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Macaé Memórias Recentes Marilena Garcia Meynardo Rocha de Carvalho (Organizadores) 1 a Edição Macaé - RJ Prefeitura Municipal de Macaé 2019

Prefeitura de Macaé

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MacaéMemórias Recentes

Marilena Garcia

Meynardo Rocha de Carvalho

(Organizadores)

1a Edição

Macaé - RJ

Prefeitura Municipal de Macaé

2019

ESTA PÁGINA: Pico do Frade. 2013.Foto: Livio Campos

Organização: Marilena Pereira Garcia Meynardo Rocha de Carvalho

Coordenação de projeto e equipe: Meynardo Rocha de Carvalho

Pesquisas biográfi cas, roteiros e entrevistas: Ivana Matos Pinheiro Tavares Lidia de Aguiar Silva de Paula

Pesquisas históricas, edição de textos e notas: Vilcson Matteus dos Santos Gavinho

Registros e edição audiovisual: Anísio Rodrigues Pereira

Transcrições de áudios em textos: Paula de Aguiar Silva Azevedo Sarah de Aguiar Silva Azevedo Victor Botelho

Revisão de textos transcritos: Ivana Matos Pinheiro Tavares

Revisão ortográfi ca: Maria Cristina Marques Rodrigo da Costa Araújo Vera Lúcia Machado de Oliveira

Fotografi as: Livio Campos Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ) (Acervo histórico)

Consultoria de dados para notas: Alzira Rosa dos Santos Gavinho � omaz Carlos Renato da Costa Porto Gilson Caldwell do Coutto Nazareth (in memoriam) Marco Antonio de Oliveira Maria Helena Carneiro da Silva

Projeto gráfi co e ilustrações:Cecilia de Oliveira

M133 Macaé Memórias Recentes / Marilena Pereira Garcia, Meynardo Rocha de Carvalho (organizadores).-- Macaé, RJ : Prefeitura Municipal de Macaé, 2019. 340 p. : il. ISBN 978-65-80683-02-4 Inclui bibliografi a.

1. Macaé - História. 2. História oral. 3. Memória social. 4. Iconografi a. I. Garcia, Marilena Pereira. II. Carvalho, Meynardo Rocha de.

CDD 981.53

CIP - Catalogação na Publicação

Ficha catalográfi ca elaborada, com osdados fornecidos pelos organizadores, pela Biblioteca do

Campus UFRJ-Macaé Professor Aloísio TeixeiraBibliotecária: Rosangela Ribeiro Magnani Diogo CRB7 – 3719

CAPA: Pico do Frade.Ilustração a parti r de foto de Meynardo Rocha de Carvalho

Prefeitura Municipal de MacaéPrefeito Aluízio dos Santos Júnior

Secretaria Municipal de EducaçãoCarlos Augusto Garcia de Assis

Secretaria Municipal Adjunta de Ensino SuperiorMarcio Magini

ESTA PÁGINA: Pico do Frade. 2013.CAPA: Pico do Frade.

Elizabeth Franco de Azevedo Ramos, Marcia Franco de Azevedo Curvelloe Luciana Franco de Azevedo 116Professoras, macaenses, amantes das histórias do ti o Cláudio Moacyr e da cidade que as teve como berço.

Flávio Cunha Cavour Pereira de Almeida 126Contador e ambientalista, macaense de Quissamã, foi um dos responsáveis pela criação do Parque Nacional da Resti nga de Jurubati ba.

Irani Carlos Varella e Elizabeth Prestes Varella 134Ele, engenheiro; ela, Assistente Social, Beth e Irani compõem o grupo das primeiras famílias petroleiras no município. Os anos passaram, o amor por Macaé conti nua.

José Augusto Abreu Aguiar 142Professor, campista de nascimento, mas macaense de coração. Por aqui fez e ensinou tantas Histórias.

José Martins Fagundes Júnior 154Engenheiro, petroleiro, um dos responsáveis pela escolha de Macaé para montagem da Base da Petrobras. Amante e morador da cidade até hoje.

José Milbs de Lacerda Gama 162Escritor/Jornalista, macaense da Rua do Meio, garoto da Imbeti ba numa cidade onde as pessoas se cumprimentavam com o bom dia.

José Walmir Moreira Dias 168Engenheiro, junto com sua esposa compôs o primeiro grupo de petroleiros a chegar em Macaé, fez de Macaé sua casa e não se vê fora daqui.

Agradecimentos 9

Macaé, uma cidade em constantes transformações: Ricardo Meirelles 10

Este Trabalho: Marilena Garcia 13

Cidade, Memória e Território: Meynardo Rocha de Carvalho 15

Macaé: a Memória da História - dos primordios até 1960: Vilcson Gavinho 20

Alfeu de Melo Valença 30Petroleiro, chegou a Macaé no primeiro grupo de funcionários da Petrobrás. Foi Superintendente; depois Presidente da empresa.

Angela de Almeida Terra Agostinho 40Professora, idealista, nascida em São Pedro da Aldeia, mas com uma vida de experiências em Macaé.

Aristoteles Clinton da Silva Santos 52Empresário, macaense, fi lho do Professor Miguel Ângelo da Silva Santos, apaixonado por sua cidade.

Armando Barreto 60Jornalista, macaense da Rua Ferreira Viana, encantado pelo Rio Macaé onde aprendeu a nadar.

Ciro José Lopes de Oliveira 72Bancário do BANERJ, macaense de Conceição de Macabu, fi lho amado da Profa. Laércia.

Claudia Marcia Vasconcelos da Rocha 86Professora, campista de nascimento, macaense de coração e vida! Aluna e depois professora ícone do Colégio Luiz Reid.

Cláudio Augusto da Silva Santos 96Arquiteto, macaense, fi lho do Professor Miguel Ângelo da Silva Santos, fez da Praia do Forte o quintal de casa na infância.

Darlan Cézar Simões Pinheiro 108Empresário, macaense, acompanhou as mudanças no mercado imobiliário da cidade. Apaixonado pelas histórias de Macaé.

Sumário

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Arquipélogo de Santana.Ilustração a parti r de foto de Meynardo Rocha de Carvalho

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Lilian Nogueira de Almeida 180Comerciante nata, nascida em Barbacena, mas macaense de coração. Chegou em Macaé em 1979 acompanhando marido José Sílvio, que era petroleiro. Liderança no MAI, movimentou a cidade.

Lúcio Duval Barbosa - Chin 188Músico, fi lho de uma família professores, nasceu em Macaé no Hospital Menino Jesus.

Luiz Claudio Bittencourt - Dunga 198Fotógrafo/Escultor, macaense, fi lho de Dona Yvone Bi� encourt, registra a cidade desde os anos 70, demarcando as mudanças e poeti zando as saudades.

Marilena Pereira Garcia 210Professora, macaense, primeira vereadora a se eleger no município, grande liderança na campanha pelos royalti es de petróleo.

Martinho Santafé 224Jornalista/ambientalista, natural de Campos dos Goytacazes, chegou em Macaé em 1981; é o realizador da Feira de Responsabilidade Socioambiental de Macaé.

Milward de Sousa Barreto 232Professor, macaense, nascido em Conceição de Macabu, apaixonado pelos fi lhos, amante das letras e admirador da grande Profa. Ancyra Gonçalves Pimentel.

Moadyr Victorino 242Ator/Diretor, macaense, morador da Rua Tenente Coronel Amado; amante de circo, das artes, da representação.

Ricardo Meirelles Vieira 250Professor/Teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, mas mudou-se cedo para Macaé. Neto de Lafaye� e Vieira, tem lembranças de hospitais superadas pelo afeto a Macaé.

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Rita de Fátima Manhães Gomes Barreto 260Professora, campista de nascimento, macaense de coração; fundadora do Sentrinho, é referência na educação, assim como na inclusão e no afeto.

Romulo Alexander Campos 270Fotógrafo/Jornalista, niteroiense, ainda criança chegou na cidade para passar férias com a família e nunca mais voltou. Desde então tem sua vida afeti vamente entrelaçada com Macaé.

Rubem Gonzaga de Almeida Pereira 282Funcionário público/Políti co, macaense de Quissamã, veio para Macaé criança, foi alfabeti zado no Mati as Neto embora já sabendo ler. O passado e o presente formam um laço em suas lembranças.

Selma Pinheiro Ferraz 292Funcionária pública/Doceira, macaense, neta do Sr. Álvaro Pinheiro; com suas mãos de fadas fez festas maravilhosas que adoçam as memórias de muitos macaenses.

Venício de Oliveira 302Ferroviário/Políti co, macaense dos Cajueiros, foi “menino do SENAI” e funcionário da Leopoldina, conheceu a auge da ferrovia e a sua transição.

Widelmo Natalino 310Funcionário público, paulista de Penápolis, chegou a Macaé ainda criança. Parti cipou de dentro da Prefeitura de muitas administrações e mudanças no município. Organizou, brincou e se diverti u em muitos carnavais.

Yolanda Maria Crocker Ritzmann 320Empresária, curiti bana, chegou em Macaé em 1980 quando a empresa de seu marido veio prestar serviços à Petrobras. Amante do Vale Encantado e do pôr-do-sol na Serra Macaense.

Referências de acervos e fontes utilizados na elaboração das notas 327

Arquipélogo de Santana.Ilustração a parti r de foto de Meynardo Rocha de Carvalho

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Este livro é o resultado de um desejo coletivo de pessoas que estiveram diretamente envolvidas para que essa obra se concretizasse. Um livro que é também fruto da urgência em contar uma parte da história das mudanças e transformações que o município de Macaé viveu nas últimas décadas. E da necessidade de registrar essas vozes, deixando a nossa experiência para as gerações futuras.

Assim, agradeçemos aos que, direta ou indiretamente, participaram e foram impactados pelas transformações que ocorreram em nossa cidade. Através dos depoimentos expressos neste trabalho, temos um pouco da voz de cada um.

Agradecemos, principalmente, a todos os macaenses que, por gerações, vêm dando vida a Macaé e construindo nela as suas histórias. Sem cada um de nós, sem as nossas trajetórias e as nossas diferenças, não haveria cidade e não haveria essa riqueza contada nas páginas a seguir.

Marilena Garcia

Agradecimentos

An� go Farol.Ilustração a parti r de Cartão Postal. S/d.Acervo:

Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé-RJ.

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O progresso chegou...

Assim gritou o povo numa euforia incontida quando viu a Petrobras dar os primeiros passos para se instalar na praia de Imbetiba. “Logo, logo a Imbetiba, quem diria, quase virou Praça Mauá”: adeus Praia, adeus trampolim, adeus ondas. Macaé rapidamente deixava de ser uma cidade balneária, bucólica, com muitos casos e personagens dignos de estarem nas páginas dos maiores autores da literatura universal. O pragmatismo marcha, aceleradamente, de cidade horizontal passamos, gradativamente, a ser vertical, muda radicalmente a população. Bairros surgem em velocidade de fórmula 1. Carros e mais carros entopem as nossas ruas. Violência, criminalidade e favelas tornam-se uma cruel realidade para a cidade, que agora tem riqueza e força econômica, nunca vista antes.

Macaé se constrói e se destrói da noite para o dia. Muda a população, muda a arquitetura, mudam os costumes. Hoje, a cidade universitária é um farol de luz para os novos e antigos macaenses. Os antigos, que viram os seus fi lhos saírem em busca de um ensino universitário, que aqui não existia. Dessa forma, perdemos alguns e muitos, para sempre, de macaenses ilustres que com os seus estudos e saber, atuam por esses ‘Brasis’ e mundo afora, sem nunca mais retornarem a sua terra natal. Os novos macaenses, geração do futuro, com as oportunidades atuais da cidade, aqui irão trabalhar, constituir família, gerando novos macaenses, que não precisarão mais sair da cidade em busca de conhecimento e oportunidades. Assim, reconstruiremos uma Macaé sólida, de raízes fortes e bem plantadas, no solo dessa terra fértil. É o movimento da história...

Esse livro colheu depoimentos de alguns macaenses, atuantes em âmbitos diversos e recentes, que ajudaram a construir a história desse município, mostrando através de fragmentos da memória afetiva, a importante reconstituição de uma época.

Parabéns a todos os envolvidos nesta iniciativa.

Nos idos dos anos de 1960 e de 1970, anos da minha juventude, todo o mundo se conhecia em Macaé. Frequentávamos as grandes festas, os bailes, os mesmos clubes. O encontro da juventude era na bonita Praia de Imbetiba, onde tudo de bom acontecia, ao som do violão, da vitrola de pilha portátil, tocando os Beatles e a Bossa Nova. Muitas vezes o sol castigava derretendo o velho LP de vinil!

Foram verões inesquecíveis de uma “grande família” praieira. De dia, sol e mar. À noite, lua e bar. Bares que se espalhavam na orla da Imbetiba. A Choupana das Rosas era um marco de arquitetura e confraternização dos fi ns de tarde, assim como a Casa Amarela. O Colégio Luiz Reid era uma importante referência do ensino ginasial. O aniversário da cidade era aguardado com ansiedade pelos rapazes, para verem as jovens moças desfi larem pela primeira vez na passarela, fazendo o seu ‘debu’ na sociedade local.

Para quem viveu esse período, é inesquecível a saída dos estudantes e operários às 11h (hora do almoço), das Ofi cinas da Imbetiba e da Escola do SENAI, de onde centenas de bicicletas das mais diversas invadiam a pista da Av. Agenor Caldas. A bicicleta era o principal meio de locomoção dos macaenses. Coletivo, só o velho ônibus Gaturano, sem hora certa para passar. Carros eram poucos...

Distraía-me com os meus primos, da janela da casa do meu avô, que fi cava onde hoje é o Teatro Municipal, contando quantos carros passaram naquela tarde. Chapa branca como ambulância valia por cinco!

O Café Belas Artes era frequentado por políticos e homens de negócios, o Cine Taboada era uma referência cultural: cinema e teatro. Sobravam para o Cine Santa Izabel, os velhos fi lmes de faroeste com uma plateia frenética, que muitas vezes intervinha no fi lme, avisando ao mocinho onde estava o bandido, salvando-o, assim, de uma perigosa emboscada.

Um dia, em pleno Café Belas Artes, Lafayeth Vieira, próspero comerciante, sem mais nem porquê, anunciou que iria abrir um posto de gasolina. Os homens de negócio entreolharam-se, achando que ele fi cara louco. Não, não fi cara! Esse posto sobrevive até hoje, com outro dono e outro nome. Não se chama mais São Cristóvão, time do coração do meu avô e do meu pai.

Politicamente, Macaé sempre foi uma cidade de efervescência de ideias renovadoras, com uma forte tendência de esquerda capitaneada pela força dos ferroviários, sindicatos e federação de estudantes secundários. Essas três junções eram uma forte referência social e política. Durante o período do regime militar, Macaé jamais elegeu um prefeito da ARENA (partido ligado ao governo federal). Elegia sempre um prefeito do MDB (partido de oposição).

Macaé, uma cidade em constantes transformações

Ricardo Meirelles

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Av Presidente Sodré margeando o Rio Macaé.

Ilustração a parti r de Cartão Postal. S/d.Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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“A memória é a possibilidade de viver uma experiência e transmiti-la às novas gerações. Foi por meio dessa faculdade que o homem acumulou conhecimento, repassou a

outras gerações e constituiu toda a cultura e saber sobre a realidade.”

(Olga Rodrigues de Moraes von Sinsom – Diretora do Centro de Memória da Unicamp)

Este livro é o registro de lembranças, sentimentos, visões e olhares diferenciados, de alguns macaenses, filhos da terra por direito ou adoção voluntária, que viveram o cotidiano do fenômeno histórico, que aconteceu em minha cidade, Macaé, a partir de 1974, com a descoberta de petróleo na Bacia de Campos.

Ali, um novo ciclo histórico, econômico e cultural se inicia, determinando profundas transformações na sua sociedade. De uma cidade tranquila e estruturada nas suas redes de circulação quase familiares, a uma sociedade impactada pelo crescimento desenfreado, por excesso de recursos e por um fluxo migratório diversificado e sempre crescente.

Essas experiências mereciam ser registradas e é esse o primeiro propósito deste “Macaé Memórias Recentes”. Os fatos aqui anotados, frutos de registros físicos ou de lembranças pessoais, reconstituíram um tempo. Um tempo que merece ser estudado à luz da sua época para, a partir dele, podermos compreender o presente e construir o futuro. Eis aqui o segundo e mais importante objetivo deste livro.

A memória dá encadeamento à identidade cultural de um povo, dando forma à maneira como suas classes foram se constituindo e aos embates travados ao longo de sua história. Todo e qualquer tipo de memória, seja pública ou privada, é relevante para a sociedade, pois é a partir dela que se constrói a memória coletiva.

No sentido da identidade nacional, a preservação de memórias privadas possui um caráter democrático e atua de forma decisiva na formação de uma visão mais ampla e crítica dos fatos com a revelação de outras visões além da história oficial. Destaca a participação de homens e mulheres como sujeitos ativos na construção do conhecimento em espaços e tempos determinados. Através desse contato com o passado, nossa capacidade de atuar mais criticamente sobre a realidade, e certamente transformá-la, se torna mais inteligível e concreta.

Este livro deseja suscitar essa questão extremamente atual, que é a da preservação da memória para ampliar o debate democrático e a reflexão no exercício da cidadania. Sendo assim, desejo destacar o papel importantíssimo daquelas pessoas que deram depoimentos e dividiram suas histórias, sem as quais esta narrativa ficaria incompleta.

Meu carinho maior à toda população macaense, surpresa e perplexa no momento do impacto inicial das mudanças, mas, como sempre, capaz de responder aos desafios históricos que lhe foram apresentados.

Este trabalhoMarilena Garcia

Organizadora

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Praia dos Cavaleiros.Ilustração a partir de foto de

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“O Homem que vive a Cidade, também é a sua História.”

O desejo de construir esse livro surgiu em 2011, em uma tarde bonita, de encontro e abraço, numa saleta aconchegante do antigo Hotel Ouro Negro. Onde em companhia de dois macaenses legítimos, que aprendi a admirar - Marilena Garcia e Joelson Rodrigues - eu, “forasteiro”, ouvi inúmeras histórias, me comovi com tantas delas; rimos e choramos as experiências de pessoas e vidas em uma Macaé que não era mais a mesma, mas que retornava ali à nossa frente, a ponto de sentirmos seus cheiros, ouvirmos suas vozes, mergulharmos em seu Rio, nos banharmos em seu Mar... Aquelas lembranças eram um portal maravilhoso, conduzindo-nos, subjetivamente, daquela sala do hotel a outros tempos tão diversos. Passados em realidade, mas atuais em nossas representações.

Deles, emergiram as festas tradicionais, clubes e bailes, o comércio e a pesca, numa paisagem inconfundível de encontros: do Rio com o Mar, da Rua Direita com as Praças, dos trens com a antiga Estação, e de sua gente tão diversa, marcada, involuntariamente, em suas experiências individuais. Homens e mulheres, idosos ou crianças, que ajudaram a tecer a vida dessa Cidade, sem se darem conta de que eram envolvidos por ela, pelo laço do amor, pelo nó do sofrimento, pela esperança em seu futuro! Sem se perceberem ainda, que ao vivê-la, tornavam-se testemunhos de sua história, depositários de muitas memórias sobre a Macaé de cada um.

Eis então o espírito de nosso trabalho: recompor uma teia signifi cativa no entorno de Macaé a partir de experiências fragmentadas no todo da Cidade. Sem a pretensão de dominar o início da meada, mas dando foco ao tempo das maiores transformações, enredando em nós a tessitura da memória coletiva através das lembranças individuais. E, nesse sentido, resgatar valores como pertencimento, encontros culturais e entendimento de novos padrões sociais em formação; na contramão de posturas de expropriação, desrespeito e transitoriedade, próprios da mentalidade capitalista exploratória. Como se compuséssemos, a partir de bordas esfarrapadas, imagens centrais de uma tapeçaria mitológica, cuja temática, entre dezenas de personagens, sobressaísse a Princesinha do Atlântico.

Cientes do desafi o, nos lançamos nessa tarefa. Grandes foram as barreiras, mas imenso o nosso desejo. Reunir pessoas, adequar agendas, transcrever suas falas, estabelecer referências históricas! Encontrar a metodologia adequada a um trabalho que já nasceria incompleto, foi certamente um dos grandes obstáculos. Já que a limitação material o fazia, de certa forma, frustrante para qualquer amante do passado, que o deseja reter completamente.

Trinta entrevistas apenas, para uma Cidade inteira de histórias. Fazendo-nos aquiescer de que a vida realmente não cabe num livro; a vida, às vezes, parece nem caber nela mesma. Daí o valor das pequenas experiências, do cotidiano vivido na Cidade, agora aqui, em parte, singelamente registrado. Como se fosse um monumento erigido à honra de Macaé.

No entanto, esquecer ainda é uma atividade mais cômoda do que recordar. Especialmente em uma época tão fl uida, em território próspero, de vãs mentalidades tão petrolíferas. Contexto no qual as experiências passadas se esvaem em anonimato, em falta de registros, em abraços de fi nitude com o tempo. Como as águas do Rio

Cidade, Memória e TerritórioMeynardo Rocha de Carvalho1

Organizador

Av. Ruy Barbosa - MacaéCartão postal

Armandinho. Macaé (RJ), s/d.Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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O que estava acontecendo?

Hoje, de certa forma ainda alarmados, continuamos a nos perguntar: o que aconteceu?

Quando foi perdido o fi o da meada?

Mas será que de fato esse fi o se perdeu? Ou se reconstruiu a partir de novas vidas, forasteiras, destinos que para cá vieram tangidos pela força do capital, envoltos em sonhos e oportunidades, marcados de amores... entre tantas outras possibilidades humanas?!

Que cidade é essa?

(...)

Em busca dessas respostas, através da limitada penetração nas memórias individuais, é que o livro se propõe recordar Macaé. E nesse sentido, revelá-la através de múltiplas histórias. E reconstruí-la pelo olhar individual, com o cheiro da saudade e as cores de um passado recente, ao mesmo tempo em que se apresenta tão distante. Sem lamentos, nem tristezas... mas em tom de homenagem e agradecimento!

Macaé ao se encontrarem letalmente com o Mar. Por isso mesmo, como todos os esforços em prol do resguardo do passado, esse livro é uma pequena parte de um todo, do muito que se foi nas águas, ou do que ainda está por aí encantado, esperando a oportunidade para também se registrar.

Finalizado em 2015, somente agora emerge publicamente. Quando sob o efeito da fl uidez, em ampulheta de tempo e vida, sete entrevistados já não se encontram fi sicamente entre nós, perpetuados, no entanto, através de suas memórias, e do amor pela Cidade Querida. Que também se modifi ca e se refaz a cada dia, seja frente à crise econômica dos últimos anos, ou à dinâmica mundial na qual se encontra inserida.

Tudo passa! Tudo está em movimento!

Lembrar, portanto, é esforçar-se para atravessar um rio. É não deixar-se molhar completamente por Lethé, muito menos encantar-se pela letargia de suas águas. Lembrar, também, é um trabalho de movimento (contrário), de envidamento de esforços para a construção de imagens do passado, utilizando-se dos meios à nossa volta, das experiências fundamentais complementadas pelo tempo então presente, contemporaneamente, à nossa disposição.

Buscamos assim apaziguar a relação entre os campos da Memória Social e da História, de modo a contribuírem para registrar Macaé como patrimônio de si mesma. Num encontro dialético, consolidado pelo respeito e afeto de lembranças de uma “Cidade passada” com as experiências do “homem presente”, tanto daquele que se recontou, quanto daqueles que, tocados por essas anotações, seguirão afetados em suas experiências cotidianas.

Assim, apresentamos trinta entrevistas, colhidas, transcritas e notifi cadas, retratando aspectos de vidas particulares em cruzamento com a realidade da Cidade. Balizadas pela dinâmica da memória que não deixa se prender, mas teima em ir e vir, e até mesmo faltar naquela hora fundamental, muitas histórias dignas deixaram de se registrar, permitindo às muitas que vieram à luz, uma leitura livre, ou sequencial. Constituindo o livro como metáfora de um álbum de fotografi as do passado, essencialmente, composto a partir de memórias. A ser cuidado com amor e guardado com desvelo, como algo que indiretamente corrobora a identidade e o passado recente do que “todos nós macaenses” também somos, ou em algum momento, passamos a ser.

Acreditando no veio épico da narrativa oral, para a qual a espontaneidade é elemento estruturante, seguimos em nosso intento de registro: histórico, coloquial, memorialístico; e buscamos trazer à tona das águas, as lembranças por elas mesmas. Não tivemos pretensões maiores, assim como também não nos portamos como despretensiosos. Registramos uma parte da Cidade, demarcamos um quinhão de Território, em um recorte de tempo curto, ou em consonância à experiência de cada entrevistado. Eis, então, “Macaé Memórias Recentes”.

Mas de qual Macaé estamos tratando?

De qual passado? De que futuro?

Como sua gente percebia a mudança dos velhos-novos tempos petrolíferos?

De meados dos anos 1970, com a chegada das primeiras famílias de funcionários da PETROBRAS, ao fi m da mesma década, com o início do processo de exploração de óleo, a Cidade foi gradativamente sofrendo o impacto que todo e qualquer tipo de atividade exploratória impõe. E o petróleo muito mais!

A corrida imobiliária, o espanto de sua gente, o recuo dos políticos locais, o avanço da violência frente ao indimensionável processo que se abatia sobre Macaé.

Seria o progresso que chegava? O fi m da “maldição de Motta Coqueiro”?

FrescolbolFoto: Livio Campos

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1 Marilena Garcia e Meynardo Rocha de Carvalho, organizadores desta obra. 19/08/2011.

2 Milward Barreto, Moadyr Victorino, Lúcio Duval (Chin), Armando Barreto e José Milbs. 04/10/2012.

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3 Meynardo Rocha de Carvalho e Lilian Nogueira de Almeida. 04/10/2012.

4 Ricardo Meirelles. No refl exo do espelho, Venício de Oliveira e Rubem Pereira.

19/08/20115 Selma Pinheiro e Marilena Garcia. 04/10/2012.

6 Angela Terra Agos� nho e Lilian Nogueira de Almeida. 04/10/2012.

7 José Fagundes, Paulo Nolasco, Rita de Fá� ma, José Walmir e Marilena Garcia.

04/10 2012. Fotos: Livio Campos.

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“Penso como Gaston Bardet [1907-1989, arquiteto e urbanista francês] quando diz que as cidades não são apenas agrupamentos de ruas e casas... as cidades são obras de arte, feitas por gerações de habitantes, acomodando-se mais, ou menos, àquilo que existia antes delas. As cidades retratam muito da personalidade coletiva de seus moradores... todos, mesmo inconscientemente, guardam um pouco de memória da História.” NAZARETH, Gilson Caldwell do Coutto (1936-2016) - Doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ), Museólogo, Genealogista, membro de antigas famílias macaenses: depoimento [set. 1995]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Rio de Janeiro-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Estudiosos de Arqueologia estimam que por volta de 8000 a.C., ainda no período glacial, no chamado Pleistoceno Final, a região sudeste do Brasil começou a ser povoada, incluindo o território do atual município de Macaé. O recuo do mar, nesse estágio, formou uma extensa orla de terra seca a leste da barreira da Serra do Mar e esta, por seus relevos sinuosos, pelas baixas temperaturas e escassez de vida animal, constituía-se em grande empecilho para que grupos humanos se expandissem do interior para o litoral. Muitos defendem a tese de uma migração, do sul para o norte, de bandos que empreenderam longas viagens estabelecendo-se na costa fl uminense. O nível do mar estava abaixo do atual e as ilhas do Arquipélago de Santana provavelmente pertenciam à costa litorânea, formando pequenos montes, preservando ossada humana, com peculiaridades científi cas, além de vestígios de interesse para a Paleontologia e a Malacologia, respectivamente o estudo de vegetais, amimais fósseis e de moluscos.

“Por causa da oscilação do nível oceânico muito do material arqueológico produzido em Macaé foi arrasado ou encontra-se submerso [...] Acredito que os sítios arqueológicos macaenses, mereçam estudos mais detidos... muita coisa boa está por vir. Aquele Arquipélago [de Santana] é precioso!” ALTAMIRANO ENCISO, Alfredo José (1940) - Doutor em Paleopatologia (FIOCRUZ), Arqueólogo com estudos realizados em Macaé: depoimento [nov. 1999]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Cabo Frio-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Análises sistematizadas desses sítios permitiriam o esclarecimento da pré-história do homem “macaense”, trazendo luz à sua estrutura social e colocando Macaé dentre as comunidades que podem orgulhar-se de contribuir para compreensão e engrandecimento da trajetória civilizatória da Humanidade. Aqueles foram sucedidos pelos grupos indígenas, da tradição tupi-guarani, que habitaram nosso território: Os Sacurus, na região serrana, viveram praticamente isolados, sendo os últimos a

terem contato com brancos catequizadores, legando muitos costumes, principalmente na culinária. Os Tamoios, na margem direita do Rio Macaé, foram os ameríndios que melhor assimilaram a cultura européia, embora tenham confrontado os portugueses em sangrentas batalhas, sendo aliados dos franceses. Do lado esquerdo do rio, a planície, estavam os Goitacás, descritos como bárbaros, porém com capacidade intelectual superior a da maioria dos silvícolas, nunca se entenderam com os europeus, impedindo o sucesso da Capitania de São Tomé.

“Numa leitura bairrista poderíamos dizer que o personagem Peri, protagonista do romance ‘O Guarani’ [de José de Alencar], era macaense.(Risos!) Sim, ele é descrito como um ‘chefe goitacá’. Sua ligação com a fi dalga Ceci representa a síntese racial do povo brasileiro. Eu mesma, pelo lado Rocha, descendo de uma índia goitacá com um padre! (Risos!)” UCHÔA, Yolanda de Souza (1912-1999) - Macaense, Professora, Poetisa, membro de uma tradicional família do antigo distrito de Carapebus: depoimento [out. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Rio de Janeiro-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Já em 1557, na obra “As Singularidades da França Antártica, também Nomeada América e de Mais Terras e Ilhas Descobertas de Nossos Tempos”, o frade francês André Th evet relatou o seu desembarque na barra do Rio Maqué, sendo recebido por indígenas. Em 1578, outro francês, Jean de Léry, publicou o livro “História de uma viagem feita à terra do Brasil, também dita América”, com referência ao nome Macaé e observações sobre a região. Desde então surgiram registros equivocados sobre o signifi cado do nome, como: “arara-verde”, “rio-fundo” e “rio-salgado”, porém o erro mais comum é “rio-dos-bagres”, pela abundância do pescado. Quanto à origem do termo, não resta dúvidas tratar-se de vocábulo indígena, procedente da corruptela “maca-ê”, que signifi ca “coco-doce”, produzido pela palmácea macabaíba.

“Lembro bem do tempo em que se escrevia Macaé com ‘agá’, Macahé. Fui alfabetizado escrevendo assim, no colégio de Dona Irene [Meirelles]. Com a reforma ortográfi ca [1943] caiu o ‘agá’. Meu pai [o farmacêutico José Siqueira da Silva] sempre se recusou a escrever do jeito novo. Aquela gente antiga fi cou revoltada. (Risos!)” SIQUEIRA, Jair Picanço (1925-2007) - Macaense, Médico, Empresário, Colecionador: depoimento [jun. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Desde o achamento ofi cial do Brasil, a costa marítima macaense foi uma espécie de ancoradouro natural, onde aportavam naus, pertencentes ao consórcio privado liderado pelo cristão-novo Bartolomeu Marchioni, agraciado pela coroa portuguesa com o direito de escravizar índios e extrair a grande riqueza da terra, o pau-brasil, cobiçado por

Arquipélogo de Santana.Ilustração a parti r de foto de

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Macaé: a Memória da História - dos primórdios até 1960

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tes indivíduos de diversas nacionalidades. Já no ano de 1614, o Conde de Gondomar,

embaixador em Londres, ciente de que piratas, patrocinados pela coroa britânica, contrabandeavam o ouro-púrpuro produzido em terras macaenses, alertou El-Rei Filipe II, que ordenou o estabelecimento de duzentos índios aculturados em aldeamento às margens do Rio Macaé, missão confi ada a Amador de Souza, fi lho do célebre Araribóia, surgindo então o primeiro núcleo ofi cial de povoamento. Nesse tempo, foi edifi cada a Fortaleza de Santo Antonio do Monte Frio, onde hoje está o Forte Marechal Hermes.

“Essas receitas [Vinho do Macaé, Fartel, Doce do Uso das Feitorias do Macaé, etc.] são do tempo de [Bartolomeu] Marchioni... da época do Descobrimento [do Brasil]... são nossos vínculos com os pioneiros... os primeiros macaenses. Precisam ser repassadas... praticadas... preservadas. É uma responsabilidade nossa.” THOMAZ, Alzira Rosa dos Santos Gavinho (1939) - Macaense, Colecionadora, descendente de antigas famílias coloniais: depoimento [dez. 1993]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Pouco tempo depois, em 1627, um grupo de militares portugueses, com serviços prestados à Coroa, especialmente na expulsão dos franceses da Baía de Guanabara, foi agraciado com imensa sesmaria que se estendia da barra do Rio Paraíba do Sul até a do Macaé, devendo pagar foro aos donatários ausentes da Capitania de São Tomé e dízimo à Ordem de Cristo. Conhecidos como os Sete Capitães, empreenderam importantes expedições, fundando povoados e conferindo topônimos. Em Macaé, não encontraram gente de maior consideração, apenas agradáveis mamelucos residindo em choupanas cobertas de palhas, ocupados da pesca de bagres, liderados pelo administrador Domingos Leal, que fazia às vezes de governo.

“Seja verdadeiro ou falso, o fato é que o Roteiro [dos Sete Capitães] é a mais antiga pista manuscrita sobre tentativas de povoamento nesta região. Ainda que fruto de interesses escusos, acho que deve ser acatado em seus aspectos antropológicos, etnográfi cos... Eu o respeito como fonte.” QUEIRÓS MATTOSO, Gilberto de (1947-1996) - Historiador, Genealogista, Publicitário, membro de tradicionais famílias macaenses de Quissamã: depoimento [fev. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Quissamã-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Outra cobiçada sesmaria, compreendendo todos os campos entre os rios Macaé e Leripe, o rio-das-ostras, foi concedida em 1630 aos padres da Companhia de Jesus. A Fazenda de Macahé, importante entreposto pecuário, foi durante todo o período colonial um núcleo com infl uência determinante, mesmo após o confi sco dos bens jesuíticos, em 1759, pelo Marquês de Pombal. Colocadas à venda em hasta pública, todas as terras que atualmente compõem o perímetro urbano macaense foram arrematadas, em 1761, pelo mestre-caldeireiro Gonçalo Marques de Oliveira, que empreendeu melhorias, tornando-se sócio do capitão Bento José Ferreira Rebello. Em 1798 aconteceu a primeira divisão de terras, sendo rebatizadas como Fazenda Velha de Sant’Anna, propriedade da família Ferreira Rebello, e Fazenda de Imboassica, dos Nunes Pereira.

No ano de 1810, em 29 de agosto, foi criada uma nova comandância, da Barra do Furado até a Barra do São João, com terras retiradas de Campos e Cabo Frio, graças às artimanhas do sargento-mor João Luís Pereira Viana, grande proprietário de terras, ligado aos Ferreiras Rebello, apadrinhado pelo poderoso Bispo-Capelão-Mor Dom José Caetano da Silva Coutinho, que aqui esteve em agosto de 1812. Finalmente, em 29 de julho de 1813, Sua Alteza Real o Príncipe Regente, Dom João de Bragança, cria a Villa de São João de Macahé, conferindo-lhe autonomia político-administrativa. Cumpridas as exigências legais - acomodações públicas e pelourinho - no ano seguinte, em 22 de janeiro, foram empossadas as primeiras autoridades municipais - juízes, vereadores, etc.

“Você já viu o livro da fundação do Município? Acho o documento mais importante da nossa história... A transcrição do Alvará Real... os termos de posse das primeiras autoridades, com assinaturas. É a certidão de nascimento de Macaé! Está no Gabinete [do Prefeito], naquela caixa com um ‘leão’ na tampa”. QUEIRÓS MATTOSO, Eleosina Pereira de (1917-1993) - Macaense, Bibliotecária, Arquivista, Funcionária Pública, Colecionadora: depoimento [set. 1990]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé/RJ. 1 fi ta K7 (60 min.) ¾ pps stereo.

De fato, na primeira metade do Dezenove, grandes personalidades internacionais prestigiaram o território macaense; a primeira, em 1815, foi o príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, líder de uma histórica expedição científi ca; em 1817, veio o célebre naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire; e em 1832, ninguém menos que o cientista inglês Charles Darwin, o pai da teoria da evolução das espécies. Pouco depois, em 1837, o engenheiro português Henrique Luís de Niemeyer Bellegarde, a pedido da Câmara Municipal, demarcou ruas e praças, conferindo ângulos retos e ordenados ao perímetro urbano. Nesse tempo, a intelectualidade macaense estava bem representada por nomes como José Carneiro da Silva, depois Visconde de Araruama, autor do primeiro livro sobre a história regional, publicando estudos socioeconômicos, sendo o grande propositor do Canal Campos-Macahé, articulou a aprovação da lei provincial de 1844, que autorizou a construção, com projeto do engenheiro inglês John Henry Freese.

Tamanho progresso, fez com que no ano de 1846, em 15 de abril, fosse registrada no Livro da Legislação Provincial, uma minúscula lei, de número 364, com apenas um artigo, que elevou a Villa à categoria de Cidade, com o mesmo título. Tal condição era almejada há tempos, sendo conquistada pelos esforços políticos de Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, futuro Visconde de Sepetiba, um dos homens públicos mais conceituados do Império, que a sancionou, com aprovação da Assembléia Legislativa da Província do Rio de Janeiro. Agora, como promissora urbe, Macaé estava pronta para ser a primeira cidade do norte fl uminense a receber o Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, Sua Majestade o Senhor Dom Pedro II, que aqui chegou em março de 1847, hospedado pelo comendador Francisco Domingues de Araújo.

“Dom Pedro [II] veio à Macaé em várias ocasiões [1847, 1875, 1877]. Adorava Quissamã! Aqui ele caçou pela primeira e única vez na vida... fi cou muito bem impressionado com nossa água, retirada da restinga... chamou de ‘água cor de vinho’... chegou recomendar à Princesa Isabel [em 1868]”. SILVA, Anna Francisca; ANICOTA (1908-1999) - Macaense de Quissamã, Tabeliã, Memorialista, Colecionadora, Bibliófi la: depoimento [fev. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Quissamã-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Representantes do Município exerceram relevantes cargos eletivos na Capital. Grandes casas de negócios foram fundadas nas ruas da Praia, Direita, do Collegio, e da Boa-Vista - hoje Presidente Sodré, Rui Barbosa, Télio Barreto e Roberto Silveira - em maioria por imigrantes portugueses e franceses. O agronegócio - pecuário, cafeeiro e açucareiro -, teve grandes empreendedores: os Araújos e os Silvas Porto, na cidade; os Carneiros da Silva, em Quissamã; os Pereiras Rabello e os Gavinhos em Carapebus; os Coelhos Antão e os Almeidas Torres, na região serrana; os Amados de Aguiar e os Figueiredos, em Macabu; os Sousas Meirelles, no Barreto; os Carvalhos e Mello e os Ribeiros Basto, em Barra de São João, dentre outros. Prédios públicos e particulares exibiam apurados recursos arquitetônicos, a exemplo do Th eatro Santa Izabel, Solar dos Araújos (Palácio do Legislativo), Sobrado de Chico Diogo (Casa & Roupa), Sobrado Ribeiro de Castro (Palácio dos Urubus), Solar de Monte Elízio (Instituto Salesiano) - obras de grandes mestres-constructores, como o português Filomeno Borges e o alemão Antonio Becher. O comércio negreiro movimentava vultosas somas, tendo em Macaé o maior mercado da região Norte Fluminense, liderado pelo ardiloso Bernardino José de Sá.

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tes “Era muito velha aqui [referindo-se à avó paterna escrava], de modos que

contava d’um pau grande [tronco] que tinha pro meio desse terrerão aí fora, aonde os preto que não trabalhava direito eram preso com uns ferro [grilhões], dispois [depois] vinha um homi [homem - feitor] e lascava eis [eles]. O avô do fi nado Adamastor Rodrigues [seu marido] era dessa função aí... fazia malvadeza aqui, ele. [sic].” RODRIGUES, Levina Candido (1918-2000) - Macaense de Quissamã, Lavradora, neta de escravos da Fazenda Machadinha: depoimento [out. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Quissamã-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Nem mesmo a lendária praga proferida por Manoel da Motta Coqueiro - último homem civil branco condenado à pena capital no Brasil, seguido de, no mínimo, 16 livres, 30 cativos e 5 militares -, enforcado aqui, em 6 de março de 1855, impediu um apogeu social, econômico e cultural. A imprensa chegou, em 1861, com a fundação do Macahense, seguido do Monitor Macahense, O Telegrapho, O Seculo, O Lynce e muitos outros. Nas artes a Sociedade Philo-Scenica Macahense, criou o Th eatro Santa Izabel, em 1866, recebendo artistas renomados, como a cantora lírica italiana Augusta Candiani. O telégrafo, implantado em 1869, estabeleceu pronta comunicação com a Capital. Em 1o de maio 1871, é inaugurada a Casa de Caridade - fruto da generosidade post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro -, sendo sua mantenedora, a Irmandade de São João Baptista de Macahé, criada em 22 de maio de 1872; ano de surgimento do transporte público urbano, com implantação dos bondes puxados a burros, marcando época.

“Nunca esqueço o bondinho. Quando acabou [1930] eu era moça. Lembro de ir à Rua Direita [Rui Barbosa], em pequena, ver as noivas desfi larem nos vagões enfeitados com fl ores e fi tas. O povo jogando arroz. (Risos!) Um sonho! (Emocionada) Era uma tradição antiga.” RAMOS, Lília; LILINHA (1909-2005) - Macaense, Autônoma, membro de uma tradicional família de Macaé: depoimento [set. 1990]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé/RJ. 1 fi ta K7 (60 min.) ¾ pps stereo.

As sociedades musicais Nova Aurora, de 1873, e Lyra dos Conspiradores, 1882, baluartes culturais, resistiram aos percalços e permanecem até os dias atuais. A lavoura da cana de açúcar, o ouro-branco ou ouro-doce, teve seu auge com a fundação da Cia. Engenho Central de Quissaman, inaugurada em 1877, primeira do gênero instituída no Brasil, prestigiada pelo próprio Imperador, que sentenciou: - Hoje, Macahé é a sala de visitas do Império Brasileiro! O Porto de Imbetiba, sexto em volume de exportação no País, recebia riquezas produzidas na região através do Porto do Limão, no Rio Macaé, do Canal Campos-Macahé e da Cia. Estrada de Ferro Macahé-Campos, sucedida pela Cia. Estrada de Ferro Leopoldina, em 1889. A criação da Alfândega, em 1896, encerrou de forma gloriosa os oitocentos, marcados por tão opulentas efemérides.

Nos primórdios do século XX, um macaense, Dr. Alfredo Augusto Guimarães Backer, presidia o Estado do Rio de Janeiro, criando por decreto de 15 de fevereiro de 1910 a Prefeitura Municipal, sendo primeiro prefeito o Dr. João Francisco Moreira Netto, responsável pelas comemorações do Centenário, com implantação de obelisco no Parque Oliveira Botelho, hoje Praça Veríssimo de Mello. No ano seguinte, 1914, foi inaugurado o serviço de abastecimento d’água, vinda do manancial da Atalaya. No mês de maio de 1916, foi fundada a Associação do Commercio, Industria e Lavoura de Macahé, depois convertida em Associação Comercial e Industrial de Macaé - ACIM. Em 1917, surge o Fluminense Futebol Clube e a energia elétrica passa a ser distribuída com a instalação de um gerador na extinta Praça da Luz.

Foram destaques nas artes: o desenhista e caricaturista Álvaro Marins, o Seth, atuando nos principais órgãos da imprensa carioca, publicou obras importantes como o álbum

O Brasil pela Imagem; o pintor Hindemburgo Olive, premiado pela Sociedade Brasileira de Belas Artes e pelo Salão Nacional de Belas Artes, perpetuou vistas e personagens da terra macaense; o compositor e fl autista Benedicto Lacerda, marcou época na música popular brasileira e a cantora Angela Maria, a Sapoti, começou cantando em igrejas locais, alcançando o estrelato nacional como Rainha do Rádio.

“A família da minha mãe toda cantava nos cultos protestantes, isso em [Conceição de] Macabu e, às vezes, na cidade [Macaé]. O meu pai [Albertino Coutinho da Cunha] mais tarde foi pastor. Saímos de Macaé pobrinhos, pobrinhos... mas éramos felizes. Quando voltei [28/07/1959] já era famosa, rica, Rainha do Rádio [1954]... paparicada pelo Prefeito [Eduardo Serrano]... (Risos!) foi uma vitória!” CUNHA, Abelim Maria da; ANGELA MARIA (1928-2018) – Macaense de Conceição de Macabu, Cantora, Atriz, Rainha do Rádio: depoimento [nov. 2007]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Rio de Janeiro-RJ. MP3 Player DVR (23 min.).

Aquele seria o século de importantes empreendimentos urbanos, a Fabrica de Gelo, Fabrica de Phosphoros Veado, Ribeiro Xavier, Lessa & C., Taboada & Cia., A Constructora, Casa Chaloub, Fabrica de Bebidas Prince, depois Lynce, fabricante de dois ícones macaenses: o licor Pesseguete e o refrigerante Moranguinho - hoje Moranguitto. A concorrida Praia de Imbetiba, com areias monazíticas, atraía turistas endinheirados, hospedes do Grande Hôtel Balneário na Imbetiba, luxuosa propriedade do historiador Alberto Lamego. O Café Belas Artes foi ponto de encontro de intelectuais, artistas, políticos, jornalistas... A imprensa, por décadas, esteve bem representada pelos periódicos: O Autonomista, O Regenerador, A Razão, Gazeta de Macaé, O Rebate, dentre outros.

Na década seguinte, as lentes mágicas do artista-photographico Luís Sólon de Sá Vasconcellos registraram nova onda progressista. Em 1920, passou a funcionar no antigo prédio da Benefi cência Portuguesa, o tradicional Grupo Escolar Raul Veiga, hoje Mathias Netto; e o macaense Afrânio Costa foi o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha olímpica. Em 1923, foi fundado, pelo advogado Dr. Camillo Nogueira da Gama, o Gymnasio Macahense, primeiro com curso secundário e formação de professores. Graças à competência do prefeito, Cel. Sizenando Fernandes de Souza, surgiram ruas pavimentadas, redes de esgoto e novas estradas vicinais. No fi nal de 1927, véspera do Natal, desembarcou em Macaé, como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, o Excelentíssimo Senhor Dr. Washington Luís Pereira de Sousa, acompanhado de todos os ministros, honrando seu berço natalício, o qual nunca esqueceu.

“Ele [Washington Luís] era um homem lindo! Alto... elegantíssimo, num terno de casimira inglesa verde garrafa [...] Na ocasião [18/12/1927], num banquete, falou à minha mãe [Evangelina Nunes de Souza] que era mais macaense do que pensavam... que saiu daqui lendo e escrevendo... e que ainda tinha muito do menino Xiton [apelido de infância].” SANTOS MOREIRA, Laurita de Souza (1923-2010) - Macaense, Poetisa, Memorialista, membro de uma tradicional família do antigo distrito de Carapebus: depoimento [mai. 1991]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 2 fi tas K-7 (120 min.) ¾ pps stereo.

A vida social esteve ligada aos clubes recreativos, destacando-se o exclusivíssimo Tênis Clube de Macahé, de 1928, palco dos mais requintados acontecimentos, promovendo memoráveis competições esportivas, concursos, bailes carnavalescos e sociais. Em 1929, surge o Clube de Regatas Almirante Barroso, sucessor dos extintos Cristovão Colombo e Macahense; e nesse mesmo ano, o potencial hidrográfi co passou a ser aproveitado com a inauguração da Uzina de Glycerio. O serviço telefônico urbano

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tes começou, fi nalmente, em 1931, mas as chamadas interurbanas eram feitas há dois

anos. Naquele mesmo ano, foram concluídas as obras do Cine-Th eatro Taboada, idealizado pelo capitalista Manuel Guilherme Taboada, projeto grandioso assinado pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira, responsável por obras históricas: Casa das Sete Janelas, Câmara-Prefeitura Municipal, Usina Ayris, Asilo da Velhice Desamparada, Colégio Luiz Reid.

“Fui à inauguração do [Cine-Th eatro] Taboada [05/04/1931]. Foi a primeira vez que vesti um longo. (Risos!) Era maravilhoso! Fecho os olhos e vejo [sic] as frisas, os camarotes... tantos artistas: [Heitor] Villa Lobos, Procópio Ferreira, Itália Fausta, Bidu Sayão... O cenógrafo [Ângelo] Lazary frequentava nossa casa [o atual Solar dos Mellos]. Sabe que chorei, quando fecharam [1981]!?!” MELLO, Noêmia da Costa (1916-2001) - Macaense, Professora, Artesã, membro de uma tradicional família de Macaé: depoimento [nov. 1992]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé/RJ. 1 fi ta K7 (60 min.) ¾ pps stereo.

O município de Macaé não fi cou ileso à crise mundial provocada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Empresários, fazendeiros, comerciantes, abriram falência e a população amargou um longo período de recessão econômica, agravada pelos efeitos da Segunda Guerra Mundial.

“Durante a [Segunda] Guerra tivemos a ‘Lei do Blackout’. Sabe o que foi isso? Os moradores eram obrigados a permanecer na total escuridão. Diziam que era para evitar bombardeios. Imagina!?! Bombardeios... (Risos!) Em nossa casa colocávamos panos nas frinchas das portas, das janelas, evitando a passagem da luz. [...] Ninguém tinha dinheiro... muito rico fi cou pobre... tempos horríveis!” MACHADO, Hilda Ramos (1913-1995) - Macaense, Mito do Magistério, Professora de Língua Francesa: depoimento [fev. 1989]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Por decreto municipal, de abril de 1941, foi criada a Biblioteca Pública Municipal Dr. Télio Barreto, que permanece, assim como o Rotary Club de Macaé, de 1942. O renascimento da economia local começa em 28 de maio de 1943, com a inauguração da Rodovia Amaral Peixoto, hoje RJ-106, ligando Niterói a Campos, passando por Macaé, visitada na ocasião pelo Presidente da República, Getúlio Vargas, recebido com lauto almoço nas dependências do Clube dos Abaetés, depois Ypiranga Futebol Clube, onde funcionava a Rádio Emissora de Macaé. Em janeiro de 1950, entrou em funcionamento a Usina Hidrelétrica Central de Macabu, com obras iniciadas nos anos trinta. Em 1953, surge a primeira empresa têxtil, as Indústrias Bariloche S.A. O professor Antonio Alvarez Parada, o Tonito, dá os primeiros passos em seus estudos sobre o passado macaense, colecionando fontes, publicando colunas em jornais e lançando, em 1958, seu primeiro livro: Coisas e Gente da Velha Macaé.

“Nesse tempo [década de 1950] a cidade reviveu. Havia uma inocência... um romantismo. O Footing aos domingos na Rua Direita [Rui Barbosa]... rapazes nas calçadas... moças desfi lando belos vestidos, antes do cinema [Taboada]. Quem ia à sessão das 19h desfi lava depois, quem ia à das 21h, desfi lava antes. (Risos!) Não era a cidade do petróleo... era a cidade das bicicletas... cidade do amor... dos macaenses!” GARCIA, Maria Magdalena Pereira; MAGDÁ (1918-2003) - Macaense, Socialite, Empresária, Memorialista: depoimento [out. 1992]. Entrevistador: Vilcson Gavinho. Macaé-RJ. 1 fi ta K-7 (60 min.) ¾ pps stereo.

Macaé... cidade do amor... dos macaenses... cidade dos sonhos de quem vive aqui.▪

Vilcson Gavinho entrevistando D. Levinha Cândido Rodrigues, residente em an� ga

senzala da Fazenda Machadinha, onde seus avós paternos foram escravos do Visconde de

Ururahy. Quissamã (RJ), 1991.

Foto: João Guilherme Ribeiro da CunhaAcervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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Nova Aurora, 2013.Foto: Livio Campos.

Igreja de Santana, 2006.Foto: Livio Campos.Câmara Municipal, 2013.

Foto: Livio Campos.

Igreja de Santana, 2006.

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O destino, a vida são coisas interessantíssimas... Em 1970, eu trabalhava na Petrobras, em Sergipe, e lá conheci um engenheiro lotado na sede da empresa, no Rio de Janeiro, que fora fazer uns trabalhos em Aracaju. Ele era fi lho orgulhoso de uma cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, chamada Macaé, da qual eu nunca tinha escutado falar. Ele despertou minha curiosidade sobre Macaé, mas depois nós perdemos contato e a curiosidade defi nhou. Muitos anos depois eu trabalhava em Vitória, como gerente geral da Bacia de Campos. Então, fomos instados para fazer a transferência das atividades de Vitória para Macaé, aproveitando a proximidade geográfi ca da cidade com a Bacia de Campos e a possibilidade de se construir um porto, que fi caria pronto no fi nal de 1979, ano em que fui morar em Macaé, para chefi ar aquela base. Fomos com cerca de duzentos empregados, duzentas famílias, na verdade. Cheguei a Macaé e após quinze dias hospedado no Panorama, Seu Edson, disse assim: - Dr. Alfeu, tem um macaense muito ilustre que quer falar com você. Não terminou de falar e já entrou no meu quarto, aos berros, falando com aquele jeitão dele, assim grandão, Odir Figueiredo Borges, que era aquele engenheiro que eu havia conhecido em Aracaju e nunca mais tinha ouvido falar. Ele imediatamente me levou para casa dos seus parentes e me apresentou a mais de trinta pessoas, em meia hora. (Risos!) Logo pensei que ia cruzar com aquelas pessoas na rua, não iria reconhecer ninguém, e iam dizer que eu era um cara chato e antipático. (Risos!) Mas, aquela foi a minha apresentação em Macaé. Logo em seguida, compramos um terreno nos Cavaleiros para construir uma casa. Celinha, minha mulher, fi cou morando em Vitória com nossos fi lhos, Feuzito e Cynthia e vinha pra Macaé nos fi nais de semana. O Hotel Panorama era o quartel general da Petrobras, todo mundo se hospedava lá, até construírem ou alugarem suas casas. Aos domingos, almoçávamos no restaurante da mãe de Marilena, lá na Rua Direita, ou, na “Churrascaria Brazão” , de Eduardo Zarur, ou, gastando mais, comendo lagostas com maionese, no Haroldo. Quando cheguei, procurei as autoridades, o prefeito e os vereadores, para dizer: - Estamos chegando! Não queremos atrapalhar ninguém. Temos condições de ajudar em algumas coisas e em outras não. O que vocês querem da gente? E foi muito interessante, porque a maioria disse que não queria nada, só o desenvolvimento. Outros diziam que queriam calçar uma rua, colocar eletricidade na outra, fazer isso assim e assado. Aí falei que não éramos uma prefeitura. Mas de uma maneira ou de outra, o fato é que conseguimos estabelecer um relacionamento muito bom... Mudou de prefeito várias vezes e sempre nos mantemos ajudando, sem interferir. Por exemplo, teve uma obra no Parque Aeroporto, que era uma conjunção de interesses, porque precisamos de casas para nossos empregados e não existia disponibilidade. A cidade precisava crescer para receber aquela população. Na época, tinha o Claudio Moacyr, que era deputado e nos apresentou ao governador Chagas Freitas, que disse que poderia ajudar. Fizemos um convênio com a CEHAB, compramos o terreno e fi zemos toda a infraestrutura, como terraplanagem, eletricidade e outras coisas... Aí a CEHAB construiu aquelas casas todas e tinha uma contrapartida no convênio, meio fi ctícia: dez por cento das casas seriam

“Para mim foi muito fácil gostar de Macaé.”Alfeu de Melo Valença

Entrevistado, no Rio de Janeiro-RJ, a 14/08/2012.

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953]Sergipe [Unidade federati vas do Brasil, situada na região Nordeste]Aracaju [Cidade capital do Estado do Sergipe]Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo]Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]Panorama [Hotel, restaurante e piano-bar, na Avenida Elias Agosti nho, fundado pelos empresários macaenses Itamir Honório Abreu e Jorge Chaloub Filho (Budy)]Edson [Torres, administrador]Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, com orla de 1.500 metros, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid] Celinha [Lucélia Porto Valença, pernambucana]Feuzito [Alfeu Valença Neto, engenheiro, empresário] Cynthia [Porto de Melo Valença, empresária] mãe [Maria Magdalena Pereira Garcia, Magdá, macaense de Glicério, socialite, benemérita, empresária, proprietária da Casa Garcia e do Hotel Turismo]Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]Rua Direita [Primeira denominação da atual Av. Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]“Churrascaria Brazão” [Inaugurado na Avenida Rui Barbosa, depois transferido para a Rua Teixeira de Gouveia, sendo considerado um ponto de encontro das famílias macaenses]Eduardo Zarur [Pinheiro, macaense, empresário]Haroldo [Ferraz, macaense, pescador, proprietário da Canti na do Haroldo, na Rua Dr. Télio Barreto, especializada em frutos do mar]Parque Aeroporto [Conjunto residencial surgido na década de 1980, atual 2.0Sub-Distrito, ligado ao 1.0 Distrito Cidade de Macaé]Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), nesta época deputado estadual]Chagas Freitas [Antônio de Pádua Chagas Freitas, carioca, jornalista, políti co, sua forma parti cular de fazer políti ca foi chamada de Chaguismo, governou a Guanabara (1971-5) e o Rio de Janeiro (1979-83) e recebeu o � tulo de Cidadão Macaense]

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vendidas a empregados da Petrobras, mas, evidentemente que, pela quantidade de empregados precisaríamos de cem por cento. Mas aquilo era para a comunidade mesmo, e através desse convênio, desenvolveu-se aquela parte da cidade, que hoje está enorme e bem desenvolvida.

A cidade tinha acabado de sair da famosa praga do Motta Coqueiro, depois de cem anos de desgraça, e estava começando a se desenvolver... Mas era muito pequena, tinha o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, uma agência bem pequena junto à rodoviária, na Praça do Bole-Bole... Na esquina, tinha o BANERJ... A coisa era mais personalizada do que institucional e todo mundo sabia quem era quem. Por exemplo, o supermercado era do Milton Monteiro, o posto de gasolina era de Leônidas, o laboratório do doutor Alcir, a loja deTaéco, a contabilidade de Gumercindo, a funerária de Sylvio Lopes... Assim era a Macaé da época. Nós pisávamos em ovos porque chegamos criando uma série de problemas. Imaginem uma cidade pequena, pacata, com um padrão de vida constante, sem muitas variações, sem nenhuma novidade, e de repente chega um bando de pessoas de fora, com costumes diferentes, com salário acima da média da cidade. Isso gerou alguns confl itos... Um amigo nosso chegou num açougue, pediu um quilo de carne e o atendente disse um preço... Ele reclamou: - Comprei isso aqui ontem e o preço foi bem menor! E o açougueiro respondeu: - Mas hoje saiu o salário da Petrobras.

Alguns comerciantes ajustavam os preços no dia do pagamento dos salários da Petrobras. Mas vou dizer a verdade, poderia ter sido um choque muito maior, a cidade se adaptou muito rápido. Os supermercados logo procuraram produtos de melhor qualidade, apareceram novos corretores, porque só tinha três na época: Luiz Corga, Ely Tavares e Darlan Pinheiro. Todo mundo queria morar na Imbetiba e descobriu-se que podíamos morar nos Cavaleiros, que fi cava a dez minutos do centro da cidade... Mas o pessoal dizia: - Cavaleiros, você tá louco?! Aquilo ali é só pra veraneio! Tanto que o Tênis tinha a sede do centro e a de praia. Não era longe, era só o costume da cidade pequena de viver dentro daquele casulo tradicional.

Confesso que fomos um pouco maquiavélicos e procuramos saber quem eram as pessoas que infl uenciavam... Na parte do Esporte, o Juquinha e o que foi vereador a vida inteira, Mirinho, que era um homem do futebol; Riverton era professor de Educação Física e tinha um professor de Natação, Fernando, fi gura extraordinária, completamente extrovertido, que tinha um Jipe velho caindo aos pedaços e saia pegando os alunos para levar pra aula na AABB. Hoje, se um pai deixar o fi lho entrar num negócio daquele, vai preso! Logo, apareceria um Procurador da República brandindo o Código do Menor e do Adolescente e as crianças não aprenderiam a nadar. (Risos!) Aí começaram os primeiros loteamentos, Mirante da Lagoa e Cancela Preta, que era para a classe mais alta. Athos Duboc começou a fazer também um loteamento para o lado da Aroeira, então a cidade reagiu rapidamente. Uma reação que permitiu que houvesse uma conjunção de interesses nossos com os da cidade.

CEHAB [Companhia Estadual de Habitação é uma empresa estatal do governo do Estado do Rio de Janeiro, que tem por objeti vo a construção de casas populares, criada pela Lei nº 263 de 29/12/1962]Mo� a Coqueiro [Manoel da Mo� a Coqueiro, campista, fazendeiro, últi mo homem branco condenado à pena capital no Brasil, como responsável pela chacina da família de um colono em Conceição de Macabu, enforcado em Macaé a 07/03/1855, ao qual se atribui uma praga de cem anos de atraso para a cidade]Banco do Brasil [Na Avenida Rui Barbosa]Caixa Econômica [Na Rua Tenente Coronel Amado]Praça do Bole-Bole [Apelido popular da atual Praça Washington Luiz, originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente do Brasil]BANERJ [Banco do Estado do Rio de Janeiro]Leônidas [Antonio da Fonseca]Alcir [Alves Ferreira]Taéco [Otoniel Gomes Tavares]Gumercindo [Moura]Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]Luiz Corga [Mineiro, bancário, corretor de imóveis, empresário]Ely Tavares [Macaense, corretor de imóveis, empresário]Darlan Pinheiro [Macaense, administrador, corretor de imóveis, empresário]Imbeti ba [Anti go bairro balneário, cujo nome originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]Tênis [Clube de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterado-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos] Juquinha [José Passos de Souza Júnior, macaense, enfermeiro práti co, presidente do Tênis Clube de Macaé, patrono do estádio do clube]Mirinho [Teodomiro Bi� encourt Filho, macaense, comerciante, políti co, benemérito]Riverton [Mussi Ramos, macaense, graduado em Educação Física, professor, políti co, vereador, governou o município em dois mandatos consecuti vos 2005-12]Fernando [Rego Barros, natural de Conceição de Macabu]AABB [Associação Atléti ca Banco do Brasil, Avenida Atlânti ca, 854, Praia Campista]Athos Duboc [Figueira, empresário, benemérito, patrono de uma Avenida no Bairro da Glória]loteamento [Jardim Santo Antonio] Aroeira [Bairro loteado, na década de 1960, em terras do ex-prefeito Juvenal Barreto Junior, o Doca]]

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Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, historiador, escritor, falecido em São Paulo, a 15/03/1986, sendo sepultado no Cemitério de Santana, em Macaé]

Cesário [Alvarez Parada, macaense, empresário, jornalista, colunista social sob pseudônimo de Volúsia Clara, presidente do Tênis Clube de Macaé]

do interior [Cidade de Garanhuns, Estado de Pernambuco, onde nasceu em 07/05/1944, sendo Engenheiro Civil, formado pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduou-se Engenheiro de Minas, em 1967]

Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

Oscar Pires [Espírito-santense, jornalista, empresário, fundador do periódico O DEBATE]

Itamir Abreu [Itamir Honório Abreu, macaense, empresário, políti co, radialista, prefeito de Macaé, em 1962]

Clube Cidade do Sol [Na Avenida Atlânti ca, Cavaleiros, fundado em agosto de 1981]

Ypiranga [Futebol Clube, fundado em 19/05/1926 por Dourival de Souza]

MAI [Movimento Assistencial de Integração, criado no início da década de 1980 por um grupo de mulheres, realizou cinco Feiras de Integração, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras foram construídas sete creches, em terrenos e com mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]

No dia que o Tonito morreu, seu irmão Cesário falou uma coisa que eu tinha dito e nem tinha percebido. Falei que em Macaé eu estava à vontade, porque sou do interior e todo homem tem que ter sua cidade do interior. Como a minha é no Nordeste, eu adotei Macaé. Ele disse assim: - Você ganhou a gente com aquela frase. Falei espontaneamente e nem percebi, mas me marcou ele ter dito aquilo. Para mim, foi muito fácil gostar de Macaé. Hoje, depois de percorrer vários lugares, digo que todas as cidades do interior, em qualquer lugar do mundo são iguais. Tem a velha fofoqueira, que olha pela brecha da janela, tem aquela moça, que é falada porque namorou mais... Não tem como, são iguais. (Risos!) E isso realmente facilitou muito, não tive nenhuma difi culdade, pessoalmente, de conviver e de penetrar todos os níveis da comunidade. E uma coisa que pouca gente sabe, um dos meus maiores amigos em Macaé chamava-se Boa Fé, um quase marginal. Muita gente morria de medo dele, no entanto, tivemos contato por conta de um serviço que ele fez na minha casa, fi camos amigos. Ele morreu num acidente de carro. Eu fui ao enterro dele, gostava muito dele e sei que ele gostava de mim também, quer dizer, da mesma maneira que a gente tinha convívio com as pessoas da alta sociedade, tínhamos com o Boa Fé.

Na época, procuramos o prefeito Carlos Emir, junto com o secretário de Saúde e a secretária de Educação, uma mulher muito inteligente. Não queríamos atrapalhar as vidas de ninguém, mas sabíamos que íamos modifi cá-las. Perguntamos onde poderíamos ajudar para minimizar os impactos que ocorreriam. Isso, de certo modo, as autoridades entenderam e no princípio tentaram realmente fazer uma integração boa. Eu era muito ingênuo nesse negócio de política, sempre fui técnico, e comecei perceber que estava havendo certa animosidade, uma coisa que eu não conseguia captar. Até que um dia, o presidente de um partido político foi falar comigo na Petrobras e disse: - Vem cá, você vai ser candidato a prefeito mesmo? Todo mundo está sabendo que a Petrobras não ia colocar uma pessoa como você, que se integrou tanto na sociedade, se não fosse para assumir a Prefeitura. Aí entendi de onde poderia estar vindo aquele tipo de animosidade e procurei o Oscar Pires, que foi gentil demais, e me entrevistou dando-me a chance de falar dessas coisas. Fui ao programa do Itamir Abreu, na Rádio Macaé, que era muito ouvido, e pude falar e acabar com aquela fofoca. Logo em seguida, houve a criação do Clube Cidade do Sol, que era outra coisa que estava gerando um clima pesado, porque muita gente pensava que ia ser um clube fechado, só para empregados da Petrobras. Aí logo aproveitei para dizer que era um clube da empresa, mas todos poderiam ser sócios, do mesmo jeito que nos deixaram ser sócios do Tênis Clube de Macaé, do Ypiranga... Seria mais um clube na cidade e não “O Clube da Petrobras”. Tiveram umas bobagens... Uma vez um empregado da Petrobras falou que Macaé estava tão atrasada que não conhecia Panetone. No outro dia, foi de um “Auê”. (Risos!) “Petrobras agride a população!”. E tinha também outra coisa que nos preocupava. Era o seguinte: entre mil famílias, se duzentas famílias tinham algum parente trabalhando na Petrobras e estava feliz, existiam oitocentas famílias que não tinham ninguém na Petrobras e isso começou a gerar uma diferença de casta, “aqueles que são da Petrobras e ganham bem, e aqueles que não são, não tem emprego ou estão ganhando menos”. O tempo foi o senhor da razão e foi resolvendo essas coisas todas.

Eu acho que a integração Petrobras-Macaé é uma coisa que precisa ser estudada sociologicamente. Difi cilmente acontece aquilo que ocorreu! Em pouco tempo, cinco anos depois, estava totalmente executada e exitosa. O MAI foi uma coisa muito interessante. Hoje, a gente olha o passado e a perspectiva histórica é fundamental para a gente ver as coisas... Como aquelas mulheres de petroleiros se meteram numa iniciativa que acho que hoje não fariam mais e diriam: “Isso é problema do meu marido que está lá trabalhando, não quero saber disso.” Elas se imbuíram do espírito de fazer parte da sociedade macaense, queriam se integrar mesmo, e nada melhor

Marcos [Leonardo de Paula, poti guar, arti sta plásti co, esti lista fi gurinista, educador]

praça [Praça Washington Luiz]

Irani [Carlos Varella, rio-grandense, engenheiro. Ocupou funções gerenciais na Bacia de Campos, Petrobras Distribuidora e Cenpes, coordenou o Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional da Petrobras e ajudou a implantar a área de SMS]

João Newton [Engenheiro, Superintendente de Produção da Petrobras; veio do Espírito Santo na década de 1970, por ocasião da implantação da Petrobras em Macaé]

Zé Marques [José Marques Moreira Neto, engenheiro, Superintendente de Apoio da Bacia de Campos, veio do Espírito Santo na década de 1970, por ocasião da implantação da Petrobras em Macaé]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, exerceu vários cargos na administração pública municipal e estadual e foi vice prefeito em duas gestões]

Mar� nho Santafé [Campista, jornalista, editor, ecologista]

Peron [Ely Peron Frongilo, carangolense, arti sta plásti co, carnavalesco, decorador]

escola de samba [Grêmio Recreati vo Escola de Samba Acadêmicos da Aroeira, fundada em 25/12/1962, no quintal da casa de Carolina Quintas Ferreira, por fi guras como Maria Rodrigues, Maria Izidora Vilela, Milton Caído e Geraldo Alves, o Bulau]

Olinto Bordalo [Imigrante português, comerciante, políti co, proprietário do Bar do Olinto na Praça Washington Luiz, com “especialidade em doces, vinhos, conservas, licôres e bebidas em geral”]

Nélio Nocchi [Emerick, macaense, denti sta, empresário, políti co, vereador]

para isto do que cuidar de crianças fazendo creches. Elas criaram uma coisa muito bonita, que era excelente, se chamava Feira da Integração e era a principal fonte de renda para construção das creches. Mas, o mais interessante foi o seguinte: se nós, empregados da Petrobras, fôssemos procurar uma empreiteira para pedir uma ajuda para a Feira, poderiam dizer que era suborno, ou ajudariam e depois poderia pedir em troca alguns favorecimentos, alguma coisa... Mas não! Nossas mulheres procuravam as mulheres deles. No fi nal, estavam todas as empresas imbuídas. E aí as mulheres dos donos e gerentes das empresas e os próprios gerentes trabalhando na Feira, mas trabalhando como garçom, a mulher como garçonete, e isso pegou bem. Tinha um desfi le amplo dos participantes no dia de inauguração da Feira, que era anual. Competia a gente fazer o transporte.... Por exemplo, trazer carne de sol da Paraíba, não sei quantas toneladas... A intenção era arrecadar dinheiro, mas ela trouxe foi integração mesmo. Porque aí integrou gaúcho, pernambucano, macaense... Eu mesmo fui o boi, em um dos desfi les inaugurais. (Risos!) Tinha um artista plástico que fez o boi-bumbá, um nordestino, Marcos. Um boi maravilhoso para puxar o desfi le, mas quando chegou a hora, naquela praça linda, quem vai no boi? Um não quis, outro negaceou... Aí entrei no boi e saí puxando o desfi le. Eu pensei que dentro do boi ninguém me reconheceria, sem me dar conta de que eu era o único cara de Macaé que tinha um tênis azul. Só percebi quando ouvi alguém na plateia dizer: É Alfeu, olha o tênis dele ali debaixo do boi! (Risos!) Fingi que não é era comigo e continuei dançando debaixo do boi e dando chifradas no povo. No palanque ofi cial o locutor falou: “Convido o prefeito, não sei quem mais, o doutor fulano de tal, o Doutor Alfeu Valença da Petrobras” e então o Irani falou próximo ao microfone: - Alfeu não pode porque está debaixo do boi. Saiu no alto-falante! (Risos!) Era muito bom, integrava as empresas todas e acabava com barreiras sociais. Estávamos eu e o João Newton sendo garçons e chegaram dois vigilantes da Petrobras, de folga, pedindo sarapatel e foram servir... Mas, eles disseram que queriam ser servidos pelos chefões, para darem gorjeta. Aí fomos eu e o Zé Marques e os caras deram gorjeta e nós colocamos na caixinha. Quando foram saindo me pediram desculpas e eu disse que na segunda-feira a gente conversava. (Risos!) Realmente foi uma fase excepcional. O MAI construía as creches e cedia para a Prefeitura Municipal de Macaé administrar, se o dinheiro não dava, a Prefeitura entrava também.

Nunca fui muito carnavalesco, mas lembro dos bailes que aconteciam no Tênis Clube, na Praça Veríssimo de Mello, que é muito bonita com aquelas árvores... Tinha o bloco do Boi Capeta de Ricardo Meirelles e Martinho Santafé... Peron fazia um carnaval muito bonito na Aroeira, que tinha uma escola de samba e tudo mais. Mas uma coisa que jamais esqueço é de um senhor com uns setenta, oitenta anos, que na primeira música que tocava nos bailes do Tênis, entrava e fi cava sozinho dançando, nas três noites. Ele não bebia, não fumava, mas dançava a noite inteira! Os caras faziam um carnaval bonito na Rua Direita, que era apertadinha, mas com carros alegóricos altos, grandes... Naquela época, como tinha uma integração muito grande, as pessoas se relacionavam com muita assiduidade: sempre tinha aniversário de fi lho, praia, todo mundo no Tênis Clube aos domingos, as festas de Réveillon... Uma coisa engraçada, gaúcho acha que gosta de churrasco, mas em Macaé sempre tinha dois ou mais churrascos para ir nos fi nais de semana, tudo se comemorava com churrasco. (Risos!) Uma coisa que me marcou muito foi que cheguei, com minha família, quase como intruso e quando saímos, transferidos pela Petrobras para o Rio de Janeiro, foi feita uma festa, enorme! Acho que só dez por cento era da Petrobras, e noventa por cento da população de Macaé... Todo mundo ali presente na festa de despedida e quase morri de emoção, porque o pessoal estava triste com a nossa saída. Eu ganhei o título de cidadão macaense indicado por Olinto Bordalo e no ano seguinte, minha mulher também ganhou indicada por Nélio Nocchi. Depois de um ano que eu saí, um ano, teve uma festa de aniversário da cidade e os vereadores me deram uma

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royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Cinelândia [Nome popular dado ao entorno da Praça Floriano, no centro do Rio de Janeiro, espaço famoso por abrigar importantes manifestações populares]

ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustí veis, criada em 1997 pela lei n º 9.478, é o órgão regulador das ati vidades que integram as indústrias de petróleo e gás natural e de biocombus� veis no Brasil]

Fundação [Educacional de Macaé, criada Lei Municipal n°.1369, em 17/11/1992]

Shopping [Plaza Macaé, na Avenida Aluísio da Silva Gomes, Granja dos Cavaleiros, inaugurado em setembro de 2008]

Calçadão [Trecho comercial da Avenida Rui Barbosa fechado para o trânsito de automóveis desde a década de 1990]

Aluízio [dos Santos Júnior, macaense, fi liado ao Parti do Verde (PV), médico neurocirurgião, eleito em 07/10/2012, com 70.693 votos]

Riverton [Mussi Ramos]

fi lho [Alfeu Valença Neto, hoje engenheiro]

Campos dos Goytacazes [Município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Escola Técnica [Atual Itnsti tuto Federal Fluminense (IFF), Campus Macaé, anti go CEFET-Campos, encontra-se às margens da Lagoa de Imboassica. Em 1987, a Prefeitura de Macaé doou o terreno de 51 000 metros quadrados e, após convênio fi rmado entre Ministério da Educação e a Petrobras, que fi naciou totalmente a construção do prédio. No dia 29/07/1993, o prédio foi inaugurado e as ati vidades escolares iniciadas em 30 de agosto. Hoje, conta com cursos em vários níveis de ensino, além dos convênios e parcerias que visam à qualifi cação profi ssional na região]

MEC [Ministério da Educação]

Maria Lúcia Piersan� [Carioca, socialite, jornalista, radialista, colunista social, políti ca, benemérita]

medalha de ouro... Graças a Deus ainda não precisei derreter (Risos!)! Um reconhecimento por tudo que fi z na cidade e isto jamais vou esquecer.

Havia na legislação brasileira uma coisa chamada royalties, e era 5% do valor do petróleo produzido, dado a Marinha do Brasil, que não tinha nada haver com os municípios. A Petrobras tinha dois compromissos... O primeiro, produzir petróleo para manter o país abastecido de combustível, isso era uma missão que a gente tinha e uma forma de que retribuir a Sociedade pelo direito do monopólio... O segundo, a gente sabia, que em qualquer cidade que chega um bando de gente e começa a usar a infraestrutura da cidade, as autoridades estaduais e municipais têm de promover os benefícios necessários para a população, mas de alguma maneira a Petrobras ajudava fazendo convênios. Isso não era uma obrigação legal e dependia de cada gerente, da comunidade, do relacionamento com o prefeito... Aí apareceu a campanha dos royalties, da qual Marilena Garcia foi a batalhadora maior, fazendo “acampamento de escoteiro” na Cinelândia... Isso foi uma batalha grande, teve um congresso e terminou sendo aprovado. Agora, houve muitas distorções, porque o projeto original predeterminava a fi nalidade do dinheiro. Os royalties iam para Saúde, Educação, Transporte. Então se tivesse um bom prefeito, ele iria fazer aquilo, se não tivesse também seria obrigado a fazer o mesmo, pois não tinha outra saída. Isso foi distorcido e, hoje, os executivos municipais e estaduais gastam onde quiserem! Foi uma luta muito bonita e bem feita. Hoje, ela continua! Do que está se discutindo hoje sobre royalties, tenho uma posição muito pessoal que não vi ninguém defender ainda. Os royalties são dos estados e municípios produtores ou de todo o país? A briga é essa. Aí dizem que estão rompendo um “contrato” e isso é inconstitucional. Para mim, não é inconstitucional, porque não existe esse “contrato”. Existe um contrato entre as empresas exploradoras de petróleo e a ANP, que para cumprir a lei brasileira, os operadores que tem que pagar, sei lá, 10% de royalties. Mas para quem? Não existe isso nos contratos. Para a companhia produtora não interessa, ela está pagando para a ANP, que vai distribuir o dinheiro. Enfi m, os royalties foram muito bons, porque antes existia uma relação que podia até ser muito promíscua e a Petrobras, como ajudava muito as prefeituras, poderia começar a mandar nelas. Virou uma relação profi ssional, isso eu achei importantíssimo.

Eu não posso entrar em muitos detalhes porque estou muito ausente de Macaé, mas noto que podem ter tido muitos erros ao longo do processo, com a chegada da Petrobras e outras empresas, com a quebra do monopólio, mas posso dizer que na média, na década de 1980, quando o Brasil inteiro estagnou dez anos, Macaé não deixou de crescer um dia sequer. Acho que a cidade que mais se desenvolveu na “década perdida” foi Macaé! É aquela coisa que se falava antigamente, o Brasil é tão pujante que até de noite ele cresce... Os políticos dormem, ele cresce (Risos!). Por mais erros que tenham tido, qualquer pessoa que chega em Macaé agora e olha o que tem de novos conjuntos, condomínios, hotéis, restaurantes... A cidade fi cou muito mais cosmopolita por um lado e por outro fi cou mais pobre na periferia, o que é um processo “natural”. Acho que Macaé cresceu bem, não é tamanho, cresceu e tentou se arrumar, mas não é fácil uma cidade crescer com fl uxo de gente chegando com boa qualifi cação, outros com má qualifi cação. Macaé hoje tem faculdades, tem a Fundação, o Shopping, muitos hotéis bons, o comércio com aquele Calçadão. Tudo isso não se vê nas outras cidades... Comparar Macaé no começo de 1980 e as outras pequenas cidades do Brasil é uma coisa absurda de melhorias. Poderia ter melhorado muito mais? Poderia! Porque nunca também teve uma cidade que entrasse tanto dinheiro, porque entrou muito dinheiro sem esforço, um dinheiro que caiu do céu, foi Deus que colocou no mar aquele petróleo todo. Então, poderia ser melhor, mas o quanto melhor, é difícil quantifi car.

Lembro quando o Aluízio perdeu a eleição, que cheguei em Macaé e encontrei um ambiente de tristeza, porque afi nal de contas o Riverton

havia sido reeleito, com Marilena Garcia de vice, mas o Aluízio que seria realmente o redentor, perdeu. E durante quatro anos, isso foi cada vez mais incentivado, criando-se uma expectativa tremenda, então, o grande sonho hoje é que ele seja metade do que se espera dele. Se ele fi zer metade do que estão esperando, a cidade vai ser a melhor cidade do Brasil. Macaé merece um planejamento de trinta anos, porque aquele petróleo que está lá, vai durar mais trinta, quarenta anos... Se nada for feito Macaé ainda vai estar a mesma coisa, recebendo e gastando dinheiro dos royalties, que uma hora vai acabar e não vai ter nada para o futuro. Macaé precisa de um plano diretor, um planejamento bem feito, profi ssional, feito por empresas de consultoria de alto nível, de conhecimento mundial, para fazer um levantamento, um estudo. Macaé precisa integrar aquela Serra, que é uma coisa que o mundo inteiro está procurando e têm logo ali dando sopa, no entanto o pessoal fi ca pensando no verde da Lagoa de Imboassica e de Imbetiba. Agora é o momento de fazer? É! Por quê? Porque tem dinheiro! Pega vinte por cento do orçamento e investe só nisso, preparando Macaé para daqui há trinta anos.

Quando a gente chegou em Macaé, e poderia ter sido em qualquer lugar do mundo, estávamos com um desafi o enorme de fazer o desenvolvimento da produção de petróleo na Bacia de Campos. A gente tinha dinheiro para construir plataforma, para comprar máquinas, mas não tínhamos a coisa mais importante que é a mão de obra. Não tinha ninguém preparado para aquilo; e em quatro anos, nós preparamos cinco mil pessoas. As pessoas que mais responderam aos nossos anseios foram as que vinham de escolas técnicas. Era impressionante como eles aprendiam rápido a tecnologia de petróleo, tinham uma base muito boa e o que achei mais importante, eles tinham um tipo de educação que permitia, rapidamente, que vestissem a camisa de uma empresa estatal, se orgulhando daquilo que faziam. Percebemos que tinha um fi lão muito bom que eram as escolas técnicas. Eu gostei tanto quando o nosso fi lho foi estudar na Escola Técnica de Campos, morávamos em Macaé e ele foi estudar em Campos dos Goytacazes, dividindo o apartamento com o Júnior, que hoje é o Doutor Aluízio dos Santos Júnior, Prefeito de Macaé. Então, essa coisa de escola técnica fi cou muito latente. Foi quando uma visionária maluca chamada Marilena Garcia desafi ou: - Por que você não faz uma escola técnica aqui? Aí entrava o bairrismo: - Eu quero escola técnica de Macaé, não quero nada com Campos! Eu falei: - Marilena, não dá para fazer a escola da gente, façamos com a de Campos, para agregar a experiência deles, a iniciativa técnica, depois a gente se separa quando tivermos maior idade, não adianta querer tudo muito rápido. O fato é que a gente estava nessas discussões e pouco tempo depois, eu saí de Macaé, vim para o Rio e tive a chance ocupar um cargo que tinha o poder de decidir se ajudava ou não a fazer a Escola Técnica. E tudo foi feito usando a Escola Técnica de Campos, como eu pensava, porque era burocraticamente mais fácil chegar no MEC e dizer que queríamos ampliar a Escola Técnica de Campos, já que estávamos consumindo 80% da mão de obra de lá, e evitaríamos deslocamentos, favorecendo os macaenses. Mas teve aporrinhação também (Risos!). Um dia, eu estava na Petrobras, aqui no Rio de Janeiro, quando abro um jornal e tinha uma autoridade de Macaé falando assim: “Eu fui a Brasília e consegui a verba para a escola técnica.” Fiquei bobo com a cara de pau! Ele sabe que não foi, mas tudo bem, alguns políticos fazem essas coisas.

Hoje, realmente fui obrigado a fazer cócegas no cérebro e lembrar das coisas. Tenho a teoria de que não gosto de pensar no passado, porque a gente nunca consegue repetir o passado, nunca é da mesma forma. Mas dizer que não gosto de relembrar também é demais, eu gosto. Sabe o que sou? Um cara romântico, leal, verdadeiro, assumo meus erros, às vezes gosto deles, mas não levo desaforo para casa. Só isso. Outros podem pensar que não, que sou um falso, um covarde. Se alguém discordar de mim eu vou lá discutir com ele (Risos!)! A lembrança maravilhosa que tenho de Macaé são as crianças na Praia dos Cavaleiros sem ter medo de serem atropeladas... Não tinha pedófi lo, não tinha maldade (Risos!)! Uma coisa muito legal foi conhecer Maria Lúcia Piersanti, uma pessoa inteligente, alegre, aberta, sem preconceito de absolutamente nada, libertária. Outra lembrança muito boa era sair do trabalho no horário de verão e ir naquelas pedras dos Cavaleiros e ainda curtir duas, três horas de sol, um negócio interessante, charmoso... Mas sem dúvida, o mais marcante foram as amizades que deixamos e mantemos. Obrigado!▪

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1 Bloco de Carnaval, que saiu na Imbe� ba no Carnaval de 1986. Tania Mussi, Alfeu, Lucelia (Celinha), Dona Valda e Carlos Emir ( não era mais prefeito).

2 Recebimento da Medalha do Mérito Municipal, 1991.

3 Assinatura do convênio para Construção da Escola Técnica Federal.Acervo parti cular de Alfeu Valença. Rio de Janeiro - RJ.

4 Celinha recebe o � tulo de Cidadã Macaense (ao fundo Presid da Câmara Rubem de Almeida, prefeito Alcides Ramos e o Ministro Evandro Lins e Silva, que pres� giou o evento).

5 Ministra Zélia visitando plataforma de Macaé, 1991.

6 Entrevista na Radio Macaé, em 1980 explicando planos da Petrobras na Região - Iltamir Abreu, Ricardo Maranhão (superitentente adjunto da construção do COLNOR, em CAbiunas), Pref Carlos Emir, Alfeu e Antonio Luiz( Relações publicas do DISUD).

7 Lançamento do livro “ Meu nome crianças, é Macaé”, patrocinado pela Petrobras. Da esq para direita: Jornalista Luiz Ernesto, Celinha Valença, Prof Tonito Parada ( autor do livro), Alfeu Valença, jornalista Oscar Pires e Jornalista Mar� nho Santafé. Foto Livio Campos.

Acervo parti cular de Alfeu Valença. Rio de Janeiro - RJ.

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Porto Imbe� ba. 2013.Foto: Livio Campos

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Para mim, é um prazer estar aqui falando sobre as décadas de 1960-70-80, que foi uma época muito rica, de muita consciência, época que conheci o mundo, praticamente, porque eu fui criada no colégio interno, meu pai me colocou num colégio de freiras para eu ser católica. Ele dizia: - Gastei um dinheirão e você saiu com um cigarro e um copo de uísque nas mãos. Fui morar em Cabo Frio quando saí do internato, levei mais de seis anos interna, mas não tenho más lembranças, aprendi coisas lá, não o que as freiras ensinavam, porque eu questionava tudo. Eu nasci questionando o mundo, então, já não acreditava muito no que elas falavam, mas foi bom, eu conheci umas freiras interessantes, umas colegas que eu sou amiga até hoje... Foi uma época boa da minha vida. Quando saí, me deslumbrei com o mundo, achei uísque ótimo, cigarro ótimo, namorar ótimo e o meu pai se assustou. Eu tenho uma pessoa aqui, em Macaé, que é muito importante na minha vida, meu tio, José Vieira de Almeida Júnior, que é muito rígido. Papai falou: - Eu vou mandar você pra Macaé, você não pode fi car em Cabo Frio. Cabo Frio deu-me a alma, ia à praia, aquela coisa...

Aí eu vim para Macaé. Chegando aqui, fui fazer o curso Normal no Luiz Reid. Eu me deparei com uma cidade limpa, bonita, ampla... A Praça Veríssimo de Mello, [que eu adorava, a Rua da Praia... A Praia da Imbetiba, um local que acho que tem história... Eu gostava muito! Antes de dar esta entrevista, eu tentei olhar na internet sobre Macaé nas décadas de 1960-70-80. Quando eu li que Macaé era pobre, pensei: Eu não quero ler isso, porque não é este o meu olhar. Eu não achava Macaé pobre, achava rica, linda, com pessoas muito interessantes... Eu não via essa pobreza de que as pessoas falam. Nem riqueza, porque não tenho olhar pra isso. Então, para mim, é difícil, por que vejo Macaé como uma cidade maravilhosa. Essa minha turma do Normal, que era uma turma muito boa e grande... É ruim falar os nomes porque esqueço... Lenita; Evalsira, muito interessante; Edalva; Sônia; Marilena, muito inteligente... Foi uma turma muito unida, a gente passeava muito, fazia excursões a Petrópolis... Imagina sair de um internato e entrar no Luiz Reid?! O mundo para mim era a beleza de Macaé!

Eu nunca participei da alta sociedade. Não que eu ache isto melhor ou pior, certo ou errado, não é nada disso. Eu nunca gostei da questão social, no sentido de ir às festas, nunca fui muito ligada a isto. Passava fi nais de semana em Cabo Frio e lá comecei a querer desvendar o outro lado do mundo, que assustava meu pai, uma pessoa muito inteligente. Ricardo Meirelles, quando falo pra ele que quis estudar História e que meu pai não deixou, ele diz: - Não deixou porque era muito inteligente. Porque eu naquela época já questionava tudo. Depois que terminei o Normal, veio a Revolução. Assustei-me, porque Macaé deixou de ser a cidade linda pra mim, professores presos, professor Abílio adoecendo; professor Miguel Ângelo... O primeiro debate a que assisti na minha vida foi sobre divórcio, realizado numa aula de Miguel Angelo. Ricardo Moacyr... São pessoas importantes pra mim e que eu percebia que estavam sendo perseguidas. Então, comecei a tomar consciência de um novo mundo, que não era o mundo do internato, não era a Macaé linda... Era a Macaé que tinha

colégio interno [Colégio São Vicente de Paula, em Niterói-RJ, fundado em 25/04/1950, dirigido pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, coordenadas pela Irmã Zoé Ramalho]

meu pai [Antonio Trindade Terra, cabo-friense, cirurgião-denti sta e salineiro]

Cabo Frio [Município balneário fl uminense, fundado em 13/11/1615, sendo o séti mo mais anti go do Brasil e o principal da Região dos Lagos]

nasci [Em 31/10/1944, na cidade de São Pedro da Aldeia-RJ]

José Vieira de Almeida Júnior [Aldeense, fi scal de Rendas]

curso Normal [Também conhecido como Magistério de 1.0 grau ou Pedagógico, um ti po de habilitação para as séries iniciais do ensino fundamental. Era um curso secundário, equivale nos moldes atuais, a um curso profi ssionalizante em três anos. Por Lei de 1996 a mínima habilitação exigida para o magistério passou a ser uma licenciatura (ensino superior), depois foi reabilitado o curso Normal por portaria de 22/02/2001]

Luiz Reid [Colégio estadual na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Rua da Praia [Atual Av. Presidente Sodré]

Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Lenita [Nocchi Abreu Vasconcellos, macaense, educadora, advogada]

Evalsira [Gonçalves, macaense, professora]

Edalva [Barreto, macaense, professora]

Sônia [Bapti sta, macaense, professora]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]

Petrópolis [Cidade serrana fl uminense, conhecida como Cidade Imperial, fundada em 16/03/1843 é muito procurada pelo clima e por atrações turísti cas como o Museu Imperial e o Museu Casa de Santos Dumont]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, políti co, vice prefeito em dois mandatos, primeiro presidente da Fundação Macaé de Cultura e primeiro Secretário Municipal de Acervo e Patrimônio Histórico]

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perseguição, que a autoridade máxima, a pessoa, o homem, que se rendia a maior homenagem, o comandante do Forte, representava perseguição. Eu sempre fui contra a exclusão, faço terapia, fi z uns doze anos no Rio de Janeiro, faço aqui, não consigo me entender sem terapia. Eu vi e ouvi muita coisa, inclusive dentro da minha própria família, meu próprio pai era a favor da Revolução e eu era contra, então começou um embate, porque eu não aceitava aquelas ideias. Eu tinha dezoito anos.

Meus pais se separaram, eu tinha nove anos, então, a partir da separação eu nunca tive quarto, nunca tive residência, apesar do meu pai ter recursos. Foi assim, porque meu pai foi viver com a mãe dele, mas eu não queria viver lá. Minha mãe construiu outra família, e eu também não queria morar lá. Tornei-me uma pessoa assim, meio do mundo, entendeu? Do mundo, no sentido que minhas casas, onde eu vivia, eram boas casas. Era casa de Dalva; de Maria Angélica. Eu tinha casa em São Pedro da Aldeia, em Cabo Frio... Não tive casa de doido, pra minha sorte, tive casa de gente que sabia o que era a vida, então, tive bússola, que não foi dada pela família, nem pelo internato, mas pelos amigos. Sou casada há quarenta anos e acho Abraão um herói. Uma vez, uma prima me perguntou: - Qual o pedaço da galinha que o seu marido mais gosta? Eu falei: - Não sei. Toda mulher sabe, mas eu não sei. Por que eu tenho que saber? Quem tem que saber é ele. Então, essas coisas que dizem que toda mulher tem, nunca prestei atenção nisso, eu não tenho, entendeu? Eu não sei cozinhar, não sei lavar, não sei passar... Eu gosto de trabalhar. Então, nessa Revolução, eu confi rmei a minha forma de viver, mostrou a mim que a vida não era se arrumar para esperar o marido chegar do serviço, que a vida é muito mais ampla. Nunca condenei quem levava outro tipo de vida, mas eu achava que a gente tinha que lutar por um mundo melhor, eu acho isso, sempre achei. Depois da Revolução, pelo que eu vi, as perseguições, as mortes, o assassinato do Edson, o exílio de várias pessoas, aquilo tudo que eu vi, confi rmava que a vida não era saber fazer doce de coco, a gente tinha muita coisa pra fazer na vida, tínhamos que construir algo, lutar por alguma ideologia e seguir aquilo que sentíamos. O meio que convivi não era assim, as pessoas não pensavam dessa forma. Minha mãe não sabia nem que tinha Revolução, estava preocupada com a society. Meu pai sempre se mostrou para mim a favor da Revolução, tinha muito medo que acontecesse algo comigo. Quando terminei o Normal cheguei para o meu pai e disse: - Eu quero ir para o Rio de Janeiro. (Risos!) Queria estudar História. Ele disse: - Pra que você quer estudar História? Respondi: - Quero entender isso tudo que acontece no mundo. Ele não deixou, não pagou, mas fi cou tudo bem, nunca procurei prolongar nada, mesmo quando não gostasse, deixava pra lá.

Estudei, fi z concurso, na hora de escolher a escola, pensei: Vou para o Sana viver uma vida diferente. No Sana, a gente escutava música sertaneja na rádio, aos domingos, e à noite sentávamos para conversar. Tive muita sorte na vida, Deus foi sempre muito bom para mim... Morei na casa de Dona Neli, ela vive até hoje, foi uma mãe que eu achei, conversávamos muito...

Normal [Formação de Professores]

Revolução [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

professor Abílio [Abílio Valenti no de Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]

professor Miguel Ângelo [da Silva Santos, angrense, educador, professor, patrono da Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS), na Cidade Universitária]

Ricardo Moacyr [Leite e Santos, macaense, médico, membro de uma família tradicional]

Forte [Marechal Hermes, 1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

mãe dele [Rosalina Trindade Terra, cabo-friense]

Minha mãe [Maria Apparecida de Almeida, aldeense]

Dalva [Magnólia Alves Soares, macaense, educadora, criou o conceituado Curso Pró-Técnico Dolores Magnólia Alves Soares, na Imbeti ba, voltado principalmente para admissão nas escolas técnicas federais]

Maria Angélica [Azevedo, macaense, professora]

São Pedro da Aldeia [Município litorâneo fl uminense, localizado na Região dos Lagos, fundado em 16/05/1617]

Abraão [Agosti nho, macaense, Advogado]

prima [Maria Aline Terra, cabo-friense]

Edson [Luís de Lima Souto, paraense, estudante secundarista assassinado pela Polícia Militardurante um confronto no Restaurante Calabouço, centro do Rio de Janeiro, em 28/03/1968. Foi o primeiro estudante assassinado pela Ditadura Militar e sua morte marcou o início de um ano turbulento de intensas mobilizações contra o regime que endureceu até decretar o chamado AI-5]

Sana [6.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Boitatá [Termo tupi-guarani, o mesmo que Baitatá, Biatatá, Bitatá e Batatão, usado para designar, em todo o Brasil, o fenômeno do fogo-fátuo e deste derivando algumas enti dades míti cas]

“O mundo para mim era a beleza de Macaé!”Angela de Almeida Terra Agostinho

Entrevistada, em Macaé (RJ), a 28/09/2012.

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Mauá [Visconde de Mauá é um distritodo município de Resende-RJ, estendendo-se também ao território do município de Itati aia-RJ e Bocaina de Minas-MG. A principal ati vidade econômica da região é o turismo, com mais de 100 estabelecimentos de hospedagem e dezenas de restaurantes]

Peito de Pombo [Pico localizado a seis quilômetros do Arraial do Sana, tem alti tude aproximada de 1.400 metros; seu cume sustenta um aglomerado rochoso com 50 metros de altura, em formato de peito de pomba]

Frade [5.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Seu Barreto [Macaense, comerciante]

Barreti nho [Alessandro Barreto, macaense, memorialista, advogado]

Dostoiévski [Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, escritor russo, considerado um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores arti stas de todos os tempos, ti do como o fundador do existencialismo]

Ka� a [Franz Ka� a, austro-hungaro, foi um dos maiores escritores de fi cção do século XX, de origem judaica, escrevia em língua alemã. O conjunto de seus textos situa-se entre os mais infl uentes da literatura ocidental. Em obras como A Metamorfose (1915), O Processo (1925) e O Castelo (1926), retrata indivíduos preocupados com um pesadelo de um mundo impessoal e burocráti co]

O Capital [Conjunto de livros, sendo o primeiro de 1867, que criti ca o capitalismo como economia políti ca. Considerado o marco do pensamento socialista marxista, contêm muitos conceitos econômicos complexos, sobre todos os aspectos do modo de produção capitalista]

Marx [Karl Heinrich Marx, intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, fi lósofo, historiador, teórico políti co e jornalista]

Parti do Comunista [Brasileiro (PCB), um parti do políti co de esquerda, fundado em 25/03/1922, ideologicamente baseado em Karl Marx e Friedrich Engels; com organização baseada nas teorias de Lênin. Também conhecido como Parti dão, é o mais anti go do país ainda em ati vidade]

Prestes [Luís Carlos Prestes, gaúcho, militar e políti co. Foi secretário-geral do Parti do Comunista Brasileiro e companheiro de Olga Benário, morta na Alemanha, na câmara de gás, pelos nazistas]

Aristóteles de Miranda Mello [Tote, líder sindical, eleito Vereador do legislati vo macaense em 1947 e Deputado Estadual em 1962, no auge do movimento operário em Macaé, chamada a Moscouzinho, após a Revolução de 64 foi preso e exilado]

Forte [Marechal Hermes, 1.0/10.0 GACosM]

Abertura [Políti ca é o nome que se dá ao processo de liberalização da ditadura militar que governou o Brasil. Esse processo teve início em 1974 e terminou em 1988, com a promulgação da nova Consti tuição]

Caetano Veloso [Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, baiano, músico, produtor, arranjador e escritorbrasileiro. Com uma carreira que já ultrapassa quatro décadas, construiu uma obra musical marcada pela releitura e renovação, considerada de grande valor intelectual e poéti co]

Gilberto Gil [Gilberto Passos Gil Moreira, baiano, músico e políti co. Em 1969, acompanhado de

Ela tinha muito medo de Boitatá, dessas lendas que o Sana tinha... Claro que eu não acreditava, mas eu conseguia ouvir, prestar atenção, participar. À noite, quando eu deitava, fi cavam muitas pessoas sentadas na minha cama conversando e me contando que naquela mata tinha isso, tinha aquilo... Interessante que morava em frente a minha casa uma mulher que era rejeitada, porque enganava o marido, então com esta mulher ninguém podia falar, ela sofreu muito até que fi cou louca. Parece que quando vivi no Sana, me retirei do mundo, vivi outra realidade, com uma natureza linda, como é até hoje, e o povo de Macaé, a maioria, não conhece. Conhece Mauá, o Sana não! E o Sana é lindo, tem todos os tons de verde que você queira, tem cachoeiras, o Peito de Pombo, os moradores, tudo isso era muito interessante para mim. Eu ia a cavalo, porque o ônibus não ia até lá... Chegava no Frade e Seu Valdir, dono da casa onde eu morava, mandava um cavalo para me buscar... A primeira vez que eu fui, quem me levou foi Seu Barreto, pai de Barretinho, junto com meu tio José Almeida... Nunca tinha andado a cavalo... Então me acostumei, depois saía de lá uma hora da manhã, pela mata, sozinha, a cavalo, para pegar o ônibus de sete horas no Frade. Entrei no cotidiano do Sana, como entrei na vida do internato, como também na turma do Colégio Luiz Reid... Eu sou muito assim, não gosto de fi car na beirada da vida.

O primeiro livro que eu li, depois do internato, foi de Dostoiévski, com treze para quatorze anos... Kafka... Mas o livro que li depois da Revolução foi O Capital de Marx... Eu absorvi o livro, hoje é cafona lê-lo, mas li e confi rmava muitas ideias que eu pensava e questionava. Os ferroviários tinham consciência, era a classe mais consciente na época. Eu vou evitar citar nomes. Uma vez fui assistir a um fi lme na casa de um deles, um fi lme com a fi losofi a comunista. Lembro-me de que falei assim: - Gente, uma guerra e tanta criança nascendo?!? Quando ele disse: - Ângela, você quer que o Partido Comunista não bote criança no mundo? Só a direita? Nunca pensei nisto, só foquei nas mulheres tendo fi lhos. Então, o Partido Comunista chegou a pensar que eu poderia ser uma comunista. Só não embarquei no comunismo porque tinha difi culdade em obedecer, entendeu? Como tenho até hoje, não obedeço... Tinha um negócio de mandar você votar em fulano, beltrano, que eu nunca aceitei... Mas eles foram meus grandes amigos, em épocas difíceis da minha vida. Então, quando vinha uma ordem para eles votarem em alguém, a primeira opção era essa, mas eu, ou discordava, ou não seguia à risca, mas era uma opção que eu aceitava.

O Prestes eu conhecia de livro, porque nessa época ele era igual ao diabo é para o evangélico, entendeu? Era tido como um horror, eu escutava isso o dia inteiro. O Prestes só não, o Aristóteles de Miranda Mello foi vendedor de livros na época da repressão, andou escondido, e todos militares do Forte à procura dele. Foi deputado, sofreu aquelas perseguições que fazem sem conhecer a pessoa. Depois da Abertura, ele ia lá em casa levar livros... As pessoas achavam que estava levando livro comunista, mas não era, geralmente ele me dava aquilo que eu estudava, que era Português, entendeu? Então as pessoas não procuram conhecer os outros, julgavam pelo que diziam... O comunismo naquela época era um estigma.

Aqui em Macaé era mais forte do que qualquer outro lugar, por causa dos ferroviários. Tinha médicos também envolvidos, evolvidos não, médicos que pensavam assim... Não se podia pensar, não podia falar nada, ser contra a cultura que eles impunham, e o Brasil absorvia tudo aquilo. Caetano Veloso e Gilberto Gil tiveram que sair, porque a Revolução perseguia.

Existiam pessoas presas aqui que foram difíceis de serem encontradas. Teve um que acharam, porque disseram que tinha um macaense que quase não falava e não comia... Por esses caminhos, a família foi seguindo e achou preso num navio... Ali no Ypiranga os professores foram todos presos sem muito critério... Fui aluna de Seu Abílio, que me despertou para poesia... Ele declamava em classe. E o pessoal achava que Seu Abílio estava dentro de sala pregando alguma coisa. Pregava nada, entendeu?! Ele tinha sua forma de pensar e foi muito perseguido, adoeceu... Ele conseguia perceber a sensibilidade da gente, era uma pessoa interessante, um homem inteligente.

Uma vez, conversando na terapia, a terapeuta se intrigou em saber de onde partia esta minha preocupação com a justiça social... Eu tinha cinco, seis anos já me preocupava com isto. Desde que o mundo é mundo, sempre existiu a injustiça social, mas eu nunca aceitei e não aceito. Vou morrer sem aceitar, acho a injustiça social de uma violência que não tem tamanho. Impedir que uma criança dance, faça teatro, é muito violento... Não ter uma roupinha de balé, uma biblioteca, não ter nada, acho que isso vai contra qualquer princípio. Nessa época, eu tive uma turma - agora que me lembrei! -, que foram os padres franceses. O padre Pierre, o padre Le Gal, me orientaram, e diziam para mim: - Ângela você vive num país capitalista e não pode ir por esse caminho. Mas eles tinham consciência disso tudo, a igreja católica teve um papel muito importante na Revolução através de Dom Hélder, Dom Paulo Evaristo Arns. Em Macaé nós tínhamos um líder, uma pessoa infl uente com os jovens, que foi Zé Augusto, uma pessoa que tem muito valor. Eu nem sei se ele sabe o grande valor que tem, os padres franceses tinham muita confi ança nele... Aí eu entrei para a Igreja Católica, comecei a trabalhar no encontro de casais, foi uma época boa.

Na década de 1960, nos Estados Unidos da América, teve o Woodstock, a contracultura, mas nós que vivíamos em Macaé não tivemos conhecimento disso, porque a repressão não deixava. Não entendo como tem gente que é a favor da Revolução, que tolia o conhecimento, não deixava você ir pra frente, reprimia a arte, reprimia a música... Como podem ser a favor disso? Naquela época, Woodstock estourando e só a classe alta do Rio de Janeiro, os Moreira Salles, tinham conhecimento disso... Em 1970, teve a vitória do Brasil na copa do mundo. Lembro-me daquele carnaval: Pra frente Brasil!!!... Eu estava grávida em 1970 e lembro-me do carnaval do Tênis festejando o Pra frente Brasil!!!... Um médico, daqui de Macaé, me chamou e falou: - Ô Ângela, você tem consciência do que está acontecendo no Brasil? A maior repressão e estão festejando o quê? Aquilo despertava em mim e fi cava, via que não era possível concordar com tal postura.

Macaé deu sorte em receber um Pierre, um Le Gal, que trouxeram consciência para as pessoas. Agora, a igreja católica, Dom Hélder Câmara, lutou contra a Revolução, Frei Betto também... Dentro da igreja católica, havia uma divisão. Claro que os padres franceses não podiam ir lá pra frente, nas missas, e falar determinadas ideias, porque iam presos... Mas nós, que convivemos com eles, que frequentávamos a casa deles, e eles as nossas, trocávamos ideias... Eles nunca deixavam que a gente perdesse o fi o da meada, lembravam que morávamos num país capitalista... Nunca deixaram que fi cássemos doidos. Na Paróquia de Santo Antonio, tinha o padre Luiz, tinham vários padres franceses, uns cinco, eles tiveram uma infl uência muito forte em Macaé, foi uma época muito boa, muito boa... O padre Le Gal era ligado ao Movimento Jovem, foi lá que o conheci. WW

Caetano Veloso, exilou-se em Londres, por ocasião do Ato Insti tucional 5 do governo militar em vigência no Brasil]

Ypiranga [Ginásio na Avenida Rui Barbosa]

Seu Abílio [Valenti no de Miranda]

época [Década de 1960]

Dom Hélder [Pessoa Câmara, OFS, cearence, foi um bispocatólico, arcebispo emérito de Olinda e Recife. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro. Foi o único brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz]

Dom Paulo Evaristo Arns [O.F.M., catarinese, frade franciscano, sacerdotecatólico, foi o quinto arcebispo de São Paulo, tendo sido o terceiro prelado desta Arquidiocese a receber o � tulo de cardeal. Atualmente é arcebispo emérito de São Paulo]

Zé Augusto [José Augusto Abreu Aguiar, campista, educador, que já foi Secretário M. de Educação, Presidente da Fundação Educacional de Macaé-FUNEMAC e coordenador do Insti tuto Nossa Senhora da Glória-Castelo]

padres franceses [Membros da Congregação dos Agosti nianos Assuncionistas de Nossa Senhora]

Woodstock [Woodstock Music & Art Fair foi um festi val de música realizado entre os dias 15 e 17/08/1969 na fazenda de 600 acres de Max Yasgur na cidade rural de Bethel, no Estado de Nova York, EUA. Anunciado como “Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz &Música”, o festi val deveria ocorrer originalmente na pequena cidade de Woodstock, mas os moradores locais não aceitaram, o que levou o evento para a pequena Bethel, a uma hora e meia de distância. O festi val exemplifi cou a era hippie e a contracultura do fi nal dos anos 1960 e começo de 70]

contracultura [Movimento com um esti lo de mobilização e contestação social, uti lizando novos meios de comunicação em massa, inovando esti los, voltando-se para o anti -social aos olhos das famílias mais conservadoras, com um espírito mais libertário, resumido como cultura underground, alternati va ou marginal, focada principalmente na transformação da consciência, dos valores e do comportamento, buscando novos espaços e canais de expressão]

Moreira Salles [Abastada família do banqueiro e diplomata mineiro Walther Moreira Salles, proprietário do Unibanco, que em 2008 uniu-se ao Itaú, formando o Itaú Unibanco Banco Múlti plo, a maior holding fi nanceira do hemisfério sul, estando entre as vinte maiores do mundo]

estava grávida [Do primogênito Antonio Terra Agosti nho, Tony, macaense, advogado]

Tênis [Clube de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

Um médico [Renato Maciel Pinheiro, macaense, Médico Cirurgião, Provedor da Irmandade São João Bati sta, administradora da Casa de Caridade]

Frei Be� o [Carlos Alberto Libânio Christo, mineiro, escritor, teólogo e religiosodominicano]

Paróquia de Santo Antonio [No bairro Visconde de Araújo]

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Eu dava aulas no Irene Meirelles e uma pessoa me ajudou muito a valorizar o magistério: Dalva Soares. Eu trabalhava muito com leitura da antiga quarta série até a oitava, então os alunos leram tudo de Machado de Assis, de José de Alencar... Procurei mostrar para eles a realidade da cultura de massa, da televisão, que era o eletrodoméstico mais vendido, todo mundo tinha televisão... muita novela... Eu procurava mostrar o valor do livro. Lembro-me de que Drummond faz aniversário no mesmo dia que eu, 31 de outubro, e comemorei o aniversário dele na minha escola com uma grande festa... Levei alguns meses explorando a obra dele... Colocaram música... Essa turma toda está ai, linda, maravilhosa... Fiquei tão doida com o resultado, que escrevi uma carta para ele, fui ao Castelo e pedi a uma freira o endereço dele: Rua Lafayette, 67, Copacabana... Nunca esqueci! Uma carta contando como foi a festa. Ele me respondeu, dizendo que fi cava satisfeito de ver que uma professora, que nasceu no mesmo dia que ele, de Escorpião, era sensível... Ele agradeceu.

Levei a década de 1960 sendo quem eu sou, pensando como eu penso. Antes de Carlos Emir me chamar para trabalhar na Prefeitura Municipal de Macaé, surgiu o Sindicato. Estava passando na Rua Direita, não tinha aula, eu não tinha entendido o porquê. Naquela época, três fi lhos, além da minha querida Ana Paula, dando aula, tendo que trabalhar o dia inteiro... Eu vi Ivair Simões, perguntei por que não tinha aula, e ele me mandou ir a um lugar, o Cine Clube, que iam me explicar o porquê. Foi a primeira vez que eu ouvi falar em greve e me apaixonei logo. Contra aquela miséria de salário que pagavam, contra aquilo tudo, falei: - É por aí que eu vou! Eu, Marilena Garcia, Dalva Soares, Ricardo Meirelles, Ana Maria Pinto, Ângelo participávamos desse movimento... Os professores se reuniram e acharam que dali tinha que sair um grupo, eles que escolheram o grupo, aí nós fomos para o Rio de Janeiro, fi zemos contato com Godofredo, tivemos contato com Lula, que esteve na Cinelândia, num clube municipal, ensinando o que é greve.

Foi em 1978, antes da abertura política... Meu pai enlouquecia, me via logo estuprada dentro de uma cela, morta, aquelas coisas de que o povo falava. A gente veio para Macaé e começamos a fechar escolas por motivo de greve, não fechávamos só em Macaé, era na região. Ricardo Meirelles era o presidente do Sindicato, eu era vice-presidente. Sempre tive um desequilíbrio, porque não tenho medo, isso aí não é normal, não aconselho ninguém a ser assim, tive sorte na vida, Deus foi muito bom pra mim, nunca aconteceu nada de mais, mas nunca tive medo. Então, eu achava que morrer era bobagem, o importante era o mundo mudar. Quer dizer, é um sonho que espero que não acabe, que eu morra com ele, porque não quero morrer achando que tudo é assim mesmo. Acho que o mundo tem que ter justiça, as pessoas devem ter oportunidades. Tem gente que passa pela vida, que não se mete nisso, mas que deixa o seu recado. Eu fui aluna de Claudia Marcia que me ensinou a valorizar a Literatura Brasileira, a gente fi cava na casa de Tânia, noites e noites, acordadas desvendando os mistérios da Literatura. Isso me acalmou um pouco, abriu minha visão, não fi quei só preocupada com uma ideia, vi a beleza da Literatura. Uma vez Claudia Márcia pediu que eu escrevesse sobre a galeria feminina de Machado de Assis... Levei as férias de julho inteirinhas na Biblioteca... Então eu adorava aquilo!... Virgínia e Jorge Pinheiro incentivavam essa minha trajetória... Foi uma época muito proveitosa, muito rica. Claudia Márcia é uma pessoa importante, deve ser uma pessoa feliz, porque ensinou muita coisa boa.

O CEP existe até hoje. Naquela época era difícil, porque as pessoas achavam

Irene Meirelles [Escola Estadual, na Avenida Agenor Caldas, 442, no bairro Imbeti ba]

Machado de Assis [Joaquim Maria Machado de Assis, carioca, escritorbrasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em prati camente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, conti sta, folheti nista, jornalista e críti co literário]

José de Alencar[José Marti niano de Alencar, cearence, jornalista, políti co, advogado, orador, críti co, cronista, polemista, romancista e dramaturgobrasileiro. Como escritor alcaçou notoriedade como autor de O Guarani (1857)]

Drummond [Carlos Drummond de Andrade, mineiro, consagrado poeta, conti sta e cronista, autor de livros infanti s, que fez parte de uma corrente modernista objeti va e concreta ao lado de nomes como Oswald de Andrade]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, fundado em 27/07/1963, no bairro Visconde de Araújo]

Escorpião [Oitavo signo astrológico do zodíaco, formando com Câncer e Peixes a triplicidade dos signos de Água, sendo um dos quatro fi xos. Os escorpianos são as pessoas nascidas entre 23 de outubro e 21 de novembro]

Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

Sindicato [dos Professores, onde foi vice-presidente]

Rua Direita [Atual Avenida Rui Barbosa]

três fi lhos [Antonio, Raquel e Abraão Júnior]

Ivair Simões [Ivair de Barros Simões, macaense, políti co, vereador, professor]

Cine Clube [de Macaé, Rua Francisco Portela, 551, Centro, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado a realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]

Ana Maria Pinto [Macaense, professora de Matemáti ca]

Angelo [Mario do Prado Pessanha, madalenense, professor, diretor e professor ti tular da Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro]

Godofredo [Saturnino da Silva Pinto, campista, educador, liderança do Centro Estadual de Professores (CEP), depois Prefeito de Niterói-RJ em dois mandatos (2002-8)]

Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano, políti co, ex-sindicalista e ex-metalúrgico. Foi o trigésimo quinto presidente da República Federati va do Brasil, cargo que exerceu de 2003 a 2011]

que era um bando de maluco, a gente fechava as escolas mesmo. Lembro-me, certa vez, por motivo de greve, fechamos uma escola de Cabo Frio. O meu pai escreveu uma carta me proibindo de usar a casa dele, para fazer greve, eu não podia fi car lá, fi quei sem ir uns tempos. (Risos!) Eu descobri que a gente não pode dar valor a tudo aquilo que lê, porque paralisávamos todas as escolas e no dia seguinte, saía no jornal: “Escolas abertas”. Eu dizia: - Gente, como é que pode isso? � erezinha Moreira, que foi muito importante, me dizia: - É assim mesmo Ângela, nem tudo que tá escrito é verdade. A imprensa também é manipulada. São ações que vão deixando você descrente, mas é uma descrença boa, entendeu? É preferível tomar conhecimento disso do que ser uma imbecil, viver no mundo achando que está tudo bem. Eu sou uma pessoa que acredita em Deus e tenho certeza de que esse não é o mundo que Ele quer para ninguém, não tenho dúvidas disso. Há pessoas que vivem dentro de uma igreja e não fazem nada pelas outras, para aquelas que querem comer e não têm comida, querem estudar e não têm escola... Vocês acham que o mundo é assim mesmo?

Em 1979, quando eu estava nessa coisa de sindicato, encontrei com Carlos Emir Mussi, prefeito de Macaé, que falou: - Ângela, você quer ser Diretora de Cultura da Prefeitura? Fiquei lá... Não fui bem, saí... Ricardo Meirelles, este gentleman que todo mundo conhece, foi à minha casa e disse: - Eu quero saber se você saiu mesmo, porque eu fui convidado pra ser diretor cultural. Carlos Emir morreu, mas foi meu grande amigo. O Barracão da Criação, onde a gente passava fi lmes, era frequentado por Phydias Barbosa, Euzébio... Pessoas tidas como de esquerda... Carlos Emir também era tido como pessoa de esquerda... Nós todos juntos, muito felizes... Conheci uma professora que foi presa e torturada, não é de Macaé, que conversou comigo e falou algo que não esqueci: - No dia que você aprende a lidar com a rejeição, você tá preparada pra vida, seja a rejeição de homem, social, qualquer rejeição. Quando eu encontrava pessoas, tipo ela, que falavam coisas assim pra mim, eu não deixava escapar, aprendi isso. Eu lido bem com a rejeição à minha pessoa, mas não suporto a rejeição que façam sobre pessoas que não sabem como lidar com a indiferença ou a própria rejeição. Entende? É por isso que eu gosto de trabalhar na periferia.

Bem, a História de Macaé foi pras cucuias. Gosto de História, a memória é algo que me atrai... Aldo tentou fazer um trabalho, ofereceu um curso sobre a memória de Macaé... Ele se preocupou com isto, aliás, se preocupou com várias coisas... Mas eu não vejo, ou então não acontece, não sei... Tentei levantar a memória da periferia, tentei várias ações e não consegui... Eu queria pintar o Morro de Santana, uma casa de cada cor, também não consegui... Têm ideias que a gente não consegue, outras a gente consegue, a vida é assim.

Nós começamos a trabalhar na greve em 1978-79, antes da Abertura Política. Meu pai procurou um general do Exército, parente nosso, por que meu nome estava lá, não sei onde... Aí o general mostrou a ele a gravação dos meus discursos. (Risos!) Ai meu Deus! Como era engraçado! Eu tinha um amigo e ligava para ele antes, para não falar besteira, ele dizia: - Você tem que falar que nós não precisamos mais de políticos pra reivindicar nossos direitos, quem reivindica é o povo. Gostei!!!... Aí num discurso no Fluminense, eu falei isso... Quando acabei de falar, me assustei quando ouvi os aplausos... Homens que eu não conhecia aplaudindo. Nessa época do Sindicato, entrou Miriam e teve a Greve Geral que nós fi zemos parte...

Cinelândia [Nome popular dado ao entorno da Praça Floriano, no centro do Rio de Janeiro, espaço famoso por abrigar importantes manifestações populares]

Sindicato [dos Professores]

Claudia Marcia [Vasconcelos da Rocha, campista, educadora, professora de Língua Portuguesa, foi Superintendente Acadêmico e Presidente da Fundação Educacional de Macaé (FUNEMAC)]

Tânia [Maria Jardim Mussi, casimirense, professora, formada em Letras, advogada, Primeira Dama de Macaé nos dois mandatos de seu esposo o Prefeito Dr. Carlos Emir Mussi; deputada estadual]

Biblioteca [Pública Municipal Dr. Télio Barreto, criada pelo decreto n.0 2, de 19/04/1941, pelo Prefeito Télio Barreto]

Virgínia [Silva Gomes, macaense, professora de Língua Portuguesa, fi lha do ex-prefeito Aristeu Ferreira da Silva]

Jorge Pinheiro [Macaense, funcionário público, hoje padre]

CEP [Centro de Professores do Rio de Janeiro criado em 24/07/1979 numa fusão da Sociedade Estadual de Professores e da União dos Professores do Rio de Janeiro. Em 1988, passou a chamar-se SEPE – Sindicato Estadual dos Profi ssionais de Educação]

Therezinha Moreira [Professora de Geografi a]

Barracão da Criação [Espaço cultural na Rua da Igualdade, criado pelo Prefeito Carlos Emir Mussi, abrigando eventos importantes como a Mostra Visual, lançamentos de livros, exposições, sendo exti nto pelo Prefeito Naciff Salim Selem, em 1982]

Phydias Barbosa [Macaense de Quissamã, escritor, produtor de cinema e Gerente Insti tucional da TV Brasil Internacional]

Euzébio [Luiz de Mello, macaense, jornalista, herdeiro do jornal O Século, de 1886, ressurgido em 1974, foi colunista social no periódico O Debate]

Aldo [Mussi Teixeira, macaense, bacharel em Artes Cênicas, Secretário Municipal de Cultura e Turismo, Presidente da Fundação Macaé de Cultura, insti tuiu o Centro de Memória Antonio Alvarez Parada]

Morro de Santana [Bairro periférico surgido da ocupação de terras pertencentes à Confraria da Gloriosa Santana por meio de doações ou usucapião]

Fluminense [Futebol Clube, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Miriam [Santos Mancebo Reid, macaense de Carapebus, evangélica, professora, assistente social, políti ca, vereadora, primeira macaense a ocupar uma vaga no Congresso Nacional]

Escola EstadualEscola Estadual

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Fui paralisar o Banco Real , meu marido estava dentro do banco. (Risos!) Eu disse: - Vamos fechar o Banco assim mesmo. (Risos!) Na Greve Geral conseguimos paralisar tudo, foi muito bom.

Eu nunca fui comunista, as pessoas diziam que eu era mais anarquista, no sentido de não querer seguir regras impostas. Outro dia, uma jornalista comentou nos Cavaleiros, numa roda, que eu não dei certo... Eu acho que dei, mas ela acha que não porque sou desobediente. Meu fi lho quando ouviu achou graça: - Mãe, ela disse que você é desobediente. Eu não tenho que obedecer a ninguém... Eu tenho que concordar com as coisas que os prefeitos falam? Posso discordar, tenho este direito... Os dois prefeitos que eu trabalhei, Sylvio e Riverton, me deram o direito de discordar, nunca me impuseram nada. O Riverton não me pediu nada, nem pra votar no irmão dele, nunca me impôs nada e sempre houve respeito entre nós.

Em 1980, começa a primeira academia de ginástica de Antonio José, que atendia a classe média. Ele abriu para a capoeira, que antes era uma atividade mais povão... Isto contado para mim por mestre Dengo, que é muito meu amigo... Nika Gripp foi pioneira na dança... Eu tinha um dentista na época, 1979, que uma vez me falou: - Ah, eu ia embora de Macaé, ganho pouco, agora com a Petrobras chegando eu vou ganhar mais. Acho que a Petrobras mostrou a riqueza de Macaé, apesar de dizerem que era pobre. Macaé era rica, mas só perceberam isto depois que perceberam o dinheiro na poupança. Macaé sempre foi um lugar rico de beleza, de um monte de coisas. A Petrobras é importante para Macaé, dá empregos, mas até que ponto é tão importante assim? Eu acredito que a questão intelectual, do conhecimento em Macaé, começou com pessoas daqui.

A AIDS surgiu aqui em Macaé ainda na década de 1980. Meu primeiro contato com a doença foi com Juarito, que tinha sido o vereador mais jovem de Macaé, muito inteligente, brilhante, lindo por dentro e por fora, amigo que impulsionava a gente pra cima, cuidava de todo mundo de que ele gostava, uma pessoa incrível. Ele, um dia, me disse que estava com AIDS... Engraçado, meu convívio com ele foi muito estreito nessa época, teve noites que dormimos na mesma cama, mas nunca tive medo... Na época, não se sabia direito como era a questão da AIDS... A gente conversava muito, ele sabia que não tinha cura, me dizia: - Não tem mais jeito pra mim. Pode ser que no futuro tenha para outras pessoas. Como teve, tem gente aí, linda, ótima, com vinte anos, vinte e cinco anos com AIDS. O Juarito se apegou muito a Deus, comungou, fez primeira comunhão... A Irmã Suraya também teve um papel importante na vida dele. Ele gostava muito da FAFIMA, foi à faculdade até não aguentar mais, quando parou de ir foi porque não conseguiu mais andar. Eu fi z lá em casa um réveillon com Juarito, o nome foi “Réveillon da Esperança”... Enfeitei meu jardim com laços enormes, amarelos, de papel crepom, convidei os amigos, Angelo, Peron, foi uma festa bonita, alegre... Eu tinha esperança do remédio chegar. Juarito era uma pessoa muito interessante, gostava de canto gregoriano, era fi no por natureza, dizia: - Gente, eu tinha que ter nascido em outra época! Não teve desespero com a morte... Quando teve que usar fralda, todo mundo preocupado, porque era vaidoso, era lindo... Ele botou a fralda e disse assim: - Angela estou igual ao Gabeira, que usava tanga em Ipanema. Era uma pessoa muito espirituosa, muito inteligente. Depois dele veio Marco Aurélio, Euzébio e outros, e outros... Peron passou por momentos muito difíceis, perdeu muitos amigos.

Banco Real Exti nta insti tuição bancária, cuja agência em Macaé localizava-se na Avenida Rui Barbosa, frente à Praça Veríssimo de Mello, sendo fundida ao Santander Brasil em 2008]

comunista [Pessoa que defende que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição ao liberalista, que crê que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]

Cavaleiros [Bairro nobre e balneário, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

fi lho [Antonio Terra Agosti nho]

Sylvio [Lopes Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]

Riverton [Mussi Ramos, macaense, professor, políti co, vereador, governou o município em dois mandatos consecuti vos 2005-12]

Antonio José [de Almeida Terra, irmão de Angela, aldeense, professor de Educação Física, karateca faixa preta]

Dengo [Manoel da Cruz Vieira, macaense, capoeirista, fundador da Associação de Capoeira Raízes de Aruanda, fundada em 10/07/1999]

Nika Gripp [Joanir Marti ns Gripp, arraialense, bailarina, fundadora do Insti tuto Nika Gripp]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

AIDS [Acquired Immune Defi ciency Syndrome ou Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida (SIDA), é uma doença do sistema imunológicohumano causada pelo vírus da imunodefi ciência humana (HIV). Esta condição reduz progressivamente a efi cácia do sistema imunológico e deixa as pessoas susce� veis a infecções oportunistas e tumores]

Juarito [Juarez Malheiros Chaloub, macaense, psicanalista, professor]

Irmã Suraya [Benjamin Chaloub, macaense, religiosa, educadora, formada em Pedagogia, fi losofi a e Ciências Religiosas na Itália. Tia paterna de Juarito Chaloub]

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada em 1974, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo]

Angelo [Mario do Prado Pessanha]

Peron [Ely Peron Frongilo, carangolense, arti sta plásti co, carnavalesco, decorador]69

Em 1974, veio o ensino superior, que foi uma coisa. A FAFIMA para mim foi importante, porque foi lá que estudei. Eu dei aulas na FAFIMA porque Ângelo insistiu comigo... Pensei: Não é isso que eu quero, estou dando aula igual dou para o ensino médio, não sei linguística, tenho que estudar mais. Um dia, conversando com Ângelo, ele perguntou se eu queria fazer mestrado. Respondi que não, minha luta não é essa, não é dar aula para o ensino superior, estaria me desviando do caminho. Aí houve a primeira eleição de diretoria do Mathias Netto e fui escolhida junto com Leda, Lígia e Célia. Eu fui ser Diretora Supletiva II e convivi com alunos de todos os níveis sociais... Descobri que é disso que gosto, nasci para isso, gosto de lidar com gente. No Mathias Netto fi quei um ano, foi muito interessante, porque houve uma greve. Eu era diretora, não podia fazer greve. Falei: É ruim heim!!! Peguei a chave da escola, Ricardo Meirelles era chefe do NEC, entreguei a chave e fui fazer greve. Ricardo falou: - Vou fazer o seguinte, vou guardar a chave aqui na gaveta, quando a greve acabar você vem buscar. Era uma experiência nova... Foram tantas experiências que eu não sei como não fi co cansada. (Risos!) Alguns professores queriam trabalhar e eu dizia que não podia porque tinha que fazer greve... Como diretora não podia fazer isso.

Na década de 1980, meu irmão inaugura uma academia, descubro que o exercício físico é bom para acalmar... Porque sempre fui um turbilhão... Meus fi lhos começam a crescer e eu os matriculo em escola pública, nunca admiti que fi lho meu estudasse em colégio particular. Um deles até me cobrou isto... Tinha uns dez, onze anos, sei lá...: - Mãe, por que as escolas estão em greve? Levei os três para uma assembléia na UERJ... Dali, nós fomos a uma passeata... Eu com os três, pequenos. (Risos!) Eles viram o porquê da greve e entenderam... O mais novo não entendeu. (Risos!)

Foi a década do Rock. Depois da Abertura a gente achava que tudo tinha solução. O samba continuava desconhecido e começou a ser um pouco conhecido. A droga veio de uma forma forte, como é até hoje. Outro dia mataram um rapaz aqui em Macaé, rapaz conhecido... Procurei saber sobre a vida do rapaz que matou ele. Fui às Malvinas e soube que foi um menino muito bom... Tornou-se usuário de drogas aos dezoito anos, matou o rapaz e nem fugiu, era tão inconsciente, tão inconsequente, que nem fugiu... Pegaram ele. A maconha existia na década de 1960, mas não enlouquecia tanto, depois vieram outros tipos de droga, nas décadas de 1970-80... Sempre está aparecendo uma droga pior. A cultura de massa, a televisão, alienou muita gente... Em 1960, já existia a televisão em Macaé. Todo mundo ainda hoje quer ser igual às mulheres das novelas. (Risos!) E Luciano Huck torna-se o maior homem do mundo, porque é muito bom e dá casa aos outros... Ah, por favor!... Não estou dizendo que não é bom, estou dizendo que aquilo que se mostra não é bem assim.

Eu trabalho na periferia há quinze anos, as pessoas de Macaé não conhecem a periferia, têm medo, matam gente na Imbetiba, matam gente na minha rua, mas ninguém quer saber, o medo é da periferia. E a periferia sabe disso, já conversaram isso comigo. Na vida acontecem coisas e a gente não tem que questionar muito, deixa passar, a resposta vem, ela vem não sei se é o universo, se é Deus, mas ela vem. Minha realização está naquilo que faço há quinze anos. Eu gosto de conviver, ajudar a proporcionar... Por isso, a minha visão de Macaé atual, não é a visão dos empregos que a Petrobras propicia. Realmente isto acontece, tenho vários amigos que trabalham, geólogos... Tenho fi lhos, quero que tenham bons empregos... Não é que

Gabeira [Referindo-se a Fernando Paulo Nagle Gabeira, mineiro, escritor, jornalista e políti co. Parti cipou da luta armada contra o Regime Militar como militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro, que tentava instaurar o socialismo no Brasil]

Marco Aurélio [Franco Corrêa, macaense, arti sta plásti co, modelo]

Euzébio [Luiz de Mello]

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé]

estudei [Licenciatura em Letras Português-Inglês]

Angelo [Mario do Prado Pessanha, Diretor da FAFIMA]

Mathias Nett o [Escola Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurada em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]

Leda [de Lima Vieira de Moraes, macaense, professora]

Lígia [Maria Mussi, professora]

NEC [Núcleo de Educação Comunitária ligado à Secretaria Estadual de Educação]

UERJ[Universidade do Estado do Rio de Janeiro, fundada em 04/12/1950, uma das maiores e mais presti giadas universidades do Rio de Janeiro e do Brasil. Seu principal campus é o Francisco Negrão de Lima, que está localizado no bairro do Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro]

Malvinas [Bairro periférico, resultante de ocupação subnormal, ocorridas no início da década de 1980, cujo topônimo refere-se ao confl ito armado entre Inglaterra e Argenti na pela soberania das Ilhas Malvinas]

Luciano Huck [Paulistano, apresentador de televisão. Está à frente do programa Caldeirão do Huck, que vai ao ar todos os sábados na TV Globo. O programa é transmiti do para todo o território nacional e para 115 países via Globo Internacional. Em 2009, foi o primeiro brasileiro a ati ngir a marca de 1 milhão de seguidores no Twitt er, em apenas 4 meses]

Imbeti ba [Bairro nobre, balneário e portuário, surgido em terras de Marinha]

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eu condene isto. Mas a periferia, você leva seis meses sem ir lá, quando vai dobrou... E não é por culpa de governante, porque esse povo de Macaé tem mania de colocar toda culpa em cima do prefeito, entendeu? A Nova Esperança, a Nova Holanda, o Morro de São Jorge são exemplos... O povo de Macaé não conhece. E vai falar do que não conhece? Tem primeiro que conhecer, ir lá... Por exemplo, Fronteira é um lugar tranquilo, o lugar que eu trabalho, onde está a sede do Arte Luz, um lugar que não tem diferença de qualquer bairro aqui do centro, mas as pessoas têm medo... Tem professor que não dá aula à noite, tem medo não sei do quê. Agora, as Malvinas é, para mim, o lugar mais difícil de Macaé. Eu tive conversando, uma vez, com a fi lha de um dos autores daquele livro, “Cabeça de Porco” , que fala sobre movimentos de inclusão social... Levei-a nas Malvinas para conhecer o projeto e ela concordou que o lugar mais complicado é as Malvinas, porque é fechado, os outros são mais amplos, entendeu?

Para falar no Arte Luz, tenho primeiro que falar rápido como ele surgiu. Marilena Garcia, um dia, me ligou, estava no Amapá, falando que o Estado do Rio tinha uma vaga para fazer um trabalho na Bahia, no Projeto Axé, de inclusão social, com tudo pago. Eu só pagaria a passagem, mas tinha que ir no dia seguinte. Pensei: - É pra lá que eu vou, quem sabe se vou gostar disso? Chegando lá, fui para o endereço que ela me deu, quando abaixei a minha bolsa no chão, escutei um batuque, aquela música brasileira mesmo. Falei: - Coisa boa! Segui o som, encontrei o projeto de Carlinhos Brown, com trezentos rapazes no galpão, todo mundo cantando, dançando, Carlinhos à frente... Gente que projeto lindo! Toda noite de folga eu ia ali. Na época estavam fazendo um fi lme, com Zé Wilker... e Chico Buarque... Uma fi lha dele era casada com o Brown. O trabalho do Brown era no lugar que ele vivia antes de ser famoso. Fui para o Projeto Axé, ouvi palestras, achei gente igual a mim. (Risos!) A caminhada foi longa, mas encontrei um grupo enorme, pensando igual, querendo arrumar estratégias de inclusão social... Era gente da Bahia, gente do Amapá, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul... Ficamos 20 dias juntos, discutindo, debatendo, indo para rua, para praça, resgatando menino cheirando cola, usando cocaína... Ensinaram a gente a se aproximar do viciado. A irmã do Ayrton Senna dando apoio... O Antonio Carlos Magalhães dando apoio... Caetano Veloso desfi lando com as crianças.

Bem, eu vi e vivi aquilo tudo, adorei, fi quei encantada, fi quei doida, cheguei em casa apaixonada por Carlinhos Brown... (Risos!) Abraão tem horror desse tipo de música, só gosta de música clássica. (Risos!) Falei: - Marilena, o que eu vou fazer com isso? Tinha que passar pra frente. Fui conversar com Marcos, que tinha um projeto aqui em Macaé, mas percebi que ele não queria que ninguém se metesse no projeto dele. Fiquei quieta, larguei pra lá. Mais tarde, numa reunião - com Ricardo Meirelles, Romulo Campos...-, para apoiar Sylvio Lopes para prefeito, Ricardo disse assim: - A gente está sempre contra, levamos a vida contra tudo, tá na hora de se unir e a pessoa é Sylvio. Saí dali, com Elisa Bichara, encontramos com Sylvio e falei que queria trabalhar com ele. Sylvio ganhou a eleição, fui para a Fundação Macaé de Cultura sem ganhar nada. Passou um tempo, até que me deram uma função remunerada, recebia seiscentos reais por mês.

Resolvi escrever um projeto, nos moldes do Axé, do Brown, e registrei no papel. Chamei Ivana Mussi que é uma pessoa sensível e fomos à casa de Sylvio, sete e meia da manhã. Expliquei que era um projeto de inclusão social. Interessante... Tinha um homem negro sentado num canto, no

Nova Esperança [Aglomeramento subnormal, surgido no início dos anos 2000 como conti nuação da Nova Holanda estendendo-se pela Colônia Leocádia]

Nova Holanda [Aglomeramento subnormal, originalmente conhecido como Ilha da Fumaça, surgido no inicio da década de 1980, com ocupações irregulares em áreas de interesse ambiental, pertencente à família greco-brasileira Kousoulas]

Morro de São Jorge [Bairro periférico que originalmente pertenceu a família Araújo, sendo loteado nos anos 1950 pela família Dantas]

Fronteira [Ocupação subnormal que se originou no início da década de 1980, em área de marinha em conti nuidade ao loteamento dos Servidores]

Arte Luz [Implantado pela Fundação Macaé de Cultura no primeiro semestre de 1998, visando atender crianças, adolescentes, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade, estendendo ações para as mães dos integrantes, atuando nas modalidades de cursos, ofi cinas, workshops, em dança (ballet clássico, moderno e jazz), artesanato, teatro, capoeira, caratê, dança de rua, música, fotografi a, percussão, grafi te, pintura, papel machê, ginásti ca, jiu-jitsu e tae-know-do, procurando integrar o aluno em sua comunidade, visando sempre compor o senti do de cidadania]

“Cabeça de Porco” [Um livro de sociologia e fi losofi a, lançado em 2005, pela editora Objeti va, escrito por Celso Athayde, MV Bill e Luiz Eduardo Soares; relatando e analisando a violência urbana originada do tráfi co de drogas, com dados apresentados baseados em pesquisas, entrevistas e fi lmagens feitas por todo o Brasil]

Projeto Axé [Fundado em 1990, em Salvador da Bahia, pelo italiano Cesare de Florio La Rocca, foi pensado como um espaço educati vo para os fi lhos e as fi lhas da exclusão, sobretudo aqueles já em condição existencial de rua. Através da fi gura do educador de rua, esti mula os jovens a construírem um projeto de vida renovador, onde estes passam a si reconhecer não apenas como Sujeitos de Direto, mas também, Sujeitos de Desejo]

Carlinhos Brown [Antônio Carlos Santos de Freitas, baiano, cantor, percussionista, compositor, produtor e agitador cultural. Implementou o projeto Tá Rebocado, de urbanização e saneamento do bairro Candeal, que recebeu o Certi fi cado de Melhores Práti cas do Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas/UN-Habitat. Em 1994, fundou a Associação Pracatum Ação Social, um centro de referência em cursos de formação profi ssional em moda, costura, reciclagem, idiomas e ofi cinas de capoeira, dança e de temáti cas ligadas à cultura afro-brasileira, além de uma escola infanti l]

chão, que disse: - Seu Sylvio, eu sei o que essa mulher veio fazer aqui, essa mulher tá querendo ensinar as pessoas a pensar, ela não tá querendo ensinar ninguém a dançar. (Risos!) Sylvio nos deu um cheque de cinco mil. Mandei comprar roupas de balé, chamei Alessandra Gripp para dar aula de dança, pedi para minha secretária me levar na Fronteira e fui conhecer. Comecei pelo Sindicato, me deram espaço e implantamos o projeto Arte Luz. Chegamos a duas mil crianças... Vi as mulheres levando as crianças, reuni essas mulheres e perguntei o que elas queriam. Nada de cozinha e corte-costura... Queriam ginástica, dança... E assim foi feito. Existe o projeto na Fronteira, que é a Sede, nas Malvinas, no Aeroporto, no Morro de São Jorge e no Sana, porque desde que entrei na Prefeitura de Macaé, minha meta é o Sana. O Sana é forte... É isso que o povo de Macaé não sabe, é música, é arte... Não é a droga, maconha... Existe o Raiz do Sana... Tem outras coisas muito interessantes. O Sana hoje é um polo forte na música, na prática de circo. No Morro de São Jorge, eu noto que eles querem a música e eu não ainda consegui colocar música lá. Nas Malvinas, nós já atravessamos uma fase que as professoras ligavam para mim deitadas no chão, abaixo de tiros, umas têm medo, mas outras não têm, elas gostam disso, acham que a arte é divina. É um trabalho que tenho a impressão que não acaba... Não acaba! O futuro dele eu não sei, mas tem dado muita alegria e tem fortifi cado minha forma de pensar.

Outro dia pensei que está na hora de sair do Arte Luz, estou nele há quinze anos. Fiquei martelando isso... Um dia vi uma moça, nem sei se é senhora ou moça, com um neném no colo, fi xei o meu olhar no neném, muito simpático, e pedi para segurar um pouquinho. Fui dar uma volta com o neném, mas eu chorei tanto, tanto... Quanto mais eu chorava, mas o neném batia no meu rosto, me alisava, ria... Pensei: Será que esta criança vai ter onde fazer capoeira, caratê, ou onde dançar? Vai saber que homem pode fazer balé? Será que alguém vai ensinar isso a ele? A partir desse momento, me acalmei e senti que o que trago dentro de mim não morreu... Sou a mesma de quando eu tinha dezoito anos e dava aula em Cabo Frio. Que bom que eu tenho 67 anos e conservo isso em mim. Agora deixo por conta da vida, como sempre deixei. Deus sabe o que faz!

Temos dez professores que foram criados dentro do Arte Luz, entraram com oito anos. Nós estamos fazendo um documentário e tenho o depoimento de um menino que fazia a vida na Rua da Praia, era travesti, e hoje diz que quem tirou ele da droga, da miséria, daquilo tudo, foi o Arte Luz... Ele hoje dança balé clássico! Foram quinze anos de história. Tem uma ex prostituta que não tem um pulmão por causa do uso de droga, tem três fi lhos, um de cada trafi cante... Hoje é casada, o marido faz aula de jiu-jítsu, ela faz aula de teatro e as fi lhas fazem aula de balé. É muita história!

Vamos conhecer Macaé na sua totalidade... Quero fazer um levantamento da história da periferia, porque eles não conhecem o lugar onde moram. O meio ambiente na periferia, não só Arte Luz, não é só arte. Como foi que Malvinas surgiu? Como a Nova Holanda foi feita? Como que se constrói casa em cima de um pântano e ninguém diz nada? Como que existe casa sem banheiro? Entendeu? A periferia de Macaé tem que ser olhada... Quanto mais a Petrobras produz, mais a periferia cresce... Eles correm para cá, para arrumar empregos, mas não arrumam.

Sou uma pessoa que nunca quis saber de poder... É onde, às vezes, encontro problema dentro do Arte Luz... As pessoas pensam que eu na direção do

fi lme [Guerra de Canudos, um fi lmebrasileiro de 1997, do gênero drama, dirigido por Sérgio Rezende]

Zé Wilker [José Wilker de Almeida, cearence, ator, diretor, apresentador e críti co de cinema]

Chico Buarque [Francisco Buarque de Hollanda, carioca, músico, dramaturgo e escritor. Conhecido por ser um dos maiores nomes da MPB. Na verdade Chico não fez parte do fi lme, apenas acompanhava sua esposa, a atriz Marieta Severo, que interpretou a personagem Penha]

fi lha dele [Helena Buarque de Holanda]

lugar que ele vivia [Bairro Candeal Pequeno]

irmã do Ayrton [Referindo-se a Viviane Senna da Silva Lalli, paulistana, empresária, irmã do piloto tricampeão mundial. Ela é presidente da Fundação Ayrton Senna, inaugurada em Londres em junho de 1994 e do Insti tuto Ayrton Senna, com sede em São Paulo desde novembro do mesmo ano]

Antonio Carlos Magalhães[Baiano, médico, empresário e políti co com base eleitoral na Bahia, estado que governou por três vezes, duas vezes nomeado pelo Regime Militar, além de ter sido eleito senador em 1994 e em 2002. Egresso da UDN, ARENA e PDS, teve o PFL/DEM como sua últi ma agremiação parti dária. Era conhecido pelo acrônimo ACM]

Abraão [Agosti nho]

Marcos [Kolling, goiano, empresário]

Romulo Campos [ [Romulo Alexander Campos, niteroiense, fotojornalista com obras publicadas, ambientalista, formado em Comunicação Social, foi Secretário Municipal de Comunicação]

Elisa Bichara [Macaense, professora]

Fundação Macaé de Cultura [Criada em 1997, com sede no Centro Macaé de Cultura, na Avenida Rui Barbosa, tendo como principal missão fomentar talentos e proporcionar à comunidade condições de desenvolvimento cultural em diversos aspectos]

Ivana Mussi [Macaense, bailarina, professora de dança, coreógrafa, parti cipou do grupo que implantou o Centro Macaé de Cultura e foi Presidente da Fundação Macaé de Cultura]

Alessandra Gripp [Macaense, bailarina, coreógrafa, professora de Dança]

Sindicato [Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Macaé - SINDSERVI]

Raiz do Sana [Grupo musical, com oito integrantes, formado no início de 1998, no Vale do Sana, distrito de Macaé, que toca forró pé-de-serra, combinando os baiões, xotes e xaxados com elementos de outros esti los, como rock, salsa, samba, soul e maracatu]

Rua da Praia [Atual Avenida Presidente Sodré]

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Arte Luz tenho muitos votos... Não me importo com isso, não ligo para o poder... Tenho uma capacidade de amar muito grande, gosto muito das pessoas. Ontem, estava pensando se tem no mundo alguém, com quem eu não falo... Não tem! Entendo as coisas ruins que fazem a mim. Várias vezes, tive momentos difíceis no Arte Luz... A perversidade é uma coisa natural do homem, é doloroso, mas é verdade, principalmente no meio político. Estou estudando o Antigo Testamento com Kátia Guedes e nós conversamos sobre isso esta semana, a questão da perversidade, que parece ter vindo com o homem... Eu, Ângela, enfrento isto bem, consigo enfrentar sem ódio, acredito em Deus... Na vida, você tem direito de sonhar e ninguém pode cortar esse direito, foi o que a repressão quis fazer, mas não conseguiu, porque quem sonha, não deixa de sonhar... Só deixa de sonhar quem nunca sonhou.▪

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1- Turma do Curso Normal do Colégio Luiz Reid - Excursão a Petrópolis - década de 1960.

2- Formatura da primeira turma de Letras da FAFIMA - 1975.

3- Barracão da Criação da Prefeitura Municipal de Macaé - Maria Klonowska, Tânia Jardim (primeira dama), Carlos Emir Mussi (prefeito), Elma Mussi e Angela Agos� nho - 1979.

4- Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro - 1978.Acervo parti cular de Angela de Almeida Terra Agosti nho. Macaé (RJ).

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Anti go Testamento [Também conhecido como Escrituras Hebraicas, tem 46 livros e consti tui a primeira grande parte da Bíbliacristã e a totalidade da Bíblia hebraica. Foram compostos em hebraico ou aramaico]

Ká� a Guedes [Catarina de Siena Borges Guedes, mineira, professora, evangélica, fundadora da Escola Municipal de Artes Maria José Guedes na Fundação Macaé de Cultura]

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professor de História [Abílio Valenti no Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, Delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972] Maria Le� cia [Santos Carvalho, petropolitana, membro de uma tradicional família de educadores, benemérita, compositora, autora de hinos, professora]Newton Santos Carvalho [Macaense, professor, advogado] Nelly Santos Carvalho [Nelly Maria Santos Carvalho de Figueiredo, macaense]Maria do Carmo [da Silva Santos Carvalho, macaense de Quissamã, professora, poeti sa, fi lha do ex-prefeito Aristeu Ferreira da Silva]meu pai [Miguel Ângelo da Silva Santos] José Domingues [de Araújo Filho, macaense, professor de História, diretor do Colégio Estadual Luiz Reid, técnico de Basquetebol, descendente de famílias aristocratas, trineto do Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro]Jornal dos Sports [Diário de no� cias esporti vas do Rio de Janeiro, fundado em 13/03/1931, depois adquirido pelo jornalista Mário Rodrigues Filho, sendo patrono do Estádio do Maracanã] Jogos Infanti s [Criado em 1951]Tênis Clube [de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]Estação [Ferroviária no fi nal da Rua Euzébio de Queirós, popularmente conhecida como Rua da Estação]Niterói [Cidade do Estado do Rio de Janeiro]Ginásio do Ypiranga [Na Avenida Rui Barbosa]Estádio Caio Marti ns [Também conhecido como Estádio Mestre Ziza é um estádio de futebol localizado na cidade de Niterói (RJ), inaugurado em 20/07/1941, pertencente ao Botafogo de Futebol e Regatas desde 06/07/1988]minha mãe [Antônia da Silva Santos, macaense de Quissamã, conhecida como Dona Dêga]Pororoca [Lugar onde o Rio Macaé encontra o Oceano Atlânti co]Mercado de Peixes [Mercado Municipal, inaugurado em 15/12/1914 pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o]papas [Espécie de mingau consistente e doce a base de milho verde]Praia do Forte [Praia da Concha com extensão de 180 metros nas dependências do Forte Marechal Hermes] Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, na Praia da Concha, Imbeti ba, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]Parque de Tubos [Rodovia Amaral Peixoto, 163, Imboassica, 4.0 Subdistrito, ligado ao primeiro distrito, Cidade de Macaé]Cabiúnas [Terceiro subdistrito, ligado ao primeiro distrito, Cidade de Macaé, considerado área de expansão urbana e rural]Praça Washington Luiz [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]Mathias Ne� o [Colégio Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]Rua Doutor Julio Olivier [No Bairro de Imbeti ba], Irene Meirelles [Escola Estadual, na Avenida Agenor Caldas, 442, no bairro Imbeti ba]vovó Anna Benedicta [Anna Benedicta da Silva Santos, carioca, professora, matriarca de uma tradicional prole de educadores]meu pai [Miguel Ângelo da Silva Santos, angrense, gráfi co, educador, professor, patrono da Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS), na Cidade Universitária, comunista, preso na ocasião do golpe militar] Colégio Estadual Luiz Reid [Na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense]Caetano Dias [Colégio Cenecista Professor Antonio Caetano Dias, na Rua Francisco Portela, atual Escola Municipal Maria Isabel Damasceno Simão]Campanha Nacional das Escolas Comunidades [Criada em 1943, na cidade de Recife, por Felipe Tiago Gomes, é uma rede brasileira de educação que atende desde a pré-escolaridade até a pós-graduação]SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Escola Ferroviária 8.1 – SENAI-Leopoldina, na Imbeti ba, adaptação do anti go Lyceu dos Operários de Imbeti ba]Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, fundado em 27/07/1963, no bairro Visconde de Araújo]uma ex-aluna do Luiz Reid [Maria Regina da Silva Santos, carioca, pedagoga]professora de Português [Maria Isabel Damasceno Simão, miracemense, professora de Língua Portuguesa, benemérita, kardecista, diretora do Colégio Cenecista Prof. Antonio Caetano Dias, cujo prédio hoje abriga a Escola Municipal Maria Isabel Damasceno Simão]

“Isto é a minha grande saudade de Macaé.”Aristóteles Clinton da Silva Santos

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 09/11/2012.

Orgulha-me muito a oportunidade de falar um pouco sobre a história de Macaé, que a gente convive desde a infância acompanhando sua transformação... Falar do passado da nossa cidade é algo encantador para mim e fi co bastante feliz de ter essa rara oportunidade. No que diz respeito à cidade, na minha infância e juventude, a população mal chegava a trinta mil habitantes e hoje temos duzentos e trinta mil pessoas. Então, foram modifi cações que fomos acompanhando ao logo dos anos, algumas nos trouxeram bastante alegrias, outras nem tanto, pelo contrário, trouxeram muitas tristezas. Nós crescemos muito e desenvolvemos pouco. Hoje, percebemos um novo processo, porque há trinta anos atrás, houve a chegada do capital, mas o conhecimento, o entretenimento, a vida social e esportiva não acompanharam o capital e a cidade sofreu muito com isso, por não ter equiparado esses valores. Isso é o que eu digo ser a grande tristeza nossa, de não termos percebido essa “evolução”. Nós, macaenses, tivemos uma grande alegria e festejamos a chegada da Petrobras... Com o porto na Praia da Imbetiba, tivemos o sentimento de perda, porque perdemos uma praia central, mas por outro lado foi uma felicidade ter uma grande empresa. Em momento algum nos preocupamos com o que poderia acontecer trinta anos depois e essa grande empresa nos deu outro castigo, além de colocar o porto dentro da nossa cidade, ela colocou nas extremidades duas grandes bases, o Parque de Tubos e Cabiúnas, transformando a cidade num corredor, o que trouxe um impacto muito grande e a perda de identidade... Uma cidade, que era admirada por seu traçado, muito bem organizada, com dois pontos fantásticos de lazer, a Praça Washington Luiz e a Praça Veríssimo de Mello, no entanto, cresceu e nós perdemos esses espaços.Temos a lembrança do convívio familiar e das pessoas frequentando esses espaços, com isso, todos se conheciam, se respeitavam e era um romantismo fantástico... Isto é a minha grande saudade de Macaé.

Eu que tive a felicidade de ser neto e fi lho de educadores. O meu primeiro colégio foi o Mathias Netto, não poderia ser diferente, apesar de morar na Rua Doutor Julio Olivier, mais próximo do Irene Meirelles. Nossa história era com o Mathias Netto, um colégio onde vovó Anna Benedicta, por muitos anos foi diretora... Hoje são poucos, mas muitos eucaliptos em volta daquele espaço foram plantados por ela. Então a identidade, o fascínio que nossa família tinha com o Mathias Netto era muito grande, e meu pai não pensou duas vezes antes de nos matricular. Depois, eu fi z o mesmo caminho de todos, que era o Colégio Estadual Luiz Reid, e foi a fase mágica, brilhante da minha vida. Em 1964/65, num momento conturbado que o país ia passando, acabamos sendo envolvidos nisso pela posição política de papai e teve um incidente dentro do Luiz Reid e fui estudar no Caetano Dias, um colégio recém fundado, ligado a Campanha Nacional das Escolas Comunidades, criado exatamente para desafogar o Luiz Reid, que não tinha mais espaço. Também tínhamos o SENAI e não tínhamos ainda o Castelo. Conclui o ginasial no Caetano Dias e depois retornei ao Luiz Reid para fazer o curso técnico em Contabilidade. A vida me deu um prêmio, que para muitos, pode parecer não muito bom, mas para mim foi fantástico, me casei com dezoito anos de idade, com uma ex-aluna do Luiz Reid, quando adquiri muita responsabilidade e hoje festejo quarenta e seis anos de casado.

Muitos professores me encantaram no meu primeiro ano ginasial, eram nove matérias, sete deles eram parentes, pai, tias, primos... Então, é uma coisa que me marcou profundamente, somente minha professora de Português e meu professor de História não eram meus parentes, todos os outros eram: Maria Letícia, era professora de Canto, Newton Santos Carvalho, professor de Geografi a, Nelly Santos Carvalho, era professora Desenho, Maria do Carmo, esposa do Newton, era minha professora de Matemática, e meu pai, que era professor de Ciências. Uma das coisas maravilhosas de Macaé era o esporte. Tivemos o professor José Domingues, na nossa geração, que marcou intensamente, porque nessa época, o Jornal dos Sports fazia todos os anos, em nível estadual, os Jogos Infantis e isso mexia muito com a cidade de Macaé, porque saíamos mais de cem jovens daqui, para fi car vinte dias no Rio de Janeiro e havia uma mobilização muito grande para manter os jovens praticando esportes. Nós competíamos pelo Luiz Reid, como colégio, e pelo Tênis Clube, como clube e, em alguns momentos, tivemos um grande número de vitórias e fi cávamos numa situação de destaque. Então, éramos recebidos em carros abertos. E quando chegávamos à Estação, era mais fácil disponibilizar um vagão com cento e cinco lugares só para nos levar e trazer de Niterói... Com nosso retorno, a cidade inteira estava na Estação e tivemos, na nossa juventude, a oportunidade de vivenciar e participar disso. José Domingues era presidente do Tênis Clube e diretor do Luiz Reid, então, usávamos as duas quadras e mais tarde, a quadra do Ginásio do Ypiranga, que praticamente a minha geração inaugurou, sendo o primeiro ginásio coberto da cidade. Na época, as padarias e os armazéns colaboravam com os mantimentos que levávamos para a cozinha do Estádio Caio Martins, onde fi cávamos hospedados. Uma das pessoas que acompanhava esse grupo, que tinha por parte das mães uma confi ança muita grande, era a minha mãe, que não só tomava conta das meninas, como participava da cozinha com outras mães. Não só o basquete, mas o futebol de salão era muito forte em Macaé. Nessas competições intermunicipais, tinha atletismo também, mas não tínhamos uma identidade... Agora, o basquete e o futebol de salão eram uma prática muito forte.

Uma lembrança agradável, para nós que convivemos durante cinquenta e nove anos na Rua Doutor Julio Olivier, próximo à Pororoca, é nossa identidade com o mar. O Mercado de Peixes, o cais de embarque e desembarque de pescado, na época, era a nossa área de exibicionismo, porque os ônibus, que faziam a linha Campos-Rio de Janeiro, passavam por Macaé e o ponto de ônibus, que chamávamos de Santo Antonio, era na esquina onde está a Delegacia Legal. Ficávamos esperando as pessoas dos ônibus que desciam para comprar as papas, tão famosas na cidade, e nos exibíamos para aqueles passageiros do Rio, fazendo a nossa bagunça, que acabava sendo um atrativo para quem estava viajando. (Risos!) Além disso, entre a Pororoca, a Praia do Forte era um dos melhores lugares. Me deu uma tristeza muito grande quando vi uma cerca na praia colocada pelo Exército... Lembro de uma oportunidade, quando estava presidente do Tênis Clube, que compareci numa cerimônia no Forte Marechal Hermes e já haviam colocado uns arames farpados sobre o muro... Eu disse ao comandante da minha tristeza em ver aquele arame e que entendia aquilo

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Newton [Newton Santos Carvalho]

viaduto [Ponte sob a linha férrea que delimita os bairros Centro e Praia Campista]

BR-101 [Rodovia federallongitudinal do Brasil, iniciada em 1957, com extensão de 4 772,4 km. Seu ponto inicial está localizado na cidade de Touros (RN) e o fi nal na cidade de São José do Norte (RS)]

Benilda [da Silva Santos, petropolitana, professora, maestrina, compositora, fez letra e música de um anti go Hino de Macaé]

Fábio Franco [Macaense oriundo da região serrana, comerciante, contador, professor de Contabilidade e Matemáti ca, fundador do Rotary Club de Macaé, patrono de importante avenida no bairro Visconde de Araújo]

Luiz Carlos Franco [Macaense, empresário, comerciante do ramo de ferragens, contador, professor de Contabilidade e Matemáti ca]

gráfi ca [Gráfi ca Minerva na Rua Conde de Araruama, 90, Centro]

Gráfi ca Silva Santos [Na Rua Teixeira de Gouveia, 398, Centro]

meu � o [Ary Carvalho, músico, empresário, industrial]

Papelaria Central [Na Avenida Rui Barbosa].

Associação Comercial e Industrial de Macaé [ACIM, fundada em 13/05/1916, por inspiração do empresário Orlando Farrula, em reunião na Sociedade Musical Nova Aurora, com 60 sócios fundadores]

loja de roupas [Casa Garcia, na Avenida Rui Barbosa, 152, telefone 30]

Magdá [Maria Magdalena Pereira Garcia, macaense de Glicério,socialite, benemérita, empresária]

Marilena [Marilena Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]

os irmãos [Paulo César Pereira Garcia, macaense, médico endocrinologista e Margareth Pereira Garcia, macaense, empresária]

A Primavera [Na Avenida Rui Barbosa, fundada na década de 1920 por Waldemiro Corrêa Bitt encourt e Octavio Laurindo de Azeredo]

grande loja [Casa Chaloub, conhecida como Rei dos Barateiros, na Avenida Rui Barbosa, fundada por Jorge Chaloub]

� nha outra [A Casa Tavares, loja de confecções e alfaiataria na Avenida Rui Barbosa pertencente a Antenor Tavares]

Conceição de Macabu [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macabu, depois quinto distrito, emancipado em 15/03/1952]

Barra de São João [Segundo distrito de Casimiro de Abreu, na região litorânea do município]

Rio das Ostras [Município litorâneo emancipado de Casimiro de Abreu em 10/04/1992]

Carapebus [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Carapebus, depois terceiro distrito, emancipado em 19/07/1995]

Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, depois quarto distrito, emancipado em 04/01/1989]

Grupo da Terceira Idade de Macaé [Associação municipal de assistência aos idosos fundada, na década de 1990, durante a gestão da primeira dama Carmem Mussi Teixeira e da Secretária de Promoção Social Arlete Ribeiro José]

Ypiranga [Futebol Clube, na Avenida Presidente Sodré, Centro, fundado em 19/05/1926, por Dourival de Souza]

Fluminense [Futebol Clube, na Praça Veríssimo de Mello, Centro, fundado em 25/12/1917, na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Cidade do Sol [Clube recreati vo, na Avenida Atlânti ca, Cavaleiros, fundado em agosto de 1981]

meu pai [Miguel Ângelo da Silva Santos]

Panorama [Hotel, restaurante e piano-bar, na Avenida Elias Agosti nho, Imbeti ba, fundado pelos empresários macaenses Itamir Honório Abreu e Jorge Chaloub Filho (Budy), sendo gerenciado por Edson Torres]

Revolução [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

socialista [Seguidor do Socialismo, uma doutrina política e econômica surgida no fi nal do século XVIII que se caracteriza pela ideia de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada de riquezas e propriedades, diminuindo a distância entre ricos e pobres]

Comunismo [Ideologia políti ca e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum e no controle dos meios de produção e da propriedade em geral]

Capitalismo [Sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são de propriedade privada e com fi ns lucrati vos; decisões sobre oferta, demanda, preço, distribuição e investi mentos não são feitos pelo governo, os lucros são distribuídos para os proprietários que investem em empresas e os salários são pagos aos trabalhadores pelas empresas]

comunista [Pessoa que defende que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição ao liberalista, que crê que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]

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como uma agressão à Macaé, porque o Forte sempre teve uma participação muito intensa na nossa cidade, toda família tem alguém que serviu ao Exército, então a convivência era uma coisa muito bacana... O Forte era um ponto de lazer e quando percebemos aquele espaço que nós amávamos e admirávamos, com uma cerca de arame farpado em cima do muro, foi uma agressão muito grande.

Estive na presidência do Tênis Clube de Macaé de 1994 a 1996... Foram dois mandatos, numa fase fantástica da minha vida... Todo mundo diz que essas coisas aborrecem, dão trabalho, mas posso dizer que o Tênis Clube só me deu prazer, porque convivi com todas as gerações, desde crianças, com os campeonatos organizados na Escola Dente de Leite, até os grupos de jovens com faixas etárias diferentes, além do púbico dos bailes noturnos com quarenta, cinquenta e sessenta anos, e cedíamos o clube para o Grupo da Terceira Idade de Macaé. O quadro social sofreu uma transformação muito grande pelo tipo de vida que as pessoas têm hoje, sendo muito mais individualistas do que naquela época... A convivência no clube era uma coisa fantástica, porque era com todos, hoje as pessoas acabam se reunindo muito mais em casa e isto fez com que os clubes perdessem um espaço muito grande... Se olharem na história de Macaé, quase todos os clubes sociais acabaram, o Tênis, que ainda luta com muito esforço de alguns abnegados, os outros foram embora como o Ypiranga, o Fluminense... Temos o Cidade do Sol pela força de ser o clube de uma empresa forte como a Petrobras. O petroleiro indo ou não, o clube tem recursos e se mantém numa situação privilegiada enquanto os outros clubes não.

Nós acompanhamos também a própria transformação dos jovens... Lembro de uma ocasião em que acompanhei meu pai num evento no Panorama e ele, em seu discurso, citou que alguém lhe perguntou sobre a mudança do jovem no período em que ele esteve afastado das salas de aulas por conta da Revolução... Ele falou que jovem é jovem em qualquer época... Mudam os comportamentos de acordo com as vivências, com o estágio que a sociedade se encontra, mas o sentimento de juventude é o mesmo em qualquer tempo.

