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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica XIMENA BLUM GARCIA ANÁLISE DO DESGASTE DE FRESAS DE TOPO DE METAL DURO REVESTIDO DURANTE A USINAGEM DA LIGA ASTM F75 CAMPINAS 2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

XIMENA BLUM GARCIA

ANÁLISE DO DESGASTE DE FRESAS

DE TOPO DE METAL DURO

REVESTIDO DURANTE A USINAGEM

DA LIGA ASTM F75

CAMPINAS

2020

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ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA XIMENA BLUM

GARCÍA, E ORIENTADA PELO PROF. DR AMAURI HASSUI

XIMENA BLUM GARCIA

ANÁLISE DO DESGASTE DE FRESAS

DE TOPO DE METAL DURO

REVESTIDO DURANTE A USINAGEM

DA LIGA ASTM F75

Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestra em Engenharia Mecânica, na área de Materiais e Processos de Fabricação

Orientador: Prof. Dr. Amauri Hassui

CAMPINAS

2020

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Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas

Biblioteca da Área de Engenharia e ArquiteturaRose Meire da Silva - CRB 8/5974

Blum Garcia, Ximena, 1993- B627a BluAnálise do desgaste de fresas de topo de metal duro revestido durante a

usinagem da liga ASTM F75 / Ximena Blum Garcia. – Campinas, SP : [s.n.],2020.

BluOrientador: Amauri Hassui. BluDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade

de Engenharia Mecânica.

Blu1. Cobalto, Ligas de. 2. Fresamento. 3. Desgaste mecânico. 4. Aspereza de

superfície. 5. Força (Mecânica). I. Hassui, Amauri, 1967-. II. UniversidadeEstadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Mecânica. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Wear analysis of coated carbide endmills during the machining ofASTM F75 alloyPalavras-chave em inglês:Cobalt alloysMillingMechanical wearRoughnessForceÁrea de concentração: Materiais e Processos de FabricaçãoTitulação: Mestra em Engenharia MecânicaBanca examinadora:Amauri Hassui [Orientador]Carlos Eiji Hirata VenturaDaniel Iwao SuyamaData de defesa: 10-08-2020Programa de Pós-Graduação: Engenharia Mecânica

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-5766-3305- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/3507503802433254

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADÊMICO

ANÁLISE DO DESGASTE DE FRESAS DE TOPO DE

METAL DURO REVESTIDO DURANTE A USINAGEM

DA LIGA ASTM F75

Autora: Ximena Blum Garcia

Orientador: Prof. Dr. Amauri Hassui

A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Dissertação:

Prof. Dr. Amauri Hassui

DEMM/FEM/UNICAMP

Prof. Dr. Daniel Iwao Suyama

FCA/UNICAMP

Prof. Dr. Carlos Eiji Hirata Ventura

DEMec/ UFSCar

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 10 de AGOSTO de 2020

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DEDICATÓRIA

A Martha L. García por inculcarme su amor a la educación y a las ciencias.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi realizado graças à ajuda de muitas pessoas com as quais

estarei sempre agradecida.

Aos meus pais Raúl e Martha, a meu irmão Fernando, o apoio incondicional

emocional e financeiro.

Ao professor Amauri, sua amizade, carinho, orientação, ética na pesquisa e

sobretudo por me aceitar no seu grupo de trabalho que foi o primeiro passo para eu

conseguir chegar até este ponto.

Ao professor Anselmo, pelas dicas para o trabalho e a vida, e por seu carinho

sempre.

Ao professor Daniel, seu apoio técnico, científico e sua abertura.

Ao Luiz C. G. Gonçalves, por sua colaboração na consecução das ferramentas

utilizadas neste trabalho e por compartilhar sempre seu amor pela ciência e pelos

trabalhos bem feitos.

Ao Ari, sua amizade e sobretudo sua ajuda técnica na realização de todos os

ensaios.

Ao professor Carlos Ventura da Universidade Federal de São Carlos, seu

tempo para me ensinar a utilizar o Alicona.

Aos técnicos do Laboratório de Materiais da UNICAMP, Claudenete, Márcia e

Eduardo, a ajuda com as análises do material dos ensaios.

Às empresas: Fundimazza pela doação do material utilizado nos ensaios,

RODER Ferramentas Industriais pela doação das fresas de topo e Oerlikon Balzers

por revestir as fresas de topo.

Aos meus colegas do laboratório: Victor, Rêner, Monica, Taty, Luciano,

Fernando, Gildeones, Pedro, Sarah, Daimer. Agradeço a amizade sincera, a cultura

brasileira, a cumplicidade, o apoio neste país e sobretudo seus aportes com visão

científica para meu trabalho de pesquisa.

Ao Carlos J. Gonzalez, agradeço seu amor e sua presença nesta aventura.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de

Financiamento 001.

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¡Qué triste sería el mundo si todo en él estuviera hecho, si no hubiera rosal que

plantar, una empresa que acometer!

Gabriela Mistral

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RESUMO

As ligas a base de cobalto cromo começaram a ser utilizadas na indústria

biomédica em meados de 1930 para a fabricação de próteses dentárias, tornando-se

numa alternativa interessante para as existentes produzidas em ouro. De maneira

similar, nas últimas décadas estas ligas ganharam espaço na produção de juntas

artificiais (joelho e quadril) tradicionalmente elaboradas em aço inoxidável. A liga

ASTM F75 é um material que resiste a ação de ambientes altamente corrosivos e

agressivos, como o interior do corpo humano, e apresentam uma resistência ao

desgaste superior à dos aços inoxidáveis o que confere maior vida às próteses.

Porém as propriedades que garantem o sucesso da utilização deste material nesta

aplicação são as mesmas que dificultam os processos produtivos necessários para a

produção das próteses nas formas e com os acabamentos desejados. Assim sendo,

o objetivo deste trabalho é contribuir à compreensão dos fenômenos que acontecem

durante a usinagem da liga ASTM F75, identificando a influência da velocidade de

corte e do avanço no desgaste de fresas de topo de metal duro revestidas com

AlTiN e AlCrN, assim como a evolução dos esforços de corte ao longo da vida das

ferramentas. Verificou-se que o aumento tanto da velocidade de corte quanto do

avanço prejudicou a vida das ferramentas utilizadas e que o principal mecanismo de

desgaste observado em todas as condições foi a adesão. Confirmou-se a

superioridade do revestimento de AlCrN que permitiu a obtenção de vidas maiores.

Por fim, em relação aos esforços de corte observou-se o aumento gradativo destes

com o aumento do desgaste das ferramentas.

PALAVRAS CHAVE: Usinagem; Fresamento; Fresas de topo; AlTiN; AlCrN;

Desgaste; Vida ferramentas; Liga ASTM F75; cobalto-cromo-molibdênio.

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ABSTRACT

Cobalt chromium alloys were first used in the biomedical industry in the mid-

1930s to manufacture dental prostheses, thus becoming an interesting alternative to

the existing ones produced in gold. Similarly, in recent decades these alloys have

gained space in the production of artificial joints (knee and hip), traditionally made

with stainless steel. The ASTM F75 alloy is a material that resists the action of highly

corrosive and aggressive environments, such as the interior of the human body, and

has a wear resistance superior to stainless steels, increasing the prostheses lives.

However, the properties that guarantee the successful use of this material in this

application are the same ones that hinder the productive processes necessary for the

fabrication of prostheses in the forms and with the desired finishes. Therefore, the

objective of this work is to contribute to the understanding of the phenomena that

occurs during the machining of the ASTM F75 alloy, identifying the influence of

cutting speed and feed on the wear of carbide end mills coated with AlTiN and AlCrN,

as well as the evolution of the cutting forces over the life of tools. It was found that

the increase in both cutting speed and feed rate impaired the tool lives and that the

main wear mechanism observed in all conditions was adhesion. The superiority of

the AlCrN coating was confirmed, which allows tools longer lives. Finally, in relation

to the cutting forces, a gradual increase was observed with the increase in tool wear.

KEY WORDS: Machining; Milling; Endmills; AlTiN; AlCrN; Wear; Tool life;

ASTM F75 alloy; cobalt-chromium-molybdenum.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Aplicações das ligas metálicas ................................................................... 19

Figura 2. Aplicações das ligas de cobalto na indústria biomédica ............................. 20

Figura 3. Dureza com respeito à temperatura para diferentes revestimentos ........... 30

Figura 4. Categorias usinabilidade ............................................................................ 32

Figura 5. Diagramas DTCR ....................................................................................... 33

Figura 6. Corpo de prova .......................................................................................... 40

Figura 7. Fresas de topo de metal duro revestido usadas nos testes ....................... 42

Figura 8. Contagem de carbonetos com ImageJ ....................................................... 47

Figura 9. Trajetórias fresas procedimento experimental ........................................... 48

Figura 10. Medição de desgaste em fresas de topo .................................................. 49

Figura 11. Aquisição dos sinais forças de corte ........................................................ 50

Figura 12. FFT sinais de força condição 1, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛 ...................................... 51

Figura 13. Filtro Butterworth utilizado ........................................................................ 51

Figura 14. Distribuição para medição de rugosidade ................................................ 52

Figura 15. MEV Liga ASTM F75 ................................................................................ 54

Figura 16. Identificação da Microestrutura da Liga ASTM F75 ................................. 55

Figura 17. Contagem por tamanho dos carbonetos .................................................. 57

Figura 18. Curva log-log tensão-deformação liga ASTM F75.................................... 58

Figura 19. Microestrutura aço 1045 ........................................................................... 59

Figura 20. Curva log-log tensão-deformação aço 1045 ............................................ 60

Figura 21. Usinabilidade ASTM F75 .......................................................................... 62

Figura 22. EDS Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ....................... 68

Figura 23. EDS Réplica 1 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ..... 70

Figura 24. EDS Réplica 2 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ..... 70

Figura 25. EDS Réplica 1 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ..... 72

Figura 26. EDS Réplica 2 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ..... 72

Figura 27. EDS Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ...................... 74

Figura 28. EDS Réplica 1 Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ....... 76

Figura 29. EDS Réplica 2 Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ....... 76

Figura 30. EDS Réplica 2 Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ..... 78

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Figura 31. MEV Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 .................... 80

Figura 32. EDS Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 .................... 80

Figura 33. Vida das ferramentas ............................................................................... 81

Figura 34. ANOVA vida da ferramenta (volume de cavaco removido) α=0,05 .......... 82

Figura 35. Gráfico efeitos principais para vida da ferramenta ................................... 83

Figura 36. Rugosidade média inicial ......................................................................... 85

Figura 37. ANOVA Rugosidade média (ferramentas novas) α=0,05 ......................... 86

Figura 38. Gráfico efeitos principais para 𝑅𝑎 (ferramentas novas) ............................ 87

Figura 39. Rugosidade média final ............................................................................ 88

Figura 40. ANOVA Rugosidade média (ferramentas desgastadas) α=0,05 .............. 89

Figura 41. Gráficos fatoriais para rugosidade média (ferramentas desgastadas) ..... 90

Figura 42. Exemplificação fração estável do sinal (um segundo) .............................. 91

Figura 43. Força de usinagem ferramentas novas .................................................... 92

Figura 44. ANOVA Força de usinagem ferramentas novas α=0,05 .......................... 93

Figura 45. Gráficos fatoriais para força de usinagem (ferramentas novas) ............... 94

Figura 46. Força de usinagem com respeito ao desgaste de flanco 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛 95

Figura 47. Força de usinagem com respeito ao desgaste de flanco 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛

.................................................................................................................................. 96

Figura 48. Evolução da força de usinagem com o desgaste de flanco condição 1 ... 97

Figura 49. Forças de corte, duas revoluções, AlTiN, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛 98

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Propriedades mecânicas de diferentes ligas de Co-Cr ............................. 22

Quadro 2. Composição química liga ASTM F75 % em massa .................................. 23

Quadro 3. Propriedades térmicas da liga ASTM F75 ................................................ 24

Quadro 4. Desgastes na superfície de folga ............................................................. 26

Quadro 5. Desgastes na superfície de saída ............................................................ 26

Quadro 6. Avarias ..................................................................................................... 27

Quadro 7. Equipamentos utilizados nos ensaios ....................................................... 39

Quadro 8. Composição química da liga utilizada nos ensaios, % em massa ............ 41

Quadro 9. Propriedades mecânicas da liga utilizada nos ensaios ............................ 41

Quadro 10. Especificações técnicas revestimentos .................................................. 42

Quadro 11. Parâmetros de corte da bibliografia ........................................................ 44

Quadro 12. Fatores e níveis utilizados ...................................................................... 46

Quadro 13. Condições ensaios ................................................................................. 46

Quadro 14. Área ocupada pelos carbonetos ............................................................. 56

Quadro 15. Propriedades para avaliar a usinabilidade .............................................. 61

Quadro 16. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 .............................. 65

Quadro 17. EDS Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ..................... 66

Quadro 18. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 .............................. 67

Quadro 19. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ............................ 69

Quadro 20. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ............................ 71

Quadro 21. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ............................. 73

Quadro 22. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ............................. 75

Quadro 23. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚 ........................... 77

Quadro 24. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚 ........................... 79

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SUMARIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15

1.1 Objetivo geral ..................................................................................... 16

1.2 Objetivos específicos.......................................................................... 16

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 17

2.1 A liga ASTM F75 e a indústria biomédica ........................................... 17

2.2 Desgastes e avarias das fresas de topo ............................................. 25

2.3 Revestimentos para ferramentas de corte .......................................... 28

2.4 Usinabilidade da liga ASTM F75 ........................................................ 31

3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 39

3.1 Equipamentos .................................................................................... 39

3.2 Materiais e ferramentas ...................................................................... 40

3.2.1 Corpos de prova ............................................................................. 40

3.2.2 Ferramentas de corte ..................................................................... 41

3.3 Planejamento experimental ................................................................ 42

3.4 Procedimento experimental ................................................................ 47

3.4.1 Análise metalográfica e quantificação de partículas abrasivas da

liga ................ ..................................................................................................... 47

3.4.2 Ensaios de vida e medição do desgaste de flanco ......................... 48

3.4.3 Aquisição do sinal de força ............................................................. 49

3.4.4 Medição de rugosidade .................................................................. 51

3.4.5 Identificação dos mecanismos de desgaste das ferramentas ........ 52

3.4.6 Medição do raio da aresta de corte ................................................ 53

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 54

4.1 Avaliação da usinabilidade da liga ASTM F75 ................................... 54

4.2 Mecanismos de desgaste presentes .................................................. 64

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4.3 Vida das ferramentas ......................................................................... 81

4.4 Acabamento das superfícies fresadas................................................ 84

4.4.1 Rugosidade média aritmética com ferramentas novas ................... 84

4.4.2 Rugosidade média aritmética com ferramentas desgastadas ........ 87

4.5 Análise sinais de força........................................................................ 90

4.5.1 Influência do desgaste de flanco na força de usinagem ................. 95

5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 100

6 TRABALHOS FUTUROS .................................................................................... 102

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 103

ANEXO A: COMPARAÇÃO ENTRE OS BIOMATERIAIS EXISTENTES ................ 109

ANEXO B: SINAIS DE FORÇAS DE CORTE ......................................................... 110

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15

1 INTRODUÇÃO

O mercado dos dispositivos médicos implantáveis foi avaliado em 42,7 bilhões

de dólares no ano 2018 e se espera continue crescendo até atingir os 55 bilhões de

dólares no ano 2025. (UGALMUGALE; SWAIN, 2019). Essa tendência se deve

principalmente ao aumento da população idosa ao redor do mundo, pois doenças

como artrite e osteoporose criam uma demanda significativa por diferentes implantes

e dispositivos ortopédicos. Segundo a OMS a quantidade de pessoas com mais de

60 anos estará ao redor dos 2 bilhões no 2050, mas em 2015 essa cifra era de 900

milhões. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018).

Além do aumento da expectativa de vida, outras tendências globais como a

pouca atividade física que desencadeiam em sobrepeso e diabetes, e, a prática de

esportes mais exigentes, resultam de igual forma na aplicação de esforços

excessivos nas articulações, aumentando assim a necessidade de implantes

ortopédicos. (IPEREM; ZANDERS, 2018).

Dessa maneira, a inovação em materiais, processos de fabricação e a inclusão

de novas tecnologias que melhorem a relação custo-benefício na produção de

dispositivos ortopédicos, poderiam representar um grande impacto em nossas

sociedades. (UGALMUGALE; SWAIN, 2019).

