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    MATERIAL DIDÁTICO

     A Linguagem e a Escrita nos AnosIniciais

    U N I V E R S I D A D E

    CANDIDO MENDES

     CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELAPORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010

    Impressãoe

    Editoração

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    SUMÁRIO 

    UNIDADE 1 –

     INTRODUÇÃO .......................................................................... 03UNIDADE 2  – ALFABETIZAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS .............................. 09

    UNIDADE 3  – A FALA, A LEITURA E A ESCRITA ........................................ 24

    UNIDADE 4  – A LEITURA NA ESCOLA: PRÁTICAS E COMPETÊNCIAS ... 28

    UNIDADE 5  – OS GÊNEROS LITERÁRIOS ................................................... 39

    UNIDADE 6  –  INTRODUÇÃO ÀS DIFICULDADES DE LEITURA E

    ESCRITA ......................................................................................................... 53

    REFERÊNCIAS ................................................................................................ 67

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    UNIDADE 1  – INTRODUÇÃO

     A Educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental aqui entendidocomo 0 a 6 anos (creche, pré-escola) e 1º ao 5º ano é fundamentada no

    desenvolvimento cognitivo, físico, afetivo, ético e estético dos pequenos discentes

    que ali se encontram e, igualmente, a formação dos docentes que vão trabalhar com

    esses sujeitos precisa ser ampla.

    Por acreditarmos, assim como vários autores que serão utilizados ao longo

    desta apostila, que a integração entre a teoria e a prática é de elevada importância

    para o sucesso no cotidiano do seu trabalho, formando no professor umaconsciência crítico-social, vamos ao longo das apostilas do curso utilizar em

    abundância das metodologias de ensino, não esquecendo é claro, das teorias que

    embasam cada uma delas.

    O planejamento conjunto e interdisciplinar das aulas, a definição dos

    objetivos, o modo como caminhar (apresentação dos conteúdos) de maneira

    agradável, com alegria, com riqueza e motivar os alunos rumo ao conhecimento,

    considerando o contexto onde estão inseridos são pontos que o professor deve levarsempre em consideração.

     A Constituição Federal Brasileira de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da

    Educação Nacional (LDB nº 9394/96), o Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº

    10.172/01), as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de Pedagogia, os

    Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e outros documentos afins serão os

    balizadores dos nossos estudos, como podemos constatar nas redações abaixo:

    De acordo com a Constituição Brasileira, o ensino fundamental é obrigatório e

    gratuito. O art. 208 preconiza a garantia de sua oferta, inclusive para todos os que a

    ele não tiveram acesso na idade própria. É básico na formação do cidadão, pois de

    acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 32, o

    pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo constituem meios para o

    desenvolvimento da capacidade de aprender e de se relacionar no meio social e

    político. É prioridade oferecê-lo a toda população brasileira.

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     A educação infantil é um direito de toda criança e uma obrigação do Estado

    (art. 208, IV da Constituição Federal). A criança não está obrigada a frequentar uma

    instituição de educação infantil, mas sempre que sua família deseje ou necessite, o

    Poder Público tem o dever de atendê-la. Em vista daquele direito e dos efeitos

    positivos da educação infantil sobre o desenvolvimento e a aprendizagem das

    crianças, já constatado por muitas pesquisas, o atendimento de qualquer criança

    num estabelecimento de educação infantil é uma das mais sábias estratégias de

    desenvolvimento humano, de formação da inteligência e da personalidade, com

    reflexos positivos sobre todo o processo de aprendizagem posterior. Por isso, no

    mundo inteiro, esse segmento da educação vem crescendo significativamente e vem

    sendo recomendado por organismos e conferências internacionais.

     A educação infantil é a primeira etapa da Educação Básica. Ela estabelece as

    bases da personalidade humana, da inteligência, da vida emocional, da socialização.

     As primeiras experiências da vida são as que marcam mais profundamente a

    pessoa. Quando positivas, tendem a reforçar, ao longo da vida, as atitudes de

    autoconfiança, de cooperação, solidariedade, responsabilidade. As ciências que se

    debruçaram sobre a criança nos últimos cinquenta anos, investigando como se

    processa o seu desenvolvimento, coincidem em afirmar a importância dos primeiros

    anos de vida para o desenvolvimento e aprendizagem posteriores. E têm oferecido

    grande suporte para a educação formular seus propósitos e atuação a partir do

    nascimento. A pedagogia mesma vem acumulando considerável experiência e

    reflexão sobre sua prática nesse campo e definindo os procedimentos mais

    adequados para oferecer às crianças interessantes, desafiantes e enriquecedoras

    oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem. A educação infantil inaugura a

    educação da pessoa (PNE/01).

     A formação dos profissionais da educação infantil merecerá uma atenção

    especial, dada a relevância de sua atuação como mediadores no processo de

    desenvolvimento e aprendizagem. A qualificação específica para atuar na faixa de

    zero a seis anos inclui o conhecimento das bases científicas do desenvolvimento da

    criança, da produção de aprendizagens e a habilidade de reflexão sobre a prática,

    de sorte que esta se torne, cada vez mais, fonte de novos conhecimentos e

    habilidades na educação das crianças. Além da formação acadêmica prévia, requer-

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    se a formação permanente, inserida no trabalho pedagógico, nutrindo-se dele e

    renovando-o constantemente.

    Para orientar uma prática pedagógica condizente com os dados das ciências

    e mais respeitosa possível do processo unitário de desenvolvimento da criança,

    constitui diretriz importante a superação das dicotomias creche/pré-escola,

    assistência ou assistencialismo/educação, atendimento a carentes/educação para

    classe média e outras, que orientações políticas e práticas sociais equivocadas

    foram produzindo ao longo da história. Educação e cuidados constituem um todo

    indivisível para crianças indivisíveis, num processo de desenvolvimento marcado por

    etapas ou estágios em que as rupturas são bases e possibilidades para a sequência

    (PNE/01).

    Segundo a Câmara de Educação Básica (BRASIL, 1998), as Diretrizes

    Curriculares Nacionais são o conjunto de definições doutrinárias sobre princípios,

    fundamentos e procedimentos na Educação Básica, expressas pela Câmara de

    Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que orientarão as escolas

    brasileiras dos sistemas de ensino, na organização, na articulação, no

    desenvolvimento e na avaliação de suas propostas pedagógicas.

    Para orientar as práticas educacionais em nosso país, respeitando as

    variedades curriculares já existentes em Estados e Municípios, ou em processo de

    elaboração, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação

    estabelece as seguintes Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental:

    I - As escolas deverão estabelecer, como norteadores de suas ações

    pedagógicas:

    a) os Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade

    e do Respeito ao Bem Comum;

    b) os Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do exercício

    da Criticidade e do respeito à Ordem Democrática;

    c) os Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, e da Diversidade

    de Manifestações Artísticas e Culturais.

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    Estes princípios deverão fundamentar as práticas pedagógicas das escolas,

    pois será através da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do

    Respeito ao Bem Comum, que a Ética fará parte da vida cidadã dos alunos.

    Da mesma forma os Direitos e Deveres de Cidadania e o Respeito à Ordem

    Democrática, ao orientarem as práticas pedagógicas, introduzirão cada aluno na

    vida em sociedade, que busca a justiça, a igualdade, a equidade e a felicidade para

    o indivíduo e para todos. O exercício da Criticidade estimulará a dúvida construtiva,

    a análise de padrões em que direitos e deveres devam ser considerados, na

    formulação de julgamentos.

    Viver na sociedade brasileira é fundamentar as práticas pedagógicas, a partir

    dos Princípios Estéticos da Sensibilidade, que reconhece nuances e variações no

    comportamento humano. Assim como da Criatividade, que estimula a curiosidade, o

    espírito inventivo, a disciplina para a pesquisa e o registro de experiências e

    descobertas. E, também, da Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais,

    reconhecendo a imensa riqueza da nação brasileira em seus modos próprios de ser,

    agir e expressar-se (PARECER CEB 4/98).

    Os PCNs (BRASIL, 1998) vem corroborar com as intenções e metas expostasanteriormente!

     A importância dada aos conteúdos revela um compromisso da instituição

    escolar em garantir o acesso aos saberes elaborados socialmente, pois estes se

    constituem como instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício

    da cidadania democrática e a atuação no sentido de refutar ou reformular as

    deformações dos conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e a

    petrificação de valores. Os conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto,estar em consonância com as questões sociais que marcam cada momento

    histórico.

