aí trouxe um comportamento um

pouco... Então até se ajustar e entender ‗ó aqui na sala nós somos um

grupo, a gente se trata com respeito, eu não preciso gostar do outro,

mas eu preciso tratar o outro com respeito‘... A gente não tem

afinidade com todo mundo né, mas a gente tem uma convivência que

precisa ser boa, respeitar.‖ (Laura).

―Então quando o aluno começa a perceber a violência e não tem

nenhuma satisfação, nenhuma providência é tomada, ele começa a

4 Em tradução livre ―Bullying: variáveis sociofamiliares como fatores de risco ou de proteção‖.

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repetir padrões de violência, começa a repetir bullying, começa a

repetir agressões.‖ (André).

Laura compreende que o fato das crianças recém-chegadas apresentarem

comportamentos desrespeitosos, diferentes daqueles estimados pela escola, pode ser

considerado como um aspecto que motiva os atos de indisciplina, incivilidade e

violência escolar. Percebemos que nessas situações a mediação é feita por meio do

diálogo, onde a professora ressalta a questão da boa convivência e do respeito entre as

pessoas. Por outro ângulo, André aponta que a falta de ações eficazes por parte dos/as

adultos/as reforça a incidência de atos violentos e bullying.

Nesse sentido, Aquino (2003) discute as relações entre a autoridade docente

e a diversidade sociocultural do/as estudantes, no ideário de um ambiente escolar

democrático. De acordo com o autor, os regimentos escolares fundamentam-se em

padrões de comportamento conservadores aos novos perfis discentes, o que desencadeia

resistência, conflitos e problemas disciplinares. Em contrapartida, os contratos

pedagógicos representam os acordos estabelecidos entre as partes, em busca da vivência

de valores nas relações sociais do cotidiano escolar. Portanto, é indispensável promover

o diálogo entre professores/as e estudantes para esclarecer os anseios e as expectativas

de ambos, frente ao processo de ensino e aprendizado.

A partir dos relatos dos/as professores/as, observamos a ocorrência de casos

de bullying e de violências física e verbal entre os/as estudantes; de violência simbólica

e verbal entre docentes e estudantes; além de microviolências e indisciplina, a exemplo

da depredação do patrimônio escolar e o uso de drogas, guardadas as devidas diferenças

entre os/as participantes que atuam nos anos iniciais e finais do ensino fundamental. De

acordo com as suas afirmações, os atos violentos ocorrem em vários contextos no

cotidiano escolar das ETIs, como na sala de aula, durante as aulas de Educação Física

ou em momentos não dirigidos. Por fim, os/as professores/as levantaram aspectos que

possivelmente influenciam a incidência desse fenômeno nas escolas, como a dificuldade

dos/das estudantes em respeitar regras, vivenciar valores, se relacionar com os colegas,

resolver os conflitos por meio do diálogo, a situação social de suas famílias, além de

ações, normas e posturas violentas dos/as agentes educacionais contra os/as estudantes.

Embora essas análises correspondam às manifestações de violência

presentes no cotidiano das ETIs, reconhecemos que os resultados aqui apontados não

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diferem do que ocorre nas escolas de tempo parcial, portanto acreditamos ser

fundamental para o nosso estudo conhecermos a opinião dos/as professores/as a respeito

das relações de convivência nas escolas em que atuam, bem como os aspectos que

marcam a convergência entre a implementação das Escolas de Tempo Integral e o

fenômeno da violência escolar.

Relações de convivência

As relações sociais entre os membros da comunidade escolar constituem

outro tema importante para a nossa investigação. Nas entrevistas, os/as professores

descreveram a convivência entre os/as estudantes, professores/as, equipe gestora,

funcionários/as e familiares. No que diz respeito aos estudantes, seus comentários

seguiram diferentes linhas de pensamento:

―Digamos que a cada duas semanas têm uma violência física entre

eles (estudantes). A intolerância, a forma de eles discutirem e de

abordarem os problemas é através da violência física e verbal, não é

do entendimento.‖ (Ester).

―A gente tem alguns problemas no Xº ano, com relação a essa

discriminação com a criança ‗porque é mais lerdinha‘, uma criança

que tem dificuldade, que entrou na turma esse ano... Tem certa

discriminação e a gente teve que fazer um trabalho com eles, chamar

os pais de alguns alunos, foi uma conversa mais assim...‖ (Laura).

―E assim, temos e eles (estudantes) reconhecem que existem os

preconceitos, que acontecem motivados por questões de etnia, mas

também por questões de gênero. Eles aparecem, como outros

xingamentos de todos os tipos, envolvendo família, alguns por ordem

religiosa, porque temos famílias de religiões de matriz africana,

varias famílias evangélicas e famílias católicas convivendo ali. Então,

de vez em quando, aparecem algumas coisas ligadas a isso, porque as

famílias se conhecem e eles sabem ‗fulano vai ao terreiro‘, mas assim,

faz as provocações no sentido do desconhecimento mesmo, porque

acha que tudo é macumba, o que o outro faz é macumba, então isso

aparece.‖ (Juliana).

Em sua fala, Ester enfatiza algumas características da relação entre os/as

estudantes, como a intolerância, a falta de entendimento entre eles/as e a forma violenta

com que resolvem seus conflitos. Ao refletir sobre o tema, Laura acrescenta que as

crianças praticam atos discriminatórios, principalmente com aquelas que apresentam

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dificuldade com o aprendizado ou são novatas na turma. Na argumentação de Juliana,

os/as estudantes percebem a incidência de atitudes preconceituosas entre eles/as, como

as que envolvem questões de gênero, étnicas e religiosas. Em contrapartida, outros

pontos de vista foram apresentados:

―Eu acho que os alunos da ETI Cajueiro não são de uma comunidade

completamente carente, eles tem um nível social um pouquinho mais

elevado, eles conseguem ter uma vivência social boa, a gente não vê

casos muito graves de agressão física na escola, eles conversam, eles

brincam, eles zuam uns com os outros e isso fica muito mais

parecendo brincadeira do que questões de violência. [...] Eles não

têm aquela índole de quem convive com muita violência no dia-a-dia,

em casa ou no bairro. Eu acho que o bairro não é tão violento assim,

para eles serem violentos, e isso reflete na escola como eu te falei.

Quando a comunidade é uma comunidade que sofre muita violência e

que também põe para fora muita violência, a escola também se torna

violenta, os alunos se tornam violentos. E eu acho que não é o caso

desse bairro, eu acho que esse bairro é muito pacífico, pelo menos o

que eu observo. E os alunos também refletem isso, eles são muito bons

alunos, não são de brigar, de fazer essas coisas, mas tem casos né?‖

(André).

―Elas (relações sociais) melhoraram muito aqui. A percepção dos

alunos em relação a isso, devido a esse trabalho, a gente tem um

ambiente escolar em que os alunos tiveram a oportunidade de

exercitar um pouco o protagonismo de uma forma organizada e

começar a ter esse gosto por aquilo, o sentido, o significado de que

aquilo que ele faz e a forma como ele se relaciona com as outras

pessoas interfere no ambiente, interfere naquilo que ele aprende e

naquilo que ele leva da escola. [...] Temos vários alunos que saem da

escola e depois retornam, porque eles gostavam do ambiente, porque

tinha um ambiente de amizade, um ambiente de convivência com os

outros, uma questão em relação à aprendizagem. Eles nos colocam

que tiveram a oportunidade de estar aprendendo muita coisa aqui,

que em outros espaços escolares, não tiveram essa oportunidade de

estar vendo.‖ (Rogério).

De acordo com André, embora existam casos de violência na ETI Cajueiro,

os/as estudantes convivem bem na escola. Ele afirma não ser comum a ocorrência de

atos considerados graves, como agressões físicas entre ele/as, em virtude da

comunidade e do bairro não serem violentos. Para Rogério, as relações de convivência

melhoraram na ETI Jequitibá, na medida em que os/as estudantes tiveram mais

oportunidades para se organizar e refletir sobre suas atitudes em meio ao ambiente

escolar. Com isso, compreendemos que o protagonismo discente possibilita ampliar as

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percepções dos/as estudantes acerca da convivência escolar e dos sentidos atribuídos ao

processo de ensino e aprendizado (VINHA et al. 2017).

Ao tratarmos das relações de convivência entre professores/as e estudantes,

os/as entrevistados/as ressaltaram o seguinte:

―[...] Acho que é um grupo de professores e funcionários que se

importa com as crianças. Sabe que estabelece um vínculo, por mais

que a gente fique brava, às vezes está estressada com eles, a gente

tenta criar um vínculo porque entende que através do vínculo afetivo

que se estabelece uma relação mais propícia para esse processo de

ensino e aprendizado. Eu preciso estabelecer uma relação de

confiança, atingir o outro de certa forma para que a gente possa ir

junto e produzir alguma coisa.‖ (Laura).

―O adulto tem que ter essa relação com (os/as estudantes). É uma

relação que ao mesmo tempo ‗sou eu que mando, mas eu estou te

vendo‘. Eu desço aqui, aquele que está aqui em cima não consegue

dar aula aqui, não dá aula! [...] O impor é do jeito que eu me

imponho, com respeito ‗eu te respeito você tem que me respeitar, só

que aqui sou eu quem manda‘. Tem que deixar bem claro quem

manda, tem que ter.‖ (Clara).

