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A História de Balaão segundo o historiador judeu Flávio Josefo Narradas em “História dos Hebreus (Antiguidades Judaicas)” A obra completa de Flavius Josephus - De Abraão à queda de Jerusalém (70 d.C.) - pode ser baixada GRATUITAMENTE em: http://www.4shared.com/document/Q4mcJVt3/Antiguidades_Judaicas_ Flvio_Jo.html Apresentação Flávio Josefo foi um escritor e historiador judeu que viveu entre 37 e 103 d.C. Seu pai era sacerdote, e sua mãe descendia da casa real hasmoneana. Portanto, Josefo era de sangue real. Ele foi muito bem instruído nas culturas judaica e grega. Falava perfeitamente o latim — o idioma do Império Romano — e também o grego.

A História do profeta Balaão segundo o historiador judeu Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas)

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A História de Balaão segundo o historiador judeu Flávio

Josefo

Narradas em “História dos Hebreus (Antiguidades Judaicas)”

A obra completa de Flavius Josephus - De Abraão à queda de Jerusalém (70

d.C.) - pode ser baixada GRATUITAMENTE em:

http://www.4shared.com/document/Q4mcJVt3/Antiguidades_Judaicas_

Flvio_Jo.html

Apresentação

Flávio Josefo foi um escritor e historiador judeu que viveu entre 37 e 103 d.C. Seu

pai era sacerdote, e sua mãe descendia da casa real hasmoneana. Portanto, Josefo era de

sangue real. Ele foi muito bem instruído nas culturas judaica e grega. Falava perfeitamente o

latim — o idioma do Império Romano — e também o grego.

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Flávio Josefo é considerado um dos maiores historiadores de todos os tempos. Acha-

se ele, devido à sua importância não somente aos judeus mas também a toda a humanidade,

ao lado de Heródoto, Políbio e Estrabão. Embora não fosse profeta, e apesar de não contar

com a inspiração dos escritores bíblicos, mostra-nos ele claramente como as profecias do

Antigo Testamento cumpriram-se na vida dos filhos de Abraão.

A História de Balaão segundo o historiador judeu Flávio

Josefo

Antiguidades Judaicas

Livro Quinto________________________

CAPÍTULO 6

O PROFETA BALÃO TENTA AMALDIÇOAR OS ISRAELITAS A ROGO DOS MIDIANITAS E DE BALAQUE, REI

DOS MOABITAS, MAS DEUS O OBRIGA A ABENÇOÁ-LOS. VÁRIOS ISRAELITAS, E ESPECIALMENTE ZINRI,

LEVADOS PELO AMOR ÀS FILHAS DOS MIDIANITAS, ABANDONAM A DEUS E SACRIFICAM AOS FALSOS

DEUSES. CASTIGO ESPANTOSO QUE DEUS LHES MANDA, PARTICULARMENTE A ZINRI.

165. Números 22, 23 e 24. Balaque, rei dos moabitas e unido aos midianitas pela

amizade e por uma antiga aliança, começou a temer por si mesmo ao ver o progresso dos

hebreus. Ele não sabia que Deus lhes havia proibido empreender a conquista de outros

países que não o de Canaã. Assim, por um mau conselho, resolveu opor-se a eles. Todavia,

como não ousava atacar uma nação cujas vitórias haviam tornado orgulhosa e altiva, pensou

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apenas em impedi-la de crescer e de continuar progredindo. Mandou por isso embaixadores

aos midianitas, a fim de deliberar a respeito do que deveriam fazer.

Os midianitas enviaram esses mesmos embaixadores, juntamente com os homens

mais importantes dentre o povo, a Balaão — célebre profeta e amigo de Balaque —, que

morava próximo do Eufrates, para rogar-lhe que viesse fazer imprecações contra os

israelitas. Ele recebeu muito bem os embaixadores e consultou a Deus para saber o que lhes

responder. Deus proibiu-o de fazer o que desejavam, e por isso Balaão respondeu-lhes que

BEM QUERIA PODER TESTEMUNHAR A AFEIÇÃO QUE LHES TINHA, mas Deus,

ao qual devia o dom da profecia, o proibira de aceitar a proposta, porque Ele amava o povo

ao qual eles queriam obrigá-lo a amaldiçoar. Por esse motivo, ele os aconselhava a fazer a

paz com os israelitas.