    Isso requer que a escola seja um espaço de formação e informação, em que

    a aprendizagem de conteúdos deve necessariamente favorecer a inserção do aluno

    no dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um universo cultural maior. A

    formação escolar deve propiciar o desenvolvimento de capacidades, de modo a

    favorecer a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim

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    como possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais nacionais e

    universais.

     A prática escolar distingue-se de outras práticas educativas, como as que

    acontecem na família, no trabalho, na mídia, no lazer e nas demais formas de

    convívio social, por constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e

    continuada para crianças e jovens durante um período contínuo e extenso de tempo.

     A escola, ao tomar para si o objetivo de formar cidadãos capazes de atuar com

    competência e dignidade na sociedade, buscará eleger, como objeto de ensino,

    conteúdos que estejam em consonância com as questões sociais que marcam cada

    momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são as consideradas

    essenciais para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. Para tanto,

    ainda é necessário que a instituição escolar garanta um conjunto de práticas

    planejadas com o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem dos

    conteúdos de maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição social

    com propósito explicitamente educativo, tem o compromisso de intervir efetivamente

    para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos.

    Essa função socializadora remete a dois aspectos: o desenvolvimento

    individual e o contexto social e cultural. É nessa dupla determinação que os

    indivíduos se constroem como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de

    todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pessoas um conjunto de saberes

    e formas de conhecimento que, por sua vez, só é possível graças ao que

    individualmente se puder incorporar. Não há desenvolvimento individual possível à

    margem da sociedade, da cultura. Os processos de diferenciação na construção de

    uma identidade pessoal e os processos de socialização que conduzem a padrões de

    identidade coletiva constituem, na verdade, as duas faces de um mesmo processo.

    Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica, promover a

    realização de aprendizagens com o maior grau de significado possível, uma vez que

    esta nunca é absoluta — sempre é possível estabelecer alguma relação entre o que

    se pretende conhecer e as possibilidades de observação, reflexão e informação que

    o sujeito já possui.

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    Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso, o aluno constrói uma

    representação de si mesmo como alguém capaz. Se, ao contrário, for uma

    experiência de fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar em ameaça, e a

    ousadia necessária se transformará em medo, para o qual a defesa possível é a

    manifestação de desinteresse (BRASIL, 1997).

    Eis nosso convite: adquirir novos conhecimentos, aprofundar aqueles já

    existentes, entregar-se comprometidamente à sua missão de educador e lembrar

    que a educação infantil e as séries iniciais são a base para o sucesso de cada

    sujeito/cidadão, portanto, dentro das suas condições, grande é a responsabilidade

    de cada um de vocês!

    Esperamos que apreciem o material e busquem nas referências anotadas ao

    final da apostila subsídios para sanar possíveis lacunas que venham surgir ao longo

    dos estudos.

    Ressaltamos que, embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser

    científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às

    regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem

    de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar,deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores,

    incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma

    redação original.

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    UNIDADE 2  – ALFABETIZAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS

    Introduções teóricas ao processo de alfabetização A alfabetização é um processo inicial de aquisição das capacidades básicas

    de leitura e escrita, que busca o domínio da linguagem escrita e suas

    transformações, essa é a definição básica oferecida por Soares (2004, p. 20). Conta

    com as seguintes fases:

      Fase da garatuja;

      Pré-silábica;

      Silábica;

      Silábica-alfabética;

      Alfabética-ortográfica.

     A alfabetização não incide na casualidade, pela simples agregação das

    formas aos sons e aos símbolos, mas começa pela letramento, ou seja, através dosconhecimentos diários, que acontecem muitas vezes por meio de ensaios e erros.

    Tudo isso acontece através da comunicação, onde existe o emissor  –  receptor  – 

    emissor de informações ou de conhecimentos. Portanto, a construção do

    aprendizado passa pela alfabetização, letramento, leitura do mundo, pela mídia, pela

    globalização e meios tecnológicos de ensino-aprendizagem.

    Numa visão simplista, alfabetizada é a pessoa que aprende a ler e a escrever.

    Já o analfabeto, claramente é definido como aquele que não sabe ler nem escrever.

    De acordo com as considerações de Soares (2004), na fase 1, início dessa

    construção, as tentativas das crianças dão-se no sentido da reprodução dos traços

    básicos da escrita com que elas se deparam no cotidiano. O que vale é a intenção,

    pois, embora o traçado seja semelhante, cada um “lê” em seus rabiscos aquilo que

    quis escrever. Dessa maneira, cada um só pode interpretar a sua própria escrita, e

    não a dos outros. Nesta fase, a criança elabora a hipótese de que a escrita dos

    nomes é proporcional ao tamanho do objeto ou ser a que está se referindo.

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    Na fase 2, a hipótese central é de que para ler coisas diferentes é preciso

    usar formas diferentes. A criança procura combinar de várias maneiras as poucas

    formas de letras que é capaz de reproduzir. Nesta fase, ao tentar escrever, a criança

    respeita duas exigências básicas: a quantidade de letras (nunca inferior a três) e a

    variedade entre elas (não podem ser repetidas).

    Na fase 3, são feitas tentativas de dar um valor sonoro a cada uma das letras

    que compõem a palavra. Surge a chamada hipótese silábica, isto é, cada grafia

    traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usadas letras ou outro

    tipo de grafia. Há, neste momento, um conflito entre a hipótese silábica e a

    quantidade mínima de letras exigidas para que a escrita possa ser lida. A criança,

    neste nível, trabalhando com a hipótese silábica, precisa usar duas formas gráficas

    para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro às suas ideias

    iniciais de que são necessários, pelo menos três caracteres. Este conflito a faz

    caminhar para outra fase.

    Na fase 4 ocorre, então, a transição da hipótese silábica para a alfabética. O

    conflito que se estabeleceu  –  entre uma exigência interna da própria criança (o

    número mínimo de grafias) e a realidade das formas que o meio lhe oferece, faz com

    que ela procure soluções. Ela, então, começa a perceber que escrever é representar

    progressivamente as partes sonoras das palavras, ainda que não o faça

    corretamente.

    Na fase 5, finalmente, é atingido o estágio da escrita alfabética, pela

    compreensão de que a cada um dos caracteres da escrita correspondem valores

    menores que a sílaba, e que uma palavra, se tiver duas sílabas, exigindo, portanto,

    dois movimentos para ser pronunciada, necessitará mais do que duas letras para ser

    escrita e a existência de uma regra produtiva que lhe permite, a partir desses

    elementos simples, formar a representação de inúmeras sílabas, mesmo aquelas

    sobre as quais não se tenham exercitado (ZACHARIAS, 2006).

     A criança tem a sua frente uma estrada longa, até chegar à leitura e a escrita

    da maneira que nós, adultos, a concebemos, percebendo que a cada som

    corresponde uma determinada forma; que há grupos de letras separadas por

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    espaços em branco, grupos estes que correspondem a cada uma das palavras

    escritas.

    Segundo as fases expostas acima, para que alguma coisa sirva para ler é

    preciso que contenha certo número de letras, variável entre dois e quatro. Afinal,

    letra sozinha não representa nada escrito. De nada servem, também, conjuntos com

    letras repetidas, pois elas entendem que só podem ser lidas palavras que

    contenham letras diferentes. Uma explicação para tal seria que, em seu dia a dia,

    observam que o comum é encontrar palavras formadas por uma variedade de letras.

    Os métodos de alfabetização

    Segundo Meireles (2001), os métodos de alfabetização não são a melhor

    coisa do mundo. Mas não há nada melhor para alfabetizar um grupo de pessoas, do

    que usar-se um método de alfabetização.

    É raro encontrar uma sala de aula onde se possa ver um método “puro”. Via

    de regra, o professor segue um método e lança mão de recursos de outro. Quando

    esta mistura é intencional e sistematizada, chama-se método misto ou eclético. Este

    método era o mais encontrado há 10 anos atrás.

    Temos abaixo uma síntese dos métodos de alfabetização mais utilizados e

    suas diferenças:

      Fônico – Enfatiza as relações símbolo-som. Há duas “correntes”. Na sintética,

    o aluno conhece os sons representados pelas letras e combina esses sons

    para pronunciar palavras. Na analítica, o aluno aprende primeiro uma série de

    palavras e depois parte para a associação entre o som e as partes das

    palavras. Pode utilizar cartilhas.

