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Rbcm 2000 flexibilidade e percepçao subjetiva

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Page 1: Rbcm 2000 flexibilidade e percepçao subjetiva

Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília v.8 n. 3 p. junho 2000 15

Validade da percepção subjetiva na avaliação daflexibilidade de adultos

Quantitative and qualitative analysis of the anticipation symptoms in motoractions of children

Resumo

[1] Silva, L.P.S., Palma, A. e Araujo, C.G.S., Validade dapercepção subjetiva na avaliação da flexibilidade de adul-tos. Rev. Bras. Ciên. e Mov. 8 (3): 15-20, 2000.A flexibilidade, definida como a amplitude máxima fisio-lógica passiva em um dado movimento articular, represen-ta um dos componentes da aptidão física relacionada à saú-de. O objetivo principal deste estudo foi comparar as ava-liações subjetiva e objetiva da flexibilidade. Uma amostrade 52 jovens de ambos os sexos e experientes em atividadefísica, teve sua flexibilidade avaliada pelo Flexiteste; essemétodo avalia, separadamente, em uma escala adimensio-nal ordinal de 0 a 4, a amplitude de 20 movimentos corpo-rais, distribuídos em sete grandes articulações ou conjun-tos articulares. Com a soma dos resultados individuais, épossível obter o flexíndice, que reflete a flexibilidade cor-poral. Em adendo, foi realizada, independentemente, umaavaliação subjetiva, solicitando-se ao indivíduo uma auto-avaliação do seu nível de flexibilidade, dentro dacategorização proposta pelo Flexiteste. Os resultados dasduas formas de avaliação relacionavam-se (r = 0,73;p<0,001) e não diferiam significativamente entre si, contu-do, houve uma tendência significativa para que os indiví-duos mais flexíveis apresentassem uma maior margem deerro, subestimando a sua própria flexibilidade. Cerca de25% dos indivíduos testados apresentaram diferenças su-periores a 10% entre as formas de avaliações objetiva esubjetiva da flexibilidade. Estudos futuros são necessáriospara melhor investigar a relevância e a aplicabilidade daauto-avaliação de componentes da aptidão física, para a ori-entação, prescrição e aderência a programas de atividadefísica regular.

PALAVRAS-CHAVE : flexibilidade, auto-avaliação, per-cepção subjetiva, aptidão física, qualidade de vida relacio-nada à saúde.

Abstract

[2] Silva, L.P.S., Palma, A. e Araujo, C.G.S., Validade dapercepção subjetiva na avaliação da flexibilidade de adul-tos. Rev. Bras. Ciên. e Mov. 8 (3): 15-20, 2000Flexibility, defined as the maximal passive physiologicalrange of motion in a given joint movement, represents oneof the components of health-related physical fitness. Themain objective of this study was to compare the subjectiveand objective evaluations of the flexibility. A sample of 52young subjects from both sexes, who are experienced inphysical activity had their flexibility appraised by theFlexitest; the method evaluates, separately, in adimensionless ordinal scale from 0 to 4, the range of motionof 20 body movements distributed in seven major joints.Adding the results of the individual movements, it ispossible to obtain the flexindex that reflects the overall bodyflexibility. In addition, a subjective evaluation, wasindependently obtained by requesting the individuals to self-evaluate his(her) flexibility, according to the Flexitest’sclassification system. The results of the two forms ofevaluation were related (r = .73; p <.001) and did notsignificantly differ. Notwithstanding, there was a significanttrend so that the most flexible individuals presented a largermargin of error, underestimating his/her own flexibility.About 25% of the tested subjects showed a larger than 10%error between the objective and subjective forms of theflexibility evaluation. Further studies are needed to bestinvestigate the relevance and the applicability of the self-evaluation of physical fitness components for theorientation, prescription and adherence to regular physicalactivity programs.

KEYWORDS : flexibility, self-rated, self-perception,physical fitness, health-related quality of life.