Esse é o contexto ótimo para o estudo das ligas de cobalto-cromo-molibdênio,

pois são materiais que apresentam boa compatibilidade com os tecidos do corpo

humano, e, embora estejam sendo utilizados na indústria biomédica desde a década

de 1930, foi nos últimos vinte anos que se viu a utilidade desses na fabricação de

dispositivos médicos implantáveis como as próteses de joelho, quadril, cotovelo e

tornozelo. (MURPHY; BLACK, 2016).

A geometria e os acabamentos que exigem esse tipo de implantes criam um

contexto desafiador para a área da usinagem, hoje parte fundamental na produção

das próteses. Principalmente em termos de produtividade, pois as ligas de cobalto

cromo são materiais duros e abrasivos, com alto módulo de elasticidade e baixa

condutividade térmica, características pelas quais são catalogados como materiais

difíceis de cortar. (IPEREM; ZANDERS, 2018).

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16

Em pesquisas como as de AHEARNE et al., (2016); AYKUT et al., (2007);

FERREIRA; SIMÕES; RELVAS, (2014), os autores observaram curta vida das

ferramentas utilizadas e acabamento péssimo durante a usinagem de ligas de

cobalto-cromo-molibdênio devido a fatores como o encruamento, a abrasividade e a

geração de calor.

Porém os trabalhos relacionados com a usinagem desta liga ainda são poucos,

o que torna o assunto interessante, pois este material está sendo bastante utilizado

comercialmente porque por um lado tem propriedades mecânicas melhores quando

comparados com os aços inoxidáveis, que são as ligas tradicionalmente usadas

neste campo. E por outro, os custos de fabricação de próteses com este material

são menores se são comparados com os custos de manufatura de implantes em

Titânio Ti6Al4V.

1.1 Objetivo geral

Contribuir para a compreensão dos fenômenos que acontecem durante a

usinagem da liga de cobalto cromo molibdênio baseada na norma ASTM F75,

principalmente em relação aos tipos e mecanismos de desgaste no fresamento com

fresas de metal duro inteiriças. Isso visando melhorar a eficiência na produção de

próteses de juntas artificiais utilizando este material.

1.2 Objetivos específicos

• Avaliar dois tipos diferentes de revestimento em fresas de metal duro inteiriço,

a saber AlTiN e AlCrN;

• Determinar qual a influência da velocidade de corte e avanço por dente no

desgaste das fresas inteiriças;

• Analisar os esforços de corte ao longo da vida da ferramenta.

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17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo são expostos os conceitos básicos necessários para o

desenvolvimento desta dissertação. Deste modo, são definidas as propriedades

físicas e mecânicas da liga ASTM F75 e posteriormente é explorado o conceito de

usinabilidade com o intuito de compreender a mecânica do fresamento deste

material.

2.1 A liga ASTM F75 e a indústria biomédica

Os materiais utilizados na indústria biomédica, também chamados de

biomateriais, são definidos como substâncias utilizadas no interior do corpo humano

ou em conjunto com este, que são concebidas para suprir parcial ou totalmente as

funções dos órgãos e tecidos que estão doentes. Estas substâncias devem ter

propriedades que combinem com às do sistema biológico e ser suficientemente

estáveis no uso pretendido. Deste modo, um material que se pretenda utilizar no

interior do corpo humano deve cumprir os seguintes requisitos: ser biocompatível,

ser esterilizável, ter propriedades físicas e químicas comparáveis com às do tecido

que está substituindo, contar com propriedades mecânicas apropriadas para a

aplicação que vai ter no interior do corpo e apresentar tempos de vida em serviço

aceitáveis dependendo de sua finalidade. (HASIRCI; HASIRCI, 2018).

Durante as últimas décadas, os biomateriais vêm sendo amplamente

desenvolvidos graças ao aumento da pesquisa interdisciplinar, que incentivou a

integração da engenharia com a ciência dos materiais e a medicina. Antigamente, os

cirurgiões e médicos eram os únicos interessados em estudar e experimentar novos

materiais, com o objetivo de diminuir a dor dos pacientes, de curar doenças e de

substituir partes do corpo que não funcionavam mais. Assim, os avanços neste

âmbito estão relacionados com a utilização de polímeros biodegradáveis, cerâmicas

bioativas e ligas metálicas com altas resistências ao desgaste no interior do corpo

humano. (NARAYAN; PILLIAR, 2009).

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As fontes de biomateriais são numerosas, estes podem ser obtidos de

materiais naturais (polímeros naturais), polímeros sintéticos, metais, cerâmicos ou

ainda compósitos, formados pela aglutinação de dois dos tipos de materiais já

mencionados. Esta variedade permite a projeção de diferentes propriedades físicas,

químicas e mecânicas, além de vantagens em termos de custos e de processos de

fabricação, dependendo da necessidade de cada corpo e de cada doença que está

sendo tratada (HASIRCI; HASIRCI, 2018). Em vista disso, no Anexo A estão

sumarizados alguns biomateriais com suas principais aplicações, além das

vantagens e desvantagens de sua utilização.

Os metais apresentam densidade e resistência mecânica altas comparadas às

dos polímeros, isto promove sua utilização na indústria biomédica com duas

finalidades principais, a primeira é substituir partes do corpo como: articulações,

ossos longos e placas cranianas, e a segunda, a produção de dispositivos de fixação

para estabilizar ossos fraturados. Além disso, os metais possuem outras

propriedades mecânicas próprias como: maleabilidade e ductilidade, que permite a

criação das geometrias complexas necessárias aos implantes usados no interior do

corpo. (HASIRCI; HASIRCI, 2018).

Uma das maiores restrições na hora de se utilizar metais como biomateriais é a

tendência à corrosão, isso ocorre porque os elétrons localizados no nível mais

externo dos átomos não estão fortemente ligados à estrutura, sendo facilmente

perdidos em reações químicas formando cátions. Além de cátions e ânions, as

interações eletrostáticas formam sais solúveis em meio aquoso, e a ocorrência

destes fenômenos aumenta a toxicidade e o risco para a saúde, além do

enfraquecimento da prótese, causando falhas prematuras. Portanto, o uso de metais

está restrito àqueles que têm a possibilidade de formar uma fina camada de óxido

que acontece quando o metal é exposto ao oxigênio, pois esta camada é capaz de

reduzir a corrosão in vivo. (HASIRCI; HASIRCI, 2018; NARAYAN; PILLIAR, 2009;

PARK; LAKES, 2007).

Desse modo, o desenvolvimento de ligas metálicas como biomateriais exige

que estas possuam características como resistência à corrosão, resistência ao

desgaste e resistência mecânica, além, de ter cores desejáveis e permitir excelente

polimento. Como exemplo destas ligas estão os aços inoxidáveis, as ligas de titânio

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e as ligas de cobalto-cromo, entre outros. (HASIRCI; HASIRCI, 2018; NARAYAN;

PILLIAR, 2009).

Na Figura 1 se observam algumas das principais aplicações dos materiais

metálicos no interior do corpo humano.

Figura 1. Aplicações das ligas metálicas

Fonte: Adaptado de (SUMITA et al., 2003)

As ligas de cobalto começaram a ser utilizadas no início do século XX, pois

neste momento houve interesse industrial em sua utilização, ressalta-se que o

cobalto, em sua forma pura, não tem resistência à corrosão e não é dúctil. Durante o

período de 1907 a 1913, Haynes desenvolveu algumas ligas a partir de cobalto-

cromo e cobalto-cromo-tungstênio, obtendo boa resistência à corrosão. Já na

década de 1930 uma liga, comercialmente denominada Vitallium, composta por 30%

de cromo, 7% de tungstênio e 0,5% de carbono em cobalto, foi usada para

fabricação de próteses dentárias metálicas, como alternativa às ligas de ouro

utilizadas tradicionalmente nesta aplicação. (BHAT, 2002).

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Em adição, nas últimas décadas este material encontrou novas aplicações, a

mais recente é a utilização em juntas artificiais como o joelho e quadril. Isto porque

as ligas de cobalto-cromo-molibdênio apresentam uma resistência ao desgaste

maior do que a dos aços inoxidáveis, materiais tradicionalmente utilizados com este

fim (BHAT, 2002). A figura 2 mostra essas duas juntas.

Figura 2. Aplicações das ligas de cobalto na indústria biomédica

Fonte: Adaptado de (AAOS, 2019; DAVIS, 2003)

Os dois elementos básicos que formam estas ligas são uma solução sólida de

cerca de 65% de cobalto e o restante cromo, sendo o molibdênio adicionado para

produzir grãos mais finos, o que resulta numa maior resistência mecânica, seja a liga

fundida ou forjada. Como estas ligas contêm elementos adicionais como carbono,

níquel, tungstênio e molibdênio não podem ser consideradas isoladas em termos de

sistemas ternários e quaternários, e, as propriedades físicas e mecânicas destas

dependem da composição química, do processo de manufatura e dos tratamentos

térmicos. (BHAT, 2002; PARK; LAKES, 2007).

As principais ligas de cobalto utilizadas em aplicações biomédicas são

produzidas por fundição ou forjamento, as ligas fundidas são feitas pelo processo de

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cera perdida (também conhecido como microfusão), no qual é feito um modelo de

cera que depois é coberto com materiais cerâmicos. Este modelo é levado até o

forno onde a cera é derretida e o modelo cerâmico permanece com a forma do

implante, assim é possível verter a liga metálica neste e depois do resfriamento

obter as próteses. (BHAT, 2002).

O processo de fundição gera grãos grandes e imperfeições metalúrgicas,

consequentemente propriedades mecânicas piores quando comparadas com as

ligas forjadas. As propriedades das ligas fundidas podem ser melhoradas por meio

de tratamentos como a aplicação de pressão isostática a quente, pois os

tratamentos térmicos oferecem um benefício bem limitado à melhora da fundição.

(BHAT, 2002).

Por outro lado, o forjamento das ligas de cobalto lhes confere uma

microestrutura com grãos finos que também permite o aumento de sua resistência

mecânica por meio de trabalho a frio. Não obstante, o forjamento de ligas de

cobalto-cromo-molibdênio demanda prensas sofisticadas e ferramentas especiais, o

que faz com que seja mais cara a produção dos implantes por forjamento do que por

fundição. (BHAT, 2002).

A resistência ao desgaste abrasivo das ligas forjadas e das ligas fundidas é

similar, porém, as próteses feitas com as ligas forjadas têm resistência à fadiga e

resistência à tração superiores quando comparadas com as fundidas, deste modo

são as preferidas em aplicações como a fabricação das hastes das próteses da

articulação do quadril, devido à dificuldade para trocar este tipo de implante. Assim,

é interessante que possuam longo tempo de vida sem sofrer fraturas ou falhas por

fadiga. Apesar disso, as ligas forjadas não são recomendáveis para as superfícies

das próteses sujeitas a rolamento, em especial nos pontos de articulações porque

suas propriedades relacionadas ao atrito são pobres, tanto com outros materiais

como consigo mesma, assim, nestes casos as ligas fundidas são preferidas. Em

adição, tanto as ligas forjadas como as fundidas apresentam excelente resistência à

corrosão, e de maneira similar a outras ligas, quando a resistência mecânica

aumenta sua ductilidade diminui. (PARK; LAKES, 2007).

Não obstante, o módulo de elasticidade destas ligas apresenta valores

ligeiramente maiores do que o dos aços inoxidáveis, mas muito superiores aos do

osso cortical, e os tratamentos térmicos e físicos não influenciam de maneira

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significativa esta propriedade. Esta diferença no módulo de elasticidade, entre o

implante e os ossos, tem implicações para os diferentes modos de transferência de

carga para o osso e, por conseguinte a maioria das cargas são absorvidas pela

prótese de forma que os ossos adjacentes sofrem uma perda de densidade, dado

que estes precisam de estímulos para seguir se regenerando. Portanto, caso

pretenda-se reduzir a rigidez dos implantes, este material pode ser substituído por

ligas de titânio que possuem densidade e módulo de elasticidade cerca de 50%

menores do que apresentam as ligas de cobalto (NAVARRO et al., 2008; PARK;

LAKES, 2007).

Por fim, as ligas de cobalto-cromo são especialmente úteis quando é

necessário um material com alta rigidez ou altamente polido e extremamente

resistente ao desgaste, e também são as menos dúcteis em comparação com as

ligas a base de ferro ou titânio (HASIRCI; HASIRCI, 2018).

As propriedades mecânicas de algumas ligas de cobalto-cromo utilizadas na

indústria biomédica são exibidas no Quadro 1, a primeira liga que aparece no quadro

é o material que será estudado neste trabalho.

Quadro 1. Propriedades mecânicas de diferentes ligas de Co-Cr

Liga

Limite de

escoamento

[MPa]

Limite de

resistência

[MPa]

Alongamento

[%]

Fadiga

em ciclos

[107]

Módulo

de Young

[GPa]

F75 fundida 448-517 655-889 8 400-500

210-234

F75 fundida +

recozida em

solução

450-530 655-890 11-17 207-310

F75 fundida +

cobertura

porosa

490 735 11 150-207

F799 forjada

(baixo carbono) 875-995 1320-1450 19-26 670-800

F799 forjada

(alto carbono) 1175 1510 10 -

F1537 forjada 1403 - 29 -

F90 forjada 448-648 951-1220 - -

Osso humano - 50-150 - - 7-30

Fonte: (DAVIS, 2003; MARTINEZ ANTUNEZ, 2017; NARAYAN; PILLIAR, 2009; PARK; LAKES, 2007)

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A liga ASTM F75 é caracterizada por ter o maior conteúdo de carbono quando

comparada com as demais ligas à base de cobalto utilizadas em implantes

biomédicos e por ser produzida pelo processo de fundição por cera perdida.

Também é o biomaterial metálico com a maior resistência ao desgaste dentre os

mais utilizados, isto graças à formação dos carbonetos M23C6, M7C3 e M6C durante a

solidificação, nos quais o M é principalmente cromo. A formação destes carbonetos

contribui para a alta taxa de encruamento da liga e para a alta resistência ao

desgaste. Isso ocorre como resultado do endurecimento destes ao redor da matriz

de cobalto quando aplicada uma carga durante a operação do componente.

(NARAYAN; PILLIAR, 2009).

Esta liga se funde entre 1350 e 1450°C dependendo de sua composição

química e apresenta uma estrutura de fundição típica, formada por camadas com

diferentes características, solidificando preferencialmente na estrutura austenítica

cúbica de face centrada, sendo as fases 𝛾 e 𝛼 com zonas interdendríticas

enriquecidas com cromo, molibdênio e carbono. A fase 𝛾 é formada em

temperaturas acima de 890°C enquanto a estrutura hexagonal compacta é estável

abaixo desta temperatura. Porém, devido ao fato de a transformação da estrutura

cúbica de face centrada para a estrutura hexagonal compacta ser lenta, a liga

geralmente é capaz de manter a estrutura cúbica de face centrada à temperatura

ambiente. (NARAYAN; PILLIAR, 2009). Por outro lado, essa liga tem uma alta

resistência à corrosão por causa do grande conteúdo de cromo que incentiva a

formação de uma camada superficial de Cr2O3. (MARTINEZ ANTUNEZ, 2017).

Quadro 2. Composição química liga ASTM F75 % em massa Elemento Min Max Elemento Min Max

Cr 27,0 30,0 P - 0,02

Mo 5,0 7,0 S - 0,01

Ni - 0,50 N - 0,25

Fe - 0,75 Al - 0,1

C - 0,35 Ti - 0,1

Si - 1,0 Bo - 0,01

Mn - 1,0 Co* balanço balanço

W - 0,2

* Aproximadamente igual à diferença para 100% da soma da

percentagem dos outros elementos especificados.

Fonte: (ASTM INTERNATIONAL, 2015)

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Os elementos que compõem esta liga são apresentados no Quadro 2. Cada

elemento e seu teor confere diferentes propriedades físicas e mecânicas ao material.

Assim sendo, o cromo melhora a resistência à corrosão e à oxidação. Com

objetivo similar é adicionado o alumínio, pois este também favorece a resistência à

oxidação devido à formação do composto intermetálico CoAl. No caso do níquel,

esse ajuda na estabilidade da matriz com estrutura cúbica de face centrada e em

adição melhora a forjabilidade do material graças à formação do composto

intermetálico Ni3Ti. (KLARSTROM, 1993).

Elementos como o molibdênio, o tungstênio e o carbono aumentam a

resistência mecânica da liga, aliás, o molibdênio também é adicionado para diminuir

o tamanho dos grãos após a fundição. No caso do titânio a resistência mecânica da

liga aumenta graças à formação de carbonetos e do composto intermetálico Co3Ti.

