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RESUMO PARA ESTUDO (MORAES, MARIA CÂNDIDA. O PARADIGMA EDUCACIONAL EMERGENTE. 11. ED. CAMPINAS: PAPIRUS, 1997. (COLEÇÃO PRAXIS) Paradigma tradicional Em contrapartida, evidencia o caráter reducionista do modelo científico clássico (racionalismo), que fragmenta a realidade para buscar seu entendimento e, ao fazê-lo, impossibilita a visão da totalidade. É exatamente nessa fragmentação da realidade que Moraes aponta a origem de muitas causas dos problemas enfrentados dentro da perspectiva educacional atual: a rigidez imposta pelo retalhamento de conteúdos em grades curriculares desconexas com a realidade (inexistência de interação entre conteúdos); a insignificância do sujeito no processo de ensino-aprendizagem; o foco no ensino e não na aprendizagem; a supervalorização das avaliações como fator determinante do comportamento dos alunos e a consagração do processo do ciclo de estudos através do diploma – indicador do “fim da linha”. Ao enfocar o advento das tecnologias educacionais e sua apropriação pelo modelo pedagógico vigente, Maria Cândida mostra muito claramente um movimento de “otimização do péssimo” - ou seja: o uso dessas inovações como forma de automatização do modelo tradicional de ensino, o que revela um processo de subutilização de tais ferramentas O advento dessas abordagens propiciou uma nova visão sobre o mundo, muito mais abrangente, o que conduziu a novas

RESUMO PARA ESTUDO

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RESUMO PARA ESTUDO

(MORAES, MARIA CÂNDIDA. O PARADIGMA EDUCACIONAL EMERGENTE. 11.

ED. CAMPINAS: PAPIRUS, 1997. (COLEÇÃO PRAXIS)

Paradigma tradicional

Em contrapartida, evidencia o caráter reducionista do modelo

científico clássico (racionalismo), que fragmenta a realidade

para buscar seu entendimento e, ao fazê-lo, impossibilita a

visão da totalidade. É exatamente nessa fragmentação da

realidade que Moraes aponta a origem de muitas causas dos

problemas enfrentados dentro da perspectiva educacional atual:

a rigidez imposta pelo retalhamento de conteúdos em grades

curriculares desconexas com a realidade (inexistência de

interação entre conteúdos); a insignificância do sujeito no

processo de ensino-aprendizagem; o foco no ensino e não na

aprendizagem; a supervalorização das avaliações como fator

determinante do comportamento dos alunos e a consagração do

processo do ciclo de estudos através do diploma – indicador do

“fim da linha”. Ao enfocar o advento das tecnologias

educacionais e sua apropriação pelo modelo pedagógico vigente,

Maria Cândida mostra muito claramente um movimento de

“otimização do péssimo” - ou seja: o uso dessas inovações como

forma de automatização do modelo tradicional de ensino, o que

revela um processo de subutilização de tais ferramentas

O advento dessas abordagens propiciou uma nova visão sobre o

mundo, muito mais abrangente, o que conduziu a novas

implicações no que diz respeito ao processo de construção do

conhecimento. Entre essas: a impossibilidade de encarar os

fatos de forma fragmentada - observador, objeto e processo de

observação se entrelaçam gerando interconexões; o conhecimento

deixa de ser estático e passa a estar em processo de

permanente desenvolvimento e funcionando em rede – todos os

conceitos/teorias estão interconectados.

Os reflexos dessas transformações marcam o cotidiano das

sociedades industrializadas, que vivem um contínuo processo de

modernização e de adaptação a esse horizonte. A obra mostra

que a chave dessas mudanças são as inovações tecnológicas, as

redes de comunicação e a ampla adoção da informática em todos

os seguimentos do conhecimento. A autora enfatiza que a adoção

das ferramentas digitais possibilita mudanças nas formas de

trabalho das organizações empresariais, educacionais e muitas

outras. Sinaliza que com essas tecnologias surgem novas formas

de “fazer” e, primordialmente, de se pensar o “fazer”.

Concomitantemente, os membros da sociedade passam a

compartilhar uma “cidadania da cultura informatizada”, que

requer a aquisição de novos hábitos, entre eles o acesso e o

uso de equipamentos computacionais.

Vê nesses novos componentes tecnológicos instrumentos capazes

de motivarem os aprendizes, aumentar sua concentração e

proporcionar uma atuação autônoma, permitindo que cada sujeito

possa desenvolver uma maneira própria de construção do

conhecimento. Destaca ainda tais instrumentos como os

habilitadores da Educação a Distância,uma realidade em nosso

cotidiano que modificou o trabalho nas escolas, suprimindo

problemas das restrições temporais e espaciais

O paradigma educacional emergente surge, portanto, no conjunto

das transformações contemporâneas. É natural que traga consigo

novas pautas, das quais se destaca a missão da escola que, ao

invés de atender uma massa amorfa de alunos, passa a encarar o

sujeito. Um ser singular, original, específico, dotado não

apenas de uma inteligência exclusivamente racional, mas sim de

múltiplas inteligências. O aprendiz é reconhecido como um

sujeito dotado de diferentes habilidades para resolver

problemas e, consequentemente, diferentes estilos de

aprendizado. Maria Cândida anuncia que na nova abordagem

educacional passa a ser de suma importância focar e valorizar

o processo de aprendizagem e não a simplória transmissão de

conteúdos (ensino). Passa a ser necessário conduzir o sujeito

a aprender a aprender, o que pode ser entendido como o

desenvolvimento da capacidade de refletir, de analisar e de

tomar consciência do que se sabe, da disposição para mudar

conceitos com base em novas informações; é uma situação onde o

conhecimento encontra-se em permanente construção. Esse

processo é requisitado pelas modificações causadas na

sociedade em virtude da apropriação das novas tecnologias da

informação.