15-20

Professores do Curso de Educação Física1 e do Programa dePós-Graduação em Educação Física2 - Universidade GamaFilho e Clínica de Medicina do Exercício2

Rio de Janeiro - RJ - Brasil

Endereço para correspondência:Dr. Claudio Gil S. AraújoClínica de Medicina do ExercícioRua Siqueira Campos, 93/10122031-070 - Rio de Janeiro - RJ - BrasilE-mail: “[email protected]

Lilian Pereira dos Santos Silva 1

Alexandre Palma 1

Claudio Gil Soares de Araújo 2

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IntroduçãoA área de medidas e avaliação em Educação Físi-

ca tem, há muito tempo, despertado o interesse dos profis-sionais e pesquisadores dessa área. Dentro desse contexto,a flexibilidade, um dos componentes da aptidão física rela-cionada à saúde (1) e que pode ser definida como a ampli-tude máxima fisiológica passiva, em um dado movimento(3,4), tem sido alvo de vários estudos que buscam umamaneira de medi-la.

Araújo (3, 4) sugeriu uma classificação dos testesde flexibilidade, de acordo com as unidades de medida, em:lineares, angulares e adimensionais. Os testes “lineares”como, por exemplo o teste de sentar e alcançar, que expres-sam os resultados obtidos em uma escala de distância foram,durante muito tempo, utilizados na Educação Física. Contu-do, desde a proposição inicial do Flexiteste, um teste adi-mensional, feito por Pável e Araújo, em 1980 e posterior-mente modificado por Araújo (2), em 1986, este tornou-se omais comumente utilizado em pesquisas (5, 6, 9, 11) e nasrotinas de avaliações físicas de academias, clubes e escolas,em nosso país. De modo sucinto, nesse teste avalia-se a am-plitude passiva máxima obtida em 20 movimentos articula-res específicos, pela comparação com mapas específicos deavaliação. Para cada movimento são atribuídas notas de 0 a4, em uma escala crescente e descontínua de natureza ordinal(2-4, 9). Considerando-se que os resultados populacionaispara todos os movimentos apresentam uma distribuição muitopróxima à gaussiana, é teoricamente possível obter um índi-ce adimensional de flexibilidade global, denominado flexín-dice, pela simples soma dos resultados individuais nos 20movimentos, com os resultados dispostos dentro de uma es-cala que varia entre 0 e 80 pontos. Na abordagem original doFlexiteste (3), recomendava-se a classificação da flexibili-dade global, com base nos escores do flexíndice, em “muitofraco”; “fraco”; “médio(-)”; “médio(+)”; “bom” e “excelen-te”. Contudo, esta classificação não levava em consideraçãoaspectos relevantes, tais como gênero e faixa etária ou, ainda,atividade física regular.

Assim, Araújo et al. (6) sugeriram umareformulação na classificação proposta e, a partir de umamplo banco de dados, definiram curvas de percentispopulacionais para indivíduos entre cinco e 82 anos de ida-de separados por gênero. Estabelecendo uma relação entreos dois sistemas de classificação, pode-se arbitrariamentedefinir que “muito fraco” corresponde a valores menoresdo que o percentil 10, “fraco” entre P10 e P25, “médio(-)”entre P25 e P50, “médio(+)” entre P50 e P75, “boa” entreP75 e P90 e, finalmente, “excelente” como resultados aci-ma do percentil 90. Deste modo, dependendo do sexo e daidade dos indivíduos, a classificação referente a uma deter-minada pontuação poderia diferir.

Em 1999, Silva e Palma (15) analisaram critica-mente a utilização de testes para medir e avaliar a flexibili-dade e propuseram uma comparação entre os resultadosobtidos, a partir da percepção subjetiva e aqueles encontra-dos pelo Flexiteste, em sua proposta de classificação origi-nal. Este procedimento de medida, a partir da auto-avalia-ção, encontra consonância na literatura (10, 12, 14, 17).

