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8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing
1/28
A ESTTICA DA PRODUO: O SENSO DE COMUNIDADE ENTRE OS CUBEO E OS PIAROAAuthor(s): Joanna OveringSource: Revista de Antropologia, Vol. 34 (1991), pp. 7-33Published by: Revista de AntropologiaStable URL: http://www.jstor.org/stable/41616079.Accessed: 24/07/2013 19:04
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2/28
Revista
e
Antropologia,
o
Paulo, SP,
.
4,
991,
p.
-33.
ARTIGOS
A ESTTICA DA
PRODUO:
O
SENSO DE COMUNIDADE
ENTRE OS CUBEO E OS
PIAROA1
Joanna
vering
(Senior
ecturer,
ondonchool
f
Economics)
RESUMO: ste
rtigo
rocura
ecuperar
concepo
e senso
e
comunidadee
Vico
que
incorporaulgamento
stticolei
moralidade
para
ompreender
que
o ocial
ara
s
ndiosa
floresta
ropical
ul-americana.
trabalhoostra
ue
faltae
struturas
e
hierarquia
u
de
nstituies
e
oero
o
ignifica
altae
organizao
ocial,
as,
o
contrrio,
epresenta
m
credo
oltico
om
nteno
oral
esttica.
PALAVRAS-CHAVES:
tnoesttica,
iaroa,
enso e
omunidade,
onhecimento
sttico,
itual
e
nominao,
uiana.
A
esttica,
o Ocidente
moderno,
esvencilhou-see
quase
todos
s
outros
domnios:
eparou-se
a
religio,
a
moral do
poltico,
em
como
do domnio
do
conhecimento da
verdade.
Tendemos
colocar
a
arte
na
esferada
inspi-
rao:
uma
atividade
-social,
que
no
pertence
o
cotidiano.
Como nota
Gadamer,2
omos
influenciados
ela remodelao
antiana
a
filosofia
moral,
empresa ue
purificou
tica de
toda
esttica
de
todo
desejo.
Kant
imitou
igualmente
idia de
conhecimento
o
uso,
terico
prtico,
a
razo,
de
ambos
excluindo,
ssim,
esttica.Ao
faz-lo,
ambm liminou
o
cerne a
filosofia
julgamento
sttico
a rea
da lei e
da
moralidade,
xcluindo,
ortanto, noo
desensus ommunisou sensodecomunidade conceito ueumdiafoi orrente
na
filosofia
cidental,
herana
da
filosofia
omana),
de
sua
formulao
o
domnio a
esttica.
Neste
rtigo,
eguirei
uso
que
faz
Vico
do
conceito
senso
de
comunidade'7
enquanto
enso
do
certo do
bem
comum,
ue
adquirido
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3/28
OVERING,
oanna.
esttica
a
produo:
senso e
omunidade
ntre
s
Cubeo
os
Piaroa.
atravsda vida
em
comunidade,
articulado s
estruturas aos
objetivos
especficos
esta ltima.
Nesta
acepo,
o
conceito
possui
sentido
poltico
moral,
em omo barcauma sttica
e
mais,
ma
metafsica
da
ao.
A
viso
oposta
a da
esttica omo
um domnio
utnomo,
o lado da
religio,
a
cincia,
da economia da
poltica
tende
ser nosso
egado
nas
cincias
sociais,
apesar
de termos
uma
antropologia
a arte
que
afirma,
tibiamente,
ue
outros
povos,
diferena
e
ns,
no
separam
atividade o
julgamentoe arte e seu uso.Muito mbora stoparea bvio,malcomeamos
a adentrars
implicaes,
ericas
prticas,
esta
rticulao
o
cotidiano om
o
julgamento
a
atividade stticos.
Meu
argumento
este nsaio o de
que,
para
entendermos
que
o social
para
os
ndios da floresta
ropical
sul-americana,
evemos
etornar
nossa
concepoprimeira,egundo
qual
a
estticano era a
categoria
utnoma
ue
hoje,
mas,
ao
contrrio,
ma
categoria
moral
e
poltica.
A
partir
o
momento m
que
reintegrarmos
julgamento
sttico o
moralmente
om
e ao moralmente
uim,
ambos,
ulga-
mentoe
moralidade,
o
conhecimento
atividade
produtivos,
ento
poderemos
omear
dizer
coisas
que
faam
entido
cerca da
economia,
a
organizao oltica da filosofia ocial destespovos.Paraos Piaroa,povoda
bacia do
Orinoco,
or
xemplo, produo
m si era
uma tividade
riativa,
ue
tanto
oderia
er
bonita
u
feia
,
nesta
ondio,
ocial ou
a-social,
omesticada
ou
perigosa.
onsiderava-se
ue
o
comportamento
indamente
ontroladoevava
criao
da
comunidade,
nquanto
excesso, eio,
no o fazia.
A
beleza,
para
os
Piaroa,
ra
portanto
ma
noo
moral,
elacionada
oma
moralidade
as
relaes
pessoais
e
com o uso das
foras
rodutivas.
esttica,
m sentido
ato,
onde
beleza vista
omouma
expresso
e
valormoral
poltico,
orna-se
rtica
ara
uma
ompreenso
a vida
ocialcotidiana
os
Piaroa,
de sua
prpria
preciao
cotidiana
respeito
estaltima.
Apesar
de no
dispormos
e um
registro
articularmente
om em nossa
etnografia
ara xpressar
viso
ndgena
o
social,
u seu
seaso de
comunidade,
o
trabalho
e
Goldman
obreos
Cubeo
constitui
lara
exceo.
Em
tudo
o
que
escreveu,
oldman nsiste
m
que
levemos
srio
s
concepes
o
povo que
estudamos,4
seu
The
Cubeocoastitui
ma
etnografia
ue
bem
aptura
m enso
de
comunidade
maznico
especfico.
ornarei seu
sucesso
em
breve.
No
entanto,
ode-se
dizer
ue,
em
geral,
difcil
ntendermos
seaso
indgena
e
comunidade:
alheio no
apenas
a
muitas
vertentes o
peasamento
ocial
e
poltico
ocidental,
mas
ainda s
nossas
mais
arraigadas
ategorias
m antro-
pologia.
O vis
mais
relevante,araos fias desteartigo, o da hierarquia:s
antroplogos
endem entender struturas e
hierarquia
u
instituies
e
S-
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Revistae
Antropologia.
o
Paulo,
SP,
.
4, 991,
p.
-33.
coero
e
subordinao
muito
mais facilmente
o
que
o fazem
quanto
a
estruturase
igualdade
u
instituies
e
cooperao paz.
PeterRivire5
escrevemuitobem nossas dificuldades
m entender s
aspectos gualitrios
a
organizao
ocial e
poltica
das
sociedades
ndgenas
das terras aixas
sul-americanas,
em
particular
aquelas
das Guianas. Nas
Guianas,
no h
associaes
de
guerreiros,
onselho ormal
e
homens
dultos,
organizao
m metades
ara
o funcionamentoa vida
comunitria,
rupos
e
idadeou gruposde descendncia. m outras alavras, xistem oucosmeca-
nismos
ara
a
tomada
e deciso
corporada,
eja qual
for
tpico
m
questo.
Por este
motivo,
s
etngrafos
m
frequentemente
escrito
stes
povos,
e
as
sociedades
ndgenas
as terras aixas
em
geral,
m termos o
que
lhes
falta,
no
daquilo
que
tm
ou do
que
dizem;
quando
se tenta
descrever ua
informalidadetravs
o
vocabulrio
ntropolgico
orrente,
arece
ue
no tm
qualquer
rganizao
omunitria.
A informalidade
ode, porm,
er
um credo
poltico,
m
valor social
e
esttico. omo notou
Clastres
uanto
recusa
ndgena,
omumente
etectada,
de instituiese coeroe subordinao, necessrioceitar idia de que a
negao
no
significa
m
nada,
e de
que, quando
o
espelho
no
nos devolve
nossa
magem,
sso no
prova ue
no
haja
nada
para
observar .6
lastres alava
da
disjuno,
nas sociedades
indgenas
das terras
aixas,
entre
iderana
instituies
e
coero.
