Trabalho apresentado no V Seminário da Pós Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e
Desenvolvimento - realizado entre os dias 02, 03 e 04 de dezembro de 2015, em Cachoeira, BA, Brasil.
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AS PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O
FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE
ITORORÓ - BA
GT 4 – AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL
Lília Rezende dos Santos
Mestranda em Educação
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Professora efetiva do CETEP Médio Sudoeste da Bahia
E-mail: [email protected]
José Jackson Reis dos Santos
Doutor em Educação
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Departamento de Filosofia e Ciências Humanas - DFCH
E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente resumo insere-se num contexto pela busca do fortalecimento da agricultura
familiar do município de Itororó-BA, a partir do relato de algumas práticas
desenvolvidas pelos alunos do curso Técnico em Agroecologia do Centro Territorial de
Educação Profissional do Médio Sudoeste da Bahia. Dentre estas práticas, destacam-se
a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), tendo em vista que estes serviços
contribuem para incrementar o nível de informações e melhorar as habilidades do
agricultor familiar, orientando-os na tomada de decisões mais sustentáveis e a
superarem algumas dificuldades vivenciadas no âmbito de suas unidades de produção.
Historicamente, a agricultura familiar foi considerada um setor marginalizado, não
sendo alvo de políticas públicas, que priorizavam apenas os latifundiários e as
extensivas monoculturas, em detrimento do pequeno agricultor e sua propriedade
agrícola. Deste modo, são inúmeros os desafios enfrentados pelos agricultores locais,
dentre eles a falta de acompanhamento de um profissional técnico que possa auxiliar o
homem do campo a enfrentar as adversidades vivenciadas cotidianamente.
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Com fins de reverter este cenário e percebendo a realidade local, sentimos a
necessidade de disponibilizarmos estes serviços aos agricultores familiares locais, como
também desenvolver práticas que contribuíssem para articulação entre os saberes teóricos e os
saberes práticos. Nesse contexto, a presente pesquisa justifica-se pela importância dos
serviços de ATER, com fins de contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar, uma
vez que 100% das propriedades agrícolas pesquisadas não dispõem de acompanhamento de
um profissional técnico. Sendo assim, o objetivo central deste trabalho é fornecer os serviços
de assistência técnica e extensão rural aos agricultores familiares do município de Itororó-BA,
a partir da utilização das práticas agroecológicas desenvolvidas pelos alunos do curso Técnico
em Agroecologia do CETEP do Médio Sudoeste da Bahia. Com relação ao percurso teórico-
metodológico, a pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa e enquadra-se como uma
pesquisa-ação, partindo do pressuposto que se almeja resolver uma problemática existente, a
partir de uma intervenção na realidade. A primeira etapa consistiu no levantamento
bibliográfico de literaturas correspondentes ao tema, com fins de conhecermos o panorama da
agricultura familiar no Brasil, e especificamente, na Bahia. Posteriormente, realizamos visitas
técnicas em dez propriedades rurais que se enquadram com agricultura familiar, com fins de
nos aproximarmos destes agricultores e conhecermos os principais problemas vivenciados.
Devido à impossibilidade de desenvolvermos os serviços de ATER em todas as propriedades
visitadas, optamos em aplicá-los em apenas três propriedades, tendo como critérios a adesão
do agricultor em relação às propostas apresentadas, assim como maior facilidade de acesso.
As próximas etapas consistiram em levantamento das principais pragas e doenças que
atacavam as plantações, assim como a realização de palestras e oficinas junto aos agricultores
familiares, no sentido de contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar, a partir da
aplicação de práticas agroecológicas. Os resultados da pesquisa permitem afirmar que as
orientações técnicas e os serviços de extensão rural prestados contribuíram para fortalecer a
agricultura familiar local, disponibilizando alternativas que contribuíram para maximizar a
produtividade deste setor, e consequentemente, melhorar a qualidade de vida de todos os
envolvidos nesse segmento.
Palavras-chave: Agricultura Familiar; Assistência Técnica; Extensão Rural.
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1. INTRODUÇÃO
Historicamente, a agricultura familiar no Brasil é um setor marginalizado, sendo
considerado mais como um encargo e não como uma atividade essencial para o
desenvolvimento rural brasileiro. Imerso nesse cenário excludente, este ramo do setor agrícola
assumiu uma posição secundária, uma vez que as políticas públicas criadas priorizam apenas
as grandes propriedades - os latifúndios - e sua prática extensiva - a monocultura. Apesar da
referida prioridade, a chamada agricultura familiar sempre fora constituída por pequenos e
médios produtores.
