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XI Mostra de Poesia - Orides Fontela 2011

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A formação de pessoas lúcidas, mais envolvidas com a cultura e mais sensíveis para a realidade interna e externa é uma das maiores preocupações do Instituto de Educação Professor Denizard Rivail. Assim, situações didáticas que visam a estimular o intelecto e o emocional dos jovens educandos são oferecidas rotineiramente, de maneira a proporcionar uma educação mais abrangente e integral.

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Xv – MOSTRA DE POESIA

A poesia brasileira contemporânea

ORIDES FONTELA

Kant relido Duas coisas admiro: a dura lei

cobrindo-me

e o estrelado céu

dentro de mim.

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DIREÇÃO GERAL: MANOEL SERQUEIRA

DIRETORA PEDAGÓGICA: PROFª VERALÚCIA SERQUEIRA (SEDE)

DIRETORA PEDAGÓGICA: PROFª LORENA SERQUEIRA (UNIDADE I)

COORDENAÇÃO DO PROJETO: PROFª MARIA OLIVEIRA DE ABREU

EQUIPE PEDAGÓGICA:

CRISTIANE SALES TELLES

ANTÔNIO ROCKLANE S. REBELO

ALCEMIRA PEREIRA MAIA

MARIA OLIVEIRA DE ABREU

EQUIPE DE LÍNGUA PORTUGUESA, ARTE E LITERATURA

PROFª.ALCIONE ALVES DE OLIVEIRA

PROFª NEIDE F. FREITAS

PROFª MARLU CORTEZ DANTAS

PROF. VICTOR HUGO A. AGUILAR

PROFª.CRISTIANE BALIEIRO

PARTE MUSICAL: JOZUER BRANDÃO

ARTES GRÁFICA: FELIPE THIAGO

FEVEREIRO DE 2011

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XV MOSTRA DE POESIA – 2011

A poesia brasileira contemporânea

A enigmática obra de Orides fontela

“Leio

minha mão

livro

único”

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COROS

Coros pungentes cores

do crepúsculo ser perdido em

vozesfragmentos arestas violação

de um só silêncio lúcido

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APRESENTAÇÃO

O desenvolvimento do senso moral, crítico e estético é de enorme importância para a

formação integral e sólida do indivíduo, enquanto pessoa e ser social. Essa preocupação

norteia a proposta pedagógica do IDR, ao longo de 15 anos de trabalho educativo na

comunidade manauara. Crianças e jovens têm acesso a diversos recursos metodológicos

que lhes proporcionam uma aprendizagem integral e sólida, capaz de promover a inserção

no mundo contemporâneo de forma equilibrada e não unilateral com preocupação apenas

relacionada a conhecimentos técnicos e científicos.

A leitura deve ser uma prática constante e muito diversificada, a fim de que o universo

cultural seja ampliado de forma gradativa e prazerosa.

A poesia, por suas diversas e diferentes características, é uma alternativa extremamente

interessante como recurso pedagógico, pois o contato intenso com os textos poéticos

possibilita a expansão da sensibilidade, da perspicácia, da reflexão e do imaginário

“a poesia é uma arte que pode ser trabalhada a partir de qualquer idade, em todas as séries

do ensino básico. “toda idade é idade de poesia”, assegura hélder pinheiro, que é mestre e

doutor em literatura brasileira pela universidade de são paulo (usp) e pós-doutor pela

universidade federal de minas gerais (ufmg).

O projeto de 2011 focaliza a poeta orides fontela, tendo como objetivo propiciar aos

estudantes uma aproximação com essa escritora que, apesar de ter tido uma difícil e

conturbada trajetória de vida, deixou-nos um rico legado poético. Merece ser relembrada,

lida e compreendida, pois orides, segundo o crítico antônio cândido “ ... Produz uma poesia

diáfana,mas densa, alada e cheia de peso, onde um vocábulo como pássaro pode assumir

significados da mais poderosa vitalidade, onde a pureza incontaminada do espelho pode

virar signo de drama e tormento.”

Ao mesmo tempo, muitos outros poetas brasileiros contemporâneos serão lidos,

apreciados e seus textos poderão servir de inspiração aos nossos estudantes.Professora

Maria Oliveira de Abreu

Coordenadora Pedagógica

Maria de Abreu

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SUMÁRIO

ORIDES FONTELA: COMENTARIOS E POEMAS .............................................................................................................. 8

POETAS COMTEMPORÂNIO ............................................................................................................................................. 12

ASTRID CABRAL ................................................................................................................................................................. 13

ADÉLIA PRADO ................................................................................................................................................................... 15

FERREIRA GULLAR ............................................................................................................................................................ 17

IVAN JUNQUEIRA ............................................................................................................................................................... 19

LEONTINO FILHO ................................................................................................................................................................ 20

MANOEL DE BARROS ...................................................................................................................................................... 21

RÉGIS BONVICINO .............................................................................................................................................................. 23

ROSEANA MURRAY . ........................................................................................................................................................ 25

MARIA ESTHER MACIEL ................................................................................................................................................... 27

HILDA HILST ........................................................................................................................................................................ 29

AFFONSO ROMANO ............................................................................................................................................................ 31

LUIZ SILVA ........................................................................................................................................................................... 33

THIAGO DE MELLO ............................................................................................................................................................ 35

MARIA DE ABREU ............................................................................................................................................................... 37

ALCIDES BUSS ..................................................................................................................................................................... 39

ROSA CLEMENT .................................................................................................................................................................. 41

LUIZ BARCELLAR ............................................................................................................................................................... 43

JORGE TUFIC ........................................................................................................................................................................ 45

CACASO ................................................................................................................................................................................. 47

ANIBAL BEÇA ...................................................................................................................................................................... 49

CÉSAR LEAL ......................................................................................................................................................................... 51

JOSÉ PAULO PAES ............................................................................................................................................................. 53

MAX CARPHENTIER ........................................................................................................................................................... 55

ANNITA COSTA . ................................................................................................................................................................ 56

ARNALDO ANTUNES .......................................................................................................................................................... 57

LINDOLF BELL ..................................................................................................................................................................... 58

ANTÔNIO DE MIRANDA .................................................................................................................................................... 59

ELSON FARIAS ..................................................................................................................................................................... 61

FERNANDO PAIXÃO ........................................................................................................................................................... 63

FABRÍCIO CORSALETTI ..................................................................................................................................................... 64

NELSON CASTRO ................................................................................................................................................................ 65

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................... 66

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ORIDES FONTELA - Biografia

Orides nasceu em 21 de abril de 1940, em São João

da Boa Vista, interior de São Paulo. Desde criança

escrevia versos, e muito cedo começou a publicar

seus poemas nos jornais da cidade. Nos anos 60,

mudou-se para São Paulo e estudou filosofia na

USP.

Em 1969, era publicado seu primeiro livro,

Transposição. Depois vieram Helianto (1973), Alba

(1983), Rosácea (1986) e Teia (1996). Com Alba,

Orides ganhou o prêmio Jabuti. Os quatro primeiros livros foram reunidos no

volume Trevo, que fez parte da coleção Claro

Enigma, da Editora Duas Cidades. Na França, os

poemas foram publicados em dois volumes com o

título Trèfle. A Cosac Naify lançou, em 2006, o

volume Poesia Reunida.

Professora primária e bibliotecária, Orides viveu

sempre em meio a grandes dificuldades. Sempre

com os nervos à flor da pele, meteu-se em encrencas

e provocou escândalos com seus melhores amigos.

