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99Empreendedorismo
4.1 Contextualizando
O empreendedor é o agente de transformação que pode elevar o motor
da economia, além de atuar para os fatores essenciais do desenvolvimento
sustentável. Como já estudado nos capítulos anteriores, o empreendedorismo
não é ainda uma ciência, embora seja uma das áreas da administração de maior
estudo nos últimos anos. Corresponde a uma área em que os profissionais já
obtêm importante participação no PIB brasileiro.
Conforme já relatado em estudos anteriores, a atividade empreendedora
vem sendo a opção de carreira de muitos profissionais, característica que
já tinha repercussão com os profissionais liberais e hoje vem crescendo
em outras áreas do mercado. Muitos abrem o seu próprio negócio como
opção de carreira, apresentando excelentes resultados, o que não depende
do fator sorte, mas do fator conhecimento, gestão, comprometimento,
planejamento, organização, entre outros, para o desenvolvimento do
empreendedorismo de sucesso.
Neste contexto, tratamos da atividade empreendedora como opção de
carreira, e não somente como uma opção de lucro ou status. Vamos apresentar
as atividades essenciais para a atividade empreendedora e as principais
situações do negócio. Para você, que pretende ser ou já é um empreendedor,
esse capítulo vai deixá-lo mais motivado ainda a essa opção de carreira.
Você lembra do teste sobre o perfil empreendedor que respondeu no
capítulo 3? Aqui, vamos retomar alguns dos pontos apresentados no teste.
ATIVIDADE EMPREENDEDORA COMO OPÇÃO DE CARREIRA
CAPÍTULO 4
Capítulo 4
100 Empreendedorismo
Ao final deste capítulo, esperamos que você:
• saiba definir a atividade empreendedora como uma carreira;
• identifique as informações essenciais para uma atividade
empreendedora;
• saiba identificar as situações de um negócio próprio.
4.2 Conhecendo a teoria
4.2.1 Atividade empreendedora e carreira
Para iniciar o estudo do capítulo 4, vou retomar alguns números já
apresentados, como a taxa de atividade empreendedora no Brasil, que em
2009 foi de 15,3% de brasileiros envolvidos em atividades empreendedoras,
havendo um aumento de 3% em relação ao ano de 2008. No estudo de países
empreendedores, o Brasil está na 14ª posição, ficando atrás de países como
a China, USA e, principalmente, os países latino-americanos, mas à frente da
Argentina, Chile e Uruguai, além da participação da mulher e dos jovens na
abertura de negócios próprios.
Esses números apresentam um novo perfil do empreendedor no mundo
e no Brasil, acreditando na sua capacidade de produzir e tornar essa opção
uma atividade e carreira profissional. A percepção de oportunidades e a
criação de ideias têm sido o diferencial desses números no Brasil, que vem se
destacando no empreendedorismo.
Um dos principais responsáveis pela atividade empreendedora hoje,
no Brasil, é a pequena empresa. Segundo informações do Sebrae (2010), as
pequenas empresas geraram mais empregos do que as empresas de médio
e grande porte, referente à atividade empreendedora e proporção dos
trabalhadores por conta própria na sociedade economicamente ativa no
período de 2009.
Vamos conhecer a dimensão das empresas, critério adotado pelo Sebrae
para conceituar as empresas, segundo o número de trabalhadores e receita
bruta anual, cujos valores foram atualizados pelo Decreto 5.020, de 31 de
março de 2004, estabelecidos pela Lei n. 9.841.
Capítulo 4
101Empreendedorismo
TIPO DE EMPRESA
NÚMERO DE TRABALHADORES VOLUME DE NEGOCIAÇÃO
Micro
empresa• Na indústria e construção:
até 19 trabalhadores;
• No comércio e serviços: até 09 trabalhadores.
Receita bruta anual igual ou
inferior a R$ 433.755,14
Pequena
empresa• Na indústria e construção: de
20 a 99 trabalhadores;
• No comércio e serviços: de 10 a 49 trabalhadores.
Receita bruta anual superior
a R$ 433.755,14 e igual ou
inferior a R$ 2.133.222,00
Média
empresa• Na indústria e construção: de
100 a 499 pessoas ocupadas;
• No comércio e serviços: de 50 a 99 pessoas ocupadas.
Receita bruta anual superior
a R$ 2.133.222,00
Grande
empresa• Acima de 500 trabalhadores Receita bruta anual superior
a R$ 12.000.000,00
Quadro 1 - Dimensão das empresasFonte: adaptado de <http://www.sebrae.com.br/uf/goias/indicadores-das-mpe>.
De fato, ao analisar o quadro 1, identificamos a diferença da micro e
pequena empresa para uma grande organização, característica importante para
a linha de gestão que o empreendedor vai adotar para a organização, além das
ferramentas de administração necessárias para cada dimensão de empresa.
Dolabela (1999) relata que a presença do empreendedor com perfil
de liderança é importantíssima para o sucesso do empreendimento, ou seja,
geralmente tudo depende dele, o sistema social e volume de negociação
são criados à sua imagem. Geralmente, a equipe de gerência é pequena e
resume as responsabilidades e atividades ao empreendedor ou aos seus sócios,
quando ocorre. A falta de recursos restringe a contratação de profissionais e
os sistemas de controles acabam sendo informais.
Mas, por outro lado, o empreendedor é um trabalhador incansável e as
pesquisas mostram que os empreendedores de micro e pequenas empresas
vêm se destacando, ou seja, visam sempre os resultados, e não o trabalho em
si. Também se faz necessário destacar que, geralmente, os empreendedores
de sucesso não conseguem dividir o negócio com outra atividade profissional,
optando pela carreira na atividade empreendedora.
Vamos saber o que é carreira?
Capítulo 4
102 Empreendedorismo
CONCEITOCONCEITO
Carreira corresponde à sequência de posições
ocupadas e de trabalhos realizados durante a
vida de um profissional, geralmente relacionados
as suas experiências. O desenvolver da carreira
envolve uma série de etapas e ocorrências que
refletem necessidades, motivos e aspirações
individuais, além das expectativas e imposições da organização, da
sociedade e do mercado.
Dolabela (1999, p. 61), no livro O segredo de Luísa, descreve que o sucesso
do empreendimento é proporcional à dedicação, à concentração na essência
das atividades da empresa, o que permite tanto o conhecimento vertical,
profundo, como também conduz à criatividade e à formação de uma mente
intuitiva, uma vez que a intuição é muito relacionada com a experiência.
Vamos analisar alguns conceitos sobre intuição?
CONCEITOCONCEITO
O Dicionário Aurélio apresenta intuição como
conhecimento imediato e claro, sem recorrer ao
raciocínio.
Já Dolabela (1999) conceitua o termo como o subproduto direto
do treinamento e da experiência que foram estocados em forma de
conhecimento. A abordagem da intuição no campo empreendedor possui
um forte vínculo, uma vez que a experiência pode ser aprendida e praticada,
sendo a “criatividade” um caminho importante para a criação da experiência,
que geralmente surge no processo de solução de problemas.