      Linguagem total (“whole language”)  – Defende que os sistemas linguísticos

    estão interligados, e que a segmentação em imagens ou sons deve ser

    evitada. Os estudantes são apresentados a textos inteiros, já que se acredita

    que “se aprende lendo”. Em sala de aula, o professor lê textos para os alunos,

    que acompanham a leitura com o mesmo texto, assim se “familiarizando” com

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    a linguagem escrita. A partir dessa familiarização, vão aprendendo palavras e,

    depois, as sílabas e as letras. Não utiliza cartilhas.

      Orientação dos PCN’s –  Diagnóstico prévio do aluno antes de optar por

    qualquer método. Algumas crianças entram na primeira série sabendo ler. O

    professor lê textos em voz alta e é acompanhado pela classe, que tem em

    mãos os mesmos textos. Os alunos são estimulados a copiar textos com base

    em uma situação social pré-existente: por exemplo, eles ouvem poesias e

    compõem, por cópia ou colagem, seus cadernos de poemas favoritos. A

    leitura em voz alta por parte dos estudantes é substituída por encenações de

    situações que foram lidas, desenhos que ilustram os trechos lidos etc. As

    crianças aprendem a escrever em letra de forma; a consciência fônica é umaconsequência. Não utiliza cartilhas.

      Alfabético  –  Os alunos primeiro identificam as letras pelos seus nomes,

    depois soletram as sílabas e, em seguida, as palavras antes de lerem

    sentenças curtas e, finalmente, histórias. Quando os alunos encontram

    palavras desconhecidas, as soletram até decodificá-las. Pode utilizar

    cartilhas.

      Analítico  –  Também conhecido como método “olhar-e-dizer ”, começa comunidades completas de linguagem e mais tarde as divide em partes. Exemplo:

    as sentenças são divididas em palavras, e as palavras, em sons. O “Orbis

    Sensualium Pictus” é considerado o primeiro livro escolar importante. Abaixo

    das gravuras estavam os nomes impressos para que os estudantes

    memorizassem as palavras, sem associá-las a letras e sons. Pode utilizar

    cartilhas.

      Sintético  –  Começa a ensinar por partes ou elementos das palavras, taiscomo letras, sons ou sílabas, para depois combiná-los em palavras. A ênfase

    é a correspondência som-símbolo. Pode utilizar cartilhas (MENEZES, 2006).

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    Algumas considerações de Magda Soares1 

    Na ótica de Soares (2005) existem muitas pesquisas sobre o aprendizado da

    escrita, principalmente se observarmos a extensão e diversidade do Brasil, e para

    ela, infelizmente, é impossível dizer que os melhores métodos e resultados chegam

    a todos.

    Para Soares (2005), até os anos 1980, as pesquisas na área de alfabetização

    eram de certa forma, restritas, porque se voltavam apenas para a questão

    metodológica. A discussão se limitava à eficácia ou não do método. Mas a partir

    dessa década, sobretudo pela influência de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, as

    pesquisas sobre o aprendizado da língua escrita pela criança, aumentaram. O focopassou mais para o processo da criança na construção de conceitos sobre a língua

    escrita. Ele muda do “como ensinar ” para o “como a criança aprende”. Depois, mais

    no fim dos anos 80, surgem as pesquisar linguísticas: foi o momento em que os

    linguistas finalmente se deram conta de que alfabetização era problema deles

    também.

     Ainda segundo Soares (2005), falta para fins pedagógicos, uma integração

    dos resultados das diferentes pesquisas que possibilite a tradução deles numaatuação didática, docente, capaz de orientar a criança no seu aprendizado, o que ela

    entende ser a origem das dificuldades que ainda se encontra na alfabetização.

     Analisando o construtivismo, ela o encara não como um método, porque se

    afirmou como uma teoria psicológica, e não como teoria pedagógica, mostrando

    como a criança aprende e não se voltando explicitamente para a questão de como o

    professor deve ensinar. Os cursos que proliferaram no país com o intuito de ensinar

    aos professores o Construtivismo, ensinava a eles exatamente isso: como a criançaaprendia e não como alfabetizar a criança.

    Nossa autora encara que os professores alfabetizadores, antes do

    construtivismo tinham um método e nenhuma teoria, ensinando pelo global, pelo

    silábico, pelo fônico, mas as teorias que fundamentavam esses métodos não eram

    1 Magda Becker Soares é Professora Titular Emérita da Faculdade de Educação da UniversidadeFederal de Minas Gerais UFMG - Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita -

    CEALE - da Faculdade de Educação da UFMG. Graduada em Letras, doutora e livre-docente emEducação. É autora de diversos livros.

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    discutidas. Assim, o construtivismo veio negar esses métodos, mas não propôs

    outros que os substituíssem, somente trouxe uma teoria sobre a aprendizagem da

    língua escrita, e ela vai além, entende que para o construtivismo adotar qualquer

    método para alfabetizar se tornou um pecado mortal, como se fosse possível ensinar

    qualquer coisa sem ter método.

    Em relação aos professores acharem que retomar algum método do passado

    seria a solução, Soares (2005) explica que tanto antigamente quanto hoje, o

    fracasso escolar tem altos índices, mas com a grande diferença que os alunos eram

    retidos na primeira série enquanto não fossem alfabetizados e hoje encontra-se

    aluno que chega ao final até mesmo do ensino fundamental sem estar alfabetizado.

     Assim, o argumento de que o método fônico, usado, sobretudo nos anos 70,

    dava certo e, portanto, deva ser retomado, não se sustenta. Isso porque havia

    reprovação e não aprendizagem com o método fônico, como havia também com

    outros métodos. Não tem sentido uma volta ao passado esquecendo ou

    abandonando as contribuições fundamentais do Construtivismo e das ciências

    linguísticas para a compreensão do processo de aprendizagem da língua escrita.

    Um exemplo: antes, o menino escrevia silabicamente e as professoras diziam: “ele

    está engolindo letra, é disléxico, é preciso encaminhar para um psicólogo; ” hoje, a

    teoria construtivista e os princípios linguísticos evidenciam que escrever

    silabicamente é uma etapa normal do processo de descoberta do sistema de escrita.

    Fica claro como o avanço do conhecimento sobre a aprendizagem da língua escrita

    torna sem sentido propostas de volta ao que se fazia antigamente.

    Sobre a criança aprender pelo método fônico, Soares (2005) entende como o

    mais adequado, pedagogicamente e até psicologicamente, é que a criança aprenda

    simultaneamente todas as competências e habilidades envolvidas na aquisição da

    língua escrita: aprenda a decodificar e codificar, isto é, aprenda as relações entre os

    “sons” e as letras ou grafemas, ao mesmo tempo em que aprenda a compreender

    textos, a construir sentido para os textos, e ainda aprenda as funções da escrita, os

    diferentes gêneros de textos.

    Se o professor ensina sequencialmente, sistematicamente, as relações

    fonema/grafema, como faz o método fônico, a criança acaba, sim, aprendendo a

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    escrever e a ler, como codificação e decodificação, mas, a compreensão, a

    construção de sentido, o entendimento das funções da escrita, o envolvimento em

    práticas sociais de leitura e escrita, acabam ficando adiados “para depois”; a criança

    aprende só a tecnologia da escrita, desligada de seus usos sociais, o que tira todo o

    sentido da tecnologia.

    Quando se reconhecem as várias facetas da escrita, não se pode aceitar que

    a criança aprenda com aquele tipo de texto “O bebê baba”, “Eva viu a uva”, textos

    que não circulam na sociedade, não fazem o menor sentido, não são um conto, uma

    poesia, uma parlenda, são artificialmente construídos com o único objetivo de

    ensinar a codificar e decodificar.

    Soares (2005) ainda analisa que com estes textos a criança não construirá o

    uso de sua língua. A criança deve aprender a ler e a escrever interagindo com textos

    reais, com os diversos gêneros e portadores de texto que circulam na sociedade.

     Assim ela vai aprender não só as relações fonema/grafema, mas, simultaneamente,

    o sentido e função que tem a escrita.

    Deste modo, considerando que cada uma das facetas da aprendizagem da

    língua escrita supõe um processo cognitivo específico, não se aprendendo umaconvenção (a relação fonema/grafema) da mesma forma que se aprende a construir

    sentido de um texto, a interpretar, a compreender, aprender os diferentes usos e

    funções da escrita e os diferentes gêneros de texto, também demanda processos

    cognitivos diferenciados.

