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SERGIO DE MELLO QUEIROZ FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR ANDRAGOGIA PRÓPRIA RIO GRANDE DO SUL 2016

Andragogia policial

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SERGIO DE MELLO QUEIROZ

FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR

ANDRAGOGIA PRÓPRIA

RIO GRANDE DO SUL

2016

Page 2: Andragogia policial

“A formação militar é a forma pela qual a instituição, por meio da

reprodução de aspectos culturais e tradicionais moldam os neófitos para

que estes adquiram aspectos semióticos de um militar, mais conhecida

como estética militar.

A ordem unida e o Treinamento Físico Militar utilizado na

formação dos policiais militares exigem gestos e atos sincronizados,

portanto uma preparação e exercício do corpo e da mente.

Atividades que acarretam um condicionamento físico e mental

resultando no condicionamento de reflexos que serão os responsáveis

pela exteriorização dos gestos e das atitudes do policial militar formado.”

Ensinar por competência é a própria ação do professor, não há como

ensinar sem ser competente para essa atividade. O dicionário Aurélio define

competência, como:

“Qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer

determinada coisa; capacidade, aptidão, idoneidade”.

Page 3: Andragogia policial

PAPO SOBRE ANDRAGOGIA:COMO ESSA HISTÓRIA

COMEÇOU?

Em 1833, o professor alemão Alexander Kapp usou o termo pela

primeira vez no seu trabalho “as idéias educacionais de Platão”, onde defendia

a necessidade de continuar aprendendo durante a vida toda (“As idéias

educacionais de Platão”, Alexander Kapp).

Mas o conceito se popularizou muito por conta de um outro estudioso,

Malcom knowles.

Foi ele que desenvolveu os conceitos de palestra, workshop e dinâmica

de grupo como forma de aprendizado para adultos durante os anos 1950.

Knowles definiu 5 premissas para a andragogia:

1. Conceito do eu: mudança de uma personalidade dependente para

uma crítica.

2. Experiência: acumulo crescente de experiência como recurso de

aprendizado.

3. Vontade de aprender: a vontade em aprender direcionando o

desenvolvimento.

4. Orientação para o aprendizado: mudança de aprendizado apenas

conceitual para aprendizado prático.

5. Motivação para o aprendizado: a motivação para aprender é

interna.

Cada uma dessas 5 premissas marcam a diferença entre pedagogia e

andragogia.

É a passagem de “por que” e “para que” para “o que” e “como.

Page 4: Andragogia policial

Essas premissas levaram a 2 “certezas”:

1. Que programas educacionais devem ser organizados com base em

aplicação prática na vida.

2. Que a experiência do aprendizado deve ser organizada em

categorias de desenvolvimento de competências específicas.

Segurando um pouco a marcha…

Essas 2 “certezas” são equivocadas na minha opinião por dois motivos:

Subestimam o aprendizado apenas por diversão ou interesse pessoal,

que não precisa ter necessariamente aplicação prática na sua vida.

Ignoram que a experiência necessária para o aprendizado pessoal

significativo é feita por associações de conhecimentos que muitas vezes não

tem ligação direta entre si.

Andragogia deve ser entendida de outra maneira.

Deve dar referências para as pessoas e ajudá-las a conectar estas

referências com o que elas têm a volta.

Passa por 4 pontos pra mim:

1. Diagnostico das necessidades de aprendizado

2. Formulação de uma estratégia de aprendizado

3. Escolha e implementação das ferramentas apropriadas para o caso

4. Estimulo da conexão com a experiência de vida

A idéia é gerar gatilhos para o aprendizado, eventos que Estimulem a

pessoa a querer aprender (já que a motivação é interna).

Os adultos não seguem necessariamente um passo a passo definido

de aprendizado.

Ele acontece muito mais pelas oportunidades e circunstâncias.

Page 5: Andragogia policial

"ANDRAGOGIA É A ARTE DE CAUSAR O

ENTENDIMENTO." - FRANKLIN WAVE

Page 6: Andragogia policial

ANDRAGOGIA?

Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender,

segundo a definição creditada a Malcolm Knowles, na década de 1970.

O termo remete a um conceito de educação voltada para o adulto, em

contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do

grego paidós, criança).

Para educadores como Pierre Furter (1973), a andragogia é um

conceito amplo de educação do ser humano, em qualquer idade.

A UNESCO, por sua vez, já utilizou o termo para referir-se à educação

continuada.Ciência que estuda as melhores práticas para orientar adultos a

aprender.

É preciso considerar que a experiência é a fonte mais rica para a

aprendizagem de adultos. Estes são motivados a aprender conforme vivenciam

necessidades e interesses que a aprendizagem satisfará em sua vida.

"Andragogia é a arte de causar o entendimento." - Franklin Wave

O MODELO ANDRAGÓGICO BASEIA-SE NOS SEGUINTES

PRINCÍPIOS.

1. Necessidade de saber: adultos precisam saber por que precisam aprender

algo e qual o ganho que terão no processo.

2. Autoconceito do aprendiz: adultos são responsáveis por suas decisões e

por sua vida, portanto querem ser vistos e tratados pelos outros como capazes

de se autodirigir.

Page 7: Andragogia policial

3. Papel das experiências: para o adulto suas experiências são a base de seu

aprendizado. As técnicas que aproveitam essa amplitude de diferenças

individuais serão mais eficazes.

4. Prontidão para aprender: o adulto fica disposto a aprender quando a

ocasião exige algum tipo de aprendizagem relacionado a situações reais de

seu dia-a-dia.

5. Orientação para aprendizagem: o adulto aprende melhor quando os

conceitos apresentados estão contextualizados para alguma aplicação e

utilidade.

6. Motivação: adultos são mais motivados a aprender por valores intrínsecos:

autoestima, qualidade de vida, desenvolvimento.

Page 8: Andragogia policial

DOUTRINAS REFERENTE AO ENSINO

POLICIAL COMO SOLUÇÃO PARA A

(in)SEGURANÇA PÚBLICA

Page 9: Andragogia policial

A FORMAÇÃO DA POLICIA -

POLICIAMENTO TRADICIONAL VS

POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

publicado por Vera Lourenço de Sousa

| Segunda-feira, 14 Novembro , 2011,

22:15

Sousa, Vera Lourenço, A formação da polícia – o desejado equilíbrio entre o

que se ensina e o que é necessário saber, Estudos Comemorativos dos 25

anos do ISCPSI em Homenagem ao Superintendente - Chefe Afonso de

Almeida, Almedina, 2009

Page 10: Andragogia policial

A FORMAÇÃO DA POLICIA É PARADOXAL.

Birzer[1] defende que a maioria dos currículos de formação são

concebidos para ensinar aos polícias uma pequena percentagem daquilo que

eles irão fazer no futuro.

Os currículos académicos estão demasiado centrados nas questões

relacionadas com o direito penal e processual penal, as técnicas de

intervenção policial, o uso das armas de fogo, o uso da força e as questões

relacionadas com o trânsito e para além disso, as escolas ainda nomeiam

estas matérias/disciplinas como as que envolvem maiores

responsabilidades[2].

Meadows[3]verificou que os currículos da formação inicial da polícia em

46 estados nos EUA se ocupavam em demasia com questões relacionadas

com o patrulhamento, a investigação criminal, o uso das armas de fogo e o uso

da força e pouco tempo com a vertente interpessoal do policiamento.

No mesmo sentido, Ness[4]inquiriu 210 policias recém – formados

questionando-os acerca da adequação dos conteúdos de formação com as

tarefas desenvolvidas nos primeiros meses de trabalho e os resultados

demonstraram que 60% dos conteúdos leccionados foram inadequados,

verificando-se que uma grande percentagem das tarefas para as quais são

formados, não é relevante para o seu trabalho.

Bradford e Pynes[5] realizaram um estudo que teve por objectivo

analisar os currículos de formação policial nos Estados Unidos e concluíram

que a formação básica pouco se alterou desde 1986, sendo que, menos de 3%

do tempo de formação, é direccionado para os conteúdos relacionados com a

tomada de decisão ou com as competências do pensamento e que o restante

tempo é ocupado com actividades orientadas para a tarefa – saber fazer.

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Neste estudo apenas foi identificada uma excepção, que diz respeito

aoCommonwealth of Massachusetts que procedeu a uma revisão completa do

seu currículo de formação e onde actualmente todas as matérias assentam no

domínio cognitivo (do pensamento). Commonwealth of Massachusetts concluiu

que a formação dos polícias exigia novos métodos e estratégias tendo

introduzido alterações fortemente baseadas neste domínio e que assentam na

ética (ou carácter), na lei (ou princípios constitucionais da aplicação da lei), na

robustez (física e mental) e no policiamento comunitário.

Tendo sido definidos 5 objectivos fundamentais, (1) introduzir a filosofia

do policiamento comunitário, (2) adopção de um modelo de valores na

formação policial, (3) integrar formação e educação[6], (4) a partilha e a

colaboração entre várias organizações policiais com experiências comuns e (5)

reforçar e examinar a complexidade da sociedade e a escolha dos polícias.

Toda a componente técnica continua a ser leccionada, mas a partir da

perspectiva cognitiva. Num acidente de trânsito com vítimas, por exemplo,

começa-se por ensinar, a importância do diálogo e do saber ouvir. Tratando-se,

portanto, de ensinar uma série de habilidades de comunicação para gerir uma

vasta gama de problemáticas.

A transição entre o policiamento tradicional e o policiamento de

proximidade é particularmente difícil dado o conflito de valores e de práticas

policiais. O policiamento tradicional enfatiza o estrito cumprimento da lei

enquanto que o policiamento de proximidade assenta na construção de

relações entre a polícia e a comunidade e na resolução de problemas.

Sem formação adequada torna-se difícil que os polícias entendam a

verdadeira filosofia do policiamento de proximidade, mas a formação facilita a

mudança organizacional e os métodos que os formadores utilizam podem ser

determinantes para essa mudança[7].

Page 12: Andragogia policial

Dunham e Alpert[8] defendem que a formação policial apresenta muitas

semelhanças com a formação da disciplina de anatomia nas faculdades de

medicina e reduzidas semelhanças com o estágio, ao contrário do que seria de

esperar.

Estes autores argumentam que é fundamental introduzir na formação

destes profissionais uma real e franca discussão sobre as decisões a tomar no

terreno e que os verdadeiros problemas das esquadras e da comunidade têm

de ser debatidos na escola.

Birzer [9] defende que, na maioria das escolas que se dedicam à

formação dos polícias é utilizado maioritariamente o formato da “palestra”,

enfatizando a mestria e a obediência e que um dos desafios é incluir modelos

alternativos mais adequados à formação de adultos. No mesmo sentido,

Chappell e Johnston[10] referem que a formação tradicional, muito utilizada nas

disciplinas do direito, baseia-se, essencialmente, numa abordagem

pedagógica, usualmente utilizada no ensino das crianças. A maioria dos

formadores utiliza o método expositivo e tal facto não permite

grandes inputs por parte dos formandos. O formador apresenta-se como

o guardião do conhecimento não conduzindo à participação do aluno nem ao

desenvolvimento da sua mente, tão necessária à tomada de decisões[11].

Os métodos utilizados apresentam paridades com o behaviorismo e

ocognitivismo[12]. A teoria do behaviorismo baseia-se na premissa de que o

formando responde a estímulos externos e, como tal, a aprendizagem passa

pelo reforço das respostas[13]. O intelecto, os sentimentos e as emoções são

aspectos pouco significativos no processo de aprendizagem. De acordo com

Birzer e Tannehill,[14]as técnicas mais utilizadas pelos formadores, quando

utilizam este método, passam por: instigar/sugerir, dar deixas, apresentar

exemplos, fazer simulações, exercícios de tarefa, e apresentar um reforço

positivo quando o formando executa de acordo com o que lhe foi ensinado.

Page 13: Andragogia policial

O cognitivismo, por sua vez, assume que a aprendizagem ocorre

através de uma exposição lógica da matéria a apreender. Os conteúdos, são

“despejados” pelo formador e as actividades mais utilizadas são: os

diagramas,os filmes, as entrevistas com peritos, as apresentações em sala de

aula e asleituras[15].

Trata-se de um método muito ordenado, planeado e linear do processo

de aprendizagem e poderá, por isso, não ser o mais adequado na

aprendizagem de algumas tarefas policiais. O trabalho da polícia é

multifacetado e requer várias abordagens para a resolução dos problemas.

Ainda assim, apresenta vantagens, é mais célere que outros métodos e trata o

aluno como um adulto.

Ainda assim, parece-nos que alguns temas ou disciplinas da formação

inicial da polícia poderão beneficiar da aplicação dos métodos

do behaviorismo e ocognitivismo, tal como, a utilização das armas de fogo, as

técnicas de intervenção policial, os procedimentos de investigação criminal, as

técnicas de uso da força e todos os outros que envolvam aspectos mais

técnicos e mecânicos do trabalho policial. Mas, de facto, ficarão de fora muitas

das competências exigidas, por exemplo, pelo policiamento de proximidade.