Finalmente a presença de boro produz também aumento da resistência mecânica da

liga por efeito da formação de precipitados e pelos contornos do grão.

(KLARSTROM, 1993).

Além da resistência à corrosão em ambientes agressivos, a liga de Co-Cr

apresenta um bom comportamento em termos da resistência ao desgaste, inclusive

quando são utilizadas em próteses que combinam partes metálicas e de polietileno

(NAVARRO et al., 2008). Por esta razão, quando a prótese é utilizada em regiões

como joelhos ou quadris nas quais a solicitação mecânica é significativa, a liberação

de partículas metálicas da liga vai ser muito menor em comparação com as que são

liberadas quando se emprega a liga de aço inoxidável F138, por exemplo.

(MARTINEZ ANTUNEZ, 2017).

Por último, no Quadro 3 são mostradas as propriedades térmicas da liga ASTM

F75. A relevância destas últimas está relacionada com seu efeito nos processos de

usinagem e no estudo da usinabilidade do material que será feito no item 2.4.

Quadro 3. Propriedades térmicas da liga ASTM F75

Propriedade Unidades ASTM F75

Condutividade térmica 𝑘 [W/m K] 13

Calor específico 𝐶𝑝 [J/kg K] 450

Difusividade térmica [m²/s] 3,00*10-6

Fonte: (BARON; DESMOND; AHEARNE, 2019)

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2.2 Desgastes e avarias das fresas de topo

Devido à natureza dos processos de usinagem as ferramentas de corte sofrem

desgaste e avarias. Quando se fala de desgaste refere-se à perda constante de

partículas microscópicas da ferramenta, enquanto o termo avarias é utilizado quando

ocorre a perda repentina de uma grande porção de material. (DINIZ; MARCONDES;

COPPINI, 2014)

Segundo DINIZ; MARCONDES; COPPINI, (2014), a vida da ferramenta é

considerada como o tempo total ou o volume de material removido até o qual a

capacidade da ferramenta para usinar é afetada de acordo com o critério de fim de

vida definido antecipadamente. Portanto, é possível delimitar os valores de desgaste

permitidos nas ferramentas a partir dos parâmetros e características próprias de

cada processo de usinagem.

Assim por exemplo em um processo de desbaste embora exista o risco de

quebra da ferramenta é permitido atingir valores de desgaste muito altos, já que não

são exigidas tolerâncias apertadas nem bom acabamento superficial. Por outro lado,

para operações de acabamento o desgaste pode não ser um bom fator de limite,

posto que é mais importante obter tolerâncias apertadas e baixa rugosidade.

Segundo a Norma ISO 8688-2:1989, que padroniza o teste de vida das

ferramentas de fresamento e especificamente na segunda parte em que se refere às

fresas de topo, a determinação da vida da ferramenta deve ser feita a partir da

medição de valores de desgaste. Além disso, sempre que ocorrer alguma avaria ou

a quebra da aresta esse instante deve determinar o fim de vida da ferramenta. Os

valores de desgaste escolhidos para determinar o fim de vida da ferramenta

dependem da quantidade de material existente para fazer os testes e do custo do

teste. Assim, quando são escolhidos valores de desgaste elevados o custo dos

ensaios ultrapassa o benefício alcançado com os resultados obtidos, porém se é

definido um limite muito baixo os resultados não serão confiáveis, pois a resposta do

teste pode estar ainda nos estágios iniciais do desenvolvimento do desgaste para as

condições dos ensaios. Desse modo as fresas de topo segundo a Norma ISO 8688-

2:1989 podem exibir os desgastes do Quadro 4 na superfície de folga, os desgastes

do Quadro 5 na superfície de saída e avarias como as mostradas no Quadro 6.

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Quadro 4. Desgastes na superfície de folga

VB1; desgaste de flanco uniforme

VB2; desgaste de flanco não uniforme

VB3; desgaste de entalhe

Fonte: Adaptado de (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2016)

Quadro 5. Desgastes na superfície de saída

KT1; desgaste de cratera

KT2; desgaste da face em forma de escada

Fonte: Adaptado de (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2016)

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Quadro 6. Avarias

Lascamento uniforme Lascamento não uniforme

Lascamento localizado Descamação

Trincas perpendiculares à aresta de

corte Trincas paralelas à aresta de corte

Trincas irregulares Falha catastrófica

Fonte: Adaptado de (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2016)

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2.3 Revestimentos para ferramentas de corte

O desenvolvimento dos revestimentos para ferramentas de corte tem como

objetivo principal diminuir o desgaste nas ferramentas de corte durante a usinagem.

Isso é possível porque os materiais duros empregados na fabricação destes

revestimentos aumentam a resistência ao desgaste, diminuem o coeficiente de atrito

e têm uma maior estabilidade química. Portanto, se for considerado que a

ferramenta continua com a tenacidade do material da base, será possível obter um

melhor desempenho e diminuir as paradas devido às falhas prematuras. (DINIZ;

MARCONDES; COPPINI, 2014; SUSKI; OLIVEIRA, 2013).

Existem diferentes técnicas para a aplicação dos revestimentos nas

ferramentas. A primeira que se utilizou industrialmente foi a técnica de Deposição

Química de Vapor, CVD do inglês Chemical Vapor Deposition. Seus primeiros usos,

na década de 1960, foram para aplicar nitreto de titânio (TiN) e carbonitreto de

titânio (TiCN) em ferramentas de metal duro, pois as temperaturas utilizadas neste

processo são da ordem dos 1000° C. Uma década depois, surgiu a técnica de

Deposição Física de Vapor, PVD, do inglês Physical Vapor Deposition, que foi

desenvolvida de maneira simultânea pela Balzers na Europa e ULVAC e Sumitomo

no Japão. Essa técnica é um processo em que os materiais para revestir estão em

estado de vapor e são condensados para formar uma fase sólida sobre o objeto a

recobrir. São utilizadas baixas temperaturas de deposição em torno de 400° a 500°

C. (MALSHE; JIANG; DHAMDHERE, 2002; SUSKI; OLIVEIRA, 2013).

Além destas duas técnicas, existem outros tratamentos de superfície utilizados

em ferramentas de corte como a deposição química de vapor assistida por plasma

(PCVD) e a deposição química de vapor com média temperatura (MT-CVD) que

trabalham em faixas de temperaturas menores do que as empregadas no CVD, 600°

a 900° e 750° a 900° C respectivamente. (DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 2014).

Os revestimentos realizados por PVD oferecem uma espessura muito uniforme

e bom controle da estequiometria, além de temperaturas relativamente baixas de

deposição e a possibilidade de aplicar simultaneamente o revestimento na peça

inteira. Como este processo necessita de temperaturas menores para aplicar as

coberturas duras nas ferramentas quando comparado com o processo CVD, permitiu

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o revestimento do aço rápido sem ocasionar a perda da dureza da matriz,

suprimindo a necessidade de um novo tratamento térmico. (BOBZIN, 2018;

MALSHE; JIANG; DHAMDHERE, 2002).

Além disso, o desenvolvimento da técnica PVD permitiu que as ferramentas

fossem recobertas com múltiplas camadas, com controle da espessura e da ordem

em que essas eram aplicadas. A estrutura multicamada alterna entre altas e baixas

tensões resultando em revestimentos com durezas muito altas, boa adesão entre as

camadas, boa tenacidade e baixa tendência à fadiga, o que reduz a presença de

fraturas se comparada com os revestimentos monocamada. (SUSKI; OLIVEIRA,

2013).

A utilização da PVD aumentou consideravelmente graças ao desenvolvimento

de novos processos que permitiram a deposição dos revestimentos em grandes

proporções e da crescente demanda por materiais e revestimentos de alto

desempenho. Os revestimentos feitos com este processo apresentam desempenho

similar ao dos revestimentos aplicados pela técnica de CVD na maioria das

aplicações, inclusive nas ferramentas de metal duro utilizadas para corte

interrompido. (SUSKI; OLIVEIRA, 2013).

Atualmente são revestidas mais da metade das ferramentas de corte que

possuem aresta de corte definida. Estes revestimentos são principalmente carboneto

de titânio TiC, carbonitreto de titânio TiCN, nitreto de titânio TiN, óxido de alumínio

Al2O3 e nitreto de titânio alumínio TiAlN, que são a base para a criação dos

revestimentos modernos chamados de alto desempenho, porém existe ainda um

grande potencial de melhora do desempenho destes. São exemplos das últimas

coberturas introduzidas com sucesso no mercado, o diamante, o diboreto de titânio

TiB2 e o nitreto de alumínio cromo AlCrN. (BOBZIN, 2018).

Segundo OERLIKON BALZERS, (2018) a escolha do método do revestimento

usado nas ferramentas de corte é determinada principalmente pelo mecanismo de

desgaste que está causando o fim da vida da ferramenta, assim como da diminuição

do coeficiente de atrito e do aumento da resistência à corrosão desejados. Desse

modo, os revestimentos de tipo PVD protegem na mesma proporção contra os

mecanismos de desgaste de abrasão e de adesão e numa proporção menor contra

o mecanismo de desgaste por corrosão. Enquanto os revestimentos do tipo CVD

protegem as ferramentas contra o desgaste por abrasão numa maior proporção do

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que os PVD, porém a proteção contra o desgaste por adesão é bem menor e contra

o desgaste por corrosão está no mesmo nível do que a proteção oferecida pelos

revestimentos de tipo PVD.

A resistência dos revestimentos contra os mecanismos de desgaste depende

da dureza a quente destes (OERLIKON BALZERS, 2018). Na Figura 3 é mostrada a

dureza de diferentes revestimentos e seu comportamento à medida que as

temperaturas aumentam.

Figura 3. Dureza com respeito à temperatura para diferentes revestimentos

Fonte: Adaptado de (OERLIKON BALZERS, 2018)

No gráfico é possível perceber que o revestimento de AlCrN é o que apresenta

maior estabilidade da dureza com o aumento da temperatura seguido pelo

revestimento de AlTiN.

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2.4 Usinabilidade da liga ASTM F75

O conceito de usinabilidade indica a facilidade com que um material pode ser

usinado por uma ferramenta de corte, de maneira que sejam atingidos certos níveis

de forma, tamanho e rugosidade.

Sabendo-se que os processos de usinagem dependem de muitos fatores,

incluindo as ferramentas de corte, a peça a fabricar, a máquina-ferramenta, o

operador da máquina, a manutenção e os equipamentos periféricos. De todos estes,

o que mais influencia a usinabilidade é a peça a ser fabricada, que englobaria o

conjunto material-geometria, e como a geometria da peça não é uma condição

comumente avaliada na determinação da usinabilidade, esta grandeza tecnológica é

estabelecida a partir das características próprias do material sendo estudado.

(STAHL et al., 2012).

Dessa maneira, a usinabilidade pode ser especificada como o resultado da

comparação de um conjunto de propriedades físicas e mecânicas entre diferentes

materiais, obtendo-se como resultado um valor numérico ou um diagrama polar

também conhecido como diagrama DTCR (Difficult to cut rating) pelo trabalho do

autor YAMANE; SEKIYA, (2004, apud FERREIRA; SIMÕES; RELVAS, 2014)

Assim as propriedades que têm influência no grau de usinabilidade de um

material são aquelas que modificam os resultados desejados do processo, como

vida da ferramenta, acabamento da peça, temperatura de corte, potência de corte,

produtividade, características do cavaco, entre outras. Portanto, pode acontecer de

se ter um material com boa usinabilidade levando em conta o acabamento da peça

usinada, mas com má usinabilidade em relação à vida da ferramenta. (DINIZ;

MARCONDES; COPPINI, 2014).

Segundo STAHL et al., (2012), podem ser diferenciadas cinco categorias

principais que representam a base do estudo do conceito tradicional da

usinabilidade, a saber, integridade superficial, forma e propriedades do cavaco,

avarias e desgaste das ferramentas, consumo de energia e forças de corte e fatores

ambientais. Estas categorias se relacionam com vários eventos físicos que

acontecem durante a usinagem e que são dependentes entre si, tais como a

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resistência ao corte, a temperatura de usinagem, a formação de aresta postiça de

corte, entre outros.

Figura 4. Categorias usinabilidade

Fonte: Adaptado de (STAHL et al., 2012)

No trabalho de YAMANE; SEKIYA, (2004, apud FERREIRA; SIMÕES;

RELVAS, 2014) foi proposta a avaliação da usinabilidade de uma liga de cobalto e

de uma liga de titânio a partir da comparação entre propriedades como dureza,

resistência mecânica e condutividade térmica, mediante a utilização de diagramas

DTCR, conforme os mostrados na Figura 5.

Essas propriedades foram escolhidas porque são as que influenciam de forma

significativa a vida das ferramentas, as forças e temperaturas da região de corte, o

acabamento da peça usinada e a forma do cavaco. Estes gráficos são construídos

por meio da normalização das propriedades de um material em relação às

propriedades do outro considerado de boa usinabilidade, neste caso um aço com

0,45%C, para o qual todas as propriedades serão consideradas como tendo o valor

igual a 1. Deste modo, quanto menor é a área ocupada no gráfico, melhor será a

usinabilidade do material em questão.

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Figura 5. Diagramas DTCR

Fonte: Adaptado de (KOIKE et al., (2009, apud FERREIRA; SIMÕES; RELVAS,

2014))

Assim a partir da Figura 5, é previsível um aumento das forças de corte durante

a usinagem das ligas de titânio e cobalto se comparadas com as forças de corte

necessárias para cortar o aço em questão, pois a dureza e a tensão de ruptura dos

primeiros são bem maiores. Além disso, devido ao alongamento, o controle do

cavaco para a liga de cobalto vai ser mais difícil enquanto para a liga de titânio vai

ser mais fácil com respeito ao aço. (FERREIRA; SIMÕES; RELVAS, 2014)

Quando analisada a usinabilidade devido às propriedades térmicas, é muito

provável que a temperatura de corte durante a usinagem das ligas de cobalto e

titânio atinja valores muito superiores aos da usinagem do aço. Como a

condutividade térmica destes materiais é baixa e será difícil retirar o calor da região

de corte, podem se apresentar altas taxas de desgaste nas ferramentas, além, de

uma baixa qualidade das superfícies usinadas, devido a tensões residuais e

alterações na microestrutura e na dureza. (FERREIRA; SIMÕES; RELVAS, 2014).

Embora sejam poucos os trabalhos já publicados em relação à usinagem das

ligas de cobalto, em seguida serão expostos os resultados obtidos por diferentes

pesquisadores que permitem obter algumas informações prévias relacionadas com a

usinabilidade destes materiais.

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AYKUT et al., (2007) avaliaram o desgaste das ferramentas, as forças de corte

e a morfologia do cavaco, durante o fresamento frontal a seco de uma superliga de

cobalto empregando fresas de metal duro com e sem revestimento. Os resultados

mostraram vida curta das ferramentas devido ao encruamento e às propriedades

abrasivas da liga, assim como, acabamento ruim da peça usinada graças à geração

de calor e à deformação plástica próprias deste material. Além disso, os autores

também observaram que a usinabilidade destas superligas não melhora com a

utilização de ferramentas novas, portanto para beneficiar o corte é necessário

diminuir a profundidade de corte, a área de contato entre a ferramenta e o cavaco, e

as velocidades de corte e avanço. Em adição os autores recomendaram a utilização

de ferramentas com cobertura, já que o calor gerado na zona de corte incentiva a

perda de afiação da aresta de corte devido às tensões térmicas.

De maneira similar SHOKRANI; DHOKIA; e NEWMAN, (2016), durante o

fresamento de alta velocidade de uma liga a base de cobalto utilizada na fabricação

de implantes dentários, observaram como a baixa condutividade térmica e a alta

tendência ao encruamento do material dificultaram o processo da usinagem. Assim,

a partir da comparação entre os diferentes ambientes estudados, os autores

concluíram que para uma velocidade de corte de 200 m/min é mais efetivo o uso de

criogenia e fluido abundante para refrigerar o processo em comparação com o MQL,

o que ressalta a importância da refrigeração mais do que da lubrificação quando se

usina este tipo de superliga.

