DRAGÃO DA CORRUPÇÃO | PÁGINAS 8 E 9
JUVENTUDE E FÉ| PÁGINAS 14 E 15
PROJETO VENCEDOR| PÁGINA 17
CHORO DE UM CAMPEÃO| PÁGINAS 22 E 23
FOGE À LUTA”| PÁGINAS 24 A 27
FOGE À LUTA”FOGE À LUTA”“VERÁS QUE UM FILHO TÉU NÃO
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ão
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton | Nº 54 | Junho de 2013Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton | Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton |
LINCEjornal
raFael martins
2 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
JOÃO VITOR CIRILO
3º período
Embalados pelo chamado “Vem pra rua!”,
aproveitando-se da campanha publicitária pré-
-Copa, o Brasil foi tomado por inúmeros protes-
tos durante este mês, marcado também pelo iní-
cio da Copa das Confederações. Enorme gasto de
dinheiro público com eventos esportivos (Olim-
píadas e Copa do Mundo), deixando de lado
questões como saúde, educação e transporte
barato de qualidade — alguns dos motivos que
revoltaram a população.
Tudo legítimo. É pleno direito (e dever) do
cidadão protestar por aquilo que ele acha certo.
Seja por tarifas de ônibus mais baratas ou por
revolta com abusos do Estado. Aliás, enfim che-
gou o dia em que nosso povo voltou às ruas para
lutar por algo que o incomoda. Boa parcela da
população cansou de ficar sentada no sofá ape-
nas apontando o dedo para o que está errado.
E o povo não se abalou com a reação poli-
cial, em muitos lugares extremamente vio-
lenta e repressiva. Alguns deles, evidente-
mente cumprindo ordens superiores, desce-
ram o cassetete em quem vinha pela frente,
independentemente de quem fosse. Alguns
manifestantes e jornalistas, esses últimos
apenas trabalhando, chegaram a ser atingidos
por bombas de efeito moral e balas de borra-
cha, como em São Paulo, local dos primeiros
protestos, Brasília e a nossa Belo Horizonte.
É óbvio que muitos daqueles que estão nas
ruas nem sabem o porquê de estarem ali, e só vão
pela bagunça. É claro, mas estão lá, fazendo pres-
são, incomodando os gigantes. Enfim, alguém
resolveu protestar por algo aqui. E aparece gente
pra dizer que é hipocrisia, idiotice, falta do que
fazer. Há o argumento de que só agora os protestos
foram feitos. Por que não no momento do anúncio
do país-sede? Ou então no momento em que os
gastos começaram a passar do limite? Penso que
antes o pensamento não era esse e o fato de não
haver protestos naquele momento não os impede
agora. As reivindicações são muito válidas.
Vale lembrar a abertura da Copa das Con-
federações, quando Joseph Blatter, presi-
dente da “Dona” FIFA, e a presidente Dilma
Rousseff foram vaiados durante o discurso
inicial. Blatter, esbanjando deselegância,
pediu “fair play” ao público que o vaiava.
«Amigos do futebol brasileiro, onde está o res-
peito e o fair play, por favor?». Ah, pelo amor
de Deus! É o povo quem lhe pede para jogar
limpo, Blatter. Já ouviu falar em democracia?
Vaiar, bater o pé e sair às ruas já é um
ótimo começo. Falta agora é votar direito.
Repensar nosso modo de agir à frente das
urnas também é fundamental. Parar de eleger
aqueles que ontem nos prejudicaram e parar
de votar contra fulano, e sim a favor de um
Brasil melhor. É esse o próximo passo.
Cor res pon dên Cia
NP4 - Rua Ca tumbi, 546
Bairro Cai çara - Belo Horizonte - MG
CEP 31230-600
Contato: (31) 3516.2734
Este é um Jor nal-la bo ra tó rio da
dis ci plina la bo ra tó rio de Jorna lismo ii.
o jor nal não se res pon sa bi liza pela
emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti-
gos as si na dos e per mite a re pro du ção
to tal ou par cial das ma té rias, desde
que ci ta das a fonte e o au tor.
SugEStõES dE pautaS?participE do Jornal lincE.
uma publicação feita pelos alunos do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva.
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reitorJoão Paulo Beldi
ViCe-reitoraJuliana Salvador Ferreira de Mello
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Coordenador da Central de produÇÃo JornalistiCa - CpJPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)
Conselho editorialProfessora Rosangela Guerra
Professor Menoti Andreotti
pro Jeto Grá fiCo e direÇÃo de arteHelô Costa (127/MG)
MonitoresJoão Paulo Freitas e João Vitor Cirilo
reportaGensAlu nos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário New ton Paiva
diaGraMaÇÃo Geisiane de Oliveira
ExpedienteOpiniãOjornal
LINCEJornal laboratório
do Curso de Jornalismo
do Centro universitário
newton Paiva
PRIMEIRO
PASSO“Sair às ruas já é um ótimo começo; falta agora votar direito”
Joã
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re
ita
s
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 3
MOMEnTO
sueLI AzeVeDO
3º período
Os dispositivos eletrônicos estão sem-
pre em ritmo de atualização acompa-
nhando a modernidade do mundo. Mas,
será que toda esta correria tecnológica das
grandes empresas e marcas se reflete de
alguma forma na sociedade? Sim, princi-
palmente no bolso de seus seguidores.
Acompanhar o compasso dos eletrônicos é
uma tarefa difícil e fica mais cara a cada
atualização.
Os geeks, pessoas obcecadas por tec-
nologia e eletrônicos, são os que estão
sempre a par do que há de novo neste
imenso mundo cibernético. Leandro
Alves, 28 anos, é um geek assumido e se
considera um viciado em tecnologia.
“Gosto de estar por dentro de tudo que é
novo e tecnológico. Fico muito empolgado
e ansioso”, diz.
Leandro, porém, faz uma ressalva
quando se trata apenas de uma atualiza-
ção do software do aparelho. “Não cos-
tumo trocá-los, pois com toda a tecnolo-
gia e as facilidades existentes é só atuali-
zar o software do aparelho e assim ter o
mesmo sempre atual”. Mas, pra variar, se
o design do aparelho novo for muito
superior ao do que já possui, Leandro
admite que não resiste.
BRINQueDOs CAROs
Leandro não sabe ao certo o quanto já
gastou, mas é uma conta que fica por volta
dos R$ 12 mil. O segredo, diz ele, é sempre
manter a calma “para não fazer nenhuma
loucura”. Ele tem como seus brinquedos
tecnológicos um Iphone 4s 64 GB, um IPod
16 GB, um Xbox com kinet, uma Tv LCD 42
polegadas, um IPad e um notebook HP Core
i7 8 GB RAM 1,5TB HD. Seu atual objeto de
desejo é uma câmera Sony Cibershot, à prova
d’água, que custa em torno de R$ 1.200.
Desejo e consumismo estão interliga-
dos neste caminho para a modernidade e
por este motivo é bom ter cautela na hora de
uma nova aquisição. O preço pode variar
muito, dependendo não só da marca, mas
também da loja. O preço do queridinho
celular da Apple, o Iphone 5, por exemplo,
pode variar de R$ 1.200 a R$ 3 mil.
A tecnologia é muito válida hoje prin-
cipalmente se necessitamos obter infor-
mações mais rapidamente. Da mesma
forma, pode nos ajudar a realizar traba-
lhos antes um pouco mais complicados.
Leandro usa a tecnologia para estudar e
trabalhar, e quando precisa de uma mão-
zinha no trânsito, usa o GPS do seu
Iphone para lhe indicar um atalho.
O geek também diz que a tecnologia
de hoje no Brasil não é das melhores, se
comparada a países mais avançados. “E
ainda é muito cara e lenta, mas ainda
assim, tem feito grandes melhorias para a
vida das pessoas”, afirma Leandro,
lamentando que, infelizmente há pessoas
“que se utilizam desse meio para prejudi-
car outras com mais facilidade que antes,
utilizando dados, imagens entre outras”.
UNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOCIbERtRôNICOCelulares, games, notebooks entre outros eletrônicos são cada vez mais objetos de desejo no mundo contemporâneo
Mesmo com toda a ajuda e melhorias
que estes eletrônicos trazem à vida das
pessoas, nem todos reverenciam a tecno-
logia. Michele Aguiar, 25 anos, diz que
esta do lado da resistência a toda esta
tecnologia: “Acho toda esta parafernália
uma complicação para aprender a mexer,
não tenho a menor paciência, ainda mais
com estes aparelhos cada vez menores,
mais finos e mais complicados”, ataca.
Dificuldade em lidar com os novos
aparelhos eletrônicos e seus aplicativos,
é uma das maiores reclamações quando
se trata de resistência a eles. Michele é
vendedora de roupas e diz que o único
aplicativo que ela usa em seu celular é a
calculadora. “Tenho preguiça de todos
estes aplicativos; meu celular é dos anti-
gos ainda e com teclado normal”,
comenta. Michele já ganhou um com tela
touchscreen, que não durou nem quatro
meses. “Achei uma chatice aquelas fres-
curas todas”, detona.
Michele afirma que, apesar de pare-
cer, não é nenhuma “tecnófoba”. Diz que
deixa claro que é a favor do avanço da
tecnologia para o desenvolvimento de
novas descobertas, “mas no campo da
saúde, por exemplo”, ressalva. Mas é bom
ir se preparando, seja nos aparelhos ele-
trônicos, no transporte ou na saúde, o
mundo está em pleno desenvolvimento
tecnológico e a tendência é irreversível.
Conviver neste universo cibernético será
uma realização para alguns e um apren-
dizado para outros.
O OUTRO LADO DA MOEDA
Fotos leandro alves
4 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
MEMÓRiA
DEI UM APERtO DE SAUDADE NO MEU tAMbORIM...
Há trinta anos, o Brasil perdia a mineira Clara Nunes, uma de suas maiores cantoras
mARCus sOARes
3º período
Parece que foi ontem, mas já se passaram 30 anos da
morte da cantora Clara Nunes. A mineira da cidade de
Paraobepa, que bateu recordes de vendagens de discos e
quebrou tabus de que mulheres não poderiam ser cantoras
de grande sucesso, ecoou sua voz aos quatro cantos do país
eternizou sua imagem no imaginário nacional. Vestida de
rendas brancas, com as pulseiras, colares e a tiara de
búzios e conchas, com sua voz calorosa, Clara deu nova
vida às raízes africanas do samba.
Inspirada na voz das divas Carmem Costa, Ângela Maria,
Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, Clara hoje se tornou uma
das maiores referências para a nova geração de cantoras de
samba, embora não gostasse de ser chamada assim, por achar
— e com razão! — que isso a limitava. Preferia ser considerada
uma interprete de MPB, como disse em diversas entrevistas.
rep
ro
du
ÇÃ
o
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 5
Clara começou sua carreira no fim da
década de 1950, cantando em programas de
auditório das rádios Guarani e Inconfidên-
cia, e na TV Itacolomi. Em 1966, gravou,
sem muita repercussão, seu primeiro disco,
“A voz adorável de Clara Nunes”, com sam-
bas-canção e boleros. Em 1970, ela se rein-
ventou e começou a cantar o que mais gos-
tava: sambas. E foi com o samba “Você passa
e eu acho graça”, uma insólita parceria
entre Carlos Imperial e Ataulfo Alves, que
alcançou as paradas de sucesso do país.