Recentemente, alguns autores têm defendido o uso

da andragogia para facilitar a aprendizagem dos polícias, nomeadamente no

que concerne à filosofia do policiamento de proximidade. Este modelo centra-

se na figura do aluno em detrimento da centralidade que é assumida pelo

formador na pedagogia e enfatiza as experiências e as interacções dos alunos.

O formador assume um papel de moderador e de facilitador da aprendizagem e

ajuda a desenvolver o pensamento crítico, o julgamento e a criatividade no

aluno[16]. A andragogia assenta no “empowerment”[17] ou delegação de

autoridade. Trata-se de atribuir às pessoas o poder, a liberdade e a informação

que lhes permitem tomar decisões e participar activamente na organização.

Page 14: Andragogia policial

As práticas andragógicas– arte ou ciência de ajudar os adultos a

aprender, distinguem-se das pedagógicas, antes de mais pelos seus

pressupostos quanto ao conceito de aprendente, ao papel da sua experiência

na aprendizagem, à disponibilidade, à orientação e à motivação para aprender,

os quais, pelo menos tendencialmente, atribuem aos adultos a capacidade para

se autodirigir[18].

Um dos aspectos fundamentais da andragogia centra-se na

experiência dos alunos. A experiência é uma fonte rica da aprendizagem,

nomeadamente quando se trata da resolução de problemas.

De facto, não é difícil de compreender que, enquanto adultos e quando

nos relatam uma qualquer prática ou teoria, a primeira tarefa que

desenvolvemos é compará-la com algo que se enquadre na nossa experiência

de vida. Confrontamos, verificamos as semelhanças, analisamos e reflectimos.

O papel do formador passa, pois, por ajudar os alunos a identificar o

problema e facilitar a procura das soluções adequadas utilizando a suas

experiências de vida e habilidades[19].

As vantagens deste método são essencialmente (1) centrar a

aprendizagem na experiência dos alunos, (2) tratar os alunos como adultos, (3)

adaptar a formação às necessidades de aprendizagem dos mesmos, e (4)

desenvolver o pensamento crítico, o julgamento e a criatividade na resolução

de problemas. As actividades mais utilizadas são: a discussão, osjogos, a

exploração de experiências e a colaboração activa. Birzer &

Tannehill[20] defendem que a andragogia poderá ser utilizada em muitos dos

temas abordados nas escolas de formação policial, nomeadamente naqueles

que estão relacionados com a resolução de problemas preconizada pelo

policiamento de proximidade, para a qual o behaviorismo e o cognitivismo não

são adequados.

Page 15: Andragogia policial

Na verdade, espera-se que o polícia não se limite a responder às

solicitações da população mas que tenha a iniciativa de identificar os

problemas da comunidade e de os resolver[21].

Exige-se pois que a formação forneça as ferramentas necessárias para

que os novos polícias utilizem o pensamento, sejam críticos e tenham bom

senso.

De acordo com os mesmos autores a utilização deste método pode

trazer vantagens significativas no ensino da comunicação interpessoal, da

diversidade cultural, da resolução de problemas, da mediação, da gestão de

conflitos e na relação da polícia com a comunidade e que os exercícios devem

centrar-se no controlo emocional, na adequação do comportamento, no

conhecimento da comunidade, na empatia, na resolução de conflitos e na

neutralidade.

[1] 1999

[2]Ross (2000)

[3] 1986

[4] 1991

[5] 1999

[6] A concepção de formação está estreitamente relacionada com o processo

de aquisição de conhecimento, de técnicas e atitudes necessárias ao

desenvolvimento de tarefas específicas. A educação, por sua vez, deve ser

entendida como o processo que permite ao indivíduo assimilar e desenvolver

conhecimentos, técnicas e valores e compreender que eles não estão

relacionados única e exclusivamente com uma série de actividades mas

simultaneamente com problemas que devem ser caracterizados, analisados e

resolvidos (Jaschke, 2007).

[7]Birzer & Tannehill (2001)

Page 16: Andragogia policial

[8] 1993

[9] 1999

[10] 2004

[11] Idem

[12] Idem

[13] Idem

[14] 2001

[15] Idem

[16] Idem

[17] A Directiva Estratégica n.º 10/2006 de 15 de Maio, da Direcção Nacional

da PSP, quanto a isto, refere que “os Agentes de proximidade irão ser sujeitos

a um determinado número de regras de empowerment ou delegação de

poderes e de responsabilização”.

[18] Imaginário (2004)

[19]Birzer & Tannehill (2001)

[20] Idem

[21] A Directiva Estratégica n.º 10/2006 de 15 de Maio, da Direcção Nacional

da PSP refere que “o policiamento de proximidade distingue-se do policiamento

tradicional dirigido para o incidente, adoptando uma abordagem orientada para

os problemas. Isto significa que a criminalidade denunciada, queixas e

chamadas telefónicas deixam de ser os únicos indicadores da acção policial.

Embora a polícia continue a reagir a este tipo de solicitações, passa

igualmente, e com a ajuda da comunidade, a identificar de forma continuada os

problemas que mais afectam o sentimento de segurança dos cidadãos e a

tentar resolvê-los, antes que estes assumam ou dêem origem a formas

criminais”.

Page 17: Andragogia policial

Alpert, G. P., & Dunham, R. G. (1997). Policing in urban American (3rd

ed.).Prospect Heights,IL: Waveland.

Bradford D. & Pynes, J. (1999). Police academy training: why hasn't it kept up

with practice? Police Quarterly, 2, 283-301.

Birzer, M. & Tannehill, R. (2001). A More Effective Training Approach for

Contemporary Policing. Police Quarterly, Vol. 4, No. 2, 233-252.

Birzer, M. & Tannehill, R. (2001). A More Effective Training Approach for

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Chappell A, Johnston D. (2004). Law Enforcement Training: Changes and

Challenges, Critical Issues in Policing.

Jaschke, H. G. et al, (2007) Perspectives of Police Science in Europe, Project

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Meadows, R. J. (1986). Beliefs of law enforcement administrators and criminal

justice educators toward the needed skill competencies in entry-level police

training curriculum. Journal of Police Science and Administration, 15, 1-9.

Ness, J. J. (1991). The relevance of basic law enforcement training - Does the

curriculum prepare recruits for police work: A survey study. Journal of Criminal

Justice, 19 (2), 181-193.

Ross, Darrell L. (2000). Emerging Trends in Police failure to train

liability. Policing: An International Journal of Police Strategies and Management,

23 (2): 169-193.

Page 18: Andragogia policial

O ENSINO POLICIAL: ENTENDER, FUNDAMENTAR E PLANEJAR

O ENSINO NA SEGURANÇA PÚBLICA

Ivenio Hermes

Page 19: Andragogia policial

1 O ENSINO DO ADULTO

Cada dia que passa o profissional da segurança pública se torna mais

alvo de processos educacionais dos mais interessantes possíveis.

Nossa sociedade está em franco avanço para não admitir mais que

assuntos atuais venham a ser esquecidos ou não repassados para aqueles

responsáveis pela sua segurança.

As entidades públicas e empresas se lançam sobre demandas de

mudanças emergentes que não podem mais esperar pelo próximo século ou

pelas gerações futuras.

O processo de ensino do policial é o adotado para se ensinar adultos,

principalmente em questões nevrálgicas que sempre foram coercitivas e

contundentes.

Adultos não são ensinados através dos dissabores da “palmatória”

estatal através das multas, da menor tolerância em determinados crimes e

delitos, pois é o que se observa nos “métodos” como a “Lei Seca” e outros.

Assim, policiais bem treinados para lidar com as questões atuais da

sociedade não podem mais ser ensinados através da brutalidade, humilhação e

desprezo pela sua condição humana, pois isso o levará a agir da mesma forma

em sua atuação profissional.

Esse tipo de ensino não cria raízes, pois apresenta o “convencimento”

pela punição.

Nos dias de hoje cada vez mais adultos aprendem a fazer uma vasta

gama de coisas baseadas nos estilos de vida de cada um.

Page 20: Andragogia policial

Como diz O’Connor:

Os estilos de aprendizagem são utilizados como filtros

construídos pelas pessoas e que são utilizados para

orientar suas relações com o mundo (O’Connor, 1997)

Os filtros são influenciados por fatores, tais como: idade, maturidade,

experiências vividas e podem mudar com o tempo.

Para que os policiais possam ser capacitados, para que seja possível

ensinar um adulto, muitos métodos foram desenvolvidos até chegarmos aos

preceitos estabelecidos pela Andragogia, que é uma arte de como ensinar

adultos.

Destarte, adultos se diferenciam das crianças porque:

• São motivados a aprender à medida que experimentam a satisfação

de suas necessidades e interesses.

• Estão dispostos a aprender desde que compreendam a sua utilidade

para resolver problemas e tarefas com que se confrontam na sua vida

cotidiana.

• Têm capacidade de ter pensamento crítico.

• Possuem experiências que servem de fonte de aprendizagem

• Sentem necessidade de compartilhar experiências de vida e

posicionamentos pessoais.

• Têm necessidade de se autodirigir; portanto, o papel do professor é

engajar-se no processo de mútua investigação.

• Possuem diferenças individuais que aumentam com a idade.

Observando as diferenças acima, é essencial a fundamentação de um

método de ensino específico e totalmente voltado para o policial.

Page 21: Andragogia policial

2 FUNDAMENTOS PARA AS AÇÕES FORMATIVAS

As ações formativas em todos os aspectos devem ser embasadas em

conhecimentos práticos e teóricos que precisam estar intrinsecamente

relacionados através de certos princípios que estimulem o aluno a querer

aprender.

Objetivamente precisamos lembrar que nossa área de capacitação é a

formação de adultos de diferentes idades e diferentes experiências intelectuais

e de vida pessoal e profissional.

Para juntarmos todos numa sala de aula com o objetivo de capacitá-los

a realizar uma determinada tarefa, precisamos conhecer princípios básicos de

educação de adultos.

O objetivo da Matriz Curricular Nacional 2009 é justamente nivelar todo

público das mais diversas categorias de profissionais de segurança pública

para que todos possam ter acesso ao conhecimento e saber como aplicá-lo na

vida profissional, sentindo-se motivado para aprender e até estimular outros

colegas ao mesmo.

Para Piaget, a construção do conhecimento se dá através de um

processo de “equilibração sucessiva”, ou seja, todo conhecimento que se

adquire tem que ser adaptado e organizado dentro do nosso processo

cognitivo.

Não podemos receber uma informação sem entender a aplicação dela

em nossa vida profissional, pois perderemos a vontade de aprender.

Ensinar por competência é a própria ação do professor, não há como

ensinar sem ser competente para essa atividade.

Page 22: Andragogia policial

O dicionário Aurélio define competência, como:

“Qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver

certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade,

aptidão, idoneidade”.

Como instrutor/professor/facilitador, é preciso ser participativo, sempre

motivador e inserido no processo como um amigo, um colega de aprendizado.

Por isso é fácil de adotar essa forma de ensinar, pois ele está inserido

no processo mesmo sabendo que não pode se distanciar do pensamento de

que ele é também um avaliador.

O que pode dificultar é não saber como diferenciar esse envolvimento

no processo de aprendizagem.

Em sua teoria, Malcolm Knowles, o autor que desenvolveu a

Andragogia, considera pontos interessantes e bastante atuais que evidenciam

por que um aluno se envolve ou não em um processo de aprendizado. Isso

inclui a valorização de experiências já vividas, a forma como o próprio adulto se

enxerga dentro de sala de aula, quais são as expectativas e motivações e

como isso se dá na “vida real”, de volta ao ambiente de trabalho.

E usando os conhecimentos do grande mestre Knowles, trago para nós

a seguinte reflexão sobre nossos alunos:

Adultos precisam saber por que eles necessitam saber de alguma

coisa (Necessidade de saber);

Por serem responsáveis por suas ações eles querem ser

respeitados (Autoconceito) por isso devem e podem ter conflitos de atitude com

o professor e isso detona o processo de aprendizado;

Page 23: Andragogia policial

Eles querem que suas experiências sejam respeitadas e isso

torna o ambiente intenso e deve ser bem dirigido (O papel das experiências);

Mas ele tem um ponto a seu favor que é a disposição para

aprender desde que ele anteveja a prática daquilo que ele vai aprender

(Prontidão para aprender);

O foco da aprendizagem dele é sua vida, suas tarefas e

atribuições e seus problemas (Orientação para a aprendizagem);

Mesmo tendo fatores externos como melhores salários,

promoções, etc. como fatores motivadores, alguns aspectos intrínsecos

também são coadjuvantes como o desenvolvimento de uma maior auto-estima,

satisfação no trabalho ou qualidade de vida(Motivação).

Na atividade de segurança pública é preciso muito mais tato na

capacitação, pois a bagagem de experiências e conhecimentos dos alunos é

muito mais ampla e difere quantitativa e qualitativamente.

Num mesmo ambiente de ensino teremos alunos com as mais diversas

formações acadêmicas reunidos com outros com as mais diversas experiências

de vida no trabalho.

Esse público tão diverso, precisa ter a mesma capacitação, portanto

precisam estar num mesmo patamar para se lograr êxito em suas

capacitações.

Mas só podemos alcançar essa meta com base num planejamento de

ensino orientado para esse público.

