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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ADRIANA STELA BASSINI EDRAL FILOSOFIA DA LINGUAGEM: Um resumo sobre a disciplina 1

Resumo sobre a disciplina

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ADRIANA STELA BASSINI EDRAL

FILOSOFIA DA LINGUAGEM:

Um resumo sobre a disciplina

1

Itajaí

2012

ADRIANA STELA BASSINI EDRAL

FILOSOFIA DA LINGUAGEM:

Um resumo sobre a disciplina

Monografia apresentada como

requisito para aprovação em

disciplina Filosofia da

Linguagem, na Universidade do

Sul de Santa Catarina.

Prof.: Aldo Litaiff

2

Itajaí

2012

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................

...................................................04

2 OS GREGOS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A

FILOSOFIA.....................05

2.1 Os

Jônios................................................

................................................05

2.2 Os Eleáticos e o nascimento da

metafísica.........................................06

2.3 Os Pitagóricos e os

Atomistas.............................................

................06

3 PLATÃO E O SURGIMENTO DO CORTE

EPISTEMOLÓGICO....................07

4 ARISTÓTELES: EMPIRISMO E A ORGANIZAÇÃO DAS

CIÊNCIAS...........08

3

5 O DISCURSO DO MÉTODO DE

DESCARTES..............................................09

5.1 As bases do método

Cartesiano..................................................

..............09

6 KANT E O JUÍZO SINTÉTICO A

PRIORI......................................................

..10

7 PEIRCE E O

PRAGMATISMO.................................................

........................12

8 WITTGENSTEIN E A VIRADA

LINGUÍSTICA.................................................

13

9 THOMAS

KUHN........................................................

.......................................14

10 A TRIANGULAÇÃO DO NEOPRAGMATISMO: RICHARD RORTY E O

ESPELHO DA

NATUREZA....................................................

.............................16

11 CONSIDERAÇÕES

FINAIS......................................................

......................18

CONSIDERAÇÕES PESSOAIS SOBRE O TEMA E

DISCIPLINA....................20

REFERÊNCIAS.................................................

..................................................22

4

5

INTRODUÇÃO

Estudar a história da filosofia - iniciada no século IV

a.C. e viva até os dias atuais -, bem como seus principais

questionamentos, é fundamental para entender como funciona o

mundo, sua construção em torno da ciência e da religião, na

busca por uma verdade absoluta, tão valorizada pelo pensamento

ocidental.

Durante a história do pensamento humano sobre o mundo e

sobre si, é possível identificar o reconhecimento por parte

dos chamados pensadores e filósofos da impossibilidade de

entender e conhecer o mundo empírico, haja vista que o ser

humano possui acesso a esse mundo de maneira restrita a seus

sentidos.

A relação entre o mundo sensível e o mundo das ideias,

primeiramente organizada por Platão, remete à existência de

uma verdade absoluta, à qual só é possível ter acesso mediante

o uso de um método. É importante ressaltar que esse pensamento

foi o que gerou toda concepção de mundo atual, mergulhado na

necessidade de comprovação empírica ou argumentação religiosa,

de maneira que aquilo que não pode ser explicado pela ciência

certamente o será pela lei divina.

Porém, diante da impossibilidade de entendimento do mundo

sensível e, portanto, da “descoberta” da “verdade”, a

filosofia reconhece como objeto de estudo a linguagem, na

chamada “virada linguística” da Filosofia. Essa virada

possibilitou o reconhecimento do ser humano como um ser

6

contextualizado, sujeito ao ambiente e à sociedade que o

envolve, composto por subjetividade e, portanto, por

interpretação dos fenômenos. O conhecimento humano passa a ser

relativizado e resultante de um contexto social, não sendo

mais relevante uma possibilidade de veracidade de dados ou

fatos, mas sim o fato de algo ser considerado verdadeiro,

dentro de uma determinada sociedade (LYONS, 1987, pág. 274).

Sendo assim, o presente trabalho tem como principal

objetivo relacionar os conteúdos discutidos durante a

disciplina Filosofia da Linguagem, ministrada no segundo

semestre de 2012. Para tal, foi realizada uma pesquisa

bibliográfica com autores discutidos durante a disciplina. Em

seguida, pretende-se realizar considerações sobre os temas

abordados nessa monografia, de maneira a esclarecer

questionamentos pessoais.

2 OS GREGOS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A FILOSOFIA

O pensamento grego se iniciou no século VI a.C, por meio

do nascimento da primeira escola de filosofia pré-socrática,

que, na visão de Gleiser (1997), foi o responsável pelo

caminho que levaria o mundo à atual ciência moderna.

