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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS RAISSA AGUIAR BARBOSA POTENCIALIDADES DO RIO TRAIRI COMO LOCUS PARA AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE TRAIRI-CE FORTALEZA-CEARÁ 2013

POTENCIALIDADES DO RIO TRAIRI COMO LOCUS PARA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

RAISSA AGUIAR BARBOSA

POTENCIALIDADES DO RIO TRAIRI COMO LOCUS

PARA AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO

MUNICÍPIO DE TRAIRI-CE

FORTALEZA-CEARÁ

2013

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RAISSA AGUIAR BARBOSA

POTENCIALIDADES DO RIO TRAIRI COMO LOCUS PARA

AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE TRAIRI-

CE

Monografia apresentada ao Curso de Ciências

Biológicas do Centro de Ciências da Saúde, da

Universidade Estadual do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do título de licenciado.

Orientador: Prof. Dr. Oriel Herrera Bonilla

FORTALEZA-CEARÁ

2013

2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho

Bibliotecária Responsável – Leila Sátiro – CRB-3 / 544

B238p Barbosa, Raissa Aguiar.

Potencialidades do Rio Trairi como locus para ações de

Educação Ambiental no município de Trairi-CE / Raissa Aguiar

Barbosa. — 2013.

CD-ROM. 39f. il. (algumas color.) ; 4 ¾ pol.

―CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho

acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7

mm)‖.

Monografia (Graduação) – Universidade Estadual do Ceará,

Centro de Ciências de Saúde, Curso de Ciências Biológicas,

Fortaleza, 2013.

Orientação: Prof.Dr. Oriel Herrera Bonilla.

1. Rio Trairi. 2. Educação ambiental. 3. PCN. I. Título.

CDD: 574

3

4

―Constatar a realidade nos torna capazes de intervir nela, tarefa

incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que

simplesmente a de nos adaptarmos a ela.‖ (Paulo Freire)

5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente queria agradecer à minha família por serem os meus maiores incentivadores

e pelo apoio incondicional para que eu pudesse concretizar mais um sonho: o de me formar

em Ciências Biológicas, área que tanto amo e admiro. À minha mãe, Giovana, por sempre

lutar ao meu lado em todos os momentos da minha vida com muita determinação. Ao meu

pai, Francisco, por fazer todos esforços possíveis e impossíveis para que eu pudesse

concluir mais esta etapa da minha vida. À minha irmã, Anne, pelos momentos de felicidade

e cumplicidade. À Tia Chica, por ter acreditado em meu potencial e ser um dos pilares desta

minha conquista. Á Tia Gioconda e ao Puan, pelo apoio, acolhida, conversas, conselhos e

lições de vida. Ao Tio Marcelo, idealizador do ―Movimento Não Rio Sem Meu Rio‖, pela

inspiração do tema deste meu trabalho e fornecedor de grande parte do material utilizado. A

todos da minha família (tios e primos) que torceram por essa minha jornada.

Agradeço também aos professores e funcionários dos colégios Antares (Mariazinha e

Fernando), Ari de Sá (Profs. Rosa Rolim, Thiago Gomes, Gurgel Filho, Eduardo Leão) e

Lourenço Filho (Neuzinha, Clayton, Jô Grangeiro, Israel Moreira e Filgueiras Neto), que me

apoiaram e ajudaram, pois essa minha conquista também é um pouco de vocês. Aos

grandes amigos que tive o prazer de conhecê-los antes de ingressar na universidade, pela

cumplicidade, amizade e sinceridade, especialmente Juliana Weyne (China), Samuel

Ribeiro, Thaís Vieira e Sara Rebeca. Às fortes amizades que construí durante minha

graduação. À Kamilla, Geyse e Aline, que tive o prazer de conviver, desde o início até o final

da graduação, enfrentando dificuldades e compartilhando alegrias. Ao Diego, pela atenção e

cumplicidade que formamos no Laboratório de Ecologia. Ao Raul e Guedes, pelos

conselhos, orientações e brincadeiras. Ao Vitor e à Júlia pela amizade e atenção que

sempre me deram. Aos demais colegas de curso pela proximidade e atenção.

Agradeço à profª Íris Cardoso, Diretora da escola, por conceder autorização para pesquisar

a EEM Raimundo Nonato Ribeiro e utilizar os dados da escola.

Agradeço ao meu orientador, professor Oriel Herrera Bonilla, pela paciência e confiança

durante dos trabalhos que desenvolvi no Laboratório de Ecologia, onde descobri a

grandiosidade de ser biólogo; e pela contribuição na produção desta monografia. Aos

membros de minha banca: professor Crisanto Ferreira por ter despertado meu fascínio pela

Educação Ambiental e pelo direcionamento que me deu durante a confecção do projeto de

monografia. Ao professor Luís Gonzaga, pelos ensinamentos técnicos e pela dedicação na

formação de biólogos. Por fim, agradeço aos demais professores que tive pelos

ensinamentos técnicos e de vida, que contribuíram de forma direta para minha formatura. E,

à Universidade Estadual do Ceará, por fomentar minha graduação em Ciências Biológicas.

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RESUMO

O Rio Trairi está situado no município de Trairi (CE) e atravessa toda cidade até desaguar

no Oceano Atlântico. Juntamente com o movimento ecológico que surgiu nos últimos anos,

faz-se necessário mesclar o conteúdo abordado em sala de aula com o dia-a-dia dos

alunos, tornando-os cidadãos capazes de ter senso crítico. Sendo necessário o estudo de

Educação Ambiental – tema transversal obrigatório segundo os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN) – e a implantação de novos métodos de ensino, foi realizado o presente

estudo para avaliar se o Rio Trairi está sendo inserido como ferramenta de Educação

Ambiental na Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro. Foi solicitado à direção da

escola o Projeto Político-Pedagógico, documento que foi base para este estudo, juntamente

com os Programas de Educação Ambiental (Nacional e Estadual), os Parâmetros

Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases. Concluiu-se que não há a utilização do

Rio Trairi como ferramenta de Educação Ambiental, apesar de a escola valorizar o contexto

sociocultural da cidade, promovendo apenas um único evento relacionado à Educação

Ambiental, mas sem contextualizar à problemática local do Rio Trairi. Verificou-se também a

existência de um movimento social ecológico denominado ―Não Rio Sem Meu Rio‖,

responsável por intervenções ecológicas na cidade e por praticar ações de Educação

Ambiental nas escolas do município. Portanto, faz-se necessário um processo de

transformação na escola e na sociedade, visando uma educação completa de melhor

qualidade e um desenvolvimento sustentável para sua cidade.

