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Educação Ambiental Crítica
Educação, Meio Ambiente e Sociedade
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA
- A educação ambiental precisa vincular os processos ecológicos aos sociais: a. Na leitura do mundo b. Na forma de intervir na realidade c. E na forma de existir na natureza
- Os seres humanos se relacionam por mediações que são sociais e as dimensões que os formam são: a cultura, a educação, a classe social, as instituições, a família, o gênero, etnia, nacionalidade etc.
- O ser humano é síntese singular relações, unidade complexa que envolve estruturas biológicas, criação
simbólica e ação transformadora da natureza. - A perspectiva crítica da Educação Ambiental entende que não há leis atemporais, verdade absolutas,
conceitos sem história, educação fora da sociedade; mas relações em movimento no tempo-espaço e características peculiares a cada formação social que devem ser permanentemente questionadas e superadas para que se construa uma nova sociedade vista como “sustentável”.
- Formas de se ver a Educação Ambiental: a. Na década de 80 à Educação ambiental cabia exclusivamente o ensino de conteúdos
“ecologicamente corretos” e a sensibilização individual para a beleza da natureza, levando o educando a mudar de comportamento.
b. Existem abordagens que, embora admitirem os limites da tendência anterior, interpretam as questões ambientais a partir de conteúdos específicos da ecologia, biologia etc.
- A educação Ambiental Crítica rompe com a primeira leitura pois:
a. Ela ignora os intrincados processos de aprendizagem; b. Ela ignora a necessidade social de se mudar de atitudes, habilidades e valores e não
apenas comportamento. c. Esta leitura serve como meio de reprodução das relações de poder.
- A educação Ambiental Crítica rompe com a segunda leitura pois. a. Ela cai no reducionismo através do qual se interpreta os processos sociais unicamente a
partir de conteúdos específicos da ecologia, biologizando aquilo que é histórico-social; b. Ela ignora a função social da atividade educativa, numa sociedade economicamente
desigual e repleta de preconceitos culturais.
- Para a perspectiva crítica, é preciso admitir que um ato educativo carrega a relação entre o que se quer e o que se faz em uma escola e o que a sociedade impõe na forma de expectativa e exigências à instituição e às pessoas, pólos estes apinhados de tensionamentos.
- Para a perspectiva crítica, a prática escolar exige o conhecimento da posição ocupada por
educando na estrutura econômica. - Para a perspectiva crítica da Educação Ambiental, não pode haver divórcio entre cultura-
natureza; e, por isso, critica o padrão vigente da sociedade, o modus operandis da educação formal, à ciência e à filosofia dominante (cosmovisão).
- Embora a busca por uma educação libertadora e reflexiva, é preciso admitir que vivemos
em sociedade e que, portanto, mesmo quando buscamos ir além da realidade na qual estamos imersos, acabamos muitas vezes repetindo aquilo que queremos superar.
- Por ser complexa em seu entendimento de natureza, sociedade, ser humano e educação,
a Educação Ambiental Crítica exige: a. Amplo trânsito entre as ciências (sociais ou naturais) e filosofia, dialogando e
construindo “pontes” e saberes transdisciplinares. b. Ações concretas nas esferas micro e macro do processo educativo, vinculando-os
b.1 Micro: currículo, conteúdos, atividades extracurriculares, relação escola-comunidade, PPP etc.
b.2 Macro: política educacional, política de formação de professores, relação educação-trabalho-mercado, diretrizes curriculares etc.
- Ao trazermos a Educação Ambiental para a realidade concreta, evitamos a. que esta se torne um agregado a mais, idealmente concebido, nas sobrecarregadas
rotinas de trabalho; b. Que ela fique no discurso vazio de “salvação pela educação” ou da normatização de
comportamentos “ecologicamente corretos”.
- Ao perceberem tal processo, muitos educadores que antes eram resistentes à questão ambiental, por a entenderem como uma discussão descolada das condições objetivas da vida, acabam incorporando a Educação Ambiental e “vestindo a camisa”.
- Os efeitos deste movimento crítico da Educação Ambiental são:
a. A ampliação na compreensão do mundo; b. O repensar das relações eu-eu, eu-outro, eu-nós no mundo; c. Temas anteriormente tratados como meio para a preservação ou respeito à natureza
são problematizados em várias dimensões (cultural, econômica, política, legal, histórica, geográfica etc.);
d. Projetos que ficavam como um “apêndice”, são concebidos e planejados em diálogo com a estrutura pedagógica de cada escola;
e. Ações que ignoravam secretarias de educação e autonomia escolar, reconhecem que é preciso dialogar com o “mundo da educação” e intervir nas políticas públicas para que práticas viáveis sejam democratizadas;
f. A perspectiva ambiental passa a fazer parte ativa do PPP, permeando a instituição escola em seu pulsar.
