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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO SEBASTIÃO FERNANDES DANIEL A FORMAÇÃO RELIGIOSA REDENTORISTA INSERIDA NA PARÓQUIASANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO EM CAMPINAS Americana 2014

A FORMAÇÃO RELIGIOSA REDENTORISTA INSERIDA NA ... · biográfico, a pesquisa parte do memorial de vida e formação, acentuando os anos de 2001 a 2003, período no qual fui formado

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

SEBASTIÃO FERNANDES DANIEL

A FORMAÇÃO RELIGIOSA REDENTORISTA INSERIDA NA

PARÓQUIASANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO EM

CAMPINAS

Americana

2014

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

SEBASTIÃO FERNANDES DANIEL

A FORMAÇÃO RELIGIOSA REDENTORISTA INSERIDA NA

PARÓQUIASANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO EM

CAMPINAS

Dissertação apresentada como exigência para a obtenção do grau de Mestre em Educação Sociocomunitária à Comissão Julgadora do Centro Universitário Salesiano, sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Evangelista.

Americana

2014

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Catalogação elaborada por Lissandra Pinhatelli de Britto CRB8/7539 Bibliotecária UNISAL Americana – Campus Maria Auxiliadora

Daniel, Sebastião Fernandes. D186f A Formação Religiosa Redentorista inserida na Paróquia

Santo Afonso Maria de Ligório em Campinas / Sebastião Fernandes Daniel – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2014. 170 f. Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL/SP. Orientador: Prof. Dr. Francisco Evangelista Inclui bibliografia.

1. Redentoristas – Formação religiosa. 2. Educação sociocomunitária. 3. Pesquisa (auto) biográfica. I. Título. CDD 377

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SEBASTIÃO FERNANDES DANIEL

A FORMAÇÃO RELIGIOSA REDENTORISTA INSERIDA NA

PARÓQUIASANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO EM

CAMPINAS

Dissertação apresentada como exigência para a obtenção do grau de Mestre em Educação Sociocomunitária à Comissão Julgadora do Centro Universitário Salesiano, sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Evangelista.

Dissertação de Mestrado defendida e aprovada em 07/03/2014, pela

comissão julgadora:

__________________________________________ Profa. Dra. Regiane Aparecida Rossi/UNISAL

__________________________________________ Prof. Dr. Antônio Carlos Miranda/UNISAL

__________________________________________ Prof. Dr. Francisco Evangelista/UNISAL

Americana

2014

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À Gabriela Raeder da Silva Carneiro, por sua humanidade, sua acolhida e pelo

cuidado para comigo no ápice desses três anos de caminhada.

À minha querida madrinha, Maria Angélica de Souza, pelo carinho, pelo incentivo,

pela amizade, por sua vontade de viver e por seu querer sempre ousado e inovador.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por minha vida e vocação e pela demonstração de amor e carinho

nos pequenos gestos revelados no dia a dia.

À Congregação do Santíssimo Redentor, na pessoa do Pe. Luís Rodrigues

Batista, por acreditar em mim em tão árdua e significativa missão de contribuir na

formação de futuros missionários.

Ao meu pai, Sebastião Mateus dos Santos, pelo exemplo de homem justo,

honesto e trabalhador.

À minha mãe, Maria Antônia dos Santos, pela simplicidade, pelo amor, pelo

cuidado e pela fé e coragem.

Ao Professor Dr. Francisco Evangelista, pela orientação e pelo incentivo que

tornaram possível a conclusão desta pesquisa, fazendo jus às palavras de Vygotsky

(1999), o qual percebe o homem como um ser que raciocina e, também, se comove,

sente e se sensibiliza. Assim o vejo.

Ao Professor Dr. Carlos Antônio Miranda e à Professora Dra. Regiane Rossi

Hilkner, pela competência e colaboração neste trabalho e pelo crescimento que me

propiciaram.

À Professora Gisele Falcari Ramos da Silva, pela disponibilidade, pelo

comprometimento e pela eficiência profissional.

Na pessoa da Vaníria Felippe Tozato, a todos os funcionários e funcionárias

do Unisal – Campus Maria Auxiliadora de Americana, SP, pela acolhida e

profissionalismo.

Aos meus irmãos Sandra, Orlando, Fabiano, João Paulo e José Geraldo, por

estarem sempre ao meu lado e por me ajudarem a ser melhor.

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À amiga de todas as horas e companheira de trabalho, Adriana dos Santos

Silva Batagin.

Aos meus amigos Alessandra, Jefferson e Matheus, pela colaboração e

incentivo de sempre.

Aos jovens seminaristas do Seminário São Clemente, pela solicitude e

participação.

Aos professores do programa do Mestrado em Educação do Unisal, que

carinhosamente me acolheram e me ajudaram na construção deste aprendizado.

À Comunidade Religiosa Redentorista e Formativa de Campinas, pela

colaboração, apoio e motivação no processo da pesquisa.

Na pessoa do Pe. Antônio Carlos Barreiro, a todas as pessoas da Paróquia

Santo Afonso Maria de Ligório pela contribuição.

A todos que, direta ou indiretamente, viveram comigo este inestimável

momento, meu muito obrigado.

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“...Tu te tornas eternamente responsável

por aquilo que cativas...”

(Antoine de Saint-Exupéry,1940)

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RESUMO

Este estudo de caráter (auto) biográfico, que recorre à história oral, à imagem etnográfica, reflete sobre a formação religiosa Redentorista inserida na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, em Campinas. Devido a esse seu caráter (auto) biográfico, a pesquisa parte do memorial de vida e formação, acentuando os anos de 2001 a 2003, período no qual fui formado durante os estudos de filosofia e, agora, revisitado por meio de diversas lembranças. A partir de algumas dessas lembranças, das vivências com o grupo de seminaristas e com a nova concepção do ser humano hoje, recorri a este estilo literário (auto) biográfico como metodologia específica para o acompanhamento personalizado dos jovens, buscando atender às demandas das novas gerações vocacionadas. Como formador de futuros religiosos Redentoristas, analiso e reflito a respeito de dois lugares: a casa de formação (Seminário) e o campo de atuação pastoral (Paróquia). Dessa forma, tenho o privilégio de estabelecer o diálogo entre esses dois espaços de formação com a Educação Sociocomunitária, visto que, em um lado, tem-se a educação formal acadêmica, os estudos de filosofia e os diretórios de formação da Igreja e, no outro, a prerrogativa de estar num campo pastoral de educação não formal. Esse último espaço, que corresponde à Paróquia, por meio de suas lideranças, torna-se um local de educação social. O leitor perceberá de modo mais claro o método (auto) biográfico com as fascinantes narrativas das vidas de alguns dos seminaristas, o questionário aberto respondido por leigos da Paróquia, falando sobre suas ações pastorais e como eles analisam a formação dos futuros religiosos, bem como observando algumas imagens do trabalho apostólico e social desenvolvido pela comunidade Redentorista e pelos leigos das treze comunidades que constitui a nossa geografia de atuação pastoral na região do Campo Grande, local onde está concentrado um rico cenário da história de Campinas. Essa metodologia assumida por esta pesquisa perpassa desde as origens da Congregação Redentorista até a sua chegada em Campinas e conceitua comunidade sociorreligiosa à luz do Vaticano II e das comunidades eclesiais de base, constituindo, dessa forma, o perfil vocacional Redentorista. A fundamentação teórica tem como fontes a psicologia, a sociologia, a filosofia, a teologia, a pedagogia social, a antropologia e a educação sociocomunitária. Autores como Baumam, Buber, Bernardo Jablonsk, Vigostky, Daniel Bertaux, Josso, Maria Gohn, Rey-Mermet, Rino Fisichella entre outros ajudaram a olhar a realidade na qual a pesquisa se insere de maneira interdisciplinar e em harmonia dialógica com a finalidade e o objetivo do trabalho. Além da reflexão sobre a formação religiosa Redentorista, a pesquisa, também, apresenta a educação sociocomunitária como uma nova perspectiva de evangelização no campo eclesial. Palavras-chave: Educação Sociocomunitária, Formação Redentorista, Pesquisa (Auto) biográfica.

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ABSTRACT

This is an autobiographical study, verbal, ethnographical, and imagery stories are presented about the redemptorist religion education in the Saint Afonso Maria de Ligório Parish, in Campinas. Due to this biographical research, it comes from this memorial of life and formation during my philosophy education period - from 2001 to 2003 revisited through my memories. From some memories and living with a group of seminarian, and with a new conception of the human being today, I choose this literary biographical style as a specific methodology for the personalized accompaniment of the young, trying to attend the demands of new vocational generations. As a teacher of future religious Redemptorists, I have the privilege of being able to analyze and reflect about two places: the “school” (Seminary) and the parish activity field (Parish). This way, I have the previlege to be able to establish a dialogue between these two Social-Community Education places. On one hand, there is a formal academic education, and the study of philosophy and the Church guidance at the Seminar, and, on the other hand, the prerogative of acting in the pastoral field without a formal education. This last place, which corresponds to the Parish , through leadership, becomes a place for a social education. The reader will notice clearly how this happens after reading my background and my stories, the fascinating stories of some seminarians lives, the open questionnaire answered by Parish members, talking about their pastoral actions and how they analyze the formation of future clergy men, as well as observing the images of apostolic and social work developed by the Redemptorist community and by the thirteen communities that constitute our geography of pastoral activities in the region of Campo Grande, where a rich scenario of Campinas history is concentrated. The methodology of this work starts with the origin of the Redemptorist Congregation until its arrival in Campinas and conceptualizes the socio religious community in the Vatican II lights and the basic church communities, this way forming the Redemptorist vocational profile. The theoretical foundation has as sources the psychology, sociology, philosophy, theology, pedagogy, social anthropology and socio-community education. Authors such as Baumam, Heidegger, Bernardo Jablonsk, Vigostky, Daniel Bertaux, Maria Gohn, Rey-Mermet, RinoFisichella among others who helped me to look at the reality in which the research is presented in an interdisciplinary and dialogical harmony according to the purpose and objective of the work. Besides the religious redemptorist reflections, the research presents a socio-community education as a new perspective of teaching the gospel in the religious community fields. Keywords: Education socio-communitarian, Redemptorist Congregation, Autobiographical Research.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa da Região do Campo Grande – Campinas/SP ............................... 17

Figura 2 – Trabalho Pastoral na Região do Campo Grande ..................................... 65

Figura 3 – Comunidade Nossa Senhora de Guadalupe ............................................ 70

Figura 4 – Comunidade Jesus de Nazaré ................................................................. 71

Figura 5 – Evangelização .......................................................................................... 71

Figura 6 – Comunidade Frei Galvão ......................................................................... 72

Figura 7 – Comunidade São Luiz Gonzaga .............................................................. 73

Figura 8 – Pastoral da Criança .................................................................................. 73

Figura 9 – Comunidade Santíssima Trindade ........................................................... 74

Figura 10 – Comunidade São Sebastião ................................................................... 75

Figura 11 – Comunidade Nossa Senhora de Lourdes .............................................. 76

Figura 12 – Comunidade Nossa Senhora de Fátima ................................................ 76

Figura 13 – Comunidade Rainha da Paz .................................................................. 77

Figura 14 – Comunidade Nossa Senhora do Carmo ................................................. 78

Figura 15 – Comunidade Sagrada Família ................................................................ 78

Figura 16 – Comunidade São João Neumann .......................................................... 79

Figura 17 – Comunidade São Geraldo Majela .......................................................... 80

Figura 18 – Grupo de Mulheres ................................................................................. 84

Figura 19 – Celebração da Partilha ........................................................................... 97

Figura 20 – Projetos Sociais...................................................................................... 98

Figura 21 – Evangelização ...................................................................................... 115

Figura 22 – Trabalho dos seminaristas durante a Semana Santa junto ao povo .... 116

Figura 23 – Projetos Sociais.................................................................................... 123

Figura 24 – Pastoral da Criança .............................................................................. 126

Figura 25 – Fundação Santo Afonso – Projeto Social ............................................. 130

Figura 26 – Capacitação para o trabalho da Pastoral Social .................................. 133

Figura 27 – Pastoral da Juventude .......................................................................... 148

Figura 28 – Trabalho Pastoral ................................................................................. 151

Figura 29 – Renovar sonhos e esperanças ............................................................. 154

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1 Cor – Primeira Carta de Paulo aos Coríntios

1Jo – Primeira Epístola de João

At – Atos dos Apóstolos

CEBs – Comunidades Eclesiais de base

CIC – Catecismo da Igreja Católica

Cl – Epístola aos Colossenses

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CSSR – Congregação do Santíssimo Redentor

DA – Documento de Aparecida

Dt – Livro do Deuteronômio

Ex – Livro do Êxodo

Gn – Livro do Gênesis

Hb – Epístola aos Hebreus

ITESP – Instituto São Paulo de Estudos Superiores

Jo – Evangelho de João

Lc – Evangelho de Lucas

Lv – Levítico

Mc – Evangelho de Marcos

Mt – Evangelho de Mateus

PDV – Pastoris dabovobis

Pe – Padre, Sacerdote

PUC – Pontifícia Universidade Católica

RCC – Renovação Carismática Católica

Rs – Reis

Sl – Salmos

Tg – Epístola de São Tiago

Tt – Epístola a Tito

UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

CAPÍTULO I MEMORIAL DE FORMAÇÃO.............................................................. 20

CAPÍTULO II CONGREGAÇÃO DO SANTÍSSIMO REDENTOR ............................ 40 2.1 A vida de Santo Afonso Maria deLigório ............................................................. 44

2.2 Obras deSanto Afonso Maria de Ligório.............................................................. 48

2.3 Contexto Sociorreligioso...................................................................................... 49

2.4 Asinfluências que marcaram a formação e a missão de Afonso Maria de Ligório .................................................................................................................................. 51

2.4.1 Formação humana eespiritual ................................................................... 52

2.4.2 Formação humana epastoral .................................................................... 54

2.5 Instituição e carisma Redentorista ...................................................................... 58

CAPÍTULO III A COMUNIDADE RELIGIOSA REDENTORISTA EM CAMPINAS ... 62

3.1 Região Pastoral Campo Grande ......................................................................... 64

3.2 Paróquia Santo Afonso Maria deLigório .............................................................. 70

3.3 Finalidade da Comunidade Redentorista na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório ....................................................................................................................... 82

3.3.1 Evangelizar e deixar ser evangelizado pelo povo ..................................... 83

3.3.2 A contribuição da Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório na formação dos futuros missionários Redentoristas.............................................................. 85

CAPÍTULO IV VOCAÇÃO E MISSÃO DA COMUNIDADE.......................................88 4.1 Vocação humana..................................................................................................88

4.2 Vocação da comunidade diante da complexidade existencial dos indivíduos.....91

4.3 Vocação da comunidade em uma igreja dialogal..............................................100

4.4 Vocação da comunidade: a partilha do pão e da palavra..................................103

4.5 Vocação para novas comunidades de vida........................................................108

CAPÍTULO V OS CAMINHOS DA PESQUISA ...................................................... 116

5.1 Sobre a pesquisa autobiográfica ....................................................................... 119

5.2 A Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório como espeço de formação sociocomunitária.......................................................................................................122

5.3 Dialogando com as narrativas de vida dos seminaristas e o questionário respondido pelos leigos das comunidades .............................................................. 134

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5.4 O modelo de vida religiosa Redentorista proposto pelo questionário dos leigos e pelos documentos eclesiais..................................................................................... 142

Considerações finais e relevância desta pesquisa.............................................155

Referências Bibliográficas....................................................................................163

Anexos............... .................................................................................................... 170

Apêndices...............................................................................................................212

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INTRODUÇÃO

Deus me deu a vida com possibilidades de conhecimentos, superações e crescimentos, no caminho encontrei mestras e mestres, com esses caminhei

entre luzes e sombras1.

A motivação para esta pesquisa foi desencadeada a partir do trabalho que

desenvolvo como sacerdote formador em uma casa de formação religiosa

(Seminário), junto aos jovens que almejam serem futuros religiosos Redentoristas. O

presente trabalho refletirá como se dá a Formação Religiosa Redentorista, inserida

na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, na cidade de Campinas.

Se, por um lado, minha pretensão é buscar, por meio da pesquisa, como a

paróquia, representada por suas lideranças, pode contribuir para a formação dos

seminaristas, por outro, analisarei como continuar oferecendo a esses jovens um

jeito de formá-los, tornando-os sujeitos do processo de amadurecimento vocacional.

Minha formação, na etapa dos estudos de filosofia, foi feita em Campinas

durante os anos de 2001 a 2003. Dez anos se passaram e tudo mudou. O ser

humano daquele tempo, embora não muito distante, já não é o mesmo. Percebo que

as motivações que movem hoje os jovens a serem religiosos são bem diferentes.

Com isso, as maneiras de trabalhar com o povo nas comunidades, bem como as de

formar futuros religiosos também devem ser diferentes.

Tive uma formação sólida, bem delineada, com objetivos e metas a serem

cumpridos e sempre pautados pelos documentos da Igreja e da Congregação. Os

fatores externos, como o trabalho de pastoral junto às comunidades, tinham a sua

importância para nós seminaristas, porém, para a Instituição, não eram vistos com a

mesma relevância que se vê hoje, quando percebeu que os recursos do presente e

o modo de pensar a formação possibilitam oferecer maiores condições ao processo

de formação desses jovens.

Este trabalho, no decorrer de sua trajetória, busca refletir as seguintes

questões: como na missão de ser formador hoje, ajudar o jovem a integrar sua

formação acadêmica filosófica com a prática missionária Redentorista? Qual a

contribuição que as atividades pastorais, que são realizadas aos finais de semana,

1Por ser um trabalho autoral, as epígrafes que aparecem sem citação de autores, são próprias do

pesquisador (Sebastião Fernandes Daniel).

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podem oferecer para a preparação e a formação dos futuros missionários

Redentoristas?

A partir dessas reflexões, pretendo favorecer um diálogo entre a casa de

formação (Seminário) e a comunidade paroquial, a fim de estabelecer uma ligação

entre a educação formal acadêmica e a educação não formal, que acontece nas

vivências informais da própria casa de formação (Seminário) e no campo de atuação

pastoral junto às treze comunidades que formam a Paróquia Santo Afonso Maria de

Ligório.

Como objetivo mais específico, pretendo fundamentar a atuação pastoral da

comunidade Redentorista e da comunidade paroquial como educação

sociocomunitária, pois o espaço de pastoral proporciona educação, formação e

crescimento para os missionários e para as comunidades. A inserção desses jovens

no meio das comunidades é enriquecedora para o povo e para eles. Sobre esse

aspecto, assim descreve este documento da CNBB:

A formação pastoral possibilite o conhecimento das organizações e lutas sócias. A opção pelos pobres deve estar presente nos estudos e nas práticas pastorais, desenvolvendo assim a sensibilidade de pastor face ao sofrimento do povo. Embora fora de qualquer engajamento partidário, o candidato aprenda a reconhecer e incentivar os leigos em sua missão específica de trabalhar na defesa da vida e na transformação da sociedade. (DIRETRIZES PARA A FORMAÇÃO DOS PRESBÍTEROS DA IGREJA NO BRASIL, 2010, p. 149).

Embasado nessa citação, fica ainda mais claro que a prática pastoral pode

ser incluída e considerada como educação sociocomunitária. É esse olhar – a

Paróquia como agente de educação social – que quero oferecer como pesquisador

para a Congregação do Santíssimo Redentor2 e para os agentes de pastoral que

atuam em diversas áreas de trabalhos. Quero mostrar, também, o quanto este

trabalho, realizado em equipe, pode contribuir para a formação e a capacitação de

pessoas e grupos em prol de mais qualidade de vida para todos.

Entendo que, de modo geral, toda pesquisa se origina a partir da vida, da

necessidade, do aprimoramento profissional, da busca por novos horizontes ou de

2Congregação do Santíssimo Redentor, que tem como sigla (C.Ss.R), é o nome jurídico e oficial

dessa Instituição Religiosa. Porém, dois outros nomes se tornaram mais populares no mundo católico: Missionários Redentoristas e Congregação Redentorista. Sendo assim, esses três nomes aparecerão ao longo do trabalho em seus respectivos contextos.

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um sonho do pesquisador. Ela tem a pretensão de responder ou discutir uma

problemática, encontrar justificativas e alcançar objetivos por meio de uma

metodologia estabelecida.

Assim, este trabalho, além dos objetivos que foram citados, desenvolve uma

reflexão, a partir do Concílio Vaticano II e das comunidades eclesiais de base, sobre

um perfil religioso, especificamente o religioso Redentorista, sacerdote ou irmão3

consagrado, construído não só com os dados biográficos teóricos, mas com a

colaboração e a participação dos agentes de pastoral da Paróquia Santo Afonso

Maria de Ligório4.

Para tanto, como recurso metodológico de trabalho, recorri aos dados (auto)

biográficos, à história oral e à imagem etnográfica, a fim de, por esse parâmetro

literário, colocar em diálogo o memorial de formação e vida do pesquisador, as

narrativas de vida de sete seminaristas que se propuseram a colaborar com esta

pesquisa e as respostas a um questionário respondido por doze leigos da Paróquia

que atuam onde nós, Redentoristas, trabalhamos pastoralmente.

Desse modo, assumo como pesquisador um lugar mais propositivo que foi

vivido nessa trajetória de investigação enquanto fonte de conhecimento e de

produção. A opção metodológica perpassa as origens e o carisma da Congregação

do Santíssimo Redentor até a chegada dos missionários na cidade de Campinas.

Os referenciais teóricos como a psicologia, a sociologia, a filosofia, a

teologia, a pedagogia social e a antropologia iluminam, de modo interdisciplinar, o

campo de pesquisa. Autores como Dom Cláudio Hummes, João Bosco Oliveira,

Baumam, Buber, Bernardo Jablonsk, Vigostky, Daniel Bertaux, Josso, Maria Gohn,

Rey-Mermet, Rino Fisichella entre outros nos ajudarão a compreender melhor o ser

humano e a desenhar um perfil religioso a partir das necessidades do povo e da

proposta dos documentos eclesiais.

Apresentados esses elementos, compreende-se a importância desta

metodologia, bem como o questionário aplicado nas comunidades que serão fatores

enriquecedores, não para comparar os diferentes tempos vividos na casa de

formação (Seminário), mas para que a pesquisa possa agregar a educação

3 O Irmão Consagrado na Congregação do Santíssimo Redentor goza dos mesmos direitos e deveres

do Sacerdote. Recebe os votos de pobreza, obediência e castidade. Por uma opção de escolha de vida religiosa, o Irmão não recebe o ministério ordenado, exclusivo do sacerdote. 4 Por estar aos cuidados dos Missionários Redentoristas, a paróquia recebeu o nome do fundador da

Congregação, Santo Afonso Maria de Ligório.

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sociocomunitária como fator relevante para o aprendizado e para a formação dos

seminaristas Redentoristas e para os leigos da paróquia Santo Afonso Maria de

Ligório.

Pelo caminho que será percorrido, a pesquisa também mostrará que a religião

não é apenas um conjunto de crenças e práticas de rito litúrgico. Ela tem uma

relação efetiva e afetiva entre a fé celebrada em comunidade e a vida vivida na

família, nos locais de trabalhos, de estudos e de lazer. O ser humano de fé contagia

o outro, motivando-o e despertando-o para viver a vida da forma mais intensa. “Vós

sois o sal da terra [...] Vós sois a luz do mundo”. (Mt 5,13a-14a). Com essas

palavras, Jesus quis que seus discípulos de todos os tempos levassem em frente a

sua mensagem de amor e de esperança na construção de um novo mundo.

O ser humano experimenta, em sua existência, momentos de prazer e dor,

alegrias e tristezas: esses paradoxos são parte da vida humana. Esse processo

passa por uma aprendizagem que, muitas vezes, é subsidiada pela religião e, outras

vezes, por outros processos de aprendizagem fora da esfera religiosa. Assim, o

trabalho mostrará a contribuição da religião, ou seja, das pessoas que fazem a

experiência religiosa no percurso de sua existência relacional com o outro e com

outras pessoas e com a comunidade. Entre vários autores, Durkheim é um dos que

relata a relevância da religião na vida do crente:

O fiel que se pôs em contato com o seu deus não é apenas um homem que percebe verdades novas que o descrente ignora, é um homem que pode mais. Ele sente em si mais força, seja para suportar as dificuldades da existência, seja para vencê-las. Está como que elevado acima das misérias humanas porque está elevado acima de sua condição de homem; acredita-se salvo do mal, seja qual for a forma, aliás, que conceba o mal. (DURKHEM, 1996, p. 459).

Nesse sentido, o sujeito inserido numa comunidade eclesial encontra alguns

elementos que contribuem para o seu desenvolvimento humano. Como vamos

perceber ao longo da pesquisa, a fé leva as pessoas a saírem de si. Elas enxergam

a vida além de seus próprios limites e dificuldades. Tanto na vida do fundador da

Congregação, Afonso Maria de Ligório, como na vida de homens e mulheres que

contribuíram para a origem e o desenvolvimento das comunidades cristãs da região

do Campo Grande, houve um caminho de travessia permeado pela fé e pelo

compromisso comunitário e social.

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Segundo Beozzo (2011), a região do Campo Grande nos anos 1970 e 1980,

quando foi fundada a maioria das comunidades, era uma área de poucos moradores

e grandes descampados; atualmente, abriga mais de 150 mil pessoas. Grupos de

mulheres e de jovens, pastoral da criança, passeatas, mobilizações e campanhas

políticas contribuíram para a conquista da cidadania na vida social e política da

região e da cidade de Campinas.

Figura 1 – Mapa da Região do Campo Grande – Campinas/SP

Fonte: Google Maps - Acesso em: 12/12/13

Não pretendo, aqui, aprofundar sobre a importância da Região do Campo

Grande para a cidade de Campinas, em seus aspectos político, econômico, social,

cultural e religioso. Contudo, seria um equívoco não falar que esta

representatividade, em seus vários aspectos acima citados, tem contribuído para

colocar Campinas no rol nacional e internacional que a cidade vem ocupando de

modo progressivo, tanto no setor industrial como no comercial e no científico.

Sobre o posicionamento desta pesquisa, é importante ressaltar que tratam de

escritos propositivos ao diálogo, num exercício de busca por conhecimento e

produção sem desconsiderar as tantas vozes que os compõem: das leituras, das

imagens e dos participantes, bem como as dos diversos leitores que visitarão para

conhecer ou aprofundar o conteúdo oferecido em seus cinco capítulos.

O primeiro capítulo da pesquisa traz o memorial de formação do

pesquisador. Essa narrativa ajudará o leitor a compreender que a contribuição deste

trabalho parte de uma experiência de formação e vida. Esse capítulo discorrerá,

também, sobre meus três anos de formação em Campinas, período correspondente

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ao que os seminaristas estudam filosofia, e sobre as reais motivações que me

trouxeram ao programa de Mestrado em Educação.

No segundo capítulo apresento a Congregação do Santíssimo Redentor,

trazendo a história vocacional de seu fundador, Afonso Maria de Ligório, sua

trajetória de vida bem como a finalidade de fundar uma Congregação. Os aspectos

ressaltados da vida do fundador são de suma importância para se compreender um

dos objetivos proposto no trabalho, o perfil religioso Redentorista para os dias atuais.

Outro ponto em destaque será o carisma da Congregação, pensado como proposta

de vida para os mais pobres e abandonados. “Deus de tal modo amou o mundo que

enviou o seu único Filho, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo”. (cf. Jo

3,16). Afonso Maria de Ligório teve consciência que o reino de Deus revelado por

Jesus é para todos, mas quis preocupar-se com os mais carentes.

Discorro no terceiro capítulo sobre a Congregação Redentorista em

Campinas e os trabalhos pastorais disponibilizados pela comunidade missionária na

Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório e serão descritos os caminhos que foram

percorridos pelos Redentoristas até se chegar à região do Campo Grande. Esse

local será visto não só como um espaço de missão, que responde ao carisma da

Congregação, mas também como espaço de educação sociocomunitária para a

comunidade local e religiosa, principalmente para os seminaristas, com já dissemos

anteriormente. Desse modo, relata esta autora:

É importante registrar que os movimentos pela educação têm caráter histórico, são processuais e ocorrem, portanto, dentro e fora de escolas e em outros espaços institucionais. As lutas pela educação envolvem lutas por direitos e são parte da construção da cidadania. Usualmente movimentos pela educação abrangem questões tanto de conteúdo escolar quanto de gênero, etnia, nacionalidade, religiões, portadores de necessidades especiais, meio ambiente, qualidade de vida, paz, direitos humanos, direitos culturais etc. Esses movimentos são fontes e agência de produção de saberes. (GOHN, 2010, p. 71).

Entendemos que a comunidade paroquial, em suas diversidades de

trabalhos e projetos, deva participar do processo formativo dos futuros sacerdotes,

pois é para ela que esses estão sendo formados. Formar cidadãos éticos, ativos,

participativos, com responsabilidade diante do outro e preocupados com o universal

e não com o particularismo é missão de todas as instâncias educativas e formativas.

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Isso implica retomar as utopias e priorizar a mobilização e a participação da

comunidade educativa na renovação das gerações e na construção de novas.

No quarto capítulo reflito a formação de comunidade em seus aspectos

psicossocial, eclesial e teológico em uma perspectiva pós Concílio Vaticano II5.

Mostrará a influência das Comunidades Eclesiais de Bases (“CEBs”) na organização

e fundação das comunidades da Região do Campo Grande que constituem a

Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório e buscará, também, entender a origem e os

movimentos neopentecostais e as novas comunidades de vida que cada vez mais

vêm ganhando forças e agregando grande número de jovens.

Por fim, no quinto capítulo, analiso os dados do questionário e dos

memoriais de formação dos seminaristas em diálogo com diversos referenciais

teóricos, principalmente do campo das ciências humanas. Autores do campo da

psicologia, da sociologia, da filosofia, da teologia, da pedagogia social, da

antropologia e da educação sociocomunitária nos ajudarão a refletir sobre a temática

da pesquisa e alcançar os objetivos propostos.

O desejo e o querer são de construir um saber interdisciplinar que seja

capaz de dialogar com a realidade da casa de formação (Seminário) e com a

comunidade pastoral, apresentando, dessa forma, um perfil religioso Redentorista

que busque responder às exigências da contemporaneidade.

Para Josso (2006), trabalhar sobre relatos de histórias de vida no campo das

ciências humanas e na interpretação interativa com seus autores é uma revolução

metodológica que constitui inovações nas pessoas e nas instituições. Com isso, a

formação religiosa Redentorista, inserida na Paróquia Santo Afonso Maria de

Ligório, em Campinas, é um processo feito e a ser feito.

Portanto, percebe-se que esta pesquisa não terá a pretensão de reunir

elementos convincentes para esgotar a temática em questão ou responder essa

demanda. Ela quer dar sua contribuição para o crescimento humano e institucional a

todos os envolvidos de modo direto ou indireto e abrir novos caminhos no campo da

pesquisa para que este tema seja visitado e estudado por outros olhares, uma

pesquisa sempre é objeto de pesquisa, sendo assim, inesgotável.

5O Concílio Vaticano II, considerado o grande evento da Igreja Católica no século XX, foi convocado pelo Papa João XXIII. Realizou-se entre os anos de 1962 e 1965. Foi um Concílio Ecumênico sobre uma reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo. O Papa entendeu que a Igreja necessitava ler os “sinais dos tempos” à luz da Palavra de Deus e atualizar-se, buscando responder a demanda do ser humano e do mundo contemporâneo. (cf. p. 8.39.144 Compêndio do Vaticano II).

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CAPÍTULO I – MEMORIAL DE FORMAÇÃO

“Longe é um lugar que não existe.”

Richard Bach

Com essa epígrafe, começo narrando a minha história e você, caro leitor, irá

compreender o sentido dessa frase na minha vida, no decorrer deste capítulo. Nasci

em Cambuí, pequena cidade do sul de Minas Gerais, cercada pelas belas

montanhas da Serra da Mantiqueira. Fui criado e cresci em um Bairro que se chama

Pinhalzinho – Município de Paraisópolis, também Minas Gerais. Lá, o sertanejo

desperta com o cantar do sabiá, o sol surge despertando o dia e a lua beija os

montes no colo da noite.

Ao ler estas linhas, saberá que, como você, tenho uma história. “Quando

escrevemos livremente estamos, então, esculpindo a nossa vivência, a nossa

experiência humana na trajetória de luzes e sombras que nos vai desenvolvendo”.

(BARBOSA, 1991, p. 11).

Compreender a trajetória deste pesquisador, meus reais sonhos e as

motivações que me trouxeram ao mestrado de educação é reunir elementos para

melhor compreender esta pesquisa, pois ela tem a pretensão de colaborar na

formação de um grupo de jovens vocacionados à vida religiosa Redentorista. São

rapazes que estão cursando a faculdade de filosofia.

Ao escrever este memorial de formação, reporto-me aos fatos e

acontecimentos que marcaram a minha historicidade e, ao mesmo tempo, tenho a

oportunidade de ver de outro lugar a minha trajetória de vida até este momento.

Creio que este memorial me ajudará a ressignificar esses acontecimentos, dando, a

essa história, um novo sentido.

Sou filho de uma família simples de lavradores do sul de minas. Meu pai

trabalhou 36 anos em uma fazenda lidando com gado. Minha mãe sempre trabalhou

no lar, cuidando da casa, do marido e de seus seis filhos que aparecem na ordem

crescente: José Geraldo, João Paulo, Fabiano, Orlando, Sandra e Sebastião. Sou,

portanto, o primogênito do casal Sebastião Matheus dos Santos e Maria Antônia dos

Santos.

Pertencente a uma família católica praticante, comecei a degustar das

palavras da ave-maria, do pai-nosso e de outras orações de piedade popular no colo

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de minha mãe. Desde muito cedo, entrei em contato com os missionários

Redentoristas, visto que, uma vez ao ano, íamos à Aparecida, SP, como romeiros de

Nossa Senhora. Essa romaria continua sendo cultivada em minha família e na minha

comunidade de origem até os dias atuais.

Outros meios de contado com os missionários foram a Rádio Aparecida e as

missões populares pregadas por eles em nossa comunidade e em outras vizinhas.

Faço referência à minha mãe e a meus avôs maternos como pessoas cultivadoras e

influenciadoras de minha vocação à vida religiosa Redentorista.

Em 1976, iniciei os estudos do primário em uma escola rural do bairro mais

próximo de onde morávamos. Todos os dias eu caminhava a pé quatro quilômetros,

dois de ida e dois de volta. Ir à escola, conhecer outras pessoas e fazer amizades

era novidade para mim que somente vivia próximo da família.

Foi um momento muito difícil, pois eu era muito tímido e ter que conviver

com outras crianças e pessoas não era nada fácil, a vergonha tomava conta de tudo.

A vontade era de desistir, mas o tempo foi remédio e aprendizado, aliás, continua

sendo. Logo fiz algumas amizades, entre elas o meu melhor amigo, Valdemir, filho

da dona “Ditinha”, que foi a minha primeira professora.

Em 1979, iniciei a quarta série do primário em outro bairro, há seis

quilômetros de minha casa, aumentando, com isso, a distância. Eram doze

quilômetros a serem percorridos todos os dias, na maioria das vezes a cavalo, mas,

em dias de chuva e frio, a pé. Era a escola mais perto que possuía quarta série.

Aquele menino tímido já havia quebrado algumas barreiras e outras estavam por vir.

Durante o último ano de primário, comecei a tomar gosto pelos estudos.

Porém, ao concluir aquela etapa, apenas com dez anos, sem ter mais como

prosseguir estudando naquele momento, comecei a trabalhar ajudando meu pai na

pecuária e na agricultura.

Essa era a nossa realidade e a de muitas outras famílias de lá: as crianças

que tinham melhores condições econômicas continuavam os estudos na cidade, as

de famílias pobres precisavam trabalhar e ajudar no sustento do lar. Eu, sendo o

filho mais velho, senti bem cedo a responsabilidade de ajudar meu pai, embora, até

hoje, não entendo como ajudava, afinal, além de ganhar muito pouco, não via o

dinheiro, pois ele era acrescentado no salário do meu pai no final do mês.

No final daquele ano de 1979, restou-me o sonho de um dia retornar aos

estudos. Sonhava em ir morar na cidade grande, arrumar um emprego que me

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proporcionasse uma melhora de vida e, com isso, poder ajudar a minha família. E

isso veio a acontecer nove anos mais tarde, depois de muitas lutas, muitos

sacrifícios e rupturas.

Nesse período, um pouco mais desinibido, comecei a ter um contato maior

com minha madrinha, Maria Angélica. Quando ela nos visitava, falava que eu

deveria ir morar em uma cidade grande quando completasse 18 anos, para trabalhar

e estudar. Eu a admirava muito; ela havia se formado na Faculdade Federal de

Alfenas, MG, morava e trabalha em São Paulo.

Ainda no período do primário, lembro-me, também, das aulas de catequese.

O método perguntas e respostas, como por exemplo: “quem é Deus? Deus é amor”,

desafiava a criançada. Isso já bastava para a catequista. Não se questionava nada e

não se perguntava nada a mais das perguntas já formuladas pelas apostilas.

Passava-se a impressão de um Deus todo onipotente e intocável. Na minha

fantasia de criança, passava a imagem de um Deus muito bravo, juiz e controlador.

Um velhinho sentado no trono julgando os atos dos seres humanos em bons e

maus. Essa ideia era reforçada pelos pais e pelas autoridades.

Como se sabe, as pequenas cidades de interior, em sua maioria, são

fortemente caracterizadas pelas devoções populares religiosas. Ainda é viva em

minha memória a reza do terço todas as noites em família e as histórias contadas

em torno do fogão à lenha, o rádio à pilha e a luz do lampião.

Que doces lembranças do mês de maio, das rezas comunitárias na

capelinha do bairro! No mês de junho, havia as festas de Santo Antônio, São João e

São Pedro com leilão, prenda, fogueira e dança no salão.

Foi nesse aconchego familiar e comunitário que cresci, com dificuldades e

com alegrias. É assim, a vida é construída em meio às labutas, às vitórias e às

dificuldades existências. Até por isso, muitas pessoas gostam desse ditado de

sabedoria popular: “Deus ajuda quem cedo madruga”.

Em cada região existem os aspectos culturais, seus costumes e crenças.

Onde cresci, a religião católica tradicional exercia bem mais influência do que hoje;

os pais transmitiam aos filhos, com muita intensidade, as doutrinas e os

mandamentos da Igreja. A religião era alicerce de valores cristãos, conduta ética e

moral e, também, utilizada como pedagogia disciplinar.

Com isso, não estou fazendo aqui nenhum juízo de valor, muito menos

questionando se era certo ou errado, apenas contextualizando uma metodologia de

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formação religiosa comum nas famílias, na escola, na igreja e na comunidade. Era o

jeito de educar de uma época, os pais tinham orgulho em ver seus filhos seguindo

seus bons exemplos e conselhos como, por exemplo, a humildade, a honestidade, o

ser trabalhador ou trabalhadora.

Era um tempo em que sim era sim e não era não. A ordem dos pais ou de

alguém que exercia a função hierárquica de superioridade era para ser,

simplesmente, obedecida e não questionada. Para realizar algum negócio, os mais

novos sempre consultavam os mais velhos, que tinham a sabedoria popular e, por

isso, credibilidade e liderança.

Os anos vividos na roça ajudaram-me muito, pois pude trabalhar,

amadurecer mais e estar mais preparado para superar obstáculos. Por outro lado,

aquele pequeno mundo não possibilitou uma visão mais ampla sobre outros

aspectos da vida, por exemplo, uma visão sobre economia e política. Parece que

vivíamos alheios a essas realidades, inclusive da nossa própria realidade municipal.

Essa alienação vivida pelo povo da zona rural e das pequenas cidades

contribuía para vereadores e prefeitos exercerem seus cargos sem serem cobrados,

pois ninguém ousava questionar, reivindicar os direitos. Com isso, a situação do

povo sempre permanecia precária. Lembro-me de que no período de eleições

algumas pessoas ganhavam tijolos, sacos de cimentos e tinham até aquelas que

ganhavam cesta básica. Para o povo, isso era obrigação dos candidatos a

vereadores e prefeito. Os principais cabos eleitorais eram os fazendeiros, os quais

se beneficiavam dos votos de seus empregados.

Em 1990, imbuído por aquele sonho de alçar novos horizontes, retomar os

estudos e fazer outras experiências de trabalho, mudei-me para São José dos

Campos, SP, onde residi por dez anos. Meu amigo Valdemir havia mudado para a

mesma cidade em 1989 e ajudou a despertar o sonho ou a sementinha plantada por

minha madrinha, mas que havia adormecido em mim com o passar do tempo.

Não foi fácil para mim e nem para a minha família essa mudança, porém

possível. A dor da despedida parecia que partiria o meu coração, mas eu precisava

levantar voos e conquistar outros espaços. Senti muitas dificuldades no início da

nova vida na cidade grande, mas, aos poucos, fui me adaptando, superando os

desafios e me sentindo em casa. O sonho nos leva a remover montanhas.

Em São José dos Campos, comecei a me inteirar de modo mais amplo e

claro da realidade. Durante os dez anos em que lá morei, trabalhei e estudei, estive

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comprometido com a Igreja o que, aos poucos, contribuiu com meu

comprometimento com a vida social do povo. Fui tomando consciência de que a

oração deveria estar acompanhada de ação concreta, principalmente em favor dos

mais necessitados. Ainda criança, ouvia meu avô dizer: “a fé sem obra é morta”. Só

mais tarde passei a entender isso. (cf. Tg 2,26).

De vez enquanto, aos finais de semana, eu ia visitar minha madrinha Maria

Angélica em São Paulo. Ela soube, sutilmente, mostrar-me e introduzir-me no

mundo dos livros. Falava-me dos romances que havia lido, de seus filmes preferidos

e de seus autores; conhecia um pouco sobre algumas linhas humanísticas,

principalmente relacionadas à filosofia, embora sua área fosse biofarmácia. O

primeiro livro que li, “Longe é um lugar que não existe” do escritor norte-americano

Richard Bach, havia ganhado dela.

Dos dez anos que morei em São José dos Campos, trabalhei por um mês

como servente de pedreiro, oito anos e meio em uma fábrica de tecido (Tecelagem

Paraíba) e um ano e meio em uma multinacional (Johson Controls). Do primeiro

trabalho, lembro-me da roupa suja de cimento e daquelas pessoas lutando para

ganhar o pão e contribuindo na construção e expansão da cidade; do segundo, das

amizades, do ambiente saudável de trabalho e das greves para aumento de salário

e direitos trabalhistas; do terceiro, do razoável salário, das promoções e das

competições de encargos entre funcionários. Não foi fácil, mas foi naqueles

ambientes que realizei o meu sonho de menino: trabalhar, estudar, melhorar de vida

e ajudar minha família.

Nesse período, participei de várias pastorais sociais e movimentos na igreja.

A vida de comunidade sempre falou forte em minha vida. Nesse novo momento de

minha caminhada, a visão de mundo já era outra. A vida da cidade, com seus

desafios, fez-me crescer. A participação na vida da igreja levou-me a reconstruir a

imagem de Deus – Ele já não era juiz e castigador, e sim amor e justiça e contava

com a participação do ser humano na obra de Sua criação. (cf. Gn 2,26-28).

Os estudos do ginásio, do colegial e a participação ativa na catequese

paroquial proporcionaram-me um olhar de criticidade sobre o mundo e os

acontecimentos da sociedade. Na catequese, era trabalhado o método ver, julgar e

agir, que tinha se tornado célebre nas lutas populares de resistência à ditadura

militar e sobre as injustiças.

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A evangelização catequética acontecia a partir da realidade das pessoas. A

Igreja se posicionava de modo mais contundente do que hoje nos temas em pauta

da sociedade, sobretudo a respeito da exploração dos países mais desenvolvidos

em relação aos países de terceiro mundo. Era mais explícita a ação evangelizadora

em prol da justiça e da paz. Assim diz as Conclusões da Conferência de Medellín -

1968:

A busca cristã pela justiça é uma exigência do ensinamento bíblico [...] Cremos que o amor a Cristo e aos nossos irmãos será não só a grande força libertadora da injustiça e da opressão, mas também e principalmente a inspiradora da justiça social, entendida como concepção de vida e como impulso para o desenvolvimento integral de nossos povos. (MEDELLÍN, 2010, p. 48).

Em 1998, a comunidade São José Operário, no Bairro Vila Paiva onde eu

residia, passou a ser a matriz da nova paróquia. Como eu já vinha acompanhando a

pastoral da catequese, o grupo de catequista confiou a mim a coordenação dos

trabalhos catequéticos. Entre vários desafios, o mais preocupante era o fato de que

não tínhamos lugares, espaços para os grupos de catequese se reunirem.

Com todo desconforto do primeiro momento, aquela realidade marcou

nossas vidas e experiência de catequistas, começamos a realizar os encontros em

algumas casas dos próprios catequistas e de alguns pais dos catequizandos. Com

isso, nós conseguimos envolver as famílias na catequese e passamos a ampliá-la a

essas famílias. Sentimo-nos, dessa forma, motivados e apoiados pelos pais. Hoje,

temos a igreja falando em redes de comunidades e fico contente em saber que na

década de 1990 nós já vivíamos essa experiência. O documento da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil “Comunidade de Comunidades uma nova Paróquia”

diz:

A comunidade menor favorece os valores do relacionamento interpessoal. Procurar criar novas comunidades a partir de grupos que se reúnem para viver a sua fé, alimentar sua espiritualidade e crescer na convivência. (CNBB 104, 2013, n° 213, p. 79).

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Essa vivência foi muita significativa para todos os envolvidos, principalmente

para o grupo de catequistas, pois percebíamos que estávamos proporcionando algo

novo para aquela realidade de igreja. Outro ponto motivador, sobretudo para as

crianças e adolescentes, eram os festivais musicais e as gincanas competitivas,

momentos em que eles expressavam seus talentos e criatividades.

Sem dúvidas, posso dizer que, mesmo sem conhecer e saber que existia de

modo muito novo na educação no Brasil a educação sociocomunitária, as gincanas,

os musicais com adolescentes e jovens, os teatros espontâneos apresentados às

famílias uma vez por mês e os temas sugeridos e trabalhados com os pais já

estavam agregados dentro desse jeito social de aprender, educar e formar.

Em 1997, durante uma palestra vocacional feita por um missionário

Redentorista, Ir. Viveiros, senti-me chamado para a vida religiosa. A palestra

aconteceu no colégio onde eu estava cursando o segundo colegial, na Escola

Estadual Primeiro e Segundo Grau “YochyaTakaoka”. Foram sete anos de estudo

naquela escola: bons tempos, de eternas saudades. Hoje, vejo como opções de vida

as escolhas que fui fazendo a partir daquilo que me fazia sentir realizado; penso,

também, que a escolha profissional é um processo.

Em 1998 e 1999, participei também como membro ativo do sindicato dos

trabalhadores da linha têxtil. Tínhamos o trabalho de conscientizar os operários de

seus direitos e deveres e buscar melhorias justas e maior segurança no trabalho

para os trabalhadores junto às empresas.

Nesse mesmo período, fui membro ativo no grêmio estudantil da escola

onde estudava e, por dois anos, estive a serviço da coordenação. O grêmio era

responsável, junto com a diretoria da escola, pelos eventos que aconteciam e

também promovia debates de diversos temas relacionados à área da educação.

Entre a nossa juventude ativa na sociedade, existia uma pergunta que não

se calava: qual o papel da juventude? Nós sentíamos que podíamos transformar o

mundo. Esta era a motivação. Embora utópica, manteve-nos sempre em busca de

mais dignidades.

De 1998 a 1999, como catequista, fiz, no seminário diocesano, um curso de

teologia para leigos que me possibilitou um novo olhar sobre a evangelização, um

novo modo de compreender o que é ser igreja. Esse curso me trouxe maior

inquietação existencial, cada vez mais eu sentia a necessidade de buscar

conhecimento teológico para prática pastoral e para o discernimento vocacional.

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Em dezembro de 1999, através do meu primo Benedito Ferreira, hoje padre,

conheci duas comunidades Redentoristas em São Paulo, ambas na periferia: uma

próxima ao Terminal Rodoviário de Tietê e a outra na zona leste da capital, Cidade

Tiradentes. Conhecendo melhor o carisma dos missionários Redentoristas, senti-me

motivado a ingressar na Congregação do Santíssimo Redentor.

O trabalho pastoral que a comunidade Redentorista realizava junto às

comunidades carentes era o que eu estava buscando. Algo que continuaria aquilo

que eu já vinha fazendo, de alguma forma, como leigo engajado na comunidade.

Pude perceber também que os missionários eram bem próximos do povo, um modo

diferente de ser.

Os estudantes, tanto os de filosofia como os de teologia, além dos trabalhos

espirituais, exerciam trabalhos sociais junto ao povo, procurando integrar os estudos

acadêmicos e os trabalhos pastorais. Aquilo me chamou atenção e hoje posso dizer

que era o perfil religioso que eu estava buscando.

A Igreja vivia ainda, nesse período, uma influência forte da teologia da

libertação, principalmente algumas congregações religiosas, inspiradas em

personalidades de grandes referências, como Dom Paulo Evaristo Arns, o saudoso

Dom Luciano Mendes e Dom Helder Câmara, bem como os teólogos Gustavo

Gutiérrez, Francisco Catão, Leonardo Boff e Frei Betto, estes dois últimos

influenciaram minha maneira de pensar comunidade e igreja. Na Igreja, vivia-se o

tempo das chamadas comunidades inseridas. Isso era requisito vocacional,

motivação para jovens que se identificavam com essa proposta de igreja.

Nesse mesmo ano, participei dos encontros vocacionais na casa dos

Redentoristas no Bairro do Ipiranga, em SP. Movido pelo jeito simples e alegre dos

missionários, deixei meu trabalho, meus familiares e amigos com o ideal de ser um

dia um missionário Redentorista. Na época, eu estava cursando o primeiro ano de

faculdade sobre Segurança Industrial na UNIVAP (Universidade do Vale do Paraíba)

em São José dos Campos, SP. No ano de 1999, havia feito um curso pré-vestibular

e um curso de computação básica.

Minha ida para o seminário não foi fácil, pois tive de deixar a casa onde eu

morava, um irmão mais novo que morava comigo, um terreno pronto para

construção, conta bancária e talão de cheques. Para mim, que havia chegado sem

nada, significava deixar muita coisa. Naquele momento, deparei com aquele

chamado do Mestre de Nazaré aos irmãos pescadores, Simão e André, ao dizer

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“Vinde em meu seguimento, e farei de vós pescadores de homens”. Eles, deixando

logo as redes, seguiram-nO. Um pouco mais adiante, viu os irmãos Tiago e João,

que estavam consertando as redes. Logo os chamou. E, deixando no barco seu pai

com os empregados, partiram em seu seguimento. (cf. Mc 4,16-20).

Meu ex-chefe conhecia a minha vida, a minha luta e talvez até por isso não

quisesse me mandar embora, lembro-me de que me disse: “Não vou contribuir com

tamanha loucura, mas se acaso se arrepender saiba que enquanto eu estiver aqui

você tem o seu lugar”.

Com essas palavras barulhentas em meus ouvidos, assinei a minha

demissão e despedi-me dos amigos. Eu gostava de trabalhar nessa fábrica, era um

ambiente gostoso e uma empresa que possibilitava crescimento aos funcionários,

mas eu precisava seguir o meu caminho.

Entrei para o seminário Redentorista em fevereiro de 2000, na cidade de

Sacramento, MG. No primeiro dia do mês, acompanhado por um amigo, Eduardo

Rosa, meu conterrâneo do sul de Minas Gerais, cheguei de madrugada na nova

morada. Ali iniciava uma nova etapa em minha vida.

O grupo de seminaristas era composto por dezenove jovens, provindos do

Estado de São Paulo e de Minas Gerais. O ano de 2000 foi um tempo de adaptação

e de novas experiências, pois eu estava acostumado com as atividades pastorais,

com as lutas sociais junto ao povo e, naquele momento, estava apenas em meios

aos livros do seminário que também eram de suma importância para a minha

formação.

A realidade da Igreja de Sacramento, MG, era bem diferente da que eu

vinha. Nossa atuação pastoral nas comunidades era mais de presença aos sábados

e domingos. Não tínhamos uma atividade pertinente nos movimentos pastorais. Para

quem estava acostumado a fazer coisas e movimentar grupos e pastorais, foi um

ano difícil, porém, de novos aprendizados.

A proposta do seminário era vida em comunidade, pastoral, estudo e

preparação para o vestibular no curso de filosofia. Para os seminaristas que não

tinham experiência na vida pastoral, estava tudo muito bom e era novidade, mas

para os que já exerciam algum tipo de experiência nas comunidades de origens,

precisavam de paciência e nova maneira de entender aquele momento, era um novo

jeito de fazer pastoral e de ser igreja.

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Após seis meses de caminhada junto à comunidade, já tínhamos

conquistados novos espaços, não éramos somente presença nelas e sim havíamos

conseguimos exercer algumas atividades de auxílio na catequese, na pastoral da

criança e na liturgia. Aos poucos, fomo-nos sentindo parte da vida daquela boa

gente mineira. Isso me motivava vocacionalmente a continuar.

As dimensões de vida no seminário eram as mesmas de hoje: vida

comunitária, desenvolvimento intelectual, amadurecimento humano, pastoral

missionária, amadurecimento vocacional e vida espiritual. No entanto, devido ao

contexto da época, o grupo de seminarista não tinha voz ativa nas decisões, nas

avaliações e nos planejamentos da comunidade interna, as decisões já eram pré-

estabelecidas ou estabelecidas, era o jeito de formar de uma época.

A metodologia da formação, em muitas situações, não prezava pelo diálogo

e sim pela autoridade. Era apresentado o propósito formativo da Congregação de

modo quase que fechado, se alguém não sentisse dentro daquele projeto, parecia

que não conseguiria ver possibilidades de ser religioso naquele grupo específico.

Posto isso, não estou generalizando os processos de formação em casas de

formação e seminários, apenas sinalizando algo que eu vivi e que hoje muito me

ajuda como formador.

Os formadores tinham boas intenções de formar pessoas pensantes, que

viessem a contribuir, positivamente, de algum modo na vida da sociedade, naquela

ou em outra escolha vocacional. Mesmo com alguns limites concretos, sempre achei

positiva a forma como era apresentada a finalidade do seminário: formar pessoas

humanas e, assim, contribuir para que a sociedade tivesse mais pessoas

preparadas para assumir funções e atividades que promovessem a vida.