Voltaram os embaixadores com essa resposta, mas os midianitas, instados pelo rei

Balaque, enviaram uma segunda embaixada ao profeta. COMO ESTE DESEJAVA

AGRADÁ-LOS, consultou de novo a Deus, o qual, JULGANDO-SE OFENDIDO,

ordenou-lhe que fizesse o que os embaixadores queriam. Balaão, NÃO PERCEBENDO

QUE DEUS LHE FALARA ENCOLERIZADO PELO FATO DE ELE NÃO TER

SEGUIDO A SUA ORDEM, partiu com os embaixadores. No caminho, encontrou uma

estrada entre dois barrancos, tão estreita que mal dava para passar, e aí um anjo veio ao seu

encontro.

Quando o asno sobre o qual Balaão estava montado percebeu o anjo, quis voltar atrás

e apertou o seu senhor tão fortemente contra um dos muros que o feriu, sem que os golpes

dados pelo profeta, pela dor que sentia, pudessem fazer o animal caminhar. Como o anjo

permanecesse parado e Balaão continuasse a bater no asno, Deus permitiu que o animal

falasse ao profeta, com palavras tão distintas quanto uma criatura humana teria podido

proferir, que era estranho que, não tendo ele, o animal, dado o menor passo em falso, Balaão

lhe batesse e não visse que Deus não aprovava que o profeta fosse atender ao desejo

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daqueles a quem ia encontrar.

Esse fato prodigioso espantou o profeta, ao mesmo tempo que o anjo lhe aparecia e o

repreendia severamente por bater tanto no asno, sem motivo, quando era ele mesmo quem

merecia ser castigado, por resistir à vontade de Deus. Essas palavras aumentaram o espanto

de Balaão, e ele quis voltar atrás, mas Deus lhe ordenou que continuasse o caminho e só

falasse o que Ele lhe inspirasse. Assim, ele foi ter com o rei Balaque, que o recebeu com

alegria, e pediu ao príncipe que o fizesse levar a alguma montanha de onde pudesse ver o

acampamento dos israelitas. Balaque, acompanhado por vários de sua corte, levou-o ele

mesmo a uma montanha que distava do acampamento uns sessenta estádios. Balaão, depois

de refletir, disse ao rei que fizesse erguer sete altares, para neles oferecer a Deus sete touros

e sete carneiros. Isso se fez, e o profeta ofereceu as vítimas em holocausto, para saber de

que lado surgiria a vitória.

Dirigindo depois a palavra ao exército dos israelitas, assim falou: "Povo bem-

aventurado, do qual o próprio Deus deseja ser guia e quer cumular de benefícios, velando

incessantemente pelas vossas necessidades. Nenhuma outra nação vos igualará em amor

pela virtude, e os que nascerem de vós ainda vos hão de sobrepujar, porque Deus, que vos

ama como sendo o seu povo, vos quer fazer o povo mais feliz de todos os homens que o Sol

ilumina com os seus raios. Vós possuireis esse rico país que Ele vos prometeu. Vossos

filhos possuí-lo-ão depois de vós, e as terras e o mar ressoarão com a fama do vosso nome e

admirarão o brilho de vossa glória. Vossa posteridade multiplicar-se-á de tal modo que não

haverá lugar no mundo onde não se difunda. Exército bem-aventurado, que por maior que

sejais sois composto por descendentes de um único homem. A província de Canaã ser-vos-á

suficiente agora, mas um dia o mundo inteiro não será grande o bastante para vos conter: o

vosso número será igual ao das estrelas. Não povoareis somente a terra firme, mas também

as ilhas. Deus vos dará em abundância toda sorte de bens durante a paz e vos fará vitoriosos

na guerra. Assim, devemos nós desejar que os nossos inimigos e os seus descendentes

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ousem combater contra vós, pois não poderão fazê-lo sem a sua completa ruína, de tanto que

Deus, que se compraz em elevar os humildes e humilhar os soberbos, vos ama e favorece".

Balaão não pronunciou essas palavras proféticas de si mesmo, mas por inspiração do

Espírito de Deus. O rei Balaque, ferido de dor, disse-lhe que aquilo não era o que ele lhes

havia prometido e censurou-o porque, depois de haver recebido grandes presentes para

amaldiçoar os israelitas, ele lhes dava, ao contrário, mil bênçãos.