Orides Fontela (1940-1998) morreu na mais completa miséria, aos 58 anos,

num sanatório de Campos do Jordão, mesmo sendo considerada um dos

nomes mais importantes da poesia brasileira contemporânea.

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“Orides Fontela fez uma poesia enigmática, cortante, que prima pela concisão, pela

economia de recursos e densidade. A ela bastava dizer apenas o suficiente, deter-se

no que é essencial. Difere muito da poesia minimalista ou do haikai, por exemplo,

mas não raro leio seus versos como se lesse um koan”

ELEGIA

Mas para que serve o pássaro?

Nós o contemplamos inerte.

Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.

De que serve o pássaro se

desnaturado o possuímos?

O que era voo e eis

que é concreção letal e cor

paralisada, íris silente, nítido,

o que era infinito e eis

que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

O que era pássaro e é

o objeto: jogo

de uma inocência que

o contempla e revive

— criança que tateia

no pássaro um

esquema de distâncias —

mas para que serve o pássaro?

O pássaro não serve. Arrítmicas

brandas asas repousam.

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Orides fala sobre Orides

"Entrei no dito Ginásio (e foi muita sorte), fiz meus primeiros sonetos, aprendi

métrica com meu saudoso professor Francisco Pascoal e com Gonçalves Dias

(A tempestade). Li, naquela época, Manuel Bandeira e Alphonsus Guimaraens,

(todos os menores etc). Bem ou mal, adquiri a aura de poeta municipal e para o

gosto local eu era ótima. Desde os 16 anos tive poemas publicados nos jornais

da cidade (principalmente, ou exclusivamente, O Município). Tudo muito local,

dia da árvore, das mães, natal. Se ficasse nisso, nisso estaria até hoje, e tudo

bem. Como mudei, e atingi, senão a grande literatura, pelo menos algo de

nível, digamos, estadual, algo que os paulistanos aceitassem? Esse é o

primeiro problema real, e é meio misterioso até para mim..." (Orides Fontela)

ODE III

Pouco é viver mas pesa

como todo o ser como toda a luz

como a concentração do tempo.

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A ESTRELA DA TARDE

A estrela da tarde está madura

e sem nenhum perfume

A estrela da tarde é infecunda e altíssima

Depois da estrela da tarde só há:

o silêncio.

"A primeira influência literária? Foi meu

pai, analfabeto e tudo. Só que, a cada

noite, me contava um "caso", uma

história de fadas. O enredo desses contos era basicamente o mesmo, mas as

peripécias eram sempre recriadas. Lembro-me de um em que o herói, saindo

dos tempos atuais, chegava a um reino mítico e... instalava a eletricidade!

Tudo incrível. Parecia que meu pai ainda habitava a Idade Média e sonhava

inventar o moto-contínuo. Por tal lógica, eu deveria estar procurando a

quadratura do círculo: só que estou procurando a "circulação do quadrado".

Mas não sou muito diferente de meu pai... Minha mãe? Bem, ela me

alfabetizou, na marra - bê-a-bá e puxão de orelha. E, na cartilha, achei os

primeiros poemas escritos, um tal de "já no horizonte" e o hino nacional.

Também devo mencionar, como pré-história, a Rádio Nacional e os poemas

caipiras? Bem, como pré-história, chega: foi a Idade da Pedra, mesmo!"

(Orides Fontela)

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Fala

Tudo

será difícil de dizer:

a palavra real

nunca é suave.

Tudo será duro:

luz impiedosa

excessiva vivência

consciência demais do ser.

Tudo será

capaz de ferir. Será.

agressivamente real.

Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos

e nem no amor: o ser

é excessivamente lúcido

e a palavra é densa e nos fere.

Viagem

Viajar

mas não

para

viajar

mas sem

onde

sem rota sem ciclo sem

círculo

sem finalidade possível.

Viajar

e nem sequer sonhar-se

esta viagem.

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SORVETERIA

Dia de verão qualquer

no labirinto dos shoppings

os homens tomam sorvete.

Alguns engolem vorazes

receosos de que o mormaço

lhes arrebate a porção.

Outros, lentos, não acertam

com o creme fugaz o ritmo

da fome. Morrem na fonte.

Poucos os que se deleitam

fruindo o açúcar e a neve

sem dúvidas sobre a dádiva.

Existe quem torça a cara

às iguarias servidas

imaginando outras raras.

E quem enfeite o bocado

de caldas extras, perfume

de licores, nozes finas.

Todos um dia qualquer

terão suas taças vazias

lábios imóveis, mãos frias.

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NO COLO DO ANJO

Empoleirado

na torre do meu sonho

um anjo resplandece.

Cílios cintilantes

estrelas nos olhos

ele me acena com plumas

e me abraça com asas.

Juntos vagamos

entre rastros de astros

a cavalgar nuvens

por planícies etéreas

até que me sinto serena.

É como se mudo dissera

não temas véus ou névoas

qualquer neblina passa.

Mas eis que então fala:

Não sejas cega, menina.

O olhar de Deus tudo abarca.

Só os homens têm pálpebras.

Astrid Cabral nasceu em Manaus no dia 25 de

setembro de 1936. Integrou o Clube da Madrugada.

Mora há muitos anos no Rio de Janeiro. É

detentora de vários prêmios literários e participa

de antologias no Brasil e no exterior.

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Cantiga dos Pastores

À meia noite no pasto,

guardando nossas vaquinhas,

um grande clarão no céu

guiou-nos a esta lapinha.

Achamos este Menino

entre Maria e José,

um menino tão formoso,

precisa dizer quem é?

Seu nome santo é Jesus,

Filho de Deus muito amado,

em sua caminha de cocho

dormia bem sossegado.

Adoramos o Menino

nascido em tanta pobreza

e lhe oferecemos presentes

de nossa pobre riqueza:

a nossa manta de pele,

o nosso gorro de lã,

nossa faquinha amolada,

o nosso chá de hortelã.

Os anjos cantavam hinos

cheios de vivas e améns.

A alegria era tão grande

e nós cantamos também:

Que noite bonita é esta

em que a vida fica mansa,

em que tudo vira festa

e o mundo inteiro descansa?

Esta é uma noite encantada,

nunca assim aconteceu,

os galos todos saudando:

O Menino Jesus nasceu!

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Grande desejo

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,

sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.

Faço comida e como.

Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o cachorro

e atiro os restos.

Quando dói, grito ai.

quando é bom, fico bruta,

as sensibilidades sem governo.

Mas tenho meus prantos,

claridades atrás do meu estômago humilde

e fortíssima voz pra cânticos de festa.

Quando escrever o livro com o meu nome

e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,

a uma lápide, a um descampado,

para chorar, chorar, e chorar,

requintada e esquisita como uma dama.

Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no

dia 13 de dezembro de 1935. Foi premiada diversas

vezes e textos de sua autoria foram adaptados para o

teatro. Participou de importantes eventos literários no

Brasil e no exterior. Adélia costuma dizer que o

cotidiano é a própria condição da poesia.

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Não Há vagas

O preço do feijão

Não cabe no poema. O preço

do arroz

não cabem no poema.

Não cabe no poema o gás

A luz o telefone

A sonegação

Do leite

Da carne

Do açúcar

Do pão

O preço do feijão

O funcionário público

Não cabe no poema

Com seu salário de fome

Sua vida fechada

Em arquivos.