Naquele tempo, há treze anos, jamais sonharia que um dia eu viesse a ser

formador nessa Instituição Religiosa. Treze anos mais tarde, aqui, vejo-me falando

de formação da vida religiosa Redentorista para jovens. Os tempos são outros,

muitas coisas mudaram. Estamos vivendo outra geração, outra maneira de pensar a

formação.

Em 2001, iniciei os estudos filosóficos na PUC-Campinas. Nossa casa,

comunidade filosófica São Clemente, estava situada no Jardim Novo Campos

Elíseos. Durante os três anos de filosofia, exerci as atividades pastorais aos finais de

semana na comunidade São Sebastião, Paróquia Santa Luzia.

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Era hora de nova adaptação, o pequeno mundo da cidade de Sacramento,

MG, que ainda rondava o meu imaginário, dava espaço a uma nova maneira de

conceber uma cidade grande totalmente desconhecida. Ainda eu não sabia, mas o

sonho que viera em meu coração era bem maior que os desafios que viriam pela

frente.

No primeiro dia que cheguei a Campinas, percebi que de fato a vida que eu

estava assumindo exigia muita renúncia material e humana. Muitas coisas eu trazia

em minha bagagem e no pequeno quarto dividido com mais dois colegas não cabia

nem a metade da mudança. Pensei em desistir, mas pensei também nestas palavras

de Jesus: “Se alguém quer vir em meu seguimento, renuncie a si mesmo, tome a

sua cruz e siga-me”. (Mt 16,24b).

Os estudos filosóficos me ajudaram a largar o pensamento. No primeiro dia

de aula, uma frase dita por um dos professores me chamou a atenção. “Conhece-te

a ti mesmo”. Esta frase de Sócrates que viveu entre os anos (469 a 399 a.C) do

Oráculo de Delfos, sem dúvidas, convidava-me a mergulhar no mundo dos filósofos

e no mais profundo do meu próprio ser. Eu percebia que outro mundo descortinaria

em frente, mas esse novo mundo exigia também um novo nascimento.

A filosofia, de fato, é uma arte, uma sabedoria, não só pela beleza da

reflexão, e sim, muito mais, pelos questionamentos pessoais e pela nova forma de

conceber a vida e o mundo. Ela proporciona um novo viver, uma nova maneira de se

enxergar o mundo, o ser humano e de se relacionar com as pessoas e com o

universo.

Lembro-me, também, desta frase de Heráclito que viveu aproximadamente

entre (549-470 a.C):“Ninguém se banha duas vezes na mesma água de um rio”.

Pode-se dizer que as águas passam, a pessoa muda, pode até se banhar

novamente no mesmo rio, mas nem a água e nem a pessoa são as mesmas. Em se

tratando de vida, nada é para sempre, tudo muda e tudo se transforma.

A filosofia me ajudou a repensar a forma de atuação na pastoral. No

decorrer de três anos, refiz meu modo de atuar na pastoral. Aprendi muito com as

lideranças, com o povo e pude também contribuir para o crescimento pessoal e

comunitário das pessoas e da comunidade.

De modo mais singular, durante os anos de seminário em Campinas,

trabalhei com a pastoral catequética, ajudando na formação de catequistas. A Igreja

de Campinas, com sua caminhada histórica, sempre foi e será uma grande mestra e

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pedagoga na formação de leigos engajados e seminaristas, futuros religiosos e

sacerdotes.

A área de atuação pastoral na qual atuava a comunidade Redentorista era

oriunda das comunidades eclesiais de base, ou seja, pequenas comunidades. Os

formadores demonstravam serem pessoas religiosas com grande zelo apostólico

junto ao povo. Isso não só me motivou a continuar caminhando como contribuiu para

minha formação humana e religiosa.

Ao término de 2003, recebi o título de bacharel em Filosofia pela PUC-

Campinas. Minha monografia foi sobre a “Virtú em Maquiavel”. O gosto pessoal pela

política me fez buscar maiores conhecimentos sobre esse tema. A principal obra que

fundamentou a pesquisa foi “O Príncipe” de Maquiavel.

Nessa obra, percebe-se que a principal virtude de quem governa ou de um

determinado partido político é a de conservar-se sempre no poder. Pensamento

contrário ao proposto por Jesus: “Assim o Filho do Homem veio, não para ser

servido, mas para servir e dar sua vida em regate pela multidão”. (Mt 20,28). Esse

trabalho foi de suma relevância para eu poder compreender um pouco mais sobre

política e seu universo.

Durante o tempo de filosofia, tive dois formadores: o Pe. Vinícius Geraldo

Ponciano, nos dois primeiros anos, e o Pe. Marcelo Conceição Araújo, no terceiro.

Os desafios fazem parte do processo formativo em todas as épocas, mas sinto que

era um tempo menos exigente talvez para formar, pois quase tudo já era

determinado pelas instâncias superiores, existia um cronograma de atividade e um

conteúdo programático a ser seguido.

Nós, formandos, sentíamos falta do diálogo na casa de formação e de

conversas informais. Achávamos que o diálogo mais aberto e uma aproximação

maior entre nós não tiraria a autoridade dos formadores e facilitaria ainda mais a

nossa convivência e o discernimento vocacional, porém, era o jeito de formar na

maioria das famílias, escolas e instituições.

Muitos pensavam em desistir do processo e alguns de fato desistiram, hoje

entendo que não eram os desafios da casa de formação que levava os jovens a

desistir, mas eles mesmo que acabavam vislumbrando outras possibilidades e nem

sempre assumiam para si a responsabilidade.

Imaginava como os formadores haviam sido formados, certamente tiveram

uma formação bem mais rígida que a nossa e, a partir de suas experiências,

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estavam contribuindo para inovar o processo formativo. Algumas mudanças

certamente aconteceram e outras seríamos nós formandos que um dia poderíamos

sugerir e concretizá-las. Isso para mim era um critério de motivação para

permanecer no seminário.

Da experiência dos três anos de filosofia, guardei boas lembranças, a

convivência, a amizade, as partilhas de grupo e a ajuda mútua para alcançarmos

nossos objetivos. De meus formadores, ficou o carinho que eles demonstravam para

com a Congregação, as aulas de formação e as homilias bem preparadas, o como

eles nos transmitiam o carisma e o jeito de ser Redentorista. Do trabalho de

pastoral, permaneceu o carinho, o amor e o aprendizado recebido do povo, muitas

amizades continuam sendo cultivadas até hoje.

Em janeiro 2004, fiz a experiência do noviciado na cidade de Tietê, SP. É

uma etapa de formação interna na qual se estuda de modo mais profundo os votos

de castidade, pobreza e obediência e a vida do fundador da Congregação, dos

santos e beatos, isto é, os que estão em processos de santificação, e o carisma da

mesma.

É um ano de experiência mais profunda de discernimento vocacional no

qual, em seu término, os candidatos recebem a consagração solene dos votos em

uma celebração pública. Esse ano, chamado de noviciado, tem suas raízes na vida

monástica, na qual o discípulo era instruído pelo monge ou mestre. No Antigo

Testamento, encontram-se experiências que têm essa conotação de mestre e

discípulo. “Elias partiu e encontrou Eliseu que estava trabalhando, Elias passou

perto dele jogou sobre ele o manto. Eliseu abandonou os bois, seguiu Elias e se pôs

a seu serviço”. (cf. 1Rs 19, 19-21).

Reporta também a própria comunidade do discipulado de Jesus. “No dia

seguinte, João se achava de novo no mesmo lugar com dois dos seus discípulos.

Fixando o olhar em Jesus que caminhava, ele disse: ‘Eis o cordeiro de Deus’. Os

dois discípulos escutaram estas palavras e seguiram Jesus”. (Jo 1,35-37).

Estas citações bíblicas nos ajudam a compreender que o noviciado é um

tempo de aprofundar a experiência de Deus e o discernimento vocacional. Um

momento propício para repensar o processo feito até o momento e, com maior

segurança, assumir a vida religiosa consagrada ou repensar a vocação e fazer outra

escolha profissional.

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Nesse período de um ano, pude alargar o conhecimento sobre a vocação à

vida religiosa. Na cidade de Vinhedo, SP, quatro vezes, o nosso grupo de noviços

participou de um encontro que reuniu diversas congregações religiosas, masculina e

feminina, para estudar, refletir e partilhar sobre a escolha de vida. Partilhar um

sonho, um ideal de vida em comum com tantos jovens foi um momento muito

importante para o meu discernimento vocacional.

Uma das características fortes dos missionários Redentoristas são as

missões populares. Até a década de 1990, era uma das frentes de trabalho da

Congregação que mais atraia vocações. Em 1983, aconteceram as missões em

minha paróquia de origem. Na época, eu estava com 14 anos, fiquei encantado com

aquele jeito simples e acolhedor dos missionários. Nós falávamos que eles eram

diferentes dos padres que conhecíamos. O estilo de vida dos missionários os levava

a serem mais próximos do povo.

Em agosto de 2004, ano de meu noviciado, tive a oportunidade de participar

com os missionários Redentoristas das missões populares que aconteceram na

cidade de Muzambinho, MG. Até então, eu conhecia na teoria as missões, era o

momento de vivenciá-la na prática, como um dos missionários. Foram vinte e três

dias de experiência com o grupo missionário. Uma experiência inesquecível.

A experiência de viver em comunidade, os cursos em Vinhedo, SP, e as

missões populares em Muzambinho, MG, foram fatores decisivos para a minha

continuidade no processo formativo. Naquele momento, já sonhava com a teologia

que deslumbrava para frente, mais ainda era cedo.

No ano de noviciado, nós exercíamos as atividades pastorais na cidade de

Tietê, onde está o seminário, e nas comunidades rurais. Tive a oportunidade de

trabalhar em uma comunidade rural chamada Nossa Senhora de Fátima. Aos

sábados à tarde, a comunidade se reunia para celebrar a Palavra de Deus.

Além dessa experiência, outro trabalho significativo para mim foi na pastoral

da saúde, realizado na Santa Casa. Essa pastoral tinha uma equipe de voluntários

que prestava auxílio todos os dias na Santa Casa. Aos domingos à tarde, eu ajudava

algumas mulheres a cuidarem de pessoas enfermas. Nosso trabalho consistia em

servir o jantar e rezar com aquelas pessoas que pediam orações.

Entre essas solidárias mulheres, estava a dona Lourdes, com quem aprendi

muito. Uma pessoa muito sensível à realidade dos pobres. Muitas vezes, presenciei

dona Lourdes dialogando com enfermeiros, médicos e com responsáveis pela área

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em que se encontravam aqueles doentes, cobrando deles melhor atendimento aos

enfermos. Foram experiências que jamais serão apagadas de minha memória, algo

que marcou realmente minha vida.

Fiz os votos na Congregação Redentorista no dia 23 de janeiro de 2005.

Outra experiência que falou forte para mim foi a atitude do mestre de noviços, Pe.

Domingo Sávio da Silva. O seminário recebeu muitos convidados, nossos familiares,

amigos e missionários Redentoristas. Nós, noviços, dormimos uma noite na sala de

aula, o Pe. Domingos, como era chamado, também disponibilizou o quarto dele para

hóspede e se fez um de nós. Um ano de convivência com esse mestre, muitas

atitudes e testemunhos eu carrego. Um homem de Deus e do povo. De fato, é

verdade o provérbio: “as palavras comovem, os testemunhos arrastam”.

No mesmo ano, iniciei os estudos teológicos no ITESP (Instituto Teológico

de Estudos Superiores de São Paulo). Por um ano, morei no Ipiranga, SP, e exerci

as atividades pastorais na comunidade Santa Luzia – periferia de Mauá, SP.

Aquela experiência dos estudantes de teologia, que me encantou em 1999,

quando conheci o trabalho dos missionários, eu podia vivenciá-la como aluno de

teologia junto às comunidades carentes do Bairro Jardim Nova Mauá.

Aos finais de semana, o percurso era feito de trem e ônibus. As pessoas que

viviam comprometidas com a comunidade esperavam a chegada dos estudantes,

assim como nós próprios tínhamos enorme satisfação em poder estar junto

aprendendo e oferecendo auxílio às comunidades.

Nosso trabalho pautava-se em auxiliar algumas pastorais e movimentos,

oferecer cursos de liturgia, teologia, catequese entre outros. Algumas capelas

estavam sendo construídas e outras reformadas, a mão de obra era realizada em

forma de mutirão, entre alguns estudantes, e eu também prestava ajuda. Era algo

motivador a todos nós, comunidades e estudantes. Era um jeito de não só estar no

meio do povo, mas de conhecer a desafiadora realidade daquela gente.

Em 2006, ao término do primeiro ano de teologia, fui transferido para a

comunidade Redentorista de Diadema juntamente com mais dois estudantes, Fábio

Evaristo e Ronaldo Sabino, os dois também tornaram-se padres. Os missionários

Redentoristas haviam chegado a Diadema no ano de 1999, assumindo a paróquia

Menino Jesus. Era uma experiência diferente da de Mauá, aonde íamos apenas aos

finais de semana; em Diadema, vivíamos no dia a dia a mesma realidade de nossos

paroquianos.

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Foram três anos de trabalhos pastorais junto às dez comunidades que

compunham a Paróquia Menino Jesus. A metodologia da formação Redentorista,

nessa etapa final da formação inicial, propicia aos estudantes a integração dos

estudos acadêmicos com as atividades pastorais. O intuito é que aconteça teoria e

prática ao mesmo tempo. As dúvidas que surgem nas pastorais são debatidas na

academia com a intenção de encontrar alternativas para orientar o povo.

Além de acompanhar algumas pastorais específicas, tive a oportunidade de

orientar um curso de teologia para leigos em um setor da paróquia. Foram três anos

de experiência com um grupo de treze pessoas. Ao ministrar o curso para o grupo,

sem dúvidas aprendi muito mais do que ensinei.

Pude ter a oportunidade de levar alguns professores da Faculdade de

Teologia para dar algumas palestras. Foram momentos marcantes. Era prazeroso

ouvir depois, na sala de aula, professores partilharem da experiência. Construí

vínculos de amizade com as lideranças e pudemos construir junto um novo saber

teológico pastoral, em alguns casos com intervenção.

É claro que muitos ensinamentos e normas da Igreja necessitavam de uma

adaptação junto à realidade do povo. Uma coisa é pensar e refletir a teologia, outra

coisa bem diferente é a prática concreta. Como disse o próprio Jesus: “É a

misericórdia que eu quero, não o sacrifício”. (Mt 9, 13). Essa experiência pastoral me

ajudou a viver a proposta formativa da Congregação de modo livre e consciente.

Como é bom fazer o que se gosta, a gente se sente realizado.

Fiz a Profissão Perpétua dia 16 de novembro de 2008, na Matriz Senhor

Santo Cristo – também Paróquia Redentorista na Cidade Tiradentes, SP. Foi a

primeira comunidade religiosa Redentorista que eu conheci, em 1999, quando era

vocacionado Redentorista, por isso, foi muito significativo viver aquela experiência.

Durante o percurso de estudos que fazemos, identificamo-nos com algum

tema ou disciplina. Eu sempre me interessei por espiritualidade. Os anos de

seminário e de estudo ajudaram-me no amadurecimento e na compreensão de

espiritualidade. Antes do seminário, era algo muito intimista, com os estudos de

filosofia e de teologia, já havia refeito o conceito, a espiritualidade era uma maneira

de viver a vida cristã comprometido com a realidade.

No início do terceiro ano de teologia, decidi que faria a monografia sobre a

espiritualidade Redentorista. Conversando com o orientador, decidimos que seria

sobre a “Arte da Oração em Santo Afonso Maria de Ligório”. Foi uma pesquisa

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prazerosa de se estudar e escrever. Pude aprofundar o conhecimento em um tema

que foi tão significativo para o fundador dos missionários Redentoristas, Santo

Afonso Maria de Ligório, pois, para ele, a oração deve estar encarnada na vida

concreta da pessoa, principalmente do missionário Redentorista que deve atuar em

sua prática pastoral a partir da realidade dos destinatários da missão.

Sobre o que ouço dos mestres espirituais Redentoristas e como fruto de

pesquisa, posso dizer que a espiritualidade Redentorista é uma espiritualidade

encarnada na vida e na história do povo.

No decorrer dos últimos três anos de teologia, tive a oportunidade de fazer

um curso de espiritualidade em três períodos de férias de julho, na cidade de São

Roque, no Centro Teresiano de Espiritualidade, ministrado pelos Carmelitas. Foi

uma experiência riquíssima que me proporcionou nova maneira de pensar a

espiritualidade. Pude conhecer um pouco mais sobre a vida e a formação das

mestras e dos mestres mais citados pela Igreja.

Em novembro de 2008, concluí o curso de teologia. Logo em fevereiro de

2009, recebi o título de bacharel. Naquele mesmo mês e ano eu começava minha

primeira experiência como formador no Seminário Santíssimo Redentor, em Santa

Bárbara D’Oeste, SP. Iria trabalhar na formação dos futuros missionários

Redentoristas na etapa do Propedêutico6. A princípio, ressoou muito estranho tudo

isso, pois há poucos meses eu era formando e agora me diziam que eu era

formador.

Recebi a ordem do diaconato no dia 07 de fevereiro de 2009, na Paróquia

Menino Jesus em Diadema, SP, onde havia morado e atuado por três anos nos

trabalhos pastorais. Para mim, foi um momento de gratidão junto àquele povo que

tanto me ensinou e permitiu que eu me tornasse mais humano.

Minha primeira turma de formando em 2009 era formada por dezesseis

jovens seminaristas. Um grupo bem diversificado de idade e de cidades dos Estados

de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Tudo muito novo em minha vida, até o

seminário tinha sido inaugurado em outubro de 2008.

Durante meu processo de formação, sempre ouvia os formadores dizerem

que formar é uma missão desafiadora. Na verdade, estavam dizendo que o ser

6 Propedêutico é uma etapa de formação após o ensino médio e anterior ao curso de filosofia. Tem

duração mínima de um ano de formação para todos os candidatos, podendo se estender por mais tempo, segundo as necessidades do candidato.

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humano é complexo, os relacionamentos nem sempre são harmoniosos, os conflitos

emergem e a questão é como lidar com tudo isso na família, na comunidade e

também nas casas de formação.

No início do meu trabalho, percebi essas questões e senti-me desamparado,

afinal, como dar orientação, dialogar e buscar alternativa para que o seminário

pudesse ser um espaço saudável e prazeroso de viver? Eu não queria que os jovens

passassem por situações que eu passei. Também não queria ser um formador

autoritário, queria sim ter autoridade e ser alguém que conduzisse o processo de

modo leve e prazeroso para todos.

Com esses questionamentos, percebi que precisava de uma capacitação

para trabalhar com os jovens. Queria entender o porquê dos conflitos, como

perceber as dificuldades de aprendizado que eram tantas e como encaminhar

alguns casos de jovens que precisavam de acompanhamento com profissionais, por

exemplo, psicólogo/a fonoaudiólogo/a psicopedagogo/a. Ainda mais que,

atualmente, a Igreja tem consciência da importância dessa ajuda.

É importante salientar que a formação se preocupa em assumir um caráter

eminentemente dirigido à aprendizagem do jovem e ao seu amadurecimento

humano. É uma busca de integração e trabalho com outras ciências humanas tão

importantes na construção do indivíduo. O Documento sobre Diretrizes para a

Formação dos Presbíteros da Igreja do Brasil da Conferência Nacional dos Bispos

do Brasil descreve:

A maturação humano-afetiva global é uma construção progressiva, em que a ação de Deus e a liberdade humana se integram. A equipe de formadores, inclusive com a presença de mulheres (PDV, n. 66), acompanhe diligentemente tal progressividade, em clima de abertura e confiança mútua, valendo-se oportunamente da colaboração de pedagogos, psicólogos e outros especialistas de comprovada idoneidade, competência e orientação cristã. (CNBB, nº 93, p. 125).

Formar uma equipe profissional de trabalho, para mim, é mais do que certo,

é necessário, visto que as famílias dos nossos jovens, em sua maioria, são pessoas

simples, uma boa parcela delas mora na zona rural. Mesmo fazendo o melhor pelos

filhos, algumas lacunas que carecem de cuidados permanecem e precisam sem

preenchidas para um desenvolvimento mais completo desses indivíduos como seres

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humanos. Serão pessoas formadoras de opiniões que exercerão papel importante

na sociedade.

Com esse pensamento, comecei a cogitar uma especialização para trabalhar

com esses jovens. Acreditei que a psicopedagogia poderia ser uma boa auxiliadora

nesse processo, estaria mais apto para sentir as dificuldades e poder oferecer com

mais seguranças encaminhamentos de casos.

Quando trabalhei em Diadema, conheci a Congregação Salesiana por meio

de duas irmãs religiosas, as quais haviam me falado que os salesianos trabalhavam,

especificamente, com educação. Foi a partir disso que cheguei ao UNISAL, em

Americana, no início do ano de 2010.

No curso de pós em psicopedagogia, conheci a Regiane Rossi como

professora e coordenadora do curso. Excelente pessoa humana e profissional. Sou

muito grato por tê-la conhecido. É alguém que me ajudou muito pessoalmente e

profissionalmente. Em algumas de nossas conversas, motivou-me a entrar no

Programa de Mestrado em Educação. Confesso que levei mais um susto, sabia que

seria muito difícil, porém, possível e a possibilidade falou mais forte.

O ano de 2009 havia sido difícil para mim. A nova experiência profissional e

ministerial questionava-me, levava-me a repensar conceitos, normas, doutrinas e

conteúdo. De modo lento, fui me acalmando e começando a enxergar esses

questionamentos com novo olhar. A busca e a vontade pelo crescimento fizeram-me

buscar os caminhos possíveis para o mestrado.

Em 2011, eu havia concluído as disciplinas da pós em Psicopedagogia,

porém, faltava o TCC e isso me tirava o sossego. Lembro que partilhei sobe isso

com minha orientadora Regiane a qual, mais uma vez com sabedoria, iluminou-me

ao dizer: “Sebastião, não se preocupe, na hora certa sairá, inicia o processo do

Mestrado, não tenha medo, você é capaz”.

Após algumas disciplinas feitas no programa de Mestrado, precisava sugerir

e aguardar pelo orientador indicado pela faculdade. Fiquei muito contente com a

escolha do professor Chiquinho para ser o meu orientador. Eu ainda não o conhecia,

mas a expectativa era grande e motivadora, pois era alguém que iria me ajudar.

Em nossa primeira conversa, um novo horizonte se abriu em minha frente.

Percebi que estava diante de alguém muito humano, com uma rica experiência

acadêmica e de vida. Uma pessoa que tinha muito a contribuir em meu trabalho e

que estava disposto a me ajudar. E, de fato, o Chiquinho, como é conhecido no

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UNISAL, tem sido mais do que companheiro e profissional nessa construção, tem

sido uma pessoa amiga.

Em nossa primeira conversa, falei de minhas inquietações e que estava

buscando novos conhecimentos e aprendizados que me dessem uma maior

capacitação e segurança para minha missão de formar. Enquanto me ouvia, acho

que o Chiquinho foi vislumbrando o percurso da pesquisa. Quando terminei, disse-

me: “Podemos trabalhar a sua missão de formar a partir da sua experiência

enquanto formando e hoje como formador, e inserir o trabalho pastoral que vocês

realizam na Paróquia; o como, veremos depois, o importante é começar”. Ainda me

falou da pesquisa biográfica e autobiográfica, deixando-me animado e confuso ao

mesmo tempo.

E assim começamos a dar os primeiros passos de uma caminhada que teria

a sua conclusão, e não o seu final, ao término de dois anos, pois uma pesquisa é

sempre objeto de pesquisa. Após muitos momentos de orientação com o amigo

Chiquinho, de persistências nas leituras e na produção de texto, de imprevistos,

desafios e superações, comecei a entender os caminhos da pesquisa que nos

propusemos a percorrer e a relevância que a Educação Sociocomunitária traria para

o meu crescimento pessoal, profissional e para a instituição religiosa, bem como

para este trabalho e para todas as pessoas envolvidas, diretamente ou

indiretamente.

Após inúmeras experiências ao longo desse percurso acadêmico no

Programa de Mestrado em Educação, estou ciente de que tudo que sei é quase

nada diante do que eu posso aprender. Quero deixar registrado neste memorial de

formação, ainda em construção, a riqueza e o aprendizado somado em minha vida

em cada disciplina com seu respectivo professor ou professora.

No próximo capítulo, busco apresentar alguns dos aspectos da vida de

Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação Redentorista, as principais

influências que ele recebeu e a finalidade da Congregação por ele fundada.

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CAPÍTULO II – CONGREGAÇÃO DO SANTÍSSIMO REDENTOR

O sonho e a fé nos levam a removermos montanhas7.

Certa vez, Jesus disse aos seus discípulos que se eles tivessem fé seriam

capazes de removerem montanhas. (cf. Mt 17,20). Muitos anos mais tarde, o

fundador da Congregação do Santíssimo Redentor leu essas palavras e, como

aquele grupo de homens e mulheres de fé que seguiram Jesus de Nazaré, ele

também acreditou.

A Congregação Redentorista é um instituto religioso de padres e irmãos

missionários e foi fundada em 09 de novembro de 1732, por Santo Afonso Maria de

Ligório. Além de o fundador desejar que a Congregação fosse missionária, queria

também que ela fosse uma proposta de vida para todas as pessoas, independente

da vocação de seu chamado.

Antes mesmo de sua fundação, Afonso Maria de Ligório dedicava-se a uma

pastoral diferenciada em seu tempo. Pode se dizer que era um trabalho com ousadia

missionária a qual, ainda hoje, interpela-nos a uma prática diferenciada de pastoral.

No relato deste autor, percebe-se o quanto a prática pastoral o ajudou no

amadurecimento para a futura Congregação:

Afonso acolhe todo mundo, mas vai ao povo; e o povo vem a ele [...] Cerca de uma centena de pessoas para cada capela. Assim se formam, em pleno século XVIII, comunidades cristãs de base, análogas às que fazem a esperança da Igreja nos países da África ou da América Latina, na hora atual [...] É um apostolado do meio para o meio, os padres são apenas assistentes, os leigos são os responsáveis a formar outros leigos, visitar os doentes, partilhar o pão com os pobres para que não houvesse necessitados. (SEGALEN, 1991, 11-12).

Seu trabalho pastoral ganhou o nome de “Capelas Vespertinas” pelo fato de

as reuniões começarem no final de tarde. Era um tempo em que ainda os

evangelizadores do grupo de Afonso Maria de Ligório não falavam em políticas

públicas nem em comprometimento com as causas sociais, porém, sem dúvida, foi

7 Sebastião Fernandes Daniel.

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um plantar de sementes para que mais tarde seus seguidores pudessem se

comprometer com essas realidades.

Para o moralista Afonso Maria de Ligório, era fundamental o indivíduo viver

uma vida coerente com o evangelho. Quando falava em mudança social, referia-se a

uma visão escatológica do Reino de Deus que apresentava um caráter provisório,

limitado de todas as estruturas humanas, políticas e sociais. “Afonso jamais,

enquanto eu sabia, acena para uma reestruturação da sociedade, mas insiste na

reestruturação da identidade”. (JOHNSTONE, 1978, P. 85).

Enquanto na época se pregava a reestruturação das estruturas sociais do

indivíduo, hoje, apelamos para uma mudança mais ampla das estruturas sociais. O

documento de Aparecida (Brasil, 13 a 31 de maio de 2007) afirma que a “A Igreja

latino-americana é chamada a ser sacramento de amor, solidariedade e justiça entre

nossos povos”. (DA, 2007, p. 179). Para tanto, é necessária uma atitude permanente

que se manifeste em opções e gestos concretos em favor da vida, principalmente da

vida ameaçada.

No século XVIII, falava-se muito da busca pela santidade e pela salvação.

Não se pode negar que a busca por esse estado de vida cristã, além da esperança

da salvação, contribuía também para a construção de uma sociedade mais justa e

fraterna, pois o indivíduo que presa por justiça não só testemunha boas ações, como

forma consciências coletivas no meio em que atua.

Outro ponto importante a se destacar dos ideais afonsianos relidos no

mundo atual é a sua escolha vocacional. É possível dizer que Afonso Maria de

Ligório acreditava que a felicidade das pessoas implicava em fazer a vontade de

Deus. Meditar o Evangelho era caminho para discernir com clareza uma vocação,

fosse ela religiosa ou profissional. O mais importante era a pessoa ser feliz na

vocação que escolhesse. (SEGALEN, 1991).

É importante perceber como o teólogo Afonso Maria de Ligório soube se

relacionar e dialogar com o mundo que o cercava. Ele leu os sinais de Deus em sua

história e na história do seu tempo e, de modo progressivo, deixou Deus ser Deus

em sua vida. Ele viveu uma profunda experiência de Deus desde os primeiros

momentos de sua vida até chegar aos últimos dias de sua existência. Por isso, sua

vida é um convite a ser continuada, principalmente por quem almeja viver a vida

religiosa consagrada.

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Ele era napolitano e viveu no século XVIII, uma época de grande

movimentação em todos os setores das atividades da vida humana, o “século das

luzes”. (REY-MERMET, 1982, p. 12). Um momento de mudanças intelectuais e

tecnológicas que fizeram emergir um novo mundo que questionou a existência

humana e o valor das estruturas política, social, econômica e religiosa e, também, foi

palco de grandes descobertas científicas as quais causaram tensões na sociedade.

Muitos filósofos europeus, como F. Voltaire, não consideravam que a Igreja pudesse

contribuir de algum modo para a formação do ser humano. (REY-MERMET, 1982).

Em seu contexto histórico, Afonso Maria de Ligório teve coragem para

enfrentar as correntes de pensamentos que divergiam da Igreja. Por muito tempo,

falou-se que ele não introduziu na Igreja uma espiritualidade específica. Os estudos

mais recentes não deixam dúvidas de que ele deixou uma herança espiritual original,

que é praticada não só pela Congregação religiosa por ele fundada, como também

por leigos em muitas partes do mundo que têm contato com os missionários

Redentoristas.

No ano de 1696, ano do nascimento de Afonso Maria de Ligório, o Reino de

Nápoles se dividia em dez estados: cinco pequenos, quatro grandes e um estado

maior, ao sul. O Reino contava com um quarto dos habitantes de toda a Itália, sendo

três milhões e trezentos mil. (REY-MERMET, 1982). Foi nesse contexto que o

napolitano sonhou com a fundação de uma Congregação missionária.

O itinerário vocacional trilhado pelo fundador dos Redentoristas não

aconteceu fora do horizonte de Cristo, pois, para ele, a comunhão com Cristo não se

dá somente intelectualmente, mas, também, a partir da experiência concreta com

Deus; segundo seu pensamento, a razão, as teorias, as ideias e os conceitos

somam e enriquecem tal experiência.

Sua vocação e missão nasceram da intimidade com o Cristo. Ele buscou

viver de modo radical as palavras do evangelista São João: “Eu sou a vinha, vós

sois os ramos: aquele que permanece em mim e no qual eu permaneço, esse

produzirá fruto em abundância, pois, separados de mim, nada podeis fazer”. (Jo

15,5).

A missão vocacional da Congregação do Santíssimo Redentor é a de

anunciar a Copiosa Redenção a todos, como cita este salmista, “O Senhor dispõe da

graça e, com largueza, do resgate” (Sl 130,7b) por meio de um processo

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permanente que vai acontecendo na vida do ser humano. É uma busca vocacional

ainda por se fazer.

É uma vocação que brota da prática missionária, surge do interesse afetivo

do povo e chega às situações mais concretas nas quais acontece a vida. Há uma

simplicidade e uma essencialidade nessa proposta vocacional que pode ser

vivenciada por todos, fiéis e clérigos. É uma motivação para todos os cristãos.

(CHIOVARO, 1996).

Dois pólos constituem e envolvem a vocação dessa Congregação – Jesus

Cristo e os pobres – cujas realidades tornaram-se muito concretas, interligadas e

condicionadas à vida do fundador e à vida de todos os que o seguem. Ao redor

desse binômio, ele articulou todo o seu ideal e projeto missionário. Esses dois pólos

expressam a experiência do amor de Deus vivida por Afonso Maria de Ligório: o

amor a Jesus Cristo e o amor ao pobre. (OLIVEIRA, 2004).

É possível colocar as palavras de São Paulo na boca desse homem de

Deus: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo”. (1Cor 11,1). Certamente,

hoje ele diria: sede meus continuadores como eu sou de Cristo. Vocação e missão

são palavras que não se separam em Afonso Maria de Ligório, ambas nasceram da

sua experiência oracional com Deus.

Ele quis ser um com o Cristo na obra missionária como Cristo é um com o

Pai. (cf. Jo 17,21). Por isso, encontramos nele uma sensibilidade pastoral admirável.

Como Moisés ouviu em meio à sarça ardente a voz apelante de Deus, ele ouviu em

Scala: “Eu vi, vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o clamor [...] Desci para

libertá-los”. (Ex 3,7a.8a). Santa Maria dos Montes tornou-se “sarça ardente” no

coração de Afonso Maria de Ligório. (cf. Ex 3,5b). Ao voltar a Nápoles, estava

inquieto, algo necessitava ser feito em prol daquela gente desprovida de recursos

humano e espiritual. Os cabreiros e pastores tomaram conta de sua angústia

pastoral.

O encontro com os deserdados de Santa Maria dos Montes continuava a

incomodar o coração de Afonso Maria de Ligório. Naquela cruel realidade, ele

compreendeu que necessitava de uma missão duradoura e comprometida com

aquela situação. Essa sensibilidade apostólica diante dos mais abandonados foi

critério de muitas outras fundações de comunidades Redentoristas tanto pelo próprio

fundador como pelos seus sucessores, embora, naquele momento, essa ideia não

passasse pelo pensamento dele.

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2.1 A VIDA DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

“Nápoles! Terra da poesia e do canto, onde se canta falando e se fala

cantando; onde tudo que se vê, tudo que se ouve, é um concerto de doces ritmos!

Terra de barqueiros; terra de Lazaroni e de santos! Ó doce Nápoles!”

(MICHELOTTO, 1980).

Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor,

nasceu em Marianella de Nápoles, no dia 27 de setembro de 1696. Sobre os joelhos

de sua mãe, quando criança, aprendeu a rezar, a amar Jesus Cristo e Maria, dois

grandes amores de toda a sua vida.

Ele é o filho primogênito de oito irmãos do casal dom José de Ligório e de

dona Ana Cavalieri. Os Ligório faziam parte da nobreza napolitana. Administravam a

cidade por direitos hereditários, ocupando grandes cargos na sociedade.

(CHIOVARO, 1996). Os pais depositavam no filho muita esperança em torná-lo um

grande intelectual influente na sociedade napolitana. Assim descreve este autor:

Aos doze anos, Afonso entra na Universidade Real de Nápoles. Com dezesseis anos e meio, recebe o título de doutor em direito civil e eclesiástico. Além do mais ele tem um nome. Aos quatorze anos, recebe a espada de prata dos cavalheiros: doravante participa da gestão dos negócios municipais. Aos vinte anos, é escolhido como juiz para a cidade. Cavalheiro, juiz, advogado, terá seu lugar nas fileiras mais elevadas da sociedade napolitana. (SEGALEN, 1996, p. 7).

Afonso Maria de Ligório nasceu um século depois de René Descartes cujas

obras influenciam-no em sua formação. De Descartes vem o vigor do método, o

gosto pelas ideias claras, o respeito pela liberdade de consciência, a confiança na

razão e a vontade de se fazer compreendido por todos. O nobre advogado, poeta,

pintor e músico foi uma das personalidades mais atraentes de Nápoles.

Ao completar 18 anos, passou a participar, anualmente, com seu pai, do

retiro fechado que acontecia na casa dos Lazaristas, uma Congregação religiosa

muito conhecida e referenciada na Itália daquele momento. Muito cedo, adquiriu o

hábito de fazer, todos os dias, visita ao Santíssimo Sacramento e à Virgem Maria.

(SEGALEN, 1996).

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O contexto religioso em que viveu era fortemente marcado pelas orações

devocionais e pelas obras de caridade. Os pais associavam os filhos pequenos às

suas práticas de piedade, tratando-os, afinal, como pequenos adultos. Eram levados

à missa, ao ofício, aos sermões; tinham que praticar devoções aos santos. (REY-

MERMET, 1982).

Sem entrar no mérito dessa educação, se era positiva ou não, muitos jovens

acabavam, livremente, tomando gosto pela vida de oração e pelas obras de caridade

e as faziam por amor. Na vida de Afonso Maria de Ligório, essa prática ressoou de

maneira eficaz.

Aos 19 anos, foi inscrito no “Oratório de São Felipe Neri”, uma espécie de

Congregação para jovens nobres. Os jovens piedosos transformavam os momentos

oracionais em gestos concretos, servindo os necessitados. (OLIVEIRA, 2004).

Após terminar os estágios de advogado, Afonso Maria de Ligório entrou para

a confraria dos doutores, a qual havia imposto, como tarefa apostólica, a visita e a

manutenção de 300 doentes do Hospital dos Incuráveis. Esse Hospital foi fundado

no século XVI com a finalidade de acolher os doentes abandonados, os incuráveis,

os loucos e as prostitutas em fim de carreira. Sobre esse trabalho pastoral,

encontramos este relato:

Afonso se dirige várias vezes por semana para arrumar os leitos, mudar a roupa, preparar os remédios, pensar as chagas, prestar aos doentes todos os serviços de que pudessem precisar, sem se deixar enfastiar com o mau cheiro, a náusea ou a má acolhida dos próprios doentes. Ele desempenhava essas tarefas com tal alegria espiritual e tal respeito que, visivelmente, era a Jesus Cristo que servia e honrava na pessoa desses infelizes. (OLIVEIRA, 2004, p. 9).

Afonso Maria de Ligório passou a vida inteira acreditando que a santidade

cristã deveria ser a aspiração de todos os fiéis e assumiu, muito seriamente, estas

palavras das Sagradas Escrituras: “Sede santos, pois eu sou santo, eu, o Senhor,

vosso Deus”. (Lv 19,2). Assim disse ele:

Deus quer que todos sejam santos, os casados como casados, os sacerdotes como sacerdotes, os religiosos como religiosos, os cabreiros como cabreiros, os advogados como advogados, ou seja, cada pessoa deve buscar a santidade na vocação a que se sente chamada. (CHIOVARO, 1996, p. 32-33).

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Essa convicção de santidade foi amadurecendo ao longo de sua vida.

Quando ainda era leigo, antes que nascesse a vocação sacerdotal e missionária, já

era um homem orante do seu tempo. Um jovem seminarista, por nome de João

Mazzini, que mais tarde entrou na Congregação, disse sobre ele:

Encontrava-me com dois amigos sacerdotes, quando vimos pela primeira vez, na igreja dos Gerolamini, um jovem vestido elegantemente, de bela aparência, sério, modesto e afável ao mesmo tempo, que rezava com devoção e fervor, de joelhos e como que absorto em Deus. Ficamos profundamente edificados. Aumentou depois nossa admiração, encontrando-o todos os dias nas igrejas em que se fazia a exposição das quarenta horas. Fazíamos nossa visita e depois o deixávamos ali, comentando entre nós o exemplo daquele jovem. Queríamos saber quem era e até estreitar com ele laços de amizades; mas não ousávamos abordá-lo. Depois, um dia, vimos um eclesiástico na mesma atitude estática e, olhando bem, percebemos que se tratava do mesmo jovem que tínhamos visto antes tantas vezes. Então, esperei-o fora da igreja e me aventurei a perguntar-lhe o nome. Respondeu que se chamava Afonso de Ligório. (CHIOVARO, 1996, p. 32-33).

Afonso Maria de Ligório foi um exemplo de cristão, exerceu a profissão com

justiça e, nos momentos livres, dedicava-se aos pobres. Em sua profissão, advogou

durante oito anos sem perder nenhuma causa. Isso fez dele um dos defensores

mais procurados da capital. Contudo, em 1723, aconteceu a grande reviravolta em

sua vida. Por causa de uma injustiça da própria justiça, ele perdeu uma causa no

tribunal – o que ele não sabia é que o resultado do processo havia sido decidido

antes do debate. (REY-MERMET, 1982).

Como advogado de grande projeção, sentiu-se profundamente derrotado. A

amargura da derrota abriu-lhe os olhos para a verdade e a justiça. Foi a sua

conversão. Ele deixou o “mundo” e se entregou totalmente a Deus, dedicando-se a

causa do Reino. Na verdade, a causa perdida no tribunal não foi a razão da

mudança de vida de Afonso, ela apenas contribuiu. Na semana santa do ano de

1722, no retiro fechado que fazia todos os anos, ele já havia tomado a decisão de

deixar a profissão de advogado e tornar-se sacerdote. Isso veio a se concretizar com

a perda da causa. Essa decisão ficou mais reforçada no Hospital dos Incuráveis,

quando sentiu uma voz falando ao seu coração: “Deixa o mundo e entrega-te a

mim!” (CHIOVARO, 1996, p. 32-33).

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Do hospital, Afonso Maria de Ligório foi para a igreja das Mercês e, sobre o

altar da Madona (Nossa Senhora), depositou sua espada de cavaleiro napolitano.

Desse momento em diante, teve consciência que trabalharia só a serviço de Jesus

Cristo e da Mãe de Deus. Por isso, durante toda sua vida, celebrou o dia 09 de

agosto como o dia de sua conversão. Entusiasmado com isso, o advogado de 27

anos se entregou com dedicação aos estudos das ciências eclesiásticas. No dia 21

de dezembro de 1726, foi ordenado padre secular na Catedral de Nápoles. Foram-

lhe oferecidos privilégios no alto clero napolitano, mas ele se recusou, escolheu viver

pobre e com os pobres durante toda sua vida. (CHIOVARO, 1996).

Ele tem seu nome escrito numa associação de padres seculares da diocese,

a Propaganda (Missões Apostólicas). Dentro desse ambiente, desenvolveu

lentamente o espírito missionário e transformou sua espiritualidade em ação

concreta. Tornou-se um dos membros mais considerados e ativos da Congregação

dos padres seculares da Catedral. Outra confraria para a qual ele contribuiu foi a dos

“Brancos da Justiça”, cujo trabalho era assistir a pessoas condenadas à morte.

Consistia em atender a confissão do condenado, ministrar sacramentos e dar

assistência solidária à família do mesmo. (OLIVEIRA, 2004).

A missão apostólica não se fixou somente em Nápoles, espalhou-se,

também, em todo reino. Muitos lugares eram de difícil acesso e de extrema pobreza.

Por isso, o zeloso missionário sentiu compaixão dos pobres abandonados. Com

tanto trabalho e dedicação, chegou a ficar doente. Saiu para fazer um tempo de

repouso em junho de 1730, em Santa Maria dos Montes, acima de Scala. No meio

dos pobres cabreiros abandonados, percebeu o abandono espiritual daquela gente,

privada da Palavra de Deus e dos Sacramentos. O tempo de férias para recuperar-

se da doença transformou-se em árduo trabalho nas montanhas amalfitanas.

Assim, no dia 09 de novembro de 1732, depois de muito sacrifício, nasceu a

Congregação do Santíssimo Redentor, cuja finalidade era anunciar a Boa Nova do

Reino aos mais pobres e abandonados. Afonso Maria de Ligório não fundou a

Congregação só para pregar missões. Já havia muitas congregações que o faziam,

inclusive ele próprio, juntamente com os padres da missão apostólica, o passo que

deu foi mais profundo: “É estar em relação direta com Jesus Cristo e conhecê-lo

mais profundamente. Até 1762, ele trabalhou incansavelmente para sustentar a

missão da nova Congregação contra muitos obstáculos”. (OLIVEIRA, 2004, p. 35).

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Aos 66 anos, no dia 20 de junho de 1762, tornou-se bispo de Santa Águeda

dos Godos. Seu episcopado durou treze anos (1762-1775). Foi um bispo zeloso com

seu clero e com seu povo. Dedicou-se ao trabalho para o bem espiritual e social da

diocese. Foi bispo não só para uma diocese, mas para a Igreja do mundo por meio

de seus escritos. Em julho de 1675, obteve do Papa Pio VI a renúncia do seu

episcopado. De volta à sua família religiosa, permaneceu com seus trabalhos em

Pagani até esgotar todas suas forças.

A morte chegou para ele no dia 1º de agosto de 1787, contava com quase

91 anos de idade. De uma coisa ninguém nunca duvidou dele: sua santidade. Nos

últimos momentos de lucidez, ele assim rezou: “Senhor, vós bem sabeis que tudo

quanto pensei, disse, fiz ou escrevi, tudo disse e fiz pelas almas e para vossa glória”.

(CHIOVARO, 1996, p. 147). Foi beatificado em setembro de 1816; canonizado em

26 de maio de 1839; declarado doutor da Igreja em 23 de março de 1871; e

proclamado padroeiro dos confessores e dos moralistas em 26 de abri de 1950.

(REY-MERMET, 1982).

2.2 OBRAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

Para salvar o povo das heresias e de tantas atrocidades da época, Afonso

Maria de Ligório começou a escrever muito cedo. Seu intuito sempre foi o de

esclarecer os fiéis sobre a doutrina católica, reacendendo neles o amor a Jesus

Cristo e à Santa Mãe Igreja. Para ser compreendido por todos, escreveu como

pregava. Seu desejo era atingir todas as pessoas do mundo urbano e rural. “Na

impossibilidade de fazer ouvir sua voz até as extremidades da terra, queria atingir,

por seus escritos, aquelas pessoas a quem sua pregação não podia chegar”.

(SEGALEN, 1996, p. 18). Muitos escritos foram para dialogar, debater e responder a

certas doutrinas e pensamentos de muitos intelectuais de seu tempo, filósofos,

teólogos e hereges.

Entre suas 111 obras escritas, destacam-se: Glórias de Maria, Visitas ao

Santíssimo Sacramento, Máximas eternas, Preparação para morte, Prática do amor

a Jesus Cristo, Manual de instruções práticas para os confessores e Oração.

(SEGALEN, 1996). Suas obras são de profunda base teológica e de linguagem

acessível, sem perder a densidade do conteúdo.

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Os livros de ascética não são tratados de teologia espiritual e sim

instrumentos para a meditação que conduzem à oração. Neles, existe um caminho

em sua compreensão cristológica que visa à união a Deus, transformando tudo em

amor; procura a união por meio da comunhão e da presença de Deus. A união

amorosa tem como prática concreta o amor a Jesus Cristo e aos irmãos e irmãs.

“Acima de tudo, revesti-vos do amor: é o vínculo perfeito”. (Cl 3,14).

2.3 CONTEXTO SOCIORRELIGIOSO

Afonso Maria de Ligório influenciou a vida eclesial da Igreja no tempo em

que viveu, porém, sua vida e seus escritos continuam tendo relevância no mundo

atual, principalmente para a Congregação do Santíssimo Redentor.

Em seus escritos espirituais, percebe-se que ele fala com Deus com

profunda intimidade. Sua fonte principal de diálogo foi a Palavra de Deus. Bebeu das

fontes nas quais beberam os homens e mulheres de intimidade com Deus, pessoas

muito admiradas por ele. Suas obras estão cheias de um amor especial e fiel à

pessoa de Jesus Cristo. (LIGÓRIO, 1992).

É importante perceber como ele se relacionou com o contexto histórico a

partir de seu meio. Soube ler os sinais de Deus na história e, de modo progressivo,

deixou Deus ser Deus em sua vida. Vivenciou a experiência de Deus desde os

primeiros momentos de sua vida até chegar aos atos de amor, nos momentos de

inconsciência, nos últimos dias de sua existência. (OLIVEIRA, 2004).

Embora nascido ainda no final do século XVII, para todos os efeitos, Afonso

Maria de Ligório é napolitano do século XVIII.

O século XVIII, antiaristocrático e anticlerical, acentuou o menosprezo à

Idade Média, vista como momento áureo da nobreza e do clero. A filosofia da época,

chamada de iluminista por se guiar pela luz da razão, censurava a forte religiosidade

medieval. D. Diderot, um pensador que viveu de 1713 a 1784, afirmava que sem

religião a humanidade seria mais feliz.

Para o Marquês de Condorcet (1743-1778), a humanidade sempre marchou em direção ao progresso, com exceção do período no qual predominou o cristianismo, isto é, a Idade Média. Segundo F. Voltaire (1694-1778), os papas eram símbolos do fanatismo e do atraso daquela fase histórica (JUNIOR, 2004, p. 12).

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Foi um período de grandes descobertas científicas. Acreditava-se que a

sociedade perfeita, em todas as suas dimensões, estava próxima. A esperança foi

contagiosa nesse tempo, pois esse pensamento estava ancorado em grandes

pensadores da época, como René Descartes, Jean Jacques Rousseau e,

principalmente, François Marie Arouet Voltaire, entre outros grandes iluministas

expoentes da filosofia moderna. (REY-MERMET, 1982).

O iluminismo não é a propriedade da pequena corte dos inimigos do mundo

cristão. “Ele é primeiramente promoção da razão, da experiência, da liberdade da

pessoa humana. É o alargamento do campo do conhecimento”. (REY-MERMET, p.

11).

O pensamento antigo, estagnado e abstrato, tanto no campo das ciências

sociais como no campo religioso, já não tinha mais relevância. As ciências modernas

desabrochavam, o homem se dirigia para uma nova era. Uma visão mais

secularizada ganhava lugar em todos os aspectos da sociedade – social, político,

econômico e religioso. A revolução industrial influenciou a vida da sociedade, tanto

rural como urbana. (SEGALEN, 1996).

O Reino de Nápoles contava com um quarto dos habitantes de toda a Itália,

sendo três milhões e trezentos mil. (REY-MERMET, 1982). O rei era considerado

como ministro de Deus, protetor da Igreja e da fé. Porém, na verdade, era somente

um meio a mais de opressão. (AZZI, 2004).

Entre as classes sociais, havia uma disparidade enorme. Na área urbana,

destacavam-se cinco classes bem distintas: uma nobre, uma de clero elitizado, uma

classe média de estrangeiros, uma parcela de pobres que sobreviviam e uma

classe, em sua maioria, formada pelas pessoas desempregadas, de napolitanos

legítimos, denominados “Lazaroni”, ou seja, os pobres abandonados. O restante da

população vivia em pequenas vilas e nos campos. Essas pessoas viviam da

pequena agricultura e da criação de rebanhos de cabras e moravam em terras da

classe nobre, por meio de uma vinculação feudal. (REY-MERMET, 1982).

A Igreja se via sobre uma série de dificuldades, várias eram as correntes

contrárias aos seus ensinamentos. Dentre elas, destacamos duas: o Jansenismo,

uma doutrina que pregava a predestinação, ou seja, a salvação não era para os

pobres; e o Galicanismo, Concílio Superior ao Papa, uma linha de pensamento que

tinha forte resistência ao plano político e eclesial. (LACOSTE, 2004).

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No reino de Nápoles, os eclesiásticos eram cerca de cento e dez mil, num

país que contava com quatro milhões de habitantes. Contudo, o povo vivia em

extrema miséria humana e espiritual. O ministério sacerdotal e a vida religiosa eram

mais uma profissão para sobrevivência do que uma vocação. (REY-MERMET,

1982).

Somente na cidade de Nápoles viviam cerca de quinze mil eclesiásticos e

religiosos, sendo quatro mil sacerdotes e os demais regulares distribuídos em

conventos masculinos e femininos; a cidade contava ainda com casas de

recolhimento para mulheres marginalizadas e possuía quarenta e duas paróquias,

sendo três para estrangeiros e quatrocentos templos entre igrejas e capelas. Mesmo

representando apenas 2,5% da população, o clero controlava a terça parte das

rendas do reino. (REY-MERMET, 1982).

No entanto, os religiosos desempenhavam uma função social muito

importante: alimentavam e davam assistência social a um grande número de pobres.

Mesmo assim, entre ricos e pobres, a maior parte da população vivia no abandono

eclesial. Os mais pobres, abandonados, viviam à margem da sociedade em extrema

pobreza.

2.4 AS INFLUÊNCIAS QUE MARCARAM A FORMAÇÃO E A MISSÃO DE

AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

Pelas influências do meio e pela convicção pessoal que foi construindo em

sua vida, Afonso Maria de Ligório sempre esteve presente no meio do povo,

sobretudo dos pobres e abandonados. A primeira influência religiosa que recebeu foi

do berço familiar. Seus pais eram pessoas religiosas e atentas à formação humana

e religiosa dos filhos.

A mãe, Dona Ana Cavalieri, era mulher de oração e boa para com os

pobres. Transmitiu ao filho um amor ardente a Jesus Cristo e uma confiança filial na

Santíssima Virgem Maria. Já o pai, Dom José de Ligório, era um homem de fé

fervorosa, frequentava a Igreja e os sacramentos. Cultivava uma devoção à paixão

do Senhor, à qual, o filho aderiu em sua vida. (OLIVEIRA, 2044, p 16-18).

Assim como a família, outras experiências influenciaram e marcaram sua

vida, vocação e missão. Vivências que fizeram dele um grande pregador do

Evangelho e mestre de oração. Entre várias, destacaremos algumas que muito

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contribuíram na vida desse missionário Redentorista que deixou um grande legado

de oração, vida comunitária e missionária para os seus continuadores.

2.4.1 Formação humana e espiritual

A Companhia de Jesus, ou seja, os Jesuítas como são conhecidos, também

deixou algo marcado na vida e na missão de Afonso Maria de Ligório que soube

usufruir e sintetizar a prática dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, o

que lhe valeu grande preciosidade em sua formação, como pode ser visto abaixo:

a) a espiritualidade deve levar as pessoas a assumirem um serviço pastoral

na Igreja. Esse espírito de serviço deve se desenvolver em torno de um amor

afetivo, ou seja, um amor que esteja voltado para uma ação concreta e não uma

experiência abstrata de Deus;

b) é um apostolado caracterizado mais pelo seu aspecto comunitário do que

individual, exigindo, assim, uma organização e um compromisso na tarefa,

promovendo um espírito comunitário em uma dimensão universal de Igreja;

c) uma posição de prudência sobre as experiências sobrenaturais que as

pessoas apresentam. O importante é a experiência simples e clara que a pessoa vai

fazendo de Deus no cotidiano da vida e vai se tornando mais humanizada.

(OLIVEIRA, 2004).

Afonso Maria de Ligório, em seus anos de estudos no Seminário, de 1723 a

1726, teve bons mestres, com os quais aprendeu a ser um bom padre e excelente

formador de consciência. Naquele período, tomou contato com a Palavra de Deus,

com as obras de Santa Teresa de Jesus, de São Francisco de Sales e de São João

da Cruz. Desses mestres, aprendeu a buscar ainda mais a sabedoria.

Para ele, era indispensável, diariamente, a leitura orante da Bíblia, a

meditação, a contemplação e a ação prática. É impossível ler uma página de suas

obras sem encontrar uma ou mais citações da Sagrada Escritura. Era um homem da

Palavra de Deus, falava com Deus para depois falar de Deus.

