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INTRODUÇÃO À DIDÁCTICA DO PORTUGUÊS
INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE SETÚBAL
Unidade Curricular: Introdução à Didáctica do Português
Docente: Maria Helena Camacho
Discentes: Ilda Pereira e Natalina Ribeiro
Licenciatura em Educação Básica – 3º Ano Turma A
Ano Lectivo 2009/2010
Várias e diversas são as respostas que se podem obter à questão que se levanta “que
competências deve a escola desenvolver e fazer adquirir?”, permitindo identificar modos
diferenciados de lidar com o desafio do ensino orientado para a aquisição de saberes e/ou
para o desenvolver e fazer adquirir competências. Alguns mantêm-se fiéis à promoção dos
saberes sem questionarem prospectivamente a sua utilidade; outros, aderem às
competências mas desvalorizam os saberes; outros, orientam a sua acção para as
competências em articulação com a consolidação dos saberes que as sustentam; outros,
ainda, concebem competências e saberes enquanto finalidades alternativas não integradas.
Considerando a realidade actual, pensamos que é preciso educar para as competências não
descurando os saberes porque para se ser competente devemos dominar saberes, saber
articular diferentes áreas do saber, saber-fazer, saber-ser e saber tornar-se.
As conceitualizações para o termo competência são muitas, o que, de certa forma, dificulta
a sua aplicação em situações de ensino-aprendizagem; porém, podemos relacionar o termo
à capacidade de realizar bem uma tarefa, ou à capacidade de resolver uma situação
complexa e à capacidade de mobilizar saberes.
Uma das dificuldades em se definir o termo competência comunicativa foi a tentativa de
diversos autores de adaptar o conceito de competência a seus próprios propósitos ou ao seu
campo de actuação, afastando-se da definição clássica proposta por Chomsky (1965),
segundo a qual, a competência significa conhecimento da língua, isto é, das suas estruturas
e regras, e no desempenho real da língua em situações concretas, numa construção
marcadamente dicotómica, sem qualquer preocupação com a função social da língua.
Hymes (1979) foi o primeiro a incorporar a dimensão social ao conceito de competência.
Ao acrescentar comunicativo ao termo competência, demonstrou claramente estar
preocupado com o uso da língua. Assim, para Hymes, não é suficiente que o indivíduo
saiba e use a fonologia, a sintaxe e o léxico da língua para caracterizá-lo como competente
em termos comunicativos. É preciso que, além disso, esse indivíduo saiba e use as regras
do discurso específico da comunidade na qual se insere.
Canale introduziu quatro tipos de competências: competência gramatical que implica o
domínio do código linguístico, a habilidade em reconhecer as características linguísticas da
língua e usá-las para formar palavras e frases; competência sociolinguística, que implica o
conhecimento das regras sociais que norteiam o uso da língua, compreensão do contexto
social no qual a língua é usada; competência discursiva diz respeito à capacidade de
combinar formas gramaticais e significados para construir um texto oral ou escrito
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adequado a diferentes situações de comunicação, com coesão e coerência; competência
estratégica, que inclui estratégias utilizadas pelo locutor para compensar o seu domínio
imperfeito da língua.
Segundo Sophie Moirand (1982) a competência comunicativa é a aptidão para produzir e
interpretar, de maneira clara e espontânea, os enunciados das enumeras situações da nossa
existência. Quando comunicamos, utilizamos quatro componentes: componente linguística;
componente discursiva (apropriação dos diferentes tipos de discursos); componente
referencial (conhecimento dos objectos do mundo e a suas relações) e, por fim, a
componente sociocultural (apropriação das regras sociais e das normas de interacção entre
os indivíduos e as instituições).
O Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas fornece uma base comum para a
elaboração de programas, linhas de orientação curriculares, etc. Acrescenta como
componente da competência comunicativa as competências: linguística, sociolinguística e
pragmática.
O ser humano é por natureza comunicador; faz parte da nossa condição de seres sociais e
manifesta-se de muitas maneiras: acção ou imobilidade, palavras, gestos ou silêncio, todos
contêm uma mensagem que é percebida pelos pares da comunidade linguística a que
pertencemos. Existem muitas áreas da vida social em que as pessoas necessitam de uma
competência oral sofisticada, como situações de comunicação proporcionadas pela
televisão, rádio, cinema, que oferecem informação que os cidadãos têm de saber analisar da
melhor maneira; situações em que, pela comunicação oral, se compra e vende, se procura
informação ou se reclama, etc. Enfim, são inúmeras e de extrema importância as situações
da vida quotidiana em que saber ouvir e saber falar são capacidades fundamentais
consequentes de um domínio das competências linguísticas.
