A Estética Da Produção: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    1/28

    A ESTTICA DA PRODUO: O SENSO DE COMUNIDADE ENTRE OS CUBEO E OS PIAROAAuthor(s): Joanna OveringSource: Revista de Antropologia, Vol. 34 (1991), pp. 7-33Published by: Revista de AntropologiaStable URL: http://www.jstor.org/stable/41616079.Accessed: 24/07/2013 19:04

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    Antropologia.

    http://www.jstor.org

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    Revista

    e

    Antropologia,

    o

    Paulo, SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    ARTIGOS

    A ESTTICA DA

    PRODUO:

    O

    SENSO DE COMUNIDADE

    ENTRE OS CUBEO E OS

    PIAROA1

    Joanna

    vering

    (Senior

    ecturer,

    ondonchool

    f

    Economics)

    RESUMO: ste

    rtigo

    rocura

    ecuperar

    concepo

    e senso

    e

    comunidadee

    Vico

    que

    incorporaulgamento

    stticolei

    moralidade

    para

    ompreender

    que

    o ocial

    ara

    s

    ndiosa

    floresta

    ropical

    ul-americana.

    trabalhoostra

    ue

    faltae

    struturas

    e

    hierarquia

    u

    de

    nstituies

    e

    oero

    o

    ignifica

    altae

    organizao

    ocial,

    as,

    o

    contrrio,

    epresenta

    m

    credo

    oltico

    om

    nteno

    oral

    esttica.

    PALAVRAS-CHAVES:

    tnoesttica,

    iaroa,

    enso e

    omunidade,

    onhecimento

    sttico,

    itual

    e

    nominao,

    uiana.

    A

    esttica,

    o Ocidente

    moderno,

    esvencilhou-see

    quase

    todos

    s

    outros

    domnios:

    eparou-se

    a

    religio,

    a

    moral do

    poltico,

    em

    como

    do domnio

    do

    conhecimento da

    verdade.

    Tendemos

    colocar

    a

    arte

    na

    esferada

    inspi-

    rao:

    uma

    atividade

    -social,

    que

    no

    pertence

    o

    cotidiano.

    Como nota

    Gadamer,2

    omos

    influenciados

    ela remodelao

    antiana

    a

    filosofia

    moral,

    empresa ue

    purificou

    tica de

    toda

    esttica

    de

    todo

    desejo.

    Kant

    imitou

    igualmente

    idia de

    conhecimento

    o

    uso,

    terico

    prtico,

    a

    razo,

    de

    ambos

    excluindo,

    ssim,

    esttica.Ao

    faz-lo,

    ambm liminou

    o

    cerne a

    filosofia

    julgamento

    sttico

    a rea

    da lei e

    da

    moralidade,

    xcluindo,

    ortanto, noo

    desensus ommunisou sensodecomunidade conceito ueumdiafoi orrente

    na

    filosofia

    cidental,

    herana

    da

    filosofia

    omana),

    de

    sua

    formulao

    o

    domnio a

    esttica.

    Neste

    rtigo,

    eguirei

    uso

    que

    faz

    Vico

    do

    conceito

    senso

    de

    comunidade'7

    enquanto

    enso

    do

    certo do

    bem

    comum,

    ue

    adquirido

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    OVERING,

    oanna.

    esttica

    a

    produo:

    senso e

    omunidade

    ntre

    s

    Cubeo

    os

    Piaroa.

    atravsda vida

    em

    comunidade,

    articulado s

    estruturas aos

    objetivos

    especficos

    esta ltima.

    Nesta

    acepo,

    o

    conceito

    possui

    sentido

    poltico

    moral,

    em omo barcauma sttica

    e

    mais,

    ma

    metafsica

    da

    ao.

    A

    viso

    oposta

    a da

    esttica omo

    um domnio

    utnomo,

    o lado da

    religio,

    a

    cincia,

    da economia da

    poltica

    tende

    ser nosso

    egado

    nas

    cincias

    sociais,

    apesar

    de termos

    uma

    antropologia

    a arte

    que

    afirma,

    tibiamente,

    ue

    outros

    povos,

    diferena

    e

    ns,

    no

    separam

    atividade o

    julgamentoe arte e seu uso.Muito mbora stoparea bvio,malcomeamos

    a adentrars

    implicaes,

    ericas

    prticas,

    esta

    rticulao

    o

    cotidiano om

    o

    julgamento

    a

    atividade stticos.

    Meu

    argumento

    este nsaio o de

    que,

    para

    entendermos

    que

    o social

    para

    os

    ndios da floresta

    ropical

    sul-americana,

    evemos

    etornar

    nossa

    concepoprimeira,egundo

    qual

    a

    estticano era a

    categoria

    utnoma

    ue

    hoje,

    mas,

    ao

    contrrio,

    ma

    categoria

    moral

    e

    poltica.

    A

    partir

    o

    momento m

    que

    reintegrarmos

    julgamento

    sttico o

    moralmente

    om

    e ao moralmente

    uim,

    ambos,

    ulga-

    mentoe

    moralidade,

    o

    conhecimento

    atividade

    produtivos,

    ento

    poderemos

    omear

    dizer

    coisas

    que

    faam

    entido

    cerca da

    economia,

    a

    organizao oltica da filosofia ocial destespovos.Paraos Piaroa,povoda

    bacia do

    Orinoco,

    or

    xemplo, produo

    m si era

    uma tividade

    riativa,

    ue

    tanto

    oderia

    er

    bonita

    u

    feia

    ,

    nesta

    ondio,

    ocial ou

    a-social,

    omesticada

    ou

    perigosa.

    onsiderava-se

    ue

    o

    comportamento

    indamente

    ontroladoevava

    criao

    da

    comunidade,

    nquanto

    excesso, eio,

    no o fazia.

    A

    beleza,

    para

    os

    Piaroa,

    ra

    portanto

    ma

    noo

    moral,

    elacionada

    oma

    moralidade

    as

    relaes

    pessoais

    e

    com o uso das

    foras

    rodutivas.

    esttica,

    m sentido

    ato,

    onde

    beleza vista

    omouma

    expresso

    e

    valormoral

    poltico,

    orna-se

    rtica

    ara

    uma

    ompreenso

    a vida

    ocialcotidiana

    os

    Piaroa,

    de sua

    prpria

    preciao

    cotidiana

    respeito

    estaltima.

    Apesar

    de no

    dispormos

    e um

    registro

    articularmente

    om em nossa

    etnografia

    ara xpressar

    viso

    ndgena

    o

    social,

    u seu

    seaso de

    comunidade,

    o

    trabalho

    e

    Goldman

    obreos

    Cubeo

    constitui

    lara

    exceo.

    Em

    tudo

    o

    que

    escreveu,

    oldman nsiste

    m

    que

    levemos

    srio

    s

    concepes

    o

    povo que

    estudamos,4

    seu

    The

    Cubeocoastitui

    ma

    etnografia

    ue

    bem

    aptura

    m enso

    de

    comunidade

    maznico

    especfico.

    ornarei seu

    sucesso

    em

    breve.

    No

    entanto,

    ode-se

    dizer

    ue,

    em

    geral,

    difcil

    ntendermos

    seaso

    indgena

    e

    comunidade:

    alheio no

    apenas

    a

    muitas

    vertentes o

    peasamento

    ocial

    e

    poltico

    ocidental,

    mas

    ainda s

    nossas

    mais

    arraigadas

    ategorias

    m antro-

    pologia.

    O vis

    mais

    relevante,araos fias desteartigo, o da hierarquia:s

    antroplogos

    endem entender struturas e

    hierarquia

    u

    instituies

    e

    S-

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    Revistae

    Antropologia.

    o

    Paulo,

    SP,

    .

    4, 991,

    p.

    -33.

    coero

    e

    subordinao

    muito

    mais facilmente

    o

    que

    o fazem

    quanto

    a

    estruturase

    igualdade

    u

    instituies

    e

    cooperao paz.

    PeterRivire5

    escrevemuitobem nossas dificuldades

    m entender s

    aspectos gualitrios

    a

    organizao

    ocial e

    poltica

    das

    sociedades

    ndgenas

    das terras aixas

    sul-americanas,

    em

    particular

    aquelas

    das Guianas. Nas

    Guianas,

    no h

    associaes

    de

    guerreiros,

    onselho ormal

    e

    homens

    dultos,

    organizao

    m metades

    ara

    o funcionamentoa vida

    comunitria,

    rupos

    e

    idadeou gruposde descendncia. m outras alavras, xistem oucosmeca-

    nismos

    ara

    a

    tomada

    e deciso

    corporada,

    eja qual

    for

    tpico

    m

    questo.

    Por este

    motivo,

    s

    etngrafos

    m

    frequentemente

    escrito

    stes

    povos,

    e

    as

    sociedades

    ndgenas

    as terras aixas

    em

    geral,

    m termos o

    que

    lhes

    falta,

    no

    daquilo

    que

    tm

    ou do

    que

    dizem;

    quando

    se tenta

    descrever ua

    informalidadetravs

    o

    vocabulrio

    ntropolgico

    orrente,

    arece

    ue

    no tm

    qualquer

    rganizao

    omunitria.

    A informalidade

    ode, porm,

    er

    um credo

    poltico,

    m

    valor social

    e

    esttico. omo notou

    Clastres

    uanto

    recusa

    ndgena,

    omumente

    etectada,

    de instituiese coeroe subordinao, necessrioceitar idia de que a

    negao

    no

    significa

    m

    nada,

    e de

    que, quando

    o

    espelho

    no

    nos devolve

    nossa

    magem,

    sso no

    prova ue

    no

    haja

    nada

    para

    observar .6

    lastres alava

    da

    disjuno,

    nas sociedades

    indgenas

    das terras

    aixas,

    entre

    iderana

    instituies

    e

    coero.