Como você define criatividade? Vamos pesquisar alguns autores?
Segundo o Dicionário Aurélio, criatividade é a capacidade de criar. E ainda
conforme esta fonte, “criar é dar existência a, tirar do nada. Imaginar, produzir,
inventar algo, fundar, instituir”.
Capítulo 4
103Empreendedorismo
Por sua vez, Malheiros, Ferla e Cunha (2005) definem criatividade como
um processo contínuo que se caracteriza pela realização de alguma coisa nova
e útil, que envolve criação de valor a partir de ideias. Ainda segundo os mesmos
autores, pode-se dizer que criatividade é você ver o que todo mundo consegue
ver e pensar sobre aquilo que ninguém pensou, ou seja, implica na criação de
novas relações entre questões ou fatos geralmente não relacionados.
Desse modo, qualquer que seja a definição, a criatividade é, em geral, a
responsável pelo sucesso de muitos empreendimentos, decorrente da observação
do empreendedor, de inúmeras empresas analisadas, e em alguns casos, visitadas,
da associação de ideias, dos pontos fortes e fracos desses empreendedores. Ainda
leva à geração de ideias e ao seu desenvolvimento, podendo, dessa observação e
análise, construir algo novo e diferente perante o já existente no mercado.
Figura 1 - Criação de ideias
Fonte: <www.shelterconsulting.com>.
Ainda sobre a atividade empreendedora como carreira, é importante
destacar que a relação entre desemprego e abrir um negócio como opção
de trabalho e retorno financeiro também tem sido um dos fatores que leva
a ter um negócio próprio, não sendo esta a indicação mais promissora do
empreendedorismo. Estudos já comprovaram que a relação de causa e efeito
não é positiva, pois pode faltar, no desempregado, as habilidades, experiência,
motivação ou oportunidade para empreender, o que pode gerar problemas de
inserção do negócio no mercado e até mesmo a falência do negócio a curto prazo.
Mas, por outro lado, também não podemos dizer que a relação desemprego e
empreendedorismo não pode ter um bom resultado, pode ser positivo e até
mesmo abrir mercados e oportunidades, mas no estudo do empreendedorismo
não há índice de sucesso mais promissor para iniciar um negócio próprio.
Capítulo 4
104 Empreendedorismo
A importância do empreendedorismo pode depender do estágio
e do momento do país, que pode estar mais suscetível a um ou
outro segmento, além das características do empreendedor. A
empresa sempre será um laboratório ao empreendedor, ocorrendo
e acertando os erros, mas o que não se pode é “fazer mais”, em vez
de “aprender mais”, principalmente para os interessados em ter a
atividade empreendedora como carreira.
Segundo Chér (2008), ser empreendedor é ter a necessidade de realizar
coisas novas, colocar em prática ideias próprias, geralmente, estando disposto
a correr riscos e trabalhar arduamente para conseguir o resultado almejado,
ou seja, são pessoas que fazem com que as coisas aconteçam.
A atividade empreendedora pode estar alinhada à carreira, mas o
indivíduo precisa estar disposto a desenvolver, no início do negócio, todas as
atividades na empresa ou estar parcialmente envolvido e conhecer todas as
atividades. Além de ter disposição para assumir e correr riscos, não sendo
uma característica de todos que desejam ter um empreendimento próprio e
desenvolver essa atividade como carreira.
Degen (1997) descreve que todo potencial empreendedor deve
estar sujeito a duas condições, pontos que também sugiro à atividade
empreendedora como carreira: a primeira é sua percepção sobre as condições
de iniciar o negócio, ou seja, o seu preparo, o que aumenta a sua autoconfiaça,
e a segunda consiste na visão de outros interesses e obrigações que minam
esta autoconfiança.
A seguir, algumas recomendações para aqueles que pretendem seguir a
atividade empreendedora como carreira:
• priorizar a gestão de pessoas;
• priorizar a gestão financeira;
• aumentar a produtividade com a redução de custos;
• aperfeiçoar a política de vendas e marketing;
• comunicação com clientes;
• serviços pré e pós venda;
• diferenciação de produtos e serviços;
• investir em qualidade e tecnologia;
Capítulo 4
105Empreendedorismo
• relacionamento com fornecedores;
• treinamento do grupo constantemente;
• envolvimento e participação dos colaboradores.
O responsável por um negócio ou empreendimento precisa estar
preparado para oferecer aos clientes algo que vai atender e satisfazer a
necessidade pessoal ou profissional. E, ao mesmo tempo, desenvolver um
produto que seja inovador, tenha diferencial, com qualidade e profissionalismo,
em relação ao oferecido pela concorrência.
Pesquisas realizadas mostram que os principais
motivos dos empreendimentos não terem
dado certo foram por dificuldades encontradas
pelos proprietários na hora de planejar e
administrar, muitos por despreparo, falta
de experiência e conhecimentos necessários
ao negócio. Ao abrir um negócio, devemos
ser muito profissionais e não nos deixarmos
seduzir por encantos.
SAIBA QUE
A atividade empreendedora como carreira não é tão difícil como pensa
a maioria das pessoas, mas é preciso ter conhecimento e comprometimento
com você e com todos os outros que vão estar envolvidos no seu negócio.
E principalmente, é preciso esquecer, por exemplo, que uma semana de
trabalho corresponde a 40 horas de trabalho, de segunda a sexta, das 8h às
18h e com duas horas de almoço sempre. Além disso, o empreendedor precisa
estar disponível ao aprendizado constante, porque assim estará em condições
favoráveis ao crescimento da sua carreira.
Você precisa ter planejamento profissional, atitude dinâmica e
empreendedora na sua carreira, permitindo-se adequar às novas informações
e tecnologias do mundo globalizado.
Capítulo 4
106 Empreendedorismo
4.2.2 Informações essenciais para atividade de empreendedor
O empreendedor deve saber que negócio sem risco não existe. Mas
algumas informações são importantes para a atividade de empreendedor.
Vamos conhecer as principais?
Antes, convido você para refletir sobre algumas questões apresentadas
por Malheiros, Ferla e Cunha (2005) sobre o ato de identificar oportunidades:
• Quais são as principais forças e “vácuos competitivos” que criam esta
oportunidade?
• O que pode estar por trás dessa oportunidade?
• Quais são as principais razões que conduzem a essa oportunidade?
• Por quanto tempo você acha que elas vão existir?
• Essa oportunidade é desejável a quem?
• Existe uma necessidade real para este produto ou serviço?
• Você consegue identificar os seus consumidores?
• Você pode conquistá-los?
• Eles ficarão encantados e entusiasmados com o produto ou serviço?
• Qual o seu estilo de vida? Ele é compatível com a sua ideia de negócio?
• O produto ou serviço é lucrativo o suficiente para permitir uma margem
de segurança para possíveis erros durante o período de aprendizagem?
