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1. INTRODUÇÃO Até a década de 1980 a seleção obtinha resultados que variavam entre os décimo-quinto e quinto lugares, e o voleibol era um esporte com pouco charme para o brasileiro. A partir de década de oitenta, com a chamada Geração de Prata, o vôlei brasileiro começou a obter resultados importantes, como a medalha de prata das Olimpíadas de Los Angeles, o Campeonato Sul-americano de Voleibol Masculino de 1983. Esses resultados, aliados a investimentos de marketing e formação de base, melhoraram sensivelmente o nível do voleibol nacional. A partir da criação da Liga Mundial de Voleibol, a seleção brasileira foi obtendo resultados cada vez mais consistentes, que resultaram no ouro nas Olimpíadas de Barcelona. A partir dessa época, o Brasil começou a ter equipes fortes e também a exportar jogadores para todo o mundo. A década de 1990, porém, seria dominada pela seleção italiana (embora as Olimpíadas de 1992 tenham sido vencidas pelo Brasil, em uma final contra os Países Baixos, que viria a ser campeão em 1996 contra a Itália). Mas os melhores resultados ainda estavam por vir. No início do século XXI, sob o comando do treinador Bernardinho, a seleção tornou-se praticamente invencível. De 2001 a 2006, a seleção disputou 20 títulos, obtendo 16 primeiros lugares, 3 segundos lugares e 1 terceiro lugar. 1

Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

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Estudo de caso sobre Bernardinho e os aspectos da Liderança. Trabalho realizado para a disciplina de Relações Humanas e Liderança, do Curso de Formação de Oficiais da Marinha do Brasil (Centro de Instrução Almirante Wandenkolk), em 2010.

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Page 1: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

1. INTRODUÇÃO

Até a década de 1980 a seleção obtinha resultados que variavam entre

os décimo-quinto e quinto lugares, e o voleibol era um esporte com pouco

charme para o brasileiro.

A partir de década de oitenta, com a chamada Geração de Prata, o vôlei

brasileiro começou a obter resultados importantes, como a medalha de prata

das Olimpíadas de Los Angeles, o Campeonato Sul-americano de Voleibol

Masculino de 1983. Esses resultados, aliados a investimentos de marketing e

formação de base, melhoraram sensivelmente o nível do voleibol nacional.

A partir da criação da Liga Mundial de Voleibol, a seleção brasileira foi

obtendo resultados cada vez mais consistentes, que resultaram no ouro nas

Olimpíadas de Barcelona.

A partir dessa época, o Brasil começou a ter equipes fortes e também a

exportar jogadores para todo o mundo. A década de 1990, porém, seria

dominada pela seleção italiana (embora as Olimpíadas de 1992 tenham sido

vencidas pelo Brasil, em uma final contra os Países Baixos, que viria a ser

campeão em 1996 contra a Itália).

Mas os melhores resultados ainda estavam por vir. No início do século

XXI, sob o comando do treinador Bernardinho, a seleção tornou-se

praticamente invencível. De 2001 a 2006, a seleção disputou 20 títulos,

obtendo 16 primeiros lugares, 3 segundos lugares e 1 terceiro lugar. Os

primeiros lugares incluíram dois campeonatos mundiais, cinco títulos da liga

mundial, uma copa do mundo, uma copa dos campeões e uma olimpíada.

Entre 2007 e 2009, a seleção ainda conquistou mais dois títulos da liga

mundial, uma copa do mundo e uma copa dos campeões.

A seqüência de resultados positivos é certamente fruto de uma

administração de qualidade, que conseguiu transformar o voleibol no segundo

esporte no coração dos brasileiros, e que conseguiu ótimos resultados também

no vôlei de praia. Os resultados de 2001 a 2006 são, por muitos, atribuídos à

grande qualidade da equipe, mas principalmente à capacidade do técnico

Bernardinho de obter resultados.

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Inspirado pela leitura de biografias de líderes históricos como Churchill e

de grandes esportistas e treinadores como Vince Lombardi, Bernardinho foi

amadurecendo um olhar próprio sobre a sua atividade. Isso o levou a formular

uma ferramenta de trabalho que denominou de ”Roda da Excelência” e que é

um dos principais temas do seu livro “Transformando suor em ouro”.

A essência do sucesso de Bernardinho nas quadras é a crença numa

equação simples que nada tem de matemática: TRABALHO + TALENTO =

SUCESSO. Não por acaso o TRABALHO vem antes do TALENTO. Para

Bernardinho, a ordem desses fatores altera o produto. Apoiado no seu próprio

exemplo como jogador, ele aposta no esforço e na perseverança, na disciplina

e na obstinação.

Bernardinho conta que quando tinha entre 14 e 15 anos, jogava no

Infanto-Juvenil do Fluminense e o treinador do time adulto era o Feitosa, e que

um dia ele lhe convidou para participar de amistosos fora do Rio Janeiro com o

time adulto.

É claro que ele foi, porque o sonho do todo atleta jovem é estar um

degrau acima, eles querem jogar no meio de gente grande, e mais ainda, ser

convidado pelo treinador do time adulto vibra na mente do atleta jovem como

prestígio, valorização, etc.

Porém, ao aceitar o convite de ir jogar com o time adulto é obvio que ele

desfalcou o time dele, o Infanto-Juvenil, e quando se reapresentou ao seu

treinador, o Bené, não foi poupado. Bené disse-lhe:

- Bernardo, como Líder e capitão do nosso time, você não foi verdadeiro!

Você falhou, abandonou seus companheiros justamente quando eles mais

precisavam de você, só para jogar uns amistosos com os adultos. Você foi

ajudar os outros que não são seus companheiros e não precisavam de você

naquele momento.

Bernardinho disse que nunca mais esqueceu a lição que aprendeu com

o seu treinador, o Bené, que com meia dúzia de palavras duras e claras disse-

lhe como deveria conduzir sua vida pessoal e profissional dali para frente, e

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que assim descobriu um dos GRANDES SEGREDOS DA LIDERANÇA

VERDADEIRA.

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2. DADOS BIOGRÁFICOS

Bernardo Rocha de Rezende, conhecido como Bernardinho, (Rio de

Janeiro, 25 de agosto de 1959) é um ex-jogador de voleibol brasileiro e, desde

2001, é o técnico da seleção brasileira de voleibol masculino.

Passou a infância no Rio de Janeiro e estudou no Colégio Andrews.

Estudou lá desde o antigo primário até o vestibular.

Bernardinho nasceu em Copacabana, no Rio de Janeiro, numa família

de classe média alta. Por influência dos pais praticou vários esportes, entre

eles o judô, no qual foi vice campeão carioca infanto-juvenil. Foi no judô que

ele adquiriu a disciplina como atleta. Descobriu o voleibol na praia onde ele

jogava junto com o irmão e uma turma de amigos.

Começou a jogar vôlei aos 11 anos. Tinha um vizinho um pouco mais

velho que jogava no Fluminense. Ele e seus irmãos foram levados pelo tal

vizinho para fazer uma aula experimental no clube. Lá, conheceram o seu

primeiro treinador, o Bené. Foi um tremendo professor e uma pessoa que fez

uma diferença enorme em sua vida. Bené foi o primeiro treinador de muitos dos

jogadores da geração de prata, como Bernard, Badá, Fernandão. Além de

descobridor de talentos, ele era um grande motivador de pessoas de uma

forma geral, um cara fantástico. Foi lá que ele adquiriu seus primeiros

ensinamentos da carreira como a disciplina, as primeiras noções de liderança,

a importância de fazer parte de uma equipe, de tratar todos segundo os

mesmos valores, mas não necessariamente da mesma forma, além de jogar o

voleibol.

Depois, se formou na faculdade de Economia na PUC-RJ, em 1984, que

também foi muito importante para a sua formação, depois de desistir da

faculdade de engenharia. Fluente em quatro idiomas, já tinha feito um estágio

no banco Garantia quando ainda era estudante. No mesmo ano em quase

formou, pediu uma força aos professores para cobrir suas faltas, já que

acompanharia a Seleção Brasileira de Vôlei nos Jogos Olímpicos de Los

Angeles. Voltou da viagem com a medalha de prata e uma dúvida: devia seguir

ou não a carreira de economista? "Sempre gostei de economia e meu objetivo

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era trabalhar no mercado financeiro", diz Rezende, o Bernardinho, que durante

sete anos foi levantador da seleção e há algumas semanas comandou a equipe

brasileira rumo à conquista do Mundial, na Argentina.

Bernardinho jogou voleibol de 1979 até 1986, defendendo times do Rio

de Janeiro. Em 1988 parou de jogar e começou a carreira de treinador como

assistente técnico de Bebeto de Freitas, nas Olimpíadas de Seul. Dois anos

depois, treinou a equipe feminina do Peruggia, na Itália, onde ficou até 1992.

Bernardinho diz ter encontrado sua verdadeira vocação quando aceitou um

convite para dirigir o time do Perugia, na Itália. "Só então abandonei de vez a

idéia de ser economista", diz. "E abracei a carreira de treinador." Enquanto o

Perugia conquistava títulos nas copas da Itália e européia, Bernardinho se

destacava como técnico.

No ano seguinte, dirigiu a equipe masculina do Modena. Em seguida,

Bernardinho retornou ao Brasil e, em 1994, assumiu o comando da seleção

feminina brasileira adulta, até 2000.

O êxito nas quadras fez do técnico um conferencista requisitado.

Inspirado pela "Pirâmide do Sucesso", criação do treinador John Wooden, mito

do basquete universitário estadunidense e que usa a figura geométrica para

ensinar o passo-a-passo do sucesso, Bernardinho desenvolveu a "Roda da

Excelência". Nela, dispõe valores como trabalho em equipe, liderança,

motivação, perseverança e outros conceitos comuns a manuais de recursos

humanos.

Bernardinho é casado com a ex-jogadora de voleibol Fernanda Venturini.

Casaram-se em 1999 e hoje tem uma filha juntos chamada Julia. Antes, foi

casado com a ex-jogadora de voleibol Vera Mossa, com quem teve Bruno

Mossa de Rezende, o Bruninho, que é levantador da seleção brasileira

masculina de vôlei.

Em 2001, assumiu a seleção masculina, quando começaram a chover as

medalhas de ouro. Além de cinco títulos mundiais, o Brasil, sob sua gestão, foi,

em 2004, campeão das Olimpíadas de Atenas. Cunhou-se o termo “A Era

Bernardinho”, para definir o período áureo da seleção, de vitórias sucessivas.

