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Anais de Almada, 15-16 (2012-2013), pp.

CAPARICA:

O PASSADO ARQUEOLÓGICO DA FREGUESIA

Vanessa Dias

Arqueóloga

1. Introdução

Por todo o concelho de Almada conhecem-se testemunhos

materiais que comprovam que a importância deste território recua às épocas mais remotas de ocupação humana.

Desde cedo, as potencialidades da actual cidade foram

reconhecidas e aproveitadas do ponto de vista económico, pois a sua

condição geográfica privilegia o desenvolvimento de diversas actividades marítimas que permitiam a sustentabilidade das

populações, através do consumo de peixe e moluscos. Do mesmo

modo, que os seus terrenos férteis de culturas abundantes serviram de factor de atracção durante séculos, nomeadamente a área que a

freguesia de Caparica ocupa hoje. E do ponto de vista estratégico e

defensivo, devidos, importa referir a sua localização, já que esta

pequena península às portas do Tejo possui um imenso domínio da paisagem e condições de defesa naturais.

A escolha de Caparica para o presente texto deve-se à pesquisa

efectuada para o 1.º Encontro de Estudos da Caparica e que possibilitou a conjugação de toda a informação recolhida pelo Centro

de Arqueologia de Almada nos seus quarenta anos de existência.

Nesta freguesia encontramos sítios arqueológicos que comprovam a importância dos vestígios que existem por todo o concelho, tal

como as pistas que estes nos podem transmitir acerca de um passado

que só através deles conseguimos aferir.

2. Enquadramento geográfico

A actual freguesia de Caparica é a maior divisão administrativa

do concelho de Almada, inserindo-se na carta militar de Portugal

1:25 000, n.º 442, sendo das áreas mais populosas da região. Tem os

seus limites territoriais a Norte pela orla litoral virada para o Tejo e no interior pelas freguesias da Trafaria, Costa de Caparica, Charneca

de Caparica, Sobreda e Pragal.

Geologicamente o território desta freguesia enquadra-se na Bacia do Tejo-Sado, dos períodos terciário e quaternário constituindo-se

por estratos de épocas Miocénica e Plio-plistocénica, ou seja, a Norte

e Oeste observam-se areias argilosas carbonatadas e calcários

conquíferos, e a Sul e Este predominam as areias soltas e saibros1.

Aí, o relevo é moderadamente acidentado, constituindo-se por

vales, depressões e pontos de média e alta altitude, nomeadamente no

litoral voltado para Tejo, nas zonas de Porto Brandão e Trafaria e na área da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica.

Esta estende-se ao longo da orla litoral, desde o aglomerado da Costa

de Caparica até à Lagoa de Albufeira, com cerca de 13 km, cobrindo uma superfície de 1.599 ha, atravessando as freguesias de Caparica,

Charneca de Caparica e Costa de Caparica até ao concelho de

Sesimbra. É formada por várias unidades geomorfológicas,

nomeadamente, a planície litoral da Costa de Caparica, o depósito da vertente, a arriba fóssil e a plataforma litoral. Com uma idade de

cerca de quinze milhões de anos, os sedimentos que a constituem

tiveram origem nas sucessivas e alternadas transgressões e regressões marinhas.

A ribeira da Fonte Santa, no Porto Brandão, representa um dos

principais recursos hidrográficos desta região.

3. História da investigação

Todos os dados referentes ao passado arqueológico da freguesia

provêm dos trabalhos levados a cabo pela equipa do Centro de Arqueologia de Almada durante as décadas de 70 e 80 do século XX,

inseridos em projectos de investigação direccionados para o

conhecimento do passado histórico do actual território do concelho de Almada.

Em 1976, pouco tempo depois da sua fundação, o CAA iniciou a

primeira fase do Levantamento Arqueológico e Paleontológico do

Concelho de Almada, o início de um processo que permitiu a

identificação de inúmeros sítios arqueológicos por todo o território, sobre o qual, até à data, existia um profundo desconhecimento dessas

ocupações antigas.

Pouco tempo depois, deu-se continuidade a este trabalho, através de um projecto inserido no plano nacional de trabalhos

arqueológicos, cujo objectivo era a elaboração da Carta

Arqueológica do Concelho de Almada e que permitiu assinalar no

mapa novos lugares de interesse histórico. Na sequência destes projectos e para um melhor conhecimento

dos sítios identificados, decorreram, nos anos de 1982 a 1989, os

trabalhos de escavação arqueológica no sítio do Miradouro dos Capuchos, sob as tutelas do Centro de Arqueologia de Almada e do

Museu Municipal de Almada. Nestes trabalhos, ficou comprovada a

presença humana durante a Pré-História, como mais adiante referirei neste estudo.