A Palavra de Deus não somente tocou sua mente, mas, sobretudo, penetrou

em seu coração. É como se lê em Isaías: “Como a chuva e a neve descem do céu e

para lá não voltam, sem terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a

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germinar, dando semente ao semeador e pão ao que come, tal ocorre com a palavra

que sai da minha boca: ela não torna a mim sem fruto; antes ela cumpre a minha

vontade e assegura o êxito da missão para a qual a enviei”. (Is 55,10-11).

A Palavra de Deus provocou duplo rumo em sua vida: a conversão para

Deus e a entrega total aos irmãos. A meditação da Palavra foi um dos meios pelos

quais descobriu o amor enlouquecido de Deus pelos homens. (LIGÓRIO, 1992). A

exemplo de Jesus, ele buscou, constantemente, doar a vida pelos irmãos. “E o

Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (Jo 1,14).

Afonso Maria de Ligório teve contato com as obras bibliográficas de Teresa

de Jesus no seminário. Ela se tornou para ele uma grande referência do mundo

eclesial. Sobre ela, encontramos um texto de seu próprio punho:

A experiência é sua mestra, arrastando-nos a seu próprio caminho, ela nos conduz da tibieza à virtude, à santidade, à contemplação, ao interior mesmo do divino. Sua intuição descobre as molas secretas do homem com a lucidez mais fina; contempla e desvenda as profundezas de Deus na união mística mais íntima. Isso junto com um bom senso sólido e luminoso, com uma fraqueza humilde e encantadora, com uma elegância que seduz e cativa, com um arrebatamento alegre e entusiasta: a alegria que nasce do amor. (REY-MERMET, 1982, p. 56).

Santa Teresa de Jesus foi uma das maiores influências na vida de Afonso

Maria de Ligório. Recolheu dela algumas características que o ajudaram na

elaboração de sua espiritualidade e missão como:

a) o amor especial pela humanidade de Jesus Cristo: o Verbo encarnado

que se esvaziou e tornou-se homem para salvar a humanidade;

b) a ênfase nos sacramentos da Igreja como meio para a santificação de

seus membros: a frequente pregação dos sacramentos, especialmente da Eucaristia

e da Reconciliação;

c) a importância dos ensinamentos dos Concílios Universais da Igreja.

(OLIVEIRA, 2004).

Devido a essa grande significância de santa Teresa, as obras afonsinas,

sobretudo as espirituais, estão permeadas de citações, textos e estilo teresiano.

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Seu segundo mestre na formação espiritual foi São Francisco de Sales, que

era, no momento em que ele se preparava para o sacerdócio, um dos nomes mais

relevantes na Igreja. Afonso Maria de Ligório era escrupuloso, São Francisco de

Sales foi quem mais o ajudou a libertar-se dos escrúpulos. Chegou a concluir: “Deus

é amor e exige apenas que amemos”. (LIGÓRIO, 1996, p. 11). Dessa escola

salesiana, sintetizamos alguns pontos que marcaram a espiritualidade afonsiana:

a) ele experimenta a abundância da graça de Deus, o amor e a salvação vêm

do amor incondicional de Deus como um dom oferecido para todos;

b) descobre que o amor de Deus é mansidão e ternura, capaz de provocar

no ser humano uma resposta de amor;

c) a preocupação de levar o povo a amar Jesus Cristo e de introduzir uma

piedade popular, por meio das devoções populares, principalmente para o povo mais

simples;

d) o povo de Deus precisa aprender que o necessário não é buscar o

extraordinário, mas fazer o ordinário de cada dia se tornar extraordinário.

(OLIVEIRA, 2004).

Em São Francisco de Sales, Afonso Maria de Ligório alimentou seu desejo

pelas ciências eclesiásticas, a fim de fazer o melhor para a Igreja e para o povo de

Deus. (MERMET, 1982).

Essas influências analisadas na vida, na formação e na missão do fundador

dos Redentoristas serão de grande valia para percebermos, também hoje, quais são

as influências que os jovens seminaristas recebem em seu processo de formação e

que levam para a vida como profissionais que irão exercer um serviço na sociedade,

ou seja, como religiosos consagrados para servir à Igreja e aos irmãos.

2.4.2 Formação humana e pastoral

Em sua infância e juventude, foi influenciado, profundamente, pela

experiência do “Oratório” de São Felipe Néri. Sua entrada na Confraria dos Jovens

Nobres e sua primeira comunhão marcaram profundamente a experiência vivida por

nove anos entre os filhos de Felipe Néri.

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O grande amor que Afonso Maria de Ligório teve pela eucaristia tem muito a

ver com sua devoção a São Felipe Neri, pois, quando falava da eucaristia, citava as

palavras que ouviu desse Santo: “Jesus na eucaristia é o amor. Eis o meu amor, dai-

me o meu amor!” (OLIVEIRA, 2004, p. 27).Dessa escola, o napolitano destacou

algumas características relevantes:

a) a espiritualidade da imagem de Deus: uma espiritualidade baseada em

assumir a participação da imagem e semelhança de Deus no cotidiano da vida;

b) a convergência da vida espiritual para três temas: Trindade, Encarnação e

Graça;

c) a referência da devoção à humanidade de Cristo e o sacramento de

Eucaristia, o qual foi um dos mais sublimes em sua vida;

d) o desenvolvimento da teologia a partir da realidade de vida de cada

pessoa: o estado de vida de cada um é considerado como lugar ou espaço em que

se deve alcançar a salvação;

e) o cultivo da vida interior desenvolvendo uma atitude de simplicidade e

obediência. (OLIVEIRA, 2004).

Na educação pastoral de Afonso Maria de Ligório, além da vida litúrgica e do

acompanhamento espiritual que fez com o Pe. Pagano, estiveram presentes,

também, as diversas associações pelas quais passou durante sua juventude e

maturidade, sempre entre os filipini, ou seja, os filhos espirituais de São Felipe Neri.

(OLIVEIRA, 2004).

Na confraria São José dos Jovens Nobres, permaneceu uma década. Aos

dezenove anos, passou para a Confraria dos Doutores da Visitação, chamada da

visitação por estar sob o patrocínio de Nossa Senhora da Visitação e ter como obra

de caridade a visita ao Hospital de Santa Maria do Povo, chamado Hospital dos

Incuráveis. Essa confraria dedicava-se à prática da oração, da leitura espiritual, da

formação e da caridade. (REY-MERMET, 1982).

Participou, também, da Confraria de Santa Maria da Misericórdia, “que

servia os peregrinos, sepultava os mortos de famílias carentes e dava assistência a

padres, mendigos e prisioneiros”. (OLIVEIRA, 2004, p. 22). Assim, percebe-se que o

mundo de Afonso Maria de Ligório foi, de fato, o mundo dos mais abandonados.

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Essas associações, além da dimensão espiritual e ascética, foram para ele

uma formação prática de pastoral de muito relevo. Isso o ajudou em seu

planejamento missionário. Essa experiência o colocou em contato direto com os

mais necessitados e ajudou-o a perceber a carência espiritual existente no mundo

dos pobres:

Sua opção pelos mais abandonados não é uma decisão tomada no afogadilho de um pensamento, mas gestada lentamente numa espiritualidade de lenta passagem ao mundo do abandonado que vai tornar-se um modo de viver natural e culminar na fundação de sua Congregação. Essa opção pelo Cristo pintada em seu coração e na tela torna-se um projeto pastoral, depois de ter-se imbuído de sua mentalidade e sentimentos. Nesse primeiro contato, desenha-se o que vai se atuar concretamente como opção na sua primeira experiência de vida sacerdotal. (OLIVEIRA, 2004, p. 23).

Juntamente com essa prática de piedade nas confrarias, nos exercícios de

cultivo da vida interior, Afonso Maria de Ligório se dedicava à prática da adoração

das quarenta horas de quando em quando. (REY-MERMET, 1982). Essa devoção o

aproximava ainda mais do Cristo no Sacramento da Eucaristia, prática que jamais

deixaria de exercê-la em seus mais diversos trabalhos apostólicos.

Outro fator foi o modelo pastoral que foi sendo elaborado. O projeto

missionário de Afonso Maria de Ligório não é somente fruto do modelo pastoral que

ele organizou, mas, igualmente, da vontade de anunciar o Redentor como expressão

do amor de Deus. (OLIVEIRA, 2004). Sua adesão a Cristo é radical, é identificada

com o Evangelho: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, carregue sua

cruz diária e me acompanhe”. (Lc 9,23). Ele viveu esse convite de Jesus dia após

dia em toda sua existência.

Seu jeito de ser e de viver ajudou-o a descobrir os pobres da cidade e do

campo. Eram homens e mulheres que não tinham voz nem vez. Essa situação de

abandono levou Afonso Maria de Ligório a optar pelos abandonados. Com essa

gente, encontrava-se em pequenas capelas à noite para rezar, cantar, aprender o

catecismo e confessar-se; por isso, vespertinas. Esse modo pastoral afonsiano faz

lembrar Paulo na comunidade de Filipos, que se reunia com pequeno grupo de

pessoas. (cf. At 16,11-15).

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A teologia pregada pelo grupo de Afonso Maria de Ligório é cristocêntrica,

ou seja, as pessoas encantavam-se com Jesus Cristo e faziam opção em segui-lo.

Essa adesão ajudava homens e mulheres a melhorarem de vida, saírem de uma

situação de vítima e se colocarem como protagonista de suas histórias. (OLIVEIRA

2004).

Com o tempo, as capelas se tornaram numerosas, com pequenos grupos

espalhados pela cidade, principalmente nas periferias. Essas capelas, com

lideranças capacitadas por Afonso Maria de Ligório, contribuíram para o êxito de

muita gente.

Essas Capelas foram obra de Afonso Maria de Ligório com seus penitentes. Esses grupos se tornaram educadores de base, de restauração social e espiritual. Havia padres zelosos que os acompanhavam, mas os líderes eram leigos engajados. (REY-MERMET, 1982, p. 195-196).

A experiência das capelas vespertinas e missões apostólicas contribuíram

muito para a fundação da futura Congregação do Santíssimo Redentor, mas o auge

do nascimento da Congregação teve raiz no encontro entre Afonso Maria de Ligório

e os cabreiros de Scala. Foi naquele lugar de extrema pobreza que ele armou sua

tenda para acolher aquelas pessoas que viviam em total abandono.

Ainda dentro da dimensão pastoral, após Afonso Maria de Ligório ter iniciado

os estudos em preparação ao sacerdócio, passou, também, a ajudar como membro

inscrito nas “Missões Apostólicas”, onde permaneceu como padre. Tratava-se de

uma Congregação de clérigos seculares, fundada em 1646, conhecida pelos padres

da catedral, que se dedicavam com zelo às missões paroquiais na cidade e no reino

napolitano. Desse grupo, Afonso Maria de Ligório tirou de aprendizado que vida

apostólica e missão são uma só coisa. A comunidade é o motor que move a missão.

(REY-MERMET, 1982). Não existe missão sem a comunidade e a comunidade não

pode existir sem a missão.

A obra futura de Afonso Maria de Ligório nasceu da atividade missionária

que o encantou. Sua experiência pré-fundacional caracterizou-se pelo envolvimento

com três realidades fundamentais, vividas em plena comunhão, conforme descreve

o autor: “Cristo, pobre, evangelização”. (OLIVEIRA, 2004, p. 35). Há uma

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identificação dos desejos e da vontade de Afonso Maria de Ligório com a proposta

de Reino de Deus apresentada por Jesus.

2.5 INSTITUIÇÃO E CARISMA REDENTORISTA

Afonso Maria de Ligório teve consciência da vontade salvífica de Deus.

“Com efeito, Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito, para que

não morra quem nele crê, mas que tenha a vida eterna”. (Jo 3,16). Ele se empenhou

totalmente para que todas as pessoas pudessem encontrar a salvação. O Instituto

Missionário, na visão do fundador, é uma resposta carismática ao Evangelho da

Salvação. “Pois a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos”. (Tt

2,11).

Os trabalhos desempenhados nas Missões Apostólicas e nas Capelas

Vespertinas foram realizados com tanta doação que Afonso Maria de Ligório chegou

a ficar doente. Orientado pelos médicos, o jovem missionário foi até as alturas de

Santa Maria dos Montes, além de Scala e Ravello, para restabelecer a saúde. O

caminho foi percorrido em tom poético:

O caminho é tão belo que não desejava, nesta manhã de nada mais belo na terra. A aspereza cálida da rocha, a abundância do ar penetrante, os odores, a limpidez, tudo me cumulava do adorável encanto de viver. O fascínio das rochas cheias de dobras e de surpresas, a profundeza desconhecida dos vales, unindo-se à minha força, à minha alegria, favorecendo minha arrancada. (REY-MERMET, 1982, p 227).

Entre tantas experiências, essa foi a mais tocante em sua vida. Foi nesse

lugar que ele conheceu um mundo de miséria. Nesse submundo, encontrou os

abandonados dos mais abandonados. “Evangelizei cidades e vilas populosas,

providas de socorros espirituais, enquanto estes pobres coitados vivem ao léu, sem

ter quem lhes distribua o pão da palavra de Deus”. (MICHELOTTO, 1980, p.50).

Essa realidade converte mais ainda seu coração ao coração de Cristo. Tem

o mesmo sentimento de Jesus: “vendo as multidões, teve compaixão delas porque

estavam cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor”. (Mt 9,36).O estado

lamentável daquele povo impressionou-o profundamente e não tardou em socorrê-

lo. Voltando para Nápoles, já não tinha dúvida de que Deus o chamava para

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evangelizar os pobres das montanhas de Santa Maria dos Montes. Sobre isso,

escreveu seu biógrafo, o Pe. Tannoia:

Afonso tinha deixado seu coração em Santa Maria dos Montes junto aos pobres. Considerando a necessidade daquela gente, pedia a Deus que suscitasse entre os filhos de Abraão, alguém que se interessasse pelo destino dos pastores e cabreiros abandonados [...] Deus que em Scala começara a traçar no coração de Afonso os primeiros esboços de sua obra, quis aperfeiçoá-los, ainda em Scala. (REY-MERMET, 1982, p.257).

Santa Maria dos Montes foi a inspiração para fundar uma Congregação de

missionários inteiramente dedicada ao ministério do povo mais abandonado do

campo. (MICHELOTTO, 1980). Inspirado naquela carente realidade de abandono e

na leitura do Salmo 130, Afonso Maria de Ligório fundou a Congregação do

Santíssimo Redentor para contribuir com a redenção no mundo.

Sendo homem de meditação da Palavra de Deus, jamais deixou de alicerçar

a fundação de sua obra em textos bíblicos. “Israel, põe em Javé tua esperança

porque em Javé está a misericórdia e nele copiosa redenção”. (Sl 130,7). Outra

fonte inspiradora foi o texto de Lc 4,18: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque

me ungiu para evangelizar os pobres”. Assim encontramos o texto que revela a

finalidade da obra:

O único fim do Instituto será de continuar o exemplo do Salvador Jesus, pregando aos pobres a palavra de Deus, como declarou Ele de si mesmo: ‘Ele me enviou a pregar a Boa-Nova aos pobres’ (Lc 4,18). Consequentemente, os súditos dessa Congregação empenhar-se-ão a fundo, sob a obediência aos bispos, em ajudar, por missões e doutrinação, os habitantes dos campos e das localidades rurais, sobretudo os mais desprovidos de recursos espirituais. (REY-MERMET, 1982, p.233).

Sendo assim, na manhã de 09 de novembro de 1732, Afonso Maria de

Ligório e mais cinco missionários se juntaram para celebrar a missa que deu origem

à Congregação do Santíssimo Redentor. (REY-MERMET, 1982). A Congregação

nasceu com um carisma próprio conforme descreve esta constituição:

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Fortes na fé, alegres na esperança, fervorosos na caridade, inflamados no zelo, humildes e sempre dados à oração, os Redentoristas, como homens apostólicos e genuínos discípulos de Santo Afonso, seguindo contentes a Cristo Salvador, participam de seu mistério e anunciam-no com evangélica simplicidade de vida e de linguagem, pela abnegação de si mesmos, pela disponibilidade constante para as coisas mais difíceis, a fim de levar aos homens a copiosa redenção. (CSSR, 2004, n° 20, p. 16-17).

Afonso Maria de Ligório quis que a obra missionária fosse eficaz na Igreja e

no mundo, para ajudar os homens a interpretarem os sinais da presença e do

desígnio de Deus na história. Ao dar testemunho de Jesus Cristo, homem perfeito, o

próprio evangelizador, progressivamente, foi se tornando mais maduro e mais

humano.

O carisma afonsiano estava no jeito simples e profundo de transmitir os

valores do Reino de Deus ao povo. O missionário Redentorista é chamado a estar

sempre nas fronteiras, nos lugares mais carentes e desprovidos de recursos

espirituais e sociais, anunciando com forte ardor missionário a vida em abundância

para todos.

Conclui-se que o caminho vocacional que percorreu Afonso Maria de Ligório

teve seu início no seio familiar, passando depois por pessoas e experiências que o

ajudaram a discernir algo que de fato o realizasse como pessoa humana. O Cristo

que lhe foi dado a conhecer e amar é uma pessoa concreta, alguém que assumiu a

condição humana, possibilitando que o humano se tornasse divino.

A atitude de Afonso Maria de Ligório se assemelhou à de Abraão. Sua

espiritualidade é uma espiritualidade de êxodo: deixa seu país por um país que o

Senhor lhe mostrou. O nobre cavalheiro de outrora, revoltado com a injustiça, gira

em outro mundo, o mundo dos pobres. Ele foi padre para a Igreja, advogado da

misericórdia do Senhor para seus irmãos necessitados.

Para que essa proposta se tornasse verdadeira e autêntica, o próprio Afonso

Maria de Ligório elaborou um método próprio de pastoral. Esse método é o caminho

e a mística afonsianos para os missionários e destinatários da missão de todos os

tempos.

Portanto, o único fim da Congregação será continuar o exemplo de Jesus,

pregando aos pobres. “Ele me enviou para levar a Boa Nova aos pobres”. (Lc 4,18).

A passagem para o mundo do abandono, Afonso Maria de Ligório só fez depois de

ter experimentado o amor do Cristo. Amor aos pobres é uma opção concreta em

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Cristo. Na realidade, não há diferença entre essas duas opções, pois, de Cristo, o

missionário vai ao abandonado e, do abandonado, vai a Cristo.

No próximo capítulo, buscarei elucidar a chegada da comunidade

Redentorista em Campinas, SP. Percebe-se que, conforme a época histórica, a

comunidade sempre se sentiu inquieta tentando responder os sinais dos tempos a

partir do carisma.

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CAPÍTULO III – A COMUNIDADE RELIGIOSA REDENTORISTA EM

CAMPINAS

Sou ciente de que tudo que sei é quase nada diante do que eu posso aprender8.

As vivências no seminário, os estudos acadêmicos e a prática pastoral

levaram-me a originalidade da epígrafe descrita acima. A pessoa humana é um ser

de abertura e possui, constantemente, a capacidade do aprendizado. Assim, o

espaço de atuação pastoral tem sido não só para mim, como também para a

comunidade Redentorista, um laboratório de experiências e de conhecimentos.

A presença da Congregação do Santíssimo Redentor em Campinas, SP,

teve sua origem no ano de 1977, ao se instalar na cidade com a finalidade de

conquistar um espaço adequado à formação humana e cristã dos seminaristas e

responder às suas necessidades de estudantes de filosofia em preparação para

assumir a vida religiosa sacerdotal.

Em parceria com a Arquidiocese de Campinas e a Diocese de Limeira, a

Congregação contribuiu para que fosse fundado um curso de filosofia na Pontifícia

Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).

Naquela época, nossa Congregação, e de certo modo toda a Igreja, vivia

tempos de transição. Os estudantes de filosofia eram preparados por meio de cursos

internos, ou seja, aulas administradas no próprio seminário, mas esses cursos

internos já não estavam mais respondendo às exigências do contexto da época.

Como segue no anexo, o relato completo do Pe. Scudeler, um dos primeiros

formadores Redentoristas em Campinas:

“A cidade de Campinas parecia ser um local central com um contexto eclesial favorável, um curso de filosofia que abriu a possibilidade de oferecer uma filosofia adaptada às exigências eclesiásticas em três anos”.

Nesses mais de trinta anos na cidade de Campinas, nossas comunidades se

estabeleceram em diversos bairros. Inicialmente, no Cambuí, depois no bairro

8Sebastião Fernandes Daniel

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Taquaral e, a partir de 1986, nossas pequenas comunidades foram sendo inseridas

em bairros da periferia de Campinas; em 2005, depois de um árduo processo de

discernimento, passamos a residir na Rua Ernesto Alves Filho, 164, Jd. Campos

Elíseos, nosso atual endereço, território pertencente à Paróquia São José Operário.

De 1977 até 2008, nossa comunidade religiosa e formativa sempre esteve

comprometida com um trabalho na pastoral da Igreja de Campinas, ajudando em

várias paróquias. Desde quando chegamos ao Jardim Campos Elíseos, o trabalho

mais árduo vinha sendo realizado junto à Paróquia Santa Luzia até que, em 2002,

vislumbramos uma nova área pastoral missionária na região do Campo Grande, a

Paróquia Jesus Cristo Libertador.

Aquele contexto de periferia nos inquietava, pois aquela realidade respondia

à nossa motivação e ao nosso carisma, visto que estar junto aos mais pobres e

abandonados, com todos nossos limites e qualidades, é a razão de existir da

Congregação do Santíssimo Redentor. Assim descreve Chiovaro:

A Congregação do Santíssimo Redentor, [...] tem como finalidade continuar o exemplo de Jesus Cristo Salvador, pregando aos mais pobres a Palavra de Deus, como disse Ele de si mesmo: Enviou-me para evangelizar os pobres. (CHIOVARO, 1996, p. 147).

Como foi visto no capítulo anterior, foi com essa finalidade que Santo Afonso

Maria de Ligório fundou a Congregação do Santíssimo Redentor. Por isso, esse

tema da inserção é tão caro e provocativo na vida dos missionários Redentoristas. É

algo que nos tira da zona de conforto, faz-nos transgredir fronteiras, pensar de outro

lugar, reinventar novos métodos de formar, lança-nos a lugares carentes e

necessitados da ação evangelizadora.

Para nós, evangelizar é despertar e oferecer elementos para a pessoa

assumir a sua própria história como sujeito ativo e integrado na sociedade. A

Congregação quer ser para o ser humano uma presença viva de Jesus. “Eu vim

para que todos tenham vida”. (cf. Jo 10,10).

Em 2008, foi criada e confiada a nós a Paróquia Santo Afonso Maria de

Ligório, situada na periferia de Campinas, na região do Campo Grande. A partir do

ano de 2011, nossos seminaristas, que vinham atuando em diversas paróquias,

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passaram a atuar, todos, nessa nova paróquia. O trabalho pastoral que eles

exercem é realizado aos finais de semana.

A Comunidade Redentorista que está em Campinas identifica-se pela

riqueza em sua diversidade cultural. Atualmente, contamos com 14 seminaristas

candidatos à Vida Religiosa Sacerdotal; desses, dois estão cursando o terceiro e

último ano de filosofia, quatro estão no segundo ano e oito no primeiro.

A comunidade religiosa está composta por seis religiosos, um irmão e cinco

padres. Trabalham na formação dos jovens, como formadores, o Pe. Maciel

Pinheiro, o Pe. Sebastião Fernandes Daniel e o Ir. Walter Souza da Conceição. O

Pe. Antônio Carlos Barreiro é o pároco da Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório; o

Pe. Edvaldo Manoel de Araújo é professor universitário na PUC-Campinas e, aos

finais de semana, auxilia no trabalho pastoral; e o Pe. Reinaldo Norberto das Graças

Tristão atende diversos trabalhos pastorais em nome da comunidade Redentorista,

incluindo a Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório.

Nossa comunidade dedica-se a buscar integração nas dimensões humano-

afetiva, intelectual, vida comunitária, pastoral, espiritual e vocacional. Ao mesmo

tempo, busca o conhecimento mútuo, o amadurecimento humano e o

desenvolvimento de capacidades essenciais à vida religiosa consagrada.

Somos uma comunidade missionária com qualidades e limites e buscamos

fazer o melhor naquilo que a nós está sendo confiado pela Congregação do

Santíssimo Redentor e pela Arquidiocese de Campinas. Nesta breve e objetiva

apresentação, ressaltamos que a missão e a vocação da comunidade é viver

comunitariamente e testemunhar o Evangelho por meio do anúncio explícito da

Palavra de Deus, ou seja, pelo modo fraterno de viver.

Após termos feito um caminho apresentando a Congregação dos

Missionários Redentoristas e sua finalidade vocacional em Campinas, iremos

descrever, de maneira sintética, a história da Região do Campo Grande com o

enfoque religioso.

3.1 REGIÃO PASTORAL CAMPO GRANDE

Com pudemos perceber na vida e na missão de Afonso Maria de Ligório, o

aspecto pastoral sempre inquietou o seu coração. Essa inquietação também se faz

presente nos corações de seus filhos espirituais que hoje continuam a missão. Foi

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por essa inquietação pastoral que a comunidade que está em Campinas, SP, tomou

contato com a realidade do Campo Grande e percebeu que era um lugar de missão

Redentorista.

Figura 2- Trabalho Pastoral na Região do Campo Grande

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

O propósito deste subtema não é só contar ao leitor sobre o nosso trabalho

nesse contexto, mas mostrar, também, que esse trabalho pastoral é de suma

importância para a formação dos jovens estudantes de filosofia, futuros sacerdotes,

que hoje atuam na pastoral como seminaristas. O Documento da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil - Publicações da CNBB - Documento 3 sobre a

Evangelização da Juventude descreve:

A sensibilidade especial dos jovens para as situações de pobreza e desigualdade social nos abre caminho espiritual e de formação de consciência. Jesus revela que o pobre é um sinal de sua presença em nosso meio [...] O pobre é alguém que não nos deixa dormir em paz. (EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE, 2007, p. 34).

A evangelização da juventude interessa muito à Igreja e também à nossa

Congregação. Temos um compromisso com a formação das novas gerações que,

pressionadas por tantas propostas de vida, necessitam de apoio, de discernimento,

de coragem, de verdadeiros caminhos e, principalmente, de nossa presença amiga.

O presente e o futuro da Igreja dependem dessa nossa opção afetiva e efetiva por

eles. Acreditamos que a pastoral do Campo Grande – região periférica de Campinas

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– pode oferecer motivações e realizações aos jovens que almejam assumir a vida

religiosa Redentorista.

A história dos bairros do Campo Grande é uma rica experiência de vida e de

fé do povo, em sua maioria imigrante, vindo de diversos estados em busca de uma

vida mais digna. No prefácio do Livro “Memórias do Campo Grande”, o historiador,

José Oscar Beozzo descreve:

Esta experiência tão rica de vida comunitária e a pastoral urbana foi construídas fora dos moldes tradicionais e apontando para um outro modelo de Igreja: popular, unindo fé e vida, alimentando-se da palavra de Deus, com protagonismo de leigos e sobretudo leigas. As comunidades foram acompanhadas por uma equipe de animadores e animadoras formada por religiosas, padres, e profissionais solidários com as lutas populares. A equipe ajudou a articular numa grande rede as 31 comunidades da região. Gozando cada uma destas comunidades de muita autonomia, estavam, entretanto, solidamente interligadas, conseguindo influir nos rumos pastorais e nas prioridades da Arquidiocese de Campinas e impactar a vida política da cidade. (BEOZZO, 2011, p. 16).

Os protagonistas do Campo Grande com suas experiências de comunidades

articuladas em redes e com suas teimosias em articular fé e vida, compromisso

religioso e engajamento social e político, iluminaram caminhos possíveis para o

testemunho cristão e deram direções aos desafios de uma pastoral urbana. É um

novo jeito de ser Igreja, de se formar estruturas essencialmente comunitárias

alicerçadas nos serviços e ministérios promovedores de vidas.

Muitas águas correram até a formação da Paróquia Santo Afonso Maria de

Ligório. Houve muita luta e muita gente envolvida em sua construção. O padre

Benedito Ferraro foi influente na história da região do Campo Grande pela sua

formação. Ele destaca as motivações que o levaram a optar pelo trabalho pastoral

na periferia de Campinas:

Eu sou fruto do Concílio Vaticano II, quer dizer sou fruto do movimento de 68. Então, nós éramos uma geração rebelde, diferente da geração, da juventude de hoje. Naquela época, nós tínhamos um desejo de sair da ditadura, tínhamos muitos amigos perseguidos, mortos e exilados. Então, nós fomos forjados em um forno da liberdade, da busca de democracia e também a Igreja nos ajudou nesse ponto. Nós estávamos num momento em que a Conferência de Medellín, em 68, apontou caminhos importantes na perspectiva de uma igreja comprometida com as lutas do povo. (FERRARO, 2011, p. 90-91).

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É importante destacar que naquela época, meados da década de 1990, a

Diocese de Campinas era dividida em regiões pastorais. O Campo Grande pertencia

à região pastoral do Campos Elíseos que, por sua vez, era dividida em cinco setores

e não em foranias como é hoje. A região pastoral Campo Grande pertencia ao setor

Santo Dias e o padre Benedito Ferraro, com um pé na universidade e outro na

realidade do povo, coordenava os trabalhos. Assim, ele próprio descreveu a sua

opção como parte integrante de um movimento que se deu com a abertura da Igreja

ao mundo dos pobres e oprimidos:

Tudo isso, acho, forjou esse grupo de padres que começou um trabalho na periferia de Campinas por volta de 1968, como projeto das vilas planejadas, depois se ampliou pelos bairros loteados e, junto com a comissão arquidiocesana de CEB’s e vilas planejadas e alguns bairros, fomos ajudados a termos esse papel, então, mais libertador. (FERRARO, 2011, 91-92).

A região pastoral naquela época era uma área territorial imensa. Até o ano

de 1993, estendia-se na vastidão da Avenida John Boyd Dunlop, indo do Jardim

Londres até o Campina Grande. Eram 25 comunidades e, aproximadamente, 80 mil

pessoas ao longo dos 13 quilômetros de avenida. Nesse momento, foi criada a

Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, que incorporou as comunidades dos

Jardins Garcia, Londres e Castelo Branco, deixando a Paróquia Jesus Cristo

Libertador com as 21 comunidades restantes, da Rodovia dos Bandeirantes até o

Campina Grande. (SILVA, 2011).

Ainda nessa ocasião, o padre João Batista Cesário foi nomeado pároco da

Paróquia Jesus Cristo Libertador e, com isso, o padre Benedito Ferraro, de modo

lento, foi deixando os trabalhos pastorais na região para assumir outras atividades.

O jovem padre recém-ordenado tinha árdua missão em continuar os trabalhos junto

às comunidades.

Em 2001/2002, não se tem a data precisa, o padre João Batista Cesário

pediu para estudar e foi delegado para uma paróquia menor. Pelo que percebemos

nos relatos, os trabalhos foram continuados na mesma linha pastoral. “Padre João

Batista Cesário estimulava a formação da consciência do povo. Queria mostrar à

importância de se olhar a realidade, ao invés de apenas rezar. Depois dele, a igreja

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se retraiu um pouco e não alimentou mais essa organização”. (CECÍLIO, 2011, p.

116).

O novo pároco que assumiu a Paróquia Jesus Cristo Libertador, padre

Rogério Andrade Santeri, não se adaptou à realidade do povo e, por isso, teve uma

curta passagem nessa área pastoral. Em 2003, tomou posse o novo pároco, padre

Rafael Capelatto, que havia trabalhado como seminaristas na região pastoral. A

paróquia contava com, aproximadamente, 110 mil pessoas e era formada por 27

comunidades. (SILVA, 2011).

Não é preciso fazer muito esforço para perceber nas páginas do livro

“Memórias do Campo Grande” o quanto a política partidária e os conflitos internos

vividos na Igreja absorveram a vida das lideranças das comunidades, visto que eram

pessoas comprometidas com partidos políticos, principalmente com o PT, mas,

também, comprometidas com a causa do Reino de Deus. As novas lideranças que

foram chegando tinham outras motivações espirituais, eram pessoas influenciadas

pela Renovação Carismática Católica. (CECÍLIO, 2011).

Foi nesse cenário que a Congregação do Santíssimo Redentor chegou à

Paróquia Jesus Cristo Libertador. Os missionários Redentoristas já estavam

buscando uma nova realidade de trabalho, pois achavam que existia uma pastoral

com maior carência e necessidade do que a do Jardim Campos Elíseos. Assim

relata o padre Antônio Carlos Barreiro, pároco da Paróquia Santo Afonso Maria de

Ligório:

Era desejo de D. Bruno Gamberini, Arcebispo da Arquidiocese de Campinas, de que os Redentoristas assumissem uma paróquia na cidade de Campinas. A Província de São Paulo me enviou para um trabalho pastoral, e por 02 anos trabalhei em conjunto com Pe. Rafael Capelatto na região Campo Grande, na Paróquia Jesus Cristo Libertador. Fui bem acolhido. Em 2008, por ocasião do centenário da arquidiocese dividiu-se a região Campo Grande em 03 paróquias, e os Redentoristas assumiram uma paróquia com 11 comunidades, tendo como padroeiro Santo Afonso Maria de Ligório. Procuramos manter o trabalho das Comunidades Eclesiais de Base, rede de comunidades irmãs. Incentivamos a corresponsabilidade nas decisões tomadas colegialmente, num espírito missionário, acolhedor e solidário com os necessitados, dando atenção e carinho às pastorais sociais. Implantamos o caixa comum, traço marcante de uma Igreja Ministerial. (PARÓQUIA SANTO AFONSO, 2013).

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Em 2002, eu cursava o segundo ano de filosofia na PUC-Campinas como

seminarista Redentorista e fazia pastoral na Paróquia Santa Luzia, no Jardim

Campos Elíseos. Lembro-me de que um dos meus formadores, padre Marcelo

Conceição Araújo, começou a ajudar o padre Rogério Andrade Santeri, na Paróquia

Jesus Cristo Libertador. Logo, o padre Rafael Capelatto assumiu a Paróquia e nós,

Redentoristas, passamos a ter uma participação mais efetiva naquela pastoral.

Em 2003, junto com o padre Marcelo Araújo, foram designados alguns

seminaristas para ajudar aos finais de semana nas pastorais. Era um novo cenário

que se abria com esperanças para nós formandos, pois fazer pastoral nas periferias

era o sonho de alguns seminaristas Redentoristas. Embora essa possibilidade fosse

esperada como motivação para alguns, para outros, havia uma inquietação, visto

que nem todos estavam dispostos a enfrentar uma realidade pastoral com maiores

desafios.

Em 2005, o padre José Antônio Carlos Barreiro ficou designado para

continuar os trabalhos, organizando a área pastoral que logo se tornou paróquia e

ficou aos cuidados dos missionários Redentoristas. Assim descreve o pároco:

Antes de desmembrar a Paróquia, a região C. Grande (que era somente Paróquia Jesus Cristo Libertador) tinha 28 comunidades e foi feito um estudo de subdivisão paroquial. Ao desmembrar ficou: Jesus Cristo Libertador 08 comunidades, Pio X 09 comunidades e Santo Afonso 11 comunidades. Portanto, a partir da criação passei a atuar nas 11 comunidades. (PARÓQUIA SANTO AFONSO, 2013).

As lideranças leigas da paróquia tiveram um papel relevante na continuação

dos trabalhos junto ao padre Antônio Carlos Barreiro. Formado por representantes

das comunidades, criou-se o Conselho Pastoral Paroquial (CPP), um organismo com

a finalidade de planejar, tomar decisões, executar e avaliar a Pastoral Orgânica.

Esse grupo constituiu-se por pessoas ativas na vida das comunidades, participantes

das celebrações e das atividades promovidas: leigos conscientes da importância do

trabalho corresponsável, numa Igreja de participação e comunhão.

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3.2 PARÓQUIA SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

A Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, hoje, é constituída por 13

comunidades, sendo duas delas bem recentes, iniciadas no ano de 2012. Embora

vivendo em tempos modernos, essa realidade nos reporta às primeiras comunidades

dos Atos dos Apóstolos, que se reuniam nas casas de famílias (cf. At 16), e,

também, ao próprio contexto com o qual se originaram as Comunidades Eclesiais de

Base (CEBs) na região do Campo Grande. Assim relata um morador da região no

Livro Memórias do Campo Grande: “Na região, não tinha um lugar próprio para

celebrar. A princípio, não tinha igreja, mas havia as casa, a colina, a sombra da

mangueira, do pé de jatobá, a barraca de lona, a pensão da Dona Albertina”.

(GOMES, 2011, p. 30-31).

Faremos, agora, uma breve apresentação das comunidades que constituem

a Paróquia Santa Afonso Maria de Ligório.

Partindo de um mesmo território geográfico e de uma mesma Paróquia, cada

comunidade tem suas peculiaridades, suas individualidades e, sem dúvida, uma

diversidade muito enriquecedora para todos, principalmente para os seminaristas em

processo de formação. É uma realidade considerada por nós como um laboratório

prático de experiências pastorais.

No ano de 1979, um grupo de moradores da região do Campo Grande,

região essa composta pelos bairros Parque Valença, Novo Maracanã, Jardim

Maracanã, Jardim Metonópolis, sentindo a necessidade de uma assistência

religiosa, começou a se reunir aos domingos para celebrar a Palavra de Deus. Na

época, Dom Gilberto, Bispo de Campinas, tendo consciência da necessidade,

autorizou o padre José Luiz Nogueira a dar toda assistência possível à formação de

uma Cebs naquela região.

Figura 3 - Comunidade Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

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No dia 30 de dezembro de 1979, o padre José Luiz Nogueira celebrou a

primeira missa. Em março de 1980, a comunidade começou a ser assistida pelo

padre Benedito Ferraro, sendo que, em agosto do mesmo ano, a comunidade, em

festa, recebeu a visita do Bispo. No mesmo ano ainda, foi realizada a primeira festa

da comunidade e, em seu final, por razões julgadas justas pela comunidade, ficou

decidido que o nome da futura capela seria Nossa Senhora de Guadalupe, em

homenagem a padroeira da América Latina. Em 17 de maio de 2008, ano do

centenário da Arquidiocese de Campinas, a sede da Paróquia foi designada à Igreja

da Comunidade Jesus de Nazaré, situada na Rua José Bressani, no número 86, no

bairro Parque Itajaí II (13058-081), em Campinas, SP, tendo como responsável a

Cúria Metropolitana de Campinas. Para o adequado cuidado pastoral da Paróquia

de Santo Afonso Mario de Ligório, em Campinas, por sua provisão e na

conformidade com o Cânon 540, nomeamos o Padre Antônio Carlos Barreiro, seu

administrador Paroquial. (Livro Tombo).

Figura 4 - Comunidade Jesus de Nazaré

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

O modelo pastoral que direciona a paróquia são as redes de comunidades.

Como vimos nos relatos anteriores, essas comunidades surgiram no contexto

fortemente marcado pelas CEBs. Embora existisse, desde o início da paróquia, a

Comunidade Jesus de Nazaré como ponto central, não houve a preocupação de

uma comunidade matriz.

Figura 5 - Evangelização

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

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Os talentos pessoais e comunitários das pessoas comprometidas nas

comunidades fizeram e fazem, cada vez mais, da paróquia um corpo missionário,

um espaço evangelizador no qual se evangeliza e se deixa ser evangelizado. As

próprias diferenças de cada comunidade têm sido um fator colaborador para que se

busque na diversidade a unidade.

A comunidade Santo Antônio de Santana Galvão está localizada na Rua

Benedito Moreira Lopes, 323 - Conjunto Residencial Parque São Bento.

Desde 1998, existem os grupos de rua no bairro residencial Parque São

Bento, que se reúnem para realizar vias-sacras, terços e outros acontecimentos da

comunidade.

Figura 6 – Comunidade Frei Galvão

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

No dia 28 de outubro de 2007, a comunidade recebeu a visita pastoral do

Arcebispo Dom Bruno Gamberini. Durante a visita, Dom Bruno percorreu algumas

comunidades e bairros, entre eles o residencial Parque São Bento, percebeu a

necessidade de uma Capela no Bairro e autorizou a compra do terreno. “Foi feita a

compra do terreno e hoje já temos o local que será construída a nossa Igreja”.

(Relato de uma das lideranças da Comunidade).

Segundo o relato de uma pessoa da Comunidade São Luiz Gonzaga, em

dezembro de 1998, iniciou de modo informal a Pastoral da Criança, com visitas nas

famílias necessitadas e doações de mantimentos.

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Figura 7 – Comunidade São Luiz Gonzaga

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

Em pouco tempo, a Pastoral de Criança ia se deparando com muitos casos

de crianças desnutridas. Por isso, o grupo se viu no direito e no dever de se fazer

algo em prol daquelas pessoas da região.

Em maio de 1999, com o grupo “Sopro de Vida”, iniciou-se de modo oficial a

Pastoral da Criança. Esse grupo já trabalhava no bairro com a catequese ecumênica

e ajudava algumas famílias que necessitavam de ajuda espiritual e material.

Figura 8 – Pastoral da Criança

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

“Sopro de Vida” é um grupo de trabalho voluntário da Paróquia Nossa

Senhora das Dores no Bairro do Cambuí – Campinas – que ajudou e continua

ajudando na implantação desse projeto na Comunidade São Luiz Gonzaga. Por

meio da Pastoral da Criança, percebeu-se a necessidade de se ter uma igreja, ou

seja, um local para os católicos se reunirem.

No dia 23 de fevereiro de 2003, foi oficializada a comunidade com a

celebração de uma missa presidida pelos padres João Batista Cesário e Nélson no

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campo de futebol. O povo saiu em procissão carregando uma cruz da casa do Sr.

Paulinho até o local. O nome do padroeiro da comunidade foi escolhido devido à

participação dos jovens: São Luiz Gonzaga.

Dentro desse significativo relato da origem dessa comunidade está, também,

a fala de uma paroquiana que é relevante para nós Redentoristas: “Ainda no mesmo

ano chegou o Pe. Marcelo que veio ajudar nos trabalhos da Paróquia e que foi uma

benção para toda a Paróquia, que estava passando por uma crise”.

É relevante pelo fato de o padre Marcelo ser missionário Redentorista; ele

lutou muito para que a nossa comunidade assumisse aquela realidade pastoral tão

desafiadora. Essa motivação pela causa dos mais carentes é um referencial em

nosso processo formativo e evangelizador.

A Comunidade Santíssima Trindade está localizada na Rua Clemente João

Milani, s/n – Parque Floresta I – Campinas – SP.

Figura 9 – Comunidade Santíssima Trindade

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

No dia 13 de abril de 2002, em reunião do Conselho da Comunidade, dentre

outros assuntos, começou-se a pensar em construir uma Igreja. Com a ajuda de

uma arquiteta, esboçaram-se os primeiros projetos dela e, cuidadosamente,

calcularam-se os espaços internos, externos e o modelo da construção. Para

arrecadar os fundos necessários para o início da obra, foram realizadas festas, rifas

e chás beneficentes. No dia 07 de Julho de 2002, iniciou-se a sua construção. Toda

ela foi construída por meio de mutirões aos domingos. Por falta de verbas, já que o

bairro onde se encontra essa comunidade é bastante carente, a Capela ainda está

inacabada.

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Figura 10 – Comunidade São Sebastião

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

Segundo contou uma moradora do bairro Campina Grande, Dona Maria

Ferreira, ela precisava batizar sua filha Ana Paula e, por isso, procurou o Pe.

Benedito Ferraro que atendeu prontamente o pedido realizando o batizado no dia 02

de agosto de 1984 na comunidade Santa Maria dos Oprimidos.

Por meio dessa família, o Pe. Benedito Ferraro chegou até o Sr. Sebastião e

a Dona Idair, os quais, motivados por ele, começaram a rezar o terço na casa das

famílias e mais tarde passaram a celebrar missas também nas casas ou embaixo

das árvores.

Com o passar do tempo, a comunidade comprou um terreno e começou a

construção de uma capela. A primeira missa foi presidida pelo Pe. Benedito Ferraro

e a comunidade passou, então, a ter um espaço para catequese e reuniões; por

meio de lutas e protestos, conseguiram trazer para o bairro a água encanada.

Até 1986, os bairros vizinhos faziam parte de uma mesma comunidade,

Nossa Senhora de Guadalupe. Devido ao grande aumento da população e dos

participantes dessa comunidade, decidiu-se subdividi-la em vários bairros, dividindo,

também, as responsabilidades de organização.

No dia 13 de junho de 1987, foi presidida pelo Pe. Benedito Ferraro a

primeira missa que inaugurou a Comunidade Nossa Senhora de Lourdes no jardim

Novo Maracanã. Como a comunidade ainda não tinha um local para se reunir, por

algum tempo, as reuniões e celebrações aconteceram na casa de Dona Lourdes.

Mais tarde, passou-se a reunir na Escola “Professor José Carlos de Ataliba

Nogueira” até a construção da capela. Tudo aconteceu com o sacrifício de muitas

pessoas, doações de materiais e trabalhos de mão de obra em mutirão.

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Figura 11 – Comunidade Nossa Senhora de Lourdes

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

A Comunidade Nossa Senhora de Fátima começou com a dona Rita, uma

mulher simples que chegou com a sua família do Ceará; ela começou rezando o

terço nas casas em 1986.

Foi realizada a primeira missa num terreno baldio, também presidida pelo

Pe. Benedito Ferraro. Conforme o relato de algumas pessoas, a cada missa que se

rezava, aumentavam as pessoas. Com isso, surgiu a ideia de formar uma

comunidade, porém, não havia um local para se reunir. As celebrações continuaram

nas casas até que foi construída uma capela. É interessante perceber as iniciativas

e os trabalhos das mulheres. Encontramos este relato:

Figura 12 – Comunidade Nossa Senhora de Fátima

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

“Nas missas que alguns padres não poderiam vir, ficamos muito

emocionados, quando vimos uma mulher fazer a 1ª celebração, que foi a dona

Luzia; a partir daí foi incentivando outras pessoas para partilhar nas celebrações e

nos movimentos de comunidades.” (COORDENAÇÃO DA COMUNIDADE).

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Esse relato é importante para não perdermos de vista o protagonismo da

mulher na comunidade visto que estamos percebendo pelas histórias das

comunidades, suas origens e lutas, conquistas e êxitos, o destaque delas. São

pessoas ousadas, possuidoras de fé e esperança em um novo mundo possível.

Figura 13 – Comunidade Rainha da Paz

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

Norma e Bene moram no Clube Santa Clara e participavam de missas e

grupo de oração na comunidade Nossa Senhora de Guadalupe. Começaram a rezar

o terço em suas casas e nas casas de outras pessoas. Cada vez mais as pessoas

pediam para que rezassem em suas casas. Isso começou em 22 de Janeiro de

2003.

Com a chegada do padre Nélson como vigário paroquial da Paróquia Jesus

Cristo Libertador, o grupo de mulheres que havia se formado teve apoio para

continuar de modo mais intenso as atividades religiosas no Clube Santa Clara. Com

a intermediação do padre, o Bispo Dom Bruno aprovou a nova comunidade dentro

do condomínio. No dia 31 de maio de 2003, foi celebrada, pelo padre Nélson, a

primeira missa no Clube Santa Clara. A partir daí, formou-se a comunidade Rainha

da paz. O Senhor Biaggio, proprietário do clube, doou um terreno para a construção

da capela da comunidade. Algum tempo depois, com muita ajuda de orações, de

trabalhos e de contribuições, foi construído o salão da comunidade, cuja primeira

missa ocorreu em 14 de janeiro de 2005.

A partir desse momento, todas as atividades da comunidade passaram a ser

realizadas nesse local. Com a ajuda de muitas pessoas, foi construída a igreja e, no

dia 25 de maio de 2007, realizada a primeira missa nessa nova Igreja.

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Figura 14 – Comunidade Nossa Senhora do Carmo

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2011

A comunidade Nossa Senhora do Carmo tem sua história não diferente das

demais comunidades, porém, não existe registro que mostre sobre a caminhada

dessa comunidade.

Uma senhora que faz parte da liderança do local escreveu para mim, em

poucas linhas, relatando como foi o início do processo. Fez referência a duas datas

importantes: uma, de 1979, quando um grupo de pessoas começava a se reunir nas

casas das famílias para rezar e outra, em 1986, exatamente dia 10 de maio, dia do

assassinato do Frei Carmelita, Pe. Josimo Morais Tavares, no Maranhão. Por conta

desse fato, algumas pessoas da comunidade quiseram homenageá-lo, sugerindo,

então, seu nome para a comunidade: “Comunidade Padre Josimo”. Porém, mais

tarde, entre este e outros nomes que surgiram, a comunidade recebeu o nome oficial

de Comunidade Nossa Senhora do Carmo.

Figura 15 – Comunidade Sagrada Família

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

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A Comunidade Sagrada Família iniciou suas atividades em 18 de dezembro

de 1992, com a reza do terço nas casas das famílias do Parque Itajaí III e IV. Os

padres Valmir, Claudinho e João Batista Cesário celebravam, também, uma vez por

mês nos lares. Esse grupo de padres e algumas religiosas, as quais não foi possível

identificarmos os nomes por não aparecerem na história dessas comunidades,

mantinham a linha pastoral do padre Benedito Ferraro.

Por um bom tempo, reuniram-se em um terreno baldio, onde, hoje, é o

terminal de ônibus do bairro. Algumas pessoas falaram com saudade dessas

experiências, vivendo como nômades, a exemplo do Povo de Deus no Deserto.

Por falta de recursos financeiros, a construção do salão comunitário, que

depois se transformaria em capela, caminhou de modo muito lento. Somente em

2008, as celebrações passaram para esse local, onde, mais tarde, passou a ser

Igreja com a chegada dos Redentoristas.

A comunidade São João Neumann foi fundada na Semana Santa de 2012.

Junto com a comunidade São Geraldo Majela, é a caçulinha da Paróquia. A Primeira

missa foi celebrada pelo pároco padre Antônio Carlos Barreiro no dia 01 de abril de

2012.

Os primeiros seminaristas Redentoristas a participarem da comunidade

foram o Rimar e o Valério. No mesmo ano de 2012, o Valério deixou o Seminário e o

Rimar continuou atuante com a comunidade, contribuindo na pesquisa e relatando o

seu memorial de vida que analisaremos no próximo capítulo.

Figura 16 – Comunidade São João Neumann

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

As celebrações nessa comunidade acontecem em uma área de proteção

ambiental, como mostra a foto – figura n° 16. As pessoas que participam gostam de

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estar em contato com a natureza. As reuniões que tratam de assuntos da

comunidade acontecem em uma casa de família.

Figura 17 – Comunidade São Geraldo Majela

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

Em 2013, a comunidade recebeu mais um seminarista, o Edson, o qual

trabalha com o Rimar. Ambos têm procurado ajudar a comunidade a superar os

desafios. As pessoas manifestam grande contentamento com a comunidade e

acreditam que ela irá crescer cada vez mais e ser para o povo católico do Bairro

Nascente das Colinas uma dádiva de Deus. A comunidade São Geraldo Majela, no

jardim Bassoli, teve o seu início marcado no dia 05 de abril de 2012 – quinta-feira

santa. Conforme a tradição cristã, foi o dia em que Jesus fez a refeição com os

discípulos. Dessa forma, a comunidade celebrou a sua primeira eucaristia presidida

pelo padre Antônio Carlos Barreiro.

Como tudo no começo é difícil, aqui não foi diferente. Começamos celebrar no estacionamento, eram poucas pessoas que participavam, não tinha gente para fazer as leituras e por isso eram as mesmas pessoas todos os domingos. Saímos do estacionamento e fomos celebrar no salão de festa; depois a cada domingo celebrávamos num condomínio diferente, mais foi por pouco tempo, por algumas razões que não cabe esclarecer aqui, mudamos para a quadra de esporte temporariamente, até que o padre Barreiro conseguiu a creche do Bairro São Bento ao lado do Jardim Bassoli. Estamos lá e se Deus quiser só vamos sair quando a nossa Comunidade São Geraldo Majela construir a igreja. (Relato de uma das coordenadoras da comunidade).

Ao relatar as histórias das comunidades da Paróquia Santo Afonso, sem

descaracterizar a importância masculina na construção dessas comunidades, o

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protagonismo feminino na animação das comunidades é também realçado no

documento 62 da CNBB:

Entre os agentes de pastoral, destaca-se a presença e atuação das mulheres, que constituem o contingente maior. Elas participam em todos os setores da vida e da missão da Igreja e estão esboçando um traço novo no rosto eclesial através da maneira generosa e entusiasmada com que vivem a fé e o amor, buscando transmitir os valores cristãos. As mulheres constituem a grande maioria dos catequistas; assumem responsabilidades nas comunidades, na animação, coordenação e entre-ajuda; coordenamsetores pastorais; estão presentes nos conselhos e nos movimentos, participando ativamente das decisões. Nos últimos anos, elas começaram a exercer o aconselhamento espiritual, bem como o ensino da teologia. (CNBB n° 62, p. 33-34).

É de suma importância que as mulheres mantenham esse espaço que com

fé, ousadia e esperança conquistaram. Infelizmente, de certo modo, vivemos numa

sociedade preconceituosa, na qual não é reconhecido ou respeitado o real valor e a

importância da mulher. Também nas comunidades cristãs, esse preconceito

continua sendo realidade.

Ao fazer menção do preconceito em relação à mulher, a formação religiosa

Redentorista quer formar seus futuros sacerdotes com nova mentalidade. Que sejam

líderes das comunidades, das igrejas, dos setores missionários e das paróquias com

capacidade de proporcionar condições para a mulher exercer o seu protagonismo

com mais dignidade.

O Documento da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do

Caribe descreve que “As mulheres constituem, geralmente, a maioria de nossas

comunidades. São as primeiras transmissoras da fé e colaboradoras dos pastores,

os quais devem atendê-las, valorizá-las e respeitá-las”. (DA, 2008, nº 455, p. 204.).

Com esse acento no protagonismo feminino, concluímos o item que retratou o

histórico das comunidades. A seguir, queremos realçar a finalidade da Comunidade

Redentorista na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, visto que ela deseja ser

uma presença evangelizadora e, também, acolher a experiência do povo para a vida

e para a formação dos seminaristas Redentoristas que atuam nas comunidades.

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3.3 FINALIDADE DA COMUNIDADE REDENTORISTA NA PARÓQUIA SANTO

AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

A Comunidade Redentorista quer ser uma presença evangelizadora nas

comunidades, bem como estar aberta para ser evangelizada pelo povo de Deus que

tanto tem a nos ensinar com sua fé, amor e solidariedade. Os missionários

Redentoristas se sentem banhados do amor de Deus pela presença amiga e

fraterna dos paroquianos que constituem a Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório.