Palavras Chave: Rio Trairi; Escola Pública; PCN.

7

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................................... 8

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................ 9

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 10

2 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 12

2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................................... 12

2.2 Objetivos Específicos .............................................................................................................. 12

3 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................................ 13

3.1 O Trairi ....................................................................................................................................... 13

3.1.1 O Município........................................................................................................................ 13

3.1.2 A Escola ............................................................................................................................. 13

3.1.3 O Rio Trairi ........................................................................................................................ 14

3.2 O Projeto Político Pedagógico ............................................................................................... 15

3.3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais ................................................................................ 16

3.4 Programas de Educação Ambiental ..................................................................................... 18

3.4.1. Programa Nacional de Educação Ambiental .............................................................. 18

3.4.2. Programa de Educação Ambiental do Ceará ............................................................. 20

4 METODOLOGIA .............................................................................................................................. 22

4.1 Local........................................................................................................................................... 22

4.1 Fonte de dados ........................................................................................................................ 22

4.1 Material ...................................................................................................................................... 22

4.1 Procedimento de coleta de dados ......................................................................................... 22

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................... 23

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 28

ANEXOS .............................................................................................................................................. 31

8

LISTA DE ABREVIATURAS

LDB – Lei de Diretrizes e Bases.

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais.

PPP – Projeto Político Pedagógico.

ProNEA – Programa Nacional de Educação Ambiental.

PEACE – Programa de Educação Ambiental do Ceará.

EA – Educação Ambiental.

ONG – Organização Não-Governamental.

CONPAM – Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente.

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro ..................................... 22

10

1 INTRODUÇÃO

O Rio Trairi está localizado no município de Trairi (CE) e atravessa toda cidade até

chegar no Oceano Atlântico em sua foz. Este rio está intimamente interligado com a história

do município e com o turismo, apesar de hoje estar passando por um processo de

envelhecimento artificial (eutrofização) devido aos dejetos de saneamento básico que são

jorrados para dentro do rio. Sabendo-se da importância deste rio e com a necessidade de

novos métodos de ensino, foi realizado o presente estudo.

De acordo com a Lei 9.795/99, ―entende-se por educação ambiental os processos

por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem

de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖ (LEI

9.795, 1999, art. 1º).

A Educação Ambiental é um processo educacional criado ao longo dos anos através

de estudos de especialistas, com visão das necessidades do homem e da natureza

entrelaçadas em um objetivo comum que é a manutenção da qualidade de vida de todos os

seres do planeta. Em vista da existência de problemas ambientais em quase todas as

regiões do país, torna-se importantíssimo o desenvolvimento e implantação de programas

educacionais ambientais, os quais são de suma importância na tentativa de se reverter ou

minimizar os danos ambientais (SANTOS, 2007).

O surgimento e desenvolvimento da educação ambiental como método de ensino

está diretamente relacionado ao movimento ambientalista, pois é fruto da conscientização

da problemática ambiental. A Ecologia, como ciência global, trouxe a preocupação com os

problemas ambientais, surgindo a necessidade de se educar no sentido de preservar o meio

ambiente (SANTOS, 2007).

Ao divulgar os resultados do último Censo Escolar, o INEP deu destaque ao fato de

que 65% das escolas de ensino fundamental inseriram a questão ambiental em suas

práticas pedagógicas. Cumprem sua obrigação, já que se trata de um dos temas

transversais ao currículo obrigatório. [...] No entanto, sabemos que, devido à precariedade

da infraestrutura de nossos estabelecimentos, torna-se difícil para os professores abordar a

questão de maneira adequada e com conhecimento de causa. Por isso temos que aplaudir

aquelas escolas que se empenham em formar cidadãos e futuros profissionais segundo a

ótica do desenvolvimento sustentável. É pouco e os poderes públicos precisam não só

fornecer mais recursos humanos e financeiros a fim de que essas ações sejam

multiplicadas, mas avaliar sua eficácia (MARANHÃO, 2005).

11

Segundo, Santos & Ruffino (2002), considerando a atual estrutura de ensino, a

produção de conhecimento a partir de bacias hidrográficas é necessária, visto o grande

apelo formal e informal existente e relacionado aos ecossistemas aquáticos. Segundo os

mesmos autores, os estudos de bacias hidrográficas podem proporcionar a oportunidade de

formação holística entre educandos e educadores, pois são temas integradores de

conhecimentos, onde podem ser desenvolvidos conteúdos relativos a solo, relevo, geologia,

vegetação, fauna, clima, ocupação humana, impactos ambientais, entre outros,

diagnosticando e possibilitando ações adequadas, voltadas a sustentabilidade ambiental.

Portanto, este estudo é justificado pela necessidade de inserção do Rio Trairi como

ferramenta de Educação Ambiental junto às escolas de rede pública estadual do município

de Trairi, bem como as ações que envolvem Educação Ambiental.

A seguir será descrito o município de Trairi, a escola na qual foi realizada a pesquisa

e o Rio Trairi, juntamente com a explicação de documentos essenciais para este trabalho -

Projeto Político-Pedagógico, Programas de Educação Ambiental (nacional e estadual) e

Parâmetros Curriculares Nacionais -, pois somente através desse material foi possível

verificar se o Rio Trairi está sendo utilizado como ferramenta de Educação Ambiental na

Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro, além de avaliar suas ações envolvendo

EA e confrontá-las com os PCN.