Mais recentemente as obras de construção do Metropolitano do

Sul obrigaram a que fosse realizado um estudo de impacto ambiental,

nas áreas do concelho afetadas pela implantação dos carris do metro

2. No que diz respeito à Caparica, esta obra incidiu sobre

alguns dos sítios identificados nos anos anteriores pelo CAA, apesar

do impacto ser considerado negativo e indireto na maioria dos sítios. Foi necessário recorrer a trabalhos de emergência e salvamento em

alguns desses lugares. Estes ficaram a cargo da empresa Palimpsesto,

Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda. Os trabalhos decorreram no sítio da Quinta da Torrinha e foram coordenados

pelos arqueólogos Pedro López Aldana e Rui Pedro Barbosa. Aí

foram exumados vestígios de uma necrópole romana com algumas

estruturas a si associadas, das quais falarei no ponto seguinte.

4. Ocupação antiga

A ocupação humana na actual freguesia de Caparica recua até aos

mais antigos vestígios da Pré-História encontrados em Portugal,

correspondendo ao Paleolítico Inferior e Médio. Os sítios de Chibata, Lira e Vila Nova de Caparica, onde durante as passadas décadas de

70/80 se recolheram diversos materiais líticos: seixos talhados,

bifaces, percutores, lascas, raspadores, lâminas, são testemunho dessa fase de ocupação mais antiga. O espólio quartzítico recolhido

na Ponta do Cabedelo e em Brielas representa o período de transição

denominado de Epipaleolítico3 (figs. 2 e 3).

As comunidades neolíticas, reconhecendo o potencial fértil dos

terrenos, também aqui encontraram meios de subsistência, nos sedimentos argilosos, favoráveis ao cultivo, estabelecendo-se nos

sítios de Costas de Cão, Capuchos, Quinta da Torre e Pêra de Baixo,

cuja presença é corroborada pelos numerosos utensílios talhados em sílex e pela cerâmica decorada

4.

Os sítios identificados no Mercado do Monte de Caparica e no

Miradouro dos Capuchos remetem para o período Calcolítico,

demonstrando um contínuo na ocupação do actual território da freguesia.

Para uma melhor percepção da ocupação nesta época, foi

realizada uma escavação arqueológica de 1982 a 1989 no Miradouro dos Capuchos. Este situa-se sobre a Arriba Fóssil da Caparica e

apesar de se encontrar muito afectado pela erosão, os trabalhos

desenvolvidos trouxeram conhecimento sobre as actividades dos homens que ali habitavam no III milénio a.C. (fig.4). Os cadinhos de

fundição, escória de cobre, fragmentos de queijeiras e cerâmica

comum evidenciam práticas como a pastorícia, a produção de

objectos em metal e a produção de queijo, que se complementariam com a exploração dos recursos costeiros

5 (figs. 5 e 6).

Da ocupação proto-histórica conhecem-se na freguesia dois sítios,

Pêra de Baixo, com vestígios de ocupação durante a Idade do Bronze e a Quinta da Torre onde se recolheram alguns fragmentos de

cerâmica comum e ânforas de origem púnica, cujas formas possuem

cronologias de produção enquadráveis entre os séculos VI a.C. e II a.C.

6.

Percentualmente, a época romana ocupa o segundo lugar no que

respeita ao número de sítios conhecidos na Caparica. Estes assumiam

diferentes funcionalidades na Antiguidade. Alguns foram pontos de povoamento, como nos parece ser o caso dos sítios de Castelo Picão,

do Mercado do Monte de Caparica e da Quinta da Torre. Não só o

espólio recolhido em prospeção nos mostra essa hipótese como a toponímia destes sítios a reforça. No caso do nome de Castelo Picão,

este sugere-nos uma área bem implantada, de altura, com uma

estrutura muralhada ou defensiva (fig.7). No terreno é isso que

observamos, uma elevação sobranceira a Porto Brandão, com grande domínio visual da paisagem envolvente e importante controlo sobre

o rio Tejo, a área ideal para a implantação de um povoado muralhado

em Idade do Ferro e sobretudo, importante ponto de instalação para os primeiros contingentes romanos que ocuparam as margens do rio

durante a conquista.