Como não cabe no poema

O operário

Que esmerila seu dia de aço

E carvão

Nas oficinas escuras

Porque o poema, senhores,

Está fechado:

“não há vagas”

Só cabe no poema

O homem sem estômago

A mulher de nuvens

A fruta sem preço

O poema, senhores, não fede, nem cheira

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O açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo de moça, água na pele, flor que se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito por mim. Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia. Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não nascem por acaso no regaço do vale. Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome aos 27 anos plantaram e colheram a cana que viraria açúcar. Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Ferreira Gullar, pseudônimo de José

Ribamar Ferreira, nasceu em São

Luís, Maranhão, em 10 de setembro

de 1930. É poeta, crítico de arte,

biógrafo, tradutor, memorialista e

ensaísta brasileiro, sendo um dos

fundadores do neoconcretismo. Em

2002, foi indicado por professores

dos EUA, Brasil e Portugal para o

Prêmio Nobel de Literatura.

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Talvez o vento saiba

Talvez o vento saiba dos meus passos,

das sendas que os meus pés já não abordam,

das ondas cujas cristas não transbordam

senão o sal que escorre dos meus braços.

As sereias que ouvi não mais acordam

à cálida pressão dos meus abraços,

e o que a infância teceu entre sargaços

as agulhas do tempo já não bordam.

Só vejo sobre a areia vagos traços

de tudo o que meus olhos mal recordam

e os dentes, por inúteis, não concordam

sequer em mastigar como bagaços.

Talvez se lembre o vento desses laços

que a dura mão de Deus fez em pedaços.

IVAN JUNQUEIRA – nasceu no Rio de Janeiro no dia 03 de novembro de 1934. Jornalista, escritor, poeta e crítico literário. Membro da Academia Brasileira de Letras e colaborador de revistas e jornais do Brasil e do exterior.

Tem vasta produção literária e é detentor de muitos prêmios.

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Dentro da noite, penso em ti

Volta e meia

sigo rumo à ilha do amor

coisas antigas que ficaram

nau perdida no porto abandonado

barco sem vela

que persiste no desenho

formado pelas águas dos rios.

Volta e meia

o fluxo de imagens paira sobre as águas

e sigo devorando

a cauda dos sonhos

retornando ao chão descontínuo da ilusória

estrada do bem querer:

uma outra história.

Volta e meia

o amor perturba o sono descontente das estrelas

e o luar embaraçado

por tantos murmúrios

arma a provisória tenda da paixão:

o meu olhar de neblina

costurado na memória

tece a infância medieval

do teu corpo.

É autor de vários livros de poemas.

LEONTINO FILHO – nasceu em Aracati – Ceará ( 1961). Poeta e Professor de literatura Brasileira na Universidade estadual do Rio Grande do Norte.

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O FOTÓGRAFO

Difícil fotografar o silêncio.

Entretanto tentei. Eu conto:

Madrugada a minha aldeia estava morta.

Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.

Eu estava saindo de uma festa.

Eram quase quatro da manhã.

Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.

Preparei minha máquina.

O silêncio era um carregador?

Estava carregando o bêbado.

Fotografei esse carregador.

Tive outras visões naquela madrugada.

Preparei minha máquina de novo.

Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.

Fotografei o perfume.

Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.

Fotografei a existência dela.

Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.

Fotografei o perdão.

Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.

Fotografei o sobre.

Por fim, eu enxerguei a Nuvem de calça.

Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski -

seu criador.

Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.

Ninguém outro poeta no mundo faria roupa mais justa para cobrir sua noiva.

A foto saiu legal.

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O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

"Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras fatigadas de informar.

Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas.

Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade das tartarugas mais que as dos mísseis.

Tenho em mim esse atraso de nascença.

Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.

Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor os meus silêncios."

Manoel De Barros nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, no dia

19 de dezembro de 1916. Atualmente mora em Campo

Grande, Mato Grosso. É advogado e fazendeiro, possuindo

extensa obra literária. Hoje, o poeta é reconhecido nacional

e internacionalmente como um dos mais originais do século

e um dos mais importantes escritores do Brasil.

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Extinção

O lobo-guará é manso

foge diante de qualquer ameaça

é solitário

avesso ao dia, tímido

detesta as cidades

onde quase sempre é atropelado

onívoro, com mandíbulas fracas

come pássaros, ratos, ovos, frutas

às vezes, quando está perdido,

vasculha latas de lixo nas ruas

engasga ao mastigar garrafas

de plástico ou isopores

se corta ou morre ao morder

lâmpadas fluorescentes

ou engolir fios elétricos

morre ao lamber inseticidas

ou restos de tinta

ou ao engolir remédios vencidos

ou seringas e agulhas

descartáveis

dócil, sem astúcia,

é facilmente capturado e morto

por traficantes de pele

quando então uiva.

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"LUZ"

"Luz do abajur

dicionários

no quarto

minúsculo

sobre a mesa

um mapa da lua

tinta seca

de silêncios

gêmeos e frio

um prego de arame

na cabeça

borboletas se acenderam em mim

dálias

meus dedos

se moviam sobre as teclas

entretanto

sombras

antecipavam

cada

palavra.

borboletas se acendem em mim

dálias

meus dedos sobre as teclas

sombras precipitando entretanto

palavras”

RÉGIS BONVICINO nasceu eu São Paulo, 1955. Sua

produção literária é vasta e alcança territórios estrangeiros.

Tem poemas traduzidos para o chinês, o inglês, o espanhol,

o catalão, o dinamarquês.

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AMIGO

No rumo certo do vento,

amigo é nau de se chegar

em lugar azul.

Amigo é esquina

onde o tempo para

e a Terra não gira,

antes paira,

em doçura contínua.

Oceano tramando sal,

mel inventando fruta,

amigo é estrela sempre

no rumo certo do vento,

com todas as metáforas,

luzes, imagens

que sua condição de estrela contém.

COMIDA DE SEREIA

O que será que a sereia come

em seu castelo de areia?

Enquanto penteia os cabelos

a panela esquenta na cozinha:

será que a sereia come anêmonas,

ostras, cavalos-marinhos?

Ou delicados peixinhos de olhos

dourados?

Algas marinhas, lulas, sardinhas?

Polvos, mariscos, enguias,

ou será que a sereia come poesia?

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PARTIDA

Hoje arrumo as flores

em cima da mesa as frutas na memória

quero um dia bem simples alguma luz pousada

na superfície da água

hoje chamo para mim amorosas palavras

que vivam um dia perto do meu coração que corram pela casa

com sua mistura de mel e espanto

alguém parte com um ruído seco alguém sempre está partindo

CAIXINHA MÁGICA

Fabrico uma caixa mágica para guardar o que não cabe em nenhum lugar: a minha sombra em dias de muito sol, o amarelo que sobra do girassol, um suspiro de beija-flor, invisíveis lágrimas de amor. Fabrico a caixa com vento, palavras e desequilíbrio, e para fechá-la com tudo o que leva dentro, basta uma gota de tempo. O que é que você quer esconder na minha caixa?

ROSEANA MURRAY – nasceu no Rio de Janeiro em

1950. Graduou-se em Literatura e Língua Francesa em

1973 pela UNIVERSIDADE DE NANCY – FRANÇA.

Tem mais de 60 livros publicados e é considerada uma

das mais importantes escritoras contemporâneas com

obras dedicadas ao público infantil e jovem.

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AULA DE DESENHO

Estou lá onde me invento e me faço:

De giz é meu traço. De aço, o papel.

Esboço uma face a régua e compasso:

É falsa. Desfaço o que fiz.

