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Anarchai Temas de metafísica não-standard Hilan Bensusan

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AnarchaiTemas de metafísica não-standard

Hilan Bensusan

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Tramas e paisagens

Uma metafísica de paisagens coleciona itens, faz um almoxarifado. É como se tudo pudesse ser visto desde uma visão de parte alguma. Uma metafísica de tramas entende que além da lista de dramatis personae do mundo, há uma trama.

Exemplo 0: o contraste entre duas maneiras de entender o que é uma linha reta, a segunda das quais endossada por Spinoza: uma linha reta como um conjunto de pontos alinhados ou como um ponto em movimento.

Questões de redução: toda trama pode ser reduzida a uma lista de almoxarifado?

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Tramas e paisagens (exemplos) Exemplo 1: Singularidades em fuga (nem unidades no mundo,

nem matéria-prima, nem trajetórias, nem substrato) versus capacidades, propriedades disposicionais, potências que podem ser listadas.

Exemplo 2: O tempo como composto apenas pela série B – como uma galeria de paisagens – e portanto visto do alto de uma visão de parte alguma versus a inclusão da série A onde há uma localização, um elemento tensed, os eventos não podem ser vistos de um ponto de vista absoluto.

Exemplo 3: Uma ontologia apenas da organização (como uma partitura, um roteiro, um organograma) versus uma ontologia em que há um plano de imanência, um plano dos exemplos, das instanciações, onde é possível que duas coisas esbarrem.

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Tramas e paisagens (mais exemplos) Exemplo 4: Interacionismo versus fundacionalismo.

Uma tradição interacionalista diz que interações são irredutíveis a seus componentes. Mark Bickhard editou um número da Synthese sobre isso em 2009.

Exemplo 5: Anomalias e exceções; podemos vê-las como sendo meramente epistemológicas ou podemos vê-las como sendo parte do mundo. Trizes versus matrizes.

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Origem do Anarchai: criticando quatro teses

1. Uma ontologia pode ser feita de uma vez por todas – a ontologia pode estar em construção, não é só o que não é natural que é inacabado.

2. Ontologias são feitas em filosofia – a ontologia é importante demais para depender do crivo de quem faz filosofia; ela é tocada por passagens de romances, por relatos de animais em seus nichos, por entre-gestos de danças, por gritos em passeatas.

3. Uma ontologia é uma descrição – ela está no meio das coisas; pode ser que ela só possa ser feita em linguagem performativa já que os predicados são atores e não personagens.

4. Uma ontologia é uma imagem do mundo (uma paisagem) – ela pode ter outras formas, pode ser feita de tramas, pode ser uma reportagem de alguma an-arché.

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Excessos e Exceções: por uma ontologia não fascista 1

Libere a ontologia do peso de ter pretensões unitárias e totalizantes. Nem sequer um princípio de fuga ou de insurreição pode ter esse caráter – interessa o que surpreende e não o que fica compreendido. Mesmo o polemos, o atrito e o embate entre as todas as coisas, não alcança tudo, o polemos também tem seus perigos de formar ordem estabelecida.

Considere que a ontologia é proliferativa e não-hierárquica; que ela é composta por relações entre potencias ao invés de camadas de dominação. A ontologia é geradora, é aberta. Trata-se de um darwinismo generalizado: não há espécies fixas e nem regras de geração que são independentes do meio em que as coisas se encontrem. Trata-se de um não-criacionismo ontológico que não é senão um pluricriacionismo, as coisas são criadas a partir do que já foi criado, as coisas são criadas a partir do que já há e são temperadas por elas. O polemos é pai de todas as coisas, não deus de todas as coisas. Não há ex-nihilo e nem ab-nihilo.

Permita que as categorias ontológicas possam ser elas mesmas nômades. As categorias são transitórias, categorias não são observadoras do mundo, nem organizadoras dele

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Excessos e Exceções: por uma ontologia não fascista 2

A ontologia não precisa ser parcimoniosa para ser aceita – não precisa ser desértica para ter valor; o supérfluo é a marca das possibilidades – que algo bóie sobre o que flui é uma ponta de potência para composição (a navalha de Ockham muitas vezes decepa). Toda sublevação começa com o que sobra, com o que não cabe direito, com o excesso.