Por outro lado, FERREIRA; SIMÕES; RELVAS, (2014), mediram a temperatura

e as forças de corte durante o fresamento de duas ligas biomédicas muito utilizadas

comercialmente na fabricação de próteses médicas, uma a base de titânio Ti-6Al-4V

e a outra a base de cobalto Co-28Cr-6Mo. Os autores registraram que para todas as

velocidades de corte testadas (50, 65, 80, 100 m/min) as forças de corte sempre

foram maiores durante a usinagem da liga à base de cobalto. Os maiores esforços

encontrados foram a uma velocidade de corte de 65 m/min devido à adesão do

material da peça na aresta de corte, este fenômeno diminuiu com a mudança da

velocidade de corte e, portanto, as forças de corte também decresceram. Por outro

lado ocorreu um aumento da dureza para todas as amostras, além disto, no caso da

liga de cobalto o aumento da velocidade de usinagem também aumentou a dureza

obtida na superfície, enquanto para a liga de titânio os resultados da dureza com a

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variação da velocidade de corte, não apresentaram diferenças significativas.

Finalmente, o acabamento nas duas ligas foi similar e não se encontrou evidência de

que o aumento da velocidade seja benéfico para diminuir a rugosidade.

Do mesmo modo, BARON et al., (2015) compararam a usinabilidade de uma

liga de cobalto (ASTM F1537), empregada na indústria biomédica e conhecida por

ser de difícil usinabilidade, com a tradicional liga de titânio Ti-6Al-4V. No decorrer

dos ensaios foram medidas as forças de corte, se verificou o estado da aresta de

corte e se avaliou o cavaco obtido. Os autores observaram que a energia específica

de corte para usinar a liga de cobalto foi maior ou igual à energia necessária para

usinar a liga de titânio, e ressaltaram que a morfologia do cavaco obtido para as

duas ligas apresentou características de cavaco segmentado.

Em um trabalho posterior BARON e AHEARNE, (2017), fizeram outros ensaios

com o objetivo de determinar os coeficientes para calcular as forças de corte da liga

de cobalto ASTM F1537 e compará-las com as forças de corte necessárias para

usinar a liga de titânio Ti-6Al-4V. A partir dos testes foi evidente que os esforços de

corte aumentaram com o aumento da espessura de corte e para todos os casos os

esforços foram maiores para a liga de cobalto. Além disso, durante a usinagem da

liga ASTM F1537 perceberam um aumento acelerado tanto da força tangencial

como da força de apoio quando eram utilizadas velocidades de corte altas e uma

influência importante da espessura de corte empregada, o que foi atribuído ao

encruamento deste material.

Além disso, estes autores também estudaram e determinaram os coeficientes

para calcular as forças de corte da liga de cobalto ASTM F75 e fizeram uma

comparação desta com a ASTM F1537 e com a liga de titânio Ti-6Al-4V (F136).

Assim, AHEARNE e BARON, (2017) encontraram que as forças de corte medidas

durante a usinagem do material F75 foram maiores quando comparadas com as dos

outros dois materiais. Para a velocidade de 20 m/min os esforços foram entre 30 e

60% maiores em relação à F136 e entre 20 e 40% no tocante à F1537, por outro

lado para a velocidade de 60 m/min os esforços foram maiores entre 60 e 80% em

relação à F136 e entre 20 e 40% no tocante à F1537. Além disso, quando

comparadas as duas ligas de cobalto, a liga F75 apresentou durezas e resistências

maiores (entre 18 e 52%). Finalmente os autores notaram uma mudança da

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morfologia do cavaco quando utilizaram espessuras de corte entre 60 e 80 μm a

uma velocidade de 40 m/min.

Num trabalho posterior, BARON e AHEARNE, (2018) estudaram os

mecanismos fundamentais da formação de cavaco na usinagem da liga biomédica

ASTM F75. Para isto realizaram um experimento fatorial completo para avaliar a

dependência da morfologia do cavaco quando eram variados fatores como a

espessura teórica do cavaco e a velocidade de corte. Como resultado obtiveram que

a segmentação do cavaco, a frequência de segmentação e o ângulo de deformação

deste são fortemente dependentes dos parâmetros de controle e também do

tamanho do grão do material. Em todos os níveis estudados se evidenciou a

presença de cavaco dente de serra e houve indícios de que a fratura foi fundamental

para o mecanismo de formação do cavaco.

BORDIN et al., (2014) em conformidade com os autores anteriores tornearam

duas ligas de cobalto, uma produzida por manufatura aditiva e outra forjada, e

afirmam que estas ligas de cobalto apresentam altas taxas de encruamento que se

incrementam com o aumento dos parâmetros de corte. Além disso, eles concluíram

que o processo de torneamento, para a liga produzida por forjamento, causou

refinamento dos grãos e deformação da camada subsuperficial.

Por outro lado, em pesquisas relacionadas com o desgaste das ferramentas

como a desenvolvida por AHEARNE et al., (2016) em que foi avaliado o desgaste

durante o fresamento da liga ASTM F75, observou-se um desgaste de flanco

progressivo e avarias como lascamento e quebra da aresta. Uma outra pesquisa

deste tipo é a de MCPARLAND et al., (2017), para a qual foi projetado um conjunto

de experimentos que permitisse a estimativa do desgaste das ferramentas a partir

do avanço e da velocidade de corte, utilizando um modelo de processo Gaussiano

hierárquico Bayesiano. Os resultados mostraram que as taxas de desgaste nas

ferramentas não têm um comportamento linear e o modelo utilizado permitiu

identificar parâmetros de corte experimentais que poderiam otimizar a vida da

ferramenta. Foi observada adesão do material da peça tanto na superfície de saída

quanto na superfície de folga das ferramentas, e em adição, quando testadas

velocidades de corte altas, as ferramentas apresentaram lascamento na aresta de

corte.

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Para dar continuidade à última pesquisa aqui exposta, BARON; DESMOND e

AHEARNE, (2019) buscaram estudar de forma mais aprofundada os mecanismos de

desgaste presentes durante o torneamento da liga ASTM F75, utilizando

ferramentas de metal duro sem cobertura. A partir dos resultados obtidos

propuseram uma hipótese de que o mecanismo de desgaste primário acontece

porque os carbonetos de tungstênio são arrancados da ferramenta com o fluxo do

cavaco devido ao cobalto do material sendo usinado ficar diluído no metal duro.

Além disso, como mecanismo de desgaste secundário aparece a abrasão que

depende das condições do processo como temperatura e pressão específica de

corte.

De acordo com o já falado por todos estes autores, AKBAR et al., (2017)

fizeram uma revisão bibliográfica sobre a usinabilidade das ligas de cobalto e

concluíram que a usinagem deste tipo de material está enfrentando muitos desafios

e dificuldades, devido principalmente às propriedades que os fazem tão

interessantes para as aplicações biomédicas e da indústria aeroespacial, sua

resistência mecânica e a resistência ao desgaste inclusive em altas temperaturas.

Adicionalmente, o estudo da integridade superficial das ligas de cobalto

utilizadas na indústria biomédica é de grande interesse porque esta é crítica na hora

de garantir a qualidade e a segurança ao usuário final.

Assim, a superfície acabada de qualquer componente, do ponto de vista da

engenharia, está influenciada pelos diferentes processos físicos e químicos que

foram atravessados para a obtenção da peça, pois são estes os que finalmente

fornecem as propriedades funcionais da superfície. (GRZESIK, 2017).

Dessa maneira, as características obtidas na superfície são particularmente

diferentes do que às do núcleo do material. Essa diferença pode ser observada na

microestrutura e no comportamento mecânico da peça, em propriedades como

resistência à corrosão/oxidação, redução do coeficiente de atrito, resistência à

fadiga, dureza, isolamento térmico, entre outros. Consequentemente, o estudo da

integridade superficial obtida a partir de processos de usinagem, oferece informação

relacionada com o desempenho futuro da peça que está sendo fabricada. (DAVIM,

2010).

Dessa forma, autores como Bordin; Bruschi; Ghiotti, (2014) estudaram os

efeitos da velocidade de corte e do avanço na integridade superficial da liga ASTM

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F1537 durante o torneamento a seco, com o intuito de diminuir a quantidade de

etapas de limpeza para retirar os resíduos de fluido das peças. Estes autores

encontraram que o avanço é o parâmetro que mais influencia a rugosidade enquanto

o aumento da velocidade de corte propicia a obtenção de superfícies mais

uniformes. Em adição, após a análise de difração por raios X observaram que todas

as condições de corte ensaiadas geraram tensões residuais compressivas na

superfície do material devido à alta taxa de deformação e que o aumento da

velocidade de corte tinha um efeito reverso a esta condição devido ao aumento da

temperatura de corte.

De outra parte, Yingfei; Muñoz De Escalona; Galloway, (2017), fresaram uma

liga a base de cobalto conhecida como Stellite 6 e avaliaram a influência dos

parâmetros de corte e do desgaste da ferramenta na integridade superficial obtida.

Eles concluíram que os parâmetros de corte têm uma influência maior do que o

desgaste no estado da superfície, porém o incremento do desgaste produz a

elongação dos grãos que estão próximos da superfície usinada, também

observaram que quando aumentavam o tempo de corte as tensões que

originalmente eram compressivas passaram a ser trativas.

Karpuschewski; Döring, (2016), de forma similar, analisaram a influência de

diferentes classes de cerâmicas e diferentes geometrias de ferramentas, na vida

destas e na integridade superficial de uma liga de cobalto usada na fabricação de

cabeças femorais. Esses autores obtiveram os seguintes resultados, no quesito da

integridade superficial, quando era mantido o mesmo inserto e testado em diferentes

velocidades de corte, as forças de corte eram menores à medida que a velocidade

de corte aumentava o que fazia com que não fosse afetada na mesma profundidade

a camada superficial. Com respeito à vida da ferramenta, os autores recomendaram

a utilização de ferramentas com pequenos raios de aresta e pequenos chanfros,

mas com ângulos de chanfro grandes.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Equipamentos

Os equipamentos que seguem fazem parte do Laboratório de Usinagem da

Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP.

Quadro 7. Equipamentos utilizados nos ensaios

Máquina-ferramenta

Os ensaios foram realizados no centro de usinagem

vertical modelo SV-40 de três eixos, do fabricante

Mori Seiki.

A máquina-ferramenta tem 22 kW de potência, uma

rotação máxima de 12.000 RPM e está equipada

com o comando CNC GE Fanuc MSC-518.

Durante a usinagem foi utilizado o fluido de corte

VASCO 6000 da Blaser, em uma proporção de 10%

de óleo e 90% de água. Foi utilizada refrigeração

convencional.

Microscópio óptico

O acompanhamento do desgaste das ferramentas foi

realizado utilizando um microscópio óptico Quimis

Q714ZT2 conectado a uma câmera digital Motic de

1.3 megapixels.

A aquisição e o processamento das imagens foram

feitos com o software Motic Image plus da mesma

câmera.

Dinamômetro

Para a medição dos sinais de força foi utilizado um

dinamômetro piezoelétrico KISTLER modelo 9257B e

um amplificador multicanal KISTLER modelo 5019B.

Os dados dos sinais brutos foram coletados por meio

do software LabVIEW e posteriormente tratados com

Python.

Rugosímetro

Os valores das rugosidades obtidas durante os

ensaios foram medidos utilizando o rugosímetro

portátil Mitutoyo modelo Surftest SJ-201P.

Fonte: Autora

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3.2 Materiais e ferramentas

3.2.1 Corpos de prova

Os corpos de prova utilizados foram obtidos por microfusão e correspondem

aos canais principais das árvores para fundição das próteses. Após a fundição o

material foi preparado e os canais ficaram com formato de prisma retangular reto,

porém só era aproveitável a parte superior destes devido a um furo que estes

apresentavam na parte inferior. Para entender melhor o corpo de prova, este é

mostrado na Figura 6, todas as dimensões estão em mm, o volume assinalado com

a cor verde corresponde ao volume usinado durante os ensaios. O material não foi

submetido a nenhum tratamento térmico.

Figura 6. Corpo de prova

Fonte: Autora

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Nos seguintes quadros são apresentadas a composição química da liga

utilizada durante os testes, assim como as propriedades mecânicas medidas a partir

do ensaio de tração. Essas informações foram fornecidas pela empresa doadora do

material.

Quadro 8. Composição química da liga utilizada nos ensaios, % em massa

Elemento % Elemento %

Cr 28,268 P 0,002

Mo 5,793 S 0,003

Ni 0,341 N 0,160

Fe 0,315 Al 0,000

C 0,177 Ti 0,001

Si 0,735 B 0,002

Mn 0,511 Co 63,463

W 0,129 V 0,009

Cu 0,009 Nb 0,003

Sn 0,003 Zr 0,078

Fonte: Empresa doadora dos corpos de prova

Quadro 9. Propriedades mecânicas da liga utilizada nos ensaios

Propriedade Unidades ASTM F75

Resistência à tração [MPa] 730,03

Limite de escoamento [MPa] 519,63

Alongamento à ruptura [%] 18,85

Fonte: Empresa doadora dos corpos de prova

3.2.2 Ferramentas de corte

Para os testes foram utilizadas fresas de topo de metal duro classe K30-K40

(CTS30D da Ceratizit) com dois revestimentos PVD diferentes, AlTiN e AlCrN. As

ferramentas foram fornecidas pela empresa RODER Ferramentas Industriais e

revestidas pela Oerlikon Balzers.

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As fresas tinham um diâmetro de 8 mm, comprimento total de 50 mm e

comprimento útil de 10 mm, apresentavam raio de ponta de 1 mm, possuíam 4

arestas de corte e o ângulo de hélice era de 30°.

Figura 7. Fresas de topo de metal duro revestido usadas nos testes

Fonte: Autora

As principais propriedades físicas dos revestimentos empregados são

apresentadas no Quadro 10.

Quadro 10. Especificações técnicas revestimentos

Material AlTiN AlCrN

Cor do revestimento Cinza-violeta Cinza-claro

Dureza do revestimento [GPa] 33 +/- 3 38 +/- 3

Temperatura máx. de operação [°C] 900 > 1100

Fonte: (OERLIKON BALZERS, 2019)

3.3 Planejamento experimental

Com o intuito de avaliar os dois tipos de revestimento propostos e pesquisar os

mecanismos de desgaste das ferramentas, assim como as forças de corte e as

rugosidades obtidas durante a usinagem da liga de Co-Cr-Mo ASTM F75, foi

proposta a realização de um experimento fatorial completo de três fatores em dois

níveis. Esse tipo de experimento permite explorar todas as combinações possíveis

dos níveis dos fatores propostos e avaliar os efeitos principais das variáveis, bem

como as interações entre essas e os termos de erro. (MONTGOMERY, 2018). Como

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fatores selecionaram-se o revestimento da ferramenta, o avanço por dente e a

velocidade de corte.

A escolha desses fatores decorreu dos conceitos básicos da usinagem e das

possíveis hipóteses que podem ser propostas a partir destes. Em vista disso, a

velocidade de corte é um parâmetro que influencia os diferentes mecanismos de

desgaste presentes no processo, como a abrasão, oxidação e difusão, pois com o

aumento da velocidade de corte e consequentemente da temperatura, as

propriedades mecânicas das ferramentas diminuem deixando-as mais susceptíveis

tanto ao desgaste como às avarias, estas últimas também incentivadas pelo

aumento da força de impacto da aresta de corte com o material. (DINIZ;

MARCONDES; COPPINI, 2014).

Por outro lado o avanço por dente é uma grandeza que não é diretamente

proporcional à potência consumida. Pois quando esse sobe, a pressão específica de

corte diminui devido a dois fenômenos principalmente, o primeiro é o aumento da

velocidade de avanço que torna o corte mais dinâmico devido à diminuição do

coeficiente de atrito; o segundo fenômeno que acontece, é a diminuição do fluxo

lateral de cavaco pois um maior volume de material está sendo transformado em

cavaco realmente. (DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 2014).

Além da contribuição à variação da potência de corte, o avanço por dente

também contribui de maneira significativa para o acabamento das superfícies

fresadas. Dado que a rugosidade real de uma superfície depende principalmente de

três fatores: a deformação plástica do material, a presença de vibrações e uma

contribuição geométrica, neste último têm influencia o avanço por dente e o raio de

ponta da aresta de corte como pode ser observado na Equação (1). (DINIZ;

MARCONDES; COPPINI, 2014; MACHADO et al., 2009).

