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outubro de 2012 outubro de 2012 62 63 Ofotógrafo paulistano Celso Bayo sempre quis retratar a força da mulher na cultura de um povo. “A África foi perfeita para este projeto”, conta ele, que passou quatro meses em uma verdadeira experi- ência sensorial pelo continente. Percorreu diferentes paisagens da Tanzânia, do oeste da Uganda até a fronteira com Ruanda e Congo; do interior e da costa do Quênia até a Somália. Na Etiópia, fotografou desde a região do Omo Valley até as montanhas de Lalibela. A ideia de Bayo é voltar outras vezes ao continente até que consiga fotografar cada região da África, uma aventura que demanda investimento e muito empenho. Por enquanto, já podemos conferir o resultado da primeira etapa na mostra Mulheres Africanas, em cartaz na capital paulista na loja Studio In, especializada em design. As imagens falam por si, captando a beleza, a força e o sentido primitivo de existência dessas mulheres. “A africana é bonita, simpática, acolhedora e essencial na base familiar. Por muitos motivos, entre eles educacionais e religiosos, é frequentemente inferiorizada pelos homens”, diz o fotógrafo. EXPOSIÇÃO Texto KATIA CALSAVARA Mulheres Africanas, mostra do fotógrafo paulistano Celso Bayo, traz imagens de beleza e força em um continente marcado pela fome Cenas da vida s

Voe Exposição

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outubro de 2012 outubro de 2012

EXposiçÃo

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o

fotógrafo paulistano Celso Bayo sempre quis retratar a força da

mulher na cultura de um povo. “A África foi perfeita para este projeto”, conta ele, que passou quatro meses em uma verdadeira experi-

ência sensorial pelo continente. Percorreu diferentes paisagens da Tanzânia, do oeste da Uganda até a fronteira com Ruanda e Congo;

do interior e da costa do Quênia até a Somália. Na Etiópia, fotografou desde a região do Omo Valley até as montanhas de Lalibela.

A ideia de Bayo é voltar outras vezes ao continente até que consiga fotografar cada região da África, uma aventura que demanda

investimento e muito empenho. Por enquanto, já podemos conferir o resultado da primeira etapa na mostra Mulheres Africanas, em

cartaz na capital paulista na loja Studio In, especializada em design. As imagens falam por si, captando a beleza, a força e o sentido

primitivo de existência dessas mulheres. “A africana é bonita, simpática, acolhedora e essencial na base familiar. Por muitos motivos,

entre eles educacionais e religiosos, é frequentemente inferiorizada pelos homens”, diz o fotógrafo.

EXposiçÃo

Texto KATIA CALSAVARA

Mulheres Africanas, mostra do fotógrafo paulistano Celso Bayo, traz

imagens de beleza e força em um continente marcado pela fome

Cenas da vidas

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EXposiçÃo

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Formado em Educação Física, Bayo saiu do Brasil em 1987 para estudar

inglês. Foi parar primeiro em Nova York, onde conheceu o fotógrafo carioca

Paulo Figueiras, de quem ficou muito amigo e que o iniciou nessa arte. Em

1995, mudou-se para a Califórnia, onde passou a fazer cursos de fotografia

em instituições como Foothill College e Academy of Art University, em São

Francisco. A essa altura, ele conta, já estava embriagado por essa paixão, “es-

sencial para a minha existência”.

De tempos em tempos, Bayo passa alguns meses no Brasil com a família

e os amigos. Conta que a carreira de fotógrafo em qualquer país é sempre com-

petitiva e que nos EUA não é diferente. “Talvez você tenha melhores condições

de trabalho lá do que em vários países, mas é preciso se esforçar muito”, afirma.

Um dos objetivos de seu trabalho é difundir diferentes culturas. Assim,

já passou por países como Cuba, Peru, Noruega, Indonésia, Camboja, Turquia

e outros. Durante a estada na África, ele lembra que chamou sua atenção a

alegria do povo, semelhante à do brasileiro, embora em meio a tantas difi-

culdades. Mas também não faltaram histórias engraçadas...

