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________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 08 – Número 02 – 2012
MASTOFAUNA NATIVA CONDUZIDA AO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS
SILVESTRES DA PARAÍBA
1Michele Flávia Sousa Marques, ¹Luana Paula da Silva Ribeiro, ²Tainá Sherlakyann Alves Pessoa,
²Eudécio Carvalho Neco, ³Diego Batista de Oliveira Abreu, 4Paulo Guilherme Carniel Wagner.
RESUMO: O Brasil é um país de atributos superlativos, quando se trata de patrimônio biológico e,
junto a países como Madagascar e Indonésia, é notadamente reconhecido por sua biodiversidade.
Os mamíferos apresentam 652 espécies continentais conhecidas pela ciência. A exploração dos
habitats naturais pelos seres humanos tem aumentado em todo o mundo, resultando na diminuição
da área de vida dos animais. Este trabalho tem como objetivo analisar a entrada de mamíferos
silvestres no Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), a partir dos registros lançados em
seu banco de dados, nos anos de 2009 e 2010. Durante este período, os mamíferos corresponderam
a 6,84% (638 espécimes) dos animais depositados, de um total de 9.316 espécimes, 81,24% (7.569
espécimes) corresponde a aves, 10,93% (1.019 espécimes) aos répteis e 0,96% (90 espécimes)
foram classificados como “outros”, categoria em que foram inclusas as espécies exóticas,
domésticas, aracnídeos, anfíbios e as espécies não identificadas. A ordem Primates obteve destaque
entre os mamíferos, com 45,76% (292 espécimes). Foi observado que a maior parte dos espécimes
chegou ao CETAS através de entregas voluntárias (46,24%) e resgates (39,03%), sendo que 13.8%
vieram de apreensões, 0,78% não tiveram identificadas a forma de entrada e 0,15% (1 espécime)
nasceu no próprio CETAS. Ante o exposto, observa-se que apesar dos mamíferos representarem um
reduzido percentual dos animais registrados no CETAS durante o período abordado, é importante
que as medidas de fiscalização sejam intensificadas, além disso, outra estratégia claramente eficaz é
a sensibilização da população para as consequências da captura e obtenção ilegal desses animais,
bem como para cultivar o respeito e a admiração livre de possessividade.
Unitermos: Habitats, Mamíferos silvestres, CETAS.
NATIVE MAMMALS CONDUCTED TO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS
SILVESTRES OF PARAÍBA
ABSTRACT: Brazil is a country of superlative attributes, especially when it comes to biological
heritage and, along with countries such as Madagascar and Indonesia, is recognized as a mega-
diverse country. Mammals have 652 continental species known to science. The exploitation of
natural habitats by humans has greatly increased worldwide, resulting in decreased home range for
the animals. This work aims to analyze the entry of wild mammals in Centro de Triagem de
Animais Silvestres (CETAS), from the records released in their database, in the years 2009 and
2010. During this period, corresponds to mammals 6.84% (638 specimens) of the animals
deposited, a total of 9316 specimens, 81.24% (7569 specimens) corresponds to birds, 10.93% (1019
specimens) to reptiles and 0.96% (90 specimens) were classified as "other", category that included
1Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal da Paraíba, Areia, Paraíba, Brasil,
[email protected], [email protected]; 2Graduação em Ciências Biológicas, Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil, [email protected] , [email protected] ; 3Mestrado em
Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba, Rio Tinto, Paraíba, Brasil, bob-
[email protected]; 4Médico Veterinário, Superintendência do IBAMA, Núcleo de Fauna, Porto Alegre, Rio Grande
do Sul, Brasil; E-mail: [email protected]
Recebido em 03/08/2012
Aceite para publicação em 18/10/2012
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exotic species, domestic, arachnids, amphibians, and other species not identified. The order
Primates stood out among mammals, with 45.76% (292 specimens). It was observed that most
specimens CETAS arrived at through voluntary deliveries (46.24%) and redemptions (39.03%),
while 13.8% came from seizures, 0.78% not had identified a form of input and 0.15% (1 specimen)
was born in the CETAS. Therefore, we observed that despite the mammals represented a small
number of animals record in CETAS during the period covered, it is important that control
measures be intensified, moreover, another strategy clearly effective is the awareness about the
consequences of the capture and illegally obtaining these animals, as well as to cultivate the respect
and admiration free of possessiveness.
Uniterms: Habitats, Wild mammals, CETAS.
