POR OUTRAS PALAVRAS
Boletim Informativo N.º 7, Agosto 2012
POR OUTRAS PALAVRAS?
No decorrer do mês de Agosto a imprensa avançou um conjunto de notí-
cias que denunciavam o escalar da violência doméstica e de género, um
pouco por todo o país. Estas agressões, intencionalmente homicidas ou
não, resultaram na morte de mais de duas dezenas de mulheres, só este
anos e até este mês. Defende-se que a visibilização dos crimes de violên-
cia doméstica é crucial, uma vez que espelha uma violência social e
transversal, consequência de uma opressão estrutural de género. No
entanto, admite-se que a hiper-visibilização da violência pode originar
processos e comportamentos de imitação, que contribuam para o eclodir
de um conjunto de crimes, num curto espaço de tempo. Em segundo
lugar, esta hiper-mediatização também pode servir aos já perpetradores
de violência doméstica como forma de chantagem e de ameaça perante
as vítimas. Esta questão dual deve ser tida em consideração como objec-
to de reflexão por parte dos media. Cumpre-nos destaca-la.
Boletim Informativo n.º 7 - Agosto de 2012
Monitorização: de 1 a 31 de Agosto de 2012, foram
monitorizados diariamente 10 jornais de referência:
3 de âmbito regional (Campeão das Províncias, Diá-
rio As Beiras e Diário de Coimbra) e 7 de âmbito
nacional (Diário de Notícias, Jornal I, Jornal de
Notícias, O Expresso, O Público, Primeiro de Janeiro
e Sol).
Nesta edição:
1 - Editorial
2 - Pela Positiva, (in) visibilidade
3 - Media
4 - Xenofobia
5 - Xenofobia
6 - Xenofobia
7 - Xenofobia, Estereótipos
8 - IEBA, Sugestões de Leitura, Créditos
IN OTHER WORDS é um projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação contida nesta publicação (comunicação)
vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
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pela positiva Este mês destacam-se pela positiva duas notícias que procuram retratar, a partir de um estudo conduzido
no Centro de Estudo Sociais (Universidade de Coimbra), análises e medidas para travar a violência domés-
tica: ‘Boas Leis Não Bastam’ (Diário
de Coimbra) e ‘Tribunais ‘culpam’ víti-
mas de violência domestica’ (Público). Em primeiro lugar destaque-se
os títulos, ambos incidentes na estruturas de poder, designadamente,
na legislação e nos magistrados. O corpo de ambas as notícias revela-
se interessante, não só por deixar a descoberto as marcas patriarcais
da sociedade portuguesa contemporânea (sic), bem como a falta de
preparação de muitas técnicas e magistrados (sic). Por outro lado,
explanam de forma coerente e visibilizam um trabalho académico de
extrema importância. Além do mais, esta é claramente uma situação
em que o/a jornalista, particularmente do Diário de Coimbra, aproveita um evento para ampliar a discussão
sobre uma realidade que precisa de ser debatida. Destaque-se, ainda, a utilização de diferentes fontes no
seu artigo, designadamente o Observatório de Mulheres Assassinadas e a DGAI - Direcção Geral da Admi-
nistração Interna, órgãos importantes na monitorização e combate à violência doméstica.
Divulgação de iniciativas.
Dada a invisibilidade que os assuntos relacionados com a deficiência, tanto física como
mental, ocupam nos espaços mediáticos, destacamos a divulgação de iniciativas pela
imprensa local, nomeadamente a realização de uma conferência de imprensa realizada
pela APPACDM de Coimbra, a propósito da demonstração da sua classe de ginástica no
Festival Internacional Eurogym 2012.
(in)visibilidade
in Diário de Coimbra, 12/07/2012
in Diário de Coimbra, 13/07/2012
in Público, 22/06/2012
media
N.º 7, Agosto 2012 Página 3
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) decretou que o Diário de Notícias deveria filtrar
previamente os comentários que publica à sua edição online do jornal. Declarando que se trata de uma prá-
tica anti-democrática e de censura (sic), a direcção do jornal Diário de Notícias, recusou-se a acatar a ordem
da ERC (sic). A propósito deste
acontecimento saíram algumas
notícias no jornal que procuraram
problematizar e justificar a diver-
gência de posições.