2.1 Os Jônios

O pensamento dos filósofos desta escola era focado na

busca pela explicação dos fenômenos da natureza por meio dela

mesma, à procura da “matéria essencial”, ou seja, a substância

essencial da qual o universo era composto.

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Dentre os principais filósofos desta escola, Tales de

Mileto, considerado o fundador do pensamento filosófico

(GLEISER, 1997, p.43), acreditava que o universo era composto

por água, devido às suas qualidades únicas de mutação. Isso

remete ao pensamento sobre o universo como um organismo vivo,

trazendo para a história o conhecimento dos fenômenos naturais

causados por efeitos inerentes ao objeto em si e não com cunho

místico. Esse pensamento pode ser considerado a primeira ideia

empirista sobre o conhecimento humano.

Para Heráclito de Efeso, outro importante filósofo da

escola iônica - considerado “o obscuro” (GLEISER, 1997, P.48)

-, a força matriz da natureza encontrava-se no movimento.

Entendia a ideia da natureza e do comportamento humano como

algo que estava em constante mudança e que não permanecia

parado, considerando a complementaridade de opostos como a

força que movimentava o mundo. Como explica Gleiser:

Portanto, para Heráclito, o equilíbrio é atingido através da

necessária complementaridade entre os opostos, a qual ele

chamou de Logos, como o arco, que deve ser envergado para trás

de modo a poder arremessar a flecha para a frente. (1997,

p.49)

Tanto o pensamento dualista como a ideia de movimento na

natureza e no comportamento humano são importantes para os

futuros pensadores gregos. Além disso, eles podem ser

percebidos até hoje no discurso da filosofia, que, mais a

frente, será remetido ao corte epistemológico.

8

2.2 Os Eleáticos e o nascimento da metafísica

A contribuição dos eleáticos para a filosofia foi, por

meio de suas ideias, a criação da metafísicia, sendo

responsáveis pela organização do pensamento que leva Platão à

ideia de mundo inteligível.

Entre os principais filósofos, Parmênides, o considerado

pai da Metafísica, entende a realidade como estática, isto é,

aquilo que é real é imutável. Chama a essência do mundo de Eon

(ou Ser),uma individualidade divina, sendo este onipresente.

Sendo assim, negar o Ser é negar a própria existência do

universo e, se há movimento, há ilusão, ou seja, toda mutação

é ilusória.

Esse pensamento é de extrema importância para a construção

da filosofia racionalista, que vai entender o conhecimento

humano como um fenômeno interno, separado do mundo sensível. É

neste pensamento que bebe a física moderna e a ciência. Ainda

na visão de Gleiser (1997), um dos objetivos principais da

física é encontrar leis “universais” para os eventos da

natureza, pressupondo uma imutabilidade da mesma e, assim,

imutabilidade das leis que a regem.

2.3 Os Pitagóricos e os Atomistas

Os pitagóricos, especialmente Pitágoras, considerado por

muitos o fundador de toda a cultura europeia ocidental, são

conhecidos pela união que promoveram entre a filosofia e a

religião, isto é, “o racional e o místico, que é sem dúvida9

uma das maiores façanhas do conhecimento” (GLEISER, 1997, p.

53).

Dentre suas principais contribuições, está a descrição da

música, promovendo a primeira união entre a matemática e a

estética. Além disso, há a primeira tentativa de explicação

dos fenômenos da natureza por meio de razões matemáticas, isto

é, utiliza-se a matemática para explicar experiências

sensíveis, o que representa a base da física moderna.

Filolau, outro filósofo pitagórico, é reconhecido por ser

o primeiro a colocar o centro do universo em outro corpo

celeste que não a Terra, sendo um passo de grande relevância

para o entendimento de um sistema heliocêntrico.

Além dos pitagóricos, outra escola pré-socrática contribui

para a organização do pensamento científico. Os atomistas,

respresentados por filósofos como Demócrito, estudam os objeto

como corpos compostos por conjuntos de átomos, “unidos por

compatibilidade geométrica” (GLEISER, 1997, p. 61). Apesar do

conceito de átomo diferir significantemente de como é

concebido hoje, esta pode ser considerada uma das ideias de

mais impacto na construção da ciência moderna.

3 PLATÃO E O SURGIMENTO DO CORTE EPISTEMOLÓGICO

O pensamento platônico parte do princípio da metafísica de

Parmênides, na qual pretende-se explicar os fenômenos da

natureza por meio da essência que está por detrás destes

fenômenos. Assim, Platão entende o mundo divido em duas10

partes; a parte sensível, que corresponde ao mundo dos

sentidos, restrito ao que podemos sentir; e a parte

inteligível, que remete ao mundo das ideias, das essências,

composto por formas perfeitas e imutáveis.