Ao referir-se à importância da agricultura familiar no contexto brasileiro, Portugal
(2002, p. 2) destaca que “são cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos, dos quais 50% no
Nordeste. O segmento detêm 20% das terras e responde por 30% da produção global”. Nessa
perspectiva, evidenciamos a importância da prática da agricultura familiar enquanto uma
atividade geradora de renda, contribuindo assim, para o desenvolvimento econômico do
Brasil, especificamente para a região Nordeste, onde estão localizados a metade das
propriedades agrícolas familiares do Brasil.
Nessa conjuntura, observa-se que a história da agricultura familiar no Brasil foi
marcada pelo descaso e pela precariedade, características que ficam evidentes nas palavras de
Brumer et al (1993, p.180) apud Lamarche (1993, p. 90), quando nos afirmam que “a
agricultura de base familiar nasceu no Brasil sob o signo da precariedade, precariedade
jurídica, econômica e social do controle dos meios de trabalho e de produção e,
especialmente, da terra”.
Paralela a essa situação de precariedade, havia também um desprezo pela imagem do
homem do campo, especificamente do pequeno agricultor, figura que estava sempre associada
à condição de miséria e um ser incapaz de promover o desenvolvimento de sua propriedade
agrícola. Esta peculiaridade é evidenciada nas palavras de Netto (1999, p. 03), quando nos
afirma que “[...] o agricultor familiar, era simbolizado pelo Jeca Tatu, doente, subnutrido,
cheio de vermes e, o mais grave, pouco inteligente e incapaz de tomar decisões eficazes no
gerenciamento do seu negócio” (grifo nosso).
Considerando as concepções do autor supracitado, percebe-se que a agricultura
familiar no Brasil era erroneamente associada à ideia de retrocesso, de atraso e o homem do
campo, enquanto personagem central deste segmento, um ser discriminado e despreparado
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para enfrentar as adversidades do cotidiano. Ainda de acordo com Netto (1999, p. 05), “os
próprios instrumentos do Estado, a exemplo da assistência técnica e extensão rural, da
pesquisa e do crédito, eliminavam o agricultor familiar de suas agendas”. Diante desse
contexto, a agricultura caracteriza-se por certa fragilidade, especificamente quando
comparada com outras atividades econômicas. A baixa rotatividade de capital e os altos riscos
eminentes de sua prática são fatores que contribuem para tornar a agricultura um setor
vulnerável. Assim, diante dessas incertezas e dificuldades, reafirma-se a necessidade do
desenvolvimento de políticas públicas que possam capitalizar o homem do campo.
Parafraseado com Netto, os autores Lima et al. (s.d.) destacam a importância dos
serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural enquanto instrumentos que possibilitem ao
agricultor familiar a superação de algumas dificuldades vivenciadas no seu dia a dia. O acesso
ao conhecimento de novas técnicas de produção, assim como o acompanhamento de um
profissional técnico contribui para que os agricultores tenham a possibilidade de maximizar
sua produção, a partir da utilização de práticas sustentáveis que possibilitem enfrentar as
adversidades do seu cotidiano.
Entretanto, devemos ter certa cautela ao analisarmos a importância dos serviços de
Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER - para não incorrermos em erros de
generalização, de modo que estes serviços não sejam considerados como os únicos redentores
da agricultura familiar no Brasil. Atribuir o sucesso ou fracasso da Agricultura Familiar
apenas ao ATER é uma atitude muito simplista, uma vez que tais serviços só terão eficiência
na medida em que os agricultores familiares possam dar continuidade e colocar eficazmente
em prática os conhecimentos que foram obtidos com os técnicos especializados.
2. AGROECOLOGIA: UMA INCURSÃO CONCEITUAL
Antes de iniciarmos um debate sobre as contribuições da Agroecologia no âmbito da
agricultura familiar, concordamos em apresentar algumas definições que perpassam por este
termo, pois muitas vezes seu uso tem sido utilizado de forma inapropriada, gerando
interpretações equivocadas e simplistas.
1 O conceito de agroecossistema aqui utilizado está inspirado na perspectiva adotada por Pimentel (1996), que
define como “sistemas ecológicos alterados, manejados de forma a aumentar a produtividade de um grupo seleto
de produtores e de consumidores. Plantas e animais nativos são retirados e substituídos por poucas espécies. Ver
também Hart (1978,1980).