É fato que crescemos muito nos períodos difíceis, quando passamos por eles tem a tristeza, as limitações, mas que são uma necessidade para o nosso desenvolvimento, nosso crescimento, isto é muito claro. O período iniciado com a Revolução de 1964 fortaleceu demais a nossa família e nos ensinou muito... Uma das coisas mais positivas que aprendemos foi o quanto nós éramos amados. A gente viu papai saindo preso, mas aquilo só fez a família crescer, porque em momento nenhum nos sentimos desamparados, sempre tivemos pessoas com nível social e econômico, muito abaixo do nosso, nos dando total apoio, a ponto de recebermos mantimentos dos ferroviários. Meu pai era professor e o grupo dos ferroviários, que era muito unido, nos ajudou em momentos difíceis e aquilo foi uma ação importante... Eu estava com dezesseis anos de idade, então, já compreendia e tinha noção de muita coisa. Evidente que houve decepções, mas foram fundamentais para nos fortalecer perante a situação. Papai fazia questão de não comentar sobre aqueles responsáveis por colocá-lo na situação de estar sendo preso, raptado como ele foi, mas sim sobre aquelas pessoas que estavam do nosso lado na ausência dele, então, isso foi importantíssimo na formação do nosso caráter.

Ele tinha suas ideologias, era socialista, aproximado do Comunismo, nunca escondeu isso da gente e tinha em casa uma biblioteca, era um estudioso, com um encanto pela história universal...Tinha livros, tanto ligados ao

Capitalismo como ao comunismo, e é lógico que as pessoas sabiam disso.Temos certeza absoluta de que todas as pessoas que denunciaram papai não imaginavam que aquilo fosse gerar um processo e que teríamos conhecimento do que tinham feito... Denunciaram papai como comunista, mas ele realmente tinha essa paixão pelo socialismo. Prefi ro não chamá-los de X9, são pessoas que queriam colaborar com aquele momento político, entendendo que bastava chegar lá e dizer. Não sinto nada além do que pena, pela situação que eles passaram na época e não guardo nenhum tipo de mágoa. Teve uma passagem quando a primeira turma do Colégio Caetano Dias se formou e papai foi convidado para ser paraninfo. No dia desse evento, num sábado pela manhã, chegaram lá em casa uns policiais e convidaram meu pai a acompanhá-los... Nós já estávamos acostumados com isso, já sabíamos onde procurar papai, sempre íamos à delegacia ou ao Forte Marechal Hermes, as prisões da época... Nesse dia, não encontramos papai em lugar nenhum e fi camos muito preocupados... Lembro de encontrar com meu primo Newton num posto de gasolina e o frentista me viu pedindo notícias e me falou que papai estava numa rural que foi em direção ao viaduto, que era a única saída de Macaé, porque na época não tinha a BR-101... Aí foi um desespero, ninguém encontrava papai, e veio uma dessas grandes coincidências da vida, porque minha tia Benilda, professora de Música, irmã de papai, era maestria de um coral num presídio em Niterói e encontrou lá o irmão desaparecido, conseguindo resgatar papai de volta pra gente. Essa foi a pior fase que nós passamos.

Dois professores, pai e fi lho, Fábio Franco e Luiz Carlos Franco tinham adquirido uma gráfi ca, mas estava parada... Sabendo que papai estava sem nenhuma atividade, eles o convidaram a arrendar essa gráfi ca, sendo a mudança de papai de professor para empresário. Foi quando muito jovem comecei na gráfi ca e fi camos lá, no mínimo de 1965 a 1973, quando fundamos a Gráfi ca Silva Santos, em dez de maio. Antes disso tudo, meu tio, casado com Maria Letícia Santos Carvalho, teve uma gráfi ca em Macaé, onde papai trabalhou um período, que fi cava onde hoje é Papelaria Central.

Há doze anos, sou diretor da Associação Comercial e Industrial de Macaé, então vivenciei um pouco da história mercantil em Macaé. O comércio macaense era de grandes famílias tradicionais da cidade, com melhor situação econômica porque tinham seus negócios. Mas o que aconteceu com os grandes comerciantes da época? Eles começaram a dar melhor educação aos fi lhos, criando uma nova consciência, então ninguém queria saber de tocar uma loja de confecção, um armazém, se havia oportunidade, em função do conhecimento, do ensino, de ter espaço em outras profi ssões. Se voltarmos ao passado, tínhamos grandes armazéns, como o da família Machado, o da família Lins e muitos outros que passaram por essa situação. Outro exemplo é a loja de roupas de Magdá... Marilena e os irmãos não quiseram continuar o comércio. A única loja que permanece, de geração para geração, é A Primavera, uma raridade que temos. Se formos procurar outras, como a família Chaloub, que tinha uma grande loja; assim como os Tavares que tinha outra... Essas famílias não quiseram continuar no comércio, abrindo espaço para outros empreendedores, que adotaram uma nova realidade para o comércio local, abolindo a visão provinciana. Isso é a transformação do comércio.

As pessoas de Conceição de Macabu, Barra de São João, Rio das Ostras, Carapebus, Quissamã faziam o primário nesses locais e vinham para Macaé cursar o segundo grau. No fi nal dos anos1950, foi apresentado um desafi o a quatro professores - meu pai, Miguel Ângelo da Silva Santos,

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Roberto Mourão [Macaense, professor, advogado, políti co]Tarcísio Tupinambá [Tarcísio Tupinambá Gomes, educador, escritor, políti co]Marcelino [Carlos Pereira da Silva, mineiro, médico ginecologista e obstetra]Fernando [Pereira da Silva, mineiro, denti sta, patrono do Hospital Público Municipal]Octávio Carneiro [da Silva, macaense de Quissamã, fazendeiro, empresário, proprietário da Fazenda de São Manuel, em Quissamã-RJ, bisneto do Visconde de Quissaman, portanto, descendente de tradicionais famílias do Império Brasileiro]Maria Isabel [Escola Municipal Maria Isabel Damasceno Simão]Eldorado [Referindo-se a uma anti ga lenda narrada pelos índios aos espanhóis na época da colonização das Américas que fala de uma cidade cujas construções seriam todas feitas de ouro maciço e cujos tesouros existi riam em quanti dades inimagináveis]Lúcia [Maria Silva Thomaz, macaense, educadora, fundadora da Escola Alfa]Doutor Niraldo [Maciel da Silva Ribeiro, macaense, médico cardiologista]Doutor Leandro [Matos Soares, macaense, médico ortopedista e traumatologista]IBGE [Insti tuto Brasileiro de Geografi a e Estatí sti ca, fundação pública da administração federal, criada em 1934 e instalada em 1936com o nome de Insti tuto Nacional de Estatí sti ca]Nova Holanda [Aglomeramento subnormal, originalmente conhecido como Ilha da Fumaça, surgido no inicio da década de 1980, com ocupações irregulares em áreas de interesse ambiental, pertencente à família greco-brasileira Kousoulas]Malvinas [Bairro periférico, resultante de ocupação subnormal, ocorridas no início da década de 1980, cujo topônimo refere-se ao confl ito armado entre Inglaterra e Argenti na pela soberania das Ilhas Malvinas]Leocádia [Ilha Colônia Leocádia, área de preservação permanente formada originariamente por mangue e resti nga, localizada às margens do Rio Macaé]SOS Pecado [Movimento Ambiental de defesa da região da Praia do Pecado] monobóia [Referindo-se a Ação Popular movida por ambientalistas, pescadores, políti cos e outros segmentos da sociedade macaense, repudiando a instalação de uma super monobóia a menos de 2 km do Arquipélago de Santana com capacidade de transferir cerca de 300 mil toneladas de petróleo por dia]Cristo Redentor [Estatua de 38 metros de altura, inaugurada em 1931, considerada um dos principais símbolos do país, localizada a 710 metros, no morro do Corcovado, Parque Nacional da Tijuca, com uma privilegiada vista panorâmica da cidade do Rio de Janeiro]Bondinho do Pão Açúcar [Teleférico localizado no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, que liga a Praia Vermelha ao Morro da Urca e ao Morro do Pão de Açúcar, sendo uma das principais atrações turísti cas da cidade, inaugurado em 1912]maçonaria [Loja Maçônica Gonçalves Lêdo, Rua Luiz Pinheiro Portugal, 158]FIRJAN [Associação que cobre uma área de 9.730km2, ou seja, nove municípios, composta por cinco organizações: FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, CIRJ - Centro Industrial do Rio de Janeiro, SESI - Serviço Social da Indústria, SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e IEL - Insti tuto Euvaldo Lodi]

Roberto Mourão, Abílio Miranda, e Newton Santos Carvalho -, pelo fi scal de ensino, Tarcísio Tupinambá, numa conversa que presenciei, ainda criança, sentado à mesa de almoço da minha casa. Esse fi scal falava que Macaé tinha que criar colégios nos distritos para segurar os alunos em suas localidades, facilitando a vida daqueles que vinham estudar aqui, porque uma grande parte dos jovens não tinha acesso ao segundo grau. Por meio da Campanha Nacional de Escola de Comunidade, ele fez esse desafi o de irem a essas comunidades criar colégios. A primeira, pela ligação afetiva que papai tinha, foi Quissamã, terra da minha mãe. Minha casa em Macaé era uma república de Quissamã, as pessoas vinham estudar e moravam conosco, como Marcelino e Fernando e o atual prefeito Octávio Carneiro. E assim, eles começaram e, evidentemente, tiveram um apoio muito grande, sendo um trabalho voluntário dessas pessoas. Essa história eu contei num aniversário de Roberto Mourão, uma coisa que estava guardada e não perdi aquela oportunidade. Roberto Mourão é como se fosse outro fi lho de papai, uma das pessoas mais tímidas e mais brilhantes que conheci, voz mansa, tranquilo e com o coração cheio de bondade. Daqueles quatro homens, o Roberto é o único que está com vida entre nós. O Mourão tinha uma visão socialista e sofreu muita perseguição por ser um grande afi lhado do meu pai... Quase todas as vezes que papai ia preso ele ia junto. Então, essa amizade deles era grande até nesse sentido, estavam sempre juntos.

Acho que a qualidade do profi ssional continua, temos bons professores. Só que houve uma transformação muito grande, porque antes tinha a questão da sobrevivência, mas a ideologia era mais forte, o amor do educador naquele período era muito maior. Longe de mim criticar essa classe, não é isso, estou dizendo que o comprometimento com a Educação naquele período, dentro da minha visão, era outro. Tive oportunidade de visitar o Colégio Caetano Dias, poucos anos antes de se transformar no Maria Isabel, e fi quei apavorado... Para minha surpresa, tinha uma professora numa sala e um aluno sentado na carteira de costas para ela. O que é isso?! Não acredito que essa transformação tenha sido uma coisa de Macaé.

O nível das pessoas que vieram para Macaé, no início da década de 1980 era bastante interessante, mas quando começaram a colocar a cidade como o Eldorado, começou a complicação e surgiram pessoas não qualifi cadas, enchendo a cidade e criando muitos bolsões de miséria. Mas no primeiro momento, lembro de alguns profi ssionais da Petrobras que tinham uma participação intensa na comunidade... Dentro do próprio movimento católico, meu pai e minha mãe tiveram uma participação grande naqueles encontros de casais, e lembro-me de alguns funcionários da Petrobras que eram importantíssimos. Hoje, existem poucas oportunidades de convivência entre os macaenses. Tive uma experiência fantástica, muito recente, quando fui convidado a participar de um grupo que fez o ginasial junto comigo... Por uma grata coincidência, eu fui num restaurante com Maria Regina e encontrei um grupo, vi as carinhas e lembrei-me de algumas. Eles estavam se preparando, porque no dia seguinte, seria o evento... Estavam lá, por exemplo, Lúcia, nossa futura secretária da Educação, Doutor Niraldo, Doutor Leandro, Manuel Antônio, que continua aí, engenheiro da Petrobras... Hoje, quando temos uma oportunidade de falar de Macaé, começamos enaltecê-la e algumas pessoas que, não são da cidade, fi cam incomodadas quando falamos do passado.

Acho uma injustiça que Macaé perca 200 milhões no próximo ano, mas acho que vai ser igual e pode ser até melhor sem esses milhões, porque existe um orçamento e teve um superávit de arrecadação superior ao que

será perdido. A coisa complica porque Macaé se tornou um polo e minha preocupação não é em termos de arrecadação, é o que vai acontecer com a perda que o entorno vai ter. A população do município, pelo IBGE, está em 212mil habitantes, mas a gente faz a conta de 240 mil pela população fl utuante. Quase metade da população é protegida pelos planos de saúde, no entanto, em 2011, Macaé teve 5.352 milhões de procedimentos hospitalares e no ano passado foram 280 mil exames radiológicos... Isso não é a população macaense, é o entorno, que se perder esse recurso, o que vai ser da gente? Porque essas pessoas vão acabar se aproximando daqui, trazendo uma preocupação. Mas vejo, em andamento, grandes investimentos em direção à Serra, que transformarão a nossa cidade, quer dizer, o eixo de desenvolvimento não é mais nesse sentido norte-sul e a expectativa é que a cidade se modifi que, porque esses grandes empreendimentos vão levar a cidade para lá. As comunidades Nova Holanda e Malvinas, com esse desenvolvimento, vão acabar ficando no centro... Já existe uma preocupação de lhes dar um direcionamento melhor, para não deixar essas comunidades crescerem... Hoje, o maior risco de segurança que a nossa cidade tem é permitir que essas duas comunidades se encontrem, mas existe uma consciência de não permitir isso, mantendo o manguezal da Leocádia.

Sou um agente político, mas não sou político e vivenciei, por quase quatro anos, esse ciclo se modifi cando, porque o sistema é muito complicado, não se muda em quatro, cinco, seis anos... Só em longo prazo, mas percebo uma preocupação de mudar. Depois daquela movimentação que a sociedade teve com o SOS Pecado, e mesmo a questão que impediu a instalação da monobóia, que seria um desastre, vejo que existe uma consciência dos órgãos ambientais e que providências têm que ser tomadas... Na minha atividade, como empresário do setor gráfi co, passo por muitos apertos com os questionamentos e as contrapartidas que as empresas têm que ter, na questão do Meio Ambiente... Vocês acreditam que hoje, com as atuais leis ambientais, nós teríamos o Cristo Redentor, o Bondinho do Pão Açúcar? Não teríamos esses pontos lindos, mas também não teríamos outros que são tão agressivos. Minha perspectiva é muito positiva, acho que vamos colher bons frutos. A cidade vai continuar linda... Se Deus quiser!

Tenho que agradecer muito a Deus, porque a vida foi muito generosa comigo. Eu talvez não encontre palavras para colocar o meu sentimento a respeito disso... A forma com que a vida se desenhou para mim, fez com que não saísse da cidade em busca de estudo e muito cedo fui para minha atividade profi ssional. Durante esses 64 anos de idade, tenho convivido intensamente com essa cidade e conheci o Brasil quase todo, além de 32 países, e não vejo nada melhor para se viver do que esta cidade... Sou apaixonado, sou encantado por essa cidade... Minha vida, a história da minha família, dos meus fi lhos, dos meus netos, nascidos e criados aqui, fazem com que Macaé seja fantástica. São raros esses momentos de estarmos falando da minha história, falando da minha cidade, do meu dia-a-dia em anos passados... Queria eu que todo mês tivesse uma conversa dessa, que com certeza, está sendo muito melhor para mim do que para os leitores. Talvez tenha me emocionado umas dez vezes. Sempre que se é provocado, colocando para fora uma emoção, você está demonstrando um pouco do seu sentimento... Você ainda está respirando, com vida, com perspectiva, querendo ver as coisas melhorando e acontecendo. E para ser coerente com minhas palavras, sou um apaixonado por Macaé, um homem com vida participativa e intensa na cidade e nas instituições, muitas quase centenárias, como a Associação Comercial e Industrial de Macaé, a maçonaria, o Tênis Clube de Macaé, o próprio Sistema FIRJAN regional, participando hoje em onze conselhos, apenas com esse espírito de doação, amor por uma causa, por uma cidade, por aquilo que me dedico, com a possibilidade de estar junto com outras pessoas, construindo um mundo melhor através dessas pequenas ações... Sinto-me nesse mundo, um beija-fl or jogando a minha gotinha... Sou um homem apaixonado pela família, apaixonado pelo trabalho, orgulhoso com a minha profi ssão e que enquanto tiver forças continuarei a ter vida participativa, não pública, mas institucional. Eu agradeço a todos! ▪

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Avenida Rui Barbosa: A Primavera, Café Belas Artes, Palace Hotel e Cine-Theatro Taboada.Cartão postal S. autoria. Macaé (RJ), c. 1977.Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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Equipe Juvenil de Basquete do Colégio Luiz Reid, dos Jogos Estaduais Juvenis.A equipe macaense venceu na modelidade basquete e foi recebida com muita festa em Macaé, desfi lando em carro aberto (carro do prefeito Antônio Benjamim) - Acervo parti cular de Aristóteles Cliton da Silva Santos.

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Baeca [Macaense, funcionário do DNOD]Armandinho Sólon [Armado de Sá Vasconcellos, macaense, fotógrafo, futebolista, fi lho do célebre fotógrafo macaense Luís Sólon de Sá Vasconcellos]Guilherme Barbante [Pescador, conhecido pelo entrevistado já com uns sessenta e poucos anos, na murada da Rua da Praia]Paulo Barreto [Macaense, tesoureiro municipal]Aroldo Reis [Niteroiense, gerente do Banco Real, muito amigo de Ferdinando Agosti nho, e quase todo fi nal de semana vinha para Macaé]Chiquinho Pinheiro [Álvaro José Pinheiro Ferraz, macaense, neto do “Velho Pinheiro, da pedreira, radicado em Brasília] Serra Escura [Região montanhosa de Córrego do Ouro, 2º distrito de Macaé]Remington [Máquina de dati lografi a]Diário de Notí cias [Diário de No� cias, carioca. Após a morte de João Dantas, assumiram sua esposa Ondina Portela Ribeiro Dantas e seu João Ribeiro Dantas, no período ditatorial. Muito perseguido, resisti u até 1970. O entrevistado trabalhou nesse jornal de 1963 até 1969]Correio da Manhã [Periódico publicado no Rio de Janeiro, de 1901 a 1974, fundado por Edmundo e Paulo Bi� encourt, vangloriava-se por dar ênfase à informação em detrimento da opinião. Caracterizou-se por fazer oposição a quase todos os presidentes brasileiros no período, razão pela qual foi perseguido e fechado em diversas ocasiões, e os seus proprietários e dirigentes, presos] O Rebate [Fundado em 16/04/1932, por Antonio Duarte Gomes, foi empastelado no dia 18/10/1933, reaparecendo mais tarde sob a direção de Luís Carlos Franco; esteve sob comando de Jorge Costa e atualmente pertence a José Milbs de Lacerda Gama]Hilda Barbosa Barreto [Madalenense de Triunfo]Ginásio Macahense [Fundado em 14/07/1923 pelo Dr. Camillo Nogueira da Gama, foi pioneiro no ensino secundário; mais tarde, sob direção de José Borges Barbosa, foi transferido para a Rua Teixeira de Gouveia, sendo exti nto em 1956]Cine Theatro Santa Izabel [Inaugurado em 07/01/1866 pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899]Luiz Reid [Colégio Estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]Dona Hilda [Ramos Machado, macaense, mito do magistério]Roberto Mourão [Macaense, professor, advogado, políti co]Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador, professor de Matemáti ca, notório kardecista, fundador do Grupo Espírita Pedro]Nire [Ribeiro de Andrade, macaense, educadora]Abílio [Abílio Valenti no Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]Miguel Ângelo [da Silva Santos, angrense, educador, gráfi co, patrono da FeMASS -Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos - na Cidade Universitária]Dona Ancyra [Gonçalves Pimentel, macaense, professora de Geografi a]

Ampla [Ampla Energia e Serviços S.A. é uma concessionária de distribuição de energia elétrica que atua no Estado do Rio de Janeiro. A empresa, de capital aberto desde 1996, atua em 66 municípios, abrangendo 73% do território estadual, com a cobertura de uma área de 32.188 km²]Praça Washington Luiz [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil] Rio Macaé [Que nasce a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]Jean-Jacques Rousseau [Importante fi lósofo, teórico políti co, escritor e compositor autodidata suíço, considerado um dos principais fi lósofos do iluminismo e um precursor do romanti smo]escola [Grupo Escolar Visconde Quissaman, hoje Escola Estadual Mathias Nett o, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurada em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]Leopoldina [Estabelecida no bairro Imbeti ba, a The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]Zé Mengão [Lanchonete na Av. Rui Barbosa pertencente a José Vieira Rangel, macaense de Carapebus, comerciante e empresário]Belas Artes [Café, Bar e Restaurante, de propriedade dos irmãos Gonzalez, Av. Rui Barbosa, 234, telefone 29]Praia de Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]Praia dos Cavaleiros [Bairro nobre e balneário, com orla de 1.500 metros, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]Avenida Rui Barbosa [Anti ga Rua Direita que por muito tempo permaneceu no imaginário coleti vo dos macaenses, embora também já tenha sido Treze de Maio]Rua da Praia [Primeiro nome da atual Av. Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]Haroldo Ferraz [Macaense, pescador, proprietário da Canti na do Haroldo, especializada em frutos do mar] ilhas [Arquipélago formado pela Ilha de Santana (1,29 km2), Ilha do Francês (350 m2) e o Ilhote do Sul (120 m2), sendo conhecida referência náuti ca desde os tempos coloniais, quando foi sesmaria do reinol José Pereira Rabello]José Arenari [Campista, tornou-se comerciante em Macaé]Ferdinando Agos� nho [Macaense, fi scal de renda, empresário]

“... Macaé é minha vida, mesmo atropelada ...”Armando Barreto

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 14/09/2012.

É um prazer imenso recebê-los aqui, principalmente para falar sobre Macaé. Nasci ali, na ruazinha Ferreira Viana, ao lado da atual Ampla, numa casinha de família pobre, entre a bela Praça Washington Luiz e o então caudaloso Rio Macaé, onde passei uma infância alegre em meio a um bando de meninos, em pleno e livre contato com a natureza, como sugeria o fi lósofo romântico Jean-Jacques Rousseau. Esse belo rio ensinou-nos a nadar, pescar piabas com anzol feito de alfi nete surrupiado da caixinha de costura da mãe e a pegar siri e camarão com as mãos enfi adas nas “locas”. A casa era apenas o lugar das refeições e de dormir, pois vivia nas ruas jogando pelada com bola de borracha, penetrando o manguezal, atrás de ovos de pato, e percorrendo as restingas catando pitangas e caçando passarinhos com estilingue para uma boa farofa. Era o nosso mundo lúdico, da bola de gude à vera e dos furtos de frutas nas chácaras. Então, confesso, atender ao chamado insistente da hora de tomar banho para ir à escola, era um trauma, a começar pela obrigação de ter que colocar sapato, algo muito incômodo, pois só andávamos, todos na rua, com os pés descalços.

Depois de minha juventude feliz, ao lado de maravilhosos primos, tive que sair de Macaé, já que a cidade não oferecia opções além do comércio, da pequena rede bancária e da Leopoldina, que aquecia o mercado. Então, depois de 21 anos, retornando às origens, levei um grande susto ao visitar o Zé Mengão, barzinho acanhado de encontros etílicos e políticos, que também se foi muito depois do Belas Artes, assim como a Praia de Imbetiba, perdida para o “progresso” do petróleo. Encontrar um rosto macaense, em meio a centenas de forasteiros na Praia dos Cavaleiros e no calçadão da Avenida Rui Barbosa, foi difícil. E me perguntava: Para onde foram os macaenses? Senti aí uma profunda sensação de perda, de vazio, a falta de laços afetivos, a alegria do contato com um conterrâneo. Isso me preocupou, me achei um estranho no ninho, no lugar onde nasci, vendo uma frenética corrida pelo emprego, pessoas se jogando pela periferia invadida, sem estrutura, corretores agitados pela perspectiva de enriquecimento rápido e a cidade perdendo a cultura da simplicidade e da alegria em receber os visitantes diante de uma crescente instabilidade social. Então, quando viajo pelo tempo e chego lá na minha Macaé dos anos 1950-60, sinto a perda da riqueza humanística e daquele ambiente bucólico, hoje, degradado. Quando me lembro da Rua da Praia com sua murada tomada por pescadores de Macaé e alegres turistas pegando sardinhas, robalos, bagres e vejo que isso se foi, não dá para pensar na riqueza do petróleo sem reação. E quando ainda lembro-me de Haroldo Ferraz caçando lagostas nas ilhas, José Arenari, Ferdinando Agostinho, Baeca, Armandinho Sólon, Guilherme Barbante, Paulo Barreto, Aroldo Reis, Chiquinho Pinheiro pescando piaba no então límpido canal

próximo à desativada estação ferroviária, como isca para robalo, dói ver o hoje, um valão tomado por óleo e outras imundícies.

Além de me sentir privilegiado por ter nascido em Macaé, fui também agraciado pelos pais cristãos que tive. Meu pai, José da Cunha Barreto, escrivão, nasceu no interior, em Serra Escura, numa grande prole que sobrevivia com a dura cultura agrícola e a carne dos galináceos e das caçadas. Não frequentou escola, mas aprendeu a ler na Bíblia do velho pai, sempre com um dicionário ao lado para entender a etimologia das palavras, que tenho guardado comigo, além de sua Remington, que herdei, e muito me serviu para matérias no Diário de Notícias, Correio da Manhã e em O Rebate. O saudável hábito da leitura bíblica assimilado com seus pais continuou ao formar sua família, ao vir para a cidade. Dizia ele que seu pai, Manoel Barreto, pegava um cavalo nos fi nais de semana e saía pelas serras a pregar o evangelho. Com seu aprendizado bíblico, cultivou um profundo sentimento humanístico que passou aos dez fi lhos, oito homens e duas mulheres. Como carcereiro e depois como escrivão de polícia, era respeitado até mesmo pelos prisioneiros, que dele recebiam sempre conselhos. Nunca levantou a mão para bater num fi lho e nunca foi radical, até mesmo diante do moralismo religioso. Fomos educados para ser atenciosos com os forasteiros e estranhos, naquele tempo da mãe com o avental todo sujo de ovo diante do fogão à lenha, com todos em volta da mesa nas refeições, ouvindo as histórias e os conselhos domésticos. O fogão à lenha era uma espécie da lareira dos ricos, lugar de aconchego da família, sempre com o cafezinho disponível sobre a chapa quente. Minha mãe, Hilda Barbosa Barreto, tinha na genética o sangue espanhol. Já meu pai, segundo levantamento da árvore genealógica, consta laços da família em Portugal, através de Gomes Mendes Barreto, que teve seu brasão de armas concedido por Dom Sancho II, 4º rei de Portugal.

Comecei estudando no Grupo Escolar Visconde Quissaman, que a molecada chamava de “Vaca Quebrada”, e depois no Ginásio Macahense, que havia em frente ao Cine Th eatro Santa Izabel, terminando o clássico no Luiz Reid. Mas tem uns lances tristes para mim. Em geral, todos os meus professores deram bons exemplos pela probidade, como pessoas amorosas, muito dedicadas na arte educativa. Não dá para esquecer a fi nura de Dona Hilda, professora de Francês, da paciência de Roberto Mourão, a simpatia de Pierre e sua fi lha Nire; o bom humor de Abílio; a disciplina do diretor e professor Miguel Ângelo; a dedicação de Dona Ancyra. Lembro,

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Federação dos Estudantes Macaenses [Com sede na Rua Télio Barreto, onde hoje está a Casa & Roupa]

João Ba� sta Moreira [Ferroviário, disputou com o entrevistado a presidência da Federação dos Estudantes em 1963, perdeu por 235 votos]

Ba� s� nha [Demisthóclides Bati sta, considerado o maior líder ferroviário da história do país, sindicalista, Deputado Federal cassado pela Ditadura Militar de 1964]

Aristóteles Miranda de Melo [O Tote, líder sindical, eleito Vereador do legislati vo macaense em 1947 e Deputado Estadual em 1962, no auge do movimento operário em Macaé, chamada a Moscouzinho, após a Revolução de 64 foi preso e exilado]

Aulomar Lobato da Costa [Carioca, Juiz de Direito da Comarca de Macaé, que durante a Revolução de 1964, agiu com imparcialidade, relaxando prisões arbitrárias; depois foi Desembargador do Estado do Rio de Janeiro]

Cesário [Alvarez Parada, macaense, empresário, jornalista, presidente do Tênis Clube de Macaé]

professor Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, historiador, escritor]

Comandante Costa Braga [Major Costa Braga, comandante do Forte Marechal Hermes na ocasião do Golpe Militar de 1964, tendo sido parti dário do Presidente João Goulart, foi cassado dos quadros do Exército pelo Governo Militar]

Rua da Igualdade [No Bairro da Imbeti ba]

Ditadura [Período da história políti ca brasileira que contou ao todo com cinco presidentes e uma junta governati va, estendendo-se do ano de 1964 até 1985, ano da eleição indireta do civil Tancredo Neves para a Presidência da República]

Polícia Federal [Na Rua Governador Roberto da Silveira, Bairro da Boa Vista]

Duque de Caxias [Município da baixada fl uminense]

Phydias Barbosa [Macaense de Quissamã, escritor, produtor de cinema e Gerente Insti tucional da TV Brasil Internacional]

Barra de São João [Segundo distrito de Casimiro de Abreu, localizado na região litorânea]

comunista [Pessoa que defende que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição ao liberalista, que crê que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]

Idade Média [Período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna]

Mar� nho Lutero [Sacerdote católico agosti niano e professor de teologia germânico que foi fi gura central da Reforma Protestante]

Igreja [Católica Apostólica Romana]

Turismo Hotel [Na Av. Rui Barbosa, 433, telefone 30, fundado pelo empresário Carlos Augusto Tinoco Garcia]

Marilena [Pereira Garcia, macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice prefeita de Macaé, secretária de Educação, presidente da FUNEMAC]

Ierecê [Maciel Pinheiro, macaense, professora primária de várias disciplinas]

Iracy [Maciel Pinheiro Marques, macaense, professora de Matemáti ca]

Renato [Maciel Pinheiro, macaense, Médico Cirurgião, Provedor da Irmandade São João Bati sta, administradora da Casa de Caridade]

Dona Catuta [Catharina Maciel Pinheiro, macaense]

Senhor Jota [João Vianna Filho, escrivão, poeta, escritor, jornalista]

Dona Palmira [Sá Vianna, costureira-modista]

com profunda tristeza, um episódio quando da Ditadura, em 1964, quando tentava seguir a carreira policial. Nossos professores foram presos e levados para a Delegacia. Ao vê-los enfi leirados, senti-me mal, sem nada poder fazer e nem mesmo dizer, talvez por covardia, no frescor e inexperiência da juventude. A Delegacia era onde, hoje, está a Polícia Federal. O professor Abílio, num momento de humor irônico, sentou-se em frente à janela que dava para o Rio Macaé e disse com suave sorriso nos lábios: - “Oh, que maravilha estar aqui com essa fresquinha contemplando a natureza nesta Côte D’Azur”. Um silêncio cortado de imediato por um detetive truculento, vindo de Duque de Caxias, que bradou: - “Tragam as algemas, porque eu tenho muito medo de levar essa canalhada comuna”. Havia os chamados dedo-duro, vizinho apontando vizinho, e para quem não gostava de ferroviário e professor era o momento.

Recentemente, meu primo Phydias Barbosa, cineasta, esteve em Macaé dando um curso sobre cinema. No fi nal, os alunos tinham que apresentar o que aprenderam produzindo uma história, inclusive tendo que escolher os fi gurantes. Acompanhei o trabalho com ele em Barra de São João. Enquanto as fi lmagens corriam, batia papo com um senhor cujo neto era um dos fi gurantes. Ao fi car mais íntimo e saber que eu era de Macaé, acabou dizendo: - Ih, rapaz, você é de Macaé? Eu vim a Macaé, na época da Revolução, para prender um perigoso comunista, chamado Roberto Mourão. Perguntei assustado: - Professor Mourão perigoso? E ele respondeu: - É, ele tava programando uma explosão no colégio com as crianças lá, ia matar muitas delas. Ainda assustado, tentei desfazer essa mentira que alguém da cidade plantou: Isto não é verdade, o professor sempre foi uma pessoa educadíssima, um ser humano excelente, que nunca falava de política em sala de aula e jamais demonstrou resquício de violência. Ele silenciou e não voltamos a falar sobre o assunto.

Olha, embora a Idade Média vá distante, ainda assim há birra com Martinho Lutero e sua reforma, combatendo a venda de indulgências, que gerava fortunas, e propondo o livre exame da Bíblia, sendo vista como uma ameaça ao domínio da Igreja. Então, como protestantes, sentimos isso na pele. Havia uma professora de Latim que não me deixava passar nas provas orais. Quando deixamos a casa na beira rio, fomos morar numa enorme em frente ao Turismo Hotel, de propriedade da família de Marilena. Eram duas casas geminadas, muito antigas, com pé direito altíssimo, portas e janelas de madeira pinho de riga. A nossa dava fundos com a Rua Teixeira de Gouveia, com muitas árvores frutíferas, borboletas em profusão e pássaros em abundância, um novo paraíso para quem gostava de mato. Como vizinhos, tivemos duas professoras maravilhosas e competentes, Ierecê e Iracy, irmãs do médico Renato, fi lhos de Dona Catuta. Bem, ali nossa família continuava com o hábito de todos à mesa, café, almoço e jantar, sempre orando para agradecer a Deus. Como os irmãos homens, Ubirajara, Sylas, Phydias, Paulo e Orlando gostavam de cantar, surgiu um quarteto afi nadíssimo. De manhã, era hora dos hinos ecoarem. Os pais sentiam-se orgulhosos. Na casa da esquerda, do Senhor Jota, Dona Palmira adorava, mas à direita, a coisa pegava. “Esses protestantes!” Gritavam as belas professoras, muito católicas, “protestando”, com o som passando pela cumeeira. “Não revidem, deixem que um dia eles vão entender” - aconselhava o pai, como aconteceu. E isso foi de uma maneira estranha para caramba, coisa inusitada. Era fi nal dos anos 1950, manhã ensolarada, quando as famílias, em véspera de Natal, faziam seus preparativos para os festejos. Enquanto tínhamos um peru indo para a degola, do outro lado, um porco gritava sem parar. Curioso, olhei pela cerca e perguntei o que estava havendo. Sobre o porco, o negro Curuzu, entregador de leite da fazenda da família, com um punhal nas entranhas

do pobre animal, tentava liquidá-lo em vão, para desespero de todos. Foi quando resolvi ajudar oferecendo meu “instinto assassino”, logo aceito pelas professoras. Pulei a cerca e acertei logo o coração do porco... Eles acharam uma proeza e resolveram me chamar para almoçar com eles no dia seguinte. A paz foi selada e fomos felizes daí para a frente. A professora católica de Latim exalava um perfume forte, que entranhou nas narinas e sinto até hoje. Deixava-me nervoso na prova oral, sentado ao lado de sua mesa tentando lembrar das declinações. Seus belos olhos verdes faiscavam e me faziam suar frio. Reprovado na certa. Na época, me sentia um rejeitado pela aspereza com que era tratado, sem saber que por trás havia a obtusidade da profi ssão religiosa. Só vim saber depois que namorei uma jovem católica.

Mas tudo isso acabou defi nitivamente quando fui lançado candidato a presidente da Federação dos Estudantes Macaenses. A campanha foi em 1962, para o período de 1963/64, antes, portanto, de Ditadura. Momento de efervescência política, com os ferroviários em alto nível de tensão, logo surgiu um candidato deles, João Batista Moreira, um rapaz popular e simpaticíssimo, enquanto eu era tímido, retraído, talvez porque vivesse no fechado mundo religioso, com proibição de ir a cinema, frequentar clube, e pouca convivência social. Aceitei a candidatura, fui vencendo o medo e ganhando experiência na campanha de sala em sala, enquanto isso, o carro do adversário fazia sua propaganda sonora em frente ao Colégio Estadual Luiz Reid. Na época, a Leopoldina tinha cerca de 900 empregados com uma liderança altamente politizada e engajada, apoiada pelo Deputado Federal Batistinha e Aristóteles Miranda de Melo, líder ferroviário macaense, sindicalista, eleito suplente e depois Deputado Estadual cassado pela Ditadura Militar. A popularidade dos ferroviários podia ser vista quando, às centenas, saíam juntos, de bicicleta, tão logo o búzio tocava a hora do almoço. Os banhistas da Imbetiba corriam logo à calçada, para apreciar o espetáculo, como se fora uma corrida. A campanha fi cou acirrada, mas Batista fi cou com a pecha de comunista e a Igreja Católica resolveu entrar. Fiquei sabendo que o padre chegou a fazer campanha na missa em meu favor, dizendo que era melhor um protestante do que um comunista. (Risos!) Foi aí que ganhei a eleição por mais de duzentos votos. E a eleição foi tão envolvente que os votos foram apurados no salão do Fórum, pelo juiz Aulomar Lobato da Costa, que residia em Macaé. O colunista social Cesário, irmão do professor Tonito, sob o pseudônimo Volúsia Clara, chegou a colocar no jornal: “Dia 10, em pleito movimentadíssimo, os estudantes macaenses elegeram seus novos dirigentes. Os estudantes esperam, agora, que o Armando Barreto não fi que armando barretadas com o chapéu alheio e, com personalidade própria dê novos rumos à FEM, conservando o que já possui de bom e extirpando o que de mau lá existe”. A Federação dos Estudantes Macaenses trabalhava com a juventude, promovendo atividades esportivas e culturais, além de coordenar a reação do estudante quando havia aumento de passagens de ônibus e até mesmo quando preço do leite subia. Criamos o Banco do Livro e, em nível nacional, a padronização do livro era uma bandeira dos estudantes contra a ganância dos editores, que sempre forçavam as mudanças. Fizemos uma campanha para que os alunos do 1º ano Científi co que passavam para o 2º Ano levassem seus livros à nossa sede para que pudéssemos fazer permutas. Assim, quem era pobre não precisava ir às papelarias.

Antes do golpe militar de 1964, várias vezes fui chamado ao quartel para ser advertido sobre o movimento político estudantil, porque as mães ligavam para lá mostrando inquietação em relação em ao envolvimento dos fi lhos em passeatas. Numa dessas idas, o Comandante Costa Braga desceu a rampa do quartel comigo e fomos andando até a Rua da Igualdade em

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Gazeta [de Macaé, fundado em 1.0 de maio de 1938]

La� ff [Mussi Rocha, campista, benemérito, empresário, fazendeiro, jornalista, proprietário do Hotel dos Viajantes, patrono do Parque de Exposições]

O Rebate [Fundado em 16/04/1932, por Antonio Duarte Gomes, foi empastelado no dia 18/10/1933, reaparecendo mais tarde sob a direção de Luís Carlos Franco; esteve sob comando de Jorge Costa e atualmente pertence a José Milbs de Lacerda Gama]

Jorge Costa [Empresário, jornalista]

Ernesti nho [Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva, macaense, jornalista, colunista social]

Grande Jornal Fluminense [Com sede em Niterói, de propriedade do vice-governador de Celso Peçanha e Sebasti ão Rodrigues da Costa]

Itamir Abreu [Itamir Honório Abreu, macaense, empresário, políti co, radialista, prefeito de Macaé, em 1962]

Rádio [Princesinha do Atlânti co]

Jair Picanço Siqueira [Macaense, médico, patologista, empresário, colecionador, membro do Rotary Club de Macaé]

a mãe [Zelita Rocha de Azevedo, macaense, doceira, ati vista sociopolíti ca, exerceu as funções de Primeira Dama de Macaé, no mandato de seu fi lho o Prefeito Cláudio Moacyr de Azevedo]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]

prefeito Benjamin [Antonio Curvello Benjamin, macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8]

O Fluminense [Periódico niteroiense, fundado em 08/05/1878, por Prudêncio Luís Ferreira Travassos e Francisco Rodrigues de Miranda, que atualmente pertence ao Grupo Fluminense de Comunicação]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

padre Armindo [Armindo Iglézias Dieguez, padre em Macaé na década de 1960]

Glicério [4.0 Distrito de Macaé]

O Século [Fundado em 1886 pelo jornalista Antonio José de Souza Mello, ressurgiu em 1974 por iniciati va de seu bisneto o jornalista Euzébio Mello, perdurando até os anos 1980]

Eusébio [Luiz de Mello, macaense, jornalista, herdeiro do jornal O Século, de 1886, ressurgido em 1974, foi colunista social no periódico O Debate]

Cláudio Itagiba [Cláudio Ulpiano Santos Nogueira Itagiba, macaense, membro de uma família tradicional, fi lósofo, professor, nos anos 1960 foi um fundador do Centro de Estudos Literários e Filosófi cos Farias Brito, patrono do auditório da Cidade Universitária de Macaé]

Leonel Brizola [Leonel de Moura Brizola, gaúcho, políti co, foi um dos líderes da resistência ao regime militar, exilado em 1964, exerceu mandatos de prefeito, deputado, governador, sendo presidente do PTB]

João Goulart [João Belchior Marques Goulart, o Jango, gaúcho, fazendeiro, advogado, políti co, Presidente do Brasil (1961-4)]

São Pedro da Aldeia [Município fl uminense da Região dos Lagos]

José Milbs [de Lacerda Gama, macaense, jornalista, proprietário do jornal O Rebate]

Niterói [Município fl uminense]

Celso Peçanha [Campista, advogado, jornalista, professor e políti co, foi Governador do Estado do Rio de Janeiro 1961-2]

Prefeitura [Municipal de Macaé criada pelo macaense Dr. Alfredo Backer, Presidente do Estado do Rio de Janeiro, por decreto de 15/02/1910, que contestado judicialmente, só foi homologado por seu sucessor em 02/05/1913, sendo primeiro prefeito o Dr. Francisco Moreira Ne� o]

Mo� a Coqueiro [Manoel da Mo� a Coqueiro, campista, fazendeiro, últi mo homem branco condenado à pena capital no Brasil, como responsável pela chacina da família de um colono em Conceição de Macabu, enforcado em Macaé a 07/03/1855, ao qual se atribui uma praga de cem anos de atraso para a cidade]

Mercado Municipal [Inaugurado em 15/12/1914 pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o]

Casa Chaloub [Na Avenida Rui Barbosa, conhecida como Rei dos Barateiros, fundada por Jorge Chaloub]

Auto Cordeirense [Loja de aparelhos domésti cos]

Pernambucanas [Rede varejista fundada em 25/09/1908 pelo sueco Herman Theodor Lundgren, que adquiriu, em Pernambuco, a Companhia de Tecidos Paulista. Por muitos anos foi uma das maiores redes de venda de tecidos do Brasil. Em Macaé ocupava uma grande loja na Avenida Rui Barbosa, esquina com o Beco do Caneco]

Armando Borges [Macaense, comerciante, empresário, historiador, escritor, presidente da Associação Comercial e Industrial de Macaé - ACIM]

casa de tecidos [Casa Tavares, localizada na esquina da Rua Direita com a Conde de Araruama]

farmácia [Farmácia e Drogaria São Caetano, com matriz na Rua Télio Barreto e fi liais na Praça Veríssimo de Mello e na Av. Rui Barbosa]

Senhor Edmundo [Caetano da Silva, macaense, empresário, benemérito, foi presidente da Sociedade Musical Nova Aurora, em 1957]

Fábrica Veneza [Propriedade da família Landor Pereira]

Seu Abílio [Corrêa Borges, macaense, patrono de uma rua no bairro da Aroeira]

general Alzir [Benjamin Chaloub, macaense, militar]

Aimée [Figueiredo Borges, macaense, professora]

agradável conversa sobre o mundo grego e a respeito de fatos históricos, que, segundo ele, precisavam ser estudados com profundidade. Em dado momento, disse-me: - “Se você pretende combater alguma coisa, escreva”. Faltando pouco mais de três meses para o golpe, promovemos um Natal dos Pobres, recolhendo alimentos não perecíveis e roupas na comunidade. No dia da distribuição do material, fui surpreendido com a chegada de um sargento que subia a escada à minha procura: - “Quem é o senhor Armando?” Assustado, identifi quei-me. E ele: “ - Estamos com um caminhão lá embaixo com muitas gandolas, calças e coturnos que comandante Costa Braga mandou para o senhor doar. Foi um alvoroço para controlar e preocupado com pessoas fardadas andando pela ruas. Com o golpe de 1º de abril e a Campanha da Legalidade, iniciada pelo então governador sulista Leonel Brizola, em defesa do presidente João Goulart, colocamos uma grande faixa no gradil de ferro da sede, no 2° andar, com a inscrição: - “Consciência legalista contra o golpismo dos gorilas”. E ainda da sacada do prédio, gritávamos com um megafone contra o golpe. Sobre a sede, avião vindo da Base Aérea de São Pedro da Aldeia dava rasantes piscando uma luz. Nesse meio tempo, estávamos erguendo a sede da entidade, num terreno que eu e José Milbs havíamos conseguido, depois de muitas idas a Niterói, do governador Celso Peçanha, em 1962. Com o fechamento das entidades estudantis, esse terreno foi invadido pela Prefeitura, e tem história. Ali havia uma cadeia de grossas paredes, onde Motta Coqueiro fi cou preso, sendo depois enforcado numa área, onde posteriormente foi criada a Praça da Luz, onde fi ca hoje o Colégio Luiz Reid. Os Estudantes tinham tanto prestígio que conseguimos trazer o governador a Macaé para ofi cializar a doação num ato público, em frente ao Mercado Municipal. Ele fez um discurso elogiando a luta dos estudantes.

O comércio não era expressivo, algumas lojas vendiam bem, como a Casa Chaloub e a Auto Cordeirense, com a forte clientela de ferroviários. Também tinha bom movimento as Pernambucanas, a loja de móveis de Armando Borges, a casa de tecidos de Antenor Tavares, a bela farmácia

do Senhor Edmundo e a Fábrica Veneza. Minha então namorada, que trabalhou na Cordeirense, dizia que alguns ferroviários não sabiam assinar e botavam lá o dedão. Chegavam com muito dinheiro comprando geladeira e máquina de lavar à vista. Era João Goulart na Presidência da República. Falando no nome Chaloub, cheguei a publicar uma Memória Macaense sobre a parteira Dona Artina Ribeiro Barbosa, que pelas suas mãos vim à luz e mais nove irmãos, sem nunca ter havido papo de dinheiro. Essa mulher espetacular, além de ajudar a partejar muitos macaenses, fazia serviço doméstico, passando roupa para a elite da cidade. Um belo dia, na casa de Seu Abílio, grande comerciante em Macaé, estava seu genro, general Alzir, de tradicional família macaense, casado com Aimée. Dona Artina lá estava e, numa conversa sobre guerra que ouvia, ela acabou entrando no assunto e dizendo que seu pai lutara na Guerra do Paraguai. “Lutou na guerra do Paraguai?” - perguntou o general. “É, ele até ganhou uma medalha” - respondeu Artina. “A senhora pode me trazer essa medalha para ver?” – pediu Alzir. No dia seguinte, lá estava a parteira com ela na mão, toda empolgada. Com essa medalha, o general conseguiu para ela uma pensão do Exército. Viúva, ela mereceu pelo bem que fez à comunidade pobre macaense. Lembro quando mamãe mandava a gente pra praia, às vezes com um frio danado, no inverno, e a gente, na ingenuidade da época, não sabia a razão. Na volta, putos da vida, o choro de uma nova criança denunciava o trabalho de Dona Artina em casa.

Quando voltei para Macaé, vi que faltava um jornal livre, sem a tutela

da Prefeitura Municipal de Macaé. Então, entre exercer a advocacia e o jornalismo, preferi criar o Macaé Jornal. O jornalismo é um universo fascinante. Em Macaé, no começo da década de 1960, só havia a Gazeta, muito fraquinho, de quatro páginas, mantido apenas para Latiff faturar editais da Prefeitura; O Rebate de Jorge Costa e o Jornal da Cidade de Ernestinho. Comecei escrevendo para o Grande Jornal Fluminense, diário e falado, em Niterói, com muita audiência no Estado do Rio de Janeiro, do então vice-governador Sebastião Rodrigues da Costa. Mas fui diretor de um jornal falado também em Macaé, nos anos 1966-7, ideia de Itamir Abreu, dono da Rádio, e do médico patologista Jair Picanço Siqueira. Eles me pagaram uma nota preta na época, para eu fazer um jornal diariamente, inclusive aos sábados. Muito ouvido, com foco na política, criou muito problema para mim. Certa vez, numa sessão na Câmara Municipal de Macaé, de repente, levei uma forte pancada na cabeça. Era a mãe do prefeito Claudio Moacyr desferindo golpes com sua sombrinha e me xingando de fi lho da puta por causa de uma crítica no programa. Era o profundo amor de mãe defendendo o fi lho. Mas esse Grande Jornal Fluminense foi muito importante porque era de manhã cedo, pegava todo mundo em casa tomando café, e aí anunciava: “Macaé, de Armando Barreto! O prefeito Benjamin... ”. Depois, como presidente da Federação dos Estudantes Macaenses, passei a ser muito procurado. Fui correspondente do diário O Fluminense e chamado para contatos em Campos e vários lugares.

Com O Rebate, sob a direção de José Milbs a partir de 1967, adquirido de Jorge Costa, o jornalismo sai do anonimato, das matérias assinadas sob pseudônimo, e expõe sua cara, assumindo o risco do contraditório. Foi aí que tive uma briga feia com o padre Armindo, um espanhol, que chocou a comunidade. Afi nal, fi cou a ideia de que era um protestante brigando com um padre. Só que o padre pisou na bola. Fez uma quermesse em Glicério e colocou um fusca no sorteio. O bilhete de uma senhora pobre do lugar foi premiado, mas o padre decidiu não entregar o carro. A senhora e seus fi lhos estiveram na redação do jornal denunciando o fato. Indignado, contei essa história e pesei na manchete: “Vigário ou vigarista?”

Aliás, andar com José Milbs não era uma boa coisa, diziam, porque ele bebia, fumava e zanzava pela cidade. Mas, tímido, o que me atraía nele era a ousadia, as maluquices e o bom humor. Pelos bares tomando cerveja, eu só observando. Aí vinham as gozações dos colegas: “E aí, crente, toma um copinho!” As risadarias ecoavam pela rejeição. Num dia que peguei no copo, a algazarra foi estridente: “Olha o crente bebendo cerveja!” Não tinha escapatória. Minha família amava os americanos, porque aprenderam o ensino religioso com os missionários mandados pelos Estados Unidos da América. Certa vez, já politizado, fi z um artigo criticando o capitalismo americano e seu protecionismo, mas minha mãe puxou minha orelha. Ela achava um absurdo, porque foram eles que trouxeram o verdadeiro cristianismo para o Brasil, à luz da Bíblia. Os missionários sofreram muito em Macaé, perseguidos por parte da comunidade incitada pelo jornal O Século, da família do falecido jornalista de Eusébio. Sem saber disso, reeditei esse jornal em 1970, para ajudar Euzébio a sair de um período de depressão. Eu e o fi lósofo Cláudio Itagiba estivemos em sua casa e o estimulamos a sair daquela situação, enquanto a mãe, carinhosamente, lhe dava colheradas de chá na cama. E Claudio dizia a ela que o problema dele não se resolvia com remédio e chazinho. Sabe o que eu

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T. Janer [Estabelecimento comercial especializado em arti gos ti pográfi cos]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, exerceu vários cargos na administração pública municipal e estadual e foi vice prefeito em duas gestões]

Armando Rozário [Chinês, formado em Fotografi a pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), repórter-fotográfi co]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Sardenberg [Macaense, dono do jornal O Rebate, na década de 1930]

Edifí cio Quissamã [Na Avenida Rui Barbosa]

Ruben Gonzaga de Almeida Pereira [Macaense de Quissamã, funcionário da CEDAE, políti co, vereador, presidente da Câmara Municipal de Macaé, membro da Academia Macaense de Letras, descendente de famílias expoentes do Império Brasileiro]

outro jovem [Dráuzio Brochado, macaense]

Fluminense Futebol Clube [Fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Praça Veríssimo de Melo [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Insti tuto Brasileiro de Ação Democráti ca [Organização anti comunista fundada em maio de 1959, por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, vários empresários fariam parte desta organização e da sua enti dade-irmã, o Insti tuto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), consti tuída dois anos e meio depois]

O Globo [Jornal diário de no� cias sediado no Rio de Janeiro, fundado em 29/07/1925, por Irineu Marinho]

Primeira Igreja Bati sta [Na Rua Teixeira de Gouveia]

Petrópolis [Cidade serrana fl uminense]

Kombi [Automóvel uti litário produzido pela Volkswagen até 2013]

João Calmon [Espírito-santense, advogado, jornalista e empresário brasileiro que no exercício da ati vidade políti ca foi deputado federal e senador pelo Espírito Santo]

Juarez Távora [Juarez do Nascimento Fernandes Távora, cearense, militar e políti co]

Nova Friburgo [Cidade serrana fl uminense]

Fundação Getúlio Vargas [Universidade parti cular, fundada em 20/12/1944,objeti vando qualifi carpessoal para a administração pública e privada,desde então, extrapolou as fronteiras do ensino e avançou pelas áreas da pesquisa e da informação]

FMI [Fundo Monetário Internacional]

fi z? Fui à T. Janer, no Rio de Janeiro, comprei bolandeiras, componedor, guarnições e variados tipos. Trouxe um peso enorme, atravessando a Baia da Guanabara de barcas até chegar à Rodoviária de Niterói. Com ajuda de Izaac Souza, reeditamos O Século, um santo remédio para Eusébio, que logo recuperou a saúde. Em 1972, fui estudar e trabalhar fora e o jornal fechou, mais tarde voltou com outro grupo, com Phydias Barbosa, Ricardo Meirelles, Armando Rozário e outros, fazendo críticas a Petrobras. O Rebate é de 1932, mas só que teve empastelamento naquela década, quando era dirigido por Érico Sardenberg. Depois teve outras interrupções, até ser dirigido por Jorge Costa e ser comprado em 1967 por Milbs. Bem, nessa época escrevia para o Diário de Notícias e o Correio da Manhã, este último fechado pela Ditadura. Em meu arquivo, ainda bagunçado, tenho matérias excelentes com manchetes sobre Macaé.

Com Macaé Jornal, gastei muito dinheiro, porque ninguém faz propaganda em jornal que critica os poderes. Durou doze anos. Depois de ter a redação, no Edifício Quissamã, arrombada e furtados computadores e sofrer pesada multa de um desembargador amigo de um prefeito, resolvi fechar em defi nitivo o jornal. Recentemente, uma pessoa que apoiava o prefeito, na época, veio me dizer que o atentado foi tramado em reunião entre radicais do poder. Fazendo cobertura na Câmara Municipal de Macaé, dava uma página inteira para os comentários dos vereadores, sem emitir opinião e nada receber em troca. E mesmo assim, fui ofendido muitas vezes por suas excelências. Quando denunciamos que o terreno dos estudantes havia sido invadido pela Prefeitura Municipal de Macaé, o líder do prefeito surgiu como seu cão de guarda na tribuna da Câmara, desferindo mentiras, me acusando de ter roubado quatro milhões do Estado, destinados à construção da sede dos estudantes em 1963. Mal orientado, cometeu calúnias descabidas. Um poucos antes do golpe militar, conseguimos com Roberto Pontual, do Ministério da Educação, uma verba de 4 milhões cruzeiros, cerca de 4 mil reais hoje, para erguer uma sede provisória, bem menor do que o projeto original feito pelo Departamento de Engenharia e Patrimônio do Estado do Rio de Janeiro, porque havia uma cláusula que dava um prazo de um ano para conclusão da obra, caso contrário, o terreno voltaria ao Estado. Fizemos campanha e com ajuda dessa pequena verba, chegamos a erguer uma enorme sala, com laje, portas e janelas. Só que recebemos três milhões e meio de cruzeiros, porque o advogado cobrou 500 mil cruzeiros pelo trabalho de idas a Brasília. Logo depois, em 1964, veio a Ditadura, acabando com as atividades estudantis. O líder do prefeito, numa sessão, chegou a dizer: “Ali está aquele senhor sentado, que roubou quatro milhões do Estado”. Eu não pude fazer nada, apenas manter o silêncio. Na próxima edição coloquei tudo aquilo que ele falou. Por três vezes aguentei as ofensas, inclusive a mais agressiva: “Olha, se quiser brigar comigo, me espere lá fora”. Alguém que estava próximo, alertou: “Não vai que tem gente pra te pegar lá fora”. Era assim, uma forma de calar a imprensa livre.

Os estudantes brasileiros, com forte sentimento nacionalista, eram contra a política americana. Então, quando alguns jovens fi zeram uma grande besteira, não foi com o consentimento de nossa diretoria. O Ruben Gonzaga de Almeida Pereira, então com 16 anos, fazia parte da diretoria e tomou essa decisão com apoio de outro jovem, mais velho e que não era estudante, pois se dizia contra os rumos políticos que alegava ser uma ameaça à democracia. Nós tínhamos uma postura diferente. Esse, que não era estudante, era aliado a fi guras de direita radical de Macaé que fi cavam por trás, tentando usar a entidade. Então, uma grande reunião dos ferroviários acontecia no Fluminense Futebol Clube, na Praça Veríssimo

de Melo, com a presença do deputado estadual Aristóteles de Miranda Melo e do deputado federal Demisthóclides Batista. Após essa reunião que terminou quente, alguns ferroviários fl agraram os dois pichando as paredes com a frase “Viva o IBAD!” Talvez até como provocação. Esse Instituto Brasileiro de Ação Democrática era usado pelos americanos para fi nanciar políticos de direita. Aí, como foi natural, os dois foram agredidos.

Meu pai, José da Cunha Barreto, era escrivão de polícia na época e o telefone de casa tocou na madrugada chamando-o para abrir um processo contra pichadores. Ele me despertou: “Levanta, estudantes estão lá na Delegacia, levados por ferroviários, para serem autuados”. Aí o escrivão, quando viu os jovens, foi logo avisando: - Não posso fazer isso, são menores e foram espancados. Pronto, no dia seguinte o jornal O Globo dá a notícia em primeira página, condenando a agressão comunista. Fui cobrado e tive que fi car ao lado deles, pois como eu ia fi car do outro lado, dos agressores? Se eles estavam fazendo errado tinham que ser pegos e levados à Delegacia. Tínhamos que representar a classe, àquela altura revoltada e pronta para manifestações de rua. Meu pai foi chamado para uma reunião com os ferroviários, que se deu numa sala da Primeira Igreja Batista, como forma de esfriar os ânimos e atenuar a repercussão que ganhava o território nacional. Com o noticiário correndo, fui convidado para um chamado Comício de Desagrado em Petrópolis. Ao descer do ônibus numa rodoviária, vieram umas pessoas em cima de mim, chamando logo para conversar num restaurante em frente. Como é que os caras me identifi caram logo? Não sei, só sei que íamos fazer um comício lá e a brigada do Exército já estava preparada para controlar a coisa, e nós não conseguimos fazer o comício. Mas eis que de repente, pinta uma Kombi novinha e dela salta um jovem lourinho agitado, vindo do Estado do Espírito Santo, dizendo ser fi lho do senador João Calmon e que estava ali para nos apoiar. Na Kombi, a inscrição GAP - Grupo de Ação Patriótica. Em outro momento fomos convidados pelo marechal Juarez Távora para participar de um evento em Nova Friburgo, na Fundação Getúlio Vargas, onde haveria uma palestra sobre um movimento político no mundo, com exibição de fi lmes, sobre o “Rearmamento Moral”, com a presença de vários americanos preocupados com agitação estudantil no Brasil. Alguns dias depois de meu retorno a Macaé, eis que chega um caminhão com centenas de livros dessa fi losofi a, do autor Peter Buck. A Ditadura estava a caminho. E quando veio em 1º de Abril de 1964, colocamos a seguinte frase no gradil da sede: “Consciência legalista contra o golpismo dos gorilas”. Além disso, de megafone na boca, conclamávamos os estudantes à luta. Avião da base de São Pedro da Aldeia passava de vez quando com vôos rasantes sobre a sede, piscando uma luzinha.

Como falei, havia dedo-duro. Tenho uma matéria aqui com o brilhante advogado macaense Claudio Moacyr de Azevedo, em audiência com o juiz Aulomar Lobato da Costa e alguns dos acusadores de ferroviários, entre eles um médico famoso na cidade e um dentista, ambos falecidos. Diante da veemente defesa de Claudio, os dois alegaram que assinaram a acusação sem ler. Acredite quem quiser. O jovem advogado foi desmontando as acusações a inúmeros outros ferroviários, inclusive porque esses ferroviários lutavam por uma causa, por um Brasil melhor, pela reforma agrária, a questão da remessa do lucro, a questão do FMI, tudo isso bandeiras da esquerda, então, nada havia contra eles, pois não eram terroristas e nem baderneiros. Os dois parlamentares, Aristóteles de Mirada Mello e Batistinha, eram líderes muito politizados e sabiam como conduzir o movimento. Quem protestava, era tachado logo de comunista, mais fácil para identificá-lo. Em relação às minhas críticas no jornal, me chamavam de revoltado, frustrado e outras coisas. Esses caras que deduravam, registrei seus nomes no jornal Diário de Notícia. Os presos foram levados daqui para Niterói, com humilhações, simulação de fuzilamento com venda nos olhos. Psicologicamente, arrasaram professores honestos, que sempre se dedicaram ao ensino.

Burramente, os ditadores acharam que seria melhor desmantelar a ferrovia, dispersando ferroviários pelo Brasil a fora, quando países desenvolvidos ampliavam suas malhas.

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Escola Técnica de Campos [Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos - CEFET]

Balneário Lagomar [Bairro do terceiro subdistrito Cabiúnas, pertencente ao primeiro distrito Macaé Sede]

Parque Nacional de Jurubati ba [Parque Nacional da Resti nga da Jurubati ba (ou PARNA de Jurubati ba) é o primeiro parque nacional no Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema de resti nga, o menos representado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. A maioria dos pesquisadores concorda que é a área de resti nga mais bem preservada do país e está prati camente intacta]

CREA-RJ [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro]

Cine Theatro Taboada [Inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]

Washington Luís [Pereira de Sousa, advogado, historiador e políti co brasileiro, décimo primeiro presidente do Estado de São Paulo, décimo terceiro presidente do Brasil e últi mo presidente da República Velha]

um banco [O Bradesco, Av. Rui Barbosa]

Lagoa de Imboassica [Originalmente Lagoa da Sica ou da Boassica, por receber água salgada do mar]

Palácio dos Urubus [Prédio histórico, projetado pelo alemão Antonio Becher, localizado na Rua Dr. Télio Barreto, construído em 1865, para residência da família Gavinho Ribeiro de Castro. No século XX, transformado em corti ço, por abrigar em seu telhado os urubus que frequentavam um matadouro que existi a por perto, recebeu do povo o nome Palácio dos Urubus, sendo o único prédio macaense tombado pelo INEPAC, em 1979]

Hotel do SESC [Hotel de Imbeti ba, administrado nessa época pelo SESC – Serviço Social do Comércio]

royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

O Debate [Periódico macaense diário, fundado em 01/05/1976 pelo jornalista Oscar Pires]

Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Musica Nova Aurora, na Av. Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

Lyra [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com ideias abolicionistas e republicanas]

estação ferroviária [Na Rua Euzébio de Queirós, Centro]

novo prefeito [Dr. Aluízio dos Santos Júnior, macaense, médico, fi liado do Parti do Verde (PV), eleito em 07/10/2012 com 70.693 votos]

Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia [Filme brasileiro de 1977, protagonizado pelo ator Reginaldo Faria, dirigido por Hector Babenco, baseado em livro de José Louzeiro]

Hoje, pagamos o preço por essa falta de visão. A organização dos ferroviários incomodou os latifundiários e capitalistas especuladores. Fiz um curso nos Estados Unidos da América e aproveitei para entrevistar um professor da Universidade de Georgetown, catedrático em Sociologia. E perguntei: - Professor, no Brasil, quando o trabalhador vai para a rua reivindicar seus direitos, são chamados de baderneiros e até mesmo de comunistas e subversivos. E ele: - Ora, nós tivemos muitos subversivos aqui nos Estados Unidos, como George Washington, Th omas Jeff erson. Para mudar o que vai mal, é preciso subverter a ordem injusta. Então, subversivo é aquele que subverte. Só que aqui é confundido como comunista comedor de criancinha. Tenho essa entrevista gravada e dei duas palestras na Escola Técnica de Campos para alunos em fi nal de curso sobre o movimento sindical. Numa delas, com auditório cheio, perguntei: - O que vocês acham do movimento sindical no Brasil? Silêncio total. De repente, um aluno levanta-se e fala alto: - É tudo um bando de baderneiros! Ele respondeu o que já esperava, porque greve incomoda e prejudica a imagem do sindicalismo. Mas juízes e deputados não precisam fazer greve, porque decidem os próprios salários. Parabenizei o jovem aluno pela ousadia, mas fi z outra pergunta: - Quem aqui, depois do curso, vai ser empresário? Fez-se silêncio novamente e ninguém respondeu. Continuei: - Pois bem, agora eu quero saber qual de vocês que chega aqui nessa bela escola, que o governo construiu para vocês, a maioria fi lhos de pais pobres, para terem um bom emprego no futuro, ao chegar ao banheiro tem o prazer de dar um bom dia para o servente? Eles são humildes e pobres, o único emprego que eles conseguiram foi limpar a latrina que vocês sujam. Qual é a abordagem que vocês têm com eles? Silêncio também, ninguém falou nada. O movimento sindical existe para defender o trabalhador, defender o mais fraco na relação capital-trabalho. A Mais Valia marxista. Incomoda sim, mas não é um bando de bandidos, de vagabundos. Depois disso, silenciosamente, ouviram minha explanação e, no fi m, aplaudiram muito.

Macaé não merecia esses prefeitos que passaram de 1976 para cá. Administradores sem visão e sem carinho com a cidade. Usaram-na para seu prestígio pessoal, criando um ambiente de compadrio, de muita gente pendurada no Poder Público sem nada produzir. Cito um exemplo recente, a bela restinga do Balneário Lagomar, uma enorme área de vegetação, entrada do Parque Nacional de Jurubatiba, que a família Prata Mancebo pôs à venda, com centenas de lotes de 5.000 m2. Em 1996, havia apenas 26 casas em toda sua extensão, segundo levantamento/relatório feito pelos procuradores do Ministério Público Federal, em Campos dos Goytacazes, depois de inspeção em caminhadas e sobrevôos de helicóptero. Com a campanha eleitoral de 1996, barracos começam a aparecer e, nos anos seguintes, 1997-2004, o Lagomar é praticamente tomado e sua mata destruída, mesmo depois que os procuradores obrigaram o prefeito a assinar Termo de Ajustamento de Conduta, defi nindo multa diária de 50 mil reais em caso de não serem tomadas as providências determinadas. Muitas reportagens o Macaé Jornal fez, acompanhando a presidência do CREA-RJ e ambientalistas, alertando o prefeito, que nada fez. Hoje, o Lagomar tem cerda de 40 mil habitantes e sua vegetação desapareceu na onda da inépcia administrativa. Então, ganhamos no progresso das coisas e perdemos bastante de desenvolvimento humano/social. A violência urbana, que não conhecíamos, é consequência disso. O que aconteceu com as favelas do Rio de Janeiro é o que se vê aqui. Andando pelos bairros, e observando os valões que corta a cidade, dá para ver o desastre administrativo. Na onda desse “progresso”, perdemos o Cine Th eatro Taboada; o Cine-Teatro Santa Isabel; a bela casa dos Moreiras, o Bolo de Noiva, de onde o presidente macaense Washington Luís discursou quando aqui esteve, e onde está hoje um banco; a então piscosa Lagoa de Imboassica e ainda o Palácio dos Urubus. Pior! Os macaenses de raiz sumiram de vista. E naquela lagoa ninguém toma banho e nem pesca siris, graúdos camarões, tainhas e carás como antigamente. À margem da lagoa, havia pobres pescadores vivendo do camarão, que foram tocados dali pela especulação imobiliária, que trouxe poluição, esgoto, dejetos mesmo.

Estive no então Hotel do SESC, na Imbetiba, e o rapaz da portaria disse que estava em obras, mas que havia uns estrangeiros alojados em alguns quartos. Subi e vi no

fundo três pessoas sentadas diante de equipamentos, com vista para o mar e uma antena instalada, certamente fazendo levantamento para construção do porto. Fui à Prefeitura Municipal de Macaé e ninguém sabia de nada e nem tiveram a curiosidade de investigar. E não se falou mais no assunto. Fiz uma matéria para o Diário de Notícias, em 1967, único jornal que publicou o assunto. Como se vê, a escolha de Macaé já estava decidida para a vinda da Petrobras, mas a miopia dos prefeitos que vieram não conseguiram enxergar o que haveria de acontecer em Macaé.

A maior culpa dos problemas de hoje cai sobre as administrações municipais, que tiveram bilhões de reais de recursos que a Petrobras despejou nos cofres públicos e não souberam usar. E não foram só os royalties, mas vários projetos fi nanciados pela empresa, inclusive na área cultural. Até o projeto de despoluição da Lagoa de Imboassica a Petrobras se prontifi cou a ajudar, liberando uma verba inicial de um milhão, licitando uma empresa de engenharia e pronta para instalar um sistema provisório, mas o prefeito, talvez por orgulho ferido, desdenhou. Muitas reuniões se sucederam, e a lagoa continua na estaca zero. O então secretário de Obras deu entrevista ao jornal O Debate dizendo que aquilo era besteira e argumentou que o problema da lagoa seria resolvido até o fi nal do governo, de forma global, com a instalação da uma rede de esgoto e uma estação de tratamento. Importaram uma estação da Alemanha e eu fi z uma brincadeira no Macaé Jornal: “Será possível que o Brasil não tem capacidade técnica de tratar sua própria merda?” O equipamento veio e fi cou lá estragando no tempo.

Nós perdemos o aspecto humano, por exemplo, nós temos duas bandas, a Nova Aurora e a Lyra. Nas décadas de 1950-60-70 elas viajavam muito, convidadas para exibir seus refi nados acordes em municípios que comemoravam o aniversário de criação. Lembro, com saudade, quando elas saíam de sua sede pela madrugada tocando pelas ruas da cidade, para pegar o trem noturno. No silêncio da noite, íamos ouvindo o som ao longe, até a chegada na estação ferroviária. O último Secretário de Turismo pretendeu importar da Bahia a micareta, com seus estrondosos carros de som, para incorporar ao calendário ofi cial. A ideia era política, reunir muita gente para impressionar. Aos domingos, à noite, as bandas não poderiam se exibir nas praças, uma na Washington Luiz e a outra na Veríssimo de Mello? Há cerca de um mês, uma repórter entrevistava alguns estrangeiros na televisão, quando perguntou: - O que vocês acham de importante no Brasil, algo interessante e bonito? O europeu deu um leve sorriso e mandou: - Olha, o bonito e interessante no Brasil é que o brasileiro é muito afável, alegre e atencioso com os estrangeiros. Nós, europeus, não somos assim. Mas, por outro lado, vejo uma coisa ruim, porque o brasileiro é muito apático quando precisa reagir. Um dia, vi uma campanha de rua contra a corrupção e havia poucas pessoas, mas quando é o carnaval e até mesmo passeata gay as ruas fi cam lotadas, arrastando milhões de pessoas. Fica isso para pensar sobre o que o europeu disse.

O novo prefeito é uma esperança que brota como o viço da planta que sai da terra, potencialmente para florir, nos dar frutos e a certeza de que algo novo e muito bom surja para nos fazer acreditar que é possível fazer diferente. Uma coisa boa ele já prometeu, algo como o famoso bandido do fi lme Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia: “Bandido é bandido, polícia é polícia”. Para Aluízio, vereador é vereador e não secretário municipal. Com isso, ele acaba enxugando o quadro de assessores parlamentares, evitando gastos desnecessários com gente ociosa. O Município precisa de gente que vista a camisa, de técnicos comprometidos com os desafi os que os esperam e não de políticos demagogos, que só olham para o umbigo, pensando no

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Osmar Sardenberg [Nascido no Sana, jornalista e funcionário público]

Nilce [Nilcenéa Sardenberg Barreto, macaense, educadora no campo sócio-religioso]

Penápolis [Cidade interiorana do Estado de São Paulo]

Felipe [Sardenberg Barreto, macaense, administrador de empresa e empresário]

Guilherme [Sardenberg Barreto, macaense, biólogo, funcionário público municipal]

Victor [Sardenberg Barreto, designer]

Heráclito [De Éfeso, fi lósofo pré-socráti co considerado o “pai da dialéti ca”. Recebeu a alcunha de “Obscuro” principalmente em razão da obra a ele atribuída por Diógenes Laércio, Sobre a Natureza, em esti lo obscuro, próximo ao das sentenças oraculares]

John Dewey [Filósofo, pedagogo e escritor]

ventre.

O lugar onde você deixa o cordão umbilical e passou sua infância é uma coisa profunda, mexe com as entranhas. Quem saiu de Macaé, está sempre querendo voltar, como fi z e, infelizmente, não como pretendia vê-la. O meu sogro, Osmar Sardenberg, fi cou viúvo e todos seus fi lhos já tinham ido embora. Sozinho, procurou o afago familiar na casa da fi lha Nilce, na longínqua Penápolis. Embora numa casa ampla, com excelentes acomodações e atenções, a saudade bateu e ele pensou: “Se eu morrer aqui tá arriscado me enterrarem aqui”. Foi aí que antecipei a volta de minha família para Macaé, para alegria da esposa e dos fi lhos Felipe, Guilherme e Victor, este último campista. Então, Macaé é minha vida, mesmo atropelada, que espero nosso novo prefeito consertar.

Falar sobre Macaé, trazer a infância e a juventude na lembrança, é uma viagem fascinante. São sentimentos que marcaram nossa história de vida, a convivência com as pessoas, as experiências boas e ruins que serviram para nos orientar, coisas que só se apagarão na sepultura. Então, é sempre emocionante puxar pela memória e poder registrar uma pequena faceta da vida de quem nasceu aqui. É uma forma de, para mim, depois de 21 anos ausente, poder voltar ao jornalismo após também 21 anos de ditadura com a imprensa manietada, impedida de expor o que era preciso. Com essa oportunidade que vocês estão me dando, posso dizer que, depois de longos estudos e viagens por três países assimilando suas culturas, posso dizer que combati o bom combate e agora, apenas contemplativo, alimento a esperança de que minha cidade vai conhecer um novo tempo. Sempre vi e senti a vida como o fi lósofo grego Heráclito, numa eterna dinâmica, um vir-a-ser constante, e seguindo o ensinamento do pragmático educador americano John Dewey, que a gente aprende fazer fazendo, trazendo para o mundo político a ideia de que democracia não é algo pronto, que possa ser concedido, um presente, que possa ser oferecido ou, ainda, um pacote que possa ser imposto, como a Ditadura ousou nos fazer entender, mas que a melhor forma de exercê-la e consolidá-la é através do voto, da escolha livre. E mesmo com toda a adversidade e ameaças que enfrentei nesse tempo, por exercer um jornalismo independente em Macaé, posso dizer que jamais alimentei resquício algum de rancor contra os adversários, um aprendizado vivenciado pela profunda consciência religiosa dos meus pais. Então, sempre haverá pessoas querendo melhorar e fazer diferente. É preciso acreditar em nossa capacidade e nas boas intenções, ainda que digam que de boas intenções o inferno está cheio. Estudando a fi losofi a grega e os fi lósofos modernos, fi z da dúvida metódica cartesiana o fundamento de minha existência, a convicção de que, se duvido, logo, existo, estou aí como ser pensante, buscando pela via racional, a explicação para as causas sucessivas da existência das coisas, analisando com a razão dialética como acontece a conciliação dos contrários através da tese, antítese e síntese. Mas sem esquecer o pensamento sartreano, de que o homem é aquilo que ele projeta ser. O homem deve ser inventado todos os dias, mas sem esquecer que Jesus é o caminho, a verdade e a vida e que Deus é o alfa e o ômega. Amém! ▪

1 Armando Barreto Foto: Livio Campos - 2012 2 Armando Barreto e José Milbs - s/d 3 Sede da Federação dos Estudantes

(Armando sentado na janela com um papel na mão) - Atual local da loja Casa & Roupa na Rua Dr. Télio Barreto. Acervo parti cular de Armando Barreto, Macaé - RJ

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Sinto-me muito honrado com esse convite e tenho certeza de que o livro será um sucesso. Eu nasci em 12 de outubro de 1948, e apesar de ser um bebê, destaco que Conceição de Macabu, naquela época, era quinto distrito de Macaé. A emancipação houve, se eu não me engano, no ano de 1952, exatamente, quando a minha família veio para Macaé. A minha mãe, Laércia Barros de Oliveira, campista, era professora e nós éramos sete irmãos. Ela foi a primeira alfabetizadora de adultos do Estado do Rio de Janeiro, porque muitos adultos fi cavam ignorantes, não havia nenhuma instrução. Então, ela conseguiu, na época, ser voluntária e dar aulas noturnas. Ela ganhou esse crédito em Conceição de Macabu, depois nos anos 1980, foi reconhecida pela Secretaria Estadual de Educação como pioneira. Ela recebeu uma homenagem muito bonita. A primeira escola dela, aqui em Macaé, foi uma recém construída na Barra de Macaé, tendo por entorno uma extensa restinga que predominava naquela região. A maioria de seus alunos eram fi lhos de pescadores, considerados os primeiros habitantes daquele bairro. Logo a seguir, foi transferida para uma escola estadual, que foi o educandário da maioria dos alunos, que se projetaram em muitas profi ssões, que fi zeram um esforço muito grande para isso, o Mathias Netto. O Irene Meirelles, que era uma escola equivalente, do mesmo porte, não tinha tanta expressão quanto tinha o Mathias Netto, talvez porque não estava no centro da cidade. O centro ia da Avenida Papa João XXIII até a Rua Governador Roberto Silveira, rua da Receita Federal. Estamos falando de 1952, quando viemos para Macaé. Minha mãe fi cou no Mathias Netto por muitos anos.

Entre os anos 1950 e 1960, uma memória que eu guardo muito, foi a colocação da pedra fundamental da Escola Estadual Primeiro de Maio, ali na Avenida Santos Moreira, que vai para o Castelo. Eu me lembro, ainda muito menino, que veio o Prefeito, seus assessores... Ali tinha um terreno que, se não me engano, foi doado pela família Santos Moreira. Joaquim Santos Moreira foi quem organizou o loteamento do bairro Visconde de Araújo. Então, esse colégio fi cava exatamente na divisa dos bairros Visconde de Araújo e Miramar. Doaram o terreno triangular onde lançaram a pedra fundamental da escola. E eu achei muito estranho porque fi zeram um buraco no chão, pegaram uma caixinha, escreveram um monte de coisinhas e botaram lá dentro. E quando botaram terra, bateram palma. E eu nunca tinha visto bater palma para alguma coisa que estava sendo enterrada. (Risos!) Já tinha visto enterrar o gatinho, o cachorrinho que morreu, o passarinho... E minha mãe estava presente nesse dia. Ali, também naquela escola, ela foi a primeira professora de adultos analfabetos do ensino noturno em Macaé. Houve uma promessa do gestor de que a professora Laércia iria lecionar no horário diurno, mas como não tinham vaga disponível, ofereceram a ela o turno da noite e ela, então, pediu para continuar com o trabalho apropriado àquele período, que era o de alfabetização de adultos. O trabalho que ela já fazia desde Conceição de Macabu, embora não queira promover tanto a professora, mas é uma lembrança importante para mim, e de reconhecimento de tantos que foram alfabetizados.

Uma outra história dessa época, foi a própria emancipação de Macabu que deixou de ser distrito e virou cidade, mas como eu já estava morando aqui em Macaé, meu coração já estava todo voltado para Macaé. Eu ia lá, meu pai tinha uma fazenda, eles tinham também um sitiozinho dentro da cidade, a fazenda fi cava a nove quilômetros e nós íamos a cavalo... Uma história mais rústica. Mas minha mãe não voltou mais lá. Ela fi cou por aqui e por

aqui ela se dedicou muito ao ensino, dava aula no Mathias Netto, na parte da tarde; dava aula de recuperação de aluno na parte da manhã, até o irmão da Marilena, foi aluno. E a noite, ela ia dar aula no Primeiro de Maio, e quando não tinha com quem fi carmos em casa, a gente ia também, com 4, 5 ou 6 anos. Ela nos dava um caderninho de caligrafi a e passava uma tarefa pra gente, mas eu lembro que eu dormia muito em cima do caderninho.

Nesse período, o meu pai, Moacyr Lopes de Oliveira, que tinha o apelido de Morgado, não sei por que, era fi lho de um próspero fazendeiro chamado Antônio Lopes de Oliveira, com alcunha de Coronel Lopes, devido a serviços prestados a comunidade de Conceição de Macabu. Meu pai tinha a fama de melhor manejador de gado bovino e melhor tratador e montador de cavalos. Ele negociava o gado e embarcava nos vagões de trem específi cos naquele distrito e, também, junto com seu cavalo preferido devidamente celado. O gado tinha destino à cidade do Rio de Janeiro. Como Macaé, naquela data, já movimentava boa criação, abate e negociação de bovinos, fez com que a Leopoldina montasse um enorme curral de recepção, embarque e apartamento, ou seja, a triagem do gado, que aqui chegava, e o que seguia para o Rio de Janeiro. Quando estas suas viagens ocorriam, previamente mandava avisar que estaria na Estação de Macaé, a data e horário... Eu e meus irmãos íamos tomar a bênção e matar saudades. Aquela movimentação de rezes e cavalos, dele e dos ajudantes, era uma festa. Num determinado dia, uma vaca pulou a cerca do curral, que fi cava situado muito próximo à estação de trem, ali, onde atualmente é o Supermercado Extra, no fi nal da Rua Silva Jardim, na beira da linha do trem. Então foram várias tentativas de recuperar a vaca, mas o nosso herói Morgado montado no seu grande cavalo branco chamado Bismark, laçou-a e conduziu-a de volta ao curral. Eram cenas reais, quase iguais aos fi lmes de faroeste, exibidos nas matinês do Taboada e do Santa Izabel, cujos mocinhos da época, me recordo do Bat Masterson e do Roy Rogers com seu cavalo Trigger. Meu fi lho Ciro Henrique Machado Lopes de Oliveira, macaense, Médico Veterinário, com certeza herdou esta consanguinidade, pois é um expert em montaria e lida com bovinos. O Ciro Henrique, fi lho do Ciro e neto do Morgado é um “encantador de animais”, amando sua profi ssão. E do Doutor Ignacio, herdou a elegância e simpatia.

Nós éramos sete irmãos. Duas professoras formadas aqui em Macaé, muito bonitas, a Cyrcia e a Márcia. Depois cinco irmãos homens. O primeiro foi funcionário de banco, o segundo da empresa de energia do Estado do Rio de Janeiro, o terceiro foi de banco e o quarto foi de banco, o último foi economista, foi de uma empresa de energia, depois de uma empresa estatal da Petrobras, em Manaus, mas ele teve um acidente e faleceu aos quarenta e cinco anos. A minha irmã mais velha chama-se Cyrcia Lopes de Oliveira Neves. Todos nós somos Lopes de Oliveira, um nome só registrado pelos nossos bisavós e avós, que sendo muito machões, não colocavam o sobrenome das mães. Eram portugueses que vieram com a tarefa de colonizar terras no Estado do Rio de Janeiro, principalmente em Conceição de Macabu. Tem uma rua lá, que tem até nome do meu avô, que era o coronel Antonio Lopes de Oliveira. Por isso, não tenho o sobrenome da minha mãe, sou o Ciro José Lopes de Oliveira. Nenhum dos meus irmãos também têm. Então vem a Márcia Lopes de Oliveira, o Lúcio, o Murilo, Célio, eu e João Batista. O interessante é que, entre os sete irmãos, três de nós fomos funcionários e diretores de banco. A minha história é mais simplória porque eu entrei

“Falar sobre a Macaé que ainda estou vivendo é um prêmio!”Ciro José Lopes de Oliveira

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 10/07/2016.

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice prefeita de Macaé, secretária de Educação, presidente da FUNEMAC]

Moacyr Lopes de Oliveira [Macaense de Conceição de Macabu, pecuarista]

Morgado [Termo português que disti ngui o fi lho primogênito de uma família nobre, sendo único herdeiro dos principais bens familiares, ditos vinculados]

Leopoldina [Estabelecida no bairro Imbeti ba, a The Leopoldina Railway Company Limited, criada em 06/12/1897, foi encampada em 20/12/1950, alterando o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Estação de Macaé [No fi nal da Rua Euzébio de Queirós]

faroeste [Gênero cinematográfi co de peripécias movimentadas, criado nos EUA, e que relata as aventuras dos desbravadores do oeste norte-americano, no século XIX]

Taboada [Cine-teatro inaugurado, em 05/04/1931, pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada; localizado na Avenida Rui Barbosa]

Santa Izabel [Primeiro teatro macaense, inaugurado, em 07/01/1866, pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899; localizado na Rua Teixeira de Gouveia]

Bat Masterson [Título de uma série de televisão, com 108 episódios, produzida para o canal NBC, de 1958 a 1961. No papel � tulo estava o ator Gene Barry, que aparecia como um galante jogador, sempre bem vesti do com um chapéu coco e sua inseparável bengala. No Brasil a série foi exibida nos cinemas]

Roy Rogers [Famoso cantor e ator norte-americano, cujo nome verdadeiro era Leonard Franklin Slye, que com sua terceira esposa, Dale Evans, seu cavalo Trigger e seu cachorro Bullet, apareceram em aproximadamente uma centena de fi lmes]

Trigger [Magnífi co palomino, chamado de “O Cavalo Mais Inteligente do Cinema”; chegando a ter uma revista de histórias em quadrinhos com seu nome, morreu em 1965, coberto de fama; uma estátua sua foi colocada na entrada do Museu Roy Rogers-Dale Evans, na Califórnia]

Doutor Ignacio [Tostes Machado, miracemense, médico, fazendeiro]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953]

Manaus [Cidade capital do Estado do Amazonas]

Conceição de Macabu [Município do norte fl uminense, emancipado em 15/03/1952]

Barra de Macaé [Anti go segundo distrito, hoje primeiro subdistrito]

Mathias Nett o [Escola Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurada em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]

Irene Meirelles [Colégio Estadual, na Avenida Agenor Caldas, 442, Imbeti ba]

Escola Estadual Primeiro de Maio [Criada pelo Decreto 5.310/56 e inaugurada a 05/04/1956, em terreno doado por Antonio de Sousa Santos Moreira, o Totonho]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, fundado em 27/07/1963, no bairro Visconde de Araújo, ocupando o Solar de Monte Elyzio, construído no século XIX, para residência da família de José Domingues de Araújo, o Visconde de Araújo]

Prefeito [Antonio Curvello Benjamin, em seu primeiro mandato de 31/01/1955 a 31/01/1959]

Joaquim Santos Moreira [Joaquim de Araújo Santos Moreira, o Quinquim, português, neto materno do Visconde de Araújo, foi o administrador do empreendimento denominado “Santoslândia”, depois desmembrado como Visconde de Araújo e Miramar]

Visconde de Araújo [Loteamento urbano iniciado na década de 1950, propriedade de Antonio de Sousa Santos Moreira, português, empresário, capitalista]

Miramar [Loteamento organizado na década de 1950, propriedade de Gustavo de Araújo Santos Moreira, português, empresário]

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Dom Clemente [José Carlos de Gouvea Isnard, carioca, formado em Ciências Jurídicas e Sociais, primeiro bispo da Diocese de Nova Friburgo]

Antonio Curvello Benjamin [Macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8 ]

Cecilia [Machado Lopes de Oliveira Pinheiro, carioca, desenhista industrial]

Gabriela [Farias Machado Lopes de Oliveira, macaense, fi lha de Ciro Henrique]

Gilce [de Paula Machado Lopes de Oliveira, lajense, arquiteta, empresária]

7 de setembro [Data comemorati va da Independência do Brasil, ocorrida em 1822]

Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

Igreja Matriz de São João Bati sta [Na Praça Veríssimo de Mello, construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

Ananias Pinto Manhães, [Macaense, militar, Brigadeiro-do-Ar da Aeronáuti ca Brasileira]

29 de julho [Aniversário de Macaé, referência ao dia 29 de julho de 1813, quando o Príncipe Regente, Dom João de Bragança, cria a Villa de São João de Macahé]

Força Aérea Brasileira [Ramo aéreo das Forças Armadas do Brasil, fundado em 1941]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim no singular, que desde o século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Praia dos Cavaleiros [Praia urbana com orla de aproximadamente 1.500 metros]

BANERJ [Banco do Estado do Rio de Janeiro, fundado em 1945, incorporado pelo Grupo Itaú, em 2004, mudando o nome de todas as suas agências]

Banco Central [do Brasil, autarquia federal, criada em 31/12/1964, integrante do Sistema Financeiro Nacional, sendo vinculado ao Ministério da Fazenda]

Câmara Municipal de Macaé [Na Praça Gê Sardenberg, um prédio histórico construído na década de 1830, concebido pelo mestre-construtor Filomeno Borges, para residência da família do Comendador Francisco Domingues de Araújo, herdado por seu fi lho, o Visconde de Araújo, que alugou e depois vendeu à Câmara Municipal de Macaé; reformado e ampliado na década de 1920 pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira; hoje denominado Palácio Dr. Cláudio Moacyr de Azevedo – Museu do Legislati vo]

Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por novo decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

Casa Garcia [Na Av. Rui Barbosa, 152, telefone 30]

Magdá [Maria Magdalena Pereira Garcia, macaense de Glicério, socialite, benemérita, empresária]

Praia do Forte [Praia da Concha com extensão de 180 metros nas dependências do Forte Marechal Hermes]

Mercado [Municipal, inaugurado, em 15/12/1914, pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o]

Castelo [Alcunha popular para o Solar do Monte Elyzio, construído no século XIX, com material importado da Europa, contando com ar� fi ces renomados, como o ex-escravo Paulo de Chambart, autor de magnífi ca escadaria, sem pregos, com a marca do proprietário, o Visconde de Araújo, em cada degrau; e imponente muralha de arrimo feita por mestres canteiros]

família macaense [A família Araújo se estabeleceu em Macaé na década de 1820, sendo patriarcas o casal português Comendador Francisco Domingues de Araújo e Isabel Joaquina Moura de Araújo, fazendeiros, escravagistas]

Coronel José de Lima [Carneiro da Silva, macaense de Quissamã, fazendeiro, fi lho do Visconde de Ururahy, sendo neto materno de Caxias; casado com Leopoldina Guimarães de Araújo, a Dona Dina, herdeira da Fazenda do Monte Elyzio]

Duque de Caxias [Luiz Alves de Lima e Silva, fl uminense, aristocrata, militar, políti co, único brasileiro a receber o título de Duque, sem ser membro da Família Imperial; patrono do Exército Brasileiro]

Fazenda do Monte Elyzio [Propriedade rural, fundada no século XVIII, com a denominação Fazenda da Caturra, substi tuída defi niti vamente em 1850]

quilombo [Denominação dos locais de refúgio dos escravos africanos e afrodescendentes em todo o conti nente americano]

como varredor, estagiário, faxineiro, para poder ambicionar a oportunidade de fazer o concurso que fi z e passei. Já eles foram diretores mais rápido do que eu, primeiro porque eram mais velhos, segundo porque eram muito capazes. Eu não fui diretor direto de carimbo, mas eu tinha um status porque fui ser superintendente do BANERJ, numa época em que o banco era muito familiar, você conseguia falar com o gerente, tinha o acesso a toda hora, o gerente tinha um monte de autonomia, e houve uma intervenção do Banco Central devido a uma lesão governamental no BANERJ. Quando o Banco Central veio intervir, ele descobriu que tinha um Ciro Lopes de Oliveira, gerente geral há dezoito anos e que tinha procedimentos bastante diferentes das situações difíceis que existiam e me convidaram, então, eu fi quei com eles durante o ano da intervenção do banco. Foi meu último ano, já me aposentando logo a seguir. Eles me deram o status de Gerente Geral Regional/Superintende Regional. E me diziam que eu era o representante daquela diretoria no interior do Estado do Rio de Janeiro, o que me orgulhou muito. E realmente consegui ajudar ao banco, ajudar também a muita gente, mais até do que com minha autonomia como gerente geral de agência fazia. Então, essa é uma historiazinha pequena. Mas vamos pular esse capítulo porque nós ainda temos que falar dos anos 1950 a 1960, os primeiros anos aqui em Macaé.

Menino, sempre me chamou atenção cores, luzes, penso aí com seis, sete anos. Então, uma lembrança que eu tenho da minha primeira infância, aqui em Macaé, foi que eu fi quei deslumbrado quando vi o centro da cidade acesa, à noite, num fi m de semana. Saímos de casa numa tradicional formação: as duas irmãs, seguidas dos três irmãos, e encerrando a fi la, a nossa mãe com os dois caçulas, eu e o Joãozinho. O nosso objetivo era participar de um evento muito interessante, e interiorano demais, daquela época que era o footing, um circuito que ia da Rua Marechal Deodoro até a Câmara Municipal de Macaé, que era a Prefeitura. Lá, também, ocorriam alguns julgamentos importantes, como a vestimenta dos transeuntes, os penteados, o modo de caminhar, a falação etc., etc.. Então, ali perto, a uma quadra, eu fui conhecer a luz neon, que eu nunca tinha visto, mais o vidro, formando a vitrine da Casa Garcia, onde tinha a moda, as coisas bonitas, cuja proprietária era a Senhora Magdá, uma ilustre dama que eu particularmente muito admirava, e tempos adiante, pude revelar presencialmente quando tive a honra de ser o gerente de sua conta corrente, no BANERJ. O vidro era tão limpo, mas tão limpo, que eu me distraí olhando para um objeto e dei uma cabeçada. Aí, um irmão me deu um cascudo e disse: - Ô, Ciro, cuidado para não quebrar o vidro. Olha o prejuízo que vamos dar a nossa mãe. (Risos!) Isso era mais ou menos 1955. A gente via uma cidade encantadora e me lembro muito da praia. Acostumados com aquele valãozinho na fazenda, aquele brejinho, aí vimos aquele mar enorme, encantador... A Praia do Forte, especialmente, era muito límpida. A presença do Exército, os soldados na guarita, o movimento que ali tinha, por conta das várias pessoas que pescavam ao seu redor. A gente também via aqueles peixes enormes no Mercado... Pra gente era uma novidade, só estávamos acostumados com aquelas piabinhas, piauzinhos lá na roça.

Uma outra história interessante é sobre o Castelo, sede de uma antiga fazenda, que pertencia a uma família macaense, abrigando por décadas o Coronel José de Lima, neto do Duque de Caxias. Como éramos de fazenda e tínhamos o costume de apanhar o leite no curral, nós íamos comprar leite na Fazenda do Monte Elyzio. Eu, ainda bem novo, com uns seis anos, ia sempre acompanhado de um irmão mais velho. Nós morávamos a três quadras do Castelo, bem na beira da linha do trem, perto da estação ferroviária. A gente ia a pé, havia poucas casas, e tinha um curral, com muito espaço, muito verde. Aquela estrada era um caminho que foi retifi cado...

As vacas fi cavam soltas, às vezes, a gente fi cava escondido, senão elas nos pegavam. E lá no Castelo, no local onde hoje é um lugar de oração, tinha uma passagem que ia até o pátio nos fundos e diziam que por ali entravam as carruagens... Cheguei a ver uma carruagem muito velha, bastante por reformar, dentro desse pátio. La atrás, onde hoje as crianças brincam, eu vi um rebaixamento, tipo subsolo, onde tinha uns grilhões, umas correntes, que diziam serem usados com os escravos. Diziam que até um quilombo havia aqui por perto... Histórias que as crianças ouviam, rebuscadas pelos mais velhos. Eu gostava muito de conversar com pessoas mais velhas, lá perto da minha casa tinha uma senhora que a gente chamava de Doninha. Eu era criança e ela já devia ter uns oitenta anos, então me contava muita coisa, histórias de escravos... Aquilo me encantava!

Mas vamos avançar para uma memória mais recente. Mais recente que eu digo é a década de 1960. O bispo Dom Clemente visitou Macaé e foi recebido pelo prefeito Antonio Curvello Benjamin, que era muito amigo de nossa família. Então, houve uma audiência no antigo prédio da Prefeitura, e minha mãe falou que eu fosse lá, que estava na época de aprender sobre Macaé. Disse: - Vai lá pra você ver uma coisa muito importante. Eu fui e fi quei no canto vendo toda aquela cerimônia, Dom Clemente assinando com o prefeito, fazendo aquela doação toda para a escola, onde hoje é o Instituto Nossa Senhora da Glória. Essa ocasião me marcou muito. Este Instituto formou meus fi lhos Cecilia e Ciro Henrique e neste corrente ano, formará a minha neta Gabriela. Me casei com Gilce, na capela do Castelo, em 08 de julho de 1972.

Me lembro muito das datas festivas da cidade. O dia de São João Batista, festa do padroeiro de Macaé, é o dia 24 de junho. O dia 7 de setembro com toda imponência do desfi le do Forte Marechal Hermes. Tinha ainda a festa natalina que a gente era obrigado a ir à missa do galo na Igreja Matriz de São João Batista, no centro... Mas a missa era mais cedo, para dar tempo da gente chegar em casa e encontrar o sapatinho na janela com algum presente. (Risos!) Eram muitos sapatinhos para poucas janelas. Lembro também de alguns amigos, daquela época de infância, como o Ananias Pinto Manhães, que era de uma família humilde, com uma vontade imensa de crescer, foi colega das minhas irmãs porque era mais velho do que eu, foi fazer Aeronáutica, e se tornou brigadeiro do ar. O Ananias impressionava a gente... Sabe como é criança apaixonada por avião, navio?! Quando ele conseguiu um avião para pilotar, ele ajudou a trazer a esquadrilha da fumaça, especialmente no dia 29 de julho. E mesmo quando ele passava por outro motivo em algum avião da Força Aérea Brasileira, ele dava um vôo rasante a duas quadras da minha casa e a duas quadras da casa dele, porque a gente morava perto, e aquilo me impressionava e a gente gritava: É o Ananias! Eles não desciam em Macaé, saiam direto da base no Rio de Janeiro e tinham uma hora prevista para chegarem a Macaé. E na hora do desfi le militar, faziam aquelas evoluções todas. Passados muitos anos, eu fui presidente e estou até hoje representando os Cavaleiros, quando ele soube, já morando aqui também, veio à minha casa se colocar a disposição para me ajudar, e muitas vezes me representou quando não pude comparecer. Recentemente, discutindo a questão de equinócio e interstício de verão e a questão de sombras na Praia dos Cavaleiros, ele me disse que na aviação se guiavam muito, considerando a região do nascente e por do sol. Aí, aproveitei para perguntar a ele sobre essa questão de que Macaé seria uma das cidades mais claras do Brasil, e ele me disse que é verdade. Que quando sabiam que viriam pilotar nessa região da orla macaense, usavam um óculos mais escuro ainda.

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Igreja Nossa Senhora da Glória [Na Rua Vereador Mathias Lacerda, 120, Glória]

Cancela Preta [Bairro residencial na zona sul, iniciado no fi nal da década de 1980]

Leandro Ma� os Soares [Macaense, médico ortopedista e traumatologista]

Casa de Caridade [Fundada em 01/05/1871, entregue aos cuidados da Irmandade de São João Bati sta desde 22/05/1872; hoje Hospital São João Bati sta]

Doutor Niraldo Maciel da Silva Ribeiro [Macaense, médico cardiologista]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital do Estado do Rio de Janeiro de 1903 a 1975]

Barra Mansa [Município do sul fl uminense, fundado em 03/10/1838]

Companhia Siderúrgica Nacional [Hoje a maior indústria siderúrgica do Brasil e da América Lati na, e uma das maiores do mundo, fundada em 09/04/1941]

Ditadura [Período histórico iniciado com o Golpe de Estado, em 31/03/1964, quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

Faria Lima [Floriano Peixoto Faria Lima, carioca, militar, presidente da Petrobras, governador do Estado do Rio de Janeiro (1975-1979)]

Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo]

Alfeu de Melo Valença [Pernambucano, Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se Engenheiro de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]

Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Bar Mocambo [Instalado em parte do páti o da anti ga Alfândega, inaugurada em 06/12/1896 e exti nta em 1904]

Hotel de Imbeti ba [Na Avenida Elias Agosti nho, administrado nessa época pelo SESC – Serviço Social do Comércio, fundado no fi nal do século XIX, tendo pertencido ao historiador campista Alberto Lamego]

Costa do Sol [Bairro misto da zona sul, iniciado na década de 1980]

Polivalente [Escola Estadual Municipalizada Polivalente Anísio Teixeira, na Rua Jesus Soares Pereira, bairro Costa do Sol]

CERJ [Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro foi uma das empresas fornecedoras, distribuidoras e geradoras de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro, fundada em 1954 e encerrada em 1993, sendo sucedida pela AMPLA]

Praia do Pecado [Trecho remanescente da anti ga praia dos “Peccados Mortaes”, que se estendia desde Itapebussus, assim denominado pelos trechos pedregosos, conforme citado em 1812 no relatório da visita do Bispo-Capelão-Mor José Caetano da Silva Couti nho; hoje um point apreciado por banhistas e surfi stas]

Redondo [Anti go pros� bulo na atual Rua Prefeito Moreira Nett o, imediações da Av. Rui Barbosa]

Viação Santo Antônio [Empresa de transportes urbanos e interurbanos]

ponte da Barra [Construída no século XIX, passou por diversas reformas; em 1911 seria trocada por uma estrutura de metal, sendo demoninada Gondomar, homenagem ao embaixador espanhol, dito fundador de Macaé em 1615, a obra não aconteceu, mas o novo nome permaneceu]

Rio Macaé [Que nasce a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]

Ponte Engenheiro Ivan Gorrett a Mundim [Obra estadual, construída no governo de Floriano Peixoto Faria Lima, com obras iniciadas em 1976 e inaugurada em 25/01/1978, com extensão de 220 m e largura de 15m, representando um investi mento de Cr$ 29,3 milhões]

Ainda sobre as lembranças da juventude, me vem muito à cabeça a Imbetiba, onde toda a sociedade macaense se reunia, tinha o Bar Mocambo, que era um bar e restaurante... Antes da Petrobras, naquela pedra grande que tem bem próximo onde era o Hotel de Imbetiba, tinha um trampolim, onde disputávamos os saltos e mergulhos mais acrobáticos. Quando foi feito a drenagem para criar o pequeno calado do porto, o entorno da pedra assoreou, e então o trampolim morreu. Falando da nossa bela orla oceânica, as minhas primeiras lembranças dos Cavaleiros estão ligadas ao desafi o de adolescente levado, que ao invés de ir para praia do Forte ou da Imbetiba, resolve desbravar os Cavaleiros vindo pelo bairro Visconde de Araújo. A gente vinha por um caminho que começava pela atual Avenida Fábio Franco, pegava um elevado que dava para ver o mar se subíssemos nas árvores e como não tinha o bairro Costa do Sol, subindo ali onde hoje é o Polivalente, já dava para ver o mar e o horizonte. Íamos eu e um colega, que foi funcionário da CERJ durante muitos anos. A gente veio de bicicleta e fi camos, coincidentemente, na Rua Valparaíso com a Praia do Pecado, mas não tinha rua aqui. Esse bairro aqui foi lançado como Balneário dos Cavaleiros somente em 1967. Eu fui um dos primeiros moradores, consegui adquirir e fi car. Mas em 1960 ou 61, nós viemos desbravar isso aqui. Nada tinha por aqui, era uma área rural, um descampado. Depois veio uma “perdiçãozinha”, um lugar chamado Quadrado, no centro tinha o Redondo, um lugar de mulheres de “vida fácil”. Mas eu acho, coitadas, que a vida delas não devia ser fácil, não. (Risos!) Posso dizer que esse Quadrado fi cava ali, onde fi ca hoje uma pousada familiar, na esquina da Rua Rachel Reid. Esse era o movimento aqui...

Uma coisa triste que eu presenciei ainda muito jovem, por volta de 1962, foi um acidente com um ônibus da Viação Santo Antônio, que fazia o trajeto de Campos x Macaé x Niterói, na cabeceira da ponte da Barra, quando perdeu a direção e caiu dentro do Rio Macaé e morreram muitas pessoas. Eu fi quei sabendo lá em casa e fui correndo de bicicleta para o local do acidente. E chegando lá, eu vi uma cena que me marcou muito, aqueles médicos e enfermeiros resgatando as pessoas. E nós não tínhamos corpo de bombeiros, mas o Exército deu um apoio muito grande. Aqueles corpos todos no chão, foi uma cena muito triste, que me marcou muito. Na década de 1970, foi construída a Ponte Engenheiro Ivan Gorretta Mundim, cujo traçado aliviou a curva acentuada daquela antiga ponte.

Em 1967, eu servi Exército e o exercício de tiro era feito com uns canhões, que vinham em quatro baterias e tinha um navio que trazia o alvo, com uma bandeira puxada num rebocador com um cabo de 50 a 100 metros. A gente tinha que dar o tiro para chegar mais perto do alvo, obviamente, sem atingir o navio, e esse exercício era aqui na Praia dos Cavaleiros, não havia residências aqui ainda. Eu era o P4, o elemento que tinha uma régua na mesa, tinha um mapa, e na hora que chegava o momento, eu marcava defi nindo o local do tiro: - É aqui! E a bateria dava o tiro. O Exército de Macaé ganhava ponto, tinha uma tradição por conta desse exercício de tiros. E nós fi cávamos acampados naquela curva da ferrovia, debaixo de onde hoje é a Igreja Nossa Senhora da Glória mas não tinha nada ali. Nem o loteamento do Cancela Preta, nem do outro lado. A Praia dos Cavaleiros era um descampado. Depois, em 1968, eu entrei no BANERJ, logo nos primeiros anos eu cresci lá dentro, fui promovido a Chefe de Contabilidade, Chefe de Contas Correntes, aí me transferiram para Conceição de Macabu, para ajudar numa auditagem na agência de lá... Ainda muito jovem, eu fi quei lá como gerente, eu tinha apenas 20 anos de idade. Depois disso, fui embora para o Rio de Janeiro com uma vontade enorme de estudar, mas não saí do banco. Fomos eu, Doutor Leandro Mattos Soares, que foi provedor da Casa de Caridade, aqui em Macaé, por muitos anos; Doutor Niraldo

Maciel da Silva Ribeiro, que é cardiologista, Omar Campos, proprietário um laboratório de análises clínicas em Macaé... Moramos todos juntos numa república no centro de Niterói.

Para estudar durante o expediente no banco, eu tinha que ir para o arquivo e colocar a matéria do vestibular assim como se estivesse trabalhando, até que um dia meu chefe me pegou em fl agrante e perguntou: - Ciro, o que eu faço com você? Aí eu respondi: - Se o Senhor me denunciar, eu terei que parar de estudar. E ele disse: - Continua! Aí no banco, fui para o Departamento de Normas e Métodos, que fazia planejamentos. Fiz um curso de grafotécnica, ministrado pela Associação dos Bancos do Estado da Guanabara, fui perito grafotécnico e ensinava aos caixas do banco a fazerem a conferência, se as assinaturas estavam batendo nos cheques. Logo, me nomearam professor. Eu dava aulas para os caixas das agências da Baixada. Daí, fui nomeado inspetor. Então, nesse novo cargo, fi z auditagens no sul do Estado... Eles não me colocavam do lado de cá, por conta do relacionamento que eu já tinha para esses lados. Aí conheci Barra Mansa, achei uma agência espetacular, tudo acontecia naquela cidade, a Companhia Siderúrgica Nacional, em pleno desenvolvimento, era a época da Ditadura, período de grande desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. O Faria Lima, que era Almirante, eu o conheci pessoalmente fazendo palestras, incentivando o fomento, o desenvolvimento do banco. Aí disseram assim: - Ciro, a inspetoria para você é pouco. Vamos ser gerente? Me convidaram para ser gerente em São Paulo, mas achei demais para mim. Eu estava recém-casado, Gilce estava terminando a Faculdade de Arquitetura no Rio de Janeiro. Aí me disseram que tinham que colocar três agências para levar para aprovação do presidente do banco. Eu falei: - Barra Mansa! Eles disseram que o gerente estava se aposentando, então fui ser gerente em Barra Mansa, muito jovem ainda. Foi lá que nasceu o bigode, porque precisava mostrar respeito. (Risos!) Os clientes chegavam à agência, querendo falar com o gerente, e quando diziam que era eu, não acreditavam. (Risos!) Diziam: - Aquele garoto ali?! Quero falar com o gerente! E os funcionários diziam: - Mas ele é o novo gerente geral que está aí. (Risos!) Foi um sucesso, a agência cresceu... Então veio a gravidez da esposa, a Gilce já estava formada, também fez uns projetos por lá, o pessoal de Barra Mansa abraçou a gente com muito carinho. Eu, notadamente, promovia a minha cidade de Macaé, mostrando fotos, contando histórias etc.. A Cecilia nasceu lá, quero dizer, nasceu numa maternidade no Rio de Janeiro, mas morávamos em Barra Mansa. O tempo foi passando e me deu vontade de voltar para Macaé. Então construímos, essa casa que era essa sala, um banheirinho e uma cozinha. Era o ano de 1977, quando nasceu o Ciro Henrique.

A Petrobras chegou em 1978, eu estava chegado no BANERJ daqui como gerente geral da agência. Soube dessa história da vinda da Petrobras. Procurei me inteirar do assunto, fui pedir apoio à diretoria do banco no Rio de Janeiro, porque a empresa tinha conta na agência de lá. Então fui e disse: - A Petrobras está se instalando em Macaé, onde eram as ofi cinas de recuperação de vagões da Leopoldina, na Imbetiba. Eu gostaria de estar presente, de conquistar essa conta, esses primeiros funcionários. Então, um Diretor de Departamento, chamado Doutor Jordão, colocou funcionários daquela diretoria para fazerem contato com a Petrobras. Ele me ajudou chegar à divisão fi nanceira da empresa no Rio de Janeiro, onde pude ter acesso aos nomes dos funcionários que seriam transferidos, a maioria de Vitória, para Macaé. Eu colocava aqueles nomes na minha lista de prioridades, e ia atrás deles para oferecer a conta e os produtos do banco. E foi assim que conheci, talvez, no dia seguinte da sua chegada em Macaé, o Alfeu de Melo Valença. Ele fi cou impressionado com a minha juventude, devia estar com 31 anos... Por minha vez, fi quei impressionado com a juventude dele. Ele me atendeu num contêiner vagão,

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da família Araújo Belfort Vieira, herdeira do Visconde de Araújo]

o nome Praia dos Cavaleiros [Existem muitas versões para o topônimo, porém, documentos do século XIX, relatam que a fazenda e a praia ti nham o nome “Cavaleiro”, no singular, devido aos depoimentos de escravos do Visconde de Araújo, relatando que, na madrugada, ouviam o trotar de um cavalo invisível, indicando estar montado por um cavaleiro fantasma, sempre seguindo galopando rumo à praia]

Hotel Turismo [Na Av. Rui Barbosa, 433, telefone 30, fundado pelo empresário Carlos Augusto Tinoco Garcia]

Lagos Copa Hotel [Na Av. Elias Agosti nho, 500]

Comfort [Suítes Macaé, na Avenida Atlânti ca, 3036]

Ministro Lins e Silva [Evandro Cavalcanti Lins e Silva, piauiense, jurista, jornalista, escritor e políti co, membro da Academia Brasileira de Letras]

Jair Natalino [Mineiro, comerciante]

étagère [Termo de origem francesa que signifi ca dispor em planos superpostos. Tipo de mobiliário conhecido desde a Idade Média, originalmente, consti tuía-se de prateleiras de tamanhos variados, sobre montantes. No Brasil, desde o século XIX, móveis que têm por base aparadores, sobrepostos por prateleiras, também são assim denominados]

Márcio Paes [Márcio Moreira Paes, macaense, membro de família abastada, empresário, políti co, vereador, deputado estadual e federal; presidente do Tênis Clube de Macaé, do Clube dos Abaetés e do Ypiranga Futebol Clube; proprietário da M. Paes & Cia. Ltda., concessionária automoti va, na Av. Rui Barbosa, 663, telefone 24]

Seu pai [Manoel Paes, o Manequinho, campista, empresário, capitalista, fundador do Clube dos Abaetés]

Itaperuna [Município do noroeste fl uminense, fundado em 10/05/1889]

Marieta [de Paula Machado, lajense]

Durval [Restaurante e pizzaria, na Av. Atlânti ca, 2534, Praia dos Cavaleiros]

Clube Cidade do Sol [Na Avenida Atlânti ca, 1622, Cavaleiros, fundado em agosto de 1981]

José Silvio [Sales de Almeida, mineiro, engenheiro, funcionário da Petrobras]

Lilian [Nogueira de Almeida, mineira, empresária]

Maranhão [Ricardo Moura de Albuquerque Maranhão, pernambucano, engenheiro, políti co, funcionário da Petrobras, fundador e presidente da Associação de Moradores da Praia dos Cavaleiros]

estacionamento do Horti fruti [Na Avenida Rui Barbosa esquina com a Rua Vereador Manoel Braga]

Itaú [Insti tuição fi nanceira, fundada em 1945, que incorporou o BANERJ em 1997, fundindo-se com o Unibanco em 2008. O Itaú Unibanco Holding S.A. por meio de suas empresas, atua no Brasil e em outros 20 países principalmente na América, Europa e Ásia]

Volksvagen [Volksvagen do Brasil, fundada em 1953, é a subsidiária brasileira da montadora alemã Volksvagen]

Ruy Borges [Ruy Figueiredo Borges, macaense, comerciante, políti co, vereador, presidente da Câmara Municipal (1970-1), patrono de uma rua no bairro Lagoa]

Ford [Ford do Brasil, fundada em 1919, é a subsidiária brasileira da montadora estadunidense Ford]

Fernandinho Santos [Fernando Hipólito dos Santos Filho, macaense, empresário, membro de uma tradicional família, neto do fazendeiro capitalista Joaquim Hipólito dos Santos]

Chevrolet [Marca automobilísti ca pertencente a General Motors do Brasil, fundada em 1925, subsidiária brasileira da montadora estadunidense General Motors]

família Valença [O empresário macaense Dugnay Rousseau Valença fundou a Dugnauto, concessionária de venda e manutenção de veículos Chevrolet, herdada por seus fi lhos Geraldo e João]

Ary e Edyr Jaccoud [de Azeredo, irmãos, macaenses, empresários, membros de uma tradicional família, fi lhos do comerciante Octávio Laurindo de Azeredo e irmãos do Prefeito Ferry Jaccoud de Azeredo]

Edgar Costa [Macaense, empresário]

Juarez, Jardel e Joelson [Os irmãos Franco Trindade, macaenses, empresários, são fi lhos herdeiros de Amphilóphio Trindade, um abastado empresário capitalista]

Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]

Maria Reid [Maria Francisca Borges do Rego Reid, portuguesa, esposa de Jorge Reid, proprietária da Fazenda do Cavaleiro, no singular, adquirida

remanescente da Rede Ferroviária. Alfeu me mostrou a parte administrativa e funcional e falou: - Ciro, essa parte fi nanceira é ligada à nossa diretoria no Rio. Então falei: - Será que eu poderia procurar esses funcionários que forem chegando? E ele disse: - Perfeitamente, é o seu trabalho. Parabéns, nunca vi um gerente de banco dar tanta atenção a funcionário de uma empresa como você está dando nesse momento. Fizemos amizade, ele também construiu a casa dele aqui nos Cavaleiros, onde por diversas vezes, fi camos a contemplar a nossa bela praia. Alfeu chegou a ser presidente da Petrobras. Nesse cargo, foi lhe oferecido um jantar no Clube Cidade do Sol, onde fi quei a contemplar a sua comitiva com diretores e gerentes daquela tão importante empresa. Como a Avenida Atlântica, naquele perímetro não era ainda calçada e urbanizada, planejei de imediato uma solicitação ao prefeito da época, que, reforçado por outros solicitantes, de pronto, atendeu ao nosso pedido. Tinha também o falecido José Silvio, marido da Lilian; o Maranhão, uma fi gura bastante pitoresca, que no começo, me impressionava um pouco pela forma de falar ou questionar certas coisas, mas depois foi uma pessoa brilhante aqui nos Cavaleiros... E ele me cobrava: - Ciro, você sendo um dos primeiros moradores dos Cavaleiros, tem que ser mais participativo na Associação de Moradores. Eu lhe dizia: - Maranhão, tenho uma agência com mais de noventa funcionários, vinte mil correntistas... Não tenho tempo! Porque Petrobras veio com a folha de pagamento daqueles que quiseram trabalhar com o BANERJ, além das empresas que forneciam para a Petrobras, e o Ciro e sua equipe, precisou de mais dois gerentes operacionais, e fomos crescendo. A agência Macaé era categoria 4; depois passou para 3, 2, 1 e, fi nalmente, categoria especial. Para ver como a agência cresceu! Quando eu cheguei aqui a agência tinha oito caixas, no fi nal, eu tinha trinta e duas. Era muita gente! Um dia um cliente chegou para mim e disse que eu era louco, porque não tinha espaço, mas fi cava conquistando empresas, abrindo contas. Eu dizia: - Vamos comprar um terreno e construir uma agência. E compramos, onde hoje é estacionamento do Hortifruti, mas o desejo não foi pra frente. Conseguimos a aprovação do projeto de uma nova agência na Prefeitura, mas aí veio a intervenção no banco, depois a compra pelo Itaú, que não se interessou pelo projeto porque já tinha outras unidades. Com o crescimento da cidade, até a venda de carros virou um evento. (Risos!) Quando eu era criança, era apaixonado por carros como todo jovem. Me lembro que a primeira agência de automóveis foi a Volksvagen, do Ruy Borges, na Rua Visconde de Quissamã. Depois veio a Ford, da família de Fernandinho Santos, que eu chamava de “Fernandinho meu colega”... Essas foram as principais. A Chevrolet foi administrada pela família Valença. A partir dos anos setenta e oitenta, havia até festa do lançamento dos veículos. Era um evento social em Macaé, com convites, coquetel, não só para vender veículos, mas outros interesses sociais.

Voltando aos Cavaleiros, até os anos 1960 não existia nada. Ou melhor, existia a praia, mas ninguém desbravava. Nessa época que começou o loteamento, feito pelos Senhores Ary e Edyr Jaccoud, com Edgar Costa, que construíram o Balneário dos Cavaleiros, que vai da Rua Valparaíso até a Rua Marechal Floriano. Depois veio o prolongamento do Bairro da Glória, que ia até o início do Parque Caxias, onde hoje é o Macaé Palace Residencial. Ali, começa o loteamento da família Trindade, dos irmãos Juarez, Jardel e Joelson, indo até o trevo da Petrobras. Mas antes de chegar ao trevo, existiam algumas invasões, uma serraria, uma borracharia, umas casas de pescadores... O Sylvio Lopes conseguiu desapropriar no seu primeiro mandato, e fez aquele trevo de ligação entre a Petrobras e a Praia dos Cavaleiros. Aquilo ali não existia. Quando se caminhava na Avenida Atlântica, no sentido contrário, que naquela época era mão e contramão, chegava-se lá, sendo obrigatório retornar. Inclusive aquela região não era urbanizada. A Prefeitura demorou para reconhecer aquela parte e dar atenção. Sempre foi uma região

pior do que o Balneário dos Cavaleiros. Quanto ao nome dos Cavaleiros, me contaram essa história, que pode ser questionada ou não. A fazenda da Dona Maria Reid, com outras fazendas, formavam esta região... Então os homens das fazendas vinham à cavalo para irem na praia, atravessavam a linha de trem, amarravam o cavalo na restinga, que lembro que tinha muitos coqueirinhos, com cachinhos de cocos, e iam à praia tomar banho... Daí surgiu o nome Praia dos Cavaleiros.

O bairro nobre de Macaé era a Imbetiba, todos investiam lá, e o lugar cresceu. Além dos pequenos hotéis do centro, como o da família da Marilena, proprietária do Hotel Turismo, surgiu na Imbetiba, o primeiro grande hotel de uma rede do Rio de Janeiro, com o nome de Lagos Copa Hotel. Com o lançamento do loteamento Balneário dos Cavaleiros, no fi nal dos anos 1960, apesar de não ter calçamento, rede de esgoto e quase nada, a beleza do local atraía compradores. Da varanda da minha casa, víamos o mar. Isso aqui não tinha nada! A nossa casa toda de tijolinho, um projeto da Gilce, chamava atenção. Lá na esquina, hoje o Comfort, tinha uma casa que, mais tarde, o Ministro Lins e Silva comprou e veraneava aqui. Também tinha a casa do Seu Jair Natalino, um morador antigo, da nossa época, do começo.

Já que estamos falando do início desta casa, posso contar sobre este móvel, um étagère, que também é memória de Macaé. O deputado Márcio Paes, atuante na política local, possuía uma residência no Centro, na Rua Visconde de Quissamã, onde hoje é o Hotel 474. Seu pai havia adquirido alguns móveis do Solar do Monte Elyzio, o Castelo, dentre os quais o étagère. Nossa família apelidou este móvel de “Duque”, em homenagem ao Duque de Caxias, avô do Coronel José de Lima, último morador do Castelo. Meu sogro, Doutor Ignacio Tostes Machado, era proprietário da Fazenda Santa Maria, desde 1960, quando a adquiriu em sociedade com seu amigo, o Senhor João de Sá. Vindos da região de Itaperuna, onde tinha fazendas com enfoque na plantação de arroz e na pecuária leiteira, fi caram, a princípio, entusiasmados com o clima propício desta região, com sol e chuva, ao contrário do Noroeste Fluminense que padecia com a estiagem. Depois, em 1969, comprou a parte do Senhor João de Sá e se tornou único proprietário da Fazenda. Ao procurar uma casa para comprar na cidade, Doutor Ignacio acabou comprando a casa de Márcio Paes, com o étagère. Aí o Márcio contou a história do móvel. Mais tarde, em 1972, por interesses comerciais, Doutor Ignacio vendeu a casa e voltou a morar na Fazenda, levando a mobília. Quando construímos esta casa, em 1976, com pé direito duplo, Dona Marieta e Doutor Ignacio nos presentearam com o étagère, considerando a imponência nobre do móvel. Como sempre gostamos de antiguidades, desde então, nosso orgulho em possuir o “Duque” continua grande. Aliás, a Gilce, junto com uma sócia, teve uma loja de antiguidades e galeria, a Estação da Arte, de 1986 a 1996, ali onde é hoje a Finalmente Creperia. Depois que a Estação da Arte fechou, teve a sanduicheria da Cecilia, o Sandubeach, até o ano 2000.

Quando viemos morar aqui, comércio não tinha na Praia dos Cavaleiros. Nem padaria! Começaram com os barzinhos na beira da praia, mais ou menos onde hoje têm os restaurantes Finalmente Creperia e o Estação da Praia. Eram simplesinhos, todos de madeira, chão de areia fofa... O Durval é o mais antigo em funcionamento. Começou assim, depois foi crescendo, se adaptando ao crescimento do bairro. Hoje, os Cavaleiros contam com forte comércio e com praticamente todos os serviços, inclusive muitos consultórios médicos, escolas, até universidade! Os hotéis mais bem equipados, os melhores e mais bem decorados restaurantes da cidade, estão aqui! Agora, nesta última década, estamos vivenciando mais uma transformação no bairro, que é a verticalização. Muitas casas foram demolidas para dar lugar a belíssimos edifícios. Muitas unidades unifamiliares que vão dando lugar a edifícios

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Avenida Vieira Souto [Famosa via pública litorânea, no bairro carioca de Ipanema, por muito tempo conhecida como o metro quadrado mais valorizado do Brasil]

Nacional [Originalmente Banco Nacional de Minas Gerais, foi uma insti tuição fi nanceira fundada, em 1944, por Francisco Moreira da Costa e José de Magalhães Pinto, cessando suas ati vidades em 1995]

Bamerindus [Banco Mercanti l e Industrial do Paraná S/A, fundado, em 1929, por Avelino Antonio Vieira, que no fi nal dos anos 1990 foi incorporado ao HSBC e ao Banco Central]

Meridional [O Banco Meridional do Brasil foi uma insti tuição bancária da Região Sul, fundada em 1985, consti tuída como uma sociedade de economia mista federal, de direito privado, com capital fechado, tendo a União Federal como sua única acionista; encerrando suas ati vidades em 1997]

Bradesco [Insti tuição fi nanceira, fundada em 1943, atualmente considerada a maior e mais valiosa marca da América Lati na, sendo o maior banco privado do Brasil, crescendo principalmente através de fusões e aquisições]

Banco do Brasil [Insti tuição fi nanceira, fundada em 1808, consti tuída na forma de sociedade de economia mista, com parti cipação da União brasileira]

Caixa Econômica [Federal, insti tuição fi nanceira, fundada em 1861, sob a forma de empresa pública do governo brasileiro, com patrimônio próprio e autonomia administrati va]

BEMGE [Banco do Estado de Minas Gerais, insti tuição fi nanceira privati zado em 1998, sendo adquirida e incorporada ao Banco Itaú]

Lenda de Santana [Relatando o achamento de uma imagem de Sant’Ana na ilha que tomou o seu nome, que entronizada em capela no alto do morro, sempre retornava ao seu lugar de origem, até que o altar foi inverti do e as “fugas” cessaram]

capela [Referindo-se a anti ga edifi cação jesuíti ca que existi a antes de ser reformada e ampliada, em 1898, com recursos da Viscondessa de Araújo, pertencendo a Irmandade da Gloriosa Sant’Anna]

Ignez Patrocínio [Maria Ignez do Patrocínio, macaense, benemérita, pianista, professora de Música, membro do anti go coral da Igreja Matriz; fundadora do Coral da Indústria Bariloche; presidente da Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora]

Zuza [Maria José dos Santos, macaense, membro do anti go coral da Igreja Matriz; membro de uma tradicional família, sendo ti a do Prefeito Aluízio dos Santos Júnior]

Fraterno Auxílio Cristão [FAC. Insti tuição fi lantrópica fundada, em 1966, pelo padre Guillermo Lago Castro]

distante aqui [Referindo-se a Rua Valparaíso, local da entrevista]

bou� que [Barafunda Bouti que, na Rua Vinã Del Mar, Cavaleiros]

Casa Cor [Exposição de decoração, arquitetura e ambientação criada em 1987, em São Paulo. Atualmente o evento é organizado em 14 cidades no Brasil, Peru, Panamá e Suécia]

revista [NOTÍCIAS DA PETROBRAS. Rio de Janeiro: Sercon/Petrobrás, Ano 2, Número 13, Junho/Julho 1987]

Amilcar Pereira da Silva Filho [Mineiro, engenheiro, funcionário da Petrobras]

Hotel Brisa Tropical [Na Avenida Atlânti ca, 2600, Cavaleiros]

João Carlos França de Luca [Paranaense, engenheiro Civil e de Petróleo, atuou por 24 anos na Petrobras (1974-1997), onde desempenhou diversas funções técnicas e gerenciais relevantes, como a de gerente geral da Bacia de Campos (1986-89) e gerente geral do Departamento de Produção (1989-90), sendo presidente do Insti tuto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustí veis desde 2001]

Raimundo Murta [Engenheiro, funcionário da Petrobras, exercendo funções relevantes na Bacia de Campos como a de Superintendente do Distrito de Perfuração Sudeste]

Royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados. A Campanha dos Royalti es do Petróleo, contou com a Comissão Intermunicipal de Conquista dos Royalti es, criada em 16/03/1983, culminando na Lei 7453/1985, que permiti u que 37 municípios fl uminenses recebessem um percentual sobre o petróleo extraído pela Petrobras na Bacia de Campos]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Sarney [José Sarney de Araújo Costa, nascido José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, maranhense, advogado, políti co e escritor . Foi o 31º presidente do Brasil (1985-1990) e o 20° vice-presidente do Brasil (1985)]

multifamiliares! Mas no nosso começo aqui, eu e Gilce, construíamos casas com o projeto dela e vendíamos depois de pronta. Muitos clientes dela eram funcionários da Petrobras. E o bairro foi crescendo como residencial. Dois pavimentos no máximo nas moradias. Depois edifi ciozinhos de três andares, que era o gabarito da época. Nós mesmos chegamos a construir desse tipo para vendermos. Nos anos 1980, aumentou muito a procura por imóveis residenciais. Depois veio, eu acho, o primeiro hotel a ser construído na orla, que foi o Abusos Tropicais, de seis pavimentos, bem lá no começo, distante aqui. E aos poucos, foi havendo um boom de crescimento. Tanto de hotéis, quanto de residências. Quase toda semana começava uma obra nova. Os funcionários da Petrobras ou das empresas fornecedoras eram a maioria. E os arquitetos se esmeravam nos projetos. Na casa do José Silvio, depois a Lilian fez uma boutique, por que gosta muito dessa área, que penso ser uma arte pra ela... A autora do projeto foi a Gilce, um trabalho lindo que até parecia uma casinha de chocolate.

Minha esposa Gilce, sendo profi ssional muito atuante, sempre procurou manter-se informada. Tinha uma exposição, a Casa Cor, no Rio de Janeiro. Nós íamos visitar todo ano. Então, teve uma oportunidade com outros sócios de organizarmos uma exposição de arquitetura em Macaé! Ela disse que faria se eu ajudasse. Como eu estava aposentado do banco, começamos o planejamento para fazer aqui, na Rua Acapulco, esquina com Avenida Atlântica. Quando descobrimos que outro grupo também estava planejando um evento semelhante de arquitetura em Macaé, ao mesmo tempo. Aí, conseguimos unir os dois grupos e fi zemos a primeira exposição em 2003, no Bairro da Glória. E foi um sucesso! A gente movimentou o comércio, os arquitetos de Macaé e foi algo muito gratifi cante pra gente. Passada a ressaca de 2003, os arquitetos todos procurando, querendo fazer outro evento daqueles. Mudamos a sociedade e conseguimos fazer o segundo, em 2006, numa casa que se estendia do alto do Parque Valentina Miranda até lá embaixo na Imbetiba, conseguimos aumentar o número de arquitetos. Aí, de 2006 para 2007, a sociedade mudou de novo e só fi camos eu, a Gilce e a Cecilia, e foi um dos melhores momentos da minha vida, com minha fi lha e minha esposa. Fizemos a terceira Exposição de Arquitetura, Decoração e Paisagismo de Macaé, a Casa Max 2007, aqui nos Cavaleiros. Apesar de grandes patrocinadores, como empresa aérea, empresas Off shore, não deu para cobrir o investimento. O crédito maior, graças a Deus, foi a projeção de novos arquitetos e profi ssionais, que até hoje, estão muito bem no mercado. Então, a Casa Max cumpriu o seu papel, tanto em relação aos profi ssionais, quanto projetando Macaé em nível regional nesta área.

Tenho orgulho de no universo de 12.500 funcionários de um banco, um macaense ser projetado como eu fui, e como meus irmãos foram também. Digo isto, no sentido de uma cidade interiorana conseguir gerar profi ssionais de elevado escalão no Estado, no País. Isso foi gratifi cante pra gente de Macaé. Então, onde eu era convidado a falar, eu abria falando de Macaé, e sempre me apresentava como “o Ciro de Macaé”! Pronto, aí eu podia dar prosseguimento ao assunto. Eu sempre vibrei em guardar as coisas que falavam da cidade. E como naquela época a Petrobras era o nosso coração, o nosso pulmão, o nosso braço, eu guardei uma revista muito interessante, de junho de 1987, que fala da evolução do petróleo, do quadro de Macaé em função das descobertas de petróleo, e de algumas pessoas, como Amilcar Pereira da Silva Filho, que construiu uma casa de pedra, onde hoje é o Hotel Brisa Tropical, o João Carlos França de Luca, que foi gerente de base, superintendente, depois foi presidente da Petrobras. Uma fi gura! (Risos!) Raimundo Murta, que é da época do Alfeu. Também nos anos 1980, na campanha pelos Royalties, hoje, responsáveis por muita transformação no município, não posso deixar de citar a Marilena, que foi uma liderança

importantíssima. E para homenagear minha querida Marilena, olha ela na revista, fotografada lá em Campos, ao lado de Sarney, na campanha pelos Royalties. E tem uma matéria aqui muito interessante, dizendo que o metro quadrado em Macaé era tão caro quanto no Rio de Janeiro, mas que na plataforma era mais caro do que na Avenida Vieira Souto. E a revista faz uma referência a mim, numa entrevista na qual eu disse que, naqueles últimos dez anos, vários bancos vieram para Macaé atraídos pela economia do petróleo como o Nacional, Bamerindus, Meridional e Bradesco. Esses vieram depois da Petrobras. Porque antes existiam o Banco do Brasil , a Caixa Econômica, o BANERJ, o BEMGE, o Banco da Lavoura e Predial. Esses eram os seis bancos que existiam. Ainda sobre a reportagem: “Ciro afi rmou que apenas no primeiro concurso para Petrobras, a agência perdeu 30% do quadro de seus funcionários”. Veja bem, meus funcionários foram para Petrobras.

Macaé foi tudo pra gente, primeiro por abrigar uma família que veio do interior, do distrito de Conceição de Macabu, gente da roça, simplórios, com uma bela matriarca, culta, bonita, fi na, que nos deu o ensino e nos fez amar esta cidade. A minha mãe era muito católica, acreditava e nos fazia acreditar na vida, nas histórias da cidade, como a Lenda de Santana, que relata a mudança da frente da capela. Eu me lembro que ainda criança, a Igreja Matriz de São João Batista me causava um pouco de medo. Aquele Jesus crucifi cado, depois Jesus coroado. E a Nossa Senhora das Dores sofrendo. Mas a gente ia, éramos muito católicos e isso moldou muito as nossas vidas. Numa dessas ocasiões que estávamos na Igreja Matriz, houve um incêndio no mezanino, onde se instalava o coro, que nos marcou bastante. Minhas irmãs estavam conosco. Quando a minha mãe não podia ir, ela mandava nossas duas irmãs mais velhas, com as quais a gente aprendeu muito. Então, houve um incêndio por conta um curto circuito. A igreja estava cheia, muita criança, mas conseguiram apagar. Uma senhora chamada Dona Ignez Patrocínio e uma outra chamada Zuza estavam lá, elas tocavam na Igreja.

Mas voltando, Macaé oportunizou que a gente se educasse aqui no Mathias Netto e no Luiz Reid. O nome da minha mãe era uma referência, se eu ia fazer um cadastro e me perguntavam o nome de minha mãe, quando eu dizia Laércia Barros de Oliveira, as portas se abriam. Ela foi presidente do Fraterno Auxílio Cristão, não só criando sete fi lhos sozinha, mas ela ainda ajudou a centenas de necessitados. Então a paixão por Macaé que nos envolve hoje está na nossa história, e sendo transmitida, já está no sangue da minha geração, meus fi lhos, meus netos Gabriela, Artur, Hugo e Ignacio Arcângelo. Mamãe chamava Macaé de “Meu pedacinho do céu!”. Dar uma entrevista como esta, falar sobre a Macaé que ainda estou vivendo, é um prêmio! Então o Ciro Lopes de Oliveira é uma pessoa que desde criança, no interior, sempre teve o dom de apaziguar. Uma vontade de crescer, um olhar pela natureza, o respeito à religião, à crença, à cor, um otimismo enorme... Lutei muito para voltar para Macaé e ser gerente geral de um banco que me proporcionou uma carreira ilustre. Abracei essa Praia dos Cavaleiros, como presidente da Associação de Moradores, a partir de 2003. A gente fez alguma coisa pelo Município e ainda quero fazer mais. Consegui com que meus fi lhos amassem Macaé... Mesmo tendo liberdade, não fi caram um fi nal de semana em Niterói durante a faculdade, porque queriam voltar para cá. E quando se formaram me disseram: - Pai, queremos voltar para Macaé. E estão aqui conosco. Então, é um legado que a gente deixa para a família, o nosso agradecimento a Macaé. No futuro, vamos fazer mais livros, pois uma magnífi ca e contagiante emoção vem me dominando desde as primeiras palavras... Obrigado! ▪

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1 Casa de Ciro na Praia dos Cavaleiros, 1976.

2 Casamento de Ciro e Gilce, na Capela do Castelo, 1972.

3 O cão pastor alemão Keldo, de propriedade de Ciro, nascido e adestrado no Canil do Exército de Barra Mansa, integrando o Corpo de Bombeiros em Desfi le Cívico de Macaé, na Av. Rui Barbosa, 29 de julho de 1977 .

Acervo parti cular de Ciro José Lopes de Oliveira, Macaé - RJ.

4 Presidente José Sarney, Nelson Carneiro, Mário Covas e Marilena Garcia, na promulgação da Lei dos Royal� es, em Campos, 1986.Revista NOTÍCIAS DA PETROBRAS. Rio de Janeiro: Sercon/Petrobrás, Ano 2, Número 13, Junho/Julho 1987, p. 11.

5 Ciro na gerência do BANERJ da agência Macaé, década de 1980.

6 Ciro Henrique, D. Marieta, Gilce, Ciro e Cecilia juntos ao étagère “Duque”, 2016.

Acervo parti cular de Ciro José Lopes de Oliveira, Macaé - RJ.

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Esquadrilha da Fumaça. 2010. Foto: Livio Campos

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Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, termo de Macaé (RJ), depois quarto distrito, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989]Viação Líder [Empresa de transporte coleti vo pertencente ao empresário Ruben Terra]Rápido São Cristóvão [Empresa de transporte coleti vo pertencente aos irmãos Caio Barcelos e Dionísio Barcelos (Nezito), macaenses de Quissamã, empresários]Praça Washington Luiz [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]Bar do Olinto [Na Rua Tenente Coronel Amado, n.0 89, telefone 435, com “especialidade em doces, vinhos, conservas, licôres e bebidas em geral”, pertencente a Olinto Bordalo, imigrante português, comerciante] Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, exerceu vários cargos na administração pública municipal e estadual e foi vice prefeito em duas gestões] Dona Hilda [Ramos Machado, macaense, mito do magistério]Litorina [Termo de raiz italiana para vagão-leito. No Brasil defi ne vagão ferroviário com motor Diesel e condutor próprio, independente de locomoti va tracionadora]Estação [Ferroviária, no fi nal da Rua Euzébio de Queirós] família amiga [Do casal Amaro e Almerinda da Silva Santos, campistas]irmã [Glória Vasconcelos da Mota]Mavi [Maria Victória de Souza Barcelos] Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro]vivo [O Professor Pierre faleceu em Macaé a 29/11/2012, com 103 anos]Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]A Primavera [Estabelecimento comercial especializado em arti gos de indumentária masculina, feminina e infanti l, pertencente a família Bitt encourt]Belas Artes [Café, Bar e Restaurante, dos irmãos Gonzalez, na Av. Rui Barbosa, 234, telefone 29]Fábio Franco [Macaense oriundo da região serrana, comerciante, contador, professor, fundador do Rotary Club de Macaé, patrono de importante avenida no bairro Visconde de Araújo]Lynce [Fábrica de bebidas na Av. Rui Barbosa, 286, telefone 41, pertencente a família Agosti nho, que originalmente chamou-se Prince, sendo fundada pelo empresário Orlando Farrula]Drogaria Pacheco [Fundada em 1892, na cidade do Rio de Janeiro, por José Magalhães Pacheco, está presente em quatro estados, estabelecendo fi liais franqueadas em Macaé a parti r dos anos 1990]Taboada [Cine-teatro inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada, que encerrou suas ati vidades em 31/12/1981, sendo alugado para uma rede de lojas de eletrodomésti cos]

Carapebus [Nesta época terceiro distrito de Macaé, teve sua emancipação políti co-administrati va decretada por Lei Estadual de 19/07/1995, sendo primeiro prefeito eleito, Eduardo Nunes Cordeiro, que tomou posse em 01/01/1997]nasci [29/01/1949]Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]mamãe [Onila Vasconcelos da Mota, campista] Fazenda da Pedra Branca [Anti ga propriedade rural, estabelecida no século XIX pelo campista Capitão José Pereira Rabello, proprietário de cinco grandes fazendas, sendo a da Pedra Branca legada à sua fi lha, Anna Maria das Virgens Pereira Rabello, casada com o Comendador José Gavinho Vianna]meu pai [Manoel Vasconcelos da Mota, campista, administrador de propriedades rurais] Fazenda da Boa Sorte [Anti ga propriedade rural, estabelecida no século XIX pelo benemérito Capitão Rozendo José, grande proprietário de terras]Lagoa de Carapebus [Microbacia com área aproximada de 10 km2, formada por vários córregos e ligada ao Canal Campos-Macaé, com uma parte na Resti nga de Jurubati ba. Seu principal curso d’água, com 5 km de extensão, é o Córrego da Maricota, totalmente inserido no município de Carapebus] Usina de Carapebus [Fundada em 03/09/1927, por um grupo de empresários portugueses, liderado por Antonio Augusto da Paz]usina de Quissamã [Cia. Engenho Central de Quissaman, inaugurada em 12/09/1877, considerada a primeira deste gênero insti tuída na América do Sul]Maria Margarida [da Silva Tatagiba, campista]... Maria Peixoto [Campista, professora]Colégio Estadual Luiz Reid [Na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923] Fundação Educacional Luiz Reid [Criada em 21/08/1956]Miguel Ângelo [da Silva Santos, angrense, gráfi co, educador, patrono da Faculdade Municipal]Maria Isabel Damasceno Simão [Miracemense, professora de Língua Portuguesa, benemérita, kardecista, diretora do Colégio Cenecista Prof. Antonio Caetano Dias, cujo prédio, hoje, abriga a Escola Municipal Maria Isabel Damasceno Simão]três irmãs [Onila Maria (Nilinha), Glória e Claudia Marcia] Gardel [Luiz da Silva Santos, macaense, comerciante, empresário]Pierre Tavares da Silva Ribeiro [Macaense de Conceição de Macabu, educador, professor de Matemáti ca, espírita kardecista, fundador do Grupo Espírita Pedro]Casa Michel [Na Avenida Rui Barbosa, propriedade de Alin Michel, imigrante árabe, comerciante]Banco do Brasil [Que funcionava na Avenida Rui Barbosa, onde hoje está o Banco Itaú, frente à Praça Washington Luiz]

“Macaé, para mim...”Claudia Marcia Vasconcelos da Rocha

Entrevistada, em Macaé (RJ), a 21/09/2012.

A lembrança mais remota que guardo é da fazenda em Carapebus... Não onde nasci, porque nasci em Campos... Na hora de mamãe ter as cinco fi lhas, ia para Campos, porque a família é toda de lá. Mas a lembrança mais remota, eu devia estar com dois anos e meio por aí, é a Fazenda da Pedra Branca, em Carapebus. E não foi lá que cresci, porque logo depois meu pai é transferido para uma outra maior, a Fazenda da Boa Sorte, na localidade de Rodagem. Esta fazenda tem a Lagoa de Carapebus na frente e a casa lá no alto... Ali, passavam os aviões, por cima da lagoa, e fi cávamos com a sensação de que eles estavam muito mais baixos... Então, esta é a lembrança mais antiga que eu tenho na vida.

Meu pai vai ser administrador geral das fazendas da Usina de Carapebus, deixando de ser especifi camente de uma fazenda, passando a administrar todas... Era aquele maravilhoso complexo, que junto à usina de Quissamã, formava o grande ganho do município de Macaé, sendo duas famosas usinas de açúcar. Estava com nove anos, na quarta série, não frequentei o Grupo Escolar no povoado de Carapebus, só escolas próximas da fazenda. Preparei-me para o exame de admissão, que seria obrigatoriamente em Macaé, porque só aqui teria a chance de continuar. Vinha de escolas de professores leigos, multisseriadas, quando chegou para morar em nossa casa a professora Maria Margarida... Minha vida nunca mais foi a mesma! Em Carapebus, também estudei com uma professora particular, Dona Maria Peixoto, que atuava no Grupo Escolar e residia ali, porque seu marido trabalhava na usina... Ela preparava os alunos para o “vestibular” da época. No fi nal do ano, fi z o exame de admissão para o Colégio Estadual Luiz Reid que na altura era a Fundação Educacional Luiz Reid... Isso foi em 1959.

A chegada ao Luiz Reid, um colégio enorme, para quem nunca tinha entrado em grupo escolar para estudar, foi uma entrada triunfal, primeiro porque o Luiz Reid era lindo, um prédio maravilhoso, com tapetes, carpetes, portas envidraçadas, fi letes dourados, granitos... Uma escada belíssima, que está lá até hoje... Graças a Deus! A voz de trombone de Seu Miguel Ângelo, que recebia os alunos... Daí o medo dele, que era um monstro de três metros de altura na minha cabeça, uma coisa memorável. A fi gura feminina de que me lembro perfeitamente é Dona Maria Isabel Damasceno Simão... Ela, delicada, é a amiga que passa a mão na cabeça dos candidatos, e ele é o bicho papão, que do alto da escada, chama os candidatos aprovados. A gente sabia que muitos ali não poderiam subir as escadas, nós éramos três irmãs e fi zemos o exame juntas... Sou a mais nova das três, só eu passei e isso foi complicado... Então, aos dez anos de idade, estava no ginásio da Fundação Educacional Luiz Reid, com medo de Seu Miguel... (Risos!) É uma história ótima, porque quando foi meu professor, no quarto ano ginasial, descobriu que eu tinha medo dele e perguntou no meio de uma aula: - Por que a moça tem medo de mim? Eu amava Gardel, que trabalhava na secretaria do Luiz Reid, uma pessoa doce, fi lho de Seu Miguel... E aí tive que me explicar com meu professor de Ciências, com pavor da próxima

nota, mas fi camos amicíssimos. O diretor do colégio, professor Pierre Tavares da Silva Ribeiro, é, para cada um daqueles alunos, pela forma como administrava, pela exemplar maneira como conduzia a vida, nosso inesquecível modelo.

As pessoas em Carapebus entenderam que nós, os primeiros a estudar em Macaé, éramos os emissários... Não só tínhamos que vir para estudar, mas tínhamos que comprar coisas para as pessoas... Eram encomendas diárias de toda espécie, como os artigos de armarinho... Passamos a ser frequentadoras assíduas das lojas de Macaé... Eu, principalmente, da Casa Michel. Interessante é que fi quei conhecida no Banco do Brasil, aos dez anos, fazendo missão de banco. A viagem era de ônibus e só havia um horário de Quissamã, feito pela Viação Líder, mais tarde, Rápido São Cristóvão... As aulas começavam meio dia e vinte minutos e o ônibus passava em Carapebus, nove da manhã... Chegávamos a Macaé às dez horas e tínhamos tempo para resolver problemas dos outros... (Risos!) Ninguém almoçava, comíamos pastel, qualquer coisa, se tivéssemos dinheiro... Então, fi cávamos recorrentemente na Praça Washington Luiz, onde fi zemos amigos verdadeiros. O Bar do Olinto era a casa daqueles estudantes... Sempre recebo fotos da Praça Washington Luiz, Ricardo Meirelles um dia desses, me mandou. Na saída das aulas, um constrangimento muito grande, o último ônibus de volta era às dezesseis e trinta, mas as aulas iam até dezessete e vinte... Sempre tinha que perder a última aula, o que às vezes era complicado... Dona Hilda, de Língua Francesa, nunca deixou que a gente saísse, gerando um impacto. Ficar em Macaé, signifi cava voltar para casa, às oito da noite, no trem, a Litorina. Nós íamos para a Estação ou esperávamos que meu pai viesse buscar de Jipe, lá pelas dez da noite... Não podíamos fi car na rua, então, íamos para casa de uma família amiga, como a de Dona Almerinda, na Rua Silva Jardim, próxima do Luiz Reid... Eu e uma irmã, que fora aprovada no exame seguinte. Dos companheiros, professores e colegas dessa época, muitos estão aí, são pessoas do dia-a-dia, amigos da vida inteira... Por exemplo, Mavi mexe muito comigo... Dos professores, só Seu Pierre está vivo... Outro dia, peguei a relação das escolas da Prefeitura Municipal de Macaé e já deve ter uns cinco amigos que são patronos de escolas e isto me preocupa de certa maneira... (Risos!) De outra maneira, dá muito orgulho saber que a gente fi cou no mesmo circuito... Somos professores e até nomes de escolas!

A Rua Direita era muito interessante e tinha algumas lojas chave: a Casa Michel com os seus tecidos e armarinhos; A Primavera; o Belas Artes, restaurante maravilhoso, que uma vez no ano me sentava para comer, quando papai podia estar em Macaé durante o dia, porque era um restaurante com todos os talheres, toalhas de tecido, fechado com porta envidraçada, sem ar condicionado... Graças a Deus! (Risos!) Mas com aquela beleza de restaurante refi nado. Adiante, a loja de materiais de construção de Seu Fábio Franco; depois, a Lynce, a Sapataria Rex, onde está a Drogaria Pacheco... Do outro lado, o Taboada e umas casas geminadas muito interessantes, mais

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Maria Le� cia [Santos Carvalho, petropolitana, membro de uma tradicional família de educadores, benemérita, compositora, autora de hinos, professora]Luiz Carlos Franco [Macaense, professor]Waldir Celem [Macaense, contador, professor]Allan Miranda [Macaense, professor]Maria Rita [Ribeiro da Cunha, porciunculense, benemérita, professora, formada em Letras Neolati nas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro]professor Zé Carlos [José Carlos da Cunha, porciunculense, benemérito, professor, diretor do Ginásio Macaé e da Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé]Maria Victória [de Souza Barcelos, a Mavi, macaense de Quissamã, educadora, lecionou Inglês, Lati m e Língua Portuguesa, sendo graduada pela Ponti fí cia Universidade Católica – PUC/RJ]Dona Terezinha [Carvalho Moreira, professora de Geografi a] PUC [Ponti fí cia Universidade Católica do Rio de Janeiro, fundada em 1941 por D. Sebasti ão Leme e pelo padre Leonel Franca, S.J., e reconhecida ofi cialmente em 15/01/1946]UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro, criada em 07/09/1920, como Universidade do Rio de Janeiro, reorganizada em 1937, quando passou a se chamar Universidade do Brasil, recebendo a atual denominação em 1965]Cecília Meireles [Carioca, poeti sa, pintora, professora e jornalista, considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa]Cosme Velho [Bairro carioca da zona sul]Alceu Amoroso Lima [Carioca, críti co literário, professor, pensador, escritor com o pseudônimo de Tristão de Ataíde e líder católicobrasileiro, sendo Conde Romano, pela Santa Sé] Seu Christos [Jean Kousoulas, professor de Biologia]Tonito [Antonio Alvarez Parada, professor de Química] FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada em 1974, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo] primeiro diretor [Carlos Augusto Ramos Filho, campista, militar, advogado, professor] Ana Maria Pinto [Macaense, professora de Matemáti ca]Thereza Pereira da Silva Marques [Professora de Língua Portuguesa]Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República] Chico Buarque [Francisco Buarque de Hollanda, carioca, músico, dramaturgo e escritor. Conhecido por ser um dos maiores nomes da MPB] Construção [Canção lançada em 1971 para álbum homônimo, considerada, junto com Pedro Pedreiro, uma das canções mais emblemáti cas da vertente críti ca do compositor, “podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso das relações aviltantes entre o capital e o trabalho”]Dalva [Magnólia Alves Soares, macaense, educadora, criou o conceituado Curso Pró-Técnico Dolores Magnólia Alves Soares, na Imbeti ba, voltado principalmente para admissão nas escolas técnicas federais]Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]Vanda de Assis Brauer [Baiana]Samuel Brust [Friburguense, reverendo presbiteriano, professor, patrono de rua e escola municipal em Macaé]Dácio Tavares Lôbo [Macaense da Bicuda, professor]

Zé Mengão [Lanchonete pertencente a José Vieira Rangel, macaense de Carapebus, comerciante e empresário]Seu Maninho [A Pharmacia Narciso, popularmente conhecida pelo apelido de seu proprietário Nilo dos Santos Macedo, tendo sido fundada em 1908 por Narciso Freire dos Santos]Caetano [Farmácia e Drogaria São Caetano,fundada por Edmundo Caetano da Silva, com matriz na Rua Télio Barreto e fi liais na Praça Veríssimo de Mello e na Av. Rui Barbosa]Edifí cio Dom Pepe [Na Avenida Rui Barbosa, 336, esquina com Rua Marechal Deodoro, empreendimento da família Moreiras] Celso Munir Mussi [Macaense, membro de uma família de comerciantes árabes, proprietário do Bazar América]Padaria e Confeitaria Lima [Avenida Rui Barbosa, 375, do casal João Bati sta de Lima e D. Zélia Lopes Figueiredo Lima]Chicabon [Primeiro sorvete a ser lançado pela Kibon, indústria brasileira pioneira em gelados, fundada em 1941] Casa Chaloub [Conhecida como Rei dos Barateiros, fundada por Jorge Chaloub]Loja de Magdá [Casa Garcia, na Avenida Rui Barbosa, 152, telefone 30, propriedade de Maria Magdalena Pereira Garcia, a Magda, macaense de Glicério, socialite, benemérita, empresária]Parque Lar de Maria [Avenida Rui Barbosa, 443, uma iniciati va do benemérito José Soares Garcia, macaense, empresário, angariando fundos para ações sociais]casinhas [Um jogo de sorteios, com premiações]Moranguinho [Refrigerante gasoso de groselha, ícone industrial e cultural macaense, produzido pela Fabrica Lynce, hoje conhecido como Morangui� o]Doutor Jorge [Ribeiro da Silva Caldas, macaense, médico, clínico geral, que residia numa chácara urbana] Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Musica Nova Aurora, na Avenida Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata] Normal [Também conhecido como Magistério de 1.0 grau ou Pedagógico, um ti po de habilitação para as séries iniciais do ensino fundamental. Era um curso secundário, equivale nos moldes atuais, a um curso profi ssionalizante em três anos. Por Lei de 1996 a mínima habilitação exigida para o magistério passou a ser uma licenciatura (ensino superior), depois foi reabilitado o curso Normal por portaria de 22/02/2001] Faculdade de Filosofi a de Campos [FAFIC, criada em 1961]Grupo Escolar Thomaz Gomes [Fundado em 1944, passou a ser Escola Estadual em 1968, estando localizado na Rua Silva Drumond, 97, Centro]Colégio Cenecista Antonio Augusto da Paz [Hoje Escola Municipal, localizada na Rua Silva Drumond, 318, Centro]Ginásio Macaé [Na Rua Alfredo Backer, Centro]Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, historiador, escritor] Seu Christos [Jean Kousoulas, grego, professor, fi lósofo, bibliófi lo,membro da Academia Macaense de Letras, escritor e jornalista, membro da Associação Fluminense de Jornalistas]Seu Miguel [Ângelo da Silva Santos] Seu Abílio [Valenti no de Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]

tarde, o inesquecível Zé Mengão... Agora são muitas as farmácias na Rua Direita, cada dia uma nova. Antes, tínhamos as farmácias de Seu Maninho e a Caetano. A construção do Edifício Dom Pepe foi uma novidade, sem elevador. Dizíamos: “Um edifício na Rua Direita?!?”(Risos!) Ali médicos, dentistas e advogados tiveram suas salas. No outro quarteirão ainda existe o bazar de Celso Munir Mussi, mas não a Padaria e Confeitaria Lima, coisa mais incrível, onde compramos o primeiro Chicabon de nossas vidas, em 1958-59... Uma delícia! Em frente, a Casa Chaloub. Maravilhosa! Mais adiante, a elegante Loja de Magdá e o Parque Lar de Maria, com a brincadeira dos ratinhos entrando nas casinhas, a pizza, o Moranguinho... Macaé, para mim, só tinha o movimento da semana, porque sábado e domingo, raríssimas vezes vínhamos aqui... Essa coisa meio botequim, não existia na Rua Direita... Eram bancos, associações, hotéis, lojas, papelarias, bombonières ou casas residenciais. O Doutor Jorge tinha uma casa maravilhosa. Esqueceram, numa época, de pintar de azul e branco a Nova Aurora e andaram pintando de outras cores...

Bem... Entrei no Colégio Estadual Luiz Reid em 1959 e saí formada em 1966... Fiz o curso Normal e saí professora. Depois do curso de Letras na Faculdade de Filosofi a de Campos, volto a Carapebus, dou aulas no Grupo Escolar Th omaz Gomes, ensino Português, dirijo o Colégio Cenecista Antonio Augusto da Paz, venho residir em Macaé e começo a ser professora no Ginásio Macaé e no Luiz Reid. De aluna daqueles mais brilhantes professores, virei colega... Por ter feito curso Normal, não tive oportunidade de ser aluna desses grandes: Tonito que lecionava Química e Seu Christos, Biologia... Eles eram de uma área específi ca, então o convívio era meio distante... Seu Miguel foi o mais próximo, ensinava Ciências no curso Ginasial, então tivemos mais contato. No Ginasial a gente teve Seu Abílio, professor de História; Dona Hilda Ramos de Francês; Dona Maria Letícia de Música, minha professora nos quatro anos de ginásio e nos três de Normal. Uma maravilha! Os medalhões estavam também no curso Científi co e no de Contabilidade... Seu Luiz Carlos Franco, Seu Waldir Celem, Allan Miranda. No Normal tivemos contato com aqueles que estavam chegando a Macaé, os pedagogos, como Dona Maria Rita e seu marido, professor Zé Carlos.

O grande diferencial nos anos 1960 foi a professora Maria Victória, porque até então o curso Normal não tinha efetivamente alguém da Academia. Dona Terezinha também fora do ginásio e do primeiro ano Normal. Então a gente queria saber da PUC, da UFRJ, porque já tínhamos noção que isto existia no mundo. Mavi é a pessoa que contava da PUC, da visita à casa de Cecília Meireles, no Cosme Velho; das amizades da época; de Alceu Amoroso Lima que ia à sala fazer palestras... De pessoas que a gente só tinha noção pelo rádio, que nem televisão havia em casa...

Ela e Dona Terezinha passam a ser modelos, queria ser como elas, me vestir como aquelas mulheres, falar como aquelas mulheres, e de alguma maneira viver o que elas viveram... Termino a graduação em 1970, tinha 21 anos e dava aulas para o terceiro ano do Científi co no Luiz Reid, para alunos da minha idade ou mais, sendo colega de Seu Christos, de Tonito e de todos eles... Durante anos não percebi o efeito disso na minha vida, porque estava envolvida com mil projetos, mil coisas... Hoje começo a viver a volta... Aquela Sala dos Professores era uma coisa absurda, porque eles sabiam tudo.

A FAFIMA acontece num período auge. Tinha que acontecer alguma coisa, os anos 1960 acabaram de maneira muito sombria e triste no nosso país... Os anos 1970 anunciavam um país novo, embora com militares no poder e as mordaças todas claramente... O primeiro diretor é um militar, que já tinha sido diretor do Luiz Reid... Quando chego professora ao Luiz Reid, ainda era um ambiente pesado, muito sério, mas a gente não se dava conta, a juventude tem disso, não percebe que está tudo cercado. Esse diretor militar implicava até com os esmaltes nas unhas... Nesse momento, professores como Ana Maria Pinto e � ereza Pereira da Silva Marques, entre outros, promovem a diferença... Os alunos se unem nos grêmios, concursos de música, de poesia... Alguns desses profi ssionais são chamados ao Forte Marechal Hermes para depor em 1966/1967/1968. Eu nunca fui ao Forte, mas Th ereza foi chamada, porque na hora dos festivais, se os alunos fi zessem qualquer referência “suspeita”, o Forte chamava para explicar... Nesse período não podíamos trabalhar alguns textos em sala de aula... Algumas letras do Chico Buarque às vezes davam confusão...Você não podia analisar Construção, porque tinha sempre alguém para dizer: - Olha, cuidado com essa interpretação... O próprio Exame de Admissão foi perdendo a graça, porque era tanta repressão, o texto tem que ser assim, tem que ser assado, que Dalva, que coordenava, fi cava tensa, muito preocupada. O Brasil inteiro precisava, naquele período, furar esse bloqueio, essa parede que estava construída... Claudio Moacyr, que era deputado e já havia sido prefeito, líder estudantil, líder político, fez muitas defesas de presos no período crítico... Comandou a ideia de fundar a faculdade e levou um grupo para Brasília: Doutor Carlos Augusto Ramos Filho, que era diretor do Luiz Reid e primeiro diretor da FAFIMA... Vanda de Assis Brauer, professora de Português... Seu Samuel Brust, pastor, recém chegado a Macaé, tem um papel importante nessa hora, assim como Seu Dácio Tavares Lôbo, que vem a ser o secretário da FAFIMA.

No início da década de 1970, a Usina de Carapebus é vendida, o programa da cana-de-açúcar passava por reavaliação, havia necessidade de modernização, alterações na legislação trabalhista, sendo difícil a situação dos pequenos e médios empreendedores dessa cultura. Passei a residir em Macaé, casada com Paulo Roberto Barcelos da Rocha, fi lho do gerente da fábrica de

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mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Escola Técnica [Unidade de Ensino Descentralizada de Macaé, ligada ao CEFET-Campos, inaugurada em 29/07/1993, hoje Insti tuto Federal Fluminense - IFF]

escola técnica [Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos - CEFET]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, no bairro Visconde de Araújo, fundado em 27/07/1963, no Solar de Monte Elízio, prédio histórico do século XIX que pertenceu aos viscondes de Araújo]

mais velho [João Paulo Vasconcelos da Rocha]

AIDS [Acquired Immune Defi ciency Syndrome ou Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida (SIDA), é uma doença do sistema imunológicohumano causada pelo vírus da imunodefi ciência humana (HIV). Esta condição reduz progressivamente a efi cácia do sistema imunológico e deixa as pessoas susce� veis a infecções oportunistas e tumores]

Lucas Vieira [Macaense, músico, compositor, autor da música do Hino de Macaé]

Starship [Evento dançante, no esti lo discoteca, que funcionou a parti r de 1978 no Tênis Clube de Macaé, organizado pelo empresário-produtor Paulo Moraes]

Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Avenida Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

Lyra [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com idéias abolicionistas e republicanas]

Edmundo [Caetano da Silva, macaense, farmacêuti co, empresário, benemérito, presidente da Sociedade Musical Nova Aurora, em 1957]

Chaplin’s [Bar, conceituada casa de shows na Rua Silva Jardim, inaugurada na década de 1980 e fechada em 2000]

Samuel [Bi� encourt Marques, macaense, empresário]

prefeito Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]

Vânia A� ye Mussi [Campista, professora]

Zé Domingues [José Domingues de Araújo Filho, macaense, professor de História, diretor do Colégio Estadual Luiz Reid, técnico de Basquetebol, descendente de famílias aristocratas, trineto do Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro]

vendida [Para o Grupo Othon em 1972]

Paulo Roberto Barcelos da Rocha [Macaense de Carapebus, fazendeiro]

gerente da fábrica [Nirtes da Rocha Sobrinho, macaense de Carapebus]

fi lho mais velho [João Paulo Vasconcelos da Rocha, macaense]

Cine Clube [de Macaé, na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado à realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]

Elza Ibrahim [Trajanense, graduada em Letras Clássicas, especializada em Lingüísti ca, professora, poeti sa, escritora]

Tênis Clube [de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

Marilena Pereira Garcia [Niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]

Tânia Maria Jardim Mussi [Casimirense, professora, licenciada em Letras, advogada, políti ca,Primeira Dama de Macaé nos dois mandatos de seu esposo o Prefeito Dr. Carlos Emir Mussi; deputada estadual]

FUNEMAC [Fundação Educacional de Macaé, criada Lei Municipal n°.1369, em 17/11/1992]

Iza Correia [Macaense, professora]

O Rebate [Fundado em 16/04/1932, por Antonio Duarte Gomes, foi empastelado no dia 18/10/1933, reaparecendo mais tarde sob a direção de Luís Carlos Franco; esteve sob comando de Jorge Costa e atualmente pertence a José Milbs de Lacerda Gama]

UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro, também denominada Universidade do Brasil, é a maior universidadefederal do país e consti tui-se em um dos centros brasileiros de excelência no ensino e na pesquisa. Criada em 07/09/1920, através do Decreto 14.343, pelo então Presidente Epitácio Pessoa, a insti tuição recebeu o nome de Universidade do Rio de Janeiro]

Luiz Renato [Carneiro da Silva Caldas, médico, professor, cientista especialista em Biofí sica, membro da Academia Brasileira de Medicina,descendente de famílias aristocratas do Império Brasileiro]

segundo fi lho [Paulo Gustavo Vasconcelos da Rocha, macaense, bacharel em Informáti ca]

a fi lha [Ana Amélia Vasconcelos da Rocha, macaense]

mestrado [Resultando na dissertação: A variante portuguesa de Angola e a variante portuguesa do Brasil: Alguns fenômenos lingüísti cos comuns lá e cá, defendida em 19/11/1991, na Universidade Federal Fluminense- UFF]

MAI [Movimento Assistencial e de Integração, criado no início da década de 1980 por um grupo de mulheres, realizou cinco Feiras de Integração, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras, foram construídas sete creches, em terrenos e com

açúcar, que se aposentara. Meu pai, administrador das fazendas e meu sogro da fábrica, a usina vendida e nada a fazer em Carapebus... Estava no sossego do lar, cuidando do fi lho mais velho, recém nascido, quando bate à porta Seu Samuel Brust, fi gura carismática e com quem me identifi quei desde sempre, para a visita de praxe. Fui convidada por ele a fazer parte do grupo fundador da FAFIMA. Claro que em casa acharam pesada a tarefa, mas lá fui eu. O vestibular foi no Cine Clube porque não havia outro espaço em Macaé que comportasse setecentos candidatos... Participei corrigindo as provas com Seu Dácio Tavares Lobo, Elza Ibrahim, que acabara de fi xar residência em Macaé, vindo de Friburgo, Vanda Brauer, professora de Português e Doutor Carlos Augusto Ramos Filho. Onde vai funcionar a faculdade? No Tênis Clube, com o curso de Pedagogia, na parte superior, e o de Letras, na inferior, a boate. Imaginem vocês as primeiras turmas da Faculdade com pessoas sedentas, a vida inteira loucas para estudar... Porque não era fazer uma faculdade para sair de casa, era o sonho. Essas duas turmas promoveram encontros, cursos de extensão, traziam pessoas ilustres para palestras e tudo era obrigatoriamente regulado: Fulano não pode!... Depois a gente fi cou sabendo que não podia, quem estava ligado a tal partido... Na Pedagogia desponta, entre outros, Marilena Pereira Garcia e no curso de Letras, Tânia Maria Jardim Mussi. As primeiras turmas da FAFIMA contemplam os polos que ainda atuam no cenário da educação de Macaé, quarenta anos depois. Seguindo os naturais rumos da política, como lideranças natas, Tânia foi deputada estadual, primeira dama do Município duas vezes; Marilena, primeira mulher vereadora da Câmara de Macaé, vice-prefeita, secretária de Educação e presidente da FUNEMAC.