Page 24: Andragogia policial

3 O PLANEJAMENTO DO ENSINO

Segundo Vaconcellos (1995), o planejamento de ensino é a tradução,

em termos mais próximos e concretos, da ação de ensinar.

Indica uma atividade direcional, metódica e sistematizada que será

empreendida pelo professor junto a seus alunos, em busca de propósitos

definidos.

Em todas as áreas de trabalho o planejamento é fundamental para se

alcançar um objetivo.

As velhas máximas NHS (na hora sai) e NHTS (na hora tem que sair)

não se aplicam aquele professor que deseja realizar uma boa atuação docente.

Ele sabe que é preciso participação, elaboração e diferentes

metodologias de ensino para que organizadamente ele possa obter o sucesso

almejado em sua profissão.

Planejamento é a busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos

e objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, instituições,

setores de trabalho, organizações e outras atividades humanas.

O planejamento então tem a finalidade de se antecipar a problemas, de

organizar a ação educadora e finalmente atingir o objetivo de ensinar.

Também serve para apontar as falhas cometidas no processo para

correções futuras e melhoria na qualidade da educação.

Page 25: Andragogia policial

Ele envolve a previsão de resultados desejáveis, assim como também

os meios necessários para alcançá-los.

Planejamento de Ensino é o processo de decisão sobre atuação

concreta dos professores, no cotidiano de seu trabalho pedagógico,

envolvendo as ações e situações, em constantes interações entre professor e

alunos e entre os próprios alunos (PADILHA, 2001, p. 33).

Sant’Anna et al (1995, p. 19), diz que de planejamento trata do

“processo de tomada de decisões bem informadas que visem à racionalização

das atividades do professor e do aluno, na situação de ensino-aprendizagem”.

Portanto não há dúvidas de que planejar é uma ação básica.

De que precisamos adotar o planejamento como ferramenta para o

sucesso das ações educacionais voltadas para o público policial, seguindo

fundamentos para ações formativas que formarão opiniões, quebrarão

paradigmas e construirão instituições de segurança pública mais fortes,

devidamente aceita pela sociedade que apoiará as ações pautadas nessa

forma de ensino, pois a credibilidade estará alicerçada nos pilares da boa

educação.

Sim, é possível reeducar policiais se todos esses fatores que norteiam

essa forma de ensino forem respeitados e praticados no processo de troca

entre o aluno e o instrutor, e com certeza o ensino policial com base na

andragogia se tornará uma prática mais constante em todos os âmbitos da

segurança pública.

Page 26: Andragogia policial

REFERÊNCIAS: CANDAU, Vera Maria (Org.). A Didática em Questão. 7 ed. Petrópolis: Vozes,

1983.

CANDAU, Vera Maria. Rumo a uma nova didática. Petrópolis: Vozes, 1988.

REALI & MIZUKAMI. Formação de professores, tendências atuais. São Carlos.

EDUFSCAR. 1996.

PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-

pedagógico da escola. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001.

SANT’ANNA, F. M.; ENRICONE, D.; ANDRÉ, L.; TURRA, C. M. Planejamento

de ensino e avaliação. 11. Ed. Porto Alegre: Sagra / DC Luzzatto, 1995.

KNOWLES, Malcolm S. (1950). Informal adult education: a guide for

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TAFNER, Malcon, MSc. A Construção do Conhecimento Segundo Piaget.

Disponível

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Matriz Curricular Nacional: Para Ações Formativas dos Profissionais da Área

de Segurança Pública. Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de

Segurança Pública/SENASP. 2009.

Publicado originalmente em:

http://www2.forumseguranca.org.br/content/o-ensino-policial

Page 27: Andragogia policial

A CONSTRUÇÃO DE UMA ANDRAGOGIA

PRÓPRIA PARA A FORMAÇÃO POLICIAL

MILITAR

Leandro Rodrigues Doroteu1

1 Informações Sobre o Autor

Mestre em Linguística pela Universidade de Franca. Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo CAES-Polícia Militar do Estado de São Paulo. Pós-graduado em Direito Público Docência do Ensino Superior e Direito Empresarial. Cursou CFO na APMB Direito na UNIP

Resumo: Estudos ligados às áreas de interesse da atividade policial militar constituem um ramo de ciência que vem conquistando o reconhecimento dos órgãos governamentais de educação, as Ciências Policiais ou Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Dentre essas áreas de interesse está a formação policial militar que conta com rituais e técnicas próprias, com base nos valores da hierarquia, disciplina, civismo, honestidade, ética, e Direitos Humanos vêm formando policiais no Brasil há aproximadamente dois séculos. Trata-se de um estudo que procura demonstrar, à luz das Ciências da Educação na sua subárea Educação de Adultos também conhecida como Andragogia, como a qualificação do operador de segurança pública dentro de padrões legais aceitáveis, levando a conhecer e a praticar táticas e técnicas operacionais que proporcionarão uma efetividade dos procedimentos por parte de policiais. Com uma aplicação correta da lei buscando a preservação da vida a todo custo e com respeito aos valores constitui uma Andragogia própria. Palavras-chave: Polícia Militar; Formação; Andragogia; Educação; Valores.

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1. INTRODUÇÃO

Ensinar é algo que exige uma técnica específica que, para tanto, existe

a Pedagogia que é um curso superior na área das Ciências da Educação que

prepara professores para ensinar crianças e adultos.

Na educação superior principalmente nos cursos que formam

bacharéis e nas disciplinas específicas da área do conhecimento em que se

está formando esse bacharel há uma dificuldade na formação para as práticas

pedagógicas dos professores.

A formação policial militar é ainda mais específica que a formação

adquirida na educação superior e possui algumas disciplinas práticas e teóricas

também muito específicas e com práticas pedagógicas próprias.

Quando se fala na preparação de policiais em geral o termo correto é

formação que não é sinônimo de ensino.

O ensino é um processo complexo, caracterizado por competências e

habilidades específicas e especializadas, as quais visam a realização da

aprendizagem, através da reconstituição do conhecimento e da aquisição

crítica da cultura aperfeiçoada, baseado em altos padrões de qualidade e nos

fundamentos da ética.

Abstract: Studies related to the areas of interest of military police constitute a branch of science that has gained recognition from government educational agencies, the Police Science or Police Security and Public Order Sciences. Among these areas of interest is military police training that has its own rituals and techniques, based on the values of hierarchy, discipline, civility, honesty, ethics, and Human Rights have formed cops in Brazil for nearly two centuries. This is a study that seeks to demonstrate in the light of Educational Sciences in its subarea of Adult Education also known as Andragogy, as the qualifications of the operator of public safety under acceptable legal standards, leading to learn and practice tactics and operational techniques which will provide effective procedures by the cops . With a correct application of the law seeking to preserve life at all costs and with respect to the values, constructing an own Andragogy. Keywords: Military Police; Training; Andragogy; Education; Values.

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Já a formação é um rito contínuo de evolução e aperfeiçoamento,

pautado num conjunto de relações, as quais têm como objetivo a preparação

de trabalhadores competentes, com responsabilidade pela busca do próprio

desenvolvimento profissional e pela observação das regras do setor em que

atuam, sendo responsáveis por aquilo que está na área de ação de seu poder.

Assim, a formação pressupõe a mudança gradativa das qualidades

intelectuais e a evolução para o alcance de habilidades, conhecimentos,

atitudes e hábitos.

Conforme os quatro pilares da educação delimitados pela UNESCO

por Delors (2001) Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a viver

junto, Aprender a ser. Com base na compreensão das características do

trabalho e das práticas cotidianas, consolidando a identidade profissional e

social.

A ação do policial, operador de segurança pública está diretamente

ligada a sua preparação, sendo, portanto ensinado a agir nas mais extremas

situações, mantendo o equilíbrio emocional que é muito exigido nas

ocorrências e, acima de tudo, o respeito à vida e aplicação correta das leis.

A formação dos agentes de Segurança Pública é o processo crucial

para a melhoria dos padrões de atuação, pois se espera que com uma

formação robusta e consolidada se minimize os erros e abusos.

Atualmente existe um consenso da necessidade de um trabalho

intenso de repercussão nacional para a qualificação da formação em

Segurança Pública, a qual aperfeiçoa o compromisso com a educação e a

cidadania, buscando permanentemente, os progressos científicos e o

conhecimento acumulado.

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A procura prioritária é, sobretudo, identificar e indicar formas concretas

de realização e aperfeiçoamento deste processo que constitui e passa por essa

Andragogia específica.

E pelo entendimento e difusão das melhores práticas andragógicas que

apoiarão uma qualificação específica dos professores, instrutores e monitores

envolvidos no processo formativo dos policiais militares.

2. ESTUDOS SOBRE FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR NO BRASIL,

UM DIÁLOGO COM A ANDRAGOGIA

Atualmente é possível encontrar estudos, trabalhos acadêmicos e

manuais que, em geral, relatam práticas exitosas de seus autores.

Antes disso, algumas disciplinas específicas e essenciais para a

atividade policial militar, como tiro, eram ministradas com base em manuais das

forças armadas, que não estão adequados ao contexto da atividade prática da

polícia militar de proximidade diária com o cidadão. Onde esses conhecimentos

são exercitados e testados.

Um novo formato de treinamento policial militar é recomendado por

Alexandre Flecha Campos (2008) utilizando-se de alguns fundamentos de

Andragogia trazendo conceitos de educação com a obra, The Meaning of Adult

Education – traduzido: O Significado da Educação para Adultos de Eduard. C.

Lendeman (1926).

A proposta do treinamento pensado sob esse prisma é a aplicabilidade

das técnicas de ensino específicas para adultos, já utilizadas em outros

contextos como na educação superior e corporativa.

Em relação às teorias da educação, o certo é que na atual sociedade

onde a onda de informações e sua circulação ocorrem em proporção nunca

antes vista, caberá ao professor, com foco no aluno, promover a aprendizagem

significativa.

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Que é possível efetivamente apenas quando o professor, mediante o

processo intencional de ensino, promove as condições para que o aluno opere

físico, mental e emocionalmente sobre o objeto do conhecimento, e dele se

apropria. (LIBÂNEO; 2001).

Sob essa perspectiva abre-se o espaço para que se reflita acerca da

professoralidade policial militar que é a preparação dos professores que já

domimam sua área técnica e devem passar a dominar os saberes didáticos

específicos para o seu público e conteúdo a ser aprendido, já que o foco está

na aprendizagem e não mais no ensino.

A Andragogia é definida como ciência e arte atribuída ao campo da

Antropologia, mas imersa de forma permanente na Educação, desenvolvida por

meio da prática fundamentada nos princípios da participação e da

horizontalidade.

Como um processo, orientado com características sinérgicas pelo

facilitador do aprendizado, que permite a incrementação do pensamento, a

autogestão, a qualidade de vida e a criatividade do participante adulto, e que

tem como propósito proporcionar uma oportunidade para que se atinja a auto-

realização com a aquisição dos novos saberes. (ALCALÁ,1999).

A andragogia aqui proposta é baseada nos mesmos princípios

educacionais, mas que deve promover a aquisição não só de saberes, mas

também dos valores indispensáveis à perpetuação da atividade policial

ostensiva e preventiva.

Sem expressar a visão da Andragogia específica aqui proposta,

Ricardo Balestreri (1998), ao escrever acerca do ensino de Direitos Humanos

na Segurança Pública, assevera que a instrução deve atender aos aspectos da

legalidade (conceito, doutrina e leis), técnica (procedimentos e métodos) e

competências, se busca os conhecimentos, as habilidades e as atitudes.

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Essa pretensão é a mesma que se busca nas Instituições de Ensino

Superior e nos cursos corporativos que trabalham com público adulto.

Mas tal pretensão ainda é insuficiente para alcançar as necessidades e

pretensões da formação policial militar que objetiva moldar um caráter e

condicionar comportamentos permanentemente e em diversos contextos de

vida do policial.

A Andragogia aplicada à formação policial militar deve levar em conta

o local onde é realizada a formação, o ambiente policial militar (disciplinas

teóricas e práticas) o ambiente onde praticado o aprendizado, as ruas, ou

simulacro destinado ao treinamento.

A mudança de comportamento que se espera desse policial militar que

é fruto da socialização realizada em um novo ambiente, o ambiente militar.

A interiorização no indivíduo das competências utilizando-se das

técnicas e métodos adequados na formação.

Produzirá um resultado eficiente e eficaz, capaz de elevar a formação a

um nível de excelência e superar obstáculos de diversas naturezas com o

intuito de concentrar diferentes tecnologias e inovações de modalidades de

desenvolvimento peculiares às atividades de segurança pública.

A aprendizagem se realiza no aluno e para isso o professor deve ser a

ponte e não um abismo entre o aluno e o conhecimento “Ensinar não é

transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a

sua construção” (FREIRE; 1996; p. 16).

A citação do educador brasileiro é importante no contexto de formação

de policiais. Ambiente onde o professor que comumente recebe o nome de

instrutor por vezes se arvora dessa condição, para até, provocar humilhação e

constrangimento no aluno.