Em linhas gerais, Maria Cândida Moraes caracteriza o paradigma

emergente como sendo de natureza construtivista,

interacionista, sócio-cultural e transcendente. É

construtivista uma vez que abarca o conhecimento como

inacabado, ou seja: em constante processo de construção,

dependente da ação dos sujeitos que o promovem e o

transformam. É interacionista porque reconhece que sujeito e

objeto estão em constante intercâmbio, mostrando-se como um

mecanismo vivo, aberto e ativo. É de natureza sócio-cultural

ao considerar que o ser se constrói na relação, dessa maneira

o conhecimento é produzido na interação com o meio social. É

transcendente porque não descarta a comunhão com uma Entidade

Superior, o que amplia nossa consciência, incentivando os

sentimentos de humildade, solidariedade e fraternidade

objetivando a reconstrução de um planeta mais feliz.

A AVALIAÇÃO EM QUESTÃO: PERRENOUD E LUCKESI

A avaliação é um conceito que designa o processo de confrontoentre as metas estabelecidas e os resultados obtidos. Apratica da avaliação permite verificar o grau de consecuçãodos objetivos, através da comparação das metas com osresultados, ajuda a detectar as falhas e incorreções noprocesso de ensino e aprendizagem e facilita a distribuiçãodos resultados escolares dos alunos de acordo com uma escalapreviamente definida. Há várias modalidades de avaliação:diagnóstica, formativa e sumativa. Elas permitem conhecer odomínio dos pré-requisitos necessários para a compreensão danova unidade de ensino e detectar as dificuldades deaprendizagem e suas deficiências

“é muito necessário cotejar cada instrumento de avaliação quefor proposto com os objetivos que se têm em mira e ver seaquele utiliza situações capazes de evocar a espécie decomportamento que se deseja como objetivo educacional” (TYLER,1981, p. 166).

Avaliação como exclusão social em Perrenoud.Philippe Perrenoud em sua Avaliação: da excelência à regulação dasaprendizagens, entre duas lógicas (1999) afirma que na prática daavaliação da aprendizagem não só se classificam os alunos nasala de aula, também, estas práticas possuem um efeito socialmuito mais definido: a avaliação cria as hierarquias sociaisque consolidam a sociedade atual.

a) A avaliação é uma tortura moderna.b) Avaliação como hierarquia social

c) A avaliação fortalece a hierarquia social Para o professor francês “a avaliação inflama necessariamenteas paixões, já que estigmatiza a ignorância de alguns paramelhor celebrar a excelência de outros” (PERRENOUD, 1999, p.09).

Assim, para este autor: “avaliar é – cedo ou tarde – criarhierarquias de excelências, em função das quais se decidirão aprogressão no curso seguido, a seleção no início dosecundário, a orientação para diversos tipos de estudos, acertificação antes da entrada no mercado de trabalho e,freqüentemente, a contratação”(ib.).

“avaliar é também privilegiar um modo de estar em aula e nomundo, valorizar formas e normas de excelência, definir umaluno modelo, aplicado e dócil para uns, imaginativo eautônomo para outros”. (PERRENOUD, 1999, p. 09).

“A avaliação está no âmago [a parte mais íntima oufundamental; a essência] das contradições do sistemaeducativo, constantemente na articulação da seleção e daformação, do reconhecimento e da negação das desigualdades”(PERRENOUD, 1999, p. 10).

d) O professor como médico e artista

1. Quando um artista modela um objeto, não deixa de observaro resultado para ajustar seus gestos e, se preciso for,´corrigir o alvo´, a arte de conduzir a ação pelo olhar,em função de seus resultados provisórios e dos obstáculos

encontrados. Cada professor dispõe dela, como todo mundo.(PERRENOUD, 1999, p. 14).

2. A tarefa do professor como médico é no sentido de: “nenhummédico se preocupa em classificar seus pacientes, domenos doente ao mais gravemente atingido.Nem mesmo pensaem lhes administrar um tratamento coletivo. Esforça-separadeterminar, para cada um deles, um diagnosticoindividualizado, estabelecendo uma ação terapêutica sobmedida” (PERRENOUD, 1999, p. 15).

Perrenoud afirma que quando focalizamos a questão da avaliaçãopercebe-se uma situação entre duas lógicas: uma lógica deseleção e uma lógica formativa:

Incontestavelmente, a lógica formativa ganhou importância.Pouco a pouco, denunciam-se os limites que lhe impõem aslógicas de seleção. Esquece-se que elas reinaram sozinhas,durante décadas. A democratização do ensino e a busca de umapedagogia mais diferenciada fizeram emergir, e depoisdifundir, a lógica formativa, de modo que hoje em dia asforças e a legitimidade de ambas estão mais equilibradas.(PERRENOUD, 1999, p. 18).