12

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar se o Rio Trairi está sendo utilizado como ferramenta de educação ambiental na

Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro.

2.2 Objetivos Específicos

Verificar no Projeto Político Pedagógico da escola EEM Raimundo Nonato Ribeiro se

Rio Trairi está sendo utilizado como ferramenta de educação ambiental;

Avaliar as ações envolvendo Educação Ambiental realizadas pela escola;

Confrontar as ações de Educação Ambiental, caso existam, com os Parâmetros

Curriculares Nacionais.

13

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 O Trairi

3.1.1 O Município

O município de Trairi situa-se no centro-norte do Estado do Ceará, ocupa área de

aproximadamente 943km², que corresponde a 0,64% do Estado do Ceará, com 48 km de

extensão linear na direção Norte-Sul e 41 km na direção leste-oeste (Anexo A). Limita-se, ao

norte, com o oceano Atlântico, ao Sul, com o município de São Luís do Curu, a Sudeste,

com o município de São Gonçalo do Amarante, a Sudoeste, com o município de Tururu, a

Oeste, com o município de Itapipoca e a Leste com o município de Paraipaba. O principal

acesso ao município é pela Rodovia Estruturante Costa do Sol Poente ou CE–085,

construída pelo Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR-NE),

como parte da infra-estrutura de apoio ao turismo, que interliga a capital do Estado aos

municípios do litoral oeste. (NASCIMENTO, 2008).

O município de Trairi avaliou que o consumo desordenado da água, a falta de

conservação dos mananciais, ausência de controle dos recursos hídricos pelo poder público,

a falta de fiscalização nesses usos, o crescimento da demanda e a indefinição de políticas

para ampliação da oferta, compõem a equação de ameaça à sua segurança hídrica. Neste

município ainda existe a ameaça do uso do rio Trairi para diluição dos resíduos e dejetos do

saneamento da cidade (Anexo B). Diante dessas ameaças, o diálogo enxergou a

necessidade de estabelecer uma fiscalização mais eficiente no controle do uso e na geração

de oportunidades que garantam a ampliação da oferta para o atendimento da demanda

emergente. Afirmando que o município não possui segurança hídrica e que a água ofertada

ainda é de má qualidade, Trairi sugeriu a construção de cisternas em toda a sua área de

semiárido, construção de novos açudes e a instalação de dessalinizadores e adutoras

(CEARÁ, 2009)

3.1.2 A Escola

A Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro, escolhida para realizar o

presente trabalho, está localizada na Rua Raimundo Nonato Ribeiro, nº 204, no Centro de

Trairi, Ceará (Figura 1). Trabalhando apenas com o ensino médio nos turnos manhã, tarde e

noite com cerca de 760 alunos matriculados, a escola é a pioneira na educação trairiense,

14

pois há 56 anos vem contribuindo com a educação no município. Anterior a 1948 os

trairienses estudavam em residências particulares, chamadas escolas isoladas. Estas

funcionavam no salão do Sr. José Silva e a casa da D. Jorgina. Por volta do ano de 1950,

estas escolas se agruparam, passando a funcionar no prédio onde é hoje o INSS. A junção

dessas escolas teve uma nova denominação: Escolas reunidas de Trairi Em 1953 as

Escolas Reunidas de Trairi passaram a se chamar Grupo Escolar Raimundo Nonato Ribeiro,

pois o prefeito e político influente na época, Sr. José Granja Ribeiro, conseguiu junto ao

Governo Estadual, através da Paróquia Nossa Senhora do Livramento, uma verba no valor

de Cr$ 1.700,00 (um mil e setecentos cruzeiros) para a construção da escola, que recebeu

este nome em homenagem a seu pai Raimundo Nonato Ribeiro. O Grupo Escolar Raimundo

Nonato Ribeiro foi criado em 12/12/1953 e inaugurado no ano de 1955. Em 17/10/1975

através do Decreto de nº 11.493, a escola passou a ser chamada de Escola de 1º Grau

Raimundo Nonato Ribeiro, funcionando de 1º a 4º série, no governo de Adauto Bezerra

(1975 – 1978). No ano de 2000, a Escola passou a funcionar com Ensino Médio e veio a

constituir-se em 2002, Escola de Ensino Fundamental e Médio Raimundo Nonato Ribeiro.

Atualmente denomina-se Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro.

‗Figura 1 – Fachada da EEM Raimundo Nonato Ribeiro. Fonte: arquivo da escola.

3.1.3 O Rio Trairi

O Rio Trairi (Anexo C) encontra-se localizado na Bacia do Litoral (Anexo D), junto aos

municípios de Itarema, Amontada, Itapipoca, Tururu, Uruburetama, Irauçuba e Miraima

(Anexo E) e possui complexo de lagamares (Anexo F) que também é denominado ―Lagamar

15

do Trairi‖, composto pelos lagamares da Rua, do Carrapicho, da Torta, do Livramento e do

Sal. O acesso pode ser feito através da BR- 222, CE 423, CE 085 (Estruturante), CE 341,

CE 163. É formado pelo lagamar da Rua, que está inserido na área urbana da cidade, pela

lagoa da Torta e pelos lagamares do Carrapicho, do Livramento e do Sal, que é o ponto de

ligação entre o complexo hídrico do Trairi e o oceano Atlântico. O sistema de lagoas pode

ser considerado o maior do Estado e corresponde aos represamentos do rio Trairi, em

diversos locais, pelos sedimentos dunares transportados pela dinâmica costeira. São

denominados lagamares devido à influência da intrusão da cunha salina no rio Trairi, seja

superficial ou subterrânea. Os lagamares do Trairi apresentam forte influência dulci/marinha,

condicionando tanto a fauna quanto a flora a manifestar adaptações condizentes às

condições deste ambiente influenciado pela salinidade. Verifica-se a existência de sítios

margeando este lagamar, onde se observa o cultivo de árvores frutíferas como côco, manga

e caju, bem como a existência de culturas de subsistência. Apesar da grande extensão, o

uso e ocupação do solo ao longo de todo o lagamar são feitos de forma homogênea. O

lagamar da Rua difere dos demais, por possuir propriedades com características rurais,

apresentando espécies frutíferas e culturas de subsistência nas proximidades das

edificações. As dimensões máximas de comprimento e largura são respectivamente 14,85

km e 2,3 km. A profundidade máxima é de 5,0m e com profundidade média de 2,50 m

(CEARÁ, 2009).