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Os constrangimentos e humilhações eram muito comuns nas aulas de

tiro, que resultavam na formação de um policial truculento uma vez que tendia

a repetir na população aqueles dissabores que havia experimentado na aula.

O Coronel Nilson Giraldi da Polícia Militar do Estado de São Paulo

desenvolveu um método que leva o seu nome e nesse método foi abolida todo

e qualquer tipo de prática vexatória o foco é formar um policial à luz dos

Direitos Humanos e respeitador deles.

Acerca da aprendizagem o Coronel Nilson Giraldi (2008): “o que se

ouve-se esquece; o que se vê é lembrado; e o que se faz se aprende”

depreende-se que uma ação Andragógica específica é a simulação da

realidade e a repetição exaustiva tanto dos fundamentos do tiro, como dos

procedimentos, do tiro em sí.

No mencionado método a verbalização é treinada em ambientes que

simulam a realidade sendo uma alternativa para resolução da crise antes do

efetivo uso da arma de fogo.

E dentre outras vantagens o policial ainda é condicionado, no

treinamento prático, ao uso adequado do seu armamento fazendo constante

análise do nível de ameaças que está enfrentando.

Da educação andragógica aplicada à formação policial se espera que

sejam respeitados os Direitos Humanos e que prepare o aluno para em toda a

sua carreira respeitar os valores da instituição dentre eles a hierarquia e a

disciplina.

A promoção da mudança comportamental, como o correto uso dos

uniformes, comportamento social, postura entre subordinados, pares e

superiores.

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Também envolve a aquisição de determinados saberes para uso em

contextos individuais ou coletivos.

De acordo com Bruner (1969) “aprender é desenvolver a capacidade

de resolver problemas e pensar sobre uma situação”. O policial militar que de

fato aprende deve desenvolver o que é chamado de disciplina consciente que

consiste em fazer sempre o que se espera dele. Há outra expressão relativa a

isso “se policiar”, ser capaz de manter aquela conduta ou comportamento

esperado independente de fiscalização.

2.1 A formação policial militar e o preparo para implicações

fisiológicas e psicológicas decorrentes das atividades profissionais

Toda a profissão tem os seus percalços e as suas dificuldades, a

própria etmologia da palavra trabalho que vem do latim tripalium (ou trepalium),

que era, a princípio, um instrumento utilizado na lavoura.

Nos fins do Século VI, o termo passou a também designar um

instrumento romano de tortura utilizado contra os escravos.

A palavra é composta por "tri" (três) e "palus" (pau) - o que poderia ser

traduzido por "três paus".

Argumenta-se que daí surgiu o termo tripaliare (ou trepaliare), que

significava acometer alguém ao tripalium.

Além dessa dificuldade normal a atividade policial militar pode sujeitar o

policial a confrontos onde a sua vida é exposta a risco iminente.

Nessas situações o policial deve utilizar força letal contra o indivíduo, o

que pode ensejar situações estressantes ao extremo. (KURZ: 1997, p.3)

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“Estudos comprovam que no momento do emprego da força letal o ser

humano, em situação de estresse extremo, tende a perder o seu raciocínio

intelectual, trabalhando apenas com seu raciocínio intuitivo ou por meio de seu

condicionamento psicomotor.

Dessa forma, em uma possível situação de perigo, onde o policial entra

em uma situação de estresse, seu conhecimento intelectual de quando atirar

fica prejudicado. CAMPOS” (2008).

A Andragogia específica deve treinar o policial em situações que

proporcionem um estresse semelhante ao real e condicionem o indivíduo para

respostas efetivas e dentro da lei mesmo com o comprometimento

momentâneo de seu conhecimento intelectual.

Lembrando que esse fator fisiológico não é levado em consideração

pelo Direito que responsabiliza os agentes operadores de segurança pública

pelos seus atos que não estajam amparados pelas excludentes de ilicitude, que

extrapolem o limite por elas impostos ou que constituam erro na execução.

Dessa forma, observa-se que a formação policial militar não pode ser

resumida a uma formação acadêmica.

Além do preparo para o enfrentamento que está vinculado ao lado

técnico da profissão deve ser observada também a formação militar que exige

um condicionamento comportamental específico dessa categoria de

profissionais que é conhecida e esperada pela sociedade.

Castro (1990; p. 43) exemplifica bem a tensão que se encontra a

formação do militar na sociedade atual:

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“A construção da identidade social do militar tem lugar em meio a uma

tensão entre uma “visão ideal” que permanece aproximadamente a mesma

desde a década de 1930, afirmando uma posição de superioridade moral,

prestígio e distinção sociais dos militares em relação aos “paisanos”, e a

vivência pelos cadetes do “mundo de fora”, de experiências que muitas vezes

não confirmam ou mesmo cantradizem isso”.

Tal condicionamento pode ser observado na postura, no uso de

uniformes e na ordem unida momentos em que a organização e a disciplina

dos militares são exercitadas e postas à prova.

Para essas atividades é necessário um preparo do corpo, do

organismo, pelo fato de não estar se tratando simplesmente de atividades

intelectuais.

Relacionadas à formação militar, que ocorre nas escolas e academias

militares, onde indivíduos vocacionados conseguem, após alguns ritos de

passagem, galgar de forma progressiva a sua formação policial e militar.

“Nesse contexto, a adoção de um estilo militar de organização é

incentivada com o objetivo de mobilizar os policiais para reagir, de maneira

aderente e disciplinada, a fim de responder imediatamente às situações

apresentadas; o modelo de prontidão militar é apontado como o que, por

excelência, é capaz de complementar de maneira supostamente mais eficiente

a ação da polícia para controlar o crime.” (PONCIONI; 2007; p. 03)

A formação militar é a forma pela qual a instituição, por meio da

reprodução de aspectos culturais e tradicionais moldam os neófitos para que

estes adquiram aspectos semióticos de um militar, mais conhecida como

estética militar.

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A ordem unida e o Treinamento Físico Militar utilizado na formação dos

policiais militares exigem gestos e atos sincronizados, portanto uma

preparação e exercício do corpo e da mente.

Atividades que acarretam um condicionamento físico e mental

resultando no condicionamento de reflexos que serão os responsáveis pela

exteriorização dos gestos e das atitudes do policial militar formado.

3. A PROFESSORALIDADE E A CONSTRUÇÃO DA ANDRAGOGIA

ESPECÍFICA

Tema que tem causado grande reflexão no meio acadêmico são a

formação e o papel dos professores na educação superior, principalmente os

professores de cursos onde se formam bacharéis, pois estes, em regra, não

possuem uma formação específica em disciplinas relacionadas às práticas

didáticas.

Para a prática docente exige-se, além do conhecimento teórico na sua

área do saber, o desenvolvimento de um processo de formação continuada em

que a prática docente e os processos sejam fundados para a reflexão.

Houve uma época no Brasil, o acesso à educação superior ainda era

muito restrito, e os professores tinham a sua formação nas universidades da

Europa.

Com uma primeira expansão dessa modalidade de ensino os bons

profissionais, aqueles com reconhecimento no mercado, foram agregados

como professores nas Instituições de Ensino Superior.

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Mais recentemente o MEC passou a exigir formação mínima de

especialista que pode chegar a um porcentual de 50%, e a outra metade do

corpo docente formada por mestres e doutores, sendo que quando se aumenta

o número de mestres e doutores melhora a avaliação da instituição.

Fazendo uma comparação do ensino policial militar com o sistema civil

de ensino ele está no momento de transição entre quando os profissionais

reconhecidos foram chamados para dar aulas e especialistas mestres e

doutores devem compor o quadro de professores.

As polícias militares sempre certificaram os seus cursos com base no

Artigo 83 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira e por décadas as

instituições e seus profissionais se intitulavam “Bachareis em Segurança

Pública”.

Sem que de fato houvesse tal título, já que não havia a regulamentação

da profissão ou o curso tivesse passado por processo de credenciamento no

sistema civil de ensino.

O cenário atual aponta para a busca de regulamentação legal da

profissão ocorrida, por exemplo, na Polícia Militar do Estado de São Paulo por

meio da Lei Complementar 1036/2008 que regulamenta a graduação e pós-

graduação dos profissionais de segurança pública do estado criando, dentre

outros, o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, o

Mestrado e o Doutorado Profissional em Ciências Policiais de Segurança e

Ordem Pública. Outro caminho foi adotado Pela Polícia Militar do Distrito

Federal que credenciou junto ao Ministério da Educação o Instituto Superior de

Ciências Policiais (ISCP) que teve autorização para oferecer os cursos de

Tecnólogo em Segurança Pública e Bacharelado em Ciências Policiais, além

de já ter oferecido alguns cursos de pós-graduação lato sensu.

Page 39: Andragogia policial

Mas seja qual for a opção pelas instituições de formação,

especialização, aperfeiçoamento ou altos estudos de policiais militares a

formação docente é tema de atual relevância que não pode ser descartado.

Inicialmente trataremos da demoninação atribuída tradicionalmente nas

instituições militares relacionadas a certas funções desses profissionais.

Professor, Instrutor, Monitor, auxiliar e Tutor.

Quando se refere a professor, o Dicionário Michaelis (2013) Atribui o

seguinte significado ao termo: “sm (lat professore) 1 Homem que professa ou

ensina uma ciência, uma arte ou uma língua; mestre. 2 Aquele que é perito ou

muito versado em qualquer das belas-artes.” No aspecto legal, assim

considerado pela Justiça do Trabalho, professor é o profissional que possui o

requisito legal e registro profissional no Ministério da Educação.

O requisito legal para ministrar aulas em cursos técnicos é possuir no

mínimo graduação, para os cursos superiores a formação mínima é pós-

graduação latu sensu, especialização.

O termo professor é pouco utilizado no ensino policial militar e quando

utilizado é relacionado a civis que são contratados especificamente para

ministrar aulas de determinadas disciplinas mais afetas ao mundo civil como

Metodologia Científica, Sociologia, Filisofia, Psicologia, alguns ramos do Direito

e algumas áreas da Administração que não são específicos da atividade

policial militar.

Modernamente a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP)

em material relacionado às ações formativas na área de segurança pública

utiliza sempre o termo professor aos profissionais que se encarregam de tal

prática, ao tratar da competência desse profissional menciona:

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“Cabe ao professor assumir um papel ativo e crítico, viabilizando

experiências, abrindo espaços para que os profissionais da área de segurança

pública possam ampliar, aprofundar, transferir conhecimentos e refletir sobre a

prática e as relações desta com o conhecimento e com o mundo”. (SENASP,

sem ano, p. 17)

Interessante ressaltar que o mencionado material, que é dirigido para

todos os agentes encarregados da segurança pública no Brasil, não há

qualquer restrição ou limitação da atuação de agentes de segurança pública na

função de professor relacionada a questões hierárquicas.

Tal constatação reflete uma realidade já encontrada em diversas

polícias militares onde independentemente de grau hierárquico o policial militar

que detém conhecimento técnico pode ser professor/instrutor de superiores

hierárquicos sem que com isso haja a quebra da disciplina ou da hierarquia, o

importante é a prevelência de um ambiente de respeito das duas partes.

O termo instrutor, certamente o mais utilizado no meio policial militar,

reporta aos detentores de cadeiras de disciplinas específicas da área policial

militar.

O Dicionário Michaelis (2013) atribui o seguinte significado ao termo:

“adj+sm (lat instructore) 1 Que, ou aquele que dá instruções ou ensino. 2

Que, ou aquele que adestra.”

Adestramento foi muito utilizado como referência ao treinamento de

militares e apesar de ser muito usual no treinamento de aminais o significado

dicionarizado do termo remonta ao ensino, às faculdades da mente e partes do

corpo.

Page 41: Andragogia policial

Voltando ao instrutor, é um termo de utilização ampla tanto em policias

militares como nas forças armadas como se pode observar no Manual do

Instrutor documento publicado pelo Exército Brasileiro em 1997 que assim

conceitua:

“Este manual tem por finalidade orientar aqueles que

ministram sessões de instrução ou de aula no âmbito do

Ministério do Exército e, para isso, considera que todos os

oficiais, subtenentes e sargentos, como especialistas em

assuntos militares, devem possuir os conhecimentos

específicos de sua profissão e estar capacitados a ajudar

na aprendizagem desses conhecimentos por seus

instruendos. No amplo conceito da palavra instrutor

incluem-se os professores militares e civis dos Quadros

do Magistério Militar e Complementar de Oficiais

(Magistério).” (MINISTÉRIO DO EXÉRCITO, 1997, p. 7)

O documento atribui, no âmbito do Exército Brasileiro, um conceito

abrangente de instrutor que engloba os professores militares e civis. Muito

além de um termo que designa a atividade profissional de interagir e instigar o

aluno para que este consiga, a partir de suas próprias reflexões

fundamentadas, após a observação de algum fenômeno, construir a sua

aprendizagem.

O termo e o papel do instrutor não encontram tanto respaldo científico

nas Ciências da Educação como a atividade docente praticada pelo professor.

Portanto, a aplicação na área de segurança pública preconizada pela

Secretaria Nacional de Segurança Pública e praticada por algumas polícias

militares é pautada em referenciais teóricos buscados no meio acadêmico

como: “O Processo de Construção do Conhecimento Segundo Piaget”

(SENASP, sem ano, p. 7).