    Sugiro que

    a

    assim

    chamada

    fluidez

    strutural

    ue,

    muitas

    ezes,

    resulta esta

    viso,

    tem

    no

    apenas

    nteno

    oltica,

    mas ainda

    inteno

    moral/esttica.

    ara

    apreender

    ste

    ponto,

    necessrio

    ompreender

    senso ocial dos

    ndios,

    eu seaso de

    comunidade.

    Mas,

    como

    notei,

    sta

    uma

    tarefa ifcil.

    diferena

    a

    tendncia

    ue,

    no

    pensamento oltico

    e

    sociolgico

    ocidental,

    quaciona

    o social

    com a

    limitaomposta orumacoletividade comrelaes edominao,7s ndios

    das terras

    aixas,

    em sua teoria

    poltica,

    endem

    insistir o

    oposto,

    nde o

    social

    ao

    menos m seu

    sentido

    ositivo,

    al como

    expresso

    ela

    relao

    de

    vida

    comunitria)

    visto

    como o

    meio

    pelo

    qual

    as

    pessoas

    podem

    tivamente

    evitar estabelecimentoe

    relaes

    de

    dominncia.

    o

    entanto,

    s

    premissas

    a

    disciplina, specialmentequelas

    sobre o

    outro

    oletivo ,

    odem

    desorientar

    etngrafo

    ncauto.

    Sugiro,

    ois,

    que

    o

    igualitarismo

    e muitos

    ndiosdas

    terras

    baixas

    -

    sua

    averso

    coero

    e

    s

    relaes

    de

    subordinao,

    eu

    desdm

    norma ocial e aos

    processos

    de

    deciso

    coletiva,

    uas atitudes

    uanto

    propriedade

    ao

    trabalho,

    sua

    insistncia

    uanto

    autonomia

    essoal,

    ainda

    que

    com

    apego

    comunidade s

    pode

    ser

    entendido

    traduzido e

    primeiramentexploramoseu seaso

    especfico

    o social. Suas

    instituies

    e

    -9-

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    OVERING,

    oanna.estticaa

    produo:

    senso

    e omunidade

    ntre

    sCubeo

    os

    Piaroa.

    igualdade,

    eu senso

    de

    comunidade,

    a

    criao

    desta

    ltima,

    o,

    afinal,

    mutuamente

    onstitutivos.

    ssim

    argumento

    e esclarece.

    Este

    tambm

    argumentoue

    Goldman eiterou

    rias vezes em sua

    etnografia

    os Cubeo. Em

    The Cubeo

    Goldman

    esvenda realidade

    a

    vida

    alde

    para aqueles

    que

    a

    compem

    vivem,

    s habitantes

    a

    comunidade.

    medida

    que

    meu

    prprio

    ntendimento

    os valores

    e

    da

    metafsica

    ndgenas

    avana,

    um ento

    processo

    travs

    os

    anos,

    fico

    cada

    vez

    mais

    mpressionada

    com a sensibilidadetnogrficae Goldmanque,hmaisde duasdcadas,nos

    contou,

    e

    maneira

    muito

    ireta,

    uais

    eram

    s

    princpios

    sicos da vida social

    Cubeo.

    deplorvel,

    mas

    interessante,

    ue

    o alcance do feito

    e

    Goldman enha

    sido

    um tanto

    negligenciado

    os estudos

    das

    terras

    aixas;

    talvez tenha

    ido

    necessrio

    ao

    estruturalismo

    e exaurir ntes

    que

    pudssemos

    entender

    importncia

    e

    seu trabalho. lm

    disso,

    volta modafalar a

    coastruo

    ocial

    de

    emoes

    e

    da

    relao

    entrevalores

    e

    ao

    social; assim,

    somente

    gora

    podemos perceber,

    apreciar,

    coragem

    de

    Goldmanem adotar

    posio

    boasiana,

    omo

    adotou,

    m

    meio era dos

    ismos, volucionismo,uncionalismo,

    estruturalismotc.Paraque Goldman ntendesse s Cubeo e a concepodeste

    povo

    da

    relao

    propriada

    ntre indivduo a

    comunidade,

    o

    bem

    quanto

    fez nos

    idos

    de

    1963,

    foi

    preciso

    desprender-se

    e

    grande arte

    da

    bagagem

    intelectualanto a

    antropologiauanto

    a

    tradio

    ientficacidental m

    geral.

    Aludirei ovamente esta

    bagagem

    diante. or

    ora,

    cito sua

    observao

    inal

    em The Cubeo onde

    explicava

    ue

    os valores

    gualitrios

    a

    correlata altade

    interessem

    expanso

    conmica

    orparte

    os Cubeo

    seriam,

    m

    arga

    medida,

    produtos

    e sua

    prpria

    eciso

    e

    escolha,

    ntes

    ue

    resultado e

    foras

    xternas:

    Muitoda forma e

    uma

    cultura

    epresenta

    m estilode vida

    que no precisa, de fatono pode,serexplicado imples-

    mente m termos e

    funo,

    quilbrio

    u

    adaptao.

    Um

    estilo

    de vida

    deve,

    assim,

    ser estudado m seus

    prprios

    ermos,

    desde

    que

    tambm

    arte

    a

    diversidade

    a

    natureza .8

    Goldman

    argumentava ue

    os valores

    e

    a

    retrica

    Cubeo

    quanto

    espontaneidade

    mocional

    autonomia

    essoal a

    expresso

    e seu

    senso

    de

    comunidade )

    ram

    constitutivose

    suas

    aes

    econmicas

    ,

    enquanto

    ais,

    participavam

    a

    explicao

    destasltimas. or

    exemplo,

    economia

    Cubeo no

    era uma

    questo

    de ambiente

    ostil ,

    mas de

    valores olidamenteustentados:

    eraumpovo quepreferiaonfortomocional vantagemmaterial.

    -10-

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    6/28

    Revista

    e

    Antropologia.

    o

    Paulo, SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    Resumo

    nicialmente

    descrio

    e Goldman obre senso

    de

    comunidade

    Cubeo

    (o

    que

    o

    autor

    define omo

    seu estilode

    vida ),

    que

    consistia m um

    entendimento

    oltico

    e moral

    da

    construo

    a

    comunidade,

    ue pertence

    esfera o

    que

    referireiomo

    conhecimento

    rodutivo

    ou

    esttico) .

    enso

    que

    ,

    provavelmente,

    aso

    geralque

    ndios enham

    al

    categoria

    e

    conhecimento,

    que

    se articula uma eoria

    o

    trabalho

    da

    criatividade:

    m eu

    entendimento,

    produtivo

    u esttico

    conhecimento

    ue

    permite

    manuteno

    a comunidade

    e

    prov

    a

    fora

    riativa

    para

    sua continuidade.

    categoria

    Cubeo de

    conhe-

    cimento rodutivoinhaeu evidente adopoltico: ara sCubeo, sta ategoria

    se

    refere o

    apenas

    s

    capacidadesque permitem

    uso de

    recursos

    esta

    erra,

    mas

    tambm

    quelas que

    permitem

    tato,

    sto

    ,

    a habilidade e

    viver,

    acfica

    sociavelmente,

    m

    relaes

    cotidianas

    com outras

    pessoas. Sugeriria ue

    a

    descrio

    articularista

    e Goldman o estilo

    e

    vida Cubeo

    pode

    er stendida

    a

    muitas

    utras

    ociedades

    ndgenas.9

    esde

    que

    no

    posso,

    nos

    limites

    este

    easaio,

    desenvolver

    pleno suporte tnogrfico

    ara

    tal

    argumento,

    oncen-

    trar-me-ei

    o caso

    Piaroa,

    para

    mostrar

    ue

    seu

    senso

    de

    comunidade suas

    estruturas

    e

    igualdade

    o,

    de

    muitos

    modos,

    imilares

    queles

    dos

    Cubeo.

    primeira ista,se a anlise se faz pelas categorias ntropolgicas

    correntes

    e

    organizao

    social,

    os Cubeo

    e

    os

    Piaroa

    podem

    parecer

    muito

    diferentes

    ntre

    i.

    Tpicos

    dos

    grupos

    do noroeste

    maznico,

    s Cubeo tm

    fratras,

    ibs,

    virilocalidade uma

    hierarquia

    e

    statusmanifesta

    itualmente.

    Jos

    Piaroa,

    tpicos

    da extrema nformalidade

    os

    grupos

    uianenses,

    mantm

    mnimas

    s

    vias de

    expresso

    ocial de

    diferenas

    distines

    o

    grupo;10

    t

    as

    metades

    iaroa

    pertencem

    uma

    xistncia

    ost-mortem

    e

    a-social,

    e

    no

    a

    esta

    vida social

    terrena.

    orm,

    meu

    rgumento

    o de

    que

    estes

    spectos

    mais

    bvios

    (ao

    olhar

    antropolgico)

    a

    organizao

    social,

    que

    refletem

    iferena,

    o

    superficiaisecomparadoss respectivasoncepes osocialdestes ovos, ue

    exibem lara

    emelhana.

    prprio

    oldman

    az mesma

    onsiderao,

    uando

    afirma

    prioridade,

    ara

    os

    Cubeo,

    tanto

    da

    autonomia

    pessoal

    quanto

    da

    comunidade

    os

    valores

    polticos

    da

    informalidade)

    obre os

    princpios

    a

    organizao

    m sibs

    e

    em fratras.

    lado

    disso,

    o

    contrrio

    ode

    ser ditona

    comparao

    ntre s Piaroa e

    seus

    vizinhos,

    s

    ferozes

    anomami:

    mbora

    aspectos

    da

    organizao

    social

    sejam

    bastante

    emelhantes,

    s

    dois

    grupos

    contrastam

    onsideravelmentem seu

    respectivo

    sensode

    comunidade .