Retraço o retrato. Evoco o abstrato

Faço da sombra minha raiz.

Farta de mim, afasto-me

e constato: na arte ou na vida,

em carne, osso, lápis ou giz

onde estou não é sempre

e o que sou é por um triz.

ELEGIA

Há um vestígio mineral

na sua ausência: algo

que sem estar ainda

fica: fatia de cristal

que não se vê e brilha:

solidez em transparência

elegância de pedra, luz

do que é perda e não.

Há um vestígio musical

na sua ausência: algo

que é sigilo e ressonância:

sintonia de cristais

sílabas de sim no

silêncio do som e do aqui.

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PACTO

Daquele que amo quero o nome, a fome

e a memória. Quero o agora. O dentro e o fora,

o passado e o futuro. Quero tudo: o que falta

e o que sobra o óbvio e o absurdo.

PAISAGEM COM FRUTAS

Duas pêras sobre a mesa

esperam a tua fome.

O dia é verde

e o vento tem cores provisórias.

Sobre o muro

um pássaro mudo

de olhar escuro

perscruta a tua sombra

Ele sabe

que ninguém sabe

em que azul

ocultas

teu absurdo.

MARIA ESTHER MACIEL – nasceu em Patos de

Minas – Minas Gerais, em 01 de fevereiro de

1963. Poeta, ensaísta e ficcionista, a escritora é

também professora de Literatura Comparada da

Faculdade de Letras da Universidade de Minas

Gerais. Doutora em Literatura Comparada com

Pós-Doutorado em cinema pela Universidade de

Londres. Seu projeto atual, com bolsa de

produtividade pelo CNPq, intitula-se:

“Zooliteratura brasileira: animais, animalidade e

os limites do humano.

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Poemas aos Homens do nosso tempo

Amada vida, minha morte demora.

Dizer que coisa ao homem,

Propor que viagem? Reis, ministros

E todos vós, políticos,

Que palavra além de ouro e treva

Fica em vossos ouvidos?

Além de vossa RAPACIDADE

O que sabeis

Da alma dos homens?

Ouro, conquista, lucro, logro

E os nossos ossos

E o sangue das gentes

E a vida dos homens

Entre os vossos dentes.

Ao teu encontro, Homem do meu tempo,

E à espera de que tu prevaleças

À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,

Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças

E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,

Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.

As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei

Minha própria rudeza e o difícil de antes,

Aparências, o amor dilacerado dos homens

Meu próprio amor que é o teu

O mistério dos rios, da terra, da semente.

Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu

Compaixão e ternura e paz na Terra

Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.

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Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita

Olha-me de novo. Porque esta noite

Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.

E era como se a água

Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio

E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo

Entendo que sou terra. Há tanto tempo

Espero

Que o teu corpo de água mais fraterno

Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos

altivez.

E mais atento.

HILDA HILST – nasceu em Jaú, cidade de São Paulo,

em 21 de abril de 1930. Publicou várias obras e obteve

importantes prêmios literários.

Faleceu em Campinas (SP) no dia o4 de fevereiro de

2004. Hilda é reconhecida, quase pela unanimidade da

crítica brasileira ,como uma de nossas principais

autoras, sendo considerada uma das mais importantes

vozes da Língua Portuguesa do século XX.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 32

A PRIMEIRA VEZ QUE ENTENDI

A primeira vez que entendi do mundo

alguma coisa

foi quando na infância

cortei o rabo de uma lagartixa

e ele continuou mexendo.

De lá pra cá

fui percebendo que as coisas permanecem

vivas e tortas

que o amor não acaba assim

que é difícil extirpar o mal pela raiz.

A segunda vez que entendi do mundo

alguma coisa

foi quando na adolescência me arrancaram

do lado esquerdo três certezas

e eu tive que seguir em frente.

De lá pra cá

aprendi a achar no escuro o rumo

e sou capaz de decifrar mensagens

seja nas nuvens

ou no grafite de qualquer muro.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 33

Balada dos Casais

Os casais são tão iguais,

por isto se casam

e anunciam nos jornais.

Os casais são tão iguais,

por isto se beijam

fazem filhos, se separam

prometendo

não se casarem jamais.

Os casais são tão iguais,

que além de trocar fraldas,

tirar fotos, acabam se tornando

avós e pais.

Os casais são tão iguais,

que se amam e se insultam

e se matam na realidade

e nos filmes policiais.

Os casais são tão iguais,

que embora jurem um ao outro

amor eterno

sempre querem mais.

AFFONSO ROMANO DE SANT ´ANNA – nasceu em

Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 27 de março de

1937.

Poeta, professor graduado em Letras, lecionou em

várias universidades do Brasil e do exterior. Tem uma

vasta obra literária e escreve também para jornais.

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A PALAVRA NEGRO

A palavra negro tem sua história e segredo veias do São Francisco prantos do Amazonas e um mistério Atlântico

A palavra negro tem grito de estrelas ao longe sons sob as retinas de tambores que embalam as meninas dos olhos

A palavra negro tem chaga tem chega! tem ondas fortesuaves nas praias do apego nas praias do aconchego

A palavra negro que muitos não gostam tem gosto de sol que nasce A palavra negro tem sua história e segredo sagrado desejo dos doces voos da vida o trágico entrelaçado e a mágica d'alegria

A palavra negro tem sua história e segredo e a cura do medo do nosso país

A palavra negro tem o sumo tem o solo a raiz.

LUIZ SILVA (CUTI) – nasceu em Ourinhos, São

Paulo e vive na capital paulista. Mestre em Teoria

da Literatura e Doutor em Literatura Brasileira pelo

Instituto de Estudos da Linguagem – Unicamp. Foi

um dos fundadores e membro do Quilombhoje –

Literatura, de 1983 a 1994. É um dos criadores e

mantenedores da série Cadernos Negros.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 35

VEM CANTANDO

noite e chuva

apresso-me nos passos

um medo branco prepara o bote

na minha sombra

pés encharcados

atolo-me na lembrança dos alagados

as sandálias soltam gemidos que

recordam choro de crianças nos casebres

que se despencam

de morros

noite e chuva

meu guarda-chuva ameaça guardar-me da vida

dos outros

um impulso no sangue me joga tonto na lama e dou

de cara com bêbados e prostitutas

umedeço-me e esfrio no pavor

vivido por meu avô

e continuo

..................................................

vem cantando cantigas em nagô

entrecortadas de espirros em quimbundo

tem colares de contas que encerram necessidade

e anseio

chacoalhando num ritmo o futuro

caminhadas do meu povo em suas tranças no cabelo

e uma estrela de alegria insistindo no sorriso

doce riso de gerúndio

minha história vem molhada e me procura... com as dores tão antigas

titubeia

me incendeia num abraço

o tempo descontraído

escancarado o espaço

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 36

O animal da floresta

De madeira lilás (ninguém me crê)

se fez meu coração. Espécie escassa

de cedro, pela cor e porque abriga

em seu âmago a morte que o ameaça.

Madeira dói?, pergunta quem me vê

os braços verdes, os olhos cheios de asas.

Por mim responde a luz do amanhecer

que recobre de escamas esmaltadas

as águas densas que me deram raça

e cantam nas raízes do meu ser.

No crepúsculo estou da ribanceira

entre as estrelas e o chão que me abençoa

as nervuras.

Já não faz mal que doa

meu bravo coração de água e madeira.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 37

Flor de açucena

Quando acariciei o teu dorso,

campo de trigo dourado,

minha mão ficou pequena

como uma flor de açucena

que delicada desmaia

sob o peso do orvalho.