O empreendedor, antes de iniciar um negócio, precisa ser estimulado
a pensar sobre as informações essenciais para exercer uma atividade
empreendedora, como suas características pessoais e necessidades do mercado/
cliente. Precisa avaliar as próprias características, ou seja, o autoconhecimento,
identificar as habilidades e fragilidades como empreendedor e analisar
seriamente o mercado em que pretende atuar, conhecendo as oportunidades
de mercado, bem como a sua capacidade para desenvolvê-las.
Capítulo 4
107Empreendedorismo
As perguntas descritas por Malheiros, Ferla e
Cunha (2005) sobre oportunidades concluem que
o mercado/cliente é o principal ator para dizer se
aquele ideia ou oportunidade é realmente uma
necessidade ou apenas um “achismo” do futuro
empreendedor. No capítulo 7, vamos conversar
mais sobre ideias e oportunidades de negócios,
mas já chamo atenção às perguntas apresentadas.
SAIBA QUE
Agora, vamos conhecer as seis dimensões da capacidade empreendedora,
segundo Birley e Muzyka (2001):
• Orientação estratégica: descreve os fatores que relacionam a
formulação de estratégias da organização, examinando o ambiente
à busca de oportunidades, sendo mais positivo, criativo e inovador.
A oportunidade, nesse momento, pode estar ligada a uma nova
forma de combinar velhas ideias ou aplicação de novas tecnologias.
Observamos que as organizações tendem a procurar oportunidades
onde estão os seus recursos, destacando as pressões que levam uma
organização em direção ao aspecto comportamental empreendedor:
fluxos decrescentes de oportunidades; mudanças rápidas em
tecnologias; contrato social; critérios de desempenho; ciclos e sistemas
de planejamento.
• Comprometimento com a oportunidade: à medida que passamos
para a segunda dimensão, começa a ficar claro que somente um
indivíduo criativo e inovador não é o suficiente para o sucesso, ou
seja, é preciso ir além da identificação de oportunidades; é preciso
seu comprometimento, não apenas a sua capacidade de agir. No
entanto, o simples ato de se arriscar não corresponde ao sucesso, é
preciso conhecer o território em que se atua. E esses conhecimentos
sobre a área de atuação lhe proporcionam uma vantagem sobre os
outros no comprometimento com a ação. As pressões que impelem
uma organização em direção à ponta empreendedora do especto:
orientação voltada à ação; momento de decisão; gerenciamento
de riscos; esferas de decisão limitadas; múltiplas esferas de decisão;
negociação da estratégia; redução do risco; gerenciamento do ajuste.
Capítulo 4
108 Empreendedorismo
• Comprometimento dos recursos: uma característica importante
nos empreendedores é o comprometimento com os recursos nos
múltiplos estágios de uma organização. A pergunta principal ao
empreendedor é a seguinte: quais recursos são necessários para se
explorar uma determinada oportunidade? Analisando-se o volume
de recursos necessários e a quantia de retorno que será alcançada,
o empreendedor tenta maximizar a criação de valor, minimizando
os recursos, ou seja, corresponde ao ato de correr riscos. O processo
de comprometimento de recursos é impelido em direção ao domínio
empreendedor pelos fatores: ausência de necessidades previsíveis de
recursos; ausência de controle de longo prazo; necessidades sociais;
exigências internacionais; redução dos riscos pessoais; incentivos de
remuneração; giro da administração; sistemas de alocação de capital;
sistemas formais de planejamento.
• Controle sobre os recursos: os empreendedores aprendem a usar
bem os recursos dos outros e decidir ao longo do gerenciamento
quais e onde os recursos precisam ser incorporados. Visto o
empreendedor como proficiente no uso de habilidades, talentos
e ideias dos outros, sua capacidade também se tornou valiosa no
ambiente de negócios modificados. As pressões em direção a este
lado empreendedor vêm de: maior especialização de recursos; risco
de obsolescência; maior flexibilidade; poder, status e recompensas
financeiras; coordenação; eficiência; inércia e custos de mudança;
estruturas setoriais.
• Estrutura administrativa: muitos tentaram distinguir o empreendedor
e o administrador, em alguns casos, colocando que um bom
empreendedor não implica em ser um bom administrador. Assim,
apesar da atividade administrativa ser muito diferente da atividade
empreendedora, a estrutura administrativa e a capacidade de
administrar é muito importante para o sucesso do negócio. Um
gerenciamento mais empreendedor é uma função de várias pressões:
necessidade de coordenação dos recursos-chave não controlados;
flexibilidade; desafio ao controle do proprietário; o desejo dos
empregados por independência; necessidade de autoridade e
responsabilidade claramente definidas; cultura organizacional;
sistemas de recompensas.
Capítulo 4
109Empreendedorismo
• Filosofias de recompensas: as empresas empreendedoras diferem
das administrativas, geralmente, na sua filosofia em relação às
recompensas e remunerações, ou seja, elas tendem a basear a
remuneração no desempenho, associado à criação de valor e trabalho
em equipe. Já as empresas administrativas estão mais relacionadas à
responsabilidade individual e no desempenho a metas e ganhos de
curto prazo. As pressões que impelem as companhias sem direção
ao lado promotor do espectro incluem: expectativas individuais;
exigências dos investidores; competição; normas sociais; informação
de impacto; exigências dos acionistas.
A capacidade empreendedora é uma
abordagem da administração, um padrão coeso
e mensurável de comportamento gerencial
desenvolvido coletivamente, como as dimensões
apresentadas, examinando um espectro de
comportamentos do empreendedor.
SAIBA QUE
Algumas informações são essenciais para quem pretende se aventurar
pelo mundo dos negócios como empreendedor. No entanto, essas informações
são difíceis de analisar no indivíduo, pois muitas tratam de características de
personalidade, o que corresponde a um estudo mais detalhado. Vamos conhecer
as informações mais essenciais segundo os estudiosos do empreendedorismo:
• conhecimento do ramo;
• busca de oportunidades e iniciativa;
• ambiente de relação do empreendedor;
• habilidade empresarial;
• capacidade de reação a frustrações e situações difíceis, complexas;
• comprometimento;
• inovação;
• capacidade de delegação;
• exigência de qualidade e eficiência;
• necessidade de realização;
• independência, liberdade e autoconfiança;
• estabelecimento de metas;
Capítulo 4
110 Empreendedorismo
• planejamento e monitoramento sistemático;
• persistência;
• aprender com os erros e fracassos;
• visionário;
• agente de mudanças.
Dolabela, em seu livro O segredo de Luísa, descreve
a empresa como a materialização de sonhos, em
muitos casos, a projeção da imagem interior do
empreendedor alinhada ao comportamento do ser
humano, em seu processo de criação e realização
pessoal. Agora, pense na responsabilidade que
esse indivíduo (o empreendedor) tem para com
a sociedade e desenvolvimento econômico. Leia
o livro do Dolabela e descubra mais sobre essa
responsabilidade.
