O Mercado de Carne Suína – Prognósticos de 2009 e Previsões para 2010. Osler Desouzart
Estarei me repetindo ao afirmar no início deste artigo que o ano de 2009 foi severo para o mercado mundial de carnes. Apesar disso, a produção registrou um aumento de 0,5% em relação a 2009.
Gráfico 1
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A grande vítima foi o comércio internacional que conheceu em 2009 um decréscimo de 5,71%. Esse fato não é anormal e ocorrerá sempre nas épocas de crises, pois é muito mais fácil controlar uma baixa de demanda através da redução de importações do que por meio de reduções de produção, sempre mais custosas e demandando mais tempo que a anulação de uma encomenda no exterior.
A boa notícia é que a severa crise de 2009 foi muito mais de preços do que de impacto direto na demanda, embora esta tenha tido uma situação de quase estagnação com crescimento em todas as espécies, salvo na bovina.
Gráfico 2
1 Fonte: Elaborado por ODConsulting. Dados de 2004 a 2008 são baseados na FAOSTAT, enquanto que os prognósticos para 2009 e previsão de 2010 tem por base o Food Outlook de Dez 09 da GIEWS/FAO. Sumário 2005‐2010 updated DEZ 2009.xlsx
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As Cassandras anunciavam em outubro de 2009 o fim dos dias, lembrando da crise de 2009 e fazendo prognósticos de quase uma reedição da peste negra. Afirmávamos aos nossos poucos clientes que o mundo não tinha acabado, não ia acabar, e que crise ou não as pessoas tinham que comer. Tínhamos razão, mas neste momento não sabemos exatamente o que fazer com ela.
Enquanto isso as Cassandras informadas alertam para os perigos de não se observar os princípios de sustentabilidade, outras clamam pela prevalência do ambiental sobre o econômico e o social, como se um tripé pudesse se sustentar em um só pé. Folcloricamente, o mundo acaba em 2012 segundo o Calendário Maia, mas temos reservas sobre essa afirmativa a ponto de cancelarmos um plano de contrair dívidas enormes pagáveis somente em 2013.
Se já foi uma boa notícia o fato do segmento protéico‐animal ter sobrevivido a 2009, temos gáudio de prever uma retomada das produções para 2010 de todas as proteínas animais, com exceção da carne bovina que deverá seguir o declínio iniciado em 2007. Entretanto, o mercado internacional de todas as carnes deverá crescer em 2010.
Gráfico 3
2 Fonte: Elaborado por ODConsulting. Baseado no Food Outlook de Dez 09 da GIEWS/FAO. Sumário 2005‐2010 updated DEZ 2009.xlsx
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Quando estreitamos nossa análise à carne suína, verificamos que continua o processo de recuperação da produção mundial. A explicação é simples: a produção chinesa está se recuperando do grande episódio de PRRS. A China respondia por 47% da produção mundial e em 2007 esse percentual se reduziu a 44,1%. Em 2009 os prognósticos são de que o país volte a superar o patamar de 47% e as previsões para 2010 anunciam um alentado 48,3% (cf.Gráfico 4). Paira, entretanto, sobre a China a ameaça de rebrotes da PRRS, doença de mui difícil erradicação, mormente num país onde a produção pecuária é extremamente pulverizada e onde hábitos de consumo estimulam a comercialização e conseqüente trânsito de animais vivos até o nível do próprio consumidor.
Gráfico 4
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Em termos de carne suína, o Planeta China torna‐se quase um sistema solar, conforme podemos inferir de uma análise do Gráfico 5. Os dez países que se seguem à China em
3 Idem
4 Pig stocks 61‐08 in heads China and World.xlsx
tamanho de produção representam 1/3 da produção mundial e os outros 170 países representam pouco mais de 1/5 da produção mundial.
Gráfico 5
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Sem o Planeta China, a suinocultura mundial se reduziria em 2010 a 56,2 milhões de toneladas, ou seja, 51,7% dos 108,7 milhões previstos para o ano.