    Tratando do

    senso de

    comunidade

    Piaroa,

    minha

    preocupao

    ser

    aprofundar

    s

    insights

    ortes

    pioneiros

    de

    Goldman

    obre

    produo

    a

    vida

    comunitriamaznica, ocalizando iretamentereada esttica aproduo ,

    um

    aspecto

    mportante

    o

    conhecimento

    rodutivo

    ,

    portanto,

    a

    metafsica

    -11-

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    7/28

    OVERING,

    oanna.

    esttica

    a

    produo:

    senso e omunidade

    ntresCubeo

    osPiaroa.

    Piaroa de comunidade das

    suas estruturas

    gualitrias. importante

    otar,

    quanto

    este

    ponto,

    ue

    h

    aspectos

    hierrquicos

    a

    organizao

    ocial de todos

    os

    grupos ndgenas;qui,

    minha

    nfase

    a

    gualdade

    rende-se

    o

    argumento

    e

    que, para

    os

    grupos

    maznicos,

    hierarquia

    eve ser entendida

    travs as

    instituies

    e

    igualdade,

    ue

    a

    englobam,

    no o

    contrrio.

    O

    SENSO

    DE

    COMUNIDADE

    CUBEO: A

    COLETIVIDADE,

    O

    MANEJODO

    NIMO E O PRAZER DO TRABALHO

    Na vida

    diria,

    segundo

    Goldman,

    os

    Cubeo

    manifestavam

    parente

    contradio:

    alorizavam anto

    o individualismo

    uanto

    o

    coletivismo,

    mas

    quando

    este

    afigurava-se

    uito

    pesado,

    os

    Cubeo

    rapidamente

    sseveravam

    autonomia.11

    oldman

    ompreendeu

    laramente

    ue,

    da

    perspectiva

    o

    seaso de

    comunidade

    ubeo,

    gualpeso

    era atribudo

    comunidade

    o

    desejo

    por

    laos

    com as

    pessoas)

    e

    autonomia

    essoal.

    A

    nfase o

    autor a

    complementaridade

    entre

    omunidade autonomia

    essoal

    no

    peasamento

    ocial

    Cubeo

    evidencia

    uma

    reaem

    que

    Goldman oi

    capaz

    de

    livrar-se

    e sua

    bagagem

    o

    peasamento

    social ocidental: incompatibilidadentreos princpios e comunidade

    autonomia

    essoal

    notvel

    em uma

    vertente

    rincipal

    do

    individualismo

    ocidental. este

    rgumento

    cidental,

    odas s

    outras

    pocas

    e

    lugares

    oncedem

    alto

    valor

    coletividade

    ,

    em

    decorrncia,

    s

    relaes

    de

    subordinao.

    esta

    lgica,

    e

    na

    retrica

    ue

    a

    sustenta,

    individualismo,

    om

    sua

    nfase

    em

    liberdade e

    igualdade,

    s

    poderia

    ser,

    portanto,

    m

    fenmeno

    cidental

    moderno.12

    O

    ndio,

    ue

    v o

    social

    como meio de

    cercear

    elaes

    de

    subordinao,

    entende

    relao

    entre

    liberdade

    a

    comunidade

    ob

    luz

    diferente

    mais

    positiva, m que, somente ormeio da autonomia essoal,o social pode ser

    obtido.

    ob este

    ngulo,

    o

    dada

    prioridade

    o

    social

    sobre

    individual,

    em

    vice-versa.

    m

    contraste,

    ma

    concepo

    moderna

    e

    moralidade

    raz

    oasigo

    a

    noo

    do

    indivduo

    moral

    fora

    da

    sociedade;13

    uma

    tal

    nfase

    nesta

    desarticulao

    eria

    otalmente

    stranhao

    individualismo

    ndgena.

    Muitos

    eram os

    modos

    pelos

    quais

    os

    Cubeo

    expressavam

    utonomia

    pessoal,

    todavia

    mais

    evidente

    ra sua

    averso

    por

    ordeas

    comandos.

    Como

    relata

    Goldman,14

    na vida

    social

    Cubeo...

    ningum

    manda,

    nem e

    submete .

    Este

    um

    desejo

    poltico

    rovavelmente

    isseminado

    ntre s

    grupos

    a

    floresta

    tropical maznica,e, como Clastres enunciou,15se existealgumacoisa

    -12-

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    8/28

    Revista

    e

    Antropologia.

    o

    Paulo,

    SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    completamente

    stranha um

    ndio,

    a

    idia

    de

    dar uma ordemou

    ter

    de

    obedecer... .Uma

    rea em

    que

    cada indivduo

    ubeo tinha

    oberania ra

    sobre

    seu

    prprio

    rabalho

    nenhum ubeo

    poderia

    er

    oagido

    o

    trabalho,

    ,

    enquanto

    os

    chefes

    oderiam

    irigir

    ertos

    rabalhos

    oletivos

    masculinos,

    ingum

    inha

    jurisdio

    obre

    trabalho as mulheres.16

    ingum oderia

    xigir

    s

    produtos

    do

    trabalho

    de

    outrem:

    ada

    colheita

    pertencia quele

    responsvel

    or

    seu

    cultivo.17

    Muito mbora s Cubeofrisassemuaautonomiaomrelao o trabalho

    aos

    produtos

    o

    trabalho,

    ste

    no

    se

    encontrava

    esvinculado

    os

    laos

    de

    comunidade. les

    privilegiavam

    compartir

    a

    generosidade

    omo carac-

    tersticas

    essoais que

    conferiamtatus.

    A

    generosidade

    o

    compartir,

    mbos

    valores

    e

    comunidade,

    stavam

    igados afirmao

    e

    direitos

    ndividuais,

    ois

    se

    adquiriarespeito

    ando o

    que

    se

    possua,

    especialmentelgo

    de

    utilidade

    econmica.18 oldman bserva

    ue

    os

    Cubeo

    quase

    no

    demonstravam

    nsie-

    dade

    quanto perda

    e

    propriedade.19

    Tal mistura

    ingular

    de

    valorizao

    da

    comunidade

    valorizao

    do

    indivduoegou aos Cubeo uma separaoentre roveito oltico proveito

    econmico. ara os

    Cubeo,

    alimento

    produo

    imbolizavam

    Ma armonia

    os

    sibs

    entrelaados

    m

    comunidade .20

    egundo

    Goldman,

    corolrio rao de

    que

    o

    produto

    conmico

    otal

    ncontrava-seivorciado

    as

    consideraes

    e

    status

    poder.

    m suas

    palavras,

    Os

    Cubeo no

    podem

    pensar

    m

    proveito

    conmico

    omo

    proveito

    oltico

    obre

    outrem,,

    reciprocamente,

    o

    podem

    considerar

    proveito

    conmico e

    terceiros

    omo

    uma ame-

    aa

    sua

    prpria

    utonomia.

    equalizao

    conmica,

    travs

    dos vrios canais formaisde distribuio, ponto pac-

    fico .21

    A

    diferena

    rtica ntre

    ma

    comunidade

    obre

    uma

    prspera

    o

    era,

    assim,

    uma

    questo

    de

    acumulao

    rodutiva,

    as de

    nimo.

    Porm,

    viso

    Cubeo

    de

    que

    uma

    comunidade om

    moral alto era

    uma

    comunidade ica

    baseava-se

    m

    umfirme

    enso

    de

    realidade,

    ois,

    penas

    travs a

    construo

    e

    um

    moral

    lto,

    tividades oletivas

    e,

    de

    fato,

    odoo

    trabalho

    poderiam

    er

    realizadas

    om

    facilidade,

    u

    simplesmente

    ealizadas.

    Talvez o

    insight

    mais

    inovador

    e

    Goldman

    obre vida

    social

    indgena,

    chave

    para

    entend-la,

    oi

    suasensibilidadeara fortensistnciaos Cubeoquanto o confortosquico,

    -13-

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    9/28

    OVERING,

    oanna.estticaa

    produo:

    senso

    e

    omunidadentres

    Cubeoos

    Piaroa.

    ou

    tato,

    m suas

    relaes

    ociais,

    em

    particular

    aquelas

    que

    envolviam oo-

    perao

    no trabalho.Goldman

    observa23

    ue

    todos os

    empreendimentos

    coletivos o

    sib,

    tais

    como

    caa,

    pesca,

    coleta

    e

    construo

    e

    casas,

    requerem

    um nimo

    nspirado .

    em

    este

    ltimo,

    senso

    de

    coletividade

    nfraquece.

    o

    nvel das

    relaes

    individuais,

    esposa

    insatisfeita

    roduz

    menos

    para

    se

    comer.24

    sto

    provavelmente

    e

    aplica,

    em

    geral,

    o

    seaso de

    comunidade os

    ndios as

    terras

    aixas:

    li,

    o

    trabalho

    uma

    questo

    de

    suprir

    esejos,

    alentos

    inclinaes

    essoais.

    No

    entendimento

    ubeo

    do

    social,

    ssim,

    produo

    ependia

    a

    criao

    de

    um

    moral lto

    pblico,25

    que

    faz

    sentido

    e,

    culturalmente,

    s

    membros a

    comunidade

    recusavam-se

    entrar

    m

    relaes

    de

    comando-obedincia

    trabalhavam

    de

    acordo

    com o

    valor

    na

    autonomia

    essoal)

    apenas

    sob

    um

    mnimo e

    direcionamento.

    papel

    mais

    importante

    a

    chefia

    tornava-se

    estabelecimentoe

    um

    moral

    alto

    entre s

    membros a

    comunidade,

    que

    carreava

    criao

    de

    conforto

    o

    nvel

    material. al

    valorno

    conforto

    material

    deve,

    ao

    mesmo

    empo,

    er

    colocado no

    contexto

    a

    determinao

    ubeo

    de

    materialidade

    de sua

    falta

    e

    interesse

    a

    abundncia

    material

    or

    i

    mesma

    6

    Segundo

    Goldman,

    ada

    relao

    social,

    para

    os

    Cubeo,

    requeria

    uma

    atmosfera

    specfica

    e

    sentimentos

    emoes,

    uja

    implicao

    ra a

    de

    que,

    na

    criao

    bem-sucedida a

    comunidade

    Cubeo,

    seus

    membros

    eriam

    tingido

    uma

    correspondncia

    spontnea

    ntre

    moo

    e

    ao .27

    Novamente,

    as

    palavras

    e

    Goldman,28

    para

    s

    Cubeo

    nada

    de

    importante

    ode

    resultare

    uma

    ao

    divorciada o

    nimo

    dequado .