Na segunda metade da década de
1970 até seu último disco, no ano de
1982, Clara intensificou seu mergulho
nas raízes afro-brasileiras e no samba.
Levou para o palco, canções que traziam
elementos do candomblé, explorou
novos compositores, sobretudo os da Por-
tela, sua escola de samba do coração, e
emplacou sucessos como “Canto das três
raças” (Mauro Duarte/Paulo César
Pinheiro); “O mar serenou” (Candeia);
“Conto de Areia” (Ronildo Bastos/Toni-
nho Nascimento); “Na Linha do Mar”
(Paulinho da Viola); “Feira de Mangaio”
(Sivuca/Glorinha Gadelha), “Morena de
Angola” (Chico Buarque); “Nação” (João
Bosco/Aldyr Blanc/Paulo Emílio) e “Tris-
teza Pé no Chão” (Armando Fernandes).
Também foi das primeiras a gravar sam-
bas do gênio Nélson Cavaquinho.
INFÂNCIA DIFÍCIL
Clara ficou órfã de mãe muito cedo
e acabou sendo criada por sua irmã Din-
dinha (Maria Gonçalves), que hoje
reside na cidade de Sete Lagoas. Ela
lembra que, ainda na infância, Clara
não queria ser cantora, dizia sempre que
não havia nascido pra cantar. “Mas o
destino fez sua parte e nasceu uma das
maiores cantoras brasileiras”, afirma.
Hoje, Dindinha, como é conhecida
pelos fãs da cantora, toma conta da creche
e do recentemente aberto memorial Clara
Nunes, que guarda um pouco da história
de vida da “Voz de ouro”. Há alguns
meses, Maria Gonçalves ficou viúva, e diz
que “ainda se recupera do baque”. Mas
espera se recuperar logo para participar
das homenagens que o país vem pres-
tando à Clara.
— Por enquanto, ainda não participei
de nenhuma, pois foram no Rio de Janeiro
e São Paulo. Mas vou participar das que
forem programadas para Belo Horizonte.
Apesar dos mais de 30 anos que já se
passaram, Dindinha continua impressio-
nada com a gratidão do “povo”. Com voz
mansa, mas repleta de emoção, ela agra-
dece ao repórter do LINCE por ter se
lembrado de Clara Nunes. Mas, se até o
mar serenou quando ela pisou na areia,
quem poderia se esquecer de uma estrela
de brilho tão intenso?
MORENA DE ANGOLA
No dia 2 de abril de 1983, foi noti-
ciada por toda imprensa a morte da can-
tora. Vítima de um choque anafilático em
uma simples cirurgia de varizes,Clara
permaneceu vinte e oito dias em coma. O
corpo da cantora foi velado por mais de
50 mil pessoas na quadra da Portela. O
sepultamento no Cemitério São João
Batista foi acompanhado por uma multi-
dão de fãs e amigos.
Cláudia Tavares Guedes Pinto, 43,
estudante de Direito, começou a gostar
de Clara “por tabela”.
— Minha mãe frequentava o mesmo
salão de beleza que ela, em Copacabana.
Eu devia ter uns seis para sete anos”,
conta. Cláudia afirma que “sempre que
a cantora gravava um clipe”, ela dava
um jeito de acompanhar o lançamento
pela TV. “Mas, por causa da idade, não
tive a oportunidade de ir a nenhum
show dela; quando Clara se foi, eu tinha
13 anos e fiquei arrasada”. Hoje, Cláu-
dia homenageia a estrela com fã-page no
facebook, onde reúne fotos antigas da
cantora, além de clipes, letras de músi-
cas e, claro, muitos fãs.
A produtora audiovisual Júl ia
Ribeiro tem apenas 20 anos, mas conta
que a cantora marcou muito sua vida.
“Quando eu tinha por volta dos sete
anos, me lembro que meus avós mater-
nos ouviam os discos da Clara... Meu
avô, então, era muito fã. Por isso, esse
momento me marcou muito”, revela.
— Sempre que eu ouvia o nome da
Clara Nunes, aqueles momentos voltavam
à minha lembrança. Isso me tornou sua fã.
Adriana de Aquino Baptista, 20, é
vendedora e também começou sua
admiração por Clara Nunes por meio
das conversas de sua mãe, que sempre
falava na cantora. “Me lembro que sem-
pre ouvia fitas cassetes com as músicas
delas”, conta a vendedora, que só
conheceu a cantora mais a fundo depois
de ler sua biografia lançada pelo jorna-
lista Vagner Fernandes.
Várias homenagens estão programa-
das. Além de exposições itinerantes que
mostram parte do mundo da cantora,
vários artistas também vão lembrá-la, revi-
sitando seu repertório.Um exemplo é a ex-
-vocalista do grupo Cheiro de Amor, Carla
Visi, que vai lançar um CD com regrava-
ções de sucessos de Clara Nunes, com
participações pra lá de especiais.
A cantora Alinne Calixto também
vai regravar sucessos da cantora e já
inclui em seu repertório, músicas como
“Conto de Areia” e “Morena de Angola”,
da mesma forma que Tereza Cristina,
talvez a primeira a buscar pérolas dentro
do repertório de Clara Nunes.
Em Caetanópolis, distrito de Parao-
peba, terra natal de Clara, foi inaugu-
rado em abril um museu que traz um
pouco da trajetória da estrela, com rou-
pas e alguns objetos pessoais. Falta agora
Belo Horizonte prestar suas homena-
gens, pois foi aqui que a carreira de
Clara Nunes decolou.
O MAR SERENOU
6 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 20136 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
HUMOR
“O POLItICAMENtE CORREtO É O
Mas os humoristas têm que conviver com isso em seu dia a dia: o humor deve ou não ter limites (ou seria censura?) impostos pela sociedade?
ALIMENtO DO PRECONCEItO”
FeLIPe FReITAs
3°periodo
“Eu como ela e o bebê”. Uma piada
que para muitos foi de mau gosto, fez com
que o humorista Rafinha Bastos fosse
afastado do programa da Rede Bandeiran-
tes, o CQC, e, logo depois, demitido. Ele
ainda teve a dor de cabeça de responder a
um processo pela “brincadeira”. Esse é
uma advertência aos comediantes, para
que tenham mais cuidado com as piadas
que contam. A situação traz varias ques-
tões à tona: O humor tem limites? E, se
tem, quais são? A sociedade mudou ou as
piadas ficaram mais maliciosas?
“Eu faço humor de cara limpa. É
simples. Quando subo no palco, eu sou o
Rafinha Bastos. Se faço uma piada de
estupro, as pessoas tomam isso como a
minha opinião. Porque eu não sou o
bêbado Zé ou o caipira Nerso (referên-
cia à personagem Nerso da Capitinga,
do comediante), às vezes, fica difícil do
público entender que aquela não seria a
minha opinião”, disse Rafinha Bastos
em entrevista à apresentadora Marília
Gabriela.
O LImITe
O caso de Rafinha nos abre uma ques-
tão. Será que o humor tem limite? E qual
seria ele? Para o humorista Leonardo
Núñez, 33, mais conhecido no meio como
“Gigante Léo”, o humor tem que ter um
limite. “Sou radicalmente contra a impo-
sição de qualquer tipo de censura ao
humor ou qualquer expressão artística,
mas o limite se dá naturalmente, através
da relação do humorista com o seu
público”, expõe Léo.
Outro que também partilha da mesma
opinião de Léo é o comediante Glauber
Cunha, 38, do grupo Os Comédia, que pre-
fere não abordar alguns assuntos. “No meu
estilo de humor, o limite é navegar por
assuntos que não sejam tão polêmicos ao
ponto de 90% do público ficar chocado com
a piada. Tem tanta coisa para brincar... Para
que eu vou me arriscar?”, provoca Cunha.
Mario Alaska é comediante e locutor
da rádio 98FM. No programa 98 Futebol
Clube, faz alguns personagens. Um deles,
uma imitação ao repórter Roberto Abras,
da Rádio Itatiaia. Ele opina que o humo-
rista deve usar o bom senso ou o senso
comum, e define o caminho como uma
trilha perigosa. O comediante vive um
desafio a cada piada dita.
— Caminhamos sobre o fio da nava-
lha. Em certos casos, podemos acertar em
cheio, mas também podemos errar muito.
Acredito que com o tempo e a prática você
vai se encontrando.
Para o comediante e improvisador
Allan Benatti, 36, o humor não tem limi-
tes. “O que tem limite é o pudor e o pre-
conceito do mundo atual”, completa
Bennatti. Já o ator Eraldo Fontiny, 30,
acredita que o humor deve ter bom senso.
“O humor não dá o direito de banalizar e
humilhar alguém”, afirma.
Mas, Carol Zoccoli, 36, humorista,
lembra que a essência do humor é reco-
nhecer o que não faz sentido e fazer as
pessoas rirem disso. “Quando alguém se
sente agredido por uma piada, essa pessoa
não compreendeu a intenção do humo-
rista ou o humorista teve a intenção de
agredir (o que é muito diferente da inten-
ção de fazer rir a partir de um tema consi-
derado muito sério). O que agride é a
intenção e não as palavras”
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 7Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 7
Fotos arQuivo pessoal
Não é privilégio de Rafinha Bastos
fazer com que alguma pessoa se sinta
ofendida com uma piada. João Basílio,
40, humorista e professor universitário
de comunicação, também teve proble-
mas com pessoas que não entenderam
uma piada sua.
— Em uma ocasião, ao fim de setem-
bro, fiz no Facebook o seguinte comentário:
‘Hoje, 26 de setembro, é o dia dos surdos. Faz
sentido o dia dos surdos ser do signo de
Libras’. A brincadeira, para quem não
entendeu, é com o termo ‘Libras’, que é a
linguagem de sinais usada pelos surdos.
Uma simples piada fez com que alguém
se revoltasse com a brincadeira. ”Por incrí-
vel que pareça, uma pessoa veio me atacar,
dizendo que era uma falta de respeito, um
absurdo e que iria me processar. Fiquei cho-
cado, porque a frase não tem nada de ofen-
sivo! Isso é uma demonstração de como é
difícil — senão impossível — agradar a
todos”, completa Basílio.
VIsÃO CRÍTICA
Bruno Berg, 32, que também é
humorista, teve um caso parecido com o
de Basílio. “Já fiz uma piada sobre cães
onde eu falava sobre o fato de eles se
reproduzirem com seus próprios paren-
tes. Criou o maior alvoroço, porque
alguém achou que eu estava incenti-
vando maltratar os animais”, conta.
“Hoje em dia todo mundo tem se ofen-
dido muito facilmente. Se eu faço piada,
por exemplo, com vários bairros da
cidade, a pessoa morre de rir. Mas se eu
falar do bairro dela, ela fala que não
pode”.
Mas, e aí? As piadas estão ficando
mais maliciosas ou será que o nosso país
mudou? Para Edgar Quintanilha, 19,
humorista e ator, a sociedade mudou
sua concepção de mundo. “Piadas de
cunho sexual e com palavras chulas
sempre existiram. Porém, com a moda
do ‘politicamente correto’ a tolerância
por parte de alguns tem diminuído, e daí
vêm as críticas”, expõe.
Núñez acha que são as duas coisas.
“Toda piada tem algum tipo de malícia
ou visão crítica. O que acredito é que as
pessoas estão cada vez menos tolerantes
com tudo: com o próximo, com as brin-
cadeiras e com as críticas”, diz. Para
Alaska, o mundo está ficando chato.