     A consequência é que, no estado atual dos conhecimentos sobre a língua

    escrita e sua aprendizagem, não se pode falar de um método de alfabetização, mas

    de métodos de alfabetização, no plural. Assim: ler histórias ou poemas ou textosinformativos para as crianças, levá-las a interpretar esses diferentes textos supõe

    determinados procedimentos didáticos, enquanto que tomar palavras-chave de um

    texto lido e trabalhá-las para, com base nelas, desenvolver a aprendizagem das

    relações fonema/grafema supõe outros procedimentos.

    São diferentes métodos, diferentes procedimentos, porque são diferentes

    objetos de conhecimento e, portanto, diferentes processos de aprendizagem. Por

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    isso, hoje é preciso ter métodos de alfabetização, não um único método de

    alfabetização.

    O papel do professor como mediador da construção do processo de

    alfabetização

    É evidente que determinadas informações sobre a correspondência letra/som

    serão fornecidas pelos adultos aos que se iniciam no processo de alfabetização,

    mas o processo em si, de entender como se estrutura a língua escrita, sob aspectos

     já vistos, terá sido construído pela criança, a partir das informações e estímulos que

    o meio, o convívio com material escrito e com outras pessoas lhe tiver oferecido.

    Deve-se levar em conta, porém, que tal construção não é uma apropriação

    puramente individual, mas um compartilhar social, importando, e muito, as condições

    sociais em que a criança vive; o modo como a palavra é escrita, interpretada e

    valorizada em seu meio; as oportunidades que tem para lidar com ela; o significado

    que lhe é dado, o que se pensa a respeito de como e para que se lê e escreve.

    É claro que também é importante o modo como o aluno aprendiz é visto pelo

    professor; as relações de respeito ou descrédito que se estabelecem sobre suaspotencialidades.

    Neste caso, seria preciso levar em conta as condições sócio-históricas em

    que a atividade de leitura se produz, analisando não apenas o indivíduo como

    construtor autônomo do conhecimento, mas também a função de mediação exercida

    pelo professor, colocando em evidência, portanto, a dinâmica das relações

    interpessoais que atuam na elaboração do conhecimento da leitura/escrita, visto que

    o modo como se estabelece a interação professor/aluno pode facilitar, dificultar e atémesmo bloquear esta construção.

    Dependendo das intervenções mediacionais, sobretudo do professor, as

    experiências do alfabetizando com a língua escrita poderá ser o início de um rico

    processo de aquisições ou o término de uma vida escolar pautada no insucesso,

    cujas marcas indeléveis passarão a agir como um estigma ou um chamariz para

    outros sucessivos fracassos.

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    Segundo Saviani (1991, p.16), o saber é o objeto específico do trabalho

    escolar. Em se tratando da alfabetização, esse saber adquire uma especificidade

    ainda maior, tanto no ensinar como no aprender, exigindo que o professor domine e

    articule uma gama de saberes – os saberes docentes – para que possa mediar, com

    sucesso, tal aquisição. E, principalmente, para as crianças das classes populares, a

    escola é o local por excelência para essa apropriação. Ali é bastante significativa a

    interação/cooperação da criança com os seus pares, nas suas aquisições, visto que

    a alfabetização não é simplesmente adquirida, mas co-construída no processo de

    escolarização (COOK-GUMPERZ, 1991).

     A alfabetização é, pois, uma aquisição social/individual e, nesse processo,

    exercem papéis relevantes, tanto o contexto intra como o extraescolar, favorecendo

    ou não as mediações.

    Segundo Gauthier et al (1998), o bom ensino, entre outras condições, requer

    que a formação do professor contemple o domínio de saberes diversos, catalogados

    numa tipologia constituída pelos saberes disciplinares, curriculares, das ciências da

    educação, da tradição pedagógica, experienciais, da ação pedagógica.

    Tardif, Lessar e Lahaye (1991) apontam a necessidade de uma sólidaformação do professor, enfatizada na prática e no discurso dos professores da

    Escola e dentre estes saberes que fazem parte de sua formação, é importante ao

    menos lembrarmos os saberes disciplinares e a sua inter-relação com os saberes

    das Ciências da Educação.

    Vale lembrar as concepções de Vygotsky (1991), partindo do princípio que os

    sujeitos se encontram numa rede de relações com o mundo, que lhes possibilita

    adquirir uma forma peculiar de existência, constituindo assim seu campo simbólicode significações. Esta capacidade simbólica do homem, que se expressa através da

    linguagem e se materializa no texto oral ou escrito, relaciona-se diretamente com

    sua prática social global.

     A linguagem é vista como um processo de constituição dos sujeitos, onde

    criamos e organizamos nossas experiências. Assumir a noção de constitutividade do

    sujeito pela linguagem (Franchi, 1992) significa assumir que não se trata pois de

    explicitar um externo ou um interno na relação do sujeito com a linguagem, mas

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    admitir que ambos se constituem à medida que interagem. Uma constituição que se

    dá pela internalização (Vygotsky,1991) dos signos que circulam nessas interações.

    Explicitar esta noção é fundamental, pois é na sua dependência que se

    estabelece uma concepção de língua e de seu ensino. Desta forma, a língua não é

    algo pronto, acabado, onde os sujeitos dela primeiro se apropriam para depois usá-

    la. É durante os processos interativos que os sujeitos vão construindo e

    reconstruindo a própria língua (GERALDI, 1991).

    Portanto, quando pensamos no ensino da língua devemos considerar que o

    sujeito vai construir e reconstruir seu conhecimento e a si mesmo, nas

    especificidades das interlocuções que se darão na produção de textos, tanto orais

    quanto escritos.

     A partir das concepções de linguagem e língua apresentadas, devemos

    considerar que quando entramos para a sala de aula estamos todos  – professor e

    alunos e os alunos entre si  –  em diferentes níveis no que diz respeito ao nosso

    objeto de conhecimento, isto é, a escrita.

     Ainda focando o trabalho do professor, para que este vislumbre sucesso

    precisa conhecer primeiramente, as contribuições mais recentes da ciência dalinguagem e sua transposição didática.

    Seguidamente, deve ele próprio, ser um usuário da linguagem,

    principalmente, em sua modalidade escrita, já que os conteúdos selecionados

    inscrevem-se no eixo do uso e da reflexão, tanto da linguagem oral como da escrita.

    Se se aprende a ler, lendo e a escrever, escrevendo, um professor que leia

    regularmente e que tenha intimidade com a escrita, seguramente terá mais chances

    de compreender os processos vividos pelas crianças, interferindo de modo

    pertinente. Igualmente importante, é sua conscientização da importância da leitura

    propriamente dita e de sua influência perante o aluno, no processo de construção da

    criança e no seu incentivo à leitura.

    Desse modo, é fundamental que as atividades desenvolvidas em todas as

    disciplinas que venham compor o currículo privilegiem a leitura e a produção de

    textos do futuro professor.

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    Pode-se assim cobrar do educador:

    familiarizar-se com a leitura de uma grande variedade de gêneros,

    inserindo-se na comunidade dos leitores, aprendendo a selecionar informações

    pertinentes em diferentes suportes, compreendendo a perspectiva enunciativa com

    que os textos foram produzidos e posicionando-se criticamente;

    estudar os principais mecanismos de textualização  –  a coesão nominal

    responsável pela continuidade temática, a coesão verbal e as conexões temporais

    ou lógicas responsáveis por marcar as articulações da progressão temática;

    conhecer algumas das contribuições da psicolinguística para a

    compreensão do processo de leitura na construção do sentido;

    envolver-se em uma intensa e variada prática de produção de textos,

    produzindo fichas, resumos ou resenhas de textos lidos para as diversas disciplinas,

    elaborando relatórios de experimentos ou de estudos do meio realizados,

    produzindo um diário de leitura para registrar impressões a respeito dos textos que

    for lendo, ao longo do curso, elaborando planos e registros de sua prática docente,

    etc;

    explorar o estudo dos mecanismos de textualização como ferramenta para a

    análise da própria produção textual e da produção de textos infantis, estudando a

    interface entre a gramática e o texto, nos processos de refazer e de rever textos;

    conhecer uma série de gêneros que a prática social projeta como

    adequados à criança, explorando as possibilidades de tratamento didático desses

    gêneros na escola;

    conhecer a história da escrita, para compreender melhor a relação com aevolução conceitual da criança na construção da base alfabética;

    conhecer a relação do sistema fonológico com o sistema gráfico da língua

    para interpretar as soluções que as crianças apresentam para as convenções

    ortográficas;

    estudar o fenômeno da variação linguística, para desfazer o mito da unidade

    linguística, desenvolvendo instrumentos para descrever a variedade falada pelos

    alunos e sua influência na escrita, combatendo o preconceito linguístico;

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    estudar, à luz das recentes contribuições da linguística, a gramática da

    língua, principalmente em relação a assuntos relacionados aos padrões impostos

    pela escrita nos diversos gêneros em circulação social.