    Por

    exemplo,

    s

    horneas

    rabalhavam

    a

    construo

    e

    casas

    apenas

    quando

    e

    sentiam

    legres

    devotados:29

    trabalho

    mais

    produtivo

    ra

    aquele

    que

    trazia

    prazer,

    rabalho

    ue

    carregava

    m

    ar

    de

    espontaneidade.

    e

    um

    ponto

    de

    vista

    poltico,

    oletividade

    e o

    trabalho

    exigidoparasua existncia tornava-seuestode umapolticade manejodo

    nimo,

    no

    do

    estabelecimentoe

    iastituies

    e

    hierarquia

    de

    relaes

    de

    dominao

    subordinao.

    ara

    os

    Cubeo,

    a

    ltima

    oluo

    seria

    a-social

    e,

    portanto,

    ontrriao seu

    seaso

    de

    comunidade.

    Estamos

    qui

    falando e

    uma

    ticade

    socialidade.

    O

    entendimento

    ubeo

    de

    moral

    lto

    prendia-se

    um

    seaso

    particular

    e

    moralidade,

    ue

    valoriza

    m

    muito s

    relaes

    e

    harmonia

    cooperao.

    A

    autonomia

    essoal

    que

    desejavam

    no

    era

    um

    individualismo

    esenfreado,

    m

    que

    vale

    tudo.

    Goldman

    risou

    grande

    ato

    dos

    adultos

    Cubeo

    quanto

    criticar,

    mpor

    invadir

    s

    outros,

    a

    sensibilidadeguda que demonstravamaracom o humorlheio, ua tolerncia

    para

    com

    o mau

    humor

    as

    outros.

    A

    privacidade,

    rpria

    alheia,

    ra

    funda-

    -14-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    10/28

    Revistae

    Antropologia.

    o

    Paulo,

    SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    mental

    ara

    eu senso

    de

    comunidade,

    que

    inclua

    dogma

    moral

    e

    que

    no se

    deve nvadir s

    sentimentos humores lheios.30

    ste senso de

    privacidade

    o

    era o

    do Ocidente

    moderno,

    orque

    valorizao

    ubeo da

    privacidade

    ra afeta

    ao domnio

    as

    emoes

    da

    dignidade

    essoal,

    no

    ao

    mundo

    a

    propriedade

    e dos

    beas

    pessoais.

    Descrevi,

    m

    outro

    trabalho,31

    s

    primeiras

    ies

    das

    crianas

    Piaroa,

    quando

    o lder

    da comunidade

    s

    ensinava arte

    de

    viver,

    sabedoria

    e levar

    umavidatranqila o mododemant-la. asicamente,e ensinava s crianas

    que,

    em

    nossa

    prpria

    ilosofia

    moral,

    chamado

    virtudes e

    coasiderao

    o

    outros

    aquelas

    que

    habilitam

    lgum

    se

    responsabilizar

    or

    uas

    aes

    com

    relao

    a

    terceiros

    ,

    em

    vez de virtudes e

    autoconsiderao ,

    ais como

    talento,

    mbio

    coragem.32

    ela

    descrio

    e

    Goldman,

    entendimentoos

    Cubeo

    quanto

    autonomia

    e uma

    pessoa

    e

    suas

    obrigaes

    om

    respeito

    autonomia

    e terceiros

    oa muito

    imilar o caso Piaroa. O lderPiaroa

    gual-

    mente

    asinava

    as

    crianas

    sobre

    imperfeies

    ociais,

    especialmente

    m

    ndole,

    arrogncia,

    inveja

    a malcia.Os Cubeo nsistiamobre

    avidez,

    uma

    vez

    que

    um

    dos

    comportamentos

    xcessivos

    ue

    mais

    repugnavam

    ra a

    gula,

    comportamento

    ue

    consideravam ostil

    avaro,

    ue

    viam

    como

    patolgico.

    Paraambos, s Cubeo e os Piaroa, utonomia essoalera umanoosocialpor

    excelncia,

    ponto

    central

    para

    sua

    compreeaso

    do trabalho do

    processo

    produtivo

    m

    eus

    respectivos

    easos

    de comunidade.

    O

    trabalho,

    ara

    os Cubeo

    e

    para

    os

    Piaroa),

    no

    era,

    como

    no

    Ocidente,

    alienadodas

    relaes

    essoais

    de

    comunidade de

    sua

    moralidade. m

    suma,

    no

    senso

    Cubeo

    de

    comunidade,

    avia uma conexo ntre

    s

    relaes

    essoais

    de

    que

    cada comunidade

    composta

    ,

    produo riqueza,

    s

    prazeres

    o

    trabalho,

    uma ticade

    diplomacia

    sua

    grande

    alorizao

    a

    autonomia

    essoal.

    Fazia-se

    necessrio

    o

    lder

    poltico

    evar udo sso em conta m seu

    papel

    de

    criador

    e

    moral lto.Tato,respeitoelossentimentososoutros, dos outros ara onsigo,

    eram

    claramente

    onsiderados,

    elos

    Cubeo,

    um

    aspecto

    d

    conhecimento

    produtivo.

    O

    trabalho

    everia er

    prazeroso,

    um

    produto

    o

    desejo;

    no

    consistia

    m

    um

    domnio

    eparado

    do

    pessoal,

    nem do

    social, antes,

    de to

    intensamente

    pessoal

    quanto

    ocial,

    o

    trabalho

    ra,

    a

    um s

    tempo, rodutor produto

    e

    relaes

    ociais

    prazerosas.

    ra

    ao

    que preenchia desejo

    de

    prover

    ara

    i,

    e

    os

    desejos

    e vidas

    de

    outrem

    dos

    filhos,

    o

    cnjuge

    dos outros

    membros a

    aldeia/ Pelo

    trabalho,

    ssim

    definido,

    omunidade

    vnculo

    om

    outros

    ode-

    riam erdevidamenteriados mantidos. mbos, rabalho vnculo ocial, ram

    coasideradosmutuamenteoastitutivos: a ausncia

    das

    relaes

    tranqiiilas

    e

    -15-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    11/28

    OVERING,

    oanna.esttica

    a

    produo:

    senso e

    omunidade

    ntre

    sCubeo

    os

    Piaroa

    uma boa vida em

    comunidade,

    o se

    poderia

    rabalhar

    ,

    sem

    trabalho,

    o

    havia omunidade.

    m

    outras

    alavras,

    trabalho

    inclusive,

    u em

    particular,

    manuteno

    otidiana

    a vida no eraentendidoomo

    abuta;

    sta uma

    noo

    ocidental,

    sto

    ,

    um

    produto

    e

    relaes

    de

    dominao

    subordinao.

    m

    princpio,

    s

    Cubeo

    trabalhavam

    uando

    felizes;

    ara

    les,

    todo

    sforo

    evia er

    essencialmente

    atisfatrio,35

    esultado

    e

    relaes

    ociais

    prazerosas.

    O

    ponto

    mportante

    ue

    Goldman

    preendeu

    cercada

    organizao

    ocial

    e

    poltica ndgena, acercada filosofia e socialidadeque a sustentava,oi o

    prprio

    atode

    que gente

    vivendo

    unta

    em

    comunidade

    ependia

    da

    criao

    cotidiana e

    moral lto entre eus

    membros,

    no do

    estabelecimento

    e

    leis,

    regras corporaes.

    sta

    umaboa

    razo,

    uma

    vez afastada

    forma exterior

    dos

    aspectos

    e

    organizao

    ocial,

    para que

    os Piaroae

    os Cubeo

    paream

    o

    semelhantes.

    esde

    que

    o vnculo

    om.

    s

    outros,

    anto

    ara

    os

    Cubeo

    quanto

    para

    os

    Piaroa,

    permanecia

    insistentemente)

    m um

    plano

    mais

    nformal

    que

    era,

    em

    larga

    medida,

    considerado

    ujeito

    preferncia

    essoal,

    o

    grupo

    coaservava-se

    unto

    penas enquanto

    eus

    membros seus

    lderes

    btinham,

    mantinham,

    nspirao

    as

    relaes.36

    diferena

    e

    povos

    que

    acreditam

    ue

    suascomunidadesm xistnciaemporal ormeiodemecanismosaiscomo a

    propriedade

    orporada

    e bens e

    as normas

    urdicas

    esta

    corporao,

    emos

    Cubeo,

    nem os

    Piaroa,

    ntendiam

    comunidade ,

    as

    relaes

    que

    encerrava,

    como um

    dado

    poltico

    que permitia

    ontinuidade

    travs

    do

    tempo,

    mas

    enquanto

    m

    processo

    e

    existncia

    ue

    devia

    ser

    cotidianamente

    btido

    pelas

    pessoas, pelo

    tato nas

    relaes

    e

    pelo

    trabalho.A

    escolha

    poltica

    era

    pelo

    conforto

    sico

    emocional

    irio,

    m

    detrimentoa

    estabilidade

    mais abstrata

    que

    a

    herana

    assada

    futura,

    om uas normas

    regulamentos,

    nvolve.37

    Para

    muitos

    ndios,

    trabalho

    tambm

    ma

    capacidade

    riadora,

    ma

    manifestao e conhecimentorodutivo, ue confere ondio humana,

    atravs o

    qual

    podem-se

    riar

    ens,38

    ais omo

    ornamentos,

    s

    meios

    materiais

    de

    transformar

    ara

    uso os

    recursos a terra

    as

    traasformaes

    m

    si mesmas

    (por

    exemplo,

    produo grcola,

    alimento

    ozido).