Sugiro que
a
assim
chamada
fluidez
strutural
ue,
muitas
ezes,
resulta esta
viso,
tem
no
apenas
nteno
oltica,
mas ainda
inteno
moral/esttica.
ara
apreender
ste
ponto,
necessrio
ompreender
senso ocial dos
ndios,
eu seaso de
comunidade.
Mas,
como
notei,
sta
uma
tarefa ifcil.
diferena
a
tendncia
ue,
no
pensamento oltico
e
sociolgico
ocidental,
quaciona
o social
com a
limitaomposta orumacoletividade comrelaes edominao,7s ndios
das terras
aixas,
em sua teoria
poltica,
endem
insistir o
oposto,
nde o
social
ao
menos m seu
sentido
ositivo,
al como
expresso
ela
relao
de
vida
comunitria)
visto
como o
meio
pelo
qual
as
pessoas
podem
tivamente
evitar estabelecimentoe
relaes
de
dominncia.
o
entanto,
s
premissas
a
disciplina, specialmentequelas
sobre o
outro
oletivo ,
odem
desorientar
etngrafo
ncauto.
Sugiro,
ois,
que
o
igualitarismo
e muitos
ndiosdas
terras
baixas
-
sua
averso
coero
e
s
relaes
de
subordinao,
eu
desdm
norma ocial e aos
processos
de
deciso
coletiva,
uas atitudes
uanto
propriedade
ao
trabalho,
sua
insistncia
uanto
autonomia
essoal,
ainda
que
com
apego
comunidade s
pode
ser
entendido
traduzido e
primeiramentexploramoseu seaso
especfico
o social. Suas
instituies
e
-9-
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OVERING,
oanna.estticaa
produo:
senso
e omunidade
ntre
sCubeo
os
Piaroa.
igualdade,
eu senso
de
comunidade,
a
criao
desta
ltima,
o,
afinal,
mutuamente
onstitutivos.
ssim
argumento
e esclarece.
Este
tambm
argumentoue
Goldman eiterou
rias vezes em sua
etnografia
os Cubeo. Em
The Cubeo
Goldman
esvenda realidade
a
vida
alde
para aqueles
que
a
compem
vivem,
s habitantes
a
comunidade.
medida
que
meu
prprio
ntendimento
os valores
e
da
metafsica
ndgenas
avana,
um ento
processo
travs
os
anos,
fico
cada
vez
mais
mpressionada
com a sensibilidadetnogrficae Goldmanque,hmaisde duasdcadas,nos
contou,
e
maneira
muito
ireta,
uais
eram
s
princpios
sicos da vida social
Cubeo.
deplorvel,
mas
interessante,
ue
o alcance do feito
e
Goldman enha
sido
um tanto
negligenciado
os estudos
das
terras
aixas;
talvez tenha
ido
necessrio
ao
estruturalismo
e exaurir ntes
que
pudssemos
entender
importncia
e
seu trabalho. lm
disso,
volta modafalar a
coastruo
ocial
de
emoes
e
da
relao
entrevalores
e
ao
social; assim,
somente
gora
podemos perceber,
apreciar,
coragem
de
Goldmanem adotar
posio
boasiana,
omo
adotou,
m
meio era dos
ismos, volucionismo,uncionalismo,
estruturalismotc.Paraque Goldman ntendesse s Cubeo e a concepodeste
povo
da
relao
propriada
ntre indivduo a
comunidade,
o
bem
quanto
fez nos
idos
de
1963,
foi
preciso
desprender-se
e
grande arte
da
bagagem
intelectualanto a
antropologiauanto
a
tradio
ientficacidental m
geral.
Aludirei ovamente esta
bagagem
diante. or
ora,
cito sua
observao
inal
em The Cubeo onde
explicava
ue
os valores
gualitrios
a
correlata altade
interessem
expanso
conmica
orparte
os Cubeo
seriam,
m
arga
medida,
produtos
e sua
prpria
eciso
e
escolha,
ntes
ue
resultado e
foras
xternas:
Muitoda forma e
uma
cultura
epresenta
m estilode vida
que no precisa, de fatono pode,serexplicado imples-
mente m termos e
funo,
quilbrio
u
adaptao.
Um
estilo
de vida
deve,
assim,
ser estudado m seus
prprios
ermos,
desde
que
tambm
arte
a
diversidade
a
natureza .8
Goldman
argumentava ue
os valores
e
a
retrica
Cubeo
quanto
espontaneidade
mocional
autonomia
essoal a
expresso
e seu
senso
de
comunidade )
ram
constitutivose
suas
aes
econmicas
,
enquanto
ais,
participavam
a
explicao
destasltimas. or
exemplo,
economia
Cubeo no
era uma
questo
de ambiente
ostil ,
mas de
valores olidamenteustentados:
eraumpovo quepreferiaonfortomocional vantagemmaterial.
-10-
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Revista
e
Antropologia.
o
Paulo, SP,
.
4,
991,
p.
-33.
Resumo
nicialmente
descrio
e Goldman obre senso
de
comunidade
Cubeo
(o
que
o
autor
define omo
seu estilode
vida ),
que
consistia m um
entendimento
oltico
e moral
da
construo
a
comunidade,
ue pertence
esfera o
que
referireiomo
conhecimento
rodutivo
ou
esttico) .
enso
que
,
provavelmente,
aso
geralque
ndios enham
al
categoria
e
conhecimento,
que
se articula uma eoria
o
trabalho
da
criatividade:
m eu
entendimento,
produtivo
u esttico
conhecimento
ue
permite
manuteno
a comunidade
e
prov
a
fora
riativa
para
sua continuidade.
categoria
Cubeo de
conhe-
cimento rodutivoinhaeu evidente adopoltico: ara sCubeo, sta ategoria
se
refere o
apenas
s
capacidadesque permitem
uso de
recursos
esta
erra,
mas
tambm
quelas que
permitem
tato,
sto
,
a habilidade e
viver,
acfica
sociavelmente,
m
relaes
cotidianas
com outras
pessoas. Sugeriria ue
a
descrio
articularista
e Goldman o estilo
e
vida Cubeo
pode
er stendida
a
muitas
utras
ociedades
ndgenas.9
esde
que
no
posso,
nos
limites
este
easaio,
desenvolver
pleno suporte tnogrfico
ara
tal
argumento,
oncen-
trar-me-ei
o caso
Piaroa,
para
mostrar
ue
seu
senso
de
comunidade suas
estruturas
e
igualdade
o,
de
muitos
modos,
imilares
queles
dos
Cubeo.
primeira ista,se a anlise se faz pelas categorias ntropolgicas
correntes
e
organizao
social,
os Cubeo
e
os
Piaroa
podem
parecer
muito
diferentes
ntre
i.
Tpicos
dos
grupos
do noroeste
maznico,
s Cubeo tm
fratras,
ibs,
virilocalidade uma
hierarquia
e
statusmanifesta
itualmente.
Jos
Piaroa,
tpicos
da extrema nformalidade
os
grupos
uianenses,
mantm
mnimas
s
vias de
expresso
ocial de
diferenas
distines
o
grupo;10
t
as
metades
iaroa
pertencem
uma
xistncia
ost-mortem
e
a-social,
e
no
a
esta
vida social
terrena.
orm,
meu
rgumento
o de
que
estes
spectos
mais
bvios
(ao
olhar
antropolgico)
a
organizao
social,
que
refletem
iferena,
o
superficiaisecomparadoss respectivasoncepes osocialdestes ovos, ue
exibem lara
emelhana.
prprio
oldman
az mesma
onsiderao,
uando
afirma
prioridade,
ara
os
Cubeo,
tanto
da
autonomia
pessoal
quanto
da
comunidade
os
valores
polticos
da
informalidade)
obre os
princpios
a
organizao
m sibs
e
em fratras.
lado
disso,
o
contrrio
ode
ser ditona
comparao
ntre s Piaroa e
seus
vizinhos,
s
ferozes
anomami:
mbora
aspectos
da
organizao
social
sejam
bastante
emelhantes,
s
dois
grupos
contrastam
onsideravelmentem seu
respectivo
sensode
comunidade .