É importante estabelecer aqui a diferença entre Platão e

Parmênides. Enquanto Parmênides nega qualquer mutação e a

entende como ilusória, Platão afirma a mutação, mas somente no

mundo sensível. Essa é a primeira construção do chamado corte

epistemológico, onde há um vão entre o real e o sensível. Para

Platão, a verdade absoluta, o verdadeiro, o real, não era

acessível ao homem por meio de observação empírica. Assim,

Platão busca o conhecimento por meio da razão, para o qual era

necessário um método.

Platão contribuiu fortemente para o conhecimento

cosmológico por meio da solução de problemas de descrições

irregulares dos sistemas planetários conhecida como “salvar

fenômenos”. Essa solução é praticada ate hoje na ciência

moderna, como será explicado posteriormente pelo filósofo

Thomas Kuhn.

Outro fato importante a ser considerado é o método de

Platão para chegar ao conhecimento da verdade. Diante da

impossibilidade do conehcimento do mundo por meio das

experiências sensíveis, Platão acreditava que todos os homens

tiveram acesso ao mundo inteligível, ja existente, escondido

na memória. Para ele, chegar ao conhecimento é o mesmo que

“lembrar” deles, ou seja, seu método da “reminiscência” era o

11

que promovia ao ser o conhecimento da verdade, o ideal

inteligível.

Dentre todas as já citadas, a principal responsabilidade

do pensamento platônico está no corte epistemológico. Este

corte é o que promove toda a separação do mundo chamado

sensível e todas as suas explicações, que podem ser embasadas

em argumentos chamados científicos ou religiosos. Essa

construção filosófica é a responsável por toda a organização

religiosa, política e ética sob a qual se coloca a sociedade

ocidental.

4 ARISTÓTELES: EMPIRISMO E A ORGANIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS

Apesar de ter sido discípulo de Platão, Aristóteles nega a

aquisição de conhecimento unicamente por meio do racionalismo

e afirma o conhecimento humano como uma prática de observação

da natureza.

Aristóteles não nega, porém, a teoria metafísica sobre a

existência de essências, entendo somente que, para se ter o

conhecimento sobre essas, era necessária a comprovação e

observação empírica.

Sua teoria empirista nega o conhecimento inato,admitindo o

ser humano como uma tabula rasa, impressa durante as experiências

sensíveis.

A grande contribuição de Aristóteles para o mundo

científico foi, também, a sua capacidade de organização das

12

ciências, que tinha, na visão de Gleiser (1997, p.73), “uma

abrangência incomparável, cobrindo tópicos desde teoria

política e ética até física, biologia e teoria poética”.

Seu pensamento foi também apropriado pela ordem cristã,

por meio de uma tentativa de Tomás de Aquino em transformar o

pensamento neoplatônico da Igreja católica (que negava e

recriminava a experiência científica, mas encontrava problemas

em perceber que seus próprios membros praticavam experiências

científicas). Assim, o pensamento aristotélico foi promovido

pela igreja como forma de “observar a obra de Deus”, o que,

mais tarde, não foi o suficiente para promover a reviravolta

científica na Renascença.

5 O DISCURSO DO MÉTODO DE DESCARTES

O discurso do método de Descartes foi escrito em uma época

na qual buscava-se a necessidade de unificar os conhecimentos

humanos a partir de métodos científicos construídas por meio

de bases seguras com base na busca pela verdade absoluta, o

que se entende por uma busca racional para os fenômenos.

O princípio da ideia de Descartes foi sua crítica à

escolástica. Sua pretensão era reformar a ordem científica

estabelecida nas escolas, duvidando dos conceitos aprendidos

de modo a concebê-los novamente por meio da razão, pois assim

seria a única maneira de conhecer a “verdade”.

5.1 As bases do método Cartesiano

13

A base do método de Descartes era a lógica

matemática, herdada da cultura grega, mais especificamente da

escola Pitagórica. Seu método consistia em reduzir

“proposições gerais” a signos matemáticos, dispondo de dedução

a partir de dois ou mais elementos, de forma a conceber um

conceito à luz da razão.

Seu método implicava em: aproximar-se dos conceitos sem

incluir juízos que não se apresentassem de forma clara;

analisar (dividir) cada uma das dificuldades em parcelas

simples para exame; ordenar os pensamentos, iniciando dos

conceitos mais simples até os mais complexos; enumerar e

revisar quantas vezes forem necessárias para certificar-se de

que nada foi esquecido.

A partir da construção do método, que implica basicamente

em análise, Descartes, diante da tendência ao ceticismo da

época (para filósofos como Montaigne, o mundo não passava de

construção de opiniões. O objetivo desses filósofos era

demolir superstições e ideias impostas), decide, em crítica a

esse movimento, duvidar de seu próprio método. Por isso, as

conhecidas frases “se duvido, penso” e “se penso, logo

existo”, remetem ao exercício da lógica que reforça o próprio

método definido por Descartes.