    Como indicarei

    diante,

    ao

    tratar

    os

    Piaroa,

    ornamentao

    as

    capacidades

    para

    o

    trabalho o se

    encontravam

    esvinculadas.

    beleza

    de

    uma

    pessoa

    falava

    da

    beleza

    de

    suas

    capacidades

    riadoras de

    sua

    percia

    no

    trabalho,

    brigadas

    entro

    e

    si,

    que

    permitiam

    autonomia

    essoal.

    No

    entanto,

    uso

    de

    tais belas

    habilidades

    criadoras

    ara

    trabalho

    ra

    possvel

    omente

    o

    contexto o social:

    constituam

    um

    specto

    a

    ao

    social,

    seu

    propsito

    ra,

    de

    fato,

    produo

    reproduo

    da

    comunidade,xplicitadas

    m

    relaes essoais gradveis. tatonecessrioao conhecimento

    rodutivo

    criatividade a

    produo

    razia

    consigo

    uma

    -16-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    12/28

    Revista

    e

    Antropologia.

    o

    Paulo,

    SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    esttica

    ue

    relacionava

    mbos

    produo

    seus

    prazeres)

    moralidade as

    relaes

    ociais

    seu

    prazer).

    Em

    suma,

    podemos

    nos referir isso como uma

    esttica

    ocial ,

    elemento

    rtico

    e

    um

    senso de comunidade

    ndgena,

    u

    o

    domnio

    o conhecimento

    rodutivo

    ue,

    no

    entendimento

    ndgenapermite

    construo

    a

    manuteno

    a

    comunidade.

    oldman,

    m

    sua

    etnografia

    os

    Cubeo,

    ao enfatizar s valores

    Cubeo

    quanto

    ao extremo ato

    nas

    relaes

    pessoais

    e

    ao

    prazer

    do

    trabalho,

    os

    guia

    at

    esta

    rea

    da esttica

    ocial,

    que

    desejo

    gora

    desenvolver.

    A ESTTICA

    DO TRABALHO

    ENTRE OS

    PIAROA,

    OU O CONHE-

    CIMENTO

    PRODUTIVO

    Os valores

    e autonomia

    essoal

    e de comunidade

    Havendo,

    m

    outro

    ugar,

    scrito xteasamente

    obre

    informalidade

    a

    vida social

    Piaroa,

    sobre

    ua extrema

    alorizao

    a

    tranqilidade

    as

    relaes

    pessoaisdentro acomunidade,39evoaquisintetizarpenas lguns ontos fim

    de tornarlara

    comparao.

    ssim,

    no

    que segue,

    ratarei ais

    detidamentea

    esttica

    o trabalho iaroa.

    Os valoresde comunidade

    ue

    discutirei

    eferem-se

    especificamente

    aldeia

    Piaroa,

    grande

    asa

    comunal isicamente

    solada,

    ue

    coastitua

    um

    grupo

    residencial,

    emi-endgamo

    bastante

    utnomo omo

    unidade

    conmica,

    erimonial

    de

    parentesco.

    ais valores

    e

    harmonia alem

    apenas

    m

    parte

    ara

    o territrio

    oltico,

    mais

    arga

    unidade ocial no territrio

    Piaroa,

    composta,

    ia

    de

    regra, or

    seis

    ou sete comunidades

    multifamiliares

    altamente

    ispersas.

    populao

    do

    territrio,

    ntretanto,

    o-residia m casa de

    seu lder

    por

    trsmeses ao

    ano,

    por

    ocasio da

    grande

    erimnia iaroa

    de

    proliferao,ari. Durante stefestival, esttica a vida em comunidade o

    trabalho orrelato

    ue

    descrevo

    gualmenteplicavam-se

    os

    membros, nidos,

    do

    territrio,

    ue

    somavam

    ercade

    350

    pessoas.

    E,

    o

    que

    mais

    mportante,

    festival

    poderia

    erexibido

    pelo

    der erritoriale taisvalores

    e comunidade

    fossem

    lcanados

    ara

    conjunto.

    Tpicosguianeases,

    s

    Piaroa realizavam vida

    em comunidade e modo

    altamente

    nformal

    ,

    como

    os

    Cubeo,

    asistiam a autonomia

    essoal

    enquanto,

    ao mesmo

    empo,

    tribuam

    rande

    alor

    o

    social.

    O

    direito escolha

    pessoal

    era

    proclamado

    onstantemente

    a

    conversao

    iria,

    para

    o

    antroplogoue

    indagava obre uas regras . abia ao indivduo scolher unoescolhereguii

    as maneiras

    propriadas

    e

    fazer as

    coisas;

    era

    muito

    mpolido

    comentar

    -17-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    13/28

    OVERING,

    oanna.estticaa

    produo:

    senso e omunidadentresCubeo

    os

    Piaroa.

    diretamente,

    e forma

    negativa,

    ma

    deciso de

    outro,

    osse com

    relao

    ao

    alimento,

    o

    trabalho,

    residncia

    u aos hbitos

    exuais.

    At o casamento

    correto

    que

    descrevi40

    omo

    a

    nica

    nstituio

    cio-organizacional

    a vida

    comunitria

    ntre

    s Piaroa

    ue

    o

    antroplogo

    oderia

    acilmente

    ategorizar)

    ra

    uma

    questo

    de livre

    nterpretao:

    enhum

    asamento ra considerado

    pro-

    priado

    e

    todas

    as

    partes

    nvolvidas

    pais, ogros,

    oiva

    e noivo com ele no

    concordassem.

    lm

    disso,

    no havia

    regra

    e

    residncia ,

    mas

    parentes

    om

    quem

    era bom

    e

    tambm

    orreto iver:

    escolhafinal

    ra deixada o indivduo

    ou casal. O mesmo odeserditoquanto o reconhecimentoe laos especficos

    de

    parentesco,

    ma

    decisomuitas ezes melindrosa

    ara

    um ndivduo.

    O trabalho

    dirio era

    organizado

    de modo fluido

    e,

    assim

    sendo,

    comumente efletia

    s

    humores

    prefernciasessoais

    dos indivduos nvol-

    vidos.

    O

    trabalho

    e

    um

    erceiro unca ra

    dado

    por

    erto.O direito

    preferncia

    referia-se

    anto

    escolha

    pessoal

    de co-residentes

    om

    quem

    se considerasse

    mais

    adequado

    dispender empo, quanto

    ao

    tipo

    de tarefa m si mesmo.

    Usualmente,

    assavam-se

    muitos nos

    de

    casamento ntes

    que

    um

    ovem

    casal

    cooperasse,

    m

    conjunto,

    a abertura

    e uma

    roa:

    o

    tempo

    a vontade e cuidar

    de seus filhos ra o que os levava a esta tarefa. e algumno considerasse

    adequados

    os

    parentes

    om

    quem

    ra habitual

    ooperar

    o menos m

    parte

    por

    exemplo,

    m

    pai

    ou uma me

    -,

    viveria m outra omunidade.

    Os

    homens,

    m

    particular,

    endiam

    se

    especializar

    no trabalho

    ue

    mais

    preciavam: lguns

    homens

    etestavam

    aar,

    assim,

    o

    invs

    disso,

    faziam

    rtefatos

    u

    pescavam;

    outros

    aavam

    diariamente. omo

    para

    os

    Cubeo,

    respeito ara

    om

    o

    humor

    a

    preferncia

    lheios

    era,

    para

    os

    Piaroa,

    um

    aspecto

    essencial de seu senso de

    comunidade. e uma

    pessoa

    se

    portava

    mal,

    de

    maneira

    escontrolada,

    e

    modo

    representar

    m

    onstante borrecimento

    ara

    os

    outros,

    ra conselhado

    or

    um

    parente

    u

    pelo

    lder

    da

    comunidade

    seu

    ruwang)

    submeter-se cura com o

    lder, uedetinha oderesxamnicos, fim e descobrir causaexterna afalta

    de

    controle. cura

    ra, nto,

    uesto

    rivada,

    nre

    doente o

    ruwang.

    A comunidade

    fluente,

    ara

    os

    Piaroa,

    ra

    aquela que poderia

    evarem

    conta,

    o nvel

    dirio,

    anto flexibilidade o horrio

    e

    trabalho

    uanto

    as

    preferncias

    ndividuais

    ara

    as

    tarefas

    specficas;

    como

    para

    os

    Cubeo,

    afluncia ra uma

    questo

    de

    aquisio

    de conforto

    essoal

    no

    trabalho,

    no de

    acumulao

    da

    produo.

    Tal afluncia

    xigia

    a

    criao

    de

    comunidade,

    ue

    possusse

    moral

    lto

    e

    tamanho

    permitir

    al

    flexibilidade

    cooperao.

    Quando

    eu estava

    entre

    s

    Piaroa

    para

    meu

    primeiro

    rabalho

    e

    campo

    em

    1968,

    as

    pessoasevocavam omhorroruo arduamenteinhame trabalharuandono

    -18-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    14/28

    Revistae

    Antropologia.

    o

    Pcalo,SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    eram

    membros

    e comunidades

    maiores;

    os

    mais velhos

    sonhavam

    om

    o

    passado,

    ntesdas

    epidemias

    os

    anos 40

    e

    50,

    quando

    as comunidades

    iaroa

    eram maiores.