O pensamento é, de algum modo, parte da ontologia e não o seu pastor. O pensamento não instaura uma outra ordem, uma torre de controle. Ele está in media res, misturado com corpos e sujeito a perspectivas.

Qualquer singularidade pode se tornar uma ordem estabelecida (um decalque), considere as singularidades como transitórias. Singularidades não são sempre indivíduos (ou mesmo pessoas) já que a noção de indivíduo pode ser aquilo que conforma as singularidades a um padrão.

Não se apegue ao que é possível dominar (ou compreender) – a ontologia não precisa ser formada por domínios. Anarquia ontológica é um mundo não pré-figurável: um mundo que experimenta. Um mundo que tenta e erra.

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Elementos de uma ontologia sem cabimento: disposiçoes e indexicalidade Potências são desafios a individuação –

propriedades disposicionais são voltadas para fora, para um elemento externo. Ontologia eleata: só existe o que tem poder causal.

Indexicalidade: demonstrativos, conteúdos de pensamento de re, propriedades relacionais tem uma semelhança com o A-ismo.

Disposicionalidade e indexicalidade: há um elemento de direcionalidade comum a ambos (mais abaixo).

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Singularidade e indexicalidade A singularidade está muitas vezes associada ao que apontamos

ou ao que podemos apontar (discriminar, re-indentificar, acompanhar).

É um “este” (estidade), ou um “agora” (ou um “aquilo” etc.) e descrições definidas como “o atual primeiro-ministro em exercício” (pelo menos em uso referencial).

Quando tentamos pensar singularidades, podem ocorrer casos de vacuidade e reduplicação massiva. Em uso atributivo, descrições definidas podem se referir ao que não pretendemos; mas também no caso de “este”, parece que precisamos que haja alguma coisa que está sendo apontada.

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Pensar uma estidade

• Quando consideramos o que ocorre quando usamos termos como “este” (ou falamos de uma estidade), aparecem duas questões:

i.                   Há um substrato no mundo correspondente ao objeto independente de suas qualidades?

ii.                 Posso pensar no objeto independentemente do que eu pense acerca de suas qualidades?

• A primeira questão é metafísica, a segunda é acerca da capacidade do pensamento de prescindir de descrições para individuar e identificar alguma singularidade.

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Objetos e propriedades, substrata e fardos

o Duas teorias clássicas sobre o que são particulares concretos (tipicamente, objetos): a) um particular concreto tem um substrato correspondente independente de suas propriedades e b) um particular concreto é um fardo de propriedades (em geral universais abstratos).

o Problemas: para a teoria dos substrata: discernibilidade dos não-idênticos; para a teoria dos fardos: identidade dos indiscerníveis.

o Alternativas: há outras teorias acerca dos particulares concretos – uma concepção popular é a concepção de Campbell que apela para particulares abstratos (tropos).

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Descrito, referido, apontado: três noções de essência A mesa que satisfaz a descrição definida (explícita

ou implícita), a mesa que estou apontando (cuja identidade depende, por exemplo, de sua origem), a mesa que eu está no lugar do que é apontado.

Uma essência capturada por descrições, uma essência indiferente a descrições e ao que está sendo demonstrado enquanto demonstrado (que aponta para um substrato) e uma essência como um lugar – uma esse-ncia (estência, uma leitura da estidade).

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A tese de Perry (TP)

TP: pensamentos com indexicais (como “eu” ou “aqui” ou “há cinco anos”) são diferentes de pensamentos que substituem indexicais por qualquer conjunto de expressões não-indexicais.

TP pode ser entendida como se a indexicalidade não fosse mais do que uma necessidade interna do pensamento dadas as nossas incapacidades cognitivas. Porém, é preciso que eu esteja apontando para alguma coisa quando penso indexicalmente independentemente do significado de qualquer expressão não-indexical.

TP parece apontar para uma individuação do que é apontado que não requeira um apelo a (expressões) não-indexicais.