Este artigo permite antever um
debate (necessário) sobre a (re)
produção de um conjunto de
mudanças operadas na imprensa,
a partir do advento dos media
online. Devido ao aumento gra-
dual do número de leitores que
acedem a estes conteúdos noticio-
sos via internet que, no caso do
DN, se traduz em 16 milhões de
pageviews por dia (sic), é necessá-
rio pensar qual o espaço que os
comentários – imediatamente
após o artigo – devem ocupar e
como e que se podem prevenir
determinadas situações. Apesar
de o DN afirmar que há questões
de ética e moral (sic) que não
devem ser socialmente impostas
pelo jornal, a realidade é que os riscos de não haver uma moderação atenta dos comentários às notícias
pode ter consequências funestas na formação da opinião pública, bem como na utilização destas páginas
como instrumentos de propaganda de determinadas ideologias. Uma vez que há uma linha editorial (e.g.
cartas do leitor) que é seguida na versão impressa do jornal, entende-se que essa mesma linha pode ser res-
peitada no que toca os comentários online, no sentido de prevenir um conjunto de situações. Argumenta-se
essencialmente que, embora em versão online, o jornal não deve desresponsabilizar-se pelos conteúdos que
suporta e, nesse sentido, poderia ser interessante ter um/a moderador/a, encarregue não de censurar mas
de perceber o teor dos comentários, analisa-los e denunciá-los por escrito, se necessário. Este não deixa de
ser um tema controverso, dada a fronteira ténue entre a mediação, a interposição e a censura.
in Diário de Notícias, 20/07/2012
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xenofobia É com alguma renitência e preocupação que se volta a destacar a contínua associação mediática, perpetra-
da pela imprensa escrita, entre imigração e crime. A notícia proposta a análise levanta, uma vez mais, a
discussão sobre o peso que o discurso dos média tem na opinião pública e o que é que isso deve implicar na
qualidade da informação difundida,
bem como dos métodos (técnicos e
literários) dessa mesma difusão. Na
qualidade de (re)educadores siste-
máticos das massas, os media têm-
se mostrado incapazes de desafiar
muitos dos discursos oficiais sobre a
imigração, contribuindo para a per-
petuação de um conjunto de estereó-
tipos, que advêm mais do senso
comum do que das realidades
sociais contemporâneas.
Os jornais têm opções editorais que devem
ser analisadas e questionadas, no sentido em
que vão, muitas vezes, mais ao encontro das
vendas, do que da qualidade de conteúdos.
Num momento político em que os imigrantes
têm sido alvo - um pouco por toda a Europa e
em especial na Grécia – de ataques à sua
integridade pessoal, social e física, (re)
constituídos como bodes expiatórios desta
crise económica, a proliferação de discursos
xenófobos e de extrema-direita é (deveria ser)
um momento ainda mais delicado para o dis-
curso mediático. Embora o objectivo deste
projecto e deste boletim não se prenda com a
demonização dos media, é realmente urgente
indagar e perceber qual a responsabilidade
de quem (re)escreve estas histórias a partir
da realidade, quais os tipos de filtros, as
perspectivas e forma como decide apresentar
discursos, quando se sabe que se atingirá
uma larga quantidade da comunidade de lei-
tores de imprensa. (Continua na página seguinte)
in Diário de Notícias, 16/07/2012
in Diário de Notícias, 16/07/2012
N.º 7, Agosto 2012 Página 5
xenofobia Textos desta natureza, que perpassam a ideia de que ‘há campos de treino’ (sic), ‘bandos de leste’ (sic) esta-
belecem a ideia de uma organização interna, de uma espécie de máfia só de estrangeiros que opera coorde-
nadamente, no fundo, uma ameaça estrangeira ao país. Alega-se que este tipo de construção de conteúdos
noticiosos - títulos e respectivos textos - contribuiu para a criação de uma imagem negativa e destorcida de
todos aqueles que aos olhos de quem lê este tipo de notícia são encaixados na categoria de ‘de leste’ (sic).
Neste sentido, a escolha de um ‘agente’/sujeito da notícia, ou de um grupo de agentes/sujeitos, coloca-o no
alvo. É aqui que se dá uma
mudança: a notícia deixa de ser
sobre a situação que pode ter
conduzido a um aumento do
número de assaltos no país e pas-
sa a ser sobre um grupo
(abstracto) denominado ‘Gangues
de leste’ (sic).
Denote-se ainda que a escolha do
título de capa não é ingénua. O
seu tom alarmista e sensaciona-
lista contribuirá para chamar a
atenção dos leitores, e incremen-
tar a atenção e as vendas do jor-
nal. O estilo de escrita, particu-
larmente a utilização de termos
como ‘campos’, ‘bandos’, método’
relembra, de alguma forma, um
cenário agonístico, quase militar,
de guerra.