Tratando do
senso de
comunidade
Piaroa,
minha
preocupao
ser
aprofundar
s
insights
ortes
pioneiros
de
Goldman
obre
produo
a
vida
comunitriamaznica, ocalizando iretamentereada esttica aproduo ,
um
aspecto
mportante
o
conhecimento
rodutivo
,
portanto,
a
metafsica
-11-
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7/28
OVERING,
oanna.
esttica
a
produo:
senso e omunidade
ntresCubeo
osPiaroa.
Piaroa de comunidade das
suas estruturas
gualitrias. importante
otar,
quanto
este
ponto,
ue
h
aspectos
hierrquicos
a
organizao
ocial de todos
os
grupos ndgenas;qui,
minha
nfase
a
gualdade
rende-se
o
argumento
e
que, para
os
grupos
maznicos,
hierarquia
eve ser entendida
travs as
instituies
e
igualdade,
ue
a
englobam,
no o
contrrio.
O
SENSO
DE
COMUNIDADE
CUBEO: A
COLETIVIDADE,
O
MANEJODO
NIMO E O PRAZER DO TRABALHO
Na vida
diria,
segundo
Goldman,
os
Cubeo
manifestavam
parente
contradio:
alorizavam anto
o individualismo
uanto
o
coletivismo,
mas
quando
este
afigurava-se
uito
pesado,
os
Cubeo
rapidamente
sseveravam
autonomia.11
oldman
ompreendeu
laramente
ue,
da
perspectiva
o
seaso de
comunidade
ubeo,
gualpeso
era atribudo
comunidade
o
desejo
por
laos
com as
pessoas)
e
autonomia
essoal.
A
nfase o
autor a
complementaridade
entre
omunidade autonomia
essoal
no
peasamento
ocial
Cubeo
evidencia
uma
reaem
que
Goldman oi
capaz
de
livrar-se
e sua
bagagem
o
peasamento
social ocidental: incompatibilidadentreos princpios e comunidade
autonomia
essoal
notvel
em uma
vertente
rincipal
do
individualismo
ocidental. este
rgumento
cidental,
odas s
outras
pocas
e
lugares
oncedem
alto
valor
coletividade
,
em
decorrncia,
s
relaes
de
subordinao.
esta
lgica,
e
na
retrica
ue
a
sustenta,
individualismo,
om
sua
nfase
em
liberdade e
igualdade,
s
poderia
ser,
portanto,
m
fenmeno
cidental
moderno.12
O
ndio,
ue
v o
social
como meio de
cercear
elaes
de
subordinao,
entende
relao
entre
liberdade
a
comunidade
ob
luz
diferente
mais
positiva, m que, somente ormeio da autonomia essoal,o social pode ser
obtido.
ob este
ngulo,
o
dada
prioridade
o
social
sobre
individual,
em
vice-versa.
m
contraste,
ma
concepo
moderna
e
moralidade
raz
oasigo
a
noo
do
indivduo
moral
fora
da
sociedade;13
uma
tal
nfase
nesta
desarticulao
eria
otalmente
stranhao
individualismo
ndgena.
Muitos
eram os
modos
pelos
quais
os
Cubeo
expressavam
utonomia
pessoal,
todavia
mais
evidente
ra sua
averso
por
ordeas
comandos.
Como
relata
Goldman,14
na vida
social
Cubeo...
ningum
manda,
nem e
submete .
Este
um
desejo
poltico
rovavelmente
isseminado
ntre s
grupos
a
floresta
tropical maznica,e, como Clastres enunciou,15se existealgumacoisa
-12-
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8/28
Revista
e
Antropologia.
o
Paulo,
SP,
.
4,
991,
p.
-33.
completamente
stranha um
ndio,
a
idia
de
dar uma ordemou
ter
de
obedecer... .Uma
rea em
que
cada indivduo
ubeo tinha
oberania ra
sobre
seu
prprio
rabalho
nenhum ubeo
poderia
er
oagido
o
trabalho,
,
enquanto
os
chefes
oderiam
irigir
ertos
rabalhos
oletivos
masculinos,
ingum
inha
jurisdio
obre
trabalho as mulheres.16
ingum oderia
xigir
s
produtos
do
trabalho
de
outrem:
ada
colheita
pertencia quele
responsvel
or
seu
cultivo.17
Muito mbora s Cubeofrisassemuaautonomiaomrelao o trabalho
aos
produtos
o
trabalho,
ste
no
se
encontrava
esvinculado
os
laos
de
comunidade. les
privilegiavam
compartir
a
generosidade
omo carac-
tersticas
essoais que
conferiamtatus.
A
generosidade
o
compartir,
mbos
valores
e
comunidade,
stavam
igados afirmao
e
direitos
ndividuais,
ois
se
adquiriarespeito
ando o
que
se
possua,
especialmentelgo
de
utilidade
econmica.18 oldman bserva
ue
os
Cubeo
quase
no
demonstravam
nsie-
dade
quanto perda
e
propriedade.19
Tal mistura
ingular
de
valorizao
da
comunidade
valorizao
do
indivduoegou aos Cubeo uma separaoentre roveito oltico proveito
econmico. ara os
Cubeo,
alimento
produo
imbolizavam
Ma armonia
os
sibs
entrelaados
m
comunidade .20
egundo
Goldman,
corolrio rao de
que
o
produto
conmico
otal
ncontrava-seivorciado
as
consideraes
e
status
poder.
m suas
palavras,
Os
Cubeo no
podem
pensar
m
proveito
conmico
omo
proveito
oltico
obre
outrem,,
reciprocamente,
o
podem
considerar
proveito
conmico e
terceiros
omo
uma ame-
aa
sua
prpria
utonomia.
equalizao
conmica,
travs
dos vrios canais formaisde distribuio, ponto pac-
fico .21
A
diferena
rtica ntre
ma
comunidade
obre
uma
prspera
o
era,
assim,
uma
questo
de
acumulao
rodutiva,
as de
nimo.
Porm,
viso
Cubeo
de
que
uma
comunidade om
moral alto era
uma
comunidade ica
baseava-se
m
umfirme
enso
de
realidade,
ois,
penas
travs a
construo
e
um
moral
lto,
tividades oletivas
e,
de
fato,
odoo
trabalho
poderiam
er
realizadas
om
facilidade,
u
simplesmente
ealizadas.
Talvez o
insight
mais
inovador
e
Goldman
obre vida
social
indgena,
chave
para
entend-la,
oi
suasensibilidadeara fortensistnciaos Cubeoquanto o confortosquico,
-13-
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9/28
OVERING,
oanna.estticaa
produo:
senso
e
omunidadentres
Cubeoos
Piaroa.
ou
tato,
m suas
relaes
ociais,
em
particular
aquelas
que
envolviam oo-
perao
no trabalho.Goldman
observa23
ue
todos os
empreendimentos
coletivos o
sib,
tais
como
caa,
pesca,
coleta
e
construo
e
casas,
requerem
um nimo
nspirado .
em
este
ltimo,
senso
de
coletividade
nfraquece.
o
nvel das
relaes
individuais,
esposa
insatisfeita
roduz
menos
para
se
comer.24
sto
provavelmente
e
aplica,
em
geral,
o
seaso de
comunidade os
ndios as
terras
aixas:
li,
o
trabalho
uma
questo
de
suprir
esejos,
alentos
inclinaes
essoais.
No
entendimento
ubeo
do
social,
ssim,
produo
ependia
a
criao
de
um
moral lto
pblico,25
que
faz
sentido
e,
culturalmente,
s
membros a
comunidade
recusavam-se
entrar
m
relaes
de
comando-obedincia
trabalhavam
de
acordo
com o
valor
na
autonomia
essoal)
apenas
sob
um
mnimo e
direcionamento.
papel
mais
importante
a
chefia
tornava-se
estabelecimentoe
um
moral
alto
entre s
membros a
comunidade,
que
carreava
criao
de
conforto
o
nvel
material. al
valorno
conforto
material
deve,
ao
mesmo
empo,
er
colocado no
contexto
a
determinao
ubeo
de
materialidade
de sua
falta
e
interesse
a
abundncia
material
or
i
mesma
6
Segundo
Goldman,
ada
relao
social,
para
os
Cubeo,
requeria
uma
atmosfera
specfica
e
sentimentos
emoes,
uja
implicao
ra a
de
que,
na
criao
bem-sucedida a
comunidade
Cubeo,
seus
membros
eriam
tingido
uma
correspondncia
spontnea
ntre
moo
e
ao .27
Novamente,
as
palavras
e
Goldman,28
para
s
Cubeo
nada
de
importante
ode
resultare
uma
ao
divorciada o
nimo
dequado .