    O planejamento e a organização do trabalho em torno da alfabetização

     As dimensões e os conteúdos pertinentes à alfabetização passaram por

    ampliações progressivas, cada vez mais complexas, como se vem enfatizando ao

    longo dessas reflexões. Trata-se, hoje, de um campo que recebe contribuições de

    diversas ciências e de linhas de pesquisa cada vez mais valorizadas do ponto de

    vista político e pedagógico. Por isso mesmo, tal processo não pode ser conduzido

    de forma aleatória e assistemática, limitado a vivências espontâneas dos alunos ou

    a práticas solitárias dos professores.

    Ferreiro e Teberosky (1985) salientam neste sentido que emerge a

    importância do planejamento da organização das classes de alfabetização e do

    trabalho didático a ser desenvolvido.

    O planejamento é o instrumento, por excelência, capaz de assegurar o

    diagnóstico das capacidades e conhecimentos prévios dos alunos, as metas e meiospara a sistematização de aprendizagens e práticas de ensino, os instrumentos de

    avaliação do processo e a elaboração de novas estratégias para a solução de

    problemas detectados. Exige não só esforço docente individual como também

    trabalho coletivo e compartilhado; assim, o planejamento estabelece princípios de

    reciprocidade de cada profissional com seus pares, possibilitando a consolidação da

    autonomia dos professores e a progressiva reconstrução do projeto pedagógico da

    própria escola.

     Alguns requisitos são fundamentais em um planejamento efetivamente

    voltado para a sistematização do trabalho em torno da alfabetização:

      Criar condições e tempos escolares destinados ao planejamento, ao

    diagnóstico, à avaliação e à reelaboração de propostas, buscando-se a

    progressiva institucionalização de espaços coletivos, tais como seminários ou

    semanas de planejamento, de integração com a comunidade, de escolha de

    livros didáticos, entre outras possibilidades;

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      Estabelecer e compartilhar metas e objetivos, envolvendo professores,

    alunos e pais, nos processos de sua avaliação e de sua reorientação;

      Definir meios para alcançar objetivos, organizar o processo, registrar e

    socializar atividades realizadas.

     Além da definição de objetivos e metas, é necessário investir nos meios para

    sua implementação. A organização das atividades em torno da alfabetização deverá

    levar em conta:

      A progressão de níveis do trabalho pedagógico, em função dos níveis de

    aprendizagem dos alunos e da natureza das atividades, envolvendo conceitos

    e procedimentos pertinentes aos diversos componentes do aprendizado da

    língua escrita: a compreensão e a valorização da cultura escrita, a

    apropriação do sistema de escrita, a oralidade, a leitura e a produção de

    textos escritos. Dependendo do nível atingido pela classe, por grupos ou

    duplas de alunos, todo o planejamento poderá ser reorientado, em busca de

    outras alternativas de métodos, de materiais didáticos e de reagrupamento de

    alunos, sempre tendo como meta mais ampla sua progressiva autonomia em

    relação aos usos da língua escrita.

      A criação de um ambiente alfabetizador, ou de um contexto de cultura escrita

    oferecido pelas formas de organização da sala e de toda a escola, capaz de

    disponibilizar aos alunos a familiarização com a escrita e a interação com

    diferentes tipos, gêneros, portadores e suportes, nas mais diversas formas de

    circulação social de textos. A exposição de livros, dicionários, revistas,

    rótulos, publicidade, notícias do ambiente escolar e de periódicos da

    comunidade ou do município, cartazes, relatórios, registros de eleições e

    muitas outras possibilidades permitem a inserção dos alunos em práticas

    sociais de letramento, ultrapassando formas artificiais de etiquetagem ou de

    treinamento da escrita em contextos estritamente escolares.

      O estabelecimento de rotinas diárias e semanais, capazes de oferecer ao

    professor um princípio organizador de seu trabalho, desde que atenda a dois

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    critérios essenciais: a variedade e a sistematização. Uma rotina necessita, em

    primeiro lugar, propiciar diversificação de experiências e ampliação de

    contextos de aplicação. Em segundo lugar, precisa oferecer um contexto de

    previsibilidade de atividades, para que os próprios alunos se organizem,

    consolidem aprendizagens e avancem em seus espaços de autonomia

    (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985).

    Nesse sentido, pode ser bastante produtiva a previsão diária e semanal de

    atividades voltadas para os eixos da leitura, da escrita, da oralidade, das atividades

    lúdicas e especializadas, levando em conta o melhor momento de sua inserção

    (início, meio ou final do turno) e a melhor configuração grupal para sua realização

    (grupos que se familiarizam com determinados conteúdos ou grupos que já se

    encontram em patamares mais consolidados de aprendizagem).

    Essa flexibilidade pode conferir maior potencial à proposição de rotinas, como

    elementos que ajudam o professor a melhor conhecer seus alunos e a monitorar as

    modificações necessárias para que o planejamento inicial não se desencaminhe das

    metas mais relevantes inicialmente projetadas.

    Alfabetização para formar cidadãos críticos

     A leitura e a escrita são práticas complementares que se modificam

    mutuamente no processo do letramento.

     Ao se formar, o leitor  – competente  –, ou seja, o leitor capaz de selecionar,

    compreender o que se lê e usar adequadamente estratégias de leitura, é importante

    conhecer o significado da alfabetização e letramento, já que os dois processosdevem ser desenvolvidos simultaneamente.

    Quando a alfabetização é sinônimo de aprendizagem do código da escrita, é

    evidenciada apenas uma parte do processo e o aluno precisa de mais para poder

    agir em sociedade. O professor alfabetizador tem um importantíssimo papel na

    formação do aluno  –  alfabetizado  –  leitor. O letramento, nesta perspectiva, é um

    complemento que irá contribuir para o aluno atender às suas necessidades. Tanto

    quanto a alfabetização, o letramento é fundamental para a conquista da cidadania.

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    O ato de ler deve ser considerado como uma prática social e, para que ela

    possa ser desenvolvida, é necessário a influência de elementos fundamentais como

    a família e a escola, onde a relação família  –  escola  –  leitura é um combustível

    insubstituível para a possível formação de uma sociedade mais justa e igualitária.

    O processo de aquisição da cultura está intimamente ligado ao material

    escrito, pois o patrimônio histórico, cultural e científico da humanidade se encontra

    em livros. A escola neste âmbito tem o importante papel de desenvolver no

    educando o hábito da leitura. Para isso, a escola deve ter seus objetivos bem

    traçados e dizer não à mecanização da leitura.

    No período escolar, é preciso desenvolver estratégias que estimulem

    adequadamente a habilidade de ler, atendendo aos objetivos e necessidades dos

    alunos. A população apresenta grande dificuldade em dominar a leitura, por isso, a

    necessidade de compreender o que é ler, qual a sua verdadeira importância na

    sociedade e como estimular este hábito e gosto nos alunos.

     A aprendizagem da leitura transforma-se em prática social pelo fato de

    possibilitar à criança a assimilação dos valores que fazem parte da sociedade em

    que está inserida. A criança que lê pode ser levada às ideologias dominantes por seringênua e estar no início do seu processo de formação como cidadã. Cabe a leitura

    levar a criança a refletir sobre os valores da sociedade. Por isso, o professor deve

    ter cuidado ao selecionar os textos que irá apresentar aos seus alunos.

    Como nos mostra Ezequiel Theodoro da Silva (1986) em seu livro “Leitura e

    Realidade Brasileira”, a leitura não pode ser examinada isoladamente e sim no

    interior de um todo que compõe a sociedade.

    Enfim, esperamos que até o momento tenham percebido a necessidade de

    usar a seletividade e a criticidade sobre a leitura, para que esta não seja vista como

    um ato individualista e passe a ser encarada como parte fundamental na formação

    de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, enfim, da sociedade em si.