Descartes, no momento em que se define como “coisa

pensante”, afirma a existência da mente, o cogito, como mediação

entre o mundo sensível e o mundo

14

metafísico das essências, o inteligível de Platão. Entende-se

aqui que e a mente é a elo do corte epistemológico,

possibilitando o acesso ao conhecimento e entendimento dos

eventos do mundo sensível por meio do pensamento.

Descartes, por fim, partindo da releitura feita por Santo

Agostinho do platonismo, remete a Deus o fundamento absoluto

da ciência, sendo a clareza dos fenômenos possível somente por

meio da faísca divina, que o permite livrar o ser humano de

juízos que prejudiquem o conhecimento verdadeiro.

Descartes trouxe novamente o pensamento platônico e das

essências dos números ao mundo em crise no âmbito da ciência e

da religião. O corte epistemológico, que antes era mediado por

divindade em Platão, é mediado pela mente de Descartes. A

contribuição de Descartes à ciência se deu a ponto de

possibilitar o nascimento dos estudos sobre a mente, como a

psicologia.

6 KANT E O JUÍZO SINTÉTICO A PRIORI

As ideias de Kant, que sofre grande influência dos grandes

iluministas franceses e pensadores como Newton, Locke e

Descartes, a respeito do conhecimento humano, em seu ensaio

“Crítica da Razão Pura”, remetem tanto aos pensamentos

racionalistas quanto empiristas sobre o conhecimento humano,

aceitando tanto o conhecimento inato quanto empírico.

Sua primeira afirmação em seu livro afirma que “todo o

nosso conhecimento começa com a experiência”, admitindo a15

necessidade da experiência com o mundo sensível. Porém, logo

em seguida, afirma que “embora todo o conhecimento comece com

a experiência, nem por isso ele se origina justamente da

experiência”, promovendo assim a necessidade da faculdade

inata de conhecimento por meio da abstração, isto é, a razão.

Sendo assim, Kant inicia a distinção entre tipos de

conhecimentos do ser humano. Em primeiro lugar, os juízos

analíticos, chamados de a priori, remetem a conhecimentos inatos,

que independem da observação empírica, definidos como puros,

por não haver nada de empírico neles:

[...] Conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem de

modo independente desta ou daquela experiência, mas

absolutamente independente de toda a experiência (KANT, 1974, p.

54).

Além do conhecimento a priori, Kant define como a posteriori o

conhecimento que necessariamente são posteriores a qualquer

experiência, os conhecimentos sintéticos, considerados impuros

e incapacitados de promoverem universalidades, uma vez que se pode

praticar a indução, ou seja, a comparação de fatos empíricos,

admitindo que, até o presente momento, uma determinada regra

não possui exceções quanto a seu funcionamento.

O terceiro juízo, definido pelo filósofo, é responsável

pela análise de um conhecimento a priori, acrescentando um

conceito sintético ao qual o ser humano possuiu acesso

anteriormente e que, até o momento, sua veracidade não tenha

sido questionada, como Kant (1974) explica na seguinte

citação:

16

Posso conhecer antes analiticamente o conceito de corpo pelas

características da extensão, da impenetrabilidade, da forma

etc., [...]. Mas a seguir estendo o meu conhecimento e, ao

lançar um olhar retrospectivo à experiência da qual extraí

este conceito de corpo, encontro sempre conectado com as

características mencionadas também a de peso e o acrescento,

portanto, sinteticamente como predicado àquele conceito. [...]

É sobre a experiência que se funda a possibilidade da síntese

do predicado de peso com o conceito de corpo, pois ambos os

conceitos [...] se pertencem reciprocamente, se bem que de

modo apenas contingente, como partes de um todo, a saber, da

experiência, que é ela mesma uma ligação sintética das

instituições.

Assim, conceito de conhecimento de Kant se baseia na

representação, na qual os eventos, objetos e estados do mundo

sensível se tornam fenômenos, representações do mundo lá fora.

Esse tipo de conhecimento, o sintético a priori, é, mais uma vez,

a mediação entre o inteligível e o sensível, o corte

epistemológico que impede o acesso irrestrito do ser pensante

ao mundo sensível, sendo a representação kantiana o principal

elemento do fundamento epistemológico.

Entre esses pensadores, Kant foi o que mais se aproximou

da Filosofia da Linguagem, no momento em que define os

universais abstratos como expressões linguísticas. Esse é um

passo importante para a chamada virada linguística da

filosofia.