Mas meu coração cresceu

e cantou como um menino

deslumbrado pelo brilho

estrelado dos teus olhos

.

THIAGO DE MELLO – nasceu em Barreirinha, no

coração do Amazonas, no dia 30 de março de

1926. Abandonou o Curso de Medicina e

dedicou-se à poesia. É conhecido

internacionalmente por sua luta em prol dos

direitos humanos, pela ecologia e pela paz

mundial. Tem obras traduzidas para vários

idiomas e recebeu inúmeros prêmios.

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Sem

E no fim de tudo

A morte

O olhar mudo

No extremo do caminho

Eu sozinha

Ai que medo

Ai que frio

Só o pio da coruja

O delírio do vento

No chão úmido e macio

Abandonada para sempre

Sempre

Eu que fui gente

Me separo do cálido sol

Caliente

Das montanhas

Eterno tema dos desenhos da infância

Deixo fora as estrelas delirantes

Tão bonitas e distantes

Viro alma, talvez errante fantasma?

Ectoplasma, miasma

Nunca mais Plácido Domingo

O vinho com os amigos

Nem meus gritos, palavrões

Os pequenos delitos sem redenção

Só o frio

O vazio

A Solidão

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Confissão

Penso em ti

porque foi contigo

que abri meu peito

e sem medo deixei

que todos os pássaros se

libertassem

Penso em ti

porque ao teu lado

vivi todas as estações

e todas me embriagaram

Penso em ti

hoje

Amanhã pensarei em ti

e sempre

por todos os séculos dos séculos

amém

MARIA DE ABREU – nasceu em Bragança

Paulista, São Paulo, em 1950. Graduada em

Letras e Especialista em Psicopedagogia,

dedica-se ao magistério e a eventos culturais

relacionados à Literatura. Escreve poesia, contos

e crônicas.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 40

DE LER E ANDAR

Há dias em que há

mais sentido nas ruas

do que nos livros.

Nesses dias se deve

de casa sair

e, dentro de si,

caminhar à escuta

da vida.

Há dias,

porém, em que mais

sentido há nos livros.

É preciso, então,

trancar-se em leituras

e, numa entrega de sonho,

misturar-se ao mundo.

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UM DIA NO CAMPO

Hoje, no campo, meu dia foi um dia.

Eu fui eu.

O corpo foi o corpo. A nuvem foi a nuvem.

O vento foi o vento. A planta foi a planta.

O riacho foi riacho A palavra foi palavra.

O pássaro foi pássaro.

Hoje tudo foi tudo

e a vida viveu.

CONTEMPLAÇÃO DO AMOR

Entre o concreto e o céu está o traço, o braço de nosso voo.

Voo de luz que nos transpõe e leva-nos ao universo dos universos.

Em cada janela deparamo-nos, mistos de carne e infinito, cimento e eternidade.

E na planta que semeia o verde, na ave que semeia o êxtase, aprendemos a chegar no ponto em que estamos.

ALCIDES BUSS – nasceu em Salete, Santa

Catarina, em 1948. É professor de Teoria Literária

na Universidade de Santa Catarina. Segundo

CLÁUDIO MILLER, Alcides Buss é poeta,

animador e agitador literário, editor e dirigente

cultural, com uma atuação marcante na cena

contemporânea brasileira nas últimas décadas,

sempre em favor da palavra poética. Sua

produção poética é vasta e inúmeros os prêmios

recebidos.

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Viagem de Avião

A armadura de músculos

sob minha fantasia de penas

não basta para enfrentar o vôo.

Penso na firmeza da águia

na tarde sob a névoa,

ou na calma da passagem

do falcão sobre os penhascos.

Levo pelas nuvens

a obediência do pássaro domado

que lança com os olhos seu apelo.

Tento preservar sob o lençol

o que resta de minha resistência

mas devolvo nas bandejas

as migalhas de minha coragem.

Excessos de sons ao redor

sempre parecem ameaçadores

e balanços dessa gaiola sem grades

só dilatam a turbulência

na qual meu coração sem asas

tão bem se especializa.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 43

Casa Urbana

Não é um sonho de casa

essa casa de madeira

com teto triangular

a destoar dos traçados

projetados pelos donos

de prédios retangulosos.

É apenas uma casa

com suas cercas de estacas

a cercar a terra fértil,

guardando plantas e bichos

e também alguns meninos

com as costelas à vista.

Sim é só uma casinha

da gente de antigamente

gente que por ser teimosa,

só vai fazer sua trouxa

e finalmente ir embora

no dia em que o deus quiser.

É casa bem brasileira

e com certeza, cabocla

na batalha dos tijolos

ganhando tempo no jogo

se transformando em passado

se transformando em um sonho.

ROSA CLEMENT – nasceu em Manaus,

Amazonas, em 1954. Trabalha no Instituto

Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, com

informação tecnológica .É poeta, haicaísta e

tradutora.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 44

O Poeta Veste-se

Com seu paletó de brumas e suas calças de pedra, vai o poeta.

E sobre a cambraia fina da camisa de neblina, o arco-íris em gravata vai atado em nó singelo.

(Um plátano, sobre a prata da água tranqüila do lago, se debruça só por vê-lo).

Ele leva sobre os ombros a cachoeira do lago (cachecol à moda russa) levemente debruada de um fino raio de sol.

Vai o poeta a caminhar pelas serras.

(pelos montes friorentos mal se espreguiça a manhã)

com seu pullover cinzento (feito com lã das colinas)

com seus sapatos de musgo (camurça verde dos muros)

com seu chapéu de abas largas (grande cumulus escuro).

Mas algo ainda lhe falta Para a elegância completa:

Súbito pára, se curva, num gesto sóbrio e perfeito, um breve floco de nuvens colhe e prende na lapela.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 45

Variações Sobre Um Prólogo

Nos longes da infância paro;

há uma inscrição sobre o muro:

Frauta clara, arroio escuro,

Frauta escura, arroio claro.

E esse cavalo capenga?

E esse espelho espedaçado?

E a cabra? E o velho soldado?

E essa casa solarenga?

Tudo volta do monturo

da memória em rebuliço.

Mas tudo volta tão puro!...

E, mais puro que tudo isso,

essa anárquica inscrição

feita no muro a carvão.

São temas recomeçados

na minha vária canção.

LUIZ BACELLAR – nasceu em Manaus, no

dia 04 de setembro de 1928. É um dos mais

significativos escritores do Amazonas e do

Brasil. Sua obra constrói-se sobre o plano

da memória. Também exerceu o jornalismo e

destacou-se no processo de renovação da

literatura regional.

Page 46: XI Mostra de Poesia - Orides Fontela 2011

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 46

Calendário

Calendário

vida,

ainda se fosse possível

compreender esses códigos

gravados na cripta

dos teus avessos.

Então

as palavras já nasceriam

feitas,

a lã

não teria seus pastores,

nem os pastores

seus montes,

nem as montanhas

suas grutas de rapina,

nem o chão da terra

os rastros da serpente.

Nem os maus seriam chamados

para mudar o caminho

da história;

nem os bons haveria

porque a bondade

e o martírio

jamais se banham nem se repetem

nas águas do mesmo rio.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 47

Da infância

Fui deixando cair as petecas

que guardavam meus peixes.

Fui vendo escapar as moedas

que niquelavam os domingos.

Fui perdendo meus dentes-de-leite

e o gesto de fazer borboletas.