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De fato, uma das situações que elucidam este reducionismo conceitual decorre do fato
de que, muitas vezes, o termo Agroecologia aparece associado a um tipo de agricultura. Esta
visão acaba limitando a importância deste campo do conhecimento científico, uma vez que
seus princípios e diretrizes são discutidos com a participação agricultores de várias partes do
mundo e especialistas de várias áreas do conhecimento, assim como para Nessa perspectiva,
Caporal et al.(2009, p. 15-16), nos afirmam que:
[...] Tem-se confundido a Agroecologia com um modelo de agricultura, (alguns
propositadamente e de má fé, outros por não haverem aprofundado no entendimento
epistemológico). Também é comum confundir Agroecologia com a simples adoção
de determinadas práticas ou tecnologias agrícolas ambientalmente mais adequadas
ou com uma agricultura que não usa agrotóxicos.
De fato, estas interpretações equivocadas acabam limitando as potencialidades deste
campo de conhecimento científico, assim como suas contribuições para o desenvolvimento
rural sustentável. Frequentemente, a agroecologia é conceituada como disciplina
agroecológica, transdisciplina agroecológica, agricultura sem agrotóxicos ou abordagem
agrícola sustentável. Desse modo, o que percebemos é que a adjetivação do termo
“agroecológico” acaba limitando a epistemologia da palavra, sendo comumente associada a
um produto ou produção agrícola.
Sevilla e Guzman (2004) apud Caporal et. al (2009) apontam que os elementos
centrais da Agroecologia constituem-se em três dimensões: a) ecológica e técnico-
agronômica; b) socioeconômica e cultural; e c) sociopolítica. Ainda segundo os autores, essas
dimensões não ocorrem de forma isolada, mas sim numa relação de simbiose, que se
entrecruzam, influenciando uma à outra. Desse modo, a compreensão dessas dimensões
requer a superação de um enfoque simplista, uma vez que elas são marcadas pela
complexidade e influências mútuas.
Em síntese, o enfoque agroecológico corresponde à utilização de conhecimentos e
princípios de diferentes campos do conhecimento científico, possibilitando compreender as
relações de complexidades que perpassam pelos agrossistemas1.
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Nessa mesma linha, Theodoro (1996, p. 25) recomendam que “ [...] o desafio de
unir processos ecológicos com estruturas sociais e econômicas faz com que a
agroecologia seja uma ciência interdisciplinar”. Nesse propósito, a compreensão dos
princípios agroecológicos requer uma abordagem holística.
Parafraseando com Caporal (2009), Leff (2002, p. 39) nos afirma que:
A agroecologia surge como um conjunto de conhecimentos que incorporam
princípios ecológicos e valores culturais, conhecimentos ecológicos e
antropológicos, econômicos e tecnológicos, que confluem na dinâmica dos
agroecossistemas.
Assim, a Agroecologia consiste em compreender os agroecossistemas a partir da
integração entre os saberes de diversas áreas do conhecimento, possibilitando a
compreensão e análise de forma mais integrada.
3. A AGRICULTURA FAMILIAR NO CENÁRIO BRASILEIRO: Breves
considerações
Segundo Wanderley (1999), entende-se por agricultura familiar aquela
propriedade em que a família ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de
produção, assume o trabalho na unidade de produção. Desse modo, a agricultura
familiar apresenta uma tríade relação entre a terra, o trabalho e a família, onde a
gerência e o trabalho são realizados pelos membros da família e os meios de produção
lhes pertencem.
A agricultura familiar, segundo Abramovay (1997, p.3) é definida como “aquela
em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho, vêm de indivíduos que
mantêm entre si laços de sangue ou de casamento”. Essa relação advém do fato que
agricultura familiar não é simplesmente uma forma de produzir no campo, mas sim um
modo de vida, com tradições e características peculiares.
De acordo, com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) e o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a agricultura familiar se
define com base em três características: a gerência da propriedade rural é feita pela
família; os fatores de produção pertencem à família (exceção, às vezes, à terra) e são
passíveis de sucessão em caso de falecimento ou aposentadoria dos gerentes.
