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= ualqueÍ pesquisa sobre navios afundados, espe-
ciaimente a partir da época pós-medieval, remete paÍa
a comptementaridade entre os dJdos de terreno e de
arquivo. E se os primeiros têm a incomparável van-
tagem de transportar para o domínio artefactua[, da
prova viva, os segundos têm o privilégio exclusivo
de proporcionar, em maior ou menor grau e profun-
didade, o esclarecimento dos factos hìstóricos, tanto
na generalidade como na especialidade. A meio cami-
nho entre ambos sÌtua-se o enquadramento geo-
rnorfológico das circunstâncias de qualquer naufrágio.
A barra do Tejo, por um conjunto de razões, entre
as quais se destaca a sua particular geomorfologia, cons-
:iiui um dos maiores cemitérÌos de naufrágios do mundo,
apesar da excelência da sua ampÌidão já reconhecida
desde a Antiguidade (Estrabão, Geografía lll, l,t).Um recente cômputo de naufrágios nesta grande
zona do estuário do rio Tejo e suas imediações per-
mitiu recensear cerca de meio mithar destes indícios
iAlves, 7994a)', embora este número seja obviamente
bem inferior à reatidade. De salientar que este côm-
puto respeita tanto a achados subaquáticos como a
notícias de naufrágios extraídas de fontes escritas -a mais antiga das quais, referente às proximidades
da zona em apreço, é coeva da tomada de Lisboa
em rr47 e relacionada com o auxílio prestado pelos
cruzados a D. Afonso Henriques, primeiro rei de
Portugal'. Com efeito, numerosas fontes documentam
os naufrágios de navios portugueses, especialmente
a partir do sécuto XVl, sendo muitas as obras que
facultam esta inventariação ou proporcionam especi-
ficamente este tipo de informação;.
Não admira pois que, apenas entre os séculos XVI
e XVìll, os naufrágios na barra do Tejo, recenseados
tanto à saída como à entrada, ascendam a várias
dezenas. Atiás, destes casos, cerca de duas dezenas,
distribuídos em peícentagens aproximadamente
equivalentes, pertenciam às carreiras da índia e do
Brasil - merecendo referir-se que os primeiros se
registaram entre o primeiro quartel do século XVI e
o primeiro terço do século XVIì, e os segundos entre
o primeiro quartel do século XVll e o primeiro terço
do século XVll14. De referir ainda que o período entre
os finais do século XVI e os inícios do século XVìì
foi especialmente fatídico, como atesta a perda de
38 naus das Índias em vinte anos (r582-16oz), a que
se refere Melchior Estácio do Amaral em 16o4, menos
de dois anos antes da perda das naus Nossa Senhora
da Salvação e Nossa Senhora dos Mártires às portas
de Lisboas.
De salientar que na relação de naufrágios anterior-
mente citada, estabelecida a partir de diversas fon-
tes de base que aparentemente esgotam o tema, ape-
nas um navio é expressamente dado como perdido
nos penedos de São Julião da Barra: a nau Nossa
Senhora dos Mártires, a r5 de Setembro de 16o66.
1 Dados recolhidos no âmbito clo
lnventário - Carta Arqueológica do
PatrÌmónio Subaquático, promovido
desde os anos 80 pelo Museu Nacional
de ArqueologÌa de Lisboa (Blot,1997a
e b).
2 Referente ao naufrágjo de batéÌs de
cruzados, aLgures eftre o cabo da Roca
(Sintra) e Lisboa (Osberno, 1989, p. t1).
3 R"fìrar se, entre muitas, as obras
de referência do Comandante António
Marques Esparteiro, em 32 volumes
(ag7 4-1987), do vice-aLmirante lgnácio
da Costa Quintella (r975), do coman
dante Henrique Quirino da Fonseca
(1989), assìm como trabaÌhos especÍfl-
cos sobretudo relacÌonados com a ro'
ta do Cabo, entre os quais se desta
cam os de Simão Ferreira Paez Q937),
Alfredo Botelho de Sousa (19jo,1948,
1953), Manuel de Faria e sousa (1942)
e João VÌdago G969).
4 cf. apênclice
5 Cf. o capítuLo XIL desta obra (AmaraL,
1604), "Da causa e desastres por que
cê pe dera n rL Tds naLi da Índ a .
6 Nomeadamente: Fonseca, 1989,
p.434; Gomes, 1990, pp. rt9 t2oa
pp. 88o-882; Pato, 1880, pp. 10o-101;
Quintela, 1925, pp. 10B'1o9; Soares,
1953, p. 4o2; Solsa, ry45-1947, p. 506;
Vidago, 1969, p. 1o5. Ver aÌnda a do
cumentação de arqujvo, aÌguma Ìnédi'
ta, pubLicada no apêndice documental
do presente catálogo.
I ',1 r,rer'o oe LdJ(aridn y L rltL d -r-:rivo GeneraÌ de Simancas, Estado
::;: e 2o5. Guerra y l\4arina 668. Cartas
:.15 e 19 de Setembro de 1606.
-'. apêndice
3 -1.madas que foram para a Ífdia de-
: r s de Sua l\4ajestade ser reÌ de
::-tugal" [BA, 5o-V-34, fl. 767 v e 168).
Existe uma quási unanimidade nas fontes quanto
à data do naufrágio da Nossa Senhora dos Mártires,
o dia -r5 de Setembro de úo6, dois dias depois
de a Nossa Senhora da Salvação ter dado à costa
em Cascais. Constitui excepção o Memorial de Pero
Roiz Soares (Atmeida, r953), que indica no capí-
tulo CXll o dia r4 como data do naufrágio "Neste
mesmo ano se perdeu a narJ Mártíres e a nau
Salvação de Cascais para cá sendo uma das maio-
res perdíções que jamaís se viu estando toda a
praía alastrada de mortos e de Riquezas não
escapando Coisa Viva e foi a 14 - de setembro dia
da exaltação da vera cruz de 6o6 naquela torre de
São Gíão se despedaçou tudo naquelas penedías
1..1" (p. qoz).
Mas esta questão seria irrelevante, não fora o
facto de, no próprio dia 15, em que a totalidade das
restantes fontes se acordam em apontar como data
do sinistro, ser justamente a data da primeira carta
de D. Luis Bravo de Acunaz. Acresce o facto de, por
esta, se saber que a Nossa Senhora dos Mártires che-
gou e fundeou em Cascais no dia r3 de Setembro,
o dia seguinte ao da chegada aí da Nossa Senhora
da Salvação, sendo que esse foÌ também o dia em
que esta nau deu à costa devido a terem-se partido
as amarras com o temporal de sudoeste ("el víento
sul') peto menos já presente de véspera, data da
sua arribada a Cascais.
"L..1 La otra nave forçada del temporal como Ia
prímera, faltandole las amarras en tiempo de baxa
mar y no teniendo otro remedio por el tiempo sur
ser forano en esta playa, determinó passar Ia barra,
y camÍnando con el tiempo dicho junto al castillo de
Sant Gían por el recodo que el dicho castillo haze le
faltó el viento y perdiendo el timón como Ia passada
díó sobre unas penas a la punta de un cavallero del
castillo tan Iastimosamente gue no ha parecido della
pedaço de medÍana grandeza sino tan destrozado y
menudo todo como sí hubiera muchos afros que
hubíera sucedido [...]".
184
Apesar de não se poder concluir categoricamente,
parece de facto duvidoso que a Nossa Senhora dos
Mártíres tenha esperado quase dois dias em Cascais
para levantar ferro, dado que poucas horas separam
este [oca[ de São ,|ulião da Barra. É portanto ptausí-
vel que o desastre tivesse de facto ocorrido no dia 14.
Aliás, uma outra fonte refere que "a nau Mártíres
depois de deixar o Vice-Rei enterrado nas ilhas foí a
Cascais um dia depois da outra perdida fNossa Senhora
da Salvaçãol surgiu e ao outro querendo entrar por
fazer muita água se fez à vela antes de tempo e indo
já perto da fortaleza de S. Gião lhe deu um chuveíro
do Sul com muito vento que a fez encalhar junto da
mesma torre onde se fez em pedaços e morreu quase
toda a gente e se perdeu a fazenda dentro de uma
hora'E (Gomes, rggo, p. tzo). Com efeito, por "per-
dída" tanto pode entender-se que já fora perdida, ou
que víria a perder-se.
De anotar, de passagem, o curto lapso de tempo
em que se deu o desenlace trágico: uma hora - ao
qual se contrapõem as quatro horas referidas por
Luis Bravo de Acufra.
Pelo teor deste último relato infere-se também
que a Nossa Senhora dos Mártires terá tentado con-
tornar 5ão Jutião da Barra pelo canal norte, isto é,
entÍe o cachopo Norte e a margem norte. Mais do
que por desespero, esta seria uma hipótese suicidá-
ria, a excluir [iminarmente, por ser inviável. Com efeito,
nenhuma nau grossa se atreveria a fazê-lo com tem-
pestade de sul (sudoeste) e, cumulativamente, em
maré vazante - pois justamente a navegação nesse
canal só é recomendada com vento de feição, isto
é, do quadrante norte.
Resta saber se a /Vossa Senhora dos Mártires teria
de facto essa alternativa. O que dependeria sobre-
tudo do quadrante exacto do vento sul que na oca-
sião soprava. Porque se fosse possível, a salvação
da nau estaria em tentar entrar na barra pelo canaL
sul, entre os dois cachopos, contornando poÍ oeste
o cachopo Norte. O que poderia de facto não ser viá-
vel devido à orientação do vento. Atiás, aquelas con-
dições, já de si muito difíceis devido aos dois ele'
mentos cumulativos desfavoráveis, à corrente de maré
e a tempestade de su[, agravam-se sempre, por sua
vez, devido ao efeito amplificador da interacção dos
doís fenómenos. 0 que se traduz num agravamento
da ondulação e no aumento da sua irregularidade.
Corrente de vazante com temporal de sudoeste é de
facto o que de pior pode acontecer na barra do Tejo.
DifícÌt, pois, é presumir quaI terá sido a escoÌha feita,
entre aquilo que seria uma hipótese arriscadíssima,
por um [ado, e uma tentativa suicidária, por outro.
Ainda que com a necessária reserva, mas poÍ cor-
roborar a presunção de que a Nossa Senhora dos
Vártires terá tentado entrar pelo canaI sul da barra,
permitimo-nos sublinhar a referência de que "a nau
l4ártires se perdeu entrando nos Cachopos'e.
De qualquer modo, surge como uma evidência
que a nau, com o porão aÌagado, fustigada pela chuva
e pelo vento, e já desgovernada num mar alteroso,
não estaria a jusante de São Jutião da Barra. Pelo
simples facto de que a fortíssima corrente de vazante
a lançaria para sul da fortaleza. lsto se viesse pelo
canaI norte.
Com efeito, a Nossa Senhora dos Mártíres lerâ
entrado pelo canal sul, devendo ter mesmo larga-
nente ultrapassado o meridiano da fortaleza. Foi
então aí que se terá desgovernado, peÌo violento
efeito cumulativo da corrente de vazante e do mar
de sul (quem conhece, aliás, as características do mar
ras imediações de São .Julião da Barra, sabe perfei-
:amente que a zona de maior turbulência se situa
.ustamente a sudeste da fortaleza).
Apesar dos relatos referentes à morte do padre
Francisco Rodrigues merecerem a devida reserva, não
deixam de traduzir algo de verosímil, no sentido em
que corroboram também a presunção de que a nau
se terá desgovernado após entrar pelo canal sut. Com
efeito, só assim teria verosimilhança a possibilidade
de, nas circunstâncias, no tempo e no espaço dís-
poníveis, se aventar a possibitidade de a Nossa
Senhora dos Mártíres arrear um bote. É que, se tivesse
vindo pelo canal norte, mais seguro do que arrear
um bote seria, em catástrofe, tentar dar à costa em
Carcavelos, lançando os ferros para virar a pÍoa ao
vento e à ondulação.
Não, tudo indica na realidade que a fatídica tra-
jectória final tinha a direcção de sudeste-noroeste.
Resulta assim que a Nossa Senhora dos Mártires ter-
-se-á rompido no extremo leste da penedia de
São .|ulião da Barra, no proeminente esporão conhe-
cido pelo nome de ponta da Laje. A maré, o mar e
o vento tê-ta-ão rapidamente continuado a arrastar
contra a fortaleza. Mas antes de se despedaçar con-
tra os rochedos, a pouco mais de uma centena de
metros deles, provavelmente na cava de uma onda
de ressaca, característica nas proximidades de um tal
tipo de costa, a nau deu de quitha no fundo rochoso.
lnstantaneamente, perdeu uma importante parte
do fundo da carena do casco, rompendo-se a quilha
em vários pontos, caindo ao mar nesse preciso [ocaL
uma parte substancial da sua carga e dos seus apres-
tos, nomeadamente diversas peças de artilharia. Ao
assentar e imobilizar-se no fundo, este fragmento de
casco encastrou-se e ficou protegido numa plataforma
de lajedo que, de degrau em degrau, se ergue em
direcção à fortateza.
Em torno, tudo aquilo que apetrechava, mobilava,
defendia e transportava uma nau da Índia, foi-se dis-
persando, acamando ou deslocando, ao sabor das
intempéries, misturando-se com vestígios de outros
naufrágíos, erodindo-se, esmigalhando-se ou prote-
gendo-se por entre areia, cascalho e penedos que a
força do mar incessantemente de um lado para o
outro transporta'o. Melhor exemplo disto não pode-
riam ser os relatos que testemunham a enorme dis-
persão dos destroços do navio e da carga petas praias
das imediações de São Jutião da Barra. Na realidade,
devido ao efeito cumulativo do vento, do mar de
sudoeste, e da maré vazante, dominantes na ocasião
9 Carta d" el-rei a D. Martin Afofso de
Castro, vice-rei da Índia, de z7 de
laneiro de 1607.
to Não foram ainda encontrados em ar
quivo quaisquer registos relativos a
eventuais operações de resgate de bens
submersos como poderia ser plausível.
Apesar da carta de D. Luis Bravo de
A, r iìd >e íeferir eÁpressdìe1te à h'.
pótese de recuperar a artilharia do na-
vio, o que a ter lugar ifcidirÌa certa
mefte sobre a zona contígua aos
rochedos, onde o navio acabou por se
despedaçar, o que é facto é que na zo-
rd do casco. rd c do a go. .Lbs c.iL
até 1995 uma magnífica colubrina de
bronze prova concludente de que es-
sa zofa não fora objecto de recupera-
ções submarÌnas de resgate.
)-
(vr Nota 8)G." ;\i!. a]
\...-n.
Cerra ttonocnÁFtca DA BARRA
oo nro ïeto, Lisboa, lnstìtuto11ìoro gráfico.
ã.i PXpre55rvroaoe oo poIFra'a a'
:,eclógico de São Julião da Barra fìcou
:er pdrel ê po- oíasião da erpo:i5ão
'-'sf,oa SubteÍânea", organizada em
'-ig4 no l\4L\eJ Nac oral de Arqueolog a
:€ -Ìsboa, no âmbito das ceÌebrações
:€ -Lisboa, Capital Europeia da Cultura",
:-Ce, em zona temátjca específÌca
'-:sboa Submersa") figurou em des-
=:!e um vasto coniunto de peças pro-
.e-ientes deste sítio, pela primeira vez
-e-.idas e tornadas públÌcas. Cf. Alves,
'-t944.
7.