𝑅𝑎(𝑡𝑒𝑜𝑟) = 0,5 (𝑟𝜀 − √𝑟𝜀2 − 0,25𝑓𝑧

2) (1)

Por fim, o revestimento das ferramentas também foi proposto como fator

experimental, pois hoje em dia mais da metade das ferramentas de metal duro com

geometria definida são cobertas com camadas de materiais duros. O que melhora

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suas propriedades principalmente em termos de dureza a quente e como

mencionado anteriormente a liga ASTM F75 é considerada difícil de cortar, devido

entre vários fatores a sua baixa condutividade térmica.

Para definir os níveis dos fatores escolhidos e também dos parâmetros de corte

a usar, foi tomada informação de pesquisas similares como a de Ahearne et al.,

(2016); Baron et al., (2015) e Ferreira; Simões e Relvas, (2014), ver Quadro 11, que

já usinaram este material utilizando fresas de topo de metal duro. Em adição, foram

seguidas as recomendações dos fabricantes de ferramentas, como a utilização de

velocidades de corte entre 40 e 60 m/min pois esses são os valores normalmente

utilizados industrialmente na usinagem deste tipo de liga. Também foi considerada

uma experiência prévia fresando esta liga (BLUM GARCÍA et al., 2019), e os

resultados de três ensaios preliminares sob as mesmas condições em que iam ser

feitos os ensaios finais.

Quadro 11. Parâmetros de corte da bibliografia

Publicação Revestimento

ferramentas

Características

fresas de topo

𝒗𝒄 𝒇𝒛 𝒂𝒑 𝒂𝒆

[m/min] [mm] [mm] [mm]

(FERREIRA; SIMÕES;

RELVAS, 2014) TiAlN PVD

ø = 8 𝑚𝑚 4 arestas

50

0,02 1 6 65

80

100

(AHEARNE et al., 2016)

TiAlN PVD ø = 8 𝑚𝑚

6 arestas

20 0,015 2 2,4

60

(BARON et al., 2015)

TiAlN PVD ø = 8 𝑚𝑚

6 arestas

45 0,014

1 4 60 0,028

75 0,056

Fonte: (AHEARNE et al., 2016; BARON et al., 2015; FERREIRA; SIMÕES; RELVAS, 2014; NARAYAN, 2009)

Assim, em ensaios preliminares foram testadas velocidades de corte de 60, 90,

110 e 120 m/min em conjunto com um avanço por dente fixo de 0,02 mm e fresas

revestidas com AlTiN por ser a cobertura que apresenta as menores propriedades

físicas e mecânicas se comparado com o revestimento de AlCrN. Foi realizada uma

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réplica só para cada condição e o propósito destes testes foi determinar qual seria a

melhor faixa de velocidades de corte para os testes definitivos.

Com a velocidade de corte de 60 m/min foi removido um volume de cavaco

igual a 15.456 mm3 e o valor do desgaste de flanco VB máximo obtido foi de 0,0726

mm. Como esse desgaste é praticamente imperceptível e essa quantidade de

material corresponde ao volume total de um dos 14 corpos de prova disponíveis

para os testes, decidiu-se interromper esse ensaio e experimentar uma velocidade

de corte maior.

Desse modo, a segunda velocidade de corte a ser testada foi a de 120 m/min,

inicialmente foram removidos 2.436 mm3 de sobremetal e o valor do desgaste de

flanco obtido foi de 0,121 mm, como o critério de fim de vida foi definido para um

desgaste de flanco de 0,2 mm se deu continuidade ao ensaio. Mas no começo do

ensaio a presença de faíscas tornou-se muito intensa e o ensaio foi detido antes de

que ferramenta retirasse muito material. Após retirar a fresa, esta estava toda

lascada.

A terceira velocidade testada foi a de 90 m/min, foram retirados 16.380 mm3 e

o VB máximo foi de 0,23 mm. Nesse ensaio já foi possível observar o aumento

progressivo do desgaste de flanco.

Realizou-se um último teste utilizando uma velocidade de corte de 110 m/min a

fim de melhorar o comportamento brusco que apresentou a fresa quando estava

cortando com a velocidade de corte de 120 m/min. A ferramenta chegou em 0,169

mm de desgaste de flanco após retirar 4.706 mm3. Os resultados obtidos foram um

pouco melhores pois permitiu acompanhar o desgaste de flanco de forma menos

acelerada.

Enquanto ao avanço por dente não se fizeram testes adicionais variando os

níveis deste, a definição do parâmetro se fundamentou principalmente nas

recomendações do fabricante das ferramentas e portanto dos avanços por dente

utilizados normalmente a nível industrial. Já a profundidade de corte radial 𝑎𝑒 foi

definida de forma que o centro da fresa ficasse dentro dessa largura e que o contato

entre a ferramenta e o material fosse favorável.

Dessa forma, a partir dos resultados obtidos nos ensaios prévios e da

informação fornecida por outros autores foram ajustados os níveis dos fatores

propostos para os ensaios segundo o apresentado no Quadro 12.

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Quadro 12. Fatores e níveis utilizados

Fatores Símbolo Unidade Níveis

Menor Maior

Revestimento - - AlTiN AlCrN

Avanço por dente 𝑓𝑧 mm 0,02 0,03

Velocidade de corte 𝑣𝑐 m/min 90 110

Fonte: Autora

Todas as combinações possíveis dos fatores nos níveis propostos foram

realizadas com duas réplicas, resultando assim em 16 ensaios. Utilizando Excel foi

estabelecida a ordem aleatória para a realização dos testes. As condições a serem

testadas e a ordem dos ensaios é apresentada no Quadro 13.

Durante todos os ensaios foram utilizadas a mesma profundidade radial 𝑎𝑒 de

5,6 mm que corresponde a 70% do diâmetro da fresa, e a mesma profundidade axial

𝑎𝑝 de 1 mm.

Quadro 13. Condições ensaios

Condição Ordem de Execução

Fatores

Revestimento Avanço por dente Velocidade de corte

C1 5 AlTiN 0,02 90

C2 2 AlCrN 0,02 90

C3 10 AlTiN 0,03 90

C4 11 AlCrN 0,03 90

C5 9 AlTiN 0,02 110

C6 13 AlCrN 0,02 110

C7 6 AlTiN 0,03 110

C8 3 AlCrN 0,03 110

C9 15 AlTiN 0,02 90

C10 14 AlCrN 0,02 90

C11 1 AlTiN 0,03 90

C12 8 AlCrN 0,03 90

C13 4 AlTiN 0,02 110

C14 16 AlCrN 0,02 110

C15 12 AlTiN 0,03 110

C16 7 AlCrN 0,03 110

Fonte: Autora

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3.4 Procedimento experimental

3.4.1 Análise metalográfica e quantificação de partículas abrasivas da liga

Prévio à usinagem foram preparadas quatro amostras a fim de caracterizar o

material a ser usinado. Dessa forma, no Laboratório Multiusuário de Caracterização

de Materiais da Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP foram retiradas

porções de material com 5 X 7 X 5 mm utilizando a serra de disco. Após isso o

material foi embutido em baquelite para facilitar o manuseio. Em seguida se

realizaram várias etapas de lixamento e polimento até que a superfície ficasse com

qualidade suficiente para as análises posteriores. Por fim as amostras foram

submetidas a um ataque eletrolítico com ácido oxálico (10 g ácido oxálico em 100 ml

água) e uma tensão de 6 volts durante 7 segundos. Finalmente as amostras foram

levadas ao microscópio eletrônico de varredura e ao microscópio óptico para

explorar o material.

Para determinar a porcentagem de partículas abrasivas presentes no material

foi utilizado o software ImageJ. Primeiro, foram tiradas duas fotos com uma

ampliação de 100 vezes no microscópio óptico MD IL LED da Leica. Em seguida,

após o tratamento necessário da imagem no software (calibração do tamanho,

calibração do limite das cores) se utilizou a função de contagem de partículas e se

determinou a porcentagem da área total ocupada pelos carbonetos e o tamanho

médio de cada um desses em μm². Ver Figura 8.

Figura 8. Contagem de carbonetos com ImageJ

Fonte: Autora

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3.4.2 Ensaios de vida e medição do desgaste de flanco

Durante os testes preliminares se determinou o volume de cavaco que era

necessário remover para que as fresas apresentassem um desgaste de flanco

perceptível. Assim sendo, eram realizadas de 3 a 6 passadas que correspondem a

um volume de sobremetal removido de 2.184 a 4.368 mm3, dependendo da

velocidade de corte sendo estudada. As trajetórias que seguiram as ferramentas

durante os ensaios são mostradas na Figura 9.

Em seguida a ferramenta era retirada para tirar as fotos correspondentes das

superfícies de folga das quatro arestas, imediatamente se media o desgaste de

flanco na superfície de folga das fresas e o valor do VB máximo obtido entre as

quatro arestas era adotado como o valor do desgaste para esse ponto. Esse

procedimento foi realizado até que era alcançado o VB de 0,2 mm ou até quando se

suspeitava a quebra iminente da ferramenta.

Figura 9. Trajetórias fresas procedimento experimental

Fonte: Autora

Conforme a Norma ISO 8688-2 (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR

STANDARDIZATION, 2016), o desgaste de flanco deve ser medido na superfície de

folga e em direção perpendicular à aresta de corte original, é importante observar se

o desgaste é uniforme ou se apresenta variações para medir essas variações

também.

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Figura 10. Medição de desgaste em fresas de topo

Fonte: Adaptado de (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION,

2016)

Na Figura 10 é ilustrada a forma de realizar a medição do desgaste nas fresas

de topo. Na superfície de folga mensura-se o desgaste de flanco 𝑉𝐵 e na superfície

de saída a profundidade da cratera 𝐾𝑇.

3.4.3 Aquisição do sinal de força

Para a aquisição dos sinais das forças de corte utilizou-se o mesmo corpo de

prova para todas as condições. Para a medição era feito um canal de comprimento

de 30 mm, a profundidade axial sempre foi de 1 mm, a velocidade de corte e o

avanço por dente dependiam da matriz de ensaios do experimento proposto. A

trajetória da ferramenta é apresentada na Figura 11.

Desta forma, os dados das forças foram obtidos para a maioria das condições

testadas com as ferramentas novas, depois quando as ferramentas apresentaram

um desgaste de flanco próximo de 0,1 mm e por fim quase no final da vida das

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ferramentas, para algumas condições só foi possível esse procedimento com a

ferramenta quando esta estava nova.

Figura 11. Aquisição dos sinais forças de corte

Fonte: Autora

A taxa de aquisição de dados usada foi de 5.000 Hz, respeitando o teorema de

Nyquist/Shanon que ajuda a determinar a taxa de amostragem que deve ser

utilizada para ter uma boa representação do sinal. (VIEIRA, 2020).

Para fazer as análises posteriores, todos os sinais brutos foram filtrados

usando um filtro Butterworth passa banda que só permite o passo dos sinais que

estão dentro de uma faixa de frequência determinada.

Essa faixa foi definida a partir da aplicação da transformada rápida de Fourier

FFT aos sinais mensurados e levando em conta as frequências de entrada de

dentes que para a velocidade de corte de 110 m/min foi igual a 292 Hz e para a

velocidade de corte de 90 m/min foi de 239 Hz. Assim, neste caso particular foram

removidas as frequências abaixo dos 150 Hz, como a da rede elétrica 60 Hz, e as

frequências acima dos 1500 Hz.

Nas Figura 12 e Figura 13 são apresentados os resultados da aplicação da

FFT para um dos sinais obtidos e o filtro Butterworth utilizado.

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Figura 12. FFT sinais de força condição 1, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛

Fonte: Autora

Figura 13. Filtro Butterworth utilizado

Fonte: Autora

3.4.4 Medição de rugosidade

Após a realização de 3 a 6 passadas, que correspondem a um volume de

sobremetal removido de 2.184 a 4.368 mm3, a ferramenta era retirada para

avaliação do desgaste e era realizada a medição da rugosidade do corpo de prova

que ficava preso na máquina-ferramenta.

Frequência entrada dentes

Frequência rede elétrica

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A distribuição dos pontos de medição de rugosidade e a posição do apalpador

são mostrados na Figura 14, os relógios do gráfico representam a posição de

mensuração.

Na entrada e na saída tomou-se o cuidado de fazer a medição após a

estabilização do corte. Assim como para todas as posições de fazer a medição na

região central do passe de modo que a rugosidade obtida correspondesse à deixada

pelo valor do avanço por dente definido.

Figura 14. Distribuição para medição de rugosidade

Fonte: Autora

3.4.5 Identificação dos mecanismos de desgaste das ferramentas

Após a realização de todos os ensaios, todas as fresas foram levadas para

fazer análise por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia de

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energia dispersiva (EDS) visando obter uma ideia mais clara de quais foram os

mecanismos de desgaste presentes e predominantes.

O equipamento utilizado foi um microscópio ZEISS modelo EVO MA15 que faz

parte do Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura da Faculdade de

Engenharia Mecânica da UNICAMP.

3.4.6 Medição do raio da aresta de corte

Os raios de todas as arestas de corte foram medidos utilizando microscopia

confocal no equipamento Alicona Infinite Focus SL, pertencente ao Laboratório de

Processos de Fabricação do Departamento de Engenharia Mecânica da

Universidade Federal de São Carlos.

Para a aquisição das imagens foi utilizada uma lente com ampliação objetiva

de 10 vezes. Os raios foram obtidos a partir do perfil da aresta que resultava da

medição de 100 contornos consecutivos de uma área selecionada.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Avaliação da usinabilidade da liga ASTM F75

Como dito anteriormente na revisão bibliográfica, a usinabilidade de um

material é uma grandeza tecnológica determinada a partir da comparação das

propriedades físicas e mecânicas desse material com as de um material padrão.

Esse material padrão geralmente apresenta boa usinabilidade.

Assim, para fazer a análise da usinabilidade da liga ASTM F75 serão

comparadas as propriedades desta liga com as de um aço 1045, um aço de baixa

liga e com um teor de carbono ideal em termos de usinabilidade.

As propriedades da liga ASTM F75 foram obtidas a partir da análise

metalográfica da liga antes da usinagem e da informação fornecida pelo fabricante

da liga. Os dados do aço 1045 para fazer a comparação entre os dois materiais

foram tomados das pesquisas de GALLO, (2006) e LI et al., (2019).

Figura 15. MEV Liga ASTM F75

Fonte: Autora

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Como pode ser observado na Figura 15 é possível diferenciar quatro tipos de

formações no material (retângulos brancos). Assim sendo, foi realizada uma análise

de espectroscopia por dispersão de energia (EDS) para identificar a composição

química de tais estruturas e poder definir quais são os carbonetos e quais a matriz.

Figura 16. Identificação da Microestrutura da Liga ASTM F75

Fonte: Autora

Na Figura 16 são apresentados os resultados obtidos durante o EDS. Para a

análise foram escolhidos 7 pontos, as estruturas marcadas como carbonetos na

imagem apresentaram altos conteúdos de cromo e de molibdênio e baixa

quantidade de cobalto se comparados com a porcentagem que estes devem

apresentar em geral no material, o que é um indicativo para definir os carbonetos

sendo que a leitura do carbono no equipamento utilizado não é confiável por causa

do peso atômico deste. Por outro lado, os pontos enunciados como matriz,

mostraram uma composição muito similar à da liga, sendo 60% de cobalto, 28% de

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cromo e 6% de molibdênio. Finalmente, foi analisada a estrutura esférica que

aparece no meio da imagem, mas os resultados mostraram que esta é composta

principalmente por manganês e silício, razão pela qual se prevê que é material que

não se diluiu completamente durante o processo da fusão.

A partir dessa identificação foi possível determinar a quantidade de carbonetos

por unidade de área presentes no material assim como o tamanho destes. Isto para

estimar a abrasividade desta liga seguindo a abordagem proposta por STAHL et al.,

(2012) que também propõe a quantificação dos elementos da liga que são capazes

de formar carbonetos como uma alternativa para definir a abrasividade do material.

Os resultados obtidos para a área ocupada pelos carbonetos são apresentados

no Quadro 14, no qual se determina a média para as duas amostras e se

determinam os valores do desvio padrão e do coeficiente de variação. Na Figura 17

são mostrados os histogramas que indicam a distribuição dos carbonetos por

tamanho na liga sendo estudada.