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Bernardinho é o idealizador do Instituto Compartilhar, que foi criado no

Rio de Janeiro em março de 2003 e que em julho de 2004 abriu uma sede em

Curitiba. O Instituto utiliza a prática esportiva como principal ferramenta para

inserir os jovens de maneira produtiva na sociedade.

Foi escolhido o melhor treinador da Super Liga Feminina 2007/2008. E

pelo Comitê Olímpico Brasileiro por quatro anos consecutivos o melhor

treinador do Brasil.

É autor dos livros: "Bernardinho - Cartas a um jovem atleta -

Determinação e Talento: O caminho da Vitória" (ISBN 8535220712) e

"Transformando Suor em Ouro" (ISBN 8575422421).

- Títulos conquistados

Como jogador

1981 - Campeão sul-americano

1981 - Bronze na Copa do Mundo de Voleibol de 1981

1982 - Campeão do Mundialito

1982 - Prata no Mundial de 1982

1983 - Bicampeão sul-americano

1983 - Ouro no Pan-americano de Caracas

1984 - Prata na Olimpíada de Los Angeles

1985 - Tricampeão sul-americano

Como técnico

Na seleção feminina

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1994 - Vice-campeão no Mundial de Voleibol Feminino

1994 - Ouro no Grand Prix de Voleibol

1996 - Bronze na Olimpíada de Atlanta

1996 - Ouro no Grand Prix de Voleibol

1998 - Campeão sul-americano de voleibol

1998 - Bronze na Copa dos Campeões

1999 - Ouro no Pan-americano de Winnipeg

1999 - Prata no Grand Prix

1999 - Ouro no Sul-Americano

1999 - Prata na Copa do Mundo de Voleibol

2000 - Bronze no Grand Prix de Voleibol

2000 - Bronze na Olimpíada de Sydney

Na seleção masculina

2001 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol

2001 - Campeão sul-americano

2001 - Campeão do Torneio Ponte di Legno

2001 - Campeão do Torneio Consorzio Metano de Vellecamonica

2002 - Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol

2002 - Campeão Mundial na Argentina

2002 - Campeão do Torneio Sei Nazioni

2003 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol

2003 - Campeão sul-americano

2003 - Campeão da Copa do Mundo de Voleibol, no Japão

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2003 - Bronze no Pan-americano de Santo Domingo

2004 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol

2004 - Ouro na Olimpíada de Atenas

2005 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol

2005 - Vice-campeão da Copa América

2006 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol

2006 - Campeão Mundial no Japão

2007 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol

2007 - Ouro no Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro

2007 - Vice-campeão da Copa América

2007 - Campeão da Copa do Mundo de Voleibol, no Japão.

2008 - Quarto colocado da Liga Mundial, no Rio de Janeiro.

2008 - Prata nas Olimpíadas de Pequim, na China

2008 - Vice-campeão da Copa América

2009 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol (Sérvia)

2010 - Campeão da Liga Mundial de Voleibol (Argentina)

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Page 9: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

3. COMPETÊNCIAS FUNDAMENTAIS PARA O EXERCÍCIO DA LIDERANÇA.

CAPACIDADE EM CRIAR, COMPARTILHAR UMA ESTRATÉGIA

(UMA IMAGEM CLARA DO SUCESSO), CRIAR CONDIÇÕES PARA TORNÁ-

LA REALIDADE E HUMILDADE PARA EXECUTAR CORREÇÕES DE

RUMO, SE NECESSÁRIAS;

1º) “Bernardinho é fanático por vídeos e estatísticas. Durante as

competições, a auxiliar Roberta Giglio passa noites em claro levantando dados

dos adversários. O técnico pede videoteipes dos jogos dos rivais e elabora

diagramas que mostram os setores da quadra em que os jogadores

adversários mais atuam e suas principais características. A estratégia é

montada jogo a jogo. Durante os jogos, quatro auxiliares, em pontos diferentes

da quadra, ficam ligados a Bernardinho por um ponto eletrônico, prontos para

alertar sobre qualquer mudança de tática dos adversários.

- A gente precisa saber a parte tática da equipe, como eles estão

jogando. Por exemplo, dependendo de onde e em que condições que a bola

chega para o levantador deles, a gente precisa armar rapidamente uma

estratégia contra a ofensiva – conta Roberta Giglio – Auxiliar”. (Você S/A.

Disponível em:

http://vocesa.abril.com.br/blog/ricardo-nakai/2010/02/19/lideranca-esportiva/)

De acordo com este texto, podemos perceber que Bernardinho possui

uma grande capacidade em criar e passar as estratégias para a equipe; ele

traça suas estratégias, após um estudo minucioso do adversário, através de

vídeos dos jogos das equipes oponentes. E durante os jogos ele executa

correções em sua estratégia, caso o adversário mude sua tática.

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Page 10: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

2°) “É fácil dizer que esse time é do Bernardinho, mas não é. Sou só um

deles. Às vezes tenho de pressioná-los, às vezes acalmá-los. Estou aqui para

dar-lhes os meios para as vitórias e questioná-los sobre como continuar

melhorando. Esse é meu principal papel.” (Entrevista de Bernardinho para

Você S/A. Disponível em:

http://vocesa.abril.com.br/blog/ricardo-nakai/2010/02/19/lideranca-esportiva/)

Nesta entrevista, podemos perceber que Bernardinho cria meios para

tornar a estratégia possível, alcançando, desta forma, os objetivos da equipe,

que é a vitória.

3°) “Queria treinar assim que chegássemos, não importava o quanto

estivéssemos cansados pela viagem. Entramos no ônibus que nos levaria ao

hotel. O programa era mudarmos de roupa e irmos imediatamente para a

quadra. O funcionário da Federação Holandesa, muito educadamente, avisou

que não poderia haver treino naquele dia.

- Como não? – Protestei. Lembrei-lhe que tinha acertado tudo antes de

viajar.

- Hoje, 30 de abril, é feriado, aniversário de coroação da rainha Beatriz.

Está tudo fechado, menos os bares para o pessoal comemorar.

Ainda tentei de todas as formas convencer o homem a abrir o ginásio,

mas não houve jeito. Os jogadores adoraram. Não haveria treino. Quer dizer,

isso é o que eles pensaram. Chegando ao hotel, um prédio de três andares na

periferia de Amsterdã, vi que existia um estacionamento ao lado. Ao vê-lo

vazio, com um asfalto bonito, lisinho, pensei: “É aqui mesmo”. Ao descer do

ônibus, virei-me para os jogadores e disse:

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Page 11: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

- Subam, mudem de roupa e desçam que vamos treinar no

estacionamento.” (Fonte: Transformando Suor em Ouro – Livro escrito por

Bernardinho)

Bernardinho sempre se mostrou bastante preocupado com a preparação

do time, colocando os treinamentos sempre em primeiro plano, fazendo sempre

de tudo para não deixar de realizar o treinamento planejado. A capacidade

técnica dele também é vista na preparação tática do time, sendo esta feita com

base em uma quantidade enorme de fontes de informações da equipe

adversária.

4º) “A primeira coisa é avaliar o próprio desempenho, porque líderes têm

que ser auto-críticos, mais do que com as outras pessoas. Eles devem se

perguntar “até que ponto eu fui capaz de prepará-los?” O bom líder aprende

com as derrotas, entende onde está a falha, inclusive porque essa é a única

chance de não sucumbir à frustração e ter fôlego para tentar de forma

diferente. Superação é ter a humildade de aprender com o passado e investir

no futuro. O que me mantém vivo é a possibilidade de tentar novamente no dia

seguinte. Por isso os líderes estão sempre observando e aprendendo com os

outros. Isso é melhor ainda, porque ajuda a evitar o erro. Buscar exemplos de

sucesso é fundamental também, além de promover a capacitação constante.”

(Entrevista de Bernardinho para a Empregos.com.br. Disponível em:

http://carreiras.empregos.com.br/comunidades/executivos/fique_por_dentro/

070305-forum_performance_hsm.shtm)

Neste trecho observa-se como Bernardinho procura observar a sua

equipe e como faz para solucionar seus problemas. Repare que ele ressalta a

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Page 12: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

importância de um líder ter humildade suficiente para reconhecer seus erros e

para aprender com os outros.

ENTUSIASMO (AUTOMOTIVAÇÃO) E CAPACIDADE EM ENERGIZAR

/ MOBILIZAR OUTRAS PESSOAS, OBTENDO A CUMPLICIDADE DOS

MEMBROS DA SUA EQUIPE E O COMPROMETIMENTO COM OS

OBJETIVOS PROPOSTOS;

1º) “Bernardinho é um líder vibrante!! Sofre nos erros, nas jogadas que

não dão certo, faz cara feia, chuta o banco de reservas, chegando até a

contundir-se em uma partida, dirigindo um time. Quando o time acerta, ele

vibra, comemora, joga com o time!! Ergue as mãos no erro do time adversário,

chegando até a influenciar na arbitragem.” (Dill Casella – Consultor empresarial

e palestrante em liderança e motivação. Disponível em:

http://www.artigos.com/artigos/sociais/administracao/recursos-humanos/

bernardinho)

De acordo com o texto, fica claro que Bernardinho é um líder

entusiasmado, que vibra com os acertos da equipe e que sofre com os erros da

mesma.

2º) “Algumas coisas são essenciais. Têm de permanecer porque eu não

aceitaria se não fosse dessa forma. Por exemplo: quem não tenha total

envolvimento. Dos jogadores mais antigos, eles dão tudo no treino, como se

fosse o primeiro deles na seleção. Não preciso nem cobrar dos mais novos,

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Page 13: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

porque para eles mesmos seria constrangedor não treinar da mesma forma.

Eles vêm exemplos, sabem que têm de dar tudo ali, porque os resultados vêm

do trabalho de muitos, de gerações anteriores. É um afluxo de jovens, que

empurram a fila. Mas sempre existem aqueles que são as molas propulsoras,

as molas propulsoras de sonhos desses mais novos.” (Entrevista de

Bernardinho ao R7. Disponível em:

http://esportes.r7.com/esportes-olimpicos/noticias)

Pelo exposto no texto, podemos perceber que Bernardinho obtém total

envolvimento e cumplicidade dos membros da equipe, pois só desta maneira,

obterá os resultados pretendidos.