"/La
,15
t4.bÀ*
(ver(see
.16",*\
do naufrágio, a parte mais substanciaI dos destroços
ter-se-á espalhado pela praia de Carcavelos, imedia-
tamente a oeste. Posteriormente, com o virar da maré,
os destroços ainda flutuantes, nomeadamente a
pimenta, ter-se-ão também espalhado a montante.
Pelo relato de D. Luis Bravo de Acuõa podemos
imaginar o Teio coalhado de pimenta que, como um
gigantesco manto preto, subia e descÌa ao sabor
das marés, enegrecendo as praias a montante e
jusante. Daí que logo tenham acorrido de todo o
lado, por terÍa e em botes, a população ribeirinha
e os oficiais do rei, para se dedÌcarem à faina da
apanha da especiaria. Ao longo de vários quilóme-
tros em torno de São Jutião da Barra, sobretudo pre-
sumivelmente a poente, essas praias ficaram Iite-
Íalmente juncadas de destroços da Nossa Senhora
dos Mártires: fardos, caixotes e barricas, tudo na
maioria esventrado - e cadáveres das mais de zoo
pessoas que terão efectivamente perdido a vida
neste fatídico naufrágio.
\8,3
t t . x\
\-
0 esporão rochoso sobre o qual foi edificada a
Fortaleza de São ,|utião da Barra, situado entre as
praias da Torre, a nascente, e de Carcavelos, a poente,
representa, do ponto de vista geomorfo[ógico, a fron-
teira norte da barra do rio Tejo. Natural é, portanto,
que as suas imediações constituam um verdadeiro
"campo" arqueotógico subaquático. .
De facto, acrescendo à longa tradição oral de
achamento de moedas de ouro e prata nos areais
daquelas praias - indício evidente do conhecido
fenómeno de arrojamento de objectos perdidos
no mar -, nestas últimas décadas de desenvolvi-
mento do mergulho amador há a regìstar a des-
coberta e a Íecuperação de um numeroso con-
junto de testemunhos arqueológicos que, sem
margem para dúvidas, provêm de navios naufÍa-
gados". Esta é uma evidência ampÌamente corro-
borada, de resto, pelas fontes escritas. Pela sua
posição geográfÌca, as imediações de São ,|utião
da Barra constituem, de facto, um verdadeiro cemi-
ì86
térìo de navios, Iugar fatídico consagrado pela
tradição e pela história.
Em ry93 este fora o enunciadb de um proiecto
que se assumia premonitoriamente com uma natural
priorìdade no contexto da arqueologia subaquática
em Portugaï e que, oficialmente aprovado, viria a
desenvolver-se no ano seguinte".
1994, 5 de Outubro. Úttimo dia da primeira cam-
panha de arqueologia subaquática em São Jutião da
Barra. No decurso de um mergulho de prospecção
final, numa zona mais ao largo, que viria a ser conhe-
cida pela designação de SJBz';, foi feita uma curiosa
descoberta.
Tratava-se de um coniunto de vestígios de madeira,
muito deteriorados, de um casco de navio, aflorando
a areia, aparentemente encastrado numa plataforma
rochosa do fundo. Quase no limite do ar disponível,
os merguÌhadores protagonistas do reconhecimento
recotheram no [ocal vários fragmentos de cerâmica
de tipos diversos, todos eles de clara proveniência
orienta[, entre os quais se destacava a porcelana
azul e branca, o grés castanho vidrado martaban e
a faiança verde e amarela com decoração de barbo-
tina (Atves, r995).
lnesperadamente, podia presumir-se pela primeira
vez no local a associação desses dois tipos comple-
mentares de documentos arqueo[ógicos'+; os restos
de um navio e da sua carga - o contentoÍ e o con-
teúdo. E embora tal facto viesse evocar a consagrada
caracterização de um navio afundado como uma cáp-
sula do tempo, desde início se reconheceu a impos-
sibÌtidade de uma tal caracterização no caso especi
fico de São Jutião da Barra, devido à mistura de peças
manifestamente provenientes de diferentes naufrá-
gios de diversas épocas, em resultado do profundo
remeximento do leito marinho.
A estratégia da intervenção arqueoÌógica em
São .Jutião da Barra assentou, desde o início, no desen-
volvimento dos trabalhos na zona mais importante, pre-
cedentemente identificada, e que recebera o nome de
sÃo JUUÃo DA BARMLocalização das subzonas
código SJBz, sem prejuízo da exploração de outras zonas
periféricas cu.jo interesse viesse a ser confirmado'5. Com
efeito, a informação disponíveÌ apontava para uma
ocorrência de achados em todo o entoÍno da fortaÌeza,
com especiaï concentração na pequena e bem protegida
baía a su[, correspondente à zona S,|Bt, obiecto de
trabaÌhos arqueológicos em r994.
O achado do primeiro astrolábio, em Junho de
r996, num mergutho de reconhecimento efectuado
justamente entre as zonas SJBr e SJBz, aconselhava
que os trabalhos a serem iniciados aqui se desen-
volvessem na direcção da fortaleza. Contudo, inicia-
das as operações, verifÌcou-se que a zona envol-
vente, a leste do casco, correspondente à mesa
rochosa que o encaixava a norte e a nascente,
estava sulcada de buracos e fendas, algumas pro-
fundas, mas totalmente colmatadas, cuia escava-
ção metódica até ao substrato geológico produziria
imediatamente resultados arqueo[ógicos de grande
i nte resse.
A intervenção iniciada em Outubro de ry96 na
zona SJBz desenvolver-se-ia assim em duas frentes
prioritárias e contíguas: uma centrada sobre o vestí-
gio de casco já anteriormente identificado, outra sobre
a zona imediatamente envolvente. A característica
de cada um destes contextos exigia, portanto, uma
abordagem técnico-instrumental e metodotógica apro-
priada, a começar pelos próprios sistemas de refe-
renciação a utilizar.
::.:.: r:r'':l
Praiade
carcavelos
As suBzoNAs Dos TRABALHoS
lneueolóercos sugleuÂrtcosnas imediaçoes de São lulião da
Ba rra.
12 A campanha de rygA em São lulÌão
da Batra foi promovida pela associa'
ção cultural sem fins lucrativos Ar-
queonáutica Centro de Estudos em co-
laboração com o l\4useu Nacional de
ArqueoÌogia (Alves, 1995).
13 A.ona 1 cìe são JulÌão da Barra
(Sl81), objecto da campanha de 1994,
encontra-se situada mesmo junto à for
taleza, na zona abrÌgada, a sul do es-
porão rochoso sobre o qual se ergue
a fortaleza.
4 Na reaÌiclacle, havia já notÍcia em
São lulião da Bara de um ou várìos
fragmentos de um casco de navio terem
sido avistados em períodos de grande
desassoreamento. Por outro lado, há
muìto que também havia notícia de
arlado\ oe (eràmiLas de iïpotra(ào
oriental no entorno da fortaleza.
15 O projecto "são lulÌão da Barra"
desenvolveu-se no terrero, ininterrup'
tamente, entre Outubro de 1996 e
Ouiubro de 1997, excepto quando o
estado do mar o interditou ou desa-
conselhou. Foi de 1BB o número total
de dias em que se mergulhou, número
que incÌui feriados e fins-de-semana.
E ascende a 2335 o número totaL de
horas de mergulho efectuadas no âm-
bito do projecto durante este período.
Por Ìmperativos de natureza científico-
-patrimonial prevê-se futuramente a con-
tÌnuação da Ìntervenção noutros mol
des. Com efeÌto, não só não houve
tempo para documentar e esclarecer
I eTas q resróes ir"oarprtais rplario
nadas com diversos elementos básicos
da estrutura do navio (por exemplo, a
espessura da quiÌha e a curvatura das
peças do .ave-1ane )ó reLons ilLi
veis por remoção), como acabaram por
ser Ìdentificados nas proxÌmidades ou-
tros segmentos do casco, que não pu-
deram ser objecto de atençã0. Acresce
o facto de todos estes elementos es-
truturais se encontrarem em adiantado
estado de degradaçã0, pelo que se tor-
na obÍigatória uma uÌterior tomada de
redidos adequadas - se1ão qJanto à
sua preservação defìnitìva, pelo menos
quanto à sua documentação arqueo-
gráflca completa.
Praiada
Torre
,b
AReuEoLoGra DE uM NAUFRÁGroru!r:l'
+\/,.'
+
+.
+. +++f*+++
.+ +'/+ /\+
01
\ ,+*,.+# i +
+
+
+,f++
++
PLÂRTA GERAL dos vestígios
descobertos na zona SlBz.
1f
&fr
o
lncontroversa foi a determinação do "ponto zero"
do sítio, que ficou assinalado por um spif de atpi-
nismo cravado na [a.je rochosa, exactamente na ver-
tìcal do diamante da grande âncora de ferro exis-
tente no [ocaÌ. Esta âncora, que viria a ser recuperada
no fÌnaI da campanha, encontrava-se deÌtada na Ìaje
rochosa que ladeia, sobrelevada, o casco a norte e
a nascente, e serviu todo o tempo como ponto de
ancoragem das embarcações de apoio aos trabalhos.
0 potenciaI arqueológico da zona desta mesa
rochosa que a norte e a leste "encaixa" e protege o
casco, era por sua vez sublinhado pelo facto de na
imedÌata contiguidade da supracitada âncora aí pou-
sada ter sido achado um pequeno canhão de bronze,
classifìcáveI como um guarto de cotubrina, peça típica
do período fitipino (Atves, ryg7b), embora possa ter
uma maior perduraçã0. Por sua vez, .junto a esta boca
de fogo, quase tapada pela sua culatra, emergia do
sedimento de um buraco na laje totalmente colma-
tado, a boca de um pote aparentemente inteiro.
RECUPERÂçÃo ol Ârcou situada
no epicentrc da zona da interven-
ção arqueológíca de ry96-t997.Foto: FrancÌsco Alves
EMBARCAçÕES DE aPotot a) na
zona centra! da intervenÇão;
b) na doca de Paço de Arcos(Direcção de Faróis), base lo-gística da "frota" de apoio aos
traba[hos de arqueo[ogia suba-
q uática.
Fotos: Francisco Alves
AReuEoLocta DE uM NAUFRÁG oí4,
PorE oRrENÍAL típico dos sé-
:, Js XVI-XVll, descoberto intacto-,^ buraco da rocha, debaixo
:= colubrina de bronze.
':--c: FrancÌsco A[ves
A escavação deste buraco logo nos primeiros dias da
campanha veio comprovaÍ que o referido pote se
encontrava efectivamente inteiro, sem uma betisca-
dura. E que, tal como quase todas as cerâmicas acha-
das nas imediações, era uma produção típica da Ásia
OrÌental, à volta de 16oo. Mas a escavação nas ime-
dìações do referido buraco reservaria outra suÍpresa.
É que, pouco mais de l metÍo adiante, veio a encon-
trar-se outro pote semelhante que, apesar de tota[-
mente fragmentado, viria a ser integralmente recons-
truído.
Entretanto, nesta primeira fase foram colocados alea-
toriamente, em diversos pontos da área, spifs de aÌpi-
nismo numerados e ligados entre si por cabos ("fios de
Ariane"), o que facilitava o posicionamento dos acha-
dos e a orientação submarina. Este sistema permitia
assim que qualquer descoberta fosse "agarrada" à matha
potigonal definida pelos pontos referidos.
0 Ìevantamento microbatimétrico do sítio viria a
ser feito por rastreio geofísico, recorrendo ao sonar
de varrimento latera[, e incluiu todo o entorno da
Fortaleza de São iulião da Barra entre as praias da
Torre e de Carcavetos.
Apesar das frequentes interrupções devidas ao
mau estado do mar ou à necessidade de refazer a
ì90
rede de cabos de referência e orientação, danificada
peto mar ou por pescadoÍes menos avisados, a esca-
vação das fendas da mesa rochosa produziu exce-
lentes resultados. Na senda da âncora, da cotubrina
e dos potes atrás referidos, foram sucessivamente
descobertas peças de grande interesse que demons-
traram estar-se no epicentro do espalhamento do
espólio típico de uma nau da Índia. Destacam-se entre
as evidências arqueológicas mais significativas desta
zona o achado sistemático de pimenta em certos
níveis estratigráficos bem determinados - por vezes
com cocos inteiros ou fragmentados inseridos na vasa
envolvente; um almofariz de bronze - que se veio
juntar aos numerosos pilões precedentemente reco-
lhidos no sítio; um tsuba, guarda-mão típico de um
wakisachÌ japonês; fragmentos de porcelana azul e
branca Wanti, de faiança verde e amarela, típica tam-
bém do Su[ da China, do período de transição dos
séculos XVI-XVll, e de grés vidrado que sabemos hoje
pertenceÍ ao mesmo período e ser oriundo do .Japão,
da Birmânia e da TaÌlândia.
A análise da estratigrafia da zona S'|Bz resultou
da escavação da zona da mesa rochosa que píotege
o casco a leste e a norte, e da zona periférica, a
norte da mesma, [ocaÌ onde se instaÌaram quadrí-
culas metálicas para referenciação arqueológica.
Comptementarmente, resultou também das sondagens
de prospecção efectuadas a suI e a poente do casco.
De uma forma geral, pode-se afirmar que a estrati-
grafia encontrada em todos os pontos segue um padrão
coerente, estando sempre presentes - tanto quanto se
pôde verifìcar - duas camadas fundamentaÌs (camadas I
e lll), assentes sobre um substrato rochoso por vezes
coberto de areia muito compacta e fina, entre as quais
se verificou a ocorrência de outras duas, atternada ou
coniuntamente (camadas ll e lV).
Em todas as quatro camadas acima referidas foi
encontrado espólio arqueo[ógico. Na primeira, cons-
tituída por areia e cascalho de pequeno diâmetro,
muito móve[, foi descoberto um importante conjunto
1e fragmentos cerâmicos à mistura com lixos de vários
séculos, proveniente de outros naufrágios ou não.
','erece ser referido o facto de se terem encontrado
'-agmentos de cerâmica de uma mesma peça a várias
:ezenas de metros uns dos outros, o que ilustra a
-cbilidade desta camada. A terceira camada, de cas-
:alho mais gÍosso, era praticamente estériï.
As camadas ll e lV eram as menos contaminadas
. as que mais espólio apÍesentavam, nelas se des-
:acando materiais orgânicos, como a pimenta, cou-
'cs e têxteis, assim como numerosos artefactos entre
:s quais dois compassos náuticos, sondas em chumbo,
:-atos de estanho, pelouros de pedra e a maior parte
:a porceÌana azul e branca. É a camada que se pre-
s,me ser contemporânea do naufrágio da Nossa
Senhora dos Mártires.
No início de Fevereiro de ry97, no primeiro dia de
"calmia desde o finat do Outono do ano anterior, no
:ecorrer de um mergulho de avaliação dos estíagos que
: mar havia feito na rede de referência implantada, foi
:rcontrado um segundo astrolábio - tal como o pri-
-_eiro, na zona situada a norte do casco, mas a uma
:scassa dezena de metros dele, numa depressão exis-
::rte no limite norte da zona rochosa que se desen-
, rlve no sentido sueste-noroeste.
Nessa zona foram ainda avistadas duas peças de
g.andes dimensões: uma boca de fogo de ferro, sub-
sequentemente recuperada e uma peça de madeira
'rarelhada, aparentemente retacionada com o casco
s :uado imediatamente a sul. Numa pequena sonda-
gem ali efectuada foi detectada uma estratigrafia idên-
. :a à da periferia da grande mesa rochosa.