―[...] Tivemos vários embates aqui em que os alunos colocaram as

formas como os professores tratam os alunos. Tivemos resistências

em fazer e organizar as assembleias, em função até de que havia

professores que colocavam ‗como é que o aluno, a opinião do aluno,

o parecer do aluno vai sobrepor o parecer do professor?‘. Então a

gente trouxe para uma relação mais horizontal e menos autoritária,

então a questão da autoridade vem mais de dentro da percepção das

pessoas em relação ao respeito, em relação a ‗não é porque ele é

professor que ele vai deixar de respeitar‘. Ter respeito pelo aluno nas

condições básicas, princípios básicos. Então teve muito essa

discussão, teve alunos que eram colocados como problema, os

‗alunos problema‘ que colocaram embates em relação a professores

que também tinham essa coisa de se impor.‖ (Rogério).

Na opinião de Laura, o grupo de professores/as e funcionários/as da ETI Ipê

se preocupa em estabelecer vínculos afetivos com os/as estudantes, pois conforme

citado anteriormente, a qualidade do clima escolar influencia as relações de confiança e

favorece o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizado. Nessa perspectiva,

Clara comenta que os/as professores/as têm que se impor com os/as estudantes, mas ao

mesmo tempo tratá-los/as com atenção e respeito, esse equilíbrio retoma a importância

das relações horizontais no modelo de gestão democrático. Entretanto, a fala do Rogério

chama atenção pela resistência de um grupo de professores/as da ETI Jequitibá em

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realizar assembleias de classe com os/as estudantes, por receio de tornar as relações

sociais entre docentes e discentes menos autoritárias e verticais.

Ao refletirem sobre as relações de convivência entre os/as professores/as, os

comentários foram os seguintes:

―Essa questão da estrutura, por ela ser insuficiente, fez com que nós

professores trabalhássemos muito mais coletivamente. Por conta dos

rodízios, ter que partilhar espaços, porque tinha que se encontrar,

porque uma tinha que salvar a outra, porque essas situações são tão

complexas e se uma não ajuda a outra ali, ninguém sobrevive. Então

eu acho que algumas faltas fizeram outras coisas acontecerem, mas

desde o projeto a gente já tinha uma ideia do fortalecimento do

trabalho coletivo, não foi só a questão do espaço que fez a gente

pensar nisso, tanto que a gente conseguiu ter as demandas dos TDEPs

(trabalho docente entre pares), dos trabalhos docentes coletivos

ampliados na escola.‖ (Juliana).

―Acho que a gente tem uma relação muito boa. É um grupo muito

coeso, é um grupo que se ajuda bastante, é um grupo participativo,

interessado, mesmo os funcionários também a gente tem uma parceria

com eles, a gente tenta um ajudar o outro, acho que a gente tem uma

relação harmônica.‖ (Laura).

―Eu acho que, de uma forma geral, o corpo docente se entende. Têm

também os estranhamentos, cada um tem o seu jeito de trabalhar, mas

eu não percebo um conflito que atrapalhe o trabalho.‖ (Ester).

Em sua fala, Juliana ressalta a importância do trabalho coletivo para o

desenvolvimento das aulas na ETI Pitangueira, devido à necessidade de fazer rodízio

dos espaços e das salas ambientes. Outro aspecto importante levantado pela professora

foi a inclusão do trabalho docente entre pares (TDEP) na jornada de 24/40 horas aula,

por ser destinado ao planejamento de ações coletivas, como aulas e projetos

interdisciplinares. Apesar da conquista desse tempo pedagógico na jornada de trabalho,

a demanda por espaços físicos marca a falta de estrutura adequada para o

funcionamento das ETIs e, mais uma vez, retoma a questão das políticas públicas e dos

desinvestimentos na área da educação.

Laura aponta características que favorecem a dinâmica das relações de

convivência entre o corpo docente da ETI Ipê, como a coesão do grupo, a ajuda mútua,

o interesse e a participação de todos/as. Nessa esteira, Ester destaca as diferentes

características de trabalho na ETI Araucária, mas ressalta o entendimento que existe

entre os/as professores/as. Por outro lado, Clara relata as sucessivas mudanças no

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quadro de funcionários/as da ETI Manacá, em meio a discordâncias entre equipe

gestora, professores/as e estudantes:

―[...] Quebrou muito (o corpo docente) e não foi só uma vez, foram

vários anos. [...] A gente tinha um grupo muito mais coeso, um grupo

muito mais junto, mas todos foram se aposentando. Porque a gente

precisava se unir enquanto grupo, porque a agressividade também

parte da direção, se a direção não entende esse mecanismo e a forma

como nós trabalhamos e não consegue enxergar esses alunos como

eles são... Eles (estudantes) acabam com a direção também. Tiveram

muitos casos aqui em que o diretor saiu e não voltou nunca mais, aí é

problema do diretor que também não soube lidar. Os professores

ficavam, tiveram vários anos em que ficaram, e isso são eles

(professores/as) que contam que eles tocavam a escola‖. (Clara).

Em nosso entendimento, as atitudes agressivas provenientes da direção

escolar retratam a violência simbólica presente no cotidiano das escolas, como casos de

assédio moral e desrespeito com professores/as, funcionários/as e estudantes, bastante

recorrentes no modelo autoritário de gestão.

A respeito das relações de convivência entre professores/as e equipe gestora,

recortamos os seguintes trechos das entrevistas:

―[...] Temos problemas com a direção, porque ela tem que andar

mais, ela tem que conhecer o dia-a-dia, tem que conhecer o que está

acontecendo, se ela não fizer isso, ela não entende o porquê de

estarmos pedindo determinado material, não entende o porquê da

punição, ela não entende! Quando a gente tira da sala de aula é

porque realmente não está dando.‖ (Clara).

―[...] Às vezes temos algumas dificuldades com as gestoras por causa

de comunicação, porque eu acho que entre elas mesmas a

comunicação é falha. São três gestoras, a orientadora pedagógica, a

direção e a vice-direção, mas que têm uma carga horária para

atender duas escolas, praticamente das 7h até 23h. [...] Penso que,

pelo número de alunos, se dessem conta uma orientadora pedagógica

e uma diretora... Mas não é o número de alunos, isso também

influencia, é o perfil dos nossos alunos. Como temos conflitos diários,

teria que ter (uma orientadora pedagógica) em tempo integral, mas

não é o que acontece. [...] Além de ter esse fator do horário reduzido,

que contribui para as confusões e conflitos entre professor, aluno e

gestão, tem também a questão da dificuldade de comunicação. Uma

fala uma coisa, daqui a pouco a outra fala outra coisa, então isso

gera problemas.‖ (Ester).

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Na opinião de Clara, a diretora educacional precisa conhecer melhor o

cotidiano da escola para compreender as demandas dos/as professores. Percebemos que,

muitas vezes, a alta demanda de trabalho burocrático faz com que a equipe gestora se

concentre em resolver pendências administrativas, impactando na dimensão pedagógica

da escola. Para Ester, as falhas de comunicação e o número reduzido de profissionais da

equipe gestora são aspectos que afetam as relações de convivência na ETI Araucária,

onde os conflitos são recorrentes. Nessa fala, fica evidente como o quadro incompleto

de funcionários/as influencia o funcionamento da escola. Acerca dessa temática, outros

comentários ampliaram a discussão:

―Nesse momento, eu acho que as relações pessoais estão um pouco

mais estabilizadas, está ficando mais fácil conversar na escola. A

gente teve um momento de muita tensão, por conta de mudanças que

foram feitas de cima para baixo, sem ter a participação da

comunidade escolar. Foram mudanças meio autoritárias e isso virou

um clima muito tenso na escola. [...] E isso criou uma tensão muito

grande e criou relações bem conturbadas, principalmente na relação

dos professores com a administração, que não deixava de refletir nos

alunos também, porque os alunos também encampavam algumas

demandas que eram dos professores, que eram da escola, que eram

da comunidade [...] Agora, eu acho que percebo um pouquinho mais

de transparência, um pouquinho mais de democracia nas decisões, eu

acho que está melhorando um pouquinho.‖ (André).

―A gente pensa nos projetos de forma coletiva mesmo. Desde que

implementou a escola, a gente teve uma gestão bastante democrática,

que também não centralizava as decisões nela, tudo era feito junto

com a gente. Então isso é importante, tudo o que a gente ia pensar na

escola era feito junto com os professores, isso é um ponto muito

importante e positivo.‖ (Juliana).

André aponta que a postura autoritária da equipe gestora, ao tomar decisões

importantes sem a participação da comunidade escolar, gerou um ambiente de

insatisfação na ETI Cajueiro. Entretanto, a partir de ações mais democráticas na

administração da escola, percebeu sinais de mudança nas relações de convivência, como

a abertura para o diálogo. Em outra perspectiva, Juliana reconhece o modelo de gestão

democrático adotado na ETI Pitangueira, desde sua implementação. Ela considera

importante que as ações pedagógicas e os projetos desenvolvidos na escola sejam

planejados de forma coletiva. Essas falas retomam a questão do clima escolar, pois

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59

percebemos que quando as relações entre professores e equipe gestora não são boas, os

reflexos são percebidos nas relações com e entre os/as estudantes.