As fontes antigas representam outro importante contributo na

investigação da ocupação antiga desta área. Diz-nos Duarte Joaquim Vieira Junior, em 1897, na sua obra descritiva Villa e termo de

Almada. Apontamentos antigos e modernos para a história do

concelho que «um tal frei José da Annunciação, frade do convento dos Capuchos, diz que em Castello Picão estava uma moira

encantada pelo feiticeiro S. Cypriano, por ella se não querer

converter ao christianismo e nem para isso se mover aos rogos de um

cavalleiro christão, que apaixonadamente a namorava, e que a altas horas da noite se accendia em Castello Picão uma grande luz que

sempre partia em direcção a Almada».7 Este autor refere, também,

existir neste sítio «uma serventia subterranea que vae talvez communicar com a antiga Torre Velha» cuja entrada se encontra na

propriedade que pertenceu ao Sr. Marcellino Ferreira Mandinga, «no

pateo […] que era onde antigamente estava edificado o castelo»,8

hoje entulhada.

A presença de uma estrutura defensiva que teria existido naquele

lugar ainda perdurava no imaginário colectivo no ano de 1974,

quando o Conde de Arcos no seu livro Caparica através dos séculos descreve Castelo Picão como um lugar onde «existiu uma fortaleza,

em forma de pequeno castelo, da qual se conservam ainda, uma

muralha e um subterrâneo9».

A Quinta da Torre é outro exemplo de topónimos que nos

indiciam a presença de vestígios arqueológicos. Este sugere a

existência de uma torre, que não se reconhece na estrutura original da quinta quinhentista, pressupondo-se que se refere a um torreão ou a

uma estrutura semelhante que se ergueu em época passada naquele

lugar. Uma torre, que segundo o Conde dos Arcos, ruiu com o

terramoto de 175510

. Prospecções arqueológicas durante a construção da Faculdade de

Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa permitiram

recolher vários elementos que demonstram a utilização do sítio desde a Pré-História até à época romana, vários utensílios líticos, terra

sigillata, cerâmica comum, fragmentos de ânforas e objetos de

adorno11

(fig.8).

Os antigos espaços ocupados por esta quinta, pela Quinta do Outeiro e pela Quinta da Torrinha, possuem, também, importantes

vestígios de necrópoles, além de inúmeros fragmentos de cerâmica

de construção e uso doméstico. A Torrinha foi um dos pontos intervencionados aquando das

obras de implantação da linha do Metro Sul, que liga Cacilhas ao

pólo da Universidade Nova de Lisboa na Caparica. Neste local a

empresa de arqueologia Palimpsesto, Estudo e Preservação do

Património Cultural, Lda., entre os anos de 2005 e 2006, desenvolveu trabalhos de emergência que revelaram uma necrópole

romana com utilização entre os finais do século III d.C. e inícios do

século V d.C., onde se exumaram várias sepulturas de inumação (22). De entre todo o espólio recolhido, destacam-se uma moeda do

Maximianus Herculius do século IV d.C. e diversas ânforas de

fabrico lusitano (Almagro 50 e 51 a, b e c)12

. Nesta intervenção

identificaram-se, ainda, uma estrutura absidada, um fosso e um poço que atestam a ocupação doméstica da área da Quinta da Torrinha em

época romana 13

.

Durante o levantamento arqueológico do concelho em 1976, identificou-se na Quinta do Outeiro uma sepultura deste período,

escavada no substrato geológico, coberta por tégulas, cujo espólio

identificado, constituído por dois potinhos em cerâmica comum, uma lucerna e um pratinho de terra sigillata clara, remete a sua época de

uso para os séculos IV/V d.C.14

(fig.9).