O profeta respondeu-lhe: "Credes, então, que quando se trata de profetizar depende

de nós dizer ou não o que desejamos? É Deus quem nos faz falar como lhe apraz, sem que

tenhamos parte alguma nisso. Não me esqueci do pedido que os midianitas me fizeram. Vim

com a intenção de contentá-los: não pensava em publicar elogios aos hebreus nem falar dos

favores de que Deus resolveu cumulá-los. Mas Ele foi mais poderoso que eu, que resolvera,

contra a sua vontade, agradar aos homens. Pois quando Ele entra em nosso coração torna-se

dono dele. Assim, por desejar conceder felicidade a essa nação e tornar imortal a sua glória,

Ele pôs-me na boca as palavras que pronunciei. No entanto, como os vossos pedidos e os

dos midianitas são-me assaz importantes e para não deixar de fazer tudo o que dependa de

mim, sou de opinião que se ergam outros altares e se façam outros sacrifícios, a fim de eu

ver se poderemos aplacar a Deus com as nossas orações!"

Balaque aprovou essa proposta. Os sacrifícios foram renovados, mas Balaão não

pôde conseguir de Deus a permissão para amaldiçoar os israelitas. Ao contrário, tendo-se

prostrado em terra, predizia as desgraças que sucederiam aos reis e às cidades que os

combatessem, entre as quais algumas que ainda não foram construídas. Mas o que aconteceu

até aqui às que conhecemos, tanto em terra firme quanto nas ilhas, nos faz crer que o resto

desse oráculo um dia há se de realizar.

166. Números 25. Balaque,. muito irritado por ver-se desiludido em suas esperanças,

despediu Balaão sem lhe prestar homenagem alguma. Tendo o profeta chegado próximo do

Eufrates, pediu para falar ao rei e aos príncipes dos midianitas, aos quais disse: "Já que

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desejais,, ó rei, e vós, midianitas, que eu atenda em alguma coisa aos vossos rogos, contra a

vontade de Deus, eis tudo o que vos posso dizer: não espereis que a raça dos israelitas

pereça pelas armas, pela peste, pela carestia ou por qualquer outro acidente, pois Deus, que

a tomou sob a sua proteção, a preservará de todas as desgraças. Ainda que eles sofram

algum desastre, levantar-se-ão com mais glória ainda, pois se tornarão mais sensatos pelo

castigo. Mas se quereis triunfar sobre eles por algum tempo, dar-vos-ei o meio para tanto.

Mandai ao seu acampamento as mais belas de vossas filhas, bem adornadas, e ordenai-lhes

que de nada se esqueçam para suscitar amor aos mais jovens e aos mais corajosos dentre

eles. Dizei-Ihes que quando os virem ardendo de paixão por elas finjam querer retirar-se e

quando rogarem que fiquem respondam que não é possível, a menos que eles prometam

solenemente renunciar às leis de seu país e o culto ao seu Deus para adorar os deuses dos

midianitas e dos moabitas. É o único meio que tendes para fazer com que Deus se encha de

cólera contra eles".

Dizendo essas palavras, partiu. Os midianitas não titubearam em executar logo o

conselho, isto é, enviar as suas filhas e instruí-las conforme ele lhes havia dito. Os jovens

hebreus, arrebatados pela beleza das moças, conceberam uma ardente paixão por elas,

declarando-a, e a maneira pela qual elas lhes responderam acendeu-a ainda mais. Quando as

moças os viram perdidamente enamorados, fingiram querer voltar ao seu país, mas eles,

com lágrimas, pediram-lhes que ficassem e prometeram desposá-las, tomando a Deus como

testemunha do juramento que faziam: não as amariam somente como esposas, mas as

tornariam senhoras absolutas deles próprios e de todos os seus bens.

Responderam elas: "Não precisamos de bens ou de algo que nos possa fazer felizes,

sendo nós muito queridas por nossos pais, tanto quanto podemos desejar, e não viemos aqui

para fazer comércio com a nossa beleza, mas, considerando-vos estrangeiros pelos quais

nutrimos grande estima, quisemos fazer-vos esta cortesia. Agora que demonstrais tanto afeto

por nós e tanto desprazer em ver-nos partir, não poderíamos deixar de ser vencidas pelos

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vossos rogos. Assim, se quereis, como dizeis, dar-nos a vossa palavra de nos tomardes por

esposas, que é a única condição capaz de nos reter, ficaremos e passaremos convosco toda a

nossa vida. Mas tememos que, depois de vos terdes cansado de nós, nos devolvais

vergonhosamente, e vós nos deveis perdoar um temor tão razoável".