É curioso notar que quando os
‘portugueses’ são nomeados como
perpetradores deste tipo de cri-
me, figuram de forma bastante
discreta e no final de um rol de outras nacionalidades. Atente-se também à imagem utilizada na notícia:
embora o texto argumente que estes não se tratem de grupos violentos (sic), a ilustração é de um homem de
ar austero e com uma pistola na mão, o que não deixa de contribuir para a criação de uma imagem de extre-
ma violência. Acreditando que os media deveriam servir outros propósitos, mais educativos no sentido de
incrementar o sentido crítico e menos o mimético, aguarda-se que alguma mudança no tratamento destes
casos venha a acontecer, no sentido de deixarem de perpetuar discursos que alimentam a xenofobia.
in Diário de Notícias, 16/07/2012
Página 6 POR OUTRAS PALAVRAS
No decorrer do mês de Junho foram publicadas um conjunto
de três notícias alusivas ao Centro de Instalação Temporária
do Aeroporto de Lisboa, vulgo espaço de detenção de imigran-
tes. Este contíguo de notícias, com especial enfoque - dois
artigos - numa fuga que aconteceu há cerca de sete meses
(Novembro de 2011), foram escritos nos dias 25 e 26 de
Junho. Posteriormente, a 29 de Junho é publicado um outro
artigo, referente a uma nova fuga que teria ocorrido na noite
de 27 de Junho. Esta teia traçada pela jornalista, não deixa
de levantar algumas questões sobre a criação e a produção de
conteúdos noticiosos.
Em primeiro lugar, não deixa de ser estranho que as primei-
ras duas notícias são referentes ao mês de Novembro de
2011, deixando por perceber qual a pertinência da notícia
agora. Escolhendo-se aqui um lado da notícia, focando acima
de tudo a falta de condições destes Centros de Instalação nos
aeroportos e dando a entender que é necessário criar
‘condições’ (sic), a notícia limita-se a descrevê-los sistemati-
camente como espaços de ‘tensão explosiva’ (sic) - citação
recolhida do Sindicato dos Inspectores do SEF - Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras - mas sem nunca equacionar as
consequências dessa falta de condições para todos/as aqueles/
as que são detidos.
Continua na página seguinte...
xenofobia
in Diário de Notícias, 27/06/2012
in Diário de Notícias, 29/06/2012
… Continuação
Neste sentido, reforça-se a ideia de que o espaço pode potenciar uma
ameaça, mas a uma sociedade maioritária abstracta, contribuindo acti-
vamente para tal ideia a adjectivação desse espaço como violento, peri-
goso. Assim, argumenta-se também que os/as imigrantes são objectifi-
cados e lhes é vetado qualquer direito à representação, física e discursi-
vo. Em segundo lugar, refira-se que as pessoas detidas são sistematica-
mente apelidadas de criminosos ou ilegais e, como já se referiu noutra
edição deste boletim informativo: ‘ninguém é ilegal’, não deixando de
criminalizar a imigração, dando-lhe especial destaque (notícia de capa):
‘No início da semana, em reacção a um artigo do DN sobre a fuga de
outro criminoso, em Novembro passado e sobre a falta de condições de
segurança neste espaço [centro de instalação temporária] - onde ficam
instalados os imigrantes legais impedidos de entrar em Portugal e cri-
minosos em processo de expulsão ou suspeitos em trânsito -, o SEF
tinha destacado o resultado de várias inspecções (...)’ (sic).
xenofobia
Página 7 POR OUTRAS PALAVRAS
Destaque-se esta notícia pelo facto de: i) servir como um exercício de
auto-reflexão da prática jornalística, que destaca a subjectividade da
perspectiva a que determinados assuntos podem conduzir; ii) salien-
tar, no título e no corpo da notícia, a ideia de que a afirmação de cada
pessoa depende essencialmente do seu acesso a um conjunto de opor-
tunidades. Desta forma, pode extrapolar-se para uma crítica a uma
sociedade meritocrática, que deposita toda a responsabilidade no
sujeito, sem nunca atentar realmente aos contextos. No entanto real-
ça-se que, quando anunciada na capa do jornal, o título da notícia é
outro ‘Portadores de deficiência receberam Diplomas’. Acrescente-se
que a terminologia actualmente utilizada na Classificação Internacio-
nal de Funcionalidade (CIF) é ‘Portadores de incapacidade’ e não de
deficiência. A este propósito sugerimos a leitura do texto sobre “A
Deficiência na Comunicação Social - Boas Práticas para Jornalistas”,
disponível online em: http://deficienciavisual3.com.sapo.pt/txt-
deficiencia-boas_praticas_jornalistas.htm
estereótipos
in Público, 29/06/2012
in Diário de Coimbra, 12/07/2012
IEBA Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais
Objetivos Estratégicos:
- Conceber, gerir e participar em proje-
tos e atividades de âmbito Europeu,
nacional, regional e local, que contri-
buam para o desenvolvimento do terri-
tório, das pessoas e das organizações.