Os vestígios destes ambientes sepulcrais ocorrem num mesmo

espaço, o que nos leva a crer que fariam todos parte de uma vasta necrópole de época romana, correspondendo à área de enterramento

que servia o espaço urbano ou os espaços rurais que existiam nas

proximidades entre o século III d.C. e o século V d.C. Em Porto Brandão, num corte na estrada, revela-se parte de um

complexo industrial de salga e confeção de preparados piscícolas

(vestígios de dois tanques revestidos de opus), demonstrando a importância deste aglomerado populacional nas margens do Tejo já

em época romana15

(fig.10). Conhecem-se várias unidades fabris

deste tipo nas costas portuguesas, reconhecendo a importância da

atividade piscatória e da elaboração do garum no nosso território. A estas estruturas estão associados vestígios de oficinas oleiras,

onde se produziam as ânforas que serviriam depois para armazenar e

transportar as conservas romanas. Mais uma vez, Duarte Vieira Júnior evidencia uma realidade semelhante para o Porto Brandão

através de uma nota toponímica, onde refere a actual zona de

Formosinhos como fornosinhos16

. Esta referência pode constituir

uma gralha na escrita, contudo, pode também remeter para a localização de uma olaria em tempos idos cuja existência só nos

chegou no seu topónimo, ficando esta zona bem próxima das

estruturas identificadas em Porto Brandão. No que respeita às vias de comunicação que cruzavam este

território na antiguidade, a extensa revisão do Itinerário de Antonino,

As Grandes Vias da Lusitânia - O itinerário Antonino publicada por

Mário Saa nos anos 50/60 do século passado, descreve-nos o

caminho que entra por Porto Brandão, passa entre o Lazareto, a Fonte Santa, passando por Castelo Picão, pelas Quintas da Torre,

Torrinha e Outeiro e seguindo em linha recta paralela ao traçado da

actual EN377, como o possível ponto de passagem da via romana do Itinerário I de Antonino (Olisipo - Emerita (Lisboa - Mérida)).

Nomeadamente do troço que ligava Lisboa a Setúbal

(Caetobriga)17

(fig.11).

O sítio de Possolos revela-se o único testemunho de ocupação em época alto-medieval na freguesia de Caparica, aqui poderia existir

um pequeno casal agrícola, uma exploração feudal numa propriedade

de um senhor, do qual dependiam vários camponeses que daí retirariam o seu sustento.

Neste sítio, na Quinta da Torre e em São Tomás d’Aquino

também estão presentes materiais e painéis de azulejo atribuíveis aos séculos XVI a XIX que demonstram uma ocupação do espaço em

época moderna. A Quinta da Torre, actualmente arruinada, era um

importante exemplo da organização do território rural do actual

concelho, sede do morgado de Caparica, instituído no século XVI por Dom Tomás de Noronha

18. Aí localiza-se a Capela de São Tomás

de Aquino, um edifício merecedor de um projeto de reabilitação, que

juntamente com o poço e os tanques desta quinta, constituem exemplares únicos do estilo manuelino em Almada. (fig.1)

5. Conclusões

Todos os sítios referidos constituem uma importante fatia do

património arqueológico almadense, no qual a Caparica possui, de

facto, vestígios que demonstram a longa diacronia de ocupação do

território que constitui hoje o concelho. A actual freguesia possui elementos que comprovam vivências desde os tempos mais recuados

da nossa história, como é o caso do sítio do Paleolítico Inferior de

Vila Nova de Caparica, dos vestígios da presença orientalizante na margem esquerda do Tejo que se observam no espólio resgatado da

Quinta da Torre, onde também se descobre a diversidade da

ocupação romana, até ao mais completo exemplo do que foi o

quotidiano quinhentista num morgado rural. Observada esta importância patrimonial, importa realçar que toda

a informação provém de recolhas de superfície, observações

estratigráficas ou de contextos de salvaguarda em projectos de construção e que urge que alguns destes sítios sejam acompanhados

com maior cuidado e precisão, nomeadamente, através de projectos

de investigação, para que a sua importância seja comprovada,

realçada e que possa trazer mais-valias ao património histórico, à memória colectiva e ao desenvolvimento turístico da freguesia de

Caparica.

6. Descrição dos sítios (ver fig. 1)

6.1. Paleolítico

1. Brielas – prospecção - Cascalheira plio-plistocénica sobre

extrato miocénico correspondente a um antigo terraço fluvial,

datada do Paleolítico Médio. Material recolhido: bifaces, seixos talhados, percutores, raspadores, núcleos e lascas em

quartzito.

2. Casalinho – prospecção – Sítio do Paleolítico implantado em encosta suave de fácies marinha em terrenos do Miocénico.

Material recolhido: biface e lascas.

3. Chibata – prospecção – Sítio do Paleolítico Inferior a algumas

dezenas de metros a sul do sítio da Ponta do Cabedelo. Material recolhido: seixos talhados, raspadores em quartzito e

uma lâmina de sílex.