Outro ponto importante nessa análise refere-se ao modelo de gestão

empregado pela direção escolar nas relações de convivência. Compreendemos que na

estrutura horizontal, os atores têm mais espaço para dialogar, propor iniciativas e criar

soluções em conjunto para atender as demandas da comunidade escolar, enquanto na

organização verticalizada, existe uma cadeia de comando com diferentes níveis

hierárquicos, onde as decisões são centralizadas na equipe gestora. Nesse modelo de

gestão, as orientações vindas de cima para baixo, geralmente frustram as expectativas e

geram um clima de insatisfações entre funcionários, professores/as, estudantes e seus

familiares.

Outra questão interessante diz respeito à percepção dos/as professores em

relação às famílias dos/as estudantes:

―[...] Na época a gente tinha um conselho de escola muito atuante, a

gente teve pais de alunos do nosso conselho participando junto da

comissão. Então, quando a gente teve que negociar com a secretaria,

esses pais conselheiros estavam conosco. Existiam pressões

acontecendo que, naquele momento, foi importante. Na nossa escola a

gente precisou fazer mudanças estruturais [...]. Foi importante esses

pais estarem com a gente.‖ (Juliana).

―Porque aqui é assim, o professor não tem razão quando chama

(para conversar) e as mães dão razão para os alunos mais

tranqueiras. [...] Mas eles vêm! Só os que não me conhecem, os que

são novos ou que vêm de fora que vêm até com petulância.‖ (Clara).

Em seu relato, Juliana lembra que no período de implementação da ETI

Pitangueira o conselho de escola apoiou as demandas necessárias para a adequação da

estrutura predial. Ela acredita ter sido indispensável a participação das famílias nesse

processo. Para Clara, ainda que os/as responsáveis compareçam às reuniões escolares,

algumas famílias tendem a dar razão para os/as estudantes indisciplinados e tratam com

desrespeito os/as professores/as que as convocam para conversar. De acordo com

Cavalcante (1998) a colaboração entre pais e escola é fundamental para melhorar o

ambiente escolar e transformar a relação dos/as estudantes com o processo de ensino e

aprendizado em experiências significativas.

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60

Em suma, ao refletirem sobre a dinâmica das relações sociais entre os atores

da comunidade escolar, os/as professores descreveram as ETIs em que trabalham da

seguinte maneira:

―A escola que eu trabalho hoje é uma escola que me dá muito prazer

em trabalhar. Porque é uma escola que tem um público muito

produtivo, um público que a gente consegue desenvolver um trabalho

que dá muitos resultados, que a gente consegue fazer e realizar

propostas, fazer as coisas que a gente propõe. [...] A gente conversa,

a gente produz conhecimento, produz vivências com o que eles nos

trazem e com o que a gente traz para eles, então a gente faz essa

socialização de conhecimento. [...] Mas também tem uma viabilização

desse trabalho muito grande, eu acho que essa escola ainda consegue

viabilizar muitas propostas nossas, muitos projetos que a gente

consegue mobilizar, a gente tem conseguido. Não é um sonho, mas eu

acho que já é uma questão bem fora da realidade de outras escolas

públicas de Campinas mesmo, onde a gente vê que a situação é muito

precária. E também por conta dessa combinação de escola,

comunidade, pobreza e exploração que acontece na comunidade. E

essa escola eu acho que ela tem um pouco mais de facilidade para

trabalhar, eu acho que a escola tem um ambiente bom para trabalhar,

para ensinar, para aprender, para desenvolver e para conviver. Acho

que em suma, dá para dizer que eu não trocaria essa escola por

nenhuma outra de Campinas (risos). Pelo o que eu vejo, pelos meus

colegas falando na rede, eu não trocaria não.‖ (André).

―[...] Pelas coisas que eu ouço e que eu vejo em outros lugares, eu

descrevo como uma escola tranquila. Eu acho que a gente tem sim

alguns casos (de violência escolar), mas não dá para esperar que não

se tenha nada [...] a gente gostaria de ter um ambiente mais

harmônico, onde a gente não precisasse ver uma criança batendo na

outra. [...] Eu descrevo que a gente ainda pode melhorar, mas eu

descrevo que é um ambiente muito bacana de se trabalhar, a gente

tem uma relação boa com as crianças, então eu acho que a gente está

nem no perfeito, claro que não, mas eu acho que a gente está no legal,

no ideal, eu não diria que é uma coisa ruim, a gente está mais para os

pontos positivos do que para os pontos negativos apesar de termos

casos ainda‖ (Laura).

Em sua reflexão, percebemos que André sente-se realizado em trabalhar na

ETI Cajueiro. O professor considera os/as estudantes produtivos e acrescenta que a

escola viabiliza o desenvolvimento dos projetos. Em comparação com outras escolas,

Laura percebe certa tranquilidade na ETI Ipê. Ela entende que os conflitos são comuns

no cotidiano escolar, entretanto lamenta a ocorrência dos atos violentos. De acordo com

Pontes (2007), a compreensão dos/as professores/as acerca do fenômeno da violência

escolar esbarra em questões relacionadas com a noção de conflito. O autor esclarece que

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os conflitos são ―formas normais e necessárias de interação social e que podem

contribuir para a mudança, a permanência ou até para a transformação desse corpo‖ (p.

88). Ainda, considera que ―toda violência é manifestação de conflito, mas nem todo

conflito descamba em violência‖ (p.92).

Em outras falas, os/as professores levantaram diferentes características das

escolas em que atuam:

―Eu acho que a minha escola tem uma questão de violência que é

evidente, não dá para falar que ela não acontece. Ela acontece o

tempo todo, em qualquer aula que você for você vai detectar alguma

coisa acontecendo, seja um gesto de uma criança para a outra, uma

fala do professor ou uma questão de uma imposição da gestão por

uma coisa que a gente desacredita que precisa acontecer. [...] Eu

acho que esse é um ato de violência, que a gente não consegue

superar, fazer uma transformação social a partir da escola. Então eu

acho que ali tem isso, é uma coisa que na ETI Pitangueira eu comecei

a ter percepção maior disso, porque a gente tem um grupo que é

muito politizado e a gente discute bastante, que não era uma

dimensão que eu tinha em outra escola, por exemplo, que eram coisas

que passavam. Porque ali, ficam muito evidentes as desigualdades

sociais, a questão da vulnerabilidade social, então ali ela chama para

você olhar para aquilo‖. (Juliana).

―Como eu disse que (o corpo docente) quebrou muito, agora tem que

ser construída uma nova cara e um novo objetivo coletivo. Porque a

escola só tem identidade quando ela tem um objetivo coletivo, mesmo

que eu discorde, mas eu preciso caminhar coletivamente.‖ (Clara).

No ponto de vista de Juliana, a violência escolar na ETI Pitangueira se

manifesta de diferentes formas, por parte da equipe gestora, dos/as professores e dos/as

estudantes. Ao refletir sobre as desigualdades sociais e as condições de vulnerabilidade

às quais a comunidade se insere, ela valoriza a dimensão social presente nas discussões

promovidas pelo corpo docente. Para Clara, após a reformulação do grupo de

professores, a ETI Manacá passa por um processo de construção de identidade em busca

de um objetivo coletivo.

Algumas questões relacionadas com os projetos desenvolvidos nas ETIs

também foram pautadas:

―Eu acho que é uma escola que tem um projeto maravilhoso, mas que

está vulnerável, por falta de estrutura física, recursos humanos e um

olhar mais cuidadoso da prefeitura e da secretaria de educação com

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62

a nossa escola. Porque nossa escola está virando referência para os

serviços de saúde, de justiça, porque tudo o que as outras escolas não

conseguem lidar, vem para a nossa escola, a gente precisa de

psicólogo, psicopedagogo e não tem. Então, a gente se vira, a gente se

ajuda.‖ (Ester).

―Eu acho que a escola como um todo, ela vem em um crescente

porque a gente aborda essa questão da violência, a gente aborda essa

questão da convivência. Nós tivemos um momento [...] de bons

avanços aqui na escola. Essa questão da possibilidade deles

participarem mais efetivamente e serem mais protagonistas, a

oportunidade de terem um currículo mais abrangente envolvendo

vários tipos de linguagens diferentes, [...] de outras habilidades mais

corporais, mais teatrais, que pudessem estar sendo trabalhadas na

escola, outras formas de trabalho. [...] Mas além de cortarem as

oficinas, os próprios oficineiros têm que estar vinculados a uma

percepção de Português e Matemática instituídas em provas. [...] Por

conta dessa política que tirou a prioridade em relação às linguagens

de dentro da escola integral, que era o projeto original,

fundamentado cientificamente em relação a muitos estudos que já

vinham acontecendo da Jaqueline Mol em relação a tudo isso, por um

projeto simples de tempo integral e de aumento de conteúdos

específicos, de reforço específico para esses conteúdos dentro desse

tempo ampliado da escola integral. Para mim, um prejuízo enorme em

relação ao que a gente almejava e a gente vê isso como reflexo. [...] A

oportunidade de alunos que a gente pode considerar como

‗problema‘, que se afinam mais com outro tipo de linguagem, seja

teatral, seja artística, seja musical, e que não é contemplado.‖

(Rogério).