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McTaggart generalizado

Podemos entender o problema de McTaggart com respeito ao tempo da seguinte maneira: a série A (tal como em ontem, hoje, amanhã) é essencial, não pode ser reduzida à série B (tal como 17, 18, 19 de setembro).

Diante disso, podemos ter duas atitudes: ou dizer que o tempo é irreal (ou apenas uma projeção nossa) ou dizer que a essencialidade da série A para se pensar temporalmente tem consequências para a metafísica do tempo.

O problema se generaliza quanto ao espaço, quanto aos mundos possíveis (o que faz o mundo possível ser atual senão um indexical, tanto no caso de Kripke quanto no caso de D. Lewis?) e quanto a todos os indexicais. Trata-se do problema de McTaggart-Perry.

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O fragmentalismo de Kit Fine 1 Kit Fine defende que há argumentos em

favor de um realismo não-standard que rejeite (pelo menos) uma das seguintes teses:

1. Neutralidade: Nenhum tempo, espaço ou perspectiva é privilegiada;

2. Absolutismo: A constituição da realidade não é irredutivelmente relativa;

3. Coerência: A realidade não é contraditória.

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O fragmentalismo de Kit Fine 2 Três realismos não-standard: o presentismo

e variações (não-neutralidade), o realismo neutro (não-absolutismo) segundo o qual há na realidade muitas perspectivas e o fragmentalismo (não-coerência).

No fragmentalismo, uma asserção p & –p não pode ser feita (a não ser que seja enunciada devagar), uma vez que cada asserção se relaciona com um fragmento (coerente) da realidade.

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Metafísicas de re ou indexicais Tudo o que existe só pode ser descrito desde uma

perspectiva, não há uma ausência de perspectiva, um grande outro, uma visão de terceira pessoa.

É como se toda enunciação de um conteúdo tivesse um caráter que é diferente do conteúdo ele mesmo. O caráter nunca coincide com o conteúdo.

Muitas (aparentes) propriedades só podem ser entendidas com uma indexicalidade implícita (ex: longe, gelado, corrente, líquido, solúvel, correto).

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Disposições e realismo modal Propriedades ou tropos modais: as disposições são

indispensáveis para uma descrição do mundo (Molnar, Mumford, Ellis).

A disposicionalidade pode ser entendida em termos de intencionalidade física; uma potência é um estado direcionado a alguma outra coisa.

Disposições invocam um realismo segundo o qual a modalidade está contida nos itens do mundo. Compatível com que semântica modal?

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Intencionalidade física

Direcionalidade. Aquilo que é intencional é direcionado a algo distinto de si mesmo. Tipicamente, direcionalidade é ser sobre alguma outra coisa.

Não-existentes: A direcionalidade pode ser rumo a algo que não existe. Podemos pensar coisas que não existem – nossas palavras podem significar sem referir. Um grão de açucar é solúvel mesmo em um deserto sem água.

Generalidade: Trata de exemplares e prototipos e não só de itens singulares ou específicos. Pensamos em flores, árvores e cadeiras. Um sal se dissolve em qualquer (protótipo de) água.

Sensitividade ao modo de apresentação: diferentes modos de apresentação geram diferentes estados intencionais. Sinne fregeanos. Opacidade das crenças e outros estados intencionais (normativos). Um sal não se dissolve em certas temperaturas etc. Uma abelha não poliniza plantas in vitro etc.

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Dispositivos Ceteris Paribus

Cada disposição está direcionada a um protótipo – o mundo está cheio de CPDs, de dispositivos que fixam e estabelecem relações necessárias. Mundos (por exemplo, do carrapato) e CPDs.

O pensamento como um CPD. O mundo se proto-categoriza por meio de

CPDs, mas são proto-categorizações situadas – o que aponta para um fragmentalismo ou para um realismo neutro.

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Indexicalidade e disposicionalidade Uma ontologia das potências entendida em termos

de CPDs é uma ontologia de protótipos situados, de direcionalidade que independe de uma visão de terceira pessoa (considere a versão física do Kripke Belief Puzzle).

Disposições podem ser entendidas como indexicais generalizados já que elas promovem eventos situados.

Entendidas como CPDs, disposições podem talvez ser parte de uma metafísica de tramas.