- Informar e prestar serviços técnicos
especializados às empresas, entidades
da economia social, autarquias e a
empreendedores/as.
- Melhorar as competências e elevar a
qualificação das pessoas através do
planeamento, organização, execução
e avaliação de ações de formação pro-
fissional.
- Promover o emprego, através do
aconselhamento profissional e
apoiando a procura ativa de emprego.
Áreas de Atuação:
Formação Profissional: melhorar as
competências, elevar os níveis de
qualificação dos recursos humanos;
Emprego: facilitar o encontro entre a
procura e a oferta de emprego e
apoiar a procura ativa de emprego;
Inclusão Social: favorecer a inclusão
social de grupos sociais desfavorecidos;
Igualdade de Género e de Oportunida-
des: contribuir para a igualdade de
entre homens e mulheres e combater
todas as formas de discriminação.
Animação e Divulgação: contribuir
para a animação sócio-cultural, divul-
gar o território e os produtos locais.
Empreendedorismo: aumentar o espí-
rito empreendedor, apoiar a criação de
empresas e o auto-emprego.
TIC: tornar acessíveis, aproveitar as
potencialidades, formar e disseminar a
utilização das TIC.
Qualificação das organizações: inter-
venções de melhoria e capacitação
organizacional, realizadas em empre-
sas e em entidades da economia social,
através de processos e formação e con-
sultoria.
Qualidade: desenvolver processos de
certificação de qualidade nas empresas
e em organizações da Economia Social.
Competitividade e Produtividade: ela-
borar candidaturas a sistemas de
incentivo ao investimento e à criação
de emprego.
Mobilidade Europeia: organização de
intercâmbios europeus para profissio-
nais da formação e para pessoas no
mercado de trabalho.
Internacionalização: apoiar processos
de internacionalização, através da
organização de missões e do estabeleci-
mento de parcerias.
Saiba mais em:
www.ieba.org.pt
O IEBA - Centro de Iniciativas
Empresariais e Sociais é uma asso-
ciação de desenvolvimento local, com
sede no concelho de Mortágua, na
região Centro de Portugal, que foi cria-
da em 27 de Dezembro de 1994. Esta
associação foi criada por um conjunto
de pessoas e de entidades do meio
local, comprometidas com a promoção
do desenvolvimento do seu território,
das pessoas e das organizações.
De acordo com os seus estatutos, o
IEBA tem por objetivo “(...) o desenvol-
vimento da sua área de intervenção,
nomeadamente através de apoio técni-
co e promoção das atividades económi-
cas, culturais e sociais, dos recursos
humanos, do ensino e formação profis-
sional, bem como a criação e gestão de
empresas (...). “
sugestões de leitura
Página 8 N.º 7, Agosto 2012
- LET´S eBook—disponível em http://www.letsenterprise.eu/
- Manual D3 Digitalizar o 3º Sector—disponível em http://www.ieba.org.pt
- Manual Q3 Qualificar o 3º Sector— disponível em http://www.ieba.org.pt
- ValidAid Validation Kit—brevemente disponível em http://www.validaid.eu/
- PLUS Competências para a Sociedade do Conhecimento e Viver na Europa— disponível em http://www.ieba.org.pt
na internet
Visite o website do projecto IN OTHER WORDS em: http://www.inotherwords-project.eu/
No Facebook, pesquise por IN OTHER WORDS - POR OUTRAS PALAVRAS e GOSTE de nossa página
Conheça a política e actividades da Comissão Europeia na área da Justiça em: http://ec.europa.eu/justice/index_en.htm
créditos Edição: IEBA Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais, Agosto 2012
Revisão: ULAI Unidade Local de Análise de Imprensa - APPACDM Coimbra, APAV, GRAAL, NÂO TE PRIVES, SOS RACISMO
Contactos: IEBA Parque Industrial Manuel Lourenço Ferreira, Lote 12 - Apartado 38, 3450-232 Mortágua, [email protected]