“Não se pode brincar com mais nada!
Mas, por outro lado, acho que temos que
saber a maneira como brincar com cer-
tas coisas”, fala.
Allan Bennatti afirma que o politi-
camente correto é torto e o maior ali-
mentador do preconceito. “Mudar o
nome de negro ou preto para afro-brasi-
leiro é dizer que é ofensivo chamá-lo de
negro ou preto, mas a ofensa não está na
situação da cor, e sim na maneira como
se fala. Mudemos então de branco para
euro-brasileiro”, completa.
Berg sente que as pessoas estão
ficando mais “sensíveis”, em relação
às piadas. Para ele, isso é um reflexo da
liberdade da internet. “Hoje em dia, do
mesmo j e i t o que você consegue
expressar sua opinião ou fazer uma
piada chegar às pessoas de maneira
mais fácil, através da internet, a crí-
tica também chega”, diz. Para ele, está
faltando “a muitas pessoas rirem de si
mesmas”.
— Acho que a pessoa que não aceita
uma piada onde ela é atingida, deveria
parar de rir de outras piadas onde se tem
uma vítima: toda piada tem uma!
“TODA PIADA TEM UMA VÍTIMA”
SIGNO DE LIBRAS
8 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
QUE PAÍS É Mesmo sendo uma nação marcada
historicamente por atos de corrupção, hoje, Brasil recusa essa identidade e
quer a verdadeESSE?RAYzA KAmKe
3º período
Há quem afirme que a corrupção
aportou no Brasil com os portugueses,
quando a coroa portuguesa resolveu
mandar pra cá os condenados, os
ladrões e as prostitutas. A partir daí,
ficou fácil justificar todo e qualquer ato
de corrupção perpetrado no país. Nas
pequenas falcatruas do dia a dia — furar
fila, surrupiar pequenos objetos, pagar
propina —, a corrupção parece que veio
para ficar. É endêmica entre nós.
O certo é que a corrupção no Brasil
afeta diretamente o bem estar de todos
os cidadãos, quando diminui os investi-
mentos públicos nas diversas áreas de
direitos essenciais à vida. Na saúde, na
educação ou na segurança, os escânda-
los na política, talvez a face mais dura da
corrupção, deixaram de ser novidade
para a população.
“Um dos principais problemas que
dificultam o combate à corrupção é a
impunidade ainda vigente no país”, ava-
lia o bancário Alan Flaviano dos Santos,
26. Em sua opinião, “a justiça é morosa,
e aqueles que desviam milhões e podem
pagar bons advogados dificilmente pas-
sam muito tempo em cadeia, ou nem
mesmo são punidos”.
eNDÊmICA
A corrupção hoje é tratada quase
como um problema endêmico. Endemia
essa que veio da formação da cultura
crescente da nova nação, desde o impé-
rio. Entre uma corte e uma igreja que se
compactuavam, acabou por se criar uma
cultura formada em torno de privilégios
e vantagens. “E o pior é que se trata de
uma cultura que até hoje se reflete em
nossa realidade, e no nosso dia a dia”,
afirma a professora Ana Lúcia Verçosa,
bacharel em História.
No entanto, Ana Lúcia acha que é
errado generalizar. Ela afirma que nin-
guém deve acreditar que a corrupção é
algo que se impôs sobre a sociedade
brasileira. “Há bolsões de corrupção,
principalmente nas elites; apesar de
termos a constatação de que a corrup-
ção é muito forte em nosso país, talvez
estejamos em um momento em que
mais se combate a corrupção do Brasil”,
afirma a professora.
8 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton -
QUE PAÍS ÉQUE PAÍS É
ESSE?RAYzA KAmKe
3º período
Há quem afirme que a corrupção
aportou no Brasil com os portugueses,
quando a coroa portuguesa resolveu
mandar pra cá os condenados, os
ladrões e as prostitutas. A partir daí,
ficou fácil justificar todo e qualquer ato
de corrupção perpetrado no país. Nas
pequenas falcatruas do dia a dia — furar
fila, surrupiar pequenos objetos, pagar
propina —, a corrupção parece que veio
para ficar. É endêmica entre nós.
O certo é que a corrupção no Brasil
afeta diretamente o bem estar de todos
os cidadãos, quando diminui os investi-
mentos públicos nas diversas áreas de
direitos essenciais à vida. Na saúde, na
educação ou na segurança, os escânda-
los na política, talvez a face mais dura da
corrupção, deixaram de ser novidade
para a população.
“Um dos principais problemas que
dificultam o combate à corrupção é a
impunidade ainda vigente no país”, ava-
lia o bancário Alan Flaviano dos Santos,
26. Em sua opinião, “a justiça é morosa,
e aqueles que desviam milhões e podem
pagar bons advogados dificilmente pas-
sam muito tempo em cadeia, ou nem
mesmo são punidos”.
eNDÊmICA
A corrupção hoje é tratada quase
como um problema endêmico. Endemia
essa que veio da formação da cultura
crescente da nova nação, desde o impé-
CORRUpÇãO
Junho 2013
mais se combate a corrupção do Brasil”,
afirma a professora.
sebastião Helvécio, Vice-Presidente do Tribunal
de Contas de minas Gerais
Foto
s la
ur
a s
enr
a
João Vitor Xavier, deputado estadual e
jornalista da Rádio Itatiaia
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 9Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 9
IDEOLOGIA
A história da corrupção,
como um todo, está ligada inti-
mamente com a figura humana.
“Independente do pensamento
ideológico, você precisa ter um
controle estatal para minimizar
ao máximo essa ideia de cor-
rupção”, disse Sebastião Helvé-
cio, Vice-Presidente do Tribu-
nal de Contas de Minas Gerais.
De acordo com Sebastião Hel-
vécio, todo poder corrompe:
– Eu acredito que qualquer
s o c i e d a d e , e m q u a l q u e r
momento, é preciso ter meca-
nismos para poder fazer o con-
trole do poder. E quando eu falo
controle do poder, é realmente
no sentido mais extenso da
palavra. De modo que eu diria
que mais do que uma figura
endêmica, acho que essa ques-
tão da corrupção é uma figura
própria da natureza humana.
Helvécio ainda afirma que
não só o governo, mas a socie-
dade brasileira tem melhorado
ao longo dos anos. E em síntese,
que o governo brasileiro tem
refletido esse sentimento da
sociedade de aprovar regula-
mentações mais rígidas. “Hoje
os órgãos de controle têm
melhorado muito essa percep-
ção. Podemos observar pela
imprensa, não só os Tribunais
de Contas, como a Polícia Fede-
ral, a Polícia Civil e todos os
órgãos que têm essa missão de
fazer o controle, também têm a
oportunidade de atuar em
tempo real, com ações preventi-
vas. Mas é um grande caminho
a percorrer”, declarou.
REPÚDIO
RETRATO
“Apesar de tratada como um pro-
blema crescente no país, podemos anali-
sar que talvez hoje as pessoas vejam a
corrupção muito mais exposta, o que é
um fator positivo para a sociedade”,
explica Ana Lúcia. O deputado estadual e
jornalista João Vitor Xavier diz que “não
devemos nos iludir: havia atos corruptos
há 40, 50 ou 80 anos; talvez aconteces-
sem coisas piores”.
— Não acho que a corrupção hoje
seja pior do que no passado, eu acho que
hoje ela é mais “mostrada” do que foi no
passado; e este é o caminho para com-
batê-la. Eu prefiro pensar que a corrup-
ção fez parte da cultura brasileira, e
cada vez menos as pessoas a toleram.
Segundo o deputado, cada vez mais a
sociedade se rebela contra a corrupção.
“Se cultura é aquilo que é cultivado,
então se muda a cultura”, propõe.
Xavier afirma sentir que o Brasil está
mudando essa cultura.
— Sinto o Brasil fazendo um movi-
mento muito forte de repúdio a essa cul-
tura; acho que a corrupção faz parte ape-
nas de uma parcela de brasileiros, mas
que é cada vez maior a parcela que está
contra seus atos.
De acordo com o deputado, o Ministé-
rio Público, os órgãos de comunicação e as
casas parlamentares, por mais que não
sejam reconhecidos, têm uma ação muito
forte contra a corrupção. “Eu vejo o Brasil
passar por um momento como nunca na
história do país, no que diz respeito ao
combate à corrupção”, afirma. Mas, ape-
sar de toda a movimentação e manifesta-
ção da sociedade, o problema está longe
de uma solução. Para se ter uma política
menos corrupta, é necessário investir em
uma sociedade menos corrupta, o que
engloba uma parcela da grande maioria de
brasileiros que se deixam levar por peque-
nos atos de corrupção no cotidiano. “A
primeira coisa que tem que fazer é acabar
com a imunidade parlamentar”, propõe
Fausto Medina da Silva, 22, estudante de
informática, para quem as leis brasileiras
são muito desiguais.
— Por exemplo, eles ficam por aí con-
denando a impunidade dos menores de 18
anos, mas ninguém condena a impuni-
dade dos políticos.
“ Ladrão que rouba ladrão tem mil anos
de perdão”. Com base neste ditado popular,
e, de acordo com uma pesquisa feita pela
UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais) e o Instituto Vox Populi, parte da
população afirma que pequenos atos ilícitos
cometidos no dia a dia não são considerados
corrupção, mas — pasmem! — legítima
defesa. Quase um em cada quatro brasilei-
ros (23%) afirma que dar dinheiro a um
guarda para evitar uma multa não chega a
ser um ato corrupto. Segundo a pesquisa,
35% dos entrevistados dizem que algumas
coisas podem ser “um pouco erradas, mas
não corruptas”. Entre elas, sonegar impos-
tos quando a taxa é cara demais. As informa-
ções são da BBC Brasil.
“Muitas pessoas não enxergam o desvio
privado como corrupção, só levam em conta
a corrupção no ambiente público”, cita o
promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira, que
também é coordenador nacional da campa-
nha do Ministério Público “O que você tem
a ver com a corrupção”, que tem como obje-
tivo conscientizar e incentivar a honesti-
dade para a sociedade.
Por sua vez, o jornalista João Perdigão
afirma que o famoso “jeitinho brasileiro” “já
calhou de ter um lado positivo, e hoje corre
mais para o negativo: o brasileiro prefere não
ver o erro mesmo; aqui todo mundo tem,
teve ou quer ter um rabo preso com qual-
quer corrupto, no intuito de levar alguma
vantagem financeira. O brasileiro prefere
lutar pelo futebol, no máximo pelo seu time,
ao contrário dos nossos vizinhos argentinos,
que são mais engajados politicamente”.
Mas, de acordo ainda com a pesquisa,
dados positivos mostram que 84% dos ouvi-
dos afirmaram que, em qualquer situação,
existe sempre a chance de a pessoa ser
honesta. Especialistas concordam que a
corrupção do cotidiano acaba sendo ali-
mentada pela corrupção política.
vas. Mas é um grande caminho
a percorrer”, declarou.
10 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
MEMÓRiA
E POR FALAR EM
Em tempos em que se acredita que a poesia morreu, a obra de Vinicius permanece como um refúgio seguro para quem acredita no amor, no sorriso e na flor.