Por
exemplo,
s
horneas
rabalhavam
a
construo
e
casas
apenas
quando
e
sentiam
legres
devotados:29
trabalho
mais
produtivo
ra
aquele
que
trazia
prazer,
rabalho
ue
carregava
m
ar
de
espontaneidade.
e
um
ponto
de
vista
poltico,
oletividade
e o
trabalho
exigidoparasua existncia tornava-seuestode umapolticade manejodo
nimo,
no
do
estabelecimentoe
iastituies
e
hierarquia
de
relaes
de
dominao
subordinao.
ara
os
Cubeo,
a
ltima
oluo
seria
a-social
e,
portanto,
ontrriao seu
seaso
de
comunidade.
Estamos
qui
falando e
uma
ticade
socialidade.
O
entendimento
ubeo
de
moral
lto
prendia-se
um
seaso
particular
e
moralidade,
ue
valoriza
m
muito s
relaes
e
harmonia
cooperao.
A
autonomia
essoal
que
desejavam
no
era
um
individualismo
esenfreado,
m
que
vale
tudo.
Goldman
risou
grande
ato
dos
adultos
Cubeo
quanto
criticar,
mpor
invadir
s
outros,
a
sensibilidadeguda que demonstravamaracom o humorlheio, ua tolerncia
para
com
o mau
humor
as
outros.
A
privacidade,
rpria
alheia,
ra
funda-
-14-
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Revistae
Antropologia.
o
Paulo,
SP,
.
4,
991,
p.
-33.
mental
ara
eu senso
de
comunidade,
que
inclua
dogma
moral
e
que
no se
deve nvadir s
sentimentos humores lheios.30
ste senso de
privacidade
o
era o
do Ocidente
moderno,
orque
valorizao
ubeo da
privacidade
ra afeta
ao domnio
as
emoes
da
dignidade
essoal,
no
ao
mundo
a
propriedade
e dos
beas
pessoais.
Descrevi,
m
outro
trabalho,31
s
primeiras
ies
das
crianas
Piaroa,
quando
o lder
da comunidade
s
ensinava arte
de
viver,
sabedoria
e levar
umavidatranqila o mododemant-la. asicamente,e ensinava s crianas
que,
em
nossa
prpria
ilosofia
moral,
chamado
virtudes e
coasiderao
o
outros
aquelas
que
habilitam
lgum
se
responsabilizar
or
uas
aes
com
relao
a
terceiros
,
em
vez de virtudes e
autoconsiderao ,
ais como
talento,
mbio
coragem.32
ela
descrio
e
Goldman,
entendimentoos
Cubeo
quanto
autonomia
e uma
pessoa
e
suas
obrigaes
om
respeito
autonomia
e terceiros
oa muito
imilar o caso Piaroa. O lderPiaroa
gual-
mente
asinava
as
crianas
sobre
imperfeies
ociais,
especialmente
m
ndole,
arrogncia,
inveja
a malcia.Os Cubeo nsistiamobre
avidez,
uma
vez
que
um
dos
comportamentos
xcessivos
ue
mais
repugnavam
ra a
gula,
comportamento
ue
consideravam ostil
avaro,
ue
viam
como
patolgico.
Paraambos, s Cubeo e os Piaroa, utonomia essoalera umanoosocialpor
excelncia,
ponto
central
para
sua
compreeaso
do trabalho do
processo
produtivo
m
eus
respectivos
easos
de comunidade.
O
trabalho,
ara
os Cubeo
e
para
os
Piaroa),
no
era,
como
no
Ocidente,
alienadodas
relaes
essoais
de
comunidade de
sua
moralidade. m
suma,
no
senso
Cubeo
de
comunidade,
avia uma conexo ntre
s
relaes
essoais
de
que
cada comunidade
composta
,
produo riqueza,
s
prazeres
o
trabalho,
uma ticade
diplomacia
sua
grande
alorizao
a
autonomia
essoal.
Fazia-se
necessrio
o
lder
poltico
evar udo sso em conta m seu
papel
de
criador
e
moral lto.Tato,respeitoelossentimentososoutros, dos outros ara onsigo,
eram
claramente
onsiderados,
elos
Cubeo,
um
aspecto
d
conhecimento
produtivo.
O
trabalho
everia er
prazeroso,
um
produto
o
desejo;
no
consistia
m
um
domnio
eparado
do
pessoal,
nem do
social, antes,
de to
intensamente
pessoal
quanto
ocial,
o
trabalho
ra,
a
um s
tempo, rodutor produto
e
relaes
ociais
prazerosas.
ra
ao
que preenchia desejo
de
prover
ara
i,
e
os
desejos
e vidas
de
outrem
dos
filhos,
o
cnjuge
dos outros
membros a
aldeia/ Pelo
trabalho,
ssim
definido,
omunidade
vnculo
om
outros
ode-
riam erdevidamenteriados mantidos. mbos, rabalho vnculo ocial, ram
coasideradosmutuamenteoastitutivos: a ausncia
das
relaes
tranqiiilas
e
-15-
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OVERING,
oanna.esttica
a
produo:
senso e
omunidade
ntre
sCubeo
os
Piaroa
uma boa vida em
comunidade,
o se
poderia
rabalhar
,
sem
trabalho,
o
havia omunidade.
m
outras
alavras,
trabalho
inclusive,
u em
particular,
manuteno
otidiana
a vida no eraentendidoomo
abuta;
sta uma
noo
ocidental,
sto
,
um
produto
e
relaes
de
dominao
subordinao.
m
princpio,
s
Cubeo
trabalhavam
uando
felizes;
ara
les,
todo
sforo
evia er
essencialmente
atisfatrio,35
esultado
e
relaes
ociais
prazerosas.
O
ponto
mportante
ue
Goldman
preendeu
cercada
organizao
ocial
e
poltica ndgena, acercada filosofia e socialidadeque a sustentava,oi o
prprio
atode
que gente
vivendo
unta
em
comunidade
ependia
da
criao
cotidiana e
moral lto entre eus
membros,
no do
estabelecimento
e
leis,
regras corporaes.
sta
umaboa
razo,
uma
vez afastada
forma exterior
dos
aspectos
e
organizao
ocial,
para que
os Piaroae
os Cubeo
paream
o
semelhantes.
esde
que
o vnculo
om.
s
outros,
anto
ara
os
Cubeo
quanto
para
os
Piaroa,
permanecia
insistentemente)
m um
plano
mais
nformal
que
era,
em
larga
medida,
considerado
ujeito
preferncia
essoal,
o
grupo
coaservava-se
unto
penas enquanto
eus
membros seus
lderes
btinham,
mantinham,
nspirao
as
relaes.36
diferena
e
povos
que
acreditam
ue
suascomunidadesm xistnciaemporal ormeiodemecanismosaiscomo a
propriedade
orporada
e bens e
as normas
urdicas
esta
corporao,
emos
Cubeo,
nem os
Piaroa,
ntendiam
comunidade ,
as
relaes
que
encerrava,
como um
dado
poltico
que permitia
ontinuidade
travs
do
tempo,
mas
enquanto
m
processo
e
existncia
ue
devia
ser
cotidianamente
btido
pelas
pessoas, pelo
tato nas
relaes
e
pelo
trabalho.A
escolha
poltica
era
pelo
conforto
sico
emocional
irio,
m
detrimentoa
estabilidade
mais abstrata
que
a
herana
assada
futura,
om uas normas
regulamentos,
nvolve.37
Para
muitos
ndios,
trabalho
tambm
ma
capacidade
riadora,
ma
manifestao e conhecimentorodutivo, ue confere ondio humana,
atravs o
qual
podem-se
riar
ens,38
ais omo
ornamentos,
s
meios
materiais
de
transformar
ara
uso os
recursos a terra
as
traasformaes
m
si mesmas
(por
exemplo,
produo grcola,
alimento
ozido).