Na primeira turma de Letras, com mais de cem alunos, havia os que não estudavam há alguns anos... Alunos bem mais velhos, interessadíssimos, outros muito jovens... Evidente seria a diferença dos resultados, menos esperada a repressão com relação às notas... Disseram-me que se fosse no Exército não se poderia admitir tanta nota baixa porque lá, a responsabilidade seria do professor...Tentei ponderar, mas me faltou persuasão e não aceitei a intromissão, pedi demissão. Saí da FAFIMA e acabei recebendo uma das homenagens mais bonitas da minha vida... Macaé no silêncio daquela noite erma e uma centena de alunos cantando na rua para que eu voltasse... A brilhante aluna Iza Correia encabeçava o manifesto, publicando um texto no jornal O Rebate. Não voltei, mas Doutor Carlos Augusto Ramos Filho saiu, ou melhor, como se dizia, caiu... Retornei quando o professor José Carlos da Cunha assumiu a direção, pessoa extremamente voltada à causa da Educação, tendo sido vice-diretora. A Faculdade, ambiente dialético, formador de opiniões distintas e mentes instigantes, apresentava mentalidades muito interessantes... Imaginem Tânia Jardim e Marilena Garcia, em desacordo o tempo todo, disputando quem seria melhor presidente do Centro Acadêmico... (Risos!)

A solenidade de formatura, no Tênis Clube de Macaé, foi inesquecível, inédita, em 1978! A presença das autoridades estaduais, regionais, do reitor da UFRJ, que era um macaense, Doutor Luiz Renato... A vida é incrível! Deixei a FAFIMA quando essa primeira turma se formou, meu segundo fi lho nasceu e não mais voltei porque depois veio a fi lha e comecei a fazer o mestrado. Tenho muito orgulho de tudo isso e o maior carinho do mundo por todas essas pessoas.

A criação do MAI é outra história. Os anos 1970 eram ansiados e próprios para a realização dos jovens da minha geração. Havia esboço de saída de um período político muito crítico e acreditávamos que seríamos os

condutores da história... A chegada da Petrobras ninguém imaginava... Quase quarenta anos depois, a gente ainda não entendeu, imaginem na época! Os que fi nanceiramente podiam arcar com as despesas, saíram para estudar, alguns retornaram a Macaé, outros não, são grandes e já estão se aposentando... Quando a Petrobras chegou estávamos todos desconfi adíssimos, nenhum macaense trabalhava na empresa... As lideranças estavam muito enfraquecidas, o poder político, dividido. Nos anos de 1980, Marilena Garcia, vereadora, começou a luta pelos royalties do petróleo e por uma Escola Técnica, pois, nessa época, os jovens iam em massa para Campos, estudar na escola técnica e tentar um lugar no mundo com a especialização. O Colégio Estadual Luiz Reid oferecia cursos com pouca parte prática, além dos tradicionais Normal e Contabilidade. A Faculdade formava professores de Português-Inglês e pedagogos, mas para que mercado? Costumo dizer que a sensação que tenho do macaense no fi nal dos anos 1970 é que ele teve que recuar, porque não tinha estrutura e dinheiro para encarar os que chegavam... A Rua Direita, nossa Avenida Rui Barbosa, inteira recuou, o macaense foi morar mais longe e perdeu a auto-estima... Eu já dava aula no Castelo, as escolas estaduais começam sua decadência, problemas de toda sorte... Eu, professora dedicada e meus fi lhos sem estímulo, sem aulas. Então, levo o meu mais velho para o Castelo, na oitava série, e vou ser professora de colégio particular. Vejo outra realidade que poucos em Macaé entendiam... Meninos que não falavam Português. Um vinha da Escócia, outro da Inglaterra, um da Patagônia falava espanhol, queridíssimo... Tenho muita vontade de saber do destino deles. Começam os laços quando um grupo de mulheres cria o MAI, Movimento Assistencial e de Integração, organizando a Feira de Integração, na Praça Washington Luiz, onde elas apresentavam seus estados ou países, numa proposta de inclusão... Aquilo tem um valor incrível e da arrecadação construíram-se creches.

No início dos anos1980 era uma Macaé e um Brasil muito esquisitos, tanto que a gente considerava a “década perdida”... Só morte! A AIDS era a grande ameaça... A perda dos meninos da cidade, nossos artistas da época... Todo mês uma novidade e as mortes foram seguidas. Os professores já não queriam ser professores, desistiam da carreira porque o valor era nenhum... Nos anos 1970, nós tivemos aumento substancial de salário, última etapa de valorização dos professores, depois, a decadência. Nessa época, Lucas Vieira, o maestro, que eu só conhecia de nome, que estava no Rio de Janeiro desde os anos 1950, volta derrotado para Macaé, porque o mundo não era o que ele achava que seria. Não havia música instrumental, ninguém tocava mais em lugar nenhum, acabou... Era só play, por isso o Starship foi o maior sucesso... Não apareciam alternativas... A Nova Aurora e a Lyra sobreviveram numa coisa de abnegação absoluta daqueles mais velhos, como Seu Edmundo... O que Lucas vai fazer em Macaé, se não havia lugar para tocar? Nem o Chaplin’s, que Samuel inaugura logo depois. Lucas passou até certa difi culdade fi nanceira e o prefeito Alcides Ramos lhe dá um contrato de professor no Colégio Estadual Luiz Reid... Então fomos colegas e começamos a fazer um grupo coral, a professora Vânia Attye Mussi, eu, selecionando as letras, e ele, as músicas. Um dia Zé Domingues, sempre muito dedicado à questão da ordem pública, estava preocupado com o hino, uma coisa importantíssima para ele e que nosso colégio não tinha. Nenhum de nós pensava mais nisto, os hinos já estavam parecendo todos mentirosos, mas Lucas me convenceu, propôs parceria e fi z a letra do Hino do Colégio Estadual Luiz Reid, para satisfação de Zé Domingues que nos deu prêmio e diploma! Durante muitos anos, ninguém cantou, ninguém tomou conhecimento, mas agora com a minha

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Cazuza [Agenor de Miranda Araújo Neto, carioca, cantor, compositor, poeta e escritor. Ganhou fama como vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho. Em 1989 declarou ser soropositi vo e sucumbiu à doença em 1990]

Laura Padilha [Fluminense, professora de Literatura Portuguesa]

Angola [República de Angola, um país da costa ocidental da África, segundo maior produtor de petróleo e exportador de diamantes da África Subsariana. A capital e maior cidade de Angola é Luanda e sua economia tem vindo a crescer fortemente, mas o índice de corrupção é um dos mais altos do mundo, e seu Desenvolvimento Humano é muito baixo]

professor Alvacyr [Pedrinha, carioca, professor de Esti lísti ca]

Aldo Mussi [Teixeira, macaense, Bacharel em Artes Cênicas, Secretário Municipal de Cultura e Turismo, Presidente da Fundação Macaé de Cultura, insti tuiu o Centro de Memória Antonio Alvarez Parada]

Zé Domingues [José Domingues de Araújo Filho]

Centro de Macaé de Cultura [Na Avenida Rui Barbosa, 780, inaugurado em 04/09/1992, abrigando o Teatro Municipal, o Centro de Memória Antonio Alvarez Parada, a Galeria de Arte Hindemburgo Olive e o Ateliê Seth].

Cidade Universitária [Complexo educacional que ocupa uma área de 95 mil metros quadrados, com quatro prédios, salas de aula, além de estacionamento com 200 vagas, e três faculdades gratuitas: UFF, UFRJ e FeMASS, esta últi ma a única faculdade municipal gratuita do país. Ao todo, o complexo terá sete blocos, seis para laboratórios e salas de aula]

Tonito [Antonio Alvarez Parada]

Fluminense [Football Club, uma agremiação polidesporti va e cultural sediada na cidade do Rio de Janeiro, fundada a 21/07/1902. É uma sociedade civil de caráter desporti vo que tem, como principal, mas não única, ati vidade, o futebol]

festas de São Pedro [Padroeiro dos pescadores, em 29 de junho]

Deti nha [Maria Bernade� e Almeida Castro Alvarez, soteropolitana, membro de famílias tradicionais da Bahia]

jornal [O DEBATE, periódicomacaense diário, fundado em 01/05/1976, pelo jornalista Oscar Pires]

Paulo Roberto Costa [Paranaense, engenheiro formado pela Universidade Federal do Paraná, também foi diretor de Abastecimento da Petrobras]

Vilcson [Ma� eus dos Santos Gavinho, carioca de família macaense, Bacharel em Museologia, pesquisador, fundador do Centro de Memória Antonio Alvarez Parada, do Insti tuto Histórico e Geográfi co de Macaé, depositário da Collecção D. Rosa Joaquina, parti cipou de muitos projetos sobre a história regional]

Nelson [Mussi Rocha, macaense, professor de Química, jornalista, exerceu importantes cargos administrati vos na Prefeitura de Macaé, escreveu a apresentação da obra Histórias Curtas e Anti gas de Macaé]

Naciff [Salim Selem, macaense de Carapebus, políti co, vereador, vice-prefeito]

prefeito interino [Nos anos de 1982-3]

Prefeito de Macaé [João Alves Pedro Sobrinho, campista, fazendeiro em Carapebus, subdelegado, políti co, vereador, prefeito nomeado pelo Interventor Federal em 1947]

emancipou [Pela Lei Estadual n° 2.417, de 19/07/1995]

primeiro prefeito [Eduardo Nunes Cordeiro, macaense de Carapebus, advogado, que tomou posse em 01/01/1997]

Fundão [Ilha na Zona Norte do Rio de Janeiro que abriga a Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro]

Valdir de Souza de Sá Freire [Macaense de Carapebus, negro, assassinado a pauladas, fundador e presidente da Associação de Desenvolvimento Agrícola e Social de Carapebus]

feriado [Dia de São Sebasti ão, padroeiro da cidade]

Anete [Nunes Esteves, macaense, professora, diretora do Colégio Estadual Thomaz Gomes, presidente da Associação dos Artesões de Carapebus, implantou a Pestalose de Carapebus]

padroeira [Nossa Senhora da Glória, festejada em 15 de agosto]

Jurubati ba [Parque Nacional da Resti nga da Jurubati ba (ou PARNA de Jurubati ba) é o primeiro parque nacional no Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema de resti nga, o menos representado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. A maioria dos pesquisadores concorda que é a área de resti nga mais bem preservada do país e está prati camente intacta]

Francisco de Assis Esteves [Professor da UFRJ-Macaé, diretor do Núcleo em Pesquisa e Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental-NUPEM]

prefeito, hoje [Amaro Fernandes dos Santos, macaense de Carapebus, comerciante, políti co fi liado ao Parti do Republicano Brasileiro]

Maria Amélia [Borges Guedes, mineira, formada em Letras pela FAFIMA, professora, esporti sta, integrou a Seleção Fluminense de Basquete]

Maria Luiza [de Souza Santos Moreira, macaense, professora, membro de tradicional família luso-brasileira, descendente do Visconde de Araújo]

Mônica [Maria Carneiro da Silva Garcias, campista, professora, membro de tradicionais famílias do Império Brasileiro, descendente do Duque de Caxias]

Dona Laurita [de Souza Santos Moreira, macaense, fi lha do Cel. Sizenando Fernandes de Souza, Prefeito de Macaé, poeti sa, trovadora, cronista, fundadora do Insti tuto Histórico e Geográfi co de Macaé e do Grupo Coro de Cigarras]

Peron [Ely Peron Frongilo, carangolense, arti sta plásti co, carnavalesco, decorador]

Coordenadoria Extraordinária Macaé 200 Anos [Criada pela Lei 3314/2009 e insti tuída pelo prefeito Riverton Mussi Ramos para planejar as comemorações do bicentenário de Macaé]

UFF [Universidade Federal Fluminense]

Niterói [Cidade fl uminense]

velhice e com a aposentadoria, naquilo que a cada dia mais se parece uma retomada, tem surgido interesse pelo hino.

O comércio de Macaé é fruto de Carapebus desde o século XIX... Graças a Deus! Em 1980, os carapebuenses já pensavam em plebiscito, embora numa situação economicamente pobre, com cerca de oito mil habitantes e pequena representação política. A expressão era Naciff , prefeito interino de Macaé, e outros cinco ou seis vereadores, fazendeiros, que tiveram algum poder aquisitivo, até para se candidatarem. Agora um parêntese. Fui muito criticada, nessa época, porque “abandonei” a minha terra... Há pouco tempo, uma ex-aluna, das maiores amigas, me falou: - Claudia Marcia, você tem que fazer um ato de penitência com Carapebus porque te acusam de abandono, por não ter mais colaborado ou comparecido a nada. Bom, vou respirar fundo e tentar pontuar isso... Eu não deixei Carapebus... Separei-me do marido de Carapebus e faço um corte na minha vida pessoal em relação à própria história que construíra... Não sou mais uma mulher de posses, com um marido neto de um Prefeito de Macaé... Então, saí de cena porque não queria conviver com uma parte da minha vida que já não me fazia bem. Fui para o Rio de Janeiro, carregando os três fi lhos nas costas, numa situação meio dramática, mas necessária para minha própria sobrevivência... Não vou poder explicar isso à população carapebuense e nem interessa mais a ninguém, porque nessa altura já mudou tudo. Não participei ativamente de nada, mas sei das pessoas que se aproveitaram do momento e que só fi zeram lambanças. Foi um período muito mal conduzido e o resultado é péssimo, não existiu. Carapebus se emancipou, está conseguindo respirar por conta dos poucos royalties que recebe, mas efetivamente não aconteceu nada. O primeiro prefeito era um garoto que tinha saído de lá, aos dez anos de idade... Um rapaz que volta da cidade e que olha aquilo tudo meio assim...

A primeira Prefeitura de Carapebus chamou o Fundão porque um líder comunitário, Valdir de Souza de Sá Freire, que era muito ligado a mim, tinha sido meu aluno, teve a iniciativa... Eu já estava professora da UFRJ, no Fundão, e venho com três professores de áreas diferentes, Química, Física e Matemática, para um encontro com o Prefeito, no dia 20 de janeiro de 1997, que é feriado no Rio de Janeiro. A primeira Secretária de Educação teve a maior boa vontade, já morreu, inclusive, Anete, mas não foram adiante as propostas esboçadas. São quase vinte anos e as coisas não acontecem... Tem uma belíssima igreja e a festa da padroeira... A praia melhorou... Jurubatiba contempla Carapebus, então aquela parte da lagoa está preservada por causa do efi ciente trabalho de Francisco de Assis Esteves. O prefeito, hoje, é um menino da terra, criado ali, uma liderança, acho que foi vereador, depois prefeito...

Tudo na vida é impulsionado por algo muito maior do que aquilo que, até então, você imaginava que podia ser... Desde que terminei a graduação, vinha querendo o Mestrado. Em 1984, começo a preparar isso e é muito saudável porque vou ter aulas de Inglês com Maria Amélia; de Francês com Maria Luiza e de Espanhol com Mônica... Sempre fui péssima em língua estrangeira... Começo a frequentar essas casas, saindo um pouco daquele meu mundinho, pois nunca frequentei, de fato, a sociedade... Frequentar essas casas, como a de Maria Luiza, era um barato, muito por causa de Dona Laurita, que recebia os alunos da fi lha com bolos, biscoitos, chás, geléias... Nessa casa, estreitei a amizade com Peron, que também era aluno de Francês. Então, olha como a vida vai abrindo outras direções. Atualmente, desenvolvo atividades na Coordenadoria Extraordinária Macaé 200 Anos, da qual ele é coordenador. Em 1985, participo do processo de seleção

ao Mestrado, da UFF e no ano seguinte começo a estudar duas vezes por semana em Niterói. Descobri quase no fi nal do curso a importância da obra de Cazuza... Atuava no Colégio Estadual Luiz Reid, no ensino médio, e queria muito analisar suas letras para orientar os meninos. Em 1988, minha dissertação estava acertada, tinha escolhido a estilística, quando conheci a professora Laura Padilha, na UFF, recém chegada de Angola, em visita à sala onde eu estava assistindo à aula. Tinha conseguido ir, quando era impossível entrar no país e achamos admirável a coragem dela. O professor Alvacyr fi cou muito infl uenciado e começou a conversar com a gente sobre a questão do Português de Angola ser muito mais próximo do Brasil do que de Portugal, que tinha acabado de sair de lá... A Independência de Angola foi em 1975. Tudo aquilo fi cou remoendo na minha cabeça, depois encontrei a professora, continuei interessada, achando mesmo fenomenal. Curiosamente, em Macaé, chegaram muitos angolanos por causa da Petrobras, e no colégio Castelo havia alunos angolanos e eu gostava de ouvir aquele Português deles. Acabei com a ideia da dissertação sobre Cazuza, esqueci tudo, assustei amigos, família... Mudei o rumo de minha vida! Como uma mulher do Estado do Rio de Janeiro, mãe de três fi lhos, casada, professora, resolve sair para o mundo? Realmente fi quei doida. (Risos!) Não tem jeito, nessa hora você é sozinho com Deus, não há como dividir essa coisa do sonho. Tive o apoio da Prefeitura Municipal de Macaé porque Aldo Mussi, um querido ex-aluno, era Secretário de Cultura, em 1990. A Prefeitura me deu mil e quinhentos dólares para hospedagem e o Ministério da Educação, a passagem. Zé Domingues é o diretor do Colégio Estadual Luiz Reid, me dá a licença, permite tudo, e diz: - Vai com Deus e não olha para trás. Viajei em março de 1990.

Não entendi Macaé nos anos 1990, tive uma difi culdade enorme, quase adoeci, tive raiva e achava tudo muito modifi cado... Isso hoje está muito mais claro e vejo que o processo é fruto daquele momento e tenho absoluta certeza de que não há culpados, nem responsáveis diretos por tamanhas alterações. Ninguém, nenhum técnico, empreiteiro, autoridade ou pessoa comum poderia avaliar o processo, saber no que ia dar a procura e extração do petróleo, muitas tentativas, erros, acertos... Não havia parâmetro, modelo, referências. Morando no Rio de Janeiro, vinha dar cursos na Petrobras e visitar meus pais... Estive na inauguração do Centro de Macaé de Cultura. Hoje, por pior que achem que Macaé esteja ou já esteve, a gente sente a diferença... Nos últimos tempos, Macaé vem mudando e a implantação da Cidade Universitária dá claramente a visão disso... A gente sabe que é difícil, vai demorar muito, mas há um caminho.

Tonito era um homem diferente, um cronista nato, então, tudo era uma história... Eu queria muito ser cronista em algum momento da minha vida, transformar tudo em história... O jogo do Fluminense no dia seguinte, se ganhou, se perdeu, tinha uma história... Tirar a camisa e colocar só o jaleco sobre a pele porque o calor era medonho, tinha uma história... Ele era o cronista... As festas de São Pedro, o casamento com Detinha, tudo é romanceado e ele precisa disso o tempo todo na vida. Não pertenceu a partido político, não se candidatou e levou muitas pancadas por isso. E vai Seu Tonito escrever as crônicas no jornal... Na semana seguinte, quatro, cinco, seis... treze, quatorze, quinze... duzentas, trezentas, quinhentas... Todo sábado até a milésima. Detinha fi cou viúva, queria publicar esta obra dele e não conseguia... O superintendente da Petrobras, Paulo Roberto Costa, casado com uma macaense, interessou-se em editar as crônicas, formando o grupo de trabalho: eu,Vilcson e Nelson. Assim, consegue-se editar as Histórias Curtas e Antigas de Macaé. Tenho um orgulho

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Histórias Curtas e Anti gas de Macaé [Impressa na Artes Gráfi cas Editora, no ano de 1995, em dois volumes]

Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé]

FUNEMAC [Fundação Educacional de Macaé, criada Lei Municipal n°.1369, em 17/11/1992]

Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

professor Zé Augusto [José Augusto Abreu Aguiar, campista, de tradicional família da região serrana macaense, educador, licenciado em História, que já foi Secretário M. de Educação, Presidente da Fundação Educacional de Macaé-FUNEMAC e coordenador do Insti tuto Nossa Senhora da Glória-Castelo]

Nagib [Mussi Rocha Filho, Binho, macaense, professor de Educação Física]

Sandra Terra [Sandra Feitosa Pinto, macaense, poeti sa, escritora, produtora cultural, funcionária pública]

Polivalente [Escola Estadual Municipalizada Polivalente Anísio Teixeira, na Rua Jesus Soares Pereira, bairro Costa do Sol]

Carlos José Ma� os de Andrade [Macaense, Bacharel em Relações Públicas, licenciado em Filosofi a e Letras, funcionário da Prefeitura de Macaé, vice-presidente da FUNEMAC]

CAP [Colégio de Aplicação, criado por meio da Lei Nº 3399/2010, manti do pela Fundação Educacional de Macaé, está ligado a Secretaria Municipal de Educação]

Schlumberger [Empresa de origem francesa, com fi lial em Macaé, sediada na cidade norte americana de Houston, que se dedica à prestação de serviços no campo petrolífero, fornecendo tecnologia, gestão de projetos integrados e soluções de informação para os clientes na indústria de petróleo e gás]

Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

governo autoritário [Período da história políti ca brasileira que contou ao todo com cinco presidentes e uma junta governati va, todos militares, estendendo-se do ano de 1964 até 1985]

livro das mulheres [Macaé, Nossas Mulheres, Nossa Histórias, organizado por Larissa Frossard e Vilcson Gavinho, iniciati va da Coordenadoria dos Direitos da Mulher e da Secretaria Municipal de Acervo e Patrimônio Histórico, publicado pela Editora Macaé Off shore, em 2006]

Larissa [Frossard Rangel Cruz, macaense, professora, Doutora em Educação pela PUC-RJ, autora do verbete sobre a entrevistada]

muito grande por ter colaborado na preservação desse documento. E é para sempre. Tonito para sempre!

Em 1988, Sylvio Lopes se elegeu prefeito e pensou no ensino universitário além da FAFIMA... Universidade pública, gratuita. Em 1992, foi realizado convênio com a Universidade Federal Fluminense e a criação da FUNEMAC. Em janeiro de 1993, o novo prefeito, Doutor Carlos Emir assumiu o mandato, de certo modo, conturbado em muitos aspectos. A implantação da FUNEMAC não tem um efetivo apoio da esfera municipal. Os candidatos do primeiro vestibular são, na maioria, cidadãos de outras regiões, funcionários da Petrobras, engenheiros que trabalhavam na área administrativa. Os dois cursos, Ciências Contábeis e Administração, trouxeram professores de Niterói, remunerados com bolsas pela Prefeitura Municipal de Macaé. Carlos Emir, que não apoiava o convênio, nos moldes em que foi acertado, tinha receio das viagens, e falava: - Claudia Marcia, se um desses professores sofre qualquer tipo de acidente, não se sabe nem os horários das viagens, como fi ca a Prefeitura diante da Universidade? Foram muitas preocupações e dúvidas, ele não estava errado, mas não pode desfazer o que a autoridade que o precedeu acordara. O professor Zé Augusto foi o primeiro presidente da FUNEMAC, um pequeno braço da Secretaria Municipal de Educação. A FUNEMAC funcionava no prédio do Centro Macaé de Cultura, uma salinha exígua, onde fi cávamos eu, Zé Augusto, Nagib, Vânia Attye Mussi, Vilcson Gavinho e Sandra Terra. Aconteceu o primeiro vestibular, muito prestigiado, e os cursos foram instalados na Polivalente, à noite, com carteirinhas para crianças de doze, treze anos... Aqueles homens, sentadinhos estudando... (Risos!) A partir de 1994, a equipe reduziu: apenas três funcionários. Eu, Nagib Mussi e Carlos José Mattos de Andrade, nosso Casé, que tem grande mérito nessa hora. Éramos sonhadores! A chegada dos cursos universitários dá a garantia de que é possível fazer a mudança... Ninguém acreditava... Tudo isso é um processo muito novo, lento, demorado, e vejo que agora existe a possibilidade de estudar, que existe um curso preparatório, o CAP, e que não tem mais aquela insegurança absoluta de ir para o Rio de Janeiro, às quatro horas da manhã, no ônibus... Morar como? Comer o quê? A que horas voltar para casa?

Na última entrevista que o Doutor Carlos Emir Mussi deu, em outubro de 2009, ele diz que o macaense vem entendendo a duras penas que a coisa está nele, a resposta é nele, não na Prefeitura, na Petrobras, na Schlumberger... A partir de todas as difi culdades passadas, agora começamos a pensar que temos de enfrentar isso e não fi car culpando os “estrangeiros” por coisas como a perda da Imbetiba... Quem aguenta essa conversa?! Isso já passou e ninguém pode esquecer que era um governo autoritário e a Petrobras se instalou pela força do governo federal... É isto que a cada dia temos que dizer às pessoas... Essa crítica se constrói na medida em que vamos entendendo o processo, por isso não há culpados, tenho absoluta certeza.

Por conta do livro das mulheres respondi para Larissa, que foi minha aluna, que Claudia Marcia é uma professora, e só. Ela tem uma história linda, reconheço, gosto da minha história... Nunca quis ser outra coisa, além de professora. Estou na minha profi ssão, na missão que escolhi. Agradeço por lembrarem de mim, por reconhecerem que tem graça nessa história e digo que vocês fazem parte de tudo isso, como eu faço parte da História de Macaé, porque a gente aconteceu aqui e prefere fi car por aqui mesmo, acontecendo. Muito obrigada!▪

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1 Mudança da UFF da Escola Polivalente para a Escola Ancyra Pimentel, com o Prefeito Carlos Emir Mussi - FUNEMAC - 1996.

2 Profa. Claudia Marcia e Profa. Elza Ibrahim - FAFIMA - 2002.

3 Profa. Claudia Marcia, Representante do Corpo Consular de Angola e Carlos José Ma� os de Andrade (Casé) - FUNEMAC - 1996.

Acervo parti cular de Claudia Marcia Vasconcelos da Rocha, Macaé - RJ.

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Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, termo de Macaé (RJ), depois quarto distrito, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989]avó materna [Maria Chagas de Souza, macaense de Quissamã, proprietária de uma pensão na Freguesia]dois fi lhos [Nina Wya� da Silva Santos, macaense, fonoaudióloga e Ian Wya� da Silva Santos, macaense, arquiteto]duas netas [Bel e Antonia]fi lha [Lia Sarno da Silva Santos, carioca, produtora cultural, formada em Cinema] Le� cia Peçanha [de Aguiar, campista, professora de Língua Portuguesa, Lati m e Religião]São José [Centro Educacional São José na Praça Veríssimo de Mello]Colégio Estadual Mathias Nett o [Na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]Anna Benedicta [da Silva Santos, carioca, professora, matriarca de uma tradicional prole de educadores]Mathias Nett o [Quando denominado Grupo Escolar Visconde de Quissaman]esco� smo [Movimento juvenil mundial, educacional, voluntariado, aparti dário e sem fi ns lucrati vos, fundado, em 1907, por Robert Stephenson Smyth Baden-Powell]Hino Nacional [Brasileiro é um dos quatro símbolos oficiais da República Federati va do Brasil, conforme estabelece o art. 13, § 1.º, da Consti tuição do Brasil. A letra de Joaquim Osório Duque Estrada foi escrita em 1909 e a música de Francisco Manuel da Silva em 1822]Bandeira do Brasil [Um dos quatro símbolos ofi ciais da República Federati va do Brasil, conforme estabelece o art. 13, § 1.º, da Consti tuição do Brasil, foi adotada em 19/11/1889, foi elaborada pelo professor Raimundo Teixeira Mendes com a colaboração do Dr. Miguel Lemos e do professor Manuel Pereira Reis, sendo desenhada por Décio Vilares]Colégio Cenecista Professor Antônio Caetano Dias [Na Rua Francisco Portela, atual Escola Municipal Maria Isabel Damasceno Simão]Jardim de Infância Anna Benedicta [Fundado em 04/05/1958]Eléa Tatagiba [de Azevedo, espírito-santense, educadora, patrona de uma escola municipalizada de educação infanti l no bairro Aroeira] professora Elza [de Oliveira, macaense]professora Le� y [Vieira Tavares, macaense, educadora, professora de Geografi a, benemérita, espírita kardecista, sendo fundadora da Mocidade Espírita e presidente do Centro Espírita Vicente de Paulo]professora Glórinha [Maria da Glória Fadul, macaense, professora]

Dona Hilda [Ramos Machado, macaense, mito do magistério]

Praia do Forte [Praia da Concha com extensão de 180 metros nas dependências do Forte Marechal Hermes] casa [Na Rua Doutor Julio Olivier]Mercado [Municipal, inaugurado em 15/12/1914 pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o]meu pai [Miguel Ângelo da Silva Santos, angrense, gráfi co, educador, professor, patrono da Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS), na Cidade Universitária, comunista, preso na ocasião do golpe militar] Forte [Marechal Hermes, 1.0/10.0 GACosM, na Praia da Concha, Imbeti ba, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República] Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro] Rio Macaé [Que nasce a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]Pontal [Faixa de arreia na foz do Rio Macaé]Pororoca [Lugar onde o Rio Macaé encontra o Oceano Atlânti co] Mãe [Antônia de Souza da Silva Santos, Dona Dêga, macaense de Quissamã]Rua da Praia [Primeiro nome da atual Avenida Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]Ivahyr Nogueira Itagiba [Mineiro, advogado, professor, políti co, prefeito de Macaé em dois mandatos]Seu Manduquinha [João Mendes Vieira, macaense, músico, carpinteiro, fabricava móveis e arti gos funerários]regional [Conjunto musical cujas músicas e composições traduzem os costumes de uma região, uti lizando instrumentos � picos]Padaria Reis [Na Rua Conde de Araruama, 124, telefone 319]Lucas Vieira [Macaense, músico, compositor, pianista]Hino de Macaé [Composição com letra de Antonio Alvarez Parada e música de Lucas Vieira, foi composto em 1963, como Hino do Sesquicentenário, sendo mais tarde alterado um de seus versos, passando a ser o hino ofi cial do Município de Macaé]� a Le� cia [Maria Le� cia Santos Carvalho, petropolitana, membro de uma tradicional família de educadores, benemérita, compositora, autora de hinos, professora]� a Benilda [da Silva Santos, petropolitana, professora, maestrina, compositora]Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, historiador, escritor]Gardel [Luiz da Silva Santos, macaense, comerciário]Cláudio [Augusto da Silva Santos, nosso entrevistado, macaense, nascido em 13/11/1946, arquiteto, funcionário público]Clinton [Aristóteles Clinton da Silva Santos, macaense, empresário]Miguel [Ângelo da Silva Santos Filho, macaense, gráfi co]

“Macaé é minha grande paixão, verdadeiramente.”Cláudio Augusto da Silva Santos

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 08/11/2012.

A Praia do Forte era uma espécie de quintal de casa, fui criado naquela região... Mercado... É tudo muito marcante, mas naquela praia eu aprendi a nadar, meu pai tinha um pequeno barco a remo e nós o levávamos de casa para a praia, nas costas, caminhando pelas pedras. O Forte em si era uma grande restinga e nós, meninos, adentrávamos para brincar, fazer armadilhas nos caminhos para tombar os soldados... Molecagens! (Risos!) Toda aquela região é fantástica para uma infância. Aquele morro do Forte, que agora está em construção, não tinha nada... A gente ia buscar palhas, que caiam das palmeiras na Praça Veríssimo de Mello, para descer escorregando na pedra. No Rio Macaé, atravessávamos nadando para o Pontal e pescávamos. Tem um peixe que é marcante na minha vida. Numa ocasião, eu estava pronto para ir ao Colégio Estadual Luiz Reid, já no curso ginasial, e sentei-me à mesa, com os meus pais, reclamando do cardápio... Acho que era bife de fígado... Então, meu pai disse assim: - Se quiser comer outra coisa, você vai pescar. Imediatamente, fui ao barracão que nós tínhamos, peguei meu caniçinho, ainda de uniforme caqui com gravata preta, tirei a gravata, lógico... Fui até as pedras da Pororoca e peguei um robalete, que era abundante... Tinha época da sardinha! Robalo era muito abundante... Peguei o robalete, voltei, coloquei na mesa e falei: - Mãe, frita pra mim. Então, esse robalo foi inesquecível. Na época que a sardinha entrava no Rio Macaé, não conseguíamos lugar no cais, as pessoas fi cavam lado a lado umas das outras, pescando sardinha, uma atrás da outra... Era tão abundante que não precisava nem de isca, algumas pessoas não usavam anzol, eram agulhas viradas, transformadas em instrumento de pesca... Ali tinha muito, muito robalo e tinha os pescadores de robalo do cais da Avenida Presidente Sodré, que é a nossa Rua da Praia... Eram pessoas aposentadas, outros, em intervalo de almoço, iam lá... Tinha todo um ritual, porque essa pesca de robalos era feita com isca viva, cada pescador tinha sua lata com piabas vivas, então, tinha que pescar primeiro as piabas nos valões... Era o grande ritual dos pescadores. O projeto da urbanização da Rua da Praia é fruto da administração do Doutor Ivahyr Nogueira Itagiba... A pista perdeu algumas árvores signifi cativas... Ali, na altura da Rua Marechal Deodoro, tinha um pinheiro inclinado, que era um marco da cidade... Nas fotos turísticas da Rua da Praia, do paisagismo, da urbanização, esse pinheiro era focado como elemento fundamental, fi cava mais ou menos onde hoje existe uma planta exótica, um fícus enorme, num ponto de ônibus.

Os móveis da minha casa eram fabricados por Seu Manduquinha. Papai fazia contabilidade da fábrica e ele pagava em móveis. (Risos!) Seu Manduquinha tocava um cavaquinho bonito, tinha um regional... A ofi cina era nos fundos da Padaria Reis... Era pai de Lucas Vieira, autor do nosso belíssimo Hino de Macaé, que aprendeu piano com tia Letícia. Minha tia Benilda compôs o antigo Hino de Macaé... Eu sabia cantar um trecho dele “Macaé, Macaé, Macaé pelo Brasil trabalhar”. O hino de Lucas e Tonito, cada vez que ouço eu choro, é uma coisa lírica. Já o de tia

Benilda era um hino cívico. Meus pais faleceram e somos quatro irmãos homens: Gardel, Cláudio, Clinton e Miguel, conhecido como Nenego. A metade das nossas vidas, na infância, foi em Quissamã... Nas férias, a praia era um paraíso... Catar caju na restinga, andar a cavalo... Minha avó materna era doceira e fazia fi gadas, pessegadas, cajuadas... As formas tinham formato de galinha, de peixe. Meus irmãos casaram e tenho muitos sobrinhos. Tenho dois fi lhos aqui... Minha fi lha mais velha me deu duas netas... Tenho mais uma fi lha no Rio de Janeiro, do segundo casamento. Este é meu núcleo familiar mais próximo.

Fui alfabetizado fora da escola tradicional, fui um pouco precoce. Antes de adquirir a idade de sete anos mínimos para entrar num grupo escolar, eu já tinha certa facilidade... A professora Letícia Peçanha, que posteriormente fundou o São José, dava aulas particulares, depois fui aluno dela no curso ginasial, era professora de Latim... Dona Letícia me alfabetizou na casa dela e quando adquiri os sete anos fui matriculado no Colégio Estadual Mathias Netto, na segunda série porque já tinha uma formação. Minha avó Anna Benedicta havia sido diretora do Mathias Netto. Quando comecei nas primeiras séries, houve um grande incêndio no Mathias Netto e o colégio foi interditado, as aulas passaram a ser na quadra de basquete que ainda existe. Fizeram tapumes... Recordo-me daqueles quadros negros de pé... As turmas fi caram tendo aulas ali, até que fosse feita a recuperação da escola. Esse incêndio ocorreu no início da década de 1950 e foi provocado durante um grande evento de escotismo... Os escoteiros fi caram acampados nos porões do colégio e fi zeram uma fogueira que provocou o incêndio. Também me recordo, por exemplo, do hasteamento da bandeira... Na parte da manhã, as turmas se perfi lavam, a diretora descia solenemente a escadaria, cantávamos o Hino Nacional e hasteávamos a Bandeira do Brasil. Naquele espaço, onde foi o Colégio Cenecista Professor Antônio Caetano Dias e o Jardim de Infância Anna Benedicta, era um campo de futebol cercado por eucaliptos. Nessa quadra aberta, eram feitos os ensaios das maravilhosas quadrilhas para as festas juninas. Os meninos se vestiam com aquele traje típico de caipira e as meninas fi cavam belíssimas... Tinha um acompanhamento feito com acordeom e a professora Eléa Tatagiba puxava a quadrilha. Até hoje ressoam nos meus ouvidos frases em Francês... Nós dançávamos na quadra e em volta a multidão, praticamente, a cidade toda assistia a quadrilha.

Fui aluno de três belíssimas mestras! Me emociona falar. A professora Elza, que residia na Praça Washington Luiz... A professora Letty está viva... A professora Glórinha Fadul foi no quinto ano... Magnífi cas todas as três! No curso primário, antigamente, uma única professora aplicava todas as matérias por classe... A professora que dava Matemática era a mesma que dava Geografi a... No curso ginasial, aumentava o leque, cada matéria tinha um professor. O corpo docente de Macaé era feito por profi ssionais muito qualifi cados... Dona Hilda, que dava Língua Francesa,

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conjunto arquitetônico [Projetado pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira, português radicado em Macaé]

Theatro Santa Izabel [Inaugurado em 07/01/1866 pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899]

Princesa Izabel [O nome é uma homenagem Princesa Imperial que esteve em Macaé pela primeira vez em 1868]

Cine Clube [de Macaé, na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado a realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]

Tênis Clube [de Macaé na Praça Veríssimo de Mello, erigida na gestão do presidente Cesário Alvarez Parada]

Fluminense [Futebol Clube, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Ypiranga [Futebol Clube, fundado em 19/05/1926 por Dourival de Souza]

Basquetebol [Desporto coleti vo inventado em 1891 pelo professor de Educação Física canadense James Naismith, na Associação Cristã de Moços de Springfi eld (Massachuse� s), Estados Unidos. É jogado por duas equipes de cinco jogadores, que têm por objeti vo passar a bola por dentro de um cesto colocado nas extremidades da quadra, seja num ginásio ou ao ar livre]

Sheila [Pseudônimo de Seila Maria Tavares Quinteiro Moreira, macaense, professora, esporti sta]

Jornal dos Sports [Diário de no� cias esporti vas do Rio de Janeiro, fundado em 13/03/1931, depois adquirido pelo jornalista Mário Rodrigues Filho, sendo patrono do Estádio do Maracanã]

Jogos Infanti s [Criado em 1951]

Jogos da Primavera [Criado em 1947]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro]

Nova Friburgo [Cidade fl uminense da região serrana]

Ypiranga [Na Avenida Rui Barbosa]

Dona Jacyra [Tavares Duval, macaense,professora, patrona de uma rua no Bairro da Glória e de uma escola estadual municipalizada no Novo cavaleiros]

professor Abílio [Valenti no Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, Delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]

professor Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador, professor de Matemáti ca, espírita kardecista, fundador do Grupo Espírita Pedro]

Ancyra [Gonçalves Pimentel, macaense]

� a Le� cia [Maria Le� cia Santos Carvalho]

Bellegarde [Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde, português, engenheiro militar e geográfi co, escritor. A pedido da Câmara Municipal de Macaé demarcou logradouros públicos e limites municipais em 1837]

Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]

Rua Doutor Télio Barreto [Anti ga Rua do Colégio do Jesuítas, que já foi Rua do Conselheiro Dantas e Rua Prefeito Moreira Neto]

Aroeira [Bairro loteado na década de 1960 em terras do ex-prefeito Juvenal Barreto Junior, o Doca]

Casa de Caridade [Na Praça Veríssimo de Mello, fruto do desejo post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro, e dos esforços de um grupo liderado por Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, foi inaugurada ofi cialmente em 01/05/1871]

Leopoldina [Estabelecida no bairro Imbeti ba, a The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957, é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

torrefações de café [Café Gavinho na Rua Télio Barreto, Centro; Café Marinho na Rua Duque de Caxias, Visconde de Araújo, etc.]

cinema [Cine-Theatro Taboada]

Estação [No fi nal da Rua Euzébio de Queirós, Centro]

Taboada [Cine-teatro inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]

hotel [Palace Hotel na Rua Conde de Araruama]

Belas Artes [Café, Bar e Restaurante, dos irmãos Gonzalez, na Av. Rui Barbosa, 234, telefone 29]

Dona Jacyra lecionava Língua Portuguesa. O professor Abílio tinha um jeito característico e a gente brincava muito com isso, imitávamos ele, mas dava uma aula de História fantástica. O professor Pierre dava aula de Matemática. A professora Ancyra também. O meu pai, Miguel Ângelo da Silva Santos, dava Ciências Naturais. Canto Orfeônico era com tia Letícia, irmã de papai. Era muito bom, havia uma aplicação, uma disciplina, uma coisa invejável, superior. Tem uma turma, que é um pouco abaixo da minha, que promove encontros até hoje... A minha se dispersou muito, a maioria das moças casaram e foram morar fora... Mas isso é desculpa, porque nessa turma também tem esses casos, mas eles voltam para se reencontrar... Na vida social estou sempre esbarrando com alguém, são encontros de muita emoção.

Macaé foi planejada originalmente por Bellegarde, que não definiu setores, isso foi feito de uma maneira muito espontânea. O eixo comercial principal é a Rua Direita e de forma um pouco menor, mas muito signifi cativa, a Rua Doutor Télio Barreto, em direção à Aroeira... Esse eixo comercial era ao mesmo tempo residencial e tinha uma convivência muito salutar. Os equipamentos urbanos foram muito bem distribuídos nessa malha, que tinha Mercado Municipal, Casa de Caridade, grupos escolares, delegacia de polícia... Todo aparato necessário à formação de uma cidade, com uma organização que contribuía para sua vida social, que era altamente democrática. Você tinha ao lado da casa do próspero comerciante, do fazendeiro, a casa de um comerciário, de um operário da Leopoldina... Tínhamos na mesma quadra uma convivência de classes sociais distintas e as pessoas frequentavam os mesmos lugares, os mesmos clubes, se namoravam... Isso foi uma contribuição do planejamento que me referi. A cidade tinha cheiros e ruídos porque nessa malha urbana tinha torrefações de café, sentia-se o cheiro do café... Existiam lugares que processavam a cana-de-açúcar, sentia-se o cheiro de açúcar... Os ruídos das tamancarias com ranger das máquinas nas ofi cinas. Sempre nos orgulhamos em dizer que Macaé é a cidade mais clara da América do Sul... Sol maravilhoso, a brisa, o vento que vinha do mar, da Rua da Praia... Atingia todos os sentidos, o olfato, a audição... O comércio de rua tinha o padeiro com sua carrocinha de pão, o verdureiro, o camarada que vendia vassoura... Isso era encantador! O sujeito que passava para pegar a roupa para lavar... Os entregadores... Só para fazer uma última referência, tinha um trabalhador que era o mais focado, um empregado do cinema que era mudo... Esse mudo era famoso em Macaé, todo mundo amava o mudo... Os fi lmes vinham pela ferrovia, os trens paravam na Estação e o mudo ia com um carrinho de mão, com roda de madeira e pneu recortado, pegar os fi lmes que iam passar, a noite, durante aquela semana... Então era uma correria para ler as latas e saber quais fi lmes estavam chegando à cidade.

O Taboada era uma coisa maravilhosa, com platéia, camarotes, galerias, frisas, uma boca de cena fantástica, um palco... Era um belíssimo teatro! Aquilo era um conjunto, tínhamos acesso, por exemplo, ao teatro pelo hotel que também era da família Taboada. O Belas Artes, também, integrava esse conjunto arquitetônico. Existia um cassino na Rua da Praia, que era uma sala de jogos do hotel... Um bar e restaurante, quartos e um teatro... Aquilo era um shopping com hospedagem. O Th eatro Santa Izabel, na Rua Teixeira de Gouveia, que a história de Macaé diz que foi inaugurado pela Princesa Izabel, era mais singelo, mais simples, tinha uma platéia e um mezanino no fundo com a máquina de projeção e uma coisa muito interessante, que eram as umas aberturas laterais, em forma de círculo, que fi cavam bem no alto da parede com um pé direito alto... A molecada improvisava escadas para assistir à sessão pelo buraco da abertura lateral do cinema. (Risos!) Nos anos 1960, um grupo fez um empreendimento

comunitário e construiu o Cine Clube, que me chamou muito a atenção porque tinha uma arquitetura moderna. A cidade veio sofrendo uma transformação nos seus modelos arquitetônicos.

Isso se iniciou no fi nal dos anos 1950 quando começaram a aparecer as casas modernistas... Numa época, pensei em documentar alguns exemplares, talvez não tenhamos quase nenhum. O Cine Clube, posterior à sede nova do Tênis Clube, é uma arquitetura de transformação, que sai da arquitetura clássica “macaense”, com varandinha, telhas francesas, janelas com venezianas... Uma concepção mais européia... E passa a ser mais despojada. Isso ocorre nas construções das casas porque as pessoas mesmas projetavam, não tinha arquiteto, eram desenhistas que projetavam as casas... Projetavam tanto residências como clubes... Desse novo momento da arquitetura macaense temos o Cine Clube, o Tênis Clube, a sede nova do Fluminense, na Praça Veríssimo de Mello, que saem das características do Ypiranga, por exemplo, que é colonial... Esses novos projetos passam a ter umas linhas modernistas. O Cine Clube tinha duas características muito interessantes, grandes blocos revestidos de pedra na fachada lateral e uma empena cega, branca... Então, imagine ter beleza em uma parede, sem nenhuma janela, um paredão... Uma fachada envidraçada, que me atraia muito, era bonita e tinha dois elementos arquitetônicos, um bloco de pedra, como se fosse uma sapata e aquela parede ancorada naquela coisa... Me agradava mais essa fachada cega, como se diz em arquitetura, do que a fachada envidraçada, que era mais comum nos prédios do Rio de Janeiro.

Dediquei-me a jogar Basquetebol desde cedo, meu pai era técnico de basquete no Tênis Clube de Macaé e sempre assistia aos treinos, então, desde molequinho comecei a praticar. Tínhamos em Macaé um belo time de basquete, o meu time juvenil foi campeão do Estado do Rio de Janeiro... Da minha geração, saíram cinco para formar a seleção do Estado do Rio de Janeiro e disputar o campeonato brasileiro. O basquete nos consumia muito tempo... Na parte da manhã, tínhamos Educação Física e treino do time do Colégio Estadual Luiz Reid... Depois, tínhamos aula, à tarde tinha treino dos times do Ypiranga ou Tênis Clube, dependendo de onde cada um de nós jogava. As pessoas improvisavam festinhas caseiras, quem tinha casa maior promovia os bailinhos de vitrola, cada um levava seu disco debaixo do braço... Para beber, tinha uma coisa chamada coquinho, que é uma mistura de aguardente com coco, bem docinha... A avó de um amigo nosso, Alex Varella, fi lho de um promotor, fi cava vigiando para ninguém beber... Escondíamos a garrafa dentro do ralo da rua... (Risos!) Dávamos uma dançadinha, comíamos um biscoitinho, café, refrigerante que a mãe dele oferecia, mas corríamos lá no tal coquinho. (Risos!) Doutor João Sebastião das Chagas Varella era um excelente tribuno... Nos julgamentos criminais, atuava como promotor, na acusação, e as pessoas iam assistir à oratória dele... Fantástico!

No basquete, era o seguinte: tínhamos o time do Colégio Estadual Luiz Reid, um belíssimo time feminino onde a Sheila atuava, chegando a ser convocada para a Seleção Brasileira de Basquete Feminino. Na época, existia o Jornal dos Sports, que promovia Jogos Infantis, Jogos da Primavera. Íamos disputar com os times do Rio de Janeiro, jogávamos contra o Colégio Anglo Americano, que era o time do Botafogo de Futebol e Regatas, campeão carioca de basquete infantil. Jogamos e ganhamos deles. O Ypiranga Futebol Clube disputava campeonatos estaduais, campeonatos contra times de Campos, Nova Friburgo. Existiam campeonatos intermunicipais, muito interessantes, vigorosos... Daqui, saíram grandes jogadores contratados por clubes do Rio de Janeiro. Macaé vivia o basquete! As partidas no ginásio do Ypiranga lotavam, sendo um evento na cidade. Vocês conhecem é o

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Emygdio Simão Neto [Macaense, administrador de empresas]professora Maria Isabel [Damasceno Simão, miracemense, professora de Língua Portuguesa, benemérita, kardecista, diretora do Colégio Cenecista Prof. Antonio Caetano Dias, cujo prédio, hoje abriga a Escola Municipal Maria Isabel Damasceno Simão]Carlos Alberto Moreira Pinto [Macaense]Luiz Guilherme Frossard [Rangel, fi delense, bancário]Doutor Djalma [da Silva Almeida, pernambucano, professor, acadêmico, fundador e diretor do Colégio Cenecista Professor Antonio Caetano Dias]Amilton Siqueira [Macaense, comerciário/comerciante]Selmo Quinteiro Cordeiro [Macaense, funcionário da CEDAE]Ely Brochado [Macaense, bancário]Americano [Futebol Clube, Rua Dr. Julio Olivier, Centro]Atléti co [Clube de Macaé, na Rua Alcides Mourão, Aroeira]Dulcilando [Pereira, macaense]Charuti nho [Everaldo Buriche de Moraes, macaense, músico, policial militar reformado]Baile da Cidade [Em 29 de julho, Aniversário de Macaé, referência ao dia 29 de julho de 1813, quando o Príncipe Regente, Dom João de Bragança, cria a Villa de São João de Macahé]Baile das Debutantes [Organizado por Magdá Garcia no Tênis Clube de Macaé]Baile da Primavera [No primeiro sábado de novembro] São Pedro [Em 29 de junho na Praça Benedito Lacerda] São João Bati sta [Em 24 de junho na Praça Veríssimo de Mello]Igreja Matriz de São João Bati sta [Na Praça Veríssimo de Mello, construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]Capela de São Pedro [Na Rua Dr. Julio Olivier, Imbeti ba] Festa de Santana [Em 26 de julho no outeiro de Santana]Parti do Comunista [Brasileiro (PCB), um parti do políti co de esquerda, fundado em 25/03/1922, ideologicamente baseado em Karl Marx e Friedrich Engels; com organização baseada nas teorias de Lênin. Também conhecido como Parti dão, é o mais anti go do país ainda em ati vidade]comunista [Pessoa que defende que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição ao liberalista, que crê que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]Golpe de 1964 [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores iniciaram um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]Luís Carlos Prestes [Gaucho, militar e políti co. Foi secretário-geral do Parti do Comunista Brasileiro e companheiro de Olga Benário, morta na Alemanha, na câmara de gás, pelos nazistas]João Goulart [João Belchior Marques Goulart, Jango, gaúcho, fazendeiro, advogado, políti co, Presidente do Brasil (1961-4)]Central do Brasil [Região do entorno da estação de trens da Central do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro]comandante [Major Renato da Costa Braga]Geraldo Luiz de Paula Mussi [Macaense, militar, advogado]faculdade [Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFF]

Aristóteles... A gente conhecia como Tofi nho, era baixinho, mas tinha uma mão certeira. Éramos eu, Emygdio Simão Neto, fi lho da professora Maria Isabel, que me deu aula no colégio, Carlos Alberto Moreira Pinto, que é médico com formação na Inglaterra, Luiz Guilherme Frossard, Davidson da Silva Almeida, que trabalha na Prefeitura Municipal de Macaé, fi lho de Doutor Djalma, um dentista, que foi delegado de polícia na cidade... Era essa a turma.

As celebrações eram muito ricas, tínhamos o dia inteiro de festa. Por exemplo, todo mundo se preparava para desfi lar pelo time de basquete envergando uma medalha e a bola debaixo do braço. Tinha uma coisa que eu gostava muito na época do curso primário, na frente de tudo, iam bicicletas com letras formando o nome do colégio. Outra coisa que gostava de fazer era tocar na banda, então, fi cava num dilema, o chefe da banda queria que fosse tocar na banda, mas eu gostava de sair na bicicleta, ao mesmo tempo meu técnico queria que eu desfi lasse com a turma do basquete. (Risos!) Pela manhã, começava a parada, depois tinha corrida de bicicleta no centro da cidade, e sempre coroava com o grande baile. Eu toquei na banda do Colégio Estadual Mathias Netto e na do Colégio Estadual Luiz Reid. Tocava o que se chamava caixa de guerra, mais simplesinha que o tarol, que tem linguagem mais rebuscada. Também toquei numa banda de três, outra história de banda, a dos escoteiros. Eu fui escoteiro e a tropa desfi lava na parada... Nós formávamos a banda de três, não tinha sopro, era uma caixa comigo, um tarol com Amilton Siqueira e o surdo com Selmo Quinteiro Cordeiro... Fazíamos aquela marcação de tropa do escoteiro, ao contrário das formações do colégio, que eram aquelas de quatro, cinco pessoas em fi las... Nos escoteiros era longitudinal, fi la indiana, todos com os seus bastões e tal. Funcionava no Tênis Clube, não me recordo o nome do grupo, mas lembro do chefe, Ely Brochado, funcionário da Caixa Econômica... Eu era escoteiro da terra, usava roupa caqui, os escoteiros do mar se vestiam de azul.

O carnaval de clube era a coisa mais rica que tinha. O Ypiranga repleto, turistas, grupos que vinham de Niterói, do Rio de Janeiro, para passar o carnaval em Macaé, pela excelência do carnaval nos clubes. O Tênis Clube, botando gente pelo ladrão, o Fluminense e os clubes mais populares, o Americano, o Atlético... Tínhamos ao mesmo tempo, seis, sete ambientes repletos com bailes de carnaval. A cidade formava músicos para esses bailes, instrumentistas, como o pessoal de Dulcilando, maestro, nosso músico mais famoso, meu querido amigo. E tinha outros como Charutinho... Durante o ano, nos grandes bailes, vinham orquestras de fora, como no Baile da Cidade, no Baile das Debutantes... O Baile da Primavera era muito concorrido e com pessoas muito elegantes.

No meu bairro, tinha as duas maiores festas, a de São Pedro e a de São João Batista. Nossa família foi toda formada na Igreja Matriz de São João Batista, então, era um evento, a gente participava mesmo, das missas, das procissões, dos folguedos, das festinhas de barracas, das quadrilhas. A Capela de São Pedro era ao lado da minha casa e minha mãe ornamentava o ardor do santo dos pescadores. A imagem, antes de ir para a procissão fl uvial, passava na minha casa, parava. Recordo-me da época que a professora Anna Benedicta da Silva Santos, mãe do meu pai, estava moribunda, sofrendo de câncer. Vovó estava nas últimas, faleceu dias depois, mas quando foi diagnosticada, quis morrer em Macaé. Ela tinha fi lhos, minhas tias, mas queria morrer na casa de papai, porque ela

sabia que mamãe tinha mais garra para cuidar dela. A imagem de São Pedro entrou lá em casa para ela se despedir. Na nossa casa, tinha um recuo, depois o meu pai foi fazendo ampliações, a casa veio parar no passeio, a imagem entrou no jardim, foi até a janela do quarto, onde ela estava, antes de seguir para a procissão fl uvial. A Festa de Santana era mais distante, mas a gente dava um jeitinho de participar também. As procissões, quando eram noturnas, as pessoas iam com as velas protegidas... Era um problema quando passava na Rua da Praia, porque o vento apagava as velas. Eu me lembro particularmente da matraca com aquele barulho e do cheiro marcante do incenso.

Em 1964, eu tinha 18 anos, mas já fazia militância política desde cedo, política estudantil... Nós vivemos esse período de uma forma direta. O papai, quando teve a abertura política em 1947, foi eleito vereador em Macaé, pelo Partido Comunista, era membro, mas em 1964 ele estava rompido com o partido, já não era mais comunista. Ele teve uma formação de colégio de padres e apesar de comunista, nunca se afastou da religião, nunca fez nenhum tipo de censura, tinha uma participação velada, mas participava das festas... Não me lembro ter visto ele em uma procissão, mas nas festas, eu me recordo e até em missas. Papai fi cou com a marca de comunista e mesmo antes do Golpe de 1964, toda vez que tinha qualquer coisa contra comunistas prendiam ele... No aniversário de Luís Carlos Prestes, prendiam por meia hora para não ter manifestação, para ninguém escrever coisas nos muros e tal... Papai tinha uma atuação política, mantinha uma proximidade com os companheiros do Partido Comunista, mas não tinha mais vínculo com o partido. Eu estava ingressando no Partido Comunista, a contra gosto dele, mas nunca demonstrou, deixou que a coisa andasse... Nós vivíamos naquele momento a euforia do governo de João Goulart, fi nalmente um governo popular no Brasil... No comício fantástico da Central do Brasil, o João Goulart anunciou as reformas de base. Vivíamos a euforia! O Sindicato dos Ferroviários vivia em assembléia permanente, as pessoas falavam o dia inteiro. Quando estourou o golpe nós fi cávamos andando pela madrugada, sem ter notícias... Lembro que o comandante do quartel general de Macaé foi preso porque foi legalista, não aderiu ao golpe, foi fi el ao presidente da República... Alguns ofi ciais também, como Geraldo Luiz de Paula Mussi. Essas pessoas foram presas, afastadas do Exército, mas na ocasião, faziam parte do contingente aqui, e a gente passava lá, pelos muros do quartel, na madrugada, para saber notícias deles. Numa madrugada, encontramos o tenente Geraldo Mussi, vestindo uma japona, paramos o carro que estava dirigindo, ele sabia que as notícias não eram muito boas, que estava havendo uma adesão ao golpe, mas a intenção deles era resistir. Então, o Cláudio tinha que ir embora de Macaé para não ser preso... Eu já estava querendo cursar Arquitetura e fui para o Rio de Janeiro fazer vestibular.

Houve uma resistência dos ofi ciais que serviam em Macaé, mas durou pouco tempo, porque foi logo abafada e eles foram presos. Aqui, foi uma célula de resistência ao golpe militar e o Forte Marechal Hermes foi um foco de defesa da legalidade e da democracia. Quando cheguei à faculdade de Arquitetura fui abordado pelo grupo do Partido Comunista, que já sabia da pessoa vinda de Macaé, um jovem. Aí passei a fazer parte de uma célula do partido na faculdade. O golpe foi muito pesado, a gente se resumia a participar das assembléias. No partido, começou a haver um grande racha. O movimento estudantil acabou partindo para a luta armada e o Partido Comunista teve uma postura mais de disputar eleição, enfi m, era considerado reformista. Minha participação era nas assembléias e sair pelas ruas do subúrbio do Rio de Janeiro escrevendo “Viva o PCB!”... Fiz muito isso com balde e brocha, escrevendo aquelas letras garrafais nos bairros de Olaria, Ramos... Aqui em Macaé, o momento do Partido Comunista, o mais efervescente a que assisti como simpatizante, foram as assembléias dos ferroviários. O Sindicato dos Ferroviários era um reduto onde quase todos eram do partido. Alguns, inclusive, se fi liaram ao Partido Socialista Brasileiro, do Gabeira,

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hippie [Os hippies foram parte do movimento de contracultura dos anos 1960. Embora tendo uma relati va queda de popularidade nos anos 1970 nos Estados Unidos, o movimento apenas ganhou mais força em países como o Brasil somente a parti r dessa década. Uma das frases associadas a este movimento foi a célebre máxima “paz e amor”]

Morro de Santana [Bairro periférico surgido da ocupação de terras pertencentes à Confraria da Gloriosa Santana por meio de doações ou usucapião]

Palácio dos Urubus [Prédio histórico, projetado pelo alemão Antonio Becher, localizado na Rua Dr. Télio Barreto, construído em 1865, para residência da família Gavinho Ribeiro de Castro. No século XX, transformado em corti ço, por abrigar em seu telhado os urubus que frequentavam um matadouro que existi a por perto, recebeu do povo o nome Palácio dos Urubus, sendo o único prédio macaense tombado pelo INEPAC, em 1979]

Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Avenida Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

Solar dos Mellos [Luxuoso chalet, na Rua Conde de Araruama, 248, construído em 1891, pelo mestre-architecto Joaquim Ribeiro Capellão, para residência da família do coronel Bento Araújo Pinheiro, adquirida pelo capitalista Bento Aff onso da Silva, foi revendida, em 1911, à família Mello. O prédio foi desapropriado pelo Decreto Municipal n.0 042, de 29/06/1999 tornado-se Museu da Cidade de Macaé e Secretaria Municipal de Acervo e Patrimônio Histórico]

legislação [Lei de Tombamento do Patrimônio Cultural do Município de Macaé N.0

2449/2003, regulamentada pelo Arti go/Decreto N.0 160/2004 de 15/09/2004]

Confraria da Gloriosa Santana [Fundada em 1848 administra a capela e o cemitério oriundos da Companhia de Jesus]

Lyra [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com idéias abolicionistas e republicanas]

Parti do Socialista Brasileiro [(PSB) Parti do políti co de esquerda que segue a ideologia socialista democráti ca, criado em 1947 e exti nto por força do Ato Insti tucional nº 2, de 1965. Foi recriado em 1985 com a redemocrati zação no Brasil]

Gabeira [Fernando Paulo Nagle Gabeira, mineiro, escritor, jornalista e políti co. Parti cipou da luta armada contra o Regime Militar como militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro, que tentava instaurar o socialismo no Brasil]

dedo-duro [Sinônimo de delator, alcagüete]

Gráfi ca [Minerva, na Rua Conde de Araruama, Centro, fundos do Theatro Santa Izabel]

um amigo [Luiz Carlos Franco, macaense, empresário, comerciante do ramo de ferragens]

quartel [Forte Marechal Hermes]

Manchete [Revista publicada semanalmente de 1952 a 2000 pela Bloch Editores]

O Cruzeiro [Revista semanal ilustrada, lançada no Rio de Janeiro, pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, circulando de 1928 a 1975]

Roberto Mourão [Macaense, advogado, políti co]

José Lira Madeira [Macaense]

Alberto Reis [Alberto Marti ns Reis, macaense, arquiteto]

UNE [União Nacional dos Estudantes, fundada em 1938 é a principal enti dade estudanti l brasileira. Representa os estudantes do ensino superior e tem sede em São Paulo, possuindo subsedes no Rio de Janeiro e Goiás]

Federação dos Estudantes Macaenses [Com sede na Rua Télio Barreto, onde hoje está a Casa & Roupa]

José Milbs [de Lacerda Gama, macaense, jornalista, proprietário do jornal O Rebate]

PT [Parti do dos Trabalhadores, parti do políti cobrasileiro, fundado em 1980, é um dos maiores e mais importantes movimentos de esquerda da América do Sul. Com 1 549 180 fi liados, o PT é o segundo maior parti do políti co do Brasil, atrás apenas do Parti do do Movimento Democráti co Brasileiro (PMDB)]

Praça Washington Luís [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]

Antonio Curvello Benjamin [Macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8]

que era uma coisa mais nacional, mas que no fundo tinha um pezinho lá dentro do Partido Comunista.

A vida de papai foi dizimada, ele foi um grande disciplinador, tinha respeito da burguesia... Vou usar essa linguagem porque não tem outra forma. Ele tinha o respeito da burguesia porque cuidava de seus fi lhos no colégio. Teve pai de aluno rebelde que autorizava papai a bater e dizia: - Mete o braço nesse sujeito, porque não estou conseguindo orientá-lo. Então, existiam seguimentos da sociedade que foram muito solidários... Houve uma solidariedade humana de pessoas de Direita, em relação à fi gura do professor Miguel Ângelo. Interessante que os chamados de dedo-duro, envolvidos nos processos contra ele, a maioria quando era chamada a depor abertamente, não comparecia... Alguns foram levados ao fórum pela polícia, porque se recusaram a fazer denúncias de forma aberta. Então, quer dizer, se existia esse seguimento em Macaé e se afogou com muita nitidez naquele ambiente de golpe. Papai era professor, conhecia várias matérias, era secretário do Colégio Estadual Luiz Reid e professor stand by... Faltava professor, ele entrava em sala de aula e substituía. Um cidadão com esse naipe de saberes foi trabalhar na Gráfi ca de um amigo de Direita. Eu só pude estudar no Rio de Janeiro, porque minhas tias me abrigaram, meus irmãos tiveram que parar de estudar, fui o único que fez o curso universitário, uma sorte do destino.

O Ginásio do Ypiranga era prisão em massa, multidões... Papai era preso no quartel, era notável, fi cava lá no cassino dos ofi ciais. Lembro de uma ocasião que vim do Rio, cheguei a Macaé no fi nal da semana, e papai estava preso no quartel... O pai de um amigo meu, fi lho de general, fi gura de Direita, pessoa muito boa, nunca tivemos problemas por diferenças ideológicas, conseguiu com o comandante substituto que eu fosse visitar o meu pai, então, levei a revista Manchete, O Cruzeiro... Fui revistado, viram o que estava levando... Quando chego ao cassino dos ofi ciais estava acontecendo um jogo de futebol de salão de praças contra ofi ciais e a torcida era os quatro professores presos, sentadinhos. (Risos!) Gritavam: “Vai Major! Bolão Tenente!” Era o papai, o Roberto Mourão, o professor Abílio Valentino Miranda e o José Lira Madeira, um agricultor, fi gura fantástica, pai do Ronaldo Tannus Madeira, advogado macaense.

Me reúno sempre com meus colegas da faculdade e me perguntaram por que resolvi fazer Arquitetura... Eu queria ser Alberto Reis, um jovem macaense, glamoroso, boa pinta, que se vestia modernamente, lambreta, que quando estava na cidade as moças fi cavam encantadas, era inteligente, de Esquerda, fazia parte da UNE... O Alberto adorava o papai, foi aluno, tinha uma admiração muito grande... Lógico que existia um encanto pela Arquitetura, mas esse despertar foi primeiramente em cima dessa fi gura. Fiz parte da Federação dos Estudantes Macaenses... Interessante que o movimento estudantil em Macaé, naquele período, do ponto de vista das diretorias, era do grupo de Direita... Os estudantes de Direita ganhavam as eleições e tinham um discurso anticomunista... As meninas eram orientadas por seus pais: “Não vota em fulano, ele é ligado aos ferroviários. A Federação dos Estudantes sempre foi protegida pelo amparado político, burguês, empresarial, que investia nessa moçada... A gente tinha embates com eles, mas sou amigo de todos... Tem o caso de José Milbs, que veio a ser fundador do PT em Macaé.

Logo que me formei, vim para Macaé e tinha a “Praça do Bole-Bole”, na verdade Praça Washington Luís, que cada prefeito que entrava mexia e remexia... Recém formado, fui convidado pelo prefeito Antonio Curvello

Benjamin, adversário político de papai, por diferenças ideológicas, que me propôs fazer um projeto para aquela praça. Me associei a dois queridos amigos da faculdade e fi zemos uma proposta muito revolucionária para aquele espaço... Parte desse projeto não foi executada evidentemente, mas grande parte do que está lá, faz parte desse projeto original... Seu Antonio não teve oportunidade de fazer nada, teve um mandato de dois anos, mandato tampão, mas lembro que a gente conseguiu montar os canteiros de obra... No decorrer dessa atividade, estava criando a Secretaria de Obras de Macaé, e me convidou para ser titular... Eu, um jovem recém formado, usava uma barba desse tamanho, cabelo até as costas, estava mais para hippie do que para Secretário de Obras. (Risos!) Me deparei com a cidade de Macaé, não aquela cidade do meu olhar de superfície. Comecei a ter um pouco de noção do que estava ocorrendo na sua periferia, das difi culdades do município sem recursos. Mas sempre tive preocupação em deixar uma marca de planejamento, de olhar a cidade com uma visão mais futurista, de iniciar, plantar alguma coisa... Tudo muito difícil, as ações governamentais eram tradicionais, mas alguma coisa eu consegui fazer na prática... Me recordo, por exemplo, aquela Avenida Fábio Franco, que margeia a linha da linha férrea e antes não subia o Morro de Santana, terminava onde está o colégio, cujo nome é uma belíssima homenagem à Dona Ancyra Gonçalves Pimentel... O terreno da encosta era público e a Associação dos Servidores Municipais quis construir sua sede ali... Falei que não, porque um dia daria acesso à ladeira, criando uma passagem... Lembro que alguns fi caram indignados com a recusa. Eu não tinha legislação para dizer não, mas dizia e discutia com os empresários daquela época, mas a maioria entendia.

Sobre a questão da especulação imobiliária, atualmente em Macaé, não há nem tempo de especular, a velocidade da transformação é tão grande. O que é um especulador imobiliário? É um sujeito que cria uma reserva para ganhar mais a frente. Hoje, poucos estão fazendo isso, eles são atropelados pela vinda de empresas e não é negócio ter imóveis paralisados. O mercado é efervescente e perverso, vai passando por cima de tudo, não tem sensibilidade de observar exemplares arquitetônicos, que marcam uma determinada época, então, hoje restou quase nada, tudo foi completamente desvirtuado, violentado. É o caso da sede do Ypiranga. O Palácio dos Urubus caiu, uma coisa lamentável, passo ali e lamento. A banda de música Nova Aurora, na sua falta de recursos, pegou uma parte do seu terreno e construiu uns caixotinhos, umas lojas para arrumar aluguel e poder comprar instrumentos, aniquilou com aquela fachada. Então, essas coisas são avassaladoras. Algumas iniciativas foram muito boas, por exemplo, a desapropriação do Solar dos Mellos. Foi feito muito pouco pela grandeza que a arquitetura teve na formação desta cidade, pelo número de exemplares marcantes que nós tínhamos. Não existem programas de proteção e acho que não é só criar a legislação, tem que fazer um inventário de bens. O que deve ser protegido aqui? O que sobrou? Criar um programa, ter uma secretaria de manutenção do patrimônio macaense, que faria convênios com as entidades, como a Confraria da Gloriosa Santana, a Lyra, a Nova Aurora. Preservar os patrimônios que estão nas mãos de entidades públicas e alguns de particulares... Não precisa desapropriar, reservam-se imóveis de interesse público, não deixando descaracterizá-los... Acho que o principal, hoje, é fazer um inventário, formar uma comissão para catalogar exemplares de cada época, como uma casa de ferroviário dos anos 1950. Existe um grande trabalho pela frente a ser feito.

A presença da Petrobras, em seus primórdios, era tratada como questão de Estado... Não revelavam nada! A empresa nunca deu noção à Macaé do que iria ocorrer aqui. Cheguei a ir com o Prefeito Carlos Emir a Petrobras

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Zé Mengão [Lanchonete pertencente a José Vieira Rangel, macaense de Carapebus, comerciante e empresário]

Areia Branca [Localidade do 3.0 Distrito, Cachoeiros de Macaé]

FUNEMAC [Fundação Educacional de Macaé, criada Lei Municipal n°.1369, em 17/11/1992]

Cidade Universitária [Complexo educacional, projetado pelo entrevistado, numa área de 95 mil metros quadrados, com dois prédios, 30 salas de aula, além de estacionamento com 200 vagas, e três faculdades gratuitas: UFF, UFRJ e FeMASS, esta últi ma a única faculdade municipal gratuita do país. Ao todo, o complexo terá sete blocos, seis para laboratórios e salas de aula]

Sana [6.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Córrego do Ouro [2.0 Distrito de Macaé]

Trapiche [Localidade pertencente ao 4.0 Distrito]

Glicério [4.0 Distrito de Macaé]

Frade [5.0 Distrito de Macaé]

Mo� a Coqueiro [Manoel da Mo� a Coqueiro, campista, fazendeiro, últi mo homem branco condenado à pena capital no Brasil, como responsável pela chacina da família de um colono em Conceição de Macabu, enforcado em Macaé a 07/03/1855, ao qual se atribui uma praga de cem anos de atraso para a cidade]

CPG [Câmara Permanente de Gestão]

novo governo [O Dr. Aluízio dos Santos Júnior, macaense, fi liado ao Parti do Verde (PV), médico neurocirurgião, eleito em 07/10/2012, com 70.693 votos, iniciando o mandato em 1.0/01/2013]

gráfi ca [Gráfi ca Silva Santos Ltda. na Rua Teixeira de Gouveia, 398, Centro]

Rio das Ostras [Município litorâneo emancipado de Casimiro de Abreu em 10/04/1992]

Petrobras [A Petróleo Brasileiro S. A., criada pelo Presidente Getúlio Vargas, em 03/10/1953, foi instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Prefeito Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

Ministro da Marinha [Alfredo Karam, carioca, Almirante-de-esquadra]

ator [Guilherme Karan, carioca, humorista]

royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

BR-101 [Rodovia federallongitudinal do Brasil, iniciada em 1957, com extensão de 4 772,4 km. Seu ponto inicial está localizado na cidade de Touros (RN) e o fi nal na cidade de São José do Norte (RS)]

O Século [Fundado em 1886 pelo jornalista Antonio José de Souza Mello, ressurgiu em 1974 por iniciati va de seu bisneto o jornalista Euzébio Mello, perdurando até os anos 1980]

Euzébio Luiz de Mello [Macaense, jornalista, herdeiro do jornal O Século, colunista social no periódico O Debate]

meu fi lho [Ian Wya� da Silva Santos]

Praia Campista [Bairro litorâneo, com característi cas mistas, que tem sua denominação ligada ao trágico assassinato dos membros de uma família campista oitocenti sta, ligada a ferrovia, sendo inicialmente denominado Praia dos Campistas]

Calçadão [Trecho comercial da Avenida Rui Barbosa fechado para o trânsito de automóveis desde a década de 1990]

pedir informações... Tomávamos um café, uns tapinhas simpáticos do presidente, mas ninguém informava nada... Segredo de Estado! Vieram de uma forma como uma avalanche. A Bacia de Campos é uma homenagem do geólogo que afirmou o tamanho dessa mina que está ai. Sabia-se o que ia ocorrer e tinham que ter medido as consequências e não fizeram isso... Jogar essa responsabilidade para a Prefeitura Municipal de Macaé, nos prefeitos, é falacioso. A responsabilidade não é apenas da Prefeitura, que não poderia nunca ter noção disso... Eu me recordo de receber na minha casa, naquelas festinhas de fi nal de semana, um pessoal da oceanografi a da Marinha do Brasil, que fi cava fazendo prospecções... Lembro que um comandante dessa fragata, que era da família Karan, o pai foi Ministro da Marinha, o irmão ator, esteve na minha casa... A fragata ancorava e eles frequentavam a vida da cidade, já estavam aí.

A Petrobras começa a se instalar em Macaé no fi nal dos anos 1970... O píer começa a ser construído em 1978, se não me engano. Não se parte para uma iniciativa dessas com avaliações feitas recentemente, tem que ter no mínimo dez anos de garantia, de análises. Presume-se que uma empresa com a grandeza da Petrobras antecede a uma ação dela com estudos meticulosos e duradouros. Desde o início dessas análises, dessas observações, a cidade já deveria estar sendo preparada, mas nada disso ocorreu. Tipo: Vire-se! Até então, não se falava nem em royalties, essa questão veio nos anos 1980, muito depois da Petrobras estar aqui. Não acredito que a escolha de Macaé para receber a empresa teve cunho político, no sentido de uma represália por ela ter sido a Moscouzinha Brasileira. Acho que isso é uma bela coincidência. A gente vai até cultuar essa possibilidade para manter essas chamas de que um dia Macaé foi um foco da resistência legalista e democrática (tom jocoso). A Petrobras veio por um conjunto de fatores que favoreciam isso, como a linha férrea, um porto a margem do Atlântico, a BR-101... Toda uma questão logística que empurrou isso pra cá. Campos dos Goytacazes tinha muito mais poder político na época, fi zeram de tudo para levar a Petrobras para lá. Foi uma questão de logística... Essa questão da represália é um folclore. (Risos!)

Recriamos o jornal O Século e transformei meu escritório em redação. Há pouco tempo, escrevi um artigo em homenagem ao jornalista Euzébio Luiz de Mello, um companheiro d’O Século, herdeiro inclusive do nome porque pertenceu à família dele. O artigo, a que eu me refi ro, tratava exatamente a questão das pessoas, que vieram nos primórdios da Petrobras em Macaé, e adquiriram amor pela cidade, se apegaram a Macaé, tem fi lhos nascidos aqui, e até netos... Tem uma nova geração de macaenses, a partir da chegada da Petrobras. Então, o componente humano é fantástico, enriquecedor, eleva a capacidade intelectual, traz melhorias de toda natureza para a cidade. O que não corresponde, na mesma proporção, à avalanche que é a transformação física. O que deteriora a cidade... Deteriora, talvez, não seja a palavra adequada... Falo da recente massa migratória, que não encontra habitação, que torna todo o equipamento urbano incapaz de responder às demandas. Mas houve uma primeira migração, formadora de uma nova sociedade macaense, e vejo muitos deles defendendo Macaé com mais convicção do que macaenses que daqui se foram. A sociedade original foi dizimada, salvo alguns. O que fi cou disso foi muito pouco. A cultura macaense, o jeito de ser, a alma macaense, essa foi dizimada. Eu digo para o meu fi lho que tenho saudades da cidade que perdi e que minha afeição pela cidade que ganhei é um caos... Essa afeição é de amor e ódio. Antigamente, você só tinha paixão por Macaé. Tínhamos nossos queixumes, reclamávamos de uma coisa ou de outra, mas era uma paixão pela cidade... Hoje, você não tem como se apaixonar, fi caram apenas os resquícios. Eu vou para orla caminhar, fi co olhando aquela paisagem, aquele horizonte, o resto de vegetação da Praia Campista, que ainda existe, avista-se um manguezal, mas é muito pouco, pelo que tínhamos

aqui. A cultura macaense foi completamente transformada... Onde estão os hábitos da cidade? Porque as características das cidades são reveladas através dos hábitos dos seus moradores...

Não temos mais o hábito de ir ao centro, aquele centro do Calçadão. Não temos mais um comércio referência, acabou o Belas Artes, acabou o Zé Mengão. Eu fi co muito pouco aqui, moro na Areia Branca, num sítio... Venho aqui, faço as minhas coisas e vou pra lá. Às vezes, me dá vontade de fi car, e fi co feito uma barata tonta, não acho as pessoas, não acho meus amigos. Tem hora que eu gosto de botequim, de fi car lá jogando conversa fora, falando de futebol, tomando uma cervejinha, interagindo com uma indagação qualquer, um efeito, um feito, um acidente, uma coisa que venha ocorrendo na cidade, política... Em Macaé, as pessoas participavam, tinham discussões acaloradas, tinham foco. Esse sentido a cidade perdeu, perdeu essa alma. Tenho uma esperança muito grande na juventude. Que essa juventude se apaixone por Macaé. E que comece a formar quadros políticos, empresariais... A questão do saber em Macaé é numericamente muito maior do que antigamente, mas tudo direcionado para economia do petróleo, ou seja, ignora-se a questão humana, as artes. A FUNEMAC teria que investir em cursos ligados às ciências de humanas na Cidade Universitária. Acho que o primeiro caminho seria restaurar a alma da cidade e isso é um movimento intelectual, um movimento do pensamento... Lógico, tem que caminhar junto com um planejamento urbano efi caz. A comunidade do Sana soube se proteger, criar legislação, as pessoas têm outro tipo de pensamento, o migrante que foi para lá é apaixonado pela natureza... Mas Córrego do Ouro, Trapiche, Glicério, Frade estão cada dia pior, cada dia mais violento, em todos os aspectos. Participei do Plano Regional da Serra e falei exaustivamente sobre isso com as comunidades que se reuniam para discutir... O impacto é muito forte. A Areia Branca não tem uma configuração urbanística de pequenos lotes, são propriedades médias, mas nos lugarejos, nas pequenas vilas dos nossos distritos, existem construções em áreas inadequadas, na beira de córregos, em encostas... Tem que ter uma intervenção muito imediata nisso.

Costumo dizer que a praga de Motta Coqueiro não foi para Macaé fi car cem anos sem se desenvolver, foi que após cem anos a praga estaria se instaurando a maldição do petróleo. Essa é a minha visão. De maneira indireta, todos acabam tendo contato com a economia do petróleo, vivendo das benesses dela. Para mim, falta uma data municipal, que eu chamaria Dia do Choro Cívico... Todos os macaense se reuniriam, sentaríamos no meio fi o do Belas Artes e teríamos um pranto cívico, entendeu? Então, não há benefícios? Há benefícios! Rede hoteleira pujante, construção civil, comércio... Mas o preço tem sido muito alto... Faço um esforço danado para não ser saudosista. No órgão no qual trabalho, CPG, um engenheiro da Petrobras vai ser o novo gestor, do novo governo. Quase dei as boas vindas a ele... Devia ter mais gente da Petrobras entrando na Prefeitura Municipal de Macaé, acho até que devia ser “Macaé BR”... (Risos!) Por que é como diz aquele velho ditado: Quem pariu Mateus que o embale. Criaram a confusão, então, venham ajudar a resolver isso. Vejo com muita simpatia os funcionários da Petrobras indo para a área pública da cidade, para tentar ajudar. Não é provocação é uma constatação mesmo, porque quero ver se pelo menos mudam alguns paradigmas da gestão pública e nisso eles estão craques.

Estou querendo fazer um período sabático a partir do ano que vem, quero me debruçar em alguns estudos sobre Macaé e voltar a trabalhar no livro que estava prestes a publicar. Minha família tem uma gráfi ca e meu irmão insiste muito para editar. Daí, entrei para trabalhar na Prefeitura Municipal de Macaé, percebi uma série de coisas, que o livro estaria extemporâneo, chocaria com as situações que estava vivendo, achei inoportuno fazê-lo e suspendi essa ideia por um tempo. Preciso voltar a esse livro, fazer um

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tes resgate da minha vida. Sonho que tudo seja transformado, o sistema político vigente, as

formas de relação da política com a cidade, a economia... Que a política, minimamente, volte a ter caráter de voluntariado, saia do voto comprado, um fenômeno nacional, que gostaria de ver extirpado aqui na minha terrinha, para fi nalmente pensarmos em planejamento urbano, crescimento intelectual, artes, relações humanas, vida social. Gostaria de contribuir. Me afastei muito de Macaé, fi quei muitos anos fora, foi uma coisa maravilhosa... Vivi em Rio das Ostras, onde fui o primeiro secretário de Obras. Essa volta me proporcionou resgatar algumas coisas. Macaé tem uma coisa de dualidade, de contradição, rompeu com muitos paradigmas conservadores, as pessoas tinham sonhos de transformação, de evolução... Eu tenho uma saudade muito grande do que perdi. Qual o signifi cado de Macaé? Macaé é minha vida! Macaé é minha grande paixão, verdadeiramente. Eu não sou um acomodado, gosto muito de ter uma vida tranquila, mas tenho uma insatisfação que está sempre me reboliçando. Estou sempre de amores e ódios com algo, acho que essa é minha maior característica, que me impulsiona, proporciona recuos, refl exões, arrependimentos... Tenho certeza de que essa fala não foi muito acadêmica, foi um pouco anárquica... É, eu também sou assim. (Risos!) ▪

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Praia do Forte.Cartão postal S. autoria. Macaé (RJ), c. 1977.

Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

Muro da an� ga residência na Rua Dr. Júlio Olivier, ao fundo o Morro do Forte Marechal Hermes, Travessa Sana (an� ga Rua da Barreira) Da esquerda para direita: Cláudio Santos, Prof. Miguel Angelo com o cachorro Fla Flu, Aristóteles Cliton, Gardel Luiz, Miguel Angelo (Nenego). s/d.Acervo parti cular de Cláudio Augusto da Silva Santos, Macaé - RJ.

Muro da an� ga residência na Rua Dr.

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Rua da Praia [Primeiro nome da atual Av. Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]Francesconi [Adílio Francesconi, cabo-friense, empresário com negócios de benefi ciamento e fornecimento de sal, sócio da fi rma Francesconi & Cia. Ltda., na Rua Dr. Cuperti no, 1, foi representante da Mercedes-Benz e possuía um automóvel luxuoso]Mercado [Municipal, inaugurado em 15/12/1914 pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o]Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses] Prefeitura [Municipal de Macaé, na Praça Gê Sardenberg, hoje, Palácio do Legislati vo Deputado Claudio Moacyr de Azevedo] Prado [Que pertencia a Michel Acioli Pena]Esse nome [Está é uma das versões locais romanceadas aprendida pelo entrevistado, sendo que nos tempos coloniais, a denominação “Rua Direita” era dada às principais vias urbanas, a exemplo da atual Rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, tratando-se de um termo do português arcaico em que a palavra “direita”, signifi cava “principal/importante”] A Primavera [Fundada por Waldemiro Corrêa Bi� encourt e Octávio Laurindo de Azeredo, na Avenida Ruy Barbosa, 111, “Com um grande e variado sorti mento de Fazendas, Armarinho, Roupas feitas...”] Belas Artes [Café, bar e restaurante dos irmãos Gonzalez, Avenida Rui Barbosa, 234, telefone 29]grande loja [A Casa Tavares, loja de confecções e alfaiataria] Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]Fábio Franco [Macaense oriundo da região serrana, comerciante, contador, professor, fundador do Rotary Club de Macaé, patrono de importante avenida no bairro Visconde de Araújo]Luís Carlos Franco [Macaense, gráfi co, empresário, professor]Gráfi ca Minerva [Na Rua Conde de Araruama]loja [Casa Chaloub - Rei dos Barateiros, na Avenida Rui Barbosa]Jorge Chaloub [Imigrante libanês, comerciante]Arquimedes de Souza França [Macaense, comerciante, empresário, patrono de uma rua no bairro Granja dos Cavaleiros]Casa Garcia [Na Avenida Rui Barbosa, 152, telefone 30, propriedade do casal Magdá e Carlos Augusto Tinoco Garcia] Seu Moisés [Couti nho, macaense, comerciário]Magdá [Maria Magdalena Pereira Garcia, macaense de Glicério, socialite, benemérita, empresária]Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice-prefeita em duas gestões, presidente da FUNEMAC, Secretaria de Educação]Asilo da Velhice Desamparada [Atual Liga Benefi cente Asilo Casa do Idoso, fundado em 1945, na Rua Luiz Bellegarde, 540, Imbeti ba]Lar de Maria [Insti tuição fi lantrópica de amparo à crianças carentes, inaugurada em 13/07/1952 - estabelecida na Av. Rui Barbosa, 1563, Cajueiros -, que em 1985 passou de abrigo à creche]José Soares Garcia [Macaense, empresário, benemérito]

Praça Washington Luiz [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]Barra de Macaé [Anti go segundo distrito, hoje primeiro subdistrito]avó paterna [Cecilia Gonçalves de Oliveira Lyrio, macaense, casada com Alberto Bapti sta de Araújo Pinheiro] ponte [Referindo-se a anti ga ponte construída no século XIX, que passou por diversas reformas, sendo desde 1911 demoninada Gondomar, homenagem ao embaixador espanhol, dito fundador de Macaé em 1615]Avenida Amaral Peixoto [Estrada de rodagem ligando Niterói a Campos, inaugurada em 28/05/1943, ocasião em que Macaé recebeu a visita do Presidente da República, Getúlio Vargas]nove irmãos [Max Gu� emberg Simões Pinheiro, Victor Hugo Simões Pinheiro, Luiz Alberto Simões Pinheiro, Neuza Maria Pinheiro Ribeiro, Alberto Fernando Simões Pinheiro, Teobaldo Sérgio Simões Pinheiro, Norma Suely Pinheiro Nogueira, Creuza Cristi na Simões Pinheiro Vaz, Maria de Fáti ma Pinheiro de Souza]Tupã [Anti go hotel-pensão estabelecido em belíssimo chalé em esti lo românti co do século XIX, construído para residência do Dr. Júlio Ollivier, na Rua São João (Praça Veríssimo de Mello)]Tênis Clube [de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]Roberto da Silveira [Bom-jesuense, advogado, jornalista, políti co, governador do Estado do Rio de Janeiro (1959-61), falecido na queda da aeronave em que viajava para verifi car as áreas inundadas na região serrana do estado, mais precisamente em Petrópolis, quando decolava do Palácio Rio Negro]posto de gasolina [Posto Texaco, Praça Irmãos Ferreira Rebello, 59, telefone 16] José Ba� sta [de Ma� os, macaense de Carapebus, empresário] Cine-TheatroTaboada [Inaugurado em 05/04/1931 sendo um projeto arquitetônico do architecto-constructor português Joaquim da Silva Murteira]Manuel Guilherme Taboada [Português de origem espanhola, imigrante, colchoeiro, comerciante, empresário, construtor]Godofredo [Taboada Alvarez, mineiro, empresário, proprietário do Cine-TheatroTaboada]casa [Na Avenida Rui Barbosa, 570, projeto do architecto-constructor português Joaquim da Silva Murteira]Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Av. Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]Isaura Maria Taboada [Macaense, empresaria, patrona de uma rua no bairro Cancela Preta]fi lha [Maria José Taboada, macaense, socialite, empresária] Carlos Eduardo Dolabella [Carlos Eduardo Bouças Dolabella, carioca, famoso ator de televisão e cinema]Cabo Frio [Município balneário fl uminense, fundado em 13/11/1615, sendo o séti mo mais anti go do Brasil e o principal da Região dos Lagos]

É um prazer muito grande participar desse livro! Sempre que se tratar dos assuntos de interesse da nossa cidade, estamos prontos a servir. Minha lembrança mais antiga vem dos anos 1950... Eu nasci em 12 de abril de 1945, então, nessa época, tinha uns dez anos de idade e trago uma lembrança muito boa da infância. Lembro das brincadeiras na Praça Irmãos Ferreira Rebello, que há algum tempo passou a ser Praça Washington Luiz. Minhas origens estão na Barra de Macaé... Falar da Barra para mim é um prazer muito grande, porque minha vida foi ali... Minha avó paterna morou ali, e o meu bisavô, Luís Lyrio, chamado de Lulu, tinha um armazém na cabeceira da ponte, vendia secos e molhados e comprava toda produção de pessoas que faziam plantios... Por isso, aquela avenida, paralela a Avenida Amaral Peixoto, tem o nome dele: Avenida Luís Lírio. Infelizmente, não tive o prazer de conhecê-lo porque faleceu prematuramente. Quero registrar que sou fi lho dos macaenses Luiz Pinheiro e Anízia Simões Pinheiro e tive nove irmãos.

Um dos maiores hotéis era o Tupã, onde é a sauna do Tênis Clube. Na cabeceira da ponte, também tinha um hotel e esse prédio está lá até hoje, pertencia a Patureba e fi cava onde tem uma borracharia. O Patureba era uma pessoa rica, não o conheci, mas como convivi muito tempo com meus avós, eles falavam sempre disso porque história é isso, a gente tem que trazer de lá de trás. Macaé tinha um comércio muito bom. Depois veio a indústria Bariloche, na atual Rua Governador Roberto da Silveira. Quando meu pai era vereador, amigo do nosso saudoso governador Roberto da Silveira, que morreu num acidente de helicóptero, ele colocou o nome na rua, pois o governador teve uma administração maravilhosa, era um homem correto, que infelizmente se foi.

Da Avenida Rui Barbosa eu lembro muito bem... Do posto de gasolina do falecido José Batista e tenho até a fotografi a do pai dele, que faleceu com 105 anos. Então, na Rui Barbosa tínhamos os pontos principais, que era o Cine-Th eatroTaboada, construído por um português, Manuel Guilherme Taboada, pai de Godofredo. O Godofredo, muito moço, veio para Macaé e construiu aquela casa, hoje fechada, que era para ser tombada e até hoje eu não sei como está a situação, em frente a Nova Aurora; era casado com Isaura Maria Taboada, tendo uma fi lha que se casou com um milionário do Rio de Janeiro, dono de cartório e pai do falecido ator Carlos Eduardo Dolabella. Eles traziam o sal de Cabo Frio para Macaé e tinha o galpão na Rua da Praia... Ali, antigamente, era o depósito do Taboada, em sociedade com Francesconi, que também tinha umas barcas que traziam sal e ancoravam no Mercado.

O nome popular era Rua Direita e vou mostrar porque que era chamada assim... Antigamente, o pessoal falava: “Eu vou à Rua Direita”. Como é que era o procedimento? Diariamente, as pessoas iam à Rua Direita porque, naquela época, não tinha televisão, as pessoas ou fi cavam na porta ou passeavam na Rua Direita. Fechavam o trânsito, na altura da antiga Prefeitura até onde tem A Caçulinha, antiga loja Prado. Meu pai, minha mãe e 11 fi lhos passeavam ali das 7 às 10 horas da noite. Era tudo muito interessante, com coisas lindas. Esse nome Rua Direita é porque ali as pessoas direitas, as famílias tradicionais de Macaé, trocavam cortesias, cumprimentos, afagos... Coisa que na vida moderna de hoje fi cou complicado... As pessoas simplesmente passam e às vezes dão um “tchau” muito rápido. A vida fi cou muito corrida e isso prejudicou muito a qualidade de vida. Todos se conheciam e quando alguém tinha algum problema, mandava apanhar um pó de café, um arroz, que faltaram porque no momento não tinha.

O mundo vai fi cando moderno e vamos perdendo a qualidade de vida porque nada melhor que o calor humano. O amor está acima de qualquer cargo que a pessoa possa ocupar. Então, dando segmento a nossa conversa, na Rui Barbosa tinha o Café Império, do Seu Ivan Chalot, de família tradicional daqui. Logo em seguida, A Primavera da família Bittencourt... Ali, tinha o Belas Artes, o ponto de encontro das pessoas de melhor poder aquisitivo, dos comerciantes. Em frente, tinha uma grande loja do Antenor Tavares, pessoa muito querida em Macaé, que vendia tecidos. Naquela época, tinha muita costureira em Macaé e não dá para enumerar as profi ssionais de grande talento. Logo em seguida, tinha a Casa Michel, representante da Barrener, de Seu Alim Michel, um libanês ou turco, dessas famílias que vieram na época, como a do ex-prefeito, o saudoso Carlos Emir. Tinha uma loja de ferragem de Fábio Franco, pai do Luís Carlos Franco, dono da Gráfi ca Minerva. A loja da família Chaloub, de Jorge Chaloub, era na esquina, com a loja de tecidos e a residência em cima. Arquimedes de Souza França tinha uma loja de móveis. A Casa Garcia vendia roupas e acessórios sofi sticados e tinha uma vitrine linda. Conheci também o saudoso gerente, Seu Moisés. Naquela época, Macaé se dava ao luxo de fazer os desfi les, comandados por Magdá, mãe de Marilena, uma das dez mulheres mais elegantes. Hoje, com essa história da evolução, onde estão as dez mais elegantes de Macaé? Quem poderia apontar, dentro dessa sociedade de hoje? A comandante disso tudo era Magdá Garcia e tudo era em prol das entidades fi lantrópicas como o Asilo da Velhice Desamparada e o Lar de Maria, construído por José Soares Garcia, que antes de morrer, doou o terreno, uma área super valorizada... Também

“Macaé era uma coisa extraordinária!”Darlan Cézar Simões Pinheiro

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 30/11/2012.Faleceu, em Macaé, a 19/09/2017.

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Jardel, Joelson e Juarez [Franco Trindade, macaenses]

Fazenda das Garças [Propriedade rural no entorno da Lagoa de Imboassica]

Mar do Norte [Localidade litorânea do município de Rio das Ostras-RJ]

Petrobras [Avenida Conselheiro Almeida Pereira, Praia Campista]

Praia Campista [Bairro litorâneo, com característi cas mistas, que tem sua denominação ligada ao trágico assassinato dos membros de uma família campista oitocenti sta, ligada à ferrovia, sendo inicialmente denominado Praia dos Campistas]

Cavaleiros [Hoje, um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX, foi propriedade da família do Visconde de Araújo]

“pirulitos naturais” [Feitos em árvores ornamentais]

Fluminense Football Club [Agremiação poliesporti va e cultural fundada a 21/07/1902]

sede de praia [Na Avenida Atlânti ca, 2882, Cavaleiros]

José de Almeida [José Vieira de Almeida Júnior, aldeense, fi scal de Rendas]

Cláudio Augusto da Silva Santos [Macaense, arquiteto, urbanista]

Edyr Jaccoud [Macaense, corretor, empresário]

Cesário Alvarez Parada [Macaense, empresário, jornalista, colunista social sob pseudônimo de Volúsia Clara, presidente do Tênis Clube de Macaé]

Márcio Moreira Paes [Macaense, empresário, políti co fi liado à Aliança Republicana Nacionalista]

Manequinho Paes [Manoel Paes, campista, empresário, capitalista]

Clube dos Abaetés [Agremiação eliti sta, fundada na década de 1940, com sede foi erigida na Avenida Presidente Sodré]

sede [Na Avenida Presidente Sodré, onde depois funcionou o Ypiranga Futebol Clube]

Doutor Marcial [Moreiras, macaense, médico]

Doutor Samuel [Moreiras, macaense, advogado]

Uma casa [O Bolo de Noiva foi um palacete histórico, construído em 1927, por José Moreiras Alvarez, hospedando o macaense Washington Luís Pereira de Sousa, Presidente da República]

empresário [Arley Amaral de Carvalho]

Bradesco [Agência bancária estabelecida na Avenida Rui Barbosa, 614, Centro]

Elias Agos� nho [Macaense de Carapebus, empresário, políti co, vereador, prefeito de 1951-5]

lanchonete [Parque Lar de Maria na Avenida Rui Barbosa, 443]

Narciso [Na Avenida Rui Barbosa]

Siqueira [Na Praça Veríssimo de Mello]

Seu Maninho [Nilo dos Santos Macedo, comerciante]

José Siqueira [da Silva, macaense de Conceição de Macabu, empresário, farmacêuti co]

Jorge Picanço Siqueira [Macaense, médico pediatra, memorialista, escritor, acadêmico, arti sta plásti co]

Jair Picanço Siqueira [Macaense, médico, patologista, empresário, colecionador, membro do Rotary Club de Macaé]

Caetano [Farmácia e Drogaria São Caetano, com matriz na Rua Télio Barreto e fi liais na Praça Veríssimo de Mello e na Avenida Rui Barbosa]

Edmundo Caetano [da Silva, macaense, empresário, benemérito, foi presidente da Sociedade Musical Nova Aurora, em 1957]

Mathias Nett o [Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Escola Estadual Mathias Nett o]

Irene Meirelles [Escola Estadual, na Avenida Agenor Caldas, 442, no bairro Imbeti ba]

Antonio Curvello Benjamin [Macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8]

Maria Angélica [Ribeiro Benjamin, macaense de Conceição de Macabu, educadora, espírita atuante, benemérita, fundadora do Lar de Maria, Primeira Dama de Macaé em três mandatos]

A Construtora [Na Rua Francisco Portela, centro, pertencente ao empresário luso-espanhol Manoel Guilherme Taboada, gerenciada por seu cunhado Marcial Alvarez Moreiras]

Caetano Dias [Colégio Cenecista Professor Antonio, na Rua Francisco Portela, fundado pelo Doutor Djalma da Silva Almeida, cujo prédio hoje abriga a Escola Municipal Maria Isabel Damasceno Simão]

Monviso [Malharia e Confecção, na Rua da Igualdade, Imbeti ba]

Margarida [Margherita Modesta Rosso Amadei, italiana, tecelã, empresária, benemérita, fundadora...]

Giovanna [Maria Amadei Besada, italiana, empresária]

Maria Carla [Amadei, macaense, empresária]

Anphilóphio Trindade [Macaense, empresário, fazendeiro, benemérito, fundador do Rotary Clube de Macaé, patrono de uma rua no bairro Morada das Graças]

Posto de Saúde [Doutor Jorge Caldas, na Rua Tenente Coronel Amado]

Igreja Bati sta [Sede nova da Primeira Igreja Bati sta de Macaé, na Rua Tenente-coronel Amado, substi tuindo o edi� cio original na Rua Teixeira de Gouveia]

Praça [Irmãos Ferreira Rebello, hoje Washington Luiz]

tinha a lanchonete, na Rui Barbosa, que era uma coisa tradicional para Macaé. Seu Mendonça e Antônio Figueiredo, meu vizinho, que serviam na lanchonete... Ali, tinha o carrossel nos fundos, para as crianças, e uma coisa muito interessante, um sorteio que era feito com ratinhos brancos e uma roleta com escaninhos... Tinha uma prateleira por onde fi cavam os objetos a serem sorteados... O comércio doava os objetos, e em troca, cada escaninho daqueles que o rato entrava, tinha as propagandas dos patrocinadores: Casa Chaloub, da Casa Michel... Eu não posso deixar de relatar que Michel Acioli Pena, proprietário da Casa Prado, tinha o luxo de vender somente chapéu do Panamá. Meu avô, Luís Lírio, gostava de chapéus, naquela época todos gostavam, principalmente do Panamá, que vinham numas caixas redondas. Tenho uma foto do meu pai com meu avô, usando as roupas da época. As antigas farmácias de Macaé foram a Narciso e a Siqueira, que conheci com aqueles móveis lindos de peroba e uns vidros espetaculares com aquelas tampas de madeira trabalhadas, onde colocavam chupetas... Eram do Seu Maninho e de Seu José Siqueira, pai dos falecidos Jorge Picanço Siqueira e Jair Picanço Siqueira. A Caetano, de Seu Edmundo Caetano, veio depois. Acho que uma cidade, um país ou uma família sem história realmente fi cam muito empobrecidos... A nossa história, dos nossos pais, avós, bisavós, é uma coisa magnífi ca... É o coração falando mais alto em consonância com a caixa que é o cérebro, que comanda tudo.

As escolas, naquela época, eram o grupo escolar Mathias Netto... A Irene Meirelles, que foi construída no governo de Antonio Curvello Benjamin, sendo construída também uma casa dentro do terreno do colégio, porque o prefeito não tinha onde morar e a esposa dele era diretora, uma pessoa muito competente, Dona Maria Angélica... Um casal que marcou a história por muitos anos e eram tão unidos pelo laço matrimonial, que por incrível que pareça, ele faleceu e uma semana depois ela não suportou, veio a falecer também. Eu tenho uma revista antiga com várias fotografias do comércio todo. Depois, tiveram outros empreendimentos fortes como uma A Construtora, uma empresa grande, e com uma fábrica de tijolos, no centro da cidade, exatamente ali, perto do Caetano Dias, do Diamantino, um português, sendo gerente Seu João Rodrigues, com uma chaminé enorme importada da França.

Depois, veio a Monviso, de Dona Margarida, uma pessoa extraordinária, que também faleceu, mas suas fi lhas, Giovanna e Maria Carla, fi caram e adotaram Macaé como sua terra natal. Não podemos esquecer o saudoso Anphilóphio Trindade, pessoa boníssima, que tive o prazer de conviver e me chamava de Pinheiro. Dizia: - Ô Pinheiro, gosto muito de você! Minha infância foi toda ali, onde tem o Posto de Saúde. A Igreja Batista foi construída ali, onde era a pilação de arroz do Trindade. Por incrível que pareça, a Prefeitura Municipal de Macaé consentia, já que ele não tinha depósito, em colocar toda a palha de arroz na Praça. (Risos!) Era um montueiro de palha de arroz e aquilo era uma delícia, a gente subia e descia dali, como um escorregador, quase que natural. (Risos!) E tinha aquelas máquinas de madeira, sem motor, assim como era o tear da Indústria Bariloche, com pedal. Então, Anphilóphilo criou ali os fi lhos Jardel, Joelson e Juarez, e também era proprietário da Fazenda das Garças, que ia desde o Mar do Norte até exatamente antes da Petrobras. O primeiro loteamento foi a Praia Campista e depois dando segmento foi Cavaleiros.

Macaé era uma cidade que as indústrias eram muito pequenas, vivendo praticamente de doações de bancos, sendo patrocinada pelo comércio. A

Prefeitura Municipal de Macaé não tinha receita para fazer as praças, embora fosse uma cidade tratada com carinho. A cidade era limpa, as praças todas maravilhosas, todas naturais. Pega uma foto antiga da Praça Washington Luís e veja a praça hoje... É estarrecedor! A Rua da Praia, atual Avenida Presidente Sodré, tinha aqueles “pirulitos naturais” aparados com tesoura e a grama cortada com fancho, uma ferramenta com lâmina côncava e um cabo com vários pegadores... Os funcionários da Prefeitura levavam no bolso uma pedra de amolar. Era tudo arrumadinho naquelas praças de Macaé. Lembro daqueles pés de oitis na Praça Washington Luiz.

Em 1966, fui trabalhar no Tênis Clube de Macaé. Em primeiro de abril de 1968, foi assinada a minha carteira por Carlos Emir Mussi, que era o presidente e posteriormente viria ser prefeito. Acumulei vários cargos, treinei como escriturário e passei a cobrador. Depois, fi zeram uma reforma no estatuto, copiando o do Fluminense Football Club, do Rio de Janeiro, passando a ter um conselho de cinquenta membros, desmembrado em comissões. Então, acumulei as funções de executivo social, tesoureiro patrimonial e gerenciava o bar da sede de praia, lançada na gestão de Carlos Emir e concluída, se não me falha a memória, por José de Almeida. É um projeto do Cláudio Augusto da Silva Santos. Naquela época, tinha sido lançado o loteamento Cavaleiros pela única imobiliária que existia aqui, a Sabel, de Edyr Jaccoud... Para terem uma ideia, ofereceram uma quadra inteira e o clube rejeitou, não queriam ter tanta terra. (Risos!) O Tênis Clube era uma sociedade fechada, para pessoas de melhor poder aquisitivo da cidade... Eu posso contar a história acontecida antes do meu ingresso lá, porque andei pesquisando e consegui levantar... Eu e o saudoso Renato Montez, meu padrinho de casamento, advogado, funcionário do Banco do Brasil, recuperamos o livro da fundação, encadernamos, e está lá até hoje. A antiga sede era tipo uma residência colonial e nos fundos tinha uma quadra de basquete e na lateral uma quadra de tênis. Deixou de ter tênis há muito tempo, mas naquela época a elite jogava. A construção da sede nova foi feita na presidência do Cesário Alvarez Parada. Ele e Márcio Moreira Paes, que foi deputado federal por Macaé, fi lho de Manequinho Paes, que construiu o Clube dos Abaetés. O Tênis era de uma sociedade elitista onde se disputava roupas, carros, aquelas coisas todas. Então, a sociedade azul e branco se dividiu em duas. Imagina isso, num clube! As festas eram separadas, tudo separado. Aí o Manequinho Paes, um cara muito rico, resolveu construir a sede dos Abaetés. Ali, posteriormente, foi inaugurada a Rádio Emissora de Macaé, a 820, do Assumpção. Lembro ainda do prefi xo da rádio: “Iu a é, Iu a é, Rádio Emissora de Macaé”. (Risos!) Essas histórias vão fi cando para trás.

Macaé era uma cidade de ferroviários. Geralmente fi cavam agregados na Imbetiba onde fi cava a vila operária... Tinha aquele apito de fábrica, todos ouviam e a gente não precisava usar relógio, tocava às 7 horas, às 11 horas e depois às 17 horas. Na medida em que a gente vai contando uma história, vai aparecendo outra história... Comecei como corretor de imóveis ofi cialmente a partir de 1981. Na Rui Barbosa, uma das casas principais foi construída pela família do Doutor Marcial, um médico falecido, irmão de um advogado, o Doutor Samuel... Uma casa, com jardim na frente e uma escada ornamental subindo para a sacada... Em baixo era o porão, um de salão de jogos. Viveram ali muitos anos, até que foi vendida a um empresário macaense e posteriormente ao Bradesco.

Os bancos das praças tinham nomes e marcas dos patrocinadores. Nós tivemos um grande prefeito em Macaé, Elias Agostinho, que marcou a história administrativa de Macaé. Era uma pessoa de cartório, um bom

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Doutor Aluízio [dos Santos Júnior, macaense, fi liado ao Parti do Verde (PV), médico neurocirurgião, eleito em 07/10/2012, com 70.693 votos, iniciando o mandato em 1.0/01/2013]

BR-101 [Rodovia federallongitudinal do Brasil, iniciada em 1957, com extensão de 4 772,4 km. Seu ponto inicial está localizado na cidade de Touros (RN) e o fi nal na cidade de São José do Norte (RS)]

Parque de Tubos [Na Rodovia Amaral Peixoto, 163, em Imboassica, 4.0 subdistrito]

Celso Guimarães [Carioca, empresário]

Rio das Ostras [Município litorâneo emancipado de Casimiro de Abreu em 10/04/1992]

Iate Clube [de Rio das Ostras, na Boca da Barra, fundado em 18/01/1970]

Hotel de Imbeti ba [Na Avenida Elias Agosti nho, administrado nessa época pelo SESC – Serviço Social do Comércio, foi fundado no fi nal do século XIX, tendo pertencido ao historiador campista Alberto Lamego]

Panorama [Hotel, restaurante e piano-bar, na Avenida Elias Agosti nho, fundado pelos empresários macaenses Itamir Honório Abreu e Jorge Chaloub Filho (Budy), sendo gerenciado por Edson Torres]

Turismo [Hotel, na Avenida Rui Barbosa, 433, telefone 30, fundado na década de 1950 pelo empresário Carlos Augusto Tinoco Garcia]

Hotel Palace [Na Rua Conde de Araruama, construído nos anos 1920, pelo empresário Manuel Guilherme Taboada]

Bíblia [Sagradas Escrituras]

versículo [Marcos 8:36]

desde 1828 [Quando o campista Ezequiel Bapti sta de Araújo Pinheiro se estabeleceu na Freguesia de São José do Barreto, como fazendeiro, sendo sobrinho da 1.a Baronesa de Santa Rita (in memoriam), portanto, primo da 1.a Viscondessa de Araruama, da Viscondessa de Muriahé, do Visconde de Santa Rita, do Comendador Antonio Ribeiro de Castro, etc.]

Julião Bap� sta de Araújo Pinheiro [Macaense da Freguesia de São José do Barreto, fazendeiro, políti co]

minha bisavó [Zulmira Siqueira Pinheiro, macaense]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., criada pelo Presidente Getúlio Vargas, em 03/10/1953 e instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

pedras [Molhes formando um píer]

Ilha do Papagaio [Formação rochosa, baixa, que serve de refúgio a pássaros]

paredão [Muro de alvenaria que margeia a extensão da praia]

Praia do Forte [Praia da Concha com extensão de 180 metros nas dependências do Forte Marechal Hermes]

Vala dos Jesuítas [Canal para escoamento de águas, que segundo a tradição, remonta aos tempos coloniais e foi aberto pela Companhia de Jesus]

Visconde de Araújo [Bairro da região central surgido em terras da anti ga Fazenda do Monte Elízio, loteado pelo empresário português Antonio de Azevedo Santos Moreira]

tabibuia [Tipo de vegetação aquáti ca]

corretor [Referindo-se a Edyr Jaccoud]

Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Cavaleiros [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, em bairro nobre, loteado no fi nal da década de 1960, cujo nome, originalmente no singular, provém de uma anti ga lenda envolvendo um cavaleiro fantasma que assombra os escravos da fazenda do Visconde de Araújo naquele local]

gabarito atual [Código de Urbanismo que determina as medições previstas como gabarito, para a construção de imóveis na cidade de Macaé]

Pré-sal [Em geologia, camada pré-sal refere-se a um ti po de rocha, sob a crosta terrestre, formada exclusivamente de sal petrifi cado, depositado sob outras lâminas menos densas no fundo dos oceanos. No Brasil, a área que tem recebido destaque pelas recentes descobertas da Petrobrás, encontra-se no subsolo oceânico e estende-se do norte da Bacia de Campos ao sul da Bacia de Santos. Esti ma-se que lá estejam guardados cerca de 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o que deixaria o Brasil na privilegiada posição de sexto maior detentor de reservas no mundo]

Porto do Açu [Empreendimento logísti co iniciado pela empresa LLX Logísti ca S.A., fazendo parte de um projeto maior do grupo EBX, controlado pelo bilionário Eike Bati sta, que agora tem uma parti cipação minoritária no empreendimento, que passou a ser desenvolvido pela Prumo Logísti ca S.A.; começando a operar em outubro de 2014 com um carregamento de minério de ferro]

Eike Ba� sta [Eike Fuhrken Bati sta, mineiro, empresário com atuação em diversos setores, em especial petróleo, logísti ca, energia, mineração, indústria naval e carvão mineral]

administrador, possuía vários prédios, inclusive a Galeria Elias Agostinho que ligava a Avenida Rui Barbosa à Rua Teixeira Gouveia. Todas as obras que ele fez foram muito importantes, haja vista que até hoje aquele piso de concreto está na avenida que posteriormente levou o nome dele, na Imbetiba. A Petrobras aumentou o porto e colocou aquelas pedras para proteger a Avenida Elias Agostinho, embora a Ilha do Papagaio proteja muito. Acho válido a Prefeitura rebaixar uma parte do antigo paredão, mas deve preservar uma parte pelo que representou aquela muralha para a história. A pessoa senta ali e fi ca vendo o mar, embora tenha havido protestos. Problema nós vamos ter no bairro dos Cavaleiros, se não tiver providência, o mar vai invadir tudo em no máximo dez anos.

Eu costumava dizer que Macaé cresceu por livre e espontânea pressão, porque não estava preparada, foi exigido isso e nem sentaram para fazer um planejamento. Abriram a porta, entraram e não se conversou nada, não se pagou nada por isso. Macaé, hoje, era para estar bem servida de redes de esgoto... Nada desses canais que fecham para esconder sujeira e jogar ali na Praia do Forte. O canal joga tudo na Vala dos Jesuítas e fi ca aquele fedor na Imbetiba... Eu tenho fotos da vala aberta, pessoas trabalhando com enxada, tudo limpo, a água potável dava para beber... Água de chuva que vinha do Visconde de Araújo. Era tudo arborizado e tinha tabibuia, à vontade, onde era alagado. Macaé era uma coisa extraordinária! Só tinha um corretor de imóvel e o pessoal daquela época tinha pouca renda, os ferroviários ganhavam muito pouco, e quando chegava o verão, eles alugavam a casa, colocando aquelas placas: “Aluga-se por temporada”... Faziam uma casinha nos fundos, recolhiam umas coisas e deixavam outras, de acordo com a necessidade de cada inquilino. Para Macaé, vinham pessoas do Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes, da Serra... Macaé tinha a Praia da Concha, maravilhada minha juventude, depois fomos para a Imbetiba e, posteriormente, para os Cavaleiros, com a vinda da Petrobras.

Macaé era uma cidade bonitinha, bem cuidada pelos prefeitos, um cartão postal. Tinha uma serra sem estrutura, mas com moradores tradicionais. Com a vinda da Petrobras, os terrenos foram fi cando caros e tivemos a infelicidade de aprovar esse gabarito atual... Podíamos permanecer com aquela cidade histórica e crescer no sentido horizontal. Agora, com o Pré-sal, Macaé pode ter uma avalanche petrolífera, que será uma coisa extraordinária. O Porto do Açu está para ser inaugurado e aquilo vai ser um polo industrial enorme do Eike Batista, que vai repercutir por toda Macaé. Nos colocamos à disposição do nosso prefeito, Doutor Aluízio, no sentido de servir Macaé. Penso sempre, coletivamente, não quero nada, porque já me fi z numa cadeira de engraxate, com muita honra. Conheço tudo de Macaé, sem modéstia nenhuma, principalmente na área de construção civil, de loteamentos... Macaé tem que crescer no sentido horizontal e precisamos jogar toda a indústria de petróleo na BR-101, uma rodovia que liga o Rio de Janeiro à Bahia, e tem condição de suportar. Fazer novas ramifi cações pelo Parque de Tubos, de onde creio que venham as cargas pesadas, sem interferir no centro da cidade, que está totalmente congestionado. Só vamos salvar Macaé dessa maneira. Enquanto estiverem aprovando loteamentos irregulares ou aterrando área alagada, com certeza, ainda vamos ter problemas muito maiores que essas enchentes e a cidade vai acabar embaixo d’água.

Quando eu estava no Tênis Clube ainda não fazia corretagem, nem pedia honorários, a gente só indicava as pessoas, porque grandes empresários frequentavam o clube, como Doutor Aníbal da Costa Monteiro, advogado famoso, criminalista, com escritório em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele

era advogado do Celso Guimarães, dono da fábrica de vagões do Rio de Janeiro, que fornecia para a rede ferroviária. Então, eu sempre estava indicando negócios. O carnaval, naquela época, era uma coisa maravilhosa e o Doutor Aníbal, que tinha casa em Rio das Ostras, gostava muito do carnaval e todo ano reservava mesas no Tênis. Eu saí do clube, montei um escritório de corretagem e precisava de uma casa em Rio das Ostras, que tivesse dois terrenos próximos ao Iate Clube, porque um cliente, chamado Silas Silva, tinha lancha. Num fi m de semana, olhei uma casa para comprar e liguei para saber do proprietário, então caiu no escritório do Doutor Aníbal da Costa Monteiro, que tinha uma amizade muito grande. Aí, quando ele atendeu ao telefone, falou: – Oi Darlan! Como é que está nosso Tênis Clube? E foi assim que vendi a casa dele.

As famílias que vieram com a indústria do petróleo, quando chegavam, moravam no Hotel de Imbetiba, no Panorama, no Turismo e no Hotel Palace. Então, era uma cidade turística, com poucas indústrias e tinha uma arrecadação pequena.

Teria muito mais coisas para contar, mas seria uma entrevista longa. A cidade será um cais direito para o Pré-sal se forem tomadas as providências, deixando de lado a política, ou melhor, a politicagem. A gente precisa conduzir Macaé, acima dos interesses pessoais ou dos grupos, fazendo isto coletivamente. Porque a Bíblia tem um versículo que diz o seguinte: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. Então, traduzindo isso, não adianta ganhar dinheiro se não tiver qualidade de vida. Não vale de nada! Temos que marchar nesse sentido e isto repercute na população, do mais rico ao mais pobre. O mínimo que qualquer pessoa deveria ter nesse planeta é educação, saúde e casa própria.

Macaé para mim é tudo! Tenho família daqui desde 1828... Meu bisavô foi Julião Baptista de Araújo Pinheiro... Com certa idade, casou com minha bisavó, que fi cou viúva aos 23 anos, vivendo só para a família... A gente não vai encontrar nos dias de hoje mulheres deste porte. Então, Macaé signifi ca tudo para mim. Está acima da minha família, me emociono um pouco com isso, porque quando fui candidato a prefeito, renunciei a minha família. Se por acaso tivesse sido eleito, ia querer tudo que roubaram dos cofres públicos, de volta. Só acredito na administração pública dessa maneira. Esse negócio de tapar sol com peneira, não é comigo. E muito menos fi car em cima do muro. Sou uma pessoa que herdou do pai a preocupação com seus semelhantes e só consegue fazer isso, quem tem amor no coração, quem não mancha sua mão por dinheiro público. Esse é o Darlan. Sempre às ordens! ▪

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1 Rua da Praia com seus Pirulitos Ornamentais, s/d.

2 Darlan, s/d.Acervo parti cular de Darlan Cézar Simões Pinheiro, Macaé - RJ.

3 Darlan, 2011. Foto: Livio Campos.

Vista Aérea - Encontro do Rio Macaé com o Mar.Cartão postal S. autoria. Macaé(RJ), s/d.

Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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Abílio Miranda [Abílio Valenti no Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]Claudio [Moacyr de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]casa de vovó [Rua Curindiba de Carvalho, 56, Imbeti ba]DOPS [Departamento de Ordem Políti ca e Social, criado em 1924, foi o órgão do governo brasileiro, uti lizado principalmente durante o Estado Novo e mais tarde no Regime Militar de 1964, cujo objeti vo era controlar e reprimir movimentos políti cos e sociais contrários ao regime no poder] Seu Dandão [Aldino Moreira de Miranda, macaense, ferroviário, delegado sindical em 1964, comunista] Aristóteles de Miranda [Melo, o Tote, líder sindical, eleito Vereador do legislati vo macaense em 1947 e Deputado Estadual em 1962, auge do movimento operário em Macaé, chamada a Moscouzinho, após a Revolução de 64 foi preso e exilado]Rua Direita [Primeira denominação, que permaneceu por longo tempo no imaginário coleti vo]Catuta [Catharina Maciel Pinheiro, macaense]doutor Renato [Maciel Pinheiro, macaense, Médico Cirurgião, Provedor da Irmandade São João Bati sta, administradora da Casa de Caridade]Iracy [Maciel Pinheiro Marques, macaense, professora de Matemáti ca]Casa da Criança [Av. Rui Barbosa, 416, propriedade do mineiro Ailton Guimarães e da carapebuense Marli de Araújo Guimarães]Rua Barão de Cotegipe [Anti go Beco do Caneco, hoje Rua Julita Barcelos de Oliveira, no Centro]loja de Magdá [Casa Garcia, na Av. Rui Barbosa, 152, telefone 30, propriedade de Maria Magdalena Pereira Garcia, a Magdá, macaense de Glicério, socialite, benemérita, empresária]Parque Lar de Maria [Na Av. Rui Barbosa, 443, uma iniciati va do benemérito José Soares Garcia, macaense, empresário, angariando fundos para ações sociais]Rati nho [Um jogo de sorteios, com premiações]Rua Luiz Bellegarde [No bairro Imbeti ba]Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro] Fonte Luminosa [Chafariz na Avenida Presidente Sodré, a anti ga Rua da Praia, com efeitos luminosos e sonoros, construído na administração do Prefeito Claudio Moacyr de Azevedo, 1967-70]pessoa que a gente amou muito [O ti o paterno, Prefeito Claudio Moacyr]irmã [Olga Rocha, macaense de Conceição de Macabu] nosso bisavô [Laurenti no Fernandes da Rocha, macaense de Carapebus, ruralista]Antonio Caetano Dias [Carioca, professor, lecionou no distrito de São José do Barreto, teve educandários em Macaé e em Campos dos Goytacazes, patrono de duas escolas macaenses, uma cenecista e outra municipalizada]

Elizabeth [Franco de Azevedo Ramos, nascida em 21/05/1957, professora, casada com João Luiz Ramos, com quem teve Michelly, Raquel e David, e avó de Luísa Ramos Dessuy]Marcia [Franco de Azevedo Curvello, nascida em 04/02/1960, professora, casada com André Luiz Franco Curvello, com quem teve Vívian e André Luiz]Luciana [Franco de Azevedo, nascida em 23/11/1963, professora, divorcida, mãe de Gabriel e Marcelo]José Geraldo de Azevedo [Macaense, ferroviário]Maria da Conceição Franco de Azevedo [Macaense da região serrana]Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]trampolim [Equipamento de lazer instalado em rochedo com três níveis de altura]hotel do SESC [Hotel de Imbeti ba, administrado nessa época pelo SESC - Serviço Social do Comércio cujo prédio data do século XIX, quando abrigava o Grande Hotel Balneário, propriedade do campista Alberto Lamego]Bar Mocambo [Instalado em parte do páti o da anti ga Alfândega, inaugurada em 06/12/1896 e exti nta em 1904]Zelita Rocha de Azevedo [Macaense, doceira, ati vista sociopolíti ca, exerceu as funções de Primeira Dama de Macaé, no mandato de seu fi lho o Prefeito Cláudio Moacyr de Azevedo, que governou de 1967-70, viúva de Álvaro Bruno de Azevedo]areia preta [A areia monazíti ca que contém uma abundante quanti dade de minerais pesados como monazita, tório, isótopo 232 e urânio, responsáveis por sua radioati vidade. O termo monazita provém do gregomonazein, que quer dizer “estar solitário”, o que indica sua raridade] ressacas [Correntes maríti mas impulsionam a massa de água que caminha com velocidade crescente até encontrar o litoral e inundar a faixa de areia e adjacências]muralha [Muro de alvenaria que margeia a extensão da praia]Rua do Asilo [Atual Rua Luiz Bellegarde, Imbeti ba]Casa do Engenheiro [Bangalô construído no século XIX para residência de Rodolpho Alexandre Hell e do Barão de Hollenben, engenheiros alemães, funcionários da Cia. Estrada de Ferro Macahé-Campos, consti tuindo a tradição de ser moradia dos engenheiros responsáveis pela linha férrea em Macaé, o que se deu até a metade do século XX]Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]Leopoldina [A The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957, é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]Revolução de 1964 [Golpe de Estado iniciado quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]Miguel Angelo [da Silva Santos, angrense, educador]

“... ser macaense é um grande orgulho.”Elizabeth Franco de Azevedo RamosMarcia Franco de Azevedo Curvello

Luciana Franco de AzevedoEntrevistadas, em Macaé (RJ), a 24/08/2012.

Somos Elizabeth, Marcia e Luciana, macaenses, fi lhas de José

Geraldo de Azevedo e Maria da Conceição Franco de Azevedo. Começaremos nossas lembranças com a Praia da Imbetiba... Tinha um trampolim, o hotel do SESC, o Bar Mocambo e a gente sempre estava lá, onde íamos brincar. Aquelas amendoeiras lindas! Nossa avó, Zelita Rocha de Azevedo, sentia dores nos joelhos e a gente sempre estava lá, por causa de uma areia preta que ela dizia resolver as suas dores... Era uma Macaé boa, tranquila, na qual as pessoas se conheciam e se amavam muito, uma Macaé inversa da que vivemos hoje.

Lembramos daquelas ressacas... Ainda não tinha a muralha, morávamos na Rua do Asilo, e as águas vinham próximas lá de casa, não tão perto, mas sentíamos medo porque criança tem isto, o negócio estava longe e já estávamos com medo. As ressacas da Imbetiba eram bem fortes. Essas ressacas eram grandes eventos, as pessoas iam ver com os fi lhos, até porque não se tinha o que fazer em Macaé. (Risos!) A Casa do Engenheiro era no alto do morro, onde hoje está a Petrobras, lá residiam os engenheiros da Leopoldina.

Em Macaé, na época da Revolução de 1964, existiam pessoas com lideranças fortes, aguerridas, como os professores Miguel Angelo, Abílio Miranda, nosso tio Claudio, e vários ferroviários... Pessoas que queriam o melhor para Macaé, para o Brasil. Tínhamos um quantitativo muito grande de ferroviários... Uma história de resistência, de luta... Lembramos, perfeitamente, que as pessoas se escondiam na casa de vovó, porque não podiam falar, não tinham liberdade de expressão, não podiam ser diferentes do que era considerado padrão. Então vovó, muito política, muitas vezes participava acolhendo aquelas pessoas. O DOPS vinha fazer investigações na cidade... As pessoas sumiam. Seu Dandão uma vez sumiu... Seu Aristóteles de Miranda, também. Tudo isso direta ou indiretamente ligado à Imbetiba, que era lugar de praia boa e também de ofi cina ferroviária de diversão e novas ideologias ligadas ao movimento operário.

Era uma alegria a chegada dos domingos, quando íamos à Avenida Rui Barbosa, (Risos!) que era a Rua Direita. Tudo muito encantador! A beleza do encontro com as pessoas, uma coisa bonita. Madrinha Catuta, mãe de doutor Renato, de Iracy, morava na Rui Barbosa, numa casinha onde hoje é a Casa da

Criança, depois morou na Rua Barão de Cotegipe... A loja de

Magdá era a melhor da época, íamos ver as vitrines. Que coisa boa era aquele ambiente do Parque Lar de Maria, as crianças, de uma maneira geral, eram muito felizes com coisas simples... Tomávamos caldo de cana naqueles copinhos de alumínio com saquinhos... Tinha o Ratinho...

Nos passeios de bicicleta, ia a família toda... Nosso pai, a fi lha mais nova na cadeirinha, as outras duas atrás. A gente viveu isto. Até hoje, quando eu vejo uma família andando de bicicleta me dá uma satisfação, uma alegria muito grande porque eu me reporto àquela infância, uma época maravilhosa. Nós morávamos na Rua

Luiz Bellegarde, que era Capitão Jorge Soares, íamos pela Praça

Veríssimo de Mello, até a loja de Magdá e depois voltávamos. A Fonte Luminosa. Porque uma coisa tão bela, que signifi cou tanto para Macaé, foi destruída? Dá tristeza, não só porque foi o projeto de uma pessoa que a gente amou muito, mas porque era uma coisa, que até hoje ia causar uma satisfação nas pessoas.

Falar de vovó, Zelita Rocha de Azevedo, é difícil. Era muito engraçado ela contar pra gente, crianças, as peraltices que fazia no passado... Muito engraçado! (Risos!) Hoje em dia, como tias e avós não podemos contar certas coisas para as crianças, mas ela não tinha pudor nenhum em contar. Dizia que foi perversa, que fazia coisas do arco da velha, coisas feias mesmo. Quando o namorado da irmã chegava, ela fazia questão de colocar a agulha de crochê para o rapaz sentar. O rapaz chegava de terno para namorar, ela ia ao banheiro, não se limpava, e sentava no colo dele. (Risos!) Imagina um troço deste!?! Quando o pai morreu, ela fi cava pensando que não iria mais estudar porque nosso bisavô pagava o professor Antonio Caetano Dias, para dar aulas paras as fi lhas em casa. Devia ter uns dez anos de idade, e no velório

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tes fi lhos [Antonio Bruno Azevedo, Claudia Maria

Azevedo e Antonio Claudio Azevedo]

Barracão da Prefeitura [Nesta época, localizado na Av. Presidente Sodré, onde hoje está a sede da Prefeitura Municipal]

Quissamã [Anti go quarto distrito de Macaé emancipado em 04/01/1989]

Iguaba Grande [Anti go distrito de São Pedro da Aldeia emancipado em 08/06/1995]

Carapebus [Anti go terceiro distrito de Macaé emancipado em 19/07/1995]

Rio das Ostras [Anti go distrito de Casimiro de Abreu emancipado em 10/04/1992]

Eduardo Serrano [Espírito-santense, rábula, funcionário público, políti co, Prefeito de Macaé de 1959-60, protagonizou o único Impeachment do Poder Executi vo macaense, cujo argumento maior foi sua “incapacidade” por ser homossexual]

Dona Cacilda [Vieira Serrano, macaense, Primeira Dama de Macaé]

movimento em 1964 [Referindo-se ao Golpe militar]

uma de nós [Elizabeth Franco de Azevedo Ramos]

Geraldo Mussi [Geraldo Luiz de Paula Mussi, macaense, militar, advogado]

Walter Quaresma [da Costa, macaense, ferroviário, líder sindical, comunista, políti co, vereador 1958-60]

Armandinho Sólon [Armando de Sá Vasconcellos, macaense, fotógrafo, futebolista, ti tular do Clube de Regatas Flamengo, comunista]

Regime Militar [Período da história políti ca brasileira que contou ao todo com cinco presidentes e uma junta governati va, estendendo-se do ano de 1964 até 1985]

dedos duros [Sinônimo de delatores, alcaguetes]

nosso avô [Francisco de Aguiar Franco, macaense, agricultor]

Bicuda [Localidade do distrito de Cachoeiras de Macaé]

casamento [Ocorrido em 27/11/1971]

a noiva [Maria Cirlei Sanches, campista, professora, com quem teve os fi lhos Claudia Maria, Antonio Claudio, Antonio Bruno]

Brasília [Capital federal do Brasil e sede do governo do Distrito Federal, fundada em 21/04/1960]

MEC [Nesta época Ministério da Educação e Cultura, pela lei n.° 1.920, de 25/07/1953. Em 1985, foi criado o Ministério da Cultura (MinC), mas curiosamente a sigla MEC conti nua, porém passa a se chamar Ministério da Educação]

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada pelo Decreto Federal 73375, de 27/12/1973]

Fundação Educacional do Luiz Reid [Criada em 21/08/1956]

seu patrono [Luiz Lawrie] Reid, macaense, industrial, escritor, benemérito, doador do prédio de dois pavimentos, doze salas, auditório e dependências administrati vas, projetado por Joaquim da Silva Murteira, para sede do Colégio Luiz Reid]

mulheres a votar [O voto feminino foi assegurado às brasileiras pelo Decreto 21076, de 24/02/1932, passando a ser obrigatório em 1946]

nosso avô [Álvaro Bruno de Azevedo, macaense, colchoeiro, que dá nome ao Terminal Rodoviário de Macaé, na Rua Francisco Portela, 50]

três fi lhos [Maria do Amparo de Azevedo Siqueira, José Geraldo de Azevedo, Claudio Moacyr de Azevedo]

Doutor Hernani [Lebreiro Relvas, delegado]

Luiz Reid [Colégio Estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

Zé Domingues [José Domingues de Araújo Filho, macaense, professor de História, descendente de famílias aristocratas, trineto do Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro]

Lenita [Nocchi Abreu Vasconcellos, macaense, educadora, advogada]

Rossine [Medeiros, paduense, professor de Educação Física]

Sodrelândia [Distrito de Trajano de Moraes]

Trajano de Moraes [Município fl uminense na região serrana, fundado em 25/04/1891]

Santa Maria Madalena [Município fl uminense na região serrana, fundado em 08/06/1862]

Cabo Frio [Município balneário fl uminense, fundado em 13/11/1615, sendo o séti mo mais anti go do Brasil e o principal da Região dos Lagos]

Mavi [Maria Victória de Souza Barcelos, macaense de Quissamã, educadora, lecionou Inglês, Lati m e Língua Portuguesa, sendo graduada pela Ponti fí cia Universidade Católica – PUC/RJ]

Alzheimer [Doença degenerati va atualmente incurável, mas que possui tratamento]

doutor Djalma [Silva Almeida, denti sta, educador]

Claudia Marcia [Vasconcelos da Rocha, campista, educadora, professora de Língua Portuguesa, foi Superintendente Acadêmico e Presidente da Fundação Educacional de Macaé (FUNEMAC)]

Nire [Ribeiro de Andrade, macaense, professora de Matemáti ca]

São José [Centro Educacional na Praça Veríssimo de Mello]

Dona Le� cia [Peçanha de Aguiar, campista, professora de Língua Portuguesa, Lati m e Religião]

do pai ela pensava, contente, que não ia mais precisar estudar. (Risos!) Então, era uma pessoa totalmente transgressora. Olha o que ela contava para as netas!?! Ela percorreu a vida toda, oitenta e sete anos, com essas mesmas características. Foi uma das primeiras mulheres a votar no Estado do Rio de Janeiro... Ia para as portas dos bailes, deixava nosso avô em casa... Foi uma mulher que, naquela época, só teve três filhos, a maioria tinha de dez, pra fora... Não se privava das coisas boas da vida, cinema, teatro, o dinheiro dela era separado para isto também. Ela fazia goiabada, mas o forte era o doce de batata, reconhecido até fora de Macaé, na época uma cidade de veraneio, os turistas compravam o doce famoso, tinha uma marca e caixinhas personalizadas... No começo, os próprios fi lhos e família vendiam, depois os hotéis compravam para servir aos hóspedes, que gostavam e iam comprar na casa dela. Era um ritual, até hoje a gente tem uma pá de madeira... Ela conseguia bater três tachadas de doce por dia, e, por várias vezes, nós tentamos fazer e só sai uma, porque é muito trabalhoso... Raspávamos o tacho de doce de vovó! Fazia renda de almofada, crochê, apreciava muito os trabalhos manuais, ponto de cruz... Era um contraponto, uma hora estava na rua fazendo política, pintando com Deus e o mundo, outra hora ela estava dentro de casa fazendo os trabalhos manuais, inclusive vendia rendas de almofada. Foi uma pessoa respeitada pela conduta dela como ser humano, embora muito pobre. Ficamos olhando, nós mesmas e as mulheres de hoje, e não vemos nem sombra do que ela foi. Não dirigia, mas quando completávamos dezoito anos, exigia que fôssemos para auto-escola, não queria mulheres na família sem dirigir, ensinando que tivéssemos a nossa liberdade, a nossa vida, que não dependêssemos de marido... Lembramos muito dessa determinação, dessa coragem de vovó.

A delegacia era onde está a Polícia Federal, na Rua Roberto da Silveira, muitas vezes íamos visitar o fi lho de uma amiga, geralmente era fi lho de alguém que ela conhecia... Tinha uma escada de madeira e a cela embaixo... Os presos colocavam um espelho para ver passar as meninas de vestido. Era muito engraçado! Vovó levava cigarro, revista e muita comida. Quando tinha alguma ocorrência com um fi lho de um amigo, ela argumentava: - Doutor Hernani essa pessoa não pode fi car presa, é trabalhador, com tantos fi lhos em casa, abre essa cela!... Ela tinha este espírito de justiça, era uma coisa muito forte nela.

Estudamos no Luiz Reid, num tempo muito bom. Temos muitas saudades, porque era uma família... Mesmo mudando o diretor, saía Zé Domingues, entrava Lenita, depois Rossine... Uma coisa realmente interessante era a qualidade do ensino porque as pessoas saiam daqui, faziam provas para universidades federais e passavam. Era referência na região, tínhamos colegas de classe de Sodrelândia, Trajano de Moraes, Santa Maria Madalena, Cabo Frio... Todo mundo fi cava apavorado com Mavi, só passava quem realmente estudava, quem tinha interesse mesmo... Hoje ela tem Alzheimer, uma pena, às vezes encontramos com ela. O aluno respeitava o professor. Ser aluna do doutor Djalma é uma recordação eterna, flamenguista doente, todo mundo o respeitava... Claudia Marcia, Nire, pessoas maravilhosas, que nos deram um pouquinho delas, deixaram um pouquinho delas na memória, são amigas da gente até hoje. No São José, temos saudades de Dona Letícia.

As campanhas eleitorais eram a nossa vida. (Risos!) Falávamos nos comícios escondidas do nosso tio, Claudio Moacyr... Na hora, era uma emoção porque ele não podia saber, ele chorava, se emocionava, grudava na gente...

Foi pai muito tarde, aos trinta e oito anos, então dizia que éramos suas primeiras fi lhas... Muito da história dele a gente sabe por ter participado, mais do que os próprios fi lhos, então muitas coisas eles nos perguntam. Dele como prefeito, lembramos do uniforme que usava... Na Avenida Papa João XXIII, estavam cobrindo aquela vala, lembramos dele, nas manhãs, verifi cando a obra. Íamos com vovó no Barracão da Prefeitura e lá o víamos muito ativo, falando, dando ordens. Sobre a emancipação de Quissamã, ele foi o maior incentivador, o maior articulador... Não só de Quissamã, como de Iguaba Grande, Carapebus, Rio das Ostras... Quissamã foi a menina dos olhos dele, junto com Iguaba Grande.

Lembramos de Eduardo Serrano... Vovó fazendo campanha política para ele, levando-nos em sua casa, quando sentíamos um certo medo, ele era barbudo... Levávamos comida para Serrano, almoço, dois pratos amarrados por uma toalha... Ele morava no Morro do Carvão, hoje Alto Cajueiros... Sua mulher era Dona Cacilda, mais nova do que ele...

Papai, José Geraldo de Azevedo, era ferroviário... Vimos de perto o movimento em 1964, embora não entendêssemos tudo o que estava acontecendo. As crianças hoje em dia não querem saber de muita coisa, naquela época, que nem televisão direito existia, a gente fi cava mais atenta. E estar dentro de uma Revolução, participar disso tudo enquanto criança, ter medo de faltar o arroz, o feijão... Nosso tio, Claudio Moacyr, advogava em defesa de pessoas presas pelo novo regime. Ia procurar o preso tal, lá no Rio de Janeiro, que estava sumido... Isto tudo fi cava na cabeça e fazia muita confusão. Num julgamento de presos políticos, na Justiça do Rio de Janeiro, levaram uma de nós, que andava muito com eles, que não pode entrar no tribunal, porque criança não entrava, fi cou na praça com alguém, onde tinha um monte de bichinhos, foram horas com o advogado Claudio Moacyr falando, saindo de lá, oito horas depois, carregado nos braços do povo. O Geraldo Mussi, não sabemos se foi preso, mas ele o defendeu; Walter Quaresma; Armandinho Sólon... Ele foi o único que teve coragem de abraçar a causa, os outros tinham medo, ele recém formado, aguerrido, vindo de uma luta estudantil, achamos que isto lhe deu coragem. Aqui, em Macaé, existiam aqueles que delatavam, que faziam parte do Regime Militar... Eram os dedos duros. Nosso pai teve uma diferença com um cunhado dedo duro, que disse que ele seria preso, pois era ferroviário... Nem sabemos se voltou a falar com esse cunhado... Ele mandou recado para nossa mãe vir à Macaé nos acolher, porque papai seria preso... Ela estava na casa do nosso avô, na Bicuda.

Em 1966, nosso tio Claudio Moacyr foi candidato a prefeito... Em 1967, começou a sonhar com a primeira faculdade de Macaé... Em 1971, ele conseguiu, mas os adversários brecaram... Em 27 de dezembro de 1973, conseguiu a autorização e o reconhecimento na mesma portaria do Diário Ofi cial... Na época do seu casamento, chamou a noiva e pediu que a lua de mel fosse em Brasília... Ela não sabia que era para se meter dentro do MEC, para trazer a FAFIMA, e saiu de lá muito chateada... (Risos!) Os políticos de ontem, quando queriam alguma coisa, sacrifi cavam a própria vida familiar, aquilo poderia ter afetado muito a vida dele. Então, a FAFIMA foi criada no seio da nossa família, temos por ela um carinho, uma vontade que cresça, que a Fundação Educacional do Luiz Reid seja melhor reconhecida, porque seu patrono foi um homem que batalhou,

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Tânia [Maria Jardim Mussi, casimirense, professora, formada em Letras, advogada, Primeira Dama de Macaé nos dois mandatos de seu esposo o Prefeito Dr. Carlos Emir Mussi; deputada estadual]

Gelda [Maria Tavares Rodrigues, macaense, educadora, ex-presidente da FUNEMAC, subsecretária Municipal de Educação]

Sabino [Alcebíades Sabino dos Santos, riostrense, formado em Letras e Comunicação, políti co, Prefeito de Rio das Ostras, deputado estadual]

Ivania Ribeiro [Silva, macaense, educadora, formada em Letras, políti ca, vereadora, presidente do Insti tuto Histórico e Geográfi co de Macaé - IHGM]

Angela Terra [Angela Almeida Terra Agosti nho, cabo-friense, educadora, diretora do Projeto Arte Luz, um programa de fomento as artes e inclusão social]

Iza Corrêa de Aguiar [Macaense, professora, militante políti ca]

Magali Almeida [Magali de Souza Almeida, macaense, educadora]

Exame [Colégio e Vesti bulares, criado em 2001, na Av. Presidente Sodré, 428, Centro]

Lúcia [Maria Silva Thomaz, macaense, educadora]

Escola Alfa [Criada em 1984, na Rua Dr. Bueno, 525, Imbeti ba]

Mariza Maia Cuverlo [Macaense, educadora, ex-diretora Escola Estadual Municipalizada Jacyra Tavares Duval, membro do Conselho Municipal de Educação]

CEMAC [Criado em 1983 com o nome Jardim Escola Casinha Feliz, hoje Centro Educacional Mariza Curvelo - CEMAC]

Paulo Thomaz [Paulo Roberto do Carmo Thomaz, madalenense, corretor de imóveis]

Juarito [Juarez Malheiros Chaloub, macaense, psicanalista, professor, políti co, vereador]

Elzinha [Elza Ibrahim, trajanense, graduada em Letras Clássicas, especializada em Linguísti ca, professora, poeti sa, escritora]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital do Estado do Rio de Janeiro de 1903 a 1975]

Beth [Elizabeth Franco de Azevedo]

Chagas Freitas [Antônio de Pádua Chagas Freitas, carioca, jornalista, políti co, sua forma parti cular de fazer políti ca foi chamada de chaguismo, governou a Guanabara (1971-5) e o Rio de Janeiro (1979-83) e recebeu o � tulo de Cidadão Macaense]

Coordenadoria de Saúde [Na Rua Visconde de Quissamã]

um primo [Carlos Paes de Figueiredo Sobrinho]

Wanderley Silva [Macaense de Quissamã, fotógrafo, proprietário do Studio Wanderley Fotografi as, na Rua Marechal Deodoro, 215, telefone 20721, membro da Academia Macaense de Letras]

Antonio Benjamin [Antonio Curvello Benjamin, macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8 ]

o espaço [O anti go logradouro público incorporado as dependências da Fundação Educacional Luiz Reid, que primeiro foi denominado Largo do Capão Seco e depois Praça do Rosário, Praça Mott a Coqueiro e Praça Nilo Peçanha, porém fi cou conhecido como Praça da Luz pela presença da estação de energia elétrica da Usina Hidrelétrica de Glicério]

período di� cil [Referindo-se a Ditadura Militar]

MDB [Movimento Democráti co Brasileiro, parti do políti co brasileiro organizado em 1965 que abrigou os opositores do Regime Militar ante o poderio governista da Aliança Renovadora Nacional]

Tacredo [de Almeida Neves, mineiro, advogado, empresário e políti co, foi primeiro-ministro, ministro da Justi ça e Negócios Interiores, ministro da Fazenda e governador do Estado de Minas Gerais. Em 1985 foi eleito Presidente do Brasil, pelo voto indireto, mas faleceu antes da posse]

Ulysses Guimarães [Ulysses Silveira Guimarães, paulista, políti co, advogado, teve grande papel na oposição à ditadura militar e na luta pela redemocrati zação do Brasil]

PMDB [Parti do do Movimento Democráti co Brasileiro, fundado em 1980, maior parti do políti co brasileiro, possui uma orientação políti ca centrista, sendo sucessor do MDB, legenda de oposição ao Regime Militar de 1964]

Tênis Clube [de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

prédio próprio [Na Rua Tenente Rui Lopes Ribeiro, 200]

Seu Alcides [Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, Prefeito de Macaé, nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]

junto com Antonio Benjamin e outros homens, conseguindo o espaço para fazer o colégio. O Colégio Estadual Luiz Reid , na época, tinha até uma caixinha, os pais colaboravam com o ensino do fi lho... Então, para nós macaenses, é muita emoção, queremos o melhor para a FAFIMA, uma instituição de educação surgida naquela época, ainda em 1974, quando estávamos num período difícil. Para um deputado do MDB, foi um merecimento, uma luta muito árdua, mas ele tinha companheiros, muita amizade em Brasília, com Tacredo, com o próprio Ulysses Guimarães, uma turma do PMDB, que ajudavam muito a Fundação Educacional Luiz Reid, inclusive temos alguns telegramas deles.

Ele conseguiu o Tênis Clube para acolher as primeiras turmas da FAFIMA, até construir o prédio próprio com o maior sacrifício. O prefeito era Seu Alcides, que cedeu a mão de obra, uma contribuição muito grande. A FAFIMA foi muito sonhada, teve grande esforço dele, temos tentando prosseguir, mas não é brincadeira porque como Macaé mudou, a educação desvalorizada, o professorado desvalorizado, a concorrência desleal... Estamos agora reestruturando a instituição, acreditando muito que vamos conseguir adequá-la à realidade do Município e da região, achamos isto muito importante.

Pessoas infl uentes na sociedade macaense passaram pela FAFIMA. Temos Marilena... Tânia... Gelda... No município vizinho, Rio das Ostras, o Sabino... A maioria dos secretários da educação da região... Ivania Ribeiro como aluna, professora, coordenadora, amante da FAFIMA, é uma referência aqui... Tantas outras: Angela Terra; Iza Corrêa de Aguiar; Magali Almeida, proprietária do Exame, Lúcia da Escola Alfa... Mariza Maia Cuverlo, do CEMAC... Paulo � omaz fala que o tempo dele aqui foi tão rico, que se tiver que falar, entre a faculdade de Direito e a de Letras, que ele fez aqui, é muito mais consolidada a educação que ele recebeu aqui. Também gostaríamos de citar o Juarito porque foi referência de colega, extremamente inteligente, amigo, ótimo professor, a gente sente muita saudade dele... A querida Elzinha... Meu Deus! Quanta gente de valor passou por aqui!

O professor Rossine Medeiros, com aquele jeito muito expansivo, conta que uma professora do Luiz Reid fez um requerimento de aposentadoria e teve um impasse, ela começou a ir ao Rio de Janeiro, uma, duas vezes... Numa das vezes, ela argumentou que estava tendo muitas despesas, que era de Macaé, daí levantou-se uma senhora, e falou que era a terra de um grande homem: Claudio Moacyr de Azevedo. Perguntou se ela tinha disponibilidade de ir à Niterói, na Rua São João, número tal, procurar fulano... Ela foi, em quinze dias estava aposentada... É do norte fl uminense, estava em Macaé havia pouco tempo, foi perguntar à Rossine, quem era Claudio Moacyr, para agradecer... Ele já tinha falecido, há mais de doze anos, o que ele representou neste Estado, é uma coisa fabulosa, realmente enche a gente de orgulho. Quantas vezes vivenciamos isto! Num consultório médico, quando falamos que somos de Macaé, uma pessoa admirada disse que é a terra do maior orador que conheceu, era um desembargador, mas não importa quem seja, a gente sente o respeito que as pessoas têm por nós, uma coisa impressionante, uma responsabilidade muito grande na vida da gente, colhemos bons frutos, por conta de nossos pais, avós, tios.

Beth comecou a discursar nos palanques, com oito, nove anos de idade, quando nosso tio foi candidato a prefeito. Era muito tímida... Ele chegou em casa e perguntou aos nossos pais se deixavam que ela fi zesse o discurso com ele, então foi lida a primeira propaganda, e nosso pai disse: - Elizabeth não vai dar conta disso porque é muito timída. Ele respondeu assim: - O amor é capaz de tudo! Aquilo nos moveu de uma forma... Íamos para Carapebus naquele lamaceiro, não tinha estrada asfaltada, foi uma campanha eleitoral difi cílima, passávamos fome, vovó batia naqueles casebres da estrada pedindo comida, bananas... A experiência que ele deixou pra gente, tanto na política, sobretudo como ser humano, é um legado de respeito, honetidade, cuidado com o próximo.

Quando o Chagas Freitas, na época governador, veio inaugurar a Coordenadoria de Saúde a Luciana estava passando por uma situação chata em casa... Nosso pai andava meio emburrado porque ela estava namorando um primo e não podia. A solução era pedir a ajuda do nosso tio, conselheiro e amigo... Naquela muvuca de inauguração, ele largou tudo, se trancou numa sala da coordenadoria e enquanto não viu que estava solucinado, não a abandonou. Isto não tem preço, colocava a família em primeiro lugar. Até chamar a atenção ele sabia, se a gente estivesse com uma roupa curta, dizia irônico: -Não tem uma sainha mais curta pra colocar, um shortinho mais curto? Papai era cheio de rigores conosco, mas ele não, o que falava era lei, tudo que a gente consultava... Muito bacana isso. Uma coisa muito interessante que lembramos muito, nos enche de orgulho, é que enquanto nosso tio era prefeito, nosso pai era ferroviário -Graças a Deus! -, sabádos e domingos vendia peixes, com Seu Wanderley Silva, num jipe, iam para a serra macaense, para Trajano de Moraes, com aquele isopor, levavam peixes e traziam galinhas e ovos... Tínhamos um galinheiro em casa, para venda. Papai teve uma vida de muito trabalho, determinação, era um homem distante da política.

As principais transformações ocorridas em Macaé? A primeira foi o quantitativo na população, o quanto Macaé cresceu, a gente se espanta a cada dia. Outra trasformação são os impactos sociais, a problemática que esse crescimento trouxe. Sabemos que qualquer crescimento traz ônus e bônus, vemos muitas coisas negativas, mas coisas boas também. Macaé de portas abertas para o mundo, quantas pessoas realmente vieram para acrescentar, convivemos com pessoas que vieram por conta da indústria do petróleo, e admitimos que é bom tê-los aqui... Colocando na balança, temos mais coisas negativas do que positivas, sem dúvida, mas achamos que nós, macaenses, deixamos muita coisa acontecer, deveríamos ter a obrigação de formar uma associação de macaenses, para tentar reverter esse quadro e deixarmos de ser estrangeiros na terra da gente. Quem passa um tempo fora, quando volta sente as coisas completamente diferentes... Passávamos na Rua Direita era oi, oi, oi... Hoje em dia, não se conhece mais ninguém, não sentimos aquele calor humano, não tem mais isto de macaense... Éramos uma grande família.

A coisa mais negativa que temos na Macaé atual é falta de ação, de atitude dos macaenses, das pessoas que amam esta terra... As pessoas que vem de fora e não se comprometem com o Município... Isto é terrível! Um

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Fundação Getúlio Vargas [Universidade parti cular, fundada em 20/12/1944, objeti vando qualifi car pessoal para a administração pública e privada, desde então, extrapolou as fronteiras do ensino e avançou pelas áreas da pesquisa e da informação]

Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo]

Aeroporto [Público de Macaé, inaugurado em 1980, com área de 480.000 m², localizado na Avenida Hildebrando Alves Barbosa, a 5 km do Centro]

Aroeira [Tradicional bairro da periferia macaense, loteado na década de 1960 pelo Ex-prefeito Juvenal Barreto Júnior, sendo um dos três principais acessos à cidade]

Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, benemérito, educador, diretor do Colégio Luiz Reid, fundador do Grupo Espírita Pedro]

O Debate [Um jornal macaense diário, fundado em 01/05/1976 pelo jornalista Oscar Pires]

um macaense [Allan Guerra de Alencar, o Birosca, macaense]

Gabriel [Franco de Azevedo Paes de Figueiredo, fi lho de Luciana]

Zé Milbs [José Milbs de Lacerda Gama, macaense, jornalista, proprietário do jornal O Rebate]

Assembléia [Legislati va do Estado do Rio de Janeiro - ALERJ]

Belas Artes [Café, Bar e Restaurante de propriedade dos irmãos Gonzalez, na Av. Rui Barbosa, 234, telefone 29]

maiô engana mamãe [O maiô engana mamãe tem este nome porque na frente é um modelo comportado, fechado, e não deixa a barriga à mostra, porém olhando por trás, parece um biquíni]

Diamante Negro [Produto da tradicional indústria LACTA, lançado em 1940, que recebeu o nome em homenagem a Leônidas da Silva, famoso jogador da Seleção Brasileira, apelidado pela imprensa paulista de Diamante Negro, por seu excelente desempenho dentro de campo]

Crush [Refrigerante sabor laranja, concebido originalmente nos EUA, em 1916, por Clayton J. Powel. No Brasil era fabricado pelas indústrias Golé e Pakera, franqueadas pela multi nacional Cadbury Schweppes]

Filhinho Monteiro [Juscelino Monteiro, barbeiro, fi scal de transporte coleti vo do Departamento de Estradas e Rodagem, políti co, vereador]

Malvino Orbílio de Lima [Macaense, descendende das tradicionais famílias Carneiro da Silva e Araújo, políti co, vereador, fundador e presidende do Grêmio Recreati vo Escola de Samba Acadêmicos da Aroeira, patrono da Cidade do Samba na Linha Verde]

Tarcísio Paes de Figueiredo [Mineiro, professor, fundou o ensino medio na Bicuda Grande, sendo patrono da escola municipal local]

professor de Gestão de Qualidade, da Fundação Getúlio Vargas, há um tempo atrás, veio a Macaé, e foi primeiro numa fi rma para a qual dava consultoria e, lá, perguntou onde é o centro da cidade, precisava ir à FAFIMA... Uma secretária da tal fi rma lhe disse: - Não sei, não conheço. Sou de Vitória, pego um avião, desço no Aeroporto, moro aqui do lado e não gosto desta terra. Por isto que a gente se espanta, as pessoas não se comprometem, vêm tirar seu sustento, trabalham, mas não se comprometem com a terra... Não são todos, mas um grande número de pessoas age assim, isto também é um ponto negativo.

É indescritível o que a gente sente por nossa terra, é amar a mãe, a terra que acolheu, a terra que viu a gente engatinhar para crescer e muito. Somos felizes por sermos macaenses, é tão bacana, signifi ca tanto. A gente viaja, quando volta e chega naquela pontezinha da Aroeira, o coração abre... É verdade, sentimento mesmo, o coração abre... Então, ser macaense signifi ca a gratidão eterna por estarmos aqui... Macaé detém a nossa história, a gente detém a história de Macaé, ser macaense é um grande orgulho.

O interessante é que esse amor por Macaé a gente consegue passar... Os fi lhos da Luciana não nasceram aqui, mas se falar em ir embora, eles não querem, se sentem macaenses... Conseguimos passar isto a eles... De uma certa forma, eles conhecem a história de Macaé, conhecem a história de pessoas como Seu Pierre... Conhecem porque a gente passou para eles. Tínhamos em O Debate, a coluna de um macaense que morava em Niterói... O Gabriel gostava de ler aquela coluna, perguntava: - Mamãe, quem é fulano de tal, que está citado aqui? Tem também Zé Milbs que escreve coisas sobre Macaé e é como se a gente vivenciasse aqueles momentos... É uma pessoa que marcou muito as nossas vidas de macaense, pelo jeito que ele escreve.

Hoje, voltamos ao tempo passado. Lembramos das várias fases da vida e visualizamos nosso tio, Claudio Moacyr, fazendo os discursos na Assembléia... A Imbetiba... O Belas Artes... O maiô engana mamãe... Diamante Negro e Crush... Seu Filhinho Monteiro... Malvino Orbílio de Lima... Tarcísio Paes de Figueiredo... Aquelas pessoas antigas. Vivemos muito isso... No corre-corre de cada dia não conseguimos parar para reviver, então, foi uma oportunidade realmente única. Nossa Senhora! (Risos!) Revivemos nossa infância, adolescência, foi muito bom, muito emocionante, realmente quase não conseguimos nos segurar porque são recordações maravilhosas, coisas que vivemos não só junto com nossos familiares, mas na própria vida de Macaé... Foi muito bom, só temos a agradecer.▪

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Nacif Salim Sélem, Prof. José Domingues, Claudio Moacyr e Prof. José Carlos Cunha, na posse da direção do Colégio Estadual Luiz Reid, em 1979.Acervo parti cular da família Azevedo. Macaé (RJ).

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tes 1 Claudio Moacyr e Tancredo Neves no movimento

das Diretas Já.2 O Prefeito Claudio Moacyr recepcionando o

então Governador Geremias de Matos Fontes em Macaé, 1968 - foto Livio Campos.

3 Professor Antonio Alvarez Parada recebendo homenagem de Claudio Moacyr de Azevedo na Assembleia.

4 Desfi le Cívico, aniversário de Macaé - Na tribuna, o prefeito Claudio Moacyr de Azevedo, 1968.Acervo parti cular da família Azevedo. Macaé (RJ).

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Prefeitura e Câmara Municipal.Cartão postal S. autoria. Macaé (RJ), s/d.

Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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Sica ou da Boassica, por receber água salgada do mar]Cavaleiros [Bairro nobre e balneário, loteado na década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]SESI [Serviço Social da Indústria é uma rede de insti tuições privadas brasileiras e de atuação em âmbito nacional. Foi criado em 01/07/1946 com a fi nalidade de promover o bem-estar social, o desenvolvimento cultural e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e da comunidade na qual estão inseridos. Em Macaé fi ca na Alameda Etelvino Gomes, 155, Riviera Fluminense]Redondo [Bar, restaurante e danceteria localizado na Av. Elias Agosti nho, 250, onde atualmente está o Hotel Macaé Othon Suítes]Chevett es [Chevrolet Chevett e é um carro da General Motors, que foi lançado no Brasil em 1973, como um sedan de duas portas, sendo fabricado até 1993]cemitérios [Pertencentes às irmandades do Santí ssimo Sacramento, de Nossa Senhora do Rosário e de São João Bapti sta, na Rua da Igualdade]Mocambo [Bar instalado em parte do páti o da anti ga Alfândega, inaugurada em 06/12/1896 e exti nta em 1904]Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]cinema [Cine-teatro Taboada inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]Tênis [Clube de Macaé, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]Fluminense [Futebol Clube, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]Praia Campista [Bairro litorâneo, com característi cas mistas, que tem sua denominação ligada ao trágico assassinato dos membros de uma família campista oitocenti sta, ligada a ferrovia, sendo inicialmente denominado Praia dos Campistas]Doutor Aluízio [dos Santos Júnior, macaense, fi liado ao Parti do Verde (PV), médico neurocirurgião, eleito em 07/10/2012, com 70.693 votos]Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal] Parque Aeroporto [Conjunto residencial surgido na década de 1980, atual 2.0 Sub-Distrito, ligado ao 1.0 Distrito Cidade de Macaé]

Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]Rondônia [Unidade federati va, na Região Norte, cuja capital é Porto Velho]esposa [Sônia Capele� Sarmento Cavour, carioca, fonoaudióloga, coordenadora da União Macaense Solidária no Combate ao Câncer de Mama - UNAMAMA]pai [Bento Cavour Pereira de Almeida, macaense de Quissamã, funcionário da Cia. Engenho Central de Quissaman, neto materno dos barões de Monte de Cedro, portanto, descendente de tradicionais famílias do período imperial] Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, termo de Macaé (RJ), depois quarto distrito, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989. O entrevistado nasceu em Quissamã, na Chácara São João, em 08/11/1952]primo [Eduardo Carneiro da Silva]Amilcar [Pereira da Silva, mineiro, administrador, políti co, gerente-geral da Cia. Engenho Central de Quissaman]Clarisse [Carneiro da Silva Caldas, macaense de Quissamã, benemérita, descendente de famílias expoentes do Império Brasileiro]Doutor Jorge [Ribeiro da Silva Caldas, macaense, médico, clínico geral, que residia numa chácara urbana na Av. Rui Barbosa]Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970] meus fi lhos [Fernanda Sarmento Cavour e Lucas Sarmento Cavour] Praça Washington Luís [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]boate [Chaplin’s Bar, conceituada casa de shows inaugurada na década de 1980 e fechada em 2000]Samuel [Bi� encourt Marques, macaense, empresário]Imbeti ba [Na Rua do Sacramento]casa an� ga [Propriedade de Mary e Jane Cunningham, irmãs de origem inglesa, estabelecidas em Macaé ainda crianças na companhia dos pais imigrantes] Tókio Jazz [Casa de Cultura, com bar, restaurante, galeria e danceteria, na Rua Bariloche, 212, Cavaleiros]Paulinho [Paulo Moraes, empresário, produtor]Pesque &Pague [Na Fazenda Guanabara, Imboassica, onde hoje está o loteamento Jardim Guanabara]Salgado [Ricardo Muylaert Salgado, carioca, empresário]Lagoa de Imboassica [Originalmente Lagoa da

“Temos esse vínculo com Macaé, muito forte.”Flávio Cunha Cavour Pereira de Almeida

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 02/ 09/ 2012.

Eu vim para a cidade de Macaé em 1983, a convite do então prefeito, Alcides Ramos, para ocupar o cargo de Secretário de Administração. Na época a gente estava em Rondônia, eu e minha esposa, quando meu pai telefonou, ele é de Quissamã, e me disse que o prefeito estava com uma vaga para mim. Nem sei o motivo pelo qual me convidou, porque nunca pedi esse emprego e não sei se meu pai quis me ver perto e pediu, isto até hoje é um mistério. Eu vim aqui, Seu Alcides me nomeou Secretário de Administração, e fi quei secretário o governo dele todo, e comecei exatamente dia 1° de janeiro de 1984, quando ele já tinha um ano de governo.

Na minha juventude, passava as férias em Macaé, porque tinha um primo, na casa do Seu Amilcar, e tinha também a Dona Clarisse, esposa do Doutor Jorge, que era uma espécie tia, prima do meu pai. Mas quando eu vim para cá, a Petrobras já estava aqui, mas muito no início, a gente não percebia muito a ação, até porque os grandes campos não tinham sido descobertos. A partir de 1990, a coisa cresceu, mas em 1983, a vida ainda era muito tranquila, lembro que a Prefeitura Municipal de Macaé tinha um regime de trabalho muito gostoso, que só trabalhava de meio dia às seis da tarde, então, eu tinha as manhãs para levar meus fi lhos à Praça Washington Luís. A Prefeitura muito pequena, com pouca gente, conhecíamos todo mundo da folha de pagamento, íamos trabalhar e não tínhamos problema de estacionar, chegava botava o carro, tinha vaga à vontade, e também andávamos muito a pé. A gente sabia que a Petrobras ia crescer, mas não tínhamos noção de quanto tempo ia levar, porque o petróleo é uma coisa que se pesquisa e nem sempre se dá sorte nas perfurações.