Page 42: Andragogia policial

Com abordagens metodológicas que levem em conta a

contextualização, a interdisciplinariedade e a transversalidade.

Por meio da contextualização o professor aproxima os conteúdos

ministrados o máximo possível da realidade profissional do aluno, promovendo

uma interação entre o sujeito e o objeto e retirando o aluno da posição de

expectador passivo.

A interdisciplinariedade é a proximidade das disciplinas a serem

ministradas de forma que não haja fracionamento das informações e como

consequência do diálogo entre as disciplinas ocorre a contextualização.

A transversalidade diz respeito a determinados temas como Direitos

Humanos que passam a se relacionar com todos os demais conteúdos do

currículo que e são trabalhados a partir do enfoque da disciplina

transversalizada, como tem ocorrido com as aulas de tiro onde se aplica o

Método Giraldi. (SENASP, sem ano)

Monitor que é aquele que atua em conjunto com o professor

conduzindo os alunos à aprendizagem, utilizado no ensino pré-escolar e nas

séries iniciais do ensino fundamental.

Tem o seu fundamento e necessidade de sua utilização no ensino

policial militar principalmente em disciplinas práticas nas quais um único

professor não seria capaz de dispensar a devida atenção a todos os alunos.

E os monitores são aqueles que acompanham, detém conhecimentos,

mas o professor é que dirige o processo.

No contexto do Exército Brasileiro a função de monitor é

desempenhada por subtenente ou sargento com a seguinte conceituação:

Page 43: Andragogia policial

“Monitor é o militar que auxilia o instrutor no planejamento

e preparação, na orientação, no controle e avaliação da

sessão de instrução ou aula.

Este monitor é geralmente um sargento, porém em cursos ou estágios

para oficiais também pode ser um oficial.” (MINISTÉTIOS DO EXÉRCITO,

1997, p. 13)

No manual do Exército Brasileiro há ainda, um nível que poderia ser

classificado como abaixo do monitor, a função de auxiliar que é atribuída a

cabo ou soldado, “Auxiliar é o cabo ou soldado engajado que coopera

principalmente na preparação e na orientação da sessão de instrução.”

(MINISTÉTIOS DO EXÉRCITO, 1997, p. 13)

A atividade policial militar possibilita que haja um policial na graduação

de cabo ou soldado que possua as qualificações necessárias e, dessa forma,

possa atuar como professor de outros policiais.

As conceituações de instrutor, monitor ou auxiliar, empregadas nas

forças armadas servem muito bem e estão adequadas ao contexto de emprego

dos seus efetivos.

As polícias militares, apesar da idêntica organização militar, empregam

os seus efetivos em frações reduzidas já que tem que cobrir a maior área

possível com o seu efetivo, ou emprega policiais em tipos especializados de

policiamentos como policiamento de choque, com cães, montado, trânsito

urbano ou rodoviário, escolar, etc.

Em ambos os casos de policiamento territorial ou especializado o

policial militar, seja qual for a sua graduação, está habilitado a solucionar a

situação que se depara, acionando um superior somente em situações

especiais.

Page 44: Andragogia policial

Dessa forma é possível que haja um policial militar com especialização

na área, experiência profissional e interesse em atuar na

formação/especialização de outros policiais.

3.1 A professoralidade na educação superior

Professoralidade é um termo técnico ligado à área da didática que

surgiu a partir do momento em que pesquisadores constataram a necessidade

de se repensar a atuação dos professores principalmente aqueles que atuam

na educação superior.

Já que a exigência de pós-graduação é apenas um requisito legal em

uma parcela desses cursos sequer há um módulo de formação docente e o que

se observa é a reprodução de aulas que esses professores tiveram quando

alunos e agora se espelham naqueles professores que mais lhes cativavam.

“Ao partimos da pressuposição de que não existe preparação prévia

sistematizada para ser professor da educação superior, entendemos que a

aprendizagem docente e, sua conseqüente professoralidade instauram-se ao

longo de um percurso que engloba de forma integrada as idéias de trajetória e

de formação, consubstanciadas no que costumamos denominar de trajetórias

de formação.” (ISAIA, 2003, p. 245)

A simples reprodução de aulas sem um pensar constante e consciente

da atividade gera riscos já que nesse caso não são levados em conta diversos

fatores que estão diretamente implicados no processo.

Bem como, atualmente há a difusão das informações na internet, o que

faz com que o professor não seja mais o único detentor da informação que a

traz para o aluno, agora lhe cabe proporcionar o pensar reflexivo a partir do

maior conjunto de informações possível contextualizadas com a aula.

Page 45: Andragogia policial

A professoralidade está ligada a esse papel de transformador e assim,

pensando no professor como esse sujeito promotor de transformação interna:

“Tal perspectiva nos possibilita pensar a professoralidade

a partir da atividade realizada pelo sujeito, para produzir-

se como professor, na qual se faz necessário a adoção de

meios e procedimentos com vistas à apropriação de

conhecimentos/saberes/fazeres próprios à área de

atuação docente,” (ISAIA e BOLZAN, 2005).

O ensino militar que teve o seu espaço reservado na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional recebendo equiparação ao sistema civil de

ensino, não é um ensino massificado como ocorre atualmente com a educação

superior.

É muito seletivo em seu processo de seleção para ingresso, não tem

vagas ociosas ou pressão mercadológica, e apesar de na sua quase totalidade

não se sujeitar aos processos avaliativos governamentais tem instituições de

ponta com pesquisa e desenvolvimento e profissionais disputados no mercado

de trabalho.

Já as polícias militares, inseridas nesse sistema de ensino trabalham

pesquisam e desenvolvem soluções na área de Ciências Sociais Aplicadas e

existe uma cobrança social pela excelência na formação, especialização,

aperfeiçoamento e altos estudos de seus profissionais.

Esse nível de excêlencia jamais será alcançado sem que se passe pela

sistematização e difusão da preparação de seus professores a partir das

condições específicas que cercam o processo de aprendizagem.

Page 46: Andragogia policial

3.2 A professoralidade policial militar para Andragogia específica.

Como mencionado anteriormente, a Secretaria Nacional de Segurança

Pública traz bases iniciais de um tratamento científico do processo de ensino-

aprendizagem no contexto da segurança pública brasileira.

Mas essa proposição é genérica e não leva em conta questões

específicas que permeiam as polícias militares. Para Libâneo:

“Há outros fatores que influenciam no processo de

assimilação ativa e no estudo, como a incentivação, as

motivações do aluno para o estudo, influência da

personalidade e das capacidades dos professores, do

ambiente escolar, das relações afetivas e emocionais, da

organização do processo de trabalho docente a nível de

instituição [...]”. (LIBÂNEO, 1994, p.33)

Assimilar a formação, aprender, é um processo dinâmico e pessoal de

alta complexidade principalmente quando ocorre em um contexto de

socialização militar.

Envolve influências não só ambientais, mas também as inerentes ao

próprio sujeito que aprende. Estudos etnográficos já comprovaram que alunos

mais adaptados à doutrina militar apresentam melhores resultatos quando

comparados aos que resistem.

Assim sendo, a condução do processo de ensino requer uma

compreensão segura das condições externas e internas que influenciam a

aprendizagem e, também, do entendimento do modo como se processa e

como as pessoas aprendem no contexto policial militar.

Page 47: Andragogia policial

O professor policial militar está inserido em um contexto social

específico e sofre as pressões desse contexto, tanto internas quanto externas.

Na falta de um apoio institucional cabe a ele ser o último mediador

desses conflitos que acarretam consequências diretas na formação de seus

alunos.

Apesar a existência de cursos técnicos na área como Curso de

Técnicas de Ensino, Formação de Formadores ou a própria Especialização em

Docência do Ensino Superior, mais do que conhecer os conceitos, o que é

oferecido por esses cursos, a proposta é de repensar e alinhar as práticas

Andragógicas específicas.

O repensar e alinhar as práticas requer uma atitude de profissionalismo

da atividade docente no meio policial militar. Para tanto, pressupõe-se que no

mínimo se busque os traços propostos por Cruz (apud LEITINHO, 2008, p. 81):

“compromisso educativo, domínio da matéria, reflexividade e capacidade para

trabalho em grupo”. Algumas questões já estão superadas no meio policial

militar como o escalar professor para determinada disciplina.

Hoje os professores são voluntários, portanto, já pressupõe o

compromisso educativo, o domínio da matéria é um pressuposto básico que

deve ser avaliado no momento de vinculação do professor com a disciplina a

ser ofertada, a capacidade de reflexividade será fruto da formação como

docente e deve estar calcada nas bases e valores institucionais.

A capacidade para trabalho em grupo é praticamente que inerente aos

militares, essa é adiquirida durante a formação, mas pode haver alguma

dificuldade naqueles policiais que devido o grau hierárquico não receberem

formação específica par direcionar tais trabalhos.

Page 48: Andragogia policial

Espera-se do professor policial militar que consiga unir a sua práxis

teórica ao contexto prático, entre a finalidade do conteúdo e a ação policial,

entre o saber e o fazer, entre a concepção e a execução.

A consciência crítica com o embasamento técnico que pode ser

utilizada, por exemplo, em dinâmicas como estudos de casos. Jamais deve ser

esquecido ou relegado o contexto social em que ocorre a prática.

A atividade criativa é bem vinda com a interligação de análise e crítica,

superação e propostas de ação. A docência é permeada de significado

ideológico e a ideologia predominante é a ideologia policial militar. (VEIGA,

2010)

A construção proposta é de cunho pedagógico, é a reelaboração do

trabalho pedagógico que é mais amplo que o trabalho docente.

O trabalho docente que é a mediação entre os alunos e a reflexão que

promoverá a aquisição das competências, habilidades e atitudes, objetivos

propostos inicialmente no momento da elaboração do Plano de Ensino

verdadeiro contrato entre professor, instituição e alunos. O êxito dessas

atividades resultará no desenvolvimento da transformação da personalidade do

militar em formação.

CONCLUSÕES

O ensino policial militar, uma parcela de o ensino militar,

regulamentado no Artigo 83 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(1996), do ponto de vista prático, é pouco estudado e debatido no meio

acadêmico.

Seja pela pouca abrangência se pensarmos no número de instituições,

docentes ou alunos.

Page 49: Andragogia policial

Pelo reduzido número de pessoas a ele ligadas que também atuam no

campo acadêmico, ou mesmo pelo simples desconhecimento.

A falta de reflexão acadêmica acarreta prejuízos no seu

aperfeiçoamento enquanto prática.

Na falta de produção específica são aplicados conceitos e técnicas da

educação superior, da educação corporativa.

Mas em sua maior parte são aplicadas técnicas próprias que passaram

por adequação no máximo para atendimento das diretrizes relativas ao respeito

aos Direitos Humanos.

Não é comum o tratamento específico dessa área de formação de

adultos apesar da existência de um público, conteúdos, técnicas e táticas

profissionais, ambiente cultura e objetivos específicos.

A reflexão sobre o processo ainda é incipiente.

Apesar do distanciamento que há entre o ensino praticado na caserna

policial militar, se há um despreso em relação ao processo o resultado afeta a

coletividade.

Pois a melhor prestação do serviço de segurança pública, as pesquisas

que podem resultar em melhores resultados práticos, ou mesmo um

profissional melhor formado e mais motivado e consciente de sua missão, de

seu papel social e de seu valor passa pelo processo de formação.

Processo de formação que já se espelhou, o que não ocorre mais, na

formação dos profissionais das forças armadas, formação de combate onde do

outro lado da linha está o inimigo.

Page 50: Andragogia policial

Atualmente esse parâmetro de formação foi superado e procurou-se

aproximar a formação da educação superior, mas os valores e o processo são

muito específicos.

À medida que se forma militares a partir da educação superior ocorre

uma desmilitarização tácita fruto da perda dos valores que não foram

adequadamente cultivados no militar em formação.

Esses valores são essenciais para a sobrevivência da instituição

enquanto conserva suas características de militar.

A proposta aqui exposta passa pela profissionalização dos professores

que além do conhecimento técnico passem a dominar também saberes

didáticos específicos para o público, ambiente, conteúdo a serem trabalhados.

Dessa forma, para que ocorra a transformação da prática docente haja

uma proposta pedagógica consolidada capaz de atender as demandas

específicas da instituição e reflita de forma positiva no contexto social.

REFERÊNCIAS

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construções a partir de uma rede de interações e mediações . In: UNIrevista.

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MICHAELIS. Dicionário online de língua portuguesa. Disponível em:

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-

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VEIGA, I. P. A. VIANA, C. Q. Q. (orgs.) Docentes para a Educação Superior:

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Page 52: Andragogia policial

DIFERENÇAS ENTRE LINGUAGEM LITERÁRIA E

LINGUAGEM NÃO LITERÁRIAERATURA

Page 53: Andragogia policial

Existem significativas diferenças entre linguagem literária e linguagem não

literária. Compreender cada uma delas é essencial para o entendimento dos

diversos tipos de texto.

Os textos podem ser divididos conforme a linguagem escolhida para a

construção do discurso. São dois grandes grupos, que privilegiam a linguagem

literária e a linguagem não literária.