3.2 O Projeto Político Pedagógico

A construção de um Plano Político-Pedagógico foi posto em questão em 1996, como

uma forma de reconhecimento da capacidade da escola de planejar e organizar suas ações

políticas e pedagógicas em todos os segmentos escolares com um processo dinâmico e

articulado (NERI; SANTOS, 2001). Segundo Brito (1997), o artigo 12 da Lei de Diretrizes e

Bases 9.394/96 define a responsabilidade das escolas de elaborar e executar sua proposta

pedagógica e, no artigo 14, da participação dos profissionais da educação na elaboração da

proposta pedagógica, constituindo assim uma gestão democrática.

A construção do Projeto Político Pedagógico surge a partir da necessidade de

organizar e planejar a vida escolar, quando o improviso, as ações espontâneas e casuais

acabam por desperdiçar tempo e recursos, os quais já são irrisórios. Sendo, assim, a marca

original da escola, ele pode propor oferta de uma educação de qualidade, definindo ou

aprimorando seu modelo de avaliação levando em consideração os principais problemas

que interferem no bom desempenho dos alunos; estabelecer e aperfeiçoar o currículo

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voltado para o contexto sociocultural dos educandos; apontar metas de trabalho referentes à

situação pedagógica, principalmente no que se refere às experiências com metodologias

criativas e alternativas. Em função disso, é que se considera importante estruturar os

princípios que norteiam as práticas educacionais (NERI; SANTOS, 2001).

Veiga (2001) define o Projeto Político-Pedagógico como um instrumento de trabalho

que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que

resultados. Além disso, explicita uma filosofia e harmoniza as diretrizes da educação

nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso

com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à

responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Esta ideia implica a

necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os

envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente.

Sobre o projeto pedagógico da escola, Neri e Santos (2001) afirmam que o projeto é

político por estar implementado em um espaço de sucessivas discussões e decisões, pois

o exercício de nossas ações está sempre permeado de relações que envolvem debates,

sugestões, opiniões, sejam elas contra ou a favor. O projeto é pedagógico por implicar em

situações específicas do campo educacional, por tratar de questões referentes à prática

docente, do ensino-aprendizagem, da atuação e participação dos pais nesse contexto

educativo, enfim, de todas as ações que expressam o compromisso com a melhoria da

qualidade do ensino.

Portanto, é necessário entender o Projeto Político Pedagógico da escola como uma

reflexão do seu cotidiano. Para tanto, ele precisa de um tempo razoável de reflexão-ação,

para se ter um mínimo necessário a consolidação de sua proposta (VEIGA, 2001).

3.3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais

Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a

educação em todo o país. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no

sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a

participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se

encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual (MEC,

1997).

A reforma curricular do Ensino Médio estabelece a divisão do conhecimento escolar em

áreas, uma vez que entende os conhecimentos cada vez mais imbricados aos

conhecedores, seja no campo técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano da vida social.

17

A organização em três áreas – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias – tem

como base a reunião daqueles conhecimentos que compartilham objetos de estudo e,

portanto, mais facilmente se comunicam, criando condições para que a prática escolar se

desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade (MEC, 2000).

Podemos considerar que as principais áreas de interesse da Biologia contemporânea se

voltam para a compreensão de como a vida (e aqui se inclui a vida humana) se organiza,

estabelece interações, se reproduz e evolui desde sua origem e se transforma, não apenas

em decorrência de processos naturais, mas, também, devido à intervenção humana e ao

emprego de tecnologias. [...] As principais áreas de interesse da Biologia, sintetizadas em

seis temas estruturadores (MEC, 2000):

1. Interação entre os seres vivos.

2. Qualidade de vida das populações humanas

3. Identidade dos seres vivos.

4. Diversidade da vida.

5. Transmissão da vida, ética e manipulação gênica.

6. Origem e evolução da vida.

Estes seis temas não reinventam os campos conceituais da Biologia, mas

representam agrupamentos desses campos de modo a destacar os aspectos essenciais

sobre a vida e a vida humana que vão ser trabalhados por meio dos conhecimentos

científicos referenciados na prática. (MEC, 2000).

Assim, no primeiro tema, com o apoio das ciências ambientais, as situações vividas

pelos alunos vão lhes permitir compreender como os sistemas vivos funcionam, as relações

que estabelecem, e se instrumentalizar para participar dos debates relativos às questões

ambientais. No segundo, a ênfase recai sobre a vida humana e, graças às ciências

ambientais, sociais e da vida, como a Fisiologia, a Zoologia, a Microbiologia, os alunos

poderão, nas situações de aprendizagem, aprofundar seu entendimento sobre as condições

de vida e saúde da população e se preparar para uma ação de intervenção solidária que

vise à transformação dessas condições. No terceiro tema, orientados pelos conhecimentos

da citologia, genética, bioquímica e por conhecimentos tecnológicos, os alunos poderão, em

situações práticas, perceber que todas as formas de vida são reconhecidas pela sua

organização celular, evidência de sua origem única. Esses conhecimentos são fundamentais

para que possam se situar e se posicionar no debate contemporâneo sobre as tecnologias

de manipulações da vida. No quarto tema, com auxílio da Zoologia, da Botânica e das

ciências ambientais, os alunos poderão entender como a vida se diversificou a partir de uma

18

origem comum e dimensionar os problemas relativos à biodiversidade. No quinto e sexto

temas, a Citologia, a Genética, a Evolução, mas também a Zoologia, a Fisiologia e a

Botânica vão dar referências aos alunos para que analisem questões que acompanham a

história da humanidade como a origem da vida, da vida humana e seu futuro no planeta, até

questões mais recentes (MEC, 2000).