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    UNIDADE 3  – A FALA, A LEITURA E A ESCRITA

    Cagliari (2008) em seu livro “ Alfabetização e Linguística”  lança algunsquestionamentos que são pertinentes neste momento. Ele pondera sobre a questão

    mais fundamental do ensino de português ser a seguinte: o que é ensinar português

    para pessoas que já sabem falar o português? Embora seja nossa língua nativa,

    enquanto pequenos cidadãos que estão começando seu processo de formação

    escolar, as crianças das séries iniciais sabem algumas coisas dentro da língua

    portuguesa, mas não sabe outras. Mas há muita coisa a se fazer de novo e

    interessante no ensino da língua materna e isso não se restringe à alfabetização,

    apesar de este período ser, na verdade, muito especial.

    O objetivo mais geral do ensino de português para todas as séries da escola é

    mostrar como funciona a linguagem humana e, de modo particular, o português;

    quais os usos que tem, e como os alunos devem fazer para estenderem ao máximo,

    ou abrangendo metas específicas, esses usos nas suas modalidades escrita e oral,

    em diferentes situações de vida.

    Em outras palavras, o professor de português deve ensinar aos alunos o queé uma língua, quais as propriedades e usos que ela realmente tem, qual é o

    comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos linguísticos,

    nas mais variadas situações de suas vidas.

     Ao aluno não se ensina adequadamente como ele fala, qual o valor funcional

    dos segmentos fônicos de sua língua, como se compõe a morfologia desta, a

    sintaxe, a semântica, etc. O aluno fez centenas de redações e não sabe o que está

    realmente fazendo, como deve elaborar um texto escrito ou dizer um texto oral emsituações diferentes.

     A criança que se inicia na alfabetização já é um falante capaz de entender e

    falar a língua portuguesa com desembaraço e precisão nas circunstâncias de sua

    vida em que precisa usar a linguagem. Mas não sabe escrever nem ler. Esses são

    usos novos da linguagem para ela e é, sobretudo, isso o que ela espera da escola.

    Em muitos caos, há ainda o interesse em aprender uma variedade do português de

    maior prestígio.

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    Essa criança não só sabe falar o português, como sabe também refletir sobre

    a sua própria língua. De fato, as crianças se divertem manipulando a linguagem:

    compõem palavras novas, a partir da análise dos processos de formação de

    palavras, às vezes criando formas surpreendentes; adoram traduzir a sua própria

    língua em códigos como a língua do P, e falar invertendo sílabas, substituindo certos

    segmentos por outros, com uma destreza que o adulto dificilmente consegue

    acompanhar.

     As respostas que as crianças dão às perguntas que lhes são feitas revelam a

    incrível capacidade que têm de manipular fatos semânticos de alta complexidade,

    como a pressuposição, a argumentação lógica, sem contar com a expressão de

    metáforas e o poder de abstração e generalização claramente revelados numa

    análise de seu comportamento linguístico

     Além disso, elas contam ainda com uma capacidade enorme de análise da

    linguagem oral que irão perder logo que entrarem na escola, sufocadas pelo modo

    como se ensina português, tomando-se a escrita ortográfica como base para tudo.

    Na análise de muitos erros encontrados em provas e nas avaliações feitas na

    alfabetização, é fácil observar que, em muitos casos, a criança revela um apego às

    formas fonéticas da língua em lugar das formas ortográficas, não raro deixando o

    professor perplexo com sua “burrice” devido sua incapacidade de analisar a fala com

    a mesma competência que a criança apresenta.

    Quanto a leitura, a atividade fundamental desenvolvida pela escola para a

    formação dos alunos é ela. É muito mais importante saber ler do que saber escrever.

    O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a leitura.

    Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um bom leitor,

    podemos pensar que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa. Se, porém, outro

    aluno tiver notas excelentes em tudo, mas não se tornar um bom leitor, sua

    formação será profundamente defeituosa e ele terá menos chances no futuro do que

    aquele que, apesar das reprovações, se tornou um bom leitor (CAGLIARI, 2008).

     A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se

    deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola. A

    leitura é uma herança maior do que qualquer diploma.

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     A grande maioria dos problemas que os alunos encontram ao longo dos anos

    de estudo, chegando até a pós-graduação, é decorrente de problemas de leitura. O

    aluno muitas vezes não resolve problemas de matemática, não porque não saiba

    matemática, mas porque não sabe ler o enunciado do problema. Ele sabe somar,

    dividir, etc., mas ao ler um problema não sabe o que fazer com os números e a

    relação destes com as realidades a que se referem. Não adianta dizer que o aluno

    não sabe nem sequer somar ou dividir números que não apresentam dificuldades,

    que ele não entende matemática (CAGLIARI, 2008).

    Porque de fato ele não entende mesmo é o português que lê. Não foi treinado

    para ler números, relações quantitativas, problemas de matemática. O professor de

    português não ensina isso porque diz que é obrigação do professor de matemática e

    o professor de matemática ou não desconfia do problema ou, quando muito, acha

    que ler e compreender um texto é um problema que o professor de português deve

    resolver na educação das crianças. Estão todos errados. A alfabetização é missão

    de todos os professores.

    Ler é uma atividade extremamente complexa e envolve problemas não só

    semânticos, culturais, ideológicos, filosóficos, mas até fonéticos. Podemos ler

    sequências de números de maneiras diferentes, dependendo daquilo a que eles se

    referem. Alguns alunos têm dificuldades na matemática porque não sabem ler os

    números corretamente. Os números não são feitos só de algarismos. A combinação

    de algarismos expressa por si, no todo, realidades matemáticas que têm

    propriedades específicas. Por exemplo, nos números fracionários (dois quintos), o

    denominador é lido com numerais ordinais, mas a ordem característica típica desses

    numerais na linguagem comum não tem nada a ver com a relação fracionária. Não

    basta ensinar só as relações matemáticas: é preciso ensinar também o português

    que a matemática usa. Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à

    leitura e depende dela para se manter e se desenvolver.

     A leitura é a realização do objetivo da escrita. Quem escreve, escreve para

    ser lido. O objetivo da escrita é a leitura. Como vimos, o mundo da escrita já é

    complicado e caótico no seu aspecto gráfico, quanto mais se juntarmos a isso o

    mundo dos significados carregados pela escrita.

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     A leitura vai operar justamente nesse universo. Às vezes, ler é um processo

    de descoberta, como a busca do saber científico. Outras vezes requer um trabalho

    paciente, perseverante, desafiador, semelhante à pesquisa laboratorial. A leitura

    pode também ser superficial, sem grandes pretensões, uma atividade lúdica, como

    um jogo de bola em que os participantes jamais se preocupam com a lei da

    gravidade, a cinética e a balística, mas nem por isso deixam de jogar bola com gosto

    e perfeição (CAGLIARI, 2008).

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    UNIDADE 4  – A LEITURA NA ESCOLA: PRÁTICAS ECOMPETÊNCIAS

    Escrever e ler são duas atividades da alfabetização conduzidas mais ou

    menos paralelamente. Muitas vezes ensina-se a ler e escrever letras, famílias

    silábicas, palavras, frases, textos. Na prática, dá-se mais ênfase à escrita. Talvez o

    privilégio da escrita sobre a leitura se deve à maior facilidade de avaliação escolar.

    É preciso repensar esses procedimentos em relação à escrita e à leitura na

    escola, dando um lugar de maior prestígio à leitura, desde o início do processo de

    alfabetização, pois é como diz Vigotsky (1991, p. 282): “Uma vez que as crianças

    aprendem a usar definitivamente a leitura, seu campo psicológico muda

    radicalmente”.

     Assim, já durante a alfabetização, várias situações de leitura precisam ocorrer

    na escola, dentro do contexto com o trabalho da escrita. Algumas habilidades

    cognitivas são fundamentais e devem ser desenvolvidas:

      Hipóteses sobre o conteúdo do texto pela análise do título, ilustração e

    formato;

      Reconhecimento da relação grafema/fonema, percepção imediata de palavras

    e expressões familiares, coerência do título com o conteúdo do texto;

      Depois da leitura, comentários apreciativos do texto e sua relação com outros

    textos lidos.

     Aos professores, não é recomendável subestimar a predisposição dos alunos

    à leitura e delegar essa competência a outras séries subsequentes.O início da construção desse legado não deve ser adiado; prática de leitura é

    uma atividade devida desde o ingresso do aluno à escola.

     A meta principal do trabalho com leitura na alfabetização e em todo ensino

    fundamental, é que os alunos leiam e compreendam textos variados com finalidades

    diversas, como ressalta Cagliari (2008, p.168): “Um aluno que não lê aprenderá o

    resto com dificuldades, e pode passar a ter uma relação delicada com a escrita, não

    entendendo bem o que esta é e nem como funciona”.