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A delimitação conceitual do que é agricultura familiar têm suscitado profundos
debates e discussões, corroboradas nas palavras de Buainain (2006, p. 17-18), quando
nos afirma que:
Nenhum critério ou metodologia é totalmente satisfatório, e nenhum está
livre de certo grau de arbitrariedade. Em geral, o ‘corte original’ — ser ou
não ser agricultor familiar — é feito tomando-se, como variável básica, a
utilização de mão-de-obra familiar. Que proporção de trabalho familiar
caracteriza um agricultor como familiar? A partir de que quantidade de
trabalho contratado o agricultor deixa de ser familiar e passa a ser patronal?
Qual a importância de fatores como herança cultural, tradições, etc.?
Desse modo, é importante reconhecermos as especificidades que caracterizam a
agricultura familiar, o contexto em que ela ocorre, o tamanho da propriedade, os
equipamentos tecnológicos que utilizam, as tradições que procuram ser mantidas, etc.
Esta complexidade é reforçada nas palavras de Buainain (2006, p. 16), quando nos
propõe o seguinte questionamento: Um agricultor familiar do meio-oeste americano
pode ser comparado a um agricultor familiar francês ou brasileiro só porque ambos
utilizam majoritariamente mão-de-obra familiar no processo de produção?
É consenso que agricultura familiar é uma atividade basilar para o
desenvolvimento econômico de um país. Entretanto, muitas propriedades são
tendenciosamente rotuladas como agricultura familiar, apenas para conseguir subsídios
e incentivos junto ao poder público.
A agricultura familiar no Brasil é marcada pelas heterogeneidades, pois temos
desde a prática de uma agricultura precária, realizada em pequenos lotes de terras, com
insuficientes recursos financeiros e técnicos que limitarão a produção em uma maior
escala, até a prática de uma agricultura que utiliza técnicas modernas e sofisticadas,
contribuindo para elevar a produtividade. Dessa forma, precisamos ter cautela ao
utilizarmos a expressão agricultura familiar, para não incorrermos em erros de
generalização, englobando os agricultores familiares numa mesma categoria de análise
somente pelo fato de utilizarem o trabalho familiar.
No Brasil, especificamente, os agricultores familiares são de fato pequenos
agricultores, que não dispõem de conhecimentos técnicos, terras e recursos financeiros
suficientes para garantir a sustentabilidade econômica deste setor. A priori, a prática
desse tipo de agricultura se restringe aos minifúndios, com uma produção insuficiente e
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insustentável do ponto de vista econômico, uma vez que não oportuniza melhoria nas
condições de vida da própria família.
Apesar das limitações e contradições que perpassam a agricultura familiar,
devemos considerá-la como uma atividade extremamente importante no contexto do
território nacional, com exceção da Região Centro-Oeste, voltada para o agronegócio e
em municípios da Região Norte, cobertos pela floresta tropical. De acordo com
Abramovay, (1992), nas regiões Sul e Nordeste, em regra, os estabelecimentos
familiares ultrapassam 80% do total.
Em Itororó (BA), semelhante a outros lugares do Brasil, a agricultura familiar
passa por inúmeras dificuldades: seja por entraves que dificultam o acesso aos
programas de fortalecimento da agricultura familiar, seja pelo desconhecimento do
próprio homem do campo, que muitas vezes nem chega até eles os programas que os
beneficiam. Associada a essa precariedade, é importante destacar que muitos
agricultores familiares acabam também trabalhando em outras ocupações, sobretudo nas
grandes fazendas, uma vez que a renda com suas propriedades não são suficientes nem
mesmo para sustentar sua família.
Como possuem baixa escolaridade ou até mesmo pela falta de opção em outros
setores da economia, estes agricultores, na maioria das vezes, permanecem
desenvolvendo suas atividades em outras propriedades rurais, sobretudo, nos
latifúndios, destinados à agricultura comercial e a pecuária, onde recebem remunerações
precárias, incapazes de permitir avanços sociais e econômicos.
4. PERCURSOS METODOLÓGICOS
Com relação aos percursos metodológicos, a pesquisa enquadra-se como uma
pesquisa-ação, haja vista que se propõe a promover uma intervenção na realidade social.
A pesquisa-ação caracteriza-se por uma associação com uma ação ou com fins de
resolver uma problemática coletiva (GIL 1999, apud SILVA e MENEZES, 2005).
Entretanto, a pesquisa-ação objetiva não apenas identificar os problemas existentes, mas
também desenvolver estratégias que possibilitem enfrentá-los.