INTRODUÇÃO
Em tempos hodiernos, o Brasil se encontra entre os países com maior riqueza faunística do
mundo, por isso é considerado um dos países megabiodiversos (Lewinsohn & Prado, 2002). Com
652 espécies de mamíferos nativos catalogados (Reis et al., 2006).
Segundo Hernandez & Carvalho (2006), grande parte da diversidade biológica do Brasil está
ameaçada por várias atividades humanas, como a caça e a pesca excessiva, o comércio ilegal de
animais, a agropecuária, o extrativismo e a urbanização, assim como a introdução de espécies
exóticas e a poluição.
Atualmente uma das maiores ameaças às espécies da fauna silvestre brasileira é o tráfico
ilegal de animais, que movimenta bilhões de dólares em todo o mundo (Zago, 2008). O tráfico de
animais silvestres aparentemente constitui o terceiro maior comércio ilícito do mundo, perde apenas
para o tráfico de narcóticos e armas. Estima-se que essa prática deva girar em torno de US$ 10 a 20
bilhões/ano e a participação do Brasil seria de aproximadamente 5% a 15% deste total (Ribeiro &
Silva, 2007).
Várias pessoas que procuram manter animais silvestres em cativeiro domiciliar, de forma
consciente ou não, acabam por estimular a captura e o comércio ilegal. Como consequência, os
órgãos ambientais responsáveis, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) e Polícia Ambiental, estabelecem multas e apreendem estes animais
conduzindo-os aos CETAS, para serem recuperados e destinados corretamente. Por outro lado,
muitas outras entregam voluntariamente os animais, principalmente devido à agressividade que
muitos indivíduos expressam ao atingirem a maturidade sexual. Em ambos os casos, por se tratar de
uma atividade ilegal, os dados reais sobre este comércio são difíceis de ser mensurados (WWF,
1995), entretanto estimativas sobre a entrada de animais silvestres nos CETAS podem revelar algo
sobre a captura e o comércio destes em uma escala nacional.
Outro grande problema é o desmatamento em prol da urbanização, através do qual são
geradas verdadeiras “ilhas de vegetação urbanas”, especialmente em cidades do litoral nordestino,
como é o caso de João Pessoa, tendo como consequência a frequente saída dos animais destes
espaços em busca de alimento e novas áreas para colonização. Segundo Braga & Carvalho (2003), o
fator de maior impacto ambiental consiste na invasão dos ecossistemas para a construção de áreas
de habitação, determinando assim grande degradação nas áreas utilizadas para a formação de
cidades.
Segundo Chiarello et al. (2008) “O número de espécies ameaçadas está significativamente
correlacionado ao número de espécie presente em cada ordem [...] Há, porém, algumas
discrepâncias. As ordens mais especiosas no Brasil são Rodentia e Chiroptera; entretanto, as que
têm maior proporção de espécies ameaçadas são Primates e Carnivora [...] Isso indica que os
primatas e os carnívoros estão proporcionalmente mais ameaçados, os primeiros por possuírem
hábito exclusivamente florestal (portanto, baixa tolerância à destruição das florestas) e os últimos
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Nº _________
Nome científico___________ Data de entrada___________
Marcação tipo____________ Numero de Registro no Centro de Triagem:______________
Município de procedência:________ Localidade específica: ___________
Caracterização do ambiente de coleta: __________ Clima: _________ Vegetação:_________________
Razão: Apreensão ( ); Doação ( ); Animal atropelado ou ferido ( ); Outros: ________________________________________
Nome completo do coletor: ___________________________________________________
Instituição ou Órgão fiscalizador:___________________________________________________________________________
Endereço:______________________________________________________________________________________________
Telefone para contato: ____-_____________ Numero do termo de apreensão/doação: _______________________________________
Sexo: Macho ( ); Fêmea ( ); Indeterminado ( )
Idade: Filhote ( ); Jovem ( ); Adulto ( ); Idoso ( )
Observações de entrada e histórico:__________________________________________________________________________
Biometria:
Massa corporal:__________g Comp. corpo:__________mm Comp.cabeça: :_______mm Comp. cauda:_______mm
Circ. pescoço:__________mm Circ. tórax:__________mm Comp. cabeça:______mm Circ. base da cauda:_____mm Pata trás.s/
unha:______mm Pata diant.s/ unha:___mm Outras medidas:
Alimentação tipo: Planilha alimentar nº: __________________
Coleta de parasitos ( ):_________ Coleta de Sangue ( ):__________ Coleta de outro material ( ): Qual? _____________
Técnicos responsável pelos procedimentos: ___________________________________________________________________
Data de saída: ______________ Destino: ___________________
Observação: anexar a esta ficha os seguintes documentos:
Ficha de atendimento clínico;
Encaminhamento para Hospital Veterinário;
Ficha Nutricional;
Demais informações sobre o exempla.
por serem predominantemente predadores, apresentando baixa densidade populacional e grande
necessidade de espaço.”