REFLEXÃO
Assim como destacamos os pontos essenciais do empreendedor,
também se faz necessário apresentar os fatores que inibem o comportamento
empreendedor, em alguns casos, até levando à falência do negócio. E segundo
Santos (1995), podem ser apontados os seguintes pontos:
• dificuldades de conjuntura econômica;
• dificuldades de localização;
• dificuldades burocráticas;
• dificuldades tecnológicas;
• dificuldades mercadológicas;
• dificuldades de concorrência;
• dificuldades financeiras;
• dificuldades do período inicial de operação das novas empresas.
No que tange às informações essenciais para o empreender, ainda
podemos destacar a energia, a liderança, a obstinação, a capacidade de decisão
e o entusiasmo – paixão pelo que faz.
Capítulo 4
111Empreendedorismo
4.2.3 Carreira orientada para o empreendedorismo
As mudanças de mercado fazem surgir novas carreiras orientadas
para o empreendedorismo, exigindo novas formas de empreender com
qualidades especiais.
Que qualidades são essas? Trata-se, além das informações e características
já apresentadas, de qualidades comuns entre aqueles que escolheram uma
carreira orientada para o empreendedorismo. Estamos falando de visão
sistêmica com foco no cliente e orientada para resultados com flexibilidade e
mérito em busca do equilíbrio.
A carreira orientada para o empreendedorismo deve iniciar ainda no ensino
médio, sendo que inúmeras matérias publicadas sobre empreendedorismo
mostram que um critério importante na definição da carreira está no apoio
da família e da escola na formação do caráter empreendedor. Algumas escolas
já começam a desenvolver programas que estimulam a criação de micro
empresas, propiciando informações sobre abertura de uma empresa, além de
estimular a criatividade, o inovar e criar nas mudanças estruturais.
É importante estimular o espírito empreendedor
nas crianças e nos jovens, pois essas crianças
e jovens, quando possuem esse perfil, estão,
pelo menos, um passo à frente dos outros
profissionais, além de terem mais chance de ter
sucesso num empreendimento próprio.
SAIBA QUE
Quando falamos de carreira empreendedora, logo vem a lembrança
da organização Junior Achievement. Você já conhece esta organização?
Vamos conhecê-la?
A Junior Achievement, instituição formada por um grupo de empresários,
é a maior e mais antiga organização voltada para educação empreendedora
no Brasil. Fundada nos Estados Unidos em 1919, por Horace Moses e Theodore
Vail, presidentes das empresas Strathmore Paper Company e da American
Telephone & Telegraph (AT&T), já está presente em cerca de 100 países. “O
Capítulo 4
112 Empreendedorismo
objetivo da Junior Achievement é despertar o espírito empreendedor nos jovens,
ainda na escola, estimular o desenvolvimento pessoal, proporcionar uma visão
clara do mundo dos negócios e facilitar o acesso ao mercado de trabalho”.
As atividades ocorrem por meio de programas de educação e economia,
por meio de experiências de parcerias entre escolas e voluntários da classe
empresarial que dedicam parte de seu tempo ensinando e compartilhando
suas experiências com os alunos (JUNIOR ACHIEVEMENT, 2010).
Você conhece os projetos da Junior Achievement na sua cidade? Caso
sim, compartilhe o conhecimento com seus colegas, e caso ainda não conheça,
busque informações. Você vai gostar da metodologia adotada e até, quem
sabe, surjam novos projetos na sua instituição de ensino.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Visite o site da Junior Achievement e conheça
mais sobre os seus projetos e estratégias adotadas
nos estados do Brasil e até mesmo em outros
países. Site: <http://www.juniorachievement.
org.br/rj/index.php?option=com_content&id=3
507&&task=view&Itemid=76&menu_pai=73>.
Estamos diante de um mundo de poucos empregos e de muito trabalho.
Assim, surge a carreira orientada para o empreendedorismo, pois é preciso redefinir
oportunidades, olhando a carreira profissional a partir de uma nova visão, a visão
holística, ou seja, a visão do todo, e não somente do espaço onde você está inserido.
Segundo Malheiros, Ferla e Cunha (2005), o único setor emergente hoje
é o do conhecimento, formado basicamente por empreendedores, cientistas,
técnicos, profissionais, educadores e consultores.
A mudança estrutural está propiciando a reestruturação de muitas
empresas, que estão terceirizando alguns serviços não essenciais, oportunizando
a abertura de novos empreendimentos. Essas mudanças geram novas
tendências, novos valores, novos produtos, novos profissionais e, portanto,
novos negócios que necessitam de conhecimento e experiência.
Nessa mudança de estruturas e oportunidade de carreiras orientada
para o empreendedorismo, surge a atuação em segmentos de mercados, que
Capítulo 4
113Empreendedorismo
corresponde à estratégia de segmentação. Ainda conforme Malheiros, Ferla e
Cunha (2005), estratégia de segmentação significa dividir o mercado total em
grupos com necessidades semelhantes, de tal forma que cada grupo tenha a
possibilidade de responder a uma estratégia específica de mercado.
Para Longenecker (1997 apud MALHEIROS, FERLA e CUNHA, 2005, p. 40),
existem três tipos de estratégias de segmentação de mercado:
• estratégia não segmentada: quando uma empresa define o mercado
total como seu mercado-alvo;
• estratégia de multissegmentação: que reconhece segmentos
individuais que têm preferências diferentes;
• estratégia de segmentação única: quando a empresa prefere se
concentrar em atingir apenas um dos distintos segmentos de mercado
identificados.
Você pode identificar que a segmentação única é a mais indicada para
pequenos negócios, pois lhe permite se especializar e utilizar melhor os recursos,
sendo uma característica das mudanças estruturais e também característica da
carreira orientada para o empreendedorismo.
4.2.4 Sou empreendedor?
Esta pergunta é feita por muitas pessoas no seu dia-a-dia quando estão
à frente de uma decisão profissional e até mesmo na hora de optar por uma
carreira, certo?
No capítulo 3, você realizou o teste sobre o perfil empreendedor e deve
ter conhecido um pouco mais sobre o seu perfil, além de ter uma ideia sobre o
fato de ser ou não um empreendedor. Mas, como já havia descrito no capítulo
3, não existe teste com 100% de acertos sobre o perfil empreendedor, ou seja,
não pense que os testes vão lhe informar que pode abrir um negócio e vai
ter sucesso. O sucesso do empreendedor só vai ser identificado na prática,
pois existem muitos fatores internos e externos, já estudados nos capítulos
anteriores, que podem levar ao fracasso ou sucesso do empreendimento.
Capítulo 4
114 Empreendedorismo
Geralmente, todos possuem alguma característica empreendedora,
alguns são criativos e o que falta é o valor, a determinação, a visão
estratégica; outros têm essas características, mas não são criativos.