Macaé tinha umas diversões que acabaram, uns prazeres que não temos mais... Interessante que ao invés de evoluírem, certas coisas regrediram. Tinha, por exemplo, na Rua Silva Jardim, aquela boate do Samuel. Tinha o Pub, na Imbetiba, numa casa antiga com jardim. Tinha a Tókio Jazz do Paulinho; o Pesque &Pague, do Salgado, aonde íamos aos domingos, com lagos artifi ciais, que na época fi cou muito em moda. [...] Era uma maravilha! Levava todo mundo que vinha a Macaé, parentes meus do Rio de Janeiro. Tenho uma foto de 1987, tirada na Lagoa de Imboassica, com meus dois fi lhos pequenos, a água cristalina, eles dentro da lagoa, você vê o fundo da lagoa, clarinha, clarinha. Eu achava muito interessante a noite macaense, hoje, limita-se aos Cavaleiros, às vezes, tem uma coisa ali no SESI, mas é muito esporádico. Naquela época, em Macaé, nos encontrávamos mais com as pessoas, íamos pouco aos Cavaleiros, não tinha esses bares que tem hoje, eram poucos, mais rústicos. Ainda peguei o Redondo, todo sábado e domingo. O pessoal passando com os carros, quando compravam um carro novo fi cavam o dia inteiro pra lá e pra cá mostrando, os Chevettes, iam ao fi nal da Avenida Elias Agostinho, nos cemitérios, voltavam e faziam o retorno no Mocambo. Íamos à Praia da Imbetiba, ao cinema, na Avenida Rui Barbosa, e nos clubes,Tênis e Fluminense, na Praça Veríssimo de Mello... Tinha muito baile de noite, todo sábado era sagrado, durante o dia também tomávamos banho de piscina na casa dos primos.

Eu soube que Carlos Emir foi prevenido que a Petrobras viria pra cá, e que ela se ofereceu para, junto à Prefeitura Municipal de Macaé, estabelecer planos de ocupação da cidade. Durante todo o governo de Seu Alcides, sinceramente, nunca ouvi falar nisso, mas sempre percebi a Petrobras disposta a colaborar com os prefeitos para dotar a cidade de uma infraestrutura melhor, mas não vi boa vontade dos prefeitos para estreitar o relacionamento com a empresa. Acho que isso foi uma falha dos prefeitos, eles deixaram de utilizar os conhecimentos da Petrobras, que tem muita gente competente, e até das verbas que ela estaria disposta a repassar para melhorar a urbanização e dotar a cidade de equipamentos. Por exemplo, a cidade não tem esgoto tratado, uma coisa muito impressionante, tem até umas estações construídas, mas que não funcionam, não trata esgoto nenhum, vai tudo para os rios, as lagoas, os canais, e para o lençol freático. Acho que os prefeitos tinham certo receio de ver a autoridade diminuir, porque se acham a pessoa mais importante do Município, então não gostam que outros venham dar ordens, nem mesmo sugerir coisas. Os prefeitos, às vezes, não tinham um nível de instrução muito bom e o gerente da Petrobras era sempre um engenheiro com um grau de instrução elevado, então, talvez eles fi cassem com medo de serem passados para trás, de perder o controle. Eu fi co com pena porque acho que a cidade perdeu muito. Todos os gerentes que passaram aqui teriam muito prazer em ajudar a cidade, tenho certeza disso. O que os prefeitos pedissem eles iam se esforçar para atender, por exemplo, ali na Praia Campista, aquele calçamento foi a Petrobras que fez. Eu acredito que o prefeito atual, o Doutor Aluízio, vai usar muito o pessoal da Petrobras para ajudar a Prefeitura, e até falei para um de seus colaboradores que se ele for às empresas de grande porte, vai ter quase que meio orçamento a mais no Município. Essas empresas estão doidinhas para essa cidade fi car muito bonita, bem tratada, com estação de esgoto, com ruas asfaltadas, toda jardinada. Eles vêm de lugares bem tratados como os Estados Unidos da América, França, Inglaterra, Noruega... Então, chegam aqui e levam um susto tremendo. Se nós, que somos daqui, achamos feio, imagina um cara que vem da Noruega, qual a impressão que ele tem?

Fui trabalhar na Prefeitura com Seu Alcides Ramos e depois trabalhei com Sylvio Lopes um período, e pedi demissão. Comparei os dois governos, então, a Prefeitura era uma, administrava com seriedade e muita honestidade, não tinha funcionário fantasma. Eu fazia a administração e lembro que só tinham três pessoas que não trabalhavam na Prefeitura, não vou falar os nomes aqui, então era um pessoal mais consciente, como todo mundo trabalhava, ninguém tinha inveja de ninguém, porque o que acontece hoje, é que tem gente que recebe sem trabalhar, então, ao longo dos anos, teve um afrouxamento das instituições, tem muita gente na Prefeitura, mas os serviços deixam muito a desejar, até na parte de limpeza. Estou torcendo muito para começar de novo, para melhorar o nível. Antes, os recursos eram utilizados de maneira mais correta, mais séria, então, outro dia, eu li no jornal que a Petrobras arrecadou bilhões e que muitos milhões já se entravam nos cofres públicos. Poderíamos estar numa situação bem mais agradável, quem vem do Parque Aeroporto e passa por aquele canal preto,

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da Silva Couti nho; hoje um point apreciado por banhistas e surfi stas]

parque municipal [Ofi cialmente o Parque Natural Municipal da Praia do pecado, foi criado pelo decreto municipal 097/2008, quando foi desapropriada a área de 170 mil metros quadrados, na intenção de preservar espécies nati vas da resti nga macaense]

Lagomar [Bairro do terceiro subdistrito Cabiúnas, pertencente ao primeiro distrito Macaé Sede]

Vale Encantado [Anti ga propriedade rural loteada a parti r da década de 1970 pelo empresário carioca Luiz Fernando Marques de Souza]

Riviera Fluminense [Bairro loteado na década de 1980]

SESI [Serviço Social da Indústria]

casa an� ga [Chalet dos Schueller, construído em 1882, para residência de Manuel Guilherme Taboada, foi vendido no início no século XX ao empresário Gastão Henrique de Schueller, sendo herdado por uma fi lha, proprietária de uma conhecida escola de dati lografi a]

Igreja [Matriz de São João Bapti sta, Praça Veríssimo de Mello, construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

Igreja [Matriz de Nossa Senhora do Desterro, na Praça Brigadeiro José Caetano, Centro, inaugurada em 1924, com altar mor comprado na Alemanha, está no mesmo lugar de outra inaugurada pelo Brigadeiro José Caetano de Barcellos Couti nho, em 1815]

Quissamã [Anti go quarto distrito de Macaé, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, emancipado em 04/01/1989]

presidente [Dilma Vana Rousseff , mineira, economista e políti ca, fi liada ao Parti do dos Trabalhadores (PT), atual presidente da República Federati va do Brasil]

Congresso [Nacional do Brasil, órgão constitucional que exerce, no âmbito federal, as funções do Poder Legislati vo, quais sejam, aprovar leis e fi scalizar o Estado Brasileiro (suas duas funções � picas), bem como administrar e julgar (funções a� picas)]

ISS [Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza]

IPTU [Imposto Predial Territorial Urbano]

Carapebus [Anti go terceiro distrito de Macaé, emancipado por Lei Estadual de 19/07/1995, tendo o primeiro prefeito eleito tomado posse em 01/01/1997]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Ampla [Ampla Energia e Serviços S.A. é uma concessionária de distribuição de energia elétrica que atua no Estado do Rio de Janeiro. A empresa, de capital aberto desde 1996, atua em 66 municípios, abrangendo 73% do território estadual, com a cobertura de uma área de 32.188 km²]

CEDAE [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, consti tuída ofi cialmente em 01/08/1971, oriunda da fusão da Empresa de Águas do Estado da Guanabara (CEDAG), da Empresa de Saneamento da Guanabara (ESAG) e da Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (SANERJ)]

Canal Campos-Macaé [Obra faraônica, inicialmente proposta pelo primeiro Visconde de Araruama, ainda na década de 1830. Após vinte e sete anos de obras a inauguração ofi cial aconteceu em 19/02/1862 quando o vapor “Visconde” parti u de Campos rebocando uma prancha com passageiros]

Morro de Santana [Bairro periférico surgido da ocupação de terras pertencentes à Confraria da Gloriosa Santana por meio de doações ou usucapião]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, Castelo, fundado em 27/07/1963, no bairro Visconde de Araújo, ocupando o Solar de Monte Elyzio, construído no século XIX, para residência do Visconde de Araújo]

Forte [Marechal Hermes, 1.0/10.0 GACosM, na Praia da Concha, Imbeti ba, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Búzios [Armação dos Búzios, município fl uminense da Microrregião dos Lagos, famoso balneário, emancipado de Cabo Frio em 12/11/1995]

Cabo Frio [Município balneário fl uminense, fundado em 13/11/1615, sendo o séti mo mais anti go do Brasil e o principal da Região dos Lagos]

Feira de Integração [Evento realizado pelo Movimento Assistencial e de Integração (MAI), criado no início da década de 1980 por um grupo de mulheres, realizou oito feiras, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras foram construídas sete creches, em terrenos e com mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]

Centro de Convenções [Jornalista Roberto Marinho, terceiro maior do Estado do Rio de Janeiro, ocupa uma área de 110 mil metros quadrados com toda infraestrutura para grandes exposições e conferências, como estacionamento para 1,5 mil veículos, amplos auditórios, sala de imprensa, etc.]

Parque de Atalaia [Parque Ecológico Municipal da Atalaia, criado em 1995, em consonância com o Sistema Nacional de Unidade de Conservarão, localizado a 27 quilômetros do centro de Macaé, com 235 hectares, 75% de mata fechada, sendo uma das poucas reservas da Mata Atlânti ca intactas no Estado do Rio de Janeiro]

Jurubati ba [Parque Nacional da Resti nga de Jurubati ba ou PARNA de Jurubati ba é o primeiro parque nacional no Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema de resti nga, o menos representado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. A maioria dos pesquisadores concorda que é a área de resti nga mais bem preservada do país e está prati camente intacta]

Frade [5.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Sana [6.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Praia do Pecado [Trecho remanescente da anti ga praia dos Peccados Mortaes, que se estendia desde Itapebussus, assim denominado pelo terreno pedregoso, conforme citado em 1812 no relatório da visita do Bispo-Capelão-Mor José Caetano

deveria passar e ver uma água transparente, com peixinhos, caminhar ao lado daquele Canal Campos-Macaé, a margem da Lagoa de Imboassica, ser urbanizada para gente passear. Uma vez eu falei para um cidadão: “Macaé ao invés de ganhar atrações, lugar onde se levar as pessoas, foi perdendo”. Quando vinham aqui, em 1984-85, eu levava num canal de águas maravilhosas cristalinas, não posso levar mais... Levava para tomar banho na lagoa, não posso levar mais... Levava para ver a vista no Morro de Santana, não posso levar mais... Por que agora eu vejo coisas feias. Levava no Castelo, tudo muito bonito. Hoje, chega uma pessoa aqui, levo nos Cavaleiros, naqueles bares. O Forte é uma área que ficou preservada, levo as pessoas lá. Mas a cidade perdeu os encantos que tinha. Aqui, podia ter um museu da cidade, um museu do petróleo... O pessoal quer saber de onde vem esses royalties, como é extraído o petróleo, como é que faz.

Perdeu-se a identidade, e o que acho mais grave, não se fez com que as pessoas que vieram de outros lugares, que são muitos, adotassem a cidade e passassem a gostar dela. Porque quantas pessoas que conhecemos, que vieram de fora, que poderiam estar gostando de estar aqui. Tem gente que vem, mas não fi ca, na primeira oportunidade sai. A cidade, no fi m de semana, vira uma cidade fantasma, sábado depois de meio dia, a cidade morre, todo mundo vai para Búzios, Cabo Frio, Rio de Janeiro... Por quê? Porque não tem acolhimento, não tem uma atração, uma atividade cultural, não se conseguiu criar elementos que mantivessem as pessoas aqui e fi zessem com que elas passassem a gostar de estar morando. Eu me lembro que tinha uma feira, na Praça Washington Luiz, a Feira de Integração, com barracas dos países. Poderia ter essa feira dos estados. Aqui, no escritório, tem gente do Maranhão, de Santa Catarina, e por aí vai... Na cidade, tem gente de todos os estados do Brasil, poderia ter uma programação mensal, para o ano todo. Aqui, no Centro de Convenções tem uma feira que é mais ou menos assim. Ano passado eu fui, mas não é uma coisa muito difundida, o Brasil tem 26 estados, então, dois estados por mês, com atrações, produtos típicos, artesanato... É uma forma das pessoas passarem a gostar mais daqui, se sentirem valorizadas, conhecidas, acolhidas.

Outra coisa ótima seria a construção de um museu da história de Macaé. A cidade tinha uma economia baseada no leite, no gado, e agora tem o petróleo. A cidade virou sede da maior empresa do Brasil, então, tinha que valorizar esse petróleo. Outra coisa, quantos produtos precisam ser empregados na exploração do petróleo, que são fabricados em São Paulo e no exterior? A cidade tinha que se preparar para ser um centro tecnológico e também de pesquisa de peças que fossem empregadas na produção do petróleo. Outra coisa que temos milagrosamente ainda, são as ilhas, lagoas, rios, montanhas, cachoeiras... Difi cilmente, uma cidade congrega todos estes aspectos geográfi cos. Por exemplo, o Parque de Atalaia tem uma mata nativa linda, podia ser uma fonte de pesquisa científi ca, os tipos de árvores que tem, mapear aquilo tudo, levar alunos para estudar ali. Temos aqui Jurubatiba, que foi criado há pouco tempo, 15 anos quase. Nós temos a serra mal explorada, por exemplo, o Frade, o Sana, tem acesso difícil, mereciam cuidados. Na cidade, uma vez que chega muita gente, a tendência é degradar, a ocupação diminui a área verde porque são muitos prédios, casas, ruas... Então, tinha que investir e refl orestar, defi nir a Praia do Pecado, até hoje aquele espaço está sem uso e podia ser um grande parque municipal. O Lagomar, uma atração muito grande, uma fonte de lazer, também, podia ser um parque municipal bonito. A cidade tem muitos recantos. Acho que faltou a sociedade se envolver mais,

não quis cuidar muito, permitiu que fosse sendo degradada. Lembro do Vale Encantado, uma maravilha, todo ainda preservado, aqueles lagos, a ocupação era controlada. Aqui no Riviera Fluminense, milagrosamente, tinha um quarteirão de mata nativa, ali na encosta do SESI, de repente um empresário botou aquela mata abaixo e construiu um conjunto de residências. A sociedade não se mobilizava, o estrangeiro foi chegando, dominando, e o macaense não soube marcar presença, preservar sua história, seus prédios históricos, a maioria foram destruídos. Eu fi quei com pena de uma casa antiga, na Praça Veríssimo de Melo, que foi demolida. A Igreja, do século XIX, veio um padre e fez uma reforma que a descaracterizou completamente. Às vezes, a gente vê umas igrejas muito bonitas, a Igreja de Quissamã, por exemplo, é muito mais nova que a daqui, mas o pessoal aprecia.

A principal atividade da Petrobras é poluidora, a extração do petróleo polui mesmo, não só no mar, mais aqui também. Para lavar os equipamentos, as empresas usam muitos produtos químicos, então tenho certeza de que teriam grande interesse em compensar essa poluição adotando áreas verdes, reflorestando, fazendo campanhas de conscientização ambiental. Estou muito esperançoso que a partir desse governo essas coisas comecem a acontecer. Independente dos royalties, acho que a Petrobras teria a boa vontade de contribuir para que a cidade fosse mais ambientalmente correta, ela tem grande interesse nisso. Hoje, tem recurso para tudo, tem todas as cautelas que se pode tomar, para que a poluição seja diminuída. Se acontecer do veto da presidente cair e o Congresso conseguir fazer a nova divisão dos royalties, Macaé não vai sofrer muito, primeiro porque tem uma contribuição pecuniária para o ISS muito elevada, muito IPTU e por ser sede da Petrobras, vai ter royalties um pouco acima dos outros lugares. Vai perder sim, mas nada que atrapalhe a administração da cidade, porque vamos aqui ser sinceros, hoje, há um excesso de arrecadação na cidade Macaé. Com o ISS e o IPTU que o Município recolhe, os royalties não vão fazer falta nenhuma. Agora, eu sei que os recursos não são bem utilizados. Outros municípios vão sofrer muito: Quissamã, Carapebus, Campos... Aqui, tranquilamente, o prefeito conseguiria administrar bem. Como bônus, a cidade recebeu pessoas de várias partes do Brasil e do mundo e isso é um enriquecimento, ter contato com pessoas de diversas origens e culturas; o acesso a vários serviços, a hotéis, a restaurantes e a certos produtos de comércio. O ônus, realmente, é ter uma cidade onde a lei não funciona, falo do código de postura, o código de obras da Prefeitura Municipal de Macaé. Não sei se vocês sabem, mas o prefeito é o senhor do Município, um poste não pode ser fi ncado no chão sem que o prefeito tome consentimento e autorize, sabia disso? A Ampla não pode por um poste sem que pedir autorização. A CEDAE não pode abrir uma vala sem que a Prefeitura autorize. Ninguém pode erguer um muro, fazer uma garagem sem que a Prefeitura autorize, assim está escrito no código de postura, então, tudo é responsabilidade da Prefeitura e, em última análise, responsabilidade do prefeito.

Um cidadão que vem de fora, lá do Nordeste, por exemplo, chega sem condições de morar, e uma pessoa que ganha salário mínimo, ou até 1000 reais, é difícil comprar um lote, construir uma casa, cabe ao governo construir conjuntos habitacionais, apartamentos, casas, seja lá o que for, como foi o Parque Aeroporto. Um conjunto habitacional se constrói dentro de áreas permitidas, com saneamento, estação de esgoto, então, eu acho que é obrigação do poder público municipal, estadual e federal, os três juntos, e a Petrobras também ajudaria. A Prefeitura sozinha não dá conta,

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Malvinas [Bairro periférico, resultante de ocupação subnormal, ocorridas no início da década de 1980, cujo topônimo refere-se ao confl ito armado entre Inglaterra e Argenti na pela soberania das Ilhas Malvinas]

Imboassica [4.0 Subdistrito, ligado ao primeiro distrito, Cidade de Macaé]

novo prefeito [Aluízio dos Santos Júnior]

UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Cidade Universitária, com 1.100 alunos nos cursos de Química, Ciências Biológicas, Farmácia, Medicina, Enfermagem e Obstetrícia, Nutrição, Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica e Engenharia Civil]

site [h� p://www.macae.rj.gov.br/]

ONG [Organização não governamental]

Jurubati ba [Associação Amigos do Parque Nacional da Resti nga de Jurubati ba (APAJ), criada em 14/01/1999, pela sociedade civil, em fi ns lucrati vos]

esse prefeito [Aluízio dos Santos Júnior]

Hino de Macaé [Com letra de Antonio Alvarez Parada e música de Lucas Vieira, foi composto em 1963, como Hino do Sesquicentenário, sendo mais tarde alterado um de seus versos, passando a ser o hino ofi cial do Município de Macaé]

Parque de Tubos [Na Rodovia Amaral Peixoto, Imboassica]

meus fi lhos [Fernanda Sarmento Cavour, em 27/07/1983, e Lucas Sarmento Cavour em 23/03/1985]

Ilha da Caeira [Condomínio residencial na Barra de Macaé, iniciado no fi nal da década de 1970, loteado pelo Grupo Delfi n com fi nanciamento do Banco Nacional de Habitação (BNH)]

tem que pedir apoio. Em margem de rio, encosta, beira de mar, não se pode construir de jeito nenhum, invasão também não é permitido, as pessoas têm que se adequar às leis, a Prefeitura pode tentar dar suporte, mas a lei que tem que prevalecer. A gente vai ao exterior, como eu já tive oportunidade, pobreza existe, mas favela que se constrói em qualquer lugar não existe porque as leis são respeitadas pela população, aqui há um desleixo, o pessoal não liga, faz de qualquer maneira. As Malvinas eu vi quando tinha três barracos, ali não é um lugar para fazer casas. Com essa ocupação desordenada, moradias em lugares insalubres, favelização da cidade, as pessoas moram em condições muito adversas. Eu sou da teoria que a Saúde melhora se o povo tiver Educação, for bem educado. Se a Prefeitura fi zer a parte de saneamento, a frequência nos hospitais cai em 80%, não deixando construir onde não deve, educando a população para ser cuidadosa com o lugar onde vive. A construção de casas populares não pode parar e realmente o Brasil é um país muito injusto socialmente, com meia dúzia ganhando muito e 90% ganhando um pouquinho, e o cara que ganha pouco não vai fazer uma casa, ele vai construir um barraco, então, aí que entra a Petrobras, eu sei de empresas que se propuseram a fazer coisas e a Prefeitura não quis. Por exemplo, lá em Imboassica teve uma situação de inundação daquelas casas. Eu conheço uma pessoa que mora ali, que de vez em quando trabalha para mim, e diz que todo verão a casa enche porque foram construindo em volta, está cheio de empresas ali. Teve uma empresa que se propôs a tirar aquele pessoal dali e construir casas em outro lugar, mas o prefeito não quis. As pessoas sofrem com a poeira, fi cou inadequado aquilo ali. Quer dizer, desde o início, elas estavam ali, então não permitissem que as empresas se instalassem.

O novo prefeito convidou uns integrantes da Petrobras para compor o secretariado e acho que essa parceria, que nunca houve, agora vai ter. A Petrobras possui em seu corpo funcional pessoas altamente capacitadas, com visão muito grande, pessoas que viveram no exterior, fi zeram mestrado, doutorado, que podem dar soluções para as coisas aqui em Macaé. Por exemplo, nós temos a UFRJ cheia de professores capacitados, a Prefeitura tem que chamar essas pessoas para sugerir coisas, dar ideias, gente que queira ajudar essa cidade a fi car bonita. A Prefeitura, se tiver abertura e humildade, pode conversar com essas pessoas, se mostrar disponível. Tenho certeza de que todo mundo quer uma cidade com calçadas, onde cadeirantes possam andar, e as mães possam empurrar os carrinhos dos seus bebês. Em Macaé, isso não existe! A coisa mais básica do mundo é uma calçada plana, onde você possa andar olhando o céu sem se preocupar. Uma placa com o nome da sua rua não tem, só nas ruas do Centro. Quantas vezes, aqui no Riviera, alguém num caminhão de mudanças, me pergunta: - O senhor conhece tal rua? Às vezes, é a rua do lado, mas não tem placa nenhuma, uma coisa elementar. Isso é falta de dinheiro? Não! Teve dinheiro para fazer milhões de placas e não foram feitas, para consertar as calçadas e não foram feitas.

Hoje, solicito melhorias através do site da Prefeitura, coloco sugestões ou até reclamações sobre buracos nas ruas, esgotos... O pessoal aqui passou a ter esse hábito também. Uma coisa que eu gostava de fazer era assistir às seções da Câmara Municipal de Macaé, até 1990-2, a gente ia muito, era um programa. Gostaria de ser uma pessoa mais participativa. Eu atuei durante uns seis anos na ONG de Jurubatiba, de 1998-2004, me tornei um ambientalista, fui presidente da ONG em três anos, consegui recursos para fazer o plano de manejo, tentei evitar a invasão do Lagomar, que ainda estava muito no início em 1998, mas não consegui. Acho que poderia ter

cobrado mais dos órgãos públicos. Eu procurei todos os prefeitos que entraram aqui, sempre faço uma lista de indicações, sugestões. Quanto a esse prefeito que entrou, já dei a um secretário uma relação das coisas que acho que poderiam ser feitas. Por exemplo, uma coisa elementar, um ciclista tem que andar na mesma mão dos carros, também para a bicicleta existe mão e contramão, mas aqui não se leva em conta, mas sabe por quê? Porque faltam campanhas na televisão, no rádio, em outdoor, para informar ao cidadão ciclista. Bota um guarda para apitar. Trânsito é uma coisa que a pessoa precisa ser educada, tem muito motorista mal educado. Algumas pessoas não tiveram em casa, pai, mãe, alguém que dissesse como proceder em público, cabe então ao poder público fazer isso, com as campanhas educativas. O Governo Federal, de vez em quando, tem campanhas de civilidade, ensinando não estacionar em lugar proibido, ceder a vez para o outro... A gente sabe que tem muita gente que nasceu em condição difícil, não teve trato, instrução, e fi ca uma pessoa meio “incivilizada”. Nas escolas, no início e no fi m da semana, tinha que ser tocado o Hino de Macaé, todos tinham que saber de cor, e no rádio, a Prefeitura compraria cinco minutos para tocar o Hino de Macaé todo dia, até que a população passasse a ter aquele sentimento pela cidade. Eu viajo muito, então, se vejo algo escrevo: “Fulano, vi isso aqui”. Gostaria de poder chamar minha esposa para ir cada dia num lugar bonito, tenho uma tendência para ser guia turístico. (Risos!) Então, iríamos a vários lugares, uma praça, uma margem de lagoa, de canal... O Canal Campos-Macaé era para estar cheio de barcos passeando com os namorados, maridos e mulheres. Na Alemanha, os canais são todos de água cristalina, aqui também podia ser assim. Não é por falta de dinheiro, teve um dinheirão e não souberam usar.

Eu não sou uma pessoa generosa, mas gostaria que as pessoas morassem num lugar melhor, mais agradável, mais civilizado e tivessem mais prazer em morar na cidade de Macaé. Estou sempre procurando um meio de facilitar a vida das pessoas, não estou dizendo que eu sou uma pessoa boa, mas tenho essa preocupação. Eu fi co muito triste porque passa o ônibus aqui seis horas, quando saio para pegar meu carro no estacionamento, e o vejo lotado... Outro dia, fui esperar um cidadão no Parque de Tubos e quase me deprimi de ver a situação do terminal. Quantas pessoas que usam aquele lugar, todo dia, e são obrigadas a conviver com aquela coisa horrorosa e suja? Nossa Mãe! Como que deixam chegar naquele ponto? Então, me preocupo com essas coisas e fi co com pena. Meu sonho é ter um trem para transporte de passageiros, porque aqui as pessoas sofrem todo dia para trabalhar de ônibus. Não sei como que vai ser, mas me preocupo pelas boas condições dos outros. Macaé é onde meus fi lhos nasceram, foram educados, passaram toda a infância. Outra lembrança boa é de quando morávamos na Ilha da Caeira, foram quinze anos, momentos muito agradáveis. A Ilha da Caeira era tipo um oásis, muito arborizado. Então, Macaé fi cou marcada como a cidade onde eduquei meus fi lhos, e a gente sente saudades de quando os fi lhos eram pequenos, porque éramos novinhos naquela época. Que maravilha! Temos esse vínculo com Macaé, muito forte. Fiquei emocionado agora. ▪os fi lhos eram pequenos, porque éramos novinhos naquela época. Que maravilha! Temos esse vínculo com Macaé, muito forte. Fiquei emocionado agora.

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tes 1 Visita ao Parque Nacional da Res� nga de

Juruba� ba - Prefeito de Quissamã, Octávio Carneiro; Prefeito de Carapebus, Eduardo Cordeiro; Glauco Lopes, representando o Prefeito de Macaé, Silvio Lopes; Flávio Cavour, Presidente da ONG Amigos do Parque de Juruba� ba e outros ambientalistas. O Debate, 7 de outubro 1999, ano XXII, n° 3786.

2 Flávio Cavour, presidente do “Amigos do Parque” e Carlos Lamar� ne, biólogo do Ibama/ Macaé. Macaé Jornal, 06 a 12 de maio de 2000, n°117.

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1 3 Reuniao entre o Prefeito Silvio Lopes e a ONG Amigos do Parque de Juruba� ba - agosto de 1999 (Prefeito Silvio Lopes; Glauco Lopes, Secretário de Turismo; Flavio Cavour, presidente da ONG, Guilherme Sardemberg, Ingrid, Carlos Lamar� ne.Acervo parti cular de Flávio Cunha Cavour Pereira de Almeida, Macaé - RJ.

Vista Aérea do Pontal. 2005. Foto: Livio Campos

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Praia Campista [Bairro litorâneo, com característi cas mistas, que tem sua denominação ligada ao trágico assassinato dos membros de uma família campista oitocenti sta, ligada a ferrovia, sendo inicialmente denominado Praia dos Campistas]

telefônica [Na Rua Marechal Deodoro]

ANM [Árvore de Natal Molhada, é um conjunto de válvulas, colocado sobre o solo oceânico, que controla a pressão e vazão de um poço submarino]

Campo de Enchova [Campo com exploração comercial inicida em 1977, com produção de 10 mil barris por dia em uma plataforma fl utuante]

SS-1[Semi-Submersivel 1]

RPSE [Região de Producão do Sudeste]

MAI [Movimento Assistencial e de Integração, criado no início da década de 1980 por um grupo de mulheres, realizou oito Feiras de Integração, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras foram construídas sete creches, em terrenos e com mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]

petroleiros [Nomenclatura recente para identi fi car trabalhadores ligados a indústria de petróleo e gás]

José Silvio [Sales de Almeida, mineiro, engenheiro, petroleiro]

Lilian [Nogueira de Almeira, mineira, empresária]

Alfeu de Melo Valença [Pernambucano, Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se Engenheiro de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa em 1991]

Celinha [Lucélia Porto Valença, pernambucana]

Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

Engenharia de Petróleo [Área da engenharia que trata de todos os ramos relacionados à produção de hidrocarbonetos, que podem ser óleo ou gás natural. As ati vidades são divididas geralmente em duas grandes áreas: upstream, refere-se às ati vidades de exploração e produção e downstream, às ati vidades de refi no e distribuição]

Salvador [Cidade capital do Estado da Bahia]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953]

Off shore [Termo da língua inglesa relacionado com a ati vidade (prospecção, perfuração e exploração) de empresas de exploração petrolífera que operam ao largo da costa]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

João Carlos França de Luca [Paranaense, engenheiro, como funcionário da Petrobras exerceu cargos de diretoria no Recôncavo baiano e na Bacia de Campos. Foi Presidente do Insti tuto Brasileiro do Petróleo e Gás e da Repsol YPF Brasil; em 2002 recebeu o � tulo de Cidadão do Estado do Rio de Janeiro, pela Assembléia Legislati va do Estado do Rio de Janeiro]

Carolina [Prestes Varella, brasiliense, advogada]

Alexandre [Prestes Varella, já falecido]

Beth [Elizabeth Prestes Varella, gaúcha, Assistente Social]

Brasília [Capital federal do Brasil e sede do governo do Distrito Federal, fundada em 21/04/1960]

Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]

Zé Mengão [Lanchonete pertencente a José Vieira Rangel, macaense de Carapebus, comerciante e empresário]

CEDAE [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, consti tuída ofi cialmente em 01/08/1971, oriunda da fusão da Empresa de Águas do Estado da Guanabara (CEDAG), da Empresa de Saneamento da Guanabara (ESAG) e da Companhia de Saneamento do Estado do

Rio de Janeiro (SANERJ)]

“Não tem como tirar Macaé das nossas vidas...”Irani Carlos Varella e Elizabeth Prestes Varella

Entrevistados, em Macaé (RJ), a 09/08/2014.

Irani: Em janeiro de 1978, após terminar o curso de Engenharia de Petróleo, em Salvador, fomos designados para trabalhar na capital do Estado do Espírito Santo, Vitória, onde a Petrobras tinha a base de apoio as atividades Off shore na Bacia de Campos. Não lembro exatamente quando alguém citou que a Petrobras iria mudar para o Estado do Rio de Janeiro. Eu não conhecia Macaé, não sabia sua localização e como era esta cidade, até porque, a ideia de uma nova transferência não era algo concreto na minha cabeça. No fi nal de 1978, numa outra conversa entre engenheiros, em Vitória, lembro que João Carlos França de Luca, então supervisor das atividades de avaliação de poços da Bacia de Campos, em conversa informal, disse: - No fi nal de 1979, a Petrobras vai mudar para Macaé. Na realidade já existiam obras aqui em Macaé, e por trabalhar embarcado e ser novato não percebia a realidade da transferência tão próxima.

Saímos de férias em janeiro de 1979, comprei um carro novo e fomos viajar... Nós tínhamos a Carolina, com dois anos de idade, e o Alexandre, com seis meses... Eu e Beth, acompanhados dos fi lhos, planejamos ir de Vitória até Brasília, passando por Macaé.... Assim, pela primeira, vez chegamos aqui, na Rua Direita, num domingo lindo de sol e brisa, de manhã bem cedo. Paramos o carro na frente do Zé Mengão, descemos, tomamos um refrigerante enquanto contemplávamos a cidade. Naquela hora, sete e meia da manhã, pacata e com temperatura agradabilíssima, vivenciamos o primeiro e prazeiroso contato com Macaé, quanto tivemos a feliz constatação: - É aqui que nós vamos morar!

Quando ao fi nal das férias, retornamos a Vitória começamos tomar as providências para a mudança. Vendemos carro, apartamento ainda em construção etc… Em fevereiro de 1979, já fazíamos pesquisas para a compra ou locação de um imóvel em Macaé. Compramos uma casa em construção e defi nimos que mudaríamos em abril. Pela primeira vez, enfi m, uma casa própria! Marcamos a mudança conforme o cronograma da obra e contrato. Uma semana antes de mudar, liguei para o construtor e disse: - Tal dia estará chegando minha mudança. Ele disse: - Não terminei ainda! Falta acabamentos. Respondi: - Não tem mais jeito, nós vamos! A mudança já estava marcada e quatro dias depois estávamos lá... De mala e cuia! Quando nós chegamos na casa, ainda estavam sendo colocadas madeiras na escada, não tinha muro, não tinha a entrada para carro, e tinha muito mato na frente... Até hoje eu me lembro da cena, subimos na parte superior da casa, eram dois quartos com um banheiro no meio, abrimos a torneira e a água era de poço. A Beth falou: - Não dá para fi car aqui, a água é salobra. Eu disse: - Mas nós não temos para onde ir. Desta maneira, contratamos um caminhão pipa que colocou mil litros na caixa d’água. No dia seguinte, fomos à CEDAE pedir a instalação da água e disseram que não tinham tubulação para chegar até a nossa casa, na Praia Campista. A água vinha até o trevo, dali para frente não tinha mais água encanada. Juntamos os poucos moradores, compramos a tubulação no Rio de Janeiro, a CEDAE deu a mão de obra, e assim tivemos água encanada em casa. Eu embarcava nessa época, por isso o tempo era extremamente curto para nos instalarmos.

Em Vitória, morávamos ao lado da antena transmissora de televisão, no Parque Moscoso, com sinal muito forte. Aqui, nós tivemos que comprar uma

antena muito grande, subir no telhado e fi car rodando, procurando o sinal. Eu gritava: - Pegou?! (Risos!) Telefone não tinha, enfrentávamos uma fi la na telefônica, onde se passava horas para conseguir uma ligação para outras cidades. Desfrutávamos uma intensa alegria na nossa primeira casa, na Avenida Atlântica nº 260, em frente ao mar, com a Praia Campista à nossa disposição, em uma rua praticamente sem transito.

Nesse começo da nossa vida em Macaé, tem um aspecto importante, a sede Petrobras ainda não tinha se transferido de Vitória, fui o primeiro da área de producão que se fi xou aqui para trabalhar embarcado. A comunicação das pessoas que trabalhavam embarcadas, com a família, era precária. Passava-se 15 dias praticamente sem comunicação. Sem telefone em casa, a forma de se falar com os familiares era através da Vitória Rádio, com tarifa internacional de cobrança. Em qualquer emergência a comunicação era feita com a ajuda da Petrobras. Já no início dos anos 1980, Macaé começa a ganhar mais movimento, chegando mais gente, mas ainda com aquelas características de cidade turística, com os valores de uma sociedade muito bem defi nida: o delegado, o diretor da escola, o professor, as pessoas do comércio, da farmácia, etc… Que atendiam a todos pelo nome, bem cidade do interior. A Petrobras despertou nas pessoas uma expectativa muito grande entorno do que ia acontecer em Macaé, mas nenhum de nós imaginou que seria o que é hoje. Com certeza, não!

Ainda em 1979, trabalhando embarcado, como engenheiro de completação de poços, tive a oportunidade de contribuir com a instalação da primeira ANM instalada no Brasil, no poço RJS-38, Campo de Enchova, através da plataforma SS-1. A partir de 1982, passei a trabalhar em terra para conceber e implantar uma Área de Testes de ANM , a primeira no mundo. Depois de gerenciar dois setores, já em 1987, fui nomeado Superintende de Produção da RPSE. A partir daí, sem eu perceber claramente, consolidava-se a escolha por uma carreira gerencial dentro da Petrobras.

Naturalmente o início do meu trabalho em terra coincide com o nosso engajamento nas questões sociais da cidade. Surge o MAI, fundado por esposas de petroleiros, de gerentes de outras empresas e um grupo de pessoas da sociedade macaense. Destaca-se na constituição deste movimento a participação do José Silvio, sua esposa Lilian, do Alfeu de Melo Valença e sua esposa Celinha, que exerceram uma forte liderança para a consolidação do MAI.

Elizabeth: O Movimento Assistencial e de Integração nasceu da necessidade de interação entre as famílias petroleiras e a sociedade macaense. Realiza-se através do MAI, com apoio da Petrobras, empresas off shore, comércio local e Prefeitura, a primeira Feira de Integração, em 1982, para a arrecadação de fundos em benefício de instituições fi lantrópicas. De certa forma essas feiras deram uma importante contribuição ao processo de integração entre as “novas” famílias que chegaram em Macaé e aquelas que eram naturais da cidade. As Feiras de Integração foram eventos importantes em vários aspectos e quebraram barreiras na construção de uma sociedade mais diversifi cada.

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Doutor Newton [José, italvense, médico pediatra, fundador da Clínica Infanti l Menino Jesus e do Centro de Referência do Adolescente-CRA, recebendo da Assembléia Legislati va do Estado do Rio de Janeiro a Medalha Tiradentes, em 2006]

Professora Maria Therezinha [Santos de Oliveira, macaense de Glicério, educadora]

Farmácia Caetano [Farmácia e Drogaria São Caetano, fundada pelo empresário macaense Edmundo Caetano da Silva, com matriz na Rua Télio Barreto e fi liais na Praça Veríssimo de Mello e na Avenida Rui Barbosa]

Eromildes Monteiro [Empresário, construtor]

Costa do Sol [Bairro com característi cas mistas, loteado na década de 1980]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Ely Tavares [Macaense, corretor de imóveis, empresário]

Igreja Matriz de São João Bapti sta [Na Praça Veríssimo de Mello, construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

Marli [de Araújo Guimarães, macaense do anti go distrito de Carapebus, comerciante, empresária]

Ailton Guimarães [Mineiro, empresário, comerciante, proprietário da Casa da Criança e da Ferragens Guimarães, ambas na Av. Rui Barbosa]

Casa da Criança [Avenida Rui Barbosa, 416, Centro]

Fá� ma [Cristi na Monteiro, professora]

Schlumberger [Empresa de origem francesa, sediada na cidade norte americana de Houston, que se dedica à prestação de serviços no campo petrolífero, fornecendo tecnologia, gestão de projetos integrados e soluções de informação para os clientes na indústria de petróleo e gás]

Ginásio do Ypiranga [Na Avenida Rui Barbosa]

Fred [Carlos Frederico Kohler, carioca, professor, empresário, políti co, vereador]

Pessoas da sociedade local, tais como o Doutor Newton, a Professora Maria � erezinha, do curso de alfabetização Cantinho Alegre, e os funcionários da Farmácia Caetano, tiveram papéis de destaques em nosso cotidiano macaense. As pessoas eram para nós uns anjos, porque - Meu Deus do Céu! - com os maridos embarcados, os fi lhos adoeciam, e a gente recorria a essas pessoas, sempre muito atenciosas. O Eromildes Monteiro nós conhecemos logo no começo. Ele construía casas justamente na área que não era habitada, então a cidade começou se espalhar, crescer com os bairros Praia Campista, Costa do Sol, Cavaleiros, etc. Tinha também o Ely Tavares, que é falecido, dono de uma imobiliária, que fi cou amigo de muitas pessoas que vieram, porque as ajudava a se instalar. Uma grande maioria teve que alugar primeiro para depois construir ou comprar uma casa.

A Feira de Integração foi idealizada por Lilian Nogueira de Almeida, uma pessoa que pensa grande e refl etia um sentimento de todas nos mulheres, que sentiamos resistências com vinda da Petrobras para a cidade. Como uma das fundadoras do MAI, Lilian é a melhor pessoa para falar da história do movimento, atividades, resultados e participantes. Nos uníamos com a ausência dos maridos embarcados, precisávamos dizer para a cidade que viemos para fi car, que aqui também era a nossa casa, nosso lar. Na época a grande maioria das mulheres não trabalhava fora, muitas deixaram suas profi ssões e não podiam exercê-las em Macaé. Mas sabíamos cozinhar, fazer doces, comidas salgadas... éramos mulheres de vários lugares do Brasil. Com a autorização da Prefeitura e o consentimento do padre realizamos uma feirinha de comidas típicas na frente Igreja Matriz de São João Baptista, vendendo docinhos, tortas, comidas regionais... Cada um fazia a comida do seu estado e vimos que aquilo fl uía muito bem... Essa feira começou a crescer e envolver cada vez mais as senhoras da sociedade macaense. Grandes companheiras que a memória me castiga, mas sei que Lilian pode me ajudar a não esquecer ninguém. Pessoas que tinham comércio na cidade, começaram a nos dar apoio, a representar Macaé na nossa feira, e isto nos estimulava cada vez mais. Por exemplo, a Marli, esposa do Ailton Guimarães, da Casa da Criança; a Fátima, esposa do Eromildes Monteiro... E muitas outras companheiras dedicadas! Foi assim criada a Barraca de Macaé, um grande passo na integração. Também tínhamos outras nacionalidades na feira, se criando a Barraca Internacional, cada dia da feira um país fazia uma sua comida típica, diversifi cada e saborosa. A feira começava às onze da manhã e terminava meia noite. Com cinco feiras, construímos sete creches. O prefeito dava o terreno e a mão-de-obra e nós o material e mobília.

Irani: Vi e senti o começo do MAI numa sexta-feira, quando a Beth disse: -Olha! Hoje a noite nós vamos ter que fazer churrasquinho na Praça Veríssimo de Mello. Então digo: - Como é?! (Risos!) Ai saímos com o carro, as duas crianças, e fomos para o açougue, o Novilhão, onde comprei uns quatro a cinco quilos de carne. Quando chegamos à Praça ela falou: -Você corta e vai fazendo o churrasquinho, porque as pessoas já estão chegando para comprar. Ai veio o meu fi lho e disse: - Pai, eu quero um churrasquinho! Peguei o churrasquinho e dei a ele. Beth me olhou sorrindo, dizendo : - Não, você também tem que comprar a fi cha para o churrasquinho!! Eu não entendi nada! Comprei a carne, assei o churrasco, e vou comprar a fi cha? (Risos!)

Comecei a entender aos poucos que éramos referência e que nossas atitudes diante da sociedade macaense demandava uma responsabilidade social. Nossas atividades recreativas era ir à praia nos fi ns de semana e feriados, festas de aniversário, uma vida normal, por vezes tocava violão nestas festas, satisfação para mim e muita alegria para todos. (Risos!) Nas

quintas jogávamos vôlei na Schlumberger, onde o gerente, um português, Jaime Panerai, fazia parte do time. Na Petrobras tinha uma quadra de futebol onde os petroleiros jogavam e por vezes tinham partidas também no Ginásio do Ypiranga [Na Avenida Rui Barbosa], no centro da cidade. Os nossos fi lhos chegaram aqui bem novinhos. No início de 1991, ainda como superintendente de Produção, fui transferido para o Rio de Janeiro. Quando saímos a nossa fi lha, Carolina, tinha 14 anos e chorou, no carro, de Macaé ao Rio. O nosso fi lho Alexandre falou assim: - Pai, eu prefi ro que você seja peão e continue morando em Macaé. Ele não aceitava sair daqui.

Elizabeth: Eles vivenciaram muito a cidade, o Fred tinha uma escola de idiomas, muito boa, fazia gincanas, estimulando a prática do inglês. A nossa vida com a cidade fi cou muito entrelaçada.

Irani: Quando enfocamos esta história de Macaé e a Petrobras é importante destacar o pioneirismo mundial, na área de petróleo, para a exploração e produção em Águas Profundas. Existiram experiências num lugar ou outro, mas aqui nós realizamos, aqui se consolidou de forma intensa, profunda e contínua a evolução tecnológica da exploração e produção de petróleo em Águas Profundas. A primeira produção ocorreu a cem metros de lâmina d’água, e já foi recorde. A partir daí foram recordes em cima de recordes! Tínhamos a ideia de que um campo de petróleo poderia produzir trinta anos ou mais e depois ele seria abandonado. Hoje, com o Pré-sal, as perspectivas se colocam em outros horizontes. Em Aberdeen houve um esvaziamento, porque os campos foram abandonados, diferentemente daqui, onde foram descobertos muitos outros campos e agora o Pré-sal.

A partir da Bacia de Campos e consequentemente de sua instalação em Macaé, a Petrobras teve uma mudança de patamar, de tamanho de empresa... A Petrobras ganha reputação em Águas Profundas, tecnologia, conhecimento também a partir das operações em Macaé. A cada momento tivemos novas necessidades técnicas percebidas com o aumento da profundidade, que foram gerando perguntas, que exigiam conhecimento para gerar respostas... Essa dinâmica se implantou aqui em Macaé. Sem sombra de dúvidas também esse é o caminho para o Pré-sal. No início dos anos 1980, os geólogos já falavam da possibilidade de existir uma camada de petróleo abaixo daquela que estávamos produzindo. A Petrobras foi ganhando, cada vez mais, consciência e profundidade na questão ambiental. Não tínhamos projetos específi cos voltados para essas questões, como se tem hoje, mas havia a preocupação de desenvolver tecnologias cada vez mais limpas. Para a produção de petróleo no mar, por exemplo, já existiam os cuidados na separação de óleo e água que se tem na produção.

Foram doze anos em Macaé. Sem dúvidas o período mais importante das nossas vidas. Eu me aposentei na Petrobras, há dois meses, mas meu maior sonho ainda é dar uma contribuição que possa consolidar culturas e fortalecer essas nossas raízes em Macaé, melhorando as questões sociais. Muitas vezes, busquei fazer um contato com as autoridades locais para ter um projeto conjunto... Se pudesse voltar no tempo, teria discutido mais no âmbito institucional as transformações sofridas pela sociedade macaense com a chegada da Petrobras. Uma pessoa foi e é fundamental nesse processo todo, destacando-se na questão dos royalties, uma grande lutadora, a Marilena. Extremamente questionadora, com grandes contribuições!

Elizabeth: A Marilena Garcia foi um grande elo também entre as mulheres que chegaram com os maridos petroleiros, brasileiros ou não, com a sociedade local. Ela começou a frequentar o MAI e trouxe a sociedade macaense para dentro do movimento.

escola de idiomas [Fred’s House]

Águas Profundas [Em 1986 a Petrobras perfura a 1.200 metros de profundidade em lâminas d’água e marca recorde mundial de produção de petróleo a profundidades de 400 metros, resultados obti dos pela integração entre as áreas Operacional, Técnica e de Pesquisa da companhia]

Pré-sal [Em geologia, camada pré-sal refere-se a um ti po de rocha, sob a crosta terrestre, formada exclusivamente de sal petrifi cado, depositado sob outras lâminas menos densas no fundo dos oceanos. No Brasil, a área que tem recebido destaque pelas recentes descobertas da Petrobrás, encontra-se no subsolo oceânico e estende-se do norte da Bacia de Campos ao sul da Bacia de Santos. Esti ma-se que lá estejam guardados cerca de 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o que deixaria o Brasil na privilegiada posição de sexto maior detentor de reservas no mundo]

Aberdeen [Cidade da Escócia e importante porto, com cerca 216.000 habitantes, que se desenvolveu a partir da década de 1980, como ponto de ligação às plataformas petrolíferas do Mar do Norte]

royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]

MAI [Movimento Assistencial e de Integração]

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tes Irani: Acho que sou cidadão brasileiro, macaense de coração... Procuro

fazer transformações onde quer que eu esteja... Mudar para evoluir e buscar sempre a integração.

Elizabeth: Tem muitas coisas lindíssimas da sociedade macaense que surgiram do entrelaçamento com a Petrobras, por exemplo, o Sentrinho, tendo como uma das fundadoras a esposa do engenheiro Paulo Nolasco, a Rita. O Sentrinho foi criado em torno das crianças com necessidades especiais e de uma relação de amor entre pais e fi lhos.

Irani: No primeiro show do Sentrinho cantei com minha fi lha Carolina. Lembro até hoje da música “Noite dos Mascarados”, de Chico Buarque.

Elizabeth: Era uma forma de integração nossa com a cidade, porque muitas crianças portadoras dessas mesmas difi culdades foram benefi ciadas... Foi uma integração muito grande e bonita. Nas feiras de integração eram feitos shows regionais, comidas típicas... Minha sogra, era professora de Música, veio do Rio Grande do Sul e, vestida de prenda , abriu a sétima Feira da Integração tocando o Hino Nacional com seu acordeon, acompanhada do Coral Petrobras, na Praça Washington Luiz.

Irani: Essas são lembranças nossas, de família, do começo da Petrobras em Macaé, do nosso cotidiano, experiências de vida. Tivemos momentos fortes, lindos, de profunda integração com a cidade, e fi zemos grandes amigos!... Várias famílias de petroleiros daquela época estão até hoje em Macaé, tiveram fi lhos e netos aqui. Nosso genro, pai de nossos dois netos é macaense também. Não tem como tirar Macaé das nossas vidas, nem queremos! ▪

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Sentrinho [Derivado de Sentrom, Sociedade de Cinoterapia Macaense]

Paulo Nolasco [Campista, petroleiro]

Rita [de Fáti ma Manhães Gomes Barreto, campista, professora de História, benemérita]

Chico Buarque [Francisco Buarque de Hollanda, carioca, músico, dramaturgo e escritor. Conhecido por ser um dos maiores nomes da MPB]

sogra [Helia Mussoi Varella, gaúcha]

prenda [No âmbito do movimento tradicionalista gaúcho, é a mulher que faz par com o peão, com indumentária � pica que consiste em um vesti do, com ou sem casaquinho, cuja barra alcança o peito do pé]

Hino Nacional [Brasileiro, um dos quatro símbolos ofi ciais da República Federati va do Brasil, conforme estabelece a Consti tuição do Brasil. A letra de Joaquim Osório Duque Estrada foi escrita em 1909 e a música de Francisco Manuel da Silva em 1822]

Coral Petrobras [Bacia de Campos, criado em 1989]

1 Irani em visita a PCH-II (Plataforma de Cherne II).A direita abaixo Paulo Espinola (chefe da Plataforma). 1987.Acervo parti cular de Irani e Elizabeth Prestes Varella, Macaé - RJ.

2 A amiga Zelia (tambem da Coordenação do MAI), Irani e Beth na abertura da 5a Feira de Integração, ao fundo, o coral Petrobras que acompanhou D. Helia no Hino Nacional. 1989.

3 Irani com sua mãe Helia Mussoi Varella ves� da de prenda, que tocou o Hino Nacional em seu acordeon acompanhada pelo coral Petrobras, com o Prefeito na época o Sr. Silvio Lopes. 1989.

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4 Irani com o fi lho Alexandre Varella e o gerente de Comunicação Antonio Luis, em cerimônia de posse de Irani como Superintendente de Produção. Setembro de 1987.

5 A fi lha Carolina Varella ves� da de prenda e rainha da barraca do Sul. 1989.

Acervo parti cular de Irani e Elizabeth Prestes Varella, Macaé - RJ.

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Porto Imbe� ba. 2005Foto: Livio Campos

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Taboada [Cine-teatro inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]

Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]

um passeio [Footi ng]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

Rede Ferroviária Federal [Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Leopoldina [A The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada pelo em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

SENAI [Insti tuição privada, criada pelo decreto-lei 4.048, de 22/01/1942, considerada de interesse público, sem fi ns lucrati vos, fora da Administração Pública, compondo o chamado Terceiro Setor]

Igreja [Católica Apostólica Romana]

Belo Horizonte [Cidade capital do Estado de Minas Gerais]

colégio das irmãs [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, Castelo, fundado em 27/07/1963, no bairro Visconde de Araújo, ocupando o Solar de Monte Elyzio, construído no século XIX, para residência do Visconde de Araújo]

Cachoeiro de Itapemirim [Cidade do Estado do Espírito Santo]

“O que eu queria de Macaé, já recebi...”José Augusto Abreu Aguiar

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 28/09/2012.Faleceu, em Macaé, a 08/02/2019.

não sou de Macaé [Nasceu em 14/04/1950, em Campos dos Goytacazes-RJ]

Cachoeiros de Macaé [3.0 Distrito]

Areia Branca [Localidade na Serra Macaense]

minha mãe [Laérce Andrade de Abreu Aguiar, educadora, professora de Língua Portuguesa]

Mimoso do Sul [Município do extremo sul do Estado do Espírito Santo, fundado em 29/07/1887, com economia voltada para o setor agropecuário]

Rua do Meio [Atual Rua Doutor Bueno, no bairro Imbeti ba]

Zé Milbs [José Milbs de Lacerda Gama, macaense, jornalista, proprietário do jornal O Rebate, fi lho de Ecila Maria de Lacerda Gama Gallo, primeira macaense formada Bibliotecária, funcionária pública]

Luiz Reid [Colégio estadual na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

apartheid [Palavra do idioma africânder que signifi ca separação]

Leandro Ma� os Soares [Macaense, médico ortopedista e traumatologista]

Ciro José Lopes de Oliveira [Macaense, bancário, empresário, construtor, que foi gerente do Banco do Estado do Rio de Janeiro, BANERJ]

Edílson Barreto Antunes [Macaense, médico cirurgião gastroenterologista]

Lúcia Maria Silva Thomaz [Macaense, educadora, proprietária da Escola Alfa]

Alfa [Escola criada em 1984, na Rua Dr. Bueno, 525, Imbeti ba]

UERJ [Universidade do Estado do Rio de Janeiro, fundada em 04/12/1950, uma das maiores e mais presti giadas universidades do Rio de Janeiro e do Brasil. Seu principal campus é o Francisco Negrão de Lima, que está localizado no bairro do Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro]

professor Abílio [Valenti no de Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]

Golpe de 1964 [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

Eu não sei se as pessoas sabem, mas não sou de Macaé, vim para cá em 1963. Meu pai, Acyr Aguiar, é daqui, de Cachoeiros de Macaé, especifi camente da Areia Branca... A minha mãe é de Mimoso do Sul. Por questões profi ssionais, meu pai fi cou desempregado e nós tivemos que mudar para Macaé. Viemos morar na Rua do Meio, em frente à casa da mãe de Zé Milbs. Eu tinha 11 anos, fui estudar no Luiz Reid, que me marcou profundamente pelo ambiente democrático que oferecia. Mas por que o Luiz Reid era um ambiente profundamente democrático? Porque era a única escola de segundo grau aqui no município, o grande colégio catalisador dos jovens de Macaé, onde estudavam os fi lhos dos mais pobres e dos mais ricos. Interessante que a relação entre nós era muito natural, muito tranquila, de respeito, não havia essa soberba que muitas vezes hoje há... Esse apartheid econômico que existe de pessoas da classe alta não terem convivência com as da classe baixa.

A nossa turma do Luiz Reid continua se encontrando. Todo ano marcamos um encontro para relembrarmos os tempos felizes que vivemos juntos. Fazem parte do grupo, posso até nominar alguns que ainda estão em Macaé: Leandro Mattos Soares; Ciro José Lopes de Oliveira; o Edílson Barreto Antunes; Lúcia Maria Silva � omaz e tantos outros. Reunimo-nos uma vez por ano. O último encontro foi em fevereiro de 2014 no Alfa.

A minha mãe, Laérce Andrade de Abreu Aguiar, era professora de Português e o sonho da vida dela era que eu fi zesse Medicina... Eu detestava, é uma profi ssão maravilhosa, mas não serve para mim. Lembro que ela me obrigou a fazer vestibular para UERJ. Fui classifi cado e não continuei no processo. Eu queria realmente ser professor de História. Então, depois de um tempo sem estudar, tentando direcionar minha vida, decidi ser professor e acho que a fi gura da minha mãe foi muito forte na minha opção de ser educador.

Nossa família possuía mais identifi cação com a classe baixa, vivíamos com certa difi culdade. Meu pai veio trabalhar como mecânico de máquina de costura, de liquidifi cador, de ventilador. Ele saia oferecendo o serviço pelas ruas de Macaé. Então, nós tivemos uma condição fi nanceira muito difícil, mas ali, no Luiz Reid, apesar de tudo, convivi com os fi lhos das famílias da classe alta sem nenhuma difi culdade. No Luiz Reid, uma pessoa especial foi meu professor na sétima e na oitava série, o professor Abílio, já falecido... Diga-se de passagem, um injustiçado pelo Golpe de 1964, que faleceu, após longo período de problemas de saúde provocados pelas injustiças cometidas contra ele. Sou professor por vocação, por desejo e leciono a disciplina História por causa do professor Abílio Miranda.

Naquela época de adolescência e juventude, década de 1960, não sei se as pessoas que aqui viviam recordam, mas quem tem a minha idade não tem como não lembrar. Nós tínhamos o hábito, aos domingos, de assistirmos à sessão de cinema das seis horas no Taboada e assim que acabava a sessão, ali da Rua Marechal Deodoro, esquina com a Rua Direita, até lá na Câmara Municipal, era impedida a passagem de carros e os jovens fi cavam fazendo um passeio...Os rapazes de um lado e as meninas de outro para

se encontrarem, olhar de frente, paquerar... Era uma experiência muito interessante. Hoje isso se perdeu, essa coisa muito mais simples e natural... Não havia essa preocupação com barzinho, com bebida... Lógico que nós bebíamos, mas não havia essa fi ssura de ir para Cavaleiros, de fi car bebendo, bebendo, bebendo... Era uma experiência de vida muito mais pura, muito mais interiorana, sem os desafi os loucos que o consumismo nos impõe.

Aqui, em Macaé, não havia essa variedade de comércio, de empresas que existem hoje. O comércio atendia as necessidades básicas, fundamentais. Você para adquirir alguma coisa diferenciada tinha que ir à capital, aqui não se encontrava um comércio diversifi cado porque a demanda era muito pequena, o potencial aquisitivo do povo não era muito grande. O empregador em Macaé, quem era? A Prefeitura e a Rede Ferroviária Federal, a antiga Leopoldina. Não existiam grandes expectativas de emprego e, lógico e evidentemente, que os salários de Prefeitura e de Rede Ferroviária não eram altos, então, o poder aquisitivo da população macaense não era como é hoje com o advento da Petrobras e essas grandes multinacionais que vieram habitar em torno dela.

Papai foi um executivo do antigo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, o SENAI, mas foi demitido e fi cou sem emprego... Ele tinha uma capacidade muito grande de mexer com a parte técnica dos aparelhos eletrônicos... Assim que nós viemos para cá ele montou, no fundo da casa, uma ofi cina, e consertava os eletrodomésticos simples que havia naquela época, também amolava tesouras, facas, alicate de unha tico-tico e depois montou um comércio na Rua Marechal Deodoro, a Casa das Chaves... A maioria dos chaveiros que hoje existem em Macaé foram aprendizes do meu pai.

Após os 20 anos, eu me envolvi na Igreja através de uma Irmã Salesiana, Joana Fernandes Rodrigues, ainda viva, morando na casa das irmãs idosas em Belo Horizonte, e vez por outra faço uma visita a ela. Eu fui um jovem muito encapetado e era costume nosso ir ao colégio das irmãs, porque lá só estudava menina... Então, perto do horário da saída, nós íamos ver as meninas e essa irmã chamou-me pelo nome: - Zé Augusto! Falei: - Por que diabo é essa mulher que sabe o meu nome, o que quer comigo? Naquela época, elas fi cavam vestidas de preto, com peitinho branco, parecendo pinguins. (Risos!) Fui conversar com ela, conversa vai, conversa vem, e todo dia ela me chamava... A partir de um determinado momento, eu já ia pensando encontrar com ela. Meus colegas falavam: -Você está transando com a freira? (Risos!) Respondia indignado: - Claro que não!!! Um dia, ela me chamou para fazer um encontro de jovens em Cachoeiro de Itapemirim.

Interessante que esse encontro meu com a irmã defi niu até minha opção profi ssional, eu tinha voltado do Rio de Janeiro e estava dois anos em Macaé sem fazer nada, perdido, perdido. Com a oportunidade que ela me deu de participar desse curso, eu não só me encontrei comigo mesmo, mas encontrei Deus e aquilo foi clareando os meus caminhos, me dando condições de fazer uma decisão acertada de vida. Militei muito tempo aqui

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Diocese de Nova Friburgo [Criada no dia 26/03/1960 com a BulaQuandoquidem Verbis, do Papa João XXIII, desmembrada da Arquidiocese de Niterói e das Dioceses de Campos e Valença, sendo o Núncio Apostólico Dom Armando Lombardi]Dom Clemente [José Carlos de Gouvea Isnard, carioca, formado em Ciências Jurídicas e Sociais, primeiro bispo da Diocese de Nova Friburgo]Ricardo Vieiralves de Castro [Psicólogo, Mestre em Psicologia Clínica (PUC-RJ); Doutor em Comunicação (UFRJ)]Arthur Peçanha de Aguiar [Arturinho, macaense, professor, fazendeiro, empresário]Arthur [Benjamin de Aguiar, macaense da região serrana, comerciante, empresário] Le� cia Peçanha de Aguiar [Campista, professora de Língua Portuguesa, Lati m e Religião, fundadora e proprietária do Centro Educacional São José]Ivania Ribeiro [Silva, macaense, educadora, formada em Letras, políti ca, vereadora, presidente do Insti tuto Histórico e Geográfi co de Macaé-IHGM] Paróquia São Paulo Apóstolo [Na Rua J. Kopp, 106, Centro, criada em 25/01/1968]Barra de São João [Segundo distrito de Casimiro de Abreu, na região litorânea do município]FAFIC [Faculdade de Filosofi a de Campos, criada em 1961] FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada em 1974, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo]Normal [Também conhecido como Magistério de 1.0 grau ou Pedagógico, um ti po de habilitação para as séries iniciais do ensino fundamental. Era um curso secundário, equivale nos moldes atuais, a um curso profi ssionalizante em três anos. Por Lei de 1996 a mínima habilitação exigida para o magistério passou a ser uma licenciatura (ensino superior), depois foi reabilitado o curso Normal por portaria de 22/02/2001] Ana Maria Pinto [Macaense, professora de Matemáti ca]Claudia Marcia [Vasconcelos da Rocha, campista, educadora, professora de Língua Portuguesa, foi Superintendente Acadêmico e Presidente da Fundação Educacional de Macaé (FUNEMAC)]Tonito [Macaense, professor de Química, historiador, poeta, colecionador]Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo]Dona Therezinha [Moreira, professora de Geografi a]Cientí fi co [Curso vocacionado para o prosseguimento de estudos de nível superior, de caráter universitário ou politécnico, têm a duração de três anos lecti vos correspondentes aos 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade] Clássico [Anti go curso do ensino médio, juntamente com o Cientí fi co e o Normal, que existi u até 1967, sendo que os três primeiros anos eram iguais para todos e posteriormente quem quisesse fazer o Normal e o Clássico, ti nha de fazer mais um ano]Jânio Quadros [Jânio da Silva Quadros, mato-grossense, intelectual, políti co, vigésimo segundo presidente do Brasil, entre janeiro e agosto de 1961, quando renunciou]João Goulart [João Belchior Marques Goulart, Jango, gaúcho, fazendeiro, advogado, políti co, Presidente do Brasil (1961-4)]Miguel Angelo [da Silva Santos, angrense, educador, professor, patrono da Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS), na Cidade Universitária]

no movimento juvenil na região... A Diocese de Nova Friburgo tem uma estrutura que engloba vários municípios, e depois de um determinado momento, o bispo da época, Dom Clemente, monge beneditino, convidou-me para organizar o movimento da juventude da Diocese. Eu, o professor Ricardo Vieiralves de Castro, atual reitor da UERJ, que é meu padrinho de casamento; o André Braune Wiik e o Arthur Peçanha de Aguiar, fi lho de Seu Arthur e da saudosa professora Letícia Peçanha de Aguiar, organizamos o Secretariado da Juventude da Diocese. Dentre tantas ações realizadas e criada por nós, ações que marcaram e ainda marcam a história de nossa Diocese, posso citar o dia o Dia da Unidade Diocesana, a Ação Missionária e os Encontros de Adolescentes e Jovens. O Dia da Unidade Diocesana ainda acontece, uma vez por ano, quando se reúnem todas as paróquias da Diocese, em torno de dez mil pessoas. Em Macaé, fi zemos um trabalho muito grande com o GRUDA, Grupo Doação e Amor. A professora Ivania Ribeiro foi uma jovem que o grupo ajudou a formar. Estou citando a Ivania, assim como poderia citar outros, mas porque é uma pessoa de destaque, de importância, uma batalhadora, uma militante das causas populares, sobretudo da Educação... Ela é fruto desse nosso trabalho junto a Pastoral da Juventude.

Casei em 1982, na época com 32 anos de idade, com Fátima Seixas Barbosa, minha aluna na oitava série do ginasial e no curso de Pedagogia. Tenho três fi lhas: Rachel Seixas Barbosa Abreu Aguiar, médica; Carolina Seixas Barbosa Abreu Aguiar, advogada; e Fernanda Seixas Barbosa Abreu Aguiar, formada em Relações Internacionais. Casei tarde porque pensava em ser padre. Uma vez, o reitor de uma casa de vocação me falou: - Zé Augusto você vai decidir entrar ou não? Respondi: - Meu sonho é ser padre, mas já imaginou eu celebrando e entrar uma mulher bonita, gostosa, e eu fi car encantado por ela? Vai ser um escândalo! Ai o padre disse: - É, vai embora, você não serve para padre. (Risos!) Depois que me casei, participei como coordenador da Pastoral Familiar. Hoje, evidente, que não estou fora da Igreja, mas já não tenho uma militância, ofereço os meus serviços à Pastoral Familiar. Agora mesmo, no domingo, eu vou dar um curso para jovens da Paróquia São Paulo Apóstolo, uma vez ou outra um faço uma reunião com as famílias dos diferentes grupos de paroquiais aqui da Diocese de Nova Friburgo.

Eu nunca tive a perspectiva da experiência de ser ateu, nunca, de forma nenhuma. Eu vivi alguns momentos meio distanciado de Deus, mas não que eu não acreditasse na existência desse Deus. A Academia nunca provocou ou fez com que tivesse alguma dúvida contra a existência de Deus, o que às vezes me coloca em dúvida não é a Academia, mas a própria vida, os desafi os que nos impõe, as dores, os sofrimentos de outras pessoas que você muitas vezes não encontra explicação racional para tanto. Se Deus é bondade, é amor por que há tanto sofrimento, tanta dor? Estas questões às vezes me provoca um balançar, mas a Academia nunca me provocou isso... Na época que estudei a História Medieval na transição para a História Moderna, quando falavam de reforma religiosa, fazendo uma série de críticas à Igreja, que são verdadeiras, a gente não via dizer que a Igreja Católica é uma entidade perfeita, porque ela não é. O que me faz católico não é a estrutura hierárquica, a estrutura humana da Igreja, mas é o processo que se obriga ali dentro. Logicamente, que é uma estrutura de homens e, sendo assim, está carregada de erros.

Minha primeira experiência como professor foi em Barra de São João, não era formado, mas sempre fui um estudioso da História... Quando entrei na FAFIC já tinha estudado a história toda, inclusive digo para meus alunos que não sigam o exemplo de quem é errado... Eu, quando cursei História nunca levei um caderno, um lápis, uma caneta... Naquela época, podia fumar dentro de sala e eu fumava muito, levava dois maços e fi cava no fundo da sala ouvindo o que estavam falando, porque já tinha estudado aquilo tudo. Em Barra de São João, havia o Colégio Casimiro de Abreu, minha mãe dava aula de Português, estavam sem professor de História, eu com dezessete anos, minha mãe falou: - Tenho um fi lho que sabe tudo de História. Inclusive, trabalhei e minha carteira não foi nem assinada. Depois deixei um pouco de lado e retomei no Instituto Nossa Senhora da Glória, junto às freiras salesianas, e fi z um concurso para o Estado do Rio de Janeiro, fui aprovado, e vim para o Colégio Estadual Luiz Reid.

Com relação à educação, especifi camente no que diz respeito aos professores, existe algo que eu gostaria de dizer. Muitos dos professores de antigamente, em sua maioria, exerciam o magistério por desejo, por vocação, por vontade. Alguns tornaram-se professores por falta de opção. O que eu estou querendo dizer? Famílias sem condições de bancar o estudo universitário de seus fi lhos, por diferentes questões, especialmente econômicas, canalizavam, até recentemente, seus esforços para a única faculdade existente em Macaé, a FAFIMA, voltada exclusivamente para a Educação. O curso Normal também era aberto a todo mundo, então era uma verdade. Como que as famílias com difi culdades econômicas poderiam levar seus fi lhos para estudarem fora? Porém, seus fi lhos e fi lhas teriam que ter uma profi ssão. O mercado para o professor, mesmo que não remunere muito bem, não deixa ninguém desempregado, todo mundo consegue alguma coisa.

Quando iniciei meu trabalho no Colégio Estadual Luiz Reid, eram meus colegas de profi ssão: Ana Maria Pinto, Claudia Marcia, Antonio Alvarez Parada, o Tonito, Ricardo Meirelles, Dona � erezinha... Os alunos saiam do Luiz Reid, do antigo Científi co ou do Clássico, com grande possibilidade de passar em qualquer vestibular... Hoje, esse aluno da escola pública tem sérias difi culdades. Na minha época, nem todo mundo via a Educação como um vetor de superação social, víamos com relação ao desenvolvimento humano. O Estado tinha um custo baixo com Educação porque não eram muitos que estudavam e nessa época, podia-se pagar um salário excelente ao professor. Vocês podem perguntar às suas mães, casar com professor era um achado, era um prêmio de loteria porque tinha um bom salário.

Macaé, tradicionalmente era chamada de “Moscou Fluminense”, porque tinha uma história de esquerda muito forte, que partia dos ferroviários. Havia um sindicato ferroviário fortíssimo. Uma representação legítima, real, e logicamente formado com base na proposta socialista. Na década de 1960, teve a renúncia daquele maluco chamado Jânio Quadros, e consequentemente, a necessidade de empossar o vice presidente João Goulart, tido como alguém de esquerda... Então, colocá-lo como presidente do país, tendo essa testa de homem de esquerda, não foi bom para as elites, sobretudo para o grande capital nacional. Ele, Jango, começou fazer determinadas falas, discursos que provocam mais ainda esse grupo. Obviamente que esse grupo, junto com outros setores conservadores, fi zeram o Golpe de 1964, que não foi uma revolução, equivocadamente a história ofi cial teima em chamar assim, mas não é. Evidentemente, que o sindicato de Macaé, atuante, que a véspera do golpe, um ano, dois anos antes, já vinha se manifestando com greves, paralisando as coisas de forma fortíssima, quando houve o golpe, logicamente, que os ferroviários se tornaram inimigos públicos número um. Além do sindicato, alguns outros profi ssionais, dentre

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Fernando Henrique Cardoso [Carioca, sociólogo, educador, políti co, Presidente da República em dois mandatos consecuti vos (1995-2003)]

Abertura [Políti ca é o nome que se dá ao processo de liberalização da ditadura militar que governou o Brasil. Esse processo teve início em 1974 e terminou em 1988, com a promulgação da nova Consti tuição]

Lagomar [Bairro do terceiro subdistrito Cabiúnas, pertencente ao primeiro distrito Macaé Sede]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História,dramaturgo, exerceu vários cargos na administração pública municipal e estadual e foi vice prefeito em duas gestões]

professor Dácio [Tavares Lobo, macaense da Bicuda, educador]

Humberto Ma� os Assumpção [Macaense, médico cancerologista e clínico geral, políti co, vereador, presidente do Parti do Democráti co Brasileiro]

Tote [Macaense, líder sindical, eleito Vereador do legislati vo macaense em 1947 e Deputado Estadual em 1962, no auge do movimento operário em Macaé, chamada a Moscouzinho, após a Revolução de 64 foi preso e exilado]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]

Capitão [Antonio Carlos de Assis, mineiro, empresário, políti co, vereador]

Cemitério de Perus [Ofi cialmente Cemitério Dom Bosco, localizado na zona oeste da cidade de São Paulo, criado em 1971, tem cerca de 254 mil metros quadrados de extensão, onde existe um Memorial aos desaparecidos políti cos ali sepultados, criado por Luiza Erundina e pela Comissão de Familiares de Presos Políti cos Desaparecidos]

Glicério [4.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

nome dele [Fernando Ma� os]

Barra da Tijuca [Bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Casa & Roupa [Originalmente Casa da Roupa, na Rua Télio Barreto, 268, em sobrado edifi cado em 1846 para residência de Francisco Diogo da Cunha, o célebre Chico Diogo]

Chris� na Paes Borges [Macaense, empresária]

Moadyr Victorino [Macaense, ator, teatrólogo, fundador do Grupo TEMA – Teatro Macaé de Amadores, juntamente com Ricardo Meirelles]

comunista [Pessoa que defende que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição ao liberalista, que crê que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]

Igreja [Católica Apostólica Romana]

Ypiranga [Futebol Clube, anti go Clube dos Abaetés, na Av. Rui Barbosa]

Candeco [Manoel Oliveira Candeco, macaense de Carapebus]

Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

Barracão da Prefeitura [Municipal de Macaé, na Rua Marechal Rondon, Miramar]

Coriolano Fernandes de Aguiar [Macaense, fazendeiro]

stalinistas [Seguidores do stalinismo, termo que, na maioria das vezes, designa essencialmente o domínio absoluto de uma dada liderança, a qual estabelece como “verdade” a sua interpretação parti cular do Marxismo, do qual se arvora a condição de único e legíti mo intérprete]

maoístas [Seguidores do pensamento políti co implementado por Mao Tsé Tung na China, caracterizado por sua tendência marxista-leninista, considerando que a estrutura tradicional da sociedade provocava um elevado nível de pobreza e desigualdade social e recomendando uma constante análise das contradições na cultura, na sociedade e mesmo no seio do Parti do Comunista]

Dona Alzira [de Aguiar, macaense].

Fundação Getúlio Vargas [Universidade parti cular, fundada em 20/12/1944, objeti vando qualifi carpessoal para a administração pública e privada, desde então, extrapolou as fronteiras do ensino e avançou pelas áreas da pesquisa e da informação]

� a Zoila [Olympia de Abreu, espírito-santense]

Parti do [Comunista Brasileiro (PCB), um parti do políti co de esquerda, fundado em 25/03/1922, ideologicamente baseado em Karl Marx e Friedrich Engels; com organização baseada nas teorias de Lênin. Também conhecido como Parti dão, é o mais anti go do país ainda em ati vidade]

morte [22/10/1980]

O Globo [Jornal diário de no� cias sediado no Rio de Janeiro, fundado em 29/07/1925, por Irineu Marinho]

Cemitério São João Bati sta [No bairro de Botafogo, Rio de Janeiro]

Luís Carlos Prestes [Gaucho, militar e políti co. Foi secretário-geral do Parti do Comunista Brasileiro e companheiro de Olga Benário, morta na Alemanha, na câmara de gás, pelos nazistas]

Internacional Socialista [Famoso hino socialista, sendo também uma das canções mais conhecidas de todo o mundo. A letra original da canção foi escrita em francês, em 1871, por Eugène Po� er, que havia sido um dos membros da Comuna de Paris]

José Serra [Paulistano, economista e políti co, fi liado ao Parti do da Social Democracia Brasileira, foi o trigésimo terceiro governador de São Paulo e cadidato à presidência da República em diversos pleitos]

eles, professores, e eu cito dois: o professor Miguel Angelo e o professor Abílio Miranda, que foi preso, perdeu o emprego no Estado, tachado de comunista, meu professor de História, podia ter ideias avançadas para época, mas nunca foi uma pessoa alinhada nem mesmo no sindicato dos ferroviários... Havia caça às bruxas, acho que Macaé deveria recompor o professor Abílio, que foi injustiçado, e eu não vi na cidade, até hoje, nenhum movimento de recuperação da fi gura, desse homem, enquanto vários crápulas são endeusados. O professor Miguel Ângelo vocês também devem ter conhecido, também uma pessoa atuante, na Igreja inclusive, foi tachado como comunista, não sei se alguém contou para vocês, a quadra do Ypiranga fi cou lotada de presos. (Risos!)

Tem uma história em Macaé, pra gente mudar o rumo da emoção, sair da tristeza para a alegria, de um senhor chamado Candeco, eletricista, que na época da caça às bruxas, disseram que ele era comunista... O Forte Marechal Hermes foi encarregado de prender todos os comunistas. Foram na casa de Candeco, atrás do Barracão da Prefeitura, bateram e falaram: - Aqui que mora Seu Candeco, o comunista? Ele respondeu assim: - Seu Candeco mora aqui, mas ele não é comunista é eletricista, ele é eletricista. (Risos!) Quer dizer, veja que absurdo, esse senhor até tinha uma posição moderna, à frente daquele tempo em Macaé, mas não era comunista, nem tinha noção dessa questão, dessa proposta, dessa ideologia. Nessa época, o que marcou muito, me deixou muitíssimo preocupado, é que as pessoas passaram a ver as outras como inimigas, sendo que foram amigas durante toda uma vida. Por exemplo, o meu avô, Coriolano Fernandes de Aguiar, era comunista da linha maoísta, tinha stalinistas e maoístas, ele era seguidor do comunismo chinês e na casa dele, na Areia Branca, tinham vários livros, revistas, contando a história da China... Um grande amigo dele, de família muitíssimo importante, amigo de chegar pela porta da cozinha, mexendo no fogão, veio ao Forte Marechal Hermes denunciá-lo como comunista porque sabia o que ele tinha, lá, arquivado... Só que no Forte, havia um sargento, já falecido, não vou falar o nome, muito ligado à nossa família que nos deu o toque. Então, o que nós fi zemos? Corremos para Areia Branca e enterramos todas as aquelas revistas, livros, demos sumiço em tudo, mas mesmo assim, a polícia do exército foi lá, vasculharam a casa toda e roubaram as joias da minha avó, Dona Alzira.

Na rua onde eu morava, só em minha casa tinha telefone, o número era 531, e eles batiam na porta e diziam que tinham que usar o telefone imediatamente, e aconteceu um fato muito interessante. Um primo, hoje pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Ib Teixeira, foi deputado pela Guanabara, a mãe dele, a tia Zoila, era irmã da minha mãe, e eles eram comunistas mesmo, membros do Partido, inclusive na ocasião da morte de tia Zoila, teve até reportagem no jornal O Globo... Eu fui ao enterro no Cemitério São João Batista, o Luís Carlos Prestes estava lá, ela foi enterrada com a bandeira comunista, cantou-se a Internacional Socialista. Esse meu primo foi perseguido no Rio de Janeiro, nós trouxemos ele aqui para casa, ele fi cou num quarto que a porta era do lado do telefone e quando esse major reformado do Exército chegava para telefonar, e era sempre para denunciar alguém, o primo estava ali do lado. Depois, o levamos para a roça e fi zemos contato com a Embaixada do Chile... Lá no Chile, o Ib, como tantos outros, mudaram totalmente a postura ideológica, tornou-se amigo do José Serra e do Fernando Henrique Cardoso.

Em Macaé, o Sindicato dos Ferroviários era um grupo combatente, identifi cado com o socialismo, com uma proposta de mudança radical da sociedade, um projeto revolucionário, mas isso não dava direito aqueles que fi zeram o golpe, de agir da maneira que agiram e que marcou profundamente a cidade... As famílias fi caram marcadas com tudo isso. As reuniões comunistas, em Macaé, foram muito espaçadas e restritas a um grupo pequeno, porque qualquer deslize durante o período que vigeu o governo militar, as pessoas desapareciam como que por encanto,

tá ai os porões da repressão para dizer isso como verdade. Então, havia, logicamente, um medo muito grande, sobretudo numa cidade como Macaé, onde a denúncia se tornou uma cosia prazerosa para alguns. O Partido Comunista, em Macaé, fi cou um pouco temeroso, mas à medida que a Abertura foi acontecendo, passou a se reunir mais sistematicamente. Num domingo, nós saímos em caravana para uma reunião do Partido lá no Lagomar, que não era o que é hoje, tinha pequenos sítios, o Ricardo Meirelles estava conosco, o professor Dácio estava também... Nós não fazíamos parte do Partido, essa reunião seria para ouvirmos a proposta e falarmos se faríamos a adesão ou não. Chegando lá, montou-se a sala onde ocorreria a reunião, botou-se o retrato dos fi gurões do Partido, começou a reunião, de repente apareceu um carro na estrada do sítio e foi uma correria, uma coisa louca, esconde quadro, guarda isso, faz aquilo, acende a churrasqueira, para parecer que nós estávamos numa confraternização. O partido estava na clandestinidade, mas essas reuniões aconteciam. Vou cometer uma inconfi dência, nós saímos de frente da casa de Humberto Mattos Assumpção, em caravanas, todos marcados: - Ali vão os comunistas de Macaé. (Risos!) Eles sabiam para onde nós estávamos indo, um carro atrás do outro, mas um grupo muito bom. O falecido Aristóteles de Miranda Melo, o Tote, tinha um grupo excelente, que realmente fez a história de Macaé e temos que recuperar essa parte histórica também.

Outro fato interessante para a memória de nossa cidade diz respeito a um rapaz da família Mattos. Filho de Seu Armando Mattos e da Neguiinha, meus amigos particulares já falecidos, sobrinho do ex marido de Marilena, o Capitão... Esse rapaz foi morto porque participava de um grupo de guerrilha, inclusive recentemente, a ossada dele foi encontrada no Cemitério de Perus, foi recambiada, e está enterrada em Glicério. Eu esqueci o nome dele, é o nome de uma Avenida na Barra da Tijuca; tem um sobrinho, Sérgio Mattos, que é professor de Química no Castelo... Ele foi assassinado no movimento de assalto a um banco, num confronto com as forças da Ditadura.

Nessa época, eu passei por situações complicadas. Certo dia, fui chamado no Forte Marechal Hermes várias vezes, por coisas que eu falava dentro de sala de aula. Tinha uma professora de Campos, que trabalhava conosco num curso que nós tínhamos aqui em Macaé, muito positiva ao falar. Era professora de Geografi a, e ela falou alguma coisa diferenciada, ai os caras do Forte vieram ao colégio e disseram que eu os estava chamando de macacos... Disse que não era nada disso, que sou professor de História e não tinha nada com isso... Quando eu viajava, no retorno, se chegasse aqui muito à noite, tinha que pedir alguém que viesse me buscar porque nós éramos muito visados. O Grêmio Estudantil era muito mais cultural do que politizado, mais voltado ao teatro, essas coisas culturais... O Colégio Estadual Luiz Reid tinha um grêmio forte... O Zé Milbs foi um elemento importante na união, era da Federação dos Estudantes de Macaé, com sede em cima da Casa & Roupa... Sobre o Zé Milbs, lembro de um artigo que ele escreveu alusivo aos “Imortais da Rua do Meio”, a Rua Doutor Bueno. No artigo, ele contava um episódio ocorrido com a minha mãe. Muito interessante. Ele afi rmava que, uma vez, minha mãe chegou para ele, que morava na frente da minha casa, e falou assim: - Vê o que você vai fazer com os meus fi lhos, heim! (Risos!) Você está levando eles para caminho desorientado. Para ela, o caminho desorientado era a discussão política. O Zé Milbs é uma fi gura muito importante para a história de Macaé, tem gente que o chama de louco, mas é um louco muito consciente e a sociedade precisa de loucos assim... Ele é uma pessoa muito especial, graças a ele, os estudantes que não tinham essa vida política ativa, conseguiram uma nova postura, voltada para a luta política. O Luiz Reid tinha um grupo de teatro muito grande, patrocinado pelo Grêmio, com a Christina Paes Borges, o Moadyr Victorino...

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presença de um cromossomo 21 extra, total ou parcialmente, associada a algumas difi culdades de habilidade cogniti va e desenvolvimento � sico, assim como de aparência facial, sendo geralmente identi fi cada no nascimento]

Casas da Banha [Rede de supermercados fundada em 1955, com sede na cidade do Rio de Janeiro. Em meados dos anos 1980, contava com 230 lojas no país, onde trabalhavam 18 mil empregados. O seu faturamento anual ultrapassava US$ 700 milhões, e nesse tempo se estabeleceu em Macaé, na Rua Silva Jardim, sendo o primeiro prédio da cidade com escadas rolantes]

livro [Fera de Macabu: A História e o Romance de um Condenado à Morte: Rio de Janeiro, Editora Record, 1998, 408 pp.]

Carlos César Marchi [Macaense, jornalista, escritor, trabalhou no Correio da Manhã, Últi ma Hora, O Globo, Rede Globo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil, além de colaborar com dezenas de outras publicações. Teve intensa ati vidade políti ca e sindical; em 1984, foi assessor da candidatura Tancredo Neves]

Globo [Rede de televisão brasileira, fundada em 26 de abril de 1965, na cidade do Rio de Janeiro, pelo jornalista Roberto Marinho. É assisti da por 150 milhões de pessoas diariamente, sejam elas no Brasil ou no Exterior por meio da TV Globo Internacional]

Mo� a Coqueiro [Manoel da Mo� a Coqueiro, campista, fazendeiro, últi mo homem branco condenado à pena capital no Brasil, como responsável pela chacina da família de um colono em Conceição de Macabu, enforcado em Macaé a 07/03/1855, ao qual se atribui uma praga de cem anos de atraso para a cidade]

Marcelo Abreu [Gomes, macabuense, professor, historiador, colecionador, escritor, autor de livros sobre Conceição de Macabu]

Linha Direta [Primeiro programa de televisão brasileiro com a interferência do telespectador, ao vivo, no fi nal da história, exibido de 1992 à 2000]

SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Escola Ferroviária 8.1 – SENAI-Leopoldina, na Imbeti ba, adaptação do anti go Lyceu dos Operários de Imbeti ba, criado em 1911]

Leopoldina [A The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada pelo em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina.Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Carapebus [Anti go terceiro distrito de Macaé, teve sua emancipação políti co-administrati va decretada por Lei Estadual de 19/07/1995, sendo primeiro prefeito eleito, Eduardo Nunes Cordeiro, que tomou posse em 01/01/1997]

Quissamã [Anti go quarto distrito de Macaé, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989]

Linha Azul [Via expressa que liga o bairro Virgem Santa ao bairro Ajuda de Cima, criada para desobstruir o trânsito no centro da cidade, no que se refere aos veículos que do Norte Fluminense se dirigem à Região dos Lagos]

FUNEMAC [Fundação Educacional de Macaé, criada Lei Municipal n°.1369, em 17/11/1992]

Centro Macaé de Cultura [Na Av. Rui Barbosa, 780, inaugurado em 04/09/1992, abrigando o Teatro Municipal, o Centro de Memória Antonio Alvarez Parada, a Galeria de Arte Hindemburgo Olive e o Ateliê Seth]

Vânia A� ye [Mussi, campista, professora]

Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]

Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

BEMGE [Banco do Estado de Minas Gerais, insti tuição fi nanceira com agência na Av. Rui Barbosa]

UFF [Universidade Federal Fluminense]

Polivalente [Escola Estadual Municipalizada Polivalente Anísio Teixeira, na Rua Jesus Soares Pereira, bairro Costa do Sol]

diretora [Angela Maria do Prado Pessanha Lima, madalenense, professora, diretora do Polivalente]

Ancyra [Colégio Municipal Ancyra Gonçalves Pimentel, Av. Amaral Peixoto, 555, Miramar]

Rápido Macaense [Empresa de transporte rodoviário, urbano e turísti co, fundada em 24/01/1956; sendo adquirida, em 2003, pelo grupo JCA]

FEEM [Fundação Estadual de Educação do Menor criada pelo Decreto-Lei 42 de 24/03/1975, substi tuindo a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM), criada pela Lei Estadual 1.534 de 27/11/1967. Em 1995, através do Decreto Estadual 16.691, a FEEM passou a denominar-se Fundação para a Infância e Adolescência (FIA/RJ)]

Jornal do Brasil [Tradicional jornalbrasileiro, fundado em 09/04/1891, publicado diariamente na cidade do Rio de Janeiro e impresso até setembro de 2010, quando se tornou exclusivamente digital]

Educandário Rego Barros [Fundado em 1924, atuando na extensão de 585,55 hectares da Fazenda Modelo São Domingos, com a denominação de Aprendizado Agrícola Presidente Pedreira, mudou de nome em homenagem póstuma a um de seus mais abnegados diretores, Joaquim Tibúrcio do Rego Barros]

Conceição de Macabu [Anti go quinto distrito de Macaé, emancipado em 15/03/1952]

PDT [Parti do Democráti co Trabalhista, parti do políti co de centro-esquerda, com ideologia trabalhista, fundado por políti cos e intelectuais brasileiros no fi nal da década de 1970, logo após o início do processo de abertura políti ca da Ditadura Militar]

Brizola [Leonel de Moura Brizola, gaúcho, políti co, foi um dos líderes da resistência ao regime militar, exilado em 1964, exerceu mandatos de prefeito, deputado, governador, sendo presidente do PTB]

governador [Estado do Rio de Janeiro]

Síndrome de Down [A Trissomia do cromossomo 21 é um distúrbio genéti co causado pela

Quanto à FUNEMAC, hoje está um paraíso, eu aqui sentado num sofá, que não está muito bonito, está meio encardido, desbotado, mas nem sofá nós tínhamos para sentar. (Risos!) Tínhamos uma sala horrorosa no Centro Macaé de Cultura... Eu era Presidente, a Vânia Attye era Vice-presidente, e a Claudia Marcia Vasconcelos da Rocha, Superintendente Acadêmica... Depois, Claudia Marcia veio a ser Presidente, quando fui para chefi a de Gabinete da Prefeitura... Só para vocês terem uma ideia, foi feito um projeto do governo Sylvio Lopes, quando Carlos Emir ganhou a eleição, não queria de forma nenhuma que fosse à frente, porque votaram o projeto na Câmara Municipal de Macaé dizendo que o primeiro presidente teria direito a exercer a função durante dois anos, então, o novo prefeito ia ter um presidente nomeado pelo ex-prefeito. Fui para Câmara, num dia de votação, e negociei pessoalmente com vários vereadores, conseguindo modifi car isso no projeto de lei, alterando que o primeiro presidente seria indicação do novo prefeito. Carlos Emir aceitou, sempre com um pé atrás, achando que não estava muito claro. Só para se ter uma ideia, ninguém sabe disso, estou falando pela primeira vez, foi feita uma inscrição de vestibular sem que houvesse nada ofi cial, quando eu assumi no dia primeiro de janeiro de 1993, vi que já tinha um vestibular marcado, com inscrições cobradas, e descobri esse dinheiro no BEMGE, ofi ciosamente, porque ele não tinha conta ligada à FUNEMAC nem à Prefeitura. Aí, procurei a UFF porque a Fundação dava atenção a dois cursos, Ciências Contábeis e Administração... Então, o primeiro problema foi dar caráter ofi cial ao vestibular. Resolvemos esse problema, mas onde colocar os cursos? Na Polivalente. Evidentemente, a diretora aceitou com certa imposição do governo, porque é uma escola municipalizada, mas sempre houve confl ito da direção da escola com a FUNEMAC, porque os cursos invadiram o espaço, que historicamente, era deles. Aí fomos para o Ancyra, mas as cadeiras eram de crianças, e não havia um tostão de recursos, a passagem para os professores tínhamos que ir a Rápido Macaense toda semana implorar a direção, porque eles haviam se comprometido verbalmente em dar as passagens, e toda semana, no domingo, eu já dormia com dor de cabeça. Pagar hotel era outro sacrifício.

Quando eu fui para a FEEM, como interventor, haviam saído reportagens no O Globo e no Jornal do Brasil com relação aos jovens da FEEM, que era Educandário Rego Barros, que aprontavam mil e uma na cidade de Conceição de Macabu. Nessa época, fomos candidatos a prefeito e vice prefeito, eu e Ricardo Meirelles, pelo PDT; o Brizola havia sido eleito governador, e fui sondado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, se me prestaria a ser interventor no Educandário Rego Barros. Achei um desafi o interessante, quando eu cheguei lá, sou baixinho, era muito mais magro do que sou hoje, quando me viram falaram que não ia conseguir nada... Seiscentos meninos, cada um com a história de vida mais complicada que a outra... Tinha assassinos, estupradores, uma soma enorme de meninos com problemas mentais, com Síndrome de Down e outros retardos. Eu estava recém-casado e com uma menininha de alguns meses, a Rachel... Uma coisa que me chamou muito a atenção é que eles não tinham nome, tinham números, diziam: - Ô 47... ô 151... Achei estranho, eram seiscentos, como decorar seus nomes? Tínhamos prontuários com todos os nomes e fotografi as, e eu fi cava, às vezes, até duas, três horas da manhã mentalizando nomes... Comecei a impor algumas regras, eles fi caram muito reticentes quanto à minha pessoa, mas na hora do almoço fui para porta do refeitório e quando eles passavam, chamava pelo nome. (Risos!) É o nome que dá identidade, e eles começaram a ficar encantados, ai surgiu um boato que eu era maluco. Outra coisa, eles não tinham espelhos, porque o medo era que cortassem uns aos outros... Coloquei espelhos grandões em cada quarto... Com coisas pequenas fui ganhando a confi ança deles. Propus um trabalho remunerado dentro da fazenda, criei um simulado de banco... Plantávamos cana, fi zemos duas fábricas de brinquedos pedagógicos, que

vendíamos às butiques chiques, Copacabana, Leblon... Fiz duas grandes hortas, fornecia para Casas da Banha... Produzíamos frangos abatidos enormes e todos os meninos trabalhavam e ganhavam 60% dos lucros, 40% era da escola... Eles não podiam sair à noite na cidade, porque fi zeram tanta merda! Chamei a juíza, uma mulher excelente, e me comprometi com ela, pedindo para deixar os meninos saírem, porque eles tinham dinheiro no bolso, e assumi o risco. Aquilo foi uma mudança radical, tanto que fui promovido a chefe da FEEM, me levaram pro Rio de Janeiro.

O autor daquele livro, o Carlos César Marchi, é contemporâneo nosso, de família de Macaé, e quando a Globo pensou em produzir alguma coisa relacionada à Motta Coqueiro, logicamente que procurou o Carlos, que muito ocupado me indicou em Macaé... Eu os recebi aqui, e depois os coloquei em contato com Marcelo Abreu, de Conceição de Macabu, que também é uma pessoa interessada, muito bom na área da história da região, e foi assim que participei disso... Fui prestar uma consultoria, minha participação foi muito pequena. Fiz algumas alusões e nem todas foram ao ar, uma delas é que há uma grande inverdade nessa história de Motta Coqueiro, que ele foi o último enforcado no Brasil, que é uma grande mentira, foi o último cidadão de projeção enforcado, os enforcamentos continuaram adoidado. Minha participação no Linha Direta causou alguma celeuma, porque fi z uma relação da praga com a rixa entre Macaé e Campos... O pessoal de Campos fi cou pau da vida, mas foi só uma provocação, tem que provocar. (Risos!) Sobre a praga de Motta Coqueiro é importante destacar que Macaé não se desenvolveu porque não tinha projeto antes da Petrobras. Macaé era uma cidade com uma pesca artesanal, uma agricultura muito arcaica, ultrapassada. Você tinha o SENAI, a Leopoldina... Se a Petrobras não tivesse vindo, nós estaríamos vivendo aquela vida pacata que vivíamos... Ela foi um bem para Macaé, mas trouxe alguns problemas seríssimos, que nós não podemos responsabilizá-la por isso... As pessoas não gostam que eu diga isso, mas os responsáveis são aqueles que avalizaram o projeto da Petrobras em Macaé e não propuseram nada para que ela viesse sem causar graves e grandes impactos. Quem são esses? O presidente da República, o ministro das Minas e Energia, o governador do Estado, o prefeito de Macaé... Macaé simplesmente se abriu para a Petrobras fazer o que quisesse, então, a empresa não é culpada em si, tinha que exercer seu papel. O petróleo estava aqui e tinha que ser explorado, não tinha? Era uma necessidade do País. Agora, nos contentamos com as migalhas que a Petrobras nos dá, mas não podemos culpá-la por nossas mazelas.

Os organismos de comunicação social pintam Macaé como se fosse o novo El Dourado. Isto atrai pessoas que estão desesperadas, sem condições objetivas de terem uma atividade que lhes proporcione remuneração compatível com seus sonhos, seus projetos. Um número considerável de pessoas, sem qualifi cação nenhuma, chega aqui e dão com os burros n’água. A indústria do petróleo e gás precisa de pessoas altamente qualifi cadas. O bairro Lagomar, com quase quarenta mil pessoas é um retrato comovente de tal atração. A população do Lagomar é maior do que as dos municípios de Conceição de Macabu, Carapebus e Quissamã. Aquilo é um mundo! Quer dizer, Macaé assumiu um ônus muito alto para o bônus que é a Petrobras, mas não assumiu o ônus por causa da empresa e, sim, por causa dos seus gestores.

Macaé tem uma patologia urbanística, que é o crescimento maluco, desordenado, que ocupou áreas de preservação, mangues, etc. Esse negócio de chamar de linha uma via expressa, uma estrada, uma avenida, eu acho a maior frescura. Todo logradouro teria que ter um nome signifi cativo. A Linha Azul, criada para desobstruir o trânsito no centro da cidade, hoje é um “mar de aterros”. Isso vai ser cobrado amanhã, a natureza vai cobrar! Cadê o plano urbanístico? Quem que autorizou aqueles aterros? Quem

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e intelectuais brasileiros no fi nal da década de 1970, logo após o início do processo de abertura políti ca da Ditadura Militar]

PTB [Parti do Trabalhista Brasileiro, um parti do políti co, que existi u durante dois períodos: no período democráti co de 1945 a 1965, sendo recriado após a Abertura do Regime Militar]

Malvinas [Bairro periférico, resultante de ocupação subnormal, ocorridas no início da década de 1980, cujo topônimo refere-se ao confl ito armado entre Inglaterra e Argenti na pela soberania das Ilhas Malvinas]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória]

VHS [Video Home System]

Frade [5.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Sana [6.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Chico Machado [Francisco Alves Machado Neto, macaense, fazendeiro, políti co]

Agenor Caldas [Avenida no bairro da Imbeti ba]

Rui Barbosa [Dita principal avenida da cidade nos bairros Cajueiros e Centro, anti ga Rua Direita]

Princesinha [Fazendo alusão a “Princesinha do Atlânti co”, anti go cognome da cidade, hoje substi tuído por “Capital Nacional do Petróleo”]

Tonito [Antonio Alvarez Parada]

Palácio dos Urubus [Prédio histórico, projetado pelo alemão Antonio Becher, localizado na Rua Dr. Télio Barreto, construído em 1865, para residência da família Gavinho Ribeiro de Castro. No século XX, transformado em corti ço, por abrigar em seu telhado os urubus que frequentavam um matadouro que existi a por perto, recebeu do povo o nome Palácio dos Urubus, sendo o único prédio macaense tombado pelo INEPAC, em 1979]

Dalva Soares [Dalva Magnólia Alves Soares, macaense, educadora, criou o conceituado Curso Pró-Técnico Dolores Magnólia Alves Soares, na Imbeti ba, voltado principalmente para admissão nas escolas técnicas federais]

Ivair de Barros Simões [Macaense, políti co, vereador, professor]

Angela Terra [Angela de Almeida Terra Agosti nho, Aldeense, professora de Literatura,foi diretora do Colégio Estadual Mathias Nett o, vice-presidente da Fundação Macaé de Cultura,idealizadora e coordenadora do Projeto ArtLuz]

Nelson Mussi [Rocha, macaense, professor de Química, exerceu vários cargos da administração municipal]

sindicato dos professores [Centro de Professores do Rio de Janeiro criado em 24/07/1979 numa fusão da Sociedade Estadual de Professores e da União dos Professores do Rio de Janeiro. Em 1988 passou a chamar-se SEPE – Sindicato Estadual dos Profi ssionais de Educação]

Godofredo Saturnino da Silva Pinto [Campista, educador, liderança do Centro Estadual de Professores (CEP)]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara]

Ítalo Moriconi [Junior, carioca, sociólogo, poeta, editor, organizador de antologias e professor de Literatura Brasileira e Comparada]

Araruama [Município fl uminense da Região dos Lagos, fundado em 06/02/1859]

Chagas Freitas [Antônio de Pádua Chagas Freitas, carioca, jornalista, políti co, sua forma parti cular de fazer políti ca foi chamada de Chaguismo, governou a Guanabara (1971-5) e o Rio de Janeiro (1979-83) e recebeu o � tulo de Cidadão Macaense]

Brasília [Capital federal do Brasil e sede do governo do Distrito Federal, fundada em 21/04/1960]

PDT [Parti do Democráti co Trabalhista, um parti do políti co de centro-esquerda, fundado em 17/06/1979, de ideologia trabalhista, fundado por políti cos

deu licença ambiental? Onde estão os gestores desse município que não vêem isso? Acho que não devemos culpar a Petrobras e a praga de Motta Coqueiro, que devemos lembrar como um ator da história que por ser emblemático fi cou registrado de forma tão forte. Mas qual é a importância dele para nossos descaminhos? Nenhuma, acabou!

A questão é a seguinte, Macaé é uma cidade pobre, historicamente, no que diz respeito a registro. Macaé não tem historiador, tem contador de história. O Tonito não era historiador, era um contador de história. Agora, uma memória, um registro histórico científi co, quem tem? Nós também somos culpados! Mas onde estão esses registros históricos? Eu não sou de Macaé, mas me considero como tal, nós não temos apreço nenhum pela memória histórica. Onde está a política cultural do nosso município, onde ela está? Presa em algum gueto político, atendendo interesses outros que não aqueles ligados à população como um todo. Tombaram o Palácio dos Urubus para nada, aquilo é o arremedo do que foi. Hoje, ele é o retrato do abandono, do descaso. Se as pessoas fossem mais sérias colocariam aquilo no chão, já que seu estado atual nos envergonha; não é verdade? Pergunto a vocês, onde é o marco zero de Macaé? Ninguém sabe! Quer dizer, toda cidade que tem memória histórica sabe onde é seu marco zero, onde ela surgiu... Onde Macaé surgiu? Não tem memória histórica, não tem!

Esqueci de mencionar que eu, com os professores, Dalva Soares, Ana Maria Pinto, Ricardo Meirelles, Ivair de Barros Simões, Angela Terra, Nelson Mussi, e vários outros amigos, fomos fundadores do sindicato dos professores do Estado do Rio de Janeiro, com Godofredo Saturnino da Silva Pinto, que foi prefeito de Niterói duas vezes; Ítalo Moriconi, que é um grande estudioso de Literatura Brasileira, na UERJ... Inclusive fomos presos por causa do CEP, vieram aqui, nos prenderam e nos levaram para Araruama, na época do Chagas Freitas, que foi indicado governador do Estado do Rio de Janeiro, não foi eleito, e o nosso sindicato fez um movimento fortíssimo que refl etiu no país todo. Só para vocês terem ideia, Brasília obrigou Chagas Freitas a acabar com o movimento ou perderia o cargo. Um dos focos mais resistentes do movimento de professores era Macaé. Chagas Freitas fez uma proposta de acordo que nos interessou muito e nós acabamos a greve. Macaé tem um mal terrível de endeusar quem tem parte com o demônio, os crápulas, os vagabundos, que muitas vezes estão na mídia, são endeusados, colocados num altar, no patamar mais alto da história de Macaé e as pessoas que realmente construíram essa cidade, muitas vezes são esquecidas, isso tudo tem que ser objeto de um projeto de resgate. Nós éramos do PDT, fundado pelo Brizola quando voltou do exílio, porque ele queria fi car com o PTB, mas lhe foi tomado, e se lançou candidato a governador. O grupo do Partido Comunista aqui em Macaé, orientado por Tote, o ex-deputado Aristóteles de Miranda Mello, queria que Humberto Mattos Assumpção fosse vereador, mas a proposta não coadunava com um grupo do partido... Naquela época podia ter duas candidaturas... Meu nome e o de Ricardo Meirelles eram ligados à esquerda, e mesmo não sendo comunistas, tínhamos empatia pelo movimento, por algumas ideias... O Tote, com a orientação do Luís Carlos Prestes, disse podíamos ser candidatos, eu prefeito, Ricardo vice-prefeito; e teríamos Humberto como candidato a vereador conosco. A maioria dos vereadores estava do outro lado da chapa. A campanha não teve dinheiro, era feita com churrascos, na verdade, fomos candidatos para eleger Humberto, fi camos em quarto lugar, com onze candidatos.

Hoje, eu tenho pesadelos com Macaé... (Risos!) Mas é lógico nunca deixarei de sonhar... O meu grande sonho é que Macaé possa resolver as mazelas advindas da instalação mal programada da Petrobras... Volto a afi rmar, não é culpa da Petrobras! Meu sonho é que Macaé possa ter condições objetivas de resolver alguns problemas, como o crescimento da cidade, como cidade, não como um amontoado de casas, porque tem lugares onde permitem que se construa, que não pode urbanizar. Malvinas, todos nós conhecemos, e

dizem que começou a ser ocupada com a Petrobras, mas não é verdade, é mentira... A ocupação deu-se quando a agricultura nas regiões rurais de Macaé começou a viver uma crise; tanto é verdade que seus primeiros habitantes eram pessoas vindas do interior de Macaé. O que era Malvinas, se não um depósito de lixo? E vou dizer mais, uma acusação grave, mas verdadeira, os olhos foram fechados para a ocupação, as autoridades permitiram, se fossem administrações sérias, aquela área jamais poderia ter sido ocupada. Eu era professor do Castelo e fi z um trabalho com os alunos do oitavo ano, sobre como Malvinas foi ocupada, e descobriram como foi... O mais sério e triste são as fi lmagens fi zeram em VHS, mostrando as criancinhas, branquinhas de olhos verdes, que vieram da serra, do Frade, do Sana, que estavam negras porque ali era um lixão, cobertas de moscas... Esse vídeo se perdeu, infelizmente, o Chico Machado, vereador, foi um dos autores do vídeo, entrevistando, e as pessoas agradeciam emocionadas porque deixaram que elas morassem em cima do lixo. A que ponto chega a alma humana na miserabilidade. Outra coisa que me incomoda sob maneira é o transito dessa cidade, é pior dirigir aqui do que no Rio de Janeiro, eu faço parte da administração municipal e não vejo, na Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, nenhum planejamento para dar uma solução mínima nesse trânsito caótico. Aquela confl uência da Agenor Caldas, com Rui Barbosa, depois das cinco e meia da tarde é uma loucura, ninguém respeita nada, então, os guardinhas apitando ensandecidos, sem resolver coisíssima alguma. Será que não tem ninguém pra pensar esse trânsito? Terceiro, incomoda muitíssimo, a falta de planejamento na área de Saúde e Educação, que é uma coisa absurda.

Para muitos, Macaé é cidade de segunda à sexta-feira, onde podem tirar seus ganhos e gastar em outros lugares, lá, onde estão suas raízes, onde amam, onde gostam, onde desejam. O importante é fazer com que essas pessoas de fora se sintam partícipes dos destinos de Macaé, tenham responsabilidade com nosso Município. Tínhamos que ter uma política para seduzir, envolver, arrebatar esse povo, para que eles passassem a amar Macaé, como se fosse o chão deles. Eles não têm culpa, não se acham pertencentes a essa terra. Vejam a Praia dos Cavaleiros, que à noite, é o retrato fi el de minha preocupação. De segunda à sexta, todos os restaurantes estão cheios, no sábado, encontra-se lugar em qualquer restaurante. Onde estão as pessoas? Foram para seus lugares de origem. Acho que o macaense genuíno, “minhoca da terra”, sente-se perdido em meio a isso tudo. Ele precisa de alguma coisa que o faça reencontrar-se com sua cidade, enamorar-se novamente dela... Devido às mazelas existentes, foi criado um muro de lamentações, e, na medida em que ele não é desconstruído, os macaenses só sabem lamentar e denunciar os problemas. Assim, aos pouco, estão perdendo a paixão, o amor, o encantamento por Macaé. É um erro, um grave erro. Quanta coisa ainda tem de encantadora esta cidade? Inúmeras. O macaense, “minhoca da terra”, só tem olhos para os problemas que experimenta no seu cotidiano. Precisamos reaprender a ver além dos problemas, ver o encantamento que a nossa Princesinha tem para oferecer. Assim sendo, acredito que começaremos a construir uma nova história, aquela que Macaé merece viver.

Por que as escolas não discutem Macaé? Acho que as escolas deveriam colocar na sua matriz curricular, não de maneira restrita, mas de forma transversal, uma discussão sobre Macaé. Discussão voltada para os de dentro e para os que vieram de fora. Quem sabe discutir sobre alguma coisa que fale do reencontrar-se com Macaé, com a cidade, reapaixonando-se por ela. Ao trabalharmos as novas gerações, as pessoas que estarão, em pouco tempo, no comando dos destinos de Macaé, estaremos iniciando o processo de mudanças que nossa cidade necessita...

Outra coisa interessante era o bar Grilo, na Rua Silva Jardim, muito frequentado, a juventude toda ali, um negócio democrático, pobre,

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tes rico, porque Macaé não era uma cidade dividida. A Festa de São João

Batista, na Praça Veríssimo de Melo, era monumental, de primeira, a melhor festa de Macaé, com barraquinhas, uma conotação diferente, um colorido diferente. Lyra e Nova Aurora disputavam por causa de origem, uma da elite e a outra das camadas populares, dos escravos... A Lyra tem uma história interessante com relação ao movimento de emancipação dos negros nesse país. Então, a disputa é por causa disso, hoje também já é bobagem. A História se encarrega de dissipar esses ódios, se houve ódio realmente entre eles, mas havia um preconceito muito grande com a Lyra dos Conspiradores. Era muito difícil! No Estado do Espírito Santo, onde eu vivi muitos anos, até os treze anos, quando se contratava uma empregada negra, se olhava para a canela. Juro! A minha mãe, as irmãs dela, diziam que negra de canela grossa, não se contrata porque é preguiçosa.

Acho que seria menos revoltado do que fui, seria mais pacífi co, mais cordato. Eu fui muito, muito revoltado, atirado, fazia coisas que depois me arrependia... Hoje, quando vejo alguns partidos de esquerda, entendo que não sabia ser adversário, era inimigo, atacava as pessoas até em questões pessoais, misturava questão pessoal com questão política, partidária, ideológica... Então, talvez tenha feito muito mal a algumas pessoas. Não sou de Macaé, não quero título de cidadão, se me oferecerem, digo que não quero... O que eu queria de Macaé já recebi, o reconhecimento do meu trabalho, acho que sou um homem respeitado, já ganhei minha cidadania. Relembrar é bom, é viver duas vezes. (Risos!) Acho muito difícil construir uma auto defi nição, talvez as pessoas tenham mais capacidade de me defi nir do que eu mesmo... Tem um fi lósofo chamado Georges Gusdorf, muito interessante, que diz que o homem é o que não é, na verdade ele está dizendo que o homem é processo, que se constrói... Então, sou processo, estou sempre em construção, com defeitos e qualidades! ... ▪

1 Campanha para Prefeito de Macaé: José Augusto e Ricardo Meireles, 1982.

2 Campanha de Brizola para Governador Estadual: Da esquerda para direita: João Maia, Brizola, Ronaldo Madeira e José Augusto, 1982.

3 Carlos Emir Mussi (Prefeito de Macaé), Binho (irmão de Carlos Emir), José Augusto e Marcos Schuenk.Acervo parti cular de José Augusto Abreu Aguiar, Macaé - RJ.

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Festa de São João Bati sta [Dia 24 de Junho celebrando o santo padroeiro da cidade de Macaé]

Praça Veríssimo de Melo [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Lyra [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com idéias abolicionistas e republicanas]

Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Musica Nova Aurora, na Av. Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

Georges Gusdorf [Francês, escritor, fi lósofo e epistemólogo]

Castelo Ins� tuto Nossa Senhora da Glória.Cartão postal S. autoria. Macaé (RJ), s/d.

Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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Aeroporto [Público de Macaé, inaugurado em 1980, com área de 480.000 m², localizado na Avenida Hildebrando Alves Barbosa, a 5 km do Centro]

Arley [Amaral de Carvalho, casimirense, comerciante, empresário]

Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

esposa [Maria José Zimmer Fagundes, espírito-santense]

fi lha [Janaina Zimmer Fagundes, carioca, psicóloga]

bebê [Adriana Zimmer Fagundes, capixaba, advogada]

Ilha da Caeira [Barra de Macaé]

Bairro da Glória [Bairro nobre, loteado pela família do fazendeiro Jorge Reid, em terras que pertenceram a Fazenda do Cavaleiro, anti ga propriedade do Visconde de Araújo]

Delfi m [O Grupo Delfi n, do empresário Ronald Guimarães Levinshon, era a maior empresa privada de poupança do país, com mais de três milhões de depositantes, em 83 agências de depósito de poupança. Em 21/01/1983, o Banco Central decretou intervenção nas sociedades de crédito imobiliário do grupo que desde 1979 tentava pagar suas dívidas com o Banco Nacional de Habitação (BNH)]

Paulo Roberto Costa [Paranaense, engenheiro Civil e de Equipamentos]

RPBA [Região de Produção da Bahia]

Internet [O maior conglomerado de redes de comunicações em escala mundial e dispõe milhões de computadores interligados pelo protocolo de comunicação TCP/IP que permite o acesso a informações e todo ti po de transferência de dados]

Roberto Gomes Jardim [Paulista, geólogo]

José Dutra Simões [Engenheiro]

ilhas [Arquipélago de Santana, formado pela Ilha de Santana (1,29 km2), Ilha do Francês (350 m2) e o Ilhote do Sul (120 m2), sendo conhecida referência náuti ca desde os tempos coloniais, quando foi sesmaria do reinol José Pereira Rabello]

Parque de Tubos [Na Rodovia Amaral Peixoto, 163]

Imboassica [4.0 Subdistrito, ligado ao primeiro distrito, Cidade de Macaé]

Aalborg [Supermercados - Rua Cote. Sinézio Trindade Coelho, 287, Granja Cavaleiros]

BR-101 [Rodovia federallongitudinal do Brasil, iniciada em 1957, com extensão de 4 772,4 km. Seu ponto inicial está localizado na cidade de Touros (RN) e o fi nal na cidade de São José do Norte (RS)]

Rua da Praia [Primeiro nome da atual Avenida Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953]

Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

São Mateus, Linhares [Cidades do Estado do Espírito Santo]

Alfeu [de Melo Valença, pernambucano, Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se Engenheiro de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]

DISUD [Distrito de Produção do Sudeste]

SEJUR [Serviço Jurídico]

SEGEN [Serviço de Engenharia]

Chagas Freitas [Antônio de Pádua Chagas Freitas, carioca, jornalista, políti co, sua forma parti cular de fazer políti ca foi chamada de Chaguismo, governou a Guanabara (1971-5) e o Rio de Janeiro (1979-83) e recebeu o � tulo de Cidadão Macaense]

Arraial do Cabo [Hoje município costeiro de Estado do Rio de Janeiro, na época distrito de Cabo Frio, emancipado em 13/05/1985]

Marataízes [Hoje município litorâneo de Estado do Espírito Santo, na época distrito de Itapemirim, emancipado em 14/01/1992]... Em São João da Barra [Município do norte do Estado do Rio de Janeiro, fundado em 17/06/1850]

Garoupa [O poço pioneiro da Bacia de Campos foi o 1-RJS-9A, perfurado em 1976, numa lâmina d’água de 100 metros, no que seria o Campo de Garoupa, primeiro com volume comercial descoberto, em 1974, a 124 metros de profundidade]

Enchova [A exploração comercial iniciou em 1977, com produção de 10 mil barris por dia em uma plataforma fl utuante]

Cabo Frio [Município balneário fl uminense, fundado em 13/11/1615, sendo o séti mo mais anti go do Brasil e o principal da Região dos Lagos]

Rede Ferroviária [A The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada pelo em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Em 1977, ingressei na Petrobras, lá em Vitória... Eu trabalhava numa empresa particular, apareceu o concurso, fi z a prova, passei e fui admitido exatamente na época em que começava a exploração na Bacia de Campos... Fiquei como engenheiro estagiário durante alguns meses, trabalhando na região de São Mateus, Linhares... O Superintendente de Operações, na época, era o Alfeu... Eu era o único trabalhando como engenheiro civil dentro do DISUD, porque os outros engenheiros civis tinham feito curso de Engenharia de Petróleo e Instalações no Mar e não exerciam a função. O Alfeu me falou: - Ô Fagundes, nós vamos fazer uma comissão, porque temos que sair de Vitória, devido aos problemas que estamos encontrando aqui no porto. Falei com a direção da empresa e designaram que achássemos um local. No começo me colocou junto com outros dois, um advogado do SEJUR e um engenheiro do SEGEN, para que procurássemos um local para a Petrobras se instalar aqui no Estado do Rio de Janeiro. O governador Chagas Freitas tinha aberto as portas para que nos instalássemos em qualquer local do Estado e não havia objeção nenhuma. Colocaram à nossa disposição um helicóptero, e viemos voando de Vitória até chegar a Arraial do Cabo, procurando a melhor área... Paramos em vários locais... Em Marataízes... Em São João da Barra, que era um local bom, perto do poço pioneiro de Garoupa e Enchova, que estava começando... Mas as condições de mar eram muito precárias, mar aberto, uma região muito difícil de se tratar e tínhamos que construir uma coisa rápida, o investimento tinha que compensar, o custo do petróleo era baixo em relação ao que é hoje, não era viável, nem econômica, nem tecnicamente, construir um porto em São João da Barra. Então, nessa busca, acabamos caindo aqui em Macaé... De fato era o local que dava mais condições, embora não tivesse uma infraestrutura muito boa na época, mas as condições de porto e de acesso às plataformas eram boas, assim como Arraial do Cabo também tinha boas condições para fazermos um porto, mas era um pouco mais longe e a infraestrutura, lá, mais complicada ainda... Cabo Frio era um balneário ali perto e complicava muito a gente colocar um porto de operar rebocadores naquela região. Então, a gente escolheu Macaé, fi zemos o relatório, levamos ao superintendente, ele aprovou, mandou à presidência da Petrobras, que naturalmente levou ao governador e foi aprovado, com a observação de que havia aqui a Rede Ferroviária. Foi dada carta branca para agirmos, nos instalamos provisoriamente e começamos a construção do píer e a desapropriação da Rede Ferroviária. Continuávamos morando em Vitória, e eu fi cava numa espécie de ponte aérea entre Vitória e Macaé. Minha primeira obra, aqui, foi reformar o Aeroporto porque não tinha, era um pasto, os bois fi cavam deitados na pista cheia de esterco... Falei que tínhamos que consertar aquilo, colocar uma cerca, passar uma máquina naquela pista, porque estava perigoso pousar, tinham que dar uns rasantes acima do campo para espantar os bois e depois pousar. (Risos!) O Arley limpou, contratamos uma empresa que fez uma cerca em volta para os bois não entrarem e começamos a operar. Eu fi cava em Vitória com a família, passava uma semana aqui e voltava... O projeto já estava em andamento nos escritórios e quando íamos começar a obra, o Alfeu Valença me chamou falando que era muito difícil de tocar de longe, que o SEGEN estava com uma equipe de engenheiros muito grande parada

porque terminou a ampliação de uma refi naria de São Paulo... Disse que, como Engenheiro Civil, eu fi caria acompanhando: - Você vai ser o nosso fi scal dentro do SEGEN, para ver se eles estão fazendo aquilo que estamos querendo. Em 1979, fi cou pronta a obra e trouxemos as nossas famílias, mas eu já estava aqui desde 1978.

A construção do escritório na Imbetiba foi a base...Construímos aquele prédio e o píer para os rebocadores... Aquilo ali era enorme, achávamos que não íamos ocupar nunca, que ia fi car muito grande, mas hoje a empresa espalhou-se por ali afora. Em 3 de setembro de 1979, eu vim com minha família, inclusive, a minha mudança e a do Alfeu Valença vieram no mesmo caminhão... O Alfeu fala assim: - Para ver como éramos pobres, nossa mudança coube dentro de um caminhão. (Risos!) Éramos eu, minha esposa, uma fi lha de cinco anos e um bebê de oito meses. Eu morei na Ilha da Caeira, numa casa alugada, e fi quei ali durante o tempo em que construí minha casa no Bairro da Glória. A Ilha da Caeira era um condomínio que a Delfi m estava construindo, quando entrou em processo de falência, sendo nomeada uma pessoa para cuidar da massa falida, então, eles estavam alugando aquelas casas, para tirarem algum retorno.

Naquela altura, eu já era chefe do Setor de Engenharia, chamado SETEN. Éramos cinco engenheiros, um deles, hoje, é diretor de Gás da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, que foi engenheiro chefe do Setor de Montagem... Os outros engenheiros cuidavam, cada um, da sua área e nós cuidávamos desde o Espírito Santo, o sul da Bahia, até Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, quer dizer, a Bacia de Campos, o Sudeste que se chamava de Sul, ocupava esta região... A RPBA cuidava do sul da Bahia para cima, e nós cuidávamos para baixo. A coisa foi crescendo, não tínhamos Internet, nem telefones nas plataformas, falávamos via rádio... Não tínhamos nada disso que temos hoje, tudo era feito naquelas máquinas de escrever com papel carbono... (Risos!) Não havia computador. Era tudo na maquininha de calcular mesmo. E a coisa andou. Existiam três superintendências: Alfeu de Melo Valença, Superintendente Geral; Roberto Gomes Jardim, Superintendente de Produção; e José Dutra Simões, Superintendente de Exploração.

Nós tínhamos que escolher um local, a Imbetiba era o porto natural, tinha que ser ali, por causa das condições de mar, por ser um porto abrigado, e as ilhas davam esta condição. Escolhemos fazer o Parque de Tubos em Imboassica, porque tinha que ser ao sul da cidade, para não ter que atravessar a cidade, o centro, com carretas, essas coisas... Tinha que ser perto de uma rodovia e de uma ferrovia, então, Imboassica é exatamente este triângulo. Eu participei da comissão que escolheu Imboassica para ser o Parque de Tubos... Houve um provisório, onde hoje é o Aalborg... Trazíamos os tubos, que estavam em Vitória, e colocávamos ali, enquanto o Parque de Tubos não ficava pronto.

Eu conhecia Macaé por passar aqui quando vinha do Rio de Janeiro para Vitória. O ônibus passava aqui, antes da BR-101 fi car pronta, parava na Rua da Praia, tinha um ponto ali... Eu conhecia Macaé de passagem,

“Macaé é minha casa, é muito importante...”José Martins Fagundes Júnior

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 24/08/2012.Faleceu, em Macaé, a 27/02/2018.

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Águas Profundas [Em 1986 a Petrobras perfura a 1.200 metros de profundidade em lâminas d’água e marca recorde mundial de produção de petróleo a profundidades de 400 metros, resultados obti dos pela integração entre as áreas Operacional, Técnica e de Pesquisa da companhia]

Antonio Brito [Baiano, engenheiro]

Fluminense [Futebol Clube, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Tênis [Clube de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterado-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

Praia dos Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Igreja Nossa Senhora da Glória [Na Rua Dolores Carvalho Vasconcelos, 300, Bairro da Glória]

Loja Maçônica Obreiros de Macaé [Jurisdicionada ao Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro e federada ao Grande Oriente do Brasil, foi fundada em 23/11/1980]

Ambulatório O Mestre [Na Rua Jesus Soares Pereira, 466]

Dona Therezinha [Sant’Anna, baiana]

Camboriú [Balneário Camboriú, município litorâneo catarinense, fundado em 20/07/1964. Apesar de possuir pouco mais de 100.000 habitantes, sua estrutura de edi� cios comporta aproximadamente 1.000.000 de pessoas, marca frequentemente ultrapassada na alta temporada]

Azul [Via expressa que liga o bairro Virgem Santa ao bairro Ajuda de Cima, criada para desobstruir o trânsito no centro da cidade, no que se refere aos veículos que do Norte Fluminense se dirigem à Região dos Lagos]

Vermelha [Via expressa que liga o Centro aos bairros da zona sul e a Região dos Lagos]

Verde [Via expressa, considerada uma extensão da Linha Azul, ligando os bairros Novo Botafogo e Glória, criada para desobstruir o trânsito no centro da cidade, no que se refere aos veículos que se dirigem aos bairros da zona sul e Região dos Lagos]

O Pré-sal [Em geologia, camada pré-sal refere-se a um ti po de rocha, sob a crosta terrestre, formada exclusivamente de sal petrifi cado, depositado sob outras lâminas menos densas no fundo dos oceanos. No Brasil, a área que tem recebido destaque pelas recentes descobertas da Petrobrás, encontra-se no subsolo oceânico e estende-se do norte da Bacia de Campos ao sul da Bacia de Santos. Esti ma-se que lá estejam guardados cerca de 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o que deixaria o Brasil na privilegiada posição de sexto maior detentor de reservas no mundo]

Santos [Cidade litorânea do Estado de São Paulo com importante terminal portuário]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, no Bairro Visconde de Araújo, que funciona no anti go Solar de Monte Elízio, construído pelo Visconde de Araújo, adquirido de seus descendentes em 11/08/1961 pelas Irmãs Salesianas, sendo ofi cialmente inaugurado em 27/07/1963]

Luiz Reid [Colégio Estadual na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

Caetano Dias [Colégio Cenecista Professor Antonio Caetano Dias, na Rua Francisco Portela, hoje Escola Municipal Professora Maria Isabel Damasceno Simão]

Monteiro [Propriedade de Milton Monteiro, na Avenida Rui Barbosa]

Supermercado Costa [Fundado na década de 1960, na Avenida Rui Barbosa, 289]

Econômico [Ligando a Av. Rui Barbosa a Rua Teixeira de Gouveia]

Cine Clube [de Macaé na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobras, e deverá ser um espaço desti nado à realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de audiovisual]

Taboada [Cine-teatro inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]

quase fechando [Fechado em 31/12/1981, com a exibição do fi lme A Lagoa Azul, sendo alugado para uma rede de lojas de eletrodomésti cos, ocasionando o movimento conhecido como Vigília Cultural]

CEDAE [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro consti tuída ofi cialmente em 01/08/1975]

José Augusto [Andrade Silva, macaense, engenheiro civil, autor da obra Noções Práti cas sobre Saneamento e Construção Civil, Secretário Municipal de Obras, Urbanismo e Saneamento]

onde é hoje [Av. Rui Barbosa, 870, Centro]

Severina [Localidade na região serrana onde fi ca a Estação Fluviométrica]

A Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o. Na época da instalação da Petrobras era administrado pelo Prefeito Carlos Emir Mussi]

Schlumberger [Empresa de origem francesa, sediada na cidade norte americana de Houston, que se dedica à prestação de serviços no campo petrolífero, fornecendo tecnologia, gestão de projetos integrados e soluções de informação para os clientes na indústria de petróleo e gás]

Halliburton [Empresa norte americana, sediada no Texas, estabelecida no Brasil desde 1959, como prestadora de serviços na área petrolífera]

Namorado [Campo descoberto em 1975, localizado na porção centro-norte da Bacia de Campos]

não tinha ideia de que um dia viria morar aqui. (Risos!) Macaé era uma provinciazinha, um balneário, uma cidade quase que dormitório dos fazendeiros da região e dos turistas, das pessoas de fora, que tinham casa aqui e vinham passar fi nal de semana e férias, os pecuaristas, que tinham suas fazendas e moravam em Macaé. Nós encontramos um problema muito sério de moradia... Eu consegui logo alugar porque fui pioneiro, praticamente o primeiro a vir para cá, então, fi quei nessa situação privilegiada... Os colegas que estavam em Vitória tiveram muita difi culdade em chegar aqui e encontrar casas para alugar... Primeiro, porque infl acionou tudo, quando chegavam aqui, sendo Petrobras, aumentavam logo o preço... Se entrávamos numa loja e descobriam que éramos Petrobras, viravam a tabela. Nossas esposas reclamavam muito que não tinha infraestrutura escolar... Só tinha o Castelo, o Luiz Reid e o Caetano Dias, ou então, colocar os fi lhos nos colégios públicos, estaduais e municipais... Supermercados só tinha o Monteiro, o Supermercado Costa e o Econômico, um supermercadozinho pequeno... Não tinha mais nada... Ainda existia o Cine Clube e o Taboada, que estava quase fechando... A cidade era muito pequena.

Engraçado, chegamos à cidade, precisávamos de muita água e fomos procurar a CEDAE para ver se tinha condições de nos abastecer, mas não conhecíamos a infraestrutura da cidade... Procuramos o José Augusto, na época, superintendente da CEDAE, ali mesmo onde é hoje, e perguntamos se tinham condições de nos atender no fornecimento de água... Ele falou que tinha, sem problemas nenhum, porque pensava que era só o prédio do escritório, aí quando dissemos que precisávamos de água para o rebocador levar para as plataformas e qual o consumo diário de água, ele falou: - Isso aí é o consumo mensal de Macaé. (Risos!) Fomos verifi car as condições na Severina e vimos que era uma captação muito precária, uma tubulação fi na, não tinha vazão para nos atender... Então, a primeira obra sugerida foi a construção de uma adutora... Essas fotos que eu mostrei mostram os tanques que montamos, desmontados lá em São Mateus, tanques de petróleo, que lavamos e trouxemos, porque o tanque de concreto ia demorar, sendo construída assim, sem muitas condições técnicas, porque não dava tempo de revestir tubos, fi zemos sabendo que seria provisório, depois faríamos a defi nitiva.

A Prefeitura se mostrou muito receptiva... Ficaram felizes da vida que a Petrobras veio, porque era um incremento, um boom na cidade. Qual político não quer uma coisa dessas, que sua cidade cresça?! Na época, nós fomos muito bem recebidos e bem-vindos, mas eu particularmente sabia, que ia ter um impacto muito grande. Na época, éramos o quê? Umas trezentas famílias que viriam para cá, mas eu tinha certeza de que isso ia aumentar. Nós, Petrobras, e as famílias das empreiteiras que viriam junto conosco, automaticamente. As grandes empreiteiras: Schlumberger, Halliburton... Causamos um impacto grande, muito grande! Mas nós próprios não tínhamos a ideia de que seria tão grande, sabíamos que ia crescer a produção de petróleo, ainda restrita a três campos: Garoupa, Namorado e Enchova. Não tínhamos ainda Águas Profundas, nossa produção era muito pequena. Com os estudos de sísmica e geologia, a coisa aumentou muito. Lembro-me de que uma vez um diretor bateu a mão na mesa porque tínhamos que produzir 400 mil barris por dia, e estávamos em 200 e poucos mil... Era uma loucura, meta governamental da política... A gente tinha que correr atrás, porque tinha alguém correndo atrás da gente. (Risos!)

No meu grupo, ninguém era sócio de clube, nem conhecia ninguém, então a Ilha da Caeira fi cou um clubezinho particular com uma quadra

de vôlei, uma piscininha... Éramos eu e o Antonio Brito, que foi diretor da Petrobras, e frequentavam as pessoas do grupo que vieram de Vitória... Uma turma que gostava de jogar vôlei e bater uma bolinha... As mulheres se encontravam, conversavam, botavam o papo em dia... Depois, com o passar dos meses, no início de 1980, todos foram começando a se enturmar, foram se associando ao Fluminense e ao Tênis, que eram os dois clubes que tinha. Não tínhamos muita opção de lazer. A Praia dos Cavaleiros não tinha uma obra, só algumas casinhas, não tinha bares, nada disso. Íamos ao Rio de Janeiro fazer compras em duplas, para poder compensar... Construí minha casa comprando o material em Campos, só cimento que não, areia, brita essas coisas eu comprava lá, material de acabamento comprava no Rio.

A gente foi fi cando, se entrosando, se enturmando... Minha esposa é muito religiosa, voltada para o social, e participava da Igreja Nossa Senhora da Glória, onde tinha a comunidade dela. Participávamos do Grupo Amor e Fraternidade, ligado à Loja Maçônica Obreiros de Macaé, onde fui presidente e ela, como primeira dama, resolveu fazer um ambulatório para cuidar de pessoas carentes... Chama-se Ambulatório O Mestre, no bairro Costa do Sol, e até hoje está ativo, muito ativo, cuidando de pessoas carentes da terceira idade. Minha esposa foi presidente muitos anos, mas depois com a mãe dela um pouco doente, deixou nas mãos de outras pessoas, mas funciona perfeitamente nas mãos de Dona � erezinha. Então, nos envolvemos com muitas coisas!

A indústria do petróleo, hoje, é Macaé porque vamos supor, de repente acaba o petróleo, zerou, não tem mais nenhuma gota, vamos todos embora, viraria uma cidade fantasma, voltaria a ser um balneário talvez... Mas e a infraestrutura que tem, com bares, hotéis?... Viraria um Camboriú da vida, um balneário, uma coisa assim... Porque Macaé vive basicamente do petróleo e das indústrias que orbitam em torno disto. Para mim a Capital Nacional do Petróleo é Macaé, não é Campos. É interessante falar que bacias geológicas são muito confl itantes, a Bacia de Campos começa aqui no sul do Espírito Santo e termina no sul do Estado do Rio de Janeiro; já em São Paulo começa a Bacia de Santos que vai até o Rio Grande do Sul; a Bacia do Paraná, por exemplo, começa lá na Argentina e termina aqui no Mato Grosso. Campos era a cidade mais representativa da região, então quando os geólogos batizaram, deram o nome de Bacia de Campos... Mas Campos só leva a fama, não tem nada em Campos que produza petróleo, a não ser o aeroporto, que eles sedem para ser base de apoio às plataformas, fora isso... Eu espero que Macaé continue progredindo, que cresça na direção certa e se expanda com responsabilidade, porque já estamos sentindo que ela está crescendo em volume, mas não em infraestrutura... A gente sente isto no trânsito caótico, quando não se consegue estacionar, transitar dentro da cidade, porque cresceu demais o número de pessoas e de carros... Algumas coisas foram feitas, com certeza, senão já teria parado... Essas linhas, Azul, Vermelha e Verde, que tem por aí, já deram uma aliviada, mas ainda há necessidades, no centro da cidade principalmente... Eu sei que não é fácil, como engenheiro sei que não é, mas a solução tem que vir, seja com viadutos, elevados, subterrâneos, sei lá... A coisa está fi cando complicada.

O Pré-sal já existe há muito tempo, sabíamos que existia, mas devido a sua profundidade e as tecnologias que tínhamos na época, nem pensávamos que um dia chegaríamos a furar o Pré-sal. Macaé, pelo que conversei com alguns colegas da área, que entendem do negócio, não deve sofrer um impacto muito forte com referência a isto, porque na realidade está mais

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nascido [12/05/1942]

UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro, também denominada Universidade do Brasil, é a maior universidadefederal do país e consti tui-se em um dos centros brasileiros de excelência no ensino e na pesquisa. Criada em 07/09/1920, pelo então Presidente Epitácio Pessoa, a insti tuição recebeu o nome de Universidade do Rio de Janeiro]

Loteria Esporti va [Loteca, conhecida popularmente como Loteria Esporti va, é uma modalidade de loteriabrasileira, manti da pela Caixa Econômica Federal, com o objeti vo de prognosti car resultados de parti das de futebol. É realizada no Brasil desde 19/04/1970, quando foi feita uma rodada experimental no Estado da Guanabara com prêmio fi xo de 200 mil cruzeiros novos e cem mil bilhetes distribuídos. Naquela época, era necessário acertar os resultados de treze jogos selecionados pela Caixa para ganhar o prêmio]

voltado para a área de Santos, pelo menos foi o que me falaram... Macaé tem uma estrutura mais voltada para a Bacia de Campos, onde não tem muita perspectiva, mas vai impactar, com certeza... A quinze, dezesseis anos que eu estou fora da atividade, mas tenho sempre contato com os amigos, muitos frequentam a minha casa ainda hoje, converso muito a respeito disso, tem um que é Engenheiro de Completação, muito competente, que conhece bem esta mecânica, inclusive está trabalhando, se aposentou mas não deixam ele em casa, porque esses profi ssionais da área de petróleo, quando se aposentam não conseguem ter sossego.

Meus netos nasceram aqui, fi z muitos bons amigos aqui e conheço muita gente. Me aposentei vai fazer dezesseis anos e não pretendo sair daqui. Macaé é minha casa, é muito importante, brigo por esta cidade, luto e faço tudo que posso para o engrandecimento dela. Embora aposentado estou muito ativo, principalmente na parte social, procuro ver onde posso fazer alguma coisa para ajudar. Alguns erros que cometi não cometeria denovo, isto com certeza. (Risos!) Mas não teria como mudar muita coisa, porque muitas vezes somos levados pelas circunstâcias. É bom contar um pouco da história que a gente viveu. Falo com minhas fi lhas: - Fica a história! Tem que gravar, fi ca para o futuro.

Sou um cidadão do Sudeste, sou cariominechaba... (Risos!) Sou mineiro, nascido em Resplendor, no Vale do Rio Doce, vivi alguns anos em Vitória, depois fui para o Rio de Janeiro, onde me formei em Engenheria na UFRJ, comecei a trabalhar na iniciativa privada, me casei ainda morando lá com uma capixaba... Em 1974, resolvi mudar para Vitória, entrei para a Petrobras e estou aqui. Por incrível que pareça, foi um jogo da Loteria Esportiva que me fez vir para Macaé. Fui um dos mil e trinta e dois que ganharam, mas deu o valor exato para pagar o que devia, pagar o caminhão da mudança, e ir embora para Vitória. A sorte estava lá, apareceu o concurso para a Petrobras, fi z, passei, e vim para Macaé. Aqui completei minha familia e pretendo fi car. Espero ter contribuido para que o livro seja um sucesso e com certeza quero um volume. (Risos!) Obrigado! ▪

1 Tanques de água sendo construídos na sede da Petrobras, em 1978.

2 José Fagundes recebendo o diploma e medalha dos superintendentes da Petrobras, em 1987.

3 José Fagundes com um grupo de petroleiros (irmão dele e o pai) - Naquele tempo podíamos levar convidados em fi nais de semana.

4 José Fagundes junto a um helicóptero na plataforma de PCA 1 no Espírito Santo, em 1979.Acervo parti cular de José Marti ns Fagundes Júnior, Macaé - RJ.

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Obras de Instalação da Petrobras. Agosto de 1978. Acervo parti cular de José Marti ns Fagundes Júnior, Macaé - RJ.

Obras de Instalação da Petrobras. Maio de 1979. Acervo parti cular de José Marti ns Fagundes Júnior, Macaé - RJ.

Vista Aérea de Macaé. Acervo parti cular de José Marti ns Fagundes Júnior, Macaé - RJ.

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Búzios [Armação dos Búzios, município fl uminense da Microrregião dos Lagos, famoso balneário, emancipado de Cabo Frio em 12/11/1995] uma senhora [Leonor Nogueira Lobo, macaense, fazendeira]Chico Lôbo [Francisco Nogueira Lôbo Filho, macaense, fazendeiro]Dácio Tavares Lôbo [Macaense da Bicuda, professor]Carapebus [Nesta época, terceiro distrito de Macaé, teve sua emancipação políti co-administrati va decretada por Lei Estadual de 19/07/1995, sendo primeiro prefeito eleito Eduardo Nunes Cordeiro, que tomou posse em 01/01/1997]Seu pai [Emílio Tavares da Silva, macaense de Carapebus] Capelinha do Amparo [Localidade rural que é área de li� gio entre os municípios fl uminenses de Conceição de Macabu e Carapebus] Fazenda Santa Francisca [Propriedade rural histórica fundada na segunda metade do século XIX por Ignácio Francisco Silveira da Mo� a, Barão de Villa Franca]Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, termo de Macaé (RJ), depois quarto distrito, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989]Annita Alvarez Parada [Macaense, fi lha de imigrantes espanhóis, professora de Língua Portuguesa] primeira rádio [Rádio Clube de Macaé] Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara]Pedro Paulo de Sá Vianna [Macaense, advogado, locutor, mestre de cerimônia do lendário Baile Ofi cial das Debutantes de Macaé]Jota Vianna [João Vianna, escrivão, tabelião, poeta, arti culista]Rádio Nacional [Emissora de rádio sediada na cidade do Rio de Janeiro, fundada em 12/09/1936, sendo a primeira a ter alcance em prati camente todo o território do Brasil]Gazeta de Macaé [Fundado em 01/05/1938]La� ff Mussi Rocha [Campista, benemérito, empresário, fazendeiro, jornalista, proprietário do Hotel dos Viajantes, patrono do Parque de Exposições]Eraldo Mussi [Rocha, macaense, jornalista, políti co]O Rebate [Fundado em 16/04/1932, por Antonio Duarte Gomes, foi empastelado no dia 18/10/1933, reaparecendo mais tarde sob a direção de Jorge Costa; esteve sob comando de Jorge Costa e atualmente pertence a José Milbs de Lacerda Gama]IAPTEC [Insti tuto Aposentadorias e Pensões dos Esti vadores e Transportes de Cargas criado no Estado Novo] Isaac [de Souza, gráfi co]Jorge Costa [Empresário, jornalista]

nasci [13/08/1939] Rua Doutor Bueno [No bairro da Imbeti ba]Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba] hospital [Casa de Caridade de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fruto do desejo post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro, e dos esforços de um grupo liderado por Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, foi inaugurada ofi cialmente em 01/05/1871]Meu pai [Dejecyr Nunes da Gama, campista] minha mãe [Ecila Maria de Lacerda Gama Gallo, macaense, bibliotecária] Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]minha avó [Alice Quinti no de Lacerda, Nhasinha, macaense de Carapebus, fazendeira, beata, fundadora e presidente do Apostolado da Oração em Macaé] [Alice Quinti no de Lacerda, Dona Nhasinha]Ginásio Macahense [Fundado em 14/07/1923 pelo Dr. Camillo Nogueira da Gama, foi pioneiro no ensino secundário; mais tarde, sob direção de José Borges Barbosa, foi transferido para a Rua Teixeira de Gouveia, sendo exti nto em 1956]Colégio Estadual Luiz Reid [Na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961]SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Escola Ferroviária 8.1 – SENAI-Leopoldina, na Imbeti ba, adaptação do anti go Lyceu dos Operários de Imbeti ba]Mathias Cou� nho de Lacerda [Natural de Cabo Frio, fazendeiro, políti co, juiz de Paz]três fi lhas [Carolina (Doca), Ondina e Ecila]Fazenda Airis [Propriedade rural na região serrana, no lugar do mesmo nome, fundada na anti ga Freguesia de Nossa Senhora das Neves, no século XIX, por Henrique Antonio Coelho Antão]Júlio Ollivier [Júlio Maximianno Ollivier, macaense do Sana, médico, cirurgião, benemérito, políti co, foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Macaé], Francisco de Miranda Sobrinho [Macaense, empresário, fazendeiro, políti co, prefeito de Macaé (1927-9)] Sodré [Feliciano Pires de Abreu Sodré, madalenense, engenheiro, militar e políti co, governou o Estado do Rio de Janeiro de 1923 a 1927]Santana [O mais anti go campo santo macaense remonta aos tempos jesuíti cos, sendo regulamentado em 02/06/1890. Figuras ilustres lá estão sepultadas: Viscondessa de Araújo (Aristocrata), Hindemburgo Olive (Arti sta Plásti co), Antonio Alvarez Parada (Historiador), Luiz Reid (Benemérito), Eleosina de Queirós Ma� oso (Arquivista), Yuzaburo Yamagata (Empresário)]

“Essa era a Macaé que a gente conheceu.”José Milbs de Lacerda Gama

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 14/09/2012.Faleceu, em Macaé, a 31/12/2018.

Eu nasci numa rua que não tinha calçamento, conhecida como Rua do Meio, hoje Rua Doutor Bueno, e nessa rua a gente tinha uma relação muito afetiva com o natural... Naquela época, não tinha aquele muro de contenção, o mar era bravio, então, nos meses de abril a julho, época das ressacas, as ondas da Praia da Imbetiba estouravam e vinham na nossa casa, perto do hospital, e achávamos conchas, estrelas do mar... As pessoas com uma situação fi nanceira melhor tinham determinados acessos e a gente, que era criado com mais difi culdade fi nanceira, tinha que ter certas limitações... Mas as crianças achavam bonitinho frequentar determinados clubes e andar com determinadas pessoas que se titulavam padrões na sociedade... Isso existiu na época e ainda existe até hoje, por isso que às vezes quando escrevo, procuro tentar igualar as pessoas, para que não haja essa diferenciação entre pobres e ricos. Meu pai era sapateiro e minha mãe fazendeira, então foi um casamento interessante, porque ele servia o Exército aqui em Macaé, vindo de Campos, acabou se casando, mas não durou muito tempo, se separou... Já estou com setenta e três anos e eles se separaram quando eu tinha uns quatro anos, então vivi dentro de uma sociedade muito repressiva para pessoas que tinham essa difi culdade... Mas fui criado por minha avó, uma pessoa maravilhosa, que me deu muito amor, muito carinho, e foi por isso que consegui superar tudo. Frequentei o Ginásio Macahense, que se transformou em Colégio Estadual Luiz Reid... Fui para o SENAI, onde fi z o curso de torneiro mecânico, e depois fi z faculdades de Direito, de Medicina, de Letras, mas não quis terminar nenhuma, meu negócio é escrever. (Risos!)

O meu avô, Mathias Coutinho de Lacerda, era muito rico, quando morreu deixou somente três fi lhas, e minha avó Alice vendeu a Fazenda Airis, comprando uns dez sítios na cidade. Em 1926, ele foi vereador com o Doutor Júlio Ollivier, Francisco de Miranda Sobrinho e mais uns seis. Foi nomeado juiz de Paz por Sodré, que não era governador, era presidente do Estado... Meu avô foi tomar posse de juiz no Rio de Janeiro de trem e enfartou, aos 65 anos, mas seu corpo foi trazido para Macaé e enterrado em Santana, onde nossa família está toda até hoje. Minha avó Alice Lacerda foi o segundo matrimônio dele, que era fazendeiro em Búzios e casou com uma senhora - irmã de Chico Lôbo, pai de Dácio Tavares Lôbo -; que morreu e deixou tudo para as fi lhas que fi caram com o meu avô... Aí ele conheceu a minha avó, Nhasinha, de Carapebus... Eu tenho um livro sobre a saga da Nhasinha... Seu pai era sitiante de Capelinha do Amparo e doou o terreno onde foi feito a igreja e um cemitério, mas ele era cigano, veio para Macaé e foi ser capataz da Fazenda Santa Francisca, em Quissamã, daquele pessoal Almeida Pereira. Meus avós tiveram um fi lho chamado José Milbs e todo mundo fi cou feliz porque o menino ia cuidar da fazenda, mas ele morreu com dois anos, fi cando aquela tristeza na família, ninguém falava mais nada e depois de oito anos nasceu a minha mãe, que quando casou falou assim para minha avó: - Olha mãe, se nascer um menino eu vou dar o nome de José Milbs. E me deu o nome do irmão, que ela não conheceu.

Quando eu era menino, nos anos 1940, Macaé era uma cidade onde as pessoas davam bom dia, boa tarde, boa noite... Isso foi se modifi cando com o tempo, então, quem dá boa noite hoje é a televisão, que aliena as pessoas

e transforma os seres humanos em máquinas. Nossa educação era criada e manipulada pelos nossos pais, nossos vizinhos. A gente chegava em casa a tarde e as pessoas estavam sentadas nas calçadas, com as cadeiras: a vizinha, a avó, o avô, a tia, o irmão... Inclusive na rua principal de Macaé, que era a Rua Direita... A comunicação era assim, não é igual a de hoje, que o fi lho chega a casa, a mãe está vendo a novela, e a criança não pode falar, contar uma coisa, pedir uma informação. A gente aprendeu a ouvir os mais velhos e conversar com eles, a se espelhar nas suas obras e ações... Essa era a Macaé que a gente conheceu.

Eu tinha horror de estudar, não gostava de Matemática, nada disso... Mas tinha uma professora chamada Annita Alvarez Parada que gostava da minha redação toda errada, e dizia: - Sua ideia vale mais do que a gramática. Me dava cinco e eu passava. Eu perguntava: - Por que estou passando em Português, se não sei nada professora? Era por causa da criatividade que vinha na minha cabeça e eu escrevia. Eu perdia em tudo! Não terminei a faculdade porque não conseguia fi car vendo aquelas conversas de professor de Direito, de Filosofi a, não aguentava, passava mal... Sabia que aquilo não foi feito para mim, entendeu?

A primeira rádio que chegou a Macaé foi a de um rapaz chamado Dantas, de Niterói, que tinha uma rádio lá, e abriu uma aqui. Uma das vozes que as pessoas gostavam mais era de Pedro Paulo de Sá Vianna, fi lho de um tabelião antigo chamado Jota Vianna... Ele tinha uma voz muito bonita e comandava um programa às oito da noite, chamado “Boa noite, Macaé”... Ele mesmo cantava tango de vez enquanto e tocava músicas antigas... Foi o locutor da época. Era novidade, mas não pegou muito não, as pessoas gostavam mais de ouvir a rádio do Rio de Janeiro, Rádio Nacional... Acho que não tinha nem como abranger toda a cidade.

Escrevo em jornal desde 1966... Tinha vinte e poucos anos e comecei a me interessar por escrever em jornal, mandava uns textos para o jornal Gazeta de Macaé, de Latiff Mussi Rocha, um cidadão que tinha o Hotel do Viajantes, na Rua Marechal Deodoro, era muito amigo da minha família... Seu fi lho se tornou meu amigo, o Eraldo Mussi, uma espécie de redator que publicava meus textos. Eu tinha sido líder estudantil na época, membro do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Luiz Reid, e fui presidente da Confederação Fluminense dos Estudantes Secundários, antiga UFES. Havia eleição de estudantes em todas as cidades. Me lembro que uma vez mandei um texto que não estava em sintonia com a fi losofi a do jornal e não publicaram. Pensei: - Estou escrevendo tão mal assim? O Rebate era o jornal que se chamava de Direita. Macaé sempre teve uma elite e ela comandava o Rebate, que fazia algum jogo com os prefeitos. A sociedade toda lia esse jornal, todo mundo lia, tinha as colunas sociais, daquelas madames horrorosas que eles achavam elegantes, mas era aquilo que valia na época. Eu tinha vontade de ter um jornal, mas como se não tenho dinheiro, trabalhava no IAPTEC e ganhava um salário mínimo. Passei na sede do Rebate, olhei, entrei e perguntei a Isaac se poderia publicar um texto meu e ele publicou. Nesse texto, acho que pedia uma faculdade de Medicina para Macaé. Isaac me falou que estavam vendendo a gráfi ca, mas só para quem mantivesse o jornal porque tinham comprado o jornal de Jorge Costa,

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ideologicamente baseado em Karl Marxe Friedrich Engels; com organização baseada nas teorias de Lênin. Também conhecido como Parti dão, é o mais anti go do país ainda em ati vidade]

Carlos Lamarca [Carioca, militar, guerrilheiro, foi um dos líderes da oposição armada à ditadura militar brasileira instalada no país em 1964]

hippie [Os hippies foram parte do movimento de contracultura dos anos 1960. Embora tendo uma relati va queda de popularidade nos anos 1970 nos Estados Unidos, o movimento apenas ganhou mais força em países como o Brasil somente a parti r dessa década. Uma das frases associadas a este movimento foi a célebre máxima “paz e amor”]

Muti rão [Movimento clandesti no contra a vinda da Petrobras para Macaé]

comunistas [Pessoas que defendem que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição aos liberalistas, que crêem que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]

ecologistas [O ecologismo é uma ideologia políti ca surgida a parti r do questi onamento sobre o esgotamento dos recursos naturais e o futuro da vida no planeta; pressupondo um olhar ecocêntrico para pensar as políti cas públicas. Os ecologistas são conhecidos também como “Verdes”]

Farol Velho [Construção histórica entre as praias da Imbeti ba e Campista, edifi cada em 1880 pela Cia. Estrada de Ferro Macahé e Campos em benefi cio da Cia. Macahense de Navegação, idealizada pelo engenheiro Gustavo Frederico Fischer]

petroleiro [Nomenclatura recente para identi fi car trabalhadores ligados à indústria de petróleo e gás]

Novo Cavaleiro [Bairro da Zona Sul onde se concentraram a maioria das empresas petrolíferas]

Jornal do Brasil [Tradicional jornal fundado em 09/04/1891, publicado diariamente na cidade do Rio de Janeiro e impresso até setembro de 2010, quando se tornou exclusivamente digital]

areia monazí� ca [Elemento com abundante quanti dade de minerais pesados como monazita, tório, isótopo 232 e urânio, responsáveis por sua radioati vidade. O termo monazita provém do gregomonazein, que quer dizer “estar solitário”, o que indica sua raridade]

Santa Maria Madalena [Município da região serrana do Estado do Rio de Janeiro]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice-prefeita em duas gestões, presidente da FUNEMAC, Secretaria de Educação]

Antonio Curvello Benjamin [Macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8]

Djalma da Silva Almeida [Pernambucano, denti sta, professor, acadêmico, fundador e diretor do Colégio Cenecista Professor Antonio Caetano Dias]

Ilson Fernandes [Macaense, idealista, radicado no Rio de Janeiro]

Ney Moura [Contador, de tradicional família macaense]

Rômulo Lago Leite [Vereador, presidente da Câmara de Vereadores, casado com a macaense Therezinha Vasconcellos de Castro]

Anphilóphio Trindade [Macaense, empresário, fazendeiro, benemérito, fundador do Rotary Clube de Macaé, patrono de uma rua no bairro Morada das Graças]

Armando Barreto [Macaense, jornalista, advogado]

Euzébio Luiz de Mello [Macaense, jornalista, herdeiro do jornal O Século, de 1886, ressurgido em 1974, foi colunista social no periódico O Debate]

Cláudio Ulpiano [dos Santos Nogueira Itagiba, macaense, fi lósofo]

Aero Willys [Automóvel sedan fabricado, entre 1960 e 1971, pela Willys Overland do Brasil]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]

PTB [Parti do Trabalhista Brasileiro, parti do políti co, que existi u durante dois períodos: no período democráti co de 1945 a 1965, sendo recriado após a Abertura do Regime Militar]

Consti tuição Federal [A Consti tuição da República Federati va do Brasil é a lei fundamental e suprema do Brasil, servindo de parâmetro de validade a todas as demais espécies normati vas, situando-se no topo do ordenamento jurídico]

golpe militar [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

Cuba, União Sovié� ca [Países com regime comunista uniparti dário]

Platão, Sócrates [Filósofos do período clássico da Grécia Anti ga]

Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, na Praia da Concha, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

cidadão deputado [Aristóteles de Miranda Melo, o Tote, líder sindical, eleito Vereador do legislati vo macaense em 1947 e Deputado Estadual em 1962, no auge do movimento operário em Macaé, chamada a Moscouzinho, após a Revolução de 64 foi preso e exilado]

Parti do Comunista [Brasileiro (PCB), um parti do políti co de esquerda, fundado em 25/03/1922,

que era muito idealista, com a condição de que mantivesse acesa a chama de O Rebate. O grupo que comprou era composto pelo prefeito Antonio Curvello Benjamin; Djalma da Silva Almeida, secretário dele; Ilson Fernandes e Ney Moura, todos da elite sócio-política da época. Eu tinha casado há pouco tempo, não tinha nada, mas perguntei quanto queriam na gráfi ca e no jornal. Eu não sabia como pagar, mas um amigo meu que era dentista, Rômulo Lago Leite, me propôs ser avalista e achei que fosse até brincadeira dele. Falei com meu ex-sogro, Eduardo Trindade Coelho, sobrinho de Anphilóphio Trindade, que eu estava fazendo um negócio, e pedi para assinar também. Então peguei o jornal O Rebate e uma gráfi ca velha. O Isaac de Souza começou a trabalhar comigo na gráfi ca, chamei o Armando Barreto para escrever também, o Euzébio Luiz de Mello, o Cláudio Ulpiano, e fui botando gente no jornal. Mas como ganhar dinheiro para pagar isso? Elaborei uma edição especial com uma porção de anúncios. Fiz um dinheirão em uma semana, comprei até um carro Aero Willys azul e fi quei coordenando o jornal. Era 1963...

Em 1976, me candidatei a vereador, fi quei de suplente, mas assumi o mandato, e Claudio Moacyr ganhou para prefeito. Eu tinha apenas dezoito anos, feitos em agosto, a eleição foi em outubro, mas o Tribunal Eleitoral me impugnou, porque não podia ser candidato se não tivesse vinte e um anos. Ai falei: - Se estou votando, como não posso ser votado? Descobri que tinha um Doutor Juventino Pacheco, advogado do PTB, que esclareceu que a Lei Eleitoral determinava que só podia ocupar cargos eletivos quem tivesse vinte e um anos, e nos casos de governadores e senadores, trinta e cinco. Mas a Constituição Federal diz que quem vota pode ser votado. Então baseado nesta última, entrei com mandato de segurança e ganhei.

O jornal O Rebate recebia forte censura, porque eu, Armando Barreto, Euzébio Mello, Claudio Ulpiano, meu redator, provocávamos os poderes constituídos... Então, começamos a fazer artigos contra o golpe militar e o Exército começou a censurar... Um tenente fi cava na redação do jornal, na Rua Marechal Deodoro, de meia noite até umas quatro horas da manhã, vendo as matérias que o jornal publicaria na semana. Não se podia falar nada de Cuba, União Soviética... Se o militar via essas palavras tirava. Então, dizíamos que o jornal estava quase pronto de madrugada, para ele fazer a revisão, e apresentávamos à fi losofi a de Platão, Sócrates... Ele não leu e saiu uma porrada de matéria. O Major leu e mandou tirar todos os jornais da banca. Em vez de fazer outro jornal, eu virei de cabeça para baixo as letras, nos trechos censurados, e escrevi na primeira página que o jornal estava saindo com algumas coisas em negrito, não por culpa do redator, nem do nosso impressor, mas por censura do comandante do Forte Marechal Hermes. Antes de mandar para banca, enviei para uns 200 assinantes em Macaé e quando eles viram aquele negócio, foi um escândalo e prenderam todo mundo.

A ferrovia, antes de vir a Petrobras, era o foco de toda movimentação político-social em Macaé. Os ferroviários tinham um cidadão deputado, que era ferroviário, e o sindicato aqui era muito forte. Em 1964, eu participava da política ideológica e participei da reunião do Sindicato dos Ferroviários para fundação do Conselho Sindical de Macaé... Então, essa reunião já era um preâmbulo para meu ingresso no Partido Comunista. Fui convidado para participar do conselho sindical com ferroviários, gente da construção civil, sapateiros, estudantes... Não cheguei a entrar porque foi depois do golpe militar, mas participaria como estudante nesse conselho sindical. O Rebate nesse período fi cou na proposição, não tomou posição de Esquerda, nem de Direita. Depois de1970, é que começamos a tomar uma posição mais avançada, porque em 1964 não houve uma revolução, houve uma tomada de poder, um golpe de Estado, então, não mexeu com a gente, comigo principalmente, a perda do poder. Mas em 1970, quando começou

haver as perseguições, vamos dizer assim, com Carlos Lamarca deixando o Exército para enfrentar os militares e defender a sociedade, os pobres, as pessoas... Então, começou a mexer com a minha cabeça e me interessei mais pela Esquerda, pela a luta armada... Não essa Esquerda, que foi presa e depois foi indenizada, essa eu tô fora! Então, comecei a me interessar pelo lado da tomada do poder pelas armas, admirava muito o Lamarca e fui conhecer o movimento de resistência civil no Rio de Janeiro, tinha acabado de perder a eleição para prefeito e ainda estava imaturo. Em Macaé, ninguém teve participação no movimento que o Lamarca liderou... Aqui as pessoas falam: - Ah meu pai foi perseguido na Revolução. Um golpe militar que chamam de Revolução. Que revolução? Revolução é uma convulsão grande, morre muita gente, escorre sangue...

Perdi a eleição para prefeito e em vez de ingressar na política partidária, entrei para o movimento hippie e falei para minha mãe: - Quero ir pra estrada, não aguento mais fi car nesse negócio de sociedade. No movimento hippie conheci muita gente, usava droga, LSD, tomava pico, fumava maconha, mas a gente se identifi cava em outros níveis da conversa, os cabelos eram grandes, e ali foi feita a minha cabeça e estou ainda lutando pela transformação da sociedade... Não tem ninguém em Macaé que possa dizer que viveu tantas experiências como eu, tenho orgulho delas, fi z um curso de doutorado na faculdade da vida... Comecei a saber o que é o mundo, não tenho medo de nada, se você colocar um revólver na minha cabeça, pode matar que eu não me ajoelho, porque aprendi, na prática, a viver.

Fiz parte do movimento Mutirão com um grupo que hoje estão todos no poder... Engraçado que as coisas mudam, as pessoas um dia falam que são comunistas, ecologistas, mas quando o negócio chega na base do dinheiro, todo mundo se acomoda, arranja assessoria, fi ca bem... Eu, felizmente ou infelizmente, vou fazer oitenta anos, e pode ser que eu vire a casaca... Mas esse movimento Mutirão era contra a chegada da Petrobras, pela preservação das praias e lagoas de nossa bucólica Macaé. Inclusive um desses meninos, que é mais novo do que eu, foi tão corajoso que mergulhou na Imbetiba, com um spray de pichação dentro da sunga, chegou à praia onde tem o Farol Velho e pichou: “Abaixo a Petrobras”. Nós achávamos que a Petrobras ia estragar a cidade e não sabíamos nem por que, mas hoje sei o porquê... A cidade inchou e fi z até um artigo sobre isso. Claro que a mistura de sangue aumentou o potencial humano da cidade, apareceu o petroleiro do Sul, do Nordeste... Essa mistura formou outra a cidade humanamente, mas a parte geográfi ca foi destruída. Eu vim para o Novo Cavaleiro fugindo da cidade, mas ela veio atrás de mim... Quando cheguei aqui, há quarenta anos, só tinha mata e macacos nas árvores, a gente pescava, tenho uma nascente que continua lá, não vendo por nada. Acho que a Petrobras fez muito pouco por Macaé. Vocês conheceram a Imbetiba antes? Eu trabalhava para o Jornal do Brasil, na época, e fi z uma reportagem sobre a beleza da areia monazítica... As pessoas sentavam na praia, usavam aquele negócio preto e se curavam. Acabou a praia, acabou a tranquilidade das pessoas... O pessoal falava um negócio interessante... Que o povo de Macaé não sabia nem o que era cotonete, pensavam que era colchonete. (Risos!) Eu preferia essa Macaé que confundia cotonete com colchonete, preferia a burrice à cultura. Por que o que é cultura? Um dia, fui fazer uma reportagem em Santa Maria Madalena e almocei na casa de um senhor velhinho que me disse que galinha de roça é muito mais “saborável”... Olha coisa linda! Ele criou uma palavra que não existe, misturou sabor com adorável. Isso é cultura! A chegada da Petrobras ressalta a destruição política, a compra de gente por emprego, pondo meninas para a prostituição. Uma vez, Marilena falou comigo que, como Secretária de Educação, perguntou num colégio quem era de Macaé e só uma pessoa levantou a mão. Por quê? Porque a cidade hoje está totalmente amalgamada ao Brasil e até ao mundo, nós ganhamos essa cultura, mas perdemos outras.

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Praia Campista [Bairro litorâneo, com característi cas mistas, que tem sua denominação ligada ao trágico assassinato dos membros de uma família campista oitocenti sta, ligada à ferrovia, sendo inicialmente denominado Praia dos Campistas]

Zé Mengão [Lanchonete pertencente a José Vieira Rangel, macaense de Carapebus, comerciante e empresário]

Carlos Augusto Tinoco Garcia [Macaense, benemérito, bancário, empresário, proprietário do luxuoso Turismo Hotel, na Avenida Rui Barbosa, 433, telefone 30]

Ângela [Bi� ar, soteropolitana, atual esposa]

Eu me nego a escrever no papel, porque no futuro, o mundo vai ser todo informatizado, e já me preparo para isso há sete anos. Não se encontra um jornal no Brasil em papel que não seja vendido a um poder, seja municipal, estadual ou federal, quando não é para as empresas multinacionais. Não tenho compromisso com ninguém e não tenho um anúncio na rede do meu jornal. Tenho um livro em papel, mas não foi nem eu que fi z, escrevia para o jornal O Rebate, quando Paulo Sérgio Carvalho, meu amigo, fomos escoteiros juntos, resolveu fazer um livro com meus textos... Aí Paulo pegou todos os textos meus e fez um livro. Eu sou escritor! (Risos!) Não tenho tido mais vontade de escrever, às vezes escrevo uma coisinha quando um amigo morre, entendeu? Mas tudo bem, pode ser que volte a vontade, quem sabe? Sonho, eu não tenho mais para Macaé porque, politicamente, a cidade não existe.