    Uma

    comunidade

    muito

    pequena,

    de

    quinze

    a vinte

    pessoas,

    simplesmente

    o

    possua

    recursos

    umanos

    ue permitissem

    scolha

    pessoal

    e

    nimo

    no

    desempenho

    e

    todas as

    tarefas

    equeridas

    ara

    a sobrevivncia

    cotidiana:

    pesca,

    a

    caa,

    a coleta

    de alimento

    lenha,

    o

    cultivo,

    proces-

    samento

    dos

    produtos

    a

    caa

    e da

    roa,

    e

    o

    ritualnecessrio

    proteo

    cotidiana.

    lderbem-sucedido

    ra

    aquele

    que coaseguia

    atrair sua

    comuni-

    dadegente uficiente,ente apazdecooperar armonicamentembasediria,

    que

    lhe

    permitia

    anter

    moral lto

    dentro a comunidade.

    Somente

    travs

    o moral lto

    poder-se-ia

    bter

    conforto o

    trabalho,

    definio

    e

    afluncia

    ara

    os Piaroa.

    Apesar

    de ter extraordinrios

    oderes,

    dados seus

    poderes

    mgicos

    vis--vismundosfora

    do

    social,

    o lder

    de

    uma

    comunidade

    ruwang)

    tinha

    pouco poder

    de

    coero

    sobre

    o

    desenrolar

    e

    questes

    ociais. Com

    efeito,

    ruwang

    enquanto

    bio mestre

    os valores

    ticos

    de

    autonomia

    essoal, gualdade

    tranquilidade,regava

    ormalmente

    ontra

    coero.

    Para os

    Piaroa,

    a

    coero

    no

    tinha

    ugar

    no

    contexto

    o trabalho

    cotidiano osmembrosa comunidade;ram oalrgicos idia de direitoe

    comando

    uanto

    noo

    de norma ocial .

    Ningum oderia irigir

    trabalho

    de

    outro;

    o

    dia-a-dia,

    odos s

    produtos

    a

    florestaram

    gualmenteartilhados

    entre

    s

    membros

    a

    comunidade,

    nquanto

    s

    produtos

    a

    roa

    e

    artefatos

    ram

    privadamente

    ossudospelos

    indivduos

    ujo

    trabalho

    s

    produzira.

    o havia

    mecanismos,

    aiscomo

    grupos

    e ancios ou

    horneas

    dultos,

    ara

    a tomada

    e

    deciso

    corporada uanto

    disputas

    u

    questes

    conmicas; ssim,

    soberania

    com

    relao

    maioria as

    aes

    dirias

    stava,

    m

    larga

    medida,

    m

    mos

    dos

    indivduos. ma mulher

    o

    apenas possua

    o

    produto

    a

    roa

    que

    ela mesma

    produzia,

    omo tambm em

    comunidade

    em

    o

    marido

    inham ireitos

    egais

    sobre ua prole, mcaso de divrcio: la eraresponsvel orsua prpria erti-

    lidade,

    entendida omo

    parte

    de suas

    capacidadesprodutivas

    ndividuais. or

    mais

    mportanteue

    fosse

    para

    um Piaroa residir m

    uma

    grande

    omunidade,

    nenhum

    eles reconhecia

    legitimidade

    o

    poder

    da coletividade .

    noo

    de

    que

    uma

    comunidadeomoumtodo

    udesse

    deter ireitos

    obre

    lgum,

    u

    de

    que

    algum

    devesse submeter-se uma deciso

    proveniente

    e

    uma vontade

    geral ,

    u de

    que

    a

    moralidade

    e

    algum

    fosse

    imposta

    e

    cima,

    pela

    comu-

    nidade,

    eriam dias abominveis

    ara

    os

    Piaroa.4

    O uso

    de

    tais

    poderes

    de

    coero

    eria

    ulgado

    -social

    politicamentelegtimo.

    Como os Cubeo,os Piaroa nsistiam os direitos o indivduo,o mesmo

    tempo

    m

    que

    conferiamltovalor s

    relaes

    ociais de

    comunidade. er

    social

    -19-

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    15/28

    OVERING,

    oanna.

    estticaa

    produo:

    senso e omunidade

    ntre

    sCubeo

    osPiaroa.

    era considerado

    elos

    Piaroa mais

    valiosacaractersticae seres

    humanos

    esta

    terra;

    mas

    tal socialidadeno

    estava,

    para

    eles,

    associada

    noo

    de

    coleti-

    vidade aos

    poderes olticos

    om

    que

    esta

    poderia

    erdotada. elo

    contrrio,

    criao

    da comunidade sua

    socialidade

    oderia

    penas

    er realizada

    por

    meio

    das

    capacidades

    da

    autonomia

    essoal

    dos

    indivduos.

    ste

    trabalho otidiano

    de

    criao

    da

    ao

    da

    comunidade

    ornava-se

    ossvel

    atravsdo

    que

    referi

    anteriormente

    or

    conhecimento

    sttico ,

    marea de

    conhecimento

    ue, para

    os

    Piaroa,

    ompreendia:

    )

    as

    capacidades

    riativas e

    produo

    ou

    seja,

    aqueles

    poderes ue possibilitavamransformars recursos a terra ara uso); e 2) as

    capacidades ue

    levavam

    criao

    de

    relaes

    ranqilas

    om

    aqueles

    om

    quem

    se vivia e

    trabalhava.

    m sua

    teoriada

    ao,

    o

    uso destes

    dois

    conjuntos

    e

    capacidades

    eparava

    humanidade e

    hoje

    e

    talvez

    xclusivamentes

    Piaroa)

    de

    qualquer

    utra

    o

    no

    universo,

    assada

    presente.

    s

    ornamentos

    tilizados

    pelos

    Piaroa,

    e

    as

    pinturas

    ue

    os

    embelezavam,

    alavam

    destas

    capacidades

    articuladas

    e

    socialidade

    produtividade.

    BELEZA E

    CRIATIVIDADE: AS

    CONTAS

    DE

    CONHECIMENTO

    E AS

    CAIXASDE CRISTAL DOS DEUSES

    A

    beleza

    exterior,

    a

    esttica

    Piaroa,

    uma

    manifestao

    a

    beleza

    de

    habilidades

    rodutivas

    capacidades

    morais

    ue

    esto

    lojadas

    dentro

    a

    pessoa.

    Em outro

    ugar,

    escrevi

    ornamentao

    iaroa,

    mas com

    finalidade

    iversa;43

    nesse

    sentido,

    ale

    repetir

    qui parte

    da

    etnografia.

    or

    ornamento,

    s

    Piaroa

    usavam

    olares,

    raadeiras

    perneiras

    eitas e

    contas u

    de

    algodo,

    depen-

    dendo do

    sexo,

    e

    vrias

    pinturas

    aciaise

    corporais.

    oda

    esta

    ornamentao

    ilustrava,

    a

    superfcie

    o

    corpo,

    s

    habilidades

    rotetoras

    ontidas

    a

    pessoa.

    Os Piaroausavamuma tinturaermelho-escurok'eraeu)paraa pintura

    faciale

    corporal,

    ujos

    desenhos

    ram

    plicados

    com

    carimbos

    ntalhados

    m

    madeira.As

    mulheres

    ambm

    plicavam

    esenhos

    retos

    os

    braos

    pernas,

    feitos

    om

    uma tintura

    esinosa.

    stas

    marcas

    faciais

    corporais

    e

    homens

    mulheres

    ram

    epresentaes

    ictricas

    specficas

    as

    foras

    ransformacionais

    ou

    capacidades

    riadoras

    ontidas

    m seus

    corpos,

    ue

    lhes

    erviam e

    roupagem

    interior. s

    marcas

    corporais

    stampadas

    nas

    mulheres

    epresentavam

    eu

    conhecimentoe

    reproduo

    eram

    hamadas

    os

    desenhos

    e

    menstruao ;

    as

    marcas

    os

    homens

    alavam e

    seu

    conhecimento

    rodutivo

    e

    caar,

    pescar,

    cantar,

    urar

    proteger.

    s

    desenhos

    aciais

    masculinos

    ram

    ambm

    hamados

    os caminhos as contas u o caminho as palavrasdo canto , ndicando

    conhecimento

    specfico

    e

    cantar:

    desenho

    ra o

    caminho,

    u

    a

    seqncia,

    as

    -20-

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    16/28

    Revista

    e

    Antropologia.

    o

    Paulo, SP,

    .

    4, 991,

    p.

    -33.

    palavras

    dos cantos.

    Alguns

    destesdesenhos oram

    istos

    por

    homens iaroa

    quando

    m traase

    lucinognico,

    m

    especial

    durante

    m ritual e

    proliferao.

    Eram

    estes

    gualmente

    s desenhos

    de sua cestaria

    arjada.

    As bonitas

    estas

    feitas

    pelos

    homens

    Piaroa,

    que

    ostentavam

    s desenhosdo caminhodas

    palavras ,

    ramusadas

    por

    eles

    para guardar

    tens

    e valor

    ritual,

    aiscomo eus

    apetrechos

    ara

    s

    drogas, rogas pentes;

    or

    meio

    do

    uso de

    pentes,

    s

    foras

    de seus

    pensamentos

    rodutivos

    ram

    mantidasm ordem .

    al

    como

    as

    foras

    para

    cultivo,

    aa,

    pesca

    eram ntendidasomo

    poderes rodutivos,

    ssim

    tam-

    bmo eram s foras o canto: travs elas o lderPiaroa,ruwangtraziada

    morada

    dos deuses todos

    os

    poderes

    ara

    a vida e

    produtividadeara

    o inte-

    rior

    a comunidade. evido

    ao fato e virem os

    deuses,

    odos

    stes

    pode-

    res

    produtivos,

    ncluindo fertilidade

    e uma

    mulher,

    ram rotulados

    magia

    (maeripa)44

    elos

    Piaroa. Os indivduos ecebiam stas

    capacidades

    gradual-

    mente o

    longo

    de suas

    vidas,

    e

    muitas ezes

    a

    seu

    pedido,

    e

    sentissem

    ue

    poderiam

    dquirir

    omnio obre las.