SAUDADE...CAmILA VAsseuR e BáRBARA GONTIJO
3°periodo
Chega de saudade. Vinicius de Moraes
continua um dos poetas mais importantes
da literatura brasileira. Visto como um poeta
essencialmente lírico, algumas vezes criti-
cado por isso, construiu uma belíssima obra
poética, que transcende o universo da lite-
ratura e dá uma nova face à música popular
brasileira — e em especial à Bossa Nova.
Vinicius, que foi diplomata e trabalhou
na UNESCO, era um amante das viagens,
do uísque e, mais que tudo, das mulheres
— casou-se nove vezes e viveu intensa-
mente cada casamento (“Que não seja
eterno, posto que é chama, mas que seja
infinito enquanto dure”). Vinicius eterni-
zou-se não somente por suas principais
obras musicais, como a letra de “Garota de
Ipanema”, uma das canções mais gravadas
em todos os tempos, mas pelo conjunto de
sua obra.
— As obras de Vinicius representam o
que ele é, um dos melhores escritores, sem
dúvidas! Sua leveza na escrita é inigualável.
Vinicius tocou muitos com seus sucessos,
ele é um mestre da literatura brasileira —
afirma Ana Cristina Duarte, 35, bacharel
em Letras.
Grande parte da obra de Vinicius, prin-
cipalmente a partir da década de 1960, é
dedicada a seu trabalho como compositor.
De acordo com Malluh Praxedes, jornalista
e poeta, o autor provavelmente foi um dos
únicos que realmente tiveram sucesso ao
criar letras de músicas que fossem verdadei-
ramente poéticas.
— Você lê e sente a poesia pura; não
falta nada, não sobra nada. Acredito que
Vinicius passou para a eternidade pela ter-
nura de seus sentimentos.
Foto: bárbara GontiJo
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 11
POesIA muLHeR
Em seu centenário, Vinicius é lem-
brado também pela forma como retratou
as mulheres, por quem sempre foi tão
apaixonado. A forma como o poeta des-
crevia a beleza das mulheres é român-
tica e realista. E contraria o ideal de
beleza estipulado pelos dias de hoje.
Apesar de o primeiro trecho de seu
poema ‘’Receita de Mulher’’ — “As feias
que me perdoem, mas a beleza é funda-
mental” — surgir como um depoimento
radical em favor da beleza, o poeta, na
verdade se refere a uma beleza sem
“máscaras’’. Leia-se, por exemplo, sua
opinião no trecho “Que haja uma hipó-
tese de barriguinha’’.
“A mulher por si só já representa a
beleza de ser mulher, a graça e esplen-
dor que só ela tem”, avalia a artista plás-
tica Pollyana Reyes, para quem Vinicius
foi o poeta que via a mulher como um ser
eternamente apaixonado.
— Em “Serenata do Adeus”, uma de
suas letras mais bonitas, ele mostra isso:
“por isso, meu amor, não tenha medo de
sofrer, que todos os caminhos me enca-
minham pra você”.
BAGAGem De VIDA
A forma como as mulheres são
retratadas na obra de Vinicius, normal-
mente demonstra que carregam uma
“bagagem” de vida. Elas são seres reais,
verdadeiros, que já sofreram. “A mulher
tem que ter qualquer coisa de triste”,
dizia o poetinha no “Samba da Bênção”,
onde lembrava que ela também tem que
ter “as mãos cheias de perdão”.
“Diferentemente das mulheres retrata-
das pela mídia hoje”, avalia Pollyana, que
destaca mais um trecho de uma de suas
letras favoritas: “E os seus olhos, eles têm
que ser só dos meus olhos; seus braços o
meu ninho, no silêncio de depois; e você
tem que ser a estrela derradeira, minha
amiga e companheira no infinito de nós
dois” (“A Minha Namorada” – Vinicius/Car-
los Lyra).
ReCeITA De POeTA
Admirador do poeta, Gustavo Cotta,
55, administrador, afirma que a mulher
retratada por Vinicius é a mulher ideal.
“A mulher de Vinicius é simplesmente
mulher, sem ‘máscaras’ apenas, sem
mais. Para mim, a mulher tem que ser
exatamente assim, bonita e natural por
si só’’. Outro admirador, Hélio Couti-
nho, 36, fotógrafo, lembra mais um
texto, desta feita, em parceria com Ary
Barroso (“Rancho das Namoradas”):
— Hoje ninguém mais compõe ver-
sos assim: “E, no entanto, maior, bem
maior que a do céu, bem maior que a do
mar, maior que toda a natureza, é a
beleza que tem a mulher namorada (...)
Em seus seios, pudores renascem das
dores de antigos amores que vieram,
mas não eram o amor que se espera, o
amor primavera; são tantos seus encan-
tos, que para os comparar, nem mesmo a
beleza que têm as auroras no mar”.
A eTeRNA GAROTA
Os passos de uma mulher, em sua
caminhada para a praia, inspiraram
uma das músicas mais famosas do
mundo, ‘’Garota de Ipanema’’, que pode
ser, sem sombra de dúvida, uma das
representações mais fortes da mulher
brasileira. Tanto que, questionada sobre
sua obra favorita, Malluh Praxedes, se
recorda logo de ‘’Garota de Ipanema’’.
— É uma das mais belas canções,
pois dá uma dimensão única à mulher,
com graça e até certa diversão. O jeito de
cantar uma mulher foi realmente inova-
dor. É delicioso cantar junto: Ah! Se ela
soubesse que quando ela passa, o
mundo inteirinho se enche de graça e
fica mais lindo por causa do amor’’.
FINO eROTIsmO
Se os poetas contemporâneos de
Vinicius representaram um romantismo
mais reservado, hoje em dia ele é tão
liberal, que pode se aproximar do ero-
tismo. Hoje, os poetas têm mais liber-
dade para acrescentar esses “ingredien-
tes” a seus textos. Vinicius, como poeta
lírico, escreveu canções cheias de
romantismo e com uma leveza sem
igual. “Hoje, nos deparamos com pou-
quíssimo uso de poesia aos moldes de
Vinicius; a vida foi ganhando novos ares
e muitas vezes a música ‘sofreu’ uma
depreciação”, pondera Malluh.
Infelizmente, a sensualidade retra-
tada em algumas canções, hoje, foi
influenciada pela vulgaridade e, muitas
vezes, por um erotismo exagerado, em
nome da liberdade de expressão. Assim
como retrata Malluh, a “liberdade está
ligada à alegria de viver, de se sentir, mas
tem que ser com carinho e respeito, como
devemos tratar a pessoa amada — Aí está
a mágica de Vinicius de Moraes; Ele,
como já disseram, era plural”. Mais que
isso, Vinicius era o verdadeiro poeta do
amor, do “amor que eu tanto procurei; Ah,
quem me dera eu pudesse ser a sua prima-
vera e depois morrer”.
12 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
COnSUMO
bEbIDA DE
LUXO!
mercado das cervejas artesanais cresce cerca de 20% ao ano, atraindo cada vez mais novos admiradores
ARmANDO GIAQuINTO
3º período
A cerveja é a segunda bebida mais consumida no mundo, e está presente em nossas vidas
desde a antiguidade. Os primeiros registros de sua existência situam-se na Mesopotâmia, antiga
Suméria, por volta de 4.000 anos A.C . A primeira regulamentação do comércio de cerveja ocor-
reu em torno de 1.750 A.C, e, mais tarde, acrescentou-se à sua composição o lúpulo, ingrediente
que a tornou uma bebida nos padrões atuais de consumo.
A famosa loura gelada é um produto de longa tradição também no Brasil. Porém, sua
ascensão foi vagarosa, pois no início do século XIX, o vinho e a cachaça eram preferidos pela
população. Mesmo assim, nessa época, a cerveja já era comercializada, apesar de que seu con-
sumo ainda não era generalizado. Com o passar do tempo, a demanda aumentou e, em 1836,
surgiu a primeira notícia de sua fabricação no Brasil, e desde então, tornou-se paixão nacional.
Foto
s r
aFa
el pH
illipe
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 13
ARTESANAL VS INDUSTRIALIZADA
Segundo Falcone, o lema
“beber menos, mas beber melhor”,
traduz intensamente a diferença
entre as bebidas. Ele afirma que a
cerveja artesanal não está ligada
somente ao fato de beber, mas tam-
bém ao gourmet. “A qualidade é
bem maior, e quem busca degustar
uma cerveja especial não quer
ficar bêbado, mas sim sentir seu
verdadeiro sabor e também a quali-
dade diferenciada”, diz.
De fato, as cervejas artesanais
possuem um valor de comercializa-
ção mais alto do que as industriais,
mas, para Marco Falcone, isso não é
nenhum obstáculo. “O fato de ser
mais caro acaba gerando certo des-
conforto em algumas pessoas, mas
quem bebe uma cerveja especial,
estará consumindo um produto de
altíssima qualidade e também
muito mais saboroso”, afirma.
A jornalista Emiliana Bicalho
ganhou de presente uma garrafa da
Falke e afirma que gostou, mas não
abre mão das industrializadas.
“Gosto da pilsen, que não é tão
encorpada, mas acho que, no
inverno dá pra variar beber outro
tipo de cerveja, porque não é todo
mundo que gosta de vinho”. Certa-
mente, seja ela artesanal ou indus-
trializada, conhecida como louri-
nha, gelada, breja, cerva ou tchela, a
cerveja sempre terá lugar especial
no paladar dos brasileiros.
QUALIDADE ESPECIAL
SAUDÁVEL E SABOROSA
Atualmente, existem várias micro-
cervejarias espalhadas em nosso país, e
uma das mais reconhecidas e refinadas
está localizada em Minas Gerais. Fun-
dada em 2004, a Falke Bier é uma cerve-
jaria familiar, que tem como objetivo
produzir cervejas artesanais com quali-
dade, história e personal idade. A
empresa nasceu da iniciativa dos irmãos
Marco Antonio, Juliana e Ronaldo Fal-
cone, que abandonaram suas atividades
e investiram em um projeto que buscava
qualidade de vida. “O nosso objetivo era
produzir a cerveja de maneira que ela se
tornasse uma paixão, e não somente um
produto”, ressalta Marco Falcone.
A Falke Bier possui cervejas mais do
que especiais. A Monasterium e a Vivre
pour Vivre, bebidas da marca, são famosas
não só pelo sabor, mas também pela
maneira de preparo. A Monasterium, por
exemplo, é vencedora do prêmio Award
2008 como produto inovador, e leva até
seis meses para ficar pronta. “O processo é
bem meticuloso. Ela é refermentada na
garrada e maturada em uma adega subter-
rânea climatizada, acústica e ao som do
canto gregoriano”, explica Falcone.
Já a Vivre pour Vivre, é feita com uma
fruta brasileira, a jabuticaba. Marco Fal-
cone afirma que ela é a única cerveja no
mundo que leva três anos para chegar à
mesa do consumidor. Por isso, são produ-
zidas apenas 600 garrafas por ano. “Eu
queria fazer uma cerveja com a cara do
Brasil, e ao mesmo tempo inédita. Então,
utilizei a jabuticaba como ingrediente.
Ficou fantástico!”, afirma.
Wellington Rodrigues, 43, biólogo,
é um grande admirador da cerveja
Falke, e sempre que pode, vai com os
amigos degustar a bebida que, segundo
ele, é especial. “Ela é diferenciada.