3.4 Programas de Educação Ambiental

3.4.1. Programa Nacional de Educação Ambiental

O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), cujo caráter prioritário e

permanente deve ser reconhecido por todos os governos, tem como eixo orientador a

perspectiva da sustentabilidade ambiental na construção de um país de todos. Suas ações

destinam-se a assegurar, no âmbito educativo, a interação e a integração equilibradas das

múltiplas dimensões da sustentabilidade ambiental – ecológica, social, ética, cultural,

econômica, espacial e política – ao desenvolvimento do país, buscando o envolvimento e a

participação social na proteção, recuperação e melhoria das condições ambientais e de

qualidade de vida (BRASIL, 2005).

O ProNEA propõe um constante exercício de transversalidade para internalizar, por meio

de espaços de interlocução bilateral e múltipla, a Educação Ambiental no conjunto do

governo, nas entidades privadas e no terceiro setor; enfim, na sociedade como um todo.

Estimula do diálogo interdisciplinar entre as políticas setoriais e a participação qualificada

nas decisões sobre investimentos, monitoramento e avaliação do impacto de tais políticas

(BRASIL, 2005). Desta forma, possui os seguintes objetivos:

Promover processos de Educação Ambiental voltados para valores humanistas,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências que contribuam para a participação

cidadã na construção de sociedades sustentáveis.

Fomentar processos de formação continuada em Educação Ambiental, formal e não-

formal, dando condições para a atuação nos diversos setores da sociedade.

Contribuir com a organização de grupos – voluntários, profissionais, institucionais,

associações, cooperativas, comitês, entre outros – que atuem em programas de intervenção

em educação ambiental, apoiando e valorizando suas ações.

19

Fomentar a transversalidade por meio da internalização e difusão da dimensão

ambiental nos projetos, governamentais e não-governamentais, de desenvolvimento e

melhoria da qualidade de vida.

Promover a incorporação da educação ambiental na formulação e execução de

atividades passíveis de licenciamento ambiental.

Promover a educação ambiental integrada aos programas de conservação,

recuperação e melhoria do meio ambiente, bem como àqueles voltados à prevenção de

riscos e danos ambientais e tecnológicos.

Promover campanhas de educação ambiental nos meios de comunicação de massa,

de forma a torná-los colaboradores ativos e permanentes na disseminação de informações e

práticas educativas sobre o meio ambiente.

Estimular as empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas a

desenvolverem programas destinados à capacitação de trabalhadores, visando à melhoria e

ao controle efetivo sobre o meio ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do

processo produtivo no meio ambiente.

Difundir a legislação ambiental, por intermédio de programas, projetos e ações de

educação ambiental.

Criar espaços de debate das realidades locais para o desenvolvimento de

mecanismos de articulação social, fortalecendo as práticas comunitárias sustentáveis e

garantindo a participação da população nos processos decisórios sobre a gestão dos

recursos ambientais.

Estimular e apoiar as instituições governamentais e não-governamentais a pautarem

suas ações com base na Agenda 21.

Estimular e apoiar pesquisa, nas diversas áreas científicas, que auxiliem o

desenvolvimento de processos produtivos e soluções tecnológicas e brandas, fomentando a

integração entre educação ambiental, ciência e tecnologia.

Incentivar iniciativas que valorizem a relação entre cultura, memória e paisagem -

sob a perspectiva da biofilia -, assim como a interação entre os saberes tradicionais e

populares e os conhecimentos técnicos-científicos.

Promover a inclusão digital para dinamizar o acesso a informações sobre a temática

ambiental, garantindo inclusive a acessibilidade de portadores de necessidades especiais.

Acompanhar os desdobramentos dos programas de educação ambiental, zelando

pela coerência entre os princípios da educação ambiental e a implementação das ações

pelas instituições públicas responsáveis.

Estimular a cultura de redes de educação ambiental, valorizando essa forma de

organização.

20

Garantir junto às unidades federativas a implantação de espaços de articulação da

educação ambiental.

Promover e apoiar a produção e a disseminação de materiais didático-pedagógicos e

instrucionais.

Sistematizar e disponibilizar informações sobre experiências exitosas e apoiar novas

iniciativas.

Produzir e aplicar instrumentos de acompanhamento, monitoramento e avaliação das

ações do ProNEA, considerando a coerência com suas Diretrizes e Princípios.

Esta série de metas do ProNEA para todo o país reafirma a necessidade de inserir a

Educação Ambiental nas escolas, pois trata-se não só de um conteúdo curricular, mas de

uma série de ações que envolvem educação, desenvolvimento sustentável e cidadania.

3.4.2. Programa de Educação Ambiental do Ceará

O Programa de Educação Ambiental do Ceará (PEACE) possui um conceito de visão

do futuro de uma sociedade justa e ecologicamente equilibrada. Situação desejada no

futuro, que serve como referencial objetivo de longo prazo para o planejamento. Como

desejo, sonho, independe tanto das condições atuais como de eventuais cenários favoráveis

ou não. (CEARÁ, S/D).