Apesar de os textos literários e não literários apresentarem pontos

convergentes em sua elaboração, existem alguns aspectos que tornam

possível a diferenciação entre eles.

Saber identificá-los e reconhecê-los conforme o tipo de linguagem adotado é

fundamental para a compreensão dos diversos gêneros textuais aos quais

estamos expostos no nosso dia a dia.

Nessa questão, não existe uma linguagem que seja superior à outra: ambas

são importantes e estão representadas pelos incontáveis gêneros textuais.

As diferenças nos tipos de linguagem estão ancoradas pela necessidade de

adequação do discurso, pois para cada situação escolhemos a maneira mais

apropriada para elaborar um texto.

Se a intenção é comunicar ou informar, certamente adotaremos recursos de

linguagem que privilegiem o perfeito entendimento da mensagem, evitando

assim entraves linguísticos que possam dificultar o acesso às informações.

Se a intenção é privilegiar a arte, através da escrita de poemas, contos ou

crônicas, estarão à nossa disposição recursos linguísticos adequados para

esse fim, tais como o uso da conotação2, das figuras de linguagem, entre

outros elementos que confiram ao texto um valor estético.

2 DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO

Page 54: Andragogia policial

Dessa maneira, confira as principais diferenças entre a linguagem literária e a

linguagem não literária:

→ Linguagem literária: pode ser encontrada na prosa, em narrativas de

ficção, na crônica, no conto, na novela, no romance e também em verso, no

caso dos poemas.

Nos textos literários nem sempre a linguagem apresenta um único sentido, aquele apresentado pelo dicionário. Empregadas em alguns contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, carregados de valores afetivos ou sociais. Quando a palavra é utilizada com seu sentido comum (o que aparece no dicionário) dizemos que foi empregada denotativamente. Quando é utilizada com um sentido diferente daquele que lhe é comum, dizemos que foi empregada conotativamente. Este recurso é muito explorado na Literatura. A linguagem conotativa não é exclusiva da literatura, ela é empregada em letras de música, anúncios publicitários, conversas do dia a dia, etc. Observe um trecho da canção “Dois rios”, de Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis. Note a caracterização do sol: ele foi empregado conotativamente. O sol é o pé e a mão O sol é a mãe e o pai Dissolve a escuridão O sol se põe se vai E após se pôr O sol renasce no Japão ... Que os braços sentem E os olhos veem Que os lábios sejam Dois rios inteiros Sem direção Que os braços sentem E os olhos veem Que os lábios beijam Dois rios inteiros Sem direção Note que a expressão “dois rios inteiros” também foi empregada conotativamente e compõe um dos elementos básicos para a interpretação da letra. SILVA, Marina Cabral Da. "Denotação e Conotação"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/literatura/denotacao-conotacao.htm>. Acesso em 01 de novembro de 2016.

Page 55: Andragogia policial

Apresenta características como a variabilidade, a complexidade, a conotação, a

multissignificação e a liberdade de criação.

A Literatura deve ser compreendida como arte e, como tal, não possui

compromisso com a objetividade e com a transparência na emissão de ideias.

A linguagem literária faz da linguagem um objeto estético, e não meramente

linguístico, ao qual podemos inferir significados de acordo com nossas

singularidades e perspectivas.

É comum na linguagem literária o emprego da conotação, de figuras de

linguagem3 e figuras de construção4, além da subversão à gramática

normativa.

3 As figuras de linguagem são recursos que tornam mais expressivas as mensagens.

Subdividem-se em figuras de som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras. Figuras de som a) aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais. “Esperando, parada, pregada na pedra do porto.” b) assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. “Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.” c) paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos. “Eu que passo, penso e peço.” Figuras de construção a) elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto. “Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia) b) zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes. Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro) c) polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período. “E sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob o sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito (...)”

Page 56: Andragogia policial

d) inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase. “De tudo ficou um pouco. Do meu medo. Do teu asco.” e) silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser: • De gênero Vossa Excelência está preocupado. • De número Os Lusíadas glorificou nossa literatura. • De pessoa “O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.” f) anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra. A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa. g) pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem. “E rir meu riso e derramar meu pranto.” h) anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases. “ Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer” Figuras de pensamento a) antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido. “Os jardins têm vida e morte.” b) ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico. “A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.” c) eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável. Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou) d) hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática. Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede) e) prosopopeia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados. O jardim olhava as crianças sem dizer nada. f) gradação ou clímax: é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax) “Um coração chagado de desejos Latejando, batendo, restrugindo.”

Page 57: Andragogia policial

g) apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada). “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus!” Figuras de palavras a) metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido. “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” b) metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe: Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa) c) catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado. O pé da mesa estava quebrado. d) antonomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade: ... os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles) e) sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. A luz crua da madrugada invadia meu quarto. Vícios de linguagem A gramática é um conjunto de regras que estabelece um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas, em se tratando da linguagem escrita. O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar uma maior expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem. a) barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta. pesquiza (em vez de pesquisa) prototipo (em vez de protótipo) b) solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática. Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ; desvio na sintaxe de concordância)

Page 58: Andragogia policial

c) ambiguidade ou anfibologia: trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido. O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?) d) cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de palavras. Paguei cinco mil reais por cada. e) pleonasmo vicioso: consiste na repetição desnecessária de uma ideia. O pai ordenou que a menina entrasse para dentro imediatamente. Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo enfático, este não é considerado vicioso. f) eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som. O menino repetente mente alegremente.

SILVA, Marina Cabral Da. "Figuras de Linguagem"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/portugues/figuras-linguagem.htm>. Acesso em 01 de novembro de 2016.

4 Figuras de construção ou sintaxe integram as chamadas figuras de linguagem,

representando um subgrupo destas. Dessa forma, tendo em vista o padrão não convencional que prevalece nas figuras de linguagem (ou seja, a subjetividade, a sensibilidade por parte do emissor, deixando às claras seus aspectos estilísticos), devemos compreender sua denominação. Em outras palavras, por que “figuras de construção ou sintaxe”? Podemos afirmar que assim se denominam em virtude de apresentarem algum tipo de modificação na estrutura da oração, tendo em vista os reais e já ressaltados objetivos da enunciação (do discurso) – sendo o principal conferir ênfase a ela. Assim sendo, comecemos entendendo que, em termos convencionais, a estrutura sintática da nossa língua se perfaz de uma sequência, demarcada pelos seguintes elementos:

SUJEITO + PREDICADO + COMPLEMENTO (Nós) CHEGAMOS ATRASADOS À REUNIÃO.

Temos, assim, um sujeito oculto – nós; um predicado verbal – chegamos atrasados; e um complemento, representado por um adjunto adverbial de lugar – à reunião. Quando há uma ruptura dessa sequência lógica, materializada pela inversão de termos, repetição ou até mesmo omissão destes, é justamente aí que as figura em questão se manifestam. Desse modo, elas se encontram muito presentes na linguagem literária, na publicitária e na linguagem cotidiana de forma geral. Vejamos, pois, acerca de cada uma delas, de modo particular: Elipse Tal figura se caracteriza pela omissão de um termo na oração não expresso anteriormente, contudo, facilmente identificado pelo contexto.

Page 59: Andragogia policial

Vejamos um exemplo: Rondó dos cavalinhos [...] Os cavalinhos correndo, E nós, cavalões, comendo... O Brasil politicando, Nossa! A poesia morrendo... O sol tão claro lá fora, O sol tão claro, Esmeralda, E em minhalma — anoitecendo! Manuel Bandeira Notamos que em todos os versos há a omissão do verbo estar, sendo este facilmente identificado pelo contexto. Zeugma Ao contrário da elipse, na zeugma ocorre a omissão de um termo já expresso no discurso. Constatemos, pois: Maria gosta de Matemática, eu de Português. Observamos que houve a omissão do verbo gostar. Anáfora Essa figura de linguagem se caracteriza pela repetição intencional de um termo no início de um período, frase ou verso. Observemos um caso representativo: A Estrela Vi uma estrela tão alta, Vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo Na minha vida vazia. Era uma estrela tão alta! Era uma estrela tão fria! Era uma estrela sozinha Luzindo no fim do dia. [...] Manuel Bandeira Notamos a utilização de termos que se repetem sucessivamente em cada verso da criação de Manuel Bandeira. Polissíndeto Figura cuja principal característica se define pela repetição enfática do conectivo, geralmente representado pela conjunção coordenada “e”. Observemos um verso extraído de uma criação de Olavo Bilac, intitulada “A um poeta”: “Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!” Assíndeto Diferentemente do que ocorre no polissíndeto, manifestado pela repetição da conjunção, no assíndeto ocorre a omissão deste. Vejamos: Vim, vi, venci (Júlio César) Depreendemos que se trata de orações assindéticas, justamente pela omissão do conectivo “e”. Anacoluto Trata-se de uma figura que se caracteriza pela interrupção da sequência lógica do pensamento, ou seja, em termos sintáticos, afirma-se que há uma mudança na construção do período, deixando algum termo desligado do restante dos elementos.

Page 60: Andragogia policial

→ Linguagem não literária: pode ser encontrada em notícias, artigos

jornalísticos, textos didáticos, verbetes de dicionários e enciclopédias,

propagandas publicitárias, textos científicos, receitas culinárias, manuais, entre

outros gêneros textuais que privilegiem o emprego de uma linguagem objetiva,

clara e concisa.

Vejamos: Essas crianças de hoje, elas estão muito evoluídas. Notamos que o termo em destaque, que era para representar o sujeito da oração, encontra-se desligado dos demais termos, não cumprindo, portanto, nenhuma função sintática. Inversão Como bem nos revela o conceito, trata-se da inversão da ordem direta dos termos da oração. Constatemos: Eufórico chegou o menino. Deduzimos que o predicativo do sujeito (pois se trata de um predicado verbo-nominal) se encontra no início da oração, quando este deveria estar expresso no final, ou seja: O menino chegou eufórico. Pleonasmo Figura que consiste na repetição enfática de uma ideia antes expressa, tanto do ponto de vista sintático quanto semântico, no intuito de reforçar a mensagem. Observemos, pois, alguns exemplos: Vivemos uma vida tranquila. O termo em destaque reforça uma ideia antes ressaltada, uma vez que viver já diz respeito à vida. Temos uma repetição de ordem semântica. A ele nada lhe devo. Percebemos que o pronome oblíquo faz referência à terceira pessoa do singular, já expressa. Trata-se, portanto, de uma repetição de ordem sintática demarcada pelo que chamamos de objeto direto pleonástico. Observação importante: O pleonasmo utilizado sem a intenção de conferir ênfase ao discurso torna-se o que denominamos de vício de linguagem – ocorrência que deve ser evitada. Como, por exemplo: subir para cima descer para baixo entrar para dentro, entre outras circunstâncias linguísticas.

DUARTE, Vânia Maria Do Nascimento. "Figuras de construção ou sintaxe";Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/figuras-construcao-ou-sintaxe.htm>. Acesso em 01 de novembro de 2016.

Page 61: Andragogia policial

Considerados esses aspectos, a informação será repassada de maneira a

evitar possíveis entraves para a compreensão da mensagem.

No discurso não literário, as convenções prescritas na gramática normativa são

adotadas.

A linguagem nada mais é do que a expressão do pensamento por meio de

palavras, sinais visuais ou fonéticos, através dos quais conseguimos

estabelecer a comunicação.

Compreender os aspectos presentes em cada uma das linguagens é

fundamental para a melhor compreensão dos diferentes tipos de discurso que

produzimos e aos quais estamos expostos em diferentes situações

comunicacionais.

PEREZ, Luana Castro Alves. "Diferenças entre linguagem literária e linguagem não

literária"; Brasil Escola. Disponível em

<http://brasilescola.uol.com.br/literatura/linguagem-literaria-naoliteraria.htm>. Acesso

em 01 de novembro de 2016.

Page 62: Andragogia policial

A VIOLÊNCIA POLICIAL PODE TER SIDO INFLUENCIADA PELA

FORMAÇÃO MILITAR?

Aderivaldo Martins Cardoso

Page 63: Andragogia policial

O país tem mergulhado na insegurança e no medo. Ninguém está

protegido contra a violência.

O problema ocupa o centro das preocupações de todos nós e atravessa

a sociedade em todos os níveis.

Tanto pobres quanto ricos sofrem com o avanço da violência e da

barbárie.

Populações inteiras na periferia das grandes cidades vivem sitiadas e

amedrontadas, sob o domínio de criminosos de todos os tipos, inseguras,

frente às graves deficiências das corporações policiais.

A corrupção introduziu seus tentáculos também no interior dos aparelhos

de segurança pública, nos presídios e nas instituições destinadas à

recuperação de adolescentes infratores e se espalhou pelo país, a partir do

péssimo exemplo emanado das altas autoridades de nossa vida política.

Implantou-se um cenário de caos e descontrole, principalmente com a

impunidade que deriva da ineficiência do sistema jurídico brasileiro, o crime se

infiltrou nas instituições, agravando a ineficiência e gerando mais impunidade

ainda.