Resgata valores, sabores e aromas que
não são encontrados em outras marcas,
devido ao processo de industrialização
das mesmas. Por sua fabricação ser à
base de produtos naturais e sem a adi-
ção de conservantes, a Falke produz
cervejas especiais e saudáveis, ricas em
vitaminas do complexo B”, relata
Wellington.
Mas, Fabrício Mendes, 25, universi-
tário, reclama dos preços das bebidas da
marca, que, segundo ele, podem chegar
a incríveis R$ 200 por garrafa. “Eu
adoro beber as cervejas da Falke, mas,
infelizmente, não é sempre que posso
comprar, pois, por serem artesanais e
terem um processo especial de prepara-
ção, o preço acaba aumentando”,
lamenta o rapaz.
14 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
Religião
MUNDIAL DA JUvENtUDE“Ide e fazei discípulos entre todas as nações” — Quatro mil jovens mineiros deverão participar desse evento, em julho.
JORNADA
PÂmeLA mATOs
3º período
A Jornada Mundial da Juventude é
o maior evento católico com jovens do
mundo. O entusiasmo e o caráter juvenil
se revelam por meio da oração, dança,
música e outras manifestações artísti-
cas. Este ano, o evento tem um toque
bem mais especial para os brasileiros,
afinal, a cidade do Rio de Janeiro sediará
sua 38ª edição. É uma festa de alegria,
realizada de 23 a 28 de julho, com o lema
“Ide e fazei discípulos entre todas as
nações” (Mt 28, 19), escolhido pelo
Papa Bento XVI.
É a primeira vez que o Brasil sedia o
evento. E merecidamente, pois ainda
somos a maior nação católica do mundo,
com 123 milhões de pessoas seguindo os
ensinamentos de Pedro, sendo o Rio
Grande do Sul o Estado com maior
número de católicos. Para a Arquidio-
cese de Minas Gerais, “sediar o evento
significa mostrar para o mundo a força
da fé e da comunhão cristã católica do
nosso país”.
sHeilla Cristina
Jovens se preparam
para a JmJ 2013
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 15
A HIsTÓRIA DA JORNADA
O evento religioso foi criado pelo Papa
João Paulo II, em 1985, mesmo ano que foi
declarado Ano Internacional da Juventude
pelas Nações Unidas. E desde então a Jor-
nada é celebrada, a cada dois anos, numa
cidade escolhida pelo Papa. Para João Paulo
II, criador do evento, “a esperança de um
mundo melhor está numa juventude sadia,
com valores, responsável e, acima de tudo,
voltada para Deus e para o próximo”.
Para cada edição, o Papa sugere um
tema, sendo esse ano um versículo do Evan-
gelho de Mateus: “Ide, pois, fazer discípulos
entre todas as nações!”. Bento XVI escolheu
este trecho logo após a última edição da Jor-
nada, em Madrid, e convocou os jovens: “A
Jornada Mundial da Juventude em Madrid
renovou nos jovens o chamado a serem o
fermento que faz a massa crescer, levando
ao mundo a esperança que nasce da fé. Sede
generosos ao dar um testemunho de vida
cristã, especialmente em vista da próxima
Jornada no Rio de Janeiro”.
Para o Padre Geraldo Dondici Viera,
essa escolha remete a um sonho antigo da
Igreja Católica, “de que o contato com o
Senhor, a amizade com Ele, desperte o que
cada um tem de melhor em si mesmo”.
— Vivemos em um mundo onde há
muitos desperdícios, perdas humanas, por
falta de chance. O convívio com o Senhor
desperta em nós o que temos de melhor. O
anúncio ‘Ide e fazei discípulos entre todas as
nações’ é para a vida toda. Em nenhum
momento podemos fazer um intervalo dele,
porque ele supõe que aquele que é amigo do
Senhor, pela sua vida, pelo seu estar no
mundo, comunique aos outros a luz, a
beleza e a alegria de ser discípulo do Senhor.
Essa é a missão que a nossa Igreja precisa.
(Fonte: www.rio2013.com).
Durante as JMJ, acontecem eventos
como catequeses, adorações, missas,
momentos de oração, palestras, partilhas e
shows. Tudo isso em diversas línguas. Em
sua última edição, em Madrid, em 2011,
reuniu cerca de três milhões de jovens.
Esse ano estima-se que o número cresça e
a organização espera no mínimo, quatro
milhões de jovens no Rio, sendo cerca de
quatro mil mineiros.
FÉ e CONFIANÇA
Uma cena rara hoje em dia é uma
Igreja lotada de jovens. E os questiona-
mentos quanto ao porquê isso ocorre não
conseguem chegar a um consenso, tanto
que o assunto virou tema de livro. David
Kinnaman e Aly Hawkins escreveram
“You Lost Me: Why Young Christians are
Leaving the Church… and Rethinking
Faith”, que em português é “Fui! - Por que
jovens cristãos estão abandonando a
Igreja... e repensando a fé”. Para eles, a
faixa etária dos vinte anos é a de menos
compromisso cristão, independente-
mente da experiência religiosa vivida.
— O principal problema é o da relação
com a Igreja. Não necessariamente os
jovens perdem a fé em Cristo; o que eles
abandonam é a participação institucional.
Para Gustavo Caetano, 28, analista de
sistemas e cristão atuante na Paróquia
Nossa Senhora da Conceição, outro agra-
vante é a falta de confiança das lideranças
da Igreja nos jovens, já rotulados de brinca-
lhões e baderneiros. “A falta de confiança
realmente é um problema que a Igreja pre-
cisa corrigir”, afirma Gustavo. Para ele, os
fatores que levam as pessoas a terem esse
tipo de preconceito são determinados por
quesitos pré-estabelecidos e julgados.
— Um jovem em formação não tem
uma vida estável. Quando você dá um cargo
de responsabilidade a ele e logo em seguida
ele tem que renunciar, devido a questões de
emprego, estudo ou outro fator, faz com que
os mais velhos continuem à frente e resis-
tentes à renovação da chefia.
Porém, ele chama a atenção para a
vontade de muitos jovens em fazer a dife-
rença, criando grupos e se envolvendo em
projetos, como o Dia Nacional da Juven-
tude, celebrado todo mês de outubro em
uma cidade mineira.
O jovem Thales Camilo passou 19 anos
da sua vida sem possuir algum tipo de fé ou
crença. Para ele, “chega um ponto em que
não é possível existir sem ter a paz de saber
que tem alguém conosco todo o tempo e a
minha luz no fim do túnel foi Jesus”. Mas
afirma que acha muito vaga e deficiente à
maneira como as comunidades têm tentado
buscar mais jovens para o convívio e desco-
brimento de sua fé.
— Se houvesse pessoas mais compro-
missadas em propagar a palavra de Deus, a
mocidade cristã seria muito maior. E, evi-
dentemente, com esse estouro das redes
sociais, a fácil propagação de notícias pela
internet sobre os escândalos envolvendo os
“cabeças“ da comunidade cristã no Brasil
(e fora dele) está deteriorando esse anseio
dos jovens.
Mas, apesar de os índices apontarem
uma queda significativa no número de
jovens frequentando ou participando de
algum evento em suas comunidades, a
Arquidiocese de Belo Horizonte afirma que
isso não acontece aqui. Os jovens, cada um
à sua maneira, têm estado cada vez mais
presentes na vida da Igreja. Segundo a
Arquidiocese, são muitos os jovens que se
envolvem com o trabalho missionário, que
participam de grupos nas paróquias e que
trabalham efetivamente na vida de suas
comunidades.
Fiquem atentos à PROGRAmAÇÃO
Em BH, a preparação para a Jor-
nada começa no dia 15 de julho, uma
semana antes do início das atividades no
Rio de Janeiro, com a Semana Missioná-
ria. Nela, os jovens peregrinos terão a
possibilidade de conhecer a nossa vivên-
cia cristã, nosso trabalho social, cultu-
ral, trocar experiências e enriquecer a
fé. Com uma programação envolvendo
várias atividades, como momentos cele-
brativos e catequéticos nas paróquias,
atividades missionárias e de ação social,
eventos culturais, momentos de parti-
lha e vida comum, estima-se que quase
mil jovens participem desse primeiro
encontro em Minas.
Segundo a Arquidiocese da capital,
“todo o apoio é feito pelas comissões
organizadoras e, a cada 15 dias, é reali-
zado um encontro de formação para os
jovens e as famílias. Os próprios jovens,
com o apoio das paróquias, estão articu-
lando o transporte, hospedagem e reali-
zando eventos para arrecadar recursos
para custear a viagem”. Quem se inte-
ressar, pode procurar a paróquia mais
perto de sua casa e se informar sobre os
projetos envolvendo a Jornada ou se ins-
crever no site www.rio2013.com.
16 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
COTiDiAnO
BRuNO meNezes
7º período
Acordei atrasado. Maldito seja o
indivíduo que inventou a função soneca
para celular. Sempre me faz atrasar. Em
tese, chego ao estágio todos os dias às
8h. Para isso, eu teria que pegar o ônibus
das 7h05, mas hoje não teve jeito, só
consegui o das 7h25. O trânsito é
intenso durante todas as manhãs em
Belo Horizonte. Essa, em especial, era
pior – manhã de sexta-feira é sempre
complicada. Não há um dia em que meu
ônibus não pegue um engarrafamento
na Avenida Pedro II. E a gente sempre
fica pensando – Imagina na copa!
Passando pela área central da
cidade, já na Avenida Augusto de Lima,
próximo ao edifício Maletta, um senhor
de sapatos engraxados, cabelos brancos,
camisa polo amarela e um envelope na
mão entra no ônibus. Ele senta-se na
parte da frente, próximo ao trocador.
Parece que ele pega o mesmo ônibus
todos os dias, afinal, o motorista assim
que o viu já gritou: grande seu Agenor!
71 anos, 5 meses e 10 dias, assim o seu
Agenor orgulhava-se em dizer sua idade.
Em conversa com o motorista do ônibus da
linha 64, ele se gabava de seus feitos. Pai de
quatro filhos e casado há 46 anos, seu Age-
nor esbanja vitalidade e acredita que casar
é a melhor coisa do mundo. “Eu me casei
em 1967, até hoje estou com a mesma
mulher. Casar é bom demais, difícil é con-
tinuar casado”, disse ele já aos risos.
Eu tentava ouvir a conversa dos
dois, mas sempre de olho no relógio. A
previsão era de que eu chegaria 30
minutos atrasado no estágio, isso sendo
otimista. Entretanto, eu estava atento à
boa história de seu Agenor.
– Trabalho em uma construtora que
fica ali na Gonçalves Dias com Olegário
Maciel. Passaremos perto dela, você vai
ver. Comecei a trabalhar lá tem pouco
tempo, comentou.
– Ah é? Tem pouco tempo? Perguntou
o motorista.
– Tem sim, são só 49 anos. Trabalho lá
desde o dia 1º de fevereiro de 1964 – Mais
uma vez ele terminou sua frase aos risos.
O motorista ficou impressionado com
a lucidez de seu Agenor e a vontade de
ainda fazer questão de exercer uma profis-
são. Um verdadeiro apaixonado pelo que
faz, eu diria. Tanto que ele contou, orgu-
lhosamente, que a empresa em que ele
trabalha, construiu a primeira trincheira
na Pampulha.
Na mesma sexta-feira e na mesma
linha de ônibus, porém na ida para casa,
conheci Zuleide, a piriguete da favela
Sumaré. De chinelo roxo, shortinho aper-
tado e uma blusa que deixava a mostra seu
piercing no umbigo, a morena entrou no
ônibus. Estava acompanhada de mais
duas pessoas, um homem e uma mulher.