As ações de Educação Ambiental processam-se sob a ótica da interdisciplinaridade e

transdiciplinariedade, onde os processos interativos entre as diferentes áreas do

conhecimento vão permitir uma melhor compreensão da totalidade. Neste sentido busca-se

um caminho metodológico para integrar o conhecimento entre as ciências naturais e sociais,

e, possui as seguintes diretrizes:

As ações do PEACE pautam-se pelo reconhecimento da plenitude e diversidade

cultural, respeitando as singularidades e resgatando as experiências locais em

educação ambiental;

As ações de Educação Ambiental desenvolvem o espírito crítico e a criatividade

do cidadão quanto às alternativas locais de desenvolvimento sustentável, na

busca de um ambiente saudável e ecologicamente equilibrado para as presentes

e futuras gerações;

As ações do PEACE valorizam os mecanismos locais de gestão ambiental e as

prática participativas das organizações sociais;

21

A Educação Ambiental estimula o envolvimento, a motivação dos agentes

responsáveis pelo desenvolvimento do programa e a cooperação, a solidariedade

e a parceria entre indivíduos, grupos e instituições de forma a possibilitar ações

integradas e compartilhadas pelos diversos atores sociais;

A descentralização, entendida como uma prática inter-setorial e interinstitucional,

busca a inserção da EA nas políticas públicas de: meio ambiente, saúde,

saneamento, educação básica, desenvolvimento urbano, desenvolvimento rural,

indústria, turismo, transporte e energia vigentes no Estado e nos Municípios;

Assegurou-se que o PEACE contemplasse as especificidades geoambientais do

Estado. Para tanto, considerou-se fundamental a participação, nos seminários, de

representantes com experiência de vida nos diferentes ambientes: planícies litorâneas,

serras e sertão. Desse modo, os eventos foram espacializados segundo as regiões naturais

dos municípios. Aperfeiçoando inter-relações em diferentes níveis e contribuindo para o

desfrute de um ambiente sadio, belo, exuberante e acolhedor foi o grande desafio do

PEACE. (CONPAN).

Foram construídos e serão implantados 44 planos de Educação Ambiental nos 44

municípios contemplados: Acarape, Acaraú, Aracati, Aquiraz, Barbalha, Baturité, Beberibe,

Brejo Santo, Camocim, Campos Sales, Canindé, Crateús, Crato, Cascavel, Caucaia, Cedro,

Eusébio, Jijoca de Jericoacoara, Guaiúba, Horizonte, Icó, Iguatu, Ipu, Itaitinga, Itapagé,

Itapipoca, Jaguaribe, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape,

Morada Nova, Nova Russas, Pacajus, Pacatuba, Quixadá, Quixeramobim, Redenção,

Russas, São Benedito, São Gonçalo do Amarante, Sobral, Sobral, Tianguá, Tauá (CEARÁ,

S/D).

Verificamos, de acordo com o documento do CONPAM (CEARÁ, S/D), que o

município de Trairi não está inserido no Programa Estadual de Educação Ambiental e que

isto implica diretamente nas escolas, pois não há nenhuma cobrança ou motivação para a

elaboração de projetos e/ou programas de Educação Ambiental. Apesar disto, ainda há um

programa a ser seguido, o ProNEA, que foi proposto para todo o território nacional que deve

ser seguido por todos governos.

22

4 METODOLOGIA

4.1 Local

Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro do município de Trairi - Ceará.

4.1 Fonte de dados

Os dados foram obtidos através do documento escolar denominado Projeto Políico-

Pedagógico, relativo aos anos de 2011 e 2015.

4.1 Material

Foi utilizada apenas uma cópia do Projeto Político-Pedagógico original da escola e

fotos do acervo do ―Movimento Não Rio Sem Meu Rio‖.

4.1 Procedimento de coleta de dados

O projeto foi apresentado à direção da Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato

Ribeiro com a finalidade de solicitar a autorização para desenvolver a pesquisa utilizando-se

os dados da escola. Concedida a autorização, foi solicitado o Projeto Político-Pedagógico

mais atual da escola, sendo este o de 2011, porque as escolas elaboram seus documentos

em intervalos de quatro anos. O Projeto Político-Pedagógico foi analisado tendo como modo

de coleta de dados a análise documental. A análise de conteúdo é utilizada, segundo

Triviños (1987, apud SOUZA, 2009), ―[...] para o desvendar das ideologias que podem existir

nos dispositivos legais, princípios, diretrizes etc., que, a simples vista, não se apresentam

com a devida clareza‖. O documento foi lido e as informações obtidas com a análise de

conteúdo foram organizadas, divididas em partes e identificadas por tendências relevantes.

As fotos referentes ao Rio Trairi foram cedidas pelo fundador do ―Movimento Não Rio

Sem Meu Rio‖. Portanto o presente estudo tratou-se de uma pesquisa documental e de

abordagem qualitativa, tendo como base os documentos Projeto Político Pedagógico da

Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato Ribeiro (Anexo G) do ano de 2011 (mais atual),

os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases.

23

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Realizada a avaliação do Projeto Político Pedagógico da EEM Raimundo Nonato

Ribeiro, pudemos observar que há uma preocupação com a contextualização histórica,

social e cultural do município onde estão inseridos. Pode-se comprovar através dos

seguintes trechos:

“Nossas práticas culturais são muito diversificadas indo desde a prática de esporte,

danças regionais, festas de padroeiros nas comunidades e outras práticas religiosas.

Assim, na perspectiva de formação de um ser humano pensante e ativo, buscamos,

nesta Escola, garantir a construção de conhecimentos e valores para uma

compreensão crítica e transformadora da realidade na qual estamos inseridos.” (p.4)

Ainda segundo a Escola o ―conhecimento precisa ser tratado de forma integrada ao

contexto sociocultural, provocando, se bem trabalhado na transposição didática,

aprendizagens significativas e uma relação de reciprocidade entre o aluno e o objeto de

conhecimento‖.

Foi observado, também, que no Projeto Político Pedagógico da EEM Raimundo

Nonato Ribeiro existe a anotação das regras de convivência dentro da escola (Direitos e

Deveres), da função pedagógica de cada funcionário do corpo discente, além de um

detalhamento sobre os problemas identificados que são relacionados com o ensino e a

aprendizagem.