3°) Atento às características e ao estado emocional de seus jogadores,

Bernardinho delega a função de técnico quando necessário. "Às vezes, é mais

eficiente chamar um jogador para levantar o moral do colega do que eu mesmo

fazer isso", diz. "Se eu faço, cai na normalidade, porque é parte da função do

chefe dar bronca ou chamar a atenção." (Portal Exame – 30/10/2002)

4°) ”Aquela reunião também foi importante porque, sem que os

jogadores soubessem, nossa estatística Roberta Giglio teve o cuidado de filmar

depoimentos das mulheres e das crianças para mostrar a eles em Atenas. ...

Dada a importância da partida, exibimos na véspera o vídeo que Roberta Giglio

tinha produzido em Saquarema: mulheres e filhos dirigindo carinhosas

mensagens aos maridos e pais. Foi uma surpresa para os jogadores, que

ajudou a lembrar-lhes como eram queridos, amados e que não podiam ser

lembrados somente pelo número de vitórias ou derrota nas quadras. Emoção

geral.”

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Page 14: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Bernardinho é famoso pelo seu temperamento como técnico, sempre

brigando com o time, vibrando com o jogo. Porém fora das quadras ele se

mostra capaz de motivar e comprometer a equipe através de ações que

ficariam despercebidas olhando-se somente para o jogo.

5º) “Precisamos de paixão, de intensidade máxima naquilo que

fazemos.” (Disponível em:

http://carreiras.empregos.com.br/comunidades/executivos/fique_por_dentro/

070305-forum_performance_hsm.shtm)

Nesta entrevista Bernardinho destaca, do seu ponto de vista, que o

entusiasmo é um dos componentes necessários para formar uma equipe

vitoriosa.

PROFICIÊNCIA EM HABILIDADES TÉCNICAS PROFISSIONAIS,

INTERPESSOAIS;

1°) “Você sabe por que o Bernardinho está à frente da Seleção Brasileira

Masculina de vôlei desde 2001, apresentando os melhores resultados e

tornando-se uma organização praticamente invencível até hoje, agosto de

2007, onde disputou 23 competições, obtendo 19 primeiros lugares, 3

segundos lugares e 1 terceiro lugar?

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Page 15: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Simplesmente pelo fato de ser um LÍDER VERDADEIRO e, assim agir

dentro da sua organização com Honestidade, Humildade, Paciência, Educação,

Comprometimento, Respeito, Abnegação, Perdão, pois são estes

comportamentos que resistem ao desgaste permanente causado pela rotina do

dia-a-dia. Isto é que é Liderança Verdadeira exercida ao longo dos anos,

submetida à prova permanente do tempo.” (Artigo de: Carlos Wendell

Pozzobon. Disponível em: http://www.rhportal.com.br/artigos)

De acordo com o texto, vemos que Bernardinho permanece no comando

da Seleção Brasileira de Vôlei, devido ao seu comprometimento com a seleção,

sua competência técnica profissional, sua integridade ética e aos resultados

alcançados.

2°) “Liderança, competência e obstinação são traços marcantes na

carreira de Bernardinho, um profissional com ambição constante pela vitória. É

uma pessoa extremamente estudiosa, dedicada e apaixonada pelo que faz.

Essas características o tornam um dos melhores técnicos da história do

voleibol mundial ” (Carlos Arthur Nuzman - Presidente do Comitê Olímpico

Brasileiro. Fonte: Transformando Suor em Ouro – Livro escrito por

Bernardinho)

Pela frase acima, do Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro,

Bernardinho se destaca devido a sua competência, destacando que tudo que

ele está conquistando é fruto de muito estudo, dedicação e paixão pelo que faz.

Demonstrando sua proficiência em habilidades técnicas profissionais.

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Page 16: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

3°) “Imagine se eu, que brigo, grito e faço cara feia durante as partidas

não aceitasse que um jogador fosse se sentar no banco emburrado, por ter

sido substituído. Tenho que aceitar. Não o fazendo, achando-me com mais

direito que o outro, terei sido vencido pelo meu próprio ego e perdido para

sempre a capacidade de dialogar de igual para igual com o jogador.”

Ele foi uma pessoa que me ajudou muito nesse ponto, de como encarar

as críticas.(Entrevista Ricardinho – Jornal Matéria Prima – 05MAI2004)

O técnico mostra uma habilidade interpessoal elevada, sabendo se por

no lugar dos seus subordinados e entender os problemas que eles passam ou

dificuldades a serem enfrentadas.

HABILIDADE EM CRIAR CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA A

MANIFESTAÇÃO DO TALENTO LATENTE EM CADA MEMBRO DA

EQUIPE.

1°) “Todas as pessoas têm um determinado talento e cabe a nós

descobri-lo e desenvolvê-lo.” (Bernardo Rezende – Bernardinho. Disponível

em: http://www.canalrh.com.br)

Desta frase do técnico da Seleção Brasileira de Voleibol, Bernardinho,

nós percebemos a sua preocupação em descobrir e facilitar a manifestação do

talento dos jogadores da sua equipe.

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Page 17: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

2º) “Coaching é uma relação de parceria que revela e liberta o potencial

das pessoas de forma a maximizar seu desempenho.” (Bernardo Rezende –

Bernardinho. Disponível em: http://www.netfrases.com/frases-bernardinho/)

Bernardinho, nesta frase, afirma que através do treino, das instruções

recebidas é que se manifesta o potencial das pessoas, e que cabe ao líder ter

esta habilidade de percepção do talento existente em cada um dos seus

liderados.

3°)“É importante criar dificuldades para os que têm talento. As

facilidades os limitam.” (Bernardo Rezende – Bernardinho. Disponível em:

http://www.netfrases.com/frases-bernardinho/)

Nesta frase, Bernardinho, afirma que o líder tem que cobrar mais de

quem tem mais para oferecer, e que cabe ao líder ter esta percepção do talento

de cada liderado, para saber como contribuir para que este talento se

manifeste em prol da equipe.

4º) “Talvez o grande craque tenha a percepção de que tudo é fácil. Eu

vivi a sensação de que era tudo tão difícil que hoje eu acredito que todos têm

que trabalhar muito para se desenvolver, mesmo aqueles que têm um talento

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Page 18: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

maior.”. (Entrevista de Bernardinho para a revista Veja. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/131206/entrevista_bernardinho.html)

Bernardinho destaca que, mesmo uma pessoa que já possua talento,

tem que trabalhar para que possa se desenvolver.

INTEGRIDADE ÉTICA;

1º) “Veja - Foi difícil cortar da seleção seu próprio filho, o levantador

Bruno?

Bernardinho - Com ele não foi difícil. Ele sabia o porquê das minhas decisões.

O grupo reconheceu não só o garoto esforçado que é, mas também o jogador

de talento que pode vir a fazer parte do grupo brevemente. Não foi das maiores

dificuldades, foi senso de justiça.” (Entrevista de Bernardinho para a revista

Veja. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/131206/entrevista_bernardinho.html)

Bernardinho poderia, convenientemente, ter deixado seu filho na seleção

brasileira. Entretanto, como a convocação de seu filho não era prioridade para

complementar a equipe, Bernardinho o cortou para que outro jogador que

possuísse as características necessárias pudesse ser convocado.

2º) “Profissionais que, diante de um fracasso, transferem a

responsabilidade para os outros estão sendo injustos. Tenho profunda aversão

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Page 19: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

a isso. Não adianta ser apenas o mais bem preparado, eficiente e competente

se não for capaz de reconhecer as próprias falhas. No meu caso, sempre que

acontece uma derrota, acho que a culpa foi minha por não ter sido capaz de

motivar o time como deveria. “. (Entrevista de Bernardinho para a revista

SEBRAE. Disponível em : http://www.feirasdobrasil.com.br/revista.asp?

area=entrevistas&codigo=331)

Bernardinho assume a culpa pelas falhas de sua equipe ao invés de

procurar culpados e se eximir da derrota.

CREDIBILIDADE/INSPIRA CONFIANÇA;

1º) “O técnico de vôlei Bernardinho, que inúmeras vezes levou as

seleções masculina e feminina ao podium em competições internacionais, é o

único palestrante brasileiro presente no Fórum Mundial de Alta Performance.

“Além de colocar um componente nacional, o objetivo de ouvir o Bernardinho é

saber por que mesmo com as mudanças nas equipes, a vitória permanece. Ao

mesmo tempo, nem sempre uma equipe talentosa leva o primeiro lugar. Então,

qual é o segredo? É isso que queremos ouvir dele”.”.(Disponível em:

http://carreiras.empregos.com.br/comunidades/executivos/fique_por_dentro/

070305-forum_performance_hsm.shtm)

O fórum utiliza da imagem de Bernardinho para se promover além de

promover sua credibilidade devido ao alto desempenho de Bernardinho e sua

equipe nos últimos anos.

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Page 20: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

2º) “As pessoas precisam saber quem você é e o que pretende. Um líder

tem que criar um clima de confiança absoluta, o que não significa dizer

harmonia constante, sem que haja qualquer atrito. Para se chegar a um nível

de excelência, é preciso muita cobrança, comprometimento e aprimoramento

técnico. Na forma, todos nós podemos errar, mas ninguém da equipe pode

duvidar das intenções de quem está à frente do projeto. A quebra de confiança

é muito grave e dificilmente pode ser revertida.” (Entrevista de Bernardinho

para a revista SEBRAE. Disponível em:

http://www.feirasdobrasil.com.br/revista.asp?area=entrevistas&codigo=331)

Bernardinho revela que a confiança que a equipe lhe deposita é

determinante para que a mesma siga suas ordens à risca. Ordens essas que

ele considera imprescindíveis para alcançar seu objetivo.

3°) Wallace elogia o treinador. "Tudo o que o Bernardo fala, funciona.

Não tem como não confiar nele. Ele é sensacional. Tenho de estar sempre

preparado, caso precise me utilizar. Por isso, não se pode relaxar.

Independentemente de estar ou não entre os 12, é preciso manter o foco e não

deixar cair o ritmo nos treinamentos". (Entrevista Wallace – Voleibrasil.org.br –

18MAI2010).

Seu histórico como técnico é tão impressionante que seria natural que

ele tenha uma grande credibilidade, isso é comprovado nas falas dos próprios

jogadores da equipe.

O Bernardinho é um técnico que, tanto a imprensa como a torcida sabe

que, o que faz é correto. Ele tem seu valor, muito crédito nas decisões, por

isso, quando fez a substituição ficaram todos esperando para ver.