Ester argumenta que, embora a ETI Araucária desenvolva um projeto de

referência em Campinas, a escola sofre com a falta de recursos humanos e estrutura

física. Ela considera que a prefeitura e a secretaria de educação deveriam investir mais

na escola. Nessa esteira, Rogério descreve que a ETI Jequitibá passou por momentos

importantes com o oferecimento de oficinas ligadas ao Programa Mais Educação.

Entretanto, a partir de cortes no programa, as oficinas se resumiram ao reforço de

componentes curriculares específicos.

Em meio a esse cenário, conhecemos as perspectivas dos/as professores

acerca das relações sociais entre os atores da comunidade escolar e as principais

características das ETIs em que trabalham. Ao considerarmos o fenômeno da violência

escolar como objeto desse estudo, encontramos no texto ―Violência, educação e

sociedade: um olhar sobre o Brasil contemporâneo‖ de Angel Pino (2007), boas pistas

para o desenlace dessa discussão.

Page 63: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

63

No artigo, o autor examina aspectos conceituais sobre violência, crime e

transgressão; discute a relação entre violência e racionalidade; aborda a relação da

violência com condições históricas, sociais, econômicas e políticas da sociedade; por

fim, discute o papel da educação e da educação escolar no sentido das relações sociais,

onde a violência é desnecessária.

O autor compreende a educação como a constituição humana do ser

humano, ―processo pelo qual um ser naturalmente biológico se transforma num ser

cultural pela interiorização da experiência social e cultural dos homens, vivida no seio

do grupo humano em que está inserido‖ (PINO, 2007, p.779). Ao considerar o plano

das relações sociais como fundamental dessa experiência constitutiva do ser cultural do

ser humano, Pino (2007) destaca que ―É a consciência da necessidade de estabelecer e

de viver essas relações que constitui a razão da base da não-violência‖ (p.780).

Linhas de convergência

Nessa pesquisa, buscamos aprofundar a discussão acerca de dois objetos de

estudo bastante relevantes no campo da Educação Física, a implementação das Escolas

de Tempo Integral e o fenômeno da violência escolar. Com o intuito de

compreendermos a correlação entre esses temas, apresentaremos a seguir os diferentes

pontos de vista dos/as professores/as entrevistados/as:

―[...] Como a escola é integral e como os alunos estão aqui o dia

inteiro — praticamente eles vivem na escola — o que eles estariam

fazendo em outro local, as relações sociais que eles teriam em outros

locais, como as relações de amizade, de companheirismo, as relações

de violência também, de diferenças, eles passam a ter na escola,

porque eles estão aqui. E como eles estão aqui o dia inteiro, é aqui

que as coisas acontecem, não só as coisas boas, mas também as

coisas ruins.‖ (André).

―Começa a aumentar a convivência, é natural que se aumente os

conflitos. A mesma proporção também que se aumenta a afetividade,

mas o que aparece são os conflitos. [...] Lógico, você está 4h vai ter

‗x‘ conflitos, você vai estar 8h vai ter ‗x‘ e ‗y‘, é normal.‖ (Ester).

―As crianças passaram a circular mais pela escola, se encontrar mais

do que acontecia antes, então eu acho que, quando têm mais

encontros, as questões de violência elas vão aparecer. Violência física

Page 64: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

64

ou mesmo de xingamentos, essas coisas... Porque eles passam a se

encontrar mais e tem um espaço de convivência maior, com mais

tempo de convivência [...] elas almoçam e logo depois têm um tempo

de brincar, nisso se reúnem 200 crianças, são três momentos diários

em que isso acontece.‖ (Juliana).

Nesses trechos, percebemos certa tendência dos/as professores/as em

correlacionar a ampliação do tempo de permanência dos/as estudantes nas ETIs com o

aumento dos casos de violência na escola. Eles/as destacam que os encontros e as

relações sociais passaram a acontecer mais nas ETIs, assim como os vínculos afetivos e

as situações de conflito e violência.

Por outro lado, ainda que esses argumentos evidenciem aspectos que

possivelmente influenciam a violência escolar, os/as professores/as ponderaram a

respeito do trabalho desenvolvido nas ETIs frente à incidência dessas situações:

―Eu acho que a gente está aqui em uma realidade muito bacana, mas

eu acho que é fruto de um trabalho que a gente está realizando ao

longo dos anos [...] Na verdade, o que mudou mesmo, o que

influenciou não foi a questão do tempo integral, eu acho que foi mais

essa questão das assembleias de classe e do trabalho com projetos, eu

vejo uma diferença maior nisso. Eu não sei te falar o quanto o fato de

ter virado tempo integral interferiu ou não na questão da violência, eu

vejo mais uma coisa que para mim é nítido é essa questão das

assembleias de classe, dos trabalhos que são desenvolvidos e da

maneira que são desenvolvidos com os alunos, o projeto tem uma

influência maior‖ (Laura).

Em seu ponto de vista, a ampliação da jornada escolar não representa uma

influência significativa na questão da violência. Laura considera que a boa convivência

entre os/as estudantes resulta de ações pedagógicas, como as assembleias de classe e

outros projetos desenvolvidos na ETI Ipê. Discutiremos sobre esse tema na próxima

categoria de análise, Estratégias para lidar com a violência escolar nas ETIs. Nessa

esteira, André argumenta sobre o comportamento dos/as estudantes durante as

atividades oferecidas na ETI Cajueiro:

―Elas (violências) acontecem em todos os momentos da convivência

dos alunos na escola, em uns mais em outros menos. A gente tem

algumas atividades na escola que são bem lúdicas, bem à escolha do

aluno. Então eu acho que nessas atividades, em que o aluno escolhe o

que ele quer fazer, como as oficinas onde ele preferiu estar ali

naquele momento, que o índice de violência nesses momentos é muito

Page 65: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

65

menor, o índice de insatisfação, porque é quando o aluno escolhe o

que ele quer fazer... Quando ele está na escola porque ele é forçado,

eles têm certa insatisfação, certa rebeldia com relação a isso, mas

quando ele está na escola e está ali porque ele escolheu fazer aquilo,

escolheu algum tipo de oficina, alguma prática esportiva ou alguma

prática artística, nesse momento ele está fazendo o que ele gosta,

então é difícil ele se rebelar contra ele mesmo, contra o que ele

escolheu fazer.‖ (André).

Ele compreende que as transgressões disciplinares e a violência escolar

fazem parte do cotidiano da escola, entretanto o fato dos/as estudantes poderem escolher

as atividades que irão desenvolver nos projetos propiciou uma redução na incidência

desses casos. Com isso, entendemos que a oportunidade de exercer a autonomia crítica

ao optar pelas atividades de seu interesse, faz com que os/as estudantes atribuam mais

significado ao processo de ensino e aprendizado e ao ambiente escolar.

Um argumento levantado por Clara nos chamou atenção para outra

característica relevante das ETIs:

―[...] A gente não esperava, mas foi muito melhor. Porque o ambiente

aqui (no bairro) é que eles são agressivos, o ambiente é de casa e não

aqui. Isso aqui (escola) deu estrutura, deu segurança, porque eles têm

café da manhã, têm o lanche da manhã, têm o almoço, depois têm o

lanche da tarde e isso trouxe a eles muita segurança, em todos os

sentidos. Os pais também se sentiram protegidos e amparados. [...]

Porque é muita agressividade lá (no bairro) e aqui (escola) eles se

sentem protegidos e isso diminui a violência. Porque ‗aqui eu não

preciso fazer a minha arma‘, porque isso é defesa, essa agressividade

deles é defesa, só.‖ (Clara).

A professora ressalta que a violência se faz presente na comunidade do

entorno da ETI Manacá. Ela percebe que os/as estudantes sentem-se seguros na escola,

pois encontram o suporte necessário para suprir suas necessidades básicas. Essa

perspectiva se aproxima do caráter assistencialista das ETIs, no qual as instituições de

ensino protegem e amparam os/as estudantes que se encontram em situação de

vulnerabilidade social.

Mais um ponto interessante para nossa análise, diz respeito aos recursos

materiais e humanos disponíveis nas escolas e às estruturas física e organizacional das

ETIs. Sobre esse tema, os/as professores/as comentaram o seguinte:

Page 66: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

66

―[...] A ETI Cajueiro a gente não pode ter por referência, porque é

uma escola que foge ao padrão das escolas públicas municipais do

Brasil afora na questão da estrutura, porque ela é uma escola bem

grande, com muitas salas ambientes. Mas ela precisa ter uma visão de

‗que aluno a gente quer para a cidade, para o Brasil?‘ [...] Não é só

cumprir o que o mercado determina, mas também a gente tem que

pautar algumas coisas para o mundo, para o mercado, para o

capitalismo, para a cidade em que a gente vive, não pode seguir

somente as pautas que estão postas, tem que contestar algumas coisas

e dar esse conhecimento crítico, essa educação crítica. Não é só

chegar aqui colocar todas as oficinas bonitinhas, faz isso e faz aquilo

lá, tem que contestar um pouquinho, tem que questionar...‖ (André).

―[...] É um prédio totalmente fechado para o período integral, você

não vê a luz do sol, você não tem lugar para tomar sol, lugar para

tomar ar, tudo fechado com grade e tela. Apesar de ter uma sala

temática, que eu adoro trabalhar lá e fica tudo bem organizadinho,

mas não é o suficiente para o período integral, não é o suficiente! [...]