Como resultado das apreensões de mamíferos, ocorre uma superlotação destes nos CETAS,
situação verificada notadamente no CETAS da Paraíba. Diante desse quadro, o presente trabalho
tem a finalidade de inventariar os mamíferos que deram entrada no Centro de Triagem de Animais
Silvestre da Paraíba entre os anos 2009 e 2010. De modo a fornecer dados sobre a procedência,
estado de saúde na chegada e índice de mortalidade dos animais, visando a geração de informações
que auxiliem planos futuros para a conservação destas espécies.
METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado a partir de consultas ao banco de dados do centro de Triagem
de Animais Silvestres (CETAS), centro especializado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), localizado na Floresta Nacional da Restinga de
Cabedelo, na Paraíba e responsável pela recepção, triagem, tratamento e destinação de animais
silvestres resgatados ou apreendidos pelos órgãos de fiscalização, ou entregues voluntariamente
pela população em geral do estado da Paraíba.
Este CETAS procede ao registro de entrada dos espécimes silvestres através de fichas
escritas e planilhas eletrônicas, formando um banco de dados, o qual consta o nome comum e
científico, sexo, local de apreensão/captura, estado físico, entre outras informações (Fig. 1).
Para o estudo, foram utilizados os dados referentes às entradas de espécimes entre os anos
de 2009 e 2010, também foram acrescentadas as informações sobre o risco de extinção das espécies
de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos
Recursos Naturais (IUCN, 2012).
Figura 1 – Ficha de preenchimento utilizada para o registro entrada de Mamíferos ao Centro de
Triagem de Animais Silvestres da Paraíba.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre um total de 9.316 espécimes de animais depositados no CETAS durante o período
analisado, os mamíferos corresponderam a 6,84% (638 espécimes, as aves a 81,24% (7.569
espécimes), 10,93% (1.019 espécimes) correspondeu aos répteis e 0,96% (90 espécimes) foram
classificados como “outros”, categoria na qual foram inclusas espécies exóticas, domésticas,
aracnídeos, anfíbios e os não identificados.
A quantidade de espécimes depositada variou durante os meses do período abordado (Fig.
2). Isto não significa necessariamente aumento ou diminuição no tráfico desses animais, mas sim
uma variação na intensidade da fiscalização, a qual depende da disponibilidade de recursos
financeiros e das prioridades que são definidas para as ações de fiscalização (Pagano et al., 2009).
Figura 2 – Registros de entrada de mamíferos por meses durante os anos de 2009 e 2010 no Centro
de Triagem de Animais Silvestres da Paraíba, em Cabedelo – PB.
Registrou-se 32 espécies, distribuídas em 16 famílias e sete ordens, dentre as quais se
destaca a ordem Primates com o maior percentual de entradas (45,76% ou 292 espécimes). Um
trabalho realizado por Pessoa et al. (2010) no mesmo CETAS e com o mesmo escopo do presente
estudo, inventariou entre os anos de 2005 a 2008 15 espécies de macacos, distribuídos em nove
gêneros e em quatro famílias (Callitrichidae, Cebidae, Atelidae e Pitheciidae). A ordem Pilosa, por
sua vez, representou 16,30% ou 104 espécimes, a ordem Didelphimorphia 14,42% ou 92 espécimes,
a ordem Rodentia 12,53% ou 80 espécimes, a ordem Carnívora 7,36% ou 47 espécimes, a ordem
Cingulata 3,29% ou 21 espécimes e a ordem Cetacea 0,31% ou 2 espécimes. A tabela 1 apresenta
uma lista das espécies que deram entrada no CETAS-PB entre os anos 2009 e 2010, bem como a
quantidade de registro para cada uma delas e a classificação quanto o status de conservação. No
entanto, o trabalho de Pagano et al., (2009) registra que o valor mais representativo de fauna
depositada no Centro de Triagem de Animais Silvestre da Paraíba, entre os anos de 2006 e 2007, é o
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das Aves silvestres, as quais corresponderam a 88% dos animais depositados, um total de 2.282
espécimes, seguidos dos mamíferos com 221 espécimes e 72 espécimes de répteis.