Embasado nisto, observou-se que a Escola elaborou o seu Projeto Político

Pedagógico seguindo uma linha emancipatória, que segundo Souza (2009), é uma atividade

que ocorre de dentro para fora, numa situação na qual todos os envolvidos com o processo

educacional pensam em alternativas que possam melhorar a educação oferecida na

Unidade Escolar. Sendo assim, a reflexão parte da observação apurada da realidade da

escola e de seus problemas, para, posteriormente, os professores, o coordenador, o gestor,

os funcionários, os alunos e a comunidade buscarem alternativas para que a Unidade

Escolar possa garantir, a todos, o desenvolvimento de sua aprendizagem.

Quanto à promoção de eventos e palestras relacionados à Educação Ambiental a

Escola elaborou uma única campanha sobre a utilização de sacolas plásticas, não inserindo

o Rio Trairi como parte deste conteúdo relacionado à problemática local. Portanto, em

nenhum momento o colégio citou ou trabalhou o Rio Trairi como uma ferramenta

complementar de Educação Ambiental ou contextualização da problemática ambiental local.

24

Segundo as bases legais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio

(2000), do ponto de vista dos sistemas de ensino, está representada pela formulação de

uma matriz curricular básica, que desenvolva a Base Nacional Comum, considerando as

demandas regionais do ponto de vista sociocultural, econômico e político. Deve refletir uma

concepção curricular que oriente o Ensino Médio no seu sistema, ressignificando-o, sem

impedir, entretanto, a flexibilidade da manifestação dos projetos curriculares das escolas. O

desenvolvimento da parte diversificada pode ocorrer no próprio estabelecimento de ensino

ou em outro estabelecimento conveniado (PCN, 2000).

Deste modo o Rio Trairi pode ser utilizado como uma sala de aula ao ar livre para

diversas disciplinas, como História, Geografia, Física e Biologia, tornando a aula mais

dinâmica.

Para a disciplina de História poderá ser discutido entre os alunos qual a importância

do rio para a história do município, levando em conta fatores políticos, econômicos, sociais e

ambientais. É possível também estabelecer relações entre continuidade/permanência e

ruptura/transformação nos processos históricos através de entrevistas com moradores

antigos sobre como era o rio e o município há anos atrás, abordando a investigação,

compreensão do tempo histórico.

Em Geografia podem ser trabalhados no Rio Trairi os conceitos de paisagem e

escalas. O primeiro, através da caracterização do rio, identificando elementos naturais e

impostos pelo homem através da cultura, trabalho e emoções. O segundo tema pode ter sua

importância enfatizada sobre a necessidade de ter uma relação numérica entre a realidade

concreta e a realidade representada cartograficamente. Além desses dois temas iniciais, o

conteúdo de relevo e hidrografia podem ser bastante explorados. Por exemplo, a relação do

relevo com a erosão e assoreamento do rio. Quanto aos recursos hídricos é relevante falar

dos tipos de rios, bacias hidrográficas, além da relação relevo x hidrografia x vegetação.

Em Física, através da observação do Rio Trairi, podem ser identificadas as

grandezas físicas que atuam no local, as formas de energia existentes e algumas

propriedades da matéria. É possível comparar os tipos de ondas e suas propagações

através do movimento das águas do rio e o que acontece quando jogamos uma pedra, por

exemplo.

Para a disciplina de Biologia o Rio Trairi pode ser explorado de várias formas.

Inicialmente é possível observar a interdependência da vida analisando o rio, descrevendo

as características do ecossistema e o conjunto de seres vivos existentes. É importante

também reconhecer que os seres vivos presentes no Rio Trairi e em qualquer ecossistema,

mantém entre si relações de convivência, sendo estas benéficas ou maléficas, e sua

importância para a manutenção do sistema no qual estão inseridos. Podem, também, fazer

25

um levantamento de dados através da observação e pesquisa dos registros referentes ao

Rio Trairi e seu ecossistema, como luminosidade, umidade, temperatura, etc.

Existe também a possibilidade de utilizar os seres vivos presentes no Rio Trairi para

a confecção de esquemas de cadeias alimentares, ciclos biogeoquímicos e a transferência

de matéria de um organismo para outro. Além disso, o professor deve levar os alunos a

discutir sobre como o ser humano interfere no efeito estufa e na eutrofização de corpos

d‘água como o próprio rio, e, propor medidas para reduzir a poluição ambiental. Os alunos

podem pesquisar sobre o destino do lixo no município e entrevistar os moradores para saber

suas opiniões sobre o meio ambiente. Quanto à saúde ambiental os alunos podem

pesquisar, analisar e caracterizar as condições de saneamento básico no seu bairro e

comparar em sala de aula. Além disso, seria importante que os alunos conhecessem as

principais formas de tratamento de água e qual é o destino dos dejetos orgânicos. Além

dessas recomendações de utilização do Rio Trairi, é possível utilizá-lo como objeto de

observação para exercitar o método científico, e, como indicador de qualidade ambiental.

É importante ressaltar a importância do Rio Trairi para o município, a comunidade

escolar e população de modo geral. Historicamente a Vila de Trairi foi fundada em 12 de

novembro de 1863, mas sofreu um processo marcado por diversas transferências e

instabilidades. E somente em 1875 foi confirmado o nome de Trairi, que significa, na língua

indígena, ―Rio das Traíras‖ (NASCIMENTO, 2008). Portanto, desde então, o nome do

município se mantém o mesmo, nomeado devido ao Rio Trairi (ou ―Rio das Traíras‖).

Além do fator histórico, o Rio Trairi é a fonte de água para irrigação das culturas de

subsistência de seus ribeirinhos e é através de seus mananciais que a população retira sua

água para consumo humano. Deste modo desempenha também um papel socioeconômico.

Há cerca de 25 anos atrás, o rio também era utilizado como ponto de lazer da população,

pois suas águas eram limpas e próprias para o banho, tornando-se um grande referencial

turístico da cidade na época.

