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Araçatuba Talita Rustichelli [email protected] Osni Branco foi morar no Ja- pão pela primeira vez em 1972, movido por um sonho de crian- ça. Sua mãe alfabetizava crianças japonesas recém-chegadas ao país e como ele descreve, sua casa es- tava sempre cheia de japoneses. Esse contato constante fez com que ele desenvolvesse uma gran- de admiração pelo Japão. Em 1975, retornou ao Bra- sil, e depois, em 1990, voltou ao Japão, onde residiu por cerca de 20 anos. Em 2004 retornou defi- nitivamente para o Brasil com a família. "Eu sentia falta do sol, dos amigos, do espaço. O ser hu- mano tem a necessidade de estar em contato com suas raízes. Por mais que se tenha sucesso no ex- terior, sempre falta algo. Lá, mi- nha arte era muito valorizada, mas eu estou em um bom mo- mento aqui no Brasil", conclui. "No Japão, eu atendia jo- vens brasileiros que trabalhavam nas fábricas japonesas. Era um movimento cultural, ou seja, ti- nha a proposta de reforçar a iden- tidade cultural brasileira, além de dar a oportunidade para que es- tes jovens pudessem fazer um in- vestimento em si através da ar- te", afirma. Segundo Branco, a comunidade brasileira que vivia no país sofria vários problemas, entre eles a exclusão por conta da língua e por serem estrangei- ros. "Como cidadão, eu decidi abrir minha oficina e convidá-los para participarem das atividades de arte", complementa. O artista se mostra satisfei- to com os resultados obtidos. "O projeto começou com 12 pes- soas e depois de um ano havia mais de 100 participantes. Fize- mos 15 exposições, ganhamos um espaço positivo na mídia, que antes só falava mal do jo- vem brasileiro", conclui. INÍCIO O movimento iniciou suas atividades em Nagoya, provín- cia de Aichi, no Japão, em 1995. Posteriormente, oficinas foram sendo realizadas durante cerca de 10 anos consecutivos, nas cidades de Hamamatsu, Toyohashi, Toyokawa, Yokoha- ma, Tóquio, Oizumi. As ofici- nas, nas quais eram desenvolvi- das obras nos segmentos da es- cultura, joia, cerâmica, pintura e fotografia, eram ministradas em língua portuguesa, mas aber- tas a todos os interessados em arte e cultura. TR E le nasceu em Araçatuba, em 1947. "Na Santa Casa, quarto 25", como fez ques- tão de dizer. Ficou aqui até os 20 anos de idade, quando mudou-se para São Paulo com a família. Hoje o artista plástico Osni Branco, que tem obras espalhadas pelo mundo todo e mora em Itapecerica da Ser- ra (SP), retorna à sua cidade natal para relembrar suas raízes e na ten- tativa de realizar um desejo antigo: desenvolver um projeto artístico no município onde nasceu e onde ainda tem laços. O artista chegou na tarde de ontem, quando se reuniria com possíveis interessados em suas pro- postas, e deve ficar cerca de uma semana. "Há muito tempo tenho vontade de fazer alguma exposição ou oficina em Araçatuba. Estive aqui pela última vez há muito tem- po, para expor minhas obras. Ago- ra venho para rever amigos e os lu- gares onde vivi, e quero aproveitar para tentar uma forma de viabilizar algum projeto artístico no municí- pio", afirma Branco, que não visita- va a cidade havia mais de 15 anos. Ele veio acompanhado da fi- lha mais nova, Yasmin de Liz Bran- co, de 24 anos, que, influenciada pelo pai, também atua no campo das artes. A jovem estudante do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, além de auxiliar o pai nas oficinas que ele realiza, tra- balha com fotografia e vai realizar em Araçatuba um trabalho de res- gate histórico de sua família por meio do registro de imagens. CARACTERÍSTICAS Branco trabalha principalmen- te com esculturas em alumínio, uti- lizando ainda outros materiais, co- mo bronze, cerâmica e rochas. Se- gundo ele, uma das características fundamentais de sua obra é a preo- cupação com a sustentabilidade, e temas como a natureza são fre- quentes em seus trabalhos. "Meu foco está no ser huma- no e na sustentabilidade do plane- ta; além disso, ultimamente tenho trabalhado mais com o alumínio, que é um material que pode ser re- ciclado eternamente, sem que ele perca suas características", explica o artista, cuja mais recente exposi- ção