Gráfico 6
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5 Fonte: FAOSTAT. Os 10 maiores países produtores depois da China são por ordem de importância em 2008: Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Espanha, França, Viet Nam, Polônia, Canadá, Dinamarca e Rússia. Produção Mundial Carne Suína e China 75‐08.xls
6 Elaborado por ODConsulting. Dados de 1975 a 2008 são baseados na FAOSTAT, enquanto que os prognósticos para 2009 e previsão de 2010 têm por base o Food Outlook de Dez 09 da GIEWS/FAO. Produção Mundial Carne Suína e China 75‐08.xls
Até a década de 2000, o crescimento médio anual da suinocultura chinesa superou 5%. Seguiu‐se um ritmo de crescimento menor que se situou anualmente em <3%, sendo que 2007 registra uma queda de 7,7% devido aos já mencionados episódios de PRRS.
Gráfico 7
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Em 2008 e 2009, o aumento da produção chinesa foi superior a 7%. A questão que se põe é se a China voltará a crescer a níveis superiores a 5%. Para 2010 a previsão é de uma expansão de > 3,5% e acreditamos que no restante desta década o crescimento médio não ultrapassará 3%, sendo que novos episódios sanitários poderão levar a China a antecipar a inevitável internacionalização de sua produção de carne suína, através de investimentos em outros países, absorção de grandes complexos produtores ou associações com grandes produtores de países dotados de condições favoráveis.
Por que? É simples. A China não dispõe nem da terra arável e nem da água necessárias para a migração da dieta de sua população para uma maior ingestão de produtos animais. A renda média da população chinesa é ascendente e mais correto seria dizer crescentemente ascendente. A base da riqueza chinesa reside na industrialização e o ritmo de expansão da economia requer e estimula uma maior urbanização. Porque mobilizar recursos escassos tais como terra arável e água para atender a uma maior demanda por proteínas animais quando estas podem ser produzidas em países que dispõem amplamente desses recursos? E viva a globalização que pelo menos teve o mérito de substituir “manu militari” por traders e investidores.
7 idem
Examinemos os indicativos para a produção de carne suína, apreciáveis na tabela 1, onde estão os 31 maiores países produtores que respondem por 97,5% da produção mundial e no Gráfico de Pareto 8, onde são apresentados os primeiros quinze produtores responsáveis por 94,1% do total mundial.
Tabela 1
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8 Elaborado por ODConsulting a partir de dados do Food Outlook, dez 2009, GIEWS/FAO Pork meat Food Outlook dez 09.xlsx
Gráfico 8
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Chamaríamos a atenção para as previsões de queda na produção norte‐americana e canadense de carnes suínas, dois dos principais produtores mundiais. A própria CEE, ainda que neste momento com um prognóstico de discreto crescimento em 2010, não está livre de experimentar estagnação ou mesmo um discreto recuo.
Como de hábito e para permitir comparações em escala mundial usamos os dados divulgados pela FAO mesmo quando dispomos dos dados nacionais brasileiros mais acurados ou recentes. Entretanto, nesta versão dos números da FAO encontramos uns diferenciais consideráveis, sobretudo no que diz respeito ao consumo brasileiro de carne suína. Como desde 2004 temos cansados aqueles que nos ouvem em conferências
Isso nos leva a apresentar na tabela 2 dados que confrontam as previsões da FAO com as dos FAS/USDA e com duas calculadas pela ODConsulting. As previsões de ODC₁ foram elaboradas a partir de dados do IBGE, Pesquisa Trimestral de Abate de Animais, que abrange os abates em estabelecimentos sob inspeção federal, estadual ou municipal, cuja base é sempre mais modesta que a realidade à luz de abates que fogem dessas esferas de inspeção. As previsões apresentadas em ODC₂ foram calculadas a partir dos dados de 2008
9 Idem #8
do excelente levantamento de dados feito pela ABIPECS/Embrapa. Para 2010, todas as previsões convergem para um crescimento de 4% da produção brasileira de carne suína.
Tabela 2
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As importações mundiais de carnes suínas deverão em 2010 aumentar 3,3%, ou seja, 185 mil toneladas a mais que em 2009, mas sem superar a marca de 6 milhões de toneladas de 2008.
Gráfico 9
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10 Elaborado por ODConsulting com base em dados da GIEWS‐FAO, FAS/USDA, IBGE e ABIPECS‐Embrapa. Produção de Carne Suína jan 00 a se 09 sic ibge.xlsxs e Produção Brasileira Suínos Abipecs‐USDA‐FAO.xls
11 Elaborado por ODConsulting a partir de dados do Food Outlook, dez 2009, GIEWS/FAO Pork meat Food Outlook dez 09.xlsx
Tabela 3
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12 Idem # 11
Coréia do Sul, Canadá, Hong Kong, Estados Unidos, México, Austrália. África do Sul, Japão, Vietnam, Filipinas e Cuba liderarão esse crescimento, sendo que a retomada do crescimento das importações do Japão é um registro mui alvissareiro. Ásia e América do Norte são as regiões do mundo que comandarão esse crescimento, seguidos pela América Central e na África.