Tabela 1 – Mamíferos com registro de entrada no Centro de Triagem de Animais Silvestres da
Paraíba, nos anos de 2009 e 2010, e status de conservação. SC – status de conservação; PP – Pouco
Preocupante; CR – criticamente ameaçado; VU – vulnerável; D. Def – Dados Deficientes e S/ Inf.
– Sem Informação.
Táxon Nome popular Espécimes SC
Carnivora
Canidae
Lycalopex vetulus Raposa do Campo 11
PP
Cerdocyon thous Raposa – Cachorro do
mato 12
PP
Felidae
Leopardus pardalis (mitis) Jaguatirica 4 PP
Leopardus tigrinus Gato do mato 5 VU
Mustelidae
Eira Barbara Irara 1 PP
Galictis vittata Furão 4 PP
Lontra longicaudis Lontra 1 D. Def.
Procyonidae
Nasua nasua Quati 2 PP
Procyon cancrivorus Guaxinim 7 PP
Cetacea
Delphinidae
Sotalia guianensis Golfinho 1 D. Def.
Grampus cf. griséus Golfinho de risso 1 S/ Inf
Cingulata
Dasypodidae
Dasypus septemcinctus Tatu galinha pequeno 1 PP
Dasypus novemcintus Tatu verdadeiro 2 PP
Euphractus sexcintus Tatu peba 18 S/ Infr.
Didelphimorphia
Didelphidae
Didelphis albiventris Timbú, Gambá ou Saruê 92 PP
Pilosa
Bradypodidae
Bradypus variegatus Bicho preguiça 53 PP
Mymecophagidae
Cyclopes didactylus Tamanduá – í 1 PP
Tamandua tetradactyla Tamanduá mirim 50 PP
Primata
Atelidae
Alouatta belzebul Macaco guariba 8 VU
Callithricidae
Callithrix jacchus Sagui do tufo branco 119 PP
Callithrix penicillata Sagui do tufo preto 2 PP
Cont.
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Táxon Nome popular Espécimes SC
Saguinus Níger Sagui preto 2 VU
Cebidae
Cebus apella Macaco prego 4 PP
Cebus kaapori Macaco caiarara 1 CR
Cebus flavius Macaco prego galego 24 CR
Cont.
Cebus libidinosus Macaco prego 132 PP
Rodentia
Caviidae
Galea spixii Preá 4 PP
Hydrochoerus hydrochaeris Capivara 16 PP
Kerodon rupestris Mocó 11 PP
Dasyprodidae
Dasyprocta aguti Cutia 39 S/ Inf.
Erinaceidae
Coendou prehensilis Quandu 10 PP
Total 638
Observou-se ainda que a maior parte dos espécimes depositados no CETAS é proveniente de
entregas voluntárias, o que representa 295 espécimes (46,24%), já os resgates foram verificados em
249 espécimes (39,03%), e as apreensões em 88 espécimes (13,8%). Ainda, cinco espécimes
(0,78%), não tiveram sua origem identificada e um (0,15%) nasceu no próprio CETAS.
A composição etária destes animais reforça o que foi dito acima, pois dos 638 mamíferos,
469 (73,51%) são classificados como adultos, 61 (9,56%) como jovens, 105 (16,45%) como filhotes
e 3 (0,47) não apresentaram informação de faixa etária. Uma observação preliminar indica que
possivelmente este fato se deve a maturação sexual dos indivíduos, visto que muitos são capturados
ainda filhotes e mantidos em cativeiro domiciliar como animais de estimação, porém quando ficam
adultos expressam comportamentos agressivos, resultando na decisão dos donos em entregá-los
voluntariamente ao CETAS.
Análises realizadas nos parâmetros clínicos consideraram que 427 mamíferos (66,92%)
apresentavam estado de saúde regular, 141 (22,10%) bom, 60 (9,40%) ruim e 10 (1,57%) não
apresentava na ficha essa informação. Sendo esse tipo de critério subjetivo, era sempre realizado
pela mesma equipe, entre eles o médico veterinário responsável. Em suma, levavam-se em
consideração basicamente os aspectos clínicos visíveis macroscopicamente, não sendo feito nenhum
tipo de exame específico laboratorial na rotina. Neste contexto, o índice de mortalidade não
apresentou proporções altas, dos 638 espécimes apenas, 122 (19,12%) foram a óbito, levando em
consideração a escassez de informações sobre o período em que estes espécimes estiveram em
cativeiro irregular, ou dos agravos sofridos naqueles provenientes de resgates em vida livre.