E quando falta algum professor, ou você junta turmas ou o que você

tem que fazer é milagre! Só que não é simplesmente juntar turmas,

porque são anos, amadurecimentos e conhecimentos diferentes e

muitos conflitos entre eles. Quando junta turmas, você está gerando

uma série de problemas e o pedagógico fica esquecido. Não é só

deixa-los lá dentro, não é só ter um lugar para eles ficarem, tem que

ter um lugar para eles ficarem com qualidade e quando você não tem

o suporte, perde-se a qualidade. [...] Então não é ‗um problema da

escola integral‘, o problema da escola integral ou do meio período é

a falta de estrutura para trabalhar que vai comprometer o trabalho de

qualquer um. Sobrecarrega o professor, sobrecarrega o funcionário,

o aluno que não se sente entendido, isso tudo gera revolta, cansaço,

LTS (licença para tratamento de saúde)...‖ (Ester).

―A gente fez um documento com a proposição de um projeto. Com

isso, a partir dessas experiências, a gente já sabia que algumas coisas

a gente não queria para a educação integral. A gente não queria

turno e contraturno, a gente não queria ter um trabalho que ficasse

delegado aos educadores voluntários, como no Programa Mais

Educação. Então a gente pensou em um projeto que tivesse

professores efetivos ligados à escola, pensando esse projeto da

escola. Acho que esse foi um dos grandes pontos que a gente

conseguiu garantir, que eu acho que foi um ponto interessante para a

gente ter mantido o projeto na cidade. Porque tantas outras coisas

foram se desconstruindo no meio do caminho, como o currículo que já

mudou o que a gente tinha proposto. [...] Eu acho que temos muitos

pontos ali (para melhorar). A questão das refeições é muito evidente e

nevrálgica, porque desde que a gente implementou esse é um

problema que a gente não conseguiu resolver. [...] Forma uma fila

enorme para as crianças se servirem, porque tem que servir em tal

horário, então você tem um espaço que não colabora para que

algumas coisas diferentes possam acontecer. [...] Então as crianças

ficarem naquela fila para almoçar é um negócio terrível!‖ (Juliana).

Page 67: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

67

André reconhece que a ETI Cajueiro tem uma estrutura física adequada para

o desenvolvimento das aulas e dos projetos, acima da média em comparação com outras

instituições de ensino. Ele também ressalta a importância da escola se empenhar para a

construção do conhecimento crítico e reflexivo com os/as estudantes. Por outro lado,

Ester avalia que a estrutura do prédio não é apropriada para a ETI Araucária e aponta

que o processo de ensino e aprendizado fica prejudicado quando faltam professores/as.

Ela sinaliza que a falta de suporte tanto para as ETIs como para as escolas de ensino

parcial causa problemas para todos da comunidade escolar. Por sua vez, Juliana lembra

a elaboração do documento que fundamentou a implementação das ETIs em Campinas,

bem como as conquistas e perdas ao longo desse processo. No tocante a estrutura, ela

salienta os problemas relacionados com a organização dos momentos de servir as

refeições.

Em meio a todo esse cenário, onde a violência escolar se faz presente no

cotidiano das Escolas de Tempo Integral, veremos no próximo tópico as estratégias

desenvolvidas pelas escolas e pelos/as professores/as para lidar com esse fenômeno.

2.3. Estratégias para lidar com a violência escolar nas ETIs

Ações pedagógicas e projetos das escolas

A compreensão das estratégias utilizadas para lidar com a violência escolar

nas ETIs integra mais um tema significativo para o nosso estudo. A respeito das ações

pedagógicas para mediar essas situações, os/as professores/as comentaram o seguinte:

―Na Educação Física a gente trabalha muito essa coisa do grupo, por

isso os Jogos Escolares Municipais (JEM), para mim, foi um

instrumento de construção, eu uso o JEM como instrumento de

educação. Para mim, ele não é um fim, é um meio para que eu

consiga chegar ao meu fim que é a valorização, a autoestima, o

trabalho em grupo, o respeito nesse grupo, o saber essa coisa do que

eles não têm em casa, no ambiente familiar, nem na própria rua e

nem na comunidade. [...] Então eles se dedicam, eles querem. Aí eu

trabalho o melhor de cada um, eu não quero ‗o melhor‘, eu quero ‗o

melhor de cada um‘. Mesmo a agressividade, eu transformo ela a

favor.‖ (Clara).

Page 68: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

68

―[...] A gente percebe (o bullying), porque a gente tem uma conversa

com os alunos, a gente dá abertura para o diálogo nas nossas aulas e

nas nossas práticas. Então a gente consegue, às vezes, que o aluno

quebre esse silêncio e fale sobre o que ele passa na escola, tenha

liberdade para se comunicar, para conversar e tocar no assunto [...].

Eu acho que o desafio maior é perceber quando há uma situação de

sofrimento do aluno, sem que ela seja exteriorizada. A gente tem que

parar um pouquinho para conversar informalmente com os alunos de

vez em quando, na hora do almoço, no refeitório, na hora do lazer, do

recreio, porque são nesses momentos de lazer que surgem algumas

coisas, eles contam algumas coisas que normalmente no período de

aula a gente não tem como ficar atento a isso, algumas coisas

acontecem bem escondidas.‖ (André).

Nessas falas, percebemos que Clara e André desenvolvem medidas

preventivas para lidar com os casos de violência entre os/as estudantes, com estratégias

que objetivam reforçar as relações de convivência, os laços de amizade e de confiança.

As professoras Ester e Juliana comentaram sobre outras formas de intervir nessas

situações:

―Eu procuro, na medida do possível, tentar amenizar o estrago físico.

Quando é uma violência física, eu tento separar, mesmo sabendo dos

riscos, porque eles são adolescentes, jovens e fortes, entre as meninas

também tem briga e, sem querer, a gente acaba levando. Fica aquela

situação, ‗devemos entrar ou não devemos entrar‘, então pelo meu

perfil, eu não consigo ver uma briga de aluno e não tentar separar,

não tentar evitar. Mas depois que passa eu fico pensando ‗poxa vida,

eu corri risco‘[...] mas a gente sempre intervém de alguma forma,

também falando...‖ (Ester).

―Eu acho que eles são bem pequenos e, normalmente, isso acontece

por falta de orientação mesmo, então o que eu faço é chamar as

crianças e conversar. [...] Eu trabalho muito com roda de conversa

com as crianças, mas isso é demorado... Você pensa ‗vai conversar

que não vai mais acontecer‘, mas não, continua acontecendo. [...]

Grande parte dos profissionais ali eu acho que trabalha muito com

essa ideia mesmo da conversa, porque a gente não acredita muito que

suspender a criança vai resolver a questão. [...] Em casos muito

recorrentes, que a gente nota crianças que estão sempre praticando

atos de violência contra a mesma criança, ‗temos casos de bullying‘,

a gente tem que fazer uma intervenção maior, chamar a família para

localizar ‗olha, está acontecendo isso‘, aí a gente já tenta, além da

conversa cotidiana, trazer a família para mais próximo.‖ (Juliana).

Observamos que as professoras fazem uso de medidas socioeducativas para

cessar as atitudes violentas. Diante do risco, Ester enfatiza ter que separar brigas para

Page 69: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

69

preservar a integridade física dos/as envolvidos/as. Nesse contexto, entendemos que a

conversa é uma das estratégias mais utilizadas por elas, no sentido de esclarecer o que

de fato aconteceu e para orientar os/as estudantes sobre como resolver seus conflitos por

meio do diálogo. Juliana esclarece que entre as atitudes a presença da família é

fundamental para mediar os casos recorrentes e de bullying.

Em sua fala, Laura ainda apontou o uso de medidas punitivas, caracterizadas

pela ruptura no diálogo com os/as estudantes:

―Olha, eu vou falar que tudo depende do dia, depende da situação e

depende de quem faz. Porque o que a gente sempre costuma fazer é

conversar [...]. A gente tenta até trabalhar com a sala toda, eu falo

para eles ‗gente, quando vocês virem algum amigo brigando, fala

para ele parar com isso, isso não é bacana‘ [...]. Às vezes, tem

conflito que, se são as mesmas crianças, eu já nem converso, eu pego

e levo para a direção. [...] Esse ano a gente até colocou no regimento,

que eu nem sei se isso é muito correto na verdade, mas a gente está

suspendendo, [...] está reincidindo casos de bater, de agredir o outro,

a gente está suspendendo.‖ (Laura).

Percebemos que a atuação da professora varia de acordo com as diferentes

situações de violência, dos/as estudantes que as praticam, bem como a reincidência dos

casos. Ela explica que, ao encaminhar os/as estudantes para a direção escolar, as

estratégias incluem entrar em contato com as famílias e, dependendo da gravidade dos

fatos, determinar dias de suspensão para os/as envolvidos/as. No que diz respeito à

suspensão de estudantes, Silva (2017) aponta que ações educativas centradas no

controle disciplinar excessivo e nas punições podem agravar comportamentos

indisciplinados e violentos, além de intensificar a desigualdade social de grupos

tradicionalmente excluídos ao longo do processo educativo.