Assim, atendendo às naturais dificuldades de posi-
: onamento, tanto das zonas diariamente escavadas
:omo dos vestígios propriamente ditos, foi decidÌdo
*aterializar as zonas de escavação através da utiti
:ação de quadrículas de 4x4 metros em tubo metá-
. co, facilmente movimentáveis.
Este sistema revelou-se extremamente prático para
a gestão documental da escavação, e ideal, dada a
+++-l-*f
++-F
C:nada l- AÌeia e.ascaLho
Camada I Arela com óxldos de f€ÍÍo
CâÌnada Ll Cascalho com sÊ xos
aêÍìada V Vâsa aÍriosa. clnu Ênia
aamada V Rodrê mãe
ESQUEMA DA ESTRATIGRAFIA:
a1 nas fendas da mesa rochosa;
b.) na periferÌa desta.
PEçAS DE couno (a e b) e ÍÊx-
ttts (c) achados no mesmo es-
trato em que a pimenta abunda.
Fotos: Pedro Gonçalves
AReuEoLoGrA DE uÀr NAUFRÁGroiru
Õ -^<J/
s\N
f-.__l
mffiffil-i*;lÌ, r-*l: : :'-
@
frequente aÌteração do estado do mar. Com efeito,
nestas condições específicas, agravadas pela pouca
profundidade do local, não seria viáveI qualquer ins-
tatação mais complexa ou permanente.
A área escavada corresponde a sete quadrículas,
alinhadas seguindo o bordo norte da mesa rochosa,
e abrange cerca de uma centena de metros quadra-
dos. Nesta área ocorreriam alguns dos mais interes-
santes achados da campanha, designadamente numa
bolsa de sedimento com pÌmenta, aparentemente está-
vel (embora não isenta de contaminações, como sem-
pre), da qual foi recolhido um importante conjunto
de materiais orgânicos e uma pilha de sete pratos
de porcelana, que estavam assentes num material
orgânico com a aparência de palha. Esta pilha
de pratos havia ficado protegida entre duas rochas
de grandes dimensões - ambas pesando entre 1 e
r,5 tonetada - e assentavam sobre um fino estrato
de pimenta compactada, que continha por sua vez
outros diversos fragmentos de porcelana que em [abo-
ratório acabaram por proporcionar a reconstituição
integral de outros dois pratos.
0 mais importante achado da escavação nesta
zona ocorÍeria na segunda quadrícuÌa, em Julho de
1997. 4 escassos 5o centímetros do canhão de ferro
acima referido, após virar-se uma lafe de grandes
dimensões que obstruía a escavação, foi encontrado
um terceiro astrolábio. Estava situado na camada ll
atrás referida, e encontrava-se protegido simultanea-
mente das acções mecânicas e da corrosão electro-
química. Estava em excepcional estado de conserva-
ção e apresentava duas inscrições gravadas: uma era
a sigla do fundidor, a letra "G"; a outra era a data
de 16o5: o ano da partida da Nossa Senhora dos
Mártires para a Índia.
Por outro lado, o achado de três astroÌábios
em São Julião da Barra numa área com menos de
6oo metros quadrados no âmbito de um projecto per
feitamente programado representa por si só, do ponto
de vista arqueoÌógico, um acontecimento notável a
AsPEcÍos ol nrcucenaçÃo oo
cÁflHÃo DE *g.g.o situado na zo--z central da escavação, imedia-
-2aente a norte da âncora de-e'r o.
'J:os: Francisco Alves
AsPEcro DA EscavAçÃo numa
:cta de quadrícula.:tlo: Augusto Salgado
192
todos os títulos, muito embora nada garanta que
todos eles tenham pertencido àqueta nau'6.
Com efeito, não poderia deixar de ser sublinhado
que, até ao triplo achado de São Jutião da Barra, só
em dois sítios no mundo se tinha descoberto um
número superior destes paradigmáticos instrumentos
náuticos: nos destroços da Nuestra Sefrora de Atocha,
afundada em t6zz - cabendo satientar que quatro
dos cinco exemplares deste navio são de fabrico por-
tuguês, dois dos quais integram hoie as colecções
do Museu de Marinha de Lisboa; e no decurso da
escavação dos restos do V.O.C. Batávia, naufragado
na costa ocidental da Austrália em t629, em que
foram recuperados quatro exemplares.
Apenas em dois outros casos está assinatada a
descoberta de um número igual ao de São Julião da
Barra: nos destroços da Nuestra 5efrora de la
Concepción, naufragada em t64t nos bancos da Prata,
na República Dominicana, e nos de um dos navios
da frota que se perdeu em Padre lsland, na costa do
Texas, em 1554, provavelmente a Santa Maria de Yciar
(Stimson, 1988).
Outras áreas no entorno da fortaleza foram pon-
tuatmente obfecto de atenção, em função do planea-
mento dos trabalhos e do estado do mar. AssÌm,
viriam a ser identificadas mais três zonas de inte-
resse, que receberam as designações SJBI - em frente
ao esporão existente a nascente do promontório
SJB4 -, a poente, já à vista da praia do Moinho, no
extremo nascente da praia de Carcavelos, e SJBS -nas proxÌmidades de SJ84, a poente.
Na zona SJBI foi detectado e fotografado um
pequeno conjunto de bocas de fogo em ferro, junto
às quais foram recolhidos pregos de secção quadrada
e redonda em cobre, chapas de chumbo e um pre-
sumível êmbolo de uma bomba de porão em bronze.
Na zona SJB+ foi localizado um conjunto de três ânco-
ras, muito concrecionadas ao fundo, e recuperado um
coniunto de quatro lingotes de chumbo e um prato
de estanho. Na zona SJBS foi locatizado um conjunto
de concreções presas ao fundo rochoso, parcialmente
cobertas de areia, identificando-se e recuperando-se
duas coronhas de mosquete parecendo numa primeira
análise datarem do século XVlll, diversos projécteÌs
de chumbo de pequeno calibre e escomilha. Em SJBr,
onde em 1994 iâ haviam sido posicionados e dese-
nhados quase duas dezenas de canhões de ferro,
foram por sua vez recolhidas dezenas de moedas de
PTLHA DE serr lnntos de por-
celana achados in situ durante
as escavaÇões.
Foto: Francisco Alves
16 Com efeÌto, do estrito ponto de vis-
ta arqueoLógico, não se pode funda
mentaÍ, nem Linearmente nem com 5a-
tisfatórjo índice de probabilidade, a
(o'Íelaçèo doc ooic priïeiÍos a5Lrol;
bios achados em São julião da Barra
com a nau Nossa Senhora dos Máftires,
por não provÌrem de um estrato "se-
lado" mas de um nível superfìcial su-
jeito a uma forte dinâmica, e por aque-
le ÌJgar ser poÍ e\Lelènr;a Jr (em:ierio
de navìos afundados; não sendo tam-
bém possíveL presumir essa mesma cor
relação por recurso a quaìquer outro
método de investigação, como por
exempLo o epigráfìco, tal como veio a
a(o-te(eÍ com o lerreiro astrol;bio,
graças à Ìnformação nele gravada.
ARQUEOLOG A DE UM NA!FRAGIOru
AsPEcro DA RECUPERAçÃo de um
.i:gote de chumbo.:o:o: Augusto Salgado
prata, quase todas de uma fase adiantada do
século XVll, setos em chumbo, mais de uma dezena
de pratos de estanho, e fragmentos de porceÌana,
quase tudo dificilmente correlacionável com o nau-
frágio da Nossa Senhora dos Mártires. Quanto às
zonas SJB3 e SJB+, só o avanço das pesquisas per-
mitirá documentar o seu potenciaÌ, sendo de presu-
mir que SJ83 corresponda ao [oca[ do primeiro impacto
da nau nos rochedos de São Julião da Barra.
Evidente é sobretudo o facto de na zona SJBz, à voÌta
dos destroços do casco, se concentrar ainda a maioria
do espóÌio com ele manifestamente correlacionado.
0s destroços do cascoda Nossa Senhora dos Mártires
Os primeiros indícios aparentes do fragmento de casco
em questão foram o espesso tabuado que aflorava
a noÍte da estrutura e a grande quantidade de frag-
mentos de tiras e placas de chumbo que juncavam
o fundo nas redondezas. Pouco a pouco, à medida
que o contacto com o vestígio se ia tornando habi-
tual, e que a variação frequente do cicto assorea-
mento-desassoreamento ia permitindo, começavam a
emergir da areia as pontas de um poderosíssimo
cavername. Em breve foi possível começar a manter
clareiras e a baixar o nível de areia, embora o ciclo
assoreamento-desassoreamento fosse permanente.
O posicionamento de base foi feito por medição
triangulada entre pontos notáveis e spits de refe-
rência na periferia. Seguidamente, foi feito o levan-
tamento planimétrico de toda a área da estrutura,
cotados todos os pontos de referência e desenhados
os perfis mais significativos do tabuado entre caver-
nas e dos contornos inferior e superior das cavernas.
Foi feita ainda a medição por inclinómetro digital de
diversas superfícies ptanas da estrutura - tabuado,
topo da quitha, etc. Finalmente, foi feita a fotogra-
fia de toda a estrutura do casco na vertica[, em
"mosaico".
Em Março de ry97, passados cerca de três meses
úteis desde o início dos trabalhos, estavam defini-
dos grosso modo os timites e a fisionomia da estru-
tura do casco subsistente, e a escavação permitira
esclarecer a estratigrafia do loca[. Em primeiro lugar
havia a areia, com fortíssima mobilÌdade, mas só
raramente deixando à vista as partes mais salientes
do vestígio; por baixo da areia existia um cascalho
pequeno com muita pedra de ro-r5 centímetros. Este
estrato, disseminado e incrustado, cobria toda a estru-
tura, nomeadamente nos espaços entre cavernas, e
curiosamente servia também de leito da estrutura.
Aparentemente, esta terá inicialmente assentado nos
pontos mais salientes do substrato rochoso, tendo o
tempo e a dinâmÌca dos fundos propiciado que este
cascalho tenha acabado por colmatar o espaço inters-
ticiaI existente entre a rocha-mãe e o forro do casco.
Na extremidade sudoeste da estrutura, um enorme
rochedo assentava sobre uma longa prancha do
tabuado, demonstrando inequivocamente até que
ponto a força do mar podia motdar o fundo.
Finalmente, no âmago da estrutura, especialmente
entre as cavernas e sobre o tabuado (por vezes sob
ele) existia um sedimento feito de vasa negra, muito
compacta e plástica, denotando uma elevada incor-
poração de matéria orgânica decomposta. Esta vasa
194
Tábua de rebordo(w)
Tábua de rebordo(E)
Ctr
811
C1o
Bio
C9
B9
c8
C7
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Tr6E
Tâbua
(E)
/ Tábuade rebordo
(w)
(
0 1m
PLANTA da estrutura do frag-
mento de casco descoberto na
zona central de 5J82.
C=cavernaB=braço
GrandeRocha
o a o o o o ôo
_ O o o_
-;------<-L
,--o o qo_ óo os o
oo ^-oq
a ç o ooo oo
"r-=ï-5-_l::ve{
ôE o\ 54 sy'2"o\ooê
Pregos dobÍados nas pontas
Secção horizontal(curyaturas ptanifi cadãs)
secção vertical
)2m
I
ìr, a-,ü Vl]z
I1117T^-i
Batiza 3(cabeça+braço) reconstituída
I 2m
DESENHo dos perfis e secçoes
-. estrutura do casco.
'::.s: Augusto Salgado
196
Yrsra DA EXTREM|DÁDE sul Do
cÁsco - lado oeste.:c:o: Francìsco A[ves
J:: todo o lado, à medida que
se exumavam os vestígios ar-
:-eológicos, a pimenta soltava--st do lodo que a mantivera con-
.<: t'a d a q uat ro ce ntos an os.;J:a: Francisco Alves
f iir"ros que merecem a necessá-
': -eserya atendendo a que não têm
:- :cnsÌderação as tonelagens dos na-
.':s em questão.
rA-- r:: rd'iva qJP de(otre do 'â.'o de
-:: se ter encontrado ainda qualquer
':':-ência relativa às dimensões ou to-
-: :gem precÌsas da Nossa Senhora
::t',1áftìres.
encontrava-se literalmente impregnada de pimenta, o
que se tornava imediatamente perceptíveI ao tacto.
EspaÌhada por todo o sítio, presente em todos os
buracos escavados, a pimenta era o mais eloquente
testemunho de uma tragédia marítima ocorrida por
excelência com um transportador dessa especiaria.
Apesar de não se conhecer a quantidade exacta de
pimenta transportada, por extrapolação dos números
conhecidos, relativos a cargas idêntÌcas chegadas a
Lisboa entre 1582 e 1592 (Keltenbenz, 1956), que,
aliás se mantêm aproximadamente semelhantes poucas
décadas mais tarde (Disney, 1981, pp. zoo-zot), obtém-
-se uma carga média por navio de cerca de 5ooo quin-
tais de pimenta'2, correspondendo a 2g3T60 qui-
logramas (r quintal de então equivale actualmente a
58,752 quilogramas) - constituindo um dos exemplos
máximos a carga de 7rct quintais transportada peta
nau Madre de Deus, apresada em t5g2 e levada para
Plymouth, onde encheu de estupefacção a Europa de
então.
Em suma, pode presumir-se que a Nossa Senhora
dos Mártires traria no porão cerca de 3oo tonetadas
de pimenta. Presunção tanto mais lícita quanto se
sabe que, de acordo com Lavanha e Fernandes (Barata,
1989, l, p. t7ò, a tonelagem normal de uma nau da
Índia nesta época (finais do sécuto XVt-inícios do XVI)
oscilava em torno das 6oo-7oo toneladas, o que se
traduzia em navios com cerca de rB ou mais rumos
de quilha, equivatentes a 21 ,72 metros, ou mais
(r rumo corresponde a L54 metros), tendo por sua
vez uma esloria de mais de 4o metros - um pouco
mais de centena e meia de palmos-de-goa (r rumo
tem 6 palmos-de-goa, equivalentes portanto a
o,256666 metros), e a uma manga superior a r3 metros
(mais de 5o palmos-de-goa)'8.
A escavação de toda a superfície do casco não
revelou quaisquer artefactos, à excepção de uma
minúscula missanga de ouro e de duas pequenas
cestas de vime, uma parcialmente preservada e outra
praticamente desfeita, que afloravam a vasa negra.
Removidos com todos os cuidados através de um
engenhoso sistema improvisado, constituído por um
caixote metálico desmontável, os dois fragmentos
foram trazidos à superfície protegidos pelo próprio
sedimento, sendo subsequentemente tratados em
laboratório por impregnação em polietilenoglicot, o
que apenas resultou no mais bem preservado.
0 fragmento de casco da presumível Nossa Senhora
d os Má rti res encontra-se orientado aproximadamente
no sentido norte-sul na sua maior extensão, corres-
pondente à disposição da quilha e do tabuado de
forro exterior, que constituem a sua face de assen-
tamento no fundo. Dispõe-se, assim, perpendicular-
t98
-.:rie à costa, isto é, à Fortaleza de São Jutião da
e
SE
a
:"'a, apresentando-se Iiteralmente "encaixado"
-::egÌdo num patamar do tajedo rochoso que
'gJe em degraus, em direcção à penedia sobre
-al se ergue a fortaleza.