Quando estava fazendo a foto que depois receberia o nome de “Maria

Bonita”, percebeu que levou alguns beliscões. “Na primeira vez, nem vi de

onde veio. Só descobri que as mulheres da tribo faziam isso depois que meu

amigo também começou a ser beliscado. E que beliscões fortes! A razão dis-

so eu não sei, elas pareciam estar se divertindo, e como nossos guias não

falavam muito bem o inglês ou o dialeto das tribos, nossa comunicação era

precária. Mas também nos divertimos muito.”

Na próxima etapa do projeto, ele pretende focar o relacionamento da

mulher com o cotidiano ao redor dela. “Talvez eu também inclua o elemento

da religião. Quem sabe opte pelo preto e branco, ou mesmo pelo contrário,

estourando as cores. Tudo vai depender da região escolhida”, diz.

A mostra Mulheres Africanas já esteve em São Paulo, Minas Gerais e Rio

Grande do Sul. Devido ao sucesso, volta a ser exposta agora na capital pau-

lista. Entre as mais de 3.000 imagens capturadas por Bayo durante a viagem,

cerca de 30 fazem parte da exposição. As fotos “Maria Bonita” e “Carregando

a Força” foram nomeadas no Annual Photography Masters Cup, importante

premiação de fotografia.

Acima, a foto “Carregando a Força”, premiada no Annual photography

Master Cup. Celso Bayo viajou durante quatro meses com o objetivo de

capturar imagens que retratassem a força e a cultura das mulheres africanas

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EXposiçÃo

Giro pelo mundo

Além do Brasil, as fotos de Bayo também já participaram de exposições

nos Estados Unidos. Em 2000, a foto “Hanging Loose in Jeri” obteve o segun-

do lugar na prestigiada revista norte-americana Forum’s Magazine. Outro

destaque de seu portfólio é “Elvis at the Balcony”, tirada durante a corrida

de rua Bay to Breakers, em São Francisco, na Califórnia, e indicada para um

projeto pioneiro de fotografia digital nos EUA, o America 24/7.

O fotógrafo conta que, desde pequeno, nas aulas de História, se inte-

ressava por outras culturas. Bayo esteve no Camboja em 1998, período em

que o país começava a se abrir após anos de ditadura. “Viajei de camionete

da Tailândia até as fascinantes ruínas de Angkor Wat, onde fotografei uma

menina carregando um bebê.” Ele conta que, na volta para a Tailândia, quan-

do estava com o carro repleto de gringos e também com tailandeses para os

quais deu carona, não havia espaço para mais nada na caçamba, quando os

que já estavam nela abriram espaço para um homem, que carregava mais

de dez galinhas amarradas nos pés. “Eles levantaram na maior naturalidade

e abriram espaço para ele e as galinhas”, lembra.

Bayo conta que consegue ver uma grande evolução em sua carreira,

mas segue sempre em busca de novos aprendizados. Entre os trabalhos de

que mais gosta, ele cita o conjunto “Sounds of the World”, sobre música, com

imagens em preto e branco. Em 2003, ele esteve em New Orleans, capital

mundial do jazz.

Atualmente, esse meio paulistano, meio californiano, se dedica a fo-

tografias esportivas para diferentes sites, revistas e jornais do Brasil e dos

Estados Unidos. Deseja trabalhar na próxima Copa do Mundo, que será re-

alizada no Brasil, em 2014, e nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. “A

fotografia é muito ampla como arte visual e meio de comunicação. Por isso,

precisamos estar sempre abertos a novas experiências”, finaliza.

Serviço:

Studio In: Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 399, São Paulo. Tels. 11 3062-

7217 e 11 2537-2741. De segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábados, das

10h às 14h. Site: designstudioin.com.br. Entrada gratuita. Até 23 de outubro.