Já passava das 15h e o calor naquela tarde
estava insuportável.
O trio entrou no ônibus gritando
que não iria pagar a passagem. Eles
pulariam a roleta da forma que eles
mesmo descreveram: “na cara dura”.
Zuleide liderando o grupo, perguntou
aos companheiros se ela teria que ser a
primeira a pular. Os olhos assustados
dos outros passageiros se sobressalta-
ram, todos ficaram apreensivos fitando a
moça. Felizmente tudo não passou de
uma brincadeira. Ela tirou o cartão do
banco e o cartão Bhbus da bolsa e ainda
brincou com a trocadora “vocês não
aceitam cartão de crédito?”.
Assim o gelo foi quebrado, o clima
melhorou e tranquilamente eles passa-
ram pela roleta.
Felizmente só para a trocadora, não
bastasse o ônibus estar cheio eles ficaram
parados nos degraus da porta do meio, atra-
palhando o desembarque dos passageiros.
Meu ponto estava se aproximando, me posi-
cionei perto da porta, atrás do trio, na espe-
rança que eles desconfiassem da minha
intenção de descer. Incomodado, o rapaz
começou a falar:
- Deixa eu sair daqui né!? Esse cara
aqui atrás de mim não tá dando certo.
Zuleide, a grande figura da favela
Sumaré, não podia perder essa:
- Nossa, eu adoro! Se ele quiser ficar
atrás de mim pode.
- Olha ai! Viu o que ela falou para você?
– Disse o rapaz dirigindo-se a mim.
Dei um sorriso e acenei com a
cabeça que sim.
Meu ponto chegou, hora de descer.
Com dificuldade, fui passando pelos
obstáculos, ou melhor, por eles. Já com
meus pés na rua, Zuleide gritou de den-
tro do ônibus: “Ô moço! Eu tava brin-
cando, viu?!” Deu uma gargalhada e
completou. “Mas se quiser levar a brin-
cadeira a sério, também pode!”.
Não aguentei segurar a risada e mandei
um tchau para ela enquanto o ônibus partia.
Definitivamente o transporte coletivo é uma
fonte de boas histórias e grandes figuras que
mereciam ser estudadas. Do seu Agenor à
Zuleide. De A a Z. Depois disso? Fui para o
bar, ora essa. Era sexta-feira e também
sou filho de Deus.
CRôNICAS DO ôNIbUS:
DE A A Z“O transporte coletivo é uma fonte de boas histórias e grandes figuras”
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 17Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 17
EnTREViSTA
Lince - Como surgiu a ideia de par-
ticipar do concurso?
Alunos - O professor Paulo Iscold —
coordenador do Centro de Estudos Aero-
náuticos e professor do departamento de
Engenharia Mecânica da UFMG — foi o
primeiro a tomar conhecimento da compe-
tição. A partir daí, ele escolheu os integran-
tes da equipe para começarmos a trabalhar.
Foi uma grande surpresa para nós, e uma
satisfação enorme em participar.
Lince - Houve parceiros para a con-
clusão do projeto, que apostaram na
ideia de vocês, além da UFMG?
Alunos - Não. Uma vez que a competi-
ção exigia apenas muito esforço por parte das
equipes. O principal apoio veio do professor
Paulo Iscold. Se tem alguém que merece
méritos pelo projeto, com certeza é ele.
Lince - Conte-nos um pouco como
foi a premiação feita pela empresa de
motores aeronáuticos Price-Induction.
Alunos - Uma banca de jurados
composta por especialistas da aviação
escolheu o projeto vencedor baseando-
-se em uma série de critérios que envol-
viam desde características estéticas a
dados de desempenho. Após a decisão
dos jurados, foi publicado no site da
empresa Price Induction o resultado.
Uma grande emoção para todos nós, que
nos dedicamos com tanto empenho.
Lince - Há pessoas em especial que
ajudaram na conclusão do mesmo?
Alunos - Foi um trabalho em equipe.
O professor Paulo Iscold, como havía-
mos dito antes, com certeza foi quem
mais ajudou a equipe, sempre cobrando
resultados para que atingíssemos o mais
alto nível em relação à aeronave.
Lince - Como vocês acham que essa
conquista pode intervir positivamente
na vida dos estudantes mineiros, que
vocês representam?
Alunos - Essa conquista, como tan-
tas outras, mostra aos alunos da UFMG,
e às demais instituições, que com
esforço e dedicação é possível, sim,
obter vitórias. Não somente nesse pro-
jeto, mas competições como o Aerode-
sign e o Baja (automóveis), entre outras
competições. Elas ajudam os alunos a
colocar em prática os ensinamentos
obtidos em sala de aula.
Lince - Conte-nos um pouco (tecni-
camente) como foi feito esse projeto.
Alunos - Baseado nos critérios da
competição, a equipe se utilizou de fer-
ramentas computacionais e metodolo-
gias utilizadas em outras aeronaves
desenvolvidas no CEA. Considerando a
eficiência de voo de um planador, a ergo-
nomia de um carro, a utilização dos tur-
bofans DGEN da Price Induction, as
qualidades de voo e controle e, não
menos importante, o aspecto estético da
aeronave. O projeto foi desenvolvido de
forma que o resultado final fosse a com-
binação ótima dessas características.
Lince - Quais os próximos desafios
que os aguardam? Imagino que outros
muitos convites virão.
Alunos - Atualmente iremos apresen-
tar o projeto no Paris Airshow, na França.
E já estamos engajados em outro projeto.
Junto com o auxilio do professor Paulo
Iscold, estamos realizando cálculos de
aerodinâmica, estabilidade e estruturas
da aeronave Bugatti 100P - projeto de
autoria de Scott E. Wilson. Bola pra frente
e que venham mais conquistas. Sucesso
pra todos.
ALtOJOÃO PAuLO FReITAs
3º período
Julliardy Matoso (engenharia aeroespacial), Letícia Soares (engenharia aeroespacial), Sergio Lopes (engenharia mecânica) e
Matheus Vinti (engenharia mecânica) são alunos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Alberto Santos Dumont ficaria
orgulhoso desses garotos. O motivo? O desenvolvimento do projeto aeronave CEA 312, criado dentro do Centro de Estudos Aeronáuticos
da instituição (CEA). Eles venceram uma competição entre diversos países, realizada na França, por uma empresa local chamada
Price-Induction, uma das maiores montadoras de motores aeronáuticos do mundo. O desafio consistia em projetar um avião para quatro
tripulantes, usando duas turbinas da empresa francesa. Como prêmio, ganharam a apresentação do projeto na feira de Le Bourget, que
será realizada em Paris entre os dias 17 e 23 de junho. Confira o que os estudantes nos contaram sobre essa grande experiência.
SONHANDOLetícia,
Julliardy,
matheus e
sergio.
Autores do
projeto
campeão
Foto
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18 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 201318 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
DiREiTO
Fotos váGner antÔnio/ tJmG
QUEM tEM O PODER DE
Quem pode ser jurado e quais são os critérios necessários para exercer essa função nos tribunais brasileiros
JULGAR
CAmILA CHAGAs
3º período
É bem possível que os brasileiros
estejam mais acostumados à visão de
um júri popular com o que veem na
televisão. Afinal, seriados e filmes em
que as ações transcorrem em tribunais
são frequentes na programação. No
entanto, no Brasil, os júris têm papel
importante para o bom desempenho da
Justiça, sem que muita gente sequer
saiba como se escolhe um jurado.
Em última instância, o júri popular
é responsável para decidir o futuro de
um indivíduo que atentou contra sua
comunidade. Julgar alguém pelo o que
f e z s e m e s t a r p re s e n t e n a q u e l e
momento. Os jurados representam a
sociedade em crimes dolosos, de origens
diversas — homicídios, abortos ou indu-
zimento ao suicídio. Cabe ao juíz,
somente aplicar à pena.
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 19Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 19
Para ser um jurado, qualquer pessoa
pode se inscrever na comarca do seu Muni-
cípio. Para isso, o indivíduo precisa ser
maior de idade, morar na cidade e ter bons
antecedentes. Após as inscrições, o juiz, ao
seu próprio critério, seleciona os candida-
tos. Mas também, há indicações de sindica-
tos e repartições públicas.
A cada julgamento são selecionados 25
candidatos. Antes de cada sessão, dentre os
25, são sorteados os sete que constituirão o
conselho de sentença do Tribunal. O Minis-
tério Público e a defesa, no momento da
escolha dos jurados, podem fazer até três
recusas imotivadas, e aproveitam para sele-
cionar pessoas com o perfil que entendam
ser o mais adequado para o caso. “Em caso
de homicídio em que a vítima foi previa-
mente estuprada, por exemplo, a defesa
tentará afastar do corpo de jurados as
mulheres”, explica Dayse Mara Silveira,
Juíza Titular da 1ª Vara Criminal e da Infân-
cia e Juventude de Ponte Nova (MG).
Os jurados escolhidos não recebem
nenhuma remuneração. Mas é assegurado
ao convocado, confinamento especial até o
julgamento final, não podendo haver
nenhum desconto no salário pelo período
da sessão. Na possibilidade de o jurado ser
preso, terá direito a prisão especial. Em caso
de ausência e falta de justificativa, poderá
pagar multa de um a dez salários mínimos.
CRImes
Não há diferença entre os tipos de
crimes para seleção dos jurados. O juiz
avalia se o candidato é bem instruído;
quanto maior o grau de escolaridade,
melhor será o entendimento das ques-
tões que serão levantadas no Tribunal de
Justiça. Lembrando que não é preciso
ter conhecimentos prévios de Direito.
Inúmeras pessoas se inscrevem pela
curiosidade de saber como é um julga-
mento, principalmente pelos benefícios
que a própria lei estabelece. Geisiane
Oliveira, analista de ensino, foi convo-
cada para ser jurada em três julgamen-
tos diferentes. “Quando recebi a intima-
ção fiquei desesperada. Como vou julgar
a vida de alguém se eu não estava pre-
sente quando ocorreu o crime?”. No dia
do julgamento, a partir do momento que
os jurados entram no Tribunal de Jus-
tiça, estão proibidos de se comunicar
entre si, ou com amigos e familiares. O
celular é desligado e o almoço é servido
no próprio Fórum.
Para o estudante M. S. S., 23, que
afirma “adorar julgamentos”, as sessões
de tribunal a que compareceu até agora
(uma delas, no caso do goleiro Bruno)
foram decepcionantes. Acostumado a
ver julgamentos em “filmes de tribu-
nal”, seus favoritos, ele se diz impressio-
nado com o “número de falcatruas dos
advogados de defesa”.
— É a maior avacalhação; eles não
têm o menor respeito pelo juiz, criam a
maior confusão, atrapalham tudo. Tem
muita burocracia também, não é a mesma
emoção que a gente vê no cinema.
Foi por isso que M. “desistiu de ser
jurado” e está repensando se vai continuar
no curso de direito. “Se continuar, quero
ser promotor; advogado de defesa, nunca”.
DECEPÇÃO
Para o advogado e professor de
direito penal, do Centro Universitário
Newton Paiva, Cristian Kiefer, o Tribu-
nal no que pesa aos jurados, é “muito
mais emoção que razão”.
— Estão em jogo os dois maiores
bens do ser humano: a vida e a liberdade.