Acreditamos que a primeira atitude do evangelizador é saber acolher bem o

outro. A pessoa que busca a igreja para se relacionar com Deus, expressar a sua fé,

seus sentimentos precisa se sentir acolhida, sentir-se parte integrante da

comunidade. O Papa Francisco, em sua vista à Comunidade de Varginha

(Manguinhos), durante a Jornada Mundial da Juventude 2013, no Rio de Janeiro,

assim falou sobre a acolhida:

Desde o primeiro em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhando com ela um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mais enriquecidos”. (PRONUNCIAMNETOS DO PAPA FRANCISCO NO BRASIL, 2013, p. 20).

Sentir acolhido é se sentir em sintonia com os outros, é poder dividir as

alegrias, as tristezas, as dores e as esperanças existenciais. Para o crente, a

acolhida de Deus acontece nesse contato com o outro. Sentir acolhido pelo próximo

é sentir acolhido pelo próprio Cristo. (cf. Lc 10,33-35).

A alegria da acolhida se manifesta no dia a dia das pessoas. A finalidade da

igreja que acolhe é que esta acolhida possa ser também uma dimensão

evangelizadora. Acreditamos que o que se experimenta na comunidade é

transmitido nas vivências, nas relações familiares, nos locais de estudos, de

trabalhos e nos espaços de lazeres.

Assim vai acontecendo no meio na sociedade o Reino de Deus, a alegria e a

acolhida à vivência da fraternidade a partir do critério da justiça do Evangelho que

contribui na construção de um mundo mais humanizado. Não podemos esquecer

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que Jesus viveu integrado em todas essas realidades. Ele gostava de estar com os

amigos (cf. Lc 10,38-42), sentia-se bem estando em festas (cf. Jo 2,1-12),

privilegiava o descanso (cf. Mt 14,13).

Evangelizar também é manifestar palavras, sentimentos, gestos e atitudes

que possam acrescentar na vida do outro. O mundo contemporâneo necessita de

pessoas com disponibilidade para escutar, para estar junto nos momentos em que o

ser humano carece do outro. Muitas pessoas vivem fechadas em seus próprios

mundos, não se dando conta de que as relações humanas são geradoras de vidas.

3.3.1 Evangelizar e deixar ser evangelizado pelo povo

O jeito de ser, de viver e de evangelizar do missionário Redentorista está

alicerçado no carisma da Congregação do Santíssimo Redentor a partir da proposta

deixada por Afonso Maria de Ligório. Foi pelo princípio de fidelidade ao fundador da

nossa Congregação que o padre Antônio Carlos Barreiro e os representantes das

comunidades, em Reunião Ordinária do Conselho de Pastoral da Paróquia,

estabeleceram um plano de organização de pastoral, visando atender às orientações

da Arquidiocese de Campinas considerando também o nosso carisma missionário.

De comum acordo com as lideranças, aprovaram e assumiram algumas

propostas e objetivos conforme seguem descritas no Livro Tombo da Paróquia.

A paróquia quer ser uma igreja que tenha como modelo as primeiras

comunidades cristãs: cultivar relações fraternas, integrar as comunidades e as áreas

pastorais em espírito de comunhão, participação e corresponsabilidade. Ser uma

Paróquia ministerial, alicerçada na Palavra de Deus e alimentada pela Eucaristia.

Quer ser uma Igreja encarnada na realidade das pessoas e comprometida

com o Projeto de Jesus Cristo. Quer ser um organismo que promova o protagonismo

de leigos e leigas, incentivando a participação de novos agentes. Quer ser

missionária, solidária e profética nos níveis eclesial e social com o espírito de

acolhida, diálogo e participação.

Os coordenadores das comunidades deverão dedicar-se ao ministério de

animação das pastorais, que integram as forças vivas através de ações concretas.

Uma animação aberta a Deus e às pessoas contribui para o acontecimento de modo

mais pleno do Reino de Deus.

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O ministério da animação é um serviço para aquele que serve na alegria

como Jesus serviu. A Boa Nova, ou seja, o Evangelho é boa notícia na vida das

pessoas. (cf. Lc 5,26). A animação é colegiada, indicando uma pessoa para animar,

articular e conduzir o trabalho na equipe, podendo haver rodízio de quem encaminha

os trabalhos.

A pessoa indicada para animar a comunidade não é aquela que sabe tudo, e

que decide tudo, mas é aquela que anima, que tem capacidade de dialogar, articular

e conduzir. Certa vez, surgiu na comunidade de Jesus uma discussão sobre qual

deles devia ser o maior. Jesus lhes disse: “Os reis das nações agem com elas como

senhores, e os que dominam sobre elas fazem-se chamar benfeitores. Quanto a

vós, nada disso. Mas o maior dentre vós tome o lugar do mais moço, e o que

comanda, o lugar de quem serve [...] Ora, quanto a mim, estou no meio de vós no

lagar daquele que serve”. (Lc 22,25-27).

Os trabalhos de animação exigem espírito de equipe, de acolhida e de

humildade. Entendemos como animação o serviço disponibilizado para o bem do

próximo, dando um sentido mais profundo na vida de quem se dedica ao outro e na

vida de quem acolhe.

A Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório quer estar preocupada com a

realidade local, mantendo contado com as lideranças da Associação dos Moradores

do Bairro, do Conselho Local de Saúde, do Conselho de Escola entre outros. Junto

com esses organismos, quer somar forças e encontrar novas alternativas para que a

prática pastoral seja transformadora. Quer levar as pessoas a se descobrirem

protagonistas de suas histórias.

Figura 18 – Grupo de Mulheres

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

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3.3.2 A contribuição da Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório na formação

dos futuros Missionários Redentoristas

Evangelizar e deixar ser evangelizado pelo povo. Para que essa prática

aconteça, é necessário que o evangelizador esteja no meio do povo. A nova

evangelização é o chamamento da Igreja à sua originária finalidade missionária, sair

do seu espaço interno e empenhar-se para o externo, isto é, o anúncio da fé deve

atingir a todos. Conforme disse o InstrumentumLaboris:

Nesse sentido, espera-se muito das paróquias, tidas como a mais capilar porta de acesso à fé cristã e às experiências eclesiais. Para além de ser o lugar da pastoral ordinária, das celebrações litúrgicas, da administração dos sacramentos, da catequese e do catecumenato, elas têm a missão de se tornarem verdadeiros centros de irradiação e de testemunho da experiência cristã, sentinelas capazes de escutar as pessoas e as suas necessidades. (A NOVA EVANGELIZAÇÃO PARA A TRANSMISSÃO DA FÉ CRISTÃ, 2012, p. 67).

A Paróquia, nessa perspectiva colocada pelo documento, é um lugar onde

se educa para a procura da verdade, onde se nutre e reforça a fé das pessoas. É

também ponto de comunicação de mensagem cristã, do projeto e Deus sobre o

homem e sobre o mundo. É nesse espaço que se experimenta a alegria de se reunir

pelo Espírito Santo, de ser preparado e enviado para viver o mandato missionário.

“Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a todas as criaturas”. (Mc 16, 15).

Essa experiência de fé, vivenciada pelos agentes de pastoral e pelos jovens

seminaristas, ressoa para estes últimos como motivação vocacional. A fé pode ser

considerada como um dos meios de encontro com Jesus Cristo, que se faz presente

nos irmãos, sobretudo, nos mais necessitados. “Eu tive fome e me destes de comer;

tive sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me acolhestes; estava nu, e

me vestistes; doente, e me visitastes; na prisão, e viestes a mim”. (Mt 25, 35-36).

A Paróquia é um lugar no qual acontecem experiências existências que

ajudam a pessoa em seu crescimento humano. Para o homem e a mulher de fé,

esse relacionamento transcende a sua realidade concreta, proporciona na vida das

pessoas motivações que as levam a superar as dificuldades do cotidiano. A fé é um

motor interior que tira o crente de sua zona de conforto. (VELASCO, 2003).

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É nesse espaço de fé e vida integrada na comunidade que o jovem vai

amadurecendo a sua identidade cristã e discernindo a sua vocação sacerdotal

Redentorista. O encontro de Jesus com a outra pessoa tem como eixo a abertura do

coração e como meta a solidariedade. Viver a fé na comunidade como expressão do

amor de Deus é uma característica da espiritualidade do seguimento que marca os

seguidores de Jesus.

Como cristãos, somos levados a descobrir que toda experiência espiritual

significa um encontro profundo com Deus. Mas, como aconteceu com o profeta Elias

no monte Horeb (cf. 1Rs 19), Deus não se revela de modo antigo, Ele nos

surpreende, mostrando-se de um modo novo a partir dos desafios da realidade

histórica que vivemos. A fé é uma virtude teologal integrada na vida do cristão.

Como descreve este autor:

Pensa-se frequentemente que a fé é uma atitude mental, fortalecida pela reflexão aprofundada e por muita oração. Isto é verdade, mas não se deve perder o sentido itinerante da fé, aquela dimensão pela qual a fé entra na nossa vida quotidiana e progride por meio das alegrias, das esperanças e das expectativas de cada dia. (CASARIN, 2010, p. 96).

A fé nos leva ao comprometimento com o outro. Na mesma linha de Casarin

refletindo sobre a fé, em um curso sobre espiritualidade e mística, Marcelo Barros

disse: “A fé não pode ser somente uma crença em Deus, mas uma experiência de

vida na qual a pessoa aceita ser lançada pela Palavra viva e pela força amorosa do

Espírito Santo”. (BARROS, 1997). Pode-se acrescentar a tudo isso as palavras de

São Tiago em sua carta apostólica: “A fé sem obras é morta”. (Tg 2,26).

É importante que a caminhada vocacional do jovem seminarista seja

alimentada pela fé e pela ação concreta em sua vida e nos trabalhos realizados na

comunidade paroquial. A vivência e a prática dessa experiência ajudarão os jovens a

discernir sobre sua vocação. Eles não estarão vivendo a vocação de um modo

abstrato ou fantasioso, mas de fato aspirando à vocação em uma realidade

concreta.

Teria muito a dizer sobre este subtema, porém, aprofundarei mais a respeito

desse assunto no quinto e último capítulo, quando analisarei o questionário aberto

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que algumas pessoas da paróquia responderam sobre o perfil do futuro sacerdote

que o povo necessita.

O capítulo que segue ajudará não só na compreensão do conceito de

comunidade, sobre alguns dos aspectos das ciências humanas, como também

fornecerá elementos para compreender a proposta de formação para a vida religiosa

Redentorista que será tema do último capítulo.

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CAPÍTULO IV – A VOCAÇÃO E A MISSÃO DA COMUNIDADE

“Viemos para comungar, com a luta sofrida de um povo que quer ter voz, ter vez, lugar (...)

com a fé e a união nossos passos um dia vão chegar”

(Cecília Vaz Castilho)

Essa epígrafe foi retirada de uma das canções religiosas que se tornou

célebre na voz das comunidades e dos movimentos de busca pela paz e pela justiça

e inaugura este capítulo que retrata a vocação e a missão do indivíduo e da

comunidade.

Buscar compreender um fenômeno é desvelá-lo e, para isso, faz-se

necessário recorrer a autores que refletiram e sistematizaram pensamentos de um

determinado tema, objeto ou fenômeno. Este capítulo pretende versar de modo mais

profundo sobre o que se entende por comunidade.

Como a comunidade é formada por pessoas, seu conceito pode ser

abordado sob diversas perspectivas no âmbito científico: biológica, antropológica,

psicológica, filosófica, sociológica, teológica entre outras. Recorreremos ao uso de

quais forem necessárias, mas terão maior ênfase a sociológica, a filosófica e a

teológica que tentarão responder quem é o ser humano situado na

contemporaneidade, o que é comunidade e qual a sua finalidade a partir da

perspectiva da fé.

Para refletir sobre esse tema, o vigente trabalho estabelecerá um diálogo

entre Martin Buber e Zygmunt Bauman. O primeiro é judeu de origem austríaca,

viveu entre os anos de 1878 e 1965 e, em suas publicações filosóficas, acentuou a

ideia de que não há existência sem comunicação e diálogo. Para ele, os objetos não

existem sem que haja uma interação entre eles. Ainda segundo o autor, as palavras

“princípio”, “EU-TU” e “relação estabelecida” demonstram as duas dimensões do

diálogo que dizem respeito à própria existência. Assim, Newton Aquiles Von Zuben,

tradutor da obra “EU e TU” de Buber, comenta:

Eu e Tu representa, sem dúvida, o estágio mais completo e maduro da filosofia do diálogo de Martin Buber. Ele a considera como sua obra mais importante: obra na qual apresentou, de modo mais completo e profundo, sua grande contribuição à filosofia. Eu e Tu não é simplesmente uma descrição das atitudes do homem no mundo ou simplesmente uma

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fenomenologia da palavra, mas é também e sobretudo uma ontologia da relação. Podemos dizer que a principal intuição de Buber foi exatamente o sentido de conceito de relação para designar aquilo que, de essencial, acontece entre seres humanos e entre o Homem e Deus. (BUBER, 2001, p. 27-28).

Segundo Buber, o homem nasce com a capacidade de inter-relacionamento

com o outro, isto é, com a intersubjetividade. Essa inter-relação envolve o diálogo. A

intersubjetividade é uma das dimensões que envolvem a vida do ser humano. Por

isso, necessita ser refletida e analisada pela filosofia e, de modo especial, pela

antropologia filosófica.

O segundo autor, Zygmunt Bauman, é um sociólogo polonês, contemporâneo

de nosso tempo, nascido em 1925. Tornou-se conhecido por suas análises das

ligações entre a modernidade, o holocausto e o consumismo pós-moderno. Seus

estudos sociológicos lhe permitem refletir sobre a angústia que reina nos

sentimentos humanos. Suas ideias são sempre mantidas como meta ideal e nunca

como realidade concreta.

Para o sociólogo, os relacionamentos a dois não podem se desenrolar à parte da cena social, das regras do jogo estabelecido pela sociedade global. Nada pode fugir deste complexo panorama, do moderno fenômeno conhecido como globalização. A fluidez dos vínculos, que marca a sociedade contemporânea encontra-se inevitavelmente inserida nas próprias características da modernidade. Tudo ocorre com intensa velocidade, o que também se reflete entre as pessoas. (BAUMAN, 2011).

Após essa breve contextualização, situando dois grandes autores que

contribuirão nesta pesquisa, buscar-se-á analisar como eles refletiram a ideia de

comunidade, qual a sua finalidade, seus desafios e as esperanças que foram

lançadas. A comunidade é formada por indivíduos. Por isso, é importante ter a

consciência de que, tanto para Buber como para Bauman, o ser humano está em

constante vir a ser em suas relações interpessoais e na sua vocação.

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4.1 VOCAÇÃO HUMANA

Muitas pessoas ainda criança ou adolescente já sabem o que querem e o

que vão fazer profissionalmente. No entanto, tantas outras passam a vida buscando

a sua orientação vocacional, o seu chamado, procurando um sentindo para

desenvolver a sua vocação. Há outras ainda que, após muito tempo exercendo uma

profissão, resolvem tentar outra coisa, pois não se sentem felizes realizando o que

faz.

Pode-se dizer que a questão profissional ou qualquer motivação para

realizar algo é uma questão de vocação, entendida como chamado interno, como

afirma Fortim (2010) que todos nós nascemos com uma imagem que nos define.

Essa temática da vocação é tão antiga quanto à humanidade. É bíblico,

basta ler os primeiros capítulos do Livro do Gênesis para perceber o chamado que

Deus faz ao ser humano. “O Senhor Deus modelou o homem com o pó apanhado do

solo. Ele insuflou nas suas narinas o hálito da vida, e o home se tornou um ser vivo”.

(Gn 2,7).

O ser humano, como qualquer outro ser vivo, nasce programado para a

atividade, condição necessária à sobrevivência. Há apenas uma diferença de

escolha entre o ser humano e os animais, essa diferença produz todas as outras. Ao

contrário dos animais, que agem por instinto, o ser humano aprende a pensar,

escolher e decidir.

No ato da criação, foi dado ao homem e a mulher a liberdade

corresponsável, ou seja, a liberdade de gerar vida e não morte. “Vê: hoje ponho

diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade, eu, que hoje te ordeno

ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, guarde os seus mandamentos,

suas leis e seus costumes [...], foi a vida e a morte que pus diante de ti, a benção e a

maldição. Escolherás a vida, para que vivas, tu e tua descendência”. (Dt 30,15-

16b.19b).

O ser humano foi criado na liberdade de filhos de Deus. Entende-se, assim,

que deve ser livre para fazer a sua escolha. “Façamos o homem à nossa imagem,

segundo a nossa semelhança”. (Gn 2,26a). Essa escolha é algo pessoal de cada

um, contrariando muitos desejos.

Segundo com Soares (1991) as famílias antigamente queriam ter um filho

militar, um padre e um médico, pois essas eram as profissões de maior poder na

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sociedade. Agora, cada família quer ter um representante na medicina, no direito, na

engenharia e em outras profissões consideradas de maior prestígio e status social.

Apesar disso, um número grande desses profissionais encontra-se desempregado

ou precisando trabalhar em diversos empregos para garantir um salário digno. Ainda

há aqueles jovens que escolhem a profissão por influência do pai ou da mãe. Esses

pais, pelo fato de exercerem determinada profissão ou porque não tiveram

oportunidades de estudar, estimulam a filha ou o filho a seguir o que eles, pais,

desejam, fazendo com que esses jovens, no futuro, paguem o preço que se paga ao

não se sentir realizado com a escolha.

O autor, a seguir, nos faz pensar de maneira dramática e definitiva sobre os

jovens ou sobre qualquer pessoa no momento da escolha, pois, para ele, ser

forçado a um casamento indesejado pela família é tão grave como a entrada no

mercado de trabalho ou em um curso superior em uma fase da vida na qual a

pessoa ainda não reúne condições suficientes para tal responsabilidade:

Gandhi se casou menino. O contrato foram os grandes que assumiram. Os dois nem sabiam direito o que estava acontecendo, ainda não haviam completado 10 anos de idade, estavam interessado em brincar. Por dentro de poucos dias vai acontecer com os nossos adolescentes coisa igual ou pior do que aconteceu com o Gandhi e a mulher dele, e ninguém se horrorizará, ninguém grita, os pais até ajudam, concordam, empurram, fazem pressão, o filho não quer tomar a decisão, refuga, está com medo. “Tomar uma decisão para o resto da vida, meu pai! Não posso agora!” e o pai e a mãe perdem o sono, pensando que há algo errado com o menino ou a menina, a invocam o auxílio de psicólogos para ajudar. (ALVES, 1995, p. 31).

Escolher uma profissão, um curso superior significa abraçar uma causa. Isso

exige renúncia de muitas coisas em favor de outras, por isso, é vital saber discernir o

que melhor convém. Contudo, é bom estar aberto para ressignificar uma

determinada escolha em um momento da vida, pois o processo de maturidade não

acontece da noite para o dia. O ser humano vive no seu tempo, é pacifico de erros, é

dinâmico e inovador. Assim descreve esta autora:

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A maturidade com sua sabedoria não acontece numa determinada idade ou momento da vida. Ela é consequência de crises, decisões e escolhas, acertos e erros, reflexões que o indivíduo vai fazendo ao longo dos anos. (SPACCAQUERCHE, 2010, p. 50).

Mesmo considerando os aspectos mencionados, é comum as pessoas

decidirem por uma vocação visando o aspecto econômico, tanto para o bem-estar

pessoal, como familiar e, após uma estabilidade de vida, optar por aquilo que

realmente trará um sentido existencial maior. A profissão escolhida deve trazer ao

ser humano prazer.

A ação do ser humano sobre o mundo implica não só mudar esse mundo,

como também mudar o sujeito dessa ação. O trabalho engrandece e humaniza o

homem e é por meio dele que cada vez mais o homem e a mulher tornam-se

sujeitos ativos na continuação da criação. “O homem não deve ser meramente

passivo ou paciente, mas ativo em relação às obras que estão abaixo dele, pois a

terra é a arena de sua vocação”. (WINGREN, 2006, p. 107).

Vocação é uma inclinação para exercer uma determinada profissão ou um

talento – aptidão natural. A palavra vocação é um termo derivado do verbo no latim

“vocare” que significa “chamar”. (cf. FERREIRA, 1993). A vocação profissional é

formada por um conjunto de aptidões naturais e interesses específicos do ser

humano que o direcionam a escolher algo que o realize como pessoa. A felicidade

deve ser um sonho real na vida humana.

Segundo WINGREN (2006) comentando Lutero e outros escritores acima

citados, a vocação é algo natural, ela pertence a este mundo, não ao céu; ela se

dirige ao próximo, não a Deus. Na sua vocação, o homem não está se elevando

para Deus, mas, ao contrário, abaixando-se em direção ao mundo. Quando alguém

faz isso, a obra criada de Deus é elevada adiante.

Contudo, a vocação é compreendida também por uma dimensão religiosa

espiritual. É um chamado que Deus faz ao ser humano. Assim descreve o

Catecismo Da Igreja Católica:

O homem é, por natureza e por vocação, um ser religioso. Porque provém de Deus e para Ele caminha, o homem só vive uma vida plenamente humana se viver livremente a sua relação com Deus. O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra a sua felicidade. (CIC, 1993, nº 27, p. 21).

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Embora esse tema sobre a vocação humana merecesse mais atenção, a

seguir analisaremos o conceito de vocação à luz dos ensinamentos da Igreja a partir

de alguns conceitos e referências. Veremos também como que pessoas

comprometidas nas comunidades compreenderam a vocação como um chamado de

Deus.

4.2 VOCAÇÃO DA COMUNIDADE DIANTE DA COMPLEXIDADE EXISTENCIAL

DOS INDIVÍDUOS

Ao longo da história da humanidade, vários teóricos têm refletido sobre quem

é o ser humano. Diante da complexidade existencial dos indivíduos, cada ciência em

sua particularidade procura dar uma resposta. Porém, a questão permanece em

aberto, pois o ser humano é inesgotável, ele transcende as realidades de análise.

Supõe-se satisfatório, para esta pesquisa, a definição desse conceito na visão de

alguns autores em seus campos específicos.

Para o sociólogo polonês e teórico do pós-modernismo Zygmunt Bauman, ser

pós-moderno significa ter uma ideologia, uma percepção do mundo, uma

determinada hierarquia de valores que, entre outras coisas, descarta a ideia de um

tipo de regulamentação normativa da comunidade humana e assume que todos os

tipos de vida se equivalem, que todas as sociedades humanas são igualmente boas

ou más; enfim uma ideologia que se recusa a fazer julgamentos e a debater

seriamente questões relativas a modos de vidas viciosos e virtuosos, pois, no limite,

acredita que nada deva ser debatido. (BAUMAN, 2003).

A partir desse pensamento, pode-se dizer que o ser humano é um ser de

relação, situado em um contexto sociocultural. Ao se estabelecer isso, cria-se a

impossibilidade de compreendê-lo de forma isolada, havendo a necessidade de

perceber esse indivíduo em sua relação com a família, com o trabalho, com a

comunidade, com o mundo e com suas responsabilidades e obrigações. São as

experiências relacionais que permitem caracterizar o ser humano como ser que tem

vínculo com a comunidade.

Segundo o filósofo Martin Buber, poder-se dizer que não há indivíduo sem

comunicação e sem diálogo e os objetos não existem sem que haja uma interação

entre eles. O ser humano é constituído a partir da relação “Eu-Tu”, a qual demonstra

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as duas dimensões da filosofia do diálogo que dizem respeito à própria existência.

(BUBER, 1987).

Para o filósofo que estamos referindo, o homem nasce com a capacidade de

inter-relacionamento com seu semelhante, isto é, com intersubjetividade que é a

relação entre sujeito e/ou sujeito e objeto. Portanto, o relacionamento acontece entre

o EU e o TU. A inter-relação envolve o diálogo, o encontro e a responsabilidade

entre os dois sujeitos ou a relação que existe entre o sujeito e o objeto.

Para a psicologia, “o homem é também um animal, mas um animal que difere

dos outros por ser cultural” (BONIN, 1998, p. 58). Cada indivíduo, ao nascer,

encontra um contexto já estabelecido, formado por gerações já existentes e que é

assimilado por meio de inter-relações sociais. A comunidade com suas instituições,

valores, crenças, hábitos e costumes não está acima dos indivíduos, e sim é

constituída por eles. Assim descreve Bonin:

O indivíduo histórico-social, que é também um ser biológico, se constitui através da rede de inter-relações sociais. Cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de inter-relações em movimento. O ser humano desenvolve, através dessas relações, um “eu” ou pessoa (self), isto é, um autocontrole “egoico”, que é um aspecto do “eu” no qual o indivíduo se controla pela auto-instrução falada, de acordo com sua auto-imanem ou imagem de si próprio. É um ser que, tendo “instintos” ou comportamentos pré-programados, passa através da vida social a adquirir a fala e planejar e controlar sua atividade e de outrem, através de representações mentais. (BONIN,1998 p. 59).

Percebe-se então que o ser humano é um ser histórico-cultural, constituído

pelas interpelações e relações sociais. Porém, faz-se necessário considerar que os

indivíduos são seres biológicos também. O uso da fala registra o início do processo

de interpretação e interação com o simbólico contido nas instituições culturais. O

jeito de andar, de se expressar; os hábitos de higiene, emoções, sentimentos serão

adquiridos nas relações socioculturais, nas quais o indivíduo sofrerá o processo de

inculturação, ou seja, assimilará uma quantidade da cultura existente em seu

entorno que o tornará um ser socializado. O indivíduo não existe por si só, ele existe

a partir da relação com a família, o grupo e a comunidade. (BONIN, 2012).

Após ter buscado compreender, a partir de alguns autores, quem é o

indivíduo, compete agora a compreensão de comunidade. Martin Buber (1987 apud

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TOENNIES) descobre dois tipos de mundo e, a partir disso, o surgimento de dois

tipos de comunidades: de um lado, um mundo agrário, enraizado em antigas

tradições medievais, solidamente ligado a terra; de outro, o mundo do comércio, dos

centros urbanos, da constante mudança, um mundo cuja principal preocupação é o

lucro. São esses dois pólos de mundo que constituem a comunidade.

O primeiro mundo ou a formação da antiga comunidade, segundo o autor, é

formado por indivíduos que não sentem necessidades de mudanças; são pessoas

formadas no campo, com seus valores e tradições enraizados em uma determinada

cultura.

Já o segundo está inserido em uma nova mentalidade de ser humano, de

sociedade. O mundo do capital e do consumo favoreceu não só a formação de uma

nova cultura, como também outras maneiras de relacionamentos e trouxe novas

necessidades, exigindo dos indivíduos constantes mudanças.

Pretende-se, neste capítulo, abranger a noção de comunidade, visto que, em

determinados lugares, essa ideia é muito restrita. Um exemplo disso seria a maneira

como um espaço religioso católico entende esse conceito. Comunidade, nesse

ambiente, refere-se a um grupo de pessoas que se encontra para falar de um

determinado assunto daquele grupo ou para planejar um encontro de jovens ou para

preparar uma celebração religiosa ou, ainda, para organizar uma caminhada pela

paz.

Passa-se a impressão de que comunidade se restringe a esses tipos de

compromissos. No entanto, seu conceito vai além do que muitas vezes se denomina

em algumas realidades e grupos. Neste trabalho, conceituar-se-á, também, a noção

de comunidade pastoral paroquial e de comunidade de vida religiosa dentro do

âmbito de Igreja Católica.

Para Buber, comunidades baseadas em laços sanguíneos e cegamente

seguidoras de tradições imemoriáveis são formadas por famílias tradicionais que ele

denomina de “antigas”. Porém, essa denominação não esgota o conceito de

comunidade, visto que existem comunidades constituídas de indivíduos dinâmicos e

inovadores. (BUBER, 1987).

Dessa forma, pode-se dizer que nada há de irreversível no processo de

comunidade, é eminentemente realizável que a sociedade, regulada pelo princípio

utilitário e por relacionamentos externalizados, dê lugar a uma nova comunidade,

baseada na lei intrínseca da vida, no princípio e em relações emanadas da livre

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escolha das pessoas e não de ligações consanguíneas. Qualquer inter-relação ou

interação entre duas ou mais pessoas pode ser chamada de comunidade. Porém, a

comunidade ideal se fundamenta na comunhão e no relacionamento entre as

pessoas e Deus. Assim comenta o autor:

Os homens que desejam comunidade desejam Deus. Todo desejo de um autêntico relacionamento é dirigido a Deus, e todo anelo por Deus é dirigido a uma comunidade verdadeira. A religiosidade torna-se assim o fulcro do pensamento social de Buber. Somente a presença do elemento divino garantirá o estabelecimento da comunidade. (BUBER, 1987, p. 26).

Quem deseja obter comunidade deve se educar para comunidade. Pois a

educação para a comunidade, no sentido buberiano, requer uma relação genuína

entre “EU-TU”, como também entre mestre e discípulo. Isso se dá não por meio de

uma teorização ou pregação, mas pela transformação da própria escola num

verdadeiro ninho de comunidade.

Essa discussão sobre a importância da religião na construção da comunidade

também se encontra em Durkheim. Para ele, o indivíduo que se coloca em contato

com o seu deus, não é apenas um homem que percebe verdades novas que o não

crente ignora, é um homem que pode mais, ou seja, vai além do esperado. Ele sente

em si mais força, seja para suportar as dificuldades da existência, seja para superá-

las. Esse indivíduo, de certa forma, situa-se acima das misérias humanas, pois está

elevado acima de sua condição de homem. Acredita-se que esteja salvo do mal.

(DURKEIM, 1996).

A religião vivida a partir da prática concreta do Evangelho tende a

proporcionar segurança para as pessoas. A imagem do pão para ser partilhado é

expressão da vida em abundância para todos. Os líderes e os agentes sociais das

comunidades são chamados a serem os protagonistas e os articuladores, para que

essa vida tão querida e sonhada por Deus aconteça em todas as suas dimensões.

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Figura 19 – Celebração da Partilha

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

Para Buber, a comunidade é criativa e geradora de novos mundos, ela tem

força para transformar determinadas realidades, principalmente aquelas que não

apresentam sinais vitais para a sociedade, pois a sua finalidade é proporcionar

indivíduos mais humanizados, a fim de que possam contribuir para que o mundo

seja mais humano. A nova comunidade tem como finalidade a própria comunidade:

Comunidade e personalidade são vistos como conceitos polares, e são definidos um em função do outro. Uma comunidade real é uma associação orgânica de personalidades, mas uma personalidade somente pode ser definida por seu relacionamento com o outro, dentro de uma comunidade. Uma personalidade é assim orientada para o próximo, sendo inerentemente anti-egoísta, e constituindo-se na verdade na única entidade inteiramente capaz de assumir a responsabilidade por suas ações. (BUBER, 1987, p. 29).

Essa comunidade descrita por Buber tem como finalidade libertar a vida

humana de seus cárceres, de seus limites e conceitos estabelecidos. Um exemplo

disso seria a dança que acontece no espaço “projeto social” da Paróquia Santo

Afonso Maria de Ligório, pois deseja expressar a libertação das pessoas das

opressões sociais e religiosas. Ela simboliza também o direito à liberdade e à

felicidade humana.

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Figura 20 – Projetos Sociais

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

A comunidade que é idealizada pelo autor é aquela com capacidade de

transbordar em suas relações, que traz em si um anseio pela vida em sua totalidade.

Essa comunidade não é fechada em si mesma, pois o isolamento levaria às

condutas mais conservadoras e sem revoluções. Esse novo jeito de pensar

comunidade não requer revolução, pois ela é a revolução. Para esse modelo,

destruir coisas antigas não significa nada, o que deseja é a vivência de coisas

novas. É uma comunidade que não está ávida por destruir e sim ansiosa por criar.

O conceito de comunidade para Bauman, nascido meio século após Buber,

ampliará a reflexão deste trabalho. Ele dá importância à formação de comunidade

antiga descrita por Buber, pois, segundo o autor, a palavra comunidade sugere uma

coisa boa, um lugar seguro, confortável e aconchegante. Nela, as discussões são

amigáveis, as pessoas são bem-intencionadas. Não ter comunidade significa não ter

segurança. (BAUMAN, 2003).

Para ele ainda, essa comunidade deixou de existir nos tempos implacáveis

que estamos vivendo, tempos de competições e de indiferença pelos mais fracos, “a

palavra comunidade soa como música em nossos ouvidos. O que essa palavra

evoca é tudo aquilo que sentimos falta e de precisamos para viver seguros e

confiantes”. (BAUMAN, 2003, p. 9).

Em sua obra “Comunidade: a busca por segurança no mundo atual”, entre

inúmeros argumentos refletidos, três deles contribuíram eficazmente para o

surgimento dessa nova forma de comunidade. O advento dos meios de transporte e

sua evolução, o desenvolvimento dos meios de comunicação e a revolução

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industrial. O aparecimento da informática foi um dos fatores que mais contribuiu para

a desagregação do entendimento comunitário.

A partir do momento em que a informação passa a viajar independentemente de seus portadores, em uma velocidade muito além da capacidade dos meios mais avançados de transporte, a fronteira entre o “dentro” e o “fora” não pode mais ser estabelecida e muito menos mantida. (BAUMAN, 2003, p.18-19).

No dizer de Bauman, a nova forma de sociedade e os bem-sucedidos não

precisam da comunidade; há pouco a ganhar com a rede de organizações

comunitárias e muito a perder, a ideia de compartilhar as vantagens entre seus

indivíduos, independente do talento ou da importância que tenha isso, faz do

comunitário uma filosofia dos fracos, ou seja, os poderosos e bem-sucedidos não

estão dispostos a contribuir para a emancipação social.

A percepção da injustiça e das queixas que ela faz surgir como tantas coisas

nestes tempos de desengajamentos passou por um processo de individualização;

supõe-se que os problemas devam ser sofridos e enfrentados solitariamente, sendo

especialmente inadequada a agregação numa comunidade de interesses e a

procura de soluções coletivas para problemas individuais. (BAUMAN, 2003).

A partir dessa descrição, pode-se dizer que os indivíduos veem na

comunidade um lugar de segurança, de certeza e de proteção. São essas três

qualidades que mais lhes fazem falta nos afazeres da vida e que não podem ser

obtidas isoladamente, dependendo, apenas, dos recursos escassos de que dispõem

individualmente.

Atribuindo valores filosóficos e sociológicos, pode-se dizer que a

comunidade é uma organização humana, uma entidade cultural que possui aspectos

sociais e culturais, com vida própria, que vai além da mera soma de vida de seus

indivíduos. Os valores apreendidos são passados de uma geração para outra e não

transmitidos biologicamente. Seus elementos culturais e sociais também são

apreendidos por meio de seus símbolos, sendo assim, as mudanças que nela

ocorrem são por meio da mudança das mensagens que os símbolos transmitem.

Dessa forma, a comunidade proposta por Buber e Bauman seria tecida de

compromissos de longo prazo e fundamentada na solidariedade, nos direitos

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inalienáveis e nas obrigações inabaláveis, no acolhimento entre as culturas e na

perspectiva de ajudar o outro a se sentir parte de um todo. Essa perspectiva está

entrelaçada com a perspectiva eclesiológica que passaremos analisar.

4.3VOCAÇÃO DA COMUNIDADE EM UMA IGREJA DIALOGAL

Este subtema mostrará algumas contribuições do Concílio Vaticano II, em

seu aspecto eclesiológico, para a Igreja da América Latina. Tal evento motivou um

novo olhar sobre o ser humano e suas inquietações e sobre a formação dos futuros

candidatos à vida religiosa e sacerdotal. Essa nova maneira de ser Igreja ajudará a

pensar a formação dos jovens missionários Redentoristas no período dos estudos

filosóficos.

O Concílio Vaticano II trouxe a proposta por meio de uma análise histórica e

teológica sobre a mudança da Igreja em relação ao seu diálogo com o mundo e em

relação à sua própria missão evangelizadora. Propôs uma Igreja dialogal, ou seja,

aberta para o mundo; uma Igreja do povo de Deus, na qual todos têm o chamado

comum, visto que, a partir do batismo, todos os católicos são chamados ao

compromisso com a vida; uma Igreja dinâmica e em comunhão. Em suma, pode-se

dizer que o Concílio Vaticano II trouxe uma nova reflexão da Igreja sobre si mesma e

sua atuação no mundo. (CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA MEDELÍN, 1968).

A Igreja Católica, em sua organização interna, tem a missão de continuar

respondendo o legado missionário deixado pelo próprio Senhor Jesus aos apóstolos

do seu tempo e aos da atualidade, que são todas as pessoas que acreditam na

proposta trazida e transmitida pelo Mestre de Nazaré. Após a sua ressurreição, em

um dos aparecimentos, Ele disse aos seus discípulos: “Ide pelo mundo inteiro,

proclamai o Evangelho a todas as criaturas”. (Mc 16,15). Anunciar o Evangelho é

também uma motivação, uma chama, uma esperança de manter viva esta proposta

de Jesus no meio das comunidades: “Eu vim para que os homens tenham vida e a

tenham em abundância”. (Jo 10,10b).

Nessa mesma perspectiva, o Concílio Vaticano II, em sua Constituição

Pastoral “Gaudium Et Spes” sobre a Igreja no mundo de hoje diz:

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Em nossos dias, arrebatados pela admiração das próprias descobertas e do próprio poder, o gênero humano frequentemente debate os problemas angustiantes sobre a evolução moderna do mundo, sobre o sentido de seu esforço individual e coletivo e, em conclusão, sobre o fim último das coisas e do homem. Por isso o Concílio, testemunhando e expondo a fé de todo o povo de Deus congregado por Cristo, não pode demonstrar com maior eloquência sua solidariedade, respeito e amor para com toda a família humana, á qual esse povo pertence, senão estabelecendo com ela um diálogo sobre aqueles vários problemas, iluminando-os à luz tirada do Evangelho e fornecendo ao gênero humanos recursos de salvação que a própria Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, recebe de seu fundador. E’ a pessoa humana que deve ser salva. E’ a sociedade humana que deve ser renovada. (CONSTITUIÇÃO PASTORAL “GAUDIUM ET SPES” SOBRE A IGREJA NO MUNDO DE HOJE, 1998, Nº 203, P. 144-145).

O Concílio Vaticano II teve pretensão de colocar a Igreja em diálogo com o

mundo moderno. A Igreja, como comunidade missionária de discípulos, busca,

nesse novo advento, continuar a missão de Jesus, posicionando-se ao lado do

homem contemporâneo com suas angústias e esperanças. A salvação trazida pelo

Filho de Deus é oferecida a todos

Pode-se dizer que, nos tempos atuais, o ser humano vive admirado e

arrebatado pelas próprias descobertas e pelo próprio poder, pois o gênero humano

reflete e debate constantemente os problemas existências e angustiantes sobre a

modernidade, sobre seu espaço e lugar de ocupação no mundo. Reflete sobre o

sentido de seu esforço individual e coletivo, sobre o caminhar da humanidade e

sobre o seu desfecho.

Percebe-se que a Igreja revela uma mudança de paradigma eclesial. Ela se

deixa interpelar e interrogar pelo mundo atual, pois, até algum tempo atrás, ela se

colocava com a mestra e possuidora da verdade que só queria ensinar. Olhar para a

realidade e principalmente para os abandonados e injustiçados coloca a Igreja de

modo mais profundo em sintonia com o Deus revelado na História da Salvação

desde todos os tempos. Assim descreve este documento das Conclusões da

Conferência de Medellín:

Assistiu-se, no Vaticano II, a uma mudança de eixo na compreensão da Igreja. Da ideia central de uma instituição sagrada, passou-se à comunhão na vida divina, expresso pelo amor fraterno, nas relações interpessoais, comunitárias e societárias, concebendo o mistério sagrado a serviço dessa vivência de solidariedade, justiça e amor. O concílio foi um primeiro passo – grande primeiro passo – na progressiva mudança de entendimento da Igreja, que se está fazendo aos poucos, aos trancos e barrancos, como

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todas as obras de Deus se fizeram na história. (CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE MEDELLÍN - 1968 p. 279).

Essa abertura da Igreja em relação ao mundo moderno trouxe luz para todos

os direcionamentos e seguimentos da obra evangelizadora. Entre várias dimensões

importantes, julgam-se quatro delas primordiais para um novo olhar no âmbito da

formação dos futuros sacerdotes e, no caso desta pesquisa, para os futuros

religiosos Redentoristas estudantes de filosofia.

Em primeiro lugar, estimular o setor da promoção do homem e dos povos

para os valores da justiça, da paz, da educação e da família. Em segundo, adaptar-

se à necessidade de uma nova evangelização e maturação na fé dos povos, por

meio da catequese e da liturgia. Em terceiro, intensificar a unidade da Igreja e de

seus membros na ação pastoral, sobretudo entre os mais pobres, e, por fim, buscar

uma integração do seminário na comunidade eclesial e na comunidade humana,

com maior sensibilidade para com as realidades do mundo atual e da família.

(CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE MEDELLÍN - 1968).

Com a finalidade de incrementar as ações propostas pelo Concílio Vaticano

II, a Igreja na América Latina e no Caribe realizou, no ano de 1968 (de 26 de agosto

a 08 de setembro), na cidade de Medellín, na Colômbia, uma conferência, reunindo

os representantes das Igrejas Particulares desse imenso continente, na qual os

bispos decidiram por uma Igreja pobre e a serviço dos pobres, ou seja, fizeram uma

opção preferencial pelos pobres conforme descreve o texto abaixo:

Qual é o perfil da Igreja para o qual aponta Medellín? Igreja dos pobres, sem dúvida, mas isto não é novidade. Já está no Concílio. A atenção e o convívio com os pobres, a inserção e o compromisso com os pobres, mais do que uma opção, é antes de tudo uma condição histórica dos verdadeiros seguidores de Jesus. (CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE MEDELLÍN, 1968, p. 280).

Essa opção pelos pobres foi também uma opção pela pessoa humana

integrada em sua condição existencial. Uma opção para salvar a pessoa de qualquer

dependência opressora e de qualquer tipo de denominação injusta. Com esse

espírito, a Conferência de Medellín convocou todos os cristãos a se comprometerem

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com a construção de uma sociedade justa, sem marginalizados. Para isso, seria

necessária uma Igreja pensada a partir da realidade e agindo a favor da vida. Como

disse o próprio Jesus: Enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres. (cf. Lc 4,18).

As mudanças provocadas no mundo latino-americano pelo processo de

desenvolvimento, de acordo com a Conferência de Medellín, exigiram da Igreja e

daqueles que assumiram a vida religiosa após o evento uma revisão séria e

metódica da vida religiosa e da estrutura da comunidade como condição

indispensável para que a Igreja seja um sinal inteligível e eficaz dentro do mundo

atual.

4.4 VOCAÇÃO DA COMUNIDADE: A PARTILHA DO PÃO E DA PALAVRA

A partir das inspirações do Concílio Vaticano II, de Medellín e de Puebla, as

comunidades passaram por renovações as quais direcionaram para o surgimento

das comunidades eclesiais de base. São várias as razões do surgimento dessas

comunidades, ou seja, muitos são os sinais de exploração que oprimem a vida

humana e que devem ser analisados, questionados e transformados em sinais vitais

de vida como descreve este autor:

Os anos 70 marcaram a fase de grande efervescência das CEBs, da vitalidade da articulação dialética entre fé e vida, de sua criatividade bíblica e litúrgica, de sua atuação pública mais definida. O fechamento da conjuntura política e o bloqueio dos vários canais de expressão popular favoreceram a atuação da pastoral popular e seu compromisso com a causa da vida. A situação de agravamento da pobreza do povo, da violação dos direitos humanos e da repressão generalizada consolidou a urgência do compromisso de engajamento social de setores da Igreja, particularmente aqueles envolvidos com as CEBs. Nesta ocasião, a conjuntura eclesial mais ampla estimulava este compromisso social. A Igreja palmilhava os caminhos de abertura do pós-Concílio, incentivando as experiências inovadoras das Igrejas locais e as práticas de testemunho evangélico-libertador. Na América Latina, em particular, os imperativos da Conferência de Medellín, realizada em 1968 estava em plena realização. (TEIXEIRA, 1996. p. 22-23).

Esse compromisso assumido pelos setores sociais é refletido nos diversos

âmbitos da sociedade, inclusive na pastoral eclesial. O modelo paroquial, por

exemplo, não corresponde à realidade da sociedade. A proposta cristã, vivida nas

primeiras comunidades, deixou de ser refletida e vivenciada por parte do povo. O

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que aparece é um cristianismo individualista e com estruturas eclesiais que não

respondem aos anseios do homem moderno. O povo precisa ser formado, criar

consciência dos sistemas de alienação em seus aspectos civil e religioso. Com isso,

emergiu no coração de muita gente o anseio por novos modelos de Igreja, uma

Igreja nascida do povo. (TEIXEIRA, 1954). E foi essa Igreja que surgiu.

Pode-se dizer que um bom número de bispos, sacerdotes, religiosos e

leigos, todos com o mesmo espírito de renovação, tomaram consciência de que era

preciso desenvolver um novo trabalho comunitário, ou seja, uma ação que

integrasse o ser humano em sua totalidade.

A pessoa humana precisa ser redimida em sua totalidade e em sua vida

existencial. A salvação acontece no presente. É o que disse Jesus a respeito de

Zaqueu que era chefe dos coletores de impostos: “Hoje veio a salvação a esta casa,

pois também ele é filho de Abraão”. (Lc 19,9). Percebe-se que Jesus vai à raiz da

questão, tira a pessoa da alienação a ponto de levar Zaqueu a refazer o seu

caminho. “Pois bem, Senhor, eu reparto aos pobres a metade dos meus bens e, se

prejudiquei alguém, restituo-lhe o quádruplo”. (Lc 19,8).

Nas origens do movimento da comunidade eclesial de base estão as

primeiras comunidades dos apóstolos. Nos tempos da Igreja primitiva, os apóstolos

estavam muito convictos do legado deixado por Cristo: “Ide, pois; de todas as

nações fazei discípulos, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito

Santo”. (Mt 28,19). O batismo era o ato que confirmava a conversão, a fé existente

no batizado (cf. At 8,36-39), aqueles que desejavam pertencer a Igreja eram

reconhecidos pelo batismo, pois esse sacramento atestava a conversão e

comprometia a pessoa sendo uma nova criatura. Estava muito forte nas

comunidades a dimensão de justiça e solidariedade. Esse texto dos Atos dos

Apóstolos é uma expressão viva dessa realidade: Os fiéis que aderiam essa

comunidade eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos e à comunhão fraterna, à

fração do pão e às orações. O temor se apoderava de todo mundo: muitos prodígios

e sinais se realizavam pelos apóstolos. Todos os que abraçavam a fé estavam

unidos e tudo partilhavam. (At 2,42-45).

A comunidade passa a ser um lugar que proporciona às pessoas um novo

olhar. A primeira condição para ter esse olhar é enxergar o problema, ler a própria

realidade, julgar à luz da Palavra de Deus e agir com a capacidade criadora que

cada pessoa tem. Assim é a vida. A pessoa deve tomar consciência de seu

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problema e da dificuldade que o preocupa e o angustia. A segunda condição é saber

onde procurar e querer a solução do problema. O homem e a mulher de fé sabem

que Cristo veio para que todos tenham vida em abundância. (cf. Jo 10,10).

Essa característica de comunidade ou de povo em movimento não pode ser

pensada de modo estático, rígido, estruturado e sim sempre aberta aos apelos de

Deus no momento presente, criando e revivendo, na força do Espírito, a sua pastoral

social. A comunidade eclesial de base, animada pelo presbítero, deverá

proporcionar, por sua vez, uma descentralização das tarefas ministeriais,

acentuando e aprofundando o que é específico do presbítero e possibilitando aos

fiéis assumirem, mais concretamente, sua corresponsabilidade eclesial. (BARROS,

1967).

Essa consciência de formar a comunidade e do agir pode ser entendida

como proposta fora dos muros internos dos grupos sociais, comunidades eclesiais e

credos que professam a fé no Deus da vida. Com o Concílio Vaticano II, a Igreja se

abre para um diálogo amplo com as comunidades evangélicas e com as religiões

não cristãs.

João XXIII apresentou como dimensão fundamental do Concílio essa

perspectiva ecumênica e isso deve ser uma característica permanente da Igreja,

pois as situações opressoras que se opõem sobre a vida humana estão em todas as

camadas sociais. O texto de Puebla descreve essa realidade:

A Igreja da América Latina quer anunciar, portanto, a verdadeira face de Cristo, porque nele resplandecem a glória e a bondade do Pai que tudo prevê e a força do Espírito Santo que anuncia a libertação verdadeira e integral de todos e de cada um dos homens do nosso povo. (AS CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA, nº189, p. 127).

Somente a partir de uma ruptura radical com os interesses dominantes é que

se torna possível a libertação do pobre, dos menos favorecidos, dos setores

marginalizados da sociedade. Na Igreja, isso ainda não aconteceu em sua

totalidade, e nem acontecerá, porém, é uma ideal que deve ser buscado

continuamente. Trata-se de uma Igreja renovada, formada por pequenas

comunidades, nas quais o povo é sujeito e protagonista de sua própria história.

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Essa comunidade é o espaço que proporciona crescimento, segurança para

as pessoas assumirem seus problemas e buscarem as soluções. É o princípio de

descobrimento da dignidade inerente à pessoa humana, muitas vezes ameaçada

pelas classes dominantes. É o lugar onde as pessoas descobrem-se sujeitos de

direitos e deveres, homens e mulheres a imagem e semelhança de Deus libertador.

(cf. Lc 7,21).

As comunidades eclesiais de base, também chamadas de CEBs, tiveram um

protagonismo forte na promoção dos direitos humanos e nos deveres dos cidadãos.

Nas décadas de 1960 a 1980, atraiam muitas pessoas, em sua maioria jovens.

Atualmente, ainda se encontram frutos dessas comunidades, principalmente nas

periferias dos grandes centros urbanos, mas muitos jovens, alguns do próprio

processo formativo no Seminário, perguntam: o que são CEBs? Talvez a resposta a

essa pergunta também não esteja clara para o leitor. Para este autor CEBs são:

As comunidades eclesiais de base (CEBs) são pequenos grupos organizados em torno da paróquia (urbana) ou da capela (rural), por iniciativa de leigos, padres ou bispos. As primeiras surgiram por volta de 1960, em Nísia Floresta, arquidiocese de Natal, segundo alguns pesquisadores, ou em Volta Redonda, segundo outros, as CEBs podem ter dez, vinte ou cinquenta pessoas membros. Nas paróquias de periferias, as comunidades podem estar distribuídas em pequenos grupos ou formar um único grupão a que se dá o nome de comunidade eclesial de base. (BETTO, 1985, p. 16).

Várias são as definições de CEBs. Muitos teólogos buscaram dar

compreensões a esse termo. Para um dos grandes expoentes da Teologia da

Libertação, Clodovis Boff, em síntese, pode-se dizer que ‘Comunidades’ são

agrupamentos restritos, nos quais há a vigência de relações primárias, isto é,

afetivas, nominais e interpessoais.

Para Clodovis Boff (1978), a noção de comunidade se opõe a de sociedade,

a qual designa um grupo social mais vasto, no qual imperam relações secundárias,

ou seja, funcionais, anônimas e interesseiras. ‘Eclesiais’ é um qualificativo com olhar

para a dimensão religiosa dessas comunidades, que pode ser tomado por ‘cristãs’.

Na medida em que elas exprimem visivelmente a Salvação, podem-se,

teologicamente, predicar com todo o rigor pelo termo ‘eclesiais’. A última composição

do termo, ‘de Base’, já é uma designação mais compreensiva, embora possa

discernir três sentidos sob essa noção.

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O primeiro sentido é o sociológico – as bases são compostas pelas camadas

mais baixas da sociedade, ou seja, os pobres, os explorados e os oprimidos; o

segundo sentido é o teológico – as bases dão fundamento ao cristão, é o movimento

de fazer renascer a Igreja onde sua presença está, praticamente, apagada; e o

último sentido é o descritivo – em que tem-se como fundamento o retorno à origem,

de baixo para cima, entendido como instâncias de poder. Trata-se então de uma

Igreja que nasce a partir dos grupos populares pequenos, uma Igreja emergente dos

pobres. (BOFF, Clodovis, 1978).

Ao reler algumas citações do Evangelho a partir do pensamento de Clodovis

Boff, percebe-se que os três sentidos estão ancorados nas palavras de Jesus. O

primeiro pode-se demarcar a partir desse ensinamento: “Pois onde dois ou três

estiverem reunidos em meu Nome, eu estou no meio deles”. (Mt 18,20). O segundo

sentido faz memória da comunidade que se reuni para partilhar a Palavra e o Pão,

na qual o perfil da Igreja se desenha em toda a sua identidade. (cf.1Cor 116,1-2). Já

o terceiro sentido recorda o sonho e a esperança contidos no coração de Maria de

Nazaré: “Ele interveio com a força de braço; dispersou os homens de pensamento

orgulhoso; precipitou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes”. (Lc 1,51).

É difícil de chegar a uma data precisa que marca a origem das CEBs. As

pesquisas apontam a década de 1950 e início de 1960 com as experiências dos

movimentos e pastorais que influenciaram a origem das Comunidades Eclesiais de

Base. Certamente, a experiência das comunidades cristãs primitivas teve sua

contribuição, porém, outros dois fatores podem ser atrelados a esse evento. O

primeiro refere-se ao contexto sociocultural eclesial brasileiro e o segundo ao

contexto eclesial mais amplo, ou seja, o contexto dos fenômenos sociopolíticos.

(TEIXEIRA, 1993).

Pode-se dizer que as Comunidades Eclesiais de Base buscaram dar espaço

para que os mais empobrecidos, a partir da reflexão e da partilha da Palavra de

Deus, resgatassem o seu saber. Essas comunidades passaram a fazer parte da

ação fraterna e comunitária, redescobrindo o sentindo evangélico do poder como

serviço do bem comum. A pedagogia usada nas CEBs foi a valorização do

conhecimento do povo, da comunidade a partir da sua realidade histórica. Isso

proporcionou às pessoas a valorização da dignidade humana, suscitando uma nova

consciência e recolocando a pessoa como sujeito e protagonista de sua própria

história.

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As pessoas que vivem isoladas não se dão conta de que, em comunidade,

uma mudança é possível. A força das Comunidades Eclesiais de Base foi vivenciada

como forma de serviço a partir dos critérios do Evangelho. O exercício de algum

cargo ou ministério deve estar sempre a serviço da vida, visando o bem comum e

não aos interesses particulares de alguns.