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Page 21: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

4. JANELA DE JOHARI

Bernardinho apesar de seu temperamento forte, certas vezes agressivos

em quadra, sempre buscou uma relação de cumplicidade com seus jogadores,

com o objetivo de não deixar que seus problemas pessoais atrapalhassem no

preparo para os jogos e por conseqüência nas próprias disputas. Tal

cumplicidade só é conquistada com uma relação aberta e de confiança,

características essas que podem ser vistas nas entrevistas de jogadoras que

atuaram com o técnico na seleção brasileira feminina de vôlei.

“É um grande amigo. Temos uma relação de pai e filha. Sinto por ele um

enorme respeito e muita confiança. É uma pessoa com quem posso contar nos

momentos bons e ruins. Ele sempre me diz para economizar energia para

gastar no momento certo. Agora, mais experiente, entendo bem essa frase.”

(Entrevista Erika – www.esportesite.com.br – 30JAN2010)

“Não, nunca. Desentendimento não atrapalha, o que atrapalha é a

falsidade. Eu odeio falsidade, prefiro que a pessoa chegue a mim e diga o que

pensa do que fale por trás. Preferia que a menina me xingasse a falar pelas

costas. Não suporto conversinha, fofoca. Tem que falar na cara da pessoa,

nem que seja pra depois sair na porrada. Melhor falar “na lata” e resolver ali, na

hora, do que ficar fazendo intriga. Tudo era dito abertamente e tudo era

superado, pois acima de tudo éramos uma grande equipe e tínhamos um

grande chefe que sabia lidar com isso muito bem, o grande Bernardinho.”

(Entrevista Marcia Fu – Melhor do Volei – 11FEV2008)

Pensando também no Bernardinho como pessoa pública e que

recentemente lançou um livro sobre a sua vida, mostrando impressões

pessoais sobre as várias situações vividas na carreira é plausível pensar em

uma janela de Johari com uma Arena Pública grande. Um exemplo é quando

ele admite ser de temperamento explosivo dentro de quadra, mostrando mais

uma característica conhecida pelo “eu” e pelos “outros”, contribuindo assim

para o aumento dessa área:

“Eu era excessivamente intenso, muitas vezes deixei que minha emoção

tomasse conta, que meu excesso de vontade me prejudicasse”

21

Page 22: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Em seu livro o técnico também demonstra sua preocupação com o

feedback dos jogadores, de modo a cobrá-los uma participação mais efetiva

nas reuniões da equipe, o que pode ser comprovado pelo seguinte texto:

“Algo que passou a me incomodar nas reuniões táticas que tínhamos no

início de 2002 foi a pouca participação dos jogadores. Senti-me protagonizando

monólogos. Eu falava e eles ouviam, sem retrucar ou dar sequer uma opinião.

Isso me deixava com a sensação de que havia alguma coisa mal resolvida.

Não foi por outra razão que, em João Pessoa, durante a primeira partida

contra Portugal pela Liga Mundial, incomodou-me ver o time jogando tão mal e

os jogadores calados, como se nada estivesse acontecendo. Era como se eles

dissessem: ”Se estamos vencendo, para que falar alguma coisa?” Irritado com

essa postura, pedi tempo. E soltei os bichos em cima deles. Chamei-os de

amadores, acomodados, irresponsáveis. Aposto que pensaram: ”O cara

enlouqueceu.” À noite, durante a reunião para análise do vídeo em que

deveríamos discutir as estratégias para a partida seguinte, os jogadores, enfim,

resolveram dar suas opiniões.

- Agora vocês querem falar? - perguntei em tom provocativo. – Vocês

estão há um ano calados.

Pela primeira vez me contestaram. Gostei das reclamações que fizeram

sobre a bronca aparentemente gratuita que lhes dera. Eu vivia me

perguntando: ”Será que eles pensam que eu nunca estou errado?” Temia estar

ali o silêncio do comodismo, o distanciamento do não-envolvimento e da não-

cumplicidade. É a típica situação em que, se ganharem, eles dizem: ”Está tudo

bem, ótimo, deu certo, era isso mesmo”, mas, se perderem, esquivam-se,

alegando terem se limitado a cumprir ordens.”

22

Page 23: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

23

Page 24: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

5. BASES DA LIDERANÇA

Um líder surge em meio a uma situação em que se deseja atingir um

objetivo e necessita-se de alguém para conduzir o grupo em direção do

mesmo. Não existe o chamado “vácuo de liderança”. Com Bernardinho não foi

diferente, as meninas da seleção feminina de vôlei tinham acabado de perder o

Campeonato sul-americano e, com isso, a classificação para a Copa dos

Campeões. O ambiente entre elas não era nada tranqüilo. Crises de

relacionamento abateram-nas. Bernardinho foi chamado para treinar a seleção

nessas condições, onde era necessário um líder que viesse a motivá-las

novamente e fazê-las trabalhar em prol de muitos outros títulos que estariam

por vir.

AUTORIDADE ORGANIZACIONAL: CONSISTE NO DIREITO LEGAL

E FUNCIONAL EM EXERCER O MANDO

A Autoridade Organizacional se manifesta quando uma pessoa recebe

um cargo ou uma função e com isso autoridade para agir e liderar. No caso do

Bernardinho, isso aconteceu quando ele foi nomeado técnico da seleção

feminina de vôlei e depois da seleção masculina também.

“O que deveriam ser férias tranqüilas se transformou num novo desafio.

Lá estava eu, em outubro de 1993, na casa de meus pais, em Copacabana,

quando Carlos Arthur Nuzman, então presidente da CBV, hoje à frente do

Comitê Olímpico Brasileiro (COB), telefonou convidando-me para dirigir a

seleção feminina. Aceitei. Quem não gostaria de dirigir uma seleção brasileira?

Não pensei duas vezes.” (Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág.77)

“Pouco depois dos Jogos Olímpicos de 2000, nova mudança de vida.

Convidado por Ary Graça Filho, à frente da CBV desde 1996, quando Nuzman

assumiu o Comitê Olímpico Brasileiro, transferi-me da seleção feminina para a

masculina.” (Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág.125)

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Page 25: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

AUTORIDADE MORAL: DERIVA DO COMPORTAMENTO DO LÍDER

E DA COMUNHÃO ENTRE ELE E OS SEUS SEGUIDORES NO QUE DIZ

RESPEITO A: VALORES, CRENÇAS, IDÉIAS, OBJETIVOS E METAS A

ATINGIR

Um líder deve ter uma conduta ética e moral apreciada por seus

seguidores. Seus valores influenciam e fortalecem sua relação com eles, todos

sabem que tudo que é proposto pelo líder é para o bem do grupo e para que

alcancem seus objetivos. Bernardinho possui todas essas qualidades:

” Bernardinho é um vencedor por colocar no seu trabalho valores e

princípios que tanto apreciamos liderança, determinação, competência para

treinar e motivar equipes e capacidade de levar crescimento pessoal e alegria

aos jovens ” (Vinícius Priantí, PRESIDENTE DA UNILEVER BRASIL, Trecho

do livro: Transformando Suor em Ouro)

O exemplo é um do meios mais eficazes para se fortalecer a autoridade

moral de um líder. Bernardinho em todos os momentos se utiliza desse recurso

para conduzir o grupo. O caso do lago Léman, descrito no livro “Transformando

Suor em Ouro”, pode ser citado como exemplo disso. Na ocasião, a seleção

feminina de vôlei havia perdido o primeiro jogo do BCV Cup, um torneio

importante que reunia oito das maiores seleções femininas do mundo.

Bernardinho precisava motivá-las e lançou o desafio: “Se vocês forem

campeãs, eu me atiro naquele lago.”. Era final do inverno, fazia frio e as águas

do lago Léman estavam super geladas. A seleção começou a vencer. Treinava,

jogava, foi superando uma adversária após outra até que venceu a final. Como

exemplo de sacrifício (o mesmo que elas tiveram que fazer para se superar e

vencer o campeonato), Bernardinho cumpriu sua promessa, e não só ele como

toda a comissão técnica se atiraram no gelado lago.

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Page 26: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

“Se você é um líder realmente duro e exigente, seu próprio sacrifício

serve como fonte de motivação, pois demonstrará que a equipe não está

sozinha.” (Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág.82)

Em 2003, semanas após conquistar mais uma Liga Mundial de Vôlei,

batendo na final a poderosa seleção italiana em seu próprio território pela

margem mínima de 2 pontos no tie-break (conquista com nuances

psicologicamente épicas), o selecionado brasileiro passou por duro golpe no

torneio seguinte, o Pan-Americano de 2003 de Santo Domingo, na Republica

Dominicana. Disperso, sem foco ou vibração, o Brasil foi derrotado por uma

equipe considerada tecnicamente inferior pela mídia especializada, a

Venezuela, ficando “apenas” com o Bronze neste torneio. Quando questionado

pela imprensa pela derrota, Bernardinho chamou para si a responsabilidade da

derrota, pois como descreve em seu livro, ele como líder “não tinha sido

suficientemente convincente para que eles fizessem aquilo que eu havia

proposto”, e portanto houvera acontecido erro de planejamento de sua parte ao

não preparar a equipe adequadamente para duas competições importantes

separadas por curto espaço de tempo. Esta postura já constitui exemplo de

valor e crença que sustenta sua autoridade moral de líder perante o grupo. No

entanto, essa autoridade moral viria a ser posta em prova no dia seguinte,

quando um site noticiou que Bernardinho teria culpado os jogadores pela

derrota. Em seu livro, ele conta que embora mentirosa, essa noticiou levou a

equipe a interpelá-lo. Bernardinho então reuniu os jogadores e taxou: se ao

menos um membro da equipe acreditasse nessa notícia, poderia arrumar as

malas e ir embora da seleção, mas se a equipe pensasse dessa forma, ele

próprio iria embora, consciente de que haveria perdido a capacidade de liderá-

los, sem sua confiança. Ninguém se manifestou e a autoridade moral de

Bernardinho e sua comunhão com o grupo, houvera passado no teste.

Situações onde se verifica o comportamento ético do líder, reforçam sua

autoridade moral e sua comunhão com seus seguidores. Isto pôde ser

verificado quando ao regressar das Olimpíadas de Atenas em 2004,

Bernardinho solicitou da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) que as

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Page 27: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

viagens intercontinentais, por serem longas e cansativas, fossem realizadas na

classe executiva, entendendo que se tratava, não de luxo ou privilégio, mas sim

de necessidade, pois os jogadores eram duramente testados nos treinamentos.