Uma vez, escrevi um texto para uma prostituta... Eu gostava muito de fi car na noite e tinha muita mulher prostituta, mas eu era bonito, jovem. A menina veio conversar comigo, bonita, moreninha e tal, pensando em fazer um programa... Eu fui lá escrever um texto sobre prostitutas e perguntava sobre a vida da menina... Perguntei se era de Macaé e ela disse que sim, que nasceu na Praia Campista, fi lha de Nildinha, uma prostituta antiga de Macaé que a gente conhecia... Achei uma coisa linda aquilo e fi z um artigo no jornal com o título: “A fi lha da puta”... A juiza queria me prender e perguntei se ela leu o artigo. Ela leu, achou interessante e me disse que era aquilo mesmo. (Risos!) Nesse texto, comecei fl oreando sobre o mar, sobre o sol que vinha das ilhas entrando pela greta de dentro do prostíbulo na Imbetiba, batendo no balcão, onde um cara fi cava sentado, contando os dólares que vinham dos gringos, com dedos ossudos. (Risos!) Um dia, fui tomar um café no bar do Zé Mengão e o garçom Toninho falou que leu o artigo no jornal e que viu o dedo comprido do cara contando o dinheiro. Eu consegui fazer um garçom, não desmerecendo a cultura, ver um dedo brilhando. E também consegui fazer Marilena Garcia ver o sorriso do pai dela, quando escrevi sobre Carlos Augusto Tinoco Garcia. Então, essa faculdade eu tenho, nasci com ela, não devo nada a ninguém.

Difi cilmente dou entrevista porque não sou artista, mas gosto de falar sobre essas coisas. Teve uma reunião na casa de Marilena Garcia, fui com a Ângela, mas não falo nada, fi co quieto, observando... As pessoas me citaram várias vezes, me elogiaram e tal e eu só ouvindo... Gosto mais de fi car no canto, arranjei uma esposa que é bicho do mato e também não sai, então, estou bem assim. Já pensou se eu fi casse com uma mulher que gosta de farra, de festa, de noitada? Acho que sou uma pessoa humana e não tenho medo de nada. Se eu fi zer uma coisa que acho certa, pode me matar que morro feliz. Gosto das pessoas e não tenho ódio de ninguém, já tive brigas, já sofri fi sicamente com três facadas no corpo e abracei a pessoa que me esfaqueou anos depois. Eu vivo assim. Também sou uma pessoa de pavio curto, pode ser pião, pode ser doutor, me provocou, me agrediu, eu caio para cima. Quero voltar a escrever. Montei um restaurantezinho para aumentar minha renda, porque ganho salário mínimo por mês, descontando a pensão da minha ex-mulher... Tenho que comprar remédios, porque já estou na andropausa e tenho que tomar testosterona. Vou vivendo assim e estou feliz, com o espírito aliviado, oito netos, converso com minha ex-mulher e sou feliz com minha companheira de doze anos que cuida de mim com paciência. Tenho vontade de deixar esse planeta feliz. Mamãe morreu rindo, e minha missão está comprida, mas ainda vou fazer muita coisa, muita política, sem me corromper, sem deixar me levar por essas coisas todas. Agradeço a vocês por terem me aguentado nesta entrevista e estão todos convidados para o meu centenário em 13 de agosto de 2039. (Risos!) Muito obrigado! ▪

1 Credencial do XIV Congresso Nacional dos Estudantes Secundários, Goiânia/ GO - 1961.

2 José Milbs e seu “amiguinho” Cláudio Moacyr, Macaé/ RJ - 1940.

3 Lançamento do livro Cabelos Brancos - Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Macaé - 1996.

4 José Milbs no jardim do amigo Armando Barreto, Macaé/ RJ - s/d.Acervo parti cular de José Milbs de Lacerda Gama, Macaé - RJ.

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Maceió [Cidade capital do Estado de Alagoas]

meu pai [Valmir Santos Dias, baiano]

meu patrão [Eduardo Valente, Engenheiro e sócio majoritário da Construtora Civil e Industrial da Bahia, com sede em Salvador]

Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo]

Bandeirante [EMB-110 Bandeirante é um aviãoturbo-hélice com capacidade de 15 a 21 passageiros, para uso civil ou militar, desenvolvido pela fabricante brasileira Embraer]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Vilminha [Vilma Alberto Dias]

Chevett e [Chevrolet Chevett e é um carro da General Motors que foi lançado no Brasil em 1973 como um sedan de duas portas (fabricado até 1993) e mais tarde de quatro portas, que era uma versão feita principalmente para exportação, da qual poucos exemplares foram vendidos no mercado interno nos anos de 1978 a 1989]

Ivan Quin� no [Teixeira, carioca, advogado, empresário, ex-procurador geral do município de Macaé]

A Preferida [Na Avenida Rui Barbosa]

Arley [Amaral de Carvalho, casimirense, comerciante, empresário]

A Elétrica Moderna [Avenida Rui Barbosa]

FORD [Concessionária autorizada pertencente ao empresário macaense Fernando Hippólito dos Santos]

Horti fruti [Rua Vereador Manoel Braga, 83, Centro]

Celso Terra [Denti sta, que foi morar em Niterói, RJ]

primeira fi lha [Ana Carolina, Médica Veterinária]

outros dois fi lhos [Leonardo, Engenheiro de Telecomunicações e Natália, estudante de Engenharia]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Monviso [Malharia e Confecção, na Rua da Igualdade, Imbeti ba, fundada por Margherita Modesta Rosso Amadei, imigrante italiana, tecelã, empresária, benemérita]

Bariloche [Indústria têxti l, fundada, em 1953, pelos argenti nos Mário Angel Corral e David Erman, no bairro da Boa Vista, Rua Velho da Silva, 108, telefone 354]

Anchieta [Município litorâneo no sul do Estado do Espírito Santo, fundado em 15/08/1869]

“Macaé é minha casa, não me vejo fora daqui...”José Walmir Moreira Dias

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 28/09/2012.

É um prazer estar aqui com vocês! Eu sou macaense, agora de direito, porque tenho o título de cidadão... É um orgulho muito grande fazer parte desta comunidade, e poder contribuir com esse projeto, que é um sonho antigo que nós temos, de resgatar essas memórias macaenses. Casei-me no dia 1 de setembro de 1979, em Salvador, e no dia 29 de setembro aportamos aqui de vez, para fi car, com bagagens e a esposa recém-casada... Estive com ela aqui, por volta de julho, procurando um imóvel para alugar e não achamos nada, era uma difi culdade muito grande, a cidade carecia de moradias. As famílias saiam de suas casas e juntavam-se com outros parentes para alugar para os recém-chegados, nós tivemos difi culdades e não conseguimos fechar negócio. Numa segunda oportunidade, em agosto, tive a felicidade de encontrar o Waltinho, e consegui alugar um apartamento em cima da loja A Caçulinha... Cerquei-me do que havia de bom: estava em frente do Silvic, perto do Reizinho, da mesa de bilhar, que a gente jogava a sinuquinha; em frente do cabeleireiro... Então fi quei muito bem situado. Nossa vinda se deu por conta da Petrobras, não podia ser diferente, desde janeiro de 1978, ofi cialmente, eu já fazia parte do grupo que estava atuando na Bacia de Campos, mas comecei na empresa no fi nal de setembro de 1977. Eu vim da Bahia, para fazer testes de formação em poços de produção, avaliar reservatórios e produtividade dos campos a serem descobertos, eram minhas funções na Petrobras, como Engenheiro de Produção e Completação de Poços... Estava emprestado, porque fazia parte de um grupo que deveria ter ido desenvolver uma grande descoberta, jamais explorada, o Campo de Majnoon, famoso na área de petróleo, como um campo de grande porte. O ramo internacional da Petrobras, na época, a Braspetro, tinha descoberto aquele campo e nós terminamos o curso escolhendo ir para o Iraque, fazer o trabalho de desenvolvimento... Aí, o Saddam Hussein desapropriou o campo, tomou-o da Petrobras, e nosso grupo fi cou sem trabalho lá. Sou Engenheiro Civil, mas, em 1976, me especializei em Engenharia de Petróleo no Setor de Ensino da Petrobras, na Bahia, atual Universidade Petrobras. Quando passei no concurso da Petrobras, abri mão de ser Engenheiro Civil, de construir prédios em Maceió, porque pela primeira vez na vida eu receberia para estudar... Eu paguei a vida inteira, me esforcei, trabalhei, ralei para ajudar meu pai a me manter na faculdade e, de repente, vem a Petrobras e me faz a proposta de fazer uma pós-graduação durante um ano, me pagando um salário acima do que eu ganharia como iniciante na área de Engenharia Civil. Então, chamei meu patrão, expliquei a situação, e ele falou: - Vai, experimenta, se você não gostar volta, que a gente tá aqui. Aí foi fácil arriscar, tomei gosto e virou uma cachaça... (Risos!) O petróleo é uma cachaça que entranha nas veias, a turma brinca que a gente não tem sangue, tem óleo. Fiquei um ano trabalhando em terra na Bahia, fazendo avaliação de poços, estimulações e serviços especiais da área de produção, quando começou aparecer a demanda aqui da Bacia de Campos... Fizemos parte do grupo que não pode ir para o Oriente Médio, mas veio para o ocidente próximo. (Risos!) Na época, a sede era Vitória, pegávamos um Bandeirante de Vitória até Campos, de onde íamos de helicóptero para a Bacia, e não tinha esse negócio de escala fi xa, a gente trabalhava enquanto tinha trabalho...

Às vezes, nas folgas, quando eu chegava em Salvador, o telefone logo tocava e avisavam que apareceu um poço novo. A base de Vitória atendia a Bacia de Campos e a parte terrestre e de mar, no norte capixaba. Em 1979, a sede da Petrobras saiu de Vitória e veio para cá. Nesse meio

tempo, já tinha uma força tarefa aqui construindo as bases para gente vir de vez. O fator primordial da mudança é bem conhecido de todos, foi o diferencial da cidade ter um porto próximo das nossas atividades. Em Vitória, tínhamos uma difi culdade grande de acesso ao porto, que era grande, com muito movimento, sendo difícil nos atender... Nós éramos mais um, aqui passamos a ser ôs usuários, ôs proprietários de porto, de acordo com nossas conveniências. Viemos, eu e Vilminha, recém-casados, com toda a mudança dentro de um Chevette com bagageiro no teto, não teve espaço que não estivesse ocupado, inclusive debaixo dos bancos... Então, chegamos aqui... Eu tinha vindo um pouquinho antes, fechado esse aluguel através do Ivan Quintino, em cima d’A Caçulinha, na esquina da Avenida Rui Barbosa com a Rua Marechal Deodoro, e aí fomos, ao primeiro momento, equipar o apartamento. A parte da cozinha foi na A Preferida, do Arley, e todos os móveis do quarto e da sala na A Elétrica Moderna, onde o Décio, administrador e genro do proprietário da loja, fi cou rindo à toa, porque fechamos todo o pacote de uma vez só. Então, fi camos lá um tempo, até Vilminha fi car grávida, e a gente entender que precisávamos de outro patamar, aí nos mudamos, aluguei uma casa fantástica na Rua Vereador Manoel Braga... Lá, éramos praticamente “donos do quarteirão”, e só tínhamos como concorrente a FORD, onde hoje é o Hortifruti... De um lado da rua a FORD, do outro a casa que aluguei do Celso Terra. O terreno ao lado, onde hoje é o estacionamento do Hortifruti, era baldio, porém, murado, e nós morávamos lá como se estivéssemos num sítio, fi z até horta... Muitas vezes achavam que eu e Vilminha éramos malucos, quando parávamos as pessoas, que estavam passando, para oferecer legumes e verduras, porque não dávamos conta. Moramos confortavelmente lá, até comprarmos a casa onde a gente vive até hoje, onde nasceram os nossos outros dois fi lhos. A primeira fi lha nasceu na Bahia, ela foi gerada aqui, mas, como marinheiros de primeira viajem, entendemos que era necessário ir para Salvador. Uma vez acontecido o parto, fi camos lá em torno de um mês e pouco, eu estava de férias, depois viemos com armas e bagagens. Os outros dois fi lhos nasceram aqui, são macaenses.

A cidade era uma incógnita para a maioria de nós que viemos para cá naquela época. Só sabíamos que era uma cidade pequena, próxima de Campos, bucólica, com uma história de turismo e de pescaria. Tinha uma quantidade de malharias que nos chamou a atenção... As maiores eram a Monviso, e a Bariloche... Mas em qualquer rua, que a gente ia, tinha uma fabriqueta de malha... Era interessante isso, porque no interior da Bahia, para onde fomos antes, era comum as costureiras, mas não tinha uma produção seriada como havia aqui. Na parte de comida, foi bom para quem já estava habituado a comer peixes em Salvador. Uma cidade à beira mar, com porto, boas praias, serra, a gente sabia um pouco sobre Macaé... Não foi algo completamente assim: Pra onde é que eu vou? Também não foi uma vinda completamente coordenada, foi um desafi o. Mas tanto eu, quanto minha esposa, somos da opinião que a gente faz o nosso lugar.

Eu frequentei muito o porto de Vitória e era uma burocracia imensa, disputávamos espaços e o pessoal de lá achava que éramos intrusos. Então, acho que foi uma solução natural. Agora, sei que outras áreas foram cogitadas, mas não conheço o estudo técnico que fez com que a decisão fi nal tivesse sido Macaé. Fizemos uma análise e o porto foi o grande diferencial. Há outros portos? Sim, poderia ter sido ali na área de Anchieta... Mas

� tulo de cidadão [Concedido pela Câmara Municipal de Macaé, em junho de 2008, por indicação da Vereadora Marilena Garcia]

Salvador [Capital do Estado da Bahia]

esposa [Vilma Alberto Dias, natural de Pedra Azul, MG, comerciante]

Walti nho [Walter Carvalho Bi� encourt, macaense, comerciante, empresário]

A Caçulinha [Avenida Rui Barbosa, 355, Centro]

Silvic [Lanches, especializado em pizzas, na esquina da Avenida Rui Barbosa, com Rua Marechal Deodoro, pertencente à família Lopes Teixeira]

Reizinho [Lanchonete dos Reis, na Avenida Rui Barbosa]

cabeleireiro [Joãozinho, na Rua Marechal Deodoro]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

Campo de Majnoon [Localizado no Iraque, descoberto em 1977, por técnicos brasileiros, hoje o complexo de 26 grandes poços explora uma das maiores províncias petrolíferas do mundo, com reservas confi rmadas de 20 bilhões a 30 bilhões de barris]

Braspetro [Empresa estatal brasileira, fundada em 1972, como subordinada da Petrobras, com a responsabilidade de encontrar e produzir petróleofora do Brasil. Sua maior descoberta foi Majnoon, no Iraque]

Iraque [País do Oriente Médio, limitado pela Turquia, Irã, Golfo Pérsico, Kuwait, Arábia Saudita, Jordânia e Síria. Sua capital é a cidade de Bagdá, no centro do país, às margens do rio Tigre]

Saddam Hussein [Abd al-Majid al-Tikriti , políti co e estadistairaquiano, quinto presidente do Iraque, acumulando o cargo de primeiro-ministro. Foi uma das principais lideranças ditatoriais no mundo árabe]

Engenheiro Civil [Formado pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, fundada em 1897, na cidade de Salvador. Em 1946 foi itegrada a UFBA, sendo a unidade responsável pelos cursos de engenharia]

Engenharia de Petróleo [Área da engenharia que trata de todos os ramos relacionados à produção de hidrocarbonetos, que podem ser óleo ou gás natural. As ati vidades são divididas geralmente em duas grandes áreas: upstream, refere-se às ati vidades de exploração e produção e downstream, às ati vidades de refi no e distribuição]

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Público (OSCIP), que busca contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira, através do aumento da competi ti vidade do país]

Vicente Falconi [Professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais]

Cine Clube [de Macaé, na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado à realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]

Itape� nga [Anti ga Vila de Itati nga recebeu o nome Itapeti nga em 1944, por determinação do Insti tuto Brasileiro de Geografi a e Estatí sti ca, sendo emancipada de Itambé em 12/12/1952]

Jorge Amado [Jorge Leal Amado de Faria, baiano, foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos, com muitos textos adaptados para televisão como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Bati sta Cansada de Guerra]

Prefeitura Municipal de Macaé [Órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

conti nha externa [Dívida Externa junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI)]

Ditadura [Período da história políti ca brasileira que contou ao todo com cinco presidentes e uma junta governati va, estendendo-se do ano de 1964 até 1985]

Pré-sal [Em geologia, camada pré-sal refere-se a um ti po de rocha, sob a crosta terrestre, formada exclusivamente de sal petrifi cado, depositado sob outras lâminas menos densas no fundo dos oceanos. No Brasil, a área que tem recebido destaque pelas recentes descobertas da Petrobrás, encontra-se no subsolo oceânico e estende-se do norte da Bacia de Campos ao sul da Bacia de Santos. Esti ma-se que lá estejam guardados cerca de 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o que deixaria o Brasil na privilegiada posição de sexto maior detentor de reservas no mundo]

Bacia de Santos [Bacia sedimentar localizada na plataforma conti nental brasileira, limitando-se a norte com a Bacia de Campos e a sul com a Bacia de Pelotas; estende-se, portanto, desde o litoral sul do Estado do Rio de Janeiro até o norte do Estado de Santa Catarina, abrangendo uma área de cerca de 352 mil quilômetros quadrados até a cota bati métrica 3000m]

Noruega [País nórdico da Europa setentrional que ocupa a parte ocidental da Península Escandinava]

ACIM [Associação Comercial e Industrial de Macaé, fundada em 13/05/1916, atualmente com sede na Avenida Rui Barbosa, 270, Centro]

FIRJAN [Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, principal enti dade de representação das indústrias do Estado do Rio de Janeiro]

Zagallo [Mário Jorge Lobo Zagallo, alagoano, ex-futebolista, treinador, quatro vezes campeão mundial pela Seleção Brasileira]

Garoupa [O poço pioneiro da Bacia de Campos foi o 1-RJS-9A, perfurado em 1976, numa lâmina d’água de 100 metros, no que seria o Campo de Garoupa, primeiro com volume comercial descoberto, em 1974, a 124 metros de profundidade]

Enchova [Com exploração comercial iniciou em 1977, com produção de 10 mil barris por dia em uma plataforma fl utuante]

Império [Período em que chegou a ser o sexto do país em volume de exportação]

Alfandega [Inaugurada em 06/12/1896, em imponente prédio de dois pavimentos, estando presente Dr. Joaquim Abreu, Presidente do Estado do Rio de Janeiro, sendo orador ofi cial o Dr. Ignácio Veríssimo de Mello]

Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, fi lho de imigrantes espanhóis, professor de Química, historiador]

livros [Coisas e Gente da Velha Macaé (1958), ABC de Macaé (1963), Histórias da Velha Macaé (1980), Imagens da Macaé Anti ga (1982), Meu nome, crianças, é Macaé (1983), Histórias Curtas e Anti gas de Macaé (1995-póstumo, organizado por Cláudia Marcia V. Rocha, Nelson Mussi e Vilcson Gavinho), Cartas da Província (2006-póstumo, organizado por Larissa Frossard), Tonito, Antonio Alvarez Parada: O fi o de uma história (2007-póstumo, organizado por Larissa Frossard e Vilcson Gavinho)]

experti se [Conhecimento que se adquire pelo estudo, experiência e práti ca; e a capacidade de aplicar o que foi aprendido de forma adequada às solicitações requeridas]

Aeroporto [Público de Macaé, inaugurado em 1980, com área de 480.000 m², está localizado na Avenida Hildebrando Alves Barbosa, a 5 km do Centro]

Infraero [Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária, uma empresa pública federal, de administração indireta, vinculada à Secretaria de Aviação Civil. Criada em 12/12/1927, é responsável pela administração dos principais aeroportos do país]

Parque Aeroporto [Conjunto residencial surgido na década de 1980, atual 2.0 Sub-Distrito, ligado ao 1.0 Distrito Cidade de Macaé]

Escola Técnica Federal [Atual Insti tuto Federal Fluminense (IFF), Campus Macaé, anti go CEFET-Campos, encontra-se às margens da Lagoa de Imboassica. Em 1987, a Prefeitura de Macaé doou o terreno de 51 000 metros quadrados e, após convênio fi rmado entre Ministério da Educação e a Petrobras, que fi naciou totalmente a construção do prédio. No dia 29/07/1993, o prédio foi inaugurado e as ati vidades escolares iniciadas em 30 de agosto. Hoje, conta com cursos em vários níveis de ensino, além dos convênios e parcerias que visam à qualifi cação profi ssional na região]

Universidade Estadual do Norte Fluminense [Darcy Ribeiro (UENF), universidade pública, fundada em 16/08/1993, sediada em Campos dos Goytacazes, com atuação também em Macaé. Sua implementação ocorreu durante o governo de Leonel Brizola, sendo a primeira universidade brasileira a possuir 100% de professores doutores]

MBC [Movimento Brasil Competi ti vo, criado em novembro de 2001 é reconhecido como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse

aí já estaria um pouco fora da rota, lembrando que o começo da Bacia de Campos era basicamente essa área perpendicular da nossa costa, com os grandes campos de Garoupa, Enchova, que são áreas mais próximas daqui. Então, em termos de logística, era natural que a escolha recaísse em Macaé.

O porto daqui sempre existiu, desde o tempo do Império. Quando chegamos aqui ainda tinha as ruínas da Alfandega... Cheguei a alcançar, fi cava onde hoje é uma pracinha, que não sei o que vai virar, com o resultado fi nal dessa obra de urbanização. Tínhamos ali, vocês devem lembrar, uma construção em ruínas, onde era a Alfândega antiga. Eu gosto muito de História, fi cava ouvindo, meio embasbacado, o professor Tonito... Gostava de conversar com ele... Então, sempre que tínha oportunidade, eu estava bebendo do conhecimento histórico do Tonito, e tenho todos os seus livros. Então, entendendo um pouquinho da história, acho que foi uma escolha natural, tá certo?

Tanto a Petrobras como empresa, quanto os seus funcionários, abraçaram a cidade. Como digo, não sou fi lho único, vários de nós fez de Macaé a sua cidade e nos preocupamos com ela. A Petrobras tinha um plano diretor e propôs um projeto de adequação ao crescimento da cidade... Eu acho que até hoje essa é uma mazela que nós temos, não conseguimos convencer os poderes públicos de que era necessário o planejamento de médio a longo prazo. Para qualquer cidade, assim como nas organizações, não se pode pensar em menos de vinte anos de planejamento. Nunca conseguimos fazer emplacar, chegamos a oferecer pacotes prontos, oferecer ajuda e apoio. Em algumas situações, conseguimos induzir uma ou outra coisa, mas com a expertise que a Petrobras nos ofereceu poderíamos agregar muitos valores. A Petrobras investe em qualifi cação e treinamento dos seus recursos, inclusive nessa parte de administração de médio e longo prazo; tivemos ações esporádicas num ou outro governo, mas sempre numa visão imediatista.

O Aeroporto ainda é o que nós construímos. Hoje, já por conta da Infraero, aconteceu recentemente uma reforma, mas é uma instalação do tempo que deixamos de usar o de Campos e passamos para cá. Foi a Petrobras que aportou recursos para fazer o Aeroporto, negociou com a Infraero a permissão, contratou uma empresa para construir a estação de embarque, que não foi feita pelos orgãos públicos formais. Da mesma forma, o Parque Aeroporto nasceu da proposição de um bairro residencial para pessoas que vieram junto com a Petrobras. Em grande parte, a força da Petrobras facilitou que houvesse o aporte de recursos junto aos orgãos federais e o Parque Aeroporto que virou uma cidade. A Escola Técnica Federal, a Universidade Estadual do Norte Fluminense... Não tem nada de grande porte que não tenhamos participado de alguma forma. Agora, é óbvio que a sensação que temos, nós da Petrobras, conversando entre colegas, é que poderíamos ter feito muito melhor, se os orgãos públicos tivessem ousado atender um pouquinho das nossas proposições.

Recentemente, tentamos trazer para cá o MBC, e ainda temos esse desejo forte, sabemos que é uma possibilidade de apoio à gestão planejada, estruturada para atingir alvos, e prima por um modelo estruturado, que o professor Vicente Falconi chamou de Método de Gestão. A Petrobras, como empresa participa, vem aportanto recursos, está aí o Cine Clube e outros projetos. A sensação que temos é que a cidade, com seus recursos, poderia estar melhor, se pudéssemos ter tido um planejamento técnico independente de qualquer corrente política.

Essa mazela eu vivenciei na minha cidade natal, no interior da Bahia, Itapetinga, que tem a minha idade, e os primeiros doze anos foram

fantásticos em termos de evolução, porque estava muito fi rme, todos muito arraigados na união das diversas correntes para o crescimento da cidade. A partir do momento que começou a ter um vulto maior, começaram as divergenciazinhas... O que é natural! As pessoas têm direito de pensar diferente, mas têm o dever de pensar no coletivo. De vez em quando, fi cava tipo na novela do Jorge Amado, com ameaças de morte pra lá e pra cá. Não vi nada assim, exagerado, aqui em Macaé, mas também não vi a união das diversas correntes para fazer um planejamento independente de quem está no poder, o que não é prerrogativa de Macaé, é o mal do país. A gente esperava que esse crescimento fosse mais ordenado e não resultasse nas mazelas que temos hoje de saneamento, de infraestrutura, de favelização em alguns lugares... Esperávamos ter um plano diretor que pertimitisse um crescimento ordenado, com o nosso apoio... Mas, de novo, a Petrobras não pôde ser a Prefeitura Municipal de Macaé, não é essa a sua função. Na Bahia, é muito comum esse tipo de apoio e nada impediria que daqui fosse igual, mas não conseguimos fazer essa parceria com o poder público.

Lembrando o cenário de quando viemos para cá... O país tinha uma história econômica essencialmente agrícola, pagava aquela continha externa, o petróleo a dois dólares o barril... Não era grande negócio investir em pesquisa, então o grosso, até a década de 1970, era o refi no. Na produção, estávamos fadados a viver com o que tinha de petróleo em terra, porque no mar era excessivamente caro... Veio o primeiro choque do petróleo, quando o preço do barril subiu de dois para nove dólares, depois para dezessete, para quarenta... Aí era mandatório que fossemos procurar petróleo onde estivesse, senão o país não teria condições fi nanceiras de crescer, nem de pagar suas dívidas. Na época da Ditadura, fomos obrigados a inverter o processo, fazer engenharia reversa dos equipamentos. Não se tinha dinheiro para comprar equipamentos, trocavam-se equipamentos por sacas de feijão, minério de ferro... Sondas vieram para cá, em troca de produtos agrícolas, tipo frango, que ia para o Oriente Médio para pagar o petróleo. O país, assim como hoje, dependia da Petrobras para revitalizar e induzir o mercado interno... Naquela ocasião, não foi diferente e o processo veio todo carreado para Macaé, porque o petróleo estava aqui na região, então, era natural.

A gente acabou de sair de uma feira, onde o que mais se viu foram estandes de empresas dizendo que estão aportando em Macaé ou na vizinhança, se situando nas áreas de negócios. Está chovendo empresa porque o núcleo forte da área de petróleo, hoje, está aqui. Ah, mas a maior parte do Pré-sal está na Bacia de Santos!? Mas a infraestrutura está aqui. Visitamos uma empresa norueguesa, que tem exatamente este foco, numa visão de médio e longo prazo, e daqui há um ano e meio quer ter uma sede aqui, fazendo aqui a prestação de serviço que fazem na Noruega. Por que aqui? Porque o negócio petróleo, assim como já foi no Recôncavo baiano no passado, está em Macaé... Então, nós estamos fadados a crescer... Eu tive a oportunidade de representar um gerente geral numa entrevista com nossa ACIM e a FIRJAN, e brinquei com aquela frase do Zagallo: - Vocês vão ter que nos engolir! Porque é só crescer, crescer e crescer! Como empresa socialmente responsavél preocupada com sua envoltoria, como as pessoas que trabalham nela, e também como cidadãos, somos obrigados a pensar grande, não é? Tenho certeza que meus colegas da Petrobras estarão disponíveis a participar disso aí.

Estou há trinta e três anos aqui, a gente ainda encontra uns gatos pingados reativos dizendo que acabaram com a cidade bucólica, mas eu acho que essa não é a visão do cidadão macaense como todo... Para nós que chegamos, essa miscigenação foi fantástica, enriqueceu a gente e aprendemos muito com a diversidade cultural. Interessante que nós próprios que chegamos, a turma chamada de pioneiros, acabou fazendo um núcleo muito forte de

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Halliburton [Empresa norte americana, sediada no Texas, estabelecida no Brasil desde 1959, como prestadora de serviços na área petrolífera]Schlumberger [Empresa de origem francesa, sediada na cidade norte americana de Houston, que se dedica à prestação de serviços no campo petrolífero, fornecendo tecnologia, gestão de projetos integrados e soluções de informação para os clientes na indústria de petróleo e gás]Ilhote [Sul, restaurante na Avenida Atlânti ca, 2620, Cavaleiros, pertencente aos irmãos macaenses Gerson e Renato Lucas Marti ns] Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]Haroldo [Ferraz, macaense, pescador, proprietário da Canti na do Aroldo, especializada em frutos do mar]Praça Washington Luiz [Na realidade nas imediações da praça, Rua Dr. Télio Barreto, entre as avenidas Rui Barbosa e Presidente Sodré]Rotary Clube [de Macaé, fundado a 11/05/1947, sendo primeiro presidente Dr. Bento Costa Júnior]Dez Andares [Edifí cio Princesa do Atlânti co, construído na década de 1970, na Rua Euzébio de Queirós, 732, no Centro, por muitos anos considerado o mais alto de Macaé]Bicho Velho [Apelido de Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, prefeito nomeado (1960-1), eleito (1973-7) e reeleito (1983-8)]MAI [Movimento Assistencial e de Integração, criado no início da década de 1980, realizou Feiras de Integração, sempre nos meses de novembro]Lilian Nogueira de Almeida [Mineira, empresária, benemérita] Maria do Socorro Gominho [Uma das fundadoras e primeira presidente]Baker [Hughes, empresa de origem americana prestadora de serviços na área petrolífera]ONGs [Organizações não governamentais são grupos sociais organizados, sem fi ns lucrati vos, consti tuídos formal e autonomamente, caracterizados por ações de solidariedade no campo das políti cas públicas e pelo legíti mo exercício de pressões políti cas em proveito de populações excluídas das condições da cidadania]Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]Rodovia Amaral Peixoto [Estrada de rodagem ligando Niterói a Campos, inaugurada em 28/05/1943, ocasião em que Macaé recebeu a visita do Presidente da República, Getúlio Vargas]a escolha de Sofi a [Referindo-se a obra de William Clark Styron, adaptada para o cinema em 1982, onde a protagonista, prisioneira num campo de concentração nazista, é obrigada a escolher um de seus dois fi lhos para morrer na câmara de gás, para que o outro seja poupado]infraestrutura [A Cidade Universitária, localizada numa área de 95 mil metros quadrados, com dois prédios, 30 salas de aula, além de estacionamento com 200 vagas, e três faculdades gratuitas: UFF, UFRJ e FeMASS, esta últi ma a única faculdade municipal gratuita do país. Ao todo, o complexo terá sete blocos, seis para laboratórios e salas de aula] Capital Nacional do Petróleo [Atual cognome da cidade, sucedendo ao anti go: “Princesinha do Atlânti co”]

amizade... Isto vale para os gringos também, não apenas nós da Petrobras, o pessoal da Halliburton, da Schlumberger, etc... Acabamos formando uma grande família, cada um era a muleta do outro, e com isto transmitíamos os conhecimentos culturais, aprendíamos comidas diferentes, usos e costumes, fomos convivendo e aprendendo bastante. Agora a cidade virou uma megalópole, no passado, não muito distante, a gente chegava num bar da orla e praticamente conhecia todo mundo. Conheço os meninos do Ilhote desde que tinham uma porta na Imbetiba, depois montaram uma pizzaria, depois uma rede de restaurantes... O Haroldo, tinha um restaurante na Praça Washington Luiz... Enfi m, fomos convivendo e aprendendo com cada um e virou essa diversidade. Hoje as pessoas são mais reativas ao primeiro contato, talvez pela insegurança, não quero entrar muito nesse mérito, mas tenho a sensação de que as coisas estão mais difíceis, cansei de sair de reuniões do Rotary Clube e chegar em casa uma, duas horas da manhã sem a menor preocupação.

A cidade tinha uma infraestrutura pequena, já comentei sobre a difi culdade de moradia, vários de nós foram morar no prédio Dez Andares. As mulheres querendo fazer alguma coisa, não tinham com quem deixar as crianças, então alguém teve a sacada de juntar o útil ao agradavél, fazer algo pela cidade, que carecia de creches, possibilitando que as pessoas pudessem tomar um rumo diferente. As mulheres capitaniaram o processo, se uniram num movimento de integração... Os homens eram os carregadores de piano, na hora de fazer a força bruta, mas é óbvio que tudo se discutia e muita coisa a gente conversava entre nós. - O que nós podemos fazer pela cidade? - Ah, vamos construir creches! E foi a primeira grande parceria com o poder público, representado pelo Bicho Velho. Foram cinco grandes feiras, mais duas um pouco menores, e nessa brincadeira a gente conseguiu recursos sufi cientes para fazer sete creches de bom porte. Conseguimos um convênio com os poderes públicos federal e municipal através do qual haviam subvenções e a gestão inicial era feita pelo MAI. O objetivo principal era atender as pessoas carentes que não tinham onde deixar os fi lhos e precisavam trabalhar, em grande parte para a Petrobras ou dentro das nossas casas. Durante um tempo nossas mulheres pertenciam ao conselho do MAI, mas aos poucos foram se desligando por razões várias, aparentemente o foco principal da creche mudou, sendo assim retirado dos mais carentes. A gente chegou a ouvir histórias, nas quais as pessoas que mais necessitavam eram preteridas em relação a outras, que tinham condições de pagar uma creche particular. Mas independente do que aconteceu depois, o MAI foi uma sacada fantástica, a Lilian Nogueira de Almeida participou bastante; a Maria do Socorro Gominho foi um dos carros chefes, enfi m, tem uma lista imensa de mulheres que participaram desse processo. A gente mesmo fazia os produtos para as feiras e os maiores consumidores éramos nós mesmos. Tinha uma empresa de hotelaria que ajudava nos gêneros, outra empresa ajudava fazendo as barracas, tem uma foto da Baker patrocinando a barraca da Bahia. Cancei de quebrar feijão fradinho, triturar, bater massa para acarajé, abará e as vezes fritar, cozer e vender. Vendíamos para quem estava nas barracas do Sul, do Nordeste, do Norte... E faziam o oposto, vinham na nossa, virando uma grande família de integração, que acabava arrecadando fundos signifi cativos. Infelizmente a cidade vai crescendo, tomando outros rumos, as pessoas que lideravam o processo foram saindo e a gente não conseguiu permanecer. Em 2008, tentamos reeditar de alguma forma o movimento, eu participei junto com a Lilian do processo de liderança, para tentar fazer este resgate, tivemos a felicidade de fazer uma senhora festa de chamamento da cidade e das empresas, mas no fi nal, no frigir dos ovos, veio a crise internacional e não dá para fazer um trabalho desse só metendo a mão no nosso bolso. Não tivemos como passar o pires nas empresas estrangeiras, primeiro porque hoje existe uma indústria de ONGs, virou prática de todas as empresas ter um braço social e todas já estão comprometidas com alguma ação. Mas isso

é um sonho que não morreu, assim como um livro que foi idealizado naquela época e acabou não dando certo. Marilena, de alguma forma, está viabilizando algo parecido, e a gente espera, numa segunda etapa, poder voltar com a revitalização, não precisa mais ser o MAI, mas alguma coisa que tenha este espírito de congregar a sociedade, com foco na benemerência. O ideal sería que não precisássemos fazer isto, mas qual é a cidade do porte de Macaé que não tem mazelas?

Ninguém tem bola de cristal que possa dizer exatamente como vai ser. Temos um gargalo e não podemos esquecer que precisamos transitar com as carretas na Rodovia Amaral Peixoto... Tem uns “colegas”, aqui da cidade, que pensam em proibir a Petrobras de usar o porto, mas a razão dela estar aqui é o porto, no dia que tirarem o porto da Petrobras não tenho a menor dúvida que vamos buscar outro canto. Então temos que encontrar uma solução de convivência mútua, porque querendo ou não, hoje, a riqueza de Macaé é a Petrobras e todas as empresas que o petróleo traz. Macaé pode viver sem o petróleo? Não tem como, iríamos retroagir bastante. O petróleo em tese é um recurso fi nito. Por que eu digo em tese? Porque quando o petróleo começou a ser usado em larga escala, o pessoal achou que o carvão já era, mas continua aí. Então, particularmente, acredito que vamos depender do petróleo por muitos anos, mesmo que tenhamos outras fontes de energia alternativas, vamos precisar de derivados do petróleo para uma série de coisas, como os carros, que têm uma grande quantidade de materiais, que são oriundos, como plásticos etc. A gente pode mudar o uso, o direcionamento, não estar focado em combustíveis de uma forma geral, mas não vai acabar.

Cheguei a participar, não vou citar nomes, de um planejamento para um governo anterior, muito tempo atrás, onde pretendíamos investir em turismo na serra. Não tinha nada de pessoal, interesse em secretaria disso ou daquilo, era a visão de contribuir para o Município, mas simplesmente depois de eleito tudo acabou, parecia que a gente nunca se reuniu, infelizmente, estamos sujeitos a esse tipo de coisa. Acho que podemos crescer muito, com o próprio fortalecimento da atividade pesqueira, que persiste, ainda é forte, mas hoje o que se vê? Todo o nosso pescado sái, o que fi ca aqui é pouco, o grosso já vai alocado direto para os grandes mercados. Temos que buscar alternativas outras, além do petróleo puro e simples, não apenas Turismo, mas outras áreas de negócios. Nós temos uma área agricultável de grande potencial, então, acho que tem vários campos para fazer com que a cidade tenha mais recursos, mais ocupação para os seus.

Quando cheguei na cidade... Costumo brincar com alguns amigos macaenses, que reclamam da cidade... Vocês nativos tinham que fazer a escolha de Sofi a... (Risos!) Ou iam para a faculdade de Pedagogia e Letras, ou eram contadores ou professores... Para as pessoas com menos escolaridade não tinha outra coisa que não fosse ser balconista de malharia. Não havia boas opções, quem queria progredir em eduação e emprego tinha que sair daqui. Hoje conseguimos, mesmo aos trancos e barrancos, ter essa maravilha de infraestrutura de Educação, que poucas cidades do porte de Macaé têm. Só no interior de São Paulo tem a profusão de escolas que temos aqui.

A Capital Nacional do Petróleo é aqui, não tenho a menor dúvida disso. Em termos reais, Macaé é responsavél por 85% da produção de todo o país, então, os números falam. Até tem uma parcela que está aumentando na área de São Paulo, na Bacia de Santos, mas é complemento, o enfoque grande ainda é aqui. Aí você pode dizer, vai ser assim eternamente? Depende, as pessoas pensam que a Petrobras é só Pré-sal, mas na realidade não é bem assim. É verdade que os recursos são fi nitos, os reservatórios são fi nitos, mas as tecnologias também mudam, o mercado muda... Um exemplo bastante interessante foi quando nós construímos o pólo nordeste da Bacia de Campos, a visão de durabilidade econômica das plataformas eram de vinte anos. Quando a gente fez o projeto, o petróleo estava a quarenta dólares o barril, quando botamos em produção, ele deu aquele pique negativo e voltou a dez... Teve gente nossa que só faltou “arrancar os cabelos”, depois subiu de novo e aí o volume do óleo que nós retiramos de lá foi

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Armando [Souza Lima, empresário]

Olivan [Carlos Glória Moreira, fi scal de rendas aposentado]

Ailton Guimarães [Mineiro, empresário, proprietário da Casa da Criança e da Ferragens Guimarães, ambas na Av. Rui Barbosa]

Eromildes Monteiro [Macaense, Empresário]

Parque de Tubos [Na Rodovia Amaral Peixoto, 163, Imboassica]

Rio das Ostras [Município fl uminense fundado em 10/04/1992, emancipado de Casimiro de Abreu]

Ginásio Agro Industrial [Em Itapeti nga, BA]

David [Szachno David Erman, argenti nho, empresário, industrial]

Leônidas [Antônio da Fonseca, empresário, fazendeiro]

Posto [Príncipe, Avenida Rui Barbosa, 693, Centro]

Alfeu [de Melo Valença, pernambucano, Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se Engenheiro de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]

Caxias [Termo que se refere a personalidade de Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, fl uminense, militar, patrono do Exército Brasileiro, conhecido por ser extremamente disciplinado e rigoroso na aplicação de regras]

royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Escola Técnica Federal [Unidade de Ensino Descentralizada de Macaé, ligada ao CEFET-Campos, inaugurada em 29/07/1993, hoje Insti tuto Federal Fluminense - IFF]

Namorado [Campo descoberto em 1975, localizado na porção centro-norte da Bacia de Campos]

Pós-sal [Porção do subsolo que se encontra sob uma camada de sal situada alguns quilômetros abaixo do leito do mar. Em 2013, a Petrobras anunciou a descoberta de uma acumulação de petróleo em reservatório do pós-sal, na Bacia de Campos, localizada no campo de Marlim Sul, em reservatórios arenosos, a aproximadamente 2.965 metros de profundidade]

Minha mãe [Helena Moreira Dias, baiana]

Fluminense [Football Club, uma agremiação polidesporti va e cultural sediada na cidade do Rio de Janeiro, fundada a 21/07/1902. É uma sociedade civil de caráter desporti vo que tem, como principal, mas não única, ati vidade, o futebol]

Yate Clube [de Macaé, Praia do Pontal, s.n., Barra de Macaé]

Clube Cidade do Sol [Fundado em agosto de 1981 para atender aos funcionários da Petrobras]

sede campestre [Na Rua Arquimedes Marques, 194, Glória]

sede social [Na Av. Atlânti ca, 1622, Cavaleiros]

Tênis Clube [de Macaé, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

sede de praia [Na Av. Atlânti ca, 2882, Cavaleiros]

sede social [Na Praça Veríssimo de Melo, 68, Centro]

Fluminense [Futebol Clube, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Ypiranga [Futebol Clube, na Avenida Presidente Sodré esquina com Rua Tenente Coronel Amado]

Clínica Doutor Everest [Salles, na Rua Tenente Coronel Amado, atual hospital da UNIMED]

mais do que o dobro. Eu era gerente na época da instalação das unidades, a primeira plataforma entrou em funcionamento em dezembro de 1988, ou seja há 24 anos. Era para ter durado vinte anos e tem óleo para mais vinte, por contadas condições técnicas e econômicas de hoje. Os cenários foram mudando e isso permitiu que tivéssemos sobrevida, existindo plataformas que já tem trinta anos de produção, como Namorado e Enchova, que vão durar outros vinte anos. E aí vai, dependendo cada vez mais das tecnologias, e tem muita coisa ainda pela frente, no Pré-sal, no Pós-sal...

Macaé é minha casa, não me vejo fora daqui, também não posso ser radical e dizer nunca mais vou sair, a gente segue o rumo da vida conforme as oportunidades. Mas é uma cidade que recebeu a mim, a minha esposa e a nossa família de uma forma fantástica, nos abraçou e nos adotou. Ao longo desse tempo, fi zemos amigos queridos dos mais variados tipos, independente de classes sociais, e conseguimos formar um grupo de relacionamento bastante amplo e signifi cativo. Minha mãe diz que “recordar é viver”, e lembro de algumas coisas bucólicas, como as peladas com torcedores do Fluminense, lá no Yate Clube, antes do mar tomar conta do campinho, que era um momento de lazer muito bom. Vejam que interessante, são poucos os lugares que tem a infraestrutura de clubes que temos aqui, como o Clube Cidade do Sol, sede campestre e sede social; o Tênis Clube, com sede de praia e sede social; o Fluminense, que continua existindo. Fui muito ao forró do Ypiranga com a Vilminha. A cidade tinha mais oportunidades de lazer do que tem hoje, lugares para dançar, mas a gente não pode viver do passado, entendemos que o cenário muda, e trocamos um pouquinho o execício da dança e fomos para o lado da gastronomia. (Risos!) Algumas pessoas não são da família formal, mas viraram nossa família, a Lilian Nogueira de Almeida, por exemplo, uma pessoa fantástica, foi quem ajudou a Vilminha no nascimento do nosso fi lho Leonardo, o primeiro neném masculino nascido na antiga Clínica Doutor Everest, um pouco antes nasceu uma menina. A Liliam estava lá, incansável, no primeiro banho, enfi m, nos dando total apoio. Dona Elzir e Seu Armando, donos da antiga rede de açougue Novilhão, são meus vizinhos de frente, verdadeiros pais para nós. Dona Th erezinha e Seu Olivan, dois netos deles cresceram junto com os meus fi lhos, a gente não sabia distinguir, puxava a orelha de um e de outro, independente se era meus fi lhos ou netos deles e vice-versa. Então, a gente se sente bastante confortável por ter tido esse apoio todo que tivemos aqui. O Ailton Guimarães, o Eromildes Monteiro... Ainda hoje estamos todos juntos, viajando, jogando baralho no fi m de semana, tomando cerveja, numa convivência fantástica.

Apesar dos índices numéricos de habitantes não ser tecnicamente adequado para qualifi car Macaé como megalópole, na prática somos uma sociedade comospolita, com gente de tudo quanto é canto e meu sonho seria ter um pouco mais de organização. Podemos tirar um proveito grande do núcleo universitário, ampliá-lo, acho um sonho possível de realizar, investir mais na qualifi cação, porque com a Educação vem tudo. Se fi zermos uma refl exão, fi ca difícil explicar porque um país do tamanho do Brasil, com tantos habitantes, forma apenas em torno de trinta mil engenheiros por ano. Precisamos investir em tecnologia, em conhecimento, acho a melhor forma de mudar as coisas. Como não podemos esquecer o dia a dia, é óbvio que adoraria ver uma Macaé onde não perdêssemos uma hora engarrafados no horário de pico, fazendo em cinquenta minutos um percurso que era possível fazer em quinze. Trabalho hoje no Parque de Tubos e tenho que escolher bem os meus horários... Para vir é pior, porque a massa de colegas que vem de Rio das Ostras é imensa. Acho que temos a obrigação de sonhar, sem sonhar não ralizamos coisas reais. Temos que investir cada vez mais em conhecimento desde a base, aprimorar é primordial. Então, a creche tem que ser com fundamento de ensinar, não ser só lazer. Sei que não temos infraestrutura adequada para fazer aquela premissa do dia

inteiro, a escola integral, como tive na minha infância, como aluno do Ginásio Agro Industrial, no qual pela manhã tínhamos aula de artes plásticas, aprendíamos marcenaria, compúnhamos na tipografi a da escola um jornal regional, como O Debate, que a gente fazia na época e que até hoje é rodado lá; os manuais para fazer artesanato com coco, com chifre, etc... Ficávamos uma hora na biblioteca da escola, onde tinha sempre uma professora nos induzindo a ler aquele livrinho que chamava nossa atenção. Então, acho que isso é um exemplo muito forte que a gente pode e deve perseguir.

Acho que tenho um defeito, sou prolixo, falo muito... Mas gosto de falar da cidade de Macaé, dos desejos, das vontades, assim como gosto de participar. Teve um negócio que a gente não tocou aqui, falei muito da receptividade da cidade para conosco, mas esse entrelaçamento foi muito natural, porque quando cheguei aqui Seu David, da Bariloche, me convidou para o novo Rotary Club de Macaé, que ele estava criando, o segundo da cidade, e, por origem, sou rotariano desde criancinha; meu pai era rotariano, presidente, secretário. O primeiro dia que vi o Léo, o Leônidas do Posto foi na época do Festival do Chopp... Recebi a incumbência do Alfeu, que era gerente geral, de ajudá-lo a vender canecos, e saímos por todas as empresas prestadoras de serviço, que chegaram junto conosco, patrocinaram os canecos e tomaram umas chopadas boas lá no Tênis Clube.

Vimos crescer uma geração imensa de crianças macaenses, fi lhos dos nossos amigos que vieram para cá, então hoje a minha casa por felicidade é ponto de encontro, de reunião das turmas da minha fi lha mais velha, da turma do fi lho do meio, e da caçula, e a gente se mistura com eles, e é uma satisfação muito grande partilhar disso. Macaé tem um quê diferente e é muito prazeroso para nós estarmos aqui. Sou um sonhador em termos de querer o melhor para as pessoas. O Rotary Internacional tem um lema: “Dar de si, antes de pensar em si”. Antes de tudo acho que temos que pensar no respeito aos regulamentos, meus amigos acham que sou um Caxias. No sentido de cumprir os rituais normativos, sou aquele cara certinho e às vezes até meio exagerado, mas não considero isso ruim... Tenho o sonho que tenhamos uma sociedade que respeite as normas, que não use as coisas apenas em benefi cio próprio, em prejuízo dos demais. Temos que estar sempre pensando no coletivo, no que podemos fazer para infl uenciar de uma forma positiva as coisas que estão no nosso entorno. Não podemos ser omissos.

É um prazer estar aqui com vocês, espero que tenha atendido ao objetivo do livro... A gente fala muito, diverge um pouco e não tenho a menor ciência do conteúdo fi nal que vai sair desse processo, mas eu tenho certeza de que a gente tem, por trás, pessoas capazes de fazer esse trabalho e a expectativa que tenhamos algo que seja representativo do que a gente vem vivenciando em termos de cidade, ao longo desse tempo. Quando idealizamos o primeiro livro, pensamos não só na memória recente, a idéia era ser abragente e pegar os duzentos anos de história, mas não foi possível. Então, eu quero parabenizar vocês por estarem tornando esse sonho realidade. Tenho carinho e admiração muito forte pela Marilena Garcia, acho que ela é um exemplo de garra para obter as coisas... A gente acompanhou e participou da sua luta para conquistar os royalties para cidade, para obtenção da Escola Técnica Federal, e acho que merece de nós todo o apoio e todo crédito... Ela foi a minha madrinha que fez com que eu virasse ofi cialmente um cidadão macaense. Na realidade, eu não fi z muita coisa, fi z um pouquinho, em comparação com outros que fi zeram muito e não receberam essa honraria, mas fi quei muito contente de ser, formalmente reconhecido como um cidadão da cidade, como se aqui tivesse nascido. Só tenho a agradecer! Verdadeiramente, muito obrigado a todos, por tudo. ▪

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1 Carnaval no Tênis - Da esquerda para direita: Tey, Carlos Eduardo, Marai Guimarães, Vilminha Dias, José Walmir, Angela Freire, Eromildes Monteiro, Fá� ma Monteiro.

2 Quadra do Clube Cidade do Sol - Da esquerda para direita: Daniel Maciel, Paulo Roberto Ribeiro, (?), José Walmir Dias, Benjamin Plavinik (agachado).

3 Feira de Integração 19874 Feira de Integração 1987.5 Feira de Integração - Da esquerda para

direita: Carlos Eduardo, Tey, Irani Varella, Beth Varella, Delza, Nara Wolf. Dra. Liane Machri, Dra. Lisandra, Baeta, Hélio Mendes, Nery Mendes, Lilian VideoAcervo Parti cular de José Walmir Moreira Dias, Macaé - RJ

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Praia de Imbe� ba. 2009. Foto: Livio Campos

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bou� que [Barafunda Buti que, Rua Vinã Del Mar, Cavaleiros]

Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

Ouro Negro [Hotel e restaurante na Avenida Presidente Sodré, Centro]

Lagos Copa [Hotel na Avenida Elias Agosti nho, Imbeti ba]

Tênis Clube [de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

Celinha Valença [Lucélia Porto Valença, pernambucana]

Jussara Benassuly [Paraense, professora universitária]

Arley Amaral [de Carvalho, casimirense, comerciante, empresário, benemérito]

primeira presidente [Seguida de Carmen de Jesus França; Inês Alcina Andrade Metzley, a Tey; Ítala Araújo; Elizabeth Varella, Maria Cecília Tourinho Furtado e Lilia Beatriz Maran Pereira, a Lilia Vídeo]

Luiz Osório [Mineiro, empresário, proprietário Hotel Ouro Negro]

Prefeitura Municipal de Macaé [Órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

Beth Varella [Elizabeth Prestes Varella, gaúcha, Assistente Social, presidente do MAI]

Irani [Carlos Varella, rio-grandense, engenheiro. Ocupou funções gerenciais na Bacia de Campos, Petrobras Distribuidora e Cenpes, coordenou o Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional da Petrobras e ajudou a implantar a área de SMS]

milhões [A moeda corrente era o Cruzeiro Novo]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo]

colégio das freiras [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, no bairro Visconde de Araújo, que funciona no anti go Solar de Monte Elízio, construído pelo Visconde de Araújo, adquirido de seus descendentes em 11/08/1961 pelas Irmãs Salesianas, sendo ofi cialmente inaugurado em 27/07/1963]

hospital tradicional [Hospital São João Bapti sta, anti ga Casa de Caridade de Macahé, na atual Praça Veríssimo de Mello, fruto do desejo post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro, e dos esforços de um grupo liderado por Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, foi inaugurada ofi cialmente em 01/05/1871]

Colégio Estadual Luiz Reid [Na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

Colégio Caetano Dias [Colégio Cenecista Caetano Dias, situado na Rua Francisco Portela, 410; atualmente é a Escola Municipal Professora Maria Isabel Damasceno Simão]

Hotel Panorama [Hotel, restaurante e piano-bar, na Avenida Elias Agosti nho, fundado pelos empresários macaenses Itamir Honório Abreu e Jorge Chaloub Filho (Budy)]

Doutor Fernando [Pereira da Silva, mineiro, denti sta, patrono do Hospital Público Municipal]

Doutor Raposo [Manoel Ângelo Raposo, mineiro, médico cirurgião]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

MAI [Movimento Assistencial e de Integração, criado, em 16/10/1980, pelas esposas dos funcionários da Petrobras em parceria com senhoras macaenses]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense membro de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982]

Viemos para Macaé em 1979. Nessa época, a Petrobras transferiu as primeiras quinhentas famílias para iniciar o processo de produção aqui na Bacia de Campos. Morávamos em Vitória e viemos conhecer Macaé com o coração aberto, porque tínhamos uma receptividade muito grande... Antes mesmo de vir, corretores foram oferecer terrenos e falar da cidade, dando notícias inclusive do colégio das freiras. Então, prevíamos que a cidade estivesse aberta para nos receber. Tínhamos uma pesquisa feita pela Petrobras e ela nos informava sobre um hospital tradicional, sobre as escolas, o Colégio Estadual Luiz Reid, o Instituto Nossa Senhora da Glória, o Colégio Caetano Dias... Nós chegamos com muito carinho, já gostando da cidade. Macaé, hoje, é ótima de viver, mas era melhor porque era uma cidade tranquila, segura, as pessoas se cumprimentavam nas ruas. Passamos a conhecer todo mundo, inclusive pessoas chaves logo no início, como os administradores do Hotel Panorama, Dona Madalena e Seu Edson Torres. Depois, conhecemos o pessoal tradicional da cidade, como a família de Doutor Fernando, que nos recebeu com muito carinho e foi o primeiro com quem fi zemos amizade... Daí, ele nos levou para conhecer Macaé. Nós viemos e alugamos uma casa na Rua Augusto de Carvalho, vizinhos de Dona Maria Raposo, mãe de Doutor Raposo, que nos recebeu de braços abertos.

A concorrência para aquisição de imóveis era muito grande e viemos a Macaé, três vezes, até que compramos um terreno nos Cavaleiros, matriculamos as crianças na escola. Participamos do primeiro boom de Macaé. Como gosto muito da convivência com pessoas, senti que poderia me estabilizar na cidade. Em Vitória, eu trabalhava com paisagismo, e vendia moda infantil. Percebi imediatamente que teria possibilidades de crescimento aqui, em todos os sentidos: amizades, negócios... A mudança de vida foi para melhor porque como éramos estrangeiros também em Vitória, uma cidade maior, aqui, nós pudemos interagir muito melhor; fi zemos novos amigos, porque éramos todos carentes das nossas origens... Nossa família eram os amigos e os novos conhecidos da cidade.

Quando viemos, a previsão de petróleo era para vinte anos e pensávamos que iríamos viver vinte anos aqui, ninguém imaginava que ia ser esse boom. Costumo dizer que, hoje, Macaé é o caldeirão do mundo. Não culpo os governos porque conheci muito de perto os governantes da época, passei por quatro prefeitos que repetiram os mandatos, todos bem intencionados, querendo fazer a cidade melhor, mas o progresso veio como um trator e eles não estavam preparados. Todo mundo pelejou para se adaptar a nova situação. Desde aquela época, o anseio de todos nós era de que Macaé fosse uma cidade bonita, bem tratada, com escolas, com qualidade de vida... Na época em que nós chegamos, não havia royalties... Como membro do MAI, participei do primeiro movimento para conquistar os royalties, encabeçado por Marilena, em frente à Câmara Municipal de Macaé... Lembro perfeitamente que reunimos as mulheres da Petrobras e junto com Marilena, lutamos pelos royalties. Isso deve ter sido em 1981.

Não tenho dúvida de que o MAI foi o elo entre a turma de fora, o pessoal da cidade e o governo, porque fazíamos essa ligação, essa interface. Nós

tínhamos o apoio da Petrobras através dos esposos e do poder público da cidade; a partir daí, conseguimos construir oito creches envolvendo a sociedade inteira. Toda a comunidade da época participou desse trabalho, porque era um trabalho sem pretensão nenhuma de aparecer, era sem fi ns lucrativos pessoais nenhum, focado na benefi cência. Para executar os nossos projetos foi necessário um trabalho de emoção contagiando assim as empresas de petróleo e os estrangeiros que chegavam. Passávamos essa energia toda, esse carinho e o MAI foi um sucesso. Nos reuníamos, em princípio, nas nossas casas e cada uma levava um bolinho, um docinho, fazíamos um lanche, discutíamos... No fi m, vendíamos aquilo para nós mesmas e já era um dinheirinho, um fundo de caixa para o começo. Depois, tive boutique e começamos a fazer desfi les de moda... Fizemos um desfi le no Forte Marechal Hermes, com apoio total do comandante e o ingresso era um brinquedo para o Natal das crianças carentes... Fizemos desfi les em todos os hotéis: Ouro Negro, Lagos Copa... O Tênis Clube abriu suas portas e fazíamos eventos para quatrocentas pessoas e todo mundo se envolvia, todos vendiam ingressos... Fiz seis desfi les com pirâmide de leite, em que o ingresso era uma lata de leite em pó e íamos montando a pirâmide. No fi m do evento, estava ali o resultado.

Na época, nós começamos com um grupo ligado à Petrobras: Celinha Valença, Jussara Benassuly... Depois conhecemos as macaenses Zelina Farah, Eloísa Esteves, Maria Cecília Tourinho Furtado, Arléia José de Carvalho, esposa do Arley Amaral... E tantas outras que nos ajudaram sempre dando um apoio muito grande. Eu nem deveria citar nomes porque vou omitir muita gente... Nas primeiras reuniões, éramos cinco mulheres e nos reuníamos em nossas casas... Depois, fi zemos uma reunião no Tênis Clube e já éramos vinte e cinco... Logo depois, redigimos o estatuto, com Cora Maria Ferreira, Assistente Social da Petrobras, e éramos sessenta... A partir daí, nos multiplicamos e envolvemos umas quinhentas pessoas... Com o sonho de construir uma creche em cada bairro, fazíamos eventos com desfi le de moda, chás, coquetéis e churrascos, que não davam volume fi nanceiro para garantir a velocidade que desejávamos na execução do projeto. Então, surgiu uma grande ideia: as feiras de integração. A primeira presidente foi Maria do Socorro Gominho... Tínhamos credibilidade e os empresários nos ofereciam terrenos... Um dia, encontrei com o Seu Luiz Osório e ele falou: - Dona Lilian, a senhora não vai me pedir um terreno? Vamos fazer uma creche? O Arley Amaral fez da mesma forma e nos doou um terreno. Então, tínhamos terrenos, apoio da Prefeitura Municipal de Macaé e nosso trabalho era conseguir dinheiro para comprar o material... A gente sempre pensou da seguinte forma: Não somos poder público, somos uma sociedade participativa, que vai construir o espaço e cobrar do poder público o seu funcionamento. E assim aconteceu! No decorrer dos anos as atividades do MAI pararam, mas as creches estão aí. Hoje, percebemos como foi importante.

Vou contar uma passagem que, “agora”, é cômica. (Risos!) Quando fi zemos a última feira, eu já morava no Rio de Janeiro, e a Beth Varella, esposa do então superintendente Irani, era presidente do MAI e resolvemos fazer mais uma creche. A feira rendeu oito milhões, um dinheiro muito bom...

“... eu sou macaense de coração.”Lilian Nogueira de Almeida

Entrevistada, em Macaé (RJ), a 07/09/2012.

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Merrel [Marcelo de Almeida Reid, macaense, bancário, empresário, ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de Macaé - ACIM]

Dona Margarida [Margherita Modesta Rosso Amadei, italiana, tecelã, empresária, benemérita, fundadora da Malharia Monviso]

Bariloche [Indústria têxti l, fundada em 1953, fundada pelos argenti nos Mário Angel Corral e David Erman, no bairro da Boa Vista, Rua Velho da Silva, 108, telefone 354]

Seu David [Erman, argenti no, empresário]

Dona Marina [Granja Erman, argenti na]

Mar� n Gonzalez [Espanhol, empresário]

Schlumberger [Empresa de origem francesa, sediada na cidade norte americana de Houston, que se dedica à prestação de serviços no campo petrolífero, fornecendo tecnologia, gestão de projetos integrados e soluções de informação para os clientes na indústria de petróleo e gás]

Halliburton [Empresa norte americana, sediada no Texas, estabelecida no Brasil desde 1959, como prestadora de serviços na área petrolífera]

Alfeu de Melo Valença [Pernambucano, Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se Engenheiro de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]

Tânia Mussi [Tânia Maria Jardim Mussi, casimirense, professora, formada em Letras, advogada, políti ca, Primeira Dama de Macaé nos dois mandatos de seu esposo o Prefeito Dr. Carlos Emir Mussi; deputada estadual]

Creche Casulo [Inaugurada em maio de 1984]

Barra de Macaé [Anti go segundo distrito, hoje primeiro subdistrito]

Creche Menino Jesus de Nazaré [No Bairro Visconde de Araújo]

Creche MAI - Alcides Ramos [No Bairro Botafogo]; Creche MAI - Nossa Senhora da Conceição [No Parque Aeroporto]

Lagoa da Coca-Cola [A Lagoa de Iriri, localizada em Rio das Ostras (RJ), possui coloração escura por causa da vegetação e da concentração de iodo]

Pestalozzi [Associação Pestalozzi de Macaé, fundada em 1973]

Oneida Terra [Oneida Mello Azevedo Terra, macaense, benemérita, ex-presidente da Casa da Amizade do Rotary Clube e fundadora/diretora da Associação Pestalozzi de Macaé]

Asilo [da Velhice Desamparada, atual Liga Benefi cente Asilo Casa do Idoso, fundado em 1945, na Rua Luiz Bellegarde, 540, Imbeti ba]

Barracão [Secretaria Municipal de Obras]

Overnight [Indica as aplicações fi nanceiras feitas no open-market em um dia para ser resgatado no dia seguinte. As operações de open-market consistem em técnicas de intervenção dos Bancos Centrais nos mercados monetários através da compra e venda de � tulos]

Bamerindus [Banco Mercanti l e Industrial do Paraná S/A, fundado por Avelino Antonio Vieira, que no fi nal dos anos 1990 foi incorporado ao HSBC e ao Banco Central]

Collor [Fernando Aff onso Collor de Mello, carioca, políti co, jornalista, economista, empresário e escritor brasileiro, 32º Presidente do Brasil, de 1990 a 1992]

Poupança [A conta poupança é um ti po de conta bancária, de baixo risco e de rendimento pré-fi xado de 0,5% ao mês mais a correção da Taxa Referencial, garanti da pelo Fundo Garanti dor de Crédito até o valor de R$ 250.000,00 por cliente, independente de qual banco é a sua depositária]

milhão e meio [A moeda corrente era o Cruzeiro Novo]

Plano Collor [Ofi cialmente denominado Plano Brasil Novo, foi insti tuído em 16/03/1990 e trata-se do conjunto de reformas econômicas e planos para estabilização da infl ação criados durante a presidência de Fernando Collor de Mello, sendo estendido até 31/07/1993]

O Debate [Periódico macaense diário, fundado, em 01/05/1976, pelo jornalistaOscar Pires]

Receita Federal [A Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) é um órgão específi co e singular, subordinado ao Ministério da Fazenda, que tem como responsabilidade a administração dos tributos federais]

Pedro Reis [Pereira, nati vidadense, médico otorrinolaringologista, benemérito, colecionador de arte sacra, fundador da Casa de São Francisco de Assis e da Casa do Idoso de Macaé, políti co, vereador]

Casa de Idosos [Na Barra de Macaé]

Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]

Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]

Clube Cidade do Sol [Na Avenida Atlânti ca, 1622, Cavaleiros, fundado em agosto de 1981]

Praça Washington Luiz [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]

Peron [Ely Peron Frongilo, carangolense, arti sta plásti co, carnavalesco, decorador]

Dona Joaninha [Joanna Peron Frongillo, mineira descendente de espanhóis, costureira, benemérita]

Síti o [das Artes na Granja dos Cavaleiros]

Naquele tempo, aplicávamos no Overnight para não perder dinheiro e nosso parceiro era o Bamerindus... Nessa época, mudaria o governo, e Collor já estava eleito... Então, reuni a diretoria, com Carla Magarinos Torres, secretária do MAI, e falei para retirar o dinheiro do Overnight, porque não poderíamos correr o risco de perder aquela quantia, sugerindo assim abrirmos uma Poupança. Fomos ao banco e solicitamos ao gerente a abertura desta conta-poupança, mas não aceitaram, porque o banco impôs o limite máximo de um milhão e meio. Como tínhamos quase oito milhões sugeri fazer uma poupança para o MAI e cada uma de nós abriria uma, resolvendo o caso, e assim fi zemos... Três dias, depois veio o Plano Collor e ninguém podia tirar o dinheiro, o Irani Varella preocupadíssimo me ligando: - Lilian pelo amor de Deus! A Beth está envolvida nesse negócio, sou o superintendente da Petrobras, o que vou fazer? Respondi: - Fica tranquilo, eu assumo e, se precisar esclarecer, vou para o jornal. Fui para O Debate e esclareci a nossa boa intenção. Ganhamos oitenta por cento de juros nessa poupança e o dinheiro virou quase quinze milhões. Aí os maridos começaram a nos questionar como iríamos declarar o imposto de renda. (Risos!) Procuramos Seu Brito, da Receita Federal, contamos nossa história e ele nos orientou: - Não tem problema nenhum! Cada uma de vocês faz uma nota promissória para o MAI, pegando emprestando esse dinheiro, registrem essas notas em cartório e fi ca comprovada a idoneidade de vocês e quando esse dinheiro for liberado vocês devolvam. E assim fi zemos! Foi aquele trabalhão fazer a transferência de titularidade de tantos milhões para o MAI. (Risos!) No fi m, construímos uma creche ótima e ajudamos o Pedro Reis no projeto da Casa de Idosos. Mas não foi fácil! Uma responsabilidade louca, mas tudo pensando na comunidade, no bem comum, ninguém era profi ssional de nada, nós éramos mães, donas de casa.

Em cada bairro que ganhávamos o terreno, fazíamos uma creche e foram oito... O prefeito tinha o compromisso de botar livros para as crianças, cabeleireiro, peixe três vezes por semana, suplemento vitamínico, remédio para piolho quando tinha a infestação... A Prefeitura fazia aquilo tudo, era sagrado. Seu Alcides Ramos nos deu muito apoio, começamos essa história com ele e os outros prefeitos continuaram mantendo esse suporte. Na época do governo do Sylvio Lopes, fi zemos um grande evento no Clube Cidade do Sol e ele nos deu um terreno muito bacana, porque faríamos uma escola profi ssionalizante, dando continuidade à formação de crianças das oito creches... Porque aquelas crianças faziam ali, o primário e voltavam para suas casas... Então, sentimos a necessidade de retê-las numa escola profi ssionalizante. As nossas crianças frequentariam a escola pela manhã e à tarde teriam aulas de marcenaria, agricultura, culinária... Desenvolvíamos esse projeto quando vieram as transferências de nossos maridos e a maioria foi embora.

Como nós do grupo MAI éramos de estados diferentes, surgiu a idéia de reunir os mineiros, os baianos, os gaúchos... Éramos uma miscelânea, um mix de pessoas de todos os estados, além dos estrangeiros, surgindo o grande projeto das feiras de integração, no qual vendíamos durante um fi m de semana comidas típicas em barraquinhas, na Praça Washington Luiz. Começamos reunindo grupos, fazíamos uns jantarzinhos, porque estávamos aprendendo, testando a comida que venderíamos na feira. Neles, já começávamos a arrecadar fundos. Na barraca mineira, o Peron e sua mãe, Dona Joaninha, nos deram muito suporte... Íamos para o Sítio aprender fazer torresmo, eram trinta quilos de toicinho... Começávamos os jantares em março para realizar a feira em outubro. Nós, da direção do MAI, orientávamos e pedíamos apoio às empresas, patrocínio... Na primeira feira, seu Alcides fez umas barraquinhas de palha de coqueiro e choveu

loucamente em outubro... Nosso parceiro era o Bamerindus e a gente levantava um bom dinheiro, o banco ia à noite, com o saquinho de pano, buscar o dinheiro das barraquinhas e eu ia junto para fazer o depósito na conta do MAI, isso meia noite, uma hora... O Merrel trabalhava no banco e nos ajudava muito. A primeira feira foi um sucesso, pequena, mas já deu frutos. Na segunda, nós tínhamos mais experiência e fi zemos barracas melhores, as empresas do petróleo nos ajudaram mais, porque montamos também a barraca internacional e com isso todos se envolveram... Tínhamos os italianos com Dona Margarida, da Monviso, na liderança; os argentinos da Bariloche, Seu David e Dona Marina; os espanhóis Pilar e Martin Gonzalez... Todos foram coordenadores da barraca internacional... Então, tínhamos uma boa pasta italiana, tinha paella espanhola... A eles se juntaram a alemã Marlies Abreu, esposa do gerente da Schlumberger, e a argentina Délia Montesino, esposa do gerente da Halliburton... Daí, começamos ampliar os contatos, fi camos poderosas, fomos crescendo e cada feira fazia uma creche. As feiras eram animadas porque não era só o dinheiro, era a integração que nós promovíamos. Nossa meta era ser um Movimento Assistencial e de Integração, porque quando chegamos a Macaé sentimos que éramos vistas como “senhoras da Petrobras” e aquilo não nos fazia bem, porque não éramos diferentes, estávamos vivendo na cidade e queríamos participar da vida macaense. Foi quando sentimos necessidade de interagir, mas tínhamos que interagir de forma simpática à sociedade. Achamos o caminho e tivemos uma receptividade.

O Alfeu de Melo Valença, superintendente à época, nos ajudou muito fazendo contato com os diretores das empresas, falando do nosso trabalho, abrindo assim as portas para sermos recebidas nas empresas estrangeiras. O MAI integrou-se muito bem em Macaé porque foi um movimento que nasceu misto; dele faziam partes senhoras de Macaé e nós, do petróleo. Com isso, nós íamos à casa da Zelina Farah e conhecemos o esposo dela, a vizinha dela, as amigas dela... Tânia Mussi, como Primeira-dama, também colaborou muito conosco e foi responsável pela primeira parceria com a Prefeitura Municipal de Macaé, desenvolvendo o “Projeto Uma Creche em cada Bairro”, sendo pioneira a Creche Casulo, na Barra de Macaé, seguida da Creche Menino Jesus de Nazaré; Creche MAI - Alcides Ramos; Creche MAI - Nossa Senhora da Conceição; Creche MAI - Praia Campista, tendo em anexo a Sede do MAI; Creche MAI – Fronteira ; e a Creche Escola MAI - Morro de São Jorge. Todo mundo queria participar! O ser humano é carente disso, hoje eu sinto uma falta enorme e tenho certeza que se tivéssemos alguém com disponibilidade e liderança nós estaríamos com uma cidade muito mais feliz, convivendo, crescendo, fazendo amigos. Os nossos eventos têm histórias homéricas e guardo os registros jornalísticos. Nós acabamos conhecendo muitas pessoas. Buscávamos gravatás e bromélias na Lagoa da Coca-Cola, dirigindo o caminhão do marido de uma companheira de grupo. (Risos!) Vocês não têm ideia do quanto curtíamos enquanto trabalhávamos. Findo cada evento, íamos fechar o caixa e contar histórias, relembrar tudo o que aconteceu. Era muito bom, crescíamos em amizade. Nossa Senhora! Estou agora lembrando, nossos primeiros passos foram ajudando a Pestalozzi, dirigida por Oneida Terra. Também ajudamos o Asilo construindo um banheiro, porque na época, o banheiro era fora do quarto onde os velhinhos dormiam. Eu acompanhei essa obra todos os dias, sete horas da manhã... Amanhecer num asilo é um negócio violento, vocês não têm ideia do que aquelas freirinhas trabalhavam... Às vezes, eu até pegava os pedreiros no Barracão, com medo de Seu Alcides Ramos, encaminhá-los para outra obra. Depois, sentimos a necessidade de termos um projeto próprio. Nosso sonho: uma creche em cada bairro! A partir daí, nós fi zemos oito feiras e o MAI trabalhou ativamente até 1989. Depois, fomos saindo e o grupo foi fi cando menor... Tudo tem o seu tempo...

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Meu marido [José Silvio Sales de Almeida]

Zé Walmir [José Walmir Moreira Dias, baiano, engenheiro civil e de petróleo, funcionário da Petrobras]

Fagundes [Jose Marti ns Fagundes Júnior, engenheiro civil, um dos responsáveis pela escolha de Macaé como sede para instalação da sede da Petrobras]

Cantonata [Moda Feminina]

Escoti lha [Moda Masculina]

Macaé Shopping [Na Avenida Rui Barbosa, 1725]

Shopping Plaza [Macaé, na Av. Aluísio da Silva Gomes, Granja dos Cavaleiros, inaugurado em setembro de 2008]

Dez Andares [Edifí cio Princesa do Atlânti co, construído na década de 1970, na Rua Euzébio de Queirós, 732, no Centro, por muitos anos considerado o mais alto de Macaé]

Cine Clube [de Macaé, na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado à realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]

Nika [Joanir Marti ns Gripp, arraialense,bailarina, fundadora do Insti tuto Nika Gripp]

CEASA [Sigla e denominação popular das centrais de abastecimento, que são empresas estatais ou de capital misto desti nadas a promover, desenvolver, regular, dinamizar e organizar a comercialização de produtos da horti fruti cultura em nível de atacado e em uma região]

A Petrobras quando se instalou aqui preocupou-se muito com nossa integração na cidade e eles sabiam que tinham um trabalho longo. Os nossos maridos trabalhavam de domingo a domingo... Meu marido, todo domingo, tinha que descer a produção que vinha de um navio, de uma plataforma pequena, e passar essa produção para o Rio de Janeiro, tudo através do rádio, tudo muito difícil, não era como é hoje. E esse apoio que a Petrobras deu aos funcionários, deu também à cidade... Ela lançou, na época, um projeto muito bacana, patrocinou eventos aqui, e a gente aproveitou muito desse projeto para interagir com a cidade e acredito que nós fomos o elo de comunicação, de convivência, de relacionamento humano... Temos histórias para contar, boas lembranças e aprendizados com os amigos... Ficaram os amigos! É o que você leva dessa vida, tanto que depois de morarmos no Rio, voltamos, escolhendo Macaé para viver. Muitos ainda estão aí, não saíram, como Zé Walmir, o Fagundes... Os que estão aqui já são macaenses... Sou macaense com título de cidadania, mas mesmo que não tivesse título, eu sou macaense de coração. Quando voltei, mais profi ssional, a gente montou a Cantonata e a Escotilha, no Macaé Shopping, que hoje estão integradas no Shopping Plaza... Hoje, todos querem se aglomerar nos pontos da zona sul, querem Cavaleiros... Lembro que quando chegamos aqui, fi nal dos anos 1970, o prédio Dez Andares, era o marco, a referência... Tinha o Cine Clube, onde Nika dava aulas de dança... Coisas pontuais... Já não reconheço mais ninguém, nem o comércio me faz conhecer as pessoas... Macaé cresceu culturalmente, têm universidades, a rede hoteleira aumentou estupidamente, a população cresceu... O brasileiro é tão adaptável às circunstâncias novas... Lembro, também, quando fazíamos as nossas compras de supermercado, de feira, no CEASA da Barra de Macaé... Nós e os estrangeiros todos fazíamos compras lá, e os agricultores, em pouco tempo, já falavam os valores em inglês, queriam vender. (Risos!) Um dia, observei aquilo e achei impressionante. Nem sei se a gente vai ter outro período rico desse aqui em Macaé, acredito que não, porque era troca de cultura, de conhecimento. Era uma experiência imensurável!

Nossos amigos são os macaenses que conquistamos naquela época. Aqueles membros do MAI continuam nossos amigos... Nem vou citar nomes porque é complicado, é muita gente. Macaé é minha cidade, não me sinto mineira... O pessoal diz que saímos de Minas, mas Minas não sai da gente... Saí de Minas Gerais, morei na Bahia, no Espírito Santo, na cidade do Rio de Janeiro, mas Macaé é minha cidade... Eu sinto, luto, sofro, discuto, reajo por Macaé... É uma coisa incrível, me preocupo com os problemas da cidade e, muitas vezes, não posso fazer nada, mas me preocupo. Sonho ver Macaé com um governante que aplique os recursos, os impostos, que não são poucos, para o bem da população, para equiparação de conforto e qualidade de vida... Nós precisamos ter uma cidade forte, estruturada para receber os que vêm hoje, como nos receberam... Almejo uma cidade que pense mais no ser humano. Eu faria tudo outra vez, tanto que tentei, junto com macaenses e alguns companheiros antigos, reativar as nossas atividades, montamos um projeto buscando nossas raízes, mas a coisa não aconteceu. Chegamos a fazer umas reuniões e até um evento. Tivemos o apoio muito grande de O Debate, do Peron, do Zé Walmir, de alguns macaenses, mas a vida de hoje é diferente, tudo é mais difícil e apesar de toda boa intenção, temos difi culdades de promover esses encontros. Sou uma mulher de perseverança, focada em tudo que faço, uma idealista que trabalha para realizar meus sonhos. Quero agradecer essa oportunidade de lembrar do MAI, da vivência em Macaé. Estou me policiando muito para não me emocionar... Tudo tem seu tempo e temos que saber aproveitar. Naquele momento fomos muito felizes! Obrigada! ▪

1 Lilian Nogueira em evento do MAI.2 Lurdinha de Luca e Lilian (reunião do MAI).3 Desfi le da bou� que de Lilian, no Tênis Clube.4 Aureliano Chaves, Ministro de Minas e

Energia; Deputado Federal de MG; Lilian Nogueira de Almeida; Itala Maria Souza Araujo.Acervo parti cular de Liliam Nogueira de Almeida, Macaé - RJ.

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1 Desfi le da barraca do Norddeste, na abertura da Feira a Integração (o mesmo do boi da foto 2): Itala Maria Souza Araujo, Angela Freire e Roselle Galvão.

2 Boi do desfi le da barraca do nordeste, para abertura de uma Feira da Integração ( Alfeu dentro do boi).

3 Concentração para carreata convocando para Feira da Integração. Orla da Lagoa de Imboassica, década 1980.Acervo parti cular de Liliam Nogueira de Almeida, Macaé - RJ.

4 Foto de parte do grupo da Coordenação da 5a Feira de Integração do Mai, no festejo do aniversário de Macaé em 1989, em ordem temos, Irani e Beth Varella, Neiva Rossato, Lilian Nogueira e seu esposo José Silvio.Acervo parti cular de Irani Carlos Varella, Macaé - RJ.

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Vista aérea do Forte Marechal Hermes. Ao fundo, a cidade de Macaé. Cartão postal S. autoria. Macaé (RJ), s/d.Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé (RJ).

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denominação após o trágico falecimento de seu criador na Praia dos Cavaleiros]

Dulcilando Pereira [Macaense, músico]

Charuti nho [Everaldo Buriche de Moraes, macaense, músico, policial militar reformado]

Zé Luiz [José Luiz Boghi, macaense, violonista]

Luiz Makarra [Baterista]

Cuca [Macaense, músico]

Praia do Pecado [Trecho remanescente da anti ga praia dos Peccados Mortaes, que se estendia desde Itapebussus, assim denominado pelo terreno pedregoso, conforme citado em 1812 no relatório da visita do Bispo-Capelão-Mor José Caetano da Silva Couti nho; hoje um point apreciado por banhistas e surfi stas]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., criada pelo Presidente Getúlio Vargas, em 03/10/1953, foi instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada]

Márcio George Marinho [Macaense, compositor, violonista]

Markus Figueira [da Silva, macaense, violinista, compositor]

Natal [Cidade capital do Estado do Rio Grande do Norte]

Marcelo Sá Vianna [Macaense, violinista, compositor]

Taboada [Cine-teatro inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]

protesto [Movimento conhecido como Vigília Cultural decorrente do fechamento do Taboada, em 31/12/1981, sendo alugado para uma rede de lojas de eletrodomésti cos]

Praça Washington Luiz [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]

Markus Carola [Markus Figueira da Silva]

Facebook [Site e serviço de rede social, criado nos Estados Unidos da América, lançado em 04/02/2004, que em 2012 ati ngiu a marca de 1 bilhão de usuários ati vos]

Dacinho [Dácio Tavares Lôbo Júnior, macaense, professor, Doutor em Educação, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal Fluminense, co-autor do livro Macaé, Síntese Geo-Histórica, falecido em 18/09/2011]

Eurico de Moraes [Macaense, músico]

Ulysses [Cabral, carioca, músico, pedagogo, programador de web, terapeuta holísti co (astrologia e fl orais), artesão de pão]

Márcio Campos Lôbo [Macaense, Arquiteto]

Os Ambiciosos [Lúcio Duval (Chin), Ivan Siqueira, Celso e Ércio Sayão]

Ritmo 5 [André Cruz, Dácio Lobo, Márcio Azevedo (Rumo Errado), José Carlos (Zeca) e Luiz Porto]

The Lockers [Afrânio, Chico, Geraldo e Orlando (Landinho)]

Barracão da Criação [Espaço cultural na Rua da Igualdade, criado pelo Prefeito Carlos Emir Mussi, abrigando eventos importantes como a Mostra Visual de Macaé, lançamentos de livros, exposições, sendo exti nto pelo Prefeito Naciff Salim Sélem, em 1982]

Chin [Apelido de infância].

Jacyra Tavares Duval [Macaense de Paciência, Conceição de Macabu, fi lha do farmacêuti co José da Silva Tavares e Joaquina de Moura]

escola [Escola Estadual Municipalizada Jacyra Tavares Duval, na Avenida Passárgada, 34, Novo Cavaleiros]

rua [Na Rua Professora Jacyra Moura Tavares Duval, no Bairro da Glória]

Paulino Fernandes Duval [Guarda-livros, autônomo, fazia escrita comercial para diversas fi rmas, como Fábrica Lynce]

três mulheres [Yara, Yêdda e Maria Yonne]

dois homens [Paulo Roberto e José Márcio]

Marília [Cidade do interior do Estado de São Paulo],

Ginásio Macahense [Fundado em 14/07/1923 pelo Dr. Camillo Nogueira da Gama, foi pioneiro no ensino secundário; mais tarde, sob direção de José Borges Barbosa, foi transferido para a Rua Teixeira de Gouveia, sendo exti nto em 1956]

Luiz Reid [Colégio Estadual na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense].

Eu nasci [Em 10/11/1962]

Hospital Menino Jesus [Na Rua Doutor Bueno, Imbeti ba, construído em 1946 pelo Prefeito Álvaro Teixeira da Assumpção, manti do pela Legião Brasileira de Assistência. Seu prédio de dois andares foi demolido na década de 1990]

Hospital São João Bati sta [Anti ga Casa de Caridade de Macahé, fundada em 01/05/1871, entregue aos cuidados da Irmandade de São João Bati sta desde 22/05/1872]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

meu pai [Aluísio Barbosa, carapebuense, funcionário público, escriturário dati lógrafo na Recebedoria de Rendas, em Macaé]

lambreteiro [Apreciador de Lambrett a, um modelo de motoneta produzido pela Innocenti entre 1947 e 1971, licenciada à fabricação no Brasil desde 1955]

minha mãe [Yêdda Duval Barbosa, macaense, professora]

minhas � as [Yara Duval de Oliveira e Maria Yonne de Moura Duval]

Meu � o [Paulo Roberto Tavares Duval]

João Salgado [Chagas, mineiro, professor de Música]

Glória Salgado [Glória Maria Monteiro Salgado, itaguaiense, professora]

Piri Reis [Nome ar� sti co de Luiz José de Lima e Souza, macaense, fi lho do Prefeito Antonio O� o de Souza]

Ivan Siqueira [macaense, músico]

Vanderley [Pereira, macaense]

meu � o [José Márcio Tavares Duval]

The Rells [As iniciais dos nomes dos integrantes deu origem ao nome da banda: Ricardo Ramos (Zuca); Ércio; Luiz Fernando; Luís Alberto]

L-Bossa [Criado no início da década de 1960, pelo músico campista Licínio, tocando especialmente nas Domingueiras do Ypiranga Futebol Clube. Inicialmente chamou-se Licínio e seu Conjunto, recebendo a nova

“Das melhores lembranças que tenho de Macaé...”Lúcio Duval Barbosa - Chin

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 17/08/2012.

Bom... Meu nome é Lúcio Duval Barbosa, mas em Macaé sou conhecido como Chin. Sou músico e neto de uma grande educadora macaense, Jacyra Tavares Duval, tem escola com o nome dela, tem rua, mas, infelizmente, não tive a oportunidade de conhecê-la em vida, quando ela faleceu eu era bebê. Todos os relatos que eu ouço sobre a minha avó são de uma geração anterior a minha, ela foi professora de muita gente em Macaé... Era uma figura firme, brava, mas muito educada, sempre muito elegante, inteligente, com muito jeito para dar aulas, muito talento para isto... Veio de uma família pobre, casada com Paulino Fernandes Duval, tendo cinco filhos, três mulheres e dois homens... Concluiu seus estudos com muita dificuldade, sendo agraciada com bolsa de estudo em Macaé, depois foi para São Paulo e retornou para Macaé... Lecionou Geografia no Ginásio Sagrado Coração de Jesus, em Marília, no Ginásio Macahense e também no Luiz Reid.

Eu nasci em Macaé, no Hospital Menino Jesus, me orgulho sempre que passo ali, era anexo ao Hospital São João Batista, na Praça Veríssimo de Mello. Eu me lembro, por volta de uns dois, três anos de idade, do berço, da fronha, do desenho no lençol... A gente morava na Rua Teixeira de Gouveia, antes de meu pai falecer. Também não tive oportunidade de conhecê-lo, sei dele pelos relatos de amigos, que dizem ser muito brincalhão, legal, gente boa... Mas era lambreteiro, na época, causou estranhamento seu casamento com a minha mãe, uma puritana... Minha avó foi muito severa, então minha mãe e tias eram as santas da cidade.

Sou músico, mas na minha família não tem músicos, são todos professores, minha mãe, minhas tias... Meu tio fez contabilidade. Minha mãe sempre cantava em casa, era muito afinada, meu avô também gostava de cantar... Eu sempre gostei de música, comecei a tocar violão com um professor pouco lembrado, João Salgado, pai de Glória Salgado... João Salgado formou muita gente em Macaé, era o único que ensinava teoria musical, leitura de partituras, foi professor de pessoas como Piri Reis, Ivan Siqueira e Vanderley, grande baterista, que mora nos Estados Unidos da América... Formou uma geração de bons músicos em Macaé. Quando estive à frente do Conservatório Macaé de Música, organizamos uma camerata de violões, que batizei de “Camerata João Salgado”. O meu tio gostava de ópera, tinha um toca discos e ouvia música clássica. Comecei a tocar violão porque não tinha muita coisa pra fazer em Macaé, ficava estudando violão o dia inteiro, saia da escola, pegava o violão e ficava tocando... Alguns amigos também tocavam, começamos a nos unir, daqui a pouco estávamos todos tocando, compondo... Existiam nessa época, por volta de 1979, alguns grupos de Macaé que faziam trabalhos autorais de música, claro que tinha os grupos profissionais The

Rells, L-Bossa, Dulcilando Pereira e Charutinho... Grandes músicos, que até hoje são o que temos melhor em termos de música macaense, pessoas que têm uma grande carreira. Muitos faziam um trabalho mais de música de baile, não autoral... Poucos faziam trabalhos autorais, como um grupo que tive com o falecido Zé Luiz, um compositor... Éramos eu, Luiz Makarra, que está no Rio, Mário Souto Maior, o Cuca... Tínhamos um grupo chamado “Fruto”, tocávamos exclusivamente canções de Zé Luiz, a agente não se dava conta, mas hoje eu vejo o trabalho que fazíamos era muito interessante, falava simplesmente sobre Macaé... A Praia do Pecado, como era gostoso a gente sair, ver a lua... Inclusive o Zé Luiz foi uns dos primeiros a fazer canções de protesto com a chegada da Petrobras em Macaé. Muita gente canta até hoje aquelas músicas e olha que essa banda terminou por volta de1982, e nunca mais tocamos suas músicas ao vivo. Uma dessas músicas fala: “Antigamente o lindo sol nascia atrás das ilhas lá do meu lugar, com a chegada da população veio a evolução e tirou meu sol de lá.”. É uma linguagem figurada, muito bonita, o sol não foi retirado de lá, mas sim aquele visual que tínhamos, aquela Imbetiba sem navios. Outro grupo era o “Pão-Pão, Queijo-Queijo” com Márcio George Marinho, Markus Figueira, hoje professor de Filosofia em Natal, Marcelo Sá Vianna, todos os três compositores, compunham coisas mais filosóficas, essa turma também registrou a chegada da Petrobrás em Macaé. Quando fecharam o Taboada, nós fizemos um choro para o protesto na Praça Washington Luiz, falava assim: “O Taboada virou Brastel, eu nunca mais fui ao cinema não, nunca mais fui ao cinema”. Então ficou marcado... Outro dia, conversando com Markus Carola, pelo Facebook, ele falou que guardou uma reportagem sobre aquele evento, achei interessantíssimo recuperar este material, agora nos 200 anos de Macaé, está tendo tanta recuperação das memórias, tem vários grupos no Facebook postando fotos antigas, um movimento muito legal. O “Jazzuyrá”, com trabalho autoral, era com um pessoal mais experiente, como o saudoso Dacinho; Eurico de Moraes, que continua em Macaé; Ulysses; e Márcio Campos Lôbo, que também compunha canções: música e letra. Outros grupos foram: Os Ambiciosos; Ritmo 5 e The Lockers. Então, esse era o universo de pessoas que eu conhecia... Claro que deviam existir pessoas isoladas fazendo trabalhos de composições, mas não assim com grupo montado, fazendo shows. Na época, não era a proposta da gente tocar em bar, a gente queria show mesmo, fazíamos vários eventos. A turma do “Pão-Pão, Queijo-Queijo” eram amigos, poetas, então também declamávamos, fizemos dois shows no auditório do Luiz Reid, que infelizmente não temos registros, não fotografávamos, ninguém gravava nada. Com o “Fruto” fizemos vários shows na cidade, um deles ficou muito marcado, foi no Barracão da Criação, foi o show Somos Daqui... Lotou!... Nós organizamos, mas convidamos também o “Jazzuyrá”

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quarta série [Últi ma série do primeiro ciclo do anti go ensino de primeiro grau, desde 1996 chamado ensino fundamental]

Ginásio Macaé [Exti nto educandário na Rua Alfredo Backer, onde hoje está o Corpo de Bombeiros, prédio histórico onde residiu o macaense Dr. Alfredo Augusto Guimarães Backer, Presidente do Estado do Rio de Janeiro]

quinta série [Primeira série do anti go curso ginasial, segundo ciclo do anti go ensino de primeiro grau, hoje chamado ensino fundamental]

Jamil [Andrade Dias, macaense, professor de Educação Física, esteve à frente de diversas bandas marciais]

7 de Setembro [Data comemorati va da Independência do Brasil, ocorrida em 1822]

29 de julho [Aniversário de Macaé, referência ao dia 29 de julho de 1813, quando o Príncipe Regente, Dom João de Bragança, cria a Villa de São João de Macahé]

Caetano Dias [Colégio Cenecista Professor Antonio Caetano Dias, na Rua Francisco Portela, hoje Escola Municipal Professora Maria Isabel Damasceno Simão]

Irene Meirelles [Colégio Estadual, na Avenida Agenor Caldas, Imbeti ba]

Lyra [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com idéias abolicionistas e republicanas]

Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Av. Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

Forte [Marechal Hermes, 1.a/10.0 GACos M, na Imbeti ba, inaugurado em 15/04/1910, na presença do Presidente da República eleito, o Marechal Hermes da Fonseca]

Reizinho [Lauro Nunes do Nascimento, músico, presidente da Lyra dos Conspiradores]

Escola de Choro [Escola Portáti l de Música na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO]

Orquestra Sinfônica [Uma orquestra é um agrupamento instrumental uti lizado, sobretudo para a execução de música erudita. A pequenas orquestras dá-se o nome de bandas musicais]

“ouro negro” [Referindo-se ao petróleo como principal riqueza, assim como já foi o pau-brasil, o “ouro púrpura” e o açúcar o “ouro doce”]

movimentos espontâneos [O comparti lhamento de imagens, memorabilias, ideias e opiniões através das redes sociais na Internet]

Parque Lar de Maria [Na Rui Barbosa, 443, uma iniciati va do benemérito José Soares Garcia, macaense, empresário, angariando fundos para ações sociais]

Fonte Luminosa [Chafariz na Avenida Presidente Sodré, a anti ga Rua da Praia, com efeitos luminosos e sonoros, construído na administração do Prefeito Cláudio Moacyr de Azevedo, 1967-70]

Ivo Gonzáles [Macaense]

O Globo [Jornal diário de no� cias sediado no Rio de Janeiro, fundado em 29/07/1925, por Irineu Marinho]

Ronaldo Franco [Macaense, músico]

Cláudio Ulpiano [Santos Nogueira Itagiba, macaense, jornalista, fi lósofo, escritor, membro de uma família tradicional, fi lho do Prefeito Ivahyr Nogueira Itagiba]

Marco Aurélio [Monteiro, macaense]

Marcelão [Marcello Sá Vianna]

Denílson Rodrigues [Macaense]

Paulo Abreu Franco [Macaense]

naquele trecho [Avenida Elias Agosti nho]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Tênis Clube [de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterado-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

Fluminense [Futebol Clube, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Meu � o [José Márcio Tavares Duval]

um dos maiores portos [Chegando a ser o sexto do Império em volume de exportação]

Rio Macaé [Que nasce a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]

ponte velha [Construída no século XIX, passou por diversas reformas; em 1911 seria trocada por uma estrutura de metal, sendo demoninada Gondomar, homenagem ao embaixador espanhol, dito fundador de Macaé em 1615, a obra não aconteceu, mas o novo nome permaneceu]

ponte nova [Ponte Engenheiro Ivan Gorrett a Mundim, uma obra estadual,construída no governo de Floriano Peixoto Faria Lima, com obras iniciadas em 1976 e inaugurada em 25/01/1978, com extensão de 220 m e largura de 15m, representando um investi mento de Cr$ 29,3 milhões]

Águas Maravilhosas [Localidade nas adjacências de onde hoje está o bairro Malvinas]

meus irmãos maiores [Carlos Alberto Tavares Duval e Aluízio Duval Júnior]

Mathias Nett o [Colégio Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]

Jardim de Infância Anna Benedicta [Hoje na Rua Velho Campos, funcionava em anexo do Colégio Mathias Nett o, sendo fundado em 04/05/1958, tendo como patrona a professora Anna Benedicta da Silva Santos, matriarca de uma tradicional família de educadores macaenses]

Dona Rosa [Maria Rosa Ramos da Silva, macaense, educadora, irmã Hilda Ramos Machado, mito do magistério]

e o “Pão-Pão, Queijo-Queijo”. Nessa época, o Ivo Gonzáles, que hoje é fotógrafo de esportes do jornal O Globo, tocava gaita muito bem... Tinha o Ronaldo Franco que tocava violão. Macaé não tinha nada pra fazer, mas tinha um céu maravilhoso e fi cávamos até tarde, sem perigo nenhum. Num lugar que não tinha nada, o que restava pra gente? Imaginar, criar! A geração anterior a minha, do Cláudio Ulpiano, era muito produtiva, isto veio até a minha geração, hoje em dia, acho que ninguém mais estuda Filosofi a nesta cidade. Macaé era conhecida como a Atenas do Norte Fluminense, soube disto depois. Meus amigos eram Marco Aurélio, Marcelão, Markus Carola e Márcio George Marinho, Denílson Rodrigues, Paulo Abreu Franco... Muitos estudaram Filosofi a, outros, História...

Todo mundo se reunia à noite para passear naquele trecho da Imbetiba... Foi muito marcante, era no período de dezembro a março, das férias escolares e do verão. Hoje em dia, as férias de verão duram um mês e meio, mais ou menos, antigamente não, no fi nal de novembro já começavam as férias e iam até março, até depois do Carnaval. Eram três meses de vagabundagem em Macaé! (Risos!) Íamos raramente aos Cavaleiros... De manhã, acordávamos e íamos pra Imbetiba, quando dava fome voltávamos pra casa, almoçávamos... Depois, retornávamos pra Imbetiba, andávamos de skate, de bicicleta, paquerávamos as cocotas, que eram as gatinhas da época... (Risos!) Daí, à tarde voltávamos para casa, tomávamos um banho, nos perfumávamos e íamos pra Imbetiba. Nos fi ns de semana, tinha o Tênis Clube ou o Fluminense. A Imbetiba era maravilhosa porque era uma praia limpa, dentro da cidade... Onde você tem isso? Uma água limpíssima, a gente pescava, lembro-me da pedra que tinha os três trampolins. Meu tio pegava lagosta onde hoje está a Petrobras, num píer, que ainda está lá, onde foi o primeiro cais, no século XIX, quando Macaé tinha um dos maiores portos do Brasil. A diversão era pular de cima do píer e só os corajosos, os mais malucos pulavam... Eu, com doze anos, era um deles. (Risos!) A prainha das Pedrinhas era o paraíso das crianças e acabou desde que a Petrobras chegou a Macaé, sendo meu o maior pesar. Alguns chamavam de Praia das Conchinhas, cada um dava um nome, eu chamava das Pedrinhas... Colocava máscaras de mergulho para ver os peixinhos, era um paraíso das crianças, tinha umas ilhazinhas. A dor sentimental, que temos, de perdemos a Imbetiba para a Petrobras... Hoje em dia, a gente já não fi ca mais lamentando, porque tem que olhar para frente.

Era muito boa a relação que a gente tinha com as águas, o mar e o rio fazem parte da nossa infância. Aprendi a nadar no Rio Macaé, que era limpo... Eu pulava de cima da ponte velha, com doze anos de idade, e quando começaram a fazer a ponte nova, pulava daquelas estacas... Então, pensava que quando a ponte estivesse pronta, ia pular de cima dela. Imagina!?! (Risos!) Íamos para Águas Maravilhosas em nossas explorações, a diversão era andar Macaé inteira, com meus irmãos maiores.

Morávamos perto do Mathias Netto, depois que saímos da Rua Teixeira de Gouveia, e ali, era o meu quintal, todo rodeado de eucaliptos, ainda lembro quando derrubaram aqueles eucaliptos do Mathias Netto. Jogava pião, bola de gude, futebol, queimado... Jogos que fazíamos na cidade... A Rua Velho Campos era com paralelepípedos, asfaltadas só as avenidas Rui Barbosa, Agenor Caldas e Elias Agostinho, onde jogávamos queimado na rua, pique de polícia e ladrão... De vez em quando vinha um carro, parávamos tudo, o carro passava, e fi cava mais uma hora e meia sem passar carro nenhum... (Risos!) Foi uma infância muito lúdica e pura.

Minha primeira escola foi o Jardim de Infância Anna Benedicta, que era perto de casa. Minha primeira professora foi Dona Rosa... Tinha um parquinho, alguns eucaliptos, uma árvore grande no meio, brinquedos: balanço, escorrega, manilhas que a gente entrava dentro, gangorra... Todos adoravam aquele parquinho... Eu aproveitava mais no fi m de semana, porque pulava o muro e fi cava brincando sozinho. (Risos!) Minha mãe era

professora estadual, o Mathias Netto era estadual, então ela me matriculou na primeira série, mas eu não gostei, era muito pequenininho, e quis voltar para o Jardim de Infância, ela concordou comigo e fi quei feliz da vida, um ano depois voltei e não tive problema nenhum. Mamãe, pela educação que teve, foi muito rígida, mas não era grossa, sabia se impor... Fez com que todos lá em casa repetissem a quarta série... Inventava umas histórias, era secretária do Mathias Netto... Nós sempre gostamos de estudar, família de professores, nunca precisamos repetir ano nenhum... Comigo inventou uma história maluca... Eu doido para estudar no Colégio Estadual Luiz Reid... Ela falou, que não tinha vaga, que me colocaria no Ginásio Macaé, mas lá também não tinha vaga na quinta série e eu teria que repetir, me engambelou direitinho. (Risos!) Depois, fui para o Ginásio Macaé, onde estudei dois anos e toquei surdo na banda do Jamil... Era o mais fácil dos instrumentos.

Os desfi les cívicos eram um programa, um acontecimento da cidade... Tanto o desfi le de 7 de Setembro quanto o de 29 de julho... Realmente, tinha uma grande disputa entre as bandas, as maiores eram a do Luiz Reid e a do Caetano Dias. Lembra?!! A mais fraquinha era a do Mathias Netto. (Risos!) Tinha também a do Irene Meirelles e a do Ginásio Macaé, que não era ruim, não. Mas a maior era do Luiz Reid, depois passou a ser a do Caetano Dias, uma escola particular, que investiu pesado, e fi zeram a maior banda de Macaé. Víamos o desfi le todinho, do começo ao fi m, achávamos bonito quando vinha a Lyra, a Nova Aurora e a Banda do Exército que era do outro mundo, o Forte apresentava as suas armas, os tanques de guerra, era o momento mais emocionante do desfi le.

Eu tomei conhecimento da rivalidade de Lyra e Nova Aurora bem mais tarde, ainda havia esse ranço de rivalidade... Hoje em dia, existe uma disputa, mas já não há tanta rivalidade, mesmo porque músicos da Lyra tocam na Nova Aurora e vice-versa. Hoje, pessoas como Reizinho estão investindo nas turmas, mandam para o Rio de Janeiro, estudar na Escola de Choro. Está tendo um movimento de recuperação da música brasileira, do samba, na Lyra. A Nova Aurora se engrandeceu porque agora é uma banda sinfônica, antigamente, era como chamávamos no jargão do interior, banda de coreto. (Risos!) Coisa um pouco pejorativa. O crescimento da Nova Aurora é devido aos instrumentos que fazem parte da Orquestra Sinfônica, como tímpanos e vibrafones, que a caracteriza como banda sinfônica deixando de ser banda marcial.

Eu acho que a maioria dos macaenses ainda tem muito orgulho da cidade... Aconteceu que vieram muitas pessoas de fora, estas pessoas não têm nenhum sentimento de pertencimento para com a cidade, só estão aqui trabalhando, não procuram se relacionar com a cidade, são garimpeiros do “ouro negro” . Saíamos às ruas e víamos muitos macaenses, hoje não, você entra nos locais, não encontra pessoas conhecidas, poucos são macaenses. Por causa desses movimentos espontâneos, que estão acontecendo em Macaé, você vê a felicidade que as pessoas têm de postarem fotos, de falar da cidade, do que era... O Parque Lar de Maria... A Fonte Luminosa... Todos querem contar as histórias da Macaé antiga. Agora, falam que Macaé era linda e acabou... Poxa vida, vamos falar sério!?! Qual era o desejo de todo macaense na década de 1970? Era sair de Macaé, estudar fora, todo mundo fez isto, eu fi z isto. Não tínhamos faculdade, não tínhamos nada, realmente tínhamos que ir para o mundo, absorver outras culturas, se não a gente ia fi car capiau, virar um cara do interior. Gostávamos de Macaé do jeito que era, despoluída, singela, mas ao mesmo tempo, tinha hora que enchia o saco... Muita gente foi para nunca mais voltar.

Fiquei vinte um anos fora de Macaé, morei doze anos no Rio de Janeiro, nove na Suíça e quando deu vontade de voltar, não quis o Rio, voltei realmente para Macaé, porque senti falta de casa. O que me impactou logo de cara foi a urbanização da cidade, o crescimento, a quantidade de casas,

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Universitário, certi fi cado pelo MEC desde 2002, que oferece cursos de graduação em: Música; Instrumento e/ou Canto; Cordas; Sopros; Piano e Percussão; Música e Tecnologia; e Composição e Regência]

Avenida dos Jesuítas [Bairro da Imbeti ba]

Centro Macaé de Cultura [Na Av. Rui Barbosa, 780, inaugurado em 04/09/1992]

Escola Municipal de Artes Maria José Guedes [Criada em 9/12/2003, pela Lei 2426/03, vinculada à Fundação Macaé de Cultura, teve seu início com a criação do Curso de Especialização em Montagem de Espetáculos, em 2002. A primeira escola pública de artes do Município recebeu o nome da arti sta e grande incenti vadora das artes nos anos 1960-80

Kardecista [Doutrina codifi cada no século XIX pelo pedagogofrancêsHippolyte Léon Denizard Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec;baseada em cinco obras básicas, escritas por ele, através da observação de fenômenos atribuidos a manifestações de inteligências incorpóreas ou imateriais, denominadas espíritos]

Zé Carlos Piti co [José Carlos Tavares Lôbo, macaense]

Centro Pedro [O Grupo Espírita Pedro foi fundado em 22/06/1930 e funciona na Rua Visconde de Quissamã, 731]

psicografam [Capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas por espíritos]

passes [A Fluidoterapia é uma transfusão de uma certa quanti dade de energias fl uídicas vitais, psíquicas ou espirituais, uti lizando-se a imposição das mãos]

Grupo Espírita [A Caminho da Luz, na Rua 71, n.0 13]

Parque Aeroporto [Conjunto residencial surgido na década de 1980, atual 2.0 Sub-Distrito, ligado ao 1.0 Distrito Cidade de Macaé]

segunda bóia [Sinalização náuti ca]

Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]

Rati nho [Um jogo de sorteios, com premiações]

Pistorama [Circuito de carrinhos motorizados na Praça Veríssimo de Mello]

Praia Campista [Bairro litorâneo, com característi cas mistas, que tem sua denominação ligada ao trágico assassinato dos membros de uma família campista oitocenti sta, ligada à ferrovia, sendo inicialmente denominado Praia dos Campistas]

Novo Cavaleiros [Bairro com característi cas mistas, residencial e empresarial, abrigando grande número de empresas Off shore, na Av. Prefeito Aristeu Ferreira da Silva]

Parque da Cidade [Área de lazer, inaugurada em 18/12/2004, no bairro Praia Campista]

Linha Verde [Via expressa que liga a Virgem Santa aos bairros da Glória e Novo Cavaleiros, objeti vando descongesti onar o fl uxo de automóveis no centro da cidade]

Sana [6.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

gerador [Inaugurado no governo do Prefeito Cláudio Moacyr de Azevedo, 1967-70]

Igreja [de São Sebasti ão]

pracinha [Praça Demétrio de Souza Porto, terreno doado pelo patrono e família em 25/05/1900]

Jornal Nacional [Programa jornalísti co da Rede Globo de Televisão]

Casimiro de Abreu [Município fl uminense]

Peito de Pomba [Pico localizado a seis quilômetros do Arraial do Sana, tem alti tude aproximada de 1.400 metros; seu cume sustenta um aglomerado rochoso com 50 metros de altura, em formato de peito de pomba]

Pré-sal [Em geologia, camada pré-sal refere-se a um ti po de rocha, sob a crosta terrestre, formada exclusivamente de sal petrifi cado, depositado sob outras lâminas menos densas no fundo dos oceanos. No Brasil, a área que tem recebido destaque pelas recentes descobertas da Petrobrás, encontra-se no subsolo oceânico e estende-se do norte da Bacia de Campos ao sul da Bacia de Santos. Esti ma-se que lá estejam guardados cerca de 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o que deixaria o Brasil na privilegiada posição de sexto maior detentor de reservas no mundo]

prima [Márcia Duval]

Fundação Macaé de Cultura [Criada em 1997, organizada pelo professor Ricardo Meirelles Vieira, primeiro presidente]

Aldo Mussi [Teixeira, macaense, bacharel em Artes Cênicas, fi lho do Prefeito Sylvio Lopes Teixeira, foi secretário Municipal de Cultura e Turismo e idealizador do Centro Macaé de Cultura]

Conservatório Brasileiro de Música [Fundado em 1936, por Oscar Lorenzo Fernández e uma equipe de músicos que desejavam expandir o ensino e a práti ca da música no Brasil. Hoje o CBM, localizado no Rio de Janeiro, é um Centro

quando eu sai, as ruas não tinham asfalto, eram paralelepípedos, quando voltei, já estava tudo asfaltado, os Cavaleiros era um asfalto, uma pista de ida e volta, quando cheguei, já tinham duas pistas, nos dois sentidos; a especulação imobiliária era muito grande, casas onde antigamente era alagado... A Praia Campista cresceu em cima de um alagado, assim como o Novo Cavaleiros... Aterraram tudo! O Parque da Cidade era uma área importantíssima, porque a água escoava para lá. Na Linha Verde, dos dois lados, é alagado o tempo todo, espero que aquilo nunca seja aterrado. Foi uma especulação imobiliária, uma urbanização muito violenta, antes não tinha engarrafamento.

No Sana, tinha um gerador que só era ligado à noite. Instalaram uma televisão perto da Igreja, na pracinha, então, o pessoal via a novela das sete, o Jornal Nacional, a novela das oito, quando acabava desligavam o gerador e todo mundo voltava para casa, tudo no barro, não tinha nenhum paralelepípedo. Fizemos várias vezes, a pé, o trajeto de 30 quilômetros de Casimiro de Abreu até o Peito de Pomba. Não vou viver no passado! Tudo bem, tive sorte, vivenciei isso tudo, mas agora vamos para frente.

Saí de Macaé por ter escolhido uma profi ssão de cidade grande, urbana, porque o músico que viver no interior está lascado. Pensei com os meus botões, só volto quando eu realmente tiver condições de viver nesta cidade, de música. Voltei, continua difícil viver de música. (Risos!) Mas está bem melhor, embora atualmente não trabalhe só com música. A gente tem que ver os avanços, Macaé, hoje em dia, tem uma Educação de alto nível, não falo só de educação universitária, temos vários cursos técnicos, então, acho que este é o passaporte para o futuro... Na hora que acabar este petróleo, o que a gente vai poder oferecer? Acho que tem que ser mantida a questão educacional, falam do Turismo, mas não vejo Macaé com vocação turística.

Sonho que Macaé seja uma cidade com mais cultura, dando valor aos seus artistas, músicos, atores... Que essas pessoas possam realmente viver disto, sabe?! Com a grande arrecadação do Município, acho que a política pública tem que ser aprimorada, investindo no cidadão, para ser uma cidade modelo, tem que valorizar o potencial humano. Com o Pré-sal, vai haver outra explosão demográfi ca em Macaé, isto me preocupa, o que vamos fazer para comportar esse trânsito todo? Vamos ter que fazer túneis, porque viaduto ninguém merece... Quando falam em colocar viadutos para desafogar o trânsito, eu falo: - Para com isto! Espero que consigamos resolver da melhor forma esses grandes desafi os e sonho com uma cidade cada vez mais bonita!

Continuo com os meus laços familiares, minha mãe, tias, irmãos, prima... É importante, porque dá referência, mas tem uma época da vida que a gente quer se afastar da família, ter independência, liberdade, depois vê que é bobagem, muito pelo contrário, acho saudável manter a relação com a família. Mantenho contato com os antigos amigos, não os vejo mais com a mesma frequência, acho que acontece no geral, na adolescência está todo mundo junto o tempo todo, porque ainda não se tem muitos compromissos, trabalho, família... Mantenho contato com as pessoas, sempre que posso, gosto de estar com todos eles, claro que alguns mudam a maneira de ser, mesmo assim, existe sempre o respeito àquelas lembranças.

Macaé é minha referência, saí daqui com dezesseis anos, mas acho que na primeira parte da vida a gente cria os laços, cria todas as referências. Eu fi z o curso de violão clássico na Suíça, me formei lá, em nível superior, e voltei com o pensamento fi xo de repassar todos os meus conhecimentos de música... Uma das ideias era montar uma escola de música, se possível

pública e foi isso que aconteceu. Fui convidado pelo então presidente da Fundação Macaé de Cultura, Aldo Mussi, para criar uma escola de música. Criamos o Conservatório Macaé de Música, que administrei por quatro anos, com sucesso, já abrindo-o com capacidade esgotada, oferecemos doze instrumentos, tinha cento e quarenta vagas e a procura foi de quinhentas pessoas, se repetindo toda vez que abríamos vagas... A cada seis meses, tínhamos que fazer seleção, contávamos com vinte professores, conseguimos montar uma escola muito legal, fazíamos práticas de coral, de grupo, de instrumentação e teoria de todos os instrumentos. Macaé é uma cidade musical, nessa época, tinha uma banda em cada esquina, dos adolescentes... As pessoas não tinham prática de estudar teoria musical, aprendia-se música e iam ser músicos de banda na Nova Aurora ou na Lyra. Fiz convênio com o Conservatório Brasileiro de Música, foi uma questão estratégica que permitiu abrirmos a escola em tempo recorde. Fui convidado para apresentar um projeto em outubro de 2003, em janeiro de 2004, fui contratado. Em abril, estava tudo pronto, só não conseguimos a casa, inauguramos a escola em 1.0 de maio de 2004. Funcionava na Avenida dos Jesuítas, em uma casa de primeira locação, um espaço maravilhoso... Aí por contenções de despesas, fomos para uma casa não tão boa, até que a escola foi para o Centro Macaé de Cultura, funcionando paralela a Escola Municipal de Artes Maria José Guedes, que tinha teatro, desenho... Hoje em dia, o nome Conservatório Macaé de Música acabou, virou a parte de música da Escola de Arte.

Minha mãe é espírita Kardecista, começou a namorar meu padrasto, Zé Carlos Pitico, por frequentar o Centro Pedro. Os dois são espíritas, médiuns, psicografam, dão passes. Minha mãe faz muitas palestras no Centro Pedro e trabalhou no Grupo Espírita do Parque Aeroporto, é muito ativa, mas começou a frequentar o espiritismo quando eu estava fora, de modo que não tivemos educação religiosa, raramente íamos à igreja, não que eu seja ateu, muito pelo contrário, acredito muito, também tenho minha parte espiritual, tenho esta concepção de religião espírita kardecista.

Das melhores lembranças que tenho de Macaé, três logo vêem a minha cabeça... A primeira é dos banhos de mar, de rio, as brincadeiras com água, a Imbetiba, tentar chegar a nado na Ilha do Papagaio, que eu nunca consegui, mas já cheguei até a segunda bóia; pular de ponte; pescar bagre, tentar pegar algum peixe bom, já peguei robalo no Rio Macaé; surfar... Todos esses contatos com água... Uma outra lembrança boa de infância era passear com a minha mãe pela Rua Direita, no Parque Lar de Maria, que tinha o Ratinho que a gente apostava moedas... Os ratinhos corriam para as casinhas... Ver a Fonte Luminosa que era o programa. Outra coisa que eu adorava muito era o Pistorama.

Não me arrependo de nada, porque os acertos foram acertos e os erros estão aí para a gente melhorar. Então, acho que não faria nada diferente... Talvez, aproveitar mais... Mais banhos de mar, pular mais da ponte. (Risos!) Tive que segurar a emoção para poder falar, lembrar dessas coisas todas, de um tempo que foi gostoso demais, das minhas referências, personalidade, minha forma de ver a vida... Acho que sou um cara que ainda acredita que as pessoas querem ver o bem acontecer, acredito na sinceridade, na fi delidade... Não sou santo, nem vivo o tempo todo assim, mas acho que a gente tem, pelo menos, que buscar este viés... Gosto muito da Música, de emocionar as pessoas, tenho prazer no que faço, buscando uma autenticidade... Me manter autêntico é realmente uma luta. ▪

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3 Show “Somos Daqui”, Barracão da Criação.Grupo Fruto: José Luiz Boghi (in memoriam), Lúcio (Chin) Duval, Luiz Makarra e Mário Márcio (Cuca) Souto Maior, fevereiro de 1981.

4 Show “Prata da Casa”, no Colégio São José: Alessandro Barreto (sentado de costas na plateia), Glória Sardinha, Markus (Karola) Figueira da Silva, Leib Moraes, Lúcio (Chin) Duval, Ulisses Cabral e Luiz Makarra (no triângulo), setembro de 1982. Foto Wanderley Gil.

5 Show “Prata da Casa”, no Colégio São José: Georgia Gomes (sentada de perfi l na plateia) Grupo Jazzuyrá: Leib Moraes, Ulisses Cabral, Luiz Makarra, Márcio Lobo, Dácio Lobo (in memoriam), Maio de 1982. Foto Wanderley Gil.Acervo parti cular de Lúcio Duval Barbosa, Macaé - RJ.

1 Lucio Duval, foto de lembrança da 2ª Série no Ma� as Ne� o, 1971.

2 Desfi le comemora� vo do Aniversário da Cidade, 29 de Julho. Carro Ali Babá e os 40 Ladrões. Lúcio Duval de Ali Babá, início da década 1970.

Acervo parti cular de Lúcio Duval Barbosa, Macaé - RJ.

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Kite surf na Praia dos Cavaleiros, 2015.Fotos: Livio Campos

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o grupo era formado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr]

bolachões [O Disco de vinil ou Long Play (LP) é uma mídia desenvolvida no fi nal da década de 1940 para a reprodução musical, que usa um material plásti co (Acetato ou PVC), usualmente de cor preta, que registra informações de áudio, que podem ser reproduzidas através de um toca-discos]

Joana Fomm [Joana Maria Fomm, famosa atriz mineira com inúmeros sucessos na TV]

Serra das Araras [Setor da Serra do Mar situado entre os municípios de Mangarati ba e Paracambi, no Estado do Rio de Janeiro]

Roberto Pires [Macaense, médico psiquiatra]

Celinha Garcia [Macaense]

Waldemiro Corrêa Bi� encourt [Macaense, comerciante]

A Primavera [Na Avenida Ruy Barbosa, 111, “Com um grande e variado sorti mento de Fazendas, Armarinho, Roupas feitas...”]

Octávio Laurindo [de Azeredo, macaense, empresário, fazendeiro, comerciante]

meu primo [Valter Carvalho Bi� encourt, macaense, empresário, comerciante]

Rio Macaé [Macaé, que nasce a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]

Canal [Macahé-Campos, obra faraônica, inicialmente proposta pelo primeiro Visconde de Araruama, ainda na década de 1830. Após vinte e sete anos de obras, a inauguração ofi cial aconteceu em 19/02/1862 quando o vapor “Visconde” parti u de Campos rebocando uma prancha com passageiros]

batalhão da PM [32.0 Batalhão de Polícia Militar, Estrada do Imburo, Barra de Macaé]

ponte [Construída no século XIX, passando por diversas reformas, até que em 1911 foi demoninada Gondomar, sendo desati vada em 1978 quando foi inaugurada a Ponte Engenheiro Ivan Gorrett a Mundim]

Castelo [Solar de Monte Elyzio, construído no século XIX, para residência do Visconde de Araújo, hoje Insti tuto Nossa Senhora da Glória]

Sabati na Alegre [Programação cultural com apresentação de arti stas amadores, chamados calouros]

Santa Izabel [Cine-Theatro inaugurado, em 07/01/1866, pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899]

Orlando Tardelli [Cantor, boêmio, patrono de uma rua no bairro Bela Vista]

gongavam [Ato de reprovar uma apresentação ar� sti ca]

Eu nasci [03-01-1952]

Casa de Caridade de Macaé [Na atual Praça Veríssimo de Mello, fruto do desejo post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro, e dos esforços de um grupo liderado por Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, foi inaugurada ofi cialmente em 01/05/1871]

Dona Dorvalina [Moura de Andrade, carioca, enfermeira práti ca, parteira, patrona de uma rua no Parque Aeroporto]

Rua Visconde de Quissamã [No Centro]

Weny Bi� encourt [Murta, macaense, professora],

minha mamãe [Yvone Bi� encourt, macaense, professora]

Mathias Nett o [Colégio Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]

Luiz Reid [Colégio Estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense]

Insti tuto Gay Lussac [Centro Educacional fundado em 1954 pelo professor Renato Garcia de Freitas]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara]

Edith Arenari [Garcia, campista, educadora, culinarista]

Yara [Duval de Oliveira, macaense, professora, fi lha da conhecida educadora Jacyra Tavares Duval]

Márcio Marques [Macaense]

Newton [Santos Carvalho, macaense, membro de uma tradicional família de educadores, advogado, professor de Geografi a]

Dona Le� cia [Maria Le� cia Santos Carvalho, petropolitana, benemérita, compositora, autora de hinos, professora]

Dona Le� y [Vieira Tavares, macaense, educadora, professora de Geografi a, benemérita, espírita kardecista, sendo fundadora da Mocidade Espírita e presidente do Centro Espírita Vicente de Paulo]

Aroeira [Bairro loteado na década de 1960, em terras do ex-prefeito Juvenal Barreto Junior, o Doca]

meu pai [José Luiz de Lima Bi� encourt, carmense, funcionário público, agente fi scal da Recebedoria de Renda de Macaé]

Hi-Fi [Também conhecido como Festa Americana, um ti po reunião informal e dançante onde os convidados se pronti fi cam a levar comes e bebes]

Beatles [The Beatles foi uma banda de rock britânica, formada em 1960, sendo o grupo musical mais bem-sucedido e aclamado da história da música popular. A parti r de 1962,

“Eu adoro Macaé e agradeço muito a Deus por ter nascido aqui”Luiz Cláudio Bittencourt - Dunga

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 18/10/2012.

Eu nasci na Casa de Caridade de Macaé, quarto 13, pelas mãos de Dona Dorvalina... A primeira casa em que morei foi na Rua Visconde de Quissamã. A lembrança mais antiga, que guardo, foi quando o passarinho de uma menina, que era nossa vizinha, morreu. Ela me mostrou a alma dele, e eu a vi com todas as cores. Estava com 4 anos e tenho essa imagem bem clara em minhas recordações até os dias de hoje. Fui alfabetizado por Weny Bittencourt, irmã de minha mamãe, professora no Mathias Netto, onde depois, estudei... Minha primeira professora foi Dona Maria do Carmo Peçanha, esposa do Doutor Hamilton Peçanha, um advogado. Depois fui para o Luiz Reid, onde estudei até o segundo científi co, indo para o Instituto Gay Lussac, em Niterói, onde concluí o terceiro ano. Nessa época, tive uma profunda depressão por saudades de casa e isso acabou me levando ao alcoolismo... Hoje, sei por que motivos bebia tanto e o quanto isso atrapalhou os meus estudos. Orientado por um amigo, fi z o concurso para o Banco do Brasil e lá trabalhei por 33 anos.

Sempre tive carinho por todos os meus professores... Eu era um capeta, mas um bom capeta! Sempre os respeitei. Alguns deles: Dona Edith Arenari, minha professora de matemática; Dona Yara, professora de Desenho; Márcio Marques, professor de Física; Seu Newton foi meu professor de Geografi a, era fi lho de Dona Letícia, professora de Música; Dona Letty também foi minha professora... E tantos outros tão maravilhosos! Eu sempre gostei de professores! Adorava quando um ex-professor aparecia na minha fi la do Banco do Brasil... Fazia uma festa, a ponto de deixá-los encabulados! Fui para o Colégio Estadual Luiz Reid, em 1962... Na época em que a camisa do uniforme tinha mangas compridas e gravata. No outro ano, em virtude do calor, cortaram as mangas e tiraram a gravata... Graças a Deus! Comecei a pescar de mergulho novinho, e também adorava a caçada de rãs... A gente brincava de pegar carona nos trens quando estavam manobrando; brigávamos contra a turma da Aroeira de estilingue; fazíamos circo; luta de boxe com luvas feitas de meias comuns... Uma criatividade imensa na ausência da tecnologia atual... Tem um texto, que escrevi, que se chama “Um trecho da Minha Rua”, onde conto todas essas histórias, esses fatos... Acho interessante escrever sobre isso. Inclusive, tem um texto que acho muito pitoresco, que é sobre meu primeiro beijo de língua. (Risos!) Quando a menina enfi ou a língua na minha boca, eu tomei um susto, mas foi muito bom! (Risos!) Eu acho interessante relatar essas coisas de nossa adolescência, quando você conta, as pessoas acham graça... Daqui a pouco, a fulana conta como foi o dela, daí sai um monte de fatos interessantes. Desde que nasci me chamam de Dunga, já veio carimbado lá de cima, e nunca soube de onde veio... Acho que foi o meu pai, que me batizou com esse apelido... Não tem como tirar, eu gosto, e zelo por ele.

Tinha o Hi-Fi... Lembro de um que marcou muito em 1965, porque os Beatles estavam começando, tinham aqueles bolachões e aquilo era moda...

Teve uma menina que morou na Rua Conde de Araruama, Ana Maria, irmã da Joana Fomm, por parte de pai, fi lha do Senhor José Honório, mineiro, um jornalista... Ana era uma pessoa super doce e fazia Hi-Fi na casa dela, com ponche, e a gente ia lá dançar... Infelizmente, a vida a levou muito cedo, quando voltava de um passeio. Foi na Serra das Araras, uma avalanche causada por chuvas levou o ônibus e ela faleceu, juntamente com uma irmã do meu amigo Roberto Pires. Também fazíamos festas na minha casa, na de Celinha Garcia... Salvador Franca-Villa tinha vindo para Macaé e cantava nas festinhas... Era muito interessante! O nível de malícia entre os jovens era bem menor, predominava o romantismo... Naquele tempo, ninguém beijava trinta meninas em uma só noite, para dar um beijo você tinha que ralar. (Risos!) Nosso comércio era um tanto precário, e me parece que ainda se mantêm um pouco assim. Coisas como material fotográfi co, você não achava. Eu, pessoalmente, acho que o comércio em Macaé ainda deixa muito a desejar, levando em conta o tamanho da cidade e população. Por exemplo, papéis fotográfi cos, eu tinha que pedir favor as pessoas para comprar em Niterói ou no Rio de Janeiro, porque não achava aqui, nem os filmes rebobinados. Eu gostava de fazer alguns trabalhos com pregos de metal, e não achava. Meu avô, Waldemiro Corrêa Bittencourt, foi um dos fundadores da loja A Primavera , antes de 1923, que sobrevive até hoje, pertence aos meus primos... Tenho certeza de que é a loja, com funcionamento contínuo, mais antiga desta cidade. Foi fundada por meu avô Waldemiro e Seu Octávio Laurindo, donos da fi rma Azeredo & Bittencourt... Existe uma placa metálica da loja, que meu primo me deu de presente, bem antiga. Quero deixar isso registrado porque é um fato, esta loja ainda está em funcionamento.

A molecada tomava banho no Rio Macaé, que ainda tinha uma água limpa... Banho no Canal, ali onde funciona o batalhão da PM, naquela comporta, com água clara, areia no fundo e plantas aquáticas... Os calções fi cavam escondidos por lá, para as mães não saberem... Estamos falando de moleques de dez anos, que iam de bicicletas tomar banho escondido... O calção fi cava por lá e todo mofado! Vestíamos, tomávamos banho, tirávamos, botávamos a roupinha seca e voltávamos para casa. Sequinhos da Silva! (Risos!) Também mergulhávamos da ponte sobre o Rio Macaé e fazíamos incursões ao Castelo, que diziam ser mal assombrado... A gente ia lá para olhar pelos buraquinhos, o Castelo ainda não tinha sido vendido às freiras Salesianas. No tempo do Luiz Reid, tinha uma coisa interessante em Macaé, a Sabatina Alegre funcionava no Santa Izabel , aos sábados, e era um programa de calouros. Íamos de uniforme para o Santa Izabel, daí tinha o conjunto, a turma que cantava, como o saudoso Orlando Tardelli e Ademilde Th omaz. Quando gongavam a turma que ia cantar, era uma festa para os alunos. Era muito bom isso aí! Quando eu participava dos desfi les cívicos, era com uma má vontade danada... (Risos!) Gostava mesmo

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São João [Padroeiro de Macaé, comemorado em 24 de junho]

São Pedro [Padroeiro dos pescadores, comemorado em 29 de junho]

Meu primo [Júlio Bi� encourt Neto, itaperunense, petroleiro]

� o Julinho [Júlio Bi� encourt Filho, campista, professor, políti co, vereador]

Igreja [Matriz de São João Bapti sta, Praça Veríssimo de Mello, construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Asilo [da Velhice Desamparada, atual Liga Benefi cente Asilo Casa do Idoso, fundado em 1945, na Rua Luiz Bellegarde, 540, Imbeti ba]

aqui onde estamos [Em seu escritório-ateliê na cobertura do Edifí cio Izabel Joaquina, Rua Marechal Deodoro, Centro]

São Paulo [Capital do Estado de São Paulo]

Fernando Yasugui [Paulista, funcionário do Banco do Brasil]

Naidia [Conceição Dacal Arcênio Bi� encourt, carioca, biblioteconomista, casada com Dunga]

Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

PPS [Power Point Slideshow]

Internet [O maior conglomerado de redes de comunicações em escala mundial e dispõe milhões de computadores interligados pelo protocolo de comunicação TCP/IP que permite o acesso a informações e todo ti po de transferência de dados]

Espírita [Doutrina codifi cada no século XIX pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec, através da observação de fenômenos que o mesmo atribuía a manifestações de inteligências incorpóreas ou imateriais, denominadas espíritos]

Cavaleiro [Referindo-se ao nome original, no singular, do bairro nobre e balneário, com orla de 1.500 metros, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Rio das Ostras [Município fl uminense emancipado de Casimiro de Abreu em 10/04/1992]

Mar do Norte [Praia localizada a 20 km do centro de Rio das Ostras-RJ]

Vida Nova [Na Avenida Rui Barbosa, 1563, Cajueiros]

You Tube [Site fundado em fevereiro de 2005 que permite que seus usuários carreguem e comparti lhem vídeos em formato digital]

era das festas de São João e São Pedro. Meu primo aniversariava no dia 29 de junho e meu tio Julinho fazia uma baita festa na casa dele, sendo a festa que mais me encantava... Fogueira, foguete e a predominância do cheiro de pólvora, marca muito... Cheiro de batata doce é muito interessante... A festa da Igreja era na Praça Veríssimo de Mello e tinha festa do Asilo... Eram boas e podíamos voltar a pé para casa, porque não corríamos risco de assalto, tínhamos liberdade de andar... Com doze, treze anos, andava a pé para tudo quanto é canto sem problema nenhum... Hoje em dia, os adultos têm cautela de sair, por exemplo, aqui onde estamos, descer à noite, é perigoso, depois de dez horas, aqui no Centro é perigoso, porque anda muita gente estranha... Naquele tempo, não havia isso.

Minhas primeiras manifestações artísticas foram as esculturas com canivete em jacarandá... Depois eu parei, fui trabalhar no Banco do Brasil, na cidade de São Paulo, e tinha um “japonês”, chamado Fernando Yasugui, que gostava muito de fotografi a e me levava às exposições fotográfi cas, aí comprei a minha primeira maquininha, uma Olympus Trip- 35... Com um mês, ela não me atendia e comprei uma Olympus OM-1, já estava no Rio de Janeiro, e me custou três salários do Banco do Brasil, quando o salário era mais gordinho... Fiz o curso de fotografi a em Niterói, que era em preto e branco, e virou cachaça, nunca mais parei... Em 1975, 76, comecei a revelar... É mágico você botar o papelzinho ali, balangar e a imagem vai se formando naquela luz vermelha... Isso é uma coisa que não esqueço, o cheiro dos produtos... Numa quarta-feira de cinzas, eu e Naidia fomos fotografar em preto e branco o nascer do sol, por trás dos trampolins da Imbetiba... Estava lá fotografando, e um senhor chegou, olhou e falou assim: - Você fotografa tudo porque a Petrobras chegou e sua querida cidade vai embora. Inspirado no que ele falou, comecei a fotografar os lugares. Pena que eu não tinha o tino que tenho agora, para escolher coisas e lugares. Eu saí registrando o que achei que era importante, mas faltaram muitas fachadas de casas... Estava só, com dois ou três anos de fotografi a, e ainda bem que fi z isso... Acho que o meu material mostra bastante esse período, de 1975 a 1985... É muita sacanagem das pessoas, que tem material guardado e não divulgam, não passam de mão em mão, sempre falei isso... Quanto mais pessoas tiverem acesso à Memória, mais probabilidades ela tem de passar cem anos à frente... Considero-me um cara generoso com as minhas imagens, porque, em 2006, montei vários PPS e divulguei na Internet... Crianças nas escolas já usam essas imagens há algum tempo, fazendo comparações, o que me deixa muito feliz. Eu não sou fotógrafo, eu tiro fotografi a, e nunca precisei viver disso. Então, posso me dar ao luxo de ter a generosidade de repassar minhas imagens a todos que queiram... O que adianta fi car dentro de gaveta? Tem gente que parece criança, do tempo que comprávamos fi gurinhas e guardávamos nos bolsos. A Memória tem que ser compartilhada, se eu não falar das coisas de que eu lembro, do que adianta? Não é?

Acredito que Deus coloca na vida da gente ícones da arte. Sou Espírita, acredito nas reencarnações, que meus dons não são de graça, vem lá de trás, porque a facilidade com que afl oraram foi muito grande. Eu trabalhava em um lugar isolado e comecei a brincar com canetas esferográfi cas no papel e colar na parede, ai começaram a querer comprar aqueles desenhos... Não

acreditei! Aí Naidia, minha esposa, foi ao Rio de Janeiro, comprou um papel específi co, canetas Staedtler e nanquim, e comecei a produzir compulsivamente... Meu bico de pena é diferente da grande maioria, minha obra deve ter uns duzentos desenhos, feitos durante dez anos... Depois peguei as canetinhas, guardei e falei: - Tá feita a obra! Nunca mais desenhei. Comecei a brincar com prego no granito, fi z a primeira marquinha no Cavaleiro, na pedra... Na segunda, eu já acordei e pensei que uma marquinha dessas dura quinhentos anos, portanto, tenho que ter cautela com aquilo que vou deixar... Chama-se petróglifo, impressão na rocha. Eu criei as minhas ferramentas, criei minhas técnicas e deixei setenta e nove impressões entre Macaé e Rio das Ostras... No meio do caminho, disseram-me que aquilo era crime ambiental, mas a obra já estava praticamente feita e algumas peças grandes precisavam ser terminadas... Aí mudei de estratégia, passei a esculpir de madrugada, na intenção de concluí-las. Esculpi durante dezesseis anos no granito, a obra está pronta. Peguei o meu martelinho, guardei tudo e nunca mais mexi em pedra. Os desenhos vêm a toda hora na cabeça... O desenho para bico de pena é uma coisa, na pedra é outra, continuam vindo, só não faço... Acho que são dons de Deus, empréstimos, temos que fazer por onde merecer. Nenhuma obra minha em pedra tem assinatura ou data, um presente à humanidade. Eu já presenciei um japonês chegar, olhar o trabalho, já com a cor do tempo, porque quando termino o trabalho ele fi ca claro, depois a pedra vai oxidando, o mar vai dando a cor do tempo. O japonês chegou, olhou e falou: - Tem 500 anos! Se tivesse data ou assinatura, ele não faria essa viagem... Deixa ele a viajar! A intenção não é fazer os outros de bobo, mas proporcionar uma viagem. Durante algum tempo, os jornais diziam que eram feitas por extraterrestres, que alguém viu a nave descer em Mar do Norte e fazer o trabalho na pedra porque apesar de trabalhar com um ponteiro, uma talhadeira, um martelo, uma escovinha e um assoprador, tenho uma precisão muito grande no meu corte. Pensam que cortei com máquina, mas, na verdade, cortei com o ponteiro. Então, viajavam nas formas, e acho interessante isso.

Essa obra é do mundo, presente para o mundo. Alguém sabe quem fez as pirâmides? Aqueles do martelo? Quero entrar no rol dessa turma. No trabalho em bico de pena, eu assino Dunga. O trabalho em madeira, as fotografi as, são do Dunga. Mas o trabalho em pedra, é do mundo. Eu venho de uma família que aprecia bastante as bebidas e o tabagismo... Cheguei num ponto em que a vida disse para mim: - Ou você para de beber ou vai morrer. Resolvi parar de beber e procurei o grupo de alcoólicos anônimos Vida Nova e me sugeriram arranjar uma ocupação ao ar livre, como já trabalhava com madeira, comecei a brincar com pedra... Esse trabalho no granito ajudou na minha programação dos Alcoólicos Anônimos... Tenho vinte anos de sobriedade, nunca tive recaída alguma e sei que o álcool mata, porque vi morrer várias pessoas. Tive câncer, fi quei bom, fi z por onde merecer. O trabalho em pedra é do mundo, mas o coloquei no You Tube, tem uma foto minha com o chapeuzinho para acabar com essa história de extraterrestre, porque dei um duro danado, peguei um sol danado, para os bichinhos lá de cima ganharem o crédito. Fiz uma rosa dos ventos com quase quatro metros de diâmetro, levei oito anos imprimindo na pedra, com um grau alto de difi culdade, uma hora e meia de areia pra lá, uma hora e meia de areia pra cá, sem sombra, e três horas sentado no sol trabalhando... Eu tinha que sair de casa três e meia da manhã para chegar lá na primeira luz do dia, trabalhar até às sete e meia, porque depois ninguém aguentava o calor. Então, corri risco de câncer de pele e risco também por ser um lugar ermo... Esse presente ao mundo teve um custo, foi prazeroso, mas teve um custo físico... Hoje, em alguns sites, vejo que a Prefeitura de Rio das Ostras começa a reconhecer a minha obra como um atrativo às pessoas que vão fazer caminhada por lá... Tudo que eu quero é que passem emoção. Tem também na Praia de Areias

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Meu avô [Waldemiro Corrêa Bi� encourt]

morava aqui [Na Rua Marechal Deodoro, onde hoje é o Edifí cio Izabel Joaquina]

papai [Luiz Carlos de Lima Bi� encourt]

minha irmã [Lenise Bi� encourt, macaense, bancária, funcionária do Banco do Brasil]

Eduardo Serrano [Espírito-santense, rábula, funcionário público, políti co, Prefeito de Macaé de 1959-60, protagonizou o único Impeachment do Poder Executi vo macaense, cujo argumento maior foi sua “incapacidade” por ser homossexual]

Jeep [O termo jeep ou jipe virou sinônimo de automóveis desti nados ao uso fora de estrada, ou off road, normalmente com tração nas quatro rodas]

Comunismo [Ideologia políti ca e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum e no controle dos meios de produção e da propriedade em geral]

Ypiranga [Futebol Clube, onde funcionou a Coordenadoria Extraordinária Macaé 200 Anos, da Prefeitura Municipal de Macaé, realizadora da mostra “Fotografi as de Macaé dos Anos 1970” no ano de 2012]

Bolo de Noiva [Na Avenida Rui Barbosa, 614, um palacete histórico localizado onde hoje é o Banco Bradesco, construído pela família Moreiras em 1927, hospedando o macaense Washington Luís Pereira de Sousa, Presidente da República]

Luiz Reid [Luiz Lawrie Reid, macaense, industrial, escritor, benemérito, doador do prédio de dois pavimentos, doze salas, auditório e dependências administrati vas, projetado por Joaquim da Silva Murteira, para sede do Colégio Luiz Reid]

Doutor Júlio Ollivier [Júlio Maximianno Ollivier, macaense do Sana, médico, cirurgião, benemérito, políti co, foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Macaé]

nas praças [O primeiro na Praça Luiz Reid e o segundo na Praça Washington Luiz]

Câmara [Municipal de Macaé, Praça Gê Sardenberg, no Centro]

professor Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, do curso técnico Cientí fi co, historiador, escritor]

Dona Deti nha [Maria Bernade� e Almeida Castro Alvarez, soteropolitana, membro de famílias tradicionais da Bahia]

um dos livros [Imagem da Macaé Anti ga. Edição do autor. Rio de Janeiro: Cia. Brasileira de Artes Gráfi cas, 1982, 64 p.]

Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador, professor de Matemáti ca, espírita kardecista, fundador do Grupo Espírita Pedro]

meu avô [Waldemiro Correa Bi� encourt]

Papelaria Fachada [Na Avenida Rui Barbosa]Ceceu [Dirceu Pereira, macaense, músico]Vavau [Roberval Thomaz, macaense, músico]Dacinho [Dácio Tavares Lôbo Júnior, macaense, professor, Doutor em Educação, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal Fluminense, co-autor do livro Macaé, Síntese Geo-Histórica, falecido em 18/09/2011] Ritmo 5 [André Cruz, Dácio Lobo, Márcio Azevedo (Rumo Errado), José Carlos (Zéca) e Luiz Porto] O Pasquim [Semanário brasileiro editado entre 26/06/1969 e 11/11/1991, reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar]Egberto Gismon� [Amin, carmense, compositor, multi nstrumentalista, cantor e arranjador, considerado um virtuoso da música instrumental, destacando-se por sua capacidade de experimentação] Diego [Dacal Arsênio Bi� encourt, macaense, publicitário]

Solar dos Mellos [Museu da Cidade de Macaé, na Rua Conde de Araruama, 248, sede da Secretaria Municipal de Acervo e Patrimônio Histórico]

Monitor Macahense [Dito primeiro periódico macaense, fundado em 01/07/1862, editado na ti pografi a de Serafi m Tavares de Oliveira Nictheroy]

O Telegrapho [Jornal de tendências liberais fundado em 13/04/1867, sendo propriedade de Bento Pinto Leite]

Collecção D. Rosa Joaquina [Acervo privado de interesse público, preservado em Macaé (RJ), pertencente à família Santos Gavinho]

Revista Commercial [Criada em 10/06/1923 é uma publicação da Associação do Commercio, Industria e Lavoura de Macahé, dirigida por Eduardo Luis Gomes e Francisco Miranda Sobrinho]

meu bisavô [Luís Jacob Correa Bi� encourt, macaense, fazendeiro na Freguesia de Nossa Senhora das Neves]

Vilcson [Ma� eus dos Santos Gavinho, carioca de família macaense, pesquisador, fundador do Centro de Memória Antonio Alvarez Parada, do Insti tuto Histórico e Geográfi co de Macaé, depositário da Collecção D. Rosa Joaquina, parti cipou de muitos projetos sobre a história regional]

Praia Campista [Bairro litorâneo, com característi cas mistas, que tem sua denominação ligada ao trágico assassinato dos membros de uma família campista oitocenti sta, ligada a ferrovia, sendo inicialmente denominado Praia dos Campistas]

AABB [Associação Atléti ca Banco do Brasil, na Avenida Atlânti ca, 854]

Rumo Errado [Marcio Azevedo, macaense, bancário, músico]

Negras, em Rio das Ostras, onde fi z sete desenhos. Tenho muita saudade desse tempo. O primeiro foi em 1989 e o último foi concluído em 2007. Guardei as ferramentas, que agora estão lá em casa, bonitinhas, guardadas, dormindo...

Aos doze anos, cheguei para minha mãe e pedi um violão. Mamãe era professora e conseguia fazer milagre como salário dela... Herdei isso, consigo fazer milagre com as minhas coisas. Então, fomos até a Papelaria Fachada comprar um violão... Eu abraçado com o meu violão e ela dizendo que depois eu iria jogá-lo num canto, e que ela teria gasto dinheiro à toa... Comecei a aprender violão com Ceceu, que toca contra baixo... Depois, Vavau também me ensinou e o resto eu fui aprendendo sozinho. Dacinho disse, certa vez, que fui o seu primeiro professor de violão, que apresentei o violão a ele, mas Dacinho já nasceu músico feito. Tivemos um conjunto chamado Ritmo 5 e depois vieram os Festivais Estudantis de Música. Isso era maravilhoso! Em 1969, consegui tirar um terceiro lugar com a música “O Mundo que vi”... Os jurados eram de O Pasquim. Egberto Gismonti veio como jurado, estava lançando o primeiro disco dele, acho que Sonho 70... Aquilo foi muito marcante na minha vida, só que, por causa do álcool, o violão virou problema, porque quem toca não paga a birita... Meu tempo em Niterói foi uma boemia tremenda e o cursinho não foi para frente, aí me afastei do violão, mas de vez em quando ainda toco... Mas as manifestações de arte que cumpri melhor foram o petróglifo e o bico de pena... Na madeira trabalhei também, mas sou preguiçoso para madeira. Tem um peixe que comecei esculpir quando meu fi lho Diego tinha 4 anos de idade, terminei agora... Diego já está com 27, mas terminei.

O pessoal do Solar dos Mellos me deu acesso a uns jornais de 1864 e fotografei o Monitor Macahense, O Telegrapho... Da Collecção D. Rosa Joaquina consegui a Revista Commercial... Daí, montei um PPS com aquelas propagandas interessantes, com venda de escravos, horários que o vapor saía de Macaé para o Rio de Janeiro... Divulguei também na mídia para a moçada ter conhecimento. Achei uma publicação do século XIX, onde meu bisavô informava que um fi lho havia morrido, um garoto, e que assumiria as despesas de botica, cemitério e médico, mas as outras despesas ele não assumiria porque o menino não poderia estar comprando fi ado... Ele publicou isso num jornal... (Risos!) Quem descobriu isso e me deu foi o Vilcson.

Alguns pais levavam os garotos na zona, lá pelos seus 13 anos, dizendo que era para conhecerem mulher, e assim meu pai fez comigo. Levou-me num bordel na Praia Campista, perto de onde é a AABB... Por sorte, a prostituta era um anjo, me tratou bem e sai de lá encantado... Foi muito bom! Fiz um texto nos dias atuais em homenagem a ela, chamado “Uma prece para Rose”. Era um bordel familiar. (Risos!) Não tinha droga, era simplesmente a cultura da época. Há muito tempo atrás, o Rumo Errado contou a história de uma passarinhada de Macaé, usando apelidos de pessoas com nomes de passarinhos, por exemplo, Seu Sylvio Passarinho, Coruja, Doutor Canarinho, Papa Capim, um motorista de táxi, Tiziu, um engraxate... Ele me contou essa história há muito tempo, na época que tocávamos num conjunto chamado Ritmo 5, isso em 1968/69... Essa

história sempre fi cou na minha cabeça, é um conto de domínio público, ninguém sabe quem criou, sempre achei muito interessante e um dia resolvi registrar, mas dei o meu toque. Criei um personagem chamado Seu Umdrulino, gravei cinquenta e quatro vezes... Acho que fi cou um trabalho muito legal para lembrar essas pessoas antigas de Macaé.

Lembro também de um fato muito interessante! A Prefeitura Municipal de Macaé, cheia de caixotes na porta... Meu avô morava aqui e nós saímos pela Avenida Rui Barbosa, eu com uns quatro ou cinco anos, no pescoço de papai, minha irmã, no colo, e aquela fuzarca no meio da rua, para que Eduardo Serrano não entrasse no prédio da Prefeitura. Tenho essa imagem guardada porque papai abaixou e apanhou um monte de balas de fuzil caídas na rua, algumas, a gente, até pouco tempo, tinha guardadas lá em casa. Guardo uma lembrança também muito interessante... Ali, na esquina de Rua Marechal Deodoro, com Rua Alfredo Backer, tinha o nosso campinho de futebol... Um dia, estávamos jogando pelada, veio um Jeep, desceram quatro pessoas, colocaram uma escada no poste, subiram e botaram uma bandeira vermelha e linda, do Comunismo... Uma semana depois, veio outro Jeep e arrancaram a bandeira. Nesse mesmo campinho, chegavam os ciganos e ajudávamos a montar barracas, era uma festa para gente. As mães diziam que ciganos carregam crianças, então a gente ajudava, mas sempre com cautela. (Risos!)

Em 2008, fotografei muitas casas aqui do centro... Acredito ter fotografado umas trezentas casas mais ou menos, com o intuito de deixar para o futuro. Quando fotografei Macaé, na década de 1970, foi para deixar envelhecer 30, 40 anos... Elas envelheceram e estão sendo mostradas agora no antigo Ypiranga. Essas fotos de casas, que fi z em 2008, precisam envelhecer uns 20 anos para começarem causar emoção nas pessoas... Então, preparo esse material, que não é para mim, é para a Memória de Macaé... As pessoas precisam cuidar disso, chamam-se As sobreviventes, por tratar-se de algumas casas, que ainda sobrevivem ao progresso, que irá mastigá-las, queiram ou não queiram... Acho que algumas deveriam ter sido preservadas, transformadas em imóveis públicos, como aquela conhecida como Bolo de Noiva, que tinha um terreno imenso.

Deixa eu falar um negócio aqui... Luiz Reid e Doutor Júlio Ollivier têm os seus bustos nas praças, pichados, manchados pelos pombos e não adianta limpar que os pichadores voltam lá. Poxa! Então temos a pracinha da Câmara onde tem duas placas de bronze devidamente iluminadas e protegidas. Por que não pegam esses dois bustos e colocam ali? Luiz Reid nos deu um colégio e Doutor Júlio Ollivier foi o médico dos pobres. São os meus ídolos. O professor Tonito foi quem me abriu os olhos para a Memória, uma das primeiras pessoas a se importar com a história de Macaé... Tive muita felicidade de ter sido vizinho dele aqui na Rua Marechal Deodoro, de ter conhecido Dona Detinha, que ainda mora aqui, de ter participado de um dos livros de Tonito, como colaborador que reproduziu algumas fotografi as... Ele foi quem mais me inspirou a correr atrás da Memória. Temos pessoas como Seu Pierre, que é outro exemplo de pessoa! Inspiro-me muito no meu avô, um cara muito generoso, querido e segui o que ele me ensinou, o que pregava com o coração, inclusive acreditar

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Como canta [Nos versos da música “Caramba... Galileu da Galiléia”]

Jorge Ben Jor [Jorge Duílio Lima Meneses, carioca, consagrado guitarrista, cantor e compositor]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Malvinas [Bairro periférico, resultante de ocupação subnormal, ocorridas no início da década de 1980, cujo topônimo refere-se ao confl ito armado entre Inglaterra e Argenti na pela soberania das Ilhas Malvinas]

Nova Holanda [Aglomeramento subnormal, originalmente conhecido como Ilha da Fumaça, surgido no inicio da década de 1980, com ocupações irregulares em áreas de interesse ambiental, pertencente à família greco-brasileira Kousoulas]

Orson Wells [George Orson Wells, norte-americano, cineasta, roteirista, produtor e ator]

Bia [Beatriz Mignone Viana Rosa, espírito-santense, bancária, psicóloga, arti sta plásti ca, diretora do Bia Atelier de Artes]

Nicholas [Dacal Arsênio Bi� encourt, macaense, bacharel em Informáti ca, petroleiro]

Parque de Tubos [Na Rodovia Amaral Peixoto, 163]

Doutor Aluízio [dos Santos Júnior, macaense, fi liado ao Parti do Verde (PV), médico neurocirurgião, eleito em 07/10/2012, com 70.693 votos]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

minha � a [Maria José Bi� encourt, campista]

Bairro da Glória [Bairro nobre, loteado pela família do fazendeiro Jorge Reid, em terras que pertenceram a Fazenda do Cavaleiro, anti ga propriedade do Visconde de Araújo]

Facebook [Site e serviço de rede social, criado nos Estados Unidos da América, lançado em 04/02/2004, que em 2012 ati ngiu a marca de um bilhão de usuários ati vos]

Gmail [Serviço gratuito de webmail criado pelo Google em 2004]

Arquipélago de Santana [Formado pela Ilha de Santana (1,29 km2), Ilha do Francês (350 m2) e o Ilhote do Sul (120 m2), sendo conhecida referência náuti ca desde os tempos coloniais, quando foi sesmaria do reinol José Pereira Rabello]

I have a dream! [Eu tenho um sonho! É o nome popular dado ao histórico discurso público feito em 18�08�1963 pelo ativista político norte-americano Marti n Luther King, no qual falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro]

Calçadão [Trecho comercial da Avenida Rui Barbosa fechado para o trânsito de automóveis desde a década de 1990]

nas reencarnações. Mesmo se não houvessem as reencarnações, fazer o bem faz bem... Como canta Jorge Ben Jor: “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só de malandragem...”. É bom ser honesto, ser generoso... Na vida, o que você manda ao mundo, ele devolve, isso é Física, e a moçada não enxerga nada, está cega, perdendo tempo. Por investir nisso, não cultivar inimigos, cultivar amigos, é que minha vida é boa.

Eu não sou um cara muito politizado, não sei pesar se a Petrobras trouxe benefício sou malefícios, mas penso que faltou administração pública...Veja Malvinas, Nova Holanda... As favelas foram se instalando e quando se acordou, já era mais difícil... Contam que aquele cineasta, Orson Wells, quando veio ao Brasil, visitou uma favela no Rio de Janeiro e quando perguntaram o que ele tinha achado, respondeu que estavam criando um problema imenso para o futuro... Foi que aconteceu aqui. Macaé não soube aproveitar o dinheiro que recebeu, vejam que horror são as nossas ruas. Fico muito triste, porque vejo o Rio Macaé poluído. Era tão lindo! A gente pescava e voltava para casa trazendo camarões. Hoje em dia, não tem vida ali, falta carinho com a cidade. Temos que sensibilizar os macaenses novos, as crianças têm que ter acesso à Memória. Algumas pessoas vieram de fora, mas vestem a camisa muito mais do que muitos dos que nasceram aqui, como minha amiga Bia, pintora, que briga por Macaé, adora essa cidade!

Hoje, eu faria Jornalismo ou talvez fi zesse uma Escola de Belas Artes, iria por esse caminho... Coisa que adoro é escrever, uma delícia, mas sou um cara que não leio. Não me dê livros, ficam em cima da mesa... Sou casado com uma bibliotecária, que me pega pelo pescoço, mas não consigo ler, sou muito dinâmico... No entanto, acho que a minha maneira de escrever é interessante para um cara “analfabeto”, porque analfabeto não é só quem não sabe ler, analfabeto é também quem sabe ler e não lê. Mas acho que consigo falar, então, me realizaria como jornalista, adoraria escrever sobre assuntos diversos. Eu comecei a compor um acalanto quando nasceu o Nicholas e terminei de fazê-lo quando Nicolas fez 30 anos.

Trabalhei num posto dentro da Petrobras, no Parque de Tubos, e lidava muito com pessoas que vinham de outros lugares para Macaé. Acho que alguns deles realmente gostavam muito de Macaé, adaptaram-se e tiveram seus fi lhos macaenses... Tinham muitos que viviam aqui, ganhavam dinheiro e fi cavam cuspindo em nossa cidade. E isso realmente me machucava... Adaptei-me muito fácil a São Paulo e no Rio de Janeiro, porque não chego numa cidade falando mal, procuro focar nas coisas boas. A indústria do petróleo, para quem possui imóveis, virou uma fonte de renda... Empregou muita gente! Na minha família, muitos foram trabalhar na Petrobras e se aposentaram com um bom salário, uma assistência médica... Mas atraiu também muita gente de outros lugares que não tinham uma formação profi ssional para trabalhar na indústria do petróleo, fi caram aqui em Macaé sem um emprego digno e tendo que se virar de qualquer maneira. Aí começou o comércio maior de droga, aumentou a prostituição, os assaltos e foi complicando. Procuro transitar no meio disso, lembrando sempre que adoro Macaé, adaptando-me às situações... Caso eu vá fotografar em um lugar complicado, levo minha máquina fotográfi ca dentro de uma sacola

de supermercado. Com essa cara comum que Deus me deu, passo invisível em muitas situações. Por exemplo, na minha caminhada matinal, passo num local que tem uma moçada que fuma craque, cinco e meia da manhã! Eles me falam: - E ai tio, quer dar um pau? Respondo: - Hoje não, mas outro dia quem sabe. Bom dia para vocês moçada! Então, consigo passar legal dentro dessa difi culdade, penalizado com tudo que vejo. Tomara que Doutor Aluízio consiga dar uma melhorada legal nessa cidade. Eu votei nele e acredito... Nunca vou deixar de acreditar.

Laços de família! Tenho um monte! Dois ramos de Bittencourt... O do meu avô Waldemiro, é o pessoal do comércio aqui em Macaé... E tem o Bittencourt do meu pai, vindo de Campos, representado atualmente por uma minha tia, que mora no Bairro da Glória. Os meus amigos também são uma família. Quando você tem um câncer, aquele cara que foi lá te visitar, isso é família! Aquele que se importou, foi saber se você está bem, se não está... E dói tanto aquele que nem lembrou de você. Tem a família do Facebook, que troco emoções... Tenho a família do Gmail que mando os meus trabalhos... A minha família do pessoal que pescava no Arquipélago de Santana... Então, olho muito família assim, por afetividade. I have a dream! Gostaria que um desses administradores públicos pegasse lá do início da Aroeira, da linha do trem, descesse a Rua Dr. Télio Barreto, contornasse na Rua Tenente Coronel Amado, entrasse na Rua Teixeira de Gouveia e fosse até a Imbetiba, escondesse toda a fi ação e fi zesse uma alameda de árvores, para que no verão todos pudessem andar até a Imbetiba em baixo de sombra. Seria um sonho ver uma avenida verde em nossa cidade! Outro sonho que tenho é andar com segurança na cidade e ter estacionamento mais fácil dentro dela. É o sonho de todo mundo! Outra coisa interessante, olhem as calçadas, em dia de chuva, e vejam quantos chicletes tem nas calçadas por metro quadrado... Ninguém observa aqueles pontinhos pretinhos, aquilo tudo é chiclete. Isso é falta de Educação! Plantei umas quinhentas árvores na restinga do Mar do Norte, vegetação da restinga, que eu fazia as mudas, levava, plantava... Tinha meus coletores de água da chuva, engarrafava para quando plantasse as mudas e levava uns quatro meses molhando com aquela água até ela fi rmar... Eu plantei pitanga, abricó, ingá de restinga... Hoje, passo lá e vejo, apesar de ser um solo muito pobre, que elas cresceram um palmo em um ano, estão sobrevivendo.

Eu adoro Macaé e agradeço muito a Deus por ter nascido aqui, por ter conhecido essa Macaé retratada nas fotos dos anos 1970, pela infância que eu tive, pelo espaço que a gente tinha em Macaé e agradeço até pelo agora... Gosto de viver em Macaé, poder andar nas ruas e conversar com as pessoas, e faço muito isso. Gosto de gente, de andar nesse Calçadão abarrotado de pedestres, gosto de sentar nos bancos, de observar... Gosto de Macaé e sou muito grato, não sairia daqui para lugar nenhum. Sou um falador compulsivo, gosto de conversar... A Memória é um patrimônio de todos e não pode fi car guardada no bolso ou na gaveta. Tem gente que investe em Memória... Essa foto vale tanto! Nunca pensei desse jeito. Esse material de 1970 poderia estar todo guardado... Já pensou que beleza que ia ser uma exposição inédita? Mas quanta gente teria deixado de ver? Gosto de falar, de colocar meu ponto de vista sobre Macaé... Sempre vou agradecer a Deus por ter reencarnado nessa cidade tão boa. E acredito que homens de grande capacidade um dia a tornarão melhor ainda. Aí Deus bate o martelo!!!! ▪

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1 Tempo de carnaval! Braço quebrado e encanado por Dr Antonino Cure. Serviço perfeito! Entalhei muito com esse braço!

2 Tempo de Vespa, quando o meu pai comprou a nossa primeira Vespa M4 na Mesbla, em Niterói (RJ) 1967.

3 Tempo de casamento, quando tentei bater o famoso beijo do marinheiro, ao término da segunda guerra mundial. 25/08/1978 Um especial dia em minha vida! Eu e Naidia.

4 Tempo de rato de praia! Tempo bom em minha vida. A chegada das meninas do verão, lindas!

5 Tempo de esculpir em madeira, 1976.6 Primeiro fes� val de música popular Macaense -

Terceiro lugar com a música O MUNDO QUE VI. Nininho defendeu a minha música. LBossa fez a festa!Acervo parti cular de Luiz Claudio Bi� encourt, Macaé - RJ.

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Praia de Imbe� ba. Cartão postal S. autoria. Macaé/RJ, s/d.

Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina - Macaé/RJ.

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tes “Sou de Macaé e ela nunca deixará de ser minha...”

Marilena Pereira GarciaEntrevistada, em Macaé (RJ), a 07/12/2012.

A minha lembrança mais remota de Macaé é do Lar de Maria, obra do meu avô paterno, José Soares Garcia, junto a outros membros da União Espírita Macaense, com o objetivo de construir um orfanato, que depois de inaugurado, durante décadas, teve capacidade para abrigar 100 internos. Lembro de mim, com apenas quatro ou cinco anos de idade, enrolando balas de caramelo com o meu avô, para as crianças carentes. Ele também doou um terreno na antiga Rua Direita, onde criou o Parque Lar de Maria, que mantinha o orfanato, através da venda de caldo de cana, pastel, um carrossel e o jogo do ratinho. Todo domingo, grande parte da população da pequena cidade de Macaé, ia se divertir no Parque. Meus avós foram muito importantes na minha vida. Eu tinha um avô espírita, José Soares Garcia, casado com uma avó católica, Carolina Sodré Garcia, niteroiense e professora em Macaé... Minha avó materna, Mariana Pereira, macaense de Glicério, era da Primeira Igreja Batista. Eu gostava muito de cantar no coral da Igreja Batista e enrolar balas com o meu avô espírita. (Risos!) Na Igreja Católica, gostava de comungar sem confessar os pecados. Sabia que uma criança não os tinha. O tempo mostrou que eu tinha razão. Venho de uma família que nos ensinou, a mim e aos meus irmãos, Paulo César e Margareth, que o importante na vida é ter saúde, uma profi ssão, uma casa própria. Todo o resto é supérfl uo. Vivemos esses ensinamentos, que nos são muito preciosos.

Tenho também outra lembrança bem remota que é da Lagoa de Imboassica e das pescas de siri... Meu pai, meu irmão e eu. Lembro até hoje da sensação de colocar a isca no puçá e da expectativa de puxá-lo... Engatar as puãs dos siris pescados era um desafi o. O melhor de tudo era comê-los na hora. O fogo feito de gravetos, que catávamos por lá, panela fervendo, e o gosto dos siris vermelhinhos, saboreados nas sombras das árvores da Lagoa, são lembranças inesquecíveis. Era uma verdadeira aventura, que se iniciava na Rua Direita, onde morávamos, até a Lagoa de Imboassica... Duas horas de distância, por uma estrada de barro que cortava toda a Fazenda Cavaleiros. Lembranças das pitangas do antigo aeroporto... Atravessava a ponte sobre o Rio Macaé, sentada na cadeirinha da bicicleta do meu pai, que pedalava, atravessando a Barra de Macaé, naquela época, uma vila dos pescadores, e lá na frente nos defrontávamos com um plano e imenso campo, com muitas árvores cheinhas de frutas vermelhas... Colhíamos e comíamos as pitangas, cuidando para que não arrancassem do pé as verdinhas. Quando maduras, estariam nos esperando.

A infância e juventude da minha geração foram marcadas pelas praias, clubes, festas populares, comemorações cívicas, atividades esportivas e pelos dois cinemas existentes na cidade. As praias do Forte e da Imbetiba... As atividades esportivas e bailes nos clubes Ypiranga, Tênis e Fluminense... Também pelas festas de debutantes, que eram realizadas por minha mãe, Magdá Garcia, para angariar recursos

para a Casa de Caridade, mais conhecida como Hospital São João Batista. As inesquecíveis matinês de domingo, do Cine-Th eatro Santa Isabel e as sessões noturnas do Cine-Th eatro Taboada.

A Praia do Forte era a mais frequentada por ter um mar mais tranquilo. Ali, aprendíamos a nadar. As estacas do antigo ancoradouro serviam como marcos de profundidade, sendo conhecidas como tocos. Eram quatro. Nossas conquistas eram avançar de um toco para o outro. Mas vitória mesmo era quem conseguia nadar até a Imbetiba, contornando o morro do Forte Marechal Hermes. Uma parte da Praia da Imbetiba era considerada perigosa. Só tomávamos banho lá, aos domingos, quando os pais podiam nos levar, e só mergulhávamos na bacia que se formava entre a grande pedra do trampolim e o antigo hotel. A Praia dos Cavaleiros não era frequentada... Além de ser uma fazenda, era considerada muito perigosa, com suas ondas e rodamoinhos. Uma praia em mar aberto. Era uma cidade praiana, com uma vida muito saudável e divertida.

Os colégios que frequentei foram, no primário, o colégio Mathias Netto e o Colégio Luiz Reid, onde cursei o ginásio e o curso de formação de professores. O Colégio Luiz Reid foi doado pelo empresário macaense do mesmo nome. A nomeação homônima do colégio, veio do agradecimento e do carinho que a cidade tinha por ele. Ele construiu o colégio, ocupando um quarteirão inteiro, mas queria entregar ao Governo do Estado do Rio de Janeiro. Tenho uma história curiosa sobre o Colégio Luiz Reid... Ali, foi a minha primeira participação em uma greve. Houve um incêndio no porão do colégio Mathias Netto e algumas turmas, inclusive a minha, foram transferidas para o Ginásio Macaense, que funcionava em um prédio muito velho na Rua Teixeira de Gouveia. Durante quase dois anos, estudávamos naquele prédio velho do Ginásio e o Colégio Luiz Reid pronto e fechado. As autoridades não faziam o tal convênio para o Estado assumir o novo colégio. Então, nós fomos para a greve! Eu tinha nove anos e comandava a barricada da greve que era uma carteira no meio da rua em frente ao Ginásio Macaense, para ninguém entrar. Foi um acontecimento em uma cidade pacata como Macaé. (Risos!)