O vestígio ocupa o espaço correspondente a um
-=::ângulo com cerca de rz metros de comprimento
:," 7 de largura, equivalente a uma área efectiva de
-: n.ìetros quadrados. Embora representando apa-
-=-:emente uma inexpressiva parte da estrutura do
-.,'io, constitui, no entanto, um documento de excep-
-:raI importância, não só pela sua raridade - é o
-- co testemunho de um navio português deste tipo
. :esta época conhecido à escala internacional, e um
:'s raros de tradição ìbero-atlântica - como também
: : "q ue, comparativamente, não é um dos menos
=,:ressivos quantitativamente, como atestam vários
=,emplos não menos importantes, embora ainda de
- -ito mais reduzida dimensão (Corpo Santo,
S=tchelles, Molasses Reef, San Esteban, etc.)'r. 1u1o,
-.:n referir a importância qualitativa e a riqueza dos
:::rnenores do achado em questã0.
A estrutura corresponde a um fragmento de uma
:"'ena de casco, assimétrico e muito descentrado em
-= ação ao eixo da quilha, dado que a sua parte de
=::e é muito maior que a de oeste. Com efeito, este
::o encontra-se muito menos conservado do que a
:::e, tanto porque a estrutura está fustamente ador-
-.da para este lado, embora muito ligeiramente, como
.-rretudo porque, deste lado, ao longo de toda a
-.-a extensã0, se encontra protegida por um ressalto
:. bancada rochosa que se eleva em degrau a mais
:. 1,5 metros de attura.
O fundo do casco é composto por um troço de qui-
.a Ladeado por rr fiadas contínuas de tábuas do lado
leste, e 19 do lado leste. Assentes sobre este fundo
:estacam-se em contiguidade rt poderosas cavernas,
; das quais se encontÍam conservadas na quase totali-
:ade da sua extensão - excepto a oeste, nas extremi-
:ades e nas faces superiores. Com efeito, duas delas,
REPRESENTAçÃo DÉ UMA NAU DE
euAïRo coBERTa.s, in Manuel
Fernandes, Lìvro de Traças de
CarpintarÌa, t6t6, fl. 7t, Lisboa,
Biblioteca da Ajuda.
Foto: José Pessoa
REPRE5ENTAçÃo Do rRAçaDo ErE-
MENTAR DE UMA NAU DE 18 RU-
Mos DE eutna., in Manuel
Fernandes, Lìvro de Traças de
CarpÌntaÍia, út6, fl. 7t v, Lísboa,
BÍblioteca da Ajuda.
Foto: losé Pessoa
19 Sai lora do âmbito clo presente tÍa-
bìal.o LÌd po r.no zatáo de re'e-
rências bibÌiográficas que sobrecarre'
garia demasiado um texto desta índole,
o que numa publlcação de estrÌto ca-
- z espeLid izddo ."riâ rorral. se nào
mesmo obrigatório. Assim, todas as re
ferênclas de pormenor do presente ca-
pítuÌo remetem para os títulos de ba-
se indicados nas bibLiografias geral e
específica. No caso vertente, seja ape
nas aqui referldo que os vestígios de
Molasses Reeí por exemplo, foÍam con-
siderados pelos autores como corres-
ponderdo a cerca de 2% da totaljda-
de da estrutura do navìo.
o 'ì'Ì
l,!t'I Ì:
..i'í ì,tr.i'.Ì: tjï ;\r
a,
ttll
i- l i:, t,.Fn'1\
.:
I
I
Ig
t. a
'i !::l
t? c.
a"' "
::: r-li:' t.
$,'
ARQUÉoLoGIA oE UM NAUFRÁGIoiat
CEsrAs DE vtME parcÌaImente
:'eservadas na vasa acumulada
.^:te ds cavernas C2 e Cj, e C4
. c5.
=:ios: Francisco Alves
a lia realÌdade poderá tratarse mais
:'::'Ìamente de um segundo braço,
-:: só um estudo ult€rÌor, baseado
-:':constituÌção da presumíveI curva-
:-'a oestas peças, permjtìrá eventuaL'
-.-:e esclarecer esta questã0.
justamente nos extremos
sudoeste (Cr) e nordeste
(Crr), apenas se conser-
vam parcialmente.
Todas as cavernas se
encontram protongadas
nas duas extremidades,
dos dois lados - embora
muito mais expressiva-
rnente do lado leste -pelos respectivos braços,
que "olham" para su[.
Quer isto dizer que os bra-
ços se ligam com a res-
pectiva caverna pelo lado
suI desta. Nestas zonas
laterais, da ligação caver-
na/braço, cada par encosta
ao paÍ vizinho, formando
um "chão" contínuo, que
cobre integralmente o
tabuado de forro exterior.
Num único caso, no pro-
longamento para leste da
caverna C4, desenvolve-se uma apostura (A4E)'", que
se encontra assim Ìadeada pelos braços das cavernas
C4 e C5 (B4E e B5E).
Tanto as cavernas como os braços estão quebra-
dos em diversos pontos, segundo alinhamentos regu-
lares que correspondem aos eixos longitudinais de
fractura. Por este motivo, a estrutura encontra-se
"aberta" do lado leste, tendo arreadas as curvaturas
de origem - o que contribuiu também, atiás, para a
sua subsistência deste lado.
Na face norte da estrutura a extremidade de rup-
tura é mais ou menos homogénea, não havendo varia-
ções sensíveis na extensão dos seus elementos teÍ-
minais. Em contrapartida, a extremidade de ruptura
do lado sul da estrutura é muito acentuadamente
irregular, com o tabuado prolongando-se para sul dos
dois lados, muito mais do que a quitha, que aí se
apresenta literalmente esfacelada. Uma tábua a leste
(Tr9E) protonga-se excepcionalmente para su[ - ter-
minando, aliás, sob um rochedo esférico com mais
de uma tonelada de peso.
O comentário preliminar que suscita a observa-
ção desta imponente estrutura, muito especialmente
pelas características da sua extremidade norte, mani-
festamente correspondente à parte central do navio,
é a de que ela apresenta um certo "ar de família",
neste caso ibérica, devido à grande abertura e quase
horizontalidade dos seus fundos. A quilha apresenta-
-se conseÍvada em cerca de 7 metros da sua exten-
são. Atendendo ao pressuposto, adiante fundamen-
tado, de corresponder a um navio com, pelo menos,
r8 rumos de quitha, equivalentes a 27,72 metros
(r rumo = !,54 metros), verifica-se que o fragmento
em questão representa pouco mais de um quarto do
comprimento total preservado (entre z5o/" e 287).
Assim, verifica-se que este valor é bem mais
expressivo do que no caso dos detroços do navio
do Corpo Santo, em que a parte preservada da qui-
lha mede cerca de 1,4 metros, pelo que correspon-
derá a cerca de ro%; sendo nitidamente inferior ao
da Ria de Aveiro Á, em que, com 9,4 metros de
comprimento preservado, num total estimado em
cerca de 13-14 metros, equivale a cerca de 7o"/o; e,
ainda mais, relativamente ao do Cais do Sodré cujos
24 metros de quitha preservada representam mais
de 85 % do seu comprimento total.
Relativamente aos restantes casos internacionaÌ-
mente conhecidos, se no San Díego e no San Juan
têm esta parte integralmente preservada, respecti-
vamente com 23,73 e r4,75 metros, em contrapar-
tida nas Seychelles e em Molasses Reef eta é ine-
xistente.
A quitha da presumível Nossa Senhora dos Már'tires
apresenta na sua face superior uma largura de z4 cen-
tímetros sendo admissível poder ser ligeiramente mais
espessa na sua parte não visível. Se atendermos ape-
200
LL?'3lt':!
3d.açoioÉ
-3s aos exemplos comparáveis, verifÌca-se que este
,' or é equivalente ao do navio do Cais do Sodré,
sendo apenas excedido nos casos de Cattewater, San
-s:eban e San Diego (lo, lt e 3o centímetros, res-
::ctÌvamente). Por outro [ado, a quilha tem a parti-
:-iaridade curiosa, observável tanto na sua extremi-
:ade norte como na sul, de apresentar uma relação
=s pessura/altura invulgarmente pequena relativamente
= :udo o que é habitualmente conhecido de similar.
-.ï, com efeito, apenas cerca de rz centímetros, o
:-e é praticamente equivalente à espessura do tabua-
:: (rr centímetros). As sondagens efectuadas nas
:-as extrenridades confirmaram aliás esta fraca espes-
.,:a, deixando em suspenso qualquer conclusão, por
^.sta fase dos trabathos não se ter podido observar
' 'ace inferior da quilha numa extensão significativa.
-:n efeito, parece presumível que a quilha se com-
l.:tasse por uma contraquiÌha compensando a sua
-Ênor espessura, por anatogia com a do San Díego,
:-de esta tem 15 centímetros de altura mas é com-
:.etada por uma contraquilha de secção quadrada de
r: centímetros de lado.
A quitha apresenta também, como particularidade,
: existência de várias escarvas verticais, ditas "lisas"
ru "lavadas", que atestam tratar-se de uma peça
-rmpósita, o que era habitual. Estas escarvas verti-
-ais, através das quais se "empalmam" perfeitamente
I uas peças no prolongamento uma da outra, têm
uma face transversaI interna com 8 centímetros, e
uma outra, tongitudinal e oblíqua, com 72 centíme-
tros. As três escarvas observadas formam assim qua-
tÍo troços de quilha. O primeiro (de norte para sul)
tem cerca de 34 centímetros de comprimento e é
composto praticamente pela parte escarvada propria-
mente dita, uma vez que se situa iustamente na extre-
midade de ruptura do casco. Este fragmento de qui-
lha tem pois como seu topo norte a própria
extremidade de ruptura da quitha, pelo que aí a sua
secção original não subsistiu. A secção do topo sul
desta escarva situa-se sob a caverna Cr4, inexistente,
mas marcada pela respectiva pregadura no tabuado.
O segundo troço tem 2,48 metros, apresenta as escar-
vas nos extremos, com a particularidade de se encon-
trarem do mesmo lado. A secção do topo norte desta
segunda escarva situa-se entre as cavernas CB e C9,
ficando mais próxima da face suI desta última. A sec-
ção do topo sul desta escarva situa-se debaixo da
caverna CB.
O terceiro troço da quilha, que é o maior, tem
z,6z melros e ao contrário do anterir, que é em T,
tem uma forma assimétrica, em Z. A restante parte
suÌ da quilha mede z,z metÍos. Uma quarta escarva
poderá ainda existir na parte sul da quilha, neste
caso estando presentes quatro e não três troços desta.
Com efeito, entre as cavernas C3 e C4, quase encos-
tada à face norte da primeira, a quitha, que nessa
PEnrrr rrónrco do vestígio do
casco e do seu enquadramento
envolvente.
ARQUÉoLoG]A DE UM NAUFRÁG oru
Ç
zona se encontra muito deteriorada, apresenta do
seu lado oeste (que aí é o único conservado) uma
fenda transversa[, perfeita, parecendo corresponder
à face de uma escarva do tipo acima referido. No
entanto, só um estudo ulterior mais aprofundado
poderá esclarecer esta questão.
Esta morfologia de uma quilha segmentada em
partes relativamente pequenas é muito singular, afas-
tando-se daquilo que é conhecido, tanto nas fontes
escritas como nos exemptos arqueoÌógicos correlati-
vos, pelo que este aspecto deverá merecer no futuro
especial atenção.
Este tipo e unÌão de reforço por escarva lisa ver-
tÌcal é em contrapartida muito comum, encontrando-
-se em Ria de Aveiro A, Highborn Cay, e no San Juan,
202
neste caso nas duas extremidades da quitha.
Corresponde a uma solução técnica muito bem docu-
mentada na obra de Lavanha. Com efeito, além de
graficamente representada no fótio 6z v (1996, p. 44,
fig. S), o autor refere a este propósito que "[...] quando
se achara pau com todas as condições de que se
pudera fazer a quilha inteira e coices não convìnha
ser senão de pedaços porque como as madeíras tiram
por ela se fosse inteira, estalaria e de pedaços [...]
do maior tamanho que os paus abrangerem; sãos e
sem vento e lavrem-se mui bem de um palmo de
largo e de tudo o mais de palmo que puderem ter
de alto porque o restante de palmo serve para um
encaixe que se entalha na dita quilha, chamado ali-
friz onde encaixa t...1". E, mais adiante, ainda sobre
este assunto, Lavanha refere também que "como a
quilha não possa ser inteira e aia de ser de peda-
Ços estes se ajuntam uns com os outros com umas
escarvas [como mostra a figura seguinte] e se pre-
gam com pregos que atravessam toda a largura da
madeira e rebitam da outra parte sobre uma chapa
de ferro a qual maneira de pregos <se> chamam ani-
elados; e por este modo se fará toda a quilha e se
ajuntará com as ditas escarvas" (ibid.).
As cavernas propriamente ditas são em número
de rr, muito embora só 9 se apresentem quase intei-
ras. Um pequeno troço de caverna, isolado, do quaI
subsiste apenas a sua parte mais aderente ao
tabuado, é ainda visível no extremo norte da estru-
tura, mesmo ao lado da quilha, a leste. Corresponde
à caverna Cr4.
0 primeiro aspecto a referir a propósito das caver-
nas deste fragmento de casco é a sua maiestosa
dimensão. 0 segundo é o facto de evidenciarem, em
direcção a sul, um progressivo arrepiamento, com a
concomitante inclinaçã0, em V, do respectivo tabuado.
Com efeito, enquanto que na extremidade norte a
inclinação do tabuado na zona centra[ é imperceptí-
vet, na extremidade suI eta é já muito acentuada. As
cavernas têm, assim, na sua parte centra[, uma altura
PLANTa DE r-ocnlrzlçÃo (a) e rs-
eurnn nxror'romÉTRtco GERAL da
:-,ta e dos seus segmentos (b).
R€PRESENTAçÃo DE UMA eurLHA
ÊscARvADA, ìn loão Baptista
-:,,anha, Livro PrÌmeiro de
:-:ritectura Naval, 16o8-1615,
' 6z v, Madrid, Biblioteca de Ia::el Academia de la Historia.
': -a: RAH
aparentemente corretacionáveI com o respectivo arre-
piamento e Ìevantamento, de 4o centímetros de altura
no eixo na Cz e de 3r na Cro.
A estrutura identificada parecÌa assim correspon-
der a uma parte da zona central do navio sÌtuada
nas imediações da caverna mestra, sendo evidente
que o cavername se desenvolvia para suÌ, em direc-
ção a uma extremidade do navio.
Concomitantemente, todos os pares cavernalbraço
têm os seus componentes na mesma posição rela-
tiva. Assim, as cavernas propriamente ditas situam-
-se do lado norte, que corresponde à parte central
do navio, os braços unem-se, de cada lado, a elas
pelo [ado suÌ, que corresponde a uma das-extremi-
dades. Esta constitui uma característica presente,
sem excepção, em todos os exemplos de navios
conhecidos à escala internacional, de tradição cons-
trutiva ibero-atlântica.