3. Avaliação como ato de amor em Luckesi

Defino a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso nosentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor,integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importadistinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato quedistingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindoo segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação,para, então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo emvista dar-lhe suporte de mudança, se necessário. A avaliação,como ato diagnóstico, tem por objetivo a inclusão e não aexclusão; a inclusão e não a seleção - que obrigatoriamenteconduz à exclusão. (LUCKESI, 2000, p.172).

“uma avaliação amorosa é uma avaliação de acolhimento tendo emvista a transformação da sociedade, daqui a rejeição de umaavaliação por provas e exames que implicam julgamento para aexclusão do educando”. (LUCKESI, 2000, p.171).

Assim, Luckesi afirma que no ato da avaliação se mostra aintegridade humana do professor, como adulto (Reich) e sagrado(como Cristo). Na avaliação se deve incluir, integrar eacolher e não julgar, afastar e selecionar. Avaliar umdiscente com dificuldades é criar a base do modo de comoincluí-lo dentro do meio da aprendizagem; o diagnósticopermite a decisão de direcionar ou redirecionar aquilo ouaquele que está precisando de ajuda.

a) Nem espontaneísmo, nem autoritarismo na avaliação daaprendizagemLuckesi enfatiza que a avaliação da aprendizagem tem doisobjetivos: auxiliar o educando no seu desenvolvimento pessoalpelo processo de ensino e aprendizagem, e responder à ociedadepela qualidade do trabalho educativo realizado. Estes doisobjetivos não podem dissociar-se no uso escolar da avaliação.

A avaliação tem por objetivo auxiliar o educando no seucrescimento e integração consigo mesmo como sujeitoexistencial e como cidadão, ademais de ajuda-lo na apropriaçãodos conteúdos propostos. O diagnóstico da avaliação permite atomada de decisão mais adequada, tendo em vista oautodesenvolvimento e o auxílio externo para este processo:“para não ser autoritária e conservadora, a avaliação tem atarefa de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumentodialético do avanço, terá de ser o instrumento daidentificação de novos rumos” (LUCKESI, 2000, p. 43)

“a avaliação da aprendizagem escolar auxilia o educador e oeducando na sua viagem comum de crescimento, e a escola na suaresponsabilidade social. Educador e educando, aliados,constroem a aprendizagem na escola, e de aqui à sociedade”(LUCKESI, 2000, p.171).

Conclusões1. A partir dos textos de Perrenoud e Luckesi podem-seperceber os efeitos da prática da avaliação da aprendizagem: osustento de uma sociedade hierarquizada e elitista. A reflexãosobre esta prática é o que dignifica a função do professor edo papel social da escola.

2. Os critérios classificatórios da prática da avaliaçãoregistram geralmente diferenças de competências muitotransitórias, por isso não se pode acreditar nos resultadosdesta prática escolar.3. O denominado “fracasso escolar” existe no domínio daescola, ela avalia seus alunos determinando o fracasso dealguns. Assim, esta medida repressiva apresenta-se comoresultado de um julgamento lógico excludente na instituiçãoescolar.

PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar . PortoAlegre: Artes Médicas Sul, 2000.- conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem

ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem;

 No antigo sistema de ensino isso é padrão: conhecer a

disciplina. Como professor, tenho que conhecer o conteúdo que

vou trabalhar. Mas, na verdadeira competência pedagógica é

aquela que de um lado relaciona os conteúdos com os objetivos

e de outro às situações de aprendizagem. Traduzir o programa

em objetivos de aprendizagem e estes em situações de

atividades realizáveis não é uma atividade linear, pois os

saberes são construídos em situações múltiplas, complexas,

cada uma delas respeitando a vários objetivos.Para organizar e

dirigir essas situações de aprendizagem, é indispensável que o

professor domine os saberes e que esteja a mais de uma lição a

frente dos alunos e que seja capaz de encontrar o essencial

sob múltiplas aparências, em contextos variados. E domine

também os conceitos, as questões e os paradigmas que

estruturam os saberes no seio de uma disciplina, pois sem esse

domínio, a capacidade de reconstruir um planejamento didático

a partir dos alunos e dos acontecimentos encontra-se

enfraquecida .Entretanto, mesmo que a instituição proponha um

reescritura dos programas nesse sentido, deve-se tomar o

cuidado em não permanecerem como letra morta, pois muitos

professores não estão preparados para um trabalho tão

importante.

- trabalhar a partir das representações dos alunos;

A escola não constrói a partir do zero, nem o aprendiz não é

uma tabula rasa, uma mente vazia; ao contrário ele sabe muita

coisa e por esta razão, muitas vezes, o ensino choca-se de

frente com as concepções dos aprendizes. Faz-se necessário

então, trabalhar a partir das representações dos alunos, ou

seja, a partir do que ele já sabe. O professor que trabalha a

partir das representações dos alunos tenta reencontrar a

memória do tempo em que ainda não sabia, ele se coloca no

lugar dos aprendizes, entendendo assim, a falta de compreensão

dos alunos. Portanto o professor deve trabalhar a partir das

concepções dos alunos, dialogando sempre com eles, fazer com

que sejam avaliados para aproximá-los do conhecimento

científico a serem ensinados. O professor necessita de uma

competência extremamente didática. Ajudando-os a fundamentar-

se nas suas representações prévias, sem que eles se fechem

nelas, encontrando assim, um ponto de entrada em seu

cognitivo, para incorporar novos elementos às suas

representações existentes, reorganizando-as se necessário.

- trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à

aprendizagem;

O professor nunca se deve tachar um aluno apontando seu erro

ou dizendo que ele não sabe nada. Ele deve partir dos erros ou

dificuldades dos seus alunos para propor situações que os

façam refletir sobre seus próprios erros encontrando assim a

forma correta de solucioná-los, obtendo a assimilação do

conteúdo que lhes é ensinado. Considerando o erro uma

ferramenta para ensinar, "um revelador dos mecanismos de

pensamento do aprendiz".

- construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas;

Seqüências e dispositivos didáticos inscrevem-se, por sua vez,

em um contrato pedagógico e didático, regras de funcionamento

e instituições internas à classe. As noções de dispositivo e

de seqüência didáticos chamam a atenção para o fato de que uma

situação de aprendizagem não ocorre ao acaso e é engendrada

por um dispositivo que coloca os alunos diante de uma tarefa a

ser realizada, um projeto a fazer, um problema a resolver. A

construção do conhecimento é uma trajetória coletiva que o

professor orienta, criando situações e dando auxílio, sem ser

especialista que transmite o saber, nem o guia que propõe a

solução para o problema.

- envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de

conhecimento.

Antes de ser uma competência didática precisa, ligada a

conteúdos específicos, envolver os alunos em atividades de

pesquisa e em projetos de conhecimento passa por uma

capacidade fundamental do professor: tornar-se acessível e

desejável sua própria relação com o saber e com a pesquisa,

encarnar um modelo plausível de aprendiz.A dinâmica de uma

pesquisa é sempre simultaneamente intelectual, emocional e

relacional. O papel do professor é relacionar os momentos

fortes, assegurar a memória coletiva ou confia-la a certos

alunos, pôr à disposição de certos alunos, fazer busca ou

confeccionar os materiais requeridos para o experimento. Para

que o aluno se apaixone pelo conhecimento é necessário que o

professor transmita a sua própria paixão, mas infelizmente nem

todos os professores são apaixonados ou não partilham seu

amor. É preciso entender que somente a paixão pessoal não

basta, o professor precisa saber estabelecer uma cumplicidade

e uma solidariedade na busca do conhecimento. Ele deve buscar

com seus alunos deixando de lado a imagem de professor “que

sabe tudo”, aceitando mostrar suas próprias ignorâncias, não

cedendo à tentação de interpretar a comédia do domínio, não

colocando sempre o conhecimento ao lado da razão, da

preparação para o futuro e do êxito. 

DISCUSSÃO ACERCA DO ENSINO POR COMPETÊNCIAS: PROBLEMAS EALTERNATIVAS

O Ministério da Educação publicou em 2006 as OrientaçõesCurriculares para o Ensino Médio (Brasil, 2006), as quaisseguem, em linhas gerais, a forma dos Parâmetros CurricularesNacionais – PCN e PCN+ (Brasil, 1999, 2002).Ou seja, cada um dos componentes curriculares é tratado emseparado e permanece a divisão das três áreas do conhecimento:Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza,Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suasTecnologias.

Uma primeira interpretação para as competências seria a de umaqualificação acrescida de um saber-fazer, incluindo-seatitudes do empregado no ambiente de trabalho.PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar . PortoAlegre: Artes Médicas Sul, 2000.

Perrenoud (2001, p.21) conceitua competência como:

“A capacidade de um sujeito de mobilizar o todo ou parte deseus recursos cognitivos e afetivos para enfrentar umafamília de situações complexas. Isso exige a conceituaçãoprecisa desses recursos, das relações que devem serestabelecidas entre eles e da natureza do “saber mobilizar”.Pensar em termos de competência é pensar a sinergia, aorquestração de recursos cognitivos e afetivos diversos para enfrentar umconjunto de situações que apresentam analogias deestrutura”.

“A noção de competência designará aqui uma capacidade demobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar umtipo de situação”. p. 15Essa definição insiste em quatro aspectos segundoPerrenoud:- as competências não são elas mesmas saberes,savoir-faire ou atitudes, mas mobilizam, integram eorquestram tais recursos;- essa mobilização só é pertinenteem situação, sendo cada situação singular, mesmo que sepossa tratá-la em analogia com outras, já encontradas;- oexercício da competência passa por operações mentaiscomplexas, subentendidas por esquemas de pensamento, quepermitem determinar (mais ou menos consciente e rapidamente)e realizar (de modo mais ou menos eficaz) uma açãorelativamente adaptada à situação;- as competênciasprofissionais constroem-se, em formação, mas também ao saborda navegação diária de um professor, de uma situação detrabalho à outra.Organizar e dirigir situações de aprendizagem“..é manter umespaço justo para tais procedimentos. É, sobretudo,despender energia e tempo e dispor das competênciasprofissionais necessárias para imaginar e criar outros tiposde situações de aprendizagem, que as didáticascontemporâneas encaram como situações amplas, abertas,carregadas de sentido e de regulação, as quais requerem ummétodo de pesquisa, de identificação e de resolução deproblemas”. p. 25- Conhecer, para determinada disciplina, osconteúdos a serem ensinados e sua tradução em objetivos deaprendizagem. Relacionar os conteúdos a objetivos e esses asituações de aprendizagem. Administrar a progressão das aprendizagens Na escola não sepodem programar as aprendizagens humanas como a produção de