4.5 VOCAÇÃO PARA NOVAS COMUNIDADES DE VIDA

Por que o modelo das comunidades cristãs tradicionais, das Congregações

Religiosas, da própria CEBs não tem atraído adolescentes e jovens a fazerem parte

dessas comunidades como há algumas décadas, ou até mesmo incentivando-os a

buscarem um discernimento vocacional para a vida religiosa ou sacerdotal? Por que

surgem novas comunidades de vida se já há tantas dentro da Igreja?

De acordo com Carranza (2009), a socióloga da religião, pode-se perguntar:

por que as novas comunidades de vida como Canção Nova, Shalom, Arautos do

Evangelho, Toca de Assis, Comunhão e Libertação entre outras denominadas

“Comunidades de Vida e Aliança” e tantas outras não têm atraído mais candidatos e

candidatas? É sobre esse assunto que este subtema quer discorrer.

O modo de ser da sociedade contemporânea influenciou o ser humano e,

consequentemente, os micros e macros grupos de relacionamentos, as

comunidades cristãs e as novas comunidades de vida. Para o sociólogo Zygmunt

Bauman, o mundo contemporâneo é denominado pela instabilidade ou pela

impossibilidade de uma forma de vida sólida, ele se caracteriza por ser amorfo, ou

seja, não permite uma definição de forma, por isso, o chamou de “Vida Líquida”.

(BAUMAN, 2007).

A sociedade contemporânea caminha pela incerteza, pela não prorrogação

de costumes, valores culturais e hábitos. Tudo muda muito rápido, pois apresenta

como objeto o aumento do desejo pelo consumismo exacerbado. A sobrevivência

dessa sociedade é o bem-estar de seus membros. É essencial que nada perdure,

nem mesmo os relacionamentos dos seres humanos, para que um novo cenário

surja sem obstáculos e sem traumas. Assim descreve Bauman:

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A “vida líquida” é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna. “Líquido-moderna” é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e a sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquido-moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo. (BAUMAN, 2007, p. 7.).

Esse jeito de ser e de viver dos indivíduos influenciou a sociedade e as

vivências nos grupos, acarretando, com isso, não só o modo de viver da

comunidade civil, como também a comunidade católica e outras. Nas últimas

décadas, principalmente no Brasil, um fenômeno vem sendo destacado: o

surgimento de novas comunidades de vida e movimentos religiosos. Para Guerriero

(2012), não há um consenso sobre a matéria, principalmente devido à extrema

diversidade existente de novas comunidades de vida.

Não há muitos pesquisadores preocupados com uma posição sobre esse

fenômeno, porém, é possível, a partir de pesquisas, continuar agregando numa

mesma categoria grupos religiosos bastante organizados de prática espiritual e de

autoajuda.

De acordo com Brenda Carranza, para entender as novas comunidades de

vida, é preciso fazer um resgate na história do catolicismo:

Na mesma proporção que a cultura cristã perfilava o Ocidente, as múltiplas experiências de vida comunitária, vertebrada pela renúncia dos bens materiais (pobreza), da autonomia pessoal (obediência) e da atividade sexual (castidade), configuravam o imenso arsenal da espiritualidade medieval e moderna. Na primeira, séculos XII – XIII, destacam-se as ordens mendicantes (franciscanos) a dos pregadores (dominicanos) e as que defendiam com armas o cristianismo (templários); já na segunda, séculos XVI – XIX, as Congregações religiosas como jesuítas, salesianos, irmãs da Caridade, entre outras, responderam a uma nova racionalidade da Igreja e da missão no mundo. (CARRANZA, 2009, p. 139-140).

Os tempos são outros, a sociedade vive constante mudança de época que

enfraquece e altera muitos dos paradigmas tradicionais que sustentavam certa visão

de mundo. Raras são as sociedades imunes a esse processo. Vivemos em um

mundo globalizado, no qual quase todas as pessoas são afetadas por tudo que

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acontece em qualquer lugar. As informações se difundem velozmente e chegam a

todos os espaços de vivências.

Os antigos ou tradicionais modos de compreender o mundo e o modo de

bem viver que serviram de orientação, parâmetro para as pessoas por muitas

décadas, sobretudo no Ocidente, já não são mais aceitos pelas novas gerações.

Essa tradição cultural se fragmentou e deu lugar a uma diversidade de novas visões

do mundo e da vida humana, de estruturações sociais, de relação com o sagrado e

de novos modelos antropológicos. O Documento de Aparecida descreve:

Vivemos uma mudança de época, e seu nível mais profundo é o cultural, dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua realização com o mundo e com Deus [...] Surge hoje com grande força uma supervalorização da subjetividade individual [...] Os fenômenos sociais, econômicos e tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, o qual se concebe fixado no próprio presente, trazendo concepções de inconsistência e instabilidade, deixa-se de lado preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos. (DOCUMENTO DEAPARECIDA: TEXTO CONCLUSIVO DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO AMERICANO E DO CARIBE, 2008, nº 44, p. 32).

O individualismo enfraquece os vínculos comunitários e sugere radical

transformação do tempo e do espaço. Os fenômenos sociais, econômicos e

tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, o qual se concebe fixado

no próprio presente, trazendo concepções de inconsistência e instabilidade. “Viver

num mundo cheio de oportunidades, cada uma mais apetitosa e atraente que a

anterior, cada uma compensando a anterior, e preparando o terreno para a seguinte

mudança”. (BAUMAN, 2001. p. 74).

Dessa forma, entende-se como uma marca da nossa cultura ocidental desse

final de século XX e início de século XXI a centralidade no eu. Essa é uma leitura

interpretativa importante para compreensão do que acontece e de como podemos

olhar para vários fenômenos sociais em constantes mudanças. Essa mudança está

também muito presente no campo religioso. Assim comenta este autor:

Assim, caminhando na direção de uma nova definição das novas espiritualidades, podemos perguntar o que fez com que enxerguemos pontos de convergência entre nova era e autoajuda? Por que a nova era

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está no campo das novas espiritualidades, quanto muitas de suas práticas estão voltadas a um sucesso comercial? (GUERRIERO, 2012, p. 124).

A década de 1990, de acordo com Antoniazzi (2003), foi uma divisora de

águas, ela marca a hegemonia de novas tendências dentro da Igreja no Brasil,

pautada pelo avanço neopentecostal. Para o autor, três são os aspectos influentes:

a conjuntura social, o enfraquecimento institucional e a consolidação dos

movimentos religiosos internacionais que vêm elaborando a tessitura do catolicismo

neste início de século.

Sob o aspecto sociopolítico, um novo redesenho das forças eclesiais foi

fermentado por meio da abertura do processo de redemocratização do país como as

Diretas já, em 1984; a Nova Constituição da República, em 1988, a eleição direta do

presidente Fernando Collor, que orientou a política econômica para o neoliberalismo,

e a era Fernando Henrique Cardoso, que a consolidou. A igreja, dessa forma,

passou do “ser voz” dos processos sociais democráticos para ser uma “voz

supletiva” com discurso de defesa dos Direitos Humanos e da promoção da

democratização.

O segundo aspecto a ser considerado foi o enfraquecimento institucional,

sobretudo no que se refere à diminuição de vocações sacerdotais e religiosas. Os

impasses que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enfrentou com

relação a seu posicionamento sobre questões sociais, bem como certo recuo em

sua interferência na linha progressista, foi evidenciado por um episcopado

fragilizado, sem projeto institucional nessa área.

Por fim, dois aspectos podem ser destacados: a Renovação Carismática

Católica, apoiada por alguns setores dos bispos brasileiros; e os Movimentos

Eclesiais internacionais como o Opus Dei, fundado nos anos de 1920, e o

Comunhão e Libertação, fundado nos anos de 1970, ambos surgidos na região

italiana. Para Brenda Carranza, esses grupos apresentam dificuldades para alguns

setores da Igreja:

Esses movimentos representam uma série de dificuldade para as igrejas locais, por não se integrarem às pastorais, eles recebem o apoio da Santa Sé, que os identifica como primavera da Igreja [...] Esses movimentos se constituem em autênticas estruturas paralelas dentro da Igreja ao formarem

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seu próprio clero; portanto não são apenas grupos excêntricos de leigos fazendo suas próprias coisas, mas verdadeiros exércitos colocados à disposição de uma ideologia restauradora. (CARRANZA, 2011, p. 272).

Desse catolicismo de movimentos surgido no cenário dos anos noventa no

Brasil, dois grupos valem a pena serem enfatizados: o Arautos do Evangelho e a

Toca de Assis, pois chamam a atenção pela capacidade de reunir seguidores com

propostas ultraconservadoras, comportamentos anacrônicos e por serem tão

distintos entre si, no entanto, seguirem um mesmo ideal de reestruturação eclesial.

Sobre os Arautos do Evangelho, comenta a autora:

A associação de Direito Pontifício Arautos do Evangelho foi aprovada por João Paulo II, em fevereiro de 2001, que se encontra em mais de 50 países (com representação canônica em 25 dioceses da América Latina) e está integrada por mais de 30 mil membros, entre solteiros profissionais (célibes), religiosos, religiosas, sacerdotes e casais. As origens da Associação remontam à década de 50, quando o advogado e militar João Scognamiglio Clá Dias congregou em torno da música jovens dissidentes do movimento TFP, de São Paulo, para se dedicarem à música e a evangelização dos afastados política. (CARRANZA, 2011, p. 274).

Esse movimento focaliza seus esforços na formação da juventude e da

família, sob a proposta de fazer do lar uma “igreja doméstica”, sua fundamentação

espiritual recupera elementos identitários do catolicismo, como, por exemplo, a

eucaristia, a devoção à Maria e a obediência ao Papa, a quem devotam uma

especial atenção conforme afirma a autora: “Os Arautos do Evangelho, a partir

desse movimento, passaram a ser instrumento vivo da Sagrada Hierarquia a Serviço

da Nova Evangelização”. (CARRANZA, 2011, p. 274).

Se os Arautos do Evangelho são caracterizados pelas vestes excêntricas,

reportando ao estilo medieval, com lindas túnicas, por outro lado, encontra-se na

Toca de Assis, fundada em Campinas, São Paulo, em 1994, por Roberto Lettieri, a

simplicidade. Esse movimento cresceu assustadoramente em menos de uma

década e povoou a geografia diocesana do Brasil.

A Toca de Assis tem sua ascendência espiritual na Renovação Carismática

Católica. O carisma evangelizador da Toca de Assis centra-se na assistência a

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moradores de rua, na obediência à hierarquia e na vivência comunitária da pobreza

material e espiritual. Sobre esse grupo, Brenda, relata:

O grupo é fundamentalmente integrado por jovens, advindos da classe média baixa e popular e por alguns moradores de rua “recuperados” que manifestam vocação, sendo atualmente um grupo de 1.200 membros, entre 18 e 25 anos, distribuídos em 86 casas de formação, além de um amplo grupo de leigos benfeitores de todos os segmentos sociais. Suas vestes masculinas e femininas consistem em longas túnicas marrons, amarradas na cintura com um cordão branco, descalços e de chinelo de dedo, os homens com corte de cabelo estilo tonsura e barba comprida ou por fazer, as mulheres quando noviças com a cabeça raspada, já consagradas colocam véu preto na cabeça. Andando de dois em dois ou em pequenos grupos mistos, os jovens toqueiros perambulam pela cidade inteirando com a população carente, lembrando com suas vestes e performances os antigos seguidores de São Francisco de Assis (século XII) e se distinguindo esteticamente do resto dos religiosos. (CARRANZA, 2011, p. 275-276).

Percebe-se que tanto os Arautos do Evangelho como a Toca de Assis

oferecem uma espiritualidade performática, conseguem adesão entre os jovens e

diferenciam-se, socialmente, pelas vestes. Talvez a diferença desses agrupamentos

religiosos consista no fato de reunirem membros de segmentos sociais diversos. Os

Arautos possuem, também, uma estrutura mais bem formada, provavelmente, por

fruto de uma existência mais longa. Esses grupos e pessoas que pregam o retorno à

tradição talvez estejam preocupados com a insegurança perante o pluralismo

cultural e religioso que o mundo moderno oferece, com suas múltiplas escolhas.

Entre outros grupos denominados como novas comunidades de vida, um

deles que necessita ser ressaltado é a Renovação Carismática Católica (RCC). Não

se trata aqui de contextualizar o surgimento da RCC e sim apenas fazer um

apontamento do fenômeno inserido nas dioceses, paróquias e nas universidades por

meio dos chamados “grupos de oração”. No final da década de 1960, surgem as

CEBs e a RCC, com origem em contextos sociais diversos e inspirados de forma

distinta pelo Vaticano II. (CARRANZA, 2009).

Para Carranza e Mariz (2009) esse movimento de renovação carismática, ao

enfatizar ou explorar o lado emocional das pessoas na experiência pessoal e

comunitária com Deus, agrega mais pessoas do que os movimentos mais

tradicionais ou que trabalham fundamentados nas realidades socioeconômica e

cultural.

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A pentecostalização católica proposta pela RCC se destaca por oferecer ao leigo um contato direto com o sagrado e o sobrenatural através dos dons do Espírito Santo. Desta forma agrega milhões de católicos seduzidos pela novidade de vivenciar a manifestação dos dons do Espírito Santo na glossolalia (falar em línguas), na cura e na libertação de todos os males, na experiência pessoal de encontro com Deus focado na emoção. A modernização performática de danças, músicas, cantos e expressões corporais fizeram da oração e do louvor um elemento poderoso de atração dos fiéis oriundos de todas as camadas católicas, configurando um novo catolicismo de massas que apostava na cultura midiática como meio de reinstitucionalizar os afastados da Igreja. (CARRANZA e MARIZ, 2009, p. 140-141).

A RCC foi vista como um movimento passageiro na Igreja, seja pela sua

euforia, seja por ser basicamente liderada por leigos. Porém, ela não só superou

alguns setores da Igreja como se consolidou, também, em um modo entre tantos

outros de ser Igreja. Além disso, instigou os estudiosos, principalmente os da ciência

da religião, a inovar formas de agregação religiosa alternativas à vida das

tradicionais Ordens e Congregações.

Se no âmbito eclesial as comunidades novas podem incomodar por serem

um dos pólos que mais atrai para si vocações leigas ao celibato e à vida sacerdotal,

no âmbito acadêmico também elas instigam os pesquisadores a perscrutarem as

rupturas e as continuidades com a sociedade mais ampla e em particular com o

catolicismo.

Como que essas novas comunidades ganharam tanto campo de atuação

nos espaços eclesiológicos? Em sintonia com outros autores que já citamos,

inclusive a partir da sociologia, Silas Guerriero aponta para o indivíduo moderno,

alguns chamam de pós e outros de hipermodernos. Assim descreve esse autor:

A sociedade moderna ocidental de hoje passou por profundas mudanças. Talvez a marca fundamental seja a autonomia do indivíduo. Se olharmos para esse fato, e não partirmos somente do campo religioso, talvez fique mais claro o fenômeno [...] Melhor será olharmos para o novo em relação à sociedade abrangente. Novo não em tempo, mas em relação à novidade da mensagem. Pode permanecer novo por um longo tempo, desde que continue contrastando com a sociedade abrangente. (GUERRIERO, 2012, p. 120-121).

Dentro de um mesmo aspecto, percebe-se certa dificuldade para entender

as novas comunidades de vida e os novos movimentos. Além de alguns aspectos

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aqui já citados, deve-se ao fato também da imensa variedade de novas

espiritualidades tipicamente religiosas e outras que são de autoajuda e que, no

entanto, estão colocadas numa mesma fala, ou seja, num mesmo lugar, quando na

prática são coisas distintas.

Dessa grande massa católica, alimentam-se outras comunidades e

movimentos que não foram aqui citados, mas que nutrem a esperança de

converterem e trazerem para dentro da Igreja pessoas que se encontram afastadas

dos centros de evangelização por algum motivo. Com isso, ainda persiste a força e a

razão de ser dos trabalhos pastorais com seus diversos rostos.

Em meio a essa rede de vozes de serem novas comunidades de vida,

chegamos à Região do Campo Grande, periferia de Campinas, SP, onde está

localizada a Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, sobre a responsabilidade dos

Missionários Redentoristas: seminaristas estudantes de filosofia, irmão consagrado

à vida religiosa e sacerdotes. Juntos querem ser presença evangelizadora e

formativa na comunidade paroquial.

Figura 21 - Evangelização

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

De certo modo, o trabalho de pesquisa até aqui, sobretudo este capítulo,

caminhou para entender na prática como se constitui a formação dos futuros

religiosos Redentoristas. E como a atividade pastoral nas comunidades se insere na

prática da educação sociocomunitária, como será refletido no próximo capítulo.

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CAPÍTULO V – OS CAMINHOS DA PESQUISA

Figura 22 – Trabalho dos seminaristas durante a Semana Santa junto ao povo

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

Da vida, queremos ser eternos aprendizes; do tempo, um eterno ponto de partida; e

para o povo de Deus, sinais de esperança9.

A frase abaixo da imagem tem um pouco de cada paroquiano, de cada

seminarista, de cada educador social. Portanto, um pouco de cada um de nós que

compomos a história da Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório. A imagem

destacada como epígrafe é uma das expressões do campo pastoral – o lugar e o

espaço de educação sociocomunitária.

A pesquisa (auto) biográfica, em se tratando de metodologia, ocupa-se da

apreensão e do aprofundamento sobre determinadas realidades e ainda é pouco

explorada cientificamente. Utiliza-se de conversas formais e informais e de relatos,

ou seja, de narrativas de vidas com pessoas ligadas, direta ou indiretamente, ao

campo em que se pretende pesquisar.

Ao contar uma história sua, o indivíduo evoca lembranças pessoais e

sociais, construindo, com isso, uma visão mais concreta de sua vida e, ao mesmo

tempo, consegue reorganizar suas vivências e projetar seu futuro. Os fatos vão

sendo relembrados de acordo com o grau de importância que possuem.

Na pesquisa (auto) biográfica, as narrativas ocupam lugar central e são as

grandes responsáveis por dar o direcionamento ao trabalho pretendido. No entanto,

esse dado não impede que sejam utilizados outros documentos e fontes para se

alcançar os objetivos propostos pela pesquisa.

9 Sebastião Fernandes Daniel

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Este capítulo abordará o conceito e a importância da temática (auto)

biográfica. Como humanos que somos, vivenciamos inúmeras experiências, porém

nem todas são narradas por nós. Havendo o desejo de contar-se, o sujeito olha a

teia de acontecimentos diversos que é a sua vida, volta-se para a sua história e

reflete os sentidos das relações constituídas em seu viver.

Para este autor, a (auto) biografia implica o desejo de o indivíduo

compartilhar sua experiência pessoal, considerando-a relevante para o outro. Essa é

a sua importância, visto que houve uma vontade desse indivíduo socializar o que foi

vivido, provavelmente, por ter causado alguma transformação nele. (STAROBINSKI,

1970).

Assim aconteceu comigo, pois, em minha primeira conversa com o professor

Chiquinho, fui contando pequenos fragmentos de minha história e do tempo de meus

estudos de filosofia. Eu disse a ele que queria discorrer sobre um tema em que

pudesse relacionar a formação que recebi no tempo de estudante de filosofia com a

de hoje, como formador que sou. Daí vem a importância de meu memorial de

formação ser apresentado como primeiro capítulo deste trabalho. O professor

Chiquinho, ao ouvir isso, argumentou que daria para agregar a Paróquia Santo

Afonso Maria de Ligório como espaço de educação e formação sociocomunitária. No

momento daquela conversa, o meu sentimento foi o de estranheza, só bem mais

tarde, após algumas leituras sobre o tema, é que comecei a compreender o que ele

havia falado e, ainda hoje, tenho buscado mais leituras e reflexões para

compreender cada vez melhor.

Após o levantamento bibliográfico, senti a necessidade de recolher outros

elementos que pudessem trazer mais fundamento à pesquisa. Surgiu então a ideia

de propor aos seminaristas que escrevessem suas narrativas de vidas e, também, a

de que fosse aplicado um questionário aberto para ser respondido por leigos das

comunidades.

Quando iniciei este trabalho, do grupo de dezesseis seminaristas, sete deles

se interessaram em contribuir e participar. Talvez, se fosse no meu tempo de

formação, o grupo não estaria tão disposto, pois acho que ficaríamos com receio em

escrever sobre a nossa vida enquanto formandos, pode ser que nos faltasse mais

confiança. Sinto que hoje os jovens partilham com mais liberdade suas experiências

de vida e formação.

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Eu cresci e fui educado em um ambiente familiar tradicional entre as

décadas de 1970 e 1990. Segundo João Batista Libanio (2012), até as décadas de

1990 e 2000, o jovem era “mais obediente às autoridades”, de forma que dificilmente

na família ou nas casas de formação a autoridade dos pais, do formador ou da

formadora era questionada. Hoje, por qualquer motivo, os jovens questionam e

resistem a algumas orientações e decisões:

Os jovens sentem-se cada vez mais livres em face de estruturas autoritárias invasoras de consciência. Não aceitam facilmente a intromissão na vida pessoal, afetiva e sexual de pessoas em nome de cargo que exercem. Reservam o direito de abrir-se a quem querem e mesmo de expor-se até publicamente, mas por decisão própria. O mundo interior pertence somente a eles e o manifestam quando e a quem lhes apraz. (LIBANIO, 2012, p. 59).

Esse jeito de ser jovem hoje, bem diferente dos jovens da época de minha

formação, deu ao indivíduo maior autoconsciência, pois ele assume iniciativas,

autovaloriza a postura que toma, ocupa os espaços e anseia por participação na

vida da família, da escola, da Igreja, da sociedade. Esses jovens reivindicam e se

opõem à geração adulta que os segrega. Eles provocam, de maneira positiva, o

diálogo geracional. No tempo em que eu estava sendo formado, isso era muito

difícil, enquanto os conflitos não se explodissem, quase nada se falava. Atualmente,

por inúmeras razões que não cabe discorrer aqui, os jovens e os formadores

dialogam com mais naturalidade e frequência.

Talvez por perceber ao longo desta pesquisa o quando essa postura

assumida pelos jovens tem sua importância, o trabalho quer dar mais voz a eles e a

comunidade paroquial, vista hoje como espaço de reflexão e de formação,

contribuindo, com isso, para amenizar os conflitos relacionais. Essa comunidade tem

tido a oportunidade de contribuir na formação do sacerdote, considerando a sua

necessidade existencial e espiritual.

Em 2011, quando concluí as disciplinas em psicopedagogia pelo próprio

Unisal, existia uma vontade em continuar com a pesquisa e que ela fosse aplicada

no campo de atuação pastoral. Estava claro para mim que a paróquia Santo Afonso

Maria de Ligório, sobre a responsabilidade dos missionários Redentoristas, tem mais

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a nos ensinar do que a receber. A meu ver, essa realidade deveria ser mais

instigada.

A formação religiosa Redentorista é fundamentada nas Diretrizes Gerais da

Igreja do Brasil e no Diretório específico da Congregação e é delineada por etapas,

da forma como estão apresentadas no anexo. O questionário respondido pelos

leigos que atuam nas pastorais e nos movimentos da Paróquia complementa esses

documentos e essas diretrizes de formação, afinal é o povo falando a partir de suas

necessidades. De modo concreto, este trabalho quer dar voz às comunidades.

As falas dão vidas às letras, as vozes dos paroquianos são elementos

essenciais na construção do perfil sacerdotal religioso. Entre o ideal e o real existe

uma distância que talvez jamais seja alcançada. Porém, o ideal alimenta o sonho

que nos leva a oferecer o melhor como seres humanos em contínua construção.

5.1 SOBRE A PESQUISA (AUTO) BIOGRÁFICA

Esta escrita objetiva aborda a temática (auto) biografia a partir de seu

conceito e de sua importância. Se biografia é a história da vida de alguém, pois ‘bio’

é vida e ‘grafia’ é escrita, com o prefixo ‘auto’ que quer dizer ‘a si mesmo’, teremos

(auto) biografia se referindo à história da própria vida. (PINAU, 2006).

Na biografia, os acontecimentos apresentados são definidos pelos outros.

Por isso, a objetividade é mais evidente que na (auto) biografia, na qual a pessoa

seleciona o que ela quer escrever sobre si mesma. Uma característica encontrada

na (auto) biografia é a veracidade dos fatos. Costumam ser narrativas não ficcionais,

isto é, não são histórias inventadas. O relato dos fatos aparece no texto (auto)

biográfico pontuado de lembranças, de emoções e de experiências que não são

mostrados em outros tipos de escritas, ou seja, predomina a subjetividade.

Percebemos isso neste exemplo, com a narrativa do seminarista Jonas:

“Gostava muito de ser coroinha, sobretudo durante a festa de São Geraldo Majela.

E, foi numa destas festas (dois mil e um), que Deus me fez ouvi-Lo pela primeira

vez, quando vi um padre vestido com uma “batina preta e colarinho branco”,

chegando com a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida às mãos: Pe.

Gilberto Paiva”.

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Para Bakhtin (2003), entende-se por biografia ou (auto) biografia a descrição

de uma vida. A forma imediata em que se pode objetivar artisticamente a vida de si

mesmo ou de outro. A (auto) biografia pode ser entendida também como sendo um

romance e só é possível a partir da narração do outro:

Tomo conhecimento de uma parte considerável da minha biografia através das palavras alheias das pessoas íntimas e em sua totalidade emocional. Meu nascimento, minha origem, os acontecimentos da vida familiar e nacional na minha tenra infância (tudo o que não podia ser compreendido ou simplesmente percebido por uma criança) [...] Sem essas narrações dos outros, minha vida não seria só desprovida de plenitude de conteúdo e de clareza como ainda ficaria interiormente dispersa, sem unidade biográfica axiológica. (BAKHTIN, 2003, p. 141-142).

Segundo Passegietet al (2006), a narrativa (auto) biográfica é discutida

como uma ação social na qual o sujeito reinventa seu percurso de vida e sua

interação social. Por isso, não se trata de algo descritivo ou simplesmente uma

interpretação superficial dos acontecimentos da vida, porque a potencialidade da

(auto) biografia não está somente voltada para os fatos de uma vida, mas, também,

pelo modo como o sujeito revisita, reinterpreta a sua vida ao narrar a sua história.

A (auto) biografia também é refletida por Bruner (1997) como uma atividade

de posicionamento do sujeito diante de sua trajetória, sendo ela uma narrativa.

Assim comenta o autor:

Não me refiro a uma autobiografia no sentido de um “registro” (pois não existe tal coisa). Refiro-me simplesmente, a um relato do que se pensa que se fez, em que cenário, de que modo, por que razão. Ela será inevitavelmente uma narrativa [...] Não importa se o relato se adapta ao testemunho de outros. Nós não estamos à busca de temas ontologicamente obscuros, como saber se o relato é “auto-enganador” ou “verdadeiro”. Estamos interessados apenas no que a pessoa pensou que fez, para que ela pensou que fazia alguma coisa, em que tipo de situação ela pensou que estava, e assim por diante. (BRUNER, 1977, p. 103).

Ao afirmar que a (auto) biografia é uma narrativa, o autor expressa a

preocupação com a produção de significado que o sujeito elabora, pois sendo a

narrativa um dizer singular de vivências e acontecimentos, é importante a

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compreensão dos modos como as pessoas articulam o enredo narrado e o

significado das experiências vividas. Ele afirma, ainda, que os significados não estão

em si mesmos, e sim relacionados e desenvolvidos no tecido da narração.

Seguindo a linha de raciocínio dos autores citados, fica perceptível que todo

escrito possui algo de (auto) biográfico. O que faz com que uma obra seja (auto)

biográfica ou não, além da escrita, é a maneira como ela é lida e interpretada. Como

descreve este autor:

Toda escrita é, de uma maneira ou de outra, veladamente autobiográfica ainda que não construa lembranças, do autor, mesmo que somente seja porque escrita por alguém cujas experiências existenciais atravessem, inevitavelmente seu texto, por mais afastada que esteja das normas do realismo. Do mesmo modo, poderíamos dizer que toda autobiografia é um artefato textual e, portanto, verdadeiramente literária, independente de sua atribuição ou não à norma do que, em cada momento, se entende por literária: não há texto escrito que não seja, de alguma maneira, literatura, e não há texto narrativo que não seja, de algum modo, “novelesco”. (LARROSA, 2006, p. 183).

É nessa riqueza de escrita que encontramos as escolhas que o narrador faz

ao contar suas narrações. Assim, é possível entender a (auto) biografia como uma

autorreflexão que o sujeito realiza em um dado tempo e em dado contexto, fazendo,

portanto, com que uma narrativa reflita uma época, uma cultura. A historicidade da

(auto) biografia é constituída de acontecimentos da temporalidade histórico-cultural

que afetam o sujeito e vice-versa. (CATANI, 2006).

De modo breve, vale citar que, na Idade Média, existiam alguns escritos em

que autores contavam sobre sua vida interior e que hoje são caracterizados como

textos (auto) biográficos. Pesquisas mostram, por exemplo, textos (auto) biográficos

escritos por Santo Agostinho (354-430 d. C), em primeira pessoa, como referência a

esse tipo de produção literária. (TAYLOR, 1997).

Naquela época, a reflexão sobre a vida foi centrada em questões religiosas,

ao passo que no Renascimento a temática voltou-se para a personalidade do

indivíduo. Nas palavras de Levisky (2004), podemos observar e entender o modo

como o gênero (auto) biográfico se funda:

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Enquanto na idade média a reflexão sobre a vida era centrada na religião, no Renascentismo ela se direciona para o desenvolvimento do indivíduo e para a descrição de sua personalidade. A religião não desapareceu como conteúdo, mas inseriu-se em condições restritas a regras de uma narrativa, para a qual não se fixaram normas, salientando a singularidade de cada um. Essa forma narrativa surge como consequência das transformações do movimento cultural e das ciências, fundando o gênero literário autobiográfico. (LEVISKY, 2004, p. 74).

Observa-se que o modo como se configura o gênero (auto) biográfico é

relacionado ao contexto em que se produz, pois, se no Renascimento houve uma

preocupação com a constituição do sujeito e da descrição de sua personalidade, em

uma época posterior, na Modernidade, o que se encontra é um gênero marcado pela

cientificidade.

Nos últimos anos, a (auto) biografia vem tomando uma significativa

importância no campo da pesquisa educacional e na formação de profissionais, pois

muitos autores trabalham esse tema tão relevante e cheio de significados.

Considerando que esses elementos são essenciais para a pesquisa (auto)

biográfica, passaremos, a seguir, a analisar o espaço de atuação pastoral dos

jovens seminaristas como espaço de educação sociocomunitária.

5.2 A PARÓQUIA SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO COMO ESPAÇO DE

FORMAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA

No capítulo anterior, o então referenciado filósofo Martin Buber ampliou a

nossa visão sobre o conceito de comunidade. Tal conceito nos ajudará a

entendermos, neste tópico, que na comunidade paroquial, como também em outros

espaços de educação, acontece a educação sociocomunitária. Aliás, alguns autores

argumentam que foi Buber quem cunhou o conceito de educação sociocomunitária e

a sua prática. Sobre isso, veremos adiante.

Deve-se considerar que esse espaço educacional é visível para as ciências

humanas educacionais a partir de seus protagonistas – autores, professores e

educadores sociais – e invisível para as ciências e profissionais com outras

finalidades. É preciso levar em consideração que essa prática educativa está em

processo de construção, especialmente aqui no Brasil. Assim cita o autor:

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A educação sociocomunitária é um processo a ser construído pelos que lutam para edificar uma outra realidade socio-histórica, a partir da própria realidade vivida e mediante a “práxis sociocomunitária”. (MARTINS, Marcos Francisco. Artigo: Educação sociocomunitária em construção, p. 31).

Em seu artigo “Uma visão de educação sociocomunitária”, Regis de Morais,

além de referenciar diversos autores, dá real destaque a Buber, principalmente em

sua obra, “Educação para a comunidade”. A educação sociocomunitária, na

concepção Buberiana, é uma junção de dois conceitos: comunidade e sociedade.

Assim defini Regis:

Vamos percebendo a importância desta noção de complementariedade quando nos debruçamos sobre os temas de comunidade e sociedade. Estas são realidades complementares exato em razão de suas diferenças, mas, quando feita com ambas a complementação, essas realidades produzem uma terceira: o sociocomunitário, que, não eliminando as duas primeiras tomadas separadamente, afirma-se ao contrário, apoiando-se nelas. É, porém, uma terceira realidade em si mesma. (REGIS MORAIS. Artigo: Uma visão de Educação Sociocomunitária,p. 7).

Como vimos em Buber (2012), o conceito de comunidade se dá justamente

no local onde existem vínculos e laços de comprometimento entre as pessoas para

com determinada realidade. Já a sociedade, que é uma massa, está conceituada

dentro de uma amplitude maior do que a comunidade, relativizando os interesses.

A partir de diversos autores, podemos dizer que a educação

sociocomunitária ocorre em espaços denominados de educação não formal, tendo

como agente de transformação grupos, movimentos e organizações afins e não

institucionalizados pelas leis governamentais.

Figura 23 – Projetos Sociais

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

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A imagem que visualizamos acima é um espaço oferecido pela comunidade

paroquial onde acontecem várias atividades grupais que possibilitam para crianças,

adolescentes e jovens vivências de integração e novos conhecimentos a partir das

práticas consideradas educacionais, despertando, nos participantes, as

possibilidades de concretizar sonhos e de se tornarem protagonistas de suas

próprias histórias.

O espaço educativo ocupado pela “práxis comunitária”, que acontece fora

dos muros institucionais, portanto, não é o mesmo da educação formal, assim

descreve esta autora:

A educação não formal aborda processos educativos que ocorrem fora das escolas, em processos organizativos da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações não-governamentais e outras entidades sem fins lucrativos que atuam na área social; ou projetos educacionais, fruto da articulação das escolas com a comunidade educativa, via conselhos, colegiados etc. (GOHN, 1999, p. 7).

Nas multiplicidades de ações que caracterizam o “terceiro setor”, há um

investimento forte na intervenção social via ação educativa. É por essa via que se

tem ensinado amplos setores das classes subalternas a suportarem as crises, a se

adaptarem a elas para intervirem e superarem os desafios que lhes ameaçam a vida

onde ela acontece: na família, na escola, no trabalho, na comunidade e em outros

espaços. É no desenvolvimento dessas ações, de acordo com a própria lógica de

funcionamento da acumulação flexível do capitalismo, que cada vez mais se

banaliza a existência humana.

De acordo com Gohn (1999), essa ênfase na educação não formal

intensificou-se a partir da década de 90 do século XX e decorre das mudanças na

economia, na sociedade e no mundo do trabalho, repercutindo, dessa forma, nos

movimentos próprios da estrutura social, causando considerável alteração em sua

formatação e lógica de desenvolvimento. O “terceiro setor” utiliza a educação como

instrumento de sua “práxis comunitária”, o que na verdade está em sua atual fase de

crescimento.

Essas e outras dimensões da realidade social, igualmente produtoras de

conhecimentos, vieram à tona, tais como as que advêm do mundo das artes, das

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diversas atividades culturais, dos grupos de mulheres, das religiões e seitas, da

cultura popular, das aprendizagens cotidianas por meio da educação não formal. “Há

multidões de pessoas participando dos processos de trabalhos social que são

simplesmente invisíveis nos textos e análises mais usuais da atualidade na área da

educação e outras afins”. (GOHN, 2010, p. 8).

A partir dessa visão de educação sociocomunitária, pode-se dizer que a

comunidade paroquial é também uma educadora social, visto que atua no campo da

educação não formal. Os agentes dessa educação são as lideranças da própria

comunidade, animados e coordenados pelo pároco, o responsável legal pela missão

e pelos trabalhos. Os agentes de pastoral devem ser formados e preparados para

somarem forças nesses trabalhos. Sobre os agentes, escreve a autora:

Para atuarem junto às comunidades organizadas é a resposta, onde as práticas de educação não formal estão presentes. E o educador que lá atua deve ser denominado como educador social? Ele é um elemento estratégico nas ações coletivas da educação não formal [...] O educador social é algo mais que um animador cultural, embora ele também deve ser um animador do grupo. Para que exerça um papel ativo, propositivo e interativo, ele deve continuamente desafiar o grupo de participantes para descoberta dos contextos onde estão sendo construídos os textos (escritos, falados, gestuais, gráficos, simbólicos etc). (GOHN, 2010, p. 50-51).

A partir desse olhar sobre a comunidade pastoral, como educadora não só

de fé, mas de vida e de novos aprendizados também, deparei-me com algo

extremamente novo. Sempre tive o pressuposto de que é da comunidade, já

constituída com pessoas e Igreja (Templo), que parte as iniciativas de grupos e

movimentos em prol de uma causa. Em um dos relatos da comunidade São Luiz

Gonzaga, percebi que aconteceu o contrário. Lá, a pastoral da criança denominada

como “Sopro de Vida” é anterior à comunidade Igreja. Assim relata a atual

coordenação da comunidade:

“Através da Pastoral da Criança, percebeu-se a necessidade de se ter uma igreja,

ou seja, um local para os católicos se reunirem. Neste tempo estava surgindo no

bairro muitas igrejas e seitas de outras confissões religiosas. O Sopro de Vida

preparava adultos e crianças para o Batismo e 1° Eucaristia até no ano de 2.001”.

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Figura 24 – Pastoral da Criança

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

Essa pastoral teve relevante papel não só na prevenção de vida para mães,

crianças, adolescentes e jovens como também agrupou e provocou outras pessoas

a se locomoverem e somarem na construção da futura capela, no local onde se

reuniriam para se alimentarem da Palavra de Deus e da Eucaristia. Assim, na força

de Deus, segundo suas concepções e crenças, puderam continuar promovendo

vidas. Nessa perspectiva, um dos documentos de estudo da Igreja descreve:

A Palavra, dirigindo-se a cada um pessoalmente é, também, a Palavra que edifica a comunidade e a Igreja. Somente em comunidade, e em comunhão com a Igreja, a pessoa poderá ler a Bíblia sem reducionismos intimistas, fundamentalismos e ideologias [...] Na celebração eucarística, a comunidade renova sua vida em Cristo. A Eucaristia é escola de vida cristã. (COMUNIDADE DE COMUNIDADES: UMA NOVA PARÓQUIA, 2013, n° 143-147, p. 58-59).

Podemos dizer que a Congregação Redentorista sempre buscou evangelizar

integrando essas duas dimensões com o anúncio explícito da Palavra de Deus e

com a prática social, conhecida entre os missionários como “projeto social”.

Entre meados de 1726 e 1730, Santo Afonso Maria de Ligório formou um

grupo para rezar, refletir sobre alguns temas, discutir sobre os problemas das

famílias e da comunidade de sua época e tentar dar resposta aos problemas

emergentes. Podemos dizer que naquele momento já existia a semente da

educação sociocomunitária na Congregação. Vejamos essa citação:

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Afonso confia sua animação a leigos convertidos: é o apostolado do meio pelo meio. Os padres são apenas assistentes. Nada de formulário a preencher na estrada, nada de cotização, nada de mandato do pároco da paróquia ou do bispo. São os leigos responsáveis que convidam outros leigos em nome de Jesus Cristo. Encorajado por Afonso que, ainda recentemente, era um leigo comprometido com o apostolado de seu meio. Estes leigos, todavia, não contentam de escutar o Evangelho, de explicá-lo; põem em prática o Evangelho muito concretamente: entreajuda e partilha entre os pobres, visita de doentes, consciência profissional restaurada em milhares de domésticos, artesões, operários, carpinteiros, o dinheiro da casa não é mais dissipado nos jogos ou na bebida; o roubo é substituído pelo trabalho etc. (SEGALEN, 1991, p. 12).

Não era essa a intenção primeira do fundador dos Redentoristas, mesmo

que já vigorasse a Doutrina Social da Igreja. Porém, hoje, temos elementos para

interpretar essa forma de evangelizar dentro dos parâmetros da educação não

formal. Pode-se dizer que a inclusão social é um dado relevante na prática

evangelizadora da Congregação.

Ainda nessa perspectiva, podemos recorrer também ao trabalho realizado

por outro Redentorista, São Clemente Maria Hofbauer10. Ele dizia que o Evangelho

deveria ser pregado sempre de modo novo, ou seja, adaptado e inculturado em cada

realidade, sem perder a fidelidade da vocação, do carisma e da missão da

Congregação. Por isso, encontramos São Clemente preocupado, principalmente,

com a educação e a formação cristã e humana das crianças, dos adolescentes e

jovens em seu tempo:

Clemente fundou um orfanato para meninos e meninas, um ginásio e uma escola industrial, onde as meninas podiam aprender os trabalhos próprios de uma dona de casa. Além disso, cuidava da formação de seus teólogos tanto que eles sempre se distinguiam entre os demais seminaristas por ocasião dos exames gerais no Seminário Diocesano. Desta maneira “o bairro de São Bento” tornou-se para Varsóvia um importante centro de cultura, assim como a igreja o foi para a pastoral e a espiritualidade de todos os estados de vida, tanto da nobreza como do povo simples. (HOSP, 1991, p. 87).

10

Clemente Maria Hofbauer, nasceu em 26 de dezembro de 1751em Tasswitz, no sul da Morávia (antiga Checoslováquia). Em 1785, foi ordenado sacerdote. Identificou-se com os ideais da Congregação e durante o resto de sua vida permaneceu fiel ao carisma da instituição, porém sempre com um novo modo de anunciar o Evangelho, ou seja, adaptando-O às realidades emergentes de sua época. (HOSP, 1991, p. 85).

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Esses dois homens citados, e tantos outros que vieram nessa fileira

Redentorista, deixaram-nos um grande legado de fé e de esperança de salvação do

homem integral para ser continuado. Souberam ler os sinais dos tempos e oferecer

aos seus contemporâneos respostas adequadas à sua época. Pela nossa fé na

pessoa de Jesus Cristo, hoje, com zelo e ousadia missionária, somos novamente

provocados a possibilitar aos homens e mulheres, principalmente aos mais

necessitados, meios de libertação, assim como expressa este autor:

A nova evangelização, portanto, exige a capacidade de saber da razão da própria fé, mostrando Jesus Cristo Filho de Deus, único salvador da humanidade. Na medida em que formos capazes disto, podemos oferecer ao homem contemporâneo a resposta que espera. (FISICHELLA, 2012, p. 68).

Sendo a Paróquia um espaço de educação sociocomunitária, cabe a ela ver

a realidade com um olhar humanizador, capaz de perceber o ser humano em sua

singularidade. Evangelizar, hoje, bem mais do que no passado, exige dinamismo e

criatividade missionária:

O contexto da mensagem cristã exige, pois, não só as ações adequadas para uma eficaz atividade missionária, precisando não só a quem se destina o anúncio e a quem incumbe essa tarefa, mas também um plano de pastoral que possa conduzir a uma ação e a integração dos seus membros na Diocese e Paróquias. (OLIVEIRA J, 2011, p. 51).

Para tanto, a Igreja reflete e conta com a ajuda das ciências, sobretudo das

humanas, como ferramentas de aproximação e de transformação da realidade. Se

no passado não tão distante o humanismo não era bem visto pela Igreja, hoje

podemos perceber o quanto essa corrente vem sendo valorizada por estudiosos de

peso dessa instituição como, por exemplo, Rino Fisichella, convidado pelo emérito

papa Bento XVI para pensar a nova evangelização. Ele buscou alguns elementos na

filosofia humanista para compreender o homem em seu contexto:

O humanismo foi a capacidade de entender a mudança que ia operando, mas igualmente exprimiu a convicção de poder reler, e em alguns pontos

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resolver, os problemas que angustiavam a humanidade desde sempre. Não foi uma visão fragmentada do mundo, mas unitária, também pela convicção do homem colocado no centro da criação. Nesta fase, que se estendeu da filosofia à literatura, da arte à descoberta de novas terras, Deus não estava excluído, mas tornava-Se o horizonte de sentido da procura pessoal e da vida social. (FISICHELLA, 2012, p. 110-111).

No antigo Israel, o clã – a comunidade – era a base da convivência social.

Nele, estava a proteção das pessoas e das famílias, a garantia da posse da terra e

da defesa da identidade. Israel era a maneira concreta do povo daquela época

encarnar o amor de Deus no amor ao próximo.

Hoje, a comunidade paroquial está sendo novamente convidada a assumir

esse papel de cuidar, de ser gestora da vida dos fiéis, pois, o Reino de Deus

anunciado por Jesus é a expressão do amor do Pai. O Reino é um dom de Deus que

precisa ser acolhido por todos. Tal acolhida supõe novas relações entre as pessoas

e a comunidade e busca construir uma nova sociedade pautada nos ensinamentos

de Jesus.

Essa perspectiva sociocomunitária da comunidade, mesmo que muitas

lideranças não tenham teoricamente o conceito, na prática, é uma realidade

transformadora de vida das pessoas e das comunidades. Por isso, a importância

desta pesquisa em buscar fundamentações para embasar ainda mais as falas e as

ações dos leigos na prática pastoral. Ao responder uma das perguntas do

questionário: “o que é comunidade para você”? Ana respondeu:

“É um grupo de pessoas leigas que voluntariamente e em comum unidade

desenvolvem seus dons na diversidade para o bem comum das outras, no

acolhimento e nos diversos trabalhos pastorais que existem em nossa Igreja, e

também nas ações sociais”.

A comunidade é entendida a partir da união de pessoas em prol do bem

comum. Elas colocam seus dons e talentos a favor do outro. Fica explícito, também,

que os trabalhos e as ações sociais são frutos de um grupo de pessoas que reflete e

luta em favor da vida, resistindo ao sistema opressor.

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Essa importância da comunidade paroquial, no campo do aprendizado e da

transformação, também é percebida pelos seminaristas. Na narrativa de sua história

vocacional, Alan comenta:

“Nesta etapa formativa, é possível estabelecer uma construtiva relação entre os

estudos filosóficos, a espiritualidade e o contato direto com as comunidades da

paróquia Santo Afonso, contato que proporciona um grande crescimento

comunitário, sobre tudo humano”.

Nesse relato, o jovem elenca como fatores de crescimento a integração dos

estudos acadêmicos, da espiritualidade Redentorista e do trabalho pastoral que ele

realiza na comunidade. Essa fala está em harmonia com a nova paróquia:

A paróquia precisa ter abertura para a presença e a atuação dos jovens na vida das comunidades. Tal atitude exige fazer uma opção afetiva e efetiva pela juventude, considerando suas potencialidades. Para isso, é importante garantir espaços adequados para ela nas paróquias, com atividades, metodologias e linguagens próprias, assegurando o envolvimento e a participação dos jovens nas comunidades. (CNBB 104, 2013, n° 222, p. 82).

De acordo com esses conceitos, podemos dizer que a Paróquia Santo

Afonso Maria de Ligório, além de ser um espaço teológico de fé e de reflexão

filosófica, é um lugar de educação sociocomunitária, onde se ensina e se aprende.

Por isso, um local de experiência pastoral completa para os jovens seminaristas e os

religiosos Redentoristas.

Figura 25 – Fundação Santo Afonso – Projeto Social

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

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Na imagem, vemos a cruz sendo levantada pela comunidade: é a marcação

do espaço da futura fundação de um projeto social. Para os fiéis católicos, a cruz

simboliza a vitória da vida sobre a morte, pois foi no alto do madeiro que Cristo deu

a salvação ao mundo. Assim sendo, pode-se dizer que a evangelização também

acontece por meio de projetos educativos ligados à instituição religiosa pela

perspectiva da fé. Aliás, São Tiago disse: “A fé, sem obras é morta”. (Tg 2,26b).

Talvez, você, leitor, esteja perguntando, por que a cruz para marcar uma

fundação de um projeto social? Esse gesto de fé das pessoas remete à memória

das próprias fundações das comunidades, nas quais, primeiro, erguia-se uma cruz e

depois se começava a construção da capela. Com isso, estão dizendo que aquele

espaço comunitário não terá somente uma dimensão social ou política

transformadora, mas, também, uma dimensão profunda de fé vivida em comunidade.

O renomado teólogo Gustavo Gutiérrez, em sua obra “O Deus da Vida”,

exorta os católicos e as comunidades cristãs a se engajarem em projetos e obras

sociais, ajudando o povo a se libertar das opressões sociais que afligem a vida

humana. “Dar a vida pode arrastar para a morte nas mãos dos que por ela optaram.

A experiência de numerosos setores da Igreja latino-americana nos últimos anos é

eloquente a esse respeito”. (GUTIÉRREZ, 1992, p. 33).

Se por um lado a comunidade Redentorista também alimenta a fé e a

esperança do povo, por outro, enriquecemos e aprendemos a serem melhores

evangelizadores e educadores, bebendo dessa fonte chamada de pastoral. É um

processo recíproco de aprendizado, de construção de saberes e de conhecimento,

pois só quem conhece é capaz de transformar.

Essa forma de ser formado e de formar requer do evangelizador ou do

educador social uma visão que perpassa os muros de uma determinada confissão

religiosa, pois estamos falando de um projeto de espírito ecumênico. Existe uma

diversidade de pessoas ligadas a uma pluralidade de igrejas, formando, com isso,

uma unidade em prol de um ideal que é a valorização da dignidade humana e a

promoção do bem comum.

A palavra “ecumene”, para os gregos, designava a terra habitada. No âmbito da fé, a definição ecumênica significa mais do que extensão geográfica: é a coparticipação salvífica (“Koinonia”). O entendimento de “Koinonia” engloba unidade, comunhão, interação, convivialidade, inclusão. Não se trata de singularismo, monismo ou uniformidade, mas sim da

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conciliação de diferenças, plasmada no amor. O ecumenismo não consiste em uma simples fusão organizativa, que ficaria no nível jurídico. Ele brota da resposta ao apelo da unidade contida na oração de Cristo ao Pai (cf. Jo 17,21): por isso, é um espaço de crescimento mútuo na Palavra de Deus, em confronto com os desafios do nosso tempo. (OLIVEIRA J, 2011, p. 187).

De modo indireto ao tema sobre o ecumenismo, o papa Francisco, em seu

discurso para a classe dirigente do Brasil por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da

Juventude, também ressaltou esse aspecto ao dizer que:

É justo valorizar a originalidade dinâmica que caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinária capacidade para integrar elementos diversos. O sentir comum de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criatividade, os princípios fundamentais da sua vida, os critérios de juízo sobre as prioridades, sobre as normas de ação, assentam, fundem-se e crescem numa visão integral da pessoa humana [...] A riqueza dessa seiva faz crescer a humanização integral e a cultura do encontro e do relacionamento; este é o modo cristão de promover o bem comum, a alegria de viver. E aqui convergem a fé e a razão, a dimensão religiosa com os diversos aspectos da cultura humana: arte, ciência, trabalho, literatura. O Cristianismo une transcendência e encarnação; tem a capacidade de revitalizar sempre o pensamento e a vida, diante da ameaça da frustração e do desencanto que podem invadir os corações e saltam para a rua [...] Somos responsáveis pela formação de novas gerações, por ajudá-las a ser hábeis na economia e na política, e firmes nos valores éticos. O futuro exige hoje o trabalho de reabilitar a política que é uma das formas mais altas da caridade. O futuro exige também uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismo e erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade. (FRANCISCO, 2013, p. 41).

A pastoral social desenvolvida na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório

tem como finalidade construir a admirável dimensão social transformadora da ação

evangelizadora da Igreja. À luz da Palavra de Deus e das Diretrizes da CNBB, ela

quer contribuir para a mudança dos corações e das estruturas que ainda não se

movem para que tenhamos mais vida, sobretudo, em áreas de risco.

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Figura 26 – Capacitação para o trabalho da Pastoral Social

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

A Igreja nomina a Pastoral Social como sendo uma ação complexa e

abrangente, conduzindo-a para um relacionamento com as outras pastorais

orgânicas, por exemplo, a litúrgica, a familiar, a bíblico-catequética, a vocacional, a

comunicação e assim por diante a fim de que todas não só compartilhem as

experiências e as especializações, mas também vivenciem o conhecimento

integrado das ações evangelizadoras por meio da articulação sistemática das

pastorais orgânicas.

Nesse itinerário que está sendo percorrido, fez-se muito presente as aulas

administradas pela Profa. Sueli11 na disciplina “Psicologia Social”, pois a professora

nos alertou sobre a importância de aproveitar os espaços sociocomunitários para

promover ações socioeducativas. Para referenciar essa lembrança, trago presente

uma das falas dela sobre a animação sociocultural:

O histórico da Animação Sociocultural, principalmente em nossa realidade brasileira, seja qual for o nome dado a esta intervenção, vem comprovar a importância deste trabalho para uma educação mais efetiva. A conciliação do âmbito social com o cultural vem propiciar o diálogo entre as políticas sociais, e assim possibilitar novas expressões sociais e comunitárias. O contexto sociocultural, também, possibilita ações preventivas e adequadas a uma sociedade que busca novos espaços e novos caminhos de integração e de desenvolvimento. (CARO, 2012, p. 66).

Assim sendo, é indispensável, no hoje do nosso chão de atuação pastoral, a

interação na qual a pessoa não é apenas informada, mas aprende a formar-se junto

11

Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro - Docente Permanente do Programa de Mestrado em Educação e professora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL.

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com os outros. Métodos, pedagogias interativas e participativas precisam ser

desenvolvidos entre as lideranças cristãs, para que promovam a participação na

comunidade. Essas metodologias devem considerar especialmente a prática das

comunidades e as experiências de vida das pessoas, formando a consciência sobre

o valor da vida comunitária e da prática sociocomunitária para a fé cristã.

5.3 DIALOGANDO COM AS NARRATIVAS DE VIDA DOS SEMINARISTAS E O

QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELOS LEIGOS DAS COMUNIDADES

As narrativas de vida ou memórias de formação nos ajudam a perceber que

nenhuma vocação surge do nada, ela tem um sentido de existir com o indivíduo

contextualizado em uma determinada realidade histórica. A vocação religiosa

sacerdotal também é assim, é construída no decorrer da vida e das experiências que

vão se somando a ela. É fruto de um meio e parte de uma história. Vejamos essa

fala do Jonas:

“Um dia o pároco da época, Pe. Otávio, no final da celebração, convidou todas as

crianças para fazerem parte da pastoral dos coroinhas. Consequentemente, minha

mãe me colocou na pastoral para que eu desse “sossego” a ela nas celebrações... E

deu certo, pois gostava do que fazia”.

Como já citamos em outros momentos deste trabalho, a constituição do ser

humano e de suas escolhas se dá a partir do ambiente no qual está inserido. Entre

diversos autores que discorrem sobre a temática das escolhas, Vygotsky também

ressalta a influência do meio. Para ele, o desenvolvimento humano se dá,

principalmente, pelo fato de o ser humano ser possuidor de história, de culturas

sociais de transformação da realidade. O indivíduo é adquiridor de materiais que

possibilitam a concentricidade das coisas vivas e inanimadas.