O despreparo de agentes policiais devido a formação deficitária

proporcionada pelo Estado transforma aqueles que deveriam ser protetores da

população em vilões fardados5, que se utilizam da força contra aqueles que

não tem como se defender, gerando insatisfação da população e uma disputa

de poder entre policiais e bandidos que se reflete na sociedade que deveria ser

protegida.

5 Vilões fardados serviu apenas para que possamos nos remeter a violência policial, não estamos com

isso afirmando que somente policiais militares cometem esses abusos, pois muitos dos abusos policiais são praticados dentro das delegacias por policiais civis.

Page 64: Andragogia policial

A violência é visível todos os dias, mas existe um tipo de violência que

ainda é camuflada em nosso país.

A violência policial está presente todos os dias nas cidades brasileiras.

No Distrito Federal basta andar a noite pela cidade que será observado

essa triste realidade.

A Polícia Militar do Distrito Federal é uma das melhores do país nos

quesitos: salário, formação intelectual e formação profissional.

E em nossas cidades constatam-se várias denúncias de violência

policial. Por quê?

Mesmo tendo bons salários, em comparação a média nacional, uma boa

formação profissional e intelectual, pois grande parte do efetivo possui nível

superior, encontramos vários casos de violência envolvendo policiais no Distrito

Federal.

Acredita-se que muitos desses casos estão diretamente ligados à

formação militar.

Em uma breve pesquisa na Internet observa-se que em sua maioria os

casos que mais repercutiram na mídia, envolviam policiais militares do

Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Unidade da Polícia Militar do

Distrito Federal mais militarizado dentro da instituição.

A violência policial além de uma realidade também é uma herança

cultural, pois a polícia em todos os paises surge da necessidade da elite

dominante controlar as classes desfavorecidas.

Page 65: Andragogia policial

No Brasil esse fato não é diferente, pois a policia também foi forjada em

seus primórdios para controlar os pobres, o que gerou uma ideologia própria,

que se volta principalmente contra as classes marginalizadas.

PEDROSO ao estudar as origens do militarismo na formação das

Polícias Militares no Brasil e de sua ideologia diz que isso é essencial para

compreendermos o apelo fácil à violência, pois na concepção militar, os que

não se submetem disciplinarmente às regras estabelecidas, perturbam a ordem

social e põem em risco a segurança são classificados como ‘inimigos’, contra

os quais todo uso da força é válido.

Para PEDROSO,

Na história brasileira, sobretudo a partir do início do

século XX, a organização da polícia em moldes militares,

com quartéis, fardas, patentes militares, continência,

treinamento de ordem unida e outras peculiaridades de

uma corporação militar, reflete objetivos políticos.

O tempero do Liberalismo levou à adoção de fórmulas

jurídicas para “legalizar” o autoritarismo dos governantes,

mas permaneceu subjacente a concepção sintetizada

numa frase atribuída a Washington Luiz: “Para os amigos

tudo, para os inimigos a lei”.

Os adversários políticos eram “inimigos” e a lei eram as

regras fabricadas pelo grupo dominante, para cuja

imposição se considerava justificado o uso da força.

(2005:19).

Page 66: Andragogia policial

Segundo relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU), da

Organização dos Estados Americanos (OEA) e de diversas organizações não-

governamentais, os tipos mais comuns de violência cometidos pelas forças

policiais latino-americanas são:

Uso da tortura contra suspeitos e detentos dentro dos

estabelecimentos policiais;

Abusos contra prisioneiros dentro de delegacias e presídios;

Abuso de poder letal e violência contra trabalhadores rurais.

O que chama a atenção é a “coincidência” da maioria desses países da

América do Sul terem sofrido intervenções militares ou vivido sob ditaduras por

longos períodos de sua história.

Pode-se confirmar esse fato na afirmação do autor abaixo.

A prática de extrair informações de suspeitos por meio de

tortura é recorrente na história política do Brasil. Tal

prática é reforçada, em alguns casos, por uma legislação

penal que privilegia a confissão do suspeito em

detrimento de outros meios de prova e que se durante os

regimes autoritários a tortura era empregada contra

inimigos políticos do regime, agora ela é geralmente

utilizada contra criminosos comuns, na sua maioria

pertencentes aos segmentos mais pobres da população.

(COSTA, 2004:18)

Na maioria das cidades brasileiras a violência policial é justificada e

aceita pela sociedade, pois parte significativa da população vê na ação

enérgica das polícias a solução para o problema da violência urbana.

Confunde-se energia com violência.

Page 67: Andragogia policial

Esse fato ocorre inclusive nos cursos de formação.

Um considerável número de pessoas que já foram abordadas por

policiais reclama da forma grosseira como foram surpreendidos, ou da violência

sofrida durante a abordagem. Em sua maioria absoluta reclamam de “chutes”

nos tornozelos e de “socos” no meio das pernas.

Quando se tem um número elevado de agentes policiais cometendo o

mesmo “erro”, em um país de proporção tão grande, deve se perguntar se esse

fato não é reflexo de uma mesma metodologia de ensino empregada nos

cursos de formação.

Nesse sentido a violência policial é tolerada por muitos. Essa tolerância

da sociedade civil acaba sendo refletida como apoio a violência e cria

obstáculos para a reforma das polícias.

Para agravar a situação, aos olhos de algumas autoridades públicas e

de certos setores da sociedade, a tortura é encarada como um meio legítimo

empregado na “guerra contra o crime”.

Esse pensamento acaba por torna-se um círculo vicioso, pois a imagem

de polícia violenta com autorização do estado para matar sobrevive no

imaginário coletivo da população, o que será refletido na formação do policial

recém chegado na instituição, pois o policial é um ser oriundo da sociedade em

que vive e reflete o pensamento dessa sociedade.

Para AMARAL,

Policial bem preparado deve estar conscientizado disto e

da dignidade e importância de seu trabalho.

É, pois, urgente que se logre resgatar a boa imagem da

polícia. Já por ser o exercício da função policial um eterno

ônus ético-profissional que pesa sobre cada policial, ela

não é ocupação para qualquer um e menos ainda de

Page 68: Andragogia policial

superficial e rápida formação básica (estágio em que se

deve aproveitar traços da instrução militar: adestramento

físico, fardamento, ordem unida, conjugada com o

elementar preparo jurídico-humanístico) tal como costuma

ocorrer entre nós (p. ex., 60 dias para o recruta policial).

O policial prepotente (quase sempre mais a favor do

meliante rico que da vítima pobre, negra, gay...),

espalhafatoso e que troca a inteligência pela força bruta

(aqui é melhor o respeito que o temor) reforça a baixa

estima social de sua nobilíssima profissão. Se a força

muscular houvesse de ser relevante nesta função

estatal, o melhor recrutamento policial seria feito

entre os estivadores. (2003:51. O grifo é pessoal)

A formação policial sempre esteve focada no uso da força, pois sempre

priorizaram os atributos físicos aos intelectuais.

Os homens escolhidos para exercerem a função policial se

assemelhavam àqueles escolhidos para as Forças Armadas, em sua maioria,

eram pouco instruídos, fortes e de alta estatura.

A pouca instrução é importante para evitar questionamentos no

momento da execução da ordem. Afinal, desde o surgimento do militarismo os

soldados são elementos de execução, devendo, portanto não questionar

nenhuma ordem que porventura lhes sejam dada.

Verificam-se tais características no surgimento da força policial em

Brasília, durante sua construção no final dos anos 50.

A necessidade de um aparato policial na cidade em construção gerou

um impasse jurídico entre o estado de Goiás e a nova capital.

Page 69: Andragogia policial

Por isso, Israel Pinheiro propôs a Novacap a criação de uma força

policial especial para Brasília. Segundo consta na história da Polícia Civil de

Brasília,

Os componentes daquela guarda, criada às pressas,

ou eram analfabetos ou semi-analfabetos e,

naturalmente, dado o seu caráter improvisado, sem

treinamento específico, não estavam preparados para

exercer adequadamente a função policial. (...) O

processo de incorporação na GP era relativamente

simples, pois não exigia nenhum conhecimento prévio.

Era admitido na corporação quem mostrasse coragem e

espírito aventureiro. De preferência, os homens mais

altos, com estatura média de 1,70 m, ou quem já tivesse

servido às Forças Armadas. Era interessante também

para a GP os que fossem solteiros ou os que não

possuíssem família em Brasília, pois o trabalho exigia

dedicação exclusiva. “Melhor ainda, para os que sabiam

jogar bola, porque o Cel. Muzzi pretendia formar um time

de futebol”. (Polícia Civil de Brasília, 1988:21. O grifo é

pessoal)

Mesmo com o advento do concurso público esses atributos ainda são os

mais observados, pois além de idades pré-estabelecidas e altura mínima ainda

existem provas de aptidão física de caráter eliminatório.

Analisando o estereotipo do candidato a policial, pode-se dizer que o

Estado está buscando os mais fortes para dominar os mais fracos, com isso, o

Estado demonstra claramente seus objetivos.

Page 70: Andragogia policial

Não se pode assim, colocar toda responsabilidade da violência policial e

das mazelas na segurança pública nos policiais, que muitas vezes nem

percebem o adestramento que sofrem nos cursos de formação, ou as

alterações psicológicas oriundas das cobranças excessivas do militarismo ao

longo do tempo, o que os tornam pessoas insensíveis e violentas sem ao

menos se dar conta, para servir a elite dominante que os contratou. Para

PEDROSO,

A constituição de uma ideologia específica, tendo no

militarismo a sua principal força de atuação, fez com que

o “poder de polícia” tomasse o formato da repressão física

ao cidadão.

Em determinados momentos da história do Brasil esse

viés militarista foi acionado de forma a colaborar com a

manutenção da elite no poder. Aberturas e fechamentos

políticos expressam o ritmo do funcionamento das

instituições repressivas, de uma forma geral. (2005:174)

Durante os cursos de formação e aperfeiçoamento dos policiais militares

de todo país, nas aulas de tiro prático, se ganha mais pontos ao acertar a

cabeça e o coração do que em outros pontos menos letais.

Esse tipo de treinamento condiciona o policial à sempre matar e nunca a

imobilizar.

Outro assunto que merece atenção é o fato dos cursos incentivar e

justificar o “disparo de advertência”, tiro dado a ermo em sua maioria para cima

com o objetivo de advertir o delinqüente em fuga, nesse caso específico os

próximos cursos deverão abolir esse procedimento, pois a nova legislação

considera crime essa atitude, mas será difícil mudar o pensamento daqueles

que já foram instruídos dessa maneira.

O resultado não poderia ser pior.

Page 71: Andragogia policial

O uso da força letal aumenta a cada dia em nosso país. Essa questão é

abordada por AMARAL.

O alto índice de vitimização (fatal ou menos, da polícia e

até dos delinqüentes) no trabalho da polícia é sério

sintoma de deficiência profissional.

É alarmante o alto índice de baixas entre policiais,

máxime entre os PMs cujas agruras da atividade policial

são agravadas pelas do regime militar (que não deve ser

formação prioritária de polícia alguma, só mesmo da

“polícia” das polícias: o Exército) e outras mazelas

(escalas apertadas, salários, moradias perigosamente

promíscuas) geram estresse profissional e suicídios.

Em qualquer instituição este sombrio quadro é

preocupante, todavia na polícia a todos deveria

incomodar. A frustração profissional e familiar, a baixa

auto-estima, a subvalorização social são fatores sempre

deletérios, contudo quando se trata de policial, por razões

óbvias, são potencialmente perigosos: o descontrole

mental de um policial, desarmado já é alarmante; quando

armado é a negação da razão de ser da polícia.

(AMARAL, 2003:50)

Alguns estados têm procurado melhorar a formação de seus quadros

policiais cobrando dos candidatos, dentre outros requisitos, a formação

universitária.

O estado de Goiás inovou cobrando para o ingresso como oficial na

PMGO a graduação de bacharel em direito, mas ainda mantém a formação

militar.

Page 72: Andragogia policial

De acordo com AMARAL,

O policial de nossos dias, mais que adestramento

militar (ordem unida, fardamento, preparo físico) que

deve ser apenas parte da boa habilitação básica (com

reciclagens periódicas) de todo e qualquer policial,

carece de melhor formação (não informação, como

ocorre hoje) jurídico-humanística (IED, Dir.

Constitucional, Criminologia, D. Penal e Processo

Penal, Medicina Legal, Cidadania e direitos

humanos...), além das demais disciplinas necessárias

(básicas ou de complementação). Estas disciplinas

jurídicas deveriam ser cursadas, no caso de policial em

formação de nível superior, em faculdades oficiais

(estaduais ou federais, até por serem gratuitas) de Direito

juntamente com os alunos regulares destas, até porque,

hoje, é comum que os formados por academias policiais

busquem as faculdades de Direito para se graduar e no

mais das vezes aproveitando (como já cursadas naquelas

academias) muitas disciplinas jurídicas nem sempre

concluídas com o mesmo nível de exigência (“aqui

formam-se policiais, não advogados!...”). (2003:50. O grifo

é pessoal)

O sucesso de uma reforma da força policial visando transformar as

relações entre policial e sociedade depende, portanto, das interações entre a

sociedade civil, a sociedade política e as polícias, mas nenhuma mudança

ocorrerá se o princípio das corporações, incluindo a formação policial não

sofrer radical transformação.

