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Professor, posso usar o Facebook na aula?
"PikiWiki Israel 32304 The Internet Messenger by Buky Schwartz" por Dr. Avishai Teicher Pikiwiki Israel. Licenciado sob CC BY 2.5, via Wikimedia Commons -
Breno Deffanti
Portuguese TeacherBrazilian StudiesGraded - The American School of São Paulo
http://brenodeffanti.blogspot.com/
PropostaDesde de que a Internet foi incorporadas ao nosso cotidiano, uma
disputa paralela em condições desiguais pela atenção dos nossos
alunos estabeleceu-se em sala de aula. Além de ensinar e educar,
fomos impelidos a controlar o acesso dos estudantes aos sites e, agora,
às redes sociais. E, devemos concordar, é uma tarefa inglória, pois
como podemos competir com tantos links, memes, fotos e estímulos?
Entretanto, e se a resposta for: devemos, na verdade, incentivar nossos
alunos a usar a internet, e por que não o Facebook, em sala de aula. O
que você acha?
O que é a sala de aula?
a sala de aula ainda
não é a arena das
ideias, das ideologias
e do inacabado, mas
sim o lugar do
acabado, do imposto
e do canônico
No que tange ao uso da tecnologia, a sala de aula é o momento do
questionamento e da resignifcação. Seu uso não deve estar voltado
para a perpetuação do antigo, do solidificado. Ao contrário, as novas
tecnologias em sala de aula devem privilegiar as novas
possibilidades de uso dos gênero textuais.
Anos 80:
● na realização de análises morfológica e sintática de palavras e de
frases isoladas;
● leitura de textos literários clássicos;
● leitura infanto-juvenil;
● textos escritos pelo próprio autor do livro didático;
● capacitação dos alunos para a escrita; (MARCUSCHI, B. 2010)
Os gêneros textuais em sala de aula: perspectiva histórica
Anos 50:
● Composições livres,
a partir de gravuras,
de trechos
narrativos e cartas;
● Composições
elementares nos
primeiros anos,
reprodução e
imitação de
pequenos trechos;
● Produções “de lavra
própria”.
Anos 60 - 70:
● Leis de Diretrizes e Bases da Educação;
● Comunicação de massa, deslumbramento tecnológico,
desenvolvimento industrial e econômico do país;
● Valorização da capacidade do indivíduo de se comunicar de modo
claro, lógico e fluente nas nas esferas sociais;
● Língua: um código claro e lógico, comunicação sem ruídos;
● Padrão de texto a ser obedecido, uma técnica de redação a ser
aplicada; Segui-los à risca garante a uniformidade e a clareza da
mensagem;
● Formação de um aluno capaz de se expressar com eficiência.(MARCUSCHI, B., 2010).
Anos 80:
Geraldi (1984/1997): critica o trabalho com
textos nas escolas:
● Redações escolares: escreve-se para a
escola, um fim em si mesmo: é o que se
deve fazer nas escolas.
● Produção de texto: escreve-se na escola,
escrita como forma de posicionar-se: há
algo a dizer.
Anos 90:
"Todos os diversos campos da
atividade humana estão ligados ao
uso da linguagem. Compreende-se
perfeitamente que o caráter e as
formas desse uso sejam tão
multiformes quanto os campos da
atividade humana, (...). O emprego da
língua efetua-se em forma de
enunciados (orais e escritos)
concretos e únicos, proferidos pelos
integrantes desse ou daquele campo
da atividade humana.
"Mikhail bakhtin" por Desconhecido - http://ec-dejavu.ru. Licenciado sob Domínio público, via Wikimedia Commons
(...) Esses enunciados refletem as condições específicas e as
finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático)
e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua
construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo
temático, o estilo, a construção composicional – estão
indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente
determinados pelas especificidades de um determinado campo da
comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual,
mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos
relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros
do discurso(BAKHTIN, 1929/2003).
Os gêneros textuais em sala de aula: a escolarização
● Desdobramento: colocar os alunos, ao mesmo tempo, em situações
de comunicação que estejam o quanto mais próximas de
verdadeiras situações de comunicação (...)
● O gênero trabalhado na escola é sempre uma variação do gênero
de referência, construída numa dinâmica de ensino/aprendizagem.