Os principais desafios a serem enfrentados pela Educação Ambiental Crítica a. Repensar os objetivos e práticas pedagógicas
a.1 Repensar o objetivo de “conscientizar” significa conduzir o aluno a ter uma consciência crítica do conjunto das relações que condicionam certas práticas culturais e, nesse movimento, fazê-lo superar seus condicionantes históricos pessoais e estruturais.
b. Repensar a estrutura curricular, levantando os motivos históricos que conduziram a
determinada configuração disciplinar e sua importância para o atendimento dos interesses dominantes da sociedade.
c. Atuação efetiva dos educadores ambientais nos espaços públicos que foram
conquistados com o processo de democratização do Estado brasileiro (conselhos, comitês, agendas, pólos, núcleos etc.)
Educação Ambiental Transformadora C.F.B. Loureiro
1. Aspectos Introdutórios - O termo “transformadora” está inserido no campo libertário da educação, no qual se
inscrevem abordagens similares (emancipatória, crítica, popular, ecopedagógica) que se aproxima da compreensão da educação e da inserção de nossa espécie na sociedade.
- Ela estimula o questionamento às abordagens comportamentalistas, reducionistas ou
dualistas o entendimento da relação cultura-natureza. - Loureiro procura estabelecer um contra ponto às formas de entendimento da Educação
Ambiental como um conjunto homogêneo e distinto da educação. A Educação Ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação.
- A adjetivação “ambiental” se justifica tão somente destacar as dimensões “esquecidas”
historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico-linear, não-dialético que separa: atividade econômica, ou outra, totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc.
2. Contexto de Emergência da Vertente - Fala-se da Educação Ambiental a partir de uma Matriz que vê a educação como elemento de
transformação social (movimento integrado de mudança de valores e de padrões cognitivos com ação política democrática e reestruturação das relações econômicas), inspirada no fortalecimento dos sujeitos¹ , no exercício da cidadania para a superação das formas de dominação capitalista, compreendendo o mundo em sua complexidade como totalidade.
- A Educação Ambiental Transformadora se origina no escopo das pedagogias críticas e
emancipatórias, especialmente dialéticas, sem suas interfaces com a chamada teoria da complexidade, visando um novo paradigma para uma nova sociedade.
- A vertente transformadora da educação ambiental, no Brasil, começou a se configurar nos anos 80,
pela maior aproximação de educadores com a educação popular, e instituições públicas de educação, junto aos militantes de movimentos sociais e ambientalistas com foco na transformação da sociedade e no questionamento radical aos padrões industriais e de consumo consolidados pelo capitalismo.
1 Sujeito: um aspecto da existência objetiva na história social, ou seja, consciência de pessoas em relações sociais específicas (classes, etnias, gênero, status etc)
- No campo de abrangência da educação e suas abordagens, a influência de maior destaque encontra-se na pedagogia inaugurada por Paulo Freire que se coloca no grupo das pedagogias libertárias iniciadas em 1970, em seus diálogos com as tradições marxistas e humanistas.
- Estas se destaca pela concepção dialética de educação, que é vista como atividade social de aprimoramento pela aprendizagem e pelo agir, vinculadas aos processos de transformação da sociedade, ruptura com a sociedade capitalista e formas alienadas e opressoras de vida. Vê o ser humano como um “ser inacabado”, ou seja, em constante mudança.
- A abordagem histórico-social crítica faz parte também da tradição emancipatória. É representada por Saviani. Ela contribui para o entendimento das políticas educacionais e da função social da educação. Nesse conjunto não pode ser ignorada a relevância da pedagogia crítica de Pierre Bourdieu.
- Por esta abordagem há o entendimento das relações de poder, da crítica
ao currículo vigente e da escola como elemento de reprodução social do capitalismo.
- Ainda na tradição dialética marxista, a Escola de Frankfurt denuncia que o processo de exploração das pessoas entre si, tendo por base sua condição econômica e os preceitos culturais, é parte da mesma dinâmica de dominação da natureza, posto que esta se define na modernidade capitalista como uma externalidade e tudo e todos viram coisas, mercadorias a serviço da acumulação de capital.
- Nesta escola, Herbert Marcuse teve notória influência nos movimentos sociais de contra-cultura e de questionamentos ao padrão de vida pautado no individualismo, na homogeneização cultural e no consumo, iniciados no anos 60, e que desembocaram no ambientalismo.