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    A leitura na sala de aula

     A leitura deve ocupar um lugar de destaque na sala de aula contribuindo para

    a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores

    capazes.

     A leitura é a maior herança que uma escola pode deixar aos seus alunos,

    uma vez que ela é fonte perene de educação estando sempre presente na vida das

    pessoas que no seu dia-a-dia leem muito mais do que escrevem. Portanto, vimos

    neste momento alertar sobre o quanto é necessário que se dê prioridade absoluta à

    leitura no ensino de português.

    Para que isso aconteça, nós professores temos que fazer da sala de aula umespaço onde os alunos possam vivenciar uma prática textual intensa e múltipla para

    que sejam cidadãos capazes de compreender os diferentes textos com os quais se

    defrontam. É importante e necessária uma prática de leitura que desperte e cultive o

    desejo de ler para que se torne uma prática pedagógica eficiente.

    Para que se operem transformações na relação ensino-aprendizagem, é

    preciso que sejam feitas mudanças na forma de trabalhar a leitura na sala de aula, a

    qual não pode ser uma atividade secundária na escola ou na vida e sim umaatividade prioritária no ensino de português porque a leitura está sempre educando e

    sendo o prolongamento da escola na vida das pessoas.

    É necessário fazer da sala de aula um espaço onde os alunos possam

    vivenciar e interpretar uma variedade de textos porque o processo de aquisição da

    leitura tem um objetivo maior que é o de orientar os alunos para o exercício de uma

    cidadania consciente.

    De acordo com Franco (1997), lê-se para:

      Sentir o texto, dialogar com seu autor ou, simplesmente, para usufruí-lo sem

    perguntas e sem questionamentos. É a leitura – prazer.

      Buscar informações, coletar dados. É a leitura – pesquisa.

      Ampliação dos conhecimentos apossando-se do que já foi construído pela

    humanidade.

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      Esclarecer dúvidas, buscar respostas. Pergunta-se ao texto.

      Estudar o texto. Saber o quê e como o autor pensa e posiciona-se frente a

    determinado assunto.

     Ao se escolher um livro, por exemplo, uma crônica, uma reportagem ou

    qualquer outro tipo de texto, o leitor tem uma determinada expectativa, um

    determinado objetivo que procura satisfazer e/ou alcançar durante a leitura.

     A leitura é um aprendizado, essencialmente significativo, ativo, com objetivos

    claros e relacionados ao conhecimento anterior e às expectativas do leitor. Não há

    leitura sem um “porquê se lê”. Assim sendo, ela é antecipatória – o leitor sabe o que

    busca. Portanto, não se surpreende com o que encontra nas páginas que lê;

    antecipa palavras, frases inteiras. É baseada na compreensão, e a previsão é a

    mola impulsora.

    Geraldi (1997) põe em evidência quatro objetivos para a leitura:

      Aquele em que o leitor faz perguntas ao texto  –  a leitura que busca

    informações;  Aquele em que o leitor “escuta” o “texto”  – o estudo de texto;

      Aquele em que o leitor pretende usar o texto para algum fim  –  a leitura-

    pretexto;

      Aquele em que o leitor deseja fruir o texto – leitura de fruição.

    Segundo Cagliari (2008), a leitura tem os objetivos de ensinar e treinar a

    pronúncia dos alunos no dialeto padrão e em outros; de ajudar os alunos a aprender

    o que é escrever e qual a forma ortográfica das palavras. Para conseguir esses

    objetivos da leitura é preciso planejar as atividades de tal modo que se possa

    realizar o que se pretende.

    Como a leitura é uma atividade cooperativa, o leitor lê para tirar do texto o que

    o texto não diz, mas pressupõe, promete, implica ou implicita, a preencher espaços

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    vazios, a ligar o que existe num texto com o resto da intertextualidade, de onde ele

    nasce e onde irá se fundir (MAINGUENEAU, 1996).

    De acordo com Evaristo (1997), o objetivo do ato de ler é formar um leitor

    crítico, capaz de se assumir plenamente enquanto cidadão. A formação/constituição

    desse sujeito-leitor é um trabalho reflexivo que precisa ser assumido pelo ensino da

    língua materna.

    No dizer de Freire (1988), o leitor lê para reescrever o que está lendo, para

    descobrir a conexão entre o texto e o contexto do texto, e também para vincular o

    texto/contexto com o seu contexto de leitor.

    Lê-se para fazer da leitura não uma mera decodificação de uma mensagem,mas sim para fazer dela uma atividade interativa entre leitor-autor-texto-contexto

    (AZAMBUJA E SOUZA,1997).

    Kleiman (1989), ao citar Orlandi (1984) diz que ao ler, o leitor é levado através

    da leitura a questionar, a confrontar, a levantar-testar-hipóteses, a buscar

    significados e descobrir, enfim, que o texto pode oferecer “múltiplos sentidos”.

    Como motivar o aluno para a leitura?

    Segundo Azambuja e Souza (1997), antes de qualquer estudo de texto, é

    preciso preparar o aluno para a leitura porque grande parte do sucesso desse

    estudo está nessa fase de predisposição para a leitura, na qual o professor motivará

    o aluno despertando nele o interesse pelo texto a ser estudado. Motivando esse

    aluno ele terá a sua curiosidade aguçada e o seu conhecimento ativado.

    É importante que o texto não seja entregue, “secamente” ao aluno e que haja

    uma preparação prévia, partindo-se de experiências já vivenciadas pelo mesmo atése chegar ao texto propriamente dito.

    Para isso, o conhecimento prévio do aluno, quer seja linguístico  – 

    conhecimento dos recursos que a língua oferece  – quer seja extraliguístico  –  tudo

    que não se enquadra às exigências gramaticais  – deve ser ativado pelo professor,

    para que possa haver um engajamento entre o leitor e o texto a ser estudado.

    Podemos, portanto, a partir das experiências reveladas pelo leitor

    desencadear uma série de atividade, quais sejam: observação, discussão, relato,

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    debate sobre filmes, pesquisa bibliográfica e de campo, etc, que propiciarão

    enriquecimento e suscitarão interesse para as etapas posteriores do estudo do texto.

    Segundo Orlandi (1984), o primeiro contato com o texto é muito importante

    que seja feito individualmente para que o aluno, de acordo com o seu ritmo próprio

    de leitura, busque o significado global do mesmo, relacionando suas “histórias de

    leituras” com o texto em questão.

    Esse relacionamento de histórias de leituras leva o aluno a criar uma atitude

    de expectativa prévia com relação ao conteúdo do texto lido e o leva também, a

    fazer previsão e a utilizar múltiplas fontes de conhecimento na busca de uma maior

    compreensão, pois a leitura é uma atividade essencialmente preditiva de formulação

    de hipóteses, para a qual o leitor precisa utilizar seu conhecimento linguístico

    conceitual, e sua experiência (KLEIMAN, 1984).

     Ainda segundo Kleiman (1989), antes de se fazer um estudo analítico do

    texto, é necessário que o aluno leia-o, pois a materialização da mensagem, por

    intermédio de recursos linguísticos e/ou gráficos é eficazmente percebida quando se

    desenvolvem atividades de leitura. Tais atividades podem ser feitas individual ou

    coletivamente, oral ou silenciosamente.Que considerações importantes devemos ter com a leitura e a interpretação

    de textos na sala de aula?

    Segunda Cagliari (1997), uma das piores atitudes da escola atual em relação

    à leitura é a maneira como faz interpretação de textos com os alunos apenas à base

    de questionários.

    Quando uma criança ouve histórias, assiste à televisão, é perfeitamente

    capaz de entender o que ouve. É evidente que sua compreensão não é igual a de

    um adulto, mas, quando não entende algo que julga importante saber, a criança

    pergunta.

    Esse procedimento de interpretação de textos através de perguntas “óbvias” 

    não só induz o aluno a pensar que interpretar texto é saber o sujeito de uma oração

    ou o objeto direto, etc; como ainda tira todo o sabor da leitura, substituindo-o por um

    gosto chato de questionários.

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    Uma atividade possível com a leitura de textos é a discussão do assunto com

    os alunos, não só do conteúdo mas até mesmo da forma. Pode-se pedir aos alunos

    que contem a mesma história com as próprias palavras (sem roteiro). Isto é fazer

    uma interpretação criativa, não – repetitiva, do texto.