Entretanto, ainda estou a caminho

daqueles garranchos de chão.

Qualquer coisa que entala de branco

e machuca sem voz.

Búzios

Por que se fala tanto

na solidão dos relógios?

Ainda mais solitários

são os búzios, que guardam

nas aurículas de cálcio

os estigmas da terra

os rumores do caos.

E assumem a contagem regressiva

do éter e do granito.

JORGE TUFIC – nasceu em Sena Madureira,

Acre, no dia 13 de agosto de 1930. Poeta e

jornalista, é autor da letra do HINO DO

AMAZONAS, contemplado que foi com o

primeiro lugar em concurso nacional promovido

pelo Governo do Estado. Além das obras

publicadas, também escreve para vários órgãos

de imprensa.

Page 48: XI Mostra de Poesia - Orides Fontela 2011

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 48

Dentro de mim mora um anjo

Quem me vê assim cantando

Não sabe nada de mim

Dentro de mim mora um anjo

Que tem a boca pintada

Que tem as unhas pintadas

Que tem as asas pintadas

Que passa horas à fio

No espelho do toucador

Dentro de mim mora um anjo

Que me sufoca de amor

Dentro de mim mora um anjo

Montado sobre um cavalo

Que ele sangra de espora

Ele é meu lado de dentro

Eu sou seu lado de fora

Quem me vê assim cantando

Não sabe nada de mim

Dentro de mim mora um anjo

Que arrasta suas medalhas

E que batuca pandeiro

Que me prendeu em seus laços

Mas que é meu prisioneiro

Acho que é colombina

Acho que é bailarina

Acho que é brasileiro

Quem me vê assim cantando

Não sabe nada de mim

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 49

história natural

Meu filho agora

ainda não completou três anos.

O rosto dele é bonito e os seus olhos repõem

muita coisa da mãe dele e um pouco

de minha mãe.

Sem alfabeto o sangue relata

as formas de relatar: a carne desdobra a carne

mas penso:

que memória me pensará?

Vejo meu filho respirando e absurdamente

imagino

como será a América Latina no

futuro.

CACASO (Antônio Carlos de Brito) – nasceu no

dia 13 de março de 1944, em Uberaba, Minas

Gerais. Professor de Literatura na PUC – RJ , foi

colaborador de revistas e jornais. Poeta em

tempo integral, ensaísta, letrista, desenhista,

principal articulador e teórico da poesia

marginal. Faleceu no Rio de janeiro em 27 de

dezembro de 1987.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 50

O Gato

O gato aparece à noite

com seu esquivo silêncio

de passos bem calculados

num jogo de paciência

as garras bem recolhidas

na concha de suas patas

O gato passeia a noite

com seu manto de togado

como se fosse um juiz

de presas resignadas

a sua sentença de sombras

seu apetite de gula

O gato varre essa noite

facho de suas vassouras

vermelhas de olhos ariscos

e alcança nessa limpeza

o movimento mais presto

o guincho mais desouvido

Mais que perfeito no bote

(tal qual Mistoffelees de Eliot)

do pulo que nunca ensina

tombam baratas besouros

peixes de aquário catitas

ao paladar sibarita

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 51

Nada à noite falta ao gato

nem a presteza no salto

nem a elegância completa

do seu traje de veludo

para o baile dos telhados

roçando as fêmeas no cio

O gato é ato em seu salto

e a noite luz do seu palco:

ribalta luciferina

lunária ária da lua

na réstia de seus dois gozos

é felix feliz felino

Guardei a sétima estrofe

para o canto do mistério

das sete vidas do gato

e seu tapete aziago

nas noites de sexta-feira

há provas do seu estrago.

ANIBAL BEÇA – nasceu em Manaus a 13 de

setembro de 1946 e faleceu a 25 de agosto de

2009. Foi jornalista, poeta, músico, teatrólogo.

Recebeu vários prêmios e venceu inúmeros

festivais de MPB em todo o Brasil.

Page 52: XI Mostra de Poesia - Orides Fontela 2011

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 52

Minha águia

ó

Não

Não quero

Não quero perder

Não quero perder contato

Não quero perder contato com

Não quero perder contato com a

Não quero perder contato com a minha

Não quero perder contato com a minha Águia

ó não quero perder contato com a minha Águia !

S

S S

S S S

Sinto que ela voou para

céus tão altos

onde

se encontra agora ?

Que mãos lhe afagam as plumas

depois

de meu último

abraço

de meu último

beijo

de minha última

c

a

r

í

c

i

a

?

? ?

? ? ?

Page 53: XI Mostra de Poesia - Orides Fontela 2011

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 53

Os dois semestres do Jaguaribe

Eis o Jaguaribe, rio

elegante, limpo e seco,

de janeiro à junho é água,

de julho a dezembro, areia.

É rio de muita força

e muito orgulho nas águas,

quando seco, é belo e manso;

cheio é feio e temerário.

Corre entre campos antigos,

entre móquens, molungus,

alvas roças de algodão,

gado açoreano e zebu.

Em janeiro suas águas

têm um brilho de metal,

mas em abril esse brilho

já começa a enferrujar,

todo em ferrugem vestido,

em meio o rio é vermelho,

finda junho e ele penetra

em seu semestre de areia.

CÉSAR LEAL – escritor, poeta e crítico literário, nasceu, a 20 de março de 1924, em Saboeiro, Ceará.

Também é bacharel em Direito e professor de Literatura.

Autor de vários livros, já foi premiado inúmeras vezes. É crítico literário do Diário de Pernambuco.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 54

Lisboa: aventuras

tomei um expresso

cheguei de foguete

subi num bonde

desci de um elétrico

pedi cafezinho

serviram-me uma bica

quis comprar meias

só vendiam peúgas

fui dar à descarga

disparei um autoclisma

gritei "ó cara!"

responderam-me "ó pá!"

positivamente

as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 55

Convite

Poesia

é brincar com palavras

como se brinca

com bola, papagaio, pião.

Só que

bola, papagaio,pião

de tanto brincar

se gastam.

As palavras não:

quanto mais se brinca

com elas

mais novas ficam.

Como a água do rio

que é água sempre nova.

Como cada dia

que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

JOSÉ PAULO PAES – nasceu em São Paulo em

1926. Escreveu com regularidade para jornais e

periódicos literários. Em 1987, dirigiu uma

oficina de tradução de poesia na UNICAMP.

Faleceu em 09 de outubro de 1998

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O sermão da selva (IV)

Bem-aventurados os que sustam o avanço dos desertos,

domando a areia e apascentando as dunas

com a flauta inumerável de árvores urgentes

que frutificam em paz e as cidades protegem

e mitigam de chuva os caminhos de fogo.

Bem-aventurados os que socorrem a fauna sacrificada

e salvam da extinção cantos indispensáveis,

belos saltos de cor, imponências felinas

e todas as claras provisões de ternura animal

que a magnífica fonte espalhara na selva.

Bem-aventuradas as mãos que multiplicam o verde e os verdes

movimentos do caule erguendo-se da terra,

e os longos círculos de sonho em que a flor se transfigura,

em que o fruto se entrega e em que as folhas resistem

na úmida e dadivosa sinergia.

Bem-aventurados os que cultivam e os que repartem as lendas,

filhas da solidão dos remos peregrinos,

das sombras que de noite andam de medo em medo

as redes embalando à luz das lamparinas.

Porque lenda é mensagem, e a selva sempre soube

que, além de alma e matéria, o homem é sonho.