Embora nessa análise preliminar (15) não tenhahavido diferenças significativas entre os resultados do Fle-xiteste e da classificação proposta pela percepção subjeti-va, parece oportuno reavaliar esses dados, à luz das curvasde percentis populacionais. Sendo assim, o objetivo desteestudo foi validar a auto-avaliação como instrumento demedida da flexibilidade. Tal estudo se justifica na medidaem que, até onde se pôde verificar, existem poucos estudoscientíficos sobre a utilização da auto-avaliação para a clas-sificação do nível de flexibilidade e por se tratar de umprocedimento prático, que poderia ser utilizado no dia-a-dia dos educadores físicos.

Especificamente, o estudo direcionou-se para res-ponder a três questões: 1) qual é a validade de se utilizar apercepção subjetiva como instrumento de avaliação da fle-xibilidade, 2) em que medida essa auto-avaliação sofre in-fluência do nível de aptidão física e 3) se existe associaçãoentre o nível de flexibilidade corporal e a margem de erroentre as avaliações objetiva e subjetiva.

MétodoA amostra foi constituída por 52 indivíduos (34

homens e 18 mulheres), com idade entre 16 e 51 anos (23,3± 6,2; média±desvio padrão), sendo 33 atletas, 19 fisica-mente ativos e três sedentários. Para esse estudo, foramconsiderados “atletas” os indivíduos que participavam re-gularmente de treinamento físico e competições, indepen-dentemente da modalidade; como “fisicamente ativos”,aqueles indivíduos que realizavam qualquer atividade físi-ca pelo menos três vezes por semana e que não participa-vam de treinamentos ou competições.

Para melhor controlar a condição de execução daavaliação (5), os indivíduos testados não realizaram qual-quer atividade física prévia na hora anterior e/ou aqueci-mento. O Flexiteste foi aplicado por avaliadores experien-tes no método. Durante a execução do teste, os movimen-tos, realizados sempre no lado direito do avaliado e pelosmesmos avaliadores, foram conduzidos de forma lenta, apartir da posição demonstrada na figura-base (valor 0) atéo ponto de surgimento de desconforto ou restrição mecâni-ca. Antes da aplicação do Flexiteste, todos os movimentosdo referido teste eram explicados e demonstrados. A se-guir, solicitava-se ao indivíduo auto-avaliar sua flexibili-dade global, utilizando a tabela de classificação original dopróprio Flexiteste (3).

Nesse método são avaliados movimentos das arti-culações do tornozelo, joelho, quadril, tronco, punho, co-tovelo e ombro, sendo oito movimentos feitos nos mem-bros inferiores, três no tronco e nove nos membros supe-riores. Com a soma dos resultados obtidos nos 20 movi-mentos, foi calculado o flexíndice. A partir daí e em funçãodo sexo e da idade (6), o indivíduo era classificado em“muito fraco”; “fraco”; “médio(-)”; “médio(+)”; “bom” e“excelente”, o que correspondia, respectivamente, às se-guintes faixas de percentis: <P10, P11-25, P26-50, P51-75,P76-90, >P90. Para a análise dos dados, compararam-se osresultados do Flexiteste e da auto-avaliação de cada indiví-duo sobre sua própria flexibilidade.

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A análise estatística foi realizada através dos tes-tes de qui-quadrado e do teste t emparelhado e da correla-ção produto-momento de Pearson. Para o primeiro, foramconfrontados as freqüências de resultados, em cada umadas seis categorias de classificação (de muito fraco à exce-lente) da avaliação subjetiva, com as freqüências obtidasdiretamente com o banco de dados, nas respectivas faixasde percentis do Flexiteste (avaliação objetiva). Além disso,utilizou-se o teste, também, nas análises da influência donível de aptidão física sobre a possibilidade de acerto. Osegundo teste estatístico buscou verificar se havia uma ten-dência a subestimar ou a superestimar o nível de flexibili-dade global, através da comparação entre os resultados doflexíndice com os valores centrais (mediana) da classifica-ção sugerida pelo avaliado. Para verificar a associação en-tre os resultados das duas formas de avaliação e entre aforma objetiva e a margem de erro, através da percepçãosubjetiva, utilizou-se, então, a medida da correlação e seapropriado o coeficiente de determinação da regressão li-near entre as duas variáveis. Para todos os procedimentosconsiderou-se como 5% de probabilidade, para caracteri-zar significância estatística.