(DOLZ & SCHNEUWLY, 1999).
Redação: Como articulista, o aluno deverá:● assinar o artigo, assumindo a
responsabilidade por suas opiniões;● definir o público alvo – a linguagem
deverá ser adequada ao perfil do público leitor - e o suporte midiático em que o artigo deverá erá veiculado.
As produções serão corrigidas pelo professor e selecionadas para serem publicadas, por exemplo, no jornalzinho da escola.
O aluno, na escola, se
encontra diante de uma
prática de linguagem
deslocada de seu
contexto enunciativo
original e inserida em
um contexto no qual ela
é um objeto de
aprendizagem.
TIC: Tecnologia de Informação e Comunicação
A dinâmica associada
ao telefone na época
seria inimaginável para
os dias de hoje.
O celular resignifica a questão do
espaço, pois as possibilidades de
trocas são tantas, que a
presença física muitas vezes não
é requerida. O lado nefasto da
tecnologia é a relação que
estabelecemos com o tempo,
pois não há mais a hora ou
contexto para se trocar
mensagem.
Possibilitando a
incorporação de novos
elementos, os novos
gêneros permitidos pelas
TICs requerem estratégicas
multissemióticas.
O site é um conjunto de
inúmeras possibilidades e
recursos textuais envolvendo
múltiplos elementos
semióticos
O Facebook é quase
um registro do vivido
pela pessoa. É no
Facebook que as
pessoas
compartilham
opiniões políticas e
aspectos do
cotidiano.
TIC: Posso usar o Facebook em sala de aula?Educação em cuja prática se perceba uma compreensão correta da
tecnologia, a que se recusa a entendê-la como obra diabólica
ameaçando sempre os seres humanos ou a que a perfila como
constantemente a serviço do seu bem-estar.
A compeensão crítca da tecnologia, da qual a educacão de que
precisamos deve estar infundida, e a que vê nela uma intervenção
crescentemente sofistica no mundo a ser necessariamente submetida a
crivo político e ético. Quanto maior vem sendo a importância da
tecnologia hoje tanto mais se afirma a necessidade de rigorosa vigilância
ética sobre ela. De uma ética a serviço das gentes, de sua vocação
ontológica, a do ser mais e não de uma ética estreita e malvada, como a
do lucro, a do mercado.
Por isso mesmo, a formação técnico-científica de que
urgentemente precisamos é muito mais do que puro
treinamento ou adestramento para o uso de
procedimentos tecnológicos. (...). O convívio com as
técnicas a que não falte a vigilância ética implica uma
reflexão radical, jamais cavilosa, sobre o ser humano,
sobre sua presença no mundo e com o mundo.
(...) O exercício de pensar o tempo, de pensar a
técnica, de pensar o conhecimento enquanto se
conhece, de pensar o quê das coisas, o para quê, o
contra quem são exigências fundamentais de uma
educaçào democrática à altura dos desafios do nosso
tempo (Paulo Freire, Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros
escritos, Terra & Paz, 1997/2000/2014)
"Paulo Freire" por Slobodan Dimitrov - Obra do próprio. Licenciado sob CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons
Incorporar as novas
tecnologias significa dar
um passo além, propor
ao aluno que extrapole
os muros da sala aula,
que se torne realmente
um autor do seus
textos, correndo os
riscos associados aos
seus enunciados.
As TIC's em sala de aula
"pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho", afirmou o candidato. "Aparelho excretor não reproduz", (29/09/2015)
Compreendendo a sala de aula como o
momento para o questionamento do vivido e
para o questionamento das intricadas relações
exteriores às paredes da sala aula, foi
imperativo que a discussão chegasse à sala de
aula.
O blog, no contexto dessas
novas possibilidades textuais,
nos permite notar com mais
clareza através dos
comentários e do número de
compartilhamento das
postagens os movimentos de
filiação, contraposição e
questionamento.