7 PEIRCE E O PRAGMATISMO

17

Peirce, juntamente com William James e outros filósofos, é

considerado o fundador do pragmatismo, um dos passos mais

próximos da virada linguística da Filosofia. Em seu livro

sobre semiótica, Peirce delimita que o objetivo do pragmatismo

é buscar um método que “determine o significado real de

qualquer conceito, doutrina, proposição, palavra ou outro

signo” (PEIRCE, 1977, p. 194).

É importante notar o uso da palavra real na citação de

Peirce, que acusa, ainda, a questão metafísica envolvida na

filosofia. Porém, vale citar que o pragmatismo possibilita a

percepção do significado de um signo linguístico, por exemplo,

como resultado de uma construção social, o que coloca em

questionamento o conceito de “verdade”. Assim, no momento em

que Peirce afirma sobre o significado real, e também relaciona

a verdade como algo construído, gera-se um questionamento a

respeito de Peirce, como um pragmatismo que visa construir

clareza e não verdades absolutas.

Para Peirce, o objeto de um signo se difere totalmente de

seu significado: o sentido de todo símbolo ou conceito é

dependente da totalidade de possibilidades de construção da

verdade desse conceito. Aqui, entende-se que o significado só

se constitui por meio de uma construção social, da luta entre

o integrante de um meio e o próprio meio. O autor, nesse

momento de seu texto, afirma que não é preocupação do

pragmatismo descobrir o significado de cada signo, mas sim

estabelecer um método pelo qual se é possível determinar

18

significados dos conceito que podem vir a gerar raciocínio

(PEIRCE, 1977, p.194).

Há categorias de construção de um signo: a primeiridade,

em que há um sentimento ou qualidade percebida (o ícone), a

segundidade, que trata da identificação do fenômeno (o

índice); e a terceiridade, que trata da generalização, da

aprendizagem. Para cada uma, há uma ciência responsável por

seu estudo, sendo a Metafísica a responsável pela terceiridade

do fenômeno.

É a primeira vez que aparece, durante esse estudo, a

percepção de verdades como significados construídos, embora se

não tenha desconsiderado a metafísica como verdade absoluta.

Peirce, ao afirmar que a verdade é temporária e que os signos

são os alicerces pelos quais é possível compreender o mundo,

dá um passo adiante na percepção do signo como a mediação

entre o mundo sensível e o inteligível.

Peirce também é bem sucedido na sua tentativa de crítica a

Descartes, afirmando a impossibilidade de reconhecimento da

distinção entre uma ideia aparentemente clara e uma ideia

clara de fato: “naturalmente, é uma coisa totalmente diferente

um homem reconhecer que ele não pode perceber que duvida

daquilo que ele possivelmente não duvida” (PEIRCE, 1977, p.

199).

Além disso, o pragmatismo procura entender que os efeitos

práticos de um conceito constituem a soma total do conceito,

afirmando a abdução como o fundamento desta teoria. A função

19

do pragmatismo, portanto, circula a produtividade e promove a

construção de verdades mais satisfatórias possíveis aos fins e

meios de uso de conhecimento.

8 WITTGENSTEIN E A VIRADA LINGUÍSTICA

Wittgenstein pode ser considerado um dos mais importantes

idealizadores da virada linguística, momento em que a

filosofia ensaia a solução sobre os questionamentos acerca do

conhecimento humano no estudo da linguagem, considerando que

Wittgenstein acreditava que os problemas entre as questões da

filosofia surgiam em meio a problemas de linguagem.

Inicialmente, seu trabalho se constituiu em desmistificar

o dualismo corpo x mente, afirmando que são os seres humanos e

não a mente dos mesmos que percebem e sentem o mundo sensível,

negando os dualismo público x privado, interno x externo e

afirmando que o outro – outra pessoa, externa – pode ter

conhecimento total a respeito do que é privado a alguém. Isso

é possível por meio da linguagem.

A linguagem, para Wittgenstein, passa a ser o grande

objeto de estudo da filosofia e, sendo assim, o foco da

solução dos problemas filosóficos está não no evento, objeto

ou estado em si, mas como apresentar conceitos por meio da

linguagem sobre determinado evento, objeto ou estado. Para o

filósofo, os problemas da filosofia surgiram devido a

particularidades específicas da linguagem que desencaminhavam

o entendimento a respeito do mesmo objeto. Ou seja,

20

apresentam-se conceitos diferentes sobre um mesmo evento,

objeto ou estado sensível.

Portanto, a linguagem representa a maneira com que o ser

humano modela (salva) a natureza e, consequentemente, seu

pensamento, sendo o jogo de linguagem o motivo pelo qual

existe o dualismo corpo x mente, tradicionalmente cartesiano.

Essa concepção foi a responsável pela virada linguística,

pela qual se percebe que o entendimento do mundo que cerca o

ser humano é possível por meio da linguagem. Assim, o que vira

objeto de estudo não é mais a observação empírica ou o

racionalismo, mas sim o que está mediando o corte

epistemológico, que é a linguagem em si.