Na sua generalidade as cavernas têm z4-25 cen-
tímetros de grossura, isto é, de largura na sua sec-
ção transversal (perpendicutar ao seu eixo maior, que
se desenvolve no sentido leste-oeste). A respectiva
altura nas suas extremidades e na secção idêntica é
de cerca de 15 centímetros. E apresentam um com-
primento médÌo de 4,7 metros, com um máximo de
S,o8 (Cz) e um mínimo de 4,24 (Cz). Deste modo
forçoso é concluir que esta é a mais poderosa estru-
tura transversaI conhecida à escala internacional num
navio de tradição ibero-atlântica, a par da do Cais
do Sodré, que apresenta dimensões equiparáveis,
sendo estas inferíores em todos os restantes casos
conhecidos, do San Juan (zz centímetros), Cattewater
(zo centímetros), e San Diego (r9 centímetros), a
Western Ledge 68 centímetros).
As cavernas estão distantes entre si (face-a-
-fuce/vão) cerca de z3 centímetros em média, variando
entre r8 (Cz-Cl) e z4 centímetros (Cg-Cro). Apresentam
uma distância média entre eixos de cerca de 46 cen-
tímetros, variando entre 42 (Cz-C:) e 48 centímetros
(CZ-C8). E têm uma largura transversal conjunta
\\\
(caverna e respectivo braço) de cerca de 46 centí-
metros em média, com um máximo de So (C6) e um
mínimo de 4z centímetros (C3). Tomando como refe-
rência estes últimos valores, reforça-se a evidência
desta importância estrutural. Assim, observa-se com-
parativamente que só no caso do Cais do Sodré se
verificam valores semelhantes (4o a 5o centímetros),
sendo apenas de 4o centímetros em Highborn Cay e
de 3Z em Cattewater.
A primeira caverna exposta (Cr) apresentava na
face sul, na sua base de assentamento na quilha, um
embornal semielíptico manifestamente descentrado
para o lado oeste, distando l,l centímetros do bordo
da quitha desse [ado. Tinha 7,5 centímetros de lar-
gura e 4,5 centímetros de altura, e era destinado,
:'. :.... : :.
DUPLo MALHETE NA zoNA DE
uxrÃo crvrnu/aRAço, típico da
Nossa Senhora dos Mártires.
Foto: Miguel Aleluia
ARQUEoLoGIÁ DE UM NAUFRÁGIO
rru,JÁt tl' ij: J
Braço
como é habituaÌ, ao cor-
rimento tongitudinaI das
águas acumuÌadas no
interior do casco, por
baixo das cavernas, pelo
que todas elas apresen-
tam esse mesmo dispo-
sitivo, mais ou menos na
mesma posição.
As cavernas apresen-
tam nas extremidades, na
sua face posterior (sul),
na zona de tigação com os respectivos braços, as
fêmeas, [ado a [ado, de dois característicos malhetes,
habitualmente (na tradição ibero-atlântica) do tipo
"rabo de minhoto" - mas que assumem aqui uma
forma nitidamente rectangular e não trapezoidal, como
é habituaÌ nesta tradição construtiva. Têm cerca de
4 centímetros de profundidade, e apresentam um com-
primento médio de cerca de 3o centímetros. Os eixos
verticais destes malhetes distam em média cerca de
6o centímetros entre si, com um valor máximo de 65
(CllBlE) e um mínimo de 4o centímetros (C:/B:W).
Merece ser referida a este propósito a observação de
R. Steffl7, segundo a qual "Os malhetes em rabo de
mínhoto no cavername são curiosos e merecem alguma
reflexão. Eles requerem um extra de trabalho e de
madeira e, atendendo à restante pregadura, não parece
à primeira vísta terem sido necessários. Mas eles acres-
centam alguma seguranÇa às juntas e devem ter tor-
nado a ligação do cavername fácil e mais eficaz. A
sua aparência em todos os destroços de navios acima
referidos encontrados fora do Medíterrâneo indica que,
pelo menos na mente dos seus construtores, a sua
ímportância funcional deve ter compensado o custo
adicional em trabalho e em madeira [...]" (Steffy, t994,
p.139).
Por sua vez, de cada lado, a ligação caverna/braço
é reforçada por três pregos de ferro de secção quadrada
de z,z centímetros de lado e cabeça redonda, de aqordo
com as largas e profundas cavidades vestibulares dei-
xadas nas faces das cavernas voltadas para a parte cen-
tral do navio. Eram pois colocadas transversal e hori-
zontalmente, da zona central do navio para as
extremidades. Estes três pregos eram colocados um em
cada malhete e, portanto, nas partes correspondentes
às duas fêmeas e ao macho mediano.
Este sistema de reforço não é inédito, integrando-
-se no mesmo grupo do navio do Caís do Sodré. Com
efeito, nos restantes exempÌos conhecidos, a função
dos pregos de ferro de ligação transversal é parcial-
mente desempenhada por caviÌhas de madeira de
idêntica secção circular (na realidade, facetadas).
A desmontagem e recuperação das cavernas e dos
braços correspondentes à segunda e terceira batizas
permitiu a observação de alguns pormenores curio-
sos, como sejam:
a) A existência na face inferior do braço 83, na
zona de união cavern albraço, de um remendo de
enchimento, feito de uma tábua, a toda a largura do
braço, numa extensão de 9o centímetros, atestando
a necessidade de acertar a face externa com a da
caverna correspondente, aparentemente com vista a
um perfeito assentamento do tabuado. Apresenta
ainda a significativa particularidade de não ter uma
espessura uniforme que, aliás, quase se anula nos
seus bordo e canto nordeste;
b) A existência, igualmente na face inferior deste
braço, além dos buracos de pregos de fixação do
tabuado de forro exterior, de buracos idênticos, de
secção quadrada, preenchidos com buchas de
madeira de secção igualmente quadrada, aparente-
mente correspondentes a uma tábua anteriormente
existe nte.
Embora em atguns casos as cavernas pareçam
estar fixas à quitha por uma forte cavilha de ferro
que as atravessariam até à sobrequiÌha, o que repre-
sentaria uma garantia essenciaI da coesão axiat e [on-
gitudinaI da estrutura do esqueleto do navio, é ainda
prematuro na fase actual da pesquisa adiantar glo-
MAIHETE EM "RABo DE MrNHo-
Ío". da zona de união caver--: rnço, típico da tradição ibe-':-a:lântica de construção naval
::9. Aertling, ry89, p. z5o).
REMENDo DE ENcHtMENTo para'.:JIarizaÇão da superfície ex-
::- or da caverna C3,:-:o: Augusto Salgado
BUcHA DE srcçÃo eulouon,.:zrentemente utilizada para
::.Tatar um buraco de prego
:-aexistente na face externa da
::, erna cj,:::o: Francísco Alves
204
3aLmente seja o que for sobre esta questão, aten-
:endo fundamentalmente ao estado de concreciona-
ìento superficial destas evidências e ao facto de
-.gumas cavernas terem já perdido parte da sua super-
'-cle. A futura desmontagem do resto do cavername
:oderá esclarecer esta questã0.
Seja no entanto referido que as duas cavernas
:esmontadas e recuperadas em lg97, a Cz e a C3,
srresentam, além do Ìargo orifícìo correspondente à
.-pracitada cavilha de secção circular de grande diâ-
-etro (cerca de 3 centímetros), um buraco contíguo
:e secção quadrada, correspondente a um prego de
'e-ro que as atravessa de tado a lado e que pene-
-:a Ìgualmente na quitha, testemunhando assim um
:-pLo sistema de pregadura axial.
De salientar, finalmente, como aspecto de grande
-e.evância, que algumas caveÍnas apresentam dois
-iros de traços gravados, sempre na face norte:
a) Traços verticais gravados nas partes central e
'-'erior (terminando, aliás, na aresta inferior), unica-
-ente visíveis nas cavernas Cro e C9. No primeiro
:aso são em número de z, com o de oeste no ali-
^^amento do bordo oeste da quìtha; no segundo caso
são em número de 3, com o traço de leste coinci-
:irdo com o bordo leste da quitha. Estes traços pare-
:e:n corresponder às marcas de graminhagem que
-avanha explicitamente refere: "Depois com um esco'
:-o se assinale a recta MS, meio da caverna e outras
:,:as que terminam a astilha apartadas desta MS, meio
:almo de cada parte, que fazem a largura da quilha,
: assim se assinale maís com o mesmo escopro a
'ecta 0P do Covado para que lavrada (a caverna,
:elos traços <que por este modo se deítarão> e assína-
.adas estas línhas fÌque perfeita" (Lavanha, ry96, p. 5z).
Marcas equivalentes foram.. observadas nos des-
:roços do Culip Vl, no litoraI cata[ão (Nieto ef a1.,
:989), assunto este recentemente retomado por E. Rieth
i996, p. t55);
b) Traços definindo algarismos romanos, situados
sempre do lado oeste do eixo central, e muito perto
ou tocando mesmo a aresta que separa esta face do
topo da caveÍna. Pela posição do número "V" pre-
sume-se estarem todos invertidos. São visíveis o "llì"
na C9, o "llll" na C8, o "V" na C7, e o "X" na Cz.
Esta descoberta reveste-se de excepcionaI impor-
tância, ao identificar imediatamente a parte do navio
a que o vestígio corresponde. Com efeito, nos úni-
cos dois casos conhecidos à escala internacional em
que figura uma numeração equivatente - os destro-
ços do acima referido navio Culíp Vl (ibÌd.) e do Caís
do Sodré - estas marcas figuram sempre nas faces
das cavernas viradas paÍa as extremidades. Legítimo
é pois concluir o mesmo no caso do fragmento de
casco de São Jutião da Barra. Deste modo, esta parte
do casco poderia pertencer à parte de ré do navio,
que se desenvolveria assim em direcção a su[, a par-
tir da caverna mestra, inexistente. PeÌo que, a norte,
se continuaria com a caverna l, correspondente à Crr,
igualmente inexÌstente.
Tanto os traços como as numerações referidas
são o testemunho de uma prática directamente
correlacionável com o método específico do sistema
de concepção das formas de carena, bem conhecido
através das fontes clássicas da arquitectura naval
portuguesa.
Assim, o uso de graminhos para o desenvolvi-
mento progressivo das formas das cavernas, entre a
mestra e as almogamas, torna compreensível esta
numeração das cavernas e a expressão dimensional
dos valores graminhados expressa nos traços no ali-
nhamento da quitha.
Esta importante descoberta veio completaÍ-se com
uma outra, graças aos buracos dos pregos que fixavam
as cavernas a norte da Cro, actuatmente inexistentes".
Assim, através dos buracos de pregos quadrados, típi-
cos e habituatmente colocados ao ritmo de um par por
cada caverna, observa-se que a norte da caverna Cro
terá existido uma outra (Crr), correspondente, aliás, à
caverna I (inexistente), de acordo com as marcas de
numeração gravadas, acima referidas.
ALGARTSMo "lll" gtavado na face
narte da caverna C9.
Fata: Francisco Alves
ALGARTsMo "Y" gravado (inver-
tido) na tace notte dd cdvernâ C7.
Fato: Miguel Aleluia
27^" g usr gio dd pPg"dLa,o cl.ri.
com efeito, um dos mais importantes
documentos arqueoìógicos passÍveis de
serem tÌrados de um vestígio náutico,
dt.1de do d qJê o 5ÊL potê1Íi" i
.0. lar'vo t..1<.e1de o. p dp.io. li^
Le) do rdle'idi ' on5ê'v.do, do i1( lJ Í
também os traços vÌsÍveis das peças
que já lá não estão. O que represen-
ta aquilo que poderia ser chamado um
"negativo faftasma" (AÌves, 1992a).
ARQUEOLOG A DE UM NAUFRÀGIO
!-'\i
.t ê'
€t;qr.gl.., /J *tut-- *4ï ,':'!: '"-*' 't:;:stj's;;*
/-*J6aÁ.
'-; Ì , t-i' iJ l* .
REPRESENTAçÂo Do srsrEMA DE
GRAMINHAGEM DAS CAVERNAS DE
coHrA, in João Baptista Lavanha,
- ,'o Prìmeìro de AÍchitectura',=,al, t6o8-t6t5, fl. 68, Madrid,- . otecà de la Real Academia
:: la Hístoria.,:::: RAH
-FTGURA Do aLEvaNTAMENTo Dos
cnnrt'ttt'lHos", in Fernando Olìvei-
'..0 Livro da Fábrica das Naus,
::3a, co[ada à p. 99, Lisboa,
i ilÌateca Nacional.:::a: BNL
:: ,,- 'ê calcu o 0e Io'etagêr ìao cê
:::a entender como taxativo por di-
.:-:is razões, entre as quaÌs se des-
'::: a época de construção do ravio,
:::.ato que Pìmentel Barata tem em
:r-:ideração, e que se encoftra ex-
:-::so, nomeadamente, na tabeÌa da
: :ál do vol. I dos seus Estudos, se
:,-ao a qual, um navÌo de 18 rumo5,
:-::flor a 1580, terìa 7oo toneladas, e
:: r600,750 toneladas.
Esta numeração, correspondente à ordem de gra-
minhagem, era feita a partir da caverna mestra. Assim,
a fÌada seguinte de buracos de pregos contínuos, a
norte da Crr/|, teria de corresponder forçosamente à
caverna mestra.
Ora, nesta zona, não existe uma mas três fiadas
ininterruptas de pregos, aparentemente correspon'
dentes a três cavernas contíguas. Esta evidência
deixa presumir que esta nau teria três cavernas mes-
tras - estando as de fora ladeadas pelos respecti-
vos braços.
Fernando Oliveira refere, relativamente ao caver-
name, que: "As que estão no plano antes que se os
graminhos comecem a levantar, se chamam cavernas
mestras. Estas em navíos pequenos de quínze rumos
para baixo não devem ser mais que uma só: e de
quinze até dezoito duas: e daí para címa três, e não
mais por grandes que sejam 1../' (Otiveira, ry9!, p.94).
Esta observação fundamentaI parece assim ates-
tar o facto de o casco em questão pertencer a um
navio com, pelo menos, 18 rumos de quitha. equi-
valentes a 27,72 metros (r rumo : 1,54 metros).
Por outro lado, de acordo com as equivalências
dimensionais clássicas, um comprimento de quitha de
r8 rumos, como acÌma pressuposto, corresponde a um
navio com 6oo tonéis ou mais". Com efeito, Fernando
Oliveira refere ainda que " Por tanto quando pedem, ou
mandam que lhe façam uma nau de seiscentos tonéis,
sabem os carpínteiros, que hão-de lançar a quílha de
dezoito rumos, dos quais resulta uma nau daquele porte,
pela conta que abaixo faremos t...1" (ibíd., p. 86).
Pela primeira vez surgia assim um- elemento per-
mitÌndo inferir as dimensões mínÌmas da presumíveL
nau Nossa Senhora dos Mártires. Ela teria assim, pelo
menos, r8 rumos de quitha. Mais não se pode dizer,
momentaneamente, dada a fase em que se encontra
a pesquisa e os limites próprios da exploração e ges-
tão da informação de terreno recothida.
Quanto aos braços ainda visíveis, do lado oeste,
resumem-se a troços muito pequenos, na maioria dos
casos roídos pelo taredo, ao ponto de já terem per-
dido muitas vezes a respectiva superfície original, o
mesmo acontecendo ao tabuado extremo desse lado.
Apresentam um comprimento médio conservado de
r,34 centímetros, com um máximo de r,55 (BZW) e
um mínimo de r,r centímetros (BlW).
Do lado leste, os braços, embora invariavelmente
quebrados, desenvolvem-se ao longo de um compri-
mento médio de 2,57 metros, com um máximo de
3;i5 G4E) e um mínimo de r,4 metros (BrrE), e têm
uma espessura/targura média de zr centímetros, com
um máximo de 2Z (B8E) e um mínimo de ro centí-
metros (B4E).