Alguns não têm medo, estão prontos para enfrentar riscos e
assumir a coordenação de um empreendimento, e outros já são
mais retraídos e tímidos. Embora existam muitas variações no perfil
empreendedor, com a análise das características comportamentais,
já podemos prever a vocação empreendedora. Isso é o que acontece
com os testes: a previsão do perfil empreendedor.
Você sabia que:
• Existe um número muito grande de
empreendedores.
• Nem todos têm inspirações de gênio,
ganham muito dinheiro e conquistam fama.
• Muitos passam por diversos fracassos até
aprender.
• Outros tantos dependem de sócios e
colaboradores para suprir suas deficiências.
• Mas todos, de uma forma ou de outra,
fazem a diferença e servem de alavanca
para o progresso da sociedade.
Fonte: Malheiros, Ferla e Cunha (2005, p. 19)
CURIOSIDADE
Agora sou um empreendedor? Essa pergunta, somente você e, claro,
alguns testes e psicólogos especialistas na área vão poder responder com
mais certeza. Mas nos testes, você consegue identificar as características
empreendedoras mais desenvolvidas, assim como aquelas que você precisa
trabalhar ou melhorar para se tornar um empreendedor mais próximo dos
perfis e características que apresentamos na nossa disciplina e nos livros e sites
que você deve ter visitado.
Capítulo 4
115Empreendedorismo
EXPLORANDOEXPLORANDO
Visite o site do Sebrae e realize o teste
disponibilizado gratuitamente. Assim você
identifica as suas características empreendedoras
e também já as compara com o resultado do teste
realizado no capítulo 3. Você encontra este teste
no site: <http://www.sebrae.com.br/atendimento/
teste-aqui-seu-perfil-empreendedor>.
Para aqueles que não obtiveram um bom resultado esperado nos testes,
não desanimem. Afinal, os testes não apresentam uma verdade absoluta.
Correspondem a um parâmetro para você realizar uma autoanálise e, durante
os estudos, você pode aprimorar essas características necessárias, caso tenha
realmente interesse em se tornar um empreendedor e ter essa opção como carreira
profissional. Mas quero mais uma vez indicar aos futuros e já empreendedores a
leitura do livro O segredo de Luísa, que já indiquei e apresentei na nossa disciplina.
Este livro do Dolabela destina-se ao leitor de qualquer faixa etária e
formação, principalmente para aqueles que têm alguma ideia na cabeça ou
almejam ter um negócio próprio. De forma simples, o autor busca explicar
os processos e etapas essenciais para a abertura de uma empresa, além de
chamar atenção do leitor para os pontos de sucesso e falência de um negócio.
O autor também comenta sobre o ter sócios na construção do negócio e como
encontrá-los, estando ou não preparados.
Malheiros, Ferla e Cunha (2005, p. 22) chamam atenção para o
autoconhecimento do empreendedor, ou seja, “conta muito ter consciência dos
próprios limites, o que pressupõe um profundo autoconhecimento”. Por isso, é
muito importante desenvolver um conceito de si próprio, identificando os valores
pessoais, os gostos, as áreas de conhecimento de maior interesse e, sobretudo,
as deficiências, para que possam ser corrigidas (compensadas, eliminadas).
4.2.5 Situações do negócio próprio
Qual é o elemento mais importante do negócio próprio? Vamos conhecer
os cinco fatores que determinam se um novo negócio será bem sucedido,
conforme Timmons (1994 apud DOLABELA, 1999, p. 68), a partir de uma
pesquisa realizada nos Estados Unidos.
Capítulo 4
116 Empreendedorismo
A resposta foi, ao mesmo tempo, curiosa e reveladora:
1. O empreendedor líder e a qualidade da equipe.
2. O empreendedor líder e a qualidade da equipe.
3. O empreendedor líder e a qualidade da equipe.
4. O empreendedor líder e a qualidade da equipe.
5. O potencial de mercado.
Essa é uma das causas por que, no ensino de empreendedorismo,
se fala tanto no ser humano, capaz de empreender, e não nos
conteúdos instrumentais. Estudos indicam que:
• 90% ou mais dos fundadores começam suas empresas no mesmo mercado, tecnologia ou ramo em que eles trabalhavam;
• os criadores de empresas têm aproximadamente de 8 a 10 anos de experiência;
• os criadores de empresas têm boa formação;
• os criadores de empresas têm experiências em produtos e mercados;
• os criadores de empresas têm experiência administrativa;
• geralmente, as empresas são criadas quando eles têm em torno de 30 anos;
• os criadores de empresas têm alto grau de satisfação.
Quadro 3 - Os fatores mais importantes para um novo negócio
Fonte: Dolabela (1999, p.68).
Assim, podemos dizer que, antes de definir o negócio que pretendemos
desenvolver, é necessário realizar um estudo a respeito do autoconhecimento
e da visão de futuro, pois o sucesso desses empreendedores reside na extensão
de si próprios, como a liderança e saber trabalhar em equipe. Eles somente
ingressam em um negócio quando conseguem identificar a possibilidade de
utilizar suas habilidades e interesses pessoais enquanto profissionais e como
forma de gerar um futuro desejado para aqueles que estão diretamente e
indiretamente ligados ao seu negócio.
Agora quero chamar atenção para um tema muito importante na
nossa disciplina e que está diretamente envolvido as situações do negócio
próprio, o plano de negócio. O desenvolvimento uma empresa envolve tantas
informações que precisamos ordenar e planejar essas informações e ações.
Capítulo 4
117Empreendedorismo
No capítulo 8 vamos conversar somente sobre plano de negócio, mas
para conhecermos melhor as situações do próprio negócio, faz-se necessário
apresentar alguns conceitos para entendermos a importância para um
empreendimento de sucesso.
O plano de negócio “é muito mais do que um documento projetado
para persuadir pessoas céticas a investir em um novo empreendimento. É um
guia detalhado para a conversão de suas ideias e de sua visão em negócio real
e em funcionamento” (BARON e SHANE, 2007, p. 186).
É verdade que muitos empreendedores
de sucesso abriram o seu empreendimento
sem desenvolver um plano de negócio, mas
também sabemos de muitos que levaram
o seu negócio à falência por não terem
desenvolvido um plano de negócio. Assim,
sabemos que o plano de negócio exige um
trabalho árduo, seguido de horas de leitura e
reflexão sobre o empreendimento, mas por
outro lado, estatísticas do Sebrae informam
que o desenvolvimento do plano de
negócio antes de abrir o empreendimento
pode evitar a mortalidade do negócio.
Empreendedores e empresários de negócios
de pequeno porte já entenderam que, para
iniciar e gerenciar um empreendimento com
sustentabilidade, o melhor caminho é sempre
o do conhecimento. Quanto mais informação
o empresário tiver, mais competitiva será sua
empresa (SEBRAE, 2010). Um dos destaques da
pesquisa GEM 2008, por exemplo, é a melhoria
observada entre empreendedorismo por
oportunidade e por necessidade, ou seja, o estudo acima reforça que
os futuros empreendedores estão analisando e conhecendo melhor
o mercado em que pretendem atuar (SEBRAE, 2010). Viste o site do
Sebrae e saiba mais sobre a pesquisa realizada.