Nessa conjuntura, os sujeitos da nossa pesquisa constituem os alunos do 4º ano
do curso Técnico em Agroecologia, assim como os agricultores familiares do município
de Itororó-BA. A escolha por alunos desta série ocorreu de forma intencional, por
considerarmos que já estão em fase de conclusão de curso e já possuem dispõem de
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maior conhecimento das disciplinas técnicas, assim como pelo fato de contribuir para
uma articulação entre os saberes teóricos e os saberes práticos.
A primeira etapa consistiu no levantamento bibliográfico de literaturas
correspondentes ao tema, com fins de conhecermos o panorama da agricultura familiar
no Brasil, e especificamente, na Bahia. Em seguida foram feitas visitas técnicas em dez
propriedades que se enquadram com agricultura familiar, com fins de aproximarmos
destes agricultores e conhecermos os principais problemas vivenciados. Devido à
impossibilidade de desenvolvermos os serviços de ATER em todas as propriedades
visitadas, optamos em aplicá-los em apenas três propriedades, tendo como critérios a
adesão do agricultor em relação às propostas apresentadas, assim como maior facilidade
de acesso. Seguidamente, foi feito o levantamento das principais pragas e doenças que
atacavam as plantações, em que identificamos: lagartas, pulgões, cochonilhas, formigas,
oídio, dentre outras. De posse destas informações, discutimos em sala de aula sobre as
alternativas mais viáveis para garantir a sustentabilidade daquela propriedade. Após
essas discussões, foram realizadas palestras com os agricultores, buscando orientá-los
quanto aos métodos de controle destas pragas e doenças, apresentando como alternativa
agroecológica a produção de caldas, chamadas também de bioinseticidas. Esta etapa
também contribuiu para conscientizarmos os agricultores quanto aos inúmeros impactos
ambientais e causados pelo uso de agrotóxicos, assim como os riscos para a saúde
humana. Seguidamente, foram feitas oficinas para instrui-los sobre o processo de
fabricação das caldas, identificando aquelas que são mais indicadas de acordo com o
tipo de praga ou doença existente. Pretendemos ainda, retirar amostras de solo das
propriedades rurais selecionadas, visando identificar seu nível de acidez (Ph), para
posteriormente, recomendarmos se a prática da calagem é adequada ou não.
5. RESULTADOS PARCIAIS
Durante a primeira visita técnica, conversamos de forma informal com os
agricultores, visando conhecer seus principais problemas com os cultivos agrícolas,
desafios, explicar o objetivo do projeto, etc, (Figura 1). O que podemos observar em
comum entre as três propriedades selecionadas é o fato de que não possuírem o
acompanhamento de um profissional técnico especializado, de modo que possa auxiliar
o pequeno agricultor a enfrentar as adversidades cotidianas. Segundo os agricultores
pesquisados, embora reconheçam a importância dos serviços de um profissional, os
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mesmos não dispõem de recursos financeiros suficientes para contratar este tipo de
profissional. Expressões como: “não temos dinheiro para isso. Isso é para quem tem
fazenda” foram comumente ouvidas nas falas dos agricultores.
Ainda de acordo com os agricultores, a principal dificuldade é combater as
pragas e doenças, embora concordem que se tivessem o acompanhamento de um técnico
profissional esta situação poderia ser enfrentada de forma mais eficaz. Ressalta-se que
os agricultores entrevistados alegaram não possuírem conhecimento de técnicas
sustentáveis ou outros métodos alternativos para combater as pragas e doenças.
Figura 1 – Primeira visita técnica à propriedade do Sr. Júlio. (Abril, 2014)
Nesse sentido, reforçamos a importância e relevância deste trabalho, tanto para
contribuir para o fortalecimento da agricultura local, como também para disponibilizar
aos agricultores conhecimentos e técnicas de preparo de caldas ecológicas, também
chamados de bioinseticidas.
Após a primeira visita, fizemos o levantamento das principais pragas e doenças
que afetam os cultivos, buscando identificar suas principais causas e consequências
(Figura 2). De maneira geral, as propriedades apresentavam algumas pragas e doenças
em comum, tais como: formigas, lagartas, pulgões, cochonilhas e oídio, sendo em maior
quantidade de pulgões, formigas e cochonilhas, sobretudo nas plantações de olerícolas
(couve e alface), além do quiabo.
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De todas as pragas identificadas e citadas pelos agricultores, o pulgão e as
cochonilhas foram consideradas como às que mais prejuízos trazem à lavoura,
repercutindo consequentemente, na diminuição da produção.