Entretanto, para aqueles que serão
jurados pela primeira vez, é uma mis-
tura de sensações. Ansiedade, insegu-
rança e vulnerabilidade. “Me senti mal
durante todo o julgamento; como uma
pessoa livre pode deixar que outras pes-
soas decidam o rumo de sua vida?” —
questiona Geisiane.
O transcorrer de um julgamento se
dá em um clima de muita emoção.
Quase sempre, júri fica cara a cara com
o réu e a família da vítima. Esta, indig-
nada, na expectativa que a justiça seja
cumprida. Por outro lado, os parentes do
acusado também ficam à espera que a
pena seja a menor possível. “Quando
recebi a intimação fiquei com medo,
porque não sabia o que a família do preso
seria capaz de fazer”, pondera a analista
de ensino.
LIBERDADE
REQUISITOS
20 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
MÚSiCA
bAtIDA PERFEItAMesmo quando fica à margem do mercado, a música independente cria várias vertentes dentro da atual cultura brasileira
EM bUSCA DA
RAYzA KAmKe
3º período
Os primeiros registros da música
independente são datados na década de
1950, quando pequenas gravadoras nas-
ciam nos Estados Unidos. A cultura
libertária teve ênfase nos anos de 1960 e
1970, quando o movimento punk deu
notoriedade e disseminou cultural-
mente, não só a música, mas toda uma
forma de se comportar e de viver. Desde
então, a cultura do independente vem
crescendo e tomando espaço, inclusive
no Brasil.
Mas, o que é música independente?
Como definição básica, entende-se que
música independente é aquela que não
está vinculada a grandes gravadoras,
quando o intérprete tenha controle
sobre a elaboração e realização do
trabalho em todas as suas etapas. Pouca
gente tem conhecimento da verdadeira
realidade do trabalho árduo praticado
pelo artista, que na maioria das vezes, é
movido só pela paixão, resistindo às difi-
culdades existentes.
Fotos laura senra
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 21
INCeNTIVOs
Mesmo com o crescimento, o artista
independente ainda sofre com a falta de
incentivo e estrutura. Em Minas, os mais
procurados atualmente são Vander Lee,
Laiza Morais, Cobra Coral, Sérgio Pererê...
“São alguns dos mais pedidos; é imensa a
variedade de nomes que se sobressaem
hoje, incluindo a moda de viola, que tam-
bém é sempre procurada por aqui”, conta
Carlos Andrade, da loja Discoplay, que tra-
balha no ramo musical há 17 anos, e diz ter
acompanhado grandes artistas mineiros
que nasceram do independente e cresce-
rem internacionalmente.
Carlos diz ainda que é constante a che-
gada de novos artistas para batalhar entre o
meio, mas reconhece que o que falta de
ajuda chega a ser desestimulante.
— Faltam incentivos; o artista tem todo
o trabalho, desde a produção até comerciali-
zação. Ele grava, trabalha na arte, traz os
CDs debaixo do braço para distribuição, e
muitas vezes não recebe o reconhecimento
que merece.
Carlos explica que, na maioria das
vezes, o próprio artista, ou o produtor,
trazem o trabalho até a loja, que é comprado
por remessa pelo distribuidor. Se o trabalho
for bem recebido, entram em contato e
solicitam mais para a comercialização.
DIFICuLDADes
Dentro do contexto independente, os
artistas se deparam com grandes dificulda-
des para mostrar ao público o seu trabalho.
No Brasil, foi criada a Lei do Incentivo a
Cultura, instrumento de apoio às iniciati-
vas culturais. O projeto consiste em permi-
tir que as contribuições de pessoas jurídi-
cas aos projetos culturais sejam deduzidas
do imposto estadual devido pelas empre-
sas. Mecanismo esse, que se torna falho e
mantém um desequilíbrio contínuo por
não conseguir atender a uma grande parte
dos artistas.
Elianne Noronha, empresária da
banda feminina Tamba Tajá, criada em
1998, conta sobre a sua preocupação com o
direcionamento da música independente
dentro do cenário brasileiro. “Nosso traba-
lho não é divulgado em rádios; somente os
das grandes gravadoras. As bandas inde-
pendentes conseguem aprovar projetos
nas Leis de Incentivo, mas a grande maio-
ria destes projetos não se concretiza pela
falta de apoio do empresariado. Então, às
vezes, me pergunto: até onde o gostar, o
prazer, e a alegria de levar musica boa às
pessoas vai nos motivar?”. Apesar dos pesa-
res, mesmo remando contra a maré, a
banda já gravou dois CDs independentes
patrocinados pela Lei do Incentivo.
“É máGICO”
Diante das dificuldades encontradas, o
preconceito, a desvalorização e a baixa
remuneração diminuem os espaços para
apresentações, o que também leva ao tér-
mino de bandas, ou a perda de integrantes,
que deixam os grupos em busca de outras
oportunidades. Com a ascensão do hip hop
nacional, o cantor mineiro Pedro Vuks, lan-
çou seu primeiro CD em 2011, mas afirma
sofrer diante do meio fonográfico por morar
em Belo Horizonte. Vuks conta que já man-
dou seu material para divulgação de traba-
lho para vários sites e não obteve resposta.
“Só que eu não ligo; sempre busco ter um
plano B”, afirma.
Segundo Vuks, é um pouco complicado
ter que trabalhar sozinho. A gravação, arte
da capa, vendas, fechamento de shows, e
envios do material para todo o Brasil são
feitos por conta própria. “É um trabalho
integral”, teoriza.
Apesar de todo o peso do trabalho, a
recompensa chega junto com o reconheci-
mento. Vuks confessa que ainda fica sur-
preso e até encara como novidade quando
vê alguém do meio em uma grande mídia,
ou com uma música muito boa.
— Só Deus e nossas famílias sabem o
que passamos pra chegar a esse momento. É
mágico ver que estamos sendo valorizados;
eu gosto disso. Não vejo como moda. É pro-
gresso mesmo.
CONeCTADOs
A inserção da música independente
dentro do mercado atual segue um parâ-
metro de crescimento junto com a tec-
nologia da comunicação. A banda pau-
lista de rock Emmercia foi criada em
2011 e cresce nacionalmente com a
ajuda da internet e das redes sociais.
Sérgio Kamada, tecladista da banda,
que mistura efeitos eletrônicos com
rock pesado, admite que é uma respon-
sabilidade muito grande movimentar os
próprios projetos, mas a liberdade para o
marketing da banda proporciona facili-
dade para interagir com os fãs. “A tecno-
logia favorece a independência musical;
creio que 80% das pessoas que seguem a
banda vieram pelas redes sociais — por
enquanto, as principais que usamos são
o soundcloud, facebook e youtube! Pre-
tendemos expandir ainda mais nas
redes”, disse.
A tecnologia também ajuda aos artis-
tas para a produção do trabalho. Com a
criação de programas que não precisam
ser manuseados por profissionais da área.
“A produção de parte das músicas que
lançamos foi feita por mim. Produção
caseira. Graças a lançamentos de equipa-
mentos profissionais que servem para
Home Studio. Tudo com baixo custo!
Glória!”, brinca Kamada. Mesmo assim, a
banda mantém o foco de lançar um CD
gravado em estúdio, tornando o material
menos caseiro e mais profissional.
Com a facilidade de produzir, gravar e
disponibilizar o trabalho, o mercado musi-
cal se tornou repleto de variedades de ban-
das e sons. Com o avanço tecnológico, tam-
bém ficou mais fácil descobrir e acompa-
nhar bandas alternativas para quem curte
cada gênero. Hoje é mais fácil encontrar
páginas diversas e espaços exclusivos sobre
o assunto. Cinthia Xavier, 19, conta que há
muito tempo utiliza fontes disponíveis para
conhecer a música independente, de que
não abre mão. “Eu e algumas amigas sem-
pre tivemos o hábito de procurar por músi-
cas ou bandas que não são famosas, porque
algumas marcaram minha vida”, conta.
Segundo Cinthia, a qualidade e a criativi-
dade de algumas bandas são incríveis.
“Acompanhei o término de algumas bandas
de que gostava muito, por falta de chances e
desvalorização. É uma pena”.
22 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
Fotos orlando bento/minas e arQuivo pessoal
Esporte
JOÃO VITOR CIRILO
3º período
Lágrimas de um campeão, de um cara que ama o que faz,
e o faz muito bem. Renato Lamas, 35, ala do Icatu/Minas,
vencedor em quase todos os lugares onde passou, poderia
muito bem encarar a eliminação nas oitavas do Novo Basquete
Brasil 2012/2013 de forma natural. Nada disso. Renato não
segurou a emoção ao falar sobre a carreira e mais uma tempo-
rada difícil que passou. Como ele mesmo disse, “ser campeão
não é nada fácil”.
Durante a entrevista, dada após a derrota do Minas para o
São José, no dia 22 de abril, resultado que eliminou o time
mineiro do NBB 5, Renato, que começou no Ginástico e pas-
sou por COC/Ribeirão Preto, Paulistano, Limeira, São José e
Pinheiros antes de chegar ao Minas, colocou para fora o senti-
mento pós-eliminação que, segundo ele, é a primeira vez que
vem tão cedo. Aliás, ele jogou no sacrifício, pois sofreu uma
lesão nas costas nesta pós-temporada, outro fato que o abateu,
mas não o impediu de lutar até o fim.
ENtREvIStA:
RENAtO LAMAS
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 23
Esporte LINCE - De onde veio a paixão pelo
basquete?
RENATO - Eu jogava futebol, mas era
muito grande. As quadras no Olympico
(clube belo-horizontino), de futebol e bas-
quete, eram uma ao lado da outra. O técnico
era o Elmom (que hoje trabalha com jovens
em Itaúna), que lançou o Fab Melo (pivô do
Boston Celtics, da NBA), baita cara pra tra-
balhar com garotada. Ele vivia me enchendo
o saco pra jogar basquete. Num belo dia,
arrisquei. Um mês depois ele foi pro Ginás-
tico, me levou com ele, e comecei ali.
LINCE - Você falou que foi revelado no
Ginástico, é de Belo Horizonte, mas pro-
fissionalmente, nunca havia jogado aqui
ainda. Como foi receber o convite para
voltar a BH e jogar no Minas?
RENATO - Foi muito legal. Meus pais
me cobraram muito. O fato de ter um con-
vite do Minas pesa para qualquer atleta.
Baita clube, estrutura, profissionais. Só
tenho a agradecer. Talvez fosse um ano onde
esperávamos um pouco mais. Pegamos o
campeão paulista, vice nacional, adversário
muito duro. Demos esse azar. Mas foi um
ano extremamente bom pra mim, em todos
os aspectos. (Renato se emociona) Fiquei
muito magoado por sofrer essa lesão no
final. Acho que fui o único jogador a jogar
todas as partidas no campeonato e agora
acabei machucando e não pude ajudar da
melhor forma. Apesar de não ter conquis-
tado o objetivo, fui muito feliz aqui.
LINCE - Da pra ver que você está
emocionado. O amor pelo jogo te faz
seguir jogando. Por quanto tempo você
quer continuar representando, seja o
time qual for?
RENATO - Cara, eu vou fazer 35 anos
agora. Me sinto muito bem. Treino igual os
moleques. No jogo, minha disposição é igual
ou até maior que a deles. Então, vou jogar
até onde aguentar, por amor, por gostar.