Site: <http://www.biblioteca.sebrae.com.br/>.
SAIBA QUE
Figura 2 - Negócios
Fonte: <http://www.sxu.hu>.
Capítulo 4
118 Empreendedorismo
Gostaria de alertá-lo de que a criação do próprio negócio, principalmente
nos casos de sucesso, alguns já comentados na nossa disciplina, é tributária à
“identificação de oportunidades”, em conjunto com outras motivações. Como
os próprios consultores do Sebrae relatam, esse quesito ou motivação estava
em primeiro lugar em alguns casos, todavia, com uma importância menor,
uma vez que a experiência anterior, a insatisfação com o emprego anterior e o
capital de investimento foram fatores mais recorrentes (CHÉR, 2008).
O plano de negócio reúne informações detalhadas sobre o
empreendimento, ou seja, trata de um guia das situações que vão envolver o
negócio próprio. Vamos conhecer as situações mais importantes?
• ideias;
• oportunidade;
• riscos;
• experiências similares;
• informações;
• conceitos/ estudos;
• respostas - pré-requisitos;
• estratégia competitiva;
• ações;
• ferramentas de marketing;
• ferramentas de negociação e vendas;
• administração interna para o alcance do sucesso.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Visite o site do Sebrae e leia o artigo “Plano
de negócios: análise de riscos”, que trata de
alguns aspectos da vida das empresas que deve
permitir a avaliação do grau de atratividade
do empreendimento, subsidiando a decisão do
futuro empresário na escolha do negócio. Para
consultar o artigo na íntegra, visite:
<http://www.sebrae.com.br/momento/quero-abrir-um-negocio>.
Capítulo 4
119Empreendedorismo
4.3 Aplicando a teoria na prática
Destacamos um caso que constitui a abertura de um negócio entre
amigos e que envolve algumas situações complicadas de relacionamento com
os funcionários e gestão por parte de um dos sócios, além da expansão do
negócio em um momento complexo da estrutura interna da empresa. Será
que abrir e gerenciar um negócio é tão simples assim?
Vamos verificar?
O empreendedor que não consegue ajustar-seàs transições do mundo empresarial
Joe Morrison era bem experiente nas práticas gerenciais. Formara-se em administração de empresas e havia trabalhado oito anos como supervisor de uma grande companhia de artigos esportivos. Sabia como programar, coletar informações, avaliar o pessoal e conduzir estudos de pesquisa de mercado. Quando David Cagle pediu-lhe que fosse seu sócio na compra de um negócio de equipamentos esportivos no atacado, ele não hesitou. A amizade de Joe e David já tinha 10 anos. David era criativo e impulsivo, enquanto Joe mostrava-se bem organizado e detalhista. Tudo levava a crer que iam completar os pontos fortes e fracos um do outro. David assumiu o cargo de diretor-presidente, responsabilizando-se pela área de marketing, e Joe, como vice-presidente, encarregou-se das operações diárias. David viajava para exposições, a fim de vender e encontrar-se com representantes de vendas para efetivar as aquisições de suas mercadorias, enquanto Joe cuidava de todas as operações, incluindo as remessas de pedido, o gerenciamento do pessoal e as atividades administrativas. Os problemas começaram imediatamente quando Joe se confrontou com a enorme quantidade de tarefas exigidas para controlar uma equipe de nove pessoas produzindo dentro de níveis aceitáveis. Ele começava o dia examinando os pedidos que chegavam e colocando-os no esquema diário de entregas. David estava fazendo um ótimo trabalho de vendas, o que tornava a expedição um verdadeiro desafio. Joe trabalhava detalhadamente por meio de um plano de cronograma e atendimento para garantir entregas no prazo. Para tanto, utilizava um plano que havia desenvolvido em seu último emprego e que sempre teve sucesso. Desta forma, usava quadros elaborados e listagens de computador para explicar o sistema aos empregados. Esses instrumentos exigiam atualização diária, o que tomava muito de seu tempo. A chave do sucesso era o máximo de produção de cada funcionário. Infelizmente, o plano não previa as faltas. Com frequência, um ou mais empregados ficavam doentes em determinado dia, o que forçava Joe a deixar suas outras tarefas a fim de substituí-los.
Capítulo 4
120 Empreendedorismo
Esse conflito com seu organizado plano o deixava frustrado. Em seu emprego anterior, ele sempre podia solicitar ao departamento de pessoal um empregado para colocar no lugar da pessoa que havia faltado, entretanto, este procedimento não era possível em uma empresa de pequeno porte. Joe também estava decepcionado com o grau de incompetência dos funcionários. A dificuldade de recrutar trabalho especializado dentro do orçamento de uma pequena empresa quase sempre resultava na contratação de pessoal menos capaz do que aquele com o qual ele estava habituado. Consequentemente, gastava-se muito tempo examinando os procedimentos e técnicas de treinamento de mão-de-obra. Ele desejava ainda maior comunicação com David. O cronograma de viagens de David tornava impossíveis as reuniões regulares de administração e de equipe, estas eram realizadas de forma irregular. Na antiga corporação, ele estava acostumado com reuniões semanais. Depois de seis meses, os problemas chegaram ao limite. David foi recepcionado na volta de uma de suas viagens de vendas com a solicitação de uma reunião confidencial entre os principais empregados, que não incluía Joe. “David, Joe está nos deixando loucos”, declarou Clara na cabeceira da mesa. “Ele não tem nenhuma paciência ou tolerância conosco. É obcecado em cumprir prazos e está sempre nos perseguindo. Estamos fazendo o melhor, mas nunca é o suficiente. Quando precisa substituir algum de nós, fica tão nervoso que atrapalha todos. Eu pessoalmente não sei por que ele fica tão aborrecido. O único ponto que nos incomoda e interrompe são aqueles quadros estúpidos e sem sentido que ele vive nos mostrando. Diga-lhe para parar ou, logo, haverá demissões”. A reunião continuou dentro das mesmas linhas. Cada empregado fazia a mesma reclamação: Joe não mostrava nenhuma flexibilidade em sua abordagem dos problemas e não tinha lugar para mudanças em sua rotina. A hora não podia ter sido pior para David. Ele havia voltado para discutir com Joe a oportunidade de comprar o estoque que uma empresa recém-falida a um preço ótimo. O estoque acrescentaria uma nova linha de produtos que complementaria suas ofertas já existentes. Ele resolveu adiar o problema dos empregados até que tivesse a aprovação de Joe sobre a compra, pois a decisão precisava ser tomada dentro de 72 horas, ou o banco cuidava da falência e venderia a mercadoria para uma empresa de outro estado. Entretanto, não haveria nenhum adiamento. A reação de Joe à proposta foi: “de modo algum, David, não podemos tomar uma decisão desta antes de realizarmos uma pesquisa completa de mercado e um relatório de análise, e isso levará dois meses”. David imediatamente voltou-se contra Joe numa demorada denúncia de inflexibilidade em todos os assuntos, incluindo os empregados, e lembrou-o enfaticamente que não mais trabalhava para uma grande corporação.