Bem-aventurados todos os que antes da revelação eletrônica

já se comunicavam com as plantas, já as sentiam

e com elas partilhavam da luz e da emoção,

e as respeitam assim nessa comunidade da selva.

Bem-aventurados os que em lei, verso, vontade,

na retorta, na prece e na palavra

a selva defenderem e seus mistérios lerem

e fundarem a sua paz na paz da selva.

Porque o Reino será desses, daqueles que

cumprirem

o destino de Deus neste transido

mundo que nos suporta enquanto o temos.

MAX CARPHENTIER -

nasceu em Manaus,

Amazonas, no dia 29 de

abril de 1945. Bacharel

em Direito, pertence ao

Clube da madrugada e à

Academia Amazonense

de Letras.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 57

Poemas de Fundos para dias de chuva

Quero de volta os pretextos

para lavar as superfícies encardidas

não acredito mais no que dão por feito os outros

prefiro eu mesma laçar

usuras da imperfeição

viver dá nisso

uma certa arrogância necessária

desisto de entediar as palavras

com o gesto monótono da caneta

perco o medo dos abstratos e sigo dizendo

vida amor solidão

e catando as horas

como quem rasga papéis antigos

como quem verte um copo de groselha

na toalha branca de linho da avó

mas se ainda soubessem

as libélulas

enquanto tremulam no cloro

se ainda soubessem

os campos os morros os verdes

se ainda soubessem

asas

que não é preciso explicar

as patas que os verbos carregam

suas madressilvas

o relinchar dos grilos

e cigarras

a música de um dia sem estacas

quantos parques

teriam

estas perguntas sem lar

(como frear a noite?

ele quis saber

com os olhos arregalados

e desejo de azul)

ANNITA COSTA MALUFE - nasceu em São Paulo

em 1975. É jornalista formada pela PUC – SP.

Doutora em Teoria literária pela UNICAMP, com

estudos sobre poesia contemporânea. Sua

produção literária tem sido muito bem recebida

pela crítica.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 58

O Buraco do Espelho

o buraco do espelho está fechado agora eu tenho que ficar aqui com um olho aberto, outro acordado no lado de lá onde eu caí pro lado de cá não tem acesso mesmo que me chamem pelo nome mesmo que admitam meu regresso toda vez que eu vou a porta some a janela some na parede a palavra de água se dissolve na palavra sede, a boca cede antes de falar, e não se ouve já tentei dormir a noite inteira quatro, cinco, seis da madrugada vou ficar ali nessa cadeira uma orelha alerta, outra ligada o buraco do espelho está fechado agora eu tenho que ficar agora fui pelo abandono abandonado aqui dentro do lado de fora.

ARNALDO ANTUNES – nasceu em São Paulo, a

02 de setembro de 1960. É músico, poeta,

compositor e artista visual. Em 1978 ingressou

na USP no Curso de Linguística, mas o sucesso

dos TITÃS lhe tomou todo o tempo entre shows,

gravações, turnês e entrevistas. É conhecido na

América do Sul por ser um dos principais

compositores da música pop brasileira com

influências concretistas e pós-modernas.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 59

Legado Deixarei por herança

não o poema

mas o corpo no poema

aberto aos quatro ventos

Pois todo poema

é verde e maduro,

em areia movediça

de angústia, solidão

Onde me debato

ainda que finja o contrário

em busca da verdade

e seu chão

Deixarei por herança

não o poema

Mas o corpo repartido

na viagem inconclusa

Pois todo o poema maduro

é um verde poema

E, mesmo acabado,

se estriba na inconclusão

Claro, sem esquecer,

o estratagema da paixão.

LINDOLF BELL – nasceu em Timbó, Santa

Catarina, em 02 de novembro de 1938. Foi

líder do MOVIMENTO DE CATEQUESE

POÉTICA, uma iniciativa que levava a

poesia às ruas por meio de recitais,

permitindo que milhares de pessoas

conhecessem e tivessem acesso a essa

forma de arte.

Faleceu em Blumenau, em 10 de dezembro

de 1998.

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O JOVEM NA LIVRARIA

De pé, lendo na livraria. Nas proximidades, os bondes confluindo no Tabuleiro da Baiana; marmiteiros na direção de grotões com valões a céu aberto; trens trepidando e perdendo-se nas penumbras ignotas e tristes de um desterro suburbano. De pé, lendo na livraria. La fora, analfabetos e letrados revezando-se no espaço sem solução à vista: Brasil, país do futuro! (Escuro, muro, desconjuro.) Transeuntes, ambulantes e uma elite na livraria. Senhores nos botecos, goles de café, “lotações”; ainda havia batedores de carteira, malandros, funcionários públicos (barnabés) pelos institutos de previdência. O garoto, de pé, na livraria lendo Drummond, Bandeira, vindo do bairro mais distante. Brasil, afinal, Campeão do Mundo! Sorrisos sem dentes, salário mínimo, programas de auditório, carnaval. Mundo mundo, vasto mundo, eu não me chamo Raimundo, mas Antonio, flébil, esguio, com dinheiro apenas para o pastel e o ônibus; os livros eram leitura de livraria, de pé.

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O pai, barnabé; a mãe, costureira. De pé, lendo na livraria: Drummond, Cabral, Bertrand Russell, e algo mais. Um fragmento de Baudelaire, um pedaço de Aimé Cesaire, frase de Nietzsche. “-Que livros você quer levar, meu jovem?” Pensou: “nenhum”. Gostaria, mas não podia. Lá fora, tantos outros como ele. Personagens sem olhos, sem boca. Massas humanas movendo-se anônimas; bacharéis luzindo anéis. “A vida como ela é”, do Nelson Rodrigues. Vedetes de teatro de revista, Ibrahim Sued. Miss Brasil não falava inglês e já imitavam jazz e rock e a bossa-nova queria ganhar o mundo! E o garoto, de pé, na livraria. “Pode levar os livros que quiser, sem pagar”. (...) “Sim, isso mesmo, jovem, os livros que quiser: dois, dez, à vontade”. Quis correr, encabulado, assustado. “Uma pessoa viu-o lendo, e emocionou-se: (...) Um magistrado, um homem abastado.” (...) Deixou crédito aberto a seu favor...” “Machado de Assis? Jorge Amado? Menotti del Picchia? Sartre? Camus?” “O que quiser, o que consiga levar!” (...) Na estante de casa havia livros emprestados da biblioteca pública. Sorte que havia bibliotecas públicas!!! Levou para casa o J. C. de Melo Neto e a filosofia difusa de Lin Yutang. .........................................................

Outros livros seguiu adquirindo

por conta própria: tantos, tantos!

E ali está, de pé, na livraria,

outro jovem suburbano lendo um livro!!!

ANTÔNIO (LISBOA CARVALHO)

DE MIRANDA é maranhense,

nascido em 05 de agosto de

1940. Membro da Academia de

Letras do Distrito federal,

colaborou em muitas revistas e

periódicos literários no Brasil,

Argentina e Venezuela.

Atualmente é Diretor da

Biblioteca Nacional de Brasília.