Como indicarei
diante,
ao
tratar
os
Piaroa,
ornamentao
as
capacidades
para
o
trabalho o se
encontravam
esvinculadas.
beleza
de
uma
pessoa
falava
da
beleza
de
suas
capacidades
riadoras de
sua
percia
no
trabalho,
brigadas
entro
e
si,
que
permitiam
autonomia
essoal.
No
entanto,
uso
de
tais belas
habilidades
criadoras
ara
trabalho
ra
possvel
omente
o
contexto o social:
constituam
um
specto
a
ao
social,
seu
propsito
ra,
de
fato,
produo
reproduo
da
comunidade,xplicitadas
m
relaes essoais gradveis. tatonecessrioao conhecimento
rodutivo
criatividade a
produo
razia
consigo
uma
-16-
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Revista
e
Antropologia.
o
Paulo,
SP,
.
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991,
p.
-33.
esttica
ue
relacionava
mbos
produo
seus
prazeres)
moralidade as
relaes
ociais
seu
prazer).
Em
suma,
podemos
nos referir isso como uma
esttica
ocial ,
elemento
rtico
e
um
senso de comunidade
ndgena,
u
o
domnio
o conhecimento
rodutivo
ue,
no
entendimento
ndgenapermite
construo
a
manuteno
a
comunidade.
oldman,
m
sua
etnografia
os
Cubeo,
ao enfatizar s valores
Cubeo
quanto
ao extremo ato
nas
relaes
pessoais
e
ao
prazer
do
trabalho,
os
guia
at
esta
rea
da esttica
ocial,
que
desejo
gora
desenvolver.
A ESTTICA
DO TRABALHO
ENTRE OS
PIAROA,
OU O CONHE-
CIMENTO
PRODUTIVO
Os valores
e autonomia
essoal
e de comunidade
Havendo,
m
outro
ugar,
scrito xteasamente
obre
informalidade
a
vida social
Piaroa,
sobre
ua extrema
alorizao
a
tranqilidade
as
relaes
pessoaisdentro acomunidade,39evoaquisintetizarpenas lguns ontos fim
de tornarlara
comparao.
ssim,
no
que segue,
ratarei ais
detidamentea
esttica
o trabalho iaroa.
Os valoresde comunidade
ue
discutirei
eferem-se
especificamente
aldeia
Piaroa,
grande
asa
comunal isicamente
solada,
ue
coastitua
um
grupo
residencial,
emi-endgamo
bastante
utnomo omo
unidade
conmica,
erimonial
de
parentesco.
ais valores
e
harmonia alem
apenas
m
parte
ara
o territrio
oltico,
mais
arga
unidade ocial no territrio
Piaroa,
composta,
ia
de
regra, or
seis
ou sete comunidades
multifamiliares
altamente
ispersas.
populao
do
territrio,
ntretanto,
o-residia m casa de
seu lder
por
trsmeses ao
ano,
por
ocasio da
grande
erimnia iaroa
de
proliferao,ari. Durante stefestival, esttica a vida em comunidade o
trabalho orrelato
ue
descrevo
gualmenteplicavam-se
os
membros, nidos,
do
territrio,
ue
somavam
ercade
350
pessoas.
E,
o
que
mais
mportante,
festival
poderia
erexibido
pelo
der erritoriale taisvalores
e comunidade
fossem
lcanados
ara
conjunto.
Tpicosguianeases,
s
Piaroa realizavam vida
em comunidade e modo
altamente
nformal
,
como
os
Cubeo,
asistiam a autonomia
essoal
enquanto,
ao mesmo
empo,
tribuam
rande
alor
o
social.
O
direito escolha
pessoal
era
proclamado
onstantemente
a
conversao
iria,
para
o
antroplogoue
indagava obre uas regras . abia ao indivduo scolher unoescolhereguii
as maneiras
propriadas
e
fazer as
coisas;
era
muito
mpolido
comentar
-17-
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OVERING,
oanna.estticaa
produo:
senso e omunidadentresCubeo
os
Piaroa.
diretamente,
e forma
negativa,
ma
deciso de
outro,
osse com
relao
ao
alimento,
o
trabalho,
residncia
u aos hbitos
exuais.
At o casamento
correto
que
descrevi40
omo
a
nica
nstituio
cio-organizacional
a vida
comunitria
ntre
s Piaroa
ue
o
antroplogo
oderia
acilmente
ategorizar)
ra
uma
questo
de livre
nterpretao:
enhum
asamento ra considerado
pro-
priado
e
todas
as
partes
nvolvidas
pais, ogros,
oiva
e noivo com ele no
concordassem.
lm
disso,
no havia
regra
e
residncia ,
mas
parentes
om
quem
era bom
e
tambm
orreto iver:
escolhafinal
ra deixada o indivduo
ou casal. O mesmo odeserditoquanto o reconhecimentoe laos especficos
de
parentesco,
ma
decisomuitas ezes melindrosa
ara
um ndivduo.
O trabalho
dirio era
organizado
de modo fluido
e,
assim
sendo,
comumente efletia
s
humores
prefernciasessoais
dos indivduos nvol-
vidos.
O
trabalho
e
um
erceiro unca ra
dado
por
erto.O direito
preferncia
referia-se
anto
escolha
pessoal
de co-residentes
om
quem
se considerasse
mais
adequado
dispender empo, quanto
ao
tipo
de tarefa m si mesmo.
Usualmente,
assavam-se
muitos nos
de
casamento ntes
que
um
ovem
casal
cooperasse,
m
conjunto,
a abertura
e uma
roa:
o
tempo
a vontade e cuidar
de seus filhos ra o que os levava a esta tarefa. e algumno considerasse
adequados
os
parentes
om
quem
ra habitual
ooperar
o menos m
parte
por
exemplo,
m
pai
ou uma me
-,
viveria m outra omunidade.
Os
homens,
m
particular,
endiam
se
especializar
no trabalho
ue
mais
preciavam: lguns
homens
etestavam
aar,
assim,
o
invs
disso,
faziam
rtefatos
u
pescavam;
outros
aavam
diariamente. omo
para
os
Cubeo,
respeito ara
om
o
humor
a
preferncia
lheios
era,
para
os
Piaroa,
um
aspecto
essencial de seu senso de
comunidade. e uma
pessoa
se
portava
mal,
de
maneira
escontrolada,
e
modo
representar
m
onstante borrecimento
ara
os
outros,
ra conselhado
or
um
parente
u
pelo
lder
da
comunidade
seu
ruwang)
submeter-se cura com o
lder, uedetinha oderesxamnicos, fim e descobrir causaexterna afalta
de
controle. cura
ra, nto,
uesto
rivada,
nre
doente o
ruwang.
A comunidade
fluente,
ara
os
Piaroa,
ra
aquela que poderia
evarem
conta,
o nvel
dirio,
anto flexibilidade o horrio
e
trabalho
uanto
as
preferncias
ndividuais
ara
as
tarefas
specficas;
como
para
os
Cubeo,
afluncia ra uma
questo
de
aquisio
de conforto
essoal
no
trabalho,
no de
acumulao
da
produo.
Tal afluncia
xigia
a
criao
de
comunidade,
ue
possusse
moral
lto
e
tamanho
permitir
al
flexibilidade
cooperao.
Quando
eu estava
entre
s
Piaroa
para
meu
primeiro
rabalho
e
campo
em
1968,
as
pessoasevocavam omhorroruo arduamenteinhame trabalharuandono
-18-
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14/28
Revistae
Antropologia.
o
Pcalo,SP,
.
4,
991,
p.
-33.
eram
membros
e comunidades
maiores;
os
mais velhos
sonhavam
om
o
passado,
ntesdas
epidemias
os
anos 40
e
50,
quando
as comunidades
iaroa
eram maiores.