Texto extraído de: HALLORAN, J. W. Por que os empreendedores falham. São Paulo: Makron Books, 1994. Citado pelo professor Álvaro Guillermo Rojas Lezana, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Capítulo 4
121Empreendedorismo
Em relação ao texto, vamos analisar os seguintes tópicos: os sócios se
complementam no perfil empreendedor que estudamos na disciplina? Qual
a diferença entre a empresa que Joe trabalhava e a empresa que estava
administrando? Os processos e atividades sempre podem ser copiados de uma
empresa para outra? A atividade empreendedora, nesse caso, pode ser uma
opção de carreira para os sócios?
4.3.1 Resolvendo
Você gostou do caso? Esse caso apresenta a realidade de muitos
empreendimentos no Brasil e até mesmo internacionalmente: o
“empreendedor” que pensa que gerenciar/administrar um empreendimento
próprio é igual a sua atuação como funcionário na empresa anterior. Vamos
responder as perguntas apresentadas no caso:
Os sócios se complementam no perfil empreendedor que estudamos na
disciplina? Em parte, sim, um tem o perfil de vendedor e comunicativo, característica
importante para quem pretende ter um negócio próprio, e o outro sócio apresenta
um perfil mais direcionado às atividades internas e operacionais, com experiência
de gerência na empresa anterior, mas sem perfil para trabalhar com problemas
emergenciais, como a falta de funcionários, desenvolver atividade cotidianas
da empresa; além disso, ambos não apresentam o perfil empreendedor líder e
qualidade de equipe, característica importante que estudamos no capítulo 4.
Qual a diferença entre a empresa que Joe trabalhava e a empresa que
estava administrando? Os processos e atividades sempre podem ser copiados de
uma empresa para outra? Existe, sim, uma grande diferença entre a empresa que
administra hoje e a empresa que Joe trabalhava anteriormente. A antiga empresa
de Joe correspondia a uma organização de grande porte, além de ter um bom
tempo de mercado, sendo que os processos e a forma de gerenciar já estavam
definidos e adequados ao negócio e mercado, característica diferente do negócio
de equipamentos esportivos no atacado que empreenderam, já que ainda está
se adequando e conhecendo o mercado de atacados. Importante destacar, nessa
questão, que nem sempre as ferramentas e processos utilizados numa empresa
podem ser implementados na íntegra em outra empresa, muito pelo contrário,
as ferramentas e processos precisam ser adequados à realidade de mercado,
porte da empresa, número de funcionários e, principalmente, o perfil e nível de
conhecimento técnico da equipe de trabalho. Nesse caso, parecem existir perfis
muito diferentes da equipe interna, principalmente no quesito qualificação.
Capítulo 4
122 Empreendedorismo
A atividade empreendedora, nesse caso, pode ser uma opção de carreira para
os sócios? Ainda é muito cedo para avaliar essa questão, pode ser que seja uma
opção de carreira para ambos ou somente para um dos sócios, mais provável para
David. Mas também precisamos destacar um ponto importante que não ocorreu
nesse caso: o estudo de autoconhecimento detalhado de cada sócio, além do
estudo dos sócios em conjunto no empreendimento, e o fator considerável, a não
elaboração do plano de negócio para conhecer as situações de um negócio próprio.
4.4 Para saber mais
Estamos chegando ao final do nosso capítulo 4 e quero deixar algumas
sugestões de livros e filmes.
Livros:
HALLORAN, J. W. Por que os empreendedores falham. São Paulo: Makron
Books, 1994.
Um livro interessante para aqueles que pretendem ter um negócio
próprio, pois relata as etapas essenciais do empreendimento: como iniciar
o negócio, estrutura do negócio, aspectos financeiros, o envolvimento das
pessoas, famílias e equipes, além de chamar atenção constantemente na
leitura para a razão de muitos empreendedores falharem.
ROSA, C. A. Como elaborar um plano de negócio. Brasília: SEBRAE, 2007.
Um livro muito utilizado nas universidades e nos cursos desenvolvidos
pelo Sebrae sobre a elaboração do plano de negócio. Esse livro apresenta
detalhadamente as etapas para elaborar um plano, ferramenta chave para
o sucesso de qualquer empresa. Vamos voltar a mencionar esse livro mais
adiante, quando serão apresentadas as etapas do plano de negócio.
SOUZA, E. C. L; GUIMARÃES, T. A. Empreendedorismo além do plano de
negócio. São Paulo: Atlas, 2005.
Um livro que apresenta experiências e técnicas empresariais, utilizando
as novas abordagens e ferramentas da administração no contexto de abrir um
negócio próprio. O livro ainda enfatiza que o empreendedorismo vai além da
Capítulo 4
123Empreendedorismo
ferramenta plano de negócio, e ressalta o estudo do comportamento humano
e suas características para o sucesso de um empreendimento.
Filmes:
O filme Quincas Berro D’Água (2010) é uma comédia brasileira lançada
recentemente pelo Sergio Machado. Apresenta a história de um servidor público que,
cansado da vida leva, resolve deixar sua família de lado e cair na farra, ganhando fama
como Quincas Berro D’Água, o rei dos vagabundos. Só que durante a sua trajetória,
ocorrem alguns incidentes que mudam a direção da sua vida. Vale conferir!
Outro filme que você precisa assistir é o filme infantil Madagascar (2005),
que conta a história de quatro personagens muito engraçados, passando pela
transição de empregado a empreendedor. Além disso, chama atenção para
características já estudadas, como: motivação, inovação, trabalho em equipe,
liderança e outros quesitos do empreendedorismo.
4.5 Relembrando
No capítulo 4, abordamos as principais temáticas para aqueles que
pretendem ter o empreendedorismo como uma opção de carreira. Vimos que o
empreendedorismo pode ser desenvolvido dentro de uma organização privada
ou uma organização que se pretende instituir. Destacamos ainda o estudo
de autoconhecimento e capacitação do empreendedor, alertando o leitor e,
principalmente, aqueles que pretendem ter o seu próprio negócio da importância
de elaborar um consistente estudo de mercado e conhecimento do negócio que
se pretende empreender. Assim, os principais pontos abordados foram:
• atividade empreendedora e a carreira profissional;
• conceito de carreira e de intuição;
• a relação da intuição com o empreendedorismo;
• informações essenciais para a atividade de empreendedor;
• autoconhecimento;
• informações do Relatório GEM;
• capacitação técnica do empreendedorismo;
• situações que levam ao negócio próprio;
• oportunidades de negócio;
• conhecendo o plano de negócio.