A competência linguística designa o conhecimento da língua em várias vertentes, a sua
aquisição irá permitir a cada falante produzir e compreender os enunciados verbais, activa
um número finito de regras fonológicas, morfológicas, sintácticas e semânticas, que são
conhecidas apenas intuitivamente e que são adquiridas com base numa capacidade inata;
uma competência lexical, que inclui o conhecimento da forma e dos significados das
palavras, tal como convencionados na sua comunidade linguística; e ainda uma
competência pragmática, que diz respeito ao conhecimento das normas de uso desse
conhecimento linguístico, formas de tratamento, níveis de linguagem adequados ao
contexto e às finalidades da comunicação, etc. A competência nestes quatro domínios
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permite ao falante/ouvinte produzir e reconhecer sequências linguísticas e avaliá-las como
correctas ou incorrectas.
Após termos analisado e reflectido sobre os vários campos da comunicação e da
linguagem, e de termos procurado identificar as diversas competências que um falante
precisa de possuir e desenvolver para poder utilizar com proficiência todas as
possibilidades oferecidas pela língua, concluímos que o ensino do Português não é assunto
de abordagem fácil e simples, dada a complexidade dos temas implicados: o conhecimento
explícito da língua (na sua estrutura e no seu funcionamento), a expressão e a compreensão
oral, a escrita e a leitura. Todos estes domínios levantam questões complexas e
controversas.
Sendo a Língua Portuguesa um meio de aprendizagem de outras áreas do currículo, torna-
se evidente que deverá ser uma preocupação dos professores de todas as disciplinas pelas
implicações que o seu domínio possui na aquisição de conhecimento, na pesquisa de
informação, na expressão desse mesmo conhecimento, na construção do saber.
Pela enorme importância que podemos verificar nos conteúdos que integram a Língua
Portuguesa a vários níveis, tanto sociais como académicos, consideramos fundamental que
a didáctica do Português seja uma matéria merecedora de toda a atenção da comunidade
investigativa e docente.
A didáctica tem como objetivo fundamental ocupar-se das estratégias de ensino, das
questões práticas relativas a metodologias de ensino, funciona como o elemento
transformador da teoria na prática.
Segundo Isabel Alarcão, a Didáctica estrutura-se: na Didactica Investigativa, que diz
respeito à observação e interpretação dos actos educativos; na Didáctica Curricular, diz
respeito à formação curricular, inicial ou contínua e, por último, na Didáctica profissional,
diz respeito às práticas dos professores no terreno escolar.
A Didáctica de Línguas desenvolveu-se em três momentos designados de Didáctica
instrumental, Didáctica específica e Didáctica de línguas ou do plurilinguismo. Na
Didáctica instrumental, etapa que prevaleceu até aos anos 80 do séc.xx, a Didáctica de
Línguas afirma-se como um espaço de instrumentos e técnicas ao serviço da formação de
professores. Formação esta que é tanto mais sucedida quanto melhor o professor for capaz
de aprender a manipular esses instrumentos técnicos.
A Didáctica específica corresponde a um esforço de autonomização da Didáctica enquanto
disciplina autónoma. É promotora de situações de construção de conhecimento sobre o
processo de ensino e de aprendizagem centrada na sala de aula. Visa desenvolver nos
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professores um conjunto de saberes e competências capaz de lhes permitir tomar decisões
na vida profissional, incrementando actividades de formação que os leve a analisar o que
acontece nas situações de ensino/aprendizagem especificas de uma dada língua.
A Didáctica do plurilinguísmo questiona uma abordagem da educação e formação
linguística monolingue, estanque, para se lançar na questão onde as linguas não se debatem
umas com a outras, antes ocorrem para o desenvolvimento do sujeito, grupos e sociedades
mais capazes de lidarem com a diversidade e de fazerem dela uma poderosa alavanca de
desenvolvimento.
A Didáctica assume-se assim como uma Didáctica de Línguas ou do Plurilinguismo, isto é,
deixa-se de entender apenas como uma didáctica de uma matéria específica e de sala de
aula, para passar a conceptualizar-se como uma didática de gestão de recursos, investindo
no desenvolvimento de competências de linguagem que evoluem no sentido de uma
competência mais global, integradora de reportórios verbais múltiplos e complexos,
designada de plurilingue e pluricultural.
A intercompreensão promove a capacidade de aprender línguas de modo transversal e
articulado, isto é, rentabilizando competências construídas em diferentes espaços
disciplinares, mas que se mobilizam na criação de uma competência de comunicação
plurilingue.
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