A China Continental, Ucrânia, Rússia, Argentina e Malásia representarão os maiores decréscimos de importações. É aqui de ampliar a análise sobre a Rússia, pela importância que teve e tem para as exportações brasileiras.
Em intervenções anteriores, seja em artigos como em debates com produtores brasileiros ou suas entidades, chamamos a atenção que a Rússia perseguia um objetivo legítimo de repor sua produção de carne suína, afetada pelos anos de transição entre a economia centralmente planificada e sua atual economia de mercado. A dimensão desse desafio pode perfeitamente ser apreciada na Tabela 4, onde verificamos que no pico do declínio a produção russa em 1999 tinha diminuído 20,1% em relação ao ano de 1995.
Tabela 4
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Mais grave ainda foi o declínio do consumo, cujo patamar mais baixo foi alcançado em 2000, quando o consumo russo diminui 32,9% em relação a 1995. Era evidente que o governo russo não iria assistir omisso a essa situação, sobretudo porque a carne suína constitui parcela importante da dieta do povo russo (cf Gráfico 10).
Gráfico 10
13 Elaborado por ODConsulting a partir de dados PSD, FAS/USDA Rússia Balanço de Carne Suína 95‐10.xlsx
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Esses esforços implicam em proteção à produção local para que essa pudesse recuperar o terreno perdido. A política resultou exitosa já que se assumirmos as projeções para 2010 como válidas a produção russa de carne suína terá crescido 52,7% em relação ao ano 2000, com o consumo russo se expandindo em 70,0% no mesmo período (cf. Tabela 4).
Tais elementos estatísticos demonstrariam que a Rússia, mesmo com as sabidas restrições que impôs e impõe às importações, delas se utilizou para garantir um satisfatório crescimento de sua demanda interna. Acreditamos que a política oficial russa seguirá sendo a de buscar a auto‐suficiência de abastecimento, mas também acreditamos que essa meta está ainda muito longe de ser alcançada. As importações seguirão ocorrendo, mas com nítida tendência ao decréscimo, como podemos observar no Gráfico 11. Ali verificamos que estas vêm perdendo terreno, situando‐se em 2009 abaixo de 30% do consumo russo. Para 2010 esse patamar girará em torno de 25%.
Reiteraríamos ao setor suinícola brasileiro a prudência que impõe uma política de diversificação de mercados, tendo Japão e NAFTA como as grandes metas, sem descurar da presença nos mercados da Europa Oriental e Ásia Central e sem abandonar a cruzada de expandir a presença da carne suína na mesa do brasileiro.
Gráfico 11
14 Elaborado por ODConsulting a partir de dados PSD, FAS/USDA Rússia Consumo de carnes 1995‐2010.xlsx
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Seremos breves na apresentação dos dados sobre as exportações, limitando‐nos a destacar as previsões de crescimento do Brasil, algo de redução do Canadá e diminuição das re‐exportações de Hong Kong à luz da prevista recuperação da produção chinesa. Estados Unidos e CEE seguirão liderando as exportações mundiais, mas com consideráveis reduções de 11% e 27% sobre seus volumes exportados em 2008. Essas reduções nos volumes dos dois principais abastecedores do mercado mundial representarão uma tendência de alta nos preços internacionais, sem que, entretanto alcancem os níveis de 2008 e sempre e quando não tenhamos um rebrote dos episódios de H1N1 e de sua desastrosa cobertura mediática.
Gráfico 12
15 Idem # 13
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Tabela 5
16 Idem # 11
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Concluiremos esta apreciação sobre as perspectivas de 2010 com os dados sobre consumo, onde a retomada da demanda é a razão de um fundado otimismo para 2010.
Gráfico 13
17 Idem # 11
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Tabela 6
18 Idem # 11
19 e 20
19 Idem # 11
20 O consumo previsto para o Brasil nos números da FAO é subestimado. Recomendamos uma verificação da Tabela 2 apresentada neste artigo e dos comentários conseqüentes apresentados quando da apreciação de dados sobre a produção mundial para 2010.