Nas entrevistas, também buscamos por elementos que descrevessem os

projetos desenvolvidos nas escolas para o enfrentamento desse fenômeno. A respeito

das assembleias de classe, os/as professores/as comentaram o seguinte:

―Nós começamos a implantar as assembleias de classe com os alunos,

em que eles começaram a organizar formas de discussão sobre temas,

não só que perpassam os conteúdos ou os conteúdos transversais, e

eles começaram a discutir entre eles de uma forma mais protagonista,

digamos assim, menos expositiva. Mas havia a discussão e até a

organização de espaços pedagógicos em relação à política e à

questão da organização social, para que eles pensassem a realidade

Page 70: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

70

da escola e, a partir dessa realidade da escola, também fosse

pensando a própria realidade que eles vivem no entorno deles, essas

relações‖. (Rogério).

―Todas as turmas fazem assembleia, eles têm os representantes, a

gente tem a reunião dos representantes que trazem as demandas das

assembleias e a gente formou as comissões para focar nos temas

levantados por eles. Então tem uma comissão que colocou muito a

questão do visual da escola — que eu acho que tem a ver com a

violência isso né? — quando você tem um ambiente que, de alguma

forma, olhar para aquilo te remete a uma coisa de descaso... Então

eles falam bastante disso, da escola estar mais bonita. [...] A gente

não tem muito caso de depredação lá não viu, diminuiu muito. Se a

gente for ver, antes as carteiras eram rabiscadas e agora não. Porque

eles rodiziam muito de sala e eles tem a responsabilidade pelo

ambiente também. Não que fique muito limpo, mas a gente tem pouco

caso de depredação, a gente trabalha bastante com isso...‖ (Juliana).

―A gente começou com um projeto de assembleia de classe há um

tempo, não sei se há cinco anos, e eu acho que isso teve muitos bons

resultados. [...] É um projeto da escola, todas as salas fazem uma

assembleia de classe, tem que fazer. Então toda semana, as

professoras de sala (pedagogas) ficam encarregadas de fazer esse

trabalho, porque elas têm mais tempo com eles. Eles se reúnem, eles

têm o ‗eu critico‘, ‗eu sugiro‘ e ‗eu felicito‘, essa questão de não citar

nomes e de fazer crítica a uma ação, um comportamento que não é

legal e não a pessoa. Parte de coisas que eles trazem e que eles vão

colocando ao longo da semana ou de temas que a professora traz [...].

O 5º ano começa a ter essa questão ‗por que tem que ser magra para

ser bonita?‘, ‗por que você é desse jeito?‘, ‗você é gorda!‘... Então

traz filme ou uma leitura e aí suscita de refletir a respeito disso e de

como isso afeta nossas relações aqui dentro (da escola).‖ (Laura).

Os/as professores/as explicaram sobre o projeto das assembleias de classe

que acontece regularmente nas escolas. Nesses momentos, as crianças realizam críticas,

sugestões, felicitações e perguntas sobre os assuntos trazidos por elas ao longo da

semana, ou pelo/a professor/a de referência, mediador/a da assembleia. Na perspectiva

dos/as professores/as, essas discussões incentivam as crianças a refletirem sobre como

suas atitudes interferem nas relações de convivência e quais ações podem tornar o

ambiente escolar melhor para todos/as.

As assembleias de classe são espaços de diálogo em que professores/as e

estudantes discutem questões importantes quanto às relações sociais na escola, com o

objetivo de aprimorar a ação e a convivência democráticas (PUIG, 2002). De acordo

com o autor, a elaboração das assembleias consiste em três momentos específicos: A

preparação, quando professor/a e estudantes levantam temas relevantes para o debate; o

Page 71: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

71

debate dos temas, onde os/as participantes encontram espaço para expressar suas

opiniões; e a aplicação dos acordos, que tem como objetivo estabelecer os combinados

da turma. No tocante aos resultados provenientes das assembleias, o autor destaca a

análise de situações difíceis, acordo e planos de ação, normas de comportamento e

propostas de trabalho.

Outro destaque foi o trabalho com a Comissão Própria de Avaliação (CPA),

responsável por coordenar a avaliação interna da unidade de ensino, constituída por

representantes docentes, estudantes, funcionários/as, familiares e equipe gestora:

―Outro caso que também tem ajudado é a Comissão Própria de

Avaliação (CPA). Uma professora fica encarregada junto com a

orientadora pedagógica e tem dois representantes por sala. As

crianças discutem uma ou mais vezes por semana, eles são

encarregados da horta e trabalham com outras questões também, por

exemplo, ‗o que tem sido muito legal na escola‘, ‗o que está

acontecendo de muito bom que vocês estão aprendendo‘ ou coisas que

não estão legais nas salas ‗tem gente falando demais enquanto a

professora está falando‘, ‗tem gente que não está respeitando as

regras da escola‘. [...] A gente teve alguns problemas com banheiro,

de gente jogar papel no vaso, o rolo inteiro, então eles conversam e

depois esses representantes replicam, conversam com a sala toda.‖

(Laura).

―Veio uma lei, a oportunidade do processo de estabelecimento da

Comissão Própria de Avaliação (CPA), de a própria escola ter uma

legislação que pudesse, ela mesma, organizar uma forma de

avaliação sobre todos os aspectos da escola, que a gente pudesse

organizar como é que seria feita essa avaliação. A gente começou a

implantar as assembleias de classe com a representação dos alunos,

as assembleias de professores, as assembleias dos outros segmentos

também, a discussão com os pais. A gente teve todo um plano de

organização em relação à CPA, em que essas discussões se dessem de

maneira mais horizontal e menos vertical vindo de cima para baixo.

[...] Dividimos as assembleias de CPA e as assembleias de

convivência. Nas assembleias de CPA a gente discutia mais sobre as

questões estruturais da escola, o pedagógico. Nas assembleias de

convivência, as relações pessoais não só entre alunos, mas alunos,

professores, gestores, a relação pessoal entre todos eles. E essas

questões cidadãs, de respeito às diferenças, as questões de gênero, a

questão de preconceito de classes.‖ (Rogério).

De acordo com a Resolução SME N° 5/2008 (CAMPINAS, 2008), esse

processo de avaliação tem como finalidade conhecer a realidade da escola e planejar

ações que visem o aprimoramento institucional e a superação de dificuldades. A

Page 72: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

72

comissão conta com reuniões semanais ou quinzenais, onde discutem e avaliam as ações

realizadas na escola. Após os encontros, os/as estudantes conversam com suas turmas

sobre os encaminhamentos definidos. A partir desses diálogos entre os atores da

comunidade escolar, os/as professores/as afirmam ter percebido mudanças importantes

nas relações de convivência das escolas.

Mais um aspecto relevante das ETIs refere-se à metodologia de ensino por

meio de projetos:

―Eu acho que o trabalho com projetos tem ajudado, a gente direciona

os projetos para essa questão do respeito, do respeito às diferenças,

da valorização das diferenças, esses ‗modos de ser‘, situações atuais

que remetem a esses comportamentos, nessas questões... [...] A gente

está até fazendo um curso agora [...] a gente teve dois encontros e ela

está trabalhando a questão do meio ambiente. E nessa questão do

meio ambiente, muito essa questão da interação social também, o

quanto isso interfere no outro, as relações que a gente estabelece, é

outro olhar. Essa é uma formação que eu acho, talvez, está vindo ao

encontro desse tema. Porque acaba abordando, quando você fala da

liberdade, da integridade, da dignidade, você também está falando um

pouco de como isso é tirado com essa violência.‖(Laura).

―Especifico de falar ‗nós vamos trabalhar com a questão da

violência‘, não. A gente trabalha com o enfrentamento do

preconceito, então a gente vai problematizar as situações de

preconceito, trabalhar com a temática étnico-racial é mais frequente

lá, porque tem que ser e a gente lida com isso, é uma população que

precisa. [...] Mas surgiram questões de bullying e de preconceito nas

assembleias agora, então é uma demanda das crianças e isso chama

para um trabalho. Então vai ter uma comissão formada pelo grupo e,

junto com as crianças, vão ter alguns professores pensando em ações.

As crianças mesmo já propuseram algumas ações que eles acreditam

que possam ajudar na questão do bullying e do preconceito, eles

pensaram em umas campanhas de conscientização, que eles querem

fazer cartazes e conversar com as crianças, e isso veio das

assembleias. Então é uma coisa sobre a qual a gente vai se debruçar

agora para pensar junto com eles as ações.‖ (Juliana).

―Mas esses momentos (de intervalo) também eram momentos de

muita tensão dentro da escola, que era um momento de muito ócio,

que para alguns é tranquilo, mas para outros não, alguns que estão

sem fazer nada buscam práticas meio perigosas e violentas inclusive.

Eu acho que com os projetos eles já tentam fazer um pouquinho mais,

nesses horários ociosos, o que eles estão fazendo no projeto, como é o

caso do tênis de mesa e dos esportes. Então eles aprendem nas

oficinas o tênis de mesa, esportes, artes, algumas filmagens, produção

de cinema e já levam isso para os momentos ociosos, para esses

horários livres, aí já ficam mais de boa durante o dia e nesses

horários de intervalo, porque eles têm outras ocupações. Às vezes eles

Page 73: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

73

têm trabalhos para fazer das oficinas e eles aproveitam o horário do

almoço para fazer esses trabalhos também.‖ (André).