Nessa etapa, identificamos que dos três agricultores, apenas um fazia uso de
agrotóxicos para combater as pragas. Os demais, não faziam uso destes tipos de
produtos químicos, por reconhecerem que são nocivos tanto para a saúde, quanto para o
meio ambiente.
Figura 2 – Levantamento das principais pragas e doenças existentes nos cultivos
agrícolas. (Abril, 2014)
Objetivando a aplicação dos conhecimentos agroecológicos, fizemos a
proposição das caldas ecológicas ou também chamados bioinseticidas, conforme pode
ser visualizado na Tabela 1. Optamos em utilizar cinco tipos de caldas, sendo duas feitas
a partir de extratos vegetais, como por exemplo o nim e o fumo, sendo as demais
provenientes de outras fontes (cebola, pimenta e alho). Em relação à eficiência destas
caldas, sabemos que ainda é muito discutível, uma vez que seus resultados ocorrem à
longo prazo e não de forma imediata, como os agrotóxicos. Entretanto, embora não
tenhamos feito neste trabalho uma avaliação entre o número de aplicações das caldas
com a incidência das pragas e doenças, os agricultores entrevistados declararam
observarem uma menor redução das mesmas em suas lavouras, de modo que
permanecem aplicando as práticas agroecológicas em suas propriedades agrícolas
(Figura 3).
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Nome popular Nome científico Parte empregada Principal
recomendação
Alho Allium sativum Bulbos Pulgões e lagartas
Cebola Allium cepa Bulbos Pulgões e lagartas
Nim Azadirachta indica Planta Todas as pragas
identificadas
Pimenta Capsicum sp. Fruto Pulgões e formigas
Fumo Nicotianina tabacum Folhas Cochonilhas
Tabela 1 – Relação entre as caldas ecológicas e suas principais recomendações.
Fonte: Elaborada pelos autores.
Figura 3 - Propriedade do Sr. Nelson após as recomendações agroecológicas. (Abril,
2014)
Após o preparo das caldas, iniciamos o período da aplicação, ocorrendo
imediatamente após seu preparo. Visando uma maior absorção das caldas nas
plantações, a recomendação é que elas sejam aplicadas durante o período de ausência de
chuvas.
Devido ao fato de constatarmos a grande incidência de pragas e doenças nos
cultivos, recomendamos aos agricultores que a aplicação das caldas fosse feita
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diariamente, com fins de fazer o tratamento. Conforme íamos identificando a redução
destas pragas, passamos a recomendar sua aplicação quinzenalmente, com fins de
fazermos a prevenção.
Os resultados e conclusões da pesquisa permitem afirmar que as orientações
técnicas e os serviços de extensão rural prestados contribuíram para fortalecer a
agricultura familiar local, disponibilizando alternativas que contribuíram para
maximizar a produtividade deste setor, e consequentemente, melhorar a qualidade de
vida de vida de todos os envolvidos nesse segmento. Este trabalho representa, assim,
um convite para aprofundarmos o debate sobre a importância dos serviços de ATER,
enquanto subsídios para o desenvolvimento da agricultura familiar de Itororó-BA.
Como este projeto ainda está em andamento, seus resultados constituem-se de
forma parcial, tendo em vista que pretendemos ampliá-lo para um número maior de
agricultores familiares. Nesse sentido, intencionamos disponibilizar alternativas que
contribuam para maximizar a agricultura familiar local, e, consequentemente, contribuir
para melhorar a qualidade de vida de todos os envolvidos neste segmento.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste projeto foi extremamente relevante, na medida em que
contribuiu não somente para fortalecer o desenvolvimento da agricultura familiar no
município de Itororó-Bahia, como também contribuiu para ressignificar o papel e a
importância do curso Técnico em Agroecologia, na medida proporcionou a interação
entre os saberes teóricos e os saberes práticas. Em outras palavras, a interação efetiva
entre escola e comunidade.
É importante destacar que as caldas ecológicas não combatem diretamente as
pragas e doenças, entretanto, contribuem para afugentar estes elementos que impedem o
desenvolvimento de muitas culturas agrícolas. Reconhecemos que as recomendações
agroecológicas propostas são muito relevantes, entretanto, percebemos a necessidade de
realização de mais estudos que enfoquem estes princípios, visando contribuir assim,
para o fortalecimento da agricultura familiar. Sabemos que os desafios são inúmeros,
mas compartilhamos que são a partir de ações locais que poderemos superar muitos
entraves existentes neste setor.
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REFERÊNCIAS
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