    Os

    poderes rodutivos

    e uma

    pessoa

    eram

    uardados

    entro e

    contas

    e

    vida

    internas

    seas

    corpos, ue

    tambm

    rovinham

    as

    caixas de

    cristal os

    deases. O ruwangatravs e seas cantos viageas paraa morada os deases,

    trazia,

    ara

    este

    mundo,

    s

    foras

    ara

    a

    produtividade

    ncapsuladas

    m

    contas

    de

    vida ,

    e as inserianos indivduos e sua

    comunidade. stas

    contaseram

    chamadas

    as

    contas

    e

    vida

    kaekwaewa

    eu)

    porque esignavam

    fora

    ara

    vida dos sentidos

    kaekwae)

    que,

    dentro e um

    indivduo,

    habilitava

    ter

    desejos.

    O

    conhecimento,

    rodutivo

    outro,

    nelas

    contido

    ra,

    em

    contraste,

    chamado

    vida dos

    peasamentos

    tkwaru

    .

    A

    quantidade

    e

    contas

    m

    colar

    asado

    por

    uma

    pessoa

    ndicava

    quantidade

    e contas

    de vida

    nternas

    ue,

    at

    ento,

    havia

    adquirido.

    Assim,

    a

    quantidade

    e contas usadas em

    decorao

    contava o

    grau

    de

    capacidadespossudopela pessoa que

    as

    portava:

    grande

    lder uwang a mulherommuitos ilhos ram arregadoselas.

    Os Piaroa associavambeleza abundncia

    fertilidaderiadoras:

    sar

    muitas ontas onferia eleza. Os

    deases,

    que

    eram fonte e

    poderesprodu-

    tivos,

    ossuam

    muitos omes

    eram,

    ortanto,

    elos;

    casa dos

    deases,

    plena

    de

    todo

    tipo

    de

    alimento,

    inhamuitos omes alando e sua

    beleza;

    as boas

    vises

    de

    magia

    que

    um

    ruwang

    inha,

    uando

    ob a

    influncia e

    alucingenos,

    ram

    belas

    e tambm altamente

    produtivas:

    ram

    vises

    de

    abundncia

    que

    reabasteciam floresta

    om

    plantas

    animais.

    Todas

    $s

    foras

    ara produo

    contidas

    as caixas

    de

    cristal os

    deases

    eram

    belas,

    e

    assim se

    concretiza-

    vam. Dentroda caixa

    dos cantos de cura

    da deasa da

    fertilidade,heheru,encontrava-se linda uzde seas

    cantos,

    unto

    uma

    onga

    fieira e contas m

    -21-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    17/28

    OVERING,

    oanna.

    estticaa

    produo:

    senso

    e omunidade

    ntre

    sCubeoos

    Piaroa.

    todas s cores

    do

    arco-iris;

    utra

    ranja

    e contas

    endia

    e sua

    rede sua coroa

    de

    penas

    de tucano

    icava

    m

    um esteio.Em

    sua caixa

    de cristal

    a

    destreza

    a

    caa

    estavam

    eus inds

    muletos

    seu

    colar

    de

    medalhes;

    entro

    e

    todas s

    suas caixas

    de

    poder

    icavam

    muitasindas

    achoeiras.

    S

    abundncia,

    orm,

    no levava

    beleza:

    a beleza

    estava

    sempre

    vinculada

    noo

    de

    moderao

    o uso

    de

    capacidades

    riadoras.

    s

    padres

    ticos

    Piaroa

    conjugavam

    social e

    o

    moralmente

    om

    ao

    limpo,

    o belo e ao

    contido,o passoqueo comportamento-social a iniqidadestavamigados

    sujeira,

    feira,

    loucura

    ao excesso.45

    a

    cosmogonia

    iaroa,

    s

    foras

    ro-

    dutivas

    oram,

    m

    sua

    origem, elvagens

    venenosas,

    hoje,

    se

    algum

    no

    adquirisse

    omnio

    obre estas

    perigosas

    oras

    dentro

    e

    si,

    seria

    levado

    ao

    comportamento

    xcessivo

    (feio)

    e loucura.

    Assim,

    a

    noo

    Piaroa

    de

    conhecimento

    rodutivo

    razia

    onsigo

    mateoria o

    belo e do

    feio,

    ue

    possua

    seu ado moral

    poltico.

    m

    outras

    alavras,

    o contexto

    a

    ao

    moral

    social,

    o

    conhecimento

    rodutivo

    mpliava-se ara

    onhecimentosttico.

    O BELO E O FEIO: UMATEORIADO SOCIAL E DO A-SOCIAL

    Os

    Piaroa

    descreviam

    s

    poderes

    ons

    e

    produtivos

    a

    magia

    no

    apenas

    como

    belos ,

    mas tambm

    omo

    limpos

    frescos :

    clara,

    mas

    moderada,

    luz da

    lua,

    m

    contraste

    forteuz do

    sol,

    erachamada

    a

    preciosa

    uz da

    magia .

    A luz da

    lua,

    sua

    clara,

    fria uz sem

    cor,

    era a luz

    das

    palavras

    dos

    poderes,

    doadores e

    protetores

    e

    vida,

    do

    ruwang

    ou

    seja,

    de

    suas

    capacidades

    produtivas.

    gua,

    de

    brilho

    unar,

    entro as caixas

    de

    cristal

    e canto

    magia

    pertencentes

    os

    deuses,

    ra

    mpida

    fresca;

    esta

    gua

    o

    ruwang

    a

    cada

    noite,

    limpava

    embelezava

    s

    palavras

    e seus cantos.

    odo o contedo

    as caixas

    de

    cristal os deusespermanecia elo porqueestes seresetreos,travs e uma

    pura

    vidade

    pensamentos tkwaru),

    ontinuamente

    impavam

    eus

    poderes.

    Uma mulher ra bonita

    kwakwahu)

    um

    homem

    ra bonito

    a'kwakwa)

    quando

    ecm-banhados

    limpos,

    ortanto

    e

    ornamentados

    om eus desenhos

    corporais

    contas

    de vida.

    importante

    otar

    ue

    os

    produtos

    o trabalho

    e

    algum

    um

    filho,

    m

    pente,

    ma

    roa,

    uma

    zarabatana

    eram

    otulados

    eus

    kwa.

    Beleza

    (a'kwakwa), ensamentostkwaru)

    os

    produtos

    o

    trabalho

    (kwa)

    estavam

    ingis

    icamenteinculados.

    Poderes

    specialmente alfazejos rovinham

    o

    calor

    da luz imoderados

    do sol:

    crculos u chuvasmanchadas e ferrugemelafora

    o

    sol,

    e cheias

    de

    loucura,

    aamdocu

    para

    nvenenar

    lgum.

    Um

    caador

    nescrupulosooderia

    -22-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    18/28

    Revista

    e

    Antropologia.

    o

    Paulo, SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    tomar

    oderosos

    enenos u

    encantaes

    e

    caa

    do

    urubu,

    a

    ferrugem

    o

    cu

    ou do centro o

    cu,

    todos

    plenos

    da violenta

    ora

    o

    sol,

    masseria

    nvenenado

    por

    esta

    fora

    brilhante

    entraria

    m

    um

    estadode

    parania

    de mau

    compor-

    tamento.

    No

    entanto,

    odas s

    foras

    rodutivas

    ram

    potencialmente

    alficas m

    uso. O deus

    criador estas

    foras

    rodutivas

    urante

    tempo

    mtico ra

    fisica-

    mente

    eio, ouco,

    mau

    e

    insensato m suas

    aes.

    A fonte

    e

    suas

    capacidades

    para usare traasformarecursos a terra cultivar,aar,cozinhar eram

    alucingenos

    enenosos ele concedidos

    ela

    deidade

    uprema

    e

    sob

    a

    terra.

    Ele

    igualmente

    sava os

    poderes

    enenosos o

    sol

    para

    aumentar

    fora

    e suas

    capacidades.

    Os

    poderes

    xtraordinrios

    ue

    criou

    nvenenavam

    onstantemente

    seas

    desejos sua

    vida dos

    sentidos )

    ,

    por

    este

    motivo,

    le

    foi

    o

    ser

    a-social

    arquetpico

    o

    tempo

    mtico,

    m

    predador

    canibal:nunca e

    casou,

    mas

    antes,

    jubiloso,

    ometeu incesto devorou eus

    afias

    potenciais.

    venenode

    seus

    poderes

    eio,finalmente,

    afetar

    odos

    s outros

    eusesdo

    tempo

    a

    criao.

    O

    tempo

    mticofoi um

    tempo

    de

    rpido

    desenvolvimento

    ecnolgico,

    quandoos meiospara uso dos recursos a terra oram riados, , devido ao

    veneno as

    foras

    ue permitiram

    sta

    criao,

    oi tambm

    m

    perodo

    rogres-

    sivamente aracterizado

    ela

    competio

    iolenta

    uanto

    propriedade

    a

    nova

    tecnologia

    dos recursos

    e

    que

    esta se

    utilizava.

    e,

    ao

    princpio,

    s

    deuses

    erammais ou menos

    apazes

    de,

    pacificamente,

    bter ais

    recursos

    as

    foras

    para

    atividade

    rodutiva or

    meio de

    casamento

    troca,

    stas

    foras

    oram-se

    tornando emasiado

    vrias e

    poderosaspara

    que

    os deuses

    dominassem ua

    potncia

    ,

    aos

    poucos,

    envenenaram

    vontade os

    desejos

    daqueles

    que

    as

    recebiam. om o

    passar

    do

    tempo,

    s

    caractersticase

    avidez,

    rrogncia,

    lera

    e

    luxria

    ornaram

    mpossvel manuteno

    e

    comunidade

    relaes

    nterco-

    munitriasacficas.Todos os deuses criadores omearam roubar , em

    seguida,

    matar

    elo

    acesso

    e

    propriedade

    e

    foras

    inda

    mais

    poderosas

    para

    traasformars

    recursos a

    terra; ,

    ento,

    omearam

    matar a

    canibalizar

    ela

    propriedade

    controle

    os

    domnios m si

    mesmos.