A psicologia sócio-histórica concebe o homem num sentido amplo, como um

ser dotado de cultura e história que lhe são anteriores e cabe a esse ser, num

processo interativo de trocas interpessoais com os outros membros de sua espécie

e de apropriação, a produção e a reprodução disso na sociedade à qual pertence.

(VYGOTSKY, 1998).

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Na história da Igreja e das vocações religiosas, também acontece assim.

Quantas pessoas nós conhecemos que, ao ler a vida de algum santo, pelo

testemunho de alguém ou porque tem uma pessoa na família que é religiosa,

sentiram-se atraídas por esse modo de vida. Santo Agostino, citado como um dos

grandes doutores da Igreja, foi influenciado pelo Bispo Ambrósio. Assim cita o santo

em um de seus diálogos com Deus:

Assim que cheguei a Milão, encontrei o bispo Ambrósio, conhecido no mundo inteiro como um dos melhores, e teu fiel servidor. Suas palavras ministravam constantemente ao povo a substância do teu trigo, a alegria do teu óleo e a embriagues sóbria do teu vinho. Tu me conduzias a ele sem que eu o soubesse, para que eu fosse por ele conduzido conscientemente a ti. (AGOSTINHO, 1997, p. 137).

Conduzido pelos ensinamentos do Bispo Ambrósio, Agostinho atinge a

maturidade da fé e da escolha vocacional. A experiência de Deus que fizera leva o

santo a expressar em tom poético essa oração de agradecimento a Deus: “Tarde te

amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas

dentro de mim e eu te procurava do lado de fora [...] Estavas comigo, mas eu não

estava contigo”. (IDEM, p. 299).

Com essa citação de Agostinho, estamos afirmando que as influências

fazem parte da vida humana e também das escolhas vocacionais em todos os

tempos. Com esse autor, percebemos a importância da narrativa em primeira

pessoa, ou seja, o estilo literário (auto) biográfico.

Essa experiência vivida por Agostinho continua, de maneira diferente,

acontecendo na vida dos vocacionados à vida religiosa. Nas narrativas vocacionais

dos jovens, percebe-se, em sua maioria, que ainda pequenos já exerciam alguma

atividade na igreja. As motivações dos pais ou de outras pessoas das comunidades

ajudaram a perceber que dedicar a vida pela causa do Reino de Deus é uma

maneira de sentir-se realizado. É o que descreve este jovem:

“Desde pequeno, sempre fui encaminhado na fé e crença no Deus único e salvador,

por meio de minha mãe, tanto que entrei para o grupo de coroinhas de minha

comunidade, na qual trabalhei por muito tempo. Algum tempo depois, formei-me

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acólito, passando a atuar em minha paróquia e, mais tarde, tornei-me cerimoniário,

trabalhando diretamente na catedral e nas paróquias da diocese. Durante aquele

período, tive a chance de trabalhar e construir um caráter de pessoa responsável por

mim mesmo e pelos outros, também ajudei minha família”.

Nessa narração, o jovem relata a importância de sua mãe em sua vida. Tem

consciência também que a comunidade o ajudou a amadurecer humanamente e

assumir compromissos. Mesmo estando bem com sua família e construindo sua

própria vida profissional, ele fala sobre a busca de algo a mais.

“Mas, dentro de mim, algo ainda não estava completo, faltava algo em meu interior,

algo que me completasse e me satisfizesse por inteiro. Foi quando decidi fazer

alguns encontros vocacionais com os padres de Aparecida, os missionários

Redentoristas, os quais me ajudaram em meu discernimento vocacional,

encaminhando-me em direção ao chamado de Deus em minha vida”.

Para a autorrealização da pessoa, o senso de responsabilidade é um dos

critérios para a construção da felicidade. Assumir responsabilidade, ser capaz de

suportar sempre maiores compromissos, dedicar-se sempre mais ao bem comum,

com renúncias múltiplas à própria comodidade e, muitas vezes, à própria vontade, é

sinal de amor amadurecido.

O chamado para a vida religiosa é compreendido pela Igreja como algo que

ultrapassa a racionalidade humana. Na bíblia, o vocacionado é diretamente

interpelado pelo mistério de Deus. “Quando eras jovem, amarravas o teu cinto e ias

para onde querias; quando ficares velho, estenderás as mãos e um outro atará o teu

cinto e te conduzirá para onde não queres”. (Jo 21,18).

Para muitos, essa primeira experiência acontece na comunidade paroquial.

Por isso, ela é um terreno vocacional, mas também um espaço de discernimento e

de formação. Tanto a experiência com Deus, como a formação, de modo

progressivo, vai acontecendo na vida dos jovens no contato com o povo e com os

agentes de pastoral. O agente exerce um papel de educador espiritual e social na

comunidade. Ele busca integrar fé e vida. “Todas as atividades desenvolvidas pelo

educador social devem também buscar desenhar cenários futuros”. (GOHN, 2010,

p.54).

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Na perspectiva desta pesquisa, pode-se dizer que isso acontece também

quando damos voz ao agente para contribuir no processo formativo dos

seminaristas. Em uma das perguntas do questionário: Como você acha que deve ser

a formação do seminarista que está se preparando para assumir a vida religiosa

sacerdotal? Um dos agentes respondeu:

“Uma preparação voltada para o conhecimento e vivência pastoral para integração

comunitária. Uma formação de dimensão sociológica, antropológica e política”.

Ao responder a questão, o agente faz menção à importância de uma boa

preparação intelectual do seminarista, integrada com a realidade pastoral. Também

sobre esse aspecto, o Documento da V Conferência descreve:

O encontro com Cristo, Palavra feito carne, potencializa o dinamismo da razão que procura o significado da realidade e se abre para o Mistério. Ela se expressa em uma reflexão séria, posta diariamente em dia através de estudo que, com a luz da fé, abre a inteligência para a verdade. Também capacita para o discernimento, o juízo crítico e o diálogo sobre a realidade e a cultura. Assegura de maneira especial o conhecimento bíblico-teológico e das ciências humanas para adquirir a necessária competência em vista dos serviços eclesiais que se requeiram e para a adequada presença na vida secular. (DOCUMENTO DE APARECIDA: TEXTO CONCLUSIVO DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO AMERICANO E DO CARIBE, 2008, nº 280, p. 131-132).

De modo geral, os jovens têm consciência da necessidade de se ter uma

boa preparação a fim de que os auxilie a responderem às urgências pastorais do

mundo contemporâneo. Assim relata o seminarista Carlos Henrique:

“Aqui nós, formandos Redentoristas, participamos, aprendemos e auxiliamos na

Paróquia Santo Afonso de Ligório na região do Campo Grande. Verdadeiramente, a

experiência do estudo de Filosofia contribui, e muito, para a tomada de consciência

e de posição, possibilitando a análise, a crítica e a busca de alternativas de

mudanças das realidades em que vivemos, especialmente, na realidade pastoral,

por meio da reflexão, da liberdade e da libertação do pensamento, participando e

convivendo com povo”.

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Nesse relato, fica evidente a inquietação do jovem pela busca de experiência

e de elementos que possibilitem a ele o exercício competente do trabalho apostólico,

pois a pastoral urbana quer ser um espaço de “ação-reflexão-ação”, um local em

que se pense a educação e se busque mais alternativas para a Igreja evangelizar.

Nesse contexto, a Pastoral da Educação quer encaminhar toda a sua reflexão e

gestão na assunção de uma evangelização inculturada em suas quatro exigências

fundamentais: serviço, diálogo, comunhão e anúncio. (OLIVEIRA J, 2011).

Ainda sobre as influências na vida humana, esse testemunho que segue,

contado por Diego, reafirma concretamente o que vários autores vêm nos dizendo

do modo teórico sobre os ambientes, as pessoas e o entorno de vivência do

indivíduo e dos grupos:

“A vocação, como chamado de Deus ao seu segmento, nasceu e desenvolveu-se

dentro do ambiente familiar. Meus pais sempre me ensinaram os valores religiosos,

cultivando em mim o amor a Deus e à Igreja, sempre participando e incentivando

participar da vida da comunidade”.

O espaço familiar que permite à criança, ao adolescente e ao jovem falarem

de seus sonhos, suas fantasias e de seu futuro contribui para que o indivíduo cresça

de modo saudável, sem medo de arriscar-se, pois ele sabe que sempre terá o apoio

da família para fazer as escolhas que almeja. Na prática, pode não ser real, mas é

um caminho orientado por profissionais e pela própria Igreja.

No seio de uma família, a pessoa descobre os motivos e o caminho para pertencer à família de Deus. Dela recebemos a vida que é a primeira experiência de amor e da fé. O grande tesouro da educação dos filhos na fé consiste na experiência de uma vida familiar que recebe a fé, a conserva, a celebra, a transmite e dá testemunho dela. Os pais devem tomar nova consciência de sua alegria e irrenunciável responsabilidade na formação integral dos filhos. (DOCUMENTO DE APARECIDA: TEXTO CONCLUSIVO DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO AMERICANO E DO CARIBE, 2008, n° 118. p. 66).

O espaço acolhedor no seio da família e na comunidade possibilita maior

segurança ao jovem para fazer uma escolha profissional ou religiosa. Contudo, nem

sempre, ao fazer uma opção, significa que ela será para toda a vida. Vemos vários

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exemplos de pessoas que desistem de um curso antes do término e optam por

outro; outras que, depois de alguns anos de trabalho, mudam de profissão. Assim

também acontece na vida religiosa. Alguns, no decorrer do processo formativo,

acabam descobrindo distintas motivações, outros, depois de ordenados, descobrem

que aquela vocação já não faz mais sentido e recomeçam. No relato que segue

deste seminarista, após alguns anos de caminhada com os Redentoristas, não se

sente mais identificado com o carisma da Congregação, e sim pela vida diocesana:

“Desde o ano passado venho refletindo juntamente com meus formadores sobre a

minha vocação, visto que, no contato pastoral com o povo de Deus na paróquia

onde atuo, venho despertando-me para a vocação de sacerdote diocesano. Tenho

rezado constantemente sobre meu discernimento vocacional, entre a vida religiosa e

diocesana, também para aprofundar esse discernimento, li um livro de São João

Maria Vianney, me sinto profundamente identificado com o perfil desse sacerdote

que é um exemplo de santidade para toda a Igreja. Por minha vontade, estou certo

que quero continuar o meu processo formativo na vida diocesana, por isso estou

entrando em contato com minha Arquidiocese, onde estão minhas raízes e família.

Pretendo ser um padre diocesano, servindo com generosidade a minha diocese, na

qual fui criado e recebi os sacramentos de iniciação a vida cristã. Meus formadores,

ao tomarem conhecimento de minha decisão manifestaram-se apoio, e ao mesmo

tempo, gratidão pelos anos de minha vida dedicados à família religiosa Redentorista,

a qual sempre serei grato pela formação humana e cristã que recebi durante esse

tempo.

Como formador desse jovem, fiquei satisfeito quando ele veio me falar de

sua inquietude e sua incerteza vocacional sobre a vida religiosa. Primeiro, porque

ele sentiu confiança para falar de seu novo discernimento; segundo, pelo fato de

poder ajudá-lo simplesmente com o gesto de acolhida e de apoio a sua nova

escolha; e, em terceiro, por perceber que a nossa metodologia de formação está

contemplando o que pede este Documento da CNBB, o Seminário como espaço de

acolhida e de discernimento vocacional:

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Tendo em vista o objetivo de ajudar e de favorecer os jovens vocacionados a chegarem à opção vocacional presbiteral, as dioceses, auxiliadas pela pastoral vocacional, devem escolher e adotar ambientes, lugares e instituições que são mais indicados para despertar os vocacionados para a vocação humana, cristã e eclesial. Ajudá-los a perceberem os sinais indicadores do chamado de Deus. Acompanhá-los nos processo de opção vocacional consciente e livre; despertar e acompanhar os vocacionados na vocação específica à vida e ao ministério presbiteral. (DIRETRIZES PARA A FORMAÇÃO DOS PRESBÍTEROS DA IGREJA DO BRASIL, 2010, p. 52-53).

É ao longo do processo de discernimento que o indivíduo vai tomando

consciência do modelo de vida que mais o identifica. No relato acima, o jovem não

citou, porém, é certo que os estudos de filosofia também tenham ajudado em seus

questionamentos.

A formação filosófica é um dos elementos constitutivos da formação

presbiteral, quer para adequada interpretação do ser humano e do mundo, da

história e da sociedade, do pensamento humano e das correntes culturais e

religiosas do nosso tempo, quer como suporte para o diálogo com o mundo

contemporâneo, ou quer para a descoberta da dimensão transcendente da

existência.

É importante dizer para o leitor que o nosso espaço de formação

(Seminário), na pessoa dos formadores, tem como primeira preocupação a formação

humana do indivíduo. Nosso objetivo primeiro é preparar a pessoa para a vida,

independente da vocação que ela vai escolher. Ao possibilitar uma boa formação ao

jovem, acreditamos que estamos contribuindo para preparar à comunidade ou à

Igreja uma pessoa que vai somar na construção de uma sociedade mais justa.

Nesse outro relato, o seminarista destaca a importância da comunidade

religiosa em sua vida. A partir do jeito de cada um ser e de viver a vida religiosa em

comunidade, o jovem vai se sentindo integrado e feliz com a escolha que está

fazendo.

“O ano de dois mil e dose foi muito bom, ano em que uma nova realidade foi

apresentada surgiram obstáculos que ao longo do ano foi sendo superado, as

experiências de vida dos missionários que moram em nossa casa contribuíram ainda

mais em minha vida, o jeito brincalhão e administrativo do Irmão Walter, a seriedade

misturada com brincadeira do Padre Edvaldo, o trabalho pastoral exercido pelo

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Padre Barreiro, os esforços, amizade, sinceridade e preocupação dos nossos

formadores padre Maciel e Padre Sebastião, todos eles me ajudaram a ter a certeza

de posso dar passos mais firmes rumo ao objetivo, e a certeza de que posso confiar

em cada um deles”.

A vocação é construída e amadurecida a cada dia, as experiências vividas e

partilhadas nos diversos ambientes, no entorno do cotidiano, vão caracterizando o

sujeito a uma identidade vocacional. O autor que veremos a seguir fundamenta a

experiência narrada acima:

A antropologia da vocação cristã considera que a pessoa é um sujeito vivo, em crescimento pessoal e em interação com pessoas, grupos sociais e estímulos do ambiente; e, sobretudo, uma pessoa que deve responder a esse ambiente a partir de uma intencionalidade consciente que a leva, através de diferentes níveis de relação com o ambiente, à autotranscedência na verdade, no bem e no amor. Nesse processo, a vontade humana adquire um papel muito significativo como uma alavanca desse crescimento e como exercício da liberdade a serviço da intencionalidade consciente. Pois o candidato escolhe continuamente e faz suas opções a partir do conhecimento que tem de si e de sua vocação, de modo que em cada decisão, pequena ou grande, ele ativa todas as suas potencialidades na direção que pretende seguir. É, nesse optar cotidiano, nesse exercício contínuo de sua vontade, pode integrar todo o seu psiquismo a serviço da resposta ao chamado que é a vocação. (DOMÍNGUEZ, 2010, p. 164).

Esse dinamismo existencial acontece na vida humana desde muito cedo. Ao

longo do desenvolvimento evolutivo, o indivíduo vai constituindo sua personalidade

e, ao mesmo tempo, caminhando em direção à sua autorrealização que também

acontece nesse processo. A realização e a felicidade não caem prontas do céu para

ninguém, são frutos de uma busca, de um esforço muitas vezes a duras penas, ou

seja, o sacrifício também é parte dos êxitos alcançados.

O próprio Jesus viveu esse dinamismo de amadurecimento, Ele foi se

descobrindo em sua caminhada e missão. Pode-se dizer que atingiu a Sua

maturidade vocacional no alto da cruz quando disse: “Tudo está consumado, e

inclinando a cabeça, entregou o espírito”. (Jo 19,30).

Portanto, podemos dizer que as narrativas autobiográficas são uma ação

social, pois o sujeito reinventa o seu percurso e sua vida. Dessa forma, sua

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interação social não se trata de algo somente descritivo ou como uma interpretação

superficial dos acontecimentos da vida, pois o sujeito revisita, interpreta e narra a

sua história. Os significados não estão em si mesmos, eles são relacionados e

desenvolvidos na trama narrativa. (BRUNER, 1977).

5.4 O MODELO DE VIDA RELIGIOSA REDENTORISTA PROPOSTO PELO

QUESTIONÁRIO DOS LEIGOS E PELOS DOCUMENTOS ECLESIAIS

Neste último subtema do trabalho, optamos por elencar quatro

características fundamentais que constituem o ser religioso Redentorista e que

apareceram, de certo modo, comuns em todas as respostas do questionário. Nosso

objetivo é acolher a sabedoria popular, representada em seus agentes e lideranças

das comunidades e a contribuição oferecida para que a proposta formativa não

esteja somente fundamentada nos documentos eclesiais e referenciais teóricos, mas

ancorada, também, nas necessidades das comunidades.

A vocação religiosa Redentorista é consequência da vocação cristã. É um

modo de vida que busca dar resposta a um anseio pessoal e comunitário. Ela

acontece a partir de uma proposta de vida pensada por Afonso Maria de Ligório em

um determinado contexto histórico em vista de somar na construção do Reino de

Deus.

Nas Constituições e Estatutos da Congregação do Santíssimo Redentor,

Assim descreve:

Para cumprir essa missão na Igreja reúne a Congregação membros que vivendo em comum, constituem um só corpo missionário que, consagrados pela profissão religiosa, a ela se dedicam organicamente, de acordo com o ministério próprio de cada um. Lavados pelo espírito apostólico, imbuídos do zelo do Fundador, fiéis à tradição cultivada pelos predecessores e atentos aos sinais dos tempos, todos os Redentoristas, como colaboradores, companheiros e ministros de Jesus Cristo na grande obra da

Redenção. (CSSR, nº 2, p. 4).

Antes de falarmos sobre a vocação específica à vida religiosa Redentorista,

queremos descrever, em breves palavras, como a Igreja, a partir do Concílio

Vaticano II, passou a entender a vocação religiosa sacerdotal. O COMPEÊNDIO DO

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VATICANO II, nº 1142-1143, p. 440, assim denomina a vocação e a missão

sacerdotal.

Em Jesus Cristo todos os fiéis tornam-se um sacerdócio santo e régio e oferecem a Deus hóstias espirituais e anunciam as virtudes d’Aquele das trevas os chamou para Sua luz admirável. Não existe assim membro que não tenha parte na missão de todo o Corpo [...] O mesmo Senhor, porém instituiu alguns como ministro entre os fiéis, para que estes se unissem num só corpo, em que “todos os membros não desempenham a mesma atividade” (Rm 12,4).

Essa definição do Concílio Vaticano II é uma proposta e um incentivo para

que cada pessoa busque a santidade e contribua para a santificação do mundo. De

acordo com autor a seguir, pode-se dizer que a importância do amor não decorre da

identificação de Jesus, como se estivéssemos diante de uma verdade que vem do

céu, mas do fato mesmo de sua relevância no interior da existência humana.

(PRETO, 2003, p. 68-69).

O próprio Jesus viveu de sentimentos e atitudes humanas. Ele definiu o

amor e a santidade como seu mandamento. “Como eu vos amei, vós também amai-

vos uns aos outros”. (Jo 13,34b). A humanização do mundo depende do alto grau de

amor vivido entre os seres humanos.

As categorias que seguem estão relacionadas com a vivência do amor:

a) Conhecer a realidade das comunidades

Conhecer a realidade de atuação pastoral é uma necessidade da Igreja em

seus representantes, ministros ordenados, religiosos e lideranças leigas engajadas

nos diversos movimentos e pastorais. Pela linha de raciocínio desta pesquisa, o

evangelizador é também educador social, por isso, ele precisa ter presente o

contexto em que o ser humano está inserido e que envolve a vida humana.

São vários os temas atuais que desafiam a evangelização como a

globalização, a secularização, o relativismo e o individualismo entre outros. No que

se refere à religião, estamos hoje, e cada vez mais, diante de uma mentalidade e de

uma práxis determinadas por um secularismo crescente, um pluralismo religioso em

forte crescimento e, portanto, também um individualismo e subjetivismo de uma

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atitude religiosa do “faça-o você mesmo!” É preciso conhecer essas realidades para

que o Evangelho possa produzir frutos como descreve esse autor:

A exigência da nova evangelização é determinada pelo contexto cultural e social. Por esse motivo, somos obrigados a confrontar-nos com o tema da inculturação e da eficácia do Evangelho em conseguir entrar nas culturas, compreendê-las, plasmá-las e transformá-las [...] O contexto hodierno de fragmentação, a pluralidade das posições e sobretudo a diversidade das linguagens e de maiores sacrifícios. (FISICHELLA, 2012, p. 33).

A importância do conhecimento da realidade é pontuada de forma quase que

unânime no questionário. Um dos agentes de pastoral assim relata:

“A formação precisa se realizar mais próxima da realidade do povo. Depois de uma

certa abertura nas décadas de 60, 70 e 80 a formação dos seminaristas de maneira

geral – com raríssimas exceções - sofreu um processo de “volta à grande disciplina”

tão bem descrita por Libanio em livro homônimo. A Igreja e as ordens religiosas em

específico recuaram. Comunidades inseridas, inculturação, pastorais específicas,

opção pelos pobres, comunidades eclesiais de base, são conceitos que não fazem

mais parte do universo dos seminários”.

Esse relato nos reporta ao tempo de Jesus e ao modo como ele

evangelizava. Era alguém que conhecia muito bem a realidade das pessoas. O povo

gostava de ouvi-lo, ficava admirado. (cf. Mc 2,13). A pregação de Jesus era muito

ligada ao cotidiano dos homens e das mulheres. As parábolas mostram que ele

possuía uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus com as

coisas mais simples da vida: sal, luz, fermento, semente, crianças etc. Assim, ele

mostrava conhecedor da vida do povo e íntimo da vida de Deus, anunciando o seu

Reino.

b) Disponibilidade missionária

Outra característica que aparece é a disponibilidade missionária. Assim

relata essa líder de comunidade:

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“Acho que o desejo de enraizar-se profundamente em Cristo, a doação completa à

missão (não importa onde estiver) e a alegria de servir são valores essenciais na

vida do missionário Redentorista”.

Na Palavra de Deus, aparece constantemente esse dinamismo do chamado

e da “saída”, que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou o chamado para

partir rumo a uma nova terra. (cf. Gn 12,1-3). Moisés ouviu o chamado de Deus para

ser voz do Senhor no processo de libertação do povo no Egito. (cf. Ex 3,17). E assim

tantos homens e mulheres se colocaram a serviço da vida.

O chamado é a forma específica pela qual Deus criou o ser humano para

viver em comunhão com Ele. “Deus é amor: quem permanece no amor permanece

em Deus”. (1Jo 4,16). A vocação do homem é a sua autorrealização, seu

desenvolvimento, seu crescimento mútuo. Por meio da vocação, devemos buscar

uma nova humanidade, que permita ao homem contemporâneo o encontro de si

mesmo, assumindo os valores mais elevados do amor, da amizade da oração e da

contemplação. (TEPE, 1980, p. 9-10). Sobre essa temática do chamado e da

disponibilidade, o Papa Francisco falou:

Naquele “ide” de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova “saída” missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual e o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. (P. FRANCISCO, 2013, p. 19).

Como outras escolhas, a vocação à vida consagrada é também uma forma

de viver de modo livre e responsável a felicidade. A consagração situa o religioso e o

sacerdote no mundo a serviço dos homens. Por isso, todo sacerdote ministerial é

chamado entre os fiéis e constituído em favor desses no que se refere a Deus. O

sacerdote atua na comunidade como membro específico que compartilha com todo

o povo de Deus o mesmo ministério e a mesma e única missão salvadora. (cf.

CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE MEDELLÍN, 2010).

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A vocação ao ministério e à vida religiosa sacerdotal assume a dimensão do

serviço à causa do Reino de Deus. Desloca-se do horizonte do sagrado para o do

compromisso com os irmãos, sobretudo para com os mais necessitados. “Vendo as

multidões, tomou-se de compaixão por elas, porque estavam exaustas e prostradas

como ovelhas sem pastor. Então diz aos seus discípulos: ‘A messe é abundante,

mas os operários, poucos numerosos; pedi, pois, ao dono da messe que mande

operário para a sua messe’”. (Mt 9,36-38).

Embora Afonso Maria de Ligório tenha vivido muito antes do Concílio

Vaticano II, ele entendeu a vocação religiosa sacerdotal para além do seu tempo, ou

seja, o modo como concebeu a vida consagrada continua sendo relevante para os

dias atuais. Ele nos inspira à nossa escolha de vida e ao jeito de vivê-la como

missionário Redentorista.

Com vimos no segundo capítulo, a vocação dele é fruto de uma profunda

experiência que Deus fez junto aos pobres, principalmente com os cabreiros de

escala. Assim, pode-se dizer que ele quis fundar a Congregação para estar a serviço

daqueles e de outros destinatários de sua missão.

Para que a evangelização seja eficaz, junto com a disponibilidade missionária

deve estar também uma nova mentalidade “nos processos de renovação missionária

e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da

fé”. (DOCUMENTO DE APARECIDA: TEXTO CONCLUSIVO DA V CONFERÊNCIA

GERAL DO EPISCOPADO LATINO AMERICANO E DO CARIBE, 2008, n° 365. p.

168).

A dimensão pastoral missionária é um dos temas enfatizados nas diretrizes

para a formação dos presbíteros. Para que haja disponibilidade, é preciso que o

evangelizador tenha paixão pela missão. Também é importante que a pessoa esteja

preparada intelectualmente para poder ajudar os destinatários da missão. Esse

pressuposto intelectual é indispensável para a qualidade e a efetivação da ação

evangelizadora da Igreja. (DIRETRIZES PARA A FORMAÇÃO DOS PRESBÍTEROS

DA IGREJA DO BRASIL, 2010).

c) Abertura ao diálogo

Para que a disponibilidade missionária tenha êxito e fecundidade, deve estar

acompanhada do diálogo. Na história da salvação, Deus sempre dialogou com o ser

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humano. “Depois de ter, por diversos modos, falado outrora aos Pais, nos profetas.

Deus, no período final em que estamos, falou-nos a nós num Filho a quem

estabeleceu herdeiro de tudo, por quem outrossim criou os mundos”. (Hb 1,1-3).

No Evangelho de João, ainda de modo mais claro, percebemos a

comunicação de Deus para com o ser humano: “No início era o Verbo, e o Verbo era

Deus [...] O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo1,1.14a). Com o nascimento

de Jesus, Deus estabeleceu de modo pleno o diálogo com a sua criação.

Assim, entende-se que o ser humano se desenvolve em todas as suas

qualidades mediante e afetiva comunicação com os outros. O diálogo é a passagem

obrigatória do caminho a percorrer para a autorrealização do homem, como

indivíduo ou comunidade de pessoas. Assim diz este autor:

O diálogo sugere a reciprocidade. Ater-se a tal critério é condição prévia para o seu início. Quando se começa, cada uma das partes deverá pressupor uma vontade de conciliação na verdade [...] O diálogo põe os interlocutores diante das verdadeiras e precisas divergências que tocam a fé. Essas divergências hão de ser encaradas com sincero espírito de caridade fraterna, de respeito às exigências da própria consciência e da consciência do próximo, com profunda humildade e amor à verdade. (OLIVEIRA J, 2011, p. 161).

O diálogo é uma necessidade que os leigos sentem e clamam de seus

líderes religiosos. Para uma boa condução e realização de um trabalho pastoral, o

diálogo é imprescindível e, infelizmente, nem sempre as comunidades em suas

lideranças são ouvidas e consideradas. Em uma das perguntas do questionário:

“Como você acha que deve ser a formação do seminarista que está se preparando

para assumir a vida religiosa sacerdotal?” Encontramos esta resposta:

“Conscientemente de simplicidade, caridade, abertura ao diálogo, nunca deixar

transparecer a existência de muralha entre sacerdote e o povo”.

A formação Redentorista tem se preocupado em transmitir aos jovens um

jeito de evangelizar coerente com a realidade do povo e também tem motivado e

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dado espaço aos leigos para realizarem aquilo que eles podem e que são trabalhos

específicos deles.

Figura 27 – Pastoral da Juventude

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

Cada vez mais a Igreja vem reconhecendo a importância dos trabalhos dos

leigos nas comunidades. Dessa forma, as paróquias e suas comunidades também

vão favorecendo novos espaços para atuações de suas lideranças. Ao mesmo

tempo, vão surgindo novos líderes formadores de opiniões, novos educadores

sociais. Assim complementa esse documento da CNBB:

Para que as comunidades possam ser bem atendidas, em função das diversas necessidades, a Igreja, sob inspiração do Espírito Santo, se organiza com diferentes ministérios. Aos leigos podem ser confiados ministérios e responsabilidades para prestar auxílio a toda a iniciativa apostólica e missionária da sua comunidade eclesial. (COMUNIDADE DE COMUNIDADES: UMA NOVA PARÓQUIA, 2013, p. 80).

Podemos dizer, então, que as lideranças leigas exercem o papel de

educadores sociais. O espaço comunitário é um território em transformação. Assim

descreve esta autora:

Nestes territórios um trabalho com a comunidade poderá construir um tecido social novo em que novas figuras de promoção da cidadania poderão surgir e se desenvolver, tais como os “tradutores sociais e culturais”. (GOHN, 2010, p. 52).

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Nessa dinâmica de atuação, os seminaristas são levados a estarem junto

com o povo, aprendendo o jeito de ser igreja e partilhando suas experiências de

formação da casa religiosa e de suas vivencias individuais e comunitárias. Eles

buscam integrar os estudos de filosofia com a vida do povo. A razão e a fé

caminham juntas.

d) Caminhar junto com o povo de modo livre, feliz e realizado

Outro apelo dos paroquianos é que os seminaristas sejam preparados no

meio do povo e que, depois, como sacerdotes, tenham consciência de que a

presença e a missão deles devem estar inseridas com a vida e prática das

comunidades.

Sobre essa pergunta: “Quais características você julga importante na pessoa

do padre nestes tempos modernos?” Uma das lideranças responde:

“A principal delas é que seja alguém que goste do povo, do cheiro do povo, que seja

liderança democrática, que saiba ouvir, como diz Francisco ‘que tenha cheiro de

ovelha’”.

Percebe-se, novamente, nessa questão respondida, o quanto o Papa

Francisco está fazendo bem a Igreja. Ele tem nos transmitido que o Evangelho deve

ser anunciado com alegria, pois Ele é boa notícia. Afirmou Francisco:

Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajam, deem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados e viverem segundo a vida boa do Evangelho. (FRANCISCO P, 2013, p. 71).

Caminhar com o povo não é somente uma convocação da Igreja e um

desejo dos agentes de pastoral, é também um sonho, um projeto concreto vivido

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pelos nossos jovens que estão inseridos na realidade pastoral da Região do Campo

Grande. Assim relata o seminarista Diego:

“Em 2012, a nova vida universitária em Campinas trouxe consigo os desafios do

conhecimento, o “sair da caverna” de todos os dias, que nos leva ao devir constante

de romper os “pré-conceitos” da vida, isto é, as opiniões predeterminadas e

contemplar um mundo que se modifica a cada instante, refletindo, assim, nas

experiências de vida, nas práticas pastorais e na realidade da nossa Igreja. A

experiência filosófica nos auxilia, e muito, em nosso trabalho missionário-pastoral,

ajudando-nos no enfrentamento da realidade de nossa paróquia: um novo modelo

de Igreja, um novo modelo de estrutura, um grande desafio, onde (sic), através

dessas experiências, vamos aprendendo a cada dia a nos “moldar” diante deste

novo mundo”.

Nesse relato, o jovem fala que a experiência pastoral é um constante “sair

da caverna”, esse movimento provocador na vida e na prática pastoral de quem

abraça com convicção o compromisso assumido com a comunidade. Além de

possibilitar aos jovens novos aprendizados, também a comunidade é contemplada

com os inúmeros trabalhos que são realizados pelos seminaristas. O documento

sobre a formação relata sobre essa prática:

A formação pastoral-missionária, princípio unificador de todo o processo formativo, consiste na necessária qualificação específica para o ministério pastoral, sempre impregnado pela ação e condução do Espírito de Deus. Nessa qualificação, integram-se necessariamente estudos pastorais com programas orgânicos de realização de práticas e de experiências pastorais. A devida e bem programada combinação entre os aspectos teóricos e vivenciais da formação pastoral-missionária contribui para evitar um aprendizado apenas operativo. (DIRETRIZES PARA A FORMAÇÃO DOS PRESBÍTEROS DA IGREJA DO BRASIL, 2010, p. 147).

Valorizar as experiências religiosas e de fé que o formando traz consigo, tais

como as que provêm da adesão a um determinado carisma, é importante. Todavia,

isso não deve obstaculizar e sim ajudar o exercício do jovem e introduzi-lo de modo

progressivo no trabalho ministerial que será assumido em um futuro breve para os

perseverantes na vocação sacerdotal.

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Jesus chama, acolhe e prepara seus discípulos para serem pastores do seu

rebanho (cf. Mc 3,18), ordenando-lhes: “Ide, pois; de todas as nações fazei

discípulos, batizando-as em nome do Pai e do filho e do Espírito Santo, ensinando-

as a guardar tudo o que vos ordenei”. (Mt 28,19-20). Assim, a Igreja acolhe o dom

da vocação vinda do senhor, discerne o chamado à luz do Espírito Santo e forma os

discípulos-missionários, a fim de enviá-los à urgente e inadiável missão de

evangelizar.

Ainda sobre o caminhar junto com o povo, encontramos esse apelo para que

o sacerdote caminhe com a juventude, sem burocracia e sem gabinete. Muitas

vezes, nós, religiosos e sacerdotes, nos perguntamos onde estão os jovens. Nessa

resposta, os leigos estão nos dizendo que a Igreja, em seus representantes, está

distante da juventude. Será porque o jeito jovem e diferente de ser em algumas

circunstâncias nos incomoda?

Figura 28 – Trabalho Pastoral

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012

“Caminhar com o povo de Deus, na comunidade, pastorais, movimentos, e

principalmente caminhar com a juventude e para vencer estes desafios o sacerdote

precisa ter uma vivencia menos burocrática e de gabinete”.

A história mostra-nos muitos jovens que, por meio do dom generoso de si

mesmos, contribuíram grandemente para o Reino de Deus e para o

desenvolvimento deste mundo, anunciando a Palavra de Deus. Com grande

motivação, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Jesus Cristo,

com meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje em dia.

Basta lembrarmo-nos do jovem Francisco de Assis, de Teresinha de Jesus, de

Teresa de Calcutá, de Afonso Maria de Ligório e de tantas outras pessoas

fundadoras de congregações, a maioria em suas juventudes.

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A Igreja, consiste de sua ação evangelizadora na história, reconhece as diversas vocações como forças, cada vez mais se tem valorizado os jovens com sua beleza e potencialidade a favor de todos. (PASTORAL JUVENIL NO BRASIL: IDENTIDADE E HORIZONTES, 2013, p. 79).

Como estamos presenciando neste trabalho, Deus não chama somente os

jovens, mas a todos, homens e mulheres, independente de idade, raça e classe

social, pois o chamado é a forma específica pela qual o Senhor criou o ser humano

para viver em comunhão com Ele e se realizar como pessoa. “Deus é amor: quem

permanece no amor permanece em Deus”. (1Jo 4,16).

A vocação do homem é a sua autorrealização, seu desenvolvimento, seu

crescimento mútuo. Por meio da vocação, devemos buscar uma nova humanidade,

que permitirá ao homem contemporâneo o encontro de si mesmo, assumindo os

valores mais elevados do amor, da amizade da oração e da contemplação. (TEPE,

1980, p. 9-10).

Como outras escolhas, a vocação à vida religiosa sacerdotal é, também,

uma forma de viver de modo livre e responsável. A consagração e o ministério

ordenado situam a pessoa no mundo a serviço dos homens. Por isso, todos os

sacerdotes são chamados do meio do povo e constituídos em favor desses no que

se refere a Deus.

Quando perguntado: “qual o modelo de padre que você acha que responde às

necessidades do povo, principalmente nas periferias, na atualidade em que

vivemos?” Tivemos essa resposta:

“Modelo Francisco, completamente presente na vida do povo, que tenha contato,

toque, carinho, felicidade expressada na alegria de encontrar um irmão”.

Estaremos vivendo o “modelo Francisco” quando de fato assumirmos os

mesmos gestos de Jesus. A comunidade missionária experimenta o mesmo amor e

a mesma alegria de Jesus quando vai ao encontro dos irmãos afastados, oferece a

misericórdia, envolve-se, pondo-se de joelho diante dos que precisam que seus pés

sejam lavados; quando assume a vida humana tocando na carne dos sofredores e

contraindo assim o “cheiro de ovelha”, com disposição para aprender e ensinar.

(FRANCISCO P, 2013).

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Nesses relatos do Papa Francisco, vem-me, novamente, a figura do nosso

fundador, Afonso Maria de Ligório, pois ele falou tanto, em sua época, de cabreiros,

de ovelha e de pastor. No hospital dos incuráveis, sentiu o cheiro daquela gente e

amou-os profundamente. Por isso, outro ponto que deve ser ressaltado na vocação

do Redentorista é o amor enlouquecido de Deus sentido e vivido pelo fundador.

Deus não se contentou em dar-nos as belas coisas por ele criadas, chegou

ao extremo de nos dar o seu próprio Filho. O Senhor do mundo humilhou-se até

tomar a forma de servo. Fez-se homem, vestiu-se de carne como nós. (LIGÓRIO,

1996). Nessa mesma perspectiva, diz esse teólogo Redentorista:

Na fé, Afonso descobriu que Deus era um Deus de amor e de misericórdia [...] Loucamente apaixonado pela humanidade, que não somente abraçava os pecadores, mas ofereci-lhes o perdão total e incondicional [...]. Toda a espiritualidade e a missão Redentorista começam e terminam com essa experiência mística afonsiana da Copiosa Redenção de Deus. (KEARNS, 2007, p. 265).

Para Afonso Maria de Ligório, a vocação religiosa é fruto do amor de Deus

na vida da pessoa. Por isso, a resposta a esse chamado deve ser unicamente por

amor. O amor de Deus tem, como efeito, provocar no coração humano mais amor,

pois só esse sentimento é capaz de dar verdadeiro sentido à vocação que a pessoa

escolhe como meio de realização e salvação. (LIGÓRIO, 1996).

O Filho foi mandado para proclamar o amor salvífico do Pai por meio da

pregação explícita da Palavra. (cf. Lc 4,16-19). Cristo, em união com o Espírito

Santo, cumpre essa missão pelos mistérios da Encarnação, Paixão e Eucaristia. Foi

esse o tríplice mistério da Copiosa Redenção que fazia parte essencial da

experiência de Afonso centrada no Cristo Redentor. A Redenção não foi vista por

Ele primeiramente como uma expiação de pecados, nem como preço que Jesus

pagou para libertar a humanidade de seu pecado contra um Pai ofendido, mas como

um ato do amor de Deus. (KEARNS, 2007).

Portanto, entendemos que a vocação religiosa é graça e dom de Deus. A

vocação Redentorista é uma entre tantas outras disponibilizadas pelo Senhor da

messe como meio de realização. A pessoa que se sente atraída por esse estilo de

vida, ou seja, pelo carisma da Congregação, deve acolher com amor essa sua

missão.

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Ao escolher a vida religiosa Redentorista, o jovem viverá a sua vocação e o

seu processo de discernimento na comunidade. Dedicar-se-á aos estudos, à

pastoral missionária e ao amadurecimento humano pelos meios disponibilizados

pela Congregação. Buscará viver de modo simples, sendo homem da esperança

para o povo, de modo preferencial para os mais abandonados.

Caminhando para o término deste trabalho, quero expressar minha enorme

alegria em ouvir os clamores das nossas comunidades em seus agentes. Que

satisfação perceber, nos relatos, quanto o papa Francisco nos ensinou em sua breve

passada pelo Brasil por ocasião da XXVIII jornada mundial da juventude.

Quero acreditar que o “modelo Francisco”, como relatou a jovem, arda de

modo concreto em nossos corações e que a simplicidade e a ousadia missionárias

reacendam no coração de todos os evangelizadores e educadores, para que assim

não morram o sonho e a esperança de um mundo mais humano e, portanto, mais

divino, como expressam essas imagens.

Figura 29 – Renovar sonhos e esperanças

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E RELEVÂNCIA DESTA PESQUISA

Após ter percorrido um caminho com esta pesquisa sobre o tema da

formação religiosa Redentorista na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório em

Campinas, pretendo aqui ressaltar alguns fatores de relevância considerados por

este trabalho como o itinerário percorrido sobre minha vida pessoal, vocacional e

profissional, assim como a historicidade da comunidade Redentorista em Campinas,

a comunidade paroquial e todos os destinatários que entrarem em contato com esta

reflexão acadêmica e pastoral.

Sendo este pesquisador também sujeito desta pesquisa, o trabalho buscou

refletir sobre como relacionar a missão de formador e sua necessidade de ajudar o

jovem seminarista a integrar a formação acadêmica filosófica com os trabalhos

pastorais. Buscou também refletir sobre a contribuição que as atividades de

evangelização, que são realizadas aos finais de semana, podem oferecer para a

formação dos futuros missionários Redentoristas.

Embasado nestas questões, o objetivo geral foi possibilitar um diálogo entre

a casa de formação (Seminário) e a comunidade paroquial, ou seja, estabelecer uma

ponte entre a educação formal acadêmica e a educação não formal, que acontece

nas vivências informais do próprio Seminário e no campo de atuação pastoral entre

as comunidades.

Como objetivo específico, pretendi, nesta pesquisa, considerar e nomear a

atuação pastoral como espaço privilegiado da educação sociocomunitária na

formação dos seminaristas. A inserção desses jovens no meio das comunidades é

enriquecedora, pois eles aprendem com o povo e o povo aprende com eles. Essa

troca é estabelecida por meio da educação não formal:

Na educação não formal, as metodologias operadas no processo de aprendizagem partem da cultura dos indivíduos e dos grupos. O método nasce a partir de problematização da vida cotidiana; os conteúdos emergem a partir dos temas que se colocam como necessidades, carências, desafios, obstáculos ou ações empreendedoras a serem realizadas; os conteúdos não são dados a priori. São construídos no processo. O método passa pela sistematização dos modos de agir e de pensar o mundo que circunda as pessoas. (GOHN, 2010, p. 46-47).

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De modo geral, toda pesquisa nasce a partir da vida, da necessidade de

buscar novos conhecimentos para a atuação profissional ou de objetivos do

pesquisador. Ela visa refletir, responder ou discutir uma problemática, busca,

também, encontrar justificativas e alcançar objetivos por meio de uma metodologia.

Dessa forma, esta pesquisa buscou, além dos objetivos que foram citados,

descrever, a partir da luz do Concílio Vaticano II e das comunidades eclesiais de

base, um perfil religioso e sacerdotal, construído não só com os dados biográficos

teóricos, mas com a colaboração e a participação dos agentes de pastoral da

Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório.

Para tanto, como metodologia de trabalho, recorri a dados, (auto)

biográficos, história oral e a imagem etnográfica e busquei, por esse parâmetro

literário, colocar em diálogo o memorial de formação e vida do pesquisador, as

narrativas de vida de sete seminaristas que se propuseram a colaborar com esta

pesquisa e as respostas a um questionário de doze leigos da Paróquia que atuam

onde nós, Redentoristas, exercemos as atividades pastorais.

Desse modo, assumi como pesquisador um lugar mais propositivo vivido

nesta trajetória de reflexão enquanto fonte de conhecimento e de produção. A opção

metodológica perpassou as origens da Congregação dos Redentoristas até a

chegada dos missionários em Campinas.

Os referenciais teóricos já citados na introdução deste trabalho nos

ajudaram a compreender melhor o ser humano contemporâneo e, a partir disso,

desenhar um perfil religioso visando às necessidades do povo e à proposta dos

documentos eclesiais.

A pesquisa trouxe a devida importância de considerar a participação dos

leigos da paróquia nos diversos trabalhos que eles desenvolvem em prol do bem

comunitário. Como vimos, são ações de educadores e animadores sociais

contribuindo para emancipação da justiça e da paz. Em seu artigo sobre a animação

sociocultural, a Professora Sueli acrescenta:

A animação Sociocultural e o desenvolvimento comunitário, e no marco que constitui a educação social, se tenta atender às necessidades da comunidade para assim transformar a realidade. A animação se concebe como um meio de potenciar o desenvolvimento das comunidades e aposta pela democracia cultural. (CARO, 2012, p. 64).

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A ação dos leigos nos territórios de evangelização coincide com a inclusão

relacional de todas as pessoas e de todos os povos na única comunidade da família

humana, construída na solidariedade e tendo por base os valores fundamentais de

um mundo mais irmão. Essa perspectiva apresentada no trabalho trouxe o apelo que

a Igreja tem feito sobre a libertação e a promoção da dignidade humana. Colocar a

vida no centro das atenções é também atitude evangélica. Como disse Jesus:

“Levanta-te! Vem para o meio”. (Mc 3,3).

O comprometimento social dos agentes da comunidade, por um lado,

enriquece o sujeito, desperta a motivação para que outras pessoas possam sair do

comodismo e serem mais ativas nos interesses e ações nos projetos comunitários e,

por outro, ajudam no processo de aprendizado e na formação dos futuros

missionários.

O entorno no qual estão inseridos os formandos e os agentes de pastoral

contribui de modo concreto para a humanização dos indivíduos e,

consequentemente, da comunidade. A atuação ativa dos cidadãos contribui,

também, para a renovação das estruturas política, econômica, sociológica e religiosa

da realidade. Também possibilita ações preventivas e adequadas a uma sociedade

que busca novos espaços e caminhos de integração e de desenvolvimento.

Esse trabalho de pesquisa foi trilhado por um longo caminho. Comecei

escrevendo o memorial de formação, que se encontra como o primeiro capítulo e

cujo objetivo foi mapear e clarear o percurso que seria feito da pesquisa. A escrita

desse memorial foi imprescindível para a compreensão de uma investigação com

narrativas. Como descreve este autor:

A simples menção do termo “narrativa de vida” evoca imediatamente a imagem de uma narrativa de vida “completa”, isto é, que trata da totalidade da história de um sujeito. Ela começaria pelo nascimento, até mesmo pela história dos pais, pelo seu meio, em suma, pelas origens sociais [...] Para cada período dessa história, a narrativa descreveria não só a vida interior do sujeito, mas também os contextos interpessoais e sociais que ele/ ela atravessou. (BERTAUX, 2010, p. 47).

Em seguida, foi feita a apresentação da Congregação Redentorista, desde a

sua fundação até a chegada em Campinas. Parti da vida, das experiências, da

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vocação e da missão vivida por Afonso Maria de Ligório, um homem que sempre se

apresentou decidido para o serviço do Reino de Deus e fundou uma Congregação

com a finalidade de evangelizar a todos, mas, sobretudo, os mais pobres e

abandonados. Percebe-se, pela relevância deste estudo, que a vocação da

Congregação Redentorista em Campinas continua sendo pertinente para os dias

atuais.

Depois, por meio da contextualização dos trabalhos pastorais desenvolvidos

pela comunidade Redentorista na Região do Campo Grande, de modo mais

específico na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, mostrei que os missionários

Redentoristas, estando em lugares mais difíceis, continuam fiéis ao carisma da

Congregação. Ficou perceptivo ao leitor que existe uma via de mão dupla nessa

atuação pastoral, os missionários evangelizam e são evangelizados pelo povo, ou

seja, ensinam enquanto aprendem e aprendem enquanto ensinam.

A pesquisa permitiu a identificação do pesquisador com um novo modelo de

Igreja que surgiu após o Concílio Vaticano II e que possibilita uma maior participação

dos leigos nas comunidades. Esse novo jeito de ser Igreja me inspira para a

formação dos futuros Redentoristas.

A metodologia de trabalho, pelos caminhos da pesquisa, apresentou a

contribuição da educação sociocomunitária na atuação pastoral paroquial e o

modelo proposto pelos leigos do perfil religioso Redentorista para o mundo atual,

convergindo, dessa forma, com os memoriais de vidas dos seminaristas, com os

documentos eclesiais e com os referenciais teóricos que foram levantados para

tentar responder a demanda deste trabalho.

É salutar, neste momento de considerações, colocar em evidências algumas

falas das comunidades e alguns relatos de vida dos seminaristas que não foram

contemplados nas categorias que refletimos visto que um dos objetivos propostos

neste trabalho foi dar voz ao sujeito, ou seja, neste contexto, ouvir o líder da

pastoral, o fiel que participa da comunidade e o seminarista, e saber que desejos

que esperanças essas pessoas carregam sobre a vida religiosa e sacerdotal.

Quais as características que você julga importante na pessoa do padre?

Essa foi uma das perguntas do questionário. Foi interessante e motivador ouvir esse

relado do Sr. Dorival, uma das pessoas que não só é testemunha ocular das origens

das primeiras comunidades da região do Campo Grande, mas alguém que sempre

esteve engajado nas lutas das comunidades.

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“Humildade, responsabilidade, acolhedor e prestativo naquilo que o povo necessita

da presença do padre, não atentar para as coisas materiais, cumprir com o seu

compromisso assumido com Deus no momento de sua Ordenação Sacerdotal,

principalmente no tocante ao voto de pobreza”.

Também temos essa resposta de outra liderança que expressa o sentimento

de muitos outros fiéis paroquianos:

“Capacidade de comunicação, compromisso com os pobres, liderança democrática e

dialogal, simplicidade e paciência, profundo amor a Deus e aos pobres”.

Com essas respostas, como também aquelas que foram elencadas nas

categorias que selecionamos, imagino que nós, seminaristas, religiosos e

sacerdotes, não estamos respondendo às necessidades do povo em seus aspectos

religiosos e evangelizadores.

Existe uma sede muito grande do povo em relação à instituição religiosa

representada principalmente na pessoa do sacerdote. Quando deparamos com essa

fala, por exemplo, é sinal que as pessoas sentem a ausência, sobretudo do padre.

“O ideal é que se possível o padre estivesse mais presente nas comunidades”.

Sobre essa pergunta: “Como você percebe a presença e a contribuição do

seminarista em sua comunidade?” Algumas das respostas foram essas.

“Percebo a presença do seminarista muito distante da comunidade, enfim, muito

ausente”.

“Tímida, restrita as missas, celebrações e festas religiosas”.

“Poderia ajudar mais participando das atividades da pastoral na qual cada um atua”.

“Muito boa, o agente caminha com mais segurança. A presença deles nos favorece”.

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Também perguntamos: “De que maneira os seminaristas poderiam contribuir

ainda melhor na pastoral de atuação?”

“Participação no Conselho Pastoral da Comunidade, nas reuniões de preparações

litúrgicas, reuniões em geral da comunidade, procurar envolver mais nas pastorais,

se inteirando das dificuldades e conquistas”.

“Se atuassem com o foco nas pastorais específicas, nos conselhos pastorais e que

lhe fosse dado mais autonomia de ação, salvo melhor juízo, são demasiadamente

tutelados e infantilizados”.

“Na pastoral que pertenço, a participação do seminarista é ótima, sempre

contribuindo para ajudar a pastoral, dando ideias e organizando tudo junto com a

coordenação da comunidade”.

São pertinentes as questões e devem ser consideradas. Cabe-nos revisar

nossos trabalhos pastorais junto ao povo e avaliar a nossa metodologia de trabalho,

pois existe uma satisfação do trabalho da comunidade Redentorista junto à

paróquia, mas, ao mesmo tempo, uma insatisfação de alguns leigos engajados que

sentem que as comunidades não estão sendo atendidas em suas necessidades.

Ressalto também o carinho e a dedicação dos seminaristas nas

comunidades. Mesmo com os limites e com o pouco conhecimento ainda sobre a

realidade pastoral, eles procuram fazer o melhor. São aprendizes e discípulos de

Jesus Cristo junto ao povo.

Vejamos algumas falas deles as quais expressam a vontade de ajudar as

comunidades e a motivação vocacional para a vida religiosa Redentorista.

“Tenho muito carinho e afeto nessa realidade pastoral, pois procuro aprender com

todos, e quero continuar fazendo o que gosto muito de fazer: trocar experiências e

histórias, conviver e conhecer as várias realidades existentes além da minha que

trago, discernir e alimentar meu chamado vocacional e missionário junto ao povo,

sendo cada vez mais eu em minha essência, simplicidade, humildade e

disponibilidade em servir por amor a Cristo e a Igreja, a exemplo de Santo Afonso

Maria de Ligório”.

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“A vocação, como chamado de Deus ao seu segmento, nasceu e desenvolveu-se

dentro do ambiente familiar. Meus pais sempre me ensinaram os valores religiosos,

cultivando em mim o amor a Deus e à Igreja, sempre participando e incentivando

participar da vida da comunidade”.

“Na reunião que tivemos, logo no inicio do semestre, para definirmos as pastorais e

comunidades que acompanharíamos, tive a graça de ficar na comunidade Nossa

Senhora do Carmo, junto com o pré-noviço Tiago, o qual ficou lá até a metade do

ano. Naquele momento, pude vivenciar vários momentos de alegrias (brincadeiras,

festas e visitas) e de tristezas (perdas familiares e mudanças dos mesmos) com

aquelas pessoas. Houve momentos em que brinquei muito, fiz muitas estripulias,

mas, em outros, falei sério e fui firme em algumas decisões. Foram ricos os

momentos nos quais aprendi, com o povo, a viver com seriedade e espiritualidade a

vida que escolhi para mim”.

Posso dizer que esse trabalho acrescentou muito para aminha vida pessoal e

vocacional. Trouxe um novo aprendizado, novas formas de conhecimento. Ressalto

a integração feita entre a Universidade – o conhecimento acadêmico – e a realidade

pastoral, com o seu saber e com a sua prática pastoral.

Esse novo aprendizado com as pessoas que participaram desse processo

tem muito a acrescentar em minha vida pessoal e na missão de formar novos

missionários Redentoristas. Acrescentou muito para a comunidade religiosa e

formativa bem como trouxe um novo aprendizado para as comunidades e lideranças

da Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório.

Não podemos perder de vista que, independente da nossa escolha de vida,

somos humanos, com limites e qualidades, com talentos e dons para

disponibilizarmos a serviço da vida e do Reino de Deus. Quanto mais humanizados

formos, mais divinos seremos. Quanto mais entendermos e admitir que sabemos

muito pouco de nós mesmos e do outro, maiores possibilidades teremos de

aprimorar os nossos conhecimentos.