Page 73: Andragogia policial

Segundo AMARAL (2003) “Essa mudança é representada pela transição

de uma cultura de guerra para uma cultura de paz, de uma visão excludente de

mundo para um entendimento dialogal das funções policiais”.

Observar-se no pensamento do autor que mesmo em um estado de

guerra os soldados devem observar as normas jurídicas de direito internacional

existente, fato que muitas vezes é ignorado em nosso Estado Democrático de

Direito.

Essa transformação passa segundo ele pela formação policial, pois:

A formação do militar, que é essencialmente profissional

da guerra, não deve ser confundida com a do policial,

mesmo porque o mais cruel dos bandidos não é o inimigo

mortal a ser eliminado (senão a ser preso) como é fato

normal e decisivo nas guerras.

A essência da guerra é a eliminação do inimigo, a

essência da missão policial é preservar a ordem pública e

prender o criminoso, nada mais que isso...Essa confusão

na formação e na rotina operacional do policial explica

muitas de nossas crises no sistema de segurança pública

brasileiro. (AMARAL: 2003, 61)

Conforme debatido durante todo esse capítulo os problemas de

segurança pública e violência policial estão diretamente ligados à formação dos

policiais, principalmente dos militares, que são os maiores representantes e

reprodutores da cultura que lhes foi imposta durante todo o período de nossa

história.

Page 74: Andragogia policial

Afinal, a maioria das pessoas que são abordadas pela Polícia Militar

reclama de “chutes” no tornozelo e “socos” no meio das pernas, esse problema

é na formação já que todos agem da mesma maneira, tanto em Brasília, como

no restante do país.

O sistema atual necessita urgentemente de uma profunda

reestruturação, de maneira que coloque o policial mais próximo do cidadão e

da sociedade, os verdadeiros destinatários dos serviços de segurança pública,

e esse processo estão diretamente ligados a formação e a sua organização.

Page 75: Andragogia policial

EDUCACAO_CORPORATIVA/

O_Programa_MestradoSP.pdf

A atuação no campo da segurança pública, envolvendo

principalmente atividades de policiamento e de

bombeiros, demanda mais que o mero conhecimento de

técnicas, antes exigem uma proficiência de

intelectualidades que fazem do Comandante, Chefe ou

Diretor de Unidade Policial-Militar o administrador de

decisões que realiza a segurança pública no Estado e

que, por fim, acaba contribuindo, em certos segmentos,

para a qualidade de vida da comunidade à qual se

prestam os serviços.

Page 76: Andragogia policial

Na maioria das vezes, as pessoas que compõem a comunidade,

mesmo as formadoras de opiniões, desconhecem as raízes que levam a efeito

os resultados das decisões promovidas pelos oficiais que desempenham a

missão do Estado na gestão dos negócios da segurança pública.

O presente ensaio buscou colocar em plano de destaque a Unidade

Policial-Militar responsável pela atualização e o aperfeiçoamento, por meio da

aquisição e produção científica de novos conhecimentos, realinhamento de

ideias, ética profissional, chefia e liderança, reflexões pessoais, busca de

autocontrole mental e emocional, visão sistêmica e de futuro, novos métodos e

técnicas, os oficiais da força estadual de segurança que responde pelo múnus

constitucional de servir e proteger a sociedade.

Verificou-se, durante a pesquisa, que legalmente é o CAES o órgão

competente para tal mister, visto ser o órgão de apoio de ensino superior

responsável pelo desenvolvimento do ciclo profissional que engloba os oficiais

superiores da PMESP.

No entanto, apesar da competência legal, o CAES não sofreu as

atualizações necessárias quanto ao seu Quadro Particular Organizacional, sua

infraestrutura e logística, de forma a permitir o fiel cumprimento da norma legal.

Nesse cenário, depreende-se que o CAES é tão-somente uma escola

profissional de pós-graduação por força legal, responsável por uma série de

novas missões impostas pelo atual sistema de ensino policial-militar, mas

carente por estratégias e prioridades do comando-geral e do governo.

O desenvolvimento das argumentações apresentadas e o comparativo

com outras instituições militares de ensino superior inferem que a manutenção

e a atualização dos quadros dirigentes da PMESP, nos conhecimentos

necessários para o exercício de suas funções e em sintonia com as mais

modernas práticas de gestão estratégica, é algo que se mostra oportuno,

conveniente e factível com a adequação do programa de mestrado policial-

militar aos requisitos da sociedade acadêmica civil.

Page 77: Andragogia policial

Há que se ressaltar que as escolas de pós-graduação das Forças

Armadas, a par de preservarem a autonomia do ensino militar, têm buscado

voluntariamente submeter-se à certificação da CAPES, objetivando a

equivalência, o reconhecimento e o trânsito junto aos centros de pesquisa

universitários civis, nacionais e estrangeiros.

Dentre as propostas cabíveis para o aprimoramento da educação

institucional e da preservação da memória do CAES, propõem-se o seu

prioritário provimento com os recursos humanos e materiais que permitam o

desempenho com qualidade do XI WORKSHOP DE PÓS-GRADUAÇÃO E

PESQUISA DO CENTRO PAULA SOUZA – Tendências, Expectativas e

Possibilidades no Cenário Contemporâneo em Educação Profissional e

Sistemas Produtivos. 43 São Paulo, 4 - 6 de outubro de 2016 ISSN: 2175-1897

seu papel estratégico, ou seja, o de gestor da educação continuada destinada

aos oficiais que ocupam os mais altos postos na PMESP.

Importante ressaltar que se mostra conveniente ao CAES, como

gestor da educação continuada para oficiais superiores, para perpassar os

obstáculos legais que culminam na endogenia acadêmica (dificuldade de

contratação de professores civis); para atender aos requisitos de

reconhecimento e recomendação da CAPES para seus programas de pós-

graduação em sentido estrito; para terceirizar as atividades de elaboração de

conteúdos para o ensino (presencial, semipresencial e a distância) e para a

preparação das atividades vivenciais; estabelecer convênios com fundações ou

universidades, até mesmo fomentar a criação de fundação específica para o

atendimento das demandas institucionais.

A participação das universidades no cotidiano da práxis policial é

conditio sine qua non para a busca da excelência e qualidade almejada pela

visão de futuro institucional.

Page 78: Andragogia policial

Igualmente, sugere-se o estabelecimento de campus exclusivo para o

CAES, sob comando também independente da escola superior de formação

(estrutura organizacional atual, que entende-se inadequada), como princípio de

metodologia andragógica de educação e por questão de valorização dos

cursos de pósgraduação e respeito à hierarquia militar, além da necessidade

de ambiente mais propício à pós-formação e à pesquisa.

Depreende-se ainda que a busca da excelência e da qualidade na

educação continuada e para a produção científica requer constante avaliação e

mensuração, indicadores alcançados por meio de um processo contínuo de

investigação (benchmarking), para agregação de valores e informações.

Nesse rumo, sugere-se ainda que o comando-geral e o órgão de

direção de ensino superior da PMESP (Diretoria de Ensino e Cultura) priorizem

as viagens de estudos (Jornadas de Polícia Comparada).

Assim, acredita-se que tais empreendimentos culminarão na

consolidação das ciências policiais de segurança e ordem pública, que deixará

a incômoda posição de disciplina esparsa em várias áreas do conhecimento.

O futuro das Polícias Militares brasileiras sempre estará na projeção

de uma boa imagem diante da opinião pública.

A observação desse mandamento, face a globalização e as demandas

sociais, é o que definirá a Polícia Militar do Estado de São Paulo de 2031 (ano

que pretende completar o bicentenário de sua existência).

Page 79: Andragogia policial

MODELO ANDRAGÓGICO:

APRENDIZADO PARA PESSOAS

EXPERIENTES

Cel. Marcelo Augusto de Felippes, P.h.D

Page 80: Andragogia policial

Desde o início do século XX, muitos pesquisadores de modelos educacionais

concluíram que o sistema pedagógico não respondia plenamente às necessidades

das pessoas adultas, principalmente aquelas que, através dos anos, foram

assimilando conhecimentos e habilidades em diferentes áreas do saber.

A pedagogia foi aplicada à crianças e adultos, contrariando a própria origem

que se refere à educação e ensino das crianças (do grego paidós = criança).

No ensino fundamental e médio, as crianças necessitam e aceitam o modelo

pedagógico, entretanto ao entrar na adolescência, os questionamentos começam a ser

mais freqüentes, incluindo os métodos e as pessoas envolvidas na aprendizagem.

O adulto, ao adquirir experiências, vive um conflito ao deparar-se com o

modelo pedagógico.

Aceita, muitas vezes, por disciplina, respeitando a autoridade e o método,

mas se sente frustrado por não colocar no jogo da aprendizagem sua vasta bagagem

de conhecimento, fruto de seus acertos e erros ao longo da vida.

O adulto sabe o que quer e aonde quer chegar, pois tem consciência do que

lhe falta agregar.

Em 1926, na Associação Americana para Educação de Adultos, o Professor

Linderman, E.C. apresentou ao mundo uma pesquisa onde convidava os profissionais

de educação a considerar profundas diferenças entre o ensino infantil e o adulto.

Entretanto, somente em 1973 foi que o Prof. Malcom Knowles definiu o termo

Andragogia, como a arte e ciência de orientar adultos a aprender.

O modelo andragógico é recomendado para treinamentos em organizações,

desde que os facilitadores estejam habilitados para esse fim.

Tem sido muito comum o emprego do nome do modelo para cursos em

alguns países, mas na prática conservam as principais características pedagógicas.

Page 81: Andragogia policial

O comprometimento de todos é imprescindível.

Como num navio, todos chegam juntos no porto almejado.

O facilitador durante as sessões presenciais, conduz, ativa e

permanentemente, a energia do grupo para o foco e acompanha cada um dos

participantes de forma individualizada, mas se dirige sempre ao grupo e não a um

determinado membro do grupo.

Usando a empatia ( do grego empátheia: entrar no sentimento), o facilitador

permanece atento para tentar imaginar ou sentir o que cada aluno sente em diferentes

situações e momentos.

Ouvir realmente os sentimentos por detrás do que está sendo dito, numa

completa sintonia emocional.

Trabalhando a empatia, torna-se possível dominar os principais

seqüestradores emocionais que mais dificultam o equilíbrio e harmonização do

ambiente organizacional.

Valorizando a experiência subjetiva de cada aluno, o facilitador busca manter

o fluxo psicológico em todas as ocasiões, pois essa é a melhor maneira de canalizar

as emoções a serviço do desempenho e aprendizado, ou seja, “ fazer o que se gosta e

não sentir o tempo passar” .

As emoções são positivadas, energizadas e alinhadas com as tarefas que

estão sendo desenvolvidas.

Respeitar a todos e valorizá- los.

Adultos não gostam de ficar embaraçados frente a outras pessoas.

Não existe detrito absoluto, assinalava o romeno Virghuil Gheorguil.

Toda idéia tem um valor.

Ninguém é o dono da verdade absoluta, muito menos o facilitador.

Page 82: Andragogia policial

O uso de técnicas de aprendizagem e temas realísticos estimulam e ajudam a

participação.

Não se enfatiza protagonistas nas organizações, pois o próprio grupo vai

eleger seu líder para cada situação.

Os questionamentos são direcionados às organizações e seus componentes

exercitam a combinar a resposta que irão dar.

A responsabilidade é de todos.

Uma característica fundamental do modelo andragógico é o

aperfeiçoamento das áreas cognitivas e emocionais.

O modelo andragógico é recomendado para treinamentos em

organizações, desde que os facilitadores estejam habilitados para esse fim.

Tem sido muito comum o emprego do nome do modelo para cursos em

alguns países, mas na prática conservam as principais características

pedagógicas.

Page 83: Andragogia policial

Segue, abaixo, algumas das principais diferenças do aprendizado de

crianças (pedagogia) e de adultos (andragogia):

CARACTERÍSTICAS DA

APRENDIZAGEM

PEDAGOGIA

ANDRAGOGIA

Relação

Facilitador/Aluno

Professor é o

centro das ações, decide o

que ensinar como ensinar

e avalia a aprendizagem

A aprendizagem adquire

uma característica mais

centrada no aluno, na

independência e na auto-

gestão da aprendizagem

Razões da

Aprendizagem

Crianças (ou

adultos) devem aprender o

que a sociedade espera

que saibam (seguindo um

currículo padronizado).

Pessoas aprendem

o que realmente precisam

saber (aprendizagem para a

aplicação prática na vida

diária).

Experiência do Aluno

O ensino é

didático, padronizado e a

experiência do aluno tem

pouco valor.

A experiência é

rica fonte de aprendizagem,

através da discussão e da

solução de problemas em

grupo.

Orientação da

Aprendizagem

Aprendizagem por assunto

ou matéria.

Aprendizagem

baseada em problemas,

exigindo ampla gama de

conhecimentos para se

chegar a solução.

Fonte: CAVALCANTI, Roberto A, Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba,

Paraíba, 1999.

Page 84: Andragogia policial