Uma
comunidade
muito
pequena,
de
quinze
a vinte
pessoas,
simplesmente
o
possua
recursos
umanos
ue permitissem
scolha
pessoal
e
nimo
no
desempenho
e
todas as
tarefas
equeridas
ara
a sobrevivncia
cotidiana:
pesca,
a
caa,
a coleta
de alimento
lenha,
o
cultivo,
proces-
samento
dos
produtos
a
caa
e da
roa,
e
o
ritualnecessrio
proteo
cotidiana.
lderbem-sucedido
ra
aquele
que coaseguia
atrair sua
comuni-
dadegente uficiente,ente apazdecooperar armonicamentembasediria,
que
lhe
permitia
anter
moral lto
dentro a comunidade.
Somente
travs
o moral lto
poder-se-ia
bter
conforto o
trabalho,
definio
e
afluncia
ara
os Piaroa.
Apesar
de ter extraordinrios
oderes,
dados seus
poderes
mgicos
vis--vismundosfora
do
social,
o lder
de
uma
comunidade
ruwang)
tinha
pouco poder
de
coero
sobre
o
desenrolar
e
questes
ociais. Com
efeito,
ruwang
enquanto
bio mestre
os valores
ticos
de
autonomia
essoal, gualdade
tranquilidade,regava
ormalmente
ontra
coero.
Para os
Piaroa,
a
coero
no
tinha
ugar
no
contexto
o trabalho
cotidiano osmembrosa comunidade;ram oalrgicos idia de direitoe
comando
uanto
noo
de norma ocial .
Ningum oderia irigir
trabalho
de
outro;
o
dia-a-dia,
odos s
produtos
a
florestaram
gualmenteartilhados
entre
s
membros
a
comunidade,
nquanto
s
produtos
a
roa
e
artefatos
ram
privadamente
ossudospelos
indivduos
ujo
trabalho
s
produzira.
o havia
mecanismos,
aiscomo
grupos
e ancios ou
horneas
dultos,
ara
a tomada
e
deciso
corporada uanto
disputas
u
questes
conmicas; ssim,
soberania
com
relao
maioria as
aes
dirias
stava,
m
larga
medida,
m
mos
dos
indivduos. ma mulher
o
apenas possua
o
produto
a
roa
que
ela mesma
produzia,
omo tambm em
comunidade
em
o
marido
inham ireitos
egais
sobre ua prole, mcaso de divrcio: la eraresponsvel orsua prpria erti-
lidade,
entendida omo
parte
de suas
capacidadesprodutivas
ndividuais. or
mais
mportanteue
fosse
para
um Piaroa residir m
uma
grande
omunidade,
nenhum
eles reconhecia
legitimidade
o
poder
da coletividade .
noo
de
que
uma
comunidadeomoumtodo
udesse
deter ireitos
obre
lgum,
u
de
que
algum
devesse submeter-se uma deciso
proveniente
e
uma vontade
geral ,
u de
que
a
moralidade
e
algum
fosse
imposta
e
cima,
pela
comu-
nidade,
eriam dias abominveis
ara
os
Piaroa.4
O uso
de
tais
poderes
de
coero
eria
ulgado
-social
politicamentelegtimo.
Como os Cubeo,os Piaroa nsistiam os direitos o indivduo,o mesmo
tempo
m
que
conferiamltovalor s
relaes
ociais de
comunidade. er
social
-19-
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15/28
OVERING,
oanna.
estticaa
produo:
senso e omunidade
ntre
sCubeo
osPiaroa.
era considerado
elos
Piaroa mais
valiosacaractersticae seres
humanos
esta
terra;
mas
tal socialidadeno
estava,
para
eles,
associada
noo
de
coleti-
vidade aos
poderes olticos
om
que
esta
poderia
erdotada. elo
contrrio,
criao
da comunidade sua
socialidade
oderia
penas
er realizada
por
meio
das
capacidades
da
autonomia
essoal
dos
indivduos.
ste
trabalho otidiano
de
criao
da
ao
da
comunidade
ornava-se
ossvel
atravsdo
que
referi
anteriormente
or
conhecimento
sttico ,
marea de
conhecimento
ue, para
os
Piaroa,
ompreendia:
)
as
capacidades
riativas e
produo
ou
seja,
aqueles
poderes ue possibilitavamransformars recursos a terra ara uso); e 2) as
capacidades ue
levavam
criao
de
relaes
ranqilas
om
aqueles
om
quem
se vivia e
trabalhava.
m sua
teoriada
ao,
o
uso destes
dois
conjuntos
e
capacidades
eparava
humanidade e
hoje
e
talvez
xclusivamentes
Piaroa)
de
qualquer
utra
o
no
universo,
assada
presente.
s
ornamentos
tilizados
pelos
Piaroa,
e
as
pinturas
ue
os
embelezavam,
alavam
destas
capacidades
articuladas
e
socialidade
produtividade.
BELEZA E
CRIATIVIDADE: AS
CONTAS
DE
CONHECIMENTO
E AS
CAIXASDE CRISTAL DOS DEUSES
A
beleza
exterior,
a
esttica
Piaroa,
uma
manifestao
a
beleza
de
habilidades
rodutivas
capacidades
morais
ue
esto
lojadas
dentro
a
pessoa.
Em outro
ugar,
escrevi
ornamentao
iaroa,
mas com
finalidade
iversa;43
nesse
sentido,
ale
repetir
qui parte
da
etnografia.
or
ornamento,
s
Piaroa
usavam
olares,
raadeiras
perneiras
eitas e
contas u
de
algodo,
depen-
dendo do
sexo,
e
vrias
pinturas
aciaise
corporais.
oda
esta
ornamentao
ilustrava,
a
superfcie
o
corpo,
s
habilidades
rotetoras
ontidas
a
pessoa.
Os Piaroausavamuma tinturaermelho-escurok'eraeu)paraa pintura
faciale
corporal,
ujos
desenhos
ram
plicados
com
carimbos
ntalhados
m
madeira.As
mulheres
ambm
plicavam
esenhos
retos
os
braos
pernas,
feitos
om
uma tintura
esinosa.
stas
marcas
faciais
corporais
e
homens
mulheres
ram
epresentaes
ictricas
specficas
as
foras
ransformacionais
ou
capacidades
riadoras
ontidas
m seus
corpos,
ue
lhes
erviam e
roupagem
interior. s
marcas
corporais
stampadas
nas
mulheres
epresentavam
eu
conhecimentoe
reproduo
eram
hamadas
os
desenhos
e
menstruao ;
as
marcas
os
homens
alavam e
seu
conhecimento
rodutivo
e
caar,
pescar,
cantar,
urar
proteger.
s
desenhos
aciais
masculinos
ram
ambm
hamados
os caminhos as contas u o caminho as palavrasdo canto , ndicando
conhecimento
specfico
e
cantar:
desenho
ra o
caminho,
u
a
seqncia,
as
-20-
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Revista
e
Antropologia.
o
Paulo, SP,
.
4, 991,
p.
-33.
palavras
dos cantos.
Alguns
destesdesenhos oram
istos
por
homens iaroa
quando
m traase
lucinognico,
m
especial
durante
m ritual e
proliferao.
Eram
estes
gualmente
s desenhos
de sua cestaria
arjada.
As bonitas
estas
feitas
pelos
homens
Piaroa,
que
ostentavam
s desenhosdo caminhodas
palavras ,
ramusadas
por
eles
para guardar
tens
e valor
ritual,
aiscomo eus
apetrechos
ara
s
drogas, rogas pentes;
or
meio
do
uso de
pentes,
s
foras
de seus
pensamentos
rodutivos
ram
mantidasm ordem .
al
como
as
foras
para
cultivo,
aa,
pesca
eram ntendidasomo
poderes rodutivos,
ssim
tam-
bmo eram s foras o canto: travs elas o lderPiaroa,ruwangtraziada
morada
dos deuses todos
os
poderes
ara
a vida e
produtividadeara
o inte-
rior
a comunidade. evido
ao fato e virem os
deuses,
odos
stes
pode-
res
produtivos,
ncluindo fertilidade
e uma
mulher,
ram rotulados
magia
(maeripa)44
elos
Piaroa. Os indivduos ecebiam stas
capacidades
gradual-
mente o
longo
de suas
vidas,
e
muitas ezes
a
seu
pedido,
e
sentissem
ue
poderiam
dquirir
omnio obre las.