objetos industriais. O professor também precisa pensar natotalidade do processo.- Conceber e administrar situações-problema ajustadas ao nível e às possibilidades dos alunos.1– situação problema – organizada em torno da resolução de umobstáculo (previamente identificado) pela classe;2 –trabalhar em torno de uma situação concreta;3 – tornar asituação um verdadeiro enigma a ser resolvido;4 – os alunosnão dispõem, no início, dos meios da solução buscada, devidoà existência do obstáculo a transpor para chegar a ela. É anecessidade de resolver que leva o aluno a elaborar ou a seapropriar coletivamente dos instrumentos intelectuaisnecessários à construção de uma solução;5 – trabalhar deacordo com a zona próxima – trabalhar com situaçõesproblemas não problemáticas, mas sim de acordo com o nívelintelectual de seu aluno.Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.“Diante de oito, três, ou até mesmo um só aluno, umprofessor não sabe necessariamente propor a cada um delesuma situação de aprendizagem ótima. Não basta mostrar-setotalmente disponível para um aluno: é preciso tambémcompreender o motivo de suas dificuldades de aprendizagem esaber como superá-las.Certas aprendizagens só ocorrem graças a interações sociais,seja porque se visa ao desenvolvimento de competências decomunicação ou de coordenação, seja porque a interação éindispensável para provocar aprendizagens que passem porconflitos cognitivos ou por formas de cooperação”. p. 56Algumas delas giram em torno da cooperação profissional”. p.59Com o trabalho docente realizado, esses espaços-tempos deformação proporcionam mais tempo, recursos e forças,imaginação, continuidade e competências para que seconstruam dispositivos didáticos eficazes, com vistas acombater o fracasso escolar.- Fornecer apoio integrado,trabalhar com alunos portadores de grandes dificuldadesSaberobservar uma criança na situação; dominar um procedimentoclínico (observar, agir, corrigir, entre outros); construirsituações didáticas sob medida; fazer um contrato didáticopersonalizado; praticar uma abordagem sistêmica; acostumar-se com a supervisão; respeitar um código explícito dedeontologia mais do que apelar para o amor pelas crianças epara o senso comum; estar familiarizado com uma abordagemampla da pessoa, da comunicação, da observação, da

intervenção e da regulação, entre outros.- Desenvolver acooperação entre os alunos e certas formas simples de ensinomútuo“Toda pedagogia diferenciada exige a cooperação ativa dosalunos e de seus pais. Esse é um recurso, assim como umacondição, para que uma discriminação positiva não sejavivenciada e denunciada com uma injustiça pelos alunos maisfavorecidos. Portanto, é importante que o professor dê todasas explicações necessárias para conseguir a adesão dosalunos, sem a qual suas tentativas serão todas sabotadas poruma parte da turma”.Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalhoComo trabalhar com a motivação dos alunos?O prazer deaprender é uma delas, o desejo de saber é outra.- Suscitar odesejo de aprender, explicitar a relação com o saber, osentido do trabalho escolar e desenvolver na criança acapacidade de auto-avaliaçãoO desejo é múltiplo – deve-sesaber para compreender, para agir de modo eficaz, parapassar em um exame, para ser amado ou admirado, paraseduzir, para exercer um poder.O desejo de saber não éuniforme.“Trabalhar em equipe Saber trabalhar eficazmente em equipe;saber discernir os problemas que requerem uma cooperaçãointensiva, participar de uma cultura de cooperação, estaraberto para ela, saber encontrar e negociar as modalidadesótimas de trabalho em função dos problemas a seremresolvidos; saber perceber, analisar e combaterresistências, obstáculos, paradoxos e impasses ligados àcooperação, saber se auto-avaliar, lançar um olharcompreensivo sobre um aspecto da profissão que jamais seráevidente, haja vista sua complexidadeParticipar da Administração da Escola- Elaborar, negociar umprojeto da instituição.Formar um projeto é dizer “Eu”, éconsiderar-se como um forte, que possui direitos ecompetências para modificar o curso das coisasInformar e Envolver os pais Informar e envolver os pais éuma palavra de ordem e, ao mesmo tempo, uma competência.-Dirigir reuniões de informação e de debate“Esta é uma dasdificuldades do professor: decodificar, em declaraçõesaparentemente gerais, preocupações particulares e tratá-lascomo tal, se não justificarem um debate global” p. 115A competência dos professores consiste em aceitar os pais