ResultadosA distribuição da freqüência dos resultados do

flexíndice, tanto pela comparação entre as médias (p=0,20)como pela classificação em categorias, com base no tipo deavaliação (Tabela I), não mostrou diferenças significativasentre as avaliações subjetiva e objetiva, muito embora severifique uma discreta tendência a um menor número deindivíduos classificarem-se em níveis excelentes quando,na realidade, possuíam níveis de flexibilidade corporal com-patíveis com esse patamar. As Figuras 1 e 2 (página se-guinte) apresentam o diagrama de dispersão dos resultadosdos dois tipos de avaliação. Observou-se uma associaçãosignificativa entre os resultados (r = 0,73; p<0,001), mos-trando que cerca de 50% dos valores do flexíndice, efetiva-mente medidos, podem ser explicados pela avaliação sub-jetiva (r2 = 0,50).

Considerando-se a margem de erro de ± dois pon-tos, que é normalmente aceita para o flexíndice na medidada flexibilidade pelo Flexiteste (3), observou-se que 23 e29% dos indivíduos, respectivamente, superestimaram esubestimaram seus resultados na auto-avaliação.

Na análise dos dados, é possível, ainda, isolar al-gumas variáveis que podem interferir nos resultados en-contrados. Nesse sentido, de acordo com a classificaçãoem “atletas” e “não-atletas”, verificou-se que não houvediferenças (p<0,05) em função dos níveis de prática regu-lar de atividade física. A Tabela II apresenta o total de va-lores acertados e errados, considerando esses níveis. Essesresultados conduzem à interpretação diferente da prelimi-narmente apresentada por Silva e Palma (15) de que, quan-to maior o nível desportivo do praticante, maior seria a pos-sibilidade de acerto da classificação.

TABELA I . Distribuição da freqüência de resultados paracada categoria de classificação*

ocarfotiuM ocarF )-(oidéM )+(oidéM moB etnelecxE

oãçailavA-otuA 0 0 1 63 11 4

etsetixelF 0 0 3 03 41 5

x* 2 .19,0=p;75,1=

TABELA II . Valores acertados e errados em função dos níveisde prática de atividade física*

sateltA **satelta-oãN

serolaVsodatreca

41 01

sodarreserolaV 91 21

x** 2 .69,0=p;300,0=

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Figura 1 - Comparação dos resultados do Flexiteste (flexíndice) em avaliações objetiva e subjetiva

30

35

40

45

50

55

60

65

70

30 35 40 45 50 55 60 65 70

Avaliação Objetiva (pontos)

Ava

liaçã

o S

ubje

tiva

(pon

tos)

r=0,73n=55p<0,001

Figura 2 - Percentual de erro na auto-avaliação do Flexiteste (flexíndice)

-30-25-20-15-10-505

1015202530

30 35 40 45 50 55 60 65 70

Avaliação Objetiva

Per

cent

ual d

e E

rro

(%)

r=0,4n=52p=0,002

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Discussão A amostra estudada possuía características bem

definidas, com muitos deles estudando Educação Física e/ou praticando esportes competitivos. Dessa forma, não épossível generalizar os nossos achados para outros grupospopulacionais. De qualquer modo, esses dados corroboram,de certo modo, estudos anteriores da literatura. Knapik etal. (12), estudando militares, concluíram que os indivíduosfisicamente ativos eram capazes de se classificaremacuradamente em termos de condição aeróbia, força mus-cular e alguns tipos de flexibilidade, mas não em sua velo-cidade. De modo semelhante, Xiang e Lee (17) encontra-ram uma positiva correlação entre a categorização, defini-da pelos professores, dos desempenhos de certas habilida-des e a autocategorização dos desempenhos, proposta pe-los alunos.

Por outro lado, Delignieres et al. (10) observaramque a autopercepção da aptidão física foi mais facilmenteassociada à condição física cardiovascular. Contudo, paraas capacidades de força, flexibilidade e composição corpo-ral poderia haver uma influência significativa em depen-dência do sexo e da idade dos indivíduos.