Quadro 14. Área ocupada pelos carbonetos

Amostra Contagem Área total

[um²]

Carbonetos

Tamanho médio [um²] % Área

F75_100_001 1607 15012,06 9,3 5,58

F75_100_002 1232 14129,39 11,5 5,25

Média 1419,50 14570,72 10,41 5,42

Desvio Padrão 265,17 624,14 1,50 0,23

Coef. Variação 18,68 4,28 14,45 4,28

Fonte: Autora

Dos resultados obtidos é possível afirmar que os carbonetos presentes na liga

ASTM F75 representam 5,42% da área total e que o tamanho médio destes é de

10,41 μm². O coeficiente de variação que está no final do Quadro 14 corresponde à

razão entre o desvio padrão e a média vezes cem. Foi calculado para verificar que

os dados analisados podiam ser considerados homogêneos estatisticamente.

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Figura 17. Contagem por tamanho dos carbonetos

F75_100_001

F75_100_002

Fonte: Autora

Como visto na Figura 17 o tamanho da maioria dos carbonetos está entre 8,5 e

10,5 μm² e representaram ao redor de 75% da contagem total de carbonetos para

cada amostra. Da mesma forma é importante ressaltar a presença de carbonetos

maiores entre 30 e 280 μm² pois embora sejam poucos em comparação com os já

discutidos, o tamanho destes também afeta de maneira negativa a usinabilidade do

material pois a vida das ferramentas sofrerá quedas consideráveis.

Posteriormente, foi analisado o coeficiente de encruamento do material dada

sua importante influência no estudo da usinabilidade. Este pode ser calculado como

a razão entre a resistência à tração final e a resistência ao escoamento (ver equação

(3)), ambas obtidas da curva tensão-deformação do material. Essa relação permite

determinar o aumento da resistência ao escoamento após a deformação plástica. A

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tensão de escoamento inicial é definida para o alongamento 𝜀 = 0,2%. (STAHL et al.,

2012).

𝜎 = 𝑘𝜀𝑛 (2)

𝐷𝑛 =𝜀𝑏

𝑛

0,002𝑛 (3)

Nas equações 𝜎 representa a tensão, 𝜀𝑏 é o alongamento à ruptura, 𝑛 é o

expoente de encruamento estimado e 𝑘 é o coeficiente de tensão.

Assim, a partir da informação do ensaio de tração fornecido pela empresa

doadora do material foram determinados os valores para o expoente de

encruamento e o alongamento à ruptura da liga ASTM F75.

Para fazer o cálculo do expoente de encruamento, o gráfico que se tinha da

curva tensão-deformação foi plotado em coordenadas logarítmicas e se determinou

o valor do coeficiente angular dessa nova curva, este valor corresponde ao expoente

de encruamento 𝑛. (UIJL; CARLESS, 2012).

Figura 18. Curva log-log tensão-deformação liga ASTM F75

Fonte: Autora

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A linha vermelha da Figura 18 corresponde ao ajuste da curva obtida para o

cálculo do expoente de encruamento. Assim, usando-se a equação (3) o coeficiente

de encruamento para a liga ASTM F75 é igual a 4,02.

𝐷𝑛 =0,18850,306

0,0020,306= 4,02

Em seguida procurou-se a caracterização microestrutural do aço 1045 para

determinar a abrasividade deste material, assim como a curva tensão-deformação

do aço para calcular o coeficiente de encruamento, seguindo o mesmo procedimento

já realizado com a liga ASTM F75.

Figura 19. Microestrutura aço 1045

Fonte: (GALLO, 2006)

Segundo o autor GALLO, (2006) o resultado da micrografia realizada ao aço

1045 como fornecido, indica a presença de ferrita (tonalidade cinza clara) e perlita

(tonalidade cinza escuro).

As características típicas destas estruturas nos aços são baixa dureza e

resistência à tração para a ferrita e valores intermediários destas mesmas

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propriedades para a perlita, isso devido a que a perlita é uma mistura de 88,5% de

ferrita com um 11,5% de cementita. (GALLO, 2006). Realizou-se o mesmo

procedimento já explicado anteriormente para a contagem das partículas duras

presentes no material e assim assignar um determinado valor de abrasividade para

este material.

Assim, após a análise feita utilizando o software ImageJ foi determinado que a

área ocupada pela perlita (tonalidade cinza escura) é igual ao 61,631%. Porém

como a porcentagem de cementita e portanto de partículas duras presentes nessa

região é de 11,5%, a abrasividade da amostra corresponde a 7,08% da área total

analisada.

Logo após, plotando a curva de tensão-deformação fornecida no trabalho de LI

et al., (2019) em coordenadas logarítmicas e fazendo o ajuste da nova curva (linha

vermelha) foi determinado o valor do expoente de encruamento para o aço 1045.

Utilizando a Equação (3) o coeficiente de encruamento resultante para o aço 1045 é

igual a 2,45.

Figura 20. Curva log-log tensão-deformação aço 1045

Fonte: Adaptado de (LI et al., 2019)

𝐷𝑛 =0,170,202

0,0020,202= 2,45

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Juntando as informações obtidas das propriedades mecânicas do aço 1045 e

da liga de cobalto ASTM F75, foram feitos o Quadro 15 e a Figura 21. Isso com o

intuito de fazer a comparação entre estes dois materiais e entender melhor o

comportamento da liga de cobalto durante os processos de usinagem.

No quadro, são apresentadas as magnitudes das propriedades mecânicas

escolhidas neste trabalho para analisar a usinabilidade. Já na Figura 21, é mostrado

o gráfico de radar que resultou de traçar as magnitudes padronizadas dessas

propriedades.

Quadro 15. Propriedades para avaliar a usinabilidade

Propriedade Unidades ASTM F75 Aço 1045

Alongamento à ruptura % 18,85 17

Abrasividade %Part. Duras

5,42 7,08

Dureza HV 300 170

Resistividade Térmica mK/W 0,0769 0,019

Encruamento Dn N.A. 4,02 2,45

Resistência à tração MPa 730,03 560

Fonte: Autora

Como o intuito do diagrama de radar é permitir ao leitor determinar o grau de

usinabilidade de um material com respeito a outro comparando as áreas dos

polígonos formados, as magnitudes das diferentes propriedades dos materiais foram

padronizadas. Desse modo, primeiro definiu-se um mesmo valor para todas as

propriedades do material de referência, neste caso esse material foi o aço 1045 e se

assignou um valor de 5 para todas suas propriedades. Em seguida, utilizou-se a

Equação (4) para calcular os valores das propriedades da liga de cobalto com

respeito aos de referência. Na equação 𝑋 e 𝑅 são as magnitudes das propriedades

mecânicas do material a estudar e do material de referência respectivamente.

𝑀𝑟𝑒𝑙𝑋 = 5 + 5 (

𝑋 − 𝑅

𝑅) (4)

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62

Figura 21. Usinabilidade ASTM F75

Fonte: Autora

Nos resultados obtidos uma análise visual indica uma dificuldade maior na hora

de usinar a liga ASTM F75, já que a área do polígono formada pelas propriedades

da liga de cobalto é maior do que a área ocupada pelo polígono para o aço 1045.

Assim, uma característica como o fator de encruamento que é maior para a liga

de cobalto do que para o aço 1045, afeta diretamente a usinabilidade porque quando

ocorre encruamento, a superfície resultante da usinagem apresenta dureza e

resistência à tração maior. Desta forma, em processos como o fresamento, em que

se têm várias entradas de dentes, a segunda aresta a entrar no corte vai enfrentar

uma carga maior do que a carga enfrentada pela primeira aresta de corte. (DINIZ;

MARCONDES; COPPINI, 2014).

Essa situação é ainda mais crítica durante operações de acabamento em que

são utilizados avanços muito pequenos, portanto pode ser que o desempenho

melhore usando avanços maiores, mas é importante lembrar que a forma da aresta

de corte é particularmente importante sob tais condições. (STAHL et al., 2012).

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Além disso, a combinação de um alto coeficiente de encruamento com uma

baixa condutividade térmica resulta em uma usinabilidade pior, como no caso dos

aços austeníticos, razão pela qual se recomenda o uso de ferramentas muito

afiadas. (TRENT; WRIGHT, 2000).

Essa condição também se repete com a liga ASTM F75, como vemos no

gráfico de radar da Figura 21 a resistividade térmica da liga de cobalto é bem maior

se comparada com a do aço. O principal problema com a resistividade térmica alta é

o aumento significativo da temperatura na região onde acontece o corte, isso devido

a que o cavaco recém formado não está retirando o calor gerado e este também não

flui em direção a peça. Dessa forma, a dureza e a resistência do material da peça

estarão sendo pouco afetadas pelo aumento da temperatura e ao mesmo tempo

propiciando as condições necessárias para que ocorra tanto desgaste acelerado

quanto avarias.

No tocante a resistência à tração, a liga ASTM F75 apresenta uma resistência

ligeiramente maior do que a do aço 1045 e portanto se espera um incremento das

forças de corte necessárias para usinar este material.

Outro atributo dos materiais que desempenha um papel importante na

usinabilidade é a ductilidade, esta é representada pelo valor do alongamento do

material obtido durante o ensaio de tração. Como visto no gráfico esse tem um valor

bastante similar para os dois materiais.

A ductilidade de um material é relevante porque é considerada anterior à

presença de aderência, e a aderência de material da peça na ferramenta pode ser

considerada positiva se o grau de aderência é suficientemente alto e estável porque

protege a aresta de corte e estende a vida da ferramenta. Porém, se é uma

aderência temporária e frequentemente é removida pode causar o efeito contrário

aumentando de maneira rápida e progressiva o desgaste da ferramenta. (STAHL et

al., 2012).

Por fim, a dureza é uma característica que está diretamente associada tanto

com a abrasividade quanto com a resistência que apresenta o material a ser

cortado. Além disso, é uma propriedade que pode variar dependendo da distribuição

das fases no material.

Como visto na tabela e no gráfico, a liga ASTM F75 apresenta uma dureza bem

maior do que a do aço 1045 razão pela qual se espera que haja uma maior

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resistência ao corte e também um comportamento mais abrasivo, embora a medição

de partículas duras tenha dado uma diferença que parece favorecer o corte quando

se usina a liga ASTM F75. Pois apesar de não ter estudado com maior detalhe as

partículas duras presentes na liga de cobalto, essas são formadas principalmente

por cromo e molibdênio e portanto se espera sejam mais agressivas do que os

carbonetos de ferro presentes no aço 1045.

4.2 Mecanismos de desgaste presentes

A análise dos mecanismos de desgaste que se apresentaram durante a

usinagem da liga ASTM F75 foi feita a partir dos resultados obtidos da microscopia

eletrônica de varredura (MEV) e da espectroscopia de energia dispersiva (EDS)

realizadas a todas as fresas no final da vida.

Dessa forma, segundo os resultados do EDS, para as oito condições testadas

foi possível identificar o revestimento das ferramentas, o metal duro e o material da

peça que ficou aderido às fresas. No final da vida todas as ferramentas

apresentaram material da peça aderido tanto na superfície de folga quanto na

superfície de saída.

De maneira geral os tipos de desgaste observados foram desgaste de flanco

em todas as fresas, assim como a presença de crateras na superfície de saída.

Essas crateras foram mais pronunciadas para a velocidade de corte de 110 m/min e

para o avanço por dente de 0,03 mm. Observou-se também um tipo de desgaste

similar ao de cratera na superfície de folga das ferramentas, porém esse foi mais

recorrente nos testes com o maior avanço por dente (0,03 mm).

Em relação às avarias, o lascamento e as trincas de origem mecânica

aconteceram maioritariamente nas ferramentas revestidas com AlTiN porém também

foram observadas nas fresas revestidas com AlCrN.

Em todas as ferramentas estiveram presentes os seguintes dois mecanismos

de desgaste que aparecem durante os processos de usinagem. A abrasão

mecânica, caracterizada por ter forma de sulcos paralelos à direção do fluxo de

material e por gerar primeiramente o desgaste de flanco, mas também pode gerar o

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desgaste de cratera. Seus efeitos são mais notáveis na superfície de folga porque

nesta se dá o atrito entre a ferramenta e a peça que é um elemento rígido. Esse

mecanismo de desgaste é fortemente estimulado pela temperatura na região de

corte que reduz a dureza das ferramentas e pela abrasividade da peça que se está

usinando (DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 2014).

E, a adesão, que é um mecanismo de desgaste que produz tanto desgaste de

flanco quanto desgaste de cratera e a aparência de uma região que tenha sofrido

este mecanismo de desgaste é áspera. É facilitada sua ocorrência quando se tem

corte interrompido, baixa rigidez ou quando a profundidade de usinagem não seja

estável. (DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 2014).

Em seguida é apresentada uma aresta de cada fresa no estado final, pois os

desgastes e avarias foram similares nas demais arestas. Cada quadro apresenta as

superfícies de folga e saída para as duas réplicas de cada condição avaliada.

Primeiro serão analisadas as fresas revestidas com AlTiN.

Quadro 16. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

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Como observado no Quadro 16 as ferramentas apresentam principalmente

lascamentos tanto na superfície de saída quanto na superfície de folga, desgaste de

flanco e desgaste de cratera causados principalmente pelo mecanismo de adesão

do material da peça na ferramenta como demonstrado pelo EDS, ver Quadro 17.

Quadro 17. EDS Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

R1

R2

Fonte: Autora

Para as quatro superfícies mostradas anteriormente houve adesão da liga F75

(60% cobalto 28% cromo 6% molibdênio) sobretudo nas superfícies de folga das

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fresas, ver os pontos 1 e 2 da réplica 1 e pontos 1, 2 e 3 da réplica 2. Também

chama a atenção a presença de cromo e cobalto em pontos onde se espera obter só

a leitura da composição do revestimento, como é o caso do ponto 2 na superfície de

saída da réplica 1 e no ponto 1 da superfície de saída da réplica 2.

Já no caso da réplica 1 a superfície de folga perdeu por completo o

revestimento numa área (ponto 3) aparecendo só o metal duro formado pelos

carbonetos de tungstênio e a matriz de cobalto.

Quadro 18. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

Para a condição apresentada no Quadro 18 existe uma variação significativa

entre o estado das duas ferramentas, o que também se evidenciou no resultado do

volume de cavaco removido para as duas réplicas, sendo que com a primeira

ferramenta foi removido um pouco mais do que o dobro do volume removido com a

segunda ferramenta.

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A segunda réplica apresentou um desgaste de flanco acelerado e lascamento

de uma das arestas o que prejudicou significativamente seu desempenho. Isso pode

ter acontecido por causa da presença de algumas partículas duras de grande

tamanho presentes no corpo de prova.

De maneira similar ao apresentado para a condição anterior, estas ferramentas

também apresentaram adesão da liga F75 e perda total do revestimento por causa

de lascamentos.

Figura 22. EDS Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

R1

R2

Fonte: Autora

Do Quadro 18 e a Figura 22, também é interessante observar que como a

segunda réplica apresentou um desgaste de flanco acelerado com as primeiras três

passadas esta não foi submetida de novo ao corte, desta forma a fresa não

apresenta desgaste de cratera na superfície de saída presente na fresa da réplica

um.

Embora o desgaste de cratera seja normalmente relacionado com o uso de

velocidades de corte e de avanço grandes, este tipo de desgaste também aparece

adesão

lascamento

adesão

Sulcos abrasivos

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em velocidades menores quando são usinadas ligas de titânio ou de níquel, isso

devido aos esforços de cisalhamento serem maiores e, portanto, a ferramenta em

temperaturas menores já sofre cisalhamento. (TRENT; WRIGHT, 2000). Esse

mesmo fenômeno pode explicar a ocorrência desse tipo de desgaste com a liga

ASTM F75.

Quadro 19. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

Com o aumento da velocidade e mantendo o revestimento de AlTiN, os tipos e

mecanismos de desgaste presentes são muito similares aos já observados com a

velocidade de corte de 90 m/min. Porém, em algumas arestas o desgaste de cratera

parece estar mais pronunciado.

Em seguida são apresentados os resultados obtidos da análise de EDS feita

nas fresas.

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70

Figura 23. EDS Réplica 1 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

R1

Fonte: Autora

O interessante da Figura 23 é observar a cratera formada na superfície de

folga. Segundo TRENT; WRIGHT, (2000) essa forma de desgaste aparece em

ferramentas de metal duro quando se usinam metais com pontos de fusão altos

como as ligas de níquel. A causa dessa forma de desgaste é a deformação plástica

da superfície por cisalhamento na presença de altas temperaturas. A aparição deste

tipo de desgaste alerta que se está no limite da velocidade de corte e/ou do avanço

utilizado.

Figura 24. EDS Réplica 2 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

Fonte: Autora

adesão

adesão

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Por fim, no Quadro 20 são apresentadas as imagens das fresas com

revestimento de AlTiN utilizadas com os parâmetros de corte mais exigentes.