     Às vezes, uma simples leitura basta. Nem tudo o que se lê precisa ser

    discutido, comentado ou interpretado. Esse é outro erro que se vê eventualmente

    em livros didáticos. A leitura às vezes é como uma música que se quer ouvir e não

    dançar.

     A interpretação de um texto nada mais é que compreendê-lo, não ter dúvidas

    ao final da leitura, é falar sobre ele, criticá-lo, analisá-lo, apreciá-lo. Por isso é de

    suma importância a previsão que é a utilização de todo conhecimento prévio

    possuído pelo sujeito, permitindo-lhe compreender, experimentar e apreciar o que lê.

    Esses conhecimentos trazem significados para os textos, reduzem a ambiguidade e

    eliminam alternativas irrelevantes.

    Sendo a leitura uma atividade que exige grande interação, o estabelecimento

    de relações entre toda a experiência vivida, entre os conhecimentos já construídos e

    o que o escritor propõe, ela requer um pensar que se estabelece antes, durante eapós o ato de ler (FRANCO, 1997).

    Kleiman (1989) trata da compreensão de textos escritos destacando a

    importância do conhecimento prévio do leitor na compreensão de textos; a

    necessidade de estabelecimento de objetivos e formulação de hipóteses na

    compreensão destes textos, visando torná-los mais acessíveis; o processo

    inconsciente utilizado pelo leitor para compreender o texto escrito através de suas

    marcas formais.

    O contato com o texto para compreendê-lo pode ocorrer por intermédio de

    uma leitura ascendente, levando o leitor a partir de unidades menores, de detalhes

    que o texto oferece, para se chegar ao significado global do mesmo. Por outro lado,

    a compreensão do texto pode também ocorrer em um processo descendente pelo

    qual parte-se de uma visão global, isto é: o leitor direciona-se das partes maiores

    para as partes menores, sempre numa tentativa de buscar o significado levantando

    hipóteses por meio de pistas oferecidas pelo texto.

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     Ainda de acordo com Franco (1997), viver em sociedade exige conhecer e

    utilizar-se de diferentes materiais impressos2  que circulam ou que atropelam,

    visualmente, as pessoas como outdoor , propagandas, cartazes, panfletos, jornais,

    revistas, receituário médico, placas, anúncios, bilhetes, catálogo telefônico,

    circulares, ofícios, requerimentos, cheques e muitos outros.

    Permitir a exploração destes materiais significa partir da realidade dos

    educandos, isto é, do que é cotidiano; significa, ainda, propiciar-lhes oportunidade

    de ampliar e aprimorar a sua competência linguística, de se adaptarem à sociedade.

     A leitura de textos funcionais, científicos e literários, a partir do conhecimento

    e do domínio das propriedades específicas de cada um são alguns pontos a serem

    construídos juntamente com os alunos. Deste modo, o texto técnico/informativo

    exige escritor e leitor interessados em determinado tema. Permite o crescimento do

    indivíduo enquanto ser social e de cultura.

    Os textos científicos/informativos possibilitam novas formas de pensamento;

    trazem novos conhecimentos, permitem avanços científicos e a busca de soluções

    alternativas. São textos relacionados com o conhecimento sistematizado já

    produzido pelo homem nos diferentes campos da ciência. Permite acrescentarcoisas ao que se sabe.

    Conforme afirmam Azambuja e Souza (1997), o aluno não pode fazer uma

    leitura superficial de um texto porque leva a uma atitude passiva e

    consequentemente, a um desinteresse total pela leitura.

     Ao estudar um texto para compreendê-lo pode-se voltar a novas leituras

    tantas vezes quantas forem necessárias, de modo parcelado, facilitando assim a

    análise do mesmo. Essa etapa pode ser feita oralmente, em grupos menores de

    alunos ou mesmo com todos eles.

     A posição do professor, como estimulante, deve ser aquela que direciona,

    sem imposição, por intermédio de atividades sugestivas  – questionadoras, a fim de

    que os alunos atinjam os objetivos propostos para o estudo do texto, chegando a um

    aprofundamento do mesmo. É exatamente nesse momento que a compreensão

    2 Sobre os diversos tipos de material falaremos na próxima unidade.

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    deixa de ser superficial, à medida que o aluno levanta hipóteses, para testá-las,

    confirmá-las ou refutá-las. Estudar um texto é perceber não só o que está explícito,

    mas também descobrir o que se apresenta de modo mais sutil.

    O estudo do texto não pode ser visto como uma técnica em que se pode

    oferecer roteiros rígidos: cada texto poderá ter um tipo de abordagem; cada turma

    de aluno poderá determinar a abordagem do texto, finalmente, cada professor, de

    acordo com o seu grau de sensibilidade e de criatividade criará condições diferentes

    para a abordagem do texto.

     Ao se estudar um texto, quando se faz uma leitura ascendente, a

    compreensão de vocabulário é imprescindível pois colabora para o aprofundamento

    e a ampliação do conhecimento. Por isso, o trabalho com o vocabulário do texto

    deve ser feito no início do estudo de texto e que seja retomado no decorrer do

    mesmo.

    Um outro ponto importante quando se trabalha com o vocabulário de um texto

    é o fato de esse trabalho não se limitar, apenas, a uma pesquisa no dicionário, mas

    é imprescindível a volta ao texto para que haja uma compreensão adequada do

    emprego da palavra no mesmo.Citando Marekusehi (1985), Azambuja e Souza (1997) relatam que um estudo

    de texto transcende a uma mera leitura linear, sendo, portanto preciso “trabalhar o

    aluno leitor numa perspectiva crítica, desenvolvendo nele capacidade de raciocínio

    para além da contextualização cognitiva estrita”.

    Esse raciocínio se opera quando se desmonta o texto para um

    questionamento maior, buscando-se palavras e/ou expressões consideradas como

    pistas, que servem para desencadear uma série de suposições que levarão o leitor a

    refletir sobre elas, a questioná-las para posteriormente aceitá-las ou não. Enfim a

    análise das partes é importante como instrumento para a compreensão do texto.

     A leitura silenciosa – individual – tem como objetivo a busca de significados e

    contribui para que o aluno-leitor venha a ter uma visão geral do texto a ser estudado,

    visão esta que poderá ser enriquecida ou refutada após o estudo feito.

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     A leitura oral também é de grande importância, principalmente no ensino

    fundamental quando se propõe a leitura oral expressiva, advinda de uma interação

    leitor-texto. O momento propício para se desenvolver tal atividade poderá ser antes

    de um estudo analítico do texto ou, até mesmo, após tal estudo.

    Este tipo de leitura oferece a oportunidade para se formar um bom ouvinte,

    isto é, aquele que capta a mensagem pela audição sendo capaz de compreendê-la,

    recriando-a para que se torne ativo na recepção da referida mensagem.

    O objetivo da leitura oral não é somente o de formar bons leitores, mas

    também o de formar bons ouvintes. Não se trata portanto de leitura soletrada e sim

    de uma leitura que assegure o interesse do ouvinte num processo de interação

    leitor-texto-ouvinte.

    No dizer de Cagliari (1997), há alguns vícios de leitura que se observam na

    escola e até mesmo na vida das pessoas porque alguns indivíduos só conseguem

    entender um texto se lerem em voz alta; outros, ao contrário, só se lerem em

    silêncio; alguns leem silabando ou palavra por palavra; há os que quando leem

    precisam “mastigar os sons”  e ficam mimicando à medida que leem. Há ainda as

    pessoas que só conseguem compreender um texto respondendo a perguntas sobreele, porque foram treinadas pela escola a responder um questionário de

    interpretação de texto após cada leitura e julgam que essa é a única maneira de

    compreenderem o que leem.

     A leitura deve variar de acordo com o texto, pois não se lê uma poesia como

    se lê um problema de matemática ou uma narrativa. A reflexão que o primeiro tipo

    de leitura exige é diferente do que exigem o segundo e o terceiro. É preciso ensinar

    às crianças como proceder em cada caso, mostrando-lhes como ler provas, exames,questionários, formulários, instruções, jornais, revistas, etc.

     Alguns tipos de leitura, como instruções e problemas de matemática exigem

    que o leitor primeiro tome conhecimento do texto inteiro, depois releia-o por partes e

    em seguida encadeie essas partes segundo resultados ou cálculos anteriores, até

    chegar ao fim. Uma leitura de textos desse tipo só se completa quando se conclui o

    que eles pedem que se faça ou calcule. Antes disso, a compreensão de texto é

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