teve como tema as árvores. INCLUSÃO Branco conta que desenvolve um projeto de inclusão social cha- mado "Encontro de Arte", com jo- vens financeiramente menos favo- recidos de sua cidade e região. A sustentabilidade também é o foco das oficinas teóricas e práti- cas que ele realiza. "Acredito que a arte tem o papel de passar uma mensagem de conscientização. Além disso, este projeto tem co- mo proposta proporcionar o co- nhecimento aliado à sensibilidade, para criar homens mais sensíveis e menos burros, com melhor capa- cidade de absorver as coisas que estão em torno deles," diz. O artista afirma que nestas oficinas usa como tema o peixe. "Além de ser relacionado à nature- za, é o resgate da dignidade, ou se- ja, 'não dar o peixe, mas ensinar o jovem a pescar'. É um repasse de conhecimento", explica. O projeto "Encontro de Arte" começou no Ja- pão, em 1995, onde Branco mo- rou durante 20 anos, e teve conti- nuidade no Brasil, quando retor- nou definitivamente, em 2004. PROJETOS Além de produzir esculturas particulares para seus clientes, Os- ni Branco está envolvido em ou- tros projetos. "Vou apresentar o tra- balho desses jovens alunos da ofici- na na Feira Latino-americana de Fundição, onde terei um estande e apresentaremos fundição ao vivo", afirma. A feira acontece de 4 a 7 de outubro, em São Paulo. Ele se prepara ainda para uma mostra de seu trabalho em um estande em outra feira, a Expô Alumínio, que acontece no início de 2012, no mês de abril, também em São Paulo. Osni Branco afirma que fez sua primeira escultura como profissional aos 25 anos. "Não tenho formação acadêmica, sou autodidata. Porém, posterior- mente fiz cursos no Japão, EUA etc. Desenvolvi minha técnica e depois, interessado na produção de escultura fundida, fui buscar informações para realizar este ti- po de arte", diz. Segundo ele, a escultura fundida requer conhecimentos diversos, desde tecnologia até en- genharia e química em seu pro- cesso de produção. "Este tipo de escultura tem uma parte que é criativa, mas tem uma parte que envol- ve tecnologia e trabalho operá- rio, afirma Branco. “É a arte do fogo, da temperatura, é ne- cessário fundir o metal, vazar no molde para transformar na peça desejada", completa. MONUMENTOS De acordo com o artista, pa- ra peças maiores, por exemplo, são necessários conhecimentos de cálculo de resistência, precisão de encaixe e química para evitar oxi- dação. Ele afirma que sua maior obra está instalada na Unicamp (Universidade de Campinas), e mede 5 m por 8 m. "É uma com- posição de ondas do mar", diz. Questionado sobre o tempo que leva para finalizar uma peça, Branco afirma que algumas, de- pendendo do tamanho e da com- plexidade, podem levar anos. "Fa- ço obras de diversos tamanhos. Os monumentos, esculturas gran- des, são feitos em faz em peda- ços, que depois são montados e soldados no local onde ficarão", explica. Cada obra pode custar en- tre R$ 1 mil e R$ 100 mil. OBRAS Além do Japão, Branco tem obras e realizou exposições em vá- rios países. Estados Unidos, França, Itália, Coreia, Suíça e Paraguai es- tão entre os países que compõem a rota de seu trabalho. Em Araçatu- ba, ele afirma que existem algumas obras, mas não se recorda correta- mente quem são os proprietários, por terem sido adquiridas em 1994, quando esteve na cidade.TR ARTES PLÁSTICAS Osni Branco Maior obra está instalada na Unicamp Movimento cultural reforça identidade brasileira no ‘País do Sol Nascente’ Os metais de Peixes e árvores estão entre os temas de seus trabalhos mais recentes Projeto começou com 12 pessoas e em 1 ano contava com mais de 100 participantes Autodidata, artista plástico fez a sua primeira escultura profissional aos 25 anos Com obras predominantemente em metal, artista plástico araçatubense faz sucesso no exterior e volta à terra natal, onde pretende desenvolver projetos ligados à arte Paulo Gonçalves/Folha da Região - 09/08/2011 MEIO AMBIENTE Osni com algumas de suas obras: preocupação com a sustentabilidade do Planeta está presente nos temas de seus trabalhos e na matéria-prima utilizada, que é reciclável C1 Araçatuba, quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Osni