0s braços apresentam na face dianteira (norte),
na zona de ligação com a respectiva caverna, os
machos dos dois característicos malhetes, cujas for-
mas e dimensões correspondem às das "fêmeas" lá
referidas, presentes nas cavernas.
T-l
206
Uma única apostura (A4E) encontra-se conservada.
Tem r,7 metros de comprimento e uma secção com
zz centímetros de largura e 25 de altura.
As tábuas de forro do casco têm uma espessura
de rr centímetros, larguras médias de zz centíme-
tÍos, com um mínimo de tz (T9NW, a norte de Cro)
e um máximo de 35 centíumetros (Tr4SE, a sul de Cz).
Têm secção normalmente rectangular, ou ligeiramente
trapezoidal em alguns casos, como se observa na
tábua Trr, correspondendo às exigências da curva-
tura do casco. Faz figura de excepção a tábua T6NE
que, além de alargar inusitadamente na zona que
corresponderia às cavernas Ctz, Cg e Ct4 (inexis-
tentes, mas definidas peta pregadura), está-poÍ esse
motivo enxertada com uma estreita tábua suplemen-
tar. Facto que, aparentemente, corresponde ao alar-
gamento dos fundos nessa zona situada a meia-nau.
Na fase actual da pesquisa não se entendeu sig-
nifìcativo determinar os comprimentos médio, máximo
e mínimo das tábuas de forro do casco por, na sua
grande maioria, estarem ou terem escondidos os seus
topos. De referir que a tábua de resbordo do [ado
oeste (TrW) se proÌonga para sul, algumas dezenas
de centímetros para além da quilha, deixando ver
uma típica face interna oblíqua, destinada ao seu
perfeito encaixe no alefriz.
A primeira referência a fazer a propósito do tabuado
é que eÌe tem a maior espessura iamais registada
em navios de tradição ibero-attântica. Com efeito,
esta espessura é de ro centímetros no San Esteban,
8 no do Cais do Sodré, 7 no San Diego, 6-7 em
Cattewater, continuando a partir daí a diminuir nos
restantes casos, até aos escassos 3,5 centímetros
patentes em Western Ledge.
A oeste da estrutura em apreç.o, a alguns metros
de distâncÌa, encontÍa-se um outro fragmento de estru-
tura, muito mais pequeno, constituído apenas poÍ
diversas fiadas de tabuado, igualmente dispostas no
sentido norte-sul, e dois peguenos troços de caver-
nas, o todo em adiantado estado de deterioração, já
só sendo visíveis as partes inferiores das peças, lÌte-
ralmente roÍdas pelo taredo, por estarem mais fre-
quentemente expostas. Por questões de prioridade o
estudo deste núcleo do casco foi relegado para uma
próxima campanha.
A sul da estrutura, a menos de o,5 metros a leste
da quilha, encontra-se fora de contexto uma enorme
peça de madeira, aparentemente pousada de [ado.
Tem r,8z metros de comprimento, 24 centímetros de
altura e 4o de largura (in situ), e apresenta um den-
teado atípico na sua face virada a leste. Não foi iden-
tificada e, por comodidade, foi chamada "pseudo-
-sobrequilha". Tem como partÌcularidade apresentar
duas cavilhas de ferro num ptano aproximadamente
paralelo ao plano da face denteada.
Um aspecto curioso e ainda pouco documentado
nos destroços de navios de tradição ibero-atlântica
- exceptuando-se o caso das Seychetles que apre-
senta características algo diversas neste aspecto de
pormenor - é o da utilização de delgados cordões
feitos de finas folhas de chumbo enroladas, que apa-
recem sempre entre as tábuas do casco, tongitudi-
nalmente, a meia espessura. Este tipo de isolamento
parece ter sido colocado durante a montagem do
tabuado de casco do encosto das tábuas. Com efeito,
estas delgadas tiras de chumbo aparecem sempre
achatadas por esmagamento, nunca patenteando
algum indício que deixe presumir terem sido inse-
ridas à força, a partir do exterior das iuntas das
0 50cm
PLANTA de pormenor da "pseu-
do-sobrequilha".
AReuEoLoGra DE uM NAUFRÁGro.ru.. .!.J !
CoRDõEs DE FoLHA DE cHUMBo
:-'alada para calafetagem me-
: .-a (?) das juntas do tabuado
:: aasco..-:): Pedro Gonçalves
MaRca DE conoÃo os cnultgoinpressa a meia espessura no
bordo lateral de uma tábua de
forro do casco.
Foto: Augusto Salgado
tábuas já colocadas. Com efeito, se assìm fosse, e
para penetrarem tão fundo, no eixo mediano da
espessura da tábua (a aproximadamente 5-6 centí-
metros da superfície externa), não deixariam estes
cordões, feitos de um material tão dúctit, deixar de
apresentar, num dos bordos, traços da percussão
causados pelo instrumento. Como estes são inexis-
tentes, apenas se pode concluiÍ que o cordão de
chumbo era colocado antes de as tábuas serem defi-
nitivamente encostadas.
Este tipo de isolamento não deixa de evocar, no
entanto, apesar das sensíveÌs diferenças, o sistema
observado nos destroços do navio português de mea-
dos do sécuto XVI encontrado nas SeychelÌes. Aqui,
com eieito, as tiras de chumbo parecem não ter sido
colocadas tão profundamente, documentando assÌm
um pormenoÍ técnico estruturalmente diverso do ates-
tado na Nossa Senhora dos Mártíres.
Para aÌém do referido, há a registar a presença, muito
frequente nas imediações do casco, de ptacas de chumbo
que constituem, de longe, o testemunho mais expres-
sivo e abundante em toda a área circundante da jazida,
e que se repartem em dois tipos de formatos:
a) Em forma quadrangular, mais raramente repÍe-
sentado (um quadrado de 20 centímetros de lado,
208
e diversos rectângulos, o maior com 4o,5 x z3 centi
metros e o menor com 12 x r3,5 centímetros);
b) Em tiras com larguras que variam entre 2 e 8 cen-
tímetros, mas normalmente superiores a 3,5-4 centímetros,
com comprimentos diversos, que podem atingir várias
dezenas de centímetros.
Todas estas placas têm entre 1 e z milímetros de
espessura, e são sistematicamente furadas, ou ao longo
dos bordos, ou, em muitas tiras, aproximadamente ao
longo do eixo mediano. Estes furos, quadrados, cor-
respondem aos pequenos pregos utilizados na fixação
das placas e tiras ao tabuado, e apresentam-se em inter-
valos irregutares, de 4 a B centímetros.
Na parte do casco descoberta verificou-se, através
dos vestígios em negativo ou mineralizados, existirem
apenas dois tipos de pregadura:
a) Pregos de ferro de secção quadrada: com cerca
de r centímetro de lado utÌlizados unicamente para
fixar o tabuado ao cavername, sem o atravessar; com
cerca de r,6 centímetros de [ado, utilizados na fixa-
ção do tabuado do casco ao cavername e que o atra-
vessam, devendo ter uma dimensão maior perto da
cabeça; e com cerca de z,z centímetros de lado, junto
à cabeça, nomeadamente utilizados no sistema de
reforço das Iigações caverna/braç0.
b) c.viLhas de ferro de secção circular, aproxi
-radarlrente com I centínrelros de diâmetro, tiplcos
ie algumas das fÌxações v€rtic.is arÌais qLre, por
irtesta a caverna c3,5ão íêforçâdas
tro_ Lnr prego vertical extra.
Verifica se assim, como acimô se refeÍiLr, urna
:oi.lausêncla dÊ cav lharne de madeira ro casco de
São lulìâo .la 8ríá, à semelharçir do que acontece
i. navlo do aá;5 do Sodré, lLrstamente ao Ìnvéç dô
:!e se obsÊÍva no do corpo sarro e en Rir de
i\,.iro,4. Deste modo, merece ser sLrblÌnhado que €m
)orÌLrgalsó está atestado o uso de cdvilhas de madeira
restÊs dois navlas que, por sinal, são simuLtanea-
rn o r'oo .'"; a ":;.es fa.tos, e aq!ilo qu€ lhes subj.z, poderão êstar
_ê orlgem desta dlferença? Sào questÒes que no
ì aoi_oao pêqr'ô 'ao o'obFo oo
rôdÊm ter Íesposta. Refìra se ap€n.ìs quÊ eç1e nesmo
:lsìema de cavilhagerìr de madelra se encortra ern
',íolasses Rpeí Highbarn Cay, CattewaLer. lAtestern
-edse.San luan e San Esteban.
:!o.ada nas lont€s .Lássicaç. Lavanha ndica, com
:ieiio, sobre este assunto, gre "A ptegadura castLt-
nâdâ entre nós. é de feïô t...Ì os de ferra breve
ïefie 05 gasta á ferrugetn causada da hLtnida.le d.)
naL Usa se poén agaft .leles e ven da BÌscaìa,
ê$ìn pela boa tênpeâ / que se dá ao ferrc naquele
Tavíncia, nãa quebrando can ela a pregadura e rebi
-- d a ô a pòa pòte àa,o-iue se lavia, e preço acanodâdÔ pÔr que se con
.rc [...]". A a!fit refere, em coitrapaÍtlda, que "F/r
'.ànÇa, Halanda Zeianda, lnglateïâ e en tôdas as
'. a pd P do t o.e a o .L' at: ta a-Ò -ãa
P" .o q. . \oi1, Dot o. -a P
' a pa q-ê Iado " " '- lo êrê., do
üiân ferrugen, e durarn igualnente con a outra
zdd€lrd" (tavanha, ry96, p. T).ua s adÌante, Lavanha refere tambén que "Pár,
.-. -a .. po . a aa.o r. ò a. -r eJlê b 1-o, a .p o ,-
nãa seia a pegadura de pau,
senãa de ferro, e bet, ten
peradd, fatte e ben feìta,
parque enttado o busano
pelô tabuado do navìa e
faanda-a aô Longo de veia
não encontratá .avilhes de
pau, pelâs quais o atravesse.
senão fetrô durc. qúe nãa
rcen as seus dentês.
Quando esta causa da bicho
cessa se, pot aulra tambén
nas nàa poden setvir as
tarnas nas nossas naus
<en> que se navêga parâ â
índìa <pracedida da> stãn
deza.lela e grassura.las
suas nadeiGs, potque.ana
seÌâ nuita e conforne a ela
haja de set a tônpúnento
dos pregas, senda de pau, e havendo de tet a grossun
prôparcionada à lansura para seren fones, setãa tão
gtassos que degolarâo os seus bunras toda a nadeìra,
a.q." do e te t-h -.p n da <e :o de D oDo a
nâdas e tãô delgados que con.tualquet nôvinenta
quebrarãa, pela que pat ânbas as azões ditas, se dá
pregadura de feïa, façit ptevenção a arquite.La nessas
panes" (ibid., p.3ò.Das dez amostÍas de nìadeiras qLre foram denïlfÌ
cadas laboÍatorìaLmeÌrte'r, veílficou se que 8 (da qui-
Lha, a sul e a nofte, das cavernas C2E e CtE. dos bra
ços B4E e B5E, da únÌca ãpostura existente, A4E, e da
"pseudo sobrequilha") coÍrespofdern a urn mesmo Ìlpo
ooo o obo(0q ' b"lAs duas outras arìrostras ÌdentÌícadas, proverientes
de dlras tábLras do casco (da T1SË, de resbordo, e da
T11NW), verifÌcou.sÊ corrêspoìdêÍem a Lrr. oLrtro tipo
de madeira utilizada o piiheiro rÌìanso (Pnrrr pnreá1.
sto é, a madeira de sobro é LrtiLÌzada no liarne ê a de
plnheÌro manso no forro ext€rior do casco.
@r@
-PrÁ.as Ë ÌrRAs 0E cHUMeo tarâr prrr..t;D das rrri.r do ra
Estes dados confÌíÍÌram integralmente, poÍ urn
Lado, a origem indígefa do navio, uÍna vez que as
espécies identificadas são tipicámente portugu€sas,
e por oulro, as fontes clássicas da arquÌtêcturâ naval
Assìrn, Ferrardo 0liveira Íefere que "f/esrá terrá
tenas dois génercs de nadeirã nuìto aprcpriddas
paft estas duas partes das naus, Gda un para a
sua: as quais são sovara, e pìnha. a sovatÔ para o
liane, a pínho para a Labuado [...] porque o sovarc
é muiLo riìo, e não apodrece na água, nas antes
refrcsca, e enverdece: potque é ele de seu natural
seco, e canseNa-se na hunídade. E alén dista, ten
a\ rdno lot o , e o< gàlha' d[.]\oàdo, pàtd pí",e cutvas, e outras peÇas desta fáhrica, de tal feição,
que parcce, que sen naìs arteÍcìo ven nascendo
potà t*a. F pu aüdnta P.td nddPtd è t;a d ana
dãdã pan esta fábrin, e necessárìã nesta teía, e
nais não tenas autra igual a ela para este nester,
deviâ-se poupar, e nãa pemitir, que se gasten as
saverciGs [...]//Para o tabuado usanos de pìnho, pat'
que é branda, e tapado sem gretas, e não fende: e
nais o seu suna é engraxada, e rcsiste ao humor
da ásua, que a nãa penetra. E tanbén é contrária
aa bicha: a qual nem cria en si, nem nantém üiado
de fora [...]" (ativena, 1991, p. 6ò.
-d\,orLo, por 'ô. I rÍ_o. ê ò d p\lo\ dp ê d.òê
"O sovara é nuito duro, enxuto, não entra neie
nunat ô\te,tat pat .Lo dp1,iddd- nda .,ìd atui-
cha, nen apodrece na água, ântes nela can a
hunidade se.ônserva e reverdece. e alén de todas
estãs qualìdades tãa @nfornes aa que se há nister,
ten autra não nenas inpartante, que é a tortura
de seus ranos de tal maneira curvos, que parece
foftn criadas só pan esta arte. E porque desta
átvore se não pode fazet tabuada, seve para lsto
a pinho nânso, cuja nadeira é branda, e como tal
se pade dobrat e aconodât por todas as vakas do
costado da nâu, que a liane vaì fazenda t...1"
(la\ a.ha, ..996, p p. 26-2ì.
210
Não foi encontrado qLralqu€r indÍcio de lastÍo,
habitualrnenlê constÌtuído por pedÍas de dirÌrensões
e caracteÍÍsticas serneLhantes, nas lmediaçõ€s ou sobÍe
o casco da presumível Nossa Senhora das Mánires,
o que certarìrentê têrn a veÍ corìr a foftíssinìa dÌnâ-
mica subaquátÌca da zona de São luLÌão da BaÍa.
No Sã/? Dtego foi constatada a exisiência de 15o a
18o tonetadas de pedÍas de Lastío. Só que o 5á,Diego está a 50 meÌros de profundldade.