A CBV atendeu ao pedido de Bernardinho, que determinou que somente os

jogadores viajariam na classe executiva, e não a comissão técnica, pois “são

os jogadores quem entram na quadra para treinar”. Por meio desse exemplo,

além de demonstrar para a equipe seu empenho para com suas necessidades

de conforto, cria crédito de confiança para com seus jogadores, pois como

mesmo justifica adiante: “nem sempre conseguimos prover as condições

desejadas” e então: “usamos as condições precárias ou desfavoráveis a nosso

favor, como desafio e fonte de motivação”. Portanto, Bernardinho exemplifica

que pelo exemplo de interesse sincero às necessidades de seus liderados

(líder servidor) e pelo exemplo de ética (não obtendo vantagem acessória

dessa necessidade de conforto para os membros da comissão técnica), é

possível criar comunhão na equipe, capaz de transformar adversidades em

desafios a serem superados e consequentemente transformar a desvantagem

competitiva em vantagem, pelo emprego das virtudes de coragem,

comprometimento e superação. Esse episódio é descrito no livro

“Transformando Suor em Ouro”.

“O Bernardinho é um técnico que, tanto a imprensa como a torcida sabe

que, o que faz é correto. Ele tem seu valor, muito crédito nas decisões, por

isso, quando fez a substituição (tirou Maurício para colocar Ricardinho) ficaram

todos esperando para ver. Ele foi uma pessoa que me ajudou muito nesse

ponto, de como encarar as críticas.” (Disponível em:

www.jornalmateriaprima.jex.com.br_entrevista_ricardo+ber.pdf)

Observando os exemplos relacionados, pode-se concluir que o líder

estudado possui a autoridade moral, que é uma das bases de liderança, uma

vez que Bernardinho aplica em seu trabalho valores e princípios morais para

liderar seus comandados.

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Page 28: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

COMPETÊNCIA TÉCNICA: CONHECIMENTO A RESPEITO DO

ASSUNTO OU TEMA SOBRE O QUAL DÁ ORDENS. É FUNDAMENTAL

PARA CONQUISTAR A CONFIANÇA DOS LIDERADOS.

”Liderança, competência e obstinação são traços marcantes na carreira

de Bernardinho, um profissional com ambição constante pela vitória É uma

pessoa extremamente estudiosa, dedicada e apaixonada pelo que faz Essas

características o tornam um dos melhores técnicos da história do voleibol

mundial ” (Carlos Arthur Nuzman, PRESIDENTE DO COMITÊ OLÍMPICO

BRASILEIRO, Retirado do livro: Transformando Suor em Ouro)

“Bernardinho é o divisor de águas num país que precisa aprender a

importância da cooperação, da solidariedade e do trabalho em equipe. Diga

que seus jogadores são baixos e Bernardinho os fará saltar mais alto. Diga que

são fracos no bloqueio e ele irá torná-los os melhores do mundo. Diga que a

seleção de vôlei do Brasil é deficiente na defesa e ele fará dos seus

comandados defensores imbatíveis.” (Trecho do livro Transformando Suor em

Ouro, escrito por JOÃO PEDRO PAES LEME)

“ (...) Resumindo: competência e seriedade são as duas qualidades

sempre presentes no trabalho de Bernardinho. ” (Antônio Ermírio de Moraes,

PRESIDENTE DO GRUPO VOTORANTIN, Retirado do livro: Transformando

Suor em Ouro)

Por esses comentários acima fica comprovada a competência técnica de

Bernardinho, o que o torna um líder com respaldo para passar seus

conhecimentos a seus liderados não só para os atletas, mas também para os

gestores de uma maneira geral. Sua competência técnica é reconhecida

mundialmente por jogadores, comentaristas e treinadores de vôlei. Basta ver o

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Page 29: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

currículo de numerosos títulos no esporte dirigindo as seleções masculinas e

femininas do Brasil nos diversos torneios disputados.

CARISMA: IDENTIFICAÇÃO DOS LIDERADOS COM OS TRAÇOS DE

PERSONALIDADE DO LÍDER QUE ELES GOSTARIAM DE TER. O

CARISMA EM ALTO GRAU É MAGNÉTICO E HIPNÓTICO

“... O Bernardinho é um palestrante muito carismático, tem uma energia

contagiante e sua palestra cresce assim como ele evoluiu em seu trabalho nos

últimos anos como palestrante. Consegue prender a atenção de todos, mesmo

sendo a segunda apresentação para o público da DIRECTV. Os exemplos

utilizados são muito elucidativos, embora alguns já fossem conhecidos. É

simpático, gentil e acessível a todos. Enfim, Bernardinho é um sucesso

garantido e unanimidade nacional...” (Liliane Blondel, DIRECTV)

"A palestra do Bernardinho na Convenção da Essilor foi um sucesso,

todos adoraram! Foi super motivacional, empolgante e ele é uma figura muito

bacana.

Não se negou a tirar fotos,...Valeu todo o estresse que tivemos!

Obrigada por sua super ajuda também durante todo o processo." (Kharine

Castro. Rio 360 Comunicação)

“...A palestra foi ótima, Nota 10 , super interessante, o Bernardinho é

muito simpático, humilde, comunicativo, transmite com clareza o recado enfim

foi um evento ótimo, o auditório estava lotado e todos saíram muito satisfeitos

com a palestra. Vocês da galeria de esportes também são muito atenciosos,

enfim gostei muito de trabalhar com vocês, espero que tenhamos novas

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Page 30: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

oportunidades...” (Mariza Medeiros, PETROBRAS/REVAP/GERÊNCIA DE

COMUNICAÇÃO)

“... a palestra foi um sucesso, o Bernardo é extremamente simpático e

carismático, tivemos um público maravilhoso (330 pessoas), o que

surpreendeu, inclusive, a organização do evento, que nos cedeu os auditórios.

Durante toda a noite, os comentários que ouvi sobre a palestra foram os

melhores possíveis, saímos entusiasmados e confiantes nos conceitos

transmitidos por ele.” (Izabelle,INATEL)

Por meio dos depoimentos acima, pode-se notar que Bernardinho é

muito querido e carismático.

De todas as bases de liderança citadas acima, a sua autoridade moral

foi fundamental para o papel de motivação e transformação dos seus liderados,

dando assim uma base sólida para que seus liderados pudessem atingir as

metas e objetivos traçados. Bernardinho em seu livro fala que para que os

atletas consigam atingir um nível elevado no voleibol, os jogadores deveriam

seguir uma dura rotina de treino alinhado com uma disciplina tanto dentro de

quadra quanto fora dela. Modificar os maus hábitos alimentares e vícios como

a bebida e fumo seriam necessários, pois comprometem o desempenho dos

jogadores dentro de quadra.

Não resta dúvidas que com isso, Bernardinho passava a seus liderados

idéias e valores para conscientizar os jogadores de que eles deveriam querem

estar na seleção brasileira e representar o país da melhor maneira possível.

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Page 31: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

6. LIDERANÇA TRANSACIONAL OU TRANSFORMACIONAL

O processo de liderança mais utilizado foi o transformacional. Isso fica

bem claro desde o início da sua carreira como jogador da Seleção Brasileira.

Tanto por parte dele, Bernardinho, quanto pelos seus liderados.

LIDERANÇA TRANSFORMACIONAL

Na liderança transformacional o líder reconhece as necessidades do

seguidor, o influencia e o transforma, além de se deixar influenciar e

transformar, a fim de conseguir maior eficácia no desempenho. Não obstante,

consegue liberar o potencial motivacional dos seguidores, fazendo com que os

seguidores atinjam desempenhos mais elevados (BURNS, 1979 apud

BERGAMINI, 2005).

Para Marques et al. (2007), a liderança transformacional envolve uma

influência excepcional sobre os seguidores, os fazendo cumprir mais do que o

esperado, transcendendo seus próprios interesses em favor da organização. O

líder possui carisma, metas idealizadas e tem grande compromisso pessoal

para alcançá-la, além disso, são modelos para seus seguidores que percebem

seus líderes como tendo capacidades heróicas e sendo pessoas

extraordinárias. Estes líderes têm alto padrão de moral e conduta ética,

respeitam e confiam profundamente nos seus seguidores e tem como fator

denominador a motivação inspiracional, que segundo Rowe (2002 apud

Marques et al. 2007) é como liderança visionária, pois os líderes inspiram,

motivam e são comprometidos com a visão compartilhada da organização e

com o espírito de equipe.

Stefano e Filho (2003) relatam que esse tipo de liderança desperta uma

maior motivação e satisfação por parte dos seguidores em realizarem suas

tarefas, pelo simples fato de gostarem de seus lideres.

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Page 32: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

“Nunca me esqueci das palavras claras e duras de meu treinador

naquele dia. A vaidade de ter feito alguns amistosos com o time adulto tinha

tomado conta de mim e me induzido a agir errado com todo o grupo. com meia

dúzia de palavras, Bené me mostrou quanto vale ser parte de uma equipe.

Como o ”nós” é sempre mais importante do que o ”eu”.”. ( Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 31)

Foi utilizada liderança transformacional porque Bernardinho percebe

através das palavras de seu técnico que tomou uma decisão errada e com isso

muda sua atitude em relação a equipe.

“- Amanhã faremos dois treinos, um pela manhã e outro à tarde.

Pude perceber o espanto, quase pavor, nos olhos daquelas italianas.

Dois treinos por dia? Nunca tinham ouvido falar em nada parecido. Para ser

honesto, nem eu mesmo sei por que tomei aquela decisão. É possível que

quisesse apenas mudar alguma coisa, provocar uma mexida no que elas

vinham fazendo até então. Tinha plena convicção de que mudar era

importante. Afinal, ”estratégias iguais nos levariam a resultados iguais”. Ou

seja, era preciso mudar o método de preparação.””. (Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 60)

Existe uma mudança no estilo de treinamento das jogadoras e com isso

elas passam a ter um melhor crescimento e desenvolvimento. O estilo de

liderança transformacional foi adequado nessa situação porque ele estava

querendo uma mudança na atitude das jogadoras.

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Page 33: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

“Nosso começo até que foi promissor. Treinamos na sexta-feira,

jogamos no sábado e ganhamos. Na segunda-feira, reiniciamos o trabalho: um

circuito físico e técnico. A cada etapa cumprida, enquanto parávamos para

recuperar o fôlego, Cristina pedia para ir ao banheiro, voltando minutos depois

com um ar abatido. A cada pausa para descanso, lá ia Cristina para o banheiro.