Os moços, enamorados, ofereceram-se para dar as garantias que elas desejassem de

sua fidelidade, ao que as moças responderam: "Pois se tendes essa intenção, e como

constatamos que tendes costumes diferentes dos de todos os outros povos, como o de só

comer certas carnes e usar determinadas bebidas, é necessário, se nos quiserdes desposar,

que adoreis os nossos deuses. Do contrário, não poderemos crer que o amor que dizeis sentir

por nós seja verdadeiro. Afinal, não se poderia julgar estranho adorardes os deuses do país

para onde ireis, aos quais todas as outras nações adoram, ou censurar-vos por isso, enquanto

o vosso Deus só é adorado por vós e as leis que observais vos são todas particulares. Assim,

toca-vos escolher: ou viver como os outros homens ou ir procurar outro mundo, onde

possais viver como vos apraz".

Esses infelizes, levados por sua brutal e cega paixão, aceitaram as condições:

abandonaram a fé de seus pais, adoraram vários deuses, ofereceram-lhes sacrifícios

semelhantes aos dos midianitas e comeram indiferentemente de todas as iguarias. Para

agradar àquelas moças, que se tornaram suas esposas, não temeram violar os mandamentos

do verdadeiro Deus. E todo o exército viu-se num momento contaminado pelo veneno

espalhado pelos moços, e a antiga religião ficou exposta a grave risco. Uma nova rebelião,

mais perigosa que as primeiras, já começava a se esboçar.

Os moços, tendo experimentado as doçuras da liberdade que lhes davam as leis

estrangeiras de viver segundo desejassem, deixavam-se levar sem nenhum obstáculo e

corrompiam com o seu exemplo não apenas o povo, mas até mesmo pessoas de maior

distinção. Zinri, chefe da tribo de Simeão, desposou Cosbi, filha de Zur, um dos príncipes

de Midiã. E, para agradá-lo, ofereceu sacrifícios segundo o uso desse país e contra as ordens

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contidas na lei de Deus.

Moisés, vendo tão estranha desordem e temendo-lhes as conseqüências, reuniu o

povo e sem censurar a ninguém em particular, receando fazer desesperar os que julgando

poder esconder a própria falta eram capazes de voltar ao dever, disse-lhes que era coisa

indigna de sua virtude e da de seus antepassados preferir a voluptuosidade à religião; que

eles deviam cair em si mesmos enquanto ainda era tempo e mostrar a força de seu espírito,

não desprezando as leis santas e divinas, mas reprimindo a paixão; que seria estranho, após

terem sido tão sensatos no deserto, se deixarem levar num país tão belo a tais desordens,

perdendo na abundância o mérito que haviam conquistado durante a carestia.

Enquanto Moisés procurava com essas palavras levar os insensatos a reconhecer o

próprio erro, Zinri retrucou-lhe: "Vivei, Moisés, se bem vos parece, segundo as leis que

fizestes e que um longo uso até hoje autorizou, sem o qual há muito tempo lhes teríeis

deixado o jugo e aprendido à vossa própria custa que não devíeis assim nos enganar. Por

mim, quero que saibais que não mais obedecerei aos vossos tirânicos mandamentos, porque

bem vejo que sob os vossos pretextos de piedade e de nos dar leis da parte de Deus

usurpastes o governo por meios de artifícios e nos reduzistes à escravidão, proibindo-nos

prazeres e tirando-nos a liberdade que todos os homens nascidos livres devem ter. Havia,

acaso, em nosso cativeiro no Egito algo tão rude quanto o poder que vos atribuis, de nos

castigar como vos apraz segundo leis que vós mesmos estabelecestes? Vós é que mereceis

ser castigado, porque, desprezando as leis de todas as outras nações, quereis que somente as

vossas sejam observadas e preferis assim o vosso juízo particular ao de todo o resto dos

homens. Assim, como creio muito bem feito o que fiz e que era livre para fazer, não temo

declarar diante de toda esta assembléia que desposei uma mulher estrangeira. Ao contrário,

quero que o saibais de minha própria boca e que todos o saibam. É verdade também que

sacrifico aos deuses aos quais proibis sacrificar, porque julgo não me dever submeter à

tirania de receber somente de vós o que se refere à religião e não quero que me obrigueis a

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desejar somente o que quereis nem que tenhais mais autoridade sobre mim do que eu

mesmo".