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Page 1: Osni

Araçatuba

Talita Rustichelli

[email protected]

Osni Branco foi morar no Ja-pão pela primeira vez em 1972,movido por um sonho de crian-ça. Sua mãe alfabetizava criançasjaponesas recém-chegadas ao paíse como ele descreve, sua casa es-tava sempre cheia de japoneses.Esse contato constante fez comque ele desenvolvesse uma gran-de admiração pelo Japão.

Em 1975, retornou ao Bra-sil, e depois, em 1990, voltou aoJapão, onde residiu por cerca de20 anos. Em 2004 retornou defi-nitivamente para o Brasil com afamília. "Eu sentia falta do sol,dos amigos, do espaço. O ser hu-mano tem a necessidade de estarem contato com suas raízes. Pormais que se tenha sucesso no ex-

terior, sempre falta algo. Lá, mi-nha arte era muito valorizada,mas eu estou em um bom mo-mento aqui no Brasil", conclui.

"No Japão, eu atendia jo-vens brasileiros que trabalhavamnas fábricas japonesas. Era ummovimento cultural, ou seja, ti-nha a proposta de reforçar a iden-

tidade cultural brasileira, além dedar a oportunidade para que es-tes jovens pudessem fazer um in-vestimento em si através da ar-te", afirma. Segundo Branco, acomunidade brasileira que viviano país sofria vários problemas,entre eles a exclusão por contada língua e por serem estrangei-ros. "Como cidadão, eu decidiabrir minha oficina e convidá-lospara participarem das atividadesde arte", complementa.

O artista se mostra satisfei-to com os resultados obtidos. "Oprojeto começou com 12 pes-soas e depois de um ano haviamais de 100 participantes. Fize-mos 15 exposições, ganhamosum espaço positivo na mídia,

que antes só falava mal do jo-vem brasileiro", conclui.

INÍCIOO movimento iniciou suas

atividades em Nagoya, provín-cia de Aichi, no Japão, em1995. Posteriormente, oficinasforam sendo realizadas durantecerca de 10 anos consecutivos,nas cidades de Hamamatsu,Toyohashi, Toyokawa, Yokoha-ma, Tóquio, Oizumi. As ofici-nas, nas quais eram desenvolvi-das obras nos segmentos da es-cultura, joia, cerâmica, pinturae fotografia, eram ministradasem língua portuguesa, mas aber-tas a todos os interessados emarte e cultura. TR

Ele nasceu em Araçatuba,em 1947. "Na Santa Casa,quarto 25", como fez ques-

tão de dizer. Ficou aqui até os 20anos de idade, quando mudou-separa São Paulo com a família. Hoje

o artista plástico Osni Branco, quetem obras espalhadas pelo mundotodo e mora em Itapecerica da Ser-ra (SP), retorna à sua cidade natalpara relembrar suas raízes e na ten-tativa de realizar um desejo antigo:desenvolver um projeto artísticono município onde nasceu e ondeainda tem laços.

O artista chegou na tarde de

ontem, quando se reuniria compossíveis interessados em suas pro-postas, e deve ficar cerca de umasemana. "Há muito tempo tenhovontade de fazer alguma exposiçãoou oficina em Araçatuba. Estiveaqui pela última vez há muito tem-po, para expor minhas obras. Ago-ra venho para rever amigos e os lu-gares onde vivi, e quero aproveitar

para tentar uma forma de viabilizaralgum projeto artístico no municí-pio", afirma Branco, que não visita-va a cidade havia mais de 15 anos.

Ele veio acompanhado da fi-lha mais nova, Yasmin de Liz Bran-co, de 24 anos, que, influenciadapelo pai, também atua no campodas artes. A jovem estudante doCentro Universitário Belas Artes

de São Paulo, além de auxiliar opai nas oficinas que ele realiza, tra-balha com fotografia e vai realizarem Araçatuba um trabalho de res-gate histórico de sua família pormeio do registro de imagens.

CARACTERÍSTICASBranco trabalha principalmen-

te com esculturas em alumínio, uti-lizando ainda outros materiais, co-mo bronze, cerâmica e rochas. Se-gundo ele, uma das característicasfundamentais de sua obra é a preo-cupação com a sustentabilidade, etemas como a natureza são fre-quentes em seus trabalhos.

"Meu foco está no ser huma-no e na sustentabilidade do plane-ta; além disso, ultimamente tenhotrabalhado mais com o alumínio,que é um material que pode ser re-ciclado eternamente, sem que eleperca suas características", explicao artista, cuja mais recente exposi-ção teve como tema as árvores.