9 THOMAS KUHN

Thomas Kuhn, um dos filósofos pragmatistas estudados na

disciplina, aborda sobre a estrutura das revoluções

científicas, em livro de mesmo nome, trazendo uma visão

política e social sobre a ciência, o conceito de paradigma e a

crise no campo científico.

O paradigma, para o filósofo, corresponde a “realizações

científicas universalmente reconhecidas que, durante algum

tempo, forneceram problemas e soluções modelares para uma

comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN, 2003, p. 13).

Essa ideia remete tanto ao campo de Bourdieu, que

apresenta todos os campos como algo estruturado, composto por

21

dominantes e dominados que lutam por uma moeda de valor comum

aos componentes do campo (aqui, pode-se entender essa moeda

como o próprio paradigma), quanto também à ideia sofista de

verdade, na qual o poder da retórica é a própria constituição

da verdade. Assim, relacionando as realizações universais da

ciência que davam conta, por um determinado período, dos

problemas científicos com a arte da retórica, foca-se

novamente na linguagem, na qual a condição de verdade sobre um

determinado fenômeno se dá peço poder político de argumentação

(isto é, troca de proposições) sobre o fenômeno, não

importando questões metafísicas ou, muito menos, a verdade

absoluta.

Kuhn entende a ciência como um conjunto de teorias e

métodos reunidos em textos e livros que fornecem soluções

aceitas pela comunidade científica a respeito de determinados

fenômenos. Outro fator importante na construção de Kuhn é sua

associação entre a ciência e o modelo platônico de “salvar

fenômenos”, como explicado no trecho retirado do livro:

a maioria dos cientistas, durante toda sua carreira, ocupa-se

com operações de limpeza. Elas constituem o que chamo de

ciência normal. Examinado de perto, seja historicamente, seja

no laboratório contemporâneo, esse empreendimento parece ser

uma tentativa de forçar a natureza a encaixar-se dentro dos

limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis

fornecidos pelo paradigma. A ciência normal não tem como

objetivo trazer à tona novas espécies de fenômeno; na verdade,

aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma

frequentemente nem são vistos (KUHN, 1991, p.45).

22

Essa crítica de Kuhn à ciência normativa é um marco na

transformação da visão mundo estabelecido e consagrado

principalmente no Iluminismo, em que a busca pela verdade

comprovada por métodos científicos era a tendência. A noção de

ciência não como aquela que busca entender o mundo e perceber

novas perspectivas sobre o mesmo, mas como aquela que

restringe a própria percepção do homem sobre a natureza a suas

“comprovações” e centraliza o poder do conhecimento na mão de

poucos cientistas que, por ordens políticas ou a própria luta

pelo campo (citando novamente o conceito de Bourdieu), buscam

defender suas teorias a partir do “salvar fenômenos” e

ignorando outros fenômenos que não podem ser explicados por

tal paradigma, promove a crença, necessariamente, de que a

percepção de mundo que hoje se estabelece é um composto de

signos e representações por meio da linguagem que, vestidos de

ciência metodológica, promovem paradigmas considerados

“verdades naturais e absolutas” por uma determinada sociedade.

Assim, nada difere a ciência da religião ou de um

argumento ditatorial, cuja base é o convencimento por ordem ou

por lei por parte de uma determinada sociedade a respeito de

um determinado fenômeno, fato que pode ser relacionado ao

conceito de signo como construção social de Peirce, ao afirmar

que, diferentemente do pensamento cartesiano, seria absurdo

afirmar que se duvida de algo que, obviamente, não se duvida.

Ou seja, a verdade não está na comprovação metafísica sobre a

veracidade de tal fato, mas sim a capacidade de um argumento

ser considerado verdade ou não, o que depende,

necessariamente, de um contexto histórico e social.23

10 A TRIANGULAÇÃO DO NEOPRAGMATISMO: RICHARD RORTY E O ESPELHO

DA NATUREZA.

A obra de Rorty promove um ataque à epistemologia

metafísica, além de um ataque ao empirismo em si, mais

especificamente aos três dogmas do empirismo: o conceito de

sintético e analítico, a ideia de linguagem ordinária e

linguagem neutra, isto é, científica, e a ideia de forma e

conteúdo, alegando que as três rementem à ideia do corte

epistemológico, ou seja, uma necessidade de mediação entre o

mundo sensível e o mundo inteligível. A ideia de Rorty é que

tal mediação não precisa ser pensada, pois essa é uma questão

metafísica e, como esta é uma questão impossível de ser

resolvida e criada pelo homem, ela deve ser deixada para

aqueles que a criaram, uma vez que ela também não resolve os

problemas filosóficos atuais ou pensados no decorrer da

história.