―Você não viu nenhum problema assim... Mas antes você via, era

muito claro, porque esse trabalho vem vindo desde quando era meio

período. Nós começamos a fazer mais intervalos, onde eles tinham

que se socializar mais, tinha atividades dentro do próprio intervalo

para a construção já do período integral. [...] Quando parou (equipe

gestora na escola) começou a construir essa não violência. Esse

trabalho vem de muitos anos para chegar ao que está chegando hoje.

[...] O período integral, destas atividades que você vê, já vem ao

encontro disso que eu estou falando, da não violência, de uma

mudança e de um trabalho mais preocupado com o aluno. [...] Porque

você tem que ter um olhar para o ser humano, ao mesmo tempo

coletivo e individual. E cada vez são mudadas as necessidades de

cada turma, de cada idade e de cada aluno. E se você não fizer isso,

não caminha a escola, isso parte de todos. Eu falo desde o começo,

englobar o pessoal da limpeza, os guardas, o pessoal da cozinha, mas

parece que a direção não entende muito bem esse sistema.‖ (Clara).

No ponto de vista dos/as professores/as, o corpo docente se utiliza da

elaboração e desenvolvimento de projetos para encaminhar questões relacionadas ao

respeito, à valorização das diferenças e às relações de convivência no ambiente escolar.

Essas propostas envolvem aulas práticas, rodas de conversa, trabalhos em grupo e

momentos de interação entre estudantes de diferentes idades, o que proporciona uma

visão de mundo menos egocêntrica. Cada ETI tem autonomia para propor temas, ajustar

o tempo de duração e reorganizar as turmas a fim de delinear o melhor formato para

cada projeto. Embora os/as professores/as tenham mencionado particularidades dessa

estratégia pedagógica em suas entrevistas, não as detalharemos nesse texto para manter

o sigilo do estudo.

Outra questão interessante levantada por Laura diz respeito ao empenho da

ETI Ipê em elaborar ações que buscam a aproximação entre escola, comunidade do

entorno e os/as familiares dos/as estudantes:

―É bem difícil trazer o público para cá, ao longo dos anos a gente foi

conseguindo aumentar isso. A gente tem festas, reuniões de pais,

mostra cultural no final do ano, bazar a gente faz na escola, a gente

tenta aproximar as famílias... A gente conseguiu aumentar o número

de pessoas que vem, principalmente nas reuniões de pais, mas ainda

não é muito. [...] A gente criou uma página da escola em uma rede

social, está lá desde o ano passado, então a gente posta coisas da

escola e os pais, a família comenta, eles veem o trabalho, isso é uma

maneira de aproximar um pouco mais, de tentar estimular essa

Page 74: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

74

família a estar mais próxima da criança, do que está sendo

desenvolvido aqui, mas eu acho que a gente tem muito para melhorar

nessa questão.‖ (Laura).

Ela comenta que ao longo do ano, são realizadas reuniões com os/as

responsáveis, mostras culturais, festas e bazares. Também, foi criada uma página em

rede social para divulgar os trabalhos desenvolvidos na ETI. A professora percebe que

essas estratégias estimularam a relação da escola com os familiares, entretanto avalia

que precisam melhorar esse trabalho para fortalecer ainda mais esses vínculos.

No que se refere ao oferecimento de formação continuada específica sobre a

violência escolar, os/as professores comentaram sobre ao curso ―Convivência Ética na

escola‖ ministrada pelo GEPEM da Faculdade de Educação da Universidade Estadual

de Campinas (FE-Unicamp), realizado nas escolas:

―[...] A gente viu na ‗Convivência Ética‘, a oportunidade de

acontecer um projeto da nossa escola que possibilitasse destinar

alguns tempos de aula (para realizar as assembleias de classe) [...].

Com a formação a gente conseguiu garantir um tempo em que

pudesse estar organizando melhor essas práticas, por alguns

professores que acreditam nessas práticas como meio e conteúdos a

serem trabalhados também na escola. Então como oportunidade para

a gente ter um tempo em que seria esse espaço mesmo dentro da

grade de horários para estar trabalhando esses conteúdos. [...] Nós

formamos um ‗Grupo de Ajuda‘ com esse curso, a gente percebeu que

esse curso também ajudou a gente a discutir alguns temas e a ter um

embasamento maior, mais científico em relação a desenvolver alguns

conceitos que a gente pudesse aplicar aqui e algumas práticas e

experiências que vimos com as reuniões dos tutores, a gente associou

ao que a gente já fazia, então nos deu esse impulso também‖.

(Rogério).

―A gente tem uma formação que se chama ‗Convivência Ética na

Escola‘ já há dois anos, e a gente está escrevendo o plano de

convivência [...]. Nesse plano de convivência a gente procura ser o

mais justo possível, então amenizar os conflitos, evitar os conflitos e,

tendo o conflito, resolver de uma forma justa e coerente. [...] No

nosso caso eu acho que já amenizou, porque com essa formação a

gente teve mais clareza do que é violência, do que é indisciplina, o

que é uma violência grave ou branda, então a gente consegue

melhorar um pouco a resolução desses conflitos, amenizar... [...] A

gente está aprendendo a não fazer com que um problema pequeno se

torne grande, que a gente consiga resolver, sendo justo nas atuações,

nas sanções, na conversa, tudo começa através do diálogo,

esclarecimento, sem acusações, ‗vamos ver o que está acontecendo,

cada um tem a sua oportunidade de falar‘, é assim que a gente

trabalha.‖ (Ester).

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―A gente teve uma formação de convivência ética na escola, no ano

passado. Eu acho que a escola estava aprendendo a lidar com isso,

com essa violência, a partir dessa formação, a partir de outras

formações que tivemos e de palestras. A escola está começando a

perceber que a violência acontece e como ela acontece, a escola está

começando a sistematizar essas violências e traçar uma forma de

agir, um pouco que padrão, para cada tipo de violência, as violências

que acontecem com as crianças‖ (André).

Os/as professores/as destacam pontos interessantes da formação oferecida

na escola, como o esclarecimento a respeito das relações de convivência e de conceitos

ligados ao fenômeno da violência escolar. Eles/as também comentam sobre as ações

realizadas a partir desse curso, como a definição de uma rotina para a realização das

assembleias de classe, a organização das equipes de ajuda — grupos de estudantes que

aconselham e apoiam os colegas com dificuldade ou vítimas de bullying — e a

implementação do plano de convivência, um conjunto de ações que visam desenvolver

as relações de convivência nas instituições de ensino.

Por fim, percebemos que entre as ações pedagógicas citadas

pelos/professores, o diálogo é a estratégia mais utilizada com os/as estudantes, tanto nas

medidas preventivas como no sentido de mediar situações de violência. Dependendo da

gravidade das situações, também são empregadas medidas punitivas, como a suspensão.

Entre as os projetos desenvolvidos pelas escolas, destacamos as assembleias de classe, a

Comissão Própria de Avaliação (CPA), a metodologia de ensino por meio de projetos e

a formação continuada sobre convivência ética nas escolas.

Page 76: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

76

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse estudo, ao propormos a discussão sobre as perspectivas dos/as

professores/as de Educação Física acerca das manifestações de violência nas Escolas de

Tempo Integral em Campinas-SP, consideramos ser imprescindível compreendermos os

diferentes pontos de vista a respeito dos conceitos de violência e violência escolar. No

tocante à violência, eles/as a compreendem a partir da intencionalidade do ato, por

causar danos físicos, morais ou emocionais à outra pessoa, reconhecem as diferentes

formas como esse fenômeno se manifesta e apontam suas possíveis causas, como

fatores familiares e sociais. A respeito da violência escolar, parte dos/as professores

direciona o foco do problema para a sociedade, de modo que as violências do cotidiano

são reproduzidas nas escolas, enquanto outros/as afirmam que as instituições de ensino

também produzem violências, como o impacto de políticas públicas na qualidade do

ensino.

A partir dessas definições, por meio dos relatos de caso trazidos pelos/as

docentes, conhecemos as formas como a violência escolar se manifesta nas ETIs, bem

como os contextos em que ocorrem e os aspectos que possivelmente influenciam esses

atos. Percebemos que as violências na escola, à escola e da escola estão presentes no

cotidiano das ETIs, em diferentes situações e se expressam por meio dos casos de

bullying e dos atos de violência verbal, física e simbólica. Ainda, percebemos a

incidência de microviolências e de indisciplina.

Alguns aspectos que possivelmente influenciam a violência escolar são, na

perspectiva dos/professores, a dificuldade dos/as estudantes em vivenciar valores,

resolver seus conflitos por meio do diálogo, famílias desagregadas e o distanciamento

dos/as responsáveis em relação à instituição de ensino.