7. Lira – prospecção – Localiza-se sobre os limites da Arriba Fóssil de Caparica em terrenos miocénicos e data do

Paleolítico Inferior. Material recolhido: seixos talhados e

restos de talhe. 14. Ponta do Cabedelo – prospecção - Zona de cascalheira

plio-plistocénica no topo da Arriba Fóssil de Caparica a 200

m do Miradouro dos Capuchos do paleolítico. Material

recolhido: seixos talhados, seixos de gume em leque, raspadores, pontas e lascas em quartzito.

18. Vila Nova de Caparica – achado isolado - Situa-se numa

encosta suave entre a povoação de Vila Nova de Caparica e a Quinta de S. Macário numa cascalheira plio-plistocénica.

Paleolítico Inferior. Material recolhido: biface de quartzito.

6.2. Neolítico

4. Costas de Cão – prospecção.

6. Convento dos Capuchos – prospecção - Situa-se, como o nome indica, no terreno do atual convento, sobre terrenos

miocénicos, no enfiamento da Arriba Fóssil de Caparica.

Material recolhido: núcleo em sílex e resto de talhe em

quartzito. 12. Quinta da Torre – prospeção/escavação - Terrenos miocénicos

constituídos por areias e argilas, onde actualmente, se situa a

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Material recolhido: núcleo em sílex, fragmento de

placa de xisto, lâminas e raspador.

13. Pêra de Baixo – prospeção - Encosta suave junto a uma linha

de água, próxima da povoação com o mesmo nome, no actual percurso da via rápida Cova da Piedade - Costa de Caparica.

Material recolhido: núcleo de lasca, furador, lascas de sílex,

cerâmica com sulco sobre o lábio, bordos com mamilo.

6.3. Calcolítico

8. Mercado do Monte de Caparica – prospecção - Implantado

sobre terrenos miocénicos, num planalto a Sul do Mercado do

Monte de Caparica. Material recolhido: núcleos, raspadores e lascas em sílex, fragmentos de cerâmica manual.

9. Miradouro dos Capuchos – escavação - Localiza-se na crista

da Arriba Fóssil de Caparica em extratos de cascalheira do plio-plistocénico, em frente do actual Miradouro dos

Capuchos, possuindo grande domínio da paisagem. Provável

acampamento com duas estruturas de combustão a si associadas. Material recolhido: das centenas de fragmentos

exumados destacam-se as lâminas, furadores, serrinhas e

lascas em sílex, punções, mós, machados de pedra polida,

cadinhos, escória de cobre. Cerâmica campaniforme incisa e pontilhada, queijeiras, taças carenadas e esféricas.

6.4. Idade do Bronze

13. Pêra de Baixo – prospecção - Encosta suave junto a uma linha

de água, próxima da povoação com o mesmo nome, no atual

percurso da via rápida, Cova da Piedade - Costa de Caparica. Material recolhido: elemento de foice e cerâmica canelada.

6.5. Idade do Ferro

12.Quinta da Torre – prospecção/escavação - Terrenos miocénicos constituídos por areias e argilas, onde actualmente, se situa a

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de

Lisboa. Material recolhido: ânforas púnicas.

6.6. Época Romana

5. Castelo Picão – prospecção – Elevação junto à povoação de Porto Brandão, com grande controlo visual sobre o Tejo.

Possível ponto de estratégico na instalação dos primeiros

contingentes em época romana. 11. Quinta do Outeiro – prospecção - Necrópole romana do século

IV/V. Situa-se próximo do actual cemitério de Caparica, numa

elevação de solos férteis. Foram aí recolhidos, um prato de

terra sigillata clara, uma lucerna, dois potinhos em cerâmica comum e várias tégulas.

12. Quinta da Torre – acções de salvamento e escavação -

Terrenos miocénicos constituídos por areias e argilas, onde actualmente, se situa a Faculdade de Ciências e Tecnologia da

Universidade Nova de Lisboa. Material recolhido: vários

fragmentos de terra sigillata, fragmentos de ânforas, cerâmica

comum, contas de colar de pasta vítrea. 17. Quinta da Torrinha/Quinta de Santo António – Acção de

salvamento/ escavação – Necrópole romana do século III/IV.

20. Porto Brandão – Observação em corte - Fábrica de salga de peixe implantada no sopé da arriba formada por calcários

miocénicos, na actual Rua 1.º de Maio, onde na antiguidade

existiria uma linha de água confluente do Rio Tejo. Observam-se no corte do talude dois tanques revestidos de opus signinum.