Os
poderes rodutivos
e uma
pessoa
eram
uardados
entro e
contas
e
vida
internas
seas
corpos, ue
tambm
rovinham
as
caixas de
cristal os
deases. O ruwangatravs e seas cantos viageas paraa morada os deases,
trazia,
ara
este
mundo,
s
foras
ara
a
produtividade
ncapsuladas
m
contas
de
vida ,
e as inserianos indivduos e sua
comunidade. stas
contaseram
chamadas
as
contas
e
vida
kaekwaewa
eu)
porque esignavam
fora
ara
vida dos sentidos
kaekwae)
que,
dentro e um
indivduo,
habilitava
ter
desejos.
O
conhecimento,
rodutivo
outro,
nelas
contido
ra,
em
contraste,
chamado
vida dos
peasamentos
tkwaru
.
A
quantidade
e
contas
m
colar
asado
por
uma
pessoa
ndicava
quantidade
e contas
de vida
nternas
ue,
at
ento,
havia
adquirido.
Assim,
a
quantidade
e contas usadas em
decorao
contava o
grau
de
capacidadespossudopela pessoa que
as
portava:
grande
lder uwang a mulherommuitos ilhos ram arregadoselas.
Os Piaroa associavambeleza abundncia
fertilidaderiadoras:
sar
muitas ontas onferia eleza. Os
deases,
que
eram fonte e
poderesprodu-
tivos,
ossuam
muitos omes
eram,
ortanto,
elos;
casa dos
deases,
plena
de
todo
tipo
de
alimento,
inhamuitos omes alando e sua
beleza;
as boas
vises
de
magia
que
um
ruwang
inha,
uando
ob a
influncia e
alucingenos,
ram
belas
e tambm altamente
produtivas:
ram
vises
de
abundncia
que
reabasteciam floresta
om
plantas
animais.
Todas
$s
foras
ara produo
contidas
as caixas
de
cristal os
deases
eram
belas,
e
assim se
concretiza-
vam. Dentroda caixa
dos cantos de cura
da deasa da
fertilidade,heheru,encontrava-se linda uzde seas
cantos,
unto
uma
onga
fieira e contas m
-21-
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OVERING,
oanna.
estticaa
produo:
senso
e omunidade
ntre
sCubeoos
Piaroa.
todas s cores
do
arco-iris;
utra
ranja
e contas
endia
e sua
rede sua coroa
de
penas
de tucano
icava
m
um esteio.Em
sua caixa
de cristal
a
destreza
a
caa
estavam
eus inds
muletos
seu
colar
de
medalhes;
entro
e
todas s
suas caixas
de
poder
icavam
muitasindas
achoeiras.
S
abundncia,
orm,
no levava
beleza:
a beleza
estava
sempre
vinculada
noo
de
moderao
o uso
de
capacidades
riadoras.
s
padres
ticos
Piaroa
conjugavam
social e
o
moralmente
om
ao
limpo,
o belo e ao
contido,o passoqueo comportamento-social a iniqidadestavamigados
sujeira,
feira,
loucura
ao excesso.45
a
cosmogonia
iaroa,
s
foras
ro-
dutivas
oram,
m
sua
origem, elvagens
venenosas,
hoje,
se
algum
no
adquirisse
omnio
obre estas
perigosas
oras
dentro
e
si,
seria
levado
ao
comportamento
xcessivo
(feio)
e loucura.
Assim,
a
noo
Piaroa
de
conhecimento
rodutivo
razia
onsigo
mateoria o
belo e do
feio,
ue
possua
seu ado moral
poltico.
m
outras
alavras,
o contexto
a
ao
moral
social,
o
conhecimento
rodutivo
mpliava-se ara
onhecimentosttico.
O BELO E O FEIO: UMATEORIADO SOCIAL E DO A-SOCIAL
Os
Piaroa
descreviam
s
poderes
ons
e
produtivos
a
magia
no
apenas
como
belos ,
mas tambm
omo
limpos
frescos :
clara,
mas
moderada,
luz da
lua,
m
contraste
forteuz do
sol,
erachamada
a
preciosa
uz da
magia .
A luz da
lua,
sua
clara,
fria uz sem
cor,
era a luz
das
palavras
dos
poderes,
doadores e
protetores
e
vida,
do
ruwang
ou
seja,
de
suas
capacidades
produtivas.
gua,
de
brilho
unar,
entro as caixas
de
cristal
e canto
magia
pertencentes
os
deuses,
ra
mpida
fresca;
esta
gua
o
ruwang
a
cada
noite,
limpava
embelezava
s
palavras
e seus cantos.
odo o contedo
as caixas
de
cristal os deusespermanecia elo porqueestes seresetreos,travs e uma
pura
vidade
pensamentos tkwaru),
ontinuamente
impavam
eus
poderes.
Uma mulher ra bonita
kwakwahu)
um
homem
ra bonito
a'kwakwa)
quando
ecm-banhados
limpos,
ortanto
e
ornamentados
om eus desenhos
corporais
contas
de vida.
importante
otar
ue
os
produtos
o trabalho
e
algum
um
filho,
m
pente,
ma
roa,
uma
zarabatana
eram
otulados
eus
kwa.
Beleza
(a'kwakwa), ensamentostkwaru)
os
produtos
o
trabalho
(kwa)
estavam
ingis
icamenteinculados.
Poderes
specialmente alfazejos rovinham
o
calor
da luz imoderados
do sol:
crculos u chuvasmanchadas e ferrugemelafora
o
sol,
e cheias
de
loucura,
aamdocu
para
nvenenar
lgum.
Um
caador
nescrupulosooderia
-22-
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18/28
Revista
e
Antropologia.
o
Paulo, SP,
.
4,
991,
p.
-33.
tomar
oderosos
enenos u
encantaes
e
caa
do
urubu,
a
ferrugem
o
cu
ou do centro o
cu,
todos
plenos
da violenta
ora
o
sol,
masseria
nvenenado
por
esta
fora
brilhante
entraria
m
um
estadode
parania
de mau
compor-
tamento.
No
entanto,
odas s
foras
rodutivas
ram
potencialmente
alficas m
uso. O deus
criador estas
foras
rodutivas
urante
tempo
mtico ra
fisica-
mente
eio, ouco,
mau
e
insensato m suas
aes.
A fonte
e
suas
capacidades
para usare traasformarecursos a terra cultivar,aar,cozinhar eram
alucingenos
enenosos ele concedidos
ela
deidade
uprema
e
sob
a
terra.
Ele
igualmente
sava os
poderes
enenosos o
sol
para
aumentar
fora
e suas
capacidades.
Os
poderes
xtraordinrios
ue
criou
nvenenavam
onstantemente
seas
desejos sua
vida dos
sentidos )
,
por
este
motivo,
le
foi
o
ser
a-social
arquetpico
o
tempo
mtico,
m
predador
canibal:nunca e
casou,
mas
antes,
jubiloso,
ometeu incesto devorou eus
afias
potenciais.
venenode
seus
poderes
eio,finalmente,
afetar
odos
s outros
eusesdo
tempo
a
criao.
O
tempo
mticofoi um
tempo
de
rpido
desenvolvimento
ecnolgico,
quandoos meiospara uso dos recursos a terra oram riados, , devido ao
veneno as
foras
ue permitiram
sta
criao,
oi tambm
m
perodo
rogres-
sivamente aracterizado
ela
competio
iolenta
uanto
propriedade
a
nova
tecnologia
dos recursos
e
que
esta se
utilizava.
e,
ao
princpio,
s
deuses
erammais ou menos
apazes
de,
pacificamente,
bter ais
recursos
as
foras
para
atividade
rodutiva or
meio de
casamento
troca,
stas
foras
oram-se
tornando emasiado
vrias e
poderosaspara
que
os deuses
dominassem ua
potncia
,
aos
poucos,
envenenaram
vontade os
desejos
daqueles
que
as
recebiam. om o
passar
do
tempo,
s
caractersticase
avidez,
rrogncia,
lera
e
luxria
ornaram
mpossvel manuteno
e
comunidade
relaes
nterco-
munitriasacficas.Todos os deuses criadores omearam roubar , em
seguida,
matar
elo
acesso
e
propriedade
e
foras
inda
mais
poderosas
para
traasformars
recursos a
terra; ,
ento,
omearam
matar a
canibalizar
ela
propriedade
controle
os
domnios m si
mesmos.