INCLUSÃOBranco conta que desenvolve

um projeto de inclusão social cha-mado "Encontro de Arte", com jo-vens financeiramente menos favo-

recidos de sua cidade e região.A sustentabilidade também é

o foco das oficinas teóricas e práti-cas que ele realiza. "Acredito quea arte tem o papel de passar umamensagem de conscientização.Além disso, este projeto tem co-mo proposta proporcionar o co-nhecimento aliado à sensibilidade,para criar homens mais sensíveise menos burros, com melhor capa-cidade de absorver as coisas queestão em torno deles," diz.

O artista afirma que nestasoficinas usa como tema o peixe."Além de ser relacionado à nature-za, é o resgate da dignidade, ou se-ja, 'não dar o peixe, mas ensinar ojovem a pescar'. É um repasse deconhecimento", explica. O projeto"Encontro de Arte" começou no Ja-pão, em 1995, onde Branco mo-rou durante 20 anos, e teve conti-nuidade no Brasil, quando retor-nou definitivamente, em 2004.

PROJETOSAlém de produzir esculturas

particulares para seus clientes, Os-ni Branco está envolvido em ou-tros projetos. "Vou apresentar o tra-balho desses jovens alunos da ofici-na na Feira Latino-americana deFundição, onde terei um estande eapresentaremos fundição ao vivo",afirma. A feira acontece de 4 a 7de outubro, em São Paulo.

Ele se prepara ainda parauma mostra de seu trabalho emum estande em outra feira, aExpô Alumínio, que acontece noinício de 2012, no mês de abril,também em São Paulo.

Osni Branco afirma quefez sua primeira escultura comoprofissional aos 25 anos. "Nãotenho formação acadêmica, souautodidata. Porém, posterior-mente fiz cursos no Japão, EUAetc. Desenvolvi minha técnica edepois, interessado na produçãode escultura fundida, fui buscarinformações para realizar este ti-po de arte", diz.

Segundo ele, a esculturafundida requer conhecimentosdiversos, desde tecnologia até en-genharia e química em seu pro-cesso de produção.

"Este tipo de esculturatem uma parte que é criativa,

mas tem uma parte que envol-ve tecnologia e trabalho operá-rio, afirma Branco. “É a artedo fogo, da temperatura, é ne-cessário fundir o metal, vazarno molde para transformar napeça desejada", completa.

MONUMENTOSDe acordo com o artista, pa-

ra peças maiores, por exemplo,são necessários conhecimentos decálculo de resistência, precisão deencaixe e química para evitar oxi-dação. Ele afirma que sua maiorobra está instalada na Unicamp(Universidade de Campinas), emede 5 m por 8 m. "É uma com-posição de ondas do mar", diz.

Questionado sobre o tempoque leva para finalizar uma peça,Branco afirma que algumas, de-pendendo do tamanho e da com-plexidade, podem levar anos. "Fa-ço obras de diversos tamanhos.Os monumentos, esculturas gran-

des, são feitos em faz em peda-ços, que depois são montados esoldados no local onde ficarão",explica. Cada obra pode custar en-tre R$ 1 mil e R$ 100 mil.

OBRASAlém do Japão, Branco tem

obras e realizou exposições em vá-rios países. Estados Unidos, França,Itália, Coreia, Suíça e Paraguai es-tão entre os países que compõem arota de seu trabalho. Em Araçatu-ba, ele afirma que existem algumasobras, mas não se recorda correta-mente quem são os proprietários,por terem sido adquiridas em1994, quando esteve na cidade.TR

ARTES PLÁSTICAS

Osni Branco

Maior

obraestá

instalada

na Unicamp

Movimento cultural reforça identidadebrasileira no ‘País do Sol Nascente’

Os metais de

Peixes e

árvoresestão entre os temas

de seus trabalhos

mais recentes

Projeto

começoucom 12 pessoas e em 1

ano contava com mais

de 100 participantes

Autodidata, artista plástico fez a suaprimeira escultura profissional aos 25 anos

Com obras predominantementeem metal, artista plásticoaraçatubense faz sucessono exterior e volta à terra

natal, onde pretendedesenvolver projetos

ligados à arte

Paulo Gonçalves/Folha da Região - 09/08/2011

MEIO AMBIENTE Osni com

algumas de suas obras: preocupação

com a sustentabilidade do Planeta está

presente nos temas de seus trabalhos e

na matéria-prima utilizada, que é reciclável

C1 Araçatuba, quarta-feira, 10 de agosto de 2011