Com o intuito de delinearmos com mais detalhes esse cenário, destacamos

as relações de convivência entre os/as estudantes das ETIs, marcadas pela intolerância,

atitudes discriminatórias e preconceituosas, falta de entendimento entre eles/as e a

forma violenta com que resolvem seus conflitos. Entre professores/as e estudantes,

percebemos que eles/as se preocupam em estabelecer vínculos afetivos, em relações

sociais menos autoritárias, no sentido de atribuir significado ao ambiente escolar e ao

processo de ensino e aprendizado. A convivência entre os/as professores/as é

Page 77: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

77

caracterizada pela ajuda mútua, trabalho coletivo, interesse e participação de todos,

entretanto prejudicadas por sucessivas mudanças no quadro de funcionários. Por fim,

algumas atitudes provenientes da direção escolar retratam a violência simbólica presente

no cotidiano das escolas, como casos de assédio moral e desrespeito com professores/as,

funcionários/as e estudantes, bastante recorrentes no modelo autoritário de gestão. No

tocante às famílias dos/as estudantes, os/as professores/as reconhecem a importância

que elas tiveram durante o processo de implementação das ETIs e afirmam ser

indispensável que estejam mais presentes nas escolas.

Também investigamos a correlação entre a violência escolar e a

implementação das ETIs e percebemos certa tendência de alguns professores/as em

correlacionar a ampliação do tempo de permanência dos/as estudantes nas ETIs com o

aumento dos casos de violência na escola. Em contrapartida, outros/as acreditam que a

ampliação da jornada escolar não representa uma influência significativa na questão da

violência, pois as ações pedagógicas e os projetos desenvolvidos pela escola interferem

de maneira mais determinante no assunto.

No tocante a estrutura, percebemos que algumas escolas têm espaço físico,

recursos materiais e humanos apropriados para o atendimento em tempo integral, porém

outras sofrem com prédios inadequados, ausência de professores/as, gestores/as e

profissionais de apoio. Nesse sentido, entendemos que a falta de estrutura e de recursos

materiais, bem como o quadro incompleto de profissionais são aspectos que interferem

no clima escolar, nas relações de convivência e na qualidade do ensino.

As tensões e contradições apresentadas pelos/as professores/as retratam a

alarmante situação das escolas públicas brasileiras frente à violência escolar, sejam elas

de tempo parcial ou integral. Em meio aos desinvestimentos na área da educação, em

quais condições as metas do PNE 2014-2024 avançam? Apesar dessas dificuldades,

compreendemos a escola como um espaço de resistência, onde reivindicamos políticas

públicas que valorizem o ensino público de qualidade.

Trouxemos para o debate as diferentes estratégias utilizadas pelos/as

professores/as e pela escola para lidar com a violência escolar nas ETIs, a partir de suas

ações pedagógicas e dos projetos desenvolvidos nas instituições de ensino. Entre as

estratégias para lidar com a violência escolar nas ETIs, salientamos os projetos

desenvolvidos pelas escolas, como as assembleias de classe, a Comissão Própria de

Page 78: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

78

Avaliação (CPA), a metodologia de ensino por meio de projetos e o curso de formação

continuada sobre convivência ética nas escolas. Quanto às ações pedagógicas,

percebemos que os/as professores/as buscam dialogar com os/as estudantes para

resolver as situações de violência.

Por fim, conhecer as diferentes perspectivas desses/as professores/as, nos

possibilitou refletir acerca das manifestações de violência escolar no contexto das

Escolas de Tempo Integral. Por serem temas importantes para a pesquisa no campo da

Educação Física, acreditamos que os aspectos levantados nessa investigação possam

colaborar com o desenvolvimento de novos estudos, que envolvam observação e que

permitam a participação dos/as estudantes, a fim de ampliarmos a discussão sobre essa

temática.

Page 79: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

79

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Page 84: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

84

APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

VIOLÊNCIA ESCOLAR: Perspectivas de professores/asde Educação Física sobre as

Escolas de Educação Integral de Campinas-SP.

Ricardo Manoel de Oliveira Zambelli; Elaine Prodócimo

Número do CAAE:

Você está sendo convidado a participar como voluntário de um estudo. Este documento,

chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos e deveres

como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com o

pesquisador.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se

houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o

pesquisador. Se preferir, pode levar para casa e consultar seus familiares ou outras pessoas antes

de decidir participar. Se você não quiser participar ou retirar sua autorização, a qualquer

momento, não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo.

Justificativa: O estudo discorrerá sobre a violência escolar nas Escolas de Educação Integral

(EEI), da Rede Municipal de Ensino de Campinas-SP, a partir das perspectivas de

professores/as de Educação Física. Nesse contexto, discutirá a dinâmica das relações

interpessoais entre professores, alunos, familiares, equipe gestora e funcionários na rotina de

estudo e trabalho; bem como a percepção e a problematização da violência escolar nas EEIs.

Desse modo, a produção de conhecimento sobre esse fenômeno possibilitará ampliar a

compreensão acerca de suas manifestações no cotidiano dessas instituições de ensino.

Objetivos: O presente projeto de pesquisa tem como objetivo geral investigar a violência

escolar no contexto das Escolas de Educação Integral; e como objetivo específico compreender

como a violência escolar é percebida e problematizada pelos professores/as de Educação Física

nos seus diferentes contextos de atuação no cotidiano escolar.

Procedimentos: Ao participar do estudo, você será convidado(a) a realizar uma entrevista

semiestruturada com o pesquisador. Será realizada uma única vez, individualmente, com

duração aproximada de trinta minutos, no local de trabalho, em data e horário previamente

combinados que não interfira na rotina escolar. Será gravada em áudio e posteriormente

transcrita. Após a transcrição o texto será devolvido para que você possa alterá-lo. Após a

realização do estudo as gravações serão arquivadas por um período de cinco anos e depois serão

apagadas.

Benefícios e ressarcimento: O presente estudo trará benefício pedagógico-científico para o

entrevistado, pesquisador e à comunidade acadêmica de modo geral quanto à produção de

conhecimento na área da Educação Física. Os resultados obtidos estarão à disposição dos

participantes. A pesquisa não traz benefícios financeiros e não ocorrerá nenhum custo já que

toda a pesquisa será realizada no seu local de trabalho e em horário de permanência na escola.

Qualquer dano resultante diretamente do estudo será ressarcido pelos pesquisadores.

Acompanhamento e assistência: Os sujeitos da pesquisa que aceitarem participar deste projeto

poderão a qualquer momento recusar a participação ou o termo de consentimento sem qualquer

prejuízo em qualquer fase do estudo. Declaramos estar à disposição dos entrevistados e da

Page 85: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

85

instituição de ensino para quaisquer esclarecimentos antes, durante e após a realização da

pesquisa.

Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e

nenhuma informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de

pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome e o da escola em que

trabalha não serão citados.

Contato: Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com:

Prof. Esp. Ricardo Manoel de Oliveira Zambelli – Mestrando em Educação Física

Faculdade de Educação Física - FEF/UNICAMP

Tel: (19) 98357-1500

Profª Dra. Elaine Prodócimo

Docente na Faculdade de Educação Física - FEF/UNICAMP

Departamento de Educação Física e Humanidades (DEFH)

Tel: (19) 3521-6762

Endereço: Avenida Érico Veríssimo, 701, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão Geraldo

CEP 13.083-851, Campinas, SP, Brasil.

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação no estudo, você pode entrar

em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP): Rua: Tessália Vieira de

Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187;

e-mail: [email protected]

Consentimento livre e esclarecido:

Após ter sido esclarecimento sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,

benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar:

Nome do(a) participante: ________________________________________________________

_______________________________________________________ Data: ____/_____/______.

(Assinatura do participante ou nome e assinatura do responsável)

Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares

na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma cópia deste documento ao participante.

Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado.

Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as

finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.

______________________________________________________ Data: ____/_____/______.

(Assinatura do pesquisador)

Page 86: VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES/AS DE

86

APÊNDICE II

CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DE PESQUISA

À Diretoria da EEI ______________________________________________________.

Eu, Ricardo Manoel de Oliveira Zambelli, aluno de Mestrado na Faculdade de

Educação Física da UNICAMP solicito a autorização dessa Diretoria para a realização da

pesquisa intitulada, ―VIOLÊNCIA ESCOLAR: Perspectivas de professores/asde Educação

Física sobre as Escolas de Educação Integral de Campinas-SP.‖, a ser realizada nesta EEI.

Nesse estudo, utilizaremos como procedimento metodológico entrevistas

semiestruturadas com professores/asde Educação Física, voluntários a participar da pesquisa.

Outras informações estão mais detalhadas no projeto de pesquisa, que segue em anexo.

De acordo com os objetivos e a metodologia da pesquisa acima citada, solicito

autorização para seu desenvolvimento, sendo assegurados os seguintes requisitos:

O cumprimento das determinações éticas da Resolução nº 510/2016 CNS;

A garantia de solicitar e receber esclarecimentos antes, durante e depois do

desenvolvimento da pesquisa;

Não haverá nenhuma despesa para esta instituição que seja decorrente da participação

dessa pesquisa;

No caso do não cumprimento dos itens acima, a liberdade de retirar minha anuência a

qualquer momento da pesquisa sem penalização alguma.

Na certeza de contar com a colaboração desta Diretoria agradeço antecipadamente a

atenção, ficando à disposição para qualquer esclarecimento que se fizer necessário.

Eu, __________________________________________________________________,

Diretora da EEI _______________________________________________________, concedo

autorização para a realização da pesquisa de acordo com as normas apresentadas acima,

assim como no projeto apresentado.

Campinas, ____ de __________________ de 2017.

__________________________________________

Assinatura e carimbo