”Deve estar passando mal”, pensei. De fato, estava. O motivo de suas

freqüentes idas ao banheiro é que, fisicamente limitada, Cristina era tão

consumida pelo ritmo do treinamento que vomitava nos intervalos. Passava

mal, saía, voltava enfraquecida, mas não desistia.” (Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 62)

A liderança transformacional fica explicita pela dedicação da atleta em

relação aos treinamentos ao ponto de chegar a passar mal.

“- Hoje ela não pode treinar.

- Como não? Ela treinou ontem...

- É que hoje ela está ”naqueles dias”.

Aí é que perdi a paciência de vez. Imagine um dia em que três ou mais

jogadoras estejam ”nos seus dias” e por causa disso não haja um time para

treinar ou jogar. Fiz que a atleta mudasse de roupa e voltasse à quadra, sem

saber que, no caso dela, aquele era de fato um período difícil, de dores

intensas e muito desconforto.

Essa história ilustra duas coisas: primeiro, o meu distanciamento de

minhas jogadoras, que as impedia de ter comigo uma relação franca e direta.

Não havíamos construído ainda um elo de confiança significativo. A segunda

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Page 34: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

coisa foi constatar o meu desconhecimento em relação ao universo feminino,

que agora estava sob minha responsabilidade. “(Bernardinho, Transformando

Suor em Ouro, Pág. 63)

A partir daí Bernardinho percebe que precisa muda seu comportamento

e entender melhor o mudo das mulheres para que elas possam ter melhores

rendimentos durante os treinos e competições.

“ Qual é o objetivo do Bernardinho para esse Pan? Fora vencer, é claro.

Rodrigão - Eu acho que o maior objetivo dele é que antes de vencer

temos conseguir que todos os atletas rendam o máximo em duas competições

seguidas, isso com certeza vai ser o grande desafio dele pois, quando você

termina uma competição, há uma perda natural de preparo físico. Sem contar

que estamos há um mês fora do Brasil, o que também prejudica. E após um

mês fora todos querem ir ao menos um dia em casa, e vamos chegar direto pra

estrear no Pan. Não vai ser fácil manter a galera num bom preparo, mas ele vai

conseguir e nós vamos ajudar.” (Disponível em:

http://tvtribuna.globo.com/colunas/colunas_ver.asp?

idColunista=18&idColuna=149)

“O bom profissional é aquele que nunca acha que o que conquistou é o

bastante, que sempre quer algo mais que está disposto a sacrifícios individuais

em nome de um objetivo coletivo. E o bom líder é aquele que consegue incutir

esse questionamento em seus colaboradores.”. (Disponível em:

http://musclemassablog.site.br.com/?p=256)

“O que motiva e o que desmotiva um grupo?

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Page 35: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Minha forma de motivar é treinando, desafiando, trabalhando a auto-estima,

buscando constantemente a melhoria da equipe. Muitas pessoas criticam

minha forma de cobrar e ser exigente, mas essa é uma forma de incentivar o

grupo, colocá-lo para a frente.

O que desmotiva é fazer com que a pessoa não se sinta parte importante do

grupo. Inevitavelmente, alguns jogadores vão estar no banco de reservas,

assim como alguns empregados vão estar em cargos mais baixos. Mas a

qualquer momento podem entrar na quadra. Eles são tão fundamentais para a

equipe quanto os titulares, porque, num grupo, ninguém é melhor do que

ninguém.” (Disponível em: http://www.cartaderh.com.br/website/text.asp?

txtCode=20095&txtDate=20060929000000)

LIDERANÇA TRANSACIONAL

O estilo transacional ocorre quando uma pessoa toma a iniciativa de

estabelecer contato com outras através da troca de bens de valor e é delineado

pelo líder padrões de desempenho a serem cumpridos através de recompensa

ou punições. Segundo Burns (1979 apud Bergamini, 2005) e Marques et al.

(2007), na liderança transacional os subordinados escutam feedback do líder

apenas quando falham ou quando ocorrem problemas.

Limongi–França e Aurellano (2002) acrescentam que no estilo

transacional, o líder guia seus seguidores na direção das metas e esclarece as

exigências de papel e tarefa.Neste estilo de liderança existe um interesse

recíproco, o qual Marques et al. (2007), denominou de recompensa

contingente, que baseia-se nas trocas entre líderes e seguidores, no qual o

esforço dos seguidores é trocado por recompensas específicas, existindo um

interesse recíproco.

Bergamini (2006), afirma também que o líder transacional toma a

iniciativa de delinear para cada seguidor padrões de desempenho a serem

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Page 36: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

cumpridos, um tipo de relacionamento condicionante, uma vez que é facultado

ao líder recompensar ou punir a resposta comportamental do seguidor.

“Quando assumimos a seleção, Virna foi franca:

- Bernardinho, eu não sei passar.

De fato, ela jogava no fundo da quadra, quase escondida, como se não

quisesse correr riscos. Evitava fazer a recepção (passar), fundamento

importante para sua função.

- Mas por que você não passa? - perguntei.

- Porque meu antigo técnico me disse que eu não tenho capacidade pra

isso, que eu sou lenta e limitada.

Não perdi tempo:

- Foi Só isso que ele disse? Mais nada? Então, filha, Deus a ajude,

porque você não vai jogar comigo se não passar.

Virna estava tão desmotivada, tão ”pra baixo”, que realmente se sentia

incapaz de cumprir um dos fundamentos do vôlei. Criamos um regime intensivo

de treinamento de passes, deixando claro que, se não se esforçasse, não teria

chance. Em pouco tempo, ela saltou da condição de 13.” para 7.* da equipe. E,

depois de três anos, tornou-se titular e uma das principais jogadoras do país.”

(Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág. 86)

Exemplo de liderança transacional porque existe o interesse de Virna em

uma vaga na seleção brasileira e caso ela não corrigisse sua deficiência no

passe, ficaria fora do time.

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Page 37: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

“Tecnicamente, ela era ótima, mas onde estavam a vontade e a

motivação que eu tanto buscava. Em vezes anteriores, como me relataram na

experiência de Barcelona, em 1992, Leila se acomodara no banco, aceitara

sem lutar a condição de reserva, e isso não me servia.

No ano seguinte chamei-a de volta e ela, com outra postura, revelou-se

uma jogadora muito importante Mas em 1999 seu rendimento caiu novamente

em função de um problema pessoal, a doença da mãe.

Resolvi, então, ter uma longa conversa com ela: ”Creio que seus

problemas são dois, Leila. O mais sério, infelizmente, não depende de você. O

outro, sim. Como é que você pode dar carinho, apoio e assistência à sua mãe

quando ela percebe que você não está bem, não está feliz? Como toda mãe

quer o melhor para a filha, se ela perceber que seu estado de espírito está

afetando seu desempenho profissional, isso pode acabar prejudicando a

recuperação dela.”

Como palavras, só, não adiantam, tentei de tudo para reaver o que o

voleibol de Leila tinha de melhor. Por ”tudo” entenda-se uma única palavra:

desafio.

Seria sua melhor atuação numa competição internacional. Ali estava, de

volta à condição de titular, uma Leila que, desafiada e incentivada por isso,

parecia ter se superado. Nunca tive dúvida de que o lugar ainda seria seu. Uma

de suas grandes motivações para jogar bem era dedicar a medalha à sua

mãe.” (Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág. 87)

Exemplo de transformação transacional porque Leila consegue vencer

os problemas pessoais e recuperar sua motivação para jogar e ser titular da

Seleção Brasileira. A liderança transacional é obtida através de uma troca

psicológica que Bernardinho incentiva: a de a jogadora melhorar sua

performance a tal ponto que seja perceptível para a sua mãe.

Consequentemente, vendo que sua filha não está sofrendo por sua causa, a

mãe da Leila melhoraria mais facilmente. Com isso a equipe não perde

performance com uma jogadora por estar desmotivada e a jogadora, mesmo

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com seus problemas pessoais, consegue superá-los em troca de uma

compensação psicológica.

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7. ESTILOS DE LIDERANÇA

Bernardinho utiliza os alguns estilos de liderança de acordo com a

situação, com as pessoas e com a tarefa a ser executada. Ele tanto manda

cumprir ordens, como sugere aos subordinados a realização de tarefas, como

ainda consulta os subordinados antes de tomar alguma decisão. Ele utiliza

coerentemente os estilos de liderança.

Com sua Comissão Técnica, normalmente, ele utiliza a Liderança

Delegativa, tendendo para a Liderança Participativa, pois são profissionais

experientes, com um vasto conhecimento nas suas áreas de atuação, dando

assim uma maior liberdade de decisão para eles. Bernardinho, antes de tomar

alguma decisão tática consulta a sua equipe. Utilizando a curva de Hersey e

Blanchard abaixo, a liderança de Bernardinho, nesse caso, pode ser situada

entre as regiões E3 (Liderança Participativa) e E4 (Liderança Delegativa),

levando-se em conta a alta maturidade profissional e psicológica da comissão.

Assim, Bernardinho, delega algumas competências para seus liderados,

alguns deveres, responsabilidades e autoridade. Vejamos nos exemplos

abaixo:

39

Page 40: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

“Comecei então a construir a ”Equipe Bernardinho”. José Inácio Sales

Neto tinha trabalhado no voleibol feminino, era um estudioso de formação

acadêmica sólida, sempre atento às novidades. Um profissional tão preparado

que acumularia suas tarefas com a de manager da seleção.” (Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 80)

“Ricardo Tabach era meu assistente técnico, especialista em recepção e

defesa. Sua principal atribuição era, portanto, o desenvolvimento técnico das

atletas. Em 1999, José Francisco dos Santos, o Chico, assumiria a

responsabilidade pelo treinamento de bloqueio e passaria a dividir comigo as

questões táticas, revelando-se um excepcional estrategista”. (Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 80)

“Como médicos tivemos Serafim Ferreira Borges e Carlos Moura e, mais

recentemente, Álvaro Chamecki e Ney Pecegueiro do Amaral. O responsável

pela fisioterapia era Guilherme Tenius, o Fiapo, e na função cada vez mais

importante de estatística tivemos Maria Auxiliadora Castanheira, a Dora, e, a

partir de 1998, Roberta Giglio. Formamos, assim, um time multidisciplinar de

talentos complementares.” (Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág.

80)

Nos exemplos acima, nós podemos observar como Bernardinho formou

sua equipe técnica, quando começou a treinar a Seleção Feminina de Vôlei em

outubro de 1993; vimos, também, a delegação de competência dada aos seus

liderados.