Para Rorty, esses problemas foram gerados pela hipostasia

de conceitos por parte dos filósofos dualistas, em uma

tentativa de tornar esses conceitos em verdades universais,

propondo uma relação entre esse dualismo e a tendência

cartesiana. Na visão do filósofo, o dualismo não resolve os

problemas filosóficos criados por ele mesmo e se restringe

apenas a um jogo de linguagem. Lembrando Kuhn, o filósofo

esclarece que esses jogos de linguagem funcionam como um

conjunto de termo e suposições centradas em uma concepção de

24

mente como um espelho da natureza, organizadas de maneira a

dar sentido à própria ideia de mente cartesiana.

Rorty afirma que a explicação, centrada no dualismo

cartesiano, não passa de justificações. Propõe,

principalmente, que o objetivo da filosofia de hoje é manter a

conversação constante, em vez da busca metafísica pela

”Verdade”:

[...] a meta da filosofia edificante é antes manter a

conversação fluindo que encontrar a verdade objetiva. Tal

verdade, na visão que advogo, é o resultado normal do discurso

normal. A filosofia edificante não é apenas anormal, mas

reativa, tendo sentido apenas como um protesto contra

tentativas de encerrar a conversação com propostas de

comensuração universal através da hipostasiação de algum

conjunto privilegiado de descrições (RORTY, 1994, p. 370)

Rorty, em ataque à metafísica, afirma absurda a ideia de

verdade absoluta, afirmando que a mesma é uma construção

social:

Para o filósofo edificante a própria ideia de ser apresentado

a “toda a Verdade” é absurda, porque a própria noção platônica

de Verdade é absurda. PE absurda seja como a noção de verdade

sobre a realidade que não é sobre a realidade-sob-uma-certa-

descrição, seja como a noção de verdade sobre a realidade sob

alguma descrição privilegiada que torna desnecessárias todas

as outras descrições por ser comensurável com cada uma delas

(RORTY, 1994, p. 371)

Essa noção de verdade construída, antes também definida

por Kuhn, por Montaigne e pelos sofistas, não necessariamente

apresentadas por meio do mesmo vocabulário é a grande

contribuição do pragmatismo. A partir dessa noção de verdade

25

como descrição e explicação como justificação, propõe-se a

triangulação, modelo filosófico proposto por Davidson, citado

por Rorty em seu livro. Para ele, a filosofia deve ser

percebida como uma grande conversação, em que deve haver um

locutor e um interlocutor, possibilitando o diálogo entre os

mesmos a respeito do mundo, por meio de justificação. Esse

diálogo deve ser embasado na concordância voluntária e

discordância tolerável, buscando um acordo entre o locutor e o

interlocutor de maneira a entender as causas e efeitos do

mundo de acordo com o contexto proposto na justificação.

Para Rorty, o objetivo dessa triangulação só será

conquistado por meio do holismo, da boa vontade e da

preocupação com as metáforas oculares, usando a linguagem como

principal instrumento da triangulação, não se preocupando

necessariamente com a busca pela verdade, mas com a criação de

consenso sobre fins e meios usados para que se chegue a

verdades construtivas para a sociedade e o ambiente que os

cerca.

26

11 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível perceber, diante da análise de todos os textos,

que a grande questão filosófica se encontra no problema da

linguagem. No momento em que Platão define a dialética como

outro método para se chegar ao conhecimento Verdadeiro, a

troca de proposições eram o principal fio condutor. Isso se

reafirma em Kant e em Peirce, uma vez que todas as questões

discutidas por eles se passavam por meio das proposições.

Thomas Kuhn é sábio em afirmar que a ciência se baseia em

textos e livros que definem como os fenômenos são

historicamente explicados por meio dos paradigmas, que são,

necessariamente, jogos de linguagem.

Sendo assim, não haveria outro fim (ou caminho) para a

filosofia que não o estudo de como o conhecimento ocorre por

meio da linguagem, uma vez que todos seus objetos de estudo

foram absorvidos por outras ciências.

Porém, mesmo sendo todas as teorias filosóficas embasadas

na linguagem, isso não era percebido como tal. Foi preciso

percorrer esse longo caminho em busca da Verdade absoluta, das

essências e das explicações de como se dá o acesso ao mundo

sensível para se chegar à conclusão de que não há uma Verdade,

mas sim uma verdade construída, não á uma essência, mas sim um

significado como resultado de negociação por troca de

proposições e, por último, que não há explicações

27

privilegiadas a respeito do mundo, mas sim justificações que

permitem a vivência no ambiente acerca de uma sociedade.