como eles são, em sua diversidade.- Fazer entrevistasAcompetência consiste, amplamente, em não abusar de umaposição dominante, em controlar a tentação de culpar e dejulgar os pais. As competências de um profissional consistemem não gastar toda sua energia para se defender, paraafastar o outro, mas, ao contrário, aceitar negociar, ouvire compreender o que os pais têm a dizer, sem renunciar adefender suas próprias convicções.Utilizar Novas Tecnologias- utilizar editores de textos;-explorar as potencialidades didáticas dos programas emrelação aos objetivos do ensino;- comunicar-se à distânciapor meio da telemática;- utilizar as ferramentas multimídiano ensino. Competências Fundamentais em uma CulturaTecnológica – “A verdadeira incógnita é saber se osprofessores irão apossar-se das tecnologias como um auxílioao ensino, para dar aulas cada vez mais bem ilustradas porapresentações multimídia, ou para mudar de paradigma econcentrar-se na criação, na gestão e na regulação desituações de aprendizagem” p. 139Enfrentar os Deveres e os Dilemas Éticos da Profissão-Prevenir a violência na escola e fora dela “A escola sabeque agora está condenada a negociar, a não usar mais aviolência institucional sem se preocupar com as reações”.Administrar sua própria formação contínua Segundo o autoradministrar sua própria formação contínua é uma coisa,administrar o sistema de formação contínua é outra. Esteúltimo esteve durante muito tempo na dependência dasadministrações escolares ou de centros de formaçãoindependentes, principalmente as universidades. Aprofissionalização do ofício de professor recruta parceirosentre os poderes organizadores da escola, dos centrosindependentes de formação e das associações profissionais deprofessores.“Seria importante que cada vez mais professoresse sentissem responsáveis pela política de formação contínuae interviessem individual ou coletivamente nos processos dedecisão” p. 16915. PIAGET, Jean.

ZABALA, Antoni. Enfoque Globalizador e Pensamento Complexo: umaproposta para

o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002- O objeto de estudo do ensino é a realidade:

- A realidade, e os problemas que a intervençãoapresenta são complexos – a atuaçãoimplica sobre estruturas compostas por múltiplas variáveisextremamente inter-relacionadas

- Necessidade de utilização dos insrumentos deinterpretação e de investigação para darresposta a todas as questões que o seu conhecimento ouintervenção pode provocar.

FASES:1 - Apresentação dos objetos de estudo me sua complexidade.2 - Processo de análise: identificação e explicação dasdiferentes questões que o conhecimentocoloca e a intervenção na realidade.3 - Delimitação do objeto de estudo.4 - Identificação dos instrumentos conceituais e metodológicosque podem ajudar-nos a darrespostas aos problemas colocados.5 - Utilização do saber disciplinar ou dos saberesdisciplinares para chegar a um conhecimentoque é parcial.6 - Identificação das diferentes contribuições e reconstrução.7 - Visão global e ampliada – retorno ao ponto de partida, àrealidade que foi objeto deconhecimento

QUATRO MÉTODOS GLOBALIZADOS

CENTROS DE INTERESSE – Decroly – partem de um núcleo temáticomotivador para osalunos e, seguindo os processos de observação, associação eexpressão, integram conteúdos dediferentes áreas de conhecimento.

MÉTODO DE PROJETOS – Kilpatrick – elaboração de algum objetoou na confecção de umamontagem (audiovisual, jornal, etc.).

INVESTIGAÇÃO DO MEIO – tenta construir o conhecimento atravésda seqüência do métodocientífico (problemas, hipóteses, confirmação).

PROJETOS DE TRABALHOS GLOBAIS – objetivo de reconhecer um temaque os alunosescolheram, propõem que é preciso elaborar um dossiê ou umamonografia como resultado deuma pesquisa pessoal ou de grupo.

Currículo

FORMAL – no Brasil se caracteriza nos PCN’s e em documentosque expressam propostas curriculares regionais/locais,Diretrizes nacionais

EM AÇÃO – é o currículo vivido, que se manifesta. Envolvesituações de poder, cultura e escolarização, mesmo que nemsempre de forma explícita. Sempre existe uma escolha no que asescolas “transmitem”. Não se aprende apenas conteúdo, masadquire-se consciência.

OCULTO – é constituído por todos os aspectos do ambienteescolar, mesmo sem fazer parte do currículo oficial, contribuide forma implícita para aprendizagens sociais relevantes(fundamentos, atitudes, comportamentos, valores).

FORMAL Como um plano previamente planificado a partir de finalidadesespecíficas, que apontam o currículo como conjunto deconteúdos a ensinar, e também como plano de ação pedagógica,fundamentado e implementado num sistema.

INFORMAL Como um processo decorrente da aplicação co referido plano,que caracterizam o currículo como um conjunto de experiênciaseducativas, e como um sistema dinâmico, mas sem uma estruturapredeterminada

O currículo não é neutro, sempre terá uma conotação política,que permite reconhecê-lo como um meio de concretização doprojeto educativo de cada instituição.

O currículo é sempre resultado de uma seleção, de uma escolha,que será decisiva no tipo de sujeitos que formaremos e no tipode sociedade que estamos contribuindo para construir

ENFOQUE GLOBALIZADOR: UMA VISÃO INTEGRADORA (Zabala) O objeto de estudo do ensino é a realidade: a compreensão darealidade para intervir nela e transformá-la – derivação decritérios para a seleção dos conteúdos escolares e, porconseguinte, o sentido e o papel das diferentes fontes deconhecimento, ou seja, usam a aproximação da realidade decaráter multidisciplinar. A realidade, e os problemas que a intervenção apresenta sãocomplexos – a atuação implica sobre estruturas compostas pormúltiplas variáveis extremamente interrelacionadas.