Zinri falava assim tanto em seu nome quanto no dos que eram de sua opinião. O povo

aguardava em silêncio e temeroso o término dessa grande polêmica, porém Moisés não lhe

quis responder, temendo incitar ainda mais a insolência de Zinri e que outros, imitando-o,

aumentassem o tumulto. Assim, a assembléia se dissolveu, e as conseqüências desse mal

teriam sido ainda mais perigosas não fora a morte de Zinri, que se deu como conto a seguir.

Finéias, que sem contestação era tido como o primeiro de seu tempo, tanto por causa

de suas excelentes virtudes quanto pelo privilégio de ser filho de Eleazar, sumo sacerdote e

sobrinho de Moisés, não pôde tolerar a ousadia de Zinri. Com receio de que o desprezo

pelas leis aumentasse ainda se ele ficasse impune, resolveu vingar aquele tão grande ultraje

contra Deus. Como não houvesse coisa que não fosse capaz de fazer, porque não tinha

menos coragem do que zelo, foi à tenda de Zinri e matou-o com um golpe de espada,

morrendo também a mulher deste.

Vários outros moços, levados pelo mesmo espírito de Finéias e animados pela sua

coragem e exemplo, lançaram-se sobre os que eram culpados do mesmo pecado de Zinri e

mataram grande parte deles. E uma peste enviada por Deus fez morrer não somente todos os

outros, mas também os parentes deles, que, em vez de repreendê-los e impedir que

cometessem tão grave pecado, a ele os haviam levado. O número dos que pereceram desse

modo foi de quatorze mil.

167. Números 31. Nesse entremeio, Moisés, irritado com os midianitas, mandou o

exército marchar para exterminá-los completamente, como relatarei depois de narrar, em seu

louvor, uma coisa que não deve passar em silêncio. É que, embora Balaão tivesse vindo a

rogo dessa nação para amaldiçoar os hebreus e depois Deus o tivesse impedido, ele dera

aquele detestável conselho de que acabamos de falar, com o qual julgava poder arruinar

inteiramente a religião de nossos pais. Moisés, no entanto, concedeu-lhe a honra de inserir

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aquela profecia em seus escritos, ainda que teria sido fácil ao legislador atribuí-la a si

mesmo sem que ninguém o pudesse censurar. Mas ele quis deixar à posteridade um

testemunho tão vantajoso em sua memória. Deixo, porém, a cada qual que julgue como

quiser e volto ao meu assunto.

Moisés enviou somente doze mil homens contra os midianitas, tendo cada tribo

fornecido mil combatentes. Deu-lhes por chefe a Finéias, que acabava de restaurar a glória

das leis e de vingar o crime que Zinri, violando-as, havia cometido.

CAPÍTULO 7

OS HEBREUS VENCEM OS MIDIANITAS E TORNAM-SE SENHORES DO PAÍS.

168. Quando os midianitas viram os hebreus se aproximarem, reuniram todas as suas

forças e fortificaram todas as passagens por onde eles poderiam entrar em seu país. Travou-

se o combate: os midianitas foram vencidos, e os hebreus mataram um número tão grande

deles que mal se podiam contar os mortos, entre os quais estavam todos os reis: Hur, Zur,

Reba, Evi e Requém, o qual deu nome à capital da Arábia, que o conserva ainda hoje e que

os gregos chamam Petra. Os hebreus saquearam toda a província e, para obedecer à ordem

que Moisés dera a Finéias, mataram todos os homens e todas as mulheres, sem poupar

ninguém, exceto as moças, das quais levaram umas trinta e duas mil, e fizeram tal presa que

tomaram cinqüenta e dois mil sessenta e sete bois, sessenta mil asnos e um número incrível

de vasos de ouro e de prata, de que os midianitas se serviam ordinariamente, tão

extravagante era o seu luxo.

Assim, Finéias voltou vencedor, sem ter sofrido perda alguma. Moisés distribuiu

todos os despojos: deu uma qüinquagésima parte a Eleazar e aos sacerdotes e dividiu o resto

entre o povo, que por esse meio ficou em condições de viver com maior abundância e de

desfrutar em paz as riquezas que havia conquistado valorosamente.