Quadro 20. Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

Como exposto anteriormente sob esta condição foi obtida a menor vida para as

ferramentas de AlTiN. Nesta condição aconteceu um fenômeno similar ao já

observado também para o avanço por dente de 0,03 mm e a velocidade de corte de

90 m/min em que eram percebidas algumas diferenças significativas no estado final

das ferramentas, isso porque a fresa da réplica dois retirou um volume de cavaco

superior ao volume removido pela ferramenta da réplica um.

Dessa maneira o desgaste de flanco acelerado e o lascamento das arestas da

fresa um não permitiu que a ferramenta desenvolvesse de maneira significativa os

sinais de adesão do material da peça, como sim aconteceu com a fresa da segunda

réplica.

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Figura 25. EDS Réplica 1 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

Fonte: Autora

Figura 26. EDS Réplica 2 Revestimento AlTiN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

R2

Fonte: Autora

Por fim, além da adesão de material da peça tanto na superfície de folga

quanto na superfície de saída, na fresa da segunda réplica foram observadas trincas

paralelas à aresta de corte o que segundo DINIZ; MARCONDES; COPPINI, (2014)

corresponde a trincas de origem mecânica. Esse é um fenômeno que acontece

normalmente em processos de fresamento devido à ampla variação dos esforços de

corte a que é submetida a aresta cortante.

adesão

adesão e

trincas

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73

As recomendações para diminuir a ocorrência deste tipo de avarias são a

diminuição do avanço, melhorar a estabilidade do processo e do primeiro contato da

fresa com a peça de trabalho ou a escolha de uma ferramenta mais tenaz. Portanto,

a aparição deste tipo de avaria complementa o já observado na condição anterior

em que foi observada cratera na superfície de folga, pois é uma alerta de que os

parâmetros de corte utilizados já estão no limite.

A seguir serão analisados as formas e os mecanismos de desgaste que

aconteceram durante os ensaios com as fresas revestidas com AlCrN. De forma

similar são apresentadas duas arestas de corte no estado final e os resultados dos

MEV e EDS.

Quadro 21. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

Segundo o apresentado no Quadro 21 as fresas apresentaram

maioritariamente avarias como lascamento e desgaste de flanco. Também foram

observadas duas arestas com marcas similares ao desgaste de cratera. O principal

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74

mecanismo de desgaste observado foi adesão de material da peça na ferramenta

além da abrasão mecânica.

Figura 27. EDS Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

R1

R2

Fonte: Autora

Fazendo uma comparação entre as fresas revestidas com AlTiN e as fresas

revestidas com AlCrN sob as mesmas condições, nota-se que para esta condição

específica as duas ferramentas retiraram praticamente o mesmo volume de cavaco,

porém as ferramentas com revestimento de AlCrN apresentaram uma menor

aderência do material da peça, além disso os sinais da presença de cratera também

são menores.

A menor aderência do material da peça na ferramenta pode ser porque este

revestimento está apresentando um menor coeficiente de atrito, pois as condições

de refrigeração foram as mesmas para todas a condições.

Dessa forma, a diminuição do desgaste de cratera pode ser evidência da

redução do atrito entre a ferramenta e o cavaco.

adesão

adesão

lascamento

lascamento

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75

Quadro 22. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

Quando o avanço é aumentado as ferramentas no final da vida ficaram com a

aparência mostrada no Quadro 22. Nesta situação o desgaste de cratera se

manifesta um pouco mais do que na anterior condição e tanto na superfície de folga

quanto na superfície de saída se observam sinais de aderência da liga. Por fim

também se apresentou lascamento de maneira mais intensa.

Em seguida nas Figura 28 e Figura 29 são apresentados os resultados do MEV

e do EDS realizado nas superfícies de folga para estas duas ferramentas.

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Figura 28. EDS Réplica 1 Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

Fonte: Autora

Figura 29. EDS Réplica 2 Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

Fonte: Autora

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A partir dos EDS se pode confirmar a aderência do material na ferramenta

assim como a formação de uma cratera na superfície de folga e lascamento das

arestas de corte. Na Figura 28 foi realizada uma ampliação de 1000 vezes para

observar melhor as “fibras” que aparecem no centro da cratera, pois essas já tinham

sido observadas em outras fresas como na Figura 23. Os resultados revelam que

estes fios são principalmente de cobalto e cromo, componentes da liga.

Por outro lado chama a atenção na Figura 29 o ponto 3 pois aparece uma alta

porcentagem de titânio que não se esperava já que o revestimento desta ferramenta

é de AlCrN, mas isso pode ter acontecido porque os testes que foram feitos com

esta ferramenta foram realizados num corpo de prova que já havia sido utilizado

para testar uma fresa revestida de AlTiN, assim, é possível que algumas partículas

da outra ferramenta tenham ficado aderidas ao material da peça.

Quadro 23. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

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No Quadro 23 nota-se que com o aumento da velocidade de corte as

superfícies de folga das ferramentas apresentam sinais maiores de deterioração, se

comparamos com o ocorrido com as fresas revestidas com AlTiN os efeitos eram

mais marcantes na superfície de saída onde se formavam crateras mais profundas.

Figura 30. EDS Réplica 2 Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

Fonte: Autora

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Da Figura 30 percebe-se que a adesão do material da peça na ferramenta foi

se não o maior um dos principais mecanismos de desgaste e de maneira similar às

demais condições foram observados alguns lascamentos.

Para terminar a análise do desgaste das fresas, no Quadro 24 são

apresentadas as ferramentas revestidas com AlCrN utilizadas com os parâmetros de

corte mais severos.

Quadro 24. Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

RÉPLICA 1 RÉPLICA 2

Fonte: Autora

Como era de se esperar, nessas condições as fresas retiraram a menor

quantidade de cavaco. Além disso, foram observadas crateras profundas nas

superfícies de saída e de folga e lascamentos. De maneira similar observa-se

aderência do material da liga na ferramenta o que é confirmado com o EDS.

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Figura 31. MEV Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

R1

R2

Fonte: Autora

Figura 32. EDS Revestimento AlCrN, 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛, 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

Fonte: Autora

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81

4.3 Vida das ferramentas

A análise de vida das ferramentas foi realizada a partir da comparação entre o

volume de cavaco removido nas condições estudadas. Portanto é importante

lembrar que o fim de vida das ferramentas é o momento em que essas atingem um

desgaste de flanco de 0,2 mm.

Figura 33. Vida das ferramentas

Fonte: Autora

A partir da Figura 33 pode-se observar que à medida que a velocidade de corte

aumenta a vida das ferramentas diminui. Esse fenômeno é esperado pois com o

aumento da velocidade de corte também aumenta a temperatura na região de corte.

Como o material sendo usinado apresenta uma condutividade térmica baixa, grande

parte do calor gerado termina indo para a ferramenta de corte, enfraquecendo assim

as propriedades do material da ferramenta e facilitando a ocorrência de mecanismos

de desgaste como abrasão e adesão.

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Em adição, o aumento da velocidade de corte no fresamento estimula a

aparição de avarias como o lascamento e as trincas de origem mecânica devido a

que aumenta o impacto da aresta de corte com a peça.

Nota-se que com o aumento do avanço a vida das ferramentas se torna menor.

Isso porque o aumento desse também eleva o calor na região de corte. Porém com

o acréscimo do avanço a área de corte vai ser maior e como se espera que haja

uma melhor distribuição do calor na ferramenta a vida das ferramentas será

prejudicada numa proporção menor do que com o aumento da velocidade de corte.

Finalmente, para três das quatro condições estudadas o revestimento de AlCrN

apresentou vidas maiores. O desempenho superior do revestimento de AlCrN era

esperado para todas as condições por causa de suas boas propriedades físicas

ligeiramente superiores às do revestimento de AlTiN, principalmente sua capacidade

de manter a dureza em temperaturas mais elevadas, que conferem às ferramentas

uma maior capacidade para suportar os efeitos da abrasão e da adesão causados

pelo material da peça. Porém, para a condição com o avanço de 0,02 mm e a

velocidade de 90 m/min, o coeficiente de variação entre o ensaio e a réplica

realizados foi muito alto (58,8%), o que dificulta fazer alguma afirmação com respeito

a esta situação.

Figura 34. ANOVA vida da ferramenta (volume de cavaco removido) α=0,05

Fonte: Autora

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Da ANOVA, pode-se concluir que o avanço foi o fator de maior influência no

desgaste das ferramentas quando se usinou a liga ASTM F75, seguido pela

velocidade de corte. As interações entre os fatores assim como o revestimento das

fresas não apresentaram valores significativos frente ao desgaste.

O fato do revestimento não apresentar-se como significativo estatisticamente,

pode ser devido à alta variação entre os resultados obtidos para algumas condições.

Desta maneira o modelo resultante não explica de forma suficiente a variação na

resposta e deixa encoberta a influência deste na vida das ferramentas. Pois durante

a realização dos testes foi observado um desempenho superior das ferramentas

revestidas com AlCrN.

Figura 35. Gráfico efeitos principais para vida da ferramenta

Fonte: Autora

Na literatura os autores DINIZ; MARCONDES; COPPINI, (2014) afirmam que o

desenvolvimento do desgaste das ferramentas de usinagem é mais influenciado pela

velocidade de corte do que pelo avanço, assim a vida das ferramentas diminuirá

muito mais se a velocidade de corte for aumentada numa determinada proporção do

que se fosse o avanço que aumentasse nessa mesma proporção.

Nos experimentos o fator que prejudicou mais a vida das ferramentas foi o

avanço por dente como visto na Figura 35, pois quanto maior é a inclinação da reta,

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84

maior a influência desse fator na resposta. Esse resultado diferente do esperado

segundo a informação encontrada na literatura pode por um lado ser porque o

avanço do nível menor para o maior aumentou 50% enquanto a velocidade de corte

do nível baixo para o nível alto se elevou 22%. Por outro lado o efeito do avanço nos

processos de fresamento não pode ser menosprezado, assim da forma em que

foram propostos os testes quando se aumentava o avanço a rotação era mantida,

isso significa que a velocidade de avanço crescia também causando maiores

impactos nas arestas de corte, portanto vários ensaios foram detidos antes que se

alcançasse o VB de 0,2 mm pois as ferramentas apresentaram lascamentos e se

receava a quebra da aresta.

Analisando o comportamento dos dois revestimentos utilizados, o gráfico dos

efeitos principais Figura 35 revela que o revestimento de AlCrN sim produz o

acréscimo da vida da ferramenta, isso se deve principalmente a que esse

revestimento além de apresentar uma dureza bem maior do que o revestimento de

AlTiN, apresenta uma estabilidade maior de sua dureza sofrendo caídas graduais

conforme aumenta a temperatura, o que não acontece com o revestimento de AlTiN

que após os 900 °C sofre uma caída drástica como visto na Figura 3 na revisão

bibliográfica.

4.4 Acabamento das superfícies fresadas

4.4.1 Rugosidade média aritmética com ferramentas novas

Na Figura 36 são apresentados os resultados obtidos para a rugosidade média

aritmética quando as ferramentas estavam novas. O valor da rugosidade para cada

condição resultou do cálculo da média dos três valores mensurados na superfície

usinada após o primeiro passe dado pela ferramenta de corte.

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Figura 36. Rugosidade média inicial

Fonte: Autora

No gráfico de colunas pode se observar que as rugosidades médias obtidas

com as ferramentas novas e os parâmetros de corte definidos são bem baixas pois

não superam os 0,7 µm que segundo à norma NBR 8404 (ABNT, 1984)

corresponderia a uma rugosidade classe N6.

Uma análise visual indica que o aumento do avanço gera um impacto maior do

que o aumento da velocidade de corte na rugosidade média obtida. O efeito de obter

rugosidades maiores para o nível de avanço maior é de se esperar devido à

contribuição geométrica desse fator. Pois como visto no planejamento experimental,

a Equação (1) utilizada para o cálculo da rugosidade teórica depende principalmente

do avanço por dente e do raio de ponta da ferramenta.

Se analisarmos os resultados com relação aos revestimentos utilizados não é

apreciável uma diferença significativa entre as rugosidades obtidas com um e com

outro.

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Figura 37. ANOVA Rugosidade média (ferramentas novas) α=0,05

Fonte: Autora

Na Figura 37, se observa como o avanço por dente é o fator mais significativo,

seguido pelas interações entre o revestimento e a velocidade de corte, assim como

a interação entre os três fatores e depois destes ainda aparece como significativo o

fator velocidade de corte. Já a interação entre o avanço e a velocidade de corte,

assim como do revestimento com o avanço e o fator revestimento não resultaram

significativos para a resposta rugosidade.

Com o resultado da ANOVA corrobora-se a importância do aporte geométrico

que tem o avanço por dente nas marcas deixadas pelas ferramentas de corte

durante o fresamento. Em relação à velocidade de corte e às interações entre os

fatores que também resultaram significativas, confirma-se que a rugosidade das

superfícies usinadas depende também da presença de vibrações e da deformação

plástica do material da peça.

Pois o aumento das vibrações pode acontecer graças ao comportamento do

sistema máquina-ferramenta-peça em relação à velocidade de corte sendo utilizada,

assim como da geometria e especificamente do raio de ponta das ferramentas

utilizadas.

Em seguida é apresentado o gráfico de efeitos principais para a rugosidade

média alcançada com as ferramentas novas possibilitando avaliar os efeitos

individuais dos fatores testados.

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Figura 38. Gráfico efeitos principais para 𝑅𝑎 (ferramentas novas)

Fonte: Autora

A partir do gráfico de efeitos principais Figura 38 pode-se concluir de maneira

geral que os três fatores no nível maior prejudicam a resposta de rugosidade média,

isto é o aumento do avanço, da velocidade de corte e no caso do revestimento o uso

das ferramentas com revestimento de AlCrN. Apesar disso no caso do revestimento,

quando se observa com maior atenção repara-se que o aumento da rugosidade de

um nível para o outro não é considerável.

4.4.2 Rugosidade média aritmética com ferramentas desgastadas

Em seguida são apresentados os resultados para as rugosidades 𝑅𝑎 no final

da vida das ferramentas. O valor da rugosidade para cada condição resultou do

cálculo da média dos três valores mensurados na superfície usinada após o último

passe dado pela ferramenta de corte.

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Figura 39. Rugosidade média final

Fonte: Autora

Desse primeiro gráfico percebe-se que as rugosidades médias atingidas com

as ferramentas desgastadas são ligeiramente maiores do que as atingidas com as

ferramentas novas. No caso da condição com o maior valor de avanço e de

velocidade de corte e com revestimento de AlCrN foi atingida uma rugosidade de

pouco mais de 0,8 μm. Porém a diferença entre a rugosidade com a ferramenta nova

e a ferramenta desgastada não é tão marcante. Outro fato interessante é que as

rugosidades com as ferramentas desgastadas resultaram similares para várias das

condições estudadas e já não se percebe a influência do avanço e da velocidade de

corte nos resultados.

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Figura 40. ANOVA Rugosidade média (ferramentas desgastadas) α=0,05

Fonte: Autora

Na ANOVA da Figura 40, pode ser confirmado esse último fato pois nenhum

dos três fatores sendo estudados nem as interações entre eles apresentaram-se

como significativos.

No entanto, se comparamos a ordem em que estão os fatores e as interações

desse último gráfico de pareto com os da rugosidade para as ferramentas novas, se

observam mudanças significativas. Assim, a interação entre o revestimento e o

avanço por dente que antes aparecia quase no final agora está em segundo lugar,

logo depois do avanço. As demais interações entre fatores também resultaram ser

preponderantes se comparadas com os fatores velocidade de corte e revestimento

isolados.

Essas alterações no grau de influência dos fatores são consequência do

desgaste variável das arestas de corte e do fluxo irregular de saída de cavacos que

nesta fase de desgaste da ferramenta seria impossível controlar ou mitigar. Com o

desgaste das arestas de corte aumenta-se a área de contato com a peça e

consequentemente a fricção e as vibrações o que prejudica a rugosidade.

Em seguida são apresentados os gráficos fatoriais para a rugosidade média

alcançada com as ferramentas desgastadas.

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Figura 41. Gráficos fatoriais para rugosidade média (ferramentas desgastadas)

Fonte: Autora

Na Figura 41 no gráfico de efeitos principais se corrobora que o avanço

continua sendo o fator com maior influência na rugosidade pois a linha está mais

inclinada se comparada com a da velocidade de corte e do revestimento.