Portanto é importante que os alunos, como cidadãos, percebam a grandiosidade do

Rio Trairi para o município, para que despertem uma consciência para a preservação dos

recursos naturais e uma preparação para um futuro mais sustentável.

Verificou-se a existência de um movimento que há onze anos sensibiliza a população

local para as questões ambientais locais, com enfoque aos mananciais do Rio Trairi,

realizando palestras nas diversas escolas do município, incluindo a EEM Raimundo Nonato

Ribeiro, além de outras ações de cunho ecológico.

O Movimento ―Não Rio Sem Meu Rio‖ (Anexo H) surgiu em 2002 no município de

Trairi e em 2003 estendeu suas atividades por toda microrregião de Itapipoca. Como o nome

já diz, o movimento visa despertar a consciência das pessoas sobre a importância de cuidar

bem dos rios. Além de participar efetivamente através da educação ambiental, o ―Não Rio

26

Sem Meu Rio‖ tem feito trabalhos como recuperação de matas ciliares degradadas, através

do plantio de árvores nativas com sistema de irrigação e mutirões de limpeza. Atualmente o

movimento está passando por um processo de reconhecimento, onde deixará de ser apenas

uma campanha popular para legalizar-se na forma de Organização Não Governamental

(ONG).

Este movimento Não Rio Sem Meu Rio é um exemplo que as escolas do município

deveriam tomar para seus currículos, pois engloba, além de ativismo ecológico, a

valorização dos recursos naturais da região.

Segundo Barcelos (2002, p.8 apud QUADROS, 2007, p.14), o descontentamento e a

não aceitação passiva do que está acontecendo no mundo é o que pode suscitar nossa

criação imaginativa na construção de uma teoria crítica do que existe, e viabilizar sua

recuperação. A mudança é de fato necessária, e relevante é sua importância, a questão é,

quando e como mudar, transformar, melhorar. Contudo, para haver uma mudança

significativa, faz-se necessário a vontade, iniciativa e ação individual, concernente à

subjetividade e a identidade de cada um (QUADROS, 2007).

Portanto, o movimento Não Rio Sem Meu Rio, sem dúvida, marcou o início de um

processo de mudança social através da Educação Ambiental e mobilização de estudantes,

professores, autoridades locais e cidadãos de modo geral.

27

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi feito um diagnóstico da Escola de Ensino Médio Raimundo Nonato

Ribeiro com o intuito de verificar a inserção do Rio Trairi como ferramenta de educação

ambiental e analisar se suas ações estavam de acordo com os Parâmetros Curriculares

Nacionais. A EEM Raimundo Nonato Ribeiro, através de seu PPP, demonstra que há uma

grande valorização do contexto histórico, econômico e cultural do município e que busca

contemplar esses fatores em suas atividades pedagógicas; entretanto, a escola não utiliza o

Rio Trairi como ferramenta de Educação Ambiental.

Ainda de acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola percebeu-se que há

uma carência de projetos para abordar a Educação Ambiental - tanto a nível de tema

transversal, através da interdisciplinaridade e contextualização da situação ambiental local -

quanto a nível de promoção de palestras, oficinas e minicursos relacionados ao ambiente

em geral. Segundo informações cedidas pela escola, foi elaborado um único projeto que

contemplava a Educação Ambiental, apesar de não inserir o Rio Trairi como uma

contextualização da problemática local, ou seja, diverge do Artigo 26 da Lei 3.394/96 (Lei de

Diretrizes e Bases – LDB), onde diz que os currículos da educação infantil, do ensino

fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em

cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,

exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos

educandos, ou seja, o Rio Trairi deveria estar incluído no currículo da escola para

complementar sua base nacional comum.

Sabendo que a Educação Ambiental é um tema de grande relevância social e

acadêmica nos assuntos contemporâneos – além de ser uma proposta curricular obrigatória

- faz-se necessário uma transformação nas escolas, através da implementação de novas

metodologias de ensino que superem a aula verbalística. Para alcançar os resultados

esperados é necessário iniciar um processo de capacitação e qualificação dos professores

segundo as demandas da sociedade contemporânea para a educação. Portanto podemos

afirmar que o Rio Trairi é de grande importância ambiental, econômica e social, pois é dos

mananciais deste rio que a população obtém água para consumo humano e irrigação, além

de ainda ser um grande potencial turístico.

Podemos considerar também que o rio é uma sala de aula externa e dinâmica não

aproveitada pela escola em questão, o que reflete também, a realidade das demais escolas.

Por isso é necessário um processo de transformação na escola e na sociedade, visando

uma educação completa e um desenvolvimento sustentável para sua cidade.

28

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VEIGA, I.P.A. Projeto Político Pedagógico: Uma construção possível. Cortez, 2001.

31

ANEXOS

32

ANEXO A: LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TRAIRI, CEARÁ,

BRASIL.

Fonte: Google Maps, 2013.

33

ANEXO B: DEJETOS DO SANEAMENTO BÁSICO, TRAIRI, CEARÁ

Fonte: BARBOSA, M. A.

34

ANEXO C: RIO TRAIRI (CE) EM 2007 E 1988.

Fonte: BARBOSA, M.A.

35

ANEXO D: BACIA DO LITORAL.

Fonte: Pacto das Águas, 2009.

36

ANEXO E: MUNICÍPIOS QUE PERTENCEM À BACIA DO LITORAL.

Vonte

: Pacto das Águas, 2009.

37

ANEXO F: FOTOMONTAGEM DO COMPLEXO DE LAGAMARES DO

RIO TRAIRI, CEARÁ, BRASIL.

Fonte: BARBOSA, M.A.

38

ANEXO G: PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA EEM RAIMUNDO

NONATO RIBEIRO.

39

ANEXO H: LOGOMARCA DO MOVIMENTO NÃO RIO SEM MEU RIO.

Fonte: BARBOSA, M.A.