    Todas as

    relaes

    ulmi-

    naram m

    uma

    relao

    de

    predador

    presa,

    e

    a

    criao

    de

    uma

    comunidade

    pacfica

    ornou-se

    mpossvel.

    ste

    perodo

    riativo a

    histria

    indou

    uando

    todas

    as

    foras

    raasformacionais

    ara

    produo

    foram

    anadas

    deste

    mundo

    para

    uma

    nova

    e

    estvelmorada

    no

    espao

    celestial: ais

    poderes

    o

    aqueles

    alojados

    na

    segurana

    as

    caixas de

    cristal

    os

    deuses

    de

    hoje,

    cima

    discutidos.

    E

    muito

    ignificativoue

    os

    deuses

    etreos, elestiais, ue hoje possuemtodas estas

    foras

    produtivas,

    o tenham vidados sentidos

    ara

    ser assim

    -23-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    19/28

    OVERING,

    oanna.estticaa

    produo:

    senso e omunidade

    ntre

    sCubeoos

    Piaroa.

    envenenada. o

    podem, ortanto,

    sar

    os

    poderes ue

    possuem;

    o

    contrrio,

    com

    toda a

    fora

    e sua

    vida

    de

    pensamentos ,

    les os

    limpam

    embelezam.

    Um Piaroa

    que

    tenha omado os deuses

    foras

    rodutivas

    m

    excesso,

    lm de

    sua

    capacidade

    de

    domin-las,

    o ser

    capaz

    de

    limp-las

    e seu

    veneno

    e,

    portanto

    como

    se deu

    com

    o deus criador

    estes

    oderes

    ,

    depois,

    om todos

    os deuses criadores

    ,

    sua

    vida dos sentidos eria

    envenenada,

    le

    sofreria

    loucura e

    agiria

    a-socialmente.46or

    este

    motivo,

    s

    Piaroa

    insistiamna

    aquisio

    limitada

    gradual

    de

    poderes

    produtivos

    os

    deuses.

    E,

    por que

    o

    acesso a estes

    poderes

    riadoreshes era

    limitado,

    s

    Piaroa

    podiam,

    no

    tempopresente,riar manter comunidadeocial,feitompossvel araos seresdo

    tempo

    a

    criao.

    Na esttica

    Piaroa

    da

    socialidade,

    o

    lado social de

    limpeza,

    beleza e

    conteno

    todos

    sinais

    de

    domniodas

    foras

    produtivas

    nteriores

    era

    manifesto

    ela capacidade

    ndividual

    e

    manter

    m

    harmoniauas

    relaes

    om

    os

    outros. ste

    um

    povo que

    preza tranqiiilidade

    m

    um

    homem,

    maisdo

    que

    sua

    destreza a

    caa.

    Os

    aspectos

    -sociaisde

    sujeira,

    eira

    excesso

    sinais

    de

    foras

    rodutivas

    nteriores

    inda nvenenadas

    ela

    monstruosa

    violenta

    uz do

    sol -eramas

    qualidadesnegativas

    e

    oucura,

    videz,

    rascibilidade

    arrogncia,aspectosde carter ue os Piaroa mais abominavam.No se

    poderia

    viver

    socialmente

    m

    comunidade,

    no ser

    que

    se

    mantivesse

    ob

    controle

    s

    foras

    produtivas

    entro

    e

    si. Os

    Piaroa

    xplicitamente

    ssociavam

    xcesso

    no

    uso de

    recursos esta

    terra

    o

    poder

    poltico

    e

    social

    ilegtimo:

    s

    caixas de

    poder

    possudas elo

    deus

    criador

    ouco e

    malvolo,

    ue

    continhams

    foras

    ara

    usar

    tais

    recursos,

    ram

    hamadas

    as caixas

    de

    dominao

    tirania .

    Na teoria

    iaroada

    socialidade,

    ra

    a-social

    pessoa

    que

    tentava

    ominar

    seus

    vizinhos,

    ompetia

    om

    eles,

    os roubava

    at

    mesmo s

    comia.

    O

    incmodo

    dilema ntolgico omquesedefrontavamsPiaroa rao decomopreveniruetalocorresse a

    vida

    cotidiana,

    mavez

    que

    concebiam eus

    prprios

    meios

    de

    viver

    preencher

    ecessidades

    materiais

    omo

    habilidades

    asicamente

    reda-

    trias

    a

    habilidade de

    caar,

    cultivar,

    rocessar

    alimento

    para

    o

    comer

    civilizado

    , ainda,

    eproduzir).

    avia,

    portanto,

    m orte

    entido e

    violncia

    e,

    para

    les,

    feira)

    igado

    sua

    compreenso

    a

    categoria

    e

    capacidade

    produtiva.

    O

    esprito

    os

    cantos ,

    nterno

    o

    ruwang

    era

    tambm

    esprito

    a

    fome

    o

    esprito

    a

    respirao

    o

    aguar ,

    em

    omoo

    esprito

    o

    alucingeno,

    opo,

    m

    seu

    interior ra o

    esprito

    o

    combate .

    Em

    suma,

    poderes

    produtivos

    ram

    venenosas

    oras

    ransformacionaise

    predao

    ,

    enquanto

    ais,

    foras

    ara

    a

    conquista dominao eoutrem.

    -24-

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  • 8/10/2019 A Esttica Da Produo: o Senso de Comunidade Entre Os Cubeo e Os Piaroa - Joanna Overing

    20/28

    Revista

    e

    Antropologia.

    o

    Paulo,

    SP,

    .

    4,

    991,

    p.

    -33.

    O

    segundo

    dilema

    para

    os Piaroa era o de

    que

    as

    contas de

    vida,

    que

    continham onhecimento

    capacidades

    venenosos,

    ram

    tambm

    erigosas:

    eram a fonte

    ue

    investia

    indivduo

    de

    foras

    elvagens

    para

    a vida

    dos

    sentidos ,

    ue

    o

    capacitava

    respirar, uerer

    ono e

    gua, desejar

    alimento

    sexo.

    Tradicionalmente,

    s contas rnamentaisram eitas e um

    granitospecial

    que

    os Piaroa diziam ser

    o

    afloramento

    as

    fezes da deidade

    mais

    poderosa

    perigosa

    do

    universo,

    anta/sucuriju,uja

    morada

    ra

    sob

    a terra. ara sua

    utilizao

    segura

    e,

    portanto,

    ocial,

    tanto a vida dos

    sentidos

    quanto

    as

    capacidadesprodutivasinhame ser impas eseuperigo, ,por stemotivo,s

    deuses deram os

    Piaroa o

    poderpurificador

    a lua.

    Este

    poderpossibilitava

    livrar

    s

    contas

    a

    capacidade

    produtiva

    nteriorese

    seus

    respectivos

    eneno

    selvageria.

    Eis

    por que,

    a cada

    noite,

    o

    ruwang

    impava

    e,

    deste

    modo,

    embelezava

    uas

    contasde

    conhecimento as

    palavras

    de

    seus cantos:ele as

    livrava

    de sua

    selvageria

    de sua loucura

    enenosa,

    redatria.

    processo

    e

    limpar

    s contas a

    sujeira

    das

    fezes

    da

    anta/sucuriju,

    em

    omo

    o

    conhecimento

    produtivo

    o veneno o deus

    criador,

    s fazia

    belos.

    O conhecimentosttico

    ,

    pois,

    conhecimento

    rodutivo

    mbelezado

    ,

    emdecorrncia,ivilizado.A beleza da ornamentaoiaroaremetia em anto

    beleza das

    foras

    rodutivas

    entro e

    algum

    per

    se,

    mas ao

    domnio este

    algum

    obre stas

    foras.

    apacidades

    raasformacionaiso eram

    onsideradas

    belas,

    no

    ser

    quando impas

    de sua

    peonha

    de sua

    violncia

    redatria.

    quantidade

    e

    conhecimento

    nulava-se falta e cuidadosa

    maestria: o

    menos

    moralmente

    alando,

    ornava-seeia

    pessoa que

    tomava si

    habilidades

    rodu-

    tivas lm

    de

    sua

    capacidade

    e domin-las.

    O lado social da

    limpeza

    e

    embelezamento)

    ra

    o

    domnio

    ue

    o

    indi-

    vduo

    adquiria

    tanto obre sua vida dos

    sentidos

    uanto

    sobre suas

    capa-

    cidades produtivas,travs de outroaspecto,sua vida dos pensamentos ,

    tkwakomenae. vidados

    pensamentos

    tkwaru de

    um ndivduo

    feita e

    dois

    componentes,

    mbos

    provindos

    as

    caixas de cristal os

    deuses:47 ma

    parte

    era constituda

    elas

    foras

    produtivas ara

    a existncia

    material

    tkwanya);

    outra,

    elas capacidades

    ociais

    e

    pela

    inclinao

    moral

    ta'kwakomena).

    totalidade

    e tkwaru

    ambos, kwanya

    ta'kwakomena)

    ormaria

    conheci-

    mento sttico

    e um

    ndivduo.

    Tkwakomenae onferia

    capacidade

    de

    tomar ecises

    pessoais,

    era

    portanto

    escolha

    pessoal

    de

    um

    ndivduo

    al

    como este a desenvolvia:

    ao

    virtuosa mrelao os outros ra umaquestode decisopessoal.Umaglosa

    -25-

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    21/28

    OVERING,

    oanna.

    estticaa

    produfio:

    senso e omunidade