4.5 Análise sinais de força

Para a análise dos sinais de força que será feita em seguida, primeiro foi

escolhida uma fração estável do sinal de um segundo, depois calculada a raiz do

valor quadrático meio (RMS) para essa porção do sinal, por fim esses valores de

RMS obtidos para cada uma das componentes da força foram somadas para obter o

valor da força de usinagem total 𝐹𝑈, ver Equação (5).

𝐹𝑈 = √𝐹𝑋2 + 𝐹𝑌

2 + 𝐹𝑍2 (5)

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91

Figura 42. Exemplificação fração estável do sinal (um segundo)

Fonte: Autora

Os sinais de força foram mensurados para as oito condições com as

ferramentas novas e para sete destas quando as ferramentas estavam com um

desgaste de flanco maior a 0,1 mm ou já mais próximo de 0,2 mm. No Anexo B são

mostrados os espectros dos sinais de força para todas as condições com as

ferramentas novas.

No seguinte gráfico são apresentadas as forças de usinagem 𝐹𝑈 calculadas a

partir do procedimento explicado acima para as oito condições diferentes com as

ferramentas novas.

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Figura 43. Força de usinagem ferramentas novas

Fonte: Autora

Na figura se observa pouca variação na magnitude da força de usinagem para

seis das condições, estando ao redor dos 40 N. A menor força obtida foi de 28,486 N

quando a velocidade de corte era 110 m/min, o avanço por dente 0,03 mm e o

revestimento da ferramenta AlCrN. As maiores magnitudes de forças obtidas foram

de 113,179 N e 140,155 N, os parâmetros utilizados foram avanço de 0,02 mm,

revestimento de AlCrN e velocidades de corte de 90 m/min e 110 m/min

respectivamente.

A simples vista se observa que quando foi mantido o avanço de 0,02 mm, para

os dois revestimentos as forças de usinagem aumentaram com o aumento da

velocidade de corte, e quando foi mantido o avanço de 0,03 mm para os dois

revestimentos as forças de usinagem diminuíram com o aumento da velocidade de

corte.

Em seguida são apresentados o gráfico de pareto resultante da análise de

variância e os gráficos fatoriais para analisar os efeitos principais e as interações

entres os fatores experimentais.

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Figura 44. ANOVA Força de usinagem ferramentas novas α=0,05

Fonte: Autora

Segundo o diagrama de pareto nenhum dos fatores e das interações têm

significância para a resposta força de usinagem. Porém analisando os resultados, se

pode afirmar que a interação entre o revestimento da ferramenta e o avanço será o

que mais influencie na força de corte quando as ferramentas estejam novas, seguida

pelo efeito do avanço e do revestimento como fatores isolados. Logo após, em nível

de significância aparecem as interações que incluem a velocidade de corte, e a

mesma como fator isolado será a que menos afete na magnitude da força de

usinagem.

Se analisarmos fator por fator, nos processos de fresamento a força de

usinagem depende do número de dentes no corte e da espessura do cavaco, razão

pela qual essa é calculada a partir do valor médio da pressão específica de corte 𝐾𝑆

que também é determinada pelo valor médio da espessura de cavaco. (DINIZ;

MARCONDES; COPPINI, 2014).

Como sabido, a pressão específica de corte diminui com o aumento da área da

cunha cortante, isso devido principalmente ao aumento do avanço. Pois quando o

avanço aumenta, a velocidade de avanço também cresce e provoca a diminuição do

coeficiente de atrito. Além disso, o aumento do avanço minimiza o fluxo lateral do

cavaco e diminui-se a força consumida por esse fenômeno. (DINIZ; MARCONDES;

COPPINI, 2014). Esse efeito pode ser observado na Figura 43 para as ferramentas

revestidas com AlCrN já que para as duas velocidades de corte testadas o aumento

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do avanço sempre causou uma diminuição na força de usinagem. Contudo,

avaliando o caso das ferramentas revestidas com AlTiN não seria tão simples

afirmar que o mesmo efeito está acontecendo para essas ferramentas pois para a

velocidade de corte de 90 m/min foi menor a força de usinagem obtida com o avanço

menor.

Figura 45. Gráficos fatoriais para força de usinagem (ferramentas novas)

Fonte: Autora

Analisando o efeito praticamente nulo da velocidade de corte (Figura 44 e

Figura 45) pode-se disser que era de se esperar, pois esta tende a diminuir a força

de usinagem nas situações em que o aumento da temperatura facilita a formação do

cavaco porque diminui as propriedades mecânicas do material sendo usinado, que

não é muito provável quando se usina a liga ASTM F75 um material com baixa

condutividade térmica inclusive a altas temperaturas.

Do resultado do gráfico de efeitos principais (Ver Figura 45) percebe-se que o

revestimento e o avanço são os fatores com maior influência na resposta força de

usinagem já que a inclinação destas duas linhas é praticamente igual. Assim, a força

de usinagem diminui com o aumento do avanço e as maiores forças de usinagem

foram obtidas com as ferramentas revestidas com AlCrN.

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4.5.1 Influência do desgaste de flanco na força de usinagem

Em seguida são apresentados os gráficos da evolução das forças com respeito

ao desgaste de flanco para todas as condições estudadas. Ver Figura 46 e Figura

47.

Como mencionado anteriormente foram medidas as forças de corte quando as

ferramentas estavam novas para todas as condições. Para sete das oito condições

foram mensuradas as forças de corte quando o desgaste de flanco já estava

avançado com 0,1 mm ou já quase no final da vida das ferramentas com 0,2 mm

segundo o planteado incialmente. E só para uma das oito condições foram

mensurados quatro pontos da evolução das forças de corte com respeito ao

desgaste de flanco.

Figura 46. Força de usinagem com respeito ao desgaste de flanco 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛

Fonte: Autora

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Figura 47. Força de usinagem com respeito ao desgaste de flanco 𝑣𝑐 = 110 𝑚/𝑚𝑖𝑛

Fonte: Autora

Para todas as condições houve um aumento na força de corte dependendo do

valor do desgaste de flanco e dos parâmetros de corte, entre outros fatores. Esse

aumento esteve entre o 40 e o 80%.

A seguir na Figura 48 é apresentado o crescimento das forças de corte à

medida que o desgaste de flanco cresce para a condição com a ferramenta

revestida com AlTiN, um avanço de 0,02 mm e uma velocidade de corte de 90

m/min. Escolheu-se esta condição para fazer uma análise mais aprofundada por ser

a que apresentava mais pontos de medição, porém essas pressuposições não

poderão ser estendidas de forma geral para todas as condições avaliadas.

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Figura 48. Evolução da força de usinagem com o desgaste de flanco condição 1

Fonte: Autora

Assim, observa-se que numa primeira fase quando o desgaste está entre 0 e

um pouco mais de 0,05 mm a força de usinagem aumenta bem pouco poderia se

disser que é praticamente imperceptível. Já numa segunda fase quando o desgaste

de flanco está entre 0,06 mm e 0,1 mm o aumento que se dá nos valores de força é

muito maior. Finalmente, entre 0,1 mm e 0,2 mm de desgaste de flanco a força de

usinagem continua aumentando, porém numa menor intensidade do que a

observada na segunda fase.

O aumento da força de corte com o crescimento do desgaste de flanco é de se

esperar pois isso acontece devido ao acréscimo do atrito entre a peça e a

ferramenta. Por outro lado, a taxa de aumento das forças de corte com respeito ao

desgaste de flanco só pode diminuir quando existe também a presença de desgaste

de cratera. Esse último fenômeno acontece graças a que o ângulo de saída da

ferramenta vai aumentar produzindo uma diminuição dos esforços necessários para

a deformação do cavaco, equilibrando um pouco o aumento devido ao desgaste de

flanco.

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Nas seguintes figuras, apresentam-se os sinais de força durante duas

revoluções para a condição sendo analisada: ferramenta revestida com AlTiN,

avanço por dente de 0,02 mm e velocidade de corte de 90 m/min, para a ferramenta

nova e para a ferramenta já desgastada. Por cada volta foram adquiridos 84 pontos,

sendo 35.000 o total de pontos durante todo o contato.

Figura 49. Forças de corte, duas revoluções, AlTiN, 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚, 𝑣𝑐 = 90 𝑚/𝑚𝑖𝑛

Fonte: Autora

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Na Figura 49 quando a ferramenta ainda não apresenta desgaste, os esforços

de corte apresentam uma variação alta e se dificulta a identificação clara da posição

das arestas no corte. Enquanto as magnitudes das forças, a força em Z evidencia

ser a menor o que é de se esperar pois o corte não está sendo nessa direção e a

magnitude apresentada corresponde à componente gerada devido ao ângulo de

hélice da ferramenta de corte. As forças de corte na direção X e Y apresentam

valores muito semelhantes, porém na direção Y essa grandeza é superior em razão

da coincidência com o ponto do ℎ𝑚á𝑥.

No entanto, quando a ferramenta já está completamente desgastada os

esforços de corte se apresentam mais definidos e uniformes, permitindo maior

clareza no momento de analisar a posição das arestas no corte.

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100

5 CONCLUSÕES

A partir dos resultados e as discussões já apresentadas pode-se concluir que o

aumento tanto da velocidade de corte quanto do avanço por dente prejudicou a vida

das fresas de metal duro revestidas durante a usinagem da liga ASTM F75.

Desse modo, analisando o estado das fresas ao longo dos ensaios foi possível

observar como iam aparecendo os diferentes tipos de desgaste. Assim, sempre

houve presença do desgaste de flanco, que de fato foi escolhido como o parâmetro

para determinar o fim da vida das ferramentas. E ocorreu também desgaste de

cratera tanto na superfície de saída quanto na de folga, gerado principalmente pela

ação do mecanismo de desgaste por adesão.

As crateras formadas nas superfícies das ferramentas foram mais

pronunciadas com a velocidade de corte de 110 m/min e o avanço por dente de 0,03

mm para os dois revestimentos avaliados. Já o lascamento e as trincas de origem

mecânica foram maioritariamente desenvolvidos pelas ferramentas com

revestimento de AlTiN.

Comparando os dois revestimentos utilizados pode-se afirmar que o

revestimento de AlCrN apresentou um desempenho superior ao revestimento de

AlTiN. Assim, as fresas revestidas com AlCrN segundo as análises de EDS

mostraram menor tendência à aderência do material da peça nas arestas e maior

resistência à ação abrasiva da liga ASTM F75.

A partir da medição do volume de cavaco removido pode-se disser que o

revestimento de AlCrN retirou em média 3414,8 mm³ a mais do que o revestimento

de AlTiN. Para fazer esse contraste não foi levada em conta a condição da

velocidade de corte de 90 m/min com o avanço de 0,02 mm, pois os dois ensaios

deram respostas muito divergentes.

De outro lado, a avaliação da rugosidade quando as ferramentas estavam

novas apontou que o fator mais significativo para a resposta foi o avanço por dente o

que era de se esperar, devido à importância do aporte geométrico deste parâmetro

de corte e a que o sistema máquina-ferramenta-peça utilizado durante a usinagem

era bastante rígido, pois dessa forma a ocorrência de vibrações é minimizada e a

influência da velocidade de corte também.

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101

As piores rugosidades com as ferramentas novas foram obtidas com os

maiores parâmetros de corte e o revestimento de AlCrN, esse último fato foi

explicado a partir da medição dos raios de aresta das fresas pois as ferramentas

com revestimento de AlTiN tinham raios de aresta menores o que explica que as

marcas deixadas por estas também sejam menores e portanto os valores de

rugosidade medidos tenham sido favorecidos quando utilizadas estas fresas.

No caso das rugosidades obtidas com as ferramentas desgastadas,

aumentaram um pouco se comparadas com as rugosidades que deixaram as

ferramentas novas, além disso para todas as condições as rugosidades foram

ficando mais uniformes. Nesta situação, as piores rugosidades foram obtidas com as

ferramentas revestidas com AlTiN. Isso devido a que aquelas fresas apresentaram

maiores desgastes, maior adesão do material da peça e deformação das arestas

nos estágios finais, o que prejudica significativamente os sinais do passo da fresa

sobre o material.

Por fim, a medição das forças de corte mostrou que à medida que o desgaste

de flanco crescia estas também aumentavam. Mas segundo o analisado para a

condição da velocidade de corte de 90 m/min, o avanço por dente de 0,02 mm e as

fresas revestidas com AlTiN, houve uma diferença significativa na taxa de aumento

dos esforços dependendo do nível do desgaste de flanco, assim que foram

observadas três etapas principalmente: a primeira aquela em que o desgaste de

flanco estava entre os 0 e os 0,05 mm e as forças de corte eram praticamente

iguais, a segunda em que o desgaste de flanco passava de 0,05 até 0,1 mm e para

a qual as forças aumentaram rapidamente e finalmente a terceira com o desgaste de

flanco entre 0,1 e 0,2 mm com um aumento dos esforços mais desacelerado se

comparado com a segunda etapa. Essa diferença significativa nas fases dois e três

se presume que é devida aos tipos de desgaste desenvolvidos, assim na etapa dois

o desgaste das ferramentas se dá predominantemente por causa da abrasão, mas

na terceira etapa o desgaste por aderência de material também acontece

aumentando o ângulo de saída da ferramenta e diminuindo assim o acréscimo dos

esforços de corte.

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6 TRABALHOS FUTUROS

• Repetir os ensaios com velocidades de corte entre 60 m/min e 90 m/min,

pois nesta faixa parece estar a velocidade de máxima produtividade.

• Fazer uma análise metalográfica do material usinado e avaliar o tamanho

da camada da superfície encruada para entender melhor seus efeitos no

desgaste das ferramentas.

• Medir as temperaturas durante o fresamento da liga ASTM F75, tanto na

fresa quanto na peça, para verificar as faixas em que estas ocorrem e

verificar qual seria a melhor forma de refrigerar o processo visando

aumentar a vida das ferramentas.

• Testar diferentes métodos de refrigeração e lubrificação do processo de

fresamento e determinar qual favorece às ferramentas durante a usinagem

deste material.

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109

ANEXO A: COMPARAÇÃO ENTRE OS BIOMATERIAIS

EXISTENTES

Material

Origem natural

(Biopolímeros) Polímeros sintéticos Cerâmicos Metais

Exemplos

Celulosa

Colágeno

Ácido hialurônico

Polimetilmetacrilato,

policloreto de vinil,

teflon, polietileno,

dácron, polipropileno,

náilon, poliuretano

Óxido de alumínio,

dióxido de titânio,

hidroxiapatita

Aços inoxidáveis,

titânio, ligas de

cobalto-cromo

Vantagens

Abundantes, baixo

custo,

propriedades

mecânicas

similares a dos

tecidos

Degradáveis, não

sofrem corrosão,

densidade similar a

dos tecidos suaves,

processamento

simples, maleáveis,

possibilidade de

formar modelos

complexos

Inertes, imitam os

tecidos biológicos

inorgânicos, alta

resistência à

compressão

Alta resistência à

tensão e compressão,

alta resistência ao

desgaste e ao

impacto

Desvantagens

Degradáveis,

causam resposta

do sistema imune

Degradáveis, baixa

resistência, fluem sob

esforços e sob altas

temperaturas, baixa

resistência ao

desgaste e ao

impacto

Alta densidade,

frágeis, difíceis de

reproduzir

Corrosão, alta

densidade, difíceis de

se processar,

dificuldade para se

produzir geometrias

complexas, liberação

de íons no fluido

biológico

Aplicações

Tecidos, curativos

de feridas, suturas,

pele artificial

Implantes de tecidos

brandos, lentes de

contato, placas e

cimento ósseo,

obturações dentárias

Implantes de tecidos

duros que trabalham

sob compressão:

coroas dentárias e

cabeças femorais

Placas ósseas,

parafusos, pinos,

grampos, articulações

Fonte: Adaptado de (HASIRCI; HASIRCI, 2018)

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ANEXO B: SINAIS DE FORÇAS DE CORTE

Ferramentas novas, 𝒗𝒄 = 𝟗𝟎 𝒎/𝒎𝒊𝒏

AlTiN 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

AlCrN 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

AlTiN 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

AlCrN 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

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111

Ferramentas novas, 𝒗𝒄 = 𝟏𝟏𝟎 𝒎/𝒎𝒊𝒏

AlTiN 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

AlCrN 𝑓𝑧 = 0,02 𝑚𝑚

AlTiN 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚

AlCrN 𝑓𝑧 = 0,03 𝑚𝑚