Assim sendo, esta pesquisa se finda assumindo suas próprias limitações.

Esta investigação poderia ter acontecido do modo mais ampliado, considerando as

particularidades dos diferentes períodos da história estudados e de seus

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interlocutores. Contudo, diante do problema e dos objetivos de investigação, o

trabalho se propôs a contribuir para que outros conhecimentos pudessem somar e

multiplicar ao tema a que me propus pesquisar, pois uma pesquisa será sempre

objeto de pesquisa, portanto, inesgotável.

Neste momento de despedida, vivo um sentimento chamado saudade.

Saudade não é só sentir falta, pois ela é configurada como formativo, porque foi algo

vivido, que carrega em si uma perspectiva projetiva de futuro. A saudade tem uma

memória, assim, esta dissertação guarda em si uma saudade de pessoas, de

lugares visitados e revisitados. Também guarda o impacto saudável e provocativo

que os interlocutores e os lugares causaram em mim.

Ao fazer o caminho que me propus a caminhar elaborei dois princípios, o

primeiro é que o caminho é sempre pautado com novos horizontes, e o segundo é

saber que uma das coisas mais sublimes do ser humano é a capacidade de pensar,

de refletir, de produzir e de acreditar que as possibilidades, as superações e os

conhecimentos são eternos na vida humana12.

12

Sebastião Fernandes Daniel.

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170

ANEXOS

ANEXO A - COMUNIDADE SÃO LUIZ GONZAGA

Dezembro de 1998 iniciou a pastoral da Criança informal, com visitas nas

famílias necessitadas e doações de mantimentos.

O posto de saúde solicitou a pastoral para socorrer uma criança desnutrida,

a situação que a família desta criança foi encontrada chocou a pequena equipe da

pastoral que se viu no direito e dever de fazer algo em prol aos abandonados

daquela região.

Em maio de 1999, com o grupo “Sopro de Vida” iniciou-se de modo oficial a

Pastoral da Criança. Este grupo já trabalhava no bairro com a catequese ecumênica

e ajudava algumas famílias que necessitavam de ajuda espiritual e material.

Sopro de Vida era trabalho de um grupo da Paróquia Nossa Senhora das

Dores – Cambuí, Campinas. Este grupo ajudou na implantação desde projeto na

comunidade e está ajudando até este momento presente.

Através da Pastoral da Criança, percebeu-se a necessidade de se ter uma

igreja, ou seja, um local para os católicos se reunirem. Neste tempo estava surgindo

no bairro muitas igrejas e seitas de outras confissões religiosas. O Sopro de Vida

preparava adultos e crianças para o Batismo e 1° Eucaristia até no ano de 2.001.

Depois se sentiu a necessidade de se construir uma comunidade, a resposta

dos padres era sempre a mesma resposta: NÃO. Motivo era que não tinham padres,

não tinha estrutura, e quando alguém pedia para batismo e outras assistências

religiosas, eram indicadas para as comunidades: São Sebastião, Santíssima

Trindade e N. Sra. de Guadalupe.

Alguns assuntos se resolviam na própria visita da pastoral.

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Em 2.002, mesmo sem Igreja e nem estrutura, tinha força de bondade da

pastoral.

Foram feitos vários encontros da preparação para o Batismo e Batizados em

agosto.

Em dezembro, foi rezado a 1° Missa de Natal pelo Pe. João Batista Cesário,

com apoio da Pastoral da Criança e Comunidade N. Sra. de Guadalupe.

Em 23/02/2003, foi oficializada a Comunidade, a missa foi celebrada no

Campo pelo Padre João Batista Cesário e Pe. Nélson.

Foi ergueu-se uma cruz carregado em procissão da casa do Sr. Pulinho até

o campo.

O nome do padroeiro da comunidade foi escolhido devia a participação dos

jovens, na qual o mesmo ele é o padroeiro, São Luiz Gonzaga.

Depois começou as reuniões de todos os sábados para a preparação das

celebrações ao domingo à tarde e as reuniões sempre aconteciam na casa

abandonada, que era na rua 06.

A equipe de preparação da Liturgia: Cida, Aninha, Cândida, Deusa, Cirene,

Aline, Júnior, Josi, Taty, Juninho e Márcia.

Não havia ministros, e sempre era uma dificuldade para conseguir alguém

para celebrar e quando conseguia era da Comunidade N. Sra. de Guadalupe.

Em março o Pe. Batista foi transferido e chegou o Pe. Rogério e diante das

dificuldades da mesma, devia ter seu ministro e seus coordenadores. E no mesmo

ano foi realizada a preparação para os ministérios e as coordenações.

Ministros: José e Juninho.

Coordenação: Aninha - Tesoureira

José – Coordenadora

Juninho – Vice-Coordenador

Tanto a coordenação e os ministros não ficaram mais de seis meses e a

Dona Cida da Pastoral da Criança estava deixado à mesma.

E iniciaram na mesma época um grupo de jovens com a Márcia, que seguia

também acabou.

Ainda no mesmo ano, chegou o Pe. Marcelo que veio ajudar nos trabalhos

da Paróquia e que foi uma benção para toda a Paróquia, que estava passando por

uma crise.

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Em março de 2.004, o Pe. Rogério foi também transferido e foi nomeado

como Pároco o Pe. Rafael Capelato que foi uma grande benção para toda a

Paróquia e, principalmente para a Comunidade São Luiz que, neste momento não

estava funcionando devido à saída da Cida e sem coordenadores a ponto de se

fechar a comunidade.

O Pe. Rafael não concordou de se fechar a comunidade, pois a mesma não

é boteco que se abre e fechando quando se quer, pois a “semente que foi um dia

semeado não poderá morrer” que o mesmo iria ajudar. Depois de três reuniões com

os padres, foi notado que a comunidade estava se reestruturando.

Em 2.005, foi realizado com a presença do Pe. Marcelo as reorganizações

pastorais da Comunidade, sendo a nova coordenação:

Cirene – coordenadora, Antônia – Vice-coordenadora, Eva – Tesoureira,

Júnior – Vice-tesoureiro, Aline – Secretária, e em pouco tempo os vices-

coordenadores se afastaram.

Neste ano de 2.005, foi feita a investidura de novos ministros.

Palavra – Eva e Daniel, Eucaristia – Cirene, Saúde – Ivani, na qual a Eva e a

Ivani não exerceram o ministério.

Em 2.006, começou a pensar em comprar em terreno para se construir a

Igreja.

Só em janeiro do ano seguinte, foi realizada a compra no valor de

R$8.000,00 (oito mil reais), e foi realizado a 1° missa no terreno e comemorado o

aniversário de 04 anos da Comunidade (23/02/2007),e quem pagou foi a

Arquidiocese.

No mês de junho foi realizada a primeira festa junina, onde as comunidades

da Paróquia Jesus Cristo Libertador ajudaram.

Com o lucro da Festa e ajuda da Paróquia Nossa Senhora das Dores, foi

feito apenas o Planassem o Terreno e a Pedra Fundamental. (25/08/2007).

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO B - COMUNIDADE SANTÍSSIMA TRINDADE

Rua Clemente João Milani, s/n – Parque Floresta I – Campinas – SP –

No dia13 de abril de 2.002, em reunião do Conselho da Comunidade, dentre

outros assuntos, começou-se a pensar em construir uma Igreja, na frente do atual

salão que abriga a Comunidade, visto que esse se tornará pequeno demais para as

celebrações e outras atividades pastorais, graças ao crescimento da Comunidade.

Com muita fé e disposição, em 10 de Maio de 2.002, iniciou-se o planejamento da

construção.

Com a ajuda de uma arquiteta esboçaram-se os primeiros projetos da

igreja, cuidadosamente calcularam-se os espaços internos, externos e o modelo da

construção. Chegou-se ao modelo definitivo: uma igreja de 204 metros quadrados.

Um engenheiro desenvolveu a parte estrutural da obra e com estes elementos fez-

se um primeiro orçamento para o início da fundação.

Como o valor para fazer a fundação era muito alto, realizaram-se

festas, rifas e chá beneficente para arrecadar os fundos necessários ao início da

obra.

No dia 07 de Julho de 2.002, iniciou-se a construção com a fundação e

a escavação do solo. Estavam presentes neste dia o Sérgio, o Dejair, o Marcelo, o

natal, o Sr.Menezes, o Russo e o Marcos.

Toda a fundação foi feita num belíssimo mutirão, sendo concluída em

fins de Novembro de 2.002. Foram, ao final 37 brocas de 5 metros de profundidade

e 18 sapatas de 1,00 m x 0,50 m – tudo de acordo com a planta.

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Foram meses para a conclusão, pois trabalhava-se na obra somente aos

domingos. Concluídos os fundamentos, fez-se um balancete das arrecadações de

festas, rifas, dízimos e compraram-se os ferros para as armações do alicerce.

Mais alguns domingos e a ferragem estaria pronta não fosse o

incidente de ladrões levarem toda a ferragem do alicerce. O prejuízo foi grande e em

meio a desânimos, retomou-se a arrecadação de fundos para recomeçar a obra. Em

fevereiro de 2.003 montou-se toda a ferragem do alicerce. O terreno foi todo cercado

e, ainda assim a comunidade foi roubada pela segunda vez. Povo de fé,

determinado, não desiste nunca! Em junho de 2.003, montou-se pela terceira vez

toda a ferragem do alicerce.

Deus ajuda quem não desiste! Mediante solicitações, a comunidade

começou a receber doações. A primeira no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) foi

recebida da Arquidiocese, com a ajuda de Dom Gilberto Pereira Lopes. Esse

dinheiro empregou-se na compra de 21 metros de concreto e alguma madeiras

usadas no alicerce da construção. Também, uma doação de R$ 800,00 (oitocentos

reais) vinda da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, usou-se na compra dos

primeiros tijolos. Uma doação de R$ 1.000,00 (mil reais) bem como outros materiais,

vieram do Projeto “Partilha de Bens” da Forania Santos Apóstolos.

Com o passar do tempo algumas pessoas desanimaram outras

mudaram-se, novas pessoas vieram fortalecer os trabalhos da comunidade. A

construção foi assumida ainda com mais empenho. Assim, em janeiro de 2.004,

iniciou-se o levantamento das paredes, que atualmente se encontram num nível

acima das janelas (uma das paredes já está pronta para receber o telhado). Nesta

etapa da construção, todos os trabalhos foram feitos por mão de obra especializada,

o que fez aumentar os gastos.

No total, recebeu-se de doação R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentos reais)

da Arquidiocese e outras Paróquias, e arrecadou-se na própria comunidade em três

anos de luta R$ 11.200 (onze mil e duzentos reais).

Os gastos com a construção até o momento girou em torno de

R$16.000,00 (dezesseis mil reais), com todas as dívidas saldadas.

Hoje a obra continua em ritmo lento por falta de recursos. Os eventos

promovidos pela comunidade não proporcionam suficiente arrecadação bem como

dízimo e coletas, com muito sacrifício, cobrem os gastos míninos com a

comunidade. O bairro onde se encontra a comunidade é bastante carente!

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Fé e vontade não faltam para que prossiga com a construção. A

comunidade necessita de ajuda e roga aos irmãos para que, na medida do possível

contribuam com esta obra, auxiliando na compra da estrutura do telhado, janelas,

portas, vidros, pisos, etc. (conferir orçamento para a conclusão).

A todos, desde já, nossa sincera gratidão!

A coordenação da comunidade.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO C - HISTÓRIA DA COMUNIDADE SÃO SEBASTIÃO

Segundo uma moradora do bairro do Campina Grande, Dona Maria Ferreira,

contou que precisava batizar sua filha Ana Paula, procurou o Pe. Ferraro que

realizou o batizado no dia 02/08/1984 na comunidade Santa Maria dos Oprimidos e

segundo a mesma a criança tinha entre dois a três meses.

E segundo a mãe da criança, que por indicação dela e se seu marido o Pe.

Ferraro chegou até o Sr. Sebastião e Dona Idair, que conversando com o padre

começaram a rezar o terço na casa das famílias e depois procede com grupo de

pessoas à idéia de rezarem as missas que acontecia nas casas e embaixo das

árvores.

Com o passar do tempo a comunidade comprou um terreno com ajuda da

Diocese que destinou vinte e cinco cruzeiros, moeda corrente naquela época e, o

restante da dívida foi paga com festas, bingos e doações. Passou-se o tempo e a

igreja foi erguida com ajuda de uma doação e o piso da Igreja foi colocado muito

depois.

A primeira missa antes de ser construído o templo e na inauguração do

mesmo foi celebrado pelo Pe. Ferraro.

Daí a comunidade já podia ter catequese, reunião, ensaios, etc.

O nome da comunidade São Sebastião foi indicado por algumas pessoas e

foi aprovado dividido seu Sebastião que estava à frente da mesma.

Através da comunidade o bairro ganhou água, pois no bairro não tinha, e

isso só aconteceu porque a comunidade fez protesto em frente a Catedral.

A comunidade já teve quatro casamentos; Claudete & Valdir, Cláudia &

Carlos, Ivanete &Adilton e Andressa & Sandro, muitas Crismas, Batizados e 1°

Eucaristias, etc.

As pastorais da Comunidade, Liturgia, Cantos, Catequese e Batismo.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO D - COMUNIDADE FREI GALVÃO

1 – ENDEREÇO: Rua Benedito Moreira Lopes, 323

Conj. Residencial Pq. São Bento – CEP 13.058 – 198

2 – DESTINAÇÃO DO IMÓVEL: templo religioso

3 - CONSTRUÇÃO: somente o templo religioso

4 – IPTU: Xerox do carnê em anexo

5 – MATRÍCULA: não tem

6 – ESCRITURA: Xerox de escritura de compra e venda

7 – Histórico do início da comunidade:

Desde 1.998 existem os grupos de rua no bairro residencial Parque São

Bento que se reúnem para realizar nuvens, viasacras, terços.

Em 28/10/2007, recebemos a visita pastoral do Arcebispo Dom Bruno

Gamberini em nossa Paróquia Jesus Cristo Libertador e na Paróquia São José

Operário.

Durante a visita da Paróquia, Dom Bruno percorreu algumas comunidades e

bairros e entre eles o residencial Parque São Bento, então ele viu a necessidade de

uma Igreja aqui e autorizou a compra de 1 terreno. A transação foi feita e hoje já

temos o local que será construída a nossa Igreja.

Hoje, temos uma pequena igreja, provisoriamente, no aguardo de recursos,

para construirmos a nossa Igreja definitiva.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO E - COMUNIDADE NOSSA SENHORA DE LOURDES

Até 1986, os Bairros vizinhos faziam parte de uma mesma comunidade,

Nossa Senhora de Guadalupe. Devido ao grande aumento de participantes decidiu-

se subdividir a comunidade em Bairros, dividindo também as responsabilidades de

organização. Aos 13/06/1987 se concretizava a comunidade do jardim Novo

Maracanã com a primeira Missa celebrada pelo Pe. Benedito Ferraro, na casa de

Dona Lourdes, um dos membros da mesma, pois não tínhamos local definido para

as celebrações, vindo mais tarde a reunir-se na Escola Professor José Carlos de

Atalita Nogueira, onde é celebrada até hoje.

A partir daí tivemos vários eventos importantes. Em abril de 1988 foi feito o

primeiro batizado pela equipe do Parque Valença e celebrada a primeira eucaristia.

Em dezembro de 1988 a primeira festa na comunidade, festa do sorvete. Aconteceu

na sede do Parque Valença com a iniciativa de Maria Elena. Neste mesmo ano foi

formado o grupo de preparação para o Sacramento da Crisma.

Em junho de 1989 foi dado início ao grupo de adolescente, hoje grupo de

jovens. Em agosto de 1989 foi realizada a primeira festa da comunidade. Em

dezembro foi celebrado a primeira celebração do Sacramento da Crisma. Em março

de 1990 a comunidade acolhia seus primeiros ministros do batismo: Senhor

Benedito e Dona Graça.

Em agosto de 1990 foi comprado o terreno para a construção do Centro

Comunitário, situado a rua 19 nº 57. Em setembro de 1990 foi celebrada a primeira

missa no terreno pelo Pe. Ceron e colocado o cruzeiro. Em março de 1992

começaram as compras de matérias para a construção do Centro Comunitário.

Nesta época também foi iniciada as escavações em mutirão. A Comunidade recebeu

muitas doações para a construção e pessoas da comunidade e seminaristas que

disponibilizaram a mão de obra.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO F - COMUNIDADE JESUS DE NAZARÉ

Está situada a Rua José Bressani, n° 86, Parque Itajaí II. Alguns dos

participantes da luta de fundação da Comunidade: Dona Cida, Dona Amélia, Madre

Genô e Iracema. Depois das orações e comemorações religiosas nas residências,

escolas e centros comunitários, em 02/06/1990 escolheram está praça para construir

a sua Igreja.

Em julho de 1998 conclui-se de modo parcial a construção da comunidade.

A comunidade continua em construção. Muitas pessoas dedicarão e continuam

dedicado ao crescimento da mesma, entre elas estão: Senhor Aparecido e Dona

Maria, Senhor Lourival, Angélica, Augusto, Tereza, Rita, Cida, Madre Genô e tanto

outros. A comunidade com a finalidade de amparar as em suas dimensões humana

e espiritual.

Em 2005 os Missionários Redentorista a pedido de Dom Bruno assumiram a

Região Pastoral. O Pe. Barreiro, hoje atual Pároco sempre esteve a frente dos

trabalho desde 2005.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO G - COMUNIDADE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

No ano de 1979, um grupo de moradores da região do Campo Grande, tendo

os seguintes bairros, Parque Valença, Novo Maracanã, Jardim Maracanã, Jardim

Metonopolis, sentindo a necessidade de uma assistência religiosa, tendo a frente o

Senhor Armindo Alves, começaram a se reunir a partir do primeiro domingo do mês

de Agosto do mesmo ano, na escola isolada do Campo Grande, o mesmo consultou

o padre Guedes, o qual autorizado pelo vigário da paróquia da Consolação

consultou Dom Antonio e Dom Gilberto, os quais autorizaram o padre José Luiz

Nogueira, que desse toda assistência possível para a formação de uma Cebs.No dia

30/12/1979, o padre José Luiz Nogueira, celebrava a primeira missa, em março de

1980, a comunidade começou a ser assistida pelo padre Ferraro, sendo que em

agosto do mesmo ano a comunidade em festa recebeu a visita de nosso pastor Dom

Gilberto, no mesmo ano foi feita a primeira festa da comunidade. No final de 1980,

por razões julgadas justas pela comunidade, o nome oficial da futura capela passou

a ser Nossa Senhora de Guadalupe, em homenagem a padroeira da América Latina.

Em 08 de agosto de 1981, os moradores do parque Valença, Novo

Maracanã, Jardim Maracanã, Jardim Metonopolis, em assembléia, elegerão uma

comissão para cuidar do centro comunitário com as seguintes pessoas: Aparecido

Correa, Luiz Julião da Silva, Elpidio de Souza, João José de Oliveira, Armindo

Antonio Alves, Antonio Aparecido da Silva, Antonio Bitencourt da Silva, Lourenço F.

de Oliveira, Manoel da Silva Pereira, Abraão Fermino da Silva e Sebastião

Felicidade.Neste mesmo dia, achou-se conveniente que se nomeasse três pessoas

para os seguintes cargos:

Presidente: Geraldo José da Silva;

Tesoureiro: Elpidio de Souza;

Secretário: Luiz Julião da Silva.

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181

No dia 26 de maio de 1982, Dom Gilberto envia carta à comunidade,

aprovando a comissão do centro comunitário Nossa Senhora de Guadalupe,

conforme consta no livro de ata pagina 4 (ler no livro ata).Em 09 de março de 1986,

foi feita a segunda comissão de construção da capela Nossa Senhora de Guadalupe

com as seguintes pessoas:

Coordenador: Alfredo Luiz Saturnino;

Vice coordenador: Sebastião Felicidade;

Tesoureiro: Benedito Silva Rodrigues;

Vice tesoureiro: Eronildo de Souza

Secretárias: Eliana Aparecida da Silva e Tereza de Fátima Ferrari de Freitas;

Manutenção: Geraldo José da Silva;

Som: Denílson Correa.

Na qual permaneceu esta comissão até o inicio do ano de 1992, sendo em

seguida a posse da terceira coordenação, com as seguintes pessoas:

Coordenador: Jair David Neto;

Vice coordenador: Diva da Silva Pereira;

Tesoureiro: José Arnaldo da Silva;

Vice tesoureiro: Sebastião Felicidade;

Secretário: Luiz Carlos Felicidade;

Vice secretário: Aparecido Correa.

No mês de Outubro de 1997, deu-se o inicio da reforma da capela, sendo

que a partir de março de 1998, houve nova eleição, sendo os seguintes nomes:

Coordenador: Aparecida Cassiolato da Silva;

Vice coordenador: José Wagner de Assis;

Tesoureiro: Devanir Ferreira;Vice tesoureiro: Luiz Carlos Felicidade;

Secretário: Anísio Donadon;

Vice secretário: BerlaminoEmilson de Oliveira, e com esta eleição, ficou

decidido que a gestão seria de 2 anos.

No dia 25 de Outubro de 1998, foi com grande alegria a reinauguração da

nossa igreja, e até hoje continuamos a nossa caminhada com 15 pastorais.Assim

sendo convidamos a todos os representantes e suas comunidades a estarem

presente nos dias 21 e 22 de Agosto deste ano, para juntos comemorar os 25 anos

desta comunidade.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO H - COMUNIDADE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

Começou pela dona Rita, uma família simples que chegou do Ceara,

começamos rezando o terço em 1986. Foram chegando mais pessoas, ai sentimos

que tínhamos condições de celebrarmos a 1ª missa, convidamos o padre Ferraro, o

padre Zé Inácio e outros.Foi realizada a 1ª missa num terreno baldio; a cada missa

que se rezava, se juntava mais gente, e numa dessas missas, surgiram idéias de

formar uma comunidade, mas não tinha um salão ou um terreno.

Mesmo não tendo condições, foi aprovado, e a partir daí continuou as

celebrações nas casas de quem freqüentava as missas e os terços e ai foi surgindo

o nome de nossa padroeira de hoje que é Nossa Senhora de Fátima. Nas missas

que alguns padres não poderiam vir, ficamos muito emocionados, quando vimos

uma mulher fazer a 1ª celebração, que foi a dona Luzia; a partir daí foi incentivando

outras pessoas para partilhar nas celebrações e nos movimentos de comunidades.

Nosso primeiro coordenador foi uma pessoa que lutou muito para construir a

nossa comunidade junto com o povo, que Foi o Donizete. Graças a Deus, com a

colaboração e a solidariedade de todo o povo do bairro, dos padres e do Senhor

Bispo, conseguimos 2 terrenos, e a solidariedade de cada um, construímos um salão

com a nossa igreja quase pronta.A nossa comunidade cresceu tanto, que já temos

11 pastorais e uma equipe de coordenadores.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO I - COMUNIDADE NOSSA SENHORA RAINHA DA PAZ

Norma e Bene moram no clube e sempre iam participar na comunidade Nossa

Senhora de Guadalupe em missas e no grupo de oração. Numa dessas idas para o

grupo de oração, conheceram a Eni e o Paulo (seu esposo).

Norma então começou a rezar o terço em sua casa e na casa de outras

pessoas, Bene e Eni iam junto e se encontravam uma vez por semana para o terço

que até então tinha como acompanhante a imagem de Nossa Senhora das Graças,

e cada vez mais pessoas pediam para que rezássemos em suas casas, tudo isso

começou em 22 de Janeiro de 2003.

Quando o padre Nelson veio ser o vigário paroquial e auxiliar do padre

Rogério na paróquia Jesus Cristo Libertador, ele ficou sabendo de todo esse

movimento e atividades no clube Santa Clara do lago que logo chamou a Norma e a

Bene e as informou que o Bispo tinha interesse em fundar uma comunidade dentro

do condomínio, com isso começaram em meados de maio, os preparativos para a 1ª

missa.

Foi então que começamos a refletir sobre o nome de nossa padroeira, se

seria Nossa Senhora das Graças que já nos acompanhava nos terços, ou Santa

Clara. Decidimos então resolver entre os dois nomes na missa em assembléia.

E no dia da missa, o padre Nelson em uma de suas reflexões, citou como

padroeira Nossa Senhora Rainha da Paz; mas como tínhamos decidido em uma

pequena reunião, perguntamos a todos, ali presente, qual seria o nome de sua

padroeira: Nossa Senhora das Graças, santa Clara ou Nossa Senhora Rainha da

Paz, foi então que por unanimidade tomamos como padroeira Nossa Senhora

Rainha da Paz.

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No dia 31/05/2003 foi celebrada então a primeira missa no clube Santa

Clara, que Realizou no salão de jogos do clube, a partir daí formou-se a comunidade

Rainha da paz.

O Senhor Biaggio, proprietário do clube doou um terreno para a construção

da capela da comunidade. Algum tempo depois, com muita ajuda orações, trabalhos

e contribuições foi construído o salão da comunidade.

Em 14 de Janeiro de 2005, foi realizada a primeira celebração eucarística

neste salão. A partir desse momento todas as atividades da comunidade passaram-

se a ser realizadas nesse local. No dia 27/05/2005 foi realizada uma missa solene,

onde se comemorou o segundo da comunidade, foi realizada a benção do salão e

entronização do santíssimo sacramento.

Com a ajuda de muitas pessoas foi construída a Igreja da comunidade, no

dia 25/05/2007 foi realizada a primeira missa.

História da comunidade São Geraldo Majela do jardim Bassoli.

Iniciou numa quinta – feira santa do ano de dois mil e doze ( 2012 ). Este

ano de ( 2013) completou um ano.

Como tudo no começo é difícil, aqui não foi diferente. Começamos celebrar

no estacionamento,eram poucas pessoas que participavam, não tinha gente para

fazer as leituras e por isso eram as mesmas todo domingo. Saímos do

estacionamento e fomos celebrar no salão de festa, a cada domingo celebrávamos

num condomínio diferente até que o síndico do condomínio S deixou nós celebrar só

lá, mais foi por pouco tempo. Mudamos para a quadra de esporte. Foi muito triste

pois já estava participando mais pessoas, e nós já estávamos acostumados no

local mais em fim nada podia ser feito. Fomos paraa quadra ficamos lá uns três

meses até que o padre Barreiro conseguiu a creche do São Bento ao lado do Jardim

Bassoli. Estamos lá e se Deus quiser só vamos sair quando a nossa Comunidade

São Geraldo Majela for construída.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO J– COMUNIDADE NOSSA SENHORA DO CARMO

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO L - COMUNIDADE SÃO JOÃO NEWMAN

A comunidade mais recente da Paróquia Santo Afonso é São João Neumann.

Foi fundada na Semana Santa de 2012. A Primeira missa foi celebrada pelo Pároco

padre Antônio Carlos Barreiro no dia 01/04/2012.

Os primeiros seminaristas Redentoristas a participar da comunidade foram o

Rimar e Valério. No mesmo ano de 2012 o Valério deixou o Seminário e o Rimar

continua atuante com a comunidade. As celebrações acontecem em uma área de

proteção ambiental, as pessoas que participam gostam de estar em contato com a

natureza. As reuniões da comunidade acontecem em uma casa de família.

Em 2013 a comunidade recebeu mais um seminarista, Edson, trabalha com o

Rimar, ambos têm procurado ajudar a comunidade crescer e enfrentar os desafios.

As pessoas manifestam grande contentamento com a comunidade e acreditam que

está irá crescer cada vez mais e ser para o povo católico do Bairro Nascente das

Colinas uma graça.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2012.

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ANEXO M – ANGÊLO RODRIGO BUSSO MARTINS BERTHO

Eu, Ângelo Rodrigo Busso Martins Bertho, nasci na cidade de Sorocaba-SP

no dia 30 de Janeiro de 1988. Filho de Edvaldo Martins Bertho e de Maria José

Busso. Sou filho único desse casal. Meus pais são separados. Meu pai está em uma

segunda união, desta, tenho um irmão chamado Matheus, está com três anos de

idade.

Desde criança venho sentindo esse chamado de Deus em minha vida.

Ingressei na Congregação do Santíssimo Redentor, no Seminário Santo Afonso em

Aparecida, SP, no dia 31 de janeiro de 2003. Estando na época com 15 anos. Nesse

período prossegui com os estudos do Ensino Médio e a etapa do Propedêutico.

Realizei meus trabalhos pastorais no Santuário Nacional como ministro

extraordinário da Eucaristia e pastoral da acolhida. Também trabalhei na casa de

idosos (Lar Nossa Senhora Aparecida) e na formação de coroinhas na Paróquia

Nossa Senhora Aparecida (Matriz Basílica). Tive também a oportunidades de fazer

várias outras experiências missionárias em diversas cidades.

Em 2008, dando continuidade ao processo formativo, fui para a cidade de

Campinas-SP, para realizar os estudos filosóficos (na época Bacharelado),

cursando-o apenas um ano na PUC-Campinas. Neste período trabalhei na Paróquia

diocesana de São José Operário, prestando serviço às comunidades tais como:

liturgia, coroinhas e grupo de jovens (P.J). Nos anos de 2009 e 2010 estive afastado

do Seminário, devido à separação dos meus pais, na época achei melhor voltar e

estar presente com eles.

No ano de 2009 fiz os convívios vocacionais na Arquidiocese de Sorocaba,

porém, meu ingresso não foi aceito. Nesse período trabalhei no centro da cidade, na

loja Maria Bonita Calçados e na ZF do Brasil em 2010. Vivi com intensidade minha

juventude, onde as experiências da vida me proporcionaram um profundo

amadurecimento humano e vocacional.

Querendo dar continuação no meu processo formativo, retornei para á

Congregação do Santíssimo Redentor no ano de 2011. Estou morando no Seminário

São Clemente na cidade de Campinas-SP. Exerço a pastoral na Paróquia de Santo

Afonso, a qual é confiada aos Missionários Redentoristas, auxilio na formação e

coordenação dos coroinhas.

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Desde o ano passado venho refletindo juntamente com meus formadores

sobre a minha vocação, visto que, no contato pastoral com o povo de Deus na

paróquia onde atuo, venho despertando-me para a vocação de sacerdote diocesano.

Tenho rezado constantemente sobre meu discernimento vocacional, entre a

vida religiosa e diocesana, também para aprofundar esse discernimento, li um livro

de São João Maria Vianney, me sinto profundamente identificado com o perfil desse

sacerdote que é um exemplo de santidade para toda a Igreja.

Por minha vontade, estou certo que quero continuar o meu processo

formativo na vida diocesana, por isso estou entrando em contato com minha

Arquidiocese, onde estão minhas raízes e família. Pretendo ser um padre diocesano,

servindo com generosidade a minha diocese, na qual fui criado e recebi os

sacramentos de iniciação a vida cristã.

Meus formadores, ao tomarem conhecimento de minha decisão

manifestaram-se apoio, e ao mesmo tempo, gratidão pelos anos de minha vida

dedicados à família religiosa Redentorista, a qual sempre serei grato pela formação

humana e cristã que recebi durante esse tempo.

Por meio desta, estou manifestando o meu pedido para ingressar no

Seminário Arquidiocesano, e o faço ao nosso Arcebispo Dom Eduardo Benes de

Sales Rodrigues e seu conselho de Presbítero, assim como, para a equipe de

Formadores e Pastoral Vocacional. Estou disponível para conversas acerca do

processo de transferência. Meus formadores atuais expressam-se solidários a

esclarecerem as devidas informações necessárias.

Termino esta rogando a proteção maternal da Virgem Maria, Nossa Senhora

da Ponte, Padroeira da Arquidiocese de Sorocaba. Que ela me ajude com sua

intercessão a construir ás pontes necessárias para a minha transferência, pois,

desejo-lhe continuar com fervor a minha caminhada vocacional. Desde já o meu

agradecimento pela atenção de todos!

Em Cristo Jesus,

Ângelo Rodrigo Busso Martins Bertho

Campinas, 22 de maio de 2012.

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2012.

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ANEXO N – MAURICIO JOSÉ DE OLIVEIRA

Chamo-me Mauricio José de Oliveira, nasci no dia 29 de novembro de 1985,

sou filho de Rita Conceição da Silva Oliveira e Benedito José de Oliveira Filho,

natural da cidade de São José dos Campos – SP e vivi naquela cidade até meus 24

anos, quando decidi responder ao chamado que Deus me fazia.

Desde pequeno, sempre fui encaminhado na fé e crença no Deus único e

salvador, por meio de minha mãe, tanto que entrei para o grupo de coroinhas de

minha comunidade, na qual trabalhei por muito tempo. Algum tempo depois, formei-

me acólito, passando a atuar em minha paróquia e, mais tarde, tornei-me

cerimoniário, trabalhando diretamente na catedral e nas paróquias da diocese.

Durante aquele período, tive a chance de trabalhar e construir um caráter de

pessoa responsável por mim mesmo e pelos outros, também ajudei minha

família.Mas, dentro de mim, algo ainda não estava completo, faltava algo em meu

interior, algo que me completasse e me satisfizesse por inteiro. Foi quando decidi

fazer alguns encontros vocacionais com os padres de Aparecida, os missionários

Redentoristas, os quais me ajudaram em meu discernimento vocacional,

encaminhando-me em direção ao chamado de Deus em minha vida.

No dia 31 de Janeiro de 2010, ingressei no seminário do propedêutico

Redentorista, situado na cidade de Santa Barbara D’ Oeste. Foi, para mim, um

período no qual pude conhecer um pouco mais a Congregação do Santíssimo

Redentor e seu fundador, Afonso Maria de Ligório, e todos os santos e beatos

Redentoristas e, durante todo o ano que lá estive, pude trabalhar a minha dimensão

humano-afetiva e também me preparar para enfrentar um mundo novo, o mundo da

Universidade.

No propedêutico, conheci muitas pessoas que muito ajudaram em meu

processo de discernimento, profissionais como nossa psicóloga Adriana e pessoas

simples as quais, com seus exemplos de vida, mostraram-me realmente como é ser

humano diante das situações que nos rodeiam a cada momento. Contei também

com o auxilio de meus irmãos, que comigo estavam em busca de um objetivo em

suas vidas. Também não posso me esquecer dos formadores que me

acompanharam e acreditaram em minha capacidade de crescimento humano, os

padres Gabriel Mariano e Sebastião Fernandes.

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Em 13 de Fevereiro de 2011, cheguei à cidade de Campinas, na casa de

formação dos estudos filosóficos Redentorista, São Clemente. Ao chegar nesta

casa, fui recebido por parte de meus novos colegas, pois o restante não havia

chegado ainda, e, com eles, pude aprender muita coisa. Claro que no começo não

cheguei conversando, brincando etc., pois também não tinha intimidade alguma com

eles, afinal mal os conhecia, mas, aos poucos, fui conquistando suas amizades e

confianças. Você acha relevante mesmo essa informação? O texto não precisa ser

mais técnico?

Na reunião que tivemos, logo no inicio do semestre, para definirmos as

pastorais e comunidades que acompanharíamos, tive a graça de ficar na

comunidade Nossa Senhora do Carmo, junto com o pré-noviço Tiago, o qual ficou lá

até a metade do ano. Naquele momento, pude vivenciar vários momentos de

alegrias (brincadeiras, festas e visitas) e de tristezas (perdas familiares e mudanças

dos mesmos) com aquelas pessoas. Houve momentos em que brinquei muito, fiz

muitas estripulias, mas, em outros, falei sério e fui firme em algumas decisões.

Foram ricos os momentos nos quais aprendi, com o povo, a viver com seriedade e

espiritualidade a vida que escolhi para mim.

Hoje, como pré-noviço, fico feliz em poder partilhar um pouco de minha

experiência com os novos postulantes que chegam a nossa casa e em especial aos

que vão para a comunidade que acompanho até hoje, comunidade essa que me

acolheu e adotou-me como um de seus filhos. Também me alegro por estar em uma

pastoral (vocacional), na qual posso ajudar a muitos jovens que, assim como eu,

querem responder ao chamado que Deus realiza a cada instante.

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2012.

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ANEXO O – ALAN CHRISTIAN PEDROSO MARTINS

Chamo-me Alan Christian Pedroso Martins, nasci no ano de 1993, na cidade

de São Paulo. Minha mãe chama-se Rita de Cássia Pedroso Martins e meu pai

Ailton Alexandre Pereira Martins, ambos são naturais de São Paulo e foram criados

em bairros vizinhos. Sou o filho mais velho e tenho duas irmãs: a Beatriz que tem 17

anos e a Mariah Eduarda com quatro anos.

Desde os meus dois anos de idade, frequentava dois ambientes religiosos

que se diferem entre si: o terreiro de candomblé e as missas da igreja católica,

devido às distintas crenças entre as famílias materna e paterna e foi nesses

diferentes ambientes que pude ter meus primeiros contatos com a fé.

Entre os três e quatro anos, comecei a frequentar o ambiente escolar, lugar

onde aprendi a desenvolver relações com os colegas e as professoras e comecei a

dar meus primeiros passos na dimensão intelectual. Lembro-me vagamente, mas

com alegria, dos primeiros momentos de lanche, das tarefas, das brincadeiras, enfim

de atividades que me proporcionaram, desde cedo, o contato com outras crianças e

com o mundo externo.

Nesse mesmo período, participava, também, das missas junto com minhas

tias e meus avós maternos. As primeiras lembranças que surgem em minha

memória são os momentos em que o padre purificava o cálice e os vasos sagrados

usados na missa. A partir dessa minha admiração, que considero hoje como

chamado, percebi que o meu desejo era o de ser padre. A minha família foi

percebendo esse meu interesse pelas coisas da igreja, pela liturgia, pelo rito, pelas

pessoas que estavam ali, enfim por tudo que compunha o ambiente católico. E o

meu desejo foi cada vez mais sendo descoberto à medida que eu crescia e conhecia

o mundo, a igreja e tudo o que estava a minha volta, mesmo em meio aos distintos

ambientes religiosos.

Ao ter idade suficiente, iniciei minha caminhada na catequese, fazendo,

desses pequenos momentos semanais, uma imensa construção de conhecimento

da palavra de Deus e da doutrina da igreja. Ao passo que me aprofunda na

fé,questionava e sempre trazia algum ponto que tornasse possível refletir e

relacionar a vida de Jesus com a minha vida, a da comunidade e a das famílias.

Cursei o ensino fundamental e, quando estava na oitava série, comecei a

pesquisar alguns modelos de vida religiosa pela internet. Logo, conheci um

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seminarista Redentorista e, a partir de seu convite e da apresentação do estilo de

vida e da espiritualidade dos missionários, decidi fazer os encontros vocacionais na

Congregação dos missionários Redentoristas. Esses encontros me ajudaram a

refletir sobre o meu chamado vocacional até que tomei a decisão de entrar no

seminário Santo Afonso, em Aparecida, no ano de 2009. Lá, cursei os segundo e

terceiro anos do ensino médio. Nessa primeira etapa de formação, fiz um caminho

de amadurecimento e crescimento humano, comunitário, espiritual e intelectual,

juntamente com a pastoral que exercia no santuário nacional de Aparecida, e com

os romeiros que, com belas histórias de vida e de fé, ensinavam-me grandes lições.

No ano de 2011, ingressei no seminário propedêutico Santíssimo Redentor na

cidade de Santa Barbara d’Oeste, em São Paulo, para dar continuidade ao meu

processo vocacional. Naquele ano, fiz uma boa e produtiva caminhada a partir de

um autoconhecimento e um grande crescimento espiritual.

Após esse caminho percorrido, fui aceito para compor o grupo de postulantes

no seminário São Clemente, em Campinas, para dar início ao curso de filosofia e

fazer um mergulho no mundo acadêmico. Nesta etapa formativa, é possível

estabelecer uma construtiva relação entre os estudos filosóficos, a espiritualidade e

o contato direto com as comunidades da paróquia Santo Afonso, contato que

proporciona um grande crescimento comunitário, sobre tudo humano.

Como o auxilio da filosofia, essas relações construídas geram um

pensamento reflexivo o qual me sustenta na opção de cada dia pelo segmento do

redentor, a partir da ótica de Afonso. Esse contato cria uma imensa sensibilidade e

percepção do mundo e das diversas formas de vida.

Faço parte do grupo de pastoral chamado pastoral da família e, com as

vivencias do cotidiano na sociedade, especificamente nos dias atuais, aprendo cada

vez mais a caminhar com os olhos fixos no Cristo e na fé de discípulo, dando sentido

ao meu chamado e a minha escolha pelo seguimento do redentor na vida

missionária junto ao povo de Deus.

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2012.

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ANEXO P – CARLOS HENRIQUE APARECIDO SILVA

Em 1984 após toda uma gestação, minha mãe Nilza Maria foi internada no

Hospital Municipal Ferraz e Torres, em Maria da Fé, uma pequena cidade situada no

sul do estado de Minas Gerais. O parto foi muito difícil, fazendo com que minhã mãe

quase morresse no momento do meu nascimento, mas, graças a fé de uma das

enfermeiras que rezou muito e fez uma promessa a Nossa Senhora Aparecida,

minha mãe foi salva milagrosamente.

Minha mãe se chama Nilza Maria e meu pai Luiz Carlos e amo-os muito,

tenho mais dois Irmãos mais novos: Daniane que tem 24 e Luiz Henrique que tem

21 anos. Somos uma família muito unida e sempre passamos todas as dificuldades

juntos, um dando força ao outro fato que nos fortalece muito.

Começei meus estudos com sete anos, no pré-primário em um momento

muito bom da minha vida e de criação de novas amizades. Após um ano, primeira

série, comecei a sentir o desejo de ser padre, e, um dia, na porta da sala de minha

casa, conversando com minha mãe, contei a ela essa vontade. Naquele momento, o

conselho que ela me deu foi ode eu entrar para o grupo de coroinhas, eu nem sabia

o que era isso, mas ela falou que seria bom, para mim, fazer parte desse grupo. Na

segunda-feira seguinte, minha mãe e eu fomos à casa paroquial e lá conversamos

com o Pe. Narciso que nos acolheu muito bem e explicitou como eram os

procedimentos para participar. Saído escritório paroquial muito feliz e, dias depois, já

estava participando das reuniões.

A primeira vez que participei de um procissão e também de uma missa,

como coroinha, foi no dia de Corpus Christi. Sentei bem próximo da credência e

fiquei olhando maravilhado com tudo aquilo e com aquela vontade de que me

pedissem para fazer alguma coisa, mas não me pediram nada. Mesmo assim, fiquei

muito feliz por ter participado.

Em todo o período em que fui coroinha, sempre pensava na vocação

sacerdotal, tudo aquilo me encantava e eu buscava sempre estar observar os

padres e imaginar como seria quando fosse eu que estivesse naquele lugar. Minha

Família sempre me deu a maior força e isso me motivou , a continuar sonhando com

aquele caminho.

Aos 13 anos, fui ao escritorio paroquial conversar com o Pe. José Raimundo

sobre essa vontade em ser sacerdote, e ele me deu muitos conselhos que me

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ajudaram e continuaram me ajudando hoje nessa caminhada. Falou-me que era

para eu, no ano começar o acompanhamento no seminário da diocese de Pouso

Alegre, entrando no seminário menor e iniciar, assim, meus estudos religiosos.

Durante aquele ano, pensei muitoem tudo e nem comentei com minha família que

havia conversado com o padre. Quando já estava chegando o dia de ir para o

primeiro encontro, decidi não participar, e ter uma experiencia melhor de vida para

ver se esse caminho era mesmo o que eu desejava verdadeiramente. Com essa

decisão, também deixei deve ser coroinha e foi um momento em que tive certo

desânimo com a questão religiosa, mas lá no fundo algo me incomodava.

Logo após terminar o ensino médio, prestei vestibular no curso de ciência da

computação da Universidade Federal de Itajubá e, devido ao nervosismo, não

consegui a vaga que tanto queria. Durante todo o ano de 2004, estudei em um

cursinho assistencial que funcionava na Unifei e novamente prestei vestibular para

ciência da computação e mais uma vez não consegui devido ao grande nervosismo.

Em meados de 2005 comecei a fazer curso técnico em telecomunicações em uma

escola estadual, foi um curso muito bom onde além de aprender coisas novas que

me ajudariam futuramente, pude me preparar melhor para as provas seletivas das

faculdades, e em 2006 resolvi fazer vestibular para o curso de educação fisica, fiz a

prova na qual fui muito bem e dos secenta candidatos que passaram consegui a

classificação de vigesimo quarto, mas devido às questões finaceiras não foi possível

cursar.

Logo após o termino do curso técnico de telecomunições me escrevi no

curso técnico de administração, nesse periodo fiz também estagio primeiramente em

uma fabrica de eletronicos e depois na propria escola em que estudava, nesse

mesmo período trabalhei em uma lanchonete, pizzaria e um pesqueiro.

Em todo esse periodo a presença de minha familia foi primordial sem ela eu

teria desistido de tudo, principalmete quando fazia o curso de administração periodo

em que fiquei mais cansado devido as correrias, e todos os dia eu falava para minha

mãe que ira desistir do curso, mas ela sempre me incentivava a estar continuando e

nuca desistir.

No fim de dois mil e oito tive a decisão de prestar vestibular no curso de

sistemas de informação na Fepi, e dessa vez sou aprovado, e no dia da matricula

estavam comigo minha mãe e meu pai todos os dois felizes por estarem naquele

lugar me ajudando a dar mais um passo em minha vida. Nessa faculdade fiz um ano

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e meio do curso de sistemas da imformação, iniciei a fazer o meu TCC na área de

engenharia social, fiz o curso até quendo deu para aguentar, porque dentro de mim

algo ardia e me calsava uma grande anciedade ainda mais depois de uma visita ao

Santuario Nacional de Nossa Senhora Aparecida, lugar que emociono muito fazendo

almentar ainda mais a vontade de estar indo para um seminário. Voltei para Maria

da Fé renovado, pretendendo terminar o curso de sistemas e logo após ingreçar no

seminario, mas isso não foi possivel porque tudo na minha vida começava a mudar,

as palavras que ouvi na homilia tinha me chamado muito a atenção.

No dia em que falei a minha familia sobre a decisão de largar a faculdade e

me dedicar ao acompanhamento vocacional todos assustaram, menos minha irmã

que logo falo que havia percebido a um bom tempo a minha vontade. Minha familia

me apoio na decisão, resaram muito para que tudo desse certo. Voltei a participar

das coisas da igreja, convesei com o Pe. Leonardo e depois com o Pe. Claudio e

eles me ajudaram muito dando conselhos. Pe. Leonardo sempre fevoroso querendo

me levar para o seminario diocesano, já Pe. Claudio me dava a maior força para

estar vindo para o seminário Redentorista. O que mais me fortaleceu nesse periodo

além da familia foi um missionarioRedentorista, padre Libardi que fora levar a

imagem de Nossa Senhora Aparecida em minha cidade e com todo o seu fervor

missionario e simplicidade cativo toda a população.

Fiz o acompanhameto vocacional durante o ano de dois mil e dez com os

Missionários Redentoristas e também na diocese, mas sempre demonstrando a

todos em qual lugar eu realmete gostaria de estar, após o termino o ultimo encotro

vocacional no mês de setembro, foi marcada uma visita em que o Irmão Ernestofoi

conhecer minha familia, e após a visita fiquei ansioso para receber o convite para

semana de convivência.

No fim do ano recebi a carta de aceitação do Seminario Diocesano, e nada

de receber a carta para participar da convivencia vocacional Redentorista, fato que

me deixo muito apreensivo até o dia em que finalmente chego a carta tão esperada,

eu queria tanto receber aquela carta que nem tive coragem de abrila e pedi para

minha irmão abrir e ler, e no momento que me disse eu estava convidado para a

convivencia fiquei muito feliz. Com a aceitação me bateu a duvida, ir para o

seminário diocesano ou participar da convivência do seminário Redentorista, mas no

dia vinte oito de dezembro após muitas orações tive a certesa e mandei a carta

resposta ao Seminario de Pouso Alegre agradecendo a confinça depositada em mim

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ao me aceitarem e por todo o acompanhamento que recebi, mas o meu coração

como já tinha dito a eles batia pela Congregação do Santissimo Redentor.

No dia três de janeiro entrei no Seminario Santo Afonsso para o inicio da

semana de convivencia,na qual foi muito abençoada, podendo ter uma aproximação

maior com os formadores e com os demais candidatos. Ao termino da semana veio

a decisão de não dar a resposta naquele momento, mas sim cada um receber a

resposta em sua casa, sai de lá muito ancioso. Fiquei o domingo todo a espera da

resposta, mas para minha alegria só fui receber a tão esperada noticia na quarta-

feira a noite, e ela foi positiva me deixando mais feliz ainda.

Quando minha familiafico sabendo da aceitação todos ficaram muito felizes,

e nesse momento pude ter a certesa de que o acontecesse apartir daquele momento

minha familia estava ali para me apoiar, e no dia vinte oito de janeiro as onze horas

e vinte minutos chegui ao SeminarioRedentoristaSantissimo Redentor juntamente

com minha familia que fora me levar, no inicio estranhei um pouco me deu vontade

de voltar juntamente com meus pais e irmãos, mas resolvi ficar e dar aquele passo

tão importante para mim.

Fiquei um ano em Santa Barbara periodo em recebi toda formação,

confiança e apoio dos religiosos que naquela casa moravam principalmente do

Padre Gabriel e Padre Pedro Paulo que me acompanharam diretamente, Padre

Jadir com sua esperiencia de vida nos motivava a cada dia mais, Irmão Gercino com

suas historias do periodo em que fez missão na Africa nos dava força a continuar

caminhando, atravez da esperiencia de cada um minha fé e motivação vocacional foi

se fortalecendo a cada dia, primeira mente caiu por terra todas as ilusões que tinha

sobre a vida religiosa e percebi a verdadeira realidade, vi que a missão vai além de

momentos lindo e alegres, mas também mometos tristes e difeiceis que ajudão no

crecimento e fortalecimento. No propedeutico cresci muito, começei a ver o mundo

de uma maneira diferente, tendo a certesa que ali não era um lugar onde o principal

motivo é formar futuros padres mas ir além disso tudo, e independente de nós

seguirmos o caminho do sacerdocio ou não, o trabalho deles é formar bons cristão

que se preocupem com o proximo, essas palavras eram ditas varias vezes pelo

querido Padre Jadir.

No fim de dois mil e onze prestei o vestibular na Puc – Campinas visando a

proxima etapa o postulantado, e fui aprovado, podendo assim dar mais um passo

em minha caminhada vocacional e noo dia 8 de fevereiro cheguei no Seminário

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Redentorista São Clemente em Campinas afim de continuar minha caminhada, esse

ano foi muito bom me fazendo ter mais confinça ainda de que estou no caminho

certo. Fiz novas amisades, percebi que os formadores são bem mais proximos e se

preocupão ainda mais com a nossa formação, e há um grande apoio por parte deles

e do grupo de postulantes. Fiquei um pouco triste devido atransferencia do Padre

Gabriel, formador que havia me acompanhado no propedeutico e estava a alguns

meses em nosso seminario de Capinas e devido a uma necesseidade da provincia

aceitou ser transeferido para Tietê assumindo com alegria a sua missão e

mostrando a todos nos que devemos estar sempre preparados, ficando a disposição

e sendo assim verdadeiros missionario.

O ano de dois mil e dose foi muito bom, ano em que uma nova realidade foi

apresentada surgiram obstaculos que ao longo do ano foi sendo superado, as

esperiencias de vida dos missionarios que moram em nossa casa contribuiram ainda

mais em minha vida, o jeito brincalhão e administrativo do Irmão Walter, a seriedade

misturada com brincadeira do Padre Edvaldo, o trabalho pastoral exercido pelo

Padre Barreiro, os esforços, amisade, sinseridade e preocupação dos nossos

formadores padre Maciel e Padre Sebastião, todos eles me ajudaram a ter a certesa

de posso dar passos mais firmes rumo ao objetivo, e a certesa de que posso confiar

em cada um deles.

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2012.

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ANEXO Q – CARLOS HENRIQUE FERREIRA DA SILVA

Sou Carlos Henrique Ferreira da Silva, natural da cidade de Carapicuíba-SP,

e tenho 19 anos. Meus pais são Silvano Ferreira da Silva – paranaense de Alvorada

do Sul, 47 anos – e Maria José Ferreira dos Santos Silva – alagoana de São

Sebastião, 48 anos. Tenho dois irmãos: Rodolfo Ferreira da Silva – 24 anos – e

Vanessa Ferreira da Silva – 20 anos. Meus familiares, especialmente tios e tias,

sempre estiveram próximos e muitos deles moraram conosco.

Minha caminhada na Igreja começou desde a minha infância, com minha mãe

levando meus irmãos e eu para participarmos da Comunidade Santo Antônio de

Pádua. A partir dessa experiência de comunidade, observava muito as atividades do

sacerdote. Para mim, ele era um colaborador da caminhada comunitária, eu

admirava seu papel pastoral, espiritual e social na Igreja para com as pessoas,

percebendo-o como alguém feliz e realizado, que ajudava aos demais a serem

também felizes. Desde então, por volta dos sete anos, despertou-me o desejopara a

vida religiosa sacerdotal. Por isso, dizia a meus pais e familiares que queria ser

padre.Posteriormente, desejei ser artista. Fui modelo e participei de desfiles,

comerciais, programas de televisão e eventos. Contudo, com essa experiência,

conscientizei-me de que as carreiras de modelo e artista não seriam aquilo que eu

queria, pois não gostei dessa realidade de extrema competição. Então, conversei

com meus pais, sai da agência e parti para outras experiências.

Assim, ingressei mais ativamente na Comunidade Santa Edwiges, que estava

se iniciando. Com isso, participei da Catequese e recebi o sacramento da Primeira

Eucaristia, logo aos nove anos. Depois disso, comecei a participar do grupo de

coroinhas. Assim, vivi forte experiência de comunidade, pautada por aprendizagem e

serviço.Alguns anos depois, com a experiência vivenciada, colaborava na formação

do grupo de coroinhas. Aprendi e colaborei com grupo de Catequese da

comunidade, na preparação para a Primeira Eucaristia e na “pré-catequese”,

composta por crianças de quatro a oito anos.

Aos 12 anos, participei do grupo de jovens JUCAF – Jovens Unidos com

Amor e Fé – da Pastoral da Juventude. Lá, vivi minha adolescência e partilhei com

outros jovens minha alegria de participar da Igreja e da sociedade.Em julho de 2005,

houve em minha paróquia a Semana Vocacional em preparação à Ordenação

Sacerdotal do Missionário Redentorista Jorge Sampaio, atualmente padre. Ele,

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antes de ingressar no seminário, participava de uma comunidade vizinha à minha.