Figura 1: Localização dos sítios arqueológicos da freguesia de Caparica.

Google Earth adaptado.

Figura 2: Ponta do Cabedelo (foto: Arquivo CAA).

Figura 3: Seixos talhados provenientes da Ponta do Cabedelo (foto: Francisco Silva).

Figura 4: Aspeto da intervenção arqueológica no Miradouro dos Capuchos (CAA, 1988)

(Foto: Arquivo CAA).

Figura 5: Cerâmica decorada do sítio do Miradouro dos Capuchos (fotos: Arquivo CAA e

Francisco Silva).

Figura 6: Fragmento de queijeira e elementos em cobre do Miradouro dos Capuchos (foto:

Francisco Silva).

Figura 7: Castelo Picão. Google Earth.

Figura 8: Materiais num corte no sítio da Quinta da Torre. (Arquivo CAA).

Figura 9: Sepultura e espólio do sítio da Quinta do Outeiro (Foto: Arquivo CAA

e Francisco Silva).

Figura 10: Tanque de cetária no corte

da estrada que dá acesso a Porto Brandão.(Foto: Arquivo CAA).

Figura 11: Possível traçado do troço do Itinerário I da Via Romana

Olisipo – Emerita (Google Earth adaptado).

6.7. Medieval

15. Possolos – prospecção - Encosta suave de terrenos miocénicos,

entre o Cemitério de Caparica e a via rápida Cova da Piedade - Costa da Caparica. Material recolhido: cerâmica comum, vidro

e moeda de Afonso V.

6.8. Indefinido

10. Quinta da Boa Esperança – prospecção. 16. São Tomás d’Aquino – prospecção.

19. Robalo – prospecção.

Notas:

1BARBOSA, Rui Pedro; ALDANA, Pedro López (2006) – «Espaços e

estatigrafias da Quinta da Torrinha/ Quinta de Santo António (Monte da Caparica, Almada)» Al-madan, 2.ª série, n.º 14, p.2; BARROS, Luís (1998) – Introdução à Pré e Proto-História de Almada, Almada: Câmara Municipal, pp.10-11.

2 MARQUES, J. N. e VALINHO, A. (2002) − Estudo de Impacte Arqueológico, Metropolitano Ligeiro de Margem Sul do Tejo.

3 BARROS, Luís (1998) – Introdução à Pré e Proto-História de Almada, Almada: Câmara Municipal, pp.13-14.

4 Idem, p.19. 5 Idem, p. 26. 6 CARDOSO, J. L. e CARREIRA, J. R. (1997-1998) − «A Ocupação de Época

Púnica da Quinta da Torre (Almada)». Estudos Arqueológicos de Oeiras, pp.189 – 218. 7 JUNIOR, Duarte Vieira (1897) – Villa e Termo de Almada. Apontamentos

antigos e modernos para a história do Concelho, Lisboa, 1897, p.164. 8 Idem, p.184. 9 ARCOS, Conde dos (1974) – Caparica Através dos Séculos, Almada: Câmara

Municipal, 1972, p.17. 10 Idem, p.76 (roteiro). 11 SABROSA, A; SANTOS, V. (1996) – «Carta arqueológica de Almada.

Elementos de ocupação romana». In Actas das I.as Jornadas dos Estuários do Tejo e Sado – Ocupação Roma dos Estuários do Tejo e Sado, Lisboa: Dom Quixote, p.229.

12 ASSIS, Sandra; BARBOSA, Rui Pedro (2008) – «A Necrópole Romana da Quinta da Torrinha / Quinta de Santo António, Monte de Caparica (III-V d.C.): incursão ao universo funerário, paleodemográfico e morfométrico». Al-Madan, 2.ª série, n.º 16,pp. 1-12.

13 BARBOSA, Rui Pedro; ALDANA, Pedro López (2006) – ob. cit, pp.1-6. 14 SABROSA, A.; SANTOS, V. (1996) – ob. cit, p.231. 15 Idem, p. 229. 16 VIEIRA JÚNIOR, Duarte (1897) – ob. cit, p.152.

17 Tomo I e IV, 1956 e 1963. 18 SILVA, Francisco (2006-2007) – «Património Arqueológico Urbano em

Almada». Anais de Almada. n.os 9-10, pp.135-136.

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Imprensa Lucas.


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