Necessidade de utilização dos instrumentos de interpretação ede investigação para dar resposta a todas as questões que oseu conhecimento ou intervenção pode provocar. Dada a fragmentação do saber, a maioria dos conhecimentosdisciplinares é insuficiente para aprender em todas asdimensões o conhecimento da realidade, mas, apesar dessesdéficits, tais conhecimentos são os únicos instrumentosrigorosos de que dispomos. É, portanto, necessário possuir esses conhecimentos com origor disciplinar, mas denotando suas limitações e buscar suaintegração para uma visão mais completa da realidade naaprendizagem.

Exige-se dos currículos modernos que, além de suas áreasclássicas do conhecimento, dêem noções de higiene pessoal, deeducação para o trânsito, de educação sexual, educação para oconsumo, que fomentem determinados hábitos sociais, querespondam às necessidades de uma cultura juvenil com problemasde integração no mundo adulto, que atendam aos novos saberescientíficos e técnicos, que acolham o conjunto das ciências

sociais, que recuperem a dimensão estética da cultura, que sepreocupem pela deterioração do meio ambiente, etc. (SACRISTÁN,2000, p.58).

RESENHA - A prática reflexiva no ofício de ProfessorCapítulo I – Da reflexão na essência da ação a uma prática reflexiva

A noção de prática reflexiva nos leva a dois processosmentais distintos:

  Todo processo complexo pede uma reflexão antes e durante o processo. Reflete-se a cerca da ação a ser tomada, seus objetivos, caminhos, meios, lugares,envolvimentos, possíveis resultados, evolução.

Refletir sobre a ação é uma ato crítico, onde levamos em conta a nossa própriaopinião e a suposição do que um outro profissional ou pessoa faria, qualmedida tomaria diante do mesmo caso.

Quando o professor se distancia do problema, da ação, analisa demaneira mais reflexiva. Ele faz uma retrospectiva, procura entender o queaconteceu, as atitudes que tomou ou que deveria ter tomado diante doproblema. Outrossim,  faz uma vista para o futuro, analisando como deveráproceder na repetição do problema. Faz um balanço dos pros e contras e tentacompreender o que de positivo e de negativo adveio da ação. Isso étransformar a experiência em saber: empirismo.

Existem vários fatores motivadores da reflexão, são eles:  Problema a resolver;  Crise a solucionar;  Decisão a tomar;  Ajuste do funcionamento;  Auto-avaliação da ação;  Justificativa frente a um terceiro;  Reorganização das próprias categorias mentais;  Vontade de compreender o que está compreendendo;  Frustração ou raiva a superar;  Prazer a ser salvaguardado a todo custo;   Luta contra a rotina ou contra o tédio;  Busca de sentido;  Desejo de manter-se por meio da análise;  Formação, construção de saberes;  Busca de identidade;  Ajuste das relações com o outro;  Trabalho em equipe;

Capítulo II – Saber refletir sobre a própria prática: objetivo central da formaçãodos professore?

Perrenoud enumerou dez motivos pelos quais seja necessárioformar os professores para refletir sobre suas praticas. Essesmotivos não seguem uma cronologia nem uma hierarquia:

  Compensação da superficialidade da formação profissional;  Favorecimento da acumulação de saberes de experiência

(empirismo);  Favorecer uma evolução rumo à profissionalização;  Preparar para assumir uma responsabilidade política e ética;  Permitir enfrentar a crescente complexidade da tarefa;  Ajudar a vivenciar um ofício impossível;  Oferecer os meios necessários para trabalhar sobre si mesmo;  Aumentar a cooperação entre colegas;  Aumentar as capacidades de inovação. (PERRENOUD; 2002; Pag. 48)

Na verdade esses dez motivos buscam objetivar uma única coisa, umaúnica idéia principal: a construção do sentido.

O portfólio e a formação deprofessoresO portfólio tem sido considerado no PIE um dossaberes a serem incorporados pelos professores-alunos e pelos mediadores (são os professoresque se encontram regularmente com osprofessores-alunos), em articulação com ateoria e a prática. Ele é considerado nãoapenas um procedimento de avaliação, mas oeixo organizador do trabalho pedagógico, emvirtude da importância que passa a ter durantetodo o processo.

O portfólio possibilita avaliar as capacidadesde pensamento crÃtico,de articular e solucionarproblemas complexos, de trabalharcolaborativamente, de conduzir pesquisa, dedesenvolver projetos e de o aluno formular osseus próprios objetivos para a aprendizagem (Murphy, 1997, p. 72).

No PIE o trabalho com o portfólio tem se apoiadoem seis princÃpios básicos (Villas Boas, 2001,p. 207): a construção pelo próprio aluno,possibilitando-lhe fazer escolhas e tomardecisões; a reflexão sobre as suasproduções; a criatividade, porque o alunoescolhe a maneira de organizar o portfólio ebusca formas diferentes de aprender; a auto-avaliação peloaluno, porque ele está permanentementeavaliando o seu progresso; a parceria professor-aluno e entre alunos, eliminando-se ações eatitudes verticalizadas e centralizadoras; aautonomia do aluno perante o trabalho.