Os Missionários Redentoristas organizaram uma bela semana de atividades e

animação vocacional, da qual participei ativamente.Em um daqueles dias o

fráterRedentorista Roberto, atualmente padre, falou-me que eu tinha cara de padre e

perguntou se eu já havia pensado na possibilidade da vocação sacerdotal religiosa.

Disse a ele que sim e me interessei por conhecer esse grupo de missionários

animados, humanos e felizes que revelaram uma nova forma de ser, se alegrar e

celebrar. Ele, então, entregou-me diversos materiais vocacionais Redentoristas, os

quais li e me motivaram a conhecer ainda mais.

Conversei com Pe. Jorge que me apoiou e me incentivou a escrever ao

Secretariado Vocacional Redentorista. A partir desse contato, fui convidado a

participar dos encontros e retiros vocacionais Redentoristas, nos quais amadureci e

rezei minha vocação.Comecei meu processo de acompanhamento vocacional

Redentorista aos 12 anos. Por isso, participei de diversos encontros e retiros até

poder participar da convivência vocacional para ingressar no seminário, em 2008.

Nesse intervalo de tempo, também participei dos encontros vocacionais com os

Camilianos, porém não me encontrei em seu carisma.

No ano de 2008, participei da convivência vocacional em Aparecida e fui

aprovado para ingressar no Seminário Santo Afonso em Aparecida. Escolher a vida

religiosa, escolher sair da casa de meus pais e meus irmãos, escolher viver novos

desafios, em outra realidade escolar e comunitária, foram decisões notáveis

tomadas aos 14 anos. Nesse período, tive a graça de vivenciar preciosas

experiências de aprendizado e amadurecimento, especialmente, no seminário, no

Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e no Colégio

Millennium.Ao final de 2008, decidi pedir um período fora do seminário para viver

algumas experiências. Assim, voltei à casa de meus pais e irmãos, continuei meus

estudos no Ensino Médio, retornei as vivências de minha comunidade de origem,

Santa Edwiges, e tive experiências profissionais, da qual destaco a experiência

como Aprendiz assistente administrativo na Fundação Orsa.

No ano de 2010, após processo de acompanhamento vocacional e

discernimento, escolhi pedir para retornar para o seminário. Meu pedido de regresso

foi aceito e, em 2011, regressei no Seminário Redentorista Santíssimo Redentor, em

Santa Bárbara D’Oeste, na etapa do Propedêutico, onde vivenciei experiências

valiosas, que favoreceram meu aprendizado e aprofundamento nas dimensões

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humana, comunitária e pastoral. Assim, a convivência, a formação de nossa

comunidade, a comunidade religiosa, a experiência espiritual e a realidade pastoral

contribuíram, essencialmente, para minha formação.

Desde 2012, estou no Seminário Redentorista São Clemente, em Campinas,

onde estudo Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Nessa

vivência ímpar de formação, especialmente, com o estudo filosófico, as

oportunidades de autoconhecimento com o processo terapêutico, as experiências

pastoral e comunitária, escolhi por em dúvida e repensar meus conceitos e

“certezas”, haja vista querer construir, novamente, meus fundamentos, autônoma e

conscientemente. Descobrindo novos horizontes em comunidade, temos a

oportunidade de, fraternalmente, nos ajudarmos, caminhando unidos. Por fim,

essencialmente, busco me desafiar a, diariamente, alçar voos em busca da

liberdade e da autonomia, para assim assumir minha existência, o que sou e as

implicações disso.

Aqui nós, formandos Redentoristas, participamos, aprendemos e auxiliamos

na Paróquia Santo Afonso de Ligório na região do Campo Grande.

Verdadeiramente, a experiência do estudo de Filosofia contribuí, e muito, para a

tomada de consciência e de posição, possibilitando a análise, a crítica e a busca de

alternativas de mudanças das realidades em que vivemos, especialmente, na

realidade pastoral, por meio da reflexão, da liberdade e da libertação do

pensamento, participando e convivendo com povo.

A convivência com as pessoas da pastoral é experiência de aprendizado e

humanização. Essas pessoas, com seu testemunho, fé e acolhida motivam e

contribuem para eu continuar cultivando minhas motivações primeiras de continuar o

Redentor na vida religiosa Redentorista. Portanto, aprendemos e nos ajudamos na

caminhada de comunidade.

Minhas motivações para a realidade pastoral são a experiência e percepção

da continuação da manifestação de Deus na história e na vida das pessoas, a fé, a

esperança, a coragem deles, diante de realidades desafiadoras da vida. Além disso,

acredito ser graça de Deus conviver, partilhar e aprender com eles.

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2012.

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ANEXO R – DIEGO ANTÔNIO DA SILVA

Sou Diego Antônio da Silva, nascido em 11 de junho de 1992, na cidade de

Guaranésia, localizada no Sul de Minas Gerais, filho de Ercília Aparecida Liberto

Silva e de Antônio dos Reis, casados há 25 anos; não tenho irmãos.

No final de 2009, concluí o Ensino Médio na Escola Estadual “Alice Autran

Dourado” e o curso técnico em Informática para Internet, na Escola Técnica Estadual

“João Baptista de Lima Figueiredo”, localizada na cidade de Mococa, no estado de

São Paulo. Por aproximadamente um ano, trabalhei como Instrutor de Cursos de

Informática na MC Informática, uma escola especializada em Cursos

Profissionalizantes e no trabalho de inclusão digital.

Considero-me, uma pessoa com uma personalidade marcante. Gosto muito

de estudar, sempre buscando o conhecimento, e procuro cultivar o hábito da leitura

no meu dia-a-dia. Gosto também de praticar esportes, utilizar a Internet como meio

de explorar novas dimensões para o conhecimento e também como instrumento de

lazer e comunicação.

Meus pais sempre foram muito próximos, estiveram e estão presentes em

todos os momentos de minha vida, são para verdadeiros exemplos. Infelizmente, por

motivos de saúde, minha mãe não pôde ter mais filhos.

A família, para mim, sempre foi muito importante e fator determinante no

desenvolvimento de minha personalidade. Não tive a alegria de conviver por muito

tempo com meus avós, pois já são todos falecidos, mas, em vida, ensinaram-me o

verdadeiro sentido do amor à família.

A vocação, como chamado de Deus ao seu segmento, nasceu e

desenvolveu-se dentro do ambiente familiar. Meus pais sempre me ensinaram os

valores religiosos, cultivando em mim o amor a Deus e à Igreja, sempre participando

e incentivando participar da vida da comunidade.

Conheci os Missionários Redentoristas por meios de minhas constantes

visitas ao Santuário Nacional, nas romarias anuais da família. Porém, conheci de

forma mais próxima, durante a animação missionária realizada no ano de 2005 em

minha cidade. Confesso que fiquei muito admirado e incomodado ao ver a forma

como aqueles padres e irmãos pregavam o evangelho com tanto ardor, falavam da

esperança de dias melhores e acolhiam com tanto amor as pessoas. O carisma, a

simplicidade, a humildade, o amor à missão foram os valores que me cativaram e

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despertaram o desejo de também ser um Missionário Redentorista, porém ainda

batia em mim o medo, a insegurança de dar os primeiros passos.

Após um período de discernimento e amadurecimento, resolvi entrar em

contato com o Secretariado Vocacional Redentorista, ainda temeroso, mas motivado

em conhecer ainda mais a CongregaçãoRedentorista. Fiz o acompanhamento, tendo

como promotor vocacional o Padre Geraldo de Paula e o Irmão Ernesto. Durante o

acompanhamento, tive a oportunidade de conhecer melhor os missionários, bem

como os inúmeros trabalhos desempenhados dentro da Unidade Redentorista de

São Paulo e, também, participar de um encontro vocacional no Seminário São

Clemente em Campinas. Após certo tempo, fui convidado a participar da chamada

“Convivência Vocacional”. A partir desse momento, recebi a aprovação para

ingressar no Seminário Santíssimo Redentor em Santa Bárbara d’Oeste no ano de

2011.

Durante esses anos no seminário, tive a oportunidade de viver a experiência

da vida comunitária, com seus desafios, alegrias, partilhas e esperanças. Sem

dúvida alguma, um forte momento em minha vida e também de amadurecimento

vocacional.

Em 2012, a nova vida universitária em Campinas, trouxe consigo os desafios

do conhecimento, o “sair da caverna” de todos os dias, que nos leva ao devir

constante de romper os “pré-conceitos” da vida, isto é, as opiniões predeterminadas

e contemplar um mundo que se modifica a cada instante, refletindo, assim, nas

experiências de vida, nas práticas pastorais e na realidade da nossa Igreja.

A experiência filosófica nos auxilia, e muito, em nosso trabalho missionário-

pastoral, ajudando-nos no enfrentamento da realidade de nossa paróquia: um novo

modelo de Igreja, um novo modelo de estrutura, um grande desafio, onde, através

dessas experiências, vamos aprendendo a cada dia a nos “moldar” diante deste

novo mundo.

Da pequena cidade de Guaranésia, com aproximadamente 20 mil habitantes,

passando por Santa Bárbara d’Oeste com 180 mil e chegando na grande Campinas

com mais de um milhão e meio de habitantes. Novas experiências, novos desafios,

mas a mesma esperança, continuar uma proposta de vida, viver de modo sempre

novo, ser Missionário Redentorista.

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2012.

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ANEXO S – JONAS LUIS DE PÁDUA

Sou o Jonas Luiz de Pádua, jovem de vinte anos, natural de Inconfidentes –

Minas Gerais. Vim de uma família composta por quatro membros: Esterlina

Domiciano de Pádua (mãe), José Ramos de Pádua (pai), José Lázaro de Pádua

(irmão) e eu. Nasci no dia seis de junho de mil novecentos e noventa e dois, na zona

rural da cidade: Boaventura.

Na roça, não havia missa periodicamente e, mesmo assim, às vezes, nem

participávamos. Acontecia terço nas casas ou encontros bíblico-familiares.

Aos meus quatro anos de idade, nós mudamos para a cidade, uma mudança

não só estrutural, mas também social e religiosa. Antes de nos estabilizarmos na

cidade, moramos pouco tempo num bairro rural mais próximo a ela: Monjolinho.

Tudo era novidade! Iniciei meus estudos pré-escolares. Minha família sempre me

motivava.

A cidade de Inconfidentes é pequenina, de sete mil habitantes. Pertence à

Arquidiocese de Pouso Alegre (MG), nosso padroeiro paroquial é São Geraldo

Majela e foi fundada em oito de dezembro de mil novecentos e cinquenta e oito.

Na cidade, continuamos participando apenas eventualmente das

missasmas, quando fazíamos presença, eu não dava sossego. Queria brincar,

correr, ficar no jardim da praça com os colegas, impossibilitando a concentração de

meus pais. Até que um dia o pároco da época, Pe. Otávio, no final da celebração,

convidou todas as crianças para fazerem parte da pastoral dos coroinhas.

Consequentemente, minha mãe me colocou na pastoral para que eu desse

“sossego” a ela nas celebrações... E deu certo, pois gostava do que fazia.

Desde então, sempre colaborei na paróquia: participava de todas as

celebrações, como coroinha, já que eram poucos os que tinham entrado. Minha mãe

sempre comigo, acompanhando-me.

Gostava muito de ser coroinha, sobretudo durante a festa de São Geraldo

Majela. E, foi numa destas festas (dois mil e um), que Deus me fez ouvi-Lo pela

primeira vez, quando vi um padre vestido com uma “batina preta e colarinho branco”,

chegando com a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida às mãos: Pe.

Gilberto Paiva. Até então, nem sabia das diferenciações de padres seculares ou

religiosos, só queria ser padre e Redentorista, para andar com Nossa Senhora

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Aparecida pelo mundo a fora (aquilo que minha mãe sabia “desses padres” e tinha

me falado).

O tempo deu-se a peregrinar, compondo esta biografia...

Aos doze anos, não podia ser mais coroinha na paróquia, então, resolvi ser

proclamador da Palavra, gostava muito também e de participar das formações que

havia.

Numa missa (sábado, antes do Domingo de Ramos – dois mil e seis) em

que proclamei a leitura, um missionário Redentorista, após a comunhão, foi à frente

da assembleia falar sobre um Secretariado Vocacional Redentorista, com alguns

folderes na mão. Ao fim de suas palavras, quando ele voltara para se sentar, me

entregou seus folderes e uma senhora, que estava ao meu lado, disse-me: “Olha lá

em... São Geraldo está te chamando...”. Olho para ela e dou uma risadinha, sem

entender. Ao pegar, penso em lê-los com carinho, mas sem intuito de ser padre.

Entretanto, quando terminei de ler, refleti e recordei de quando estava na segunda

série e queria ser padre.

Questionei-me... Queria conhecer mais o que era ser padre e sobre sinais de

vocação; dúvidas surgiram e fiz grande amizade com os missionários Pe. Jerônimo

Colombo e Ir. Cláudio Teixeira, que me falaram sobre vocação e, de maneira

especial, a Redentorista e convidaram-me a participar dos encontros vocacionais no

Seminário Redentorista Santo Afonso em Aparecida.

Mas, quando esses amigos Redentoristas retornaram a Aparecida,

questionei-me novamente: será que quero realmente ser padre? Como vou sozinho

a Aparecida? Qual minha vocação? Conclusão: desisti de me corresponder naquele

ano com o secretariado vocacional Redentorista. Mesmo assim, recebia as cartas

em casa, pois o Ir. Cláudio tinha levado meu endereço e as lia com afeição e alegria,

porém nada de respondê-las.

Durante o decorrente ano de dois mil e seis, participei normalmente na

comunidade e ajudava onde precisasse. Fiquei com muitos questionamentos sobre

o que queria ser quando crescer: professor, padre, jogador de vôlei, de futebol, ator,

apresentador, engenheiro, jornalista...

No ano seguinte, inesperadamente para mim, o Ir. Cláudio e o Pe. Jerônimo

e mais dois seminaristas do “Santo Afonso” foram participar da semana santa na

nossa paróquia de Inconfidentes. Por conseguinte, indagaram-me o motivo de não

corresponder com o Secretariado e falei de meus questionamentos e dúvidas

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posteriores à vinda deles em dois mil e seis. Conversamos bastante e eles

partilharam suas experiências, principalmente, os seminaristas que lá foram.

“Está bem, eu vou!”, resolvi corresponder e participar dos encontros

vocacionais Redentoristas. Quando terminou a Semana Santa, escrevi e enviei a

minha primeira cartinha ao secretariado. Até que recebi o primeiro comunicado do

encontro vocacional em Aparecida e, juntamente com um colega (Gerson) que

queria também participar, pedimos ajuda ao pessoal da comunidade.

Fomos participar do primeiro encontro em maio de dois mil e sete;

acolheram-nos muito bem! Amor à primeira vista! Eu tinha um “pré-conceito” de

seminário: de que só estudava e rezava, mas vi que não era bem assim... Gostei

muito e de tal forma que participava intensamente de todas as atividades propostas

nos encontros vocacionais e retiros, não vendo a hora de retornar a Aparecida.

Neste ano de dois mil e sete, fui catequista na paróquia para uma turma de

crianças entre oito e nove anos e ajudava, também, na liturgia da missa das

crianças. Nos encontros no seminário, fiz amizades, conheci e aprendi um pouco

mais sobre vocação e vocações, especialmente, os Redentoristas (vida, missão e

formação), enfim, ampliei horizontes, lancei-me!

No ano seguinte (dois mil e oito), fui convidado a participar da semana de

convivência vocacional e, ao seu término, recebi o convite para ingressar no

Seminário Redentorista Santo Afonso, em Aparecida (SP).

Desde então, com a graça de Deus, venho convivendo, discernindo e

fazendo esta experiência vocacional mais diretamente com os Redentoristas: alegre,

disponível e livremente. Buscando-me tornar, cada vez mais, um instrumento de

Deus.

Assim sendo, tive a graça e a oportunidade de morar em Aparecida por três

anos (dois mil e oito a dois mil e dez), no seminário Santo Afonso. Na cidade, cursei

o ensino médio no Colégio Millennium. Quantas experiências espetaculares e

emocionantes vividas no seminário, no colégio e no Santuário Nacional! A

convivência e as amizades deixam marcas de felicidade em minha alma!

A pastoral no santuário emocionava, sobretudo nos momentos que

encontrava os romeiros na casa de nossa Mãe Aparecida. Quantas partilhas e

emoções compartilhadas! No “Santo Afonso”, tínhamos formações de latim,

comunicação e expressão, português instrumental, italiano, canto, espiritualidade e

história da Congregação, catequeses e encontros psicológicos. Recordo-me muito

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da presença constante de religiosos e várias pessoas que visitavam ou se

hospedavam em nosso seminário, acolhíamos a todos, aprendendo muito com as

partilhas e motivações.

No ano de dois mil e onze, fui para uma nova etapa formativa em Santa

Bárbara D’Oeste – SP, chamada Propedêutico, onde pude preparar-me ainda mais

para o vestibular da PUC-CAMPINAS, participando do cursinho Anglo, proposto

naquele ciclo. A princípio não foi fácil adaptar-me a essa nova realidade, porém, a

convivência com os religiosos e com a comunidade onde atuamos pastoralmente foi

contribuindo para uma tranquila e feliz adaptação àquela comunidade Redentorista

barbarense. No seminário, tínhamos formações de história e espiritualidade da

Congregação, catequeses e pastoral e encontros psicológicos. A pastoral na

comunidade Nossa Senhora Auxiliadora era mais próxima das pessoas, bem como a

convivência com todos eles do bairro e da região onde o seminário está situado.

Experiência muito especial e gratificante para o meu aprendizado e a minha

percepção de Deus que continua na história e no presente.

O ano passou-se rapidamente e em dois mil e doze vim para Campinas –

SP, onde estou até hoje dando continuidade ao meu processo de discernimento

vocacional Redentorista, cursando Filosofia. Quantas novidades e descobertas

experienciadas! A começar pela realidade urbana apresentada como a social,

pastoral e manifestações religiosas diversas... Como cresço e aprendo muito com

todas essas realidades específicas e diferenciadas. Por aqui, no seminário, temos

formações de português, de espanhol, religiosa, catequéticas, espiritualidade

Redentorista e encontros psicológicos. Gosto muito da pastoral na nossa paróquia

Santo Afonso, no Campo Grande, pois é de muito valia, conhecimento e experiência

para mim junto com o povo.

A reflexão filosófica contribui muito na pastoral, pois, por meio do estudo

apreendido na universidade, junto ao povo, nas comunidades, temos a oportunidade

de por em prática o estudado. Exercitando, assim, a apresentar de forma clara e

distinta minhas ideias e conhecimentos, bem como a reformulá-las e discuti-las se

necessário, com o conhecimento de vida que eles e eu trazemos e partilhamos. Já

que Filosofia significa amor à sabedoria, igualmente, toda saberia é bem-vinda e

acolhida por meio do diálogo e do testemunho.

A realidade paroquial colabora muito para o meu processo de discernimento

vocacional, especialmente, pelo jeito simples, humilde e batalhador de viver daquele

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povo, na busca pelo essencial. Convivendo com os moradores da região do Campo

Grande, pude perceber o quão eles são batalhadores e vestem a camisa de seus

objetivos em comunidade. Mesmo diante de suas várias dificuldades, não desistem

de seus sonhos e esperança por dias melhores, expressados pela manifestação

religiosa popular.

Tenho muito carinho e afeto nessa realidade pastoral, pois procuro aprender

com todos, e quero continuar fazendo o que gosto muito de fazer: trocar

experiências e histórias, conviver e conhecer as várias realidades existentes além da

minha que trago, discernir e alimentar meu chamado vocacional e missionário junto

ao povo, sendo cada vez mais eu em minha essência, simplicidade, humildade e

disponibilidade em servir por amor a Cristo e a Igreja, a exemplo de Santo Afonso

Maria de Ligório.

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2012.

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ANEXO T - QUESTIONÁRIO

Os Redentoristas chegaram a Campinas em 1977. Entre os missionários que

vieram, estava Luiz Scudeler Gonzaga, que atualmente reside em uma das

comunidades Redentoristas e trabalha em São Paulo e que se propôs a responder

esse questionário. Sua contribuição é rica para a nossa pesquisa, pois estamos

dando voz a uma testemunha sujeita dessa história. Agradecemos a sua

colaboração e participação.

Sebastião Fernandes Daniel, aluno do programa de Mestrado em Educação, pelo

Unisal de Americana, SP.

1 - Quais as motivações que levaram os Redentoristas a constituir uma

comunidade em Campinas?

É preciso levar em consideração que a Província de São Paulo vivia uma profunda

inquietação quanto à formação dos que se pretendiam serem sacerdotes. Havia um

bom grupo de membros que desejavam que a filosofia voltasse a fazer parte da

formação sacerdotal pós-noviciado; e outros que apostavam na formação filosófica

como necessário amadurecimento para que se fizesse a opção religiosa no

noviciado. Mas, ao mesmo tempo, que esse período não fosse apenas mais uma

etapa do então seminário menor: ginásio e colegial, atualmente colegial. Veja essa

etapa também estava em questionamento, pois se tornava inviável

(economicamente) um estudo interno. Para continuar nesse sistema, o seminário

Santo Afonso deveria se tornar um colégio aberto a alunos sem pretensão de ser

seminarista. Desejava-se uma inserção no ensino oficial e governamental como fator

de amadurecimento sócio-afetivo.

Portanto, continuar o estudo na faculdade salesiana em Lorena tinha dois

inconvenientes. Do primeiro já falamos: os filósofos ficariam de certo modo ao

seminário menor pela proximidade com o Santo Afonso. O segundo ponto é que a

casa onde vivam os filósofos em Aparecida não favorecia uma convivência

comunitária pela própria disposição do prédio. Além disso, desejava que os filósofos

saíssem do contexto religioso de Aparecida cuja dimensão eclesial não correspondia

aos dos anos setenta inserção no mundo secular.

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Havia ainda o desejo de muitos que essa etapa se fizesse em pequenas

comunidades com uma formação mais personalizada.

Por outro lado, resgatar o fato histórico de que a filosofia fora de Aparecida como

uma etapa distinta do seminário menor e ainda não parte do seminário maior que

ficava apenas com os anos de estudos teológicos pós a opção pela vida religiosa do

candidato ao sacerdócio.

Concluindo, a cidade de Campinas parecia ser um local central com um contexto

eclesial favorável, um curso de filosofia que abriu a possibilidade de oferecer uma

filosofia adaptada às exigências eclesiásticas em três anos,, ficando o quarto ano

apenas para aqueles que futuramente desejassem completar o curso. Para muitos

pedir quatro anos de filosofia ao seminarista era prolongar demais os estudos, visto

que eclesiasticamente bastaria apenas dois anos de filosofia para ingressar na

teologia como curso eclesiástico de formação sacerdotal.

2 - Que cenário a Igreja vivia no Brasil naquela década e qual a sua influência

na sociedade de modo geral?

A pergunta me permite aprofundar o que mencionei acima. A inquietação

eclesiástica era uma formação libertadora, personalizada, com proximidade à vida

do povo. Assim, sair de casa e ir a uma faculdade, com ou sem tomar condução

publica era fator formativo mesmo em detrimento do tempo a ser gasto. A

convivência com os jovens da mesma idade e num curso sem conotação

seminarística, embora preenchendo suas exigências, corpo de professores leigos.

Ideologicamente pode-se dizer que era uma formação visando uma secularização

para que a opção futura fosse mais autêntica.

A atuação da Igreja tinha dois níveis. No macroeclesial tinha-se uma Conferência

Episcopal atuante politicamente com suas denúncias e apelos por justiça mediante

autuação junto aos movimentos sociais. Isso era motivo de fermentação e

engajamento também para os filósofos seminaristas. Lembro um episódio em que os

seminaristas aderem a greve que emergiu entre os estudantes da Universidade e

muitos se engajaram. A direção do curso de filosofia fez pressão junto aos

formadores para que reprimisse os seus estudantes. O que foi motivo de duplo

conflito, formadores que desejavam dar espaço para o engajamento e a

inconveniência institucional de ter seus membros envolvidos numa reivindicação não

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especificamente do curso de filosofia. Haja tensão, inclusive por parte dos demais

membros da província contrários à presença dos seus filósofos em Campinas.

Outro fator de tensão foi que no primeiro ano de estadia foi apenas o primeiro ano a

vir para Campinas, os demais filósofos ficaram em Aparecida estudando em Lorena.

Para essa primeira turma, vieram seminaristas do seminário Santo Afonso e de

Goiás (Província de Goiana). No segundo ano, igualmente viriam seminaristas

destas duas instituições, pelo que surgiu a discussão: colocar todos na mesma casa

ou criar outra comunidade. Os formadores desejavam duas casas para favorecer a

formação personalidade em pequenas comunidades e de preferência no ambiente

de periferia. Como se sabe, o primeiro grupo estava no centro de Campinas, no

Bairro do Cambuí.

A direção da Província, contrariando os formadores, comprou e adaptou uma ex-

clínica para acolher a duas turmas no Bairro Taquaral. E quando era para vir a

terceira turma, construiu-se um conjunto para acolher toda a turma. Foi questão de

tempo para que uma crise se instalasse, pois uma grande turma requer uma

disciplina rígida, com atividades e horários bem determinados, o que já não era

possível frente aos estudos numa faculdade pública e pela distância da mesma.

3 - Quais os lugares geográficos que os missionários residiram até chegar à

residência atual e o porquê das mudanças?

Como mencionei a primeira residência foi no Bairro Cambuí na rua Silva Teles,

numa residência alugada dos padres jesuítas. Próxima da paróquia Santa Cruz onde

os seminaristas puderam atuar, contudo o forte da atuação pastoral estava no

Jardim Brasília e adjacências. Bairro na periferia da cidade, os seminarista iam a pé

para faculdade.

No segundo ano, a residência foi no Bairro do Taquaral na rua cujo nome me foge

no momento. Não se pode dizer que era periferia, pois o bairro era de boas

construções, mas com bairros populares ao redor onde os seminaristas puderam se

envolver em comunidades eclesiais ainda em formação.

Depois das crises e convencimento de que comunidades grandes não eram

pedagogicamente viáveis, rumou para periferia definitivamente. Mas isso, já foge à

minha experiência direta, estava no secretariado de formação. E mais tarde no

governo com o estudo de parte dos seminaristas da filosofia fazendo o curso em

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São Paulo na faculdade Franciscana no Pari, com os seminaristas vivendo no Bairro

de São Judas (onde fui diretor dois anos – 1987-1989) e um grupo no bairro próximo

ao Terminal Rodoviário do Tietê e do Presídio do Carandiru (1988...)

4 - Como você vê hoje a missão da comunidade Redentorista em Campinas?

Ela continua atual? Quais aspectos seriam pertinentes a serem destacados?

A minha visão dessa etapa de formação deve continuar em Campinas, pois

preenche os requisitos para o tipo de formação que se requer para essa etapa.

Tenho consciência que há uma diferença muito grande entre os anos setenta e hoje.

Sempre houve uma resistência de que os Redentoristas assumissem uma região

pastoral, hoje se percebe estar sendo importante como outrora se imaginava que

era. Além disso, com a decisão de um propedêutico perto e independente do

universo religioso de Aparecida e com um estudo especifico, prepara melhor os anos

da filosofia. Há problemas e ajustes a serem feitos como uma equipe formadora

mais permanente e com um pensar formativo mais unificado (não uniforme!). Há

avanços significativos que dá para perceber no curso de teologia, mas não se

percebe que a formação consiste tanto filosófica e, depois, teológica seja essencial

para a atuação pastoral num mundo de profunda transformação. A religiosidade na

pós-modernidade parece mais festiva do que uma fé consciente e engajada. São

outros tempos!

5 - Há outros aspectos que você julga importantes ser comentados?

Sim, a formação sacerdotal continua a se alimenta de uma expectativa quantitativa

do que qualitativa. Se forma para quê: administração paroquial? Diretoria de radio?

Televisão? Show man? Seja a Igreja não sabe ainda o que será o ser padre para os

novos tempos e como as congregações como será o ser religioso nesse mesmo:

novos tempos.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Sebastião, eu estou à disposição para replica ou ulteriores perguntas!

Luiz Gonzaga Scudeler

Fonte: CSSR, Seminário São Clemente, 2013.

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APÊNDICES

APÊNDICE I - A FORMAÇÃO RELIGIOSA REDENTORISTA EM SUAS ETAPAS

Primeiros contatos – formação inicial

Por formação inicial entende-se o processo formativo que inicia com a

Promoção Vocacional e se conclui com a profissão Perpétua, correspondendo todos

aqueles que aspiram fazer parte da vida Redentorista na Província de São Paulo.

Entende-se por Promoção Vocacional o conjunto de atuações junto aos

jovens que manifestam um desejo inicial de ser Redentorista, quer como padre ou

irmão religioso consagrado.

A Promoção Vocacional visa pelo testemunho e interesse de tosos os

confrades, padres e irmãos, despertar e cultivar no jovem a chamado para o

seguimento de Cristo Redentor, apresentando-lhe de forma clara a possibilidade de

o realizar na Vida Redentorista, pela solidariedade e pelo anuncio da Boa-nova aos

abandonados e pobre.

Na Província de São Paulo, a promoção vocacional é coordenada pelo

Secretariado Vocacional, que integra grupo de formadores, e é constituído pelo

Governo Provincial com um número suficiente de religiosos que possam atender a

contento às necessidades do acompanhamento dos vocacionados, desde o seu

despertar até a sua escolha numa comunidade formativa da Província.

A Promoção Vocacional, tem sua sede em São Paulo. É um órgão que

proporciona aos vocacionados as condições para se conhecerem mais

profundamente a Congregação e a exigência do seguimento de Jesus Cristo. Após

um período de um ano de acompanhamento, ou mais, o jovem recebeu a visita aos

menos de um dos promotores vocacionais em sua família, participou de encontros e

retiros. Cabe ao Secretariado Vocacional a função de convocar aqueles jovens

candidatos que apresentam sinais de vocação Redentorista, para que façam a

Convivência Vocacional. Essa semana, os jovens convivem com os promotores

vocacionais, formadores e psicólogos, durante uma semana, aonde são realizadas

diversas atividades: integração, psicodinâmicas e outros momentos avaliativos.

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Aspirantado

Esse período tem como objetivo fazer com que o jovem conheça e

experimente a vida Redentorista, receba formação específica para aquilo que

almeja, ou seja, formação para ser um religioso, como, padre ou irmão Redentorista.

O Aspirantado, como sendo etapa de formação inicial, corresponde à inserção inicial

dos jovens numa comunidade de formação da Província. Tem a duração mínina de

dois anos para todos os candidatos, podendo se estender até três anos, segundo as

necessidades do formando. Aos candidatos a irmãos que tiverem concluído o ensino

médio, essa etapa terá a duração de pelo menos um ano, antes da etapa seguinte.

A finalidade desse tempo formativo é trabalhar aquelas áreas básicas para que o

aspirante atinja um bom desempenho humano, adquirindo conhecimentos

intelectuais e religiosos, indispensável para um sólido e constante processo de

aperfeiçoamento espiritual e vocacional. Essa fase de formação considera também,

convivência comunitária, vida de trabalho, oração, estudo, pastoral e lazer.

Atualmente essa etapa de formação acontece em dois seminários. Os

candidatos a vocação sacerdotal, residem no Seminário Santo Afonso, em

Aparecida, SP e fazem o ensino médio em colégio particular. Os candidatos a irmão,

moram no Seminário São Geraldo Majela, em Sorocaba, SP, também estudam em

colégio particular. Esses recebem uma formação específica para irmãos.

Postulantado

Compreende a uma etapa de aprofundamento dos elementos fundamentais

para a vocação Redentorista, inserindo o postulante (seminarista0 progressivamente

na Vida Religiosa, aprofundando com ele o conhecimento da vida e missão da

Congregação, para o seu discernimento quanto à opção vocacional a ser abraçada e

que culmina com a opção pelo noviciado, que é a etapa seguinte.

Para aqueles jovens que desejam ser padres, corresponde a toda etapa de

filosofia, enquanto aos jovens que desejam ser irmãos, é uma etapa de no mínimo

dois anos, podendo ser mais, equivale ao estudo específico, profissionalizante ou

superior.

A etapa da filosofia, é um tempo de formação específica para a vida

presbiteral, segundo as exigências eclesiásticas, e é assumida pela Congregação

como um tempo de discernimento vocacional, que é oferecido ao postulante, para o

seu desenvolvimento cultural e para aperfeiçoamente em sua formação na fé cristã,

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para o exercício do ministério sacerdotal na vida consagrada Redentorista. Espera-

se que o jovem alcance a maturidade humano-psicológica e crescimento espiritual

desejado.

Dentro do processo pedagógico do postulantado, é dada especial atenção

ao último ano, correspondente ao pré-noviciado, sendo uma preparação mais

profunda da espiritualidade Redentorista e uma experiência mais íntima de Deus.

Julga-se que, o jovem recebeu elementos suficientes com o grau de sua maturidade,

para de modo livre, dar mais um passo em seu processo vocacional, escolhendo a

primeira experiência de vida religiosa, na etapa do noviciado.

Noviciado

O noviciado, normalmente corresponde ao período de um ano, podendo ser

prolongado por mais seis meses. Nessa etapa, tanto os candidatos a padres e a

irmãos, são inseridos em uma comunidade religiosa, aonde todos os confrades já

são religiosos de votos. É um ano em que os noviços experimentam a vida

consagrada Redentorista, possibilitando a ele ao final da etapa fazer a escolha de

modo mais radical.

Essa etapa, a formação acontece interna, os noviços estudam

acompanhados do mestre, ou de assessores, a teologia da vida consagrada,

incluindo os votos de pobreza, obediência e castidade. O mestre é, um padre, com

experiência de vida religiosa Redentorista, conhecedor do carisma e missão da

Congregação. Proporciona aos noviços um estudo sistematizado sobre o carisma da

Congregação, e sobre, a vida do fundador, tendo em vista, o discernimento e a

escolha vocacional de forma mais consistente.

Ao final da etapa, os jovens que manifestam desejo e maturidade para

continuar o processo, recebem os primeiros votos religiosos, são de modo

temporário, com possibilidade de renovação por quatro anos, até a decisão de fazê-

los perpetuamente.

Juniorato

É um passo da formação em que o jovem é chamado de juniorista (junior) à

vida religiosa ou de frater (irmão), pois, todos vivem um estilo de vida comum,

alicerçada nos votos e nos ensinamentos de Evangelho, tendo como modelo Jesus

Cristo. Essa etapa corresponde ao período que vai da emissão dos votos

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temporários até a profissão perpétua, geralmente, são quatro anos, tempo dos

estudos superiores de teologia, no cumprimento das determinações canônicas ao

estado sacerdotal. O desenvolvimento e as orientações desses estudos são

supervisionados e promovidos por professores de teologia, em estreita cooperação

com os formadores responsáveis.

Durante os estudos da teologia, os estudantes moram em São Paulo,

divididos em quatro casas. Exercem os trabalhos pastorais nas periferias onde estão

localizadas as casas de formação: Ipiranga, Cidade Tiradentes, Sapopemba e

Diadema. O intuito é que os estudantes de teologia, ou de outras ciências, como

acontece com os irmãos, possam fazer a integração entre teoria e práxis, ajudando

as comunidades na reflexão, na celebração e nas lutas em prol de mais dignidade

para todos.

A ordenação diaconal e a sacerdotal, somente acontece depois da

conclusão do curso e com o TCC apresentado com todas as normalidades exigidas,

respeitando as normas, tanto da faculdade, como as da Santa Sé.

Ao termino dessa etapa, encerra a formação inicial. Os já religiosos passam

a pertencer à formação continuada, com seus curós específicos, qualificações na

pastoral, capacitações, reciclagens e outros.

Fontes:

ManualeFormatorumCongregationisSanctissimiRedentoris. Edição Portuguesa. Roma, 2009.

Plano de Formação Redentorista. RatioFormationisC.Ss.R. Roma, 2003

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APÊNDICE II – LIVRO DO TOMBO

Decreto de criação da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório. Pelo presente decreto fica erigida canonicamente a Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório, em Campinas, desmembrada da Paróquia de Jesus Cristo Libertador . Estas são as divisas da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório: Considere-se como ponto inicial da descrição de limites ,a confluência da Rua Maria Lúcia de Castro e Rua Manoel Pereira e seguindo desta enkibga reta imaginária em direção aos loteamentos, Residencial Novo Mundo e Liliza e por perto este na direção do Rio Capivari, seguindo por este até o município de Indaiatuba e por este aos limites do Município de Monte Mor até em direção do Bosque do Parque Valença II, excluindo - o, seguindo pela Rua Olindo Gardelin e cruzando com a Rua Maria Lúcia Pereira de Castro e seguindo por ela até o cruzamento com a Rua Manoel Machado Pereira, ponto inicial desta descrição. Ficam pertencendo á Paróquia as seguintes comunidades: Nossa Senhora de Fátima - Jardim Liza, Nossa Senhora de Guadalupe - Parque Valença I, Nossa Senhora de Lourdes - Jardim Novo Maracanã, Nossa Senhora do Carmo - Jardim Maracanã, Rainha da Paz - Santa Clara, Sagrada Família - Parque Itajaí III e IV , São Luiz Gonzaga - Residencial São Luiz, São Sebastião - Campina Grande, Santíssima Trindade - Parque Floresta, Santo Antônio de Santana Galvão - Parque São Bento II. São Paróquia Limítrofes: Dom Bosco, Santa Inês, Nossa Senhora de Lourdes ( Helvetia), Santa Rita de Cássia - Indaiatuba , Santo Antônio - Monte Mor, Nossa Senhora Aparecida - Jardim Rosolém - Hortolândia, São Pio X. A sede da Paróquia será a Igreja da Comunidade Jesus de Nazaré, Rua José Bressani, Número 86 - Parque Itajaí II - 13058-081 - Campinas Cúria Metropolitana de Campinas, 17 de Maio de 2008. Ano do Centenário da Arquidiocese deCampinas . Para o adequado cuidado pastoral da Paróquia de Santo Afonso Mario de Ligório em Campinas, por esta provisão e na conformidade com o Cânon 540, nomeamos o Rev.mo Padre Antônio Carlos Barreiro, CSsR, seu administrador Paróquial. Para Melhorar atendimento Pastoral Concedemos-lhe a faculdade, por justa causa celebrar duas vezes em dias de semana e até três vezes nos domingos e festas de preceito, quando o bem dos fiéis o exigir , de acordo com as normas dos cânones 905 e 951 do Direito Canônico. Concedemos ainda os poderes para no ato da confissão absorver e dispensar a Censura reservada ao Cânon 1398 (aborto) sempre que houver sinal de arrependimento e desejo de conversão do fiel culpado. Cúria Metropolitana de Campinas, 31 de junho de 2008. Em 01 de Agosto de 2008, na ocasião da Festa de Santo Afonso Maria de Ligório, Fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, na Comunidade Jesus de Nazaré na Santa Missa, foi lida a provisão nomeando o Reverendíssimo Padre Antônio Carlos Barreiro - CSsR, administrador paroquial da Paróquia, de acordo com as normas da igreja. Presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Campinas Dom Bruno Gamberini e na presença do Superior Provincial da Província de São Paulo, o Padre Luis Rodrigues Batista, São Paulo-SP, Padre Marcelo Conceição Araújo, conselheiro provincial da Província de São Paulo, Aparecida-SP, Padre Edvaldo Manoel de Araújo, superior e Diretor do Seminário Redentorista São Clemente, Campinas-SP, Ir. Walter Souza da Conceição do seminário Redentorista São Clemente, Campinas-SP, Padre Geraldo de Paula Souza e Padre Fábio Evaristo Resende Silva, formadores do Seminário Redentorista São Clemente, Campinas-SP, os padres diocesanos Pe. Bruno Alencar Alexandroni do Santuário de Nossa Senhora Guadalupe, Pe. Afonso da Paróquia

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São Pio X, Pe. Dalmírio Djalma do Amaral e Pe. Rafael Capelato da Paróquia Jesus Cristo Libertador, Pe. João Batista Cesário da Paróquia Universitária da PUC Campinas, Pe. Marcelo de Oliveira da Paróquia Auxílio da Humanidade, Diácono Sebastião Roberto de Abreu da Paróquia Jesus Cristo Libertador e seminaristas diocesanos, as Irmãs da Congregação de São Paulo de Chartres, oblatos, leigos e seminaristas Redentoristas. Estiveram presentes também Loades do Colégio Imaculada de Campinas, Pedro Serafim secretário do colégio Imaculada, vereador Carlos Signorelli, Engenheiro Daniel, Arquiteta Lívia. Oficializada a paróquia, começa os trabalhos de organização pastoral, bem como dos setores administrativos. A partir da criação da Paróquia na data do decreto, no decorrer dos dias Pe. Barreiro decide onde ficaria a secretaria paroquial, sendo instalada na Comunidade Jesus de Nazaré. Em Reunião Ordinária do Conselho de pastoral da então Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório com inicio ás 14h30 do dia 06 de junho, na comunidade Nossa Senhora Guadalupe, se encaminhou a organização de várias pastorais. presente Pe. Barreiro e os representantes das comunidades. A apresentação das equipes de coordenação paroquial foi feita por setor e por nome no dia 27 de junho. E assim ficou aprovado por todos e foi assumido para segundo semestre de 2008, a seguinte orientação pastoral: A PARÓQUIA QUER SER UMA IGREJA QUE: Tenha como modelo as primeiras Comunidades Cristãs;Cultive relações fraternas;Integre as Comunidades e as áreas pastorais em espírito de comunhão, participação, corresponsabilidade;Seja ministerial, alicerçada na Palavra de Deus, e alimentada pela Eucaristia; Encarnada em nossa realidade e comprometida com o Projeto de Jesus Cristo; Promova o protagonismo dos leigos e leigas incentivando a participação de novos agentes;Seja missionária e solidária. Como linha de ação: PARTILHA SOLIDÁRIO, PROFÉTICA, MATERIAL E ESPIRITUAL, NOS NÍVEIS ECLESIAL E SOCIAL, COM ESPÍRITO DE ACOLHIDA, DIÁLOGO E PARTICIPAÇÃO. As coordenações deverão se voltar para um ministério de animaçãoimportante na comunidade ena pastoral, que integra as forças vivas através de ações concretas. Uma boa animação, aberta a Deus e às pessoas, faz a comunidade e a pastoral prosperar e o Reino de Deus acontecer. O ministério da animação é um serviço para aquele que serve na alegria, porque a palavra “evangelho” é “boa notícia”; e uma animação estressada, desanimada ou acomodada, não consegue anunciá-lo bem. A animação é colegiada, a qual indica uma pessoa para animar, articular e conduzir o trabalho na equipe, podendo haver rodízio de quem encaminha tais trabalhos. O indicado ou indicada não é aquele que sabe tudo, e que decide tudo. Animar, articular e conduzir os trabalhos exige espírito de equipe, acolhida e humildade. Entendemos como animação, o serviço exercido em todas as instâncias: Na Pastoral, (nível de Comunidade ou na Paróquia) quem anima é uma equipe; Na Comunidade, quem anima é o Conselho Pastoral da Comunidade (CPC); Na Paróquia, quem anima é a Equipe Colegiada da Paróquia (ECP). ATITUDES QUE SE PRECISA PARA ANIMAR BEM: Acolher, é umaconstante abertura ao outro.Escutar e dialogar, não ser autoritário e nem impor idéias e decisões. Participar para saber o valor das conquistas e o sofrimento dos erros cometidos. A animação não se improvisa e nem fica ao sabor do imediatismo ou do gosto de uma pessoa.Conhecer o assunto que vai animar. Deve compreender e entender os limites dos outros.Examinar a realidade, ouvir os envolvidos, buscar o auxílio necessário e encaminhar os assuntos decididos.Ter equilíbrio e controlar os impulsos para manter-se no objetivo traçado. Conhecer os pontos fortes e fracos dos membros da equipe e tomar consciência das

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limitações para superá-las.Observar, ouvir e prudência no falar defatos relacionados com a vida de pessoas ou da comunidade.Partilharos problemas da comunidade ou da pastoral, superar a mentalidade de competição e de prestígio. Preocupar com a realidade local, mantendo contado com o Conselho Popular, Associação dos moradores do bairro, Conselho Local de Saúde, Conselho de Escola etc. COM ESSAS ATITUDES A ANIMAÇÃO (PASTORAL, COMUNIDADE, ÁREA OU PARÓQUIA) REALIZA UM SERVIÇO QUE:Inclui as pessoas, somando os dons que os integrantes possuem. Anima e conduz a comunidade e a pastoral no crescimento fraterno e na abertura para a missão. Leva a comunidade e a pastoral à atingir seu objetivo, tomando as decisões necessárias. Apresenta para ajudar a resolver os problemas. Delega responsabilidade, tarefa e autonomia a outros que não sejam da animação. Aanimação deve ser simples, mas com solidez e competência, criando raízes em Jesus Cristo; deve ser capaz de perseverar nos momentos mais difíceis. Afinal, o Reino que buscamos não é meu e nem seu, é de Deus. O Conselho Pastoral da Paróquia assume também as diversas instâncias pastorais: CONSELHO DE PASTORAL DA COMUNIDADE (CPC)O CPC é um organismo que auxilia e promove a ação pastoral e os cuidados administrativos da Comunidade, em comunhão e sob a orientação do Pároco em conjunto com a Equipe Colegiada de Pastoral Paroquial. É a instância de coordenação colegiada da comunidade.O CPC é composto de membros ativos na vida da comunidade, participantes das celebrações e das atividades promovidas pela mesma e conscientes da importância do envolvimento da comunidade na organização pastoral da Área e da Paróquia em seu conjunto. Dos membros do CPC, se espera uma participação consciente e competente, uma presença atuante em função da comunidade e da Área, capacidade de acolhimento e de diálogo, testemunho de fé e prudência cristã.São membros do CPC: um representante de cada pastoral ou movimento atuantes na comunidade. Deste grupo, serão indicados, conforme os critérios próprios: o tesoureiro (a), vice tesoureiro (a), coordenador (a), vice coordenador (a), secretário (a), sendo um fixo e outro rotativo. (todos os membros atuantes no CPC, inclusive o coordenador (a), podem ser indicados para compor o CP, evitando-se, porém, o acumulo de representatividades em uma única pessoa). O Pároco, a coordenação da Equipe Colegiada de Pastoral Paroquial poderão participar das reuniões quando assim julgarem conveniente ou quando forem solicitados.O CPC se reunirá mensalmente, de preferência após a reunião do Conselho de Pastoral da Área que ocorrerá freqüentemente no primeiro domingo de cada mês. As datas devem ser previamente fixadas a partir do calendário paroquial. CONSELHO DE PASTORAL DA PARÓQUIA é instância de organização pastoral, que agrupam as comunidades que formam, atualmente, a Paróquia Santo Afonso. Formado por representantes das comunidades (CPC). O CPP um organismo que planeja, toma decisões, Executa e avalia a Pastoral Orgânica, em comunhão e sob a orientação do Pároco em conjunto com a Equipe Colegiada de Pastoral Paroquial. É a instância de coordenação colegiada da Paróquia.O CPP é formado por membros ativos na vida das comunidades, participantes das celebrações e das atividades promovidas pela mesmas e conscientes da importância do trabalho corresponsável, numa Igreja de participação e comunhão. Dos membros do CPP, se espera uma participação consciente e competente, uma presença atuante em função das comunidades da Paróquia, capacidade de acolhimento e de diálogo, testemunho de fé e prudência cristã.São membros do CPP: dois representantes de cada CPC, sendo um representante fixo e outro rotativo, conforme organização interna do CPC

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de cada comunidade. Dentre os representantes fixos, conforme os critérios próprios, serão indicados: o coordenador (a), vice coordenador (a), que irão também compor a Equipe Colegiada de Pastoral Paroquial e secretário (a). Um representante de cada Eixo Pastoral (Bíblico-catequético, Sócio-transformador, Movimentos e Organismos), também participará do CPP. O CPP se reunirá mensalmente, de preferência no primeiro domingo de cada mês. As datas devem ser previamente fixadas a partir do calendário paroquial. Primeiro domingo do mês de Dezembro, as Comunidades e todas as forças vivas da Paróquia realizarão a Assembleia Paroquial, conforme o costume. EQUIPE COLEGIADA DE PASTORAL PAROQUIAL (ECP). A ECP é um organismo que coordena a Pastoral Orgânica da Paróquia em seu conjunto, orientando o trabalho das comunidades de modo a possibilitar a autonomia de cada uma, nos assuntos que competem a elas, e garantindo a comunhão, sobretudo nas decisões tomadas em Assembleia Paroquial. A ECP é composta de membros ativos das Áreas, que tenham inserção nas comunidades de origem, participantes das celebrações e das atividades promovidas pelas mesmas e conscientes da importância do trabalho corresponsável, numa Igreja de participação e comunhão. Dos membros do ECP, se espera uma participação consciente e competente, uma presença atuante e boa visão de conjunto da Paróquia, capacidade de acolhimento e de diálogo, testemunho de fé e prudência cristã. São membros da ECP: dois representantes de cada CPA (coordenador e vice-coordenador), os padres e representantes dos religiosos e religiosas que atuam na Paróquia. Dentre os membros se escolherá um (a) secretário (a) que deverá elaborar as atas das reuniões e proceder à sua leitura no início de cada reunião, convocar para as reuniões extraordinárias e ajudar na elaboração da pauta para as reuniões. A ECP se reunirá mensalmente, de preferência antes das reuniões dos CPA’s (conselho pastoral de área). As datas devem ser previamente fixadas a partir do calendário paroquial. As pastorais se organizam em eixos: Bíblico-catequético - Catequese, Vocacional, Liturgia, Dízimo, Juventude, Batismo, Ministérios, Familiar, Grupos de rua, Escola da Fé; Sócio-transformadora -Pólo da Solidariedade, Pastoral Operária, Pastoral da Criança, Grupo de Mulheres, Pastoral da Saúde, Vicentinos, Conselho Popular, Movimentos - Renovação Carismática, Mãe Rainha, Apostolado da Oração, Legião de Maria, Organismos - Cons. Miss. Paroquial, Cons. Econômico, Cons. da Partilha, Comunicação. O atendimento do Pe. Barreiro na secretaria será quartas feiras período da tarde e sábados período da manhã. No dia 19 de Julho teve um encontro com jovens que receberão as 17h00 no salão da comunidade Nossa Senhora Guadalupe a visita da imagem de Nossa Senhora em todas comunidades. Dia 20 de julho foi realizado a reunião para catequistas de todos níveis na comunidade Jesus de Nazaré as 16h00 . No dia 01 de agosto de acordo com o escrito acima na transcrição da criação, por ocasião da festa de Santo Afonso Maria de Ligório, na Comunidade Jesus de Nazaré na Santa Missa, foi lida a instalação da paróquia e a provisão nomeando o Pe. Antonio Carlos Barreiro como administrador da Paróquia Santo Afonso, de acordo com as normas da Igreja. No dia 03 de agosto de 2008 as 14h30 reunião do cpp na comunidade Jesus de Nazaré na reunião para os integrantes teve formação sobre o que é ser líder, foi realizado escola da fé na paróquia e sairá três ônibus para festa de Nossa Senhora na praça Arauto da Paz, iniciará o curso Bíblico do CEBI no dia dezessete de agosto missa de posse do Padre Dalmírio as dezenove horas na comunidade Dom Oscar. Dia15 de Agosto foi realizado a reunião com a pastoral da criança na comunidade Nossa Senhora do Guadalupe. . Dia 24 de agosto as 16h00 encontro de formação Litúrgico Pastoral na comunidade Santíssima Trindade em29 de Agosto esteve visitando a

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Paróquia a Irmã Orlanda da Congregação Franciscana missionária coração Imaculada de Maria. Em 30 de Agosto esteve Visitando nossa Paróquia o Pe. Hemi da diocese de Caxias do Sul. Ele estava em Campinas participando do curso do Centro de Evangelização e Serviço a Educação Popular (CESEP). No mesmo dia às 15h00 reunião com todos os agentes da pastoral do batismo na comunidade Nossa Senhora Guadalupe. No dia 31 de Agosto foi realizada uma missa de ocupação do terreno, área chamada Alto Belém, área doada pelo senhor João Vialta à Câmara Municipal de Campinas, nessa área a comunidade pretende implantar projetos sociais através da Associação Afonsiana, ligada à Paróquia Santo Afonso. No dia 06 de setembro reunião do CPP na comunidade Frei Galvão que deu inicio as 14h30 iniciou a reunião com formação com o seguinte tema Agir cristão na política, abrirão vaga para vinte pessoas da paróquia com o curso de informática na Puc. Aconteceu no dia 06 e 07 de Setembro na praça Concórdia, Festa na comunidades. Reunião da Pastoral da Família no dia 11 de setembro as 20h00 na comunidade Nossa Senhora de Fátima e no dia 21 de setembro reunião com as catequistas na comunidade Nossa Senhora do Carmo as 14h30. No dia 04 de outubro reunião do CPP na comunidade Sagrada família as 15h30 foi o primeiro encontro com o grupo da juventude paroquial e no dia 20 de outubro reunião com agentes e ministros da saúde os que estão exercício e os que estão em formação. Em novembro de 2008 iniciamos o encontro de formação para ministros que serão investidos para atuarem em suas comunidades. Ainda nesse mês foi realizado o primeiro evento Paroquial no centro comunitário Pisão já no dia 01 de Novembro reunião do CPP na comunidade Rainha da Paz as 15h30 foi falado e discutido sobre o teatro da paixão de Cristo que será realizado em Dezembro este primeiro teatro na paróquia e foi decidido pelo conselho do CPP que todo segundo Final de semana do mês será a celebração da partilha. No dia 07 de dezembro assembleia paroquial com a presença dos Conselhos e das coordenações pastorais na casa dos anjos, das 08h00 ás 17h00 para traçar o plano de pastoral paroquial para o biênio 2009 e 2010. A assembleia assume a mesma orientação pastoral até então assumida para o segundo semestre de 2008. No dia 21 de Dezembro das 08h00 as 17h00 retiro de Espiritualidade com os agentes que se prepararam para serem investidos ministros da palavra, eucaristia, saúde e agentes que participam da escola da fé.

Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013.

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APÊNDICE III – CRONOGRAMA DE FORMAÇÃO DO POSTULANTADO

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Font e

Fontes:

ManualeFormatorumCongregationisSanctissimiRedentoris. Edição Portuguesa. Roma, 2009.

Plano de Formação Redentorista. RatioFormationisC.Ss.R. Roma, 2003

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Apêncies

APÊNDICE IV - QUESTIONÁRIOS

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Fonte: Paróquia Santo Afonso, 2013.

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