Com os atletas de sua equipe, Bernardinho, também, demonstra utilizar

alguns Estilos de Liderança, de acordo com a situação, com as pessoas e com

a tarefa a ser executada. Ele impõe ordens, sugere aos subordinados a

realização de tarefas, como ainda consulta os subordinados antes de tomar

alguma decisão. Normalmente, ele utiliza a Liderança Autocrática, tendendo

para Liderança Participativa. Há alguns momentos que ele é muito

disciplinador, exercendo uma contínua pressão nos jogadores, com o objetivo

40

Page 41: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

de atingir os objetivos do grupo, como demonstrado no primeiro texto abaixo.

Em outros momentos, mostra-se como um educador, treinador da equipe,

encoraja a participação e aceita sugestões da equipe, como podemos perceber

no segundo texto abaixo:

“Pressionava-a nos treinos, exigia mais dela, impunha-lhe sacrifícios,

animado pela esperança de que se transformasse numa verdadeira líder:

aquela que, além de jogar bem, faz toda a equipe jogar melhor. Foi na China,

dias antes de estrearmos no Grand Prix, que Fernanda se rendeu. Já não

suportava aquela pressão. Talvez tenha se conscientizado de que ninguém é

excepcional o bastante para fazer sozinho o que deve ser feito em equipe.”

(Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Págs. 92 e 93)

“Algo que passou a me incomodar nas reuniões táticas que tínhamos no

início de 2002 foi a pouca participação dos jogadores. Senti-me protagonizando

monólogos. Eu falava e eles ouviam, sem retrucar ou dar sequer uma opinião.

Isso me deixava com a sensação de que havia alguma coisa mal resolvida.

À noite, durante a reunião para análise do vídeo em que deveríamos

discutir as estratégias para a partida seguinte, os jogadores, enfim, resolveram

dar suas opiniões.

- Agora vocês querem falar? - perguntei em tom provocativo. - Vocês

estão há um ano calados.

Pela primeira vez me contestaram. Gostei das reclamações que fizeram

sobre a bronca aparentemente gratuita que lhes dera. Eu vivia me

perguntando: ”Será que eles pensam que eu nunca estou errado?” Temia estar

ali o silêncio do comodismo, o distanciamento do não-envolvimento e da não-

cumplicidade.” (Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Págs. 134 e 135)

41

Page 42: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Em outros momentos, Bernardinho era autocrático, dando ordens para

que o grupo alcançasse seu objetivo. No terceiro exemplo pode-se perceber

isso no momento que ele proíbe as jogadoras de darem entrevistas. Seu

objetivo era que elas não fossem influenciadas pelo assédio da mídia e pela

fama, no entanto percebe-se em Bernardinho a preocupação didática para com

o grupo, ao explicar seus motivos para os liderados, mesmo nos casos de

ordens que não admitiam ponderação.

“Foi quando o incômodo deu lugar a preocupação. Achei que era hora

de falar com elas: “De agora em diante e até que o Campeonato termine vocês

estão proibidas de dar entrevistas que não sejam sobre vôlei. ” (...) Expliquei-

lhes que minha obrigação era protegê-las de qualquer influência externa que

pudesse desviá-las de sua meta. No caso, o Campeonato Mundial. ”

(Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág. 84)

Para demonstrar essa situacionalidade da liderança de

Bernardinho, importante trazer também um exemplo de atuação delegativa e

educativa para com os atletas, inclusive em situações de conflito, como durante

a campanha da Liga Mundial de Volley de 2004 na Italia, quando Bernardinho

precisou recorrer a esses estilos para contornar problemas com Ricardinho,

seu levantador titular e destaque da seleção à época:

“ (...) passou a não se dedicar e a não se empenhar da mesma forma

nos treinos. (...) Discutimos na frente de todo o time (...) Foi um momento de

tensão. Aquele era o levantador titular, um dos líderes do time, um jogador

imprescindível aos nossos planos. Não podia perdê-lo. Pedi a Giba que falasse

com ele e a conversa não deu resultado. Outros jogadores tentaram e nada. Vi

que o melhor seria eu mesmo lidar com o problema. Depois de uma longa e

acalorada discussão debaixo de chuva, que imaginei que fosse nos levar a

uma ruptura definitiva, ele humildemente reconheceu que havia errado e

agradeceu minha preocupação e minha orientação (...)”(Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 154)

42

Page 43: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

8. PROCESSO DE INFLUENCIAÇÃO

O principal processo de influenciação utilizado foi a motivação, apesar

de também utilizar sugestões através de exemplos.

43

Page 44: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Motivação

“SE VOCÊ É UM LÍDER REALMENTE DURO E EXIGENTE, SEU

PRÓPRIO SACRIFÍCIO SERVE COMO FONTE DE MOTIVAÇÃO, POIS

DEMONSTRARÁ QUE A EQUIPE NÃO ESTÁ SOZINHA.” (Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 82).

“Jamais desconsiderei o talento de qualquer um desses excepcionais

atletas, embora, para mim, sejam astros cuja luminosidade se torna mais

acentuada quando formam uma constelação. Os rapazes que enfrentarão os

italianos daqui a algumas horas estão unidos, determinados, confiantes,

movidos pela mesma paixão e convencidos de que não teriam chegado até

aqui se não fossem o que são: uma equipe.” (Bernardinho, Transformando

Suor em Ouro, Pág. 25).

“Não se monta o melhor time sem grandes jogadores, não se constrói

uma máquina sem as peças certas, não se chega ao todo sem que as partes

se completem. Motivo pelo qual jamais desconsiderei o brilho individual dos 12

homens sob meu comando. Na realidade,13, se contarmos com Henrique,

tristemente cortado uma semana antes de chegarmos aqui. Se os

regulamentos limitam as equipes a 12 atletas, não quer dizer que Henrique não

ocupe, sempre, a mente e o coração de todos nós.” (Bernardinho,

Transformando Suor em Ouro, Pág. 22).

Apesar do corte do atleta, Bernardinho enfatiza que a equipe é composta

por 13 jogadores e que todos são peças fundamentais de uma máquina

chamada Seleção Brasileira

44

Page 45: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

“E o talento de Dante, para quem um dia enviei um e-mail dizendo ”Não

me faça desistir de você”? Ele foi à luta e provou ter força suficiente para

carregar o peso de substituir o aparentemente insubstituível Nalbert. Grande

jogador, espero que Dante se torne um líder para as novas gerações,

transmitindo tudo o que aprendeu com esta.” (Bernardinho, Transformando

Suor em Ouro, Pág. 24).

Valoriza o trabalho mostrando a importância do liderado e sua

significação para o time.

“Quando assumimos a seleção, Virna foi franca:

- Bernardinho, eu não sei passar.

De fato, ela jogava no fundo da quadra, quase escondida, como se não

quisesse correr riscos. Evitava fazer a recepção (passar), fundamento

importante para sua função.

- Mas por que você não passa? - perguntei.

- Porque meu antigo técnico me disse que eu não tenho capacidade pra

isso, que eu sou lenta e limitada.

Não perdi tempo:

- Foi Só isso que ele disse? Mais nada? Então, filha, Deus a ajude,

porque você não vai jogar comigo se não passar.

Virna estava tão desmotivada, tão ”pra baixo”, que realmente se sentia

incapaz de cumprir um dos fundamentos do vôlei. Criamos um regime intensivo

de treinamento de passes, deixando claro que, se não se esforçasse, não teria

chance. Em pouco tempo, ela saltou da condição de 13º para 7º da equipe. E,

depois de três anos, tornou-se titular e uma das principais jogadoras do país.”

(Bernardinho, Transformando Suor em Our).

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Page 46: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Exemplo

“Em 1980 fui convocado novamente e dessa vez fiquei entre os 12

jogadores que iriam disputar os Jogos Olímpicos de Moscou. Era a realização

da ambição de todo atleta. Logo após os amistosos preparatórios, três meses

antes das Olimpíadas, estourei o menisco do joelho esquerdo e tive de ser

operado. Diante de tamanha falta de sorte, todo mundo me viu fora da seleção.

Todo mundo menos eu.

Muitas vezes dormia durante o dia em um colchonete, no Fluminense,

para aproveitar melhor o tempo. Nadava, malhava, caminhava, alongava e

combinava à fisioterapia treinos com bola: sentava-me no chão e ficava

jogando vôlei com a parede. O resultado é que reapresentei-me à seleção e

voltei a jogar em tempo recorde: 28 dias” (Bernardinho, Transformando Suor

em Ouro, Pág. 43).

Através do que ocorreu com Bernardinho, podemos perceber que ele é

um grande exemplo de superação, determinação a ser seguido. Num curto

período de tempo ele conseguiu se recuperar de uma lesão grave.

“Lembro-me de um amistoso entre Atlântica Boavista e Fuji Film, do

Japão. Reclamei o tempo todo dos meus companheiros de time que, por

alguma razão, estavam desmotivados. Eu gritava e xingava tanto que Bebeto

de Freitas me substituiu.

- Por que me tirou? - perguntei no vestiário depois de perdermos a

partida.

- Porque você ia acabar brigando com o time inteiro - respondeu Bebeto.

- Você era o único com vontade de jogar.” (Bernardinho, Transformando Suor

em Ouro, Pág. 42)

Mesmo como jogador, Bernardinho já mostrava suas características de

líder em quadra. Sempre motivado e na busca do resultado, ele procurava

46

Page 47: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

inspirar os jogadores a vencerem as dificuldades em quadra para ganharem os

títulos.

Efeito de atmosfera ou ambiente

“Foi quando o incômodo deu lugar a preocupação Achei que era hora de

falar com elas ”De agora em diante e até que o Campeonato termine vocês

estão proibidas de dar entrevistas que não sejam sobre vôlei ””

Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág. 84

O ambiente interno da seleção é modificado pelas determinações de

Bernadinho que visa evitar que as jogadoras da seleção percam a

concentração por causa do excesso de vaidade durante as entrevistas

coletivas. Existe uma mudança de ambiente porque Bernardinho proíbe as

entrevistas coletivas..

"Domingo, 15 de agosto, a estréia. No vestiário, antes de trocar de

roupa, André Nascimento tirou da bolsa a camisa numero 5, a camisa de

Henrique. Em voz baixa, me perguntou:

-Posso?

-Jogar com ela, não - respondi. - Você foi inscrito com a 9.

-Não, não, o que eu quero saber é se posso pendurá-la ali. Era evidente que

sim. A partir daquele dia e até que os Jogos Olímpicos chegassem ao fim, a

camisa de Henrique ficaria presa por dois ganchos, aberta, no vestiário

brasileiro, como se a marcar presença numa equipe que também era sua."