O corte epistemológico, que se faz presente em Platão e

percorre toda a história da filosofia cartesiana é o que

sustenta a maioria das teorias científicas e psicológicas. E é

por meio deste mesmo sistema de dualismo mente x corpo, forma

x conteúdo, mundo sensível x mundo inteligível, que toda a

humanidade formulou sua maneira de viver o mundo.

Desconsiderar o corte epistemológico é negar a história da

filosofia. Porém, considerá-lo como fato é aceitar a ideia de

Verdade absoluta, do inteligível e não acesso ao mundo

sensível, é aceitar que há algo entre o humano e o mundo e,

por isso, não há acesso e nem responsabilidade por parte do

indivíduo em relação ao mundo, é aceitar a definição de grupos

sociais soberanos em relação a outros e aceitar o argumento

religioso e científico em detrimento do senso comum.

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CONSIDERAÇÕES PESSOAIS SOBRE O TEMA E DISCIPLINA

Durante toda a disciplina, o corte epistemológico foi

fortemente evidenciado em todos os ensaios e propostas

filosóficas estudadas, seja com o intuito de reafirmação ou

rejeição ao mesmo. Porém, ele estava sempre rodeando as

questões filosóficas.

É interessante perceber como o ser humano caminha em busca

de respostas para perguntas recorrentes, como, por exemplo,

“quem sou, para onde vou, porque estou aqui”. Essas questões,

de origem metafísica, são, provavelmente, as que induzem o ser

humano à busca de uma resposta absoluta e segura, diante de

seu medo do futuro. Durante as disicplinas do professor

Fernando Vugman, sobre Teoria Literária, muito se tem

discutido a respeito do medo da morte do ser humano. Talvez

essa seja uma explicação para a constante fuga do ser humano

para a religião, ou a própria ciência, em busca de respostas

que vão confortar o sentimento humano contra sua existência

finita.

Por isso, talvez, também seja difícil o entendimento do

ser humano a respeito do que ele conhece como verdade como

algo construído e não como algo absoluto. Essa pode ser a

grande justificativa para um mundo rodeado de preconceito

contra o outro, e a não preocupação com o meio-ambiente, o que

torna quase impossível a aplicação da triangulação proposta

pelos pragmatistas.

29

Na minha visão pessoal, esse é o aprendizado que levo da

disciplina. Hoje, é possível entender como o mundo se molda

àquilo que lhe permite sentir segurança e confiança em algo

maior do que o próprio humano.

Particularmente, o texto de Thomas Kuhn foi o que

justamente mais me trouxe esclarecimento a respeito da

organização do regime científico e o quão ligado às ordens

políticas ele é. Vejamos, por exemplo, a respeito de Montaigne

e Descartes. A meu ver, o ceticismo de Montaigne (respeitando

as limitações e o contexto histórico) traz mais lógica ao

comportamento humano, que se reconhece como nada (o que

Nietzsche traz séculos depois) do que a confusão provocada por

Descartes sobre a organização de um processo chamado mente que

mediava o acesso ao mundo sensível e o ser humano. Se um dia

eu perdi a fé na religião, hoje eu perdi a fé na ciência.

Porém, criei a fé no homem e no seu potencial para fazer do

mundo o que ele quiser.

Como sugestão para a disciplina, registro a necessidade de

ela ocorrer em mais encontros. Por ser um assunto de muito

interesse pessoal, talvez essa questão seja suspeita. Porém,

ressalto que há muitos outros filósofos que poderiam ser

estudados (e, inclusive, mencionados pelo professor), mas por

carência de tempo no cronograma, foi impossível discutir mais

sobre eles em sala.

Aproveito para registrar meus cumprimentos ao professor

Aldo Litaiff, que tão sabia e apaixonadamente conduz a

disciplina, além de possuir um inquestionável domínio sobre o30

tema. As aulas foram, sem dúvida, as mais produtivas desse

primeiro momento do programa e promoveram um crescimento,

acima de tudo, pessoal e emocional.

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REFERÊNCIAS

DESCARTES, R. O discurso do método in Os Pensadores. São

Paulo: Abril Cultural,1973.

GLEISER, M. A dança do universo: dos mitos de criação ao big

bang.São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

HACKER, P.M.S. Wittgenstein: sobre a natureza humana. São

Paulo: Unesp, 1999.

KANT, I. Crítica da razão pura in Os Pensadores. Tradução de

Victor Civita. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

KUHN, T.S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo:

Perspectiva, 1991.

LYONS, J. Linguagem e linguística: uma introdução. São Paulo:

LTC, 1987.

PEIRCE, C.S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1977.

PLATÃO. A república – livro VII. Editora da UnB., Brasília

(p.38-56), 1984.

RORTY, R. A filosofia e o espelho da natureza. Rio da Janeiro:

Delume-Dumará, 1994.

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