Todas as
relaes
ulmi-
naram m
uma
relao
de
predador
presa,
e
a
criao
de
uma
comunidade
pacfica
ornou-se
mpossvel.
ste
perodo
riativo a
histria
indou
uando
todas
as
foras
raasformacionais
ara
produo
foram
anadas
deste
mundo
para
uma
nova
e
estvelmorada
no
espao
celestial: ais
poderes
o
aqueles
alojados
na
segurana
as
caixas de
cristal
os
deuses
de
hoje,
cima
discutidos.
E
muito
ignificativoue
os
deuses
etreos, elestiais, ue hoje possuemtodas estas
foras
produtivas,
o tenham vidados sentidos
ara
ser assim
-23-
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OVERING,
oanna.estticaa
produo:
senso e omunidade
ntre
sCubeoos
Piaroa.
envenenada. o
podem, ortanto,
sar
os
poderes ue
possuem;
o
contrrio,
com
toda a
fora
e sua
vida
de
pensamentos ,
les os
limpam
embelezam.
Um Piaroa
que
tenha omado os deuses
foras
rodutivas
m
excesso,
lm de
sua
capacidade
de
domin-las,
o ser
capaz
de
limp-las
e seu
veneno
e,
portanto
como
se deu
com
o deus criador
estes
oderes
,
depois,
om todos
os deuses criadores
,
sua
vida dos sentidos eria
envenenada,
le
sofreria
loucura e
agiria
a-socialmente.46or
este
motivo,
s
Piaroa
insistiamna
aquisio
limitada
gradual
de
poderes
produtivos
os
deuses.
E,
por que
o
acesso a estes
poderes
riadoreshes era
limitado,
s
Piaroa
podiam,
no
tempopresente,riar manter comunidadeocial,feitompossvel araos seresdo
tempo
a
criao.
Na esttica
Piaroa
da
socialidade,
o
lado social de
limpeza,
beleza e
conteno
todos
sinais
de
domniodas
foras
produtivas
nteriores
era
manifesto
ela capacidade
ndividual
e
manter
m
harmoniauas
relaes
om
os
outros. ste
um
povo que
preza tranqiiilidade
m
um
homem,
maisdo
que
sua
destreza a
caa.
Os
aspectos
-sociaisde
sujeira,
eira
excesso
sinais
de
foras
rodutivas
nteriores
inda nvenenadas
ela
monstruosa
violenta
uz do
sol -eramas
qualidadesnegativas
e
oucura,
videz,
rascibilidade
arrogncia,aspectosde carter ue os Piaroa mais abominavam.No se
poderia
viver
socialmente
m
comunidade,
no ser
que
se
mantivesse
ob
controle
s
foras
produtivas
entro
e
si. Os
Piaroa
xplicitamente
ssociavam
xcesso
no
uso de
recursos esta
terra
o
poder
poltico
e
social
ilegtimo:
s
caixas de
poder
possudas elo
deus
criador
ouco e
malvolo,
ue
continhams
foras
ara
usar
tais
recursos,
ram
hamadas
as caixas
de
dominao
tirania .
Na teoria
iaroada
socialidade,
ra
a-social
pessoa
que
tentava
ominar
seus
vizinhos,
ompetia
om
eles,
os roubava
at
mesmo s
comia.
O
incmodo
dilema ntolgico omquesedefrontavamsPiaroa rao decomopreveniruetalocorresse a
vida
cotidiana,
mavez
que
concebiam eus
prprios
meios
de
viver
preencher
ecessidades
materiais
omo
habilidades
asicamente
reda-
trias
a
habilidade de
caar,
cultivar,
rocessar
alimento
para
o
comer
civilizado
, ainda,
eproduzir).
avia,
portanto,
m orte
entido e
violncia
e,
para
les,
feira)
igado
sua
compreenso
a
categoria
e
capacidade
produtiva.
O
esprito
os
cantos ,
nterno
o
ruwang
era
tambm
esprito
a
fome
o
esprito
a
respirao
o
aguar ,
em
omoo
esprito
o
alucingeno,
opo,
m
seu
interior ra o
esprito
o
combate .
Em
suma,
poderes
produtivos
ram
venenosas
oras
ransformacionaise
predao
,
enquanto
ais,
foras
ara
a
conquista dominao eoutrem.
-24-
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20/28
Revista
e
Antropologia.
o
Paulo,
SP,
.
4,
991,
p.
-33.
O
segundo
dilema
para
os Piaroa era o de
que
as
contas de
vida,
que
continham onhecimento
capacidades
venenosos,
ram
tambm
erigosas:
eram a fonte
ue
investia
indivduo
de
foras
elvagens
para
a vida
dos
sentidos ,
ue
o
capacitava
respirar, uerer
ono e
gua, desejar
alimento
sexo.
Tradicionalmente,
s contas rnamentaisram eitas e um
granitospecial
que
os Piaroa diziam ser
o
afloramento
as
fezes da deidade
mais
poderosa
perigosa
do
universo,
anta/sucuriju,uja
morada
ra
sob
a terra. ara sua
utilizao
segura
e,
portanto,
ocial,
tanto a vida dos
sentidos
quanto
as
capacidadesprodutivasinhame ser impas eseuperigo, ,por stemotivo,s
deuses deram os
Piaroa o
poderpurificador
a lua.
Este
poderpossibilitava
livrar
s
contas
a
capacidade
produtiva
nteriorese
seus
respectivos
eneno
selvageria.
Eis
por que,
a cada
noite,
o
ruwang
impava
e,
deste
modo,
embelezava
uas
contasde
conhecimento as
palavras
de
seus cantos:ele as
livrava
de sua
selvageria
de sua loucura
enenosa,
redatria.
processo
e
limpar
s contas a
sujeira
das
fezes
da
anta/sucuriju,
em
omo
o
conhecimento
produtivo
o veneno o deus
criador,
s fazia
belos.
O conhecimentosttico
,
pois,
conhecimento
rodutivo
mbelezado
,
emdecorrncia,ivilizado.A beleza da ornamentaoiaroaremetia em anto
beleza das
foras
rodutivas
entro e
algum
per
se,
mas ao
domnio este
algum
obre stas
foras.
apacidades
raasformacionaiso eram
onsideradas
belas,
no
ser
quando impas
de sua
peonha
de sua
violncia
redatria.
quantidade
e
conhecimento
nulava-se falta e cuidadosa
maestria: o
menos
moralmente
alando,
ornava-seeia
pessoa que
tomava si
habilidades
rodu-
tivas lm
de
sua
capacidade
e domin-las.
O lado social da
limpeza
e
embelezamento)
ra
o
domnio
ue
o
indi-
vduo
adquiria
tanto obre sua vida dos
sentidos
uanto
sobre suas
capa-
cidades produtivas,travs de outroaspecto,sua vida dos pensamentos ,
tkwakomenae. vidados
pensamentos
tkwaru de
um ndivduo
feita e
dois
componentes,
mbos
provindos
as
caixas de cristal os
deuses:47 ma
parte
era constituda
elas
foras
produtivas ara
a existncia
material
tkwanya);
outra,
elas capacidades
ociais
e
pela
inclinao
moral
ta'kwakomena).
totalidade
e tkwaru
ambos, kwanya
ta'kwakomena)
ormaria
conheci-
mento sttico
e um
ndivduo.
Tkwakomenae onferia
capacidade
de
tomar ecises
pessoais,
era
portanto
escolha
pessoal
de
um
ndivduo
al
como este a desenvolvia:
ao
virtuosa mrelao os outros ra umaquestode decisopessoal.Umaglosa
-25-
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21/28
OVERING,
oanna.
estticaa
produfio:
senso e omunidade