(Transformando Suor em Ouro , pg 168) 

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Page 48: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

Após o corte de Henrique (a lista de convocação para as Olimpíadas de

Atenas deveria listar 12 jogadores e a seleção continha 13), o grupo ficou triste

como um todo, externalizando o sentimento de família que unia aquele grupo e,

a partir da iniciativa acima, Bernardinho incentivou a criação do efeito de

atmosfera relativo a presença de um jogador que era querido por todos e que

havia contribuído com a seleção até aquele instante, motivando o grupo desde

os vestiários.

Argumentação

“A medição de forças com as cubanas marcou nossos anos à frente da

seleção feminina. Os cinco confrontos que tivemos no primeiro ano nos deram

a certeza de que o poderoso voleibol de Cuba cruzaria nosso caminho nos

anos subsequentes, sempre como principal obstáculo à pretensão de

chegarmos ao degrau mais alto do pódio. De fato, foram 27 jogos em sete

anos: 13 vitórias para nós, 14 para elas.” (Bernardinho, Transformando Suor

em Ouro, Pág. 97)

Nesta passagem observa-se que Bernardinho analisa a tradicional

rivalidade BrasilxCuba através de dados históricos que pautam o equilíbrio

existente entre essas duas seleções.

“As atividades foram relativamente menores em 1997 Ficamos em

primeiro lugar no Campeonato sul-americano e no torneio de classificação para

o Campeonato Mundial A não ser pelo segundo set contra as peruanas na casa

delas - um apertado 15-13 — , todos os outros 30 sets foram ganhos, como se

dizia antigamente, ”no capote”, com o dobro de pontos ou mais sobre as

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Page 49: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

adversárias Já no Japão, não fomos além de um terceiro lugar na Copa dos

Campeões” (Bernardinho, Transformando Suor em Ouro, Pág. 101)

Bernardinho analisa a seleção brasileira sob duas ópticas: a 1ª óptica

relaciona a seleção contra adversários próximos, onde consegue vitórias

fáceis, dando a impressão de que a seleção está preparada para torneios mais

disputados. Entretanto, pela 2ª óptica percebe-se que no contexto mundial o

Brasil não passa de um terceiro lugar. Demonstrando com isso que a

preparação da equipe deveria visar adversários mais fortes que os habituais.

" Nossa estatística, Roberta Giglio, é responsável pelos dois programas

que utilizamos. (...) O segundo programa, denominado técnico, diz respeito ao

nosso rendimento. Ele mostra como cada jogador se comportou em cada

fundamento e qual foi o seu aproveitamento final.(...) Todas essas ações são

convertidas em números e os desempenhos são descritos em tabelas com

percentuais de acertos e erros. Os jogadores são informados dos resultados,

que passam a orientar os treinamentos. A referência é a média histórica, e o

objetivo, claro, é elevá-la.

A estatística acabou com avaliações do tipo: ”Eu acho que você...” O treinador

agora tem acesso a dados que lhe permitem dizer: ”Você fez isso ou aquilo e

precisa...” Embora os números não mintam, eles não dão todas as respostas. A

observação do treinador continua sendo muito importante, pois completa a

percepção objetiva do desempenho da pessoa em foco"

(Transformando Suor em Ouro pg 185-187)

No trecho acima Bernardinho mostra utilizar-se de softwares de

acompanhamento que geram dados de performance dos atletas nas partidas e

oferecem base de comparação de desempenho para orientar os jogadores,

caracterizando perfeito exemplo de influenciação por meio de argumentação

baseada em dados numéricos e estatísticas.

49

Page 50: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

9. CONCLUSÃO

Bernardinho sempre teve como objetivos principais a busca pelo melhor

preparo técnico de seus jogadores, a disciplina e a entrega total da sua equipe.

São objetivos éticos pois estão totalmente a favor do bom relacionamento

humano dentro da sociedade.

Os resultados apresentados para a Confederação Brasileira de Vôlei na

“Era Bernardinho” foram tão importantes que trouxeram de volta o interesse

50

Page 51: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

pelo esporte por parte da juventude brasileira e projetaram o vôlei nacional

para o mundo. Tais conquistas mostram como sua liderança é positiva para

esta instituição, são constantes resultados de alto nível, revelando o imenso

poder de uma liderança positiva.

Líder transparente e pedagógico, compartilha sua visão e experiências

em grande densidade de feedback com a publicação de sua autobiografia

“Transformando Suor em Ouro”. Trocadilhos a parte, forma em conjunto com

outras bibliografias citadas, verdadeira pedra filosofal da liderança

contemporânea.

Valoriza a transparência de princípios, critérios e condutas que o líder

deve seguir. Adapta-se com facilidade ao cenário dinâmico e global da nova

era. Era esta já cunhada por alguns como `Era da Informação’ e que carateriza-

se: por ser emergente do advento tecnológico; por formar redes de indivíduos

conectados entre si em tempo real, compartilhando trabalho, experiência e

conhecimento; por trazer consigo impacto social, cultural e econômico em

todos os campos do conhecimento; e, principalmente, por permitir que a

condução adequada de grupos sociais (aqui vistos como `equipes de trabalho’)

orientados para a consecução de objetivos comuns, seja um elemento

catalisador na evolução desses campos de conhecimento.

Dessa forma, em coerência com essa visão, não `esconde o jogo` de

sua receita de sucesso. A velha idéia competitiva de segregar o conhecimento

como bem patrimonial restrito, no intuito de manter vantagem competitiva não

mais prevalece no cenário global. Bernardinho confia na troca sinérgica do

trabalho de equipe como valor agregado. Pois, ao reparar o mundo

contemporâneo em ritmo cada vez mais acelerado de mudanças,

aprimoramentos e evoluções emergentes das redes globais de processos

criativos, percebe que conhecimento aprisionado possui valor agregado volátil.

Portanto, o paradigma competitivo dessa `Era da Informação` passa a ser o de

uma competição transparente, aberta e colaborativa, que pode ser cunhada

como a Coopetição (Colaboração Competitiva ou Competição pelo Alto

Nivelamento). A Coopetição carateriza-se pelos indivíduos adquirirem

consciência de que melhor será seu desempenho e realização de metas

51

Page 52: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

pessoais, conquanto for o desempenho global dos indivíduos do grupo a que

pertence, MESMO que em competição com esses próprios indivíduos.

Trata-se de um exemplo de aplicação do `Equilibrio de Nash` para a

Teoria dos Jogos, estudo que concedeu ao brilhante matemático John Nash o

Nobel de Matemática. A Teoria dos Jogos procura encontrar estratégias

racionais em situações em que o resultado depende não só da estratégia

própria de um agente e das condições de mercado, mas também das

estratégias escolhidas por outros agentes que possivelmente têm estratégias

diferentes ou objetivos comuns.

Na economia (formação de Bernardinho), a teoria dos jogos tem sido

usada para examinar a concorrência e a cooperação dentro de pequenos

grupos de empresas. A partir daí delineia-se a estratégia. Adam Smith,

pioneiro da economia, havia identificado como motor da história a capacidade

do homem de agir motivado por seus interesses pessoais, ainda que também

destacasse a existência de sentimentos morais em nossa psique.

Com o passar dos séculos economistas continuaram a apostar no

pensamento calculista para explicar e prever a colaboração entre pessoas. O

desenvolvimento da teoria dos jogos, criada em 1928 pelo matemático húngaro

John Von Neumann, sofisticou ainda mais essa idéia ao usar a matemática

para mostrar que, no final das contas, as pessoas ajudam às outras porque

ganham com isso.

Todavia, a Teoria dos Jogos ganhou grande contribuição a partir dos

estudos desenvolvidos pelo matemático norte-americano John Nash, que

aprofundou os estudos de equilíbrio entre os agentes econômicos, no que

tange à aplicação desta teoria em ambientes não cooperativos. Ao contrário de

Adam Smith, para quem os melhores resultados surgem quando cada um no

grupo olhar pelos seus próprios interesses, Nash defendeu que "O melhor

resultado ocorre quando as partes procuram a opção que simultaneamente

atenda seus anseios pessoais e o do grupo".

Nota-se portanto que as estratégias apresentadas por Bernardinho em

sua biografia estão cientificamente embasadas sob o aspecto econômico e

52

Page 53: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

sociológico. Podem ser consideradas como estudos de casos que exemplificam

o `Equilibrio de Nash` aplicado ao contexto extremamente competitivo do

ambiente esportivo e de modo mais amplo, ao ambiente competitivo das

corporações.

Ao perceber a necessidade de elevar todo o grupo para elevar-se mais,

o participante de uma equipe consegue melhor domar o egocentrismo e

vaidades que acompanham o sucesso e realizações. Para Bernardinho estes

são os perigos que rondam o sucesso e a forma consciente escolhida por ele

para driblar esses perigos é buscar conscientemente uma `zona de

desconforto`. Ou seja, nunca se contentar com o que já se conseguiu, desejar

sempre uma nova meta, abraçar a realização de um novo sonho

imediatamente após a concretização de outro. Nunca se contentar com menos

ou `eterna insatisfação`.

Ambicioso e consciente de que é um projeto/estilo de vida sem

finalização que implica em amar mais a preparação do que a vitória (a auto-

realização deverá advir do caminho e não do destino), exige de si mesmo

comprometimento estratégico com a realização contínua por meio de extremo

estudo e planejamento minucioso objetivando sucessiva superação de

barreiras.

Este é o vetor da estratégia meticulosamente delineada por Bernardinho

e cunhada de `Roda da Excelência`, base do seu estilo de liderança e

influenciado pelos conceitos de `Líder Servidor`. Termo este cunhado por

Leonard Hoffman em seu best-seller `The Great Paradox: To Lead You Must

Serve` (O grande paradoxo: Para liderar você deve servir). Os grupos que

adquirem essa consciência, tornam-se equipes, adquirem cumplicidade e

comprometimento, tornam-se verdadeiras famílias.

53

Page 54: Liderança (Estudo de Caso) : Bernardinho

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 [Bernardinho] Transformando Suor em Ouro

 [HOFFMAN,Leonard] The Great Paradox: To Lead you must Serve

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Entrevista Ricardinho – Jornal Matéria Prima – 05MAI2004

Bernardo Rezende – Bernardinho. Disponível em:

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Bernardo Rezende – Bernardinho. Disponível em:

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Entrevista de Bernardinho para a revista Veja. Disponível em:

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Entrevista de Bernardinho para a revista SEBRAE. Disponível em :

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Entrevista Wallace – Voleibrasil.org.br – 18MAI2010.

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