Graças a Deus, o basquete me proporcionou
muita coisa. Fiz minha vida com o basquete,
meu “pé de meia”.
LINCE - Você sempre conquistou
alguma coisa em todos os lugares. Sabe
calcular quantas conquistas na carreira,
coletivamente e individualmente?
RENATO - Sem contar finais, títulos
importantes são dez, incluindo seleção bra-
sileira e equipes. Entre os individuais, MVP
do Brasileiro em 2003, do Paulista várias
vezes... Esses prêmios que eles dão aí de
seleção do campeonato, que eu acho uma
babosada, eu quero é ganhar! Minha mãe é
que guarda recorte. Vou perguntar pra ela
depois e te mando um email (risos).
LINCE - Em algum momento da car-
reira, talvez lá no início, você repensou se
queria seguir jogando profissional-
mente?
RENATO - Sempre quis. Comecei a
jogar basquete com 11 anos. Aos 13, já ia pra
seleção mineira. Com 14, fui pra brasileira,
e saí de BH. Você pega um amor cedo e vê
que tem condição de virar jogador. Tentei
estudar ao longo da carreira, mas não conse-
gui terminar, porque é impossível. Era o que
eu queria mesmo desde moleque.
LINCE - Você se vê plenamente satis-
feito com o que alcançou ao longo da car-
reira ou vê que poderia ter conquistado
algo mais?
RENATO - Tudo o que conquistei eu me
orgulho muito. Você conquistar um título é
muito difícil. Tem jogadores excepcionais,
que passam a carreira sem ganhar nada.
Sou muito privilegiado, porque vou termi-
nar a carreira sendo vencedor. Dentro do
meu esporte, sou muito respeitado. (Renato
se emociona) Então, eu estou muito triste
porque nunca tinha saído antes assim. Acho
que estou ficando velho. Com 35, não é hora
de acontecer essas coisas. Me acho um ven-
cedor por tudo o que conquistei e tenho
muito orgulho disso, porque não é fácil, não.
LINCE - Você já pensa no pós-car-
reira, no que fazer quando parar?
RENATO - Sim, penso. Tenho alguns
negócios encaminhados em Ribeirão
(Preto). Joguei dez anos lá. Minha esposa e
meus filhos são de lá. Adoro estar no meio do
esporte. Se eu tiver a oportunidade de fazer
Educação Física, quem sabe ser técnico,
acho que é uma coisa que eu encararia. É
uma carreira que eu seguiria.
LINCE - Quem são seus ídolos no
esporte, no basquete e na vida?
RENATO - Michael Jordan foi um fenô-
meno, um ídolo, um ícone. Jordan e
Ronaldo, pela história de carreira e vida.
Mas o Vanderlei (Mazzuchini, diretor de
seleções da CBB, ex-jogador) foi um cara
que me ajudou demais. Não fossem
algumas pessoas que passam pela vida da
gente, nunca chegaríamos, né? Não tenho
muito contato hoje em dia, mas sempre que
eu o vejo, tenho muito carinho por ele.
LINCE - Como encara essa mudança
no basquete brasileiro nas últimas
cinco temporadas, com a chegada da
Liga Nacional?
RENATO - Ficou mais organizado.
Ainda falta investimento, mas a organização
melhorou demais. Precisamos de resultado,
olímpico, mundial, pra afirmar ainda mais
nossa modalidade. A vinda do Rubén Mag-
nano foi um ponto crucial. Vi uma entrevista
do Carlos Nunes (presidente da CBB)
falando que vai tentar fazer um centro de
treinamento, como o vôlei. Se ele realmente
conseguir isso, trabalhar mais forte na base,
manter o Magnano e os técnicos que estão
surgindo, como o Raul (Togni, ex-Minas), o
Demétrius, o próprio Cristiano (Grama),
nosso técnico do sub-22, um cara extrema-
mente competente, acho que já estaremos
brigando de igual pra igual com os países
europeus, como foi na última Olimpíada.
LINCE - Para finalizar: se tivesse
que dar uma dica pra um garoto que
está começando, como há vários aqui no
Minas agora, qual dica você daria?
RENATO - Acho que treinar muito,
observar os jogadores mais tops. Ver o que o
cara tem de bom e tentar trazer aquilo pra
você. Eu peguei o Guerrinha (hoje técnico
do Bauru) jogador, vi ele passando a bola, e
aquilo mexeu comigo, queria passar igual.
Aprendi a passar vendo o Guerrinha jogar.
Sou um cara muito observador, e isso me
ajudou muito a ter uma leitura de jogo. Hoje
em dia, vejo a molecada muito NBA, muito
“um contra um”, e a leitura do jogo, o que o
jogo pede que você faça, a maioria não tem.
Eu daria essa dica: ver mais a Euroliga, a liga
espanhola, do que a NBA.
24 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
especial especial especialtÁ bONItO DE
VER“É um início.
Talvez um olho se abrindo, um dedo se movendo, uma
esperança nascendo...”
ra
Fael
ma
rti
ns
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 25
especial especial especial especialCÉsAR PAuLO
estudante e maniFestante
Não me importa se é “filhinho de
papai”. Se é classe média revoltada. Se
depois de me manifestar, eu sento no
meu 1.8 e vou pro meu apartamento
arrumadinho e bem decorado. Não me
interessa se quem vai às ruas se mani-
festar está usando T-shirt da Reserva,
ou da Calvin Klein, e muito menos se são
os mesmos que frequentam baladas e
bebem drinks de 20 reais de vodka com
energético. Não. Me interessa a legitimi-
dade do ato. Me interessa o ato.
É burrice desvalorizar uma mani-
festação por quem a faz, ainda mais
morando em um país onde a falta de
educação e uma sociedade alienada,
não polit izada, é um programa de
governo. “Minha alienação, minha
vida”. É o que mais rege e ajuda a popu-
lação de baixa renda no nosso país.
Então, como esperar politização de
onde não se tem educação básica?
É burrice também subvalorizar as
causas. Não há meritocracia quando se
fala em apelo popular. Vá para as ruas.
Tome o que é seu. Ocupe aquilo que
você paga para governarem enquanto
você trabalha quase cinco meses do ano
para se manter com impostos. Não seja
idiota. Ninguém está lutando por 20
centavos. O buraco é mais embaixo. O
buraco é você sentado à frente do com-
putador, ou segurando seu smartphone
lendo isso.
É bonito de ver a imprensa interna-
cional criticando o modo brasileiro de
lidar com movimentos sociais. É bonito
ver uma democracia de bater no peito de
orgulho ser desconstruída nas páginas
internacionais, e degradante ver as coi-
sas sendo distorcidas na imprensa
nacional. É bonito de ver a ONU reco-
mendando o fim da polícia militar no
Brasil, depois de assistirmos vídeos nos
quais PM›s ateiam fogo em barricadas,
quebram seus próprios veículos, para
justificar sua violenta postura.
Não é preciso pintar a cara pra sair
às ruas. Não é preciso ser hipster, se ves-
tir mal, ter barba grande, nem postura
radical. Não é preciso ser afetado direta-
mente, nem que seja só pelos R$ 0,20.
Em um país onde Felicianos, Malafaias,
Mensalões, Cachoeiras, mídia manipu-
lada, terceiro setor com fraudes absur-
das, PEC 37, Código Florestal, onde
tudo isso reina e reclamamos calados,
não é preciso nada para ser manifes-
tante. Toda luta é legítima, e parecem
ter acordado pra isso.
Se quer saber o que está aconte-
cendo realmente, vá às ruas. Saia de
casa. Desligue a TV, ligue a cabeça. Atra-
sou pro trabalho por causa da greve?
Perdeu a festa? Pegou ônibus lotado?
Calma, tem gente querendo que o país
não chegue atrasado na honestidade, na
coerência, na liberdade. Tem gente que-
rendo que a população inteira não che-
gue atrasada na festa da desigualdade
social, que não pegue o ônibus da fome
lotado. Tem gente criando barreiras para
que outras barreiras sejam destruídas.
Pode ser modinha, ondinha, coisa do
momento. Pode ser algo que signifique
muito. Pode tudo ser reprimido em nome
da boa imagem perante o mundo na Copa
das Confederações. Mas é um início. Tal-
vez um olho se abrindo, um dedo se
movendo, uma esperança nascendo. Eu
decidi não ser omisso, decidi participar,
pagar pra ver, correr e ver qual é.
Enfim, está triste, mas «tá bonito de
ver». Estão pintando, não as caras, mas as
redes sociais, as ruas, e tão pintando minha
vontade de ver isso tudo acontecer com
mais barulho ainda, mais paralisações, mais
revolução. Quem sabe assim... Bom,
quem sabe?
26 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013
especial especial especial
RAFAeL mARTINs
3º período (*)
Tudo começou na hora do almoço.
Estava assistindo o noticiário e vendo algu-
mas pessoas publicando na internet sobre
um manifesto que ocorreria em Belo Hori-
zonte. Do nada, pensei: irei lá. E fui. Primei-
ramente, na manifestação dos professores,
na região da Pampulha. Mas, algo me guiava
pra ir a outro protesto, o maior. Peguei o
ônibus e, dentro dele, havia mais pessoas
indo; outras reclamando e muitas apoiando.
Ligado nas noticias vindas do rádio,
desembarquei do ônibus. Logo já via uma
grande movimentação de policiais e, mais à
frente, muita, mas muita gente. Era um mar
de pessoas cobrindo a Avenida Antônio Car-
los, em meio a palavras de ordem, faixas,
bandeiras, carros buzinando – não pelo
engarrafamento, e sim, apoiando. Tudo em
paz, policiais e manifestantes. Populares
começaram a seguir, literalmente. Vi que o
gigante foi pra rua, como o pedido daquela
campanha publicitária.
Homens e mulheres, jovens e adultos,
crianças, estudantes e educadores, como a
professora Rosalina, que pediam um basta
na roubalheira, um basta na impunidade
que reina no país. “Queremos um país para
todos, um país onde haja justiça, onde quem
nos representa tem que dar o exemplo. Eu
sou educadora e fico constrangida em falar
sobre honestidade com meus alunos”.
No meio da caminhada, uma barreira
da policia. Tensão na Antônio Carlos, pró-
ximo à entrada da UFMG. Paira no ar a
incerteza do que aconteceria. Houve con-
versa entre os militares e uma comissão dos
militantes. Ficou resolvido que poderiam
caminhar mais um pouco.
O “mais um pouco” é que foi o pro-
blema. Mais uma barreira de policiais. O
coronel Alberto Luis conversava com
alguns manifestantes, quando poucos
irresponsáveis forçaram a barra, arre-
messaram objetos na polícia. Foi aí o
estopim da conversa. A Avenida mais
parecia a Faixa de Gaza. Tiros de borra-
cha, pedras, bombas, fogo, estragaram o
protesto. A força usada pelos militares foi
de acordo com o que vinha do outro lado.
Protesto sim, mas sem a violência que
muitas vezes parte de alguns idiotas infil-
trados no meio de civis.
Um dia histórico, inesquecível, fotos
e vídeos marcantes. Espero que seja um
ponto de partida para revolução brasileira.
O POVO ACORDOU.
(*) O repórter Rafael Martins, do Lince, acompanhou e fotografou a manifestação.
DEpOiMEnTO
UM DIA INESQUECÍvEL17/06/2013,
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 27
especial especial especial especialFotos raFael martins
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