No primário, a professora marcante foi Iraci Pinheiro Marques, que me acompanhou durante muitos anos, com uma dedicação integral. O ginásio foi um pouco mais complicado... A adolescência já começava a se manifestar, através de alguns sinais. Primeiro namorado, tudo às escondidas, até que uma professora dedurona conta para os meus pais. A solução familiar, acho que foi a pior possível: na entrada e na saída do colégio, alguém ia me levar e buscar. Sem permissão para comparecer ao recreio, minha vida complicou. Todo o tempo vigiada. Eu me sentia muito humilhada. As consequências dessas humilhações eram manifestadas na sala de aula. Quanto mais rígido o professor ou a professora, mais eu os desafi ava. Resultado: quase todos os dias

Casa de Caridade [Na atual Praça Veríssimo de Mello, fruto do desejo post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro, e dos esforços de um grupo liderado por Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, foi inaugurada ofi cialmente em 01/05/1871]

Cine-Theatro Santa Isabel [Inaugurado em 07/01/1866 pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899]

Cine-Theatro Taboada [Inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada, em prédio concebido pelo architecto-constructor português Joaquim da Silva Murteira]

Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

an� go hotel [Hotel de Imbeti ba, administrado nessa época pelo SESC - Serviço Social do Comércio; cujo prédio data do século XIX, quando abrigava o Grande Hotel Balneário, propriedade do campista Alberto Lamego]

Praia dos Cavaleiros [Orla de 1.500 metros, loteada no fi nal da década de 1960, sendo hoje um bairro nobre e balneário]

Mathias Nett o [Escola Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurada em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]

Colégio Luiz Reid [Colégio estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense]

formação de professores [Também conhecido como Magistério de 1.0 grau ou Pedagógico, um ti po de habilitação para as séries iniciais do ensino fundamental. Era um curso secundário, equivale nos moldes atuais, a um curso profi ssionalizante em três anos. Por Lei de 1996 a mínima habilitação exigida para o magistério passou a ser uma licenciatura (ensino superior), depois foi reabilitado o curso Normal por portaria de 22/02/2001]

empresário macaense [Luiz Lawrie Reid, Industrial, escritor, benemérito, doador do prédio de dois pavimentos, doze salas, auditório e dependências administrati vas, projetado por Joaquim da Silva Murteira]

quarteirão inteiro [O anti go logradouro público incorporado as dependências da Fundação Educacional Luiz Reid, que primeiro foi denominado Largo do Capão Seco e depois Praça do Rosário, Praça Mott a Coqueiro e Praça Nilo Peçanha, porém fi cou conhecido como Praça da Luz pela presença da estação de energia elétrica da Usina Hidrelétrica de Glicério]

Ginásio Macaense [Fundado em 14/07/1923, pelo Dr. Camillo Nogueira da Gama, foi pioneiro no ensino secundário; mais tarde, sob direção de José Borges Barbosa, foi transferido para a Rua Teixeira de Gouveia, sendo exti nto em 1956]

Iraci Pinheiro Marques [Macaense, professora de Matemáti ca]

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tes era castigada, fi cando de pé pelos corredores do colégio. Jamais esquecerei

de Dona Madalena, a grega, professora de Inglês no Colégio Luiz Reid... Quando me via no corredor, me abraçava e dizia que meu lugar não era ali de castigo. Tinha uma visão e entendimento diferenciados para as rebeldias dos adolescentes. Foi o único apoio recebido. Inesquecível também a nossa querida Dona Letícia, professora de Canto Orfeônico e regente do coral do Colégio Luiz Reid, que era fantástico... Ela me ensinou a cantar em três vozes no coral. Até hoje, me emociona lembrar quando cantávamos O Canto do Pajé e o Hino de Macaé (emocionada). Jamais me esquecerei da dedicação de Dona Elmira, a merendeira que cuidava de todos no colégio Mathias Netto, além de fazer as mais deliciosas empadas de toda a cidade, e realizar as festas de casamento, inclusive a minha.

Macaé vivia basicamente de pesca, agricultura e das atividades ferroviárias da Leopoldina. Os antigos distritos de Quissamã e Carapebus, municípios emancipados, através das suas usinas de cana de açúcar, eram o suporte da economia local, por mais de um século... Quando foram fechadas, só não causaram uma grande crise econômica regional, porque esses municípios passaram, nesta época, a receber royalties do petróleo explorado na Bacia de Campos.

A sede do município tinha um comércio de tamanho médio, com as lojas localizadas na Avenida Rui Barbosa, a Rua Direita, onde a Casa Garcia, fazia um grande sucesso com as belas vitrines de moda; quatro agências bancárias: o Banco do Brasil, o antigo BANERJ, o antigo Bamerindus e a Caixa Econômica Federal. As indústrias eram a Fabrica Lynce, que produzia os famosos licores Pesseguete e o refrigerante Moranguinho; a Bariloche, que fabricava mantas, meias, tecidos e tudo mais em lã; e a Monviso, entre outras várias malharias domésticas e produções artesanais.

A escolha de Macaé, como sede da produção da Bacia de Campos, muda essa realidade. Inicia-se, em 1977, o ciclo petrolífero, com a chegada de centenas de empresas prestadoras de serviços, chegando a produzir mais de 80% do petróleo nacional. A população aumenta consideravelmente de lá para cá e, em 2008, segundo o IBGE, nos tornamos mais 250 mil habitantes, entre fi xos e fl utuantes. Devido a sua importância na produção nacional de petróleo, e de contribuição para a economia do Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2012, através de decreto do governo estadual, Macaé é declarada “Capital Nacional do Petróleo”. A Bacia de Campos, 35 anos depois, se mostra ainda mais desafi adora e promissora, sendo reconhecida como uma grande província, segundo especialistas, contando também com a expertise, para evoluir e construir um futuro de grandes realizações. A região se transformou numa espécie de celeiro intelectual e tecnológico, aplicando programas, que servem de exemplo para toda a Petrobras. Da antiga cidade, quase nada restou. Hoje, novas gerações formadas por macaenses, petroleiros e estrangeiros são o novo perfi l da nossa população. O município perdeu algumas oportunidades históricas de se estruturar no tempo correto. As políticas públicas que exigem parcerias nos três níveis de governo, foram negligenciadas durante décadas. Como o crescimento, foi muito rápido, o planejamento foi substituído pelo atendimento às demandas mais urgentes. No ano 2008, iniciam-se parcerias com os governos Estadual e Federal. Políticas das áreas de educação, saúde, habitação, meio ambiente, segurança e saneamento começam a se estruturarem de forma mais consistente.

Na Macaé mais antiga, anterior à Petrobras, os clubes sempre ocuparam um importante lugar na vida social. Eles funcionavam durante vários dias da semana, com bailes regidos pela Orquestra de Tinho, o saxofone de Dulcilando e com o piano de Armando Marconi. Os esportes também eram muito incentivados, chegamos a ser campeões em várias categorias de basquete infanto-juvenil. As praias do Forte e Imbetiba, muito frequentadas durante o verão, pelos macaenses e visitantes, eram um capítulo da vida social. Além dos rios encachoeirados na região serrana, procurados durante quase

todos os meses do ano, pelas famílias macaenses. As bandas de música, Lyra dos Conspiradores e Nova Aurora, eram uma festa na cidade! Desfi lavam em várias ocasiões e despertavam muita emoção, através dos dobrados e marchas. Cada uma com as suas histórias diferenciadas, conservam até hoje os seus históricos, tradicionais e belos prédios.

O carnaval macaense era apreciado... Turistas, visitantes e macaenses, participavam dos bailes carnavalescos, dos blocos e dos carros alegóricos, dos clubes da cidade, com destaque para a Ala Branca e a Ala Azul, do Tênis Clube. Havia um tradicional e irreverente bloco chamado Ala Verde, ligado ao Fluminense Futebol Clube, muito criativo, unindo a boemia da cidade. Os blocos carnavalescos também animavam muito o carnaval, principalmente, com os inúmeros bois pintadinhos, as piranhas, o bloco do Boi Capeta e outros. Das lembranças ainda da infância, lembro-me do meu pai, colocando-me no alto dos seus ombros e anunciando o carnaval mais bonito do mundo: - A Ala Branca está chegando! São nítidas as recordações dos clarões dos fogos de artifício, dos sons dos foguetes e da animação dos carnavalescos cantando suas marchinhas, defendendo as cores dos seus clubes. Anos depois, as escolas de samba ganharam o cenário principal e, mais uma vez, Macaé se destacava com um carnaval muito animado e organizado.

Macaé era uma cidade festiva, que gostava de celebrar seus santos e datas importantes, unindo a maior parte de seus moradores em laços de pertencimento e identidade. As procissões de São Pedro, padroeiro dos pescadores, agregavam um grande número de embarcações com homens do mar e seus familiares. Desde maio, o Mês de Maria, se iniciava a confecção de bandeirinhas e fl ores para ornamentarem os barcos, quando deslizavam pelo Rio Macaé. O barco da frente conduzia São Pedro, sendo o mais enfeitado, colorido, com guirlandas de fl ores, bandeiras, faixas, cartazes e queima de fogos. Atravessavam o mar da Barra de Macaé, com chegada festiva no mercado de peixes. Ali, a Lyra dos Conspiradores tocando, iniciava a procissão que percorria a cidade, levando novamente para a Barra a imagem de São Pedro. Já os festejos de São João aconteciam durante todo o mês de junho, com quermesses na Praça Veríssimo de Mello; a tradicional e bonita quadrilha, dirigida por Dona Eléa Tatagiba; os sanfoneiros tocando, e todos nós dançando com os nossos pares, a animada quadrilha que nos aquecia nas frias noites de São João. Ainda não podíamos beber publicamente o quentão, só escondido. (Risos!) Bebida tradicional das festas juninas e que tanto nos aquecia. Os festejos da cidade eram parecidos no seu formato com alguns de hoje: desfi le cívico das escolas macaenses, das bandas de música e dos clubes de serviço... À noite, bailes, festas, shows e algumas exposições.

Quanto às carreiras profi ssionais, difi cilmente as mulheres da minha geração faziam escolhas. A cultura brasileira da época era a preparação para o casamento e a profi ssão permitida era a de professora primária. Quantas mulheres engenheiras, médicas, arquitetas, cientistas, pintoras, poetas, políticas, e outras, têm no Brasil na faixa etária de 65/70 anos? O avanço das conquistas da mulher na escolha profi ssional é recente. Acompanha o fortalecimento do movimento de mulheres, a partir da década de 1970, de forma quase silenciosa. Por isso tudo, eu não resolvi ser professora, cursei o que a cidade apresentava de possível, o curso Normal para as moças. Na minha turma, não havia nenhum rapaz. Eles cursavam, no mesmo Colégio Luiz Reid, à noite, o curso de Contabilidade, profi ssão masculina. Era assim! Havia uma condição imposta, pelo padrão cultural: ser professora e casar. Padrão nacional, não apenas em Macaé. O Brasil ainda não vivia o feminismo, que contou com grandes nomes como Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, esta frase foi produto de uma cultura que fez profundas transformações a partir dos anos 1970. Uma lembrança bastante signifi cativa me ocorreu... No ano de 1976, eu fui professora do primeiro aluno homem, no curso de Formação de Professores, Venício de Oliveira,

Dona Madalena [Magdalene Frangopoulos]

Dona Le� cia [Maria Le� cia Santos Carvalho, petropolitana, membro de uma tradicional família de educadores, benemérita, compositora, autora de hinos, professora]

O Canto do Pajé [Música de Heitor Villa-Lobos e letra de C. Paula Barros, feita em homenagem a Getúlio Vargas e o Estado Novo, quando o compositor criou o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico]

Hino de Macaé [Referindo-se ao hino cívico criado pela professora e maestrina Benilda da Silva Santos, depois substi tuído pelo hino com letra de Antonio Alvarez Parada e música de Lucas Vieira]

Leopoldina [Estabelecida no bairro Imbeti ba, a The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, termo de Macaé (RJ), depois quarto distrito, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989]

Carapebus [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Carapebus, depois terceiro distrito de Macaé, teve sua emancipação políti co-administrati va decretada por Lei Estadual de 19/07/1995]

suas usinas [A Cia. Engenho Central de Quissaman, inaugurada em 12/09/1877, e a Usina de Carapebus S/A., inaugurada em 03/09/1927]

royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

Casa Garcia [Propriedade de Magda Garcia, na Av. Rui Barbosa, 152, telefone 30]

BANERJ [Banco do Estado do Rio de Janeiro, fundado em 1945, incorporado pelo Grupo Itaú, em 2004, mudando o nome de todas as suas agências]

Bamerindus [Banco Mercanti l e Industrial do Paraná S/A, fundado por Avelino Antonio Vieira, que no fi nal dos anos 1990 foi incorporado ao HSBC e ao Banco Central]

Fabrica Lynce [Na Av. Rui Barbosa, fundada na década de 1910, por Orlando Farrula, com o nome Fabrica de Bebidas Prince, recebendo a nova denominação quando adquirida pela família Agosti nho]

Bariloche [Indústria têxti l, fundada em 1953, fundada pelos argenti nos Mário Angel Corral e David Erman, no bairro da Boa Vista, Rua Velho da Silva, 108, telefone 354]

Monviso [Malharia e Confecção, na Rua da Igualdade, Imbeti ba, fundada por Margherita Modesta Rosso Amadei]

IBGE [Insti tuto Brasileiro de Geografi a e Estatí sti ca, uma fundação pública da administração federal, criada em 1934 e instalada em 1936 com o nome de Insti tuto Nacional de Estatí sti ca]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Estadual [Governador Sérgio Cabral Filho – PMDB]

Federal [Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva - PT]

Dulcilando [Pereira, macaense, músico]

Lyra dos Conspiradores [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com idéias abolicionistas e republicanas]

Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Avenida Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

bois pintadinhos [Manifestação folclórica remanescente do inicio do século XVIII, na região Nordeste, sendo uma tradição centenária no município de Macaé (RJ)]

piranhas [Típico de bloco de rua, caracterizado por homens com vestes femininas]

Boi Capeta [Bloco carnavalesco tradicional, tendo como fundadores: Ricardo Meirelles, Marti nho Santafé, etc.]

São Pedro [Em 29 de junho]

mercado de peixes [Mercado Municipal, inaugurado, em 15/12/1914, pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Eléa Tatagiba [Azevedo, capixaba, educadora, patrona do primeiro parque público infanti l do município e de um Jardim de Infância no bairro Aroeira]

quentão [Bebida que consiste em uma mistura aquecida de vinho, gengibre, açúcar e especiarias como cravo e canela]

Simone de Beauvoir [Lucie Ernesti ne Marie Bertrand de Beauvoir, escritora, fi lósofa existencialista e feminista francesa]

Venício de Oliveira [macaense]

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tes que era sindicalista e ferroviário, e por estar sem estudar há muito

tempo, contava com grande apoio de todas as suas colegas. Como a educação é um processo apaixonante, eu fui seguindo esse caminho. Mais tarde cursei Pedagogia, na FAFIMA, entrando em contato com as obras de Paulo Freire, Anísio Teixeira e Lauro de Oliveira Lima, que me concedeu uma bolsa de estudos para eu frequentar um estágio no seu colégio de formação piagetiana, A Chave do Tamanho, na Gávea, bairro do Rio de Janeiro.

Como falei, sou neta de Carolina Garcia, primeira professora e diretora da Escola Pública Feminina Macahense, com agá, que durante 60 anos, educou as meninas de Macaé. Mas de lá para cá, as coisas mudaram muito. A própria cidade mudou muito. As transformações decorrentes da especulação imobiliária e dos avanços da “modernidade”, transformaram Macaé. Inúmeros prédios foram demolidos. O casarão branco da Rua Direita, conhecido como o Bolo de Noiva, o cinema Taboada, o cinema Santa Izabel, o Belas Artes, local de encontro dos intelectuais e políticos... O próprio Palácio dos Urubus, embora tombado pelo INEPAC, em 1979, teve um fi m drástico, com o total abandono, afetando a vida dos herdeiros e da vizinhança. Do patrimônio arquitetônico da cidade, somente estão conservados o Solar dos Mellos, a Câmara Municipal, o Farol Velho, o Forte Marechal Hermes, a Lyra dos Conspiradores, a Nova Aurora, a Igreja de Santana... Remanescentes e testemunhos de um tempo que não volta mais, de uma Macaé bucólica e romântica endurecida pelo tempo.

Das durezas, tenho as lembranças da década de 1960, um período singular na história do país. A Ditadura Militar impôs sérias mudanças na sociedade brasileira, e Macaé não fi cou de fora desse movimento. A cidade foi duramente atingida, pois os ferroviários macaenses, sindicalizados, eram alvos de forte repressão. No ginásio esportivo do Ypiranga Futebol Clube, chegaram a fi car detidas centenas de macaenses temporariamente presos, supostamente envolvidos em subversão, aguardando a triagem da polícia ou do exército. Alguns chegaram a ser levados para a capital do Estado que naquele tempo era Niterói. Além de tudo, o nosso prefeito Claudio Moacyr de Azevedo era o único prefeito do antigo MDB, estamos falando da época do bipartidarismo, com o ARENA representando o poder e o MDB sendo o partido de oposição em todo o Estado... Claudio era também o advogado dos ferroviários presos pela Ditadura, tornando-se alvo de perseguições e ameaças.

Lembro-me de um fato que caracteriza bem a época: a Prefeitura funcionava no prédio da Câmara dos vereadores, bem em frente ao antigo Café Belas Artes. Quase todos os dias, o prefeito era levado a prestar esclarecimentos ao comandante do Forte Marechal Hermes. Um grupo de amigos, incluindo meu pai, fi cava aguardando para ter certeza do seu retorno. Afi nal, naquela época, pessoas

desapareciam... Vários dos nossos professores foram perseguidos, afastados das suas atividades, como os professores Ricardo Moacyr, Miguel Ângelo, Abílio, Roberto Mourão e outros... Muitos eram intimados a depor, como forma de intimidação. A minha participação efetiva, começou na década de 1970, após o AI 5, que fechou o Congresso Nacional, através do diretório acadêmico da FAFIMA, da qual fui a coordenadora cultural e política, e com a colaboração do Sindicato dos Ferroviários.

Na mesma época, trouxemos para Macaé o CEP. Aí sim, a repressão chegou para valer! Respondemos vários processos, mas não nos intimidamos. Fizemos a nossa primeira greve que durou 27 dias. Algumas poucas conquistas, mas o movimento foi considerado vitorioso. Macaé entre os municípios que participaram do movimento era considerado o mais organizado. Não posso deixar de registrar as participações dos professores Godofredo Pinto, Ricardo Meirelles, Zé Augusto Aguiar, Angela Terra, Dalva Soares, Ivair Simões, Ana Maria Pinto, dentre outros. Foram tempos muito difíceis. Pairavam no ar as ameaças e o medo. Os governadores e prefeitos das capitais eram nomeados pelo regime militar, assim como as cidades consideradas Zona de Segurança Nacional. Em Macaé, tal fato não aconteceu, pois não tínhamos a Petrobras. Ainda éramos considerados uma cidadezinha litorânea do interior do Estado do Rio de Janeiro. Mas a nossa consciência era grande, muito bem forjada, militante. Naquela mesma época, no ABC Paulista, o líder Luiz Inácio Lula da Silva participava da concentração dos 100 mil metalúrgicos, iniciando um novo ciclo na história do Brasil.

Penso que ter sido aluna da primeira turma da FAFIMA foi uma experiência que muito enriqueceu a minha vida. Havia uma grande demanda, por parte dos professores do Município, para que a nossa faculdade iniciasse suas atividades. A grande luta do, então, deputado Claudio Moacyr para o reconhecimento legal da FAFIMA. Finalmente, aconteceu! O vestibular se realizou, durante um domingo do ano de 1974, no Cine Clube de Macaé. Eram muitos concorrentes. Meses depois, iniciamos os cursos de Pedagogia e Letras na sede do Tênis Clube. Pedagogia que tinha mais de 90 alunos ocupava o salão de cima, que era maior o curso de Letras, no salão de baixo. Éramos ao todo aproximadamente 170 alunos. Nesse período, as obras da FAFIMA já estavam iniciadas, com o apoio da Prefeitura Municipal, na gestão do prefeito Alcides Ramos. Acompanhávamos passo a passo e promovíamos eventos para angariar recursos. A mudança para a nova sede foi uma festa: duas salas de aula, uma sala dos professores, três banheiros, uma biblioteca. Embaixo da escada, funcionava um mimeógrafo a álcool, que tinha dupla serventia: imprimia as apostilas didáticas e clandestinamente os panfl etos políticos. A FAFIMA graduou milhares de alunos. Posso afi rmar que uma grande parte das

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada pelo Decreto Federal 73375, de 27/12/1973, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo]Paulo Freire [Paulo Reglus Neves Freire, educador, pedagogo, fi lósofo, patrono da educação brasileira; promotor da Pedagogia Críti ca]Anísio Teixeira [Anísio Spínola Teixeira, jurista, intelectual, educador e escritor brasileiro; difusor dos pressupostos da Escola Nova]Lauro de Oliveira Lima [Pedagogista brasileiro conhecido pela atuação políti ca na educação e uti lização do método psicogenéti co]A Chave do Tamanho [Centro Educacional A Chave do Tamanho, de formação baseada em Jean Piaget, fundado por Lauro de Oliveira Lima e familiares]Bolo de Noiva [Na Avenida Rui Barbosa, 614, um palacete histórico localizado onde hoje é o Banco Bradesco, construído pela família Moreiras em 1927, hospedando o macaense Washington Luís Pereira de Sousa, Presidente da República]Belas Artes [Café, Bar e Restaurante, de propriedade dos irmãos Gonzalez, Av. Rui Barbosa, 234, telefone 29]Palácio dos Urubus [Prédio histórico, projetado pelo alemão Antonio Becher, localizado na Rua Dr. Télio Barreto, construído em 1865, para residência da família Gavinho Ribeiro de Castro. No século XX, transformado em corti ço, por abrigar em seu telhado os urubus que frequentavam um matadouro que existi a por perto, recebeu do povo o nome Palácio dos Urubus, sendo o único prédio macaense tombado pelo INEPAC, em 1979]INEPAC [Insti tuto Estadual do Patrimônio Cultural]Solar dos Mellos [Luxuoso chalet, na Rua Conde de Araruama, 248, construído em 1891, pelo mestre-architecto Joaquim Ribeiro Capellão, para residência da família do coronel Bento Araújo Pinheiro, adquirida pelo capitalista Bento Aff onso da Silva, foi revendida, em 1911, à família Mello. O prédio foi desapropriado pelo Decreto Municipal n.0 042, de 29/06/1999 tornado-se Museu da Cidade de Macaé e Secretaria Municipal de Acervo e Patrimônio Histórico]Câmara Municipal [Prédio histórico construído na década de 1830, concebido pelo mestre-construtor Filomeno Borges, para residência da família do Comendador Francisco Domingues de Araújo, herdado por seu fi lho, o Visconde de Araújo, que alugou e depois vendeu à Câmara Municipal de Macaé; reformado e ampliado na década de 1920 pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira; hoje denominado Palácio Dr. Cláudio Moacyr de Azevedo – Museu do Legislati vo]Farol Velho [Monumento histórico, também conhecido como Farolito, localizado na Praia Campista, inaugurado em 1880, pela Cia. Estrada de Ferro Macahé-Campos em bene� cio da Cia. Macahense de Navegação]Forte Marechal Hermes [Referindo-se ao prédio inaugurado em 15/04/1910, com a presença do Marechal Hermes da Fonseca, na condição de Presidente eleito do Brasil]Igreja de Santana [Referindo-se ao prédio reformado e ampliado com recursos da Viscondessa de Araújo, inaugurado em 1898, pertencente a Irmandade da Gloriosa Sant’Anna]Ditadura Militar [Período histórico iniciado com o Golpe de Estado, em 31/03/1964, quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos] ginásio espor� vo [Na Avenida Rui Barbosa]Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital de 1903 a 1975]Claudio Moacyr de Azevedo [Macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]MDB [Movimento Democráti co Brasileiro, parti do políti co brasileiro organizado em 1965 que abrigou os opositores do Regime Militar ante o poderio governista da Aliança Renovadora Nacional]ARENA [A Aliança Renovadora Nacional foi um parti do políti co brasileiro, criado em 1965, para dar sustentação

políti ca ao governo militar insti tuído a parti r do Golpe de Estado de 1964; sendo exti nto em novembro de 1979] Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]Ricardo Moacyr [Leite e Santos, macaense, médico, professor, membro de uma tradicional família macaense]Miguel Ângelo [da Silva Santos, angrense, gráfi co, educador, patrono da Faculdade Municipal]Abílio [Valenti no de Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]Roberto Mourão [Macaense, professor, advogado, políti co]AI 5 [O Ato Insti tucional Nº 5 foi o quinto de uma série de decretos emiti dos pelo regime militar brasileiro, sobrepondo-se à Consti tuição de 1967, bem como às consti tuições estaduais, dava poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia várias garanti as consti tucionais]CEP [Centro dos Professores do Rio de Janeiro criado em 24/07/1979 numa fusão da Sociedade Estadual de Professores e da União dos Professores do Rio de Janeiro. Em 1988 passou a chamar-se SEPE – Sindicato Estadual dos Profi ssionais de Educação]Godofredo Pinto [Godofredo Saturnino da Silva Pinto, campista, educador, liderança do Centro Estadual de Professores (CEP), depois Prefeito de Niterói-RJ em dois mandatos (2002-8)]Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, políti co, vice prefeito em dois mandatos, primeiro presidente da Fundação Macaé de Cultura e primeiro Secretário Municipal de Acervo e Patrimônio Histórico]Zé Augusto Aguiar [José Augusto Abreu Aguiar, campista, educador, que já foi Secretário M. de Educação, Presidente da Fundação Educacional de Macaé-FUNEMAC e coordenador do Insti tuto Nossa Senhora da Glória-Castelo]Angela Terra [Angela de Almeida Terra Agosti nho, Aldeense, professora de Literatura,foi diretora do Colégio Estadual Mathias Nett o, vice-presidente da Fundação Macaé de Cultura,idealizadora e coordenadora do Projeto ArtLuz]Dalva Soares [Dalva Magnólia Alves Soares, macaense, educadora, criou o conceituado Curso Pró-Técnico Dolores Magnólia Alves Soares, na Imbeti ba, voltado principalmente para admissão nas escolas técnicas federais]Ivair Simões [Ivair de Barros Simões, macaense, políti co, vereador, professor]Ana Maria Pinto [Macaense, professora de Matemáti ca]ABC Paulista [Região tradicionalmente industrial, parte da Região Metropolitana de São Paulo, porém com identi dade própria. A sigla vem das quatro cidades, que originalmente formavam a região, sendo: Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C) - Diadema (D) é às vezes incluída na sigla]Luiz Inácio Lula da Silva [Pernambucano, políti co, ex-sindicalista e ex-metalúrgico. Foi o trigésimo quinto presidente da República Federati va do Brasil, cargo que exerceu de 2003 a 2011] concentração dos 100 mil [Também conhecida como Greve da Scania, ocorrida em 12/05/1978, sob a liderança de Lula e outros sindicalistas]Cine Clube de Macaé [Na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado a realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]

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tes autoridades dos municípios que compõem a região, prefeitos, vereadores,

secretários municipais, lá estudaram. Naquela época, a criação do Diretório Acadêmico foi muito importante para dinamizar a FAFIMA. Os alunos eram professores que trabalhavam durante todo o dia. Os cursos eram noturnos. A Federação dos Estudantes de Macaé, embora vivendo toda a repressão da época, também colaborou com a estruturação do Diretório. Promovemos debates políticos, iniciamos a criação da biblioteca, fazíamos e distribuímos panfl etos, produzidos no mimeógrafo embaixo da escada, com temas sobre a Educação e ainda criamos um grupo de teatro. Fui contratada como professora da FAFIMA, logo após a minha graduação. Durante décadas, fui professora de História da Educação e Estudo de Problemas Brasileiros. Esses espaços foram muito signifi cativos para o fortalecimento do CEP e dos movimentos populares, como as Associações de Moradores que começavam a acontecer no Brasil. Dessas experiências vinculadas à educação, para a participação política foi um passo. Os partidos políticos de esquerda sempre valorizaram a participação da mulher na política. Mesmo na clandestinidade, o movimento de mulheres era forte, e em Macaé não era diferente. A Associação de Mulheres Macaenses, ligada ao PCB, Partido Comunista Brasileiro, era forte em Macaé, já que o sindicato dos ferroviários do nosso município era muito organizado. A minha participação na associação já era como vereadora, parlamentar, dirigente sindical e estudantil.

O fi lósofo macaense Claudio Ulpiano teve uma signifi cativa participação na minha atuação junto à Associação de Mulheres Macaenses, já que nessa mesma época, criamos na minha casa, um espaço de discussão fi losófi ca, que muito colaborava nas refl exões a partir da participação efetiva da mulher na política, com fundamentação teórica. Cláudio Ulpiano foi o meu incentivador nas pesquisas e conhecimentos das políticas de gênero, a partir do movimento estudantil de 1968, em Paris. Foi também nessa ocasião que participei, em Cuba, através da FDIM, Federação Democrática Internacional de Mulheres, do curso de Formação Política para Mulheres Latino-Americanas e Caribenhas. Estamos nos referindo à década de 1980, quando o Brasil viveu um período de efervescência política, com as manifestações das Diretas Já, a nova Constituição Brasileira, a primeira Lei Orgânica dos municípios brasileiros, inclusive a Lei Orgânica do Município Macaé, da qual tive a honra de ser escolhida presidente da Comissão Geral Organizante. Fui a primeira mulher eleita a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Macaé. Ser vereadora, naquela época, representou uma mudança estrutural na minha vida. A responsabilidade era muito grande. O mundo do poder político, que ainda hoje continua sendo machista e autoritário, mas naquele tempo, 1980, era bem mais repressor. Só para termos uma ideia, não havia no prédio da Câmara um banheiro para mulheres. Quando eu necessitava, atravessava a rua e utilizava o banheiro do Palace Hotel. O banheiro só foi construído, depois de um longo período, após a conhecida “Greve do Penico”. Eu era uma jovem mulher, divorciada, mãe, professora e com paixão pela vida pública. O nível das discussões políticas era elevado, pois foi a primeira Câmara eleita no retorno ao pluripartidarismo e o momento político alimenta profundas refl exões e debates.

Morei fora de Macaé durante 12 anos. No meu retorno, no ano de 2004, fui reeleita para exercer o terceiro mandato, com a maior votação, naquela ocasião, que um vereador do PT já havia alcançado. As campanhas eram baseadas no corpo a corpo, durante três meses... Jornal, panfl eto, debates, caminhadas, prestação de contas... Contato direto com o eleitor. Olho no olho! Foram 14 anos como vereadora do Município, através de mandatos, legislando através de centenas de matérias legislativas, como projetos de lei, audiências públicas, requerimentos, prestação de contas, encontros temáticos, seminários. A minha participação na Câmara Municipal foi em momentos diferentes da história do Brasil e de Macaé. No primeiro mandato, de 1982 a 88, mandato de 6 anos, o Brasil vivia o momento da

redemocratização e Macaé, a fase inicial das transformações sócio culturais, causadas pela chegada da Petrobras. Ao contrário do que muitos pensam, nessa época, o Município não recebia royalties do petróleo. Iniciamos então a Campanha pelos royalties do petróleo, que envolveu o Congresso Nacional... Era necessária uma revisão constitucional, já que até então, o petróleo produzido em terra é que era reconhecido, e os municípios produtores Onshore que eram indenizados. Partimos, então, para a Campanha pelos royalties do petróleo, através da formação de uma comissão parlamentar, da qual eu era a presidente, escolhida pelos meus pares. A Campanha se fez presente em todo o território nacional. Buscávamos apoio dos municípios e estados brasileiros, que viviam situação semelhante a de Macaé, isto é, com a exploração do petróleo no mar. A luta demorou 4 anos. Acampamos em várias partes do Brasil, sendo que o acampamento da Cinelândia foi o maior e mais importante, pois contou com a presença até do governador da ocasião, Leonel Brizola. Em dezembro de 2006, a nova Lei dos Royalties, foi sancionada na Praça São Salvador, em Campos dos Goytacazes.

Imediatamente, após a conquista dos Royalties, conhecedora da carência de mão de obra qualifi cada em Macaé e na bacia petrolífera, iniciei a Campanha pela Escola Técnica de Macaé. Mais uma vez, fui escolhida para presidir a comissão. Perdemos a escola do SENAI, que durante décadas qualifi cou e capacitou profi ssionais. Era preciso dar oportunidades à juventude local e regional na ocupação do mercado de trabalho petrolífero. Depois de idas e vindas, ao Rio de Janeiro e Brasília, mantendo contato com as autoridades dos ministérios da Educação e Ciências e Tecnologia, tivemos a grande sorte do engenheiro Alfeu Valença, o Superintendente que implantou a Bacia de Campos, assumir o cargo de Presidente da Petrobras. Como ex-morador da cidade, além dos vínculos afetivos, ele conhecia a necessidade que apresentávamos. A Petrobras assumiu por decisão própria, através da sua diretoria, a incumbência de construir e equipar a Escola Técnica de Macaé, com obras iniciadas em 1990 e inauguração em julho de 1993. A Escola Técnica de Macaé, atual Instituto Federal Fluminense, IFF, é a única escola técnica no Brasil, construída e equipada pela Petrobras.

Após 12 anos de ausência, trabalhando em Brasília, o município já era outro. Novas demandas, oportunidades e muitos problemas acumulados... Em parceria com o Deputado Jorge Bittar, começamos a construir o PRODESMAR, Programa de Desenvolvimento de Macaé e Região, que tem como metas: Qualifi cação profi ssional de jovens e adultos não exclusiva à cadeia do petróleo, executado pelo Centro de Educação Tecnológica e Profi ssional, CETEP, da Secretaria de Educação; Sistema de monitoramento por câmeras e despacho de viaturas, novo 190; Planejamento Estratégico do Norte e do Noroeste Fluminense; Duplicação da Rodovia Amaral Peixoto, a atual RJ-106, trecho Macaé; melhoria operacional do 9º Grupamento de Bombeiro. Além do PRODESMAR, criamos a Morada das Rosas, um condomínio de casas populares para mulheres chefes de família.

Compreender Macaé, com o advento do petróleo, não é uma coisa simples. A cidade se transformou num espaço múltiplo a partir da diversidade de pessoas, culturas e contribuições atraídas pela pujança da economia. No início, as relações entre a cidade e as pessoas que chegaram não foram fáceis. Não houve nenhum planejamento por parte dos poderes locais e o movimento foi se dando da maneira que pode. Nesse encontro, de repente surge na cidade uma nova categoria profi ssional, com perfi l diferenciado, capacitados tecnicamente, com bons salários.

A especulação fi nanceira foi grande. Os aluguéis aumentaram de valor, uma parte dos macaenses alugaram suas casas, para aproveitar a onda de procura por moradias pelos novos moradores da cidade. O tratamento no comércio local começou a ser feito de forma diferenciada. As escolas particulares se multiplicaram, os condomínios de luxo cresceram. Surge o MAI, composto pelas mulheres dos petroleiros e por macaenses, que

biblioteca [Biblioteca Antero Dias Lopes]

Associação de Mulheres Macaenses [Fundada em 1978]

Claudio Ulpiano [Cláudio Ulpiano Santos Nogueira Itagiba, fi lósofo e professor macaense, depois professor da Universidade Federal Fluminense]

FDIM [Organização não governamental, criada em 1960, que une em suas fi leiras as mulheres de diferentes setores, crenças, pontos de vista, nacionalidades e sistemas sociais dos cinco conti nentes. Atualmente a FDIM conta com 660 organizações fi liadas, de 160 países]

Diretas Já [Movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-84. A possibilidade de eleições diretas se concreti zaria com a votação da proposta de Emenda Consti tucional Dante de Oliveira pelo Congresso. Entretanto, a Proposta foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento conquistaram uma vitória parcial, em janeiro de 1985, quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral]

Consti tuição Brasileira [Consti tuição da República Federati va do Brasil de 1988, promulgada em 05/10/1988, é a lei fundamental e suprema do Brasil, servindo de parâmetro de validade a todas as demais espécies normati vas, situando-se no topo do ordenamento jurídico]

Lei Orgânica do Município Macaé [Aprovada e assinada pelos vereadores macaenses, sendo promulgada pela Mesa Diretora da Câmara Municipal de Macaé em 05/04/1990]

Câmara Municipal de Macaé [Insti tuição pública municipal, representante do Poder Legislati vo, insti tuída em 22/01/1814, pelo Desembargador Ouvidor Geral da Corte do Rio de Janeiro, Manoel Pedro Gomes]

Palace Hotel [Construído na década de 1920, por Manuel Guilherme Taboada, com projeto do architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira]

“Greve do Penico” [Movimento pela construção de um banheiro feminino na Câmara Municipal de Macaé, simbolicamente, confi rmando da abertura daquele espaço à parti cipação políti ca feminina]

PT [Parti do dos Trabalhadores, parti do políti co brasileiro, fundado em 1980, é um dos maiores e mais importantes movimentos de esquerda da América do Sul. Com 1 549 180 fi liados, o PT é o segundo maior parti do políti co do Brasil, atrás apenas do Parti do do Movimento Democráti co Brasileiro (PMDB)]

comissão parlamentar [Comissão Intermunicipal de Conquista dos Royalti es, criada em 16 de março de 1983]

Cinelândia [Nome popular dado ao entorno da Praça Floriano, no centro do Rio de Janeiro, espaço famoso por abrigar importantes manifestações populares]

Leonel Brizola [Leonel de Moura Brizola, gaúcho, lançado na vida pública por Getúlio Vargas, ocupou vários cargos políti cos no país, tendo sido Governador do Rio Grande do Sul, e do Estado do Rio de Janeiro em dois mandatos, de 1983 a 1987; 1991 a 1994]

Lei dos Royalti es [Lei 7453/1985, que permiti u que 37 municípios fl uminenses recebessem um percentual sobre o petróleo extraído pela Petrobras na Bacia de Campos]

Campos dos Goytacazes [Município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Escola Ferroviária 8.1 – SENAI-Leopoldina, na Imbeti ba, adaptação do anti go Lyceu dos Operários de Imbeti ba, criado em 1911]

Brasília [Capital federal do Brasil e sede do governo do Distrito Federal, fundada em 21/04/1960]

Alfeu Valença [Alfeu de Melo Valença, pernambucano, engenheiro Civil e de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]

Escola Técnica de Macaé [Anti go CEFET-Campos, encontra-se às margens da Lagoa de Imboassica. Em 1987, a Prefeitura de Macaé doou o terreno de 51 000 metros quadrados e, após convênio fi rmado entre Ministério da Educação e a Petrobras, que fi naciou totalmente a construção do prédio. No dia 29/07/1993, o prédio foi inaugurado e as ati vidades escolares iniciadas em 30 de agosto. Hoje, conta com cursos em vários níveis de ensino, além dos convênios e parcerias que visam à qualifi cação profi ssional na região]

Jorge Bi� ar [Políti co brasileiro, tendo sido Deputado Federal pelo Parti do dos Trabalhadores]

Rodovia Amaral Peixoto [Estrada de rodagem ligando Niterói a Campos, inaugurada em 28/05/1943, ocasião em que Macaé recebeu a visita do Presidente da República, Getúlio Vargas]

MAI [Movimento Assistencial e de Integração, criado, em 16/10/1980, por um grupo de mulheres, realizou oito Feiras de Integração, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras foram construídas sete creches, em terrenos e com mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]

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tes inicia o processo de integrar aquelas partes dessa cidade agora dividida.

A estratégia era a Feira de Integração que durante 7 anos consecutivos, realizou-se no mês de novembro, tendo como objetivo a construção de creches comunitárias. As feiras eram organizadas a partir de atividades entre os meses de Março e Outubro, através dos jantares benefi centes, bazares, e atividades variadas, representando os estados brasileiros e os países presentes através das suas empresas em Macaé. Cada feira, uma creche, era esse o lema. A Prefeitura doava o terreno e colaborava com a mão de obra. Com o lucro das feiras, construíamos as creches. Acredito que o trabalho do MAI foi de fundamental importância para a participação mais harmoniosa no novo cenário que surgia.

A indústria do petróleo coloca Macaé, na agenda internacional. Sem planejamento estratégico para tamanho impacto, nosso município vai respondendo às demandas diárias da forma como pode. Nem o Município, nem a Petrobras tinham conhecimento da dimensão da bacia petrolífera. Uma curiosidade deve ser esclarecida, em relação ao nome Bacia de Campos, já que toda a base de operações das atividades de prospecção acontecem em Macaé. E por que tem o nome de Campos? Da mesma forma que as cidades, os sítios geológicos - no caso, as bacias petrolíferas recebem nomes de acidentes geográfi cos ou cidades próximas. Este procedimento é seguido internacionalmente e regido pelo “Código de Nomenclatura Estratigráfi ca”, adotado pelos geólogos. Assim, foi batizada a Bacia de Campos, como o foram as de Pelotas, Santos, Foz do Amazonas, Recôncavo Baiano e outras. Importa entender que o ciclo petrolífero em Macaé teve alguns marcos importantes: 1º a chegada da Petrobras, em 1976; 2º a luta pelos Royalties, em 1982; 3º a vitória da luta, promulgação e regularização da Lei dos Royalties, em 1985; e fi nalmente o estabelecimento dos critérios e distribuição: área de produção, área limítrofe, município produtores. Os desafi os foram imensos e constantes. A partir da promulgação e regularização da lei do petróleo, em 1997, os recursos repassados aos municípios produtores passaram a ser relevantes. Dessa forma, após a primeira exploração comercial, em 1978, Macaé teria passado quase 20 anos sem contar com recursos para amenizar ou se preparar para os impactos sociais e ambientais que incidiram sobre a cidade, o que ocasionou em problemas crônicos e que cresceram com o passar dos anos. Com a descoberta do petróleo em Águas Profundas, aumenta a produção intensifi cando o fl uxo migratório, e uma nova etapa se inicia no ciclo petrolífero. A luta pelos royalties do petróleo, que tive a alegria de presidir, contou com a participação dos vereadores, não só de Macaé, como de outros municípios da região. É sempre bom lembrar, que quando a Petrobras se estabeleceu em Macaé, a indenização dos royalties somente existia para o petróleo explorado em terra. Foi uma luta entre os anos de 1982/86, época em que o Brasil vivia um momento histórico de democratização pós-ditadura militar. As manifestações populares eram muito concorridas. Fizemos um planejamento através de metas que envolviam diversos municípios brasileiros, que seriam benefi ciados com os royalties.

O famoso Acampamento da Cinelândia, com duração de três dias, envolveu todos os Estados brasileiros, através da cobertura dada pela mídia nacional. Diariamente, vários ônibus com estudantes de Macaé, dos colégios Luiz Reid e Mathias Netto, vinham para o Rio de Janeiro, e na Praça da Cinelândia, distribuíam orgulhosamente panfl etos, esclarecendo a luta pelos

direitos dos nossos municípios. A responsabilidade era das professoras Edla Bichara Benjamin e Gilza Tavares. A Cinelândia foi ocupada pelas barracas, contando com uma exposição fotográfi ca dos irmãos Romulo e Livio Campos, registrando o impacto que já começava a acontecer na cidade; com poemas, escritos com areia da Praia de Imbetiba, da poeta Sandra Wyatt, e dezenas de faixas com palavras de ordem. Esse mesmo acampamento aconteceu em Brasília, Recife e Campos dos Goytacazes. Contávamos com o apoio da população. Nossos mutirões no Congresso Nacional, envolvendo parlamentares de todos os partidos, em muito colaboraram para a Lei dos Royalties. Visitamos todos os congressistas. E em dezembro de 1986, a Lei dos Royalties foi sancionada em praça pública. Vitória! Um novo tempo começava!

Macaé é um município exceção, município desafi o, único município brasileiro que viveu a experiência de implantação de uma bacia petrolífera com a importância e produção que a nossa tem. As construções e desconstruções contínuas que acontecem há 40 anos, a colocam em um lugar de um município laboratório, ainda não devidamente estudado, analisado, compreendido. A cidade familiar e bucólica foi deixando de existir, transformando-se num centro de médio porte, crescendo rápida e desordenadamente, apresentando problemas das grandes cidades, como o aumento da violência, especulação imobiliária, trânsito desordenado e favelização. Mas não só os pontos negativos devem ser ressaltados. Na área da Educação, a cidade, hoje, é um pólo universitário com universidades federais e estadual, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ; Universidade Federal Fluminense, UFF e Universidade Federal do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, UENF; uma faculdade municipal, a Faculdade Professor Miguel Angelo da Silva Santos, FeMASS e tantas outras universidades particulares. Além do CETEP e do IFF, antiga Escola Técnica Federal, que têm a missão de profi ssionalizar a nossa juventude. A Rede de Educação do Município, tem um Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos, bastante satisfatório, com um dos melhores salários do país, possibilitando profi ssionais de diversos municípios, prestarem concurso público e trabalharem em Macaé.

A cidade aumentou muito as possibilidades de trabalho, não só na área Off shore, mas no comércio geral, como a abertura de muitos hotéis, restaurantes, farmácias, enfi m, toda uma rede de serviços para o atendimento de uma população diversifi cada. Interessante ressaltar que a cidade é feita de gente, não é mesmo?! E a gente vai se embolando com tantas vidas, tantas histórias, que marcam as nossas trajetórias pessoais e nos transformam enquanto seres humanos. Penso que com isso a gente se desconstrói e se constrói continuamente, e assim como a cidade, a gente também vai mudando.

Em 1990, tive um câncer de mama diagnosticado e, vinte anos depois, um segundo. Foram períodos muito difíceis, o maior desafi o da minha vida. A luta para superar a doença e continuar a viver com entusiasmo, acreditando que é possível e, até nessas experiências, olhar o positivo. Acredito na superação, através da colaboração, da troca de experiências. Falar da doença, quando ainda hoje uma boa parte das pessoas têm medo de citar o nome, ajuda no enfrentamento. O compartilhamento nos torna mais humanos, solidários e acolhedores. Daí o CERVI, Centro de Recuperação da Vida, e mais tarde a UNAMAMA. Ambos com o objetivo de unir pessoas que vivem as mesmas dúvidas, medos, incertezas e juntas escreverem uma nova etapa. Acredito muito na força dos grupos de ajuda-mútua em qualquer área de atuação... E assim fomos nos encontrando e nos auto ajudando a reescrever histórias de vida. Entre os anos de 2009/2012, acumulei as funções de Vice Prefeita do Município e de Secretária de Educação. Com a reforma administrativa em dezembro de 2008, a Secretaria de Educação foi estruturada de forma diferenciada, integrando a educação básica, a

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tes formação profi ssional, CETEP, e a educação superior com a FUNEMAC.

Realizamos a 1ª Conferência Municipal de Educação e, a partir daí, estruturamos a Educação do Município nos cinco eixos propostos pelo Conselho Nacional de Educação, o CONAE. Iniciamos o processo de democratização da educação, que teve excelentes desdobramentos, como o Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos, a eleição direta para os diretores escolares, o conselho de diretores, os fóruns permanentes de educação, dentre dezenas de realizações. O objetivo da integração dos três setores do ensino foi possibilitar que a FUNEMAC, por ser uma autarquia, respondesse às demandas de formação dos profi ssionais da educação, bem como das demais categorias municipais. São tantas histórias registradas e muitas outras que se perderam no afã do trabalho diário. A vida da gente se mistura com a da cidade e me parece que pensando nas nossas vidas, o que existe é uma simbiose. A história da cidade, as transformações vividas, não podem se perder. Inúmeras pessoas que viveram essa fase de transformação, macaenses nascidos aqui ou não, fazem partes dessa redes de histórias e lembranças.

Sou de Macaé e ela nunca deixará de ser minha, porque está contida na minha história, nas minhas lembranças mais doces e saudosas. Meus antepassados estão sepultados em Sant’Anna. Laços maternos e paternos. São várias gerações. Da minha bisavó Albertina, de quem ainda me lembro. Meu avô José Soares Garcia foi o benemérito espírita que doou o que possuía para a União Espírita Macaense, e construiu o Lar de Maria, o antigo orfanato e parque, onde hoje é uma creche. Minha avó, Carolina Garcia, foi a primeira professora da rede pública na história do município, diretora do Colégio Público Feminino Macahense. Meus pais Carlos Augusto Tinoco Garcia e Magdá Pereira Garcia, juntos, participaram durante toda a vida com as causas sociais do Município. O centro cirúrgico, o antigo berçário, a lavanderia do Hospital São João Batista são realizações deles ao lado de outros macaenses. O lucro das festas, que a minha mãe realizava, como o Baile das Debutantes, Rainha da Primavera, Jogos Estudantis e outros, eram utilizados nessas obras. Aqui nasceram meus fi lhos: Suzana, Mônica e Guto. Atualmente, residem em Macaé o meu fi lho Guto Garcia, professor da UFRJ e vereador do Município; a minha fi lha do coração, Margarida Ribeiro de Almeida, macaense, funcionária do Legislativo; e minha neta Ana Carolina Almeida, estudante de nutrição na UFRJ. Além deles, ainda vivem em Macaé, o meu irmão Paulo Cesar Pereira Garcia, que é médico, meu sobrinho Paulo César Júnior e diversos primos. Mantenho aqui a minha casa e inúmeros amigos.

Macaé faz parte dos meus sonhos. Desejo que todas as mudanças ocorridas na minha cidade sejam transformadas em experiências positivas, e que a imensa riqueza sócio-cultural-econômica, que vivenciamos, transforme-a na “Capital do Conhecimento, Saber e Inteligência”. Tenha o nome que for, nome não é o mais importante. O que vale realmente, é que tudo que vivemos, participamos, tenha como resposta o reconhecimento de Macaé, não pelos erros praticados por parte dos governantes, mas como o município-laboratório, que possibilitou infi nitas respostas no campo da história, da ciência, da tecnologia e das inovações sucessivas que o mundo atual exige. Se eu pudesse voltar o tempo, acho que repetiria quase tudo. Macaé é a minha cidade. É a minha terra querida. É o lugar aonde vivi todos os principais momentos e acontecimentos da minha vida, do âmbito particular, familiar, político e profi ssional. Além do mais, foi onde vivi uma cidadania plena em momentos variados da história do município e do Brasil. E lembrar disso tudo é viver duplamente. É um esforço da memória que nos faz rir e chorar. É retornar emoções vividas, resgatar recordações. É viver! Pensando na história da cidade enquanto refl ito na minha própria vida, percebo que sou uma mulher movida pelo desejo de transformar sonhos em realidades. Sem medo de desafi os! ▪

FUNEMAC [Fundação Educacional de Macaé, criada Lei Municipal n°.1369, em 17/11/1992]

1ª Conferencia Municipal de Educação [Nos dias 19 e 20 de junho de 2009]

Sant’Anna [O mais anti go campo santo macaense remonta aos tempos jesuíti cos, sendo regulamentado em 02/06/1890, pertencendo a Irmandade da Gloriosa Sant’Anna. Figuras ilustres lá estão sepultadas: Viscondessa de Araújo (Aristocrata), Hindemburgo Olive (Arti sta Plásti co), Antonio Alvarez Parada (Historiador), Luiz Reid (Benemérito), Eleosina de Queirós Ma� oso (Arquivista), Yuzaburo Yamagata (Empresário)]

Suzana [Garcia Assis, macaense, médica, diretora teatral, produtora]

Mônica [Garcia Assis, conhecida como Mônica Martelli, macaense, jornalista, estudou Artes Dramáti cas na Casa das Artes de Laranjeiras, como atriz fez trabalhos na TV Globo, sendo autora e interprete do monólogo “Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou!”]

Guto [Carlos Augusto Garcia Assis, macaense, professor, empresário, políti co]

1 Excursão para Cabo Frio, alunas do Luiz Reid - 1962.

2 Entrega de documentos na luta de conquista dos royal� es - Marilena Garcia e Tancredo Neves (Campanha das Diretas Já), 1985.

3 Entrega de documentos na luta de conquista dos royal� es - Marilena Garcia, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Franco Montoro (Campanha das Diretas Já), 1985.Acervo parti cular de Marilena Pereira Garcia, Macaé - RJ.

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1 Excursão para Cabo Frio, alunas do Luiz Reid -

2 Entrega de documentos na luta de conquista dos royal� es - Marilena Garcia e Tancredo Neves

3 Entrega de documentos na luta de conquista dos royal� es - Marilena Garcia, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Franco Montoro (Campanha

Acervo parti cular de Marilena Pereira Garcia,

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1 e 2 Campanha pelos Royal� es do Petróleo - 1983/1986.

3 Obras da futura Escola Técnica de Macaé: Alfeu Valença - Gerente Geral da Petrobras; Marilena Garcia - Vereadora. 1991.

4 Sindicalismo: Movimento dos Professores do Estado - Reivindicação pela reforma dos Palácio dos Urubus (início dos anos 80)Acervo parti cular de Marilena Pereira Garcia, Macaé - RJ.

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pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

chiou [Reclamou]

Lagoa de Imboassica [Originalmente Lagoa da Sica ou da Boassica, por receber água salgada do mar]

Mirante da Lagoa [Bairro da zona sul]

Consti tuição de 1988 [Consti tuição da República Federati va do Brasil de 1988, promulgada em 05/10/1988, é a lei fundamental e suprema do Brasil, servindo de parâmetro de validade a todas as demais espécies normati vas, situando-se no topo do ordenamento jurídico]

IBAMA [Insti tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, criado pela Lei nº 7.735 de 22/02/1989, é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente]

Ditadura Militar [Regime ditatorial que perdurou por mais de vinte anos, iniciado com o Golpe de Estado ocorrido em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart, alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda]

a de 1973 [Quando em protesto pelo apoio prestado pelos Estados Unidos a Israel durante a Guerra do Yom Kippur, os países árabes organizados na OPEP aumentaram o preço do petróleo em mais de 300%]

Açu [O Superporto do Açu, no município de São João da Barra-RJ, inaugurado em 2012, foi um empreendimento do grupo EBX, controlado pelo ex-bilionário Eike Bati sta]

complexo petroquímico de Itaboraí [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí-RJ, é um empreendimento da área de abastecimento da Petrobras. Representa um investi mento da ordem de 8,4 bilhões de dólares, o que o confi gura como o maior empreendimento único da Petrobras e um dos maiores do mundo no setor. Este empreendimento se tornará o coração de um grande parque industrial, que irá transformar profundamente o perfi l industrial, econômico e ambiental da região]

Royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Prefeito [Carlos Emir Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

Malvinas [Bairro periférico, resultante de ocupação subnormal, ocorridas no início da década de 1980, cujo topônimo refere-se ao confl ito armado entre Inglaterra e Argenti na pela soberania das Ilhas Malvinas]

Águas Profundas [Em 1986 a Petrobras perfura a 1.200 metros de profundidade em lâminas d’água e marca recorde mundial de produção de petróleo a profundidades de 400 metros, resultados obti dos pela integração entre as áreas Operacional, Técnica e de Pesquisa da companhia]

atual esposa [Bernadete Vasconcellos, campista]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Jornalismo [Na Universidade Federal Fluminense]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital do Estado do Rio de Janeiro de 1903 a 1975]

O Fluminense [Periódico fundado em 1878, na cidade de Niterói]

Folha da Manhã [Periódico campista fundado em 08/01/1978]

Juiz de Fora [Cidade no sul do Estado de Minas Gerais]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Folha de Macaense [Fundado em 1981, circulando até 1989]

Romulo Campos [Romulo Alexander Campos, niteroiense, fotógrafo, jornalista, editor, ambientalista, formado em Comunicação Social, ex-secretário Municipal de Comunicação]

Wanderley Gil [da Silva, macaense, repórter fotográfi co, atuou no jornal O Século, fundado em 1886, ressurgindo no período de 1974-80, atualmente trabalha no periódico O Debate: Diário de Macaé]

O Debate [Periódico macaense diário, fundado em 01/05/1976, pelo jornalista Oscar Pires]

Rubem Gonzaga de Almeida Pereira [Macaense de Quissamã, funcionário da CEDAE, políti co, vereador, presidente da Câmara Municipal de Macaé, membro da Academia Macaense de Letras, descendente de famílias expoentes do Império Brasileiro]

Oscar Pires [Capixaba, jornalista, empresário, fundador do jornal O DEBATE - Diário de Macaé]

Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza [Fundado a 13/12/1977 em Campos dos Goytacazes-RJ]

Aris� des Arthur Soffi a� [Neto, campista, professor, historiador, ecologista, críti co de cinema, escritor]

“Relatório Brundtland” [Publicado, em 1987, pela World Commission on Environment and Development, uma comissão das Nações Unidas, chefi ada pela então Primeira-Ministra da Noruega, a Sr.ª Gro Harlem Brundtland]

Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Alfândega [Inaugurada em 06/12/1896 e exti nta em 1904]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado

“Macaé é uma cidade partida...”Martinho Santafé

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 13/09/2012.Faleceu, em Campos dos Goytacazes-RJ, a 05/02/2019.

Eu sou de Campos. Estudei Jornalismo e trabalhei em Niterói e no Rio de Janeiro, cerca de 10 anos... Aí recebi uma proposta de ir para Campos, em 1977, para chefi ar a sucursal de O Fluminense, e um ano depois, ajudei a fundar a Folha da Manhã, que existe até hoje... Em 1981, houve uma questão pessoal na minha vida, uma separação, e resolvi sair de Campos, tendo duas opções: Juiz de Fora, onde um grande empresário estava queria fundar um jornal, ou Macaé. Pela proximidade de Campos e do Rio, pelo fato de ter praias, e mais ainda, pelo desafi o que a cidade representava na época, escolhi Macaé, que estava exatamente naquele momento de transição. Uma coisa muito interessante, a Petrobras tinha se instalado aqui há dois anos... Eu decidi vir pra cá exatamente para acompanhar jornalisticamente essa história que estava iniciando. Cheguei aqui em agosto de 1981, e em outubro, já fundei o semanário Folha de Macaense, que anos depois se transformou num jornal cult que as pessoas comentam até hoje... A gente veio com a proposta de trabalhar de acordo com os conceitos profi ssionais de grandes centros, assim como era na Folha da Manhã. Meus primeiros parceiros foram: Romulo Campos, como jornalista e também fotógrafo; Wilton Santos e o José Silva como repórteres policiais. Depois, a equipe mudou e entrou o Wanderley Gil, que hoje também trabalha comigo em O Debate... O jornal durou seis anos, foi uma experiência muito boa, porque acompanhamos de uma maneira bem profi ssional toda essa questão do petróleo, que considero realmente uma verdadeira epopéia, porque foi o início não só de uma exploração como outra qualquer, mas do incremento de novas tecnologias. Se hoje tenho críticas muito grandes em relação ao petróleo, principalmente por causa das mudanças climáticas, essa coisa toda da poluição e da própria irresponsabilidade da indústria petrolífera com relação aos recursos naturais, também tenho que reconhecer que, na época, a Petrobras realizou um trabalho estupendo, transformando uma tecnologia antiga, avançando para que pudesse passar da exploração a 100 metros de uma lâmina d’água até os 1500 metros e mais e mais... Isso tudo eu acompanhei primeiro na Folha Macaense, depois n’O Debate. No intervalo entre os dois, fundei um jornal mais light com o grande amigo Rubem Gonzaga de Almeida Pereira, a Folha do Litoral. Em 1991, entrei em O Debate, do Oscar Pires, que respeito muito, como grande batalhador que é. E se fomos “concorrentes”, entre aspas, de 1981 a 1987, foi de uma maneira amigável... Ele é um jornalista sobrevivente, porque perseverar com um jornal no interior é muito mais difícil do que na metrópole.

No ano de 1977, em Campos, ajudei a fundar o Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza, com Aristides Arthur Soffi ati e aquele pessoal todo, que hoje é uma das entidades ambientalistas mais antigas do Brasil... Na realidade, nós éramos ambientalistas de uma maneira muito tradicional, até tínhamos um link com o social, mas a preocupação maior era com o ambiental, o que era um olhar equivocado. A questão é mais ampla, abrange o econômico, o social e o ambiental, aquilo que hoje nós chamamos de sustentabilidade, conceito que se consolidou mais tarde, em 1987, no documento “Nosso Futuro Comum”, mais conhecido como “Relatório Brundtland”. Em Macaé, há muito já existiam lutas ambientais pontuais, por exemplo, contra a degradação do manguezal, a questão da Praia da Imbetiba, que realmente era o point da cidade, um porto antigo e uma Alfândega, obviamente num ritmo bem menor

do que um porto de apoio off shore da Bacia de Campos. A Imbetiba foi aos poucos perdendo aquela função de local de encontro e a população chiou muito. Quanto à questão da Lagoa de Imboassica, me parece que o aterro e a especulação imobiliária vieram antes mesmo que a chegada da Petrobras e da pressão urbanística... O proprietário das áreas, em torno da lagoa, aterrou-a para aguardar a chegada dos novos habitantes, uma coisa absurda, um crime premeditado e anterior ao fato social. Quer dizer, quando cheguei aqui a Lagoa de Imboassica já estava aterrada e o Mirante da Lagoa já existia. Então, havia manifestações pontuais, mas o lado B da questão foi anterior à Constituição de 1988, que consolidou a legislação ambiental do Brasil e principalmente fortaleceu o Ministério Público, que antes não tinha uma atuação tão forte, tão consistente como tem hoje. Antes, não tínhamos nem Secretaria de Ambiente, nem estadual, nem municipal e não havia audiências públicas, embora eu ache que hoje as audiências públicas são fi ctícias... As empresas já vão ao IBAMA, com os projetos de empreendimentos consolidados, previamente aprovados. A Petrobras, como todas as empresas, não tinha a mínima noção do que realmente é um trabalho de preservação ambiental, tanto que, na época, o setor ambiental da empresa era uma Divisão de Meio Ambiente da Diretoria de Engenharia, quer dizer, uma coisa muito precária. Além disso, em 1979 ainda vivíamos a Ditadura Militar, e o Brasil precisava a todo o custo dessa produção de petróleo, até para evitar novas crises, como a de 1973. Então, com o regime autoritário, a exploração de petróleo chegou à Macaé imposta, num processo muito cruel, que hoje está acontecendo no Açu e no complexo petroquímico de Itaboraí. É um processo que acontece no mundo inteiro, é um sistema, uma economia, que se coloca acima de tudo e que se dane o social e o ambiental.

Houve aquele negócio de antagonismo, de bairrismo exacerbado, aquela briga entre Campos e Macaé, que queriam receber a Petrobras... Hoje, Campos tem só o bônus, recebe a maior parte dos Royalties e não tem um milímetro de impacto do petróleo. Se os campistas soubessem do impacto, jamais lutariam... Aquilo para Macaé, na época, foi uma grande vitória, mas a cidade foi arrasada. Então, o Prefeito e a população, de certa forma, comemoraram o fato da Petrobras ter vindo. Agora eu pergunto: na época alguma cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro estava preparada para receber um empreendimento desses? Não estava! A coisa foi tão feia que o prefeito, que era até meu amigo e há pouco tempo, nos deixou, permitiu o aterro do manguezal nas Malvinas, onde já era uma lixeira, e ainda doou tijolos e telhas para que as Malvinas surgissem. Não havia nada! Não havia um promotor ambiental, não havia legislação... Então, em Macaé, foi uma coisa terrível e as pessoas agradecendo. A Petrobras, quando veio pra cá, não conhecia o potencial de reserva da Bacia de Campos, foi descobrindo na medida em que foi criando novas tecnologias para Águas Profundas, a Bacia de Campos foi um laboratório dos mais bem sucedidos do mundo. Mas se nem a Petrobras sabia, imagina a população, imagina o Prefeito.

A revista Visão Socioambiental nasceu em 2005, quando eu já não fazia a cobertura do petróleo, e surgiu através da minha atual esposa... Ela é publicitária, eu sou jornalista, ela tem uma agência antiga, que já teve sede em Miami, nos Estados Unidos, até que voltou para Campos, nos

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do Norte Fluminense se dirigem à Região dos Lagos, que, através do Projeto de Lei nº 034/2004, foi denominada Rodovia Lacerda Agosti nho]

Rio Macaé [Com nascente a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]

Nova Holanda [Aglomeramento subnormal, originalmente conhecido como Ilha da Fumaça, surgido no inicio da década de 1980, com ocupações irregulares em áreas de interesse ambiental, pertencente à família greco-brasileira Kousoulas]

Nova Esperança [Aglomeramento subnormal, surgido no início dos anos 2000 como conti nuação da Nova Holanda estendendo-se pela Colônia Leocádia]

prefeito que for eleito [Referindo-se aos candidatos que concorreram pleito de 07/10/2012]

Chris� no [Áureo, macaense, bancário, políti co, fi liado ao PSD, que fi cou em segundo lugar nas eleições de 2012 com 30.391 votos]

Doutor Aluízio [dos Santos Júnior, macaense, fi liado ao Parti do Verde (PV), médico neurocirurgião, eleito em 07/10/2012, com 70.693 votos]

Guarulhos [Município do Estado de São Paulo, sendo a segunda cidade mais populosa do estado, a 13ª do Brasil e a 52ª do conti nente americano, fundado em 1560]

mercado de peixes [Mercado Municipal, inaugurado em 15/12/1914 pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o na Avenida Presidente Sodré]

shopping [Shopping Plaza Macaé, inaugurado em 11/09/2008, na Rua Aloísio da Silva Gomes, 800, Granja dos Cavaleiros]

ONU [A Organização das Nações Unidas, fundada em 1945, é uma organização internacional cujo objeti vo declarado é facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento econômico, progresso social, direitos humanos e a realização da paz mundial]

Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáti cas [O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) é um órgão intergovernamental, estabelecido, em 1988, pela Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para fornecer informações cien� fi cas, técnicas e sócio-econômicas relevantes para o entendimento das mudanças climáti cas, seus impactos potenciais e opções de adaptação e miti gação]

maior feira de petróleo [A Brasil Off shore reúne quase 500 empresas do setor de petróleo de 50 países, sendo realizada no Centro de Convenções Jornalista Roberto Marinho, no bairro São José do Barreto]

extra� vismo predatório [Reti rada indiscriminada de recursos da natureza, podendo ser recursos minerais, animais ou vegetais, sem a preocupação se eles se reconsti tuirão ou deixarão de existi r]

pau-brasil [Nome genérico que se atribui a várias espécies de árvores do gênero Caesalpinia, presentes Mata Atlânti ca brasileira; dando origem ao nome do país

Insti tuto Ethos [Criado em 1998 por um grupo de empresários e executi vos da iniciati va privada, é um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práti cas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável]

Programa Tear - Tecendo Redes Sustentáveis [Uma parceria com o Fundo Multi lateral de Investi mento, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, tendo como principais objeti vos aumentar a competi ti vidade e a sustentabilidade das pequenas e médias empresas (PMEs) e ampliar suas oportunidades de mercado, contribuindo assim para o desenvolvimento do País]

RT Lea [RT Lea – Locações, Equipamentos & Andaimes LTDA, na Rodovia Lacerda Agosti nho, Km 5, a Linha Azul]

Ensco [Ensco do Brasil, na Avenida Internacional, 1000, Granja dos Cavaleiros]

Revolução Industrial [Transição para novos processos de manufatura no período entre 1760 a algum momento entre 1820 e 1840]

Linha Azul [Via expressa que liga o bairro Virgem Santa ao bairro Ajuda de Cima, criada para desobstruir o trânsito no centro da cidade, no que se refere aos veículos que

casamos, ela veio pra cá e a gente começou a perceber exatamente um cenário global novo, com a ONU criando o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas e instituindo ofi cialmente o conceito de sustentabilidade, uma coisa muito mais sofi sticada, abrangente e complexa, e começou-se a falar que o homem estava realmente interferindo em termos planeta, porque antes eram coisas pontuais e passamos a ter referências globais como a camada de ozônio, o primeiro alerta, e depois a questão das mudanças climáticas, cujo o grande vilão são as energias fósseis, o petróleo, o carvão, o gás natural. Nós começamos a perceber que Macaé tem a maior feira de petróleo da América Latina e precisava de um veículo que fosse o contraponto de tudo isso. Somos a Capital Nacional do Petróleo, um termo que considero temerário, até meio pejorativo, pena que a maioria das pessoas não saiba disso... Temos o petróleo, mas também temos uma camada da população mais consciente, que pensa que está na hora de diversifi car, de sair dessa “monocultura”, um termo que se usava muito em Campos para a indústria da cana de açúcar, que também não é o termo mais correto... O nome disso é extrativismo predatório, o mesmo que fi zeram na época do pau-brasil... Eles sugam até o bagaço e depois vão embora.

Macaé, pelo fato de sediar as bases operacionais da maior província petrolífera no Brasil, de certa forma, tem um carma, porque o petróleo é um carma forte. Então, resolvermos fazer a revista. Eu era um antigo ambientalista na época, uma coisa completamente ultrapassada, e para abordar temas como responsabilidade socioambiental, em sustentabilidade, eu tive que reaprender, ler, me fi liar ao Instituto Ethos, uma experiência espetacular, e aos poucos começamos a renovar os conceitos. A coisa fi cou tão boa, teve uma repercussão tão legal, não só em Macaé, pois hoje já somos reconhecidos em várias regiões do país, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro.

Em 2008, resolvemos criar a Feira de Responsabilidade Social Empresarial Bacia de Campos, uma continuidade da revista, que está dando certo e tem uma receptividade muito boa. Na verdade, a Feira pode ser uma extensão do que abordamos na revista, mas isso é um movimento global e necessário, mesmo com as coisas no Brasil sempre começando mais tarde... Quando já estava consolidado, principalmente, na Europa, Estados Unidos e tal... Aí, esse movimento começou a chegar ao Brasil, aos poucos as grandes empresas brasileiras abraçaram a causa. Hoje, as fi liais de multinacionais estabelecidas aqui estão conseguindo fazer coisas mais consistentes na área de petróleo... Algumas empresas que têm abraçado a causa, principalmente porque o Instituto Ethos lançou o Programa Tear - Tecendo Redes Sustentáveis, em nível nacional, e o segmento do petróleo teve como empresa mãe a Petrobras... Inicialmente, dezesseis empresas da Bacia de Campos participaram. São empresas pequenas, médias, grandes que têm realmente abraçado essa questão da responsabilidade social, que inclui ecoefi ciência, tratamento digno para os seus empregados, uma relação muito legal com a sociedade macaense... Aqui, cito a RT Lea, do amigo Maciel, e a Ensco, da incansável Denise Fernandes, que são grandes exemplos. Não é só cumprir a legislação, é respeito ao meio ambiente e à sociedade. Então, existe um movimento ainda incipiente aqui na Bacia de Campos, até porque é formado por empresas de uma atividade produtiva extrativista que um dia vai acabar, e quando acabar, essas empresas irão para outra região, sendo um processo globalizado... Inclusive deveria ser uma preocupação maior dos governos, porque a Bacia de Campos ainda tem uma sobrevida de alguns anos e tal, mas o petróleo vai acabar aqui. Sem querer diminuir a importância de quem trabalha no setor, mesmo porque a Bacia de Campos é um exemplo mundial de inovação na área

petrolífera, mas o petróleo hoje é comprovadamente um produto nocivo à vida no planeta, digo à vida, que conhecemos hoje, porque o planeta não vai acabar, vai viver mais cinco bilhões de anos...

Então, você intitular uma cidade de Capital Nacional do Petróleo, que é um produto criticado no mundo inteiro, é um despropósito. Vemos hoje, países como China e Estados Unidos, que são os que mais estão investindo em energias renováveis. Por quê? Porque eles estão vendo o futuro. E aqui? É a mesma coisa de falar: “Minha cidade é a capital nacional do tabaco”... O tabaco dá empregos, não é? Mas quantas vidas têm ceifado? Sem querer tirar a importância do petróleo, pois sabemos que uma colher de sopa de petróleo equivale a oito horas de energia de um homem trabalhando. O petróleo construiu a civilização, a Revolução Industrial começou com o carvão e deslanchou com o petróleo... Aliás, talvez metade da humanidade estivesse morta aos quarenta anos porque não teríamos tecnologias ligadas à Medicina e a toda a ciência, impulsionadas pela era do petróleo. Foi o petróleo que permitiu isso tudo, essa é a realidade. Só que, como dizem os economistas: “Não existe almoço de graça”... Agora, estamos pagando o “almoço” maravilhoso que construiu a civilização ocidental, baseada no conceito de que o crescimento pode ser infi nito porque os recursos são infi nitos e, portanto, vamos consumir, indefi nidamente, e sem limites. Mas nada é infi nito e os recursos já estão acabando...

Infelizmente, a maioria das pessoas, principalmente, as que vivem na periferia, só tomam consciência quando acontece uma tragédia. Em Macaé, por exemplo, a Secretaria de Meio Ambiente liberou praticamente todo o entorno da Linha Azul, que era a área de expansão do Rio Macaé... Agora, qualquer chuva mais forte paralisa toda a cidade. E para agravar, em consequência das mudanças climáticas, existe um aumento considerável de precipitações pluviométricas, ou seja, chuvas de maiores intensidades... Imaginem, então, o que vai acontecer com uma faixa de asfalto no meio da área de expansão do Rio Macaé... Temos aterros com cimento... Para onde isso vai? Vai para a periferia: Nova Holanda, Malvinas, Nova Esperança... Aí a população vai sentir. Já está sentindo! Por outro lado, a conscientização está aumentando... Nas campanhas políticas, todo mundo quer ser ambientalista, uma coisa bacana... O prefeito que for eleito, tanto Christino como Doutor Aluízio são muito conscientes em relação à questão socioambiental.

Existe, hoje, bem disseminada, globalmente, a teoria do decrescimento, ou seja, prosperidade sem crescimento... Acho que Macaé deveria parar um pouco de crescer e começar a pensar na prosperidade que nós poderíamos ter com tantos recursos. Eu tenho uma amiga, vereadora em Guarulhos, um município com quase dois milhões de habitantes, que tem o orçamento um pouco maior que o de Macaé, com duzentos mil habitantes. E ela sempre pergunta quando me vê: - E aí, vocês já têm calçadas com mármore de Carrara? Eu respondo: - Ainda não, mas nossos buracos estão cada vez mais robustos. Ou seja, não precisamos de riqueza, já somos ricos... Precisamos transformar essa riqueza em algo que valha a pena. É simples! Precisamos de políticas públicas e privadas que façam com que a população de Macaé se considere pertencente ao lugar onde vive, tenha amor à cidade, e só se pode fazer com que a pessoa tenha esse pertencimento, dando condições dignas... Não é só Saúde e Educação, é muito mais, é respeito, é cultura... Isso é prosperidade! O centro de Macaé, hoje, é um estacionamentão e toda semana inauguram mais um, dois, três... Isso é vida? Atravessar do mercado de peixes até a Rua Teixeira de Gouvêa, leva dez, quinze minutos. Isso é bacana? Isso é prosperidade? Isso é riqueza? Hoje, nós temos um shopping, que é o maior da região, mas não temos o principal, a questão

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o fi lho dele [Felipe Meirelles Vieira]

boizinho [Boi-pintadinho uma manifestação folclórica carnavalesca]

Linha Verde [Via expressa que liga a Virgem Santa aos bairros da Glória e Novo Cavaleiros, objeti vando descongesti onar o fl uxo de automóveis no centro da cidade]

São Pedro [Em 29 de Junho, no entorno da Praça Benedito Lacerda, Centro, em frete ao Mercado Municipal]

São João [Em 24 de Junho, nos arredores da Igreja Matriz de São João Bati sta]

Feiras de Integração [Organizadas pelo Movimento Assistencial e de Integração (MAI), criado, em 16/10/1980, por um grupo de mulheres, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras foram construídas sete creches, em terrenos e com mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]

Alfeu [de Melo Valença, pernambucano, engenheiro Civil e de Minas. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]

João Carlos [de Luca, paranaense, engenheiro Civil e de Petróleo, atuou por 24 anos na Petrobras (1974-1997), onde desempenhou diversas funções técnicas e gerenciais relevantes, como a de gerente geral da Bacia de Campos (1986-89) e gerente geral do Departamento de Produção (1989-90), sendo presidente do Insti tuto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustí veis desde 2001]

Irani [Carlos Varella, rio-grandense, engenheiro. Ocupou funções gerenciais na Bacia de Campos, Petrobras Distribuidora e Cenpes, coordenou o Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional da Petrobras e ajudou a implantar a área de SMS]

Polo Nordeste [Área localizada a 80 km do litoral no nordeste da Bacia de Campos]

minhocas da terra [Termo para designar os macaenses natos]

Ban Ki-moon [Sul-coreano, diplomata, oitavo e atual secretário-geral da Organização das Nações Unidas]

Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, historiador, escritor]

Francisco de Assis Esteves [Professor da UFRJ-Macaé, diretor do Núcleo em Pesquisa e Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental-NUPEM]

duas termoelétricas [Referindo-se a Usina Termoelétrica Mario Lago e Usina Termoelétrica Norte Fluminense]

Cidade Universitária [Complexo educacional que uma área de 95 mil metros quadrados, na Granja dos Cavaleiros, com dois prédios, 30 salas de aula, além de estacionamento com 200 vagas, e três faculdades gratuitas: UFF, UFRJ e FeMASS, esta últi ma a única faculdade municipal gratuita do país. Ao todo, o complexo terá sete blocos, seis para laboratórios e salas de aula]

Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

Jaime Lerner [Curiti bano, arquiteto e urbanista, políti co, prefeito de Curiti ba em três mandatos, governador do Paraná, foi eleito presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA) em 2002. Atualmente é urbanista e consultor das Nações Unidas para assuntos de urbanismo; também presta consultoria para a Prefeitura de Macaé a convite do Prefeito Riverton Mussi Ramos]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, com orla de 1.500 metros, loteado no fi nal da década de 1960 em terras da anti ga Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, exerceu vários cargos na administração pública municipal e estadual e foi vice prefeito em duas gestões]

rua do Ricardo [Rua Euzébio de Queirós, no Centro]

da humanidade. Macaé se destruiu muito. Hoje, temos duas, três Macaés... Tem a Macaé central, onde vive a classe média macaense; você tem a zona sul, onde vive o pessoal técnico, a classe média alta, o pessoal do petróleo; e tem a zona norte, onde vive a periferia. São realidades distintas, ainda não se conseguiu unir essas três Macaés. Macaé é uma cidade partida, tanto que nos feriadões a parte rica da cidade fi ca quase completamente vazia, quer dizer, não existe aquela coisa de curtir a cidade onde se vive, e geralmente reclama-se muito, o que é uma pena, porque quem reclama muito da cidade em que vive é porque não está conseguindo olhar para si próprio, inclusive.

Digo que Macaé tem duas histórias, tem a história anterior e a história recente... Nessa história recente as pessoas estão participando, seria teoricamente mais fácil de preservar. Quando cheguei aqui, tinha uma pessoa espetacular que era o Tonito, que procurou levar a história antiga de Macaé para os novos habitantes e foi muito bacana. Agora, a história da Macaé contemporânea, de certa forma, é bonita, embora o petróleo não esteja com essa bola toda, é uma história bonita, de tragédias horríveis, mas também de conquistas formidáveis. Mas as mazelas são enormes! A Lagoa de Imboassica, por exemplo, é a mais estudada do mundo por metro quadrado, uma lagoa pequena, e tem uma equipe de renome internacional, liderada pelo mestre e amigo Francisco de Assis Esteves... A lagoa mais estudada do mundo está acabando. O Rio Macaé é estratégico no Brasil, porque além de abastecer a cidade e duas termoelétricas, fornece para as plataformas que produzem 80% do petróleo nacional. O Rio Macaé está acabando, tem estudos sobre o leito do rio que em vários trechos está assim com dez centímetros. Vamos ver o lado positivo... Macaé, aos poucos, está se transformando em um polo de conhecimento, isso é um lado positivo. Mas quem estuda aqui tem essa noção? Na hora do lanche, na Cidade Universitária, o entorno da lanchonete é um lixo só. Isso é falta da consciência de pertencimento, as pessoas vêm, estudam, mas “não é meu”. Precisamos de um pacto social para fazer esta cidade respirar. A maioria das pessoas vive em Macaé numa transitoriedade e isso não é bom para a cidade. Ninguém faz um movimento sozinho, é impossível, tem que ter um pacto da gestão pública com as empresas, com a sociedade... Esta nova Macaé cresceu sem qualquer tipo de pacto, cresceu na marra. Lamento que a grande causadora disso tudo não tenha tido ainda a sensibilidade de entender isso... A Petrobras não tem nem discurso sobre Macaé, é o discurso do copia e cola. Tem que projetar a cidade. A Prefeitura tentou, trouxe Jaime Lerner, mas ninguém, que eu conheço, foi ouvido pela equipe dele. Hoje, a manchete de O Debate diz que passaram um trator em cima de um jardim lindo na Imbetiba e que está todo mundo revoltado. Quer dizer, os projetos em Macaé são assim, as pessoas vão saber depois que o trator passa em cima da sua árvore. Isso é projeto? Pagam uma nota a um escritório internacional caríssimo, aí os caras derrubam a amendoeira porque é exótica... Pô peraí! (Risos!) A única pessoa que não é exótica aqui é o índio, a onça pintada, a capivara... Somos exóticos, viemos de Portugal, da África, do Oriente Médio. (Risos!) A amendoeira é exótica, mas está no coração das pessoas que moram lá, criaram o fi lho embaixo da amendoeira, sentaram embaixo, choraram e riram.

Sempre gostei de tomar minhas biritas na praia, comer meus peixinhos, e existia um casebrinho de palha e um trailerzinho azul todo enferrujado nos Cavaleiros, além de umas poucas casas de veraneio. Neste cenário, ainda de cidade bucólica, eu e o amigão Ricardo Meirelles fundamos a Banda do Boi Capeta, porque quando cheguei a Macaé fui morar na rua do Ricardo e o fi lho dele tinha um boizinho que todo ano saía. Meu pai era carnavalesco e quando ele morreu, o bloco dele em Campos, já

tinha 65 anos... Eu também fui criado com isso e tal... Cheguei aqui e o Ricardo me chamou para sair no boi e eu falei: - Vamos fundar um boi!? A Banda do Boi Capeta, que eu dei o título, durou vinte anos... Isso também faz parte da história de Macaé. Hoje, levaram o carnaval para a Linha Verde, ninguém vê nada, a coisa fi cou muito longe, muito ofi cial. A nossa banda saía na contra mão da avenida ofi cial. Outras festas gostosas também que era de São Pedro, mas começou um tiroteio todo ano e tiveram que sair de lá, e a de São João. As Feiras de Integração eram o máximo, a gente se reunia com aquele pessoal: Alfeu, João Carlos, o Irani... Esse é o lado ótimo da Petrobras, as amizades, as pessoas que vieram trabalhar aqui que são sensacionais e deram o encantamento da cidade, que nem isso tem hoje. A Feira de Integração foi uma tentativa bem sucedida de reunir essas pessoas de fora com a comunidade e deu certo enquanto durou. A partir de determinado momento, com as primeiras descobertas no Polo Nordeste, quando o pessoal viu que o buraco era mais embaixo, que não era um milhão de barris, porém três bilhões de barris de reserva, a coisa começou a crescer, aí se perdeu. Houve um momento em Macaé, de 1979 a 1986, que ainda havia um equilíbrio entre as minhocas da terra e os forasteiros, entre o arranjo produtivo tradicional e o arranjo do petróleo. Depois, como acontece no mundo inteiro, o petróleo foi absorvendo tudo, prejudicando a pesca, a lavoura etc.

Primeiro trabalhei na Folha Macaense e na Folha Litoral... Depois de 1991, entrei para O Debate fazendo matérias diárias e hoje, continuo lá como repórter especial... Faço matérias aos domingos, só voltadas para essas questões da sustentabilidade... Tenho 41 anos de jornalismo e cheguei ao ponto que não vale mais a pena fazer matéria policial, matéria de economia... Quero somar! Mas a grande sacada da minha vida é a revista Visão Socioambiental, que embora seja bimestral, as pessoas gostam muito. A gente quer trabalhar, não é apenas para ganhar dinheiro, é para fazer alguma coisa a mais... Não é só para informar, é informar e conscientizar. Com o trabalho factual você não conscientiza, você reporta... É um trabalho importante também, mas informar e conscientizar é muito fundamental. Eu gosto muito de Macaé, amo Macaé e sinto em não poder contribuir mais... Macaé, nos meus sonhos, será a “Capital Nacional do Conhecimento e das Energias Renováveis”... O petróleo vai acabar, mas o conhecimento não acaba e acho que Macaé merece investir em coisas permanentes, não num produto que além de poluir, além contribuir para destruição da vida no planeta, vai acabar. Sou uma pessoa que se esforça para ser melhor... Tenho 61 anos, mas acho que ainda não consegui aquele estágio que gostaria que todo ser humano atingisse... Aos trancos e barrancos tento ser melhor, adquirir conhecimentos e transmiti-los às novas gerações, porque estamos tendo uma vida bastante estável, mas as futuras gerações, infelizmente, não vão ter. Temos que mudar o sistema de produção e consumo aqui em Macaé, e em Nova Iorque, em Londres, em Tóquio... Temos que pensar, globalmente, com um pé em Macaé e outro no planeta. Estamos pensando em consumir mais para economia crescer e isso é suicídio. Segundo Ban Ki-moon: - Estamos com um pé no acelerador rumo ao precipício. Para mim, é uma honra participar desse livro. O que tem de interessante na minha participação é exatamente a minha condição de ter chegado aqui num momento de transição. Esta conversa foi um grande prazer e já estou treinado para a minha próxima palestra. (Risos!) Obrigado! ▪

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Praia da Barra, 2013.Foto: Livio Campos

1 O casal Mar� nho Santafé e Bernadete Vasconcellos - Cidade Universitária, 2012.

2 Feira de Responsabilidade Social e Empresarial Bacia de Campos - Mar� nho Santafé com Bernadete Vasconcellos e o então diretor do Campus UFRJ-Macaé Prof. Dr. Gilberto Dolejal Zane� , 2013.Acervo parti cular de Marti nho Santafé, Macaé - RJ.

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Luiz Reid [Colégio Estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

Praia do Forte [Praia da Concha com extensão de 180 metros nas dependências do Forte Marechal Hermes]

Geraldo [Salles, macaense]

Lúcio [Lopes de Oliveira, macaense]

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada pelo Decreto Federal 73375, de 27/12/1973, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo]

Luiz Geraldo Pinto [Macaense, arquiteto, arti culista]

Ana Maria Pinto [Macaense, professora de Matemáti ca]

Federação de Estudantes [Na Rua Télio Barreto, onde hoje está a Casa & Roupa]

SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Escola Ferroviária 8.1 – SENAI-Leopoldina, na Imbeti ba, adaptação do anti go Lyceu dos Operários de Imbeti ba, criado em 1911]

Rede Ferroviária [Federal Sociedade Anônima – RFFSA, criada em 30/09/1957, sucedendo a The Leopoldina Railway Company Limited, criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950, alterando o nome para Estrada de Ferro Leopoldina; localizada no bairro da Imbeti ba]

Bariloche [Indústria têxti l, fundada em 1953, fundada por Mário Angel Corral e David Erman, no bairro da Boa Vista, Rua Velho da Silva, 108, telefone 354]

Miguel Ângelo [da Silva Santos, angrense, educador]

FeMASS [Faculdade Professor Miguel Angelo da Silva Santos, criada pela Lei n.0 2.095, de 23/10/2000, sendo inaugurada em 01/01/2001, passando a funcionar na Cidade Universitária a parti r de 2007]

Annita Alvarez Parada [Macaense, membro de uma tradicional família de imigrantes espanhóis]

Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, historiador, escritor]

Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador]

muplica [Sic – multi plica]

Dona Hilda [Ramos Machado, macaense, mito do magistério]

primo [Edgard Barreto Antunes]

Dona Ancyra [Gonçalves Pimentel, macaense]

Doutor Aulomar [Lobato da Costa, carioca, Juiz de Direito da Comarca de Macaé, que durante a Revolução de 1964, agiu com imparcialidade, relaxando prisões arbitrárias; depois foi Desembargador do Estado do Rio de Janeiro]

nasci [Em 06/06/1943]

Conceição de Macabu [Município fl uminense, emancipado em 15/03/1952]

Minha mãe [Ester de Sousa Barreto, macaense de Conceição de Macabu]

viúva [de José de Paula Barreto, macaense de Conceição de Macabu, falecido em 1949, comerciante, subdelegado no distrito de Conceição de Macabu]

viemos [Ele, a mãe e os irmãos Maria, José, Paulo e Ester]

Rua da Praia [Primeiro nome da atual Av. Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]

Taboada [Cine-teatro inaugurado, em 05/04/1931, pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada; localizado na Avenida Rui Barbosa]

Santa Izabel [Primeiro teatro macaense, inaugurado, em 07/01/1866, pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899; localizado na Rua Teixeira de Gouveia]

João Branco [Nome que aparecia nos créditos como tradutor responsável pelas legendas]

Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]

Mudo [Um conhecido ti po popular]

Estação de Trem [No fi nal da Rua Euzébio de Queirós]

Belas Artes [Café, Bar e Restaurante, dos irmãos Gonzalez, na Av. Rui Barbosa, 234, telefone 29]

vinte mil pessoas [Sic]

Bar de Zé Carlos [José Carlos de Freitas, macaense, comerciante, dono da Confeitaria e Lanchonete Glória, fundada por sua mãe a famosa doceira D. Dadá, Maria da Glória Freitas]

UNESCO [United Nati ons Educati onal, Scienti fi c, and Cultural Organizati on / Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura]

o mais perfeito [Sic]

acabou [Em 31/12/1981, após exibição do fi lme A Lagoa Azul, gerando manifestação popular conhecida como vigília cultural]

“O macaense quer raciocinar, quer pensar, quer falar...”Milward de Sousa Barreto

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 17/08/2012.Faleceu, em Macaé, a 12/10/2014.

Essa coisa de lembrança é muito interessante, porque você não conduz, vai surgindo naturalmente. Eu nasci em Conceição de Macabu. Na época, Conceição era distrito de Macaé... Então, por isso, eu sou macaense! (Risos!) Eu mudei para a cidade com 11 anos... Minha mãe fi cou viúva e nós viemos pra cá. Vir a Macaé era uma festa, porque morávamos, como se dizia, na roça... Ai vir à praia em Macaé era uma festa. E Macaé tinha coisas muito interessantes, que marcaram realmente a nossa vida... Macaé era assim, a nossa Hollywood! Era quase um sonho vir a Macaé... Realmente, emociona falar daquela época. Tinha pontos que eram característicos, todos da minha geração fi caram muito marcados com isso. Macaé tinha a Rua da Praia... Era o lugar dos namorados, sabe?... Tinha dois cinemas, o Taboada e o Santa Izabel. O Santa Izabel era o de faroeste e o Taboada de romance. (Risos!) No Santa Izabel, uma coisa interessante era a torcida do bandido... (Risos!) Os fi lmes eram legendados... Eu lembro disso como se fosse hoje, legendas de João Branco... Por algum motivo, nós achávamos que João Branco era o bandido... Porque tinha sempre seu nome nos fi lmes... Chamávamos todos os bandidos de João Branco e torcíamos por ele. (Risos!) No Taboada, assistíamos os fi lmes de amor... Você começava a namorar e ia ao Taboada.

Isso tudo na década de 1950, início dos anos 1960, marcou muito a gente... Tinham duas sessões no cinema Taboada, a primeira era às 19 horas e a segunda às 21... Normalmente, íamos com a namorada às sete, e os pais da namorada às nove... Daí, das nove até a saída do cinema, a gente ia para a Rua da Praia, namorar. (Risos!) A Rua Direita, no centro, era o point de Macaé... Em frente ao Taboada, surgiam os grandes casamentos de Macaé, todo mundo se conhecia ali. Dávamos uma paquerada passeando na Rua Direita, depois marcávamos no cinema, quando apagava a luz começava o romance. Lembro-me de uma pessoa que marcou muito esse período de Macaé, era o Mudo que tinha no Taboada, uma pessoa super simpática que buscava os fi lmes na Estação de Trem... Então, para nós, com 17, 18 anos... Apaixonados... Quando a gente via o Mudo, o coração palpitava, porque lembrávamos da namorada que íamos encontrar no cinema... O Mudo era um verdadeiro condutor de ilusões. (Risos!)

Em Macaé, tinham bares que eram interessantes... O Belas Artes era o local de encontro dos políticos, onde todo mundo sentava e existiam grandes discussões... O povo de Macaé se reunia mesmo, éramos poucos, não chegava a vinte mil pessoas. E tinha o Bar de Zé Carlos, muito interessante, o garçom servia cafezinho na mesa, com aquela toalhinha no braço... Na mesa, tinha um depósito de doces e você comia o doce que queria e depois dizia qual comeu, pra pagar. O cinema Taboada era considerado pela UNESCO, como o mais perfeito cine-teatro da América do Sul, pena que acabou, foi uma das vítimas do tempo. Em Macaé, quando morria alguém era notícia, porque todo mundo se conhecia, e quando nascia alguém, a mesma coisa, todo mundo sabia. Eu lembro que no fi nal do ano, o nosso grupo, visitava todas as casas, desejando feliz ano novo, ceiando... Éramos uma família e sem isso a minha geração sofreu muito, muito.

Em 1962, eu fui para o Exército... Era um marco na vida do jovem homem... Depois do Exército, você ia para o Rio de Janeiro, porque aqui não tinha mesmo como você trabalhar... Não tinha faculdade pra estudar. O Luiz Reid era a escola, uma das melhores do Estado do Rio de Janeiro... Na época, não existia cursos pré-vestibular, mas o aluno do Luiz Reid terminava e passava direto para faculdades, porque tinha uma formação muito boa. Existia uma relação de respeito com os professores, quase paternal, sabe? O chefe de disciplina fi cava andando pela escola... Existiam grandes brigas de alunos naquela época... As brigas eram um programa. (Risos!) Eu me lembro de uma briga muito boa que teve... Todos saíram e foram para a Praia do Forte... Brigaram dois garotos fortes e a turma toda assistindo... Eram Geraldo e Lúcio, que estão vivos até hoje... Durou horas e entrou pra história.

Quando fui ser professor da FAFIMA, eu ia supervisionar aulas no Luiz Reid... Fiquei decepcionado, triste, vendo tudo riscado, quebrado, sabe? Nós tínhamos um teatro no Luiz Reid, era uma beleza... Eu lembro que Luiz Geraldo Pinto, falecido, gostava muito escrever... A irmã dele é Ana Maria Pinto... Ele escrevia muito bem, fazia jograis... Os alunos tinham uma vida integrada com a escola. Tinha a Federação de Estudantes, todos nós íamos para lá... Jogávamos ping-pong... Tinha bailes... Biblioteca... A gente era muito mais completo como aluno. Eu não, mas muitos garotos estudaram no SENAI. Acho que Macaé era o lugar que tinha mais bicicletas no Brasil, porque chegava a hora do almoço era aquela “nuvem” de bicicletas. Trabalhava-se na Rede Ferroviária; na Bariloche ou naqueles comerciozinhos... Não tinha outra coisa.

Então, era um tempo muito rico e de muito respeito. A relação que a gente tinha com os professores... Lembro até hoje do professor Miguel Ângelo... Depois nós tivemos a felicidade de colocar o nome dele na primeira faculdade pública de Macaé a FeMASS. Annita Alvarez Parada, professora de Português... Todo aluno, inclusive eu, era apaixonado por ela... Era muito bonitinha! O irmão dela era Tonito. Seu Pierre, diretor do Luiz Reid, na época em que eu estudava lá, dava aulas de Matemática, mas ele era muito apressado... Falava, muplica isso por aquilo, nem falava a palavra toda. (Risos!) Eu era péssimo em Matemática! Dona Hilda era professora de Língua Francesa... Até meus últimos exames, língua estrangeira era Francês... Lembro dos poemas... Como eu curtia falar os poemas franceses que Dona Hilda ensinou pra gente! Um primo meu, pastor, estudou com ela... Numa viagem à França o convidaram para pregar, daí ele fala assim: - Eu preguei no francês de Dona Hilda. (Risos!) A gente estuda inglês a vida inteira e não sabe mais nada do que yes e pronto. (Risos!) Dona Ancyra, professora de Geografi a, era uma pessoa que você olhava na rua e se curvava. Eu lembro muito bem de um juiz, aqui em Macaé, olha que faz sessenta anos isto, Doutor Aulomar, tão tranquilo, a gente passava na rua e esperava ele falar primeiro, não tínhamos nem coragem de falar com ele... Falava: - Bom dia menino! Respondíamos: - Bom dia doutor Aulomar! (Risos!) Então, as pessoas tinham outra cultura, sabe?

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muralha [Muro de alvenaria que margeia a extensão da praia]

Prefeito [Elias Agosti nho, em seu governo de 31/01/1951 a 31/01/1955]

Hotel de Imbeti ba [Administrado nessa época pelo SESC - Serviço Social do Comércio; cujo prédio data do século XIX, quando abrigava o Grande Hotel Balneário, propriedade do campista Alberto Lamego]

parte mais alta [Parte do páti o da anti ga Alfândega, inaugurada em 06/12/1896 e exti nta em 1904]

Itamir Abreu [Itamir Honório Abreu, macaense, empresário, políti co, radialista, prefeito de Macaé, em 1962]

prancha de mergulho [Trampolim]

mureta [Balaustrada instala durante a remodelação da via, no governo do Prefeito Ivahyr Nogueira Itagiba, 1936-7]

Rio Macaé [Com nascente a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]

Mercado de Peixe [Mercado Municipal, inaugurado em 15/12/1914 pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o]

Pororoca [Lugar onde o Rio Macaé encontra o Oceano Atlânti co]

Prefeitura [Municipal, prédio ampliado por Joaquim da Silva Murteira para abrigar a sede do Poder Executi vo, no governo do Prefeito Sizenando Fernandes de Souza, 1926]

Câmara [Atual Palácio Dr. Claudio Moacyr de Azevedo, Museu do Legislati vo, na Praça Gê Sardenberg, edifi cado em 1837, anti go Solar dos Araújos, que hospedou D. Pedro II]

Zé Milbs [José Milbs de Lacerda Gama, macaense, jornalista, proprietário do jornal O Rebate]

Rubinho Patrocínio [Rubens Patrocínio Júnior, macaense, professor de Física]

Wilson Vieira Passos [Macaense, economista, administrador, ex-aluno do Centro de Formação Profi ssional de Macaé (SENAI) na Imbeti ba]

meu fi lho [Artur Amaral Barreto, macaense, estudante]

amigo [Paulo Roberto, professor de Estatí sti ca]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

estudei [No Colégio Pedro II, graduando-se em Letras pela Sociedade Universitária Augusto Mota, SUAM]

Princesinha do Atlânti co [Cognome adquirido nos anos 1940]

Carlos Drummond de Andrade [Poeta, conti sta e cronista mineiro]

apenas uma fotografi a na parede [Referindo-se ao poema Confi dência do Itabirano]

cidade de Drummond [Itabira-MG]

Meynardo [Rocha de Carvalho, carmense de Porto Velho do Cunha, professor, historiador]

Atlanti c [Empresa privada do segmento de distribuição de combus� veis, cuja rede de postos foi adquirida, em 1993, pela Ipiranga]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca, professor de História, dramaturgo]

Praça Washington Luiz [Originalmente Praça Municipal, depois Washington Luiz, deixando de ser após a Revolução de 1930, passou a chamar-se Visconde do Rio Branco e ainda Irmãos Ferreira Rebello, até que voltou a homenagear o macaense Presidente da Brasil]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, educadora, políti ca]

Búzios [Armação dos Búzios, município fl uminense da Microrregião dos Lagos, famoso balneário, emancipado de Cabo Frio em 12/11/1995]

Brigi� e Bardot [Atriz francesa]

Cabo Frio [Município balneário fl uminense, fundado em 13/11/1615, sendo o séti mo mais anti go do Brasil e o principal da Região dos Lagos]

areia monazí� ca [Substancia mineral com abundante quanti dade de minerais pesados como monazita,tório, isótopo 232 e urânio, responsáveis por sua radioati vidade. O termo monazita provém do gregomonazein, que quer dizer “estar solitário”, o que indica sua raridade]

Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Antônio O� o [de Souza Filho, macaense, cujo pai homônimo foi prefeito de Macaé em 1960]

paredão [Muro de alvenaria que margeia a extensão da praia]

ressaca [Correntes maríti mas impulsionam a massa de água que caminha com velocidade crescente até encontrar o litoral e inundar a faixa de areia e adjacências]

Ontem, meu fi lho estava namorando na porta da casa da namorada, nove horas da noite... Chegou em casa e falou: - Pai roubaram meu celular! Disse que passaram dois garotos de bicicleta e tomaram o celular dele. Quer dizer, Macaé fi cou muito diferente. Eu, na época de jovem, bebia. Quantas vezes começava beber na rua e acordava em casa, sem saber como cheguei lá... Eu tenho um amigo, que dava aula comigo na FAFIMA, e mora do outro lado da Praça Veríssimo de Mello... Ele dizia que dava uma volta para chegar em casa, porque só ia por lugares que tinha luz, com bares abertos, por medo de passar pela Praça... Um lugar que, antes, a gente fi cava namorando, curtindo.

Esse livro deve falar muito nisso, as mudanças impostas depois da Petrobras. Saí do Exército em dezembro de 1962, e no dia 3 de janeiro comecei a trabalhar no Rio... Fiquei lá quinze anos, estudei, trabalhei... Nós saíamos daqui já querendo comprar a passagem de volta. Mas Macaé foi perdendo sua identidade, perdeu totalmente, aliás, não perdeu, substituiu. A Petrobras deu uma identidade nova pra Macaé, que hoje não é mais a Princesinha do Atlântico, é a princesa do petróleo. Deixou de ser essa coisa natural, que faz parte da vida... Como sangue que você não vê, mas não vive sem ele... Carlos Drummond de Andrade fala de sua cidade como sendo apenas uma fotografi a na parede. Qual é o nome da cidade de Drummond? Ele fala que ela é tal qual um quadro na parede... Macaé também é como um quadro na parede... É um lugar para você lembrar. O Meynardo falou comigo a respeito de fotografi as... Ai, eu comecei a ver umas fotos, mas eu só tenho de criança, e uma única de quando estava no Exército. Então, pensei: Gente como pode?!? Isso tudo acabou... Tudo acabou. Este retrato é interessante... Repare no detalhe... Estou com um cigarro, né? Eu nem fumava, mas era moda, você tinha que usar o cigarro, porque fomos vítimas de Hollywood, do cinema americano.

A Petrobras trouxe benefícios, ninguém nega. Quando ela chegou por aqui, eu estava no Rio de Janeiro, trabalhei muitos anos na Atlantic, companhia de petróleo... Sou professor há muitos anos, sempre gostei de escrever... Voltei em 1984... Ricardo Meirelles trabalhava na Secretaria Estadual de Educação... A Petrobras já estava instalada, querendo sempre fazer alguma coisa na sociedade, pra ter como se justifi car, não fi car só tirando, só tirando. Queriam fazer um auto de natal, conversaram com Ricardo, pedindo para eu fazer... Eu escrevi, montamos na Praça Washington Luiz e fi cou muito bonito... Eu sou muito romântico e não tem mais lugar pra romance... Sou professor de Literatura e sempre quis escrever um livro, que tratasse de 1955 a 1965, para contar essas coisas que a gente está conversando aqui. Sabe por quê? Por causa dessa necessidade em mostrar nossa época, marcar nossa existência, se não ela vai passar, como tudo está passando, sabe?

Quando a gente era garoto... Búzios era o lugar, o mundo inteiro já conhecia Búzios, a Brigitte Bardot veio ao Brasil e fi cou em Búzios... Todo mundo falava em Búzios. Cabo Frio era Cabo Frio! Macaé sempre foi uma aldeia de pescadores, um lugar de repouso... Tinha areia monazítica na Praia da Imbetiba, que fazia bem à saúde e as pessoas de mais idade fi cavam ali e se curavam de uma porção de coisas. A Praia do Forte era super... Ninguém hoje consegue imaginar como era frequentada, todas as famílias iam ali. A gente ia à Praia da Imbetiba, que era uma festa! Tinha a Barraca de Parrudo, um senhor aqui de Macaé... Um lugar grande que só entrava homem, não entrava mulher de jeito nenhum, mas só se falava sobre mulher. (Risos!) Não podia falar de outra coisa!

Mês passado morreu um primo meu, era como se fosse meu irmão, foi tabelião aqui em Macaé, Antônio Otto, a gente o chamava de Ottinho. Ele simplesmente pirou, enlouqueceu, nunca saiu de Macaé, nesse período que eu saí, ele não saiu, fi cou massifi cado... Essa coisa de Petrobras... Enlouqueceu mesmo... Era excelente datilógrafo... Um poeta de primeira qualidade, mandava editar os livrinhos dele... Ele foi lá na Rua Direita, quebrou a máquina de escrever e disse: - Não escrevo mais nada sobre este lugar. Largou tudo, foi aposentado novo, novo. A gente fi cava dez anos sem se ver, quando nos encontrávamos, ele falava como se estivesse ainda naquela época de 1960... Cortou esse período pra cá, tirou da mente. Ele sentia uma coisa que nós sentimos a cada instante: Agressão à natureza, essas coisas que fazem na Imbetiba, sabe?

É uma tristeza aquela Imbetiba, porque eu a conheci quando não tinha nem paredão, quando chovia e dava ressaca... Ainda não tinha a muralha jogava água lá na Rua Direita... Saía pela Rua da Igualdade e tchaaaaa... Essa Avenida Elias Agostinho foi o Prefeito quem fez... O paredão também... Naquela época, o Prefeito administrava de acordo com a necessidade do lugar, fazia o que aquele lugar precisava... Aquelas amendoeiras, o Hotel de Imbetiba... Descaracterizaram tudo... Tinha o Bar Mocambo, uma beleza, quanto guaraná eu tomei ali!?! Aquele calorzinho, chegar e tomar aquele guaraná, que coisa deliciosa! O Mocambo era naquela parte mais alta, dentro da praia mesmo. Um bar que não tinha valor material nenhum, um barzinho feio, sem nada, sabe? Mas tinha um salão lá dentro, onde a gente fi cava, serviam mal, a comida era pouca, não tinha grande coisa. Mas representava tudo pra gente... Uma vez, eu lembro que Itamir Abreu estava falando que foi à Europa e disse: - Eu tava lá em Paris rapaz, chego lá um cara falou assim: Vamos conversar de coisa boa? Ahhh, eu lembrei logo do Mocambo! (Risos!) Entendeu? O Mocambo faz parte da gente. Como me faz mal olhar aquele negócio! É como se a sua juventude não valesse nada. Era bonita a Imbetiba, tinha uma prancha de mergulho, íamos pra lá mergulhar... Um rapaz que já morreu, Heitor, mergulhava de cima do Hotel de Imbetiba, e passava voando hornnnnntchabum... Troço lindo!

Nós tomávamos muitos banhos na Rua da Praia... Garoto é fogo, né? Tinha uns postes em cima da mureta... Os namorados quebravam as lâmpadas, pra beijar no escuro e os garotos aproveitavam para mergulhar de cima do poste... Tomávamos banhos, atravessávamos o Rio Macaé nadando... Hoje, você não pode mais entrar no rio, está uma poluição danada! O Mercado de Peixe, antigamente, era mercado mesmo, não era só de peixe, passou a ser quando Macaé perdeu a identidade dela. Naquela época, era tipo um Hortifruti, com quitandas dentro... Tinha peixe, mas tinha açougue, tinha tudo... Ali, era um lugar gostoso demais de ir... A Pororoca era um lugar delicioso, eu morava ali perto, morava na Rua Julio Ollivier... Quando viemos pra Macaé, eu fi cava assustado à noite, ouvia assim: Puxa do norte... Puxa do sul!!! E pensava: Meu Deus, o que é isso!?! Ai depois fui saber, era o arrastão de peixes... Jogavam aquelas redes de mais de duzentos metros, recolhiam até a praia, onde fi cava um pessoal puxando as cordas. Aí vinha aquele monte de peixes de tudo quanto era tipo: sardinha, peixe espada... Peixe que não tinha valor comercial era dado pra gente. Era muito gostoso, Macaé!

Ficávamos na Prefeitura, onde hoje é a Câmara... Ali, era o lugar que a gente conversava até quatro, cinco horas da manhã... Lembro muito de Zé Milbs, que deve ter muita história pra contar; o Rubinho Patrocínio, que morreu... Wilson Vieira Passos... Uma turminha boa. Na volta pra

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sua mãe [Zelita Rocha de Azevedo, campista, doceira]

doce [de batata doce]

outro candidato [Membro de família abastada, fundadora do eliti sta Clube dos Abaetés, proprietário da M. Paes & Cia. Ltda., concessionária automoti va, na Av. Rui Barbosa, 663, telefone 24, depois deputado estadual e federal]

ganhou [Governando de 31/01/1967 a 14/05/1970]

Barra [Anti go segundo distrito, hoje primeiro subdistrito]

Aroeira [Bairro loteado, na década de 1960, em terras do ex-prefeito Juvenal Barreto Junior, o Doca]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]

prefeito nomeado [26/09/1960 a 15/01/1961]

eleito [31/01/1973 a 31/01/1977]

reeleito [01/01/1983 a 31/12/1988]

minha irmã [Ester de Sousa Barreto]

Prefeito [Riverton Mussi Ramos, macaense, professor, políti co, vereador, governou o município em dois mandatos consecuti vos 2005-12]

Castelo [Solar de Monte Elízio – Insti tuto Nossa Senhora da Glória, no bairro Visconde de Araújo]

meu irmão [José de Sousa Barreto, macaense de Conceição de Macabu, funcionário do Serviço Social da Indústria - SESI]

Praça Gê Sardenberg [Logradouro público onde está o Palácio Dr. Claudio Moacyr de Azevedo – Museu do Legislati vo]

AIDS [Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida]

doença venérea [Gonorréia, pediculose pubiana, sífi lis, etc.]

quartel [1.a/10.0 GACos M, o Forte Marechal Hermes, na Imbeti ba]

Geraldo Luiz de Paula Mussi [Macaense, militar, advogado]

Francisco Porto [Macaense, militar]

Comandante [Naquele ano foram comandantes os majores Alberto Azevedo de Oliveira e Renato da Costa Braga]

Seu Maninho [Nilo dos Santos Macedo]

Farmácia Narciso [Na Av. Rui Barbosa]

Seu Adelermo [Marques, da Farmácia Marques, depois Santa Terezinha, também na Rui Barbosa]

Caetano [Farmácia e Drogaria São Caetano, com matriz na Rua Télio Barreto e fi liais na Praça Veríssimo de Mello e na Av. Rui Barbosa]

Ele [O proprietário Edmundo Caetano da Silva, macaense, empresário, benemérito, foi presidente da Sociedade Musical Nova Aurora, em 1957]

Paulinho [Paulo Vasconcellos]

Rua Conde de Araruama [124, Centro, telefone 319]

Rua Direita [Avenida Rui Barbosa, 375, Centro]

pessoal tradicional de Macaé [O casal João Bati sta de Lima e D. Zélia Lopes Figueiredo Lima]

Golpe Militar [Golpe de Estado iniciado quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

Conservatório Nacional de Teatro [Criado em 1937, pelo Presidente Getúlio Vargas, atual Escola de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO]

eles [Os militares]

movimento [Protestos, passeatas]

brasileiros [Patriotas]

Copa do Mundo [Na Suécia]

Copa do Mundo [No Chile]

comunista [Pessoa que defende que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição aos liberalistas, que crê que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital do Estado do Rio de Janeiro de 1903 a 1975]

Tote [Aristóteles de Miranda Melo, líder sindical, eleito Vereador do legislati vo macaense em 1947 e Deputado Estadual em 1962, auge do movimento operário em Macaé, chamada a Moscouzinho, após a Revolução de 64 foi preso e exilado]

Ypiranga [Futebol Clube, fundado por Dourival de Souza, cuja sede foi o anti go Clube dos Abaetés, na Av. Presidente Sodré esquina com Rua Tenente Coronel Amado]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

faculdade [Faculdade de Filosofi a de Campos - FAFIC, criada em 1961]

casa de comércio [Casa Garcia, na Av. Rui Barbosa, 152, telefone 30]

Magdá [Maria Magdalena Pereira Garcia, macaense de Glicério, socialite, benemérita, empresária]

Seu Garcia [Carlos Augusto Tinoco Garcia, macaense, benemérito, empresário, proprietário do luxuoso Turismo Hotel, na Av. Rui Barbosa, 433, telefone 30]

Governador [Teotônio Ferreira de Araújo Filho, campista, advogado, deputado, eleito vice-governador na chapa de Paulo Torres, substi tuindo-o quando este foi candidato a senador em 1966, sempre presti giou muito Macaé, especialmente Conceição de Macabu, onde ti nha parentes, sendo retratado no romance O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, advogado, políti co]

candidato a prefeito [Em 1966, pelo MDB, Movimento Democráti co Brasileiro]

outro candidato [Márcio Moreira Paes, da ARENA, Aliança Republicana Nacionalista]

casa, passávamos na Padaria e Confeitaria Reis, pegávamos pão e leite em garrafas... Às vezes, tomávamos o leite no caminho pra curar a ressaca. (Risos!) Esta padaria fi cava na Rua Conde de Araruama... A gente não guardava nome de rua, chamávamos de Rua da Padaria Reis. Também tinha a Padaria e Confeitaria Lima, na Rua Direita... (Risos!) Era grande, de um pessoal tradicional de Macaé.

O Golpe Militar foi uma tragédia, porque muita gente boa passou a ser ruim e muita gente ruim passou a ser importante, ou seja, as pessoas que entregavam os outros passaram a ser importantes. Eu trabalhava no Rio, foi 1.0 de abril de 1964, né? Em 31 de março, foi a Revolução. Eu vivi muito essa época... Só que eu vivia no Rio, tive uma vida bem ativa nessa época, porque estudava, fazia teatro no Conservatório Nacional de Teatro, que funcionava no Flamengo, e eles fecharam o Conservatório... Fizemos muito movimento nas ruas, fazíamos mesmo... Apanhei muito nessa época... Nós éramos muito mais brasileiros do que somos... Hoje, somos muito internacionais... Em 1958, ganhamos a Copa do Mundo, o Brasil entrou em êxtase... Em 1962, eu estava no Exército, e ganhamos outra vez a Copa do Mundo... Coisa mais linda, nós vibrávamos, todo mundo vibrou.

No período da Revolução, não participei aqui de Macaé, mas soube de muitas coisas que me deixaram triste, pessoas que entregavam os outros, como os ferroviários da Imbetiba, porque bastava ser operário para ser considerado comunista. Morei, por coincidência, com Claudio Moacyr, que era o advogado dos ferroviários. Às vezes, pessoas que eram procuradas como comunistas fi cavam lá em casa... Morávamos em Niterói, num apartamento na Avenida Amaral Peixoto, 84. Essas pessoas nem sempre eram de Macaé... Daqui, eu lembro de Tote, famoso, um ferroviário famoso, comunista. Comunismo era muito mais um discurso do que uma realidade. A maioria das pessoas não tinha grande cultura... Macaé passou por isso também.

O Ypiranga foi um marco na vida de todos nós, era o lugar onde íamos dançar... As maiores orquestras brasileiras vinham tocar em Macaé, uma cidadezinha de nada. Macaé, culturalmente, nesse estilo, era muito mais importante que Campos, que tinha muito mais nome... Campos tinha faculdade, tinha indústria, era grande produtora de açúcar. Macaé produzia gente! Acho que isso era importante, gente você não mede pela quantidade, açúcar você mede, produz não sei quantas toneladas. Macaé tinha gente!!! A família Garcia tinha uma casa de comércio que era uma beleza. Dona Magdá fazia desfi les de moda, bailes de debutantes... Ela e Seu Garcia faziam umas coisas por conta deles, ninguém tinha subvenção de nada... Você fazia com o seu dinheiro, seu esforço... No auge da loja de Magdá, tinha Seu Coutinho, que trabalhou lá, acho que uns cinquenta anos, mantinha sua família, seus fi lhos se formaram, só trabalhando de empregado no comércio.

O Governador gostava de vir à Macaé... Uma vez foi pra Conceição de Macabu... Despachava de lá, nunca mais se ouviu falar nisso. Hoje, os governadores vêm à Macaé arranjar votos, para fazer política somente. Aqui em Macaé, eu lembro a primeira vez que Claudio Moacyr foi candidato a prefeito... O outro candidato era uma pessoa rica de Macaé. Claudio era pobre, sua mãe fazia doce pra vender e pagar os estudos dele. O outro candidato chegou no café Belas Artes, pegou um cheque de 100.000 cruzeiros, era uma fortuna, ai falou: - Claudio, vê se você vai ganhar disto aqui? Aí Claudio respondeu: - É, rapaz, vai ser difícil, mas vamos lutar. (Risos!) Uns dias depois, estava passando um rapaz, conhecido como da Barrinha, carregando um colchão de mola, e gritaram: - Aí da Barrinha, tá se dando bem!?! E ele respondeu assim: - É... Doutor fulano que me deu,

mas eu voto é no Claudio! (Risos!) O Claudio ganhou sem um tostão. A eleição se resumia a cidade, a zona rural era muito insignifi cante. Macaé era Barra, Aroeira... Não tinha nem Cavaleiros. Então Macaé tinha uma consciência muito maior. Hoje, as eleições são decididas na periferia, todo mundo sabe disso.

Seu Alcides Ramos foi prefeito nomeado, eleito e reeleito... Todo mundo gostava muito dele. Lembro que minha irmã, um dia, ligou para a Prefeitura, porque tinha um lote em frente à casa dela, e as pessoas botavam lixo lá... Daqui a pouco chegou Seu Alcides, com o caminhão da Prefeitura, mandando o cara tirar o lixo. Eu não falo com o nosso Prefeito desde não sei quantos anos. (Risos!) Estou precisando falar e não consigo.

Sabe o que é zona? É um ambiente de prostituição. Macaé tinha zonas conhecidas. Tinha uma, no centro da cidade, de uma pessoa, inclusive de família, sabe? A dona da zona era super respeitada por todo mundo, era apenas dona da zona. Nós, moleques, íamos para o telhado fi car olhando lá de cima as prostitutas. (Risos!) Tinha duas zonas nos Cavaleiros, não tinha casas, só a zona, chamava Quadrado... Uma outra perto do Castelo, chamada Continental. Não vou dizer nomes porque é chato, mas tinha um médico que era muito, muito rápido em tudo... Falava rápido, atendia rápido, andava rápido... (Risos!) Um dia, ele estava na zona, aí saiu com uma moça da casa, daqui a pouquinho já voltou, aí o povo dizia que até aquilo ele fazia rápido... Muito rápido! (Risos!) As mães sabiam onde os fi lhos estavam, porque o que você estaria fazendo em Macaé depois de nove horas da noite? Não tinha nada! Terminava o cinema, acabou Macaé... Às vezes, o meu irmão demorava para chegar, e minha mãe sabia onde ele estava... Era muito difícil uma moça casar grávida, porque as pessoas, os namorados, eles tinham as zonas. Uma vez eu escrevi um poema pra uma prostituta. Não lembro mais não, um soneto, escrevi agradecendo a existência delas, por causa da existência delas, as famílias eram preservadas. As mulheres não sei se ligavam, mas fi ngiam que não sabiam que os maridos estavam na zona... A zona não representava só sexo, era um lugar de encontro. Lembro uma vez que estava na Praça Gê Sardenberg, aí apareceu um rapaz de fora, devia ter uns trinta anos, e falou assim: - Aqui menino, você sabe onde tem? Estavam inaugurando o Continental. Ele fi cou apaixonado, porque no Rio a zona era aquele negócio... Entrou saiu, entrou saiu, entrou saiu... Aqui não, era tipo cabaré, tinha striptizi. Graças a Deus, na época, não existia essa coisa de AIDS.. Existia doença venérea... Era raríssimo o garoto que nunca tinha pego, porque ninguém conhecia muito de higiene, essas “bobagens”.

Nós tínhamos o maior orgulho de ir para o Exército. Naquela época, você não fumava dentro do quartel. Lembro que Geraldo Luiz de Paula Mussi era tenente quando eu servi, era ô ofi cial... Ele andava numa linha. A minha mãe viúva, eu no quartel... Só tinha eu e ela... O Sargento Francisco Porto chegou à casa de minha mãe, viu que ela estava sozinha, nunca mais me deixou tirar serviço de noite. O Sargento conhecia minha família, assim como o Tenente Mussi, o Comandante, todo mundo era conhecido, existia um respeito, uma hierarquia natural, emotiva, não era uma coisa imposta. Eu, hoje, passo isso para os meus fi lhos, a importância de ser o que somos...

Eu me lembro de Seu Maninho da Farmácia Narciso, assim como lembro de Seu Adelermo. Da Caetano, eu lembro bem... Ele não teve fi lhos e tinha um sobrinho do qual gostava muito, Paulinho, que começou estudar medicina só para fazer a vontade dele, fazia estágio em Niterói, num banco de sangue, bateu de carro e morreu. Eu conheci essa turma toda...

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Seu Peixoto [Raymundo Peixoto Lins, cearense, o Peixotão, fundador do Grupo Espírita Pedro, em 22/06/1930, irmão de Francisco Peixoto Lins, o célebre médium Peixoti nho]

Lar de Maria [Insti tuição fi lantrópica de amparo à crianças carentes, inaugurada em 13/07/1952 - estabelecida na Av. Rui Barbosa, 1563, Cajueiros -, que em 1985 passou de abrigo à creche]

Rio Bonito [Município fl uminense, fundado em 07/05/1846]

na Rua Direita [Av. Rui Barbosa, 443, uma iniciati va do benemérito José Soares Garcia, macaense, empresário, angariando fundos para ações sociais]

Rati nho [Jogo de sorteios, com premiações]

fi cou viúvo [De Maria Jesuína da Cunha Barreto Antunes, a D. Zozó]

Edilson [Barreto Antunes]

Edelto [Barreto Antunes]

Pelé [Édson Arantes do Nascimento, mineiro, atleta, Rei do Futebol]

Primeira Igreja [Bati sta, na Rua Teixeira de Gouveia, fundada pelo pastor Salomão Ginsburg, em 13/05/1898, na Rua 13 de Maio, atual Av. Rui Barbosa]

padre Zé [José A. Caminha Cervinho, espanhol, professor de Lati m no Ginásio Macaense, na Rua Teixeira de Gouveia - onde Milward Barreto concluiu o ensino primário - e, depois, no Colégio Luiz Reid]

igreja católica [a Matriz de São João Bapti sta, na Praça Veríssimo de Mello]

Marlene [Cerqueira]

internato [Colégio Magdalenense, em Santa Maria Madalena-RJ]

Giselma [Lima do Amaral, macaense, pedagoga, com quem teve os fi lhos Artur, Daniel e Pedro]

queijadinha [Doce � pico da culinária brasileira, com infl uência portuguesa, tendo como peculiaridade o coco ralado, substi tuindo o queijo, que não entra na composição mas lhe dá nome]

Bar de Zé Carlos [Confeitaria e Lanchonete Glória]

poema [Tabacaria, escrito em 1928 e publicado em 1933, concebido pelo heterônimo Álvaro Campos]

Fernando Pessoa [Poeta, fi lósofo e escritor português]

Fabrica Lynce [Na Av. Rui Barbosa, 286, telefone 41]

Moranguinho [Refrigerante gasoso de groselha, hoje conhecido como Morangui� o]

Banco do Brasil [Na Av. Rui Barbosa, 904, em frente a Praça Veríssimo de Mello]

Auto-Geral [Comércio de peças automoti vas de Fernando Hipólito dos Santos, na Rua Barbosa, 842]

SAMDU [Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência, funcionava no prédio da anti ga Pharmácia Siqueira]

médico [Corpo médico: Antonio Luís Lindenberg Nogueira (chefe), Everest Salles, Antonino Cure, Manoel do Carmo Lousada, Sady de Almeida Gomes, Roberto Moacyr Leite e Santos, Fouad Hissa, Luís Vertzman, Jady de Araújo Góes e Antonio Viana]

enfermeiro [Célio Ferraz, macaense]

Godofredo Taboada [Alvarez, mineiro, empresário, proprietário do Cine-TheatroTaboada]

Adílio Francesconi [Cabo-friense, empresário com negócios de benefi ciamento e fornecimento de sal, sócio da fi rma Francesconi& Cia. Ltda., na Rua Dr. Cuperti no, 1, foi representante da Mercedes-Benz e possuía um automóvel luxuoso]

Aquele outro [José Siqueira da Silva, macaense de Conceição de Macaé, empresário, farmacêuti co, proprietário da Pharmácia Siqueira, na Praça Veríssimo de Mello]

Praça da Igreja [Matriz de São João Bapti sta, Praça Veríssimo de Mello, construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

não � nha salário [sic]

Petrópolis [Cidade serrana fl uminense, conhecida como Cidade Imperial, fundada em 16/03/1843 é muito procurada pelo clima e por atrações turísti cas como o Museu Imperial e o Museu Casa de Santos Dumont]

duzentos e poucos funcionários [sic]

candidatos a prefeito [Dr. Aluízio dos Santos Júnior (PV), eleito em 07/10/2012 com 70.693 votos, disputando com Christi no Áureo (PSD) com 30.391; Pastor Nilson Mendonça (DEM), 4.271; Mateus Ribeiro (PSTU), 1.416; Júnior do Transporte (PPS), 595; e Rafael da Anunciação (PSOL), 372]

Lei [Orgânica Municipal, aprovada em 05/04/1990, subordinada a Consti tuição Federal e a Estadual]

Bolsa Família [Programa de transferência de renda do Governo Federal, sob condicionalidades, insti tuído no Governo Lula pela Medida Provisória 132, de 20/11/2003, converti da em lei em 09/01/2004, pela Lei Federal n. 10.836]

Meynardo [Rocha de Carvalho]

Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro]

No centro, tinha a Fabrica Lynce, como era gostoso ir lá, tomar Moranguinho, quente, porque eles davam pra gente. O Banco do Brasil era onde, que hoje está o Banco Itaú, na Praça Washington Luiz... Dentro da cidade, tinha chácaras... Ali onde hoje é o Banco do Brasil, era uma chácara imensa, com bananeiras... Ali, tinha o Auto-Geral, um posto de gasolina... O SAMDU, que tinha só um médico de plantão à noite, e um enfermeiro, mas nunca deixaram de atender... Minha mãe era asmática e sempre chamava o médico, não tinha telefone e íamos correndo chamar e o médico vinha na hora, a pé, ninguém fi cava sem atendimento, não tinha pobre, não tinha rico. Algumas pessoas eram consideradas as mais ricas: Godofredo Taboada, Adílio Francesconi... Aquele outro que tinha farmácia e era muito miserável... Contam que um dia uma pessoa estava com um cachorrinho doente, foi no macumbeiro (Risos!) e falou: - É que meu cachorrinho tá doente e tal. E o macumbeiro receitou: - Você faz o seguinte, vai em tal lugar, faz não sei o quê, e fala o nome de três pessoas ‘miseráveis’. Aí, no outro dia, a mulher voltou: - O meu cachorrinho morreu, fi z tudo que mandou, e falei Godofredo, Adílio e Seu Siqueira... (Risos!) Aí o cachorro não aguentou!!!

Na Praça da Igreja, as festas eram muito boas... Aquelas festas antigas de roça, com barraquinhas... Eu não me lembro de nenhum envolvimento de político, de vereador, de nada, porque nessa época, vereador nem ganhava, nesse período, vereador não tinha salário e o prefeito administrava os impostos, que era muito pouco, pouco mesmo. Macaé era a cidade mais limpa que tinha, acho que no Brasil! Minha mãe morou em Petrópolis.. Falava assim: - Vou receitar pra Petrópolis trazer o prefeito de Macaé, porque nunca vi cidade tão limpa! Macaé sempre teve um vento constante... Tinha um guarda que a gente chamava de Panela de Pressão, porque só vivia apitando. (Risos!) Ficava na Rua Direita e controlava tudo... Quando eu entrei na Prefeitura Municipal de Macaé, em 1988, éramos duzentos e poucos funcionários e hoje tem um número escandaloso de funcionários... Nós, macaenses, sofremos muito com isto, porque eu tenho impressão que a grande tristeza de um pai, de uma mãe, é ver um fi lho mal direcionado, ter um fi lho jogado, numa situação difícil, e é isso que acontece com a gente... O macaense quer raciocinar, quer pensar, quer falar... Hoje, ele fi ca meio desconsertado.

Então, hoje se eu tivesse alguma força, se eu pudesse conversar com esses candidatos a prefeito pediria que eles se comprometessem em fazer o que está escrito na Lei, só isso, só fazer o que está escrito na Lei... Ela diz que o Município deve dar estrutura física e humana, só isso... Não é impossível, mas as pessoas deram para traduzir tudo como dinheiro, dinheiro, dinheiro... Aí vem o governo dá Bolsa Família, bolsa não sei o quê... Não é nada disso! Você tem que dar condição das pessoas carregarem a sua própria bolsa. Vocês estão fazendo um trabalho muito importante... Quando Meynardo falou comigo a respeito desse livro, pensei: - Gente, como que é importante isso, mostrar um pouco do que era, um pouco do que é, e uma perspectiva do que pode vir a ser!

Sobre religiosidade na cidade, nessa época... Eu lembro da família de Seu Pierre... Família de Seu Peixoto, que eram espíritas, pessoas totalmente ligadas à religião deles, muito respeitosas e respeitadas. A família Barreto Antunes... Esse pessoal todo era evangélico... Nós também éramos batistas... Mas tinha as famílias tradicionais católicas, as presbiterianas... Hoje, é uma epidemia mundial essa coisa de novos pentecostais que surgiram, que eu particularmente acho um grande blefe. Nós nunca pensávamos em dinheiro... O Lar de Maria foi mantido totalmente pelos espíritas, sem pensar em lucros... E que trabalho faziam com crianças, com mulheres, mães solteiras, com idosos, tinha asilo, tudo por conta. Os católicos, por seu lado, tinham um trabalho espetacular... Os evangélicos verdadeiros

também tinham... Nós tínhamos, em Rio Bonito, um asilo totalmente mantido pela igreja.

Havia o Parque Lar de Maria, na Rua Direita... Saíamos da igreja e correríamos logo pra lá... Quando não tínhamos dinheiro, ficávamos vendo o Ratinho, quando tínhamos, comprávamos pastel e caldo de cana e fi cávamos nos divertindo ali. Tudo muito legal, tudo muito gostoso.

Edmundo Barreto Antunes foi pastor por trinta anos... Participou do casamento da minha mãe e depois casou com ela, o safado!... (Risos!) Minha mãe estava viúva há muitos anos, ele fi cou viúvo e casou com ela... Foi uma pessoa espetacular!...Têm muitos pastores na família dele, tem, dentre outros, o Edilson, que pra mim é insuperável como médico, é o maior Gastroenterologista que tem em Macaé. Ele não pára, faz tudo quanto é curso, é um cara fantástico!... Teve o Edelto, falecido, um pastor fantástico e muito bom. O Pelé, “repetiu” o pastor Edmundo quando disse: - Eu vou parar com todo mundo querendo que eu fi que, melhor do que eu fi car com todo mundo querendo que eu saia. Ele tinha falado isso aqui na antiga sede da Primeira Igreja, quando quis se aposentar depois de trinta anos. Lembro muito do padre Zé, muito amigo do pastor Edmundo... Um dia, um deu carona para o outro de carro, aí o pastor Edmundo disse brincando: - A gente não pode andar junto, não... O pessoal vai falar: Ihh, quem tá convertendo quem?!? (Risos!)

Uma coisa que me marcou muito... Marilena também deve lembrar muito da Rua da Praia, que era muito linda... Com aquelas árvores podadas feito pirulitos, romântica, cheirosa, e tinha tudo a ver com a juventude... Só jovens gostavam da Rua da Praia... Os velhos já tinham passado pela Rua da Praia, não queriam que as fi lhas fi zessem o que já tinham feito. (Risos!) O primeiro beijo que eu dei... Eu nunca vou esquecer na minha vida... (Risos!) Posso falar do meu primeiro beijo? Eu sou tímido, e na época era mais ainda... Em frente da igreja católica, tinham uns bancos... Aí você botava o braço assim, a namorada sentada, o braço ia caindo, se ela não reclamasse o braço descia todo, se reclamasse o braço subia. Eu fazia o quarto ano ginasial e ela, o primeiro científi co, éramos da mesma idade, Marlene, lembro bem até hoje. Nunca tinha beijado, já tinha um mês namorando e nunca tinha nem encostado a mão... Eu tinha vindo do internato, se não fi zesse nada fi caria desmoralizado... (Risos!) Aí minha mão foi caindo, ela foi deixando, olhou pra mim, nisso eu beijei, encostei minha boca na boca de Marlene, aí demorou um pouquinho... (Risos!) Ela me empurrou e disse: - Nunca mais quero te ver! E foi embora. (Risos!) Fiquei meio sem graça, perdi a namorada, mas estava me sentindo apaixonado. No dia seguinte, pedi desculpas, disse que foi a primeira vez, e ela me desculpou... Foi muito legal, aliás, uma grande lembrança!

Hoje era para eu ter netos, seria um bom avô... (Risos!) Mas casei tarde... Casei bem, Giselma foi uma boa mulher, é uma boa mãe. Meu lado puro é a Macaé antiga, o lado sofrido é a Macaé presente. Tenho saudades de mim, saudades de Macaé... De comer queijadinha no Bar de Zé Carlos, na Rua Direita, pra cá um pouquinho de onde está a loja Americana. Vou ler uma coisa que escrevi: “Estou pedindo a Deus que me ensine a pensar de olhos abertos, já que de olhos fechados tenho percorrido todos os caminhos.”. Eu sou essa pessoa com olhos fechados. Eu ando sonhando. Tenho pedido a Deus que me ensine a abrir os olhos, porque tá difícil, sabe? Um poema de Fernando Pessoa diz assim: “Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada, à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”... Acho que sou um pouco assim. ▪

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Av. Elias Agos� nho com Praia de Imbe� ba, Cartão Postal, s/d.Collecção D. Rosa Joaquina, Macaé (RJ).

Milward Barreto, Tempos do Quartel, s/d.Acervo parti cular de Milward Barreto, Macaé (RJ).

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José Domingues [de Araújo Filho, macaense, professor de História, diretor do Colégio Estadual Luiz Reid, técnico de Basquetebol, descendente de famílias aristocratas, trineto do Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro]

Piri Reis [Nome ar� sti co de Luiz José de Lima e Souza, macaense, fi lho do Prefeito Antonio O� o de Souza]

Branca [de Souza Lima, macaense, professora]

Cine-Theatro Santa Izabel [Na Rua Teixeira de Gouveia, esquina com Conde de Araruama, inaugurado em 1866, pela Sociedade Philo-Scenica Macahense]

dono do cinema [Paulo Manhães, que também alugava o Cine-Theatro Taboada]

Igreja Matriz de São João Bapti sta [Construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Cine-Theatro Taboada [Inaugurado, em 05/04/1931, pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada que encerrou suas ati vidades em 31/12/1981, sendo alugado para uma rede de lojas de eletrodomésti cos]

Godofredo Taboada [Alvarez, mineiro, empresário]

David [da Silva Pereira, mineiro, professor de Inglês e Educação Artí sti ca]

IBEU [Insti tuto Brasil-Estados Unidos, uma escola de idiomas com ênfase para o inglês]

nascido [Em 18/09/1947]

meus pais [Benício Victorino e Nair de Souza Victorino]

Colégio Estadual Mathias Nett o [Na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]

Colégio Estadual Luiz Reid [Na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense]

Barra de Macaé [Anti go segundo distrito, hoje primeiro subdistrito]

Lagoa de Imboassica [Originalmente Lagoa da Sica ou da Boassica, por receber água salgada do mar]

Aroeira [Bairro loteado, na década de 1960, em terras do ex-prefeito Juvenal Barreto Junior, o Doca]

Imbeti ba [Bairro e praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., criada pelo Presidente Getúlio Vargas, em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Nilma Ribeiro Moura [Macaense, professora, Presidente do Lyons Club Macaé (2008-9)]

Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador, professor de Matemáti ca, espírita kardecista, fundador do Grupo Espírita Pedro. O Professor Pierre faleceu em Macaé a 29/11/2012, com 103 anos]

Tânia Jardim [Tânia Maria Jardim Mussi, casimirense, professora, formada em Letras, advogada, políti ca, Primeira Dama de Macaé em dois mandatos, deputada estadual]

Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, exerceu vários cargos na administração pública municipal e estadual e foi vice prefeito em duas gestões]

“Eu gosto de Macaé, amo meu torrão natal.”Moadyr Victorino

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 27/09/2012.

Sou macaense nascido e criado aqui, meus pais são macaenses... Somos todos de Macaé. Fiz o curso primário no Colégio Estadual Mathias Netto e o ginásio no Colégio Estadual Luiz Reid. Desde meus tempos de infância, sempre tive o dom das artes de representar. Morava onde moro até hoje, no centro, na Rua Tenente Coronel Amado, e ali, no quintal de casa, com mais ou menos uns nove anos, me lembro que tinha uma goiabeira... Eu garoto, criança, sem ter nenhuma noção de teatro, de nada, conhecia apenas o circo... Montei um pequeno picadeiro com uma corda no galho da goiabeira, com arquibancada de tijolos e tábuas, e todas as crianças, vizinhos da redondeza, fi caram assistindo a algumas encenações que apresentei. Não continuei, só mais tarde, quando estava fazendo o ginásio, escreveria uma peça de teatro. Mas minha infância foi muito assim, já ligada às artes... Sempre com brincadeiras saudáveis: jogo de bola, pipa, bola de gude... As brincadeiras que ofereciam a nossa cidade, ainda provinciana, com ruas de chão batido, poucas casas. Tive graças a Deus uma infância feliz.

Ainda peguei um tempo em Macaé, das farmácias escritas com “PH”, pharmacia, com portas de madeira, o estilo antigo, aqueles balcões diferentes... O transporte coletivo tinha apenas dois ônibus na cidade, chamados Gaturamo, que faziam apenas duas linhas, uma entre a Barra de Macaé e a Lagoa de Imboassica, chamada “Barra x Lagoa”; e a outra entre a Aroeira e a Imbetiba... Era uma cidade boa, como é até hoje. Eu gosto de Macaé, amo meu torrão natal. Mesmo com a população bem menor, era uma cidade maravilhosa, sempre acolhedora. A Imbetiba era o chamado point da cidade, onde todo glamour se realizava... Não só na praia, como na orla, onde todo mundo ia se divertir a noite. Houve a transformação, certa dicotomia, uma separação entre antes e depois da Petrobras. Hoje, Macaé é praticamente outro município, outra cidade.

Eu ainda estava cursando o curso ginasial no Colégio Estadual Luiz Reid, em 1964, quando escrevi uma peça de teatro e convidei vários colegas, todos do colégio, e depois de vários meses de ensaio, me inseri no cenário artístico de Macaé, com apenas dezessete anos. Essa peça se chama “Diário de um fracassado”, um título até para baixo, as pessoas fi caram surpresas com o título, mas foi quando tudo começou, a semente foi plantada ali. Escrevi a peça durante as férias e esperei... As férias, naquele tempo, duravam três meses, no fi m do ano e um mês em Julho... Quando as aulas reiniciaram, passei a convidar os atores e as atrizes... Eu já tinha essa mentalidade artística, não apenas estudantil, e não convidei os colegas na escola, fui à residência deles... Lembro que procurei a Nilma Ribeiro Moura, fi lha de Seu Pierre... A Nilma foi a atriz principal. A mesma coisa aconteceu com Tânia Jardim... A maioria não era maior de idade, tinham dezessete, dezesseis anos... Tânia nem namorava Carlos Emir, o namoro dos dois começou com ele buscando-a nos ensaios das minhas peças. Então, essas duas atrizes fi zeram na primeira montagem com um ator que considero meu melhor amigo, independente do teatro, somos amigos desde garotos, que é o Ricardo Meirelles. Ricardo, apesar de ter o nome na história de Macaé como dramaturgo, começou como ator, fez várias peças comigo. Pedi ao diretor José Domingues, que nos cedesse o palco do auditório do Colégio Estadual Luiz Reid para que fi zéssemos os ensaios. Outra que participou foi a irmã de Piri Reis, artista, cantor, compositor macaense... A Branca

participou como atriz num elenco de treze pessoas. A peça foi levada no antigo e extinto Cine-Th eatro Santa Izabel. Vim nessa peça como “pau torto”, tinha escrito e toda a responsabilidade da produção fi cou por minha conta, menor de idade, virginiano... A peça foi levada no dia seis de julho de 1965. Faltando uns três meses para a estréia, fui ver o local que a peça ia ser encenada... Procurei o dono do cinema, e ele fi cou receoso em me alugar o espaço, porque fi cou sabendo que eu era apenas estudante do Luiz Reid e tinha dezessete anos... Ficou preocupado de tirar um fi lme de cartaz, porque fazia uma programação com muita antecedência, e de repente, a peça ser um fi asco ou nem acontecer, fi cando sem a renda da bilheteria do fi lme. Foi um custo para convencê-lo. Hoje, tenho uma moral... Graças a Deus, tenho uma história, uma base sólida, mas naquele dia não tinha nada, só vontade, empolgação... Ele chegou a tentar me dissuadir da ideia de montar a peça e falou assim: - Meu fi lho, o teatro já acabou, vai brincar, vai namorar. Respondi: - Seu Paulo, o senhor pode me alugar o cinema no valor equivalente à renda do fi lme, que me comprometo a pagar. Ele pediu uma semana para pensar, talvez imaginando que nesse meio tempo eu desistisse da ideia. (Risos!) Numa certa terça-feira, a peça aconteceu, teve as falhas normais de início de carreira, mas foi super legal. Em Agosto, as pessoas do grupo começaram a pedir para fazer novamente. Procurei a Igreja Matriz de São João Baptista, na Praça Veríssimo de Mello, para fazer em seu benefício, não tinha interesse em faturamento, queria apenas apresentar. Então, voltei a falar com o dono do cinema, mas não foi preciso usar muitos argumentos e foi tudo verbal, tudo de boca, nada de pagamento antecipado, nada de deixar cheque pré-datado, até porque que não teria cheque naquela idade. (Risos!) Fiz o espetáculo à noite e pela manhã do dia seguinte, bati palmas na casa dele, como o dinheiro dos ingressos. O teatro lotou, por volta de umas seiscentas pessoas... Naquele tempo, não tinham as novelas, era o tempo de circos e parques, então, as pessoas iam para rua... Hoje em dia, as pessoas se trancam em casa, é a violência, a comodidade da TV a cabo, da internet... Vendemos ingressos antecipados.

Um detalhe pitoresco é que o proprietário do Cine-Th eatro Santa Izabel alugava o Cine-Th eatro Taboada, da família do Godofredo Taboada, onde coloquei uma tabuleta enorme com fotos do elenco, além, evidentemente, do Santa Izabel, onde a peça ia ser encenada. Então, no dia do espetáculo me falaram que apareceu um senhor de paletó e bêbado, que comprou um ingresso na bilheteria do Taboada, chegou à portaria, entregou o bilhete ao porteiro apontando para a tabuleta e falando: - Hoje eu vou assistir o “Diário de um frango assado”. (Risos!) Aí, o porteiro, educadamente, falou que não era fi lme, era uma peça de teatro, que estava sendo levada no outro cinema. Aí ele voltou à bilheteria, pegou o dinheiro de volta, foi para o Santa Izabel, entrou e fi cou tentando desvirtuar o espetáculo, dando piada, e o próprio público vendo que ele estava incomodando, tirou ele de lá. Anos depois, fi z algumas festas e convidei as pessoas todas que participaram, que estão em Macaé... Ricardo, Tânia, Nilma, Branca... Alguns que já tinham idade na época faleceram, fi zeram papéis de adultos, como Cezar Jardim, que era auxiliar de disciplina do Colégio Estadual Luiz Reid; o professor David, que trouxe até o IBEU para Macaé... Mas a grande maioria está viva e morando em Macaé.

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Estado da Guanabara [Exti nto estado brasileiro no período de 1960 a 1975, que ocupava o território do atual município do Rio de Janeiro. Em sua área, esteve localizado o anti go Distrito Federal do país (1891-1960)]

Luiz Claudio Lelis [Bancário, ator, diretor, produtor cultural]

Gilberto Alves [Mineiro, Licenciado em Letras, ator, diretor, produtor cultural]

Rinha das Artes [Centro Cultural que ocupa a sede de uma anti ga rinha de galos]

“Eu te amo” [Texto de 1980]

Arnaldo Jabor [Carioca, cineasta, roteirista, diretor de cinema e TV, produtor cinematográfi co, dramaturgo, críti co, jornalista e escritor]

Teatro Municipal [de Macaé, no Centro Macaé de Cultura, inaugurado em 1992]

Tênis Clube [de Macaé]

“Ferocidade” [Com a atriz Lúcia Souto Maior]

Centro Cultural [Centro Macaé de Cultura, Avenida Rui Barbosa, 780, inaugurado em 04/09/1992]

Riverton [Mussi Ramos, macaense, graduado em Educação Física, professor, políti co, vereador, governou o município em dois mandatos consecuti vos 2005-12]

Câmara Municipal de Macaé [Insti tuição pública municipal, representante do Poder Legislati vo, insti tuída em 22/01/1814, pelo Desembargador Ouvidor Geral da Corte do Rio de Janeiro, Manoel Pedro Gomes]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice prefeita em dois mandatos, secretária municipal de Educação e Presidente da FUNEMAC]

Humberto Ma� os Assumpção [Macaense, médico cancerologista e clínico geral, políti co, vereador, presidente do Parti do Democráti co Brasileiro]

Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]

Chris� na Paes Borges [Macaense, empresária]

“Toda donzela tem um pai que é uma fera” [Comédia de Gláucio Gil]

Golpe Militar [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

Record [A Rede Record é uma emissora de televisão fundada em 27/09/2013 por Paulo Machado de Carvalho, sendo a mais anti ga em ati vidade no país]

Globo [A Rede Globo é uma emissora de televisão, fundada em 26/04/1965, na cidade do Rio de Janeiro, pelo jornalista Roberto Marinho]

Plínio Marcos [de Barros, paulista, escritor, dramaturgo, ator, diretor e jornalista, com muitas obras censuradas no período da ditadura militar]

“Dois perdidos numa noite suja” [Texto escrito em 1966]

José Carlos Franco Corrêa [Macaense, arquiteto, responsável pelo projeto de tombamento do Palácio dos Urubus, pelo INEPAC, em 1979]

Tênis [Clube de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado, em 13/06/1928, com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

Grupo TEMA [Grupo de teatro macaense]

Lincoln Gil [da Silva, macaense]

“Pluft , o fantasminha” [Escrita em 1955, conta a história do rapto da menina Maribel pelo malvado pirata Perna-de-Pau. Escondida no sótão de uma velha casa, ela conhece uma família de fantasmas e faz amizade com Plu� , um fantasminha que tem medo de gente]

Maria Clara Machado [Escritora e dramaturga mineira, autora de famosas peças infanti s e fundadora do Tablado, uma escola de teatro do Rio de Janeiro]

“O Chapeuzinho Vermelho” [Escrita em 1956 por Maria Clara Machado]

Universidade Católica de Petrópolis [Iniciada em31/05/1953 com a fundação da Sociedade Civil Faculdades Católicas Petropolitanas, iniciati va do então bispo diocesano de Petrópolis, Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, recebendo a atual denominação em 1962]

Petrópolis [Cidade serrana fl uminense, conhecida como Cidade Imperial, fundada em 16/03/1843, onde o entrevistado cursou a faculdade de direito na Universidade Católica de Petrópolis]

José Vicente [de Paula, dramaturgo]

Teatro Santa Cecília [Fundado em 26 de setembro de 1955, à Rua Marechal Deodoro, 192, no centro de Petrópolis]

Cine Atlânti co [Na Avenida Rui Barbosa]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital de 1903 a 1975]

Estreei logo no ano seguinte ao Golpe Militar, e a gente dividia o palco com as bandas de Rock, era o tempo dos festivais de músicas da Record, da Globo... A música estava com uma infl uência muito grande no Brasil e em Macaé era a mesma coisa, aquelas bandas... Então, montávamos as peças sempre em clubes... Achei mais fácil e prático, para fazer até mais espetáculos, porque no cinema era só um dia, e nos clubes podíamos fazer mais... A repressão militar era difícil, porque a censura vinha sempre em cima, perseguindo, não foi um período fácil. Lembro que quando montamos a peça do Plínio Marcos, “Dois perdidos numa noite suja”, em 1970, apenas seis anos após o golpe, ainda tinha aquela repressão toda, foi um problema, porque a peça foi censurada no Brasil... Inclusive quando o Plínio montou a peça em São Paulo, como autor e ator, teve que sair pelos fundos e a platéia impediu que os militares o prendesse... Isso foi em 1968, e dois anos depois, montamos em Macaé... Eu dirigi e os atores foram Ricardo Meirelles e José Carlos Franco Corrêa. Foi um problema para que levássemos a peça no Tênis, com tudo preparado, ensaiado... Na época, tiveram algumas pessoas contrárias à realização do espetáculo, mas contornamos esse problema enfrentando todas as adversidades.

O Grupo TEMA eu fundei em 1965, inclusive é registrado no Cartório do Primeiro Ofício e reconhecido pela Lei de Utilidade Pública Municipal... Sou fundador com Ricardo Meirelles, Lincoln Gil e mais uns cinco que fi zeram parte da composição da diretoria do Grupo TEMA, dedicado às artes cênicas, realizando uma série de montagens. Em Macaé, houve uma inércia em relação às atividades no teatro... Em 1972, montei a peça infantil “Pluft, o fantasminha” , de Maria Clara Machado, e depois “O Chapeuzinho Vermelho”... Foram tantas peças montadas! Logo em seguida, fui prestar vestibular no Rio de Janeiro e cursei Direito na Universidade Católica de Petrópolis... Fiquei fora de Macaé durante um tempo na década de 1970, mas fazendo teatro também, montei algumas peças em Petrópolis, como “O Assalto”, de José Vicente, no Teatro Santa Cecília], em 1978. Nesse período, o Ricardo Meirelles começou a usar aquele espaço do Cine Atlântico, quem construiu o prédio foi o tio dele, Doutor Everest Salles, médico, falecido há alguns anos. A obra não vingou, fi cou aquele edifício branco inacabado e Ricardo aproveitou aquele espaço onde ia ser o cinema e montou algumas peças ali. Depois, virou “Palácio dos Mendigos” porque o prédio fi cou abandonado e os mendigos começaram a utilizá-lo.

Quando eu estava terminando o ginásio, o professor David, que morava no Centro, na Rua Silva Jardim, reuniu um grupo de jovens alunos do Colégio Estadual Luiz Reid, e participei de uns esquetes que ele escrevia. Já tinha esse dom, um potencial dentro de mim e quis colocar para apreciação dele, para que aprovasse ou não. Eu, um garoto ainda, com dezesseis anos, não podia chegar e querer impor, tinha que obedecer todas as ordens e determinações dele, que era um “senhor”, na época, tinha por volta de uns quarenta anos. (Risos!) Escrevi uns esquetes, ele aprovou e um desses fez até parte da composição, num quintal onde armou um palco. Ele teve certa infl uência sobre mim, se não tivesse feito aquilo ali, talvez não tivesse essa motivação... Foi uma infl uência boa, bem forte nessa minha iniciação no teatro.

Todo ano tinha uma montagem e me desdobrava praticamente o ano todo, encenava as peças sempre no segundo semestre, entre Julho e Outubro, e fi cava voltado para as montagens das peças, desde os primeiros dias do ano. Essas peças, desde a primeira, “Diário de um fracassado”, tinham o nível do Rio de Janeiro, da capital. Aliás, nesse tempo a capital era Niterói, a

fusão aconteceu em 1975, antes éramos do Estado da Guanabara e tinha o Estado do Rio de Janeiro. Eu fazia tudo, apesar de ter um elenco comigo, que participava das peças, mas era o responsável geral, tanto é que naquele tempo todas as peças de Macaé eram produzidas e dirigidas por mim, se eu não fi zesse ninguém fazia. Hoje em dia, tem um grupo atuante em Macaé, o Acto, com alguns dissidentes do meu, como Luiz Claudio Lelis e Gilberto Alves, que foram atores das minhas peças... Estão à frente como diretores responsáveis pela Rinha das Artes, na Rua Dr. Julio Olivier.

Em 1993, completei vinte e oito anos de carreira e quis fazer uma comemoração, receoso de acontecer qualquer problema adverso, de repente não estar vivo, e não conseguir fazer a marca dos trinta. Eu tinha montado, em 1992, a peça “Eu te amo” de Arnaldo Jabor, com a atriz Adriana Morena, que modéstia à parte, foi um sucesso. Então, utilizei o Teatro Municipal para fazer a comemoração e lotou os trezentos lugares... Não coloquei o cenário da peça, fi z diferente, imaginei o palco com toda a minha história no teatro, desde as primeiras peças, com fotos de elenco, de cenas, de plateia... Todos receberam convites para uma festa de comemoração, com Buff et e aquela coisa toda. Quando o espetáculo acabou, depois dos aplausos, convidei o público a subir no palco do Teatro Municipal e participar da festa. Quando chegou em 1995, continuei em plena atividade, e comemorei, com pompa e circunstância, os trinta anos... Procurei a diretoria do Tênis Clube, que prontamente me cedeu o clube e fi z uma festa maravilhosa, gravada em DVDs, adquiridos por quase mil e oitocentas pessoas e vendidos por mim pessoalmente. Passaram dois anos, e voltei a procurar o Tênis para outra festa... O Tênis é um clube onde fi quei sempre muito à vontade, os diretores são meus amigos, alguns de infância, e falo com emoção... Em 1988, tinha montado lá, com sucesso, um texto de Ricardo Meirelles, “Ferocidade”, uma peça marcante na cidade... Fiz quarenta apresentações e todos nós somos conscientes que Macaé não tem público para uma montagem de teatro com tantas apresentações. Vamos dizer que, em Macaé, se queira programar uma temporada com atores da atual novela das nove... Nos primeiros dias, quem for ao teatro, vai dar volta no quarteirão em fi las, mas depois pode acontecer mais espetáculos que o pessoal não vai mais... As pessoas têm essa mentalidade: - Se assisto na televisão, pra que vou pagar? (Risos!)

Nas primeiras montagens que fi z, o público era genuinamente macaense, mas quando Macaé cresceu, com a Petrobras e tudo mais, fi cou mais heterogêneo, bem misturado mesmo. Mas continuei com sucesso, mesmo com o público diferente, a aceitação foi a mesma. Hoje em dia, como pode ser constatado por todos que lidam com arte em Macaé, inclusive em outros segmentos como dança, música, artes plásticas, está muito difícil de realizar e todos os meus trabalhos foram independentes de política. Fiquei muito feliz durante um congresso no Centro Cultural, há alguns anos, quando o prefeito Riverton usou a palavra e falou que temos em Macaé Moadyr Victorino, que vem desde os tempos de garoto dedicando a vida ao teatro. O poder máximo na política de Macaé fez esse tipo de declaração. Certa vez, fui homenageado na Câmara Municipal de Macaé, por Marilena, vereadora em 1983, com uma Moção de Aplausos. O vereador Humberto Mattos Assumpção, quando eu estava na tribuna agradecendo, usou a palavra dizendo que eu nunca havia recebido favores dos poderes políticos para realizar meus espetáculos. Todos fi zeram elogios a mim e fi quei sensibilizado por isso. Porém, devo dizer que a Prefeitura sempre me ajudou, desde aqueles velhos tempos do prefeito Claudio Moacyr, quando Christina Paes Borges foi a atriz principal da peça “Toda donzela tem um pai que é uma fera”, em 1968. Na primeira fi leira

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faculdade [Universidade Católica de Petrópolis]

minhas fi lhas [Vanessa, Viviane e Verônica]

minhas netas [Larissa, Isabelle, Lívia, Mariana, Catarina e Alícia]

Dia sete [Referindo-se ao dia 07/10/2012 quando o Doutor Aluízio dos Santos Júnior, macaense, fi liado ao Parti do Verde (PV), médico neurocirurgião, foi eleito com 70.693 votos]

200 Anos [Referindo-se ao bicentenário de criação da Villa de São João de Macahé ocorrido em 29/07/2013]

Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]

Alair Ferreira [Campista, Industrial, Economista, Contador, empresário de telecomunicações, políti co]

Belas Artes [Café, bar e restaurante dos irmãos Gonzalez, Avenida Rui Barbosa, 234, telefone 29]

Rua da Praia [Primeiro nome da atual Avenida Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]

Claudio [Ulpiano Santos Nogueira Itagiba, macaense, membro de uma família tradicional, fi lósofo, professor, nos anos 1960 foi um fundador do Centro de Estudos Literários e Filosófi cos Farias Brito, patrono do auditório da Cidade Universitária de Macaé]

Fluminense [Futebol Clube, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Magdá [Maria Magdalena Pereira Garcia, macaense de Glicério,socialite, benemérita, empresária, proprietária da Casa Garcia na Av. Rui Barbosa]

FLUMITUR [Empresa de turismo da época]

Três Rios [Cidade fl uminense fundada em 14/12/1938]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Barracão [Denominação que permanece para o depósito de ferramentas e garagem da Prefeitura Municipal de Macaé, sendo que nessa época fi cava na Avenida Presidente Sodré, onde hoje está à seda da Prefeitura]

Augusto Veloso [de Assis, macaense, comerciário, empresário, políti co, integrou o grupo de vereadores que elaborou a vigente Lei Orgânica do Município de Macaéde 05/04/1990]

Antonio Alvarez Parada [Macaense, fi lho de imigrantes espanhóis, professor de Química, historiador, escritor]

livro [Histórias Curtas e Anti gas de Macaé impresso na Artes Gráfi cas Editora, no ano de 1995, em dois volumes, organizados por Claudia Marcia Vasconcelos da Rocha, Nelson Mussi e Vilcson Gavinho]

O Debate [Periodico macaense diário, fundado em 01/05/1976 pelo jornalistaOscar Pires]

“Trio Roubado” [Texto de João Bethencourt]

Cine Clube [de Macaé, na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado a realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]

Alfeu de Melo Valença [Pernambucano, Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se Engenheiro de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]

Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8] ASCOM [Assessoria de Comunicação]

“A Cinderela do Petróleo” [Texto de João Bethencourt], uma coincidência feliz. Macaé se faz divul

Clube Cidade do Sol [Na Avenida Atlânti ca, Cavaleiros, fundado em agosto de 1981]

Minha esposa [Maria de Lourdes Victorino]

do Fluminense, sentava o prefeito de Macaé, Claudio Moacyr, ao lado de Magdá, uma mulher de expressão na sociedade macaense, realizando os Bailes de Debutantes.

No dia 21 de Setembro de 1968, Macaé inaugurou o Festival de Teatro de Cabo Frio, com patrocínio da FLUMITUR, com participação de grupos de Três Rios, Petrópolis, Campos, entre outros... Macaé abria o festival. Contratei um caminhão para levar o cenário para Cabo Frio, numa sexta-feira... A Prefeitura patrocinou toda a propaganda e faltando dois dias, na véspera praticamente, a pessoa encarregada do transporte não pode mais levar o cenário... Fui ao prefeito Claudio Moacyr, preocupado, nervoso, expliquei a situação e ele me mandou ir ao Barracão falar com Augusto Veloso, encarregado do Barracão, que providenciasse um caminhão para levar o cenário para Cabo Frio. Augusto me mostrou um caminhão com capô levantado, sem motor, e um outro sem roda, suspenso... Disse que não tinha carro. Pedi que ligasse para o gabinete e falasse para o Prefeito o que estava me dizendo. Ele telefonou, argumentou, depois desligou e me disse: - Para que horas você quer o caminhão? Deu um jeito, lá estava o caminhão, direitinho, para levar o cenário a Cabo Frio. Na outra semana, o Prefeito estava assistindo à peça em Macaé e o cenário aqui de novo. Então, trabalhar com teatro, em Macaé, é uma loucura! (Risos!)

A Petrobras nos trouxe muitos benefícios em relação ao teatro, ao lançamento de livros... Tem um macaense ilustre, que considero o maior macaense de todos os tempos, Antonio Alvarez Parada, o Tonito... Figura igual aquela difi cilmente Macaé teve nesses 200 anos... Um homem ímpar, um super professor... Meu professor de Química no Colégio Estadual Luiz Reid... Um historiador macaense... A Petrobras lançou um livro, com crônicas que ele havia publicado no jornal O Debate, e fi zeram um evento enorme, lindo, maravilhoso, reconhecendo o seu valor... A Petrobras tem contribuído muito para cultura macaense, pelo menos até uns anos atrás, atualmente não tenho acompanhado de perto. Quando montei o “Trio Roubado” , em 1983, no Cine Clube, a Petrobras já estava explorando petróleo em Macaé, há uns cinco anos e Alfeu de Melo Valença era o superintendente, uma pessoa maravilhosa, amigo, gosto muito dele, tenho imagens dele assistindo às minhas peças... Então, em 1983, procurei a Petrobras para patrocinar essa peça no Cine Clube e fi quei receoso... Achava que essa empresa enorme, uma potência, não teria interesse numa peça do Grupo TEMA... Mas a Petrobras patrocinou o espetáculo, o Alfeu foi assistir, assim como o prefeito Alcides Ramos assistiu e foi um sucesso.

Em 1984, quando remontei a principal peça do Plínio Marcos, “Dois Perdidos numa noite suja”, comigo atuando, porque na primeira vez foi o Ricardo Meirelles, marquei a temporada no Fluminense Futebol Clube... Se eu achava que tinha muita gente, colocava muitas cadeiras, quando tinha poucas, retirava cadeiras para não fi car vazio... A estréia dessa peça foi uma quarta-feira chuvosa, os atores éramos eu e Luiz Claudio Lelis, que nunca tinha feito teatro. Com o temporal, achei que não ia ninguém, coloquei poucas cadeiras e a peça começou por volta de nove e meia da noite, com umas cinquenta pessoas... No “Crime Roubado” o Cine Clube lotava com oitocentas pessoas, mas num dia de chuva, como aquele, as pessoas, que foram lá no Fluminense, eram apaixonadas pelo teatro. Quem estava lá? Alfeu de Melo Valença, Antonio Alvarez Parada, pessoas que foram mesmo para ver uma peça de teatro... Recebi as palmas mais fortes da minha vida, eram apenas cinquenta pessoas, que aplaudiam com o coração. Um mês depois, voltei à Petrobras para vender ingressos para o espetáculo e o Antonio Luiz Pinto de Bessa, que era o chefe da ASCOM, me recebeu e disse que não sabia se a Petrobras poderia atender ao meu pedido, porque não tinha nada programado e não poderia garantir a compra. Mas por coincidência, entra na sala, para tomar um cafezinho, bater papo, o próprio Doutor Alfeu

de Melo Valença e quando me viu, falou: - Oi Ator, como vai? Batemos um papo e ele foi para o gabinete dele. Doutor Bessa conversa com ele, volta e me diz: - Doutor Alfeu mandou perguntar quantos lugares tem lá? Aí chutei um número alto, mas não menti. A Petrobras comprou duzentos lugares no teatro, comprou a lotação, reconhecendo o trabalho. Em 1991, montei a peça “A Cinderela do Petróleo”, uma coincidência feliz. Macaé se faz divulgar como Capital Nacional do Petróleo... Quem lê O Debate sabe que só saía isso... Então, nessa peça o tema é petróleo e quis montá-la no Clube Cidade do Sol, dos petroleiros, onde fi z uma temporada de sucesso de um mês... Mas a peça não se passa em Macaé, se passa em Paris.

Como disse, minha família é toda macaense... Minha esposa é carioca, nos conhecemos na faculdade, mas as minhas fi lhas nasceram aqui e minhas netas também... Estão todas aqui em Macaé, vivendo bem... Graças a Deus! Meu sonho é que Macaé prospere, estou muito esperançoso com Macaé a partir do ano que vem, 2013... Particularmente ponho emoção, estou mesmo muito entusiasmado, motivado que Macaé dê uma guinada de 180 graus, que mude completamente... Sem querer denegrir a imagem dos políticos atuais, por sinal sou amigo deles. Dia sete todos nós vamos às urnas, independente de quem saia vitorioso, Macaé vai melhorar em todos os sentidos, vai ser um ano marcante, o ano dos 200 Anos...