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ROMANCE DA NOITE-CHUVA

Tremia o trovão na terra. Talhavam a face torva gota a gota os seringais, era o deus que era raivoso e vinha nos temporais. Bramia o rumor do rio nas noites de escuro e chuvas, caía a faixa da terra, piavam surdo as corujas. Um noturno canto-pranto cortava o céu em dois meios, nosso deus vinha vestido de nós e os nossos receios. * _ Minha mãe, onde é que eu acho a lamparina da noite? _ Meu filho, ela deve estar pendurada lá no alpendre. _ Minha mãe, por que a coruja pia agora sem parar? _ Meu filho, certo que existe um defunto a amortalhar. _Quero dormir, minha mãe, dentro das trevas desta hora, mas não posso me embrulhar, o meu lençol me apavora. _ Meu filho, dorme, não chora, que o dia não custa a vir, reza as três ave-marias, muda a roupa e vai dormir. * A terra tremia toda.

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FIGURAS

1 O sol ardia no roçado, caniços secos ardiam no roçado, folhas torradas no sol do roçado. Quero falar de ti, curtas palavras quero cravar no solo claro destas pedras. 2 O verso vive nas cruzes do futuro. Agora é o mero vento das fugaces frases irreais, a voz vazia dos bichos castigados aos sons banais. 3 Nossa comida era branca, peixe frugal, favas fritas, maxixes na água e sal. 4 A macia serenidade do rio após a chuva. 5 O jardim era encharcado no fim do inverno, o verão era verde. Heras medravam nas pedras sujas, manjeronas se urdiam no pátio como cobras, risos-do-prado japanas mucuracaás papoulas rosas-pedra lama seca estalada em retângulos de cinza.

ELSON FARIAS – nasceu em Roseiral, interior do

Amazonas, município de Itacoatiara, no dia 11 de

junho de 1936. Tem várias obras publicadas e

pertence à Academia Amazonense de Letras.

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SENTIMENTO PORTUGUÊS

Atado ao crepúsculo deste vagamundo

vejo mãos líquidas bater na praia inteira.

Escrevem brancas palavras de um sal agudo

e triste. Dói olhar o mar de uma cadeira.

Os lábios das canoas tremulam heurísticos

em contraste a navios castos sonolentos.

Só mesmo a corcunda de Adamastor persiste

caída ao longe: sem esqueleto por dentro

nem a mover-lhe Deus — que acaso não existe

mas aparece posto neste rosto imenso.

FERNANDO PAIXÃO – nasceu na aldeia

portuguesa de Beselga em 1955, mas veio ainda

criança, em 1961, para o Brasil. Formou-se na

Universidade de São Paulo (USP). Escreve artigos

para jornais e revistas e atua na área editorial.

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história

Na cidade em que nasci

havia um bicho morto em cada sala

mas nunca se falou a respeito

os meninos cavávamos buracos nos quintais

as meninas penteavam bonecas

como em qualquer lugar do mundo

nas salas o bicho morto apodrecia

as tripas cobertas de moscas

(os anos cobertos de culpas)

e ninguém dizia nada

mais tarde bebíamos cerveja

as brincadeiras eram junto com as meninas

a noite aliviava o dia

das janelas o sangue podre

(ninguém tocava no assunto)

escorria lento e seco

e a cidade fedia era já insuportável

parti à noite

embora sem dúvidas chorasse

FABRÍCIO CORSALETTI – nasceu em Santo

Anastácio, interior de São Paulo, em 1978.

Formado em letras pela USP, é editor de poesia

da revista Ácaro.

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Madrepérola

Nos interlúdios de silêncio

sempre me busco

com o olhar em paralaxe.

Comove-me a gravidez

de um átomo.

O centro de gravidade

de todo ser

em forma e conteúdo.

Há um significado

entre uma palavra e outra

que é preciso desvendar o sentido

o não aprendido

o não dito digno de louvor.

É preciso aprender com a concha

a ouvir o canto do mar.

Aprender com o gesto

contido no incomum

da madrepérola.

É preciso devolver o encanto

substantivo de cada ser.

A essência que contém

no fundo mais íntimo.

É preciso sentir a natureza.

Aprender com a ostra

a transformar os resíduos

em forma de beleza.

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Oriental

A poesia do por-do-sol,

que juntos imaginamos,

está como um quadro suspenso

na parede do quarto

de minha memória.

No livro dos arcanos,

que juntos sonhamos,

está a minha e a tua vida,

além do tempo quando.

Como um prisma sob a luz

está o teu corpo-astro

rastro, qual arco-íris

de sagrados sonhos.

Tal estrela de quartzo,

está a alegria do teu olhar;

e no sorriso de criança

o almo de tua alma

e a sorte... é minha.

Contudo, a amorosidade

está no teu gesto eternal;

grafado em fogo

na minha pele

como signo oriental.

Nelson Castro, poeta e promotor cultural, atua também na área editorial em Manaus.

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Referências http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&ie=UTF-8&rlz=1T4ACAW_en___BR336&q=jornal+de+poesia+orides – pesquisado em 23/02/2011 – às 10h. http://oglobo.globo.com/blogs/literatura/posts/2010/10/29/um-telefonema-para-orides-fontela-336605.asp - pesquuisado em 22/02/2011 -as 09h http://musicapoesiabrasileira.blogspot.com/2008/12/poemas-de-orides-fontela.html - pesquisado em 22/02/2011 - às 10h24 http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/670535-desregrada-solitaria-e-boemia-poeta-orides-fontela-permanece-no-anonimato.shtml -pesquisado em 21/02/2011 - às 22h http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet032.htm - pesquisado em 20/o2/2011 - às 20h http://www.imaginariopoetico.com.br/2010/02/orides-fontela-toda-palavra-e-crueldade.html - pesquisado em 19/02/2011 - às 11h http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=128648 – pesquisado em 23/02/2011 – às 9h30 http://www.manausmais.com.br/content/col_home_coluna.asp?URL_COL_COD=9 – pesquisado em 223/02/2011 – às 8h http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=855:poesia-e-poetas-do-amazonas&catid=66:destaques-do-acervo&Itemid=106 – pesquisado em 23/02/2011 às 8h20 http://charlesmallarme.wordpress.com/2008/11/29/poetas-do-amazonas-thiago-de-melo/ - pesquisado em 23/02/2011 – às 8h40 http://www.germinaliteratura.com.br/ab.htm - pesquisado em 23/02/2001 - às 9h http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&ie=UTF-8&rlz=1T4ACAW_en___BR336&q=max+carphentier – pesquisado em 23/02/2011 – às 9h10 http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&ie=UTF-8&rlz=1T4ACAW_en___BR336&q=luiz+bacellar – pesquisado em 23/02/2011 – às 9h35 http://www.call.org.br/autores/autor_elsonfarias.htm - pesquisado em 23/02/2011 - às 9h40 http://www.revista.agulha.nom.br/astridcabral.html - pesquisado em 23/02/2011 - às 10h http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&ie=UTF-8&rlz=1T4ACAW_en___BR336&q=rosa+clement – pesquisado em 23/02/2011 – às 10h20 http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&ie=UTF-8&rlz=1T4ACAW_en___BR336&q=jorge+tufic – pesquisado em 23/02/2011 – às 1030 http://portalamazonia.globo.com/pscript/entretenimento/agenda/evento.php?idEventoCultural=4857 – pesquisado em 23/o2/2011 – às 11h.

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IDR – XV MOSTRA DE POESIA – 2011 69

Anotações

Meada

Uma trança desfaz-se: calmamente as mãos

soltam os fios inutilizam

o amorosamente tramado. Uma trança desfaz-se:

as mãos buscam o fundo da rede inesgotável

anulando a trama

e a forma. Uma trança desfaz-se: as mãos buscam o fim

do tempo e o início de si mesmas, antes

da trama criada. As mãos

destroem, procurando-se antes da trança e da memória.