PoÍ analogia corn urna grande quanildade de ane
'a.lo. de.Lobe o\ d gra de a êa pe e cd à
FoÍtaleza d€ São luÌião da 8arra, é extremameni€
difícÌl do ponto de vÌsta aÍqueológlco, rnesnìo Tecor
rendo ao rnétodo tipoÌógìco-comparaÌivo, identificar,
por entre as dezenas de bocas de fogo subrÍeísas,
espalhadas no ertorno da loítaleza. as que teÍão
peÍtefcido à nar Nassa Senhara das A4ãrÍtres. Tanto
rnais que são exclusivarnente de peças de feÍro. Corìl
efeÌto, à excepção de urn únlco exemplaÍ recupe
rado nas imediaçõês do casco em questão, as peças
de bror '€ .e io ( do e rpe,Jda .
corìro av€nta na sua caara de 19 de Setembro de
16o6, D. Luis BÌavo de Acuaa, ou erìr quaLqLrer
rnomento dos últirnos quatro sécuÌos. E aÌgumas
Ìê.lo-ão sido, certarnentê, nas úÌliÌÌras quatío décadas,
ern que a zofa se toÌnou urÍ local muÌto frequ€n
tado por mersulhador€s.
Esta refÌexão ÍefeÍe.se, no entanto, à faÌxa
rnaÍginal à foÍtaleza, Com efeito, rììais ao LaÌgo, nas
imediações do casco em estudo, tudo indica que o
local êstivesse vÌÍgem de intÍusoes. QueÍ subse-
quentes ao naufrágÌo, queÍ conternporâneas. Só
assÌÍìr se expÌica que tivesse subsisiido quatro sé-
culoç no fundo do mar a pequena colubrina de
bronze já releÍida. Esta, e o carhão de ferro nas
proxirnidades do quaL foi achado o tercelro astro
lábio, são pois as únicas presumíveis evidências da
sido p€Ídidaç na mêsma ocaçÌão ern quê esla ror..
Conclusões0s prim€iÍos Íesultados das escavações arqueológi.
cas efêctuadas en 1996.1997 nas imediaçòes da
FortaLeza de São Julião da Baíra, na zoÌra dos des
troços de um navÌo aíundado. levararn rapldarìrentê
à confÌÍnração d€ que se 1íatava dos Íestos d€ uma
r" o" r li. pe drd" no " r'" ,o fr". a" o rd.\'d-
gerìr, o que era documentado pela quantidade de
pimenÌa alnda pres€nie entre os desÍoços.
Na sequência do coneço da escavação do sítlo
.êr Í o- \p prop " .dl e (o - ìd oê ròi a ' oõrê d
F | - o. oddo, aê " rê o ".rl dr lF< d,j ob,erv"\;o
dÌrêcta dos desÍoços in sìtu e da espóljo recupe
rado e a Ìnformação h;stórica e de aÍquivo, rnuito
diversìlcada e conrpleta. exlstente sobre os naufíá.
gio. rl" "r " . d ' ndi" po- p
culos XVI e xv
AssiÌì, os dados dê arquivo permitiram excluiÍ os
casos de râLrírágios de navios; saída de Lisboa
que, naturaìmentê, não Ìransponavam pirìrenta nem
er"mild e"'enooi"Ì" d in oroo.oo:dos à chegada, mas na Cabeça Seca (Bugio). dej
xando apenas apuÍáveis os casos da fau Sariá,4.44la
da Paraíso. ftuf'agaàa em 1525, da Nassa Senhara
aa Vdt ie-. pera aa ê 'boo. ê a" \"o rtd, ; to
Xávier, afundada em 1626.
Por sla vez, a prim€iÍa e a úLtirna daqu€las naus
seriam im€diatamente excluÍdas pelo íacto de sererÌr
dadas corno naufragadas 'nos aáchopor", poÍtanto
alguÍes rnaÌs ao laÍgo, em local impossíveI de coÍ-
responder ao sítio do casco descobêÍo Írestno junto
a São luLião da Barra. De referir. aLÌás, que um nau.
frágio aqui não poderia deixar d€ ser releÌencÌado
'ê ao " o i.dner le o oo "o dd B" d, " n;o do
cachopo Norte ou, multo menos, lndifer€nciadamente,
A abundância de cerãnìicas extremo orientaÌs, típi-
cas do r€irado Wanli na chlna, na virag€m dos sé
cuLosxv-xvll (157j162o), na imediata peÍiferia dos
etÍ-_. d cio r", o rdr 'dq.do, o"r__
tiu também reforçar a obrisatoriedade da excÌLrsão
do primeiÍo daqueles .asos, por sêr ônterlor c-ôrca
dp ìpio cp, ulo da tlaÌuit dô. , e';T ,. . ndi p "samente datáveis daquele conjunto.
Restava o assinalarnento da peÍda da nau Norrá
Senhorc das Máftires, rcÍetida em todas as foftes,
senì excepção, como tendo ocorrido contra a p€ne
dia de São julião da BaÍa. Fontes que, Ìgualmente,
p€Írn;tiÍarn irterpretar e cornpreendeÍ. com o auxílio
dos dados de teÍreno, os rnodeLos de forrnação da
Ìazida, assiír corno a dispersão dos lesterìrunhos da
catástroíe.
PÍogresslvarnente. numa área de jazida muÌto cÌr-
cunscÍita e muito bem defÌnida a oeste pÊlos desiÍoços
do caçco, ernergiÍarÌr múLtiplas evidências drqueológi-
cas que vÌrian íefoÌçaÍ a pr€sunção de que se estava
ef€cuvamerte peÍante os vestísios da nau /Vossã Serhora
dos A4ártircs,lragÌcamente ÌraufÍagada a 14 ou 15 de
Setembro de 1606, no regresso de Cochim, muito embora
," t.e,,Ê /e if(ado q-e ne r 11ô ord õ dp. a. o .
dlr,d\dopo dr p'd o d"ort o.4poid\. po.ò ó,
tes de outros naufráglos.
AssÌrÌr, perafte uma grande varieddde d€ artefac
tos de épocas sobÍetudo mais iaÍdlas. e de outÍos.
rnenos bem datáveÌs, mas aparentemente coevos do
naulrásio e/ou presumlvelrnert€ a eLe associados,
desiacaram se, pela sua coerêncla luncional e iópica,
um conlunto represertado por lma âncoía dê ferro,
situada na imediata proximidade do casco, que se
en.onÍava praticarnente €ncostada a urna pequena
,olubr . d" bor,,". ,pi'. do pe'odo do dol o
i p I o "n oor ug" I 58o o.oì ê qu" "ld p op i".
pralicarnênte selava um buÍaco na rocha de onde
enìersÌa um pote intacto, de fabrlco oriental típÌco.
Do mesrno r.odo, pouco nrais de uma dezena de
nìeÍos para norte dest€ conjunto, um pequeno canhão
d€ ferÌo balizava uma zona ondê vÌriam a ser des-
cobeítos nurneíosos vestígios co€rêntes, nomêada-
re "pdo dêpo "ldadFìp .do<. d\e.0, 1-trurnentos náuiìcos, etc-
!i'
DÊ salienÌar. d€ a.ordo .onr o esÌLrdo de Nrro
Valde, dos Saftos inseÍldo ia preseite obra, quÊ as
duas bocas dÉ fogo serão datadâs do último qu.r
tel do sécu o XVL. A de ferro apresefia, aLiás, ..rac
terÊtÌ.as ÌÌpológicas absolLrtamÊnte idêntÌ.as às do
erempLiìí n.c o/ dos dêstroços da Ponta dô Altat B,
daÌados do inÍ. o do sécLrlo xvr, cons der.do um dos
mais aftlgos do conjufto eitão rec!pÊrado {Alves,
1997, p. 41t' .
r\4as, de todos eíes lndÌ.adores de presunção des
i.c.3e, sÊnì margem para dú!Ìdas, o últino dos lrêç
astrolábios descobertos cul. d.ta de 16(15, gr.vada,
constiÌu Lrm argLrnento dê lncônÌoÌnável slgnÌficado
para i ldeitlflc-ção do navio torn.ndo se LegÍtlmo
presumir que teÌrha sido labrcado no peÍiodo imedla.
tanente anter or à paÍtÌda da nau Nossa Senhôn das
,'l4iriÌ-.5 pâra a ÍÌrdia, io flfdL de lvlarço de 1605.
FifaÌmente. a descoberta em escavação de um
lsubâ le Wakisâ.hi ÌaFoiês, ve o cofieLacÌondr se,
h poiéti.a m.s cur osanìefte, com o lado de entre
os passaseÌros.oníarem o padíe Franclsco RodriSues.
. r o op o ô .rì de - p
ParaLeL.mente, o estudo arqueolós.o e arquiÌec.
o o o .d-.
rado número de descobertas de pormenor, de gÍande
lmpoúância, qLre ÍÊprêsêntarn urn cÕntribLì10 êçsen
cial para o conhe.lmeito do.avlo ern questão e para
. arqueoLrrgl. fáutica ern s€Íal. Estas descoberÌas
convergem igLralmente para a presLrnção da ldÊntifl
caqão ern ca!s., testernurhaido em todos os por
menores estar se perante urna nau típÌca dos filals
do sé.ulô xv.iiícios do xvr , irtegr.Lmente de acordo
com o5 padrões cofsignados nas obras clássicas de
referênc a da arquiÌectura naval porÌuguesa dessa
épo.a, a começar peL.s próprl.s m.deiÌas utlLizadas:
o sobro pãra o Ìlame (qu lha, .avernas, braços, etc.l
e pÌnhÊlro manso p-ra o t.buado d€ lorro do casco.
Do," o odo."p d"ob" odo
ros de estaÌelro aÌnda gravadas nas.avÉrnas sub
slstentes, de que Í.ros exemplos serneLhirntes subs s
tenì à escala Ìnierìra. oi.L, ircaboLr por ser ldentifi.
.adc, por entre os restos do cas.o, !ì corlLrfto
sequen.lal de três .a!Êrnas Ìestrirs. Em la.e dos
padÍòes arqLLltel:ÌLraiç da épo.a, esta descoberta
vê o cornprovirr tr.tdr se de umn naLr .on 18 í! ìo9
de qullha, ou ma s, eqLri!âl.nte, peLrr mefos a
27.72'rlettÕs a q!Ê corresponde jLrstanìente à
Po'l'";.o."o è o 3 dóJrê oè po
tant.ê tonelagêm que â iiì! t€rla, pelo nìenos 40 metros
de esLoÌia e 1l de mârga, e 6oo LonéÌs de arquea
çào. Évidência esta q!ê se en.ontra também expressa
nas gÍdndes dlnìensôes de aig!ns dos seus porrne
norÊs arq!ltectL.r'ais de base,.omo sÊjam as Êspes
s!ras do cavernême e do Labuado do..sco.Apesar de dimensÌonalmeniê modestos e aparente
ment€ lnexprÊssÌvos, oç destioços atribuidos à /Voss,
Senhôft das ttláttìres.arsilÌLreÍ, nô rnoflÊnto Ênr q!e
se faz eíe balanÇ0, uma desl'oberi. noiávela todos os
tÍtuLo5, representaido o tÊsienr!nha do irilor nirvio de
tradiçào ibero atlântl.a jamãis coilre. do e arqLreologi
.amente do.umÊntãdo à es.â : inrÊ ri.lôn.
BibliograFia Geral
;i Ji Íi-Dr..t k p!ri Rúi. s!fl!.
I !iirii. -t!lierfii..ì. i.bo:.
iqa m.ìril Ìrâ êm
AL!!!. ri,.Í0. -t lr ã0.]i BiÍd PÍrrldrqr:r.r ìp ó i iit r,.riLl!: r'r1!ilr! rì io94' l
r-'uLt I r atÁrt;:.adiú : f_ grè :s, ar:á,r o Lr., 'aiÍ.iú
ÁLrÉs,,,ii.s.i n5 .esao.o! .,99ó". I pti.dú
aanp'Írrt. de D'ì' l.fittè.4!.iLreriijrìJ i.r'Jrq!:ii,.J', 1rtó .j. ,og1r5ú rr: , lÌrar. !toi. 199i:
Ási Í. .o! a ro,;5 .!i té.! i xjr 8io, L+m ]ee.3e', rp r5' r:! rÌrrlrl
212
RÒDi llrs P-ìuLú, I rrÍimi.r dor d.i,ú!G dd
nâlio io tatu r rV P r dÉ Àlei
ÀrresêiÈ(âo P quid 0! I Po óí
PiuLo, r R Í EÍ., "o Èriô do sé.! o
Í,r .. aoÍpo 5ir1ú iLsLoal", r /r'lrrêDiD3ia.k r!.niDr trtrNg!.setdr arr- tú ràÍrbrÌÈÍDJ ,, Litboa (r0 r.rcLo, teeiril
5rr1ú, í 14rlì rerlr'! 5r rrP.( ,
inrpiLiior;i r. rai oi r.Ì,rtr:r irnrÌdrosr rnr prc ô, 'e93bl
Ep4â d.r reíorrin-"rt5,1, L!Lú 1m rr o. q)s.l
ê 15Ìh.ertrry 5h [frP.r r_iÌPorttr3J pÍ.1 i ialll Ì:pon. i] rr. irÍe,iario!;rroji.t.rr.lrrri.r/rr.hrro/Jjr (ìo r.r!Lo ,esndl
arÀÊÀ1, r.r.Lrl ur F.t:io dP. rr;i
.à|1.?nìdì]nòiP]i'fufrlJNli5i.,ja.l.lrio5J..
Prrn, /rl..id, rfe Sfa,ch Jh'pÍErl5BjFÀÌ\ . di a. r'n.,F, frn,Jds op 4.qíeor,9i r,r':l : roLs, L lbrl
B ^(E,
ÌirêÍei, . 6Prrr,leÍÊm!,
,],d'eororjr 151 Ì91ó Pr r rlB.Ì,I Y!6,. JLoÌ. ii Lr(a ]- Dê . gL..iti, d. tlrm ir de
Í.Íi rlnps{e L: ìi fp i!.iLe Èenp,l5 [or !T.riei.rìÊ
P,flcrá.. v, u,., pp. 4:i 4!4 lleeTrlB oÌ I r!es, e B0r
prjê 11, è.ômph iL.1!1u!n Nrrionr deaÍqrroos:1MN!)drLlroii: d:E Ê.rdre dtr PÍorÍirrlr t! . ìmeÍsê i t ,lÍìr.alr!. porrrlrir, ! 3rd, :Ébôi19e-r
'eer, pp. 4ú4s5 lreeTrl
Bôr rô rrÌrÍro LâtÊri,cgêiI Lh. Po DêLli úi,rt iÌli rre lntejirrfir lolri.ir dt 11
DE5Ro.HE5. lêa' P:!.,i.jd !, rrasir srrr ,r []er
do rÍparid d' Prm.rrJ, LÈlìôà r93rFspÀp E p., [ìr ]rtrls. rrir sórr/dío ,!râr l: rd s, LÉbôi Ú71 193i
tuìrÁNDL/ rltrrdtL rirtu Je ir.ír. ,Ê arri,ir.ari. (1
L.ìdi !o niir5íi:o aj!dã. ms n'5:xv:'
dd BibLiot.o di Àjudi, ÍÉ ì.! 5f
n,r5aÁ, en,.re QrÍ n! di, or PonrJrrtr: iô ,Ìlri 2. rd tíúm Ê di 1, ne:61, Lrbúr !39
d. tuÌtâitìr.i ,è ldnri ÈÌì P.l!!il,
e. /1,.he.rosi. -n,l]...r!.a Mia,o. 1931
nr',r io alúbe üiliir x;f,/, Do
I ire Ì.rpfr $o L. lhr Ri aì! rÍ.rG .