Esse nome Bacia de Campos até hoje nenhuma explicação me convence, acho que, na época, tinha um político muito forte em Campos, o Alair Ferreira, que era deputado federal, que deve ter infl uenciado para colocar esse nome... Toda a exploração do petróleo é em Macaé, então o nome tinha que ser Bacia de Macaé, até por todas as desvantagens que a Petrobras trouxe junto com o progresso: a violência, o crescimento desordenado da cidade... Antigamente, dormíamos em casa no verão de janela aberta, nos meses de dezembro, janeiro, hoje em dia, são casas com muros altos, grades, mas não tem como fugir da realidade. Apesar de tudo, considero que o petróleo trouxe muitas vantagens para Macaé que sobrepõem qualquer fator negativo. Macaé perdeu esse lado bucólico... Infelizmente, isso acabou e nunca mais vai voltar... Macaé perdeu a sua identidade, aquilo tudo de antes não existe mais... Lembro do glamour dos bailes nos clubes de Macaé. Era uma cidade noturna com tranquilidade, as pessoas iam para rua, tinha bares como o Belas Artes e na Rua da Praia funcionava o Bar Imperatriz, onde tinha a linha de ônibus Campos-Rio de Janeiro, um bar sem portas, que fi cava aberto 24 horas. Lembro dos altos papos que a gente tinha... Do Claudio, um intelectual macaense ilustre, professor universitário... Todos se conheciam na cidade, podiam ter aquela amizade mais de perto. A própria Imbetiba é uma pena, uma coisa que nunca mais vai voltar.

Eu sou macaense e adoro Macaé... Macaé para mim é tudo, me sinto feliz na cidade. A gente não vê mais os amigos, então quando nos encontramos é uma satisfação imensa, porque são raros esses momentos... A emoção de dar esta entrevista foi muito importante, confesso... Poder externar meus pensamentos, passar dados para as pessoas terem conhecimentos... Macaé completa 200 anos, e tenho 40 anos de teatro em Macaé, portanto participei de um quinto da história cultural da cidade. Sou um homem simples, um apaixonado que sempre fez teatro com amor e que nunca quis tirar proveito da arte em questão fi nanceira... Quis apenas dar de mim o melhor paras as pessoas se divertirem e pensarem... Este sempre foi meu intuito em vida, fazer algo que pudesse dar prazer às pessoas, entretenimento, que pudesse mostrar algo de mim, que pudesse passar algo às pessoas... Eu, felizmente, sempre tive reconhecimento, o que me deixa muito feliz, e isso não há nada que pague... Tenho muito amor, essa é minha vida e esse sou eu, Moadyr Victorino. ▪

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1 Folhetos comemora� vos dos 35 anos de carreira de Moadyr Victorino, 2000.

2 Moadyr Victorino, s/d.Acervo parti cular de Moadyr Victorino, Macaé - RJ.

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Arti go 99 [Que corresponde a atual Educação de Jovens e Adultos ou Supleti vo, na época chamado Exame de Madureza]Ronaldo Tanus Madeira [Macaense, advogado, escritor]ginasial [Curso de quatro anos, segundo ciclo do anti go ensino de primeiro grau, hoje chamado ensino fundamental]Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital do Estado do Rio de Janeiro de 1903 a 1975]Casimiro de Abreu [Cidade fl uminense fundada em 15/09/1859]Laérce [Andrade Abreu Aguiar, espírito-santense, educadora]professor Zé Augusto [José Augusto Abreu Aguiar, campista, educador, que já foi Secretário M. de Educação, Presidente da Fundação Educacional de Macaé-FUNEMAC e coordenador do Insti tuto Nossa Senhora da Glória-Castelo]Barra de São João [Segundo distrito de Casimiro de Abreu, na região litorânea do município]Gilberto Maro� [Macaense, professor]Glicério [4.0 Distrito de Macaé]Rio das Ostras [Município litorâneo emancipado, de Casimiro de Abreu (RJ), em 10/04/1992]bullying [Termo do inglês, uti lizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repeti dos, prati cados por um ou mais indivíduos]Colégio Estadual Visconde de Araújo [Hoje Centro Educacional, na Rua Francisco Gomes Bati sta, bairro Visconde de Araújo]Neusa [Pessanha Monteiro]Praia do Forte [Praia da Concha, praia urbana com extensão de 180 metros]Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba] minha irmã [Lia Meirelles Vieira, carioca, professora, produtora teatral, cenógrafa]Lincoln Gil [da Silva, macaense, que cursou Medicina no Rio e atualmente trabalha numa empresa de telefonia]Seu Wanderley [da Silva, macaense de Quissamã, fotógrafo, proprietário do Studio Wanderley Fotografi as, na Rua Marechal Deodoro, 215, telefone 20721, membro da Academia Macaense de Letras]Wanderley Gil [da Silva, macaense, repórter fotográfi co, atuou no jornal O Século, fundado em 1886, ressurgindo no período de 1974-80, atualmente trabalha no periódico O Debate: Diário de Macaé]

problema na perna [Um deslocamento do fêmur ao nascer]Nasci [Em 1.0/06/1947] Walter Vieira [Macaense, comerciante]avós paternos [Lafaye� e Vieira e Zenith Vieira] minha mãe [Zelina Meirelles Vieira, carioca, funcionária pública]avós maternos [Zedith Vieira e Theonas Meirelles]Posto Príncipe [Na Avenida Rui Barbosa, 693] Itapuã [Calçados – Beleza e Estéti ca, Avenida Rui Barbosa, 663]carros [Poucos possuíam automóveis, além de Lafaye� e Vieira: Amphilóphio Trindade, Manequinho Paes, Aurélio Soares]Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]São Cristovão [Posto São Cristovão, depois adquirido por Souza & Andrade, na Rui Barbosa, 663, telefone 483]Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo]Irene Meirelles [Escola Estadual, na Avenida Agenor Caldas, 442, no bairro Imbeti ba]primário [Primeiro ciclo do anti go ensino de primeiro grau, desde 1996 chamado ensino fundamental] Dalva Soares [Dalva Magnólia Alves Soares, macaense, educadora, que criou o conceituado Curso Pró-Técnico Dolores Magnólia Alves Soares, na Imbeti ba, voltado principalmente para admissão nas escolas técnicas federais]Maria Angélica [Ribeiro Benjamin, macaense de Conceição de Macabu, educadora, espírita atuante, benemérita, fundadora do Lar de Maria, Primeira Dama de Macaé, nos três mandatos de seu esposo o Prefeito Antonio Curvelo Benjamin]Arle� e [Ribeiro Trindade]Colégio Estadual Luiz Reid [Na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]Nire [Ribeiro de Andrade, macaense, educadora]Ana Maria Pinto [Macaense, professora de Matemáti ca, com memorável atuação no Luiz Reid, uma das fundadoras do Curso Pró-Técnico Dolores Magnólia Alves Soares]Edith [Arenari Garcia, campista, educadora, culinarista]Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, do curso técnico Cientí fi co, historiador, escritor]Normal [Também conhecido como Magistério de 1.0 grau ou Pedagógico, um ti po de habilitação para as séries iniciais do ensino fundamental. Era um curso secundário, equivale nos moldes atuais, a um curso profi ssionalizante em três anos. Por Lei de 1996 a mínima habilitação exigida para o magistério passou a ser uma licenciatura (ensino superior), depois foi reabilitado o curso Normal por portaria de 22/02/2001]

“... porque a Memória tem que fi car...”Ricardo Meirelles VieiraEntrevistado, em Macaé (RJ), a 31/08/2012.

A lembrança mais remota da minha infância, não é boa, é uma lembrança de hospital. Eu passei quase toda a minha infância e parte da minha adolescência em hospitais, quer dizer, sendo operado. Tenho um problema na perna, operei muitas vezes. Então, tenho muitas lembranças ligadas a este clima de hospital, tanto que hoje, eu não gosto de ir a hospitais, nem para visitar um amigo, vou por necessidade, mas não gosto... A minha família dizia que eu ia ser médico... Seria a última profi ssão que eu escolheria, nada contra os médicos, mais por razão dessas constantes operações. Então, minhas lembranças de infância estão muito ligadas a isto, sempre imobilizado, não fazendo o que as outras crianças faziam: correr, jogar bola, andar de bicicleta, aquelas atividades de infância... Então, comecei a ler... O que poderia fazer em cima de uma cama, um ano, engessado? Ler!... A televisão ainda estava num período muito inicial, então, era máquina de cinema, para fi lmes dezesseis milímetros, que passava desenhos animados... Jogos que eu pudesse jogar com as mãos, tipo tabuleiro de damas... Brinquedos, uma variedade de brinquedos, manipulados só com as mãos... Um exercício de paciência, quero dizer, isto me serviu até o momento de hoje... Paciência de escutar, de tentar ver o que posso fazer para resolver algum problema... Tinha de exercitar o cérebro, pensar, imaginar, tinha que criar algumas coisas em relação a essas possibilidades. Então, esta é minha lembrança inicial.

Devo dizer, também, que não nasci em Macaé... Nasci no Rio de Janeiro e vim para Macaé, com dez pra doze anos, mais ou menos. Vim porque uma parte da minha família já era daqui, o meu pai, Walter Vieira, morava no Rio, mas meus avós paternos eram macaenses, moravam aqui... Papai foi para o Rio trabalhar e casou com a minha mãe. Nunca perdi o vínculo com o Rio, por causa das operações... Já na adolescência, tinha que continuar operando... Ficava um ano no Rio, em cima de uma cama, com os avós maternos. Meus pais eram primos em primeiro grau, minha avó Zedith, que sempre morou no Rio, era irmã de minha avó Zenith, veja que é até parecido, Zedith e Zenith. Meu avô por parte de pai, o Lafayette Vieira, era um comerciante... Então, aquela parte onde hoje está o Posto Príncipe era dele, toda aquela área era do meu avô, onde hoje é a Itapuã era posto de gasolina e loja de peças para automóveis... Ele era meio visionário, imagine, em torno dos anos 1950, montar um posto de gasolina em Macaé, era algo vanguardista... Porque a gente fi cava brincando na janela da casa da minha avó, contando os carros... No fi m do dia, contávamos cinco, seis carros, que passavam ali, onde chamávamos de Rua Direita... O que passava mais era caminhão, transportando alguma coisa... Tinha também um restaurante... Ele o nomeou São Cristovão, porque na época, o São Cristovão era um time forte, time bom, acho que ele foi o último torcedor do São Cristovão, que, infelizmente, hoje não está na mídia, não aparece nem na terceira divisão. Em cima do restaurante, tinha um pequeno dormitório, onde os motoristas de caminhão dormiam, para no dia seguinte continuarem viagem, normalmente para Campos, Vitória...

Minha formação escolar foi péssima... (Risos!) Porque eu perdia de ano, todo ano... Hoje em dia, tem uma série de proteções para alunos que têm o problema que eu tive, mas naquela época, não existia... Estudei no Irene Meirelles, interrompendo várias vezes... As aulas começavam em março, quando chegava julho, eu parava seis meses para operar... Ficava um ano em cima de uma cama... Novamente em janeiro, fevereiro, já sem o gesso, voltava à escola... Quando chegava em julho, outra vez, outra operação... Fiz um primário muito longo... No Irene Meirelles, lembro-me muito da professora Dalva Soares, que atua até hoje... Maria Angélica foi diretora do colégio... A minha primeira professora foi Arlette, muito bonita, ainda garota, você olhava e fi cava meio encantado com ela... A gente não esquece essas três. Já no Colégio Estadual Luiz Reid, estudei com Nire e Ana Maria Pinto, que poderiam ser minhas colegas, mas foram minhas professoras... Edith foi minha grande professora de Matemática... Nunca estudei com Tonito, desta minha geração quase todos foram alunos dele, não fui porque fi z uma coisa anormal, fui fazer o Normal... Poucos homens faziam.

Também cursei o Artigo 99... Estudei com Ronaldo Tanus Madeira... Várias pessoas da minha geração já tinham alçado outros vôos, estavam quase entrando na faculdade, e eu ainda concluindo o ginasial... Prestei as provas do Artigo 99 no Colégio La Salle, em Niterói... Depois, fui estudar em Casimiro de Abreu, sendo professora de língua Portuguesa, Dona Laérce, mãe do professor Zé Augusto... Um grupo de Macaé trabalhava lá, na Escola Casimiro de Abreu, em Barra de São João. Então, minha formação foi lá... Éramos dezesseis alunos, uma turminha pequena, uns três homens... (Risos!) Eu, Gilberto Marotti, de Glicério, e um rapaz de Rio das Ostras... Outras professoras também eram de Macaé, como Maria Júlia Machado, advogada, professora... Não é comum um homem cursar Formação de Professores, havia até uma espécie de bullying, por você estudar uma coisa que era para mulheres. Comecei a trabalhar aqui no Colégio Estadual Visconde de Araújo... Foi a primeira escola, substitui uma professora que tinha fi cado doente. Dona Neusa era diretora... Quando eu entrei na escola foi uma coisa terrível, porque eu perturbei tudo, todos queriam ver um homem dar aulas, então, era um tumulto! (Risos!)

Macaé era uma cidade bastante calma, pacata, muito romântica, balneária... As pessoas vinham para Macaé passar férias... Todo ano vinha um grupo de amigos, de amigas, veranear na minha casa... Uma coisa muito tranquila, as praias eram bem frequentadas... A Praia do Forte, nas dependências do Forte Marechal Hermes, que hoje, com tanta poluição, não se pode tomar banho ali... A Praia da Imbetiba tinha outra feição, com ondas, era o point da juventude macaense dos anos 1960, até os anos 1980... Eu levava uma vitrola da minha irmã, só que o calor, às vezes, envergava os discos de vinil e minha irmã fi cava chateada. Então, se juntava um grupinho de amigos, que tinha um pensamento mais ou menos parecido e fi cava conversando até o fi nal das tardes... Meu amigo Lincoln Gil, fi lho de Seu Wanderley, irmão do nosso fotógrafo Wanderley Gil, gostava de

Minha formação escolar foi péssima... (Risos!) Porque eu perdia de ano, de proteções para alunos que têm

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José Carlos Franco Corrêa [Macaense, arquiteto, responsável pelo projeto de tombamento do Palácio dos Urubus, pelo INEPAC, em 1979]

Icléa [Franco Corrêa, beldade macaense dos anos 1950-60]

Marco Aurélio [Franco Corrêa, macaense, arti sta plásti co, modelo]

Priscila [Vieira, carioca, pedagoga, prima e esposa, fi lha de Lafaye� e Vieira Filho e Maria Nazareth Vieira]

Ditadura Militar [Período da história políti ca brasileira que contou ao todo com cinco presidentes e uma junta governati va, estendendo-se do ano de 1964 até 1985, ano da eleição indireta do civil Tancredo Neves para a Presidência da República]

Euzébio Mello [Luiz de Mello, macaense, jornalista, herdeiro do jornal O Século, de 1886, ressurgido em 1974, foi colunista social no periódico O Debate]

o nome dele [Luiz Geraldo Pinto, macaense, arquiteto, escritor, arti culista de outro periódico esquerdista, o Jornal de Vanguarda]

Sérgio Nogueira [Macaense, jornalista]

GETAM [Grupo Experimental de Teatro Amador Macaense]

Teatro Municipal de Macaé [No Centro Macaé de Cultura, Avenida Rui Barbosa, 780, inaugurado em 04/09/1992]

cinema [Cine Atlânti co]

Ana Rita [Toscano, Professora]

Ricardo Moacyr [Leite e Santos, macaense, médico, membro de uma família tradicional]

irmão dele [Roberto Moacyr Leite e Santos, macaense, médico]

Jorge Mautner [Henrique George Mautner, carioca, cantor, compositor, escritor, membro do Parti do Comunista Brasileiro desde 1962]

Luiz Porto [Luiz Campos Porto, macaense, formado em Medicina, especializou-se em cirurgias plásti cas]

Nelson Xavier [Nelson Agosti ni Xavier, paulista, ator, autor e diretor, parti cipou de telenovelas e minisséries como: Sangue e Areia, Lampião e Maria Bonita, etc.]

Elza Gomes [Luiza dos Santos Gomes, portuguesa, membro da Cia. Procópio Ferreira, parti cipou de telenovelas: Saramandaia, Final Feliz, etc.]

falecida [em 1984]

Estelita Bell [Ester Danio� Bell, carioca, atriz e dubladora, parti cipante de telenovelas como: Irmãos Coragem, O Bem-Amado, etc.]

E� y Fraser [E� y Fraser Marti ns de Sousa, carioca, atriz eminentemente de teatro, na TV apresentou um famoso programa de culinária e parti cipou de telenovelas: Beto Rockfeller, Sassaricando, etc.]

Regina Duarte [Regina Blois Duarte, paulista, atriz de teatro, cinema e ícone da TV, parti cipando de telenovelas e seriados como: Roque Santeiro, Malu Mulher, etc.]

namoradinha do Brasil [Depois que fez a novela Minha Doce Namorada, em 1971, na TV Globo]

Antônio Fagundes [Antônio da Silva Fagundes Filho, carioca, consagrado ator com atuações no teatro, cinema e TV, parti cipando de telenovelas e seriados como: O Rei do Gado e Carga Pesada]

Jairo de Andrade [Rio-grandense, a frente do exti nto Teatro de Arena de Porto Alegre, tornou-se o principal nome gaúcho do teatro de resistência à ditadura militar]

Choupana das Rosas [Residência de veraneio da tradicional família campista Pereira Pinto, localizada na Avenida Agenor Caldas, Imbeti ba]Sérvulo Miranda [Macaense]

José Ignácio Toscano [Aposentado da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda-RJ]

José Peixoto do Vale [Macaense, comerciante, artesão]

Moadyr Victorino [Macaense, ator, teatrólogo, fundador do Grupo TEMA – Teatro Macaé de Amadores, juntamente com Ricardo Meirelles]

minha madrinha [Ermelinda Vieira Meirelles Gordilho]

Tânia [Tânia Maria Jardim Mussi, professora, casimirense, formada em Letras, advogada, Primeira Dama de Macaé nos dois mandatos de seu esposo o Prefeito Dr. Carlos Emir Mussi; deputada estadual]

Lucília [Toscano, professora]

ar� sta plás� co [Que depois dirigiu a Galeria Hindemburgo Olive no Centro Macaé de Cultura]

Santa Izabel [Cine-teatro na Rua Teixeira de Gouveia, esquina com Conde de Araruama, inaugurado em 1866, pela Sociedade Philo-Scenica Macahense]

Cesário Alvarez Parada [Macaense, jornalista, colunista social com o pseudônimo de Volúsia Clara, Presidente do Tênis Clube de Macaé]

Nilma [Ribeiro, macaense, professora, Presidente do Lyons Club Macaé (2008-9)]

Gumercindo [Moura, advogado, contador, presidente do Lyons Club Macaé (2010-1)]

Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador]

José Domingues [de Araújo Filho, macaense, professor de História, trineto do Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro]

fi lme [What’s New Pussycat? (1965)]

Woody Allen [Allan Stewart Königsberg, um cineasta, roteirista, escritor, ator e músiconorte-americano]

Romy Schneider [Rosemarie Magdalena Albach, uma atriz austríaca que atuou no cinema europeu, especialmente no francês, tornando-se célebre por sua atuação em Sissi, a Imperatriz,de 1956]

Beth Maia [Elizabeth Maia de Azevedo Py, rio-grandense, depois formada professora]

Fluminense Futebol Clube [Fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Tênis [Clube de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]

“Dois perdidos em uma noite suja” [Escrita em 1966]

Plínio Marcos [de Barros, paulista, escritor, dramaturgo, ator, diretor e jornalista, com muitas obras censuradas no período da ditadura militar]

Teatro Municipal de Niterói [O Teatro João Caetano, mais conhecido como Teatro Municipal de Niterói, foi construído no século XIX e passou por inúmeras reformas e melhorias ao longo dos anos, sendo reinaugurado após restauração, em 1995]

jogar vôlei na Choupana das Rosas... Sérvulo Miranda, que é o artista plástico, José Ignácio Toscano que foi embora de Macaé e agora retornou, José Peixoto do Vale... Essas pessoas estavam sempre juntas.

Esta minha vertente do teatro foi infl uenciada pelo Moadyr Victorino... Quando íamos ao Rio de Janeiro, minha madrinha, irmã de minha mãe, apelidada de Lindinha, levava-me ao teatro desde criança, nesses períodos em que eu estava saindo do gesso, assistíamos ao teatro de bonecos, fantoches, teatro infantil e depois continuou me levando ao teatro adulto... Eu gostava, mas a infl uência direta, que me levou a fazer teatro, foi a do Moadyr, porque, do nada, ele chegou pra mim e disse: - Olha, estou escrevendo uma peça e juntando um grupo de pessoas, de amigos, e quero que você faça parte. Eu falei: - Moadyr, eu gosto de teatro, mas fazer teatro eu não quero. Ele argumentou que ia estar o Lincoln Gil; que o Peixoto seria contrarregra; Sérvulo faria o cenário; Tânia trabalharia; assim como a Lucília, que depois acabou sendo esposa do José Ignácio Toscano; o Eisaburo More, um japonês, artista plástico, também seria desse grupo... Moadyr marcou uma apresentação no Santa Izabel, isto em 1966... Encheu o Santa Izabel... O Cesário Alvarez Parada fez uma crítica, achou muito boa... O nome da peça é “O diário de um fracassado”, Moadyr escreveu, tem muitas cenas: casa, escola, bairro da escola, rua, praia... Abria e fechava cenário... Eu participei como ator, fazendo par romântico com Nilma, hoje casada com Gumercindo, fi lha de Seu Pierre... Tenho até uma foto dançando com ela, depois com Tânia. Um trabalho enorme, mais de seis meses de ensaio, para duas apresentações, que lotaram... O diretor do Colégio Estadual Luiz Reid, José Domingues foi assistir, levou parte do corpo docente e foi aquela revelação, porque normalmente fazia sucesso na escola quem jogasse basquete ou tocasse na banda...

Ainda na dramaturgia, fi zemos uma peça que foi “O Que é Que Há, Gatinha?”, adaptação de um fi lme com Woody Allen e outros atores conhecidos como Romy Schneider... Fiz o papel de um psiquiatra meio maluco, usava uma peruca enorme... Chamamos Beth Maia, para protagonista, e várias meninas dessa época... Fiz uma adaptação do texto, para dar mais funcionalidade às cenas... Não foi no Santa Izabel, foi no Fluminense Futebol Clube, na Praça Veríssimo de Mello. No início, eu não me sentia muito bem, tinha um pouco de vergonha, uma difi culdade muito grande em decorar o texto... Também fi zemos no Tênis e num festival de teatro em Niterói. Em 1969, montamos “Dois perdidos em uma noite suja”, uma peça de Plínio Marcos, que estava proibida, censurada, tinha muitos palavrões... Naquela época, as coisas eram muito censuradas. Fizemos no Teatro Municipal de Niterói... Quando chegamos o teatro estava cheio, tinha fi la, lotação esgotada, o pessoal que não pode entrar pedia uma segunda sessão, a peça era pequena, de uma hora... Eu entrei no palco, vi aquela multidão... Meu Deus! Eu fazia com José Carlos Franco Corrêa, irmão de Icléa, irmão de Marco Aurélio... Ele me ajudava, soprava o texto no meu ouvido... Às vezes, eu encostava no cenário e Priscila dizia o texto pra mim... Depois desta, não fi z mais nada como ator, foi a pior experiência de todas.

A Ditadura Militar foi um período muito complicado. Nós começamos a fazer um jornal de estudante, chamado Oasis, na casa do pai do Lincoln Gil, Seu Wanderley... Tínhamos um mimeógrafo a álcool e levávamos

para o Colégio Estadual Luiz Reid. O jornal sofreu uma censura muito grande, tenho alguns exemplares ainda, é uma bobagem, mas a sociedade estava dividida, ou você era favorável a Revolução, ou era contra... Então, se você fosse contra, ia pagar um preço por isso. Naquele período, com 16, 17, 18 anos, não tínhamos uma visão de ser contra o movimento de 1964... Criticávamos algumas coisas, o conservadorismo de uma parte da sociedade macaense. Daí censuraram um jornal bobo, que não tinha força. Existiu outro jornal, feito pelo Euzébio Mello, este, sim, tinha um conteúdo realmente sério, de combate, de crítica ao movimento de 1964... Chamava-se O Estudante, com pessoas de peso... O irmão de Ana Maria Pinto, que faleceu muito jovem, esqueci o nome dele, escrevia no jornal... O próprio Euzébio, que era uma pessoa essencialmente crítica, Sérgio Nogueira... Então, era assim...

Saindo do grupo do Moadyr Victorino, que fazia comédias mais leves, montamos o grupo GETAM... Ocupamos o espaço onde hoje é o Teatro Municipal de Macaé, um cinema inacabado... Foi quando escrevi minha primeira peça, “Fátima, você sabe quem matou o seu bebê?” Priscila e Ana Rita encenaram, como duas mulheres oprimidas... Não podíamos dizer por que estavam oprimidas, pela própria situação, né? Elas queriam liberdade... Uma referência à Ditadura... Não podíamos falar da forma como hoje podemos, criticando presidentes da República, governadores, prefeitos... Naquele tempo, não dava, então, tínhamos que inventar uma linguagem simbólica... Eu não estava falando só de duas mulheres fechadas, frustradas pela sua relação social, é uma coisa muito mais ampla, de um país que estava fechado... Você não podia se manifestar de uma forma mais aberta. Passaram a frequentar aquele espaço o Doutor Ricardo Moacyr, o irmão dele, que também médico... Recomendavam a outras pessoas... Começou aquele ti-ti-ti, que tinha um grupo de resistência ao que vinha acontecendo... Trouxemos Jorge Mautner. Toda semana tinha atividade... Depois, fi zemos uma peça infantil, “A Onça e o Bode”, com muitas apresentações, cada sessão tinha em média quinhentas crianças... Priscila fez a onça e o bode foi Luiz Porto, nosso príncipe-ator... Um grande sucesso! Mandei a peça “Fátima, você sabe quem matou o seu bebê?” para um concurso, foi premiada, fi zeram leituras públicas em vários lugares, Bahia, São Paulo... No Rio de Janeiro, com direção do Nelson Xavier, foi com a Elza Gomes, uma atriz falecida e a Estelita Bell... Fizeram conforme escrevi... Por conta da idade da Estelita e da Elza, que já eram duas senhoras, em São Paulo, chamaram a Etty Fraser, que era bem mais jovem... Também convidaram a Regina Duarte, que tinha acabado de fazer uma novela e era considerada a namoradinha do Brasil... O Antônio Fagundes estava na plateia, assistindo com vários atores lá de São Paulo.

No Rio Grande do Sul, teve o nome “O terrível, triste, trágico encontro de Fátima Maria da Glória com o acabado sonho americano”... Título longo, que não cabia no letreiro, sendo abreviado para O terrível, triste, trágico... Teve direção de Jairo de Andrade que colocou uma prensa no meio da sala... A cada palavra dita rodavam aquela prensa antiga, simbolizando tortura, opressão... Aí eu sofri censura... No fi nal da encenação, era um teatro pequeno de duzentos lugares, caía uma rede em todos que assistiam o espetáculo, igual a uma rede de pescador, outro simbolismo, quase declarado... A censura é burra, mas nem tanto, viu que aquilo tinha uma conotação política. A peça saiu de cartaz e não conseguimos mais montar,

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Praianinha [Produto do Grupo Thoquino, de São João da Barra-RJ, lançado em 1944]Censura [O Conselho Superior de Censura, foi cridado em 22/11/1968, baseado no modelo norte-americano de 1939, fruto da Lei da Censura de 21/11/1968, sob o n05.536]formado em História [Pela Faculdade de Filosofi a de Campos, criada em 1961]FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada pelo Decreto Federal 73375, de 27/12/1973, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo]Godofredo Pinto [Godofredo Saturnino da Silva Pinto, campista, educador, liderança do Centro Estadual de Professores (CEP), depois Prefeito de Niterói em dois mandatos (2002-8)]Angela Terra [Angela de Almeida Terra Agosti nho, aldeense, professora de Literatura, foi diretora do Colégio Estadual Mathias Nett o, vice-presidente da Fundação Macaé de Cultura, idealizadora e coordenadora do Projeto Art Luz]Marilena Garcia [Marilena Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice prefeita de Macaé, secretária de Educação, presidente da FUNEMAC]O Século [Fundado em 1886 pelo jornalista Antonio José de Souza Mello, ressurgiu em 1974 por iniciati va de seu bisneto o jornalista Euzébio Mello, perdurando até os anos 1980]Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]Carlos Emir Mussi [Campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]ginásio do Ypiranga [Futebol Clube, na Avenida Rui Barbosa]Cavaleiros [Bairro nobre e balneário, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]Parque Aeroporto [Conjunto residencial surgido na década de 1980, atual 2.0 Sub-Distrito, ligado ao 1.0 Distrito Cidade de Macaé]Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), nesta época deputado estadual]Chagas Freitas [Antônio de Pádua Chagas Freitas, carioca, jornalista, políti co, sua forma parti cular de fazer políti ca foi chamada de chaguismo, governou a Guanabara (1971-5) e o Rio de Janeiro (1979-83) e recebeu o � tulo de Cidadão Macaense]aqui [No local da entrevista, o Solar dos Mellos - Museu da Cidade de Macaé, na Rua Conde de Araruama, 248]construção de edi� cios [Como a residência da família Trindade, da década de 1920, na Praça Washington Luiz, hoje Edifí cio Amphilóphio Trindade]banco [Referindo-se ao Banco Bradesco, na Av. Rui Barbosa, 614, onde antes era o Bolo de Noiva, palacete histórico, construído em 1927, hospedando o macaense Washington Luís Pereira de Sousa, Presidente da República]loja [Referindo-se a Casas Bahia, na Av. Rui Barbosa, 598, anti go Hotel Central, construído para sede do Vice-Consulado Português, no século XIX]descaracterizado [Como o prédio da Casa & Roupa, na Rua Télio Barreto, 268, sobrado edifi cado em 1846 para residência de Francisco Diogo da Cunha, o célebre Chico Diogo]solares [Mandiqüera, Machadinha, Mato de Pipa, Quissamã, São José, São Manuel, etc.]

só foi remontada nos anos 1980, com a abertura política... Eu tive várias peças censuradas... “O Palácio dos Urubus” não deixaram ser lido, nem publicado. Tem um episódio engraçado... A atriz Yara Vitória queria fazer a peça, conseguiu patrocínio da cachaça Praianinha, organizou um coquetel, encheu o censor de várias batidas com Praianinha, e ele bebeu todas dando o aval para a peça ser montada, quando tudo estava adiantado, já ensaiando, a Censura não permitiu... Quer dizer, a Praianinha gastou um dinheirão à toa. (Risos!)

Atuei como professor no Colégio Estadual Luiz Reid, já formado em História, em Campos, porque aqui não tinha possibilidade de cursar História, só havia a FAFIMA, com dois cursos, Pedagogia e Letras. Eu estava à frente de um movimento de professores grevistas, com apoio de Godofredo Pinto... Aqui, em Macaé, éramos eu, Dalva Soares, Ana Maria Pinto, Angela Terra, Marilena Garcia e outros... Íamos às escolas e paralisávamos. Fui mil vezes com Marilena. Este movimento, bastante forte socialmente, fortaleceu uma consciência política. Tínhamos o jornal O Século, que fazia crítica a tudo, ao prefeito, ao governo do Estado... Sentava o cacete na Petrobras, porque entendíamos que a vinda da empresa ia transformar de uma forma muito radical a sociedade, como aconteceu, e as pessoas não tinham muita consciência disso, achavam uma coisa só positiva. É inegável que a Petrobras trouxe coisas positivas, mas achávamos que o prefeito tinha que intervir, ter um poder de decisão maior... O prefeito era o Doutor Carlos Emir Mussi.

Macaé foi uma cidade de oposição na época da Revolução de 1964. O ginásio do Ypiranga, hoje, já totalmente desativado, prendeu mil pessoas, algumas realmente contrárias ao movimento, outras simpatizantes, outras, por delírio de quem mandou prender, não tinham nada a ver. Então, quando a Petrobras chegou aqui, isto é uma visão minha, acho que houve uma certa vingança do Governo Federal, não da Petrobras, em relação à cidade. Não houve um planejamento da Petrobras para se instalar aqui, havia uma necessidade imediata de ter casas para todas aquelas pessoas que vinham. Porque não eram macaenses que trabalhavam na Petrobras, eram os que chegavam de fora, a maioria de empresas estrangeiras. Por exemplo, numa casa bonita nos Cavaleiros, eles ofereciam um absurdo de aluguel, não era possível recusar, isso fez com que o mercado fosse infl acionado... Continua até hoje, o valor de um imóvel alugado em Macaé, é quase um o preço do Rio de Janeiro, ou até maior do que em áreas nobres do Rio. Então, essa falta de estrutura, do planejamento que não foi feito, levou a uma desorganização geral. O único conjunto habitacional foi feito nos anos 1980, o Parque Aeroporto. Claudio Moacyr pediu ao governador Chagas Freitas. Parecia uma invasão, todo mundo querendo casa. Aquelas pessoas, que tinham casas modestas, venderam para construírem edifícios, não se valorizou a história, a memória, a arquitetura da casa... Macaé, que era uma cidade horizontal, está cada vez mais verticalizada, mais quente... Este calor que a gente sente hoje, não sentíamos antes dos anos 1980, porque era uma cidade de casas, hoje o vento do mar não chega nem aqui... Isto tudo foi falta de planejamento. Muitos prédios históricos foram derrubados para construção de edifícios, banco, loja... O que não foi demolido, está descaracterizado... Em Quissamã, por exemplo, população foi crescendo numa medida correta, não há uma invasão signifi cativa, cresce proporcionalmente... Quissamã sempre cultuou essa questão da história, a memória daqueles solares, praticamente não houve especulação imobiliária... Aqui, as pessoas foram seduzidas... Uma grande

resistente foi a última moradora desta casa, a Dona Noêmia, que resistiu a propostas fantásticas e vendeu para Prefeitura, desde que a casa fosse recuperada e mantivesse a história da família, destinando-se às questões culturais... Resistiu vivendo pobremente, recebendo gambiarra de luz dos vizinhos, a casa não tinha água... O meu dentista disse que impedi que aqui fosse uma clínica dentária... Na verdade, eu estava como prefeito em exercício, o Prefeito Sylvio Lopes fez uma viagem, então assinei a compra da casa, mas quem resistiu de fato foi a Dona Noêmia, porque ela poderia ter vendido em condições muito melhores, esta casa foi vendida por setenta e sete mil reais, em três prestações, e ela teve oferta de duzentos, trezentos mil reais... Ela resistiu! Esta casa pertenceu ao jornalista Cézar Mello, bisavô do Euzébio Mello... Era a casa da Cultura... Tonito frequentava e tenho até foto dele aqui, conversando com Cézar Mello... Se reunia com o Mathias Netto, poeta, professor... Quero dizer, era uma casa que respirava cultura, ligada com as questões que envolviam com Município...

Temos que lembrar que Macaé passou a receber Royalties, após movimento feito pelos vereadores da cidade. Lembro de Marilena Garcia; Doutor Humberto Mattos Assumpção; o presidente da Câmara Municipal de Macaé, Rubem Almeida; o Paulo Antunes, que ainda hoje é vereador... Acamparam na Cinelândia e veio o ganho dos Royalties.

O ACTO, quando fez quinze anos de atividades, há uns dez anos atrás, organizaram uma mostra da minha dramaturgia, montando cinco peças: a primeira foi “Fátima, você sabe quem matou o seu bebê?”... Mas mudei o nome, porque era muito grande, fi cou “Disse adeus às ilusões e embarcou para Hollywood!”... Quer dizer, quem dá adeus às ilusões e embarca para Hollywood não sai do lugar... Fizeram “Amigos”... “Delicioso Horror”... “O Palácio dos Urubus”, não foi uma montagem, mas uma leitura, quase uma montagem... Foi bom, porque o grupo cresceu. Hoje, temos o Teatro Municipal de Macaé, que foi muito bem inaugurado, com presença de Tônia Carrero... O Cine Clube de Macaé deve voltar a funcionar, como cinema e teatro, e vai ser muito importante... Coisas que Macaé não oferecia e tínhamos que sair para desfrutar... Porque aquela Macaé romântica, balneária, delicadinha, Princesinha do Atlântico, tinha esta maldade de perder os seus fi lhos, esta geração que, hoje, está na cidade. Não todos, não se pode generalizar, mas grande parte não tem nenhum compromisso com a cidade, não tem compromisso social, político, cultural, só tem interesse econômico... Essas pessoas vão viver aqui, fazer família, de ter fi lhos... Então, fi ca uma cidade estranha... Aqui, na Vice-presidência de Acervo e Patrimônio Histórico, da Fundação Macaé de Cultura, temos o Projeto Professor Investigador, aí quando perguntamos nos encontros que promovemos: - Quantos professores da rede municipal são de Macaé? Poucos levantam a mão. Com os alunos, é da mesma forma... Outro dia, recebi um grupo de alunos, crianças que faziam uma pequena entrevista, eram seis, nenhum daqui. Às vezes, com jornalistas, você tem que explicar tanto, e depois fi ca com medo dos equívocos, que poderão ser publicados na reportagem, porque não adianta você tentar explicar se a pessoa não tem o mínimo de noção do que seja, do que foi...

desta casa [O Solar dos Mellos, luxuoso chalet, construído em 1891, pelo mestre-architecto Joaquim Ribeiro Capellão, para residência da família do coronel Bento Araújo Pinheiro, adquirida pelo capitalista Bento Aff onso da Silva, foi revendida, em 1911, à família Mello]Dona Noêmia [da Costa Mello, professora, artesã, especialista nos trabalhos em bordados brancos, discípula de Anna Seraphina Cuperti no da Silva]Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]família [Mello, estabelecida em Macaé, no século XIX, pelo casal carioca Adelaide Thereza e Antonio José de Souza Mello]Prefeito Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal] assinei [O Decreto n.0 042, de 29/06/1999]Cézar Mello [Cézar José de Souza Mello, macaense, comerciante, proprietário da Padaria Popular, jornalista, memorialista]Mathias Ne� o [Ignácio Giraldo Mathias Ne� o, carioca, comerciante, educador, primeiro em Rio das Ostras e depois em Macaé; arti culista do jornal O Século]Royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados. A Campanha dos Royalti es do Petróleo, contou com a Comissão Intermunicipal de Conquista dos Royalti es, criada em 16/03/1983, culminando na Lei 7453/1985, que permiti u que 37 municípios fl uminenses recebessem um percentual sobre o petróleo extraído pela Petrobras na Bacia de Campos]Humberto Ma� os Assumpção [Macaense, médico cancerologista e clínico geral, políti co, vereador, presidente do Parti do Democráti co Brasileiro]Câmara Municipal de Macaé [Insti tuição pública municipal, representante do Poder Legislati vo, insti tuída em 22/01/1814, pelo Desembargador Ouvidor Geral da Corte do Rio de Janeiro, Manoel Pedro Gomes]Rubem Almeida [Rubem Gonzaga de Almeida Pereira, macaense de Quissamã, funcionário público da Companhia Estadual de Águas e Esgotos/CEDAE, políti co, descendente de famílias aristocratas do período imperial]Paulo Antunes [Paulo Fernando Marti ns Antunes, macaense, políti co, Presidente da Câmara Municipal de Macaé em diversos mandatos]Cinelândia [Nome popular dado ao entorno da Praça Floriano, no centro do Rio de Janeiro] ACTO [Grupo Teatral ACTO, que atualmente coordena o Centro Cultural Rinha das Artes, na Rua Dr. Julio Olivier] inaugurado [Em 04/09/1992, no Centro Macaé de Cultura, na Av. Rui Barbosa, 780, Centro, por iniciati va de Aldo Mussi Teixeira, Secretário Municipal de Cultura e Turismo]Tônia Carrero [Maria Antonieta Porto Carrero Thedim, carioca, consagrada atriz, estrela da Cia. Cinematográfi ca Vera-Cruz, atuou no Teatro Brasileiro de Comédia e em telenovelas]Cine Clube de Macaé [Na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado a realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual] Princesinha do Atlânti co [Cognome adquirido nos anos 1940]Projeto Professor Investi gador [Idealizado e coordenado pelas historiadoras Gisele Muniz Moreira Santos e Maria da Conceição Vilela Franco, que objeti va proporcionar aos professores conhecimentos que produzam debates, pesquisas e ensinamentos a respeito de Macaé e região]

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casei [Em Macaé, a 17/12/1972]

Felipe [Meirelles Vieira, macaense]

Mariana [Meirelles Vieira, macaense, advogada]

Hugo [França Thurler, carioca, empresário]

dois netos [Hugo e Thais]

Francisco Dornelles [Francisco Oswaldo Neves Dornelles, mineiro, advogado, políti co, Deputado-federal, Ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo (1996-8), Ministro do Trabalho e Emprego do Brasil (1999-2002)]

Fernando Henrique [Cardoso, carioca, Sociólogo, Educador, políti co, Presidente da República em dois mandatos consecuti vos (1995-2003)]

Aeroporto [Público, inaugurado em 1980, síti o aeroportuário, com área de 480.000 m², administrado pela Infraero, localizado na Av. Hildebrando Alves Barbosa, a 5 km do centro]

Petrobras [Com sede na Av. Elias Agosti nho, 665, Imbeti ba]

PT [Parti do dos Trabalhadores, parti do políti co brasileiro, fundado em 1980, é um dos maiores e mais importantes movimentos de esquerda da América do Sul. Com 1 549 180 fi liados, o PT é o segundo maior parti do políti co do Brasil, atrás apenas do Parti do do Movimento Democráti co Brasileiro (PMDB)]

Gilson Corrêa [da Silva, jornalista, escritor,

fundador da Academia Macaense de Letras]

Passei grande parte da minha infância aqui, e bastante da adolescência... Isto tem um signifi cado muito positivo, de amigos, de convivências. Acabei fazendo como o meu pai, também casei com uma prima. (Risos!) Tivemos dois fi lhos, Felipe, o mais velho, e Mariana, casada com Hugo, que agora me deu dois netos... O Felipe não casou, disse que não vai casar e que eu não espere dele neto nenhum... (Risos!) Mas não tivemos fi lhos pensando em netos. Não faria nada diferente, voltaria a fazer Formação de Professores, lecionaria novamente... Na política, tive oportunidades, primeiro sendo vice-prefeito em dois mandatos seguidos, não esperava isto, me deu uma vivência muito grande... Na ocasião, em que veio aqui o Francisco Dornelles, o mais importante ministro de Fernando Henrique, com uma equipe técnica, o Prefeito Sylvio Lopes estava viajando, eu estava prefeito em exercício... Exigiu que do momento em que ele saísse do Aeroporto até sua chegada na Petrobras, não houvesse nenhum sinal fechado, o carro não podia parar... Haveria uma manifestação do PT, com bandeiras vermelhas e tal, e ele estava temeroso que houvesse algum atrito, mas felizmente não houve nada.

Acho importante este trabalho de registrar depoimentos, porque a memória tem que fi car, estamos perdendo muito... Há pouco, faleceu o Gilson Corrêa, poeta, e não fi zemos nenhuma gravação com ele... Então, é muito bom, inclusive por eu estar dirigindo uma instituição com esta atividade básica, de levantar e resgatar a memória do Município, das suas personalidades... Já estou me sentindo fazendo parte disto, brinco que qualquer dia serei tombado, porque vivenciei tantas histórias, de maneira que me sinto muito bem em dar este depoimento, deixar registrado para o futuro. Sou uma pessoa muito simples, não tenho vaidade, de modo geral gosto de conversar, detesto fazer discurso, acho um saco, mesmo em solenidades... Eu gosto é de conversar! Isto foi a vertente que me levou à dramaturgia, porque o teatro só é possível com o diálogo, mesmo num monólogo, é um exercício de democracia... É o que mais faço. Agradeço essa oportunidade! ▪

1 e 2 Folhetos de Peças Teatrais.3 Ricardo Meirelles. 2014. Foto: Livio

Campos.Acervo parti cular de Ricardo Meirelles, Macaé - RJ.

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Ponte e Barcos, 2005.Foto: Livio Campos

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Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Av. Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

Lyra dos Conspiradores [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com idéias abolicionistas e republicanas]

Taboada [Cine-teatro inaugurado, em 05/04/1931, pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]

um movimento [A Vigília Cultural decorrente do fechamento do Taboada, em 31/12/1981, sendo alugado para uma rede de lojas de eletrodomésti cos]

Ditadura [Período da história políti ca brasileira que contou ao todo com cinco presidentes e uma junta governati va, estendendo-se do ano de 1964 até 1985]

movimento de 1979 [Ação grevista em escala nacional envolvendo trabalhadores dos mais diversos setores (metalúrgicos, transportes urbanos, construção civil, professores, servidores públicos, mineiros e bancários) que fi zeram paralisações, num total de 246 greves que mobilizaram cerca de três milhões de trabalhadores]

eleições de 1982 [Em 15/11/1982 o eleitorado brasileiro foi convocado às urnas para eleger os governadores que administrariam seus estados pelo interregno temporal de quatro anos a contar de 15/03/1983 num pleito que envolveu cerca de 70 milhões de eleitores sendo a primeira eleição direta para governador de estado desde os anos 1960]

PT [Parti do dos Trabalhadores, parti do políti cobrasileiro, fundado em 1980, é um dos maiores e mais importantes movimentos de esquerda da América do Sul. Com 1 549 180 fi liados, o PT é o segundo maior parti do políti co do Brasil, atrás apenas do Parti do do Movimento Democráti co Brasileiro (PMDB)]

Parti do Comunista [Brasileiro (PCB), um parti do políti co de esquerda, fundado em 25/03/1922, ideologicamente baseado em Karl Marx e Friedrich Engels; com organização baseada nas teorias de Lênin. Também conhecido como Parti dão, é o mais anti go do país ainda em ati vidade]

Campos dos Goytacazes [Município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835; onde Rita nasceu em 26/07/1955]

marido [Paulo Nolasco Nunes Barreto, campista, engenheiro]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Salvador [Capital do Estado da Bahia]

FAFIC [Faculdade de Filosofi a de Campos, criada em 1961]

Liceu de Humanidades de Campos [Tradicional insti tuição de ensino secundário, fundada em 11/04/1847]

Luiz Reid [Colégio Estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé, criada pelo Decreto Federal 73375, de 27/12/1973, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, fundado em 27/07/1963, no bairro Visconde de Araújo]

Beco do Caneco [Primeira denominação da anti ga Rua Barão de Cotegipe, atualmente Rua Julita Barcelos de Oliveira]

Rua Direita [Primeira denominação da atual Av. Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Bar Redondo [Restaurante e danceteria localizado na Av. Elias Agosti nho, 250, onde atualmente está o Hotel Macaé Othon Suítes]

meu fi lho [Júlio Nolasco Manhães]

Durval [Hoje o Durval Restaurante, situado atualmente na Avenida Atlânti ca, 2534, Praia dos Cavaleiros]

Malvinas [Bairro periférico, resultante de ocupação subnormal, ocorridas no início da década de 1980, cujo topônimo refere-se ao confl ito armado entre Inglaterra e Argenti na pela soberania das Ilhas Malvinas]

“Macaé era a cidade da amizade, do encontro.”Rita de Fátima Manhães Gomes Barreto

Entrevistada, em Macaé (RJ), a 14/09/2012.

Cheguei a Macaé em 1980. Sou de Campos dos Goytacazes, mas meu marido foi trabalhar na Petrobras, a gente fi cou um tempo em Salvador e depois ele foi transferido para cá. Nós já conhecíamos Macaé, vínhamos sempre aqui. Fiquei morando em Macaé e trabalhando em Campos. Dava aula na FAFIC, em um curso pré-vestibular e no Liceu de Humanidades de Campos... Ficava dois, três dias lá e morava aqui. Aos poucos eu fui percebendo que podia intervir na cidade, fi z um concurso para o Estado do Rio de Janeiro, passei, fi z a opção por Macaé. Em 1983, comecei a dar aulas no Luiz Reid, iniciando minha vida profi ssional aqui e aos pouquinhos fui saindo de Campos. Logo depois, comecei a dar aulas na FAFIMA e, também, no Castelo. Comecei a construir minha vida profi ssional aqui, me envolvendo com a cidade, participando do movimento sindical, movimentos das mulheres.

Macaé era uma gracinha! Logo que cheguei, morei no Beco do Caneco, no centro da cidade. Era uma delícia! A Rua Direita tinha um vento maravilhoso, no verão, tínhamos que colocar casaco, porque era uma ventania. Era uma cidade que não tinha miséria, tinha as pessoas simples, os bairros mais simples, mas você não via a pobreza extrema... Era extremamente acolhedora, meus grandes amigos são macaenses, fui muito bem acolhida no Luiz Reid, mantenho essas amizades até hoje, porque foram pessoas cuidadosas, respeitosas. Macaé era a cidade da amizade, do encontro. Alunos maravilhosos! Vários dos meus alunos, hoje, são profissionais incríveis, aqui, e em outros lugares. Fui muito bem acolhida e fiquei muito feliz de estar, morar, e viver aqui.

Na praia, a gente tinha umas cabanas nos Cavaleiros. No início, íamos à Imbetiba... Tinha o Bar Redondo, onde fi zemos o batizado do meu fi lho... A gente fez um camarão lá. Depois veio Cavaleiros, a gente frequentava muito e aquela orla não tinha a menor estrutura. Tinha o quiosque do Durval, quiosque do Bolinha, e ali, meu fi lho começou a ser muito querido... Depois, eles melhoraram, fi zeram bares melhores, todos tinham rampa de acesso. Acho que Macaé foi uma cidade pioneira nesse processo, porque a gente ocupava os espaços públicos, a praça, a orla. Desenvolvi um trabalho de pesquisa de campo com meus alunos na Malvinas, que, na época, era uma grande lixeira... Um trabalho com dezesseis famílias, que viviam naquele lixo, com registro fotográfi co etc. Os alunos fi caram chocados, porque era lixo hospitalar, doméstico, lixo de mercadinhos - Não tinha supermercados, só os mercadinhos, junto com urubus, animais... Aquilo foi chocante! Uma das minhas alunas, que trabalha no Ministério da Saúde, toda vez que me encontra diz: - Rita, foi ali que eu dei a guinada na minha vida. Todo o meu trabalho hoje é voltado para superar as mazelas. Ali senti na alma o que era a tragédia humana. Isso foi em1985, aquelas dezesseis famílias começaram a constituir a Malvinas.

Nessa época, a Petrobras se instalou... Havia uns movimentos organizados no sentido de preservar a Memória macaense... Tinha jornais... A gente do grupo de História se reunia muito para resgatar a Nova Aurora, inclusive passamos a utilizar a Nova Aurora e a Lyra dos Conspiradores, como espaços do movimento sindical de greve. Mas a grande questão era preservar o Taboada, existia um movimento nesse sentido, uma geração que tentou fazer isto, mas não era nada muito estruturado, porque no

início da década de 1980, a gente estava saindo da Ditadura... Nosso foco era lutar contra as injustiças, contra preconceitos, então, mobilizávamos o movimento negro, o movimento de mulheres e o movimento sindical. A questão, que nos inquietava, era muito mais social. A questão cultural permeava isso, mas não tinha esse foco.... Essa preocupação que tem hoje, surge depois, na década de 1990. Naquele momento, era luta social, uma preocupação com a miséria que estava chegando... A periferia começava a crescer e isso nos preocupava.

As pessoas da cidade estavam completamente envolvidas na luta pela redemocratização, tanto que a emergência nos movimentos sociais aqui era bem intensa, então, a gente estava envolvido... Eram palestras, passeatas, havia uma intensa participação. No movimento de 1979, eu estava em Campos e aqui em Macaé foi super intenso, vários professores foram presos lutando pela redemocratização... Macaé era uma cidade em que fervilhava esse sonho, esse desejo. Nas eleições de 1982, Nossa mãe! A participação foi muito grande, nosso sonho era poder participar, votar, então, a campanha aqui foi movimentada. Havia uma inspiração muito grande em Macaé. O movimento ferroviário foi uma referência para quem estava lutando no início da década de 1980... Víamos naqueles ferroviários essa necessidade, essa vontade de continuar a luta... Até hoje a gente vai lá beber na fonte, porque essa luta foi muito importante para as ações seguintes.

Naquele momento, nós estávamos envolvidos com a fundação do PT. Esse grupo, que lutava aqui em Macaé, que vinha do movimento social, acreditava que essa base, essa luta social, possibilitaria a transformação. A gente via o PT não como instrumento para o poder, mas como uma possibilidade de organização social. Então, muitos de nós estavam envolvidos com o Partido dos Trabalhadores, um instrumento de mobilização, porque o Partido Comunista, naquele momento, já estava meio desacreditado, pelas alianças que veio fazendo. O PT era a grande possibilidade, a grande emergência dessa resistência da década de 1970. Havia perseguição, o anseio das autoridade ainda estava presente e muito forte... Com certeza, a gente sofreu constrangimentos nessa luta, a própria imprensa era um negócio sério. Teve um movimento dos professores que a gente fez uma greve de fome no Luiz Reid e teve uma repercussão internacional. A gente recebeu ligações de organizações internacionais em solidariedade a nossa luta. Nós víamos a Educação como caminho de emancipação, libertação da consciência, porque aquele adormecimento da Ditadura caçou as consciências. Pra gente, a Educação seria o caminho para resgatar a identidade, a humanidade das pessoas. Não era possível aquilo sem uma classe profi ssional da Educação consciente e valorizada. A nossa luta era o seguinte, fazíamos greve, participávamos das passeatas, mas a gente tinha todo um trabalho de formação política. Durante a greve, reuníamos pais, professores e alunos para levar formação política a todos, pra todo mundo ter consciência... Não era formação partidária, era formação do que estava acontecendo, do que era Educação e seu papel fundamental na emancipação das pessoas. Foi muito intenso isto aqui... Esse grupo continua atuando, cada um do seu jeito, em seus espaços.

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Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, fundado em 27/07/1963, no bairro Visconde de Araújo]

São José [Centro Educacional na Rua São João, em frete a Praça Veríssimo de Mello, fundado pela professora Le� cia Peçanha de Aguiar]

lesão mesencefálica [O tronco cerebral é consti tuído por três estruturas que são o bolbo raquidiano, a protuberância e o mesencéfalo que é a vesícula intermédia originária do tubo neural aquando da formação do cérebro durante o desenvolvimento embrionário em animais]

um espaço [Na Rua do Sacramento]

Sentrinho [Sociedade de Ensino e Terapia Macaense, fundada em 19 de agosto 1989, hoje com sede na Av. Evaldo Costa, 475]

Reusa Manhães Gomes [Campista, professora]

Luzia Manhães Gomes [Campista, pedagoga]

Renata Monteiro Jaber [Macense, psicologa]

Sandra Oliva Wya� [Friburguense, professora, fonoaudióloga, psicomotricista, poeti sa, escritora]

A questão da educação pública começou quando os pobres começaram a ter acesso à escola pública e a classe média covardemente se retirou dela, tirou seus fi lhos e contribuiu com a privatização da Educação. Isso foi um fenômeno seríssimo no Brasil, porque a classe média tinha o poder de pressão maior, tinha uma consciência maior... Aquela escola pública boa, na verdade, era para um grupo privilegiado, quando as camadas populares começaram a chegar, ninguém sabia lidar com aquilo, ninguém sabia do caráter dos alunos. Então, essa privatização, essa elitização, foi resultado dessa chegada... Aí, o compromisso com a escola caiu, todo mundo largou de lado, porque não havia interesse que seus fi lhos estivessem ali, estudando junto com os demais... Esse processo começou na década de 1970 e na década de 1980, ele se aprofundou intensamente. Então, não é que o Luiz Reid era bom, que os professores eram melhores... Era muito fácil dar aulas para um grupo, que tinha informação em casa, que se entendia a linguagem, agora, para trabalhar com as camadas populares exigia-se uma reformulação de postura, uma série de questões e isto não foi feito.

A Petrobras se instalou aqui em 1977 e a gente já tinha essa divisão... Tinha o Castelo que atendia aos fi lhos de uma elite de Macaé e aos outros vinham... Lembro que dei aulas no Castelo e um grupo de lá, veio para o Luiz Reid estudar no terceiro ano... Nossa, era um impacto!!! Uma relação difi cílima com os alunos do Luiz Reid. Quer dizer, aqui também existia isso. Claro que essas pessoas foram chegando, foram fortalecendo, ninguém colocava, já nesse momento, seus fi lhos para estudar no Luiz Reid, matriculava no Castelo, no São José, que eram as escolas, que atraíam esses alunos, nesse momento. Então, a democratização da Educação, através do acesso criou essa desqualifi cação da escola pública. A gente está vendo, está batalhando enlouquecidamente para resgatar. Mas não é que só o Luiz Reid era bom... É que tinha uma clientela dentro da proposta pedagógica e a maioria dos professores não estava preparada, não sabia, não queria lidar com essa nova questão... Aí fi cava: - Ahhh... Antes os alunos eram melhores... Antes os alunos estudavam muito... Antes... Ficou nesse “antes”. E o adiante?! (Risos!) O adiante fi cou comprometido.

Como professora de História, meu compromisso sempre foi com as lutas do povo brasileiro, com a resistência desse povo. Desde a década de 1970, já estava envolvida com uma série de movimentos que surgiam contra a Ditadura. Acreditava que a resistência vinha por essa base, então, a gente fundou o movimento dos negros em Campos, o movimento de mulheres, o movimento sindical... Não se falava, naquele momento, na questão da pessoa com defi ciência. Aí meu fi lho nasce em 1982, prematuro, com precárias condições médicas e hospitalares. Foi identifi cada a defi ciência, a lesão mesencefálica, que comprometeu toda a parte motora. Nesse momento, eu estava envolvida com essa militância de escola pública... Podia ter colocado numa escola pública? Podia. O Luiz Reid tinha uma classe especial e, já naquele momento, a gente observava que era uma forma de segregação enorme... Era a pior sala, era o professor mais comprometido, era horário de recreio separado de todo mundo... Era como se fossem bichinhos, uma curiosidade em torno do que era aquilo. Não era nisso que eu acreditava e queria para o meu fi lho. Quando ele estava com seis anos, a gente começou a pensar num projeto-escola... Uma escola que ele fosse sujeito, que fosse feliz. Reunimos seis mães e começamos a escola na minha casa, com seis alunos, montamos uma salinha, contratamos uma equipe. Nosso sonho era levar para outras pessoas que não tinham as oportunidades que os nossos fi lhos tinham, porque eu podia sair daqui, ir a São Paulo, ao Rio de Janeiro, me informar e saber das coisas... E a maioria? Onde

estavam essas pessoas com defi ciência em Macaé? Não tinha ninguém nas ruas... A gente ia nas praças, nas praias, só tinha Julio, não tinha mais ninguém. Logo no início, encontrei mais um, Pedrinho. Júlio e Pedrinho eram os únicos que a gente via pelas ruas em Macaé. Aí começou a procura, alugamos um espaço na Imbetiba, em março, e em agosto de 1989 a gente inaugurou. Quando chegou em dezembro, nós estávamos com dezoito alunos, a grande maioria com precárias condições sócio-econômicas. Montamos um projeto pedagógico para atender esses seres humanos em todas as suas dimensões, rompendo com a ideia de patologização da Educação. Eles não são doentes e começamos a lidar com a questão da diferença. Naquele momento, era difi cílimo, porque o modelo médico era completamente impregnado. Queríamos um trabalho educativo e assim desenvolvemos o projeto de acreditar no potencial, trabalhando cor, emoção, cognição, convivência, arte, música... Já passaram pelo Sentrinho mais de setecentos alunos, muitos foram liberados para escola regular e agora estou criando o Centro de Memória... A gente está levantando isto tudo.

Alguns de nossos alunos já foram para a universidade, mas tem aqueles que a escola, a universidade não vai dar conta, mas eles têm direito ao conhecimento, ao saber, ao conviver e é isso que a gente faz. Cada um é de um jeito, alguns não vão acompanhar a sistemática da escola regular, então, eles fi cam aqui, porque aqui eles têm acesso ao conhecimento. A gente encaminha aqueles que podem para o mercado de trabalho, mas têm os que não conseguem trabalhar, porque não andam, não falam, mas tem direito ao conhecimento. Temos alunos em vários níveis de formação, o importante é que estejam convivendo, que estejam aprendendo sempre e que se sintam felizes. A escola não pode ser um centro de tortura, forçando a ser o que você não é, aprender aquilo que não te interessa. Trabalhamos com um projeto pedagógico em que toda a escola está envolvida. Agora, mesmo estamos “viajando” pelo Brasil, eles estão conhecendo todas as regiões, neste semestre estamos concluindo com a região sul. É fantástico o que eles estão descobrindo da Cultura, da História... Aquele que escreve, escreve; aquele lê, lê; aquele não lê, vê as fi guras... Respeitamos suas possibilidades, quer dizer, o Sentrinho é essa tentativa de mostrar que a Educação pode atender à diversidade, respeitar as pessoas no seu tempo, no seu ritmo, com as suas limitações.

Hoje, temos cento e noventa alunos e só dez tem condição de pagar a mensalidade. Quem pode, paga para viabilizar a inclusão dos outros, mas a classe média tem preconceito, muitos não querem fi car aqui, porque os alunos são pobres... Essas maluquices! O mesmo processo que aconteceu com a escola pública. Temos parceria com a Prefeitura Municipal de Macaé... Agora, assinamos um convênio com a Petrobras, que está deixando a gente respirar, porque eles estão assumindo uma parte do pessoal e dos encargos... Está sendo fundamental... É dentro de um programa de desenvolvimento e cidadania da Petrobras, a gente apresentou um projeto e começou em maio... Estamos desenvolvendo projetos culturais, eventos, produção de CD’s, livros... Trazemos a comunidade para nosso espaço e vamos desconstruindo os preconceitos que as pessoas têm da defi ciência, mas não sabe o que é, nunca viu, não conviveu... O preconceito é fruto dessa ignorância. Montamos um brechó, que é uma forma de reciclar, de reaproveitar, diminuir o desperdício. A comunidade vem aqui e está participando desta história, então, a gente vai caminhando e conseguindo. O mais importante é perceber como vale a pena investir e acreditar no ser humano. Nossa! É muito legal.

No iníco éramos eu, minhas irmãs, Reusa Manhães Gomes e Luzia Manhães Gomes; Renata Monteiro Jaber e Sandra Oliva Wyatt, toda espiritualizada... A gente queria ter isso, uma síntese, romper as barreiras do conhecimento, sair dessa ciência que aprisiona as pessoas, essas medicinas, essas terapias... Sandra nos propôs fazer uma síntese de novidades, unindo oriente e ocidente. Naquele momento, nós fazíamos muitos cursos ligados às questões das terapias ocidentais. Aí, Sandra falou: - Gente, eu já cheguei ao nome da nossa escola: Sentrom, Síntese Energética de Novidade Orientocidentais de Macaé. Achamos ótimo, só que quando mandamos registrar, lógico

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JUCERJA [Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro]

Bioenergia [Conclusões e estudos relati vos ao Universo e a Natureza. Elementos e energias dos planos naturais (chakras e vórti ces da Natureza); O Ser Humano: energias cibernéti cas e bioelétricas relacionadas com o sistema nervoso e os diferentes órgãos; Deduções cien� fi cas do campo energéti co e humana; Campo bioplásmico: campo etérico; Chakras e a anatomiahumana; Pesquisa sobre psicotrônica e as distribuiçôes de energias; Patologias energéti cas]

aculputura [Ramo da medicina tradicional chinesa e, de acordo com a nova terminologia da Organização Mundial da Saúde, um método de tratamento complementar]

capoeira [Expressão cultural brasileira que mistura arte-marcial, esporte, cultura popular e música]

África [Terceiro conti nente mais extenso do palneta, com grande diversidade étnica, cultural, social e políti ca]

FAFIMA [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras]

Fundação Educacional Luiz Reid [Criada em 21/08/1956]

Salesiana [Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora, fundada em 06/08/2001, junto ao Colégio Castelo, no bairro Visconde de Araújo]

Estácio [de Sá, insti tuição de ensino, fundada em 1970, que integra Universidade, Centros Universitários e Faculdades, presente em 19 estados do Brasil com mais de 70 unidades. O Campus de Macaé está no bairro Novo Cavaleiros]

Ivania Ribeiro [Silva, macaense, professora de Língua Portuguesa, políti ca, vereadora, presidindo insti tuições importantes como o Sindicato Estadual dos Profi ssionais da Educação, o Insti tuto Histórico e Geográfi co de Macaé, etc.]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice prefeita de Macaé, secretária de Educação, presidente da FUNEMAC]

TV Búzios [Empresa de telecomunicação, pioneira na região dos lagos (1988-93), sediada em Búzios-RJ, fundada pelo empresário carioca Cleofas Uchôa]

FAFIC [Faculdade de Filosofi a de Campos]

Araruama, Cabo Frio [Municípios da região dos lagos, no Estado do Rio de Janeiro]

Trajano de Moraes, Santa Maria Madalena [Municípios da região serrana, no Estado do Rio de Janeiro]

Conceição de Macabu, Quissamã [Anti gos distritos macaenses emancipados]

que o JUCERJA não aprovou uma loucura dessa... Tinhamos que mandar três nomes e colocamos Sentrom, Síntese Energética, Sociedade Ensino e Terapia Macaense, e mais alguns. Eles aprovaram a Sociedade Ensino e Terapia Macaense, mas fi cou Sentrom, Sociedade de Cinoterapia Macaense. Como Sentrom é uma coisa pesada, todo mundo chamava de Sentrinho, aí ninguém entende porque é com S. Interessante que virou um marketing, o pessoal fi ca intrigado com esse S que vem do Sentrom.

A gente já usava Bioenergia, trabalhávamos a questão do corpo e até hoje fazemos acupuntura, capoeira... Usamos os saberes da África, de vários lugares... A gente vai juntando para atender essa diversidade complexa, que é o ser humano. É isso que acreditamos ser Educação. Então, a partir daí, do Sentrinho, comecei a pautar minha luta... Continuei nas outras, no movimento sindical, passei a centrar bastante a minha energia nessa construção. Nós, historiadores, estamos muito teorizados, lemos, estamos bem formados, mas poucos intervem na luta social, fi cam lá nos gabinetes, nas academias, pensando, delirando... Sempre questionei este saber histórico encastelado na academia; sempre acreditei que o nosso saber tinha que estar lá, transformando a realidade social, criando o novo. Aí, eu entendi que o Sentrinho podia ser um espaço de construção de uma outra história da Educação, que respeitasse essa diversidade social de gênero, étnica... A diversidade que uma lesão, uma síndrome, uma defi ciência pode provocar. Porque são pessoas, sujeitos que têm direitos, merecem ser felizes... Os nossos alunos são felicíssimos, têm paixão pela escola... Na hora que a gente vai liberar, encaminhar para outras instituições, é uma luta, porque estão acostumados com afeto.

Eu me aposentei do Estado do Rio de Janeiro, dando aulas no Luiz Reid, há sete anos. Tenho vinte e cinco anos de FAFIMA, me licenciei sem vencimentos, mas estou no conselho da Fundação Educacional Luiz Reid, continuo atuando, acreditando no Ensino Superior. A FAFIMA teve um papel fundamental, foi vanguarda, primeira faculdade de Macaé, com intensos movimentos, lutas... Faço parte deste processo desde 1985, então, não abro mão de estar lá tentando contribuir. Houve a expansão universitária, dei aulas na Salesiana por seis anos, na Estácio... Experimetei essas univerdades que vieram, mas a minha raiz, o meu pé está fi ncado na FAFIMA, porque ali está a alma de Macaé, a formação dos seus educadores, é um lugar muito importante e por ali passaram grandes discussões sobre a cidade.

Na FAFIMA, tem Ivania Ribeiro, que é companheira da gente faz muito tempo... Tem muita gente, se citar vou até ser injusta. Nossa! Professores da melhor qualidade, companheiros de muita história, muita coragem... Porque não era fácil ser educador, assumir as discussões dentro daquela faculdade pós-ditadura. Era uma batalha levar para lá, os autores e certos pensamentos... Tivemos a ousadia e a coragem de fazer, dentro da faculdade, os maiores debates que a cidade já teve, trazer grandes nomes para polemizar, levar os alunos para as rádios, e ir para a TV Búzios, para os alunos divulgarem os eventos que a gente estava construindo... Então, foi muita história, isso está registrado lá, nos livros de eventos. Foram muitos alunos... Em Macaé, a maioria foi alunos meus... A gente fi ca relembrando a coragem que era fazer essas coisas num momento que não era comum, sem dinheiro, sem nada e as coisas aconteciam, eram bem feitas. A FAFIMA teve um papel muito importante da mesma forma que a FAFIC, onde dei aulas por cinco anos... Essas duas instituições, que nasceram no interior, com muita difi culdade, marcaram a minha formação como professora, como educadora, mas sobretudo a minha formação como ser humano,

cidadã. Nunca acreditei que minha formação era só para eu sobreviver, queria que minha formação fosse um instrumento para que outras pessoas pudessem sobreviver, pudessem ter dignidade. A gente não pode ser feliz sozinho... E o outro? Comecei a dar aulas em Araruama, Cabo Frio... Peguei muita estrada de chão em Trajano de Moraes, Santa Maria Madalena... e Conceição de Macabu, Quissamã... Muitas pessoas desses lugares estudaram na FAFIMA e chegavam em suas casas duas, três horas da manhã, para às sete horas estarem trabalhando e, à noite, voltarem... Guerreiras, que estavam vendo naquela formação, uma possibilidade maior para sua vida... Isso tudo ainda inspira a gente.

Ainda sou fi liada ao PT... Sabe aquela relação que você não consegue abandonar, um fi lho? Fundei o PT em Campos dos Goytacazes, em 1982, depois vim para cá, e logo entrei. Mas logo entendi que participando do movimento social, com a diversidade que tem, diversidade étnica, religiosa, você não pode ser braço de partido, de poder, de nada disso. O movimento social tem que ter autonomia, era isso que sonhávamos no início da década de 1980. Queríamos um movimento independente, não tutelar, que ninguém chegasse e pudesse intervir... Entendeu? Que não estivesse a serviço de campanha de A, B ou C, um movimento livre e foi isso que a gente construiu aqui. Como eu ia conseguir isto militando? No início, eu até cheguei a ir em algumas reuniões do PT, mas comecei a perceber que a luta toda era pelo poder, e não é isto que a gente acredita, então, abandonei a luta político-partidária, mas continuo na luta política, acreditando que é possível políticas públicas, que benefi ciem a todos. Eu não quero uma escola boa só para meu fi lho, um emprego só para ele... Quero uma escola boa para todo mundo, quero emprego digno para todos... Não quero favor, vocês entenderam? Quando apresento um projeto, não tenho que falar com ninguém, prefeito, ninguém... Apresento um ofício solicitando convênio, temos um projeto pedagógico e prestamos contas com dignidade... A qualquer hora que vierem aqui o trabalho está sendo realizado, não quero apadrinhamento, nada disso, não precisamos, quem está na luta não precisa disso. Pessoas excluídas socialmente não precisam disso, elas têm os direitos... Não quero dizer que as pessoas que estão nos partidos não façam um trabalho legal, mas na minha concepção, na origem da minha constituição, acho muito difícil conseguir fazer um trabalho social tutelado por um partido.

Tudo na vida tem que ter alma, nascer da alma... Tem que ter pessoas envolvidas nas lutas, com uma certa vivência, que está na alma delas. Não acredito que uma pessoa possa construir um projeto e a coisa dar certo, só porque é bem qualifi cada. É a alma que traz para você a competência... Não aguento mais fazer movimento social com muita boa vontade, mas sem competência nenhuma... Vejo um monte de gente boazinha com ideias de fi lantropia e caridade... Ninguém está ajudando ninguém, estamos simplesmente cumprindo o dever... Se você teve oportunidades, experiências, aprendeu, é seu dever partilhar isso com mais pessoas. Então, acredito numa coisa que nasce assim... A coisa tem que brotar, nossa equipe é maravilhosa, a maioria está com a gente, há mais de dez anos, mas foi uma equipe que foi se profi ssionalizando no processo, na medida em que estava aqui... Hoje, a equipe toda tem graduação, pós-graduação... Isso é muito legal, muito bonito, as pessoas foram sentindo a necessidade de conhecimento, mas para isso tem que ter alma, sensibilidade.

Acredito que quem vai assumir qualquer função, a primeira coisa é ter humildade e procurar conhecer o que está assumindo, ou seja, tem que se despir de qualquer pretensão e botar o pé no chão, ir para a realidade, saber com o que vai lidar. O grande problema dos gestores é que eles não conhecem a realidade. Para se ter ideia, nós estamos aqui há vinte três anos, se eu citar quantos gestores, quantas pessoas da área de Educação já estiveram aqui, você não acredita. Hoje somos referência nacional nesta área, estamos em vários lugares do Brasil e as pessoas daqui não sabem o que é isso aqui, o Sentrinho. Da mesma forma que não sabem de outras instituições. Tem que saber o que está acontecendo, sair dos gabinetes. A gente anda o dia inteiro nesta escola, um micro espaço, mas a gente sabe o que está acontecendo em cada canto, nos

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terceiro setor [Terminologia sociológica que dá signifi cado a todas as iniciati vas privadas de uti lidade pública com origem na sociedade civil]

Meus fi lhos [Júlio, Fabiola de Jesus, Franciane de Jesus, Daniel e Marina]

Câmara Municipal de Macaé [Insti tuição pública municipal, representante do Poder Legislati vo, insti tuída em 22/01/1814, pelo Desembargador Ouvidor Geral da Corte do Rio de Janeiro, Manoel Pedro Gomes]

MAI [Movimento Assistencial e de Integração, criado, em 16/10/1980, por um grupo de mulheres, realizou oito Feiras de Integração, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras, foram construídas sete creches, em terrenos e com mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]

petroleiro [Nomenclatura recente para identi fi car trabalhadores ligados a indústria de petróleo e gás]

Beco da Titi ca [Aglomeração subnormal que margeia a linha férrea entre os bairros Cajueiros e Visconde de Araújo]

Gonzaguinha [Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, carioca, fi lho homônimo do Rei do Baião, cantor e compositor de MPB. A canção Começaria Tudo Outra Vez foi composta em 1980]

relacionando com as pessoas... Não consigo entender como se coordena um posto de saúde, uma escola, sem por os pés lá. Esta forma de gestão é impossível... Costumo dizer que sou muito autoritária para fazer gestão de coisa muito grande, porque tenho que estar vendo o dia inteiro... Morro de pena de prefeito, presidente, todo mundo... Fico imaginando os sacrifícios enormes, todos os dias. Meu Deus! Outro dia, fui à Prefeitura Municipal de Macaé e fi quei sentada olhando, e é um tal de fulano não está, fulano não veio, fulano não sei o quê. Gente! Como que coloca essa gente para trabalhar? Não sei. Porque, na verdade, o trabalho deve ser resultado do prazer, do comprometimento, do envolvimento. É difícil, mas é um grande desafi o.

O caminho é a educação, a consciência... Preconceito é ignorância, é falta de percepção da realidade. Mas não é essa educação que está aí... É a que humaniza, que faz a pessoa se sentir pessoa. O preconceituoso deve ter baixa autoestima, ser desinformado... Discriminar uma pessoa pelo tom da pele, pelo o que ela é, é de uma violência, de uma ignorância que dá pena. Uma pessoa humana, sensível, informada, não discrimina ninguém. Discriminar alguém porque não pode andar, é uma violência tremenda. Só com pessoas sensíveis, uma educação humanizada, que trabalhe todas as dimensões do ser humano, inclusive a espiritualidade... Não estou falando de religião... Espiritualidade para endender o sentido da sua existência... Nós estamos aqui para quê? Quando você descobre o sentido transcendente, o sentido maior, você vai cuidar do outro, respeitar e acolher o outro do jeito que ele é, do jeito que ele pode ser. Você começa a entender que é um ponto minúsculo nesse universo todo em movimento e transformação.

As redes sociais têm um papel importante, se bem colocado... Às vezes, vou olhar por curiosidade, porque eu detesto computador... Fico pensando o que leva uma pessoa a fi car ali escrevendo coisas impregnadas de preconceito, deperseguição ao outro... Um mundo de intolerâncias... Seria fantástico se as redes sociais pudessem disseminar a tolerância, o respeito... Porque é um instrumento poderosíssímo, mas que está reforçando as exclusões, os preconceitos. O terceiro setor também é muito importante. Acho que das pessoas, que vieram para cá, poucas perceberam o dever de contribuir com a cidade que os acolhe... Muitas delas fazem desse lugar, um lugar de passagem, vem para cá, depois vai embora. Meus fi lhos todos estudam aqui, faço o maior esforço para eles fazerem faculdade aqui, três já fi zeram e agora uma está querendo fazer Medicina, mas eu quero que ela faça aqui, porque eu acho que a gente está aqui, é daqui, e temos que contribuir para esta cidade. Esse terceiro setor pode ser esse elemento. Quanta gente qualifi cada dentro dessa Petrobras? E essas mulheres que fi caram dentro de casa, viajando para fora, comprando, fazendo loucura e não contribuíram com a cidade? Essa cidade é uma gracinha, tem uma natureza maravilhosa, um povo acolhedor. Acho que, hoje em dia, sou muito mais macaense do que campista, aliás, recebi o título de cidadã macaense e isso foi uma honra... Meus alunos da faculdade, acho que em 1987, encaminharam um ofício para a Câmara Municipal de Macaé solicitando que me fosse dado este título, tenho o maior orgulho, quem me deu foi o vereador, mas com a solicitação deles, então, me sinto cidadã macaense. Acho que muita gente pode contribuir muito mais, sair de suas boas casas, do conforto de seus belos salários e contribuir, para que essa cidade seja melhor, mais humanizada.

Frequentei as feiras do MAI, mas não fazia parte do grupo. Naquele momento, eu estava muito envolvida com a luta social, mas eu conhecia as pessoas. Não queria ser mulher de petroleiro... Eu era Rita, tenho uma

história, uma vida profi ssional... Então, fi quei muito mais ligada aos movimentos da cidade do que a esses movimentos da Petrobras. Nunca fi z parte desse gueto de mulher de petroleiro, mas eu ia às feiras, eram interessantes... Conheço pessoas maravilhosas, que contribuíram muito, num desprendimento muito grande, mas, naquele momento, entendíamos que o caminho era outro, sem desqualifi car aquela luta, é claro.

Eu sonho com uma Macaé em que as pessoas estejam felizes, estejam bem, com mais dignidade... Aqui, no Sentrinho, a gente tem essa réplica da Macaé da fome, das tragédias, da falta de saneamento... Eles chegam querendo banho, porque não tem uma gota d’água em casa, precisam de um lanche, de roupas... A gente sente as mazelas, então, não queria ver isso em Macaé. É uma cidade que tem tantas possibilidades, um orçamento tão grande, e falta, além da competência, acessibilidade. Como é possível a gente ver isso e não se indignar? Achar que é natural, normal a situação que a periferia de Macaé vive. Isto é triste, toca o coração ver crianças passando por tantas privações, seres sem maldade, com a maior pureza d’alma. Todo mundo sabe quantas cidades do mundo, que sofreram o impacto do desenvolvimento violento, mas acho que numa cidade do interior, como Macaé, com um povo tão generoso, a gente podia ter evitado, planejado melhor... Tem um aqui que disse que mora no Beco da Titica, um dia fui lá, é uma vala com todo mundo morando ali. Uma desumanização que o “progresso” traz. Acredito que é possível, sim, acabar com isso tudo e criar uma cidade mais humanizada, mais arrumada... No sentido de estar acolhendo todo mundo, ninguém precisa de luxo, a pessoa precisa de dignidade.

Começaria tudo outra vez, se preciso fosse... Como dizia o Gonzaguinha. Mas não tenho culpa pelo que não fi z, acho que todos os momentos são oportunidades e a gente faz o possível em cada tempo... Somos a mulher possível, a mãe possível, a companheira possível, a militante possível... É o momento histórico que vai te possibilitando os encontros, temos que estar atentos, não se omitir, se posicionar, não ter medo de ousar...Tentamos usar dentro do tempo da gente, que é diferente do tempo de agora, mas tivemos a coragem de ousar, de não se acomodar. Porque é muito cômodo ser mulher de um petroleiro que ganha bem... Mas, meu sonho sempre foi acreditar que era possível um outro mundo.

Macaé foi a cidade que me trouxe muita profundidade na questão do respeito. Cheguei aqui novinha, no Luiz Reid, e nunca vou esquecer a forma como fui acolhida, todo o carinho das pessoas... Foi tanto respeito, fui tão valorizada na cidade, foi tanta amizade... Em Campos dos Goytacazes, era muito diferente, uma cidade muito elitista... Lembro que fui dar aulas no Liceu de Humanidades de Campos, onde estudei a minha vida inteira. Nossa! A difi culdade para me acolher ali, uma ex aluna, aquela pose, as pessoas não faziam laço comigo. Aqui, em Macaé, rapidinho todo mundo me acolheu, aprendi como é legal o acolhimento e passou a fazer parte da minha vida querer acolher o outro, como gostaria de ser acolhida... Isto eu aprendi aqui, com minhas grandes e queridas amigas companheiras do Luiz Reid.

De repente a gente resgatou a história... Fazer uma viagem na própria história emociona. Foi muito emocionante estar com vocês, falando aqui no Sentrinho, que é um espaço sagrado, da alegria, da ousadia... Sou uma sonhadora, acredito no outro, acredito que é possível as pessoas serem felizes e que a gente tem que ter muita coragem... Isto eu aprendi desde de pequena, nasci na área rural de Campos e, às vezes, falo para minha irmã Reusa que essa coragem nossa veio do brejo... Estar com os pés naquela lama, dá coragem para não se conformar, não perder a capacidade de se indignar enquanto tiver uma tristeza em volta, uma mazela. Não podemos cruzar os braços e achar que está tudo bem... A nossa vida é muito pequena, temos que sair do umbigo... Meu marido fala que sou desassosegada, mas nunca consegui me conformar com as injustiças. Acho muito bom poder contribuir com a preservação da Memória de Macaé, uma cidade tão legal, que não merece passar, o que passa. Acho que só a Memória vai permitir que a gente repense tudo isso. ▪

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1 Palestra sobre Inclusão. Quissamã - RJ. s/d2 Palestra Cidade Universitária. Macaé - RJ.

s/d.3 Encontro Pedagógico Sentrinho. Macaé -

RJ. s/d.4 Rita e Paulo Nolasco com a inspiração do

Sentrinho, Júlio Nolasco. Macaé - RJ. s/dAcervo parti cular de Rita de Fáti ma Manhães Gomes Barreto, Macaé - RJ.

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Av. Presidente Sodré, Cartão Postal, 1977.Acervo: Collecção D. Rosa Joaquina, Macaé-RJ.

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Parti do Comunista [Brasileiro (PCB), um parti do políti co de esquerda, fundado em 25/03/1922, ideologicamente baseado em Karl Marx e Friedrich Engels; com organização baseada nas teorias de Lênin. Também conhecido como Parti dão, é o mais anti go do país ainda em ati vidade]

Ditadura Militar [Período da história políti ca brasileira que contou ao todo com cinco presidentes e uma junta governati va, estendendo-se do ano de 1964 até 1985, ano da eleição indireta do civil Tancredo Neves para a Presidência da República]

prédio [Na Praça Gê Sardenberg, um prédio histórico construído na década de 1830, concebido pelo mestre-construtor Filomeno Borges, para residência da família do Comendador Francisco Domingues de Araújo, herdado por seu fi lho, o Visconde de Araújo, que alugou e depois vendeu à Câmara Municipal de Macaé; reformado e ampliado na década de 1920 pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira; hoje denominado Palácio Dr. Cláudio Moacyr de Azevedo – Museu do Legislati vo]

Prefeitura Municipal de Macaé [Criada pelo macaense Dr. Alfredo Backer, Presidente do Estado do Rio de Janeiro, por decreto de 15/02/1910, que contestado judicialmente, só foi homologado por seu sucessor em 02/05/1913, sendo primeiro prefeito o Dr. Francisco Moreira Ne� o]

Hospital [São João Bati sta, anti ga Casa de Caridade de Macahé, na Praça Veríssimo de Mello, fundada em 01/05/1871, entregue aos cuidados da Irmandade de São João Bati sta desde 22/05/1872]

Livio Dedeco Campos [Gaúcho, fotógrafo, jornalista, comerciante]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital de 1903 a 1975]

Última Hora [Jornal carioca fundado pelo jornalista Samuel Wainer, em 12/06/1951. Chegou a ter uma edição em São Paulo, além de uma edição nacional. Segundo Wainer era um “jornal de oposição à classe dirigente e a favor de um governo”, o de Getúlio Vargas, sendo um marco no jornalismo brasileiro, inovando em termos técnicos e gráfi cos]

Diário de Notí cias [Jornal carioca fundado pelo cearense Orlando Ribeiro Dantas, em 12/06/1930, que circulou até meados da década de 1970,sendo o quarto ou quinto com esse nome no Rio de Janeiro]

O Fluminense [Periódico niteroiense, fundado em 08/05/1878, por Prudêncio Luís Ferreira Travassos e Francisco Rodrigues de Miranda, que atualmente pertence ao Grupo Fluminense de Comunicação]

Samuel Wainer [Natural da Bessarábia, jornalista, fundador, editor-chefe e diretor do jornal Últi ma Hora]

minha mãe [Jacyra Hilda Campos, niteroiense, fotógrafa, comerciante]

Asilo [da Velhice Desamparada, atual Liga Benefi cente Asilo Casa do Idoso, fundado em 1945, na Rua Luiz Bellegarde, 540, Imbeti ba]

Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

Rio Macaé [Que nasce a 1.616m, no pico do Tinguá, em Nova Friburgo-RJ, percorrendo 200 km até desembocar no Oceano Atlânti co]

Princesinha do Atlânti co [Cognome adquirido nos anos 1940]

Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva [Macaense, jornalista, colunista social]

Americano Futebol Clube [Com sede na Rua Dr. Julio Olivier, Centro, sendo exti nto nos anos 1980]

Eduardo Serrano [Espírito-santense, rábula, funcionário público, políti co, Prefeito de Macaé de 1959-60, protagonizou o único Impeachment do Poder Executi vo macaense, cujo argumento maior foi sua “incapacidade”, por ser homossexual]

Pontal [Faixa de areia na foz do Rio Macaé]

“... me sinto e vivo como um macaense nato.”Romulo Alexander Campos

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 12/04/2013.

Meu pai foi Livio Dedeco Campos, teve uma loja muito importante em Niterói, na Rua da Conceição. Logo, meu pai descobriu o fotojornalismo, trabalhando nos principais veículos de comunicação, como o Última Hora, um expressivo meio de comunicação à época. Por esse jornal, ele fez coisas inacreditáveis! Trabalhou também no Diário de Notícias, em O Fluminense... Nos principais veículos de comunicação, todos, de certa forma, ligados à esquerda, nos quais meu pai teve um grande acolhimento. Mas ressaltando que a grande participação dele acontece no Última Hora, porque era muito amigo do Samuel Wainer, e conseguiu fazer importantes matérias, inclusive uma que o trouxe a Macaé com toda a família, numa situação, assim, muito curiosa... Ele pediu à minha mãe que preparasse as coisas, porque nós iríamos passar umas férias inesquecíveis, numa cidade do litoral fl uminense, e pediu para que caprichasse, levasse bastante roupa, bastante coisa... Minha mãe achou estranho, mas o fato é que nós viemos para Macaé, para passar férias e nunca mais voltamos. (Risos!)

Em Macaé, tive a sensação de estar numa cidade livre, bonita, pacata, aconchegante e extremamente convidativa. Nossa primeira residência fi cava em frente ao Asilo, uma rua de terra batida e pés de eucaliptos, mas que nos conduzia a um referencial da cidade extremamente importante, que era a Praia da Imbetiba. O meu primeiro contato com a Imbetiba foi uma coisa impressionante, porque quando me deparei com aquele vento e aquele mar, aquela água maravilhosa... E o mar em contato com o Rio Macaé, ainda límpido, despoluído, o encontro daquelas águas, a temperatura daquela água, tudo isso me encantou e me entrelaçou, defi nitivamente, a esta cidade. Ser criança em Macaé foi ter a prerrogativa que os meus fi lhos não tiveram com a mesma intensidade e liberdade que tive, que meus netos não estão tendo, e que as futuras gerações, infelizmente, não terão. A gente podia se dar ao luxo de brincar literalmente na rua, sem nenhum perigo... Brincávamos de cabra cega, de carniça, de pastelão, de pique, de bola, boleba, peão... Enfi m, tivemos uma infância muito sadia do ponto de vista lúdico. Estávamos muito distantes dos jogos eletrônicos, esta coisa mais individual, que te distancia do convívio social, das relações de amizade. Essa época foi muito importante, fi zemos muitos amigos, começamos a frequentar a escola e, a partir daí, descobrimos uma nova Macaé, estabelecendo uma cadeia de relacionamentos com as pessoas.

Antes de tudo, quero enfatizar que meu pai, talvez, tenha sido o gaúcho de bombachas mais macaense que conheci. (Risos!) Ele defendia Macaé com unhas e dentes! O carinho, o amor, o afeto que ele tinha por esta cidade, eram canalizados para as coisas que ele sabia tão bem fazer: fotografar e escrever. Ele sempre tentava positivar Macaé, nos meios de comunicação, mostrando um ângulo belo, atrativo, como gostava de dizer. Hoje, não temos mais a Princesinha do Atlântico, que se transformou na Capital Nacional do Petróleo, mas essa é outra história. Livio Campos fez dupla aqui no município com outro jornalista extremamente “folclórico”: Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva, o Ernestinho. Esses dois agitaram no município de Macaé! Para terem uma ideia, eles introduziram na região, talvez no Estado do Rio de Janeiro, o concurso Miss Escurinha. Hoje, os dois estariam presos por conta do politicamente correto. (Risos!) Mas foi uma coisa que movimentava a cidade. As mulheres negras mais bonitas da região, vinham participar e isto era feito no clube que tinha o estigma de ser o clube dos negros, o Americano Futebol Clube. Livio Campos teve também uma participação ativa na vida política do Município e precisamos destacar isso. Eu tenho, por exemplo, fotos impressionantes de quando o Eduardo

Serrano foi deposto. Ele foi cobrir e fez uma foto de um guarda apontando uma arma pra ele. Esteve presente em vários momentos da vida pública e política, a ponto de em uma dessas reportagens, cobrindo a retirada de algumas famílias do Pontal, acabou sendo preso, porque não interessava à estrutura política dominante, naquela ocasião, que essa matéria chegasse ao jornal Última Hora, com circulação quase que nacional na década de 1960. O meu pai, então, foi preso trabalhando, fi cando numa sala com um guarda municipal vigiando. Em determinado momento, ele se virou para esse guarda e falou: - Olha meu amigo, sou um trabalhador, você me conhece, vou continuar fazendo o meu trabalho. E o guarda falou: - Se levantar eu vou atirar! O meu pai levantou-se, virou as costas, e deu o primeiro passo. Esse guarda, infelizmente, descarregou seis tiros no meu pai, desencadeando uma comoção municipal muito grande, suscitando o apoio dos sindicatos, ganhando uma repercussão nacional. Os grandes jornais noticiaram essa situação e o caso foi conhecido como “Coice de Mula”. Isso é pra gente entender como esse homem gostava dessa cidade, não só no aspecto de resgatar e divulgar suas belezas, mas também de mexer nas suas estruturas sociais e políticas.

Infelizmente, eu não pude aprofundar a minha relação política com meu pai, conhecer mais profundamente este lado. Não poderia dizer que meu pai era um homem de esquerda, mas seguramente posso afi rmar que era um homem que a esquerda respeitava muito. Em várias situações, tanto o Partido Comunista, quanto os demais partidos de esquerda, estiveram ao lado do meu pai e vice versa. O Livio fortaleceu e ampliou a luta desses partidos, que na época se rebelaram contra a Ditadura Militar. Lembro, quando ainda era criança, na ocasião quando o meu pai levou esses seis tiros e fi cou internado, que acordei uma noite, tendo a sensação que a nossa casa estava sendo incendiada e quando procurei a minha mãe, ela estava no portão tentando controlar um grande número de ferroviários, que portavam tochas e queriam incendiar o prédio da Prefeitura Municipal de Macaé em protesto pelos tiros, que foram desfechados no meu pai. Com toda a sua inexperiência, felizmente, minha mãe conseguiu controlar os ferroviários que desistiram e fi zeram uma vigília em frente ao Hospital até que meu pai pudesse se recuperar.

Esse sentimento de amor que o Livio tinha por Macaé, fez com que ele estabelecesse um ponto comercial no coração da cidade: Avenida Rui Barbosa, 773. Essa loja era realmente inacreditável, porque não era apenas um comércio de onde se tirava o sustento, era um lugar onde as pessoas iam buscar informação técnica sobre fotografi a, que ainda era uma coisa em desenvolvimento, evoluindo. Tinha um atendimento no balcão que não se limitava em vender o produto, mas levava informações de como usá-lo melhor e conhecer mais a questão da fotografi a. Um grande barato! Ele colocava nas vitrines da loja toda a beleza de Macaé, das mulheres macaenses, porque acompanhou durante muito tempo todas as candidatas ao título de Miss Estado do Rio de Janeiro. Macaé teve belíssimas mulheres que concorreram ao título e essas fotos fi cavam lá para o público ver. Fazia uma coisa muito interessante, que lembra muito aqueles jornais murais da China... Porque ele fotografava, documentando o cotidiano da cidade, então, imediatamente quando mandava a matéria para os jornais, montava uma grande vitrine com fotos dos principais acontecimentos da cidade, acompanhadas de pequenas legendas. Todo mundo, que queria saber alguma coisa que estava acontecendo em Macaé, olhava aquela vitrine, e isso era um fato assim, inacreditável. Ele era uma pessoa que tinha uma

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Antonio Alvarez Parada [Macaense, professor de Química, historiador, escritor, poeta, colecionador, autor da letra do Hino de Macaé]

Christos Jean Kousoulas [Grego, professor, fi lósofo, bibliófi lo, membro da Academia Macaense de Letras, escritor e jornalista, membro da Associação Fluminense de Jornalistas]

Claudia Marcia [Vasconcelos da Rocha, campista, educadora, professora de Língua Portuguesa, foi Superintendente Acadêmica e Presidente da Fundação Educacional de Macaé (FUNEMAC)]

Nire [Ribeiro de Andrade, macaense, educadora]

Parque Valenti na Miranda [Bairro de Macaé, hoje integrado à cidade]

Wanderley Gil [da Silva, macaense, repórter fotográfi co, atuou no jornal O Século, fundado em 1886, ressurgindo no período de 1974-80, atualmente trabalha no periódico O Debate: Diário de Macaé]

Claudio Silva Santos [Claudio Augusto da Silva Santos, macaense, arquiteto, ambientalista, ex-secretário Municipal de Obras]

Luiz Cézar Mendonça [Cézinha, macaense, professor, ambientalista]

Livinho [Livio Dedeco Campos Júnior]

José Milbs Lacerda Gama [Macaense, jornalista, proprietário do jornal O Rebate]

Frederico e Mary Pereira [Macaenses, casados, ele profi ssional liberal e ela professora]

Sandra Wya� [Sandra Oliva Wya� , friburguense, professora, fonoaudióloga, psicomotricista, poeti sa, escritora, ambientalista]

Hudson Carvalho [Macaense, jornalista, ambientalista]

Euzébio Luiz de Mello [Macaense, jornalista, herdeiro do jornal O Século, de 1886, ressurgido em 1974, foi colunista social no periódico O Debate]

O Século [Fundado em 1886 pelo jornalista Antonio José de Souza Mello, ressurgiu em 1974 por iniciati va de seu bisneto o jornalista Euzébio Mello, perdurando até os anos 1980]

Luís Carlos Prestes [Gaucho, militar e políti co. Foi secretário-geraldo Parti do Comunista Brasileiro e companheiro de Olga Benário, morta na Alemanha, na câmara de gás, pelos nazistas]

Cláudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]

Morro de Santana [Bairro periférico surgido da ocupação de terras pertencentes à Confraria da Gloriosa Santana por meio de doações ou usucapião]

Igreja de Santana [Construção que teve origem no século XVII, por iniciati va dos padres da Companhia de Jesus, perdurando até o século XIX, já de propriedade da Confraria da Gloriosa Sant’Anna, quando foi inteiramente reformada e ampliada, em 1898, com patrocínio da Viscondessa de Araújo, restando do período colonial uma murada e um sarcófago]

cinco irmãos [Romulo Alexander, Livio, João Carlos, Luiz Cláudio, Rosana e José Carlos]

faleceu [Em 01/10/1972]

Roberto da Silveira [Roberto Teixeira da Silveira, bom-jesuense, advogado, jornalista, políti co, Governador do Estado do Rio de Janeiro 1959-61]

vi� mou [Em 1961, faleceu víti ma dos ferimentos causados pela queda do helicóptero em que viajava para verifi car as áreas inundadas em Petrópolis-RJ. Quando decolava do Palácio Rio Negro a aeronave colidiu com uma palmeira no jardim do palácio]

SpeedGrafi c [Equipamento fotográfi co produzido pela Grafl ex, sediada em Rochester, Nova York, considerada a mais famosa câmera padrão da imprensa mundial, produzida desde 1912, tendo sucessivas versões até 1973]

fa� dico incêndio [Referindo-se a tragédia do Gran Circus Norte-Americano, propriedade de Danilo Stevanovich, ocorrida em 17/12/1961, com centenas de mortes, ocasionada por um plano de vingança do ex-funcionário Adílson Marcelino Alves, o Dequinha, com antecedentes por furto e problemas mentais]

Livinho [Livio Dedeco Campos Júnior, niteroiense, fotógrafo]

São José [Centro Educacional na Rua São João, fundado pela professora Le� cia Peçanha de Aguiar]

Igreja Matriz de São João Bati sta [Construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

Fluminense [Futebol Clube, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Cientí fi co [Curso vocacionado para o prosseguimento de estudos de nível superior, de caráter universitário ou politécnico, têm a duração de três anos lecti vos correspondentes aos 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade]

Colégio Estadual Luiz Reid [Na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

Nato [Renato da Costa Reis, macaense, ilustrador]

Manoel Reis [Manoel Alberto da Costa Reis, macaense, designer, empresário, fundador da marca Artmanha]

Mauro Silva [Macaense de Quissamã, engenheiro químico]

resistência física muito grande, tanto que levou seis tiros e não faleceu dos tiros, faleceu, mais tarde de pancreatite aguda, em decorrência do consumo de álcool... Ele se dava o trabalho de fotografar os carnavais nos clubes, nas ruas... Fotografava os carnavais da classe média macaense até uma determinada hora, depois ia para o laboratório, revelava as fotos e montava as vitrines... De manhã cedo, às oito horas, a loja abria e era um sufoco, todo mundo querendo se ver, porque no carnaval as pessoas fi cam mais liberadas, mais soltas, mais livres... Era um buchicho! (Risos!) Isso criou um clima muito positivo.

Livio Campos foi um dos fotógrafos ofi ciais do governador Roberto da Silveira... No fatídico vôo, que vitimou o governador, meu pai estava programado para ir e não foi no último momento. Graças a Deus! O meu pai gerou, talvez, um dos mais signifi cativos acervos políticos da história recente do Estado do Rio de Janeiro, nas décadas de 1950-70. Infelizmente, esse acervo se perdeu numa inundação que houve, com um estrago de grandes proporções, muito dolorido pra gente. Dessas inundações que ocorrem a cada vinte anos no município de Macaé. Esse acervo era inteiramente catalogado e identifi cado. Meu pai era um fotógrafo muito organizado, as coisas dele eram facilmente localizadas por ano, por tema, por assunto, uma coisa bastante interessante. Ele tinha um faro jornalístico muito apurado. Sempre me dava um conselho, que sigo à risca, e por isso consegui ter um papel de certo destaque na área editorial. Ele dizia o seguinte: - Romulo, primeiro você dispara a câmera, depois pergunta o que é. Isso é uma lei do fotojornalista, a gente não pode perder tempo. Óbvio que por conta disso, ele teve muito descontentamento, muita máquina quebrada. O Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva, uma vez salvou o meu pai de levar uma baionetada. (Risos!) Isso em 1964, meu pai fotografando uma manifestação de rua, caiu no chão e um soldado ia golpeá-lo com uma baioneta, quando o Ernestinho pegou uma das câmeras mais caras da época, uma SpeedGrafi c, muito pesada, bateu no soldado, e os dois saíram correndo, conseguindo se livrar daquela situação. Naquele fatídico incêndio, num circo em Niterói, o meu pai estava lá dentro e conseguiu produzir imagens dramáticas. Trabalhando pelo Última Hora registrou o assassinato de um embaixador, pois ninguém conseguia entrar no local em que a morte fora praticada, porque a estrutura político-administrativa impediu que a imprensa tivesse acesso, mas ele conseguiu e foi o único jornal que trouxe a foto do embaixador morto. Ele também foi responsável por uma série de reportagens no Última Hora sobre cassinos clandestinos, conseguindo fotografar a jogatina através de uma clarabóia, mas levou um tiro, porque há uma reação para esse tipo de postura profi ssional. Enfi m, o fotojornalismo sempre foi o foco do fotógrafo Livio Campos e, de certa forma, isto me contaminou... Já o Livinho, meu irmão, trabalhou mais na área cultural, fotografou os principais cantores da Música Popular Brasileira e sempre esteve ligado à Moda. Eu caminhei mais para o lado editorial, seguindo a linha do Velho.

Na minha formação, não há como esquecer o São José, entre a Igreja Matriz de São João Batista e o Fluminense, na Praça Veríssimo de Mello. Foi ali que tive toda a minha base educacional para fazer o Científi co, passar no processo de admissão, que era quase que um vestibular. Tive professores maravilhosos! Eu sou do tempo da palmatória, mas fi z boas amizades no colégio. Acho que o São José, me deu a base para pleitear o sonho de todo estudante adolescente da época, que era ingressar no Colégio Estadual Luiz Reid... Entrar no mundo dos tops! (Risos!) No Luiz Reid, aconteceram coisas transformadoras na minha vida. Primeiro, estabeleci a relação com novos amigos, já na adolescência, quando comecei pensar a cidade, querendo interferir, e isso foi extremamente determinante. Conheci pessoas como Nato e Manoel Reis, dois irmãos ligados à questão cultural. Conheci Mauro Silva, um cara genial! Conheci um mundo de pessoas que modifi caram a minha vida, mas, acima de tudo, tive contato com alguns mestres determinantes, a começar por Tonito, Antonio Alvarez Parada,

um professor, homem íntegro, que não formava alunos, formava cidadãos... Impecável com seu jaleco branco, e sempre tinha quinze minutos de prosa, após a aula. É inacreditável o papel que Tonito teve para nossa geração! E ao lado dele, Christos Jean Kousoulas; Claudia Marcia, professora de Português; Dona Nire, professora de Matemática... Eu odiava Matemática, acho que se passei, algumas vezes, foi pelo empenho e a maestria com que essa professora conseguia ensinar... Nós tivemos mestres fantásticos! Já nessa época, começamos a fazer o primeiro jornal chamado Buzinguim, extremamente contestatório, de vanguarda, underground, que algumas pessoas tinham difi culdade de entender... Tínhamos uma pretensão, entre aspas, de sermos diferentes, de romper com que estava estabelecido, porque aquele era o momento, a década de 1970: “Sexo, drogas e rock’ n’ roll”... A gente viveu isso intensamente. (Risos!)

Em função do acontecido com a minha família, quando o me pai levou os seis tiros e fi cou muito tempo hospitalizado, a gente se depauperou, fi camos bastante pobres, com difi culdades de sobrevivência. Quando o meu pai levou os tiros, as despesas eram tão altas que tivemos que nos mudar para uma localidade mais afastada, o Parque Valentina Miranda, um lugar, até então, quase inóspito, com poucas famílias morando, onde tínhamos um terreno comprado com muito custo, no qual a casa foi construída pelos ferroviários, para que a família do jornalista-fotógrafo Livio Campos pudesse ter um lugar para se abrigar. Moramos durante muito tempo numa casa de tábuas. Essa rodada que a vida dá, ter participado disso, vivenciado isso, me deu a possibilidade de me relacionar com pessoas que pensavam como eu, que queriam mudar a ordem estabelecida. Me orgulho de ter participado de uma geração resistente, que não se submeteu à Ditadura Militar, que se entrincheirou, e não teve medo de se expressar. Essa geração formada por Wanderley Gil, Claudio Silva Santos, Luiz Cézar Mendonça, Livinho, José Milbs Lacerda Gama, Frederico e Mary Pereira, Sandra Wyatt, Hudson Carvalho, Euzébio Luiz de Mello... Nós nos entrincheiramos num jornal chamado O Século e as pessoas começaram a perceber que havia uma voz destoante no pensamento da cidade, uma voz diferente, dizendo que existe outro lado, que a realidade não tem uma faceta só. Esse jornal teve uma importância grandiosa nas décadas de 1970-80. Fui o único jornalista do interior do Estado do Rio de Janeiro a cobrir a volta do Luís Carlos Prestes, representando o jornal O Século. (Risos!) É inacreditável isso, né?

Quanto à profi ssão escolhida, tive muitas facilidades por ser fi lho de um bom fotógrafo. Tenho que reconhecer isso! Uma grande foto que meu pai fez foi na campanha de Cláudio Moacyr, para prefeito de Macaé... Ele fez para divulgar, fugindo daquele padrão 3x4. Pegou o Cláudio Moacyr, levou no Morro de Santana, onde está a Igreja de Santana, e o colocou subindo e acenando com Macaé atrás... Era o novo!!! Eu fui gerado dentro de um laboratório fotográfi co, meu pai fotógrafo, minha mãe fotógrafa... Laboratório fotográfi co é um lugarzinho iluminado por uma luzinha vermelha que parece uma boate, tudo escurinho... Certamente, os cinco irmãos foram gerados no laboratório. (Risos!) E o meu pai sempre me incentivou, nunca cortou meu barato, nunca disse não... Mas queria ver resultados! Às vezes, numa tentativa de experimentação, de fugir daquilo que estava estabelecido, eu percebia que embora não estivesse entendendo o que eu estava produzindo, ele bancava, me deixando colocar as minhas fantasias, as minhas loucuras, meu novo olhar, nas vitrines onde ele se comunicava com o seu público... Então, num determinado momento, passei a dividir aquele espaço com ele.

Minha mãe me deu o norte da vida. Percebi muito cedo que estudar seria uma boa perspectiva, seja pelo método tradicional de frequentar a escola, ou como um autodidata, voltando-se para os livros. Eu estudei muito e graças a isso tive uma boa formação. A boa estrutura da Educação no município de Macaé, principalmente no Colégio Estadual Luiz Reid, fez

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Russa de 1917, líder do Parti do Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povoda União Soviéti ca. Escreveu O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia (1899), sob o pseudônimo de Vladimir Ilyin]Ho Chí Min [Revolucionário e estadista vietnamita, presidente da República Democráti ca do Vietname]DOI-CODI [O Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, foi um órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante a Ditadura Militar, desti nado a combater inimigos internos que, supostamente, ameaçariam a segurança nacional]Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970] Irani [Carlos Varella, rio-grandense, engenheiro. Ocupou funções gerenciais na Bacia de Campos, Petrobras Distribuidora e Cenpes, coordenou o Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional da Petrobras e ajudou a implantar a área de SMS]Vicente Stanislaw Klonowski [Carioca, Ambientalista, Navegador]Fernando Marcelo [Manhães Tavares, niteroiense, jornalista, ambientalista]Raquel Machado Kremer [Paranaense, jornalista,ambientalista, terapeuta]Fred Pereira [Frederico Tavares Pereira, macaense, ilustrador, ambientalista]Marcos Schuenk [Macaense, ex-secretário de meio ambiente de Macaé]Paulo Moraes [Carioca, ambientalista, promotor cultural, empresário]Ana Cansado [Carioca, professora]Bacia de Campos [Bacia sedimentar situada na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 21 e 23 sul, com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Seu nome foi dado pelo geólogo Alberto Ribeiro Lamego e deriva de sua cidade natal Campos dos Goytacazes; sendo a maior província petrolífera brasileira, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo, além de possuir as maiores reservas provadas já identi fi cadas e classifi cadas no Brasil]monobóia [Referindo-se a Ação Popular movida por ambientalistas, pescadores, políti cos e outros segmentos da sociedade macaense, repudiando a instalação de uma supermonobóia a menos de 2 km do Arquipélago de Santana com capacidade de transferir cerca de 300 mil toneladas de petróleo por dia]Búzios [Armação dos Búzios foi um anti go distrito de Cabo Frio-RJ, emancipado em 12/11/1995]AMDA [Associação Macaense Defesa Ambiental, fundada em 16/06/1987]Arquipélago de Santana [Formado pela Ilha de Santana (1,29 km2), Ilha do Francês (350 m2) e o Ilhote do Sul (120 m2), sendo conhecida referência náuti ca desde os tempos coloniais, quando foi sesmaria do reinol José Pereira Rabello]Lagoa de Imboassica [Originalmente Lagoa da Sica ou da Boassica, por receber água salgada do mar; tem uma área de 5 km², fazendo limite com o município de Rio das Ostras e está a 11,5 km do centro de Macaé]meu irmão [Livio Dedeco Campos Júnior]Nato [Renato da Costa Reis]

FACHA [Faculdades Integradas Hélio Alonso, insti tuição de Ensino Superior, privada/fi lantrópica, criada em 06/12/1971, sendo a primeira faculdade privada de Comunicação Social no Brasil]O Rebate [Fundado em 16/04/1932, por Antonio Duarte Gomes, foi empastelado no dia 18/10/1933, reaparecendo mais tarde sob a direção de Luís Carlos Franco; esteve sob comando de Jorge Costa]O Debate [Periódicomacaense diário, fundado em 01/05/1976]Oscar Pires [Espíritossantense, jornalista, empresário, fundador do periódico O DEBATE]Linoti po [Máquina inventada por O� mar Mergenthaler em 1886, na Alemanha, que funde em bloco cada linha de caracteres ti pográfi cos, composta de um teclado, com capacidade de produção é de seis mil a oito mil toques por hora] Off set [Processo planográfi co cuja essência consiste em repulsão entre água e gordura (ti nta gordurosa). O nome, “fora do lugar”, vem do fato da impressão ser indireta, ou seja, a ti nta passa por um cilindro intermediário (blanqueta) antes]Mar� nho Santafé [Campista, jornalista, editor, ecologista]Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]Folha Macaense [Fundado em 1981, circulando até 1989]Off shore [Termo da língua inglesa relacionado com a ati vidade (prospecção, perfuração e exploração) de empresas de exploração petrolífera que operam ao largo da costa]Ramona Ordoñez [Espanhola radicada no Rio de Janeiro, jornalista, formada pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso]O Globo [Jornal diário de no� cias sediado no Rio de Janeiro, fundado em 29/07/1925, por Irineu Marinho]Getúlio da Luz [Getúlio Couti nho Leal da Luz, macaense, engenheiro]clube de jovens [Os Interact Clubs são grupos de adolescentes de 12 a 18 anos, patrocinados por um Rotary Club, em que o principal objeti vo é tentar ajudar a sociedade de uma forma simples, com campanhas, doações, visitas a creches e hospitais, entre outras coisas para melhorar do meio-ambiente à saúde da população carente]Banco do Brasil [Insti tuição fi nanceira fundada em 1808, estatal, consti tuída na forma de sociedade de economia mista, com parti cipação da União brasileira]Erol Dias Pessanha [Militante políti co de esquerda]Movimento de Emancipação do Proletariado [Organização clandesti na de esquerda, de orientação marxista, atuante no Brasil entre anos 1970-80]aparelho [No contexto da Ditadura Militar no Brasil, referia-se a um local (apartamento ou casa) usado como refúgio por uma “célula” (grupo de ati vistas) de organização políti ca clandesti na, servindo também para a realização de reuniões, guarda de material de propaganda, dinheiro, armas, etc.]Santa Tereza [Bairro da Zona Central da cidade do Rio de Janeiro]Lenin [Vladimir Ilitch Lenin ou Lenine, russo, revolucionário e chefe de Estado, responsável em grande parte pela execução da Revolução

com que eu passasse duas vezes no vestibular sem fazer cursinho... Passei para História e isso foi determinante para quem queria ser jornalista, me ampliou o horizonte, me deu uma visão macro das estruturas, de como o mundo funciona e como as coisas se encaixam e se explicam. E depois, eu fi z Jornalismo, me formei pela FACHA, na época, um excepcional curso, melhor que muitas faculdades públicas reconhecidas.

Na imprensa, aconteceu uma coisa bastante interessante... Depois da fase de resistência do jornal “O Século”, a vida foi se desdobrando, comecei a assumir compromissos, casa, fi lho... Tinha que produzir o mínimo necessário para comprar arroz, feijão, pagar luz e aluguel no fi nal do mês... Então, deixei um pouquinho a estrutura de resistência por uma questão de sobrevivência... Daí, trabalhei com os principais meios de comunicação no município de Macaé, desde O Rebate, do José Milbs de Lacerda Gama; no Jornal da Cidade, do Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva; no jornal O Debate, do Oscar Pires, onde fui editor por um bom tempo e contribui para fazer uma verdadeira revolução, que foi a passagem do Linotipo para o Off set... Grande mérito do Oscar Pires, como empresário na área de comunicação! O jornal O Debate tem um papel extremamente importante no Município, mas a grande revolução no jornalismo macaense, que obrigou o jornal O Debate a sair da posição cômoda de líder, foi um projeto desenvolvido por mim e pelo Martinho Santafé, um grande amigo, jornalista, que veio do município de Campos e se radicou aqui... Acho que ele é muito mais macaense do que campista! (Risos!) Nós fizemos um jornal chamado Folha Macaense, que foi uma coisa revolucionária. Um jornal moderno, ousado, político, com a qualidade excepcional, bancado pelo grupo do jornal O Fluminense. Martinho Santafé é hoje o melhor texto da área Off shore no Brasil, assim como Ramona Ordoñez, no O Globo. Então, a Folha foi uma grande revolução, pautando e discutindo questões nunca antes abordadas num meio de comunicação no município de Macaé, quebrando alguns tabus.

Durante o período da Ditadura Militar, vivemos períodos de verdadeiras arbitrariedades, embora hoje, as novas gerações nem percebam que isso aconteceu. Olha que insanidade! Getúlio da Luz era presidente de um clube de jovens, e tínhamos saído, por volta das 2 horas da manhã, do ensaio de um show de rock que faríamos... Morávamos no mesmo bairro e estávamos nos despedindo, quando fomos abordados por policiais militares, porque não podíamos estar àquela hora na rua conversando, quer dizer, sou de uma época que era proibido conversar, principalmente em grupo... Hoje, as pessoas não conseguem entender, mas isso é verdade. Em relação ao jornalismo, tínhamos que agir com muita cautela, saber como escrever, ser sutil, mordaz, senão, as coisas eram censuradas... Foi um período de muita difi culdade, mas a gente nunca abriu mão de demarcar que não estávamos satisfeitos, que não concordávamos... Fizemos isto com muita sabedoria, persistência, e não foi fácil. Lembro de coisas incríveis. Por exemplo, quando fazia faculdade, tinha uma amiga, Ângela Pessanha, funcionária do Banco do Brasil casada com Erol Dias Pessanha, integrante do Movimento de Emancipação do Proletariado, um grupo de resistência que tinha um aparelho em Santa Tereza... Quando o Erol caiu, a Ângela me liga desesperada, dizendo: - Olha! Pega aquele livro do Lenin, rasga, joga no vaso e dá descarga. Coisas que hoje estão no folclore, mas que na época, nos intimidavam porque se fôssemos pegos com o livro do Lenin ou com a tese do Ho Chí Min, na nossa minúscula biblioteca, certamente, teríamos que dar explicação no DOI-CODI. Era um grande desespero! Apesar de ter enfrentado todo esse poderio no campo político, nunca me fi liei ou me senti inserido num partido de esquerda, a exemplo do meu pai, mas sempre fui acolhido e reconhecido pela esquerda porque entendia que essas estruturas operacionais eram importantes, signifi cativas, pra gente quebrar o modelo imposto pela Ditadura Militar. Em todos os jornais que trabalhei, como repórter ou editor, procurava de cara, abrir espaços para os sindicatos e associações, ampliando os canais para que as

pessoas pudessem ter um novo tipo de informação... Aqui, no município de Macaé, abri canais para algumas instituições e sindicatos.

Na nossa relação com a Petrobras, tivemos alguns confl itos, principalmente com o Irani, hoje, um grande amigo... Porque ele representava a Petrobras... Aquela geração dos anos 1970 teve uma atuação signifi cativa na área ambiental em Macaé... Todos jovens engajados, como Vicente Stanislaw Klonowski, Fernando Marcelo, Raquel Machado Kremer, Luiz Cézar Mendonça, Fred Pereira, Marcos Schuenk, Paulo Moraes, Ana Cansado... Enfi m, citar nomes é complicado, você acaba esquecendo... Tínhamos um núcleo ecológico altamente competente, mobilizado, articulado, que conhecia profundamente as questões ambientais. O alcance da nossa fala era muito limitado, porque os canais não estavam disponíveis... Porém, sabíamos do nosso poder de fogo. Como ambientalistas, tentamos no primeiro momento preservar a cidade da chegada da Petrobras, já que ela foi colocada pra gente de uma maneira imposta. Pegaram uma estrutura com aquele tamanho, signifi cado e complexidade, com todo o impacto que traria para o Município e simplesmente jogaram dentro da estrutura geográfi ca da cidade e disseram: - Virem-se! Mas por que isso aconteceu? Quando a Petrobras chega, já no começo da queda da Ditadura, nós não tínhamos audiências públicas, nem leis adequadamente estruturadas para proteger o Meio Ambiente... Não se tinha a mínima possibilidade do exercício do controle social, como a gente tem hoje, então, a Petrobras foi imposta para atender aos interesses do Governo Federal, sem levar em conta o que aconteceria aqui. Percebemos esse movimento de imposição e começamos a nos rebelar contra isso, a discutir isso. Nessa época, a minha posição pessoal era muito radical e achava que a Petrobras não tinha que se estabelecer em Macaé, e que tínhamos que proteger o Município, que era muito belo... Destruir uma praia, como aconteceu... A Praia de Imbetiba, hoje, não se compara com o que era no fi nal de década de 1970. Essa estrutura bem poderia se deslocar pra um lugar voltado para as atividades industriais, como Campos, e Macaé fi car como um balneário, onde os trabalhadores pudessem se divertir, reforçando o papel turístico, o papel da pesca... Esta era minha posição na época, totalmente contrária à vinda da Petrobras... Óbvio que nessa correlação de forças, éramos a parte mais fraca e perdemos. Então, passamos a questionar aquilo que havia de errado com vinda da Petrobras e a forma como ela entrou. Hoje, se aqui na Bacia de Campos, a empresa tem uma boa política na área de proteção ambiental, foi porque brigamos, porque fi zemos a resistência, trazendo a sociedade para discutir essas questões. Para se ter uma ideia, vejam o episódio de implantação da monobóia, cujos tubos, se fossem furados acabaria com toda atividade turística até Búzios... Imaginem o tamanho do estrago! Essa foi nossa grande vitória, porque pela primeira vez, na história do movimento ecológico, um juiz deu uma sentença favorável, obrigando a Petrobras a rever o seu procedimento. Uma grande conquista do movimento ecológico macaense.

A AMDA teve um papel importante, fomos para o debate, as audiências públicas, encontros, conversas com o corpo técnico... O Irani Varella representava o corpo técnico e a partir dessas discussões, nos tornamos grandes amigos. A AMDA teve outro papel importante, que preciso dar destaque... Montamos uma estrutura de educação ambiental e falávamos sobre os ecossistemas de Macaé, do crescimento do Município de maneira desordenada, que tínhamos que preservar o Arquipélago de Santana, a Lagoa de Imboassica, os manguezais... Uma estrutura muito legal, feita a partir de projeção de slides... Uma coisa moderna na época! (Risos!) Tínhamos bons fotógrafos: Wanderley Gil, eu, meu irmão, o Nato... Então, fazíamos uma boa programação visual e percorremos grande parte das escolas públicas e particulares de Macaé fazendo palestras. Lembro de uma palestra no Colégio Estadual Luiz Reid com o auditório lotado.

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Carapebus [Nesta época terceiro distrito de Macaé, teve sua emancipação políti co-administrati va decretada por Lei Estadual de 19/07/1995, sendo primeiro prefeito eleito, Eduardo Nunes Cordeiro, que tomou posse em 01/01/1997]

royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Sana [6.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Mauá [Visconde de Mauá é um distrito do município de Resende-RJ, estendendo-se também ao território do município de Itati aia-RJ e Bocaina de Minas-MG. A principal ati vidade econômica da região é o turismo, com mais de 100 estabelecimentos de hospedagem e dezenas de restaurantes]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice prefeita de Macaé, secretária de Educação, presidente da FUNEMAC]

José Carlos Fagundes [de Souza Lima, mineiro, arquiteto, músico, musicólogo, colecionador, produtor cultural]

morto prematuramente [Com 58 anos, aos 23/04/2012, em acidente automobilísti co na Estrada Macaé-Glicério (RJ-168)]

Itamir Abreu [Itamir Honório Abreu, macaense, empresário, políti co, radialista, prefeito de Macaé, em 1962]

101FM [Com sede na Av. Presidente Sodré]

Led Zeppelin [Banda britânica de rock, formada em Londres em 1968, com o guitarrista Jimmy Page, o vocalista Robert Plant, o baixista e tecladista John Paul Jones e o baterista John Bonham. Com o som pesado de guitarra, enraizado na música blues de seus dois primeiros álbuns, a banda é frequentemente reconhecida como um dos progenitores do heavy metal. Exti nta em 1980, com reuniões posteriores em 1985-88-95-2007-12]

Ricardo Meirelles [Vieira, carioca de família macaense, professor de História, dramaturgo, exerceu vários cargos na administração pública municipal e estadual, foi vice prefeito em duas gestões]

Mirante da Lagoa [Bairro de classe média localizado na zona sul]

Ministério Público [Órgão público fiscalizador com autonomia administrativa e financeira em relação aos demais]

fi sga [Arpão]

Mariola [Doce tradicional brasileiro, feito com banana, caju ou goiaba seca. Atualmente, é vendida embalada em saquinhos de plásti co, mas originalmente era envolta em folhas de bananeira]

Moranguinho [Refrigerante gasoso de groselha, ícone da industrial e cultural macaense, produzido pela Fabrica Lynce, hoje conhecido como Morangui� o]

Lagoa de Imboassica [Obra de Romulo Campos e Claudia Barreto, editado pela Gráfi ca Silva Santos, em 2008]

Cláudia [Pinto Barreto, macaense, fotógrafa, funcionária pública]

Parque da Atalaia [Parque Ecológico Municipal da Atalaia, criado em 1995, em consonância com o Sistema Nacional de Unidade de Conservarão, localizado a 27 quilômetros do centro de Macaé, com 235 hectares, 75% de mata fechada, sendo uma das poucas reservas da Mata Atlânti ca intactas no Estado do Rio de Janeiro]

Hermeto Ricardo Didonet [Engenheiro Agrônomo, Ambientalista, Secretário Municipal de Meio Ambiente, Gerente de Urbanização e Saneamento em Comunidades da Câmara Permanente de Gestão]

Jardim Botânico [Insti tuto de pesquisas e jardim botânico, localizado na zona sul do município do Rio de Janeiro, fundado em 1808, onde podem ser observadas cerca de 6 500 espécies, distribuídas por uma área de 54 hectares, ao ar livre e em estufas]

Parque Atalaia [Obra de Romulo Campos e Claudia Barreto, editado pela Gráfi ca Silva Santos, em 2011]

Projeto Memória de Quissamã [Iniciati va da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artí sti co Nacional (SPHAN), por meio da Fundação Nacional Pró-Memória e da 6.a Diretoria Regional, com coordenação técnica local de Arnaldo de Queirós Ma� oso, resultando numa exposição e no livro “Quissamã”]

Quissamã [Na época quarto distrito, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989]

Livinho [Livio Dedeco Campos Júnior]

Funarte [A Fundação Nacional de Artes, criada em 1975, é ligada ao Ministério da Cultura, atuando em todo o território nacional, sendo o órgão responsável pelo desenvolvimento de políti cas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo]

Insti tuto Nacional de Fotografi a [Órgão da Funarte criado em 1979]

prefeito [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]

A Lagoa de Imboassica nos remete a Associação Macaense Defesa Ambiental... Vou citar um fato, que o Vicente Klonowski não gosta que seja citado, e diz até que não é verdade... Mas eu estava lá e vi! Somos de uma época que a legislação ambiental ainda não estava efetivada e precisávamos tomar algumas atitudes radicais para conter algumas ações... Numa dessas, o Vicente estava no epicentro do acontecimento... Foi quando começaram aterrar o Mirante da Lagoa, para fazer o loteamento... A gente simplesmente enlouqueceu e não aceitávamos aquilo de jeito nenhum... O Vicente se jogou na frente do caminhão, que estava aterrando e isso deu um qüiproquó... O caminhoneiro queria bater na gente, foi um inferno! Hoje, tem a legislação, você aciona o Ministério Público e tem que parar na hora. A Lagoa de Imboassica era um dos grandes atrativos turísticos, uma grande área de lazer, de congraçamento, onde famílias se divertiam. A colheita das pitangas era um negócio impressionante... Eu em moleque percorria aquelas pitangueiras, enchia sacolas e sacolas e trazia pra casa; catava caranguejos com fi sga, e saía atrás deles igual índio. (Risos!) Eram coisas fantásticas! Tinha uma birosquinha, onde comíamos pão doce com Mariola e bebíamos Moranguinho. O livro Lagoa de Imboassica está muito ligado a essa questão nostálgica, do que ela poderia ter sido e não foi... Um projeto montado junto com a Cláudia, minha mulher, fotógrafa também, no sentido de chamar a atenção e ver o que acontece. A gente mostrou a lagoa do ponto de vista útil, da beleza e dos problemas também... Espero que tenhamos amolecido um pouco o coração dos gestores municipais e que os futuros governantes coloquem a lagoa como “a” prioridade, porque ela é signifi cativa e necessária para que o macaense recupere sua alma.

O Parque da Atalaia é uma das poucas estruturas, na área ambiental, bancadas pelo poder público, que funciona... Isto eu posso falar de cadeira porque conheço, e temos que dar o mérito ao ex-secretário do Ambiente de Macaé, Hermeto Ricardo Didonet, que concebeu este parque e captou os recursos, montando uma estrutura extremamente moderna, hoje, subutilizada, mas que é de um encantamento... Um parque extremamente importante no ponto de vista do lazer, da pesquisa, da educação ambiental... São ônibus e ônibus levando alunos da rede municipal de ensino para conhecer o Parque... Existem trilhas demarcadas, é muito seguro, muito bonito... Acho que quando funcionar o seu restaurante e as famílias puderem utilizá-lo como se faz no Rio de Janeiro, no Jardim Botânico, aí teremos este ciclo grandiosamente fechado. No projeto do livro Parque Atalaia, também desenvolvido em parceria com a Cláudia Barreto, nós fi camos três anos fotografando.

Em 1987, tivemos o Projeto Memória de Quissamã, e nunca a cultura macaense teve tanto dinheiro como nessa época. Foi um projeto bancado pela Petrobras, com profi ssionais de ponta. Quissamã ainda pertencia ao município de Macaé. Eu fui contratado para fazer a parte de documentação fotográfi ca, e subcontratei o Livinho, como meu assistente, e passamos um ano e meio documentando o patrimônio arquitetônico do município de Macaé... Óbvio que o patrimônio que tinha toda uma expressão estava concentrado em Quissamã, com as grandes fazendas, senzalas... Foi muito interessante, porque tivemos acesso a imóveis, que normalmente não são abertos à visitação pública, podendo conhecer cada detalhe, o estado de preservação de cada um deles, quais tipos de intervenções seriam necessárias... Produzimos um vasto material que está na Funarte, no Instituto Nacional de Fotografi a, no Rio de Janeiro... Quem for lá, vai ver coisas maravilhosas. Foi um projeto cercado de situações, digamos, “folclóricas”. (Risos!) Lembro das mais expressivas fi guras da cultura no Estado do Rio de Janeiro, reunidas no gabinete do prefeito, para tentar explicar o que era o Projeto Memória de Quissamã. O resultado foi extremamente signifi cativo na preservação da memória arquitetônica, cultural, folclórica... Essas questões todas foram documentadas. O que aconteceu com Quissamã, foi o mesmo que aconteceu com Carapebus...

Distritos afastados da sede do município, sofrendo com as difi culdades para receber os serviços com a mínima qualidade. Isso criou um sentimento de revolta, de rejeição e foi alimentando uma necessidade de independência, que é muito natural. Foi uma luta legítima da população, mas o problema é manter uma estrutura econômica que sustente a vida daqueles moradores... Sem os royalties do petróleo, Quissamã difi cilmente conseguirá manter o padrão que alcançou, mas é uma cidade que tenho muito carinho e mantenho uma ligação intensa.

A minha relação com o Sana é total! Tanto que me preparo para quando me aposentar morar lá. Não preciso dizer mais nada. (Risos!) O Sana vive exatamente essa situação que acabei de contar sobre Quissamã... Está distante, os serviços não chegam, e isto preocupa muito a população. O Sana vive um turismo predatório, que Mauá viveu na década de 1980. Mauá se estruturou com a atividade turística e chegou em um novo patamar. É preciso efetivamente que o poder público reconheça que o Sana vai ser uma das principais portas de entrada de turismo do município. Eu lembro uma frase que Marilena me disse: - Olha Macaé têm praias belíssimas, mas querer competir, com Búzios e Arraial do Cabo, com esse litoral encurtado que nós fi camos, não é por ai, e a alternativa turística vai passar por outro lugar. E esse outro lugar, no meu entendimento, é o Sana. Mas é preciso transformar o Sana num produto turístico e isso só se faz com vontade política.

Vou abordar um tema que acho extremamente importante, para fazer justiça a uma fi gura, que certamente se tivesse viva, seria um dos entrevistados desse projeto... José Carlos Fagundes, morto prematuramente, que tinha uma ligação umbilical com a cultura, especialmente com a música... Ele me convenceu, com essa minha voz de taquara rachada, de fazermos um programa musical. Fomos bater a porta de Itamir Abreu, que, como homem visionário, nos acolheu muito bem... Fizemos um programa na 101FM quando ainda era AM, chamado Viva Música... Era um programa totalmente produzido pelo Fagundes, com carinho, com pesquisa, com uma qualidade que nenhuma emissora do Estado do Rio de Janeiro conseguiu colocar no ar, mas a gente colocava aqui... Ganhamos prêmio, com o programa ao vivo. Era muito interessante, porque tínhamos alguns amigos no exterior e conseguíamos chegar na frente, inclusive do rádio nacional. A gente deu a notícia que o Led Zeppelin ia acabar, e essa informação chegaria ao Brasil, dois, três meses depois... E com isso, fi camos um bom tempo fazendo um programa de altíssimo nível e descobrimos em Macaé músicos excepcionais, que a gente levou lá e entrevistou. Nessa linha documental, eu fi z com Ricardo Meirelles, um projeto que foi muito interessante, e foi base de alguns livros lançados recentemente. Nós dois, empreendedores na área cultural, saíamos com um gravador cassete entrevistando as principais fi guras macaenses e resgatamos uma parte da história do Município, através das gravações que fi zemos.

Eu tenho uma tara pela questão tecnológica, um fascínio, embora tenha vivenciado toda a experiência da fotografi a tradicional, do processo fotoquímico, como laboratorista, operando um laboratório comercial... Talvez, esteja aí o fato de ser uma pessoa que convive muito bem com a solidão... Não tenho nenhum problema comigo mesmo, porque passei grande parcela da minha vida num laboratório fotográfi co, sozinho, com uma lâmpada vermelha acesa e todo o tempo pra pensar, fi losofar, tentando entender o que estava acontecendo comigo e no meu entorno. (Risos!) Então, o processo tradicional, hoje, faz parte do passado. Tenho saudades, mas tenho um grande fascínio pela questão tecnológica, e acho que essa revolução que está acontecendo com a fotografi a, obrigou muitos fotógrafos a migrar... O único que desacreditava era o Livinho, meu irmão... (Risos!) Tive que dar a mão, trazer, e botar no jogo, senão estava fotografando com fi lme ainda. Um absurdo! (Risos!) Você nem encontra mais fi lme. A fotografi a digital exige alguns cuidados a mais... É preciso

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HD [Disco rígido de um computador, chamado em inglês de Hard Disk]

Parque Nacional da Resti nga de Jurubati ba [O PARNA de Jurubati ba é o primeiro parque nacional no Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema de resti nga, o menos representado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. A maioria dos pesquisadores concorda que é a área de resti nga mais bem preservada do país e está prati camente intacta]

Nazareth [Nazareth Maria Paes de Freitas, macaense, professora]

Ernesti nho [Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva]

Cidade Universitária [Complexo educacional que ocupa uma área de 95 mil metros quadrados, com dois prédios, 30 salas de aula, além de estacionamento com 200 vagas, e três faculdades gratuitas: UFF, UFRJ e FeMASS, esta últi ma a única faculdade municipal gratuita do país. Ao todo, o complexo terá sete blocos, seis para laboratórios e salas de aula]

Pólo Tecnológico [O Parque Cienti fi co e Tecnológico é um projeto da Prefeitura de Macaé, por meio da Subsecretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, e será implantado em uma área de 458 mil metros quadrados, na Linha Verde, próximo à Cidade Universitária e ao Polo Off shore]

nasceu [Em20/04/1954]

um cuidado muito especial com o acervo, porque é virtual, está num HD, e um erro numa tecla do computador, ele vai embora... Então, tem que estar muito bem organizado, com backups, identifi cado... Outra coisa, o custo do digital é infi nitamente mais barato, comparado ao da fotografi a tradicional. Você fotografa muito e tem que ser muito bem organizado para achar suas coisas. Meu acervo é todo catalogado, por tema, por data... Sou uma pessoa extremamente organizada. Para se ter uma ideia de dimensão, vou citar um número... Fotografo o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, há quinze anos, para outro livro, e tenho vinte e cinco mil imagens... É muita coisa! E todo o meio acadêmico tem acesso a esses arquivos gratuitamente... As prefeituras usam para fazer divulgação educacional e institucional e não cobro absolutamente nada.

Meus laços com a cidade de Macaé são exatamente aqueles estabelecidos no primeiro dia que pisei nessa terra e que fui à Praia de Imbetiba, levado por Nazareth, esposa de Ernestinho... Vêm do deslumbramento, do acolhimento, de me sentir muito bem nesta terra, e me sentir como um fi lho... É um sentimento de profundo carinho por essa cidade, isso não mudou, só engrandece e se reforça. Eu gostaria que Macaé pudesse, na sua estrutura cotidiana, corresponder ao sentimento, que ela me passou no primeiro dia que cheguei aqui... Uma cidade agradável, simpática, acolhedora e feliz... Um espaço geográfi co no Estado do Rio de Janeiro em que as pessoas se sintam bem e queiram morar aqui. Mas o que, hoje, ocorre é muito diferente disso, a cidade está feia, maltratada, mal planejada, com muitos problemas a serem superados. Ela é até generosa, porque seus atrativos são incríveis: o arquipélago, o manguezal, o mar, o céu, o vento, as pessoas bonitas... Mas há problemas a serem superados. Incomoda ter na linha do Arquipélago de Santana... Que é uma relação visual, cultural, espiritual... De repente, você ter dois, três rebocadores ali na frente. Bota lá atrás, esconde, mas não intervenha numa relação que se tem de identidade, numa coisa que é referência cultural! É sobre isso que eu estou falando! É preciso que alguém entenda essa relação e resgate essas questões... Quem tem uma visão muito legal sobre isso, que poderia contribuir para dar um jeito nisso, é o arquiteto Cláudio Silva Santos, uma pessoa que pensa a cidade neste viés, nesta ordem. Então, meu sonho é que consigamos criar alternativas, fora da matriz energética do petróleo, que se invista no conhecimento... Acho que a Cidade Universitária tem um papel importante, mas não pode ser minimizada e parar nesse patamar que está. Tem que ser ampliada, com investimentos. Um Pólo Tecnológico, buscando alternativas, será uma ação bastante interessante.

A gente tem que pensar Macaé, para se readequar a um novo padrão de felicidade, de menos impacto na vida cotidiana das pessoas, com mais silêncio, menos caminhões, com alternativas de mobilidade, para que essa cidade possa respirar e encontrar uma solução. Se eu pudesse, tivesse força, expressão, não deixaria acontecer com as principais referências ecológicas do Município, o que aconteceu... Jamais deixaria a Lagoa de Imboassica fi car do jeito que está, assim como o manguezal de Macaé e o Arquipélago de Santana. Investiria nessas referências, que não são apenas referências geográfi cas, são muito mais significativas pela importância que têm na alma da gente. Sou um cidadão macaense que nasceu em Niterói. Foi um acaso eu ter nascido em Niterói, nada contra esta bela cidade, mas eu me sinto macaense. Me incomoda quando, ofi cialmente, tenho que dizer que sou niteroiense... Isso cria uma confusão louca na minha cabeça, porque me vejo, me sinto e vivo como um macaense nato. Então, é assim que quero ser, dessa maneira que quero morrer. Sou um cidadão simples, totalmente focado em fotografi a, um estudioso de fotografi a... Acho que vou me tornar um bom mestre na área fotográfi ca e quero montar uma estrutura de cursos. Já incentivei alguns profi ssionais a entrarem no mercado, e quero descobrir novos valores, que possam engrandecer essa arte que Macaé, certamente é referência... ▪

1 Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva, Livio Dedeco Campos e um radialista da Rádio Prin cesinha do Atlân� co, atual 101 FM. s/d.

2 Senador Vasconcelos Torres, vereador Olinto Bordalo e Livio Dedeco Campos. s/d.

3 Livio Dedeco Campos rascunhando uma matéria para o jornal A No� cia. s/d.Acervo parti cular de Romulo Alexander Campos, Macaé - RJ.

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1 Romulo na Mata da Linha Verde, Macaé - RJ. 2010.

2 Romulo no An� go Farol, Macaé - RJ. 2014.3 Romulo e o irmão Livio Campos. 2015.

Acervo parti cular de Romulo Alexander Campos, Macaé - RJ.

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Christos Jean Kousoulas [Grego, professor, fi lósofo, bibliófi lo, escritor, jornalista, membro da Academia Macaense de Letras e da Associação Fluminense de Jornalistas] Laurita [Gil Dias, macaense, professora]Yara [Gonçalves, macaense, professora]Joaquim Luiz Freire Pinheiro [Macaense, educador, diretor do Centro de Formação Profi ssional (SENAI), patrono de uma escola municipal no Alto Cajueiros]Roberto Mourão [Macaense, advogado, políti co]Dona Ancyra [Gonçalves Pimentel, macaense, educadora]um casal [Cecília Maria e João Bapti sta de Almeida Pereira]Valdir Azevedo [Macaense, empresário, construtor]fi rma de construções [Na Rua Tenente Coronel Amado esquina com Teixeira de Gouveia]parente nosso [José Evaldo Cunha Carneiro da Silva, macaense de Quissamã, empresário, descendente de famílias nobres do Império Brasileiro]Hotel Tupã [Anti go hotel-pensão estabelecido em belíssimo chalé em esti lo românti co do século XIX, construído para residência do Dr. Júlio Ollivier, na Rua São João (Praça Veríssimo de Mello), demolido para ampliação das dependências do Tênis Clube de Macaé]Ponto Frio [Rede brasileira de varejo, fundada em 1946, no Estado do Rio de Janeiro, por Alfredo João Monteverde]Rua Barão de Cotegipe [Anti go Beco do Caneco, atual Rua Julita Barcelos de Oliveira]Seu Quincas [Joaquim Luiz Freire Pinheiro]Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835] Itaperuna [Município do noroeste fl uminense]Augusto Veloso [de Assis, macaense, comerciário, empresário, políti co, integrou o grupo de vereadores que elaborou a vigente Lei Orgânica do Município de Macaé de 05/04/1990]Leopoldina [Estabelecida no bairro Imbeti ba, a The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA] Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]AVC [Acidente Vascular Cerebral, vulgarmente chamado de derrame cerebral, é caracterizado pela perda rápida de função neurológica, decorrente do entupimento (isquemia) ou rompimento (hemorragia) de vasos sanguíneos cerebrais]Ely Brochado [Bancário, pioneiro do escoti smo em Macaé]Praça Washington Luiz [Na época Praça Visconde do Rio Branco]Bar do Olinto [No n.0 89, telefone 435, com “especialidade em doces, vinhos, conservas, licôres e bebidas em geral” pertencente a Olinto Bordalo, imigrante português, comerciante]Dona Thereza [Amaral da Costa, imigrante portuguesa, esposa de Manuel da Costa Soares, proprietários da Pensão Santa Therezinha].Revolução [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, termo de Macaé (RJ), depois quarto distrito, com fortes tradições históricas e economia originalmente baseada na cultura do açúcar, sendo emancipado em 04/01/1989] meu pai [Ruben Carneiro de Almeida Pereira, macaense de Quissamã, professor, bibliotecário, historiador, genealogista, cronista, poeta, membro da Academia Macaense de Letras]minha mãe [Maria José Silva de Almeida Pereira, Zenita, macaense de Quissamã]seis irmãos [Solange Maria, Maria de Lourdes, Francisco de Paula, Pedro Paulo, Rosa Maria, Rita de Cássia]Rua Governador Roberto Silveira [Sua primeira denominação foi Rua da Boa Vista]Prefeitura [Municipal de Macaé criada pelo macaense Dr. Alfredo Backer, Presidente do Estado do Rio de Janeiro, por decreto de 15/02/1910, que contestado judicialmente, só foi homologado por seu sucessor em 02/05/1913, sendo primeiro prefeito o Dr. Francisco Moreira Ne� o]Biblioteca [Pública Municipal Dr. Télio Barreto, criada pelo decreto n.0 2, de 19/04/1941, pelo Prefeito Télio Barreto, com mobiliário oriundo do Palácio dos Urubus]Câmara Municipal de Macaé [Atual Palácio Dr. Claudio Moacyr de Azevedo, Museu do Legislati vo, na Praça Gê Sardenberg, edifi cado em 1837, anti go Solar dos Araújos, que hospedou D. Pedro II]Mathias Nett o [Colégio Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]Irene Meirelles [Escola Estadual, na Avenida Agenor Caldas, 442, no bairro Imbeti ba]Ilza Coelho Santos [Macaense, professora]carti lha moderna, carti lha verde [Carti lha Analíti ca de Arnaldo de Oliveira Barreto. O método analíti co alfabeti zava com palavras e sílabas, e se opunha ao anti go método, sintéti co, que ensinava as letras, o bê-á-bá]um macaense [Nelito Guedes, engenheiro civil]Pedro Paulo [de Almeida Pereira Neto, macaense de Quissamã, autônomo, gráfi co, foi Assessor da Secretaria Municipal de Acervo e Patrimônio Histórico, da Prefeitura Municipal de Macaé]Luiz Reid [Colégio Estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]Maçonaria [Loja Maçônica Perseverança 2.a fundada em 19/09/1864, com sede histórica, recentemente demolida, na Praça Washington Luiz ]Maria Elza Cunha Carneiro da Silva [Macaense de Quissamã, educadora, descendente de famílias nobres do Império Brasileiro, trineta dos duques de Caxias]Gilberto [Carneiro da Silva, macaense de Quissamã, parente de sua esposa, empregado da Cia. Engenho Central de Quissaman, bisneto dos condes de Araruama]Fazenda Atalaya [Conhecida propriedade rural, na região serrana de Macaé, que no século XIX destacou-se internacionalmente como produtora de açúcar, propriedade de Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá, sendo adquirida no século XX pela família Ribeiro de Castro, proprietária da Cia. Engenho Central de Quissaman]Zé Domingues [José Domingues de Araújo Filho, macaense, professor, diretor do Colégio Estadual Luiz Reid, técnico de Basquetebol, trineto do Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro]Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador]

“... porque Macaé não pára de crescer...”Rubem Gonzaga de Almeida Pereira

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 07/09/2012.

Em 1955, nós deixamos Quissamã para residir em Macaé. Quissamã não apresentava condições de escola e meu pai falou: - Olha, se a gente não sair daqui agora vocês todos vão ser cortadores de cana, vão fi car subjugados. Na época, éramos eu, papai, minha mãe e seis irmãos. Papai tinha propriedades, vendeu-as, e mudamos para Macaé... Moramos na Rua Velho da Silva, que hoje é a Rua Governador Roberto Silveira. Meu pai já era funcionário da Prefeitura, professor em Quissamã, e o colocaram para servir na Biblioteca... Então, eu frequentava muito a Biblioteca e meu gosto pela leitura vem daí. Era no prédio da Câmara Municipal de Macaé, tinha um salão, uma sala menor, e naquela época, tinha uns quatro mil livros, mas era bem frequentada... Eu, em vez de ir para o colégio, ia ler na companhia do meu pai, comecei a pesquisar, ler e reler, uma tradição de família muito antiga.

Com oito anos, fui ser alfabetizado, mas já sabia ler, sabia tudo... A gente seguiu os trâmites e fui parar no Mathias Netto... Depois, fui para o Irene Meirelles... Lá, a professora Ilza Coelho Santos, segundo papai, me desemburrou. (Risos!) Estou vendo-a na minha frente, guardo recordações das aulas dela, que aplicava a cartilha moderna, cartilha verde. Teve outra professora, que me marcou muito, Maria Th ereza Corrêa Lima, casada com um macaense... Essa tinha muito apego comigo! Na mesma sala, tinha o Pedro Paulo, meu irmão... Tínhamos que fazer o exame de admissão para ingressar no Luiz Reid... Pedro Paulo estava mais adiantado e fui pegar aulas particulares com Dona Néfli, no prédio da Maçonaria ... Conclusão, passei e Pedro Paulo fi cou. (Risos!)

Quando tinha uns doze anos, uma prima, Dona Maria Elza Cunha Carneiro da Silva, que o marido, Seu Gilberto, foi ser administrador da Fazenda Atalaya e ela, professora, conversou com papai se me deixava estudar na Atalaya, para fazer companhia a ela, parenta próxima, bem próxima... Daí papai falou: - Tenho três fi lhos, vou conversar com os três, para ver se alguém tem interesse de passar uma temporada com vocês. Eu fui para lá, só tinha passarinhos, bichos, riachos... Fiquei dois anos atrasado nos estudos, porque lá não tinha nada, toda sexta-feira vinha embora e voltava na segunda-feira... Desses dois anos, guardo grandes recordações... Agora, de estudos não aprendi nada. (Risos!)

Entrei no Luiz Reid um pouco atrasado... Lembro do professor Zé Domingues de História; Seu Pierre de Matemática; Christos Jean Kousoulas de Ciências; Laurita de Caligrafi a; Yara de Desenho... Ali, também fi z amizades boas com os colegas que sentavam

comigo... Naquela época, a carteira dava para duas pessoas... Lembro, também, do professor Quincas, Joaquim Luiz Freire Pinheiro; professor Roberto Mourão, muito bom em História, aprendi muito com ele; Dona Ancyra... Eu sempre li muito.

Comecei a trabalhar cedo, lá em casa, éramos sete, depois nasceram mais dois, aqui em Macaé, um casal. Então, nessa época, com 14 anos, para ajudar em casa, trabalhava no escritório de Valdir Azevedo, uma fi rma de construções, onde eu fazia cobranças, essas coisas e tal... Aí, meu pai conversou com um parente nosso, que veio passar os dias de verão em Macaé, no Hotel Tupã. O parente falou: - Ô Rubem, você deixou Quissamã, trabalha na Prefeitura, tem essa filharada, vamos arranjar uma vaga para Rubenzinho na loja que estou abrindo aqui. A Casa Maia, era o que é hoje uma Ponto Frio, fi cava na Rua Barão de Cotegipe... Comecei lá, me deram o setor de cobranças e passei estudar, à noite, com Seu Quincas, no Luiz Reid.

Tínhamos aqui, que eu recordo, a Auto Cordeirense, loja de aparelhos domésticos... A Distribuidora Mercantil, uma loja de Campos com fi lial aqui. A Casa Maia, tinha sede em Campos e loja em Itaperuna... Aqui, em Macaé, Augusto Veloso era o gerente, trabalhava umas oito pessoas, quando saía o pagamento da Leopoldina o Augusto falava: - Rubenzinho, você vai fi car aqui pra ajudar receber as prestações... Tinha uma gaveta, não tinha caixa registradora, de quatro horas da tarde até seis e meia, a gaveta enchia... Eram notas vermelhas, dez mil contos, sei lá...

Macaé tinha praticamente três classes: bancário, professor e ferroviário... Tínhamos o Banco Hipotecário de Minas; o Banco do Brasil... Um banco forte era o Banco Predial, que depois virou Unibanco, com sede na Rua Direita... Em cima, eram apartamentos, morei lá, cheguei a comprar, mas quando tive o derrame, agora o AVC e fui aconselhado a não subir escadas, vendi. A Caixa Econômica era gerenciada por um macaense, Ely Brochado... Depois, teve o Banco da Lavoura, o Banco Real, hoje Banco Santander... Na Praça Washington Luiz, tinha o Bar do Olinto, o hotel de Dona � ereza.

Em Macaé, os funcionários da Leopoldina tiveram um poderio muito forte... Elegeram prefeito, vereadores, tudo... Eu fui envolvido num episódio na época da chamada Revolução, que chamo de quartelada... Eu, mais uns colegas, devia ter os meus dezesseis anos, para dezessete, sempre gostei de política, daí havia

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Seu Abílio [Valenti no Miranda, macaense, professor de História Geral, Psicologia e Metodologia Práti ca de Ensino, Delegado da União dos Professores Primários do Estado do Rio de Janeiro, membro da Academia Macaense de Letras, afastado das funções de professor no Colégio Luiz Reid durante a Revolução de 1964, perseguido, foi fi nalmente demiti do em 1972]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]

Leopoldina [Estrada de Ferro Leopoldina, nesse tempo Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Eduardo Serrano [Espírito-santense, rábula, funcionário público, políti co, Prefeito de Macaé de 1959-60, protagonizou o único Impeachment do Poder Executi vo macaense, cujo argumento maior foi sua “incapacidade” por ser homossexual]

Antonio O� o de Souza [Macaense, tabelião, políti co, prefeito de Macaé em 1960]

Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, presidente da Câmara, prefeito nomeado 1960-1, eleito 1973-7 e reeleito 1983-8]

CEDAE [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, consti tuída ofi cialmente em 01/08/1971, oriunda da fusão da Empresa de Águas do Estado da Guanabara (CEDAG), da Empresa de Saneamento da Guanabara (ESAG) e da Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (SANERJ)]

Roberto Carneiro da Silva Caldas [Macaense de Quissamã, engenheiro químico, membro de famílias tradicionais do Império Brasileiro]

Linhares [José da Silva Linhares, miracemense, engenheiro civil]

Laurita [Gil Dias, macaense, funcionária pública, professora]

Elias Agos� nho [Macaense de Carapebus, empresário, políti co, vereador, prefeito de 1951-5]

reservatório [Gerência Litorânea Norte, na Rua Leopoldina Neves Pinheiro, Morro de Santana]

Centro Pedro [O Grupo Espírita Pedro foi fundado em 22/06/1930 e funciona na Rua Visconde de Quissamã, 731]

Dez Andares [Edifí cio Princesa do Atlânti co, construído na década de 1970, na Rua Euzébio de Queirós, 732, no Centro, por muitos anos considerado o mais alto de Macaé]

Mardonio Cruz Gonçalves [Macaense, funcionário publico]

Délcio Leite Ribeiro [Macaense, funcionário público]

Seu Nicanor [Bernardo dos Santos, macaense, funcionário público]

Botafogo [Bairro popular que margeia a anti ga linha férrea]

Antonio Curvello Benjamin [Macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8]

Marcelo Infante Vieira [Piraiense, engenheiro civil]

José da Silva Porto [Niteroiense, engenheiro civil]

Benedicto Aurélio Ximenes da Silva [Macaense, engenheiro eletromecânico, fi lho do Prefeito Aristeu Ferreira da Silva]

José Sodré Linhares [Miracemense, engenheiro civil]

Aider Toledo Pizza Machado [Carioca, engenheiro]

José Augusto Andrade Silva [Macaense, engenheiro civil, escritor, ex-secretário Municipal de Obras]

Marcus Túlio Abreu Aguiar [Macaense, engenheiro]

prima minha [Maria Cristi na Soares Caldas]

Fernando Arruda [Carioca, engenheiro]

praça da Prefeitura [Praça Gê Sardenberg]

PTB [Parti do Trabalhista Brasileiro, parti do políti co, que existi u durante dois períodos: no período democráti co de 1945 a 1965, sendo recriado após a Abertura do Regime Militar]

João Goulart [João Belchior Marques Goulart, o Jango, gaúcho, fazendeiro, advogado, políti co, Presidente do Brasil (1961-4), deposto pelo Golpe Militar de 1964, liderado pelo alto escalão das forças armadas]

Brizola [Leonel de Moura Brizola, gaúcho, políti co, foi um dos líderes da resistência ao regime militar, exilado em 1964, exerceu mandatos de prefeito, deputado, governador, sendo presidente do PTB]

29 de julho [Aniversário de Macaé, referência ao dia 29 de julho de 1813, quando o Príncipe Regente, Dom João de Bragança, cria a Villa de São João de Macahé]

Seu Barreto [Juvenal Barreto Júnior, o Doca, macaense, escrevente de Justi ça do 2.0 O� cio, ofi cial do Registro Civil do 1.0 Distrito, políti co, Prefeito de Macaé, em 1937, empresário, responsável pelo loteamento do bairro Aroeira, na década de 1960]

Aristóteles de Miranda Melo [o Tote, líder sindical, eleito Vereador do legislati vo macaense em 1947 e Deputado Estadual em 1962, auge do movimento operário em Macaé, chamada a Moscouzinho, após a Revolução de 1964 foi preso e exilado]

Delegacia da Polícia Federal [Na Rua Governador Roberto Silveira, 427, Centro]

Evaldo [José Evaldo Cunha Carneiro da Silva]

Zé Miranda [José Calil Miranda, macaense, comerciante]

Ervê de Freitas [Campista, advogado]

Eraldo Mussi [Rocha, macaense, jornalista, intelectual, nos anos 1960 foi um fundador do Centro de Estudos Literários e Filosófi cos Farias Brito, patrono do auditório da Cidade Universitária de Macaé]

Ernesti nho [Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva, macaense, colunista social]

Zé Milbs [José Milbs de Lacerda Gama, macaense, jornalista, proprietário do jornal O Rebate]

Armando Barreto [Macaense, líder estudanti l, jornalista]

Federação de Estudantes Macaenses [Com sede na Rua Télio Barreto, onde hoje está a Casa & Roupa]

Cuba [País insular, localizado no mar do Caribe, na América Central, sendo uma república socialista, organizada segundo o modelo marxista-leninista]

Forte [1.a/10.0 GACos M, o Forte Marechal Hermes, na Imbeti ba]

vermelho [Cor que simboliza o movimento comunista]

Ypiranga [Futebol Clube, na Avenida Rui Barbosa]

papai [Ruben Carneiro de Almeida Pereira]

Roberto Moacyr [Leite e Santos, macaense, médico, membro de uma família tradicional]

aquela movimentação toda, estávamos sentados na praça da Prefeitura, onze e meia da noite, quando um deles nos perguntou: -Olha rapazes, nós pintamos a sede do PTB, sobrou um material de tinta, vamos fazer uma arruaça na cidade? Você que é bom de frases, bola cinco frases agora, pra gente agitar a cidade. Fizemos aquilo sem malícia, não esperávamos as consequências que viriam. Um deles era guardião do PTB, estava com a chave, conseguiu papel e caneta, aí bolei rápido: “Abaixo João Goulart!!!”, que era presidente na época; “Fora Brizola!!!” ... Esculhambando todo mundo... A cidade tinha sido asfaltada naquele mês, acho que foi em 31 de agosto de 1963, estava toda limpinha, de asfalto inaugurado em 29 de julho. Então, pegamos a broxa e saímos pela rua pintando: abaixo o presidente, abaixo isso, abaixo aquilo... Quando chegamos perto do posto de gasolina Ypiranga, onde hoje é o Banco Itaú, na esquina da Rua Julio Olivier, um ferroviário parou, olhou, e disse: - Rapaz, o que é isto? Esse ferroviário, que eu sei quem é, mas não contei para ninguém, foi correndo no sindicato falando que uns agitadores estavam esculhambando Brizola, João Goulart... Aí, veio aquela turma e todo mundo conseguiu correr... Eu tentei correr, bati numa casa e a pessoa não quis abrir a porta... Me pegaram, soca pra lá, soca pra cá, quebraram meus dentes, iam me matar. Sorte que passou um Jipe da polícia, passamos na casa do escrivão, Seu Barreto, que falou: - Leva esses rapazes pra delegacia e fi ca lá de plantão, qualquer coisa vocês defendem os rapazes. Aí fi camos lá, quando foi seis e meia da manhã, apareceu o tal deputado de Macaé, Aristóteles de Miranda Melo forçando Seu Barreto à abrir processo contra a gente. Seu Barreto quando chegou lá, sete horas da manhã... Foi um movimento na cidade!!!... Disse: - Como eu conheço o fi lho de Ruben, meu amigo, não posso fazer nada com esses rapazes, primeiro que se alguém tem que ser repreendido é você, que é deputado, não eles... Eles não podiam estar aqui. Este Ruben é menor de idade. Como vou abrir processo para prender este pessoal? Seu Barreto liberou a gente. A delegacia era onde hoje é a Delegacia da Polícia Federal.

Nesse tempo, o gerente da Casa Maia mandou me chamar em Campos e me falou: - Estou sabendo que você está numa confusão com os ferroviários de Macaé. Você sabe que a nossa empresa sobrevive, noventa por cento, em função dos ferroviários? Respondi: - Evaldo, fi zemos um coisa de mau gosto, mas já acabou, passou... Eu já gostava de política, isto aguçou mais e passei a frequentar, mais do que eu já frequentava, o bar do Zé Miranda, na Rua Direita... Ali, reunia Doutor Ervê de Freitas, que trabalhava na Câmara Municipal de Macaé; Eraldo Mussi, que trabalhava na Câmara também; Ernestinho, jornalista... Eu, com dezessete anos, estava sempre por ali com eles, conversando e tal... Era a chamada Assembléia Três.

Em 1964, eu, Zé Milbs, Armando Barreto, mais uns três, fazíamos parte da Federação de Estudantes Macaenses... Então mandavam uns papéis de Cuba pra gente repassar aqui na cidade... Tinha esses papéis aqui em casa até pouco tempo, mas teve cupim aqui e levou cinquenta por cento... Eram manifestos cubanos, queriam que repassássemos, mas nunca fi zemos isso. Disseram que a gente ia ser preso, mas comigo nunca houve nada. O Forte me convocou para

servir o Exército Brasileiro, estava na época... Foram lá em casa: - Oh Seu Ruben, seu fi lho vai servir o Exército, mas vou fazer um trabalho para ele não servir, porque esse comando aqui é do ‘vermelho’, seu fi lho vai ser fuzilado.

Na Revolução, prenderam muita gente em Macaé, requisitaram o Ginásio do Ypiranga, prenderam professores... Muita gente de Quissamã procurava papai para interferir junto à polícia, para dar depoimento dizendo que fulano é trabalhador braçal de corte de cana, não tinha nada a ver com aquilo... Lembro da prisão de Roberto Moacyr, de Seu Abílio... Prenderam muita gente. Aí Claudio Moacyr pegou a defesa dos ferroviários, conseguiu rever muitos processos, uns foram aposentados, outros foram retornados a empresa... Nesse meio tempo a Leopoldina começou a decair, mas antes tinha um movimento muito grande em Macaé.

A Assembléia Três discutia sobre a política, os candidatos... Teve um prefeito, aqui em Macaé, Eduardo Serrano, que era meio pederasta, havia muita crítica em cima dele, surgindo vários movimentos... Nessa Assembléia Três, várias pessoas o apoiavam, fizeram abaixo assinado para permanecer o Serrano... Outros se opunham, mas já estava nas mãos da Câmara Municipal de Macaé... Levou um longo período... Serrano sai hoje!... Entra mais dez seguranças!... Retorna!... E a cidade assim, meio abandonada. O vice-prefeito era Antonio Otto de Souza, que não queria renunciar, e foi empossado prefeito... Depois foi eleito Alcides Ramos...

Em 1966, entrei na CEDAE como auxiliar de escritório, fi z uma prova, passei... Roberto Carneiro da Silva Caldas me chamou e falou: - Você chegou agora, mas Linhares, o superintendente, quer uma pessoa de confi ança, e estou te indicando para ser assistente do superintendente. Laurita era a pessoa indicada, mas não quis porque estava grávida. Comecei a trabalhar na CEDAE e dali para frente só fui subindo. Por volta de 1955, havia problemas sérios de água na cidade, então, o prefeito Elias Agostinho conseguiu uma parceria com o governo do Estado do Rio de Janeiro, para encampar a água que vinha da Atalaya até o reservatório... Nessa época, Macaé captava sessenta litros d’água por segundo e para não precisar fazer edifi cações, o governo do Estado assinou um convênio com a Superintendência de Águas e Esgoto de Macaé, SAEMA, com sede perto do Centro Pedro, naquela esquina, onde hoje é o Dez Andares... Começou com umas trinta pessoas, muitas estão vivas em Macaé... Dona Laurita Gil Dias trabalhou lá, Mardonio Cruz Gonçalves, Délcio Leite Ribeiro... Seu Nicanor, do bairro Botafogo, é uns dos poucos sobreviventes da parte técnica... Elias Agostinho fez as obras, fez tudo e tal, mas quem levou o nome foi o Antonio Curvello Benjamin, que assinou o convênio. O primeiro superintendente da CEDAE, aqui, foi Doutor Marcelo Infante Vieira; depois, veio Doutor Roberto Carneiro da Silva Caldas; Doutor José da Silva Porto; Doutor Benedicto Aurélio Ximenes da Silva; Doutor José Sodré Linhares; Doutor Aider Toledo Pizza Machado; depois teve dois macaenses, José Augusto Andrade Silva e Marcus Túlio Abreu Aguiar, que é casado com uma prima minha, fi lha de Roberto Caldas... O Fernando Arruda é o atual.