A destinação dos animais é cautelosa, levando-se em consideração o meio natural
pertencente a cada espécie e seu papel no equilíbrio do ecossistema. Alguns táxons, como os
primatas (macacos-prego e saguis) exigem mais estudo e cuidados para suas reintroduções. Projetos
de reintrodução monitorada estão em andamento no CETAS da Paraíba, para que esses e quaisquer
outros animais retornem ao meio natural de maneira segura, evitando maiores desequilíbrios ao
meio ambiente.
As altas taxas de entradas observadas nos recintos de manejo refletem a atual situação de
descaso com a fauna brasileira, os animais chegam, por meio de devoluções na grande maioria dos
casos e por apreensões feitas por órgãos especializados como o IBAMA. (RENCTAS, 2002; Souza
& Soares-Filho, 2005). Segundo Marini & Garcia (2005) devido à falta de opção e pressão para a
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continuidade das apreensões e solturas dos animais, grande parte dos espécimes é liberada em locais
impróprios (fora de sua distribuição geográfica natural) e sem uma avaliação prévia apropriada do
seu estado sanitário, sendo os efeitos dessas solturas ainda desconhecidos, podendo até potencializar
a ação de espécies exóticas invasoras.
Um dos exemplos nacionais amplamente conhecidos foi a soltura de espécimes de Callithrix
jacchus e o C. penicillata (Cunha & Vieira, 2004; Morais-Jr.; Ruiz-Miranda; Sartori, 2004; Passos
et al., 2006). Originários da Mata Atlântica Nordestina, Caatinga e Cerrado, estes animais se
tornaram uma verdadeira praga na região sudeste, predando ovos, filhotes e formas adultas de várias
espécies de pássaros nativos. Dados evidenciam que globalmente, quase 20% dos vertebrados
podem estar ameaçados de extinção de alguma maneira por espécies invasoras (Neely, 2001).
Vale ressaltar que no estado da Paraíba o tráfico ilegal de animais silvestres atua
conjuntamente com outras ações antrópicas acelerando o processo de extinção das espécies, como:
o intenso desmatamento para suprir a necessidade de ampliação do espaço urbano, e em cidadãos
que entregam seus animais quando estes chegam à idade adulta e começam a expressar
características típicas do habitat selvagem, como agressividade e comportamento sexual, tornando-
se com isso um incômodo para a manutenção em cativeiro domiciliar.
Este estudo demonstrou que apesar dos mamíferos representarem um pequeno valor em
percentual de depósito, devemos considerar a grande importância deles na manutenção do equilíbrio
natural, já que muitas das espécies atuam como predadores, situando-se no topo da cadeia trófica.
Portanto, a retirada indiscriminada destes indivíduos de seus ecossistemas culmina em
desequilíbrios ecológicos de grande impacto para toda uma cadeia. Além disso, os mamíferos detém
um grande poder carismático, atraindo o público em geral, podendo ser utilizados como espécies
bandeiras na mídia na tentativa de sensibilização, visando sensibilizar a população quanto aos
problemas gerados pelo tráfico da fauna silvestre.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, observa-se que a entrada de mamíferos no CETAS da Paraíba é preocupante, uma
vez que denuncia uma gama de problemas que os afetam diretamente, e que, medidas de
fiscalização devem continuar intensificadas, de modo a controlar o tráfico de animais. Porém, a
sensibilização da população é uma das medidas mitigadoras mais eficientes para combater o
comércio ilegal, sendo importante atentar para o modo como isso é realizado, pois esta estratégia
deve, necessariamente, considerar e avaliar o contexto de cada público alvo.
Tendo em vista a Ecologia de Paisagens, é importante ressaltar que a recuperação e
conservação das áreas de florestas remanescentes também devem ser adotadas urgentemente, visto
que os mamíferos necessitam destas áreas para conservação das populações in situ, também para
ações de manejo das populações antes cativas visando a destinação por meio da soltura e, além
disso, as áreas de florestas manejadas devem favorecer o intercruzamento, aumento da diversidade
genética através do fluxo gênico das populações de mamíferos remanescentes e populações
reintroduzidas.
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