Capítulo 4
124 Empreendedorismo
4.6 Testando os seus conhecimentos
Vamos resolver dois exercícios para testar o aprendizado do quarto
capítulo da nossa disciplina de Empreendedorismo.
1) Qual é a importância do cliente para o sucesso de um empreendimento?
E qual deve ser a relação do empreendedor para com a equipe operacional
ou atendimento? Existe relação de causa e efeito da equipe interna (cliente
interno) com o cliente externo?
2) Realize a leitura do artigo “Experimenta!” e faça uma autoanálise dos seus
talentos empreendedores e talentos pessoais.
Experimenta!Marcos Aurelio Kohler
Recentemente, pudemos acompanhar um grande sucesso em campanhas publicitárias, as quais possuem um só slogan: “Experimenta”, convidando o espectador a apreciar uma nova cerveja. Produtos e publicidades à parte, o que mais me tocou no anúncio não foi a vontade de tomar uma cerveja, mas sim em experimentar novas atitudes e posturas diante desse novo mundo maluco, criado por nós mesmos. Como muitos dizem que estamos na “Era da Experimentação” ficam as seguintes dicas, para que 2004 seja cheio de novos experimentos. Que tal tentar?
Desenvolver os seus talentos empreendedores. Todos nós temos um pouco de empreendedores e empresários. Afinal, quem é o patrão de sua vida? Porém, como todo empreendedor, você tem que ter algumas características como persistência, capacidade de planejar e executar, enfrentar adversidades com otimismo e muito, mas muito entusiasmo, pois não é fácil ter sucesso na relação Sonho versus Realidade. Tenha certeza que você tem um talento especial. Talvez já tenha sido aflorado ou quem sabe está escondidinho aí dentro, pronto para ser acordado, mas o fato é que somente você pode despertá-lo. Então, sente em uma mesa, pegue um pedaço de papel e escreva quais são os seus pontos fortes e no que você precisa melhorar. Invista, principalmente, em seus pontos fortes, desenvolva o que você faz de melhor, aja, tome uma atitude e crie oportunidades. Com certeza, resultados virão.
Desenvolver os talentos das pessoas próximas. Não pense somente na empresa, mas na sua família e comunidade. Ajude aos outros a despertarem para um novo mundo em que a cidadania é um caminho para a paz e o desenvolvimento. Prepare sucessores, peça e aceite sugestões.
Capítulo 4
125Empreendedorismo
Perceba as diferenças e que, muitas vezes, o que motiva um não motiva o outro. Entenda que quanto mais alto você está na hierarquia mais deve servir e não ser servido. Para isso, lembre-se de Cristo que foi o maior líder de todos e lavou os pés de seus apóstolos. Não tinha secretária, computador ou e-mail e sua mensagem persiste até hoje.
Sabe por quê? Porque tinha foco no resultado, humildade e acreditava no poder da equipe. Preparou sucessores para sua missão. Valorize o desempenho de sua equipe contribuindo para o crescimento de cada um de seus membros.
Liderar pelo exemplo. É a mais fantástica forma de liderança, pois equivale a uma das mais belas leis do universo: não faça ao outro o que não gostaria que fizessem a você. Empatia, meu amigo, é colocar-se no lugar do outro física e emocionalmente. Mesmo nas situações mais drásticas como a demissão, é possível amenizar o trauma e suas consequências. Que tal oferecer um serviço de recolocação com ajuda profissional, ou um pacote diferenciado no plano de saúde da pessoa demitida. Enfim, o que pretendemos valorizar neste tópico é que você se coloque no lugar do outro e possa agir da forma mais ética e correta possível.
Acreditar em si mesmo. Para ter uma autoestima elevada, é preciso ter três pontos em harmonia: amor próprio, autoimagem positiva e autoconfiança. Bote fé em seu taco. Não diga não sei, não posso, não consigo. Diga vou tentar, vou aprender com quem sabe, pesquisar com quem já fez. Crie novos desafios. Um dos maiores problemas dos brasileiros é ter autoestima baixa. Você já reparou que sempre em que falamos de competitividade, mercado internacional, temos sempre a impressão de que somos piores ou que seremos passados para trás, engolidos por países poderosos, pobres vítimas de um capitalismo selvagem e fora de controle. Mas será que seremos o país que tanto sonhamos mantendo uma postura fechada, cheia de medo e receios, sem interagir com o mundo da forma adequada? Infelizmente não, porque para mudar e crescer é preciso estar aberto ao novo; não estou dizendo que devemos aceitar tudo o que nos falam ou pedem, mas ponderar se vale a pena ou não. Para aproveitar o momento, é preciso estar preparado para ele, enxergar a mesma situação com novos olhos, adotar uma nova percepção para extrair o melhor. Enfim, participar mais ativamente do jogo.
Como vimos, são atitudes simples, mas poderosas e, se bem executadas, podem criar um enorme diferencial em sua vida e em sua carreira. O caminho entre a teoria e a ação pode ser longo e árduo, mas também é repleto de novas possibilidades e realizações. A hora para começar é agora.
Então... Experimenta... Experimenta...
Capítulo 4
126 Empreendedorismo
Capítulo 4
127Empreendedorismo
Onde encontrar
BIRLEY, S.; MUZYKA, D. F. Dominando os desafios do empreendedor: o seu
guia para se tornar um empreendedor. São Paulo: Makron Books, 2001.
CHÉR, R. Empreendedorismo na veia: um aprendizado constante. Riode
Janeiro: Elsevier/ SEBRAE, 2008.
DEGEN, R. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo:
McGraw-Hill, 1997.
DOLABELA, F. O segredo de Luísa. São Paulo: Cultura Associados, 1999.
HALLORAN, J. W. Por que os empreendedores falham. São Paulo: Makron
Books, 1994.
JUNIOR ACHIEVEMENT. Institucional. Disponível em: <http://www.
juniorachievement.org.br/rj/index.php?option=com_content&id=3507&&task
=view&Itemid=76&menu_pai=73> Acesso em: 20 jul. 2010.
MALHEIROS, R. de C. da C.; FERLA, L. A.; CUNHA, C. J. C. de A. Viagem ao
mundo do empreendedorismo. Florianópolis: Instituto de Estudos Avançados,
2005.
ROSA, C. A. Como elaborar um plano de negócio. Brasília: SEBRAE, 2007.
SEBRAE. Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2008. Disponível
em: <http://www.sebrae.com.br/uf/tocantins/acesse/informes-locais/pesquisa-
gem-faz-retrato-do-empreendedorismo-no-brasil/> Acesso em: 25 jun. 2010.
SANTOS, S. A. dos. A ação empreendedora em uma economia globalizada
e competitiva. In: SILVA, Heitor José Pereira; SANTOS, Silvio Aparecido
dos. (Coord.) Criando seu próprio negócio: como desenvolver o potencial
empreendedor. Brasília: Ed. SEBRAE, 1995.