Embora, à primeira vista, possa parecer que houveum número percentual de erros bastante elevado, quandose faz a análise dos dados, confrontando-se os resultadosdo flexíndice com os valores centrais da classificação su-gerida, percebe-se que, mesmo nos casos em que a flexibi-lidade era subestimada ou superestimada, o erro absoluto,considerando a medida objetiva, era relativamente peque-no. Utilizando-se um patamar de 10% para erro relevante,observou-se que apenas 13 dos 52 indivíduos testados (25%)erraram a estimativa dos seus resultados em mais do que10%. Considerando que se trata de um grupo que, em suagrande maioria, possui considerável experiência motora,esse achado não parece surpreendente, uma vez que o indi-víduo experimenta diversos movimentos e sensações aolongo da vida e acaba por ter um maior conhecimento so-bre o seu corpo. O indivíduo não é uma tabula rasa quenão tem acesso aos seus “sentidos”; ele não é ignorante ouimpotente em relação a seu próprio corpo (Lefévre, 1999).É possível, ainda, que aqueles que se mostraram mais fle-xíveis tenham tido níveis até maiores em uma idade menore, por isso, tendam a se considerar atualmente em níveisabaixo de excelentes. Uma análise da mesma questão comum grupo de ex-atletas, poderia ajudar a testar essa possi-bilidade teórica.

Quando os valores foram analisados, a partir dadistinção dos níveis atuais de prática regular de atividadefísica parece que, dentre os que já eram fisicamente ativos,aqueles que possuíam maior experimentação motora nãoeram os que, necessariamente, apresentavam uma possibi-lidade maior de acerto. Isto é particularmente importante,pois abre a possibilidade da auto-avaliação da flexibilidadeser usada em diferentes grupos populacionais. Essa rele-vante questão deverá ser alvo de futuros estudos.

É ainda oportuno comentar outro aspecto relacio-nado à eventual tomada de decisão, a partir dos resultadosalcançados. Um primeiro aspecto, neste caso, é o fato pelo

qual, se o indivíduo sabe classificar-se corretamente, qualé sua atitude diante disto? Ou, ainda, por que não treinamais, se for o caso, essa qualidade física ou as articulaçõescom piores desempenhos em mobilidade? É levado em con-sideração o resultado alcançado, para posterior prescriçãodo treinamento? É possível encontrar na literatura estudos(7, 8, 16) que confirmam a possibilidade de orientação dotreinamento, através da percepção do esforço, contudo, es-ses estudos estão mais relacionados ao trabalhocardiorrespiratório. Por outro lado, a prescrição do treina-mento de flexibilidade não tende a depender de nenhumvalor objetivo mensurado em testes, pelo contrário, utilizaa própria sensação de dor como parâmetro de intensidadedo treinamento de flexibilidade (1, 4). Não está ainda cla-ro, no momento, qual pode vir a ser a contribuição efetivado conhecimento desse resultado sobre o padrão de ativi-dade física habitual do indivíduo, o que pode possuir signi-ficativas implicações, em termos de saúde pública.

Desse modo, classificar os indivíduos a partir desuas próprias percepções não seria um problema. Porém,esta não deveria ser interpretada num “vazio”. Como qual-quer instrumento de medida, a percepção subjetiva podeser insuficiente em algumas situações específicas e, assim,necessitar de outras informações complementares.

ConclusãoOs resultados deste estudo mostram que, no con-

junto de indivíduos estudados, não existem diferenças en-tre as medidas de flexibilidade efetivamente realizadas como Flexiteste e aquelas sugeridas pela auto-avaliação, em in-divíduos adultos que praticam regularmente atividade físi-ca. Contudo, do ponto de vista individual, pelo menos umem cada quatro indivíduos cometeram erros substanciaisem sua auto-avaliação da flexibilidade corporal, como umtodo. Estudos futuros deverão tentar identificar quais sãoas características individuais que permitem predizer se umdado indivíduo tenderá a acertar ou errar em sua auto-ava-liação. O conhecimento dessa informação poderá trazersubstanciais contribuições para a orientação, a prescrição ea aderência a programas de atividade física.

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