MORIN, E, Os sete saberes necessários à educação do futuro.São Paulo: Cortez: Brasília, D.F.. UNESCO, 2000

Os sete saberes indispensáveis enunciados por Morin, objeto dopresente livro: 

- as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; É necessário reconhecer, na educação do futuro, um princípio de incerteza racional: pois a racionalidade corre risco constante, caso não mantenha vigilante autocrítica quanto a cair na ilusão racionalizadora. E a verdadeira racionalidade deve ser não apenas teórica e crítica, mas também autocrítica

O "imprinting" e a normalização

"Imprinting" é o termo proposto por Konrad Lorenz para darconta da marca indelével imposta pelas primeiras experiênciasdo animal recém nascido. O 'imprinting" cultural marca oshumanos desde o nascimento, primeiro com o elo da culturafamiliar; depois da cultura da escola, prosseguindo pelauniversidade e na vida profissional.

A normalização - forma de estandartização das consciências - éum processo social (conformismo) que elimina o poder da pessoahumana de contestar o "imprinting".

- os princípios do conhecimento pertinente; A pertinência domundo enquanto mundo é uma necessidade, ao mesmo tempo,intelectual e vital.

É o problema universal de todo cidadão do novo milênio: comoter acesso às informações e organizá-las? Como perceber econceber o Contexto, o Global (relação todo/partes) oMultidimensional, o Complexo?

Para articular e organizar os conhecimentos e, assim,reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária areforma do pensamento. Entretanto, essa reforma não éprogramática, mais sim, paradigmática - é questão fundamentalda educação, já que se refere à nossa aptidão para organizar oconhecimento.

Esse é o grande problema a ser enfrentado pela educação dofuturo - tornar evidentes:

- o contexto: o conhecimento das informações ou dados isoladosé insuficiente; é preciso situar as informações e dados em seucontexto para que adquiram sentido;- o global (relação todo/partes); é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional; assim, uma sociedade é mais que um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte;- o multidimensional: sociedades ou seres humanos são unidadescomplexas, multidimensionais; assim, o ser humano é, ao mesmo tempo, biológico, psíquico, afetivo, social, racional; a sociedade comporta dimensões histórica, econômica, sociológica, religiosas; o conhecimento pertinente deve reconhecer esse caráter multidimensional e nesse inserir todosos dados a ele pertinentes.- O complexo: há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo e há um tecido independente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, partes e todo, todo e partes, partes em si; assim, complexidade é a união entre unidade e multiplicidade

A antinomia - para Morin, nos dias atuais, os sistemas de ensinoportam antinomias - contradições - criando e alimentandodisjunções entre as ciências e as humanidades, assim como a

separação das ciências em disciplinas hiperespecializadas,fechadas em si mesmas. Os problemas fundamentais da humanidadee os problemas globais estão ausentes das ciênciasdisciplinares; o enfraquecimento da percepção global conduz aoenfraquecimento da responsabilidade (cada um passa a respondersomente por sua tarefa especializada), assim como aoenfraquecimento da solidariedade (as pessoas não sentem maisos vínculos com seus concidadãos).

Os problemas essenciais

Disjunção e especialização fechada - hiper-especialização impede tantoa percepção do global (que ela fragmenta em parcelas) quantodo essencial (que ela dissolve).

Redução e disjunção - o princípio da redução (limitar o conhecimento do todo ao conhecimento de suas partes) leva naturalmente a restringir o complexo ao simples.

- ensinar a condição humana; A educação do futuro deverá ser oensino primeiro e universal, centrado na condição humana.

Unitas multiplex": unidade e diversidade humana

Há uma unidade humana; e há uma diversidade humana. A unidadenão está apenas nos traços biológicos da espécie; adiversidade não está apenas nos traços psicológicos, culturaise sociais. Existem outras unidade e diversidades perfilhandoas características do ser humano em "ser humano".

Cabe à educação do futuro cuidar para que a idéia de unidadeda espécie humana não apague a idéia de diversidade e que adiversidade não apague a unidade. A educação deverá ilustrareste princípio de unidade/diversidade em todas as esferas doconhecimento.

- ensinar a identidade terrena;

- enfrentar as incertezas; : "O esperado não se cumpre, e aoinesperado um deus abre o caminho". O abandono das concepçõesdeterministas da história humana que acreditavam poderpredizer nosso futuro, o estudo dos grandes acontecimentos edesastres de nosso século, todos inesperados, o caráter

doravante desconhecido da aventura humana devem-nos incitar apreparar as mentes para esperar o inesperado, para enfrenta-lo. É necessário que todos os que se ocupam da educaçãoconstituam a vanguarda ante a incerteza de nossos tempos.

- ensinar a compreensão; A compreensão mútua entre os sereshumanos, quer próximos, quer estranhos, é daqui para a frentevital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbarode incompreensão. Daí decorre a necessidade de estudar aincompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seusefeitos. Este estudo é tanto mais necessário porque enfocarianão os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, dodesprezo. Constituiria, ao mesmo tempo, uma das bases maisseguras da educação para a paz, à qual estamos ligados poressência e vocação.

- a ética do gênero humano, Partindo disso, esboçam-se duasgrandes finalidades ético-políticas do novo milênio:estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade eos indivíduos pela democracia e conceber a Humanidade comocomunidade planetária. A educação deve contribuir não somentepara a tomada de consciência de nossa "Terra-Pátria", mastambém permitir que esta consciência se traduza em vontade derealizar a cidadania terrena.