Breno Deffanti: Em qualquer aspecto da vida, a nossa atuação gera consequências. O simples ato de estar no mundo, o simples fato de existir já gera consequências e, portanto, responsabilidades. Não podemos, sob hipótese alguma, acreditar que os discursos materializem-se em enunciados apenas e não em associações. Tudo aquilo que falamos entra em uma cadeia de enunciados que modificam o mundo como o percebemos. Além do mais, devemos sempre levar a posição que o candidato ocupa, que gera responsabilidades extras. Um comentário postado em blog requer responsabilidades diferentes daquele dito em um debate em rede nacional. Infelizmente, nossas leis carecem de instrumentos que cobrem das pessoas as responsabilidades sobre seus discursos!
As TIC's em sala de aula
Aluno: Sim, todas as pessoas têm o direito de expressar suas
opiniões, porém deve existir a questão da ética. Ocorre que em
muitos casos um sujeito não a leva em consideração, como o
Levy Fidelix. Na visão de muitas pessoas ele simplesmente
expressou a sua opinião. Porém, para um sujeito expressar sua
opinião, não é necessário expressar ódio e agressão. Há limites;
não podemos agredir o outro, estaríamos cometendo algo
imoral. E sim, foi o que o Fidelix cometeu. Ele expressou um
discurso de ódio em uma rede nacional. Alguns vão falar que foi
apenas um “discurso” e que não incitará violência. Mas
precisamos lembrar que para todas as nossas ações, há
consequências.
As TIC's em sala de aula
Pedagogicamente falando, os alunos não fizeram uso de um pastiche
do gênero alvo. Ao contrário, o uso das TIC's possibilitou aos alunos a
apropriação do gênero em sua plenitude. De instrumentalizador de
gêneros textuais, o aluno passou para autor. É interessante observar
que a atividade em questão não se constituiu da instrução "escreva um
comentário em um blog". Houve uma modalização do ensino, uma
sequência didática que possibilitou ao aluno a apropriação por
completa do gênero textual.
As TIC's em sala de aula
Sobre a pergunta inicial: "posso usar o Facebook em sala de aula?" A
reposta é "claro!", ou melhor, "deve!". Mas, seu uso deve estar
associado à ampliação das possibilidades pedagógicas e não para sua
manutenção. Diante de vários questionamentos sobre o futuro da
escola e do professor, o uso das novas tecnologias só terá sentido
como um instrumento para a rompimento com as práticas arcaicas e
elitizantes. Afinal, novos instrumentos, novas possibilidades, novos
sentidos. Parafraseando Gilberto Gil, façamos dos gigabytes, das home
pages e dos web sites uma jangada, um barco que veleje.
As TIC's em sala de aula
● BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal - Trad. Paulo Bezerra, São Paulo, Martins
Fontes: 1992/2003.
● ___________ Para uma filosofia do ato responsável – Trad. Valdemir Miotello & Carlos
Alberto Faracco, São Carlos, Pedro & João Editores: 2010.
● DEFFANTI, Breno L. Produção escrita e inclusão escolar : um estudo neurolinguístico
-- Campinas, SP : [s.n.], 2011.
● BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e
quarto ciclos do ensino fundamental, Brasília, DF: 1998.
● ______ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Documento Orientador do Programa de Educação
Inclusiva, Brasília, DF: 2006.
● ______ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações Curriculares para o Ensino Médio:
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Brasília, DF: 2006.
● DOLZ, J. & SCHNEUWLY, B. Os gêneros escolares – das praticas de linguagem ao
objeto de ensino - Trad. Glaís Sales Cordeiro In: Revista Brasileira de Educação /
Maio, Jun, Jul, Ago, 1999.
● FREIRE, M.F., Enunciação e Discurso: A Linguagem de Programação Logo no Discurso
do Afásico, Campinas, Mercado das Letras: 2006.
● FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa, Paz e
Terra, Rio de Janeiro: 1996.
● _________ Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos, Terra &
Paz, 1997/2000/2014
● GERALDI, J.W. , A aula como acontecimento, São Carlos, Pedro & João Editores: 2010.
● ___________. Portos de Passagem, São Paulo, Martins Fontes: 1997.
● MARCUSCHI, B., Escrevendo na escola para a vida, no prelo, 2010
● SÃO PAULO. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, Proposta Curricular do Estado
de São Paulo: Língua Portuguesa, São Paulo: 2008.
● SILVA, J. Q. G., Gênero Discursivo e tipo textual. In: Scripta,v. 2, n. 2, 1999.