Í 5rÈr r. JnirfÌprrs .r rire /rmri.ã5, e.l..lê [rôr!r F Bdí,
. EÍ.. É GÁ!s!!D, le:i rìi È te (a! È Géi.5.ê ÌriLLêtifulr ur rdrtrcr d! I
Êu LHrpÍr, ?: I e5!a, re, rer.rr!!. aê ia aúÍrp,!rìi. .i. rGr!
I À,1À :!,s ì oEPÌrrG.r I e S iaioN;. 1..
êt e Ìna.hé iÍêmârioiâ dL ru!ê i 4rr:,r.r irJrrJÍr.rjrri-áips.rirn.Ìi.15 (,,! i,,áel.
L{!,NHc,lô;. Bi[i+: i16o3 r.í]. rrro !rirxir..re ìr.irirêfui r.ilii_gâ5 d. m.rr5Íto di
i I +.Íii dÊ !1:d,d. aiLeri;0 i:L:Ì,.4ó.1È 6j.
e L',p6. I Ìrc,F ,i.rdi.riJ.r i!?!.r!ei.rêrÌl:i lJt'g.ie,J.n|i
*{r. PLr or:1.,
húnrìi 't tr!ti.it Atrt.earaEr. 7
N ío, lr!irÍ .j rr, 5r&rr;.,.15 n,orpoiôj,qre5 SrN;.ràri.ler r a;la
rrFRÌ. r.. r l. "Ìr[ [101tr!!.! tl
i rr. rìierriiD!âl r.rniìi dl /,1
tàdur;o !m insês Lsboi,1q91bôre:s n aif,rirrnr. .. !iJrrô..J
L;nà l! lr ttllìtt,rrÌì?rir tdrn,sr.rrs rrró rij;, R i
3L 'à0. '..f
iìerr.ç f.rÉÌniDJ !i.ì úir,ì
a! NÌrrÀ srrrio d; /rrrrhs f.ri!j!.s;, t rn5
v.ÍêLot úr Èr! rrìtÈ!iLir rtÍtR Ítr tr., 1.5.ìDDin..omréÌiêfhírs ir Li dúnnr rrin rrchÉi
isiqúe. e:pÉÍimprtiLe et érrte à a rôÌì a Íai.r il! rr!Ír d. Rcd
Br! (r'0ndo) QLr.Fs éfÌerotr métrorDoqi.rrs iíxÍroig
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dè Navios PaÍulue.e' dà Êpo.a das Det.abtìnertas, L1\6ad, ..9gttà
do sôdÌé,,lrtê Irth/.ary 16ih.! uÍy shipwÍ!.k tdtrid ií LÉbôí,
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{lÌâlng port aid iG s!nken fleel .tì aÍianatGeastarht. Masàziie,
6drc do tPja , in subsídiar paâ ì,isÍótir tJ. t ,eì. ,tr indid na tenpa ,iú Firiw, Lts6aì, '.9r:a,
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Àdornãr m ,ar a !ì dos bordo5 (L & L).
À êfr ze5 tntalh6 ia q! lha. na roda de prôa r ro .adanc, d u c
oúÍo boÍdo, felo5 DaÍa ieks eìbeb a linêÍâ tadã d. hbrado r os tôpos dÊe5 (L & Ll
Àíêpianènto o re.ô1, meÌo da5 bàL7as, e, po anro. do.ôíâdo, iê ê pa,à â ,é.
^ dtrvârurâ pâm
ueÍ na egão do'tovâdo !ârâ
Bdcà a maroÌ a€mâ {o mvo ôu êmbâíãíão (L & Ll.
Bdmhàrdà Perâ de arulrìâiâ dÊ modêlú pim ivo, d! rem ro.jtrdo, de
ÍeÍo.aÍsa o! de .atregar pe a bo.â.
Bomhordo o bordo qúÊ r.â à rsquÍdr qrndo se esiá volrado paú
Braço Â5 pâ cs das bilúrs q!iura5. As pifus í..uÍvrda! da ân.DÍa Lgada5 à hasie ( & O.
Drâú rí íum.le Dez sebÒ, Í.s nr. ouror ingÍedie ês enD,êgada pa
n!: ,avio5 e eìbarcações, b
pÍoresêÍ dr i.lão d3s ág!a5 do mar ê .la dìLVâ. P a os i isos
m:dpir. peta a.!ão do .i ôrj . ú
bÉ! .ra ôlìtido .ozendo o em ! nagÍ,". e as5 m n.ava .oaLhadô.
ÌâÌrbén lhr lunhv,m eiie (L & tlBuçardas Fodes turai de màdeE.lue, paÉ íetô(ar ã.*Í!rÊ do
Dâvo à pÍoã e; popa, Lgaì, em uma e oúÍâ dÊnàs Ícsõrs,;s
' ".. do o
vi do sé.!Lo xVl, .hânàvtrm "btrçJÍdat' ài bi ta5 de Í0a, â par
t Í di èLmogaìa de vairê (L & L).
Càbotagêm Dz s do5 iavÌÒs ôu Èmlìàra!óes que ió deit o de de
tem,in:das Tonas podêm navÊr . Dizie rrmbén da naÍegaçã0 feÌ
ta nr5 ìe5ì6 .ond côêr (L & Ll.
Cãdàsiê rúàde,o ou Deçâ n.1á ira, pona ro àrio, risàda à q! lhâ ê
qúe re.ha, peLo lado.la pô!â, o 6qudcio do nrvio (r & Ll
Cãrenã Â pã e nê,sürhadâ do .aÍo (t rì Ll.
Carlinqa r_Dde perã de ì re ú. .ri5DoÍâ {ê BB
qurlhà,.Dm um en.ai:e de 5e(ão Ìe.rarguãr â ÌàirJ dr.rÍúgJ,ou "pia d.rtinadr r Íe.ebe, i m{ha {o mâí.0 reiL (L & Ll.
CõEdo Era, ro Èmc, r p h onde i rãve,ra roÌneçâvi a ruÍvr p J
Caverna a pãrr inferiDÍ e .enÍàL de !mã balÈa fia{â à qtr Lha, . à
tulos alr.m6 v;o isaÍ os p, me Ìos bra(o5 qle .onunúim i bâ-
li]ap â.mâ(L&Lt.rr\ê, ìd r"-r, c
tin5veFa .lo navo â .etu d. mco .ompÍimenro, e .ore!!ondente ã bàL,a mestraì dô trâvlô Nàs artigrs nã!s, o número de
e 4 poir tr bo.à máx ìa podâ
mrnreÍse denrÍo d6re5 lÌmires (L & Ll
Cavêrnàmà o.ofiunto das btrLúâ! de um ,èvio qre rormaÌr ô s.uesqrLeú o! o$a{â ( a L)
Coucê dê popà . e:t,emo da qú Lha qu! Ligi ão .adasiê // .oure {a
CobeÌ1a auarqmÌ dos p,vime ôs qup, ,o senrido horirdirãLL roírmde Dopa i proâ, arimì do biiLÉr, qurndo rìalà, âré ao .onvês.l/0 esDãço .obêrto por um dos rcfrido! pàvin,eni05 No tempo dâ5
G lossário
214
nrtrr, às robêrtât eEm i!neÍada5 de bairo pra .ima, e mr s irÍde Da$a,.m tr + o de Lina pârâ biiio. o iúnÍo de .obêrtât Io
s.mpre múÌto va iãve ahes,rim i .DnnÍuÍ ntrú de oitD rdbÊr
ias, êmboÍr ro ra â opÌi ào do5
lir fals .om ma5 de tÍê5 .obe,
e dr q!âÍo, segundo oúro5 {L & L).
Colubnna tuniLa de boGs de tpÍimr Ò dê âlmâ (vüLs Ìe,oÍ do .ino"l eiÍe 2r e ro .aLibrês
Contracadaete vga de 'ero(o
da isà!;o do .adanr i qu Lha e q0e
rìe5 é rpL.rdâ pcLú lâdo de dentrc (L a Ll
Contraqurlhd crosso pÍan.rìao que sê .oLorâ, pÍa rêToÌ!o, Dea ra.ê
infr dÍ da q0iLha q!aido esta ê ÍoÍmãdr de ülócs.urtor. r_.a en
Íe r quiLha e o sohressàno inreÍoÍ {L & L).
C"'ãl í,." .b6ú qde ios iâvio5 de madeE. rcro(à, peLo Lido dc
dentô, a Lstrtão da rodâ de pÌoi à q( Lha, e qle Fm r designa
rão pan.!LiÌ de'.oràL dã rodâ"j ou âqúeLa que reforça a LgiFodo.i{âíe à qliLhã, ê qre Iem o nome de'toÍrLdô dd6k". //
QraLquú dor do s ma.{os r," tos
um à pÍoa, otrúd à popa. soÌe a qriLha â li de reroçÍ ã igã
ção dêdr; Íodã dr proâ ê ao.ad6rÊ (L & l)
luldtru %de p*e,- d" "r" bo.à dÊ rDso, à pânê maÈ í-".uada
dã qúi se dava a erplôsão.
Drãmãnte ExÍrnidade dê !ma ân.oG. deri da
.oitÍo das fa.s eiemrs dos bra!os. o bi.o" (v!lg.i.
EmbmnaL abêrrua e/ou o es.o,menro d. ásdar
tsràrva RemendD Ítiô pôr entaLhe5 ie formas dÌve6as e desilnadô
ao fod:ê.imento da Listrçãd.ê {râs peças.on !Èta a um a!
Escoa Es.oas do tundo gÍorsãs táburs
çntidD dd.ompiÌneit0 do navlo. ao5 ado5 da 50b,eqriLhi, n,; rÍr dis ligâçõês dos bú{05 às .avemâ5. 0 trúmero de radã5 de
eÍoas resuLã enÍe dois c qu ío (L & Ll.
Esloria .dnp mênto do iavo q
g,àndê. e Íe à rLm.da e a roda de proâ lL & L).
Espalhamemo dà màdêira Na trrtigr .onnÍrção nrvaL, eÍtr ã d mÌ
dtr ekvâçaô do fundo, a pai.Ì d:
ErqüêlâiÒ /r 0ssada lde navrol o .0il!nto dâ qu Llra, roda de proã,
.âdaÍe. baLz;s, vrrs, et., .ôivei Ê tmrn1. Lsadôs, ê .rue sêr
vdn de suporte à5.hipàs o! tàbrados do rrndo, do .onãdo, dos
pavimentDs . ôtrtrar pârtes do iarjo (L 3 tlEstibordo o Lado dÍeiio dô ntrvo qurndo !e ená roLlado parâ a proa
Fàmêã5 dê lème r_êÍâgÊns em rormi de rl .om !m
ó d .. q i"lo !'o(m{hon de nra!ãô úD leme
Gram nhaqeo (da qraminho) Rêsrtr dr madeÍi sÍaduãdà dÊ .etamãr.Ía e que era u5ada
lo do fuido, a .oitâr '1as
.aver
na5 mest,a5, bem.omo o rorôlh Íìcitô qre r bo.ã d.vr rtendo,
; n.dlda qle as balzas Èm ÍeÍendo em allc (L & Ll
L àmê E,ã a dessíatão gênér.a das pe!âs quê .onÍt!em u erq!e
Leto do nav o quiLha, sôbrequllha, bâLtas, rôda radaste, vau5.
llànqà Boo. a mâiÒÍ Lâcúú do navo o! embaração // o Íavês do
lileia.nau a meditrnitr do naviô o! pí,eiiã raxi para um e outro Lado
del:,r/ A s!n5.on!iderâm ìe a f a! a DaÍe .orc5pondentc à qtro
,05 iav 05 de veLa l.a entrê o maírô do Íàqu.te . o mJnÍô
Palmo de qoa Àlêdida trrirtadã.m.Díni!ção ravàL.oÍerpondenre à
trm te(o dÈ gúâ . a úm r.iio
Pé do mãstrc a paÍe inleÍtr i qr 6iá Lgtrdã a m{È (t & Ll
P.ã5 Cavemas 5em t,à0" de .avemâ, eì roÍmâ dê Y. sendo tiD.asdas extÌemi'lades.le úm iavo (deLgâdot
Pncào o n6ro que pn\Dt /,INâs.anrs dô Leme .omponrs d.
indrva tr mão do timonri.oi r 'Ìsrda à mrdre (L & L)
PÒráo aDLqúeÍ dos espaços re
e desitnam i aÍlmàção do Là5
t,o, da .arga, et.. L & U
Prca a pà c à úd dD tuvo. // o Ìumo r qF o mvio Fsm (L& Ll
Quêrênãr Bmei( õ obc5 vva5 do iàvio ta Dartê 50bmeEa.lo {a5
.ol. ohrgi,doo a n.Lnârse {e mâneiÍa quê Êlis fiqúêm a des
Qú lhà É. ias .omrruções {e nâdê,a, únâ Íoíe v ga DU !áÍior rD.
tos .lenom iados tâLões dâ {ru ha ê5.àRàdDs pcLtrs uÍem da.le5 utr5 nos oúÍos. dÈposta nô retrÌdo dô rômp.imrnrD do
ìavo e que Lhê Ío.hã â orsãdâ líaêrôrme . {L & 0.Rabo de andorinha /d nãb0 dÈ minhdtú. /r mãlh.iÈ tutÍemo de lma
pe{a de made raq!ando !e .orta .lê ÌìaneÌF que o sêtr.o 0íro 1ôÌrê
i româ de raho.le ai.loÍnha. a Ín de 5êr Lgâdã a outr rm q!. s.ra7 um eitâlhe de Íorma sênêLhaile para 5etoÍ de ?n.aire iqtreLe. É
es0e. aLmente empregado em pÊçar qúe knhim de rok{esro(or de
rrâúo,.omo a.ônrÊ.Ê iosva6 (La Dk Ès isaçoes owma/bEçoÌDovelà'r (ngLôsl, q!.!. d"rond? (íÍin.èt.
Ré o rido di popã // N: inguagem dos "maÍinheko. dos oaros râ
beLos e dôs rabõe5 e po$lÍeLmeite.lê o!lr0s bi(or do NÒ c do
Dai5. é a DoDa da êmbâração (L & U
Roda abrevâttrrâ do "rÒda dr pÍ
venÌentme .listrdãs, qu. re sesurm t qrilhr e re.hrm r ossi{â do íavlo peLa par. dc và . (L â Ll
Rumo J{!dida LnerÍ us,dtr nà trn
" (L 3 L). E,ruFreÌe i 1.5a ne
Sobreqúilhd r_orte prân.hão de na{eÍâ ou rérlê dÊ pÍamhõcs.ôLo
{ados por.Ìma dâs rãvenâs, . .ãvilhidor à qtr htr pãÈ trs tavôrÊíre sl, c túrt l.àr ã strà Lgaç;o t qúiLhr. Em navios metáL.or, é
vão Lieãr rã oneÍrs Íebitadú prã rs brLãs (L & Ll
Súrqir Àportà,, :n.orãr // apa,e.e, .rìesar (L & L).
-àb,â-d"'"-hD,do ooq,o. Àdó
Ìaredo ( . r ado nr€rr5) Moú@ riLóràso.omum em to.to5 05
ô.êãno5 (,oias tenpúad6 e tótrdâ).
Ìdíêlàqem A.apedâdê de um iavÌô erprêri.m trma m.dida tD.
mada pam útr da.e, qúe, aitigânêík, Êri o "ioneL Um toneL tiiha InÌ rumo de .ompiÌientô .fl.a de 15 meúds ê do Lar
glra {uâlro pa nos dê soa, ou 5ela, âpÍor m âneik ún meÍo
t&u.Waksachi srb.e urto Èponê,
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