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plebiscito [Realizado em 12/06/1988] Octávio Carneiro [da Silva, macaense de Quissamã, fazendeiro, empresário, proprietário da Fazenda de São Manuel, em Quissamã-RJ, bisneto do Visconde de Quissaman, portanto, descendente de tradicionais famílias do Império Brasileiro]primeiro prefeito [Eleito em novembro de 1989]Royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]João de Almeida Pereira Filho [Campista, fi dalgo, advogado, poeta, escritor, políti co, empresário, fazendeiro]Cambuci [Município da região noroeste fl uminense. Por força da Lei 231, de 13/12/1895, transferiu-se a sede do então município de Monte Verde, criado em 06/05/1891, para a atual localidade de Cambuci]Antonio Álvares de Almeida Pereira [Fidelense, fi dalgo, comendador, fazendeiro, casado com Maria Joaquina de Castro Carneiro da Silva, fi lha dos viscondes de Araruama]uma fi lha [Mariana Antonia de Castro Carneiro da Silva, macaense de Quissamã, aristocrata, benemérita, líder religiosa]Visconde da Araruama [José Carneiro da Silva, macaense de Quissamã, fi dalgo, intelectual, políti co, senhor de engenho, proprietário da Fazenda e Solar de Quissaman, hoje Museu Casa Quissamã]governador [sic - Presidente da Província do Rio de Janeiro, em 1859]Casa de Caridade de Macaé [Na atual Praça Veríssimo de Mello, fruto do desejo post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro, e dos esforços de um grupo liderado por Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, foi inaugurada ofi cialmente em 01/05/1871]Dom Pedro II [Carioca, intelectual, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança, segundo e últi mo Imperador Consti tucional e Defensor Perpétuo do Brasil]Canal Macahé-Campos [Obra faraônica, inicialmente proposta pelo primeiro Visconde de Araruama, ainda na década de 1830. Após vinte e sete anos de obras a inauguração ofi cial aconteceu em 19/02/1862 quando o vapor “Visconde” parti u de Campos rebocando uma prancha com passageiros] Parque Aeroporto [Conjunto residencial surgido na década de 1980, atual 2.0 Sub-Distrito, ligado ao 1.0 Distrito Cidade de Macaé]Jurubati ba [Parque Nacional da Resti nga da Jurubati ba (ou PARNA de Jurubati ba) é o primeiro parque nacional no Brasil a compreender exclusivamente o ecossistema de resti nga, o menos representado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. A maioria dos pesquisadores concorda que é a área de resti nga mais bem preservada do país e está prati camente intacta]nas do Conselheiro [João de Almeida Pereira Filho, as fazendas dos Patos e da Batalha]Papai [Rubem Carneiro de Almeida Pereira] Colégio São Bento [do Rio de Janeiro, fundado em 1858, é um estabelecimento de ensino confessional católico, exclusivamente para meninos, dirigido e manti do pelos monges benediti nos do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro]o pai [Dr. Pedro Paulo Carneiro de Almeida Pereira, advogado, promotor público, juiz de Direito, políti co, deputado Estadual]humanidades [Curso de formação cien� fi ca geral, depois converti do para bacharelado em Ciências e Humanidades]avós dele [Mariana Antonia e Maria Joaquina, fi lhas do Visconde]Casa de Mato de Pipa [Considerada por Alberto Lamego a mais anti ga residência de senhor de engenho no Norte Fluminense. Em 1983, foi fundada a Associação dos Amigos de Mato de Pipa, objeti vando preservar a memória da família Carneiro da Silva e proporcionar a sociedade quissamaense um local para reuniões sócio-culturais]papai casou lá [Com a Maria José Silva, Zenita, sua parenta, descendente natural dos viscondes de Quissaman e Ururahy]

livro [Noções Práti cas sobre Saneamento e Construção Civil. Rio de Janeiro: Editora RQV, 2012, 219 p.]PSD [Parti do Social Democráti co, de caráter liberal-conservador, fundado sob os auspícios de Getúlio Vargas, em 17/07/1945 e exti nto pela ditadura militar, pelo Ato Insti tucional Número Dois (AI-2), em 27/10/1965. Uma nova versão do parti do é criada em 1987, sendo imcorpordo ao Parti do Trabalhista Brasileiro em 2003]Ernâni do Amaral Peixoto [Carioca, engenheiro, militar e políti co, genro do Presidente Getúlio Vargas, administrou o Estado do Rio de Janeiro como interventor 1937-45 e governador 1951-4]PTB [Parti do Trabalhista Brasileiro foi fundado no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 15/05/1945 a inspiração de Getúlio Vargas, seu maior líder e no bojo do Queremismo, movimento popular cuja consigna era Queremos Getúlio e que propunha uma Assembleia Consti tuinte com Getúlio na Presidência da República]UDN [União Democráti ca Nacional foi parti do políti co brasileiro fundado em 07/04/1945, frontalmente opositor às políti cas e a fi gura de Getúlio Vargas de orientação conservadora]Parti do Democrata Cristão [Parti do fundado em São Paulo por Antônio Cesarino Júnior em 09/07/1945. Teve expressão eleitoral média e fi liados ilustres como Queirós Filho, Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, André Franco Montoro, Plínio de Arruda Sampaio e o ex-presidente Jânio Quadros, tendo sido exti nto pelo Regime Militar de 1964, por meio do Ato Insti tucional Número Dois, o AI-2, de 27/10/1965]Carapebus [Nesta época terceiro distrito de Macaé, teve sua emancipação políti co-administrati va decretada por Lei Estadual de 19/07/1995, sendo primeiro prefeito eleito Eduardo Nunes Cordeiro, que tomou posse em 01/01/1997]Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970] Imbeti ba [Anti go bairro balneário, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba] Mercado [Municipal, inaugurado em 15/12/1914 pelo Prefeito Francisco Moreira Ne� o] Andorinha [No bairro Visconde de Araújo]Curral das Éguas [Na Estrada Macaé-Glicério, Km 7,5]Praia dos Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, com orla de 1.500 metros, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim, no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]Rua Direita [Avenida Rui Barbosa]posto de gasolina [Posto São Cristovão, propriedade de Lafaye� e Vieira, depois adquirido por Souza & Andrade, na Rui Barbosa, 663, telefone 483]Panorama [Hotel, restaurante e piano-bar, na Av. Elias Agosti nho, fundado pelos empresários macaenses Itamir Honório Abreu e Jorge Chaloub Filho (Budy), sendo gerenciado por Edson Torres]delegado [Hernani Lebreiro Relvas, niteroiense, advogado] jogo do bicho [Bolsa ilegal de apostas em números que representam animais. Foi inventado em 1892, pelo barão João Bati sta Viana Drummond, fundador do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro]usina [Cia. Engenho Central de Quissaman, inaugurada em 12/09/1877, considerada a primeira deste gênero insti tuída na América do Sul, foi idealizada por João José Carneiro da Silva, Barão de Monte de Cedro, com mecanismos importados da empresa francesa Fives-Lille, sendo uma sociedade entre membros da família do 1.a Viscondessa de Araruama] Edilberto Ribeiro de Castro [Macaense de Quissamã, empresário, fazendeiro, políti co, proprietário da Cia. Engenho Central de Quissaman, descendente de nobres famílias do Império Brasileiro] Seu Almicar [Pereira da Silva, mineiro]Alvair Ribeiro Benjamin [Macaense, advogado, políti co]

Eu tenho um livro aqui, lançado recentemente, que retrata bem essa parte histórica.

Quem mandava na cidade era o PSD, de Ernâni do Amaral Peixoto... Em Macaé, quem tinha prestígio era o Prefeito Elias Agostinho, que conseguiu colocar quatro fi lhos na fi scalização de rendas, teve cartório, quer dizer, mandava mesmo... A política nessa época era PSD, PTB, UDN, e tinha um partido menor, que era o PDC, Partido Democrata Cristão, fundado em Macaé por meu pai e mais um time... Então, Macaé vivia em função da política do PSD, PTB... Tanto o Elias Agostinho, quanto o Antonio Curvello Benjamin foram galgados por Ernâni Amaral Peixoto. Amaral Peixoto veio a Macaé na minha campanha de vereador, na década de 1980... Velho, mas animado ainda... (Risos!) Tinha mais disposição do que eu, dizia: - Vai ter um comício em Carapebus, eu quero ir lá. Fomos parar quase que meia noite em Carapebus.

Em Macaé, só havia duas casas de prostituição... Com a vinda da Petrobras, a Imbetiba virou um antro de casas de saliência. (Risos!) O centro da cidade também, ali perto do Mercado, até hoje tem... Essas mulheres vieram de Vitória, do Nordeste, Curitiba, São Paulo, Rio... Algumas já casaram até, tem gringo que paga para poder ter o visto permanente e tem muita madame de empresa, que vem da prostituição em Macaé... (Risos!) Em Macaé, tinha o Andorinha, o Curral das Éguas... A casa mais famosa e antiga de Macaé, a primeira que ouvi falar, fi cava na Imbetiba e pertencia a uma mulher elegante, respeitada na sociedade, carinhosa com todos... (Risos!) Surgiu uma casa também na Praia dos Cavaleiros, onde tem uma churrascaria, no primeiro posto... Depois, surgiu o Bar Redondo, no centro da cidade, pouca de gente sabia, era na Rua Prefeito Moreira Netto... Tem a Rua Direita, tinha um posto de gasolina, logo atrás tinha o Bar Redondo... Na calçada, tinha um círculo, daí o nome Redondo. Com a chegada da Petrobra, infestou a Imbetiba. Cheguei frequentar o Panorama, uma casa decente, ao lado fi zeram uma casa de alto nível, tipo Miami, tinha jogos, tinha tudo... Coisa de louco! Fui candidato à Câmara Municipal de Macaé, no início da década de 1980, e havia muita prostituição em Macaé. O pessoal começou a pressionar a Câmara e convidei o delegado para falar sobre o que estava havendo na cidade. Bem, fi z o convite, ele foi, os vereadores mais exaltados falaram um monte de bobagens para o homem e ele respondeu: - Vocês fi quem tranquilos, se o problema é esse, vou sair daqui agora e recolher pelo menos umas trinta. E fez! Só que a delegacia não tinha espaço para tantas... Tinha lugar para dez. Aí, os próprios vereadores foram lá pedir para soltar... Denunciaram no plenário e depois pediram para soltar. (Risos!) Houve em Macaé um crescimento violento da prostituição, uns delegados tomavam providências, outros não. Existe até hoje, está liberado, vamos dizer assim. Igual ao jogo do bicho.

Quissamã era um dos esteios de Macaé, tinha a usina funcionando, fazia um milhão de sacas de açúcar por dia, presidida por Edilberto Ribeiro de Castro e tinha Seu Almicar, como gerente fi nanceiro, comercial, tudo. Macaé dependia muito da usina. Naquela época, para a Prefeitura Municipal de Macaé pagar os funcionários e alguns compromissos, a usina antecipava umas cotas de imposto, então, os prefeitos saiam daqui, imploravam, a usina pagava e aliviava Macaé. Mas, na década de 1980, surgiu um vereador propondo a emancipação, só teve um vereador que votou contra, Alvair Ribeiro Benjamin... Quissamã teve seu plebiscito aprovado. Alcides Ramos é de Quissamã e a preparou toda em termos de Educação, de Saúde... Fez as melhorias pensando em ser prefeito, só que não pode ser candidato, aí foi lançado o Octávio Carneiro, que foi o primeiro prefeito]... Octávio é um fazendeiro, mas administrou abrindo concurso, dando condições para o crescimento... Eu achava que nunca fosse acontecer, digo por que nasci lá, o pessoal é meio fechado, não é de abrir muito as coisas... Octávio conseguiu desenvolver a parte cultural... Depois com os Royalties, aplicou muito em saneamento básico. Quissamã, hoje, não tem um ponto que não tenha rede de esgoto, água...

A família do meu bisavô, Conselheiro João de Almeida Pereira Filho, recebeu uma sesmaria no século XVIII. A sesmaria era em Monte Verde, hoje Cambuci. O pai dele começou a Fazenda São Lourenço... O primeiro homem branco que nasceu na região foi seu irmão, Antonio Álvares de Almeida Pereira, porque antes só nascia índio naquela região. João de Almeida Pereira fez Faculdade de Direito em São Paulo, casou-se com uma fi lha do Visconde da Araruama, foi deputado federal em cinco legislaturas, governador, ajudou fundar a Casa de Caridade de Macaé, foi Ministro do Império, homem de confi ança de Dom Pedro II, fez a viagem ao norte do país com o Imperador... Tenho tudo em documentos. Dedicou-se muito à política, foi incentivador do Canal Macahé-Campos e primeiro presidente da empresa de concessões... Agora, em Quissamã, estão usando um pedaço do Canal para turismo. Esse canal entra aqui no Parque Aeroporto, passa ao largo de Jurubatiba, pega a Lagoa Carapebus, seguindo em Quissamã, passa em quatro fazendas, inclusive nas do Conselheiro.

Papai estudou no Colégio São Bento, era interno, não tinha irmãos, perdeu o pai com três anos, e foi criado pelas tias... No Colégio São Bento, fez curso de humanidades... Sempre gostou de ler, escrever... Veio morar em Quissamã, porque tinha herança de terras do Visconde de Araruama, em função das avós dele, como, por exemplo, a Casa de Mato de Pipa, de 1777. Era uma pessoa que nunca teve ganância do dinheiro, então, os fi lhos também puxaram a ele, nunca tivemos ganância para isso, tanto é que tem terras, até hoje, em Quissamã que a gente sabe que é nossa, porque tem a escritura, está no nome da nossa família, mas a gente nunca brigou para tirar terra de ninguém. Então, papai casou lá,

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Fazenda Santa Ritt a [Criada em 1901] Barão de Villa Franca [Ignácio Francisco Silveira da Mo� a, goiano, fi dalgo, advogado, juiz, promotor, políti co, botânico, fazendeiro e empresário]O Rebate [Fundado em 16/04/1932, por Antonio Duarte Gomes, foi empastelado no dia 18/10/1933, reaparecendo mais tarde sob a direção de Luís Carlos Franco; esteve sob comando de Jorge Costa e atualmente pertence a José Milbs de Lacerda Gama]La� ff Mussi Rocha [Campista, benemérito, empresário, fazendeiro, jornalista, proprietário do Hotel dos Viajantes, patrono do Parque de Exposições]Ernesti nho [Luiz Ernesto Olive Carneiro da Silva, proprietário do Jornal da Cidade]Monitor Campista [importante periódico regional fundado na primeira metade do século XIX, na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), sendo exti nto por moti vo econômicos em 15/11/2009]O Fluminense [Periódico niteroiense, fundado em 08/05/1878, por Prudêncio Luís Ferreira Travassos e Francisco Rodrigues de Miranda, que atualmente pertence ao Grupo Fluminense de Comunicação]Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital do Estado do Rio de Janeiro de 1903 a 1975]Godofredo Nascentes Tinoco [Advogado, historiador, escritor, jornalista, fundador da Academia Campista de Letras, da Faculdade de Filosofi a de Campos e da Associação de Imprensa Campista]Academia Macaense de Letras [Fundada em 20/02/1963]Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Avenida Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]Ypiranga [Futebol Clube, fundado por Dourival de Souza, cuja sede foi o anti go Clube dos Abaetés, na Av. Presidente Sodré esquina com Rua Tenente Coronel Amado]Tênis [Clube de Macaé, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 13/06/1928 com o nome Atlânti co Club, alterando-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]Fluminense [Futebol Clube, na Praça Veríssimo de Mello, fundado em 25/12/1917 na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]Atléti co [Clube, na Rua Alcides Mourão]Aroeira [Bairro loteado na década de 1960 em terras do ex-prefeito Juvenal Barreto Junior, o Doca]Yate [Clube de Macaé, na Barra de Macaé] Taboada [Cine-teatro inaugurado em 05/04/1931 pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]Cine Clube [de Macaé na Rua Francisco Portela, 551, inaugurado em 1968, que está sendo revitalizado, projeto da Prefeitura de Macaé e Fundação Macaé de Cultura, patrocinado pela Petrobrás, e deverá ser um espaço desti nado a realização de cursos de qualifi cação em áreas culturais, especialmente na de áudio-visual]Santa Izabel [Cine-teatro inaugurado em 07/01/1866 pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899]Jair Picanço Siqueira [Macaense, médico, patologista, empresário, colecionador, membro do Rotary Club de Macaé]Pedro Paulo de Sá Viana [Macaense, advogado, mestre de cerimônia do lendário Baile Ofi cial das Debutantes de Macaé]biblioteca [Biblioteca Pública Municipal Dr. Télio Barreto] Eira Couto [Pseudônimo de Herivelto Ferreira do Couto, macaense, jornalista, historiador, escritor, membro da Academia Macaense de Letras, chegando a presidi-la]Cláudio Itagiba [Cláudio Ulpiano Santos Nogueira Itagiba, macaense, membro de uma família tradicional, fi lósofo, professor, nos anos 1960 foi um fundador do Centro de Estudos Literários e Filosófi cos Farias Brito, patrono do auditório da Cidade Universitária de Macaé]

foi morar na Fazenda Santa Ritta desmembrada da Fazenda de Santa Francisca, que foi do Barão de Villa Franca. Escreveu muito nos jornais O Rebate; Gazeta de Macaé, de Latiff Mussi Rocha; jornal de Ernestinho, também escrevia no Monitor Campista, de Campos; O Fluminense, em Niterói... Revistas... Fazia poesias desde 1929. Em 1963, Godofredo Nascentes Tinoco, muito amigo dele, macaense, propôs fundar a Academia Macaense de Letras, com 40 nomes, no modelo francês de academia. Papai era meio devagar, dizia: - Como é que eu levantar quarenta nomes do dia para noite rapaz? Levantou vinte nomes... No dia, apareceram três. Godofredo era uma pessoa falante, marcou outra reunião em quinze dias, às quatro horas, na Nova Aurora, com oito pessoas... Instalou-se a Academia... Eu, que não tinha nada a ver com a coisa, fi z parte, para completar quarenta nomes... Godofredo falou: - Ruben está estudando? Pode ser acadêmico! Não tem problema, vai ser o acadêmico mais novo do Brasil. (Risos!)

Macaé foi sempre uma cidade de praia, com bons clubes, tínhamos o Ypiranga; o Tênis; o Fluminense; o Atlético, na Aroeira... Eu frequentava todos, sem distinção... O Yate também era um bom clube... Aqui, tinha muita festa popular, festivais de chope... Vinha gente de todo o Estado do Rio de Janeiro... Festivais de música... Alcancei três cinemas bons em Macaé, tanto o Taboada, quanto o Cine Clube e o Santa Izabel. A cidade movimentava! Na parte cultural, por exemplo, fui a vários saraus no Cine Clube, com papai, Jair Picanço Siqueira, Pedro Paulo de Sá Viana... Tinha uma turma boa de cultura. A biblioteca de Macaé era muito frequentada, abria às onze horas, e lá para uma hora da tarde, eu estava lá, quase que diariamente... Uma pessoa ultra inteligente era o Eira Couto. O Cláudio Itagiba também frequentava e levantava polêmicas demais... Papai era o moderador... Não podia falar muito. Não. (Risos!)

Eu desejo que nossa terra continue trilhando pelo caminho do progresso, com melhor Educação, melhor espaço na cultura e que nós tenhamos um governante, que olhe com carinho todo especial para esta juventude, porque Macaé não pára de crescer... Com o Pré-sal chegando, acredito que por 2015, 2016, deverá estar beirando os trezentos mil habitantes... Hoje, está com duzentos e vinte mil. Isto vai chegar logo! Macaé já está com um plano de rede hoteleira que não perde para lugar nenhum do Estado do Rio de Janeiro. Eu faço muita fé na FUNEMAC, acredito que, entrando um governo sério, venham outras universidades fazer convênios, aquele campus já está pequeno. Acredito que Macaé vai ter também um porto, para o lado do Lagomar, como meio de desenvolver mais ainda a cidade. Macaé, em breve, fará um novo aeroporto, porque atualmente, nós estamos aqui sentados, reunidos, está arriscado passar um avião e cair em nossa casa... Tem que tirar daqui este Aeroporto, já não justifi ca mais ser aqui. A cidade tem tudo para desenvolver, mas tem que haver um planejamento, que o pessoal coloque o pé no chão... Não havia necessidade de convidar para Macaé, com todo

respeito à ausência dele, o Jaime Lerner... Tem gente aqui capaz de orientar bem melhor do que ele... Macaé está chegando num ponto que vamos ter problema para andar de carro, a cidade vai dar um nó, qualquer hora vai parar tudo, vai acabar parando.

Para encerrar, quero dizer que foi uma entrevista agradável, relembrei algumas coisas, apesar de que eu, há vinte dois anos, sofri um AVC e perdi a memória, talvez uns 10% ou 20%, mas essas entrevistas são boas para mim, porque exigem lembrar de coisas que estão guardadas há muito tempo, memórias que têm que ser postas para fora... Isto dá ânimo para viver. Agradeço a oportunidade! ▪fora... Isto dá ânimo para viver. Agradeço a oportunidade! ▪

Almoço no Hotel Imbe� ba. Inauguração da ampliação do sistema de distribuição de água em Macaé. Na foto estão da esquerda para direita Vilmar Monteiro (diretor de água de Cabo Frio), Washington Luiz Lordelo de Castro (Diretor técnico do serviço de águas), Antonio Carlos de Andrade (Diretor da área comercial do Serviço de água de Macaé), Francisco

de Paula Almeida Pereira (Jornalista), Rubem Almeida (Diretor administra� vo do serviço de águas), José Augusto Andrade Silva (Engenheiro), Roberto Caldas (Superintendente da Regional de Macaé), Dr. Benedito Aurélio Ximenes (Diretor técnico). s/d.

Acervo parti cular de Rubem Gonzaga de Almeida Pereira, Macaé - RJ.

Pré-sal [Em geologia, camada pré-sal refere-se a um ti po de rocha, sob a crosta terrestre, formada exclusivamente de sal petrifi cado, depositado sob outras lâminas menos densas no fundo dos oceanos. No Brasil, a área que tem recebido destaque pelas recentes descobertas da Petrobras, encontra-se no subsolo oceânico e estende-se do norte da Bacia de Campos ao sul da Bacia de Santos. Esti ma-se que lá estejam guardados cerca de 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o que deixaria o Brasil na privilegiada posição de sexto maior detentor de reservas no mundo]

FUNEMAC [Fundação Educacional de Macaé, criada Lei Municipal n°.1369, em 17/11/1992]

Lagomar [Bairro litorâneo pertencente ao terceiro subdistrito Cabiúnas, considerado área de expansão urbana e rural]

Aeroporto [Público de Macaé, inaugurado em 1980, com área de 480.000 m², localizado na Avenida Hildebrando Alves Barbosa, a 5 km do Centro]

Jaime Lerner [Curiti bano, arquiteto e urbanista, políti co, prefeito de Curiti ba em três mandatos, governador do Paraná, foi eleito presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA) em 2002. Atualmente é urbanista e consultor das Nações Unidas para assuntos de urbanismo; também presta consultoria para a Prefeitura de Macaé a convite do Prefeito Riverton Mussi Ramos]

AVC [Acidente Vascular Cerebral]

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1 Rubem Almeida na campanha dos Royal� es na Cinelândia, Rio de Janeiro. 1983.

2 Reunião polí� ca com o Candidato a prefeito de Macaé Amilcar Pereira da Silva. Da esquerda para direita vê-se Pedro Esteves (cidadão de Carapebus), Amilcar Pereira da Silva, Antonio Carlos Pinto Carvalho, Pedro Paulo Almeida Pereira Neto, Rubem Almeida e Washington Luiz Lordelo de Castro. s/d.

3 Encontro com o Advogado Dr. Evandro Lins e Silva para discu� r o Royal� es do petróleo. s/d.

4 Campanha pelos Royal� es na Cinelândia, Rio de Janeiro. Da esquerda para direita Rui Pinto (Fundador do PDT Macaé), Luiz Ernesto Olive (Jornalista), Rubem Almeida (Presidente da Câmara Municipal de Macaé) e jornalista do Jornal do Brasil não iden� fi cado. 1983.Acervo parti cular de Rubem Gonzaga de Almeida Pereira, Macaé - RJ.

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aniversário da cidade [Dia 29 de Julho. Nesta data, no ano de 1813, o Príncipe Regente, Dom João de Bragança, cria a Villa de São João de Macahé]

aniversário do clube [Dia 13 de Junho]

Primavera [Dia 22 de Setembro]

bailes das debutantes [Baile Ofi cial das Debutantes, conduzido pelo mestre de cerimônias Pedro Paulo de Sá Vianna]

Magdá [Maria Magdalena Pereira Garcia, macaense de Glicério, socialite, benemérita, empresária]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense]

Praça Veríssimo de Mello [Logradouro público que já foi denominado Largo da Alegria, Praça D. Isabel e Praça 15 de Novembro]

Exército [1.a/10.0GACos M, o Forte Marechal Hermes, na Imbeti ba]

Clube dos Abaetés [Agremiação eliti sta, fundada na década de 1940, numa iniciati va de Manoel Paes, o Manequinho, dissidente do Tênis Clube de Macaé, com sede foi erigida na Avenida Presidente Sodré, onde funcionou a Rádio Emissora de Macaé]

Ypiranga [Futebol Clube, fundado por Dourival de Souza, cuja sede foi o anti go Clube dos Abaetés, na Av. Presidente Sodré esquina com Rua Tenente Coronel Amado]

Leopoldina [A The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950, alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Juquinha [José Passos de Souza Júnior, macaense, enfermeiro práti co, presidente do Tênis Clube de Macaé, patrono do estádio do clube]

pai de Ivana [Matos Pinheiro Tavares, Ellio� Pinheiro]

Sérgio Quinteiro [Cordeiro, macaense, decorador, paisagista, funcionário público]

Peron [Ely Peron Frongilo, carangolense, arti sta plásti co, decorador, carnavalesco]

Papai [Nilton Ferraz, macaense, ferroviário] nós [Ela, a mãe, Elmadir Pinheiro Ferraz (Didi), e os irmãos: Nilma Ferraz Agosti nho, Álvaro José Ferraz (Chiquinho)]meu avô [Álvaro Francisco Pinheiro, altense, contador, sócio remido do Tênis Clube de Macaé]Rua da Praia [Primeiro nome da atual Av. Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]Jardim Pinheiro [Loteamento urbano residencial]Minha avó [Leopoldina Neves Pinheiro, macaense]ti a Delva [Delvanir Pinheiro da Costa, macaense, espírita, fi lha de Yansã Onira, consagrada Yiá Kererê (Mãe Pequena) e Yiá Basse (Cuidadora das comidas dos santos)]Centro Espírita Xangô Menino [Na Rua Xangô Menino, 96, Miramar. Fundado em 27/09/1966 pelo babalorixá macaense Banda Silê, João Sérgio Lima]irmã mais velha [Nilma Ferraz Agosti nho, macaense, professora] Rua Direita [Primeira denominação da Av. Rui Barbosa que por muito tempo permaneceu no imaginário coleti vo dos macaenses, embora também já tenha sido Treze de Maio] passeio [footi ng]Cyti col [Lojas Citycol S.A. - Confecções e Vestuário, na Av. Rui Barbosa, 336]Câmara Municipal de Macaé [Atual Palácio Dr. Claudio Moacyr de Azevedo, Museu do Legislati vo, na Praça Gê Sardenberg, edifi cado em 1837, anti go Solar dos Araújos, que hospedou D. Pedro II]Ypiranga [Futebol Clube, fundado por Dourival de Souza, na Avenida Presidente Sodré, esquina com a Rua Tenente-Coronel Amado, anti go Clube dos Abaetés]Armando Marconi [Pianista que se apresentava com a cantora Silvinha]Ivana [Matos Pinheiro Tavares, Ellio� Pinheiro]Praia do Forte [Praia da Concha, com extensão de 180 metros, nas dependências do Forte Marechal Hermes]Praia da Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]Tênis Clube de Macaé [Na Praça Veríssimo de Mello, fundado, em 13/06/1928, com o nome Atlânti co Club, alterado-o no ano seguinte quando foi aprovado os estatutos]Taboada [Cine-teatro na Av. Rui Barbosa, inaugurado, em 05/04/1931, pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]Asilo [da Velhice Desamparada, atual Liga Benefi cente Asilo Casa do Idoso, fundado em 1945, na Rua Luiz Bellegarde, 540, Imbeti ba]Barbie [Barbara Millicent Roberts, a boneca Barbie, é um popular brinquedo infanti l, criado em09/03/1959, produzido pela Matt el]

“Macaé, para mim, tem muita signifi cância, nasci aqui...”Selma Pinheiro Ferraz

Entrevistada, em Macaé (RJ), a 25/08/2012.Faleceu, em Macaé, a 28/04/2015.

A minha infância foi muito sadia... Papai morreu muito novo, nós fomos morar na casa do meu avô, gente boníssima, que para mim não podia ter morrido, tinha que ter uma estátua... Morávamos primeiro na Rua da Praia, depois fomos para o Sítio Pinheiro, onde hoje é o Jardim Pinheiro, onde meu avô tinha uma fonte d’água, mas não vendia, dava... Minha avó também era gente boa... Depois, meus tios casaram, moravam perto, era uma coisa muito sadia, aquela raiz de família, que hoje, infelizmente, não se tem... Na casa do meu avô, era um respeito, ele gostava de receber visitas, de comemorar seu aniversário... Minha avó era metodista e dizia: - Todo mundo tem que ter uma religião, seja ela qual for. Quando tinha reunião de senhoras, com suas amigas da igreja, exigia que respeitássemos, não queria ninguém de bermuda, nem descalço... Triste da gente se não respeitássemos. Tenho uma tia muito boa, tia Delva, uma das fundadoras do Centro Espírita Xangô Menino... Minha avó metodista e tia Delva espírita, uma compreensão maravilhosa. O primeiro terreninho do Xangô Menino foi doado pelo meu avô, minha avó não impunha a sua religião.

Minha irmã mais velha gostava muito de desfi lar: Miss Macaé, Miss Estudante... Na Rua Direita tinha um passeio, de onde hoje é a Cyticol até à Câmara Municipal de Macaé. Todo mundo se arrumava para ir lá, era um desfi le, até começar uma boate que tinha no Ypiranga, como Armando Marconi... Minha avó não nos impedia de ir, mas em sua casa exigia respeito... Nunca houve choque de religião, nunca houve.

Meu avô era Álvaro Francisco Pinheiro e minha avó Leopoldina Neves Pinheiro, totalmente diferentes, meu avô era alto, minha avó baixinha... O que ela falava era lei... Ele botava a mão no suspensório e começava a andar na varanda com a minha avó, nós já sabíamos que estava saindo alguma coisa...O pai de Ivana deitou e rolou nessa, sabe? (Risos!) Porque quando queria alguma coisa, ia para o lado da minha avó, sendo o único fi lho homem de oito mulheres... Meu avô não dizia não, o que ela queria era aquilo ali. Nunca vi aquele casal brigando, nem zangado, era uma união linda.

Ahhh!!! Macaé era muito boa!... Primeiro íamos à Praia do Forte, depois começou a fi car mais chiquezinho, íamos para a Praia da Imbetiba, saíamos dali marcando para o bailinho do Tênis Clube de Macaé... A boate do Ypiranga ninguém perdia, era das nove à meia noite... Tinha a primeira sessão do Taboada, depois a segunda, e todo mundo ia na primeira, muitos rapazes bonitos, que se vestiam adequados para uma festa, porque hoje os homens andam meio largados, anarquizam um pouco com o traje da mulher, que procura pôr um saltinho alto e fi car mais elegante... Mas era muito sadio, havia namoro, às vezes, as amigas da gente saiam, encontravam com outros rapazes, quando o namorado chegava, dizíamos que não tinhamos visto... (Risos!) Aquela coisa, né?!?

Fato marcante da minha infância, voltando a falar dos meus avós, eles faziam festinha de Natal... No dia 24, era na igreja, tinha aqueles teatrinhos com Maria, José e o menino Jesus... O Natal mesmo era comemorado no dia 25, a gente acreditava em Papai Noel, colocávamos sapatinho na janela, nem que fosse para ganhar uma bruxinha do Asilo... (Risos!) Naquela época, não tinhamos essas bonecas famosas, Barbie, nada disso, mas era

muito bom. Ganhávamos bruxinhas de pano mesmo, as velhinhas do Asilo faziam, doávamos retalhos, vendiam baratinho, para comprar os cigarrinhos delas.

Eu era sócia do Tênis Clube de Macaé, por causa do meu avô, depois comprei meu título... Fui por dezoito anos diretora social, recentemente voltei, há dois, três anos, mas não fi quei, porque mudou o modo de ser... No meu tempo, tinha comissão social, comissão de esporte, comissão de administração, até chegar ao presidente. Então, as festas passavam pela social, lógico que tinha que passar pela administração, que soltava a verba, e o presidente... Toda vida foi assim, os bailes muito bons, no aniversário da cidade, aniversário do clube, da Primavera. Antigamente, o Clube era muito exigente, agora, já não é muito. Tinha os bailes das debutantes... Quem fazia esses bailes era Magdá, mãe de Marilena, eram lindos, lindos... Porque antigamente, quinze anos era quando a menina ia debutar, hoje, com quinze anos elas já estão cansadas de sair à noite... A Praça Veríssimo de Mello fi cava com holofote do Exército, faziam uma passarela do Tênis à Praça... Íamos para o cabelereiro, só tinha uma naquela época, chegávamos lá, duas horas da tarde e saíamos meia noite, não dava mais para ver a valsa, muitas vezes, fi cávamos penduradas na escada para ver o baile, porque demorava muito, tinham que atender primeiro as debutantes, com hora para chegar, nós não.

Macaé tinha dois clubes... Não era qualquer um que frequentava o Clube dos Abaetés, onde hoje é o Ypiranga e o Tênis Clube de Macaé... Era uma exigência louca! Operários da Leopoldina então, nem passavam perto... Principalmente na época que a sede do Tênis Clube era numa casa pequenininha, antiga. Quando fi zeram a sede nova, meu avô doou as pedras. Ele vendia pedras, mas também doava muita pedra brita. Então, deram o título de benemérito para meu avô, foi quando começamos a frequentar e pegamos esses bailes todos... No meu tempo de diretora, fazia o baile do Dia das Mães, escolhíamos a mãe mais bonita, a mais rica, a que tivesse o maior número de fi lhos, a que frequentava mais o clube... Era uma festa muito bonita, hoje, acabou isso.

Juquinha era doente pelo Tênis Clube... Nessa época, apelidei a sede praia de Juquinha... Às vezes, vejo uma pessoa jogar um copo no chão, com tantas lixeiras, eu pego aquele copo, aí tem sempre um gaiato falando que é o espírito de Juquinha. Ele amava aquilo! Coitado, foi atropelado, porque o clube estava sendo decorado para o carnaval, ele foi até lá, atravessando a Praça Veríssimo de Mello, uma bicicleta o atropelou, fi cou no hospital, mas não sobreviveu... Tinha uma paixão, um bloco que saia do Tênis, muitos homens se vestiam de mulher, bebia, às vezes a gente nem chegava no fi nal de tão... (Risos!) Acho que ele bebia para fazer as maluquices que fazia. Só homem, ele que saía na frente do bloco, hoje, chamam de Bloco das Piranhas, mas naquela época não era, tinha outro nome. O pai de Ivana também brincava muito carnaval e não bebia nada, botava uma lata d’água na cabeça, meus ventidos, e ia embora, mas ia de cara limpa.

Ahhhh!!! O Carnaval era outro espetáculo, muito lindo. Os clubes decorados! Num ano decorava Sérgio Quinteiro, no outro decorava o Peron... Eles faziam o concurso da fantasia mais bonita, do casal, da criança com a

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Maria Carla [Amadei, macaense, empresária]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Bedi [Vaz de Souza, macaense, culinarista, sendo antes costureira da Casa Garcia, escolhendo a profi ssão de doceira por infl uência da professora Iracy Pinheiro Marques, sendo sucedida por sua fi lha Maria de Fáti ma Vaz de Souza Peruzzi]

Dona Arle� e [da Conceição Pinto, macaense da Bicuda Pequena, culinarista, benemérita]

Marlene [Alves Correia dos Santos, natural de Silva Jardim (RJ), onde foi escrituraria de contabilidade, costureira e cabeleireira, passando a ser doceira quando veio para Macaé em 1984]

Jardim Santo Antonio [Bairro loteado por Athos Duboc Figueira na década de 1980]

Roberto Bueno de Paula Mussi [Macaense, Cirurgião do Aparelho Digesti vo, Cirurgião Geral, Ginecologista]

Dayse [Mussi, macaense]

Taboada & Companhia [Na Av. Presidente Sodré, fundada em 1897, pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada, especializada no comércio de sal e cal em alta escala, além de charque, cereais, aguardente e açúcar em grosso]

Alvinho [Álvaro Brasílio Pinheiro Sardenberg, macaense, funcionário público]

Leise [Pinheiro Reis, macaense, neta de Álvaro Francisco Pinheiro]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Delvanir [Pinheiro da Costa, Delva, macaense, casada com Moacyr Costa]

Elmanir [Neves Pinheiro, Mani, macaense, solteira]

Elmadir [Pinheiro Ferraz, Didi, macaense, casada com Nilton Ferraz]

Clélia [Pinheiro Sardenberg, macaense, casada com Osmar Sardenberg]

Edir [Pinheiro Souza, Dica, macaense, casada com Alceníades Souza]

Eulice [Pinheiro Reis, Pico, macaense, casada com Haroldo Reis]

Ellio� [Pinheiro, macaense, funcionário público, casado com Neuza de Matos Pinheiro]

Lilia [Pinheiro Barbosa, Miçuca, macaense, casada com Mário Barbosa]

Morro de Santana [Bairro periférico surgido da ocupação de terras pertencentes à Confraria da Gloriosa Santana por meio de doações ou usucapião]

Cemitério de Santana [O mais anti go campo santo macaense remonta aos tempos jesuíti cos, sendo regulamentado em 02/06/1890. Figuras ilustres lá estão sepultadas: Viscondessa de Araújo (Aristocrata), Hindemburgo Olive (Arti sta Plásti co), Antonio Alvarez Parada (Historiador), Luiz Reid (Benemérito), Eleosina de Queirós Ma� oso (Arquivista), Yuzaburo Yamagata (Empresário)]

Fluminense [Futebol Clube, fundado, em 25/12/1917, na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

shopping [Shopping Plaza Macaé, inaugurado em setembro de 2008, com 28.000m2 de área total construída e 22.694 m2 de área bruta locável, na Av. Aluísio da Silva Gomes, 800, Granja dos Cavaleiros]

Santa Izabel [Cine-teatro na Rua Teixeira de Gouveia, esquina com Conde de Araruama, inaugurado, em 07/01/1866, pela Sociedade Philo-Scenica Macahense]

Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Avenida Rui Barbosa, foi fundada, em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata]

Lyra [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com ideias abolicionistas e republicanas]

festa de Macaé [29 de Julho]

São João Bati sta [24 de Junho]

Sant’Ana [A Festa de Sant’Ana e no dia 26 de julho, mas a procissão que a entrevistada se refere e a da Paixão de Cristo, realizada na sexta-feira antes do domingo de Páscoa]

Festa de Santa Cecília [22 de Novembro]

Nossa Senhora da Penha [16 de Abril]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, advogado, políti co, depois prefeito de Macaé (1967-70) e deputado estadual]

Igreja Matriz São João Bati sta [Igreja Matriz de São João Bapti sta, Praça Veríssimo de Mello, construída por volta de 1855, onde foi a Capela da Irmandade do Santí ssimo Sacramento]

Calçadão [Trecho comercial da Avenida Rui Barbosa fechado para o trânsito de automóveis desde a década de 1990]

Clínica Doutor Everest [Salles, na Rua Tenente Coronel Amado, onde hoje está o Hospital da Unimed]

Clínica São Lucas [Na Rua Teixeira de Gouveia, 789, Centro]

Hospital São João Bati sta [Anti ga Casa de Caridade de Macahé, fundada em 01/05/1871, entregue aos cuidados da Irmandade de São João Bati sta desde 22/05/1872]

Dona Sevilha [Agosti nho, macaense, doceira]

minha sobrinha [Rosane Ferraz Agosti nho, macaense, jornalista]

casamento de Ivana [Matos Pinheiro, sua prima, macaense, historiadora, casada com Roberto Gomes Tavares em 14/02/1982]

Dona Margarida [Margherita Modesta Rosso Amadei, italiana, tecelã, empresária, benemérita, fundadora da Monviso]

Monviso [Malharia e Confecção, na Rua da Igualdade, Imbeti ba]

Castelo [Insti tuto Nossa Senhora da Glória, no bairro Visconde de Araújo, fundado em 27/07/1963, no Solar de Monte Elízio, prédio histórico do século XIX que pertenceu aos viscondes de Araújo]

Casa Transitória [André Luiz, fundada no dia 29/10/1966, importante obra da comunidade kardecista, atendendo gratuitamente pessoas portadoras de molésti as metais; uma séria crise fi nanceira fechou suas portas em abril de 1985]

fantasia mais original... Uma coisa de louco! No último dia, acabava o baile e as orquestras saiam para tocar na Praça Veríssimo de Mello... A orquestra do Tênis e a do Fluminense se cruzavam na Praça, mas sem briga, tudo na maior paz... A turma de hoje não tem mais clube para ir, não tem cinema, só aquelezinho no shopping. Para nós tinha o Taboada, o Santa Izabel. O Taboada acabar foi uma pena, tinha camarotes, era uma coisa linda, tinha duas sessões, de sete às nove, de nove às onze horas da noite.

A Nova Aurora e a Lyra sempre tiveram rivalidade. Tocavam na festa de Macaé; nas procissões de São João Batista, o padroeiro; de Sant’Ana... De repente, entrava uma na frente da outra, mas não era briga... (Risos!) A Nova Aurora fazia a Festa de Santa Cecília e a Lyra a de Nossa Senhora da Penha. Hoje, acabou tudo! Não sei por que acaba tudo. Os casamentos na Nova Aurora eram muito bonitos porque as noivas entravam, desde aqueles portões da frente. Um dos empregados de vovô, Seu Ozório, fazia parte... Quebrava pedra, tadinho! Mas também tocava na banda e foi muito homenageado. Naquela época, nós tínhamos Claudio Moacyr, deputado estadual, um povo que se interessava mais pelas coisas... Hoje, a procissão de São João Batista não tem banda, só um carro com um homem em cima, rezando, cantando... Antes, a Nova Aurora e a Lyra acompanhavam tocando... Saíam da Igreja Matriz São João Batista vinham, naquela época, pela Avenida Rui Barbosa, que não tinha Calçadão, e voltava pela Rua Teixeira de Gouveia, com muita gente acompanhando. As procissões de Sant’Ana vinham pela Teixeira de Gouveia, parando nos pontos, o anjo cantor parava na Clínica Doutor Everest, depois parava na Clínica São Lucas e vinha parando... No Hospital São João Batista, contornava a Praça Veríssimo de Mello e voltava pela Rua Direita... Aí a banda e o anjo cantor paravam na frente da Nova Aurora... Era muito bonito! Gente!!!

Eu comecei a fazer doces porque sempre gostei de festas. Então, falei: - Vou fazer doces!... Tinha uma senhora, que morava perto de casa, Dona Sevilha, que fazia doces e me dizia que não tinha como errar se fi zesse direitinho. Daí comecei a fazer... Fiz o aniversário de um ano da minha sobrinha, fi z de dois, de três... Foi tendo casamentos, outros aniversários... Eu entrei nessa e fi quei vinte e oito anos trabalhando... Fiz uma boda de prata que a senhora tirou o bolo de cima e levou para os Estados Unidos. Tudo fresco, nada era congelado, naquela época... Meu avô dizia que eu entrava na ofi cina e emendava a noite para fazer as encomendas, coco ralado na mão e salgadinho na hora... Então, era uma beleza! Ninguém fala mal do que eu fi z, de vez em quando perguntam se não quero fazer, e respondo que não posso mais, que agora a coluna não deixa. Fazia olho de sogra; camafeu, um doces com nozes, que hoje botam nozes e leite condensado, mas o meu era camafeu mesmo, só com nozes... Passava as nozes numa máquina, depois botava o açúcar, gemas, um pouco d’água e ia ao fogo dar ponto... Depois, moldava nas cascas das nozes, abria no meio certinho e fazíamos no feitio das nozes... Esses doces eram bonitos mesmo!... Fios de ovos... Um quadradinho de coco, que na minha época chamávamos de fatia de moça, pouca gente faz aquele doce, acho que só eu faço, é um doce que não tem muita coisa: coco, gema, açúcar... O problema dos doces era o ponto, tínhamos que dar o ponto para o doce não melar... Depois assava, cortava em pedacinhos e passava no açúcar. O de abacaxi também levava coco e açúcar, ia ao fogo e depois enrolávamos e passávamos no açúcar... Teve a época dos bolos decorados, com três, quatro andares, aqueles arranjos. Depois veio a época das tortas, no casamento de Ivana, teve uma torta de quase dois metros, com frutas naturais... Fazíamos rosas, fi cava muito bonito. Nada meu azedava, porque não fazia nada de véspera. Fiz muito doce para Dona Margarida da Monviso... Fazia doces para ela o ano inteiro. No Natal e no Ano Novo, ela encomendava cerca de quarenta tortas

para doar a entidades como o Castelo, a Casa Transitória, o Hospital São João Batista, onde distribuia nas alas feminina e masculina... No casamento da fi lha mais nova, Maria Carla, ela me pediu um bolo de dois metros por dois metros. Eu falei que era muito bolo e ela respondeu: - Não faz mal, se sobrar eu levo para o Asilo... Mas eu fi z de um e meio por um metro, porque não ia ter formação, ia fi car muito feio... Ela pediu que colocasse em volta do arranjo, umas tirinhas de coco, mas eu cobri o bolo todinho com aquele coco com casca...Tirávamos aquela casca grossa, passávamos no cortador, então, saía aquela tirinha igual ao doce laço de coco, fi cava todo marronzinho... O arranjo foi num amarelo muito clarinho. Quando ela foi buscar, falou assim: - Não estou acreditando que você cobriu este bolo todo com coco, pedi só um pouquinho. Respondi: - Só um pouquinho não ia fi car bonito. Fui ao casamento, nessa época, começou a ter buff et, veio um de Campos, e ouvi quando o metre disse que o bolo estava bonito, mas que bolo grande nunca presta porque fi ca massudo... Pensei: Vou fi car do lado dele, de repente a minha está... Depois, ele veio falar: - É o primeiro bolo grande que não é massudo. Eu fui muito feliz na minha profi ssão de doceira, porque trabalhava bem, com material bom, com freguesas muito boas. Na minha época tinha Bedi, Dona Arlette, Marlene que é lá do Jardim Santo Antonio.

Eu não tinha Natal, não tinha nada, porque trabalhava, entregava sessenta tortas... A única época que a gente não trabalhava era carnaval. No carnaval, ninguém fazia aniversário. (Risos!) O carnaval era bom à beça. Era ótimo! Só uma vez que, no sábado de carnaval, chegou uma senhora lá em casa, era a esposa de Doutor Roberto Bueno de Paula Mussi, a primeira, Dayse, que falou assim: - Olha, não sou sua freguesa, não vou ser porque meu marido não gosta de festa, mas eu tenho um fi lho que faz aniversário no domingo de carnaval e não sai de casa de jeito nenhum para almoçar fora, gostaria que você fi zesse uns docinhos e uns salgadinhos. Pensei: Caramba!!!... Mas ela foi tão educada, que não tive coragem de dizer que não ia fazer... A sinceridade é um coisa muito importante... Os salgadinhos eram os que até hoje existem: risoles, pasteizinhos de forno, as barguetes... Nas tarteletes, colocávamos cenoura e batata e depois o creme... Tudo feito no dia! Torta salgada, maionese, arroz de forno... Quantidades grandes.

Meu avô não foi ferroviário, trabalhou de contador na fi rma Taboada & Companhia, numa loja do lado da nossa casa, por muito tempo... Ele deixou dois livros muito lindos com a escrita dele, um foi para casa de Alvinho e o outro está com o ex-marido de Leise... OTênis Clube quando inaugurou ele que fez a abertura do livro... Todo ano, quando tinha a festa do Tênis, colocavam o livro lá... A letra dele era uma coisa linda, a caneta era aquela de pena. Mas antigamente em Macaé, eram muitos ferroviários, muito respeitados, meu avô mesmo dizia que preferia vender suas pedras para os ferroviários do que para um doutorzinho que não pagasse... Só no Tênis Clube tinha essa bobagem de exclusão, mas hoje não, hoje é tudo igual... Depois veio a Petrobras, acabou a ferrovia.

Lá no sítio, onde morávamos, tinha uma pedreira, empregados... O pessoal ia buscar mais pedras britadas, pedra bruta, vendemos muito e muita casa foi construída com as pedras de lá... Quando o sítio não era loteado, vovô deu um terreno para cada fi lho: Delvanir, Elmanir, Elmadir, Clélia, Edir, Eulice, Elliott e Lília... Depois que morreram, ele e a mulher fi zeram a beleza que está lá, o Jardim Pinheiro, uma homenagem ao meu avô.

No Morro de Santana, ele tinha uns terrenos, vendeu, loteou, doou uma parte que tinha perto do Cemitério de Santana. Assim que acabava o cemitério, era o terreno, ninguém queria morar perto do cemitério,

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Elsa Lins [Macaense]

Magali Franciscone [Macaense, professora], Marlene [Francisconi, macaense]

Alzira [Coelho Santos, macaense, professora]

Gilda [Cordeiro, macaense, professora]

Clélia [Pinheiro Sardenberg]

Juquinha [José Passos de Souza Júnior]

Julita [Barcelos de Oliveira, macaense, autônoma, dá nome a rua no centro urbano que já foi Beco do Caneco e Barão de Cotegipe]

Loteria Federal [Modalidade de loteria prati cada no Brasil. Apesar de existi r anteriormente, seu início ofi cial data-se de 1962, quando o primeiro sorteio pela Caixa Econômica Federal foi realizado, resultando num prêmio de 15 milhões de cruzeiros]

mãe de Claudio Moacyr [Zelita Rocha de Azevedo, campista, doceira, ati vista sociopolíti ca, exerceu as funções de Primeira Dama de Macaé, no mandato de seu fi lho o Prefeito Cláudio Moacyr, viúva de Álvaro Bruno de Azevedo]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital de 1903 a 1975]

Minha � a [Eulice Pinheiro Reis, macaense]

Fabrica Lynce [Na Av. Rui Barbosa, fundada na década de 1910, por Orlando Farrula, com o nome Fabrica de Bebidas Prince, recebendo a nova denominação quando adquirida pela família Agosti nho]

Moranguinho [Refrigerante gasoso de groselha, hoje conhecido como Morangui� o]

Zeno Mussi [Macaense, sapateiro, comerciante]

Rua do Colégio [Atual Rua Télio Barreto]

Aluísio Santos [Macaense, artesão, comerciante]

Papelaria São João [Fundada em 1965, por Nilton Guimarães, atual Papelaria Lamoglia, na Rua Tenente Rui Lopes Ribeiro, Centro]

Casa Chaloub [Na Av. Rui Barbosa, conhecida como Rei dos Barateiros, fundada por Jorge Chaloub]

Casa Garcia [Na Av. Rui Barbosa, 152, telefone 30]

boate [No Ypiranga Futebol Clube, Av. Presidente Sodré]

faculdade [Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Macaé (FAFIMA), criada pelo Decreto Federal 73375, de 27/12/1973, por iniciati va do políti co macaense Claudio Moacyr de Azevedo]

minha prima [Delci Pinheiro da Costa, macaense, corretora]

Carlos Emir [Mussi, Prefeito de Macaé]

trabalhar [Na função de Assistente Administrati vo]

Ignez Patrocínio [Maria Ignez do Patrocínio, macaense, professora de piano, fundadora da Escola de Música Ignez Patrocínio, na Nova Aurora]

Doutor Lécio [Luiz Amaral do Patrocínio, macaense, médico cardiologista]

nasci aqui [Em 13-11-1936, na Rua Alfredo Backer]

Fábio Franco [Macaense, empresário, contador, patrono de avenida no bairro Visconde de Araújo]

provedor [Jossy Sueiro, macaense, provedor da Irmandade da Gloriosa Sant’Anna]

Revolução de 1964 [Golpe de Estado iniciado quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos]

Ricardo Moacyr [Leite e Santos, macaense, médico, membro de uma família tradicional]

Miguel Angelo [da Silva Santos, angrense, educador]

Luiz Reid [Colégio Estadual, na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense, de 1923]

Seu Dandão [Aldino Moreira de Miranda, macaense, delegado sindical em 1964, comunista]

comunistas [Pessoas que defendem que, para que haja justi ça, o valor da igualdade deve se sobrepor ao da liberdade na organização social, em oposição ao liberalista, que crêem que a liberdade, assegurada pelo direito à propriedade, deve ter o primado]

sobrinhas [Elizabeth, Márcia e Luciana Franco Azevedo]

Mirandinha [Gerson Maciel Miranda, macaense, políti co, prefeito de Macaé em dois mandatos, deputado estadual]

Alcides Ramos [Alcides Francisco Ramos, macaense de Quissamã, políti co, vereador, prefeito nomeado (1960-1), eleito (1973-7) e reeleito (1983-8)]

Royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados, incorporado ao orçamento macaense em 1988, devido a extração de petrolífera]

Antonio O� o [de Souza, macaense, tabelião, políti co, vice-prefeito e prefeito de Macaé em 1960]

Prefeitura [Municipal de Macaé, órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]

Carlos Emir [Mussi, campista, médico cardiologista, políti co, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]

lança-perfume [Produto spray a base de cloreto de eti la, lançado no Carnaval de 1904, no Rio de Janeiro, sendo incorporado aos festejos carnavalescos de todo o Brasil. Em 1961, um decreto do Presidente da República, Jânio Quadros, proíbe legalmente a importação e o consumo olança-perfume, fabricado pela Rhodia, na Argenti na]

Cavaleiros [Hoje um bairro nobre e balneário, loteado no fi nal da década de 1960, estabelecido onde foi a Fazenda do Cavaleiro, assim no singular, que no século XIX foi propriedade da família do Visconde de Araújo, sendo adquirida no século XX por Jorge Reid]

mureta [Muro de alvenaria que margeia a extensão da praia]

então, ele doou aquilo ali... Fábio Franco, que era muito católico, não queria aceitar um terreno dado por um evangélico, aí meu avô falou para acelerarem com o registro da escritura, porque se ele morresse os fi lhos poderiam não doar nada... Aceleraram e aumentaram o cemitério, aquela caída ali, foi ele quem deu. Quando minha avó morreu puseram ela lá em baixo e ele não aceitou... Quando meu avô morreu, já tinha a sepultura que ele fez, com seis lugares... Mal chegamos ao cemitério e o provedor apareceu para cobrar a taxa de sepultamento. Falei:- Você não tem vergonha, cobrando a taxa de sepultamento de uma pessoa que doou o terreno?!? Eu era brava, sabe? Aí pagamos, ele voltou pedindo um retrato para colocar na galeria de honra, mas não aceitei, a galeria de honra dele é aqui... Lá não!

A Revolução de 1964 foi uma coisa horrível, amanheceu prendendo todo mundo, prendeu Doutor Ricardo Moacyr; prendeu Miguel Angelo que era professor do Luiz Reid; prendeu Seu Dandão que era ferroviário... Prenderam muita gente e ninguém queria pegar a causa, porque a Revolução estava prendendo os comunistas... Foi onde entrou Claudio Moacyr, aí pronto, ele conseguiu soltar todo mundo. Claudio Moacyr é um macaense famoso, muito inteligente, o que as sobrinhas falaram, não inventaram nada, tenho certeza, porque elas têm a maior emoção por aquele tio... Gente muito boa!

Lembro muito de Mirandinha que foi prefeito... Grande Mirandinha!!!... Depois veio Seu Alcides Ramos, que por sinal, foi o prefeito que mais fez por Macaé, na época não tinha Royalties, não tinha nada disso... Ele era fi rme com o pessoal, pagamento muito em dia, dava aumento, tinha pouco estudo, faziam críticas, mas ele não estava nem aí. Chegava no gabinete, tirava os sapatos, porque estavam apertando os pés... Lembro de Antonio Otto... Eu entrei na Prefeitura no tempo de Carlos Emir, no primeiro governo dele, depois veio Alcides Ramos... Entrou Sylvio Lopes e foi fi cando, entendeu? Logo que a Petrobras chegou em Macaé, acho que uns cinco, seis anos depois, começou a mudança total, muitas mudanças... Acabaram as festas, o carnaval... Nós não temos mais carnaval de clube. Tínhamos, na Rua Direita, as escolas de samba, que eram lindíssimas, acabavam meia noite para começar os bailes nos clubes, agora acabam seis horas da manhã. Os clubes não têm como dar baile... Antes, íamos arrumados, fantasiados, tinha sempre um segurança para não deixar cheirar lança-perfume... Eu sou do tempo do lança-perfume! (Risos!)

Com a vinda da Petrobras, achavam que emprego seria fácil... Naquela fase, muitos vieram e começou a destruição... Por exemplo, a Imbetiba acabou. Uma praia que você não frequenta mais, na parte que tem para frequentar, é muita gente estranha... Aí, você não tem como frequentar... Foi quando passou todo mundo para os Cavaleiros. A Petrobras trouxe vantagem para Macaé? Trouxe, melhorou a vida de muitos jovens, que estudaram, trabalham, mas destruiu a cidade. Macaé fi cou uma cidade selvagem.

A Imbetiba era o maior sucesso, fi cávamos ali à noite, no calçadão, naquela mureta, porque nada tinha perigo em Macaé. Eu saia do Ypiranga e ía para o sítio, que hoje é o Jardim Pinheiro, a pé, sozinha... Atualmente, eu não atravesso aquela praça nem que digam que tem um homem muito bonito lá me esperando. (Risos!) Ahhhh!! E os amigos: Elsa Lins, Magali Franciscone, Marlene, Alzira, Gilda... Era um encontro feliz, muito bom, uma juventude boa. Não tinha seleção de ricos e pobres, éramos todos iguais. A primeira pessoa que colocou biquíni em Macaé, na Praia da Imbetiba, por incrível que pareça, foi minha prima, Maria Nilza Pinheiro Sardenberg, fi lha de tia Clélia, evangélica... Olha!!! Quando ela chegou e mostrou o biquíni atrevido, Juquinha falou: -Eu não estou acreditando que a fi lha de Clélia está de biquíni!!! (Risos!)

Julita vendia bilhetes de sorteio da Loteria Federal. Criou aqueles fi lhos todos vendendo bilhetes, era muito respeitada, como é a família dela... Era baixinha, com a perninha fi na...Vendia bilhetes de loteria, assim como a mãe de Claudio Moacyr vendia doces... Dona Zelita fazia doce de batata, de abóbora cristalizada, aquilo ia para Niterói... Minha tia levava muito, quando morava lá.

A vida econômica de Macaé tinha pouca coisa, por exemplo, a Monviso; a Fabrica Lynce, que fabrica Moranguinho até hoje; a fábrica de tamancos de Seu Zeno Mussi, na Rua do Colégio; fábrica de vassoura de Seu Aluísio Santos; a Papelaria São João, na Rua Direita, que vendia tudo, brinquedo, caderno, hoje passou para a Rua Tenente Rui Lopes Ribeiro. A Casa Chaloub era a melhor loja, juntamente com a Casa Garcia, quando a gente passava voltando da boate, no domingo, já estavam os tecidos expostos nas vitrines... porque, na época, eram costureiras mesmo... Eu tinha sorte, minha mãe costurava...

Depois, Macaé foi crescendo, mais fábricas, empresas, fi rmas, veio faculdade... Graças a Deus! Coisas bem importantes, aí virou Macaé: Capital Nacional do Petróleo... Mas é um abandono. (Risos!) A minha vida profi ssional até melhorou! Antes eu tive problemas com o local onde trabalhava, porque onde eu morava, no sítio, meu avô tinha dois cômodos, no quintal, que eram o escritório dele, onde fazia a escrita da pedreira, e me deu. Nesses dois cômodos, eu tinha meus fogões, geladeiras, depois fui embora. Eu fui ao casamento da minha prima, fi lha de tia Delva, no Centro Espírita, foi a primeira vez que entrei no Xangô Menino, quando voltei, já estava a mudança, mas não durou muito, foi mais para destruir mesmo... Daí, entrei na Prefeitura, não podia deixar de trabalhar, dei sorte, fui na maior cara de pau, naquela época, não tinha segurança na Prefeitura, não tinha guarda na porta, entrei, falei com Carlos Emir, e na mesma hora ele me botou para trabalhar.

A família é onde você tem que se apegar, costumo dizer que vizinho é um parente mais próximo, mas é a família que segura na hora do rojão. Com a família de Ignez Patrocínio, temos uma amizade antiquíssima... Vi Doutor Lécio nascer... Ignez é presidente da Nova Aurora, toca lá, dá aulas de Música... É do meu tempo, uma amizade muito séria. Hoje, a gente não tem tempo de estar na casa de ninguém, cada um tem a sua vida, mas quando se encontra faz aquela festa.

Macaé, para mim, tem muita signifi cância, nasci aqui, minha família toda é daqui, me dei muito bem, tenho bons relacionamentos... Não aconselho a ninguém tomar conta de sobrinhos, cuidar de crianças, mas acho que se viesse tudo de novo eu fazia, porque eu gosto muito de criança... Gosto muito de ajudar, tenho gênio bravo, não sou esta coisinha boa, se tiver que falar, falo... Tenho minha maneira de ajudar nas horas perigosas, que o negócio está bravo... Financeiramente, não posso ajudar, mas sou presente na hora de uma doença, de um socorro. Macaé tem muito por melhorar, mas sinceramente não faço muitos planos. Eu estava meio apreensiva, mas estou muito à vontade, espero que minha fala sirva para alguma coisa... Sou muito conhecida em Macaé, muito respeitada... Namorei muito, mas não casei, porque tinha um gênio danado, quando não dava certo saía fora... Mas sou daquelas pessoas que fi cam na sua, chego devagar, estou sempre pronta para o que precisar... Agora, vou servir um suquinho para vocês. (Risos!) ▪

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1 Selma Pinheiro Ferraz em inauguração da placa comemora� va com o seu nome no Tênis Clube. Macaé - RJ. s/d.

2 Diretoria do Tênis Clube, Selma ao meio. s/d.Acervo parti cular de Selma Pinheiro Ferraz, Macaé - RJ.

3 Sr Álvaro Francisco Pinheiro, D. Leopoldina Neves Pinheiro com a neta Selma Pinheiro Ferraz. Macaé, 1963.

4 Selma Pinheiro Ferraz, no Tênis Clube de Macaé. Foto: Wanderley Fotografi as

5 Sí� o do Sr. Álvaro Francisco Pinheiro, onde hoje é o bairro Jardim Pinheiro. Acervo Parti cular de Ivana Matos Pinheiro Tavares, Macaé - RJ.

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Praia dos Cavaleiros. 2004. Foto: Livio Campos

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OSPB [Organização Social e Políti ca Brasileira, disciplina que, de acordo com o Decreto Lei 869/68, tornou-se obrigatória no currículo escolar brasileiro a parti r de 1969, juntamente com a disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC). Ambas foram adotadas em substi tuição às matérias de Filosofi a e Sociologia e fi caram caracterizadas pela transmissão da ideologia do regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de informações factuais em detrimento da refl exão e da análise]

Rede Ferroviária [Federal Sociedade Anônima – RFFSA, criada em 30/09/1957, sucedendo a The Leopoldina Railway Company Limited, criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950, alterando o nome para Estrada de Ferro Leopoldina; localizada no bairro da Imbeti ba]

Banco do Brasil [Que funcionava na Avenida. Rui Barbosa, onde hoje está o Banco Itaú, frente à Praça Washington Luiz]

Parti do Comunista Brasileiro [PCB. Parti do políti co de esquerda, fundado em 25/03/1922, ideologicamente baseado em Karl Marx e Friedrich Engels; com organização baseada nas teorias de Lênin. Também conhecido como Parti dão, é o mais anti go do país ainda em ati vidade]

socialista [Seguidor do Socialismo, uma doutrina política e econômica surgida no fi nal do século XVIII que se caracteriza pela ideia de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada de riquezas e propriedades, diminuindo a distância entre ricos e pobres]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

Duque de Caxias [Município fundado em 1943, integrante da Região Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, situado na região da Baixada Fluminense]

Imbeti ba [Bairro e praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]

João Goulart [João Belchior Marques Goulart, o Jango, gaúcho, fazendeiro, advogado, políti co, 24.0 Presidente do Brasil (1961-4)]

Janio Quadros [Jânio da Silva Quadros, paulista, advogado, professor, lingüista, políti co, 22.0 Presidente do Brasil]

renunciou [Em 25/08/1961]

Ginásio do Ypiranga [Futebol Clube na Avenida Rui Barbosa, Centro]

Conceição de Macabu [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macahé, depois 5.0 distrito, emancipado em 15/03/1952]

Cajueiros [Bairro misto, na região central da cidade, tendo seu topônimo pela abundância da árvore fru� fera, originalmente compreendendo uma vasta região, que no início de século XX encontrava-se, em grande parte, invadida em processo de favelização, pertencendo à Casa de Caridade de Macaé, que abriu as primeiras ruas em loteamento denominado Santa Izabel, porém prevaleceu o anti go nome que com o tempo foi ofi cializado]

meu irmão [Odílio de Oliveira, macaense, ferroviário]

CIEPs [Os Centros Integrados de Educação Pública, popularmente apelidados de Brizolões, foram um projeto educacional de autoria do antropólogo Darcy Ribeiro. Implantado no Estado do Rio de Janeiro, ao longo dos dois governos de Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994), ti nha como objeti vo oferecer ensino público de qualidade, em período integral, aos alunos da rede estadual]

Edêmia Graça de Oliveira [Macaense, costureira]

quatro fi lhos [Júlia, Cleuza, Vinícius e Renata]

oito netos [Lídia, Caroline, Marcus Vinícios, Juliana, André, Le� cia, Vinícius e Ana Júlia]

uma bisneta [Maria Eduarda]

Forte Marechal Hermes [1.0/10.0 GACosM, inaugurado em 15/04/1910, com a presença do marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República]

Lyceu dos Operários de Imbeti ba [Inaugurado em 08/09/1911 pelo Doutor Cherubine Steger, representante da The Leopoldina Railway]

SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Escola Ferroviária 8.1 – SENAI-Leopoldina, na Imbeti ba, adaptação do anti go Lyceu dos Operários de Imbeti ba, criado em 1911]

Colégio Cenecista Professor Antônio Caetano Dias [Na Rua Francisco Portela, hoje Escola Municipal Professora Maria Isabel Damasceno Simão]

Luiz Reid [Colégio Estadual na Rua Teixeira de Gouveia, 942, criado pelo decreto estadual n0. 4985 de 19/12/1961, adaptação do anti go Gymnásio Macahense]

de hoje [Integra o Sistema Firjam - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, Estrada da Virgem Santa, Botafogo]

Antonio Alvarez Parada [Tonito, macaense, professor de Química, historiador, escritor]

Golpe Militar [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de

vinte anos]

“Eu me orgulho muito de ser macaense...”Venício de Oliveira

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 19/10/2012.

Sou macaense, nascido em 1932, fi lho de camponeses... Meus pais, Júlia e Irineu Francisco de Oliveira, viviam em Conceição de Macabu, que era Macaé naquela época, portanto somos todos macaenses. Então, vim de uma família paupérrima, de casa de sapê e chão, ali no bairro Cajueiros. Éramos mesmo bastante pobres e contávamos apenas com o sacrifício natural da minha mãe, com aquela honestidade dela, trabalhando muito para dar escola a gente. Conseguiu colocar meu irmão na ferrovia e lá, ele me indicou para a escola primária e para o SENAI... Agradeço muito a meu irmão por ter me encaminhado, porque ali formei uma família e fui aprendendo muito nessas maravilhosas escolas. A gente luta para que haja escolas iguais aquelas, tipo os CIEPs. Então, a oportunidade que tive, passei para os meus fi lhos. Tenho esposa, Edêmia Graça de Oliveira, quatro fi lhos adultos, alguns formados; oito netos; e uma bisneta... Foi um progresso, feito através de luta e honestidade, porque a pessoa tendo caráter, sendo honesta, ela só tem a ganhar. Esse lema a gente transmitiu para nossa família.

Minha primeira escola foi no Forte Marechal Hermes; depois estudei no Lyceu dos Operários de Imbetiba, no SENAI, no Colégio Cenecista Professor Antônio Caetano Dias e, fi nalmente, no Luiz Reid. O Lyceu era uma escola ferroviária, a gente estudava Português, Matemática, Geografi a... No SENAI, além disso, aprendemos Arte, e tivemos uma formação profi ssional. Eu sou metalúrgico. Na década 1940, o curso durava três anos, mas fi camos quatro, porque foi a primeira turma a usar a ofi cina geral, aí demorou... Aquilo foi muito bacana, porque aprendemos mais ainda. No SENAI, de hoje, um curso dura, seis, nove meses no ano, não dá para formar ninguém. Nós tivemos uma formação completa.

Tenho muitas lembranças do SENAWWI, uma paixão muito grande, que até me emociona... Foi uma coisa que revolucionou a cidade... Fui criado na maior pobreza, então, quando eu tive a oportunidade de entrar na escola primária do Forte Marechal Hermes, esse fato me deixou acreditando no futuro. Quando o SENAI se instalou em Macaé, confi rmou-se “aquele crédito” e a gente sonhou com a construção dessas coisas fabulosas, do conhecimento, da cultura elevada... O Exército Brasileiro e o SENAI me formaram, me deram condições de enfrentar a realidade e lutar por aqueles que também não tinham condições, que não tiveram a mesma oportunidade. Eu me orgulho muito de ser macaense e de participar dessa história... Agradeço por lembrarem do meu nome e, mais uma vez, estou aqui para atendê-los. Durante minha formação, muitos professores e alunos foram importantes para mim... Fiz muitas amizades! Um professor famoso que tivemos, foi o historiador de Macaé, Antonio Alvarez Parada, além de outros tantos artífi ces que estiveram ali para nos ensinar e refl etir conosco. O Brasil, até hoje, está sofrendo com a falta de qualifi cação de mão-de-obra especializada... Toda vez que o governo ou uma indústria precisa de mão de obra especializada, está em falta... Não existe porque terminaram com aquele SENAI de antigamente. Foi o Golpe Militar, que bateu no Brasil e acabou com a maior riqueza que nós tínhamos, que era a nossa grande escola de formação profi ssional. Nós saíamos do SENAI, prontos para enfrentar as indústrias, colocar em prática o que tínhamos aprendido na teoria, tudo era no cálculo. Foi uma escola maravilhosa e espero que algum dia, antes de morrer, eu ainda veja a reconstrução do SENAI. Hoje, se nós formos inaugurar uma ferrovia aqui, vamos ter que trazer mão-de-obra especializada de fora, porque não temos, em Macaé, na área ferroviária. O SENAI é uma parte muito importante da nossa história. Ali, nos formamos

politicamente, está entendendo? Uma coisa primordial nessa nação é a politização, que hoje, está quase em grau zero... O analfabetismo político tomou conta da nossa cidade e o nosso país precisa fazer alguma coisa para politizar a juventude. Lembro muito bem que quando eu estudava, tínhamos OSPB... A gente já tinha uma vivência política dentro da ferrovia, porque os ferroviários foram sempre considerados os mais politizados. Naquela época, Macaé era uma cidade mais turística. O povo vinha para conhecer os ferroviários... Tínhamos a Rede Ferroviária, o Banco do Brasil, a pesca, e vivíamos dessas três organizações. Era uma cidade calma, pacata, a gente era feliz e não sabia... Não sou contra os que chegaram para o desenvolvimento, ao contrário, mas acho que eles têm que saber o quanto sofremos para que eles tivessem a bonança que estão tendo.

O Partido Comunista Brasileiro era clandestino. Por falta de representatividade, por muito tempo, eu não tive partido. Mas a conscientização me levou ao engajamento, então, eu participei dessa luta por representação de classe e houve um desenvolvimento político muito grande dos ferroviários. Nos reuníamos na casa dos companheiros, nos comitês, para discutir a política do país. Eu e muitos baluartes, que honramos os ideais democráticos históricos defendidos pelos ferroviários, quando vemos essa política que aí está, fi camos muito tristes... Às vezes, participo com a esperança de dizer não a essa gente, não à corrupção, defender essa juventude, mas é uma política populista... E o populismo é um perigo para a Nação... Não é só a Direita que é perigosa... O populismo despolitiza, engana! Me defi no como um cara socialista... Luto por um regime socialista, porque acho o melhor para nosso país... Pode demorar, mas nossa consciência jamais vai faltar.

Muitos ferroviários receberam de braços abertos a Petrobras porque a defesa dos valores nacionais já era uma bandeira da nossa luta política. Com menos de vinte anos, participei do movimento “O Petróleo é nosso!”. Na época, fui escolhido, em Macaé, para ser o representante da cidade em Duque de Caxias na defesa do monopólio estatal do petróleo. Temos uma Petrobras que nos orgulha muito e não fi camos com ciúmes quando a empresa chegou a Macaé... Tomou o nosso lugar na Imbetiba, mas nossa política era tão elevada que continuamos a defender a Petrobras, com amor... Ganhamos uma empresa estatal e jamais vamos lutar contra ela, vamos defendê-la com unhas e dentes. Sabemos que uma Petrobras, chegando o impacto ambiental, seria inevitável, mas nem sabíamos o tamanho do impacto, o tamanho da empresa... O que o futuro nos reservaria. Por isso, eu não culpo a empresa por todas as mudanças ocorridas em Macaé, mas lamento profundamente a falta de diálogo... Na verdade, a incapacidade de entendimento dos políticos locais, que era preciso ter trabalhado junto, planejado junto a cidade, que ia começar a ser reconstruída em sua nova fase.

O Governo João Goulart foi eleito pelo povo! Vejo as pessoas fazendo críticas aos ditadores e ninguém fala nada dos que impuseram uma ditadura e derrubaram um governo eleito. João Goulart era o nosso vice, e o presidente Janio Quadros renunciou... Ele tinha que assumir, mas o Exército Brasileiro não deixou. Então, foi um tempo triste para o país, que eu nem gosto muito de lembrar. Fui preso com muitos colegas no Ginásio do Ypiranga... Levei quinze dias preso, mas outros companheiros sofreram mais, perderam até a vida. Não fui torturado, mas fui ameaçado... Eles davam um golpe, blefavam, dizendo que alguém do nosso grupo tinha dedurado a gente, assim como

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operários, que só pensávamos no bem estar da sociedade, num regime social que desse condições de vida melhor, que honrasse o trabalhador, para que o Brasil pudesse crescer. Em 1964, eu tive que me deslocar de Macaé com alguns companheiros e fomos para as matas, fazer tarefas, estudos, e depois houve uma ordem de retorno. Estávamos imbuídos daquela ideia de lutar contra o sistema militar. Nessas tarefas, nós tínhamos, por exemplo, que saber o que estava acontecendo com nosso sindicato, com o nosso governo espoliado...

Sou uma pessoa que se julga representante nato do povo, tanto pelas minhas origens, quanto pela politização que o pertencimento à classe dos ferroviários me deu. Desde aquela época, nossas lutas eram em prol de um país melhor, de uma Macaé mais democrática, da possibilidade da quebra de padrões exploratórios e construção de algo novo, do qual nos orgulhássemos. Agora mesmo estamos nessa luta do trem e mais uma vez adiaram. Por quê? Por causa de corrupção no Governo Federal. O Seu Alfredo Nascimento se corrompeu e a presidente Dilma trancou a verba. Existe em Macaé um transporte caótico que não oferece bem estar à sociedade... O povo está sofrendo dentro desses ônibus e a Macaense é um monopólio em Macaé. Temos que colocar mais meios de transporte para o trabalhador, não só ferroviário como marítimo, evitando que ele passe esse sofrimento dentro dos ônibus. É uma tristeza! Tem que abrir a ferrovia e o VLT está ai para ser inaugurado.

O tempo passa, a gente vai perdendo as forças. Muita gente politizada faleceu, grandes ídolos se foram... Tínhamos um número muito grande de seguidores da política feita pelos ferroviários e a maioria dos nossos vereadores foram os mais votados... Eu fui o mais votado na história dos ferroviários. Por quê? Porque a classe entendia a nossa luta. Entre 1972 e 1982, fui eleito duas vezes vereador e tive uma prorrogação de mandato. A gente representava a classe com difi culdade, jamais aceitamos dinheiro de ninguém, não existia quem nos comprasse. Tanto que quando eu fui candidato a vereador, não tínhamos um real, um centavo de subsídio, porque a gente ia pelo ideal da classe operária, defender o direito do trabalhador.

Macaé fi cou conhecida como Moscouzinha pelas lutas do proletariado, do ferroviário, do marítimo, do portuário... Muitas classes lutavam pelos seus direitos e vocês sabem que os militares não gostavam dessa gente que luta pelos seus direitos... Acham que temos que concordar com aquele salário pequeno, com a falta de liberdade. A gente teve uma grande repressão militar, mas repressão não é só bater, atirar... Repressão é o boicote à sua família, o boicote político, o desejo de desmoralização. Tivemos grandes líderes que foram assassinados. Aqui em Macaé, também houve perseguição com muitos companheiros nossos levados para o Rio de Janeiro, presos, sem chances. Nossos advogados iam nos defender. Dentro da polícia, às vezes, com sorte, encontrávamos aquelas pessoas mais humanas que relaxavam um pouco a prisão... Era o amigo de um parente, amigo do pai... Não podemos discriminar a polícia, mas a chefi a número um, que era o governo, exigia que eles fi zessem isso e aquilo... Depois, desapareceram muitos torturadores e traidores, como um cabo Anselmo da vida... Muitos torturadores continuaram livres após a Ditadura. Nós tivemos delatores, mas prefi ro não citar nomes porque tenho nojo, pavor deles... Tivemos dezenas de delatores em Macaé, que estão morrendo no esquecimento do povo... Nem na hora da morte estão sendo lembrados. Foram muito infelizes e tenho até pena dessas pessoas que tiveram a coragem de apontar, dedurando isso e aquilo... Alguns, inclusive, com interesses no poder, em alcançar cargos de chefi as... Foi uma época muito triste para mim!

Dentre os nomes de destaque dessa época de ditadura, me lembro demais do Claudio Moacyr. Cláudio foi criado comigo, somos companheiros de

Macaé. Quando ele se formou, nós o parabenizamos muito, tanto pela difi culdade, quanto pela grande conquista que signifi cava aquela formação em Direito. Como jovem advogado, Cláudio defendeu muitos presos políticos aqui em Macaé. Depois disso, ele foi prefeito, deputado estadual, presidente da ALERJ... Só que nós éramos amigos por fora, porque politicamente sempre tivemos embates. Eu sempre me coloquei como socialista, não aceitava de maneira nenhuma as jogadas políticas, que de certa forma, tornaram-se até comuns. Com todo respeito, ele foi um grande deputado, um grande orador, mas era daquela classe populista, que eu defi no como perigosa... Era uma pessoa populista, não era um cara de Esquerda, muito menos um socialista... Por outro lado, também não era da Direita torturadora, era um homem muito humano, mas, politicamente, deixou um pouco a desejar, digo isso honestamente.

O povo é inteligente, sabe quem está sendo prejudicado, quem tem razão... Os advogados partiram para defesa dos presos da ditadura... O próprio Claudio Moacyr, como eu já disse, defendeu uma parte dos ferroviários, mas não toda. Na época, fui defendido pelo Doutor Alvinho, advogado do MDB, que defendeu vários presos políticos... Desenvolvemos uma grande amizade! O povo ia nos visitar, levava bolo, comida, tudo. Foi uma coisa maravilhosa essa solidariedade popular! A maior parte dos nossos companheiros fi cou presa na quadra do Ypiranga, outros foram para o Rio de Janeiro, levados para o DOPS. E houve casos de sumiço em Macaé. Eu mesmo enfrentei uma barra como vereador com meu companheiro Dandão, líder sindical. Fui acordado às quatro horas da manhã por seu fi lho mais novo, que me procurou, dizendo que o pai tinha sido seqüestrado. Saí de madrugada com ele, com o retrato do pai... Depois fui para Câmara Municipal de Macaé e comecei a denunciar... Comuniquei ao Congresso Nacional por meio do senador Nelson Carneiro e a ALERJ, através dos deputados estaduais: Alves de Brito, Modesto da Silveira, Walter Silva... Todos começaram a denunciar o sumiço do companheiro Dandão e não demorou muito o DOPS soltou ele lá em Niterói. Aquilo foi uma vitória nossa! Não fi camos de braços cruzados. Sinto falta disso, hoje, na Câmara Municipal de Macaé, que não tem um líder operário com convicção, sendo muito fraquinha em termos de ideais. Mas esse desenraizamento faz parte do andamento da história, não é?! De lá para cá, as coisas mudaram muito...

Na época em que a Petrobras veio para Macaé com as primeiras famílias de funcionários, houve uma transformação. A gente vivia, pacatamente, com um poder aquisitivo pequeno, tínhamos 50 mil habitantes no máximo, hoje temos 200 mil habitantes. Então houve uma transformação rápida, e nessa mudança aconteceu muita destruição de nossa cultura... Nosso Município era preservado, a gente zelava muito por nossa serra, nossos mananciais d’água e isso tudo foi sendo invadido. Agora, a pior perda é a política, a pior de todas, porque quando se tem uma formação política, sabe-se lutar por ideais nobres, e hoje em dia, cada vez menos, as pessoas têm formação, e a capacidade de mobilização em torno de ideais coletivos é cada vez menor.

Em termos políticos, ajudei a formar o MDB, que depois virou PMDB, e fui presidente em Macaé... Formaram-se no Brasil dois partidos, o MDB e Arena, e lógico que fi quei no Movimento Democrático Brasileiro com o senador Nelson Carneiro, com o saudoso prefeito Carlos Emir Mussi, com o Claudio Moacyr de Azevedo... Eu e Carlos Emir fundamos o MDB de Macaé, a fi cha número um é a dele e a número dois é a minha. Só tinha dois partidos e não dava para acatar aquela porção de ideais e tivemos que criar o PCB, depois veio o PCdoB... Nunca participei de partidos de Direita e acho um grande erro compor com esses partidos... Partido de Direita tem que fi car na Direita e partido de Esquerda tem que se unir para mostrar ao povo o melhor da participação política e da democracia... Acho um grande erro essa mistura que está aí. Esse é o populismo que eu sempre falo. Como ser

luta do trem [Movimento pela reati vação do transporte urbano sobre trilhos em Macaé, que recebeu o apoio dos ferroviários aposentados]

Alfredo Nascimento [Amazonense, empresário, políti co, senador, ministro dos Transportes, acusado e depois inocentado de desvio de dinheiro público do Ministério]

presidente Dilma [Vana Rousseff , mineira, economista, políti ca, 36.a Presidente do Brasil]

Macaense [Empresa de transporte urbano e interurbano]

VLT [Projeto da Prefeitura de Macaé, que visa à construção de um sistema de Veículos leves sobre trilhos, com comprimento de 23 quilômetros, passando por dez estações ao ligar os bairros de Imboassica e Lagomar numa velocidade média de 27 quilômetros por hora, com intervalos de 30 minutos]

Anselmo [José Anselmo dos Santos, sergipano, ex-militar, líder durante o protesto de marinheiros, evento que desencadeou a crise do término do governo de João Goulart, em 1964, através de um golpe de estado, e o início da ditadura militar brasileira. Agente infi ltrado das forças de repressão do Governo, ajudou os militares a capturar guerrilheiros e opositores da esquerda armada, pelo governo militar da época]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, advogado, políti co, depois prefeito de Macaé (1967-70) e deputado estadual]

se formou [Bacharel em Direito em 1962]

ALERJ [Assembléia Legislati va do Estado do Rio de Janeiro]

Doutor Alvinho [Álvaro Paixão, macaense, advogado, políti co]

MDB [Movimento Democráti co Brasileiro, parti do políti co brasileiro organizado em 1965 que abrigou os opositores do Regime Militar ante o poderio governista da Aliança Renovadora Nacional]

Ypiranga [Futebol Clube na Avenida Rui Barbosa]

DOPS [Departamento de Ordem Políti ca e Social, criado em 1924, foi o órgão do governo brasileiro, uti lizado principalmente durante o Estado Novo e mais tarde no Regime Militar de 1964, cujo objeti vo era controlar e reprimir movimentos políti cos e sociais contrários ao regime no poder]

Dandão [Aldino Moreira de Miranda, macaense, ferroviário, delegado sindical em 1964, comunista]

fi lho mais novo [Aldir Miranda, macaense]

Câmara Municipal de Macaé [Insti tuição pública municipal, representante do Poder Legislati vo, insti tuída em 22/01/1814, pelo Desembargador Ouvidor Geral da Corte do Rio de Janeiro, Manoel Pedro Gomes]

Nelson Carneiro [Nelson de Souza Carneiro, baiano, jornalista e políti co com larga atuação parlamentar, tornou-se conhecido pela defesa da causa do divórcio, aprovada no ano de 1977]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital de 1903 a 1975]

PMDB [Parti do do Movimento Democráti co Brasileiro, fundado em 1980, maior parti do políti co brasileiro, possui uma orientação políti ca centrista, sendo sucessor do MDB, legenda de oposição ao Regime Militar de 1964]

Arena [Aliança Renovadora Nacional foi parti do políti co criado em 1965 com a fi nalidade de dar sustentação políti ca ao governo militar, sendo dissolvido em 1979]

Carlos Emir Mussi [Campista, médico cardiologista, governou Macaé em dois mandatos: 1977-82/1993-96]

PCB [Parti do Comunista do Brasileiro]

PCdoB [Parti do Comunista do Brasil, parti do políti co de esquerda, fundado em 18/02/1962, mas registrado em 23/06/1988, baseado ideologicamente nos princípios do marxismo-leninismo com expressão nacional e forte penetração nos meios sindicais e estudanti s. Originalmente foi criado como uma dissidência alinhada ao stalinismo dentro do Parti do Comunista Brasileiro (PCB), que aquela época apoiava as reformas defendidas por Nikita Khrushchov durante o XX Congresso do Parti do Comunista da União Soviéti ca , que mais tarde fi caram conhecidas como Desestalinização]

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Sylvio Lopes [Teixeira, carioca, empresário, governou Macaé em três mandatos 1989-92, 1997-2000, 2001-04, também foi deputado-federal]

SINDSERV [Sindicato dos Servidores Municipais de Macaé]

Ronaldo Tanus Madeira [Macaense, advogado, escritor]

Royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados. A Campanha dos Royalti es do Petróleo, contou com a Comissão Intermunicipal de Conquista dos Royalti es, criada em 16/03/1983, culminando na Lei 7453/1985, que permiti u que 37 municípios fl uminenses recebessem um percentual sobre o petróleo extraído pela Petrobras na Bacia de Campos]

Ulysses Guimarães [Ulysses Silveira Guimarães, paulista, políti co, advogado, teve grande papel na oposição à ditadura militar e na luta pela redemocrati zação do Brasil]

José Sarney [José Sarney de Araújo Costa, nascido José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, maranhense, advogado, políti co e escritor. Foi o 31º presidente do Brasil (1985-1990) e o 20° vice-presidente do Brasil (1985)]

Diretas Já [Movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-84. A possibilidade de eleições diretas se concreti zaria com a votação da proposta de Emenda Consti tucional Dante de Oliveira pelo Congresso. Entretanto, a Proposta foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento conquistaram uma vitória parcial, em janeiro de 1985, quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral]

Brasília [Capital federal do Brasil e sede do governo do Distrito Federal, fundada em 21/04/1960]

Juscelino [Kubitschek de Oliveira, mineiro, médico, políti co, 21.0 Presidente do Brasil]

Claudio Itagiba [Cláudio Ulpiano Santos Nogueira Itagiba, macaense, membro de uma família tradicional, fi lósofo, professor, nos anos 1960 foi um fundador do Centro de Estudos Literários e Filosófi cos Farias Brito, patrono do auditório da Cidade Universitária de Macaé]

Barra de São João [Segundo distrito de Casimiro de Abreu, na região litorânea do município],

Normal [Também conhecido como Magistério de 1.0 grau ou Pedagógico, um ti po de habilitação para as séries iniciais do ensino fundamental]

João Francisco [de Paula, macaense de Quissamã, políti co, vereador, parti cipante da elaboração e aprovação da Lei Orgânica do Município de Macaé]

ti mes de várzea [Denominação brasileira, � pica do estado de São Paulo, convencionada ao futebol prati cado de forma amadora e organizada]

humano não sou melhor que eles, mas pelas convicções políticas, eu penso que sou. Lembro-me muito bem que o ex-prefeito Sylvio Lopes me falou: - Seu Venício, não existe esse negócio de Esquerda e Direita. Eu respondi para ele: - Quer dizer que sou igual ao senhor? (Risos!) Eu não posso, sou um cara de Esquerda, socialista, tenho outra convicção e ele defende o capitalismo, esse estado de coisas que está aí. Como pessoa, a gente se dá bem, acho ele educado, mas politicamente, nunca tivemos entendimento. Prevaleceu o respeito cidadão, que também é algo fundamental em política.

Quando vereador, fui um dos mais atuantes, com centenas de pronunciamentos em defesa dos trabalhadores e da democracia, não só na Câmara Municipal de Macaé, mas também como dirigente sindical. Fui secretário na Câmara e secretário no SINDSERV. Modéstia à parte, acho que no sindicato fui um exemplo de dignidade à classe dos servidores. Com propostas aprovadas na Câmara, como, por exemplo, o “regime jurídico único”, junto com o vereador Ronaldo Tanus Madeira. Na época, não tínhamos subsídios, nos deslocávamos por nossa própria conta. Junto com o prefeito Doutor Carlos Emir, apoiamos a luta pelos Royalties em favor dos municípios produtores de petróleo no país. Participei junto, com o então prefeito, colhendo assinaturas de parlamentares no Congresso Nacional. Entre importantes adesões, conseguimos o apoio de Ulysses Guimarães... Pessoalmente, consegui a assinatura do senador José Sarney, do senador Nelson Carneiro, dentre outros. Na Câmara Municipal, criei a proposta da “Cantina 1º de Maio”, com distribuição de lanches a todos trabalhadores pela manhã. Minhas atuações sempre estiveram voltadas para a realidade do trabalhador e o fortalecimento da democracia. Participei de muitos movimentos populares, como o movimento pelas Diretas Já, tanto no Rio de Janeiro, quanto em Brasília, entre outros movimentos.

Das minhas grandes tristezas, está o fi m da ferrovia, a não existência daquela Macaé ferroviária, politizada, e que andava tanto de bicicleta. Sou ferroviário e acho que, propositalmente, extirparam a ferrovia. Num grande jogo sujo feito pelo governo militar. Como entender essa ação se a ferrovia é um meio de lucro da Nação?!... Qual o transporte mais econômico que existe? Este transporte em carretas pelas estradas, que aí está, mata milhares de brasileiros por ano. E as fortunas que se gasta nessas estradas que nunca estão boas, sempre cheias de buracos? Isso é o que? Por isso não me conformo! Os ferroviários e os marítimos, os portuários, eram trabalhadores que tinham mais consciência política, nunca fomos apegados a presidente nenhum... Nossa bandeira sempre foi a defesa da política do trabalhador, uma política mais sadia. Por isso, a gente quis bater de frente com Juscelino. Nossa política é de crescimento, de razão do trabalhador, em defesa da dignidade, da escolha, da mulher discriminada... Somos contra esse estado de coisas que está aí. Não fomos favoráveis a Juscelino, porque qualquer um que entra lá é o populismo que está entrando... Acho que a gente tem que defender é a razão, independente da pessoa que entra no poder. Eu penso assim.

Muitos professores politizados de Macaé se destacavam, como Claudio Itagiba, e diziam que eu tinha que aprender História. A opção mais fácil que surgiu naquele momento foi ser professor. Ai eu pensava: - Vou ter uma chance também de, na escola, fazer a cabeça dos alunos. (Risos!) Não só ensinar Português, Matemática, Geografi a, Ciências, como Política também... Era aquele prazer de estar com a juventude, conversando de igual para igual, mostrando o verdadeiro valor das coisas, inclusive aquela parte de caráter, de honestidade... Ainda tenho uma amizade muito grande com a juventude e gostava de ser professor... Aliás, não me considero um professor, me considero um metalúrgico, um operário, com uma pequena experiência de ensinar. Tenho honra como metalúrgico e todo mundo me conhece como ferroviário. Lecionei em algumas escolas na Prefeitura Municipal de Macaé e também em Barra de São João, mas por pouco

tempo. Dei aula de Matemática no primeiro grau, embora tivesse louvor em História. Fiz formação no curso Normal e não sofri nenhuma discriminação séria... Quando surgia uma piadinha eu levava na brincadeira... Por trás da oportunidade do curso, estavam muitos sonhos, muitas expectativas e esperanças a partir do aprendizado. Até na Câmara Municipal de Macaé a gente era discriminado, porque se eu não me engano, só tinha dois negros, eu e o João Francisco... Então, a gente era chamado de neguinho... Mas nunca levei a mal isso, queria colocar a minha questão política. Tenho certeza de que como vereador, fui uma pessoa muito honesta, não recebia subsídio nenhum, não recebia salário, e estávamos em todas as tarefas, representando Macaé nos congressos por todo país, lutando em defesa da classe operária.

Eu gosto muito de futebol. Comecei nas peladas, em dois times de várzea, o Estrela Azul, no bairro Cajueiros, e o Santa Helena, no Estádio. Depois, iniciei no Fluminense Futebol Clube, sendo campeão em 1951. Ainda cheguei a jogar no Imbetiba Futebol Clube, participando em algumas excursões do time. Em 1953 e 1958, fui campeão pelo Americano Futebol Clube de Macaé. Joguei também no Ypiranga Futebol Clube e no Flamengo Futebol Clube, onde fomos campeões no torneio da morte com um 3x2 sobre o Atlético Futebol Clube... Eu fi z o gol da vitória aos 44 minutos do segundo tempo. São passagens inesquecíveis! Os times locais costumavam adotar a mesma nomenclatura de times da capital. Cheguei a ser convidado para treinar no Americano Futebol Clube de Campos, no Botafogo e no Vasco da Gama do Rio de Janeiro, mas eu era empregado, sabia das minhas limitações para esse deslocamento. Acabei fi cando por aqui, e sou Flamengo de coração. (Risos!) Fiz também parte do time da ferrovia e saíamos para jogar fora... Lembro que fomos jogar em Miracema onde o Vasco da Gama tinha perdido de dois a um, e demos de quatro... Cheguei a jogar na seleção macaense. Não fui tão ruim assim! (Risos!) Conheci craques importantes aqui em Macaé, como meu compadre Geraldo Cara Suja, Geraldo de Andrade Dias, macaense, ferroviário, um dos maiores craques do Estado do Rio de Janeiro, ex-aluno do SENAI e ferroviário, meu compadre e companheiro nas lutas de classe. Sem dúvida um dos maiores jogadores dessa região. Geraldo fi cou com esse apelido de Cara Suja porque, no trabalho, costumava passar a mão suja de graxa no rosto. A gente falava: - Geraldo, sua cara está suja! (Risos!) Tempo bom aquele! Depois, Geraldo foi preso junto comigo no Estádio do Ypiranga quando aconteceu o Golpe Militar. Tinha também o Careca, Elmo Sodré, macaense, um dos melhores meias atacantes do nosso futebol; o meu amigo Roberto China, outro companheiro de fé, ferroviário, trabalhamos juntos. Tinha o apelido de China porque o pai dele, Seu Chico China, tinha os olhos a la chinês. Jogou no Americano, na Seleção Macaense e pelo Imbetiba. Também foi meu companheiro de prisão no Ypiranga. Tinha o zagueirão Nilson Borges, meu compadre, macaense, ferroviário, caldeireiro, corajoso central e lateral do Americano, da seleção bi-campeã do Fluminense, fi lho de Seu Paulino Borges, presidente do Americano. Oséias Lopes Veiga, macaense, ferroviário, foi o melhor ponta direita dessa região. Disputei com ele, mas era difícil, veloz, chutava forte, jogou algumas vezes no Americano e na Seleção Macaense, treinou no Rio de Janeiro. Os clubes cariocas vinham aqui nos buscar, mas éramos todos ferroviários, a ferrovia pagava muito bem e ninguém queria ir se aventurar... Os que foram, como Wilmar Monteiro e Elmo Sodré, voltaram logo, porque adoravam Macaé. Então, o futebol foi um presente muito grande, uma delícia.

Minhas lembranças são tantas... As minhas escolas são uma grande lembrança... Lugares onde aprendi as primeiras letras, o respeito, a educação... Essas coisas foram maravilhosas! Depois, o respeito do meu povo comigo, me tratando com carinho aonde eu vou... Um carinho fora de série! O povo macaense me quer muito bem. Eu desejo tudo de bom para Macaé, com uma classe operária justa, compreensiva, que entenda o caminho político, por que sem isso não tem como. Espero a volta da ferrovia, sua revitalização, não só o VLT... Quero um

Estádio [Getúlio Vargas, fundado em 1944, por iniciati va de Sidney Vasconcellos Aguiar, no quarteirão limitado pelas ruas Conde de Araruama, Francisco Portela, Velho Campos e Marechal Deodoro, onde só existi a o Colégio Estadual Mathias Nett o]

Fluminense Futebol Clube [Fundado, em 25/12/1917, na exti nta Praça da Luz, onde hoje está o Colégio Estadual Luiz Reid]

Imbeti ba Futebol Clube [Agremiação desporti va fundada na década de 1920, agrupando os funcionários da Leopoldina]

Americano Futebol Clube de Macaé [Agremiação desporti va fundada em 1917]

Ypiranga Futebol Clube [Fundado em 19/05/1926, por Dourival de Souza]

Atléti co Futebol Clube [Com sede na Rua Alcides Mourão, Aroeira]

Americano Futebol Clube [Agremiação esporti va fundada em 01/06/1914]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Botafogo [Botafogo de Futebol e Regatas, fundado 01/07/1894, é uma agremiação poliesportiva brasileira, com sede no bairro carioca homônimo ao clube]

Vasco da Gama [Club de Regatas Vasco da Gama, fundado em 21/08/1898, é uma enti dade sociopoliesporti va com sede na cidade do Rio de Janeiro]

Flamengo [Clube de Regatas do Flamengo, fundado em 17/11/1895, é uma agremiação poliesporti va com sede na cidade do Rio de Janeiro]

Miracema [Município da região Noroeste Fluminense]

VLT [Veículo leve sobre trilhos]

Sana [6.0 Distrito de Macaé, localizado na região serrana]

Peito de Pomba [Pico localizado a seis quilômetros do Arraial do Sana, tem alti tude aproximada de 1.400 metros; seu cume sustenta um aglomerado rochoso com 50 metros de altura, em formato de peito de pomba]

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1 Venício de Oliveira - SENAI. Macaé - RJ. anos 1950.

2 Venício de Oliveira - Flamengo de Macaé - anos 1960.

3 Congresso de Vereadores - Bahia - fi nal dos anos 1970.

4 Vereador Venício de Oliveira - Câmara Municipal de Macaé - Final dos anos 1970. Acervo Parti cular de Venício de Oliveira, Macaé - RJ

trenzinho frequentando a Serra, levando todos nós num passeio para o Sana, com suas belezas, o Peito de Pomba, onde com sacrifício, naquela época, construí uma escolinha, que exterminaram. Quero ver uma Macaé crescendo com suas belezas naturais preservadas... Uma Macaé livre, independente, com um bom governo... Se possível um governo socialista! (Risos!) Obrigado a vocês pela lembrança! ▪

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Maria do Carmo Paes [Campista, esposa do Dr. Hamilton Paes]Rua da Praia [Primeiro nome da atual Avenida Presidente Sodré, que também já foi Rua da Liberdade]região totalmente inabitada [Referindo-se aos bairros Visconde de Araújo e Miramar surgidos em terras loteadas na Fazenda do Monte Elízio]Praia de Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]Praia do Forte [Praia da Concha com extensão de 180 metros nas dependências do Forte Marechal Hermes]Theatro Santa Izabel [Na Rua Teixeira de Gouveia, inaugurado, em 07/01/1866, pela Sociedade Philo-Scenica Macahense, com exibições de cinema desde 1899]Cine-Theatro Taboada [Na Avenida Rui Barbosa, inaugurado, em 05/04/1931, pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]faroestes [Gênero cinematográfi co de peripécias movimentadas, criado nos EUA, e que relata as aventuras dos desbravadores do oeste norte-americano, no século XIX]Papa Lambida [Alcunha popular de um macaense, vendedor ambulante de papas de milho verde, que ti nha fama de lamber os quitutes antes de vendê-los]Maria Cachimbinha [Tipo popular macaense]Tiziu [Tipo popular macaense]Papa-capim [Tipo popular macaense]Pavão [Tipo popular macaense]Estação [Ferroviária, na Rua Euzébio de Queirós, Centro] Tonito [Antonio Alvarez Parada, macaense, professor de Química, historiador, escritor]Nova Aurora [Sociedade Parti cular de Música Nova Aurora, na Avenida Rui Barbosa, foi fundada em 08/06/1873, na anti ga Rua dos Pescadores, apadrinhada pela sociedade eliti sta e escravocrata] Lyra [Sociedade Musical Benefi cente Lyra dos Conspiradores, na Rua do Sacramento, fundada em 25/12/1882, por um grupo dissidente da Nova Aurora, com idéias abolicionistas e republicanas]Rua Direita [Primeira denominação da atual Avenida Rui Barbosa - que também foi Treze de Maio -, que persiste na memória afeti va de muitos macaenses]Golpe de 1964 [Golpe de Estado iniciado em 31/03/1964 quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o Presidente João Goulart - alegando que este pretendia instalar uma ditadura de esquerda -, estabelecendo um governo ditatorial que perdurou por mais de vinte anos] Estrada de Ferro Leopoldina [Estabelecida no bairro Imbeti ba, a The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]

Penápolis [Município paulista, pertencente à mesorregião de Araçatuba e à microrregião de Birigui, fundado em 25/10/1908]fazenda [Fazenda Santana]Fazenda do Cachoeiro [Atualmente Fazenda Malatesta]Hotel Palace [Na Rua Conde de Araruama, fundado pelo empresário luso-espanhol Manuel Guilherme Taboada]Câmara Municipal de Macaé [Prédio histórico construído na década de 1830, concebido pelo mestre-construtor Filomeno Borges, para residência da família do Comendador Francisco Domingues de Araújo, herdado por seu fi lho, o Visconde de Araújo, que alugou e depois vendeu à Câmara Municipal de Macaé; reformado e ampliado na década de 1920 pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira; hoje denominado Palácio Dr. Cláudio Moacyr de Azevedo – Museu do Legislati vo]Senhor Moura [Francisco Marti ns de Moura, o Chico Moura, mineiro, administrador comercial]Maria Auxiliadora Moura [Ferreira, Dodora, mineira, professora de Matemáti ca e Língua Francesa, advogada, exerceu vários cargos na administração municipal]Prefeitura Municipal de Macaé [Órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]Fazenda do Pau Ferro [Propriedade rural fundada no século XIX pelo português comendador Francisco Domingues de Araújo, sendo herdada por seu fi lho José Domingues de Araújo, o Visconde de Araújo]Augusto Veloso de Assis [Macaense, comerciário, empresário, políti co, integrou o grupo de vereadores que elaborou a vigente Lei Orgânica do Município de Macaé de 05/04/1990]Zuleima Veloso de Assis [Macaense, professora da Fazenda Pau Ferro]Glicério [4.0 Distrito, localizado na região serrana]BR-101 [Rodovia federal longitudinal do Brasil, iniciada em 1957, com extensão de 4 772,4 km. Seu ponto inicial está localizado na cidade de Touros (RN) e o fi nal na cidade de São José do Norte (RS)]Fazenda Vale Azul [Propriedade do campista Francisco Pereira Crespo]Arley [Amaral de Carvalho, casimirense, comerciante, empresário]Fernando Hippólito dos Santos [Macaense, empresário, fazendeiro, membro de uma família tradicional] Mathias Nett o [Colégio Estadual, na Rua Conde de Araruama, 438, inaugurado em 1920, no anti go prédio da Benefi cência Portuguesa, com o nome Grupo Escolar Raul Veiga, depois Visconde de Quissaman e fi nalmente Mathias Nett o]Hilda Ramos [Machado, macaense, mito do magistério, professora de Língua Francesa]Fidelina [Peixoto de Souza, cabo-friense]

“Nossa Macaé foi e sempre será bendita e abençoada...”Widelmo Natalino

Entrevistado, em Macaé (RJ), a 30/11/2012.

Eu nasci numa cidade chamada Penápolis, em 27 de dezembro de 1941. Meu pai, José Natalino, paulistano, naquela época em que nasci, já era administrador de uma fazenda lá no interior de São Paulo... Depois, o dono da fazenda, Doutor Wanderley, comprou uma propriedade aqui em Macaé, chamada Fazenda do Cachoeiro, e convidou meu pai para administrar... Só que lá, ele administrava uma de fazenda de café, como era a maioria das fazendas paulistas, e aqui era uma criação de gado. Chegamos aqui em 1947. Eu, na verdade, como tinha pouca idade, não estranhei muito, mas meus pais estranharam demais! Minha mãe, Lídia Michelan Natalino, por exemplo, estranhava o comportamento do povo, porque lá, eles lidavam mais com a colônia japonesa. Houve uma coisa muito curiosa... Nós fi camos hospedados no antigo Hotel Palace, um prédio que existe ao lado da Câmara Municipal de Macaé, que está fechado... Naquela época, o gerente era o Senhor Moura, pai da Doutora Maria Auxiliadora Moura, hoje, procuradora aposentada da Prefeitura Municipal de Macaé. Nós chegamos com a família de sete pessoas, depois de quatro dias viajando de trem Maria-Fumaça até Macaé e, logicamente, tivemos problema para acomodar as pessoas... Naquela época, Macaé já tinha um negócio interessante, faltava água! (Risos!) Uma coisa que persiste até hoje. Para mim, acabou sendo indiferente, porque fui crescendo, me habituei com a cidade, e não notei muita diferença. Depois de dois ou três dias que estávamos hospedados em Macaé, nós fomos para a fazenda e passamos a residir lá. A fazenda não tinha escola e a mais próxima, não era pública, ficava na Fazenda do Pau Ferro, naquela época, de propriedade do Coronel Bráulio de Assis, de família tradicional de Macaé, que hoje ainda existem membros, os irmãos: Seu Augusto Veloso de Assis, Péricles Veloso de Assis, Bráulio Veloso de Assis, Carlota Veloso de Assis, Zuliza Veloso de Assim... Então, fui estudar com a Zuleima Veloso de Assis, uma das fi lhas do Coronel Bráulio, que ainda vive entre nós... Pessoa querida demais! De vez em quando, a gente se encontra e ela sempre diz: - Ah! Meu querido aluno. Foi minha primeira professora, lá na roça. A fazenda fi ca na estrada que vai para Glicério, mas antes da BR-101, ao lado da Fazenda Vale Azul. Fizemos amizade com os proprietários vizinhos. Além da família do Coronel Bráulio, tinha a família Amaral, da Fazenda Boa Fé, do avô de Seu Arley. A família de Seu Fernando Hippólito dos Santos tinha outra propriedade, a Fazenda Bonfi m. Uma família mais antiga ainda e que hoje não tem mais ninguém aqui é a do Doutor Jacó Felipe Lins, da Fazenda Severina.

Meu pai tinha uma casa alugada aqui na cidade e passei a vir em Macaé no período de 1950, quando comecei estudar no Mathias Netto... A diretora era Dona Hilda Ramos, fui estudar com uma professora chamada Fidelina, posteriormente, estudei com Dona Maria do Carmo Paes, também de família tradicional de Macaé. Em Macaé, existiam poucas casas entre a estrada de ferro até a região da Rua da Praia. Da estrada de ferro para lá, não existia nada, era uma região totalmente inabitada. Algumas residências existem até hoje, mas a maioria foi demolida para construir essa Macaé que nós vemos. Então Macaé era uma pequena cidade do interior, todos se conheciam, era uma família.

O lazer naquela época era ir à Praia de Imbetiba ou à Praia do Forte. Tínhamos dois cinemas, o Th eatro Santa Izabel e o Cine-Th eatro

Taboada... Íamos ao cinema, às terças-feiras e aos sábados, e isto tinha uma razão de ser... Na época, os cinemas passavam os seriados, que era um fi lme em capítulos, como tem hoje na televisão. Então, a gente ia ao cinema acompanhar os seriados e eram muito comuns os faroestes. Macaé tinha fi guras folclóricas, vamos chamar assim... Tinha o Papa Lambida, a Maria Cachimbinha; Tiziu, um engraxate que fi cava próximo à Câmara Municipal de Macaé com sua cadeira na rua. Nós tínhamos um chofer de táxi chamado Papa-capim; Pavão, um carregador de malas, porque as pessoas chegavam à Estação e tinha pessoas para carregar as suas malas. São fi guras tradicionais, que a gente vê até hoje nos livros sobre história de Macaé, principalmente nos do grande amigo da gente, que era o Tonito, que gostava muito de falar sobre essas coisas e fazia maravilhosamente bem, descrevia de fato aquelas pessoas. São fi guras que fazem falta ao folclore da cidade, porque todas as cidades têm as pessoas folclóricas... Apesar de toda a humildade, todos eles eram respeitáveis e levavam muito na brincadeira, uma brincadeira sadia.

Tinha umas retretas entre Nova Aurora e Lyra... O interessante dessas retretas era a rivalidade entre as duas bandas. Hoje, bem menos, mas antigamente, cada uma queria mostrar que era melhor que a outra. Quando tinha festas populares, com apresentação das duas bandas, quando acabava ninguém queria ir embora, porque se fosse embora diziam que uma estava fugindo da outra. Ficava aquela rivalidade, mas sempre sadia e gostosa de assistir. O carnaval era mais de rua, com aqueles blocos improvisados e o desfi le acontecia na Rua Direita... Eu mesmo cheguei a participar de alguns. (Risos!) Quando vim morar na cidade, morei na Rua Governador Roberto da Silveira, naquela época, chamada de Velho da Silva, e ali, tinha aquela amizade da garotada... Naquela época, as ruas eram todas de chão, nada de calçamento, então, no carnaval a gente fazia o bloco da Rua da Boa Vista e desfi lávamos junto com os outros blocos... Tudo muito simples, roupas de papel, às vezes, não tinha bateria e a gente improvisava na lata mesmo. (Risos!) O gostoso era participar, não valia nada, não custava nada.

Na época do Golpe de 1964, a gente já tinha 23 anos e algum conhecimento das coisas... Na verdade, fi cávamos discutindo se de fato aquilo havia necessidade, se não havia, mas como sabemos em toda a comunidade existe alguém com vontade de fazer alguma coisa para mudar. Anterior àquela época, eu servi ao Exército Brasileiro em Macaé e a gente estava sempre em prontidão. De vez em quando se ouvia: - Ah! A Leopoldina entrou de greve! O grande mercado de trabalho em Macaé, na época, era a Estrada de Ferro Leopoldina e aquilo foi chamando a atenção das autoridades. A Revolução aconteceu, logicamente existiram os favoráveis e os contra, e aquilo trouxe uma série de problemas que a gente tem até hoje... Algumas pessoas sofreram com aquilo, por “n” razões, principalmente na área política. Eu estava começando a entender as coisas e não tive nenhuma participação direta, mas pessoas de famílias amigas foram presas e até mesmo torturadas... Aquelas coisas que a gente ouviu dizer e até mesmo assistiu. Tudo foi muito desagradável, mas aconteceu!

Tudo era relativo com o tamanho do Município naquela época. Quando tinha pagamento da Leopoldina dizia-se que o comércio estava rico. (Risos!) Antes de ser funcionário público, trabalhei seis anos numa

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Nelson Carneiro [Nelson de Souza Carneiro, baiano, jornalista e políti co com larga atuação parlamentar, tornou-se conhecido pela defesa da causa do divórcio, aprovada no ano de 1977]

Campos [dos Goytacazes, município com a maior extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro, fundado como Villa de São Salvador de Campos, em 29/05/1677, sendo elevado a categoria de cidade em 28/03/1835]

Cabo Frio [Município balneário fl uminense, fundado em 13/11/1615, sendo o séti mo mais anti go do Brasil e o principal da Região dos Lagos]

cidadão macaense [Título concedido pelo Vereador Dr. Ramon Mena]

tempos atrás [Entre o ano de 2009 e 2010]

Romulo Campos [Romulo Alexander Campos, niteroiense, fotojornalista com obras publicadas, ambientalista, formado em Comunicação Social, foi Secretário Municipal de Comunicação]

Livio Campos [Livio Dedeco Campos, gaúcho, fotojornalista, representante dos periódicos O Fluminense, Diário de Notí cias e Última Hora, proprietário da Foto Livio Campos na Av. Rui Barbosa, patriarca de uma família de conceituados fotógrafos]

Riverton Mussi [Ramos, macaense, graduado em Educação Física, professor, políti co, vereador, governou o município em dois mandatos consecuti vos 2005-12]

avô dele [Lati ff Mussi Rocha, campista, empresário, hoteleiro, fazendeiro, jornalista, fundador do periódico Gazeta de Macaé, patrono do Parque de Exposições]

Armando Borges [Macaense, comerciante, empresário, historiador, escritor, presidente da Associação Comercial e Industrial de Macaé - ACIM]

Café Belas Artes [Café, Bar e Restaurante, dos irmãos Gonzalez, na Avenida Rui Barbosa, 234, telefone 29]

Dodô [Salvador dos Santos Bapti sta, empresário]

Calçadão [Trecho comercial da Avenida Rui Barbosa fechado para o trânsito de automóveis desde a década de 1990]

Bar do Zé Mengão [Lanchonete pertencente a José Vieira Rangel, macaense de Carapebus, comerciante e empresário]

Farmácia Narciso [Na Avenida Rui Barbosa, fundada em 1908, por Narciso Freire dos Santos]

Shopping Aloha [Galeria com lojas comerciais que liga a Avenida Rui Barbosa e a Rua Teixeira de Gouveia]

Seu Maninho [Nilo dos Santos Macedo, comerciante]

Antonio Curvello Benjamin [Macaense, políti co, vereador, Prefeito de Macaé em três mandatos, deputado estadual, fi scal de rendas do Estado do RJ, Presidente do Sindicato Rural de Macaé, Presidente do Rotary Club de Macaé, Venerável da Loja Maçônica Perseverança II N.0 8]

Aristeu Ferreira da Silva [Macaense de Carapebus, fazendeiro, empresário, políti co, membro da Associação Rural de Macaé, do Sindicato Rural de Macaé, da Cooperati va Agropecuária de Macaé]

Claudio Moacyr [de Azevedo, macaense, políti co, prefeito de Macaé (1967-70), deputado estadual]

No prédio [Na Praça Gê Sardenberg, um prédio histórico construído na década de 1830, concebido pelo mestre-construtor Filomeno Borges, para residência da família do Comendador Francisco Domingues de Araújo, herdado por seu fi lho, o Visconde de Araújo, que alugou e depois vendeu à Câmara Municipal de Macaé; reformado e ampliado na década de 1920 pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira; hoje denominado Palácio Dr. Cláudio Moacyr de Azevedo – Museu do Legislati vo]

Carmem Garrido de Souza [Carminha, macaense, técnica em Contabilidade, rio-atriz, funcionária pública, exerceu vários cargos na administração municipal]

Selma Gonçalves [Mãe do Dr. Eduardo Cardoso Gonçalves da Silva, médico, vereador e presidente da Câmara Municipal por várias vezes]

Cláudio Gonçalves [Filho do anti go comerciante Cláudio Gonçalves]

Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953, instalada em Macaé no fi nal da década de 1970]

invasões [Ocupação de áreas de interesse ambiental como margens de rios, manguezais, etc.]

Royalti es [Compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Cidade Universitária [Complexo educacional que ocupa uma área de 95 mil metros quadrados, com dois prédios, 30 salas de aula, além de estacionamento com 200 vagas, e três faculdades gratuitas: UFF, UFRJ e FeMASS, esta últi ma a única faculdade municipal gratuita do país. Ao todo, o complexo terá sete blocos, seis para laboratórios e salas de aula]

Tribunal de Contas da União [Insti tuição prevista na Consti tuição Federal para exercer a fi scalização contábil, fi nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das enti dades das administrações direta e indireta, quanto à legalidade, à legiti midade e à economicidade e a fi scalização da aplicação das subvenções e da renúncia de receitas]

farmácia que vendia no famoso caderno de fi ado, para receber depois... A Farmácia Narciso, fi cava onde hoje existe o Shopping Aloha, e tinha um farmacêutico chamado Seu Maninho, uma fi gura tradicional na cidade. Entrei na Prefeitura Municipal de Macaé no dia 2 de junho de 1966, no governo do Seu Antonio Curvello Benjamin e como sou formado técnico em Contabilidade, fui trabalhar na área contábil. Logo depois, o prefeito saiu para ser candidato a deputado e entrou o vice prefeito, o Senhor Aristeu Ferreira da Silva, outra fi gura altamente conhecida, de família aqui de Macaé. Depois, o Doutor Claudio Moacyr foi eleito prefeito, um nome que dispensa de qualquer comentário em função da pessoa que era... Na verdade, foi o primeiro prefeito que me deu oportunidade de tomar um conhecimento maior do serviço de prefeitura. No prédio da Prefeitura, deviam trabalhar no máximo vinte pessoas, entre elas: Carmem Garrido de Souza; Dona Selma Gonçalves... Cláudio Gonçalves era o chefe do Setor de Contabilidade no qual eu trabalhava. Em função do tamanho da cidade, era tudo muito reduzido. Na época, tínhamos problemas de saneamento, problemas de água, de pavimentação... Essa era a grande difi culdade, a grande despesa do Município sempre foi manter isso daí, fazer com que a população tivesse uma qualidade de vida melhor... Sempre foi assim, não tem muita diferença de hoje.

O crescimento econômico de Macaé foi uma coisa espantosa. A Petrobras veio e pegou o Município totalmente despreparado, não havia nenhum planejamento antecipado. O que aconteceu? Um crescimento totalmente desordenado. A economia do petróleo foi chegando e atrás veio o crescimento populacional, como não podia ser diferente, porque o petróleo é um grande gerador de empregos e foi algo muito bom para o Município, com crescimento em todas as áreas. Mas em compensação, trouxe uma expansão sem controle. As pessoas vêm de longe, mas chegam aqui, encontram uma realidade diferente, quem não tem qualifi cação está fora do mercado, mas elas também não têm mais condições de voltar e vão morar onde? Aí começa o que chamamos de invasões... As moradias dessa gente da periferia é uma realidade muito triste, em todos os sentidos. O recurso dos Royalties não cobre o ônus desse lado social. Não cobre por quê? Porque não é somente destinado a essa área, isso não é possível, porque o município cresceu em todas as áreas. Por exemplo, a Cidade Universitária foi construída para ter duzentos alunos, sei porque acompanhei o projeto, mas hoje tem quase dois mil e a tendência é só crescer. Quando surgiu o recurso dos Royalties a utilização era muito restrita, não se podia utilizar em qualquer coisa e tinha um controle do Tribunal de Contas da União... Só era possível usar esses recursos em áreas de investimentos. Por exemplo, não se podia pagar a manutenção dos prédios públicos... Podíamos construir um prédio, mas não poderíamos mantê-lo. Em 1989, essa relação foi mudada e permitiu que o Município pudesse usar esse dinheiro em todas as áreas, com exceção de pagamento de pessoal. Isso fez com que a diversifi cação dos recursos dos Royalties fosse maior. O município de Macaé, hoje, tem cerca de duzentos e trinta mil habitantes e todos os problemas da cidade do Rio de Janeiro, que possui sete milhões de habitantes... Com a devida proporcionalidade, nossos problemas são iguais. Em função desse crescimento da economia e dos problemas sociais em toda a área, que trabalha entorno da economia de petróleo, os municípios produtores e os circunvizinhos precisavam ser compensados de alguma forma. Quando o senador Nelson Carneiro aprovou o projeto de lei sobre os Royalties, ele pensou nisso aí. A Petrobras não ajuda em nada, porque alega que já paga os Royalties. O Governo Federal tem que procurar uma alternativa e acho que os municípios produtores têm de receber uma compensação, mas também sou favorável que os outros recebam. Guardados os devidos problemas com a exploração do petróleo, como saúde, educação, habitação, infraestrutura, etc. porque

afi nal, o petróleo ou a exploração do petróleo não está no território de Macaé, nem de Campos, nem de Cabo Frio... Está dentro do mar, uma área de produção e de exploração totalmente da União. Os outros municípios devem ter uma parcela dessa exploração, até para que possamos começar a crescer, porque não adianta crescer só meia dúzia. Logicamente, essa distribuição deve ser bem calculada.

Eu me sinto macaense e sou cidadão macaense. Continuo tendo sentimento por Macaé, o mesmo que tinha antes, aquele sentimento de cidadania, de gostar da cidade, independentemente de hoje passar nas ruas e não reconhecer quase ninguém. Acredito que o macaense nato, aquele que aqui nasceu, que aqui cresceu com sua família, seus fi lhos, seus netos, seus bisnetos... Ele continua tendo esse sentimento de gostar de viver na nossa cidade. E essas pessoas que vieram para Macaé, à procura de trabalho e encontraram, tenho certeza de que a grande maioria, adora a nossa cidade. Logicamente, toda cidade tem um modo de vida, aqui, nos fi nais de semana, acontece um esvaziamento, mas isso vem da nossa cultura, das pessoas gostarem muito de passear na terra dos outros. Os que vêm de fora, têm suas famílias em outras cidades, então aproveitam os fi nais de semana para visitá-las.

Gosto muito de preservar a história. Há tempos atrás, eu tentei junto ao Fundo Municipal do Idoso, fazer entrevistas com pessoas de mais de 70 anos, nascidas em Macaé... Gostaria que essas pessoas fi zessem o que estamos fazendo agora, quer dizer, contassem a história de Macaé na visão deles. Teríamos a história de Macaé, contada pelas pessoas que tinham aqui nascido... Uma coisa altamente válida. Encontro pessoas com quarenta anos nascidos em Macaé e que não conhecem a história da cidade. O Romulo Campos tem um dos maiores acervos fotográfi cos dos prédios antigos de Macaé, era do pai dele, o Senhor Livio Campos. Acho que há uma necessidade - mas muito mesmo - de algum órgão escrever essa história de Macaé. Mas não é escrever para deixar guardado... Deveria ser fi lmado, escrito, fotografado e levado as nossas escolas. Acho interessante que o aluno visse projetado o seu avô, o bisavô, contando a história de Macaé... Seria para ele um orgulho de ver alguém da família contando. Não importa se essas pessoas falassem da mesma coisa, tenho certeza de que cada um vai contar de uma forma... O bonito da história é isso!

É difícil achar, na área pública, gestores que tenham interesse na história. Aquilo não parece nada, mas acho interessante. Vou dar um exemplo, o nosso atual prefeito, Riverton Mussi, se alguém contar para ele a história da família dele, os Mussi, ele vai ouvir uma bela história, porque conheci o avô dele. Esse livro, por exemplo, vai ser uma coisa gostosa de ler, porque vai ter “n” pessoas contando a história. Eu achava, e acho até hoje, os livros de Antonio Alvarez Parada, excelentes. Ele escreveu de uma forma e o Armando Borges escreveu a mesma coisa, mas de outra forma. Então, a população, seja proveniente ou não desta terra, gostaria de saber essa história de Macaé. Como era a Praia de Imbetiba antes? Tínhamos em Macaé um local chamado Café Belas Artes, que era o grande ponto de encontro dos políticos e fazendeiros. Há tempos atrás, um rapaz aqui em Macaé, chamado Dodô, me falou que estava abrindo no Calçadão o Café Belas Artes... No primeiro momento, fi quei contente e falei: - Você vai reviver o antigo Belas Artes? Ele respondeu: - Não! Aí já me deu uma esfriada. (Risos!) Pensei que ele fosse “reviver”, fazer um ponto de encontro como foi o famoso Bar do Zé Mengão.

Não houve tempo da Prefeitura Municipal de Macaé se preparar para receber a Petrobras. Num primeiro momento, a população local recebeu aquilo como um choque muito grande, porque estava acostumada a ter

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Samba Princesinha do Atlânti co, fundada em 1979, usa as cores verde e rosa e tem como madrinha a escola carioca Mangueira]

Cajueiros [Bairro popular na região central assim denominado pela abundância desse vegetal]

Barra [Grêmio Recreati vo Escola de Samba Império da Barra]

Adrian [Mussi Ramos, macaense, empresário, políti co, deputado federal, exerceu diversos cargos na administração municipal]

uma fi lha [Fernanda Delfi m Natalino, macaense, bancária]

um fi lho [Raphael Couti nho Natalino, macaense, funcionário público]

um neto [Guilherme K. Natalino]

dois irmãos e uma irmã [Walter Natalini e Wilson Natalino e Vanilde Natalino Matos]

uma irmã [Wilma Natalino Melo]

Niterói [Cidade fl uminense às margens da Baia da Guanabara, que foi capital de 1903 a 1975]

Pedro Melo [Irmão de Oneida Terra, referência da Fundação Pestalozzi de Macaé]

Marilena [Pereira Garcia, niteroiense de tradicional família macaense, pedagoga, políti ca, primeira mulher eleita para o legislati vo macaense, em 1982, vice-prefeita em duas gestões, presidente da FUNEMAC, Secretaria de Educação]

Bolo da Noiva [Na Avenida Rui Barbosa, 614, um palacete histórico localizado onde hoje é o Banco Bradesco, construído pela família Moreiras em 1927, hospedando o macaense Washington Luís Pereira de Sousa, Presidente da República]

Arquimedes de Souza França [Macaense, comerciante, empresário, patrono de uma rua no bairro Granja dos Cavaleiros]

Teleking e Emerson [Fabricante de eletrodomésti cos norte-americano que exportou os primeiros aparelhos televisivos para o Brasil]

TV Tupi [do Rio de Janeiro foi uma emissora de televisão que entrou no ar em 20/01/1951, pouco tempo depois da primeira emissora brasileira, a TV Tupi de São Paulo]

Rio das Ostras [Município litorâneo emancipado de Casimiro de Abreu em 10/04/1992]

atual esposa [Conceição de Jesus Couti nho, macaense]

Orbílio [Malvino Orbílio de Lima, macaense, descendende das tradicionais famílias Carneiro da Silva e Araújo, políti co, vereador, fundador e presidende do Grêmio Recreati vo Escola de Samba Acadêmicos da Aroeira, patrono da Cidade do Samba na Linha Verde]

minha cunhada [Tereza Couti nho, macaense, doceira]

escola de samba [Grêmio Recreati vo Escola de Samba Acadêmicos da Aroeira, fundada em 25/12/1962, no quintal da casa de Carolina Quintas Ferreira, por fi guras como Maria Rodrigues, Maria Izidora Vilela, Milton Caído e Geraldo Alves, o Bulau]

Aroeira [Bairro lotado na década de 1960 em terras do ex-prefeito Juvenal Barreto Junior, o Doca]

Décio Braga [Chefe da Ouvidoria da Prefeitura de Macaé]

um prêmio [No Dia Nacional do Samba, 02 de dezembro]

Peron [Ely Peron Frongilo, carangolense, arti sta plásti co, carnavalesco, decorador]

Carapebus [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Carapebus, depois 3.0 distrito macaense, emancipado em 19/07/1995, onde fi cava a Usina de Carapebus S/A]

Quissamã [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissaman, depois quarto distrito macaense, emancipado em 04/01/1989, onde fi cava a Cia. Engenho Central de Quissaman]

Conceição de Macabu [Anti ga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macabu, depois 5.0 distrito macaense, emancipado em 15/03/1952, onde fi cava a Usina Victor Sence]

prédio na esquina [Edifi cação na esquina da Rua da Igualdade com Rua São João, construída no século XIX, onde funcionou a Hospedaria dos Imigrantes]

Princesinha [Grêmio Recreati vo Escola de

uma cidade tranquila, pacífi ca... Uma cidade, que você saía de casa largava a porta aberta, o dinheiro em cima da mesa e podia se ausentar por horas e quando voltava tudo continuava igual. (Risos!) Uma cidade pequena, onde todos se conheciam e se respeitavam. Então, com esse crescimento natural houve uma transformação e até que o macaense radicado se habituasse, foi um pouquinho difícil. Mas hoje, a gente convive com isso naturalmente, com todos os problemas, não tem outra forma. Aconteceu um encarecimento das coisas, porque quando a Petrobras veio com centenas de técnicos, começou a pagar aos donos de imóvel qualquer preço e isso trouxe um crescimento de valores imobiliários, que permanece até hoje. Por isso que uma gama de pessoas trabalham em Macaé e moram nos municípios vizinhos, principalmente em Rio das Ostras.

Nós, que somos brasileiros, temos um pouquinho do gosto do samba, seja ele qual for. Hoje, talvez, um pouco menos por parte da juventude, em função dessas modifi cações de ritmo musical. Eu sempre gostei do carnaval e tinha uma vontade louca de participar de uma escola de samba. Em 1970, conheci, em função da minha atual esposa, um rapaz chamado Orbílio, que veio a ser casado com a minha cunhada... Ele, naquela época, era o presidente da escola de samba da Aroeira e me surgiu a oportunidade de ser diretor da escola de samba, no lugar de um militar que foi transferido de Macaé. Ali, começou o namoro com a escola. Antigamente, para participar de uma escola de samba era bem diferente... Hoje, as escolas de samba são feitas por profi ssionais, não têm mais nada do amadorismo de antigamente. Tínhamos o prazer de participar de uma escola de samba, do amadorismo, ninguém cobrava nada e o pessoal virava noites e mais noites trabalhando nas alegorias, fazendo fantasias, apenas pelo prazer de fazer. Fiz assim durante algum tempo. Depois, quando a escola de samba passou a ser “profi ssão”, quando convidávamos uma pessoa para desfi lar, ela perguntava: - Quanto vai me pagar? Aí, comecei a desanimar. Deixei de participar diretamente, mas não deixei de desfilar e fico a noite inteira vendo aquilo ali. Gosto de ver o trabalho das pessoas. Ano retrasado fui convidado pelo Senhor Décio Braga para receber um prêmio e me senti orgulhoso com o reconhecimento, mas não tem que reconhecer nada. Pelo menos a gente vê que são pessoas que gostam daquilo, que participam daquilo a troco de participar de uma roda de samba, de conversar sobre o samba, de verifi car o que aconteceu antes... Aquilo é muito gostoso! Não encontro pessoas da minha época, porque tudo mudou. O carnaval está aí, minha esposa querendo passar o carnaval fora de Macaé e já estou pensando: - Ah meu Deus! Não vou ver a Aroeira. (Risos!) E olha que minha esposa era destaque principal da escola, começou antes de mim, porque quando entrei na família, ela já desfi lava na escola. Não existe mais, vamos dizer assim, aquela congregação da comunidade, que gosta de assistir, mas de participar não. Antes, o valor da subvenção pública era bem menor, porque as escolas não existiam juridicamente. Participei muito com o Peron, que considero como pessoa especial nessa área, gosto muito do trabalho dele, mas é uma pessoa difícil de trabalhar. Muito difícil! (Risos!) Fiz muitos carnavais com ele, na Aroeira, e fomos campeões em alguns anos.

Trabalhei dentro da escola de samba durante cinco anos, mas depois deixei de participar de alguma forma, embora não militasse dentro da escola. A gente tinha aquele negócio: - Qual o tema? Então, trabalhávamos naquele tema e apareciam as difi culdades... Ia ter uma alegoria, mas como colocar essa alegoria na rua? De que jeito? Então, naquela época, a gente usava muito as carretas de puxar cana das usinas antigas. Procurávamos quem tinha carreta para emprestar em Carapebus, Quissamã, Conceição de Macabu. (Risos!) Mas aquilo tinha que ser transformado, precisava de carpinteiro, serralheiro, decoradores. Procurávamos quem podia fazer de

graça, não tinha como pagar. Somente as pessoas que gostavam muito enfrentavam aquilo ali. Depois, vinha outro problema, onde vai se fazer isso tudo? A escola não tinha barracão e fi zemos o carnaval muito tempo onde está a delegacia hoje... Tinha um prédio na esquina, que a gente chamava depósito da Brahma... Todo ano, na verdade, era num local diferente, porque dependíamos das pessoas emprestarem. Mas não era só a Aroeira, isso fazia parte das escolas. Hoje, a Aroeira, por exemplo, tem uma quadra, mas é totalmente impraticável fazer eventos ali, porque é uma área descoberta. A única escola, que tem uma área coberta, é a Princesinha, porque já surgiu com uma área cedida pelo Município, no Cajueiros e fi zeram sua cobertura. A Barra também tem o seu barracão, um dos melhores, em função do deputado Adrian. As escolas fazem com difi culdade, e esse é o bonito do carnaval.

Eu tive mais de um casamento, essas coisas da vida. Eu tinha uma fi lha do meu primeiro casamento, que faleceu há dois anos atrás, e tenho agora um fi lho com a minha atual esposa, Conceição de Jesus Coutinho, e tenho um neto que está com cinco meses. Também tenho sobrinhos em função dos meus dois irmãos e uma irmã que faleceram. Tenho uma irmã, que reside em Niterói, casada com gente de Macaé, Seu Pedro Melo. Parentes em Macaé, só tinha um primo, o Urbano Natalino, já falecido. É natural da vida, a família raiz, com o passar do tempo, começa a diminuir e os outros vão se expandindo. Graças a Deus tenho uma união grande com eles todos, procuro estar junto, participar da vida deles.

Penso muito no crescimento de Macaé, mas um crescimento igual. Tenho uma preocupação com essas pessoas que moram na periferia, que moram mal, vivem mal e acho que precisavam ser olhadas de uma forma muito especial. Elas não têm outra opção! Graças a Deus tenho a opção de morar no centro da cidade, em apartamento, mas elas não tiveram essa oportunidade. E quando os pais não têm, difi cilmente os fi lhos vão ter. Acho que Macaé tem que procurar de alguma forma diminuir essa desigualdade. Eu adoro isso daqui, gosto mesmo! Gosto de dizer que moro em Macaé. Gosto de conhecer o que está acontecendo na cidade. E gosto das pessoas que vêem isso aqui com carinho. O trabalho que estão fazendo com esse livro é coisa de altíssimo valor!

Falando das raízes de Macaé, conhecia a única pessoa em Macaé, que sabia a história da primeira rádio, que é Carmem Garrido. Segundo ela me falou, a primeira rádio que teve em Macaé era um serviço de alto-falante de rua. Eu já conheci com o nome de Rádio Emissora de Macaé. Acho que em cada área deve se procurar alguém para se contar a história. Não só da história da rádio, mas a história do futebol, dos ferroviários, das malharias, etc. Cada um com seu capítulo diferente... Coisa que acho muito importante, foi uma casa que existia em Macaé e chamava a atenção de todos, o Bolo da Noiva... Tinha aquela escada que era muito usada em bolos de noiva, conheci os donos, já não tinha nada de luxo, mas era um imóvel que chamava a atenção pela beleza da construção e quando demoliram foi uma pena... O nosso crescimento faz com que isso venha acontecendo e outros imóveis antigos também foram demolidos. Lembro da primeira televisão que chegou a Macaé... Foi numa pequena loja de eletrodomésticos do Senhor Arquimedes de Souza França... Ele foi o pioneiro, a marca do aparelho era Teleking e Emerson, e só pegava a TV Tupi, em preto e branco, com uma difi culdade enorme, pois tinha que ter uma antena gigantesca. Tudo isso, em meados da década de 1950, e aquilo foi uma coisa fantástica, a gente via aquilo tudo distorcido, fugia a imagem, aquela coisa de antigamente. (Risos!) Macaé teve excelentes desportistas e times, foi campeão brasileiro de futebol de salão e já teve excelentes times

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Cláudio Mussi [Cláudio Marcos de Paula Mussi, macaense]

Djalminha [Djalma da Silva Almeida Filho, macaense, professor, empresário]

Doutor Djalma [da Silva Almeida, pernambucano, denti sta, professor, acadêmico, fundador e diretor do Colégio Cenecista Professor Antonio Caetano Dias]

Nilson Borges [Macaense, ferroviário, caldeireiro, futebolista, central e lateral]

Ivair Borges [Macaense, ferroviário, futebolista]

Elmo Careca [Elmo Sodré, macaense, futebolista, meia atacante]

Oseías [Lopes Veiga, macaense, ferroviário, futebolista, ponta direita]

hospital [Casa de Caridade de Macaé, administrada pela Irmandade São João Bapti sta, na atual Praça Veríssimo de Mello, fruto do desejo post mortem de Antonio Joaquim d’Andrade, o Casculeiro, e dos esforços de um grupo liderado por Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, foi inaugurada ofi cialmente em 01/05/1871]

Doutor Moacyr Santos [Moacyr Hippólito dos Santos, macaense, médico, colecionador de Arte, mecenas, historiador, arti culista, autor do brasão e da bandeira de Macaé, fundador do Rotary Clube de Macaé]

Doutor Jorge Caldas [Jorge Ribeiro da Silva Caldas, macaense, médico, clínico geral, patrono de um Posto de Saúde no Centro]

onde é [Um casarão do século XIX que pertenceu ao Dr. Alfredo Augusto Guimarães Backer, localizado na rua que tem o seu nome no Centro]

Irmandade de São João Bati sta [Criada em 22/05/1872 sendo mantenedora da casa de Caridade, atual Hospital São João Bati sta]

Senhor Juquinha [José Passos de Souza Júnior, macaense, enfermeiro práti co, presidente do Tênis Clube de Macaé, patrono do estádio do clube]

Aloysio [Pinto de Andrade, baiano, enfermeiro práti co, patrono de uma rua no bairro Aroeira]

Casé [Carlos José Ma� os de Andrade, macaense, bacharel em Relações Públicas, licenciado em Filosofi a e Letras, atual vice-presidente da FUNEMAC]

A esposa [Dorvalina Moura de Andrade, carioca, enfermeira práti ca, parteira, patrona de uma rua no Parque Aeroporto]

Doutor Orlando [Nunes de Souza, macaense, médico, advogado]

Casa das Sete Janelas [Edifi cação do século XIX remodelada pelo architecto-constructor Joaquim da Silva Murteira, nos anos 1920, para residência da família do Prefeito Cel. Sizenando Fernandes de Souza, sendo herdada por seu fi lho Dr. Orlando Souza, foi demolida na década de 1990]

Dona Ancyra [Gonçalves Pimentel, macaense, professora de Geografi a]

Seu Pierre [Tavares da Silva Ribeiro, macaense de Conceição de Macabu, educador, professor de Matemáti ca, diretor do Colégio Estadual Luiz Reid, fundador do Grupo Espírita Pedro]

Seu Miguel Ângelo [da Silva Santos, angrense, educador, patrono da Faculdade Municipal Prof. Miguel Angelo da Silva Santos]

Doutor Roberto Mourão [Macaense, professor, advogado, políti co]

de basquete. O Dico, Cláudio Mussi, foi um excelente profi ssional de basquete, assim como Djalminha, fi lho do Doutor Djalma. No futebol, tínhamos: Nilson Borges e Ivair Borges, Elmo Careca, Oseías, Garfante, Arizinho, Da Barra, Padaria e muitos outros não menos importantes para a história do futebol amador de nossa cidade. Posso afi rmar que todos os macaenses antigos adoravam assistir aos jogos, com as participações de nossos atletas, verdadeiros heróis desse tipo de esporte à época. Eu, quando jovem, gostava de jogar futebol, mas qual era o prêmio da gente ao ganhar? A gente ia para o carrinho chupar laranja de graça. (Risos!) E aquilo era gostoso, ninguém pensava em mais nada.

O problema da Saúde sempre foi difícil de resolver, independentemente do tamanho da população. Você tinha um único hospital com os médicos residentes. Antigamente, tinha médicos tradicionais, antigos na cidade, como, por exemplo, o Doutor Moacyr Santos e o Doutor Jorge Caldas. Existiam alguns pequenos postos de saúde. Eu, quando era bem pequeno, precisei ir ao dentista e a unidade que tinha da Prefeitura de Macaé funcionava onde é o Corpo de Bombeiros. Tinha um dentista! Aquele dentista antigo com aquelas ferramentas, mas era o que tinha! A Irmandade de São João Batista contava com dois profi ssionais maravilhosos, um até hoje, muito conhecido, o Senhor Juquinha, um excelente enfermeiro, sem ser enfermeiro! (Risos!) O outro cidadão, chamado Aloysio, que é avô do Casé, foi outro excelente enfermeiro. A esposa do Seu Aloysio, era a parteira do hospital. Só tinha eles três, para atender toda a população. Antigamente, o médico conhecia a sua família, o fi lho, a mãe, o irmão... Conhecia a doença da família. Ia à casa da família por amizade, porque todo mundo conhecia todo mundo. O Doutor Jorge Caldas e o Doutor Moacyr Santos eram médicos dos ferroviários. Em Macaé, tinha um médico chamado Doutor Orlando, dono da Casa das Sete Janelas, voltada para a Rua da Praia... Ele morava ali e era uma pessoa totalmente desprovida. Um outro médico chamado João Heleno, também conhecia as famílias, não tinha que marcar consulta. Hoje, é diferente, o médico só vai te atender daqui a sessenta dias e olhe lá. Se tínhamos difi culdades, íamos à casa do professor e ele recebia normalmente. Existia um grande relacionamento. Quem não conhece a história de Hilda Ramos? De Dona Ancyra? De Seu Pierre? De Seu Miguel Ângelo? De Tonito e outros? São professores, que faziam parte da família dos alunos, e todo mundo conhecia. Todos eles morreram pobres, sem nada, mas deixaram um legado na história do nosso Município, e jamais serão esquecidos pelos macaenses. Quem não conhece o Doutor Roberto Mourão, excelente professor de história, que ainda vive entre nós?! Lembrar da história de nosso município e suas personagens, independente de cor, religião, profi ssão, se rico ou pobre, seria necessário, sem nenhuma dúvida. Nossa Macaé foi e sempre será bendita e abençoada por Nosso Senhor, em todos os seus aspectos.

Quanto a mim, sou uma pessoa desprovida de qualquer vaidade e isto eu aprendi com o meu pai... Não tenho vaidade, nem ambição. Gosto demais daquilo que faço, mas estou me despedindo da Prefeitura Municipal de Macaé, depois de quarenta e seis anos... Tem que ser, temos que saber a hora de começar e a hora de parar. Gosto de ser o que sou. Considero-me responsável, gosto de fazer amizades e não tenho inimigos, mas talvez não tenha a simpatia de alguém. Estou sempre pronto a ajudar quem precisa e ajudo sem qualquer expectativa de retorno. Esse é o Widelmo, que eu acho que sou. (Risos!) Agradeço muitíssimo a vocês pela paciência e gostei de fazer parte dessa história de Macaé. Obrigado! ▪

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1 Família completa - Widelmo é o menino mais novo. Macaé - RJ. 1952.

2 Carnaval, Macaé - RJ. 1991.3 Trabalho na Prefeitura Municipal de Macaé

- RJ. 2011. Acervo Parti cular de Widelmo Natalino, Macaé - RJ

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Praia Campista vista do Hotel Ibis. 2005. Foto: Livio Campos

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que abrigará o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro - COMPERJ]Imbeti ba [Praia urbana com extensão aproximada de 1.500 metros, localizada numa enseada, cujo nome, originário do tupi, signifi ca lugar de “muito cipó-imbé” ou serve para designar “qualquer praia alta”, tendo como variante Imbituba]Prefeitura Municipal de Macaé [Órgão que representa o Poder Executi vo, criado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Backer, em 15/02/1910, que, contestado judicialmente, só foi validado por nono decreto de 02/05/1913, sendo primeiro prefeito Dr. João Francisco Moreira Ne� o]São Francisco do Sul [Município do Estado de Santa Catarina, fundado em 1658, com sede as margens da Baía da Babitonga, possuindo o quinto maior porto brasileiro em movimentação de contêineres e o sexto em volume de cargas]Meu pai [Willian James Crocker, inglês, administrador de empresa] meu avô [Robert C. Crocker, inglês, engenheiro, presidente da estrada de ferro Leopoldina]Leopoldina [The Leopoldina Railway Company Limited] Kathleen Junqueira [Kathleen Izabella Du� -Ross Junqueira, soteropolitana de origem inglesa, foi secretária executi va, desporti sta, benemérita, colaborou com muitas insti tuições fi lantrópicas macaenses como a Sociedade Pestalozzi de Macaé e o Hospital Madre Tereza de Calcutá]Helladio Camargo Diniz Junqueira [Paulista, professor de Esgrima]clube da Petrobras [Clube Cidade do Sol, Avenida Atlânti ca, Cavaleiros, fundado em agosto de 1981]MAI [Criado, em 16/10/1980, por um grupo de mulheres, realizou cinco Feiras de Integração, sempre nos meses de novembro, com barracas para comercialização de comidas e produtos � picos das regiões do país e da comunidade internacional. Com a arrecadação dessas feiras foram construídas sete creches, em terrenos e com mão-de-obra doados por empresários locais e pela Prefeitura de Macaé, a quem até hoje pertencem ofi cialmente]Margarida Amadei [Margherita Modesta Rosso Amadei, italiana, tecelã, empresária, benemérita, fundadora da Malharia Monviso]Telma Hernandez [Carioca, comerciante]Pilão [Na Rua Teixeira de Gouveia, Centro]Lagoa de Imboassica [Originalmente Lagoa da Sica ou da Boassica, por receber água salgada do mar]minha fi lha [Márcia Ritzmann, curiti bana, denti sta]Afonso [Ritzmann Neto]Mônica [Ritzmann, curiti bana, arti sta plásti ca]Márcia [Ritzmann] Sylvia [Ritzmann Cabrera, curiti bana, advogada, empresária]meu marido [Luiz Carlos Ritzmann, curiti bano, economista, empresário]

Vitória [Cidade capital do Estado do Espírito Santo] Petrobras [Petróleo Brasileiro S. A., empresa criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 03/10/1953]Alfeu de Melo Valença [Pernambucano, Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se Engenheiro de Minas, em 1967. Ingressou na Petrobrás em 1968, sendo técnico de carreira, exerceu o cargo de diretor de Engenharia, chegando a presidente da empresa de 02/04/1991 a 21/08/1991, passando a consultor do presidente da Petrobrás a parti r de 23/08/1991]Leopoldina [A The Leopoldina Railway Company Limited foi criada em 06/12/1897, sendo encampada pelo em 20/12/1950 alterou o nome para Estrada de Ferro Leopoldina]Rede Ferroviária Federal [Em 30/09/1957 é criada a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA]Chagas Freitas [Antônio de Pádua Chagas Freitas, carioca, jornalista, políti co, sua forma parti cular de fazer políti ca foi chamada de Chaguismo, governou a Guanabara (1971-5) e o Rio de Janeiro (1979-83) e recebeu o � tulo de Cidadão Macaense]Serviços Maríti mos Conti nental [LTDA., fundada em 1975, atualmente com sede na Alameda Tenente Célio, Granja dos Cavaleiros] meu fi lho [Afonso Ritzmann Neto, curiti bano, empresário]Caixa Econômica Federal [Insti tuição fundada em 1861, sob a forma de empresa pública do governo brasileiro, com patrimônio próprio e autonomia administrati va]Parque Aeroporto [Bairro periférico, iniciado na década de 1980, como conjunto habitacional]Vale Encantado [Hoje, uma Área de Interesse Ambiental (AIA), anti ga propriedade rural denominada Fazenda Floresta Encantada]Luís Fernando Marques de Souza [o Lula, carioca, empresário, construtor]Pico do Frade [Ponto mais alto do município de Macaé, tem 1.429 m de alti tude e fi ca próximo ao limite com o município de Trajano de Morais]CEDAE [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, consti tuída ofi cialmente em 01/08/1971, oriunda da fusão da Empresa de Águas do Estado da Guanabara (CEDAG), da Empresa de Saneamento da Guanabara (ESAG) e da Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (SANERJ)]Avenida Prefeito Aristeu [Ferreira da Silva, Granja dos Cavaleiros]Schlumberger [Empresa de origem francesa, sediada na cidade norte americana de Houston, que se dedica à prestação de serviços no campo petrolífero, fornecendo tecnologia, gestão de projetos integrados e soluções de informação para os clientes na indústria de petróleo e gás]APA [Área de proteção Ambiental] Itaboraí [Município fl uminense fundado em 1696

“Para mim Macaé é tudo!”Yolanda Maria Crocker Ritzmann

Entrevistada, em Macaé (RJ), a 21/09/2012.

Em 1980, nós morávamos em Vitória, e lá, entramos em contato com algumas pessoas da Petrobras. Acompanhamos os problemas da Petrobras no porto, que foram de natureza mais política. Não havia espaço para Petrobras. Nessa ocasião, com a concordância do Senhor Alfeu de Melo Valença, que era o superintendente geral, sempre muito simpático, a Petrobras começou a procurar um espaço para vir se instalar. Havia aqui um pequeno porto e também um espaço, que antigamente, eram ofi cinas da Leopoldina, depois, Rede Ferroviária Federal, com a possibilidade de serem encampados. O governador Chagas Freitas se disponibilizou e se a Petrobras quisesse, aconteceria imediatamente. Então, foi muito de supetão a mudança. Eu, na ocasião, gostava muito de Vitória, estava fazendo uma faculdade de Biblioteconomia, que tive que abandonar porque a mudança era indispensável. A companhia Serviços Marítimos Continental veio um pouco antes com meu fi lho, em 1979. Nós viemos em julho de 1980, com muita difi culdade para encontrar uma moradia, porque havia muita procura nessa ocasião. A Petrobras, com fi nanciamento da Caixa Econômica Federal, começou o bairro Parque Aeroporto, para atender os funcionários, que estavam vindo para Macaé. Eu cheguei ao Vale Encantado, onde havia um loteamento, que começou em 1975, propriedade de Luís Fernando Marques de Souza. Cheguei lá, num fi m de tarde, com toda Serra à vista, o Pico do Frade, o pôr de sol vermelho, e me apaixonei... Até hoje, vivo lá e não posso deixar aquele espaço, porque tenho ali um privilégio. É um bairro esquecido, que até hoje, trinta anos depois, não tem água da CEDAE... Tenho um poço com bomba, mas não o abandono... Está a 500 metros do polo Off shore... Isso é interessante, de um lado da Avenida Prefeito Aristeu, há uma enormidade de grandes firmas... A Schlumberger tem sua maior base no mundo... E do lado esquerdo, tem uma área completamente esquecida. É preservada porque dizem que é uma APA e têm dois loteamentos ali, o Bosque dos Cavaleiros, hoje, muito invadido, e o Vale Encantado, que não foi invadido ainda, porque não tem água, condução, nenhuma infraestrutura, mas acho que futuramente será, porque realmente a cidade está se expandindo. Mas a cidade não estava preparada de maneira alguma para receber a Petrobras, porque foi muito rápida a transferência, uma coisa que se questionou muito... Outros lugares agora, quando a Petrobras vai se instalar, como Itaboraí, estão recebendo antes uma infraestrutura melhor... Macaé nunca recebeu. Quando tiveram que fazer um píer na Imbetiba, provocaram um problema tremendo na praia, porque não se brinca com o mar, no momento em que o movimento de maré foi modifi cado, a areia desapareceu toda e fi cou na rocha... Aí fi zeram gabiões, talvez a Prefeitura Municipal de Macaé ou a própria Petrobras, não sei, para que essa areia fosse retornando... Eu acredito que não foi feito nenhum estudo disso.

Acho que também merece o registro aqui, que a gente já vinha de uma experiência lá, em São Francisco do Sul, onde a Petrobras chegou em 1975

e simplesmente invadiu uma praia maravilhosa, fazendo praticamente a mesma coisa que fez em Macaé, transformando aquela praia num terminal. Mas lá, deram com os burros n’água, porque além de destruir a praia, o projeto não foi bem sucedido... Aquilo, hoje, é uma área que eles usam meio que por obrigação. O propósito inicial era ser um píer de apoio às operações da monobóia, mas a coisa foi inutilizada por causa do movimento de maré, enfi m, deu tudo errado.

Meu pai quando soube que viríamos para Macaé, disse que meu avô já tinha vivido aqui, ocupando o cargo de diretor da Leopoldina e que havia, em sua época, dado muito incentivo às ofi cinas, aos cursos de marceneiro, de torneiro, enfi m, tudo aquilo que girava em torno da ferrovia. Também nessa ocasião, meu pai me deu uma lembrança, que meu avó tinha recebido, um cartão de prata com o agradecimento dos empregados das Ofi cinas de Imbetiba, de 1926, bastante antigo. Isso me deixou muito contente.

Morava, aqui, uma pessoa muito amiga nossa, Senhora Kathleen Junqueira, que tinha sido secretária na mesma companhia do meu pai, já aposentada... O marido dela era aposentado da Marinha, instrutor de esgrima, Senhor Helladio Camargo Diniz Junqueira. Uma coisa muito interessante é que, quando viemos para Macaé, não havia essa rede de hotéis e fi cávamos num quarto de hóspedes, em cima da garagem da Senhora Kathleen... Essa casa ela vendeu e hoje é o clube da Petrobras.

A superintendência da Petrobras se preocupou muito em integrar-se com a sociedade... Aquelas pessoas maravilhosas conseguiram isso, através do MAI, Movimento Assistencial e de Integração. O MAI fazia jantares, festas, feiras e o dinheiro era todo encaminhado para construções de creches, tudo muito bem administrado... Até que cinco, seis, sete anos depois, naturalmente, as pessoas, que iniciaram, foram promovidas, se mudaram, e sinto que se esgarçou esse movimento de amizade, de convívio na sociedade. Tivemos momentos muito bons em que fazíamos cerâmica com Dona Margarida Amadei, uma pessoa muito importante, além de Dona Kathleen Junqueira, Telma Hernandez, que já era moradora de Macaé e tinha uma loja chamada Pilão, onde vendia uma porção de plantas e funcionava um pouco como brechó, porque as pessoas que queriam se “livrar” de algum móvel, alguma coisa antiga, iam lá... Inclusive, tenho uma sala de jantar, em jacarandá, que comprei lá.

O que eu posso lembrar da época? A Kathleen tinha uma cozinheira que o fi lho pescava siris e camarões maravilhosos, na Lagoa de Imboassica, onde minha fi lha gostava muito de velejar. Eu tenho, além do Afonso, três fi lhas: a Mônica que é artista e fez muitas exposições aqui, sempre com sucesso; a Márcia é dentista e mora em Niterói; a Sylvia, que morava em Curitiba, mas com a morte do meu marido, veio colaborar na Serviços Marítimos Continental. Então, guardo essas lembranças da praia

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Sociedade Musical Macaense [Enti dade jurídica sem fi ns lucrati vos, fundada em 1990, com a fi nalidade de promover eventos culturais e esti mular o ensino da música na comunidade macaense]

Maria Luisa Urquiza [Lundberg, paulistana, bacharel em Piano pela Sociedade Unifi ca Augusto Mott a, professora de Música, organizando memoráveis eventos no Teatro Municipal de Macaé]

Mary e da Jane [Cunningham, irmãs de origem inglesa, estabelecidas em Macaé ainda crianças na companhia dos pais imigrantes]

Chaplin’s [Bar, conceituada casa de shows na Rua Silva Jardim, inaugurada na década de 1980 e fechada em 2000]

Dzidra Adamson [Natural da Letônia, arti sta plásti ca]

Juarito Chaloub [Juarez Malheiros Chaloub, macaense, psicanalista, professor]

daquela doença [AIDS, Acquired Immune Defi ciency Syndrome ou SIDA, Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida, é uma doença do sistema imunológico humano causada pelo vírus da imunodefi ciência humana (HIV). Esta condição reduz progressivamente a efi cácia do sistema imunológico e deixa as pessoas susce� veis a infecções oportunistas e tumores]

São Conrado [Bairro nobre da zona sul carioca]

Maria Bethânia [Maria Bethânia Viana Teles Velloso, baiana, cantora de MPB]

Academia Bushido [Fundada na década de 1980 por Gualberto Veiga, 4º Mestre Shihan, na Avenida José de Aguiar Franco]

Costa do Sol [Bairro misto loteado na década de 1980]

Maria Lúcia Piersan� [Carioca, jornalista, colunista social, promoteur, ocupou cargos públicos na Prefeitura de Macaé, nas áreas de Meio Ambiente e Cultura, foi diretora cultural da Sociedade Musical Nova Aurora]

Mo� a Coqueiro [Manoel da Mo� a Coqueiro, campista, fazendeiro, últi mo homem branco condenado à pena capital no Brasil, como responsável pela chacina da família de um colono em Conceição de Macabu, enforcado em Macaé a 07/03/1855, ao qual se atribui uma praga de cem anos de atraso para a cidade]

Royalti es [Termo do inglês, usado para denominar a compensação fi nanceira pela extração de recursos públicos e privados]

Rio das Ostras [Município fl uminense emancipado de Casimiro de Abreu em 10/04/1992]

Barra de Macaé [Anti go segundo distrito, hoje primeiro subdistrito]

Golfo do México [No dia 20/04/2010, uma explosão na plataforma da Briti sh Petroleum Deepwater Horizon, matou 11 pessoas, rompeu tubulações no fundo do oceano e uma quanti dade esti mada entre três e quatro milhões de barris de petróleo vazou, fazendo deste o maior acidente ambiental da história dos Estados Unidos]

Ecovale [Construções S/A, na Estrada Luiz Carlos de Almeida, Granja dos Cavaleiros]

maravilhosa, da lagoa maravilhosa... A Sociedade Musical Macaense tem que ser lembrada sempre, porque Maria Luisa Urquiza foi uma pessoa marcante, que infelizmente, agora nos deixou. Lembro que tínhamos o pub da Mary e da Jane na Rua do Sacramento. (Risos!) Depois, veio o Chaplin’s, numa casinha que se coubessem duzentas pessoas era o máximo, mas traziam grandes nomes, que estavam estourando na ocasião... Meu marido costumava patrocinar alguns desses eventos, íamos bastante e acho que tínhamos uma vida bastante alegre, movimentada e cultural.

Em 1984, eu soube que a Rosita, que me falha o sobrenome agora, estava dando aulas de cerâmica, achei muito interessante e comecei com aulas na casa dela, fazendo presepinhos... Nosso grupo de cerâmica realmente durou bastante. Estou esquecendo uma pessoa muito importante, Dzidra Adamson, que sempre fez as bonecas letonianas, que tenho várias e nos reuníamos na casa dela, que depois foi para Barra de São João; então, passamos a nos reunir na casa da Telma Hernandez, que também morava no Vale Encantado. Compramos um forno a gás e fi zemos muitas artes! (Risos!) Nossa última coleção era de bules. Nessa época, exista também o grupo de estudo de Psicologia e Psicanálise, através do Juarito Chaloub, uma pessoa sempre maravilhosa, que comandava essas reuniões. Tenho dele uma saudosa memória, num período tão difícil daquela doença, que hoje, não mata tanto, mas que o levou.

A casa, que nós compramos no Vale Encantado, pertencia ao Luiz Fernando Marques de Souza, o Lula, que era um construtor muito afamado no Rio de Janeiro... Ele tinha uma casa em São Conrado e quando veio para Macaé, vendeu para Maria Bethânia... Vi outro dia, na GloboNews, uma entrevista com ela e reconheci a casa, com o telhado japonês... São telhas de cimento que ele fabricava, como o telhado da Academia Bushido, ali no Costa do Sol. Luiz Fernando era casado com uma pessoa maravilhosa, muito extrovertida, muito alegre, que foi Maria Lúcia Piersanti, que teve morte trágica e deixou saudades.

Nós nunca tivemos ligações com política. Meu marido, Luiz Carlos Ritzmann, não era muito chegado, vamos dizer, a um tipo de badalação que a política exige... Você tem que ter um comportamento de tentar agradar, tirar vantagem, então, realmente, ele não tinha este espírito. Naturalmente, que as mudanças foram inevitáveis. Macaé mudou muito, mudou tudo e lamento que haja uma insensibilidade a respeito de preservação... Estão preservando lá no Vale Encantado, mas não preservaram nada da lagoa, das praias, enfi m, nem as amendoeiras... Você lembra que existia na Imbetiba? Não posso dizer que alguma coisa melhorou em relação a teatros e à vida cultural... Infelizmente, não posso dar esse testemunho, que gostaria de dar. A esperança foi muito grande quando a Petrobras chegou aqui, depois de cem anos da maldição de Motta Coqueiro... Mas será que foi a redenção de Macaé ou foi um desastre? (Risos!) Não acho que a minha opinião, que estou lá no meu cantinho, deva prevalecer... Realmente, há hoje na cidade, uma vida muito intensa, com muito dinheiro, mas tudo isso traz problemas. Os Royalties quando chegaram, a Petrobras já estava instalada em Macaé ,por volta de uns dez anos ou mais, então, o estrago já havia sido feito. Não tivemos administrações muito felizes, talvez tenha

sido isso. Honestamente, porque amo Macaé, vejo com muita dor de cotovelo Rio das Ostras, com suas ruas calçadas, com placas em todas as esquinas. Em Macaé, se você quiser saber o nome de uma rua, não vai conseguir, porque não há isso, não houve esse trabalho quase doméstico, que é necessário numa cidade. A respeito de trânsito, então, está o caos formado. Ouvi uma promessa sempre dos prefeitos eleitos, que fariam o saneamento e que não vejo ainda.

Quando nós chegamos aqui, não existia mão de obra e não era por que estávamos em Macaé, não existia mão de obra em lugar nenhum do Brasil. Porque era uma atividade nova que a gente fazia, era um sistema de produção antecipado que a Petrobras implementou aqui, uma novidade mundial. Então, acredito que demos sorte de estar em Macaé. Porque a gente conseguiu encontrar uma mão de obra especializada no manuseio de materiais náuticos... Indivíduos acostumados a viver condições adversas no mar, que eram os pescadores da Barra de Macaé. Nós formamos muita gente, que se transformaram em bons profi ssionais para a atividade proposta, que era trabalhar em convés de rebocador, um trabalho muito duro, árduo, perigoso... Os pescadores da Barra de Macaé, de repente, se transformaram em mergulhadores, mas na verdade eram marinheiros adaptados e de lá saiu uma mão de obra de primeira qualidade, que para mim, é inesquecível... Gente que fi cava quarenta dias no mar... Era um pessoal, que fi cava encantado com a fartura da comida quando chegava num rebocador, numa plataforma... Recordo de uma pessoa que teve de ser desembarcado, por indigestão de tanto que comeu leite condensado... (Risos!) Tem muita história e acho que um capítulo especial deve ser dado a esse pessoal da Barra de Macaé, que eram pescadores e estão aí, até hoje.

O petróleo movimentou o comércio, mas também é visto pelos ambientalistas como grande poluidor e devastador do meio ambiente... Muitos não gostam desse título de Capital Nacional do Petróleo, mas acho importante. Temos essas plataformas de exploração Off shore e não tivemos ainda nenhum grande vazamento como no Golfo do México. Acredito que está tudo sobre controle e confi o nas normas da Petrobras, que são rigorosíssimas... Então, a gente não pode negar que nós precisamos e o Brasil também precisa muito do petróleo... Desde que a opção de transportes nacionais é rodoviária, nós precisamos de gasolina. E ainda estamos importando gasolina e derivados. Acho que o nome não importa, temos é que melhorar Macaé, mas se ela é a Capital Nacional do Petróleo, que seja uma capital verde!

Para mim, Macaé é tudo! É crescimento, bens materiais, etc... Vivo muito bem, assim como meus fi lhos, e tudo isso devemos a Macaé... A Serviços Marítimos Continental conseguiu progredir e sobreviver... Com certeza, amo Macaé e não pretendo sair daqui, porque para mim aquele Pico do Frade e aquele pôr do sol na Serra, não tem preço que pague. A vida em família foi sempre muito boa e tudo foi muito bom em Macaé, mesmo quando não era tão bom... (Risos!) Eu vejo pessoas com muito medo em Imbetiba e moro no Vale Encantado, mas também tenho cinco cachorros Dobermann (Risos!) Isso ajuda, não é? Nunca pensei em sair de Macaé, nesses trinta anos, nunca houve um momento em que eu desejasse sair. Tenho nove netos... Afonso quando veio para cá, casou no ano seguinte e já no mesmo ano, veio o Daniel, que hoje trabalha na Ecovale, uma subsidiária da Serviços Marítimos Continental, porque realmente hoje, ainda há necessidade de casas que não sejam localizadas a muitos quilômetros, então, estamos fazendo um

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Cidade Universitária [Complexo educacional que ocupa uma área de 95 mil metros quadrados, com dois prédios, 30 salas de aula, além de estacionamento com 200 vagas, e três faculdades gratuitas: UFF, UFRJ e FeMASS, esta últi ma a única faculdade municipal gratuita do país. Ao todo, o complexo terá sete blocos, seis para laboratórios e salas de aula]

Salvador [Capital do Estado da Bahia]

Direito [Na Universidade do Paraná]

companhia de pesca [Indústria de Pesca Babitonga, em São Francisco do Sul - SC]

Lidia [de Aguiar Silva de Paula, membro da equipe entrevistadora, macaense, professora, pesquisadora, coordenadora do Núcleo de Educação e Estudos em História Regional (NEHIR) da Fundação Educacional de Macaé (FUNEMAC)]

condomínio... Depois do Daniel, já que tem uma menina. Eu vejo agora aqui a Cidade Universitária e temos tudo, que é possível, a pessoa almejar para os seus fi lhos... Uma boa educação é muito importante. Eu espero que todos meus bisnetos possam continuar e fazer carreira aqui.

O que mais vou dizer de mim?!? Eu nasci em 18 de abril de 1934, na cidade de Salvador, morei em Curitiba onde estudei Direito até o terceiro ano, era aluna brilhante, mas me apaixonei... Naquele tempo, a melhor carreira era de dona de casa. (Risos!) Ainda hoje, que eu posso assinar como presidente da Serviços Marítimos Continental, se perguntarem minha profi ssão eu coloco “do lar”. Tenho muito orgulho de ter sido uma excelente dona de casa, ter costurado, ter bordado, ter feito comidas, ter criado meus quatro fi lhos, às vezes, com problemas fi nanceiros, como na época da situação difícil da companhia de pesca, quando tive um restaurante para sobrevivência, mas sempre dentro desse espírito de família... Hoje, aos sábados, eu ainda quero reunir minha família, porque o jeito da gente ter os fi lhos é pelo amor, porque senão a gente não os têm. Mas continuo tendo esse núcleo familiar e isso para mim sempre foi o mais importante na minha vida. Estou sempre à disposição! (Risos!) Eu estou feliz, Lidia, porque foi mais fácil do que eu imaginava... Vocês deixam a gente muito à vontade e eu agradeço, além de ser uma honra e um prazer estar aqui. Obrigada! ▪

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1 Por do Sol no Pico do Frade visto da casa de Dona Yolanda.

2 Dona Yolanda na mureta da Praia de Imbe� ba, início dos anos 1980.

3 Vista das instalações da Petrobrás, início dos anos 1980. Acervo Parti cular de Yolanda Maria Crocker Ritzmann, Macaé - RJ

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Cidade, Memória e Território1 MEYNARDO ROCHA DE CARVALHO Graduado em História pela

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Especialista em Literatura, Memória Cultural e Sociedade (IFF-Campos dos Goytacazes). Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutorando em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Autor de projetos sobre a história de Macaé, sendo organizador de publicações como “Comércio & Prosperidade: Memórias, Textos e Documentos” (2016) e “Macaé, do Caos ao Conhecimento” (2019).

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Macaé: a memória da história– Dos primórdios até 19601 VILCSON MATTEUS DOS SANTOS GAVINHO Bacharel em Museologia

pela UNIRIO. Capacitado em Gestão de Documentos pela Universidade Estadual do Norte Fluminense / Secretaria de Justi ça e Interior. Fundador do Centro de Memória Antonio Alvarez Parada, integrado ao Solar dos Mellos - Museu da Cidade de Macaé. Perito Documental da Primeira Vara Civil da Comarca de Macaé-RJ. Sócio-Fundador do Insti tuto Histórico e Geográfi co de Macaé. Sócio-Fundador do Insti tuto Histórico e Genealógico do Norte Fluminense (SJB-RJ); Sócio-Correspondente do Colégio Brasileiro de Genealogia (RJ), etc. Autor e/ou Coordenador de obras literárias sobre História de Macaé.

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Cultura / PMM. Macaé-RJ. [FMC]

Referências de acervos e fontes utilizados na elaboração das notas.

Pousada Sana. 2013. Foto: Livio Campos

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Viva Macaé. 2015. Foto: Livio Campos